capítulo 8. equilíbrio macroeconómico · 8.2.5. efeitos de um choque de produtividade 8.3. do...

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1 Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico 1 8.1. Equilíbrio Macroeconómico de uma Economia Fechada 8.1.1. Equilíbrio de Longo Prazo de uma Economia Fechada 8.1.2. Equilíbrio de Curto Prazo de uma Economia Fechada 8.1.3. Efeitos da Política Monetária 8.1.4. Efeitos da Política Orçamental 8.1.5. Efeitos de um Choque de Produtividade 8.2. Equilíbrio Macroeconómico de uma Pequena Economia Aberta 8.2.1. Equilíbrio de Longo Prazo de uma Pequena Economia Aberta 8.2.2. Equilíbrio de Curto Prazo de uma Pequena Economia Aberta (câmbios fixos) 8.2.3. Efeitos da Política Monetária 8.2.4. Efeitos da Política Orçamental 8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade 8.3. Do Curto ao Longo Prazo 8.4. Ciclos Económicos 8.5. Conclusão 8.1 Equilíbrio Macroeconómico de uma Economia Fechada Por equilíbrio macroeconómico entendemos uma situação de equilíbrio simultâneo em todos os mercados: de trabalho, de bens e serviços, de capitais, monetário, e cambial. Assumimos que os preços e os salários são flexíveis, ajustando-se de forma a que estabeleça o equilíbrio macroeconómico. Esta hipótese é aceitável numa análise centrada no longo prazo. 1 Este texto de apoio (1E207 Macroeconomia II, FEP-UP, 2009-10) não dispensa a frequência das aulas e a consulta da bibliografia recomendada. Comentários e sugestões: João Correia da Silva ([email protected]).

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Page 1: Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico · 8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade 8.3. Do Curto ao Longo Prazo 8.4. Ciclos Económicos 8.5. Conclusão 8.1 Equilíbrio Macroeconómico

1

Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico1

8.1. Equilíbrio Macroeconómico de uma Economia Fechada

8.1.1. Equilíbrio de Longo Prazo de uma Economia Fechada

8.1.2. Equilíbrio de Curto Prazo de uma Economia Fechada

8.1.3. Efeitos da Política Monetária

8.1.4. Efeitos da Política Orçamental

8.1.5. Efeitos de um Choque de Produtividade

8.2. Equilíbrio Macroeconómico de uma Pequena Economia Aberta

8.2.1. Equilíbrio de Longo Prazo de uma Pequena Economia Aberta

8.2.2. Equilíbrio de Curto Prazo de uma Pequena Economia Aberta (câmbios fixos)

8.2.3. Efeitos da Política Monetária

8.2.4. Efeitos da Política Orçamental

8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade

8.3. Do Curto ao Longo Prazo

8.4. Ciclos Económicos

8.5. Conclusão

8.1 Equilíbrio Macroeconómico de uma Economia Fechada

Por equilíbrio macroeconómico entendemos uma situação de equilíbrio simultâneo em

todos os mercados: de trabalho, de bens e serviços, de capitais, monetário, e cambial.

Assumimos que os preços e os salários são flexíveis, ajustando-se de forma a que

estabeleça o equilíbrio macroeconómico. Esta hipótese é aceitável numa análise centrada

no longo prazo.

1 Este texto de apoio (1E207 Macroeconomia II, FEP-UP, 2009-10) não dispensa a frequência das aulas e a consulta da bibliografia recomendada. Comentários e sugestões: João Correia da Silva ([email protected]).

Page 2: Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico · 8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade 8.3. Do Curto ao Longo Prazo 8.4. Ciclos Económicos 8.5. Conclusão 8.1 Equilíbrio Macroeconómico

2

Para estimar os efeitos de curto e médio prazo das políticas macroeconómicas e dos

choques de produtividade, teremos em conta a existência de rigidez nominal. Mais

precisamente, consideraremos que o nível de preços e os salários nominais são fixos no

curto prazo (modelo IS-LM), e que, no médio prazo, os salários nominais são fixos, sendo

os preços dos bens e serviços flexíveis (modelo AS-AD).

Vamos começar por estudar o equilíbrio macroeconómico numa economia fechada. A

análise aplica-se também a economias abertas nas quais o mercado interno é muito mais

importante do que o mercado externo, podendo considerar-se que as exportações líquidas

são um dado exógeno (ignoramos o mercado cambial).

8.1.1 Equilíbrio de longo prazo de uma economia fechada

Para determinar o equilíbrio macroeconómico de longo prazo, analisamos, de forma

sequencial, as condições de equilíbrio em cada um dos mercados: (1) de trabalho; (2) de

bens e serviços; (3) monetário.

Mercado de trabalho:

O produto de equilíbrio, ou produto natural, bem como o emprego de equilíbrio e o

salário real de equilíbrio, dependem apenas do que acontece no mercado de trabalho.

Para uma dada tecnologia e um dado stock de capital, isto é, para uma dada função de

produção, Y=F(N), a quantidade de trabalho que as empresas pretendem empregar é

aquela para a qual a produtividade marginal do trabalho coincide com o salário real. A

procura de trabalho é, portanto, a função inversa da produtividade marginal do trabalho.

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3

A oferta colectiva de trabalho, NC, resulta das escolhas individuais entre consumo e lazer

(oferta agregada de trabalho, NS), e também de factores institucionais (influência dos

sindicatos, das associações empresariais e do governo).

Ao valor do salário real para o qual coincidem as quantidades oferecida e procurada de

trabalho chamamos salário real de equilíbrio, (W/P)*. A essa quantidade oferecida e

procurada de trabalho chamamos emprego de equilíbrio, N*. Sendo esse o valor do

emprego, a função produção permite-nos determinar o valor do produto de equilíbrio, ou

produto natural, Y*.

CNSN

ND PMgN ≡

*N

*

P

W

P

W

N

N

Y

*Y

)(NY

CNSN

ND PMgN ≡

*N

*

P

W

P

W

N

N

Y

*Y

)(NY

Figura: Equilíbrio no mercado de trabalho.

Page 4: Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico · 8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade 8.3. Do Curto ao Longo Prazo 8.4. Ciclos Económicos 8.5. Conclusão 8.1 Equilíbrio Macroeconómico

4

Verificamos que, no longo prazo, o produto, o emprego e o salário real dependem

apenas da tecnologia e da oferta de trabalho. Diz-se que dependem apenas da oferta de

bens e serviços (a curva AS de longo prazo é vertical).

( ) ( ) ( ) **,*, YNPWPWNPWN DS ⇒= .

Mercado de bens e serviços e mercado de capitais:

O equilíbrio no mercado de bens e serviços consiste na igualdade entre a quantidade

oferecida de bens e serviços (o produto da economia, que é igual ao rendimento) e a

quantidade procurada de bens e serviços (a despesa).

ZXIGCY −+++=

O equilíbrio no mercado de capitais (igualdade entre investimento e poupança), neste

contexto, é equivalente ao equilíbrio no mercado de bens e serviços.

( ) ( )ISSS

IXZGTCTY

ZXITGCTY

ZXIGCY

extgpriv =++⇔⇔=−+−+−−⇔

⇔−++−=−−⇔⇔−+++=

)(

Já sabemos que, no longo prazo, o produto (e, portanto, a despesa) é igual ao produto

natural, Y*. O equilíbrio no mercado de bens e serviços estabelece-se por ajustamento da

taxa de juro real. Esta terá de ser tal que o valor da despesa pretendida coincida com o

valor do produto natural.

[ ]*0

*00000

*0000

*0

*

*

)1(1

1)1(

)1(

Yb

ztc

b

Er

YztcZXIGCrb

YzZXrbIGYtcCY

ZXIGCY

⋅+−−−=⇔

⇔⋅−−−+−+++=⋅⇔

⇔⋅−−+⋅−++⋅−+=⇔⇔−+++=

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5

De forma equivalente, a taxa de juro terá de ser tal que o investimento (procura de

financiamento) seja igual à poupança (oferta de financiamento).

*rISSS extgpriv ⇒=++

),( * rYI

** IS =

*r

r

IS,Y

r

*Y

IS

*r

),( * rYS

),( * rYI

** IS =

*r

r

IS,Y

r

*Y

IS

*r

),( * rYS

Figura: Equilíbrio no mercado de bens e serviços e mercado de capitais.

Mercado monetário:

O equilíbrio no mercado monetário consiste na igualdade entre oferta e procura de moeda

(tanto em termos reais como em termos nominais).

P

MiYL

SD =),(

Os valores do produto e da taxa de juro real já estão determinados, por serem os únicos

que são compatíveis com o equilíbrio nos mercados de trabalho e de bens e serviços.

A procura real de moeda depende do produto e da taxa de juro nominal. Para determinar

a taxa de juro nominal, devemos adicionar a taxa de inflação à taxa de juro real. Faz

Page 6: Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico · 8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade 8.3. Do Curto ao Longo Prazo 8.4. Ciclos Económicos 8.5. Conclusão 8.1 Equilíbrio Macroeconómico

6

sentido considerar que, em equilíbrio, a taxa de inflação é estável, π*, o que implica que a

taxa de juro nominal atinge um valor de equilíbrio, i*.

Como são constantes o produto e a taxa de juro nominal, a procura real de moeda,

LD(Y*,i*), é constante. Logo, como o mercado monetário está em equilíbrio, a oferta real

de moeda também se mantém constante, (MS/P)*. Isto implica que a oferta nominal de

moeda e o nível de preços crescem à mesma taxa, mantendo-se constante o quociente

entre as duas variáveis.

Em equilíbrio, a oferta real de moeda, (MS/P)*, tem de coincidir com a procura. Uma vez

que a oferta nominal de moeda é determinada pelo banco central, o nível de preços de

equilíbrio terá de ser tal que a oferta real de moeda seja igual à procura real de moeda.

*PP

ML

SD ⇒=

Se o Banco Central mantiver constante a oferta nominal de moeda, MS, então o nível de

preços terá de ser também constante. Teremos inflação nula, e o nível de preços em

equilíbrio será dado por:

),(*),(

** riYYL

MP

P

MiYL

D

SSD

===⇒=

Se o Banco Central fixar uma determinada taxa de crescimento da oferta nominal de

moeda, mS, então, em equilíbrio, o nível de preços irá de crescer à mesma taxa. Nesse

caso, a taxa de inflação será igual à taxa de crescimento da oferta nominal de moeda

(π=mS). Em equilíbrio, o nível de preços evoluirá de acordo com:

),(*),(),(

***

***

*

ππ

+===⇒+===

⇒=

riYYL

MPriYYL

P

M

P

MiYL

D

St

tD

SSD

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7

SM

( )*PM S

*P

PPM

i

*** π+= ri

),( * iYLD

*DL

PM

SM

( )*PM S

*P

PPM

i

*** π+= ri

),( * iYLD

*DL

PM

Figura: Equilíbrio no mercado monetário.

Resumo:

Para determinar o equilíbrio geral numa economia fechada, começa-se por analisar o

mercado de trabalho, que nos permite obter o produto, o emprego e o salário real.

Posteriormente, através da condição de equilíbrio no mercado de bens e serviços (e

mercado de capitais) determina-se o valor da taxa de juro real. Finalmente, para um dado

valor da oferta de moeda, obtemos o nível de preços que leva a que também o mercado

monetário esteja em equilíbrio.

Page 8: Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico · 8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade 8.3. Do Curto ao Longo Prazo 8.4. Ciclos Económicos 8.5. Conclusão 8.1 Equilíbrio Macroeconómico

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8.1.2 Equilíbrio de curto prazo de uma econonia fechada

No curto prazo, os salários nominais e os preços são fixos. Assim sendo, os preços não

funcionam como mecanismo de ajustamento. São os volumes de produção que se ajustam

para estabelecer o equilíbrio macroeconómico. Assume-se que as empresas satisfazem

qualquer procura, ao nível de preços em vigor.2

Mercado monetário:

As combinações de produto real e taxa de juro para as quais a procura real de moeda é

igual à oferta real de moeda (ou seja, para as quais o mercado monetário está em

equilíbrio) constituem a curva LM .

P

MiYL

SD =),(

Sendo o nível de preços fixo, o banco central passa a ter a capacidade de definir a oferta

real de moeda, fixando a posição da curva LM.3

A curva LM é negativamente inclinada pelo facto de a procura de moeda estar

negativamente relacionada com a taxa de juro nominal e positivamente relacionada com o

rendimento, enquanto que a oferta de moeda está fixa.

2 No médio prazo, pode considerar-se que os preços dos bens e serviços se ajustam, enquanto que os salários nominais se mantêm fixos. Assim, a curva da oferta agregada (AS) é positivamente inclinada. As empresas procuram maximizar os seus lucros, aumentando (diminuindo) o nível de emprego e produção se os preços dos bens aumentarem (diminuírem).

3 Com preços flexíveis (longo prazo), o banco central não tem a capacidade de fixar a curva LM, que se desloca em resultado das alterações da oferta real de moeda provocadas pelos ajustamento dos preços.

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Para um dado valor da inflação esperada, a relação entre a taxa de juro nominal e a taxa

de juro real é dada pela equação de Fisher. Podemos, portanto, ver a procura de moeda

como função da taxa de juro real e do produto.

Figura: Equilíbrio no mercado monetário (curva LM).

Mercado de bens e serviços:

As combinações de produto e taxa de juro para as quais a procura agregada de bens e

serviços coincide com a oferta agregada (produto), ou seja, para as quais o mercado de

bens e serviços se encontra em equilíbrio, formam a curva IS.

ZXIGCY −+++=

Normalmente, utilizaremos as seguintes formas funcionais para as diferentes

componentes da despesa:4

( ) ( ) ( ) ( ) .;;;1, 0000 YzNXYNXrbIrIGGraYtcCrYC ⋅−=⋅−==⋅−⋅−⋅+=

4 Numa economia aberta, a taxa de câmbio passará a ser considerada explicitamente como determinante das exportações e das importações.

Page 11: Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico · 8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade 8.3. Do Curto ao Longo Prazo 8.4. Ciclos Económicos 8.5. Conclusão 8.1 Equilíbrio Macroeconómico

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Substituindo na condição de equilíbrio do mercado de bens e serviços, obtemos uma

relação bem definida entre o produto e a taxa de juro real:

( )( )[ ] ( ) rbaNXIGCYtc

NXrbIGraYtcCY

⋅+−+++=⋅−⋅−⇔⇔+⋅−++⋅−⋅−⋅+=

0000

0000

11

1

Figura: Equilíbrio no mercado de bens e serviços (curva IS).

Em conjunto, a curva IS e a curva LM determinam a única combinação de produto e taxa

de juro que faz com que estejam simultaneamente em equilíbrio o mercado monetário e o

mercado de bens e serviços.

Mercado de trabalho:

No curto prazo, o mercado de trabalho não se encontra necessariamente em equilíbrio.

Assume-se que as empresas produzem o volume necessário para satisfazer a procura, isto

é, o produto é determinado pelo modelo IS-LM. O emprego será o necessário para

produzir o volume de produção procurado.5

5 Esta hipótese equivale na prática a considerar que o equilíbrio de curto prazo da economia é o equilíbrio do modelo IS-LM.

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8.1.3 Efeitos da política monetária

i) efeitos de curto prazo

No curto prazo, assumimos rigidez nominal de preços. Assim, um aumento da oferta

nominal de moeda (MS), implica necessariamente um aumento proporcional da oferta real

de moeda (MS/P). A curva LM desloca-se, portanto, para baixo e para a direita.6

Momentaneamente, haverá um excesso de oferta de moeda no mercado monetário. Este

excesso de oferta de moeda leva a que diminua a taxa de juro nominal, aumentando a

procura real de moeda até que esta seja igual à oferta real de moeda.

Tendo diminuído a taxa de juro, aumenta o investimento planeado (e também o

consumo). Assim, o mercado de bens e serviços deixa de estar em equilíbrio. A despesa

planeada é superior ao produto/rendimento, o que leva as empresas a aumentar a

produção, de forma a satisfazer a procura.

A igualdade entre produto/rendimento e despesa planeada, restabelece-se no momento

em que a combinação de produto e taxa de juro volta a pertencer à curva IS, que se

manteve inalterada.

O produto e a taxa de juro, no curto prazo, são determinados pela nova intersecção da

curva LM, que se deslocou para baixo e para a direita, com a curva IS, que se manteve

inalterada. A taxa de juro diminui e o produto aumenta.

6 O equilíbrio no mercado monetário requer agora uma procura real de moeda superior. Para cada valor do produto, é necessária uma taxa de juro inferior. Ou, de forma equivalente, para cada valor da taxa de juro, é necessário um produto superior. A curva LM desloca-se, portanto, para baixo e para a direita

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14

O aumento do produto implica a contratação de mais trabalho (uma vez que a relação

entre emprego e produto é permanentemente determinada pela função produção),

diminuindo o desemprego.

Y

r

IS

CPLM

*0Y

*0r

0LM

CPY

CPr

NATY

N

Y

*0Y

)(NY

CPN

CPY

*0NY

r

IS

CPLM

*0Y

*0r

0LM

CPY

CPr

NATY

Y

r

IS

CPLM

*0Y

*0r

0LM

CPY

CPr

NATY

N

Y

*0Y

)(NY

CPN

CPY

*0N N

Y

*0Y

)(NY

CPN

CPY

*0N

Figura: Efeitos de curto prazo de uma política monetária expansionista.

Estes são os efeitos de uma política monetária expansionista (aumento da oferta nominal

de moeda), Os efeitos de uma política monetária restritiva são exactamente simétricos.

ii) efeitos de longo prazo

No longo prazo, todas as variáveis reais são independentes da oferta nominal de moeda.

Uma alteração da oferta nominal de moeda tem apenas repercussões no mercado

monetário, causando ajustamentos do nível de preços, mantendo-se inalteradas as

variáveis reais. Este fenómeno é conhecido como neutralidade da moeda.

Page 15: Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico · 8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade 8.3. Do Curto ao Longo Prazo 8.4. Ciclos Económicos 8.5. Conclusão 8.1 Equilíbrio Macroeconómico

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Um aumento (diminuição) da oferta nominal de moeda faz aumentar (diminuir) o nível

geral de preços, assim como o salário nominal, na mesma proporção.

A economia regressa à situação inicial, com excepção das variáveis nominais: nível de

preços e salário nominal, que aumentam proporcionalmente ao aumento da oferta

nominal de moeda.

Figura: Após uma política monetária expansionista, a economia

regressa, no longo prazo, à situação de equilíbrio inicial.

Page 16: Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico · 8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade 8.3. Do Curto ao Longo Prazo 8.4. Ciclos Económicos 8.5. Conclusão 8.1 Equilíbrio Macroeconómico

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17

8.1.4 Efeitos da política orçamental

i) efeitos de curto prazo

Uma política orçamental expansionista, que pode consistir num aumento da despesa

pública, G, ou numa diminuição da taxa de imposto, t, age sobre o mercado de bens e

serviços, aumentando a despesa planeada.7

Cada unidade de aumento da despesa pública corresponde a uma unidade de aumento da

despesa total, enquanto que uma unidade de diminuição do valor dos impostos provoca

um aumento menor da despesa total. O rendimento disponível aumenta uma unidade, e,

portanto, o consumo privado (e, portanto, a despesa total) aumenta apenas no valor da

propensão marginal para o consumo, c.

( ) 0000 1 NXrbIGraYtcCE

ZXIGCE

p

p

+⋅−++⋅−⋅−⋅+=⇔

⇔−+++=

O restabelecimento do equilíbrio no mercado de bens e serviços exige um aumento do

produto (de forma a igualar a despesa planeada) e/ou um aumento da taxa de juro, que

reduza a despesa planeada de consumo e investimento (“crowding-out”).

( )( )[ ] ( ) rbaNXIGCYtc

NXrbIGraYtcCY

⋅+−+++=⋅−⋅−⇔⇔+⋅−++⋅−⋅−⋅+=

0000

0000

11

1

7 Cada unidade de aumento da despesa pública corresponde a uma unidade de aumento da despesa total, enquanto que uma unidade de diminuição do valor dos impostos, T, provoca um aumento menor da despesa total. O rendimento disponível aumenta uma unidade, e, portanto, o consumo privado (e a despesa total) aumenta apenas no valor da propensão marginal para o consumo, c.

Page 18: Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico · 8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade 8.3. Do Curto ao Longo Prazo 8.4. Ciclos Económicos 8.5. Conclusão 8.1 Equilíbrio Macroeconómico

18

As combinações de produto e taxa de juro para as quais se verifica a igualdade entre

produto e despesa planeada passam a situar-se mais à direita, isto é, a curva IS desloca-se

para a direita. A curva LM mantém-se, evidentemente, na mesma posição.

N

Y

*0Y

)(NY

CPN

CPY

*0NY

r

0IS

CPIS

*0Y

*0r

LM

CPY

CPr

NATY

N

Y

*0Y

)(NY

CPN

CPY

*0N N

Y

*0Y

)(NY

CPN

CPY

*0NY

r

0IS

CPIS

*0Y

*0r

LM

CPY

CPr

NATY

Y

r

0IS

CPIS

*0Y

*0r

LM

CPY

CPr

NATY

Figura: Efeitos de curto prazo de uma política orçamental expansionista.

Assim sendo, verificamos que uma política orçamental expansionista provoca uma

expansão do produto, e um aumento da taxa de juro.

O aumento do produto (determinado pela procura, no curto prazo) faz com que as

empresas contratem uma maior quantidade de trabalho. Diminui, assim, o desemprego.

O facto de o produto aumentar significa que a despesa planeada aumenta (Y=Ep). A

diminuição da despesa privada provocada pelo aumento da taxa de juro é, portanto,

inferior ao aumento inicial da despesa provocado pela política orçamental expansionista

(“crowding-out” parcial).

Page 19: Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico · 8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade 8.3. Do Curto ao Longo Prazo 8.4. Ciclos Económicos 8.5. Conclusão 8.1 Equilíbrio Macroeconómico

19

ii) efeitos de longo prazo

No longo prazo, é de esperar que o mercado de trabalho esteja em equilíbrio. O salário

real será o de equilíbrio, e o emprego regressará ao seu nível natural. O produto que

resulta da utilização dessa quantidade de trabalho é o produto natural.

A alteração da despesa pública ou da taxa de imposto não tem qualquer efeito sobre o

equilíbrio do mercado de trabalho, portanto, no longo prazo, a política orçamental não

afecta o produto, nem o emprego, nem o salário real.

O restabelecimento do equilíbrio exige uma subida da taxa de juro que provoque uma

diminuição da quantidade procurada de bens e serviços que compense exactamente o

aumento inicial decidido pelo governo. Teremos “crowding-out” total.

N

Y

*LPY

)(NY

CPN

CPY

*LPN N

Y

*LPY

)(NY

CPN

CPY

*LPN N

Y

*LPY

)(NY

CPN

CPY

*LPNY

r

0IS

CPIS

*LPY

*0r

CPLM

CPY

CPr

NATY LPLM

Y

r

0IS

CPIS

*LPY

*0r

CPLM

CPY

CPr

NATY LPLM

Figura: Após uma política orçamental expansionista, a economia regressa, no

longo prazo, ao produto natural, após uma subida adicional da taxa de juro.

Page 20: Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico · 8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade 8.3. Do Curto ao Longo Prazo 8.4. Ciclos Económicos 8.5. Conclusão 8.1 Equilíbrio Macroeconómico

20

A política orçamental expansionista pode ser vista, de outra forma equivalente, na

perspectiva do mercado de capitais. A política orçamental expansionista implica uma

diminuição da poupança pública, que leva ao aumento da taxa de juro real, que, por sua

vez, faz com que diminua o investimento e aumente a poupança privada, até que se

reequilibrem a poupança e o investimento.

A subida da taxa de juro faz diminuir a procura real de moeda. Para que o mercado

monetário se mantenha em equilíbrio, é necessário que os preços subam, diminuindo a

oferta real de moeda (estamos a supor que o banco central mantém constante a oferta

nominal de moeda, caso contrário estaríamos a analisar o efeito de uma combinação de

políticas orçamental e monetária).

É este aumento do nível de preços que provoca a contracção monetária, deslocando-se a

curva LM para a esquerda, e que acompanha a subida da taxa de juro.

Page 21: Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico · 8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade 8.3. Do Curto ao Longo Prazo 8.4. Ciclos Económicos 8.5. Conclusão 8.1 Equilíbrio Macroeconómico

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Page 22: Capítulo 8. Equilíbrio Macroeconómico · 8.2.5. Efeitos de um Choque de Produtividade 8.3. Do Curto ao Longo Prazo 8.4. Ciclos Económicos 8.5. Conclusão 8.1 Equilíbrio Macroeconómico

22

8.1.5 Efeitos de um choque de produtividade

i) efeitos de curto prazo

Como assumimos que, no curto prazo, a produção é determinada unicamente pela procura

agregada, o produto não se altera em resultado de alterações na capacidade produtiva.

Um aumento da produtividade diminui a quantidade de trabalho que é necessária para

produzir um determinado volume de produção.

Assim sendo, no curto prazo, o único efeito do progresso tecnológico é o aumento do

desemprego.

Y

r

IS

CPY

LM

CPr

NATY

N

Y)(NY

CPN

CPY

*0NY

r

IS

CPY

LM

CPr

NATY

Y

r

IS

CPY

LM

CPr

NATY

N

Y)(NY

CPN

CPY

*0N N

Y)(NY

CPN

CPY

*0N

Figura: Diminuição do emprego, no curto prazo, após um aumento da produtividade.

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ii) efeitos de longo prazo

No longo prazo, o mercado de trabalho estará numa nova situação de equilíbrio, com

características diferentes.

O aumento da produtividade faz aumentar a procura de trabalho, o que implica que, em

equilíbrio, o salário real e o emprego sejam superiores. A utilização de uma maior

quantidade de factor trabalho provoca, necessariamente, um aumento do produto de

equilíbrio.

CN SN

DN

*LPN

*LPw

P

W

N

N

Y)(NY

CPN

CPY

*0N

*0w

*0N

*LPN

CPN

*LPY

CN SN

DN

*LPN

*LPw

P

W

N

N

Y)(NY

CPN

CPY

*0N

*0w

*0N

*LPN

CPN

*LPY

Figura: Efeito de longo prazo de um aumento da produtividade, no mercado de trabalho.

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O restabelecimento do equilíbrio no mercado de bens e serviços exige um aumento da

procura.

As combinações de produto e taxa de juro que são compatíveis com o equilíbrio no

mercado de bens e serviços (curva IS) não se alteraram. Assim sendo, este aumento do

produto de equilíbrio terá de ser acompanhado por uma diminuição da taxa de juro.

É a diminuição da taxa de juro que faz aumentar o investimento e o consumo, de forma a

que a procura iguale a oferta.

Y

r

IS

*0Y

0LM

CPrr =*0

NATY

*LPr

*LPY

LPLM

Y

r

IS

*0Y

0LM

CPrr =*0

NATY

*LPr

*LPY

LPLM

Figura: Diminuição da taxa de juro e aumento da oferta real de moeda provocado pela

descida dos preços, no longo prazo, após um aumento da produtividade.

Durante todo o processo, a oferta nominal de moeda mantém-se constante, enquanto que

a procura real de moeda aumenta (aumenta o produto e diminui a taxa de juro). Logo,

para que o mercado monetário esteja em equilíbrio, é necessária uma descida de preços, e

o consequente aumento da oferta real de moeda, MS/P.

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