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Capacitação para Gestores Escolares na Rede Pública Estadual no Paraná.- Um programa em construção. 1 CARNIELETTO*, Inês. RESUMO - O estudo trata da formação inicial e da capacitação continuada do gestor escolar da escola pública do Paraná. No decorrer deste estudo, ao se tentar demonstrar quem são os gestores escolares; o que fazem; como se preparam para a função; como se tornam gestores; qual a formação inicial do gestor escolar, como se dá o processo de formação continuada em serviço do mesmo; a quem se deve as mudanças estruturais na escola pública, fica evidenciado que o diretor da escola pública estadual vem sofrendo as conseqüências da falta de uma formação específica, para dar conta da diversidade de atividades a que estão submetidos esses profissionais no exercício de suas funções. Com efeito, a formação de gestores na área de educação é um campo que vem sendo bastante percorrido e discutido, embora – como é natural – os processos e as experiências empreendidas e as poucas informações sobre seus efetivos impactos nos sistemas educacionais estejam a indicar a necessidade de um debate permanente sobre a questão. O estudo aponta para a necessidade de se aprofundar a compreensão em torno da temática. Para isso, a autora sugere à Secretaria de Estado da Educação do Paraná, contemplar dentro das suas políticas educacionais de capacitação dos profissionais da educação, capacitação especifica aos gestores escolares, através de um Programa de Capacitação para Gestores Escolares na Rede Pública Estadual no Paraná. Inicialmente foi proposto à Secretaria de Estado da Educação do Paraná, contemplar dentro das suas políticas educacionais de capacitação dos profissionais da educação, capacitação especifica aos gestores escolares, através de um Programa de Capacitação para Gestores Escolares na Rede Pública Estadual no Paraná e, o estabelecimento em legislação específica da obrigatoriedade dos gestores na participação desses cursos. O Programa tem por objetivo básico contribuir com a formação efetiva de gestores educacionais da escola pública, de modo que disponham de elementos teórico-práticos que viabilizem uma educação escolar básica com qualidade social. Palavras-chave: Gestão Escolar; Formação de Gestores; Capacitação, Diretrizes. * Rua Oliveira Viana, n° 1160 - Ap. 505 - Hauer, 81630-070 Curitiba - PR [email protected] 1 Inês Carnieletto Professora PDE

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Page 1: Capacitação para Gestores Escolares na Rede Pública Estadual … · 2008-12-10 · Programa de Capacitação para Gestores Escolares na Rede Pública Estadual no Paraná e, o estabelecimento

Capacitação para Gestores Escolares na Rede Pública Estadual no Paraná.- Um programa em construção.

1CARNIELETTO*, Inês. RESUMO - O estudo trata da formação inicial e da capacitação continuada do gestor escolar da escola pública do Paraná. No decorrer deste estudo, ao se tentar demonstrar quem são os gestores escolares; o que fazem; como se preparam para a função; como se tornam gestores; qual a formação inicial do gestor escolar, como se dá o processo de formação continuada em serviço do mesmo; a quem se deve as mudanças estruturais na escola pública, fica evidenciado que o diretor da escola pública estadual vem sofrendo as conseqüências da falta de uma formação específica, para dar conta da diversidade de atividades a que estão submetidos esses profissionais no exercício de suas funções. Com efeito, a formação de gestores na área de educação é um campo que vem sendo bastante percorrido e discutido, embora – como é natural – os processos e as experiências empreendidas e as poucas informações sobre seus efetivos impactos nos sistemas educacionais estejam a indicar a necessidade de um debate permanente sobre a questão. O estudo aponta para a necessidade de se aprofundar a compreensão em torno da temática. Para isso, a autora sugere à Secretaria de Estado da Educação do Paraná, contemplar dentro das suas políticas educacionais de capacitação dos profissionais da educação, capacitação especifica aos gestores escolares, através de um Programa de Capacitação para Gestores Escolares na Rede Pública Estadual no Paraná. Inicialmente foi proposto à Secretaria de Estado da Educação do Paraná, contemplar dentro das suas políticas educacionais de capacitação dos profissionais da educação, capacitação especifica aos gestores escolares, através de um Programa de Capacitação para Gestores Escolares na Rede Pública Estadual no Paraná e, o estabelecimento em legislação específica da obrigatoriedade dos gestores na participação desses cursos. O Programa tem por objetivo básico contribuir com a formação efetiva de gestores educacionais da escola pública, de modo que disponham de elementos teórico-práticos que viabilizem uma educação escolar básica com qualidade social.

Palavras-chave: Gestão Escolar; Formação de Gestores; Capacitação, Diretrizes. * Rua Oliveira Viana, n° 1160 - Ap. 505 - Hauer, 81630-070 Curitiba - PR [email protected] 1 Inês Carnieletto Professora PDE

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1 INTRODUÇÃO

A partir da década de 80, vivenciamos mudanças em nível mundial, em

termos econômicos, sociais e culturais, com a transnacionalização da economia e o

intercâmbio quase imediato de conhecimentos, através das novas tecnologias da

comunicação, entre outros fatores, têm provocado uma nova atuação dos Estados

nacionais na organização das políticas públicas, por meio de um movimento de

repasse de poderes e responsabilidades dos governos centrais para as

comunidades locais.

Na educação, um efeito deste movimento é o processo de democratização

da sociedade que impulsionou todo o sistema educacional brasileiro para grandes

mudanças na área de gestão escolar, hoje percebidos como uma das mais

importantes tendências das reformas educacionais em nível mundial.

No Brasil, a retórica da mudança veio a se fortalecer com a promulgação da

Constituição Federal de 1988, garantindo como um dos princípios educacionais, a

“gestão democrática do ensino público, na forma da lei” (Art. 206, VI). E, mais tarde

a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), que promoveu a

reforma da educação nacional.

As reformas educacionais, desencadeadas em quase todos os países,

trouxeram novas perspectivas curriculares e, no seu bojo, a necessidade de

modelos de gestão mais participativos, conseqüentemente mais democráticos, que

configurassem uma escola mais autônoma em relação aos sistemas centralizadores

que exigem inovações de toda ordem, incluindo-se novos investimentos em políticas

públicas, entre elas de formação de gestores educacionais.

Os novos cenários e demandas que vêm sendo esboçados pela sociedade

exigem revisão do processo de formação inicial e continuada dos gestores

educacionais. É necessário prepará-los para enfrentar as contradições e as rupturas

presentes no modo de funcionamento das escolas públicas, a fim de gerir conflitos

entre professores com tendências mais burocráticas. Isso desmistifica a visão que

prescreve a competência técnica e a capacidade de liderança como os únicos

atributos necessários ao gestor educacional.

A Secretaria de Estado da Educação do Paraná, nos últimos 5 anos tem

investido prioritariamente na formação de professores e pedagogos, relegando a um

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segundo plano, a dos seus gestores, ignorando de certa forma os inúmeros e novos

desafios a que estão submetidos esses profissionais, no exercício de suas

atribuições cotidianas.

A experiência nas organizações escolares como professora, supervisora,

assistente de área educacional, coordenadora estadual de programa, coordenadora

e técnica-pedagógica de NRE, e, por último, uma passagem rápida pela direção de

escola, possibilitaram-me a oportunidade de perceber o quanto é diversa a função

do diretor. Minhas percepções evidenciam que o diretor da escola pública estadual

vem sofrendo as conseqüências da falta de uma formação específica, para dar conta

da diversidade de atividades a que estão submetidos esses profissionais no

exercício de suas funções.

Essas evidências fizeram com que suscitassem inquietações e

interrogações, tais como: Como é que deveria ser o processo de capacitação e

formação do gestor escolar para que ele possa dar conta ou encaminhar as

situações apresentadas pelo cotidiano escolar? Que capacitação é necessária a

esse profissional? Quais são os principais problemas enfrentados? Quando

deveriam ser capacitados? Antes do processo de escolha/eleição como pré-

requisito? Após a eleição, e antes de assumir a função? Na função, a partir da

experiência do dia a dia? Surge então, a necessidade, de investigar a questão da

formação do gestor escolar.

Para responder a estas perguntas, iniciou-se pela busca de bibliografia

existente a respeito da educação continuada dos Diretores de Escola, o que fez com

que confirmasse uma suspeita: há pouca bibliografia na área. Isso nos levar a

pensar que não se publica muito aquilo que se faz, ou se faz pouca pesquisa a

respeito. Há também outra hipótese: a ausência de campo e de interlocutores, isto

é, como a direção escolar no Brasil, em sua grande maioria, não é ocupada por

profissionais formados para a função ou por pedagogos concursados, significa que a

formação inicial desses profissionais não é uma preocupação dos sistemas de

ensino. De outro lado, se também há pouca bibliografia sobre a formação continuada

desses profissionais, também pode ser porque os sistemas de ensino vêem no

dirigente escolar uma função prioritariamente de chefe de um aparelho do estado

e/ou de político governante de um estabelecimento de ensino.

Muitos trabalhos os quais se pensava tratarem da educação continuada dos

Diretores de Escola, como é o caso da publicação “Em Aberto” n° 72 de Junho de

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2000, sob o título - Gestão Escolar e Formação de Gestores - que é uma publicação

do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP se constitui em

relatos do que as Secretarias de Educação e outras instâncias governamentais têm

realizado na área.

Assim sendo, nos utilizamos muito mais de leituras e de autores que

discutem a gestão escolar e a formação continuada dos professores, neste último,

mesmo em se tratando de estudos envolvendo o fazer dos professores e a sua

formação, guarda relação com a de Diretores de Escola.

E, para o desenvolvimento desse trabalho foi aplicada uma pesquisa de

campo junto a um grupo de diretores de escolas públicas estaduais, levantando-se

o perfil dos diretores e das escolas em que atuam. Foi considerada na pesquisa:

qualificação profissional; formação especifica para função; o tempo de atuação no

magistério e no cargo de direção; como se tornaram diretores; como adquirem os

conhecimentos necessários para exercer a função; as capacitações ofertadas pela

SEED; atividades que apresentam maior dificuldade e exigem maior tempo do

diretor; participação das instâncias colegiadas, entre outros.

O caminho proposto foi o do método de investigação descritiva, mediante

abordagem qualitativa, na modalidade estudo de caso. O instrumento utilizado para

a coleta de dados foi um questionário elaborado com linguagem clara e acessível,

buscando o maior número de elementos presentes na situação estudada. O

conteúdo deste questionário foi representado por 20 questões, aplicadas aos

gestores escolares e se constituíram de perguntas em que permitiram: - identificar o

perfil do gestor e das escolas em que atuam; - sua formação inicial e continuada; -

questões sobre o funcionamento da gestão escolar/decisões de ordem

administrativo e pedagógico; - percepções sobre a gestão democrática. Cada

questão implicava na coleta de vários dados que subsidiaram a formulação

de gráficos explicativos, estabelecendo-se uma porcentagem para a

compreensão dos elementos obtidos. Foram utilizados como instrumentos de

coleta de dados, questionários com questões abertas, semi-abertas e fechadas.

A coleta dos dados foi realizada nos meses de abril e maio de 2007,

em um universo de 2.000 escolas públicas do Estado do Paraná, utilizou-se

uma amostra de 400 escolas (25% do universo), das quais 380 escolas

devolveram os instrumentos respondidos.

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Para escolha dos gestores pesquisados optou-se por solicitar aos chefes

dos Núcleos Regionais da Educação, num total de 32 núcleos, situadas nas diversas

regiões do Estado do Paraná, órgãos estes, responsáveis pelo acompanhamento e

orientação das escolas da rede estadual, que indicassem 12 gestores para

responderem a pesquisa. A escolha dos sujeitos foi aleatória, sem pré-requisitos

específicos, fazendo-se apenas uma sondagem inicial àqueles que se dispusessem

a serem pesquisados.

2 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO EM ESTUDO

Neste item abordam-se questões conceituais sobre: gestão escolar, formação inicial e continuada e apresentar-se-á a Consolidação dos Dados e Discussão dos Resultados 2.1 GESTÃO ESCOLAR

A gestão escolar como âmbito da gestão pública supõe, pois, em primeiro lugar, a compreensão de que está em jogo o trato com a “coisa pública”, o que exige a observância de princípios e conceitos bem definidos, mas nem sempre levados em consideração.

Apesar da criação de mecanismos e instrumentos de controle – com a participação cada vez mais efetiva da sociedade civil organizada – e do desenvolvimento da percepção e do repúdio, cada vez mais aguçados, em relação ao desrespeito e ao abuso contra o bem público, a mídia ainda registra cotidianamente práticas clientelistas, nepotistas e de utilização indébita de recursos públicos. Isso reforça ainda mais a idéia de uma cultura generalizada que considera o bem público como de propriedade do “governo”, esse último como um ente abstrato ao qual, de forma agressiva, irreverente ou irresponsável, se podem e devem subtrair bens ou danificá-los. A escola pública, por exemplo, é tida como a ”escola do governo”, ou seja, “de ninguém”.

Mudar essa cultura supõe a introdução de novas concepções e práticas que possibilitem à coletividade a apropriação dos mecanismos de participação e controle de que a sociedade dispõe, para o acompanhamento da definição e execução das políticas públicas. É nesse contexto de transformações necessárias à gestão pública que se situam os funcionários públicos e, nessa categoria, enquadram-se os gestores escolares.

Essas transformações só ocorrerem com construção de uma democracia participativa e, se inicia com o fortalecimento da escola pública. Para tanto, é preciso que elementos como autonomia e a boa gestão da escola estejam envolvidas no processo, esses relacionados ao papel do gestor a quem cabe assumir essa função.

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Segundo FERNANDES E MULLER:

O papel do gestor passa por um processo de transição. No momento, para administrar uma escola, é preciso conhecer e aplicar os novos paradigmas da administração pública. É preciso rever o conceito de gestor escolar, frente às novas exigências educacionais, pois a escola tende a reproduzir, na organização do seu trabalho, as relações de poder que ocorrem na sociedade com suas contradições. Torna-se necessário, também, discutir o papel do gestor escolar em face à nova realidade que se delineia. Isso, necessariamente, passa pela discussão das questões da administração da educação, tendo como centro a problemática vivida no interior da escola, ou seja, aponta a escola como eixo central, na discussão da escola, como um local onde se dá a apropriação de serviços educacionais. Antes de abordar a função e o papel do gestor na escola pública, acredita-se ser oportuno fazer um breve comentário em relação ao exercício do poder na escola. A figura do gestor escolar, mais especificamente por ser ele a maior autoridade no âmbito da escola, pode se tornar um grande obstáculo para que a mesma se torne mais democrática. Por ser o gestor a autoridade máxima na escola, autoridade que lhe é conferida pelo Estado ou Município, ele possui um caráter geralmente autoritário e centralizador, de maneira que estabelece uma hierarquia na qual ele deve ser o chefe de quem partem todas as ordens na unidade escolar (FERNANDES E MULLER, 2006 p.131).

De acordo com PARO (1997, p. 12), “este tipo de gestor contribui não

apenas para a não-implementação de uma gestão democrática na escola, como

forma uma imagem da pessoa do gestor, a qual é confundida com o próprio cargo;

faz com que o gestor tendencialmente busque os interesses dos dominantes agindo

contrariamente aos interesses dos alunos e comunidades”.

Dentre as funções do diretor, além das atividades administrativas e

burocráticas, que apresentam um caráter extremamente centralizador e que absorve

praticamente a maior parte do tempo do trabalho do gestor escolar, caberá a ele

encontrar mecanismo para conciliar o trabalho administrativo e o trabalho

pedagógico, mesmo porque não há como suprimir um ou o outro. Ambos são

necessários ao gerenciamento da escola. O que tem acontecido, em muitos casos,

se não na maioria das vezes, é a preponderância do administrativo sobre o

pedagógico.

Neste sentido, FERNANDES e MULLER, afirmam:

O que deve ficar claro para o gestor escolar é que o administrativo deve estar a serviço do pedagógico, isto é, deve servir de suporte para a consecução dos objetivos educacionais da unidade escolar. Entretanto, na gestão de uma escola, a preponderância dos aspectos pedagógicos sobre os aspectos administrativos ainda é, para muitos gestores, um grande desafio a ser vencido. Isso se dá devido à forma como a gestão das escolas públicas está estruturada. O papel que o diretor deve ocupar, nesse momento, difere, em muito, daquele burocrata, centralizador do poder, que está a serviço da burocracia e do Estado ou do Município. Ao diretor, cabe romper com essa postura autoritária e de passividade diante das

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orientações vindas de cima para baixo, como se fosse um funcionário burocrático do sistema. Esse diretor, aqui entendido como sinônimo de gestor deve enxergar em si mesmo um representante de um projeto político-social de educação que passa pela ruptura com um sistema seletivo, excludente, e forjar uma gestão escolar mais aberta, arejada para os anseios populares (FERNANDES E MULLER, 2006, p. 131 e 132).

Na mesma linha de pensamento, afirma STEINER, (2000, p. 5-12) “uma

escola deve ser administrada por quem educa e ensina, não podendo haver

interferência daquele que atua no Estado ou na economia. Ninguém pode estipular

normas adequadas na educação e no ensino, se não estiver ao mesmo tempo

atuando neles. Para este autor, as experiências diretas na atividade de ensino

devem fluir para dentro da atividade administrativa”.

O gestor deve incentivar a participação, respeitando as pessoas e suas

opiniões; desenvolvendo um clima de confiança entre os vários segmentos das

comunidades escolar e local; ajudando a desenvolver competências básicas

necessárias à participação como, por exemplo, saber ouvir e saber comunicar suas

idéias.

Segundo DOURADO E DUARTE, (2001, p. 24), “A participação proporciona

mudanças significativas na vida das pessoas, na medida em que elas passam a se

interessar, a se senti responsáveis por tudo que representa interesse comum.

Assumir responsabilidade, escolher e inventar novas formas de relações traz

possibilidades de mudanças que atendam a interesses coletivos”.

Entende-se que o gestor ainda seja o maior responsável pela gestão da

escola. Entretanto, ele não pode deixar de procurar a participação das comunidades

interna e externa, principalmente, diante da nova realidade de autonomia da escola.

O momento atual exige uma mudança profunda no que diz respeito à idéia de uma

equipe que busca concretizar a missão da escola, desenvolver as estratégias

necessárias para atingir os objetivos, participativa e compromissadamente, isto é,

com a participação dos vários atores que compõem a comunidade escolar e local.

Confirmando, FERNANDES E MULLER (2006, p. 134) afirmam que “o

gestor escolar que tem competência é aquele que tem a capacidade de gerenciar a

escola persuadindo os atores que compõem a comunidade escolar interna e externa

a abraçarem o projeto de educação da escola por meio da participação ativa desses

segmentos e por meio da comunicação, do diálogo, da solidariedade, do

comprometimento e do compartilhar”.

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Um dos papéis de grande relevância na função de gestor escolar é o de

administrar conflitos. A escola é palco de vários conflitos, local onde convivem

diferentes sujeitos que pensam e agem de forma singular. Em conseqüência, isso

desencadeia uma série de conflitos, muitos deles inerentes ao ser humano, sendo

que o gestor precisa ser também um gerenciador de conflitos.

Neste sentido SOUZA afirma:

A função do diretor é a de coordenar o trabalho geral da escola, lidando com conflitos e com as relações de poder, com vistas ao desenvolvimento mais qualificado do trabalho pedagógico. O diretor é o coordenador do processo político que é a gestão da escola, é entendido como o executivo central da gestão escolar. (SOUZA, 2006, p.153).

2.2 FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA

Embora se possa dizer, genericamente, que uma profissão se qualifica por

tudo que se promova em favor dela, é preciso distinguir a formação de outros

processos. A qualificação é uma prática social que envolve o coletivo e a relação

entre educação e trabalho. Como em toda profissão, essa relação possui uma

dimensão formativa inicial: aquela que possibilita a uma categoria o exercício

profissional. No caso dos docentes, a formação inicial realizada pelos

estabelecimentos regulares é uma licença que, faz do seu portador, alguém capaz

de ingressar nas redes de educação escolar dos sistemas de ensino.

Por melhor e mais avançado que seja um curso de formação acadêmica, os

profissionais de educação não saem deles “prontos”. Na prática cotidiana, esses

profissionais complementam, aprimoram e atualizam seus conhecimentos. A prática

não constitui mero campo de aplicação da teoria aprendida na formação inicial, pois

o conhecimento se produz também na própria prática. A diplomação é apenas um

momento pontual no processo de formação desses professores e não um ponto

terminal.

Assim, formação inicial e continuada fazem parte de um processo contínuo

que forma o profissional da educação e, ao mesmo tempo, a profissão de educador

e a própria escola. Ambas as dimensões, inicial e continuada, apóiam-se em

princípios e pressupostos comuns, o que situa alunos e professores como sujeitos,

valorizando suas experiências pessoais e seus saberes da prática. Dessa forma, a

formação inicial e continuada apóiam-se no trabalho coletivo e compartilhado, mas

sem prescindir o desenvolvimento e o compromisso individuais.

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A formação continuada permite, então, que o professor vá se apropriando,

como sujeito histórico, dos conhecimentos que ele mesmo gerou e que se torne um

professor investigador, podendo rever sua prática, atribuir-lhe novos significados e

obter maior espaço para a compreensão das mudanças que o atingem.

A experiência nas organizações escolares tem mostrado que o papel do

gestor educacional vem sofrendo, no âmbito das organizações, as conseqüências

das lacunas na sua formação básica e da falta de uma formação contínua. As

instituições investiram, prioritariamente, na formação de professores, relegando, a

um segundo plano, a dos seus gestores, ignorando de certa forma os inúmeros e

novos desafios a que estão submetidos esses profissionais, no exercício de suas

atribuições cotidianas.

Neste mesmo enfoque, Maria Aglaê de Medeiros Machado, Coordenadora

do Programa de Capacitação a Distância para Gestores Escolares

PROGESTÃO/CONSED, a partir de pesquisa realizada em âmbito nacional sobre as

problemáticas básicas da gestão escolar, elaborou a proposta de intervenção,

apoiada no entendimento de que a apropriação dos conhecimentos, valores e

atitudes, ao longo dessa formação, deve se fazer a partir do contexto escolar e da

prática profissional dos participantes, assegurando-lhes o desenvolvimento de

competências que os qualifique a cumprir melhor a tarefa de sujeitos da construção

do projeto de autonomia e de melhoria do desempenho das escolas públicas

estaduais.

“A pesquisadora LÜCK, defende a capacitação do gestor como condição

prévia a função do gestor e propõe no seu enfoque”.

Não se pode esperar mais que os dirigentes escolares aprendam em serviço, pelo ensaio e erro, sobre como resolver conflitos e atuar convenientemente em situações de tensão, como desenvolver trabalho em equipe, como monitorar resultados, como planejar e implementar o projeto político pedagógico da escola, como promover a integração escola-comunidade, como criar novas alternativas de gestão, como realizar negociações, como mobilizar e manter mobilizados atores na realização das ações educacionais, como manter um processo de comunicação e diálogo abertos, como estabelecer unidade na diversidade, como planejar e coordenar reuniões eficazes, como articular interesses diferentes, etc. Os resultados da ineficácia dessa ação são tão sérios em termos individuais, organizacionais e sociais, que não se pode continuar com essa prática. A responsabilidade educacional exige profissionalismo. (LÜCK 2000, p. 29)

Na mesma linha de pensamento TORRES e GARSKE defendem que:

Há que se considerar também que o processo eletivo só será eficaz, quando amparado por critérios que permitam a verificação da competência na sua dimensão técnica e na sua dimensão política. Técnica, no que se refere ao conjunto de conhecimentos, meios e estratégias de ação. Política,

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no que diz respeito ao compromisso do diretor eleito com o direcionamento a ser dado ao trabalho da escola. Tal direcionamento, entendemos, deve estar consubstanciado na clara determinação de assumir a tarefa educativa da escola: a de ensinar e ensinar bem a todos. (TORRES & GARSKE, 2000, p. 68)

Ainda, TORRES e SIQUEIRA:

Parece-nos mais importante examinar se o candidato [a diretor] se apresenta (...) como alguém interessado na democracia, no fazer coletivo, [e] se esse interesse tem-no levado a tomar atitudes em favor do social. Isto que poderíamos chamar de vocação democrática é um requisito fundamental (...) a mudança de convicções e posturas sobre relações humanas, transformação social, etc. não ocorre tão rápida e formalmente, através de cursos técnicos preparatórios (TORRES e SIQUEIRA, 1997, p. 209).

2.3 CONSOLIDAÇÃO DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Apresentam-se aqui, os resultados da pesquisa, que teve como propósito

possibilitar um estudo sobre a distância entre a formação inicial de um candidato a

Gestor Escolar da Escola Pública Estadual do Paraná e o que se exige dele no

efetivo exercício da função. Para isso, levantou-se qual a sua qualificação

profissional; a formação especifica para o exercício da função; como obtiveram essa

formação; qual o tempo de atuação no magistério e no cargo de direção; conhecer

como se tornaram diretores; identificar as maiores dificuldades encontradas no

desempenho da função; conhecer o que pensam os atuais diretores em relação ao

perfil ideal de um professor para se tornar um bom gestor escolar e, como se

caracterizam as suas ações como gestores.

2.3.1 Qualificação Profissional dos Diretores.

No que tange à formação, a pesquisa revelou que 97% dos diretores têm

formação de nível superior. Um grupo bem representativo, 90% tem formação na

área das licenciaturas, sendo que destes, 16% além da graduação possuem o curso

de Magistério Superior. Um percentual de 7% dos diretores pesquisados possui

graduação fora das áreas de licenciatura e, 3%, possuem apenas o curso de

Magistério. O Gráfico 1 melhor visualiza essa informação.

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GRÁFICO 1 - COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO DE ENTREVISTADOS, POR TIPO DE

GRADUAÇÃO - JUNHO/2007

FONTE: PESQUISA REALIZADA PELA AUTORA

Constata-se que os diretores escolares pesquisados apresentam elevado

nível de formação, e um grupo bem representativo, 90% dos pesquisados possui

algum curso de especialização, e destes, 3% possuem também mestrado. E apenas,

7% não possuem nenhum tipo de curso de especialização, conforme mostra o

Gráfico 2.

GRÁFICO 2 - COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO DE PESQUISADOS, MODALIDADE DE

PÓS-GRADUAÇÃO - JUNHO/2007

90%

8%0%3%

Especialização Mestrado Doutorado Nenhuma

FONTE: PESQUISA REALIZADA PELA AUTORA

A pesquisa buscou conhecer também, se os diretores têm formação

específica na área da gestão escolar. Um grupo considerável, 244 diretores (64%)

têm formação especifica em gestão escolar, destes 96 diretores, 25%, em curso de

74%

16%7%

3%

Licenciatura + Magistério Licenciatura

Magistério (apenas) Graduação fora da Licenciatura

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Pós-Graduação Lato Sensu, na área de Gestão Educacional. Outros 148

profissionais (39%) têm formação em cursos específicos de capacitação em gestão

escolar. Um número significativo de 136 diretores (36%) informou que não têm

nenhuma formação especifica na área. A Tabela 1 mostra essas informações.

TABELA 1 - FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM GESTÃO ESCOLAR - JUNHO/2007 FONTE: PESQUISA REALIZADA PELA AUTORA

Era também interesse das pesquisadoras saber dos diretores que têm

formação especifica em gestão escolar, através de cursos de capacitação, saber a

duração dessas capacitações. A pesquisa revelou que dos 148 profissionais que têm

formação específica, obtida nos cursos de capacitação em gestão escolar, 64

diretores (44%) têm menos de 50 horas de capacitação; 22 diretores (15%) têm de

50 a 100 horas de capacitação; 34 diretores (23%) têm de 100 a 200 horas de

capacitação e 14 diretores (9%), têm mais de 200 horas de capacitação, e 14

diretores, 9% não informaram. O Gráfico 3 clarifica essas informações.

GRÁFICO 3 - NÚMERO DE HORAS DE CURSO DE CAPACITAÇÃO EM GESTÃO

ESCOLAR DOS ENTREVISTADOS - JUNHO/2007

44% (64)

9% (14)9% (14)

11% (16)

12% (18)

15% (22)

0 a 50 horas 51 a 100 horas 101 a 150 horas

151 a 200 horas + 200 horas Não Informado

FONTE: PESQUISA REALIZADA PELA AUTORA

T IP O D E F O R M A Ç Ã O Q U A N T ID A D E %

N e n h u m a 1 3 6 3 6 %

P ó s - L a to S e n s u 9 6 2 5 %

C a p a c i ta ç ã o e m C u rs o G e s tã o E s c o la r 1 4 8 3 9 %

T O T A L 3 8 0 1 0 0 %

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Observa-se dois extremos entre os diretores pesquisados que tiveram

formação especifica em gestão escolar: ou a oferta de cursos tópicos e rápidos,

provavelmente cursados já na função de direção, que não possibilitam o

desenvolvimento de competências profissionais e de uma visão ampliada da

realidade em que atuam esses profissionais; ou a oferta de cursos longos e

aprofundados, em geral ofertados por universidades e instituições de ensino

superior, comumente distanciados das necessidades do cotidiano escolar.

2.3.2 Como se Tornam Diretores e Capacitação para a Função

Buscou-se conhecer também, como os diretores participaram do processo

de eleição, que no Estado do Paraná ocorre através de consulta à comunidade por

voto direto e secreto, por vontade própria ou por indicação de colegas, se houve

capacitação prévia para a função. O Gráfico 4 mostra que 134 diretores (35%),

participaram do processo de eleição por vontade própria e com capacitação para

função. Não foi pesquisado, como obtiveram essa capacitação, mas as evidências

indicam que esse percentual seja dos diretores há mais tempo na direção e que

tiveram oportunidade de capacitação em serviço.

Um grupo menor de 100 diretores (26%), também informou que foi por

vontade própria, porém sem capacitação para a função. Um número significativo

de 114 diretores (30%) informou que participou do processo de eleição por indicação

de colegas e sem capacitação para a função. Outros 18 diretores (4%) informaram

que experiência anterior os levou a participarem do processo de eleição, e com

capacitação para função.

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GRÁFICO 4 - COMO SE TORNARAM DIRETORES E CAPACITAÇÃO PARA FUNÇÃO –

JUNHO/2007

FONTE: PESQUISA REALIZADA PELA AUTORA

A forma de acesso ao cargo via eleição sem a exigência de pré-requisitos

formais para o exercício da função, faz com que conhecimento necessário para

exercer a função, fica relegado a um segundo plano. Os dados apresentados

demonstram que 67% dos diretores, ao se elegerem não possuíam capacitação para

a função, o que reforça a necessidade dos sistemas de ensino em estabelecer

políticas públicas de capacitação prévia para preparação dos gestores escolares.

No Gráfico 5, observa-se como os sujeitos adquiriram os conhecimentos

necessários para exercer a função. O resultado da pesquisa mostra que 152

diretores (39%) se apropriaram desses conhecimentos na função, através da

experiência do dia-a-dia; 96 diretores (25%) em cursos de pós-graduação na área de

gestão escolar; 79 diretores (21%) em curso de capacitação ofertados pela

mantenedora - SEED; 34 diretores (9%) buscam orientação com diretores mais

experientes; 15 diretores (4%) buscam conhecimento em livros e periódicos na área

e ainda 6 diretores (2%) buscam informações em outras fontes.

100(26%)

134(35%)

114(30%)

8(2%)

18(5%) 6

(2%)

0

20

40

60

80

100

120

140

Vontade própria, sem

capacitação para a função

Vontade própria,com

capacitaçãopara a função

Indicação decolegas semcapacitaçãopara a função

Fata de outrocandidato semcapacitação para a função

Experiênciaanterior com capacitação para a função

Outros

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GRÁFICO 5 - COMO ADQUIRIU OS CONHECIMENTOS NECESSÁRIOS PARA EXERCER

A PROFISSÃO - JUNHO/2007

25%

21%

9%

4% 2%

39%

Na função através de experiência no dia-a-dia.

Curso de pós-graduação na área de gestão.Curso de capacitação ofertado pela SEED.

Orientação com diretores mais experientes.

Orientação em livros e periódicos.

Outros. FONTE: PESQUISA REALIZADA PELA AUTORA

2.3.3 Maiores Dificuldades no Exercício da Função

Foi solicitado aos pesquisados que informassem em ordem crescente de

prioridade, nas três áreas - Gestão Pedagógica, Gestão de Pessoas e Gestão

Administrativa - as que encontram maiores dificuldades no exercício da função.

Como primeira maior dificuldade para 45% dos diretores é a gestão de pessoas;

para 29% é a gestão pedagógica e para 26% é a gestão administrativa. Como

segunda maior dificuldade para 42% dos diretores é a gestão pedagógica, para

outro grupo de 36% diretores é a gestão de pessoas e para 22% dos diretores é a

gestão administrativa. Em relação à dificuldade em terceira prioridade a pesquisa

informou que para 50% dos diretores é a gestão administrativa; para 31% dos

diretores é gestão pedagógica; e para 19% é a gestão de pessoas. A Tabela 2

clarifica essas informações.

QUANTIDADE % QUANTIDADE % QUANTIDADE %

1ª 102 26% 170 45% 108 29%

2ª 160 42% 136 36% 84 22%

3ª 118 31% 72 19% 190 50%

GESTÃO ADMINISTRATIVAOPÇÃO

GESTÃO PEDAGÓGICA GESTÃO PESSOAS

TABELA 2 - GESTÃO - PRINCIPAIS DIFICULDADES ENCONTRADAS - JUNHO/2007

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FONTE: PESQUISA REALIZADA PELA AUTORA Para complementar a informação acima, o Gráfico 6 mostra quais as

atividades que exigem maior tempo do diretor. Os resultados foram considerados em

horas semanais e as informações obtidas são: questões pedagógicas, 9 horas

semanais; indisciplina e violência, 8 horas; questões financeiras 2 horas; relações

interpessoais, 5 horas; questões administrativas, 8 horas; relacionamento com a

comunidade escolar externa, 5 horas; reuniões com chefias e outros assuntos,

3 horas.

GRÁFICO 6 - TEMPO MÉDIO GASTO COM AS PRINCIPAIS ATIVIDADES DOS

PESQUISADOS, EM HORAS SEMANAIS - JUNHO/2007

FONTE: PESQUISA REALIZADA PELA AUTORA

A tabela 2 mostra que os diretores têm mais dificuldades em lidar com as

questões que envolvem gestão de pessoas seguida das questões pedagógicas e

ficando por último as questões administrativas. Ao usar outra variável, o tempo gasto

com as principais atividades relativas à escola, percebe-se que no dia-a-dia da

escola os diretores usam mais tempo com as questões pedagógicas, os problemas

de indisciplina e violência e os aspectos administrativos. A maior dificuldade do

diretor é com a gestão de pessoas ficando evidente, pelo tempo dispensado de 13

horas, ou seja, 32% para atividades relativas a indisciplina e relacionamento

interpessoal. Pode-se afirmar, sem dúvida que é um indicativo da necessidade de

capacitação nesta área.

Quando perguntado se as capacitações que a SEED oferta aos atuais

diretores suprem as dificuldades encontradas no dia-a-dia dentro das escolas, 30%

0

2

4

6

8

1 0

1

Q ues tões P edagóg ic as Ind is c ip lina / Vio lênc ia

Q ues tões F inanc e iras R e laç ões In te rpes s oa is

Q ues tões Adm in is tra tivas R e lac . C om unidade

R eun iões c om C hefias e ou tras

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dos diretores informaram que sim e 70% dos pesquisados responderam que não,

por serem capacitações de curta duração, geralmente sobre assuntos burocráticos

e, de forma esporádica.

Na pergunta: se houvesse capacitação para o gestor escolar após ser eleito

e antes de assumir o cargo, tornaria o trabalho mais produtivo, 94% dos diretores

responderam que sim e 6% que não.

Na pesquisa foram apresentados 17 itens, dos quais os diretores informaram

as 10 alternativas consideradas importantes no exercício da docência, necessárias

para o professor se tornar um bom gestor escolar: 1) Ter compromisso em estar se

desenvolvendo para melhorar a qualidade do ensino; 2) aceitar desafios e saber

gerenciar conflitos; 3) ter liderança; 4) saber e gostar de trabalhar e coordenar

equipes; 5) ser organizado e cumpridor dos deveres como profissional e cidadão; 6)

ser crítico, visando a melhoria do local de trabalho; 7) estar motivado com a

profissão; 8) ter alguma experiência administrativa; 9) ser comunicativo e pró-ativo;

10) ser um ótimo professor em sala de aula. O gráfico 7 visualiza essas

informações.

GRÁFICO 7 - ITENS NECESSÁRIOS PARA SER UM BOM GESTOR ESCOLAR -

JUNHO/2007

FONTE: PESQUISA REALIZADA PELA AUTORA

0

50

100

150

200

1

S er um ótim o professor em salaS er o m ais antigo na ins t ituiçãoTer algum a experiênc ia adm nis trativaS er o m ais popular na com unidadeP artic ipar de todos os eventos propos tos pela escolaFazer parte do Conselho Escolar ou da A PM FTer com prom isso em es tar se desenvolvendo para m elhorar a qualidade do ens inoS aber e gos tar de trabalhar e coordenar equipesS er organizado e cum pridor dos deveres com o profiss ional e c idadãoS er individualis ta e dono da verdadeS er c rít ico, visando a m elhoria do local de trabalhoE s tar cansado da sala de aulaA ceitar desafios e saber gerenc iar conflitosTer liderançaE s tar m otivado com a profissãoS er com unicativo e pró-ativoOutros

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3 PROPOSTA DE UM PROGRAMA DE FORMAÇÃO DO GESTOR ESCOLAR

Concluímos, a partir da consolidação dos dados da pesquisa, que os

resultados confirmaram as hipóteses iniciais, ou seja: por mais bem sucedido que

um gestor tenha sido como professor, mesmo com boa qualificação profissional, é

necessário que, ao eleger-se gestor escolar, passe por um processo de formação

especifica para a função.

O estudo nos mostra também que os gestores escolares têm dificuldades no

enfrentamento dos problemas desafiadores como - indisciplina dos alunos, violência

no interior da escola, altos índices de repetência e de evasão, dificuldades de captar

as novas tendências do currículo, dificuldades no relacionamento entre os diversos

segmentos escolares e com a família dos alunos.

A formação continuada aqui proposta, visa, sobretudo, contribuir com o

desenvolvimento profissional do professor gestor e com a melhoria da qualidade

dos processos de organização e gestão da escola. Tal compreensão pauta-se em

uma concepção de formação de professores que contemple a tematização de

saberes e práticas num contexto de desenvolvimento profissional permanente.

O Programa tem por objetivo básico contribuir com a formação efetiva de

gestores educacionais da escola pública, de modo que disponham de elementos

teórico-práticos que viabilizem uma educação escolar básica com qualidade social.

3.1 SENSIBILIZAÇÃO PARA A FORMAÇÃO

O momento atual requer pessoas que estejam constantemente revendo e

atualizando seus conhecimentos. Não só, os pesquisadores das academias, como

os planejadores e formuladores de políticas públicas são unânimes quanto ao

reconhecimento da capacitação profissional como uma das condições que se

impõem na implementação de mudanças e reformas em todos os campos das

políticas públicas.

As políticas voltadas para a articulação, desenvolvimento e fortalecimento

dos sistemas de ensino e das escolas vêm sendo produzidas e implementadas com

a participação de várias instituições, destacando-se a interlocução com entidades e

organizações como a Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais

de Ensino Superior - ANDIFES, Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa

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em Educação - ANPED, Associação Nacional de Política e Administração da

Educação - ANPAE, União Nacional de Dirigentes Municipais da Educação -

UNDIME e Conselho Nacional de Educação - CONSED.

Neste processo, vem se destacando a parceria com os sistemas de ensino e

as universidades públicas federais e estaduais, principalmente, pela compreensão e

reconhecimento de que as IES se constituem em lócus privilegiado de formação e

produção de conhecimento, o que inclui a formação de gestores educacionais, que

venham a atuar na perspectiva da gestão democrática e da educação inclusiva.

Reconhece-se, atualmente, a centralidade da formação dos gestores

escolares no avanço da qualidade do ensino e na realização e fortalecimento da

gestão democrática da educação pública.

Dada a importância dessa formação e desenvolvimento de Recursos

Humanos, foi instituída pelo Decreto nº. 3764 de 25/10/2004, a Escola de Governo

do Paraná, que atualmente atende as necessidades das diversas Secretarias de

Estado e dos servidores públicos.

Na Secretaria de Estado da Educação não é diferente, o titular da pasta

através da Resolução Secretarial nº. 1457/04 instituiu a Coordenação de

Capacitação dos Profissionais da Educação – com o objetivo de viabilizar a realizar

dos eventos de capacitação garantindo assim, a formação continuada para melhoria

da qualidade da educação. No mesmo sentido, o Governo do Estado sancionou a

Lei Complementar 103/04, que trata do Plano de Carreira dos Professores e, no

Capitulo VI, art. 17, contempla qualificação profissional, visando à valorização do

Professor e à melhoria da qualidade do serviço público.

A Lei n. 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da educação em seu art. 67,

inciso 2, dispõe sobre o aperfeiçoamento profissional continuado.

A Lei 10.172/2001, que institui o Plano Nacional da Educação, ao tratar da

gestão da educação garante a formação continuada dos profissionais da educação

pública. A versão preliminar do Plano Estadual da Educação do Paraná, em uma de

suas metas contempla o desenvolvimento de um programa de formação continuada

para o conjunto dos profissionais que atuam na Educação, através da constituição

de comunidades de aprendizagem de gestores, via grupos de estudo, fóruns de

discussão presencial e virtual, encontros de trocas de experiências, garantido

mecanismos de compartilhamento do conhecimento produzido sobre gestão

educacional e escolar.

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A Lei 14231/2003, que trata da escolha de diretores na rede pública

estadual do Paraná, no Capítulo das Disposições Gerais, no art. 22 dispõe sobre a

participação do diretor e diretor - auxiliar em programas de capacitação pedagógico-

administrativa definidos pela SEED.

Diante dessas considerações, justifica-se um programa de formação para

gestores escolares da rede pública estadual do Paraná, que venha formar as

competências necessárias para um gestor escolar dando-lhes condições de

enfrentar o desafio da qualidade social da educação e para dar conta de uma

educação básica com alicerces sólidos para a construção da competência humana

exigidas pela cidadania e pela competitividade mundo do trabalho na sociedade pós

moderna.

Acreditamos que dificilmente alguma escola teria sucesso em seus objetivos

sem influência e interferência do gestor escolar. Este deve ser o elemento

articulador que envolverá a todos em torno de um Projeto Político Pedagógico. Esse

gestor deve incentivar a promoção da responsabilidade social e ética de todos os

ambientes e subsidiar a formação global do cidadão. A ele cabe o desafio da

participação ativa no processo de transformação da escola e da sociedade e o

despertar das consciências e do desejo das pessoas de encontrarem melhores

caminhos, mesmo sabendo que, para trilhá-los, enfrentarão resistências e tensões.

3.2 Diretrizes que devem nortear um Programa para Formação do Gestor Escolar

Deste modo, o estudo aponta para a necessidade de se aprofundar a

compreensão em torno da temática. Para isso, a autora sugere à Secretaria de

Estado da Educação do Paraná, contemplar dentro das suas políticas educacionais

de capacitação dos profissionais da educação, capacitação especifica aos gestores

escolares, através de um Programa de Capacitação para Gestores Escolares na

Rede Pública Estadual no Paraná.

Programa este, que tenha como objetivo a institucionalização de uma

política de formação de gestores escolares, baseada nos princípios da gestão

democrática, tendo por eixo a escola como espaço de inclusão social e da

emancipação humana, que permitam conhecer os fundamentos da ciência

pedagógica e, dêem condições para gerir a complexidade das instituições

educacionais, de forma a exercer a função com base na gestão democrática e

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participativa centrada na liderança e nos processos, na gestão de pessoas e o

processo educativo centrado na transformação social.

O Programa poderá ser estruturado por meio da modalidade Educação a

Distância – EAD, integrado a um conjunto de ações formativas presenciais. A

educação a distância tem se mostrado uma proposta potencial para a formação

continuada de educadores sem a necessidade de um longo período de afastamento

da comunidade escolar e de seu contexto de atuação, além de possibilitar, maior

flexibilidade na organização e desenvolvimento dos estudos; fortalecimento da

autonomia intelectual no processo formativo; acesso às novas tecnologias da

informação e comunicação; interiorização dos processos formativos, garantindo o

acesso daqueles que atuam em escolas distantes dos grandes centros urbanos;

redução dos custos de formação.

As definições das diretrizes e dos conteúdos do referido curso de formação

continuada e as ações daí decorrentes, explicitadas neste artigo, devem resultar de

trabalho coletivo, que deverá envolver o diálogo entre a Secretaria de Estado da

educação do Paraná e as Universidades Públicas envolvidas.

Como contribuição da autora, a implementação de um Programa de

Capacitação para Gestores Escolares, deve levar em consideração alguns princípios

e diretrizes:

1) A formação continuada é exigência da atividade profissional no mundo

atual.

A formação inicial exigida para a habilitação ao exercício da profissão,

estruturada por meio de uma sólida formação teórico-prática, se

complementa com saberes construídos na reflexão do cotidiano. O

conhecimento adquirido na formação acadêmica se reelabora e

especifica, entre outros, na atividade profissional para atender a

mobilidade, a complexidade e a diversidade das situações que solicitam

intervenções diversas.

É preciso pensar a formação docente (inicial e continuada) como

momentos de um processo de construção de uma prática qualificada e

de afirmação da identidade e profissionalização do professor.

2) A formação continuada deve ter como referência a prática docente e o

conhecimento teórico.

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22

A articulação teoria e prática, necessária na formação inicial, é

fundamental na formação continuada, pois favorece a retroalimentação

do conhecimento consagrado com observações do cotidiano escolar,

levando à construção de novos saberes. A formação continuada deve

voltar-se para a atividade reflexiva e investigativa, incorporando aspectos

da diversidade e o compromisso social com a educação e a formação

socialmente referenciada dos estudantes.

Por isso, torna-se urgente desenvolver uma cultura de formação

alicerçada na reflexão crítico-teórica, considerando os determinantes

sociais mais amplos e as suas implicações no cotidiano do professor e

no seu processo profissional.

Deve-se considerar o professor/gestor como sujeito, valorizando suas

incursões teóricas, suas experiências profissionais e seus saberes da

prática, permitindo que, no processo, ele se torne um investigador capaz

de rever sua prática, atribuir-lhe novos significados e compreender e

enfrentar as dificuldades com as quais se depara.

3) A formação para ser continuada deve integrar-se no dia-a-dia da escola.

A dinamização da formação pedagógica bem como a sua integração no

dia-a-dia da escola requer reuniões dos professores em conjunto com o

diretor e pessoas do apoio pedagógico da escola, para realizar estudos,

partilhar dúvidas, questões e saberes num processo contínuo e coletivo

de reflexão sobre os problemas e as dificuldades encontradas e o

encaminhamento de soluções.

4) A formação continuada é componente essencial da profissionalização

docente.

Não se pode perder de vista a articulação entre formação e

profissionalização, entendendo que uma política de formação implica no

encaminhamento de ações efetivas, no sentido de melhorar as

condições de trabalho bem como a estruturação do trabalho pedagógico

da escola.

A concepção do programa deve ser baseada na dialética entre a teoria e a

prática, valorizando também a prática profissional como momento de ampliação do

conhecimento, por meio da reflexão, análise e problematização dessa. Deve ainda,

expressar uma concepção de formação humana e de gestão educacional dentro dos

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marcos da democracia e da cidadania. Buscar favorecer melhorias e incentivar

inovações na prática cotidiana da gestão escolar, que concorram para a elevação

qualitativa do padrão de escolaridade da educação básica.

Cabe a proposta pedagógica do programa, propiciar o desenvolvimento da

capacidade de refletir, oferecendo perspectivas de análise, para que os gestores

escolares compreendam os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais e

de si próprios como profissionais.

A formação com qualidade do gestor escolar requer, aprofundamento teórico

que permita a compreensão sobre o alcance, as possibilidades e os limites das

práticas de gestão nas escolas públicas, como instituições que compõem a prática

social, aliado à possibilidade de oferecer oportunidades para a reflexão a respeito

dos aspectos operacionais que lhes são próprios. Assim, pretende-se, também, que

os processos formativos impliquem na apropriação de meios, mecanismos e

instrumentos que permitam intervenções mais satisfatórias, do ponto de vista

pedagógico, no dia-a-dia escolar, a partir da compreensão dos condicionantes sócio-

políticos e econômicos que permeiam a organização escolar.

Para isso, a proposta do programa deverá ser estruturado em três eixos

vinculados entre si: 1) O direito à educação e a função social da escola básica; 2)

Políticas de educação e a gestão democrática da escola; 3) Projeto Político-

Pedagógico e práticas democráticas na gestão escolar.

O eixo “o direito à educação e a função social da escola básica” remete aos

fundamentos filosóficos, políticos, sociais, culturais e epistemológicos, que permitem

a apreensão da gestão escolar como expressão da prática social bem como à

tematização da democracia como valor universal na construção histórica de uma

sociedade na qual homens e mulheres sejam livres e tenham direitos iguais. Isto

significa, também, problematizar o cotidiano das práticas escolares que não podem

estar desvinculadas da teoria e de uma dimensão utópica, voltada para a

ultrapassagem das desigualdades, hoje, existentes.

Para dar conta a esse eixo, deverão ser disponibilizadas atividades de

caráter teórico-prático, para proporcionar as condições indispensáveis à reflexão

crítica da prática da gestão no cotidiano escolar, estabelecendo os nexos com a

dimensão macro-estrutural das políticas educacionais em todos os níveis. Dentre as

temáticas/atividades destacam-se: a) Direito à Educação: limites e possibilidades e

b) Conhecimento, cultura escolar e currículo.

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O eixo “políticas e gestão na educação” possibilitará a reflexão teórico-

prática, norteada por valores democráticos, sobre as políticas de educação e

organização dos sistemas de ensino no Brasil, permitindo se conhecer o

ordenamento jurídico-político no qual se assentam a educação e a escola, bem

como os planos, programas, projetos que a elas se vinculam, a partir de uma

perspectiva de produção do conhecimento. Espera-se uma postura investigativa,

que conduza a uma compreensão mais abrangente dos princípios e mecanismos da

gestão democrática, que implicam ações e decisões participativas e colegiadas,

tanto no âmbito das unidades escolares quanto na organização dos sistemas de

ensino.

As temáticas/atividades desse eixo devem contemplar: a Política

Educacional e a gestão Escolar; b) Gestão democrática da escola e os sistemas de

ensino; c) financiamento da educação e a gestão escolar.

As temáticas e atividades: a) Avaliação Institucional e da Aprendizagem; b)

Trabalho Pedagógico e Cotidiano Escolar; c) Telemática, Sistemas de Gestão e

Ferramentas Tecnológicas. Que devem integrar o eixo “Planejamento e Práticas na

Gestão Escolar” propiciarão aos professores-gestores ampliar o conhecimento a

respeito de práticas e procedimentos de gestão democrática e a se apropriarem de

um instrumental que lhes permita planejar, monitorar e avaliar os processos de

execução do Projeto Político-Pedagógico e das políticas educacionais no campo da

Gestão, de modo a impulsionar a melhoria do desempenho dos estudantes.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desafio de se implementar uma educação de qualidade não pode ser

enfrentado sem que os profissionais da educação tenham uma formação de

qualidade, tanto inicial quanto continuada, além de planos de cargos e salários que

promovam maior profissionalização. Isso requer que a formação, inicial e

continuada, seja pensada como elementos articulados ou momentos de um

processo de construção de uma prática docente qualificada e de afirmação da

identidade, da profissionalidade e da profissionalização do professor.

A pesquisadora, ainda, a partir dessas considerações, recomenda à

Secretaria de Estado da Educação do Paraná, que seja contemplada dentro das

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suas políticas educacionais de capacitação dos profissionais da educação,

capacitação especifica aos gestores escolares, através de um Programa de

Capacitação para Gestores Escolares na Rede Pública Estadual no Paraná e, a

partir dessa política, a implementação das seguintes medidas:

1. Alteração da Lei 14.231/2003, que define critérios de escolha, mediante

consulta à Comunidade Escolar, para designação de Diretores e

Diretores Auxiliares da Rede Pública Estadual de Educação Básica do

Paraná:

- No Capítulo III - Do Registro dos Candidatos - no art. 8º, incluindo o

inciso VII, com a seguinte redação “ter obrigatoriamente participado de

programa de capacitação em gestão escolar, promovido pela

Secretaria de Estado da Educação do Paraná, no ano da eleição, com

aproveitamento satisfatório, segundo as diretrizes da Coordenação de

Capacitação dos Profissionais da Educação - CCPE/SEED;

- No Capítulo VI - Das Disposições Gerais - no art. 22 dando nova

redação: “A Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná,

deverá ofertar no ano em que ocorrer o processo de consulta,

programas de capacitação em gestão escolar, com carga horária

mínima de 180 horas, a todos os professores, que manifestarem

interesse em participar do processo de escolha”.

Incluir no art. 22 os seguintes parágrafos:

§ 1º com a seguinte redação: “A Secretaria de Estado da Educação do Paraná obrigatoriamente deverá ofertar Programas de Capacitação de Formação Continuada em Serviço, aos diretores e diretores auxiliares”;

§ 2º com a seguinte redação: “O diretor e o diretor auxiliar deverão obrigatoriamente participar de Programas de Capacitação de Formação continuada em Serviço, definidos pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná”;

§ 3º com a seguinte redação: “A Secretaria de Estado da Educação, através da CCPE/SEED, regulamentará a s formas de oferta do programa de capacitação”.

Acreditamos que dificilmente alguma escola teria sucesso em seus objetivos sem influência e interferência do gestor escolar. Este deve ser o elemento articulador que envolverá a todos em torno de um Projeto Político Pedagógico. Esse gestor deve incentivar a promoção da responsabilidade social e ética de todos os ambientes e subsidiar a formação global do cidadão. A ele cabe o desafio da

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participação ativa no processo de transformação da escola e da sociedade e o despertar das consciências e do desejo das pessoas de encontrarem melhores caminhos, mesmo sabendo que, para trilhá-los, enfrentarão resistências e tensões.

O tema da capacitação continuada dos Diretores de Escola suscita, ainda,

muita interrogação, constituindo-se, assim, em vasto campo de pesquisa.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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escola de qualidade: da formação à ação. 3. Ed. São Paulo: Cortez, 2002.

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