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ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Departamento de Engenharia de Construção Civil Capacitação profissional e Ensino a Distância Luiz Felipe Pacagnella (graduando) Prof. Dr. Francisco Ferreira Cardoso São Paulo Outubro 2009

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ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Departamento de Engenharia de Construção Civil

Capacitação profissional e Ensino a Distância

Luiz Felipe Pacagnella (graduando)

Prof. Dr. Francisco Ferreira Cardoso

São Paulo

Outubro 2009

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Resumo

A Indústria da Construção Civil vem sofrendo com a escassez de mão-de-obra qualificada, como conseqüência do baixo investimento direcionado a capacitação nos últimos anos. Os reflexos deste cenário no setor vão desde desperdícios de materiais, até acidentes graves que envolvem perda de vidas. Diante deste fato, este trabalho foca-se em identificar e analisar iniciativas de capacitação profissional a distância, devido a alta flexibilidade da educação a distância e também a seu preço de aplicação inferior, o que permite atingir um grande contingente de trabalhadores em um amplo espectro geográfico e num curto espaço de tempo. Para isso é feito um levantamento geral de iniciativas nesta modalidade no Brasil, com o uso do Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância (ABRAEAD, 2007) e diversos outros sites disponíveis na internet. Os cursos obtidos durante este processo foram alocados em uma planilha e filtrados para que restassem apenas os referentes ao setor em questão e os das outras áreas que se enquadram no nível de capacitação profissional. Três cursos foram selecionados e dois deles investigados: Doutores da Construção e Programa Mãos-à-obra (ABCP). Foram então identificados elementos para a formulação de uma estratégia de educação a distância (EaD), voltadas para trabalhadores da construção civil. Com isso pode-se analisar melhor a abrangência da educação a distância no Brasil e o aproveitamento desta no setor da construção civil. Espera-se com isso maior difusão desta modalidade de ensino e um maior aproveitamento dentro do setor citado, podendo assim reduzir o valor dos treinamentos e aumentar o interesse dos empresários, entidades de classe, sindicatos, dentre outros, em capacitar seus operários.

Palavras Chaves: Construção Civil, Capacitação Profissional, Competências, Ensino a Distância.

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Sumário

Resumo.......................................................................................................................................... 2

1. Introdução ............................................................................................................................. 5

1.1 Justificativa ....................................................................................................................... 5

1.2 Objetivo............................................................................................................................. 5

1.3 Metodologia ...................................................................................................................... 6

2 Revisão Bibliográfica............................................................................................................ 7

2.1 Educação a distância ......................................................................................................... 7

2.1.1 Definição ....................................................................................................................... 7

2.1.2 Histórico........................................................................................................................ 7

2.1.3 Tecnologias de aplicação .............................................................................................. 8

2.1.4 Planejamento ............................................................................................................... 11

Fonte: Rodrigues (1998).............................................................................................................. 11

3. Levantamento...................................................................................................................... 12

3.1 Instituições e seus cursos................................................................................................. 12

3.2 A Educação a distância e a Construção Civil.................................................................. 14

3.2.1 Distribuição de cursos no setor da construção civil .................................................... 14

4. Análise parcial: comparações entre os processos metodológicos ................................... 15

5. Estudo de caso................................................................................................................. 15

5.1 Doutores da construção ............................................................................................... 16

5.1.1 O programa.............................................................................................................. 16

5.1.2 Os cursos ................................................................................................................. 17

5.1.3 Funcionamento ........................................................................................................ 20

5.1.3.1 Loja ......................................................................................................................... 20

5.1.3.2 Empresas parceiras.................................................................................................. 21

5.1.3.3 Profissionais ............................................................................................................ 21

5.1.4 Certificação ............................................................................................................. 21

5.1.5 EAD e a Doutores da Construção............................................................................ 22

5.2 Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) .................................................. 22

5.2.1 O programa.............................................................................................................. 22

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5.2.1.1 Programa Mãos-à-obra............................................................................................ 22

5.2.2 EAD e a ABCP........................................................................................................ 23

6. Elementos para a formulação de uma estratégia de educação a distância (EaD) ............ 24

7. Conclusões ...................................................................................................................... 25

8. Bibliografia ..................................................................................................................... 27

Apêndices

Apêndice 1 – Tabela 1 e Tabela 2

Apêndice 2 – Questionário aplicado a empresa Doutores da Construção

Apêndice 3 – Material utilizado pela Doutores da Construção

Apêndice 4 – Trabalho “A Educação a Distância e os desafios Da Qualificação profissional na Construção Civil”

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1. Introdução

Este trabalho se insere no contexto de pesquisa do Grupo de Tecnologia e Gestão da Produção na Construção Civil (TGP), do Departamento de Engenharia de Construção Civil, da Escola Politécnica de São Paulo, especificamente na linha de Gestão da Produção na Construção Civil.

Ele leva em conta a estratégia para capacitação e certificação profissional proposta no documento Capacitação e Certificação Profissional na Construção Civil e Mecanismos de Mobilização de Demanda, elaborado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para a ABRAMAT - Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (ABRAMAT, 2007), e as metas da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), definidas para o setor da Construção Civil.

Estudo recente sobre capacitação e certificação profissional no setor (ABRAMAT, 2007) mostra que, embora o setor não seja estático, já que diversas ações têm sido feitas para suprir a demanda por trabalhadores capacitados, apenas cerca de 100 mil trabalhadores são capacitados anualmente em programas de Formação Profissional. Este esforço ainda é pequeno, frente ao que seria considerado ideal para um maior desenvolvimento setorial, já que o estudo estimou a necessidade de 8 milhões de matrículas nos diversos níveis de capacitação.

A partir desta constatação, o estudo propôs uma estratégia para solucionar o problema partindo de cinco premissas, sendo que duas delas interessam particularmente a esta pesquisa, pois estão fortemente relacionadas ao ensino a distância: (1) incluir, em curto prazo, um grande contingente de trabalhadores no mercado de trabalho, dotados de perfis de competências compatíveis com as necessidades de cada ocupação; (2) possibilitar a capacitação e a certificação progressivas dos trabalhadores (melhoria contínua de competências).

1.1 Justificativa

Como conseqüência da queda de investimentos em capacitação de mão-de-obra nos últimos anos, a Indústria da Construção Civil, que emprega mão-de-obra de forma intensiva, sofre pela escassez de profissionais especializados em quantidade e qualidade exigidos pelo setor.

No Brasil, a meta da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) definida para o setor é a de aumentar a sua produtividade em 50% e reduzir suas perdas em 50%, até 2010. Para tanto, a capacitação de mão-de-obra figura entre os desafios setoriais que foram estabelecidos, juntamente com o desenvolvimento de mecanismos de financiamento sustentáveis, o incentivo e a disseminação da tecnologia industrial básica e a promoção da construção industrializada.

Deste cenário emerge uma nova necessidade, permeada por premissas e conceitos técnicos que permitem uma interface mais fluida entre a capacitação profissional e a difusão do conhecimento pelo ensino tecnológico a distancia.

1.2 Objetivo

Diante deste cenário este trabalho tem o objetivo de propor elementos para a formulação de uma estratégia de educação a distância (EaD), voltadas para trabalhadores da construção civil, que contribua para a inclusão, em curto prazo, de grande contingente deles no mercado de trabalho, ao oferecer uma ferramenta de menor custos para a capacitação dos mesmos.

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1.3 Metodologia

Para este trabalho, foi realizado um levantamento geral de iniciativas na modalidade de ensino a distância no Brasil, através da consulta ao Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância (ABRAEAD, 2007) e diversos outros sites disponíveis na internet.

Foram catalogados diversos cursos de diversas instituições, sendo possível, assim, uma estimativa mais eficiente de todo o conteúdo obtido. Deste levantamento resultou um arquivo em forma de tabela reunindo 1608 cursos de 191 instituições, que não foi aqui incluído. A par destes dados, foram segmentados os cursos que se referiam ao setor da construção civil, sendo estes classificados de acordo com o nível (graduação, pós-graduação, profissionalizante, técnico, aperfeiçoamento, capacitação, extensão, tecnólogo, classificados, ou pela própria instituição, ou pelo pesquisador com base nas informações obtidas nos sites das instituições, caso a caso). Desta segmentação resultou uma nova planilha, cujas informações foram usadas na pesquisa. Uma nova segmentação foi feita apenas para os níveis de qualificação profissional, formação profissional, capacitação, profissionalizante e técnico, envolvendo todos os setores econômicos restantes, chamados de “áreas”, gerando assim uma terceira planilha. As informações destas duas planilhas, se encontram no Apêndice 1 deste trabalho nomeadas Tabela 1 e Tabela 2.

Foram selecionados três casos para a realização de estudos de caso. Sendo estes: 1) treinamentos realizados pela construtora Tecnisa, 2) cursos aplicados pela empresa Doutores da Construção e também 3) programa chamado Mãos-à-obra, idealizado pela Associação Brasileira de Concreto Portland (ABCP). Porém, somente dois destes foram possíveis de serem alocados no estudo. Os critérios utilizados na seleção destes foram os seguintes:

• Deveriam apresentar, preferencialmente, caráter profissionalizante;

• A mídia utilizada dentro do contexto da educação a distância deveria ser preferencialmente a internet;

• Localização geográfica da instituição, para se ter maior acesso às informações (entrevista);

• Tradição da instituição;

• Inovação presente na aplicação do curso (criação de novas mídias, maior interatividade, adaptações tecnológicas etc).

O estudo de caso realizado na empresa Doutores da Construção, mediante entrevista com a coordenadora do projeto Kátia Matias, foi escolhido pelo grau de inovação da iniciativa e também por seu caráter predominantemente profissionalizante. O estudo de caso realizado na ABCP mediante entrevista com Michelli Silvestre, foi escolhido basicamente por seu grau de inovação e por sua localização geográfica.

Seguem as etapas a cumpridas nesta versão final do trabalho de iniciação científica, enumeradas segundo a ordem de segmento:

1. Selecionar modelos de EaD da construção Civil (Tabela 1 do Apêndice 1) para a realização de estudo(s) de caso (segundo critérios anteriormente definidos);

2. Selecionar modelos de EaD de outras áreas (Tabela 2 do Apêndice 1);

3. Definição dos três casos;

4. Obtenção e estudo das informações sobre os casos selecionados;

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5. Formulação do questionário para entrevista;

6. Agendamento de visitas e realização das mesmas;

7. Análise dos resultados;

8. Proposições e conclusões;

2 Revisão Bibliográfica

2.1 Educação a distância

2.1.1 Definição

Rodrigues (1998) cita em sua dissertação a definição feita por Desmond Keegan em 1980, também citada por Nunes (1992):

O ensino a distância é o tipo de método de instrução em que as condutas docentes acontecem à parte das discentes, de tal maneira que a comunicação entre o professor e o aluno se possa realizar mediante textos impressos, por meios eletrônicos, mecânicos ou por outras técnicas. (NUNES, 1992)

Na definição de Otto Peters citada por Nunes (1992):

Educação/Ensino a Distância (Fernunterricht) é um método racional de partilhar conhecimento, habilidades e atitudes, através da aplicação da divisão do trabalho e de princípios organizacionais, tanto quanto pelo uso extensivo de meios de comunicação, especialmente para o propósito de reproduzir materiais técnicos de alta qualidade, os quais tornam possível instruir um grande número de estudantes ao mesmo tempo, enquanto esses materiais durarem. (NUNES, 1992).

A definição proposta por Holmberg de 1977 afirma que:

O termo "educação a distância" esconde-se sob várias formas de estudo, nos vários níveis que não estão sob a contínua e imediata supervisão de tutores presentes com seus alunos nas salas de leitura ou no mesmo local.

2.1.2 Histórico

A data de surgimento da educação a distância é bastante contraditória, havendo autores que defendem seu início em meados do século XV com a invenção da imprensa por Johannes Guttenberg, tornando menos dificultosa a tarefa de produção de livros – escritos anteriormente à mão – e melhorando de forma significativa o acesso ao universo cultural e ao conhecimento. No entanto, segundo Niskier (1999) a primeira iniciativa de criação de um curso a distância, tendo esta como meio de aplicação a correspondência, se deu apenas em 1880 na Inglaterra. A idéia acabou por não vingar neste país, fazendo com que seus idealizadores dirigissem-se até os EUA, onde encontraram espaço na Universidade de Chicago, criando em 1882 o primeiro curso universitário à distância.

Segundo Alves (1998), os principais países que contribuíram para a difusão da EAD no mundo foram: França, Espanha e Inglaterra. Esta última destacou-se pela criação da Open University (OU) ao final da década de 1960. Tratava-se da primeira universidade focada inteiramente em conceitos da educação a distância que, apenas dez anos após seu surgimento, já contaria com 70.000 alunos. Vale ressaltar que muitos países tiveram um desenvolvimento precoce e seguiram avançando de maneira acelerada nesta modalidade

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de ensino devido a dificuldades geoclimáticas, como é o caso dos países nórdicos, Canadá e Austrália.

No Brasil a EAD começou por volta de 1904, fazendo também uso de correspondências. Os principais cursos disponibilizados ao público eram de caráter técnico e não exigiam escolarização anterior. Um grande exemplo de instituições que seguiram essa linha de educação é o Instituto Universal Brasileiro (1941), que ainda hoje disponibiliza seus cursos aos interessados.

Ao final do ano de 1996, com a oficialização da EAD através da publicação da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional (LDB) e da difusão da internet, começou a haver um maior foco de estudos para a implantação de cursos nesta modalidade no meio universitário. Os primeiros a surgirem voltavam-se a área de pós-graduação latu sensu, e eram aplicados através de Ambientes Virtuais de Ensino1 alocados na internet. Hoje já existem redes que fazem a interligação de várias universidades, abrindo a possibilidade de aplicação de cursos cooperativos, ampliando a área de atuação das instituições.

2.1.3 Tecnologias de aplicação

Segundo Rodrigues (1998) as mídias utilizadas para a aplicação da educação a distância são basicamente:

• Mídia Impressa;

• Vídeo;

• Teleconferência;

• Videoconferência;

• Mídia multimídia (computador);

• Internet;

• Realidade Virtual.

Estas serão descritas resumidamente a seguir.

Mídia impressa: Trata-se da primeira mídia utilizada para a aplicação da educação a distância e, ainda segundo a autora, é a tecnologia que os alunos estão mais familiarizados com a linguagem, formato e manuseio. É onde são mais independentes, não precisam de suporte, equipamento nem assistência para utilizar. Pode ser lido em qualquer lugar e acessado a qualquer momento. Além disso, este tipo de material permite maior inclusão dos alunos, não exigindo destes a posse de um computador, por exemplo.

Vídeo: Trata-se muitas vezes de um meio mais intuitivo de transmitir conhecimento a distância, pela familiaridade existente entre os alunos e, por exemplo, a televisão. Rodrigues diz, além disso, que a operação dos equipamentos de vídeo e televisão pode ser considerado de manuseio relativamente simples se comparados com as mídias associadas à informática. Outra vantagem é que o material pode ser assistido muitas vezes e o aluno pode parar a fita, fazer anotações, voltar e colocar numa videoteca para consulta posterior. Nesta citação a autora faz uma sutil separação entre a mídia de vídeo e o computador, porém hoje, passados dez anos, já há uma fusão maior destas

1 Plataformas de desenvolvimento próprio, ou de uso livre, disponibilizadas por meio da internet pelas instituições de ensino. Através delas os alunos têm acesso aos conteúdos programáticos do curso e aos métodos de interação disponibilizados pelas instituições. Um exemplo bem conhecido é o Moodle, que se trata de uma plataforma aberta amplamente utilizada pelo Governo Brasileiro.

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duas tecnologias e, também, no geral, uma maior afinidade entre as pessoas e o próprio computador.

Teleconferência: Permite um envolvimento síncrono com um professor ou palestrante, alocado na central geradora do sinal, geralmente um estúdio, e os alunos, distribuídos por unidades receptoras. O sinal é distribuído via satélite e recebido pelas unidades através de antenas parabólicas e aparelhos de TV. Santos e Rodrigues (1999) ainda citam outras formas de transmissão como a fibra óptica e o enlace de microondas. Este recurso conta, geralmente, com intervalos destinados ao esclarecimento de dúvidas dos alunos, que podem enviá-las através de e-mails, fax, ou por telefone.

Videoconferência: A videoconferência é o que se poderia chamar de TV interativa, trabalha com compressão de áudio e vídeo utilizando vários tipos de linhas para transmissão em tempo real para salas remotas que possuam o mesmo equipamento básico: uma câmera acoplada a um monitor de televisão, um computador, modem, microfone e teclado de comando. As tecnologias empregadas hoje necessitam de uma conexão de internet com velocidade relativamente alta. Essa mídia, apesar de muito similar a teleconferência, possui um nível de interação maior entre o professor ou palestrante e o aluno, pois possibilita com que o sinal de áudio e vídeo também possa ser gerado nas unidades receptoras, permitindo com que todos os participantes possam interagir de maneira direta. Além disso, é possível a integração de outras tecnologias como o computador e recursos de vídeo assíncronos, como um aparelho de DVD.

Mídia multimídia: Trata-se basicamente do uso isolado de um computador, fazendo uso de mídias como CD e DVD ou de programas baixados através da internet. Esse método, apesar de ainda ser utilizado, vem perdendo gradualmente a utilidade, tão somente pela constante evolução tecnológica.

Internet: Segundo Santos e Rodrigues (1999) trata-se da mídia mais importante utilizada pela educação a distância. O Quadro 1 mostra as formas de aplicação da EAD que fazem uso desta.

Quadro 1 - Formas de aplicação da educação a distância através da internet

Correio eletrônico Listas de discussão Newsgroups

WWW Vídeo sob demanda Bate-papo (IRC, chat, MSN etc)

Quadro branco Controle remoto Internet Phone

FTP Videoconferência Ferramentas de interatividade (HTML, JAVA, etc)

Fonte: Adaptação. Santos e Rodrigues (1999), p. 10.

Ainda segundo os autores, estas formas podem ser classificadas basicamente em dois tipos:

Síncronos: são aqueles que, à semelhança do telefone, exigem que os interlocutores estejam conectados ao serviço no mesmo momento temporal para que haja comunicação. A comunicação é interativa.

Assíncronos: são aqueles que, à semelhança do telegrama, têm os momentos de envio e recepção de mensagens diferidos no tempo.

Os principais serviços síncronos são:

• Bate-papo (IRC - chat);

• Videoconferência;

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• Quadro-branco;

• Controle remoto;

• Internet Phone;

Os serviços assíncronos mais utilizados são:

• Correio eletrônico(e-mail);

• Listas de discussão;

• Newsgroups;

• FTP;

• WWW;

• Vídeo sob demanda;

Correio eletrônico: Trata-se de um serviço amplamente utilizado, onde o usuário possui uma caixa postal eletrônica e pode enviar e receber mensagens através desta. Pode-se considerá-lo um recurso bastante confiável e de fácil utilização.

Listas de discussão: Trata-se de um recurso similar ao correio eletrônico, possuindo as mesmas características básicas. Segundo os autores este facilita a comunicação do tipo "broadcast" em que o remetente pode enviar uma mesma mensagem para um certo grupo de pessoas (a lista). Isso é especialmente interessante para um professor que pretende se comunicar com seus alunos fora da sala de aula.

Newsgroups: Possui grandes semelhanças quando comparado às listas de discussão. Pode ser feito o envio de mensagens e anexação de arquivos. Apesar disto, as mensagens não ficam armazenadas em uma caixa postal virtual, mas sim em um servidor, onde são divididas por tópicos de forma hierárquica.

File Transfer Protocol (FTP): Trata-se de um protocolo de armazenamento e distribuição de arquivos comumente utilizado na internet.

World Wide Web (WWW): Trata-se do meio usual de disponibilização de conteúdo na internet, envolvendo imagens, animações e vídeos. Através deste podem ser desenvolvidas plataformas completas, como os Ambientes Virtuais de Ensino, que são capazes de abranger diversas mídias de disponibilização de conteúdo ao mesmo tempo. Devido a este potencial, pode enquadrar-se tanto nos serviços de caráter assíncronos, quanto síncronos.

Vídeo/Áudio sob demanda: São arquivos de áudio e vídeo disponibilizados através de servidores, permitindo com que o usuário os acesse a qualquer momento, segundo seu interesse e necessidade.

Bate-papo: Programas ou plataformas desenvolvidas para a comunicação síncronas através da troca de mensagens, ou mesmo através de áudio ou videoconferência, entre usuários. Dentre estes pode ser destacado o Windows Live Messenger, programa desenvolvido pela empresa Microsoft e de ampla utilização nos dias de hoje. A plataforma IRC, citada pelos autores, ainda é utilizada, porém de forma já menos intensiva.

Quadro-branco: Pode ser descrito de maneira simplificada como uma “lousa virtual”, na qual os usuários podem fazer anotações, desenhar e inserir imagens de maneira síncrona.

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Controle Remoto: Permite que um usuário controle remotamente um computador alheio, envolvendo os recursos do mouse, permitindo ao professor, por exemplo, ensinar ao aluno como fazer uso de determinado aplicativo.

Internet Phone: Conhecido atualmente como Voip (Voice over IP) trata-se de uma ferramenta que permite a transmissão de voz através da internet. Um programa muito conhecido que faz uso desta tecnologia é o Skype. Hoje, inclusive, existem operadoras que disponibilizam números de telefones fixos através desta tecnologia.

Realidade Virtual: Trata-se do uso combinado de diversas tecnologias com a finalidade de propiciar ao usuário uma sensação de maior imersão a uma tarefa a ser simulada, com a finalidade de se chegar o mais próximo possível da realidade. Dentre os equipamentos usualmente utilizados pode-se citar os óculos 3D.

2.1.4 Planejamento

A etapa do planejamento é crucial para a elaboração de qualquer curso, porém merece uma atenção ainda mais especial quando se deseja desenvolvê-lo segundo os conceitos da educação a distância. Para Rodrigues (1998) o planejamento envolve a definição dos objetivos, do tema; a distribuição do conteúdo em módulos; a definição da linguagem; a programação das atividades dos alunos; os cronogramas; o orçamento; a contratação da equipe que estrutura, acompanha e avalia; a forma de avaliação dos alunos e do curso; a certificação, estratégias de suporte aos alunos; enfim todo o curso deve ser planejado e registrado; da primeira reunião da equipe e professores à formatura dos alunos. Se esta etapa não for desenvolvida de maneira correta, poderá comprometer todo o andamento do curso, gerando um aproveitamento ruim por parte dos alunos e até mesmo um grande índice de desistências, comuns nessa modalidade. Na Figura 1 pode-se notar que a etapa de planejamento advém de um estudo anterior do perfil dos alunos a serem atendidos pelo curso, da mídia a ser utilizada e da estratégia pedagógica que permeará o curso em questão. Nota-se que apesar de todos os itens estarem fortemente interconectados, as etapas subseqüentes de estruturação do curso têm como pilar, principalmente, o planejamento, do qual sucedem a produção de materiais e implementação do curso e do processo de avaliação.

Figura 1 – Modelo para produção de curso a distância

Fonte: Rodrigues (1998)

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3. Levantamento

3.1 Instituições e seus cursos

As instituições brasileiras vêm investindo intensamente em cursos de modalidade a distância, ampliando seu nicho de mercado para profissionais que, em decorrência da falta de tempo gerada pelas atividades laborais ou residentes em localidades distantes dos grandes centros urbanos, apresentam grande dificuldade de ingresso em cursos que exigem disponibilidade de tempo fixa e o freqüente deslocamento até a instituição de ensino.

Nesse sentido, iniciativas dos Governos Federal e Estaduais surgem desenvolvendo projetos de inclusão visando à formação e a capacitação profissional através de iniciativas como o e-TEC (Escola Técnica Aberta do Brasil) e a Universidade Aberta do Brasil.

Durante a elaboração deste trabalho foram pesquisadas 191 instituições de ensino, retiradas, como já dito, do Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância (ABRAEAD, 2007) e de pesquisas complementares feitas através da internet. As que atuam em mais de um estado foram contabilizadas como instituições diferentes em cada um destes (devido a estratégias de inserção). Desse levantamento foram catalogados 1608 cursos, os quais foram alocados em 41 áreas do conhecimento. Em sua grande maioria, estes foram classificados pelas próprias instituições, porém alguns, na ausência de uma classificação, foram classificados pelo autor segundo as discrições dos mesmos. O Quadro 2 apresenta esta distribuição.

Quadro 2 - Áreas adotadas para distribuição dos cursos

Administração Artes e Arquitetura Biológicas

Ciências Criminais Direito

Civil Comunicação Contabilidade Ciências Humanas Economia

Elétrica Empreendedoris-mo Empresarial

Ensino Fundamental Ensino Médio

Gestão Indústria Informática Marketing Matemática

Meio Ambiente Militar Música Pesquisa Planejamento

Profissionalizante Qualidade Química Religioso Saúde

Serviços Supletivo Tecnologia Teologia Transporte

Educação Física Mecânica Produção Segurança

Ciências Sociais

Analisando as informações apresentadas no Gráfico 1 pode-se perceber que 25,42% dos cursos catalogados se enquadram na área da educação (formação de professores), mostrando o forte incentivo, já citado, dos Governos Estaduais e Federal, que lutam contra a falta de professores graduados nas escolas de todo o país, acreditando ser essa uma forma de melhorar significativamente os níveis educacionais vistos hoje. Por outro lado, quando se analisa o setor da construção civil, vê-se que apenas 3% dos cursos se voltam a este.

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Gráfico 1 – Distribuição de cursos em suas respectivas áreas

Fazendo uma análise um pouco mais profunda ainda do Gráfico 1 nota-se que as oito primeiras áreas, levando-se em consideração de que neste levantamento os cursos relacionados a área de Saúde também são basicamente de cunho teórico, não envolvem a necessidade de transmissão de conhecimentos práticos, o que exigiria do aluno um desenvolvimento físico-motor. Tal fato faz com que os investimentos necessários a sua oferta inicial sejam relativamente baixos, devido a toda tecnologia e conhecimento exigidos para seu desenvolvimento estarem bem disseminadas no mercado e já existirem vários estudos acadêmicos, nacionais e internacionais, sobre o assunto.

Gráfico 2 – Distribuição de instituições por região

Quando se analisa a distribuição geográfica das instituições estudadas, como indica o Gráfico 2, percebe-se uma predominância da região Sudeste, com 60 instituições de ensino. A região Sul desponta como a segunda em número de instituições, com 55, ficando apenas um pouco atrás de seu predecessor. As regiões Nordeste e Centro-Oeste apresentam apenas cerca de metade desses valores, com 37 e 25 instituições respectivamente. A região Norte apresenta o menor número iniciativas em educação a distância com apenas 14 instituições que oferecem cursos nesta modalidade. Estes números refletem provavelmente o interesse em se criar pólos educacionais próximos

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aos maiores aglomerados industriais do território brasileiro, prevendo, talvez, um maior interesse por parte dos empregados deste setor quanto à atualização e aprimoramento de seus conhecimentos, como forma de se manter empregado. Segundo um estudo realizado pela Face/UFMG nota-se uma similar distribuição, conforme a Figura 2.

Figura 2 - Concentração regional de indústrias no Brasil

FONTE: Righetti (2007), p. 1

3.2 A Educação a distância e a Construção Civil

Segundo dados levantados durante a pesquisa, cursos que envolvem um desenvolvimento motor do aluno, extremamente necessário para mão-de-obra operacional na construção civil, ainda são visivelmente escassos. Isso, em parte, pela falta de pesquisas objetivando determinar estratégias para o desenvolvimento de habilidades físicas à distância no capacitando.

No decorrer da elaboração deste trabalho não foram encontrados indícios de aplicação da educação a distância de forma a transmitir conhecimentos práticos/motores. Quase que a totalidade dos cursos que se voltam a este setor tem o caráter teórico como característica dominante e se enquadram, principalmente, no nível de pós-graduação. É fato que existem ainda inúmeras limitações tecnológicas permeando o assunto, porém é também notável a falta de iniciativas de modo a contorná-las.

Nos cursos voltados ao setor da construção civil um outro fator de dificuldade é o déficit educacional dos trabalhadores e o desinteresse histórico em treinar e capacitar seus operários. Isso se reflete de forma expressiva na falta de cursos no setor – apenas 3% dos cursos catalogados destinam-se à área da construção civil.

Neste caso, a educação a distância poderia despontar como uma alternativa extremamente atraente, não apenas por sua eficiência educacional, mas, principalmente, por gerar gastos inferiores de capacitação.

3.2.1 Distribuição de cursos no setor da construção civil

Como já mencionado, existe uma baixa oferta de cursos na área da construção civil. O Gráfico 3 mostra essa distribuição:

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Gráfico 3 - Distribuição dos cursos dentro da área da construção civil

Analisando os dados obtidos durante as pesquisas nota-se que 15 dos 49 cursos voltados ao setor são de pós-graduação. Por outro lado, cursos que se enquadram na área da formação profissional são absolutamente escassos, representando apenas 6,12% de todas as iniciativas dentro do setor. Os cursos de caráter técnicos são dominantes e estão diretamente relacionados a um incentivo do Governo Federal através do programa e-TEC, que tem como objetivo levar a pessoas distantes dos grandes centros ensino de caráter técnico. Por se tratar de um projeto muito recente poucas informações estão disponíveis sobre os meios de aplicação destes cursos e nenhum estudo estatístico se faz presente. Segundo diretrizes do programa ficou definido que todo o material empregado nos cursos será distribuído de maneira impressa, de modo a contornar uma possível exclusão de alunos que não tenham acesso a computadores. Os laboratórios serão fixados nos pólos de aplicação dos cursos e também é citada a possível criação de laboratórios móveis. Futuros estudos sobre a eficiência dos cursos deste projeto poderão ter um impacto crucial em programas de treinamento à distância.

4. Análise parcial: comparações entre os processos metodológicos

Existe uma grande semelhança entre as metodologias utilizadas. Quase que a totalidade dos cursos oferecidos exige encontros presenciais ao longo de seu desenvolvimento. O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) é utilizado por todas as instituições, porém nota-se em muitos casos um sub-aproveitamento da plataforma online quando se analisa um pouco o que é dito pela instituição. Quase a totalidade destas o utilizam apenas como um “depósito” informacional, não avançando mais em processos diferenciados de aprendizagem, como, por exemplo, faz o SENAI e o SEBRAE com seus cursos interativos. Vale também salientar que grande parte das instituições privadas faz uso de um AVA próprio, enquanto instituições governamentais parecem ter um interesse maior em plataformas abertas, com grande destaque para o Moodle, provavelmente como forma de minimizar os gastos referentes.

5. Estudo de caso

Segundo os objetivos anteriormente redigidos considerava-se que o estudo de caso seria feito com base em três cursos distintos na modalidade EAD, dentro do setor da

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construção civil. Porém quando o levantamento de cursos realizado na primeira fase do trabalho foi concluído, ficou evidente que havia um grande déficit de cursos nesta modalidade no setor e os poucos que existiam não eram, a princípio, interessantes dentro do escopo deste relatório. Isso ou devido à distância dos pólos de ensino, ou mesmo ao tipo de EAD aplicada. A solução imediata foi procurar cursos que não haviam entrado no levantamento, o que acabou gerando três possíveis estudos de caso. Um deles teria como foco treinamentos internos aplicados aos funcionários da empresa Tecnisa, principalmente seus engenheiros, que após recebê-los deveriam repassar seus conhecimentos aos operários diretamente nas obras, neste caso a educação a distância funcionaria de maneira indireta e somente para os operários, não para os engenheiros. Este estudo acabou tendo de ser descartado pela impossibilidade de agendamento de uma reunião com um representante da empresa, mesmo após vários telefonemas e e-mails enviados. Assim, restaram dois casos que foram realizados neste estudo. Um deles é um programa mais abrangente nomeado “Projeto Mãos à Obra” e tendo como idealizadores o Senai e a Associação Brasileira de Concreto Portland (ABCP). Trata-se de uma série televisiva, que explicava de maneira bastante concisa técnicas de construção, ao estilo “faça você mesmo”. O outro parte da empresa Doutores da Construção, tratando-se de um plano de negócios que planeja o casamento entre treinamentos aplicados gratuitamente a operários da construção civil interessados, fidelização das vendas das empresas parceiras e melhora da experiência construtiva do cliente, ou usuário final. Fica assim, portanto, este trabalho limitado a este dois casos, que serão detalhados a seguir.

5.1 Doutores da construção

Trata-se de uma empresa de capital aberto, que surgiu de um programa pré-existente da AMANCO voltado para a capacitação de instaladores hidráulicos, que visava à melhoria da experiência do consumidor final em relação a construções e reformas, através do treinamento fornecido a esses profissionais diretamente nas lojas de materiais de construção civil. Após ser expandido, aumentado a gama de treinamentos, que antes se limitavam apenas a instalações hidráulicas e procurando apoio de outras empresas e lojas de construção, criou-se a empresa Doutores da Construção.

O levantamento dos dados que ajudaram a redigir este estudo foi feito através de uma entrevista realizada com Kátia Matias, coordenadora dos cursos aplicados pela Doutores da Construção. Esta entrevista encontra-se no Apêndice 2 deste trabalho.

5.1.1 O programa

Doutores da construção é um programa que possui basicamente três objetivos maiores:

1. Melhorar a experiência do consumidor final, fornecendo uma mão-de-obra mais qualificada;

2. Aplicar treinamentos aos profissionais já atuantes na construção civil focando produtos comercializados pelas empresas parceiras;

3. Fidelização das vendas, tanto por parte das lojas conveniadas, quanto por parte das empresas parceiras.

Todos os objetivos possuem interligação e se influenciam em termos de resultados, porém os objetivos de número um e dois possuem uma interligação crítica, uma vez que a melhora na experiência do usuário final advém principalmente, e quase que unicamente, da aplicação dos treinamentos por parte da empresa, que atua assim de maneira a melhoras a qualidade da mão-de-obra contratada pelo consumidor final. O processo de fidelização das vendas também apresenta uma relação de maior importância

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com a aplicação dos treinamentos, uma vez que, como será explicitado mais a frente, os trabalhadores atendidos irão funcionar como divulgadores das marcas e produtos das empresas parceiras. Os objetivos de números um e três também se influenciam, pois quando o consumidor sente-se mais satisfeito com o resultado final em sua obra, passa a ter uma preferência pelos produtos que foram utilizadas em seu desenvolvimento.

O programa conta com um sistema de relacionamento de âmbito nacional, com cerca de 238 lojas filiadas. Destas, 117 atuam como centros de treinamento onde os cursos são disponibilizados. Nem todas funcionam como centros de treinamento para que a concorrência entre lojas parceiras seja evitada.

Conforme informações descritas no site da Doutores da Construção, já foram treinados mais de 41.000 profissionais desde o ano de 2008, quando iniciou-se o programa. A grande maioria destes trabalhadores está situada na região sudeste, que apresenta mais de 29000 profissionais treinados. Após o sudeste, a região com o maior número de trabalhadores treinados é a nordeste, com 5181. O Quadro 3 mostra os números por região. A estimativa é de que, hoje, a cada aula estejam conectadas de 700 a 800 pessoas simultaneamente, um número bastante expressivo. O número de presenças esperadas para este ano em todos os centros de treinamento é de 120 mil. Aqui é empregado o termo presenças, pois um mesmo trabalhador pode fazer diversos cursos e contabilizar quantas presenças lhe interessar, não se tratando, portanto, necessariamente de 120 mil alunos distintos no ano.

Quadro 3 - Números de treinamentos por região até outubro de 2009

Região Lojas Profissionais treinados

Norte 3 795

Nordeste 30 5181

Centro-Oeste 30 1553

Sudeste 128 29783

Sul 47 4294

Total 238 41606

FONTE: Doutores da Construção,

Desde o início do programa foram investidos em torno de R$ 6 milhões e estima-se que só em 2010 serão injetados mais R$ 7 milhões. Parte desses valores, cerca de 60%, é de origem da própria empresa Doutores da Construção e advém das parcerias firmadas com as empresas e da cobrança de mensalidade sobre os pontos de treinamento e fidelidade nas lojas de materiais de construção, os 40% restantes ficam a cargo dos investidores.

5.1.2 Os cursos

Os cursos são transmitidos em tempo real através de um canal fechado na modalidade de teleconferência e os alunos podem interagir nos momentos apropriados com os professores através de e-mails, que podem ser respondidos imediatamente ou após o término da aula – comunicação assíncrona.

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Figura 3 - Método EAD utilizado - Teleconferência

A abrangência dos treinamentos explica-se basicamente pelas áreas de especialização das empresas parceiras, que disponibilizam alguns de seus engenheiros para trabalhar na elaboração dos cursos e dos materiais didáticos. Segundo o site da empresa – ver bibliografia – as especialidades cobertas pelo programa hoje são: Canais Hidráulica, Pintura, Elétrica, Alvenaria e Revestimento. A Figura 4 mostra a relação atual de cursos e empresas parceiras.

O material didático é inteiramente desenvolvido por dois engenheiros da Doutores da Construção em parceria com as empresas filiadas. Apresentam uma linguagem bastante simples e visual, com muitas gravuras indicando os procedimentos a serem transmitidos. Uma apostila utilizada por eles pode ser encontrada no apêndice 3 deste trabalho. O conteúdo é explicitado de forma prática e concisa. Isso é feito para que o trabalhador consiga acompanhar com maior facilidade, uma vez que a grande maioria possui poucos anos de estudo, e evitar que sejam necessários maiores pré-requisitos e conhecimentos muito teóricos sobre assunto. Geralmente não há aulas práticas, principalmente devido à resistência das empresas filiadas em disponibilizar seus produtos, o que consideram muito dispendioso, e também pela resistência dos lojistas, que teriam de disponibilizar um local para realização das aulas. Apesar disso não existe uma política de restrição quanto a aulas práticas e se for do interesse do lojista ele pode fornecê-las por conta própria em sua loja, tendo apenas de arcar com os gastos gerados.

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Figura 4 - Relação atual de cursos em oferecimento (Fonte: Doutores da Construção)

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5.1.3 Funcionamento

O programa funciona basicamente como uma parceria que envolve diversas empresas filiadas, como a Coral e a Amanco, lojas de materiais de construção espalhadas por todo território nacional e trabalhadores do setor. São detalhados a seguir o três pilares de seu funcionamento.

5.1.3.1 Loja

As lojas possuem um papel crucial dentro do sistema da Doutores das construção. Elas atuam diretamente na divulgação do programa, disponibilizam a infraestrutura para que seja possível a aplicação dos cursos e tornam possível a aplicação do programa fidelidade.

O processo de divulgação do programa é feito de maneira individual. Assim cada loja pode utilizar diversas estratégias de marketing. Uma das exigências do programa é que seja escolhida uma pessoas denominada “promotor de relacionamentos”, podendo esta pertencer ao quadro de funcionários. Essa escolha é feita em conjunto com a Doutores da Construção, que leva em consideração, principalmente, as habilidades comunicativas deste funcionário. Isso decorre do fato de que o promotor deve ter contato direto com os clientes e explicar-lhes o funcionamento básico do programa, divulgando os cursos e as vantagens que poderiam ser adquiridas caso começassem a fazer parte da comunidade. A Doutores da Construção, no ato da aceitação de uma nova loja parceira, também disponibiliza materiais de divulgação para que o lojista possa deixar amostra ou distribuir em seu estabelecimento.

A Doutores da Construção também exige das lojas parceiras uma infraestrutura básica que deve estar instalada e em funcionamento. A instalação trata-se basicamente de uma sala de aula dotada de mesas e cadeiras, com capacidade para até trinta alunos, uma tela de projeção de porte médio, um computador com acesso a internet e um link de conexão via satélite da empresa Sky. Essas instalações são checadas pela empresa e se tudo estiver dentro do padrão requisitado a loja é aceita. Além disso, para continuar dentro do projeto elas devem pagar uma taxa de manutenção mensal que pode ser de R$390 para o plano fidelidade, parceria apenas no programa de fidelização das vendas, ou de R$590 para atuar como centro de treinamento. Este último valor inclui a assinatura mensal do canal fechado utilizado para a transmissão das aulas.

O ponto de maior interesse da empresa, porém, é o programa fidelidade, no qual a atuação das lojas é não menos importante. Ele funciona como um plano de negócios, que planeja a vinculação dos treinamentos com as marcas de produtos das empresas parceiras. Para que isso seja possível os cursos são todos elaborados com base nestes e nas apostilas as marcas são claramente expostas e trabalhadas. Com isso o trabalhador, depois de treinado, sente-se mais a vontade e capacitado a utilizar aquele produto em específico e acaba atuando diretamente no marketing da empresa, fazendo a divulgação das marcas e convencendo seus contratantes a adquiri-los. Segundo dados utilizados pela Doutores da Construção, cerca de 67% das vendas de materiais de construção possuem influência direta dos trabalhadores do setor. Trata-se de uma cifra promissora quando se tem a intenção de desenvolver um aumento gradual nas vendas, no âmbito de investimentos com retorno a longo prazo. Para estimular ainda mais a indicação dos produtos por parte dos trabalhadores, o programa também trabalha um processo de distribuição de pontos. Para cada real gasto em lojas parceiras o trabalhador recebe dois pontos caso os produtos sejam de uma empresa parceira, caso contrário recebe um ponto. Este pontos podem ser trocados no site da Doutores da Construção por produtos

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que vão dede de geladeiras a televisões. As vendas são controladas através do site do programa e as compras são feitas mediante a apresentação da carteirinha do trabalhador.

5.1.3.2 Empresas parceiras

Os parceiros atuam de forma direta na criação dos cursos e de seus materiais didáticos em conjunto com a Doutores da Construção, além de contribuírem com a manutenção do programa de forma geral.

Os benefícios focam-se no aumento das vendas geradas pelo marketing direto presente nos treinamentos e pela atuação indireta dos trabalhadores na divulgação da marca. Os dados fornecidos pela empresa mostram que a estratégia vem funcionando de maneira satisfatória, tanto pelo número de pessoas treinadas, quanto pela aumenta na venda de produtos da empresas filiadas. Segundo Catias Matias, coordenadora do projeto, após o início do programa as vendas da Amanco chegaram a ter um aumento da ordem de 30% e hoje estabilizou-se em torno dos 15%; o mesmo aconteceu com a Coral, empresa que também faz parte do programa.

O grande problema quanto aos parceiros é a falta de interesse generalizada na realização de investimentos com retorno não imediato. Isso segundo a empresa tem limitado sua gama de cursos e dificultado a manutenção do programa, uma vez que 40% dos custos de manutenção destes ainda recaem sobre seus investidores.

5.1.3.3 Profissionais

No plano de negócio da Doutores da Construção, o profissional tem basicamente o papel de atuar como divulgador indireto da marca e dos produtos das empresas parceiras do programa. Isso acaba se concretizando, pois após receberem um treinamento altamente focado nestes produtos, segundo Matias, eles sentem-se mais capacitados a empregá-los em seus serviços e acabam convencendo seus contratantes a adquiri-los. Além disso, Matias cita que eles podem ser bastante beneficiados pelo processo de acumulação de pontos, o que aumenta suas pretensões de utilizar as marcas.

Outro ponto importante trata-se da satisfação maior do contratante, ou consumidor final, pois os profissionais treinados, segundo Matias, provavelmente executarão os serviços de maneira mais apropriada, com um acabamento mais fino e menores desperdícios. Isso também eleva a satisfação do consumidor com a marca dos produtos empregados na obra, podendo fazer destes difusores secundários destas.

5.1.4 Certificação

A certificação é feita da seguinte forma:

1. Aluno recebe uma certificação a cada módulo concluído;

2. Se concluídos todos os módulos do curso pode-se fazer uma prova teórica;

3. Caso haja um aproveitamento mínimo de 70% na prova final recebe-se um certificado e uma carteirinha do programa indicando a conclusão do curso. Ambos os documentos são válidos por dois anos.

Além disso, todos os alunos que concluíram pelo menos um módulo de qualquer um dos cursos são cadastrados no site da Doutores da Construção, onde podem ser consultado pelos interessados em seus serviços. A busca é feita por CEP e no resultado constam todos os módulos e cursos concluídos. Vale salientar que estes certificados são, na prática, apenas simbólicos, pois possuem reconhecimento apenas da Doutores da Construção. A empresa planeja concretizar uma parceria de emissão de certificados com o SENAI, porém nada foi acertado até o término deste trabalho.

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5.1.5 EAD e a Doutores da Construção

Como foi apresentado anteriormente a Doutores da Construção faz uso da tecnologia de teleconferência para a aplicação de seus treinamentos. Essa escolha apresenta algumas vantagens para este programa em específico que são:

1. Evita que o trabalhador tenha de ter conhecimentos em informática;

2. O trabalhador já está bastante acostumado com conteúdos transmitidos através da linguagem televisiva;

3. A tutoria de forma semi-síncrona evita com que o aluno se disperse.

A primeira vantagem citada é de suma importância, especialmente quando se tem como foco a fatia informal do setor da construção civil, como é o caso. Esses trabalhadores, muitas vezes, apresentam baixo nível de escolaridade e grande dificuldade de interação com tecnologias mais recentes, como os computadores. A não necessidade do uso direto destas tecnologias para a captação do conteúdo faz então com que o processo seja muito menos penoso ao trabalhador e evita com que este acabe desmotivado pelas dificuldades por elas impostas.

O fato das aulas serem transmitidas através do meio televisivo também facilita bastante a aprendizagem do aluno, que está acostumado com o tipo de linguagem empregada neste meio de difusão informacional. Além disso, como o conteúdo pode ser abordado de forma bastante visual, seu entendimento fica facilitado e o torna mais atrativo.

Apesar da tutoria não ocorrer de forma totalmente síncrona, pois não há uma interação em tempo real entre os tutores e os alunos, há sempre um momento reservado para o envio de perguntas a central de geração do sinal, onde os tutores podem lê-las e respondê-las em seguida. Outro fato importante é a presença do promotor de relacionamentos das lojas nas aulas, que pode sempre esclarecer algumas dúvidas que os alunos possam ter quanto ao sistema de aprendizagem ou quanto à utilização das apostilas. Isso faz com que o curso siga um ritmo mais amigável e evita com os alunos se dispersem.

5.2 Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)

A Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) é uma entidade sem fins lucrativos mantida por algumas indústrias brasileiras de cimento, como por exemplo, a Votorantim.

5.2.1 O programa

Neste relatório será abordado o programa Mãos-à-obra, uma série de vídeos dividida em trinta capítulos, que ensina os conceitos básicos da construção civil.

5.2.1.1 Programa Mãos-à-obra

Mãos-à-obra é um programa desenvolvido pela ABCP, que consiste inicialmente da distribuição de pequenas cartilhas em lojas de construção. O conteúdo traz conceitos básicos para construção de uma residência de pequeno porte, no modelo de autoconstrução. Os temas abordados vão desde a preparação dos terrenos, como a constatação de solo fraco ou de riscos de enchentes, até a aplicação de pisos e revestimentos. Fornece também conselhos importantes como a checagem da documentação do terreno, bem como orientações para que se procure a prefeitura ou o CREA em caso de dúvidas quanto à documentação ou quanto aos processos construtivos.

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Figura 5 - Exemplo de gravura utilizada na cartilha da ABCP (Fonte: Programa Mãos-à-obra).

Apesar de ter começado apenas como uma apostila, como dito anteriormente, devido ao sucesso medido pelo número de tiragens – cerca de 15 milhões - a ABCP resolveu fazer, em conjunto com o SENAI, uma série televisiva, dividida em trinta capítulos que abordam exatamente o mesmo conteúdo da apostila. A linguagem foi bem adequada ao dia a dia do público alvo, facilitando bastante o entendimento do conteúdo passado. Situações cotidianas vivenciadas pelos personagens ajudam a reter a atenção e aumentar o interesse pelo conteúdo do vídeo. A série toda foi transmitida pelo canal de televisão aberto Futura e também pela Rede Globo. Hoje, ela encontra-se disponível para venda por um valor que excede em pouco a casa dos cem reais.

Apesar de ser uma iniciativa relativamente antiga, pois foi realizada há cerca de vinte anos, ainda são disponibilizadas tiragens das cartilhas e os vídeos continuam sendo utilizados, inclusive pela ABCP, para aplicação de alguns treinamentos isolados atuando como material complementar. Vale salientar que a entidade interou não haver nenhuma restrição quanto à utilização dos vídeos, desta forma qualquer um que adquiri-lo pode utilizá-lo da maneira que achar mais apropriado, tanto de maneira individual, quanto para aplicação de pequenos cursos e treinamentos.

Este programa também não apresenta nenhum tipo de avaliação ou certificação, até porque isto foge totalmente a seu escopo, por ser sumariamente uma iniciativa que visa mais a informar que a treinar e qualificar pessoas.

5.2.2 EAD e a ABCP

A ABCP, a despeito da iniciativa citada, não faz um uso intensivo da educação à distância. Segundo Michelli Silvestre funcionária da ABCP que disponibilizou estas informações, a grande maioria dos cursos e treinamentos realizados pela entidade é aplicada nos moldes da educação presencial. Isso ocorre talvez pela dificuldade em se

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transmitir os conhecimentos contidos nestes cursos à distância, pois se tratam principalmente de conhecimentos técnicos, segundo informado por Silvestre.

6. Elementos para a formulação de uma estratégia de educação a distância (EaD)

Os dados levantados pelos estudos de caso e revisão bibliográfica permitiram a identificação de elementos para a formulação de uma estratégia de educação a distância (EaD), voltadas para trabalhadores da construção civil. Foram muito relevantes os pontos considerados importantes e cruciais para o sucesso dos projetos estudados, quais sejam:

1. Abordagem direta do trabalhador nas lojas de materiais de construção, por ser um local bastante freqüentado por este;

2. Forma de transmissão do conteúdo, através de situações contextualizadas e personagens do dia-a-dia do público alvo;

3. Distribuição de uma cartilha nas lojas de materiais de construção, para que possa ser consultada pelos trabalhadores em caso de dúvidas;

4. Linguagem simples;

5. Enfatizar os processos práticos;

6. Prova de avaliação do conteúdo para posterior certificação;

7. Manutenção de um cadastro online dos trabalhadores treinados para que possam ser consultados e contratados pelos interessados;

8. Manutenção de pequenos centros de assistência técnica, onde os trabalhadores possam esclarecer suas dúvidas quanto aos processos legais e construtivos das obras;

9. Contato, através dos centros de assistência técnica, com as prefeituras locais visando à regularização das obras.

10. Programa de fidelidade envolvendo lojas de matérias de construção, empresas do setor e os trabalhadores, para que se consiga manter o incentivo a educação continuada, principalmente através do subsídio das empresas.

A abordagem direta dos trabalhadores seria o pilar de divulgação dos cursos e treinamentos em aplicação e facilitaria o processo de convencimento necessário para que eles enxerguem uma real oportunidade de melhoria em sua vida profissional. Isto deve ser feito principalmente nas lojas de materiais de construção, uma vez que são amplamente freqüentadas por estes trabalhadores. Neste quesito, a distribuição de um material impresso, ou uma cartilha, com todos os procedimentos básicos de construção poderia auxiliar na divulgação do programa, de maneira similar como ocorreu com a ABCP com sua cartilha intitulada Mãos-à-obra, além de também contribuir como mais uma forma de difusão de conhecimento.

A forma de transmissão de conteúdo utilizada pela ABCP mostra-se mais apropriada, uma vez que torna o processo de aprendizagem mais interessante ao utilizar uma boa contextualização com a vida do público alvo. Situações quotidianas podem ser utilizadas para justificar a aprendizagem das técnicas em abordagem e o linguajar do dia-a-dia deve ser priorizado. Isto se relaciona diretamente com a necessidade de utilização de uma linguagem simples, uma vez que grande parte destes trabalhadores não possui muitos anos de estudo, nem familiaridade com a linguagem acadêmica. Neste caso, a linguagem televisiva, na forma de teleconferência nos mesmos moldes da Doutores da Construção, com aulas na própria loja de materiais de construção e tutoria semi-síncrona, mostra-se como a mais indicada, pois o público alvo já a conhece bem.

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Assim, evita-se que o conteúdo não seja entendido de maneira correta, além de evitar com que se crie um desinteresse pelos cursos, gerado justamente pela dificuldade de compreensão. Desta maneira, também fica evidente que todo o conteúdo deve focar-se, com grande prioridade, aos aspectos práticos do conhecimento, utilizando, sempre que possível, situações reais como subsídio. Deve-se evitar transmitir o conteúdo de maneira demasiada teórica, pois isso além de dificultar o entendimento, muitas vezes gera grande desinteresse. Exceção deve ser feita para realização da avaliação teórica, que apesar de poder ser redigida em uma linguagem mais simples, deve focar-se nos aspectos teóricos transmitidos indiretamente durante todo o curso, tomando cuidado para não confundir o aluno e cuidando para que a abordagem se dê da melhor forma possível.

Quando o aluno for aprovado, seria bastante interessante que houvesse a emissão de um certificado para que fique de posse deste. O certificado, além de possibilitar com que o trabalhador prove que freqüentou o curso e foi também aprovado, poderia atuar como uma forma de estímulo. Segundo Matias, da Doutores da Construção, o trabalhador sente bastante prazer ao receber um certificado desta importância, justamente porque dificilmente recebera algum outro documento similar. Outra forma de certificação, atuando mais de maneira indireta, seria a manutenção de um cadastro online dos trabalhadores certificados nos cursos e treinamentos aplicados, da mesma forma como faz a Doutores da Construção. Isto atuaria de maneira a valorizar e divulgar o serviço dos alunos, aumentando seu networking e, possivelmente, sua renda. Os interessados consultariam o site e encontrariam disponíveis todas as informações relativas à capacitação profissional de cada trabalhador, podendo contatá-los caso achem interessante. Acredita-se também que isso seria outra forma de estímulo para obtenção de mais alunos, uma vez que o trabalhador pode enxergar nesse cadastro uma boa forma de divulgação de seus serviços.

A manutenção de pequenos centros de assistência técnica deve atuar na difusão de conhecimento entre os trabalhadores do setor. Neles devem ser esclarecidas dúvidas relativas tanto aos processos construtivos, quanto aos processos legais das obras em realização. Desta forma há mais segurança para o contratante e também para o contratado, que fica ciente de todos os seus direitos e obrigações. Estes centros também poderiam ter um contato mais íntimo com as prefeituras locais, atuando de maneira ativa na legalização das obras.

O programa de fidelidade, que deve envolver as lojas de materiais de construção, as empresas e os trabalhadores, atuaria de forma crucial na manutenção do programa, mantendo uma oportunidade de negócios interessante para as empresas e lojas que continuariam a subsidiar os treinamentos. As empresas poderiam divulgar suas marcas e produtos durante os cursos, o que faria com que o trabalhador se sentisse mais confiante ao utilizá-los, podendo agir de maneira a convencer seu contratante a adquiri-los, de maneira igual à utilizada pela empresa Doutores da Construção.

7. Conclusões

Apesar do grande crescimento da educação a distância no Brasil, sua contribuição com a educação no setor da construção civil ainda é bem pequena. Faltam iniciativas das empresas e das escolas, que parecem não ver com grande otimismo esta modalidade de ensino.

Parte disso pode estar relacionada com a dificuldade em se transmitir conhecimentos que envolvam desenvolvimento motor a distância. Além disso, quando se pensa em capacitação dos operários da construção civil a distância, mais um desafio deve ser

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enfrentado. Devido ao baixo nível de escolarização de uma grande fatia do setor, torna-se praticamente impossível conseguir com que estes profissionais tenham bom resultados estudando por conta própria, o que torna a educação totalmente a distância mais complicada de ser aplicada. Na realidade, este pode ter sido o fator determinante no pouco avanço da modalidade no setor.

Cabe salientar, porém, que métodos de treinamento como os empregados pela Doutores da Construção podem gerar resultados bastante promissores. O sistema de ensino aplicado pela empresa faz com que os pontos fracos da educação a distância sejam bem minimizados, principalmente por utilizar o método da teleconferência e fazer uso da linguagem televisiva, bem conhecida pelos trabalhadores. Outro grande fator que favorece o funcionamento do programa é o uso de material didático feito de maneira bem simples, com uma linguagem acessível e predominantemente visual. Fatos similares ocorrem nos programas desenvolvidos pela ABCP, que também conseguiram atingir um contingente razoável.

Também foi abordada neste trabalho uma possível estratégia que melhorasse a utilização da educação a distância e aumentasse o número de treinamentos e cursos disponibilizados dentro do setor da construção civil. Isso foi feito tomando como base ações bem sucedidas empregadas pela ABCP e pela Doutores da Construção, utilizando-as como base para seu desenvolvimento.

Desta forma, fica claro que a educação a distância tem muito a evoluir dentro do setor da construção civil, principalmente com as inovações tecnologias que tendem a facilitar a transmissão de conhecimentos motores a distância. Fica também evidenciados o sub-aproveitamento desta modalidade, que, mesmo em seu estado de desenvolvimento atual, poderia ser uma ferramenta bastante eficaz para transmissão de treinamentos de mão de obra, mesmo que em caráter predominantemente teórico.

Por fim, acredita-se que a proposta que consta de trabalho submetido ao VI SIBRAGEC - Simpósio Brasileiro de Gestão e Economia da Construção - O desafio das novas competências organizacionais e profissionais na Construção Civil, realizado em João Pessoa em outubro de 2009, mas que foi recusado (ver Apêndice 4) de realizar simulações fazendo uso da tecnologia já existentes no mercado do vídeo-game Wii, da empresa de entretenimento Nintendo, mais especificamente do controle utilizado por este, pode ser promissora. Trata-se do uso do periférico Wiimote, que faz uso de tecnologia de comunicação sem-fio através da rede Bluetoothe pode ser manuseado livremente pelo usuário dentro do alcance estipulado de cerca de cinco metros, utilizado em conjunto um óculos 3D, tecnologia esta já existente no Brasil, que daria mais profundidade a visualização.

Como diz o trabalho:

“Para simular esta tarefa o Wiimote estará em conexão direta com um computador através de sua conexão sem-fio. Da maneira como o controle será utilizado não será possível obter-se a posição exata deste no espaço, pois para isto este necessitaria de estar apontando sempre diretamente ao vídeo-game, porém com a ajuda de seus acelerômetros ainda sim poder-se-á descrever os movimentos que deverão ser executados pelo capacitando analisando a força empregada em cada um dos eixos cartesianos, a cada instante. Para tornar tudo mais realista, o controle será embutido em uma colher de pedreiro, e esta poderá ter seu peso alterado para simular uma quantidade arbitrada de argamassa. A análise dos movimentos deverá ser feita pelo computador através do seguimento de um padrão, obtido com prévias leituras de dados do controle quando este é manipulado por um profissional qualificado da área. O padrão gerado pelo profissional quando este manuseia a pá, será comparado com o padrão gerado pelo operário, podendo assim, inclusive, determinar notas sem a necessidade de um professor presente. A princípio várias pessoas podem interagir ao mesmo tempo com o uso desta tecnologia, podendo assim ser simuladas cadeias completas de tarefas, com divisões específicas

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de trabalho a cada um dos capacitandos, representando desta forma com ainda mais exatidão o local que será presenciado por estes operários no dia-a-dia de trabalho.”

O texto aponta as limitações da ferramenta:

“Até o presente momento a maior limitação encontrada repousa no fato de, no caso das simulações abordadas neste relatório, não ser possível uma leitura exata da posição do controle no espaço. Tal fato pode ser contornado com o estudo dos dados gerados pelos acelerômetros contidos no controle, mas isso talvez não limite a gama de movimentos da forma esperada. Seguem também limitações típicas de métodos indiretos de transmissão de conteúdo prático como: não estar diretamente em contado com os materiais ou com o ambiente de trabalho a ser encontrado, ou o fato de as ferramentas não serem exatamente as mesmas. Também vale ressaltar que se houver interesse mais a frente em levar a adiante este projeto, provavelmente serão encontradas mais limitações a serem contornadas.”

8. Bibliografia

ABRAEAD. Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância. Instituto Cultural e Editora Monitor. São Paulo, 2007, passim.

ABRAMAT. Relatório de Capacitação e Certificação Profissional na Construção Civil e Mecanismos de Mobilização de Demanda. São Paulo, Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção e Escola Politécnica da USP, 2007, passim.

ALVES, João Roberto Moreira. Educação a Distância e as Novas Tecnologias de Informação e Aprendizagem. 1998, p. 1.

CAMPOS FILHO, Amadeus Sá de. Treinamento a distância para mão-de-obra na construção civil/A.S. de Campos Filho. São Paulo, 2004, passim.

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NISKIER, Arnaldo. Educação À Distância - A Tecnologia da Esperança. Editora Loyola. 1999, passim.

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RODRIGUES, Rosângela Schwarz. Modelo de avaliação para cursos no ensino a distância : estrutura, aplicação e avaliação. Florianópolis, 1998, passim.

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http://www.doutoresdaconstrucao.com.br Acesso em: 25 out. 2009.

Apêndice 1 – Tabela 1 e Tabela 2

Apêndice 2 – Questionário aplicado a empresa Doutores da Construção

Apêndice 3 – Material utilizado pela Doutores da Construção

Apêndice 4 – Trabalho “A Educação a Distância e os desafios Da Qualificação profissional na

Construção Civil”