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529Caracterização de sintomas de carências nutricionais em ...ACTA AMAZONICA 32(4): 529-539. 2002.

*Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, INPA/CPCA, Cx. Postal 478, 69011-970 Manaus,AM, Brasil. e-mail: [email protected]

CARACTERIZAÇÃO DE SINTOMAS DE CARÊNCIASNUTRICIONAIS EM MUDAS DE PUPUNHEIRA CULTIVADASEM SOLUÇÃO NUTRITIVA.

José Risonei Assis da SILVA*, Newton Paulo de Souza FALCÃO*

RESUMO - Os conhecimentos de nutrição mineral da pupunheira (Bactris gasipaes Kunth,Palmae) são relativamente escassos e incipientes, faltando dados consistentes sobre sua demandanutricional desde a fase de viveiro até a fase de produção. Com o objetivo de caracterizar ossintomas de carências de macro e micronutrientes, e identificar os níveis analíticos associados àscarências minerais em mudas de pupunheira, foi conduzido um ensaio em casa de vegetação,pertencente ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, AM. Plantas de pupunheiraforam cultivadas em solução nutritiva, tendo como substrato areia lavada. Os tratamentos foram:completo e omissão individual de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, ferro,boro, cobre, manganês, zinco e molibdênio. O delineamento experimental foi inteiramentecasualizado com treze tratamentos e quatro repetições. As deficiências dos nutrientes nas mudasde pupunheiras se traduziram por sintomas típicos e facilmente identificáveis, e os níveis analíticosde adequação e deficiência obtidos nas folhas foram: N (g kg-1) 30.7 - 10.1; P (g kg-1) 3.4 - 1.0;K (g kg-1) 27.8 - 4.7; Ca (g kg-1) 12.7 - 2.6; Mg (g kg-1) 3.5 - 0.9; Fe (mg kg-1) 175 - 191; Zn (mgkg-1) 33 - 41.

Palavras-chave: Bactris gasipaes, composição mineral

Characterization of Symptoms of Nutritional Deficiencies in Peach Palm Cultivated in Nu-trient Solution.

ABSTRACT - Information on peach palm (Bactris gasipaes Kunth, Palmae) mineral nutritionis scanty. This study was carried out in a greenhouse of the National Research Institute forAmazonia, Agronomy Department, to characterize the symptoms of nutrient deficiency and toidentify the critical nutrient levels. Peach palm plants are cultivated in sand with 13 nutrient so-lutions: complete nutrient solution, minus nitrogen, phosphorus, potassium, calcium, magnesium,sulphur, iron, boron, copper, manganese, zinc, and molybdenum. The experimental design wascompletely randomized with 13 treatments and four replications. Nutrient deficiencies in the peachpalm seedlings were easy identified and the analytical levels of adequacy and deficiency in theleaves were: N (g kg-1) 30.7 - 10.1; P (g kg-1) 3.4 - 1.0; K (g kg-1) 27.8 - 4.7; Ca (g kg-1) 12.7 -2.6; Mg (g kg-1) 3.5 - 0.9; Fe (mg kg-1) 175 - 191; Zn (mg kg-1) 33 - 41.

Key-words: Bactris gasipaes, leaf nutrient content

Introdução

Na Amazônia pode-se encontraruma grande variedade de frutíferasnativas com possibilidade de uso naagroindústria e com potencialimportante para o desenvolvimentoagrícola regional. A pupunheira(Bactris gasipaes Kunth, Palmae) éuma espécie que atualmente está tendo

grande importância devido ao seupotencial alimentício e econômico(Clement & Mora Urpi, 1987). Deuma maneira geral, a pupunheiraoferece dois produtos de grandeimportância econômica: a) palmito eb) fruto. Este último possui diversasfinalidades (consumo direto comoalimento, extração de óleo, farinha eração animal) (Arkcoll & Aguiar,

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1984; Clement & Mora Urpi, 1987).A capacidade de produção da

pupunheira em um bom sistema decultivo ultrapassa as 25 toneladas defrutos por hectare e 2 t ha-1 de palmito,a qual poderia ser elevada através domelhoramento genético e com práticasagronômicas apropriadas (Mora Urpi,1984). Estudos têm sido realizados nosentido de diminuir o período deformação de mudas de pupunheira,quer seja através de processos queaumentem a velocidade degerminação, ou pela utilização desubstratos e adubações químicas eorgânicas que favoreçam o seudesenvolvimento. A utilização desubstrato com baixo nível defertilidade leva à formação de mudascom carências nutricionais,comprometendo o desenvolvimentotanto do sistema radicular, como daparte aérea. Segundo Lopes (1989),embora muitas vezes a diagnose visualnão revele sintomas de carênciasnutricionais, quando se efetua a diag-nose foliar observa-se teores muitobaixos de alguns nutrientes, mostrandoque a planta apresentava “fomeescondida”.

A diagnose visual consiste emcomparar o aspecto da amostra com ode um padrão. Na maior parte doscasos compara-se o aspecto da folha.Se houver falta ou excesso de umelemento, isto será traduzido emanormalidades visíveis, as quais sãotípicas para o elemento em questão. Acomposição mineral da folha ou o teordos elementos nela encontrado éconseqüência do efeito dos fatores queatuaram e, às vezes, interagiram até o

momento em que o órgão foi colhidopara análise (Malavolta et al., 1989).

A carência de cada elementoconsiderado essencial para ocrescimento das plantas desencadeiadeterminados fenômenos bioquímicosdentro das plantas, os quais sãoexternados por sintomas típicos(Epstein, 1975). Segundo Molina(1997), o diagnóstico de problemasnutricionais, mediante a observação desintomas, tem grande importânciaprática porque permite tomar decisõesrápidas no campo para a correção dasdeficiências. La Torraca et al. (1984),descrevendo o quadro sintomatológicodas carências de macronutrientes eboro em mudas de pupunheira,observaram que os primeiros sintomasvisuais nas plantas foram os decarência de enxofre, seguido donitrogênio, cálcio, potássio, magnésio,fósforo e, finalmente, o boro.

A utilização de soluçõesnutritivas constitui importante técnicapara a realização de estudosenvolvendo aspectos associados ànutrição de plantas, tais como:eficiência de absorção e utilização denutrientes; caracterização desintomatologias de carências eexcessos de nutrientes; estudos sobreaspectos histológicos, morfológicos eanatômicos de raízes submetidas adiferentes teores e relações entrenutrientes; translocação ecompartimentalização de nutrientesnas plantas; interações – antagonismoe sinergismo – entre nutrientes, etc(Novais et al., 1991).

Os trabalhos sobre nutrição mi-neral da pupunheira são raros e

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incipientes, faltando dadosconsistentes sobre sua demandanutricional, desde a fase de viveiro atéa fase de produção. Tratando-se deuma cultura que tende a se expandir,tanto na região Norte como em outrasregiões do país, os conhecimentos denutrição mineral dessa espécie tornam-se fundamentais, como base necessáriapara os programas de adubações e,consequentemente, o desenvolvimentosustentável da cultura.

O presente trabalho teve comoobjetivo caracterizar os sintomas decarências de macro e micronutrientesem mudas de pupunheira e identificaros níveis analíticos associados àscarências minerais.

Material e Métodos

Foram utilizadas sementes depupunheira (Bactris gasipaes Kunth,Palmae) oriundas de uma populaçãode Yurimaguas, Peru. A semeadura foiefetuada em caixas de madeira,contendo como substrato serragem.Após a germinação, as plântulaspermaneceram por, aproximadamente,dois meses nesse substrato quando fo-ram repicadas para uma bandejacontendo como substrato areia lavada,onde permaneceram durante um mês,sendo irrigadas somente com águadestilada. Por ocasião da repicagem,efetuou-se a remoção das sementesque ainda encontravam-se aderidas aocoleto das plântulas.

Posteriormente, as plântulas fo-ram transplantadas para vasos deplástico contendo 5 kg de areia lavada.Os vasos foram pintados em suasuperfície externa com tinta aluminol

e, em sua porção superior, colocou-seuma tampa de isopor com pequenoorifício no centro para fixação daplântula. Esse procedimento foiutilizado para impedir a incidênciainterna de luz no substrato e,consequentemente, o desenvolvimentode algas.

As plantas passaram inicialmentepor um período de adaptação euniformização durante dois meses,sendo irrigadas diariamente porpercolação dos vasos com soluçãonutritiva completa de 1/5 de forçaiônica para posteriormente receber ostratamentos com 1 força (concentraçãode base normal).

O experimento foi conduzido emcasa de vegetação, no InstitutoNacional de Pesquisas da Amazônia,Manaus, AM, em delineamentointeiramente casualizado, com trezetratamentos e quatro repetições. Cadaparcela experimental foi representadapor uma planta. Os tratamentos foramos seguintes: completo e omissão in-dividual de nitrogênio, fósforo,potássio, cálcio, magnésio, enxofre,ferro, boro, cobre, manganês, zinco emolibdênio. As soluções nutritivasempregadas foram as de Sarruge(1975) e Jacobson (1951) (Tab. 1) .

As plantas foram irrigadasdiariamente por percolação dos vasos,sendo as soluções nutritivas renovadasa cada 20 dias, até o quadrosintomatológico das carênciasnutricionais tornar-se evidente. Aevolução dos sintomas de deficiênciados elementos nutrientes foram descritosdesde o estágio inicial até tornarem-sebem definidos, procedendo-se então, a

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coleta das plantas.O material colhido foi lavado e

colocado para secar em estufa comcirculação forçada de ar a 60-65ºC, atéatingir peso constante. Posteriormente,efetuaram-se em laboratório asdeterminações dos teores de macro emicronutrientes nas folhas, de acordocom os métodos descritos por Sarruge& Haag (1974).

Resultados e DiscucssãoSintomas de deficiência

NitrogênioAs plantas cultivadas em solução

nutritiva com omissão de nitrogênioficaram pouco desenvolvidas. Após

Tabela 1. Composição das soluções nutritivas, em mL L-1, utilizadas em mudas de pupunheirapara obtenção de deficiências de nutrientes.

oãssimO

aicnâtsbuS otelpmoC N- P- K- aC- gM- S- eF- B- uC- nM- nZ- oM-

HK 2 OP 4 Llom- 1- 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

ONK 3 Llom- 1- 5 5 5 3 3 5 5 5 5 5 5

ON(aC 3)2 Llom- 1- 5 5 5 4 4 5 5 5 5 5 5

OSgM 4 Llom- 1- 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2

Llom-lCK 1- 5 1 2 2

lCaC 2 Llom- 1- 5 1 1

HN 4H2 OP 4 Llom- 1- 1

HN 4 0N 3 Llom- 1- 2 5

HN( 4)2 OS 4 Llom- 1- 2

ON(gM 3)2 Llom- 1- 2

*eF-orciM 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

B-orciM 1

uC-orciM 1

nM-orciM 1

nZ-orciM 1

oM-orciM 1

**ATDE-eF 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

* Sarruge (1975); ** Jacobson (1951)

dois meses de uso da solução sem N,observou-se clorose, inicialmente nasfolhas mais velhas, seguida de necrosenas margens das folhas. Com o tempo,esta clorose tornou-se generalizada emtoda a planta (Fig. 1). Os sintomasdescritos concordam parcialmente comLa Torraca et al. (1984), não seobservando a manutenção dacoloração verde, característica nasfolhas mais novas, descritos por essesautores. Por se tratar de um elementomóvel dentro da planta, aredistribuição do nitrogênio foibastante clara, uma vez que as folhasvelhas foram as primeiras aapresentar o sintoma. Esta coloração

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amarelada das folhas está associadacom a menor produção de clorofila ecom modificações na forma decloroplastos (Epstein, 1975;Malavolta, 1980; Raij, 1991)

Fósforo

Constatou-se que a omissão dofósforo limitou o crescimento daplanta, reduzindo o tamanho dasfolhas novas, levando as folhas maisvelhas a apresentarem coloraçãoamarelada, seguida de necrose esecamento das pontas. As folhasmais novas apresentaram coloraçãoverde opaco e ficaram levementemurchas (Fig. 1). Esses sintomasconcordam, em parte, com osdescritos por La Torraca et al .(1984). Os autores observaramapenas estagnação no crescimentodas plantas, em confronto com asplantas submetidas ao tratamentocompleto, não havendo outrossintomas evidentes. De acordo comMalavolta (1980) e Marschner(1999), a rápida redistribuição dofósforo dos órgãos mais velhos paraos mais novos, quando ocorre acarência do elemento, faz com queas folhas mais velhas sejam asprimeiras a mostrar os sintomas, ouseja, a carência deste elemento nosubstrato induz a planta a utilizar ofósforo não metabolizado, localizadono vacúolo das folhas mais velhas,sendo redistribuído para os órgãosmais novos cujo crescimento cessaquando acaba tal reserva.

Potássio

Plantas vegetando em solução

nutritiva na qual o potássio foi omitidoapresentaram inicialmente clorose,seguida de necrose das pontas e margensdas folhas mais velhas. Estasintomatologia progrediu com odecorrer da deficiência, até atingir asfolhas intermediárias, com as maisvelhas secando a partir das pontas, nosentido da ráquis (Fig. 1). O quadrosintomatológico descrito concorda como observado por La Torraca et al.(1984). Os sintomas de carência de K semanifestam, em primeiro lugar, nasfolhas mais velhas (indicação da rapidezna redistribuição), como clorose seguidade necrose das pontas e margens. Nasregiões lesadas (clorose e necrose)acumula-se o tetrametileno diamina ouputrescina, NH

2(CH

2)

4 (Malavolta,

1980; Raij, 1991).

Cálcio

Mudas de pupunheira cultivadasem solução nutritiva, com omissão decálcio, apresentaram as folhas maisnovas “pregueadas”, mostrandocrescimento desigual, do qual resultouem formas tortas com um gancho naponta (Fig. 1). La Torraca et al. (1984)relataram, como sintomas iniciais decarência, folhas mais velhas com umacoloração verde clara e onduladas, enotaram ausência de espinhos nalâmina foliar, o que não foi verificadoneste trabalho. O cálcio é absorvidopelas raízes como Ca+2 e o seumovimento ascendente se dá através dereações de troca em vasos condutores,mais do que por fluxo de massa. Depoisde localizado nas folhas o Ca se tornaimóvel. A falta de cálcio afetaparticularmente os pontos de

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crescimento da raiz; aparecem núcleospoliplóides, células binucleadas,núcleos constritos, divisões amitóticas;cessa o desenvolvimento, háescurecimento e morte (Epstein, 1975;Malavolta, 1980).

Magnésio

Plantas submetidas a tratamentocom omissão de magnésioapresentaram, inicialmente, cloroseinternerval nas folhas mais velhas.Esta sintomatologia, com o decorrerdo tempo, transferiu-se para as folhasintermediárias, com as mais velhastornando-se esbranquiçadas. Estacoloração das folhas está associadacom a menor produção de clorofila(Fig. 1). A sintomatologia descritaconcorda com a observada por LaTorraca et al. (1984). Malavolta(1980) e Marschner (1999) relatamque a absorção do magnésio pelasplantas se faz na forma de Mg+2. OMg+2, como o Ca+2 e o K+, se movepara cima na corrente transpiratória.De modo semelhante ao que ocorrecom o potássio, o Mg+2 é móvel nofloema e, portanto, os sintomas decarência, clorose internerval,começam nas folhas mais velhas.

Enxofre

Os sintomas de deficiência deenxofre nas mudas de pupunheiramanifestaram-se primeiro com clorosenas folhas mais novas, seguido deenrolamento das margens de todas asfolhas (Fig. 1). A sintomatologiadescrita diverge da descrita por LaTorraca et al. (1984), que observarama perda da coloração verde

característica na ponta das folhas maisvelhas e substituição da coloraçãoverde das folhas mais novas por umacoloração verde claro. De acordo comMalavolta (1980) e Raij (1991), aforma de S predominantementeabsorvida da solução do solo pelaraízes é a altamente oxidada – osulfato. O sulfato é transportadopredomi-nantemente na direçãoacrópeta, da base da planta para cima;a capacidade da planta para mover oenxofre na direção basípeta é muitopequena; em caso de carência deenxofre os sintomas aparecem emprimeiro lugar nos órgãos mais novos,como as folhas mais novas. Ossintomas assemelham-se um poucocom os da deficiência de nitrogênio,mas o enxofre não se transloca dasfolhas velhas para as novas.

Ferro

Os sintomas de deficiência deferro observados no presente estudoocorreram três meses após otransplantio. Com a falta do elemento,o mais ostensivo sintoma que a plantaapresentou foi a alteração na coloraçãodas folhas mais novas; essas folhasexibiram as nervuras bempronunciadas na tonalidade verde,formando um contraste nítido com oresto amarelo do limbo; a quedagradativa dos níveis de clorofilaestampou folhas totalmente cloróticase mais tarde esbranquiçadas. Asegunda e a terceira folhas após aflecha apresentavam também umaforma pontiaguda e mais estreita,comparadas com folhas normais (Fig.1). A sintomatologia descrita está de

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acordo com a observada por Salvadoret al. (1997) para mudas de goiabeirae por Martins et al. (2000) em mudasde andiroba (Carapa guianensisAubl.). Segundo alguns autores(Epstein, 1975; Malavolta, 1980; Raij,1991), o transporte do ferro se dá nacorrente transpiratória e, no exsudadodo xilema, o ferro aparece largamentecomo quelado do ácido cítrico. Naplanta em desenvolvimento e naadulta, entretanto, não se dápraticamente a redistribuição do Fe e,como conseqüência, a lâmina foliaramarelece, enquanto as nervuraspodem ficar verdes durante algumtempo, destacando-se como umreticulado muito fino. Em casosextremos, as folhas adquiremcoloração esbranquiçada.

Boro

Observou-se que os sintomasdecorrentes da deficiência de boro emmudas de pupunheira manifestaram-senas folhas mais novas, que ao sedesenvolverem mostravam ondulações nalâmina foliar (Fig. 1). Este resultado di-verge do obtido por La Torraca et al.(1984) que observaram, como sintomasiniciais nas folhas mais velhas umacoloração verde mais intensa, e nas folhasnovas quando surgiam não sedesenrolavam e quando isto ocorriamostravam falhas no limbo, o que não foicomprovado neste trabalho. O B mostratransporte unidirecional no xilema, nacorrente transpiratória e grandeimobilidade no floema, característicasque reparte com o Ca. A falta deredistribuição do boro tem as seguintesconseqüências: (1) os sintomas de

carência aparecem primeiramente nosórgãos mais novos e regiões decrescimento (redução no tamanho edeformação das folhas mais novas, morteda gema terminal, menor crescimento dasraízes); (2) a planta necessita de umsuprimento contínuo para viver (Epstein,1975; Malavolta, 1980).

Zinco

Os sintomas visuais de deficiênciadeste nutriente manifestaram-se,inicialmente, nas folhas mais novas, asquais apresentaram-se amareladas,estreitas, alongadas em forma de lançase com necrose bastante evidente naspontas, se expandindo em direção aráquis. Notou-se também que a flecha jáapresentava secamento nas pontas,mostrando claramente a morte de todoo tecido (Fig. 1). Estes sintomas sãosemelhantes aos descritos por Martins etal. (2000) em mudas de andiroba(Carapa guianensis Aubl.). De acordocom Malavolta (1980) e Marschner(1999), o zinco é um elemento poucomóvel na planta, particularmente nasmais deficientes e nas folhas velhas. Ossintomas mais típicos de carência dezinco consiste no encurtamento dosinternódios e na diminuição da produçãode folhas novas, que tornam-sepequenas, cloróticas e lanceoladas;podem aparecer tonalidades roxas noscaules e nas folhas.

Não foram constatados sintomasvisuais que caracterizassem asdeficiências de cobre, manganês emolibdênio. Uma das possíveis causasque não permitiu que o Cu, Mn e Moatingissem níveis de carência,manifestando sintomas visuais, pode

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ser a baixa exigência desta cultura,tendo sido suficientes as quantidadesdesses elementos fornecidas nasolução completa diluída antes dainstalação dos tratamentos de omissão.

Um outro fator que pode tercontribuído para isso foi a utilizaçãode fontes de nutrientes de baixa purezaquímica que podem ter introduzidocontaminantes nas soluções. SegundoNovais et al. (1991), o problema maiorassociado aos contaminantes dizrespeito aos elementos existentes em

baixas concentrações na solução; osmicronutrientes, pois quando se desejaavaliar os efeitos da carência extrema– ausência – de certo micronutrientesobre a sintomatologia apresentadapor uma planta, é essencial que asfontes dos vários nutrientes,constituintes das soluções nutritivas,sejam de elevado grau de pureza.Fontes (1986) afirma também quealém dos produtos químicos usadospara o fornecimento de nutrientes àssoluções, outras fontes potenciais de

Figura 1 - Sintomas de deficiências de nutrientes em mudas de pupunhas: a) nitrogênio; b) fósforo;c) potássio, d) cálcio; e) magnésio; f) enxofre; g) ferro; h) boro e i) zinco

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contaminação são a água, osrecipientes e outros materiaisutilizados no preparo de soluções,além do substrato usado paragerminação, emergência e início decrescimento das plântulas.

Níveis analíticos

A sintomatologia visual dascarências foi confirmada por análisequímica das plantas conforme seobserva na Tabela 2. As concentraçõesde nutrientes na parte aérea das plantassubmetidas ao tratamento completoobedeceram a seguinte ordemdecrescente: N > K > Ca > Mg > P >Fe > Zn. Este resultado coincide como obtido por Herrera (1989) em umplantio de pupunheira para produçãode palmito na Costa Rica. O autormencionou também que o nitrogênioé o elemento removido em maiorquantidade pela planta, seguido pelopotássio.

O teor de nitrogênio observadonas folhas das plantas sob tratamentocompleto (Tab. 2) situou-se na faixados valores adequados observadospela maioria dos autores (La Torracaet al., 1984; Molina, 1997;EMBRAPA, 1999). O teor denitrogênio nas plantas submetidas atratamento com omissão destenutriente foi inferior ao encontradoem plantas com deficiência por LaTorraca et al. (1984).

Notou-se que o teor de fósforonas plantas submetidas a tratamentocom solução nutritiva completa foi su-perior aos encontrados por algunsautores (La Torraca et al., 1984;Molina, 1997; EMBRAPA, 1999) em

folhas de plantas sadias (Tabela 2). Onível de fósforo encontrado nasplantas deficientes, neste tratamento,superou o valor encontrado por LaTorraca et al. (1984) em plantas comdeficiência.

A concentração de potássioobservada nas plantas sadias (Tab. 2)foi semelhante ao valor observado porLa Torraca et al. (1984), no entanto,ficou bem acima dos níveisconsiderados como adequados porMolina (1997) e EMBRAPA (1999).O teor de potássio encontrado nasplantas com deficiência foi inferior aoencontrado em plantas deficientes porLa Torraca et al. (1984).

O teor de cálcio encontrado nasplantas submetidas a tratamentocompleto (Tab. 2) foi comparável aoencontrado por La Torraca et al.(1984), no entanto, foi superior a faixade teores considerados comoadequados por Molina (1997) eEMBRAPA (1999). Para as plantasdeficientes, o nível de cálcioencontrado foi menor do que overificado por La Torraca et al. (1984)em plantas com carência nessenutriente.

Observou-se que o teor demagnésio encontrado nas plantas sobtratamento com solução nutritivacompleta foi inferior ao detectado porLa Torraca et al. (1984), entretanto,encontra-se dentro da faixa de teoresadequados citados pela EMBRAPA(1999) e superior a indicada porMolina (1997) (Tab. 2). O nível demagnésio nas plantas com deficiêncianesse nutriente foi inferior aoobservado por La Torraca et al. (1984)

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Tabela 2. Teores foliares de macro e micronutrientes considerados adequados para pupunheira(análises de folhas), e resultados de ensaios comparando teores de nutrientes em folhas depupunheira, submetidas a tratamento completo e deficientes.

(1) Molina (1997); (2) EMBRAPA (1999); (3) La Torraca et al. (1984); (4) Resultados deste trabalho

setneirtuN-gkg(setneirtunorcaM 1)

railofoãçartnecnoC

sodauqedA 1 sodauqedA 2 otelpmoC 3 etneicifeD 3 otelpmoC 4 etneicifeD 4

N 04-52 53-22 6,72 4,41 7,03 1,01

P 0,3-5,1 0,3-0,2 3,2 6,0 4,3 0,1

K 51-8 51-9 2,03 3,01 8,72 7,4

aC 0,5-0,2 0,4-5,2 3,41 3,3 7,21 6,2

gM 0,3-0,2 5,4-0,2 6,4 0,2 5,3 9,0

-gkgm(setneirtunorciM 1)

eF 002-001 002-04 571 191

nZ 52-51 04-51 0,33 0,14

em plantas deficientes.Na Tabela 2 pode-se constatar

também que os tratamentosdeficientes acusam teores beminferiores aos do tratamento completo,com exceção do ferro e do zinco. Noentanto, segundo Malavolta (1980), oteor de ferro total e zinco em folhas deplantas deficientes pode ser mais alto(ou pelo menos igual) ao encontradoem folhas de plantas normais.

Conclusões

A falta, individualizada, de N, P,K, Ca, Mg, S, B, Fe e Zn na soluçãonutritiva produziu alteraçõesmorfológicas, traduzidas comosintomas característicos de deficiêncianutricional para cada elementoestudado. Todas as deficiênciasobtidas produziram profundasmodificações no desenvolvimento dapupunheira na sua fase inicial. Não sedetectou sintomas de carência de Cu,Mn e Mo, provavelmente por algumacontaminação. Os teores dos nutrientes

encontrados nas folhas do tratamentocompleto e com omissão foramrespectivamente: N (g kg-1) 30.7 -10.1; P (g kg-1) 3.4 - 1.0; K (g kg-1)27.8 - 4.7; Ca (g kg-1) 12.7 - 2.6; Mg(g kg-1) 3.5 - 0.9; Fe (mg kg-1) 175 -191; Zn (mg kg-1) 33 - 41.

Bibliografia citada

Arkcoll, D.B.; Aguiar, J.P.L. 1984. Peach palm(Bactris gasipaes H.B.K.) a new source ofvegetable oil from the wet tropics. J. Sci.Food Agric., 35(5):520-526.

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Aceito para publicação em 04/09/2002.

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