compreender melhor o relatório macroeconómico

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“UMA DÉCADA PARA PORTUGAL” COMPREENDER O RELATÓRIO DO GRUPO DE TRABALHO DOS ECONOMISTAS APRESENTADO A PEDIDO DO P.S. A cinco meses das eleições legislativas, um Grupo de Trabalho, constituído por um conjunto de economistas maioritariamente independentes, apresenta, a pedido do PS, um estudo macroeconómico que contribuirá para o enquadramento do futuro programa eleitoral socialista, que será divulgado a 6 de Junho. O cenário macroeconómico desempenha um papel crucial na definição de políticas públicas, na medida em que permite balizar as opções dos decisores políticos; qualquer programa político sério deve assentar num cenário macroeconómico credível. Este exercício de cenarização, embora comum noutros países (como o Reino Unido ou os EUA), nunca foi realizado em Portugal. Representa um importante passo na credibilização da política no nosso país. Este documento serve de introdução política ao extenso e profundo relatório do Grupo de Trabalho dos economistas ao P.S., intitulado “Uma Década para Portugal”.

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A cinco meses das eleições legislativas, um Grupo de Trabalho, constituído por um conjunto de economistas maioritariamente independentes, apresenta, a pedido do PS, um estudo macroeconómico que contribuirá para o enquadramento do futuro programa eleitoral socialista, que será divulgado a 6 de Junho.

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Page 1: Compreender melhor o relatório macroeconómico

“UMA DÉCADA PARA PORTUGAL”

COMPREENDER O RELATÓRIO DO

GRUPO DE TRABALHO DOS ECONOMISTAS

APRESENTADO A PEDIDO DO P.S.

A cinco meses das eleições legislativas, um Grupo de Trabalho, constituído por um

conjunto de economistas maioritariamente independentes, apresenta, a pedido do

PS, um estudo macroeconómico que contribuirá para o enquadramento do futuro

programa eleitoral socialista, que será divulgado a 6 de Junho.

O cenário macroeconómico desempenha um papel crucial na definição de políticas

públicas, na medida em que permite balizar as opções dos decisores políticos;

qualquer programa político sério deve assentar num cenário macroeconómico

credível. Este exercício de cenarização, embora comum noutros países (como o

Reino Unido ou os EUA), nunca foi realizado em Portugal. Representa um

importante passo na credibilização da política no nosso país.

Este documento serve de introdução política ao extenso e profundo relatório do

Grupo de Trabalho dos economistas ao P.S., intitulado “Uma Década para Portugal”.

Page 2: Compreender melhor o relatório macroeconómico

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I. SUMÁRIO EXECUTIVO

1. O relatório faz um diagnóstico da situação atual da economia portuguesa. Partindo

de uma análise dos seus atrasos estruturais e dos avanços feitos nas últimas décadas ao

nível das qualificações e das infra-estruturas, o exercício culmina na crítica da estratégia

seguida pelo atual governo nos últimos anos de ajustamento. Conclui que esta

estratégia destruiu riqueza e emprego e agravou a pobreza e as desigualdades sem

contribuir para nenhuma transformação estrutural da economia que permita ao pais

crescer de forma sustentada no futuro.

2. Face aos problemas diagnosticados, o Grupo de Trabalho defende que as prioridades

governativas na área económica devem ser articuladas em torno de seis eixos:

Novo impulso ao crescimento em bases sólidas (investimento e exportações) e ao

emprego de qualidade;

Investimento na ciência e inovação e transferência de conhecimento para as

empresas;

Proteção dos socialmente mais frágeis e promoção da equidade e da mobilidade

económica e social;

Valorização dos recursos humanos com o contributo de todos;

Melhor Estado, melhores instituições e regulação dos mercados;

Sustentabilidade das finanças públicas.

3. O cenário macroeconómico desempenha um papel crucial na definição de políticas

públicas, na medida em que permite balizar as opções dos decisores políticos; qualquer

programa político sério deve assentar num cenário macroeconómico credível. Este exercício

de cenarização, embora comum noutros países (como o Reino Unidos ou os EUA), nunca

foi realizado em Portugal; representa, por isso, um importante passo em frente na

credibilização da politica.

A partir de cenário de referência elaborado pela Comissão Europeia, o Grupo de Trabalho

desenvolveu um modelo de simulação de politicas que permite analisar cenários

alternativos ao cenário de referencia e avaliar o impacto macroeconómico de medidas

Page 3: Compreender melhor o relatório macroeconómico

3

propostas, dirigidas a estimular a atividade económica e o emprego sem pôr em causa o

cumprimento dos compromissos orçamentais e os equilíbrios macroeconómicos

fundamentais.

O cenário central final considera o impacto destas medidas sobre o cenário central inicial.

Este cenário, preservando as condições de sustentabilidade da despesa pública, demonstra

a existência de um caminho alternativo ao que tem sido prosseguido e gerador de melhores

resultados orçamentais, económicos e sociais.

4. A estratégia proposta pelo Grupo de Trabalho sugere um conjunto de medidas de

política a adotar ao longo da próxima legislatura (2016-2019) que visam inverter a

conjuntura recessiva e relançar o crescimento, assegurando, simultaneamente, um reforço

da equidade social, a sustentabilidade das finanças públicas e a correção dos fatores

estruturais que têm determinado o baixo crescimento da produtividade e o consequente baixo

crescimento económico, sobretudo desde o início do século – reconhecendo-se que em

alguns casos se trata de medidas cujos efeitos se situam essencialmente no longo prazo e

cujos efeitos positivos nos indicadores económicos apenas serão sensíveis após o termo do

período em análise.

5. As medidas propostas organizam-se em torno de cinco grandes prioridades:

i. Políticas sociais de combate à pobreza e à desigualdade da distribuição do

rendimento, e políticas do mercado de trabalho promotoras da mobilidade social e do

emprego em igualdade de condições.

o O contrato para a equidade laboral;

o Taxa contributiva penalizadora da rotação excessiva de trabalhadores;

o Complemento salarial anual (crédito fiscal/imposto negativo);

o Política social mais equitativa: um sistema de pensões sustentável através de um

compromisso inter-geracional estável e maior eficácia e rigor nas prestações

redistributivas;

o Reposição de mínimos sociais (abono de familia, RSI, CSI).

ii. Uma fiscalidade promotora da criação de emprego e do investimento em capital

humano.

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o Eliminação gradual da sobretaxa do IRS;

o Compromisso pelo emprego: estímulo à criação de emprego e aumento do

rendimento disponível das famílias;

o Redução dos custos com o cumprimento das responsabilidades fiscais;

o Redução do IVA da restauração;

o Tributação do património imobiliário;

o Imposto sobre heranças de elevado valor.

iii. Um sistema educativo para um mundo globalizado e que dê formação ao longo da

vida ativa.

o Criação de um quadro docente estável nas escolas;

o Aprofundamento das experiências piloto feitas com escolas e no âmbito dos Território

Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP) sentido de um combate sério ao

abandono escolar e à retenção;

o Aposta num ensino secundário profissionalizante feito em colaboração estreita entre

as escolas e empresas;

o Reforço do acesso e da empregabilidade no ensino superior;

o Formação ao longo da vida.

iv. Políticas de promoção das competências da Administração Pública, tornando-a

num eixo de crescimento económico.

o Políticas de emprego público: descongelamento das admissões,

rejuvenescimento/contratação de jovens quadros, incentivos à interioridade e

mobilidade;

o Política salarial e de carreiras: Eliminação da redução salarial dos funcionários

públicos em 2 anos através da supressão dos cortes salariais em 40% em 2016 e a

parte remanescente em 2017; a partir de 2018, inicia-se o processo de

descongelamento das carreiras e de limitação das perdas reais de remuneração.

o Maior autonomia e responsabilização dos serviços da Administração Pública;

o Criação de ‘centros de competências’ na Administração Pública

o Descentralização e desconcentração dos serviços da Administração

o Pública;

o Aumento da celeridade, acessibilidade e confiança no recurso à Justiça;

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5

o Regulação dos mercados, privatizações, defesa do consumidor.

v. Políticas de promoção da competitividade e da internacionalização da economia em

estreita ligação com o sistema de educativo e científico, com um apoio efetivo dos

fundos estruturais e num contexto de concertação social marcada pela negociação

coletiva.

o Aumentar o investimento com execução extraordinária de Fundos Europeus;

o Reforço excecional do crédito fiscal ao investimento (e simplificação);

o Capitalização das empresas e desbloqueamento do financiamento aos bons

o projetos;

o “Pacote de Apoio à Internacionalização”;

o Promoção da reabilitação urbana e requalificação do património histórico;

o Desenvolver a “Ligação universidade-empresa” para um novo patamar de

o inovação;

o Descobrir e acelerar a inovação;

o Reforma da desburocratização para as empresas: menos tempo, pessoas e

o recursos dedicados à burocracia (SIMPLEX).

No fim do relatório, apresenta-se o cenário macroeconómico final que resulta do impacto das

medidas de política económica e social propostas, analisando os efeitos diretos sobre as

variáveis orçamentais, bem como os efeitos indiretos sobre a economia e a maneira como

estes atuam também sobre os agregados orçamentais.

Page 6: Compreender melhor o relatório macroeconómico

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Por efeito das medidas propostas, e tendo o cenário da Comissão Europeia como cenário

inicial:

- O saldo orçamental previsto para os próximos quatro anos é: 3% do PIB em 2016, 2,5%,

em 2017, 1,7% em 2018, e 1% em 2019. Ou seja, o saldo orçamental previsto para 2019 é

melhor em 0,8% do PIB do que o previsto pela Comissão Europeia para esse ano.

- A dívida pública desceria dos 130,2% do PIB em 2015 para 117,6% do PIB em 2019. Esta

descida é superior à descida estimada pela Comissão Europeia em 3,6 pp do PIB.

- A previsão para o crescimento médio anual do PIB, com as medidas propostas no

Relatorio, é de 2,6% do PIB ao longo dos 4 anos. No cenário da Comissão Europeia, o

crescimento médio anual do PIB é de 1,7%.

- A taxa de desemprego, no cenário apresentado pelo Relatório, seria de 7,4% em 2019,

3,4 pontos percentuais abaixo da prevista pela Comissão Europeia para o mesmo ano.

- O crescimento médio anual do emprego estimado, com as medidas propostas, seria de

1,55%. No cenário da Comissão Europeia o crescimento médio anual é de 0,5%.

- O crescimento médio anual do investimendo estimado, com as medidas propostas, seria

de 6,3%. A Comissão Europeia estima, neste preríodo, um crescimento médio anual de 3,6%.

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II. A IMPORTÂNCIA POLÍTICA DO RELATÓRIO

RESUMO DAS IDEIAS-FORÇA.

1. Este é um exercício inédito em Portugal, essencial para a credibilização e para a

confiança dos cidadãos na acção politica.

2. O exercicio reforça a ideia de que a estratégia de empobrecimento do Governo falhou

(em todos os indicadores: crescimento, desemprego, défice, dívida).

3. O exercício mostra que a estratégia alternativa que o PS sempre defendeu, em que a

consolidação orçamental é feita através do crescimento económico e não da austeridade,

é a única que permite compatibilizar a sustentabilidade das finanças públicas com o

desenvolvimento do pais.

4. Porém, este crescimento económico não cairá do céu: a sua aceleração exige uma nova

política económica, assente numa estratégia integrada que permita ultrapassar os

bloqueios estruturais da economia portuguesa.

5. Esta nova politica económica depende do desenho e da execução de uma estratégia

que responda simultaneamente aos problemas estruturais da economia portuguesa e que

à situação de emergência social e económica em que o pais ainda hoje vive.

Page 8: Compreender melhor o relatório macroeconómico

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1. Este é um exercício inédito em Portugal, essencial para a credibilização e para a

confiança dos cidadãos na acção politica. O cenário macroeconómico desempenha um

papel crucial na definição de políticas públicas, na medida em que permite balizar as opções

dos decisores políticos; qualquer programa político sério deve assentar num cenário

macroeconómico credível. Este exercício de cenarização, embora comum noutros países

(como o Reino Unidos ou os EUA), nunca foi realizado em Portugal; representa, por isso, um

importante passo em frente na credibilização da politica.

2. O exercicio reforça a ideia de que a estratégia de empobrecimento do Governo

falhou: mesmo beneficiando dos investimentos feitos e da dinâmica de exportações vinda

do passado, ela destruiu riqueza e emprego sem nada construir de forma sustentável, seja

no plano das contas externas – o os desequilíbrios externos do pais foram substituídos pelos

desequilíbrios internos (i.e., pelo desemprego), seja no das contas públicas (a consolidação

feita foi frágil; as instituições internacionais não acreditam que o país atinja um défice inferior

a 3% PIB já em 2015).

A estratégia da austeridade falhou e vai continuar a falhar: o cenário base da Comissão

Europeia projectado para os próximos anos mostra-nos que o seu prolongamento não

permitirá ao pais crescer a um ritmo que lhe permita a cumprir, em simultâneo, as

expectativas que os portugueses depositam na melhoria da sua qualidade de vida, e os

compromissos do país com as gerações futuras e com as instituições internacionais.

3. O exercício mostra que a estratégia alternativa que o PS sempre defendeu, em que

a consolidação orçamental é feita através do crescimento económico e não da

austeridade, é a única que realmente compatível com a sustentabilidade das finanças

públicas e com o desenvolvimento do pais:

(i) existe um outro caminho, uma outra estratégia diferente da do governo que melhor protege

o pais e os portugueses;

(ii) não há consolidação orçamental credível e sustentável sem crescimento económico;

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(iii) essa estratégia de crescimento, que permita uma redistribuição dos seus frutos para a

maioria dos portugueses, é exequível do ponto de vista orçamental e permite ao pais cumprir

os seus compromissos internacionais.

Ou seja, é o crescimento económico – e não a estratégia de empobrecimento que assenta

na compressão dos salários e no esmagamento dos direitos e condições de vida dos

portugueses - que permitirá reforçar a equidade social, aumentar produtividade e o

crescimento a longo prazo e, dessa forma, assegurar a sustentabilidade das finanças

públicas.

4. Porém, este crescimento económico não cairá do céu: a sua aceleração exige uma

nova política económica, assente numa estratégia integrada que permita ultrapassar

os bloqueios estruturais da economia portuguesa. Esta nova política económica, que

representa o fim do ciclo da austeridade, apostará no estímulo à procura interna - através do

estimulo ao investimento privado e da sua coordenação com o recurso ao investimento

público e de iniciativa pública – e no reforço das dinâmicas de inovação e de

internacionalização que permitam recuperar a trajectória de diversificação das nossas

exportações.

5. A execução desta nova política económica não resultará de um conjunto desgarrado

de politicas, mas exige uma estratégia coerente, com o objectivo de responder (i),

primeiro, aos bloqueios estruturais da economia portuguesa e, segundo, (ii) à urgência da

crise que o pais ainda hoje vive.

(i) Sobre aos bloqueios estruturais da economia, o relatório dá especial importância a

estratégias para melhorar a qualidade da formação de jovens e de adultos; para modernizar

a Administração Pública; e para acelerar as dinâmicas de reforço de competitividade e da

inovação, bem como a ligação entre universidades e empresas, que permitam a qualificação

do nosso tecido produtivo e o reforço da internacionalização da nossa economia.

(ii) Sobre a resposta à crise que ainda existe, e que exige uma intervenção urgente, o

relatório, para além propor a reposição de rendimentos cortados pelo governo (via reposição

do salário dos funcionários públicos; fim da sobretaxa sobre o IRS; e recuperação dos

mínimos sociais), defende a necessidade de novos estímulos à procura interna, por exemplo

através da criação de um complemento salarial anual para os mais baixos salários, ou da

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redução da taxa contributiva para a segurança social. Todas estas medidas aumentam o

rendimento disponível dos trabalhadores.

Este estímulo à procura interna como elemento de recuperação rápida da crise deve, ao

mesmo tempo, ser capaz de responder a dois desafios:

(i) por um lado, garantir que não é colocada em causa a sustentabilidade da segurança social.

É por isso que o Relatório propõe acelerar o processo de convergência entre o regime geral

da Segurança Social e a Caixa Geral de Aposentações, e generalizar a condição de recursos

nas prestações não-contributivas e na acção social; e é por isso que defende a diversificação

das fontes de financiamento da Segurança Social. Para tal, propõe que a receita de que o

Estado abdicaria em resultado da descida plaenada do IRC possa ser alocada ao

financiamento da Segurança Social (um “IRC social”); ou a criação de um imposto sobre

grandes heranças, cuja receita tambem ficaria consignada ao fiananciamento do sistema.

(ii) o outro desafio o relatório coloca a acção política é o da luta contra a precariedade laboral.

Sabemos que este traço do mercado de trabalho em Portugal penaliza muito as gerações

mais jovens, com impacto no baixos rendimentos que retiram do trabalho e na intermitância

da sua carreira contributiva. Por isso, hoje, a ambição de um governo não deve ser apenas

a criação de emprego, mas a criação de emprego estável e de qualidade. O Relatório propoe

medidas inovadoras, que vão do incentivo à contratação de trabalhadores a tempo

indeterminado à penalização das empresas que abusam dos contratos a prazo, através da

criação de uma taxa sobre a excessiva rotação de trabalhadores que oneram todos os que,

trabalhadores e empregadores, financiam a segurança social.

Page 11: Compreender melhor o relatório macroeconómico

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T.S.U. - UM PONTO CRÍTICO QUE TEM DE SER COMPREENDIDO

O Relatório propõe a descida da TSU para os trabalhadores?

Sim. O Relatório propõe a descida gradual da TSU dos trabalhadores (que representa hoje

11% do seu salario) em 4 pontos percentuais. Propõe que essa redução seja feita de forma

gradual, ao ritmo de 1,5 p.p. em 2016, 1,5 p.p. em 2017 e 1 p.p. em 2018. Posteriormente, a

medida deverá ser sujeita a avaliação, propondo-se a reversão gradual revertida à taxa de

0,5 p.p. por ano.

Esta medida representa, na prática, um aumento do salário líquido dos trabalhadores e

constitui um estímulo à economia de cerca de €1050 milhões. Ela não teria impacto direto

nas metas orçamentais inscritas no Pacto de Estabilidade e Crescimento, se enquadrada

como reforma estrutural ao abrigo do Tratado Orçamental.

Esta medida só abrangeria trabalhadores com menos de 60 anos.

O financiamento da medida seria feito através do ajustamento das pensões num valor

actuarialmente neutro para o sistema. Ou seja, as pensões verão refletidas as menores

contribuições realizadas durante o período de aplicação da medida. O cálculo do impacto

desta medida nas pensões varia entre 1,25% e 2,6%, mas só terá esta dimensão nas

pensões a pagar a partir de 2029. As pensões mínimas não serão afetadas por esta medida.

Na prática, os trabalhadores pedem emprestado uma pequena parte da sua pensão futura

para melhorar o seu rendimento no presente, em que muitas famílias se debatem com

problemas de liquidez.

O relatório propõe a descida da TSU para as empresas?

Sim, só para contratos permanentes, para incentivar o emprego estável. A componente da

entidade empregadora seria reduzida, só nestes contratos, de forma gradual até 4 pontos

percentuais - uma redução de 1.5 p.p. em 2016, 1.5 p.p. em 2017 e 1 p.p. em 2018. Após

2018 a redução seria permanente, mas a decisão dependeria da avaliação da eficácia da

medida na criação de emprego estável.

É importante avaliar esta medida de forma integrada com outras propostas, com o objectivo

de (i) a estimular a economia, (ii) combater a precariedade e (iii) diversificar as fontes de

financiamento da Segurança Social. Vejamos:

(i) A redução de 4 p.p. constitui um estímulo à economia de cerca de €850 milhões. Este

valor é a receita perdida directa com a medida, ainda que a perda nunca atinja este valor,

Page 12: Compreender melhor o relatório macroeconómico

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porque a redução da taxa contributiva produz um estímulo à atividade económica que gera

receitas de contribuição para a segurança social (bem como de impostos e diminuição de

despesas sociais).

(ii) O combate à precariedade que esta medida representa deve ser vista em conjugação

com duas outras medidas propostas neste Relatório: o ‘Contrato para a equidade laboral’

(que propõe a redução do âmbito dos contratos a prazo, e a introdução de um regime

conciliatório de cessação do contrato de trabalho, aplicável apenas aos novos contratos); e

a criação de uma taxa que incidiria sobre as empresas que fazem uma rotação excessiva de

trabalhadores.

(iii) A medida não porá em causa o financiamento da Segurança Social, dado que ela é

compensada pelo alargamento da base de financiamento do sistema, que ficaria com a

receita resultante.

A diversificação das fontes de financiamento da Segurança Social resulta:

(a) da não redução da taxa do IRC prevista na Reforma do Código do IRC (o que, de acordo

com o estimado no documento da Reforma do IRC, corresponde a uma receita que não se

perde que ascende a €240 milhões); na prática, isto corresponde à criação de um “IRC

social”, à semelhança do “IVA social” criado em 1995 (que consignou 1 p.p. da receita de

IVA ao orçamento da Segurança Social);

(b) da reintrodução do imposto sobre heranças de elevado valor (medida também proposta

no Relatório (estimada em €100 milhões).

(c) da taxa que internaliza o custo social de despedimento (medida também proposta neste

Relatório, cuja receita se estima atingir cerca de €100 milhões).

E porque é que o Relatório propõe reduzir a TSU ?

É fundamental combater a precariedade no trabalho.

Esta forma de combater a precariedade é também justa para as empresas, porque está

associada a outra medida: não continuar a reduzir o IRC. A baixa da TSU beneficia todas as

empresas que empregam trabalhadores com contratos permanentes, enquanto a baixa do

IRC beneficia fundamentalmente um número muito menor de empresas, de grande dimensão

e em setores mais rentáveis, muitas vezes protegidos da concorrência.

Page 13: Compreender melhor o relatório macroeconómico

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PERGUNTAS E RESPOSTAS GERAIS SOBRE O RELATORIO

P: Em que é que a estratégia proposta neste relatório é diferente da seguida pelo

governo?

R: Ao contrário da estratégia seguida até aqui pelo governo, esta proposta:

- faz depender a consolidação orçamental de uma estratégia de crescimento económico, e

não o contrário; a austeridade produz estagnação económica, e esta nao gera finanças

públicas sustentáveis;

- parte de uma ideia de ‘competitividade’ assente na qualificação dos portugueses e na

modernização das suas instituições e das suas empresas, ao contrário da defendida pelo

atual governo, assente na redução de custos e no embaratecimento/empobrecimento do

país;

- respeita a Constituição, em vez de testar os seus limites sistematicamente;

- assume uma política orçamental marcada pela estabilidade, que evite medidas pro-cíclicas

e alterações constantes para corrigir desvios do défice ao longo do ano, e que não veja o

investimento público como uma variável de ajustamento, que pode ser cortada para cumprir

metas de curto prazo;

- garante a qualificação das instituições públicas/Administração Pública, para que, de forma

descentralizada, ela(s) possa(m) encontrar as soluções mais eficientes, com melhor

utilização dos recursos e melhorias da eficácia dos serviços, em vez de a condenar a um

processo de continua degredagação;

P: O relatório usa os dados mais recentes da Comissão Europeia sobre Portugal.

Porém, agora que foi divulgado o Programa de Estabilidade pelo governo, não devem

as comparalões feitas para o período até 2019 ser feita com o documento do

executivo?

R: Não. Ao contrario do que acontece com este relatorio, o problema com o Plano de

Estabilidade apresentado pelo governo reside no facto não conhercemos nem o cenário de

partida, nem o impacto estimado de cada uma das medidas – sendo que em alguns casos

não conhecemos sequer as medidas que o governo pretende executar para atingir as metas

Page 14: Compreender melhor o relatório macroeconómico

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com que se comprometeu (como no caso da meta de redução na despesa em pensões em

cerca de €600 milhões). Ou seja, o cenário macroeconómico usado pelo governo é menos

transparente e o impacto das medidas que já divulgou é totalmente desconhecido –

precisamente o oposto do que acontece com este Relatório.

P: São estas medidas compatíveis com a sustentabilidade das contas públicas e, em

particular, com o Tratado Orçamental?

R: O Relatório defende que a sustentabilidade das contas públicas e a estabilização do

endividamento são princípios basilares da governação. É necessário um compromisso claro

com uma trajetória de sustentabilidade das contas públicas que garanta a redução do défice

estrutural e permita iniciar uma trajetória descendente do rácio de endividamento. O quase

equilíbrio estrutural das contas públicas e a redução do endividamento são objetivos

assumidos como uma prioridade, independentemente dos condicionalismos externos.

Mas a sustentabilidade orçamental só pode ser avaliada num quadro de médio e longo prazo,

com políticas mais moderadas que criem espaço para que o crescimento económico seja o

principal fator de melhoria das contas públicas. O PS defende uma implementação inteligente

do Tratado Orçamental e é por isso que estáempenhado numa construção activa do área do

euro e das suas regras de funcionamento.

P: O instrumento analítico usado neste Relatório vai continuar a ser disponibilizado?

R: Sim, o intrumento continuará a ser usado para testar o impacto das medidas propostas no

quadro de elaboração do programa eleitoral do Partido Socialista.

Page 15: Compreender melhor o relatório macroeconómico

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III. DESCRIÇÃO DAS PRINCIPAIS MEDIDAS

PROPOSTAS

Nesta secção ficam de fora áreas muito importantes para a estratégia desenhada no Relatório – como

as relativas à educação, inovação, Administração Pública, etc –, que em muitos casos não têm ainda

calendarização precisa. Na prática, esta lista acaba por se centrar na politica de rendimentos e nas

questões laborais e de financiamento da Segurança Social.

OBJECTIVO:

REPOR RENDIMENTOS

A. MEDIDAS QUE REPÕEM

CORTES FEITOS PELO

ATUAL GOVERNO:

- Eliminação gradual da

sobretaxa sobre o IRS

- Eliminação gradual da

redução remuneratória dos

funcionários públicos

- Reposição dos mínimos

sociais (abono de família,

Complemento Solidário para

Idosos, Rendimento Social de

Inserção)

OBJECTIVO:

RESPONDER À CRISE QUE O

PAÍS AINDA VIVE

B. MEDIDAS QUE

AUMENTAM O RENDIMENTO

DISPONIVEL DAS FAMÍLIAS E

REFORÇAM A EQUIDADE:

- Compromisso de apoio ao

rendimento e redução de

restrições de liquidez das

famílias

- Complemento salarial anual

- Eliminação do quociente

familiar

- Redução do IVA da

restauração para 13%

OBJECTIVO:

RESPONDER A DESAFIOS

ESTRUTURAIS

C. MEDIDAS QUE

COMBATEM A

PRECARIEDADE E

REFORÇAM A

SUSTENTABILIDADE DA

SEGURANÇA SOCIAL:

- Contrato para a equidade

laboral

- Taxa sobre a rotação

excessiva de empregos

- Compromisso para o

emprego estável

- Consignação de novas

receitas ao financiamento da

Segurança Social

Page 16: Compreender melhor o relatório macroeconómico

16

A. MEDIDAS QUE REPÕEM CORTES FEITOS PELO ATUAL GOVERNO

ELIMINAÇÃO DA SOBRETAXA SOBRE O IRS

Enquadramento: O IRS sofreu um forte agravamento em 2013, que se traduziu num

aumento de 38% da receita com o imposto. Atualmente, o IRS representa cerca de 30% das

receitas fiscais do Estado, o que constitui um dos valores mais altos da UE. As famílias da

classe média foram as que mais violentamente foram penaizadas com a redução dos

escalões e o aumento das taxas.

Objectivo: Reduzir a carga do IRS sobre as famílias, fortemente penalizador do fator

trabalho, aumentando a progressividade do imposto.

Proposta: Eliminação da sobretaxa em dois anos: redução de 1,75 p.p. em 2016 e de 1,75

p.p. em 2017.

ELIMINAÇÃO DA REDUÇÃO REMUNERATÓRIA DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

Enquadramento: Nos últimos anos assistiu-se a uma desvalorização, desqualificação e

desestruturação do Estado com reorganizações orgânicas sistemáticas não só entre

diferentes governos constitucionais, mas por vezes durante o mesmo ciclo governativo.

Registou-se também uma forte quebra na motivação dos trabalhadores em funções públicas,

em particular pelas reduções salariais impostas, a que se juntam outros factores (horários

laborais mais rígidos e mais extensos, congelamentos das promoções e progressões na

carreira, reduzidas admissões, suspensão de incentivos ao mérito, sistema de avaliação de

desempenho complexo, burocratizado e sem consequências práticas).

Objectivo: Promover a recuperação de poder de compra, sobretudo daqueles mais afetados

pelos cortes salariais, nomeadamente os trabalhadores mais qualificados da administração.

Page 17: Compreender melhor o relatório macroeconómico

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Proposta: Eliminação da redução salarial dos funcionários públicos, em vigor desde o

OE2011, em 2 anos através da supressão dos cortes salariais em 40% em 2016 e a parte

remanescente em 2017.

REPOSIÇÃO DOS MÍNIMOS SOCIAIS

Enquadramento: A estratégia de ajustamento seguida pelo governo fez aumentar de forma

intensa a pobreza e as desigualdades. O pais recuou cerca de uma década nesta área, e é

hoje uma urgência inverter a espiral de empobrecimento que afecta muitas famílias, muitas

delas com filhos.

Objectivo: Reforçar o combate à pobreza, em particular a pobreza infantil e juvenil.

Proposta: Repor o enquadramento legal existente antes de 2012 que permitia a cobertura

de um maior número de situações a prestações não contributivas, vocacionadas para apoiar

as família em risco de pobreza (abono de família, rendimento social de inserção (RSI) e

complemento social para idosos (CSI))

Custo das medidas: Abono de família: €40 milhões/ano; RSI: €55 milhões/ano; CSI: €8

mlhões/ano.

B. MEDIDAS QUE AUMENTAM O RENDIMENTO DISPONÍVEL DAS FAMÍLIAS E

REFORÇAM A EQUIDADE

COMPROMISSO DE APOIO AO RENDIMENTO E REDUÇÃO DE RESTRIÇÕES DE

LIQUIDEZ DAS FAMÍLIAS

Enquadramento: O aumento de desemprego, a redução de salários e o aumento de

impostos nos últimos anos colocaram muitas centenas de milhares de famílias em enormes

dificuldades financeiras, ao ponto de muitas famílias não terem dinheiro ara pagarem os

empréstimos aos bancos.

Objectivo: Aumentar o rendimento disponível das famílias. Com esta medida estimula-se a

procura interna provendo liquidez a famílias que trabalham e auferem baixos rendimentos e

que estão privadas do acesso a bens e serviços básicos no contexto de perda de rendimento

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do agregado familiar. Esta medida aumentará a margem de consumo das famílias, gerando

procura e, por essa via, postos de trabalho.

Proposta: Redução da taxa de contribuição para a segurança social nas componentes do

trabalhador. Esta componente é reduzida de forma generalizada num montante até 4 pontos

percentuais. A redução corresponde a 36% da contribuição total dos trabalhadores e será

feita de forma gradual entre 2016 e 2018, ao ritmo de 1,5 p.p. em 2016, 1,5 p.p. em 2017 e

1 p.p. em 2018. Posteriormente, a medida deverá ser sujeita a avaliação, sendo revertida à

taxa de 0,5% por ano se assim for considerado adequado.

A medida seria aplicada apenas a trabalhadores com menos de 60 anos que paguem a taxa

de contribuição para a segurança social igual a 34,75%, a que acresce os trabalhadores

independentes com taxa de contribuição completa.

Custo da medida: Esta medida constitui um estímulo à economia de cerca de €1050 milhões

e não tem impacto direto nas metas orçamentais inscritas no Pacto de Estabilidade e

Crescimento, se enquadrada como reforma estrutural ao abrigo do Tratado Orçamental. O

financiamento da medida é feito através do ajustamento das pensões num valor

actuarialmente neutro para o sistema. Ou seja, as pensões verão refletidas as menores

contribuições realizadas durante o período de aplicação da medida. O cálculo do impacto

desta medida nas pensões varia entre 1,25% e 2,6%, mas só terá esta dimensão nas

pensões a pagar a partir de 2029. As pensões mínimas não serão afetadas por esta medida.

COMPLEMENTO SALARIAL ANUAL

Enquadramento: Em resultado da excessiva rotação de emprego e do aumento do tempo

parcial involuntário, muitos trabalhadores têm um salário anual significativamente inferior ao

correspondente ao salário mínimo. Esta situação dá origem ao fenómeno dos “trabalhadores

pobres”, indivíduos que, apesar de trabalharem ao longo do ano, não conseguem um

rendimento socialmente aceitável.

Objectivo: Reduzir a percentagem de indivíduos que trabalham e cujos rendimentos os

deixam a si e ao seu agregado familiar abaixo da linha de pobreza.

Proposta: A criação de um complemento salarial anual, que constitui um “imposto negativo”,

aplicável a todos os que durante o ano declarem um rendimento do trabalho à Segurança

Social inferior à linha de pobreza. Este complemento salarial é apurado em função do

rendimento e da composição do agregado familiar.

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Ao contrário do subsídio de desemprego, que tem condições de atribuição que excluem

indivíduos com trajetórias mais precárias no mercado de trabalho, o imposto negativo é

atribuído de forma universal. Assim, os indivíduos com rendimento baixos dispõem de um

mecanismo de combate à pobreza, através da promoção do emprego.

Esta medida existe há muitos anos em países como os EUA, o Reino Unido ou a França,

com bastante sucesso no aumento do rendimento dos trabalhadores com mais baixos

salários.

Custo da medida: €350 milhões/ano.

ELIMINAÇÃO DO QUOCIENTE FAMILIAR DO CÓDIGO DO IRS

Enquadramento: O quociente familiar, introduzido na recente reforma do IRS pelo atual

governo, tem uma natureza marcadamente regressiva, ao beneficiar as famílias que, tendo

filhos, mais rendimentos auferem.

Objectivo: Evitar que um filho de uma família com rendimentos elevados beneficie de uma

dedução superior a uma filho de uma família com rendimentos mais baixos.

Proposta: Eliminação do quociente familiar. O quociente familiar será substituído por uma

dedução por cada filho, que não tenha o carácter regressivo da atual formulação; a alteração

será neutra do ponto de vista da receita (proposta já apresentada pelo Partido Socialista na

discussão do OE2015). O apoio às famílias com crianças deve ser feito através do abono de

família e de outros instrumentos de política de promoção da natalidade.

Custo da medida: não há custo acrescido, trata-se apenas uma diferente distribuição da

despesa fiscal já realizada pelo Estado.

REDUÇÃO DO TAXA DO IVA DA RESTAURAÇÃO PARA A TAXA INTERMÉDIA

Enquadramento: A taxa de IVA no sector da restauração sofreu um aumento de 13% para

23% em 2012. Com esta alteração Portugal passou a ter a 3º taxa mais elevada de IVA no

sector restauração de entre os 28 países da UE. Atualmente, apenas três outros países da

Europa Ocidental (UE15) aplicam a taxa normal de IVA ao sector da restauração. Em países

do Sul da Europa, onde o sector da restauração tem maior importância, aplica-se uma taxa

de reduzida de IVA na restauração: em Espanha, França e Itália a taxa é de 10% e na Grécia

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de 13%. O aumento da taxa de IVA em 2012 contribuiu para o encerramento de muitos

estabelecimentos e para a forte contração do emprego. A restauração é sector intensivo em

trabalho, pelo que a recuperação do sector da restauração terá um impacto significativo no

crescimento do emprego, nomeadamente do emprego jovem e de menos qualificação.

Objectivo: Aumentar o rendimento das famílias que usufruem destes serviços (e a sua

procura).

Proposta: Redução do IVA sobre este setor da taxa normal (23%) para a taxa intermédia de

(13%)

Custo da medida: €260 milhões (podendo contudo o custo revelar-se inferior caso a redução

da taxa induza uma redução da evasão do imposto).

C. MEDIDAS QUE COMBATEM A PRECARIEDADE LABORAL E DIVERSIFICAM

AS FONTES DE FINANCIAMENTO DA SEGURANÇA SOCIAL

CONTRATO PARA A EQUIDADE LABORAL

Enquadramento: O recurso generalizado aos contratos a prazo pelas empresas sujeita um

conjunto muito amplo de trabalhadores a uma situação de sistemática precariedade laboral

e rendimentos muito baixos.

Objetivos: Contribuir para a resolução do principal problema das relações laborais em

Portugal: (i) excesso de contratos a prazo, baixa proteção no emprego, baixa taxa de

conversão de contratos a prazo em permanentes; (ii) simplificação contratual e redução da

litigância na cessação da relação laboral.

Proposta: A medida contempla duas alterações à lei do trabalho: (i) a redução do âmbito

dos contratos a prazo, limitando-o a situações de substituição de trabalhadores; (ii) a

introdução de um regime conciliatório de cessação do contrato de trabalho, aplicável aos

novos contratos.

A par da limitação do regime de contrato com termo, propõe-se complementar a atual

legislação de cessação de contratos de trabalho com um novo regime voluntário em que as

empresas podem iniciar um procedimento conciliatório, englobando todos os motivos de

razão económica que tenham posto em causa a sobrevivência do emprego. O procedimento

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conciliatório entre a empresa e o trabalhador é iniciado através da consulta às estruturas

representativas dos trabalhadores. Neste processo conciliatório, as indemnizações por

despedimento são mais elevadas do que as atuais: 18 dias por cada ano de antiguidade nos

primeiros 3 anos e 15 dias por cada ano adicional, com mínimo de 30 dias e um máximo de

15 meses (hoje, as indemnizações são 12 dias por cada ano de antiguidade, com um máximo

de 12 meses).

O trabalhador tem sempre acesso aos tribunais, caso considere que as razões invocadas

sejam desajustadas ou discriminatórias. Nesse caso aplicam-se as atuais regras de

despedimento: indemnizações e possibilidade de reintegração.

PERGUNTAS FREQUENTES.

P: Este novo regime seria aplicado a todos os trabalhadores?

R: Não, o novo regime de contrato de trabalho não seria aplicável aos contratos de trabalho,

com ou sem termo, celebrados antes da sua entrada em vigor, salvo se por acordo as partes

decidirem passar os contratos existentes para o novo regime legal (através de negociação

coletiva). Os contratos assinados no passado não serão alterados sem acordo das partes.

P: A empresa fica com mais poder sobre o trabalhador?

R: Não, porque no novo regime a proteção jurídica existente mantém-se, e a empresa pode

ser alvo de um processo judicial se o despedimento for impugnável à luz da lei atual (note-

se que a generalização dos contratos com termo equivaleu à legalização do despedimento

sem invocação de causa, uma prática explicitamente inconstitucional). Esta alteração

permitirá à parte mais fraca ficar duplamente protegida, através da limitação do âmbito dos

contratos com termo e da combinação da atual proteção jurídica aos contratos permanentes,

com as indemnizações mais elevadas aplicadas na via conciliatória.

TAXA SOBRE A ROTAÇÃO EXCESSIVA DE EMPREGOS (“TAXA SOBRE A

PRECARIEDADE”)

Enquadramento: No mercado de trabalho, existem empresas que abusam dos contratos a

termo e são por isso responsáveis por uma elevada rotatividade dos trabalhadores e pelo

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recurso destes ao subsídio de desemprego, provocando custos ao sistema que não são

pagos por elas.

Objectivo: Obrigar as empresas a internalizar os custos, associando de forma direta as taxas

de contribuição para o financiamento do sistema com as despesas em subsidio de

desemprego pago aos trabalhadores que cada empresa despede.

Proposta: Associar taxas superiores para as empresas com um maior rácio de utilização do

seguro de desemprego. Por exemplo, a taxa social de desemprego máxima seria paga pelas

empresas que apresentassem um rácio de utilização do seguro de desemprego mais elevado

numa média de 3 anos (as empresas “novas”, durante o primeiro ano de atividade, pagariam

a taxa média do sistema. A partir daí, a taxa social de desemprego seria calculada como para

as restantes empresas). Este sistema, pelo incentivo correto que gera junto das empresas,

levaria a uma redução do número de despedimentos. A introdução de um mecanismo deste

tipo penaliza, sob a forma de maiores contribuições para a segurança social, as empresas

com um “número excessivo” de despedimentos com recurso a seguro de desemprego (tendo

por referência um valor de rotação média ajustado a cada um dos setores). As contribuições

refletiriam, assim, os custos com as políticas ativas e passivas do mercado de trabalho que

o Estado suporta com os trabalhadores que se separam involuntariamente das empresas.

Esta é uma prática existente nalguns países, com um efetivo sucesso na redução da rotação

excessiva de trabalhadores, como fator de sustentabilidade da segurança social e de

proteção do rendimento dos trabalhadores quando perdem o emprego.

Receita esperada: €100 milhões/ano.

COMPROMISSO PARA O EMPREGO ESTÁVEL

Enquadramento: Um dos desenvolvimentos mais negativos no mercado de trabalho nas

duas últimas décadas em Portugal foi o aumento significativo da segmentação contratual.

Este problema foi reconhecido há muito tempo em sede de concertação social, e foi objeto

de atenção no “Acordo tripartido para um novo sistema de regulação das relações laborais,

das políticas de emprego e da protecção social em Portugal”, assinado pelo governo do

Partido Socialista em Junho de 2008. Os motivos que, nesse acordo, levaram a incidir no

combate a precariedade e a segmentação contratual reforçaram-se desde então.

Objectivo: O contributo desta medida será o de estimular a oferta e a capacidade das

empresas de contratação dirigida a emprego mais estável.

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Proposta: A proposta retoma a ideia de diferenciar as taxas contributivas a cargo dos

empregadores adotada no Acordo de 2008. No caso das contribuições dos trabalhadores

com contratos permanentes, a componente da entidade empregadora é reduzida de forma

gradual até 4 pontos percentuais - uma redução de 1.5 p.p. em 2016, 1.5 p.p. em 2017 e 1

p.p. em 2018. Após 2018 a redução será permanente, mas a decisão dependerá da avaliação

da eficácia da medida na criação de emprego estável.

Custo da medida: A redução de 4 p.p. constitui um estímulo à economia de cerca de €850

milhões. Esta é a receita perdida directa com a medida – embora nunca a perda de receita

atinja este valor, porque a redução da taxa contributiva produz um estímulo à atividade

económica que gera receitas de contribuição para a segurança social (bem como de

impostos e diminuição de despesas sociais). A medida não porá em causa o financiamento

da Segurança Social, dado que ela é compensada pelo alargamento da base de

financiamento da Segurança Social (ver ponto seguinte).

Estas três medidas de combate à precariedade laboral - o “Contrato para a equidade

laboral”, a taxa sobre a rotação excessiva de empregos e o “Compromisso para o

emprego estável” - devem ser vistas de forma integrada, e a sua implementação

coordenada aumentará a sua eficácia.

CONSIGNAÇÃO DE NOVAS RECEITAS AO FINANCIAMENTO DA SEGURANÇA

SOCIAL

Enquadramento: A perda de receita contributiva pela Segurança Social devido ao enorme

queda do emprego nos últimos anos originou défices no regime previdencial. No futuro, é a

recuperação do emprego que permitirá reforçar a sustentabilidade do sistema, mas é

essencial pensar na diversificação de fontes de financiamento da Segurança Social.

Objectivo: Compensar a receita cessante que resulta da concretização medida

“Compromisso para o emprego estável”.

Proposta: Consignar para o financiamento da Segurança Social a receita que resulta:

(a) da não redução da taxa do IRC prevista na Reforma do Código do IRC (o que, de acordo

com o estimado no documento da Reforma do IRC, corresponde a uma receita que não se

perde que ascende a €240 milhões); na prática, isto corresponde à criação de um “IRC

social”, à semelhança do “IVA social” criado em 1995 (que consignou 1 p.p. da receita de

IVA ao orçamento da Segurança Social);

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(b) da reintrodução imposto sobre heranças de elevado valor (medida também proposta no

Relatório (estimada em €100 milhões). As heranças mais comuns - aquelas em que são

herdeiros o cônjuge ou unido de facto, descendentes e ascendentes – são isentas de imposto

em Portugal, tal como acontece com as doações em vida nas mesmas circunstâncias.

Apenas dois outros países da UE15 não têm imposto sobre heranças (Áustria e Suécia).

O imposto sucessório contribui para uma sociedade mais justa e inclusiva e é

favorável ao crescimento económico e, ao contrário dos outros impostos, o seu

impacto recessivo é limitado. A introdução de um imposto sucessório é

particularmente importante num país que está sujeito a um elevado nível de tributação

sobre o rendimento do trabalho e onde existe uma elevada desigualdade de

rendimentos e de património.

Propõe-se uma taxa marginal de imposto de 28%, idêntica à que é aplicada em IRS

relativamente a rendimentos patrimoniais. Desta taxa marginal resultam, a título

ilustrativo, taxas médias de 14% para heranças no valor de €2 milhões e de 18,6%

para heranças no valor de €3 milhões. Pode, em alternativa, ponderar-se um valor de

isenção mais baixo mas com consideração (para alívio de tributação) do número de

herdeiros. A receita esperada é de €100 milhões/ano.

(c) da taxa que internaliza o custo social de despedimento (medida também proposta neste

Relatório, cuja receita se estima atingir cerca de €100 milhões).

Por fim, a receita fiscal que resulta do impacto das medidas no crescimento económico deve

em parte ser canalizada para o financiamento desta medida. As simulações mostram que o

que é exigido ao Orçamento de Estado para financiamento da Segurança Social em

consequência dela será um valor inferior a €350 milhões (que não compromete a estabilidade

das contas públicas durante a legislatura).

PERGUNTAS FREQUENTES:

P: Esta medida troca a redução pleanada do IRC pela redução da componente da

entidade empregadora da taxa contributiva da segurança social. Qual a justificação?

R: Porque o impacto na atividade económica da redução da taxa contributiva da segurança

social será sempre muito superior ao de uma redução dos impostos sobre o rendimento das

empresas. Este maior impacto dá-se não só porque tem um efeito generalizado - já que é

aplicada a todas as empresas (e não apenas àquelas que registam lucros, como acontece

Page 25: Compreender melhor o relatório macroeconómico

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no IRC) -, como a redução incide assim mais fortemente sobre empresas que empregam

mais trabalhadores.

P: É justo consignar receita do imposto sucessório e do IRC à Segurança Social?

R: No caso do IRC, o que se propõe fazer é criar um “IRC social”, à semelhança do “IVA

Social” criado em 1995 para financiar a Segurança Social. Está a pedir-se às pessoas

individuais (no caso do imposto sucessório) e às pessoas colectivas (no caso do IRC, que é

pago fundamentalmente por empresas de grande dimensão e em setores mais rentáveis,

muitas vezes protegidos da concorrência) com mais riqueza e/ou rendimentos que

contribuam, em função do princípio constitucional da capacidade contributiva, para a

sustentabilidade da Segurança Social, que necessita de ver as suas fontes de financiamento

alargadas. Há uma redistribuição das empresas maiores e mais lucrativas (que pagam IRC)

para a grande massa das empresas que não geram lucros mas dão emprego estável (e

pagam TSU).

P: Esta redução da taxa de contribuição para a segurança social afeta o processo de

formação das pensões?

R: Não, porque ela é devidamente compensada pela consignação de outros impostos/taxas

e pelo efeito do crescimento económico sobre as receitas fiscais e contributivas. Não há

riscos acrescidos para a sustentabilidade da Segurança Social; pelo contrario, ao serem

criadas fontes de financiamento alternativos aos existentes, alargam-se os mecanismos que

garantem fluxo estável de financiamento do sistema.