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Intercom - Revista Brasileira de Ciências da Comunicação ISSN: 1809-5844 [email protected] Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação Brasil Rodríguez Oliva, Lázaro I. Comunicação pública pré-colombiana em sociedades meso-americanas: fontes históricas para seu estudo entre Maias e Astecas Intercom - Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, vol. XXVIII, núm. 2, julio-diciembre, 2005, pp. 43-68 Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=69830958003 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Intercom - Revista Brasileira de Ciências da

Comunicação

ISSN: 1809-5844

[email protected]

Sociedade Brasileira de Estudos

Interdisciplinares da Comunicação

Brasil

Rodríguez Oliva, Lázaro I.

Comunicação pública pré-colombiana em sociedades meso-americanas: fontes históricas para seu

estudo entre Maias e Astecas

Intercom - Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, vol. XXVIII, núm. 2, julio-diciembre, 2005,

pp. 43-68

Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=69830958003

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Comunica~¡¡o pública pré-colombiana emsociedades meso-americanas: fontes históricaspara seu estudo entre Maias e AstecasLázaro /. Rodríguez O/iva*

ResumoO presente artigo assume o pressuposto de que a falta de estudoshistóricos sobre cornunícacao nas sociedades pré-colombianas naose deve ainexistencia defontes. Oautoroferece um percurso inéditopelas fontes históricas para um estudo de comunlcacáo pública emduas delas: Maias e Astecas. O estudo de fontes históricas focalizaasfontes primárias, documentos que pela sua proximidade temporalaportam importantes dados para uma raconstrucéo dos processoscomunicativos no tecido cultural que os possibilita. A análise naodesconsidera, no entanto, outras fontes documentais,recorrentemente citadas na pesquisa histórica.Palavras-chave: estudos históricos, comunícacáo pública, fonteshistóricas.

ResumenEste artículo asume la premisa de que la escasez de estudioshistóricos de comunicación en lassociedades precolombinas no sedebe a la inexistencia de fuentes para su estudio. El autorofrece unrecorrido inédito por las fuentes históricas para un estudio decomunicación pública endos de esas: mayasyaztecas. El estudio defuentes históricas seconcentra enlas fuentes primarias, documentosque por su cercanía temporal, aportan importantes datos para unareconstrucción de los procesos comunicativos en la trama culturalque los posibilita. No se desestiman tampoco otras fuentesrecurrentemente citadas en la investigación histórica, para cualquieraproximación a estas sociedades históricas.Palabras clave: estudios históricos, comunicación pública, fuenteshistóricas.

* Pesnutsacor doCentro de Investigación y Desarrollo dela Cultura Cubana Juan Marinello.Licenciado em Domunlcacao Social e mestrando em Ciencias da ücmunlcacñu naUniversidad de la Habana. Coordenador da Postexto, Rede de Estudos de ücmunlcacjo eCultura, de Cuba.

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AbstraetThis article's premise is that the absence of historical studies oncommunication in pre-Columbian societies in Meso-America is not aresultofthe lack ofhistorical sources. Consequently, the author offersa new route trough the historical sources to study publiccommunication in two of those: Maya and Aztecs, The study ofhistorical sources is particularly interested in the primary sources,those documents which aretemporally nearto the Maya and Azteccontexts. It contains relevan! data to the re-construction of theircommunicative processes inserted in the cultural field. It is alsoincluded inthis analysis otherdocumental sources, frequently quotedin the historical research ofthose societies.Keywords: Historical studies, public communication, historicalsources.

Introdu~¡¡o

ofato dos sistemas de comunicacáo terem história nao pareceser noticia (Darton apud Schudson, 1993: 211). Assim também nao énovidade, a essas alturas, que a sua historicizacao nao tenha umapresenca relevante no panorama dos estudos da cornunlcaeáointernacional. As "histórias da comunica¡;áo, propriamente dites",conforme a quallficacéo de Schudson (Cfr. 1993), se referem aocontexto cultural mais geral em que estao inseridos os meios decomunlcacño, mas continuam permeadas de um "midiacentrismo",na medida em que privilegiam os instrumentos comunicativos (meiosespecificamente) nos processos culturais.

A lógica a partirda qual este trabalho se posiciona reconhece,a principio, a necessidade de historicizar os processoscomunicativos, e parece levar-nos, num ánqulo mais aberto deanálise, ao reconhecimento danecessidade deassumir osprocessoscomunicativos na sua dimensáo nao estritamente midiática.Cornunicaeáo, desta forma, incluiria um vasto universo de práticassociais que sao a própria expressáo da cultura que Ihe serve dematriz; reconhecendo, ao mesmo tempo, que a cultura, a partir desuas próprias mediaeñes, especifica toda a tipologia de processos,efeitos, veículos comunicativos que canalizam a dinámica social.

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Na América latina, os estudos históricos da cornunicacéntiveram uma presenca pouco significativa em ralacño a outrosenfoques, estes mais preocupados com aspectos imediatos dosprocessos comunicativos, bem como com sua predi~ao (estudos dosefeitos dos meios, estudos de audiencia, estudos de media~óes

culturáis, etc.]. Tentativas como a de Jesus Martín-Barbero, em suaobra De los medios a las mediaciones, pioneira do campo, selimitaram tanto a propor explicacñas históricas para processoscomunicativos atuals, quanto a busca de matrizes explicativas dasseéimentaeñes que se inscrevem nos processos cuíturais maisarnplos, sem que o estudo histórico em si mesmo seja concebidocomo uma atencáo aos processos comunicativos históricos,explicados emseu próprio contexto.

A ausencia do tema da comunicacáo nos processos históricoslatino-americanos anteriores ao surgimento dos meios decornunicacño é notável. Essa premissa pode ser constatada nao sóna busca lntrutítera nos üvros, mas também no rastreamento daspublicacñss latino-americanas em espanhol, especializadas emcornunicacáo como Die-laqos, Chasqui, Razón y Palabra, entreoutras. A consulta dos catálogos on fine das Bibliotecas daUniversidad Nacional Autónoma de México, do Instituto de EstudiosSuperiores de Occidente (lTESO), do Consejo Nacional para laEnseñanza y la Investigación de lasCiencias de la Comunicación emMéxico (CONEICC), da Biblioteca Pública de Nueva York, daUniversidad Complutense de Madrid, do Centro Internacional deEstudios Superiores de Comunicación para América latina(CIESPAlj, da Biblioteca eHemeroteca da Casa delasAméricas, e daUniversidad de la Habana, entre outras, confirmam a lacuna nasabordagens de outros suportes.

Este trabalho, portante, propée uma abordagem inovadora aossstudos históricos de cornunicacáo. Trata-se de um percurso pelastontas históricas que validam a possibilidade de reconstituir, a partirde um angulo antropológico, o processo comunicativo nassociedades americanas anteriores ao encontro cultural com aEuropa. Esse estudo de fontes históricas se detém, particularmente,nas sociedades meso-americanas pré-colombianas de maias eastecas, enfatizando especificamente as fontes primárias, aquelasmais próximas ao contexto do estudo, disponíveis em bibliotecas,

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arquivos e recursos bibliográficos. Naoforam incluídos trabalhos dearqueologia que muito poderiam aportar neste aspecto.

Os critérios de possibilidade utilizados ao longo deste artigoestáo baseados numa pesquisa desenvolvida pelo autor sobrecornunícacño pública emaltas culturas americanas (maia, astecas eincas),realizada na Universidad de La Habana (2002-2005) e Casa delas Américas. Assim, sem pretender esgotar asfontes históricas, esteartigo postula, dentre ostantos caminhos possíveis, um percurso queenfoca um tipo de comunicacéo pública, que nao exclui a análise dacornunicacáo de grupo, interpessoal, de assembléia, etc.

Ao fim do artigo sao trabalhadas, especificamente, as fontespara o estudo das sociedades maia e asteca, duas das maisrepresentativas culturas do mundo meso-americano, determinantesem sucessivos processos cuiturais nas sociedades coloniais e pós­coloniais para as quais servem de matriz. Trata-se de um estudo defontes que ainda nao está esgotado. A história, como todososobjetosde pesquisa que sao sempre revisitados, desvendará ao estudiosonovas relacñes, dados, detalhes específicos, que esclarecerño asexplicacñes e as visñes mais completas dassociedades em análise.

1- OMundo Único dosastecas1.1 Asfontes autóctones

Uma aproximacño crítica as fontes históricas para o estudo dacultura asteca exige, antes de tudo, uma precisáo do ponto de vistadas épocas e dosfins. Num grupo que podemos chamar de primeiraordemencontram-se os documentos em náhuat/ou textos ancestraislatinizados por indígenas catequizados pelos freis católicos, dentrodos quais estáo relatos de gesta, genealogias, seqüéncias decalendários, tratados naturais, escritos sobre mitologia ecosmogonia, assim como oracñes rituais e disposicñes do poder,entre outras. Em outros documentos, encontramos os textos jáposteriores a chegada da cultura e da tradicño hispánicas,

Em relacño aos documentos da primeira ordem, podemoscornecar referindo-nos ao Códice Chimalpopoca (1558), formadopelos Anales de Cuauhtitlán e pela Leyenda de losSoles, textos queforam copiados por Fernando Alva Ixtlilxóchitl, da linhagem dos reistexcocanos. Estes anais seriam oriundos das escolas que os

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primeiros missionários instituíram para recuperar o passado indígenacom afinalidade decombater a idolatria. Estes materiais sao ricos emfilosofia nahuatle nassuas entrelinhas podem serdescobertos f1uxosde cnmunicacéo, rela~oes de poder e aspacos de conqrsqacáo. Omesmo acontece com outros materiais como Relación de laGenealogía y linaje de losSeñores que han señoreado esta tierra dela Nueva España, Origen de los mexicanos, e a Historia de losmexicanos por sus pinturas, assim como um material conhecidocomo Estas sonleyesque tenían losindios de la Nueva España, todoseles contidos nas Relaciones de Tezcoco (1891), compiladas porJoaquín García, e que inclui também dois importantes textos, aos quefaremos referencia mais adiante.

Para qualquer pesquisador, a literatura é um desses relatos quedao um testemunho social nada desprezível. Quando se fala deliteratura náhuatl, a referencia a obra de dois compiladores éobrigatória: Ángel María Garibay, com La literatura de los aztecas(1964), aportou um estorco rigoroso de slstemateacáo dos textosoriginais dessa civ;liza~ao; por outro lado, Miguel de León Portillareconstrói urna Literatura del México Antiguo (1978), enriquecendo aprimeira versño de Garibay. Ambos podem servir como fontesprimárias por conter o registro do conjunto mais completo destaliteratura. Sao textos extraídos doscódices, de relatos traduzidos aolatim, onde podem ser encontrados importantes conceitos sobreccmunicacño e asua funcáo na sociedade.

Quanto asfontes da época colonial dematriz indígena tangível,nos deteremos no Códice Florentíno (1549-1585), uma das obrasatribuidas á qastao de Bernardino de Sahagún, que deve seu nome alocelzacáo atual na Biblioteca Laurenciana de Florenca, Este códice,célebre entre os documentos para o estudo da história e dasociedade asteca, contém interessantes imagens da natureza e doscostumes dos indígenas, sobre os quais podem ser feítasobservacñas no que se ratera aos papéis sociais em relacáo acornunicacáo e a instltucionalizacño de atores comunicativos.

Outra obra que cabe neste panorama é o Códice Ramírez.Relación del Origen de los Indios que habitan esta Nueva Españasegún sus historias, resgatada por José Fernando Ramírez em 1856.Autores como Edmundo O'Gorman (1972) citam o critério de Orozco yBerra, que atribui aautoría deste textoaJosédeAcosta, Oiego Durán

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e Fernando Alvarado Tezozomoc. Outros acreditam que foi o padreTovar quern, ao invés de traduzir, recriou o texto. Para além dadiscussáo em tornoá sua possível procedencia, averdade éque suasnarrativas se detém sobre o caminho mexicano, desde Aztlán até aqueda da capital, incluindo passagens históricas. A reliqiáo permeiatodo o discurso da obra, buscando explicacñes filosóficasfundacionais dajovem cultura no universo dosdeuses propiciadores,tornando imprescindível o seu uso em qualquer estudo da sociedadeasteca

Existem, no entanto, outros tipos de documentos para o estudoda cornunicacño pública nesta cultura americana que sao deconsulta obrigatória pelo seu primor e pelas pistas que oferecemsobreo objeto que aquí nosinteressa.

12 Cronistas deíndias e historiadores mesti~os

Além das fontes astecas que se convencionou chamarautenticas ou de primeira ordem, existem nutras, no marco dascrbnicss de índias e histórias de mestices, que oferecem umpanorama a partir da intencáo de noticiar o visto e o ouvido, e deindagar a história dos povos originários desta regiao. Entreconquistadores, escritores - e escribas -, soldados e capitáes,colocam-se diferentes visñes e relatos do mundo do Anahuac,confirmando a importancia destas fontes para consulta. Estatendencia historiográfica, segundo Esteve Barba (1964: 8), estáarticulada por duas "finalidades iniciais que neste aspecto solicitamaos espanhóis: relatar e conservar os próprios fatos". O descuidoformal e a espontaneidade do discurso de alguns se sornarn aodiscurso refinado de humanistas nostálgicos dos tempos clássicosocidentais e de freis cujosesquemas de percepcño nao vño além daspáginas da Biblia. Como conjunto, conseguem um testemunho sobrea 'América' - de ver, de ouvirou de ler- que aporta dados de valorinestimável para o objetivo de descrever os fenómenoscomunicativos neste momento desta civilizacño, já marcada pelainfluencia intercultural de outra ordem social haqemñnlca.

Pedro Mártir parece nao ter tido pressa para comentar o queencontrou, dado que asDécadas delNuevo Mundo tardararn 32 anospara serem escritas. Seu corpo documental porser minucioso é por

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momentos cansativo. "Em sua obra desfilam todos osgrandes temasamericanos iniciais; os problemas dehistória natural, antropológicos,religiosos e sociológicos aparecem misturados eo relato dasprincipais empresas espanholas de explora¡;iio e conquistaultramarina" (O'Gorman, 1972: 19). Sua consulta tem o valor dareferéncia a um mundo recém descoberto, onde vaitomando corpo aidéia do ser americano em sua própria órbita contextuaL

José deAcosta - além de legarpara a posteridade as narrativassobre a cultura inca - dois anos antes de partir para a península,passa pela Nova España', onde recolhe material histórico, dedicandoalguns capítulos de sua Historia Natural y Moral de las Indias (1590)aos habitantes deste lugar. Se Acosta é uma fonte importante para oestudo dos incas, também o é para ocaso asteca, sobretudo para finsde comparacño com dados obtidos de outros autores que Ihe saocontemporáneos. Tanto ele, quanto Pedro Mártir ofereceram urnavisáo detalhada do mundo asteca, em especial no que se refere aspráticas educativas, aos diferentes treinamentos para a vida e atransmissso cultural no seu sentido mais amplo. Em ambasreferéncias fica confirmada a existencia, entre os astecas, deconselhos para o bom uso da cornunicacño. também gra~as a elas épossível conhecer o que era falado e recitado nos batizados, nosnascimentos e nos casamentos, sem deixar de dar atencáo aostemas que sao recorrentes em todo o universo dotemplo e da praca,do teatro e dos jogos rituais, espacos públicos de socializacáu porexceléncia.

Gonzalo Fernández de Oviedo foi outro polémico cronistaespanhol dos primeiros tempos. A sua Historia general y natural delas Indias (1535) se situa entre aqueles que acentuavam a naturezadegenerada dosindígenas. Ovalordessa obra está em que seu autor,devido a sua condlcño de Cronista General de índias, teve acesso apartir de 1532 aos relatos enviados pelos governadores econquistadores. Com um duplo papel deescriba eescritor, a cr6nicade Oviedo soube, em meio a muitos preconceitos, recolher parte doespírito indígena em fragmentos intercalados com distanciamento esem entusiasmo, isso tudo, movido pelo objetivo primeiro de suatarefa, que era a legitima~ao da conquista na América.

As cartas e relatos de Hernán Cortés sao redigidas entre 1519 e1526, com a finalidade de informar ao rei Carlos V sobre os novos

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mundos incorporados. Seu relato se concentra, de fato, naleqitimaeño de su as funcñes como responsável da aventura dodescobrimento. Entretanto, á margem das informacñes de retina, aversáo de Cortés nao é outra se nao a da surpresa ante o mundorecém conhecido, o que nao exclui que entre suas imagens sejapossível resgatar idéias fundamentais sobre as dlsposicñes daspracas e a conñquracño urbana em geral na cidade de Tenochtitlán,fundamentais para fazer qualquer mapa da comunicacáo públicaentre os astecas e as mediacñes sociais condicionantes. Para oestudo da política e de como a cornunicacso se colocou a servícodela, Cortés foi valioso, sobretudo pela descricáo das embaixadasastecas e da corte de Moctezuma, que lance luzes sobre a naturezainstitucional de certos círculos de poder asteca e sobre as rslacñesde poder que reproduziam e caracterizavam tanto o sistemacomunicativo, como o próprio sistema social. Sao relevantes tambémas passagens sobre o desterro dos ídolos astecas, onde valoriza acrsnca em seu sistema mágico religioso e a influencia deste navidasocial como um todo.

De fato, o que Beatriz Pastor (1978: 145) chama de "iebreepistolar" de Cortés, nos leva a reservas no momento de consultarestes relatos, ainda que, como afirma aautora (ldem: 1471 "oconceitode 'carta de relación' trazia implícita a certifica~ao do conteúdo econstituía uma certa garantía de sua verecidsde", tomando comobase otestemunho em sua mais definida expressáo. Assumir istonaoparece excluir "os processos de profunda ticcionslizscño darealidade que, sob uma estrutura documental impecável, articularamo discurso narrativo das Cartas de Relación" (ldem: 146). Trata-se deurna terqiversacáo que ocorre pelos próprios ínteressss em jogo,como em Dviedo - mais ainda que no cronista - por oferecer ummarco de justificativas que tornaram a conquista irreversível.

La Historia de los Indíos de la Nueva España (1543)' e osMemoriales (1543) de Frei Toribio de Benavente sao materiais deconsulta obrigatória para o estudo do mundo astaca, levando emconta a perspectiva de aproximacño que, desde a indulgencia,marcou os testemunhos de Motolinía', quem andou toda a NovaEspaña com interesses missionários, com a idéia de conhecer aracionalidade dos habitantes desta terra para fins evangelizadores.Frei Toribio de Benavente, em suas duas obras, reconstrói a vida

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asteca em detalhes. Sao imprescindíveis as descricñes das festas nacapital e tora de Tenochtitlán que permitem generalizar e tipificarpráticas de comunicacéo difundidas. A sua contrtbuieño tambémestá na descricéo dos espacos desoclallzaeao, da ordem doculto, dobaile sagrado, de merecimento e penitencia, dejúbilo ecada urna dascalebraeñes familiares. Em Memoria/es, as descricñes sobre asembaixadas nos fazem pensar na existencia de um sistemainstitucionalizado de emissários, o que também é confirmado naCrónica Mexicana (1598), de Fernando Alvarado Tezozomoc, na obrade Francisco Javier Clavijero e na de Juan de Pomar.

A referida Crónica mexicana (1598)' é inspirada no CódiceRamírez e nos dá urna visao da história asteca matizada pelos moldesde urna nova concepcáo demundo aprendida com osespanhóis, semse desfazer de sua matriz indígena. De estirpe de imperadores, atestemunha nos lega um trabalho importante por ser um dos poucoscronistas índios que dá a sua versao sobre a conquista. A partir desua condicáo híbrida, explica importantes processos históricos nosquais podem ser obtidos dados consideráveis para a reconstrucao dodiscurso hegemónico asteca e suas concretizscñes em discursos,hinos e ladainhas.

Por outro lado, com a concepcáo da experiencia como fonteúnica da verdade na história, Francisco López de Gómara, em suaHistoria Generaldelas Indias (1552), produz urna obra que poderia serclassificada como enciclopédica, partindo também do formato depequenas resenhas sobre osmais diversos temas dos lugares. Oseuhumanismo se impñe sobre a sua condicáo de "cronista de ouvir",por nunca ter estado no território, algo que o coloca no centro dascríticas e dosdistanciamentos do próprio Bartolomé de las Casas.

Bernal Oiaz nao foi excecáo entre os detratores de López deGómara. Tendo sido um dos soldados que acompanhou Cortés, oautor deHistoria verdadera de/aconquista dela Nueva España (1555)alinhava asua obra encima das criticas a Cortés, sob a influencia doslivros de cavalaria da época. Seu testemunho sobre Moctezuma esua aten~ao a alguns temas indígenas colocam o autor entre asfontes acampanhadas com maior zelo pela tradieáo historiográfica.

Entretanto, nem todos os que deram canta destas terras seprestaram a polemicas. Diz-se que, orientado por Motolinía, FreiBernardino de Sahagún comecou a escrever a transcendental

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Historia generalde las cosas de la Nueva España (1585) a partir deurna visáo antropológica e humanista. Estamos falando de urna obraobviamente etnográfica, sem cuja contribulcño, qualqueraproxlmaeáo ao universo comunicativo asteca teriagrandes lacunas;o que é confirmado pelo valor testemunhal que os nativos dao aosseus dados históricos. Os seus alunos trilingües, conhecidos como osinformantes deSahagún souberam captar daspessoas a aparencia ea semente essencial da vida do povo do qual também formavamparte. Diz-se que essa é a fonte mais completa sobre a sociedadeasteca. Nao acredito que haja equívoco nessa afirmativa, porque aperspectiva de Sahagún traz idéiassobre a educacáo, o trabalho, ocotidiano, as cortes, a vida em Tenochtitlán. As procissñes, asconqreqacñes em santuários etemplos, asbodas eossacrificios naoescapam ao seu olhar atento, assim como ao de seus informantes,que dificilmente poderiam se afastar de seus costumes, taoancestralmente incorporadas. Graeas a ele é possível falar emcomunicacáo interpessoal, comunlcaeño de assembléia einstitucional, típicas entre os astscas, também confirmadas quandose consulta outros autores como Diego Durán, cuja Historia deIndiasoferece, latente, urna estrutura dosistema educativo que éexpressáode ummodelo comunicativo geral, delimitado pela especializacáo deagentes.

A Relación de Tezcoco (1582) é outra das fontes necessáriaspara qualquer estudo da sociedade asteca. Trata-se deum dostantosrelatos recolhidos para compor a Estatística que foi enviada ao reiFelipe 11. Juan de Pomar, seu autor, é um historiador rnestico, assimcomo Fernando Alva Ixtlilxóchitl. No contexto das producñeshistoriográficas da época, esse relato revela urna marcada influenciaindígena, inclusive nas visñes sobre os invasores. Outra fontecontemporánea a ela é a Breve Relación delosSeñores dela NuevaEspaña (século XV!)'., de Alonso de Zurita, um texto permeado pelaprofunda religiosidade de seu autor, mas muito valioso pela suareferencia a importantes detalhes do mundo comunicativo dosantigos tempos do gentio. Sua importancia está especialmente nosseus aportes sobre a orqanizacáo política e económica, embora coméntase notema das leis, aoqualse dedicava.

Juan de Torquemada também faz parte deste grupo demissionários que assumem o indígena como objeto de estudo,

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abandonando os temas das nobres gestas e dos louváveis capitiíesque tinham caracterizado urna parte da historiografía precedente.Sua obra Monarquía Indiana (1615) é um compendio bastanteexaustivo, corn um caráter etnográfico evidente. Também a Historiaeclesiástica indiana (1596) de Jerónimo de Mendieta, citada porTorquemada - qracas a um deseus discípulos, JuanBautista, que Ihefacilita o acesso - é um material de consulta valioso. Aqui a vísáoreligiosa oferece elementos para representar de alguma forma osespacos dacotidianidade naoencontrados nem nostextos indígenas,nem naqueles posteriores que poderíamos chamar pseudos­costumbristas.

Sergio Guerra (2002: 111) inscreve Francisco Javier Clavijero,cronista do século XVIII, nessa gera~ao de criollos que escreveramcrónicas apaixonadas sobre suas terras, "precursores de umahistoriografia bem diferente á metropolitana, e que, ao negar opassado imediato e combater de maneira idealizada os valores darelegada antigüidade indígena, descobria os germes de sue própriaidentidede". Historia Antigua de México (1780-1781)' é urna obraescrita a partir da nostalgia, corn um repertório bem temperado denoticias sobre o Anahuac. Oautorfocaliza atrajetória mítica do povo,além de aspectos importantes sobre política, costurnes, religiao eartes. Otestemunho deClavijero é conveniente namedida em que sesoma, juntamente com Acosta e osmissionários, a idéia da unidadeda humanidade, ao mesmo tempo em que defende os seusconterráneos dos ataques deoutros tempos em que osconsideravamincapazes e incultos.

Até aquí, este percurso pelas fontes nos permitiria, a partir deumesforco dearqueologia documental, precisar aspectos medularesdo sistema de cornunicacáo pré-colornbiana nesta zona americana.Insisto em que a idéia deste artigo é especificar as fontes quepoderíamos tomar como primárias para qualquer estudo destacultura e, precisamente, dos processos comunicativos numaperspectiva histórica.

A historiografia americana é rica em autores e escolascontemporáneas que, a partir de análises particulares, podemcontribuir para a reconstrucao do universo da cornmlcacáo naantigüidade meso-americana.

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2- A multiculturalidade maia

ocaso rnaia, entre todas asaltasculturas americanas da épocapré-colombiana, é o mais difícil de acompanhar a partir de fontesprirnárias. O tempo dos maias clássicos," distante da chegada dosconquistadores, nos coloca diante da necessidade de seguirreferencias do pós-clásslco e do início da colonlzacso espanhola.Nao se pode subestimar tao pouco, para o estudo da comunícacaoentreosmalas, o caudal demformacñes aportado até os días atuaispela tradicáo arqueológica, sobretudo norte-americana e mexicana,cuja comríbuicéo para o conhecimento desta sociedade e de suasexpress6es culturais é inegável.

Entre os documentos primários úteis aos fins aquí propostospara o caso maia estáo os famosos Libros de Chilam Balam (1973)que, em termos genéricos, formam um conjunto de materiaiscompilados por antiquários com o objetivo de preservar astradicñesorais deseus povos e resgatar os conteúdos daqueles códices quenao escaparam do fanatismo do auto de fé de Diego de Landa emManí. Segundo afirma Thompson (1977: 203), "Seu material estábaseado em recitscties entiqes, representecses dramáticas ecantares que por sua vez, em muitos casos, sao ampliar;oes debreves textos hieroglíficos". Para uma visáo comunicológica, suacontribuicáo estaria em confirmar, a partir de sua aura mítica, umquadro das relacñes comunicativas a partirdas relacñes depoder, noeixo deuses-chefes-povo.

Ao conteúdo histórico latente em todos, que remete as idadesdessa origem mítica, os Libros de Chilam Balam acrescentammateriais de calendários, médicos, pequenos formatos literários e asrecorrentes profecias, uma fonte que por sua situaeáo geográficaoferece aspectos culturais díspares se comparados as referenciasdasterras altas.' Apesar davariedade, os Iivros térn denominadorescomuns que os justificam numa antologia. Há textos estritamenteindígenas e outros cristáos, traduzidos ao maia, mas aqueles que nosinteressam tem a rubrica indígena. Destes, sao de consultaobrigatória o Libro de Chilam Balam de Chumayel, compilados porJuan José Huí! em 1782, definidos como fórmulas simbólicas deiniciacño religiosa, onde estáo asséries de katunei/' etextos míticos,Seu valorestá em conservar aforma que parece ter vindo deantigos

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cantos e relatos datradicñooral. ElLibro d910s Linaj9soferece dadossobre registro histórico, formas de comunicacáo e personagenscélebres mediante uma Iinguagem de figuras que é também ummaterial de estudo dos antigos itzáes.'

Popal Vuh (1550) foi chamado da Biblia quiché. FranciscoXiménez, seu descobridor no século XVII, batizou-o a principios doséculo XVIII como "o Iivro do Consetno", mas Manuel Galich emprólogo aedicao da Casa das Américas (1969: XII) assegura que naoé exatamente o 'Iivro nacional' do povo quiché, mas o código dafamilia Canek - heqemñnica desde as origens - e a justificacao doseupoderio pela condicáe divina deseus antepassados. Estes relatosda genesis ancestral dos grupos das terras altas sao uma fonte deprimeira ordem para a compreensáo do pensamento mítico maia; é aforma recriada de uma cosmogonia, um reflexo de sua posicño nomundo e perante a história. De Popal Yúb, além dasua beleza formal,expressáo genuína da literatura maia, se recolhem intcrmacñessobre o papel da palavra nasociedade, sobre ovalorque sedava aosconselhos - sxpressño da comunlcacáo de assembléia - e asposicñes dos agentes comunicativos no processo, o que destaca aoralidade como senhora do universo comunicativo entre os maias. DqueseextraidoPopolVuh saodetalhes, mas constituem lnformaeñesmuito ricas para qualquer um que queira entender o ambienteespiritual e histórico do povo quiché, uma das quase trinta etniasmaias.

Outra obra também quiché é Título de los Setiores deTotonicapán (1554). Com o propósito de contar uma história quichéabreviada, ela nos conduz a aproximacñes sobre os espacoscomunicativos no contexto maia mais geral. Aoexaltar a grandeza deseus nobres e suas gestas, permite escocar uma estrutura de podere apontar algumas tesessobre o papel dapalavra também no sistemapolítico.

Um material de terras altas de demonstrada convenienciaenquanto referente historiográfico é o M9morial deSolalá ou Anotesde los cskcbiqueíee (1605)." inscrito na mesma órbita temática doPopal Vuh, mas de identidade cakchiquel. A consulta desta obra dáconta da reconstrucño de outro povo sobre sua própria origem;destaca-se ainda seu valor para cotejar elementos que naoaparecem no livro quiché mencionado, com outros que podem ser

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encontrados nos Libros de Chilam Balam. Outro aspecto deimportancia é a sua forma de um conjunto de textos- cujo conteúdose presume anterior iI conquista espanhola - que foram resgatados econvertidos ao alfabeto latino, conservando assim astradlcñes oraisquese perdiam com a enfase da interferencia crista em desterrar asantigas crsneas religiosas. Ainda que a hegemonía cristñ sejaevidente, a forma do discurso parece ser indigena, sao formatostransmitidos de geracao em geracao, que lanca indícios de comopode ter sido a cornunicacáo nos tempos anteriores iI Conquista e,em particular, sobre como ela pode ter sido utilizada. A linguagemesotérica, cheia de simbolismos, é uma constante; sua forma fazpensar na linguagem de analoqias, cujo valorencontra nas fórmulasde inlclacáo religiosa e nas profecias de Ruedas de los katunes'1ummarco para uma exprsssao indígena mais holistica.

Dos materiais que conservaram um formato maia, ainda dostempos da conquista, resta o Rabinal Achí, uma peca de teatro ­tragédia musicada escrita em quiche - que oferece indicios dasformas retóricas da cornunicaeño e das rslacñes sociais. Émuito útilpara conhecer um universo retórico peculiar edelimitar hierarquias edisposicóes no diálogo.

Em funcao do que foí observado sobre a escassez de fontespropriamente maias que possam ser consideradas fontes autenticas,decidimos tomar, para os fins de um estudo de comunicacáo nestaépoca, fontes outras, agora do período colonial. Existe urna ressalvacomum aos pesquisadores para aproximar-se com reservas a estasfontes, mas ao mesmo tempo, elas resultam inevitáveis porseu valortestemunhal.

Por sua variedade temática e exaustividade, o testemunho maiscompleto é a Relación de las cosas de Yucatán (1566), dado aconhecer em 1864 por Diego de Landa. Trata-se de uma das rnalsricas descrieñes desta civilizacao que recria como ninguém a vidamaia, ao que parece, movido porsua consciencia depois dos autos defé de Mani, em 1562, onde sob sua ordem centenas de códices eobjetos de culto religioso sao jogados ao fogo em nome da Juta contraa idolatría. Seu opus magnum é um tratado sobre a sociedade mala,particularmente, sobre os costumes e a religiao. Se a aproxirnacáo aesta civilizacao está mediada pela escassez de fontes históricasprimárias, sem Landa e somente a partir de métodos etnográficos

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posteriores, teria sido impossivel reconstruir um passado tao remotoe enigmático. Este autor é particularmente interessante paraexemplificar ostipos decornunicacáo. os processos educativos e osritmos dasociedade através deseu sistema cerimonial.

A lnforrnacéo que Landa nos oferece, se confirma e secontrapiíe aos dados de Bartolomé de las Casas em sua Apologéticahistoria sumaria (1559), cujo espirito mostra um interesse na defesada racionalidade "india", assim como da plenitude do seuentendimento e das suas faculdades mentais, aptas para ter umacultura como a que foram capazes de gerar. Apologética historiasumaria é uma obra de"principio antropológico "(Q'Gorman, 1972: 79)que, se muitas vezes adota poslcñes extremas opostas as de outroscronistas coloniais - o que também dá margem a suspeitas - aomesmo tempo nos proporciona importantes critérios para especificaragentes decomunlcacao, espacos comunicativos como conselhos ecerimoniais, assim como o uso da oralidade. A damonstracéo que asuaobra persegue já justifica sua escolha para consulta na medidaem que busca recriar um passado para demonstrar sua tese, ouseja,"mostrar que os indios niio apenas siio necessariamente racionaispor netúreze, mas que efetivamente o foram, posto que isso revelaseumodo de vida" (1972: 751.

Diego López Cogolludo deve muito ao relato de Landa. Em 1688,Cogolludo oferece Historia de Vucatán, um testemunho ainda residualdas tradicñes dos malas históricos que permite reforcar nocñessobre a suposta escrita, a disposicáo do espaco e as festas malas,etc. Por outro lado, a obra de Francisco Ximénez, Historia de laprovincia de San Vicente de Chiapa y Guatemala (1722), tem umarelacáo turva com Las Casas porque Ximénez cita constantementeuma obra chamada República de Indios orientales daqual nao setémreferencias. Essa obra de López Cogolludo contém passagenscompletas - sem maiores diferengas, a nao ser vírgulas e algunssinónimos - da obra de Las Casas que tinha sido escrita em 1559.Apesar disso, o aporte de Ximénez é etnológico porque conseguiuaprender as linguas quiché, cakchiquel e tzutuhil, além deter sido odescobridor e primeiro tradutor ao castelhano do Popol Vuh. A suaobra inconclusa mostra um ponto devista digno dese levar em contaem qualquer análise sobre o uso de Iivros e os costumes dos maiasdo período pós-clássico, proveitoso para rastrear práticas decomunicacáu detempos anteriores.

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Por último, entre as obras da Colonia, cabe fazer referencia aRecordación florida, doguatemalteco Antonio Fuentes yGuzmán, quese insere nessa tendencia historiográfica de cronistas que, segundoSergio Guerra (2002: 111) "combinersm nas sues obras o enraizadoamor que já sentiam pelo lugar ande haviam nescido, com aidealiza9áo das fa9anhas de seus encestreis na conquista deAmétics". Fuertes y Guzmán tinha, efetivamente, um parentescolongínquo com Bernal Diaz e a sua perspectiva sobre os fatos dopassado é prejudicada por essa mesma intencáo de justificar aConquista. Para além deste panegirico, a sua coleta de dados entredescendentes indígenas traz intormacües sobre formas dacomunlcaeño nesta cultura. em especial ligadas aos costumes eritos.

Como já foi explicado, asfontesbibliográficas para o estudo dacultura maia naose esgotam nas aqui referidas. Podemos encontrar,ainda, oschamados textos cléssicos que sao de consulta obrigatóriapara quem pretende pesquisar esta civiliza~ao. Elas estao dispostasnum vasto universo de fontes atuais de outros autores, aos que sedeve recorrer, levando em conta, no caso rnaia, o valor daarqueologia para desvendar muitos dos enigmas de corteantropológico sem resposta nas descricñes sobre esta cultura.

Eric Thompson é um dos pesquisadores norte-americanos quese dedicou ao passado maia com o apoio da Carnegie Institution deWashington, responsável da pesquisa arqueológica desta civílizacñona primeira metade do século XX. Desse trabalho de décadasresultou Maya Hieroglyphic Writing (1950), obra cuja consulta ofereceuma idéia original dos suportes onde eram inscritos os grifos malas,essencial para delimitar os possíveis usos da escrita. Guanto á

lntarpretacño epigráfica feita por Thompson, chega-se a umconsenso entre as qsracñes atuais de especialistas de que "seupapel nodeciframento da escrita maia foi inteiramente negativo, porser simplificador eerróneo (...l" (Coe, 2000: 133\.lsso, noentanto, naodeve direcionar nosso julgamento a ponto de renunciarmos ii suaconsulta, já que é preciso levar em conta que Thompson esteve naCarnegie até finalizar seu programa de pesquisa sobre osmalas, nofinal dos anos cinqüanta, e que é considerado figura fundamental naprornocño douniverso maia. Para além do seu 'erro epigráfico', MayaHieroglyphic Writing é um dos textos básicos para conhecer o

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funcionamento do calendário e a astronomia mala, enquanto Historiay Religión de losMayas (1977) é um tratado que abrealgumas portaspara compreender a cosmologia e asritualidades entre os maias.

Embora hoje criticado por multas de suas idéias a respeito daconcepcáo da estrutura política enquanto um império, e sobre aescrita maia em geral (Coe, 2000: 30-31), Silvanus Morley ficou nahistória como um autor recorrente na bibliografía sobre essa cultura.La civilización maya (1947) é um texto obrigatório pela grandeexperiéncia sobre a qual está baseado, um produto intelectualameno, ao que Coe atribui um propósito vulgarizador "no melhorsentido da palavra"(2000: 135). De qualquer modo, Morleyencarna oespirito da probidade científica sobreo passado mala, que cornecoucom as sxpedicñes de Harvard em 1922 a cidade de Copán, e aindaque seja um autor cuja obra data de maís de meio século. a suaerudi~ao é espantosa e algumas de suas reftexiíes serviram para aconstrucáo de uma idéia o mais aproximada possivel destasociedade. Outro de seus trabalhos importantes, The inscriptions ofPetén (1937-38), revela o seu desempenho como epigrafista que,embora naotenha feito grandes progressos para além de obterdatasde Cuenta Larga e de Rueda Calendárlca.Ffez aomenos um trabalhode compilacáo e descricáo que resultou proveitoso para o tema dosusos da escrita e de suportes em particular.

Tatiana Prouskouriakoff, urna russa nacionalizada norte­americana, fez-se célebre entre os especialistas na cultura maia. AstudyofClassic Maya Sculptute (1950) lanca a autora na líderan~a dapesquisa maia e a conduz até as pistas para determinar a naturezados registros dos monumentos. Em Historical data in theinsctiptionsof Yaxchilán (1963) ela reconstrói, por meio da escrita, a históriadinástica da cidade maia, algo inédito e valioso para demonstrar opotencial da escrita na reconstrucño histórica.

Por outro lado, associado a alguns destes autores, em especiala Thompson - que nao Ihe reconhece o trabalho - está o soviéticoYuri Knosorov, cujas contribuicñes a compreensáo da escrita maiasao incomensuráveis. Felizmente, o volume de Michael Coe, Eldesciframiento de los grifos mayas (2000), assinala outras visiíessobre as escrituras em geral e sobre a maia, em particular,desprezando os falsos testemunhos sobre os quais foi construida aidealizada escrita maia.

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Uma vez mencionados os norte-americanos, por serempioneiros na investiqacáo sobre os malas, é preciso deter-se napesquisa feita nopróprio México. Existem trabalhos produzidos comurna orientacáo próxima, como o deAlberto Ruz Lhuillier, que a partirde sua experiencia como arqueólogo do Instituto Nacional deAntropologia e História contribuiu com importantes descobertas queo tornaram um dos grandes maistas de todos os tempos. Enquantodiretor do Centro de Estudos Maias da Universidade NacionalAutónoma de México e diretor do Museu Nacional de Antropologia(1977-1979) teve a possibilidade de acesso a intormacño e detrabalhos de campo superado por poucos no que se refere aodomínio do contexto. Assim, Costumbres funerarias de los antiguosmayas (1968) apesar de ser um Iivro muito centrado nestas práticasespecificas, recria um mundo particularmente interessante de ritosque contribuiam adelimitacño dos espatos de soclalizacño. Suasvaliosas monografias especificam aspectos relacionados aossuportes da escrita em geral e, em particular, os tabuleiros destacidade do Petén guatemalteco. Poroutro lado, seu Iivro La civilizaciónde los antiguos mayas (1993) e Los antiguos mayas (1995) sao úteispara a contextualizacño deprocessos próprios a esta civilizacáo.

Retomo nesta análise uma das figuras mais proeminentes dahistoriografia mexicana, Miguel León Portilla. Tanto Literaturasindígenas de México (1996), quanto Tiempo y realidad en elpensamiento mat.fRTF bookmark start: }anchor502829[RTF bookmarkend: }anchor502829a (1968), sao muito férteis para compreender oseixos temátícos propostos nesta comunica¡;ao. Acostumada aotrabalho com fontes originais, a análise de León Portilla naoapenasnos coloca no ángulo de um mexicano falando sobre o seuprópriopovo, mas consegue impar-se as paixóes para sentar-se ao lado daciencia histórica com reflexóes substsncioses, sobretudo no campoda filosofía deste pavo.

3- Ovazio e a possibilidade

De maneira geral, o estudo da cornunicacao nestas formasculturais se mostra possível a partir da leitura dos textos disponíveise do esforco reconstrutor, de exegeta, como foi dito, de quemempreenda a tarefa de delimitar espacos, estabelecer tipologias,

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assinalar premissas que permitam formaruma idéia sobre a naturezadosprocessos decomunicacáo naAmérica pré-colombiana.

A partir da sociabilidade anunciada nas relacñes sociais, noparentesco, nas relacñes depoder- espacos deconñrmacáo dolacosocial- é possível mapear o papel mediador da comunicacáo. quetambém pode serreconstruido a partirdasformas do cerimonial, dascunfiquracñes temporais, de origem e dos calendários, que dáo umritmo específico a sociedade a partir do sistema ritual e suasxpressao na rotina cotidiana. Os mecanismos institucionalizadospara a producáo, transmlssao e recepcáo da comunlcacáo, canais,agentes, assim como a construcao ea própria regula~áo dodiscurso,podem ser obtidos a partir de uma análise cuidadosa destes e deoutros documentos comentados, seguindo também o que Ong (1987),no seu célebre ensaio, chamou tecnologias da palavra.

Oque parece mais interessante na perspectiva que se propñepara o estudo da comunicacáo em altas culturas é o esboce de umespaco de integra~áo de ferramentas contemporáneas da tradlcáocomunicológica - e estou pensando naproposta deanálise deJesúsMartín-Barbero a partir das mediar;i5es - e as fontes históricasdisponiveis de especialistas de outro campo. O recurso a essalntegracáo teórica e metodológica permitirá como resultado, além deuma compraensác mais próxima as tendencias de construcáo doconhecimento científico atual, uma visaooriunda doviés instrumentalque assume a comunícacáo como um fim em si mesmo e, portante,como objeto descontextualizado doseu universo depossibilidades.

Uma análise de processos de comunlcacác na América antigaa partir das condicñes que dáo possibilidade e existencia a culturaseria viável nao só para assinalar premissas em torno a urna zonavazia da pesquisa histórica da cornunlcacáo, como olereceria umeixoIrutilero de cornpreensño de outros processos que acontecem apartir da hegemonia européia na América, cuja história cultural, taohíbrida como heteróclita, temna matriz indígena urna possibilidade deexplicacño a ser levada em conta.

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Notas

i Nota doTradutor: Nueva España era o nome dadoao atual México.1. Esta é a data em que Edmundo ílGorrnan supñe que a obra terminou de serredigida. (In: Peña,1992:153).2. Também é conhecido por este sobrenome, que ele mesmo adota emvirtude deter sido a primeira palavra que aprendeu em náhuatl, que quer dizer pobre,qualificativo que ganhou por seu hábito esfarrapado e sua aparencia indigentecomo missionário.3. Após séculas estando inédita, 1878 é o ano de sua publicacáo, junto com oCódiceRarnírez.4.omente será publicada tres séculosdepois, em1840.5.Esta primeira edi~ao foi publicadaemitalianoporqueClavijero estava exiladonapenínsula, na época do desterro dosjesuítas deAmérica.6. As eras eulturais dos maias diterem segundo os aulares. Cae 12000: 69), porexemplo, marca o clássico meso-americano entre 250 e 900, momento quecoincide com a hegemonia teotihuacana, e com a construcño dos melhoresmonumentos maias com seu sistema de Cuenta Larga. Thompson indica o iníciodeste período 75 anosdepoís da dala proposta por Cae e seutim 25 depois. Lópezy López (2001: 1511 eoineidem eom Cae e situam o tim desle período por valla de900, momento em que sao abandonados os príncipais centros dasterras altas.7. As alusñes aoterritório maia e as suas formas culturais costumam segmentar­se entre terras altas e baixas.8. Os katunes sao fórmulas temporais que somam 7.200 dias.Em outra nota, maísadiante,se especifica sua relacáo com o calendáriomaia.9. Urna das etnias maia, hegemonicas na período pós-clássico, que antecede aconquista espanhola.10. Esta data é assinalada por ser a última que a fonte registra em seu relato.Aceitamos que necessariamente esta nao deve ser a data de escrita. Naoobstante, temasa certeza de quetoi escrita nos primeiros anosda Conquista, masnao viu a luzaté que Juan de Navarrete, em 1844, encontrou e traduziu-o para oespanhol.11. Forma ritual de medi~ao e predicáo do lempo.12.A Cuenta Larga compreende a dlvisáo dotempo emcinco estágios. Um baktún,144 mil dias é a maior unldade, contendo20 ketunes. Cada katún sao 7.200 dias eestá composto, por sua vez, de 20tunes, que por suavezsao18huinales, 360 dias.As unidades menores sao estes uinetes, compostos de 20 kines, que eram osequivalentes ao dia.

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