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UNIVERSIDADE TUITUI DO PARANÁ LIDIANE REGINA JACINTO DE CAMPOS O TRABALHO ANÁLOGO À CONDIÇÃO DE ESCRAVO NO SETOR TÊXTIL BRASILEIRO CURITIBA 2015

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UNIVERSIDADE TUITUI DO PARANÁ

LIDIANE REGINA JACINTO DE CAMPOS

O TRABALHO ANÁLOGO À CONDIÇÃO DE ESCRAVO NO SETOR

TÊXTIL BRASILEIRO

CURITIBA

2015

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LIDIANE REGINA JACINTO DE CAMPOS

O TRABALHO ANÁLOGO À CONDIÇÃO DE ESCRAVO NO SETOR

TÊXTIL BRASILEIRO

CURITIBA

2015

Monografia apresentada ao Curso de Direito, da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito Orientador: Profº. Jefferson Grey Sant’Anna

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TERMO DE APROVAÇÃO

LIDIANE REGINA JACINTO DE CAMPOS

TRABALHO ANÁLOGO À CONDIÇÃO DE ESCRAVO NO SETOR

TÊXTIL BRASILEIRO

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção de título de Bacharel no Curso de Direito da

Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ___ de ____________ de 2015.

_______________________________________

Prof. Doutor Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografias

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof. Jefferson Grey Sant’ Anna

Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito

Prof. ____________________________________

Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito

Prof._____________________________________

Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus que me deu saúde e força para superar todas

as dificuldades, assim como, concedeu-me a oportunidade de ingressar na instituição

de ensino, onde adquiri conhecimentos que levarei por toda a minha vida.

Agradeço aos meus pais, pelo amor, incentivo e apoio incondicional, em

especial o meu irmão Bruno, que mesmo cansado, depois de uma jornada de trabalho

e estudo me ajudava a buscar referências para a monografia.

Meus agradecimentos aos colegas de turma, que tiveram contribuição valiosa

no meu desenvolvimento acadêmico durante estes cinco anos de curso, destaque

para minha querida amiga Stefhani Karoline, que pacientemente ensinava a matéria

quando eu não compreendia, que sempre esteve de mão estendida, que soube

respeitar o meu espaço, somar alegrias e dividir tristezas.

A esta Universidade, seu corpo docente, direção e administração que

oportunizaram a realização de um sonho.

A querida professora Aline Guidalli Pilati, que pacientemente transmitiu

conhecimento de forma brilhante e me fez admiradora de seu trabalho.

Ao professor Jefferson Grey Sant’Anna, pela orientação, apoio na elaboração

do trabalho bem como revisão da redação.

A todos que direta e indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu

muito obrigado.

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Que nada nos defina.

Que nada nos sujeite.

Que a liberdade seja

nossa própria substância.

(Simone de Beauvior)

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RESUMO

O presente trabalho consiste na análise do trabalho escravo contemporâneo no meio urbano, com enfoque no setor têxtil brasileiro, em contraposição ao modelo de escravidão praticado na antiguidade. Discorre-se sobre a conceituação do instituto, aplicação de normas e princípios, fazendo uma abordagem sobre o trabalho degradante e as jornadas exaustivas, considerando que a submissão do trabalhador a esta prática abusiva pode desencadear danos emocionais e doenças ocupacionais. Neste contexto, destaca-se, a tutela da dignidade da pessoa humana, princípio basilar do ordenamento jurídico, expresso no art. 1º, inc. III da Constituição Federal, que frente as relações trabalhistas, torna-se um instrumento contra a violação dos direitos fundamentais. Descreve-se ainda, como ocorre a escravização dos trabalhadores nas oficinas de costura contratadas por grandes empresas do mundo da moda. Estes trabalhadores, vinculados por dívidas, se submetem a jornadas exaustivas, condições inadequadas de trabalho, bem como privação da liberdade e violência física. Por fim, analisa-se as formas de combate ao trabalho escravo, verificando a atuação do Ministério Público do Trabalho e demais órgãos, bem como o acompanhamento das operações de fiscalização para erradicação do trabalho escravo. Palavras chave: Trabalho escravo contemporâneo, dignidade da pessoa humana, jornadas exaustivas, trabalho degradante, fiscalização.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Operações de Fiscalização para erradicação do trabalho escravo -

SIT/SRTE 1995 a 2010...............................................................................................33

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LISTA DE ABREVIATURAS

ART

CF

CLT

CONAETE

CTPS

DRT

FGTS

ICMS

INC

TEM

OIT

PNETE

SIT

SRTEs

TST

Artigo

Constituição Federal

Consolidação das Leis do Trabalho

Coordenação Nacional de Erradicação ao Trabalho Escravo

Carteira de Trabalho e Previdência Social

Delegacia Regional do Trabalho

Fundo de Garantia e Previdência Social

Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços

Inciso

Ministério do Trabalho e Emprego

Organização Internacional do Trabalho

Plano Nacional de Erradicação ao Trabalho Escravo

Secretaria de Inspeção do Trabalho

Superintendências Regionais do Trabalho

Tribunal Superior do Trabalho

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 9

2 ASPECTOS HISTÓRICOS RELEVANTES SOBRE A ESCRAVIDÃO ............................. 10

3 TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO ................................................................. 14

3.1 CONCEITUAÇÃO DO INSTITUTO, NORMAS E PRINCÍPIOS APLICÁVEIS ............... 14

3.1.1 Trabalho degradante ........................................................................................................ 16

3.1.2 Trabalho exaustivo ........................................................................................................... 18

3.1.3 Síndrome de Burnout aliada ao trabalho exaustivo .................................................... 20

3.2 TRABALHO ESCRAVO NO MEIO URBANO: DESCRIÇÃO DA REALIDADE DO TRABALHO ANÁLOGO A CONDIÇÃO DE ESCRAVO NO SETOR TÊXTIL ...................... 21

4 FORMAS DE COMBATE A ERRADICAÇÃO AO TRABALHO ESCRAVO ..................... 26

4.1 LEI Nº 14.946 de 2013 ............................................................................................................ 26

4.2 LISTA SUJA .............................................................................................................................. 27

4.3 PLANO NACIONAL PARA ERRADICAÇÃO AO TRABALHO ESCRAVO. .................... 28

4.4 FISCALIZAÇÃO ....................................................................................................................... 30

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 34

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 36

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1 INTRODUÇÃO

O trabalho em condições análogas a de escravo é uma triste realidade que se

faz presente na sociedade atual. A escravidão vivida por centenas de trabalhadores

ofende não só os direitos trabalhistas como também a dignidade da pessoa humana

e o valor do trabalho. Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo demonstrar,

através dos estudos realizados sobre os conceitos constitucionais e trabalhistas, o

motivo pela qual o trabalho escravo ainda se faz presente em nossa sociedade.

A dignidade da pessoa humana é elemento que integra a essência do ser

humano e portanto é natural o zelo para com ela. Cabe ao estado oferecer

mecanismos através do poder judiciário, de proteção ao trabalhador e fiscalização

efetiva, de modo a não permitir que o empregador submeta o seu empregado a

condições análogas a de escravo.

De acordo com informações divulgadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego,

no ano de 2014, cerca de 1.590 trabalhadores foram resgatados da situação análoga

a de escravo no Brasil. Embora haja a materialização de políticas para enfrentamento

do trabalho análogo ao de escravo e parcerias no trato da questão, a realidade existe

e o problema ainda não foi erradicado.

O trabalho escravo será analisado desde a antiguidade, estabelecendo um

paralelo com as práticas atuais que expõe os trabalhadores do setor têxtil, a condições

degradantes e exaustivas de trabalho. Estes trabalhadores acabam por vivenciar, nas

oficinas de costura, situações de terror psicológico que desencadeiam danos

emocionais e doenças ocupacionais.

Na sequência, o estudo abordará o conceito do instituto da escravidão

contemporânea, bem como demonstrará as normas e princípios aplicáveis e as

formas de combate ao trabalho análogo ao de escravo.

Por fim, observa-se que o trabalho escravo é fruto de uma sociedade

capitalista, uma vez que a força de trabalho torna-se mercadoria, possibilitando o

enriquecimento de alguns empregadores. O intuito do trabalho é mostrar que o

trabalho escravo ainda existe, acontece e está perto nós.

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2 ASPECTOS HISTÓRICOS RELEVANTES SOBRE A ESCRAVIDÃO

O presente trabalho não pretende remontar a história da escravidão, mas sim,

destacar aspectos relevantes desta prática na antiguidade, relacionando com as

práticas atuais que expõe trabalhadores a condições análogas a de escravo.

É fundamental entender como se caracteriza a escravidão, adentrar o aspecto

histórico e compreender os motivos que levaram uma sociedade a adotar este tipo de

prática.

No capitalismo o trabalhador fornece a sua força de trabalho em troca do

pagamento das atividades desempenhadas por ele, mantendo a liberdade que possui,

ocorre que na escravidão, existe uma inversão de valores, o ser humano passa a ser

propriedade do outro, limitando o poder de realizar as suas vontades. Neste contexto,

Jaime Pinski afirma:

A escravidão se caracteriza pela sujeição de um homem pelo outro, de forma tão completa, que não apenas o escravo é propriedade do senhor, como sua vontade está sujeita à autoridade do dono e seu trabalho pode ser obtido pela força.(PINSKI, 1985, p. 13)

A escravidão, de acordo com Queiroz (1993), é uma instituição tão antiga

quanto o gênero humano e de amplitude universal. Ocorreu em várias sociedades em

todos os tempos.

Esta prática remonta os tempos mais antigos até os atuais e legitima o

direito dos mais fortes. Ao realizar a leitura de textos bíblicos é possível identificar que

a escravidão já era presente na antiguidade. As pirâmides do Egito foram construídas

através da mão de obra escrava a fim de reafirmar o poder dos faraós.

Observando o contexto das civilizações antigas, Barros (1993) assevera

que, em Roma todo o trabalho manual era considerado desprezível, recaindo sobre

ele o estigma de penalidade, destarte, esta atividade subalterna era destinada aos

escravos. O escravo era um deserdado, tratado como mercadoria, comprado e

vendido, desprovido de direitos, desenvolvia um trabalho produtivo. Ao dono cabia

garantir a subsistência do escravo para que o mesmo produzisse resultados.

A escravidão na América foi imposta pela Europa, em virtude de um sistema

capitalista e articulador, que se deu através das relações sociais constituídas no Brasil

em decorrência da colonização. A escravidão tornou-se um negócio rendoso, um meio

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fácil de acúmulo de riquezas e fortalecimento do poder. No Brasil ela surgiu com a

descoberta do país pelos portugueses.

Com o intuito de fortalecer e monopolizar o comércio, surgiu o pacto colonial,

destarte, as colônias comercializavam exclusivamente com as metrópoles, detendo o

controle dos preços. Desta forma, Queiroz (1993) ressalta que para produzir toda a

mercadoria necessária a fim de atender as metrópoles, era necessária mão-de-obra

em larga escala. Para que o lucro fosse auferido o negócio deveria ser realizado nas

melhores condições, sendo assim o trabalho deveria ser desempenhado sem

interrupção e assalariamento, para isso, utilizaram como recurso a escravização.

Ressalta ainda Queiroz (1993) que, durante todo o período da escravidão, os

negros foram o suporte da economia. Como o Brasil não dispunha de metais

preciosos, explorar a terra foi a forma mais rendável de viabilizar a colonização.

Investiu-se então na economia canavieira, grandes plantações exigiam braços em

larga escala. No nordeste a cultura do açúcar se tornou dominante. No século XVIII

surgiu o surto minerador, foi criado um mercado interno voltado para a extração do

ouro, muitos escravos passaram a trabalhar em minas, mas o ouro se esgotou e as

atenções ficaram concentradas novamente na agricultura.

Ainda de acordo com a autora supracitada, dedicaram-se então a lavoura

algodoeira na região do Maranhão e a cultura do Café nos estados de São Paulo,

Minas Gerais e Rio de Janeiro, o que aumentou a concentração de escravos,

importados da África ou de outras províncias. Quanto mais se desenvolviam as

propriedades mais se desenvolvia o sistema escravista. A jornada de trabalho levava

os escravos a exaustão.

Não só o negro participou da história escravocrata brasileira, o indígena

também foi vítima da escravização no país, conforme relato de Jaime Pinski:

“A história do Brasil, já em seu primeiro século, registra a utilização de trabalho obrigatório do índio. Interessados logo nos chamados produtos tropicais – notadamente pau-brasil – os membros das primeiras expedições tratavam de conseguir em troca de algumas quinquilharias, a força de trabalho indígena”. (PINSKI, 1985, p.17)

No entanto a exploração dos indígenas não perdurou, em virtude de uma série

de fatores, dentre eles: baixa densidade populacional indígena, as tribos se tornavam

ariscas quando percebiam o interesse dos brancos em escravizá-las, a população

indígena acabou sendo dizimada em decorrência da exploração, além da proteção

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garantida pelos jesuítas. Um dos principais motivos que levaram a coroa portuguesa

a optar pela escravização do negro ao invés da do índio, foi a rentabilidade do tráfico

negreiro.

O elemento da existência do negro era o trabalho, como ressalta Pinski (1985)

trabalhavam horas a fio, de quinze a dezoito horas diárias. A violência permeava a

relação, eram humilhados, agredidos e reduzidos a peça no mecanismo da lavoura.

O escravo era tratado como mera coisa. A respeito do tratamento dado ao

escravo, o reduzindo a condição de objeto, a autora Suely Robles Reis de Queiroz

cita um anúncio publicado no Diário de São Paulo de 27 de fevereiro de 1870. “Vende-

se um escravo [ ... ] bonita peça sem defeitos, próprio para todo e qualquer trabalho

ou ofício”(QUEIROZ, 1993, p.35).

Ao ler o anúncio, depara-se com a ideia da venda de um instrumento capaz de

exercer um trabalho, e não de um ser humano, que deveria ser tratado de forma digna,

tendo assegurado o devido respeito a sua condição de trabalhador.

Ressalta a autora, que o escravo era tratado como coisa, mercadoria, peça, de

modo que podia ser vendido, alugado, emprestado. Tendo o seu dono, todas a

prerrogativas decorrentes do direito de propriedade. Desta forma, o sistema de

coerção e repressão eram técnicas utilizadas como forma de dominação. Cabia ao

escravo ser rotulado como objeto, se submetendo a trabalhar além das suas forças.

Mas uma hora, esta prática de desrespeito e violação da dignidade do

trabalhador tinha que acabar. Em decorrência da pressão abolicionista, foram

aprovadas algumas leis que culminariam posteriormente na emancipação dos

escravos. A primeira lei editada foi a lei do “Ventre Livre” conforme aponta Marin

(1999) esta lei determinava que filhos de escravas nascidos a partir de 28 de setembro

de 1871 seriam considerados livres, entretanto as crianças ficavam sob a

responsabilidade do senhor de escravo até os 8 anos. O senhor de escravo tinha a

prerrogativa de entregar a criança ao estado mediante indenização, ou manter até os

21 anos. Os filhos dos escravos que nasciam livres ficavam sujeitos a um cativeiro.

Segundo a autora, em 1885 foi promulgada a Lei dos Sexagenários, que previa

a libertação de escravos que possuíssem mais de 60 anos, entretanto, após completar

60 anos o escravo deveria prestar serviços ao senhor de escravos por mais 3 anos,

seriam somente dispensados se realizassem o pagamento de 100 mil réis ou então

completassem 65 anos. As leis abriram portas para a abolição, os grupos

abolicionistas passaram a se fortalecer e as fugas se tornaram constantes.

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Diante da política legislativa, Barreto (2004) pontua por fim, que o término da

escravidão legalizada ocorreu em 13 de maio de 1888, quando então, foi decretada

pela princesa Isabel a Lei Áurea, que tinha por finalidade libertar os escravos que

trabalhavam sob o domínio dos senhores de engenho e da elite cafeeira.

Neste sentido, Proner (2010) evidencia que embora a lei áurea tenha abolido a

escravidão há mais de 100 anos, o trabalho escravo ainda persiste nos dias atuais

bem como nos moldes históricos.

Atualmente nos deparamos com registros de trabalho escravo no Brasil.

Trabalhadores abandonam suas cidades de origem em busca de melhores condições

de vida e acabam por se submeter a práticas análogas a escravidão.

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3 TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO

3.1 CONCEITUAÇÃO DO INSTITUTO, NORMAS E PRINCÍPIOS APLICÁVEIS

O trabalho escravo não é fato do passado, ele continua presente mediando as

relações sociais. Várias são as designações adotadas para fazer menção ao trabalho

escravo, bem como: trabalho forçado, trabalho em condições análogas a de escravo,

trabalho degradante, dentre outras.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT), por sua vez, tratou de

conceituar o “trabalho forçado” no art. 2º da convenção nº 29, adotada em 1930 e

ratificada pelo Brasil em 1957. De acordo com a designação “trabalho forçado ou

obrigatório compreenderá todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a

ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido espontaneamente”. (OIT,

1930, p.1).

Ao analisar o conceito é possível identificar que este tipo de trabalho

compulsório pressupõe a ausência de vontade do trabalhador sob o risco da ameaça

de uma punição. Desta forma, o trabalhador se sente proibido de exercer o direito de

colocar fim a relação quando bem entender, em virtude de uma série de motivos que

o levam a permanecer naquela situação. Embora o conceito seja amplo, cabe a cada

país identificar as particularidades e criar leis específicas que regulamentem o

trabalho lícito.

Várias são as expressões que definem o trabalho escravo no Brasil, Sento-Sé

(2001) destaca que o ex-deputado cearense Eudoro Santana afirma que, expressões

como semi-escravidão e escravidão branca, são utilizadas como sinônimo de super

exploração do trabalho, desta forma, pontua que os termos mencionados são

utilizados mediante a inobservância à legislação trabalhista e ainda explica que, esta

prática na atualidade atinge tanto os homens negros como os brancos.

Neste sentido, o autor utiliza a expressão, “super exploração do trabalho” para

evidenciar situações em que trabalhador se submete a longas jornadas de trabalho,

ausência de registro na CTPS, não recebe horas extras, férias, 13º salário dentre

outras verbas trabalhistas. Destarte o empregador desrespeita as normas trabalhistas

previstas no ordenamento jurídico.

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O autor explica que “o conceito de trabalho escravo engloba as distintas figuras

do trabalho forçado, indecente, degradante e que em rigor, escravo é um qualitativo

dado ao trabalho, e não ao trabalhador”. (MARTINEZ, 2015, p.104)

A dignidade da pessoa humana é um valor inerente ao ser humano, por

conseguinte, qualquer trabalhador tem a possibilidade de invocar o seu direito,

entretanto isso não ocorreria na condição de escravo.

Embora a prática de submissão do trabalhador a condições análogas a de

escravo, configure uma violação aos direitos e garantias fundamentais da pessoa

humana, apresentando reflexos constitucionais, segundo Proner (2010), atinge

também a esfera trabalhista, que sofre violação de direitos como: salário, férias,

FGTS, carga horária de trabalho e condições dignas. Destarte, não podemos

esquecer que esta prática reflete também na esfera penal, considerando que este

instituto configura um crime contra a administração do trabalho, conforme disposto no

art. 149 do Código Penal:

“Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto” Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. (BRASIL, Código Penal)

Desta forma, a redução de um trabalhador a condição análoga a de escravo, é

presente tanto na persecução criminal como na repressão nos âmbitos trabalhista e

administrativo, sendo o crime tipificado no código penal e as violações na

Consolidação das Leis de Trabalho.

A trabalho em condições análogas a de escravo existe nos dias atuais e advém

da fragilidade dos trabalhadores, que em busca da satisfação de necessidades

essenciais extrapolam o limite da sua própria dignidade, se submetendo ao trabalho

forçado, indecente e degradante.

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3.1.1 Trabalho degradante

De acordo com a neoescravidão, o trabalho degradante e o trabalho exaustivo

são classificados como modalidades de trabalho análogo ao de escravo. Ao explorar

o trabalhador de modo a submetê-lo a desempenhar atividades além das suas forças,

ocorre a violação dos direitos fundamentais expressos na Constituição Federal.

Segundo o autor “dentro de uma ordem constitucional normativa, a primeira

constatação de jornada degradante seria aquela que ultrapassasse os limites do

princípio da dignidade humana. (PRONER, 2010, p.65).

Para melhor compreender o fenômeno da neoescravidão e os fatores que

levam uma sociedade a ter interesses mesquinhos é essencial conceituar objetos das

ciências sociais. Ao tratar do conceito de trabalho degradante, o autor assim o

caracteriza:

“Assim entendido aquele que, diante da ausência de garantias mínimas de saúde e segurança no ambiente de trabalho, produz desgaste físico (motivado pelo contato permanente e sem a devida proteção individual com agentes físicos, químicos ou biológicos hostis a saúde ou a incolumidade física) ou degeneração moral (fundada na realização de atividades penosas ou aviltantes)”. (MARTINEZ, 2015, p.105)

Algumas relações de trabalho, mesmo regidas por um contrato válido, acabam

por submeter o trabalhador a uma jornada exaustiva e trabalhado degradante. O

mundo capitalista, impõe a submissão do trabalhador a tais condições. Entretanto

diante de tal fato, o estado, através do complexo de direitos e deveres, assegura o

trabalhador, contra ações degradantes e desumanas.

Neste contexto, Proner (2010) ressalta que a tutela da dignidade alcança

aqueles que de algum modo foram afetados, resguardando a proteção do patrimônio

moral, ou seja, dever de não humilhar o empregado, assim como garantir a integridade

física, respeitando a jornada de trabalho, proporcionando condições favoráveis de

trabalho, higiene, segurança e saúde.

O princípio da dignidade da pessoa humana é princípio basilar do ordenamento

jurídico, expresso no art. 1º, inc. III da Constituição Federal, frente as relações

trabalhistas torna-se um instrumento contra a violação dos direitos fundamentais. O

autor supramencionado, afirma ainda que, a carta magna instituiu os direitos e

garantias fundamentais, assegurando ao trabalhador atributos inerentes a pessoa

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humana, como: trabalho digno, vida, liberdade, igualdade, privacidade, saúde,

educação. Neste contexto dispõe-se que a dignidade da pessoa humana é:

“Qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existentes mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover a sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos”. (SARLET, 2001, p. 32, citado por LEITE, 2015, P.75).

Destarte, sob a ótica do autor, segundo o princípio da dignidade da pessoa

humana, cabe ao empregador garantir condições dignas no ambiente laboral,

promovendo qualidade de vida.

É indispensável a aplicação do princípio do valor social do trabalho, uma vez

que é fundamento do Estado Democrático de Direito, expresso no art.1º, Constituição

Federal, também consagrado como direito social fundamental pelo art. 6º CF. A vista

disso, todo o trabalho deve ter um valor social, bem como propiciar a dignificação da

pessoa através da garantia de um trabalho decente.

Nesse sentido o autor ressalta que toda a forma de trabalho, seja ela em regime

de escravidão, trabalho degradante ou jornada exaustiva configuram a violação deste

princípio. (LEITE, 2015)

O trabalho digno vai além da reparação pecuniária garantida pelo judiciário,

uma vez que, está relacionado a desonra, vergonha, condições de saúde física e

psíquica do trabalhador. Levar o empregado até o limite do esgotamento profissional,

bem como submetê-lo a humilhações, não reconhecer o seu trabalho agindo com

desprezo diante dos esforços, exigindo a prestação de serviço em um ambiente hostil

e inadequado, podem agredir a saúde física e psíquica do trabalhador. Segundo

Proner (2010) situações de terror psicológico podem acarretar o desenvolvimento de

doenças ocupacionais. Dentre danos emocionais e doenças psicossomáticas

podemos citar a Síndrome de Burnout que tem afetado muitos trabalhadores.

A Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) determina o limite aceitável da

exposição do trabalhador a situações degradantes de trabalho. Os artigos 189 e 193

da CLT, deixam claro que, o trabalho exercido em ambiente insalubre ou em

condições perigosas possui nível aceitável definido pelo Ministério do Trabalho. Desta

forma, o art. 190 da CLT evidencia um quadro de atividades e operações insalubres

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de modo a estabelecer normas e critérios para caracterização da insalubridade, bem

como os limites de tolerância aos agentes ofensivos a saúde, indicando o tempo da

exposição e os meios de proteção. Ao trabalhador exposto a estes riscos, é garantido

de acordo com o art. 192 e 193 da CLT o pagamento de um adicional.

O trabalhador é protegido contra qualquer forma de trabalho abusiva e que seja

contrária aos costumes. A respeito deste assunto, vê-se como oportuno destacar o

art. 483 da CLT:

Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando: a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato; b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; c) correr perigo manifesto de mal considerável; d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato; e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama; f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários. § 1º - O empregado poderá suspender a prestação dos serviços ou rescindir o contrato, quando tiver de desempenhar obrigações legais, incompatíveis com a continuação do serviço. (BRASIL, Consolidação das Leis de Trabalho).

O descumprimento das alíneas relacionadas no art. 483, CLT configura um

desrespeito para com o empregado, portanto cabe ao ordenamento jurídico proteger

o trabalhador levando em consideração que a proteção a dignidade abarca não só a

esfera moral do trabalhador, bem como intimidade, condições de saúde e segurança.

3.1.2 Trabalho exaustivo

A jornada exaustiva de trabalho e o trabalho degradante são permitidos pelo

direito do trabalho, contudo deve se levar em conta, o respeito em relação aos limites

impostos pela Constituição Federal e pelas normas infraconstitucionais, considerando

que a prestação pecuniária é devida, ou seja, pagamento do adicional equivalente.

Submeter o trabalhador a uma jornada exaustiva de trabalho o priva de

momentos de lazer e educação, convívio social e com a família, e ainda pode trazer

prejuízos psíquicos e físicos, pois torna-se propenso a adquirir uma doença

ocupacional. (PRONER, 2010).

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De acordo com a forma supra referida, considera-se que jornada exaustiva é

aquela que ultrapassa os limites do princípio da dignidade da pessoa humana. Tal

jornada não corresponde somente ao número excessivo de horas, mas também ao

ritmo inadequado, analisando o caráter qualitativo da jornada e a intensidade das

atividades desempenhadas.

A este respeito, a Declaração Universal de Direitos do Homem pontua a

importância do descanso, e dos momentos dedicados ao lazer, conforme previsto no

artigo 24 “Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive à limitação

razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas”. (BRASIL,

Declaração Universal dos Direitos do Homem, 1948).

O Direito do trabalho admite uma jornada de trabalho correspondente a

limitação de 8 horas diárias e 44 horas semanais. A Constituição Federal no art. 7º,

inc. XVI, confere ao trabalhador a remuneração pelo serviço extraordinário, com direito

ao mínimo de 50% da hora normal. O trabalhador poderá trabalhar no máximo 10

horas diárias, de modo a cumprir o estabelecido no art. 59 da CLT, que permite a

realização de apenas duas horas extraordinárias. Estas normas buscam garantir a

preservação da saúde física e psíquica do trabalhador.

A respeito do descanso e de uma jornada equilibrada destaca-se:

“A garantia do lazer e do descanso do trabalhador possibilita a realização de inúmeras necessidades, tais como: a necessidade de libertação que se opõe à angústia, e ao peso que acompanham as atividades não escolhidas livremente, a necessidade de compensação, já que a vida é cheia de tensões, ruídos e agitação, permitindo assim a fruição da calma, a necessidade de afirmação, vez que a maioria dos homens vive em estado endêmico de inferioridade, carecendo de tempo livre para crescer em outras dimensões do trabalho, necessidade de recreação como meio de restauração, a necessidade de dedicação social, vez que o homem não é só trabalhador, mas também membro de uma família, habitante de uma cidade, integrante de um clube recreativo, religioso, cultural, e por fim, uma equilibrada jornada de trabalho possibilita o desenvolvimento pessoal e integral equilibrado do trabalhador. ”. (NASCIMENTO, 2010, p. 165-166 citado por PRONER, 2010, P.80).

Mesmo a jornada de trabalho estando prevista, ocorre a violação dos limites da

duração do trabalho, com horas extras abusivas, ainda que pagas pelo empregador.

Há que se considerar, que dependendo do trabalho desenvolvido o empregado pode

chegar ao limite da exaustão física e psicológica acarretando transtornos de saúde,

alguns reconhecidos como doença ocupacional pelo Ministério do Trabalho. Ressalta

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o autor supracitado que situações de terror psicológico desencadeiam danos

emocionais, doenças psicossomáticas, desânimo, depressão como veremos adiante.

3.1.3 Síndrome de Burnout aliada ao trabalho exaustivo

A síndrome de Burnout, é um assunto que tem sido discutido não só entre

médicos e psicólogos, mas também entre profissionais de recursos humanos, juízes

e advogados.

Também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, é um

distúrbio psíquico descrito pelo psiquiatra Freudenberg em 1974. O termo Burnout se

origina da língua inglesa, da união dos termos burn e out, conforme esclarece VOLPI

(2003) corresponde a algo como perder o fogo, perder a energia ou queimar para fora

completamente. Ao investigar profissionais, Freudenberg observou que alguns se

sentiam exaustos, sem vontade de ir ao trabalho e incapazes de modificar o estado

de uma determinada situação. Ao conjunto de sintomas pesquisados e analisados

atribuiu-se o nome de Burnout.

De acordo com o Dr. Drauzio Varella a principal característica da síndrome de

Burnout é “o estado de tensão emocional e estresse crônico provocado por

condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes”. (VARELLA

2011). Neste sentido, ressalta ainda o doutor que os sintomas típicos são:

esgotamento físico e emocional que reflete em atitudes como agressividade,

irritabilidade, depressão, baixa autoestima, pessimismo, pressão alta, problemas

gastrointestinais, dentre outros.

Cidadãos, trabalhadores, alguns imigrantes, considerados mão de obra barata,

se submetem a trabalhos quase escravos, diante de serviços impostos pelo

empregador, o trabalhador se expõe a uma jornada exaustiva de trabalho e se torna

submisso, desempenhando atividades em um ambiente de trabalho causador de

doenças. A saúde do trabalhador tem como pilar o reconhecimento do exercício dos

direitos fundamentais. Atualmente ocupa um lugar de destaque, visto que as

condições do trabalho, organização e carga de trabalho acabam sendo agentes

causadores de doenças físicas e mentais. Segundo Selligman-Silva (1995, citado por

CARNEIRO, 2010, p.25) ainda que dentre as principais manifestações clínicas sob a

ótica da abordagem do desgaste, destaca-se dentre outras, a síndrome de

esgotamento profissional, estafa ou Burnout.

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Em conformidade com o aludido no art. 20, da lei 8.213/91, integrando também

o conceito de acidente de trabalho, as doenças ocupacionais são divididas em

doenças profissionais e do trabalho.

Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. (BRASIL, Lei 8.213, 1991, art. 20)

Se o trabalhador exposto a um ambiente de trabalho inadequado, de

labor diário em condições nocivas à saúde, sobrecarga de trabalho e pressão

psicológica apresentar quadro de estresse, crescimento de fadiga, depressão dentre

outros sintomas, se demonstrado por perícia médica, juízo e INSS o nexo causal

existente entre os sintomas da doença e a exposição do trabalhador a agentes

prejudiciais a sua saúde a patologia pode ser reconhecida como de natureza

ocupacional.

3.2 TRABALHO ESCRAVO NO MEIO URBANO: DESCRIÇÃO DA REALIDADE DO

TRABALHO ANÁLOGO A CONDIÇÃO DE ESCRAVO NO SETOR TÊXTIL

Atualmente nos deparamos com registros de trabalho escravo no Brasil.

Trabalhadores abandonam suas cidades de origem em busca de melhores condições

de vida e acabam por se submeter a práticas análogas à escravidão.

Segundo o Ministério do Trabalho considerar-se-á:

“Trabalho escravo ou forçado toda a modalidade de exploração do trabalhador em que seja impedido, moral, psicológica e ou fisicamente, de abandonar o serviço, no momento e pelas razões que entender apropriadas, a despeito de haver inicialmente ajustado livremente a prestação de serviços.(MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, citado por BARRETO, 2004, p.63)

De acordo com o autor supracitado, exploração psicológica, é aquela em que o

trabalhador é ameaçado com violência para que permaneça no trabalho, já a

exploração física consiste na submissão a castigos físicos e por fim, a exploração

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moral dentre outras circunstâncias, atinge o empregado que se submete a elevadas

dívidas o que impossibilita o desligamento do trabalhador, sendo a exploração moral

a mais comum no setor têxtil brasileiro.

O setor têxtil expõe muitas pessoas à condições análogas a de escravo,

consequentemente recebe também muitas denúncias. Os trabalhadores se submetem

a jornadas exaustivas de trabalho, condições de trabalho degradantes, vinculação por

dívidas, privação de liberdade e violência física. Atualmente grandes marcas do

mundo da moda e varejistas foram denunciadas por submeter trabalhadores a tais

práticas.

A respeito deste assunto Aires (2012) aponta que marcas como: Zara, Collins,

Marisa, Pernambucanas, C&A, Gregory e outras possuíam um passado em comum,

pois encontravam-se sob o alvo do Ministério do Trabalho, em decorrência da suposta

utilização do trabalho escravo na confecção de peças que abasteciam suas lojas.

Muitos dos trabalhadores que são encontrados em situação irregular de trabalho,

trabalham nas oficinas de costura contratadas por estas marcas conhecidas.

Considerando esta situação, Fabre (2012, citado por AIRES) procurador do

trabalho, destaca que o governo sai prejudicado, haja visto que, diante da ausência

de registro na carteira de trabalho ocorre a evasão dos tributos e consequentemente

uma concorrência desleal entre as empresas que cumprem com a legislação

trabalhista e pagam os tributos e aquelas que não pagam.

A jornalista supracitada relata ainda o flagrante da empresa Marisa, que

recebeu 48 autos de infração, por submeter 16 bolivianos a situação análoga a de

escravo, na cidade de São Paulo. Nas dependências do local onde os trabalhadores

desempenhavam as atividades, foram encontrados documentos, taxas de fronteira

que confirmavam possível tráfico de pessoas. Os funcionários percebiam a

remuneração de R$ 247,00 e se submetiam a uma jornada de trabalho superior a

prevista na legislação trabalhista, iniciando as atividades às 7h da manhã seguindo

até às 21h, desempenhavam ainda as atividades nos finais de semana. Diante do

ocorrido a empresa varejista assinou um termo de ajustamento de conduta, teve que

se adequar as exigências feitas, a produção passou a ser rastreada por nota fiscal.

Ressalta ainda Aires (2010) que outra marca famosa pertencente a indústria

da moda que se viu em meio a um escândalo, foi a marca Zara. A fiscalização

trabalhista encontrou pessoas trabalhando, em oficinas subcontratadas pela Zara, em

condições contrárias as determinadas pela legislação trabalhista. Além dos

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trabalhadores estarem expostos a condições precárias e a ambiente inadequado, sem

ventilação e fiação exposta, as oficinas utilizavam ainda mão de obra infantil,

estabeleciam uma jornada de trabalho de 16 horas, pagavam salário irrisórios, e não

permitiam que o trabalhador deixasse o local sem autorização. Uma série de

descumprimentos a legislação do país acarretou para a marca Zara 48 autos de

infração. Desta forma, o Ministério Público do Trabalho solicitou indenização por

danos morais no valor de 20 milhões de reais. A cada descumprimento a marca Zara

será punida no valor de R$ 50.000,00

Segundo reportagem realizada pela jornalista supramencionada é possível

afirmar ainda que, ações de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego

realizadas no estado de São Paulo identificaram também, que trabalhadores das

oficinas de costura contratadas pelas Lojas Pernambucanas estavam sendo

submetidos a jornadas degradantes.

De acordo com relato da jornalista, estes colaboradores laboravam mais de 60

horas semanais, a remuneração oferecida não era digna a ponto de atender as

necessidades básicas do trabalhador, alimentação fornecida era inadequada, os

empregados trabalhavam e residiam no mesmo local de trabalho, expostos a

condições mínimas de higiene e segurança, contraíram dívidas a fim de custear o

transporte, conforme relato, dentre os funcionários incluíam menores de idade e

imigrantes. Diante do exposto a loja Pernambucanas foi condenada a pagar 2,5

milhões por danos morais coletivos em virtude da utilização da mão de obra análoga

à de escravo na confecção de roupas conforme julgado:

Dados Gerais Processo: 0000108-81.2012.5.02.0081

Juiz(a): Marcelo Donizeti Barbosa

Órgão Julgador: 2º Região - 81ª Vara de Trabalho de São Paulo

Parte(s): Ministério Público do Trabalho Arthur Lundgren Tecidos S/A

Ementa: Ministério Público do Trabalho, propõe ação civil pública em face de Arthur Lundgren Tecidos S/A. Pretende reconhecimento da responsabilidade objetiva ou solidária pela sujeição de trabalhadores ao trabalho em condições análogas à escravidão; concessão de tutela inibitória; condenação em dano moral coletivo.

Decisão declarando-se extinto o processo sem resolução do mérito no que se refere à reconvenção, no mérito, julga-se PROCEDENTE EM PARTE o pedido apresentado pelo Ministério Público do Trabalho – Procuradoria Regional do

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Trabalho em São Paulo na ação civil pública que propõe em face de Arthur Lundgren Tecidos S/A, para: I) determinar que a ré, nos contratos estabelecidos com os fornecedores para a produção das roupas das marcas que lhe pertencem: a) não permita a utilização de mão de obra de trabalhadores estrangeiros não autorizados a permanecer e/ou trabalhar no Brasil; b) não admita a submissão de trabalhadores brasileiros ou estrangeiros a condições análogas à de escravo e degradantes; c) garanta que todos os trabalhadores tenham seus contratos de trabalho devidamente registrados em CTPS, em conformidade com a Lei nacional vigente; d) não admita o trabalho de menores de 16 anos, bem como proiba a permanência de crianças e adolescentes menores de 16 anos nos ambientes de trabalho em que se produzam bens de sua propriedade; e) garanta o pagamento de remuneração digna aos trabalhadores, com respeito ao salário mínimo legal ou piso da categoria profissional, nos prazos e condições legais, impedindo a existência de descontos que são sejam permitidos pela lei ou por norma coletiva; f) assegure os depósitos do FGTS em conformidade com a previsão da Lei; g) garanta um meio de ambiente de trabalho adequado, atento às condições de saúde, higiene, segurança e conforto previstas nas normas de proteção ao trabalho, inclusive em relação aos alojamentos ou moradias concedidas para a residência dos trabalhadores, com especial atenção ao disposto no artigo 458, §4º da CLT; h) assegure a observância das jornadas de trabalho nos limites da Lei; i) observe as normas coletivas vigentes à categoria profissional; j) não admita a discriminação a trabalhador em razão de sua origem ou etnia; I) estabelecer que o descumprimento de quaisquer das obrigações acima fixadas representará a aplicação de multa de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) por obrigação descumprida e de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por trabalhador lesado, a ser revertida em favor do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT); II) condenar a ré a pagar indenização por danos morais coletivos, ora fixada em R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais), em valores a serem atualizados e com juros contados em conformidade com a Súmula 439 do Colendo TST, e a ser revertida em benefício de entidade e/ou projeto que atue no combate ao tráfico de pessoas e trabalho escravo, segundo destinação social indicada pela Procuradoria Regional do Ministério Público do Trabalho em São Paulo. Custas da ação civil pública, pela ré, sobre o valor arbitrado à condenação de R$ 2.500.000,00, no importe de R$ 50.000,00. (BRASIL, TST, 2015)

Embora as lojas Pernambucanas tenham argumentado no sentido de não ser

responsabilizada pelos atos cometidos pelos seus fornecedores, o Juiz Marcelo José

Donizeti entendeu que a empresa não pode se eximir da responsabilidade pelo

simples de fato de adquirir produtos de outras empresas para comercialização.

Segundo reportagem exibida pelo canal Hispan TV, CURVELO (2013), relatou

a exploração de imigrantes bolivianos. Muitos imigrantes saem do seu país de origem

com emprego garantido no Brasil. São jovens de pouca escolaridade contratados por

oficinas de costura que funcionam de forma irregular. O objetivo da maioria destes

imigrantes é juntar dinheiro durante uma temporada para comprar uma casa ou

financiar os estudos. Trabalham por mais de 12 horas, 6 dias por semana, muitos

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vivem na própria oficina onde trabalham, razão pela qual os patrões descontam o valor

do gás, moradia, luz e comida. Trabalham os três primeiros meses para pagar

passagem e outras despesas e os outros três meses para pagar o curso de costureiro.

Para confecção de uma saia um costureiro recebe $ 0,10, para confecção de uma

blusa $ 0,15 e uma jaqueta $ 0,25, podem chegar a perceber a remuneração de $

125,00 ao final do mês, deduzindo as despesas permanecem com um líquido de

$50,00, quando recebem salário integral, porque alguns não recebem.

Diante deste cenário, o Brasil deve encontrar um caminho, medidas que

possam erradicar esta prática. O Ministério Público do Trabalho deve fiscalizar de

forma mais intensa, embora saibamos que exija empenho, recursos financeiros que

acabam por onerar o serviço público, a população também deve participar a fim de

denunciar a prática, além disso a legislação deve ser eficaz no combate, as multas

devem ser elevadas e as práticas de erradicação devem promover o desestímulo ao

trabalho escravo.

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4 FORMAS DE COMBATE A ERRADICAÇÃO AO TRABALHO ESCRAVO

Atualmente o trabalho escravo encontra-se em evidência, reportagens

transmitidas na TV, bem como matérias publicadas em jornais e revistas nos

aproximam desta realidade. O fenômeno do trabalho escravo é parte integrante de um

novo modelo e cobra respostas pragmáticas, rápidas e globais para a realidade

subjacente. Dentro deste contexto, se desenvolvem políticas de repressão,

fiscalização do Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Polícia

Federal, condenações em ações judiciais, desta forma, são estabelecidas medidas

que possibilitem ou diminuam o exercício desta prática.

Observa-se que leis e políticas de combate ao trabalho escravo não tem sido

efetivas quando aplicadas de forma isolada. Destarte, é essencial a aplicação de

outros meios que venham prestar auxílio ao combate da prática, como veremos

adiante.

4.1 LEI Nº 14.946 de 2013

O projeto de lei nº 1.034 de 2011, transformado em Lei Estadual nº 14.946 de

2013 de autoria do Deputado Carlos Bezerra Junior, foi uma iniciativa muito próxima

da realidade dos trabalhadores do setor têxtil paulista, uma vez que, o estado de São

Paulo com a aplicação da lei, visa aumentar a punição dos empregadores que impõe

condições de trabalho subumanas. Neste sentido, o artigo 1º da lei determina a

seguinte sanção:

Artigo 1º - Além das penas previstas na legislação própria, será cassada a eficácia da inscrição no cadastro de contribuintes do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação (ICMS) dos estabelecimentos que comercializarem produtos em cuja fabricação tenha havido, em qualquer de suas etapas de industrialização, condutas que configurem redução de pessoa a condição análoga à de escravo. (SÃO PAULO, Lei nº 14.946 de 2013)

O artigo 4º da referida lei, deixa claro que, uma vez efetuada a cassação da

inscrição do cadastro de contribuintes do ICMS, sócios, pessoas físicas e jurídicas

estarão impedidas de exercer o mesmo ramo de atividade, ainda que em

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estabelecimento distinto daquele. As restrições determinadas prevalecerão pelo prazo

de 10 anos contados da data da cassação.

Há que se parabenizar a iniciativa do estado de São Paulo por criar uma lei de

combate ao trabalho escravo, que cassa o registro do ICMS de empresas que são

flagradas submetendo seus empregados a regime de escravidão. Embora a eficácia

seja restrita apenas ao estado de São Paulo, denota comprometimento do estado para

com o combate a erradicação do trabalho escravo.

Observa-se que muitas das formas de combate ao trabalho escravo estão sob

a responsabilidade do Poder Legislativo, entretanto as medidas de combate devem

compreender também a atuação do Ministério do Trabalho e Emprego no âmbito da

fiscalização das relações de trabalho e do Ministério Público do Trabalho.

4.2 LISTA SUJA

Outro instrumento combativo em prol da luta contra o trabalho escravo, foi a

chamada “Lista Suja”. O cadastro foi regulamentado pela portaria 1.234 de 2013 do

Ministério do Trabalho e Emprego, em substituição sobreveio a portaria 540, e por fim

a portaria Interministerial n.º 2, de 12 de maio de 2011, documento este que encontra-

se em vigor.

A lista de empregadores que são flagrados utilizando trabalho análogo ao de

escravo é considerada pela ONU, modelo de referência no mundo, e foi criada com o

intuito de divulgar o nome dos empregadores autuados por esta prática, quando

fiscalizados pelo Ministério do Trabalho. Neste contexto, a jornalista Camilla Costa

assevera:

“a partir da chamada "lista suja", empresas e bancos públicos que assinaram o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo podem negar crédito, empréstimos e contratos a fazendeiros e empresários que usam trabalho análogo ao escravo”. (COSTA, 2015).

O estado por sua vez tem a obrigação de fiscalizar e garantir os direitos

trabalhistas, desta forma, a lista suja funciona como ferramenta de transparência da

ação que o estado vem promovendo.

O Ministério do trabalho confirmando a infração por parte da empresa em

decorrência da submissão dos trabalhadores a condição análoga a de escravo,

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incorrerá pagamento de multa e o empregador terá seu nome vinculado a lista suja.

Consoante com o disposto no art. 2º:

A inclusão do nome do infrator no Cadastro ocorrerá após decisão administrativa final relativa ao auto de infração, lavrado em decorrência de ação fiscal, em que tenha havido a identificação de trabalhadores submetidos a condições análogas à de escravo. (BRASIL, Portaria Ministerial n.º 2, de 12 de maio de 2011)

Realizada a inclusão do infrator na lista, de acordo com o art. 4º, cabe a

fiscalização do trabalho realizar o monitoramento do empregador, pelo período de 2

anos, a fim de verificar se o mesmo está cumprindo com as determinações, de forma

a regularizar as condições de trabalho. Conforme parágrafos do referido artigo,

expirado o prazo de 2 anos, o nome do empregador pode ser excluído da lista suja,

desde que não tenha sido reincidente, que tenha realizado o pagamento das multas e

das obrigações trabalhistas e previdenciárias.

O atual cenário, de acordo com a atualização semestral realizada em de julho

de 2014, pelo Ministério do Trabalho e Emprego, atendendo o disposto na portaria

ministerial que disciplina o cadastro de trabalhadores flagrados na prática de

submissão de trabalhadores a condição análoga a de escravo, informa que 91 novos

empregadores foram incluídos na lista suja e 48 empregadores foram excluídos em

detrimento do atendimento aos requisitos administrativos. Desta forma observa- se

que os mecanismos de combate ainda não são eficazes a ponto de erradicar com a

prática, mas auxiliam de forma efetiva na redução do número de empregadores que

fazem jus as práticas desumanas.

4.3 PLANO NACIONAL PARA ERRADICAÇÃO AO TRABALHO ESCRAVO.

Dentre as iniciativas de combate ao trabalho escravo, surge ainda o Plano

Nacional para Erradicação ao Trabalho Escravo (PNETE), elaborado pela Comissão

Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae) aprovado em 17 de maio

de 2008, incorpora modificações em relação ao plano anterior, frente a luta contra a

violação dos Direitos Humanos.

De acordo com balanço feito por Vanucci, Ministro da Secretaria Especial dos

Direitos Humanos da Presidência da República, constatou que:

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“o Brasil caminhou de forma mais palpável no que se refere à fiscalização e capacitação de atores para o combate ao trabalho escravo, bem como na conscientização dos trabalhadores sobre os seus direitos. Mas avançou menos no que diz respeito às medidas para a diminuição da impunidade e para garantir emprego e reforma agrária nas regiões fornecedoras de mão-de-obra escrava. Consequentemente, o novo plano concentra esforços nessas duas áreas”. (VANUCCI, 2008, citado por PLANO NACIONAL A ERRADICAÇÃO AO TRABALHO ESCRAVO, p.9, 2008)

Neste sentido, o plano de Erradicação ao Trabalho Escravo, busca promover

ações a fim de garantir a erradicação definitiva. Desta forma as ações dividem-se em

cinco modalidades: ações gerais, ações de enfrentamento e repressão, ações de

reinserção e prevenção, ações de informação e capacitação e ações de repressão

econômica. Destarte são 66 ações, destinadas a órgãos que atuam no combate ao

trabalho escravo, dentre eles: poder executivo, legislativo e judiciário, Ministério do

Trabalho, Ministério Público do Trabalho, Conatrae, governos estaduais,

Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, Secretaria Especial dos Direitos

Humanos da Presidência dentre outros.

No que concerne a erradicação do trabalho escravo contemporâneo, destacam-

se algumas ações estabelecidas pelo Plano de Erradicação ao Trabalho Escravo:

“- Criar e manter uma base de dados que reúna informações dos principais agentes envolvidos no combate ao trabalho escravo para auxiliar em ações de prevenção e repressão e na elaboração de leis. - Criar e implantar estruturas de atendimento jurídico e social aos trabalhadores imigrantes em situação legal e ilegal em território brasileiro, incluindo serviço de emissão de documentação básica, como prevenção ao trabalho escravo - Realizar diagnósticos sobre a situação do trabalho escravo contemporâneo. - Disponibilizar equipes de fiscalização móvel nacionais e regionais em número suficiente para atender as denúncias e demandas do planejamento anual da inspeção - Ampliar a fiscalização prévia, sem necessidade de denúncia, a locais com altos índices de incidência de trabalho escravo. de contratadores (“gatos”) e de empresas prestadoras de serviços que desempenham a mesma função, como prevenção ao trabalho escravo. - Implementar uma política de reinserção social de forma a assegurar que os trabalhadores libertados não voltem a ser escravizados, com ações específicas voltadas a geração de emprego e renda, reforma agrária, educação profissionalizante e reintegração do trabalhador. - Envolver a mídia comunitária, local, regional e nacional, incentivando a presença do tema do trabalho escravo contemporâneo nos veículos de comunicação. - Sensibilizar o Supremo Tribunal Federal para a relevância dos critérios trabalhista e ambiental, além da produtividade, na apreciação do cumprimento da função social da propriedade, como medida para contribuir com a erradicação do trabalho escravo”. (PLANO NACIONAL PARA ERRADICAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO, p.13 - 25, 2008)

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Cabe a Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo unir

esforços, conjugando as ações com as autoridades públicas a fim de combater a

herança de um passado escravista.

4.4 FISCALIZAÇÃO

A forma mais eficaz para se combater o trabalho escravo é a fiscalização. As

operações de fiscalização, ocorrem de forma conjunta com o Ministério do Trabalho e

Emprego, Ministério Público do Trabalho e Polícia Federal.

Conforme o art. 21 da Constituição Federal , inc. XXVI, cabe a união organizar,

manter e executar a inspeção do trabalho.

No âmbito federal, o Ministério do Trabalho e Emprego assume um papel de

grande relevância como órgão fiscalizador. Conforme previsto no art. 127, da

Constituição Federal: “O Ministério Público é instituição permanente, essencial à

função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime

democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.”(BRASIL,

Constituição Federal).

A atuação do Ministério do Trabalho e Emprego se dá através da Secretaria de

Inspeção do Trabalho. A Secretaria de Inspeção do Trabalho, no exercício da

competência prevista no art. 14, inciso XIII, do Decreto nº 5.063, de 3 de Maio de

2004, editou a instrução normativa nº 91, de 5 de outubro de 2011, determinando os

procedimentos a serem adotados em relação a fiscalização para erradicação do

trabalho escravo.

O artigo 2º da presente instrução, aponta que a fiscalização do trabalho análogo

ao de escravo, será observada pelos auditores-fiscais do trabalho em qualquer

atividade econômica, e ainda de acordo com o art. 3º, § 2º, ao identificar a infração de

caracterize a submissão do empregado a condição análoga à de trabalho escravo,

cabe ao auditor-fiscal lavrar o auto de infração.

De acordo com o artigo 4º da instrução normativa, “A constatação

administrativa de trabalho em condição análoga à de escravo realizada pelo Auditor-

Fiscal do Trabalho, bem como os atos administrativos dela decorrentes, independem

do reconhecimento no âmbito criminal” (BRASIL, Instrução Normativa nº 91). Neste

sentido, é possível identificar a independência entre a jurisdição criminal e a esfera

administrativa.

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Diante das ocorrências de trabalho análogo ao de escravo, com o intuito de

desenvolver procedimentos que aumentassem a eficácia da fiscalização, o ministério

do trabalho e emprego criou o grupo especial de fiscalização móvel. Conforme a

cartilha da Organização Internacional do Trabalho, as operações do grupo de

fiscalização móvel reúnem as seguintes competências necessárias para a

fiscalização:

“Os auditores e as auditoras-fiscais do trabalho fazem coleta de provas, lavram autos de infração, emitem carteiras de trabalho, inscrevem trabalhadores no Seguro Desemprego e interditam locais de trabalho quando necessário; O procurador do trabalho, além de ajudar na coleta de provas, tem competência para propor ações imediatas junto à justiça do trabalho (podendo, por exemplo, propor ação cautelar para bloquear os bens do empregador); ajuizar Ações Civis Públicas; e firmar Termos de Ajuste de Conduta (TAC) com o infrator, no qual este se compromete a pagar em um prazo específico as verbas rescisórias que não puderem ser pagas de imediato, pagar Danos Morais Individuais e Danos Morais Coletivos e/ou regularizar as condições do local de trabalho e alojamento; A Polícia Federal ou Polícia Rodoviária Federal é responsável pela segurança do grupo, pela coleta de provas para um eventual processo criminal, faz apreensão de armas, prisão de criminosos, interdição do local de trabalho e apreensão da produção quando se trata de atividade ilegal”. (OIT, 2010).

De acordo com o art. 127, da Constituição Federal, o Ministério Público do

Trabalho, instituição permanente, exerce papel imprescindível a função jurisdicional

do estado, atua na defesa da ordem jurídica, regime democrático e interesses sociais

e individuais. Na perspectiva de boas iniciativas de combate ao trabalho escravo e

condições degradantes de trabalho, o Ministério Público do Trabalho criou em 12 de

setembro de 2002, a Coordenadoria Nacional de Erradicação ao Trabalho Escravo

(Conaete), desta forma a Conaete integrou e protagonizou ações de repressão,

implementando medidas no combate ao tráfico de pessoas, inserindo trabalhadores

em cursos de qualificação profissional, buscando transformar a situação de

hipossuficiência do trabalhador escravizado em uma realidade libertadora, conforme

descrito no Portal do Ministério Público do Trabalho.

Segundo cartilha da Organização Internacional do Trabalho sobre as práticas

de fiscalização:

A inspeção do trabalho é de competência do Governo Federal, através da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), do Ministério de Trabalho e Emprego (MTE). Sua implementação se dá principalmente de maneira descentralizada, por meio das 27 Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego – SRTEs (até 2008, Delegacias Regionais do Trabalho – DRTs),

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unidades descentralizadas do MTE presentes nos 26 estados e no Distrito Federal. (OIT, 2010)

O enfrentamento as práticas de trabalho análogo ao de escravo deve fazer

parte de uma mobilização nacional, a população deve ficar atenta a mídia que expõe

os casos que ocorrem no Brasil afora, fazendo a sua parte, não consumindo produtos

oriundos das práticas desumanas, bem como prestar auxílio na fiscalização,

denunciando este tipo de situação, as ações devem ser conjuntas com os órgãos de

proteção e garantia do trabalhador, Polícia Federal, Civil e Militar. A OIT reconhece

que Brasil está a frente em relação ao combate a erradicação do trabalho escravo.

Segundo OIT (2010) em 1995 o Brasil reconheceu o trabalho escravo como

problema e passou a desenvolver várias políticas para proteção das vítimas e

combate as práticas.

4.4.1 Estatística das operações de fiscalização para erradicação do trabalho escravo.

As operações de fiscalização tem o cunho de verificar a denúncia da prática do

trabalho análogo a de escravo, para tanto, estas operações envolvem: auditores

fiscais do trabalho,

procurador do Ministério Público do Trabalho e agentes da Polícia Federal (delegado)

e motoristas.

Conforme o quadro abaixo, o Ministério do Trabalho e Emprego demonstra,

através de dados estatísticos, os resultados da fiscalização para erradicação do

trabalho escravo de 1995 a 2010.

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Com base no levantamento realizado pelo Ministério do Trabalho, é possível

observar que ao longo dos anos as fiscalizações foram intensificadas, de modo

abranger um número maior de estabelecimentos, desta forma, houve um aumento da

incidência de autos lavrados, consequentemente a multa como forma repressão veio

para fortalecer o combate a prática.

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5 CONCLUSÃO

Desde de meados do século XVI até o final do século XIX o Brasil vivenciou o

período da escravidão, onde o trabalho escravo era utilizado como mão-de-obra

dominante. Neste longo período, a escravidão foi aceita e a sua legitimidade não foi

questionada. Com a promulgação da lei Áurea em 1888, a escravidão foi abolida.

Ocorre que, em pleno século XXI nos deparamos com a exploração de

trabalhadores, reduzidos a condições análogas a de escravo. Logicamente o

fenômeno que acontece hoje é diferente do que ocorria no período colonial, todavia

não deixa de ser uma forma de violação a dignidade da pessoa humana.

Vivemos em uma sociedade puramente capitalista, onde a escravidão surge

como instrumento de aferição de lucro. Os empregados do setor têxtil, muitos deles

imigrantes, sentem na pele a exploração laboral. Uma jaqueta vendida em uma loja

de grife pode chegar a custar R$ 380,00, enquanto um empregado de uma oficina de

costura pode recebe em torno de $ 0,25, correspondente a R$ 0,95 pela confecção

da mesma. Estes trabalhadores não recebem somente um salário irrisório, servos de

suas dívidas, trabalham de forma indigna, em condições inadequadas, se submetendo

a exaustivas jornadas de trabalho. A dependência existente entre empregado e

empregador, faz com que estes trabalhadores se submetam a práticas desumanas, a

fim de garantir o sustento da família.

O trabalho escravo persiste desde a promulgação da lei Áurea em 1888, até os

dias atuais, e o Brasil, segundo a OIT, o reconheceu como problema somente em

1995. Estes anos de omissão acarretaram na dificuldade do enfrentamento ao

combate do trabalho análogo ao de escravo. De nada adianta uma CLT que confira

ao trabalhador os direitos trabalhistas, bem como uma Constituição Federal que

garanta aos trabalhadores os direitos fundamentais se os planos de ação no combate

ao trabalho escravo não são suficientemente eficazes a ponto de erradicar com

trabalho análogo ao de escravo. Mesmo diante de todo o aparato legal, CLT,

Constituição Federal, Portarias do Ministério do Trabalho e Emprego, instruções

normativas, acordos da OIT, fiscalização móvel do MTE, plano nacional de

erradicação ao trabalho escravo, observa-se que são insuficientes a ponto de não

garantir a erradicação total das práticas.

Diante do atual cenário, o Brasil deve encontrar um caminho, medidas que

possam erradicar esta prática. O Ministério Público do Trabalho deve fiscalizar de

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forma mais intensa, embora saibamos que exija empenho, recursos financeiros que

acabam por onerar o serviço público, a população também deve participar a fim de

denunciar a prática, além disso, a legislação deve ser eficaz no combate, as multas

devem ser elevadas e as práticas de erradicação devem promover o desestímulo ao

trabalho escravo.

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