capítulo 8. equilíbrio macroeconómico · 8.2.5. efeitos de um choque de produtividade 8.3. do...
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Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico1
8.1. Equilíbrio Macroeconómico de uma Economia Fechada
8.1.1. Equilíbrio de Longo Prazo de uma Economia Fechada
8.1.2. Equilíbrio de Curto Prazo de uma Economia Fechada
8.1.3. Efeitos da Política Monetária
8.1.4. Efeitos da Política Orçamental
8.1.5. Efeitos de um Choque de Produtividade
8.2. Equilíbrio Macroeconómico de uma Pequena Economia Aberta
8.2.1. Equilíbrio de Longo Prazo de uma Pequena Economia Aberta
8.2.2. Equilíbrio de Curto Prazo de uma Pequena Economia Aberta (câmbios fixos)
8.2.3. Efeitos da Política Monetária
8.2.4. Efeitos da Política Orçamental
8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade
8.3. Do Curto ao Longo Prazo
8.4. Ciclos Económicos
8.5. Conclusão
8.1 Equilíbrio Macroeconómico de uma Economia Fechada
Por equilíbrio macroeconómico entendemos uma situação de equilíbrio simultâneo em
todos os mercados: de trabalho, de bens e serviços, de capitais, monetário, e cambial.
Assumimos que os preços e os salários são flexíveis, ajustando-se de forma a que
estabeleça o equilíbrio macroeconómico. Esta hipótese é aceitável numa análise centrada
no longo prazo.
1 Este texto de apoio (1E207 Macroeconomia II, FEP-UP, 2009-10) não dispensa a frequência das aulas e a consulta da bibliografia recomendada. Comentários e sugestões: João Correia da Silva ([email protected]).
2
Para estimar os efeitos de curto e médio prazo das políticas macroeconómicas e dos
choques de produtividade, teremos em conta a existência de rigidez nominal. Mais
precisamente, consideraremos que o nível de preços e os salários nominais são fixos no
curto prazo (modelo IS-LM), e que, no médio prazo, os salários nominais são fixos, sendo
os preços dos bens e serviços flexíveis (modelo AS-AD).
Vamos começar por estudar o equilíbrio macroeconómico numa economia fechada. A
análise aplica-se também a economias abertas nas quais o mercado interno é muito mais
importante do que o mercado externo, podendo considerar-se que as exportações líquidas
são um dado exógeno (ignoramos o mercado cambial).
8.1.1 Equilíbrio de longo prazo de uma economia fechada
Para determinar o equilíbrio macroeconómico de longo prazo, analisamos, de forma
sequencial, as condições de equilíbrio em cada um dos mercados: (1) de trabalho; (2) de
bens e serviços; (3) monetário.
Mercado de trabalho:
O produto de equilíbrio, ou produto natural, bem como o emprego de equilíbrio e o
salário real de equilíbrio, dependem apenas do que acontece no mercado de trabalho.
Para uma dada tecnologia e um dado stock de capital, isto é, para uma dada função de
produção, Y=F(N), a quantidade de trabalho que as empresas pretendem empregar é
aquela para a qual a produtividade marginal do trabalho coincide com o salário real. A
procura de trabalho é, portanto, a função inversa da produtividade marginal do trabalho.
3
A oferta colectiva de trabalho, NC, resulta das escolhas individuais entre consumo e lazer
(oferta agregada de trabalho, NS), e também de factores institucionais (influência dos
sindicatos, das associações empresariais e do governo).
Ao valor do salário real para o qual coincidem as quantidades oferecida e procurada de
trabalho chamamos salário real de equilíbrio, (W/P)*. A essa quantidade oferecida e
procurada de trabalho chamamos emprego de equilíbrio, N*. Sendo esse o valor do
emprego, a função produção permite-nos determinar o valor do produto de equilíbrio, ou
produto natural, Y*.
CNSN
ND PMgN ≡
*N
*
P
W
P
W
N
N
Y
*Y
)(NY
CNSN
ND PMgN ≡
*N
*
P
W
P
W
N
N
Y
*Y
)(NY
Figura: Equilíbrio no mercado de trabalho.
4
Verificamos que, no longo prazo, o produto, o emprego e o salário real dependem
apenas da tecnologia e da oferta de trabalho. Diz-se que dependem apenas da oferta de
bens e serviços (a curva AS de longo prazo é vertical).
( ) ( ) ( ) **,*, YNPWPWNPWN DS ⇒= .
Mercado de bens e serviços e mercado de capitais:
O equilíbrio no mercado de bens e serviços consiste na igualdade entre a quantidade
oferecida de bens e serviços (o produto da economia, que é igual ao rendimento) e a
quantidade procurada de bens e serviços (a despesa).
ZXIGCY −+++=
O equilíbrio no mercado de capitais (igualdade entre investimento e poupança), neste
contexto, é equivalente ao equilíbrio no mercado de bens e serviços.
( ) ( )ISSS
IXZGTCTY
ZXITGCTY
ZXIGCY
extgpriv =++⇔⇔=−+−+−−⇔
⇔−++−=−−⇔⇔−+++=
)(
Já sabemos que, no longo prazo, o produto (e, portanto, a despesa) é igual ao produto
natural, Y*. O equilíbrio no mercado de bens e serviços estabelece-se por ajustamento da
taxa de juro real. Esta terá de ser tal que o valor da despesa pretendida coincida com o
valor do produto natural.
[ ]*0
*00000
*0000
*0
*
*
)1(1
1)1(
)1(
Yb
ztc
b
Er
YztcZXIGCrb
YzZXrbIGYtcCY
ZXIGCY
⋅+−−−=⇔
⇔⋅−−−+−+++=⋅⇔
⇔⋅−−+⋅−++⋅−+=⇔⇔−+++=
5
De forma equivalente, a taxa de juro terá de ser tal que o investimento (procura de
financiamento) seja igual à poupança (oferta de financiamento).
*rISSS extgpriv ⇒=++
),( * rYI
** IS =
*r
r
IS,Y
r
*Y
IS
*r
),( * rYS
),( * rYI
** IS =
*r
r
IS,Y
r
*Y
IS
*r
),( * rYS
Figura: Equilíbrio no mercado de bens e serviços e mercado de capitais.
Mercado monetário:
O equilíbrio no mercado monetário consiste na igualdade entre oferta e procura de moeda
(tanto em termos reais como em termos nominais).
P
MiYL
SD =),(
Os valores do produto e da taxa de juro real já estão determinados, por serem os únicos
que são compatíveis com o equilíbrio nos mercados de trabalho e de bens e serviços.
A procura real de moeda depende do produto e da taxa de juro nominal. Para determinar
a taxa de juro nominal, devemos adicionar a taxa de inflação à taxa de juro real. Faz
6
sentido considerar que, em equilíbrio, a taxa de inflação é estável, π*, o que implica que a
taxa de juro nominal atinge um valor de equilíbrio, i*.
Como são constantes o produto e a taxa de juro nominal, a procura real de moeda,
LD(Y*,i*), é constante. Logo, como o mercado monetário está em equilíbrio, a oferta real
de moeda também se mantém constante, (MS/P)*. Isto implica que a oferta nominal de
moeda e o nível de preços crescem à mesma taxa, mantendo-se constante o quociente
entre as duas variáveis.
Em equilíbrio, a oferta real de moeda, (MS/P)*, tem de coincidir com a procura. Uma vez
que a oferta nominal de moeda é determinada pelo banco central, o nível de preços de
equilíbrio terá de ser tal que a oferta real de moeda seja igual à procura real de moeda.
*PP
ML
SD ⇒=
Se o Banco Central mantiver constante a oferta nominal de moeda, MS, então o nível de
preços terá de ser também constante. Teremos inflação nula, e o nível de preços em
equilíbrio será dado por:
),(*),(
** riYYL
MP
P
MiYL
D
SSD
===⇒=
Se o Banco Central fixar uma determinada taxa de crescimento da oferta nominal de
moeda, mS, então, em equilíbrio, o nível de preços irá de crescer à mesma taxa. Nesse
caso, a taxa de inflação será igual à taxa de crescimento da oferta nominal de moeda
(π=mS). Em equilíbrio, o nível de preços evoluirá de acordo com:
),(*),(),(
***
***
*
ππ
+===⇒+===
⇒=
riYYL
MPriYYL
P
M
P
MiYL
D
St
tD
SSD
7
SM
( )*PM S
*P
PPM
i
*** π+= ri
),( * iYLD
*DL
PM
SM
( )*PM S
*P
PPM
i
*** π+= ri
),( * iYLD
*DL
PM
Figura: Equilíbrio no mercado monetário.
Resumo:
Para determinar o equilíbrio geral numa economia fechada, começa-se por analisar o
mercado de trabalho, que nos permite obter o produto, o emprego e o salário real.
Posteriormente, através da condição de equilíbrio no mercado de bens e serviços (e
mercado de capitais) determina-se o valor da taxa de juro real. Finalmente, para um dado
valor da oferta de moeda, obtemos o nível de preços que leva a que também o mercado
monetário esteja em equilíbrio.
8
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8.1.2 Equilíbrio de curto prazo de uma econonia fechada
No curto prazo, os salários nominais e os preços são fixos. Assim sendo, os preços não
funcionam como mecanismo de ajustamento. São os volumes de produção que se ajustam
para estabelecer o equilíbrio macroeconómico. Assume-se que as empresas satisfazem
qualquer procura, ao nível de preços em vigor.2
Mercado monetário:
As combinações de produto real e taxa de juro para as quais a procura real de moeda é
igual à oferta real de moeda (ou seja, para as quais o mercado monetário está em
equilíbrio) constituem a curva LM .
P
MiYL
SD =),(
Sendo o nível de preços fixo, o banco central passa a ter a capacidade de definir a oferta
real de moeda, fixando a posição da curva LM.3
A curva LM é negativamente inclinada pelo facto de a procura de moeda estar
negativamente relacionada com a taxa de juro nominal e positivamente relacionada com o
rendimento, enquanto que a oferta de moeda está fixa.
2 No médio prazo, pode considerar-se que os preços dos bens e serviços se ajustam, enquanto que os salários nominais se mantêm fixos. Assim, a curva da oferta agregada (AS) é positivamente inclinada. As empresas procuram maximizar os seus lucros, aumentando (diminuindo) o nível de emprego e produção se os preços dos bens aumentarem (diminuírem).
3 Com preços flexíveis (longo prazo), o banco central não tem a capacidade de fixar a curva LM, que se desloca em resultado das alterações da oferta real de moeda provocadas pelos ajustamento dos preços.
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Para um dado valor da inflação esperada, a relação entre a taxa de juro nominal e a taxa
de juro real é dada pela equação de Fisher. Podemos, portanto, ver a procura de moeda
como função da taxa de juro real e do produto.
Figura: Equilíbrio no mercado monetário (curva LM).
Mercado de bens e serviços:
As combinações de produto e taxa de juro para as quais a procura agregada de bens e
serviços coincide com a oferta agregada (produto), ou seja, para as quais o mercado de
bens e serviços se encontra em equilíbrio, formam a curva IS.
ZXIGCY −+++=
Normalmente, utilizaremos as seguintes formas funcionais para as diferentes
componentes da despesa:4
( ) ( ) ( ) ( ) .;;;1, 0000 YzNXYNXrbIrIGGraYtcCrYC ⋅−=⋅−==⋅−⋅−⋅+=
4 Numa economia aberta, a taxa de câmbio passará a ser considerada explicitamente como determinante das exportações e das importações.
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Substituindo na condição de equilíbrio do mercado de bens e serviços, obtemos uma
relação bem definida entre o produto e a taxa de juro real:
( )( )[ ] ( ) rbaNXIGCYtc
NXrbIGraYtcCY
⋅+−+++=⋅−⋅−⇔⇔+⋅−++⋅−⋅−⋅+=
0000
0000
11
1
Figura: Equilíbrio no mercado de bens e serviços (curva IS).
Em conjunto, a curva IS e a curva LM determinam a única combinação de produto e taxa
de juro que faz com que estejam simultaneamente em equilíbrio o mercado monetário e o
mercado de bens e serviços.
Mercado de trabalho:
No curto prazo, o mercado de trabalho não se encontra necessariamente em equilíbrio.
Assume-se que as empresas produzem o volume necessário para satisfazer a procura, isto
é, o produto é determinado pelo modelo IS-LM. O emprego será o necessário para
produzir o volume de produção procurado.5
5 Esta hipótese equivale na prática a considerar que o equilíbrio de curto prazo da economia é o equilíbrio do modelo IS-LM.
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8.1.3 Efeitos da política monetária
i) efeitos de curto prazo
No curto prazo, assumimos rigidez nominal de preços. Assim, um aumento da oferta
nominal de moeda (MS), implica necessariamente um aumento proporcional da oferta real
de moeda (MS/P). A curva LM desloca-se, portanto, para baixo e para a direita.6
Momentaneamente, haverá um excesso de oferta de moeda no mercado monetário. Este
excesso de oferta de moeda leva a que diminua a taxa de juro nominal, aumentando a
procura real de moeda até que esta seja igual à oferta real de moeda.
Tendo diminuído a taxa de juro, aumenta o investimento planeado (e também o
consumo). Assim, o mercado de bens e serviços deixa de estar em equilíbrio. A despesa
planeada é superior ao produto/rendimento, o que leva as empresas a aumentar a
produção, de forma a satisfazer a procura.
A igualdade entre produto/rendimento e despesa planeada, restabelece-se no momento
em que a combinação de produto e taxa de juro volta a pertencer à curva IS, que se
manteve inalterada.
O produto e a taxa de juro, no curto prazo, são determinados pela nova intersecção da
curva LM, que se deslocou para baixo e para a direita, com a curva IS, que se manteve
inalterada. A taxa de juro diminui e o produto aumenta.
6 O equilíbrio no mercado monetário requer agora uma procura real de moeda superior. Para cada valor do produto, é necessária uma taxa de juro inferior. Ou, de forma equivalente, para cada valor da taxa de juro, é necessário um produto superior. A curva LM desloca-se, portanto, para baixo e para a direita
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O aumento do produto implica a contratação de mais trabalho (uma vez que a relação
entre emprego e produto é permanentemente determinada pela função produção),
diminuindo o desemprego.
Y
r
IS
CPLM
*0Y
*0r
0LM
CPY
CPr
NATY
N
Y
*0Y
)(NY
CPN
CPY
*0NY
r
IS
CPLM
*0Y
*0r
0LM
CPY
CPr
NATY
Y
r
IS
CPLM
*0Y
*0r
0LM
CPY
CPr
NATY
N
Y
*0Y
)(NY
CPN
CPY
*0N N
Y
*0Y
)(NY
CPN
CPY
*0N
Figura: Efeitos de curto prazo de uma política monetária expansionista.
Estes são os efeitos de uma política monetária expansionista (aumento da oferta nominal
de moeda), Os efeitos de uma política monetária restritiva são exactamente simétricos.
ii) efeitos de longo prazo
No longo prazo, todas as variáveis reais são independentes da oferta nominal de moeda.
Uma alteração da oferta nominal de moeda tem apenas repercussões no mercado
monetário, causando ajustamentos do nível de preços, mantendo-se inalteradas as
variáveis reais. Este fenómeno é conhecido como neutralidade da moeda.
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Um aumento (diminuição) da oferta nominal de moeda faz aumentar (diminuir) o nível
geral de preços, assim como o salário nominal, na mesma proporção.
A economia regressa à situação inicial, com excepção das variáveis nominais: nível de
preços e salário nominal, que aumentam proporcionalmente ao aumento da oferta
nominal de moeda.
Figura: Após uma política monetária expansionista, a economia
regressa, no longo prazo, à situação de equilíbrio inicial.
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8.1.4 Efeitos da política orçamental
i) efeitos de curto prazo
Uma política orçamental expansionista, que pode consistir num aumento da despesa
pública, G, ou numa diminuição da taxa de imposto, t, age sobre o mercado de bens e
serviços, aumentando a despesa planeada.7
Cada unidade de aumento da despesa pública corresponde a uma unidade de aumento da
despesa total, enquanto que uma unidade de diminuição do valor dos impostos provoca
um aumento menor da despesa total. O rendimento disponível aumenta uma unidade, e,
portanto, o consumo privado (e, portanto, a despesa total) aumenta apenas no valor da
propensão marginal para o consumo, c.
( ) 0000 1 NXrbIGraYtcCE
ZXIGCE
p
p
+⋅−++⋅−⋅−⋅+=⇔
⇔−+++=
O restabelecimento do equilíbrio no mercado de bens e serviços exige um aumento do
produto (de forma a igualar a despesa planeada) e/ou um aumento da taxa de juro, que
reduza a despesa planeada de consumo e investimento (“crowding-out”).
( )( )[ ] ( ) rbaNXIGCYtc
NXrbIGraYtcCY
⋅+−+++=⋅−⋅−⇔⇔+⋅−++⋅−⋅−⋅+=
0000
0000
11
1
7 Cada unidade de aumento da despesa pública corresponde a uma unidade de aumento da despesa total, enquanto que uma unidade de diminuição do valor dos impostos, T, provoca um aumento menor da despesa total. O rendimento disponível aumenta uma unidade, e, portanto, o consumo privado (e a despesa total) aumenta apenas no valor da propensão marginal para o consumo, c.
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As combinações de produto e taxa de juro para as quais se verifica a igualdade entre
produto e despesa planeada passam a situar-se mais à direita, isto é, a curva IS desloca-se
para a direita. A curva LM mantém-se, evidentemente, na mesma posição.
N
Y
*0Y
)(NY
CPN
CPY
*0NY
r
0IS
CPIS
*0Y
*0r
LM
CPY
CPr
NATY
N
Y
*0Y
)(NY
CPN
CPY
*0N N
Y
*0Y
)(NY
CPN
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*0NY
r
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CPIS
*0Y
*0r
LM
CPY
CPr
NATY
Y
r
0IS
CPIS
*0Y
*0r
LM
CPY
CPr
NATY
Figura: Efeitos de curto prazo de uma política orçamental expansionista.
Assim sendo, verificamos que uma política orçamental expansionista provoca uma
expansão do produto, e um aumento da taxa de juro.
O aumento do produto (determinado pela procura, no curto prazo) faz com que as
empresas contratem uma maior quantidade de trabalho. Diminui, assim, o desemprego.
O facto de o produto aumentar significa que a despesa planeada aumenta (Y=Ep). A
diminuição da despesa privada provocada pelo aumento da taxa de juro é, portanto,
inferior ao aumento inicial da despesa provocado pela política orçamental expansionista
(“crowding-out” parcial).
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ii) efeitos de longo prazo
No longo prazo, é de esperar que o mercado de trabalho esteja em equilíbrio. O salário
real será o de equilíbrio, e o emprego regressará ao seu nível natural. O produto que
resulta da utilização dessa quantidade de trabalho é o produto natural.
A alteração da despesa pública ou da taxa de imposto não tem qualquer efeito sobre o
equilíbrio do mercado de trabalho, portanto, no longo prazo, a política orçamental não
afecta o produto, nem o emprego, nem o salário real.
O restabelecimento do equilíbrio exige uma subida da taxa de juro que provoque uma
diminuição da quantidade procurada de bens e serviços que compense exactamente o
aumento inicial decidido pelo governo. Teremos “crowding-out” total.
N
Y
*LPY
)(NY
CPN
CPY
*LPN N
Y
*LPY
)(NY
CPN
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*LPN N
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)(NY
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*LPNY
r
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*LPY
*0r
CPLM
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CPr
NATY LPLM
Y
r
0IS
CPIS
*LPY
*0r
CPLM
CPY
CPr
NATY LPLM
Figura: Após uma política orçamental expansionista, a economia regressa, no
longo prazo, ao produto natural, após uma subida adicional da taxa de juro.
20
A política orçamental expansionista pode ser vista, de outra forma equivalente, na
perspectiva do mercado de capitais. A política orçamental expansionista implica uma
diminuição da poupança pública, que leva ao aumento da taxa de juro real, que, por sua
vez, faz com que diminua o investimento e aumente a poupança privada, até que se
reequilibrem a poupança e o investimento.
A subida da taxa de juro faz diminuir a procura real de moeda. Para que o mercado
monetário se mantenha em equilíbrio, é necessário que os preços subam, diminuindo a
oferta real de moeda (estamos a supor que o banco central mantém constante a oferta
nominal de moeda, caso contrário estaríamos a analisar o efeito de uma combinação de
políticas orçamental e monetária).
É este aumento do nível de preços que provoca a contracção monetária, deslocando-se a
curva LM para a esquerda, e que acompanha a subida da taxa de juro.
21
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8.1.5 Efeitos de um choque de produtividade
i) efeitos de curto prazo
Como assumimos que, no curto prazo, a produção é determinada unicamente pela procura
agregada, o produto não se altera em resultado de alterações na capacidade produtiva.
Um aumento da produtividade diminui a quantidade de trabalho que é necessária para
produzir um determinado volume de produção.
Assim sendo, no curto prazo, o único efeito do progresso tecnológico é o aumento do
desemprego.
Y
r
IS
CPY
LM
CPr
NATY
N
Y)(NY
CPN
CPY
*0NY
r
IS
CPY
LM
CPr
NATY
Y
r
IS
CPY
LM
CPr
NATY
N
Y)(NY
CPN
CPY
*0N N
Y)(NY
CPN
CPY
*0N
Figura: Diminuição do emprego, no curto prazo, após um aumento da produtividade.
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ii) efeitos de longo prazo
No longo prazo, o mercado de trabalho estará numa nova situação de equilíbrio, com
características diferentes.
O aumento da produtividade faz aumentar a procura de trabalho, o que implica que, em
equilíbrio, o salário real e o emprego sejam superiores. A utilização de uma maior
quantidade de factor trabalho provoca, necessariamente, um aumento do produto de
equilíbrio.
CN SN
DN
*LPN
*LPw
P
W
N
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Y)(NY
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*0N
*0w
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CPN
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CN SN
DN
*LPN
*LPw
P
W
N
N
Y)(NY
CPN
CPY
*0N
*0w
*0N
*LPN
CPN
*LPY
Figura: Efeito de longo prazo de um aumento da produtividade, no mercado de trabalho.
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O restabelecimento do equilíbrio no mercado de bens e serviços exige um aumento da
procura.
As combinações de produto e taxa de juro que são compatíveis com o equilíbrio no
mercado de bens e serviços (curva IS) não se alteraram. Assim sendo, este aumento do
produto de equilíbrio terá de ser acompanhado por uma diminuição da taxa de juro.
É a diminuição da taxa de juro que faz aumentar o investimento e o consumo, de forma a
que a procura iguale a oferta.
Y
r
IS
*0Y
0LM
CPrr =*0
NATY
*LPr
*LPY
LPLM
Y
r
IS
*0Y
0LM
CPrr =*0
NATY
*LPr
*LPY
LPLM
Figura: Diminuição da taxa de juro e aumento da oferta real de moeda provocado pela
descida dos preços, no longo prazo, após um aumento da produtividade.
Durante todo o processo, a oferta nominal de moeda mantém-se constante, enquanto que
a procura real de moeda aumenta (aumenta o produto e diminui a taxa de juro). Logo,
para que o mercado monetário esteja em equilíbrio, é necessária uma descida de preços, e
o consequente aumento da oferta real de moeda, MS/P.
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