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C Á L I C E D E S A N G U E = = = = = = = = = = = = = = CAPÍTULO 27 (NOVELA EM 30 CAPÍTULOS) “É o fim?” ORIGINAL de: Carlos Lira e João Sane Malagutti Escrita Por: Carlos Lira E João Sane Malagutti PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO: 1. LEOFÁ (José de Abreu) 2. SUMÉRIA (Elisa Lucinda) 3. SALVADOR (Antônio Fagundes) 4. ÚRSULA (Bianca Bin) 5. JÚLIO (Chay Suede) 6. GORETE (Bia Seidl) 7. EURICO (Alexandre Nero) 8. BRIANE (Daniele Winitz) 9. VALDIR (Paulo Rocha) 10. MANFRED (Matheus Nachtergaele) 11. GUTEMBERG (Humberto Carrão) 12. JOÃO (Leonardo Vieira) 13. LEOPOLDINA (Regina Duarte) 14. PETRÔNIO (Sidney Sampaio) 15. JADE (Camila Queiroz) 16. DIONE (Sophie Charlotte) 17. FILIPA (Totia Meireles) 18. NADIR (Paloma Bernardi) 19. QUITÉRIA (Nívea Maria) 20. PÂMELA (Adriana Birolli) 21. SINIRA (Bel Kutner) 22. SERENA (Beth Goffman) 23. SOLIMAR (Rosane Goffman) 24. PILAR (Malú Galli) 25. JOSÉ (Gabriel Godoy) 26. PABLO (Luiz Felipe Melo) 27. ZECA (Celso Frateschi) 28. PADRE (Irandhir Santos) Direitos autorais pertencentes à CARLOS LIRA e JOÃO SANE MALAGUTTI ®

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Page 1: CAPÍTULO 27 - megapro.com.br · CENA 01. GABIENTE. INTERNA. DIA Retomada. Eurico bufando. EURICO: (enlouquecido) – Se não for prefeito, ninguém mais será. Pega a arma e atira

C Á L I C E D E S A N G U E

= = = = = = = = = = = = = =

CAPÍTULO 27 (NOVELA EM 30 CAPÍTULOS)

“É o fim?”

ORIGINAL de: Carlos Lira e

João Sane Malagutti

Escrita Por: Carlos Lira E

João Sane Malagutti

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

1. LEOFÁ (José de Abreu)

2. SUMÉRIA (Elisa Lucinda)

3. SALVADOR (Antônio Fagundes)

4. ÚRSULA (Bianca Bin)

5. JÚLIO (Chay Suede)

6. GORETE (Bia Seidl)

7. EURICO (Alexandre Nero)

8. BRIANE (Daniele Winitz)

9. VALDIR (Paulo Rocha)

10. MANFRED (Matheus Nachtergaele)

11. GUTEMBERG (Humberto Carrão)

12. JOÃO (Leonardo Vieira)

13. LEOPOLDINA (Regina Duarte)

14. PETRÔNIO (Sidney Sampaio)

15. JADE (Camila Queiroz)

16. DIONE (Sophie Charlotte)

17. FILIPA (Totia Meireles)

18. NADIR (Paloma Bernardi)

19. QUITÉRIA (Nívea Maria)

20. PÂMELA (Adriana Birolli)

21. SINIRA (Bel Kutner)

22. SERENA (Beth Goffman)

23. SOLIMAR (Rosane Goffman)

24. PILAR (Malú Galli)

25. JOSÉ (Gabriel Godoy)

26. PABLO (Luiz Felipe Melo)

27. ZECA (Celso Frateschi)

28. PADRE (Irandhir Santos)

Direitos autorais pertencentes à CARLOS LIRA e JOÃO SANE MALAGUTTI ®

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CENA 01. GABIENTE. INTERNA. DIA

Retomada. Eurico bufando.

EURICO: (enlouquecido) – Se não for prefeito,

ninguém mais será.

Pega a arma e atira várias vezes para o alto.

Clima tenso.

Corta para:

CENA 02. QUARTO DE JÚLIO. EXTERNA. DIA

Leofá entra fraco e cambaleando. Júlio se assusta e pega a

faca debaixo do travesseiro. Leofá se aproxima dele e senta

na cama cansado e zonzo.

LEOFÁ: - Abaixe essa faca. Não vê que estou

fraco para qualquer mal?

Júlio olha para ele desconfiado com a faca em riste.

(Cont’d) Preciso sair dessa casa! Essa negra

está me envenenando. Ela vai me matar! Acha

que não percebi. Mas eu já entendi tudo. Só

que antes de ir. Eu vou acertar as minhas

contas com tudo e com todos. Se você é meu

filho e quer ser alguém, passe por cima de

suas fraquezas e me ajude. Seja homem! (T) Tá

esperando o que? Anda! Me leve para a cidade!

JÚLIO: (desconfiado) – O que vai fazer?

Júlio abaixa a faca. Clima de suspense. Antes de responder,

o olha severamente.

LEOFÁ: - Primeiro, vou colocar Eurico no

lugar dele! (T) E, se não sobrar mais tempo

para mim, que um Pimenta assuma o poder dessa

cidade.

Júlio desconfiado. Suspense.

Corta para:

CENA 03. PRAÇA. EXTERNA. DIA

Tensão Instrumental. Passeio CAM: cidade alagada. Pessoas

carregam seus pertences sobre a cabeça. Malas, trouxas e

todos os tipos de objetos propostos pela direção. Cachorros

nos colos dos donos. Um perfil pobre e miserável. Caminhão

“pau-de-arara” com letreiro da prefeitura (PL. Detalhe)

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encosta. Pilar e Léo coordenam as pessoas a fazerem filas.

Do outro lado, um grupo é coordenado por Briane a colocar

as coisas sobre carroças. Briane deve demonstrar liderança.

Corta para:

CENA 04. RUA CENTRAL. EXTERNA. DIA.

Tensão instrumental. Irmãs Dávila e núcleo da igreja.

SINIRA: (quase implorando) - Vamos Solimar!

Ficaremos mais seguras.

SOLIMAR: (teimosa) – Jamais colocarei os meus

pés numa fazenda Bianchini.

JOÃO: - Que diferença faz Bianchini ou

Pimenta? Não entendo.

Serena agoniada.

SOLIMAR: - Jamais trairei meus princípios

pisando nas terras de um assassino.

PADRE: - Está sendo intransigente e no mínimo

inconsequente, minha senhora.

SERENA: (jeitosa) - Pense, irmã! Moramos numa

casa velha. Pode ruir!

SOLIMAR: (Irritada) – Não vou!

Silêncio. Clima de incerteza.

SINIRA: - Então, também não vou. Somos nós

três uma entidade só.

José se aproxima.

(Cont’d) Não tem sentido duas abandonar uma.

Serena pode ir, eu fico e cuido dela.

SERENA: (cede) - Tem razão. Não podemos nos

separar. Eu vou ficar.

Padre ergue os braços para o céu inconformado.

PADRE: (exausto) - Senhor! Senhor! Por quê?

JOSÉ: (arrependido) - Sinira, vamos comigo.

Vamos sair da cidade e nos refugiar. Eu

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estive pensando melhor. Eu me caso com você.

Vou honrar a sua donzelice.

Expectativa em silêncio.

SOLIMAR: (emocionada) – Vai, minha irmã.

Precisa seguir a sua vida! Vai ser feliz!

Deus vai me proteger e não vai acontecer

nada. Na volta faremos o seu casamento.

Padre meneia a cabeça. Trovão. Sinira abraça Solimar.

JOSÉ: - Precisamos pegar suas coisas. Vamos!

Parece que a chuva vai voltar!

João olha para Serena.

JOÃO: - Você não vai, Serena? Venha conosco!

SERENA: (triste) – Vou ficar com Solimar.

Minha irmã precisa de mim.

JOÃO: (olhando o padre) – Se for assim... Eu

fico! Fico com vocês e cuido das duas.

PADRE: - Tem certeza disso? Vocês ouviram que

a represa pode ceder e se ficarem podem ser

soterrados?

JOÃO: - Não tenho ninguém, padre. Se for da

vontade de Deus, meus últimos minutos serão

ao lado de uma pessoa que admiro (à Serena) e

tenho um imenso carinho.

PADRE: - Está certo! Quem sou eu para julgar.

Trovão. Ao fundo Gorete passa rápido. Câmera desvia a cena

atual e a acompanha. Ela olha para os lados e certifica que

ninguém a nota. Chega à porta da prefeitura e olha

novamente para trás. Abre a porta e entra.

Fusão com:

CENA 05. PREFEITURA: RECEPÇÃO. INTERNA. DIA

Gorete entra sorrateira. Vazio e silêncio. Ao se aproximar

de uma porta qualquer Eurico aparece com uma arma e coloca

em sua cabeça. Ela se assusta e mantém-se imóvel.

EURICO: - Posso parecer maluco, Dona Gorete,

mas eu sei que Leofá pode estar lhe usando

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como boi de piranha e eu não sou trouxa de

cair. (enfático) Essa prefeitura é minha!

Suspense.

Corta para:

CENA 06. ESTRADA DE TERRA. EXTERNA. DIA

Júlio e Leofá dentro do carro. Relâmpago. Carro escorrega

no barro.

LEOFÁ: - Desse jeito não chegamos! Vai por

cima do mato que vai mais rápido.

JÚLIO: (concentrado) – Falta pouco. E outra,

é perigoso escorregar e batermos.

LEOFÁ: (sádico) - Tem medo da morte, Júlio?

Júlio o olha assustado.

Corta para:

CENA 07. PREFEITURA: RECEPÇÃO. INTERNA. DIA

Retoma. Gorete sob a arma de Eurico. Ele não abaixa a arma

hora nenhuma.

GORETE: (com medo) – Por favor, Euriquinho!

Leofá não sabe que estou aqui.

EURICO: - E eu sou besta, é?

GORETE: - Venho como uma mãe desesperada.

Preciso muito que me tire um peso da mente.

Por favor. O senhor é pai, vai compreender o

que estou passando.

EURICO: (desconfiado) – O que é?

GORETE: - Diga se meu Júlio participou da

morte de Epitácio.

EURICO: (sorriso deboche) – Não só

participou. Ele foi a estrela do crime, Dona

Gorete. Cada facada partiu das mãos lisas e

doentias de seu filho.

Gorete fecha os olhos em gesto de dor lancinante.

(Cont’d) Era só isso?

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GORETE: (chora) – Era! Sua resposta fez mais

estragos que o tiro que poderia ter dado.

Faça-me o favor: acabe comigo.

Eurico oscila entre a compaixão e o desejo. Mexe o dedo

algumas vezes para apertar o gatilho e desiste.

EURICO: – Deixe de besteira. Agora saia! Não

quero mais surpresas aqui.

Suspense. Gorete sai cabisbaixo e chorando.

EURICO: (pensativo) – Podia ter lhe atirado.

Mas isso não ia afetar Leofá. Agora preciso

me vingar de todos que me desmoralizaram. Eu

sou o prefeito, sou Lei maior daqui!

Sai e bate a porta.

Corta para:

CENA 08. RUAS DA CIDADE. EXTERNA. DIA

Céu escuro. Tempestade formando Vista do alto. Pessoas

carregam suas coisas para um carro de boi e carroças.

Briane em cima do carro de boi ajuda as pessoas a ajeitar a

bagagem. Distante o carro de Leofá estaciona na parte seca

da enchente. Ele desce do carro com cuidado. Olha tudo com

asco. Júlio desce depois e debruça na porta com espanto.

Mais próximo do carro de boi Valdir e Manfred carregam

mantimentos.

VALDIR: - Com isso, encerra tudo o que tenho

na padaria. Deve dar por alguns dias. Volto

para pegar o Pablo e partirmos.

Valdir sai.

MANFRED: (triste) – Sempre quis sair daqui.

Mas, jamais, em minha vida, imaginei sair

fugido dessa cidade.

BRIANE: (carinhosa) - Vai dar tudo certo e

vamos voltar em breve.

MANFRED: - Só espero que esteja tudo de pé.

Briane ajuda uma mulher colocar a mala dela no carro.

BRIANE: - Não pode ser pessimista, Manfred.

Vai estar sim! (se aproxima) Faz um favor

para mim; ajeita as meninas, D. Quitéria e

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subam no caminhão o quanto antes. Eu me

importo com vocês! Nós já vamos indo adiante

com o carro de boi para garantir não sermos

pego por enxurradas fortes no caminho.

Manfred retribui um carinho no cabelo dela e sorri. Sai.

Leofá passa ao fundo sem ser notado por eles. (Stead-Cam)

Sai da cena principal e acompanha Leofá que anda perdido.

Música instrumental. Júlio atrás.

JÚLIO: - Aonde vai andando com dificuldade?

Leofá continua sem dar ouvidos.

LEOFÁ: (horrorizado) – Minha cidade! No que a

transformaram?!

JÚLIO: - Pai!

LEOFÁ: - Eurico acabou com a minha cidade.

Júlio desiste. Faz um gesto de “deixa pra lá” com as mãos e

volta. Instrumental sobe Leofá anda em direção à igreja.

Trovão.

Fusão com:

CENA 09. PRAÇA. EXTERNA. DIA

Suspense. Trovões e relâmpagos sequenciais enquanto outros

caminhões da prefeitura estacionam. Pilar gesticula e fala

com o povo da fila. Guardas municipais fazem cordão de

isolamento. Léo ajuda a colocar as crianças nos caminhões.

Um raio cai numa árvore e todos começam a gritar e correr

fazendo tumulto e a chuva despenca. Medo coletivo. As

pessoas avançam em cima das carrocerias. Derrubam mulheres

e crianças. Pessoal do Boteco aparece correndo com as malas

e Manfred consegue colocar Quitéria no caminhão. Pessoas

começam puxar as outras do caminhão. Brigas esparramadas.

Padre desce de um dos caminhões e desespera-se tentando

intervir sem conseguir. Leva as mãos à cabeça. Tumulto

generalizado. Gorete passa aos prantos correndo e Léo,

assustada, a segue. Pessoas derrubam o padre. Pilar fica

desesperada.

PILAR: (com eco) – Paaaaarem!

Som de tiro.

Fusão com:

CENA 10. FACHADA DA IGREJA. EXTERNA. DIA

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Debaixo de chuva Leofá segue caminhando com dificuldade.

Olha para a igreja e vê os fantasmas dos familiares. Mais

adiante vê os fantasmas da família de Salvador aparecer.

Seus olhos enchem de lágrimas e depois sorri como louco

continuando para sua caminhada e acenando aos fantasmas que

retribuem. Gorete passa ao fundo e Léo atrás sem que Leofá

as perceba. Léo vê Leofá acenando para o nada e para de

seguir Gorete. Começa a segui-lo.

Fusão com:

CENA 11. PRAÇA. EXTERNA. DIA

Chuva torrente. Silêncio. Todos parados. Num jogo de câmera

aparece Eurico rindo alto e com a arma para o alto.

PILAR: (inconformada) - Para que isso?

EURICO: - O prefeito sou eu, minhas regras!

(grita) Todos se afastem desses caminhões.

Quem está em cima fica!

Vai se aproximando olhando todos (subjetiva).

(Cont’d) (á Quitéria) A puta desce!

MANFRED: (avança) – Desgraçado!

Eurico aponta a arma para ele com fúria.

EURICO: (espumando) – Cala a boca, viado! Já

me prejudicou demais por hoje. Eu vou lhe

mostrar qual é o seu lugar.

Pilar entra na frente de Manfred.

PILAR: - Vai ter que atirar em mim primeiro.

Não vê que essas pessoas estão doidas para

sair daqui? Estão com medo da represa se

romper! Não temos tempo para as suas questões

pessoais.

EURICO: - Essa represa é uma invenção

política de vocês para me desmoralizar. Ela

sempre esteve lá e nunca rompeu e não vai ser

agora!

PILAR: - Põe a mão na consciência! Não íamos

brincar com a vida das pessoas. (negociando)

Faz assim. Coordena do seu jeito e

ajudaremos. Não daremos palpite na sua

administração.

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EURICO: (perdido) – Melhor... Primeiro...

Pode fazer como estavam fazendo, mas, as

putas, ficam! Se for para morrer, que o juízo

final seja primeiro aos pecadores. (ao padre)

O senhor primeiro, Padre Paulo.

PADRE: (contrariado) - Eu agradeço. Mas, eu

fico. Espero o juízo final em frente minha

igreja.

EURICO: (dá de ombros) - Como queira!

Silêncio.

(Cont’d) Vamos! Retomem os trabalhos.

As pessoas voltam a se organizar em fila. Eurico fica com a

arma em riste. As prostitutas se afastam do caminhão

LEOFÁ: (deboche/in off) – Ei, Prefeitinho!

Jogo de câmera procura na multidão a pessoa. Encontra e

enfoca Leofá.

(Cont’d) Que papelão, hein?! Em pouco mais de

um mês você estragou a cidade toda. Conseguiu

ser mais decadente que Salvador. (sorriso

debochado) Como pode?

Vai na direção dele.

EURICO: (apreensivo) – Leofá! Ainda vivo?

(aponta a arma) Nem mais um passo ou.../

LEOFÁ: - Ou nada, seu merda! Você não tem

culhões! Tá provando isso agora nesse

tumulto. Sozinho com uma arama? Se as pessoas

passivas dessa cidade fossem espertas tinham

lhe matado e você não teria munição para

todas. (olhando para todos) Sua sorte é que

Tetembau é formada por miseráveis e

retardados.

EURICO: (morde) – Já fui muito desmoralizado

por hoje. Você não vai tomar o meu lugar na

prefeitura, Leofá.

LEOFÁ: - A prefeitura nunca foi sua e nem

está sendo. Nem nunca será. (sorri) Eu sou o

próximo prefeito dessa cidade.

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EURICO: (louco) – Nãããããooooooooo!

Close: Atira duas vezes (eco). PL. GERAL/SLOW-MOTION: Leofá

solavanca com dois tiros no ombro e cai para trás. As

pessoas abrem a roda fugindo aos gritos. Léo corre acudí-

lo.

Corta para:

CENA 12. DELEGACIA: CELA. INTERNA. DIA

Porta da cela aberta e carcereiro está colocando algemas em

Salvador.

SALVADOR: (assustados) – Tiros!

PETRÔNIO: (afobado) - Mamãe e Pilar estão na

praça!

Salvador tem o ímpeto de correr e o carcereiro o segura.

CARCEREIRO: - O senhor está preso.

Fecha a algema nos braços de Salvador.

SALVADOR: - Vá, filho. Cuide de sua mãe.

Petrônio sai.

Corta para:

CENA 13. PRAÇA. EXTERNA. DIA

Leofá caído no colo de Pilar e de alguns populares. Eurico

assustado com a sua reação. Vai se afastando até que some

correndo.

LÉO: (assustada) – Leofá! Leofá! Fale comigo!

De longe Manfred sussurra às meninas.

MANFRED: - Se morreu, foi tarde! Esse não

valia nada!

JADE e NADIR: - Credo!

Fazem o sinal da cruz.

PILAR: (aos guardas) – Vocês não presenciaram

um crime aqui? Corram deter aquele homem! Não

interessa se é o prefeito. A justiça é para

todos.

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LÉO: - Precisamos de um socorro!

PILAR: - O caminhão! O hospital fica no

caminho. Sobe com ele e vai.

Léo sobe. Os populares colocam Leofá no colo dela e algumas

pessoas ajudam a segurá-lo. O caminhão sai.

(Cont’d) (coordenando) – A chuva vai

aumentar, mas é preciso ter calma. Vai chegar

mais caminhões. Primeiro mulheres e crianças.

MANFRED: - As putas podem?

PILAR: - Podem!

Quitéria e as meninas sobem. Protestos na Praça.

PILAR: - Sem vaias! Todos são cidadãos e

serão salvos!

MANFRED: (engrossa a voz) – Isso mesmo! Quero

ver quem vai se meter comigo.

Clima tenso.

Corta para:

CENA 14. RUAS DA CIDADE. EXTERNA. DIA.

Carro de Leofá parado. Passa o cortejo com carros de bois e

carroças partindo. Várias pessoas seguem com guarda-chuvas

e capas de chuvas. Briane à frente com Valdir levando Pablo

no colo. O caminhão passa repleto de pessoas mexendo na

água e tombando pessoas que gritam e protestam. Distraída e

chorando Gorete atravessa o cortejo e passa pelo carro.

Júlio a vê e sai do carro e caminha atrás dela.

JÚLIO: - Mãe! Mãe!

GORETE: (se vira) – Júlio!

Ele a abraça.

(Cont’d) Filho! Vai embora! Some dessa

cidade! Por favor!

JÚLIO: - Vamos sair da chuva. Eu te levo onde

quiser ir.

GORETE: - Não! É melhor você fugir enquanto

há tempo. O Euriquinho está louco! Ele falou

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de você para mim. Ele vai contar para todos.

Você vai ser preso!

JÚLIO: (apreensivo) – Não importa isso. Quero

ficar com você.

GORETE: (dividida) – Eu o amo filho! Você não

entende a dor de uma mãe. Melhor correr. Some

uns tempos. Depois, quando tudo isso passar

você volta. Eu estarei aqui te esperando de

braços abertos.

JÚLIO: (teima) - Não! Não vou!

GORETE: (chorando) – Não faz isso comigo! Eu

não vou aguentar ver você preso. Por amor a

mim que sou sua mãe. Se esconda!

Júlio fica baqueado com o pedido. Silêncio. Ela se afasta e

segue o cortejo sempre olhando para trás. Ele entra no

carro e dá ré.

Corta para:

CENA 15. ESTRADAS RURAIS/PEDREIRA/FAZ.BIANCHINI. EXT. DIA

Chuva. Cortes descontínuos. Música instrumental de tensão.

Composição: takes minimalistas da expressão de medo e

insegurança dos figurantes e atores. Carros de bois e

carroças em comitivas. Multidão com guarda-chuvas e capas

forma um êxodo urbano. As pessoas são guiadas por Valdir

que puxa o carro de boi com Briane ao seu lado. Pablo e

outras crianças vão sentados sobre as malas no carro de

boi. PL. GERAL: caminhões da prefeitura passam lateralmente

repleto de pessoas. CAM mostra algumas faces como Quitéria

e Pâmela, Sinira e José de mãos dadas e, Pilar. O DESENHO

da cena deve remeter passagem pelas pedreiras, a travessia

de um pequeno e raso trecho de rio (nas pedreiras que marca

a delimitação de terras de Bianchini/Pimenta) até chegarem

na entrada da Fazenda de Salvador. Porteira fechada.

Caminhão para e Pilar desce. Zeca vem ao encontro.

PILAR: - Abre a porteira Zeca! Vamos hospedar

toda essa gente nos galpões de café. Homens

pra um lado e mulheres pra outro. Traz os

colonos todos para ajudar. Quero cada um bem

recebido com carinho.

ZECA (sorridente) – Pode deixar Dona Pilar.

Úrsula e Gutemberg sorriem surpresos.

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Fusão com:

CENA 16. BARRACÃO. INTERNA. DIA.

Som de chuva lá fora. Grua passeia pelo barracão lotado de

colchões no chão e pessoas sentadas. Mulheres com crianças.

Funcionários da fazenda carregam mesas. Mulheres da roça

carregam panelões enquanto outras acendem os fogões feitos

de tijolos. Algumas enxugam seus cabelos e outras trocam as

crianças com roupas de frio. Com a ajuda de Pilar e Briane,

Úrsula distribui cobertor e toalhas.

ÚRSULA: (assustada) – Tem muita gente!

PILAR: (fala baixo) - Precisamos atentar aos

mantimentos. Essa gente toda tem fome e não é

justo ficarem à mingua.

BRIANE: (tom baixo) - Veio pouco mantimento.

Não tinha como carregar tudo nos carros. Mas,

se preciso, volto para buscar.

PILAR: - Não. Não precisa se arriscar ainda.

O que temos aqui por ora deve dar. Eu vou dar

um jeito.

Tensão.

Corta para:

CENA 17. BARRACÃO DE CAFÉ MASCULINO. INTERNA. DIA.

Homens trocando de roupa. Valdir distribuindo panos para as

pessoas se enxugarem.

GUTEMBERG: (tenso) - Essas pessoas devem

estar morrendo de frio. Precisamos criar um

sistema de aquecimento.

ZECA: (preocupado) – O frio a gente espanta

se encostando um no outro com uma fogueira

por perto, Doutor. Quero ver o que fazer se

acabar a comida.

Clima de tensão.

DO OUTRO LADO:

Manfred tremendo num canto acuado. Valdir aproxima.

VALDIR: - Não vai se trocar ‘Fala Fina’?

MANFRED: (tímido) - Agora não. Mais tarde. À

noite quando dormirem.

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VALDIR: (amigo) - Não vai aguentar tanto

tempo sem que adoeça.

MANFRED: (frágil) - Tenho vergonha do meu

corpo!

Valdir pegar alguns panos e abre o tampando.

VALDIR: - Vamos! Pelo menos a camisa molhada.

Tire ela e coloque uma seca.

Manfred obedece e começa a se trocar. Briane entra e

Manfred tenta se tampar precariamente com as mãos no peito.

Briane vai ao ouvido de Valdir.

BRIANE: (tom baixo) - Dona Gorete não está no

barracão das mulheres. Ela por acaso apareceu

aqui.

VALDIR: (pensando) – Não! Pelo menos que eu

tenha visto, não.

MANFRED: (preocupado) – A última vez que a vi

foi quando passamos pela Fazenda dos Pimenta.

Tensão.

Corta para:

CENA 18. CASARÃO PIMENTA. INTERNA. DIA.

Abre a porta e Gorete entra ensopada e cansada.

GORETE: (dura) - Leofá! Cadê você!

Suméria aparece.

SUMÉRIA: (surpresa) – Dona Gorete!

Corta para:

CENA 19. CASARÃO BIANCHINI. INTERNA. DIA

Som de chuva. Pilar, Gutemberg, Úrsula e Briane.

BRIANE: (preocupada) – Suspeito que ela tenha

voltado para a fazenda de vocês.

GUTEMBERG: - Depois de tudo o que aconteceu?

Acho que não! Meu tio Leofá acabaria com ela.

ÚRSULA: - Às vezes foi ver o filho.

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PILAR: (pensativa) – Não sei exatamente o que

aconteceu; mas, é melhor para o desencargo de

consciência.

Corta para:

Corta para:

CENA 20. CASARÃO PIMENTA. INTERNA. DIA.

Retoma Gorete e Suméria descontente. Tensão.

GORETE: - Preciso falar com Leofá! Onde ele

está?

SUMÉRIA: - Saiu com o Júlio e não voltou.

GORETE: - Está com um aspecto estranho

Suméria. Parece não ter gostado de me ver

novamente.

SUMÉRIA: (mente) – Não é isso. Só fico

preocupada.

GORETE: - Com o quê?

SUMÉRIA: - Com o que Leofá pode achar de sua

presença e o que possa fazer com a senhora.

(inventa) Ele está fora de si e a cada dia

pior, Dona Gorete. Ele enlouqueceu. Se eu

fosse a senhora eu não o esperava.

Gorete caminha até o sofá e se senta.

GORETE: (decidida) - Agradeço a sua

preocupação. Mas, vou espera-lo mesmo assim.

Preciso ter com ele uma conversa única... e

definitiva.

Suméria tranca a cara. Telefone toca. Suméria atende.

SUMÉRIA: (atende) - Residência da Família

Pimenta. (T) Sim. Ela está aqui sim. Vai

esperar a vinda de Leofá. (à Gorete) Para a

senhora, seu sobrinho.

GORETE: - Pronto.

Suméria sai de perto e espia pela janela.

SUMÉRIA: (para si) – Vai estragar meus

planos.

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GORETE: - Pretendo ficar por esta noite.

Assim que decidir partir eu ligo para me

pegarem aqui. Agradeço a preocupação. Deixe

meu abraço a todos (desliga).

SUMÉRIA: - Não pude deixar de ouvir. Vou

preparar o quarto de Dona Léo para a senhora.

GORETE: - Obrigada.

Suméria sai. Gorete passeia pela casa e abre a janela.

Ventania entra.

GORETE: - A casa está mais pesada que nunca!

A câmera passeia com foco em Gorete e conforme anda vai

revelando os fantasmas esparramos pela sala.

Corta para:

CENA 21. CASARÃO BIANCHINI. INTERNA. DIA

Trovões. Úrsula, Pilar e Guto na sala.

PILAR: (preocupada) – Essa chuva não vai

parar. Será que ficou muita gente na cidade

ou que não conseguiu sair?

ÚRSULA: (pensativa) - A cidade é pequena.

Todos devem ter procurado refúgio. A senhora

assossegue e fique aqui comigo. Não quero a

senhora correndo riscos. Meu bebê precisa da

senhora conosco.

Pilar olha para ela surpresa.

GUTEMBERG: - Úrsula tem razão.

Telefone toca. Gutemberg atende.

GUTEMBERG: - Pois não? (surpreso) Mãe! Onde

você está? (T) Certo. E, pensar que depois de

tudo, a senhora ainda cuida dele. (T) Eu

aviso! Pode deixar. Me mantenha informado.

(T) Também te amo.

Desliga.

PILAR: - Aconteceu algo além do que sabemos?

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GUTO: - Estão na capital. O meu tio está

medicado e fora de risco. Os tiros pegaram de

raspão. Ela pediu para avisar que Petrônio

está com meu pai na capital também. A polícia

o conduziu para outra cidade a fim de evitar

mais tragédias caso a represa se rompa.

Úrsula fica apreensiva.

Fusão com:

Corta para:

CENA 22. STOCK-SHOT: REPRESA. EXTERNA. DIA

Chuva forte. Represa lotada com água se mexendo forte.

Relâmpagos e raios. Drone passeia sobre a represa e segue

para a mata em volta.

Fusão com:

CENA 23. TETEMBAU. EXTERNA. NOITE

Do alto. Filipa e Dione com malas e mochilas atravessam a

enchente da praça e entram na igreja.

Fusão com:

CENA 24. IGREJA/TORRE. INTERNA. ANOITECER

Velas acesas por toda a igreja. Dione e Filipa andam

assustadas.

DIONE: (impressionada) – É o fim para nós.

FILIPA: - Deixe de besteira! Isso vai passar.

Só vamos para a torre. É o lugar mais alto e

que possa nos garantir mais segurança.

Fusão com:

TORRE:

Lances finais da escada. Dione e Filipa chegam ao topo.

Câmera revela o padre de joelhos orando. À sua frente uma

vela. Ele está de frente com um vitral.

DIONE: (surpresa) - Padre!

Ele olha surpreso para elas.

FILIPA: - Podemos ficar aqui? Não temos mais

a quem recorrer. Todos sumiram dessa cidade

em busca de um lugar seguro.

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PADRE: - Não há muito espaço, mas com jeito

podemos nos alocar. Fico feliz que tenham

escolhido a casa do Senhor. (estranha) Só não

entendo porque escolheram ficar se a cidade

tem possibilidade de ser destruída?

FILIPA: - Não temos para onde ir, Padre. Vir

para cá foi uma necessidade e não escolha.

PADRE: (decepcionado) – Tinha os caminhões da

prefeitura para terras mais altas da Fazenda

Bianchini.

DIONE: (chateada) - Minha mãe não quis ir. Eu

avisei para ela.

FILIPA: (desdém) - Prefiro a morte a ter que

pisar novamente naquelas terras.

PADRE: (respira fundo) – De uma forma ou de

outra, Deus nos mostra o peso de nossos atos,

Dona Filipa. E, agora, a senhora começa a

sentir o peso de suas ações.

Filipa o olha com contrariedade.

(Cont’d) (À Úrsula) Acomode-se minha querida.

Se quiser me acompanhar numa oração pedindo

interseção de Deus para que a chuva cesse o

quanto antes, será bem-vinda.

Dione coloca a mochila no chão e ajoelha ao lado do padre.

Começam a orar e Filipa se deita encostada na mochila. Fica

pensativa e lacrimeja vira de lado para ninguém ver suas

lágrimas escorrendo.

Corta para:

CENA 25. COZINHA DAS DÁVILA. INTERNA. NOITE.

João, Solimar e Serena sentados à mesa. Tomam café. Luz de

velas e baldes para segurar goteiras.

SOLIMAR: - É na hora do fim que todos buscam

a Deus.

JOÃO: - Sábias palavras D. Solimar. Mas,

creio que não seja o fim ainda.

SERENA: - Deus queira que não. Gostaria que o

pai me desse mais uma chance, mesmo que

pequena de ser feliz.

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Serena e João trocam olhares. Seguram um na mão do outro.

Desfoque das mãos revela Solimar triste.

Corta para:

CENA 26. HOSPITAL. INTERNA. NOITE

Suspense. Leofá dormindo. Desfoque: Leopoldina enrolada num

cobertor e sentada. Olha para o nada. Petrônio entra. Léo

se levanta e joga a manta na cadeira e corre abraça-lo.

LÉO: (tom baixo/agoniada) – Filho! E seu pai?

PETRÔNIO: - Tá triste. Chateado com os fatos

de hoje. (T) O quanto antes entregarmos esses

bandidos, mais cedo ele estará livre.

LÉO: - É o que mais desejo! A liberdade dele

também será a minha, filho!

PETRÔNIO: - A liberdade dele será a de todos

nós! Sobre aquilo que me pediu...

Léo leva o dedo na boca e pede silêncio.

(Cont’d) Está feito! O investigador já está

na cola. O deslize de hoje o coloca em maus

lençóis perante a justiça. (T) Como ele está?

LÉO: - Fora de risco. Vai ficar em observação

por um tempo e depois voltará para casa.

PETRÔNIO: (irritado) – Vaso ruim não quebra!

Poderia ter passado dessa para melhor.

LÉO: - O que é isso?! Não o criei pra viver

de ódio. Deixa esse sentimento para àqueles

que não têm a chance de amar.

PETRÔNIO: (ressentido) – Não dá! Meu pai está

preso por causa dele.

LÉO: - Aguenta mais um pouco! Algo dentro de

mim está dizendo que assim que entregar todo

o material que gravou o seu pai será liberto

logo! Confie nisso!

Câmera fecha em Leofá.

Corta para:

CENA 27. MATA. EXTERNA. NOITE

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Suspense. Chuva forte. Eurico corre na mata com a arma em

riste. O jogo de cenas (STEAD-CAM) deve remeter uma caçada.

Eurico sempre desesperado e, guardas municipais procurando

pela mata com lanterna. Dado momento, encontra uma árvore

caída e adentra o tronco oco. Guardas passam por ele sem o

ver.

Corta para:

CENA 28. QUARTO DE ÚRSULA. INTERNA. NOITE

Guto e Úrsula deitados. Gutemberg acaricia a barriga de

Úrsula. Telefone tocando. Úrsula se levanta.

GUTEMBERG: - Calma amor! Aonde vai?

ÚRSULA: – Atender! (apreensiva) Estou com um

sentimento ruim.

GUTEMBERG: - O telefone já parou de tocar.

Sua mãe deve ter atendido.

ÚRSULA: (desiste) – Tem razão.

Ela se deita.

GUTEMBERG: - Não pode ficar agitada. Pode

prejudicar nosso filho.

Pilar abre a porta eufórica. Úrsula e Guto se levantam

assustados.

PILAR: - As notícias não são boas. A guarda e

nem a polícia conseguiu encontrar Euriquinho.

Corta para:

CENA 30. CASARÃO BIANCHINI/VARANDA. INTERNA. NOITE

Na varanda. Guto, Úrsula e Pilar andam de um lado para o

outro. Zeca com arma na mão escolta Valdir, Briane e Pablo

que chegam molhados àvaranda.

PILAR: (acolhendo) – Entrem, por favor. Podem

ir tomar um banho quente. A Úrsula arrumou o

quarto para vocês.

Úrsula pega Pablo pela mão.

ÚRSULA: - Vem comigo. Depois vamos brincar

com um jogo muito legal. Gosta de jogar?

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Faz que sim com a cabeça. Eles entram. Pilar segura Briane

e sinaliza à Valdir para entrar. Pilar espera. Ele entra.

PILAR: - Eurico escapou. Como você nos ajudou

com a gravação a nossa obrigação é lhe

proteger contra qualquer represália da parte

dele.

BRIANE: (com medo) – Será que...?

GUTEMBERG: - Melhor não esperar! Fique aqui

na casa da sede que estará mais protegida.

BRIANE: - Mas, e as outras pessoas. Gostaria

muito de ficar e ajudar nos barracões.

PILAR: - Nós cuidaremos. Fique tranquila!

Agora entre, tome um banho e descanse.

Instrumental tensão. Briane entra.

GUTEMBERG: - Acha que ele virá mesmo?

PILAR: - Não sei. Mas, não quero dar sorte ao

azar. (à Zeca) Faz um favor, meu amigo.

Ajunte os homens e arme um esquema de

segurança em volta dessa casa e dos galpões.

Qualquer estranho que aparecer não deixe que

entre sem revista e sem me comunicar. Seja a

hora que for me avise!

ZECA: - Sim senhora, patroa!

Gutemberg fica com medo.

Corta para:

CENA 31. HOSPITAL. INTERNA. NOITE

Suspense. Meia luz. Léo e Petrônio dormem numa poltrona. A

janela do hospital se abre com a ventania. Cortinas voam.

Pela janela abre entra uma luz forte. Ele abre o olho e vê

Ludmila e Santiago se beijando fica assustado e chocado.

Nessa cena os mesmos vestem a mesma roupa do assassinato e

estão sujos de sangue. Santiago e Santinha chamam Leofá com

as mãos.

LUDMILA: (in off/eco) – Viemos lhe buscar.

Risada de criança com eco. O negrinho se senta no pé da

cama. Leofá tenta gritar e a voz não sai. Ele se nega com a

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cabeça. Começa a chorar. Ludmila e Santiago sorriem. Apito

do Eletrocardiograma.

TRANSIÇÃO DE TEMPO. Fade out/Fade in.

Léo chora abraçada a Petrônio no canto do quarto. Leofá sem

roupa recebe descargas do desfibrilador. Corte descontínuos

entre os choques; Leofá desfalecido e sem cor; Léo chorando

e Petrônio assustado.

Corta para:

CENA 32. MATA. EXTERNA. NOITE

Suspense. Chuva forte. Eurico sai do tronco e corre pela

mata até alcançar uma trilha. Vai escorregando no barro e

se sujando. Se levanta e continua a correr na chuva.

EURICO: (assustado) - O que eu vou fazer? O

que vou fazer agora? Para onde ir, meu Deus?

Dê-me um sinal! (chora) Eu fui idiota de ter

ido na onda de Leofá. Que você morra!

Desgraçado! Desgraçado!

Drama/Suspense.

Corta para:

CENA 33. GALPÕES MASCULINO E FEMININO. INTERNA. NOITE.

Cortes descontínuos. Dentro dos galpões há pequenos núcleos

e específicos na forma que a direção escolher. Panorama

Geral dado por TRAVELLING lateral: pessoas tomando sopas em

canecas e partilhando pães. Pessoas bem vestidas, outras

maltrapilhas e outras enroladas em cobertores. Instrumental

que deve remeter compaixão.

QUITÉRIA: (preocupada) - Briane foi para a

casa da sede e não voltou.

NADIR: (baixo) - Tem alguma coisa acontecendo

e esse povo não fala nada.

QUITÉRIA: - Só espero que não seja o pior?

PÂMELA: - O que seria pior? Porque se for

sobre a represa, não teria motivo para tê-la

buscado. O que ela pode resolver?

QUITÉRIA: (pensativa) - Nada. Tem razão.

DO OUTRO LADO:

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Pessoas servindo o sopão. Jade pega sopão e pão para comer

e sai da fila. Atrás está Sinira. Ela pega a caneca e vai

se sentar no seu canto isolada. Jade come sentada num latão

gigante. A observa. Sinira está triste.

OUTRO LADO:

Galpão masculino. Tomando sopão, Manfred sorrateiramente

observa rapazes trocando de roupa por trás da pilastra. Um

dos rapazes percebe e pisca para ele. Manfred sorri

discretamente e sai.

OUTRO LADO:

José está sentado sobre umas sacas de café sozinho. As

pessoas passam e lhe cumprimentam. Está triste e pensativo.

OUTRO LADO:

Galpão feminino. Sinira pensativa. Jade se aproxima dela e

oferece:

JADE: - Quer que eu pegue mais pão e sopa

para você?

SINIRA: (simpática) – Estou satisfeita. Mesmo

assim eu agradeço a sua gentileza.

JADE: (amigável) - Me parece triste!

SINIRA: - Um pouco. Preocupada na verdade.

Deixei as minhas irmãs na cidade. Não sei o

que está acontecendo por lá. Só estou pedindo

a Deus em oração para que essa represa não

rompa.

JADE: - Porque não vieram? Não coube?

SINIRA: - Quiseram ficar. Eu deveria ter

ficado! (se culpa) Não se abandona a família

assim.

JADE: - Acho que nessa vida, nada é por

acaso. Se você veio e elas ficaram era porque

isso vai ter algum significado mais pra

frente.

SINIRA: - Ouvir isso é tão diferente! Como as

minhas irmãs tudo era sempre tão certo que

não havia motivos dos quais não soubéssemos

de nada!

JADE: (sorri) - Irmãs Dávila. Sempre rígidas

nos conceitos!

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SINIRA: (sem graça) – É... Não é bem assim.

Somos boas pessoas, é que o nosso jeito meio

que espanta as pessoas.

JADE: - Eu sei como é. Quando eu falo que sou

prostituta as pessoas se afastam também.

Correm de mim achando que vão pegar lepra ou

coisa do tipo.

SINIRA: - Pois é. Todos temos um calvário a

carregar. (T) É a primeira vez que falo com

uma prostitua.

JADE: (brinca) – Sou normal. Não faço nada a

mais que outra mulher faria. Acho eu!

Sinira fica constrangida.

(Cont’d) Desculpa! Não quis ser indiscreta1

SINIRA: - Tudo bem. Preciso mesmo conhecer o

mundo que não vivo. Pode me falar um

pouquinho de você, da sua vida, da sua

família?

Jade senta do lado dela e começa a falar.

DO OUTRO LADO:

Nadir cutuca Quitéria.

NADIR: - Jade é mesmo uma maluca! (aponta)

Vejam! Está sendo doutrinada por uma Dávila.

PÂMELA: - Que maldade! Estão fazendo amizade.

NADIR: (sorri) - Pode ser! Mas não deixa de

ser maluquinha. Vou buscar mais sopa.

Nadir sai e Quitéria debruça sobre o ouvido da filha.

QUITÉRIA: (desconfiada) - Acho que o sumiço

de Briane tem haver com o seu pai.

PÂMELA: (arisca) – Ele não é nada meu! Não

permito que a senhora fale isso de novo. Por

mim esse monstro pode morrer!

Quitéria assustada.

DO OUTRO LADO:

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Manfred se esconde atrás do caminhão e o rapaz aparece e o

beija e abraça roçando nele.

MANFRED: - Aqui não! As pessoas podem ver.

Vamos pro mato aqui perto.

RAPAZ: - Está chovendo. Faz um agradinho. Uma

brincadinha com a boca aqui mesmo.

MANFRED: - Não! Ou no mato, ou fica sem nada!

Você é quem sabe.

RAPAZ: (cedendo) - Está bem! Vamos.

Saem.

Fusão com:

CENA 34. MATA DA FAZENDA. EXTERNA. NOITE

Manfred e Rapaz correm debaixo de chuva. Num dado momento

uma pessoa aparece com uma espingarda na mão.

ZECA: (ordena) – Parados ou eu atiro.

Os dois param. Rapaz fica com medo.

(Cont’d) Quem são? Aonde pensam que vão?

MANFRED: - Somos do galpão masculino. Saímos

para dar uma brincadinha entre... dois. Dois

rapazes sedentos por diversão, capataz!

ZECA: - Ara, sô! Cada um faz o que quer da

vida; mas debaixo de chuva!

RAPAZ: (á Manfred) - Vamos voltar!

MANFRED: - De jeito nenhum! Já que molhamos,

agora vamos até o fim. (à Zeca) Sabe onde tem

um lugar mais íntimo para fazermos... aquilo!

O senhor sabe!

ZECA: - Ara! Não quero essas graças aqui na

fazenda não! Tem que respeitar as pessoas que

estão aí. Quer fazer coisa errada, vai pra lá

porteira. Deve de ter um casebre Velho pros

lados da ponte. Fora daqui vocês podem fazer

o que quiser; mas, pra voltar vão ter que ser

revistados na volta.

MANFRED: - Sem problemas, lindão!

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ZECA: (grosso) – Sai de mim, Jaraguá!

Manfred e o rapaz continuam correndo. Passam pela porteira

e seguem.

RAPAZ: (desconfiado) – Acho que não é uma boa

ideia ir tão longe com essa chuva!

MANFRED: (sorri) - Deixa de bobeira. Quer ou

não quer uma noite de prazer com um homem?

Rapaz faz que sim. Sai correndo e o rapaz atrás. Suspense.

Corta para:

CENA 35. ESTRADA DE TERRA. EXTERNA. NOITE

Suspense. Chuva. Júlio dirige e deslizando pela estrada de

terra com ar de preocupação.

Fusão com:

CENA 36. PONTE DA ESTRADA DE TERRA. EXTERNA. NOITE.

Eurico sai correndo do meio do mato cansado. Segue andando

mais um trecho até encontrar o rio transbordado. Toda a

cena deve ser acompanhada por suspense instrumental.

EURICO: - Droga!

Se curva cansado e apoia uma das mãos na perna. Percebe do

outro lado dois vultos correndo. Close: Eurico apreensivo e

arfando fica com a

RAPAZ: (mais atrás) - Acho melhor voltarmos.

Manfred se aproxima da enchente pelo outro lado da ponte e

avista um vulto. Fica em dúvida. Espreme os olhos para ver

(close).

MANFRED: (para si) - Quem será?

Fica olhando até o moço se aproximar. O farol do carro de

Júlio vindo da curva ilumina rapidamente o rosto de Eurico

e revela o rosto de Manfred que coloca a mão sobre os olhos

para tentar enxergar.

RAPAZ: (assustado) – Aquilo na mão dele...?

MANFRED: - É. É uma arma! Vamos. É melhor não

comentar nada a ninguém pra não causar pânico

Os dois saem sem virar as costas. Eurico ergue a arma.

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(Cont.)

O carro diminui a velocidade e Eurico se vira de frente

para o carro apreensivo Engole seco (close). Manfred e o

rapaz aproveitam e fogem na corrida. Júlio se assusta ao

ver Eurico com a arma. Eurico tampa o farol na direção dos

olhos com a mão. Júlio vira o carro rapidamente e adentra a

porteira em cavalo de pau deslizando sem controle por causa

da chuva. Eurico abre fogo contra o carro e volta para a

mata correndo.

EURICO: - É o carro de Leofá. (grita/ira) O

desgraçado sobreviveu! Preciso acabar com ele

antes que ele me incrimine ainda mais. (para

si) Eu não vou morrer numa prisão!

Corta para:

CENA 37. GALPÃO MASCULINO. INTERNA. NOITE

Atrás do caminhão. Manfred e rapaz.

MANFRED: (orientando) – Nós nunca saímos

daqui e nunca vimos ninguém. Entendeu?

Faz que sim com a cabeça.

(Cont’d) Isso nunca existiu! Quando der

certo, nos encontramos. Eu saio primeiro para

ninguém desconfiar.

Manfred sai preocupadíssimo. Close: Rapaz assustado.

Corta para:

CENA 38. CASARÃO PIMENTA: SALA/QUARTO DE JÚLIO. INT. NOITE

Júlio entra com duas malas. Fecha a porta sorrateiramente

com a chave. Coloca as malas sobre o sofá e abre. Muitos

dólares.

JÚLIO: - Ele descobriu tudo!

Suspense.

QUARTO DE JÚLIO:

Júlio entra e não percebe que não fechou a porta. Pega a

faca debaixo do travesseiro, tira o lençol e corta lateral

do colchão. Enfia o dinheiro dentro. Gorete espia. Dado

momento empurra a porta e entra.

GORETE: - Que dinheiro é esse, Júlio?

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Júlio se vira surpreso.

JÚLIO: - Mãe, o que faz aqui?

Corta para:

CENA 39. GALPÃO FEMININO. INTERNA. NOITE

Todas deitadas dormindo. Manfred se aproxima de Quitéria e

a acorda e com um gesto de silêncio gesticula para segui-

lo. Se aproximam da porta. Pâmela abre os olhos e vê.

QUITÉRIA: (preocupada) – O que está houve?

MANFRED: - Vi Eurico do outro lado do rio.

Está armado.

QUITÉRIA: - O que foi fazer lá?

MANFRED: - Não importa! Não é o caso! O que

fazemos. Contamos ou não para D. Pilar?

QUITÉRIA: (apreensiva) - Acho melhor não

incomodar a esta hora.

Pâmela os surpreende.

PÂMELA: - Ou vocês vão contar isso agora ou

vou eu!

Quitéria e Manfred se olham preocupados. Suspense.

Corta para:

CENA 40. CASARÃO BIANCHINI: SALA. INTERNA. NOITE

Pilar de roupão, acompanhada de Zeca. Pâmela frente a ela.

PILAR: - Eu agradeço por ter vindo avisar. (à

Zeca) Tem como iniciar uma caçada contra ele?

ZECA: - Não dá, Dona Pilar. O rio transbordou

e a correnteza fica perigosa. Não dá para nós

passarmos para lá e nem ele para cá.

PILAR: - Está certo. Pode voltar ao posto,

Zeca. Vemos isso pela manhã.

Zeca sai.

PILAR: - Obrigada de coração. Só não entendo

porque quer entregar o seu pai.

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PÂMELA: - Ele não é meu pai. Pai é quem cria,

Dona Pilar. Eu nunca tive um pai. Se é para

ter um bandido como pai, prefiro ser órfã.

PILAR: - Está certo. (carinhosa) Seu jeito de

pensar é meio duro, mas a sua clareza deixa

evidente que a vida vai lhe presentear ainda

com coisas boas.

PÂMELA: - Espero! Sou otimista que sim!

Corta para:

CENA 41. CAS. PIMENTA: QUARTO JÚLIO/COZINHA. INTERNA. NOITE

Gorete e Júlio discutem.

GORETE: - Porque foi se arriscar desse jeito?

JÚLIO: - Esse dinheiro é nosso, mãe. A

quantidade de dinheiro que tem aqui da para

cada um comprar a sua casa e viver uma vida

sossegada.

GORETE: - Dinheiro não é tudo, filho! Não

seja como se pai.

JÚLIO: - Dinheiro pode não ser tudo, mas eu

não quero mais a senhora morando com as

putas. Eu vou te dar um lar. Só que, jamais

imaginei que ele pudesse desconfiar que

entrei no Hotel e peguei. Ninguém estava lá!

Eu tive que arrombar a janela!

GORETE: - Pega esse dinheiro e foge, Júlio.

Vai para fora do Brasil, filho! Eles vão te

incriminar. Eurico me contou que naquela

noite você matou o seu tio com as próprias

mãos. (T) Vim aqui para esperar seu pai e

pedir que ele assuma a culpa.

JÚLIO: - Ele não vai fazer isso! Não conhece

o papai.

GORETE: - Não custa tentar! Mas, por

garantia, some enquanto é tempo.

JÚLIO: (irredutível) – Vou acabar de ajeitar

tudo isso aqui e dormir. Amanhã é outro dia e

penso no seu conselho.

Gorete o abraça chorando.

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Corta para:

COZINHA:

Suméria banha o boneco de vodu numa panela com sangue.

SUMÉRIA: - Você não vai morrer pela mão de

ninguém, Leofá. Não vou deixar. Você vai

voltar e definhar aqui. Em nossas mãos! Os

fantasmas e eu ainda vamos lhe assombrar. Por

tempo o suficiente antes de você partir.

Suspense. Contra-plongé/close: Suméria sorri sadicamente.

Fusão com:

CENA 42. QUARTO DO HOSPITAL. INTERNA. NOITE

Eletrocardiograma funcionando normalmente. Leofá dorme.

Efeito desfoque. Petrônio e Léo dormem apoiado um no outro.

A CAM passeia pelo quarto durante a fala.

SUMÉRIA (in off) – Os fantasmas do passado

sempre voltam para o acerto de contas.

Ninguém está imune.

Corta para:

CENA 43. IGREJA: TORRE/ALTAR. INTERNA. NOITE

Filipa descalça desce as escadas segurando uma vela. Ela

chora. Caminha pela água (detalhe) Até chegar ao altar.

Olha para a imagem de Jesus e chora.

SUMÉRIA: (in off) - Quando você enfraquece a

mente e chega no estágio mais obscuro da alma

e é aí que eles se permitem vê-los. Isso só

mostra o quanto que a vida ou a morte podem

estar no mesmo plano. O que muda é a ótica.

Passos de alguém cheio de sangue. Filipa olha para trás e

vê Nadir toda ensanguentada esticando a mão e pedindo

“socorro”. Filipa grita, escorrega e cai. Apagando a vela.

Padre e Dione descem a escada correndo e não veem nada a

não ser Filipa de debatendo no chão como se tivesse vendo

algo.

PADRE: - O que foi minha, filha?

Dione assustada. Filipa só chora e não fala nada.

(Cont’d) Está tudo bem. Foi só um susto.

Padre faz sinal da cruz. Dione com ar de preocupação.

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Corta para:

CENA 44. REPRESA. EXTERNA. AMANHECER

Tempo nublado. Não chove mais. Drone passeia por represa

lotada. Deve revelar as comportas abertas jorrando muita

água.

Fusão com:

CENA 45. RIO. EXTERNA. DIA

Cortes descontínuos. Correnteza forte arrasta árvores e

troncos. Plano Geral: Zeca e alguns homens procuram por

Eurico na mata. Do outro lado da margem. Carros de polícia

estacionado e homens armados. Plano do investigador olhando

atentamente para as marcas de pneu no chão.

Corta para:

CENA 46. FACHADA DO GALPÃO. EXTERNA. DIA

Drama. Muitas pessoas aglomeradas. Pilar sobe na carroceria

do caminhão. Pigarreia antes de falar. Encontra dificuldade

para começar. Enquanto fala, as pessoas lacrimejam. Umas

abraçam as outras.

PILAR: (triste) - Durante a noite choveu

muito. Mais do que o esperado e bem mais que

a capacidade que a represa pode comportar.

Com isso, foi necessário abrir as comportas

da represa e deixar a água vazar aos poucos

para que ela não rompesse de uma vez. Essa

medida foi para evitar uma tragédia maior

para a nossa cidade. Infelizmente o volume de

água aumentou consideravelmente o rio e os

afluentes que cercam nossa Tetembau. Estamos

ilhados. Presos. Ninguém consegue chegar a

Tetembau se não for com embarcações. Há

notícias que na cidade algumas casas foram

alagadas. Para a nossa tristeza, a maior

parte delas na periferia. Sempre o pobre está

no prejuízo. Mas, peço que não se revoltem.

Tão logo a água abaixe e ajudaremos vocês

reconstruir tudo, e juntos, numa ação

humanitária, vamos reconstruir a nossa

Tetembau.

Close em Quitéria abraçada com Pâmela emocionada. Manfred

abraçada Jade e Nadir com carinho. Briane abraça Valdir e

Pablo cos os olhos marejados.

(Cont’d) Não sei se vocês têm parentes que

não se refugiaram em outros lugares, ou se

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ficaram. Mas sinto informar que essa hora é

de muita força e oração. Chegou até nós a

informação que o corpo de duas mulheres e um

homem foram encontrados presos às árvores dos

bairros.

Sinira da um grito e desaba em choro abraçando José.

(Cont’d) Força, minha gente. Peço que firmem

vossas cabeças em orações. Força! Enquanto os

bombeiros vindos das outras cidades trabalham

para recuperar nossa cidade e resgatar nossa

gente, vamos organizar aqui uma força tarefa

para que todos tenham o que comer, o que

beber e o que vestir. Vamos precisar da ajuda

de todos.

Burburinho, choros e insatisfação. Briane sobe ao caminhão.

BRIANE: - Por favor, pessoal. Não é hora de

chorarmos o azar. Estamos vivos e precisamos

nos manter vivos. Vamos olhar para frente!

Vamos ajudar. É para frente que se anda. Eu

vou ajudar Dona Pilar que muito tem feito por

nós. Ela não tinha obrigação alguma de nos

receber. E, mesmo assim... o fez, com muito

carinho e empenho. (sincera) Obrigada por nos

ajudar. Eu estou com Dona Pilar para ajudar.

Vamos?! Quem está conosco nessa luta?

Ela ergue a mão. Valdir e Pablo. Aos poucos as pessoas vão

erguendo os braços. DO OUTRO LADO, Gutemberg acolhe Sinira

e José. Sinira não para de chorar. Ele a leva para se

sentar. Ela desmaia.

JOSÉ: (triste) - As irmãs e um amigo nosso

ficaram na cidade. Cremos que possa ser essas

as pessoas que morreram.

GUTEMBERG: (mobilizado) – Meus sentimentos!

Corta para:

CENA 47. COZINHA CASARÃO PIMENTA. INTERNA. DIA

Júlio pensativo tomando café. Gorete entra. Suméria passa

de um lado para outro com bacia de legumes. A conversa de

Júlio e Gorete deve ser truncada. Ela se aproxima da mesa e

se senta diante dele. Enche uma xícara de café.

GORETE: (tensa) - Não preguei os olhos de

preocupação.

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JÚLIO: - Tia Léo ligou e avisou que durante a

noite de ontem o papai sofreu uma parada

cardíaca.

Suméria para assustada.

(Cont’d) Foi dado como morto. Mas, como por

um milagre ele melhorou muito de ontem para

hoje.

Suméria abaixa a cabeça e sorri.

GORETE: - Graças a Deus! Ele não pode partir

sem fazer o que pedi. Ele tem que intervir

por ti. Ele é pai!

JÚLIO: - Mãe. Esquece isso! Ele não vai

assumir nada! A senhora o conhece. Não pense

que ele vai mudar por causa do que houve. Ao

contrário, ele voltará mordendo a tudo e a

todos.

GORETE: - Se pensa assim, o que decidiu sobre

aquilo que conversamos?

Suméria encostada na pia descasca batatas. Tenta disfarçar

a curiosidade.

JÚLIO: - Vou ficar. Aquilo que me viu... (se

segura) O que fiz ontem, usarei aqui. Todo

ele. Vou ajeitar a nossa vida. E, Se tiver

que ser culpado por algo, assumirei meu erro.

GORETE: (triste) – Deus nos proteja, Júlio.

Segura as mãos do filho e aperta com força como apoio.

(Cont’d) Não vai ser fácil daqui para diante

se essa é a sua decisão final.

Suméria, curiosa, sai e vai à dispensa. Júlio olha para a

direção que ela saiu e segreda à mãe.

JÚLIO: - Enterrarei esse dinheiro na matinha.

Perto das pedreiras. Desenterrarei conforme

as necessidades.

Suméria ouve por trás da porta.

(Cont’d) (in off) O que tem lá nos vai nos

garantir por um bom tempo.

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Suméria sorri.

Corta para:

CENA 48. PRESÍDIO: SALÃO DE VISITA. INTERNA. DIA

Petrônio sentado á mesa. Salvador entra algemado e é solto.

Petrônio levanta e vai abraça-lo.

SALVADOR: - Tão bom um abraço sem as grades

para atrapalhar!

PETRÔNIO: - Nem me fale. Creio que logo o

senhor se verá livre disso tudo.

SALVADOR: (sorri) – É essa esperança que me

faz aguentar esses dias todos preso.

PETRÔNIO: - Acabei de falar com o advogado

que vai defender a sua causa. Está tudo

certo! Também serei arrolado como testemunha.

E, agora, com esse envolvimento de Eurico

tentando matar o tio Leofá, vai ficar mais

fácil de provar a armação dos três.

SALVADOR: - E, seu tio, como está?

PETRÔNIO: - Sobreviveu. Aquilo tem mais sorte

que muita gente1

SALVADOR: - Não fale assim. Ele tem os

defeitos dele, mas é uma vida. Nenhuma vida

merece ser ceifada num assassinato. Se você

soubesse o quão cruel é isso, não desejaria a

morte de ninguém. (T) Ele nem teve como se

defender.

PETRÔNIO: - Pai. Eu sou justo. O tio teve o

que mereceu. E, se ele e safar dessa, pode

ter a certeza que ele não vai parar com as

maldades. Um homem corrompido é um homem de

escolhas ruins para o resto da vida.

SALVADOR: - Palavras duras. (T) Não acredita

na mudança?

PETRÔNIO: - Não!

SALVADOR: - Então não sabe amar, Petrônio. O

amor todo dia se reinventa e é preciso

acompanha-lo se não quiser ficar sozinho.

Você está envelhecendo. Vai precisar de

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alguém. Que seja uma escolha por amor. E

quando for pai, verá que a cada minuto terá

que se desdobrar em mudar-se por dentro para

compreender os filhos.

PETRÔNIO: (nocauteado) – Nossa! Sempre uma

lição de vida! Por essa eu não esperava!

Salvador sorri. E segura as mãos dele com carinho.

SALVADOR: - A lição só é dada para quem possa

cumpri-la. Eu confio em você. Faça tudo o eu

fizer pautado pelo amor e nada falhará. Pense

nisso daqui para adiante, meu eterno

defensor.

PETRÔNIO: (sorriso/carinho) – Não esquecerei

essa lição preciosa, pai.

Instrumental. O diálogo entre eles continua empolgado.

Corta para:

CENA 49. QUARTO DO HOSPITAL/COZINHA CAS. PIMENTA. INT. DIA

Corte descontínuo. Luz branca e forte entra pela janela.

Quarto iluminado. De trás das cortinas surge Dona Olímpia

vestida de branco.

OLIMPIA: (carinhosa/chama) – Filho.

Leofá abre os olhos.

(Cont’d) Está na hora. Temos que partir.

LEOFÁ: (emocionado) – Mamãe! Que saudade!

(abre o sorriso) Está tão bonita! Parece um

anjo.

OLÍMPIA: - Sim. Estou aqui onde me colocou.

Agora sou um anjo.

LEOFÁ: (desfaz o sorriso) – Me arrependi,

mamãe. Me perdoa? Eu não queria ter feito

isso com a senhora. Foi mais forte que eu. Me

arrependi cada fio de cabelo e chorei tanto

quando a vi sobre aquela mesa.

OLÍMPIA: (angelical) - Se desprenda disso. Se

desprenda dessa terra, de tudo e de todos.

Venha comigo. Prometo que vou cuidar de sua

cura. Não sentira nada!

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Olímpia estende a mão. Leofá estica a mão ao seu encontro.

Efeito espírito saindo do corpo. Apito do eletrocardiograma

invade a cena. Quando está flutuando a luz fica avermelhada

e com sombras. Seu espírito volta a ser sugado pelo corpo.

Olímpia some. O apito para e volta ao normal. Som de graves

batidas de coração. Terror.

Fusão com:

COZINHA:

Suméria banhando o bonequinho com sangue na panela dentro

da dispensa. CAM em travelling passando pelas prateleiras

revela a cena.

SUMÉRIA: - Enquanto um pedaço seu for banhado

de sangue você estará preso a esse mundo.

Esse boneco recheado com seus cabelos me

garante a sua volta para cá. Garante a minha

vingança. Você não vai embora, porque eu não

vou deixar.

Todos os fantasmas em volta de Suméria. Olímpia aparece por

último com aspecto triste.

Fusão com:

QUARTO DO HOSPITAL:

Suspense/Terror. Médicos saem. Eletrocardiograma registra

as batidas normais comprovando que está vivo. Enfermeira

cobre Leofá o peito desnudo de Leofá e sai. Léo aproxima de

seu ouvido e cochicha.

LÉO: - Eu nunca desejei o seu mal e nem

queria isso para você, mesmo descobrindo

todas as suas maldades. Mas, se tiver que ir,

vá! Não se prenda a nada, eu cuido de sua

família. Eu ajeito tudo por aqui.

Instrumental terror. Leofá abre o olho. Léo se afasta

assustada. Ele fecha o olho de novo. Ela faz sinal da cruz

e sai do quarto. Ele sorri.

Corta para:

CENA 50. PONTE DA ESTRADA. EXTERNA. DIA

Tardezinha. Investigador e vários militares atravessam a

ponte e vão ao encontro de Gutemberg e Zeca.

INVESTIGADOR: - Vasculhamos toda a mata! Não

encontramos nem vestígio. Fomos nas fazendas

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vizinhas e nada. Só falta a vossa propriedade

e a do vizinho.

GUTEMBERG: - Creio que aqui ele não esteja.

Senão os nossos rapazes teriam o visto.

ZECA: - O menino tem razão. Se, entrou, foi

muito em surdina. Mas creio que não passou

pela nossa guarda não.

INVESTIGADOR: - Posso enviar uma diligência

para vasculhar a propriedade.

GUTEMBERG: - Creio que Sim. Dona Pilar não há

de se importar. É de interesse dela a prisão

desse bandido.

ZECA: - Pode entrar sim. A dona não liga não.

INVESTIGADOR: - O senhor pode acompanhar o

nosso pessoal?

ZECA: - Sim, posso; vamos adentrar.

Zeca sai conduzindo o pessoal pela estrada. Carros passam

por ultimo. Enquanto isso Guto e Investigador conversam.

INVESTIGADOR: - Creio que ele possa estar

aqui nessa fazenda. Meu faro está aguçado.

Esse cara está me desafiando. Quero ir

sozinho para não espantá-lo.

GUTEMBERG: - Não acho que ele iria á casa do

meu tio após tentar assassiná-lo em público.

INVESTIGADOR: (sorri) - Tem gente pra, rapaz.

Se trabalhasse onde eu trabalho veria cada

coisa absurda! (T) Obrigado pela colaboração.

Investigador entra no carro faz a volta e entra na Fazenda

de Cerro Grande. Guto observa o Rio passando por baixo da

ponte.

GUTEMBERG: (aliviado) - Está abaixando. Logo

essas pessoas poderão voltar para as suas

casas.

Corta para:

CENA 51. ENCHENTE TETEMBAU. EXTERNA. ENTARDECER

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Bombeiros chegam de barca motorizada. No alto do telhado,

ilhados, Solimar, Serena e João. Solimar tem em seus braços

um álbum e alguns diários. Os bombeiros ajudam Serena e

João a entrar no barco. Solimar, pela roupa e idade

apresenta maior dificuldade. A persistência de Solimar em

proteger os livros deve ser algo maior que seu afetivo.

BOMBEIRO: - Senhora, solte os livros e nos dê

a mão. Vamos lhe ajudar. Depois a senhora

pode voltar para pegá-los.

SOLIMAR: - Não. Não são livros. São álbuns e

diários. A minha vida está presa a isso tudo.

SERENA: - Vem, mulher. Joga para mim e vem

pro barco.

SOLIMAR: - Não. Se cair na água vai estragar.

Podem ir, eu fico esperando a água abaixar.

JOÃO: - Vamos Dona Solimar. Eu prometo que

cuido dos seus livros.

SOLIMAR: (agressiva) - Não são livros!

BOMBEIRO: - Tudo bem. Vamos trocar. Um de nós

temos mais mobilidade. Vamos para e seguramos

os seus pertences enquanto a senhora vem para

cá. Depois o que fiou traz tudo!

SOLIMAR: - jura que não vai molhar?

BOMBEIRO: - Não molhará! Pode confiar.

JOÃO: - Eu seguro esses livros. Os bombeiros

vão precisar tirar a senhora.

Calmamente João desce e pega os livros no telhado. Solimar

abre as pernas com dificuldade para subir no barco. Ela

desequilibra para um lado. Serena coloca o peso para outro.

O barco quase vira. Elas ficam duras com estátuas (comédia)

até que João chega com os livros. Assim que ele senta os

bombeiros ligam a barca e seguem. Solimar tira os livros da

mão de João com força e os abraça com firmeza. Serena

meneia a cabeça negativamente.

Corta para:

CENA 52. GALPÃO MASCULINO/FEMININO. INTERNA. ENTARDECER

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Homens descascam legumes e verduras sobre uma grande mesa.

Manfred ajuda. O rapaz da noite anterior passa por ele e o

encara. Valdir sorri.

VALDIR: (baixo tom) - Não disse que ia chegar a

sua vez em alguma hora.

MANFRED: (desabafa) - Isso é só diversão. Nessa

idade eles querem fogo de qualquer jeito.

(pensativo) Mas na hora de assumir um transviado,

eles escolhem as mulheres. Dói menos esconder o

desejo e casar do que ter o desejo e assumir.

VALDIR: (baixo tom) - Eita. Você sempre com uma

resposta negativa na língua. Desse jeito não vai

ser feliz nunca!

Corta para:

GALPÃO FEMININO:

Fogões de tijolos acesos, mulheres mexem em tachos, bules e

panelas. José leva uma caneca de café quente esfumaçando.

Até Sinira que está com feição de choro. Mais ao lado está

Jade e Nadir mexendo as panelas.

JOSÉ: - Trouxe para ti. Está melhor?

SINIRA: - Sim. Meu coração está esperançoso

que elas se salvaram.

JADE: (intromete) – Eu falei! Não falei,

Nadir?

NADIR: - Falou sim! Pensamento positivo traz

energias boas. Só pensar nisso que logo ela

reencontra as irmãs.

JOSÉ: (sorri) – Tá vendo! É isso mesmo. Logo

voltaremos e já marco o casamento e combino a

festa com suas irmãs.

Sinira dá um sorrisinho tímido.

JADE: - Quero ver a festança!

DO OUTRO LADO:

Pâmela e Quitéria separando roupas.

PÂMELA: - Tem umas que só jogando fora mesmo!

QUITÉRIA: - A desgraça torna todos iguais!

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PÂMELA: (estranha) – Como?

QUITÉRIA: - Veja lá uma das irmãs abutres

conversando com algumas das meninas. Mas,

nunca que em outro tempo fariam isso.

PÂMELA: (irônica)- Não é a desgraça que torna

os outros iguais. É a hipocrisia que faz se

enxergar diferente, mãe. Se um dia sair daqui

vai ver que o preconceito é menor, embora

ainda exista. Nessa cidade, tudo é excessivo!

QUITÉRIA: - Nasci aqui, me afundei aqui. Aqui

vou morrer. Não saio mais. Mas, quando quiser

ir, eu lhe apoiarei sem dúvida.

PÂMELA: (sorri) – Isso vai demorar um pouco.

Quero curtir a minha mãezinha.

A abraça. Quitéria fica feliz.

Corta para:

CENA 53. FAZENDA CERRO GRANDE. EXTERNA. ANOITECER

Carro do investigador visto do alto. Acompanha na estrada

de terra até chegar na Fachada da Casa de Leofá. Desce do

carro e sobe as escadas. Ajeita a jaqueta e o cabelo.

Fusão com:

CENA 54. CEMITÉRIO DE CERRO GRANDE. EXTERNA. ANOITECER

Eurico arfando pula o muro do cemitério e caminha abaixado

para não ser visto. Caminha entre os túmulos e vê as fotos

dos familiares de Leofá. Com muito custo abre o portão do

mausoléu de Santinha, entra e fecha a grade. Se esconde

debaixo de um pequeno aparador e se tampa com a toalha de

enfeite.

Corta para:

CENA 55. CAS. PIMENTA: SALA/QUARTOS/COZINHA. INT. NOITE

Investigador, Gorete e Suméria na sala.

GORETE: - Como pode ver. Não há ninguém além

de nós na casa.

INVESTIGADOR: (desconfiado) – Aqui não. Bem

verdade! (olha para todos os lados atento)

Poderia olhar os demais cômodos?

Suméria e Gorete trocam olhares. Ele percebe.

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(Cont’d) Para averiguação apenas. Não que eu

esteja desconfiando de nada. Só um mero

procedimento, já que vim até aqui.

Gorete assente com a cabeça.

GORETE: - Suméria, o acompanhe, por favor.

QUARTOS:

Procura em todos os quartos, abre portas, gavetas e olha

debaixo da cama. Em clima de suspense, ao entrar no quarto

de Júlio olha mais demoradamente. Abre o guarda-roupa, olha

debaixo da cama. Sai. Suméria dá uma olhada antes de fechar

a porta.

COZINHA:

Olha por toda a cozinha e na porta que dá para a dispensa

vê (OBJETIVA) o balde cheio de sangue coberto por um pano.

Ele abaixa para pegar.

SUMÉRIA: (rápida) – Não!

Suspense aumenta.

(Cont’d) Não toque nisso.

INVESTIGADOR: - O que tem aqui?

SUMÉRIA: (mente) – Caldo grosso! Sarapatel.

(desculpa esfarrapada) Se descobrir antes do

tempo o caldo mingua e não fica suculento.

Crenças antigas de mamãe, mas, sigo sempre.

INVESTIGADOR: - Coisa nojenta! Quem come isso

pode ser capaz de qualquer coisa.

Vira-se e vê Gorete na porta.

(Cont’d) Acho que encerrei. Se virem um homem

com as descrições que lhes dei, por favor, me

liguem. Eu voltarei.

GORETE: - Sim. Ligaremos!

Ele sai devagarzinho. Gorete o acompanha. Júlio sai da

dispensa e gesticula algo.

SUMÉRIA: (baixo) Se esconda e não saia daí.

Corta para:

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CENA 56. TORRE DA IGREJA. INTERNA. NOITE

Padre sentado recostado na parede tem as mãos cruzadas

sobre a barriga. Dione em silêncio olha para o nada. Filipa

está incomodada e com medo.

FILIPA: - Tenho fome! Não tem nada na

sacristia para comer?

PADRE: - Infelizmente, não.

FILIPA: - Se demorar para a água abaixar

vamos morrer por inanição.

PADRE: - Não é para tanto. Jesus jejuou

quarenta dias no deserto.

FILIPA: - Mas, ele era Jesus! O escolhido. Eu

não tenho tanta pretensão.

DIONE: - Nem chegaria à tanto. Ele tinha fé e

não sucumbiu às necessidades mundanas.

Filipa olha para Dione com surpresa.

PADRE: (à Filipa) – Aprenda minha filha: Deus

proveu, provê e proverá. Nada acontece sem

que Ele saiba.

Filipa dá de ombros.

Corta para:

CENA 57. CASARÃO PIMENTA: COPA. INTERNA. NOITE

Jantar com candelabros na penumbra. A CAM passeia pela sala

e mostra os enormes candelabros que serão peças principais

nas próximas cenas. Júlio limpa a boca e se levanta.

JÚLIO: - Vou me retirar.

GORETE: - Vai, filho. Também vou. Sem energia

elétrica não resta recursos do que fazer.

Júlio beija a testa da mãe e sai. Suméria retira os pratos.

Olha a janela e vê Epitácio sentado na janela olhando o

nada. Fica assustada e boquiaberta.

(Cont’d) O que foi? Tudo bem com você?

SUMÉRIA: - Ele está aqui.

GORETE: - Quem.

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SUMÉRIA: (sussurra) – Epitácio. Na janela!

Gorete se arrepia e cruza doas braços com medo.

GORETE: (medrosa) - Vou para o quarto. Quando

for assim, não me fale nada. Sabe que temo

essas coisas.

Gorete sai. Suméria faz sinal da cruz e sai.

Corta para:

CENA 58. CEMITÉRIO DE CERRO GRANDE/CAS. PIMENTA. EXT. NOITE

Eurico olha através das grades do mausoléu. Sai e caminha

sorrateiro próximo ao muro. Abre o portão do cemitério e

sai. Cortes descontínuos dele caminhando pelo pasto até

chegar até a fachada do casarão Pimenta. Ele abre os braços

e sorri como um louco.

EURICO: - Vou me apossar de sua casa Leofá.

Não tentou me roubar a carreira política?

Agora vou escorraçar com os teus daqui (riso

sádico).

Fusão com:

CENA 59. QUARTO DE LEOFÁ/BANHEIRO/QUARTO DE GORETE/QUARTO

DE JÚLIO/PORÃO/CORREDOR/ESCRITÓRIO. INTERNA. NOITE

Eurico adentra o QUARTO DE LEOFÁ com candelabro aceso. Ele

fecha a porta e caminha pelo luxuoso quarto de Leofá.

EURICO: (tom baixo/admirado) - Então é assim

que o todo poderoso Leofá Pimenta desfruta de

sua intimidade? Com luxo!

Abre o guarda-roupa; passa a mão em roupas penduradas como

uma obra de arte de tão arrumado. Vai até a porta do quarto

e passa a chave.

BANHEIRO:

Eurico coloca a arma sobre a pia. Tira a roupa e entra no

chuveiro. Caretas com a água gelada. Muita fumaça.

QUARTO DE GORETE:

Barulho do chuveiro. Ela se levanta assustada. Faz sinal da

cruz.

GORETE: (para si) – Deus! Proteja-me desses

fantasmas!

QUARTO DE JÚLIO:

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Barulho do chuveiro. Júlio abre os olhos assustado.

QUARTO DE LEOFÁ:

Eurico abe a porta do banheiro e entra no quarto nu. Coloca

o candelabro sobre uma cômoda e procura uma roupa.

PORÃO:

Suméria sentada enrolada num chale. Ouve passos acima no

forro.

SUMÉRIA: - Estranho. Dona Gorete não ia dormir? Preciso ver

o que está acontecendo. Povo chato!

ESCRITÓRIO:

Sem revelar ator/atriz. Mão com luva revira as gavetas do

escritório sob luz de vela.

CORREDOR:

Mão com luva segura o candelabro andando pelo corredor e se

aproxima da porta do quarto. Suspense.

QUARTO DE LEOFÁ:

Suspense. Eurico termina de colocar uma roupa. Ajeita e

abre a porta para sair. A mão com candelabro acerta a sua

cabeça. Cai ao chão sangrando. O seu corpo é arrastado.

CORREDOR:

Eurico arrastado desmaiado sem revelar o corpo e a mão de

quem puxa.

Corta para:

CENA 60. FACHADA CASARÃO PIMENTA/ESTÁBULO. EXTERNA. NOITE

Cortes descontínuos. Eurico é jogado pela escadaria. Depois

arrastado até a frente do estábulo. Seus pés são amarrados

numa corda que está presa ao cavalo. A mão bate forte na

traseira do cavalo que dispara. A CAM acompanha um trecho

de Eurico sendo arrastado.

Corta para:

CENA 61. TETEMBAU. EXTERNA. NOITE

Clipe: Cidade alagada. Cortes descontínuos revela o estrago

da chuva. Música: DEZEMBRO (Fagner & Zeca Baleiro).

Fusão com:

CENA 62. CADEIA. INTERNA. NOITE

A música se estende. Travelling. Salvador pensativo chora.

Lágrimas escorrem.

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Corta para:

CENA 63. TETEMBAU: PRAÇA. EXTERNA. DIA.

A música perpassa. Água recuada, e praça enlameada. Efeito

sobreposição revela aos poucos as pessoas andando nas águas

e lama. Algumas pessoas surgem varrendo a rua. Aos poucos

os caminhões da prefeitura estacionam na Praça e as pessoas

descem. Dentre elas, Quitéria e Pâmela.

QUITÉRIA: (aliviada) – Jamais me imaginei

dizendo isso, mas senti muita falta de nossa

casa.

PÂMELA: (desanimada) – E, só de pensar que

temos um longo trabalho pela frente me

desanima.

QUITÉRIA: - Força, filha! Temos que cuidar do

que é nosso.

PÂMELA: - E eu só queria quem cuidasse de

mim.

Ela olha para trás e vê Manfred conversando empolgado com o

rapaz. Quitéria se entristece.

QUITÉRIA: (chateada) - Às vezes você vai ter

que ir embora para conhecer o amor.

Música para a cena toda: Brincar de Viver (Maria Bethânia).

Câmera desfoca e revela Sinira descendo desastrada do

caminhão sendo segura por José.

SINIRA: (afoita) - Não vejo a hora de ver

minhas irmãs.

JOSÉ: (apaixonado) - Vai. Vou ver como está a

igreja. Vemos-nos logo.

Despedem-se com um selinho romântico. PLANO GERAL: Nadir e

Jade de braços dados olham para o Boteco.

JADE: - Enfim casa!

NADIR: - E pensar que um dia eu voltaria a

ser feliz em ver esse anto.

JADE: - Digo o mesmo.

NADIR: - Sina é sina! Não podemos reclamar.

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Manfred chega por trás e abraça as meninas.

MANFRED: (feliz) – Temos que ter fé que tudo

mudará.

JADE: - Esses olhinhos brilhantes tem nome?

MANFRED: (segura e depois solta) – Tem! É

felicidade o nome do que eu sinto. Agora bora

trabalhar que lá dentro deve estar um regaço.

Vamos retomar nossa casa.

NADIR: (sorri) – Vamos sim. Mas, depois quero

saber o nome real dessa sua felicidade.

Risos. Tocam as mãos.

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CENA 64. COZINHA DAS DÁVILA. INTERNA. DIA

Barro em cima de móveis e paredes manchadas. Solimar entra

desolada de braços dados com Serena. Estão tristes por ver

tudo esparramado e sucateado. Solimar com os diários sempre

nos braços. Cena triste.

SOLIMAR: (despedaçada) - E agora? O nosso

ganha-pão. Nossa vida toda foi-se embora,

Serena. O que será de nós daqui para diante.

SERENA: – Seremos as melhores confeiteiras,

irmã. Como sempre fomos. Força e bravura!

Sinira aparece pela porta.

SINIRA: (emocionada) – Temi tanto por vocês!

(chora) Só Deus soube de minha angústia.

Corre abraça-las. O abraço deve ser acompanhado por musica

instrumental e de muito choro e risos. O diário cai no chão

aberto e algumas fotos de Leofá ficam expostas. Sinira

abaixa para pegar. Suspense.

SINIRA: (estranha) – É Leofá?

Solimar e Serena trocam olhares.

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CENA 65. ESTRADA. EXTERNA. DIA

Carros de boi. Êxodo das pessoas voltando para cidade. À

frente Valdir puxando o povo. Atrás, Pilar na caminhonete

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com Briane. De longe, o carro da polícia se aproxima.

Dentro dele o investigador. Param e abordam Valdir. Briane

e Pilar conversam.

BRIANE: - Queria poder fazer mais coisas por

esse povo, Dona Pilar, assim como a senhora.

PILAR: - Você pode! Você foi corajosa e de

grande ajuda em nossas ações; me demonstrou

bastante equilíbrio.

BRIANE: (insegura) - Dona Léo me prometeu

ajuda política. Não sei se seria possível eu

me tornar uma boa prefeita.

Pilar a olha com surpresa e sorri.

PILAR: - Porque não? Não é o que quer? (T) A

mulher é sensível e capaz de ver além do que

os homens não veem. Porque não ser a primeira

mulher da História de Tetembau a assumir uma

prefeitura?

BRIANE: (sorri) - Obrigada pela confiança.

O carro de polícia se aproxima e sinaliza para encostar a

caminhonete. Pilar vai encostando.

PILAR: (preocupada) – O que será dessa vez?

BRIANE: (apreensiva) - Espero que esteja tudo

bem na cidade!

O investigador desce e se aproxima da caminhonete.

INVESTIGADOR: - Dona Briane?

BRIANE: (assustada) – Sou eu.

INVESTIGADOR: - Poderia vir conosco para nos

ajudar num reconhecimento?

PILAR: (assustada) – Como assim?

INVESTIGADOR: - Encontramos um corpo à margem

do rio amarrado pelos pés a um cavalo. Um ato

e tortura. Suspeitamos que seja o procurado.

As descrições físicas batem, mas está muito

deformado para termos certeza.

Suspense.

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CENA 66. IGREJA. INTERNA. DIA

Padre de batina suja limpa tudo com ajuda de Diácono, José

e Dione. Filipa com cara de sono Aparece no ultimo lance de

degraus da escada.

FILIPA: (surpresa) – Como pode? Como aquele

aguaceiro todo sumiu?

PADRE: (sorri) – Como lhe disse ontem: “Deus

proveu”.

Filipa torce o nariz.

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CENA 67. QUARTO DO HOSPITAL. INTERNA. DIA

Petrônio tamborila os dedos na cadeira. Leofá deitado. Léo

entra.

LÉO: - A água abaixou. Podemos voltar.

PETRÕNIO: - Que bom! Não via a hora de voltar

para casa e matar a saudade de todos.

Léo se aproxima de Leofá e acaricia o cabelo dele com

carinho. Abaixa e sussurra em sua orelha.

LÉO: - Vai ficar tudo bem.

PETRÔNIO: - É incrível a sua compaixão.

LÉO: - Dessa vida nada se leva. Se fez tudo o

que fez é que por algo lhe doía. Tente

enxergar o mundo pelos olhos do outro.

Empatia é bom.

PETRÔNIO: - Lindo discurso; vamos logo daqui!

Os dois saem. A CAM vai se fechando no roso de Leofá. Ele

abre os olhos arregalados e fecha novamente.

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CENA 68. QUARTO DE HOSPITAL/SALA DE ESPERA. INTERNA. DIA

Hospital com paredes manchadas de enchente. Eurico deitado

numa cama com soro. Briane entra com o investigador.

BRIANE: (horrorizada) – Parece ser ele. Não

sei dizer ao certo, o rosto está deformado.

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INVESTIGADOR: - Ele tinha algum sinal físico.

Ou algo que só a senhora soubesse?

BRIANE: - Uma pinta no mamilo.

Investigador descobre e a pinta aparece. Ela coloca a mão

na boca mais horrorizada ainda pela confirmação.

Fusão com:

SALA DE ESPERA;

Briane entra lacrimejando. Valdir coloca Pablo no colo de

Pilar e vai até ela.

VALDIR: (sussurra) – E aí?

BRIANE: (tom baixo) - É ele! (segura o choro)

Não consigo entender como fizeram isso com

ele. Será que era para tanto?

VALDIR: (compreensivo) – É chata a situação.

Mas, santo ele não era. Não é verdade?

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CENA 69. CADEIA: SALA DE VISITAS. INTERNA. DIA

Léo entra. Salvador corre abraça-la. Música: Sinônimos

(Chitãozinho e Xororó). Os dois se beijam.

SALVADOR: - Já não me aguentava mais sem seus

abraços. (desabafa) Não aguento mais ficar

aqui, Pilar. Estou morrendo aos poucos.

LÉO: - Eu também estou com muita saudade.

Logo você vai sair daqui e seremos felizes

como nunca podemos ser. Seremos, Livres!

Livres!

SALVADOR: - Eu sei que não. A armação foi bem

feita! Eu não tenho mais esperanças. O que me

mantém vivo é o seu amor. A lembrança de seus

olhos, a doçura e o seu sorriso.

LÉO: - Não fala assim. Petrônio esteve atrás

das coisas de seu caso.

SALVADOR: (ansioso) – Pelo menos são notícias

menos pesadas?

LÉO: (sorri) - São coisas boas! O que tenho

pra lhe falar é bom.

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SALVADOR: (ansioso) – Pois então, diga logo,

Leopoldina, acabe com essa minha amargura!

Corta para o:

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P R Ó X I M O C A P Í T U L O

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