caminhos da independencia

5
Caminhos da Independência brasileira NOVAIS, Fernando., MOTA, C. G. A Independência Política do Brasil. 2ª edição. São Paulo: Editora Hucitec, 1996. Fernando Novais e Carlos Guilherme Mota questionam neste livro o sentido e os limites históricos do processo de ruptura com a dominação colonial, situando-a nos marcos da Era das revoluções. Analisam o caráter ambíguo e contraditório do movimento de 1822, os historiadores acompanham o processo histórico desde 1808 até a abdicação de D. Pedro I em 1831, em suas implicações políticas e projeções ideológicas. Os autores analisam esse processo em três capítulos: O contexto, O processo político e O processo ideológico. No primeiro capítulo, os autores começam citando a guerra do rio da Prata, a Revolução de Espanha e suas colônias. Estes fatos, além da invasão de Napoleão em Portugal que trouxeram a Corte portuguesa para o Brasil, que monta todo aparato de um Estado e abre os portos para seu principal aliado, a Inglaterra (que protegeu com sua esquadra, a Corte portuguesa até o Brasil), são apontados como um processo revolucionário mais amplo. Colocam a questão de encarar a independência como momento de um longo processo de ruptura, ou seja, a desagregação do sistema colonial e a montagem do Estado nacional. Explicam ainda que, a estrutura que desagrega e a nova configuração que se vai formando, para situar e tentar compreender o processo de passagem, isto é, o movimento da independência. Examinados isoladamente e em si mesmo, os eventos que levaram à separação entre a colônia e a metrópole, sem enquadrá-la no contexto maior de que fazem parte, têm dado lugar a uma visão do processo em que o acaso ganha importância, ou os erros ou os acertos dos governantes passam a ser elementos decisivos de compreensão. Os autores apontam que a expulsão dos invasores em Portugal e a elevação do Brasil a categoria de Reino Unido em 1815, trouxe à luz a situação, em que se invertiam as posições; a insistência de D. João VI em manter tal situação levaria à revolução liberal de 1820 em Portugal. Novais e Mota, se aprofundam analisando a crise do antigo sistema colonial. Colonialismo e absolutismo se articulam, na medida em que a colonização do Novo Mundo na época moderna desenvolveu-se dominantemente sob o

Upload: emerson-mathias

Post on 18-Dec-2014

1.065 views

Category:

Education


5 download

DESCRIPTION

Resenha do livro - A Independência política do Brasil de Fernando Novais - Trabalho de Historiografia brasileira - 3º semestre

TRANSCRIPT

Page 1: Caminhos da independencia

Caminhos da Independência brasileira

NOVAIS, Fernando., MOTA, C. G. A Independência Política do Brasil. 2ª edição. São Paulo: Editora Hucitec, 1996.

Fernando Novais e Carlos Guilherme Mota questionam neste livro o sentido e

os limites históricos do processo de ruptura com a dominação colonial,

situando-a nos marcos da Era das revoluções. Analisam o caráter ambíguo e

contraditório do movimento de 1822, os historiadores acompanham o processo

histórico desde 1808 até a abdicação de D. Pedro I em 1831, em suas

implicações políticas e projeções ideológicas. Os autores analisam esse

processo em três capítulos: O contexto, O processo político e O processo

ideológico.

No primeiro capítulo, os autores começam citando a guerra do rio da Prata, a

Revolução de Espanha e suas colônias. Estes fatos, além da invasão de

Napoleão em Portugal que trouxeram a Corte portuguesa para o Brasil, que

monta todo aparato de um Estado e abre os portos para seu principal aliado, a

Inglaterra (que protegeu com sua esquadra, a Corte portuguesa até o Brasil),

são apontados como um processo revolucionário mais amplo. Colocam a

questão de encarar a independência como momento de um longo processo de

ruptura, ou seja, a desagregação do sistema colonial e a montagem do Estado

nacional. Explicam ainda que, a estrutura que desagrega e a nova configuração

que se vai formando, para situar e tentar compreender o processo de

passagem, isto é, o movimento da independência. Examinados isoladamente e

em si mesmo, os eventos que levaram à separação entre a colônia e a

metrópole, sem enquadrá-la no contexto maior de que fazem parte, têm dado

lugar a uma visão do processo em que o acaso ganha importância, ou os erros

ou os acertos dos governantes passam a ser elementos decisivos de

compreensão. Os autores apontam que a expulsão dos invasores em Portugal e

a elevação do Brasil a categoria de Reino Unido em 1815, trouxe à luz a

situação, em que se invertiam as posições; a insistência de D. João VI em

manter tal situação levaria à revolução liberal de 1820 em Portugal. Novais e

Mota, se aprofundam analisando a crise do antigo sistema colonial.

Colonialismo e absolutismo se articulam, na medida em que a colonização do

Novo Mundo na época moderna desenvolveu-se dominantemente sob o

Page 2: Caminhos da independencia

patrocínio dos Estados absolutistas em formação na Europa. Nesse contexto a

colonização vai assumindo sua forma mercantilista, vai se constituindo em uma

das ferramentas para acelerar a acumulação primitiva de capital comercial nas

áreas centrais do sistema. Apontam as peças do sistema Colonial que são,

dominação política, comércio exclusivo e trabalho compulsório (escravismo).

Brasil e Portugal são envoltos pelas ideias reformistas da Ilustração francesa, o

industrialismo inglês, as tropas napoleônicas, pelo absolutismo e colonialismo

mercantilista. ). Revelam que a crise foi a base que fomentou a separação das

colônias. Informam que as tensões na Europa e nas colônias do Novo Mundo

no século XVIII agravam-se impulsionadas pelo capitalismo moderno. Porém,

na colônia (Brasil), a política reformista não conseguia distender as tensões,

até certo ponto pode-se dizer que, ao contrário, o surto de relativo progresso

ainda mais aguçava a tomada de consciência da exploração colonial,

redobrando as inquietações.

No segundo capítulo, os historiadores apontam o ano de 1820 como decisivo

para o processo de independência do Brasil. O movimento liberal, ganhando

impulso significativo na Espanha, nos Países Baixos, em Nápoles e no Porto,

repercute intensamente na ex-colônia portuguesa, provocando agitações de

porte. Novais e Mota, analisam as tensões, os antagonismos e expectativas

sociais e políticas cada dia mais nítidas desde a revolução de Pernambuco em

1817. Citam os partidos, correntes em três posições que delinearam suas

políticas, como o “partido português, (composto de comerciantes portugueses

ansiosos para recuperar seus privilégios e monopólio), “partido brasileiro”,

(grandes proprietários rurais, financistas e burocráticos que se beneficiariam

com o estabelecimento da Corte no Brasil) e os “liberais radicais”, (ex

participantes ou simpatizantes de movimentos como o de 1817, componentes

dos setores médicos da população, sobretudo do Nordeste). Dentro do

contexto histórico já exposto os autores relatam que a ruptura se deu. De um

lado, as tendências de recolonização da burguesia portuguesa, expressas por

seus representantes nas Cortes, pressionavam a dinastia a retornar. De outro,

as pressões dos representantes de um liberalismo cada vez mais radical no

Brasil aconselhavam a adoção de soluções que viabilizassem reformas para a

preservação do Reino Unido. Os historiadores mostram a importância do

Page 3: Caminhos da independencia

adensamento da consciência social no período, a imprensa assumiu expressão

de vulto, não apenas no sentido de dar fisionomia às posições políticas até

então fluídas e fugazes, como no tocante à interferência direta na condução do

processo emancipacionista. Lembram ainda que, a radicalização das Cortes

atingiu seu ápice com a retirada dos deputados brasileiros, impossibilitados de

fazerem valer seus pontos de vista contra a recolonização. Assim aumentava-

se a pressão junto ao príncipe regente, inclinado desde janeiro de 1822, a

desobedecer às ordens de Lisboa, que já em outubro do ano anterior ordenara

seu retorno a Portugal. A volta do príncipe foi um golpe fatal nos projetos de

autonomização, e esta atitude propiciou uma rearticulação dos grupos sob a

nova e larga bandeira do patriotismo: senhorio de terras, comerciantes

portugueses adaptados agora às relações com a Inglaterra e burocratas de

médio e baixo escalão, desempregados devido às medidas das Cortes

desativando órgãos administrativos criados no período joanino. Novais e Mota

salientam, que o pensamento liberal brasileiro teriam pouca chance ante o

conservadorismo de José Bonifácio, figura emergente que, nos embates entre

radicais e “aristocráticos”, sempre ficará com os últimos. Apontam que seu

conservadorismo não permitiu ir além dos limites ditados por sua condição

social, reagindo a ideia de uma constituinte. Sobre o 7 de setembro relatam

que a facção liberal radical já havia perdido a iniciativa no jogo político, pois

não conseguiram impor a tese das eleições diretas para a Constituinte. A

independência era proclamada, considerando-se o Brasil “reino irmão” de

Portugal. A forma de governo estava definida, uma vez que a fonte de

legitimidade continuava sendo o Príncipe, com a perspectiva de uma

assembleia constituinte. A monarquia evitaria assim os perigos de uma

república. A proclamação do 7 de setembro de 1822, surge como decorrência

das tensões com as Cortes e simboliza a vitória do grupo liderado por José

Bonifácio, conservador, monarquista e palidamente constitucionalista, e do

“partido brasileiro”. Os historiadores apontam para o fechamento da

Assembléia em 1824, por D. Pedro, devido a um conflito entre oficiais

portugueses e o periódico ligado aos Andradas. Esse fato gerou várias prisões

incluindo o próprio Bonifácio. A queda dos Andradas significou o esvaziamento

do centro e a radicalização das posições. Assim a Carta outorgada de 1824,

Page 4: Caminhos da independencia

embora evitasse muito a experiência da Assembléia Constituinte, configurava a

vitória do executivo sobre o Legislativo e uma derrota do “partido brasileiro”,

sobretudo de sua facção radical. Vários desdobramentos ocorreram após a

outorga, o maior deles foi a revolução republicana que envolveu todo o

Nordeste, a Confederação do Equador. Neste movimento liberal radical se

destacou Frei Caneca e Paes de Andrade. Vários foram executados, incluindo

Frei Caneca. Novais e Mota, passam a relatar o processo que levou a expulsão

do imperador após a outorga e o retorno do poder aos representantes da

aristocracia agrária. Apontam que o reconhecimento da independência

brasileira necessitava do apoio de outras nações. Na maioria dos casos esse

reconhecimento era feito através de tratados comerciais que nem sempre

beneficiavam o Brasil. Os autores evidenciam a dependência do Brasil perante

o capitalismo crescente no mundo, tendo a Inglaterra a frente e o surgimento

dos Estados Unidos como nação forte e disposto a consolidar sua posição

comercial no mundo. Estes fatores levaram o Brasil a crise e depois a rebelião.

Com a dependência em relação à Inglaterra, a crise financeira levou o Brasil a

constantes empréstimos que levou ao conflito entre portugueses e brasileiros

chamado “Noite das Garrafadas”. D. Pedro I abdica do trono em favor de seu

filho Pedro de apenas 5 anos. A oligarquia rural marginalizada no Primeiro

Reinado, encontra a oportunidade para ditar suas regras no Estado brasileiro

de forma duradoura.

No último capítulo, Novais e Mota discorrem sobre o processo ideológico liberal

como pano de fundo do movimento político de independência. A ideia de um

governo constitucional significou alteração profunda na política, implicou em

uma redefinição radical do pacto político estruturado ao longo dos anos em que

se estratifica o sistema social da colônia. Apontam para o desenvolvimento da

crise do Antigo Sistema Colonial, com três alternativas: a revolução

republicana, a reforma liberalizante e o revolucionarismo emancipacionista e

popular do tipo haitiano. Os autores citam a Revolta do Haiti, e sua influência

entre a classe política brasileira naquela época. Descrevem o “medo” e a

preocupação com esse revolucionário movimento tão contrário ao nosso

sistema político e econômico. Relatam que o sentimento de cidadania na nova

ordem não deveria sobrepor-se às bases sociais efetivas, marcadas pela

Page 5: Caminhos da independencia

atividade agrícola. A “bem entendida liberdade” somente poderia ser bem

administrada pelos representantes do senhoriato rural e por poucas expressões

da “boa sociedade” com assento na Constituinte. A solução histórica passaria,

nessa medida, muito alta, com as tinturas de um pálido reformismo

liberalizante, longe dos princípios da Revolução francesa, da República Norte

Americana e muito longe da ilha dominicana. Novais e Mota, afirmam que a

resultante geral do processo ideológico do movimento de independência não

coincidiu nem com os setores mais reacionários do Antigo Sistema Colonial,

nem com o republicanismo revolucionário nascente, das lideranças mais

progressistas. Ainda relatam, o liberalismo monárquico da restauração, as

ideias do jurista Benjamin Constant, forneceu aos liberais e ao imperador, os

elementos para o controle da vontade popular, definindo sua extensão e seus

limites. Através de José Bonifácio, o imperador definiria claramente tais limites,

oferecendo ideias para uma constituição que pusesse barreiras inacessíveis ao

despotismo quer real, quer aristocrático, quer democrático e afugentasse a

anarquia. O liberalismo conservador da restauração não excluía a problemática

do nacionalismo, visto que do período pós napoleônico a retomada da

expressão nacional transformou-se em prioridade. Os historiadores relatam a

posição de Frei Caneca, liberal radical, que embora um nacionalista, e

simpatizante de D. Pedro I no primeiro momento, não poupou críticas ao

imperador e a seu poder Moderador, dizia que D. Pedro I não cumpriu o pacto

social ficando no Brasil. Frei Caneca faz várias críticas ao sistema político e

econômico brasileiro após a independência. Critica também Cipriano Barata

pelo seu centralismo, prejudicial à liberdade política do Brasil segundo Caneca.

Por fim os autores relatam que o radicalismo de Frei Caneca só é comparável

ao de Cipriano Barata, que ficou preso de 1823 a 1830, às vésperas da

abdicação de D. Pedro I. O imperador fazia adotar e jurar o “esboço de

constituição” com bloqueio a Recife. Segundo o Frei, fuzilado pela tropa a 13

de janeiro de 1825, “ninguém jamais obrou livremente obrigado da fome e

com bocas de fogo nos peitos”.

Emerson Mathias – RA: 2211106920Priscila Cassanti – RA: 311108749