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1 PROPOSTA DE MODELO QUANTITATIVO BASEADO NO RISCO PARA A GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NA CONSTRUÇÃO VITOR SOUSA L. ALVES DIAS NUNO M. ALMEIDA Prof. Auxiliar Prof. Associado Prof. Auxiliar Técnico Lisboa Técnico Lisboa Técnico Lisboa Lisboa; Portugal Lisboa; Portugal Lisboa; Portugal [email protected] [email protected] [email protected] RESUMO Ao longo das últimas décadas houve um aumento substancial da sensibilidade para a problemática da segurança e saúde na construção por parte das várias partes interessadas. Contudo, apesar das melhorias significativas que se registaram um pouco por todo o globo nesta área, a taxa de acidentes na indústria da construção ainda é consideravelmente superior ao que se verifica na maioria das restantes indústrias. Este facto tem sido justificado, fundamentalmente, recorrendo a duas premissas: i) o nível de risco intrínseco do sector decorrente da natureza das actividades desenvolvidas e das particularidades dos empreendimentos e organizações que compreendem a indústria da construção; e ii) os aspectos financeiros e económicos relacionados com a implementação de medidas adicionais no actual panorama de globalização e exigência de aumento de competitividade que se verifica no mercado da construção. Na presente comunicação propõe-se e detalha-se o MOdelo de RIsco Potencial para a Segurança e Saúde MORIP-SS. O MORIP-SS foi concebido para auxiliar na realização de análises custo-benefício para a segurança e saúde na construção com base no risco. Assim, visa contribuir para a optimização da gestão dos recursos disponíveis no sentido de melhorar as condições de segurança nas diferentes actividades e para os vários grupos de trabalhadores envolvidos na fase de execução dos empreendimentos de construção. 1. INTRODUÇÃO Os modelos de causalidade dos acidentes de trabalho diferem a vários níveis fundamentais. Desde logo, distinguem-se consoante a área de aplicação, o propósito e o foco. Também podem diferenciar-se significativamente em termos da sua estrutura geral, dos dados de entrada e dos resultados, mas uma base comum é que a generalidade dos modelos de causalidade é aplicável com definições genéricas em qualquer área. Letho e Salvendy [1] procederam a uma revisão de modelos de causalidade de acidentes, tendo identificado as seguintes classes principais: i) modelos genéricos dos processos de acidentes; ii) modelos de erros humanos e comportamentos perigosos; e iii) modelos de mecanismos de lesões humanas. Os modelos genéricos dos processos de acidentes podem ser agrupados em 4 categorias principais [1]: i) modelos sequenciais; ii) modelos epidemiológicos; iii) modelos de transferência de energia; e iv) modelos de sistemas. Os erros humanos e os comportamentos perigosos intencionais são frequentemente referenciados como origens predominantes de acidentes (e.g., [2-3]). Os modelos de causalidade de acidentes focados no erro e comportamento perigoso por parte dos seres humanos também podem ser agrupados em 4 categorias principais [1]: i) modelos comportamentais; ii) modelos de processo de decisão humano; iii) modelos de processamento humano de informação; e iv) modelos de taxonomia do erro. Os acidentes resultando em ferimentos ou fatalidades no decorrer da realização das tarefas por parte dos trabalhadores são melhor analisados com recurso a modelos do mecanismo de lesões humanas. Estes modelos são, fundamentalmente, baseados em princípios de

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PROPOSTA DE MODELO QUANTITATIVO BASEADO NO RISCO PARA A GESTÃO

DA SEGURANÇA E SAÚDE NA CONSTRUÇÃO

VITOR SOUSA L. ALVES DIAS NUNO M. ALMEIDA

Prof. Auxiliar Prof. Associado Prof. Auxiliar

Técnico Lisboa Técnico Lisboa Técnico Lisboa

Lisboa; Portugal Lisboa; Portugal Lisboa; Portugal

[email protected] [email protected] [email protected]

RESUMO

Ao longo das últimas décadas houve um aumento substancial da sensibilidade para a problemática da segurança e saúde

na construção por parte das várias partes interessadas. Contudo, apesar das melhorias significativas que se registaram

um pouco por todo o globo nesta área, a taxa de acidentes na indústria da construção ainda é consideravelmente superior

ao que se verifica na maioria das restantes indústrias. Este facto tem sido justificado, fundamentalmente, recorrendo a

duas premissas: i) o nível de risco intrínseco do sector decorrente da natureza das actividades desenvolvidas e das

particularidades dos empreendimentos e organizações que compreendem a indústria da construção; e ii) os aspectos

financeiros e económicos relacionados com a implementação de medidas adicionais no actual panorama de globalização

e exigência de aumento de competitividade que se verifica no mercado da construção. Na presente comunicação

propõe-se e detalha-se o MOdelo de RIsco Potencial para a Segurança e Saúde – MORIP-SS. O MORIP-SS foi

concebido para auxiliar na realização de análises custo-benefício para a segurança e saúde na construção com base no

risco. Assim, visa contribuir para a optimização da gestão dos recursos disponíveis no sentido de melhorar as condições

de segurança nas diferentes actividades e para os vários grupos de trabalhadores envolvidos na fase de execução dos

empreendimentos de construção.

1. INTRODUÇÃO

Os modelos de causalidade dos acidentes de trabalho diferem a vários níveis fundamentais. Desde logo, distinguem-se

consoante a área de aplicação, o propósito e o foco. Também podem diferenciar-se significativamente em termos da sua

estrutura geral, dos dados de entrada e dos resultados, mas uma base comum é que a generalidade dos modelos de

causalidade é aplicável com definições genéricas em qualquer área.

Letho e Salvendy [1] procederam a uma revisão de modelos de causalidade de acidentes, tendo identificado as seguintes

classes principais: i) modelos genéricos dos processos de acidentes; ii) modelos de erros humanos e comportamentos

perigosos; e iii) modelos de mecanismos de lesões humanas. Os modelos genéricos dos processos de acidentes podem

ser agrupados em 4 categorias principais [1]: i) modelos sequenciais; ii) modelos epidemiológicos; iii) modelos de

transferência de energia; e iv) modelos de sistemas. Os erros humanos e os comportamentos perigosos intencionais são

frequentemente referenciados como origens predominantes de acidentes (e.g., [2-3]). Os modelos de causalidade de

acidentes focados no erro e comportamento perigoso por parte dos seres humanos também podem ser agrupados em 4

categorias principais [1]: i) modelos comportamentais; ii) modelos de processo de decisão humano; iii) modelos de

processamento humano de informação; e iv) modelos de taxonomia do erro. Os acidentes resultando em ferimentos ou

fatalidades no decorrer da realização das tarefas por parte dos trabalhadores são melhor analisados com recurso a

modelos do mecanismo de lesões humanas. Estes modelos são, fundamentalmente, baseados em princípios de

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Sousa, V; Alves Dias, L.; Almeida, N. M.

Proposta de modelo quantitativo baseado no risco para a gestão da segurança de saúde na construção

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ergonomia e podem ser agrupados em 2 categorias principais [1]: i) modelos de tensões cumulativas; ii) modelos de

modos de lesões imediatas.

A categorização e descrição dos modelos apresentada não implicam que sejam mutuamente exclusivos. Na prática, têm

sido desenvolvidos vários modelos que integram elementos de diferentes categorias. Na área da segurança e saúde no

trabalho, Hallowell [4] destaca os seguintes: i) modelo de 2 fatores; e ii) modelo de trajetória. Uma parte significativa

dos autores concorda que os incidentes são o resultado direto da exposição, não controlada, a perigos e da realização de

tarefas em condições inseguras (e.g., [5-6]). O modelo de 2 fatores, introduzido por Heinrich [2], sugere que os

incidentes resultam da combinação de exposições não controladas a perigos com a realização de tarefas em condições

inseguras. Apesar da importância relativa de cada fator poder variar em cada caso, ambos estão sempre presentes. O

modelo de trajetória ou de "queijo suíço" considera que os acidentes acontecem quando ocorre uma falha simultânea em

todas as linhas de defesa na trajetória do acidente [7]. As linhas de defesa são compostas por aspetos técnicos,

organizacionais, individuais e culturais, para além das proteções existentes.

Mais recentemente, e especificamente para o sector da construção, têm sido desenvolvidos diversos modelos de

causalidade. A generalidade conjuga elementos dos modelos genéricos de processos de acidentes e dos modelos de

erros humanos e comportamentos perigosos. Abdelhamid e Everett [8] desenvolveram o Accident Root Causes Tracing

Model (ARCTM). Este é um modelo de pesquisa da causalidade dos acidentes considerando 3 classes de origens para os

acidentes: i) falha na identificação de condições de insegurança antes de iniciar a atividade; ii) decisão de prosseguir

apesar de detetar a condição de segurança;e iii) decisão de executar um ato perigoso independentemente das condições

iniciais do ambiente de trabalho. Suraji et al. [9] desenvolveram um modelo de causalidade para acidentes da construção

centrado no comportamento desadequado dos indivíduos. O modelo considera que os fatores que explicam os acidentes

podem ser classificados como próximos ou distantes. Os fatores próximos são aqueles diretamente relacionados com os

acidentes, enquanto os fatores distantes estão na origem dos fatores próximos ou constituem agravantes. Mitropoulos et

al. [10] desenvolveram um modelo de causalidade de acidentes para a construção que considera, como fatores principais

para a origem dos acidentes, as condições de trabalho perigosas e os comportamentos no trabalho, que controlam a

exposição dos trabalhadores aos perigos, e os erros e alterações das condições da envolvente, que controlam a

ocorrência de incidentes.

Existem diversas características inerentes à indústria da construção que contribuem para o desempenho em termos de

segurança e saúde que, apesar da relação não ser suportada por evidências empíricas, se baseiam em teorias sólidas e

vários anos de observações [4]. Algumas das características inerentes que explicam o desempenho da indústria da

construção em termos de segurança e saúde são [11]: i) fragmentação da indústria; ii) ambientes de trabalho dinâmicos;

iii) multiplicidade de operações; iv) proximidade de múltiplas equipas; e v) cultura da indústria. Provavelmente o aspeto

mais particular da indústria da construção é a fragmentação dos intervenientes pelas fases dos empreendimentos.

Tradicionalmente, a fase de conceção é levada a cabo por arquitetos, engenheiros e outros técnicos envolvidos no

desenvolvimento dos projetos, sendo depois solicitadas propostas a empreiteiros que levarão a cabo a execução. A

exploração é, usualmente, da responsabilidade de outro interveniente, que poderá ser o promotor do empreendimento, o

cliente ou outro. Este é um processo linear em que cada fase se encontra devidamente compartimentada e é levada a

cabo por entidades distintas, com ligações ténues entre si e objetivos distintos, por vezes antagónicos [12]. Gambatese

[13] reporta que os métodos integrados de contratação, como os procedimentos de conceção-construção, estão

associados a menores taxas de acidentes. Ao contrário do que sucede noutras indústrias, na construção o ambiente de

trabalho é frequentemente único, transiente e dinâmico. Os estaleiros são locais em constante transformação, expostos a

elementos estocásticos (e.g., condições climatéricas; características dos solos; acidentes rodoviários) e que podem ser

significativamente diferentes de empreitadas anteriores. Adicionalmente, é frequente coexistirem nos estaleiros equipas

de trabalho com tarefas muito distintas, também elas com elevada rotatividade dos seus membros. Todos estes fatores

contribuem para aumentar o perigo de ocorrerem acidentes e para distraírem os trabalhadores de completarem as suas

tarefas em segurança (e.g., ver [5] [14-16]). Em último lugar, a própria cultura dos trabalhadores na indústria constitui

um fator que explica o desempenho em termos de segurança e saúde. Podem ser identificados vários fatores culturais

neste capítulo, mas destacam-se o machismo, o abuso de substâncias psicoativas, as barreiras de linguagem e o nível de

educação [4]. De acordo com Hinze [5], a postura dos trabalhadores da construção aumenta a tolerância ao risco e,

consequentemente, a frequência e severidade dos acidentes. Nos EUA, o consumo de bebidas alcoólicas ou de drogas

pelos trabalhadores da construção é cerca do dobro do registado em média em todas as indústrias, o que constitui um

fator de agravamento sério quando associado ao tipo de tarefas desempenhadas [17]. O baixo nível de educação,

juntamente com a coexistência de trabalhadores de diferentes nacionalidades, está na origem de barreiras de

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Proposta de modelo quantitativo baseado no risco para a gestão da segurança de saúde na construção

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comunicação, não só entre os trabalhadores, mas também entre a gestão e os trabalhadores. As diferenças culturais e as

deficiências de comunicação impedem a prevenção dos acidentes, podendo mesmo contribuir para a sua ocorrência.

Perante a complexidade dos acidentes na construção, a presente comunicação propõe um modelo que procura permitir

ter em consideração essa complexidade e providenciar um resultado quantitativo que possa auxiliar na tomada de

decisões.

2. ABORDAGEM PROPOSTA

Tendo como base o modelo de solicitação desenvolvido por Hallowell e Gambatese [18] e o modelo de solicitação-

capacidade desenvolvido por Mitropoulos et al. [19], dois dos modelos mais recentes e desenvolvidos para o sector da

construção, propõe-se o MOdelo de RIsco Potencial para a Segurança e Saúde – MORIP-SS. O modelo proposto

acresce aos modelos de base referidos ao permitir estimar o custo médio total dos acidentes de trabalho por actividade,

grupo de trabalhadores ou na globalidade do empreendimento, servindo de base para análises custo benefício de

medidas adicionais ao nível da segurança e saúde. Matematicamente, o modelo traduz-se pela seguinte expressão:

SS =∑

[

∑ FOj NTj Dj⏟ Exposição por

grupo de trabalhadores

n

j=1

(∑ FGk CTk⏟ Severidade

das consequências

TIk⏟Possibilidadede ocorrência

r

k=1

)

j]

i

m

i=1

(1)

em que SS são os custo decorrentes de acidentes de trabalho (€), FO é o fator operacional (-), NT é o número de

trabalhadores envolvidos na atividade i (-), 𝐷 é a duração da atividade i (hora), FG é o fator de gravidade (-), TI é a taxa

de incidência do perigo k (número de acidentes/hora), CT é o custo total do acidente (€/acidente), i é a atividade (-), j é o

número de grupos de trabalhadores na atividade (-) e 𝑘 são os perigos para a atividade (-).

3. IMPLEMENTAÇÃO

3.1. Dados de base

Os acidentes em que ocorra alguma fatalidade imediata constituem situações bem definidas e tendem a ser do

conhecimento das autoridades relevantes e, muitas vezes, explorados mediaticamente. Consequentemente, as situações

de registos incompletos são reduzidas. Assim, apesar das dificuldades que possam existir no apuramento das causas, as

origens são geralmente conhecidas e a quantificação é possível com alguma facilidade e rigor. Já no caso dos acidentes

em que a morte não é imediata, pode ser mais difícil estabelecer a relação entre o agente causador e o óbito. Neste caso,

os resultados podem ser substancialmente distintos, dependendo, em grande medida, do critério adotado pelas

autoridades para o período a considerar uma fatalidade como decorrente do acidente. Analisando acidentes fatais

decorrentes de quedas na construção civil, Cattledge et al. [20] verificaram que o óbito ocorreu no próprio dia em cerca

de 65% dos casos, mas cerca de 15% das mortes só ocorreram passada uma semana, e cerca de 5% tiveram lugar após

mais de 90 dias. Apesar destes detalhes de definição, nos países mais desenvolvidos, a generalidade das instituições

responsáveis por recolher informação sobre acidentes fatais tem confiança nos valores disponíveis (e.g., ver [21]). O

prazo de um ano é recomendado pela International Labour Organization (ILO), sendo adotado pela maioria dos países

na Europa e utilizado na informação recolhida pela Eurostat, mas o critério não é universal. Outra fonte de diferenças

entre os dados estatísticos disponíveis é que alguns países consideram todos os trabalhadores (e.g., Austrália;

Alemanha; Itália; Noruega; Suécia; USA) enquanto outros excluem os trabalhadores por conta ponta própria (e.g.,

Finlândia; Espanha; Suiça) [22].

De acordo com os dados disponibilizados pelo BLS, as principais origens de acidentes fatais no sector da construção

nos EUA são as seguintes: i) A - Contacto com objetos e equipamento; ii) B - Quedas; iii) C - Exposição a substâncias

ou ambientes perigosos; iv) D - Acidentes de transporte; v) E - Incêndios e explosões; e vi) F - Assaltos e atos de

violência. Na Figura 1, observa-se que a importância das quedas nos acidentes fatais no sector da construção

apresentam um peso significativo nas obras de construção civil, mas a sua relevância diminui significativamente nas

obras de engenharia civil. Nas obras de infraestruturas e, mais particularmente nas obras de saneamento, os acidentes

relacionados com o manuseamento de materiais (inclui os soterramentos) e equipamentos e envolvendo equipamentos

móveis e veículos assumem o maior destaque.

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Proposta de modelo quantitativo baseado no risco para a gestão da segurança de saúde na construção

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(A) (B)

(C) (D)

(E)

Figura 1 – Taxas de Incidência para as principais origens de acidentes fatais nos EUA no (A) sector da construção e nos

subsectores de (B) construção civil, (C) engenharia civil, (D) infraestruturas e (E) saneamento

Considerando a totalidade dos trabalhadores envolvidos na construção (privados e públicos), observa-se que a taxa de

incidência tem apresentado uma tendência ligeiramente decrescente ao longo das últimas duas décadas. No entanto,

apesar de se observar um decréscimo na ordem dos 20% nos últimos 20 anos, a variação anual tem sido ligeira e sujeita,

por vezes, a variações positivas [23].

Para permitir uma abordagem estatística, admitiu-se que as taxas de incidência podem ser ajustadas por distribuições

normais. Na estimativa dos parâmetros estatísticos das distribuições das taxas de acidentes fatais, consideraram-se duas

abordagens (ALT - alternativa): i) ALT1 - considerando apenas os anos de 2006, 2007, 2008 e 2009 e admitindo que a

2006

2007

2008

2009

0.1

1

10

A B C D E FAno [-]

Taxa

de

Inci

nci

a [p

or

10

0 0

00

TE]

Origem do acidente [-]

2006

2007

2008

2009

0.1

1

10

A B C D E FAno [-]

Taxa

de

Inci

nci

a [p

or

10

0 0

00

TE]

Origem do acidente [-]2006

2007

2008

2009

0.1

1

10

A B C D E FAno [-]

Taxa

de

Inci

nci

a [p

or

10

0 0

00

TE]

Origem do acidente [-]

2006

2007

2008

2009

0.1

1

10

A B C D E FAno [-]

Taxa

de

Inci

nci

a [p

or

10

0 0

00

TE]

Origem do acidente [-]

2006

2007

2008

2009

0.10

1.00

10.00

A B C D E FAno [-]

Taxa

de

Inci

nci

a [p

or

10

0 0

00

TE]

Origem do acidente [-]

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Proposta de modelo quantitativo baseado no risco para a gestão da segurança de saúde na construção

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tendência na evolução da taxa de incidência é desprezável neste intervalo; ii) ALT2 - admitindo que a taxa de incidência

média corresponde à média móvel com período de 4 anos e que a variabilidade é dada pelas diferenças entre uma curva

de regressão polinomial de 2º grau, ajustada pelas taxas de 2003 a 2009, e as taxas observadas. Os critérios selecionados

para as duas abordagens visaram garantir que o valor médio estimado em qualquer uma das abordagens é o mesmo e

procuraram capturar cenários extremos em termos de variabilidade. Na ALT2, sempre que o número de valores

disponíveis para proceder à regressão foi inferior a 4 adotaram-se os valores obtidos na ALT1.

3.1. Resultados

Na Figura 2, apresentam-se as distribuições de taxas de incidência obtidas por cada uma das abordagens, por subsector.

De salientar as diferenças em termos da variabilidade, em particular no subsector do saneamento. No entanto, é preciso

ter em consideração que parte das diferenças obtidas no subsector do saneamento resulta também das diferenças na

dimensão das amostras.

Na Figura 3 e na Figura 4, apresentam-se as distribuições estatísticas dos custos associados a acidentes fatais nos EUA

por subsector e por origem do acidente, respetivamente. Os valores foram atualizados para valores de 2009 com base

nas taxas de inflação registadas nos EUA. Relativamente à variabilidade, observou-se que, tanto por origem de acidente

pelos vários subsectores, como por subsector pelas várias origens e por abordagem, os rácios entre os desvios padrão

máximo e mínimo foram sempre superiores a 2, variando entre 3.25 e 33.66. A única exceção foram os acidentes com

origem em assaltos e atos de violência estimados segundo a ALT2, em que o rácio é de 1.23. Validar as gamas de custos

obtidas é impossível sem dispor dos dados originais, que são inacessíveis por motivos de confidencialidade. No entanto,

constata-se que a variabilidade se encontra dentro das gamas obtidas por Rognstad [24], na Noruega, e Hassam [25], em

Portugal.

Fazendo uso da técnica de simulação de Monte Carlo, assumindo uma lógica de relação custo-benefício, é possível

estimar a distribuição do valor a investir na segurança e saúde para evitar acidentes fatais, por cada hora de trabalho,

para cada subsector e origem do acidente. Na Figura 5, apresentam-se as distribuições dos riscos potenciais unitários

estimados por subsector. Para as estimativas efetuadas, utilizou-se um fator de gravidade unitário e os custos dos

subsectores de infraestruturas e saneamento consideraram-se iguais aos da engenharia civil. Nas simulações de Monte

Carlo efetuaram-se 5 000 iterações, tendo sido utilizado o método de amostragem hipercúbico latino e o gerador de

números aleatórios Mersenne Twister.

(A) (B)

Figura 2 – Distribuição da Taxa de Incidência de acidentes fatais nos EUA determinada segundo a (A) ALT1 e (B)

ALT2

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

8.0 13.0 18.0 23.0 28.0 33.0

Pro

bab

ilid

ade

[-]

Taxa de Incidência [por 100 000 TE]

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

8.0 13.0 18.0 23.0 28.0 33.0

Pro

bab

ilid

ade

[-]

Taxa de Incidência [por 100 000 TE]

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

8.0 13.0 18.0 23.0 28.0 33.0

Pro

bab

ilid

ade

[-]

Taxa de Incidência [por 100 000 TE]

CG CC EC IE SA

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Sousa, V; Alves Dias, L.; Almeida, N. M.

Proposta de modelo quantitativo baseado no risco para a gestão da segurança de saúde na construção

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Figura 3 – Custo de acidentes fatais nos EUA para construção e por subsector

Com base nas distribuições dos riscos potenciais unitários determinados, obtiveram-se os seguintes custos médios dos

acidentes fatais por cada hora de trabalho de cada trabalhador: i) $3.72/H.h para o sector construção no global; ii)

$3.01/H.h para o subsector da construção civil; e iii) $5.20/H.h para o subsector da engenharia civil. Na engenharia

civil, estimaram-se valores de $5.15/H.h e $5.09/H.h para os subsectores das infraestruturas e do saneamento,

respetivamente.

(A) (B)

(C)

Figura 4 – Custo de acidentes fatais nos EUA por origem para (A) a construção no global, (B) o subsector da construção

civil e (C) o subsector da engenharia civil

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

4000 4250 4500 4750 5000 5250 5500

Pro

bab

ilid

ade

[-]

Custo [$1 000]

CG

CC

EC

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000

Pro

bab

ilid

ade

[-]

Custo [$1 000]

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000

Pro

bab

ilid

ade

[-]

Custo [$1 000]

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000

Pro

bab

ilid

ade

[-]

Custo [$1 000]

A

B

C

D

E

F

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Sousa, V; Alves Dias, L.; Almeida, N. M.

Proposta de modelo quantitativo baseado no risco para a gestão da segurança de saúde na construção

7

(A) (B)

Figura 5 – Risco potencial unitário de acidentes fatais nos EUA por subsector segundo a (A) ALT1 e a (B) ALT2

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O MOdelo de RIsco Potencial para a Segurança e Saúde – MORIP-SS proposto na presente comunicação destina-se a

auxiliar nas decisões relativas à implementação de medidas de segurança e saúde adicionais. Para tal, o MORIP-SS

permite considerar de forma explícita os diferentes grupos de trabalhadores em atividades distintas e sujeitos a riscos

variados que podem ter lugar num empreendimento de construção. Deste modo, incorpora as especificidades da

indústria da construção em geral e de cada empreitada em particular através da avaliação pericial do risco relativo de

cada atividade para a segurança e saúde dos trabalhadores envolvidos. Com base nessa avaliação pericial infere-se qual

o custo estatístico médio de eventuais acidentes, estabelecendo assim o montante que compensa investir em medidas

adicionais. Apesar das questões éticas que se levantam em torno da questão do valor da vida humana, o MORIP-SS

apresenta a virtude de permitir efetuar análises custo-benefício de medidas adicionais em termos monetários

contribuindo para alterar a gestão da segurança e saúde na construção como uma atividade meramente prescritiva no

sentido de cumprir com as exigências legais e regulamentares para uma atividade proactiva de procurar otimizar as

soluções implementadas. As fontes de informação para a implementação do modelo, nomeadamente no que concerne

aos custos, encontram-se discutidas em maior detalhe em Sousa et al. [26-27].

5. REFERÊNCIAS

[1] Letho, M.; Slavendy, G. (1991). Models of accident causation and their application: Review and reappraisal.

Journal of Engineering and Technology Management, 8:173-205.

[2] Heinrich, H. W. (1931). Industrial accident prevention: A scientific approach. McGraw-Hill: New York.

[3] Cooper, J. (1961). Human initiated failures and malfunction reporting. IRE Transactions on Human Factors in

Electronics, HFE-2:104-109.

[4] Hallowell, M. R. (2008). A formal model for construction safety and health risk management. PhD Thesis, Oregon

State University, USA.

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Page 8: PROPOSTA DE MODELO QUANTITATIVO BASEADO NO …CP2015/Link/Papers/7431.pdf · acidentes, enquanto os fatores distantes estão na origem dos fatores próximos ou constituem agravantes

Sousa, V; Alves Dias, L.; Almeida, N. M.

Proposta de modelo quantitativo baseado no risco para a gestão da segurança de saúde na construção

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