capela pombo, belÉm_pa interpretaÇÃo e perspectivas
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Monografia apresentada ao curso de Especialização em Interpretação, Conservação e Revitalização do Patrimônio Artístico de Antônio José Landi da UFPA/Fórum Landi. Tem como objeto de estudo a Capela Pombo, sua importância arquitetônica, artística e histórica.TRANSCRIPT
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Fórum Landi
DOMINGOS SÁVIO DE CASTRO OLIVEIRA
CAPELA POMBO, BELÉM/PA:
Interpretação e Perspectivas
Belém - Pará 2008
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DOMINGOS SÁVIO DE CASTRO OLIVEIRA
CAPELA POMBO, BELÉM/PA:
Interpretação e Perspectivas
Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Interpretação, Conservação e Revitalização do Patrimônio Artístico de Antônio José Landi da Universidade Federal do Pará – UFPA, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de especialista. Orientador: Prof. Msc. Roseane da Conceição Costa Norat
Belém - Pará 2008
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DOMINGOS SÁVIO DE CASTRO OLIVEIRA
CAPELA POMBO, BELÉM/PA:
Interpretação e Perspectivas
Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Interpretação, Conservação e Revitalização do Patrimônio Artístico de Antônio José Landi da Universidade Federal do Pará – UFPA, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de especialista. Orientador: Prof. Msc. Roseane da Conceição Costa Norat
Aprovado em: ______________________________________________________________ Prof. Msc. Roseane da Conceição Costa Norat – Orientador (SECULT – PA) ______________________________________ Prof. Msc. Ana Léa Nassar Matos (UFPA/FAU) _________________________________________ Prof. Dr. José Afonso Medeiros Souza (UFPA/ICA)
Belém - Pará 2008
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A meu pai, Stélio Oliveira,
que concluiu sua passagem entre nós, durante a realização deste curso.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, por me inspirar nos momentos mais difíceis dessa instigante tarefa.
A Stélio Oliveira, meu pai, que estaria exultante se pudesse ter visto a conclusão deste
curso.
À Tereza Oliveira, minha mãe, pela presença sempre constante em minha vida.
Ao Fórum Landi, pela oportunidade - única - de participar deste curso e poder desenvolver
este trabalho.
À professora Roseane Norat, pelas sempre precisas orientações que me deixaram mais
confiante no desenvolvimento deste estudo.
À professora Isabel Mendonça, por dividir conosco seus conhecimentos a respeito de Landi,
pelas sugestões iniciais na elaboração do trabalho final e pelo valioso material bibliográfico
fornecido d’além-mar.
À professora Elna Trindade, pelas observações ao trabalho da disciplina Arquitetura na
Amazônia dos séculos XVII e XVIII e que foram fundamentais para este trabalho final.
Ao professor Emanuel Matos, pois sem suas orientações na Metodologia de Pesquisa, ainda
na graduação e neste curso, muito do que aqui apresento seria quase impossível ter
desenvolvido.
Aos demais professores, que dividiram seus conhecimentos conosco.
À Moema Barcellar pelas valiosas “figurinhas” trocadas ainda na fase inicial deste trabalho
que vieram como pequenas luzes a iluminar o longo caminho a ser percorrido.
A todos os colegas do curso, vindos de diversas áreas do conhecimento, que, durante esses
meses de convivência, compartilharam seus saberes e vivências, em especial, à ”turma do
fundão” (Eva, Moema, Marília, Pedro e Wesley), além do Bruno, Gilna, Joana, Liz e Virgínia.
À professora Yêda Dourado de Castro pela cuidadosa revisão gramatical.
Ao Jean Miranda, pelo incentivo na realização deste curso e pela tradução do resumo.
À Conceição Pina, da Biblioteca Artemis Leite da Silva, do Ministério Público do Estado do
Pará, pelos cuidados com a ficha catalográfica.
E a todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram com a realização desta pesquisa.
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Deixai-me contemplar Os traços de Antônio
E nos traços de Antônio A Belém que amo tanto
(Emanuel Matos / José Maria Bezerra)
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RESUMO Este trabalho apresenta a Capela de Nosso Senhor dos Passos - a Capela Pombo -, em
Belém, e mostra sua importância arquitetônica, artística e histórica a partir de suas
características. O bem tem valor inestimável considerando: sua singular tipologia
arquitetônica – capela anexa à residência; ser um edifício “encaixado” entre duas
residências; seus elementos decorativos e estilísticos, pertencentes ao movimento artístico
do tardo-barroco; e sua importância histórica, testemunho do período de ocupação inicial da
cidade. Entretanto, suas reduzidas dimensões e localização, em uma área que se ressente
de melhorias na infraestrutura urbana, fazem com que o mesmo seja pouco conhecido e
pouco valorizado. Através de um extenso trabalho de pesquisa bibliográfica, acompanhada
de levantamento fotográfico, o trabalho reforça a autoria atribuída do projeto da Capela
Pombo a Antonio José Landi, observada a partir de detalhadas comparações entre o bem e
outros edifícios comprovadamente do arquiteto italiano. Hoje, o monumento se encontra em
um estado que preocupa e inspira cuidados, tendo em vista suas degradadas condições
físicas. O conteúdo do trabalho pode servir de instrumento para novos estudos estilísticos
na região e ainda, para respaldar a esperada consolidação estrutural e restauração
arquitetônica do monumento.
Palavras-chave: arquitetura colonial, capela, tardo-barroco
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ABSTRACT This work presents the Nosso Senhor dos Passos Chapel - the Pombo Chapel -, in Belém
and shows its architectural, artistic and historical importance from their characteristics. The
Chapel has priceless value considering: its singular architectural typology - chapel enclosed
to the residence; a building between two residences; their ornamental and stylistic elements,
pertaining to the late baroque artistic movement, and its historical importance, testimony of
the period of initial occupation of the city. However, for its reduced dimensions and
localization, in a region with low urban infrastructure, makes the building almost unknown
and depreciated. The methodology used was a large bibliographic research, followed by a
photographic survey. The work reinforces the authorship of the chapel project to Antonio
José Landi from the detailed comparisons with buildings related to the italian architect.
Nowadays, the monument needs care, according to its degraded conditions. This work may
assist as an instrument to the architectonic restoration and structural consolidation.
Keywords: architecture, chapel, late baroque
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LISTA DE FIGURAS Fig. 1 - Casa da Rede, distrito de Vila Real .......................................................................... 16 Fig. 2 - Casa de Almendra, no distrito de Guarda................................................................. 16 Fig. 3 - Solar dos antigos Condes de Vinhais, no distrito de Bragança ................................. 16 Fig. 4 - Casa de Guimarães ................................................................................................. 16 Fig. 5 - Casa da Prova, na Beira Alta ................................................................................... 17 Fig. 6 - Casa de Penaventosa, no Porto ............................................................................... 17 Fig. 7 - Casa do Benfeito, em Braga .................................................................................... 17 Fig. 8 - Sitio do Calu, em São Paulo .................................................................................... 18 Fig. 9 - Solar do Padre Corrêa, em Sabará, Minas Gerais ................................................... 19 Fig. 10 - Casa Azul, em Sabará, Minas Gerais ..................................................................... 19 Fig. 11 - Fachada da Capela de São José das Laranjeiras .................................................. 20 Fig. 12 - Altar-mor da Capela de São José das Laranjeiras ................................................. 20 Fig. 13 - Oratório de São Felipe Néri, de Borromini, em Roma............................................. 22 Fig. 14 - Igreja de São João de Latrão, de Borromini ........................................................... 22 Fig. 15 - Santuário da Madonna di San Luca ....................................................................... 23 Fig. 16 - Oratório de São Felipe Néri .................................................................................... 23 Fig. 17 - Palácio Costa Trettenero, em Piacenza ................................................................. 25 Fig. 18 - Teatro de Nancy, na França ................................................................................... 25 Fig. 19 - Teatro Científico de Mantova ................................................................................. 25 Fig. 20 - Quinta do Freixo ..................................................................................................... 27 Fig. 21 - Igreja da Misericórdia, ambas no Porto .................................................................. 27 Fig. 22 - Porta delle Suppliche, de Buontalenti ..................................................................... 27 Fig. 23 - Ordem Terceira do Carmo ..................................................................................... 27 Fig. 24 - Ordem Terceira do Carmo - detalhe de janela com o motivo auricular sinuoso ...... 27 Fig. 25 - Igreja de Nossa Senhora das Mercês e os frontões contracurvados ...................... 28 Fig. 26 - Interior da Igreja dos Mártires e as pilastras engajadas nas paredes ..................... 28 Fig. 27 - Retábulo estilo nacional português - 1ª fase .......................................................... 30 Fig. 28 - Retábulo estilo D. João V - 2ª fase ......................................................................... 30 Fig. 29 - Retábulo estilo Rococó - 3ª fase ............................................................................ 30 Fig. 30 - Fachada da igreja do Colégio Pontifício de Mont’Alto, de Floriano Ambrosini ........ 33 Fig. 31 - Planta baixa da igreja do Colégio Pontifício de Mont’Alto, de Floriano Ambrosini ... 33 Fig. 32 - Fachada da capela para o palácio da família do Governador Ataíde Teive, de Landi .. 33 Fig. 33 - Projeto para a igreja paroquial de Cametá ............................................................. 36 Fig. 34 - Projeto para a igreja paroquial de Gurupá .............................................................. 36 Fig. 35 - Projeto para a igreja paroquial de Igarapé-Mirim .................................................... 36 Fig. 36 - Fachada da Igreja de Sant’Ana .............................................................................. 38 Fig. 37 - Planta baixa da Igreja de Sant’Ana ........................................................................ 38 Fig. 38 - Altar-mor da Capela de Santa Rita ......................................................................... 38 Fig. 39 - Planta baixa da Capela de Santa Rita .................................................................... 38 Fig. 40 - Fachada da Igreja de São João ............................................................................. 39 Fig. 41 - Planta da Igreja de São João ................................................................................. 39
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Fig. 42 - Ruínas do altar-mor da Capela do Engenho Murutucu ........................................... 40 Fig. 43 - Capela sepulcral do Governador Ataíde Teive ....................................................... 40 Fig. 44 - Palácio dos Governadores - seção transversal e fachada ...................................... 42 Fig. 45 - Residência de Antônio de Sousa de Azevedo, desenho de J. J. Codina ................ 43 Fig. 46 - Arco triunfal dedicado a D. José ............................................................................. 44 Fig. 47 - Arco triunfal dedicado ao governador Ataíde Teive ................................................ 44 Fig. 48 - Área de ocupação inicial da cidade de Belém. ....................................................... 46 Fig. 49 - Efeito do encaixotamento na Rua Senador Manoel Barata .................................... 47 Fig. 50 - Gráfico - n.º de pavimentos .................................................................................... 48 Fig. 51 - Gráfico - uso do solo .............................................................................................. 48 Fig. 52 - Casarão e capela - registro sem data ..................................................................... 49 Fig. 53 - Área do entorno da capela ..................................................................................... 50 Fig. 54 - Planta da cidade de Belém do Grão Pará, em 1753, de Schwebel......................... 50 Fig. 55 - Planta da cidade de Belém, em 1761 ..................................................................... 51 Fig. 56 - Planta da cidade de Belém, em 1780, de Gronsfeld ............................................... 52 Fig. 57 - Planta da cidade de Belém, sem autor e data conhecidos ..................................... 52 Fig. 58 - Planta da cidade de Belém, em 1791, de Chermont .............................................. 53 Fig. 59 - Altar-mor da capela com imagem de N. S. da Conceição. Registro anterior a 1996 . 55 Fig. 60 - Edifício encaixado - Planta e fachada da Igreja de S. João Evangelista, Bréscia, Itália ... 58 Fig. 61 - Sobrado à esquerda da capela .............................................................................. 58 Fig. 62 - Sobrado à direita da capela.................................................................................... 58 Fig. 63 - Imagem do casarão ainda com as vergas em arco no térreo ................................. 60 Fig. 64 - Vista do casarão atualmente .................................................................................. 60 Fig. 65 - Igreja de Santo Antonio Abate ................................................................................ 60 Fig. 66 - Igreja da Beata Vergine del Carmine ...................................................................... 60 Fig. 67 - Igreja da Memória .................................................................................................. 60 Fig. 68 - Fachada da Capela Pombo .................................................................................... 61 Fig. 69 - Planta baixa da Capela Pombo .............................................................................. 61 Fig. 70 - Planta baixa da Capela Pombo - levantamento técnico .......................................... 62 Fig. 71 - Palácio Seghizzi, em Trolli ...................................................................................... 63 Fig. 72 - Palácio Costa Trettenero, em Piacenza................................................................... 63 Fig. 73 - Palácio Bagnarola, na Villa Malvezzi ....................................................................... 63 Fig. 74 - Balcão com a porta de acesso e balaustrada de madeira. ..................................... 63 Fig. 75 - Fachada da Capela Pombo e detalhes dos elementos decorativos........................ 64 Fig. 76 - Pano central das paredes laterais .......................................................................... 66 Fig. 77 - Detalhes aconcheados ........................................................................................... 66 Fig. 78 - Pia para água benta ............................................................................................... 67 Fig. 79 - Imagens antigas da capela, na parte inferior o Senhor Morto................................. 67 Fig. 80 - Retábulo do altar-mor da Capela Pombo ............................................................... 68 Fig. 81 - Capela Pombo ....................................................................................................... 70 Fig. 82 - Capela do Palácio dos Governadores ..................................................................... 70 Fig. 83 - Igreja de São João ................................................................................................. 70 Fig. 84 - Fachada da Capela Pombo .................................................................................... 71
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Fig. 85 - Fachada da Capela do Palácio dos Governadores ................................................ 71 Fig. 86 - Capela Pombo ....................................................................................................... 71 Fig. 87 - Tribuna da Capela do Palácio dos Governadores, em Belém ................................ 71 Fig. 88 - Detalhe da fachada da residência de Manuel Raimundo Alves da Cunha .............. 71 Fig. 89 - Detalhes da fachada da Capela Pombo ................................................................. 72 Fig. 90 - Detalhe da capela do Palácio dos Governadores ................................................... 72 Fig. 91 - Portada da Alfândega............................................................................................. 72 Fig. 92 - Detalhe do altar-mor da Igreja da Sé ...................................................................... 73 Fig. 93 - Detalhe do altar-mor da Igreja da Ordem Terceira do Carmo ................................. 73 Fig. 94 - Detalhe do altar-mor da Igreja de Sant'Ana ............................................................ 73 Fig. 95 - Capela Pombo - Detalhe do frontão ........................................................................... 73 Fig. 96 - Altar lateral da Igreja de São João ......................................................................... 74 Fig. 97 - Detalhe da fachada da Igreja paroquial de Cametá ................................................ 74 Fig. 98 - Arco triunfal dedicado a D. João I........................................................................... 74 Fig. 99 - Igreja do Rosário dos Homens Pretos .................................................................... 74 Fig. 100 - Capela do Palácio do Governador Ataíde Teive ................................................... 74 Fig. 101 - Capela do Santíssimo da Igreja da Sé ................................................................. 75 Fig. 102 - Capela-mor da Igreja da Sé ................................................................................. 75 Fig. 103 - Altar-mor da Capela da Ordem Terceira do Carmo .............................................. 75 Fig. 104 - Altar-mor da Igreja de São João ........................................................................... 77 Fig. 105 - Altar lateral da Igreja de São João ....................................................................... 77 Fig. 106 - Capela sepulcral do Governador Ataíde Teive ..................................................... 78 Fig. 107 - Parede principal da igreja matriz de Barcelos ......................................................... 79 Fig. 108 - Parede lateral da igreja matriz de Barcelos ........................................................... 79 Fig. 109 - Altar-mor da Capela do Palácio dos Governadores .............................................. 80 Fig. 110 - Altar-mor da Capela Pombo ................................................................................. 80 Fig. 111 - Retábulo da Capela Pombo ................................................................................. 81 Fig. 112 - Capela dos Pontificais na Catedral da Sé ............................................................ 81 Fig. 113 - Capela de Santa Rita de Cássia........................................................................... 81 Fig. 114 - Capela do Engenho Murutucu .............................................................................. 81 Fig. 115 - Sala dos Pontificais da Igreja da Sé ..................................................................... 81 Fig. 116 - Detalhe do retábulo do altar-mor da Capela Pombo ............................................. 82 Fig. 117 - Retábulo na Sacristia da Igreja de Sant’Ana ........................................................ 83 Fig. 118 - Batistério da Igreja da Sé ..................................................................................... 83
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INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 13
1. REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................................... 15
1.1. SOBRADOS E CAPELAS DO SÉCULO XVIII ........................................................... 15
1.2. ELEMENTOS DECORATIVOS CARACTERÍSTICOS DA ARQUITETURA
RELIGIOSA TARDO-BARROCA ............................................................................... 21
1.3. AS INFLUÊNCIAS NA OBRA DE ANTÔNIO LANDI E SUA TRAJETÓRIA ............... 30
1.3.1. Landi e a Academia Clementina ................................................................... 30
1.3.2. Landi no Brasil e em Belém do Grão-Pará ................................................... 35
2. A CAPELA POMBO ........................................................................................................ 46
2.1. CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA E ATUAL DA ÁREA DE PESQUISA .................... 46
2.2. SÍNTESE HISTÓRICA DA CAPELA POMBO ............................................................ 54
2.2.1. Análise tipológica e arquitetônica: o sobrado e a capela ........................... 57
2.2.2. Elementos decorativos e estilísticos ........................................................... 64
2.2.3. O retábulo ....................................................................................................... 67
3. ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DA OBRA DE LANDI E A CAPELA POMBO ........ 69
3.1. A OBRA ARQUITETÔNICA DE LANDI E A CAPELA POMBO .................................. 69
3.2. OS RETÁBULOS LANDIANOS E O DA CAPELA POMBO ....................................... 75
3.2.1. Retábulos de madeira entalhada .................................................................. 75
3.2.2. Retábulos pintados........................................................................................ 77
3.2.3. Retábulos de estuque .................................................................................... 79
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 84
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 86
ANEXOS .............................................................................................................................. 90
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INTRODUÇÃO
A Capela de Nosso Senhor dos Passos ou, simplesmente, Capela Pombo, assim
como outros referenciais arquitetônicos próximos, marca a passagem do tempo no bairro da
Campina, em Belém.
Reconhecidamente, a Capela precisa ter seu significado recuperado e revelado,
tornando-se, assim, ponto de atração para a área e razão para sua preservação. Hoje, ela
está “perdida”, entre muitas edificações degradadas, em um espaço onde outrora
conviveram edifícios comerciais e residenciais, e que, ao longo do tempo, teve suas funções
alteradas.
Arquitetonicamente, é um exemplo de tipologia singular na cidade – capela
anexa à casa, além de ser um edifício do tipo “encaixado”1 entre duas residências.
Artisticamente, apresenta características particulares que demonstram as
influências sofridas em sua concepção, dos movimentos artísticos europeus do século XVIII.
Historicamente, por estar inserida no Centro Histórico, legalmente delimitado na
cidade, guarda referências de um período importante da formação e desenvolvimento
urbano, social e cultural de Belém.
Há muitas lacunas na trajetória histórica da edificação, entretanto pode-se
observar sua importância a partir das muitas referências ao monumento nas obras de
importantes pesquisadores como Augusto Meira Filho, Donato Mello Júnior, Ernesto Cruz e
Isabel Mendonça. Estes autores, a partir da análise das características arquitetônicas da
Capela e por comparação com outras obras de Antônio José Landi, atribuem a autoria de
seu projeto ao arquiteto bolonhês. Dentre eles, Isabel Mendonça2 é a que mais aprofunda a
análise e faz comparações com as obras do arquiteto, as quais denomina “landianas”.
São objetivos deste trabalho:
- Fazer estudos com base em análises tipológicas e estilísticas detalhadas do
monumento, como forma de valorização do bem cultural diante da sociedade com vistas à
sua preservação, e assim evitar seu iminente desaparecimento;
- Aprofundar o estudo da Capela a partir da análise de seus elementos
compositivos e assim permitir elaborar premissas que possam auxiliar na avaliação quanto à
sua autoria atribuída, porém não comprovada, ao arquiteto Landi.
- Avaliar a inserção do monumento na paisagem urbana e suas correlações com
seu entorno imediato.
1 Terminologia empregada por Camillo Sitte (1992, p. 39). 2 Na obra “António José Landi (1713-1791): um artista entre dois continentes”.
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- Servir de referencial teórico para a elaboração de outros projetos, inclusive
para sua esperada restauração arquitetônica e consolidação estrutural.
É necessário ressaltar que é impossível analisar a capela sem pensar nas
edificações de seu entorno imediato e, em particular, no casarão a que esteve ligada, que se
ressentem de uma atenção por parte do poder público, dos seus proprietários e da
população. Sendo assim, foi reservado um espaço de análise da casa nobre portuguesa e
sua evolução, bem como da presença da capela particular e de sua trajetória no Brasil
colonial.
O trabalho está dividido em três capítulos. No primeiro, observa-se a trajetória da
casa nobre portuguesa, e sua relação com a capela particular; e uma breve análise do
movimento tardo-barroco e suas características. São também apresentadas, de forma
resumida, a trajetória de Landi de Bolonha a Belém, e as influências por ele sofridas e que
particularizam seu trabalho. São mostradas, ainda, as características da cidade de Belém no
século XVIII.
O segundo capítulo apresenta: a caracterização histórica e atual da área e, em
particular, da rua em que está inserido o edifício em estudo; uma síntese histórica da capela
e uma análise das características tipológicas e estilísticas do conjunto casa com capela
anexa, sendo enfatizados a fachada e o retábulo3 da segunda.
No terceiro capítulo, são feitos paralelos entre as características do edifício e das
obras comprovadamente de Landi, enfatizando-se o retábulo. É apresentada também a
classificação dos retábulos landianos, baseada nos estudos de Isabel Mendonça.
Infelizmente, muito da história documental da Capela Pombo foi perdida, o que
poderia reforçar ainda mais sua importância, entretanto o que foi possível reunir, a fim de
referenciar esta pesquisa, aqui está apresentado. Não há a intenção de esgotar o assunto,
mas contribuir para o preenchimento de lacunas ainda existentes na história da cidade.
3 Estrutura ornamental de pedra ou de madeira, que se eleva na parte posterior do altar. Às vezes, é chamado genericamente de altar (ÁVILA et al, 1979, p. 171).
15
1. REFERENCIAL TEÓRICO
1.1. SOBRADOS E CAPELAS DO SÉCULO XVIII
Na arquitetura barroca portuguesa a casa nobre setecentista, quer em seu
contexto urbano, quer rural representa, muitas vezes, o melhor da arte portuguesa
setecentista.
O século XVIII é a época da construção das grandes casas com ricas fachadas,
produto das riquezas provenientes do exterior, particularmente do açúcar, prata e diamantes
brasileiros. Muitos foram os proprietários que reconstruíram, acrescentaram ou melhoraram
suas propriedades. Mas em maior número, foram as novas casas erguidas ao longo do
século, às vezes edificações pequenas, de arquitetura rude, o que denuncia uma construção
do tipo popular, mas construídas para abrigar famílias nobres, especialmente no Norte do
país devido à concentração de famílias ilustres nessa região.
Segundo Carlos de Azevedo4 (1969, p. 79), algumas tipologias de casas podem
ser apontadas como as mais importantes, dentre elas: a tradicional “casa-torre” (com uma
ou duas torres); a “casa comprida” de planta simples e retangular, com fachada comprida; e
as que integram a capela à fachada.
A “casa-torre” surgiu a partir da adaptação das edificações militares, de origem
medieval, para as funções habitacionais. Na torre, em geral, eram localizadas salas nobres,
por vezes, com tetos ricamente decorados. Há duas formas de utilização: a que apresenta
uma torre ligada a um corpo residencial e a que apresenta duas torres, o que propiciava o
desenvolvimento de fachadas mais espetaculares.
A tipologia “casa comprida”, que nem sempre tem planta regular, freqüentemente
retangular, é marcada pela fachada desenvolvida em comprimento, equilibrada e simétrica,
com a entrada principal servindo de eixo da composição. Neste tipo de casa, a capela,
quando existe, procura não perturbar a composição sujeitando-se às linhas da fachada e
repetindo elementos desta – portas e janelas – às vezes, sem se evidenciar, sendo
marcada, a sua presença, pela cruz ao alto (Fig. 1 e Fig. 2).
4Carlos de Azevedo é autor de Solares Portugueses que é obra de referência a respeito da casa nobre portuguesa.
16
Fig. 1 - Casa da Rede, distrito de Vila Real Fonte: www.pousadas.pt/historicalhotels/PT/pousadas/Portugal/Norte/SolardaRede/gallery/
Fig. 2 - Casa de Almendra, no distrito de Guarda Fonte: www.lifecooler.com/lifecooler/imagens/bd/49221.jpg
A terceira tipologia é aquela que integra a capela à fachada. No século XVII, a
tipologia em “U” procurou dar uma solução para esse problema, mas é somente no século
XVIII que a configuração casa-capela encontra solução satisfatória e com caráter
tipicamente português. Essa solução esteve presente de norte a sul do país durante todo o
século, enquanto a casa-torre foi mais comum no norte. Como de costume, a solução
priorizou a organização da fachada que se desenvolveu num plano único e horizontalmente.
A tipologia aparece, inicialmente, de forma discreta, em casas menos ambiciosas
como a Casa do Lodeiro, no Douro. Ainda na primeira metade do século XVIII, aparecem
exemplares em que a capela não está em evidência, ou, simplesmente, ocupa a
extremidade da fachada, sem ultrapassar a linha do telhado, e subordinada à mesma cornija
que corria sob o beiral (Fig. 3)5.
Fig. 3 - Solar dos antigos Condes de Vinhais, no distrito de Bragança Fonte: www.bragancanet.pt/patrimonio/images/edicondesvinhais.jpg
Fig. 4 - Casa de Guimarães Fonte: AZEVEDO, 1969, p. 82
5O Solar dos antigos Condes de Vinhais é uma edificação barroca do século XVIII, também denominado "Casas Novas". Localizado no distrito de Bragança, Conselho de Vinhais. Trata-se de um edifício de planta longitudinal, com cobertura a 4 águas e frontaria dividida em três partes. Do lado direito, encontra-se adossada a capela de São Caetano (Disponível em: <www.lifecooler.com/Portugal/patrimonio/EdificiodosantigosCondesdeVinhais>. Acesso em: 11/05/2008).
17
Outro exemplo dessa tipologia é a Casa de Guimarães (Fig. 4), de 1720, em que
a capela, datada de 1722, rompe a cornija da casa e ocupa posição predominante no
extremo da fachada. Outros exemplares eram completamente integrados à fachada,
ocupando posição central, com frontão triangular, e ainda subordinando-se à altura dos
telhados como ocorre nas Casas Novas, Conselho de Baião. Embora a configuração com a
capela central tenha surgido também em outras regiões do país, como a Casa da Prova, na
Beira Alta (Fig. 5), é a tipologia com a capela na extremidade que vai fazer escola e
apresentar algumas residências notáveis (AZEVEDO, 1969, p. 82).
Assim, a capela é anexada às compridas fachadas, sendo tratada de forma um
tanto independente e, em alguns casos, até ligeiramente avançada ou recuada em relação
ao alinhamento da casa (Fig. 6). É também freqüente a composição que apresenta três
elementos distintos na fachada e que correspondem a três espaços diferentes: a casa, a
capela e o pátio, este último, marcado, no exterior, por um alto muro (Fig. 7) (AZEVEDO,
1969, p. 82).
Fig. 5 - Casa da Prova, na Beira Alta Fonte: www.gov-civ-guarda.pt/distrito/galeria/
Fig. 6 - Casa de Penaventosa, no Porto Fonte: Arte Paisagística do Norte de Portugal <193.136.40.139/arqpais/images/POBA0115_10HR.jpg>
Fig. 7 - Casa do Benfeito, em Braga Fonte: AZEVEDO, 1969, p. 85
Os relatos a respeito de construções de casas com capela contígua no Brasil
aparecem já no século XVII e são referentes ao início da ocupação portuguesa. Luis Saia
(1978), Aracy Amaral (1981) e Carlos Lemos (1989) têm estudos a respeito de residências
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brasileiras, com capela anexa, do período colonial e, apesar de as pesquisas estarem
concentradas nos exemplares do sudeste e sul do Brasil, não havia muita diferença entre
estas e as do restante do território brasileiro, já que a prática religiosa, característica
marcante da ocupação portuguesa, era homogênea em todo o país, acontecendo somente
adaptações de acordo com o clima de cada região.
As grandes distâncias entre as propriedades rurais e o meio urbano propiciavam
o isolamento das famílias, que somente freqüentavam as cidades nos dias importantes,
principalmente durante as festas religiosas. Isso não ocorria em Portugal, forçosamente,
obrigou a presença da capela nas residências rurais brasileiras, para uso diário da família,
agregados e escravos.
A casa rural brasileira era dividida em duas zonas distintas: a faixa de fronteira e
o segundo bloco, embora em planta e espacialmente a casa compreendesse apenas um
volume. A faixa de fronteira, de frente da casa, era aquela destinada a estabelecer as
relações com o mundo exterior e resguardar a família. Era formada pelo alpendre ou
varanda, para o qual se abriam a capela e o quarto de hóspedes como se vê no Sítio do
Calu (Fig. 8). O segundo bloco era destinado à parte íntima, constituído de quartos, depósito
e, por vezes, um segundo alpendre íntimo.
Fig. 8 - Sitio do Calu, em São Paulo Fonte: adaptado de SAIA, 1978, p. 70
A maior distinção dessas casas está na mudança da localização da capela. Até o
século XVIII, ela era implantada sempre no interior da casa, existindo uma porta de
comunicação com o recinto. A partir deste século, ocorreu um deslocamento para além do corpo
da casa, tornando-se aos poucos independente. Em meados do século XIX, ela desaparece do
corpo da residência, instalando-se às proximidades desta ou reduzindo-se a um oratório6.
6 O oratório, que substitui progressivamente as capelas anexas às fazendas, é introduzido nas residências, colocado em nichos nas paredes ou nos quartos para uso individual. Teve origem nos primórdios da Idade Média. Chegou à Colônia pelas mãos do colonizador português e espalhou-se pelas fazendas, senzalas e
19
É importante ressaltar que mesmo que não existisse a capela nas casas mais
abastadas, um pequeno oratório, ou o suporte para uma imagem religiosa, podia ser
encontrado nas varandas. Algumas famílias mais ricas destinavam um cômodo especial, o
chamado "quarto de santos", para as práticas religiosas.
A existência de capelas e alpendres nas habitações foi um fenômeno peculiar na
arquitetura rural. Nas cidades, entretanto, esse equipamento deixaria de ter sua
funcionalidade lógica, pois a comunidade não apresentava as mesmas características do
meio rural, como também a igreja pública predominava sobre qualquer iniciativa particular.
Exemplos de residências com capelas anexas no Brasil setecentista, podem ser
observados em Sabará, estado de Minas Gerais, conhecidos como Solar do Padre Corrêa
(Fig. 9) e Casa Azul (Fig. 10). No primeiro, sede atual da Prefeitura da cidade, a capela fica
situada em um dos salões na parte posterior e apresenta um retábulo no estilo7 rococó, com
talha atribuída a Aleijadinho8. O segundo chama a atenção pela grandeza de sua fachada e
por sua portada que demonstra a influência religiosa na arquitetura civil. A sala-capela
apresenta o forro decorado com pinturas alusivas ao Espírito Santo e o retábulo estilizado, é
em madeira trabalhada, com decoração em relevo dourado9.
Fig. 9 - Solar do Padre Corrêa, em Sabará, Minas Gerais Fonte: www.flickr.com/photos/darlanmc/2058519613/
Fig. 10 - Casa Azul, em Sabará, Minas Gerais Fonte: www.flickr.com/photos/22434764@N00/18745901/
residências, tornando-se parte do cotidiano da casa colonial brasileira (Disponível em: <www.itaucultural.org.br/ aplicExternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=instituicoes_texto&cd_verbete=5402>. Acesso em: 13/08/2008). 7 A palavra estilo teve origem no latim stilu, que, entre os romanos, era o instrumento usado para a escrita. Por metonímia, passou a significar também a maneira de escrever de um escritor, sobretudo escolha de palavras e seu uso em diferentes ocasiões. Essas noções espalharam-se para outros campos, como a música, a arquitetura e as artes plásticas, mas somente a partir do Renascimento os termos estilo, maneira e gosto aparecem com freqüência maior e com significações diversas. (PEREIRA, 2007, n.p.) 8 Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, foi escultor, entalhador, desenhista e arquiteto considerado o maior expoente do estilo barroco em Minas Gerais e das artes plásticas no Brasil, não só à época, mas durante o período colonial (Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Aleijadinho>. Acesso em: 20/04/2008). 9 Informações obtidas no site da Prefeitura de Sabará (Disponível em: <www.sabara.mg.gov.br/portal/index.php? option=com_content&task=view&id=417&Itemid=86>. Acesso em: 17/05/2008).
20
Em São Luis, no Maranhão, existe a Capela de São José anexa à Quinta das
Laranjeiras (Fig. 11 e Fig. 12). Originariamente, existiu um oratório ligado à casa-grande. No
século XIX, o proprietário solicitou autorização ao Bispo para a construção de uma capela
com acesso pela rua para uso público.
Fig. 11 - Fachada da Capela de São José das Laranjeiras Fonte: Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados - São Luís – MA
Fig. 12 - Altar-mor da Capela de São José das Laranjeiras Fonte: Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados - São Luís - MA
Em Belém, no Pará, há registros da existência de capelas particulares conforme
cita o Bispo do Pará D. Fr. João Evangelista Pereira da Silva, em um ofício datado de 1773.
Nesse ofício, o Bispo apresenta uma relação de sacerdotes, igrejas e capelas do Bispado e
dentre essas, cita:
Nesta cidade [...] O oratorio nas casas dos herdeiros do [ilegível] de Campo Antonio Ferreira Ribeiro. Os das casas da viuva do Capitam Guilherme Bruum [?] de Abreu [?] na rua do Espirito Santo. O do Reverendo [?] Arcipreste Antonio Rodrigues.10
Alexandre Rodrigues Ferreira, em 1784, também faz referência em seu Diário da
Viagem Philosophica à existência de capelas particulares na cidade de Belém:
Oratorios publicos são o do Palacio do Bispo, o do Palacio do Governador e Capitão General, o do Seminario, o da Cadeya da Cidade, o do Capitão Ambrozio Henriques, alem de outros particulares, como o do defuncto Mestre de Campo Pedro de Sequeira, o do Capitão Luiz Pereira da Cunha, o de Manoel da Costa Leitão Xavier (…) (FERREIRA, 1784, n.p.).
A presença das Companhias Gerais do Comércio, no século XVIII, deu impulso
ao desenvolvimento das cidades do norte e nordeste brasileiros. Belém, São Luis e
Alcântara cresceram aos moldes das cidades portuguesas, já que a administração direta de
10 Ofício encaminhado para o Secretário de Estado da Marinha e Ultramar, Martinho de Melo e Castro em que o Bispo solicita, entre outras coisas, mais sacerdotes para o exercício do serviço religioso. (Doc. Nº. 5.948, de 08 de janeiro de 1773, “Ofício do Bispo do Pará, [D. fr. João Evangelista Pereira da Silva],...”, localizado no APEP/AHU. (transcrição de Moema Bacellar)
21
Lisboa facilitava a vinda de construtores portugueses afinados com as novidades das
técnicas construtivas e da arquitetura.
Na aparência, essas cidades eram quase lusitanas, mas as altas temperaturas e
o alto índice pluviométrico provocaram adaptações. As fachadas seguiam o estilo
pombalino, repetindo o ritmo de abertura de janelas e portas, entretanto os fundos das
construções eram vasados, permitindo a ventilação, aliada à sombra propiciada pelas
treliças e venezianas.
A umidade elevada do ar e as chuvas constantes sempre ocasionaram muitos
danos às construções ocasionando paredes sempre úmidas e conseqüentemente
manchadas e propícias ao aparecimento de fungos e musgos. A fim de reduzir esses danos,
foi introduzido o uso de azulejos no revestimento das fachadas das edificações11,
melhorando a aparência dos edifícios e facilitando sua conservação.
1.2. ELEMENTOS DECORATIVOS CARACTERÍSTICOS DA ARQUITETURA RELIGIOSA
TARDO-BARROCA
Como vários outros estilos, o barroco não deve ser restrito a um período
específico, entretanto é costume dizer que ocorreu entre o final do século XVI e o século
XVIII. Surgiu na Itália e espalhou-se pela Europa desenvolvendo características próprias em
cada país. Na América Latina, o estilo existiu por um tempo maior, até o início do século
XIX, e coexistiu com estilos artísticos diferentes como o maneirismo e o rococó.
Suas características principais são a exuberância de formas e a dramaticidade.
O barroco reconquistou o gosto pelo pictórico, pela movimentação das formas e pelo
incessante jogo de planos. Mais que um estilo artístico, expressou um modo de ser.
Paradoxalmente, apelava para os sentidos e as paixões humanas e servia aos propósitos da
doutrinação religiosa da Igreja Católica.
Dentre os artistas mais destacados, considerados os criadores do estilo estão:
os arquitetos e escultores Gian Lorenzo Bernini (1598-1680) e Francesco Borromini (1599-
1667) e o arquiteto e pintor Pietro da Cortona (1596-1669). Dentre as obras de maior
importância desses artistas estão as decorações internas da Basílica de São Pedro, no
Vaticano, de Bernini e de São João de Latrão, de Borromini e as inovadoras igrejas de
Santo André do Quirinal, de Bernini, de São Carlos das Quatro Fontes e de Santo Ivo da
Sabedoria, de Borromini e dos Santos Lucas e Martinha no Fórum, de Cortona.
11 Segundo Santos Simões, a utilização de azulejos nas fachadas dos edifícios foi uma criação brasileira (LEMOS, 1989, p. 34).
22
Dos três artistas, o maior destaque é dado a Borromini pela ousadia de suas
propostas. A importância de Borromini para a história da arquitetura é tamanha que muitas
das suas criações foram utilizadas como modelos por arquitetos de outras gerações, quer
nos temas espaciais, quer nos ornamentais, sendo encontradas referências as suas obras
não só na Itália, mas em países da Europa Central, do leste europeu, em Portugal e
Espanha e prolongando-se às colônias ibéricas.
Destacam-se entre as características borromínicas, aquelas que têm interesse a
esse estudo, as que dizem respeito a:
a) frontões mistilíneos resultantes da superposição do triangular e do curvo dos
quais se originam os sinuosos contracurvados (Fig. 13);
b) capitéis compósitos com volutas invertidas;
c) representações angelicais reduzidas a cabecinhas com asas, popularmente
chamadas de querubins no mundo luso-brasileiro (Fig. 14).
Fig. 13 - Oratório de São Felipe Néri, de Borromini, em Roma Fonte: www.flickr.com/photos/8449304@N04/2482090899/
Fig. 14 - Igreja de São João de Latrão, de Borromini Fonte: www.flickr.com/photos/sauvagii/1863502664/
No século XVIII, o barroco internacional é distinto das produções do estilo no
século anterior na Itália, o que leva historiadores da arquitetura como Christian Norberg-
Schulz12, entre outros, a denominá-lo barroco tardio ou tardo-barroco. (OLIVEIRA, 2003, p. 57)
Rudolf Wittkower (1979, p. 370), historiador de arte, alemão, distingue duas
correntes no barroco tardio, ambas com realizações na arquitetura religiosa. A primeira,
denominada barroco tardio classicizante, tem descendência do barroco berniniano do século
XVII, com destaque para os aspectos monumentais. As obras evidenciam a ordenação
clássica nas fachadas e na organização dos espaços internos e o vocabulário ornamental é
composto de temas do repertório do barroco tradicional, com uso apenas esporádico de
temas borromínicos.
12 Christian Norberg-Schulz apresenta essa classificação na obra Late Barroque and Rococó Architecture, Nova York, 1974. Este livro sucedeu ao Barroque Architecture, do mesmo autor, publicado anteriormente (OLIVEIRA, 2003, p. 57).
23
O que diferencia o barroco tardio classicizante das tendências clássicas
anteriores é sua grande versatilidade, podendo conviver harmoniosamente decorações
borrominescas com elementos do Maneirismo. Outra característica desta linha do barroco é
sua deliberada qualidade cênica, empreendida por arquitetos de diferentes gerações.
O barroco tardio classicizante predominou no século XVIII, mas a segunda
tendência não pode ser desprezada. Essa é denominada “rococó italiano” por Wittkower
(1979, p. 371). Segundo Myriam Oliveira (2003, p. 64), poderia ser chamada anticlássica ou
borromínica, tendo em vista seu caráter especificamente italiano, independente do
desenvolvimento do rococó internacional.
Essa linha contou com arquitetos, mas também com escultores e pintores, mais
criativos e originais, autores de projetos nos quais predomina o uso das linhas curvas de
forma elegante e refinada, marcadas pela liberdade decorativa e pelo emprego de temas
borromínicos, levando a um relaxamento das ordens como um sistema rígido. Privilegia
ainda a redução da escala das construções, priorizando relações mais intimistas em
oposição à monumentalidade da primeira corrente, gosto este condicionado às exigências
dos novos clientes: a aristocracia e a burguesia ascendente, no setor da arquitetura civil, e
as irmandades leigas, no campo religioso.
Bolonha, capital da Emília-Romanha, norte da Itália, teve pelo menos dois
grandes arquitetos do barroco tardio: Carlo Francesco Dotti (1670-1759) e Alfonso
Torreggiani (1682-1764). A obra maior de Dotti é, sem dúvida, o Santuário da Madonna di
San Luca13 (1726-57) (Fig. 15), em uma alta colina sobre a cidade. Torreggiani, arquiteto do
Oratório de São Felipe Néri (1730, destruído, em parte, pela guerra) (Fig. 16), conduziu a
arquitetura bolonhesa a uma fase quase rococó.
Fig. 15 - Santuário da Madonna di San Luca Fonte: www.flickr.com/search/?q=Madonna+di+San+ Luca&page=2 Fig. 16 - Oratório de São Felipe Néri Fonte: www.emiliaromagna.beniculturali.it/ index.php?it/107/opere/59/
13 O período barroco foi marcado por esses santuários. Como símbolos visíveis, dominam a paisagem: sugeriam a imensidão da natureza controlada pelos homens a serviço de Deus (WITTKOWER, 1979, p. 371).
24
A arte bolonhesa tem nesse período um dos momentos mais férteis com a
utilização da pintura de quadratura - afrescos utilizando a técnica de desenho de perspectiva
ilusionista - nos interiores de seus edifícios. Essa técnica esteve presente desde os últimos
anos do século XVI e se prolongou até o final ao século XVIII.
A quantidade de artistas quadraturistas foi muito grande e a maior dinastia, os
Galli, chamados Bibiena, nasceu então em um clima favorável ao seu desenvolvimento.
Destacaram-se como desenhistas, organizadores de suntuosos festivais, cenógrafos e
arquitetos de teatros. Quatro membros da família merecem destaque: os irmãos Ferdinando
(1657-1743) e Francisco (1659-1739) e os filhos de Ferdinando, Giuseppe (1696-1757) e
Antonio (1700-74). Francisco deu à Europa seus melhores teatros. Todas as cortes
européias solicitaram os serviços dos Bibiena e os filhos de Ferdinando possuíam oficinas
nas cortes de Viena, Dresden e Berlin. Com a família, a quadratura – a base da arte dos
Bibiena – uma ciência intimamente relacionada com a expressão das regras da visão,
alcançou o auge e, dessa forma, seus membros puderam conseguir os louros de arte
internacional, enquanto o estilo bolonhês entrava já em decadência.
Dentre as obras de maior destaque da família estão:
- de Ferdinando: a decoração para a festa de casamento do Rei Carlos VI, da
Espanha; o Palácio Costa-Trettenero, (Fig. 17) e o Oratório de São Cristóvão, em Piacenza,
na Itália; e o Palácio da Vila Ducale, em Colorno:
- de Francisco: o Salão Central da Vila Storzzi, em Begozzo de Palidano; o
Grande Salão da Comédia (1700), em Viena; o teatro de Nancy, na França (Fig. 18); e o
Teatro Filarmônico de Verona;
- de Giuseppe: o interior do Margrave's Opera House, em Bayreuth, na
Alemanha e a decoração para a Ópera de Viena;
- de Antonio: o Teatro Científico de Mantova (1769) (Fig. 19); o Teatro Comunale
(1756-63), em Bolonha; e o Teatro dos Quatro Cavaleiros, em Pávia, entre outros.
25
Fig. 17 - Palácio Costa Trettenero, em Piacenza Fonte: Notas de aula de Pigozzi, 2007
Fig. 18 - Teatro de Nancy, na França Fonte: Notas de aula de Pigozzi, 2007
Fig. 19 - Teatro Científico de Mantova Fonte: www.flickr.com/photos/axl/88359795/in/set-1316805/
A arte decorativa do período destaca ainda o desenho de retábulos para altares.
Assim como os Bibiena, Dotti e Torreggiani também os projetaram. O material mais utilizado
era o mármore, sendo o estuque utilizado imitando o primeiro. A madeira, por sua vez, era
usada no interior da província. É comum a presença da tela no centro da composição
ladeada por colunas. O registro superior é em geral ocupado por frontão com volutas laterais
convergentes ou com a representação do Espírito Santo.
As formas de divulgação internacional do barroco tardio foram as mesmas do
rococó, ou seja, as viagens de artistas, o comércio de obras de arte e as fontes impressas,
incluindo os tratados teóricos e os manuais técnicos de arquitetura e ornamentação, assim
como as edições de pranchas e gravuras avulsas, popularizadas, sobretudo no século XVIII.
Foi comum nas primeiras décadas desse século, contratar arquitetos italianos
para executar as construções dos monumentos de maior importância, tanto no campo civil
quanto religioso.
Em Portugal, esse período, equivale ao que Ferreira-Alves (2003, p. 2) classifica
como a segunda fase14 da arquitetura dos Setecentos, e que corresponde ao período em
que Lisboa foi atingida pelo terremoto de 1755 e cuja arquitetura, surgida com a
14 A primeira fase, que corresponde ao reinado de D. João V (1706-1750), é denominada pelo autor, barroco joanino e é conseqüência de uma sensibilidade barroca que se foi afirmando na segunda metade do século XVII. A terceira fase, onde se diluiu a sensibilidade arquitetônica do segundo período, caracteriza-se pela afirmação de uma linguagem classicizante (FERREIRA-ALVES, 2003, p. 2).
26
reconstrução da cidade, deu origem à designação de “estilo pombalino” relacionada ao
Marquês de Pombal15.
O pombalino, predominante na arquitetura civil, é um estilo sóbrio sem a
exuberância decorativa do barroco, em muito devido à falta de recursos e de mão-de-obra.
O estilo pombalino coexistiu com uma arquitetura religiosa ligada ao barroco
joanino e ao rococó internacional, nas versões francesa e alemã, e que constituem, em
linhas gerais, as bases do discurso tardo-barroco, de inspiração italiana, da arquitetura
portuguesa da segunda metade do século XVIII (OLIVEIRA, 1999, p. 223).
É preciso ressaltar que as igrejas construídas em Roma no século XVIII, em
particular as da corrente borromínica, constituíram a principal referência para a arquitetura
religiosa e seriam o elemento fundamental na elaboração da tipologia16 de igrejas conhecidas
no mundo luso-brasileiro como de estilo pombalino.
Em resumo, o barroco tardio, em Portugal, foi conhecido como estilo pombalino
– uma fusão do modelo italiano com as tradições da própria arquitetura portuguesa
(OLIVEIRA, 2003, p. 124).
As origens desse movimento, segundo Bury (1991, p. 136), podem estar
relacionadas com a chegada ao Porto, do toscano Nicolau Nasoni, cuja formação foi
realizada em Roma. O estilo desenvolvido por Nasoni caracteriza-se por uma série de temas
constantes como grandes pináculos com urnas e tochas flamejantes, volutas, conchas de
vieira, cartelas barrocas17, longos festões com ramos de folhas e flores pendentes (Fig. 20),
folhas de palmeiras abertas e o frontão quebrado e invertido (Fig. 22) que dá dramaticidade
às fachadas.
É visível sua gradual emancipação das ordens clássicas, entretanto Nasoni
manteve-se fiel a elas até o final de sua carreira, o que é observado na manutenção de
entablamentos retos e horizontais ainda que algumas vezes invadidos e até interrompidos
por ornamentos como na Quinta do Freixo (c. 1749) (Fig. 20), na fachada da Igreja da
Misericórdia (1750) (Fig. 21), ambos no Porto, e na torre dos Clérigos (1754).
15 O Marquês de Pombal foi o primeiro ministro de D. José I, chamado O Reformador devido às reformas que empreendeu durante o seu reinado, foi Rei de Portugal da Dinastia de Bragança desde 1750 até a sua morte. O reinado de José I foi marcado pelas políticas do seu primeiro ministro, que reorganizou as leis, a economia e a sociedade portuguesas, transformando Portugal em um país moderno (Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Sebasti%C3%A3o_Jos%C3%A9_de_Carvalho_e_Melo>. Acesso em: 15/01/2008). 16 Segundo Quatremère de Quincy o tipo é um objeto segundo o qual qualquer pessoa pode conceber obras que não se assemelharão em nada entre si. (ARGAN, 2001, p. 66) 17 Superfície lisa geralmente à imitação de um pergaminho e colocada no meio de um friso ou um pedestal, para se gravar uma inscrição ou para ornato (ÁVILA et al, 1979, p. 135). Também denominadas cártulas.
27
Fig. 20 - Quinta do Freixo Fonte: www.flickr.com/photos/24952894@N05/2358685671/
Fig. 21 - Igreja da Misericórdia, ambas no Porto Fonte: www.flickr.com/photos/jpvargas/429194705/
Fig. 22 - Porta delle Suppliche, de Buontalenti Fonte: www.laboratorio1.unict.it/lezioni/02-magritte/pagine/07a.htm
Na arquitetura de Nasoni, assim como em outros edifícios do barroco tardio, o
destaque decorativo ainda se concentra nas vergas ou no frontão acima dos vãos, deixando
os lados relativamente sem ornamentação como na Igreja da Ordem Terceira do Carmo, no
Porto, do arquiteto José Figueiredo de Seixas (Fig. 23). O que existe freqüentemente é um
motivo auricular sinuoso no canto superior e que vale como uma assinatura do estilo (Fig. 24).
Fig. 23 - Ordem Terceira do Carmo Fonte: fotos.afasoft.net/porto/igrcarmo.htm
Fig. 24 - Ordem Terceira do Carmo - detalhe de janela com o motivo auricular sinuoso Fonte: fotos.afasoft.net/porto/igrcarmo.htm
As fachadas das igrejas pombalinas lisboetas, construídas nesse período, pós-
terremoto, dada a influência dos modelos italianos, adotaram a ausência de torres,
característica não usual na tradição arquitetônica portuguesa.
28
No desenho das fachadas, quase sempre compartimentadas em painéis verticais
como as italianas, chama a atenção o desenho borromínico das portadas e enquadramentos
de janelas em pedra de lioz, com sobrevergas de formas variadas, privilegiando a
contracurvada em ponta, tipo pagode.
Conforme Bury (1991, p. 151), a exteriorização em pedra dos ornamentos que
internamente são esculpidos em madeira é também uma característica da arquitetura da
Espanha e de Portugal desse período. Fachadas de igrejas são desenhadas e esculpidas
como se fossem retábulos.
As igrejas mais ornamentadas, como Nossa Senhora das Mercês (Fig. 25) e
Santo Antônio à Sé18, possuem um majestoso frontão contracurvado de linhas ondulantes,
derivados do frontão mistilíneo setecentista, desenhado por Borromini para o Oratório de
São Felipe Néri em Roma (Fig. 13). Esses frontões, também usados em portas e janelas,
são uma particularidade da arquitetura ibérica, sendo aqui utilizados de forma mais
ondulante e repetitiva (Fig. 25).
Fig. 25 - Igreja de Nossa Senhora das Mercês e os frontões contracurvados Fonte: revelarlx.cm-lisboa.pt/gca/?id=313
Fig. 26 - Interior da Igreja dos Mártires e as pilastras engajadas nas paredes Fonte: www.flickr.com/photos/lince_amarelo/84873210/
As elevações internas das igrejas dos Mártires (Fig. 26), da Encarnação, de São
Nicolau e de São Paulo têm marcada acentuação vertical, pelas pilastras engajadas nas
18 Essas duas igrejas são consideradas por José Augusto França exceções à sobriedade adotada pela política pombalina (FRANÇA apud OLIVEIRA, 2003, p. 126).
29
paredes, definindo faixas que demarcam as arcadas pouco profundas dos retábulos e
espaços dos púlpitos.
A substituição das imagens devocionais por pinturas de estilo italiano determina
também na época pombalina o uso dos retábulos sem estruturação arquitetônica, limitados
a uma moldura ornamental. A seqüência da nave da igreja dos Mártires (Fig. 26) constitui
uma variante, aqui executada em talha dourada, da tipologia originalmente inventada para o
mármore como nas igrejas de Roma e na de Nossa Senhora de Loreto, em Lisboa.
Nos estudos pioneiros sobre retábulos portugueses dos séculos XVII e XVIII,
Robert Chester Smith (apud Bury, 1991, p. 201), identificou três tipologias predominantes: o
”estilo nacional”, que abrangeu o final do século XVII e início do XVIII; o ”estilo D. João V”,
cujo apogeu aconteceu no segundo quartel do século XVIII, ou seja, durante o reinado de D.
João V, daí provindo sua denominação; e, finalmente, uma fase tardia barroco-rococó, fase
que mais interessa a esse estudo. Nesse terceiro período, os retábulos são marcados pela
aplicação de pequenos frontões, quando desaparecem, então, os dosséis19 comuns no
período anterior.
A importância do estudo da arquitetura portuguesa desse período ultrapassa os
limites europeus e reflete-se em todo o mundo português, principalmente no Brasil, já que
foram essas regiões que forneceram o maior contingente humano.
O estilo pombalino no Brasil atingiu, em primeiro lugar, as cidades portuárias,
que já tinham o costume de mandar vir de Portugal complementos ornamentais em pedra de
lioz para os edifícios mais importantes. O resultado, entretanto, foi um hibridismo na junção
do novo tipo de portadas e cercaduras de desenho borromínico às tradicionais fachadas
planas da arquitetura luso-brasileira.
Por questões puramente políticas, a identificação com o pombalino mais
acentuada esteve nas cidades capitais: o Rio de Janeiro, capital dos vice-reis a partir de
1763 e Belém, sede da capitania do Grão-Pará e Maranhão governada, a partir de 1751, por
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do Marquês de Pombal.
Em Belém, a associação entre o pombalino de fonte italiana e o rococó francês
não ocorreu, graças à presença do arquiteto italiano Antônio José Landi (1713-1791) que aí
chegou em 1753 como desenhista da comissão de demarcação de fronteiras da região
amazônica. No capítulo 2, a presença de Landi em Belém será devidamente abordada.Nos
retábulos das primeiras igrejas construídas no Brasil, Robert Smith (apud Ávila et al, 1979,
19 Dossel ou baldaquim é a peça saliente e ornamental colocada no alto do retábulo à maneira de sanefa de cortina (ÁVILA et al, 1979, p. 171).
30
p. 171) identificou quatro estilos20: os dois primeiros – “nacional português” (Fig. 27) e “Dom
João V” (Fig. 28) -, semelhantes à classificação dos correspondentes portugueses; o
terceiro, rococó (Fig. 29), que se caracterizou pela predominância de ornatos em forma de
conchas e guirlandas (flores e folhagens) e o quarto, que surgiu a partir do século XIX, em
estilo neoclássico, predominante em templos modernos.
A terceira tipologia é a que mais interessa a esse estudo por manter alguma
relação com o retábulo que será analisado. São características desse grupo, entre outras: o
abandono da coluna torsa em favor da coluna reta; o abandono praticamente geral da
decoração antropomorfa, zoomorfa ou fitomorfa, comum às fases anteriores; a concentração
do uso do ornamento rococó (conchas estilizadas, laços, flores e folhagens); a
predominância do caráter arquitetônico, em detrimento do escultórico ou ornametal; e a
simplificação da estrutura e revalorização, no altar-mor, do arco pleno, do coroamento ou
remate, encimado, às vezes, por uma grande composição escultórica.
Fig. 27 - Retábulo estilo nacional português - 1ª fase Fonte: ÁVILA et al, 1979, p. 172
Fig. 28 - Retábulo estilo D. João V - 2ª fase Fonte: ÁVILA et al, 1979, p. 172
Fig. 29 - Retábulo estilo rococó - 3ª fase Fonte: ÁVILA et al, 1979, p. 173
1.3. AS INFLUÊNCIAS NA OBRA DE ANTÔNIO LANDI E SUA TRAJETÓRIA
1.3.1. Landi e a Academia Clementina
Antonio José Landi nasceu em Bolonha, em 30 de outubro de 1713 e formou-se
na Academia Clementina, onde aprendeu a arte da arquitetura cenográfica com funções
decorativas e teatrais e a arquitetura civil e militar.
A Academia Clementina, a mais importante das academias bolonhesas, surgiu
no início do século XVIII a partir de proposta do pintor e literato Giampietro Zanotti (1674-
20 Para mais detalhes das características dessas tipologias, consultar: ÁVILA et al. Barroco Mineiro: Glossário de Arquitetura e Ornamentação. Rio de Janeiro: Fundação João Pinheiro/Fundação Roberto Marinho, 1979, 171-3.
31
1765), com intervenção expressa do General Conde Luigi Ferdinando Marsigli (1658-1730),
um amante das Belas-Artes. Recebeu esse nome em homenagem ao Papa Clemente XI
que apoiou sua fundação.
A Academia, segundo os estatutos publicados em 1711, recomendava um
ensino apoiado no desenho e na pintura e possuía a Escola do Nu, para a formação de
pintores e escultores, e a Escola de Arquitetura, para a formação de pintores de quadratura
e de cenografia. A arquitetura ensinada na Academia não era a dos construtores, mas
aquela voltada à formação de quadraturistas e cenógrafos. A Escola de Arquitetura incluía
os cursos de arquitetura, geometria prática, perspectiva e ornato. No curso de perspectiva,
estudava-se também a paisagem e no de ornato, a decoração arquitetônica e o projeto de
objetos. Nos estatutos da Academia, previa-se ainda o ensino de pintura de paisagem, de
animais, de flores e frutos, o desenho de fortificações, as práticas de fundição de estátuas e
artilharia e de gravura em madeira e cobre. A formação era complementada por aulas
práticas em oficinas fora da Academia, nos cursos de caráter científico no Studio ou no
Instituto das Ciências. Os melhores alunos eram recompensados com prêmios em
reconhecimento aos trabalhos desenvolvidos durante o ano letivo.
Para Mendonça (apud Lobato, 1998, p. 12), “a iniciação de Landi no campo das
Belas Artes está ligada à figura do eminente Ferdinando Galli Bibiena (1657-1743), com quem
aprendeu os processos e recursos da perspectiva linear, absorvendo também traços de um
barroquismo exuberante”.
Os princípios adquiridos de Ferdinando Bibiena deram a Landi um grande
conhecimento das técnicas de representação arquitetônica através da perspectiva linear e
imprimiram em suas obras muitos traços barrocos.
Para Mello Júnior (1982, p. 101), Landi foi influenciado “pela obra de grandes
arquitetos como: Francesco Borromini, Luigi Vanvitelli, Carlo Dotto, Niccolo Salvi, Trevisani,
Alfonso Torregiani, Giovanni Carlo Bibiena e outros mestres do barroco” e recebeu “variadas
influências estilísticas, algumas de tendências classicizantes puristas, de um barroco menos
carregado, mais linear e mais simples” essas tendências, características do século XVIII,
estarão presentes em muitas de suas obras.
Landi teve seu talento reconhecido, a partir de prêmios21 recebidos dentro da
Academia Clementina: o Prêmio Marsili de segunda classe (1732) e os Prêmios Marsili de
primeira classe (1734 e 1737)22. Após essas conquistas, Landi foi indicado por Bibiena para
21 Os prêmios recebidos por Landi estão referidos nas atas da Academia Clementina (Documentos 2 e 3 em MENDONÇA, 2003a, p. 628). 22 O prêmio de 1732 foi conferido pelo desenho referente à fachada de uma igreja barroca adossada a um templo gótico (Ibid, p. 92); o de 1734, pelo desenho de uma porta de ordem dórica com planta e perspectiva (Ibid, p. 98);
32
preencher um lugar na Academia, o que foi aceito por unanimidade e, em 1747, é acolhido
como acadêmico de número, juntamente com Dotti e Torreggiani23.
Landi foi professor de perspectiva linear no Instituto de Ciências e Artes de
Bolonha, anexo à Academia e, a partir de 1745, de arquitetura, da Academia Clementina
conforme registro nas Atas da Academia.
Nesse período, foi freqüente em Bolonha, o uso de um recurso do qual Landi irá
se valer posteriormente: a coluna destacada. O tema é também recorrente em quase todas as
igrejas bolonhesas e não apenas nas da época barroca. Aliás, conforme Matteucci (1999, p.
84), a coluna destacada e as ordens arquitetônicas, na variação ornada, típicas das
cenografias bibienescas, são alguns dos elementos mais comuns nos documentos e trabalhos
clementinos mais significativos da primeira metade do século.
Landi era conhecido na Itália pelas suas atividades como gravador, tendo utilizado
a técnica da gravura em cobre, método cuja finalidade era a obtenção de documentos através
de desenhos precisos e detalhados de tipologias arquitetônicas por ele utilizadas. Esses
desenhos compõem dois álbuns considerados por estudiosos das obras de Landi, como
espécie de catálogos. No primeiro álbum, Racolta di alcune Facciate di Palazzi e Cortili de più
riguardevoli di Bologna24, encontram-se inúmeras fachadas de edifícios de Bolonha,
realizadas por grandes arquitetos do passado e aí registradas por Landi.
O outro álbum publicado, Disegni di architettura tratti per lo più da fabbriche
antiche ed intagliato da Giuseppe Landi25, é um pequeno álbum composto de estampas
feitas a partir de desenhos de famosos arquitetos italianos do século XVI ao XVIII e
também de desenhos do próprio Landi e representa, predominantemente, detalhes de
janelas e portas.
Além desses dois álbuns são conhecidos outros trabalhos de Landi como
gravador. Destacam-se as 12 gravuras em perspectiva, antecedidas por uma portada,
dedicadas à Santa Ana, que formam um álbum bastante diferente dos anteriores. Nesse
álbum predominam as representações de cenas onde se vêem monumentos clássicos,
obeliscos, colunas, capitéis, colunas destacadas, taças, lápides, além de algumas figuras
humanas esparsas, circundados por paisagens compostas de árvores e rios, com forte peso
cenográfico, bastante característico da escola bolonhesa.
o de 1737, pelo desenho de um grande átrio destinado ao passeio dos mercadores que terminava em uma majestosa residência (Ibid, p. 94). 23 A admissão de Landi, bem como de Dotti e Torreggiani, como acadêmicos de número da Academia Clementina é referida nos apontamentos da Assunteria di Istituto (Ibid, p. 634-5 Vide Documento 10). 24 Coletânea de algumas fachadas de palácios e pátios dos mais notáveis de Bolonha. (tradução de Flávio Nassar) 25 Desenhos de arquitetura na maior parte de fábrica antiga e entalhados por Giuseppe Landi. (tradução livre do autor)
33
O importante a observar nos trabalhos contidos nos álbuns é o fato de que
muitos dos detalhes arquitetônicos aí representados estarão presentes nos projetos
desenvolvidos posteriormente no Brasil, nos territórios do Pará e do Amazonas. No caso do
pequeno álbum, especificamente, as gravuras dos portais e janelas, servirão de inspiração
ao projeto para o palácio dos Governadores do Pará, em Belém (Fig. 44).
Além desse, podem-se observar pelo menos duas outras inspirações de Landi
contidas nos álbuns. A Igreja de Sant’Ana, em Belém (Fig. 36) repete a planta da igreja do
Colégio Pontifício de Mont’Alto (Fig. 31), do arquiteto Floriano Ambrosini, em cruz grega com
os braços ligeiramente mais curtos, além de utilizar o recurso da cúpula sem tambor,
decorada com faixas que se continuam nas pilastras, abaixo do entablamento, visível na
planta e no corte das gravuras de Landi para essa igreja.
Outro exemplo são os esquemas de fachada para a Capela de São João Batista
(Fig. 40), em Belém, e para uma capela projetada, provavelmente, para o palácio da família
do Governador Ataíde Teive, em Pangim, na Índia (Fig. 32), ambas semelhantes à fachada
da citada capela de Ambrosini.
Fig. 30 - Fachada da igreja do Colégio Pontifício de Mont’Alto, de Floriano Ambrosini Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 128
Fig. 31 - Planta baixa da igreja do Colégio Pontifício de Mont’Alto, de Floriano Ambrosini Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 128
Fig. 32 - Fachada da capela para o palácio da família do Governador Ataíde Teive, de Landi Fonte: www.forumlandi.com.br
Landi projetou uma igreja para os padres da ordem dos Agostinianos de Cesena,
em 174726, entretanto a atribuição de tal projeto é feita a Vanvitelli e não a Landi. Segundo
26 Nel 1747 l'architetto bolognese Giuseppe Antonio Landi fu incaricato del progetto per il completo rifacimento del complesso: la sua proposta ottenne l'approvazione di Luigi Vanvitelli, interpellato nella sua qualità di architetto pontificio (Disponível em: <www.comune.cesena.fc.it/sezione%20monumenti/santagostino.htm>. Acesso em:
34
Mendonça (2003a, p. 108), as referências são claras quanto à participação de Landi nesse
projeto bem como na igreja para os Franciscanos, na mesma cidade, conforme informações
contidas na correspondência de Giovanni Carlo Bibiena para o Conde Malvasia, datada de
20 de junho de 1750, como visto em Mendonça (2003c, p. 378-9).
Apesar de ter sido conhecido no meio artístico bolonhês, Landi não possui
trabalhos em sua terra natal. Dessa forma, pode-se deduzir que, devido à escassez de
trabalhos na Itália, aceitou a proposta de viajar ao Brasil a fim de elaborar cartas
geográficas. A proposta foi feita também ao matemático e astrônomo João Ângelo Brunelli
pelo padre carmelita João Álvares de Gusmão, que seguindo orientações do então rei de
Portugal, D. João V, incumbiu tal pessoa de contratar nas cidades italianas “sujeitos práticos
nos estudos de geografia e astronomia. Estes profissionais estariam encarregados de fazer
observações astronômicas e desenvolver cartas geográficas no Brasil” (BRAGA apud
LOBATO, 1998, p. 15).
Landi viajou para Portugal, em 1750, com vistas à preparação da viagem da
Comissão Demarcadora de Limites para o Brasil. Em terras lusitanas, o arquiteto pode
presenciar as mudanças ocorridas em Portugal provocadas pelos profissionais estrangeiros
aí residentes.
Conforme Mendonça (2003a, p. 25-6), o contrato de Landi foi feito a partir da
indicação de Francesco Zanotti, que à época ocupava a cadeira de Príncipe da Academia
Clementina. Apesar de não ser conhecida a data precisa da contratação, sabe-se que Landi
foi contratado apenas como "desenhador" devido a sua grande capacitação gráfica e seu
domínio dos desenhos artístico e técnico. Em 24 de agosto de 1750, a presença de Landi foi
confirmada por Zanotti, em notas manuscritas, e confirmada, anos mais tarde, por Cyrillo
Volkmar Machado27, memorialista português e pelo Conde de A. Raczynski28.
O italiano permaneceu em Lisboa de agosto de 1750 a junho de 1753, período
em que D. José I era rei de Portugal. Nesse curto período, dedicou ao rei um álbum de
desenhos alegóricos, de arcos triunfais e de monumentos fúnebres, e que contém também
dois sonetos escritos em italiano. Este álbum está guardado nos arquivos da Britsh Library,
em Londres. Nesse período, absorveu características do estilo barroco, predominante em
toda a Europa, porém incorporou também características do pombalino, cultura
arquitetônica do reinado de D. José I.
30/04/2008). (Em 1747 o arquiteto bolonhês foi encarregado do projeto para a completa reconstrução do complexo: a sua proposta obteve a aprovação de Luigi Vanvitelli, consultado na qualidade de arquiteto pontifício.) (tradução livre do autor). 27 Na obra: Collecção de Memórias relativas às vidas dos Pintores, e Escultores, Architectos e Gravadores Portugueses, e dos Estrangeiros que estiveram em Portugal, Coimbra Imprensa da Universidade, 1922. (MENDONÇA, 2003a, p. 26) 28 Dictionnaire Histórico-Artistique Du Portugal, Paris, Jules Renouard et Cie, 1847, p. 58. (MENDONÇA, Loc. cit.)
35
Segundo Braga (apud Lobato, 1998, p. 16):
[...] A Lisboa pombalina, entretanto, foi o acontecimento mais interessante do século XVIII português e teve grande repercussão na arquitetura. [...] a arquitetura oitocentista em Portugal foi marcada por uma intensiva internacionalização, dispersão e regionalização dos estilos e soluções arquitetônicas de que o classicismo passa então a surgir como apenas mais uma proposta. Entretanto isto aconteceu a partir da segunda metade do século XVIII, mais precisamente depois do terremoto que abalou Lisboa em 1755, sendo necessária a sua reconstrução já nos moldes do neoclassicismo, ou melhor, ao gosto pombalino relacionado ao dos iluministas portugueses que influenciaram, de certa forma, as obras de Landi em Belém quando os projetos eram remetidos à aprovação do Marquês de Pombal através do Governador do Grão-Pará e Maranhão Mendonça Furtado.
Antônio Landi, portanto, traria para a Amazônia uma integração estilística do
maneirismo, do neopaladianismo, do barroco tardio italiano, do rococó, importado de
decorações, e do pombalino português.
1.3.2. Landi no Brasil e em Belém do Grão-Pará
Landi partiu para o Brasil integrando uma das duas comissões demarcadoras
de limites, a chamada “missão do norte”, comandada por Francisco Xavier de Mendonça
Furtado, governador nomeado do Grão Pará e Maranhão e irmão do Marquês de Pombal.
A viagem para o interior do Amazonas só aconteceu em outubro de 1754. Em
dezembro do mesmo ano, Landi chegou ao arraial de Mariuá, no médio rio Negro, para o
encontro com os membros da comissão espanhola onde permaneceu até 1759. Mariuá
passou a ter uma importância política tendo sido elevada, no ano de 1757, à vila capital com
o nome de Barcelos.
Em Barcelos, Landi desenhou, em 1755, um sepulcro em forma de templo de
ordem dórica, para a capela de Santa Ana, provavelmente uma construção temporária,
erguida para as cerimônias de adoração ao Santíssimo Sacramento e a pintura da fachada
da mesma capela, obra só concluída após a viagem ao rio Mariuá. Também foram pintados
por Landi o interior da igreja Matriz de Barcelos, teto, paredes e altares (Fig. 107 e Fig. 108)
(MENDONÇA apud LOBATO 1998, p. 17).
Em finais de 1755, Landi dirigiu-se à Borba acompanhando Mendonça Furtado
com a função de elevar a localidade à vila. Conforme Mendonça (2003a, p. 322), “tendo-se
apercebido das capacidades de Landi como arquitecto, o governador encarregou-o do
projecto para a igreja e Casas de Câmara e Cadeia da nova povoação29 e do desenho para
o remate do pelourinho”. A construção da igreja e das Casas de Câmara só aconteceu em
29 Sobre a construção da igreja e das Casas da Câmara da vila de Borba existe referência em Carta de Francisco Xavier de Mendonça Furtado ao comandante da Vila de Borba (Ibid, p. 691-2).
36
1767, por ordem do então governador Ataíde Teive. É desconhecido, entretanto se os
edifícios construídos seguiram os projetos deixados por Landi.
Outro edifício construído em Borba e atribuído a Landi é a sede da Feitoria do
Negócio, do qual existe a planta e o desenho da fachada principal (ARAÚJO, 1998, p. 126-
9). Mendonça (2003a, p. 324), entretanto diz:
É provável que a sede da “Feitoria do Negócio” de Borba tenha sido projectada pelo mesmo arquitecto [que executou em Tabatinga um edifício30 com as mesmas funções] e não por Landi, que nessa altura [1773] já estava bem estabelecido em Belém, com inúmeras actividades de carácter público e privado.
Landi fixou residência definitiva em Belém no ano de 1759, casando-se duas
vezes. Segundo Mendonça (2003a, p. 334), ao regressar, foi encarregado de projetar três
igrejas paroquiais para o interior: a de Vila Viçosa de Cametá (Fig. 33), cujo modelo já havia
sido utilizado em Vigia, a de Santa Ana de Gurupá (Fig. 34) e a de Santa Ana de Igarapé-Mirim
(Fig. 35), esta última para servir como modelo para outras paróquias da Amazônia. Referentes
as de Cametá e Igarapé-Mirim são conhecidos os desenhos das fachadas e, para a de Gurupá,
os desenhos da fachada, de uma seção e da planta baixa. Das três fachadas a de Cametá é a
mais elaborada e nela vê-se alguma relação de semelhança com a Sé de Belém.
Fig. 33 - Projeto para a igreja paroquial de Cametá Fonte: http://www.forumlandi.com.br/bibliotecaArq/cameta121.jpg
Fig. 34 - Projeto para a igreja paroquial de Gurupá Fonte: http://www.forumlandi.com.br/bibliotecaArq/gurupa123.jpg
Fig. 35 - Projeto para a igreja paroquial de Igarapé-Mirim Fonte: http://www.forumlandi.com.br/bibliotecaArq/igarapemirim122.jpg
Mesmo tendo sido ordenada a volta de Landi a Lisboa em 1761, sua permanência
foi solicitada ao governo português o que foi atendido em 1763. A partir daí, o arquiteto se
envolveu nos principais projetos da cidade, alguns com dimensões extraordinárias.
30 Do edifício construído em Tabatinga, existe um desenho assinado pelo engenheiro militar Constantino Chermont, que segue visivelmente o mesmo esquema do edifício de Borba (Ibid, p. 324).
37
Landi passou a ser contratado como desenhista e arquiteto pelos vários
governantes que Belém teve ao longo dos 38 anos em que viveu na cidade. Dentre as
atividades de que participou estão: os projetos para a nova igreja do convento do Carmo,
para a igreja de Santa Ana, para a capela de Santa Rita ou da cadeia e para a capela de
São João Batista; os complementos da fachada e decoração da Sé; o projeto de
intervenções na Capela do Engenho Murutucu; os projetos para o Palácio dos
Governadores, para o Hospital Militar, hoje, Casa das Onze Janelas, para as novas
instalações dos Quartéis e para a “casa da ópera”31; a adaptação do Armazém das Armas,
que ocupou parte do colégio de Santo Alexandre; a decoração da abóbada da igreja de São
Francisco (atual Santo Alexandre); o projeto urbanístico para a vila de Chaves; além da
organização das festas de comemoração do casamento de D. Maria, princesa do Brasil,
com o Infante D. Pedro, seu tio, ocorridas de setembro a novembro de 1760, em Portugal.
No bairro da Cidade, atual Cidade Velha, foram instalados a igreja e o convento
de Nossa Senhora do Monte do Carmo, desde 1627, pela ordem dos Carmelitas Calçados.
Para a igreja, foi mandada vir de Lisboa, uma fachada de pedra cujas obras foram
concluídas somente em 1756. O adossamento da fachada à igreja ocasionou, entretanto,
abalos à estrutura da nave, que precisou ser demolida. Para sua reconstrução, foi então
chamado o arquiteto Landi, em 1766, que, para tal, desenhou uma planta e duas seções. O
projeto de Landi foi executado apenas parcialmente não tendo sido construída a capela-mor
e sua cúpula, permanecendo a capela-mor anterior. Essa configuração da igreja foi
inaugurada em julho de 1766.
Segundo Mendonça (2003a, p. 416), o projeto de Landi para a igreja de Santana,
em Belém (Fig. 36 e Fig. 37), é o mais bolonhês dos seus trabalhos e diferencia-se da
tradição luso-brasileira pela presença da cúpula, elemento também existente na Igreja de São
João Batista, em Belém. Foi elaborado sem a necessidade de adaptações a construções pré-
existentes e surgiu para servir de sede da nova freguesia da Campina. Sua construção foi
iniciada em 1760 e concluída somente em 1782, graças ao apoio financeiro de moradores da
cidade, inclusive do próprio arquiteto italiano, que fazia parte da irmandade da referida igreja.
Um recurso estrutural utilizado pelo arquiteto, e que também esteve presente em
seu trabalho para a igreja dos agostinianos em Cesena, são as abóbadas estruturais em
alvenaria de pedra, com os arcos continuados nas colunas engajadas e que marcam a
ordenação interna das naves.
31 A “casa da ópera”, edifício já desaparecido, também chamado “theatrinho”, localizava-se ao lado do Palácio dos Governadores. Desse teatro, existe apenas uma gravura nas memórias de viagem de Paul Marcoy, do século XIX, que mostra o edifício já em ruínas (Ibid, p. 526-7).
38
Fig. 36 - Fachada da Igreja de Sant’Ana Fonte: www.forumlandi.com.br/bibliotecaArq/frontariasantana.jpg
Fig. 37 - Planta baixa da Igreja de Sant’Ana Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 407
Na Rua dos Mercadores, atual Rua João Alfredo, em frente às Casas de Câmara
e Cadeia foi construída, para servir de oratório aos presos, a capela de Santa Rita de Cássia
(Fig. 38 e Fig. 39). Para Mendonça (2003a, p. 384), os desenhos – uma planta e duas
seções - não identificados, para uma pequena capela, anexos aos projetos para a Sé de
Belém, podem ser os da referida capela dos presos. O que leva a historiadora a fazer tal
atribuição, são as suas reduzidas dimensões, suas semelhanças com a capela para o
Palácio dos Governadores, além das inúmeras aberturas nas paredes laterais, que parecem
servir a facilitar a visualização das cerimônias ali realizadas, o que era objetivo da capela.
Fig. 38 - Altar-mor da Capela de Santa Rita Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 386
Fig. 39 - Planta baixa da Capela de Santa Rita Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 385
39
A pequena igreja de São João Batista (Fig. 40 e Fig. 41), a jóia de Bazin32, foi
construída em 1648, ainda que primitivamente, sendo mais tarde, já no ano de 1686,
reconstruída, porém logo depois demolida. Tal igreja só conheceu os traços do arquiteto
bolonhês, entre os anos de 1772 e 1777. Segundo Braga (1998, p. 82), estes traços podem
ser perfeitamente observados através do emprego da perspectiva em trompe I'oeil, que o
arquiteto utilizou nos altares da capela, influenciado pelas cenografias dos Bibiena.
Fig. 40 - Fachada da Igreja de São João Fonte: www.forumlandi.com.br/bibliotecaArq/frontariasaojoao.jpg
Fig. 41 - Planta da Igreja de São João Fonte: www.forumlandi.com.br/bibliotecaArq/plantasaojoao.jpg
Ainda no bairro da Cidade, foi implantada a Sé. A primeira igreja funcionou em
uma edificação de taipa e cobertura de palha. A nova igreja teve sua construção iniciada em
1748 e cresceu em torno da antiga edificação. “Em 1753, o corpo da igreja (nave e
transepto) estava concluído. Faltavam lançar a abóbada e acabar o frontispício e as torres,
que então estavam na raiz das torres sineiras” (MENDONÇA, 2003a, p. 294).
A participação de Landi nessa obra é sabida na fachada conforme Alexandre
Rodrigues Ferreira, no Diário da Viagem Philosophica33. Isabel Mendonça (2003a, p. 469)
atribui a Landi os anexos da Sé – sacristia e sala dos pontificais – e a composição em estuque
do batistério, além de alguns desenhos referentes a um órgão, a detalhes decorativos, aos
retábulos para capela lateral da nave e para o altar-mor e a um guarda-vento.
32 O autor [Germain Bazin] simpatiza-se [...] com a Igreja de São João, classificando-a de joyau d´architectur, est le chef d´oeuvre de Landi, a obra é citada no item 99 em MELLO Júnior, Donato. Bibliografia Comentada. In: Antonio José Landi, Arquiteto de Belém. Rio de Janeiro: 1973, n.p. 33 FERREIRA, 1784, n.p.
40
A capela do Murutucu (Fig. 42), localizada no engenho do mesmo nome, tem
sua construção ligada aos frades mercedários ou carmelitas. Mello Júnior (1973, n.p.)
atribuiu pela primeira vez a autoria da capela a Landi: “Landi é o arquiteto da capela do
Murutucu, embora não conheçamos documentação original”, porém costuma ser atribuído
apenas seu restauro. Para Mendonça (2003a, p. 504), a capela é certamente obra de
Landi conforme a descrição a seguir:
[...] uma modinatura dos elementos arquitetónicos e decorativos comuns à sua obra. A estrutura descarnada do edifício permite ainda observar a técnica construtiva por ele utilizada nas obras realizadas em Belém, trazida de Bolonha, onde era vulgar o emprego de placas de tijolos sobrepostos em molduras, entablamentos e fustes de colunas [...]
Além disso, não existe nas estruturas qualquer sinal que comprove um restauro
de uma construção pré-existente.
Fig. 42 - Ruínas do altar-mor da Capela do Engenho Murutucu Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 505
Fig. 43 - Capela sepulcral do Governador Ataíde Teive Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 485
Do outro lado da cidade, no extremo do bairro da Campina, situava-se o
convento34 dos frades capuchos de Santo Antônio, com igreja e capela da irmandade35 da
Ordem Terceira de São Francisco da Penitência36 anexas. A capela teve sua primeira
construção no ano de 1694, sendo mais tarde reconstruída no seu modelo atual entre os
anos de 1748 e 1754. Segundo Braga (apud Lobato, 1998, p. 27), “quando Landi chegou a
Belém a capela já estava praticamente concluída e a participação do arquiteto se restringiu
apenas à decoração dos retábulos dos altares”. 34 O primeiro edifício que abrigou os frades foi erguido em 1627 e reconstruído posteriormente entre 1736 e 1743 (Ibid, p. 287). 35 Landi foi membro da irmandade da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência (Ibid, p. 287). 36 A capela foi construída entre 1748 e 1754. Em 1786, a irmandade pediu autorização para abrirem uma porta de comunicação com o exterior em razão dos constantes atritos com os frades capuchos. (AHU, Brasil, Pará, Caixa 44-758) (Ibid, p. 836-7 Vide Documento 135)
41
No convento, conforme Baena (1969, p. 183), o Governador Fernando de Ataíde
Teive, em 1769: “Faz Capella e sepulcro no Claustro [...] para deposito do seu corpo se
fallecer no Pará”, segundo projeto de Landi que para esta capela deixou uma seqüência de
desenhos37 (Fig. 43). Segundo Mendonça (2003a, p. 486), essa capela é a que hoje é
dedicada à Nossa Senhora de Lourdes, pois suas características se assemelham às
descrições de Baena e aos desenhos de Landi.
Conforme análise feita por BRAGA (1997, p. 50):
[...] Landi utilizou diferentes tipologias de plantas nas igrejas e capelas projetadas por ele em Belém. Os templos religiosos de planta central têm proporções menores que os de planta longitudinal, não havendo nenhum registro formal do porquê desta medida adotada pelo arquiteto, inclusive no que diz respeito à condição, valor e importância entre os templos.
Outra característica dos projetos de Landi para igrejas é a ausência de torres
nas fachadas. Os projetos para Santana e São João são exemplos disso, esclareça-se que
as existentes na fachada de Santana foram acrescentadas em 1839.
Das igrejas existentes na cidade, a mais antiga era a pertencente à Companhia de
Jesus – a igreja de Santo Alexandre, com convento e colégio, concluída entre 1718 e 1719.
O complexo, após a expulsão dos jesuítas, foi ocupado pelo bispo e o Seminário
teve uma de suas alas adaptadas a armazém de armas, a partir de projeto de Landi
(MENDONÇA, 2003a, p. 283).
Também é de Landi a decoração da abóbada da igreja conforme referência do
padre Francisco Wolf em 1756. No relato, o padre ressalta a substituição da velha abóbada,
na capela do altar principal, por uma nova abóbada dourada com ornamentos
acrescentados (MENDONÇA, 2003a, p. 326).
Além das edificações citadas anteriormente, existia também na cidade, desde
1640, o convento dos religiosos de Nossa Senhora das Mercês. Os mercedários utilizaram o
material da região (taipa e palha) para erguer a primeira edificação. O prédio atual teve sua
inauguração em 1763. Robert Smith, historiador norte-americano, em artigos datados de
1951 e 1960, atribui a igreja a Landi, por comparação com a fachada do Carmo, de Belém,
equivocadamente também já atribuída ao italiano. Isabel Mendonça (2003a, p. 301),
entretanto, diz ser “totalmente desajustada a atribuição desta igreja a Landi, no seguimento
da associação ao nome deste artista” feita por Smith, para ela, a presença landiana está,
possivelmente, no trabalho de talha dos retábulos do altar-mor e da capela da Encarnação e
nos dois púlpitos.
37 Esses desenhos fazem parte de um álbum de desenhos oferecido por Landi ao governador Ataíde Teive (Ibid, p. 484).
42
A igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos era a matriz do bairro
da Campina. Do templo atual, não existe prova documental de sua ligação com Landi,
entretanto, conforme Mendonça (2003a, p. 536), “é clara a influência da sua obra, tanto na
volumetria da fachada, como nos próprios retábulos do altar-mor e dos altares laterais”.
Além da arquitetura religiosa, Landi deixou na paisagem de Belém edificações
civis e militares. O Palácio dos Governadores (Fig. 44) foi construído pela necessidade de
abrigar os governantes locais em um lugar mais adequado. As obras do novo Palácio
iniciaram no governo de Mello e Castro, porém só foram concluídas em 1771. Nesta época,
o prédio foi considerado a instalação governamental mais nobre do Brasil. Alguns dizem,
que a grandiosidade dessa construção deveu-se pela possibilidade de a Família real vir a
fixar residência por algum tempo na Belém do Grão-Pará.
O Palácio tem planta quadrangular e um pátio retangular central. É desenvolvido
em três pavimentos. No primeiro pavimento, destaque para a capela, aquela citada por
Alexandre Ferreira, em 1783, como um dos “oratórios públicos” existentes na cidade e que
servia para a família do governante. No segundo, destaque para os grandes salões. Sua
fachada posterior, segundo Robert Smith (apud Trindade, 2003, p. 10), é a mais italiana de
todas. Dos projetos de Landi, é o que apresenta o maior número de desenhos conhecidos,
inclusive para a escada monumental e para a capela anexa.
Fig. 44 - Palácio dos Governadores - seção transversal e fachada Fonte: www.forumlandi.com.br/bibliotecaArq/fachadacorte2.jpg
O Hospital Real teve sua primeira construção, no início do século XVIII. Landi foi
chamado em 1771 a intervir na antiga construção, onde foram feitas reformas e adaptações.
Durante alguns anos, serviu de abrigo ao Depósito de Suprimentos do Exercito da 8ª Região
43
tendo sido bastante modificado em comparação ao projeto original de Landi que não
apresentava frontão triangular. Hoje, o prédio é ocupado pela Casa das Onze Janelas.
O projeto para a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão foi
desenvolvido por Landi e é constituído de três pranchas, contendo: plantas baixas do
pavimento térreo e superior, duas fachadas e um corte. O projeto entretanto não foi
executado. Seria construído para abrigar a empresa da Companhia de Comércio em Belém,
com administração, depósitos, armazéns, cozinhas e alojamento de escravos.
O Quartel dos Soldados, edifício já desaparecido, foi edificado no governo de
Pereira Caldas (1772-1780), localizou-se em frente ao largo dos Quartéis, hoje, Praça da
Bandeira. “Esta construção representou o marco da fixação da zona militar” (BRAGA, apud
LOBATO, 1998, p. 32). O referido quartel foi identificado por Donato Mello Júnior em uma
litografia de Joseph Léon Righini38. Conforme descrição de Mello Júnior, “a litogravura tem a
curiosidade de mostrar, no [...] século XIX, três obras em que Landi colaborou: a Catedral, o
Palácio do Governo, visto de lado e o Quartel”.
Segundo Mello Júnior (1972, n.p.), Landi também teria sido o autor dos projetos de
três sobrados construídos na segunda metade do século XVIII e pertencentes a ricos
proprietários do Pará39: Manuel Raimundo Alves da Cunha40, Antônio de Sousa de Azevedo41
(Fig. 45) e João Manuel Rodrigues. Dessas edificações, existem desenhos realizados por
José Joaquim Codina, desenhista da Viagem Philosophica de Alexandre Ferreira.
Fig. 45 - Residência de Antônio de Sousa de Azevedo, desenho de J. J. Codina Fonte: Mendonça, 2003a, p. 514
38 A litogravura faz parte do Catálogo da exposição cartográfica e iconográfica comemorativa do V centenário do nascimento de Pedro Alvares Cabral, Descobridor do Brasil, Lisboa, 1968, il (MELLO Júnior, 1973, n.p.). 39 Os três sobrados pertenciam a Antonio de Sousa de Azevedo, João Manuel Rodrigues e Manuel Raimundo Alves da Cunha, dos quais apenas o terceiro ainda existe (MENDONÇA, 2003a, p. 513). 40 Esse sobrado se localiza na esquina das ruas Frutuoso Guimarães com João Alfredo, em Belém. 41 Esse sobrado, conforme relatos de Alexandre Ferreira, era conhecido como Palacinho e era “considerado uma das mais notáveis construções residenciais de Belém“ (MEIRA Filho, 1969, p. 1).
44
Além das obras já citadas existe ainda o projeto para os Arcos Triunfais dedicados
a D. José (Fig. 46) e ao governador Fernando da Costa de Ataíde Teive (Fig. 47). Os arcos
seriam construídos em frente ao Palácio dos Governadores, o que, porém, nunca veio a
ser realizado. Seus desenhos foram baseados nas cenografias dos Bibiena e contêm
elementos decorativos barrocos e rococós.
Fig. 46 - Arco triunfal dedicado a D. José Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 425
Fig. 47 - Arco triunfal dedicado ao governador Ataíde Teive Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 426
O lado naturalista de Landi foi mostrado no livro Descrizione di varie Piante, Frutti,
Animali, Passeri, Pesci, Biscie, rasine, e altre simili cose Che si ritrovano in questa Cappitania
del Gran Para42 no qual retratou 154 espécies de vegetais e animais da região a partir das
informações obtidas nos levantamentos realizados pelos integrantes da Viagem Philosophica
dirigida pelo naturalista baiano Alexandre Rodrigues Ferreira. Segundo Mendonça (apud Lobato,
1998, p. 18), Landi ofereceu a Ferreira em 1784 “uma coleção de desenhos de arquitetura,
representando fachadas, cortes e plantas de sua autoria e ainda desenhos para a pintura de
quadratura que realizara em interiores de igrejas em Belém e Barcelos” produzida na última
viagem de que participou fazendo parte da segunda Comissão Demarcadora de Fronteiras.
Conforme Mendonça (apud Lobato, 1998, p. 18-9):
[...] Poucos anos depois de sua partida para a sua segunda expedição a Barcelos, Landi regressou gravemente doente a Belém, falecendo em julho de 1791, na fazenda de Murutucu, quase com setenta e oito anos de idade. Segundo a tradição local jaz na igreja de Santana, embora nunca tenha sido encontrado o local de sua sepultura. A notícia da morte de Landi, chega a Bolonha no ano seguinte, sendo comunicada à Academia Clementina por carta de Gabriele Dotti Brunelli.
42 Descrição de várias plantas, frutas, animais, pássaros, peixes, cobras, raízes, e outras coisas semelhantes que se acham nesta Capitania do Grão Pará (tradução de PAPAVERO et al, 2002, p. 63).
45
Segundo Tocantins (apud Lobato 1988, p. 17), “Landi traz para a Amazônia sua
experiência cultural européia ao mesmo tempo que se luso-tropicaliza, isto é, torna-se
homem do trópico, assimilando valores portugueses e indígenas”.
Para Mello Júnior (1982, p. 102), Landi “foi um arquiteto eclético que soube
projetar e conciliar, com talento, arte, harmonia e proporção, várias correntes de estilo,
aplicando-as com bom gosto, sem misturá-las, antes as harmonizando”. Como prova
disso, observem-se suas obras na Amazônia.
No Palácio dos Governadores, a fachada principal é pombalina, mas a posterior, voltada para o antigo jardim, é italiana. O interior da igreja de Santana é tipicamente italiano, como italiano o estilo da capela do Murutucu. As composições decorativas para a matriz de Barcelos filiam-se diretamente ao caráter cenográfico da escola dos Bibiena. (MELLO Júnior, 1982, p. 102).
Ainda para Mello Júnior (1982, p. 102), a influência de “Borromini está presente
em vários detalhes landianos, como no tratamento ornamental das sobrevergas e dos
frontões partidos ou encurvados”.
Importante é observar que o trabalho de Landi em Belém apresenta
paralelamente as duas correntes do barroco tardio, a de tendência classicizante e a de
influência borromínica, que caracterizavam a arquitetura de Roma naquela época.
Segundo Oliveira (2003, p. 136):
Se a vertente classicizante inscreve-se diretamente no contexto de sua formação na Academia Clementina de Bolonha, a sedução dos temas borromínicos, ao que tudo indica, poderia estar relacionada com a breve estadia em Lisboa entre 1750 e 1755, à espera do embarque para a Amazônia.
Para Braga (1998, p. 129), pelas influências que sofreu, Landi “utilizou elementos
do tardo-barroco italiano associados, em certas ocasiões, a elementos de influência da
arquitetura portuguesa em composições simples e sem muitos ornamentos, talvez pela
escassez de materiais na região, o que pode ter limitado o resultado final da obra no que
concerne aos elementos decorativos”.
A análise estilística da obra de Landi, ainda conforme Braga (1998, p. 130),
reafirma a influência de Palladio, “através de seus conceitos e estudos sobre os
monumentos da Antigüidade Clássica [...] tomados como modelos”. Aí está, certamente, a
origem de classificá-lo como o precursor do neoclassicismo no Brasil. Entretanto, Landi
também mostra em sua obra os elementos da cultura barroca absorvidos na Itália, pátria de
sua formação. A explicação para isso está fundamentada no fato de que “a difusão da
cultura arquitetônica através de tratados propicia a incorporação de elementos de momentos
históricos e culturas arquitetônicas diferenciadas”.
46
2. A CAPELA POMBO
2.1. CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA E ATUAL DA ÁREA DE PESQUISA
Se considerarmos a formação da cidade de Belém a partir da chegada dos
portugueses, em 1616, sua ocupação se deu, inicialmente, às proximidades do forte,
formando o bairro da Cidade, atual Cidade Velha. Em seguida, ainda no século XVII, foi
expandida para a área que corresponde ao bairro da Campina, sendo essas duas áreas, à
época, separadas pelo alagado do Piri.
Fig. 48 - Área de ocupação inicial da cidade de Belém. Fonte: Adaptado de Google, 2008
A Campina surgiu a partir do eixo Rua dos Mercadores43 (posteriormente rua da
Cadeia e atual Conselheiro João Alfredo) / Santo Antônio. Outrora um bairro essencialmente
residencial, foi, com o passar do tempo, sendo modificado para comercial, e, atualmente, é
chamado bairro do Comércio.
A área é marcada por vias estreitas, característica do traçado empregado no
núcleo de formação da cidade nos séculos XVII e XVIII. Essas vias têm revestimento
asfáltico – que, segundo Teixeira (1998, p. 58), “inicialmente, eram de terra batida e,
posteriormente, de paralelepípedos” - e calçadas, revestidas com pedras de lioz, cimento ou
ladrilho hidráulico.
43 Conforme relatos de Alexandre Ferreira “a rua mais larga aberta até o ano de 1784, era a da CADEIA no bairro da CAMPINA [...] não tinha regularidade nem dimensão oficial” (FERREIRA, 1784, n.p.).
47
Predomina na área um efeito de encaixotamento ocasionado por ser a largura
das vias quase sempre menor que a altura das edificações (Fig. 49).
Fig. 49 - Efeito do encaixotamento na Rua Senador Manoel Barata Fonte: Domingos Oliveira, 2007
O tráfego de veículos e pedestres é intenso na área. O eixo comercial principal
formado pela Rua João Alfredo e alguns trechos de ruas são restritos aos pedestres, sendo
liberados aos veículos apenas aos domingos, feriados e após o horário comercial, tendo em
vista a intensa ocupação do leito viário por vendedores do comércio informal (camelôs).
Devido à largura das ruas, aos afastamentos e aos alinhamentos das
edificações, a inexistência de árvores é total, salvo nas praças e largos, sendo as áreas de
sombreamento localizadas próximas às edificações.
Conforme levantamento realizado na área44, há um predomínio de edificações de
dois pavimentos (46%), seguido das de 1 pavimento (28%), que ocupam o lote em quase
toda sua extensão, sem afastamentos de fachada e/ou laterais, particularidade urbanística
do período de ocupação da área (Fig. 50).
44 Para esse estudo, o universo de análise foi reduzido a 9 quadras, limitado pelas ruas Senador Manoel Barata e 13 de Maio, entre as travessas 7 de setembro e Frutuoso Guimarães e pelas Travessas Padre Eutíquio e Campos Sales, entre as Ruas Ó de Almeida e Conselheiro João Alfredo.
48
Fig. 50 - Gráfico - n.º de pavimentos Fonte: Levantamento do autor. Nov/2007
Fig. 51 - Gráfico - uso do solo Fonte: Levantamento do autor. Nov/2007
O uso das edificações do local é predominantemente comercial (74%) (Fig. 51). A
modalidade serviço é marcada por áreas de antigas construções que foram demolidas e
transformadas em estacionamentos pagos. Algumas edificações apresentam o uso misto:
comercial/serviço no pavimento térreo e habitacional nos demais pavimentos. Além disso,
ainda se encontram pouquíssimas edificações de uso institucional. O uso residencial,
exclusivamente, quase não existe e o religioso é marcado pela capela do Senhor Bom Jesus
dos Passos e por uma edificação antiga ocupada, mais recentemente, por uma igreja
evangélica localizada na Travessa Padre Eutíquio entre as ruas Ó de Almeida e Manuel
Barata. Devido ao uso do solo, a área apresenta um sério problema comum aos Centros
Históricos em geral: enquanto durante o horário comercial há uma grande movimentação, à
noite e aos domingos, a área é quase deserta.
A população dessa zona, em sua maioria, é flutuante, e corresponde aos
trabalhadores ou freqüentadores do comércio. A população que aí reside é muito reduzida,
concentrando-se, basicamente, no edifício Justo Chermont, localizado na Travessa Campos
Sales, esquina da Rua Manoel Barata e em alguns outros pontos.
Por se tratar de uma área localizada no Centro Histórico de Belém, é tombada e
regulamentada pela Lei N° 7.709, de 18 de maio de 1994, e, como tal, possui várias
edificações com interesse de preservação. Dentre essas edificações, são variáveis os graus
de modificação de suas características arquitetônicas originais, existindo exemplares que
ainda conservam suas feições, principalmente no pavimento superior, bem como aquelas que
sofreram, ao longo do tempo, intervenções que os descaracterizaram quer interna, quer
externamente.
49
A área é bastante conturbada pela inexistência de uma organização dos
equipamentos urbanos e elementos visuais (sinalização de trânsito e elementos de propaganda
e publicidade). A quantidade de informações veiculadas no ambiente é muito grande, e, por
isso, os possíveis pontos de interesse tornam-se quase imperceptíveis. A apreensão do lugar é
baixa, pois é quase impossível se distinguirem elementos de interesse visual. Além disso,
postes e cabos elétricos e telefônicos contribuem ainda mais para aumentar essa dificuldade
de apreensão do ambiente.
É necessária uma atenção45 muito grande para perceber detalhes nessa paisagem.
Elementos decorativos de fachada, muitos deles de significativa complexidade46, são comuns à
área, mas concorrem com a presença maciça de outros estímulos sensoriais que os encobrem.
Embora de grande fluxo de pessoas, a área, pelo estado em que se encontra, de
desordem física, visual e sonora, tem poucos elementos atrativos a não ser aqueles que
dizem respeito às funções de comércio e serviço, mesmo assim, muitas pessoas evitam
freqüentá-la, atraídas por outras opções na cidade.
Muitas edificações que ainda restam dos anos de formação do bairro encontram-
se em avançado processo de descaracterização. Uma análise detalhada do lugar, que
observe pontos focais ou marcos visuais, torna-se fundamental quando se pensa na
possibilidade de intervenção e readequação do local.
A capela do Senhor Bom Jesus dos Passos e o casarão contíguo (Fig. 52) estão
situados na Travessa Campos Sales, antiga Rua do Passinho, no perímetro compreendido
entre as ruas 13 de Maio e Senador Manoel Barata (Fig. 53).
Fig. 52 - Casarão e capela - registro sem data Fonte: Biblioteca do IPHAN
45 As paredes que geralmente não têm grande significado à primeira vista, podem, subitamente, ganhar vida para um observador atento (CULLEN, 1990, p. 65). 46 A complexidade é a qualidade que tem sido menos compreendida (ou mais raramente posta em prática) na construção contemporânea que parece não ir além do óbvio. A complexidade é um meio de cativar o olhar (Ibid, p. 67).
50
Fig. 53 - Área do entorno da capela Fonte: Adaptado do GoogleEarth, 2008
A partir da cartografia conhecida da cidade de Belém do Grão Pará do século
XVIII e dos escritos a esse respeito, observa-se a representação de uma edificação em um
pequeno largo na confluência da atual Travessa Campos Sales com a atual Rua
Conselheiro João Alfredo.
No levantamento realizado por Schwebel (Fig. 54), sob ordem do Capitão-
General e Governador do Estado do Maranhão, Grão Pará e Rio Negro, Francisco Xavier de
Mendonça Furtado, de 1753, a edificação é representada, porém não está indicada na
legenda, ao contrário do levantamento do mesmo autor de 1758, espécie de ampliação da
planta anterior, em que é feita referência à existência de “huma capella” nesse local.
Fig. 54 - Planta da cidade de Belém do Grão Pará, em 1753, de Schwebel Fonte: adaptado de Reis, 2001, p. 269
51
A respeito dessa edificação, Barata (1914, p. 1) faz a seguinte descrição:
Ao lado oriental da antiga rua da Cadeia [...] (e hoje do Conselheiro João Alfredo), canto meridional da outr’ora rua do Passinho (modernamente travessa Campos Sales), havia um pequeno e modesto edifício terreo, quadrilongo, de uma só porta de entrada, e um altar, ao fundo, com um retábulo do Senhor dos Passos. Era o Passinho. Fôra mandado erigir pelo Bispo D. Fr Miguel de Bulhões, em 1756, para que ahi se representasse um dos sucessos da paixão de Christo, no percurso da procissão dos Passos. Dahi lhe viera o nome, dado também depois à rua que lhe passava ao lado. Pelos anos de 1839 [...] entrando em ruínas, as paredes do edifício, aquela comemoração do culto catolico passou a ser feita na capela particular da família Pombo, vulgarmente chamada dos Pombos [...]
A ermida do Passinho foi utilizada, durante certo período, como local de
administração dos sacramentos pela falta de uma igreja própria na Freguesia da Campina47.
Uma planta, conforme Barata, desenhada, possivelmente, entre 1754 e 1761,
identifica a construção como o Pacinho.
Posterior a esse levantamento, é conhecido um de 1761 (Fig. 55), mandado
desenhar pelo Governador e Capitão-General Manuel Bernardo de Mello e Castro de cujo
autor é desconhecido e do qual existem três versões. Nessa representação, o Pacinho, com c,
é indicado como Passinho, com ss (MELLO Júnior, 1970, p. 19 e 23).
Fig. 55 - Planta da cidade de Belém, em 1761 Fonte: adaptado de REIS, 2001, p. 268
As plantas seguintes de 1771 e 1773, de Gronsfeld, não indicam a referida
edificação. “Teria sido demolida?”, pergunta Mello Júnior (1970, p. 27). A dúvida pode ser
esclarecida pela informação de Manuel Barata (1914, p. 1): “Em 1841, já completamente
arruinado o abandonado edifício, e constituído imminente perigo para os transeuntes mandou-
o demolir a câmara municipal”. 47 A igreja da Misericórdia, depois o Passinho e, por último, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos foram utilizadas como local de administração dos sacramentos na Freguesia da Campina até que a Igreja de Santa Ana fosse construída. Doc. 108 - 22 de julho de 1772, “Requerimento do juiz e irmãos da irmandade do Santissimo Sacramento da freguesia do bairro de Campina da cidade de Belém do Pará, pedindo apoio para a continuação da obra da igreja de Santa Ana,...”, localizado no APEP/AHU) (MENDONÇA, 2003a, p. 690).
52
Nestor Goulart Reis (2001, p. 270), apresenta uma planta de 1780 (Fig. 56), de
Gronsfeld, que segundo o autor, “é quase idêntica a de 1761 e, provavelmente, aproveitou o
levantamento de 1753”. Nessa planta, a edificação é mais uma vez representada e
identificada como o Pacinho.
Fig. 56 - Planta da cidade de Belém, em 1780, de Gronsfeld Fonte: adaptado de REIS, 2001, p. 270
A construção é referida, nas plantas recolhidas por Alexandre Ferreira na Viagem
Philosophica (1783-1792). De uma delas (Fig. 57) são desconhecidos o autor e a data de
execução e, nessa, a edificação não é nomeada, apenas representada graficamente. Na
outra, de 1791 (Fig. 58), realizada pelo Engenheiro Theodósio Constantino de Chermont,
considerada a mais completa do período, o Pacinho consta na legenda, porém sem a
indicação da construção (MELLO Júnior, 1970, p. 39).
Fig. 57 - Planta da cidade de Belém, sem autor e data conhecidos Fonte: adaptado de www.forumlandi.com.br/bibliotecaArq/62a.jpg
53
Fig. 58 - Planta da cidade de Belém, em 1791, de Chermont Fonte: adaptado de REIS, 2001, p. 277
Alexandre Ferreira, em seus relatos a respeito das “modernas” casas existentes
na cidade em 1784, faz referência, entre outras, a de propriedade de “Antônio de Sousa
Azevedo e vulgarmente chamada de PALACINHO” (Fig. 45) (FERREIRA, 1784, n.p.).
Essa residência era uma das mais notáveis da época e a imponência de sua
arquitetura faria com que fosse conhecida como “pequeno palácio, pequeno paço ou palacinho,
pacinho” (MEIRA Filho, 1969, p. 1). Conforme Mello Júnior (1970, p. 16), uma nobre mansão,
projeto de Landi, seria erguida na mesma esquina em que outrora existira a capelinha.
Observa-se um conflito de informações: conforme Manuel Barata (1914, p. 1), a
capelinha do Passinho ainda existia por volta de 1839, quando as cerimônias realizadas
passaram a ter lugar na Capela dos Pombos. Porém, o que dizer da afirmação de Mello Júnior
acima, que diz ter sido o Palacinho, referido por Ferreira ainda em 1784, construído na mesma
esquina? A verdade é que em sua “Miscellanea Historica para servir de explicação ao
Prospecto da cidade do Pará”, Ferreira diz apenas que a tal residência estava situada na rua
da Cadeia, sem, entretanto, precisar sua localização.
Manoel Barata (18--?, p. 110) em seu “Apontamentos para as Ephemérides
Paraenses”, a respeito da capelinha diz que em 1784 “O Edifício do Passinho já existia [...], no
ângulo da rua da Cadeia com a travessa que delle tomou o nome (lado ocidental da travessa e
sul da rua). Era construído de pedra e cal”. A afirmação de Barata poderia, então, bastar para
concluir que a rua recebeu sua denominação primitiva a partir de uma construção ali existente.
54
Independente da denominação - Passinho, Pacinho ou Palacinho – é certo que
existiu uma edificação de singular importância à paisagem urbana da época, visto a freqüente
referência a essa esquina da cidade.
Outro fato a ser levado em consideração é a constante troca do c por ss, e vice-
versa, nos documentos conhecidos do período e que ocorre sem maiores preocupações.
Nos levantamentos analisados, observa-se que a Travessa Campos Sales, está
presente em todos eles. Com 5 ou 6 quadras, a via começa na atual Rua 15 de novembro e
segue em direção à floresta, na direção Noroeste-Sudeste.
Esta via, como faz parte do segundo bairro de Belém, possuiu importância
significativa na formação da área e guarda, em suas edificações, muito da história da cidade o
que é confirmado, por exemplo, pelo relato de Meira Filho (1964, p. 30-2):
Quem diria no passado, lá pelos idos do século dezoito, que esta Belém quando avançava para as bandas da Campina, iria possuir uma travessa capaz de por si só, substituí-la. [...] se um dia viessemos a perder a delicia dessa tranqüilidade noturna que [Belém] nos proporciona [...] ainda estaríamos a salvo, contando com uma verdadeira cidade, se restasse nos escombros, intacta, perfeita, a poética travessa Campos Sales! [...] Parece incrível que sem qualquer outra preocupação e programa prévios estudados [...] tenhamos, ali, tudo de que necessitamos para viver e ser feliz! [...] possui em toda a sua extensão longitudinal, farmácias, hotéis, barbearias, livrarias, casas de modas, loterias, escola superior, biblioteca pública, cafés, ourivesarias, impressoras, sapatarias, engraxates, um bom sêbo, movelarias, lojas de todo gênero, inúmeras residências [...] e uma graciosa capela para os batizados e casórios... e um templo hebráico!
A capela, objeto de estudo desse trabalho, e o casarão contíguo, são apenas
alguns dos possíveis atrativos do local, entretanto, o estado de conservação e a
descaracterização em que se encontram, preocupam pela sua manutenção na paisagem
urbana, ao mesmo tempo em que imprimem ao transeunte um sentimento de
desconhecimento e desvalorização dos edifícios, diminuindo o potencial interesse por eles,
salvo pelo referencial simbólico ainda associado à capela, porém sem maiores relações ao
prédio em si, mas pelo seu valor religioso, ainda vinculado a algumas festividades do
calendário católico na cidade.
2.2. SÍNTESE HISTÓRICA DA CAPELA POMBO
A história da Capela do Senhor dos Passos (Meira Filho, 1969, p. 1) ou do Senhor
Bom Jesus dos Passos (Tocantins, 1987, p. 265) ou ainda de Nosso Senhor dos Passos
(IPHAN) está ligada ao ilustre Coronel Ambrósio Henriques.
55
Diz a tradição, que por ele foi mandada construir, anexa ao sobrado de sua
propriedade, com a finalidade de que a família pudesse participar da missa e de outras
cerimônias religiosas, acompanhada dos amigos e de alguns escravos.
Sua construção teria sido concluída em 179048, embora já existisse em 1784,
tendo sido referida por Alexandre Ferreira, em sua “Miscelânea Histórica...”. De acordo com
Tocantins (1987, p. 269), sua sagração teria ocorrido em 1790. Manuel Barata (1914, p. 1),
em um artigo para o jornal Folha do Norte escreveu: “esta capela foi ereta em 1793, sob a
invocação de N. S. da Conceição”49.
Fig. 59 - Altar-mor da capela com imagem de N. S. da Conceição. Registro anterior a 1996 Fonte: COELHO, 1996, p. 119
Segundo Meira Filho (1969, p. 1), Ambrósio Henriques era natural da Freguesia de
Santa Maria de Coso, Bispado de Orense, Reinado de Galizia. Considera-se seu nascimento
por volta do ano de 1750 e falecimento em 1820. Mudou-se para Belém a convite de seus dois
tios maternos, “já opulentos em fortuna”, na segunda metade do século XVIII. Teve vida
militar, chegando a coronel em 1794. Foi importante proprietário de engenhos e “figura
proeminente na vida da cidade e sua família, das mais nobres e conceituadas”. Casou com
Antonia Joaquina de Oliveira e Silva com quem teve dois filhos: João Florêncio e Maria do
Carmo Henriques. Maria do Carmo, de quem provém a secular tradição da família Pombo,
casou-se em 1801 com Joaquim Clemente da Silva Pombo, português, um dos homens mais
discutidos da época, cuja ascendência não se tem nenhuma informação. Joaquim e Maria do
Carmo tiveram como primogênito Ambrósio Henriques da Silva Pombo (1803-1837), o
primeiro herdeiro a possuir título nobiliárquico no Pará - Barão de Jaguarari -, denominação
originária do engenho de propriedade do avô, Ambrósio.
48 Meira Filho no artigo A Capela do Senhor dos Passos, publicado em A Província do Pará, de 13 e 14/04/1969, p. 1. 49 Essa afirmação de Manuel Barata confirmaria a suposição de Isabel Mendonça de que a presença do monograma mariano indicaria que, no passado, a capela fora dedicada à Virgem Maria (MENDONÇA, 2003a, p. 510).
56
Ambrósio Henriques da Silva Pombo, além do título de nobreza, foi, entre outros,
chefe do partido dos Caramurus, cujo centro das atividades políticas, funcionava em sua
residência, o sobrado da travessa do Passinho. Cruz (1971, p. 212-77), no capítulo referente
aos proprietários de casas em Belém no período de 1871 a 1880, relaciona vários imóveis
pertencentes a Ambrósio Pombo, o que demonstra que ele manteve a tradição de família
abastada. Conforme crônicas da época, foi homem generoso, franco e de atitudes caridosas.
“Concorreu com avultadas sommas do seu próprio bolso para as obras” de edificação de uma
ermida em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré (MEIRA Filho, 1969, p. 1).
A Capela dos Pombos, ou simplesmente Capela Pombo, assim chamada pela
população, por associação ao nome da família proprietária da mesma, teve vários
responsáveis ao longo de sua existência e, durante os anos, foi sendo passada aos
descendentes do Coronel Ambrósio. É, hoje, a única capela particular existente em Belém.
Baena (1839, p. 236) cita a “Capellinha da Travessa do Passinho pertencente
aos herdeiros do seu fundador Ambrosio Henriques “entre as edificações religiosas
existente à época”.
Para Meira Filho (1969, p. 1), sua significação, seu nome, seu destino histórico,
seu valor como obra de arte e patrimônio da cidade, estão intimamente ligados à evolução de
Belém, sob diversos aspectos. A capela foi local de muitas cerimônias religiosas: batizados,
casamentos, ladainhas, terços e atendia a todas as manifestações religiosas da população
que se instalou às proximidades. Embora privativa, seus proprietários a cediam às famílias
amigas para que ali realizassem as celebrações religiosas. As missas dominicais eram
bastante concorridas e delas também participavam os escravos em local apropriado.
Ao longo do tempo, foi importante monumento e se incorporou à vida da cidade
tendo em vista, por exemplo, que durante algum tempo, muitos Prelados designados para a
diocese paraense, ao desembarcarem no porto de Belém, vinham diretamente ao Santuário,
a fim de se paramentarem e, então, dirigirem-se aos cerimoniais de posse na Catedral
(MEIRA Filho, 1969, p. 1).
Conforme texto anônimo e sem data definida, da biblioteca do IPHAN, em referência
a um tempo não informado pelo autor: “Anualmente é festejado na Capela dos Passos o dia do
seu padroeiro. Segundo remotos costumes, a Capela é primorosamente ornamentada, saindo
em procissão o Senhor dos Passos, com grande acompanhamento de fiéis”.
No mesmo texto, é feita uma comparação do estilo da capela com a primitiva
igreja de Nossa Senhora de Nazaré, que o coronel Ambrósio ajudou a construir em 1799.
57
Conforme Meira Filho (1969, p. 1):
Muitas, as lendas que contam a seu respeito. A mais recente, diz respeito às promessas feitas pelos alunos da Escola de Engenharia50, jogando moedas sob a porta principal pedindo bom êxito nas provas...! Contou-nos um dos herdeiros [...] ter encontrado, realmente, essas moedas no seu interior.
Tocantins (1987, p. 266) relata que, nesse período, a capela abria ao público
somente por ocasião das cerimônias da Semana Santa, quando servia como uma das
estações da Procissão do Senhor dos Passos51.
Ao longo de sua existência, muitos foram os responsáveis pelo monumento. Na
década de 1920, a dissolução da Associação Pombo & Filhos, de propriedade dos primos
Pombos e Corrêa do Guamá, ocasionou a passagem do edifício às mãos dos segundos,
período em que foi bastante saqueada. Até o ano de 1949, a capela ainda guardava as
imagens dos santos originais, apesar de já terem sido roubadas as coroas de prata de
algumas delas. Nos anos seguintes, a capela foi mantida fechada e transformada em depósito
de papéis. Em 1973, a capela foi doada, por testamento, ao Sr. José Augusto da Silva Pombo,
voltando, assim à família de origem. Conforme relato do Sr. José Augusto, ao ter acesso à
capela, ele encontrou documentos relativos à família totalmente destruídos pela ação do
tempo e da umidade. Nesse ano, a capela passou por uma restauração sob a
responsabilidade de Augusto Meira Filho. Nessa intervenção, as alterações arquitetônicas
foram poucas: a porta no mezanino que dava acesso ao sobrado, bem como o acesso à
senzala foram lacrados, e o forro e o telhado, danificados, foram substituídos por novos,
semelhantes aos originais (TEIXEIRA, 1998, p. 36-8).
2.2.1. Análise tipológica e arquitetônica: o sobrado e a capela
A análise arquitetônica da Capela dos Pombos não pode ser feita de forma isolada
já que a mesma está inserida entre dois casarões que formam um conjunto marcado pela
simetria e harmonia de formas (Fig. 61 e Fig. 62).
A capela é um edifício do tipo que Camillo Sitte (1992, p. 39) chama de
“encaixado” (Fig. 60) em outros edifícios e, a exemplo de muitas igrejas de Verona, na Itália,
tem apenas uma das faces livre. É um edifício singular52 na área, dada sua função
diferenciada – capela em meio a edifícios comerciais.
50 A Escola de Engenharia do Pará, primeira escola de engenheiros do estado, foi instalada em frente à capela no início dos anos de 1930 (COIMBRA, 2003, p. 183). 51 A procissão do Senhor dos Passos saía da Igreja da Trindade e fazia paradas nas igrejas do Rosário (1º passo), de Sant’Ana, de Santo Antônio, das Mercês, na Capela do Senhor dos Passos (5º passo), Igreja da Sé e terminava na Igreja do Carmo, onde cumpria o Sétimo Passo (Jornal A Palavra. Belém, 14, março, 1940. p. 4.). 52 Kevin Lynch chama a atenção para algumas categorias de interesse direto importantes de serem observadas no meio urbano, como: singularidade, simplicidade da forma, continuidade, predominância, clareza de ligação, diferenciação direcional, alcance visual, consciência do movimento, séries temporais e nomes e significados (LYNCH, 1982, p. 118-21).
58
Fig. 60 - Edifício encaixado - Planta e fachada da Igreja de S. João Evangelista, Bréscia, Itália Fontes: Camillo Sitte, 1992, p. 48 e commons.wikimedia.org/wiki
Os casarões encontram-se bastante descaracterizados, tendo apenas as
fachadas dos andares superiores com algumas características originais preservadas.
O casarão à esquerda da capela (Fig. 61) tem no pavimento térreo alguns
estabelecimentos comerciais e, ao centro o acesso a um estacionamento, onde,
originalmente, seria a entrada principal. A fachada é desenvolvida com a repetição de portas e
janelas, distribuídas equilibradamente mantendo um ritmo constante. O exemplar, pelas
características apresentadas, pertence à tipologia “casa comprida” descrita por Carlos de
Azevedo (1969, p. 80-1) em sua obra Solares Portugueses.
Fig. 61 - Sobrado à esquerda da capela Fonte: Domingos Oliveira, 2007
Fig. 62 - Sobrado à direita da capela Fonte: Domingos Oliveira, 2007
59
O casarão à direita (Fig. 62), um exemplar da tipologia “casa com capela
anexa”53, tinha comunicação com o templo. O sobrado ainda possui claras linhas da
arquitetura luso-brasileira do século XVIII: planta horizontal, com dois pavimentos e fachada
longa; cimalhas horizontais que cortam a fachada, demarcando os níveis, em contraponto
aos vazios das portas e janelas e à presença das sacadas com grades de ferro. São
elementos de destaque nesse exemplar: os azulejos, que revestem a fachada; sua
localização em lote de esquina; as cimalhas; o beiral e os vãos, em arco abatido no
pavimento térreo e, pleno, no pavimento superior.
Conforme descrição de Mello Júnior (1973, n.p.):
A bela casa que vai até a esquina da atual rua Manoel Barata é um sobrado luso-brasileiro, típico, portas no térreo, janelas de sacada no segundo andar. Cimalha e beiral horizontalizam o remate da elevação. Os vãos em baixo são terminados em arco e, nas janelas de sacada [...] ambos se repetindo modulados. Fachada revestida de azulejos.
Não há elementos que determinem com precisão a data de construção desse
sobrado. Alexandre Rodrigues Ferreira, ao descrever as residências existentes em Belém, faz
referência a um casarão que pode ser esse em questão: “Das mais antigas, [...] as sofríveis
eram a de Ambrósio Henriques, a do Vigário Geral, a do coronel Manoel Joaquim Pereira de
Sousa Feio” (FERREIRA, 1784, n.p.). Assim, possivelmente, os traços, que, hoje, ainda são
vislumbrados, são resultados de posterior reforma, pois, segundo Mello Júnior (1973, n.p.), o
“arco pleno das sacadas, elas mesmas e os azulejos54 denotam o século XIX”.
Ainda conforme Mello Júnior (1973, n.p.), em 1970, o casarão foi adulterado no
térreo. Em 1991, sofreu sua maior descaracterização quando um dos locatários efetuou uma
reforma. Foram retirados os azulejos portugueses da fachada do pavimento térreo e
alteradas as aberturas dos vãos das portas, inclusive os arcos (Fig. 63), hoje, com vergas
retas (Fig. 64).
53 Tipologia comum em Portugal em todo o século XVIII. A solução priorizou a organização da fachada que se desenvolveu num plano único e horizontalmente. A tipologia com a capela na extremidade é a mais comum. A capela é anexada às compridas fachadas, sendo tratada de forma um tanto independente e, em alguns casos, até ligeiramente avançada em relação ao alinhamento da casa (AZEVEDO, 1969, p. 81-2). 54 Segundo Robert Smith, em Azulejaria Portuguesa no Brasil, 1965, p. 201-2, esses azulejos são datáveis de cerca de 1890 e têm padrão da fábrica de Santo Antônio do Vale da Piedade (MENDONÇA, 2003a, p. 507).
60
Fig. 63 - Imagem do casarão ainda com as vergas em arco no térreo Fonte: A Província do Pará, 1969, Caderno 4, p. 1
Fig. 64 - Vista do casarão atualmente Fonte: Domingos Oliveira, 2007
Marcada pela simetria de seus elementos, a fachada da Capela Pombo, tem
pano55 único e é rasgada no eixo central pela portada e vão de janela superior, ambos em
arco abatido, com graciosas molduras e pilastras. Atualmente, a janela superior encontra-se
semi-entaipada Essa tipologia de fachada é semelhante às encontradas nas Igrejas de
Santo Antonio Abate, na Villa Pasquali, na Itália (Fig. 65), da Beata Vergine del Carmine, em
Piacenza, na Itália (Fig. 66) e da Memória, em Lisboa (Fig. 67).
Fig. 65 - Igreja de Santo Antonio Abate Fonte: PIGOZZI, 2007
Fig. 66 - Igreja da Beata Vergine del Carmine Fonte: PIGOZZI, 2007
Fig. 67 - Igreja da Memória Fonte: PIGOZZI, 2007
55 O pano é a superfície plana de uma fachada ou retábulo.
61
Quem passa pela capela durante o dia observa uma porta que revela e esconde
(Fig. 68). Para Cullen (1990, p. 54), esse seria o que ele denomina “vão insondável” e sobre
o qual ele diz: “negro, imóvel e silencioso como um animal enorme e infinitamente paciente,
o vão contempla os transeuntes que passam despreocupadamente, para um lado e para
outro...”. Essa comparação, de certa forma, confirma os relatos de alguns freqüentadores da
área que dizem que a capela provoca medo e temor pela pouca luz e pelo aspecto de
abandono em que se encontra.
Fig. 68 - Fachada da Capela Pombo Fonte: Domingos Oliveira, 2007
Fig. 69 - Planta baixa da Capela Pombo Fonte: adaptado de BRAGA, 1998, p. 76
Diz a tradição que a capela possuía no alto da fachada “um sino de boas
proporções; ameaçando ruir, foi retirado pelo seu proprietário, o Dr. Edgar Guamá, levando-o
para uma capela de sua fazenda na ilha Mexiana” (MEIRA Filho, 1969, p. 1).
A esse respeito Tocantins (1987, p. 266), entretanto faz referência a uma pequena
torre com sino e que, em 1865, foi mandada demolir por ordem de sua proprietária porque foi
danificada por faíscas elétricas.
A capela possui dimensões modestas - “a menor das capelas isoladas de Belém”
(Tocantins, 1987, p. 266) -, se comparada com outras capelas existentes na cidade. A planta
é retangular com nave56 única e sacristia na área posterior (Fig. 69).
O prédio possui, na parede posterior, duas portas de vão trilobado que ladeiam o
retábulo e dão acesso à pequena área posterior à nave, hoje, utilizada como depósito e
56 Nave [Do lat. nave.] 1.Espaço, na igreja, desde a entrada até o santuário, ou o que fica entre fileiras de colunas que sustentam a abóbada (BARROSO, 1994).
62
antes, como sacristia. Conforme descrição de José de Miranda Pombo na Revista do
Instituto Histórico e Geográfico do Pará (1952/53, p. 111-2), “Por atraz do altar fica a
sacristia que se comunica com a capela por duas portas, uma das quais preparada para
servir de confessionário; quando fechada, fica o sacerdote na sacristia e o penitente na
capela”. Essa adaptação da porta, hoje, não mais existe.
Uma planta baixa da capela, referente a levantamento técnico constante da
dissertação de mestrado Arquitetura em Belém no século XVIII: as obras de Antonio Landi,
de Ana Cristina Lopes Braga (1998, p. 85), indica um fosso e um nicho na área da antiga
sacristia (Fig. 70). Não foi possível a confirmação da existência desses elementos.
Fig. 70 - Planta baixa da Capela Pombo - levantamento técnico Fonte: BRASILEIRO, Antonieta (et al) apud BRAGA (1998, p. 85)
A configuração – duas aberturas ladeando altar-mor - é observada, por exemplo,
no Palácio Seghizzi, em Trolli (Fig. 71); no Palácio Costa Trettenero, em Piacenza (Fig. 72)
e no Palácio Bagnarola, em Villa Malvezzi (Fig. 73), todos na Itália.
63
Fig. 71 - Palácio Seghizzi, em Trolli Fonte: PIGOZZI, 2007
Fig. 72 - Palácio Costa Trettenero, em Piacenza Fonte: PIGOZZI, 2007
Fig. 73 - Palácio Bagnarola, na Villa Malvezzi Fonte: PIGOZZI, 2007
Ao acessar a nave, observa-se, acima, um balcão57 (Fig. 74) sugerindo o espaço
do coro, cuja ligação com a residência era feita por uma porta, hoje, fechada. Este balcão
tem balaustrada e piso de madeira e era originalmente utilizado pela família e amigos,
enquanto o povo e os escravos ficavam na nave. A respeito desse espaço, Tocantins (1987,
p. 266) diz: “[...] a área foi suficiente para adotar a solução de um coro, à semelhança das
capelas dos palácios de Portugal [...]”.
Fig. 74 - Balcão com a porta de acesso e balaustrada de madeira. Foto: Domingos Oliveira, 2007
57 Desde tempos antigos a música faz parte das cerimônias religiosas. Isso explica porque muitas igrejas eram providas de balcões para os corais e órgãos. A posição elevada de ambos melhorava o impacto acústico e dava um efeito celestial. Desde o século XIII arquitetos e escultores foram chamados para embelezar tais espaços. (Organs and Cantoria). Disponível em: http://www.romeartlover.it/Organs.html. Acesso em: 04/07/2007 (tradução livre do autor)
64
2.2.2. Elementos decorativos e estilísticos
A composição da fachada é marcadamente simétrica (Fig. 75) e lembra uma
composição retabular. Suas linhas gerais são essencialmente tardo-barrocas, o que pode
ser observado pelos elementos arquitetônicos movimentados, como as volutas; pelo uso da
linha curva associada à linha reta de forma elegante; pelo uso livre das ordens
arquitetônicas; e pela sobreposição de elementos escultóricos como rosetas e bossagens,
colunas e pilastras inspirados nas decorações borrominescas.
Fig. 75 - Fachada da Capela Pombo e detalhes dos elementos decorativos Fonte: Domingos Oliveira, 2007
A fachada é enquadrada por pilastras assentadas sobre pedestal elevado e
arrematadas por entablamento ornamentado com tríglifos intercalados com rosetas (Fig. 75 -
Det. 4). Acima do friso, há uma linha de dentículos (Fig. 75 - Det. 1), elementos muito comuns
à ordem jônica. A fachada é coroada por um corpo central ladeado por volutas. O corpo tem
65
frontão em arco58 seguido de segmentos de reta. Lateralmente, há segmentos de frontões
seccionados que coroam as pilastras e, sobre estes, vasos59 tipo fogaréu60 (Fig. 75).
A portada, central, é encimada por um elemento decorativo composto por volutas
e concha61 (Fig. 75 - Det. 6). Sobre a portada, há um frontão triangular ladeado por dois
segmentos de reta apoiados em mísulas sob a forma de volutas vistas de frente e de lado
(Fig. 75 - Det. 3). Acima desse frontão, rasga-se a janela com guarda-corpo de balaústres,
ladeada por pilastras que estão assentadas em bases de perfil arredondado e decoradas
com folhas de acantos (Fig. 75 - Det. 2). Os fustes das pilastras são decorados com
bossagens62 em forma de anéis e estrelas (Fig. 75 - Det. 5) que lembram vários efeitos
decorativos das cenografias dos Bibiena.
O interior da capela segue as mesmas linhas da fachada, predominantemente
tardo-barrocas, onde pode ser notado o uso livre das ordens clássicas, característica landiana:
o dórico no friso (Fig. 80 - Det. 1) e o jônico nos capitéis do retábulo (Fig. 80 - Det. 3).
A oscilação da arquitetura landiana entre estilos foi alvo de discussões nas
décadas de 1960 e 1970. Tocantins apud Braga (1998, p. 32) afirma que o traço
característico de Landi é o neoclássico63 em combinação com elementos rococó64. Para
Robert Smith (apud Tocantins, 1987, p. 149) “O palladianismo65-rococó português (e depois
luso-brasileiro) é o estilo usado por Landi nos edifícios que projetou em Belém”.
Todas as paredes da capela são marcadas internamente por painéis de
argamassa (Fig. 76 e Fig. 77) e encimadas por friso de ordem dórica, com tríglifos e
métopas (Fig. 75 - Det. 1), e consolos66 sob o friso. As paredes são assentadas sobre base
onde se inserem os pedestais arredondados das pilastras (Fig. 76 - Det. 1). As pilastras
dividem as paredes laterais em três panos, sendo o central ocupado por um painel
58 A linha curva adquiriu, desde a Idade Média, o sentido de elevação da vida moral. No barroco, sendo mais livre, é mais propícia para expressar e gerar emoções, o que justifica o seu grande uso nesse período, não apenas na decoração, mas na própria estrutura arquitetônica (SOBRAL, 1986, p. 116). 59 O uso constante de vasos na decoração dos templos deve-se, principalmente, ao seu sentido esotérico. O vaso está ligado à simbologia da fecundidade – o útero. O vaso representa, portanto, um depositário da vida, o tesouro da vida espiritual (Ibid, p. 116). 60 Essa terminologia é utilizada por Isabel Mendonça na descrição da fachada da Capela Pombo (MENDONÇA, 2003a, p. 508). 61 “A concha [...] participa do simbolismo da fecundidade [...]. No Cristianismo, a concha é associada ao batismo, que purifica a alma, fecundando-a de graças e tornando-a digna do reino de Deus” (SOBRAL, 1986, p.115). 62 Bossagem é o tratamento dado ao revestimento de pedra de uma superfície parietal, deixando os blocos em relevo; abossadura, almofadado, relega, rusticação (HOUAISS, 2007). Parte saliente de pedra bruta ou talhada, deixada propositadamente numa parede ou numa coluna para receber escultura ou servir de ornamento Disponível em: <www.hostdime.com.br/dicionario/bossagem.html>. Acesso em: 20/05/2008) 63 Movimento que se originou como reação ao barroco no século XVIII que preconizava o retorno aos ideais greco-romanos. (Disponível em: www.artlex.com. Acesso em: 26/08/2008) (tradução livre do autor) 64 Diz-se do estilo ornamental [...] caracterizado pelo excesso de curvas caprichosas e pela profusão de elementos decorativos, como conchas, laços, flores e folhagens (BARROSO, 1994). 65 Arquitetura do renascimento tardio e do barroco, que se refere ao italiano Andrea Palladio (1508-80). Inspirado na antigüidade romana, por isso reduz a decoração das fachadas e procura proporções nítidas e rigorosas (KOCH, 2004, p. 53). 66 Os consolos substituem os dentículos que são comuns às ordens dórica e jônica.
66
moldurado e enquadrado com arco pleno (Fig. 76), coroado com segmentos de frontão e
pedra de fecho que serve de apoio a uma peanha, hoje, não utilizada. Acima desse painel há
uma falsa janela-nicho, encimada por segmentos de frontão em arco, ladeados por segmentos
de reta, elemento aconcheado e uma flor que lembra uma rosa, símbolo mariano.
Segundo Mendonça (2003a, p. 508), o painel moldurado da parede lateral direita
seria originalmente a porta de comunicação com o piso térreo da residência. Leandro
Tocantins (1987, p. 266) também se refere a uma porta na nave da capela que servia de
acesso à residência, sem, entretanto, precisar sua localização. Teixeira (1998, p. 38) faz
ainda uma referência à porta de comunicação com a senzala que teria sido fechada em
1973, por ocasião da reforma.
Hoje, assim como a fachada, as paredes e o teto forrado estão pintados de
branco. Na matéria publicada no Jornal “A Palavra”, edição de 16 de outubro de 1949, o autor
diz: “Entramos e... pasmamos com a limpeza! As paredes caiadas com frisos amarelos [...]”.
Fig. 76 - Pano central das paredes laterais Fonte: Domingos Oliveira, 2007
Fig. 77 - Detalhes aconcheados Fonte: Domingos Oliveira, 2007
Assim como na fachada, elementos aconcheados também aparecem no interior,
nos arremates das molduras das portas e nas paredes laterais (Fig. 77).
Conforme relato de José de Miranda Pombo, publicado na Revista do IHGP -
Instituto Histórico e Geográfico do Pará (1952/53, p. 111-2), “na parede da frente, ao lado da
porta de entrada existe uma pia para água benta” (Fig. 78), hoje, essa peça ainda existe,
apesar de deteriorada pela ação do tempo.
67
As imagens de santos, hoje, presentes na capela são recentes. Segundo
Teixeira (1998, p. 38-9), as originais, em parte, foram destruídas por cupins e outras estão
em poder da família. A imagem do Senhor Morto que ficava no altar (Fig. 79) e que, durante
anos ficou desaparecida, foi recuperada e se encontra no Museu de Arte Sacra do Pará.
Fig. 78 - Pia para água benta Fonte: Domingos Oliveira, 2007
Fig. 79 - Imagens antigas da capela, na parte inferior o Senhor Morto Fonte: Jornal “A Palavra”, de 16 de outubro de 1949
2.2.3. O retábulo
A capela apresenta um retábulo de argamassa que, assim como a fachada, é
marcadamente simétrico em suas linhas. Tem características tardo-barrocas, o que pode ser
observado no uso livre das ordens clássicas, combinadas com elementos cenográficos de
influência bibienesca.
O retábulo (Fig. 80) é marcado por pilastras sobrepostas de capitel jônico e fuste
estriado assentadas sobre bases de seção arredondada. Essas pilastras servem de base a
volutas laterais.
68
Fig. 80 - Retábulo do altar-mor da Capela Pombo Fonte: Domingos Oliveira, 2007
No centro do retábulo, há um nicho pouco profundo, com peanha, coroado com
elementos florais e figura angelical67 (Fig. 80 - Det. 4), ladeado por pilastras com fustes
decorados com escamas sobrepostas, bases em forma de volutas e arrematadas por placas
de volutas convergentes (Fig. 80 - Det. 7), que servem de apoio a capitéis jônicos dos quais
pendem grinaldas de flores. Em seu interior, existem elementos decorativos de argamassa.
Abaixo desse, há um elemento composto por volutas ascendentes e descendentes (Fig. 80 -
Det. 8). Acima, um resplendor com a pomba do Espírito Santo (Fig. 80 - Det. 6). Acima do
resplendor, há uma cártula com elementos aconcheados, que adornam o monograma
mariano68 (Fig. 80 - Det. 5). Esse conjunto – cártula e monograma - é arrematado por uma
figura angelical e é ladeado por volutas ascendentes. A composição lembra a existente no
Palácio Seghizzi, em Trolli, Itália (Fig. 71).
67 Na decoração da arquitetura barroco-religiosa, o uso dos anjos é profuso e se enquadra como elemento importante de composição embora nem sempre representados segundo o simbolismo das hierarquias angelicais da arte medieval, o que muitas vezes faz confundir anjos cristãos com Amores ou Cupidos da mitologia greco-romana (SOBRAL, 1986, p. 116). 68 A presença do monograma mariano indica que, no passado, a capela foi dedicada à Virgem Maria (MENDONÇA, 2003a, p. 510). Essa afirmação pode ser confirmada com a declaração de Barata (1914, p. 1), anteriormente referida, que diz ter sido a capela erguida sob o orago de N. S. da Conceição.
69
3. ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DA OBRA DE LANDI E A CAPELA POMBO
3.1. A OBRA ARQUITETÔNICA DE LANDI E A CAPELA POMBO
A análise dos elementos decorativos utilizados por Landi em suas obras só vem
confirmar que ele não se limitou à arquitetura, mas seguiu a tradição bolonhesa de dar
atenção à decoração, não apenas das fachadas, mas, em particular aos interiores, para onde
desenhou retábulos, púlpitos, balaustradas e órgãos.
Estando Landi vinculado à pintura de quadratura, à cenografia e à arte efêmera,
influências da escola bolonhesa, responsável por sua formação, ele mostra em sua produção
essa tendência cenográfica, com a utilização de elementos decorativos e arquitetônicos,
provenientes de uma linguagem eclética, em particular, com a constante utilização das ordens
arquitetônicas nas suas versões ornadas. Apresenta, com freqüência, ornatos do barrochetto,
versão italiana do rococó, e uma preferência por elementos decorativos inspirados em Jean
Bérain69 (MENDONÇA, 2003a, p. 238).
A importância da Capela Pombo como monumento e jóia da arquitetura é
incontestável e confirmada pelas referências que renomados autores fazem a seu respeito,
inclusive atribuindo sua concepção projetual arquitetônica e estilística ao arquiteto Landi, a
partir da análise de suas características e de comparações com a capela do Palácio dos
Governadores, projeto, comprovadamente, do arquiteto italiano.
“A capela tem sua fachada de arquitetura erudita e não é despropósito ligá-la ao
arquiteto Landi. Faltam documentos, mas o estilo e a solução estão na sua linha
classicizante e paladiana” (MELLO Júnior, 1972, n.p.).
Segundo Meira Filho (1973, p. 48), por exemplo, “nota-se nesta casa religiosa
[...] a semelhança impressionante de seus detalhes arquiteturais com o projeto de Landi
destinado à Capella do Palácio. Creio não haver mais dúvida sobre a presença do nosso
Landi à capelinha tradicional da ‘Família Pombo’”.
Conforme Leandro Tocantins (1987, p. 268-9):
A Capela do Senhor Bom Jesus dos Passos (o povo chama, também, de Capela dos Pombos) é um encanto de se ver. As linhas de sua arquitetura, tanto no interior como no exterior são espontâneas e graciosas, acrescendo sua beleza com qualquer coisa de vivo, de especial - quase estou dizendo, com a maneira de Antônio José Landi. E quem nos diz que ela não obedece a desenho de Landi? Os papéis históricos silenciam a este respeito. Mas e a intimidade de formas, de concepções na decoração com o estilo do arquiteto italiano? [...] É quase certo, assim, que o arquiteto seja autor dos desenhos da Capela do Senhor Bom Jesus dos Passos.
69 Jean Bérain (1637-1711) desenhista francês, entalhador, pintor e designer que foi chamado por seus contemporâneos o oráculo do bom gosto nos assuntos ligados à decoração. Trabalhou na corte de Luís XIV da França. (Disponível em: <www.britannica.com/EBchecked/topic/61440/Jean-Berain-the-Elder>. Acesso em: 25/07/2008). (tradução livre do autor)
70
De acordo com Isabel Mendonça (2003b, p. 10):
Uma pequena capela privada anexa a um sobrado, conhecida como capela Pombo, foi certamente projetada por Landi. Na parede onde se encosta o altar, onde, tal como na capela dos Governadores se rasgam as duas portas de comunicação com a sacristia, encontramos um retábulo em massa cobrindo toda a parede, organizado em três panos e três registros; enquadrando o nicho central encontramos pilastras que parecem retiradas dos desenhos de cenografia dos Bibiena: partindo de bases em forma de volutas, terminam em capitéis jônicos apoiados em placas de enrolamentos convergentes.
Ao analisar as características tipológicas e decorativas do monumento, quer da
fachada, quer do seu interior, pode-se encontrar uma grande quantidade de elementos
utilizados por Landi em edifícios comprovadamente de sua autoria, o que se pode observar
pelas comparações realizadas a seguir.
A fachada de pano único, rasgada pelos vãos de porta e janela (Fig. 81), guarda
semelhança com as fachadas da Capela do Palácio dos Governadores (Fig. 82) e da Igreja de
São João (Fig. 83), ambas em Belém. O número de registros70, entretanto, difere. Nas capelas
Pombo e do Palácio há dois registros; na igreja de São João, três.
Fig. 81 - Capela Pombo Fonte: desenho Thadeu Henriques, 2008
Fig. 82 - Capela do Palácio dos Governadores Fonte: MEIRA Filho, 1973, p. 49
Fig. 83 - Igreja de São João Fonte: www.forumlandi.com.br/bibliotecaArq/frontariasaojoao.jpg
Embora suas cimalhas sejam coincidentes, a fachada da capela é independente
da fachada do sobrado ao qual esteve ligada inicialmente (Fig. 84) e apresenta-se de forma
suntuosa em contraste à simplicidade e formatação típica do casarão colonial. Essa
característica diverge da concepção arquitetônica observada na capela do Palácio dos
70 Registro é cada uma das partes ou setores em que se divide uma fachada ou um retábulo, horizontalmente. Os retábulos são, geralmente, divididos em três registros: o inferior, que lhe serve de base, ao qual se fixa a mesa do altar; o central, ocupado por tela, tribuna ou nicho e o superior, acima do entablamento, encimado por frontão.
71
Governadores, também em Belém, que tem sua fachada inserida no corpo da fachada lateral
da edificação, esteticamente integrada. (Fig. 85).
Fig. 84 - Fachada da Capela Pombo Fonte: Domingos Oliveira, 2007
Fig. 85 - Fachada da Capela do Palácio dos Governadores Fonte: MEIRA Filho, 1973, Estampa XXI
O frontão sobre a porta de entrada é triangular com segmentos de reta laterais
(Fig. 86), composição semelhante àquelas existentes na tribuna da Capela do Palácio dos
Governadores (Fig. 87) e na fachada do sobrado de Manuel Raimundo Alves da Cunha (Fig.
88), ambos em Belém.
Fig. 86 - Capela Pombo Fonte: desenho Thadeu Henriques, 2008
Fig. 87 - Tribuna da Capela do Palácio dos Governadores, em Belém Fonte: MEIRA Filho, 1973, p. 49
Fig. 88 - Detalhe da fachada da residência de Manuel Raimundo Alves da Cunha Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 517
72
Mísulas em forma de volutas, de frente e de lado, apóiam esse frontão (Fig. 89 -
Det. 02). Elementos similares são encontrados no projeto para a fachada da Capela do
Palácio dos Governadores (Fig. 90), na Portada da Alfândega (Fig. 91), projeto não
executado, e no projeto para o altar-mor da Sé (Fig. 92), já desaparecido, todos em Belém.
Esse elemento também é recorrente em vários dos desenhos que compõem o álbum com
arcos triunfais e monumentos fúnebres em homenagem aos reis de Portugal, citado
anteriormente na página 34 deste trabalho.
Fig. 89 - Detalhes da fachada da Capela Pombo Fonte: Domingos Oliveira, 2007
Fig. 90 - Detalhe da capela do Palácio dos Governadores Fonte: MEIRA Filho, 1973, p. 49
Fig. 91 - Portada da Alfândega Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 333
As pilastras, que ladeiam a janela acima da porta, estão assentadas em bases de
perfil arredondado, decoradas com folhas de acantos (Fig. 89 - Det. 01) semelhantes à
composição existente no altar-mor da Igreja da Ordem Terceira do Carmo (Fig. 93 - Det. 02) e
no da Igreja de Sant’Ana (Fig. 94 - Det. 02), ambos em Belém.
Det. 01
Det. 02
73
Fig. 92 - Detalhe do altar-mor da Igreja da Sé Fonte: www.forumlandi.com.br/bibliotecaArq/143.jpg
Fig. 93 - Detalhe do altar-mor da Igreja da Ordem Terceira do Carmo Fonte: Domingos Oliveira, 2008
Fig. 94 - Detalhe do altar-mor da Igreja de Sant'Ana Fonte: Domingos Oliveira, 2007
O registro superior da fachada, formado por um corpo central ladeado por volutas,
com frontão em arco e segmentos de reta laterais (Fig. 95), é semelhante à composição
encontrada na pintura de quadratura dos altares laterais da Igreja de São João (Fig. 96), em
Belém, no projeto para a fachada da Igreja paroquial de Cametá, no Pará (Fig. 97), nos
desenhos dos arcos triunfais dedicados à D. José (Fig. 46) e ao governador Ataíde Teive (Fig.
47) e no desenho do Arco triunfal dedicado a D. João I (Fig. 98), aliás, o tema das volutas
laterais é bastante utilizado por Landi em várias das ilustrações do álbum do qual faz parte
este último arco71.
Fig. 95 - Capela Pombo - Detalhe do frontão Fonte: desenho Thadeu Henriques, 2008
71 O álbum em questão é aquele dedicado aos reis de Portugal, citado na página 34 deste trabalho.
Det. 01
Det. 02
Det. 01
Det. 02
74
Fig. 96 - Altar lateral da Igreja de São João Fonte: Domingos Oliveira, 2008
Fig. 97 - Detalhe da fachada da Igreja paroquial de Cametá Fonte: http://www.forumlandi.com.br/bibliotecaArq/cameta121.jpg
Fig. 98 - Arco triunfal dedicado a D. João I Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 221
As pilastras da fachada são coroadas por segmentos de frontão e, sobre estes, há
vasos tipo fogaréu (Fig. 95). Conjunto semelhante existe: nos retábulos laterais da Igreja do
Rosário dos Homens Pretos, em Belém (Fig. 99) e no projeto da fachada da Capela do
Palácio do Governador Ataíde Teive, em Pangim, na Índia (Fig. 100).
Fig. 99 - Igreja do Rosário dos Homens Pretos Fonte: Domingos Oliveira, 2008
Fig. 100 - Capela do Palácio do Governador Ataíde Teive Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 492
75
3.2. OS RETÁBULOS LANDIANOS72 E O DA CAPELA POMBO
Os retábulos de Landi, ou a ele atribuídos, foram predominantemente projetados
ou executados utilizando três materiais: a madeira73, a pintura à têmpera74 e o estuque75
(MENDONÇA, 2003d, p. 238). Para este estudo, serão feitas apenas as descrições daqueles
de maiores dimensões.
3.2.1. Retábulos de madeira entalhada
Mendonça (2003d, p. 238) agrupa os retábulos landianos de madeira em quatro
tipologias, das quais apenas os pertencentes ao primeiro grupo serão aqui descritos.
Dentre as composições de madeira entalhada pertencentes a esse primeiro grupo
- que apresentam três panos, três registros e que cobrem toda a parede a que se adossam -
estão: o projeto para o retábulo da capela do Santíssimo, no transepto da Igreja da Sé (Fig.
101), já desaparecido; o projeto para o retábulo da capela-mor da mesma igreja (Fig. 102),
também desaparecido e o retábulo do altar-mor da capela da Ordem Terceira do Carmo (Fig.
103), todos em Belém. O último é atribuído a Landi pela composição similar aos dois primeiros
e pela utilização de elementos decorativos comuns aos Bibiena, mestres de Landi.
Fig. 101 - Capela do Santíssimo da Igreja da Sé Fonte: www.forumlandi.com.br/bibliotecaArq/142.jpg
Fig. 102 - Capela-mor da Igreja da Sé Fonte: www.forumlandi.com.br/bibliotecaArq/143.jpg
Fig. 103 - Altar-mor da Capela da Ordem Terceira do Carmo Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 400
72 Um esquema com a classificação dos retábulos de Landi segundo Isabel Mendonça (2003d, p. 237-48) é apresentado nos Anexos. 73 A utilização da madeira pode ser vista como uma adaptação de Landi aos materiais da região, tendo em vista que na Itália não era comum o uso desse tipo de material na execução de retábulos (MENDONÇA, 2003d, p. 248). 74 Pintura que utiliza pigmentos secos “temperados”- dissolvidos, misturados – num meio que os torna aderentes e que os fixa e estabiliza no suporte a que estão destinados. (Disponível em: <pt.shvoong.com/humanities/ 1694174-pintura-tempera>. Acesso em: 21/07/2008). 75 Massa branca ou policroma composta de cal, areia fina, pó de mármore e gesso, usada em variados tipos de ornatos relevados, em muros exteriores, interiores ou tetos. De origem oriental, é aplicado na arte romana (Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Estuque>. Acesso em: 21/07/2008).
76
No retábulo da capela do Santíssimo, no transepto da Igreja da Sé (Fig. 101), o
corpo principal tem uma tribuna com trono escalonado, ladeado por colunas. O registro
superior é dominado por um frontão, que tem ao centro a representação da pomba do Espírito
Santo ao centro de uma auréola de raios. Nos panos laterais, a composição mostra peanhas
sob a forma de placas arrematadas com enrolamentos que remetem à linguagem bibienesca e
que servem de suporte a imagens alegóricas. São vistos também vasos, aletas laterais,
grinaldas e ornatos entrelaçados.
No retábulo da capela-mor, também da Igreja da Sé (Fig. 102), o corpo central é
marcado pelo enquadramento de uma tela. O registro superior, assim como no retábulo
anterior, apresenta a pomba do Espírito Santo em meio a raios e nuvens. Vasos com flores,
aletas laterais, sob a forma de volutas, e figuras alegóricas também aqui aparecem.
No retábulo do altar-mor da capela da Ordem Terceira do Carmo (Fig. 103),
único dessa categoria ainda existente, o centro da composição é ocupado por um nicho
pouco profundo, ladeado por pilastras decoradas com rosetas, apoiadas sobre bases de
seção arredondada, decoradas com acantos, e coroadas por capitéis em forma de placas
bibienescas. Os panos laterais têm colunas destacadas com fustes estriados e imagens
sobre peanhas. O frontão do retábulo é mistilíneo e apresenta, mais uma vez, a pomba do
Espírito Santo em meio a raios, além de vasos-fogaréu e grinaldas. Elementos aconcheados
servem de molduras ao nicho, à urna e à mesa.
Além do grupo aqui descrito, Isabel Mendonça classifica os retábulos de madeira
em outras três tipologias:
a) retábulos que apresentam três panos e três registros (como os do primeiro
grupo), mas que não cobrem toda a parede a que se adossam. A esse grupo pertencem: o
primeiro projeto para o altar-mor da Igreja da Sé; o projeto para o altar-mor da capela de
Santa Rita; o projeto para a capela-mor e para a capela do transepto, ambas da Igreja do
Carmo; o altar-mor da Igreja de Santa Ana; e o altar-mor da Igreja da Ordem Terceira de São
Francisco, todos em Belém.
b) retábulos que apresentam um pano e três registros como: os retábulos laterais
das igrejas de Sant’Ana, do Carmo e da Ordem Terceira do Carmo, todos em Belém; os
retábulos do altar-mor da Capela do palácio do Governador Ataíde Teive, em Pangim, na Índia
e o retábulo do altar-mor e dos altares laterais da Igreja paroquial de Gurupá.
c) retábulos compostos com telas emolduradas como os retábulos laterais das
Igrejas da Sé e da Ordem Terceira de São Francisco.
77
3.2.2. Retábulos pintados
De outro grupo de retábulos projetados por Landi, fazem parte os que utilizam a
pintura de quadratura. A esse grupo, pertencem: os da Igreja de São João (Fig. 104 e Fig.
105), em Belém, e outros dois, dos quais, hoje, só existem os desenhos, e que foram
projetados para a capela sepulcral do Governador Ataíde Teive (Fig. 106), em Belém, e para a
igreja matriz de Barcelos (Fig. 107 e Fig. 108).
São três os retábulos existentes na Igreja de São João, o do altar-mor (Fig. 104) e
os dos altares laterais (Fig. 105), todos executados nas cores verde e rosa, imitando mármore.
Para o primeiro, ainda existe o projeto de sua execução, embora não tenha sido obedecido
fielmente, situação comum a outras obras de Landi. Para os laterais, não há projeto
conhecido, o que existe são as informações contidas no desenho arquitetônico referente à
seção longitudinal.
Fig. 104 - Altar-mor da Igreja de São João Fonte: Domingos Oliveira, 2008
Fig. 105 - Altar lateral da Igreja de São João Fonte: Domingos Oliveira, 2008
O retábulo do altar-mor (Fig. 104) é composto de três panos e três registros. O
registro inferior corresponde ao embasamento da composição; o médio tem, no centro, um
painel emoldurado e panos laterais rasgados por arcos plenos, cujos vãos são ocupados por
vasos com flores; e o superior, composto de vários elementos comuns a outras obras de
Landi. Nesse elemento central, observa-se, mais uma vez, o uso da pomba do Espírito Santo
inserida em um resplendor de raios, além de volutas, grinaldas e vasos e elementos
78
bibienescos formados por capitéis em forma de placa com volutas invertidas e bases de
pilastras com perfis arredondados e decoradas com folhas de acanto. A composição é
marcada pelo uso da perspectiva, que provoca efeitos ilusionistas de profundidade, e que
pode ser observada nos rasgos laterais do registro mediano e nas laterais do registro superior.
Os altares laterais (Fig. 105) também possuem composição semelhante ao
principal - tela com moldura, circundada também por pintura de quadratura – porém, mais
simples. O destaque na composição é o corpo superior que lembra um elemento semelhante
ao existente na fachada da Capela Pombo. Há também no alto, vasos com flores.
Fig. 106 - Capela sepulcral do Governador Ataíde Teive Fonte: adaptado de MENDONÇA, 2003a, p. 485
Outro exemplo de retábulo pintado é o projeto para a capela sepulcral do
Governador Ataíde Teive, dedicada a Mãe de Deus, em Belém. Desse projeto, são
conhecidos os desenhos para o altar principal e para os laterais (Fig. 106), além dos desenhos
para o forro e para o piso. Nessa obra, Landi conjugou a quadratura ao estuque.
A composição da parede principal é centrada por um arco que enquadra a mesa
do altar e sobre a qual há uma tela com moldura, centrado por uma espagnolette76 na parte
inferior. Há brincos nas jambas e o frontão é segmentado. Os panos laterais ao corpo central
são rasgados por vãos com verga reta que revelam outros vãos em perspectiva. Ornatos
encadeados ocupam os painéis acima dos vãos e as pilastras que os ladeiam.
O projeto indica para as paredes laterais uma composição tripartida, somente
pintada, com o centro ocupado por um retábulo que tem espécie de nicho vazado, o qual
revela elementos em perspectiva, e no qual há um vaso com flores. O retábulo é coroado por
um corpo ladeado por aletas e arrematado por um frontão com volutas. Esse corpo tem ao
centro uma cartela redonda com outro símbolo mariano: a rosa. Os mesmos ornatos
76 Cabeça feminina emplumada, comum na decoração bolonhesa (MENDONÇA, 2003a, p. 370). Exemplo desse elemento decorativo existe no batistério da Igreja da Sé, em Belém (Fig. 118).
79
encadeados do retábulo do altar-mor aqui ocupam os panos laterais e as pilastras de
enquadramento.
Fig. 107 - Parede principal da igreja matriz de Barcelos Fonte: COIMBRA, 2003, p. 165
Fig. 108 - Parede lateral da igreja matriz de Barcelos Fonte: COIMBRA, 2003, p. 165
Para a igreja matriz de Barcelos, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, são
conhecidos dois projetos para a pintura de quadratura, que pertencem à documentação
referente à Viagem Philosophica (Fig. 107 e Fig. 108). Em um desses desenhos (Fig. 107),
supostamente destinado às paredes laterais, a configuração do elemento central ladeado por
duas portas se repete. Nesse centro, o retábulo, composto de três registros, ocupa um nicho.
O retábulo tem frontão triangular e, em seu centro, há um vaso-fogaréu. Sobre as duas portas,
há tribunas com balaustradas, que revelam, em um plano posterior, outros espaços em
perspectiva.
3.2.3. Retábulos de estuque
O terceiro e último grupo de retábulos realizados por Landi são aqueles
executados em estuque. A esse grupo, pertencem, dois exemplares que guardam certas
semelhanças entre si. O primeiro, projetado para a Capela do Palácio dos Governadores (Fig.
109), do qual resta apenas o projeto, e o segundo para a Capela Pombo (Fig. 110), ambos em
Belém.
80
Fig. 109 - Altar-mor da Capela do Palácio dos Governadores Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 451
Fig. 110 - Altar-mor da Capela Pombo Fonte: Domingos Oliveira, 2007
Do projeto para a capela do Palácio, são conhecidos os desenhos da fachada, das
quatro paredes e a planta com a projeção do teto.
O retábulo (Fig. 109) está adossado ao centro da parede posterior à entrada. É
ladeado por duas portas que são os acessos à antiga sacristia. A área da sacristia, hoje, serve
apenas de acesso à capela pelo interior do palácio. Apenas a mesa, em forma de urna, resta
do retábulo original.
No projeto de Landi, o retábulo é dividido em três registros. A base é dominada
pela mesa. No registro central, há um painel moldurado e ladeado por pilastras jônicas
sobrepostas e, acima desse painel, uma cartela de aconcheados. A composição é arrematada
por um corpo formado por volutas laterais no eixo das pilastras e pequeno frontão
contracurvado ladeado por outras volutas, laterais a ele.
81
Outro exemplar executado em estuque é o da Capela Pombo (Fig. 110 e Fig. 111).
Fig. 111 - Retábulo da Capela Pombo Fonte: desenho Thadeu Henriques, 2008
Fig. 112 - Capela dos Pontificais na Catedral da Sé Fonte: biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-%20RJ/2443.jpg
A tipologia desse retábulo - duas aberturas ladeando o altar-mor - é recorrente nos
projetos de Landi. Composição como essa é encontrada no projeto para o altar lateral da
igreja matriz de Barcelos (Fig. 108), na Capela do Palácio dos Governadores (Fig. 109) e nos
projetos para as capelas tumular do Governador Ataíde Teive (Fig. 106), dos Pontificais da
Igreja da Sé (Fig. 112) e de Santa Rita de Cássia (Fig. 113), as três últimas em Belém.
Fig. 113 - Capela de Santa Rita de Cássia Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 386
Fig. 114 - Capela do Engenho Murutucu Fonte: MENDONÇA, 2003a, p. 505
Fig. 115 - Sala dos Pontificais da Igreja da Sé Fonte: Domingos Oliveira, 2007
82
As pilastras sobrepostas (Fig. 116 - Det. 03) aqui utilizadas são semelhantes às
encontradas no projeto para o retábulo da capela do Palácio dos Governadores, em Belém
(Fig. 109).
O nicho, pouco profundo, se assemelha àquele ainda existente nas ruínas da
capela do Engenho Murutucu77 (Fig. 114), em Belém.
As placas de volutas convergentes presentes nas pilastras que ladeiam o nicho (Fig.
116 - Det. 05) são similares àquelas encontradas no altar-mor da Igreja da Ordem Terceira do
Carmo (Fig. 93 - Det.1) e no da Igreja de Sant’Ana (Fig. 94 - Det. 1) e no átrio da Capela dos
Pontificais na Sé (Fig. 115), todas em Belém.
Volutas convergentes (Fig. 116 - Det. 01) como as que ladeiam o monograma
mariano, podem ser vistas nos retábulos: da Igreja da Sé (Fig. 101 e Fig. 102), da Capela do
Palácio dos Governadores (Fig. 109) e das ruínas da Capela do Murutucu (Fig. 114), todas
em Belém.
Fig. 116 - Detalhe do retábulo do altar-mor da Capela Pombo Fonte: Domingos Oliveira, 2007
Conjuntos semelhantes ao resplendor com a pomba do Espírito Santo ao centro
(Fig. 116 - Det. 02) podem ser vistos na pintura de quadratura do altar-mor da Igreja de São
João (Fig. 104) e no altar-mor da capela da Ordem Terceira do Carmo (Fig. 103), além de
serem encontrados nos projetos do altar-mor (Fig. 102) e da capela do Santíssimo (Fig. 101),
da Igreja da Sé, todos em Belém.
A guirlanda de flores (Fig. 116 - Det. 04) é outro elemento recorrente nos projetos
landianos o que pode ser observado na pintura de quadratura do altar-mor da Igreja de São
João (Fig. 104) e no projeto para a Portada da Alfândega (Fig. 91), edifício não construído,
ambos em Belém. Esse elemento também está presente em alguns dos desenhos que
77 A capela do Engenho do Murutucu, construída em 1711 e dedicada à Nossa Senhora da Conceição seria reformada em 1762, pelo arquiteto Antônio José Landi. Sua construção testemunha a importância e a opulência da agroindústria do açúcar no Pará colonial. (HOMMA, 2007, p. 2)
Det. 01
Det. 04
Det. 02
Det. 03 Det. 05
83
compõem o álbum com os arcos triunfais e monumentos fúnebres em homenagem aos reis
de Portugal.
Além desses dois retábulos, fazem parte dessa tipologia: os altares da Capela do
Murutucu (Fig. 114), da Sacristia (Fig. 117) e do Batistério da Igreja de Sant’Ana e da Capela
dos Pontificais (Fig. 112) e do Batistério da Igreja da Sé (Fig. 118), todos em Belém.
Fig. 117 - Retábulo na Sacristia da Igreja de Sant’Ana Fonte: Domingos Oliveira, Ago/2007
Fig. 118 - Batistério da Igreja da Sé Fonte: Domingos Oliveira, Ago/2007
84
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Capela Pombo por sua localização - bairro da Campina - e período de
construção - século XVIII -, é testemunho do período de ocupação inicial da cidade de Belém.
Este trabalho reforça a importância do edifício nos aspectos arquitetônico,
artístico e histórico e busca contribuir para reforçar a necessidade de sua preservação e
conseqüente requalificação de seu entorno.
Do ponto de vista arquitetônico, tomando como referência as trajetórias da casa
nobre portuguesa e do oratório na casa brasileira, o bem precisa ser valorizado tendo em
vista ser o único exemplar da tipologia casa com capela anexa existente na cidade.
As pequenas dimensões da capela, o desconhecimento de sua existência por
parte da população, o fato de estar perdida no emaranhado de elementos visuais do seu
entorno e ser encaixada entre residências, podem ser os responsáveis pelo esquecimento
por que passa o edifício. Sendo suas características arquitetônicas e artísticas singulares, é
importante promover a disseminação dos conhecimentos sobre o mesmo, como forma de
registro do período de formação da cidade, além de possibilitar a revelação dos valores
artísticos e culturais a ele intrínsecos.
As já citadas reduzidas dimensões e a delicadeza de suas formas podem servir
de diferencial para sua revalorização. Redescobrir esse bem e revelá-lo à comunidade,
mostrando a importância do mesmo, pode, então, ser o meio através do qual sua
valorização pode ser alcançada e, a partir de sua singularidade, tornar-se um ponto de
atração na área.
Sabendo-se que o uso do bem está restrito a uma parcela da população que
inclui pessoas ligadas às tradições católicas ou que mantêm relação física com o espaço
urbano, sejam eles moradores, trabalhadores ou usuários do centro comercial da cidade,
onde a mesma se localiza, há necessidade de ampliação do uso do monumento através de
medidas que propiciem seu conhecimento.
Com relação aos questionamentos quanto à autoria de seu projeto, atribuída a
Landi, nada pôde ser confirmado de forma concreta, porém, a partir das comparações
realizadas, não há como negar que há muitas semelhanças com as tipologias e os
elementos utilizados pelo arquiteto em suas obras. E, sabendo-se ser o italiano o único
arquiteto conhecido na região à época é inevitável a ele atribuir sua autoria.
O monumento está, hoje, em condições físicas que inspiram cuidados. Medidas
preservacionistas precisam ser tomadas de forma imediata, no sentido de tirá-lo do estado
de abandono físico em que se encontra e evitando que mais um bem seja perdido na cidade.
85
Independente da autoria de seu projeto arquitetônico, o bem por si só já
acumula, como é visto ao longo deste trabalho, qualidades ímpares que lhe conferem
importância maior.
Várias são as formas de entender o monumento, várias as interpretações. Muitos
são os significados que a capela possui frente a seus freqüentadores. A capela, apesar da
falta de maiores cuidados, continua viva e escrevendo a história da rua, do bairro, da cidade.
Quanto maior seu uso, maior seria sua participação nessa história.
86
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ANEXOS
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Fachada da Capela Pombo Desenho: Thadeu Henriques, 2008
92
Elevação do Altar-mor da Capela Pombo Desenho: Thadeu Henriques, 2008
93
Elevação Lateral 1 - Capela Pombo Desenho: Thadeu Henriques, 2008
Elevação Lateral 2 - Capela Pombo Desenho: Thadeu Henriques, 2008
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Elevação 3 - Capela Pombo Desenho: Thadeu Henriques, 2008
Planta baixa Desenho: Thadeu Henriques, 2008
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Classificação dos retábulos de Landi78
1. Retábulos de madeira entalhada 1.1. Três panos e três registros – cobrem toda a parede a que se adossam – têm
grandes dimensões Capela do Santíssimo da Igreja da Sé Capela-mor da Igreja da Sé Altar-mor da Igreja da Ordem Terceira do Carmo
1.2. Três panos e três registros - não cobrem toda a parede a que se adossam - tipologia mais numerosa
Capela-mor da Igreja da Sé –1º projeto Capela-mor da Igreja de Santa Ana Capela de Santa Rita Capela-mor da Igreja do Carmo Capela do transepto da Igreja do Carmo Capela-mor da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco
1.3. Um pano e três registros Altares laterais da Igreja de Sant’Ana Altares laterais da Igreja do Carmo Altares laterais da Igreja da Ordem Terceira do Carmo Capela-mor da Igreja paroquial, em Gurupá, no Pará Altares laterais da Igreja paroquial, em Gurupá, no Pará Capela do palácio do Governador Ataíde Teive, em Pangim, na Índia
1.4. Retábulos compostos com telas emolduradas
Altares laterais da Igreja da Sé Altares laterais da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco
2. Retábulos pintados Altar-mor da Igreja de São João Altares laterais da Igreja de São João Capela sepulcral do Governador Ataíde Teive Igreja matriz, de Barcelos
3. Retábulos de estuque 3.1. Três panos e três registros
Altar da Capela Pombo Altar da Capela do Palácio
3.2. Outros
Altar da Capela do Murutucu Altar da Capela dos Pontificais na Igreja da Sé Altar da Sacristia da Igreja de Sant’Ana Batistério da Igreja de Sant’Ana Batistério da Igreja da Sé
Obs.: quando não está mencionada a localização da igreja/capela entenda-se que a mesma está/esteve erguida em Belém.
78 Classificação segundo Isabel Mendonça (2003d, p. 237-48)