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Polímeros: Ciência e Tecnologia ISSN: 0104-1428 [email protected] Associação Brasileira de Polímeros Brasil González-Garcia, Filiberto; Miguez, Eduardo; Soares, Bluma G. Caracterização do sistema éter diglicidílico do bisfenol A / poliaminas alifáticas Polímeros: Ciência e Tecnologia, vol. 15, núm. 4, outubro-novembro, 2005, pp. 261-267 Associação Brasileira de Polímeros São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=47015409 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Polímeros: Ciência e Tecnologia

ISSN: 0104-1428

[email protected]

Associação Brasileira de Polímeros

Brasil

González-Garcia, Filiberto; Miguez, Eduardo; Soares, Bluma G.

Caracterização do sistema éter diglicidílico do bisfenol A / poliaminas alifáticas

Polímeros: Ciência e Tecnologia, vol. 15, núm. 4, outubro-novembro, 2005, pp. 261-267

Associação Brasileira de Polímeros

São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=47015409

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261Polímeros: Ciência e Tecnologia, vol. 15, n° 4, p. 261-267, 2005

ARTIGO

TÉCNICO

CIENTÍFICO

Introdução

As resinas epoxídicas são materiais termorrígidos am-plamente utilizados em adesivos, matrizes para compósitos,materiais elétricos e materiais para recobrimentos, entreoutras aplicações. Isto é resultado de suas excelentes pro-priedades adesivas, mecânicas, térmicas e elétricas, assimcomo da relativa facilidade no processamento dos artefa-tos. Quando estes materiais são destinados para aplicaçõesespeciais que solicitam alta durabilidade, é comum a revi-são dos parâmetros da formulação para atingir proprieda-des otimizadas. Os principais parâmetros incluem autilização de uma proporção adequada de resina eendurecedor, um programa de cura adequado que assegu-re a conversão máxima e um tempo de manipulação talque garanta uma correta utilização da formulação.

Dentre as várias famílias de endurecedores, as mais co-

nhecidas e estudadas são as do tipo amina. Esta família éconstituída por numerosos compostos polifuncionais comdiferentes estruturas químicas, que contêm em comum apresença de grupos amina do tipo, primária, secundária outerciár ia. Particularmente os sistemas que utilizamendurecedores do tipo amina alifática funcionam à tempe-ratura ambiente, sendo amplamente utilizados para formu-lações adesivas porque permitem um tempo de manipulaçãoadequado que garante a correta aplicação do adesivo[1-3].Estes sistemas são geralmente bi-componente já que os pro-dutos comerciais se apresentam em duas embalagens, umdeles contendo a resina e o outro o endurecedor, como oscomponentes ativos mais importantes da formulação.

O objetivo do trabalho é obter informação dos parâmetrosdo sistema constituído pelo éter diglicidílico do bisfenol A(DGEBA), produto DER 331, e o endurecedor 24,comercializados pela Dow Química S.A. do Brasil. A com-

Caracterização do Sistema Éter Diglicidílicodo Bisfenol A / Poliaminas Alifáticas

Filiberto González-Garcia, Eduardo Miguez, Bluma G. SoaresInstituto de Macromoléculas Prof. Eloisa Mano, UFRJ

Resumo: O sistema epoxídico constituído pelo éter diglicidílico do bisfenol A (DGEBA), produto DER 331 com endurecedor24 comercializados pela Dow Química do Brasil foi caracterizado por métodos espectroscópicos, calorimétricos e dedeterminação de grupos funcionais. O endurecedor 24 é constituído por trietilenotetramina (60 % molar) e uma misturade etilenoaminas polifuncionais com estruturas lineares, ramificadas e cíclicas. O equivalente epoxídico da resina resul-tou de 187 g eq-1. A funcionalidade média, o equivalente de amina, e a concentração do endurecedor que satisfaz aestequiometria, corresponde a 5,54, 27,5 g eq-1, e 14,7 phr, respectivamente. O sistema epoxídico manifestou uma entalpiade reação de 486 J g-1 (106,6 kJ eq-1), e uma temperatura de transição vítrea (Tg∞) de 124 °C. O trabalho apresenta aindaum programa de cura em duas etapas onde se alcança a conversão máxima, e se apresenta o diagrama de transformaçõesconversão vs temperatura (CTT).

Palavras-chave: Éter diglicidílico do bisfenol A (DGEBA), trietilenotetramina (TETA), diagrama de transformaçõesconversão vs temperatura (CTT).

Characterization of Diglycidyl Ether of Bisphenol A / Aliphatic Polyamines Systems

Abstract: Diglycidyl ether of the bisphenol A (DGEBA), product DER 331 and hardener 24 system marketed by ChemicalDow of Brazil were characterized by spectroscopic, calorimetric and determination of functional groups methods. Thehardener 24 is constituted by triethylenetetramine (60 % molar) and a mixture of ethylene polyfunctional amines withlinear, ramified and cyclic structures. The epoxy equivalent of the resin corresponds to 187 g eq-1. The functionalityaverage, equivalent amine, and the concentration of the hardener that satisfy the stoichiometry corresponds to 5.54,27.5 g eq-1, and 14.7 phr, respectively. The epoxy system displayed an enthalpy of reaction of 486 J g-1 (106.6 kJ eq-1), anda glass transition temperature (Tg

¥) of 124 °C. Also presented in this work is a cure program in two stages where the

maximum conversion was reached.

Keywords: Diglycidyl ether of bisphenol - A (DGEBA), triethylenetetramine (TETA), diagram conversion time temperature(CTT).

Autor para correspondência: Filiberto González Garcia, Instituto Politécnico, UERJ, Rua Alberto Rangel s/n - Vila Nova, CEP: 28630-050, Nova Friburgo,RJ. E-mail: [email protected].

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González-Garcia, F. et al. - Caracterização do sistema éter diglicidílico do bisfenol A / poliaminas alifáticas

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posição química e equivalente amina desse endurecedor nãosão fornecidas pelo fabricante. Porém, acredita-se que essasinformações são de alta relevância para a utilização deste sis-tema como adesivo para reparo de dutos de aço utilizadospara o transporte de petróleo e gás natural. Este trabalho incluia determinação da proporção dos componentes que garante aestequiometria e também apresenta um procedimento sim-ples para determinação da conversão máxima, além do dia-grama de transformações do sistema. Além disto, acaracterização completa do endurecedor 24, incluindo a deter-minação da funcionalidade média, equivalente amina, e con-teúdo de nitrogênio do tipo amina primário, secundário eterciário, é apresentada.

Experimental

MateriaisMateriaisMateriaisMateriaisMateriais

Resina epoxídica do tipo éter diglicidílico do bisfenol A(DGEBA), produto DER 331, foi desidratada a vácuo a 80 °Caté desaparecimento das bolhas e endurecedor 24 (Dow Quí-mica S.A. do Brasil S.A.), usado como recebido. Um produ-to de grau comercial à base de trietilenotetramina (TETA)(60 %, da ACROS) contendo uma mistura de poliaminasalifáticas foi utilizado para fins comparativos.

Ressonância magnética nuclear (RMN)Ressonância magnética nuclear (RMN)Ressonância magnética nuclear (RMN)Ressonância magnética nuclear (RMN)Ressonância magnética nuclear (RMN)

Os espectros de ressonância magnética nuclear de carbo-no-13 (RMN-13C) foram obtidos em um Espectrômetro de300 MHz – VARIAN Mercury-300 em solução de CDCl3 àtemperatura ambiente operando a 75,4 MHz. Os deslocamen-tos químicos foram reportados em ppm referidos ao TMScomo referência interna. Os parâmetros espectrais utilizadosforam: tempo de aquisição 1,5 s; largura espectral 18 kHz;pulso (90°) 35 µs, número de transientes 4000, intervalo entreos pulsos (dl) 1s.

Concentração de grConcentração de grConcentração de grConcentração de grConcentração de grupos funcionaisupos funcionaisupos funcionaisupos funcionaisupos funcionais

O equivalente epoxídico (eq.epoxídico) foi determinadopor titulação química por método volumétrico usando ácidobromídrico gerado “in situ”, segundo as especificações danorma ASTM D 1652. Os resultados são a média de pelomenos três determinações. Além deste método, o equivalen-te epoxídico foi também determinado por dois métodosespectroscópicos: um deles utiliza a espectroscopia na regiãodo infravermelho[1] e outro a espectroscopia de ressonânciamagnética nuclear de hidrogênio[4]. O método de espectros-copia na região do infravermelho é baseado no desapareci-mento da banda de absorção em 910 cm-1 que é característicado grupo epoxídico, referida à banda de absorção em 1600cm-1 que permanece constante. O método de RMN consisteem obter a relação da área do sinal a 7,0 ppm relativo aoshidrogênios aromáticos e a área dos sinais em 2,8 e 3,4 ppmdos hidrogênios do anel epoxídico.

O equivalente de amina (eq.amina) do endurecedor 24,foi determinado por dois métodos diferentes de titulação quí-mica usando técnica potenciométrica: o primeiro utiliza so-

lução de ácido bromídrico em ácido acético glacial, segundoas especificações da norma ISO 9702:1996(E), e o outro ba-seia-se na diminuição do pH em meio aquoso de uma solu-ção do endurecedor pela adições de diferentes volumes deuma solução de ácido clorídrico padronizada. Os resultadosdos métodos de titulação são a média de pelo menos três de-terminações. Além destes métodos de titulação, o equivalen-te de amina do endurecedor foi determinado por métodocalorimétrico utilizando a calorimetria diferencial de varre-dura (DSC). Para isto, foram realizadas experiências dinâmi-cas utilizando diferentes concentrações de endurecedor. Todasas experiências foram realizadas em um equipamento Perkin-Elmer, modelo DSC 7, sob atmosfera de nitrogênio (20 mlmin-1) com taxa de aquecimento de 10 °C min-1 em um inter-valo de temperatura de 30 a 200 °C.

Determinação da funcionalidadeDeterminação da funcionalidadeDeterminação da funcionalidadeDeterminação da funcionalidadeDeterminação da funcionalidade

A funcionalidade média do endurecedor 24 foi determi-nada a partir da razão de gelificação crítica, determinada apartir da equação de Macosko e Miller[5] (equação 1). Paraisto, foram preparadas diferentes misturas de resina epoxídicae endurecedor (excesso de grupos epoxídicos), que foramsubmetidas a 70 °C durante 48 horas, e posteriormente testa-das por ensaios de solubilidade em dioxano. A determinaçãoconsiste em encontrar a concentração mínima, utilizandoexcesso de grupos epoxídicos nas misturas que conduz àiminente gelificação, ou seja, se procura a concentração mí-nima que leva à obtenção de uma amostra líquida (solúvelem dioxano) no final da reação, em relação a uma concentra-ção superior onde ocorreria a gelificação.

rc (eq.epoxídico/eq.amina) = (1)

Onde rc: razão de gelificação crítica, f: funcionalidade daresina epoxídica, e g: funcionalidade do endurecedor.

Determinação da temperatura de decomposiçãoDeterminação da temperatura de decomposiçãoDeterminação da temperatura de decomposiçãoDeterminação da temperatura de decomposiçãoDeterminação da temperatura de decomposição

A temperatura de decomposição (Td) do sistema epoxídicousando proporções estequiométricas foi avaliada por análisetermogravimétrica utilizando um equipamento Perkin-Elmer,modelo TGA 7 sob atmosfera de nitrogênio com taxa de aque-cimento de 20 °C min-1 em um intervalo de 30 a 600 °C.Considerou-se Td, como a temperatura máxima limite antesdo início da decomposição na curva termogravimétrica.

Resultados e Discussão

Caracterização estrutural do endurecedor 24

Na Tabela 1 encontram-se resumidos os dados dos espec-tros de ressonância magnética nuclear de carbono-13 (RMN-13C) do endurecedor 24, e do produto TETA comercializadopela ACROS, incluído para fins comparativos. Os assina-lamentos dos sinais foram suportados pelo emprego de da-dos espectrais (RMN-13C) divulgados para endurecedores dotipo amina alifática[6], assim como pelos dados encontradosanteriormente pela combinação de técnicas cromatográficas

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e espectroscópicas (CG-EM e RMN-13C)[7] durante a carac-terização de um endurecedor comercial, denominado 720Y,que resultou estar constituído por trietilenotetramina (62 %,molar) e uma mistura de poliaminas alifáticas como as mos-tradas na Figura 1.

O espectro do endurecedor 24, e do produto TETA, forammuito semelhantes, e os deslocamentos químicos dos sinaisobservados coincidem com os dados divulgados para uma

família de endurecedores conhecida por polietileno-poliaminas (PEPAs), neste caso, de baixa massa molecular.As PEPAs estão constituídas por misturas de etilenoaminaspolifuncionais com estruturas lineares, ramificadas ecíclicas[6,7].

Os sinais dos espectros foram atribuídos a carbonosmetilênicos correspondentes a fragmentos estruturais depoliaminas alifáticas como os mostrados na Tabela 1. A co-incidência dos dados espectrais destes dois produtos, e osencontrados anteriormente no endurecedor 720Y[7] sugeremque a composição do endurecedor 24 é constituída por TETA,e uma mistura de etilenoaminas polifuncionais (PEPAs) comoaquelas encontradas anteriormente no produto 720Y (ver Fi-gura 1). A concentração aproximada de trietilenotetraminano endurecedor 24, e no produto comercializado pela ACROSfoi de 60 e 58 % (molar), respectivamente. Este resultado foiobtido a partir da razão entre as áreas relativas dos sinais em52,5, 49,4 e 41,7 ppm, correspondentes a carbonosmetilênicos dos fragmentos estruturais do tipo -HN-CHCHCHCHCH22222-CH2-NH2, -HN-CHCHCHCHCH22222-CH-CH-CH-CH-CH22222-NH- e -HN-CH2-CHCHCHCHCH22222-NH2, res-pectivamente da TETA em relação a todas as áreas dos sinais

Tabela 1.Tabela 1.Tabela 1.Tabela 1.Tabela 1. Análise dos espectros de RMN-13C.

a) Valores experimentais para o endurecedor 24b) Valores experimentais para o produto grau comercial TETA (ACROS)c) Valores divulgados na referência 6d) Valores divulgados na referência 7

Figura 1.Figura 1.Figura 1.Figura 1.Figura 1. Componentes do endurecedor 24 (Dow Química S.A. do Brasil)e do produto de grau comercial trietilenotetramina (ACROS).

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dos espectros. Este resultado pode estar afetado pela presen-ça de dietilenotriamina (DETA). No entanto, a concentraçãode trietilenotetramina no produto comercializado pelaACROS, está em perfeito acordo com o fornecido pelo fabri-cante (60 %).

PrPrPrPrProporção adequada de roporção adequada de roporção adequada de roporção adequada de roporção adequada de resina e enduresina e enduresina e enduresina e enduresina e endurecedorecedorecedorecedorecedor

As propriedades dos sistemas epoxídicos podem ser con-troladas por mudanças tanto de formulação como de condi-ções de cura. Entretanto, as melhores propriedades sãoalcançadas quando se utilizam proporções estequiométricas.Nesta condição, o sistema consegue a estrutura de rede maiscompleta porque alcança a conversão máxima, e como con-seqüência disto é possível obter a temperatura de transiçãovítrea máxima (Tg∞) onde o sistema vitrifica. Freqüentemente,na utilização do sistema constituído pelo éter diglicidílico dobisfenol A (DGEBA) com trietilenotetramina (TETA) utili-za-se proporção não estequiométrica (70 %). No entanto,quando se usa proporção estequiométrica, não são observa-das mudanças na resistência à tensão por um período de umano, e se observa um ligeiro aumento nas propriedades me-cânicas em flexão em condições de intemperismo[1]. Basea-do nestes comportamentos gerais foi considerado que aproporção adequada de resina e endurecedor deste sistemacorrespondem à estequiométrica.

A estequiometria de um sistema epoxi-amina (um hidro-gênio do tipo amina por cada grupo epoxídico) pode serestabelecida pela determinação da concentração de gruposfuncionais presentes na resina e na poliamina utilizada. Isto,muitas vezes, é determinado por métodos específicos detitulação. Nos métodos selecionados neste trabalho, as con-centrações de grupos funcionais correspondem ao equiva-lente epoxídico, e a concentração percentual de nitrogênio(% em massa) do tipo amina (total, primário, secundário eterciário) no endurecedor. Nas metodologias de titulação, aconcentração de grupos funcionais do endurecedor necessitaser recalculada, já que estes métodos estão baseados em de-terminações indiretas, porque não utilizam a reação com ogrupo epoxídico. Entretanto, quando se conhece o equiva-lente epoxídico, é possível obter de modo direto, o equiva-lente de amina (gramas de endurecedor que contem umequivalente de hidrogênio amínico), pelo emprego dacalorimetria diferencial de varredura (DSC).

No método calorimétrico são realizadas experiências di-nâmicas utilizando o sistema epoxídico com variação na con-centração de endurecedor. A metodologia consiste emdeterminar as mudanças na entalpia de reação (∆H) e na tem-peratura de transição vítrea (Tg) como conseqüência da for-mação de diferentes estruturas de rede. Entretanto, quandose utiliza a proporção estequiométrica, os valores experimen-

Figura 2.Figura 2.Figura 2.Figura 2.Figura 2. Determinação da proporção adequada de endurecedor 24 no sistema de resina epoxídica DER 331 por método calorimétrico (DSC). a) ∆H emfunção da concentração de endurecedor (We, fração em massa), b) Tg em função da concentração de endurecedor (r, razão entre os equivalentes de amina,e os equivalentes de grupos epoxídicos), c) e d) curvas calorimétricas com diferente concentração de endurecedor (phr, partes de endurecedor por cada 100partes de resina)

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tais destas magnitudes correspondem aos valores que carac-terizam o sistema epoxídico[8-13].O resultado das experiênci-as dinâmicas é apresentado na Figura 2. Nestas experiências,considerou-se o valor de Tg no ponto médio da transição nasegunda varredura dinâmica, e o equivalente epoxídico daresina de 187 g eq-1. A fração em massa do endurecedor (We)foi calculada pela equação 2.

We = = = = = (2)

Onde: me e mr correspondem à massa de endurecedor e deresina utilizada na mistura, respectivamente.

A Figura 2a mostra o comportamento experimental daentalpia de reação (∆H) com diferentes concentrações doendurecedor 24. O intercepto, depois do ajuste linear dosdados experimentais corresponde a We = 0,128 ± 0,01, querepresenta uma concentração de endurecedor de 14,7 phr(gramas de endurecedor por cada 100 gramas de resina), eequivale a uma massa equivalente de 27,5 g eq-1. Esta con-centração satisfaz a estequiometria do sistema. Consideran-do que a trietilenotetramina é o componente majoritário doendurecedor 24, pode-se esperar uma fração teórica em mas-sa de 0,115 (13,01 phr), o que não foi encontrado experi-mentalmente, e indica que as impurezas reativas afetam afuncionalidade. Por outro lado, o comportamento da Tg (Fi-gura 2b) utilizando diferente razão (0,5 < r < 4,0) entre osequivalentes de amina e de grupos epoxídicos na mistura,conduz à intercessão dos dados experimentais quando r=1.Este comportamento confirma, tanto a mudança da funcio-nalidade, como o valor do equivalente de amina encontradopara o endurecedor. O resultado sistemático de diferentes ex-periências dinâmicas para o sistema epoxídico estudado deresina DER 331 com endurecedor 24 utilizando proporçãoestequiométrica (r=1) indica que a entalpia de reação, e atemperatura de transição vítrea a conversão total (Tg∞)correspondem a 486 ± 10 J g-1 (106,6 kJ eq.-1) e 124 °C,respectivamente. Estes valores estão em perfeito acordo com

o divulgado para os sistemas epoxi-amina, e para os sistemasque utilizam aminas alifáticas como endurecedores, respec-tivamente[1,2,8-13].

A Tabela 2 apresenta as concentrações dos grupos funcio-nais da resina epoxídica DER 331 e do endurecedor 24, obti-das por diferentes metodologias. O equivalente epoxídicoobtido pelos três métodos corresponde a 187 g eq-1. Este va-lor está em perfeito acordo com o divulgado pelo fabricante(182 a 192 g eq-1). Em relação ao equivalente de amina, osmétodos de titulação fornecem valores muito semelhantesquando comparados ao valor encontrado pelo métodocalorimétrico (DSC). Entretanto, é importante destacar quedos métodos utilizados neste trabalho para a determinaçãodo equivalente de amina, a titulação potenciométrica em meioaquoso é a metodologia menos laboriosa, e mais accessívelpara qualquer laboratório de controle.

PrPrPrPrPrograma de curaograma de curaograma de curaograma de curaograma de cura

Sabe-se que para os sistemas com aminas é freqüente oemprego de um programa de cura que utilize uma tempera-tura inicial moderada, onde pode ocorrer a gelificação e avitrificação. Entretanto, é necessário finalizar o programa decura a uma temperatura superior à temperatura de transiçãovítrea máxima (Tg∞) característica do sistema. O sistema cons-tituído pela resina epoxídica do tipo DGEBA com trietile-notetramina (TETA) pode ser utilizado com êxito àtemperatura ambiente na etapa inicial. Considerando que osfenômenos de gelificação e vitrificação aconteçam em umtempo de 24 horas, é possível assegurar que nestas condi-ções, a reação não alcança a conversão máxima. Para atingira conversão máxima, é necessário realizar uma pós-cura auma temperatura superior à Tg∞. Este parâmetro foi estima-do a partir de análises de DSC operando em modo dinâmicoem misturas de resina epoxídica e endurecedor 24 com razãoestequiométrica de grupos funcionais. Nestas experiênciasfoi encontrada uma Tg∞ = 124 °C, indicando a necessidadeda utilização de uma etapa de pós-cura a uma temperatura

Tabela 2.Tabela 2.Tabela 2.Tabela 2.Tabela 2. Concentração de grupos funcionais.

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superior a esta, por exemplo, 130 °C. Considerando o pro-grama de cura em duas etapas, e que a primeira etapa seja de24 horas à temperatura ambiente, e na segunda se utilize umatemperatura de 130 °C, é necessário determinar para essasegunda etapa, o tempo necessário para que a reação sejacompletada. Um método simples para determinar o términoda reação, em condições isotérmicas, consiste em monitorara temperatura de transição vítrea (Tg) como uma função daconversão do sistema[14-17]. Desta forma, espera-se que o au-mento do tempo de reação provoque o aumento da Tg, atéalcançar o valor máximo de temperatura (Tg∞) onde o siste-ma vitrifica. O comportamento experimental da Tg do siste-ma parcialmente curado à temperatura ambiente (primeiraetapa), e na pós-cura a 130 °C como uma função do tempo(segunda etapa), é apresentado na Figura 3.

Os resultados mostram de modo evidente que depois daprimeira etapa do programa de cura o aumento do tempo depós-cura a 130 °C provoca o aumento de Tg, até ao valormáximo de 124 °C, que corresponde à temperatura máximaonde este sistema vitrifica. Este resultado confirma que nestascondições de cura, o sistema alcança a conversão máxima.

Diagrama de transformaçõesDiagrama de transformaçõesDiagrama de transformaçõesDiagrama de transformaçõesDiagrama de transformações

Existem dois tipos de diagramas para representar as trans-formações que ocorrem nos materiais termorrígidos. Umcorresponde ao diagrama tempo vs temperatura (TTT), pro-posto por J.K. Gillham e at.[17-18], e outro, o diagrama conver-são vs temperatura (CTT), divulgado por R.J.J. Williams eat.[19]. Dois tipos de transformações diferentes são caracte-rísticas para estes materiais: a gelificação e vitrificação. Nosdiagramas CTT, é necessário determinar os valores de con-versão associados a estas transformações específicas. A con-versão de gelificação (xgel) depende fundamentalmente dafuncionalidade dos reagentes. Em nosso sistema, o valor dafuncionalidade da resina foi considerado igual a 2, e a funci-onalidade média experimental do endurecedor resultou de5,54 ± 0,02, determinada a partir da razão de gelificação crí-tica (rc), correspondente a 0,220 ± 0,001. A partir destes doisvalores do sistema é possível determinar xgel pela equação 3,

considerando que não existem efeitos de substituição (igualreatividade dos hidrogênios primário e secundário), e nãoocorrem reações intramoleculares (ciclização)[20]. O valorcalculado de xgel resultou de 0,469 ± 0,001.

xgel

= [(f - 1) (g - 1)]-1/2 (3)

Onde xgel: conversão de gelificação, f: funcionalidade da re-sina epoxídica, e g: funcionalidade do endurecedor.

A conversão (x) do sistema em condições isotérmicas, e osvalores correspondentes de Tg podem ser avaliados pela com-binação de experiências isotérmicas e dinâmicas (DSC). Paraobter estes valores foram realizadas primeiramente experiên-cias isotérmicas a 20, 30, 50, 70 e 90 °C utilizando proporçãoestequiométrica. A conversão final alcançada após cada expe-riência isotérmica a diferente temperatura, foi determinada pelaequação 4, e o valor de Tg correspondente foi determinadopor uma experiência dinâmica posterior à isotérmica. Nestecaso, considerou-se o valor de Tg no início da transição (“onset”) na curva calorimétrica. As experiências dinâmicas foramrealizadas, sob atmosfera de nitrogênio com taxa de aqueci-mento de 10 °C min-1 em um intervalo de -60 a 200 °C.

x = 1 - (4)

Onde: ∆HT: entalpia total do sistema de resina DER 331 comendurecedor 24 (486 J g-1), e ∆HR: entalpia residual após aexperiência isotérmica.

Os parâmetros, e as conversões (x) nos diagramas de trans-formações conversão vs temperatura (CTT) correspondem a:Tg∞: temperatura máxima onde o sistema vitrifica (x = 1)Tgo: temperatura do sistema no início da reação (x = 0)Tggel: temperatura particular onde ocorrem simultaneamentea gelificação e vitrificação (xgel)Td: temperatura onde ocorre decomposição do material.Tc: temperatura de cura

Figura 3.Figura 3.Figura 3.Figura 3.Figura 3. Comportamento da tg em função do tempo de pós-cura a 130 °Cpara a segunda etapa do programa de cura proposto. Figura 4.Figura 4.Figura 4.Figura 4.Figura 4. Diagrama de transformação CTT do sistema DER 331-

Endurecedor 24.x: conversão, Tg∞: temperatura máxima onde o sistema vitrifica (quandox=1), Tg

o: temperatura do sistema no início da reação (quando x=0), Tg

gel:

temperatura particular onde ocorrem simultaneamente a gelificação evitrificação, xgel: conversão correspondente à gelificação, Td: temperatu-ra de decomposição do material.

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267Polímeros: Ciência e Tecnologia, vol. 15, n° 4, p. 261-267, 2005

Para o sistema de resina DER 331 com endurecedor 24 fo-ram determinados os parâmetros: Tg∞= 124 °C, Tgo= -23 °C, eTggel = ~ 12 °C (valor aproximado obtido por extrapolação nográfico, conversão vs temperatura, a partir de conhecer que xgel=0,469). A temperatura de decomposição (Td) resultou 320 °C.

A Figura 4 apresenta a conversão (x) como uma função datemperatura para o sistema de estudo a que correspondemdiferentes valores de Tg. A partir do diagrama CTT, é possí-vel justificar o programa de cura proposto. Para sistemasepoxídicos está bem estabelecido que quando Tg∞ > Tc >Tggel a vitrificação ocorre posterior à gelificação, e quandoTc < Tggel ocorre o contrário. Para o programa de cura pro-posto, em duas etapas, onde a primeira etapa corresponde àtemperatura ambiente (30 °C) durante 24 horas, esta tempe-ratura de cura coincide com a condição Tg∞ > Tc > Tggel,indicando que na primeira etapa de cura (temperaturaambiente) a gelificação ocorre primeiro à vitrificação, e quenestas condições a vitrificação ocorre a uma temperatura beminferior à Tg∞. Depois desta etapa inicial, para alcançar Tg∞,é necessário utilizar uma temperatura de cura (pós-cura) igualou superior a 124 °C. Isto foi verificado neste trabalho, utili-zando uma etapa de pós-cura a 130 °C durante um tempoque garanta a vitrificação do sistema (Figura 3).

Conclusões

O sistema constituído pela resina epoxídica, produto DER331, e o endurecedor 24, comercializados pela Dow QuímicaS.A. do Brasil foi estudado. Os resultados experimentais indi-cam que, o endurecedor 24 é constituído por trietilenotetramina(60 % molar) e uma mistura de etilenoaminas polifuncionaiscom estruturas lineares, ramificadas e cíclicas. A funcionali-dade média, o equivalente de amina, e a concentração doendurecedor que satisfaz a estequiometria, corresponde a 5,54,27,5 g eq-1, e 14,7 phr, respectivamente. Este sistema manifes-tou uma entalpia de reação de 486 J g-1 (106,6 kJ eq.-1), e umatemperatura de transição vítrea (Tg∞) de 124 °C, valores queestão em perfeito acordo com o divulgado para os sistemasepoxi-amina e para os sistemas que utilizam aminas alifáticascomo endurecedores, respectivamente. O programa de curaproposto de duas etapas: 24 horas à temperatura ambiente, e 2horas a 130 °C, alcança a conversão máxima.

Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio pelo Plano Nacional deCiência e Tecnologia do Setor Petróleo e Gás Natural - CT-PETRO, por meio do CNPq (CT-PETRO/CNPq) Proc. No.500092/02-8.

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Enviado: 22/11/04Reenviado: 16/03/05Aprovado: 24/06/05