capítulo iv aspectos para eficiência energética em …...nas plantas das indústrias em...

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58 Apoio Eficiência energética na indústria Os temas ligados a eficiência energética, adequação do uso dos recursos naturais e sustentabilidade estão se tornando cada dia mais frequentes. É notório analisar diversas publicações de variados setores e identificar algo relacionado a essa constante preocupação por parte dos órgãos ligados a energia, segurança e meio ambiente. Quando se trata de eficiência energética voltada para o setor elétrico, deve-se reconhecimento ao Programa de Conservação de Energia Elétrica (Procel) do governo federal, elaborado pela Eletrobras e pelo Ministério de Minas e Energia (MME), que contribuiu para estimular consumidores de diversos potenciais a refletir a respeito do assunto e realizar ações para o cumprimento de políticas de adequação para economia de energia elétrica e seu uso racional. No entanto, apesar de esse assunto estar em pauta em diversos fóruns e discussões, percebe-se ainda algumas barreiras para a implementação de projetos de eficiência energética por conta de diversos fatores que envolvem o ambiente externo e interno das corporações. Focos em investimentos direcionados a produção, barreiras culturais, carência de incentivo financeiro de órgãos de apoio e receio diante das novas tecnologias são algumas das barreiras encontradas ao propor projetos de eficiência energética nas indústrias. Contudo deve-se ressaltar que os benefícios que Por Juliana Iwashita Kawasaki e Vanderson Oliveira* Capítulo IV Aspectos para eficiência energética em sistemas de iluminação em indústrias se obtêm no uso racional de energia elétrica são substanciais para toda a sociedade se considerar que os altos custos resultantes de sistemas elétricos obsoletos e ineficientes estão indiretamente (e algumas vezes diretamente) ligados ao preço dos produtos fornecidos para o consumidor, abrindo espaço para concorrências do mercado externo. Na edição anterior pôde-se entender a significativa participação que os sistemas motrizes acionados por inversores de frequência possuem no processo de eficientização energética. Como possui uma participação expressiva – cerca de 70% dos recursos energéticos são despendidos para esses sistemas –, grande parte do foco é direcionada para esta questão. No entanto, devemos considerar os outros aspectos das instalações industriais que fazem valer o esforço dos estudos para racionalizar os recursos energéticos. Neste artigo trataremos do uso final da iluminação e sua participação no processo de eficiência energética. A iluminação possui características peculiares no que diz respeito à segurança da mão de obra, conforto e desempenho do potencial humano, aspectos esses que transcendem a necessidade única de economia de energia e se liga a abrangência do maior patrimônio corporativo: as pessoas. Portanto, fica a cargo dos profissionais da iluminação fornecer condições para o desenvolvimento das atividades que fazem uso

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Os temas ligados a eficiência energética,

adequação do uso dos recursos naturais e

sustentabilidade estão se tornando cada dia mais

frequentes.Énotórioanalisardiversaspublicaçõesde

variadossetoreseidentificaralgorelacionadoaessa

constantepreocupaçãoporpartedosórgãosligadosa

energia,segurançaemeioambiente.

Quando se trata de eficiência energética voltada

para o setor elétrico, deve-se reconhecimento ao

ProgramadeConservaçãodeEnergiaElétrica(Procel)

do governo federal, elaborado pela Eletrobras e pelo

MinistériodeMinaseEnergia (MME),quecontribuiu

paraestimularconsumidoresdediversospotenciaisa

refletir a respeito do assunto e realizar ações para o

cumprimentodepolíticasdeadequaçãoparaeconomia

deenergiaelétricaeseuusoracional.

Noentanto,apesardeesseassuntoestarempauta

em diversos fóruns e discussões, percebe-se ainda

algumas barreiras para a implementação de projetos

deeficiênciaenergéticaporcontadediversos fatores

que envolvem o ambiente externo e interno das

corporações. Focos em investimentos direcionados a

produção, barreiras culturais, carência de incentivo

financeirodeórgãosdeapoioereceiodiantedasnovas

tecnologiassãoalgumasdasbarreirasencontradasao

proporprojetosdeeficiênciaenergéticanasindústrias.

Contudo deve-se ressaltar que os benefícios que

Por Juliana Iwashita Kawasaki e Vanderson Oliveira*

Capítulo IV

Aspectos para eficiência energética em sistemas de iluminação em indústrias

se obtêm no uso racional de energia elétrica são

substanciaisparatodaasociedadeseconsiderarqueos

altoscustosresultantesdesistemaselétricosobsoletos

e ineficientes estão indiretamente (e algumas vezes

diretamente)ligadosaopreçodosprodutosfornecidos

paraoconsumidor,abrindoespaçoparaconcorrências

domercadoexterno.

Naediçãoanteriorpôde-seentenderasignificativa

participação que os sistemas motrizes acionados

por inversores de frequência possuem no processo

de eficientização energética. Como possui uma

participação expressiva – cerca de70%dos recursos

energéticos são despendidos para esses sistemas –,

grandepartedofocoédirecionadaparaestaquestão.

Noentanto,devemosconsiderarosoutrosaspectosdas

instalações industriais que fazem valer o esforço dos

estudospararacionalizarosrecursosenergéticos.

Nesteartigotrataremosdousofinaldailuminação

esuaparticipaçãonoprocessodeeficiênciaenergética.

Ailuminaçãopossuicaracterísticaspeculiaresnoque

diz respeito à segurançadamãodeobra, conforto e

desempenho do potencial humano, aspectos esses

quetranscendemanecessidadeúnicadeeconomiade

energia e se liga a abrangência domaior patrimônio

corporativo: as pessoas. Portanto, fica a cargo dos

profissionais da iluminação fornecer condições para

o desenvolvimento das atividades que fazem uso

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dos recursos visuais, evitando esforço desnecessário, cansaço

e acidentes de trabalho oriundos de sistemas de iluminação

deficientes.

Dessa forma, observam-se dois extremos muito encontrados

nasplantasdas indústriasem territórionacional.Oprimeiroéo

excesso de iluminação, que causa desconforto, ofuscamento,

prejudicaosaspectosdesegurançaeaindanosdáevidênciaque

existedesperdíciodeenergiaelétrica.Osegundoéainsuficiência

de luz, que pode provocar condições propícias a acidentes de

trabalhoedesgastedasaúdedaspessoas.

Para ajudar a delinear esses aspectos mais voltados para a

relaçãohumananailuminação,anormatécnicaconcernenteaesse

assuntorecomendaníveisdeiluminaçãoespecíficosparadiferentes

atividadeseambientes.AnormarecémpublicadaABNTNBRISO

8995-1:Iluminaçãodeambientesinternosdetrabalho,quesubstitui

anormaNBR5413:iluminânciadeinteriores,estabeleceosvalores

de iluminâncias médias mínimas em serviço para a iluminação

artificial para as diferentes áreas de trabalho em diferentes tipos

industriais. Novos aspectos são agora recomendados, além da

iluminância,comoareproduçãodecoreocontroledeofuscamento.

Assim,aspectosmaisqualitativosdeiluminaçãodeverãotambémser

levadosemconsideraçãonosambientes.

ATabela 1, a seguir, apresenta exemplos de recomendações

paraumaáreaindustrial,segundoanovanorma.

Tabela 1 – exemplo de recomendações para iluminação em aTividades indusTriais

Tipo de ambienTe, Tarefa ou aTividade

Trabalhos em ferro e aço

Instalaçõesdeproduçãosemintervençãomanual

Instalaçõesdeproduçãocomoperaçãomanualocasional

Instalaçõesdeproduçãocomoperaçãomanualcontínua

Depósitodechapas

Fornos

Usinagem,bobinadeira,linhadecorte

Plataformasdecontrole,painéisdecontrole

Ensaio,mediçãoeinspeção

uGrL

28

28

25

28

25

25

22

22

ra

20

40

80

20

20

40

80

80

observações

Ascoresparasegurançadevemserreconhecíveis

Paraalturasdemontagemacimade6m:vertambémasubseção4.6.2

Ascoresparasegurançadevemserreconhecíveis

Ascoresparasegurançadevemserreconhecíveis

em Lux

50

150

200

50

200

300

300

500

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Seconsiderarmosumambienteindustrialpadrão,érazoável

entenderquetemosdiversostiposdeambientesparaamesma

planta.Existemáreasexternasparacirculaçãodeveículosde

cargaetransportedepassageiros,escritórioemconjuntocom

aproduçãoeescritóriosprivadosparareuniõescomvisitasetc.

Existem ainda ambientes inóspitos de produção, fundições,

câmaras de pinturas e caldeiras que concentram altos níveis

de poeira, fuligem, entre outras partículas suspensas. Dessa

forma,oprojetistadeiluminaçãodeveponderaroambientee

suascondiçõesespecíficasdeoperaçãoedemanutençãopara

definirosdiferentesparâmetrosdeprojeto.

Tecnologias atuais e suas peculiaridades Uma vez conhecidos os níveis de iluminância para

os diferentes ambientes, outro aspecto importante a ser

consideradonoprojetodeiluminaçãoindustrialéaescolhado

conjuntoluminária+lâmpada+equipamentodecontrole.

Recomendações referentes ao controle de ofuscamento

(UGRL) e o índice de reprodução de cores (Ra) também

tornam-se aspectos importantes para a elaboração de

especificaçõestécnicasedefiniçãodaslumináriaselâmpadas.

Para determinação do UGRL em projetos luminotécnicos é

necessáriaaanálisedo tipode lumináriaemconjuntocoma

lâmpada.QuantomaiorovalordeUGRL,maioroofuscamento

doconjunto.

Em relação à reprodução de cor, recomenda-se, para

ambientes de trabalho contínuo, o uso de fontes luminosas

comRasuperiorouiguala80.Paraambientescompés-direitos

elevados, superior a6m, e áreas externas sãopermitidosRa

inferiores,porém,mesmonessascondiçõesdevemsertomadas

medidas adequadas para garantir que lâmpadas com uma

reprodução de cor mais alta sejam utilizadas em locais de

trabalho continuamente ocupados e também onde as cores

para segurança têmde ser reconhecidas.Dessa forma, o uso

de lâmpadas a vapor de sódio em ambientes continuamente

ocupadosnãoérecomendado.

Noquedizrespeitoàsluminárias,ousodeequipamentosde

altodesempenhoéprimordialparaprojetosquevisemeficiência

energética. O desempenho da luminária depende muito das

características óticas do refletor e da fonte luminosa, sendo

desejadaaotimizaçãodassuperfíciesespecularesparadirecionar

aluzgeradapelaslâmpadasaosplanosdetrabalho.Emambientes

industriais, é necessário levar em consideração aspectos

relacionadosàfacilidadedemanutençãodoconjuntoluminária-

lâmpada-equipamentosdecontrole,umavezquemuitasvezeso

acessoaosequipamentosédificultadoporproblemasdeelevadas

alturase/oucondiçõesdeoperaçãodaindústria.

Outros requisitosespecíficosde segurançaedesempenho

devemserobservadosemfunçãodotipodeaplicação,como

suportarvibrações,possuirestanqueidadee/ouseràprovade

explosão.

As luminárias para o ambiente industrial devem seguir a

premissa de ter alto desempenho fotométrico e alto fluxo

luminoso(porcontadopé-direitodiferenciadonasaplicações

industriais), fator esse que determina o tipo de lâmpada que

será utilizado nas instalações. Os tipos de luminárias mais

utilizados nas indústrias brasileiras são do tipo pendente ou

sobreporcomalojamentoparaoreator(equipamentoauxiliar),

refletor/refrator em acrílico prismático transparente ou de

alumínio com facho aberto ou concentrado dependendo do

pé-direitodainstalação.

Ostiposdelâmpadasparaessaslumináriassãoconsideradasas

fontesdemaiorfluxoluminosoexistentesnomercado.Sãoelas:

a) Lâmpadas de multivapores metálicos

Possuem vida útil de 10 a 12 mil horas, produzem luz

branca brilhante e índice de reprodução de cores na ordem

de80%a90%(Ra=80a90).Aspotênciasmaisusuaissãode

250We400W.Elasprecisamoperarfazendousodereatores

eletromagnéticos para o seu funcionamento. São lâmpadas

utilizadas em indústrias têxteis e alimentícias, que exigem

boareproduçãodecordosobjetosproduzidos/inspecionados.

Possuemcustomaiorqueasoutraslâmpadasdamesmafamília.

b) Lâmpadas a vapor de sódio

Possuem vida útil de 15 a 22 mil horas, produzem luz

amarelada ofuscante e baixa reprodução de cores na ordem

de 50%. Elas precisam operar fazendo uso de reatores

eletromagnéticos para o seu funcionamento. São lâmpadas

utilizadas em iluminação pública devido ao custo baixo e

vidaútilelevada.Contoucomoapoiodogovernofederalcom

relaçãoàs alíquotasde impostos.Tem rendimentoenergético

maiordoqueaslâmpadasdemultivaporesmetálicos.

c) Lâmpadas mistas

Possuem vida útil de 8 mil horas (inferior comparado

às anteriores, mas foi uma grande inovação nos anos que

precederam às incandescentes). Elas não necessitam de

equipamento auxiliar de partida (reatores). São lâmpadas de

baixo custo, mas está caindo em desuso por conta da sua

ineficiênciaenergética.

Figura 1 – Luminárias pendentes industriais.

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iod) Lâmpadas a vapor de mercúrio

Possuemvidaútilde16milhoras,luzbrancaacinzentadae

baixareproduçãodecor.Custorelativamentebaixoerequerem

reatorparao seu funcionamento.Possuemaplicaçõesdiversas

nosambientesindustriais,masporcontadesuabaixaeficiência

estãodeixandodeserutilizadas.

Pelo fato de a luminária pendente prismática ou com

refletortercomocaracterísticaousodelâmpadasdeformato

elipsoidais, elas são largamente aplicadas com lâmpadas

fluorescentescompactasdealtofluxo,porapresentaremporta-

lâmpadasdotiporosca(E27ouE40).Noentanto,essetipode

lâmpadaapresentacaracterísticaselétricascomaltosconteúdos

harmônicos (THD), podendo prejudicar o funcionamento de

outrosequipamentoscomomáquinasecomputadores.

Paracomplementarasinformaçõesreferentesàslâmpadas,

a Tabela 2 apresenta a eficácia luminosa das diferentes

lâmpadasutilizadascomumenteemaplicaçõesindustriais.

Os tipos de lâmpadas para esse tipo de luminária são

aquelas consideradas fontes demaior rendimento energético

aliado ao fluxo luminoso e a baixa temperatura dos sistemas

existentesnomercado.Sãoelas:

a) Lâmpadas fluorescentes tubulares T5 (5/8 de

polegada de diâmetro)

Possuemvidaútilde20a25milhoras,produzemluzbranca

eíndicedereproduçãodecoresnaordemde80%a90%(Ra

=80a90).Elasprecisamoperarfazendousodereatorespara

oseufuncionamento.Sãolâmpadasutilizadasgeralmenteem

ambientescomerciais,mas,devidoàeficiênciadosconjuntos

refletoresdas luminárias,podemseraplicadasnosambientes

industriais.A lâmpada fluorescentenaversãoT5de54W/50

Wé largamentesugeridapelosprofissionais responsáveispor

retrofitsindustriaiseapresentafluxoluminosode5.000lúmens

paraaplicaçõesemlumináriasdaFigura2.Algunsfabricantes

possuemversõesem80Wparapé-direitomaisalto(cercade

16metros),noentanto,oconceitobásicopermaneceomesmo.

A seguir observam-se os valores de eficácia luminosa das

lâmpadas fluorescentes mais comuns utilizadas nos ambientes

industriais.

Umadasgrandesvantagensemtrabalharcomprojetosde

eficiênciaenergéticacomlâmpadasfluorescenteséquepodem

ser operadas com reatores que possuem funções especiais

comopartidapré-aquecida.

A partida pré-aquecida do reator é obtida no início da

operaçãoaoseenergizarosistema.Duranteaproximadamente

200milissegundos,oreatorenviaumacorrenteelétricapequena

para os filamentos da lâmpada de modo que proporcione

seu aquecimento antes de serem exigidos de maneira mais

efetiva.Apósesseperíodo,o reatorprocedeàpartidanormal

da lâmpada enviando umpulso de alta tensão (da ordemde

Tabela 2 - lâmpadas mais usuais em iluminação indusTrial

Lâmpadas para uso em Luminárias indusTriais

Mista

Vapordemercúrio

Multivaporesmetálicos

Vapordesódio

eficácia Luminosa

20a35lm/W

45a55lm/W

65a90lm/W

80a140lm/W

Tabela 3 – eficácia luminosa das lâmpadas fluorescenTes

Lâmpadas para uso em Luminárias fLuorescenTes

Fluorescentecomum40W

FluorescenteT10/T12110W

FluorescenteT832W

FluorescenteT554We80W

eficácia Luminosa

40a60lm/W

45a65lm/W

55a75lm/W

75a95lm/W

Figura 2 – Luminária de alto desempenho industrial com quatro lâmpadas fluorescentes tubulares.

Tecnologias do futuro e suas vantagens Ainda no âmbito de seleção do conjunto luminária

+ lâmpada + equipamento de controle, as premissas de

rendimento, fluxo luminoso e consumo de energia devem

fazer parte dos projetos luminotécnicos nos próximos anos.

Na verdade, as tecnologias de lâmpadas apresentadas

anteriormente seguiram uma espécie de evolução em que

o requisito principal é a eficiência energética, como não

poderiaserdiferente.

Noentanto,as lumináriasqueprometem fazerpartedos

projetos no futuro são as luminárias fluorescentes tubulares

com reatores de partida pré-aquecida e as luminárias com

a tecnologia de Led. As luminárias fluorescentes suscitam

muitasdúvidasedesconfiançanosengenheirosdeinstalações

pelosimplesfatodeteremcomobasetecnologiasantigasde

lâmpadas fluorescentesHO (high output) de 110W.Apesar

dealâmpadaT5estarnomercadohámaisdedezanos,ainda

vemos muita resistência ao se aplicar essa tecnologia nos

diversossetoresdaindústria.

As luminárias fluorescentes tubularessãoconcebidas,na

maioriadasvezes,comconjuntorefletorabasedealumínio

anodizadodealtobrilho,colaborandoparaorendimentoda

lumináriaetornandoosistemamaisfriopelofatodetermos

lâmpadas“frias”ereatoresmaiseficientes.Ummodelotípico

dessalumináriaestánaFigura2.

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centenas de volts) e em seguida estabiliza para permitir que

a lâmpada permaneça ligada sem necessidade de constantes

númerosdepulsosdeenergiaeconsumodesnecessário.

Essa característica faz a vida útil da lâmpada aumentar

em30%emrelaçãoàslâmpadasqueoperamcomreatoresde

partidainstantânea.

Outro tipo de tecnologia que tem despertado interesse,

curiosidadeeatécertaansiedadenosconsumidoresindustriais

e nos projetistas é a tecnologia que utiliza Led como fonte

principal.

Essatecnologiaédefatoeficientecomrelaçãoaosvalores

absolutos de energia consumida versus a quantidade de luz

gerada. Em um passado recente havia muita suspeita com

relação ao potencial luminoso dos sistemas confeccionados

com Led. No entanto, hoje já existem fabricantes com

lumináriasdeLedparaaplicaçãoindustrialquefazfrenteaos

antigosprojetoresindustriais.Adiscussãoqueimperaagoraé

comrelaçãoaocustodessanovatecnologiae,comisso,asua

viabilidadedeaplicação.

Muitos produtos importados dos países asiáticos têm

prometidoalcançarvaloresadequadosparaessesprojetos,mas

observa-secertaresistênciaporpartedosprojetistas,devidoa

fatores,comotemperaturadeoperação,dissipaçãoadequada,

garantiadavidaútilapresentada,uniformidadenacordaluz

e custo. A constante evolução da tecnologia e dos produtos

sinaliza que o Led será uma forte alternativa para eficiência

energética nos sistemas de iluminação industrial, sobretudo

peloaspectodamanutenção,hajavistosuamaiorvidaútil.

Como obter economia de energia no retrofit de iluminação

A melhor maneira de alcançar níveis satisfatórios de

economia de energia em um ambiente industrial é entender

osprincipaisaspectosdastecnologiasvigenteseaplicá-lacom

basenaspremissasdeeficiênciaenergéticaenormatizaçãode

iluminânciaparaosambientes.

O exemplo a seguir é de uma indústria no interior

paulistano que possuía sistemas de iluminação

convencionais de luminárias pendentes prismáticas e

lâmpadas de vapor metálico de 400 W. As principais

exigências dessa indústria quanto à elaboração do estudo

técnico era conseguir 25% de economia de energia e ter

o nível de iluminação restabelecido dentro das normas

vigentesnaépoca(NBR5413).

Depossedosdadosdeiluminânciasextraídosdasnormas

e diante das necessidades de adequação de níveis de luz

recomendados, chegou-se a um estudo de substituição dos

sistemasconvencionaisporlumináriasfluorescentes4x54W

ereatoresdealtodesempenhoenergético.

A tabela a seguir apresenta as principais informações e

cálculosparaobterapréviadeconsumodosistemaexistentee

dosistemaproposto.

Os principais aspectos que valem ser ressaltados nesse

estudosão:

• O nível de iluminância dos ambientes dessa indústria

estavamuitoabaixodosníveisrequeridospelanormaepelas

necessidadesdesegurançaeexigênciasdastarefasrealizadas.

Odepartamentodemanutenção foichamadopara readequar

os níveis previstos na norma de 200 lux para essa operação

(armazenamento,estoqueemaquinários);

•As lumináriasde400Wutilizamreatoreseletromagnéticos

queconsomem (perda)cercade10%a15%dapotenciaútil

emformadecalor;

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ria Tabela 4 – consumo do sisTema exisTenTe versus consumo do sisTema proposTo

CáLCULODERETORNODEINVESTIMENTO

áREA

ATIVIDADEDESEMPENHADA

ILUMINÂNCIAMÉDIA(Lux)*

QuantidadedelumináriaspelanormaNBR5413

Modelodalumináriaadequadaparaailuminação

Quantidadedelâmpadasporluminária

Quantidadetotaldelâmpadasxquantidadedeluminárias

Potênciadecadalâmpada

Potênciaconsumidapeloreator–PERDA(variadeacordocomofabricante)

Consumototaldalumináriaconsiderandolâmpadaereator

Consumototaldoprojetoluminotécnico

Quantidadedehorasdeusodailuminaçãopordia

Quantidadedediasdeusodailuminação

Quantidadedehorasdeusodailuminaçãopormês

Consumomensalcomiluminação

Tarifacobradanaregião

Gastomensalcomiluminação

Vidamedianadalâmpadabaseadanocatálogodofabricante

Temponecessária,devidoàvidamediana,paramanutençãodaslâmpadas

Preçodecadalâmpada

Custorelativodamanutençãodaslâmpadasdivididopelavidamedianaemmeses

Gastocomamanutençãodetodooprojetoluminotécnicopormês

GASTOTOTALILUMINAÇÃO/MÊS

ECONOMIAMENSAL/MÊSEMR$

PORCENTAGEMDEECONOMIA

ECONOMIAEMkWh

PREÇOMEDIOUNITáRIODALUMINáRIA

INVESTIMENTO

PAYBACK 31 MESES

UNID.

Lux

PÇS

UNID

UNID

W

W

kW

hrs

dias

hrs

kWh/mês

kWh

kWh/mês

hrs

meses

R$

R$/mês

R$/mês

R$/mês

PROPOSTO

44.000

industrial

200

638

Fluor4x54W

4

2.552

54

2%

279

177,77

24

30

720

127.996,07

0,23

29.439,10

24.000

33

12,70

0,38

972,31

R$30.411,41

R$10.939,03

43.075,93

R$

R$

UNID.

Lux

PÇS

UNID

UNID

W

W

kW

hrs

dias

hrs

kWh/mês

kWh

kWh/mês

hrs

meses

R$

R$/mês

R$/mês

R$/mês

R$/mês

kWh

500,00

338.000,00

ExISTENTE

44.000

industrial

105

540

Pendente400W

1

540

400

10%

440

237,60

24

30

720

171.072,00

0,23

39.346,56

10.000

14

51,54

3,71

2.003,88

R$41.350,44

-25%

Os principais aspectos que valem ser ressaltados nesse

estudosão:

• O nível de iluminância dos ambientes dessa indústria

estava muito abaixo dos níveis requeridos pela norma e pelas

necessidades de segurança e exigências das tarefas realizadas.

O departamento de manutenção foi chamado para readequar

os níveis previstos na norma de 200 lux para essa operação

(armazenamento,estoqueemaquinários);

•Aslumináriasde400Wutilizamreatoreseletromagnéticos

queconsomem (perda)cercade10%a15%dapotenciaútil

emformadecalor;

•Para dobrar a iluminância, seria necessário acrescer o número

de pontos instalados de 540 peças (do sistema existente) para

638 peças (do sistema proposto). No entanto, constatou-se que

a potência individual total ainda ficoumuito abaixo em relação

à carga existente. A quantidade maior de luminárias também

garante umamelhor uniformidade da iluminância e umamenor

possibilidade de impactos negativos quando uma luminária ou

lâmpadapontualmenteédesativadaouqueimada;

•Oturnodetrabalhoconsistiade24horaspordiaduranteos30

diasdomês,somandoassim720horastrabalhadas;

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•A tarifa apresentada pela empresa com inclusão de impostos

e encargos girava em tornodeR$0,23nomomentodo estudo.

Muitoemfunçãodotipodeatividadeedocontratodedemanda

queaindústriapossuía,garantiadescontosconsideráveisdianteda

maioriadosconsumidoresdeenergia;

• Foram considerados os valores demanutenção para as trocas

recorrentesdosistemaantigo.Paraefeitodecálculodepayback,

foram desconsiderados possíveis queimas dos reatores tanto do

sistema existente como do sistema proposto, uma vez que se

registravidaútildessesreatoresaproximadade50milhoras(mais

queoprevistodopayback);

•Diante dos cálculos apresentados, conseguiu-se chegar a uma

taxadeeconomiadeenergiade25%,considerandoareadequação

dasiluminâncias;

•Não foram considerados valores referentes àmãode obra,

umavezque a indústria solicitantemantinha em seuquadro

de colaboradores equipes capazes de executar o trabalho

conformeprojeto.

Com base nas características particulares da situação

apresentada conseguiu-se um retorno do investimento de

aproximadamente 31 meses, considerando o pagamento do

investimentocomaeconomiadeenergiagerada.Observa-seque

opaybackpoderiaserbeminferior,casoosníveisdeiluminância

nãoprecisassemseraumentados.Existe,portanto,umpotencialde

economiadeenergiamuitosignificativoemindústrias,vistoquea

maiorpartedelasaindausasistemasdeiluminaçãocomluminárias

ineficientesparalâmpadasdedescargadealtapressãocomreatores

eletromagnéticos.Lumináriasdealtodesempenhoparalâmpadas

T5eLedsãoasgrandestendênciasparaeficientizaçãodeindústrias,

existindoparaocasodasfluorescentesretornosdeinvestimentos

geralmentebastanteatrativos.Somadoaisso,melhorescondições

elétricas(menorTHDemaiorFP)sãoobtidascomousodereatores

eletrônicosdessessistemas.

Continua na próxima ediçãoConfira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br

Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail [email protected]

*JulIana IwashIta KawasaKI é arquiteta, mestre em Engenharia Elétrica, coordenadora da Comissão de normas técnicas de aplicações luminotécnicas e medições fotométricas e diretora da Exper soluções luminotécnicas, especializada em treinamentos, ensaios laboratoriais, projetos e consultorias em eficiência energética e iluminação.

VandErsOn OlIVEIra é engenheiro eletricista, pós-graduado em administração de negócios pela universidade Mackenzie. Especializado em produtos nas áreas de gerenciamento de iluminação e energia. É diretor da Ideal Energia representações e coordena projetos ligados a eficiência energética em indústrias de diversos segmentos.