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Primeiro Relatório de Avaliação Volume II – Impactos, Vulnerabilidades e Adaptação Sumário Executivo Coordenação: Eduardo Delgado Assad (Embrapa), Antônio Rocha Magalhães (CGEE) Autores Principais: Eduardo Delgado Assad (Embrapa), Antônio Rocha Magalhães (CGEE), Regina Célia dos Santos Alvalá (INPE), Ana Maria Helminsk Ávila (UNICAMP), Francisco de Assis Souza Filho (UFC), Fabio Rubio Scarano (UFRJ), João Luis Nicolodi (FURG), Helenice Vital (UFRN), Antônio Henrique da Fontoura Klein (UFSC), Paulo Eurico Pires Ferreira Travassos (UFRPE), Fábio Hissa Vieira Hazin (UFRPE), Giampaolo Pellegrino (EMBRAPA), Maya Takagi (MDS), Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho (USP), Andrea F. Young (UNICAMP), Heloisa Costa (UFMG), André Frossad Pereira de Lucena (UFRJ), Andréa Souza Santos (UFRJ), Paulo Hilário Nascimento Saldiva (USP), Roberto Luiz do Carmo (UNICAMP), Roberto Germano Costa (UFPB), Pedro Dantas Fernandes (UFCG), Eduardo Haddad (USP), Saulo Rodrigues Filho (CDS/UNB), Felipe Gustavo Pilau (UFSM), Josilene Ticianelli Vannuzini Ferrer (CETESB), Dirceu Silveira Reis Junior (UNB), Eduardo Sávio Passos Rodrigues Martins (FUNCEME). Autores Colaboradores: Alfredo Ribeiro Neto (UFPE); Joaquim Gondim (ANA), Francisco Antonio Rodrigues Barbosa (UFMG), Ricardo Bomfim Machado (UnB), Carlos Augusto França 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 1 2

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Primeiro Relatório de AvaliaçãoVolume II – Impactos, Vulnerabilidades e Adaptação

Sumário Executivo

Coordenação: Eduardo Delgado Assad (Embrapa), Antônio Rocha Magalhães (CGEE)

Autores Principais: Eduardo Delgado Assad (Embrapa), Antônio Rocha Magalhães (CGEE), Regina Célia dos Santos Alvalá (INPE), Ana Maria Helminsk Ávila (UNICAMP), Francisco de Assis Souza Filho (UFC), Fabio Rubio Scarano (UFRJ), João Luis Nicolodi (FURG), Helenice Vital (UFRN), Antônio Henrique da Fontoura Klein (UFSC), Paulo Eurico Pires Ferreira Travassos (UFRPE), Fábio Hissa Vieira Hazin (UFRPE), Giampaolo Pellegrino (EMBRAPA), Maya Takagi (MDS), Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho (USP), Andrea F. Young (UNICAMP), Heloisa Costa (UFMG), André Frossad Pereira de Lucena (UFRJ), Andréa Souza Santos (UFRJ), Paulo Hilário Nascimento Saldiva (USP), Roberto Luiz do Carmo (UNICAMP), Roberto Germano Costa (UFPB), Pedro Dantas Fernandes (UFCG), Eduardo Haddad (USP), Saulo Rodrigues Filho (CDS/UNB), Felipe Gustavo Pilau (UFSM), Josilene Ticianelli Vannuzini Ferrer (CETESB), Dirceu Silveira Reis Junior (UNB), Eduardo Sávio Passos Rodrigues Martins (FUNCEME).

Autores Colaboradores: Alfredo Ribeiro Neto (UFPE); Joaquim Gondim (ANA), Francisco Antonio Rodrigues Barbosa (UFMG), Ricardo Bomfim Machado (UnB), Carlos Augusto França Schettini (UFPE), Luciana Costa (Ecology Brasil Ltda), Gilberto Fonseca Barroso (UFES), Mario Luiz Gomes Soares (UERJ), Luiz Francisco Ditzel Faraco (ICMBio), Humberto Gomes Hazin (UFRPE), Carmem Priscila Bocchi (MDS), Arnaldo Carneiro Filho (SAE), Susian Christian Martins (FGV), Andrea Koga Vicente (CEPAGRI/UNICAMP), Paula Rodrigues Salgado (EMBRAPA), Iedo Bezerra (EMBRAPA), Alisson Flávio Barbieri (UFMG), Gustavo Inácio de Moraes (PUC/RS), Nilo de Oliveira Nascimento (UFMG), Enio Bueno Pereira (INPE), Agostinho Ogura (IPT), Osório Thomaz (IPT), Diana Scabelo da Costa Pereira da Silva Lemos (UFRJ), Micheline de Sousa Zanotti Stagliorio Coelho (USP), Samya de Lara Pinheiro (USP), Hélio dos Santos Silva (FURB), Alfredo Kingo Oyama Homma (EMBRAPA), Josilene Ticianelli Vannuzini Ferrer (CETESB), Edson Domingues (UFMG), Weslem Rodrigues Faria (USP), Aline Souza Magalhães (USP), Conceição de Maria Albuquerque Alves (UNB), Natacha Nogueira Britschka (SVMA), Diego Pereira Lindoso (UnB), Patrícia Mesquita (UnB).

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Revisores: Alberto Waingort (INPE), Hilton Silveira Pinto (UNICAMP), Carlos Eduardo Morelli Tucci (UFRGS), Demetrios Christofidis (MIN), Rosa Maria Johnsson (UERJ), Braulio Ferreira de Souza Dias (MMA), Fábio Roland (UFJF), Simey Thury Vieira Fisch (UNITAU), Jarbas Bonetti Filho (UFSC), Paulo da Cunha Lana (UFPR), Silvio Jablonski (UERJ), Jorge Pablo Castello (FURG), Aryeverton Fortes de Oliveira (EMBRAPA), Jurandir Zullo Junior- (UNICAMP), Claudio Szlafstein (UFPA), Luiz Augusto Horta Nogueira (UNIFEI), Roberto Schaeffer (UFRJ), Ronaldo Balassiano (UFRJ), Ulisses Eugenio Cavalcanti Confalonieri (FIOCRUZ), Josilene Ticianelli Vannuzini Ferrer (CETESB), Norma Felicidade Lopes da Silva Valencio (UNICAMP), Alberício Pereira de Andrade (INSA), Jair do Amaral Filho (UFC), Carolina Dubeux (UFRJ), Paulo Henrique Caramori (IAPAR), Nathan dos Santos Debortoli (UNB).

Revisor Especialista: Maria Assunção Faus da Silva Dias (USP).

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ÍndiceResumo das principais conclusões 4

Definições 5

Introdução e Fundamentos 6

Mudanças Climáticas na Esfera Nacional 7

Recursos Naturais e Manejos, Ecossistemas e seus Usos 8

Recursos Hídricos 8

Ecossistema de Água Doce e Terrestre 11

Sistemas Costeiros e Áreas Costeiras Baixas 12

Ecossistema Oceânico 14

Sistema Alimentar e Segurança 15

Aglomerados Humanos, Indústria e Infraestrutura 16

Áreas Rurais 16

Áreas Urbanas 18

Setor Energia 19

Setor Indústria 20

Setor Transporte 21

Saúde Humana, Bem-estar e Segurança 23

Saúde Humana 23

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Subsistência e pobreza 26

Impactos Multisetoriais, Riscos, Vulnerabilidades e Oportunidades 30

Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação na Esfera Regional 31

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Resumo das principais conclusões Os impactos da mudança do clima variam com a diversidade hidrológica do território

brasileiro: as precipitações no Norte e Nordeste do Brasil não apresentam uma tendência de mudança definida, podendo ter reduções significativas ou aumento moderado, dependendo do modelo utilizado; os rios no leste da Amazônia e Nordeste do Brasil poderão ter redução da vazão de até 20%; a bacia do rio Tocantins pode ter redução da vazão da ordem de 30%; a bacia hidrográfica do Paraná-Prata deverá ter aumento da vazão (entre 10% e 40%) no cenário A1B até meados do século XXI segundo 12 modelos climáticos; os dados sobre o Rio Grande, afluente do rio Paraná, apresentam significativa discordância entre as alterações de vazões estimadas pelos diferentes modelos climáticos; a vazão pode aumentar 13% ou reduzir em até 28% em outro modelo, havendo grande incerteza.

A mudança climática deverá afetar as taxas de recarga de águas subterrâneas. Há necessidade de mais pesquisas neste tema.

Todos os biomas brasileiros apresentam vulnerabilidade às mudanças do clima, em maior ou menor intensidade. Para os ecossistemas costeiros e as áreas costeiras baixas no Brasil, há grande carência de informações relacionadas aos efeitos das mudanças climáticas, bem como à vulnerabilidade desses ecossistemas a tais alterações.

Nos ecossistemas oceânicos, as mudanças climáticas podem promover uma redistribuição em larga escala do potencial máximo da captura (PMC) de várias espécies, com um aumento de 30% a 70% em regiões de altas latitudes e quedas nos trópicos. As perdas e ganhos do PMC nas latitudes tropicais serão da ordem de 10%, mas podem atingir valores maiores ao largo da costa brasileira. A previsão é a de que o Brasil diminua em 6% seu PMC nos próximos 40 anos.

As mudanças climáticas terão efeito diferenciado em termos regionais na oferta de alimentos no País.

A partir de politicas públicas já em andamento, o setor agrícola apresenta opções para redução das emissões de Gases de Efeito Estufa e de adaptação das culturas ao aquecimento global.

Com o grande aumento na produção de alimentos no Brasil, a ameaça da segurança alimentar é mais dependente das condições de infraestrutura de armazenamento e transporte, onde são identificadas perdas continuadas todos os anos.

Mesmo com a identificação dos impactos negativos em áreas rurais, nenhum estudo parece indicar efeitos catastróficos ao nível agregado no país. Os efeitos mais sérios surgirão ao nível regional e estarão concentrados nas regiões mais pobres do Brasil.

De maneira geral, as cidades brasileiras não contemplaram a questão ambiental e as funções dos sistemas naturais. Sem sistemas eficientemente integrados de transporte público; abastecimento e proteção de recursos hídricos, produção e distribuição de energia, coleta e deposição de lixo; saneamento, redução da poluição e de gases de efeito estufa, parcelamento do solo, saúde e educação voltados para a questão climática e desastres associados, será muito difícil reverter este quadro e implantar medidas de adaptação. Os centros urbanos são uma das áreas mais vulneráveis do país.

O setor energético pode ser afetado de diversas formas pelas mudanças do clima, tanto no que diz respeito à base de recursos energéticos e aos processos de transformação, quanto aos aspectos de transporte e consumo de energia.

Estudos correlacionando estas duas áreas, desenvolvimento industrial e mudança climática, 47

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ainda são raros. Portanto, são necessários levantamentos sistemáticos e análises integradas a respeito do clima e das instalações industriais.

As mudanças climáticas poderão afetar os sistemas de transporte (ferroviário, aéreo, rodoviário, marítimo) em todos os países dificultando potencialmente a mobilidade urbana, com consequência para o crescimento da economia e qualidade de vida das populações. A fragilidade da infraestrutura brasileira neste tema potencializa os impactos.

Com relação ao tema saúde humana, bem estar e segurança, as comunidades mais pobres podem ser especialmente vulneráveis por se concentrarem em áreas de alto risco, por terem menor capacidade adaptativa e por serem mais dependentes de recursos locais sensíveis ao clima.

As condições de saúde humana no Brasil poderão ser severamente afetadas em razão, sobretudo, do histórico de doenças de veiculação hídrica, das doenças transmitidas por vetores e das doenças respiratórias.

Em síntese, as mudanças climáticas globais teriam como consequência, reduções significativas das áreas de florestas e matas nos estabelecimentos agrícolas, aumento das áreas de pastagens, as regiões Centro-Oeste e Nordeste seriam as mais severamente atingidas, plantio de cana-de-açúcar pode ser favorecido, redução do crescimento econômico, setores e regiões não são impactados de forma homogênea, a agricultura e pecuária são os setores mais sensíveis a MCG, mas outros setores também seriam afetados negativamente, aumento das desigualdades regionais, aumento das forças de expulsão populacional das zonas rurais, pressão sobre demanda por serviços públicos em grandes aglomerações urbanas, aumento da pobreza.

Definições

Impactos potenciais: todos os impactos que ocorram, dado uma mudança projetada no clima, sem

considerar adaptação.

Impactos residuais: Os impactos de mudança de clima que ocorreriam após a adaptação.

Vulnerabilidade às mudanças climáticas: é o grau em que um sistema é suscetível e incapaz de lidar com os efeitos adversos da mudança do clima, inclusive variabilidade climática e os extremos. A vulnerabilidade é uma função do caráter, magnitude e taxa de mudança do clima e da variação que um sistema está exposto, sua sensibilidade e sua capacidade de adaptação.

Adaptação às mudanças climáticas: é o ajustamento nos sistemas naturais ou humanos em resposta a estímulos climáticos ou reais ou os seus efeitos, o que permite explorar oportunidades benéficas.

Capacidade adaptativa: A capacidade de um sistema (humano ou natural) de se ajustar às mudanças climáticas (incluindo variabilidade climática e intempéries violentas) de moderar danos potenciais, tirar partido das oportunidades, ou fazer face às consequências.

Resiliência: capacidade de um sistema de se recobrar ou se adaptar facilmente às mudanças.

Capacidade rápida de recuperação.

- Introdução

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Os cenários de mudanças climáticas apontam para uma mudança de temperatura média acima de 2ºC que incluem grandes desequilíbrios em ecossistemas fundamentais para a sobrevivência da humanidade. À medida que o planeta aquece, os padrões pluviais mudam e eventos climáticos extremos como secas, inundações e incêndios florestais se tornam mais frequentes, com impactos importantes em meio tropical.

O aquecimento global é atribuído à emissão de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera como resultado das atividades humanas, tais como: exploração e produção de combustível (origem fóssil), desmatamento e mudanças no uso da terra, particularmente, dos países desenvolvidos.

A mudança climática é um dos desafios mais complexos deste século, nenhum país está imune, e nem seria capaz de enfrentar sozinho os desafios interconectados que compreendem decisões políticas e econômicas controversas, bem como, avanços tecnológicos com consequências globais de longo alcance.

As metas nacionais concentradas no controle do desmatamento podem oferecer ao país uma significativa vantagem comparativa, pois a redução do desmatamento é sem dúvida menos restritiva ao crescimento econômico que as restrições ao consumo de energia, inclusive no processo industrial.

No setor energético o Brasil poderá reduzir as emissões de GEE em até 35% (até 2030), com a maior parte das ações realizadas pelo setor industrial, se as seguintes medidas forem implementadas: (1) substituição do combustível fóssil utilizado pela indústria; (2) refino e transformação gas-to-liquid (GTL) para a produção de diesel com baixo teor de enxofre; (3) geração de energia eólica e fotovoltaica (solar), (4) cogeração baseada no bagaço da cana-de-açúcar; (4) maquinário de alta eficiência energética.

A recuperação de Florestas tem alto potencial de remoção de carbono, em média de cerca de 140 toneladas de CO2 ao ano. É possível reduzir a demanda de cerca de 138 milhões de hectares até 2030 em um “Cenário de Baixo Carbono” por meio das seguintes medidas de aumento de produtividade da pecuária: (1) promover a recuperação de áreas degradadas de pastagem; (2) estimular a adoção de sistemas produtivos que envolvam confinamento de gado para engorda; (3) encorajar a adoção de sistemas de lavoura-pecuária.

No meio urbano as emissões de GEE poderiam ser reduzidas por meio das seguintes opções de mitigação: (1) implementação de sistemas de transportes públicos integrados mais eficientes como a ampliação das linhas de metrô e trens urbanos em Regiões Metropolitanas; implantação de linhas de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) em grandes cidades; ou BRT (Bus Rapid Transit) em cidades médias e pequenas; além da implementação de medidas de gerenciamento de tráfego. A redução do número de veículos automotivos nas áreas urbanas é extremamente necessária.

As emissões de GEE anuais do setor de manejo de resíduos sólidos e efluentes líquidos podem ser reduzidas em até 80% em 2030 se as seguintes ações forem implantadas: (1) incentivos do mercado de carbono por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) para estimular a participação em projetos destinados à eliminação dos gases de aterros sanitários; (2) desenvolvimento da capacidade municipal para planejamento de longo prazo e desenvolvimento de projetos relacionados; (3) aumento da conscientização e uso de estruturas mais eficientes; (4) regulamentações e procedimentos legais para melhoria de acesso a recursos financeiros; (5) criação de consórcios intermunicipais e regionais para o gerenciamento dos sistemas de tratamento de resíduos e efluentes (domésticos e industriais).

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Normas, políticas, estruturas de governança e interesses comuns adquiridos devem orientar a transformação da legislação nacional. Para que haja sucesso, uma política de desenvolvimento deve considerar como fatores determinantes a matriz energética, as fontes de energia atuais e potenciais, agricultura, transferência de tecnologias, gestão de riscos, combate a inércia do comportamento de pessoas e organizações (mudanças na forma de atuar).

- Mudanças Climáticas na Esfera Nacional

A dinâmica climática deverá causar uma migração das culturas adaptadas ao clima tropical para as áreas mais ao sul do país ou para zonas de altitudes

maiores, para compensar a diferença climática. Ao mesmo tempo, haverá uma diminuição nas áreas de cultivo de plantas de clima temperado do país. Um

aumento próximo a 3°C causará uma possível expansão das culturas de café e da cana-de-açúcar para áreas de maiores latitudes. As regiões mais pobres serão as

mais atingidas.

O Brasil é um país de dimensões continentais; portanto, apresenta grande diversidade climática e, consequentemente, distintos biomas, como a Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga, Campos Sulinos e o bioma Costeiro com recifes de corais, dunas, manguezais, lagoas, estuários e pântanos. Os ecossistemas que fazem parte do bioma amazônico ocupam cerca de 4,2 milhões de km2, enquanto os do Cerrado abrangem em torno de 2 milhões de km2, os da Mata Atlântica estendem-se por 1,1 milhão de Km2 e os da Caatinga cobrem 844 mil Km2.

A extensa dimensão continental, heterogeneidade climática, tipos de solo e topografia variada imprimem ao país diferentes condições de desenvolvimento das culturas, e as consequências do aquecimento global serão inúmeras.

O Brasil já tem uma área desprovida de vegetação natural suficientemente grande para acomodar a expansão da produção agrícola, cujos maiores entraves para a produção de alimentos não se devem a restrições impostas pelo Código Florestal, mas à enorme desigualdade na distribuição de terras, à restrição de crédito agrícola ao agricultor que produz alimentos de consumo direto, à falta de assistência técnica para aumentar a produtividade, à falta de investimentos em infraestrutura para armazenamento e escoamento da produção agrícola, às restrições de financiamento e priorização do desenvolvimento e tecnologias que permitam um aumento expressivo na eficiência da produção pecuária no país.

- Recursos Naturais e Manejos, Ecossistemas e seus Usos

Recursos Hídricos

Os rios no leste da Amazônia e Nordeste do Brasil poderão ter redução da vazão de até 20%. A bacia do rio Tocantins apresenta redução da vazão da

ordem de 30%.

A bacia hidrográfica do Paraná-Prata deverá ter aumento da vazão (entre

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10% e 40%) no cenário A1B até meados do século XXI segundo 12 modelos climáticos.

O Rio Grande, afluente do rio Paraná, apresenta significativa discordância entre as alterações de vazões estimadas pelos diferentes modelos climáticos.

A vazão pode aumentar 13% ou reduzir em até 28% em outro modelo. Havendo grande incerteza.

O Brasil possui uma grande disponibilidade hídrica distribuída de forma heterogênea no território. A vazão média anual dos rios em território brasileiro é de 179 mil m3/s, o que corresponde a aproximadamente 12% da disponibilidade hídrica superficial mundial.

A região hidrográfica Amazônica detém 73,6% dos recursos hídricos superficiais nacionais. A vazão média desta região é quase três vezes maior que a soma das vazões de todas as demais regiões hidrográficas brasileiras. A vazão específica indica a capacidade de geração de vazão de uma determinada bacia. No Brasil, a vazão específica varia de menos de 2 L/s.km² nas bacias da região semiárida até mais de 40 L/s.km2 no noroeste da região Amazônica.

O impacto da mudança do clima deve considerar a diversidade hidrológica do território brasileiro. Diversos estudos têm sido realizados para identificação de tendências em diferentes regiões e bacias hidrográficas brasileiras, considerando as variações naturais e os possíveis efeitos da mudança do clima. As tendências encontradas para as diversas regiões do Brasil são descritas a seguir.

Na Amazônia, não foram verificadas tendências significativas nas chuvas ou vazões, ainda que o desmatamento tenha aumentado gradativamente nos últimos vinte anos.

No Nordeste, os estudos não foram consensuais na identificação da ocorrência ou não de tendências no regime pluviométrico. A figura 1 exemplifica-se a distribuição da precipitação média no país entre 1961 a 2007.

As precipitações e as vazões fluviais na Amazônia e no Nordeste apresentam uma variabilidade nas escalas interanual e interdecadal mais importantes do que tendências de aumento ou redução, podendo estas estarem associadas a padrões de variação climática de grande escala.

No sul do Brasil e norte da Argentina foram observadas tendências para aumento das chuvas e vazões de rios desde meados do século XX. O Rio Prata-Paraná apresentou uma tendência de queda desde 1901 a 1970 e um aumento sistemático nas vazões desde o início dos anos 70 até o presente. A região do Pantanal também faz parte desta bacia, de modo que qualquer alteração na vazão dos rios mencionados tem implicações diretas na capacidade de armazenamento desse enorme reservatório natural.

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Figura 1 – Precipitação média de 1961 a 2007. As regiões hidrográficas estão representadas de acordo com as seguintes siglas: A – Amazônica; B – Tocantins-Araguaia; C – Atlântico Nordeste Ocidental; D – Parnaíba; E – Atlântico Nordeste Oriental; F – São Francisco; G – Atlântico Leste; H – Atlântico Sudeste; I – Atlântico Sul; J – Uruguai; L – Paraná; M – Paraguai. (Adaptado de: Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil 2009 / Agência Nacional de Águas. Brasília: ANA, 2009).

A Bacia do Rio Paraná possui sua série de vazões não-estacionária tendo como características: (1) as séries de vazões naturais dos rios Tietê, Paranapanema e Paraná (a jusante do rio Grande) não são estacionárias apresentando aumento de vazões médias após o ano de 1970; (2) a taxa de aumento das vazões médias cresce de montante para jusante; (3) os postos pluviométricos nas bacias dos rios Grande, Tietê e Paranapanema também apresentam não-estacionariedade; e (4) somente a bacia do rio Paranaíba manteve a estacionariedade de vazões para todo o período de análise.

As bacias da região Sul e Sudeste são de grande importância para a geração hidrelétrica, correspondendo a 80% da capacidade instalada brasileira. A não-estacionariedade das séries de vazões pode ter impacto significativo no cálculo da energia assegurada.

As precipitações no Norte e Nordeste do Brasil não apresentam uma tendência de mudança definida, podendo ter reduções significativas ou aumento moderado.

Na figura 2 é ilustrada a situação atual da distribuição das vazões específicas em todo o território nacional, que poderão ser alteradas conforme os cenários descritos acima.

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Figura 2 – Distribuição espacial das vazões específicas no território brasileiro. (Fonte: Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil 2009 / Agência Nacional de Águas. -- Brasília: ANA, 2009).

A mudança climática deverá afetar as taxas de recarga de águas subterrâneas, ou seja, o recurso águas subterrâneas renováveis e os níveis de águas subterrâneas. No entanto, o conhecimento de recarga corrente e níveis nos países desenvolvidos e em desenvolvimento ainda é incipiente. Tem havido pouca pesquisa sobre o impacto das mudanças climáticas em as águas subterrâneas, incluindo a questão de como as mudanças climáticas afetarão a relação entre as águas superficiais e aquíferos, que são hidraulicamente conectados.

Apesar de poucos estudos sobre qualidade da água e clima terem sido realizados, espera-se que haja forte impacto por alterações do clima. As mudanças climáticas devem ter impacto a oferta de água, assim como a demanda em seus diversos setores.

Neste contexto, a gestão adaptativa dos recursos hídricos torna-se ainda mais relevante. A adaptação às mudanças climática é imperativa. A gestão de risco em múltiplas escalas temporais se faz necessária como estratégia de adaptação. A resposta às mudanças climáticas envolve um processo iterativo de gestão de risco que inclui ações de mitigação e adaptação, tendo em conta os danos reais ocorridos devido à mudança e os evitados, co-benefícios, sustentabilidade, equidade e as atitudes ao risco.

Atualmente, não há opções de gestão que sejam especialmente apropriadas e mensuráveis para adaptação às alterações climáticas, diferentemente daquelas já empregadas para lidar com a variabilidade do clima. É importante saber se deve adotar uma estratégia mais convencional e incremental ou uma abordagem mais preventiva e de precaução.

Uma grande variedade de medidas específicas de gestão, estruturais e não estruturais utilizadas rotineiramente para acomodar a atual variabilidade, servirão para a adaptação com vistas à redução dos impactos da variabilidade climática e mudanças climáticas. Observa-se que não existe uma abordagem de adaptação única e universal.

O risco de desastres naturais, tanto as enchentes como as secas, deve ser analisado em conjunto com os conceitos de exposição e vulnerabilidade das populações, além da integração entre sistema de alerta precoce, coordenação de planos de ação local, e

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integração dos planos de contingência, que poderão evitar os fortes impactos com alto índice de óbitos provocados pelos eventos extremos, principalmente nas áreas urbanas.

Ecossistema de Água Doce e Terrestre

Todos os biomas brasileiros são vulneráveis as mudanças climáticas, seja pela forte alteração da cobertura vegetal, pequena cobertura com áreas protegidas, alto índice de desmatamento, mudança no regime de inundações, mudanças no

uso da terra e forte pressão de plantas invasoras e expansão desordenada e pequena ou nenhuma infraestrutura e organização do território. Cada item

identificado se aplica com maior ou menor intensidade em cada um dos 6 biomas brasileiros.

Os principais impactos aos quais os sistemas naturais terrestres e aquáticos continentais brasileiros são sujeitos incluem: a) desmatamento, fragmentação e impacto sobre recursos naturais renováveis a partir de mudanças no uso da terra; e b) impacto sobre a qualidade de recursos hídricos e sobre o solo por poluição derivada de ação antrópica. Esses dois tipos de impacto, por sua vez, têm efeito direto sobre o clima. Impactos projetados até 2100, decorrentes de mudanças climáticas, incluem redução de chuvas e aumento de temperatura em boa parte do território brasileiro, implicando em extinção ou mudanças da distribuição geográfica de espécies.

Todos os biomas brasileiros apresentam pontos de vulnerabilidade: a) a Mata Atlântica, por sua pequena e fragmentada cobertura florestal remanescente; b) o Cerrado, por sua pequena cobertura de áreas protegidas frente à rápida expansão agrícola; c) a Caatinga, pela degradação ambiental acelerada que em alguns pontos já leva à desertificação; d) o Pantanal, vulnerável a mudanças no seu regime de inundações, principalmente diante dos cenários de seca projetados; e) os Pampas, pelas profundas mudanças de uso da terra combinadas com susceptibilidade à invasoras; e, finalmente, f) a Amazônia, pela demanda de expansão infraestrutural que não pode correr o risco de ser desordenada. Em todos esses biomas, as mudanças tornam também a sociedade vulnerável, em componentes como economia e saúde. Na tabela 1 é possível observar a extensão das unidades de conservação (UC) e terras indígenas (TI), por bioma Brasileiro.

Tabela1. Extensão das unidades de conservação (UC)* e terras indígenas (TI)** por bioma brasileiro. Fonte: adaptado de * Fonseca et al. (2010) e ** http://pib.socioambiental.org/pt/c/terras-indigenas/demarcacoes/localizacao-e-extensao-das-tis

Bioma Área (km2) UC total (km2)

até 2009

% total até 2009

TI (km2) % total

Amazônia 4.196.943 1.152.900 27,5 1.087.200 25,9

Caatinga 844.453 86.091 10,0

18.058 0,4

Cerrado 2.036.448 185.737 9,1

Pantanal 150.355 7.531 5,0

Mata Atlântica 1.110.182 118.478 10,7

Pampas 176.496 5.932 3,4

Brasil 8.514.877 1.556.669 18,2 1.105.258 13,011

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O país precisa avançar na construção e implementação de estratégias de adaptação às mudanças em curso. Já existem algumas iniciativas de sucesso de adaptação baseada em ecossistemas, que procuram conciliar conservação da natureza com desenvolvimento humano. Entretanto, tais iniciativas precisam ganhar escala. A base para isso é o avanço em uma prática científica interdisciplinar e com maior sucesso ao se comunicar com a tomada de decisão nos setores público, privado e com a sociedade em geral.

Sistema Costeiro e Áreas Costeiras Baixas

Existe grande carência de informações relacionadas aos efeitos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas costeiros no Brasil, bem como da vulnerabilidade desses ecossistemas a tais alterações. As poucas informações disponíveis referem-

se a alguns estudos locais e tratam basicamente dos efeitos de uma possível elevação do nível médio do mar sobre tais sistemas. Portanto ainda existe uma grande lacuna para efeito de planejamento e de definições de políticas públicas

para essas áreas.

O litoral brasileiro, com 8.698 km de extensão e área aproximada de 514 mil km2, constitui-se em um perene desafio à gestão em face da diversidade de situações existentes neste território. São aproximadamente 300 municípios defrontantes com o mar, os quais têm, na faixa de praia, um espaço privilegiado para o desenvolvimento de atividades turísticas, lazer, pesca, entre outras. É nesse cenário dinâmico e de alta mobilidade, tanto física quanto socioeconômica, que residem aproximadamente 20% da população do país, sendo que 16 das 28 regiões metropolitanas encontram-se no litoral. Essas áreas de adensamento populacional convivem com amplas extensões de povoamento disperso e rarefeito. São os habitats das comunidades de pescadores artesanais, dos remanescentes de quilombos, de tribos indígenas e de outros agrupamentos imersos em gêneros de vida tradicionais. Nesta área além dos já conhecidos e discutidos problemas ambientais incidentes, desenha-se, atualmente, uma nova perspectiva frente às questões relativas às mudanças climáticas, principalmente no que tange às suas causas e efeitos, e as consequentes medidas de adaptação a novos cenários de aquecimento global, elevação do nível do mar, erosão costeira, entre outros.

O estudo apresenta uma avaliação da atual situação da zona costeira brasileira, dando especial enfoque aos recursos naturais e manejados, ecossistemas e seus usos. Para tanto o conteúdo é abordado de maneira ecossistêmica, com análises específicas para ambientes de plataformas rasas e praias, manguezais e marismas, estuários e lagoas e lagunas costeiras. É abordado um estudo sobre vulnerabilidade da zona costeira que engloba aspectos não apenas de cunho ambiental, mas também social e tecnológico. Na figura 3 é ilustrado um exemplo do mapeamento da vulnerabilidade considerando os aspectos descritos acima. Toda a costa brasileira possui esse tipo de mapeamento, necessitando, entretanto de detalhar melhor.

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Figura 3 - Região metropolitana de Salvador. Altos índices de vulnerabilidade associados a um cenário de alto risco tecnológico (Adaptado de: Nicolodi e Petermann, 2010).

A conclusão mais relevante da análise apresentada diz respeito à carência de informações relacionadas aos efeitos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas costeiros no Brasil, bem como da vulnerabilidade desses ecossistemas a tais alterações. As poucas informações disponíveis referem-se a alguns estudos locais e tratam basicamente dos efeitos de uma possível elevação do nível médio do mar sobre tais sistemas. Análises sobre vulnerabilidade existem em escala nacional, ou em escala local, o que deixa uma lacuna em termos de planejamento.

Outro aspecto que deve ser amplamente debatido pela sociedade é o papel das instituições no processo. Nesse aspecto, é inegável que, em termos de gestão, o Ministério do Meio Ambiente deve ter prerrogativa de liderança, uma vez que a legislação o define como coordenador do processo de Gerenciamento Costeiro no Brasil.

Dentre as ações que devem compor o referido planejamento estratégico integrado destacam-se a efetivação de monitoramento ambiental sistemático e de longo prazo, o ordenamento territorial efetivo, principalmente em nível municipal, a efetivação das políticas estaduais de gerenciamento costeiro, o planejamento prévio e a priorização de estudos para as formas clássicas de respostas aos efeitos esperados de mudanças climáticas como recuo, acomodação e proteção. Além disso, torna-se fundamental a adoção de medidas que visem à adaptação dos ecossistemas às novas condições, o que só pode ser alcançado por meio da gestão do território costeiro de forma integrada e multisetorial.

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Ecossistemas Oceânicos

As mudanças climáticas podem promover uma redistribuição em larga escala do potencial máximo de captura (PMC) de várias espécies de pescado, com um

aumento nas regiões de altas latitudes e quedas nos trópicos. As perdas e ganhos do PMC nas latitudes tropicais serão da ordem de 10%, mas a previsão é a de que

o Brasil diminua em 6% seu PMC nos próximos 40 anos.

Considerado atualmente como o maior desafio ecológico, social e econômico da humanidade, as mudanças climáticas, caracterizadas principalmente pelo aquecimento global observado nos últimos 50 anos, tem diretamente afetado os oceanos do planeta. Os principais efeitos observados decorrem do armazenamento de uma quantidade considerável de calor proveniente da atmosfera, promovendo um aumento considerável da temperatura da água das camadas superficiais, assim como um aumento do nível do mar em decorrência da expansão térmica da água. Consequência não menos grave é também a acidificação dos oceanos em razão da dissolução do dióxido de carbono na água. Evidentemente, todas estas alterações têm provocado efeitos diversos sobre a vida marinha nos oceanos. Isto decorre do fato de que os recursos vivos marinhos apresentam, de uma maneira geral, uma elevada sensibilidade às variações do ambiente onde vivem e, por esta razão, as mudanças das condições normais dos oceanos podem interferir em diversos processos biológicos, como reprodução, crescimento, distribuição e abundância, interações entre presas e predadores, entre outros. Embora o ecossistema pelágico oceânico, que sustenta importantes atividades econômicas de exploração direta, como a pesca, tenha atraído um interesse crescente da comunidade científica no sentido de melhor entender sua dinâmica ambiental, pouco ainda se sabe sobre os efeitos das mudanças climáticas sobre este ecossistema e os organismos marinhos que nele habitam, muitos dos quais são recursos de elevado valor comercial ou de grande relevância para a segurança alimentar de inúmeras comunidades pesqueiras em diversas partes do mundo.

Estudos recentes demonstraram que as mudanças climáticas podem promover uma redistribuição em larga escala do potencial máximo de captura (PMC) de várias espécies, com um aumento de 30% a 70% em regiões de altas latitudes e quedas nos trópicos. As perdas e ganhos do PMC nas latitudes tropicais serão da ordem de 10%, mas podem atingir valores entre 15% e 50% do lado oeste tropical do Oceano Atlântico, ao largo da costa brasileira. A previsão é a de que o Brasil diminua em 6% seu PMC nos próximos 40 anos. É importante salientar, entretanto, que embora, na maioria dos casos, os efeitos das mudanças climáticas apontem para um cenário negativo, há muitas incertezas sobre a questão que precisam ser melhor avaliadas. Aspectos positivos decorrentes de mudanças no ambiente poderão também ocorrer, existem estudos que apontam para um aumento da produção pesqueira em algumas regiões, em decorrência de alterações nos padrões de distribuição e abundância de algumas espécies, entre outros aspectos da sua biologia. Neste contexto, as respostas a essas questões certamente não poderão ser encontradas nem construídas sem a realização de pesquisas que permitam aprofundar os conhecimentos sobre as conexões entre a atmosfera e o oceano, principalmente no que se refere aos efeitos das mudanças climáticas sobre este ecossistema e seus habitantes.

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Sistema alimentar e segurança

As mudanças climáticas terão efeito diferenciado em termos regionais na oferta de alimentos no País. A partir de politicas públicas já em andamento, o setor

apresenta opções para redução das emissões de Gases de Efeito Estufa e de adaptação das culturas. Com o grande aumento na produção de alimentos no Brasil, a ameaça da segurança alimentar é mais dependente das condições de infraestrutura de armazenamento e transporte, onde são identificadas perdas

continuadas todos os anos.

O Brasil é hoje um dos países em que o número de pessoas em insegurança alimentar vem diminuindo progressivamente. No entanto, o Relatório do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA, 2010), destaca que persistem desafios históricos para a plena realização do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) no país, como a concentração de terra, as desigualdades (de renda, étnica, racial e de gênero), a insegurança alimentar e nutricional dos povos indígenas e comunidades tradicionais, entre outros. Também existem os riscos enfrentados pelo setor agropecuário devido às mudanças climáticas iminentes.

O desenvolvimento de novas tecnologias agrícolas, além de promover a redução na emissão dos GEE, deve promover o aumento da produtividade das culturas. A associação de transformações tecnológicas em sistemas de produção com ações de monitoramento e controle de externalidades, como o desmatamento e uso pouco eficiente das terras, representa uma possibilidade para mudar uma tendência global da atividade produtiva.

Numa conjuntura brasileira marcada pelo aumento da renda familiar, a tendência é de elevação da demanda por alimentos no país. Contudo, o ritmo de crescimento da produção agrícola, em grande medida destinada à exportação, é muito superior ao da produção de alimentos destinados ao consumo interno. A área plantada com grandes monoculturas avançou consideravelmente em relação à área ocupada pelos cultivos da agricultura familiar, mais diversificados e com produtos direcionados ao abastecimento interno. Os dados históricos da produção brasileira revelam uma elevada especialização e concentração da produção em poucos Estados, o que, somadas às dificuldades de infraestrutura e de logística, com grandes perdas no transporte e na pós-colheita, eleva os gastos públicos com despesas de carregamento de grãos e transporte para os centros consumidores.

A segurança alimentar é analisada em duas vertentes: o sistema de produção de alimentos e os sistemas de armazenamento, distribuição e acesso aos alimentos. Ainda, sempre que possível, procura-se analisar os temas de forma integrada e suas correlações com outros setores como disponibilidade de terra e água, produção de bioenergia, infraestrutura de distribuição e armazenamento. Assim, são apresentados e discutidos trabalhos científicos e relatórios de governo nessas duas vertentes e na sua integração, além de se apresentar uma síntese das principais políticas públicas voltadas à segurança alimentar.

Diversas ações e políticas colaboram efetivamente para adaptação do sistema de segurança alimentar, em diversos níveis de atuação. Um direcionamento mais integrado de novas medidas adaptativas poderia promover avanços na incorporação de novos modelos e paradigmas de produção agropecuária. De um lado, poder-se-ia focar na

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descentralização da produção, na busca de soluções mais adaptadas às condições locais, na diversificação da oferta interna de alimentos e na qualidade nutricional, e de outro, na capacidade de lidar com instrumentos de gestão da produção e do armazenamento – principalmente diante de novas instabilidades trazidas pela mudança climática – e na adoção de medidas que permitam reestruturar os sistemas de produção agrícola. Essas medidas devem atender a múltiplos propósitos e, mesmo ao adaptar-se às mudanças climáticas, continuar produzindo alimentos de forma sustentável e contribuindo para a redução e sequestro de emissões de GEE e, simultaneamente, respeitar e trazer melhorias dos aspectos sociais, econômicos e ambientais, delas decorrentes.

O meio para se alcançar tais avanços deve incluir, em conjunto com programas de garantia e transferência de renda, de crédito e de pesquisas para adaptação, um esforço de inovação no campo, baseada na criação de um ambiente institucional adequado. Do ponto de vista do desenvolvimento sustentável, especial atenção deve ser dada a: rearticulação e capacitação continuada da rede de extensão rural, pública e privada; transferência de conhecimentos e tecnologias adaptadas às condições locais; promoção do desenvolvimento regional; ações de formação de capital humano para as cadeias produtivas ligadas à agricultura; e a organização de produtores e agrupamentos regionais de produção.

Objetivamente, mesmo diante dos novos desafios trazidos pelas mudanças climáticas, esse direcionamento deve levar à sustentabilidade, na sua concepção mais plural ou multisetorial, e a agricultura familiar parece dar alguns indícios de que há caminhos possíveis para atingi-la, desde que se esteja apto a adotar alterações significativas dos modelos e paradigmas atuais de produção, distribuição e acesso aos alimentos.

- Aglomerados humanos, indústria e infraestrutura Áreas rurais

Nenhum estudo parece indicar efeitos catastróficos ao nível agregado no país. Os efeitos mais sérios surgirão ao nível regional, e estarão concentrados nas regiões

mais pobres do Brasil.

Os potenciais cenários climáticos nas próximas décadas fizeram aumentar o interesse, por parte de pesquisadores de diversas áreas, sobre as suas consequências para a economia, saúde, e população em geral. Em particular, destacam-se estudos que procuram associar as mudanças climáticas projetadas até o final do século com a dinâmica econômica, demográfica e de saúde no Brasil, utilizando uma perspectiva regional, de integração de impactos, vulnerabilidades e adaptação em áreas rurais e suas relações com áreas urbanas através de encadeamentos via fluxos de bens econômicos e de pessoas (migrações). Diversas abordagens metodológicas têm sido utilizadas para a análise dos impactos das mudanças climáticas. Uma análise detalhada da literatura nacional sobre o tem mostra alguns pontos de convergência importantes, em termos dos impactos esperados das mudanças climáticas no território nacional.

Inicialmente, todos os estudos com foco na agricultura utilizam os cenários básicos organizados pelo INPE e pela EMBRAPA. Em comum, estudos que se concentraram na região Nordeste do Brasil e estudos com uma abordagem mais ampla para todas as

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regiões do Brasil mostram que a Região Nordeste, por seu clima, e os estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, pela concentração da produção agrícola em soja seriam afetados em intensidades relevantes em suas economias. As quedas previstas seriam superiores a 5% do PIB para a maior parte dos estados mencionados. Estes resultados sugerem a necessidade de políticas compensatórias para aquelas regiões, como alternativas de renda. Tais políticas passam pela disponibilidade de tecnologia agrícola ou pela diversificação das atividades econômicas, o que exigiria a adaptação da mão-de-obra local e da logística regional.

Os estudos que estenderam a análise para analisar os impactos climáticos dos cenários de mudanças climáticas sobre a migração inter-regional no Brasil apontam para um recrudescimento dos fluxos migratórios na direção da região sudeste do Brasil, cuja intensidade depende, naturalmente, do cenário em questão. Além disso, são fluxos migratórios de trabalhadores de baixa qualificação profissional. Os municípios do Nordeste sofrerão os maiores impactos das mudanças climáticas também apresentam os piores indicadores sociais da região, medidos pelo baixo nível médio de educação, concentração de famílias abaixo da linha de pobreza, maior dependência em relação às transferências governamentais; e baixo acesso a serviços básicos de infraestrutura (água e esgoto).

A despeito dos impactos negativos identificados pelos estudos analisados, nenhum estudo parece indicar efeitos catastróficos ao nível agregado no país. Antes, os efeitos mais sérios surgirão ao nível regional, e estarão concentrados nas regiões mais pobres do Brasil. Os investimentos em estratégias de adaptação a estas mudanças para as populações afetadas serão determinantes para o enfrentamento deste problema.

Áreas Urbanas Sem a integração de transporte público; abastecimento e proteção de recursos hídricos; produção e distribuição de energia; coleta e deposição de lixo; saneamento; redução da poluição e de gases de efeito estufa; parcelamento do solo, saúde e educação voltados para a questão climática e desastres associados, será muito difícil reverter o quadro crítico em que se encontram as cidades brasileiras e implantar medidas de adaptação.

As cidades brasileiras não foram pensadas nem tampouco estruturadas para atender as necessidades do sistema como um todo, cada ação foi decidida em tempos pretéritos de maneira isolada e desconectada do conjunto, o que levaria a crer que não se trata de um sistema operacionalmente viável. As partes não compreendem o conjunto de funções necessárias para que o sistema funcione apropriadamente.

As cidades brasileiras, de maneira geral, não contemplaram a questão ambiental e as funções dos sistemas naturais dos quais somos dependentes. Sem sistemas eficientemente integrados de transporte público; abastecimento e proteção de recursos hídricos; produção e distribuição de energia; coleta e deposição de lixo; saneamento; redução da poluição e de gases de efeito estufa; parcelamento do solo, saúde e educação voltados para a questão climática e desastres associados, será muito difícil reverter este quadro e implantar medidas de adaptação.

Consequentemente, sem a implementação de medidas de adaptação as cidades não serão resilientes e, pior, se tornarão menos competitivas, pois não estarão capacitadas para um

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sistema de produção avançado, que supere os desafios impostos pela atualidade. No Quadro 1 são apresentados, os principais impactos na região Metropolitana de São Paulo possíveis de acontecerem até o ano 2090.

Quadro 1: Sumário das projeções climáticas derivadas do modelo regional Eta-CPTEC 40Km para RMSP. Fonte: Nobre et al., 2011a.

Setor Energia

Foram identificadas as diversas formas através das quais as mudanças climáticas podem ter efeitos sobre sistemas energéticos Devido à grande concentração em

determinadas fontes de energia, alguns segmentos do setor energético (como hidroeletricidade e biomassa) devem ser melhor investigados para melhorar a

base de informações para tomada de decisões de política energética. No que tange à expansão do sistema, opções renováveis vulneráveis às mudanças do clima, como a energia eólica, também devem ser investigadas para que o país possa estar mais apto a conciliar os interesses de redução de emissão de gases de efeito estufa com segurança energética. O desenvolvimento de metodologias para a avaliação de impactos sobre os diversos segmentos do setor energético deve ser incentivado.

Isso inclui, também, o uso de uma gama maior de cenários climáticos futuros para que se possa ter maior embasamento na condução de políticas energéticas voltadas

para garantir a segurança energética frente às mudanças do clima. Finalmente, deve-se desenvolver, também, a análise dos impactos de eventos climáticos

extremos sobre setores de energia.

O setor energético pode ser afetado de diversas formas pelas mudanças do clima, tanto no que diz respeito à base de recursos energéticos e aos processos de transformação, quanto aos aspectos de transporte e consumo de energia. Um número crescente de estudos de impactos de mudanças climáticas sobre o setor energético vem sendo produzido, destacando impactos ao longo de toda a cadeia energética, indo da oferta – considerando tanto os recursos energéticos, quanto sua transformação – e transporte ao uso final de energia.

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Em termos de oferta, praticamente todas as opções estão expostas a algum grau de vulnerabilidade às mudanças do clima. Em geral, espera-se que as fontes renováveis sejam mais susceptíveis a mudanças do clima, já que seu potencial depende de um fluxo que, em geral, está intimamente ligado às condições climáticas. Esse é o caso da energia hidroelétrica, eólica e de biomassa.

Não obstante, os efeitos de eventos climáticos extremos sobre sua estrutura de produção de fontes fósseis, assim como o acesso a estas, podem ser influenciados pelas mudanças climáticas. A conversão de fontes fósseis em eletricidade através de ciclos térmicos também pode ser afetada na medida em utilizam o ambiente como fonte fria e dependem, geralmente, de água para resfriamento. A disponibilidade (quantidade e qualidade) de água para resfriamento, portanto, representa uma vulnerabilidade para a geração térmica, onde se inclui além das fontes fósseis, a energia nuclear.

A infraestrutura de transporte e transferência de energia pode se estender por milhares de quilômetros, podendo ser, portanto, exposta a uma série de eventos climáticos extremos.

Os impactos de mudanças climáticas não são restritos à oferta de energia. O uso de energia pode também ser influenciado por variações em temperatura e precipitação. Efeitos de mudanças de temperatura decorrentes das mudanças climáticas podem ter impactos sobre o uso de energia para aquecimento ou resfriamento de ambientes. As mudanças climáticas podem afetar a demanda por eletricidade através de uma maior demanda por água, seja no setor industrial (para uso direto e/ou refrigeração) ou na agricultura (para irrigação). Uma maior demanda por água nesses casos implicaria em uma maior demanda de eletricidade para bombeamento de água.

A identificação das vulnerabilidades do setor energético às mudanças climáticas é essencial para a formulação de políticas de adaptação, ao mesmo tempo em que a preocupação com impactos pode afetar a percepção e avaliação das alternativas tecnológicas e a formulação de políticas energéticas em um país.

Setor IndustrialHá uma carência grande de estudos sobre os impactos de mudanças do clima nas

atividades industriais brasileiras. É fundamental ampliar os estudos e mapeamentos de áreas de riscos e estabelecer os planos de prevenção,

principalmente para as áreas mais vulneráveis aos eventos pluviométricos extremos.

Os impactos causados por desastres industriais podem ser devastadores, com sérias implicações quando combinados a fatores como a falta de mapeamento das áreas de risco e planos de prevenção. Além disso, atrelados aos riscos de desastres ambientais no setor industrial estão também os setores de comércio e serviços, que podem ser drasticamente afetados por efeitos distintos (diretos e indiretos), como por exemplo, a paralização temporária do sistema de produção e distribuição de mercadorias.

O alcance e a magnitude dos impactos deverá variar de acordo com as condições locais, o tipo de indústria instalada, os sistemas de transporte, projetos e políticas atrelados, bem como a capacidade de adaptação para minimizar custos e riscos de acidentes

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Nesse sentido, medidas de adaptação serão necessárias e para tanto ajustes e regulamentações legais serão feitos. Estudos científicos correlacionando mudanças climáticas e seus impactos na indústria ainda são muito raros.

São necessários levantamentos atualizados, mapeamentos sobre as concentrações industriais em cada estado do país, com detalhamento dos riscos e vulnerabilidades associados, para que o setor se desenvolva. Dentro desta perspectiva, serão necessários planos de prevenção e combate a desastres que englobem não somente uma determinada unidade industrial, mas todo o contexto regional no qual cada unidade ou complexo industrial esta inserido.

O Brasil está se tornando um importante ator no setor industrial com produção mais estruturada, voltada não só para o mercado interno como externo, entretanto muitos setores ainda necessitam ser renovados e tecnicamente aparelhados, principalmente no que se refere aos desafios impostos pela mudança do clima.

Sendo um país em processo de desenvolvimento, o Brasil cresce a taxas significativas e para tanto, a exploração dos recursos naturais e a produção industrial de manufaturados desempenham um papel importante para o abastecimento do mercado interno e para conseguir superávits na balança comercial.

Entretanto, os custos ambientais associados ao desenvolvimento são altos, particularmente, quando o sistema de controle ambiental não funciona adequadamente e não existem políticas voltadas para a perspectiva de mudança do clima, que atenda os diversos setores da indústria nacional em caso de ocorrência de eventos extremos e desastres.

Setor de Transportes

As mudanças climáticas poderão afetar os sistemas de transporte (ferroviário, aéreo, rodoviário e hidroviário) em todos os países, impedindo potencialmente a mobilidade urbana, com consequência para o crescimento da economia e qualidade de vida das populações. As relações entre transportes e mudanças climáticas, sinalizam para a importância dos instrumentos de planejamento em diversos níveis, como medidas necessárias para o êxito de ações de mitigação e adaptação. As oportunidades de adaptação para o setor de transporte podem estar associadas às ações de mitigação, que contribuirão para a melhoria da qualidade do ar, com impacto positivo na saúde das populações, nas condições de transporte, a partir de transporte público mais eficiente e seguro. Investimentos na infraestrutura e em novos modais de transporte também serão essenciais.

Os sistemas de transporte são vulneráveis aos efeitos meteorológicos e climáticos. A literatura atual disponível sobre o tema apresenta que os transportes são sensíveis às condições de tempo e clima e as avaliações concentram-se em mudanças nas condições meteorológicas que são diretamente relevantes para o setor.

As mudanças climáticas poderão afetar os sistemas de transporte (ferroviário, aéreo, rodoviário e hidroviário) em todos os países, impedindo potencialmente a mobilidade urbana, com consequência para o crescimento da economia e qualidade de vida das populações. De acordo com IPCC (2012), todos os modos de transporte costeiros são considerados vulneráveis, mas a exposição e os impactos podem variar, por exemplo,

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por região, modo de transporte, localização/ elevação e condição da infraestrutura de transportes.

Projeções de mudanças climáticas relacionadas com mudanças no nível do mar, padrões meteorológicos, temperaturas e precipitação, e um aumento de eventos climáticos extremos (incluindo tempestades tropicais e furacões) irão afetar negativamente a infraestrutura de transporte e a tomada de decisão.

Forte evidência científica reforça o potencial de sérios impactos globais devido às mudanças climáticas. Enquanto os esforços de mitigação são essenciais para reduzir a ameaça das mudanças climáticas, práticas de adaptação para aumentar a resiliência e a proteção dos impactos ambientais devem ser aceleradas.

O planejamento de sistemas de transportes deve considerar a análise de risco para o aumento de temperatura, aumento da frequência e intensidade de precipitação, inundações e tempestades. Para isso, é importante uma integração das políticas de clima, transporte e desenvolvimento, bem como o monitoramento de dados climáticos e uma reavaliação das políticas e padrões atuais para transportes.

Com relação às medidas de adaptação em transportes, algumas experiências foram identificadas: realocação de estradas e vias, mudanças nos projetos e substituição e adequação de estruturas, como pontes, estradas e pavimentos, de forma a suportar os possíveis efeitos que as condições meteorológicas e a mudança do clima poderão acarretar para o setor.

As oportunidades de adaptação para o setor de transporte podem estar associadas às ações de mitigação, que contribuirão para a melhoria da qualidade do ar, com impacto positivo na saúde das populações, nas condições de transporte, a partir de transporte público mais eficiente e seguro. Todavia, investimentos na infraestrutura necessária e adequada ao contexto das mudanças climáticas e em novos modais de transporte, também serão essenciais.

Constata-se a necessidade de elaboração de novos estudos e pesquisas sobre a relação da mudança climática com a vulnerabilidade da infraestrutura dos transportes, permitindo assim, o fornecimento de subsídios mais conclusivos que possam ser aplicados nas políticas públicas, no planejamento e na identificação de soluções para o setor.

A ausência de estudos sobre vulnerabilidades, possíveis impactos das mudanças climáticas e alternativas de adaptação para transportes no Brasil configura-se como uma lacuna na literatura nacional sobre mudança do clima e transportes. O conhecimento de vulnerabilidades associadas às previsões climáticas e eventos climáticos extremos, os possíveis impactos e medidas de adaptação poderão subsidiar a elaboração e implementação de políticas públicas para transportes, promovendo a integração com políticas ambientais e de desenvolvimento sustentável.

São necessários estudos e pesquisas da relação da mudança climática com a vulnerabilidade da infraestrutura de transporte que possam ser aplicados nas políticas públicas e que contribuam para estratégias alternativas em planejamento no setor de transporte.

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- Saúde Humana, bem-estar e segurança

Saúde humanaA melhoria das condições de saúde, tanto localmente como globalmente, devem

ser um dos critérios para a adoção de procedimentos de mitigação das mudanças climáticas. As relações entre saúde e clima, nos domínios de adaptação e co-

benefícios da mitigação de gases de efeito estufa devem profundadas em escala regional e local, com ênfase na maior vulnerabilidade das populações, tendo em conta as características físicas e geográficas das diferentes regiões, bem como as

importantes diferenças culturais e econômicas das populações.

As alterações climáticas contribuem em larga escala para as secas e inundações que ocorrem com mais frequência na última década e que afetam muito seriamente a produção alimentar, contribuindo assim para um agravamento do estado nutricional das populações de muitos países e muitas vezes ceifando vidas abruptamente nestas catástrofes. As comunidades mais pobres podem ser especialmente vulneráveis por se concentrarem em áreas de alto risco, por terem menor capacidade adaptativa e por serem mais dependentes de recursos locais sensíveis ao clima. As mudanças climáticas colocam em risco a saúde humana.

A compreensão desta relação de risco, de sua dinâmica e heterogeneidade, é imperativa para o delineamento de planos de mitigação e ações de adaptação. Eventos meteorológicos extremos como temporais, enchentes, ondas de frio e calor e secas tornam-se mais frequentes ano a ano e já nos expõem a uma avaliação um tanto realista de seus efeitos, independente da natureza do seu aumento de frequência e intensidade.

Na última década, eventos extremos meteorológicos ocorridos em território brasileiro, como as chuvas que atingiram o Vale do Itajaí (SC) em 2008, Região Serrana Fluminense em 2011, e a seca extrema na Região Amazônica em 2010 constituem-se alguns exemplos. Os danos destes eventos, mortes, perdas materiais, e as experiências em planos de mitigação e adaptação estruturados em cada caso são dados realistas sobre vulnerabilidade e adaptação dentro do contexto brasileiro.

No Brasil as cidades crescem com grande velocidade, contudo sem planejamento urbano. Os cinturões de pobreza aumentam nas periferias dos grandes centros urbanos e a desigualdade socioeconômica torna os moradores mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. Construções precárias e em áreas de risco, falta de saneamento básico e exposição à poluição são exemplos da vulnerabilidade dos mais pobres aos impactos dos extremos climáticos. Tais aglomerados urbanos também sofrem com alterações de perfil climático, relacionadas a questões locais, como perfis de uso do solo e frota automotiva. Contudo, estas alterações, por suas semelhanças às alterações globais, transformam estas áreas em verdadeiros laboratórios, como exemplo, estudos conduzidos pelo Laboratório de Poluição Atmosférica (LPAE) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em grandes cidades brasileiras, que evidenciam riscos e efeitos da relação clima-saúde, antecipando possíveis consequências das mudanças climáticas globais no Brasil.

Além do caos urbano, perdas de produtividade, prejuízos econômicos provocados pelas enchentes de verão em São Paulo, estudo feito por Coelho-Zanotti e Massad (2011) mostra que depois de 14 dias de exposição a água contaminada de uma enchente, os moradores de São Paulo tem risco de adoecer por leptospirose (Fig. 4). Por exemplo,

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para uma chuva de 100 mm ocorrida em um determinado dia, depois de 14 dias é possível que ocorra um acréscimo de aproximadamente 150% nas internações por Leptospirose. Casos como esses são observados em outros estudos.

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Figura 4 - Gráficos dos acréscimos para os respectivos lags. A linha preta contínua é a média dos acréscimos. Fonte: Coelho-Zanotti e Massad, 2011.

O “recente” problema da mudança climática, demanda um importante papel para a comunidade científica, faz-se necessário mais pesquisas sobre os efeitos destes eventos climáticos e seus impactos na saúde humana, no sentido de auxiliar na estruturação a aplicação de ações de adaptação, mitigação e redução da vulnerabilidade da população à estes eventos. Para a adoção de ações de mitigação, a melhoria das condições de saúde, tanto localmente como globalmente, deve ser um dos critérios principais. O tema de saúde humana deve ser ampliado para além das convencionais considerações sobre a adaptação das populações afetadas, passando também a contemplar os co-benefícios potenciais de saúde que devem ser considerados quando da formulação de políticas de mitigação.

Segurança Humana

Abaixo são listados alguns aspectos objetivos decorrentes da discussão sobre a segurança humana, os perigos, os riscos e vulnerabilidades decorrentes das mudanças climáticas:

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As mudanças climáticas, embora em uma escala ampla atinjam a população humana como um todo, vão afetar de maneira mais incisiva a determinados

grupos populacionais que já subsistem em situações de risco. Estas situações de risco decorrem principalmente da ocupação de áreas do espaço urbano

marcadas pela ocupação sem direcionamento planejado, resultante de um tipo de ocupação espontâneo por exclusão de opções.

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- não existe um mapeamento sistemático das áreas que são mais sujeitas aos perigos e riscos decorrentes das mudanças climáticas;

- os mapeamentos existentes não estão disponibilizados, ou não são de acesso simples aos residentes ou aos indivíduos que estejam interessados em residir nas áreas;

- além do mapeamento é importante compreender a realidade social em que se encontram os grupos mais vulneráveis, de maneira a construir políticas mais efetivas de redução dessa vulnerabilidade;

- segurança humana a partir da perspectiva da abordagem social dos desastres e seu enfrentamento.

A bibliografia sobre desastres e suas abordagens já está bem consolidada internacionalmente, embora no Brasil ainda seja uma discussão ainda pouco desenvolvida.

A importância da organização do sistema de Defesa Civil ganhou expressão nos últimos anos, especialmente com os esforços de reorganização do sistema, e com a realização no ano de 2010 da Primeira Conferência Nacional de Defesa Civil e Assistência Humanitária, Seria importante a criação de instrumentos que garantissem a implementação das deliberações que foram geradas nessas conferências, para que estas possam ser efetivadas na prática.

Ainda não existe um sistema nacional de registro dos desastres. Tendo em vista as recorrências dos fenômenos, seria importante construir inclusive um arquivo histórico no qual estivessem armazenadas as informações sobre a ocorrência dos desastres, as atitudes que foram tomadas (durante e depois dos desastres), assim como uma contextualização detalhada dos aspectos característicos da região antes do desastre. Seria importante também, nessa perspectiva histórica, um acompanhamento da evolução da situação de desastre ao longo do tempo, o que aconteceu com a área de ocorrência do desastre, o que aconteceu com as populações atingidas, qual foi a efetividade das ações tomadas pelo poder público no que diz respeito aos vários fatores envolvidos. Certamente um acompanhamento dessas situações de desastre e uma avaliação crítica dos procedimentos seriam fundamentais para garantir a melhoria do sistema de segurança social frente a situações de risco, principalmente na conjuntura atual, quando se começam a sentir os efeitos das mudanças climáticas.

Subsistência e PobrezaOs impactos de mudanças no clima, com reflexos sobre a produção de alimentos e,

de forma mais abrangente, sobre as condições de vida, provavelmente, tornarão mais acentuadas as diferenças entre populações detentoras de mais recursos para fazer frente a tais problemas e as populações que não os possuem, resultando em

fome, por estarem expostas, diretamente, às adversidades climáticas. A agricultura industrializada, talvez, possa reagir às mudanças do clima, porém, a

de subsistência deverá se adaptar, radicalmente, explorando atividades mais apropriadas aos novos tempos.

Números da miséria no Brasil (IBGE, 2010): População: 16,257 milhões (8,5% da população brasileiras); Região com maior predominância: Nordeste – 9,61 milhões sendo a maioria no campo (56,4%); População urbana abaixo da linha da pobreza

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extrema: 8,67 milhões sendo que 52,6% vivem no Nordeste e 24,7% no Sudeste; População rural abaixo da linha de pobreza extrema: 7,59 milhões com maior concentração nas regiões Norte (35,7%) e Nordeste (35,4%).

O estudo de Queiroz e Barbieri (2009) mostrou que os municípios do Nordeste que sofrerão os maiores impactos das mudanças climáticas também apresentam os piores indicadores sociais da região, medidos pelo baixo nível médio de educação, concentração de famílias abaixo da linha de pobreza, maior dependência em relação às transferências governamentais; e baixo acesso a serviços básicos de infraestrutura (água e esgoto).

Com relação ao tema saúde humana, bem estar e segurança, as comunidades mais pobres podem ser especialmente vulneráveis por se concentrarem em áreas de alto risco, por terem menor capacidade adaptativa e por serem mais dependentes de recursos locais sensíveis ao clima.

As alterações climáticas contribuem em larga escala para as secas e inundações que ocorrem com mais frequência na última década e que afetam muito seriamente a produção alimentar, contribuindo assim para um agravamento do estado nutricional das populações de muitos países e muitas vezes ceifando vidas abruptamente nestas catástrofes.

Impactos Multisetoriais, Riscos, Vulnerabilidade e Oportunidades

Uma revisão a partir dos trabalhos empíricos realizados para o Brasil mostra que o esforço de quantificar os impactos das mudanças climáticas globais (MCG) ou seus desdobramentos sobre variáveis de relevância econômica é relativamente recente.

O conjunto de atividades econômicas afetadas por MCG tende a ser amplo, uma vez que os impactos desse fenômeno repercutem tanto diretamente nas atividades econômicas como indiretamente. Efeitos econômicos sistêmicos merecem especial atenção na avaliação dos impactos de MCG. Não apenas os setores tendem a ser afetados de forma heterogênea, direta e indiretamente, como também regiões tendem a apresentar impactos diferenciados. O principal resultado, presente em grande parte dos estudos analisados, revela que os impactos econômicos das MCG tendem a ser mais intensos, em termos relativos, em regiões menos desenvolvidas, considerando-se diversas escalas territoriais.

Outros resultados se destacam, com maior probabilidade de ocorrência: Reduções significativas das áreas de florestas e matas nos estabelecimentos agrícolas; Aumento das áreas de pastagens; As regiões Centro-Oeste e Nordeste seriam as mais severamente atingidas; Plantio de cana-de-açúcar pode ser favorecido; Redução do crescimento econômico; Setores e regiões não são impactados de forma homogênea; Agricultura e pecuária são os setores mais sensíveis a MCG, mas outros setores também seriam

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A atividade agrícola tende a ser afetada diretamente pelas mudanças climáticas no Brasil; a disponibilidade de recursos hídricos pode alterar as condições de

produção de energia, cujos custos transmitidos ao sistema produtivo têm impacto muito disseminado; os efeitos de cenários de variação de temperatura e

precipitação afetam de forma negativa a produção de alimentos do Brasil, no entanto, frente ao impacto observado em outras regiões do planeta, tal redução

no Brasil mostrar-se-ia menos significativa.

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afetados negativamente; “Pecuarização” das regiões rurais no Nordeste; Aumento das desigualdades regionais; Aumento das forças de expulsão populacional das zonas rurais;

Pressão sobre demanda por serviços públicos em grandes aglomerações urbanas; Aumento da pobreza; Aumento na frequência e intensidade de eventos extremos tenderia a gerar impactos adversos sobre a produtividade e produção de culturas agrícolas, com efeitos perversos sobre a segurança alimentar; Chuvas intensas e inundações imporiam custos crescentes às aglomerações urbanas; As condições de saúde humana no Brasil poderiam ser severamente afetadas em razão, sobretudo, do histórico de doenças de veiculação hídrica, das doenças transmitidas por vetores e das doenças respiratórias; MCG poderiam ser vistas como potencializadoras das situações de risco, uma vez que tenderiam intensificar a ocorrência de doenças tropicais, pobreza e desastres.

- Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação na Esfera RegionalRegião Norte

A região Amazônica contém a maior extensão única e contínua de floresta tropical sendo uma das áreas mais ricas em estoque de biodiversidade do planeta. Atualmente está ameaçada pelo desmatamento, responsável pela erosão genética e emissões de gases de efeito estufa.

A agricultura assume um papel fundamental na compreensão dos impactos do uso da terra na Amazônia. Diante de um mercado mundial de alimentos em franco crescimento, associado ao aumento internacional dos preços das commodities, a perspectiva de ampliar as exportações brasileiras de produtos agrícolas vem impulsionando cultivos em direção à floresta. Diversos estudos apontam a pecuária como o principal vetor do desmatamento na Amazônia, tendo sua expansão fundamentada na viabilidade financeira dos médios e grandes pecuaristas. Outros estudos afirmam que os agentes intermediários, que se antecipam a criação de gado e são diretamente responsáveis pelo desmate, têm seu custo de oportunidade parcialmente compensado pela garantia de venda futura das terras para os pecuaristas. Tendo sido identificados avanços com relação ao monitoramento e controle do desmatamento na Amazônia, com expressiva redução de suas taxas anuais de 2005 a 2012, novos instrumentos de gestão ambiental, como os Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA), surgem como um caminho

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Caso a frequência de eventos El Niño aumente as florestas libertarão suas grandes reservas de carbono para a atmosfera. O futuro da acumulação de CO2, e,

consequentemente, o momento em que a concentração atinja "perigosos" níveis, depende da contínua absorção de carbono pela biosfera incluindo uma importante

contribuição a partir da Floresta Amazônica.De acordo com 23 modelos do IPCC a intensificação da estação seca nas regiões do

Sudeste Amazônico tem 80% de probabilidade de ocorrer.Diante de um mercado mundial de alimentos em franco crescimento, associado ao

aumento internacional dos preços das commodities, a perspectiva de ampliar as exportações brasileiras de produtos agrícolas vem impulsionando cultivos em

direção à floresta.

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promissor para a promoção da conservação, visando a mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

As florestas tropicais são responsáveis pelo equilíbrio climático em escala global, prestando inúmeros serviços ambientais aos ecossistemas. A partir das profundas mudanças de uso da terra observadas na região Norte, principalmente a partir de meados do século XX, sua função reguladora do clima global, regional e local encontra-se ameaçada. Nesse sentido, as florestas tropicais têm sido objeto de inúmeros estudos que contemplam o ciclo do carbono e suas relações com o homem e a biosfera, com destaque para o programa LBA (Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), coordenado pelo MCT/INPA.

Evidências arqueológicas sugerem que incêndios catastróficos têm ocorrido na Amazônia durante grandes eventos de El Niño quatro vezes ao longo dos últimos 3.500 anos: 1.500, 1.000, 700 e 400 A.C. O aumento do início de focos de incêndio, juntamente com aumento de flamabilidade florestal madeireira durante anos secos resultaram em substanciais incursões de incêndios na floresta em pé, no leste e sul Amazônico. Prognostica-se então que secas conduzirão a um aumento na combustão das clareiras na Amazônia, contribuindo na emissão de fumaça e material particulado, funcionando como fontes de nutrientes de origem eólica para o meio florestal.

Caso a frequência de eventos El Niño aumente como consequência do aquecimento global as florestas libertarão suas grandes reservas de carbono para a atmosfera. O futuro da acumulação de CO2, e, consequentemente, o momento em que a concentração atinja "perigosos" níveis, depende da contínua absorção de carbono pela biosfera incluindo uma importante contribuição a partir da Floresta Amazônica. É importante salientar que cada grau de alteração na temperatura em um ambiente tropical é "percebido" com maior impacto por espécies tropicais, em comparação com espécies de áreas temperadas.

Nas projeções climáticas realizadas por Marengo (2007) para o período 2071-2100, a região Amazônica está compreendida entre as latitudes 4,5° N e 12° S. Os vários modelos globais utilizados no IPCC TAR (3º relatório IPCC, 2001) e AR4 (4º relatório IPCC, 2007) divergem sobre tendências de precipitação na Amazônia. Alguns projetam redução da pluviosidade, outros apontam um aumento, mas a média dos modelos indica maior possibilidade de redução nas precipitações (Figura 5).

Figura 5. Anomalias anuais da precipitação (mm/dia) na Amazônia brasileira considerando os cenários A2 (esquerda) e B2 (direita) do TAR obtido a partir da média dos três modelos regionais do Inpe (Eta/

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CPTEC/CPTEC, RegCM3 e HadRM3P) para o período de 2071-2100 em relação a média de 1961-1990. Observar a tendência de redução das chuvas no oeste do Pará (inserido dentro do contorno em verde). As projeções representam a media aritmética dos cenários produzidos pelos modelos regionais Eta/CPTEC/CPTEC. RegCM3 e HadRM3P (50 km de resolução). Fonte: Marengo, 2007.

Já, quanto às temperaturas, todos os modelos projetam uma tendência de aquecimento conspícuo para o Brasil (figura 6). Observa-se que as anomalias de temperatura no Pará irão variar entre 4-5°C (2071-2100) em relação às médias de 1961-1990, tendo como parâmetro o cenário A2 do AR4, enquanto nas condições do cenário B2 o aumento foi estimado entre 3-4°C. É certo que existem incertezas quanto à essas tendências de extremos climáticos para a Amazônia, principalmente devido à falta de dados confiáveis de longo prazo e acesso restrito a informações para regiões tão extensas.

Figura 6. Anomalias anuais de temperatura (para América do Sul, período 2071-2100 em relação a 1961-90, para os cenários IPCC A2 (pessimista) e IPCC B2 (Otimista)). As projeções representam a media arit -mética dos cenários produzidos pelos modelos regionais Eta/CPTEC/CPTEC. RegCM3 e HadRM3P (50 km de resolução). Fonte: Marengo, 2007.

Região Nordeste

Correspondendo a cerca de 18% da área e 29% da população do Brasil, a região Nordeste apresenta condições fisiográficas, climáticas e socioeconômicas que exigem atenção no traçado de políticas de adaptação a impactos decorrentes de possíveis alterações climáticas. Estudos relacionados a impactos de mudanças climáticas sobre os recursos hídricos, os recursos costeiros, o processo de desertificação e os setores de agricultura (inclusive agricultura familiar), energia e saúde confirmam a fragilidade da região.

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Espera-se aumentos de temperatura e taxas de evaporação e acentuação de eventos extremos (secos e úmidos), o que geraria impactos significativos nos níveis de

reservatórios na região, base do planejamento e gestão dos recursos hídricos do Nordeste.

Novas práticas agrícolas e adaptações de práticas já existentes podem moderar riscos e danos climáticos a partir do fortalecimento e da difusão de inovações e tecnologias; a

região Nordeste pode contribuir com fontes de geração de energia elétrica não emissoras - hidráulicas, biomassa, maré e eólica;

Maior migração populacional para meio urbano; expansão da área de transmissão de doenças associadas a vetores e o aumento da incidência de doenças de veiculação

hídrica.

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Com a menor disponibilidade hídrica do país, a região Nordeste apresenta uma forte variabilidade temporal (em escalas interanual e decadal) do seu regime de chuvas sendo que os fatores que o determinam já são relativamente bem conhecidos e por isso sua previsão já vem sendo utilizada como estratégia de adaptação às mudanças do clima. Também com relativo consenso entre os cientistas, espera-se aumentos nos níveis de temperatura e taxas de evaporação e acentuação de eventos extremos (secos e úmidos), o que geraria impactos significativos nos níveis de reservatórios na região, base do planejamento e gestão dos recursos hídricos do Nordeste. Como exemplo, estudos indicam sérias reduções de vazão na bacia do Rio São Francisco, e Atlântico Nordeste Oriental.

Boa parte do setor agrícola nordestino, especialmente as culturas da mandioca, algodão, soja, arroz, milho e feijão seriam fortemente impactados pelas mudanças climáticas. Algumas dessas culturas são a base da segurança alimentar na região, como a mandioca e os estudos acenam para uma drásticas redução de seu plantio podendo até desaparecer do semi-árido nordestino. Diversos estudos apontam também para uma intensificação dos efeitos migratórios resultantes dos impactos das mudanças climáticas na agricultura. Por outro lado, a agricultura familiar na região requer cuidados frente aos cenários de mudanças climáticas, dada sua significativa participação na economia regional. Felizmente, os atuais arranjos socioeconômicos e de apoio político-instritucionais e técnicos vêm desenvolvendo papel importante na adaptação com desenvolvimento e aplicação de novas práticas agrícolas.

No setor energético, a participação da região Nordeste está centrada nas fontes hidráulicas, de biomassa e eólica. Estudos apontam favoravelmente para a geração de energia de biomassa e eólica, enquanto a geração de energia hidroelétrica sofreria impactos negativos devido a sua dependência em relação aos níveis e variações de vazões naturais aos grandes reservatórios, bem como aos níveis elevados de evaporação.

Em ambientes costeiros, estudos preliminares de caráter reflexivo sinalizam impactos que devem ser analisados dentro da complexidade do comportamento marinho a fim de identificar sua relação com diversas atividades antrópicas e com a estabilidade dos ecossistemas costeiros. O principal resultado esperado é um amplo recuo da linha de costa da região Nordeste e um aumento da vulnerabilidade de ecossistemas sensíveis a pequenas variações de temperatura como os recifes de corais.

A região Nordeste apresenta amplos focos de espaços geográficos em processo de desertificação com impactos negativos para os indicadores socioeconômicos regionais. No entanto, observa-se ainda a incipiência de estudos diretamente focados na análise da relação das mudanças climáticas com o processo de desertificação. No setor de saúde, estudos ratificam a relação existente entre a severidade dos impactos das mudanças climáticas e os níveis de desidratação, distúrbios respiratórios e redistribuição de doenças infecciosas devido a costumeiros eventos de migração.

Região Sul

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Aumento do regime de chuvas; as temperaturas seguiram o padrão de aumento nos valores médios, com redução dos episódios de geadas e dias frios; a soja e o

milho poderão ser substituídos por culturas perenes e semi-perenes como a cana-de-açúcar e o milho; técnicas alternativas como PD e ILPF podem minorar os

riscos climáticos; impactos negativos na saúde.

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Não são escassos os registros, a exemplo dos promovidos pelo fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS), que acentuam as características condicionante/adversidade do clima sobre as produções agrícolas, determinando recordes de produção ou perdas generalizadas. A condição meteorológica já afetada por tais eventos passou a ser também avaliada quanto a modificações aparentes, ainda que em curto intervalo de observações, das condições térmicas e hídricas, assim como observado em todo o globo. Somam-se, principalmente, registros de aumento da temperatura do ar, nos mais diversos municípios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, que inevitavelmente exercem influência não só na agricultura, pecuária e segurança alimentar, mas em questões ambientais como o ciclo hidrológico e de saúde da população. Aumentos de precipitação e vazão de rios, apesar das incertezas, poderão se intensificar, conforme cenários projetados pelo IPCC.

Os fenômenos climáticos podem influenciar a saúde humana de forma direta, a partir do favorecimento a doenças infecciosas endêmicas sensíveis às variações do clima, por mortalidade por afogamento, deslizamentos de terra e desabamentos de prédios, ou por ondas de calor, e indiretamente por perda na produção agrícola e consequentemente impacto nutricional, queda nos padrões de higiene pessoal e ambiental e também como determinante de fenômenos demográficos. A respeito da atividade rural, conforme algumas projeções, em algumas décadas a região Sul poderá ter uma nova conformação geográfica da agricultura e pecuária, sem destacar uma possível aptidão de culturas até agora restringidas pelo frio em detrimento de outras, tais como frutíferas adaptadas ao clima temperado.

Região Sudeste

A Região Sudeste é formada pelos estados do Espírito Santo (ES), Minas Gerais (MG), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) correspondendo a 10,86% do território brasileiro, com uma população de 80.353.724 habitantes, sendo a região mais populosa do país. Além de apresentar a maior densidade demográfica do país e o mais alto índice de urbanização, a região tem a economia mais industrializada das regiões do país, com 12,8% da população ocupada no ramo agrícola. O avanço da produção agrícola e a urbanização nos seus estados provocaram desmatamentos das áreas de florestas, restinga e mangue, do bioma Mata Atlântica. O processo de ocupação desta região guarda especificidades, como a criação de gado e a cultura do café, que foram uma alavanca poderosa para a sua ocupação. Pode-se afirmar que a destruição das matas pluviais e sua substituição por cafezais, quase sem deixar reservas de matas ou florestas de proteção de nascentes em muitas áreas, aumentou a variabilidade da precipitação, intensificando a ocorrência de escassez e ou sua abundância.

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Aumento da temperatura média, diminuição de noites frias, 15% mais chuvas no outono, secas no verão (mais doenças), aumento de eventos

extremos (impactos negativos nas grandes cidades), substituição de espécies agrícolas mais adaptadas aos novos padrões de temperatura.

Adaptação: implantação de parques lineares na margem de córregos p/ minimizarem os impactos de cheias com remanejamento de populações nas

áreas de risco.

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A região não mostrou mudanças perceptíveis nos padrões de chuva, ou certo aumento até finais do século XX. A média dos modelos estudados é indicativa de maior probabilidade de redução de chuva nestas regiões como consequência do aquecimento global. Entre as suas metrópoles, cita-se como exemplo para cenários climáticos futuros, as principais ameaças naturais no município do Rio de Janeiro, que estão associadas a enchentes e inundações, entre outros processos que ocorrem no período chuvoso, o que demanda análise dos cenários de risco e das condições de vulnerabilidade em conjunto com as projeções de intensificação de ocorrência de eventos pluviométricos no município.

Entre os principais rios do país, destacam-se os rios Paraná-Prata, importantes entre outros motivos, pela contribuição ao potencial hidroelétrico do país e pela interface com a agricultura da região. Identificam-se nos estudos existentes sinais de possível impacto de mudanças nos regimes hidrológicos e térmicos na bacia do Paraná-Prata. São conhecidos os impactos de chuvas fortes nas capitais do Sudeste, seguidas ou não por inundações, com morbidade e na mortalidade da população. Mostra-se inevitável que as mudanças climáticas de longo prazo, possam exercer efeitos na saúde humana em áreas urbanas, lembrando que a região abriga quatro das grandes capitais brasileiras, além de cidades com mais 1 milhão de habitantes, que concentram grandes frotas de veículos e fontes estacionárias de emissão de poluentes e os respectivos riscos à saúde humana associados à estas questões .

Para a região os estudos coletados pelo IPCC preveem para o século XXI um aumento de 4 a 4,5ºC na temperatura média do ar. Com expectativa de eventos extremos mais frequentes e as mudanças climáticas, a região apresentará, muito provavelmente, um padrão de aumento nos valores médios de temperatura, acompanhando o mesmo padrão nas outras regiões do país. O meio agrícola poderá passar por algumas adaptações com a substituição de espécies mais adaptadas aos novos padrões de temperatura, e também conjugadas com técnicas alternativas como plantio direto e o consórcio entre florestas, gado e agricultura que virão a ser medidas necessárias para minorar os riscos climáticos advindos no futuro. Além disso, o incentivo a programas de conservação da biodiversidade se faz necessário como estratégia para diminuir a vulnerabilidade da região à uma possível intensificação da insegurança alimentar.

Entre as principais metrópoles desta região, o Rio de Janeiro e Vitória encontram-se na orla e certamente, novos estudos mais aprofundados sobre os impactos e as suas vulnerabilidades específicas, surgirão, fortalecendo as bases de informação sobre essa faceta dos impactos causados na Região Sudeste. Nas Regiões Metropolitanas de São Paulo e Belo Horizonte, o aumento da população urbana e a forma de ocupação das suas áreas, provocarão pressões para investimentos em programas de contenção de cheias e remoção de populações em áreas vulneráveis e de risco, além da necessidade de incremento dos programas de defesa civil existentes para situações extremas que envolvam os episódios como, por exemplo, enchentes e escorregamentos. Outro aspecto importante, não só nos centros urbanos, é a adaptação à escassez hídrica que pode ser potencializada na região e influenciará não só a produção de alimentos, como o acesso à água, e a saúde da população, potencializando os cenários de incidência de doenças relacionadas às mudanças climáticas discutidas nesse artigo, o que resulta, inevitavelmente, na perda da qualidade de vida da região.

Região Centro Oeste

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O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, sendo superado apenas pela Amazônia. Ele ocupa 21% do território nacional e localiza-se no Planalto Central, nos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal. O domínio do Cerrado é reconhecido como a savana mais rica em biodiversidade do mundo, além de abrigar nascentes de rios tão importantes quanto o São Francisco, o Paraguai e o Paraná.

Deve-se notar que a expansão da produção de grãos e da pecuária extensiva na região Centro-Oeste trouxe, juntamente com os benefícios econômicos, grandes danos ambientais para o Cerrado, tais como redução da biodiversidade, erosão dos solos, poluição de aquíferos, degradação de ecossistemas, alterações nos regimes de queimadas e possivelmente modificações climáticas regionais. As mudanças climáticas, bem como a variabilidade climática natural com seus extremos, podem acentuar a vulnerabilidade social das populações e desencadear uma série de problemas ambientais e socioeconômicos.

O Centro-Oeste brasileiro confronta-se com diversos prognósticos climáticos negativos que prevêem que as atividades agrícolas e de pecuária sofrerão redução de produtividade devido às mudanças no ciclo hidrológico e aumentos de temperatura, e também devido à localização estratégica da região, situada entre três biomas de maior importância no país, a Floresta Amazônica, o Cerrado e o Pantanal (Assad et al. 2004, 2008).

Os biomas Cerrado, Amazônia e Pantanal permutam material genético entre suas zonas de amortecimento e têm sido altamente impactados pelo uso e ocupação da terra no último século. Além dos problemas de cunho ambiental a região está envolvida em um quadro de conflitos sociais e fundiários profundos, tornando-a altamente vulnerável caso ocorram mudanças regionais no clima o que preocupa atores institucionais em diversas esferas governamentais. Atualmente o Centro-Oeste se consolida como o celeiro brasileiro da produção de grãos, sendo que o bioma Cerrado é classificado como hotspot da preservação ambiental mundial por deter o título de savana com maior biodiversidade do planeta, onde mais de 48% desse bioma já foram convertidos em áreas de uso agrícola.

Devido à história recente de colonização que se aprofunda a partir das décadas de 40 e 50, a região ainda carece de uma rede mais densa de monitoramento de dados meteorológicos. Com isso, a modelagem de padrões de anomalias em precipitações e temperatura baseia-se em dados de apenas algumas estações meteorológicas existentes, sendo o restante dos dados produzidos a partir de cálculos matemáticos gerados em simulações. Os modelos permitem identificar mudanças nas estações e identificar padrões cíclicos associados a fenômenos de grande escala no Brasil, como os eventos El Niño.

Salati et al (2008) avaliaram mudanças na vazão de 12 bacias hidrográficas brasileiras para o final do século XXI. Para tal, lançaram mão do modelo HadRM3P e dois cenários de emissões de gases de efeito estufa (A2-BR e B2-BR), com os quais realizam

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As atividades agrícolas e de pecuária sofrerão redução de produtividade devido às mudanças no ciclo hidrológico, aumentos de temperatura e alterações na sua fenologia; o desenvolvimento de variedades agrícolas mais adaptadas e formas de manejo mais adequados aos contextos climáticos futuros devem estar dentro de um planejamento amplo de adaptação para a região; aumento de secas com

aumento de doenças respiratórias.

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projeções para uma série de parâmetros: precipitação, evapotranspiração, temperatura e déficit hídrico. De modo geral, os resultados apontam para a redução da vazão em todas as bacias que possuem importantes afluentes no Centro-Oeste (Tocantins/Araguaia; Paraná; São Francisco; Paraguai; Amazonas) para o período 2071-2100 em relação a média histórica (1961-1990). A única exceção foi a bacia do Paraná, a qual apresentou um aumento de vazão de 11% no cenário A2-BR. A tendência de redução está intimamente associada a variações nos parâmetros considerados, especialmente da evaporação real, cujas projeções apontam para um aumento substancial nas cinco bacias presentes no Centro-Oeste.

Uma mudança no ciclo hidrológico e na temperatura seria de suma importância para a região Centro-Oeste, pois a alteração da fenologia das plantas (soja, arroz, milho, café) poderá acarretar perdas massivas na produção agrícola e na pecuária. Por essa razão a Embrapa tem desenvolvido pesquisas de zoneamento agroclimático para diversas culturas. Esses resultados poderão auxiliar produtores e o governo a criarem estratégias de adaptação, caso as áreas se tornem impróprias para a produção de numerosos tipos de grãos no futuro.

Nos modelos desenvolvidos pela Embrapa as temperaturas aumentarão entre 1 ºC e 5,8 ºC no Centro-Oeste com um período de estiagem mais seco e quente. Este deverá predominar na região com uma duração de 7 meses. Logo, as plantas deverão suportar temperaturas excessivamente acima de 32 graus nos períodos mais quentes do dia cessando processos de fotossíntese e alterando suas fases normais de crescimento. No estado do Goiás espera-se uma perda de 95% da área apta para produção do café do tipo arábica.

O Centro-oeste brasileiro é uma região cuja modelagem climática possui grande incerteza diante das projeções realizadas para outras regiões brasileiras, como a Amazônia e o Nordeste. De modo geral, os modelos concordam sobre uma tendência de aquecimento para o final do século XXI para a região, porém divergem quanto às tendências de precipitação.

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