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Capacitação em Ética, Cultura de Paz e Dinâmicas da Convivência Módulo 6 Cultura de Paz Prof. Lia Diskin

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Page 1: Capacitação em Ética, Cultura de Paz e Dinâmicas da ... · Não aceita refletir sobre os paradoxos e diferenças, e valoriza a sequencialidade e a repetição; Não há oposição

Capacitação em Ética, Cultura de Paz e

Dinâmicas da Convivência

Módulo 6

Cultura de Paz

Prof. Lia Diskin

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Aquilo de que Precisamos e o que Recebemos

A Natureza diz que as

crianças precisam de:

Nutrição

Em troca, as crianças

recebem:

Entre os pobres, escassez

de alimentos. Entre os

ricos, excesso de alimentos

sem valor nutritivo.

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Aquilo de que Precisamos e o que Recebemos

A Natureza diz que as

crianças precisam de:

Contato íntimo, tanto físico

como emocional com seus

pais.

Em troca, as crianças recebem:

Quase nada, os pais estão muito ocupados tratando de sobreviver ou acumulando e mantendo sua riqueza; além disso, os pais estão programados contra o contato físico e emocional íntimo.

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Aquilo de que Precisamos e o que Recebemos

A Natureza diz que as

crianças precisam de:

Informação científica e

impressões poéticas sobre

a criação e evolução

espiritual do cosmos e da

humanidade como parte

deste.

Em troca, as crianças

recebem:

Informação operacional sobre a

natureza. Informação

tendenciosa e parcial, não

motivadora nem filosófica sobre

a história.

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Aquilo de que Precisamos e o que Recebemos

A Natureza diz que as

crianças precisam de:

Orientação, apoio e ajuda

para explorar seus corpos

e seu ambiente.

Em troca, as crianças

recebem:

Medos.

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Logo as crianças crescem e se tornam adolescentes

E quando os adolescentes

pedem para:

Abrirem-se a contatos

físicos e emocionais com

outros corpos e mentes.

Recebem em troca:

Códigos, normas e regulamentos

que bloqueiam a comunicação

com os demais e introduzem

mais medos.

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Logo as crianças crescem e se tornam adolescentes

E quando os

adolescentes pedem

para:

Ter relação amorosa e

romântica.

Recebem em troca:

Incitações a praticar um sexo

mecânico e a pensar que

construir uma relação é um jogo

em que sempre deve haver um

ganhador e um perdedor.

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Logo as crianças crescem e se tornam adolescentes

E quando os

adolescentes pedem

para:

Ter um alegre diálogo

interior com o espírito.

Recebem em troca:

Formas devocionais vazias e

aborrecidas.

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Por sua vez, os adolescentes se tornam adultos

Quando os adultos

reclamam:

Tempo para ser.

Recebem em troca:

Tempo para trabalhar e consumir.

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Por sua vez, os adolescentes se tornam adultos

Quando os adultos

reclamam:

Tempo para partilhar com

aqueles que amam.

Recebem em troca:

Tempo para competir.

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Por sua vez, os adolescentes se tornam adultos

Quando os adultos

reclamam:

Tempo para dialogar com

o espírito.

Recebem em troca:

Tempo para amofinar-se em

rituais formais.

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Por sua vez, os adolescentes se tornam adultos

Quando os adultos

reclamam:

Alimentos que renovem as

células e as energias.

Recebem em troca:

Alimentos sem valor nutritivo no

primeiro mundo. Insuficiência ou

carência de alimentos no mundo

subdesenvolvido.

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Finalmente, os adultos envelhecem

E quando os velhos

pedem:

Contato físico suave e

amoroso, carinhos que

mantenham sua energia

fluindo em equilíbrio.

Recebem em troca:

Espaços familiares ou

institucionais frios, onde se tocar

ou se acariciar são tabu.

Desprezo da sociedade, caso

satisfaçam essas necessidades

por si mesmos.

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Finalmente, os adultos envelhecem

E quando os velhos

pedem:

Comida nutritiva preparada

e servida com amor e

alegria por eles mesmos

ou por outros.

Recebem em troca:

Refeições rápidas em casa ou

em restaurantes no mundo

desenvolvido. Escassez de

alimentos e recursos para os

transformar em pratos apetitosos

no mundo subdesenvolvido.

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Finalmente, os adultos envelhecem

E quando os velhos

pedem:

Participação na sociedade;

oportunidade para entregar

sua experiência acumulada

e receber informações sobre

inovações científicas,

tecnológicas e sociais, que

acontecem num ritmo

adaptado a sua condição de

energia diminuída.

Recebem em troca:

Solidão. Oportunidades de

aprendizagem submetidas a

horários rígidos e formalidades

no mundo desenvolvido. Falta de

possibilidades de educação para

adultos no mundo

subdesenvolvido.

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Cultura do Patriarcado Cultura Matrística

Apropriação;

Atitude exploradora e extrativista para com a terra;

A desconfiança é vista como um a priori nos relacionamentos interpessoais;

As relações interpessoais são baseadas no modelo autoritarismo-obediência-vigilância-controle.

Participação;

Atitude interativa e convivencial

para com a terra;

A confiança é vista como um a

priori nos relacionamentos

interpessoais;

As relações interpessoais são

baseadas no modelo amizade-

cooperação-companheirismo-

consenso.

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Cultura do Patriarcado Cultura Matrística

Desejo de domínio. A guerra e a competição predatória são encaradas como virtudes e modos naturais de convivência;

Não aceitação da imprevisibilidade e da aleatoriedade.

Desejo de interpessoalidade. Questionamento da guerra como instrumento de solução de desavenças;

Aceitação da imprevisibilidade e da aleatoriedade.

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Cultura do Patriarcado Cultura Matrística

Apropriação do conceito de verdade;

O pensamento predominante é o linear. Não aceita refletir sobre os paradoxos e diferenças, e valoriza a sequencialidade e a repetição;

Não há oposição natural entre homens e mulheres, mas estas são subordinadas aos homens em função da apropriação da procriação.

Relativização do conceito de

verdade;

O pensamento predominante é

o sistêmico: aceita refletir sobre

os paradoxos e diferenças, e

valoriza a circularidade e a

diversidade;

Não há oposição entre homens

e mulheres nem subordinação

de parte a parte.

Amar e Brincar :Fundamentos Esquecidos do Humano, Humberto Maturana e Gerda Verden-

Zöller. Ed. Palas Athena

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Tudo tem o seu tempo

Todas as coisas têm o seu tempo, e todas elas passam

debaixo do céu segundo o tempo que a cada uma foi

prescrito. Há tempo de nascer, e tempo de morrer.

Há tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se

plantou. Há tempo de matar, e tempo de sarar. Há

tempo de destruir, e tempo de edificar. Há tempo de

chorar, e tempo de rir. Há tempo de se afligir, e

tempo de dançar. Há tempo de espalhar pedras, e

tempo de as ajuntar. Há tempo de dar abraços, e

tempo de se afastar deles. Há tempo de adquirir, e

tempo de perder. Há tempo de guardar, e tempo de

lançar fora. Há tempo de rasgar, e tempo de coser.

Há tempo de calar, e tempo de falar. Há tempo de

amor, e tempo de ódio. Há tempo de guerra, e tempo

de paz. Fonte: Bíblia Sagrada, Livro do Eclesiastes,

Edição Paulinas, São Paulo, 1964

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A PAZ É O EXERCÍCIO DA

LIBERDADE TRANQUILA

Cícero

Fonte: Filípicas, 2,44, 113

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Manifesto Russell-Einstein

Londres, 9 de julho de 1955

Diante da trágica situação que confronta a humanidade, sentimos que os cientistas devem reunir-se em conferência para avaliar os perigos que surgiram como resultado do desenvolvimento de armas de destruição em massa, e para discutir uma solução no espírito do texto anexo.

Não falamos nesta ocasião como membros desta ou daquela nação, continente ou credo, mas como seres humanos, membros da espécie humana, cuja continuidade tornou-se duvidosa. O mundo é cheio de conflitos e, fazendo sombra a todos os conflitos menores, está a titânica luta entre comunismo e anticomunismo.

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Manifesto Russell-Einstein

Quase todos os politicamente conscientes têm fortes sentimentos em

relação a essas questões, mas queremos, se puderem, que ponham de

lado esses sentimentos e se considerem somente membros de uma

espécie biológica que teve uma história notável, e cujo desaparecimento

ninguém deseja.

Eis aí, então, o problema que apresentamos a você, cru, terrível e

inevitável. Devemos por fim à raça humana; ou a humanidade renunciará à

guerra? As pessoas não querem encarar estas alternativas porque é muito

difícil abolir a guerra.

Devemos aprender a pensar de um modo novo. Devemos aprender a não

nos perguntar “que passos devem ser tomados para dar vitória militar ao

grupo que apoiamos?”, pois não há mais tais passos; O que devemos nos

perguntar é: “Que passos devemos tomar para evitar um embate militar

cujo resultado será desastroso para todos”?

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Manifesto Russell-Einstein

A abolição da guerra exigirá indigestas limitações à soberania nacional.

(...). As pessoas têm dificuldade de imaginar que o que está em perigo é a

vida delas, de seus filhos e netos, e não apenas de uma humanidade

vagamente concebida. As pessoas não conseguem ver com clareza que

elas, como indivíduos, e seus entes queridos, estão em perigo iminente de

morrer em agonia. Esperam que talvez a guerra possa continuar se as

armas modernas forem proibidas.

Esta esperança é vã. Qualquer acordo que impeça as armas atômicas em

tempo de paz será esquecido no tempo de guerra, e ambos os lados

começariam a fabricar bombas-H assim que a guerra começasse, pois se

um lado tivesse a bomba e o outro não, o lado que as fabricasse seria

inevitavelmente o vencedor.

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Manifesto Russell-Einstein

Como seres humanos devemos nos lembrar que, se as questões entre

Oriente e Ocidente devem ser decididas de forma satisfatória para alguém,

sejam comunistas ou anticomunistas, asiáticos, europeus ou africanos,

brancos ou negros, então essas questões não podem ser resolvidas pela

guerra. Gostaríamos que isto fosse entendido, no Ocidente e no Oriente.

Diante de nós, se quisermos, estão progresso contínuo em felicidade,

conhecimento e sabedoria. Escolheremos a morte em vez disso só porque

não podemos esquecer nossas brigas? Apelamos como seres humanos

aos seres humanos: Se lembrem de sua humanidade, e esqueçam o resto.

Se puderem fazer isto, o caminho para o paraíso continua aberto; se não

puderem, temos pela frente o risco de extermínio universal.

Bertrand Russel e Albert Einstein

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Breve histórico da Cultura de Paz

Embora a frase “Cultura de Paz” tenha sido inicialmente

cunhada pela UNESCO em 1989, já havia sido sugerida na

fundação do organismo em 1945-1946.

Dizia sua constituição: “a paz baseada exclusivamente nos

arranjos políticos e econômicos dos governos não seria

uma paz que pudesse conquistar o apoio sincero, unânime

e duradouro dos povos do mundo, e por esse motivo, para

que perdure, a paz deve ser fundada sobre a solidariedade

moral e intelectual da humanidade”.

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Breve histórico da Cultura de Paz

Já na constituição da UNESCO encontramos a ideia de que

a guerra como instituição é baseada numa cultura de

guerra, que é mais ampla e profunda que as guerras em si.

Como no iceberg, a guerra é a ponta que pode ou não estar

visível em dado momento, enquanto a cultura da guerra

existe perenemente, apoiando guerras em particular, e

sendo continuamente reforçada pelas guerras passadas e

pelas práticas de violência tanto explícitas quanto

simbólicas, físicas e institucionalizadas, culturais ou

estruturais.

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Breve histórico da Cultura de Paz

Os governos dos Estados Membros, em nome de seus

povos, declaram:

Que, posto que AS GUERRAS NASCEM NA MENTE DOS

HOMENS, É NA MENTE DOS HOMENS QUE DEVEM

ERIGIR-SE OS BALUARTES DA PAZ.

Que, ao longo do curso da história, a incompreensão mútua

dos povos tem sido motivo de desconfiança e receio entre

as nações, a causa de seus desacordos terem degenerado

em guerra com grande frequência.

Constituição da Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência

e Cultura, aprovada em Londres em 16 de novembro de 1945

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Manifesto 2000

por uma Cultura de Paz e Não-Violência

Respeitar a vida

Rejeitar a violência

Ser generoso

Ouvir para compreender

Preservar o planeta

Redescobrir a solidariedade

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Na concepção de Gandhi, violência é “qualquer coisa que

possa impedir a auto-realização individual, não apenas

atrasando o progresso de uma pessoa, mas também

mantendo-a estagnada. Sob essa perspectiva a violência é

violenta porque leva ao retrocesso”.

A concepção positiva de Paz é a ausência de violência –

direta, simbólica e estrutural – e resulta da conjugação, no

mínimo, de:

Desenvolvimento

Direitos Humanos

Democracia

Desarmamento

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Contribuições significativas à gestão da cultura de paz

Declaração de Sevilha sobre a Violência (1986);

Congresso Internacional sobre a Paz na Mente dos Homens,

em Yamoussoukro, África (1989);

Primeiro Fórum Internacional sobre a Cultura de Paz,

realizado em São Salvador, El Salvador (1994);

Ano 2000 como Ano Internacional da Cultura de Paz,

proclamado pela Assembléia Geral das Nações Unidas (1997);

Conferência do Apelo de Haia pela Paz, que elaborou o

Programa do Século XXI pela Paz e a Justiça (1999);

A criação do Manifesto 2000 da UNESCO, que envolveu 75

milhões de pessoas no mundo todo;

Década Internacional por uma Cultura de Paz e Não-

violência para as Crianças do Mundo (2001 – 2010).

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Declaração de Sevilha sobre a Violência (1986)

Espanha, 1986. Posteriormente adotada pela UNESCO na 25ª Sessão da Conferência

Geral em 1989. Acreditando ser nossa responsabilidade como pesquisadores de diversas disciplinas tratar da questão da violência e da guerra, reconhecendo que a ciência é um produto cultural humano que não pode ser definitivo nem exaustivo, e gratos pelo apoio das autoridades de Sevilha e dos representantes da UNESCO espanhola, nós, abaixo assinados, professores do mundo todo e autoridades nos ramos científicos pertinentes, nos reunimos e chegamos a este Manifesto sobre a Violência. Nele questionamos certos assim chamados achados da biologia que têm sido usados, até mesmo por algumas de nossas especialidades, para justificar a violência e a guerra. Pelo fato destes ditos “achados” terem provocado uma atmosfera de pessimismo em nosso tempo, propomos que a rejeição aberta e ponderada dessas descobertas equivocadas poderá contribuir significativamente para o Ano Internacional da Paz.

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Declaração de Sevilha sobre a Violência (1986)

O mau uso de teorias e informações científicas para justificar a violência não é algo novo, e vem ocorrendo desde o advento da moderna ciência. Por exemplo, a teoria da evolução foi usada não só para justificar a guerra, mas também o genocídio, o colonialismo e a supressão dos mais fracos. Nosso ponto de vista é exposto aqui na forma de cinco proposições. Temos consciência de que há outros aspectos sobre a violência e a guerra que também poderiam ser abordadas produtivamente do ponto de vista de nossas disciplinas, porém restringimo-nos àquilo que consideramos um primeiro passo de importância fundamental. É CIENTIFICAMENTE INCORRETO dizer que herdamos uma tendência a fazer guerra de nossos ancestrais animais. Embora lutas ocorram em todo o reino animal, apenas alguns poucos casos de luta destrutiva intra-espécies entre grupos organizados já foram descritos em espécies que vivem no seu ambiente natural, e nenhum destes casos envolve o uso de ferramentas construídas para serem armas. O comportamento predatório de alimentar-se de outras espécies não pode ser equiparado com violência intra-espécies. A guerra é um fenômeno especificamente humano e não ocorre em outros animais.

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Declaração de Sevilha sobre a Violência (1986)

O fato de que a guerra mudou tão radicalmente ao longo do tempo indica que é um produto cultural. O elo da guerra com a biologia se estabelece fundamentalmente através da linguagem, que possibilita a coordenação de grupos, a transmissão da tecnologia e o uso de ferramentas. A guerra é biologicamente possível, mas não inevitável, como demonstrado pela variação de sua natureza e freqüência dentro do tempo e do espaço. Há culturas que não se envolveram na guerra durante séculos, e há culturas que estiveram em guerra freqüentemente em alguns períodos e não em outros. É CIENTIFICAMENTE INCORRETO dizer que a guerra, ou qualquer outro comportamento violento, é geneticamente programado na natureza humana. Embora os genes estejam envolvidos em todos os níveis do funcionamento cerebral, eles oferecem um potencial de desenvolvimento que só pode ser concretizado em conjunto com o meio ecológico e social. Embora a predisposição individual para ser afetado pela experiência seja variável, é a interação entre o potencial genético e as condições do crescimento que determinam a personalidade. Exceção feita a raras patologias, os genes não produzem indivíduos necessariamente predispostos à violência. Tampouco determinam o oposto. Embora os genes estejam co-envolvidos no estabelecimento de nossas capacidades comportamentais, eles não determinam o resultado por si sós.

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Declaração de Sevilha sobre a Violência (1986)

É CIENTIFICAMENTE INCORRETO dizer que no curso da evolução humana houve uma seleção de comportamentos agressivos mais do que de outros tipos de comportamento. Em todas as espécies que foram bem estudadas, o status dentro do grupo é atingido pela habilidade de cooperar e preencher certas funções sociais relevantes à estrutura daquele grupo. A “dominância” envolve laços e afiliações sociais, não sendo meramente uma questão de possuir e usar maior força física, embora envolva comportamentos agressivos. Em casos onde a seleção genética de comportamentos agressivos foi instituída artificialmente em animais, conseguiu-se produzir rapidamente espécimes hiper-agressivos, o que demonstra que em condições naturais a agressividade não foi prioritariamente selecionada, visto que não produziu o mesmo efeito. Quando estes animais hiper-agressivos produzidos em laboratório são introduzidos no grupo social, eles desagregam a estrutura social, ou então são expulsos. A violência não está em nosso legado evolutivo, nem em nossos genes.

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Declaração de Sevilha sobre a Violência (1986)

É CIENTIFICAMENTE INCORRETO dizer que os humanos têm um “cérebro violento”. Embora tenhamos o aparato nervoso para agir violentamente, esta reação não é automaticamente ativada por estímulos internos ou externos. Como os primatas superiores, e diferente de outros animais, nossos processos neurais superiores filtram tais estímulos antes que possamos agir em resposta. A forma como agimos é determinada pelo modo como fomos condicionados e socializados. Não há nada em nossa neurofisiologia que nos obrigue a reagir violentamente. É CIENTIFICAMENTE INCORRETO dizer que a guerra é causada por “instintos” ou por qualquer motivação isolada. O surgimento da guerra moderna foi uma história que nos levou da supremacia de fatores emocionais e motivacionais, por vezes chamados “instintos”, até a supremacia de fatores cognitivos. A guerra moderna envolve o uso institucional de características pessoais como a obediência, a sugestionabilidade, o idealismo, habilidades sociais como a linguagem, o uso de raciocínios como o cálculo de custos, planejamento e processamento de informações.

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Declaração de Sevilha sobre a Violência (1986)

A tecnologia da guerra moderna vem exacerbando tendências relacionadas à violência, tanto no treinamento de combatentes em si como também na preparação de apoio à guerra por parte da população em geral. Como resultado dessa exacerbação, tais tendências muitas vezes são tidas erroneamente como causas ao invés de consequências do processo. Concluímos que a biologia não condena a humanidade à guerra, e que a humanidade pode ser libertada da opressão do pessimismo biológico e empoderada com confiança para realizar as transformações necessárias nesse Ano Internacional da Paz e nos anos que se seguirão. Embora essas tarefas sejam principalmente institucionais e coletivas, dependem também da consciência individual dos participantes, para quem pessimismo ou otimismo são fatores cruciais. Assim como “as guerras começam na mente dos homens”, a paz também começa na nossa mente. A mesma espécie que inventou a guerra é capaz de inventar a paz. A responsabilidade é de cada um de nós.

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Programa de Paz

Ajudar na construção de uma nova visão de paz, desenvolvendo

uma cultura de paz baseada nos valores universais de respeito à

vida, liberdade, justiça, solidariedade, tolerância, direitos humanos e

igualdade entre mulheres e homens;

Aumentar a consciência do destino comum de toda a humanidade

para fomentar a implementação de políticas comuns que

assegurem justiça nas relações entre seres humanos e uma

parceria harmoniosa entre humanidade e natureza;

Incluir elementos de paz e direitos humanos como características

permanentes de todos os programas educacionais;

Encorajar ações coordenadas em nível internacional para gerenciar

e proteger o meio-ambiente e assegurar que as atividades

praticadas sob a autoridade ou o controle de um Estado em

particular não comprometam a qualidade ambiental de outros

Estados nem causem dano à biosfera.

Declaração sobre Paz na Mente dos Homens

Yamoussoukro – África (1989)

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XI – Conclusões Gerais

a) O objetivo de uma cultura de paz é assegurar que os conflitos inerentes ao

relacionamento humano sejam resolvidos de forma não-violenta, com base

nos valores tradicionais de paz, incluindo-se a justiça, liberdade, equidade,

solidariedade, tolerância e respeito pela dignidade humana.

b) A paz e os direitos humanos são indivisíveis e dizem respeito a todos. Um

princípio norteador da paz é que os direitos humanos devem ser

respeitados e garantidos – não só os direitos civis e políticos, mas também

os direitos econômicos, sociais e culturais.

e) A implementação de uma cultura de paz requer uma mobilização universal

de todos os meios de comunicação e educação, formais e informais. Todas

as pessoas deveriam ser educadas nos valores básicos da cultura de paz.

Este deve ser um esforço conjunto que inclui cada uma e todas as pessoas

da sociedade.

f) Uma cultura de paz requer aprendizado e uso de novas técnicas para o

gerenciamento e resolução pacífica de conflitos. As pessoas devem

aprender como encarar os conflitos sem recorrer à violência ou dominação

e dentro de um quadro de respeito mútuo e diálogo permanente.

Fórum Internacional sobre a Cultura de Paz

São Salvador, El Salvador (1994)

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Quatro pontos principais desenvolvidos pelo documento:

1. O desarmamento e a segurança humana;

2. A prevenção, resolução e transformação de conflitos

violentos;

3. O direito e as instituições internacionais nos âmbitos

humanitário e de direitos humanos;

4. As causas principais da guerra / a cultura de paz.

Conferência de Apelo de Haia pela Paz

(1999)

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Seis passos para promover mudanças sociais

não-violentas

Estes seis passos para promover mudanças sociais não-violentas foram

baseados numa carta escrita por Martin Luther King na prisão de

Birmingham, e espelham os princípios da não-violência como concebida

por Mahatma Gandhi. A adaptação foi feita por Liliane Kshensky Baxter,

do Gandhi/King Center de Atlanta, Geórgia.

1 – Colher informações – Para compreender e articular uma pendência,

problema ou injustiça enfrentados por uma pessoa, comunidade ou

instituição, é preciso fazer pesquisa. Investigue e junte informações

relevantes sobre todos os lados envolvidos na questão para ampliar sua

compreensão do problema. Você deve se tornar um especialista na

posição de seu oponente. Algumas dentre as muitas fontes onde você

pode colher informações são: jornais e revistas, televisão, rádio e

bibliotecas públicas. Muitas organizações contam com especialistas em

algum aspecto da questão que você está tratando, e podem oferecer

informações através de seus sites na Internet.

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Seis passos para promover mudanças sociais

não-violentas

2 – Educar – É fundamental informar os outros sobre a questão, inclusive

sobre sua oposição. Isto minimiza os mau-entendidos e conquista

simpatia e apoio. Pode-se escrever artigos para jornais e revistas, ou

aparecer em entrevistas de rádio e TV. Pode-se promover seminários,

workshops e montar grupos e parcerias com outros grupos em torno do

seu objetivo. Pode-se organizar manifestações populares. Vale ainda

escrever testemunhos para que pastores, padres e rabinos os incluam em

seus sermões.

3 – Compromisso pessoal – Verifique e reafirme diariamente sua fé na

filosofia e métodos da não-violência. Elimine motivações ocultas e

prepare-se, se necessário, para aceitar o sofrimento que seu trabalho

pela justiça possa vir a causar-lhe.

4 – Discussão/Negociação – Usando graça, humor e inteligência,

confronte a outra parte com uma lista de injustiças e um plano para

enfrentar e resolver estas injustiças. Procure o lado positivo em todas as

ações e declarações de seu oponente. Não procure humilhar o oponente,

mas sim valorizar o bem que encontrar nele. Procure formas pelas quais

o oponente também poderá ganhar.

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Seis passos para promover mudanças sociais

não-violentas

5 - Ação direta – Estas são medidas para adotar quando o oponente não

está disposto a entrar ou perseverar na negociação ou diálogo. São

ações que emprestam “tensão criativa” ao conflito, impondo pressão

moral sobre o oponente para que ele trabalhe com você no sentido de

resolver o conflito. Há centenas de táticas de ação direta diferentes,

incluindo passeatas, boicotes, manifestações públicas, campanhas de

cartas, abaixo-assinados, retirada de apoio financeiro, e retirada de apoio

político através do voto.

6 – Reconciliação – A não-violência busca amizade e entendimento com

o oponente. Nela não se busca a derrota do oponente. A não-violência se

destina à luta contra sistemas ou forças negativas, políticas opressivas,

atos injustos, mas não contra pessoas. Parte da reconciliação é permitir

que o oponente conserve sua dignidade. Através de concessões mútuas

razoáveis, os dois lados resolvem o problema propondo um plano de

ação. Cada ato de reconciliação é um passo a mais na direção de uma

Comunidade Solidária. Não só se empodera os indivíduos, mas também

a comunidade como um todo. Daí advém novos esforços pela justiça e

por um recomeço.

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Campanha lançada por advogados norte-americanos da

ONG “Families Against Violence Advocacy Network”

e do “Institute for Peace & Justice”

A paz deve começar dentro de nós e na nossa família. Cada um de nós

se empenhará o melhor possível em se tornar uma pessoa não-violenta e

pacífica.

Respeitar a si mesmo e aos outros

- Respeitar a mim mesmo, oferecer afirmação aos outros e evitar críticas

descuidadas, palavras agressivas, ataques físicos e comportamento auto-

destrutivo.

Comunicar melhor

- Partilhar meus sentimentos honestamente, procurar formas seguras de

manifestar minha raiva e trabalhar para resolver os problemas

pacificamente.

Ouvir

- Ouvir cuidadosamente uns aos outros, e especialmente aqueles que

discordam de mim. Levar os sentimentos e necessidades dos outros em

conta, em vez de insistir em ter tudo somente ao meu modo.

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Campanha lançada por advogados norte-americanos da

ONG “Families Against Violence Advocacy Network”

e do “Institute for Peace & Justice”

Perdoar

- Pedir desculpas e consertar a situação quando eu magoar alguém.

Perdoar os outros e não guardar ressentimento.

Respeitar a natureza

- Tratar o meio ambiente e todos os seres vivos, inclusive nossos animais

de estimação, com respeito e carinho.

Brincar Criativamente

- Escolher entretenimento e brinquedos que reforçam os valores

escolhidos pela nossa família, e evitar entretenimento que faça a

violência parecer algo excitante, divertido ou aceitável.

Ser Corajoso

- Resistir à violência em todas as suas formas, sempre que confrontados

com ela, seja em casa, na escola, no trabalho ou na comunidade, e ficar

do lado de quem está sendo tratado injustamente.

Estes são nossos propósitos, nossos objetivos. Nós nos reuniremos uma

vez por mês para avaliar nosso progresso e apoiarmo-nos mutuamente

no processo de nos tornarmos pessoas mais pacíficas.

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A Pedra e o Homem

Antonio Pereira

O distraído, nela tropeçou,

O bruto a usou como projétil,

O empreendedor, usando-a construiu,

O campônio, cansado da lida, dela fez

assento.

Para os meninos foi brinquedo,

Drummond a poetizou,

Davi matou Golias...

Michelangelo tirou dela uma obra de arte.

Em todos os casos, a diferença não era a

pedra mas o homem.