canto da liberdade 02

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ExtraMuros IntraMuros Entrevista A reintegração à sociedade é possível? Três egressos provam que sim. Em 2006, a Funap vai inaugurar 80 salas de leitura. Jan Wiegerinck fala sobre oportunidades de trabalho. pág 3 pág 6 pág 8 publicação bimestral da funap - fundação de amparo ao preso • distribuição gratuita no sistema penitenciário de são paulo março de 2006 • edição 02 CANTO DA LIBERDADE Os benefícios do trabalho Salário, redução de pena, tempo ocupado e o principal: a oportunidade de aprender uma profissão. págs. 4 e 5. Oficina de móveis escolares em Pirajuí

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Canto da Liberdade - Ediçao 02 - MAR/2006

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Page 1: Canto da Liberdade 02

E x t r a M u r o s I n t r a M u r o s E n t r e v i s t aA r e i n t e g r a ç ã o à s o c i e d a d e é p o s s í v e l ? T r ê s e g r e s s o s p r o v a m q u e s i m .

E m 2 0 0 6 , a F u n a p v a i i n a u g u r a r 8 0 s a l a s d e l e i t u r a .

J a n W i e g e r i n c k f a l a s o b r e o p o r t u n i d a d e s d e t r a b a l h o .

p á g 3 p á g 6 p á g 8

publicação bimestral da funap - fundação de amparo ao preso • distribuição gratuita no sistema penitenciário de são paulo

março de 2006 • edição 02CANTODA L I BERDADE

Os benefícios do trabalhoS a l á r i o , r e d u ç ã o d e p e n a , t e m p o o c u p a d o e o p r i n c i p a l : a o p o r t u n i d a d e d e a p r e n d e r u m a p r o f i s s ã o . p á g s . 4 e 5 .

Oficina de móveis escolares em Pirajuí

Page 2: Canto da Liberdade 02

CANTO DA L I BERDADEp á g

Editorial

Participe do Canto

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Nada mais oportuno que o tema desta edição: Trabalho. Já definido no planejamento editorial do Canto da Liberdade em novembro/2005, o tema foi bastante discutido na imprensa neste início de ano, devido à denúncias de sindicatos de trabalhadores de que indústrias estavam fechando suas portas para aproveitarem o “trabalho escravo nos presídios do Estado”. Toda essa exposição na mídia trouxe um benefício inesperado. A FUNAP e a SAP sempre fizeram a captação de indústrias para utilizar a mão-de-obra carcerária de forma empírica, no boca a boca, no relacionamento pessoal de seus agentes e dos empresários já integrados ao sistema.Alertados pelas reportagens, a parcela mais progressista dos empresários representados pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo – CIESP, através de seu Presidente , Dr. Cláudio Vaz, tomou a iniciativa de propor a criação de um grupo formado pela SAP/FUNAP – CIESP – Federações e Sindicatos de Trabalhadores. Numa primeira reunião de dirigentes destes órgãos ficou definida a

organização de um grupo de técnicos que estabelecerão um pro-grama a ser cumprido e as responsabilidades de cada parte. Neste programa, será determinado um percentual de trabalhadores presos de acordo com as proporções da empresa. Fechado esse acordo, o CIESP divulgará esse trabalho social para seus 9.500 associados e incentivará os empresários a atuarem de forma socialmente responsável nos presídios. Os Sindicatos con-tribuirão para a capacitar os reeducandos. Assim, eles terão mais oportunidades de emprego e poderão fazer parte das federações e sindicatos. A SAP/FUNAP atuarão como gestoras do processo do trabalho carcerário supervisionando, avaliando e ampliando a rede de parceiros. Nessa segunda edição do Canto da Liberdade, o nosso objetivo é mostrar que há muito trabalho dentro das unidades prisionais e que a reintegração social do preso é o principal objetivo.

Iberê Baena Duarte - Presidente da Funap

Os advogados do presídio em que você está irão pedir os benefícios para as presas que preencherem os requisitos segundo o decreto de 2005. Se você preencher os requisitos eles devem entrar com o pedido.

Parabéns por este lindo trabalho que fazem, pois é através dele que vocês podem regenerar, educar e resgatar vidas.Vocês são a soma dos nossos esforços.Feliz 2006!João Luiz Soares NogueiraPenitenciária Compacta de Reginópolis II.

Quero agradecer pela idéia sensacional de publicar este instrumento de comunicação que, com certeza, vai revolucionar o intercâmbio entre a Funap e a população carcerária. Achei maravilhosa a entrevista com o Dr. Pedro Egydio. Ela serviu para muitas pessoas tirarem as suas dúvidas. Estou aguardando ansiosamente a segunda edição. Vida longa para o Canto! Parabéns pela criação deste canal de comunicação.Ângelo Aparecido de LimaCentro de Detenção Provisória Mogi das Cruzes.

Nos escreva sempre! É muito bom receber uma carta sua, pois ela representa o resultado do nosso trabalho. Na próxima edição, vamos responder às dúvidas sobre as matérias publicadas nesta. Portanto, você já tem lugar reservado em nossa equipe, continue participando!

FunapA/C COMUNICAÇÃORua Dr. Vila Nova, 268, Vila Buarque - São Paulo SPCEP 01222-020

Olá a todos!É muito bom falar com você novamente. Nós estamos muito felizes pela quantidade de cartas que recebemos. A nossa equipe cresceu muito! Participaram dela 400 reeducandos e reeducandas. Este é o número de cartas que chegaram com dúvidas, reflexões, comentários e sugestões. Por este motivo, queríamos que este espaço fosse muito maior para responder a todos, mas como isto não é possível, selecionamos as dúvidas mais freqüentes.Nós recebemos 270 cartas com pedidos de ajuda para os advogados da Funap. Elas foram encaminhadas ao setor de assistência jurídica, o JUS, que irá trabalhar para que o seu direito seja cumprido.

“Uma condicional demora quanto tempo para ser julgada?”Daniel Santos, Pirajuí II.

Por não existir prazo processual previsto na LEP (Lei de Execuções Penais) para o julgamento de benefícios, deve ser observado o Mandamento Constitucional da Razoabilidade (EC 45/04). É necessário observar que cada pedido será julgado de acordo com suas peculiaridades, determinando maior ou menor tempo para julgamento.

“É verdade que será julgado o fim do crime hediondo?”Eduardo do Amaral LopesPenitenciária Valetim Alves da Silva, Álvaro de Carvalho.

Foi julgado um Habeas Corpus em que o Supremo Tribunal Federal reconheceu por maioria dos votos a incostitucionalidade do parágrafo 1º do artigo 2º da Lei 8.072/90 que admite a progressão de regime prisional dos crimes hediondos.

“Gostaria de ter mais informações sobre como conseguir o indulto e a comutação de pena.”

Patrícia de Aledeiros. Penitenciária Feminina de Tremembé.

E X P E D I E N T E

Funap - Fundação de Amparo ao PresoPres idente : I b e r ê B a e n a D u a r t e

Canto da L iberdadeC o o r d e n a ç ã o : C l a u d i a C a r d e n e t t eJ o r n a l i s t a R e s p o n s á v e l : G a b r i e l J a r e t a ( M T b 3 4 76 9 )R e p o r t a g e n s : J u l i a n a D u a r t e e G a b r i e l J a r e t a

F o t o s : J u l i a n a D u a r t eD i a g r a m a ç ã o : G i l m a r C a r v a l h o C o l a b o r a d o r e s : C r i s t i n a S a t u r n i n o ( G e l r e ) ; F e r n a n d o G o m e s ( g e r e n t e r e g i o n a l d a F u n a p - C a m p i n a s ) ; J o s é A d ã o d e J e s u s ( g e r e n t e r e g i o n a l d a F u n a p - S o r o c a b a ) ; J o s é R o b e r t o C o s t a ( s u p e r v i s o r d a F u n a p ) ; M a r i a S o l a n g e S e n e s e ( g e r e n t e c o m e r c i a l d a F u n a p ) ; R o s e l i G o u v ê a ( g e r e n t e r e g i o n a l d a F u n a p - L i t o r a l e G r a n d e S ã o P a u l o ) ; S a n d r a S i l v a ( c o o r d e n a d o r i a d e s a ú d e - S A P ) .

Page 3: Canto da Liberdade 02

p á g CANTO DA L I BERDADE

Três formas de recriar a vida

Funap e Uniso firmam parceria

ExtraMuros

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Ricardo Teixeira na Rentalcenter

Jorge Alves trabalhando

Três histórias. Três vidas. Uma só pala-vra: superação. Eles nem se conhecem, mas os anos que passaram atrás das grades é o que faz Ricardo, Jorge e Roberto trilharem ca-minhos parecidos. Eles enfrentaram mo-mentos difíceis, mas encontraram no tra-balho a chance de dar a volta por cima. Ricardo Teixeira tem 54 anos. Passou 22 anos de sua vida preso. Ficou na extinta Casa de Detenção do Carandiru. Ricar-do foi recebido pelos diretores com uma frase que o acompanhou durante todo o tempo em que esteve preso. “Aqui há duas opções: você pode morrer ou trabalhar e estudar para conseguir uma profissão”, relembra. Já no Carandiru era o encarregado pela manutenção de sete pavilhões. Fez vários amigos e ficou co-nhecido como “Gringo”. Em 2000, foi transferido para a penitenciária Nilton Silva, em Franco da Rocha. Lá, descobriu coisas novas. Entre elas estava aquela que iria abrir as portas para o futuro: a Rentalcenter.

Ricardo começou a trabalhar na empresa e aprendeu muito. Ele foi funcionário da Rental por dois anos. Em 2002 ganhou a tão esperada liberdade. Teve que se despedir da penitenciária, dos colegas de trabalho, mas não da Rentalcenter. Hoje, três anos e nove meses depois, ele continua na empresa. É tratado como todos os outros funcionários. Mesmo as-sim, não deixa de visitar Franco da Rocha para dar incentivos aos seus antigos co-legas. “Eu sou uma razão, um exemplo para que eles continuem lutando”, diz. A força de vontade e o trabalho é o que aproxima Ricardo de Jorge. Jorge Alves ficou sete anos atrás das grades. Convi-veu com a morte, o vício e a violência. Conseguiu transformar tudo isso em trabalho. Jorge aprendeu a confeccionar bichos de pelúcia na extinta Penitenciária do Estado. “O artesanato era como uma terapia para mim”, afirma. Hoje, as seis pessoas que trabalham com ele já não são o suficiente para atender a tantos pe-didos. “Tenho uma encomenda de 100 bichinhos e preciso de mais trabalhado-res”, conta. Foi pensando nisso que ele decidiu procurar a Funap para colocar o trabalho nas mãos de quem precisa dele. São as mãos de reeducandas que têm a esperança de um novo futuro. Para au-mentar a produção, Jorge tem um pro-jeto de ensinar às presas tudo o que aprendeu no presídio. “É uma chance de oferecer trabalho e renda para elas”, afirma. O caso de Roberto da Silva é parecido com o de Jorge e Ricardo. Ele passou dez anos privado de sua liberdade.

Naquela época não tinha oportunidade de trabalho. Mesmo assim, foi atrás de uma ocupação. “A prisão não conseguiu me transformar em um desocupado”, afirma. Roberto procurou por trabalho na administração do presídio. Lá, ele examinava os prontuários dos detentos. Conheceu muitas histórias. Foi isso que despertou nele a vontade de aprender e pesquisar cada vez mais. Hoje, ele é professor doutor da USP (Universidade de São Paulo) e pesquisador. Escreveu o livro “O que as empresas podem fazer pela reabilitação do preso”, e já está à caminho da segunda edição. O professor tem muitos projetos para os presos. Um deles é o atendimento e amparo dos filhos das mulheres presas na Penitenciária Feminina Sant’Ana (PFS). Ricardo, Jorge e Roberto passaram por momentos difíceis no sistema prisional. Fora dele, tiveram que enfrentar preconceito e desconfiança. Porém, a história de vida dos três prova que é possível ter uma vida digna depois de ter estado do lado de dentro dos muros.

A Funap e a Uniso - Universidade de Sorocaba - renovaram em dezembro um termo de cooperação. Esse termo é um convênio entre as duas instituições que tem como principal objetivo a ampliação do atendimento aos egressos, familiares e presos das unidades atendidas pela Funap Regional de Sorocaba. Uma prova de que a parceria será benéfica aos dois lados é o DVD produzido

pelo departamento de comunicação da Universidade, com coordenação do professor Fernando Negrão de Lima. É um documentário com depoimentos sobre o projeto “Tecendo a Liberdade”. Monitores presos de cinco unidades prisionais do estado de São Paulo falaram sobre suas conquistas dentro das salas de aula. Juntas, Funap e Uniso trabalham na conscientização dos alunos da universidade

sobre os problemas vividos no sistema prisional e estudam o desenvolvimento de futuros projetos de reintegração dos egressos à sociedade. Estes projetos são cursos profissionalizantes em diversas áreas, capacitação de professores, montagem e manutenção de salas de leitura e assistência jurídica para egressos e familiares. Na hora de contratar estagiários, a Funap dará prioridade aos estudantes da Uniso.

Page 4: Canto da Liberdade 02

CANTO DA L I BERDADEp á g

De portas abertas para o trabalho

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E m p r e s a s i n s t a l a m l i n h a s d e p r o d u ç ã o n a P e n i t e n c i á r i a F e m i n i n a S a n t ’ A n a

Módulo de trabalho da PFS em construção

Oficina da Funap em Pirajuí

Com o passar dos dias, o galpão escuro foi ganhando pintura, luzes e equipamentos. Agora a expectativa é ouvir o quanto antes o zumbido das máquinas atravessando os corredores. Assim é o cenário atual dos módulos de trabalho Penitenciária Feminina Sant’Ana (PFS), inaugurada em dezembro na Capital paulista. Projetada para 2.400 presas, o desafio é fazer com que, pelo menos, 1.800 mulheres tenham trabalho garantido em linhas de produção instaladas através do programa de alocação de mão-de-obra da Funap.Até agora, menos de três meses após a inauguração, cerca de dez empresas já estão nos preparativos finais para instalar parte de suas fábricas lá dentro. É o caso de uma grande confecção que calcula contratar 60 trabalhadoras presas. Antes disso, porém, elas vão aprender o trabalho, que consiste em bordar, costurar e colocar apliques nas peças prontas, além de passar por cursos de capacitação e palestras de motivação. O galpão onde a empresa está se instalando também ganhou um visual diferente. “A idéia é que a pessoa, quando chegar lá, imagine que não está em uma cadeia, mas sim em um ambiente de trabalho como qualquer outro”, afirma o consultor Adão Carvalho, responsável pela instalação da confecção na penitenciária.Além de empresas novas, outras que já trabalhavam com mão-de-obra carcerária estão se mudando para a PFS. É o caso de um fábrica de bijouterias, que antes estava instalada em outra unidade

feminina da capital. O administrador da empresa, Mauro Demeo, afirma que as trabalhadoras presas se dedicam muito a aprender o ofício. “Nós também pretendemos explorar a parte criativa das presas, já que a bijouteria precisa muito da criação. Quero que elas desenvolvam moda para mim”, afirma.Mais do que apenas dar ocupação aos presos e presas do Estado, a preocupação do programa da Funap é de que eles consigam aprender uma profissão. Para os empresários, a vantagem de contratar e dar formação aos presos é dupla: ao mesmo tempo em que diminuem os custos com funcionários, conseguem promover uma ação social concreta, ensinando uma profissão e preparando os trabalhadores para o mercado de trabalho. “Se a nossa empresa dá lucro, algo pode ser revertido para dentro da penitenciária, como cursos e treinamentos”, explica Carvalho, da empresa de confecção.Em todo o Estado, cerca de 42 mil presos trabalham dentro ou fora das unidades (caso do semi-aberto), o que corresponde à metade da população de presos condenados nos presídios paulistas. Atualmente, a Funap mantém 90 contratos, que empregam cerca de 1.800 presos e presas, mas o desafio é conseguir cada vez mais vagas de trabalho – e com qualidade, ou seja, que possam capacitar o trabalhador e que obedeçam à Lei de Execuções Penais (LEP).Para os reeducandos, o trabalho é uma forma de ocupar o tempo, de obter

remição de pena (para cada três dias tra-balhados, um é reduzido) e, claro, ganhar um salário para as despesas pessoais e para a família do lado de fora.

Fábricas da Funap

Além do programa de alocação de mão-de-obra, a Funap tem outros meios de promover trabalho e capacitação para os presos. Em 14 penitenciárias do estado, a Fundação mantém 17 fábricas, que pro-duzem móveis administrativos e confec-ção e fazem e reformam móveis escola-res. Na Penitenciária 1 de Pirajuí funciona uma fábrica considerada modelo para todo o País. Quase 200 presos trabalham na produção diária de 800 carteiras esco-lares e 1.100 kits para reforma.No total, cerca de 750 reeducandos tra-balham diretamente para Funap em suas fábricas ao redor do Estado. A capacidade de produção também é grande: por mês, as oficinas têm capacidade para produzir 63 mil uniformes e 2.200 móveis admi-nistrativos. Só na reforma de carteiras e cadeiras escolares, são 33 mil unidades por mês, que saem das oficinas da Funap praticamente novas. Através do Departamento Comercial, esses móveis são vendidos para as escolas do próprio Estado e para diversos órgãos e empresas. O Metrô de São Paulo, por exemplo, é um dos maiores clientes da linha de móveis administrativos da Funap. Já os uniformes de reeducandos são vendidos para a Secretaria da Administração Penitenciária.

Page 5: Canto da Liberdade 02

p á g CANTO DA L I BERDADE

Empresa oferece curso profissionalizante a reeducandos

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Fique por dentro

Quem pode trabalhar?

Em princípio, pela Lei de Execuções Penais, todo reeducando deve trabalhar enquanto cumpre pena. Isso depende, porém, da oferta de vagas de trabalho na unidade.

Quem escolhe os presos para trabalhar?

Essa função é da própria unidade prisional. A Funap faz um trabalho de acompanhamento para verificar se as condições exigidas em seus contratos estão sendo cumpridas.

Sala de aula da Rentalcenter

O relógio marca oito horas da manhã em Franco da Rocha, Penitenciária Nil-ton Silva. Assim começa mais um dia de trabalho para os reeducandos da oficina da Rentalcenter, empresa de comércio e locação de bens móveis. Eles vestem os uniformes, penduram os crachás e se preparam para o trabalho, como em todas as empresas. O diferencial é que enquanto uns usam martelos, alicates e pincéis, outros transformam lápis, apos-tilas e borrachas em ferra-mentas principais para que o trabalho fique cada vez melhor. Ao todo, são 25 re-educandos que se dividem em duas turmas para o curso profissionalizante de mecânica. O trabalho de ensinar toda essa turma está nas mãos do instrutor Wagner Tho-maz, credenciado pelo SE-NAI. O professor acredita que as aulas são funda-mentais para o futuro dos trabalhadores. “Eu não considero a rotina da Rental um trabalho, e sim, aulas divididas em teo-ria e prática. Eles aprendem as atividades no curso e depois as usam no dia-a-dia”, diz Wagner. Há mais de três anos, as au-las começaram com apenas cinco pes-soas. Wagner separava algumas fitas de mecânica e mostrava aos trabalhadores, mas, com o tempo, eles perceberam que precisavam de uma estrutura melhor. Os próprios reeducandos criaram as mesas, a lousa, desenvolveram a parte elétrica e

arrumaram o chão da sala. Aos poucos, eles criaram uma verdadeira escola. Hoje, o curso é dividido em seis módulos e, para cada um deles, o instrutor preparou uma apostila. Neste ano, através de uma parceria com a Funap e a Gelre, o SENAI irá reconhecer o módulo de mecânica e equipamentos industriais e certificará os trabalhadores da Rentalcenter sob supervisão de Cristina Saturnino, da divisão de inclusão social do Grupo Gelre,

e José Roberto Costa da Funap.Dentro da sala de aula, Wagner nunca considerou fácil o trabalho de ensinar mecânica aos reeducandos, muitas vezes, sem instrução nenhuma. Com o tempo, ele percebeu que seria mais difícil ainda, pois existem contas matemáticas que muitos deles não saberiam resolver devido ao nível de escolaridade. Por este motivo, hoje, quem trabalha na Rentalcenter tem que estudar, isso é uma regra da unidade. Os reeducandos aprendem no curso profissionalizante e continuam os estudos

normais (fundamental e médio). Para a direção da unidade este é mais um motivo para fazer com que a Rentalcenter seja uma das melhores empresas instaladas na penitenciária. “Eles não se preocupam apenas com o lado material, mas se importam com o psicológico dos presos, dão toda a assistência necessária para eles e para as famílias também”, afirma Sérgio Zeppelin, diretor da unidade. E continua: “Gostaria que a empresa fosse

maior, empregasse mais pessoas”.Um dos funcionários que conquistou uma vaga na empresa é Carmelindo de Oliveira. Ele faz parte do quadro de funcionários da Rental há três anos. Já José Aldo está há apenas sete meses na empresa. Quando chegaram, não tinham a menor noção de mecânica. Hoje, mesmo com a diferença do tempo de experiência

dos dois, eles se consideram prontos para encarar o mercado de trabalho e atribuem isso às aulas do professor Wagner. “Aqui, o mais importante é a oportunidade que nós temos de aprender, o professor nos ensina com muita atenção”, conta Carmelindo. É quando o relógio marca 16 horas que mais um dia de trabalho na Rentalcenter chega ao fim. “Nós vamos embora da empresa com a esperança de um futuro melhor, com muitas oportunidades de trabalho”, diz José Aldo.

Retificação

Ao contrário do que foi publicado na última edição do Canto da Liberdade, o Regime Disciplinar Diferenciado e o Regime Disciplinar Especial não são “tipos de regime” para cumprimento da pena, mas sanções disciplinares. O RDE, inclusive, foi extinto. A explicação sobre o indulto foi publicada erroneamente na lista de “penas”, quando, na verdade, se trata de um benefício.

Page 6: Canto da Liberdade 02

CANTO DA L I BERDADEp á g

Funap inaugura 80 salas de leitura em 2006IntraMuros

Reeducandos desenvolvem jornal em Hortolândia

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Reconhecimento

Alegria, Solidariedade, Sonhos, Reflexão...

Além do Papai Noel, a festa deNatal contou com a presença derepórteres da EPTV Campinas e doCorreio Popular, além dos diretores da unidade. Todos ficaram à vontade eobservaram o desempenho e a anima-ção da festa. A matéria do CorreioPopular foi publicada no dia 19 dedezembro, mesmo dia que a reporta-gem da EPTV foi ao ar.

Para os reeducandos, a veiculaçãodestas matérias foi uma importanteoportunidade para mostrar o outrolado da moeda, ou seja, que mesmoestando em um lugar como umpresídio, privados da liberdade, aindaexiste esperança de que é possívelproduzir bons frutos.

Entre nós, o Natal é uma dasprincipais festas que realizamos nodecorrer do ano. Isso porque, além deser uma data significativa quanto areligiosidade, serve para todos nóscomo um dia de reflexão. Faltandoapenas alguns dias para terminar o anoé muito natural fazermos planos,traçarmos metas na busca de realiza-ções de nossos sonhos no novo ano quese iniciará. Principalmente quanto abusca de nossa “liberdade”

Sr. Onofre

ESPORTE

EDUCAÇÃO

JURÍDICO

EDITORIAL

Foi realizada no dia 18 de dezembrode 2005, pelos reenducandos daPenitenciária 1 de Hortolândia, acomemoração antecipada de Natal. Aunidade, que fica localizada nocomplexo penitenciário Campinas /Hortolândia, recebeu nessa comemo-ração muitos visitante. A maioria eracriança, que conforme ia chegandorecebia brinquedos, doces e balas. Osreenducandos passaram o domingo de visita com seus parentes de uma formadiferente e descontraída.

Todos os anos, no Natal e em outrasdatas festivas, os reeducandos da P1 deHortolândia se organizam e fazem uma“vaquinha” para a organização da festae para a compra de enfeites, balas,bolos, refrigerantes e brinquedos. Odinheiro arrecadado vem das firmasinstaladas no interior do presídio, ondemuitos reeducandos trabalham e sãoremunerados mensalmente.

De acordo com os organizadores,todos participam e colaboram com afesta. Aqueles que não tiveram condi-ções de colaborar financeiramente ajudaram na mão de obra, fazendoenfeites e pinturas nas paredes comdesenhos natalinos.

Nem a chuva que insistia em cair namanhã de domingo tirou o brilho dafesta. No decorrer do dia foramrealizados alguns sorteios de bicicletas,o que trouxe grande alegria para ascrianças. Doces, balas, refrigeranteforam distribuídos à vontade.

Os reenducadores puderamtambém tirar fotos com seus familiarese companheiros ou com Papai Noel,que foi a principal atração para ascrianças. Um reenducando de cada raiofoi escolhido para se vestir de PapaiNoel.

Houve muito esforço e dedicaçãode cada um, tanto dos reenducandosquanto da direção do presídio, paraque o local ficasse parecido o menospossível com uma prisão e refletisse overdadeiro clima de paz e harmonia.

A festa

INFORMATIVO DOS REEDUCANDOS DA PENITENCIÁRIA 1 DE HORTOLÂNDIA/ CAMPINAS

P1 de Hortolândia comemora Natal

Edição 1Fev/ 2006

Confraternizaçãoanimada no Raio 2

Visitas ilustresAs crianças fizerama festa no Raio 3

Confira o resumo dos eventos esportivos de 2005.

Pág. 04

ESPORTE

Escola espera dobrar o número de alunos em 2006. As

inscrições para as aulas do 1ºsemestre ja estão abertas.

Leia também: Mudanças no núcleo de educação, CDI instala sala de informática na P1, aulas

de inglês para reeducandos. Pág. 03

EDUCAÇÃO

Propostas e alternativas para crimes hediondos.

Pág. 02

JURÍDICO

Nasce o Expressão Prisional. Jornal feito por reeducandos

para os reeducandos.Pág. 02

EDITORIAL

Primeira edição de “Expressão Prisonal”

Sala de leitura da Penitenciária I de Guarulhos

Ler fará parte da rotina dos reeducandos em 2006. Serão inauguradas 80 salas de leitura nas unidades prisionais do estado de São Paulo até o final do ano. O principal objetivo das salas é possibilitar aos presos o livre acesso à cultura. Para isso, a Funap, a Secretaria Estadual da Cultura e a Imprensa Oficial doaram livros para compor o acervo das salas. Em cada uma delas, haverá um computador para catalogar e organizar os livros. A criação da salas de leitura já é um grande passo para que a informação e o conhecimento alcancem os reeducandos. O único problema é que muitos deles não têm o hábito de ler. Para incentivá-los, a Secretaria da Cultura e a Funap criaram

o projeto “Entre na Roda”, patrocinado pelo Instituto Volkswagen. Neste projeto, os reeducandos formam rodas para compartilhar leituras de textos de jornais e revistas, poesias, contos e livros.O trabalho de organizar as rodas estará nas mãos de dois reeducandos de cada unidade participante. Eles terão que passar por um curso de dois módulos com duração total de 32 horas. No presídio José Parada Neto, em Guarulhos, o projeto já está em andamento e foi muito bem recebido entre os reeducandos. “A roda de leitura é uma fonte de inspiração. Ela é importante para resgatar valores”, afirma Edris Queiróz, monitor preso.

Os monitores presos são treinados por um instrutor da Funap para provocar o prazer de ler em outros reeducandos e fazer com que 2006 seja o ano da leitura.

Papel e caneta na mão. Muitas idéias na cabeça. Este é o sentimento entre os reeducandos da Penitenciária I de Hortolândia. Desde novembro de 2005, eles são os repórteres, fotógrafos e editores do jornal “Expressão Prisional”. Este informativo faz parte de um projeto de comunicação de alunos de pós-graduação da Faculdade METROCAMP, em Campinas. O primeiro passo foi idealizar o projeto e apresentá-lo aos reeducandos. Os alunos da METROCAMP organizaram uma reunião com os monitores presos que trabalham na escola para discutir e apresentar idéias. “Eles gostaram muito, principalmente porque nós explicamos que o projeto tem um diferencial: o jornal é feito por eles e para eles”, afirma o representante do grupo responsável. O segundo passo foi organizar uma equipe para o informativo. Foi escolhida, pelo menos, uma pessoa de cada raio. Essa equipe fez uma pesquisa com os sentenciados da unidade para saber os principais assuntos de interesse. A partir daí, os reeducandos viraram verdadeiros repórteres. Escreveram todos os textos, fizeram as ilustrações e dividiram

pois seu objetivo é fazer com que o reeducando seja o ator principal em todas as ações da Funap. “Nós queremos que eles participem ativamente”, conta Fernando. A primeira edição do informativo “Expressão Prisional” já chegou às mãos dos reeducandos da P1.

a equipe por editorias de esporte, edu-cação, cultura, artigo jurídico, carta, edi-torial e capa. A matéria de destaque foi sobre a festa de Natal realizada nos raios da penitenciária. Tudo no jornal foi decidido de maneira muito democrática e organizada pelos próprios reeducandos. Para a escolha do nome foi realizada uma pesquisa nos raios. No final, ficaram duas sugestões, mas “Expressão Prisional” foi escolhida por unanimidade. Hoje, a idéia do grupo da Metrocamp foi além de um trabalho de pós-graduação. Ela significa muito para os reeducandos. Eles encontraram neste jornal a opor-tunidade de trabalhar e conviver com a informação. “Eles descobriram que são capazes”, diz Jurandyr Kenes Ju-nior, diretor da P1. Além disso, a Funap acredita que o informativo “Expressão Prisional” é um importante atrativo para que os reeducandos freqüentem a es-cola. “A média de matrículas era de 120 alunos, neste ano o número chegou a 180 reeducandos matriculados”, afirma Fernando Gomes de Moraes, gerente da Funap de Campinas. O projeto foi batizado como “Protagonismo Social”,

Page 7: Canto da Liberdade 02

p á g CANTO DA L I BERDADE

Programas de saúde nas unidades prisionaisSaúde

LeituraDicas de livros:

A v o z d o c a n t o

Por todo o estado de São Paulo ecoaram 35 “Vozes do Canto”. Tivemos que escolher apenas duas delas, mas não deixe de nos mandar as suas reflexões! Para esta edição, as escolhidas foram as de Jairo e Isaías, mas a próxima pode ser a sua. Participe!

Em algum lugar em mim, existe ainda você, / se pudesse ver, como a chuva está fina hoje, / e um ano terminou, outro começou, / Despeço-me de mim /As grades me olham / Conversam com o espírito, resumem-se em tristezas, / Sombras de liberdade, sombras de saudade / Nada fere mais do que se prender em si / Seria um alívio estar em sua casa, / Pensar, pousar, pacificar, teu olhar / E o que me destruiu demais / Não chega nem perto de viver / sem ti, sem paz / Grades lacrimosas / Frias como a dura verdade de estar na maturidade / De ver o luar morrendo / Por ter perdido teu amor, / Tua voz, teus pecados, tua sinceridade / Nossa rósea liberdade.

Jairo Eugênio LourençoCentro de Detenção Provisória de São Bernardo do Campo

Minha reflexão

“O verdadeiro sucesso só acon-tece quando você luta e persiste para alcançar seus ideais. Lem-bre-se de que planejar o futuro é fundamental. Porém, o mais im-portante é utilizar plenamente a sua capacidade de transformar o presente, buscando algo melhor para a sua vida.”

Isaías de AlmeidaPenitenciária “Cabo PM Marcelo Pires da Silva”, Itaí.

Escreva-nos sempre!

FunapA/C ComunicaçãoRua Dr. Vila Nova, 268Vila Buarque - São Paulo - SP CEP: 01222-020

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por suas ações de controle da doença e re-sultados de cura alcançados, e nove recebe-ram menção honrosa. O Centro de Atendi-mento Hospitalar do Sistema Penitenciário também recebeu da Secretaria de Saúde do Município de São Paulo um prêmio por esse trabalho.

Perguntas básicasO que é a tuberculose?A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa que atinge principalmente os pulmões, mas também pode ocorrer nos gânglios, rins, ossos, meninges ou outros locais do organismo. O micróbio respon-sável por ela é uma bactéria em forma de peque-nos bastões, chamado pelos cientistas de Myco-bacterium tuberculosis.

Como ela é transmitida?A pessoa que tem tuberculose no pulmão pode passá-la para outras pessoas pela tosse, pela fala ou espirro. Na maioria das vezes o contágio se dá pela via respiratória.

Quais os principais sintomas?Tosse; febre baixa, geralmente à tarde; cansaço fí-sico; perda de peso; dor no tórax; suor noturno e escarro com sangue. Muitas vezes a pessoa não dá muita importância para a tosse, pensando ser uma gripe ou efeito do cigarro.

Apesar de ser uma doença que existe há mui-to tempo e ter tratamento gratuito que pos-sibilita a cura, a tuberculose ainda é uma das principais causas de morte por doença infec-tocontagiosa entre os adultos. No sistema pri-sional esse é um problema sério que precisa de ajuda. Algumas ações são realizadas, entre elas o chamado “tratamento supervisionado”. Para a cura, esse tratamento, com duração de seis meses, não pode ser interrompido. Muitos abandonam o tratamento logo no iní-cio por estarem melhores. Grande engano. A melhora é devido ao efeito positivo da medi-cação. O tratamento supervisionado ou DOT (como é internacionalmente conhecido) ten-ta resolver esse problema. Com o DOT, ao in-vés de entregar os medicamentos ao pacien-te, um profissional de saúde treinado passa a observá-lo “ingerindo” os medicamentos. Muitas unidades do sistema penitenciário já aderiram ao DOT, e o objetivo é que todos os profissionais envolvidos com a saúde se-jam treinados para que, em breve, esteja em todas as unidades.Em 2005, no Fórum Estadual de Tuberculose promovido pela Secretaria da Saúde do Es-tado, 20 unidades da SAP foram premiadas

Ler é o principal combustível de muitas viagens. Em cada página de um livro é possível descobrir e conhecer diferentes lugares. Por este motivo, leia sempre! Aí vão as dicas:

• Os Sertões, doado pela Imprensa Oficial, surgiu de uma reportagem que o jornalista Euclides da Cunha fez sobre a Guerra de Canudos para o jornal ”O Estado de São Paulo”. É uma leitura envolvente que conta as dificuldades de um Brasil onde a sociedade rural vivia mergulhada em descaso.

• A Casa de Bernarda Alba, de Federico García Lorca (doação da Imprensa Oficial), conta a história de Bernarda. Após a morte do marido, ela assumiu as responsabilidades da casa de uma maneira muito severa.

• Para homens e mulheres, o livro As mentiras que os homens contam diverte a todos com situações de alegrias e angústias vividas por vários tipos de homens. Entre eles, amigos sacanas, filhos e amantes.

• As histórias da cidade de Macondo foram contadas por Gabriel García Marquez em Cem anos de solidão. O autor relata situações ocorridas na cidade durante um século. São momentos de corrupção, loucura e revoluções, tratados de maneira muito natural pelo autor.

• O livro Olga, escrito por Fernando Moraes, conta a história de Olga Benário. Ela sofreu e lutou contra o preconceito por ser judia.

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CANTO DA L I BERDADEp á g

Empresário acredita no trabalho de reeducandos e egressos

Secretaria daAdministração Penitenciária

P r e s i d e n t e d o g r u p o G E L R E d i z a o C a n t o q u a l é a i m p o r t â n c i a d o t r a b a l h o p r i s i o n a l

Entrevista

Jan Wiegerinck

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R E S P E I TO PO R VO C Ê

cumento de antecedente criminal? Jan - Todos da sociedade têm muito medo na hora de contratar os egressos. Por isso que o nosso trabalho é convencer os empresários de que eles, como qualquer outra pessoa, são capazes e que trabalham direito. É aí que nós entramos. O trabalho da Gelre é mostrar que deu certo com alguns. Eu sempre digo que a vida é feita de experiências e esta seria mais uma delas. Então sugerimos para que os empresários dêem uma chance para eles, um tempo de experiência de três meses, pelo menos. Se for bem sucedido, aí sim eles podem ser contratados. Acredito que todo mundo merece uma segunda chance e com eles não poderia ser diferente.

Canto - Quais são as suas dicas àqueles que desejam conquistar uma oportunidade no mercado de trabalho? Jan - Estudar sempre, ser dedicado e praticar a perseverança .

reinício da vida. Posso perceber que todos eles querem trabalhar direito e que se dedicam muito ao aprendizado, pois desejam conquistar oportunidades de trabalho quando estiverem em liberdade.

Canto - Quais as principais dificuldades que o senhor encontra com o trabalho dos presos?Jan - Não há dificuldades diferentes da de qualquer grupo de pessoas que trabalham juntas. Mas, até agora, não tive nenhum problema com os reeducandos que trabalham na Rentalcenter, em Franco da Rocha. Pelo contrário, as informações que eu tenho sobre eles são muito positivas. Os reeducandos trabalham muito bem, são conscientes. Sabem que precisam de uma ocupação e que ela é muito importante para o futuro.

Canto - Quais eram as suas expectativas em relação ao trabalho com presos? Jan - Nós nem ao menos tínhamos expectativas com o trabalho dentro de uma penitenciária.Acreditávamos, sim, que iriam existir adversidades. O que passava pela nossa cabeça é que as pessoas envolvidas não estariam completamente dispostas, achamos que iríamos ter dificuldades com a administração do presídio. Mas não foi o que aconteceu. Ficamos impressionados com a colaboração e a boa vontade de todos. Foi uma experiência diferente e que deu muito certo. Estou satisfeito com os resultados.

Canto - De que maneira é possível amenizar o preconceito em relação a admissão de egressos devido ao do-

Desde 1963 o trabalho dele é conseguir trabalho. Isso mesmo. Há 43 anos o holandês Jan Wiegerinck, presidente do grupo Gelre, empresa de recrutamento de trabalhadores temporários, ajuda quem precisa de emprego. Há mais de três anos, Jan começou a investir em um grupo de pessoas que não pode ir à luta por trabalho. São os presos. Por este motivo que a Rentalcenter, uma das empresas do grupo, está instalada na Penitenciária “Nilton Silva”, em Franco da Rocha. Em entrevista ao Canto da Liberdade, Jan fala sobre a importância do trabalho da empresa com reeducandos e egressos.

Canto da Liberdade - O que levou o senhor a trabalhar com a mão-de-obra dos presos? E quanto aos egressos?Jan Wiegerinck- Parte da missão da nossa empresa é “transformar a capacidade humana em renda para as pessoas”. Nos demos conta que isto se aplica também àquelas que estão privadas de sua liberdade. Este é um dos motivos que nós trabalhamos com reeducandos e egressos. Com isto, não só estamos atendendo às exigências da nossa missão, mas ao mesmo tempo, cumprindo parte de nossa responsabilidade social. Com os egressos, o nosso principal objetivo é recolocá-los no mercado de trabalho. Um exemplo disso é que já temos dois na Rentalcenter. Eles saíram direto do presídio e foram trabalhar na empresa.

Canto - Quais as diferenças do trabalho dos presos em relação aos trabalhadores em liberdade?Jan - Vemos na média detentos com maior desejo de aprender e forte motivação para abrir caminho para um

FunapFundação de Amparo ao Preso Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel