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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS CAMPUS POÇOS DE CALDAS LUCAS MOREIRA FERREIRA LUIZ OTÁVIO VICENTIN MARUYA ESTUDOS SOBREA CORROSÃO EM LIGAS DE Ti-Si E Ti-Si-B POÇOS DE CALDAS/MG 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

CAMPUS POÇOS DE CALDAS

LUCAS MOREIRA FERREIRA

LUIZ OTÁVIO VICENTIN MARUYA

ESTUDOS SOBREA CORROSÃO EM LIGAS DE Ti-Si E Ti-Si-B

POÇOS DE CALDAS/MG

2013

LUCAS MOREIRA FERREIRA

LUIZ OTÁVIO VICENTIN MARUYA

ESTUDOS SOBRE A CORROSÃO EM LIGAS DE Ti-Si E Ti-Si-B

Trabalho de Conclusão de Curso II apresentado

como requisito para obtenção do título de

Engenheiro Químico pela Universidade Federal

de Alfenas - campus Poços de Caldas.

Orientador: Alfeu Saraiva Ramos.

POÇOS DE CALDAS/MG

2013

Ferreira, Lucas Moreira. Estudos sobre corrosão em ligas de Ti-Si e Ti-Si-B / Lucas Moreira Ferreira, Luiz Otávio Vicentin Maruya. - Poços de Caldas, 2013.

26 f. - Orientador: Alfeu Saraiva Ramos. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Química) -

Universidade Federal de Alfenas, Poços de Caldas, MG, 2013. Bibliografia.

1. Corrosão. 2. Ligas. 3. Titânio. I. Maruya, Luiz Otávio Vicentin. II. Ramos, Alfeu Saraiva. III. Título. CDD: 540

LUCAS MOREIRA FERREIRA

LUIZ OTÁVIO VICENTIN MARUYA

ESTUDOS SOBRE A CORROSÃO EM LIGAS DE Ti-Si E Ti-Si-B

A Banca examinadora abaixo-assinada, aprova a

dissertação como parte dos requisitos para

obtenção do diploma do Curso de Engenharia

Química pela Universidade Federal de Alfenas.

Área de concentração: Ciência e Tecnologia dos

Materiais.

Aprovada em: 22/02/2014

Profº: Alfeu Saraiva Ramos

Instituição: UNIFAL Assinatura:

Profº: Neide Aparecida Mariano

Instituição: UNIFAL Assinatura:

Profº: Sandra Mitinaka

Instituição: UNIFAL Assinatura:

Dedicamos este trabalho aos nossos familiares,

amigos e professores que nos auxiliaram ao

longo de nossa jornada na faculdade.

AGRADECIMENTOS

À Deus em primeiro lugar, aos nossos familiares e amigos, por estarem conosco e

presenciarem esse momento de realização.

Ao Professor Dr. Alfeu Saraiva Ramos, orientador, pela dedicação, disposição e apoio

ao nosso trabalho.

Á coordenadora do curso de engenharia química da Unifal, Professora Dra. Giselle

Patrícia Sancinetti, pela paciência e incentivo ao trabalho acadêmico.

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma revisão bibliográfica sobre estudos

experimentais de corrosão envolvendo ligas de Ti-Si e Ti-Si-B, tendo em vista o interesse

para a realização de estudos posteriores com ligas ternárias e quaternárias formadas

principalmente pela fase Ti6Si2B, cuja existência foi recentemente relatada. Para tanto,

apresentou-se também os princípios básicos da corrosão, em especial os mecanismos da

oxidação, com o intuito de mostrar como uma camada de óxido pode ser formada e qual sua

interferência em ligas de titânio.

ABSTRACT

This work aims to present a bibliographic revision on the experimental studies of

corrosion involving Ti-Si and Ti-Si-B alloys due to our intention to realize further studies

with ternary and quaternary alloys formed by the Ti6Si2B phase, which was recently reported

in literature. Furthermore, was sought report the basics principles of corrosion, in particular

the mechanisms of corrosion in order to show how the oxide film can be formed and what is

its interference in titanium alloys.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Visão esquemática do filme de óxido em titânio puro ............................................. 12

Figura 2: Representação das formas de corrosão em uma placa metálica ............................... 13

Figura 3: a) Corrosão puntiforme de Liga de Cr-Ni inoxidável em solução de HCl b) corte

transversal demonstrando o tamanho do poço formado pelo ataque localizado . .................... 15

Figura 4: Esquema dos processos que ocorrem na corrosão localizada .................................. 16

Figura 5: Esquematização das difusões catiônica e aniônica .................................................. 22

Figura 6: Imagens geradas por MEV da oxidação em ar à 900ºC por 48h da liga Ti-Si-B ..... 25

SUMÁRIO

1. Introdução ........................................................................................................................... 9

2. Desenvolvimento ............................................................................................................... 10

2.1 Revisão Bibliográfica ................................................................................................ 10

2.1.1 Titânio e ligas de titânio .............................................................................. 10

2.1.2 Estrutura Superficial e propriedades ........................................................... 11

2.1.3 Cargas superficiais em óxidos de titânio ..................................................... 12

2.2 Formas de Corrosão ................................................................................................... 13

2.2.1 Corrosão segundo à morfologia .................................................................. 14

2.2.1.1 Corrosão Uniforme ...................................................................................... 14

2.2.1.2 Corrosão Puntiforme ................................................................................... 15

2.2.1.3 Corrosão intergranular e corrosão intragranular ........................................... 17

2.2.1.4 Fragilização por hidrogênio ........................................................................ 18

2.2.1.5 Corrosão por esfoliação ............................................................................... 18

2.3 Fratura Ambientalmente Induzida ............................................................................. 18

2.3.1 Corrosão Sob Tensão (CST) ....................................................................... 19

2.3.2 Corrosão sob Fadiga .................................................................................... 19

2.4 Oxidação e Corrosão em Altas Temperaturas ........................................................... 21

2.4.1 Mecanismo de crescimento da película de oxidação ................................... 21

2.5 Oxidação das ligas Ti-Si-B ........................................................................................ 23

2.6 Sobre corrosão das ligas de Ti-Si .............................................................................. 26

2.6.1 Crescimento transiente do filme passivo ..................................................... 27

2.6.2 Crescimento constante da camada passiva .................................................. 27

2.6.3 Método Mott-Schottky ................................................................................ 27

2.6.4 Características das ligas Ti-Si observadas .......................................................... 28

3. Conclusão .......................................................................................................................... 28

4. Referências Bibliográficas ................................................................................................ 28

9

1. Introdução

O titânio e suas ligas são amplamente utilizados nas áreas aeroespacial, química e da

saúde. Aplicações biomédicas, como componentes e dispositivos implantáveis, requerem o

balanço de algumas propriedades, como alta resistência à fadiga, capacidade de usinagem,

ductilidade, tenacidade, resistência à corrosão e biocompatibilidade [2]. No caso da indústria

química, reatores de titânio e suas ligas são utilizados devido a elevada resistência à corrosão

em meios ácidos desses materiais [8]. Em componentes aeronáuticos e aeroespaciais, uma boa

relação de resistência/peso favorece o uso do titânio e suas ligas [13].

É bem conhecido que a utilização de elementos ligantes e a realização de tratamentos

térmicos podem contribuir para melhorar as propriedades mecânicas e químicas desses

materiais. No entanto, modificações superficiais podem ser requeridas para manter a

integridade estrutural de materiais em contato com meios corrosivos e assim atender a todos

os pré-requisitos clínicos, industriais e tecnológicos [2].

Dentre os elementos ligantes, destacam aqueles que formam soluções sólidas

substitucionais como, por exemplo, o alumínio, o vanádio, o ferro e o cromo [1]. No entanto,

outros elementos ligantes como o Si e o B apresentam uma solubilidade limitada e reduzida.

Nesses casos, fases sólidas intermediárias dos sistemas Ti-Si e Ti-B como, por exemplo,

Ti5Si3 e TiB2 (ou TiB), são normalmente formados nessas ligas. Entretanto, vários trabalhos

têm mostrado que, no caso de ligas Ti-Si contendo Ti5Si3, as propriedades mecânicas são

deterioradas, enquanto que a resistência à oxidação pode ser melhorada. Este fato ocorre

devido os elevados coeficientes de expansão térmica do Ti5Si3, em comparação ao titânio

puro [13,15].

Em estudos recentes envolvendo ligas de titânio, foi descoberto uma fase ternária com

estequiometria próxima de Ti6Si2B, com seu campo monofásico próximo de (66,67 at.%)Ti-

(22,22 at.%)Si-(11,11 at.%)B. Este composto pode ser formado em ligas ricas em titânio, a

partir do líquido e durante transformações em estado sólido. Materiais pré-ligados ou

elementos puros podem ser usados para produzir ligas Ti-Si-B contendo esta nova fase

ternária, a partir de técnicas convencionais de fusão a arco e metalurgia do pó [1]. Estudos

preliminares indicaram que o efeito do boro, presente na fase Ti6Si2B, contribuiu para

aumentar a resistência à oxidação desses materiais [15]. Contudo, a literatura não apresenta

resultados sobre o comportamento dessas ligas ternárias.

Dessa forma, antes de realizar qualquer experimento para avaliar a resistência à

corrosão das ligas baseadas no sistema Ti-Si-B, torna-se necessário fazer um levantamento

10

bibliográfico a respeito das ligas Ti-Si e Ti-Si-B, identificando e correlacionando as fases

presentes nas microestruturas com os tipos de corrosão que afetam esses materiais.

2. Desenvolvimento

2.1 Revisão Bibliográfica

2.1.1 Titânio e ligas de titânio

O elemento titânio foi descoberto por Willian Gregor, na Inglaterra no ano de 1790 e,

apesar de ter sido descoberto por Gregor, foi nomeado pelo químico alemão Martin Heinrich

Klaproth em 1795.O nome titânio foi dado em homenagem aos primeiros filhos da terra da

mitologia grega, os Titãs. Antigamente o titânio era considerado um metal raro, contudo, nos

dias de hoje, ele passou a ser um dos mais importantes metais para o setor industrial.

O titânio, quimicamente falando, está localizado no grupo IV e no quarto período dos

metais de transição da tabela periódica idealizada por Mendeleev. Seu número atômico é 22 e

sua massa atômica é 47,9. O titânio, por ser um metal de transição, apresenta em sua estrutura

eletrônica a camada “d” incompleta. Por apresentar uma camada incompleta, o titânio pode

formar soluções sólidas, em sua maioria, com elementos substitucionais que apresentam

diferença de tamanho atômico de até 20%.

O metal puro apresenta um ponto de fusão de 1668°C. Abaixo de 882,5°C, o titânio

apresenta uma estrutura cristalina hexagonal compacta (hc), também conhecida como Ti-α. E,

acima desta temperatura, sua célula unitária apresenta uma estrutura cúbica de corpo centrado

(ccc), chamada de Ti-β. A temperatura na qual a fase alfa+beta ou a fase alfa se transforma

em uma única fase beta é denominada beta transus, ou seja, é a temperatura mínima de

equilíbrio onde se obtém 100% da fase beta. Essa temperatura é importante para o controle de

processos que envolvem deformação plástica e em tratamentos térmicos.

Existe mais de um tipo de ligas de titânio e estas podem ser classificadas como: α,

near-α, α+β, near-β (metaestável) e β, dependendo do tipo de elemento ligante e da sua

quantidade adicionada na liga. Além disso, cada uma das categorias das ligas de titânio

apresenta uma característica diferente, descritas a seguir [2].

- α e near-α: maior resistência à corrosão e limitada resistência mecânica em baixas

temperaturas.

11

- α + β: apresenta maior resistência mecânica em baixas temperaturas, pois apresenta

ambas as fases. No entanto, as propriedades do material ainda dependerão de outros fatores

como o tratamento térmico, condições de processamento termomecânico e, além disso, da

proporção relativa adicionada de elementos ligantes α e β.

- β: baixo módulo de elasticidade e maior resistência a corrosão.

Em relação aos elementos ligantes, eles são subdivididos em três categorias:

estabilizadores alfa; estabilizadores beta e os neutros [2]. Os estabilizadores do tipo alfa têm a

função de aumentar a região de estabilidade desta fase, existindo em uma maior faixa de

temperatura. Da mesma forma, os estabilizadores do tipo beta aumentam a região de

estabilidade dessa fase, em temperaturas mais baixas.

Elementos como alumínio, gálio, germânio, carbono, oxigênio e nitrogênio são

estabilizadores do tipo alfa, pois aumentam a temperatura de transição beta transus. Em se

tratando dos elementos estabilizadores da fase beta, estes podem ser divididos em isomorfos e

eutetóides.

Os isomorfos, tais como molibdênio, vanádio, tântalo e nióbio, são caracterizados por

serem miscíveis na fase beta. Os elementos eutetóides, tais como manganês, ferro, cromo,

cobalto, níquel, cobre e silício, formam sistemas eutetóides com o titânio. Apesar das

características diferentes, ambos conseguem diminuir a temperatura de transição alfa-beta.

Além desses, os elementos zircônio e estanho são considerados neutros, pois não

afetam a temperatura de transição alfa-beta. No caso do zircônio, ele possuiu uma ampla

solubilidade sólida tanto em fase alfa como em fase beta e têm como função retardar as taxas

de transformação de fases e serem usados para aumentar a resistência mecânica [3].

2.1.2 Estrutura Superficial e propriedades

Muitas publicações científicas atuais sobre composição, estrutura e propriedades do

titânio e suas ligas, apontam uma melhora nas propriedades dessas ligas quando há a presença

de uma superfície de óxido. Segundo Liu et. AL, é de fato bem conhecido que esta camada de

óxido é formada quando o elemento ou a liga é exposta ao ar, sendo o crescimento desta

camada espontâneo.

A estabilidade química e a estrutura da fina camada de óxido formada proporcionam

ao titânio uma excelente resistência à corrosão, inércia química, capacidade de repassivação e

12

biocompatibilidade [2]. A figura 1 ilustra como é disposta a camada de óxido, em titânio

puro:

Figura 1: Visão esquemática do filme de óxido em titânio puro [2].

O esquema da Fig. 1 mostra as seguintes características do filme de óxido:

- Camada de óxido (nanocristalina ou amorfa) de aproximadamente 3-7 nm,

constituída principalmente de TiO2.

- Concentração relativa do O e do Ti de 2:1, diminuindo gradativamente da camada de

TiO2 até a zona de reação entre o TiO2 e o Ti, ou seja, quanto mais próximo do Ti puro,

menor a concentração de oxigênio.

- Na superfície, encontram-se moléculas de água ligadas por mecanismos de adsorção,

em hidróxidos e em água obtida por quimissorção e contendo cátions de titânio [2].

2.1.3 Cargas superficiais em óxidos de titânio

O Titânio é um cátion multivalente e quando ele se liga a hidróxidos ou forma de

hidrocomplexos, pode apresentar um comportamento anfótero, ou seja, pode apresentar

características de ácido ou base. Então, quando o hidróxido de titânio é exposto a uma solução

aquosa, podem ocorrer duas reações:

𝑇𝑖 − 𝑂𝐻 + 𝐻2𝑂 ⇔ [𝑇𝑖 − 𝑂]− + 𝐻3𝑂+ (1)

𝑇𝑖 − 𝑂𝐻 + 𝐻2𝑂 ⇔ [𝑇𝑖 − 𝑂𝐻2]+ + 𝑂𝐻− (2)

13

Enquanto a primeira reação demonstra a geração de cargas negativas na superfície do

titânio oxidado, a segunda apresenta uma geração de cagas positivas [2].

2.2 Formas de Corrosão

Segundo Gentil (1996), as formas como a corrosão se processa são consideradas

reações químicas heterogêneas ou reações eletroquímicas que se iniciam pelo contato da

superfície do metal com o meio corrosivo.

O processo em si pode ser considerado como uma reação de oxidação do metal, sendo

que este sede elétrons para a substância presente no meio corrosivo. Isso faz com que o metal

seja destruído a partir de sua superfície em contato com o meio [4]. A Fig. 2 ilustra uma placa

metálica em diferentes situações de corrosão.

Figura 2: Representação das formas de corrosão em uma placa metálica [4].

14

A corrosão pode ser classificada pela aparência ou forma de ataque e pelas diferentes

causas da corrosão e seus mecanismos. Assim, podemos encontrar na literatura as formas de

corrosão quanto:

à sua morfologia: uniforme, por placas, alveolar, puntiforme ou por pite,

intergranular (intercristalina), intragranular (transgranular ou transcristalina),

filiforme, por esfoliação, grafítica, dezincificação, em torno de cordão de solda

e fragilização por hidrogênio;

às causas ou mecanismos: por aeração diferencial, eletrolíticas ou por correntes

de fuga, galvânica, associada a solicitações mecânicas (corrosão sob tensão de

fratura), em torno de cordão de solda, seletiva (grafítica e dezincificação),

fragilização por hidrogênio;

ao meio corrosivo: atmosférica, pelo solo, induzida por microrganismos, pela

água do mar, por sais fundidos etc.;

à localização do ataque: por pite, uniforme, intergranular, intragranular etc.

A análise da corrosão do material deve ser compreendida como um todo, ou seja,

deve-se compreender suas características como morfologia, mecanismo, meio corrosivo e

localização do ataque para que se possa tomar medidas de proteção adequadas [4].

2.2.1 Corrosão segundo à morfologia

A seguir, fez-se um levantamento dos tipos de corrosão quanto à sua morfologia,

identificando suas características e os fatores que as diferenciam.

2.2.1.1 Corrosão Uniforme

Este tipo de corrosão é caracterizado por haver diminuição da espessura, causada por

um contato entre a superfície do metal com o meio corrosivo. Tendo em vista que a corrosão

uniforme acarreta em uma perda de espessura regular em praticamente toda a sua superfície,

ela se torna uma das formas de desgaste de mais fácil acompanhamento, ainda mais quando se

trata de corrosão no interior de equipamentos ou de algum tipo de instalação.

A Corrosão uniforme também é considera um dos tipos mais comuns de corrosão,

principalmente em ambientes nos quais o material esteja exposto de forma a sofrer corrosão

uniforme em toda sua superfície, como é o caso da exposição do material à atmosfera. Apesar

15

de ser um dos mais comuns, também é um dos mais importantes quando se trata do ponto de

vista do desgaste, pois pode provocar falhas em equipamentos ou estruturas, gerando uma

redução/limitação na vida útil do material [4].

2.2.1.2 Corrosão Puntiforme

Este tipo de corrosão é caracterizado pela corrosão elevada de uma pequena região da

superfície do material. A corrosão puntiforme ocorre comumente em regiões falhas em que

foram aplicadas camadas de proteção contra corrosão ou pode ocorrer em metais resistentes à

corrosão, que são protegidos por uma camada de óxido, podendo esta ser um hidróxido ou um

sal. Esta camada formada deve ser capaz de se regenerar rapidamente quando ela rompida,

quebrada ou quando sofre danos provenientes de processos químicos ou mecânicos, outro

requisito para prevenir a corrosão é que a camada dever ser contínua. Um ponto interessante a

ser citado é que em ambientes onde há presença de haletos, a quebra da camada de óxido é

estimulada e sua repassivação é restringida [5]. A Fig.3 mostra a aparência de uma liga, que

sofreu corrosão Puntiforme.

Figura 3: a) Corrosão puntiforme de Liga de Cr-Ni inoxidável em solução de HCl. b) corte transversal

demonstrando o tamanho do pite formado pelo ataque localizado [6].

Para que um metal passivo esteja suscetível a uma corrosão puntiforme, ele deve:

-Estar na presença de íons da Família VIIA ou halogênios (F, Cl, I, Br), que

provocaram o ataque ao filme passivo de óxido.

- Apresentar o potencial de equilíbrio do material característico menor que o potencial

do material.

E as principais razões para que este tipo de corrosão ocorra são:

- defeitos na forma do material, que possam gerar pontos de depósito de solução, acarretando

em uma maior agressão da região em questão.

16

- camada/filme passivo insuficiente.

- preparação inadequada da superfície do metal, causando a aparição de algum defeito,

que pode vir a agir como um local de início para a corrosão.

A corrosão localizada pode ser separada em três etapas distintas, que são: a) iniciação

do pite, b) crescimento do pite e c) repassivação [6].

Durante a fase de iniciação de pite, os íons desestabilizam a fina camada de óxidos ou

defeitos do material, ocasionando o colapso do filme passivo.

O crescimento do pite dependerá da composição do material, da concentração de

eletrólitos e do potencial no fundo do pite. No caso da repassivação, ela dependerá do

comportamento da composição de eletrólitos e do potencial do fundo do pite. Os fatores que

limitam uma reação eletroquímica também podem controlar o crescimento do pite, estes

fatores são: transferência de carga, transferência de massa e efeitos ôhmicos. Na presença de

baixos potenciais os fatores que controlam o crescimento é a combinação do potencial

ôhmico, de troca de cargas e do potencial de concentração. Já quando falamos em elevados

potenciais o crescimento do pite é limitado pela transferência de massa. No entanto a

transferência de massa determina a estabilidade do pite, até mesmo em baixos potenciais, pois

a passivação é controlada pelo ambiente em que o material se encontra [6,7]. A Fig. 4

demonstra o esquema dos diferentes processos de corrosão localizada [6].

Figura4: Esquema dos processos que ocorrem na corrosão localizada [6].

Vale ressaltar, que a maioria das classificações de corrosão não seguem um padrão,

por isso, é possível encontrar a corrosão puntiforme dividida em três partes: a corrosão por

pite; a corrosão por placas e a corrosão alveolar.

17

Por pite: É caracterizado por apresentar pites de menores diâmetros superficiais,

porém com maior profundidade.

Por placas: a corrosão se caracteriza por desprender placas da superfície do material

com maior diâmetro superficial e menor profundidade. Isso ocorre devido à fratura de uma

parte do material.

Alveolar: a corrosão também se localiza na superfície, porém seu formato é do tipo

alveolar, sendo a profundidade da escavação geralmente menor que seu diâmetro.

Na literatura, podem ser encontrada algumas definições que não incluem os tipos

alveolar e por placas, devido à sua proximidade em morfologia com a corrosão puntiforme,

podendo tornar a classificação da corrosão puntiforme de acordo com o número de pites por

unidade de área, a profundidade e o diâmetro de cada pequena região corroída (pites) [4].

2.2.1.3 Corrosão intergranular e corrosão intragranular

Corrosão intergranular é também chamada de corrosão intercristalina. A corrosão

danifica o material pelos contornos de grão da rede cristalina, fazendo com que o grão tenha

sua ligação com a matriz enfraquecida. Assim, o material perde suas propriedades mecânicas

e fica suscetível à fratura quando o mesmo é submetido à um esforço mecânico. Além disso,

podemos relacioná-la à corrosão sob tensão (CST) (Stress Corrosion Cracking – SCC) devido

ao comportamento da corrosão anterior à solicitação mecânica.

Podemos encontrar o tipo intergranular em outras definições de corrosão, como é o

caso da corrosão em torno do cordão de solda: esse tipo de corrosão ocorre normalmente em

aços inoxidáveis não estabilizados ou com teor de carbono maior que 0,03%. A corrosão se

processa de forma intergranular, em torno da região soldada.

A corrosão intragranular é também conhecida como transgranular ou transcristalina.

Esta corrosão se difere por se processar pela rede cristalina formada no interior do grão. Esta

corrosão também pode estar presente na corrosão sob tensão (CST), pois o material perde suas

propriedades mecânicas após a corrosão intragranular, e em seguida é submetido a uma

tensão, aplicada ou residual, podendo fraturar [4]. Assim, na CST, pode ocorrer a corrosão

dos dois tipos, sendo necessário microscópios ópticos para identificarem qual deles provocou

a fratura.

18

2.2.1.4 Fragilização por hidrogênio

O hidrogênio é o menor elemento existente, e devido ao seu volume, pode adentrar no

material por difusão e com isso se alocar em regiões descontínuas, como vazios e inclusões.

Em seguida, o hidrogênio passa de sua forma elementar para a forma molecular, resultando

em uma expansão que irá gerar uma alta pressão nos locais descontínuos. Assim, as falhas no

interior do material podem se espalhar até a superfície, formando regiões de empolamento,

cujo nome também é usado para designar esse tipo de corrosão (empolamento por hidrogênio)

[4].

2.2.1.5 Corrosão por esfoliação

A corrosão por esfoliação se dá de forma paralela à superfície do metal. Ocorre

ocasionalmente em materiais extrudados ou em forma de chapas, que passaram por processos

de alongamento e achatamento dos grãos. Então, quando submetidas a algum esforço

mecânico, algumas inclusões ou segregações geradas pelo tipo de processamento, podem ser

transformadas. O produto gerado na corrosão proporciona uma separação entre as camadas

contidas na região onde a corrosão ocorre. Desta forma, há um deslocamento do material de

forma paralela a superfície [4].

2.3 Fratura Ambientalmente Induzida

Esse tipo de fratura ocorre quando o material é exposto a ambientes quimicamente

reativos, porém as tensões mecânicas, aplicadas ou residuais, na superfície do material são os

verdadeiros responsáveis por gerar essas fraturas em ambientes corrosivos. Isso pode ocorrer

quando o material for exposto à solução aquosa, solventes orgânicos, metal líquido, metal

sólido e gases.

Entretanto, diversos são os nomes encontrados na literatura que se enquadram como

fratura ambientalmente induzida, tais como corrosão sob tensão (CST), fragilização por

hidrogênio, fragilização por metal líquido, fragilização por metal sólido e corrosão por fadiga

[4]. A corrosão sob tensão é um dos principais problemas encontrados em reatores nucleares,

sendo alguns componentes dos reatores formados por ligas de titânio [8].

19

Devido ao ambiente em que se encontra o material, ele pode sofrer fraturas por

diferentes formas, isto é, a forma com que o material se rompe depende de como a corrosão

influencia no comportamento da microestrutura do material durante à exposição ao meio.

2.3.1 Corrosão Sob Tensão (CST)

A CST, quando relacionada a materiais metálicos, pode ser controlada de duas formas,

por micro processos e por micro características. Os processos microestruturais podem ser a

redução do deslocamento do hidrogênio, movimento de deslocamento e a passagem de

átomos em estado ionizado. Já nas características microscópicas estão englobadas as

partículas precipitadas, os contornos de grão, os grãos em questão e as estruturas do material

[9].

No que diz respeito à CST, existe um processo destrutivo, onde há a formação de

trincas em um curto espaço de tempo, isso ocorre pela ação mútua de dois fatores tensões: a

tração e o meio corrosivo agressivo. No entanto essa destruição é ocasionada sem que haja a

destruição do metal base. [10]

Alguns fatores agravantes que influenciam no tempo necessário para que haja uma

fratura no material metálico, são [11]:

- concentração e natureza do meio: existe certa aptidão por parte de alguns materiais

para que ocorra a CST, quando expostos a um determinado ambiente.

- tensão: quanto maior for a tensão exercida sobre o material, menor será o tempo

necessário para que a fratura ocorra.

- Estrutura e composição do material: de uma maneira geral, os materiais que

apresentam um menor tamanho de grão, ou seja, uma maior quantidade de contornos de grãos

tendem a apresentar maior resistência a CST. Porém, não se deve tomar esta informação como

regra, considerando que o material está exposto a um meio altamente corrosivo.

2.3.2 Corrosão sob Fadiga

Considera-se fratura por fadiga aquela em que um determinado material foi submetido

a solicitações mecânicas cíclicas.

O que ocorre neste tipo de fratura, geralmente, é a formação de uma trinca pequena,

localizada em um ponto onde há concentração de tensões. Esta pequena trinca começa a

20

aumentar deslocando-se perpendicularmente a direção da tensão. Após a contagem de

inúmeras tensões cíclicas aplicadas, a área inicial do material é reduzida de maneira que este

já não pode mais suportar a carga sobre ele aplicada.

De certa forma a fratura por fadiga é de fácil reconhecimento, pois a região na qual a

trinca foi iniciada apresenta um aspecto liso. Uma região secundária, onde ocorreu uma

fratura repentina pode ser visualizada, pois apresenta um aspecto fibroso, rugoso.

O que determina a resistência do material é o valor da tensão máxima específica que

pode ser aplicada indefinidamente e alternadamente sem que ele venha a se romper, este valor

é também conhecido por limite de resistência à fadiga.

Quando um determinado elemento está submetido a esforços cíclicos em um meio

passível de gerar ataques químicos ou eletroquímicos, este elemento ou material pode ser

considerado em condições de sofrer corrosão sob fadiga. Os metais que são preferencialmente

afetados por este tipo de corrosão são aqueles que apresentam uma camada de óxido sobre a

sua superfície. No caso destes metais, a camada de óxido tem como função a proteção contra

aos ataques do meio no qual ele se encontra. Quando este material está sujeito a sucessivos

esforços mecânicos, que provocam o movimento da trinca e a fratura, a camada de óxido

protetora é danificada e rompida, deixando o material suscetível a ataques químicos

provenientes do meio corrosivo.

O processo citado acima tem como característica o desaparecimento do limite de

resistência à fadiga que antes existia. Portanto neste caso, mesmo para tensões consideradas

baixas o material está sujeito à fratura por fadiga.

Em estudos relacionados à corrosão sob fadiga, verificou-se experimentalmente, que

os danos gerados pelo efeito da corrosão e do esforço por fadiga simultaneamente aplicados é

maior que a soma dos dois aplicados separadamente [4].

Na corrosão sob fadiga os materiais apresentam cavidades profundas provocadas pela

corrosão. Inicialmente, ocorrem na superfície do metal pites de corrosão, que geram fendas

perpendiculares à aplicação da tensão e que seguem uma regularidade. Em geral, as trincas

geradas são transgranulares; porém, existem casos em que estas também podem se propagar

intergranularmente.

Como foi dito, a corrosão sob fadiga não possui um limite definido de tensão. Os

mecanismos apresentados por esta corrosão é a ampliação da fadiga pela corrosão, podendo

ser iniciados por:

- pontos de concentração de tensão, em regiões puntiformes, gerados pelo meio

corrosivo;

21

- microscópicas intrusões e extrusões, produzindo fendas na parte superficial do metal.

Estas fendas promovem deslocamentos localizados no interior dos grãos dos metais e, a partir

destes deslocamentos conjuntos, ocorre o processo de nucleação e crescimento da fratura [4].

2.4 Oxidação e Corrosão em Altas Temperaturas

Os metais e ligas metálicas podem sofrer corrosão e formar uma película de óxido

quando expostos à ação de agentes oxidantes, tais como oxigênio, enxofre, halogênios,

dióxido de enxofre (SO2), gás sulfídrico (H2S) e vapor d’água. Além disso, esse processo

pode ser acelerado em altas temperaturas, devido às reações entre os metais e os agentes

oxidantes serem exotérmicas [4].

A relação dos metais e agentes oxidantes com a facilidade com que o metal é corroído

pode ser descrito através da variação da energia livre na formação do óxido, sendo esta da

mesma ordem que a variação de entalpia, ou seja, a entalpia da reação entre o metal e a

substância presente no meio corrosivo, originando o respectivo composto, indica a facilidade

de corrosão do metal. Assim, óxidos obtidos por reações mais exotérmicas são mais fáceis de

serem formados.

Tomando como exemplo um metal M, a corrosão ocorre quando o metal M entra em

contato com o meio corrosivo, sendo que M transfere elétrons para o agente oxidante do meio.

Supondo que o elemento oxigênio seja o agente oxidante, a reação de oxirredução com o

metal gera os íons Mn+ e O2-, sendo definida como:

4M + nO2 4Mn+ + 2nO2-

A película formada pode se expandir de acordo com o aumento da temperatura.

Entretanto, a própria película pode chegar a uma espessura que impede o interior do metal de

ser consumido pela reação, ou seja, existe um limite da camada (película) de óxido formada

onde a corrosão já não é significativa [4].

2.4.1 Mecanismo de crescimento da película de oxidação

Como apresentado anteriormente, a película de oxidação, também chamada de camada

de óxido, é de extrema importância para os estudos de oxidação dos metais e ligas metálicas.

A camada de óxido é formada pelo contato entre o meio corrosivo e o metal, podendo

apresentar características diferentes de um metal para outro, já que cada metal ou liga pode

22

formar diferentes óxidos, além de alguns metais formarem mais de um óxido com

composições diferentes.

Vale ressaltar que o crescimento da película está diretamente relacionado com a

composição do meio corrosivo e do tempo de exposição dos metais e ligas. Por isso, ambos os

parâmetros devem ser bem detalhados antes de realizar qualquer medida de resistência à

oxidação do material.

De acordo com Gentil, a oxidação é um tipo de corrosão a qual é conduzida por três

procedimentos simultâneos, que são:

adsorção de um filme de oxigênio atômico na superfície metálica;

adsorção de oxigênio molecular sobre a face externa do filme anterior;

película de óxido proveniente da reação de oxidação.

Os dois primeiros predominam em baixas temperaturas, já o terceiro ocorre mais em

temperaturas elevadas, porém, acontece também à baixas temperaturas.

O crescimento da película se dá através do fenômeno da difusão dos reagentes pela

fina camada de óxido formada, isto é, a oxidação continua a se desenvolver se houver a

transferência de íons ou elétrons pela camada de óxido. Assim, as conduções eletrônicas e

iônicas (catiônica e aniônica), esquematizadas pela Fig. 5, determinam a velocidade com que

a película se forma.

Figura 5: Esquematização das difusões catiônica e aniônica [4].

A condução iônica prossegue-se das seguintes formas:

o ânion (O2-) difunde-se pela camada de óxido no sentido do metal – Ex.:

titânio e zircônio;

o cátion metálico Mn+ difunde-se pela camada de óxido no sentido do meio

(oxigênio) – Ex.: cobre, zinco e ferro;

o ânion e o cátion difundem-se simultaneamente.

23

Portanto, a película pode crescer em três diferentes maneiras, sendo elas:

difusão simultânea – os íons se encontram em qualquer parte da massa da

película;

difusão através do metal (difusão aniônica) – a película cresce na superfície de

separação metal-óxido;

difusão através da película (difusão catiônica) – a camada de óxido cresce na

interface película-meio corrosivo.

Pelo fato dos íons metálicos serem geralmente menores que o íon O2-, a condução

catiônica é mais frequente que a aniônica. Já a condução simultânea é a mais difícil de

ocorrer, pois em geral, o valor da energia de ativação quando é favorável para um elemento é

desfavorável para outro [4].

Segundo Wagner, quando não há qualquer tipo de imperfeição que favoreça o

fenômeno da difusão, este prossegue-se através do transporte de íons e elétrons por dois

mecanismos. O primeiro sob a influência de um gradiente de concentração formado pela

variação de composição de óxidos entre as interfaces metal-óxido e óxido-gás. Já o segundo,

sob a influência de um gradiente de potencial elétrico devido à diferença de concentração de

cargas, sendo maiores entre as interfaces. Por isso, quando se trata de uma camada de óxido

relativamente espessa, a influência do primeiro mecanismo é muito maior que a do segundo,

podendo o gradiente de potencial elétrico ser desprezível neste caso.

Ainda de acordo com Wagner, quando há imperfeições (poros, contorno de grãos) na

rede cristalina, estas podem favorecer a difusão pelo excesso de elétrons (semicondutores do

tipo n) ou pela deficiência de elétrons (semicondutores do tipo p) [12].

Como óxidos tipo n tem-se: TiO2, CdO, V2O5, MgO, MoO3, Fe2O3, WO3, Al2O3.

Os óxidos tipo p são: NiO, FeO, CoO, Ag2O, MnO, SnO e Cr2O3.

Portanto, quanto mais imperfeições a rede cristalina da camada de óxido tiver mais

sujeita ao fenômeno de difusão ela vai estar, ou seja, mais condutora ela será e mais corrosão

sofrerá o metal. Além disso, quanto maior a temperatura do sistema, maior a mobilidade

iônica, o que também favorece a oxidação [4].

2.5 Oxidação das ligas Ti-Si-B

As ligas à base de titânio são materiais conhecidos por terem alta resistência à

corrosão e por terem uma boa relação força-peso, características que permitem-no serem

utilizados em diversas aplicações [13].

24

Quando se adiciona silício, obtêm-se ligas com um ponto de fusão muito mais baixo

que o do titânio puro, ocasionando em uma redução no seu custo de obtenção [14].

Em estudos recentes para a determinação de diagramas de fases do sistema Ti-Si-B,

notou-se a existência de uma nova fase ternária com estequiometria próxima de Ti6Si2B. Em

consequência disso, alguns estudos preliminares objetivando a avaliação da resistência à

corrosão e oxidação de ligas Ti-Si-B, baseadas em microestruturas de Ti+Ti6Si2B, foram

realizados e indicaram que a adição de boro, na forma de Ti6Si2B, contribuiu para aumentar a

resistência à corrosão, quando comparado com ligas Ti-Si formadas por fases Ti+Ti5Si3

[1,14].

Jiang et. al, comentaram que as ligas de titânio são protegidas por um filme insolúvel e

altamente aderente, que poderia ser ocasionado pela formação de óxidos de titânio e silício na

superfície, quando expostos ao ar. Assim o óxido mais estável, SiO2, poderia providenciar

uma maior resistência a corrosão que o TiO2.

Em uma solução sólida, o soluto é de extrema importância na resistência à corrosão da

liga, mesmo estando em pequenas proporções, pois estes elementos agem como dopantes,

interferindo na camada de óxido formada na superfície do material. Apesar disso, há um

limite em que a quantidade de soluto presente na liga forma uma camada de óxido estável.

Quando a camada de óxido é formada pode haver a formação de uma solução sólida

entre o ligante maior e o menor. O que acontece neste caso é que o elemento com menor raio

atômico se dissolve no óxido funcionando como um dopante, sendo assim, as propriedades da

camada são modificadas.

Os defeitos pontuais podem definir a característica físico-química do filme de óxido,

pois os interstícios do metal e as vacâncias do metal e do oxigênio são os meios que

proporcionam a transferência de massa para que haja o crescimento da camada.

O que Jiang et. al propuseram, é que através da solubilização do silício no óxido de

titânio (TiO2), formando um defeito intersticial ou substitucional, a resistência à corrosão da

liga de Ti-Si pode ser afetada. Já que o coeficiente de difusão do oxigênio é menor no óxido

de silício do que no óxido de titânio, isso pode ocasionar uma maior resistência à penetração

de oxigênio por parte do SiO2.

O conceito citado acima está englobado no modelo de defeitos pontuais (MDP) (point

defect model- PDM), e que é restrito a um caso ideal no qual a camada de óxido é densa e

contínua e está aderida ao metal por toda a extensão.

O efeito da resistência à corrosão, quando se trata de um elemento de liga, envolve

alguns parâmetros, tais como: a capacidade de ligação entre os óxidos; o coeficiente de

25

difusão iônico; a estabilidade do óxido e a influência dos óxidos do elemento principal e em

seus defeitos [14].

Um estudo aprofundado em ligas de Ti-Si-B, contendo sistemas bifásicos (TiSS +

Ti6Si2B e Ti6Si2B + Ti5Si3) e trifásicos (TiSS + Ti6Si2B + Ti5Si3 e TiSS + Ti6Si2B + TiB),

mostra a transformação de fases durante oxidação em ar à 900ºC e à 1100ºC. O que se

observou nesse trabalho foi o aumento da taxa de oxidação em ar à 900ºC e à 1100ºC, embora

nessa última temperatura a taxa de oxidação tenha apresentado uma pequena variação após

24h de exposição ao ar. A Fig. 6 mostra uma camada de óxido formada em uma liga Ti-Si-B.

Figura 6: Imagens geradas por MEV da oxidação em ar à 900ºC por 48h da liga Ti-Si-B [16].

Alguns pontos importantes em relação às ligas de Ti-Si-B foram identificados, sendo

eles:

a) A fase TiSS tem uma participação parcial nas taxa de oxidação.

b) A fase ternária Ti6Si2B, em grandes quantidades, foi relacionada à baixa taxa de

oxidação.

c) A partir do processo de oxidação, as ligas podem sofrer mudanças de composição

devido ao fenômeno de oxidação seletiva.

d) Além da formação de camadas dos óxidos TiO2 e SiO2, a presença de nitrogênio

indica a possível formação de fases contendo nitretos e óxidos à base de Ti, Si e B.

A camada de óxido mais externa da superfície é formada basicamente por TiO2,

enquanto que na camada entre os sistemas bifásicos ou trifásicos e a camada exterior podem

coexistir óxidos e nitritos à base de titânio, silício e boro [15].

Através dos estudos de oxidação apresentados, particularmente das ligas de titânio,

pode-se ter uma ideia dos resultados promissores de ligas de Ti-Si-B e outras contendo a

adição de um quarto elemento.

26

2.6 Sobre corrosão das ligas de Ti-Si

O efeito do silício no comportamento de corrosão em soluções ácidas tem sido

recentemente avaliado em ligas Ti-Si [14,16]. Os resultados indicaram que a resistência à

corrosão desses materiais foi aumentada de forma significativa, a partir da formação de filmes

passivos constituídos basicamente de TiO2 e SiO2. Ligações dos tipos Si-O e Si-O-Ti

confirmaram a presença de SiO2 e TiO2 dissolvendo silício. Assim, o aumento da resistência

à corrosão desses materiais foi relacionado com a formação de um filme estável formado por

essas fases e pelas imperfeições cristalinas decorrentes da dissolução de silício no TiO2 e

outras formadas na interface TiO2/SiO2 [14].

O comportamento de corrosão de ligas Ti-Si foi recentemente avaliado em soluções de

HCl, a partir de amostras amorfo-cristalinas e cristalinas preparadas por moagem de alta

energia. As taxas de corrosão parcial e total foram estimadas por meio da técnica de perda de

massa, traçando as quantidades dos elementos dissolvidos por espectrofotometria. A

resistência à polarização na interface metal-solução foi estabelecida por ambas análises de

perda de massa e espectrofotometria [16].

Estudos sobre ligas de Ti-Si com estrutura cristalina e com estrutura amorfo-cristalina,

inicialmente produzidas por moagem de alta energia, indicaram alta resistência à corrosão em

solução de HCl, e um aumento na resistência quando a concentração de HCl também foi

aumentada. Os dados experimentais indicaram que as amostras amorfas-cristalinas possuem

melhor resistência à corrosão nas soluções investigadas. Tal efeito no comportamento de

corrosão foi relacionado com a presença da estrutura amorfa formada durante a moagem de

alta energia. Isso está relacionado com a quantidade menor de contorno de grão da fase

amorfa, sendo ainda acrescentado pela ativação mecânica durante a síntese e a distribuição

estrutural e química homogênea da fase amorfa, além da formação do filme de óxido [16].

Alguns dos métodos utilizados por Jiang et. al. para avaliar a corrosão das ligas Ti-Si

foram descritos, sucintamente, com o intuito de adquirir conhecimento sobre corrosão dessas

ligas e as características principais da adição de silício. Assim, pode-se ter um parâmetro e um

conhecimento prévio antes de realizar estudos de ligas ternárias e quaternárias envolvendo o

sistema Ti-Si-B.

27

2.6.1.1 Crescimento transiente do filme passivo

Os resultados dos recentes estudos mostram que as ligas de Ti-Si tem um potencial de

corrosão similar ao titânio puro. No entanto, o efeito da sílica nas ligas com mais de 4wt.%,

aumentou levemente a corrente crítica necessária para que haja a passivação.

Nas ligas de Ti-11Si, a varredura ponteciodinâmica foi analisada em função da

variação de pH (0,17 até 5,26), o que pode-se perceber no trabalho Jiang et.al. foi que houve

uma relação de inversa proporcionalidade, no qual a corrente passiva aumentou com a

diminuição do pH, porém o potencial de corrosão permaneceu praticamente constante.

Com base nas curvas potenciodinamicas pode-se avaliar a corrente de resposta em

função de um potencial aplicado, além disso, é possível definir os parâmetros de escala de

potencial, no qual o filme cresce de maneira estável.

2.6.1.2 Crescimento constante da camada passiva

A corrente passiva constante sugere a existência de processos de interface com baixa

frequência de relaxação, como por exemplo, o crescimento do filme. A corrente constante

(Iss) foi colocada em função do potencial de formação em um gráfico, gerando uma linha

horizontal que indica o potencial de independência da corrente passiva.

De acordo com o modelo de defeitos pontuais (PDM), para este caso, a amostra

indicou a existência de um estado estacionário na corrente passiva (Iss) e na espessura da

camada de óxido (Lss), que podem estar relacionados à dois fatores, o crescimento e a

dissolução da camada de óxido. Sendo que esta última está relacionada com a variação do pH.

Porém, um filme de óxido, quando apresenta a fase SO2 estável, pode indicar uma menor

influência do pH na dissolução dos óxidos, devido à ordem de reação das ligas Ti-Si serem

menor que a do titânio puro.

2.6.1.3 Método Mott-Schottky

Esse método permite examinar propriedades iônicas de um óxido semicondutor,

apesar de que os óxidos não são considerados semicondutores ideais. Ainda assim, esse

método é de grande importância para explicar a influência de elementos ligantes na resistência

à corrosão das ligas.

28

Assim, o estudo das ligas Ti-Si por Jiang et. al. avaliou a dopagem de silício na liga e

os possíveis defeitos químicos na camada de óxido através do método Mott-Schottky junto ao

PDM [14]. O que se observou foi que, com a adição de silício, a camada de óxido apresenta

característica de semicondutor do tipo n, ou seja, predomina a doação de elétrons, devido a

vacâncias de oxigênio e/ou titânio intersticiais. Apesar disso, uma concentração menor de

defeitos pode estar ligada a inibição por parte do elemento silício.

O que se sabe até então, é que a espessura da camada de óxido, mais a taxa de

crescimento da camada, a variação de pH e a presença de uma estrutura estável (que pode ser

SO2), influenciam na concentração de defeitos pontuais na camada, que por sua vez está

relacionado ao mecanismo de corrosão dos metais.

2.6.2 Características das ligas Ti-Si observadas

Em relação ao experimento realizado por Jiang et.al., observaram que as propriedades

geradas pela formação de óxido de SiO2 foram satisfatórias, pela dopagem de Si em TiO2 e

pelas imperfeições formadas nos contornos de grãos e de interface entre SiO2 e TiO2. Além

disso, as análises de Mott-Schottky possibilitaram visualizar que as ligas de Ti-Si são

condutores do tipo n [14].

3. Conclusão

Com base nos estudos apresentados neste trabalho, pode-se perceber que as

características do titânio podem ser aprimoradas com o complemento de alguns aditivos,

gerando ligas com propriedades melhores que as do metal base. Com isso, pode-se concluir

que estudos e experimentos futuros sobre a corrosão de ligas ternárias e quaternárias,

baseadas na fase Ti6Si2B, tornam-se necessárias.

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