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HORA DO VOTO Com as novas restrições da lei eleitoral, a televisão se torna o principal campo de batalha das campanhas DESIGUALDADE Comissão Internacional discute as causas da sua redução e ajuda a fazer documento com diretrizes para avançar ainda mais TESOURO NO LIXO Aterro sanitário em São Paulo fatura cerca de 700 mil reais por mês com a geração de eletricidade Agosto de 2006 • Ano 3 • nº 25 www.desafios.org.br do desenvolvimento desafios Agosto de 2006 • Ano 3 • nº 25 desafios R$ 8,90 Construindo o país Ipea lança segunda edição do livro Brasil: O Estado de uma Nação e traça perfil dos problemas nacionais em setores como o mercado de trabalho, o mais poderoso instrumento de inclusão social

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HORA DO VOTOCom as novas restrições da lei eleitoral, a televisão se torna o principal campo de batalha das campanhas

DESIGUALDADEComissão Internacional discute as causas da sua redução e ajuda a fazer documentocom diretrizes para avançar ainda mais

TESOURO NO LIXOAterro sanitário em São Paulo fatura cerca de 700 mil reais pormês com a geração de eletricidade

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Construindoo paísIpea lança segunda edição do livro Brasil: O Estado de uma Naçãoe traça perf il dos problemas nacionais em setores como o mercadode trabalho, o mais poderoso instrumento de inclusão social

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Desaf ios • agosto de 2006 3

Guilherme CanelaAs tecnologias sociais e a imprensa

Luciana AciolyInvestimento Direto Externo na Índia

Fabio Veras SoaresTransferências condicionadas de renda

desafiosdo desenvolvimento

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Entrevista Achim SteinerEm nome do planeta

Livro do Ano TrabalhoPara entender o Brasil

Livro do Ano MacroeconomiaCom inflação não se brinca

Livro do Ano DemografiaAs mudanças na população

Livro do Ano EducaçãoSem educação não há solução

Livro do Ano PrevidênciaSegurança para quem precisa

Investimento A força que vem de foraO que o Brasil precisa fazer para atrair o dinheiro das grandes transnacionais

Políticas Sociais Para vencer a injustiçaComissão internacional discute as causas da redução da desigualdade

Sociedade Tele-eleiçãoComo os meios de comunicação influenciam a decisão do voto

Melhores Práticas A natureza agradeceAterro sanitário assina megacontrato de venda de créditos de carbono

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Sumário

Artigos Giro

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6 Desafios • agosto de 2006

desafiosdo desenvolvimento

A partir do dia 15 de agosto, os brasileiros passarão a conviverdiariamente com o programa eleitoral gratuito, o mais abrangente e poderoso canal de comunicação dos candidatos com a população.Na medida em que a nova lei eleitoral restringiu os showmícios, oscartazes de rua e a distribuição de brindes, a televisão e o rádioganharam ainda mais importância. A terceira reportagem da sériesobre o amadurecimento da democracia trata exatamente dainfluência dos meios de comunicação sobre a decisão do eleitor.Até que ponto os candidatos fazem bom uso dessa ferramenta? A matéria “Tele-eleição” avalia a qualidade da informação quedeveria ajudar o cidadão a fazer escolhas diante da urna. Por falar em escolhas, a reportagem “A ajuda que vem de fora” fala sobre asdecisões que o Brasil precisa tomar para atrair um volume maior de investimentos externos diretos. Uma pesquisa realizada pelaConferência das Nações Unidas sobre o Comércio e oDesenvolvimento (Unctad, das iniciais em inglês) mostrou quemuitos conglomerados transnacionais planejam investir fora de seu país de origem no ano que vem e essa seria uma ótima ocasiãopara que alguns setores estratégicos da economia nacional captemnovos recursos, aumentem a capacidade de produção e gerem maisempregos. Aliás, a abertura de novos postos de trabalho é uma dasprincipais armas no combate à desigualdade, conforme conclusãoapresentada em um documento elaborado pelo Instituto dePesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com a ajuda de uma ComissãoInternacional de Alto Nível, composta de especialistas, professores eeconomistas, entre outros. Esse grupo se reuniu para analisar ascausas da redução da desigualdade no Brasil e constatou que osprogramas de transferência de renda foram fundamentais, masprecisam ser acompanhados de políticas de longo prazo, tais comomelhoria da educação, e ampliação do número e da qualidade dosempregos. Mercado de trabalho, informalidade e desempregotambém são os temas principais da segunda edição do livro Brasil:O Estado de uma Nação, lançado neste mês pelo Ipea. Ele traça umamplo retrato dos principais problemas nacionais, tendo como fiocondutor a situação do mercado de trabalho. Este número deDesafios traz pequenas amostras do que é o livro e do conteúdo dosprincipais capítulos. O tema é fundamental; afinal, como já cantavao compositor Fagner, sem o seu trabalho, um homem não temhonra. Boa leitura!

Andréa Wolffenbüttel, Editora-Chefe

Cartas ou mensagens eletrônicas devem ser enviadas para: cartas@desaf ios.org.brDiretoria de redação: SBS Quadra 01, Edifício BNDES, sala 801 - CEP 70076-900 - Brasília, DFVisite nosso endereço na internet: www.desaf ios.org.br

Carta ao leitorwww.desafios.org.brInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)PRESIDENTE Luiz Henrique Proença Soares

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud)REPRESENTANTE INTERINO NO BRASIL Lucien Muñoz

DIRETOR-GERAL Luiz Henrique Proença Soares

ASSISTENTE Mary Cheng

CONSELHO EDITORIAL Andréa Wolffenbüttel, Bruno Araújo, Divonzir Gusso,Glauco Arbix, João Carlos Magalhães, Karla P. Correa, Leonardo Rangel,Lucien Muñoz, Luiz Fernando L. Resende, Luiz Henrique P. Soares,Mary Cheng, Murilo Lobo, Pérsio Davison, Renato Villela

RedaçãoEDITORA-CHEFE Andréa Wolffenbüttel

EDITOR Ottoni Fernandes Jr.

EDITORAS ASSISTENTES Lia Vasconcelos e Marina Nery

REPÓRTER Manoel Schlindwein

COLABORADORES Eliana Simonetti (redação),Samuel Iavelberg (fotografia), Ivana Gomes (revisão),

PROJETO GRÁFICO E DIREÇÃO DE ARTE Renata Buono

DIRETORA ADJUNTA DE ARTE Rafaela Ranzani

ASSISTENTE DE ARTE Júlia Freitas Elias

FOTO DA CAPA Sérgio Ranalli/SambaPhoto

PublicidadeDIRETORA Bia Toledo • [email protected]

REPRESENTANTES

BAHIA E SERGIPE Canal C ComunicaçãoTel. ( 71) 358-7010, (71) 9988-4211• e-mail: [email protected]ÍRITO SANTO • Mac Marketing e Assessoria de ComunicaçãoTelefax (27) 3229-2579 • e-mail: [email protected]

Circulação GERENTE Flávia Cangussu • [email protected]

AtendimentoPaula Galícia (coordenadora) • [email protected]

RedaçãoSBS Quadra 01, Edifício BNDES, sala 801 - CEP 70076-900 - Brasília, DFTel.: (61) 315-5188 Fax: (61) 315-5031

Circulação e PublicidadeRua Urussuí, 93, 13° andar, CEP 04542-050 - São Paulo, SPTel./Fax: (11) 3073-0722

Administração Instituto UniempAv. Paulista, 2198, conjunto 161 – CEP 01310-300 - São Paulo, SPTel.: (11) 2178-0466 Fax: (11) 3283-3386

Assinaturas TeletargetTel.: (11) 3038-1479 Fax: (11) 3038-1415 • [email protected]

Atendimento ao Jornaleiro LM&X - Tel.: (11) 3865-4949

Impressão Globo-Cochrane Gráfica e Editora

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Instituto de Pesquisa Econômica AplicadaMinistério do Planejamento, Orçamento e Gestão

Programa das Nações Unidas para o DesenvolvimentoOrganização das Nações Unidas

OS ARTIGOS E REPORTAGENS ASSINADOS NÃO EXPRESSAM, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO IPEA E D OPNUD.É NECESSÁRIA A AUTORIZAÇÃO DOS EDITORES PARA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DO CONTEÚDO DA REVISTA.

JORNALISTA RESPONSÁVEL • Andréa Wolffenbüttel

Patrocínio

Carta+expediente 02/08/06 15:31 Page 6

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8 Desafios • agosto de 2006

GIRO

O setor brasileiro de serviçosgera 16 milhões de empregos e écomposto de 45 mil empresas.Exporta desde programas decomputador até obras de enge-nharia e análises de consultoria–são 155 áreas no total. Sem falarnas companhias que vão a re-boque, para completar pacotes deencomendas. O peso desse com-plexo na balança comercial nun-ca foi devidamente calculado. Ogoverno trabalha com dados se-gundo os quais as exportações,noano passado, somaram 15 bilhõesde dólares – 29,8% mais que em2004. Mas, como há muito movi-mento que perfila em rubricas co-

mo investimentos ou remessas dedividendos, os indicadores estãosubestimados. Pelo menos novesegmentos (entre eles construçãocivil, publicidade e viagens) sãosuperavitários na troca com o ex-terior. Passes de atletas e serviçosmédicos, por exemplo, devem seracompanhados mais de perto.Para isso, o Ministério do Desen-volvimento,Indústria e ComércioExterior criou um sistema de me-dição do comércio de serviços(Siscoserv) semelhante ao queexiste para mensurar o de bens(Siscomex). Os dados deverão serdivulgados a cada dois meses, apartir de setembro.

Investigação

Cooperação

De pires na mão

A Organização das NaçõesUnidas (ONU) anda preocupa-da com a queda nas doações apaíses pobres desde o início dosanos 1990. As contribuiçõescombinadas no bojo dos Obje-tivos do Milênio, para a reduçãoda pobreza extrema e de outrasmazelas do planeta até 2015, es-tão em 106 bilhões de dólares –menos que os 150 bilhões proje-tados.“Essa tendência tem de serrevertida”, afirmou Kofi Annan,secretário-geral da ONU, emmeados de julho. E pediu que se-ja permitido, a cada país, imple-mentar programas conformesuas necessidades.

Exportação

Serviços sob medida

Pesquisa Andréa Wolffenbüttel Texto Eliana Simonetti

Crime e castigoO Brasil foi destaque na 9ª

Conferência de Crimes Trans-nacionais, da International BarAssociation (IBA), que congre-ga mais de 30 mil advogados detodo o mundo, em meados dejunho na Espanha. O desvio, en-tre 1995 e 1997, de 190 milhõesde dólares de uma agência doBanco Noroeste, liberados a pe-dido de nigerianos travestidosde altos funcionários do BancoCentral da Nigéria, para finan-ciar a construção de um aero-porto, foi o principal exemplo desucesso de cooperação interna-cional na caça a criminosos. Jáforam bloqueados ou recupera-dos cerca de 90 milhões dedólares. A história é narrada nolivro Lavagem de Dinheiro e Re-cuperação de Ativos: Brasil, Ni-géria, Reino Unido e Suíça, orga-nizado por Maíra Rocha Ma-chado e Domingos FernandoRefinetti, da Fundação GetulioVargas (FGV).

Trabalho infantil

Um mau negócio

O Estatuto da Criança e doAdolescente permite que jovenscom idade entre 14 e 16 anosexerçam atividades profissionaiscomo aprendizes e determina aidade mínima de 16 anos para otrabalho. Isso não vem sendoobedecido. Entre crianças e ado-lescentes de 7 a 15 anos, 8,1% es-tudam e trabalham, segundo aPesquisa Nacional por Amostrade Domicílios (Pnad) de 2003,doInstituto Brasileiro de Geografiae Estatística (IBGE). O econo-mista Márcio Eduardo Bezerra,do Departamento de Economia,Administração e Sociologia daEscola Superior de AgriculturaLuiz de Queiroz (Esalq), da Uni-versidade de São Paulo (USP),montou uma fórmula para mediros efeitos da dupla jornada.Apli-cou a equação aos resultados detestes de língua portuguesa e dematemática do Sistema Nacionalde Avaliação da Educação Básica(Saeb), que também analisa a si-tuação socioeconômica das famí-lias e traz dados sobre trabalhoinfantil. Conclusões: os estudan-tes que trabalham em casa sofremmenos; os que exercem atividadesremuneradas fora de casa pormais de duas horas têm notaspiores; e as perdas são mais signi-ficativas entre os que pegam nobatente mais de sete horas pordia, em qualquer ambiente.

sxc.hu

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Maternidade

Desenvolvimentoinfantil

O índice de responsabilidadesocial das empresas, criado peloFundo das Nações Unidas para aInfância (Unicef), ganhou umnovo componente. É o Índice deDesenvolvimento Infantil Em-presarial (IDI-E),com indicado-res sobre cuidados pré-natais,acesso a programas de aleitamen-to materno e educação infantil.Segundo o Unicef, entre 1999 e2004 houve importante melhoriano Brasil, mas a taxa de matrícu-la na pré-escola ainda é pequena.Agora,as empresas fornecerão in-formações sobre funcionárioscom filhos menores de 5 anos emcreches e pré-escolas, e sobre aidentificação e o apoio a mulherescom depressão pós-parto.Assim,será possível monitorar o respeitoao Estatuto da Criança e do Ado-lescente pelas companhias.

No exterior Exploração eprodução

Refino,transporte e vendas

Gás e energia

Petroquímica Distribuição Investimento corporativo

Meio ambiente

Será que vai vingar?

Há pouco mais de um mês, ogoverno de São Paulo regulamen-tou a lei que estabelece a reservalegal nos imóveis rurais. Os pro-prietários deverão destinar à pre-servação ambiental, no mínimo,20% dos seus terrenos. Os defen-sores da medida, prevista no Có-digo Florestal de 1965, entre elespesquisadores da Empresa Bra-sileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa), acreditam que a co-bertura vegetal em São Paulopode aumentar de três a sete ve-

zes. As reservas ajudarão a me-lhorar a produtividade, pois ser-virão de barreira ao deslocamen-to de pragas e de abrigo a seus in-imigos naturais.As áreas de pre-servação facilitarão, ainda, a in-filtração das águas da chuva, re-duzindo os efeitos das secas.Ainda assim, espera-se forte rea-ção dos produtores agropecuá-rios, sobretudo nas regiões ondeo hectare de terra fértil é um dosmais caros do país. Resta aguar-dar que a norma vingue.

Investimentos de US$ 87,1 bi de 2007 a 2011,

66% acima dos US$ 52,4 bi

previstos de 2006 a 2010

Fonte: Petrobras

US

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9,3

bilh

ões

Desaf ios • agosto de 2006 9

A Petrobras,maior empresa doBrasil, aparece em 51º lugar nalista das maiores do mundo da re-vista Forbes, antes de muitos no-mes famosos. Em julho, ao divul-gar seu Plano de Negócios para operíodo de 2007 a 2011, ela con-firmou seu poder de fogo: deve in-

vestir, ao longo dos cinco anos,quase 190 bilhões reais. Isso cor-responde a um desembolso anualde 37 bilhões de reais,quantia queequivale a quase o dobro dos in-vestimentos previstos para esteano pelo governo federal, na casados 19 bilhões de reais.

Favelas

Relativamentemenores

Atualmente,quase 1 bilhão depessoas – um sexto da populaçãomundial – vivem em favelas. NoBrasil,são 28% dos habitantes.Oíndice é alto,mas a taxa de cresci-mento tem sido estável, à médiade 0,34% ao ano.Assim, emboramais numerosos, os moradoresde favelas tendem a ter peso me-nor nas estatísticas do país.A pre-visão é de que, em 2020, eles se-jam 25% da população.As infor-mações constam de um relatóriosobre centros urbanos, da Orga-nização das Nações Unidas, queleva em conta cálculos feitos peloInstituto Brasileiro de Geografiae Estatística (IBGE).

Turismo

Lar, doce lar

Campanhas como Viva o Bra-sil, do Ministério do Turismo,parecem estar surtindo efeito. OInstituto Brasileiro de Turismo(Embratur) apurou que mais de53% dos brasileiros preferempassear no país a viajar ao exte-rior, apesar do real valorizado.Estrangeiros chegam o ano in-teiro. No primeiro trimestre, oshotéis registraram taxa de ocu-pação 5,3% superior à de 2005– e o faturamento deve superaros 2,2 bilhões de reais do anopassado. O balanço foi divulga-do em festa, como era de espe-rar. pelo Fórum de OperadoresHoteleiros do Brasil (Fohb).

Emigração

Onde estão osbrasileiros?

Até meados dos anos 1980, oBrasil era conhecido como gran-de receptor de estrangeiros.Des-de então, o fluxo mudou de mão.Segundo estimativas do Minis-tério das Relações Exteriores, 1,9milhão de brasileiros vivem hojefora do país: 40% nos EstadosUnidos, 19% no Paraguai, 18%da União Européia e 14% no Ja-pão.Os 9% restantes estão em lo-cais como Suriname e GuianaFrancesa. Jovens de classe médiacompõem a maior parte dos emi-grantes. No Brasil, grande partedeles eram professores, bancá-rios,estudantes e profissionais denível superior. No exterior, mui-tos fazem limpeza em casas e es-critórios,lavam pratos em restau-rantes e trabalham na construçãocivil. Um desperdício de compe-tências e talentos que fazem faltaao país. O fenômeno começa acausar preocupação.

Investimentos

O poder da Petrobras

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10 Desafios • agosto de 2006

Há no mundo ce rca de 1 ,7 m i l impor tan tes á reas de pesca em ENTREVISTA

economista alemão Achim Steiner é o quinto diretor-geral do Programadas Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Durante os próxi-mos quatro anos, comandará uma das mais poderosas instituições de

preservação ambiental – e promete lutar com todas as forças para acabar com omito de que crescimento econômico não rima com conservação da natureza.Nesta entrevista, concedida por telefone desde Nairóbi, Steiner explica por que étão importante promover a sustentabilidade imediatamente e alerta: os princi-pais prejudicados pelo mau uso dos recursos naturais são os pobres.

P o r A n d r é a W o l f f e n b ü t t e l , d e S ã o P a u l o

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Em nome do planeta

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tal. É preciso mudar a percepção da re-lação entre desenvolvimento econômi-co e natureza.A análise do custo/ bene-fício tem de considerar não apenas ouso das fontes, mas também o investi-mento em sua sustentabilidade. Se nãofor assim, jamais haverá sucesso nasmudanças das políticas de desenvolvi-mento e investimento público.

Desaf ios – O senhor realmente acredita que

é possível conciliar desenvolvimento econômico

com proteção ambiental?

Steiner – Com certeza. Nós, comoseres humanos, e tendo acesso às op-ções econômicas, estamos sempre emcondições de mudar a forma comoencaramos os recursos do planeta.Muitos já estão fazendo isso. Temosexemplos de países que criaram inves-timentos alternativos no meio am-biente e, com isso, oportunidadesreais de crescimento. Por exemplo,muitos países transformaram o turis-mo numa indústria importante com aimplantação de sistemas de parquesnacionais. A Alemanha desenvolveutantas fábricas no campo da tecnolo-gia do meio ambiente que, hoje, 5%dos produtos exportados pelo paíssão relacionados a essa atividade. Oponto-chave é decidir se considera-mos as fontes naturais como gratuitas– e, conseqüentemente, não tendo umpreço a ser pago no futuro – ou se va-mos internalizar o custo do geren-ciamento sustentável, baseado nos be-nefícios a serem aproveitados em tem-pos vindouros.

Desaf ios – O último relatório publicado pelo

Pnuma, a respeito da África, af irma que a cor-

reta exploração dos recursos naturais pode

tirar o continente de seu estado de pobreza.

Como isso funcionaria?

Steiner – Bem, há dois pontosimportantes nessa questão, que tam-bém dizem respeito ao Brasil. As co-munidades pobres dependem maisdiretamente dos recursos naturais do

a l to -mar. De l a s , 1 , 4 m i l j á e s t ão no n í ve l máx imo de exp l o ração ou ac ima de l e

Desaf ios – Atualmente, quais são as maiores

ameaças ao meio ambiente?

Steiner – Eu considero que existemtrês ameaças principais. Seguramenteas mudanças climáticas representamum grande problema, especialmenteporque ainda não conseguimos en-tender por completo suas causas e,portanto, não conhecemos exatamen-te quais as conseqüências. Não temosrespostas claras para muitas pergun-tas que fazemos. Então, temos de prio-rizar a compreensão do fenômeno ecomo controlá-lo.

Desaf ios – E as outras?

Steiner – O segundo maior proble-ma a ser enfrentado é a falta de sus-tentabilidade das fontes naturais doplaneta, como florestas, áreas de pesca,uso da água. Em muitas partes domundo atingimos um ponto em que oconsumo está prestes a esgotá-las. Isso,é claro, reduz muito a possibilidade deque elas existam no futuro.

Desaf ios – Em que lugares as coisas já atin-

giram esse ponto?

Steiner – Bem, por exemplo, na per-da florestal. Em muitas partes domundo estamos acabando com flo-restas num ritmo muito maior do quenossa capacidade de replantá-las. NaAmérica Latina, na Ásia, em todos oscontinentes, esse é um problemamuito sério. Um segundo caso gravís-simo é a pesca. No mundo, temos cer-ca de 1,7 mil importantes áreas de pes-ca em alto-mar. Dessas, 1,4 mil já es-tão no nível máximo de exploração ouacima dele. Isso significa que a maio-ria das áreas de pesca está em situaçãode consumo não sustentável.

Desaf ios – Qual é a terceira ameaça?

Steiner – O último e maior desafioestá no fato de que a política de desen-volvimento e os instrumentos econô-micos não são adequados para lidarcom o custo/benefício do uso ambien-

O atual diretor-geral do Programa das Na-ções Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) temnacionalidade brasileira, pois nasceu em Ca-razinho, no Rio Grande do Sul, há 45 anos. Masesse é apenas um detalhe exótico em sua bio-grafia, já que Achim Steiner deixou o país aos10 anos de idade, nunca mais voltou à cidadenatal nem se sente à vontade conversando emportuguês.Seu pai era um experiente agrônomoalemão e veio ao Brasil a convite de produtoresde cereais que queriam aprimorar a qualidadedo grão fornecido às duas mais famosas cerve-jarias nacionais: Brahma e Antarctica. Ter-minado o trabalho,ele e sua família retornaramà Alemanha, onde o jovem Steiner viveu, estu-dou e viu nascer o interesse pela natureza. Aviagem de volta para a Europa foi apenas aprimeira mudança na vida do economista, quejá morou em quatro continentes. Primeiro es-teve na Inglaterra, onde completou seus estu-dos sobre desenvolvimento internacional epolítica ambiental na Universidade de Oxford ena Universidade de Londres.Também foi alunodo Instituto Alemão de Desenvolvimento, emBerlim e da Escola de Administração de Em-presas de Harvard, nos Estados Unidos. Esteveno Sudeste Asiático como consultor técnico deum programa de manejo sustentável da baciado rio Mekong,que cruza diversos países, entreeles Tibet, Tailândia e Vietnã. Em 1998, foinomeado secretário-geral da Comissão Mundialde Represas (World Comission on Dams), cujamatriz fica na África do Sul e que tem a tarefade avaliar o impacto sobre o meio ambienteprovocado pela construção de barragens.Antesde ser escolhido para comandar o Pnuma,Steiner foi diretor-geral, por cinco anos, daUnião Mundial para a Conservação da Natureza(IUCN, das iniciais em inglês), sediada emZurique, na Suíça.Ao ser aclamado, em marçopassado, diretor-geral do Pnuma, Steiner semudou novamente, desta vez para Nairóbi, ca-pital do Quênia, no coração da África, onde es-tá instalado o seu escritório e de onde coman-da uma força-tarefa cuja missão é simples-mente salvar o planeta.

Um ecologistanômade

Desaf ios • agosto de 2006 11

ENTREVISTA2 02/08/06 15:36 Page 11

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12 Desafios • agosto de 2006

na América Latina. E é algo que os go-vernos têm de levar em consideração.O principal desafio é promover o de-senvolvimento por meio da intensifi-cação da agricultura, sem colocar emrisco o meio ambiente. Num país co-mo o Brasil, essa é uma questão muitointeressante, pois a agricultura mo-derna e de alta tecnologia convivecom a produção rural de pequena es-cala. Diante desse quadro, o acesso àterra e à agricultura produtiva é umproblema importante e complexo.Tam-bém é assim em outros países latino-americanos. Para estabelecer condi-ções políticas de desenvolvimentoeconômico, os governos terão de en-frentar a tarefa de promover o uso do

solo, das terras férteis e das fontes deágua de modo a priorizar o combate àpobreza. Essas escolhas aparecemtambém em outros setores, como nocampo da energia. Em muitos paísesda América Lática, a eletricidade atin-ge preços absurdos, o que provocaperda de produtividade e pressãopara exploração das fontes de energiadisponíveis. O investimento em hi-drelétricas tem sido fundamental, e oBrasil soube fazer dele uma de suasestratégias para a geração de energia.Outros países têm na água sua princi-pal fonte de energia, embora não dis-ponham dela com fartura. Nesses ca-sos, a água poderá atingir preços se-melhantes aos da gasolina. Por isso, éimportante enfrentar o desafio ener-gético imediatamente.

Desaf ios – Existe a tendência de que, no fu-

turo, alguns países paguem para que os outros

conservem o meio ambiente?

Steiner – Essa é uma questão de im-portância vital. O mecanismo de de-senvolvimento limpo no Protocolode Kyoto (acordo internacional que es-tabeleceu o mercado de créditos de car-bono) gerou uma iniciativa comple-tamente nova (leia reportagem na pág.

54). Aumentou não apenas a força domercado, mas também a capacidadede transferência de recursos, dos maisricos para os menos desenvolvidosdispostos a dar prioridade à conser-vação do meio ambiente. Esse é umcaso – e acho que no futuro veremoscada vez mais exemplos – em que omercado internacional força as na-ções desenvolvidas a pagar por bene-fícios que extraem do meio ambientemundial.

Desaf ios – Iniciativas assim podem garantir

a sustentabilidade do planeta?

Steiner – Eu acho que ajudam muito,mas temos de avançar mais. Por exem-plo,os resultados da ECO-92,realizadano Rio de Janeiro, foram uma dasmaiores desilusões da última década.Naquela ocasião, a comunidade inter-nacional fechou um acordo. Muitospaíses desenvolvidos prometeram con-tribuições financeiras para incentivar aproteção ambiental, tão relevante parao planeta. Mas não têm cumprido apromessa, o que é decepcionante paraos países em desenvolvimento. Alémdo mais, o mundo industrializado nãodeve apenas ajudar financeiramente,mas também possibilitar maior acessoà tecnologia e oferecer oportunidadesde transferência de tecnologia.Todo es-se complexo compõe a solidariedadeao meio ambiente global e o esforço nabusca do desenvolvimento sustentável.

Desaf ios – Apesar dessas frustrações, o se-

nhor enxerga o futuro com otimismo?

Steiner – Com certeza. No atualcontexto de alteração do meio ambi-ente, mudança climática, escassez deágua e destruição de fontes naturais,

que qualquer outro grupo da socieda-de. Então, para combater a pobreza, épreciso investir na produtividade dosolo, da agricultura, das nascentes deágua, das florestas e dos pesqueiros,entre outros. Se esses recursos entra-rem em colapso, se os pobres não pu-derem mais contar com eles, ficarãoainda mais pobres. O segundo pontoafeta o desenvolvimento como um to-do. O crescimento, no cenário micro-econômico do continente africano eem diversos países em desenvolvi-mento, depende muito da exploraçãodos recursos naturais. Assim, o custoda destruição do meio ambiente podeser superior àquele que a economiapode suportar. Há um exemplo recen-te.A China acaba de anunciar o inves-timento no combate à poluição. Serão175 bilhões de dólares nos próximoscinco anos. É muito dinheiro, que estásendo desviado para lidar com o custodo crescimento não sustentável. Nemtodas as economias conseguem arcarcom valores dessa dimensão.

Desaf ios – Mas, especif icamente, que tipo de

atividades a África deveria explorar?

Steiner – Existem diversas atividades,mas, já que você me pede uma, possomencionar a geração de energia. AÁfrica tem grande potencial em energiahidrelétrica e solar. Com investimentosustentável nesses setores, o continentepoderia se especializar e teria umagrande oportunidade de promover ocrescimento econômico. Atualmente, aÁfrica produz apenas 4% da eletrici-dade mundial, o que é muito poucopara uma região com tantas fontes àdisposição. Considere que muitas pes-soas ainda não têm acesso à eletrici-dade na região. Então, investir em ge-ração de energia com fontes próprias éum passo importante.

Desafios – Qual é a situação da América Latina?

Steiner – Bem, não se deve fazer umacomparação direta com a África, maso fenômeno de pessoas pobres de-pendendo da exploração de recursosnaturais certamente também ocorre

“A Alemanha desenvolveu

tantas fábricas no campo

da tecnologia do meio

ambiente que, hoje, essa área

já responde por 5% de

toda a exportação do país”

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Divulgação

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14 Desafios • agosto de 2006

desenvolvimento econômico pagar aconta das implicações ambientais dasdecisões públicas e privadas. E bus-quem maneiras para que essa compen-sação se dê. Creio que o mercado seráobrigado a mudar a postura atual, deuso da natureza como se ela fosse in-findável. Os modos de produção e deconsumo deverão ser alterados, de for-ma a assegurar maior sustentabilidade.Sei que será um período doloroso detransição porque, infelizmente, as mu-danças ambientais que estamos teste-munhando em termos globais têm sidomuito rápidas e nossa resposta excessi-vamente lenta. Hoje, muitas comunida-des já pagam um preço alto pelo atrasona determinação de prioridades de de-senvolvimento sustentável. Mas, comoacredito que, em sua essência, a espéciehumana não quer ser responsável pelaprópria destruição, o otimismo é ple-namente justificável.

Desaf ios – Quais os principais objetivos que

o senhor pretende alcançar à frente do Pnuma?

Steiner – A prioridade máxima estácentrada no contexto das discussões

sobre a reforma da Organização dasNações Unidas (ONU), considerandoseu grande poder de ação no meioambiente. Pretendemos levar todas asunidades da organização a se uniremnuma força de trabalho compacta,agindo com maior eficiência e racio-nalidade, de modo a facilitar a tarefa dacomunidade internacional, com suasconvenções e suas instituições, na pre-servação dos recursos naturais. Em se-gundo lugar, gostaria de colocar todasessas unidades na linha de frente docombate ao mito de que existe contra-dição entre crescimento econômico emeio ambiente, com ajuda aos gover-nos,à sociedade civil e ao setor privado.Não podemos continuar a permitirque, em nome do progresso, seja man-tida a máxima de que o investimentoem meio ambiente reduz o desenvolvi-mento. No século XXI, uma das basespara alcançar o progresso econômicoserá o investimento em sustentabilida-de ambiental. Eu adoraria ver isso sertratado não como hipótese a ser contes-tada, mas como verdade compreendidae aceita por todos.

as pessoas estão cada vez mais exigin-do que seus governos, e também o se-tor privado, encarem os problemas eproponham soluções. A qualidade devida de milhões de pessoas caiu muitonas duas últimas décadas em conse-qüência da poluição e da degradaçãoambiental. As ameaças de mudançasclimáticas estão começando a fazercom que não apenas o público, mastambém os tomadores de decisões e oseconomistas, cientes do enorme custoa enfrentar nos próximos anos, mu-dem a forma de abordar a questão dasustentabilidade. É inevitável que, aolongo dos próximos dez ou vinte anos,todos percebam a necessidade de o

“As comunidades pobres,

na maioria dos países,

dependem mais diretamente

dos recursos naturais

do que qualquer outro

grupo da sociedade”

Divulgação

d

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Desaf ios • agosto de 2006 15

G u i l h e r m e C a n e l aARTIGO

onceito complexo e intrigante é o desen-volvimento.Assim como ocorre com al-guns outros,do mundo social,político eeconômico, não é possível visualizar

uma definição única quando ele está em foco. So-mos compelidos a utilizar qualificadores: fala-mos em desenvolvimento econômico, desenvol-vimento social, desenvolvimento humano, de-senvolvimento local.Cada um desses pares repre-senta uma idéia específica; além de contextos his-tórico, político, econômico e cultural próprios.Define também distintos objetivos a alcançar, di-ferentes formas de mensuração, atividades-meioigualmente diversificadas – isso além de justifi-cativas teóricas que podem se mostrar até mes-mo antagônicas.

Ocorre algo semelhante no universo das tec-nologias.Elementos centrais na condução dos maisvariados modos de produção e de organização davida social,as tecnologias não podem ser pensadassem qualificadores.Desse modo,as tecnologias so-ciais são distintas das convencionais.

Não é mera coincidência a semelhança entre aconstrução dos conceitos de tecnologia e de desen-volvimento.A passagem humana por esse planetaesteve quase sempre atrelada a um poderoso câm-bio tecnológico: Idade da Pedra,Idade dos Metais,invenção da escrita,grandes navegações,máquinaa vapor,bomba nuclear,microchip são alguns doscasos mais sintomáticos.

A decisão de que qualificador atribuir a umatecnologia (limpa ou não, por exemplo) pode sero fiel da balança para alcançarmos uma definiçãode desenvolvimento (sustentável ou de outro tipo).Portanto,é central ficar claro que o contexto políti-co de adoção de uma ou outra estratégia tecnoló-gica importa – e muito – para o modelo de desen-volvimento que se pretende perseguir. O conceitode tecnologias sociais ganha corpo nesse cenário;e tendo em mente, por um lado, as profundas de-sigualdades sociais e, por outro, a pujante criativi-dade da população – que demarcam nações comoa brasileira.

Segundo a recém-criada Rede de TecnologiaSocial, esse tipo de processo “compreende produ-tos,técnicas e/ou metodologias reaplicáveis,desen-

volvidas na interação com a comunidade e que de-vem representar efetivas soluções de transformaçãosocial”. Os parâmetros orientadores da construçãode uma tecnologia social são ainda mais contun-dentes.Sustentabilidade,participação e atribuiçãode poder às comunidades envolvidas,baixo custo,consideração da cultura local, escala – elementosque sinalizam que o caminho trilhado pelo(s)modelo(s) de desenvolvimento adotado(s) peloBrasil nos últimos anos teriam sido outros se fos-sem as tecnologias sociais realmente o centro dapolítica de C&T instituída.

Portanto, alavancar o debate ao redor das tec-nologias sociais é, em grande medida, alimentarampla discussão sobre o modelo de desenvolvi-mento que queremos.A difusão massiva e demo-crática do conhecimento sobre estratégias-mode-lo – algumas hoje bastante divulgadas,como o sorocaseiro, as cisternas do semi-árido, os sistemas demicrocrédito e os procedimentos de economiasolidária – representa a pavimentação de um cami-nho salutar para o desenvolvimento local.

A Agência de Notícias dos Direitos da Infância(Andi), a Fundação Banco do Brasil e a Petrobrasentendem que a imprensa pode desempenhar pa-pel protagônico nesse contexto: agendar a questãode forma crítica e plural,cobrando,dos mais diver-sos atores,políticas com amplitude e profundidade.

Pesquisa realizada por essas três instituições,com cerca de 60 jornais de todo o país, apontouque o debate a respeito do tema ainda é tímido,pa-ra não dizer rarefeito.As associações com o desen-volvimento são escassas e/ou irregulares e não seavança muito para além da cobertura de projetose eventos.

Em breve, essa parceria culminará no lança-mento de um livro que trará uma reflexão sobre astecnologias sociais, com base nas mais variadasmatizes,tendo como fio condutor as redações e asfontes de informação. Fica, então, o convite à re-flexão: que desenvolvimento queremos, quais asferramentas para alcançá-lo e qual o papel da im-prensa nesse debate?

Guilherme Canela é coordenador de relações acadêmicas da Agência de Notícias

dos Direitos da Infância (Andi)

As tecnologias sociais e a imprensa

“A adoção

de uma estratégia

tecnológica importa

para o modelo

de desenvolvimento

que se pretende

perseguir. O conceito

de tecnologias sociais

ganha corpo nesse

cenário, tendo em

mente as profundas

desigualdades e,

por outro lado, a

pujante criatividade

dos brasileiros”

CDivu

lgaç

ão

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LIVRO DO ANO P o r L i a V a s c o n c e l o s , d e B r a s í l i a

Trabalho e

emprego

são os temas

em torno

dos quais g iram

os textos que

compõem a

segunda edição

do livro Brasil: Estado de uma

Nação, publicação

anual do Instituto

de Pesquisa

Econômica

Aplicada, lançada

neste mês.

Para melhor

compreensão das

questões que

envolvem

o debate, são

examinados fatores

macroeconômicos,

geográf icos e

institucionais,

entre outros

Para entender o Brasil

sxc.

hu

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Desaf ios • agosto de 2006 17

Instituto de Pesquisa Econômi-ca Aplicada (Ipea) convidou es-pecialistas de seu quadro de pes-quisadores e de outras institui-

ções para produzir os estudos que com-põem a segunda edição de sua publicaçãoanual, Brasil: Estado de uma Nação, umaanálise das alterações ocorridas no mer-cado de trabalho brasileiro e de suas pers-pectivas futuras. O livro, lançado nestemês, trata também de questões correlatas:macroeconomia, educação, demografia eprevidência, entre outras (leia as reporta-

gens das pág. 22 a 34).“Vários estudiososindicam que a inserção de um país no co-mércio internacional tem reflexos em seumercado de trabalho. O Brasil passou poroutras experiências, como a privatizaçãode empresas estatais e a desregulamenta-ção, que, somadas à abertura econômica,tiveram efeitos significativos nesse univer-so. Daí a escolha do objeto de investigaçãodesta edição”,explica Paulo Tafner, pesqui-sador do Ipea e organizador da publicação.

Atividade No último dia 16 de julho, oInstituto Brasileiro de Geografia e Estatís-tica (IBGE) estimava a população brasi-leira em 186,69 milhões de pessoas. Aseconomicamente ativas, com idade e con-dições de exercer funções remuneradas,foram contabilizadas, na Pesquisa Nacio-nal por Amostra de Domicílios (Pnad) de2004, em cerca de 92 milhões (pouco me-

nos da metade da população total).As queefetivamente trabalhavam somavam 84milhões – e os 12 milhões restantes, em-bora buscassem emprego, estavam debraços cruzados. No universo dos brasi-leiros que conseguiam trabalhar, dois anosatrás, menos de um terço tinha carteira detrabalho assinada e batia ponto em 1,9milhão de empresas.Os demais perfilavamentre os informais – os que, mesmo comatividade remunerada, não participam dossistemas públicos de aposentadoria, se-guro-desemprego e garantia do tempo deserviço; e não contribuem para o sistemade saúde, embora possam usufruí-lo. Ataxa de desemprego era de 9,7%. O cam-peão, no ranking dos empregadores, era osetor de serviços, que concentrava 47% dapopulação ocupada e 59% dos trabalha-dores registrados. O segundo lugar ficavacom a agricultura: 21% da mão-de-obraem atividade, 17,7 milhões de pessoas, dasquais apenas 1,5 milhão tinham registroem carteira.A indústria e o comércio eramresponsáveis, respectivamente, por 19% e17% dos empregos devidamente registra-dos dois anos atrás (veja gráfico abaixo). Osdados anuais da Pnad mostram um pro-gressivo desaquecimento do mercado detrabalho entre 1995 e 1999, seguido de

uma fase de estabilidade (veja gráfico na

pág. 18). Essa é uma visão geral do quadroanalisado, em detalhes, nos capítulos deBrasil: Estado de uma Nação. A preocu-pação fundamental da edição é decifrar ametamorfose ocorrida nos últimos anos,suas razões e conseqüências, e apresentaralternativas para o enfrentamento dosproblemas detectados.

Alterações Algumas mudanças são espe-cialmente marcantes a partir da década de1990. Uma delas diz respeito aos jovenscom idade entre 15 e 24 anos: em 1992,65% deles estavam empregados, a taxacaiu para 60% em 2001 e, desde então,vem se mantendo próxima a esse patamar.“É possível que a exigência crescente dequalificação tenha provocado o adiamen-to do ingresso no mercado de trabalho e oaumento do tempo de freqüência escolarnessa faixa etária”, cogita Lauro Ramos,pesquisador do Ipea e coordenador docapítulo que cuida da questão especifica-mente no Brasil.

Segundo ele, outra alteração significa-tiva ocorreu no campo da informalidade,que existe e se prolifera de uma forma ca-da vez mais rápida. Esse fenômeno éfreqüentemente associado à qualidade

Taxas anuais de crescimento do emprego formal nos setores produtivos (em %)

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Agricultura Comércio Indústria Serviços Total10

8

6

4

2

0

-2

-4

-6

-8

Fonte:Rais/MTE

O

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18 Desafios • agosto de 2006

A informal idade contamina mais da metade da ativ idade produtiva, taxa al t íssima que

precária da atividade produtiva, e à fragi-lidade e à banalização dos vínculos em-pregatícios. De um prisma mais amplo,provoca evasão de recursos, por descum-primento da lei, principalmente no que serefere aos encargos trabalhistas e à con-tribuição previdenciária; e possibilita a so-brevivência de empresas menos produti-vas.“O setor informal gera empregos debaixa qualidade e remuneração, consti-tuindo um atraso, uma distorção a sercombatida. Tem efeitos deletérios no lon-go prazo, na medida em que cerceia a ex-pansão de companhias mais eficientes eque respeitam a legislação”, diz. No Brasil,a informalidade contamina mais da me-tade da atividade produtiva há mais deuma década.A taxa era de 51,9% em 1992,de 53,5% em 1999 e de 51,2% em 2004(veja gráfico ao lado).“Seu grau tem sidomais ou menos constante, mas essa não éuma boa notícia, já que o nível é altíssimo.Os indicadores revelam a grave deficiên-cia do funcionamento do mercado de tra-balho brasileiro”, adverte Ramos.

Mulheres As alterações atingiram de for-ma diferenciada grupos, estratos popula-cionais e regiões geográficas. No que dizrespeito ao sexo, entre 1992 e 2004 a ocu-pação de vagas por mulheres cresceu mui-to mais rapidamente do que entre os ho-mens: a taxa de aceleração feminina foi de43,3% e a masculina ficou em 20%. Noentanto, como o número de mulheres embusca de trabalho é crescente, por razõesde cunho socioeconômico-cultural, a de-socupação entre elas também tem sidomaior. A Pnad de 1995 já revelava índicessignificativamente diversos de desem-prego urbano por sexo: o masculino emtorno de 6% e o feminino na casa dos8,5%. No período entre 1992 e 2004, ob-jeto do estudo, a taxa de desemprego en-tre as mulheres cresceu assombrosos107,7% – percentual superior aos 77,3%registrados entre os chefes de família(homens ou mulheres).

Em termos geográficos, a região Norteé destaque na criação de vagas de traba-

lho, com um crescimento de 80% – a mé-dia nacional foi de 28,5%.Abaixo dela, fi-guram o Sul, com taxa de 24,8%, e o Nor-deste, o pior desempenho, com apenas20,3% de crescimento da população ocu-pada e as remunerações mais baixas dopaís. Acima da média, estão o Centro-Oeste, justamente onde se concentra boaparte dos serviços relacionados à adminis-tração pública federal e onde os saláriossão recordistas nacionais, com índice de38,2%; e o Sudeste, que, embora ainda

abrigue a metade dos empregados formaise seja responsável por cerca de 55% daprodução industrial do país,marcou 28,9%de aumento na abertura de novas vagas(veja gráfico ao lado).A indústria, forte in-dutora do desenvolvimento econômico,tem sido tímida na criação de empregos.Foram 10,2 milhões de postos de trabalhoem 1992 e 12,2 milhões em 2004, o que re-presenta um salto de 20,4%, inferior à mé-dia nacional.

A inserção das empresas brasileiras no

1992 1999 2001 2004

Fonte: Pnad, elaboração: Lauro RamosObs: nos anos de 1994 e 2000 não houve Pnad

O sobe e desce da desocupaçãoEvolução da taxa de desemprego no Brasil (em %)

1992 7,2

1993 6,8

1995 6,7

1996 7,6

1997 8,5

1998 9,7

1999 10,4

2001 10,1

2002 9,9

2003 10,5

2004 9,7

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

Grau de informalidadeda economia brasileira(em %)

51,9

53,5

52,5

51,2

O comércio informal avança nas grandes cidades,

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Desaf ios • agosto de 2006 19

revela grave def iciência no funcionamento do mercado de trabalho

mercado internacional é um dos fatorespreponderantes na transformação domundo do trabalho e do emprego no país.Prova disso é que naquelas que exporta-ram ininterruptamente entre 2000 e 2004,estava empregado um de cada dez traba-lhadores brasileiros. Se considerarmostambém as que participaram do comérciointernacional de forma intermitente, a par-ticipação sobe para 13% da mão-de-obra.“A internacionalização levou ao cresci-mento da atividade e do emprego entre as

1200

1000

800

600

400

200

0

Fonte:Rais/MTE

Agricultura Comércio Indústria Serviçossem AP

Adm. pública

Centro-Oeste

Nordeste Norte Sudeste Sul

Remuneração mensal dos trabalhadores com carteira no Brasil – 2004 (em R$)

tomando os espaços públicos. Acima, vê-se um enorme mercado de vendedores ambulantes instalado no Largo da Concórdia, região central da capital paulista

Tuca Vieira/FolhaImagem

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20 Desafios • agosto de 2006

E m p r e s a s q u e a d o t a m t é c n i c a s a v a n ç a d a s t ê m e m p r e g a d o s p r e p a r a d o s

Total Multinacionais Exportadoras Exportadorascontínuas

Industriais Industriais com mais de 500 funcionários

Fonte:Rais/MTE

Taxas de crescimento do emprego formal médio nas firmas brasileiras entre 2000 e 2004 (em %)

181614151086420

-2

-0,4

7,6

2,8

17,1

6,5

10,6

exportadoras.Aumentar a pauta de expor-tação pode, portanto, ter impacto positi-vo na geração de empregos”, reflete Fer-nanda De Negri, pesquisadora do Ipea ecoordenadora do capítulo que trata domercado de trabalho no Brasil por setor.

Vantagens Estudos do Ipea constatamconsideráveis ganhos de produtividade as-sociados ao ingresso das empresas nomercado internacional. No primeiro ano

após o início das exportações, a vantagemestimada é de 12,2%. Em dois anos há no-vo salto, de 12,5%. As companhias que semantêm como exportadoras estáveiscrescem mais do que aquelas cujos negó-cios ficam restritos ao mercado interno. Odiferencial no aumento das vendas noprimeiro ano de exportação chega a53,1% e no segundo atinge 61,4%. Hávantagens também na área do emprego.Asexportadoras oferecem 21,3% de vagas

adicionais no primeiro ano de atuação nomercado exterior e 20,3% no segundo.Quando, por alguma razão, uma empresadeixa de exportar, no ano seguinte demite9,6% mais do que uma concorrente quenunca tenha embarcado seus produtospara outros países.

Registra-se, também, um vínculo forteentre tecnologia e qualificação da mão-de-obra – condição vantajosa para todos.Empresas que utilizam técnicas mais avan-çadas empregam pessoas mais bem prepa-radas e bem remuneradas, que incremen-tam a competitividade e a lucratividadedos negócios. Forma-se, assim, um ciclovirtuoso. Pesquisas do Ipea mostram que,nessa categoria, em 1996, a relação era deum trabalhador qualificado (com mais deonze anos de estudo) para sete não quali-ficados (com escolaridade inferior a cincoanos). Em 2002, o placar era de um paraquatro. “De forma geral, empresas maisavançadas do ponto de vista tecnológico,e mais inseridas no mercado interna-cional, são comparativamente mais com-petitivas e tendem a remunerar melhor ostrabalhadores”, conclui De Negri.

Governo Desde 1995, foram implantadosinúmeros projetos governamentais na ten-tativa de estimular a qualidade e o cresci-mento do mercado de trabalho no Brasil(leia tabela ao lado). Os programas de qua-lificação profissional e o seguro-desem-prego são apenas alguns exemplos. Ocorreque ações desse tipo alcançam uma par-cela bastante restrita do universo produti-vo do país, já que um volume significativode pequenos empreendimentos opera nomercado informal. Uma amostra do ce-nário: dos brasileiros ocupados em ativi-dades remuneradas em 2004, 20,9% tra-balhavam por conta própria, 18,7% eramempregados sem registro em empresas,5,9% prestavam serviços em residênciassem carteira assinada. “As flutuações doemprego no Brasil, entre 1995 e 2005, es-tiveram mais ligadas às políticas macro-econômicas do que aos resultados de pro-gramas específicos”, constata o pesqui-

Setores intensivos em tecnologia, como a indústria química, estimulam a qualificação dos empregados

Renato Stockler/Folha Imagem

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e b e m p a g o s , q u e i n c r e m e n t a m s u a c o m p e t i t i v i d a d e e l u c r a t i v i d a d e

Providências governamentaisOs principais programas federais de emprego, trabalho e renda

Ano de início

1989(1970 para contas individuais)

1977

1986:Trabalhador formal1992: Pescador artesanal2001:Trabalhador doméstico2003:Trabalhador resgatado

1995

1995

2003

2003

Descrição

Têm direito ao benefício anual de um salário mínimo os que recebem até dois salários míni-mos mensais, cadastrados há pelo menos cinco anos no PIS/Pasep, que tenham trabalhado30 dias em emprego formal no ano anterior.

Captação de vagas em empresas e encaminhamento de trabalhadores em busca de emprego.

Assistência financeira temporária aos dispensados sem justa causa. São três a cinco parce-las mensais, dependendo do tempo trabalhado nos três últimos anos, para um período dedezesseis meses, nas seguintes condições: três parcelas aos que trabalharam pelo menosseis dos últimos 36 meses; quatro aos que trabalharam pelo menos doze dos últimos 36meses; e cinco aos que trabalharam pelo menos 24 dos últimos 36 meses.

Oferta de cursos a trabalhadores desempregados, em risco de desemprego e microem-preendedores.

Concessão de crédito produtivo assistido a micro e pequenas empresas, cooperativas etrabalhadores autônomos.

Promoção do ingresso do jovem no trabalho por meio de qualificação profissional, estímu-lo financeiro aos contratantes, parcerias para contratação de aprendizes e apoio à consti-tuição de empreendimentos coletivos.

Fomento direto para a formação de redes de empreendimentos solidários, mapeamento dasexperiências, divulgação e constituição de incubadoras.

Nome

Abono Salarial

Intermediação de Mão-de-Obra / Sine

Seguro-Desemprego

QualificaçãoProfissional

Geração de Emprego e Renda

Primeiro Empregopara Juventude

Economia Solidária

Elaboração: José Celso Cardoso

sador do Ipea José Celso Cardoso, colabo-rador da publicação Brasil: Estado de umaNação.“As especificidades brasileiras exi-gem a busca de soluções inovadoras noâmbito da geração de emprego e renda.Políticas de crédito poderiam ser um bomcaminho para reforçar a demanda por tra-balho. Além disso, é fundamental a inte-gração efetiva das ações dos ministériosdo Trabalho e Emprego, do Planejamen-to, Orçamento e Gestão e do Desenvol-vimento, Indústria e Comércio Exterior.”

O livro do Ipea contém outras suges-tões nesse sentido. Edward Amadeo, con-sultor especializado em trabalho e em-prego, que contribuiu para a composiçãodo livro, defende a reforma da legislação.Propõe que as transferências governa-mentais tenham seus valores completa-

mente desvinculados do salário mínimo;que seja gradualmente eliminada a multapaga pelas empresas de 40% sobre o saldodo Fundo de Garantia do Tempo de Ser-viço (FGTS) em caso de demissão semjusta causa; que as normas de tutela cons-tantes na Consolidação das Leis do Tra-balho (CLT) sejam simplificadas; e que se-jam revistos os procedimentos adotadosem dissídios e arbitragens individuais ecoletivos.Medidas necessárias,porém difí-ceis de serem implementadas.“Os encargostrabalhistas representam um acréscimo noscustos das empresas.Resultam em perda decompetitividade, busca de tecnologias queutilizem menos mão-de-obra e redução daoferta de vagas.A interferência em demasiano contrato de trabalho retira das empre-sas a capacidade de adaptação a inovações”

pondera Amadeu. Mas o consultor fazquestão de lembrar que “é preciso cautela,pois a liberação dos direitos de rever con-tratos e alterar jornadas torna a vida dostrabalhadores mais insegura”. Segundo ele,providências desse naipe, relacionadas àsinstituições do mercado de trabalho (legis-lação e encargos trabalhistas, proteção doemprego, salário mínimo e procedimen-tos judiciais), surtem efeitos que superamos contratempos macroeconômicos.“Nãoexiste causalidade entre crescimento daeconomia e desempenho do mercado detrabalho, embora ambos estejam positi-vamente relacionados. A organização domercado de trabalho é parte de um con-junto de fatores que explicam o cresci-mento econômico, o desemprego, os salá-rios e a informalidade”, diz. d

LA_TRABALHO 02/08/06 15:45 Page 21

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LIVRO DO ANO

econômica recente do país, se desgasta empouco tempo.“A aceleração da inflação,emconjunto com a percepção de uma políticamonetária frouxa, pode resultar em taxascrescentes, o que afeta negativamente ocrescimento econômico”, afirma.

O cerne da questão é que o preço a serpago pela manutenção dos baixos níveis deinflação talvez seja a redução do cresci-mento do emprego formal. Há os que de-fendem essa relação causal. Outros, comoIglesias, contestam-na.“O controle da in-flação entre 2003 e 2005 não deteriorou ascondições do mercado de trabalho, apesarde ter causado diminuição do crescimen-to econômico e pequena queda na pro-dução industrial no terceiro trimestre doano passado”, diz. Os números do Institu-to Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) mostram que a taxa média anual

nflação baixa favorece o poder de com-pra dos trabalhadores. Essa talvez sejaa principal conclusão exposta no capí-tulo sobre macroeconomia do livro

Brasil: O Estado de uma Nação. O coorde-nador,Roberto Iglesias,economista,profes-sor da Pontifícia Universidade Católica doRio de Janeiro e pesquisador do Centro deEstudos sobre Integração e Desenvolvi-mento (Cindes), analisa o desempenho daeconomia em 2004 e 2005 em termos deatividade, balança comercial, emprego eevolução fiscal; além de discutir a políticaeconômica e as relações entre inflação ecrescimento no médio prazo. Iglesias acre-dita que é muito difícil impulsionar o desen-volvimento com relaxamento na políticamonetária, dado ser praticamente impos-sível controlar o aumento da taxa de in-flação.A fórmula, como mostra a história

O consenso

acerca da

impor tânc ia da

estab i l i dade dos

preços não in ibe

po lêmicas em

torno da po l í t i ca

monetár ia . Mu i tos

sugerem ceder

um pouco à

pressão

in f lac ionár ia em

troca de

cresc imento

econômico.

O prob lema é

que, uma vez

l iberado, n inguém

contro la o custo

de v ida , e quem

paga a conta é o

traba lhador

Com inflação não se brinca

ICo

hdra

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ile

P o r L i a V a s c o n c e l o s , d e B r a s í l i a

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Desaf ios • agosto de 2006 23

de desemprego caiu de 12,3% em 2003para 11,5% em 2004, e para 9,8% no anoseguinte. A população ocupada cresceu3,2% em 2004 e 3% em 2005. Outra car-acterística do período foi o aumento dapopulação ocupada com carteira de tra-balho assinada, de 1,9% em 2004 e 5,9%em 2005.

Para Iglesias, o descontentamento como crescimento econômico deu margem auma série de explicações para o fraco de-sempenho do Produto Interno Bruto (PIB)brasileiro entre 2004 e 2005. Uma delas: abusca por taxas de inflação muito baixasteria afetado negativamente a evolução daeconomia. Seguindo esse argumento, seriadesejável trocar a rigidez da política mone-tária no combate à inflação por maiorcrescimento.No curto prazo,segundo Igle-sias, isso provocaria crescimento com taxasde inflação maiores que as atuais.“No mé-dio prazo, entretanto, não é possível man-ter uma relação positiva e estável entre taxasde crescimento e inflação. A experiênciabrasileira mostra isso.E a dinâmica de umaeconomia,no longo prazo,não depende sóda política monetária adotada, mas de ou-tros fatores, como investimento e educa-ção”, explica (veja gráficos ao lado).

Apesar do consenso de que é funda-mental perseguir a estabilidade de preços,a condução da política monetária aindaprovoca muitas polêmicas. Na maioria dospaíses com um quadro macroeconômicoorganizado, a política monetária é condu-zida por algum tipo de âncora: câmbio fi-xo, metas monetárias, políticas monetáriascom uma âncora implícita, ou metas in-flacionárias. Este último é o sistema ado-tado no Brasil desde 1999, quando foiabandonada a âncora cambial.“O Brasil,pela sua história recente de estabilização,ainda não conseguiu consolidar uma in-flação baixa e estável que se configure numponto de convergência para a formação depreços na economia, mas o sistema dopaís não é ruim. A estabilidade e o con-trole inflacionário são fundamentais parao crescimento econômico no médio e nolongo prazo”, afirma Iglesias.

Brasil

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

9,6

4,4

4,9

2,5

5,2

1,7

8,9

6,0

7,7

12,5

9,3

7,6

5,6

Países com renda per capita semelhante ao Brasil

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

24,0

5,36,7

4,93,4

6,20,4 1,0

1,94,5 3,4

13,916,2

10,7

8,2

4,35,4

3,75,0

3,4

3,32,7

0,10,8

1,31,9

0,5

Países com sistema de metas e inf lação

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

25,7

4,86,4

3,92,3

5,80,5 1,3

2,14,4 3,7

16,217,6

11,0

9,0

5,1 6,04,7 5,5

3,7

Inflação e crescimento na América LatinaO comportamento da economia no Brasil e em países de grau de desenvolvimento semelhante, na última década*

Inflação Crescimento

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal)* Médias ponderadas de taxas de inflação e crescimento por grupos de países. Seguindo o critério da Cepal, as taxas de inflação são ponderadaspela população, e as taxas de crescimento pela participação do PIB de cada país (em dólares constantes) no total do grupo, de acordo com as cifrascalculadas pela própria Cepal.d

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LIVRO DO ANO

mica Aplicada (Ipea). Ao observar essesdois fatores, ela constatou que,entre 1980 e2000, apesar de a esperança de vida doshomens aos 15 anos ter aumentado em 6,3anos, eles reduziram seu tempo de ativi-dade econômica (veja o gráfico ao lado).Parte dessa redução deveu-se ao impactodo que se chama mortalidade por causasexternas, ou seja, óbitos não provocadospor doenças, mas por motivos como ho-micídios, acidentes de trânsito e de traba-lho. São problemas que atingem a popu-lação masculina com mais intensidade. Sóem 2000,os homicídios foram responsáveispela perda de 1,3 ano na sua esperança devida ao nascer, e pela redução de 0,7 anoem sua presença no mercado de trabalho.Livres desses contratempos, os homensteriam sobrevida de mais 3,2 anos, e suaatividade econômica aumentaria 1,5 ano.

população brasileira experimen-tou mudanças expressivas ao lon-go do século XX.Entre elas mere-ce destaque a diminuição da mor-

talidade,acompanhada da redução do nú-mero de filhos por mulher.A queda dessesdois indicadores teve reflexos no ritmo decrescimento da população, na distribuiçãoetária e, conseqüentemente, na oferta daforça de trabalho. O capítulo que trata dedemografia, no livro Brasil: O Estado deuma Nação, discute as principais mu-danças ocorridas com a mão-de-obra eprojeta o crescimento da população emidade ativa (PIA) para 2030.

“A oferta é determinada pela populaçãoem idade de trabalhar e por sua disponibi-lidade em participar do mercado de traba-lho”, afirma Ana Amélia Camarano, pes-quisadora do Instituto de Pesquisa Econô-

A demograf ia

mostra que a

popu lação

bras i le i ra tem

menos f i lhos

e v i ve por

mais tempo.

Conseqüênc ia

dessas

a l terações:

depo is de

absorver a

mão-de-obra

femin ina, o

mercado de

traba lho prec isa

abr ir espaço para

mais pessoas,

por mais tempo.

Esse é o desaf io

para ev i tar um

aumento a inda

maior dos custos

da Prev idênc ia ,

cujo número de

contr ibu intes está

em dec l ín io

As mudanças na população

Amo

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demografia 02/08/06 15:49 Page 24

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Desaf ios • agosto de 2006 25

Entre as mulheres, a expectativa de vi-da aos 15 anos cresceu, mas não de formatão significativa: o aumento foi de 4,8anos e, como era de esperar, isso refletiuno tempo de trabalho (veja o gráfico abai-

xo). Elas têm participação maior no mer-cado e passam 8,1 anos a mais em ativi-dades remuneradas.

As pesquisas de Camarano contêm ou-tras conclusões interessantes. Aparente-mente, a antiga prática que levava o cam-ponês a migrar sozinho para a cidade emais tarde voltar para buscar a família jánão se dá com a mesma freqüência. O quese tem observado é o predomínio da mu-lher nos processos migratórios para omeio urbano. Resultado: o campo tem setornado majoritariamente masculino e ascidades contam com mais mulheres napopulação e nos postos de trabalho. Se nopassado elas partiam em busca de trabalhoapenas quando não contavam com quemas sustentasse, hoje elas permanecem nomercado independentemente de seu esta-do civil. Assim, o maior aumento da par-ticipação feminina em atividades remu-neradas se verificou entre mulheres commarido, e não entre chefes de domicílio.

Mais da metade (59%) do movimentofeminino no mercado de trabalho é expli-cado pelo fato de que as mulheres estudampor mais tempo do que os homens e, maisbem preparadas, conseguem conquistarempregos que antes eram reservados aeles. Tudo indica que a participação femi-nina no mercado de trabalho deve conti-nuar em alta.

Mas Camarano lembra que “para sepensar no futuro da população brasileira nomédio prazo o componente demográficomais importante é a fecundidade”. Os últi-mos dados coletados pela Pesquisa Nacio-nal por Amostra de Domicílios (Pnad) de2004, elaborada anualmente pelo InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),mostram que a fecundidade brasileira jáchegou ao nível tecnicamente chamado dereposição, ou seja, o número de criançasnascidas equivale ao número de mortos –e o tamanho da população tende a per-

manecer estável. A taxa de fecundidadeatual, no Brasil, é de 2,1 filhos por mulher.Considerando que para todo bebê quenasce há uma mãe e um pai, a média é dedois filhos por casal, o que faz com que apopulação se mantenha constante.

“As evidências não sinalizam que essataxa vá se estabilizar ou voltar a crescer nomédio prazo.Ao contrário,pode-se esperarque o nível de fecundidade brasileiro em2030 seja de 1,4 filho por mulher, equiva-lente ao de países do sul da Europa e ao doJapão. Por outro lado, pressupõe-se que amortalidade continuará a cair.Projetam-seganhos nesse indicador, nas cidades, de 6,8anos de vida para os homens e de 8,1 anospara as mulheres, até 2030”, diz a autora.Não é difícil inferir o que virá. Com umnúmero menor de crianças nascendo e comas pessoas vivendo cada vez mais, o enve-

lhecimento da população é inevitável.Até2030, a população economicamente ativa(PEA) brasileira será composta mais demulheres e de pessoas mais velhas.

O movimento já começou. Gera umasérie de alterações, entre elas um problemade difícil solução.Se a idade de aposentado-ria for mantida, o sistema previdenciárioserá sobrecarregado. O adiamento do afas-tamento, por seu turno, retardará a libe-ração de vagas para os jovens que chegam àidade ativa e buscam espaço no mercado detrabalho. Resultado: a participação da PIAadulta (de 30 a 44 anos) deverá se manterrelativamente estável, enquanto a do grupojovem (de 15 a 30 anos) tenderá a declinarsubstancialmente a partir de 2010.

“O mercado de trabalho terá de se ajus-tar. O desenlace natural é que a idade míni-ma de aposentaria suba”, diz Camarano.

O tempo dos homens em 1980 e em 2000 (em %)

O tempo das mulheres em 1980 e em 2000

Atividades dos brasileiros ao longo da vida

d

70

60

50

40

30

20

10

0Escolaridade Atividade econômica Aposentadoria

19802000

70

60

50

40

30

20

10

0Escolaridade Atividade econômica Aposentadoria

1980

2000

Fonte dos dados brutos: IBGE/Censo Demográfico 1980 e 2000. Elaboração: Ipea

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LIVRO DO ANO

sas diferenças salariais existentes no mer-cado. Segundo ele, cerca de 40% da dis-paridade salarial no Brasil pode ser atri-buída aos desníveis na formação da mão-de-obra. Aqueles que possuem diplomasuperior, por exemplo, ganham, em mé-dia, três vezes mais por hora de trabalhodo que os que têm de nove a onze anos deestudo – o que corresponde ao nível mé-dio incompleto (veja gráfico ao lado). Emais: 26% das diferenças na receita geralda população, não apenas as relativas aotrabalho, também são provocadas pela de-sigualdade na formação.

Moura Castro afirma que o peso da edu-cação tende a crescer, pois o aumento dacomplexidade do processo produtivo gera

valiar o impacto da educação sobreo crescimento econômico é o obje-tivo do capítulo que analisa a re-lação entre estudo e mercado de tra-

balho no livro Brasil: O Estado de uma Na-ção.O coordenador do texto,Cláudio Mou-ra Castro,economista especializado no temaque já foi pesquisador do Instituto de Pes-quisa Econômica Aplicada (Ipea),atuou naOrganização Internacional do Trabalho,noBanco Mundial e no Banco Interamericanode Desenvolvimento,e hoje preside a rede deensino Pitágoras, parte do princípio de quedeficiências na quantidade e na qualidade daeducação são duas causas relevantes do bai-xo crescimento econômico registrado nopaís. Também credita à educação as imen-

A má qua l idade

do ens ino gera

traba lhadores

de ba ixa

capac i tação,

que levam essa

marca por toda

a v ida .

Quando se

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um a l i cerce

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bás ica ,

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prof iss iona l

é ma is ef ic iente,

ef ica z

e func iona l

Sem educação não há solução

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P o r L i a V a s c o n c e l o s , d e B r a s í l i a

educação 02/08/06 15:52 Page 26

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Desaf ios • agosto de 2006 27

a necessidade de uma força de trabalhomais bem preparada. Assim, como a tec-nologia evolui rápida e permanentemente,a capacidade e a velocidade de adaptaçãodas pessoas depende do seu nível de esco-laridade.“A educação é o que nos concedemaior facilidade para aprender ao longo davida. Se a tecnologia e as máquinas evo-luem o tempo todo, só quem estudou maisconsegue aprender o novo num ritmo acei-tável”,explica.Para ele,a educação é o equi-pamento intelectual que permite às pessoastransformar experiência em produtividade.Os caminhos para o progresso individualsem escolaridade são estreitos.“Com a uni-versalização do ensino,o principal filtro es-tá dentro das escolas,e não no acesso a elas.O miolo da diferença está na qualidade daeducação oferecida. Os mais pobres nãoapenas freqüentam escolas piores,mas têmmaior dificuldade em aprender e avançarno sistema.Até o uso de computadores re-quer um nível de escolaridade acima damédia de sete anos da força de trabalhobrasileira”, diz (veja gráfico ao lado).Assim,a melhoria da educação básica não é só umimperativo econômico, mas também umaurgência social, no sentido da redução dasdesigualdades,já que a mobilidade das pes-soas no mercado de trabalho depende, deforma cada vez mais imediata e fundamen-tal, de boas escolas.

Se a melhoria do ensino básico é umdos maiores desafios do país, os cursos depós-graduação, jóias da coroa do sistemaeducacional, também apresentam proble-mas. Para o autor, mesmo que a pós-gra-duação abasteça as universidades com mes-tres e doutores qualificados, os cursos de-moram a redirecionar seu foco para o se-tor produtivo e têm dificuldade de con-verter ciência em tecnologia. São poucoeficientes no que diz respeito à geração decrescimento econômico.

Há outro pé manco nesse sistema. Faltade qualidade na base e necessidade deatualização geram uma imensa procurapor educação permanente – e não existeoferta que satisfaça a demanda. Os cursosde formação profissional e técnica, numa

rede de 40 mil estabelecimentos, alcançamcerca de 35 milhões de matrículas anuais.Pelos cálculos de Moura Castro, a conces-são de 39 milhões de vagas por ano repre-sentaria alguma oportunidade de treina-mento para 40% da população economi-camente ativa (PEA), estimada em 91 mi-lhões de pessoas em 2004 pelo InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).“Se a oferta,em hipótese otimista,chegassea 20% da PEA, cada trabalhador teria uma

chance de treinamento a cada cinco anos,intervalo muito longo diante do ritmo demudanças e inovações”, afirma o especia-lista. E ainda assim a questão não seria detodo solucionada,“uma vez que os casos desucesso mostram que a formação profis-sional funciona melhor, com mais foco eeficácia, quando parte de um bom alicercede escolaridade básica. Depois que se sabeler, escrever, calcular e pensar, tudo o maisse aprende com rapidez e facilidade”.

Progresso nas salas de aulaMédia de anos de estudo por grupos de idade em 2001 e 2004

Educação e disparidade socialA variação da renda mensal conforme a escolaridade

2001 2004

Renda individual Renda familiar

Fonte: Schwartzman, S. 2001. A Revolução Silenciosa do Ensino Superior, em Eunice Ribeiro Durham e Helena Sampaio, O Ensino Superior emTransformação, São Paulo, Nupes/USP e Cebrap, pp. 13-30.

d

Brasil De 10 a 14 De 15 17 18 ou 19 De 20 a 24 De 25 a 29 De 30 a 39 De 40 a 49 De 50 a 59 60 anos +

Elementar (4 anos) Primeiro grau Segundo grau Superior Pós-graduação

Renda individual

Renda familiar

359,22 385,22 563,34 1.907,96 3.457,32

973,51 1.061,08 1.544,42 3.684,40 5.414,16

Fonte: IBGE/Pnad 2004

6,16,6

3,9 4,1

6,67,1

7,98,4

8,08,7

7,58,2

7,17,5

6,46,8

5,05,6

3,3 3,5

6.000,00

5.000,00

4.000,00

3.000,00

2.000,00

1.000,00

0,00

educação 02/08/06 15:53 Page 27

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LIVRO DO ANO

previdenciário, de forma a englobar umnúmero maior de pessoas, já que o merca-do de trabalho nacional é muito heterogê-neo – há uma parcela de trabalhadores quecontribui regularmente, outra que o faz demodo esporádico e os que estão pratica-mente excluídos da Previdência. “Existeuma informalidade gigantesca e é precisolevar em consideração essas realidadesdiferentes na hora de elaborar um sistemaprevidenciário,coisa que o Brasil ainda nãofez”, afirma.

Uma das maiores dificuldades, segun-do ele, está no fato de que a fronteira entrea Previdência e a assistência social é in-definida, devido à predominância de bai-xos salários e ao reduzido número de tra-balhadores que contribuem regularmente.Por outro lado,“a aposentadoria não é com-plementação de renda. Em nenhum lugar

seguridade, no que se refere àtransferência de renda da Previ-dência e da assistência está ade-quadamente organizada para dar

apoio e proteção aos trabalhadores,no con-texto econômico e social brasileiro? É comessa questão que Milko Matijascic,docentee pesquisador do Centro Salesiano de SãoPaulo (Unisal), abre o capítulo sobre a re-lação entre a seguridade social e o mercadode trabalho,no livro Brasil:O Estado de umaNação. Sua resposta à pergunta: aposenta-dorias, pensões e indenizações reduziramas carências sociais de renda (veja gráfico

na pág. ao lado),mas o crescimento das des-pesas potenciais compromete as finançasno longo prazo e a busca da amenização doquadro de desigualdade.

Para superar o problema, Matijascicpropõe a revisão da estrutura do sistema

O s istema

de segur idade

soc ia l reproduz

e mul t ip l ica

as in just iças

e des igua ldades

da soc iedade

bras i le i ra .

Mais de 66%

das verbas da

Prev idênc ia

não são gastas

com idosos.

Se is entre dez

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têm menos de

65 anos.

Para corr ig ir

muitas

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Segurança para quem precisa

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previdência 02/08/06 15:54 Page 28

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Desaf ios • agosto de 2006 29

do mundo uma pessoa se aposenta e con-tinua trabalhando. Em países desenvolvi-dos, um mix de benefícios isenta a Pre-vidência do papel de programa de transfe-rência de renda.É fundamental,por exem-plo, facilitar a compra da casa própria eoferecer bons hospitais e escolas. As açõessociais para idosos não se limitam à apo-sentadoria”, diz.

Considerando o cenário vigente noBrasil, não é de estranhar que as regras deacesso ao sistema sejam brandas se com-paradas às existentes em outros países. Éfundamental, também, que elas atendamàs necessidades da seguridade social, ouseja, de transferência de renda aos quenão podem se sustentar com o trabalho.“O sistema reproduz injustiças e desigual-dades. A título de exemplo: 2 em cada 3reais da Previdência não são gastos comidosos e seis em cada dez beneficiáriostêm menos de 65 anos”, explica o coorde-nador do capítulo.

Para minimizar as distorções vigentesno sistema brasileiro, ele sugere um cuida-do maior para eliminar, de fato, os benefí-cios de risco concedidos a quem não neces-sita.“Uma pessoa que continua trabalhan-do não está incapacitada”,argumenta.Pro-põe também um monitoramento mais in-tenso das atividades de empresas e do sis-tema de saúde para evitar que situações deinsalubridade, como falta de saneamento

ou perigo, dêem origem à concessão debenefícios que poderiam ser evitados commedidas preventivas e eficiência na fiscali-zação. Apresenta, ainda, a idéia de manu-tenção de registros mais rigorosos referen-tes à filiação à Previdência – e ao valor pa-go como contribuição – para evitar erroscadastrais e fraudes.

Outra discrepância: a falta de critériosnos casos de acumulação de aposentadoriase pensões, que, segundo ele, pode se justi-ficar numa família com baixos rendimen-tos e integrada por filhos menores,mas nãonuma família com rendimentos elevados ousem filhos.“A pensão por morte também sódeveria ser concedida depois de verificadaa existência de filhos menores de idade nogrupo familiar e a capacidade de trabalhoda pessoa que enviuvou”, afirma.

Matijascic considera indispensável umareforma constitucional. Mas argumentaque,enquanto ela não vem,muitas das mu-danças necessárias ao sistema previden-ciário podem ser promovidas de formamais simples,com alterações nas leis infra-constitucionais e com medidas de cunhoadministrativo.“É possível e preciso, a to-do momento,corrigir uma legislação criva-da por regulamentos que, tentando prote-ger alguns, acaba concedendo benefícios aquem não precisa deles. Essa situação nãopode ser justificada num país que não éafluente como o Brasil.”

Previdência e transferência de rendaPercentual de famílias pobres antes e depois do pagamento de aposentadorias e pensões

d

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003

Fontes: Pnad/IBGE. Apud. Paiva et al. (2005)

Dep

ois Ant

es

60

50

40

30

20

10

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previdência 02/08/06 15:55 Page 29

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INVESTIMENTO

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vem de fora

P o r M a n o e l S c h l i n d w e i n , d e B r a s í l i a

Estudos mostram que os grandes grupos transnacionais têm planos de investimento no

exterior, no ano que vem. Para atrair seu interesse e o capital produtivo, o Brasi l

precisa, urgentemente, reformar regulamentos e promover o crescimento econômico

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32 Desafios • agosto de 2006

O Brasi l perde pontos na compet ição por capita is internacionais dev ido a incertezas

China modernizou seu parque industrial eestabeleceu regulamentos claros para ocapital externo. Em 1979, autorizou o in-vestimento externo em setores considera-dos prioritários,como prospecção geológi-ca, exploração de petróleo e gás e imobili-ário.O resultado foi o surgimento de novasplantas para a fabricação de máquinas eequipamentos.A abertura da economia foigradual e limitada a investimentos produ-tivos.A moeda só passou a ser conversívelem meados de 1990 e as empresas estran-geiras foram incentivadas a exportar.A taxamédia de crescimento econômico de 9,5%ao ano,a ausência de endividamento exter-no e o cronograma de adesão à Organi-zação Mundial do Comércio (OMC) con-tribuíram para o sucesso do país.Na Índia,as diversas restrições às relações comerciaisexternas foram contornadas de maneirasemelhante, aos poucos, a passos firmes(leia a análise de Luciana Acioly sobre a ex-

periência indiana na atração de investimen-

tos diretos externos, na pág. 35).No Brasil, recentemente, o governo fe-

deral estabeleceu uma política para a atra-

ção de investimentos sustentada em três pi-lares: promoção do país no exterior, apre-sentação de informações aos potenciais in-vestidores e facilitação de negócios. A in-formação está a cargo da Rede Nacional deInformações sobre o Investimento (Renai),vinculada ao Ministério do Desenvolvi-mento, Indústria e Comércio Exterior(MDIC). A facilitação de negócios é pro-movida pela Sala de Investimentos da CasaCivil.E a promoção é função da Agência dePromoção de Exportações e Investimentos(Apex-Brasil), que, em dezembro de 2004,implantou uma Unidade de Investimentos(UI) para tratar especificamente da ques-tão.“A experiência internacional demons-tra ser fundamental que os países promo-vam suas vantagens, pois a competição émuito grande”,diz João Emílio Gonçalves,da UI da Apex-Brasil. A modernização, ainovação e a inserção externa, de todos ossetores da economia, compõem as dire-trizes da Política Industrial, Tecnológica ede Comércio Exterior (PITCE).“O país teminteresse nos investimentos externos di-retos,notadamente nos setores de semicon-dutores, de software e nos consideradosportadores de futuro: biotecnologia,nano-tecnologia e biomassa. Os investimentosplanejados em infra-estrutura, e os proje-tos de promoção do desenvolvimento re-gional, fazem parte da estratégia de atraçãode novos investimentos”, diz Antonio Ser-gio Martins Mello,secretário do Desenvol-vimento da Produção do MDIC.

Há muito mais a ser feito, e as críticas esugestões se acumulam.“É vital o desen-volvimento de um arcabouço legal quegaranta regras estáveis e viabilize investi-mentos de longo prazo”, diz Hélio Maga-lhães, presidente do Conselho de Admi-nistração da Câmara Americana de Co-mércio (Amcham). A Câmara mantém oque chama de Força Tarefa de Marcos Re-gulatórios, composta de voluntários de al-gumas das 6,2 mil empresas filiadas, paraavaliar o desempenho das diversas agênciasreguladoras brasileiras (telecomunicações,energia elétrica, vigilância sanitária e defe-sa da concorrência).

que o leitor diria se soubesse queexiste a possibilidade de choverdinheiro estrangeiro no Brasil nospróximos anos,não para ser apli-

cado no mercado financeiro, mas na pro-dução, na criação de empregos, no paga-mento de impostos? Diante da penúria dapoupança interna nacional, essa seria, semdúvida, uma boa nova. E é. Há dinheiro desobra no planeta e as empresas – muitas de-las maiores do que países e com mais recur-sos disponíveis do que os organismos inter-nacionais de fomento – planejam investi-lono exterior de forma a seguir crescendo.É oque mostram estudos recentes.A questão éque, como dizia o poeta Carlos Drumondde Andrade,o mundo é vasto.A notícia nãosoluciona todas as questões. O Brasil nãoserá, necessariamente, o destino do capitalinternacional produtivos. Terá de tomarmedidas para chamar a atenção.

Entre os fatores de risco considerados nadecisão sobre onde e como aplicar o capi-tal, estão os seguintes: instabilidade finan-ceira, volatilidade do preço do petróleo edas matérias-primas, protecionismo domercado interno, terrorismo e perspectivade desempenho econômico.O Brasil perdepontos na competição internacional por in-certezas quanto à definição de marcos regu-latórios, baixo crescimento do ProdutoInterno Bruto (PIB) e instabilidade cambial.“O Brasil não pode competir com a Chinae a Índia em custo de mão-de-obra, maspode oferecer vantagens suficientes paraatrair uma parcela do volume de dinheiroinvestido no planeta”,diz Alcides Leite,pro-fessor da Trevisan Escola de Negócios.

A pesquisadora Luciana Acioly da Silva,do Instituto de Pesquisa Econômica Apli-cada (Ipea), divulgou em junho o trabalho“Tendências dos fluxos globais de investi-mento direto externo”, disponibilizado nosite do instituto,que compõe uma pesquisamais ampla, ainda inédita, de análise daspolíticas brasileiras relativas à atração de in-vestimentos estrangeiros. Entre outras coi-sas, assinala as diferenças entre as políticasbrasileiras,chinesas e indianas nos últimosanos. Para integrar-se à economia global, a

Companhia Valor Setor

Thyssen Krupp 1.500 Metalurgia

International Paper 1.200 Papel e madeira

Anglo American 880 Mineração

Dongkuk 750 Metalurgia

Continental AG 309 Automotivo

General Motors 210 Automotivo

Weather Ford 172 Automotivo

Danisco 150 Alimentos

Goodyear 125 Automotivo

John Deere 110 Automotivo

CJ Corporation 100 Alimentos

Shangai Baosteel 70 Metalurgia

Aplicações direcionadasAlguns dos mais recentes e signif icativos investimentosexternos diretos anunciados no Brasil se concentram em três setores (em US$ milhões)

Fonte: Apex-Brasil

O

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Desaf ios • agosto de 2006 33

em seus marcos regulatórios, ao baixo crescimento econômico e à instabil idade cambial

“Mercados em expansão e preços rela-tivos estáveis (sobretudo o câmbio) redu-zem riscos e melhoram a rentabilidade.Por-tanto, o baixo crescimento é, hoje, o maiorempecilho à concretização de investimen-to produtivo (doméstico ou externo) nopaís”, diz Fernado Sarti, professor da Uni-versidade Estadual de Campinas (Uni-camp).E adverte: um quadro marcado porestabilidade monetária, juros elevados ebaixo crescimento só favorece o investi-mento financeiro e especulativo – não oprodutivo. Esse dinheiro tem desembarca-do no Brasil em grandes ondas.Os investi-mentos diretos externos (IDEs) vêm emfluxos menos estáveis. O Brasil já estevepraticamente empatado com a China noranking dos países em desenvolvimentoque mais captam recursos. Em 2003 nemsequer apareceu na lista dos dez mais (veja

ao lado a relação dos maiores investidores e

dos países que mais recebem recursos).

Fluxos A história evidencia a natureza cícli-ca dos IDEs.“Os momentos de maior di-namismo sempre coincidiram com os pe-ríodos de reestruturação industrial e patri-monial, num contexto de crescimento dasprincipais economias e de alguns países emdesenvolvimento”,diz Acioly.Ao estudar osresultados da pesquisa “Prospects for foreign

Os dez maisPaíses que mais receberam investimentos externos produtivos (em %)

Fonte: Unctad, World Investiment Report, 2001 (pág.52) e 2004

1985 IDE recebido 2000 IDE recebido 2003 IDE recebido

EUA 33,2 EUA 25,1 Luxemburgo 16,5

Reino Unido 6,2 Reino Unido 9,3 EUA 12.3

Arábia Saudita 6,2 Alemanha 8,4 China 7,4

Canadá 4,9 Bélgica e Luxemburgo 7,5 França 7,1

França 4,0 Países Baixos 4,4 Países Baixos 4,7

México 3,4 China 4,1 Reino Unido 4,6

Austrália 3,3 França 4,0 Espanha 4,4

Espanha 3,2 Canadá 3,6 Bélgica 3,6

Brasil 2,8 Hong Kong e China 3,4 Alemanha 3,4

Países Baixos 2,8 Suécia 3,3 Irlanda 2,9

Total dos dez maiores 70,00 73,1 66,9

Países de onde partiu a maioria do investimento externo (em %)1985 IDE realizado 2000 IDE realizado 2003 IDE realizado

EUA 20,9 Reino Unido 20,1 EUA 20,3

Reino Unido 15,8 EUA 14,6 Luxemburgo 18,4

Japão 10,5 França 11,8 França 10,0

Alemanha 8,9 Alemanha 8,6 Reino Unido 7,7

Países Baixos 7,4 Bélgica e Luxemburgo 8,1 Países Baixos 6,1

Canadá 6,6 Países Baixos 6,0 Japão 5,2

Suíça 4,1 Espanha 4,0 Espanha 4,6

França 4,0 Hong Kong e China 3,5 Canadá 4,4

Itália 3,7 Canadá 3,4 Bélgica 4,1

Suécia 3,1 Suíça 3,3 Alemanha 2,5

Total dos dez maiores 85,0 83,4 83,3

A indústria brasileira, especialmente nos setores relacionados à metalurgia, tem atraído a atenção dos investidores, tendência que deve se manter

Fotos Divulgação RANDOM

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34 Desafios • agosto de 2006

Nos anos 1990, o Bras i l absor veu 21 ,9% dos dó lares dest inados à Amér ica Lat ina

80% planejam fazê-lo em conjunto com aprodução e 50% com a estrutura de logísti-ca. No que diz respeito ao destino das apli-cações, 87% apontaram a China como opaís mais atrativo, seguida da Índia, com51%. O Brasil ocupa o quinto lugar, com20% das preferências, posição melhor doque a do México, com 16%.“Os setores in-tensivos em recursos naturais, como os deprodutos de metais, minérios, petróleo eagricultura,podem esperar por mais inves-timentos na América Latina durante ospróximos anos”, aposta Acioly (veja tabela

com alguns dos investimentos externos anun-

ciados recentemente no Brasil, na pág. 32).

A última grande onda de dinheiro ex-terno aportou no Brasil no período das pri-vatizações, cerca de uma década atrás (veja

gráfico com a trajetória de ingresso de capi-

tais produtivos no Brasil, ao lado). O mo-vimento de desestatização coincidiu com areestruturação das empresas transnacionais,que traçaram planos de expansão. Entre1990 e 1999 o Brasil absorveu perto de 100bilhões de dólares, 21,9% do que foi desti-nado à América Latina e ao Caribe.Foi líderabsoluto no continente e segundo colocadoentre os países em desenvolvimento, per-dendo apenas para a China. No início dadécada seguinte,os investimentos externoscaíram 36%.Ao que tudo indica, o planetaexperimenta nova primavera, com abun-dância de recursos e propensão ao cresci-mento. Há que aproveitar a temporada.

direct investment and the strategies of trans-nacional corporations – 2004-2007” (Pers-pectivas para o investimento estrangeiro di-reto e as estratégias das corporações multi-nacionais – 2004-2007), realizada pelaConferência das Nações Unidas sobre Co-mércio e Desenvolvimento (Unctad, na si-gla em inglês) entre executivos de grandesconglomerados mundiais, a pesquisadoraverificou haver razões para expectativaspositivas: 65% dos entrevistados esperamcrescimento dos fluxos de investimento ex-terno direto no triênio 2005-2008; 25%pretendem transferir suas atividades depesquisa e desenvolvimento – dos quais

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)www.ipea.gov.br

Conferência das Nações Unidas sobre Comércioe Desenvolvimento (Unctad)www.unctad.org

Saiba mais:

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

300

250

200

150

100

50

0

Trajetória do ingresso de capitais externos (em US$ bilhões)

Países em desenvolvimento Brasil

Fonte: Unctad, World Investiment Report

Especialistas acreditam que setores intensivos em recursos naturais, como a agropecuária, deverão receber injeções de capital nos próximos anos

Bel Pedrosa/Folha Imagem

Investimentos 02/08/06 16:01 Page 34

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Desaf ios • agosto de 2006 35

L u c i a n a A c i o l yARTIGO

publicação da Unctad “Prospects forForeign Direct Investment and the Stra-tegies of Transnational Corporations,2005-2008” revelou que apenas 25%

das corporações transnacionais esperam realo-car seus investimentos de alto conteúdo tec-nológico. China, Estados Unidos e Índia apare-cem como os preferidos para receber esse inves-timento. Com um crescimento médio de 6% en-tre 1992 e 2005, a inserção da Índia nos fluxosglobais de investimento direto externo (IDE) temsido crescente. Soma 33,6 bilhões de dólares de1992 a 2004 – período em que o volume médioanual cresceu 20 vezes. A quantia ainda é mo-desta em relação ao tamanho da economia dopaís e à disponibilidade internacional. No entan-to, a maior presença da Índia tem sido acompa-nhada por mudanças qualitativas na configu-ração e no papel do IDE, o que resulta da per-formance econômica e do quadro institucionalmontado para receber os capitais estrangeirospós-crise de balanço de pagamentos de 1991.

A Índia tem suas especificidades.Após a inde-pendência do poder colonial britânico, em 1948,um terço do IDE estava concentrado no setorprimário,e 1/4 na manufatura.Em 1995,83% dosinvestimentos externos produtivos eram voltadospara a manufatura, E, a partir de então, vemcrescendo a presença estrangeira na indústria desoftware e eletrônicos (15%),transportes (11,4%)e telecomunicações (10,5%) – em resposta à es-tratégia adotada de especializar a inserção interna-cional do país em serviços relacionados a tecnolo-gia da informação (TI), centrais telefônicas, ope-radoras e pesquisa e desenvolvimento.

A contribuição do IDE para a formação bru-ta de capital da Índia foi de 1,3% entre 1990 e1996, e de 3,4% em 2004, o que representa menosde um terço da média asiática e dos países em de-senvolvimento. O mesmo se pode dizer quantoao estoque de IDE em relação ao Produto InternoBruto (PIB). Diferente da China, na Índia os in-vestimentos têm preferido os serviços. Apenasuma parcela é dirigida a plantas produtivas queintegram cadeias globais de produção. Dada aforte presença de grupos nacionais, a economia

indiana possui, desde os anos 1990, empresasdomésticas aptas a exportar – o que a distinguede muitas economias em desenvolvimento e emtransição. Softwares e serviços relacionados re-ceberam mais de 1,6 bilhão do exterior (47% dototal), o que contribuiu para o setor se tornar omais dinâmico exportador do país e gerar maisde 5 milhões de empregos em 2001 e 2002.As ex-portações concentram-se em poucas firmas, emsua maior parte de propriedade indiana.

Em resposta à crise da dívida em 1991, o go-verno procurou estabilizar a economia e pro-mover a política de liberalização e as reformas es-truturais recomendadas pelo FMI. Naquele con-texto, foi estabelecida uma nova política para ocapital estrangeiro, em substituição ao ForeignExchange Regulations Act (Fera), de 1973, paradar maior espaço às empresas transnacionais. Aadesão às reformas liberalizantes, no entanto nãofoi completa. Os controles de capitais foram re-laxados vagarosamente, incluindo a maior liber-dade aos fluxos de portfólio e a substituição doregime cambial fixo pelo câmbio com “flutuaçãosuja”. No caso do IDE, vários analistas vêemproblemas relativos à entrada de empresas es-trangeiras no setor elétrico, à liquidação de em-presas “quebradas” e à existência de setores ain-da vetados a não-residentes. O Foreign Invest-ment Promotion Board continua a controlar ad-ministrativamente o ingresso de investimentosnão previstos pelo “manual de procedimentos epolítica industrial”.

Em que pesem as críticas, a Índia garantiu astrês condições básicas para que a economia dopaís se transformasse numa das vedetes do IDE:crescimento econômico, estabilidade cambial efoco na política de atração de capitais externosprodutivos.

Luciana Acioly é pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

(Ipea)

Investimento direto externo na Índia

“Em que pesem as

críticas, a Índia

garantiu as três

condições básicas para

que a economia do

país se transformasse

numa das vedetes do

IDE: crescimento

econômico,

estabilidade cambial e

foco na política de

atração de capitais

externos produtivos”

ADivu

lgaç

ão

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POLÍTICAS SOCIAIS

Luiz

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Desigualdade 02/08/06 16:05 Page 36

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Para vencer aINJUSTIÇA

P o r L i a V a s c o n c e l o s , d e B r a s í l i a

Comissão de estudiosos analisa as razões da recente redução da desigualdade no Brasil e

elabora propostas para que o movimento se mantenha com programas de transferência de

renda, crescimento econômico e investimento na qual idade da educação e do trabalho

Desigualdade 02/08/06 16:06 Page 37

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38 Desafios • agosto de 2006

É preciso que a diferença de renda diminua de forma contínua, por cerca de duas décadas,

ntre 2001 e 2004 o Brasil – aponta-do nos rankings internacionais co-mo um dos campeões da desigual-dade social – experimentou um fe-

nômeno incomum.A parcela mais pobre dapopulação sentiu a vida melhorar,a luta dodia-a-dia ficar mais fácil; enquanto os maisricos reclamavam da falta de crescimento,da perda de rendimentos.O abismo entre aspercepções é comparável ao que separa oestilo de vida dos dois grupos. E não semrazão.Nesse período,a renda dos 20% maispobres cresceu cerca de 5% ao ano.Os 20%mais ricos perderam 1%. A Pesquisa Na-cional por Amostra de Domicílios (Pnad),realizada anualmente pelo Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística (IBGE),in-dica que a injustiça na distribuição de ren-da familiar no Brasil vem diminuindo (veja

gráfico na pág. 42). A mudança ainda estálonge de deixar o país numa situação con-fortável – apenas 1% da população mun-dial vive em regiões com discrepâncias tãoacentuadas. O fato é, no entanto, que hámuita gente se sentindo melhor,e as estatís-ticas demonstram a ocorrência de um mo-vimento positivo.

Para compreender esse processo, váriosestudiosos se reuniram,no mês passado,nasede do Instituto de Pesquisa EconômicaAplicada (Ipea),no Rio de Janeiro.Entre elesestavam Manuela Carneiro da Cunha,pro-fessora de antropologia na Universidade deChicago; James Heckman, professor daUniversidade de Chicago e Nobel de Eco-nomia; François Bourguignon, vice-presi-dente e economista-chefe do Banco Mun-dial; José Luis Machinea, secretário exe-cutivo da Comissão Econômica para aAmérica Latina e o Caribe (Cepal); NanakKakwani, economista-chefe do CentroInternacional de Estudos da Pobreza doPrograma das Nações Unidas para o De-senvolvimento (Pnud); Álvaro Comin,presidente do Centro Brasileiro de Análisee Planejamento (Cebrap); e Luiz HenriqueProença Soares,presidente do Ipea.Eles for-maram um Comitê Internacional de AltoNível e elaboraram um estudo,“Desigual-dade de renda no Brasil”, em que analisam

a situação e propõem medidas para que ha-ja continuidade nas vantagens obtidas.“Épreciso que a diferença de renda entre ri-cos e pobres diminua, de forma contínua,por cerca de duas décadas, para que oBrasil alcance o nível de desigualdade depaíses com patamar de desenvolvimentosimilar”, explica Ricardo Paes de Barros,pesquisador do Ipea.

Ao observar o quadro brasileiro, os es-pecialistas perceberam alguns pontos apa-rentemente incongruentes. Um deles: noperíodo avaliado, houve queda de 1% narenda per capita e o Produto Interno Bruto(PIB) se manteve praticamente estagnado –1,76 trilhão de reais em 2001 e 1,89 trilhãoem 2004.Teoricamente,só um aumento de4% na renda per capita, com crescimento

Entre 2001 e 2004 a renda dos 20% mais pobres da

E

Incidência do Bolsa Famíliapor faixa de renda (em %)

O destino dos recursos

Até R$ 65

Entre R$ 65e R$ 100

Entre R$ 100e R$ 130

Acima deR$ 130

Renda pré-transferência

46

21

12 11

Incidência do Benefício de Prestação Continuada por faixa de renda (em %)

Até R$ 65

Entre R$ 65e R$ 100

Entre R$ 100e R$ 130

Acima deR$ 130

Renda pré-transferência

47,9

12,3 10,9

28,9

Fonte: Pnad 2004

Desigualdade 02/08/06 16:07 Page 38

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Desaf ios • agosto de 2006 39

para que o Brasil reg istre o nível de desigualdade de países de desenvolv imento similar

população brasileira cresceu cerca de 5% ao ano

Leonardo Wen/Folha Imagem

Desigualdade 02/08/06 16:08 Page 39

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40 Desafios • agosto de 2006

U m a p o p u l a ç ã o m a i s e s c o l a r i z a d a e m a i s b e m r e m u n e r a d a e x e r c e m e n o s

O Benefício de Prestação Continuadaconfere um salário mínimo aos que têmidade superior a 65 anos e àqueles que nãopodem trabalhar, ou levar vida indepen-dente, por serem portadores de deficiên-cias. Isso desde que a renda per capita fa-miliar não supere valor correspondente aum quarto do salário mínimo (atualmente,62,5 reais). Com orçamento de 8,9 bilhõesde reais, em 2006 o programa deverá al-cançar 2,5 milhões de brasileiros (veja grá-

fico na pág. 38).É praticamente unânime o entendimen-

to de que os programas brasileiros de trans-ferência direta de renda são eficientes.Quem os questiona se preocupa em apri-morá-los,não em extingui-los.“Os progra-

econômico significativo, possibilitaria aredução da desigualdade nos níveis em queela se deu. O sucesso, que contraria as car-tilhas econômicas, resultou de programasde transferência de renda, como o BolsaFamília (elogiado pelo Banco Mundial e poroutros organismos internacionais) e oBenefício de Prestação Continuada – res-ponsáveis por 23% da redução da desigual-dade (veja gráfico ao lado).

Programas O Bolsa Família é uma espéciede guarda-chuva,sob o qual se abrigam di-versos programas. Repassa a famílias comrenda mensal per capita até 120 reais,bene-fícios que variam de 15 a 95 reais, desdeque, entre outras coisas, crianças e adoles-centes em idade escolar freqüentem asaulas e mantenham a carteira de vacinaçãoem dia (veja gráfico na pág. 38). Em 2003, atransferência de 3,5 bilhões de reais bene-ficiou 3,6 milhões de famílias. Em 2006, onúmero de famílias atendidas quase tri-plicou: chegou a 11,1 milhões, com pre-visão de investimento de 8,3 bilhões dereais, ou 0,4% do PIB.“Como estão sendocriadas condições para que as famílias seestruturem e encontrem maneiras de semanter, a expectativa é de redução do in-vestimento ao longo do tempo. No entan-to, sempre haverá os mais frágeis e vul-neráveis, que precisam de atenção. E, porter custo fiscal bastante reduzido, o BolsaFamília tende a permanecer um instru-mento importante na luta contra a po-breza”, diz Rosani Cunha, secretária deRenda e de Cidadania do Ministério deDesenvolvimento Social (MDS).

mas não são perfeitos, mas de maneira ge-ral socorrem quem precisa de ajuda imedia-ta”,diz Marcelo Medeiros,coordenador doCentro de Pobreza do Pnud. “Se o BolsaFamília tem custo fiscal tão baixo e efeito tãopositivo, o valor dos benefícios poderia serelevado”,afirma Sergei Soares,pesquisadordo Ipea.“A necessidade de aumento no va-lor dos benefícios se colocará em algummomento”,acredita também Rômulo Paes,secretário de Avaliação e Gestão da Infor-mação do MDS.“É necessário enfrentar es-sa questão: o teto do Bolsa Família é muitobaixo ou o Benefício de Prestação Conti-nuada é alto demais?”, questiona RodolfoHoffmann,professor da Universidade Esta-dual de Campinas (Unicamp).

A origem do dinheiro dos brasileirosComposição da renda dos domicílios em 2004 (em %)

Bolsa Família Pensões e aposentadorias públicas BPC Transf. públicas Todas as transf.

Contribuição das transferências

para o grau de desigualdade

45

40

35

30

25

20

15

10

5

0Sensibilidade da medida de desigualdade à renda dos mais pobres

Cont

ribui

ção

(%)

Fonte: Estimativas obtidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2001 e 2004.

Desigualdade 02/08/06 16:09 Page 40

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Desaf ios • agosto de 2006 41

p r e s s ã o s o b r e a s p o l í t i c a s s o c i a i s d e g o v e r n o

(*) Salário mínimo Fonte: Pnad 2004

Renda do trabalho 72% Pensões > 1 SM* 16% Pensões até 1 SM* 5% Outras pensões 2% Aluguéis 2% Doações 1% Juros 1% Bolsa Família 0,5% BCP 0,3%

Os programas de transferência de renda responderam por 23% da redução da desigualdade

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem

Desigualdade 02/08/06 16:10 Page 41

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42 Desafios • agosto de 2006

Os dados do Pnad mostram que o traba lho garante 72% da renda fami l i ar

Da mesma forma,é consenso que medi-das assistencialistas não bastam para solu-cionar a complexa equação brasileira. Háduas formas conhecidas de combate à po-breza: a redistribuição direta de renda e asmedidas estruturais, que surtem efeito nolongo prazo,entre as quais estão as políticaseducacional e previdenciária. O ideal é quea máquina se movimente, em conjunto, nomesmo sentido. Assim, famílias que con-sigam se desvencilhar do círculo vicioso daextrema pobreza poderão buscar trabalhono mercado,obter renda,ganhar auto-esti-ma e galgar um degrau na escada da cidada-nia.Hoje,conforme os dados da Pnad,72%da renda das famílias é proveniente do tra-balho (veja gráfico na pág. 40). Mais. Em-pregos de qualidade,bem remunerados,de-mandam profissionais escolarizados.Estu-dos do Ipea mostram que as diferenças deremuneração explicam 61% da desigual-dade vigente no país e que 27% do desequi-líbrio na distribuição da renda familiar percapita está associados a escolaridade (20%)e experiência (7%). Fatores demográficos,como o envelhecimento da população (leia

reportagem na pág. 24), também têm im-pacto na distribuição da riqueza. O cresci-mento econômico e a abertura de novospostos, portanto, são elementos vitais paraa redução das injustiças sociais (leia repor-

tagem na pág. 16).“Como os benefícios não podem cres-

cer indefinidamente, é necessário investirna melhoria das condições no mercado detrabalho”, argumenta Francisco Ferreira,economista do departamento de pesquisado Banco Mundial.“Entre 2003 e 2004, fo-ram criadas 2,7 milhões de vagas no mer-cado de trabalho brasileiro, e houve au-mento no contingente de pessoas maisqualificadas, com melhor remuneração, oque se refletiu nos indicadores positivos derenda e redução de disparidades”, diz Sô-nia Rocha, economista, pesquisadora doInstituto de Estudos do Trabalho e Socie-dade (Iets). Na opinião de Cláudio De-decca, professor da Unicamp,“a recupe-ração do mercado de trabalho reduz aspressões sobre as políticas sociais, princi-

palmente as de transferência de renda”.João Sabóia, diretor-geral do Instituto deEconomia da Universidade Federal do Riode Janeiro (UFRJ), diz que o mercado detrabalho teve papel importante na quedada desigualdade e assim deve continuar.“Melhores condições pressupõem cresci-mento econômico sustentado e política deaumento do salário mínimo, como vemacontecendo nos últimos anos.”

Após dissecar todos os dados disponí-veis, os estudiosos da Comissão concluí-

ram que é preciso investir em três eixospara garantir que a queda na desigual-dade verificada entre 2001 e 2004 tenhaseqüência. O primeiro é a educação dequalidade para todos. O segundo é o cres-cimento econômico, que resulta em di-namismo no setor produtivo. O terceiro,a ser mantido ao menos enquanto os doisprimeiros não surtem efeito, é o aperfei-çoamento dos programas de transferên-cia de renda, que apóiam e dão esperançaaos mais necessitados.

Os beneficiários do Bolsa-Família só recebem o auxílio caso os pais mantenham os filhos na escola

d

Lúcio Távora/Folha Imagem

Evolução da desigualdade de renda no Brasil

(Coef iciente de Gini – quanto maior, mais desigual)

0,59874

0,6003

0,60038

0,59846

0,59214

0,59348

0,5873

0,58088

0,56876

1995

1996

1997

1998

1999

2001

2002

2003

2004

Fonte: Pnad de 1995 a 2004 – Observação: em 2000 não foi realizada a Pnad

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F a b i o V e r a s S o a r e s *ARTIGO

Banco Mundial e o governo turco pro-moveram, entre os dias 26 e 30 de ju-nho, a terceira conferência internacio-nal sobre transferências condicionadas

de renda (TCR). Representantes de mais de 40países – um grupo diversificado, que incluiuIndonésia, Quênia, Zâmbia e Camboja – discu-tiram durante cinco dias suas experiências. Osprogramas de transferência condicionada, quenasceram no México, em Honduras, na Nica-rágua e no Brasil, expandem-se agora para ou-tros países latino-americanos, como El Salvador,Panamá, Paraguai, Peru, Jamaica e RepúblicaDominicana, assim como para Ásia e África.

A difusão dá maior relevância à discussão arespeito dos casos já consolidados na AméricaLatina; e das possíveis diferenças na aplicação dasTCR em países com capacidade fiscal e institu-cional variadas, como Brasil e Quênia. Dada agrande diversidade, na conferência os debates gi-raram em torno dos seguintes pontos: 1) a neces-sidade (ou não) do estabelecimento de condicio-nantes para alcançar resultados significativos nasdimensões de capital humano – freqüência esco-lar, nutrição e visitas regulares aos postos de saú-de; 2) as dificuldades de coordenar as condicio-nalidades em países com baixa integração entreos ministérios de linha, mormente os da Saúde eda Educação, e o ministério (ou agência) respon-sável pela implementação do programa de trans-ferência de renda; 3) os arranjos institucionaisnecessários à boa implementação dos progra-mas; 4) a viabilidade das TCR em países de baixarenda, onde é extremamente limitada a ofertapública de educação e saúde de qualidade; 5) amelhor maneira de selecionar os beneficiários –a novidade, nesse aspecto, foram as estratégiasbaseadas na indicação pelas comunidades; 6) aintegração desses programas com alternativas deinserção produtiva dos beneficiários, de modo a“graduá-los da pobreza” – ou seja, o fortaleci-mento das portas de saída; 7) o prazo máximode duração dos benefícios e/ou permanência doprograma; 8) a necessidade de aumentar a efi-ciência ao calibrar o valor da transferência e aoselecionar os beneficiários.

Ficou claro que há grande variação dos pro-gramas de TCR entre os países. Muda, basica-mente, o modo como as questões listadas acimasão tratadas. Por exemplo, o foco exclusivo sobreas dimensões de capital humano na infânciatende a excluir famílias pobres sem filhos. Per-gunta-se: a exclusão dessas famílias seria justa oucaberia pensar em alternativas às condicionali-dades? No Brasil e na República Dominicana, fa-mílias extremamente pobres e sem filhos podemfazer parte dos programas. Isso não ocorre naNicarágua e em Honduras. O México estende obenefício monetário aos idosos que visitem cen-tros de saúde regularmente.

As avaliações dos programas têm mostradoreflexos bastante positivos na freqüência escolar,mas pouco efeito no aprendizado. Garantir quali-dade à saúde e à educação oferecidas aos maispobres é o grande desafio para que, dentro devinte anos, os programas de transferência de ren-da não sejam lembrados apenas como mais ummodismo, estimulado pelas agências multilate-rais no campo do desenvolvimento.

De todo modo, para além de seu efeito sobreo capital humano, os programas de transferên-cia condicionada de renda, assim como algunsnão-condicionais – como o Benefício de Presta-ção Continuada (BPC), no Brasil, e a pensão nãocontributiva aos idosos, na África do Sul –, tive-ram (e têm) papel fundamental na diminuiçãoda pobreza e na melhoria do perfil distributivode sociedades muito desiguais.

Fabio Veras Soares é economista da coordenação do Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (Ipea) do Centro Internacional de Pobreza do Pnud/Sida

(*) Escrito com a colaboração de Dag Ehrenpreis, economista do Centro Internacional

de Pobreza do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e da

Agência Internacional Sueca para a Cooperação e o Desenvolvimento (Sida)

Transferências condicionadas de renda

“Os programas

de transferência

condicionada

de renda, assim

como alguns não-

condicionais, tiveram

(e têm) efeitos sobre

o capital humano e

papel fundamental na

diminuição da

pobreza e na

melhoria do perfil

distributivo de

sociedades muito

desiguais”

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SOCIEDADE

Tele-eleição

Restrições legais aumentam ainda mais a importância do horário eleitoral gratuito nas campanhas

políticas. Um campo em que normalmente o conteúdo vai para escanteio e lábia, charme e carisma

são embalados em pacotes produzidos com alta tecnologia para seduzir os telespectadores

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P o r M a n o e l S c h l i n w e i n , d e B r a s í l i a

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46 Desafios • agosto de 2006

O prof issionalismo das propagandas é tamanho que o vídeo da candidatura do democrata

uz, câmera, ação! O jogo dasatenções vai começar e aquele queconseguir mais holofotes temmaior chance de vencer a batalha!

A partir de 15 de agosto,todos os canais daTV aberta exibirão, duas vezes ao dia, apropaganda eleitoral gratuita de candida-tos ao pleito de outubro. Durante 45 dias,os brasileiros terão a oportunidade deacompanhar propostas de interessados emocupar assentos nas assembléias legislati-vas, no Congresso Nacional, nos governosestaduais e no Palácio do Planalto.É sabidoque a corrida só esquenta mesmo depois dea telinha exibir o rosto dos candidatos. Porquê? Qual o grau de influência das cam-panhas eletrônicas na mente dos eleitores?

Há quase meio século,na noite de 26 desetembro de 1960, um debate entre presi-denciáveis norte-americanos entrou para ahistória e passou a compor todos os ma-nuais de marketing político. Naquele dia,John F. Kennedy venceu Richard Nixon nabatalha pelo posto na Casa Branca comapenas uma arma: a imagem. O discursopomposo e os dados na ponta da línguanão tiveram a menor utilidade frente aocarisma, ao charme e à elegância de Ken-nedy diante das câmeras. Dali em diante,essa seria a tônica das campanhas, tantonos Estados Unidos como no Brasil. Emtempos mais recentes, o vídeo da candi-datura do democrata John Kerry à Presi-dência norte-americana foi assinado pelo

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John Kerry à Presidência norte-americana foi assinado pelo cineasta Steven Spielberg

Propaganda política no rádio

Notícias sobre candidatos no rádio

Resultado de pesquisas eleitorais

Notícias sobre candidatos nos jornais

Notícias sobre cabdidatos na TV

Propaganda política na TV

Debates entre candidatos na TV

14,4

14,7

20,7

25,8

38,8

49,8

63,1

Fontes de informações consideradas

importantes pelos eleitores (em%)

Fonte: Estudo Eleitoral Brasileiro, 2002 - Cesop/Unicamp/DataUFF

cineasta Steven Spielberg e contou com anarração do ator Morgan Freeman, ambosvencedores do Oscar, prêmio máximo docinema mundial. O candidato brasileiroFernando Collor de Mello usou e abusouda imagem no pleito de 1989. Conquistouboa parte do eleitorado e continuou a ex-plorar o marketing pessoal durante seumandato.

Mesmo antes do surgimento da televi-são, os meios eletrônicos já serviam para aconquista da simpatia do povo. É célebre ocaso do ministro da propaganda de AdolphHitler,Joseph Goebbels,que priorizou o rá-dio,veículo de comunicação de massa maispopular à época, apresentou somente asvirtudes do Führer, sem citar seu lado ne-gativo,e,em apenas um ano,aumentou emmais de 25 milhões o número de ouvintes.Um dos textos veiculados pelas emissorasde rádio alemãs na década de 1940:“Nosquatro primeiros anos de seu governo, onúmero de desempregados caiu de 6 mi-lhões para 900 mil pessoas.Esse homem fezo Produto Interno Bruto crescer 102% e arenda per capita dobrar. Aumentou os lu-cros das empresas de 175 milhões para 5bilhões de marcos. Esse homem adoravamúsica e pintura e, quando jovem, imagi-nava seguir a carreira artística”.

Show Como a decisão de voto não é ex-clusivamente um ato racional, as campa-nhas que mexem com o imaginário da po-pulação surtem efeito. Nelas, como numgrande show, músicas, cores, ângulos, fi-gurino compõem um ambiente cujo obje-tivo é seduzir o eleitor. A confiança nopoder da publicidade é tão grande quedoze dos dezenove deputados federais acu-sados de envolvimento no esquema doMensalão não titubearam em disputar aspróximas eleições (dos demais, um estápreso desde maio, três foram cassados e es-tão inelegíveis e três preferiram não con-correr).A peleja pelos votos também brin-dará os eleitores paulistas com a reapariçãodo ex-governador Paulo Maluf e do ex-prefeito da capital Celso Pitta, presentesrepetidas vezes no noticiário por suspeita

de envolvimento em atos ilícitos.Segundo Rachel Meneguello, professo-

ra do departamento de Ciência Política daUniversidade Estadual de Campinas (Uni-camp) e pesquisadora do Centro de Estu-dos de Opinião Pública, textos acadêmi-cos mostram que os meios convencionaisde informação – TV, rádio e jornais im-pressos – exercem papel semelhante no co-nhecimento do candidato pelo eleitor.“Apropaganda eleitoral nos meios de comu-nicação de massa tem espaço consolidadona dinâmica das campanhas há décadas.Arigor, é o único instrumento que alcançaigualmente o eleitorado em todo o terri-tório”, observa.“Essa capacidade potencialde construção e divulgação de imagemjustifica o investimento em marketingpolítico.”

Certa vez, o ex-primeiro-ministro bri-tânico Winston Churchill afirmou que “nãoexiste opinião pública, o que existe éopinião publicada”. Os estudos acadêmi-cos realizados no Brasil pretendem definira influência das informações disponibi-lizadas no horário eleitoral gratuito nadefinição do voto. Investigações como asdo pesquisador Fernando Azevedo,da Uni-versidade Federal de São Carlos (UFSCar)– “Campanha eleitoral e comportamento

político em São Paulo”e “Imprensa,cober-tura eleitoral e objetividade: a eleição de2000 na capital paulista”–,apontam que osdebates políticos têm mais influência sobrea decisão do eleitor do que o horárioeleitoral gratuito (veja gráfico acima).O queleva Meneguello à conclusão de ser falsa aidéia de que o cidadão tem uma percepçãoacrítica do candidato,que considera a ima-gem,e não o conteúdo e as proposições.“Asanálises mostram que a propaganda elei-toral pelo rádio e pela TV amplia o co-nhecimento sobre os candidatos, mas nãotem capacidade significativa para alterar aescolha do eleitor.”

É o que constata uma pesquisa realiza-da pelo Instituto Datafolha em agosto de2002, quando as campanhas televisivas jáestavam no ar: entre os eleitores, apenas29% sabiam o número de seu candidatopreferido à Presidência – que deveria serdigitado na urna eletrônica – e somente17% admitiram ter mudado sua escolhaapós início do programa eleitoral.

Telinha Não se deve, entretanto, minimizara importância desse veículo de comuni-cação, especialmente num país de dimen-sões continentais. Há no Brasil cerca de100 milhões de aparelhos de TV, em 96%

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48 Desafios • agosto de 2006

Há no Brasil cerca de 100 milhões de aparelhos de TV, em 96% das residências. Neste

dicam que metade desse valor foi paraempresas de produção de audiovisual.Quem quiser saber mais sobre gastos decampanha dos candidatos pode consul-tar o site do TSE, na opção “Eleições” e,posteriormente, no campo “Prestação decontas eleitorais”.

Além dos valores aplicados na confec-ção dos programas, há custos de veicula-ção. A legislação define isenções tribu-tárias para as emissoras de televisão quetransmitirem “gratuitamente”a propagan-da eleitoral. Para o professor Roberto Ro-mano, as emissoras perdem quando osíndices de audiência se alteram por deixar

de exibir seus programas habituais, mas osreais perdedores são os cidadãos.“Quempaga a conta é o povo, o contribuinte. Co-mo diz o jurista Noberto Bobbio, senadorvitalício na Itália, o mercado das eleiçõessempre rende mais do que custa.”

Reforma A estratégia adotada até a últi-ma eleição, para campanhas televisivas enas ruas, deixava os caminhos largos de-mais, confundia o eleitor e dificultava oprocesso. O Tribunal Superior Eleitoralmudou as regras. No início de maio, en-trou em vigor a chamada “minirreformaeleitoral”, conjunto de alterações previs-

das residências, conforme dados da Asso-ciação Brasileira de Emissoras de Rádio eTelevisão (Abert). Neste ano, serão 126milhões de eleitores de olhos pregados natelinha, 9,25% mais que no último pleito,de acordo com dados do Tribunal Su-perior Eleitoral (TSE).

Para atrair a atenção dos cidadãos, ospolíticos não vacilam em gastar fortunasna confecção de seus vídeos, e candidatu-ras com orçamentos modestos parecemtoscas na telinha. Os quatro principaiscandidatos que concorreram à última dis-puta presidencial declararam ter gasto 60milhões de reais, os dados do TSE in-

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to na Lei n° 11.300/2006, que dá novadinâmica à disputa. Proíbe o uso de out-doors, a veiculação de qualquer tipo defaixa ou cartaz em bens públicos (postes,viadutos e paradas de ônibus, por exem-plo) e a realização de showmícios para apromoção de candidatos (com artistaspagos ou não). Os eleitores não poderãocomparecer aos locais de votação comcamisetas e bonés de seus partidos ou can-didatos preferidos. O advogado WolneyRamos, autor do livro Manual das Eleições2006, acrescenta que também estão proi-bidas “a confecção, a utilização e a dis-tribuição por comitê, candidato, ou com

a sua autorização, de camisetas, chaveiros,bonés, canetas, brindes, cestas básicas equaisquer outros bens ou materiais quepossam proporcionar vantagens ao elei-tor”. Consultado, o TSE esclareceu: ade-sivos, bandeirolas e flâmulas não se in-cluem nessa categoria.

Segundo Ramos, o Brasil está, cada vezmais, deixando de lado a democracia departidos, ou a democracia de idéias, e par-tindo para a “democracia do público”, mo-delo em que o show e as personalidadesdos candidatos são mais importantes doque qualquer programa de governo. “Atelevisão é o grande catalisador desse pro-

cesso e a cada dia ganha mais relevo. Elapermite uma propaganda eleitoral comforte carga emocional, o que possibilita amanipulação de grande parte do eleitora-do. Somente o eleitor instruído politica-mente tem como ser seletivo em relação àmensagem recebida”, diz.

As reformas legislativas deixaram a tele-visão praticamente incólume.A Justiça ape-nas estipulou novo prazo para os candida-tos que trabalham como apresentadores derádio e televisão deixarem de aparecer naprogramação regular.Eles têm de ser subs-tituídos em junho, logo após o resultadodas convenções partidárias, e não mais em

ano, 126 milhões de eleitores estarão de olho na telinha, 9,25% mais que no último pleito

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50 Desafios • agosto de 2006

Nos EUA e em muitos países da Europa, os jornais informam aos le itores o candidato

instrução normativa informando aos in-teressados das alterações em curso. Entrejulho e outubro estão suspensas as peçaspublicitárias governamentais com a mar-ca “Brasil, um país de todos”.A instruçãoafirma que podem ser mantidas as notí-cias sobre atos dos dirigentes do min-istério,“mas esses relatos jornalísticos de-vem ser sóbrios e objetivos, sem qualquerenfeite nem demasia que possam ser en-tendidos como promoção da ação gover-namental noticiada”. E determina quenão haja fotos de autoridades nos veícu-los jornalísticos do governo.

Situação nada convencional vive a Ra-diobrás, empresa pública de comunicação.Ela divulga diariamente as atividades dogoverno, mas não pode sequer dar a im-pressão de estar fazendo qualquer tipo depromoção. Para dar conta da tarefa, extre-mamente delicada,foi confeccionado o iné-dito “Código de Conduta da Radiobrás –Protocolo de Compromisso com o Cida-dão”, com os critérios adotados na cober-tura das eleições deste ano. O documentorelaciona normas sobre a participação defuncionários no processo eleitoral,a progra-mação transmitida e o uso de bens da Ra-diobrás no período. O texto explica:“A Ra-diobrás espera oferecer ao público um qua-dro transparente da disputa entre os can-didatos e os partidos, livre de especulaçõese das mais variadas formas de assédio quepossam se sobrepor ao debate de interessedo cidadão.A finalidade desse esforço é aju-dar o eleitor a equacionar as escolhas queterá de fazer no momento do voto”.

A direção da empresa delimitou o tem-po de veiculação de notícias da campanha;a equipe responsável por apurá-las, editá-las e colocá-las no ar; e o espaço em queserão publicadas, de modo a não se con-fundirem com o noticiário regular. O Cafécom o Presidente, programa semanal vei-culado pela Radiobrás, foi suprimido e,desde 19 de junho, mais de 1,3 mil emis-soras de rádio deixaram de transmiti-lo. AVoz do Brasil não emitirá debates entre oscandidatos à Presidência. A Radiobrástambém não encomenda nem publica re-

sultados de pesquisas eleitorais, não seocupa de assuntos relativos à vida privadados candidatos, não veicula informaçõessem identificar a fonte e não noticia acu-sações ou denúncias contra candidatos epartidos, exceto aquelas cujo recebimentotenha sido deferido pela Justiça Eleitoral.“Os cuidados para eliminar vícios têm co-mo objetivo garantir que o cidadão recebainformação com qualidade. Informaçõespartidarizadas não valem para absoluta-mente nada”,diz Eugênio Bucci,presidenteda empresa.

Grandes veículos privados da imprensase debatem num dilema completamentediferente: divulgar ou não o apoio a algumpolítico. Nos Estados Unidos, país tido co-mo modelo da democracia moderna, osprincipais jornais costumam informar aseus leitores qual o candidato de sua prefe-rência. O mesmo acontece em muitos paí-ses da Europa.No Brasil,essa prática aindaé rara, nem sempre vista com bons olhos.Dois veículos quebraram o tabu em elei-ções passadas: o jornal O Estado de S.Pauloe a revista Carta Capital.“O importante éseparar opinião de noticiário”, diz o presi-dente da Federação Nacional dos Jorna-listas (Fenaj), Sergio Murillo de Andrade.Independentemente da decisão, importaque a mídia tome consciência de seu papelno processo eleitoral e busque a forma maisdigna de desempenhá-lo. Seria bom, tam-bém,se os políticos aproveitassem o espaçodisponível nos veículos de comunicaçãopara mostrar suas idéias e propostas,no lu-gar de recursos teledramáticos.

1º de agosto. Considerando as novas res-trições em outras áreas,já se prevê que o vo-to será decidido,mais do que nunca,diantedo televisor.A 'minirreforma' transformouo estúdio de gravação em campo de batalhaquase que exclusivo, em vez de estimular ocontato pessoal entre eleitores e candidatosou a reflexão crítica por meio de impressose cartilhas.“A retórica da propaganda serásempre a mais primitiva, a da manipulaçãoda imagem sem conceitos, sem dados es-tatísticos confiáveis e sem números con-troláveis”, adverte o professor Roberto Ro-mano, da Unicamp.

A parada promete ser dura. O publi-citário Carlos Manhanelli, presidente daAssociação Brasileira dos ConsultoresPolíticos (Abcop) e autor de cinco livros so-bre o tema, entre eles A Conquista do Voto eEleição É Guerra, considera que não hánovidade na primazia da TV sobre qual-quer outro veículo. Mas alerta:“Com cer-teza, a campanha política ficará mais difí-cil daqui por diante”.Fundador de uma dasprimeiras empresas especializadas em mar-keting político-eleitoral no país, em 1978,Manhanelli explica que o bom desempe-nho nos programas televisivos é responsá-vel por mais de 50% do sucesso numa cor-rida eleitoral.“Quando um debate termina,a maioria das pessoas não lembra das pa-lavras usadas nem se pergunta quem ga-nhou a discussão, mas quem foi mais inci-sivo, demonstrou mais segurança.”

Táticas Em suas táticas de promoção, ospolíticos têm mostrado criatividade. Mui-tos são verdadeiros mestres em criar “fatosjornalísticos” que os mantenham na mí-dia por tempo extra. Outra modalidade,utilizada por aqueles que já ocupam al-gum cargo eletivo, é participar de eventosem que seu trabalho e sua marca apa-reçam com destaque. De olho nesse tipode propaganda indireta, a legislação elei-toral proibiu a presença de marcas de go-verno em imagens veiculadas pela tele-visão. A Subsecretaria de ComunicaçãoInstitucional (Secom), ligada ao gabinetedo presidente da República, emitiu uma

Tribunal Superior Eleitoral (TSE)www.tse.gov.br

Radiobráswww.radiobras.gov.br

Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)www.fenaj.org.br

Saiba mais:

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de sua preferência. No Brasi l , a prática é rara, nem sempre v ista com bons olhos

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Em vez de poluir a atmosfera e agravar o efeito estufa, o gás emitido pelo Aterro Sanitário

Bandeirantes, na capital paulista, serve de combustível para alimentar uma usina termoelétrica.

O Protocolo de Kyoto possibi l ita receita adicional com a venda de créditos de carbono

MELHORES PRÁTICAS P o r O t t o n i F e r n a n d e s J r . , d e S ã o P a u l o

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oi como achar dinheiro no lixo. Foi is-so mesmo o que aconteceu com a Bio-gás Energia Ambiental.A empresa cap-ta o gás bioquímico (GBQ) produzido

no maior aterro sanitário de São Paulo, o Ban-deirantes,localizado em Perus,na região metro-politana da capital paulista.O material é vendi-do para a Unidade Térmica de Energia (UTE)Bandeirantes,o que rende cerca de 700 mil reaispor mês.Ali,serve de combustível – o gás move24 grupos motogeradores capazes de produzir20 megawatts de energia elétrica,quantidade su-ficiente para abastecer uma cidade de 300 milhabitantes.Na rede da Eletropaulo,a energia ilu-mina, entre outros locais, os prédios adminis-trativos do Unibanco, que financiou a constru-ção da usina. É, como se vê, um jogo de ganha-ganha,em que todas as partes faturam e a natu-reza agradece, pois o GBQ gerado no aterrodeixou de ser liberado na atmosfera, e o queantes contribuía para o aquecimento global pas-sou a ser combustível.Além disso,uma vez cap-tado e aproveitado,o GBQ proporciona um fa-turamento adicional graças à venda de créditosde carbono, certificados que comprovam a re-dução da emissão de gases causadores do efeitoestufa (leia quadro na pág.56).Em abril,a BiogásAmbiental vendeu, ao banco alemão KFW,1 milhão de toneladas de créditos de carbonopelos gases de efeito estufa (GEE) que deixou deemitir em 2004 e 2005. O banco tratará de re-passar os créditos a empresas de países desen-volvidos comprometidas com o Protocolo deKyoto,que compram os “títulos”para compen-sar as emissões que não conseguem cortar.

A natureza agradece

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Invisível e vital para o planeta Terra, o mer-cado criado em torno dos gases poluentes con-tribui para diminuir as emissões de gases, o con-seqüente aquecimento global e a previsível catás-trofe ambiental, com aumento do nível dos ocea-nos e trágicas alterações climáticas. Tambémabre novas frentes de negócios, gerando empre-gos em países em desenvolvimento. Em 2005,esse universo movimentou a respeitável quantiade 10 bilhões de dólares, segundo recente re-latório do Banco Mundial – valor que poderá tri-plicar neste ano.

A mercadoria – os créditos de carbono pe-los gases de efeito estufa (GEE) – já é commo-

dity. Pode ser gerada com a produção de energiaelétrica de forma limpa,com a queima de biomas-sa, como bagaço de cana, ou com o gás produzi-do em aterros sanitários, ambos combustíveis queemitem muito menos GEE do que os de origemfóssil, como carvão mineral e diesel.As reduçõescertificadas de emissões (RCE), decorrentes daimplantação de projetos desse tipo, são medidasem toneladas equivalentes a emissões de dióxidode carbono (CO2). Os compradores são gruposempresariais que poluem a atmosfera com GEE,com sede nos 35 países desenvolvidos que secomprometeram em diminuir, até 2012,5,2% dasemissões desses gases, tendo por base os níveis

registrados em 1990, conforme estabelece oProtocolo de Kyoto, da Organização das NaçõesUnidas (ONU).

As leis ambientais desses 35 países deter-minam o volume de redução para cada tipo deempresa. A Convenção das Nações Unidas, queregulamentou o Protocolo, permite que compa-nhias ou governos que superem suas metas decorte comprem créditos gerados por projetos deredução instalados em países em desenvolvimen-to.Assim, estabeleceu-se uma maneira de mino-rar o estrago provocado pela poluição e, ao mes-mo tempo, criar uma fonte de receita para paísesmenos desenvolvidos. Na avaliação de RichardKinley, chefe do Secretariado do Painel das Na-ções Unidas para as Mudanças Climáticas, osmecanismos de desenvolvimento limpo (MDL),baseados em projetos aprovados pela organiza-

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O aterro Bandeirantes pode receber reduções certif icadas de emissões correspondentes

previsão é que, até se esgotar, o aterro ren-da reduções certificadas de emissões cor-respondentes a 16,1 milhões de toneladasde carbono.

Todo esse mecanismo pôde ser desen-cadeado porque o aterro Bandeirantes temcaracterísticas peculiares.É planejado.Tra-ta-se de uma obra de engenharia em que osresíduos são depositados,em camadas,so-

bre a terra impermeabilizada por mantasplásticas. Há drenos verticais e um sistemaque leva o chorume (líquido produzidopela decomposição anaeróbia da matériaorgânica) para lagoas de contenção locali-zadas num nível inferior e dali a estações detratamento de esgoto. Cada camada é co-berta com terra e impermeabilizada.Quan-do o aterro parar de receber lixo, será uma

A prefeitura municipal de São Paulo,que em 2001 deu à Biogás a concessão paraexplorar o gás do aterro por quinze anos, émais uma a ficar bem. Metade da rendaproveniente da venda dos créditos de car-bono será dela e contribuirá para reduzir aconta que paga à empresa Loga,cessionáriada operação do aterro, que, por sua vez,subcontratou a Heleno&Fonseca Constru-técnica para o serviço. O valor ainda de-pende da aprovação técnica do Secretaria-do do Painel da Convenção das NaçõesUnidas para Mudanças Climáticas (UN-FCCC,da sigla em inglês),aguardada parasetembro. Com o sinal verde, o preço devenda será a média dos trinta dias posterio-res à autorização – atualmente, a toneladade carbono é negociada na Europa na faixade 15 euros, mas atingiu 24 euros em abril.O banco KFW cobrará comissão de 15%sobre a venda e o restante será dividido en-tre a Biogás e a prefeitura. O negócio temfuturo. Mesmo depois do início de 2007,quando deixar de receber lixo,o aterro con-tinuará a gerar gás por quinze anos, até olimite de sua capacidade de 35 milhões detoneladas de resíduos.Assim, novos crédi-tos de carbono poderão ser vendidos. A

Poluição vira mercado

Redução anual ProjetosPaís de emissãoes* em % aprovados

China 25.434.034 35,0% 12

Brasil 13.656.157 18,8% 58

Coréia do Sul 11.075.047 15,3% 5

Índia 9.995.256 13,8% 77

México 3.973.296 5,5% 20

Outros 8.449.996 11,6% 81

Total 72.583.786 100,0% 253

Amigos do planetaOs líderes da redução de emissão de gases de efeito estufa

* em toneladas equivalentes de CO2Fonte: Painel da Convenção das Nações Unidas para Mudanças Climáticas

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ção, podem evitar que 1 bilhão de toneladas deGEE poluam a atmosfera até 2012, o que equiv-ale à soma das atuais emissões desses gases porEspanha e Reino Unido.

Segundo o levantamento das Nações Unidas,27 países desenvolvidos – Estados Unidos, Eu-ropa Ocidental, Austrália e Nova Zelândia – au-mentaram as emissões anuais de GEE de 12,7 bi-lhões de toneladas em 1990 para 13,9 bilhõesde toneladas, alta de 9,4%, muito distante doscompromissos firmados no Protocolo de Kyoto –não ratificado pelos norte-americanos. Essa rea-lidade impulsiona a demanda por RCE e movi-menta o mercado de troca dos títulos.A principalbolsa de negociação está na Europa. É a Euro-pean Climate Exchange (ECX), que responde por80% do total transacionado.A bolsa de mercado-rias de Chicago também movimenta RCE em seus

pregões, e a Bolsa Mercantil & Futuros de SãoPaulo se prepara para aderir ao mercado.

Só são negociados títulos gerados por pro-jetos aprovados pela UNFCCC, por meio do MDL,que audita e controla a redução das emissões.Até julho, o MDL aprovou 253 projetos, com po-tencial de eliminação de 72,6 bilhões de tone-ladas de gás atualmente emitido na atmosferapor ano. Com doze projetos aprovados, somandoredução das emissões da ordem de 35%, a Chi-na é líder internacional nessa nova frente [leiatabela acima]. Sua maior obra está sendo rea-lizada na cidade de Zibo, na província de Shang-dong. Lá, uma indústria química está instalandoequipamentos para evitar o despejo do gás tri-fluorometano (HFC 23), cujo potencial de aque-cer a atmosfera é 9,1 mil vezes superior ao doCO2 – é o mais danoso de todos os GEE. Com a

reforma, a atmosfera ficará livre de 10,1 mi-lhões de toneladas de veneno emitidos pela em-presa por ano.

O Brasil ocupa a vice-liderança nesse ran-king, com potencial de reduzir as emissões deGEE em 13,6 milhões de toneladas equivalentesde CO2 por ano (18,8% do total) em 58 projetos,sendo o maior o da fábrica da Rhodia PoliamidaEspecialidades, em Paulínia, no interior de SãoPaulo.A Rhodia poderá reduzir emissões de GEEequivalentes a 6 milhões de toneladas de CO2graças ao processo de decomposição térmicade óxido nitroso (N20), com poder de aquecer aatmosfera 310 vezes mais que o dióxido de car-bono. Projetos como esse, além de benefíciosambientais, garantem bons rendimentos, embo-ra, no momento atual, o mercado seja, por assimdizer, volátil.

a 16,1 mi lhões de toneladas de carbono, até que seu gás bioquímico se esgote

Vista aérea do aterro sanitário Bandeirantes, cuja capacidade se esgotará no ano que vem, porém continuará fornecendo gás para geração de energia

Biogás Ambiental/Divulgação

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montanha tratada de até 150 metros de al-tura, coberta por árvores e arbustos.

Parcerias Até a Biogás começar a operar,os drenos verticais jogavam na atmosferatoda a carga de GBQ,composto,em média,de 52% de metano, 43% de gás carbônicoe 5% de outros gases. O metano tem poder21 vezes maior do que o gás carbônico paraelevar a temperatura da atmosfera. Sua li-beração, portanto, agrava o efeito estufa. Oengenheiro Antonio Carlos Delbin,diretortécnico da empresa, explica que, numaprimeira fase, a instalação de 60 quilô-metros de tubos de polietileno de alta den-sidade (Pead), conectados por cabeçotesaos 230 drenos verticais, tornou possívellevar o gás a dois queimadores.A Biogás in-vestiu 20 milhões de reais na montagem,valor dividido entre os três sócios: ArcadisLogos Energia, que estruturou o negócio,Heleno&Fonseca Construtécnica,que ope-ra o aterro, e a empresa holandesa Van derWiel Stortgas,que forneceu os equipamen-tos e a tecnologia.

Desde o início, o projeto contou comoutro parceiro,o Unibanco,interessado porrazões ambientais e estimulado pelo Pro-grama de Incentivo às Fontes Alternativas

de Energia Elétrica (Proinfa),do Ministériode Minas e Energia – implantado duranteo apagão de 2001 para incentivar a pro-dução de energia elétrica de fontes alterna-tivas –,em cujo escopo os investimentos namontagem de pequenas centrais elétricascom combustível limpo ficavam isentos dorecolhimento de impostos (como ICMS,PIS e Cofins) sobre a energia comercia-lizada,além das taxas de transmissão e dis-tribuição de energia. Como lembra o eco-nomista Richard Fazzani, gestor do proje-to pelo Unibanco,o banco financiou a cons-trução da UTE Bandeirantes, ao custo de40 milhões de reais,com a intenção de fun-cionar como produtor independente e usara energia para abastecer suas agências e pré-dios administrativos. Na realidade, a ener-gia seria repassada à Eletropaulo e o Uni-banco ficaria com créditos, a serem de-bitados da conta de eletricidade gasta emsuas instalações. Tudo foi implantado emtoque de caixa, pois o gás deveria ser for-necido para a UTE entrar em funciona-mento até o final de 2003, o que garantiriaos benefícios do Proinfa.

A UTE começou a jogar energia na re-de da Eletropaulo em março de 2004, masa Agência Nacional de Energia Elétrica

(Aneel), órgão regulador do setor, não au-torizou o fornecimento para as agências doUnibanco, pois a maior parte delas con-some,individualmente,menos de 500 qui-lowatts.“Quando decidimos implantar ausina movida a biogás, nos baseamos naLei n.° 10.762 (de 11/11/2003),que permi-tia comercializar a energia de usinas en-quadradas no Proinfa para um conjunto deconsumidores reunidos por comunhão deinteresses, com carga maior ou igual a 500quilowatts, dentro da área de concessão dadistribuidora de energia.Esse era o caso dasagências do Unibanco na Grande São Pau-lo”, explica Fazzani. No entanto, ele escla-rece:“Até agora, a Aneel não regulamentoua lei,e não tivemos autorização para abaste-cer as agências, mas apenas os prédios ad-ministrativos, que consomem somente30% da eletricidade produzida pela UTEBandeirantes”. O planejamento do Uni-banco previa corte de 20% em sua conta deluz.Como ainda não pode se beneficiar di-retamente do investimento feito, 70% daenergia da UTE Bandeirantes é vendida nomercado atacadista, por meio da Câmarade Comercialização de Energia (CCE).“Aoentrar no projeto,o banco tinha motivaçãosocioambiental. Pretendia abastecer suas

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O Brasi l tem potencia l para gerar redução de 130 mi lhões de toneladas de emissões

Engenheiro Antonio Carlos Delbin, da Biogás, mostra as instalações de tratamento de gás da empresa. Ao lado, os queimadores onde é destruído o excedente de gás

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instalações com energia de fonte limpa.Diante das dificuldades, desistiu de outrasiniciativas do mesmo tipo, embora conti-nue interessado na montagem de operaçõesde financiamento a produtores de energiaelétrica com biomassa”, conclui o econo-mista do Unibanco.

Exemplo A regulamentação do uso daenergia de centrais alternativas, incenti-vadas pelo Proinfa, está na pauta do cole-giado da Aneel, segundo informa RicardoVidinich, superintendente de regulação ecomercialização da entidade,que envolve ocaso de consumidores individuais reunidosem consórcio com gasto inferior a 500 Kw.“O parecer da área técnica é favorável aopleito do Unibanco, mas temos de ser cui-dadosos. Esse tipo de utilização deve sermuito bem controlado, pois garante subsí-dio de 50% a 100% no valor das taxas detransmissão e distribuição da eletricidade,valor que acaba sendo compensado poroutros consumidores”, pondera Vidinich.Segundo ele, restarão dificuldades mesmocom a aprovação. Cada consumidor doconsórcio – uma agência do Unibanco,porexemplo – terá de instalar um medidoreletrônico de eletricidade, interligado por

modem à CCE, e o alto custo do investi-mento pode não ser compensador se oconsumo for pequeno.

Apesar dos problemas regulatórios, Fa-zzani acredita que projetos semelhantesmerecem a atenção de autoridades de ou-tras cidades com problemas para disporseus resíduos, pois, em vez de despejá-losem lixões, que poluem o lençol freático esão foco de doenças, podem, desde quecolocados em aterros sanitários,gerar ener-gia limpa e virar uma fonte de receita parao município.A geração de créditos de car-bono pode ser um estímulo adicional. Aempresa de consultoria ambiental Environ-mental Resources Management (ERM),com sede em Londres,na Inglaterra,calcu-la que o Brasil tenha potencial de gerar re-dução de emissões de 130 milhões de tone-ladas de GEE até 2012,em projetos aprova-dos pela ONU,o que poderia garantir umareceita, a preços atuais, da ordem de 2 bi-lhões de euros. E existem investidores pri-vados interessados, como prova o caso doaterro Bandeirantes, montado em prazorecorde.

Embora o Unibanco tenha desistido denovos projetos de produção independentede energia elétrica,a Biogás pretende seguir

em frente. Delbin informa que a empresajá tem concessão para explorar o AterroSanitário São João, da prefeitura paulis-tana, localizado no bairro de Sapopemba.Instalará outra usina termoelétrica de 20MW. Um exemplo a ser replicado, em be-nefício do meio ambiente e das geraçõesfuturas.

de gases de efe ito estufa até 2012 - e uma receita de até 2 bi lhões de euros

Biogás Energia Ambientalwww.biogas-nergia.com.br

Unibanco S.A.www.unibanco.com.br

Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)www.aneel.gov.br

Painel da Convenção das Nações Unidas paraMudanças Climáticas (UNFCCC)www.unfccc.int

Environmental Resources Management (ERM)www.erm.com

PointCarbonwww.pointcarbon.com

Relatório do Banco Mundial sobre o Mercado deCarbono em 2006http://carbonfinance.org/Router.cfm?Page=DocLib&CatalogID=27336

Saiba mais

d

Fotos Samuel Iavelberg

sem produção de metano. Por último, Richard Fazzani, gestor do projeto pelo Unibanco, diante do conjunto dos motogeradores da Unidade Térmica de Energia

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As emissões de carbono têm sido bastante malfaladas e combatidas.Um novo estudo acaba de dar mais força ao coro. Demonstra que elas au-mentam a acidez dos oceanos e afetam organismos marinhos – inclusivecorais como os do Golfo do México, que aparecem na foto acima.“O au-mento da acidez tem potencial para romper o processo de calcificação.Também prejudica a formação de plâncton, base da rede de alimentaçãodos oceanos”, diz Phil Taylor, diretor do programa de biologia oceanográ-fica do National Science Foundation (NSF), agência federal dos EstadosUnidos, que financia as pesquisas.

Na universidade norte-ameri-cana Purdue, um microscópio ele-trônico modificado, denominadoFEI Titan, é dotado de 64 lentes.Permite que se observe a forma-ção, no nível atômico, de estrutu-ras como nanotubos de carbono eainda fotografa o experimento emalta resolução.As informações sãocruciais para o desenvolvimentode aplicações práticas para a na-notecnologia. Os nanotubos decarbono, por exemplo, foram des-cobertos no início dos anos 1990.Poderão, um dia, dar origem a umanova classe de transistores e acomputadores mais eficientes noconsumo de energia.

Está praticamente pronto oLabtar, primeiro laboratório daAmérica Latina voltado exclusiva-mente para o transporte aéreo.Instalado na divisão de engenhariade infra-estrutura do Instituto Tec-nológico de Aeronáutica (ITA), seráresponsável pela qualificação demão-de-obra para companhias aé-reas, aeroportos, indústrias e orga-nismos reguladores. Também faráestudos científicos e simulaçõesde situações operacionais, geren-ciais e econômicas. Produzirá umsistema de dados com informações

e imagens atualizados, disponibi-lizado na Internet pelo Nectar-Lab-tar.“Entre as pesquisas devem es-tar temas como demanda e ofertade transporte aéreo, planejamentoe gerenciamento de aeroportos edefesa da concorrência”, diz Ales-sandro Vinícius Marques de Oli-veira, responsável pelo laborató-rio. Parte do projeto “Mapeamentodas oportunidades para a aviaçãoregional brasileira”, a investiga-ção inaugural, prevista para 2007,traçará o perfil dos passageiros dosaeroportos de Congonhas e Guaru-

lhos, em São Paulo. O caminho,aparentemente, é correto. Estudofeito pela empresa de consultoriaMcKinsey indica que a saída para acrise internacional no setor da avia-ção é maior dedicação às questõesque dizem respeito diretamente aonegócio e ao mercado.“O modeloantigo, em que o presidente dacompanhia cuidava das vendas àoperação de vôos, deve ser substi-tuído por outro, de empresas comunidades autônomas”, afirmamYael Heynold e Jerker Rosander,autores do trabalho.

CIRCUITOciência&inovação

Pesquisa Andréa Wolffenbüttel Texto Eliana Simonetti

Nanotecnologia

Microscópiotitânico

Aviação

No tubo de saio

Biodiversidade

Bicho-papão

Há no Brasil 42 Parques Cien-tíficos e Tecnológicos (PCTS).Sen-do 44% voltados para biotecnolo-gia, 41% para meio ambiente e30% para agronegócio. Um estudopatrocinado pela farmacêuticaMerck Sharp & Dohme revela gran-de concentração de empresas tec-nológicas na região Sudeste e noDistrito Federal, sedes de 90% dos272 empreendimentos registradosno Diretório Nacional de Empresasde Biotecnologia do Brasil.

Inovação

Pesquisa concentrada

O Plano Executivo de Desenvol-vimento Sustentável do Agronegó-cio na Amazônia Legal, do Ministé-rio da Agricultura, visa reduzir adevastação florestal com capacita-ção profissional, inovação e aper-feiçoamento da agropecuária. Jádeu fruto. As empresas Bio-ware eFloragás, incubadas nas universi-dades Estadual de Campinas (Uni-camp) e Federal do Pará (Ufpa),criaram uma máquina que transfor-ma biomassa (caroços de açaí, res-tos de podas de árvores e outros)em fonte de energia: a PPR-200. Éuma alternativa à produção de car-vão,que lança cerca de 630 mil va-pores na atmosfera e arrasa flo-restas. Segundo o Instituto Brasi-leiro do Meio Ambiente e dos Recur-sos Naturais Renováveis (Ibama),catorze siderúrgicas consomem 12milhões de metros cúbicos de le-nha,ou até 200 mil hectares de ma-ta por ano.“A PPR-200 aproveita oque seria desperdiçado, evitando75% da emissão de poluentes”, dizJosé Dílcio Rocha, da Unicamp.

Madeira

Carvão legal

Frank e Joyce Burek/NSF

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The greatest hitsA revista Nature patrocinou uma pesquisa para descobrir quais sãoos blogs científicos mais visitados. Divulgou os nomes dos 3,5 milmais populares depois de sondar quase 50 milhões de sites dogênero. Abaixo, os endereços dos cinco primeiros colocados.• Pharyngula: www.scienceblogs.com/pharyngula • Panda's Thumb: www.pandasthumb.org • Realclimate: www.realclimate.org• Cosmic Variance: www.cosmicvariance.com • Scientific Activist: www.scienceblogs.com/scientificactivist

O Mapeamento da Inovação noBrasil, realizado pelo Instituto Ino-vação, avaliou as cidades brasilei-ras de acordo com a formaçãocientífica da população. Descobriuque a densidade de mestres e dou-tores é maior em cinco capitais:São Paulo, Rio de Janeiro, PortoAlegre, Belo Horizonte e Brasília.Todas possuem Produto InternoBruto (PIB) por pessoa cerca deduas vezes maior do que a média

nacional, menor desigualdade so-cial e maior índice de desenvolvi-mento humano. Considerando oefeito positivo da formação aca-dêmica no desenvolvimento dascidades, o instituto recomendou ofortalecimento dos centros univer-sitários, sobretudo em regiões di-ferentes das atuais, com capaci-tação de estrutura empresarial pa-ra geração de empreendimentosde base tecnológica.

Cidades Universitárias

Prova de qualidade

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Um consórcio europeu desen-volve novas tecnologias para au-mentar a segurança e a qualidadede alimentos resfriados e congela-dos. Nos Estados Unidos, o Serviçode Investigação Agrícola (ARS),conveniado à Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuária (Embra-pa), criou uma embalagem que dá

vida longa a vegetais cortados.Trata-se de uma película que per-mite às frutas e verduras continuara respirar, conforme suas necessi-dades, mesmo depois de empacota-dos. A novidade foi publicada naedição de julho da revista Agricul-tural Research. Mais detalhes emwww.ars.usda.gov.

Agronegócio I

Conservado aos pedaços

Uma em oito pessoas possuicomputador, e o progresso da in-formação em países emergentesdeve-se à telefonia celular, segun-do mostra o Índice Anual de Opor-tunidade Digital, da União Inter-nacional de Telecomunicações(UIT) e da Conferência das Na-ções Unidas sobre o Comércio eDesenvolvimento (Unctad). Até2015, mais de 51% da populaçãomundial usarão serviço móvelcelular. No entanto, a inclusão di-gital começa a esbarrar em bar-reiras ligadas à pobreza. Latino-americanos, asiáticos e africanosestão em pior situação.

Informação

Inclusão lenta

Pesquisadores da Escola Su-perior de Agricultura Luiz de Quei-roz (Esalq), da Universidade de SãoPaulo, desenvolveram um tipo decana “inteligente”. Ela libera umaproteína que extermina a broca-da-cana, inseto que provoca prejuízosanuais de 500 milhões de dólaresaos produtores brasileiros. A des-coberta é especialmente bem-vin-da, pois, pelas previsões da Orga-nização para Cooperação e Desen-volvimento Econômico (OCDE), semantido o passo atual, em 2015 opaís não dará conta de abasteceros mercados interno e externo deaçúcar e de combustível.

Agronegócio II

Autodefesa

IDH das cidades onde há centros universitários

Brasil

S.J. do Rio Preto/SP

Piracicaba/SP

Araraquara/SP

São Paulo/SP

São Carlos/SP

Rio de Janeiro/RJ

Maringá/PR

Belo Horizonte/MG

Santa Maria/RS

Brasília/DF

Ribeirão Preto/SP

Curitiba/PR

Campinas/SP

Porto Alegre/RS

Florianópolis/SC

0,76

1,10

1,10

1,10

1,16

1,14

1,13

1,13

1,13

1,12

1,12

1,11

1,11

1,11

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1,11

Fonte: Pnud

Scott Bauer/ARS

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versão corrente vê no entre-guerras a passagem do Brasil daesfera britânica para o domínioamericano, com base nos novos

fluxos de comércio, investimentos e em-préstimos, que trocam a City londrina porNova York. Esse livro, de um diplomata-historiador, demonstra que as relações doBrasil com seus dois principais parceiroseram mais complexas. Revisa os anos quevão da Primeira Guerra à Revolução de1930. Não parte de imagens pré-conce-bidas, mas de fontes documentais, e tira dolimbo historiográfico um período crucialna formação da diplomacia brasileira.

A revisão é bem-vinda,já que o períodoé movimentado. Versalhes, que efetuou oprimeiro ordenamento da era moderna, foiuma repetição – sem bailes nem diploma-cia secreta – do Congresso de Viena: a Ligadas Nações tentou diminuir,sem conseguir,os ímpetos guerreiros dos velhos imperialis-mos. O Brasil, presente na criação da novaordem, abandonou essa “ONU frustrada”poucos anos depois. Projetou-se naAmérica do Sul, livre dos constrangimen-tos do século XIX, com as fronteiras já de-limitadas por Rio Branco.

O autor segue os passos da diplomaciabrasileira no triângulo Europa-EUA-Amé-rica do Sul. Organiza seu roteiro em torno

de sete grandes eixos: 1) “rumo à Europa”,isto é, a presença na Conferência de Versa-lhes; 2) “diplomacia econômica”, com adefesa do café e a atração de capitais; 3)“equilíbrio estratégico na América do Sul”e os ensaios de corrida armamentista; 4)“comércio e finanças”, em que é mais vi-sível a substituição de hegemonias; 5) “ex-periência da Liga das Nações”, tentativaprecoce de entrar em outro “Conselho”; 6)“de volta à América”: o distanciamento davelha Europa e a reafirmação do ameri-canismo; 7) “a diplomacia anti-revoluçãodas oligarquias”, em que cuida dos proble-mas do século (comunismo, anticomunis-mo, imigração) e da gestão diplomática daRevolução de 1930.

O presidente se “intrometia” demaisnos assuntos diplomáticos, como visto nasaída,“batendo a porta”, da Liga das Na-ções. As grandes potências, então comoagora, tratavam o Brasil com negligênciabenigna, o que refletia, aliás, a pouca im-portância do país, simples fornecedor deprodutos de sobremesa, no equilíbriomundial.

O desejo de uma “aliança” com os Es-tados Unidos também é típica dessa fase,que assiste à hegemonia ideológica dopan-americanismo, mais do que do pró-americanismo (cuja vigência foi limitada

em nossa história). Não existia ainda o“imperialismo americano”, pela razão deque os europeus preenchiam esse papel.Os americanos eram amigos e os novosdonos do dinheiro fácil. O autor praticaum saudável revisionismo, que emerge daleitura dos documentos e dos fatos reais,não das concepções conspiratórias dosque vêem no manifesto destino da novaRoma a referência obrigatória da diploma-cia brasileira no século XX.

Paulo Roberto de Almeida

Do leão britânico para a águia americana?

Entre América e Europa: a política externa brasileira na década de 1920Eugênio Vargas Garcia:Editora UnB-Funag, 2006, 672 p., R$ 89,00

A

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ESTANTElivros e publicações

Estante 02/08/06 16:37 Page 62

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ove entre dez palestrantes empre-sariais, ao falarem de crises, co-meçam lembrando a surrada ex-plicação do ideograma chinês

que congrega os dois sentidos utilizadoscomo título nesse livro. É óbvio que elesnão conhecem nada de chinês e essa chi-noiserie cansa a quem assiste. Não é o casodessa obra, uma excelente oportunidadepara repensar algumas das crises que atin-giram o Brasil e um alerta para outras quepoderão sobrevir se não corrigirmos al-guns rumos.

Vinte autores, economistas à exceção dedois, preenchem as quatro partes do livro– investimentos diretos, fluxos de capitais,macroeconomia e competitividade exter-na – com catorze estudos, alguns mais pro-positivos do que outros, mas todos dota-dos de forte sustentação empírica. ApenasLuiz Carlos Prado foge à regra e faz digres-sões sóbrias e intelectualmente estimulan-tes sobre o conceito de globalização.

O enfant terrible do Banco Central (BC)– e âncora cambial do Plano Real –, Gusta-vo Franco, abre o volume tirando as liçõesdos dois censos do BC sobre o capital es-trangeiro. Demonstra que o investimentoestrangeiro direto (IED) deve ser conside-rado um “ativo estratégico”, que traz muitosbenefícios ao sistema produtivo brasileiro,

bem longe daquela visão de “passivo exter-no” ou parte da “vulnerabilidade externa”.

Pedro da Motta Veiga refaz, em seguida,a trajetória cambaleante dos acordos de in-vestimento: multilaterais (TRIMs), regio-nais (Nafta) e plurilaterais (o frustradoMAI,da OCDE), lembrando ainda os acor-dos bilaterais de investimentos de últimageração, bastante abrangentes e bem aogosto do capital.

Justamente, Maria Helena Zockun, daFederação das Indústrias do Estado de SãoPaulo (Fiesp), identifica os incríveis obs-táculos impostos pelo Brasil à entrada deIED, desde a burocracia infernal até a selvalegal das regras contraditórias de União, es-tados e municípios.

O ex-assessor internacional da Fazenda,Otaviano Canuto, e Pablo Santos fazemuma análise comparada do risco-sobera-no em economias emergentes, concluindoque ainda carregamos, a despeito da flutua-ção cambial e do aumento das exporta-ções, uma elevada vulnerabilidade exter-na. Daí o alto prêmio de risco pago pelasemissões. Essa vulnerabilidade é confirma-da no estudo seguinte, por Marcos Cintrae Daniela Prates, que examinam os fluxosvoluntários de capitais para o Brasil entre1995 e 2004. Carlos Kawall e Adriana Bel-trão analisam as condições sob as quais oBrasil poderia adquirir a classificação de“grau investimento”: o peso da dívida di-minuiu, mas as exportações e as receitascorrentes são ainda insuficientes para umsalto antes de seis ou sete anos.

Carlos Eduardo Carvalho tira, em seutexto, algumas lições das crises cambiais eda dependência do financiamento exter-no: o Brasil respondeu bem a esses desa-fios, comparado à tragédia argentina, dadasua maior flexibilidade fiscal. Corrêa deLacerda e Fernando Leite constatam que osetor público “seqüestra”a poupança do se-tor privado, que só pode, assim, financiar-se mediante endividamento externo. Pa-

radoxalmente, ao mesmo tempo em que seprocurava transferir ativos do Estado parao setor privado, aumentava, via carga tri-butária, o peso do Estado no conjunto daeconomia.

Renato Baumann discute o paradoxodos países latino-americanos nos anos1990, quando ganhos sobre a inflação nãotrouxeram a esperada retomada do cresci-mento econômico. O embaixador RubensBarbosa traça um decálogo para aumentara competitividade, mas admite que, pelomenos no plano dos valores, o Brasil parecepreparado para enfrentar a globalização.

Finalmente, um estudo analisa os fa-tores de competitividade associados àssubsidiárias de multinacionais, reconhe-cendo o papel central das políticas de go-verno. Seria a volta da velha aliança entreo Estado e o capital estrangeiro? Talvez.Esse livro representa, em todo caso, umasaudável contribuição de pesquisa empíri-ca ao ambiente, por vezes impressionista,em que se desenvolvem certos trabalhosacadêmicos. Os estudos devem ser conti-nuados, de modo a criar oportunidades deafastar novas crises.

Paulo Roberto de Almeida

Não falta oportunidade para crises...

Crise e Oportunidade:o Brasil e o cenário internacional Antonio Corrêa de Lacerda (organizador)Editora Lazuli, 2006, 328 p., R$ 40,00

N

Desaf ios • agosto de 2006 63

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As 2 mil da Forbes

Empresas

INDICADORES

p o r A n d r é a

W o l f f e n b ü t t e l

64 Desafios • agosto de 2006

No mês passado, a revista norte-americanaForbes divulgou sua famosa lista das 2 milmaiores empresas do mundo. Dezenove compa-nhias brasileiras constavam no ranking, o quecolocou o país como o 18º com maior presença,entre os 55 que constam na publicação. A maiorempresa brasileira, como era de prever, é aPetrobras, que ocupa um honroso 51º posto,acima de outros conglomerados mundialmente

famosos. Seis países são destaques por estarempresentes nos dez primeiros colocados emnúmero de companhias, receita, lucro e valor demercado. São eles Estados Unidos, Reino Unido,França, Canadá,Alemanha e Suíça. Em termos desetores de atividade, os mais relevantes são seis:bancos, serviços financeiros em geral, serviçosde utilidade pública,materiais básicos,petróleo egás e seguradoras.

Traduzindo-se ao pé da letra,a expressão joint-venture quer dizer“união com risco”. Ela, de fato, refere-sea um tipo de associação em que duasentidades se juntam para tirar proveitode alguma atividade, por um tempolimitado, sem que cada uma delasperca a identidade própria.Por essa definição, qualquer sociedade,mesmo envolvendo pessoas físicas,poderia ser classificada como joint-venture. Porém, a expressão se tornou mais conhecida para definir a associação entre duas empresas.O modelo mais comum é aquele em queum fabricante forma uma joint-venturecom uma firma comerciante de outro país para explorar o mercadoestrangeiro. Mas não precisa sernecessariamente assim. Um exemplo.A China facilita a entrada no país paracompanhias que formem joint-venturescom empresas chinesas do mesmo setor,de modo a facilitar a transferência detecnologia. Caso algum empreendedorqueira se estabelecer na China sem seassociar a nenhuma companhia local,enfrentará barreiras quaseintransponíveis. No Brasil, em 1987, foifeita uma clássica joint-venture: a uniãoentre a Volkswagen e a Ford, dandoorigem à Autolatina. Ambas mantiveramsuas identidades e marcas, e a sociedadetinha um prazo determinado para sedissolver. Existem muitas joint-venturesconhecidas. Uma delas é a prestadora de telefonia móvel Vivo, fruto de uma joint-venture entre a Portugal Telecom e a espanhola Telefonica Móviles.

O que é?

Joint-venture

Posição no Setor Valor deranking Empresa de atividade Receita Lucro Mercado

51 Petrobras Petróleo e gás 58,43 10,15 99,82

176 Banco do Brasil Banco 19,38 1,78 20,58

187 Bradesco Banco 17,38 1,15 40,22

305 Vale do Rio Doce Indústria de base 10,37 2,43 53,22

375 Itaúsa Banco 10,17 0,74 13,84

388 Unibanco Banco 9,86 0,79 13,24

504 Eletrobrás Serviços de util. pública 7,50 0,49 11,32

844 Usiminas Indústria de base 4,60 1,14 7,83

857 CSN Indústria de base 3,69 0,75 7,92

877 Tele Norte Leste Telecomunicações 5,96 0,28 8,57

1.021 Gerdau Indústria de base 7,38 0,54 3,51

1.067 Embraer Ind. aeroespacial e de defesa 3,85 0,47 7,26

1.124 Cemig Serviços de util. pública 2,69 0,52 7,69

1.418 Braskem Indústria química 4,77 0,28 2,53

1.607 Brasil Telecom Telecomunicações 3,41 0,09 4,52

1.623 Aracruz Celulose Indústria de base 1,35 0,34 5,08

1.690 Pão de Açúcar Comércio de alimentos 4,73 0,14 4,79

1.744 Ipiranga Petróleo e gás 9,73 0,07 0,35

1.858 CPFL Energia Serviços de util. pública 2,54 0,11 6,91

As 19 brasileiras (em US$ bi)

Posição no País Setor Valor deranking Empresa da matriz de atividade Receita Lucro mercado

1 Citigroup EUA Banco 120,32 24,64 230,93

2 General Electric EUA Conglomerado 149,70 16,35 348,45

3 Bank of America EUA Banco 85,39 16,47 184,17

4 American Intl Group EUA Seguros 106,98 11,90 172,24

5 HSBC Group Reino Unido Banco 76,38 12,36 193,32

6 ExxonMobil EUA Petróleo e gás 328,21 36,13 362,53

7 Royal Dutch/Shell Group Holanda/Reino Unido Petróleo e gás 306,73 25,31 203,52

8 BP Reino Unido Petróleo e gás 249,47 22,63 225,93

9 JPMorgan Chase EUA Banco 79,90 8,48 144,13

10 UBS Suíça Serviços f inanceiros 78,25 10,65 105,69

As 10 maiores (em US$ bi)

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Desaf ios • agosto de 2006 65

Os setores

De onde são as grandes empresas

REPARE: na lista dos dez países cujas empresas registraram maiores lucroshá dois países que não constam entre os que têm maior número de empre-sas: Holanda e Austrália

Países com maior número deempresas e o Brasil

EUA

Japão

Reino Unido

França*

Canadá

Alemanha

Coréia do Sul

Itália

Taiwan

Suíça

Brasil

693

320

126

66,5

60

58

50

46

41

39

19

(*) Alguns países aparecem com um número fracionado de empresas porque possuem companhias em sociedade com outros países

Posição do Brasil em relação aoutras economias(quantidade de empresas no ranking das maiores)

Índia (13º)

Espanha (14º)

China (15º)

Brasil (18º)

África do Sul (19º)

México (21º)

Rússia (24º)

Irlanda (34º)

Portugal (36º)

Chile (37º)

33

29

28

19

18,5

17

14

8

7

6

Países cujas empresasregistraram maiores lucros (US$ bi)

EUA

Reino

Unid

o

Japã

o

Fran

ça

Hola

nda

Alem

anha

Aust

rália

Suíça

Cana

Coré

ia d

o Su

l

682

157 12286 65 62 56 46 44 39

REPARE: na lista dos dez países cujas empresas registraram maioresreceitas há apenas um que não consta entre os que têm maior número deempresas, a Holanda

Países cujas empresasregistraram maiores receitas (US$ bi)

EUA

Japã

o

Reino

Unid

o

Alem

anha

Fran

ça

Hola

nda

Itália

Coré

ia d

o Su

l

Suíça

Cana

9.09

1

3.41

7

1.82

6

1.57

2

1.57

1

961

634

559

557

530

REPARE: mais uma vez a Holanda aparece no ranking dos países cujas empre-sas somam maior valor de mercado, sem ser um dos dez países que têm maiornúmero de empresas no ranking.A maior novidade aqui é a presença da China

Países cujas empresas somarammaior valor de mercado (US$ bi)

EUA

Japã

o

Reino

Unid

o

Fran

ça

Alem

anha

Cana

Suíça

Hola

nda

Itália

Chin

a

12.8

46

3.24

9

2.46

6

1.44

2

1.06

0

848

841

759

686

558

Com maior nº de empresas

Bancos

Serv. f inanceiros

Serv. de util. pública

Materiais básicos**

Petróleo e gás

Seguradoras

Comércio varejista

Transporte e logística

Construção civil

Alimentos, bebidas, fumo

310

164

117

109

106

106

85

83

78

74

Com maiores lucros (US$ bi)

Bancos

Petróleo e gás

Serv. f inanceiros

Seguradoras

Serv. de util. pública

Telecomunicações

Materiais básicos**

Saúde e biotecnologia

Alimentos, bebidas, fumo

Hardware

294

277

141

86

84

83

82

82

69

57

REPARE: três setores de atividade aparecem no ranking daqueles que re-gistraram maiores lucros, sem estar na lista dos setores com maiornúmero de empresas: telecomunicações, medicamentos e hardware

(**) O setor de materiais básicos inclui mineração, siderurgia, madeira,celulose e papel

Com maior valor de mercado (US$ bi)

Bancos

Petróleo e gás

Serv. f inanceiros

Saúde e biotecnologia

Telecomunicações

Serv. de util. pública

Seguradoras

Alimentos, bebidas, fumo

Hardware

Materiais básicos**

4.692

3.253

2.073

1.770

1.633

1.579

1.449

1.274

1.262

1.160

REPARE: três setores de atividade aparecem no ranking daqueles cujasempresas somam maior valor de mercado, sem estar na lista dos setores commaior número de empresas: telecomunicações, medicamentos e hardware

América do NorteÁsiaEuropa*Oceania

América do SulAmérica Centra*África*

36,528

23,523,5

574544,5

770

Localização das matrizes

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Estive recapitulando o tema edu-cação na revista. Na seção Indica-dores,da edição de outubro do anopassado, vocês comentam:“É pos-sível perceber que a inclusão esco-lar de crianças durante a década de1990 trouxe frutos, porém tími-dos”.Sinto que necessitamos,comobrasileiros, de um número inteiroda revista dedicado ao assunto.Estamos mal e somos desastrados,sem planos. São Paulo novamenteestá padecendo e não acertamos re-motamente em pensar que isso éprovocado pela falência da edu-cação em todos os níveis. Tudocomeça na escola fundamental. Ocargo de diretor de escola é de con-fiança em quase todos os estados!No meu país de origem, apesar deprofundamente subdesenvolvido,não é assim.Meu país serve de fontede mão-de-obra barata para os de-senvolvidos.O Brasil também,masos que aqui ficam estão sem espe-rança.Gostaria que considerassema possibilidade de uma edição espe-cial em que se martelassem todos osnúmeros. Se vocês, que são atrela-dos ao planejamento,não consegui-rem, não sei quem conseguirá. Es-crevo com amor e muita dor pelosnossos irmãos paulistas.

Victor Venancio AráozProfessor

Ji-Paraná - RO

Prezado Victor,concordamos comvocê em que a educação é um pro-blema fundamental, cuja solução éessencial para que o país saia doatual nível de desenvolvimento.Nãopodemos fazer uma edição total-mente dedicada ao tema, já que osleitores de Desafios têm interessesmuito diversos. Mas prometemosabordar o assunto freqüentemente.

Quero sugerir a Desafios quefaça uma reportagem sobre os pro-jetos de desenvolvimento susten-tável da floresta amazônica.

Edie MeirelesEmpresário

Salvador - BA

Caro Edie, Desafios ainda nãopublicou uma reportagem completaabordando os projetos de desenvolvi-mento sustentável da floresta ama-zônica, porém já veiculou diversasmatérias que, de uma forma ou deoutra, tratam do tema. Na edição nº18, de janeiro deste ano, a capa, so-bre biodiversidade, em vários mo-mentos discorre sobre a ameaça aoecossistema amazônico. Na ediçãonº 13,de agosto do ano passado,há areportagem sobre o Objetivo do Mi-lênio (ODM) número 7,que tem co-mo meta garantir a sustentabilidadeambiental do planeta. Ali, ao apre-sentar as dificuldades do Brasil paraatingir as metas,também se mencio-na a floresta amazônica. Na ediçãonº 11, de julho do ano passado, Ber-ta Becker, geógrafa especializada emconservação de florestas, trata do as-sunto numa entrevista. E a seçãoMelhores Práticas do primeiro nú-mero de Desafios conta a históriada reserva ecológica de Mamirauá,uma experiência bem-sucedida queconjuga conservação ambiental comsustento para os moradores locais. Omaterial está disponível para con-sulta em nosso site e,espero,demons-

tra nossa preocupação permanentecom o tema.

A respeito da reportagem de ca-pa da edição de maio passado deDesafios,que trata da responsabi-lidade do eleitor no futuro do país,gostaria de dar meus parabéns àsinstituições Rede Empresarial, daFederação das Indústrias do Para-ná (FIEPR); Conferência Nacionaldo Bispos do Brasil (CNBB); eAção Cidadania. Todas elas toma-ram a fantástica iniciativa de con-feccionar cartilhas,promover pales-tras e capacitar pessoas no que dizrespeito à importância do voto napróxima eleição. O sistema de co-municação pela Internet tambémtem ajudado muito, e a imprensa,desde o mais humilde jornal do in-

terior até os veículos das grandescidades e capitais, é a grande aliadana divulgação das informações so-bre os candidatos. Principalmenteporque,lamentavelmente,temos noBrasil, hoje, 52 milhões de pessoasanalfabetas com títulos eleitoraisnas mãos. Elas são decisivas no re-sultado das eleições e podem ser ví-timas de maus políticos e de mausgovernantes. Portanto, o trabalhodas entidades que ajudam a cons-cientizar a população é fundamen-tal.Senão,teremos um minuto paravotar e quatro anos para nos ar-rependermos, pois os candidatospára-quedistas já estão saltando embusca de voto.

José Pedro NaisserAmbientalista

Curitiba - PR

CARTAS A correspondênc i a para a redação deve se r env i ada para car tas@desaf i os .o rg .b r

ou para SBS Quadra 01 - Ed i f í c io BNDES - Sa la 801 - CEP: 70076-900 - Bras í l i a DF

Repr

oduç

ão

66 Desafios • agosto de 2006

Acesse o conteúdo da revista Desaf ios do Desenvolvimento no endereço:

www.desafios.org.br

Enquete

Desafios perguntou,aos leitores que visitam sua página na Internet,se o Brasil deve tratar a África como “parceiro privilegiado”nos as-pectos comercial e diplomático.O resultado ficou quase empatado.Dos 135 internautas que manifestaram opinião, 55,54% respon-deram “sim”e 44,44% marcaram “não”.Veja alguns comentários.

Creio que a instabilidade insti-tucional pode configurar riscodesnecessário. Por razões geopo-líticas,é preferível consolidar par-cerias com a União Européia e aChina e investir, seriamente, naÁrea de Livre Comércio das Amé-ricas (Alca).

Márcio Luiz da Silva GamaBancário

Sim, devemos tratar os paísesafricanos como parceiros privi-

legiados. Não por uma questãode “dívida social” ou “culpa”,mas porque o Brasil tem condi-ções de se colocar como uma li-derança dos países em desenvol-vimento; o que, historicamente,começa pelo comércio. Bastalembrar que a Convenção sobreo Carvão deu origem ao que ho-je é a União Européia.

Alexandre Melo Franco Bahia

Professor universitário

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