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TRANSCRIPT
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7/25/2019 Campos,GuilhermeRodriguesde TCC
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TCC/UNICAMP
C158p
IE
UNICAMI
CEDOC
I UNICAMP
UNIVERSIDADE EST DU L DE CAMPINAS
Instituto
de
Economia- IE
Perspectivas de Crescimento Econmico Brasileiro de Longo Prazo:
Estratgia Industrial Ameaa da Doena Holandesa
Oportunidades do Pr-saL
Guilherme Rodrigues de Campos
Monografia apresentada ao Instituto de
Economia da Unicamp para obteno
do ttulo de graduao em Cincias
Econmicas sob orientao do Prof.
Dr. Carlos Amrica Pacheco.
Campinas dezembro/2010
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Os cidados
o
futuro sero recompensados
por sua diversidade e por sua originalidade
McLuhan
H.
M.
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A meu pai Aguinaldo e minha rm Rosane in
memoriam .
Gilka
por
toda sua grande dedicao como me e a meu rmo Aguiualdo.
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Prefcio e gradecimentos
Essa monografia resultado de no apenas cinco anos do curso de graduao em
Economia mas tambm de vrios anos de acompanhamento e preocupao com os rumos
da Economia brasileira. A ideia dessa monografia foi sendo construda desde o primeiro dia
de aula
no
Instituto de Economia da UNICAMP. Esse trabalho no s resultado das
diferentes influncias recebidas dos professores
ao
longo desses cinco anos mas tambm
de diversos economistas que participam ou participaram do Governo.
Esse estudo se destina a disseminar uma anlise preocupante da trajetria de nossa
Economia e nossa Estrutura Industrial tendo ainda em vista
os
recursos provenientes
da
explorao do Pr-sal.
Agradeo a todos
os
professores
do
Instituto
de
Economia da Unicamp dos quais .
em sua grande maioria no consegui esconder minha grande motivao e interesse pelas
cincias econmicas e em especial com relao
ao
desenvolvimento brasileiro. Alis se
no fosse por essa equipe de professores no seria possvel a concretizao desse trabalho.
Mais uma vez agradeo a todos mas em especial ao professor Carlos Amrica Pacheco
que acompanhou com bastante ateno pacincia e dedicao a elaborao dessa
monografia e ao professor Carlos Brando que como
um
psiclogo conseguiu
me
ouvir
e
alm disso ajudou a delimitar o tema e atribuir um ttulo monografia. Agradeo tambm
ao professor Jlio Srgio Gomes de Almeida por suas observaes e recomendaes
durante a apresentao da monografia no dia 24/11/20 I
O
Agradeo a todos os funcionrios do Instituto de Economia especialmente aos
funcionrios da biblioteca e da secretaria de graduao que apesar de ficarem no b ckst ge
dessa realizao e conquista tiveram uma importante participao e suporte prestado
ao
longo desses anos.
Enfim deixo um agradecimento especial e um profundo apreo e gratido quela
dedicao extra prestada por alguns professores que ultrapassou
as
quatro paredes da sala
de aula contribuindo no s para a nossa formao acadmica e profissional como tambm
para a formao de nossas vidas.
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ndi e
Banca examinadora ............................ .
Pretcio e Agradecimentos.................. . ........................................ .
Lista de ilustraes Grficos e Tabelas) .............................................. .
. ..... 2
........ 5
. ....... 8
Siglas e Abreviaturas .............................................................................................................. 9
ResUJno ................................................................................................................................. 11
Abstract. .................................................................................................. .............................. 12
Objetivos .............................................................................................................................
13
Introduo ................................... .
Vises de Desenvolvimento .
.13
.13
Desenvolvimento, crescimento econmico, estrutura industrial e desindustrializao ... 15
I. Estratgia industrial, insero internacional e desindustrializao ..................................
18
1 1
Ciclos recentes de crescimento da economia brasileira .........................................
18
1.2 Reestruturao produtiva: globalizao e comrcio internacional .........................
25
1 3 Padro de insero da economia no mercado mundial na etapa da globalizao
internacional ................................................................................................................ 28
1 3 1 Padro de integrao
capital accounts
ou passiva dimenso financeira) ..... .. 30
1.3.2 Padro de integrao frade accounts ou ativa dimenso produtiva)... .
31
1.4 A importncia da indstria para o crescimento econmico ............ ......... ......... .... 32
1 5 Conexo entre produtos com maior intensidade tecnolgica e dinamismo do
comrcio internacional ................................................................................................ 36
1 6 Reverso recente do mecanismo da deteriorao dos termos
de
troca ................... 37
1 7 Acirramento da competio internacional .............................................................. 39
1 8
Questo
do
Investimento Direto Estrangeiro ......................................................... 40
1 9 Sntese do Captulo
......................................................
............................... 41
2 Doena holandesa antes mesmo dos impactos do Pr-sal ............. ............ ............ ......... 45
2 1 Doena holandesa e outros canais que prejudicam o crescimento econmico ......
45
2.1.1 Doena Holandesa, os mecanismos de transmisso .................... .......... .......... 45
2.2
Commodities
fim das restries cambiais, mas e a vulnerabilidade externa? ....... 47
2.3 Maldio das
commodities
sobrevalorizao do cmbio e a atrao de capital .... 49
2.4 Vulnerabilidade imposta pela poltica monetria via canal da taxa de juros ......... 52
6
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2 5 A questo da vulnerabilidade pela ampliao do dficit em conta corrente .......... 55
2.6 A questo da insero no comrcio internacional e a doena holandesa ............... 56
2 7 A doena holandesa e a especializao regressiva da estrutura produtiva-
desindustrializao ............................................................................. ...... 63
2.8 A doena holandesa e a estrutura industrial- especializao regressiva.... 67
2 9
Sntese
do
Captulo 2 ......................................................................... .
69
3 Perspectivas de crescimento de longo prazo Oportunidades do Pr-sal.. .................... 72
3 1
Questo da Poltica Industrial PI) ......................................................................... 75
3 1 1 Aspectos Tericos e Conceituais da Poltica Industrial PI) ............... . ... 79
3.1.2 Poltica macroeconmica e Poltica Industrial Pl) ................. ............. . ... 81
3 1 3 Brasil e a necessidade de Poltica Industrial PI) ............................................. 82
3.1.4 Brasil e o esboo da formulao de uma Poltica Industrial PI) ....... . ...
83
3.1.5 Poltica Industrial Tecnolgica e de Comrcio Exterior PITCE)...... . .... 84
3.1.6 Poltica de Desenvolvimento Produtivo PDP) .......... ...... 86
3.2 Petrleo e Pr-sal...................................................................... . ..... 88
3 2 1 Pr-sal, Matriz Energtica e a Demanda por Petrleo ...................................... 89
3.2.2 Pr-sal e o Desenvolvimento: Encadeamentos e Contedo Nacional .............. 89
3.2.3 Pr-sal: Aplicao dos Recursos, vacina para a Doena Holandesa ................ 93
3.3 Questo do Investimento..................................................... ......... ....... . ........ 94
3.4 Sntese do Captulo 3. ............ ....................................................................... 98
Concluso ........................................... .
Bibliografia .............................................................................. .
. .... 99
. 102
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Lista
de ilustraes (Grficos e Tabelas)
Grfico I -Crescimento
do
PIB a mdio prazo (dados em
0
/o) ...................................................................................... 23
Grfico 2 Contribuio das variveis
de
demanda agregada para o crescimento
do
PIR ( )
23
Grfico 3 Taus tendenciais
de
crescimento econmico-1995 a 2008 (em a.a.) .................................................
29
Grfico
4-
Crescimento Trimestral do PIB e
da
Indstria para o Brasil. Trimestre Contra Mesmo Trimestre do
Ano
Anterior,
(I Trimestre de 1992- 3 Trimestre de 2005) ......................................................... 33
Ta bela I - Paises em desenvolvimento da sia- Indicadores selecionados .............................................................. 34
Tabela 2- Taxa de crescimento do produto industrial-1992 -2002 ......................................................................... 34
GrficoS- Paiscs Selecionados: PIB relativo e Participao da Indstria no PIB, 1950-2005
(em ,
a partir de liSS PPP constantes de 1990,
ElJA:oiOO)
..................................................................
35
Tabela
3
PED da AL- Participao nas exportaes mundiais por categoria de
produto-
1980 c 2002,
em
.. 36
Grfico 6- Ewluo do ndice de preos de commodities do CRB (1996 '100) e dos termos de
troca (2006 ' 100)........................................................................................................................................ 38
Tabela 4 Fluxos de capitais para pases emergentes ...................................................................................................
40
Grfico 7- ndice
de
preos de commodities
do
CRB (exceto petrleo) (2005 ' 100) e
taxa de cmbio real efetiva (1994 ' 100) ...................................................................................................
48
Grfico 8 ndice
de
rentabilidade das exportaes (dcz/2003 ' 100) ......................................................................... 50
Grfico 9- Taxa
de
cmbio e taxa de juros Over/Selic- jan/2000 a jan/2008 ............................................................ 50
Grfil O
lO- Taxa
de
cm
bio
real
(jun94:oJOO)
vs
Risco Brasil (pontos bsicos)
............................
51
Grfico 11- E\oluo diaria das taxas
de
juros (Taxas referenciais de Swap
DI
prefixado
em )
......................... 53
Grfico 12- Taxas
de
juros oficiais (taxas anuais em
0
/o) ............................................................................................. 53
Grfico 13- Brasil: Evoluo do saldo em conta corrente 1996-2010 (em
VS
bilhes e do PIB) ..................... 55
Tabela 5 - Brasil: Passivo Externo Bruto Total .......................................................................................................... 56
Grfico 14- Participao do Brasil em nas Exportaes e Importaes
Mundiais-
1950 a 2009 ......................... 56
Tabela 7 - Saldo da balana comercial, segundo produtos que originam (commodities) e so afetados pela doena
holandesa (manufaturados) ........................................................................................................................
57
Grfico 15- ndice da taxa de cmbio real efetiva (mdia 12 meses, dez 2003 100)
Balana comercial acumulada
em
12 meses das commodlties (lJS$ milhes) .........................................
58
Grfico 16- ndice da taxa
de
cmbio real efetiva (mdia
12 meses,
dez 2003
=
100)
Balana comercial acumulada em
12 meses dos
produtos manufaturados (lJS$ milhes) ................... 59
Ta bela 7 - Relao entre commoditieJ e manufaturados para o ndice de preo e quantum de uportaes .......... 59
Grfico 17- Exportao brasileira por valor agregado- Participao sobre o total geral em - 1964 a 2009 ...... 60
Grfico
18-
Balana comercial brasileira
-1964
a
2009 (US$
bilhes- FOB) ............................................................
60
Tabela 8 - Participao(%) de commodities e manufaturados nas exportaes c importaes totais .................... 61
Grfico 19- lnterdmbio comercial brasileiro de produtos da indstria
de
transformao 1996-2009 e jan-
abr/2009-2010 (em liSS bilhes, FOB) .....................................................................................................
62
Ta bela 9 - Participao relativa ( ) do valor adicionado de cada grupo no valor adicionado geral da economia
63
Grfico 20- Grau de industriali7.ao: Indstria de transformao/PIB ( )
64
Grfico 21 -Grau de industriali7.ao: Indstria de transformao/PIB ( ) 65
Grfico 22 - Aliqnotas
de
importaes na indstria brasileira ( ) 66
Grfico 23
-Indstria
e senios industrializados (Participao
no
PIB) ..................................................................... 67
Tabela 10 - Participao relativa(%)
do
valor adicionado
de
cada grupo
no
valor adicionado de cada grupo
no
valor dos bens comercializveis (commodities e manufaturados) ............................................................ 67
Grlico
24
- Evoluo da estrutura industrial (\-TI) por intensidade tecnolgica ......................................................
68
Grfico 25 - Participao em setores de alta intensidade tecnolgica- Exportao, 1999 .........................................
77
Grfico 26- Participao em setores de alta intensidade tecnolgica -Importaes, 1999 .......................................
77
Figura Desenvolvimento da Indstr ia Nacional .......................................................................................................
90
Figura 2 -Adeqnaao do Complexo Industrial Nacional para Fornecimento de Hens e Servios ..............................
91
Figura 3 -Fomento a Fornecedores ................................................................................................................................. 91
Grfico
27-
PETROBRAS: Evoluo do Contedo Nacional. .....................................................................................
92
Grfico
28-
Taxa de Formao Bruta
de
Capital Fixo no
Brasil( do PIB)-
1970 a
2005
...................................... 95
Grfico
29-
Formao Bruta do Capital Fixo
(em
relao
ao
trimestre anterior) ..................................................... 96
Tabela
11
- Crescimento
dos
Investimentos Mapeados
na
Indstria 2010-
2013
..................................................... 96
Tabela 12 - Perspectivas de Investimento na Indstria- Determinantes .................................................................. 97
8
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ABDI
AEB
AlE
AL
Aladi
ANP
BCBou
BC
BCE
BNDES
BoJ
bpd
BRICS
C T
Cepa
CN
CNDI
CNI
CRB
ETN
EUA
F&A
FBCF
Fed
FHC
FIESP
Finep
FPSO
FMI
Funcex
IBC-Br
IBGE
I E
Siglas e breviaturas
Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial
Associao de Comrcio Exterior Brasileiro
Agncia Internacional de Energia
mrica
Latina
Associao Latino-Americana de Integrao
gncia Nacional do Petrleo
Banco Central do Brasil
Banco Central Europeu
Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social
Bank ofJapan
barril de petrleo por dia
Brasil, Rssia, ndia, China e
South Africa
(frica do Sul)
cincia e tecnologia
Comisso Econmica para a Amrica Latina
contedo nacional
Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial
Confederao Nacional da Indstria
American Commodity Resemch Bureau
empresa transnacional
Estados Unidos da Amrica
fuses e aquisies
fonnao bruta de capital fixo
Federal Reserve
Fernando Henrique Cardoso
Federao das Indstrias do Estado de So Paulo
Financiadora de Estudos e Projetos
jloating production storage nd oflloading
Fundo Monetrio Internacional (ver IMF)
Fundao de Centro de Estudos de Comrcio Exterior
ndice de Atividade Econmica do Banco Central
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
Investimento Direto Estrangeiro
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I EDI
IMF
IPGN
Lula
MDIC
Mercosul
MSI
MSIC
MVA
NPD
O DE
OM
OPD
PAIT
PBIT
PD
PDP
PED
Pl:
PIA
PIB
PITCE
PITRN
PMIT
PND
ppp
SE EX
UE
UNCTAD
UNIDO
VAM
VTI
Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial
lnternational Monetary und ver FMI
indstria do petrleo e do gs natural
Lus Incio Lula da Silva
Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior
Mercado
omum
do Cone Sul
modelo de substituio de importaes
modelo de substituio de importaes competitiva
mamifacturing value added ver VAM
novo paradigma para o desenvolvimento (new paradigm for developmenl)
Organizao
para
Cooperao e Desenvolvimento
Econmico
Organizao Mundial de Comrcio
velho paradigma para o desenvolvimento (old paradigm for development)
produto de alta intensidade tecnolgica
produto de baixa intensidade tecnolgica
pas desenvolvido
Poltica de Desenvolvimento Produtivo
Pas em desenvolvimento
poltica industrial
pesquisa industrial anual
Produto Interno Bruto
Poltica Industrial Tecnolgica e de Comrcio Exterior
produtos intensivos em trabalho e recursos naturais
produto de mdia intensidade tecnolgica
Plano Nacional de Desenvolvimento
paridade poder de compra
(purchasing power partily)
Secretaria de Comrcio Exterior
Unio Europeia
United Nations Cof ference on Trade
and
Development
United Nations Industrial Development Organization
valor da atividade manufatureira ver MA V)
valor de transfonnao industrial
lO
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Resumo
Recentemente as perspectivas
de
crescimento econmico brasileiro
de
longo prazo ou crescimento
econmico sustentvel) tm se tomado um importante objeto
de
debate. Algumas das principais razes para
esse crescente interesse
no
assunto esto: a estabilizao de preos obtida atravs
o
e x i t o ~ o plano de
estabilizao. Plano Real 1994); os ciclos recentes de crescimento econmico e investimento, na economia
brasileira. desde 2004. sendo que esses ciclos
fOram
consequncia principalmente
do boom
de
commodities
e
da crescente importncia da demanda domstica. E por ltimo, mas no menos importante, as perspectivas de
apropriao de recursos provenientes da explorao das enormes reservas de petrleo, que
fOram
recentemente descobertas, o Pr-sal que poder colocar o Brasil entre as oito maiores reservas mundiais
de
petrleo). Entretanto, desde 1980, tem-se detectado uma perda
de
convergncia econmica do Brasil baseada
nas economias desenvolvidas),
em
comparao com os pases emergentes asiticos. Essa perda de dinamismo
econmico est diretamente relacionada ao processo de desindustrializao.
em
funo da ausncia de uma
poltica industrial. O processo de desindustrializao
foi
detectado desde a dcada de 1980. quando houve a
liberao de taxas de importao. Esse processo ti intensificado nos anos 1990 com uma sbita abertura
comercial sem planejamento. A consequncia tOi uma competio selvagem que induziu no apenas
um
processo de desindustrializao, mas tambm
de
especializao regressiva. A estrutura industrial aumentou a
participao de produtos intensivos
em
recursos naturais e
em
trabalho, e essa estrutura industrial se retletiu
numa pauta de exportao concentrada, principalmente,
em
produtos de baixa intensidade tecnolgica. Para
muitos especialistas. a economia brasileira
j
estaria intectada com a doena holandesa e esse contgio estaria
associado ao recente
hoom
de
commodities
iniciado
em
2003. Esse sucesso da exportao de
r:ommodities
traz
um
C'xcessivo fluxo
de
entrada de capital, que aprecia o Real unidade monetria brasileira). A apreciao
do Real reduz a competitividade interna e externa dos produtos manufaturados brasileiros.
Consequentemcnte, h um aumento da preocupao em relao a
um
agravamento dos sintomas
da
doena
holandesa, aps a apropriao dos recursos provenientes da explorao das enormes reservas de petrleo do
Pr-sal. A indstria de petrleo e gs natural puxou o recente ciclo de investimentos e deve continuar a ter
uma importante participao
no
prximo planejamento de investimentos. tendo a Petrobras
um
papel de
destaque. O Brasil tem muitas janelas de oportunidades e desafios a serem enfrentados nas prximas dcadas.
Portanto, projetar e gerir uma poltica industrial efetiva constitui uma condio
sine qu non
para o futuro dos
produtos manufaturados brasileiros. Alm disso,
um
plano
de
desenvolvimento, com investimento em
inflacstrutura, tecnologia, educao e qualificao de mo de obra, deve ser priorizado. Dessa forma.
possvel se evitar que a beno do petrleo se torne em maldio dos recursos naturais e permitir
um
crescimento econmico
de
longo prazo liderado pela indstria
de
petrleo e gs natural.
Palavras chave
crescimento
econmico, e ~ t m t u r industrial desmdustrializao,
espccializl o
regressiva, commodmes
doena Holandesa, poltica industnal, reservas de
petrleo,
Pr-sal.
l
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bstract
The Brazilian pcrspcctivcs
of
a long tem1 sustainable economic growth had hecome an important object
of
debate lately. Some reasons
Or
this increasing interest over the matter have been related to: lhe pricc
stabilization. since the successful stabilization plan, Plano Real (1994); since 2004, Brazilian economy has
faced. an economic growth and an investment cycle and these cycles have bcen mainly supported by the
commodities boom and the growing importance o f domestic demand. And. the last but
not thc
lcast,
thc
pcrspcctives of lhe appropriation of the resourccs coming
from
the exploration
of
the huge petroleum
reserves. which were recent discovered: lhe Pr sal (that would place Brazil amongst the eight largest global
oi
reserves). However, sincc 1980. it
has
been detected a Brazilian economic convcrgcnce loss (based
on
developcd cconomies), compareci
to
Asian economies. This Brazilian economic dynamism loss has been
directly rclated to the deindustrialization, due to the lack
of
an industrial policy. The deindustrialization
proccss has bcen detected since
the
80's, when some
impm1
tax liberalization were removed. This process has
been intensified
in
the
90 s
with an abrupt trade openness without planning. The consequencc was a wild
competition that induced not only a deindustrialization process, but a regressive specialization. The industrial
structurc
has
increased the share of natural resourcc and labor-intensive processing, and this industrial
structure rdlected on a poor export porttlio, which became highly concentrated mainly on low-techno ogy
products. For many specialists, Brazilian cconomy
has
a ready been infected
by the
Dutch disease and this
contagion has been rclated
to
the recent boom of commodities, which started in 2003. This success of the
commodities export brings
in
an excessive capital intlow, which appreciatcs thc Real (Brazilian exchange
ratc). Thc
Real
overvaluation lowers intemational and domestic manufacturing competitiveness.
Consequently, thcre
is an
increasing concern about lhe intensification o the Dutch disease negative etfects
after thc rcsources appropriated from the exploration o f thc Pr sal huge
oi
reserves. The oi and gas industry
pulled the recent investment cycle
and
should
be of
great importance
on
the next investment plan. besides
Petrobras (Brazilian global player company on the oi and gas activities) has a protagonist role on t i ~ sector.
Bra;.-il has a lot
of
opportunitics and challenges to face on the next decades. Thereforc, thc dcsign and the
management
of
an etfectivc industrial policy
is
a
sine qua
o
condition tr thc Brazilian manufactured
products future. Beyond, a development plan with investmcnt
in
infrastructure, technology,
IOrmal
education
and labor-JOrce qualitication should be considered.
In
this way, it should be possible avoiding that the
blcssing of
the
petroleum would becomc
thc
natural resource curse and it will ensure
the
long-term
sustainable growth spcarheaded
by
the
oi
I and gas industry.
Key words: cconomic growth, industrial structure, deindustrialization, rcgrcssivc spccialization, commoditics,
Dutch disease, industrial policy, petroleum reserves.
Pr sal.
12
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Objetivos
O objetivo dessa monografia no s diagnosticar as principais restries, como
tambm identificar as perspectivas de crescimento econmico de longo prazo. Essa
monografia poder contribuir como instrumento
de
reflexo e anlise para o
estabelecimento de uma poltica de governo de crescimento sustentado, tendo a estrutura
industrial como elemento impulsionador.
Essa monografia no tem a pretenso de elaborar uma poltica industrial ou indicar
qual seria a poltica monetria ideal, ou to pouco estabelecer uma formulao ideal para a
utilizao dos recursos provenientes do Pr-sal, mas buscar
os
novos condicionamentos do
crescimento no longo prazo da economia brasileira.
Introduo
Vises de esenvolvimento
Para Dunning (2006,
p
176),
no
velho paradigma para o desenvolvimento (OPD),
os
objetivos e caractersticas dos pases em desenvolvimento seriam similares queles dos
pases desenvolvidos, mas no similares aos destes, quando ainda eram pases em
desenvolvimento. Ademais, a crena era
de
que para ampliar o padro de vida
da
populao, o pas em desenvolvimento tinha que perseguir o
PIB per c pit
dos pases
desenvolvidos. Alm disso, para crescer e prosperar, esse pas tinha que adotar as polticas
econmicas e instituies das naes mais ricas. Essa viso de desenvolvimento prevaleceu
nos anos
1970
Stiglitz (1998, p.S-6) destaca trs eventos nos ltimos
25
anos que influenciaram a
viso de desenvolvimento. O primeiro evento o colapso das economias comunistas,
atribudo falta de superviso bancria, ausncia do fornecimento de capital para
financiamento, e deteriorao da infraesti-utura. O segundo evento enfatiza a decepo dos
preceitos do Consenso de Washington, especialmente as suas premissas centrais como
liberalizao, estabilizao e privatizao. Muitos pases que seguiram essas prescries
no cresceram. O terceiro evento o milagre do sudeste asitico . Esse milagre foi
atribudo em funo do rpido crescimento da maioria dos pases do sudeste asitico.
incontestvel que, as economias do sudeste asitico demonstraram que o desenvolvimento
13
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possvel
sem
seguir a cartilha dos preceitos do Consenso de Washington. Esses pases
alcanaram reduo da pobreza, elevao dos padres de vida, e inclusive um processo de
democratizao. Na maioria desses pases o Estado desempenhou
um
papel importante e
central, apesar de ter seguido a prescrio da estabilidade macroeconmica, ignorou os
outros preceitos do Consenso.
De acordo com Dunning 2006, p.
183),
os trs laureados pelo prem1o Nobel,
Armartya Sen, Joseph Stiglitz e Douglas North, apresentam uma insatisfao com a viso
de desenvolvimento do Consenso de Washington. Para esses autores, o conceito de
desenvolvimento holstico, multidimensional e ainda contextuaL envolvendo uma
variedade de objetivos e de necessidades humanas.
Stigltz 1998, p.l-3,42) explora a relao entre a nova ordem da globalizao e a
transformao da sociedade atravs
do
processo de desenvolvimento. Reafirma a desiluso
com o Consenso de Washington, que estabelecia uma srie de prescries que falharam em
fomentar a transformao do desenvolvimento. A avaliao que a noo
de
desenvolvimento construda pelo Consenso era muito limitada em seus objetivos e
instrumentos para estabelecer mudanas estruturais. Repete-se o equvoco do mainstream
de ver o desenvolvimento apenas como uma questo econmica. Equvoco esse, que
faz
Stiglitz sugerir o questionamento da noo tradicional de desenvolvimento.
No
sculo XXI, surge ento um novo paradigma para o desenvolvimento NPD),
que alm de ser mais amplo, surge como uma resposta aos estreitos fundamentos do
Consenso
de
Washington. O foco em aspectos econmicos confundiu meios com os fins,
uma
vez que maior
PIB
no um fim, por
si s,
mas um meio para melhorar a sociedade.
Esse novo paradigma alternativo para o desenvolvimento estabelece a transformao da
sociedade como a questo central. O sucesso dessa estratgia consiste no
s na
elevao
do
PIB per capita como tambm na elevao dos padres de vida sade, educao,
expectativa de vida, nvel de pobreza, meio ambiente, ndice
de
criminalidade .. . Outros
fatores so incorporados nesse novo paradigma para o desenvolvimento, dentre os quais se
destacam: segurana econmica e criao de redes
de
segurana. Ademais, tem havido um
grande consenso
em
relao
aos
objetivos de desenvolvimento democrtico, equitativo e
sustentvel STIGLITZ, 1998, p.2-9, 42).
4
-
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Na presente anlise, o crescimento econmico definido, basicamente, pelo ndice
de crescimento anual do Produto Nacional Bruto (PNB) per capita ou ainda pelo Produto
Interno Bruto (PIB)
per capita
como uma maneira mais simples e direta de medir o
desempenho econmico de um pas. Embora o crescimento econmico no seja uma
condio suficiente para atestar a melhoria das condies de vida da populao, uma
condio necessria.
muito mais fcil desenvolvimento com crescimento que com
estagnao. Sem crescimento do PIB, o governo tem sua receita oramentria
comprometida, levando ao aumento da carga tributria para manter seus gastos. Por
concluso,
sem
crescimento do PIB dificilmente
um
pas conseguir elevar ou mesmo
manter seu padro de vida, isto
,
dificilmente poder no mnimo atender o crescimento
vegetativo. Confonne Stiglitz (1998, p.2-9), o crescimento econmico
um
meio para
contribuir para a melhora da sociedade.
Desenvolvimento, crescimento econmico, estrutur industrial e desindustrializao
A indstria ainda o motor do dinamismo do desenvolvimento econmico
(BRASIL, 2004, p.5).
De
acordo com Suzigan (2005, p.l
,
''um dos aspectos mais
marcantes do atraso no desenvolvimento econmico, e por extenso no desenvolvimento
social, do Brasil tem sido o fraco desempenho da indstria de transformao nas ltimas
duas dcadas e meia .
De
maneira geral,
as
mudanas que caracterizam o desenvolvimento econmico
de
um pas, consistem
no
aumento da atividade industrial e na mudana para uma pauta de
exportao mais associada a produtos industriais com maior intensidade tecnolgica,
resultando em maior insero no comrcio internacional (HIRATUKA SARTI, p.2,
2005). Desde a segunda metade da dcada de 1980, a indstria brasileira tem perdido a
capacidade de crescer e criar dinamismo. A eroso da competitividade
do
Brasil manifesta
se na perda de importncia no comrcio internacional.
Aps o relativo sucesso
do
Plano Real, indiscutivelmente o mais bem-sucedido
programa de estabilizao dos ltimos trinta anos, a discusso econmica no Brasil, dentro
e fora do mbito acadmico, tem assumido uma perspectiva menos imediatista
(GONALVES, 1998a, p.84).
15
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O sucesso da consolidao da estabilizao monetria e
os
recentes ciclos de
crescimento econmico e investimento, iniciados em 2004 e interrompidos pela crise
eclodida
no
final de 2008, propiciaram o ressurgimento do debate da necessidade da criao
das condies necessrias para
um
crescimento de longo prazo. Ademais, o indicador de
atividade econmica do
BC
(IBC-Br) do primeiro trimestre de 20 I
foi
de cerca de 10%,
que remeteu ao perodo do "milagre econmico" (1968 - 1973). Nesse perodo, o
crescimento mdio do Brasil foi de 11%, atingindo um pico de quase 14 no ano de 1973
1
Os perodos de crescimento do passado no se sustentavam em razo da grande
dependncia de poupana, da restrio externa e da falta de financiamento de longo prazo.
De
acordo com Ruas (20 I 0), com o Pr-sal, o Brasil tem a oportunidade de planejar e
preparar-se para um evento que ter suas principais repercusses em meados da prxima
dcada, ainda que inmeras questes de curto prazo sejam de extrema importncia.
Entretanto, antes mesmo de usufruir dos recursos provenientes da explorao do
Pr-sal, o Brasil tem apresentado um excelente desempenho na exportao de
commodities.
Foi registrado
um
crescimento na exportao de commodities de 31%
no
primeiro semestre
de 20 IO Esse
boom
das
commodities
tem favorecido uma permanente valorizao do Real,
que por sua vez reduz a competitividade da indstria brasileira. Mesmo para produtos
industriais em que o Brasil competitivo existe uma tendncia da reduo do contedo
nacionaL com "esvaziamento da cadeia produtiva e reduo dos encadeamentos produtivos
e tecnolgicos"
2
.
Para Sarti (2010b), a crescente oferta de produtos importados ajuda na conteno de
presses inflacionrias no curto prazo, mas traz a ameaa de
um
impacto negativo na
estrutura industrial no longo prazo. Em funo do Real apreciado, essa complementao da
produo local carrega o risco da substituio de bens nacionais por bens estrangeiros.
Essa questo traz de volta o temor da doena holandesa, antes mesmo da
apropriao das riquezas do Pr-sal. O tenno doena holandesa surgiu nos anos 1960,
quando o preo do gs natural subiu muito e a Holanda se tornou forte exportadora de gs
1
O aumento da renda
per capita
de um pas pode estar mascarado pela reduo do crescimento demogrfiw.
Kanczuk (2010) faz uma ressalva da comparao do crescimento do PIB atual com o crescimento do
perodo denominado
..
milagre econmico". O autor afirma: "um milagre econmko hoje
em
dia seria um
crescimento
de
8
ao
ano
..
'ara
um
aprofUndamento
na
anlise
da
teoria dos encadeamentos para frente jorward linkuge) e para trs
backward linkage) ver Hirschman,
A.
O. ( 1984. p.94-101: 117).
6
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1
Estratgia industrial insero internacional e desindustrializao
1 1
Ciclos recentes de crescimento da economia brasileira
1930 a 1980: Perodo Nacional Desenvolvimentista
3
:
Nesse perodo, a indstria
liderou o processo de desenvolvimento econmico, tendo o investimento como sua
principal fora dinmica e um movimento
de
catching up com os pases desenvolvidos. O
Plano de Metas e o PND so exemplos em que foram realizados blocos de investimentos
com capacidade de autoalimentao. O desenvolvimento desse perodo
foi
capitaneado pelo
modelo de substituio de importaes (MS ), que foi caracterizado pela diversificao da
estrutura produtiva atravs da industrializao e seus encadeamentos (CARNEIRO, 2008a,
p.
2-4). A economia brasileira conseguiu crescer, durante esses cinquenta anos a urna taxa
mdia anual de 6,5%, com o ndice do PIB p r capita
se
expandindo a 3,7% ao ano,
coincidente com o perodo de maior exploso demogrfica da populao, um dos mais
elevados crescimentos de longo prazo registrados
na
histria econmica de qualquer pas
(RICUPERO, 2009,
p.
22). De acordo com Almeida (2005, p.302), 60% do crescimento do
PIB brasileiro nesse perodo explicado pelo crescimento do estoque de capital, isto
,
de
taxas de investimento mais elevadas.
"A estrutura industrial brasileira, que evoluiu sob uma estratgia ampla e
permanente de proteo, promoo e regulao tinha alcanado, em 1980, um alto grau de
integrao intersetorial e diversificao da produo" (COUTINHO FERRAZ, p.
29
1993).
1980: Dcada Perdida:
Esse perodo caracterizado pelas Crises do Petrleo, pelo
Choque dos Juros (poltica do "dlar forte") e, pelo golpe final da Crise da Dvida da
Amrica Latina, que estreitaram as margens de manobra do Estado
4
Alm disso, ocorreu
uma intensificao do protecionismo nos Pases Desenvolvidos (PDs) e a reduo do
crescimento d economia mundial (SIMO, 2005).
Em
funo da restrio externa, o pas teve que sacrificar
a
busca pelo crescimento
em funo da necessidade de gerar supervits comerciais, a partir de uma pauta de
exportao com predomnio de commodities
3
Carneiro (2007, p.56) destaca o adensamento de cadeias da estrutura produtiva. cujo motor central era a
incorporao de novos segmentos produtivos, processo similar introduo permanente de
inova ,:t:S.
4
Ver Hughes Singh 1991)
18
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No final da dcada de 1970,
os
Estados Nacionais da Amrica Latina ampliaram seus
gastos com juros e correo cambial da dvida externa ampliando a crise fiscal.
De
acordo
com Cano (2000, p. 31),
as
empresas resgataram
as
suas dvidas
em
moeda estrangeira e
trocaram por dvidas em moeda nacional. Essa operao
foi
denominada ''estatizao da
dvida externa .
Devido transferncia de recursos para o exterior e instabilidade
macroeconmica, o Estado perde capacidade
de
investimento e de realizar polticas
econmicas ativas em busca do desenvolvimento. Conforme Ricupero (2009, p. 23):
Os pacotes de estabilizao
do
Fundo Monetrio incluam. como era habitual. certos
ingredientes obrigatrios: reduo
do
gasto pblico, polticas monetrias 1estritivas e ajuste da
taxa
de
cmbio. Alm disso, estes programas comearam a incorporar, de forma crescente.
condies estruturais (as condicionalidadcs), tais como a abolio de medidas de proteo e a
drstica liberalizao das importaes, a privatizao de empresas pblicas. e a
desregulamentao da economia domstica.
Nesse perodo, o crescimento
foi
detenninado pela componente demanda-consumo,
que apresentou grandes oscilaes
em
funo das variaes descontnuas da renda
provocadas por uma sequncia
de
programas de estabilizao da inflao ineficientes e
polticas de estmulo ao crdito. Alm disso, as exportaes lquidas estiveram vinculadas
aos ciclos
do
crescimento internacional (CARNEIRO, 2008a, p.
4 .
Para Pinheiro (2003, apud ALMEIDA, 2005, p.
30
I), a reduo da taxa de
crescimento da economia, a partir dos anos 1980, foi em grande parte, resultado da reduo
da taxa de crescimento
do
estoque de capital e
do
desaparecimento dos ganhos
de
produtividade.
A ausncia de uma poltica de inovao na estrutura industrial e a sua deficiente
integrao com o mercado internacional constituram elementos potencializadores de
desestabilizao do processo industrial brasileiro. A essa desestabilizao soma-se ainda
uma
acelerao inflacionria que termina por condicionar
um
ajuste industrial defensivo.
Esse ajuste compreendeu contrao de investimentos, estagnao da produo e reduo da
renda p r c pil (COUTINHO FERRAZ, p. 3 0 ~ 3 1 1993).
9
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Essa turbulncia econmica reflete no setor industrial. Entre 1980 e 1992, a
indstria de transformao sofre uma queda de 7,4 e a indstria de bens de capital sofre
uma reduo de 44 . A reduo dessa indstria atribuda
desacelerao do
investimento, e em consequncia de seu papel difusor, toda a indstria de transformao
deixa de crescer. A indstria de bens
de
consumo durvel sofreu reduo de 8 . A
indstria de bens intermedirios cresceu pouco, apenas 6 , consequncia maior do
amadurecimento dos investimentos
do Il
PND e da ampliao
de
setores exportadores que
aplicaram esforos para a gerao de supervit primrio. O setor de bens de consumo no
durvel apresentou um crescimento de apenas 8 , entretanto, esse setor apresenta uma
baixa elasticidade renda (COUTINHO FERRAZ, p. 31, 1993).
1990: Dcada da Privatizao Desnacionalizao: A instabilidade macroeconmica
e a acelerao inflacionria decorrente dos anos 1980 levaram a uma imobilizao do
Estado. Essa imobilizao inviabilizou a formulao
de
uma poltica industrial e
tecnolgica que pudesse suceder o modelo de substituio de importaes. O investimento
pblico que poderia induzir o investimento privado no ocorre e
as empresas adotam uma
estratgia defensiva de reduo do nvel de endividamento. Com a ausncia de
investimentos e de uma estratgia industrial associados a uma rpida abertura da economia
brasileira e das privatizaes, houve um processo de desnacionalizao (ALMEIDA, 2005,
p.
291i. Essa dcada foi caracterizada pelo baixo crescimento, apesar de pequena
recuperao em relao dcada anterior. Entretanto, o perfil desse crescimento foi de
maior volatilidade da taxa de crescimento em torno de uma mdia reduzida,
comportamento tpico de crescimento comandado pela demanda/consumo e exportaes
lquidas, com o investimento ocupando papel subordinado (CARNEIRO, 2008a,
p.
3 .
Esse perodo caracterizado por uma forte reduo do papel do Estado no processo
de reestruturao.
No
perodo 1997-99, apenas uma parcela reduzida do IDE foi do tipo
greenfield
isto , realmente destinada implantao e ampliao de capacidade produtiva.
De
acordo com Carneiro {2009, p.30) sobre o Brasil: De um lado. ainda conta com setores estratgicos nos
quais
expressiva a participao
do
setor publico, como, por exemplo, bancos c energia. De outro. depende
menos
da
demanda externa
em
razo
de
seu amplo mercado interno e menor grau de abertura''.
20
-
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A participao estrangeira cresce de fonna expressiva em relao
ao
estoque de
capacidade produtiva existente, atravs
de
operaes
de
Fuses e Aquisies (F&A) de
empresas locais. De acordo com Ricupero (2009, p. 23)
as
promessas liberais de alocao
eficiente que traria crescimento mais acelerado e equilibrado no se concretizaram.
A Amrica Latina apresentou, nos anos 1980, mdia anual de aumento do PIB de I 8%. e nos anos 1990,
de 3,3%, razo que levou a Cepal a falar na dcada e meio perdida para o desenvolvimento.
Em
contraste,
as economias que seguiram estratgias alternativas. como
os
pases recm-industrializados
do
Leste da
sia tiveram, com muito menor oscilao e instabilidade, crescimento mdio
do Pll3
que excedeu a taxa de
7 por ano durante todo o perodo de
1980
a 1996. O desempenho fo ainda mais espetacular na China,
com expanso anual contnua acima de 10%. de
1980
a 2000.
A taxa de cmbio recorrentemente utilizada como instrumento
de
estabilizao da
economia e
os
ciclos
de
liquidez internacional determinaram
um
perfil de forte flutuao
cclica da taxa de cmbio real, assim como fortes movimentos de apreciao do cmbio
prejudicando a competitividade da indstria brasileira.
Incio
dos anos
2
Com a crise do Estado Brasileiro na dcada de 80, a globalizao e o desmonte das
funes desenvolvimentistas
na
dcada de 90 e incio de 2000, tem-se
um
retorno ao
domnio
de
instituies
do
atraso, sob nova roupagem. A abertura da conta de capitais
tornou o Brasil uma economia dependente e reflexa. Na fase mais recente, depois da
abertura da conta de capitais
no
incio da dcada de 90, tivemos sucessivos ciclos de
recuperao e crise, determinados do exterior. Estes ciclos foram causados por
booms
de
entradas alternados por paradas sbitas
de
fluxos de capitais,
de
acordo com o humor do
mercado financeiro global.
Desde 1999, a poltica macroeconmica domstica est sustentada em trs pilares:
programa de meta de inflao, taxa de cmbio flutuante e obteno
de
supervits primrios.
A taxa de juros alta e o cmbio valorizado tm mantido a inflao sob controle, e
os
supervits primrios tm segurado a expanso da dvida pblica. Trata-se, portanto, de uma
poltica econmica defensiva (ALMEIDA, 2008).
De acordo com ALMEIDA (2005, p. 291-301), dentre os inmeros fatores que
explicam o modesto crescimento
do
PIB brasileiro
no
perodo 1980-2004, est a pequena
integrao do pas no fluxo do comrcio internacional, reduzindo as oportunidades de
investimento. Desde
1999
foi
detectada uma estagnao da produtividade
na
indstria
2
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brasileira, que por sua vez resulta numa reduo de competitividade e perda de insero
internacional. Produtividade ao mesmo tempo resultado da expanso da insero
internacional e causa desse processo.
A abertura comercial sem critrio, isto , um processo de abertura muito rpido e a
ausncia de uma poltica industrial associada sobrevalorizao do cmbio colocaram o
setor produtivo brasileiro numa condio desprotegida e perversa. Essa condio levou
especializao regressiva da estrutura industrial, que gradualmente perde participao no
segmento
de
alta tecnologia e na indstria de bens
de
capital. Consequentemente, amplia-se
a participao no PIB das indstrias processadoras
de
recursos naturais e de produtos de
baixa tecnologia. Nesse perodo, o IDE foi canalizado preponderantemente ao setor de
servios, especialmente telecomunicaes e intermediao financeira. A parcela dedicada
ao setor industrial foi em maior peso para manufaturas de baixa e mdia intensidade
tecnolgica
6
(CARNEIRO, 2009, p.24).
2 4
2 8: Ciclo de crescimento Ciclo de investimento
A recuperao do crescimento teve incio em 2003/2004 com impulso do aumento
das exportaes. Essa ampliao das exportaes foi estimulada pela depreciao da taxa
de
cmbio
em
2002/2003 (Grfico 9) e pela valorizao das commodities (Grfico 15 e o
incio de um novo ciclo de aumento de produtividade liderado pelos setores exportadores a
partir de 2004. Em 2005 fica ntida uma ruptura no padro cclico
de
recuperao e crise
(stop
nd
go). Ademais, o crescimento se acelera e se sustenta por perodo mais longo,
reflexo das condies favorveis da economia mundial e das transformaes internas. No
perodo
de
2003 a 2008, a taxa mdia de crescimento foi de cerca de 5 a.a., muito acima
da mdia anterior de cerca de 2 a.a.(Grfico 1 .
Esse crescimento econmico est baseado
em
dois fatores, no aumento do consumo
domstico e no investimento (Grfico 2). No cenrio externo houve o .. boom dos preos
de
commodities
e da economia mundial. Internamente ocorrem mudanas demogrficas que
afetam o mercado de trabalho, mudando a dinmica
de
gerao de emprego c formao de
salrio.
6
Setores de alta e mdia tecnologia
uma classificao da OCDE excluem produtos agrcolas.
22
-
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Grfico I -Crescime nto
do J>IR
a mdio prazo (dados em
)
8
7
5,7
6,1
--------...
5,2 ...............Mdia
S,Oo/c
1
5,1 I
6
5
4
3
2
1
'
I
4,0
\ /
\ i
I
I
I f
I I
I
I
\ I
'
I
O
\,10,1
I
f
o
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009. 2010" 2011 ' 2012. 2013
'
2014'
lontc IBGF (apuu ,
:3rasL
2010) . OBS * Pn:vises elo
Governo
O desempenho do consumo interno, que propiciou um novo ciclo de crescimento
econmico atravs do efeito multiplicador, est baseado em dois fatores,
na
expanso
da
renda e do crdito. A expanso da renda foi resultado do aumento do mvcl de emprego. da
formalizao de trabalhadores. do aumento
do
salrio mnimo (resultando em aumento de
salrio real) e da ampliao dos programas de transferncia de renda. Esse conjunto de
fatores contribuiu para um aumento da massa salarial total na economia domstica. A
expanso do crdito deveu-se no s poltica de governo,
mas
tambm se consolidou em
funo da reestruturao e recuperao
do
mercado de trabalho (SARTI, 20 IOa).
Grfico Contribuio
da
\
\ariHi .
de
demanda
agregada
para
o
r e ~ i m e o t o do
I'IB (% )
83
-
-
r-
r-
0.0
r
-
-
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-
r-
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UExportaoLqUJda Consumo mal - Adm. Pbl1cn Consumo
tona
l - famhas Dlnvestnnemo
FD
CF
+E
stoque)
ronte
SARTI
(2009.
p
13)
23
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A recuperao do consumo das famlias em combinao com a progressiva elevao
do nvel de utilizao da capacidade instalada da indstria abriram caminho para uma
retomada expressiva dos planos de investimentos. A retomada do investimento estimulou o
crescimento atravs do efeito acelerador com base
em
projetos voltados ao mercado interno
(Grfico 2). Esse investimento se concentrou na indstria extrativa e de insumos bsicos
(petrleo, gs natural, minrio de ferro, siderurgia, papel e celulose) em funo do oom
das
commodities
no mercado internacional e ainda na infraestrutura, com destaque para a
construo residencial e bens de consumo durveis. A expanso desse investimento teve
uma importante participao do financiamento pblico (BNDES) e no
caso das empresas
brasileiras, uma participao crescente do autofinanciamento e da reduo das captaes
externas (SARTI, 2010a; PUGA MEIRELLES, 2010,
p.l).
Crise financeira 2008) e Oportunidade para Retomar Crescimento
O mercado domstico com sua dimenso e dinamismo se tornou um ativo estratgico
para o Brasil, como ocorre para outros pases emergentes como China e ndia. Tudo indica
que tivemos uma mudana estrutural com a reconstruo de um novo paio dinmico
endgeno, resultado da conjugao de fatores externos e internos criando um crculo
virtuoso de crescimento, interrompido pela crise financeira no ltimo trimestre de 2008. O
mercado domstico se tornou uma forma de compensar a retrao das exportaes
na
retomada da crise do subprime de 2008. Alis, o mercado domstico comea a se tornar
importante desde 2004, desde que a varivel exportao lquida comea a perder
importncia (Grfico 2).
A expectativa para a economia brasileira em 2010 de um crescimento superior a
5 ao ano. Para o perodo
de
2009 a 2014 a expectativa de um crescimento mdio de 5 ,
aps ter crescido 4,2 ao ano de 2003 a 2008, ver Grfico 1 (BRASIL, 2010).
De
acordo
com Carneiro (2009, p.25), o Brasil, comparado com o Cone Sul, ainda mantm uma
participao razovel da indstria no PIB
7
Entretanto, no total da indstria, as indstrias de
mdia e alta intensidade tecnolgica, apresentam um dficit comercial. Segundo Belluzzo
(20 I 0), 80 das empresas superavitrias pertencem indstria intensiva
de
recursos
7
De
acordo com Coutinho Sarti
2003, p.33l :
''O Brasil
um
dos poucos pases em desenvolvimento que conta
com uma base industrial diversifcada c dada a dimenso de sua
~ c o n o m i
e
as
condies
de
vulnerabilidade no pode
prescindir
de
uma base competitiva e capaz
de
gerar supervit comercial, para poder crescer sustentavelmente,,
24
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Em
2000,
as
ETNs responderam por l/3
do
total das exportaes mundiais. A
necessidade de construir ou adquirir capacidade produtiva
em
outros pases fez com que os
investimentos
se
ampliassem a uma taxa ainda maior que a
do
comrcio mundial, que por
sua vez cresceu a uma taxa maior que a taxa
do
produto HIRATUKA SARTI, 2005,
p.2-3).
A indstria o motor
do
desenvolvimento econmico. A taxa de crescimento da
indstria mundial
no
perodo de
1980
a 2000 foi ligeiramente menor que a
do
PIB mundial,
devido
ao
crescimento
do
peso
do
setor de servios nas economias industriais maduras, que
ainda dominam o setor industrial mundial. Para um pas desenvolvido PD) no haveria
problema
um
aumento da participao
do
setor de servios, pois a estrutura industrial
est consolidada. Enquanto que para um pas em desenvolvimento PED) significaria uma
desindustrializao, uma vez que, a estrutura industrial ainda est em construo
10
. De
acordo com Carneiro 2006, p 77), para pases de nvel de renda mdio e baixo, a
industrializao representa o mecanismo para o crescimento sustentado. S aps o nvel de
renda atingir um nvel elevado que a composio
do
produto e emprego muda em direo
ao setor dos servios, como ocorre com a maioria dos pases desenvolvidos.
O crescimento do comrcio mundial
foi
maior que o aumento da produo, que
pode ser explicado pela internacionalizao do processo produtivo. O que est sendo
produzido num determinado pas no est sendo consumido domesticamente, pois ocorreu
um fracionamento
do
processo produtivo. Esse movimento fez surgir uma rede
internacional
de
manufatura integrando diferentes pases e diferentes empresas, realizando
etapas da cadeia de valor sob a coordenao das grandes corporaes. A produo no
mais verticalizada em um nico pas, mas foi dispersa em diferentes pases e a
fragmentao do processo produtivo fez com que se ampliasse o comrcio mundial. Esse
comrcio se apresentou mais dinmico para os produtos com maior intensidade tecnolgica
produto com alta intensidade tecnolgica - PAIT e produto com mdia intensidade
tecnolgica PMIT). Esses produtos respondem por mais da metade
do
comrcio
internacional UNIDO, 2004).
10
A desindustrializao pode ser entendida como um processo natural. desde que se tmte de um pais
desenvolvido. Existe uma teoria
de
uma trajetria
de
importncia
na
participao de produtos primrios para
produtos industrializados e deste para o setor de servio. Essa discusso
resgatada de Clark 1957) por
Rowthorn e Ramaswany 1999).
26
-
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27/109
Os pases em desenvolvimento (PEDs) Apresentaram um aumento na participao
nas exportaes mundiais em todas
as
categorias de produtos (PAIT; PMIT; PBIT;
produtos intensivos
em
trabalho e recursos naturais) exceto em
commodities
primrias.
Entretanto esse desempenho positivo dos PEDs foi bastante seletivo, pois ficou restrito a
pases da sia, atravs de uma dinmica regional, envolvendo os tigres de primeira gerao
(Coreia do Sul e Taiwan) e os tigres de segunda gerao (Malsia, Tailndia, Filipinas,
Cingapura e Indonsia) (H IRA TUKA SARTI, 2005, p. 12-16).
Essa reorganizao das cadeias produtivas globais abriu oportunidade para que os
PEDs ampliassem sua participao no comrcio internacional. Esse desempenho positivo
foi
decorrente
de
um aumento da participao
noVAM
(valor adicionado da manufatura)
ou MVA
manufGcturing value added)
global. Houve um expressivo aumento na
participao da indstria dos PEDs
no
MVA global, de 14% a 24%, no perodo de 1980 a
2000 e simultaneamente uma reduo de 5% da participao dos pases industrializados.
Entretanto, os pases industrializados ainda respondiam por 72% do MVA global em 2000
(UNIDO 2004, Cap.7, p.J35-137).
Na avaliao de Carneiro (2006, p.77), a insero dos PEDs foi assimtrica, pois o
Brasil e a Amrica Latina apresentaram uma descontinuidade do processo
de
industrializao a partir dos anos 1980. Para os latino-americanos a perda de dinamismo
coincide com o processo da globalizao neoliberal e a industrializao centrada
no
mercado interno, pela abertura e busca dos mercados externos.
Para Coutinho Ferraz (1994,
apud
GONALVES, 1998a,
p.l5)
dentre os fatores
que podem explicar a baixa competitividade de diversos segmentos da indstria brasileira
esto: a excessiva dependncia do mercado interno e a estagnao econmica dos anos
1980. O avano em termos de capacitao competitiva observado
ao
longo da presente
dcada tem como desvantagem essencial a gerao de
um
persistente desequilbrio
comercial e o chamado desadensamento das cadeias produtivas.
Numa trajetria oposta e exitosa, os pases asiticos promoveram a continuidade e o
aprofundamento da industrializao. Esse desempenho dos asiticos est associado
ao
modelo
de
crescimento orientado para fora. Alm disso, o xito dos pases asiticos est
associado a uma maior capacitao para realizar mudanas tecnolgicas endgenas e
consequentemente, aos ganhos de produtividade.
27
-
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28/109
1.3 adro
de
insero
da
economia no mercado mundial na etapa
da
globalizao
internacional
Crotty (2002,
p
3-37) destaca que os crticos da globalizao neoliberal
argumentam que o abandono
do
crescimento em prol da predominncia curtoprazismo
( 'shorf-termism ) tenderia a reduzir o crescimento do produto mundial resultando em
aumento do nvel de desemprego. Esse elevado nvel de desemprego e a tendncia para a
flexibilizao do mercado de trabalho resultariam em uma reduo do crescimento do
salrio real e aumento da desigualdade no pas e entre
os
pases. Ademais, a liberao
financeira teria como consequncia a elevao das taxas de juros real e aumento da
instabilidade nos mercados financeiros globais. Pases menos avanados, que substituram
as polticas de desenvolvimento econmico intervencionistas pelo neoliberalismo, teriam
menor capacidade de experimentar um crescimento a longo prazo.
Para Crotty (2002, p.3-37), na maioria dos pases em desenvolvimento (PED), esses
problemas no so entendidos como sendo resultados inevitveis do aumento da integrao
global p r
se
mas
em vez disso, causados por instituies especficas e prticas
constituintes do neoliberalismo. Com isso, ficou decretado o fim do progresso como
instrumento contra a pobreza nos pases em desenvolvimento, com exceo dos pases do
leste asiticos que tiveram um progresso substancial em direo ao desenvolvimento.
Carneiro (2006, p.73) defende uma viso da insuficincia das polticas de inspirao liberal
em
estabelecer um modelo de desenvolvimento para o Brasil e Amrica Latina. O principal
argumento para essa tese o contraste da experincia exitosa obtida pelos pases asiticos
fundada num perfil distinto de polticas de desenvolvimento.
Apesar da maior parte do produto industrial global ainda ser gerado pelos PDs
(aprox. 70 , em 2000), foram
os
PEDs que apresentaram maior crescimento da
participao na produo industrial global. Entretanto, essa insero dos PEDs
foi
assimtrica, pois houve uma perda de liderana, dinamismo e participao
no
PIB global do
Brasil e dos pases da Amrica Latina (UNIDO, 2004, Cap.7, p.l35-137).
Na viso de Carneiro (2006,
p
78), a comparao do desempenho da economia
brasileira com a dos pases da sia pode ser realizada atravs da anlise de uma estilizao
do padro de integrao economia globalizada. Essa articulao envolve tambm a
anlise das estratgias de desenvolvimento e o padro poltico-insitucional domstico.
28
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Confonne o Grfico 3, verifica-se que desde 1996, o Brasil tem apresentado o pior
desempenho
em
tennos de crescimento econmico, comparado mdia dos pases
emergentes e inclusive frica. Esse desempenho est diretamente relacionado forma de
insero na economia do mercado mundial na nova ordem econmica da globalizao.
Essa forma de articulao da economia domstica economia globalizada pode ser
relacionada
s
demandas sociais, como emprego e renda. Por outro lado, a fonna de
insero ser mais propcia
acumulao de capital na rbita financeira, sem
necessariamente proporcionar
as
condies de retomada
do
crescimento econmico em
taxas altas e sustentveis. (IPEA, 2009, p. 27-29).
A partir de 2000, verifica-se uma recuperao da economia, mas ainda insuficiente
para superar o maior dinamismo dos demais emergentes.
De
acordo com IPEA (2009,
p.29):
Uma das grandes lies da evoluo econmica mundial
no
perodo 1985-2008
t i
a
de
que
tanto
as
estratgias
de
desenvolvimento
do
tipo ''tudo
ao
Estado'' como
as
do
tipo tudo
ao
mercado'' encontram seus limites endgenos. Mercados e Estados
no
so substitutos uns
dos outros, mas, sim, instncias complementares no que conceme
ao
estabelecimento
de
arranjos institucionais capazes
de
garantir coerncia macroeconmica e coeso social. duas
condies bsicas
do
desenvolvimento
das
naes.
Grfico
J
T a : ~ a s tendenciais de crescimento econmico -1995 a 2008 (em% a.a.)
'
1'195
19 .17
1998
199 .1
200{) 2001
l 2
0 {)(1]
21104 2005 2006 ; 007 2000
'
E
-
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1.3.1
Padro de integrao
c pit l ccounts ou
passiva (dimenso financeira)
O Brasil e a maioria dos PEDs (pases
em
desenvolvimento) na Amrica Latina
associaram-se globalizao pela dimenso financeira (atravs do fluxo de capitais). Esse
padro de integrao est, em geral, associado ao carter liberal do Consenso de
Washington, compreendendo uma dupla liberalizao: externa e interna. A primeira
dimenso de liberalizao est fundada nas aberturas comercial e financeira, e a segunda,
na
supresso das polticas seletivas de desenvolvimento e na privatizao (CARNEIRO,
2006, p.78). De acordo com Carneiro (2006, p.81 , aps 1980, houve maior desregulao e
dessa forma maior peso
do
mercado nas decises econmicas na Amrica Latina.
De acordo com Carneiro (2006, p.79),
os
pases que aderiram a esse padro de
integrao so caracterizados por regimes de cmbio flutuante e em geral taxas de cmbio
volteis associadas a dficit na balana comercial e na conta de transaes correntes. Alm
disso, predominam investimentos de portflio e IDE de natureza patrimonial. Em geral, o
nvel de reservas internacionais desses pases so inferiores quelas dos pases asiticos.
Ainda em Carneiro (2006, p.79), esse padro de integrao resultou numa pequena
insero internacional
do
pas nos fluxos de comrcio e predominncia da integrao via
fluxos de capitais. A internacionalizao produtiva foi assimtrica, com
um
montante de
IDE
recebido bem superior ao realizado. Alm disso, o predomnio de investimentos
estrangeiros de portflio, para
se
beneficiar da diferena da taxa de juros; e tambm de
natureza patrimonial, responsvel pela desnacionalizao da base produtiva (onda de fuses
e aquisies, F A).
Outro ponto negativo desse padro de integrao ao mercado mundial consiste no
baixo nvel de restries mobilidade de capitais. Essa maior liberdade mobilidade de
capitais intensifica ainda mais a instabilidade das taxas de cmbio, que por sua vez, resulta
em perda de autonomia da poltica econmica domstica, que se torna dependente dos
movimentos
de
capitais especulativos (CARNEIRO, 2006, p.79). No Brasil, a recuperao
da crise de 2008, com o regime de cmbio flutuante, resultou em forte volatilidade e
valorizao do Real. Com a economia mundial se recuperando, o cmbio prejudica a
exportao e deixa um espao
no
comrcio internacional a ser ocupado pelos importados
(SARTI, 2010).
30
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1.3.2 Padro
e
integrao tr de ccounts ou ativa dimenso produtiva)
Nesse grupo esto os pases da sia, que se associaram ao novo padro
internacional atravs d dimenso produtiva, isto , atravs do fluxo de comrcio. Nesse
padro existe uma forte articulao entre o Estado e o mercado. Para os asiticos prevalece
a estabilidade da taxa de cmbio, o controle governamental dos fluxos financeiros externos
e o gerenciamento d concorrncia, incluindo a coordenao das decises de investimento.
Esse padro de integrao est associado a polticas intervencionistas.
Nesse padro, a articulao
economia globalizada atravs do comrciO e IDE
constitui o elemento dinmico da trajetria
de
altas taxas de crescimento e catching u
tecnolgico CARNEIRO, 2007, p.2). Uma taxa
de
cmbio estvel constitui instrumento
fundamental para urna poltica de exportao e gerao de
supervits
comerciais
expressivos. Esse dinamismo de insero internacional constitui estmulo ao crescimento
propiciando um acmulo de reservas internacionais e consequentemente uma
maJOr
autonomia da poltica macroeconmica domstica. Entretanto, para a estabilidade da taxa
de cmbio, ainda necessrio a regulao dos fluxos de capital
CARNEIRO, 2006, p.78).
Essa estabilidade na taxa de cmbio contribui tanto para a autonomia da poltica
macroeconmica, quanto para assegurar competitividade das exportaes
de
manufaturados, cada vez mais acirrada. Ademais, facilita o clculo da rentabilidade dos
investimentos externos e a avaliao do valor de ativos internacionais. Portanto, a
estabilidade na taxa de cmbio sustenta a estratgia de crescimento baseada na poltica de
industrializao orientada para a exportao e na atrao de IDE, o expor led growth
CARNEIRO, 2006, p.79). Alm disso, confonne Silber 2005, p.297), se os investimentos
dependessem do mercado domstico, seriam menores.
As
elevadas taxas de lucro da
atividade exportadora atraem mais os investimentos diretos.
Almeida 2006, p.5) destaca a importncia do padro de integrao como
determinante do maior sucesso quanto ao crescimento econmico. Esse padro de
integrao diferenciado permitiu aos asiticos uma maior insero na rede
de
produo
global. Essa insero ampliada resultado de u
upgrade
na estrutura produtiva e na pauta
de exportao, gerando maior dinamismo e agregao de valor. Complementar a isso, de
acordo com Carneiro 2006, p.81 , um mercado domstico mais massificado tambm
permitiu a ampliao das escalas de produo favorecendo a competitividade da indstria.
3
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1 4 A importncia da indstria para o crescimento econmico
De acordo com a viso kaldoriana
, existe uma conexo entre expanso da indstria
e crescimento do produto agregado. Essa relao positiva, e estabelece que, quanto maior
o crescimento do setor industrial, maior o crescimento do produto nacional. O crescimento
do setor industrial consequncia de maior produtividade, que por sua vez baseada em
economias de escala, que so obtidas pela expanso da demanda. A expanso da demanda
obtida atravs da ampliao das exportaes. O aumento de escala dinmica tem impacto
imediato na reduo de custos, em funo da existncia de retornos crescentes de escala
verificados na indstria de transformao. As inovaes (tanto em processo, quanto em
produto, quanto em mercado, etc.) transbordam para toda a economia, aumentando a
competitividade no mercado externo. Dessa fonna, a estratgia de incentivo exportao
(modelo export ed growth)
um instrumento que propicia um crescimento sustentado em
longo prazo, a exemplo do executado pelos pases do sudeste asitico.
Bresser Pereira Marconi (2008, p.S-6) tambm abordam a influncia da indstria
no
desenvolvimento econmico.
Os
autores citam Kaldor, para a construo do nexo causal
do crescimento do setor manufatureiro e da produtividade
da
economia, a partir do
pressuposto dos rendimentos de escala crescentes da indstria. O progresso tcnico, os
encadeamentos e as externalidades do setor industrial transbordam para outros setores,
gerando empregos e aumentando a produtividade de outros setores da economia.
Os
quais
no se apresentam to dinmicos como o setor industrial e apresentariam uma menor
difuso tecnolgica. Dessa forma, a indstria pode gerar maior dinamismo economia em
consequncia do efeito multiplicador mais amplificado sobre a produo e o crescimento da
renda per capita. Conforme assif (2008, p.85, apud BRESSER PEREIRA MARCONI,
2008, p.6), setores baseados em cincia e tecnologia puxam a maximizao nos ganhos
de produtividade e garantem a sustentao do crescimento econmico
no
longo prazo.
Os
setores com maior intensidade tecnolgica apresentam maior capacidade de ongmar
encadeamentos produtivos e efeitos multiplicadores de renda e emprego e difundir
inovao e tecnologia para o restante da economia.
Essa viso de desenvolvimento adotada pelos pases asiticos em reao nova ordem econmio:;a mundial
est presente
em
Kaldor ( 966 .
32
-
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Para Almeida (2006. p.3). a indstria tem sido o motor
do
crescimento econmico
brasileiro. O crescimento do produto agregado est condicionado expanso
da
indstria.
ver Grfico 4.
Grfico_.
Crescime
nt
o i m e ~ t r a l o PJ e
da Indstria
para o
Bra
s
il Trime
s
tre
Contra \ esmo
T r i m c ~ t r e
do
.-\no Anterior, (
1
r i m e ~ t r c tle
1992- 3 Tr
ime
st re
de 2005)
Cl
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8
o
12
.
..
o ~ - - - - - - - - - - - - - - - - ~ ~ - - - - - - - r - - - - - - - - - - - - -
E
1
o
rontc. \ l m ~ :
(2006)
o
Crescimento
d
lndustra
14
De acordo com Si lva (2009. p.3), a indstria o setor da econom ia com mator
capacidade de ampliar o
va
lor adicionado per capita condio essencial para elevar o
padro de vida da populao.
A mdia do crescimento dos PEDs foi superior ao
do
s PD s e a indstria
foi
o carro
chefe da economia global. Esse crescimento resultou e, de cct1a maneira, foi resultado do
aumento da produtividade e da fragmentao da produo. Entretanto. esse crescimento
fo
i
bastante assimtrico, pois se concentrou nos pases asiticos (Tabelas I e 2 .
Esses PEDs, responsveis pelo maior dinamismo
da
economia globaL
es
to
se ndo
promovidos de pases em desenvolvimento para pases emergentes. Devido comple:\idade
dos problemas econmicos j destacados. nota-se
um
descolamento do Brasil
do
padro
mdio mundial de integrao ao mercado mundial ,
com
destaque ao acesso
tecnologia ,
escalas de produo, custo do desenvolvimento e competitividadc (Tabela
2).
33
-
7/25/2019 Campos,GuilhermeRodriguesde TCC
34/109
T b I I P
'
a1ses
em
d
I ' t d \ ' I d d
I . d
senvo
v1mcn
o
a.- sa
n 1ca ores
se ec10na os
Crescimento
do
PIB Industrial FBCF/PIB (mdia)
Participao
da Indstria no PIB
1992-2002 1990-2002
1980
1990
2000
Coria
8.9 33,2
22,8 28,8
35.
Taiwan
4 4 n.d.
34,5
32,7 29,6
Singapura
6,5 32.8 29.7 28,6 28,2
China
10,9
38.0
33,0
33,1
34,5
Malsia
9.0 33,7
19,4
26.5
35,9
Tailndia
5,5
33,4
22,6
27.2 34.3
Filipinas
3,8 21,7
26,9
24,8
24,2
Indonsia
7.0
25,0
11,9
20,7 26.5
.
fonte. E1ahoraao NEIT UNICAMP a parl T dos dados da
UNCTAD
e
da
UNIDO UNIDO (apud H1ratuka Sart1, 2005)
No perodo de I 950 a 1980, o Brasil apresenta uma trajetria de convergncia em
ralao
economia dos EUA (PIB EUA =100) (BRASIL, 2004, p.6). O
PIB per c pit
relativo do Brasil (em %, a partir do US$ paridade poder de compra, PPP, constante de
1990) cresce de 17%
em
1950 para 28%
do
PIB americano em 1980 (SARTI, 20 I
O p.
1-4).
Nesse perodo ocorre um aumento da participao da indstria de transformao no PIB,
isto
,
a indstria ainda era a locomotiva do dinamismo do desenvolvimento econmico,
ver Grfico
5.
Entretanto, aps esse perodo de grande dinamismo, caracterizado como o Perodo
Nacional Desenvolvimentista, verifica-se uma perda de convergncia da economia
brasileira (ver item 1.1 ). De 1980 at 2004 verifica-se um esgotamento do dinamismo da
indstria na economia, que passa de uma participao de 28% para 18%, ver Grfico
5.
O
PIB per c pit
brasileiro passa a ter um crescimento inferior
ao
do PIB
per c pit
americano (HIRATUKA SARTI, 2005,
p.
4). "Entre 1980 e 1996, a participao da
indstria de transformao brasileira
no PIB
reduziu-se
em
50%, segundo dados do IBGE".
(IPEA, 2009, p.3 I).
Tbi T d
e a
-
'
e crescimento
d
d t d . I 1992 2002
pro uom
ustrm -
-
Crescimento do PIB Industrial
FBCF/PIB (mdia)
Participa
o da Indstria no PIB
1992-2002
1990-2002
1980
1990 2000
Argentina
-0,8
17,0 27,0
22.5 19,6
Brasil
2,3 21,0 29,0
26,8
23,1
Chile 3,0
24.6
20.9 18.5 15,3
Mxico
3,4
22,7 18,5
19.0 20,8
-
.
fonte.
E1aboraao
NEIT/UNICAMP a
part1r dos
dados
da
UNCTAD
e
da UNIDO
(apud Hlratuka& Sart, 2005)
34
-
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35/109
O fraco desempenho
da
economia brasiIe
ira, nas
dcadas
de
1980
e
1990,
pode ser
co
nstatado comparando a evoluo
da
renda p r
c pit
relativa
dos
E
UA
e o
de
sempenho
da
ind
stria
de
transformao
do
Brasil
com
o
de
outros pases
em
desenvolvimento
(Co
re
ia
do S
uL
China e ndia),
que
continuar
am sua
trajetria
de
crescimento (BRASIL,
2004,
p.
6)
.
No perodo
de 1980
a 2004, o Brasil
ap
resentou reduo
do
PIB
per c pit de
28
para
19
%
em
relao
ao
PlB
per c pit
dos
EUA (em
a partir do US$ PPP,
con
stantes de
19
90
).
Enquanto,
no
mesmo perodo, a Coreia do
Sul
apresentou um crescimento
es
petacular
do PTB p r
c pit de
20
para 60%
do PIB
per c pit
do
s EUA, a China
de
5%
para 20% e a ndia um crescimento discreto
de
6 para
8%,
ver Grfico 5.
Essa trajetria
de
convergncia econmica
dos
pases asiticos
es t
associada
ao
d
in
amismo
da ind
stria. Nesse perod o,
ao
contrrio do Brasil, os pases do sudes
te
asitico
manti
veram um
crescimento
da
participao da indstria
de
transformao
no PIB. Para
o
Brasi l, assim como para a Amrica
Latina
,
1980 foi
um ponto de
inflexo,
caracterizado
pela imobilizao
do
Estado, decorrente dos Choques
do
Petrle
o, Ch
o
qu
e dos Juros e
da
C
ri
se da D
vida
agravada pela recesso mundial. (H I
RA
TUKA & SARTI, 2
005
, p. 4).
G rficoS - Pases Selecionados:
l
B relativo e Participao da Indstria no
l B,
1950-2005
(em , a
partir
de tiS$ PPP consta
nt
es de 1990, E:liA= JOO)
Brasil
Co
ria
do Sul
30.0
70.0
29,0
~ ~
00
.0
1
2GO
~ ~ /
~ : ; ~ ~ ==
4
,0
60,0
f-
22.0
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400
200
?
~ v
~
/
18.0
I -
30,0
1
G O
~ ------------
20 ,0
f-
40
----
12,0
1
10,0
10,0
Sl
:;
$
SI
li :s i :: i C
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lil
;
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:;
;
::
g
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il
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25
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35
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.....,;;;;;;.;:
20
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25 0
- .r =
---
15.0
200
~
~
__ _ /
._.
10 .0
15.0
------
../
0 0
5.0
50
- -
; ;
O
Si Si SI
li
..
-
PI per Ca
ptta relat
iV
- lnd de Tr
ansf
. no PI
lonte . GGDC database. Elaborao NEIT-IE-UNCAMP (apud SARTI , 20 10, p. 4)
35
-
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36/109
1.5 Conexo entre produtos com maior intensidade tecnolgica e dinamismo
do
comrcio internacional
Para Hiratuka Sarti (2005, p.\9-20), os pases do sudeste conseguiram fortalecer a
posio no comrcio internacional, os pases
da
Amrica Latina (AL) perderam espao em
funo da perda de competitividade nos produtos mais dinmicos. Consequentemente, o
sistema industrial na AL foi incapaz de liderar o crescimento econmico.
De acordo com Almeida, os setores
de mdia e alta tecnologia so os setores que
mats crescem no mercado mundial. Ou seja, h uma associao significativa entre a
intensidade tecnolgica dos produtos exportados e o crescimento
da
participao no
comrcio internacional. Um maior crescimento nesses produtos, com maior dinamismo no
comrcio internacional, significa maior crescimento econmico. Contudo, o Brasil segue
trajetria inversa, pois as exportaes brasileiras tm-se ampliado, justamente, nos produtos
de baixa intensidade tecnolgica (ALMEIDA, 2005, p. 288), ver Tabela 3.
De acordo com Coutinho (2010), a taxa de crescimento do Complexo das
Tecnologias de informao e de comunicao nas economias asiticas em desenvolvimento
cresceu, em 2005, cerca de duas vezes e meia em relao
mdia internacional. Entretanto,
em 2005, no Brasil ela representava apenas 5,5 do valor agregado na indstria, enquanto
que nos PDs essa participao era de 27,5 . Esse
mais
um
indcio da perda de espao do
Brasil no comrcio internacional e do sucesso das economias asiticas em desenvolvimento
desde o incio dos anos 1990 (UNCTAD, 2005,
apud
Coutinho, 20 I 0).
Tabela 3 -I'ED da
AL-
Participao nas exportaes mundiais por categoria
de
produto-1980 e 2002, em
Regio/Pais
ano CP
PITRN
BIT
MIT AIT Total
Argentina
1980 1,4 0,3 0,2
0 1
0,2 0,4
2002 1,8 0,2 0,3 0,2 0,1 0,4
Brasil
1980 1,8 1,6 1 1
0,8
0,8 1,0
2002
3,3
0,9 1 2 0,6 0,5 1,0
Chile
1980
0,8
0,1 0,1 0,0 0,1 0,2
2002
1,8
0,1 0,1 0,0 0,1 0,3
Mxico
1980 1,6 1
O
0,5 0,6 1,2 0,9
2002
1 5
2,2 2 1 4,0 2,4 2,6
fonte: lliratuka Sarti, 2005 p.18.
36
-
7/25/2019 Campos,GuilhermeRodriguesde TCC
37/109
1.6
Reverso recente do mecanismo da deteriorao dos termos de troca
Nas dcadas de 1950 e 1970, o diagnstico da deteriorao dos termos de troca dos
bens primrios frente aos bens manufaturados no comrcio internacional foi colocado como
um argumento alternativo ao pensamento ortodoxo, no processo de desenvolvimento. Esse
argumento foi um dos pilares fundamentais da necessidade da industrializao para os
pases em desenvolvimento, segundo a escola do desenvolvimento cepalina, posteriormente
essa viso ficou conhecida como escola estruturalista cepalina
(PREBISCH, p.l76 1984).
Esse mecanismo atribudo ao fato de que as matrias primas no tm uma
tendncia valorizao como os produtos industrializados. As matrias primas apresentam
menor valor agregado e menor elasticidade da demanda capaz de resultar em deteriorao
dos termos de troca. Essa argumentao est alicerada em uma insero dos pases latino
americanos em um sistema centro-periferia, no qual se destaca o papel ativo das economias
industrializadas. Favorecido por sua posio e o acesso ao progresso tcnico, os pases
industrializados organizaram o sistema com a finalidade de satisfazer seus prprios
interesses. Nesse sistema heterogneo, ocorre uma diviso internacional da tecnologia
(progresso tcnico) e de seus frutos, alm de uma diviso internacional do trabalho
(PREBISCH, 1984, p.l76-179)
12
O modelo de substituio de importaes (MS ) vai tentar minimizar esse vnculo
de dependncia, independente de ter sido opo consciente ou mera consequncia, tendo
em vista as restries de importao impostas pela guerra. A substituio de importaes
pelo protecionismo era uma resposta
tendncia de deteriorao dos termos de troca, ao
evitar a alocao de recursos econmicos adicionais nas atividades de