redalyc.caracterização fisiográfica e de uso das terras da ... · paisagem, conforme suas...

17
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=56904903 Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal Sistema de Información Científica Cláudia Nagako Shida, Vânia Regina Pivello Caracterização fisiográfica e de uso das terras da região de Luiz Antonio e Santa Rita do Passa Quatro, SP, com o uso de sensoriamento remoto e SIG Investigaciones Geográficas (Mx), núm. 49, diciembre, 2002, pp. 27-42, Instituto de Geografía México Como citar este artigo Fascículo completo Mais informações do artigo Site da revista Investigaciones Geográficas (Mx), ISSN (Versão impressa): 0188-4611 [email protected] Instituto de Geografía México www.redalyc.org Projeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto

Upload: hoangthuy

Post on 09-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=56904903

Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal

Sistema de Información Científica

Cláudia Nagako Shida, Vânia Regina Pivello

Caracterização fisiográfica e de uso das terras da região de Luiz Antonio e Santa Rita do Passa Quatro, SP,

com o uso de sensoriamento remoto e SIG

Investigaciones Geográficas (Mx), núm. 49, diciembre, 2002, pp. 27-42,

Instituto de Geografía

México

Como citar este artigo Fascículo completo Mais informações do artigo Site da revista

Investigaciones Geográficas (Mx),

ISSN (Versão impressa): 0188-4611

[email protected]

Instituto de Geografía

México

www.redalyc.orgProjeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto

Investigaciones Geográficas, Boletín del Instituto de Geografia, UNAMNúm. 49, 2002, pp. 27-42

Caracterização fisiográfica e de uso das terras daregião de Luiz Antônio e Santa Rita do Passa Quatro,SP, com o uso de sensoriamento remoto e SIG*

Cláudia Nagako Shida** Recibido:27 de julio de 2002Vânia Regina Pivello*** Aprobado en versión final: 17 de septiembre de 2002

Resumo. Neste trabalho, caracterizamos uma região de aproximadamente 82 655 ha, nos municípios de Luiz Antônioe Santa Rita do Passa Quatro, SP, quanto aos aspectos físicos, vegetacionais e de uso humano, e delimitamos napaisagem unidades homogêneas que pudessem ser utilizadas no planejamento regional; verificamos a existênciade associação entre o uso das terras e a fisiografia regional. Por meio de SIG identificamos unidades homogêneas depaisagem, conforme suas características de relevo, solo, uso das terras e vegetação nativa. O teste de X2mostrouassociações significativas entre os usos das terras e a fisiografia, sendo mais importante o tipo de solo. Seis unidadeshomogêneas de paisagem foram identificadas e, na maioria delas, os usos das terras estão adequados àscaracterísticas fisiográficas. Atividades agropecuárias e agroflorestais também estão presentes em áreas de usoconsiderado restrito, onde se recomenda a substituição dos atuais usos.

Palavras chave: Brasil, uso das terras, base de dados, SIG.

Resumen. En este trabajo se caracteriza una región de aproximadamente 82 655 ha, en los municípios de LuizAntônio y Santa Rita do Passa Quatro, SP, de acuerdo con su fisiografia, vegetación y usos dei suelo, y se identificanunidades homogêneas del paisaje, que podrían ser empleadas en planeación regional; se verificó Ia existencia derelaciones entre Ia fisiografia regional y los usos actuales dei suelo. Por médio de SIG se identificaron unidadeshomogéneas de paisaje, de acuerdo con sus características de relieve y suelo, uso dei suelo y vegetación nativa. Laprueba X2 reveló significativas asociaciones entre los usos del suelo y Ia fisiografía, siendo más importante el tipo desuelo. Se identificaron seis unidades de paisaje homogêneas, en Ia mayor parte de Ias cuales los usos del suelo eranadecuados a los rasgos fisiográficos. Las actividades agrícolas y silvícolas también se encuentran presentes en áreasde uso restringido, donde se recomienda remplazar los usos actuales por otros más adecuados.

Palabras clave: Brasil, uso de tierras, base de datos, sistemas de información geográfica (SIG).

Physiographic characterization and land use in LuizAntônio and Santa Rita do Passa Quatro, SP, through-out the use of remote sensing and GISAbstract. This study characterizes a region of about 82.655 ha, in Luiz Antônio and Santa Rita do Passa Quatro mu-nicipalities, SP, according to its physiography, vegetation and land uses, and identifies homogeneous landscape unitswhich could be used for regional planning; the existence of relationships between the regional physiography and pre-sent land uses were verified. Using GIS techniques, homogeneous landscape units were identified according to physi-ography, land uses and native vegetation. The Chi-squaretest revealed significant associations between land usesand physiography, soil type being the most important one. Six homogeneous landscape units were identified, and inmost of them, land uses were adequate according to the physiographic features. Agricultural and silvicultural activitiesare also present in areas of restricted use, where today's land uses should be replaced by more suitable ones.

Key words: Brazil, "cerrado", land use, database, geographical information system (GIS).

INTRODUÇÃO ssos de uso e ocupação das terras. A inten-sa conversão de áreas naturais em áreas de

A flora e fauna nativas vêm sofrendo gran- uso antrópico tem aumentado a fragmen-des ameaças, em virtude dos atuais proce- tação dos ambientes naturais e modificado a

* Auxílio financeiro FAPESP (processo n° 95/0350-1)."Departamento de Ecologia - Instituto de Biociências - Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected];bolsa de estudos CNPq."'Departamento de Ecologia - Instituto de Biociências - Universidade de São Paulo, Rua do Matão, Travessa 14,n° 321 - Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, São Paulo, S.P. CEP 05508-900 E-mail:[email protected]

Cláudia Nagako Shida y Vânia Regina Pivello

estrutura da paisagem e, conseqüentemen-te, alterado a composição e a diversidadedas comunidades naturais (Meffe y Carroll,1994; Filor, 1994; Demmers et al., 1995;Opdam et al., 1995; Wiens, 1995; Metzger,1999).

Acredita-se que 80% das mudanças nadiversidade da paisagem são explicadaspelo padrão de distribuição espacial dosseus elementos e pelo uso das terras(Palang et al., 1998). Por essa razão, aquantificação da estrutura da paisagemé fundamental para estudos de função emudança na paisagem. Esses padrões espa-ciais são determinados pela combinação daheterogeneidade do substrato como: tipos desolos e variações no relevo, tipos e densi-dades de manchas de vegetação, seja elanativa ou implantada pelo homem -quepodem determinar diferentes tipos de paisa-gens, ou unidades diferenciadas de umamesma paisagem.

A quantificação dos padrões da paisagemtem sido facilitada pelo uso do sensoria-mento remoto, que permite o desenvolvi-mento de uma base de dados espaciais emuma ampla gama de características dapaisagem (aspectos da geomorfologia,pedologia e uso das terras) e suas inter-pelações (Black et al., 1998; Palang et a/.,1998).

Uma visão holística dos processos de uso eocupação das terras, possibilitada pelo usode Sistemas de Informação Geográfica(SIGs), deve ser explorada para o plane-jamento ambiental em escala regional (Noss,1983; Franklin, 1993; Hobbs et al., 1993;Lapin y Barnes, 1995; Knight, 1998;Tchackway y Olsson, 1999), uma vez que aanálise espacial decorrente das interaçõesentre os elementos da paisagem permite queuma paisagem seja dividida em unidades depaisagem, que refletem as diferentes possi-bilidades de uso das terras ou graus de fra-gilidade ou vulnerabilidade das atividades

humanas (Agar et al., 1995). Sendo assim, opasso principal para o manejo de recursos éo delineamento de unidades na paisagemem questão (Carter ei al., 1999).O objetivo principal deste trabalho é caracte-rizar a região dos municípios de Luiz Antônioe de Santa Rita do Passa Quatro (SP)quanto aos seus aspectos físicos, vegeta-cionais e de uso humano, delimitando-seunidades de paisagem, que possam serutilizadas no planejamento regional. Maisespecificamente, procurou-se caracterizar aregião em seus aspectos de declividade,tipos de solos, geomorfologia e de uso eocupação das terras, com a produção demapas temáticos apropriados, e verificar aexistência de relações entre o uso das terrase os aspectos fisiográficos.

ÁREA DE ESTUDO

A área definida para este estudo abrangeparte de seis micro-bacias do rio Mogi-Guaçu, que incluem as seguintes drenagens:córrego Boa Sorte, córrego do Jatai ecórrego do Cafundó, localizadas no muni-cípio de Luiz Antônio; ribeirão Vassununga,que divide os municípios de Luiz Antônio eSanta Rita do Passa Quatro, tendo aindaalguns afluentes no município de São Simão;córrego Paulicéia, no município de SantaRita do Passa Quatro; rio Bebedouro e suasnascentes, que cortam os municípios deSanta Rita do Passa Quatro, Santa Rosa doViterbo, São Simão e Tambaú (Figura 1). Aárea assim delimitada ocupa, aproximada-mente, 82 655 ha e se localiza entre ascoordenadas 21° 30' - 21° 45' S e 47° 20' -47° 55' W, no estado de São Paulo.

O clima da região é tropical do tipo II, deacordo com a classificação de Walter e Lieth(Walter, 1986), com o período seco entre osmeses de junho e agosto. A temperaturamédia anual é inferior a 22°C, com pluvio-sidade anual acima de 1 300 mm; durante overão, a temperatura média mensal é supe-rior a 22° C (Martins, 1979).

28 Investigaciones Geográficas, Boletín 49, 2002

Caracterização fisiográfica e de uso das terras da região de Luiz Antônio e Santa Rita do Passa Quatro, SP...

Figura 1. Municípios compreendidos pela área de estudo, com respectiva hidrografiae unidades de conservação.

O relevo é do tipo de degradação emplanaltos dissecados, com relevo residualsuportado por litologias particulares e sus-tentado por mesas basálticas. Encontra-senas províncias geomorfológicas do PlanaltoOcidental, que corresponde à parte doplanalto Sul-Brasileiro localizada a oeste, noestado de São Paulo e, principalmente, nasCuestas Basálticas (IPT, 1981a).

As formações geológicas presentes naárea de estudo são: formações Botucatu,Pirambóia, Serra Geral associada a RochasIntrusivas Básicas, pertencentes ao grupoSão Bento; formação Rio Claro; depósitossedimentares aluvionares do Quaternário; eainda localmente, como formação superficial,a formação Santa Rita do Passa Quatro(IPT, 1981b; IG, 1981;1986).

Os solos predominantes são as Areias

Quartzosas e os Latossolos Vermelho-Escuros e Vermelho-Amarelos (IAC, 1982),sobre os quais a vegetação natural éconstituída por fisionomias de cerrado, flo-resta estacionai semi-decídua e vegetaçãoriparia (florestal e campestre). As principaisatividades desenvolvidas na área são agro-florestais, com culturas principalmente deEucalyptus spp., cana-de-açúcar e cítricos.

Alguns remanescentes de vegetação naturalencontram-se protegidos em unidades deconservação, tais como o Parque Estadualde Vassununga, a Estação Ecológica deJatai e a Estação Experimental de LuizAntônio (Figura 1).

A maior área nativa e protegida na região é aEstação Ecológica de Jatai, com cerca de4.532 ha, criada em 1982 pelo Decreto-Lein°18.997. Essa unidade de conservação

Investigaciones Geográficas, Boletín 49, 2002 29

Cláudia Nagako Shída y Vânia Regina Pivello

protege principalmente os seguintes tiposde formação vegetal: cerrado (cerradão ecerrado sensu stricto), vegetação ripáriae floresta estacionai semi-decídua. ÀEstação Ecológica de Jatai, está associadaa Estação Experimental de Luiz Antônio,criada em 1959 pelo Decreto n° 35.982 (IPT,1992) e que é constituída por cerca de 6 267ha, dos quais 3 565 ha com cerrado sensulato e o restante com atividades agroflo-restais de Pinus spp. e Eucalyptus spp. (SãoPaulo, 1997). O Parque Estadual deVassununga foi criado em 1970, peloDecreto-Lei n° 52.546 e é constituído poruma gleba de cerrado, a Gleba Cerrado Pé-de-Gigante (1 225 ha) (Mesquita Jr., 1998), ecinco de floresta estacionai semi-decídua:Glebas Capão da Várzea (cerca de 14 ha),Capetinga Leste (cerca de 191 ha), Cape-tinga Oeste (cerca de 340 ha), Praxedes(cerca de 157 ha) e Maravilha (cerca de130 ha; São Paulo, 2001), totalizando cercade 2 057 ha.

MÉTODO

Para a caracterização da região em seusaspectos físicos, biológicos e de uso huma-no, foi construída uma base cartográficadigital, constando dos seguintes mapastemáticos: declividade, geomorfologia, pe-dologia e uso das terras. As informaçõesforam obtidas de fontes cartográficas diver-sas, especificadas a seguir, digitalizadas eeditadas por meio do programa TOSCA,versão 2.0 (Clark University, 1993), e suasimagens geradas no programa IDRISI,versão 2.0 (Clark University, 1997).

Declividade

Informações relativas à topografia, à hidro-grafia e à rede viária foram extraídas dosmapas topográficos do IBGE (Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística), folhas deSanta Rita do Passa Quatro (IBGE, 1971a),Luiz Antônio (IBGE, 1971b) e Porto Pulador(IBGE, 1971 c), todos em escala de 1:50 000.

Os dados topográficos foram transformadosem Modelo Numérico de Terreno, utilizandoo programa IDRISI, versão 2.0 (ClarkUniversity, 1997), a partir do qual foi obtido omapa de declividade, ou seja, a inclinaçãomédia do perfil da encosta, em porcentagem(IPT, 1981a). As categorias adotadas nesseestudo foram: declividade baixa, entre 0 e10%; média, entre 10 e 20%; e alta, superiora 20%.

Geomorfologia

As classes geomorfológicas da região foramdefinidas pelo geomorfólogo Dr. AntônioGonçalves Pires Neto, com a utilização defotografias aéreas de 1966 (escala 1:60.000)e mapas topográficos do IBGE (escala1:50 000), seguida de aferição em campo.Os tipos de relevo, identificados conforme aclassificação do IPT (1981a) e IG (1993),foram: colina ampla; colina média; colinapequena; morrotes; escarpa; leques e terra-ços aluviais; planícies aluviais e leito maiordo rio.

Pedologia

O mapa pedológico foi obtido por meio dadigitalização do mapa do LevantamentoPedológico Semi-Detalhado do Estado deSão Paulo, Quadrícula de Descalvado(escala 1:100 000; IAC, 1982). No entanto,parte da área de estudo, referente à micro-bacia do rio Bebedouro, não possuía levan-tamentos pedológicos em escala adequada.Para a complementação do mapa pedológicoutilizaram-se os mapas de FormaçõesGeológicas de Superfície de Santa Rita doPassa Quatro (1:50 000; IG, 1981) e LuizAntônio (1:50 000; IG, 1986). As classespedológicas previamente estabelecidas, deacordo com os objetivos da área foram: SoloHidromórfico, Latossolo Roxo/ LatossoloVermelho-Escuro, Latossolo Vermelho-Amarelo/ Areia Quartzosa, Litossolo.

30 Investigaciones Geográficas, Boletín 49, 2002

Caracterização fisiográfica e de uso das terras da região de Luiz Antônio e Santa Rita do Passa Quatro, SP...

Uso e ocupação das terras

O mapa de uso e ocupação das terras em1995 (escala 1:50 000) foi produzido combase em um mapa prévio de uso e ocupaçãodas terras da mesma área, feito com baseem fotografias aéreas datadas de 1988(Shida, 2000). Para a atualização do mapaprévio, usou-se a imagem digital do satéliteLANDSAT-TM, bandas 3, 4 e 5 do dia22/08/1995 e aferição em campo, além decomparação com o levantamento feito peloInstituto Florestal (IF, 1993).

Para a leitura da imagem digital do satélite,usou-se o programa SITIM, e o seu geo-referenciamento em sistema de referênciavetorial foi elaborado por meio do programaIDRISI, versão 2.0 (Clark University, 1997).Foi produzida uma imagem com a com-posição das bandas TM-3, TM-4 e TM-5 euma imagem do índice de vegetação dadiferença normalizada (IVDN=(TM4-TM3)/(TM4+TM3)).

Seis classes de uso e ocupação das terrasforam determinadas:

a) atividades agropecuárias: abrangendo aagricultura permanente, temporária e áreascom padrões de atividades agrícolas, queincluem pasto antrópico e áreas desma-tadas;

b) atividades agroflorestais: inclui monocul-turas de Eucalyptus spp. e Pinus spp. Estaclasse foi distinta da anterior devido àscaracterísticas diferenciadas com relação àsconseqüências para o meio biótico e abió-tico, intermediárias entre a vegetação naturale a agricultura (Lima, 1993);

c) vegetação florestal de interflúvio: constitui-se de vegetação arbórea com dossel, abran-gendo floresta estacionai semidecídua,cerradão e capoeira. O critério de inclusãoutilizado foi a presença dessas fisionomiasem solos vermelhos, com drenagem livre

(Furley, 1996), utilizando-se para estaverificação o mapa pedológico (IAC, 1982)(escala 1:100 000) e confirmação em campo;d) campo sujo/ pasto natural: vegetaçãonatural, com estrato herbáceo contínuo,árvores esparsas e porções de solo exposto,onde não foram observadas claramente ativi-dades antrópicas;

e) cerrado: inclui as fisionomias de cerradosensu stricto e campo cerrado. Nesta classe,o estrato lenhoso é desenvolvido, porém,ainda com estrato herbáceo contínuo;

f) vegetação riparia: vegetação natural queacompanha os rios e córregos, degradadaou não. Engloba tanto florestas perenifóliasquanto vegetação brejosa. Foi consideradavegetação ripária aquela que se apresentavaem solos hidromórficos e planícies ou terra-ços aluviais (IAC, 1982; Furley, 1996).

Para toda a base cartográfica digital, admitiu-se um erro de 0,5% sobre as escalasaproximadas da imagem de satélite oumapas utilizados. Em cada tema abordado,foram calculadas, por meio do programaIDRISI, versão 2.0 (Clark University, 1997),as proporções das diferentes classes emrelação à área total de estudo.

Relação entre o uso e ocupação dasterras e a fisiografia

Os cruzamentos entre o mapa de uso eocupação das terras com os mapas dedeclividade, geomorfologia e pedologia fo-ram feitos por meio do programa IDRISI(Clark University, 1997). Foram obtidas asmatrizes de contingência, com as quaisforam calculados os graus de liberdade (Zar,1999) e aplicado o teste de X2 {Ibid.) paraverificar a existência de relações entre osusos das terras e a fisiografia. A fim deidentificar a força das associações obtidasentre usos das terras e os fatores fisio-gráficos, aplicou-se o índice de Cramer(Ibid.). Também foram obtidas as proporções

Investigaciones Geográficas, Boletín 49, 2002 31

Cláudia Nagako Shida y Vânia Regina Pivello

das relações entre as categorias de decli-vidade, feições geomorfológicas e tipos desolos nos diversos tipos de uso das terras, oque auxiliou no posterior delineamento dasunidades de paisagem (item abaixo).Unidades de Paisagem

Para a identificação de unidades homogê-neas quanto ao uso e a fisiografia -as uni-dades de paisagem- foram utilizados oscruzamentos dos mapas geomorfológico epedológico com o mapa de uso das terrasem 1995, já que, ao cruzar o mapa geo-morfológico com o mapa de declividade,verificou-se que este último refletia o mapageomorfológico.

Ao estabelecer as unidades da paisagem naárea de estudo, foi calculada a porcentagemda área correspondente a cada unidade de

paisagem. Também foi verificada a predomi-nância, em cada uma delas, dos elementosgeomorfológicos, pedológicos e do uso dasterras, com os recursos do SIG.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Declividade

A região possui um relevo suavemente on-dulado e altitudes entre 520 e 1.000 m acimado nível do mar (Figura 2), com declividadesque variam de 0 a 115%. A maior parte daárea de estudo (78.6%) possui declividadebaixa (0-10%); 16,9% da área apresentadeclividade média (10-20%); e 4.5%, decli-vidade alta (superior a 20%; Tabela 1: Total).A porção oeste da área de estudo é maisplana que a porção leste; esta, com maioresdeclividades, corresponde à microbacia dorio Bebedouro.

Figura 2. Classes de declividade na área de estudo.

Investigaciones Geográficas, Boletín 49, 200232

Caracterização fisiográfica e de uso das terras da região de Luiz Antonio e Santa Rita do Passa Quatro SP

Tabela 1 Matriz de contingência obtida a partir do cruzamento entre o uso e ocupação das terrase a declividade (porcentagem da área de estudo)

Classe dedeclividade

0-10%

10-20%

>20%

Total

Atividadesagropecuárias

36.38

9.54

2.70

48.62

Atividadesagroflorestais

25.73

3.72

0.17

29.63

Vegetaçãoflorestal demterflúvio

3.19

1.98

1.39

6.57

Camposujo

0.17

0.03

0.03

0.22

Cerrado

10.59

1.45

0.18

12.21

Vegetaçãoripária

2.53

0.20

0.02

2.75

Total

78.6

16.9

4.5

100.0

Geomorfologia

O relevo da área de estudo é compostoprincipalmente por colinas amplas (44 3% daárea) As escarpas, colinas pequenas e coli-nas médias encontram-se na microbacia dono Bebedouro, correspondendo às áreas demaior declividade (Figura 3) As proporçõesdas áreas ocupadas em cada uma dessasclasses geomorfológicas, com relação à áreatotal de estudo, estão representadas naTabela 2

Pedologia

Os solos que predominam na área de estudosão arenosos, dos tipos Areia Quartzosa eLatossolo Vermelho-Amarelo Em áreas dedeclividades maiores, encontram-se osLitossolos Os Solos Hidromórficos encon-tram-se em áreas de planícies de inundaçãoleques aluviais e terraços aluviais (Figura 4),como esperado As proporções de cada tipode solo na área de estudo encontram-serelacionadas na Tabela 3.

Vegetação e uso das terras

Inicialmente, foram identificadas 9 classes deuso das terras, que, posteriormente, foramagrupadas em seis classes As porcentagensde cada classe na área de estudo estão re-presentadas na Tabela 1

As atividades agropecuárias ocuparam48 62% da área total Já as atividades agro-

florestais (monoculturas de Eucalyptus sppe Pinus spp ) ocorreram em 29 63% da áreatotal (Tabela 1) Assim o uso humanoocupou 78 25% da área total, sendo os21 75% restantes ocupados por campo sujo/pasto natural, vegetação florestal de inter-flúvio, cerrado e vegetação ripária (Tabela1)

Os remanescentes das vegetações naturaisencontraram-se imersos em uma matriz deatividades agrícolas, principalmente forma-das por cultura da cana-de-açúcar, e ativi-dades agroflorestais, com silvicultura deEucalyptus spp (Figura 5) Entre as vegeta-ções naturais, o cerrado ocupou maior pro-porção em relação a área total de estudo(Tabela 1)

Relação entre uso e ocupação das terrase a fisiografia

Ao analisar as matrizes de contingência(Tabelas 1, 2 e 3), observa-se que, dentre osdiferentes usos das terras, as atividadesagropecuárias prevaleceram em todas asclasses de declividade, geomorfologia epedologia, com exceção da classe pedoló-gica "Areia Quartzosa/ Latossolo Vermelho-Amarelo", onde as atividades agroflorestaispredominaram

Juntando-se as características fisiográficasanalisadas, vê-se que a agropecuária-representada principalmente pelo cultivo decana-de-açúcar, uma atividade extrema-

Investigaciones Geográficas Boletín 49, 2002 33

Claudia Nagako Shida y Vânia Regina Pivello

mente mecanizada- predominou em declivi-dades baixas essencialmente sobre colinasamplas e médias especialmente comLatossolo Roxo/ Latossolo Vermelho-Escuropois estes solos são mais férteis e com mais

baixa susceptibilidade à erosão (IG 1993)Em áreas com declividades médias e emrelevo escarpado o uso se deu princi-palmente com pastagens (Tabela 1 e 2)

Figura 3 Feições geomorfológicas encontradas na área de estudo

Tabela 2 Matriz de contingência obtida a partir do cruzamento entre o uso e ocupação das terras e asfeições geomorfológicas (porcentagem da área de estudo)

Classegeomorfológica

c amplac mediac pequenac med /peqMorroteEscarpaTerr/leq. aluvialPI. inun /leito majorTotal

Atividadesagropecuâ

rias17.6917.593.210.510.184.691.183.57

48.62

Atividadesagroflorestai

s15.167.516.210.000.040.400.080.2229.63

Vegetaçãoflorestal deinterflúvio

1.871.451.370.010.011.650.000.206.57

Camposujo

0.150.010.020.000.000.050.000.000.22

Cerrado

8.961.700.960.000.070.250.160.1112.21

Vegetaçãoriparia

0.490.340.210.000.000.010.161.532.75

Total

44.328.612.00.50.37.11.65.6

100.00

34 Investigaciones Geográficas, Boletín 49, 2002

Caracterização fisiográfica e de uso das terras da região de Luiz Antonio e Santa Rita do Passa Quatro SP

Tabela 3 Matriz de contingência obtida a partir do cruzamento entre o uso e ocupação das terras e ostipos de solos (porcentagem da área de estudo)

Classepedológica

LR/LVE

AQ/LVA

Litossolo

Hidromorfico

Total

Atividadesagropecuarias

25.03

18.66

1.54

3.40

48.62

Atividadesagroflorestais

4.18

25.16

0.12

0.18

29.63

Vegetaçãoflorestal deinterfluvio

2.68

3.17

0.62

0.10

6.57

Camposujo

0.08

0.09

0.04

0.01

0.22

Cerrado

5.54

6.52

0.08

0.07

12.21

Vegetaçãoriparia

0.72

0.80

0.04

1.19

2.75

Total

38.23

54.40

2.44

4.93

100.00

Figura 4 Tipos de solo presentes na área de estudo

Investigaciones Geográficas, Boletín 49, 2002 35

Cláudia Nagako Shida y Vânia Regina Pivello

Figura 5. Uso e ocupação das terras na área de estudo, em 1995

As atividades agroflorestais ocuparam áreasde declividades baixas (Tabela 1), princi-palmente em colinas amplas (Tabela 2),mas sobre solos inférteis, especialmente aclasse Areia Quartzosa/ Latossolo Vermelho-Amarelo (Tabela 3). Isso porque a atividadesilvicultural exige grandes extensões de terrae mecanização, que é facilitada em terrenosplanos. Ainda, os solos de pior qualidade enão usados na agricultura são mais baratos,permitindo a compra de grandes áreas pelasempresas reflorestadoras.

A presença das atividades agroflorestaistambém se deu de forma significativa emáreas de colinas médias e pequenas, aonorte da microbada do rio Bebedouro. Estetipo de uso em declividades médias, ondesão comuns problemas de erosão (IG, 1993),é aconselhado, a fim de se evitar a implanta-

ção de outros cultivos agrícolas maisdanosos aos solos (Vieira y Vieira, 1983).

A vegetação florestal de interflúvio pre-dominou nas declividades baixas a médias(Tabela 1), distribuída em escarpas, colinasamplas, médias e pequenas (Tabela 2). Asformações florestais em escarpas foramdecorrentes de regeneração, já que aocupação das áreas escarpadas foi peque-na. A maior parte dos remanescentes dasvegetações florestais de interflúvio emLatossolo Roxo, Latossolo Vermelho-Escuro,Areia Quartzosa e Latossolo Vermelho-Amarelo estão preservados em unidades deconservação existentes na região (Tabela 3).As áreas originalmente ocupadas por estaclasse de uso se destinaram, no final doséculo XIX e início do século XX, à plan-tação do café (Shida, 2000). Assim, a distri-

36 Investigaciones Geográficas, Boletín 49, 2002

Caracterização fisiográfica e de uso das terras da região de Luiz Antônio e Santa Rita do Passa Quatro, SP..

buição atual dessa classe de uso se dá prin-cipalmente em virtude de atividades huma-nas num passado próximo.

O cerrado, presente principalmente embaixas declividades (Tabela 1), encontra-seprincipalmente sobre colinas amplas (Tabela2). Apenas alguns remanescentes estãopresentes em morrotes e colinas pequenas.Quanto ao tipo de solo, ocorre princi-palmente sobre Latossolo Vermelho-Amareloe Areia Quartzosa, sobre os quais suapresença é esperada (Silva y Campos, 1993;Tabela 3).

Os poucos remanescentes de campo sujo/pasto natural encontram-se em baixas de-clividades (Tabela 1), predominantementesobre colinas amplas, mas também sobreescarpas (Tabela 2). Os fragmentos localiza-dos nas escarpas estão sobre Litossolos eos outros, sobre Latossolo Vermelho-Amarelo e Areia Quartzosa, predominante-mente (Tabela 3).

A vegetação ripária está presente nasfeições geomorfológicas e tipos de soloesperados -respectivamente, planícies e te-rraços aluviais e Solos Hidromórficos- e nasbaixas declividades (Tabelas 1, 2 e 3). Apresença de vegetação ripária em classespedológicas diferentes de "Solos Hidro-mórficos" se deve à escala do mapeamento,pois, muitas vezes, a faixa de Solo Hidro-mórfico era muito estreita. O mesmo ocorrecom relação à presença dessa vegetaçãoem feições geomorfológicas diferentes deplanícies e terraços aluviais.

A maior parte dos solos hidromórficos daregião encontram-se ocupados por ativi-dades agropecuárias, seguido da vegetaçãoriparia. A ocupação sobre terraços e pla-nícies de inundação, leques aluviais e leitosmaiores do rio corri solos hidromórficos nãoé recomendada, devido às suas proprie-dades, risco de contaminação e poluiçãohídrica, além de serem áreas sob proteção

legal (IG, 1993).

Os cruzamentos dos mapas temáticos(declividade, tipos de solos e relevo)mostraram-se significativos de acordo com oteste de X2 (Tabela 4), isto é, a indepen-dência entre os fatores é muito poucoprovável. Assim, o uso e ocupação dasterras na região dependeram da declividade,das formas de terreno e dos tipos de solo. Amaior contribuição ao X2 quanto à decli-vidade foi a classe de alta declividade(>20%), seguida da média declividade (10-20%) e baixa declividade (0-10%); a feiçãogeomorfológica que mais contribuiu ao X2 foiplanície de inundação/leito maior do rio; ostipos de solos que mais contribuíram aoX2 foram respectivamente o Solo Hidromór-fico, Areia Quartzosa/Latossolo Vermelho-Amarelo e Latossolo Roxo/LatossoloVermelho Escuro. Entretanto, o índice deCramer mostra que as associações oudependências entre uso e ocupação dasterras e esses fatores fisiográficos, emborasejam significativas, são fracas, e seguem aordem de importância: tipo de solo (0.3),forma de relevo (0.25) e, por fim, declividade(0.16).

Unidades de Paisagem

Seis unidades de paisagem (UP) foramdistintas na área de estudo (Figura 6): UP-I,UP-II, UP-III, UP-IV, UP-V e UP-VI, sendoa UP-I subdividida em duas. Na Tabela 5,as unidades de paisagem delimitadasencontram-se relacionadas com as feiçõesgeomorfológicas, tipos de solo e usos dasterras predominantes, bem como com osrespectivos elementos de referência.

A UP-I, ocupando 34.5% da área de estudo,foi distinta da UP-II, com 12.4% da área, emrelação aos tipos de solo, principalmente; aprimeira foi delimitada sobre Areia Quartzosae a segunda, sobre Latossolo Roxo eLatossolo Vermelho-Amarelo.

Investigaciones Geográficas, Boletín 49, 2002 37

Cláudia Nagako Shida y Vânia Regina Pivello

Tabela 4 Valores do Qui-Quadrado (X2), graus de liberdade (GL), Qui-Quadrados críticos com a=0.001(X2c), e índices de Cramer (f), obtidos a partir dos cruzamentos entre o mapa de uso e ocupação dasterras e os mapas temáticos (declividade, geomorfologia e pedologia), para a área de estudo

Cruzamento de temas

Declividade X Uso das terras

Feições geomorfológicas X Uso das terras

Tipos de solo X Uso das terras

X2

47 310.7

292 079.1

251 769.6

GL

10

35

15

X2c(a=0 001)

29.59

66.62

37.70

0.161

0.252

0.302

Tabela 5 Unidades de paisagem identificadas na área de estudo, suas principais característicasgeomorfológicas, pedológicas, de uso das terras e elementos de referência

UP

Ia

Ib

II

Ill

IV

V

VI

Feiçõesgeomorfológicas

colinas médias epequenascolinas médias,pequenas eescarpascolinas médias

terraços eplanícies deinundaçãocolinas amplas

colinas amplas

colinas amplas

Tipos de solo

Areia Quartzosa

Areia Quartzosa

Latossolo Roxo eLat Vermelho-Escuro

Solos Hidromórficos

Latossolo Roxo eLat. Vermelho-Escuro

Latossolo Roxo eLat. Vermelho-Escuro

Areia Quartzosa eLat. Vermelho-Amarelo

Usos das terras

predomínio de silvicultura

agricultura (cana) e pastoantrópico

agricultura (cana) e pastoantrópico (nas escarpas), P EVassunungaagricultura (cana) e pastoantrópico, com algumavegetação ripáriaagricultura (cana) e pastoantrópico, com algunsremanescentes naturaismuitas áreas naturais esilvicultura, pouca agricultura epasto antrópicosilvicultura, áreas naturais(cerrados)

Elementos de referência

- atividades agroflorestais

- terreno maismovimentado- histórico de ocupação- geomorfologia e tipo de

solo

- geomorfologia e tipo desolo

- predomínio deatividades agropecuárias

- atividades agropecuáriascom remanescentes decerrado- tipo de solo

A subdivisão da primeira em UP-la e UP-lbdecorreu de usos diferenciados das terras -atividades agroflorestais e atividades agro-pecuárias, respectivamente, já que o solopredominante nessas duas subclasses eramas Areias Quartzosas. Assim, a UP-laabrangeu 15.5% da área de estudo e nelahouve a predominância de Areia Quartzosa,colinas médias e pequenas, e atividadesagroflorestais. Já a UP-lb ocupou 17.9% da

área de estudo, com predominância de AreiaQuartzosa, colinas médias e pequenas,escarpas, e intenso uso antrópico -principal-mente a cultura de cana-de-açúcar epastagens. A UP-II foi composta princi-palmente por Latossolo Roxo/ LatossoloVermelho-Escuro e colinas médias, ocupa-das basicamente pelas atividades agrope-cuárias, principalmente a cultura de cana-de-açúcar (Tabelas 5 e 6).

38 Investigaciones Geográficas, Boletín 49, 2002

Caracterização fisiográfica e de uso das terras da região de Luiz Antônio e Santa Rita do Passa Quatro. SP...

Figura. 6. Unidades da paisagem (UP) delimitadas na área de estudo.

Tabela 6 Porcentagens ocupadas pelas diferentes classes de uso das terras nas unidades de paisagem(UP) delimitadas na área de estudo

39Investigaciones Geográficas, Boletm 49, 2002

Cláudia Nagako Shida y Vânia Regina Pivello

A UP-III, com 4.8% da área de estudo, foiidentificada pelas formas de relevo caracte-rísticas -terraços, leque e planícies aluviais-e, consequentemente, tendo solos hidromór-ficos. Essa unidade foi ocupada principal-mente pelas atividades agropecuárias(Tabela 6).

A UP-VI, com 21.8% da área de estudo, foidistinta das UP-IV e U-V por constituir-se deAreia Quartzosa e Latossolo Vermelho-Amarelo. As UP-IV e UP-V, encontradas nomesmo tipo de solo (Latossolo Roxo eLatossolo-Vermelho-Escuro), foram separa-das pelo uso predominante das terras: naUP-IV, ocupando 13.9% da área de estudo,houve predomínio de atividades agrope-cuárias e, na UP-V, ocupando 12.7% daárea de estudo, apesar de também haver opredomínio de atividades agropecuárias,existem ainda muitas manchas de vegetaçãonatural -cerrado e vegetação florestal deinterflúvio.

CONCLUSÃO

A ocupação das terras na região estudadafoi significativamente influenciada pela fisio-grafia, especialmente o tipo de solo, seguidodas formas de relevo e declividade.

As atividades agropecuárias predominaramsobre todas as feições geomorfológicas, con-centrando-se, porém, em relevos mais pla-nos (colinas amplas e médias) e em solosmais férteis (Latossolo Roxo e LatossoloVermelho-Escuro). Solos mais pobres, comoAreias Quartzosas, são destinados princi-palmente à silvicultura, que exige grandesextensões plantadas, entretanto, esta ativi-dade também procura relevos suavizados.Então, é válida para essa região a afirmaçãogeneralizada de que a ocupação agrícolados cerrados é facilitada pela sua ocorrênciaem relevos planos (Mittermeier et ai., 1992).

Verifica-se também que, para as unidadesde paisagem Ia, II, IV, V e VI, os usos que se

tem dado às terras estão adequados às suascaracterísticas fisiográficas, conforme o sis-tema de classificação de capacidade de usodas terras para fins conservacionistas (Vieiray Vieira, 1983).

Entretanto, as atividades agropecuárias eagroflorestais também estão presentes emáreas com altas declividades e em terraços eplanícies de inundação, sobre solos hidro-mórficos, mais especificamente,nas áreas daUP-lb e UP-III, onde o uso é consideradorestrito. Um trabalho de planejamento e mo-nitoramento deveria ocorrer para a substi-tuição dos atuais usos inadequados dasterras nas escarpas, sobre Litossolos, e nasáreas de influência fluvial, sobre soloshidromórficos, ações estas que não ocorre-ram antes ou durante o processo deocupação das terras na região.

Das vegetações naturais remanescentes, ocerrado é a melhor representada (12.2% daárea), ocorrendo ainda em fragmentos relati-vamente grandes (maiores que 1 000 ha),principalmente em unidades de conservação.As manchas de vegetações florestais deinterflúvio representam 6.6% da área e seencontram também em unidades de conser-vação ou, quando não, nas maiores declivi-dades. As vegetações ripárias e a classe"campo sujo/pasto natural" encontram-sereduzidas a pequenos remanescentes, perfa-zendo juntas menos de 3% da área.

A utilização de Sistema de InformaçãoGeográfica para a caracterização regionalpermitiu análises e correlações mais detalha-das, como por exemplo, através das matri-zes de contingência, possibilitando uma mel-hor compreensão das dependências entreuso e ocupação das terras e a fisiografiaregional. Esse tipo de caracterização permiterealizar planejamentos regionais e um moni-toramento mais eficaz da utilização dasterras.

40 Investigaciones Geográficas, Boletín 49, 2002

Caracterização fisiográfica e de uso das terras da região de Luiz Antônio e Santa Rita do Passa Quatro, SP...

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPESP peloauxílio financeiro concedido (Proc. n°95/0350-1), ao CNPq, pela bolsa de estudosconcedida à primeira autora, ao geólogo Dr.Antônio Gonçalves Pires Neto, pela inter-pretação geomorfológica da área de estudoe ao técnico Paulo César Fernandes, peloauxílio nos trabalhos de campo.

REFERÊNCIAS

Agar, P. M., C. L. Pablo y F. D. Pineda (1995),"Mapping the ecological structure of a territory: acase study in Madrid (Central Spain)", Environ-mental Management 19, pp. 345-357.

Black, A. E., E. Strand, R. G. Wright, J. M.Scott, P. Morgan y C. Watson (1998), "Land usehistory at multiple scales: implications for conser-vation planning", Landscape and Urban Planning43, pp. 49-63.

Carter, R. 'E., M. D. MacKenzie y D. H.Gjerstad (1999), "Ecological land classification inthe Southern Loam Hills of South Alabama",Forest Ecology and Management 114,pp. 395-404.

Clark University (1993), Tosca, version 2.0,Clark University, Worcester.

Clark University (1997), Idrisi for Windows,version 2.010, Clark University, Worcester.

Demmers, M. N., J. W. Simpson, R. E.Boerner, A. Silva, L Bems y F. Artigas (1995),"Fencerows, edges and implications of changingconnectivity illustrated by two contíguosOhio landscapes", Conservation Biology 9,pp. 1159-1168.

Filor, S. W. (1994), "The nature of landscapedesign and design process", Landscape and Ur-ban Planning 30, pp. 121-129.

Franklin, J. F. (1993), "Preserving biodiversity:species, ecosystems or landscapes?, EcologicalApplications 3, pp. 202-205.

Furley, P. A. (1996), "The influence of slope onthe nature and distribuition of soils and land com-

munities in the Central Brazilian cerrado", inAnderson, M. G. y S. M. Brooks (eds.), Advancesin hillslope processes, John Willey & Sons, NewYork, pp. 328-346.

Hobbs, R. J., D. A. Saunders y G. W. Arnold(1993), "Integrated landscape ecology: a westernAustralian perspective", Biologica! Conservation64, pp. 231-238.

lAC-Instituto Agronômico de Campinas (1982),Levantamento Pedológico Semi-detalhado doEstado de São Paulo (escala 1:100.000),Quadrícula de Descalvado. EMBRAPA/ SAA/CPA/ IAC, Rio de Janeiro, RJ.

IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (1971a), Carta do Brasil - Santa Ritado Passa Quatro (Escala 1: 50 000), Ministério doPlanejamento e Coordenadoria Geral, Brasília.

IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (1971b), Carta do Brasil - Luiz Antônio(Escala 1: 50 000), Ministério do Planejamento eCoordenadoria Geral, Brasília.

IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (1971c), Carta do Brasil - PortoPulador (Escala 1: 50 000), Ministério do Pla-nejamento e Coordenadoria Geral, Brasília.

IG-Instituto Geológico (1981), FormaçõesGeológicas de Superfície - Folha Geológica deSanta Rita do Passa Quatro, Secretaria deAgricultura e Abastecimento, São Paulo.

IG-Instituto Geológico (1986), FormaçõesGeológicas de Superfície - Folha Geológica deLuiz Antônio, Secretaria de Agricultura e Abasteci-mento, São Paulo.

IG-Instituto Geológico (1993), Subsídio domeio-físico-geológico ao planejamento do muni-cípio de Campinas (SP), Relatório de integração,vol. I. Secretaria do Meio Ambiente, São Paulo.

IF-Instituto Florestal (1993), InventárioFlorestal do Estado de São Paulo, Secretaria doMeio Ambiente, São Paulo.

IPT-Instituto de Pesquisas Tecnológicas(1981a), Mapa geomorfológico do estado de SãoPaulo, (Série Monografias, 5), vol. 1, Instituto dePesquisas Tecnológicas, São Paulo.

Investigaciones Geográficas, Boletin 49, 2002 41

Cláudia Nagako Shida y Vânia Regina Pivello

IPT-Instituto de Pesquisas Tecnológicas(1981b), Mapa geológico do estado de São Paulo,(Série Monografias, 6), vol. 1, Instituto dePesquisas Tecnológicas, São Paulo.

IPT-Instituto de Pesquisas Tecnológicas(1992), "Unidades de conservação ambiental eáreas correlatas no Estado de São Paulo. 2aedição", Boletim 63, Secretaria da Ciência,Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, SãoPaulo.

Knight, R. L. (1998), "Ecosystem managementand conservation biology", Landscape and UrbanPlanning 40, pp. 41-45.

Lapin, M. y B. V. Barnes (1995), "Using thelandscape ecosystem approach to assess speciesand ecosystem diversity", Conservation Biology 9,pp. 1148-1175.

Lima, W. P. (1993), Impacto ambiental doEucalipto, Editora da Universidade de São Paulo,2a edição, São Paulo.

Martins, F. R. (1979), O método de quadrantese a fitossociologia de uma floresta residual dointerior do Estado de São Paulo: Parque Estadualde Vassununga, tese (Doutorado), Instituto deBiociências, Universidade de São Paulo, SãoPaulo.

Meffe, G. K. y C. R. Carroll (eds.; 1994), Prin-cipies of conservation biology, Sinauer,Sunderland.

Mesquita Jr., H. N. (1998), Análise temporalcom sensor orbital de unidades fisionômicas decerrado na Gleba Pé-de-Gigante (ParqueEstadual de Vassununga-SP), dissertação(Mestrado), Instituto de Biociências, Universidadede São Paulo, São Paulo.

Metzger, J. P. (1999), "Estrutura da paisageme fragmentação: análise biblio-gráfica", Anais daAcademia Brasileira de Ciências 71, pp. 445-463.

Mittermeier, R. A., T. Werner J. M. Ayres y G.A. B. Fonseca (1992), "O país da mega-diversidade", Ciência Hoje 14, pp. 20-27.

Noss, R. F. (1983), "A regional landscapeapproach to mantain diversity", BioScience 33,pp. 700-706.

Opdam, P., R. Foppen. R. Reijnen y A. Schot-man (1995), "The landscape ecological approachin bird conservation: integrating the metapopula-tional concept into spatial planning", íbis 137,pp. S139-S146.

Palang, H, U. Mander y A. Luud (1998),"Landscape diversity changes in Estonia",Landscape and Urban Planning 41, pp. 163-169.

São Paulo-Secretaria do Meio Ambiente(1997), Cerrado: bases para conservação e usosustentável das áreas de cerrado do Estado deSão Paulo, Secretaria do Estado do MeioAmbiente, São Paulo, Série POBIO/SP.

São Paulo-Secretaria do Meio Ambiente(2001), Atlas das Unidades de ConservaçãoAmbiental no Estado de São Paulo, Secretaria doEstado do Meio Ambiente, São Paulo, SériePOBIO/SP.

Shida, C. N. (2000), Levantamento dadistribuição espacial e temporal dos elementosda paisagem e de seus determinantes, na regiãodos municípios Luiz Antônio e Santa Rita dopassa Quatro (SP), como subsídio ao planeja-mento ambiental, Dissertação (Mestrado).Instituto de Biociências, Universidade de SãoPaulo.

Silva, A. C. Y J. C. Campos (1993), "O solo ea recomposição florestal", Ciência Hoje 15,pp. 12-13.

Tchackway, R. y K. Olsson (1999), "Public/private partnerships and protected areas: selectedAustralian case studies", Landscape and UrbanPlanning 44, pp. 87-97.

Vieira, L S. Y M. N. F. VIEIRA (1983), Manualde morfologia e classificação de solos, EditoraAgronômica Ceres Ltda, 2a. Edição, São Paulo.

Walter, H. (1986), Vegetação e zonasclimáticas, E.P.U., São Paulo.

Wiens, J. A. (1995), "Habitat fragmentation:island vs landscape perspectives on bird conser-vation", íbis 137, pp. S97-S104.

Zar, J. (1999), Biostatistical Analysis, Prentice-Hall, New Jersey.

42 Investigaciones Geográficas, Boletín 49, 2002