campos - por osmar prado

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Nunca conheci quem tivesse levado porrada.Todos os meus conhecidos tm sido campees em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,Indesculpavelmente sujo.Eu, que tantas vezes no tenho tido pacincia para tomar banho,Eu, que tantas vezes tenho sido ridculo, absurdo,Que tenho enrolado os ps publicamente nos tapetes das etiquetas,Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,Que tenho sofrido enxovalhos e calado,Que quando no tenho calado, tenho sido mais ridculo ainda;Eu, que tenho sido cmico s criadas de hotel,Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moos de fretes,Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado[sem pagar,Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachadoPara fora da possibilidade do soco;Eu, que tenho sofrido a angstia das pequenas coisas ridculas,Eu verifico que no tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheo e que fala comigoNunca teve um ato ridculo, nunca sofreu enxovalho,Nunca foi seno prncipe todos eles prncipes na vida

Quem me dera ouvir de algum a voz humanaQue confessasse no um pecado, mas uma infmia;Que contasse, no uma violncia, mas uma cobardia!No, so todos o Ideal, se os oio e me falam.Quem h neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? prncipes, meus irmos,

Arre, estou farto de semideuses!Onde que h gente no mundo?

Ento sou s eu que vil e errneo nesta terra?

Podero as mulheres no os terem amado,Podem ter sido trados mas ridculos nunca!E eu, que tenho sido ridculo sem ter sido trado,Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?Eu, que venho sido vil, literalmente vil,Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

O guardador de rebanhos

Eu nunca guardei rebanhos,Mas como se os guardasse.Minha alma como um pastor,Conhece o vento e o solE anda pela mo das EstaesA seguir e a olhar.Toda a paz da Natureza sem genteVem sentar-se a meu lado.Mas eu fico triste como um pr de solPara a nossa imaginao,Quando esfria no fundo da plancieE se sente a noite entradaComo uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza sossegoPorque natural e justaE o que deve estar na almaQuando j pensa que existeE as mos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um rudo de chocalhosPara alm da curva da estrada,Os meus pensamentos so contentes.S tenho pena de saber que eles so contentes,Porque, se o no soubesse,Em vez de serem contentes e tristes,Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar chuvaQuando o vento cresce e parece que chove mais.

No tenho ambies nem desejosSer poeta no uma ambio minha a minha maneira de estar sozinho.

E se desejo s vezesPor imaginar, ser cordeirinho(Ou ser o rebanho todoPara andar espalhado por toda a encostaA ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),

s porque sinto o que escrevo ao pr do sol,Ou quando uma nuvem passa a mo por cima da luzE corre um silncio pela erva fora.