capitulo i finalizado

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Capitulo I: Das Penas 1. DEFINIÇÃO A conduta tida como criminosa ao ser praticada por um indivíduo figura como uma ação que fere a sociedade como um todo, provocando uma reação por parte do estado. A esta reação dá-se o nome de sanção penal, mais comumente conhecida como pena. Segundo o escritor Fernando Capez, poderíamos definir pena como: “A sanção penal de caráter aflitivo, imposta pelo estado, em execução de uma sentença, ao culpado pela prática de uma infração penal, consistente na restrição ou privação de um bem jurídico, cuja finalidade é aplicar a retribuição punitiva ao delinqüente, promover a sua readaptação social e prevenir novas transgressões pela intimidação dirigida à coletividade”. 1 Como podemos perceber, atualmente, o conceito de pena reúne uma dupla finalidade. Percebeu-se ao longo da historia, que não é suficiente utilizar as penas exclusivamente como uma forma de castigo, ou retribuição de um mal causado pelo agente praticante da conduta considerada criminosa. A função social da pena alcança horizontes muito mais longínquos e ousados do que este. Busca a proteção social, bem como a 1 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2005, p.357.

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Monografia sobre sistema prisional

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Capitulo II: Das Penas

Capitulo I: Das Penas

1. DEFINIO

A conduta tida como criminosa ao ser praticada por um indivduo figura como uma ao que fere a sociedade como um todo, provocando uma reao por parte do estado. A esta reao d-se o nome de sano penal, mais comumente conhecida como pena.

Segundo o escritor Fernando Capez, poderamos definir pena como:

A sano penal de carter aflitivo, imposta pelo estado, em execuo de uma sentena, ao culpado pela prtica de uma infrao penal, consistente na restrio ou privao de um bem jurdico, cuja finalidade aplicar a retribuio punitiva ao delinqente, promover a sua readaptao social e prevenir novas transgresses pela intimidao dirigida coletividade.

Como podemos perceber, atualmente, o conceito de pena rene uma dupla finalidade. Percebeu-se ao longo da historia, que no suficiente utilizar as penas exclusivamente como uma forma de castigo, ou retribuio de um mal causado pelo agente praticante da conduta considerada criminosa. A funo social da pena alcana horizontes muito mais longnquos e ousados do que este. Busca a proteo social, bem como a recuperao do agente que se conduziu de forma ofensiva ao bom convvio social.

Pelo menos trs correntes de pensamentos explicam as finalidades da sano penal. A teoria absoluta (punitur quia peccatum est) aponta como finalidade da pena a punio do agente ativo da conduta criminalizada. Seria uma forma de compensao negativa, um castigo mesmo, pelos transtornos malficos causados pelo agente aos trios da comunidade. Trazendo para uma concepo mais religiosa, seria uma forma de expiao dos pecados do infrator da norma jurdica.

A segunda corrente funda-se na teoria finalista ou da preveno (punnitur ne peccetur). Segundo essa manifestao ideolgica a pena teria um carter correcional imediato. Qual seja, o impedimento reincidncia do delinqente. Haveria a segregao do agente praticante de condutas nocivas ao bom convvio social com a finalidade de retirar dele a possibilidade imediata de retorno delinqncia. De modo mais especfico, esta forma de pensamento fundamenta a aplicao da pena na presso psicolgica que essa reao causa junto aos outros membros da sociedade. Estes no cometeriam crimes no por serem pessoas boas, mas por medo e por no desejarem as limitaes de seus bens jurdicos. Neste contexto, a aplicao da sano penal funcionaria como um verdadeiro mecanismo de coao psicolgica.

Por fim, a teoria ecltica (punitur quia peccatum est et ne peccetur) nos traz uma conjugao dos principais conceitos apresentados pelas duas concepes anteriores. Aponta uma dupla finalidade para a sano penal, ao mesmo tempo em que corrige o delinqente (reintegra a sociedade), tambm evita a pratica do crime tanto pelos agentes que j o praticaram, quanto por aqueles que possivelmente poderiam vir a pratic-los (presso atravs do castigo). Hodiernamente, esta corrente figura como a teoria mais aceita dentre os pensadores do fenmeno criminal.

2. CLASSIFICAO DAS PENAS

As penas podem ser classificadas em:

Penas corporais so as penas mais cruis e desumanas j inventadas pela raa humana. O agressor muitas vezes era torturado, tinha seu corpo agredido, mutilado e constantemente, pagavam por seus crimes com a prpria vida.

Ainda hoje podemos encontrar muitos exemplos de penas corporais ao redor do planeta. Inmeros paises mulumanos, como o Marrocos amputam as mos de pessoas que cometeram crimes contra o patrimnio. Em alguns paises africanos, os estupradores pegos em flagrante delito tm seus rgos genitais extirpados. Poderia-se argumentar que esses pases vivem parados no tempo, contudo encontramos aplicabilidade de penas corporais em pases considerados de primeiro mundo. Podemos tomar como exemplo, a maior potncia mundial, os EUA, que utiliza penas capitais.A principal caracterstica dessas penas que no obstante a natureza do crime praticado, a sano cominada afeta a integridade fsica do agente que praticou o delito.

Penas privativas de liberdade As penas privativas de liberdade so aquelas que limitam a liberdade de locomoo do apenado. No Brasil a liberdade de locomoo uma garantia de natureza constitucional ramificado no direito de ir, vir e ficar do individuo.O crcere encontrou na modernidade discurso propcio a sua ampla utilizao. Hodiernamente, a maioria esmagadora dos crimes so sancionados com as espcies de penas privativas de liberdade.

As penas privativas de liberdade comportam divises temporais. Podem ser por tempo limitado ou ainda perptuas.

Penas pecunirias so penas de carter econmico-financeiro. Afetam o patrimnio do delinqente. Podemos tomar como exemplo, as multas e penas de perdimento de bens em casos de crimes contra o patrimnio.

Penas que afetam direitos - existem ainda penas que diminuem ou at mesmo retiram direitos dos sancionados. Podemos exemplificar algumas dessas situaes com suspenso de direitos polticos, nos casos de crimes de improbidade.

Em nossa legislao ptria esto previstas somente as trs ltimas espcies de penas. Contudo, na pratica ainda temos penas corporais aplicadas de modo ilegal dentro do sistema penal brasileiro. Diversos segmentos sociais aplicam penas corporais aos infratores, mesmo que expressamente proibidas.

3. EVOLUO HISTRICA

Podemos tomar como primeiro instante de aplicao da sano penal, a punio cominada por Deus a Ado em virtude do pecado concretizado por aquele, no jardim do den. Existia um comando normativo, no comer do fruto da rvore proibida. Ado comete a conduta tpica e sofre a imposio da sano divina. Observe-se que essa estrutura de norma penal bastante similar concepo que guardamos em nossos tempos.

Para se chegar atual concepo de sano, houve uma lenta e gradual evoluo histrica. Fruto de uma dialtica acirrada entre os mais ilustres e dedicados pensadores mundiais.

Muito alm da evoluo ideolgica, ocorreu ainda uma evoluo comportamental nas sociedades mundiais. Houve uma grande modificao nas tradies e costumes dos povos ao longo do tempo. Existiram, de fato, transformaes comportamentais, que sem sombra de duvidas, estavam profundamente ligadas a ideologias. Contudo, o que devemos guardar de forma clara em nossas mentes que sobreveio, efetivamente, uma transformao das relaes inter-humanas no trato com a realidade criminal e no apenas amadurecimento intelectual adstrito ao mundo das idias.

Desde os tempos mais primrdios da humanidade, nas formaes grupais mais primitivas, a sano penal vem sofrendo constantes vicissitudes. At mesmo em nossos dias, somos capazes de perceber que este processo continua em atividade e talvez nunca se chegue a uma frmula perfeita de lidar com a questo criminal.

3.1 VINGANA

Este perodo histrico compreende o tempo entre a origem das relaes humanas, remetendo aos grupos sociais mais primitivos de que se tem noticias e o perodo mais humanstico da historia, com o nascimento do iluminismo.

Durante a vigncia da vingana surgiram os artifcios mais cruis e desumanos de retaliao das infraes penais. Os povos estavam inseridos em um contexto mstico e religioso. No havia respeito dignidade humana. As penas eram, quase sempre, de natureza corporal e desproporcionais gravidade do delito cometido.

A vingana passou por trs fases histricas. A saber-se, vingana privada, vingana divina e vingana estatal.

3.1.1 VINGANA PRIVADA

Durante o perodo da vingana privada no havia regulao estatal sobre a conduta dos indivduos. As prprias vtimas ou seus parentes se encarregavam de punir seus ofensores ou at mesmo seus familiares. Qualquer um que se sentisse ofendido, ou vtimizado, adquiria o direito de se vingar do seu agressor. A correo se dava atravs do imprio da fora.Observe-se que no existiam critrios de proporcionalidade ou personalidade das sanes. Muitas vezes crimes pequenos, quase banais resultavam em reaes desproporcionais.

O primeiro momento em que houve uma regulamentao desta forma de vingana ocorreu com o surgimento da lei do talio, compilada no cdigo de Hamurabi. Muitos foram os avanos trazidos por esta legislao, dentre os mais notveis houve a insero da proporcionalidade entre ofensa e punio.

A mxima do talio era o famoso dito: olho por olho, dente por dente. Expressando claramente essa face proporcional de tal modo de regulao de conflitos. Tal mecanismo de proporcionalidade mostrou-se como um avano memorvel aplicao das sanes penais.

Amparado no talio surgiu o cdigo de Hamurabi. Este cdigo um dos conjuntos de legislaes mais antigos de que temos noticias. Foi encontrado na regio que hoje conhecemos como Ir e estima-se que date de pelo menos mil e setecentos anos antes de cristo. O cdigo intentava a unificao jurdica do reino da antiga mesopotmia e vrios exemplares foram espalhados por aquela regio.

Os escritos de hamurabi expunham lei e penas para os descumprimentos das mesmas. Grande parte dessas leis versavam sobre roubo, homicdios e injuria e cominavam penas para agresses a estes bens jurdicos.3.1.2 VINGANA DIVINA

Durante a vigncia dos estados teocrticos, muito comum era a aplicao de sanes absurdas sob o fundamento de se aplacar a ira divina oriunda das ofensas criminais.

Os grandes sacerdotes figuravam como sentenciadores constitudos pelos deuses para punir aqueles que os agredissem. A ira dos deuses era representada por essas punies.

Nesse perodo a pena era realmente vista apenas como um castigo, nunca como instrumento de ressocializao. Na verdade figuravam realmente como um modo de expiar os pecados dos agressores da ordem jurdica divina.

Vale ressaltar que, ainda hoje em muitas localidades ao redor do mundo, esse tipo de pena encontra incidncia.

A legislao base desse perodo foi o cdigo de Manu. Contudo, existiram outras como, por exemplo, os cinco livros e o livro das cinco penas.

3.1.3 VINGANA PBLICA

A partir desse perodo as penas perdem o carter privado e religioso que possuam em perodos anteriores. Com uma organizao social mais consolidada, a sano penal sai das mos de particulares e religiosos e passa para o poder publico, cai nas mos dos entes estatais.

Apesar de as penas ainda serem bastante violentas, inclusive neste perodo houve a ampla aplicabilidade das penas capitais, acabou-se por se experimentar uma certa evoluo na aplicao da sano penal. Agora somente as autoridades pblicas poderiam culminar penas a aqueles que praticassem condutas tidas como criminosas.

Devemos nos lembrar que estamos diante de um contexto medieval em que o sangue poderia ser derramado com menos pudor. Muitas vezes pequenos delitos acarretavam sanes mortais, afetando em muitas ocasies, no s o agressor direto, mas tambm seus familiares.

Michel Foucault nos apresenta uma dimenso da crueldade das penas impostas nesse perodo durante a narrao de uma execuo ocorrida em meados do sculo XVIII:[Damiens fora condenado, a 2 de maro de 1757], a pedir perdo publicamente diante da porta principal da Igreja de Paris [aonde devia ser] levado e acompanhado numa carroa, nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acesa de duas libras; [em seguida], na dita carroa, na praa de Greve, e sobre um patbulo que a ser erguido, atenazado nos mamilos, braos, coxas e barrigas das pernas, sua mo direita segurando a faca com que cometeu o dito parricdio, queimada com fogo de enxofre, e s partes em que ser atenazado se aplicaro chumbo derretido, leo fervente, piche em fogo, cera e enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo ser puxado e desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo consumidos ao fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas lanadas ao vento.

3.2 PERODO HUMANITRIO

Diante de uma revoluo das idias surge o perodo humanitrio das penas. Fortemente impulsionado pela atmosfera intelectual e cientfica do iluminismo, esse perodo trouxe enormes avanos nas reflexes sobre a estrutura social e sobre a aplicao das penas.

Houve uma certa valorizao da vida humana e conseqentemente ocorreu uma transformao em sua proteo. Sobretudo diante dos esforos de Csar Bonesana, o marqus de Beccaria. Figura exponencial de tal perodo.3.2.1 CESAR BECCARIA

Beccaria, Inspirado de forma profunda e admirvel por Charles de Secondat, mais conhecido como baro de Montesquieu, clebre autor de um tratado sobre o Estado, intitulado O Esprito Das Leis, traou uma profunda reflexo sobre pontos importantes para o Direito e justia Penal. Tal inspirao se percebe de forma ntida, logo na introduo de seu livro:O imortal Montesquieu s ocasionalmente pode abordar essas importantes matrias. Se eu segui as pegadas luminosas desse grande homem, que a verdade uma e a mesma em toda parte. Mas, os que sabem pensar (e somente para estes que escrevo) sabero distinguir meus passos dos seus.

O marqus de Beccaria questionou as leis e penas que eram aplicadas em seu perodo. Levantou uma profunda reflexo sobre diversos problemas tais como:

Mas, qual a origem das penas, e qual o fundamento do direito de punir? Quais sero as punies aplicveis aos diferentes crimes? Ser a pena de morte verdadeiramente til, necessria, indispensvel para a segurana e a boa ordem da sociedade? Sero justos os tormentos e as torturas? Conduziro ao fim que as leis se propem? Quais os melhores meios de prevenir os delitos? Sero as mesmas penas igualmente teis em todos os tempos? Que influncia exercem sobre os costumes?.

Seus esforos intelectuais acabaram por conduzir reformas no universo penal europeu. Ele lutou pela abolio da pena de morte e foi o responsvel direto pela defesa de muitos princpios penais protetivos que possumos na atualidade.Conseguiu ainda atrair olhares para o fenmeno da ressocializao, no apenas para a punio como antigamente se via a priso. Amparado nas idias de Rousseau, pregou a extino da possibilidade dos magistrados aplicarem penas no previstas na legislao vigente, reforado a idia de pacto social, atravs da aplicao das vontades sociais representadas pelo legislador. Em suas prprias palavras:OUTORGA-SE, em geral, aos magistrados encarregados de fazer as leis, um direito contrrio ao fim da sociedade, que a segurana pessoal; refiro-me ao direito de prender discricionariamente os cidados, de tirar a liberdade ao inimigo sob pretextos frvolos, e, por conseguinte de deixar livres os que eles protegem, mau grado todos os indcios do delito.

Inmeras foram as contribuies de Beccaria para o Direito Penal moderno. Muitas das idias encampadas pelo filosofo italiano, so at hoje vlidas. Seu pequeno grande livro mostra-se, apesar de ter sido escrito a um bom tempo, bastante atual e coerente, podendo ser intensamente inspirador em nossos dias.

3.3 ESCOLAS PENAIS

As escolas penais foram agrupamentos de idias jurdicas e filosficas de diversos pensadores, aglutinas em correntes de pensamentos. As escolas elaboraram reflexes sobre os problemas das cincias penais, trazendo formataes de pensamentos coerentes entre si. Elas foram evoluindo de forma paralela no tempo, sobretudo para responder as criticas apresentadas entre as concepes divergentes.

3.3.1 ESCOLA CLSSICA

Fruto de um momento histrico marcado pelas disputas pelo poder estatal entre a burguesia liberal e a nobreza absolutista, nasceu a escola clssica.Fortemente fundamentada nas idias iluministas, tal corrente de pensamentos defendia um Estado democrtico liberal, respeitador das liberdades individuais e da dignidade da pessoa humana. Conseqentemente, repudiava as torturas e abusos ocorridos na vigncia do Estado absolutista.

Os principais expoentes do pensamento penal clssico foram sem sombra de duvidas os italianos Gean Romagnosi e mais clebre ainda Francesco Carrara.

O pensamento clssico sobre o Direito penal se desenvolve, sobretudo, diante das noes de livre-arbtrio, responsabilidade social individual, pena retributiva, construo jurdica do crime e da reflexo focada na conduta.

Para os clssicos, o crime seria construdo pelo direito. Este que seria o responsvel por apontar as condutas criminosas, cabendo ao homem so e imputvel, como senhor de seu prprio destino, escolher cometer o delito ou fugir dele. Somente o homem so e dotado de livre arbtrio poderia ser responsabilizado por uma conduta criminosa.

Assim, o crime assumiria a feio de forma de expresso da liberdade do individuo. Este, segundo seus prprios critrios de julgamento e padres morais, escolhe cometer um crime, assumindo responsabilidade sobre as conseqncias de seus atos livres e conscientes.

A sano penal resultante dessa forma de se conduzir seriam uma retribuio justa e devida, tendo em vista que expurga o mal injusto representado pelo crime cometido. Os clssicos defendem a teoria absoluta da finalidade da pena (punitur quia peccatum est). Nesta ideologia, encontramos traos marcantes da religiosidade presente na idade mdia. A Pena seria a expiao do pecado cometido pelo agente ativo da conduta, seria um castigo merecido pela utilizao indevida do livre arbtrio, concedido por Deus, contra a sociedade.

Ao unirmos os conceitos apresentados, podemos definir o crime para os clssicos como a quebra intencional, consciente e volitiva das leis penais estatais, que servem como instrumento de proteo social na defesa da segurana dos indivduos que compem a sociedade. Ou seja, o crime uma construo jurdica.

Surge na Alemanha uma vertente da escola clssica que modifica algumas de suas concepes mais conservadoras. A escola correcionalista apesar de ter surgido na Alemanha, alcana seu apogeu na Espanha, sobretudo com o pensamento do professor alemo Carlos Augusto Davi Roeder.

Podemos apontar algumas diferenas bsicas entre o pensamento clssico e o correcionalista que talvez justificassem o posicionamento desta como escola independente.

Primeiro os correcionalistas transferiram o foco da ao cometida pelo infrator para o prprio delinqente. Agora o objeto de estudo no era mais a conduta e sim o sujeito ativo da mesma.

Fortemente inspirada na teoria finalista ou da preveno (punnitur ne peccetur), Quebra com a finalidade da pena apontada pela escola clssica. Os correcionalistas buscam a emenda intima do agente criminoso readaptando-o sociedade. A emenda ntima retira de certo modo o livre arbtrio amplamente pregado pela escola clssica.Como decorrncia lgica da necessidade de se emendar o carter do criminoso, as penas aqui se tornam abstratas. Perdem o carter temporal e assumem uma feio mais individualizada. O tempo da pena surge como o tempo necessrio emenda ntima do infrator. Nenhum segundo a mais, nenhum segundo a menos. Logo, assim que o infrator corrigido a pena perde sua necessidade.

Algo que nos chama ateno nesta corrente de pensamento sua postura crente na natureza humana. Todos so corrigveis para os correcionalistas. Ao mesmo tempo em que oferecem um discurso de proteo da sociedade atravs das penas, ofertam tambm a idia de recuperao do agente lesivo. Apesar de pregar o crcere como forma de correo, tendo em vista que hoje sabemos que ineficaz, a escola correcionalista apresenta um discurso de aparente cuidado e importncia para com as condies dos infratores. Apresenta uma preocupao com a regenerao dos criminosos.3.3.2 ESCOLA POSITIVA

Com o resfriamento do iluminismo em meados do sculo XIX e conseqente ascenso do cientificismo experimental surge a escola positiva. Com os estudos de empiristas como Chals Darwin, Lamarck Comte surgem as teorias de estudo do delinqente, buscando-se uma causa para a criminalidade.

Essa escola pode ser dividida em trs formas de pensamentos. Em um primeiro momento surge o pensamento antropolgico criminal, em seguida o pensamento sociolgico criminal e por fim, o pensamento jurdico criminal. Cada uma dessas subcorrentes possui um pensador cone, que foi o responsvel direto pelo surgimento e desenvolvimento dessas trs formas de pensar da escola positiva.

3.3.2.1 CESAR LOMBROSO

O precursor da escola positiva e pai da antropologia criminal foi o mdico Italiano Csar Lombroso. Sua principal obra foi o tratado antropolgico experimental do homem delinqente, publicado em 1876, inaugurando a criminologia cientifica. Seus estudos buscavam confirmar atravs da experimentao a existncia de caractersticas fsicas e psquicas que levassem um certo individuo a cometer crimes. Buscava as caractersticas de um criminoso nato que inevitavelmente possua estigmas que o levariam a cometer crimes. Seu maior mrito foi a inovao do pensamento atravs do modelo emprico

Reza a lenda, que em uma de suas necropsias Lombroso encontrou caractersticas de animais vertebrados primitivos no cadver ora em estudo. Baseado nesses caracteres construiu a teoria do criminoso atvico.

O criminoso atvico seria aquele ser humano dotado de caractersticas inferiores e primitivas, conhecidas como estigmas. Lombroso estudou mais de quatrocentos corpos de delinqentes, em autopsias e cerca de seis mil delinqentes vivos. Os principais estigmas para Lombroso seriam:Fonte esquiva e baixa, grande desenvolvimento dos arcos supraciliares, assimetrias cranianas, fuso dos ossos Atlas e occiptal, grande desenvolvimento das mas do rosto, orelhas em forma de asa, tubrculo de Darwin.

Alm desses estigmas, podem ser apontados ainda como caractersticas criminosas psicolgicas, a insensibilidade dor, tatuagens, cinismo, vaidade excessiva, preguia, crueldade e epilepsia.

Para a antropologia criminal, o crime tem razes biolgicas. Os criminosos inevitavelmente teriam os estigmas presentes em sua constituio fsica e psicolgica.

Mais tarde Lombroso reconheceu que os estigmas no eram determinantes, tendo em vista que, existiam pessoas honestas portadoras de alguns desses estigmas.

3.3.2.2 ENRICO FERRI

O responsvel pela fase sociolgica da escola positiva foi o italiano Enrico Ferri (1856 1929). Em 1880, Ferri publicou sua principal obra: I nuovi orizzonti Del diritto e della procedura penale. Tal obra introduziu um novo pensamento junto aos estudiosos da escola positiva, trazendo com sigo a criao da sociologia criminal.

Ferri apontou como causas do delito o trinmio composto por fatores antropolgicos, sociais e fsicos. Pregava que o homem possua responsabilidade social e no livre arbtrio como foi levantado pelos clssicos.

Outro ponto bastante interessante do pensamento de Ferri foi a sua classificao dos criminosos. Ele os dividiu em cindo grupos: Natos, Loucos. Habituais, ocasionais e Passionais.

Enrico Ferri acreditava que muito mais fcil que reprimir o crime era preveni-lo. Sugeriu a criao de medidas preventivas intituladas substantivos penais. Tais medidas buscavam modificar as condies mesolgicas de surgimento da criminalidade, sobretudo as condies sociais, econmicas e financeiras.

Ademais, Ferri acreditava que as penas deveriam ser bem mais individualizadas do que o so em nossa poca. O tempo, como fator de correo, deveria ser aplicado de forma especifica para cada individuo. As penas deveriam ser cominadas de forma indeterminada, buscando preparar o infrator para a reintegrao no convvio social. Neste ponto Ferri aproxima sua viso ao pensamento da escola correcionalista.

Ferri baseou-se nas teorias de Lombroso e ampliando seu modo de enxergar a criminalidade, acabou por contribuir na reflexo traada sobre o fenmeno criminal.3.3.2.3 RAFAEL GARFALO

Rafael Garfalo (1851-1934) foi o grande responsvel pela fase jurdica da escola positiva. Em sua obra criminologia, publicada em 1885, Garfalo aponta a aplicabilidade da antropologia e da sociologia criminal ao direito penal.

Diversamente de Ferri, garfalo no se preocupava nenhum pouco com a recuperao do delinqente. Antes, visava sua eliminao como exerccio da funo preventiva especial da pena. Tal eliminao poderia se dar atravs das penas de morte ou de banimento.

Ele buscou conceituar o fenmeno criminal como uma entidade que pairasse sobre as legislaes, perseguiu o conceito de crime natural. O crime natural seria aquele resultante de uma anomalia moral, uma ofensa ao senso moral. Utilizou como o critrio da medida da pena a periculosidade do agente transgressor. Quanto mais perigoso o agente, mais enrgica deve ser a pena.

Sem sombras de duvidas, Garfalo foi aquele que trouxe, inicialmente, um rigor jurdico escola Positiva. E o responsvel direto pela elaborao de vrios institutos jurdicos, alm de apresentar ao mundo o termo criminologia que hoje se desenvolveu como cincia autnoma.

3.3.3 TERZA SCUOLA

A Terza Scuola, tambm conhecida como positivismo crtico, surgiu na Itlia como uma tentativa de unificar o que havia de melhor nos pensamentos clssico e positivo. Buscava harmonizar as posies antagnicas defendidas por ambas escolas, funcionando como uma escola dialtica diante da histria.

Aceita da escola positiva aceita a idia de delito como fator individual e social e a negao do livre-arbtrio. Entende ainda, que a funo da pena se afasta da tutela jurdica e converge para a defesa social, no perdendo, contudo, o carter aflitivo.

Da escola clssica, extraiu a concepo de responsabilidade moral, contudo baseia no determinismo e no no livre-arbtrio. Oferta ainda, uma distino entre os imputveis e inimputveis.

3.3.4 ESCOLA MODERNA ALEM

Surge no final do sculo XIX a escola moderna alem, tambm conhecida como escola sociolgica alem. Seu principal cone foi Franz Von Liszt. Possui diversos pontos de contato com as Terza Scuola, pois, como esta, tambm uma corrente ecltica.

Como escola sociolgica que , aponta como mago da formao dos delinqentes os fatores individuais e externos, sobretudo os fatores econmicos.

Liszt entendia que as penas possuam uma dupla funo preventiva. Ao aplicar-se uma sano penal ao delinqente o estado atuava com a funo preventiva geral e especial, ao mesmo tempo.

Esta escola se desvinculou das discusses intangveis das anteriores e buscou realizaes prticas. Como fruto desse posicionamento, encontramos o surgimento de institutos jurdicos hoje em uso. Podemos citar como exemplo disso: A liberdade condicional e o SURSIS.

Existiram outras escolas eclticas, contudo elas carecem de maior relevncia histrica. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. So Paulo: Saraiva, 2005, p.357.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrpolis: Vozes, 2004, p. 09.

Beccaria, Dos Delitos e das Penas.

Beccaria dos delitos e das penas

Beccaria dos delitos e das penas

MOLINA, Antnio Garcia-Pablos de e GOMES, Luiz Flvio. Criminologia. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p.149.