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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO ESPECIAL - COMÉRCIO ELETRÔNICO EVENTO: Audiência pública Nr.: 0625/00 DATA: 31/05/2000 INÍCIO: 15h TÉRMINO: 16h48min DURAÇÃO: 1h42min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 1h44min PÁGINAS: 38 QUARTOS: 11 REVISÃO: ANTONIO, ODILON, VEIGA SUPERVISÃO: GRAÇA E NEUSINHA CONCATENAÇÃO: NEUSINHA DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO MICHAEL NELSON - Diretor de Tecnologia e Estratégia de Internet da IBM MARCOS DA COSTA - Presidente da Comissão Especial de Informática da OAB-SP SUMÁRIO: Anúncio de recebimento de correspondência. Eleição do Primeiro Vice-Presidente. Debate sobre legislação e tecnologia resguardadora do direito à privacidade do consumidor nas transações de comércio efetuadas por meio eletrônico. OBSERVAÇÕES Há falha na gravação. Há apresentação de transparências. Há exposição em inglês. HÁ INSERÇÃO DE TEXTO REFERENTE A TRADUÇÃO SIMULTÂNEA ENTREGUE AO DEPARTAMENTO. O DETAQ EXIME-SE DA RESPONSABILIDADE SOBRE O MESMO. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Nome: COMISSÃO ESPECIAL - COMÉRCIO ELETRÔNICO Número: 0625/00 Data: 31/05/00

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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO ESPECIAL - COMÉRCIO ELETRÔNICOEVENTO: Audiência pública Nr.: 0625/00 DATA: 31/05/2000INÍCIO: 15h TÉRMINO: 16h48min DURAÇÃO: 1h42minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 1h44min PÁGINAS: 38 QUARTOS: 11REVISÃO: ANTONIO, ODILON, VEIGASUPERVISÃO: GRAÇA E NEUSINHACONCATENAÇÃO: NEUSINHA

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

MICHAEL NELSON - Diretor de Tecnologia e Estratégia de Internet da IBMMARCOS DA COSTA - Presidente da Comissão Especial de Informática da OAB-SP

SUMÁRIO: Anúncio de recebimento de correspondência. Eleição do PrimeiroVice-Presidente. Debate sobre legislação e tecnologia resguardadora do direito à privacidadedo consumidor nas transações de comércio efetuadas por meio eletrônico.

OBSERVAÇÕES

Há falha na gravação.Há apresentação de transparências.Há exposição em inglês.HÁ INSERÇÃO DE TEXTO REFERENTE A TRADUÇÃO SIMULTÂNEA ENTREGUE AODEPARTAMENTO. O DETAQ EXIME-SE DA RESPONSABILIDADE SOBRE O MESMO.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Declaro aberta a

presente reunião, convocada para a eleição do 1º Vice-Presidente e para reunião

de audiência pública.

Devido à distribuição antecipada de cópia da ata da 2ª reunião a todos os

membros presentes, indago a V.Exas. sobre a necessidade de sua leitura.

O SR. DEPUTADO MARCOS CINTRA - Sr. Presidente, peço dispensa da

leitura da ata.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Dispensada a leitura da

ata.

Em discussão a ata da 2ª reunião. (Pausa.)

Não havendo oradores inscritos, declaro encerrada a discussão.

Em votação.

Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram.

(Pausa.)

Aprovada.

Comunico o recebimento de ofício do gabinete da Presidência que justifica o

afastamento do Deputado Adão Pretto, nos períodos de 16 a 18 de maio e de 23 a

26 de maio, por estar participando de missão oficial.

Item 4 da pauta.

Ordem do Dia.

Eleição do 1º Vice-Presidente, indicado pela liderança do PMDB, Deputado

Marçal Filho. Para a eleição, adotaremos o seguinte procedimento: os Deputados

assinam a folha de votação, encaminham-se à cabine, selecionam a cédula e a

depositam na urna.

Item 2 da pauta.

Audiência pública com os Srs. Michael Nelson, Diretor de Tecnologia e

Estratégia de Internet da IBM Corporation, e Marcos da Costa, Presidente da

Comissão Especial de Informática Jurídica da Ordem dos Advogados de São Paulo,

a quem convido para tomarem assento à mesa. (Pausa.) À minha direita está o Sr.

Michael Nelson e à esquerda o Sr. Marcos da Costa.

Antes de passar a palavra aos expositores, esclareço que, para melhor

ordenamento dos trabalhos, adotaremos os seguintes critérios estabelecidos no

Regimento Interno da Casa: cada convidado disporá de vinte minutos para

exposição e não poderá ser aparteado enquanto estiver com a palavra. Terminada

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a exposição, iniciaremos os debates. Os Srs. Deputados interessados em interpelar

os convocados deverão inscrever-se previamente junto à secretaria, tendo

preferência os membros da Comissão. Cada interpelante deverá fazer sua

formulação em no máximo três minutos, mesmo tempo que disporão os senhores

expositores para a resposta. Serão permitidas a réplica e a tréplica pelo prazo de

três minutos improrrogáveis — art. 256, § 5º, do Regimento Interno. Esclareço que

esta reunião está sendo gravada para posterior transcrição e, por isso, solicito que

cada orador se identifique ao microfone. Esclareço também que o expositor Dr.

Michael Nelson falará em inglês, mas haverá tradução simultânea. Por conseguinte,

os Deputados que desejarem poderão obter o receptor para acompanharem a

palestra.

Vamos dar início à exposição, concedendo inicialmente a palavra ao Sr.

Michael Nelson. Vou repetir as suas funções para que todos possam registrar: o Sr.

Michael Nelson é Diretor de Tecnologia e Estratégia de Internet da IBM Corporation.

Agradeço antecipadamente ao Sr. Michael Nelson a presença. S.Sa. estava

no Brasil e concordou em participar desta primeira audiência pública da nossa

Comissão Especial, nesta tarde, para apresentar a sua experiência dentro de um

enfoque geral do comércio eletrônico, documentos eletrônicos, assinatura

eletrônica, enfim, tudo o que se refere, todos os conexos e correlatos, ao

e-commerce. De maneira que fico muito agradecido a S.Sa.

Concedo a palavra ao Sr. Michael Nelson, que disporá de vinte minutos para

fazer sua exposição.

(Apresentação de transparências.)

O SR. MICHAEL NELSON - (Tradução simultânea.) Antes de entrar na IBM,

eu trabalhei na Casa Branca com o Vice-Presidente Al Gore, durante quatro anos,

em questões de política de comércio eletrônico e Internet. Antes disso, eu havia

trabalhado, durante cinco anos, com o Senador Al Gore. E eu era o único cientista

no quadro funcional do Subcomitê de Ciência e Tecnologia e Assuntos Espaciais do

Senado.

Para o Senador Gore, organizei uma série de audiências públicas sobre

Internet, bem como sobre aquecimento global, camada de ozônio, a região antártica

e biotecnologia. Raramente recebemos palestrantes de fora dos Estados Unidos. E

eu sempre achei, na verdade, que isso era uma pena, porque com freqüência

tratávamos de questões de natureza global, como a Internet, por exemplo. De modo

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que fico muito feliz em ter recebido o convite para falar-lhes hoje e, assim,

apresentar-lhes a perspectiva dos Estados Unidos.

Esta é minha segunda visita a Brasília. Aqui estive há cinco anos, com o

Vice-Presidente Gore, em sua comitiva e, infelizmente, estivemos no Brasil por

apenas cinco horas, tempo bastante para jantar, ter uma breve reunião e depois

partir.

Desta vez, estou aqui por cinco dias, o que, obviamente, é muito bom,

porque já tive, desde que cheguei, oportunidade e tempo para falar um pouco mais

ou aprender um pouco mais sobre Internet e comércio eletrônico no Brasil.

Fiquei muito impressionado com aquilo de que tomei conhecimento e que

aprendi nos últimos quatro dias. Fiquei muito impressionado em ver como o

comércio eletrônico cresce em franca expansão no Brasil. Fiquei igualmente

impressionado com o grau de conhecimento que os funcionários do Governo, bem

como os líderes dos setores industriais, têm sobre o comércio eletrônico.

Além disso, também estou impressionado pelo fato de terem me dado vinte

minutos para falar. Quando estive no Senado, na verdade, ninguém recebia mais do

que dez minutos, mesmo em se tratando de um assunto como o comércio

eletrônico.

Gostaria de falar hoje sobre a perspectiva da IBM a respeito do comércio

eletrônico e negócio eletrônico. E apresento algumas sugestões sobre como se

pode atuar de modo a fomentar o crescimento do comércio eletrônico aqui no

Brasil. Esse slide é o mais importante, porque tem meu endereço eletrônico, meu

e-mail. Se alguém desejar acompanhar o assunto com uma pergunta ou um

esclarecimento posteriormente, fique à vontade para fazer o contato via Internet.

Acredito que todos aqui conhecem muito bem os benefícios advindos do

comércio eletrônico e da economia digital. Há dois anos, nos Estados Unidos, a

Casa Branca emitiu um relatório denominado “A Economia Digital Emergente”, que

documentava o grau de importância que a Internet havia comprovado ter para a

economia americana.

Ao longo dos últimos quatro anos, a Internet criou uma série de novos

empregos e reduziu o desemprego em 1%. Além disso, reduziu a inflação em mais

de 1% também. O resultado final tem sido que o comércio eletrônico tem gerado

mais empregos, mais lucros e uma qualidade de vida mais elevada.

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Porém, o propósito de minha palestra, hoje, é convencê-los de que a

revolução da Internet está apenas começando. Ela só está 3% concluída.

Independentemente da medida que se use, em termos de número de usuários, ou

internautas, ou potência de computação, independentemente de como vocês

meçam esse progresso, temos muitíssimo a progredir. Em pouquíssimos anos,

quatro anos, os micros serão mil vezes mais potentes do que são hoje. O custo da

largura de banda, ou seja, o custo do transporte da informação pela Internet

decrescerá em 99% ao longo dos próximos três a cinco anos.

Recentemente, a IBM realizou um estudo para definir o volume de

informação que estará disponível na Internet. No ano que vem, para 2001,

esperamos já ter um "megabyte" de informação. Ou seja, é mais de duzentas vezes

o volume de informação disponível na maior biblioteca do mundo.

No ano 2010, ou seja, dentro de dez anos, esperamos ter um milhão de

vezes mais informações do que temos hoje. E é por isso que falamos que a

revolução da Internet está agora apenas começando. No futuro, teremos vídeo

bilateral, que será um tipo de tecnologia tão comum como o correio eletrônico.

Teremos alternativas e metas para trabalhar no cyberspace, que permitirão

trabalhar tão facilmente on-line quanto pessoalmente. E a Internet estará

propagada em todos os cantos e disponível o tempo todo.

Esperamos que 1 bilhão de pessoas estejam trabalhando on-line dentro de

um a três anos. Mas a maior parte deles não estará usando micros, mas, sim,

assistentes digitais pessoais ou telefones. Muitos, simplesmente, vão ligar para a

Internet e falar com a Internet. Da mesma forma que falariam com uma pessoa.

Não será preciso saber digitar. Você nem mesmo precisará saber ler para usar a

Internet. Nesse novo mundo, as conexões por satélite disponibilizarão acesso à

Internet em qualquer lugar do mundo, a qualquer momento.

O futuro também será bastante diferente do que temos hoje, em termos de

Internet. Ela será ágil, estará sempre disponível on-line, em todos os lugares. Será

natural, espontânea, intuitiva, de fácil utilização, inteligente e fidedigna. Na IBM,

criamos uma página na Internet que explica nossa visão a respeito da Internet da

próxima geração.

Cada um de nós, individualmente, disporá de dezenas ou, talvez, até

mesmo, centenas de dispositivos conectados à Internet. Nossos telefones celulares,

nosso próprio veículo. Teremos cartões de crédito sem fio, conectados à Internet,

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bem como dezenas de dispositivos no domicílio, desde, por exemplo, o refrigerador

até o sistema de ar condicionado. Até mesmo o nosso próprio cão poderá estar

conectado à Internet, com um tipo de coleira que conterá um receptor de

posicionamento global, de modo que você possa descobrir onde está o seu cão ou

animal predileto, em qualquer momento do dia. A Internet, além disso, também, vai

funcionar não só no seu próprio micro mas também pelo seu telefone celular.

Na IBM, utilizamos uma tecnologia denominada e-meeting, reuniões virtuais,

que me permite compartilhar tudo o que tenho na minha tela com as pessoas, em

qualquer parte do mundo, utilizando a Internet para tanto. Dessa forma, é possível

fazer uma conferência, uma teleconferência que funcionará mais adequadamente.

Posso compartilhar páginas da Internet, apresentações e documentos. Já vimos

vídeo sendo transmitidos pela Internet.

Este aqui é o primeiro site televisivo. Na verdade, é um site canadense, que

disponibilizava quinze canais de televisão ou teledifusão, que é www.icravetv, que

quer dizer: eu sou vidrado em televisão. A IBM tem um produto chamado hot

media, que permite ter o vídeo disponibilizado pela Internet. Esse site permite até

mesmo ter uma aula de golfe ou aprender a jogar golfe por vídeo, ou mesmo fazer

uma visita guiada de Brasília, Rio ou outra cidade; o site também disponibiliza um

catálogo interativo de vídeos.

As tecnologias da IBM estão facilitando o uso do vídeo, hoje tão fácil de se

utilizar quanto o texto ou a imagem. Já é possível trabalhar, ou visitar oito mil

diferentes locais no mundo via Internet e ver o que está acontecendo. Desde a

capital da Finlândia, Helsinki, a Moscou, passando por Chicago até o Rio. É,

também, possível visitar o zoológico de San Diego, Califórnia, ou mesmo receber

uma imagem, como se vê aqui, a partir de um táxi, do trânsito na cidade de Nova

Iorque. Tudo isso já está hoje disponível on-line.

Sei que o Brasil vem se debatendo com uma série de questões importantes,

à medida que estão tentando definir como melhor fomentar a expansão do

comércio eletrônico no Brasil. Fiquei muito impressionado em ver que a Câmara dos

Deputados, no Brasil, criou uma Comissão Especial sobre comércio eletrônico, uma

vez que esta é uma questão, de fato, crucial e importante. Acredito que o comércio

eletrônico transformará nossa economia e a vida empresarial. E, obviamente, é

muito cabível que haja, aqui, uma Comissão Especial dedicada a tais questões.

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Porém, à medida que vemos a tendência que se esboça para o comércio

eletrônico, também é importante examinar a questão mais ampla de como fomentar

a expansão do comércio eletrônico como um todo, da Internet como um todo. É

preciso claramente que haja regras para o mercado digital. É preciso lidar com

questões de tributação, impostos, proteção do consumidor, assinatura digital,

e-mail ou correio eletrônico não-solicitado, bem como contratos ou contratação

on-line.

O que não ficou claro ainda é se, de fato, precisamos de regulação do

Governo para lidar com todas essas questões. Eu argumentaria que em muitas

situações é possível trabalharmos com soluções não-regulatórias, ou seja, soluções

internacionais, de natureza não-reguladora.

Daqui para diante, acho importante ter presente o seguinte recado, que é,

digamos, o mais importante. Primeiro, não cause dano algum. Há dois anos,

quando o Presidente Clinton lançou a estratégia da Casa Branca sobre comércio

eletrônico, a primeira coisa que ele falou é que devemos agir como o médico com o

paciente: não causar malefício algum. Claramente, a Internet e o comércio

eletrônico vêm expandindo e explodindo, realmente, a um ritmo incrível. E os

legisladores, bem como os líderes do setor, devem assegurar que não ajam como

obstáculo ou empecilho à sua expansão. Não cause dano, portanto.

Em segundo lugar, acreditamos que o Governo deve deixar o setor privado

encabeçar a liderança. Não só o empresariado, mas também as organizações

não-governamentais. Acreditamos que o setor privado está bem próximo e atua

lado a lado do mercado, conhece a tecnologia e pode, portanto, propor soluções

muito rapidamente.

Também instamos os senhores, aqui, a pensarem em escala global, porque

a Internet é um meio global – estamos criando, obviamente, um mercado eletrônico

de escala global. Fica patente, também, que a criação de soluções unicamente

internas ou nacionais não será o bastante nesse novo meio de escala global.

O quarto ponto que vale frisar é que sempre, em todos os momentos — e

aqui insto os senhores — a maximizar o número de escolhas disponíveis e

maximizar a concorrência. É claro que não sabemos, exatamente, como a

tecnologia virá evoluir. Fica ainda mais claro, também, que não conhecemos todos

os novos ramos de negócio, novas possíveis aplicações que virão a surgir e a se

desenvolver nos próximos anos. Portanto, a idéia é maximizar o número de

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escolhas possíveis e, assim, assegurar que muitas pessoas possam experimentar

diferentes tecnologias e também diferentes soluções aos problemas que hoje

enfrentamos.

O quinto ponto a ser frisado: não tente, digamos, projetar o futuro. Devido às

oportunidades ilimitadas da Internet, não convém já redigir um plano qüinqüenal

que diga: temos de fazer isso, isso e aquilo, A, B e C, de antemão, uma vez que há

muitíssimas opções e muitíssimas coisas ocorrendo. Portanto, novas oportunidades

aparecem o tempo todo.

Lembrem-se, também, que, muitas vezes, na área de regulação menos

significa mais. A Internet, até agora, vem crescendo sem muita regulação. E, na

maioria dos países, ela tem duplicado e até mesmo triplicado a cada ano. Isso, em

grande medida, devido ao fato de não estar sujeito à regulação. De modo que, em

suma, não regulem; apenas demonstrem.

Na Casa Branca, trabalhamos com uma série de diplomas legais ou projetos

de lei. O mais importante deles, possivelmente, foi a Lei de Telecomunicações de

1996, que desregulou e aumentou a concorrência no setor de telecomunicações.

Foi um projeto de lei muitíssimo importante. Porém, à época, também criamos o

site, a página, na Internet, da Casa Branca, que, por quatrocentos mil dólares,

demonstrou, muito claramente, o poder da Internet, não só para os americanos mas

para os cidadãos de todo o mundo.

Quando a página da Internet do Presidente foi colocada no ar, todos os

presidentes executivos de empresas nos Estados Unidos disseram ao seu pessoal:

“Olha, o Presidente tem a sua página na Internet; faz uma para mim também”,

pediram todos. Ou seja, divulgando publicamente novas tecnologias, utilizando

novas tecnologias no Governo, de modo a encabeçar e mostrar um exemplo, no

sentido eficazmente regular.

À medida que considerarem, por exemplo, a legislação sobre a assinatura

digital, insto, também, a que considerem formas pelas quais o próprio Governo

brasileiro possa utilizar assinaturas virtuais, de modo que ele mesmo demonstre,

por exemplo, as oportunidades existentes nessa área.

O segundo desafio, além de criar regras para reger o comércio eletrônico,

consiste em criar uma Internet que seja financeiramente acessível, confiável e, ao

mesmo tempo, ubíqua, de ampla capilaridade e disponível a todos no Brasil e em

todo o mundo.

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Para tanto, existe um grupo que foi criado, chamado Grupo Projeto Internet

Global. É um grupo presidido pela IBM e que foi iniciado por Jimmy Clark, que é o

fundador da Netscape, há quatro anos. O grupo inclui pessoas tais como o senhor

Vent Surf, que é um dos patronos da Internet, por assim dizer, um dos pais

fundadores. Esse grupo se reúne com vistas a desenvolver novas soluções para

problemas relativos à Internet e, também, para ajudar os Governos, em todo o

mundo, a compreenderem melhor como a Internet vem se desenvolvendo e o que

os Governos podem fazer para fomentar seu desenvolvimento.

Uma das coisas mais importantes que fizeram foi tomar a iniciativa de

procurar soluções de natureza não-reguladora para os problemas da Internet. No

ano passado, trabalhamos ativamente com a participação de organizações

não-governamentais, para a atribuição de nomes de domínios. É uma questão

bastante controvertida.

É patente que é preciso haver algum sistema para a atribuição de nome de

domínio. Por exemplo, www.ibm.com é um nome de um domínio. Até 1998, o

Governo americano é que supervisionava a atribuição de nome de domínio. Mas, a

partir de então, o governo americano decidiu que deveria haver uma organização

internacional e, para tanto, criou uma organização sem fins lucrativos, que o Projeto

Internet Global ajudou a criar e a financiar. Acreditamos que esse tipo de atividade

não-governamental e de escala internacional é indispensável para a Internet de fato

crescer rapidamente e superar alguns dos problemas que possam aparecer.

Ao longo dos últimos três anos, o Projeto Internet Global já emitiu uma série

de relatórios importantes, um dos quais esboça uma estrutura para a formulação de

política sobre a matéria, a saber, a Internet. E outro documento recém-lançado, na

última semana, lida com a questão da segurança no espaço cibernético e mostra

como o setor está adotando medidas para garantir a segurança na Internet.

Também emite recomendações para os Governos adotarem, em termos do que os

Governos, eles mesmos, podem fazer, mediante assinaturas digitais e mediante o

aperfeiçoamento dos procedimentos governamentais com o fim de promover o

aumento da segurança na Internet.

O Projeto Internet Global identificou seis áreas-chave que precisam ser

abordadas, à medida que progredirmos daqui para diante. O comércio eletrônico

situa-se na parte de cima desta pirâmide de políticas, uma vez que é preciso

superar primeiro todas as questões que estão embaixo. As questões que aparecem

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ilustradas na parte de baixo neste diagrama devem ser abordadas para, de fato,

termos uma prática de comércio eletrônico implementado.

É preciso que se implemente, primeiramente, uma infra-estrutura de

informação eficaz, acompanhada de segurança, privacidade e questões de

conteúdo igualmente em cada uma dessas áreas. Acreditamos que o setor privado

pode tomar medidas a fim de lidar com muitas das preocupações dos usuários da

Internet e dos governos.

A título de exemplo, na área de segurança, todos temos uma meta em

comum. Todos pretendemos proteger eficazmente os dados e as redes.

Antigamente, os governos garantiam a segurança das redes trabalhando com as

empresas de monopólio telefônico, para assegurar que houvesse uma única rede

universal, um sistema fechado. Portanto, o governo impunha determinados

requisitos e isso, por sua vez, garantia a segurança.

Atualmente, temos um mercado competitivo. Portanto, esse modelo não mais

funciona. Hoje, os grupos industriais do setor trabalham conjuntamente. Centenas

de diferentes empresas estão juntas, desenvolvendo novos padrões e tecnologias

de melhor qualidade, para fins de promoção da segurança. E isso em escala global.

Outro exemplo é a questão da privacidade. Uma vez mais vale ter presente

que todos compartilhamos da necessidade em comum de garantirmos que os

nossos dados privados sejam, de fato, protegidos quando os usamos via Internet. A

IBM, por sua vez, está muito empenhada e comprometida a assegurar a

privacidade de nossos clientes. E estamos assistindo os nossos clientes a, por sua

vez, garantirem a privacidade de seus clientes, terceiros, uma vez que na ausência

de privacidade a Internet simplesmente não será um locus viável para o comércio

eletrônico.

A forma antiquada de fazer isso seria os governos determinarem uma

regulação bem pormenorizada acerca de quais dados poderiam ser coletados,

como isso poderia ser feito e como seriam, por sua vez, utilizados. Assim

trabalhavam os governos, emitindo regulações detalhadas. Na Europa,

particularmente, desenvolveram-se comissões de privacidade e uma regulação

bastante pormenorizada sobre a questão da privacidade. Infelizmente, no entanto,

essas regulações nem sempre se mantiveram no compasso da evolução

tecnológica. Daí a IBM e outras empresas defenderem uma abordagem diferente,

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que é a auto-regulação do setor industrial e o uso de novas tecnologias que venham

assegurar a privacidade de todos nós usuários.

Uma dessas tecnologias, em particular, é a chamada P3-P. Talvez os

presentes já a conheçam. É o que, em inglês, denominamos de plataforma de

definição do grau de privacidade preferido, que me permite ajustar o meu browserou dispositivo de navegação no meu micro a um determinado nível de preferência

de privacidade. Ele me permite, portanto, definir o meu próprio grau de proteção da

privacidade no meu domicílio. Por exemplo, posso girar o disco apenas e nada

mais. Se eu quiser, por exemplo, proteção absoluta em termos de privacidade,

posso ajustar para tanto. E aí o meu navegador ou browser só me permitirá chegar

àqueles sites que assegurem absoluta proteção de privacidade e eu poderei surfar

anonimamente.

Esse tipo de tecnologia, acreditamos, pode funcionar globalmente. Será

possível atribuir, a cada indivíduo, o tipo de proteção de que cada indivíduo precisa.

Acreditamos, também, que no longo prazo esse tipo de tecnologia pode se provar

muito mais eficaz do que o tipo de regulação mais antiga que se observou na

Europa.

Pornografia é outra questão bastante candente que temos de abordar no

espaço cibernético. É preciso proteger nossas crianças, nossos filhos, da

pornografia e de conteúdo de natureza violenta. Antes os governos censuravam os

conteúdos na Internet. Nos Estados Unidos, tentamos essa abordagem em 1996.

Foi aprovada uma lei, foi promulgada, na forma da Lei de Padrões Morais em

Comunicações, que proibia a pornografia e outras coisas. Foi declarada, no

entanto, inconstitucional pelo Supremo Corte americano. De qualquer modo, não

seria muito eficaz porque era uma lei de âmbito nacional e, portanto, não se

aplicaria aos sites ou páginas internacionais.

Desde a promulgação dessa lei, no entanto, o setor tomou certas medidas.

Fomos desafiados pelo Governo a lidar com esse problema. Criamos tecnologias

de filtragem e sistemas de filtragem. Hoje, a pornografia virtual não é tanto uma

fonte de preocupação, porque já dispomos de formas pelas quais proteger nossos

filhos, não mediante a censura, mas, sim, mediante a filtragem daquilo que nossas

crianças ou filhos podem ver, em termos de conteúdo.

Gostaria, também, de trazer-lhes à atenção um relatório bastante importante

chamado “Guia de Prontidão para o Comércio Eletrônico”. Acredito que disponho de

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cópias extra deste relatório, que foi elaborado pela Universidade de Harvard e

permite que os países avaliem até que ponto estão tendo um bom desempenho ou

não, em dezenove diferentes áreas, a saber: a infra-estrutura da informação,

disponibilidade e acesso à Internet, facilidade de acesso à Internet, em termos

financeiros, governo eletrônico e, também, o arcabouço ou quadro de referência

que seja propício aos negócios do comércio eletrônico, entre outras.

Este tipo de guia de preparação para o comércio eletrônico tem sido utilizado

em todo o mundo, pelos governos de todo o mundo, para ver até que ponto se está

ou não pronto para o comércio eletrônico. Este é um exemplo que mostra que os

Estados Unidos e o Canadá estão bem adiantados em se tratando de

desenvolvimento do comércio eletrônico.

A maior parte dos analistas do setor indica que o Brasil está mais ou menos

no meio deste diagrama, próximo da Alemanha ou do Japão. Porém, esta

Comissão pode nos ajudar a assegurar que o Brasil seja, de fato, um líder e

desenvolva o comércio eletrônico mais rapidamente que outros países. Muitos

deles, na verdade, não têm políticas que sejam propícias, nem fomentem o

comércio eletrônico ainda.

Dito isso, eu gostaria de concluir com alguns pequenos adesivos, meio

engraçados, do tipo que se vêem nos pára-choques dos carros. No Senado

americano, eu aprendi que você tem que ter êxito e, para tanto, é preciso ter algum

tipo de slogan ou um tipo de frase sugestiva. Isso porque no Senado americano só

se tem cinco minutos para falar. Então, há que se falar de modo a chamar a

atenção e ser sugestivo.

O primeiro slogan é: “O futuro vai chegar mais rápido do que você imagina”.

A tecnologia está avançando tão rapidamente que fica patente que não é possível

prever o que vai estar, de fato, em vigor ou acontecendo dentro de cinco anos. O

segundo slogan é que a revolução da Internet será tão transtornadora quanto a

imprensa de Gutemberg. Porém, muito mais rápida, totalmente global em seu

alcance e muito menos previsível.

Muitos dos presentes provavelmente já ouviram essas palavras antes, é

verdade. Alguns dos presentes provavelmente já usaram essas mesmas palavras

em discursos. Agora, imagine o que a imprensa fez. A imprensa, criada por

Gutemberg, reduziu o custo da informação em mais de 99%. Antes de Gutemberg,

levava um ano inteiro para se escrever um livro. Gutemberg conseguiu produzir um

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livro em um ou dois dias. A Internet já reduziu o custo de se criar e divulgar

informação em 99%. E a próxima geração da Internet, a Internet II, será cem vezes

mais rápida e cem vezes mais barata, e propiciará a mesma coisa, o mesmo ciclo

de avanços se repetirá. A criação da imprensa permitiu que a reforma ocorresse na

Europa. A maior parte dos historiadores argumentaria que sem a imprensa não

teríamos a democracia representativa. Esse é o tipo de mudança que a Internet

ocasionará. Estou muito feliz em ver que estão abordando essas matérias aqui,

hoje.

E o terceiro slogan, que é igualmente importante, é: “Comércio eletrônico ou

nada de comércio”. Nos Estados Unidos e em outras partes do mundo, as

empresas que não adotam a abordagem on-line simplesmente não vão sobreviver.

A IBM, atualmente, está adquirindo 25% de todos os materiais que utilizamos

on-line, eletronicamente. Daqui a três anos, três quartos de tudo aquilo que

adquirimos será adquirido on-line. Os fornecedores que não estiverem disponíveis

on-line, simplesmente não serão fornecedores da IBM.

Por fim, e talvez mais importante que tudo para este público é: “Não use os

modelos antigos para este meio tão novo”. Sei, pela experiência que tive

trabalhando em Washington, que a maior parte das leis é redigida por advogados.

Os advogados geralmente procuram precedentes do passado, aquilo que ocorreu

antes. Isso é importante, é verdade. Porém, para este mundo novo é preciso olhar

para a frente, para as novas soluções.

No meu país, dizemos que a guerra é importante demais para ficar nas mãos

dos generais. Nesse sentido, por analogia, eu diria também que o comércio

eletrônico é importante demais para ficar só nas mãos dos advogados. É preciso

que trabalhemos com soluções de tecnologia, modelos negociais e comerciais e

outras formas alternativas de abordar esses problemas, à medida que avançamos,

daqui em diante, com o comércio eletrônico.

Dito isto, muito obrigado, portanto, Sr. Presidente. Antecipo, com interesse,

suas perguntas.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Muito obrigado, Dr.

Michael Nelson.

Vamos proceder à próxima palestra e, depois, ao debate com os dois

expositores. É a forma, no meu entendimento, mais adequada neste momento.

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Não tenho dúvidas de que a tradução do português para o inglês será tão

eficiente quanto foi a do inglês para o português, feita pelos nossos intérpretes. Dou

o testemunho, até pela minha experiência no assunto.

Antes de passar a palavra ao Dr. Marcos da Costa, uma vez que a palestra

será em português e teremos mobilidade, solicito aos companheiros que,

discretamente, se dirijam à cabine, assinem o livro de votação e retornem, um a um,

sem atropelo, para iniciarmos o processo de votação.

Concedo, por vinte minutos, a palavra ao Dr. Marcos da Costa, Presidente da

Comissão Especial de Informática Jurídica da Ordem dos Advogados do Brasil de

São Paulo, assunto, segundo Dr. Michael Nelson, muito importante para ficar

exclusivamente nas mãos de advogados.

O SR. MARCOS DA COSTA - Sr. Presidente, Sr. Relator, Sras. e Srs.

Deputados, Prof. Michael Nelson, senhoras e senhores, vou procurar respeitar o

tempo que me foi destinado, tratando da necessidade ou não de regulamentar as

atividades voltadas ao comércio eletrônico exercidas na Internet de forma mais

genérica e conceitual.

No Brasil, há situação diferente em conceito de comércio eletrônico, com

dois pontos bem apartados: o comércio como objeto e o eletrônico como

instrumento.

Em relação ao comércio, não tenho dúvida, a legislação já é bastante

adequada. O Código de Defesa do Consumidor é um dos mais destacados no

mundo inteiro e existem o Código Civil, o Código Comercial e uma série de leis

esparsas.

No que diz respeito ao instrumento eletrônico, não há base legislativa no

Brasil, que já se apresenta bastante solidificada em outros países. Nos Estados

Unidos, por exemplo, existe quantidade bastante grande de legislação prevendo,

privacidade, não no sentido de alguém entrar no computador e retirar informações,

mas do tratamento informatizado de dados cedidos a uma terceira pessoa.

Na Europa, para se ter uma idéia, Espanha, Portugal e outros países tratam

especificamente da proteção do cidadão, em face do tratamento automatizado dos

seus dados, em disposições expressas constitucionalmente. Fora isso, há diretiva

da Comunidade Européia e uma série de leis em todos as nações que a compõem.

Outro exemplo é relativo ao documento eletrônico. Todos os estados

norte-americanos, iniciando por Utah, depois, Califórnia — um país onde a

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competência legislativa é estadual —, dispõem de leis concedendo eficácia jurídica

ao documento eletrônico. Lá, hoje, a preocupação visa a harmonização dessas

legislações estaduais, num ambiente de comércio federal e, naturalmente, global.

Na Europa, a diretiva da Comunidade Européia determina aos países que

consagrem em suas legislações internas normas que assegurem ao documento

eletrônico a mesma eficácia jurídica do documento em papel. A Alemanha foi a

primeira a tratar disso, e ainda há Itália, Portugal, Espanha e França.

Na América do Sul, a Argentina, não no que se refere a lei, mas a decreto,

trata essa questão no âmbito da administração pública federal. Uruguai, Colômbia e

outros tantos países coirmãos do continente também regulamentam a matéria.

Estive na semana retrasada num evento em Harvard, e a primeira pergunta

feita numa discussão acadêmica era se no Brasil já havia lei concedendo eficácia

jurídica ao documento eletrônico ou à assinatura digital. Nesse ambiente, é difícil

discutir legislação de comércio eletrônico no País em relação ao que acontece no

contexto internacional.

Quando se discute nos Estados Unidos ou Europa a necessidade de se

regular as atividades exercidas no âmbito do comércio eletrônico, discute-se num

ambiente onde existem leis normatizando o comércio tradicional e o instrumento

eletrônico que dão o amparo jurídico necessário para essas atividades, que ocorrem

na rede mundial na Internet.

No Brasil, não há legislação tratando de instrumento. Daí porque essa

comparação de países deve ser vista com muito cuidado.

Como regular hoje a Internet, num conceito de comércio, que se dá de forma

global, usando tecnologia que se moderniza a cada dia? Existem parâmetros,

normas de caráter transnacional ou supranacional que devem ser vistas como fonte

base de inspiração por parte dos legisladores nacionais.

Existem fundamentalmente duas fontes principais: lei modelo da UNCITRAL

— Comissão das Nações Unidas para o Direito Comercial Internacional — e

diretivas ou propostas de diretivas em fase bastante adiantada de discussão no

Parlamento Europeu, tratando de assuntos como assinatura digital ou comércio

eletrônico. Há uma que deverá ser aprovada em um ou dois meses, já passou por

todos os debates necessários, tratando especificamente das relações no âmbito do

comércio eletrônico. Essas fontes têm a grande vantagem de, uma vez criadas no

âmbito internacional, não trazerem aspectos individuais da cultura de cada país.

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Uma terceira fonte de referência são as leis já existentes de caráter nacional.

Como disse, quanto ao documento eletrônico, já há numerosíssimas leis aprovadas.

Talvez o Brasil seja o único país de capacidade econômica mais expressiva que

ainda não tratou dessa matéria em lei ou decreto presidencial. Existem dois projetos

tramitando no Congresso Nacional, um nesta Casa e um no Senado, que tratam

dessas preocupações que devem ser ajustadas a essa realidade, uns com mais

disposições, outros com menos.

No caso do Projeto nº 1.589, de que me cabe falar especificamente, a

preocupação foi tratar das questões mínimas que já têm legislação apropriada em

outros países, que certamente merecerão debate mais aprofundado nesta Casa,

como privacidade de dados, responsabilidade dos provedores, que tem como fonte

principal o Direito europeu, documento eletrônico, assinatura digital e certificação

eletrônica.

No que fiz respeito à privacidade, o que verificamos no mundo, como já

disse, são leis específicas tratando da privacidade do cidadão em face do

tratamento automatizado dos seus dados. Mas acreditamos que disposições

mínimas neste momento se fazem necessárias, pela urgência que o tema requer.

A preocupação em relação a isso é o tipo de tratamento automatizado que se

dá aos dados de alguém por parte de terceiros. Uma pessoa, ao transmitir a

terceiros informações isoladas, muitas vezes, inocentes, como nome, hobbies ou

número de viagens que fez a determinado país ou região do País, essas

informações, tratadas de maneira conjunta — embora inocentes, individualmente

—, podem passar a criar uma verdadeira devassa em relação ao cidadão.

Quanto aos provedores, a preocupação é criar conceito de responsabilidade

num ambiente em que se saiba que os provedores não terão condições de

conhecer todas as informações que trafegam através deles, ou seja, adotando o

estilo de propostas já existentes em outros países.

Há pouco tempo, foi definido na França um sistema de busca dos mais

relevantes no mundo, o Yahoo, para suprimir os sites que oferecessem material

nazista. A proposta parte do princípio de que os provedores não têm

responsabilidades sobre os dados que trafegam através deles. Mas, a partir do

momento em que têm conhecimento inequívoco de que estão servindo para

instrumentalizar um comércio ilícito, devem promover a suspensão desses serviços.

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Em relação ao documento eletrônico e assinatura digital, o que o projeto faz

basicamente é adotar o que há de mais moderno no mundo: garantir eficácia

jurídica ao documento eletrônico, a partir de sua criação, pelo sistema de

criptografia assimétrica. Neste momento, não existe previsão de desenvolvimento

num sistema que assegure privacidade, conhecimento da autoria do documento,

que o documento não foi alterado depois de ter sido assinado digitalmente, como a

criptografia assimétrica. Portanto, o documento emitido através da criptografia

assimétrica ou de chave pública, pelo projeto, passaria a ter eficácia jurídica.

Estamos verificando que alguns países tratam da certificação eletrônica só

sob o ângulo público. Na Itália, por exemplo, só as certidões emitidas por órgãos

públicos, no caso dos notariais, têm validade jurídica. Nos Estados Unidos, onde o

conceito de responsabilidade é diferente do nosso, boa parte das legislações

estaduais reconhece a eficácia jurídica, inclusive a certidão privada, mas com um

detalhe muito interessante, a Certsign, a maior certificadora do mundo. E nesse

contexto é importante o conhecimento para entender a lógica da certificação: a

certificação certifica a titularidade de uma chave pública, é uma tecnologia, mas não

é só a tecnologia, existe todo um procedimento que envolve esse processo.

Por exemplo, como saber que aquela pessoa que se apresenta como titular

da chave pública é efetivamente quem diz ser? A Certsign e outras entidades

privadas adotam classes diferentes de certificação: a classe 1, num determinado

nível de responsabilidade; a classe 2, numa responsabilidade mais ampla, e a

classe 3, numa responsabilidade mais próxima da plena. É esta última que se utiliza

da base pública de órgãos públicos notários, consulados e outras entidades que

tenham fé pública para assegurar plena validade à titularidade da chave pública que

está certificando.

A matéria é complexa e certamente demandará dos senhores um volume

muito grande de informações e debates. Mas, dado ao limite de tempo,

proponho-me a parar por aqui e, depois, se for o caso, a responder às questões.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Dr. Marcos da Costa,

agradeço a V.Sa. o cumprimento do tempo, porque teremos agora a oportunidade

de continuar debatendo o assunto, segundo a orientação dos Parlamentares que

desejarem fazer perguntas.

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Registro a presença do Relator, Deputado Julio Semeghini. S.Exa. tem

prioridade para apresentar as primeiras questões, mas abre mão dessa

prerrogativa.

Concedo a palavra ao Deputado Nelson Proença.

O SR. DEPUTADO NELSON PROENÇA - Sr. Presidente, Sr. Relator, Sras.

e Srs. Deputado, senhores expositores, ouvi com atenção a exposição dos dois

apresentadores e me parece que algumas questões são preliminares, no momento

em que esta Comissão inicia o debate sobre uma legislação que proteja o

consumidor brasileiro no que diz respeito aos trâmites do comércio eletrônico.

Essa questão preliminar pode ser repetitiva, mas é importante que seja, na

minha opinião, reapresentada. A força da Internet até hoje foi sua liberdade, o que a

permitiu crescer, expandir-se e se transformar nesse instrumento poderoso de

divulgação do conhecimento.

No Brasil, há alguns anos, houve discussão sobre a conveniência ou não da

intervenção do Estado na regulamentação da Internet, que foi superada. E, na

minha opinião, graças ao fato de que não deveria haver intervenção governamental,

o País pode respirar aliviado e verificar que aqui é um dos lugares onde mais se

expande a Internet e seu uso.

A sociedade brasileira está novamente com a incumbência de decidir

questões que envolvem Internet. A primeira preliminar é a importância de se

regulamentarem mecanismos claros de proteção ao consumidor e de certificação

eletrônica. Mas também acho relevante que, no momento em que iniciarmos isso,

tenhamos presente a necessidade de resistir à tentação a que muitas vezes

sucumbe o legislador brasileiro de detalhar e terminar interferindo na liberdade, que,

nesse caso específico, a Internet precisa ter.

O importante é termos condições de preparar um projeto capaz de proteger

os direitos do consumidor — esse aspecto me parece o mais relevante —,

adotando bons mecanismos de certificação eletrônica. Mas também é importante

proteger a privacidade do usuário. Parece-me que nessa questão os dois

apresentadores, talvez limitados pelo tempo, ficaram um pouco aquém do que eu

gostaria de ouvir.

Depois dessa abordagem inicial, faço uma pergunta, endereçada aos dois

expositores, que gostaria de ver respondida. Em vários lugares do mundo, nos

Estados Unidos e mesmo no Brasil, começam a discutir a conveniência de uma

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legislação e uma tecnologia que ampare o direito à privacidade do cidadão.

Parece-me que quatro são os pilares sobre quais os elas devem ser construídas.

O primeiro é dar direito ao usuário de saber, quando entrar em determinado

site, portal, ou qualquer lugar, que, naquele momento, pode estar deixando

informações sobre sua pessoa. Obrigar as empresas, provedores, portais e sites ainformar claramente quando estiverem coletando informações do usuário.

O segundo ponto, talvez mais importante que o primeiro, dar ao usuário o

direito de recusar a coleta e o registro das suas informações.

Terceiro, permitir, usando expressão da rede, disclose das informações que

eventualmente o cidadão deixe registradas. Dar a ele acesso às informações que,

por acaso, qualquer empresa, provedor, site registre dele próprio.

Quarto ponto, uma legislação moderna, competente e atualizada, capaz de

estabelecer penalidades para as empresas que a transgredirem.

Esses quatro pontos fundamentais para uma legislação atualizada,

contemporânea, à altura da Internet, capaz de proteger o que me parecer mais

importante, no que diz respeito às discussões que envolvem Internet: a

possibilidade de proteger o direito à privacidade que cada cidadão tem.

Repito, deixo claro que, quando se vai coletar informações de um usuário,

deve dar-se a ele o direito de decidir se quer ou não que as informações sejam

coletadas, de acessá-las e punir eventuais infrações. É a contribuição que deixo

aos dois expositores.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, nobre

Deputado Nelson Proença.

Passo a palavra ao Dr. Michael Nelson, para que se pronuncie, por três

minutos.

O SR. MICHAEL NELSON - (Tradução simultânea.) Muito obrigado. É uma

pergunta bem complexa. Como eu disse antes, realmente achamos que qualquer

abordagem com regulações muito pormenorizadas detalhadas é um erro. Na

Europa, eles têm esse hábito de criar leis extremamente detalhadas, não a respeito

do objeto de trabalho de uma empresa mas sobre como fazer esse trabalho. E é o

tipo de legislação ao qual nós nos opomos. Muitas das leis européias foram escritas

vinte anos atrás, quando um computador custava 1 milhão de dólares. Só os

grandes bancos ou organizações enormes tinham computadores. E todos os

computadores eram computadores da minha empresa, IBM. Hoje em dia, você tem

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a Internet e você compra um computador por quinhentos dólares. Essas leis de

vinte anos atrás já não funcionam tão bem nesse novo mundo de redes.

Portanto, a IBM acredita na auto-regulação. Se bem que eu concordo

completamente com os princípios que o senhor mencionou. São as boas práticas

de comércio que qualquer empresa deveria respeitar, como a IBM respeita. Aliás,

fomos ainda mais longe do que o senhor mencionou. Todos os sites em que temos

anúncios da IBM são escolhidos após eles concordarem que também obedecerão a

essas práticas. Eles devem avisar ao usuário se estão coletando a informação e

como essa informação está sendo usada. E as empresas que não obedecem a

essas regras são punidas por nós. Como? Não colocamos mais nossos anúncios

nas suas páginas. Eles perdem milhões de dólares por ano. É um incentivo

fortíssimo.

Mas eu acho que regras detalhadas demais, que não apenas dizem o que

deve ser feito mas como deve ser feito não funcionarão. Achamos que isso não irá

funcionar. Primeiro, porque a tecnologia está mudando constantemente. Então,

uma regra sobre o projeto de uma página na Internet, ou sobre como deve ser essa

página, são regras que não funcionarão no futuro, quando as pessoas estarão

simplesmente falando com a Internet por telefone, em vez de vê-la numa tela. Já

vimos regras que diziam que a política sobre privacidade precisa aparecer na

primeira página da Internet. Mas se você está falando por telefone com a Internet,

isso não funciona. Você não pode ver nada.

Então, o Governo deve incentivar a auto-regulação. É nisso que acreditamos.

Lembrem-se que eu disse: não regule, demonstre. Eu não disse "não legisle". Claro

que precisamos de legislação. Precisamos de legislação que possa eliminar as

regras mais antigas, que foram criadas para um mundo cheio de papéis, para que o

comércio eletrônico possa progredir.

O Sr. Marcos mencionou uma série de coisas a respeito de

responsabilização, por parte dos provedores, e a necessidade de se aceitarem

assinaturas digitais em vez de tinta em cima do papel. Tudo isso é muito

importante, concordo com ele. Mas regulações detalhadas que especificam não

apenas o que a empresa deve fazer, mas como, serão um obstáculo ao comércio

eletrônico. E se de oito países do mundo cada um decide criar a sua própria

legislação detalhada para comércio eletrônico, qualquer grande empresa não

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poderá lidar com tantas legislações diferentes. E será mil vezes pior para as

empresas de pequeno porte.

Então, se os senhores trabalharem com essa legislação sobre privacidade,

espero que sua legislação fomente a auto-regulação, ajudando-nos a fazer o que as

boas empresas já estão fazendo, ou seja, desenvolvendo boas práticas para os

setores e estimulando nossos clientes e parceiros a fazerem o mesmo. Muito

obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, Dr. Michael

Nelson.

Com a palavra o Dr. Marcos da Costa.

O SR. MARCOS DA COSTA - Está com plena razão. É uma das

preocupações básicas, às quais agregaria mais uma: o direito de o consumidor

saber de que forma seus dados estão sendo tratados, ou seja, saber que está

sendo solicitada determinada informação e, mais do que isso, como vai ser tratada,

e sob o ângulo da informática mesmo.

Com referência à questão de saber — aí, a preocupação, me parece, mais

com cookies, esses softwares que entram no computador sem acesso, sem que o

usuário da Internet saiba que está ocorrendo —, estou de pleno acordo com o Prof.

Michael, acredito que a tecnologia já dispõe de elementos suficientes para essas

situações.

Talvez seja preciso que as empresas, tanto os provedores quanto os que

desenvolvem sistemas, principalmente aqueles que oferecem browser, se

conscientizem de que devem configurá-lo para que seja apurado no início. O que se

vê hoje é o contrário: o browser não está configurado para que o usuário comum

saiba que essas informações estão sendo solicitadas. É uma questão de cultura,

que está sendo bastante notada.

Tivemos preocupação com o ponto crucial: o tratamento da automatização

de dados. Primeiramente, só devem ser solicitados dados, no âmbito do comércio

eletrônico, ligados ao negócios. Se estou comprando uma cadeira, não há por que a

empresa me perguntar quantas vezes viajo para a Europa. A pergunta "quantas

vezes" pode ser simples e singela para quem está informando, mas certamente tem

conteúdo diferente para quem a está solicitando.

Essas informações devem ser tratadas no âmbito do negócio que está sendo

proposto, só podendo ser repassadas a terceiros com autorização expressa do

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usuário, sem depender do negócio que está sendo feito. Não posso vender uma

cadeira e dizer: só vendo a cadeira se você me passar quantas vezes viaja para a

Europa.

Acreditamos que com esses elementos — as informações solicitadas serem

inerentes ao negócio que está sendo proposto, elas só serem transferidas a

terceiros com expressa autorização do consumidor, no papel ou através de

documento eletrônico, sem estar vinculada à aceitação do negócio —, pelo menos,

disciplinará rápida e eficientemente, mas certamente irá requerer, depois, como

disse, um debate muito mais prolongado, uma disciplina um pouco mais extensa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, Dr. Marcos

da Costa.

Pergunto ao Deputado Nelson Proença se está satisfeito com as análises ou

se gostaria de aprofundar mais a questão.

O SR. DEPUTADO NELSON PROENÇA - Acho que vamos ter oportunidade,

ao longo de outras audiências públicas, de aprofundar um pouco mais a matéria.

Só vou reforçar um pouco a questão da desregulamentação, chamando a

atenção para o fato de que Brasil e China discutiram esse assunto no mesmo

período e decidiram caminhos diferentes: o Brasil, desregulamentar a Internet, a

China, regulamentá-la. E hoje o País usa muitas vezes mais a Internet do que a

China, que provavelmente tem um problema sério de competitividade, pelo mau uso

da Internet. A conseqüência disso é o excesso de regulamentação, provavelmente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, Deputado

Nelson Proença.

Antes de passar a palavra ao Deputado Walfrido Mares Guia, consulto os

palestrantes se vão apresentar documentação impressa, a fim de a distribuirmos

posteriormente aos membros da Comissão.

O SR. MARCOS DA COSTA - Eu não usei, Presidente, mas eu poderia me

comprometer em encaminhar posteriormente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Agradeço.

Com a palavra o Deputado Walfrido Mares Guia.

O SR. DEPUTADO WALFRIDO MARES GUIA - Sr. Presidente, Sr. Relator,

Sras. e Srs. Deputados, senhores palestritas, em primeiro lugar, gostaria de

cumprimentá-los pela competência e objetividade.

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O escopo do nosso trabalho é criar uma legislação, não regulamentação —

ficou muito bem explicado que regulamentar é diferente de legislar —, que conceda,

usando as palavras do Dr. Marcos da Costa, eficácia jurídica ao documento

eletrônico.

A intervenção do Deputado Nelson Proença foi extraordinária, porque já

colocou na primeira intervenção os parâmetros lúcidos do que procuramos. Como

estamos num país que adora fazer leis gigantescas, devíamos ter preocupação

permanente de evitar qualquer legislação muito discursiva e sobretudo cartorial.

Devemos ter a preocupação de evitar legislar, achando que estamos apenas

legislando e não regulamentando, e criar cartórios para que as pessoas possam

entrar na Internet, que não é uma tradição americana.

V.Sa., Dr. Marcos da Costa, disse claramente que aqui temos de reconhecer

a firma e nos Estados Unidos não. Obviamente, há uma legislação penal

absolutamente distinta lá e cá. O receio que tenho, no momento em que estamos

começando um trabalho como este, é que apareça algum ousado querendo até

propor legislações que, no final, nos obrigue a reconhecer firma do que estamos

fazendo.

É muito importante termos a preocupação de fazer uma coisa leve, eficaz,

não criadora de limites para a liberdade da Internet — que é global, não é brasileira

—, que evite que alguém diga que ela é patrimônio nacional. A Internet é mundial,

somos um pedaço dessa questão e temos de trabalhá-la bem.

Fixo minha intervenção exclusivamente em exortar, esperando ouvir a

opinião de ambos nessa questão de não criarmos dificuldade para nós mesmos,

buscando legislação cartorial, sobretudo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, Deputado

Walfrido Mares Guia.

Concedo a palavra ao Dr. Michael Nelson.

O SR. MICHAEL NELSON - (Tradução simultânea.) Concordo plenamente

com o senhor. Como disse antes, a coisa mais importante que os senhores podem

fazer, nesta Comissão, é maximizar as escolhas possíveis para os consumidores e

para o setor, as indústrias. E uma das coisas que me preocupa mais, com relação a

essa legislação, esse Projeto de Lei 1.589 é que, de fato, daria aos notários a

responsabilidade de certificar essas assinaturas eletrônicas, e só eles poderiam dar

esse certificado às assinaturas.

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Precisamos ter muita abertura, muitos níveis de segurança em muitas

empresas – bancos, empresas de cartão de crédito, até grandes cadeias de lojas –

envolvidos na certificação. E queremos que suas leis sejam compatíveis com as leis

do resto do mundo.

Aliás, eu iria além, eu diria que o senhor tem toda razão quando diz:

"Cuidado, não devemos regular". Se a legislação for bem redigida, não estarão

criando nova regulação. Mas esse projeto de lei que examinei me preocupa porque,

sim, estará levando ou indo em direção à regulação. Por exemplo, as empresas só

poderiam coletar informações a respeito dessa transação se colocassem isso na lei;

alguém terá de regulamentar isso, porque alguém terá de decidir o que tem a ver

com a transação e o que não tem a ver com a transação comercial.

E, aí, as pessoas vão se processar nos tribunais. E o comércio eletrônico

será obstaculizado. Se eu comprar uma cadeira, talvez não faça sentido saber

quantas vezes eu vou à Europa. Isso, não. Mas talvez valha a pena saber a minha

altura ou se eu tenho filhos. Ou seja, são escolhas difíceis. Se você criar uma lei

que limita isso, acabarão tendo que criar regulação.

Então, a resposta é: concorrência, informação e opções. Porque é isso que

garantirá que os consumidores encontrarão o que querem na Internet.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, Dr. Michael

Nelson.

Concedo a palavra ao Dr. Marcos da Costa.

O SR. MARCOS DA COSTA - Sr. Deputado, tenho participado de encontros

há algum tempo e da redação do anteprojeto elaborado, em que o ponto mais

discutido é exatamente a certificação. Não me quis alongar pelo pouco tempo de

exposição. Mas, fundamentalmente, o que acontece?

Primeiro, documento eletrônico não é certificação, é um documento gerado a

partir de um processo seguro que garanta duas funções: conhecimento da autoria,

ou seja, saber quem é o autor do documento, e de que não foi modificado a partir

do momento em que foi emitido. Esses dois instrumentos estão vinculados para que

qualquer documento, seja em papel, seja eletrônico, possam ter validade jurídica.

Se eu tiver em papel um documento sem assinatura, não vai ter eficácia jurídica. A

primeira preocupação é essa: deixar claro que documento não é certificação.

A segunda, vamos pegar o caso de documento em papel. Posso assiná-lo e

transacioná-lo com uma pessoa que me conhece, sem que um terceiro tenha que

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assegurar que aquela assinatura me pertence. Ele me conhece e sabe que aquela

assinatura é minha. Num documento eletrônico, a mesma coisa: não preciso que

um terceiro certifique coisa alguma, preciso gerar um processo que me garanta

aqueles dois requisitos.

Quando chega a certificação eletrônica? Chega num contexto do comércio

eletrônico, em que as pessoas não se conhecem. Aí, temos duas situações.

Primeira, a certificação eletrônica. O que é? O processo adotado no mundo

inteiro, de criptografia assimétrica, é composto de dois itens: uma chave privada e

uma chave pública. A chave privada eu guardo, não mostro para ninguém. Ninguém

pode ter acesso a ela, sob pena de comprometer todo o processo. Essa chave

privada gera um documento, que vai ser lido, aberto, decodificado, a partir de uma

chave pública, que necessariamente será gerada juntamente com minha chave

privada. Ou seja, tenho minha chave privada, transfiro meu documento para o

Deputado Júlio Semeghini, que precisa da minha chave pública para decodificar o

documento. Se tiver minha chave pública e decodificá-lo, vai ter certeza de que o

documento foi emitido por mim, porque só eu tenho minha chave privada.

Ora, se o Deputado não me conhecer, não vai ter segurança de que essa

chave pública, encaminhada a ele como sendo minha, é minha mesmo. Se tiver

segurança, não precisa de certificação. Onde entra a certificação? Nesse momento.

Alguém vai informar ao Deputado Júlio Semeghini que aquela chave pública

pertence ao Marcos da Costa. A certificação é a certificação da chave pública. O

que acontece? Essa certificação tem um conteúdo de tecnologia e de acerto do

procedimento. Citei a Certsign, porque é um caso muito claro nesse sentido. Vou

especificar um pouco mais as três certificações, as três classes, para ficar muito

claro o que acontece.

A primeira classe de certificação, eu, Marcos da Costa, encaminho um

e-mail para a Certsign, onde digo: olha, Certsign, eu sou o titular dessa chave

pública. A Certsign pega esse meu e-mail e vai certificar para terceiras pessoas que

ela recebeu um e-mail do Marcos da Costa dizendo que aquela chave pública é

minha. Ora, como a Certsign tem certeza que a chave pública é minha? Ela não

tem. Então, o que ela faz? Ela informa ao mercado esse certificado, que ele chama

de classe um. Ele não serve para comércio eletrônico. Ele serve para

correspondências privadas, porque eu não tenho como ter certeza de que a chave

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pública pertence a Marcos da Costa, logo eu não posso certificar com qualidade,

com segurança.

Até 1998, além dessa, havia uma segunda classificação. Essa segunda

classificação pegava esse mesmo documento e fazia uma comparação entre os

meus dados e dados que terceiras partes, quer dizer, bancos de dados de outras

pessoas, tivessem com as minhas informações. Então, ela chegaria para alguém,

vamos supor, uma SERASA, uma Receita, alguém que tenha um banco de dados

de terceiros, e pergunta para esse banco de dados, faz uma confrontação entre as

minhas informações, as informações que eu declarei, e as informações que aqueles

terceiros têm.

Até 1998, início de 1999, se não me engano, essa era a segunda classe de

certificação. O que acontece? Ela começa a verificar. E mesmo com esse dado

ainda há alguma desconfiança, porque há um confronto de dados com a base de

dados de terceiros. Ela não tem a minha presença física, ela não me conhece

pessoalmente para poder fazer essa certificação.

Daí que, em 1999, cria-se uma terceira classe. Eu posso estar errado nos

valores, mas não na ordem de grandeza. Na primeira classe, dizia-se: não use para

comércio eletrônico, só para fins privados. E eu pago, eu me comprometo a

ressarcir, no máximo, entre 50 a 100 dólares. A grandeza de valores é essa.

Na segunda classe, dizia-se: use para comércio eletrônico para pequenos

valores e eu me comprometo a pagar algo em torno de mil dólares. Uma nova

ordem de grandeza.

Quando chega a terceira classe, o que se faz? Ela usa instrumentos,

estruturas públicas, e aí estou falando notarial, e especificamente na Convenção da

Certsign isso está expresso. Ela usa a estrutura notarial. Por quê? Porque a

estrutura notarial requer a presença da pessoa para fazer o registro da chave

pública, como uma assinatura. A pessoa precisa ir ao balcão do notário apresentar

um documento e dizer: sou eu mesmo. Aí o notário registra aquele documento.

Então, tem-se uma segurança maior, porque agrega a fé pública, própria dos

notários. O que acontece a partir disso? E aí dá-se um volume muito maior de

indenização. O valor da indenização multiplica algumas vezes. E estou-me referindo

a uma entidade americana, a maior entrada americana de certificação.

Então, a partir de 1999, ela cria essa terceira classe e diz: a classe por

notários, nos países que não têm notários por consulados e em outros países até

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advogados, quando têm fé pública. Nesse caso, é a melhor certificação para

valores mais expressivos e o nível de indenização a que eu me comprometo a

pagar é muito mais expressivo.

O que o projeto faz? O projeto trabalha com as duas modalidades. Ele

trabalha com a certificação privada e a pública. Quem vai decidir? É o mercado. O

mercado é que vai decidir se vai aceitar o certificado... #(falha na gravação), por

exemplo, de um banco. Ele sabe que o banco tem o documento de outra pessoa. A

pessoa foi lá e assinou a ficha de cadastramento. Então, ele vai ter confiança na

chave certificada por um banco. E, se ele quiser, ele vai ter confiança ou não na

chave do notário, mas é concorrência de mercado, as duas convivendo em comum.

Esse é o ponto. Obrigado pelo tempo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Eu fui generoso no

tempo, porque o Deputado Walfrido Mares Guia foi econômico na sua questão.

Indago se V.Exa. tem algo a acrescentar, se ainda ficou alguma dúvida.

O SR. DEPUTADO WALFRIDO MARES GUIA - Olha, em Minas Gerais

falamos que cachorro mordido de cobra tem medo de lingüiça. Então, a palavra

notário já me deixa arrepiado. Quer dizer, imaginar que na era eletrônica teremos

de pegar um veículo, ir a um cartório assinar um documento para dizer que eu sou

eu, deixa-me assustado. Acho que temos de encontrar soluções, ver como o mundo

está tratando desse assunto, para não termos que cair no cartório novamente. O

meu medo é o cartório.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, Deputado

Walfrido Mares Guia.

Concedo a palavra, imediatamente, ao Deputado Jorge Bittar.

O SR. DEPUTADO JORGE BITTAR - Inicio dizendo que tenho a mesma

preocupação do Deputado Walfrido Mares Guia. Acho que todos nós nos

preocupamos com isso. E também nos preocupamos em entender o que é essa

nova realidade, esse novo paradigma, para que possamos aproveitar essa era de

mudanças, de incorporação de novas e revolucionárias tecnologias, a fim de mudar

procedimentos também, simplificar procedimentos sem perda, evidentemente, da

eficácia de nossas ações. A grande reflexão que devemos fazer é exatamente essa.

Ouvimos aqui os convidados falarem sobre a necessidade da certificação

digital, como questão a ser objeto de construção legislativa. Ouvimos algo

importante sobre privacidade do cidadão. E pergunto: haveria alguma outra matéria

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a ser tratada, no que diz respeito ao comércio eletrônico em termos de elaboração

legislativa? Essa é a primeira pergunta.

A segunda pergunta, embora os senhores não sejam especialistas, mas

solicitaria informações, se estiver ao alcance dos senhores, sobre o que tem sido

tratado em termos de matéria tributária: taxação, impostos, enfim, na área de

comércio eletrônico, já que também essa mudança de paradigma nos coloca diante

de situações inusitadas, como transações de bens não tangíveis, através da

Internet, quer dizer, como tributar esses bens que tendem a ser os bens dominantes

a serem objeto de transações na Internet.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, Deputado

Jorge Bittar.

Passo a palavra, inicialmente, ao Dr. Michael Nelson.

O SR. MICHAEL NELSON - (Tradução simultânea.) Muito obrigado. Gostaria

de começar dizendo que achei a explicação do Sr. Costa sobre assinaturas digitais

e autenticação digital uma das melhores apresentações sobre a matéria que eu já

vi. E isso com a ótima tradução que recebemos. Fiquei, realmente, muito feliz em

ver como ele descreveu o funcionamento da tecnologia nos diferentes níveis de

segurança.

Acredito que também vale observar que qualquer tipo de legislação ou

diploma legal deve ter presente que haverá a necessidade de diferentes graus ou

níveis de segurança e diferentes níveis de autenticação. Portanto, é preciso

margem de flexibilidade.

Foi perguntado sobre quais outras questões ou matérias devem ser

abordadas nessa discussão de modo a promover a expansão do comércio

eletrônico. A tributação, certamente, aparece no topo da lista de prioridades em

todos os países em que se desenvolve o comércio eletrônico. Nos Estados Unidos,

o Congresso americano há dois anos decidiu que se implementaria uma moratória

de dois ou três anos sobre quaisquer impostos incidentes sobre o comércio

eletrônico.

Entendeu-se que o comércio eletrônico era ainda imaturo e incipiente, estava

apenas começando, e se preocuparam muitíssimo em, erradamente, impor o

modelo errado sobre esse meio inusitado ou tão novo. Há apenas duas semanas o

Congresso americano aprovou uma prorrogação dessa moratória, inicialmente por

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três anos — isso, na Câmara Baixa, ou seja, na Câmara dos Deputados — segundo

a qual seria possível prorrogar a moratória por mais quatro anos.

A tributação, certamente, é uma questão bastante difícil. É mais difícil ainda

nos Estados Unidos do que aqui no Brasil, uma vez que nos lá temos cinqüenta

estados, cada um deles com o seu próprio ICMS, ou regime de impostos sobre

venda. Alguns estados sequer têm tais impostos. Nova Iorque tem um X por cento

de ICMS. E, além disso, cada município também terá diferentes sistemas tributários

e leis fiscais; não só em termos de alíquotas propriamente ditas, mas também a

base de produtos de incidência. Em alguns estados, eles impõem impostos sobre

os alimentos, outros estados sequer impõem impostos sobre alimentos ou

vestuário. Mas somente peças do vestuário que não custem muito, roupas mais

baratas. Ou seja, as leis são bastante complexas. Logo, é impossível antever como

uma pequena empresa, que trabalhe virtual, eletronicamente, seria capaz de

cumprir e lidar com todas as leis fiscais ou tributárias dos Estados Unidos.

O meu último cálculo indicou que havia mais de 20 mil diferentes jurisdições

fiscais ou tributárias. E, obviamente, isso é um grau de complexidade tamanho que

inviabilizaria a coisa. Estamos, portanto, procurando novas formas de arrecadar

impostos.

A IBM entende que o Governo precisa de impostos para sobreviver. E o

Governo usa isso para boas finalidades e, nesse sentido, estamos trabalhando com

os Governos de todo o mundo para ver como seria viável tributar ou fazer incidir

impostos sobre transações on-line.

Também entendemos que se adotarmos a abordagem errada aqui isso seria

fatal. E poderia, portanto, interromper o crescimento do comércio eletrônico. Por

isso acreditamos que as moratórias aprovadas pelo Congresso são uma boa idéia.

A esta altura, o comércio eletrônico, ou seja, a venda efetiva de bens a clientes ou

consumidores individuais representa menos de 1% das vendas ou do volume de

vendas total contabilizado nos Estados Unidos. As transações entre empresas são

bem mais amplas.

De modo que a esta altura a tributação propriamente dita não se apresenta

como uma questão crucial. Porém, certamente será. Em menos de cinco anos,

acreditamos e esperamos que 10% da economia americana, como um todo, será

transacionada ou efetuada pela Internet eletronicamente. Para isso, será importante

assegurar que as cidades e os municípios disponham de receita suficiente.

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Simplesmente, ainda não está claro para nós se a abordagem antiga vai funcionar,

pela qual cada município imporia o seu próprio imposto ou a sua própria alíquota

sobre cada transação comercial eletrônica.

Se eu pudesse agregar alguma coisa à lista de fontes de interesse — que o

senhor está tentando concluir aqui — eu também os instaria a refletir sobre a

questão do correio eletrônico não-solicitado e publicidade não-solicitada recebida

via Internet. Isso já se provou um problema nos Estados Unidos. Alguns de nós, por

exemplo, recebem dez, quinze ou mais e-mails por dia de pessoas que estão

disparando correio eletrônico para todo mundo, sem a permissão necessária.

Foram propostas algumas leis no sentido de proibir o correio eletrônico

não-solicitado pelo destinatário. No entanto, é meio difícil prever como é que essas

leis, de fato, funcionariam num ambiente global.

De modo que, alternativamente, eu sugiro que os senhores desafiem o setor

industrial a encontrar formas de superar esse problema. Nos Estados Unidos,

temos progredido nesse sentido. A AOL, que é o maior provedor de Internet no

mundo, foi vítima de correio eletrônico não-solicitado. Por isso, desenvolveram um

dos melhores filtros e as melhores práticas existentes em todo o mundo. E

reduziram drasticamente o problema de correio eletrônico não-solicitado destinado

a seus clientes internautas.

Portanto, eu os insto a que sejam muito cautelosos, no sentido de procurar

não redigir uma legislação bastante pormenorizada sobre o correio eletrônico. Em

vez disso, sugiro que trabalhem mão-a-mão com o setor industrial para superar

esse problema, em vez de só redigirem coisas muito pormenorizadas. Se

redigirmos uma legislação para a Internet de hoje, ela poderá não se aplicar

adequadamente à Internet de amanhã. E poderemos acabar contendo o

desenvolvimento de oportunidades que, do contrário, seriam muitíssimo produtivas.

Muito obrigado. Certamente eu poderia, aqui, falar por horas a fio sobre

essas questões que precisam ser abordadas. Dito isso, uma vez mais agradeço.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, Dr. Michael.

Passo imediatamente a palavra ao Dr. Marcos, para que ele, por três minutos,

possa tecer seus comentários.

O SR. MARCOS DA COSTA - Primeiro, gostaria de agradecer ao Dr. Michael

por suas palavras, principalmente por terem sido proferidas por um advogado.

Efetivamente a matéria tributária, como ele disse muito bem na sua abordagem, é

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um problema muito maior nos Estados Unidos do que no Brasil. Só acrescentaria,

se me permite, uma preocupação futura — inclusive aqui no Brasil nós estamos

tendo, no Rio de Janeiro, um fórum global tratando dessa questão do governo

eletrônico. Começam a pensar, para o futuro, na integração, no âmbito do comércio

eletrônico, das transações eletrônicas com a participação do Governo também, e

não só no sentido da tributação, mas da administração tributária, que é outra coisa.

Quanto a outras matérias, eu acho que a do span, que foi abordada, é muito

relevante. O que se propõe no Projeto nº 1.589 é uma orientação mais européia,

não no sentido de proibir o span, porque efetivamente a prática mostra que isso

seria ineficaz, mas no sentido de começar a dar uma orientação. E qual seria a

orientação? O span seria enviado de tal forma que o destinatário da mensagem

saberá que se trata de uma mensagem publicitária. É só isso que o projeto propõe.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Muito obrigado, Dr.

Marcos. Antes de passar a palavra ao último inscrito e Relator da matéria,

Deputado Julio Semeghini, para que apresente suas questões, nomeio os

Deputados Jorge Bittar e Jorge Costa para que, por gentileza, procedam ao

escrutínio das sobrecartas e dos votos para 1º Vice-Presidente. Enquanto isso,

passo a palavra ao Deputado Julio Semeghini.

O SR. DEPUTADO JULIO SEMEGHINI - Em primeiro lugar, queria

agradecer ao Michael, não só por ter estado conosco, mas também por ter estado

hoje de manhã com integrantes do Governo Federal. Sabemos o quanto é

importante que esse projeto de lei amadureça em diferentes pontos, e hoje nós

soubemos dos elogios que recebeu e do sucesso da reunião realizada na parte da

manhã com membros do Governo Federal.

Agradeço ao Dr. Marcos, da OAB, não só pela participação e coordenação

na constituição desse projeto de lei, mas também pelo interesse com que a Ordem

dos Advogados de São Paulo, pelo menos até onde tenho acompanhado. Temos

recebido orientação e apoio na constituição de leis, as mais diversas possíveis,

relacionadas à tecnologia da informação ou à sociedade da informação, qualquer

uma das duas. Temos encontrado um grande apoio, e está sendo hoje um ponto de

referência para todos nós, Parlamentares da Comissão de Ciência e Tecnologia.

Tenho algumas perguntas sobre questões práticas. Como alguns Deputados

precisaram sair, quero entender qual é a preocupação dessas pessoas, cada

Parlamentar, com essa lei, Sr. Presidente. Foi por isso que pedi para V.Exa. inverter

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a ordem dos trabalhos, exatamente para que tivéssemos a oportunidade de ouvir

um pouco mais os Deputados e conhecer as suas preocupações, para podermos

definir os próximos debates e darmos continuidade ao nosso trabalho.

Peço desculpas ao Sr. Michael, mas gostaria de aproveitar bastante a sua

vinda — até porque estamos muito perto do Dr. Marcos e da OAB — para tentar

esclarecer algumas dúvidas que nós já temos, pensando num relatório final, de

alguns pontos que deveriam ou não constar desse projeto de lei.

Primeiro: vimos que foi apresentado um gráfico onde se classificam os

países que estão melhor preparados ou não para praticar o comércio eletrônico.

Minha primeira pergunta é: podemos ter acesso a isso e quais são os critérios que,

na verdade, são adotados para classificar um país, até para que tenhamos essas

informações e possamos acompanhar quais são os pontos importantes, seja de

infra-estrutura, seja de usuário, ou de outras leis que possam compor esse quadro?

Talvez isso poderá vir a ser uma referência para chegarmos mais perto dos

Estados Unidos quanto o gráfico nos coloca.

Segundo: gostaria já de fazer algumas perguntas mais objetivas em relação

à lei. A primeira delas diz respeito aos Estados Unidos. Já realizamos aqui uma

reunião com algumas pessoas do Congresso americano, a fim de conhecermos um

pouco mais a lei que trata das informações. Isto é, quais são as informações que,

na verdade, devem ser protegidas, quais são as informações que já podem ser

públicas, há ou não alguma pena para quem estiver interpretando de maneira

errada essas leis? O Brasil não tem ainda nenhuma lei que trate disso, ou que

tenha sido feita, pelo menos nos últimos anos, que considere a facilidade da

tecnologia da informação, em estar distribuindo e coletando essas informações.

Nos projetos de lei apresentados nesta Casa, alguns pontos já começam a

aparecer. Primeiro, quais são as informações básicas, o pré-requisito para que se

possa gerar o conteúdo de um contrato. Gostaria de saber se isso tem sido feito,

como critério de lei, nos Estados Unidos, ou em alguma outra parte do mundo, ou

se isso deve ser tratado de maneira geral, uma vez que essas informações podem

trazer outras para serem acrescentadas ou não? E na mesma pergunta, o outro

ponto de vista, se devemos aqui tratar do assunto da não-obrigatoriedade de as

pessoas exigirem quaisquer informações não relacionadas a essa transação que

está sendo feita para concluir o processo. Hoje, em grande parte dos sites de

negócios, pede-se uma quantidade de informações que, se não forem preenchidas,

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não será possível concluir o processo, não se poderá dar o passo seguinte, porque

as informações dadas não foram suficientes para se preparar um contrato. Nessas

leis há algum ponto determinando que o usuário não é obrigado a fornecer algumas

informações para que possa ser concluída a transação? Temos percebido que em

todos os países têm-se dado uma atenção muito grande ao tratamento da

informação, com a valorização, com o uso em grande escala do comércio

eletrônico. É possível elaborar essa lei no Brasil? É importante se detalhar essa lei

agora, em relação ao comércio eletrônico, considerando que ainda não temos uma

legislação adequada?

Segundo: apesar de ter havido uma grande discussão nos Estados Unidos —

foi criada até uma comissão —, não se elaborou leis sobre o comércio eletrônico.

Como foi dito também por V.Sa., na verdade, são os estados americanos que têm

autonomia para elaborar essas leis. Quanto a esse aspecto, a minha pergunta é:

antes de que se começasse a praticar e a incentivar o comércio eletrônico, esse

grupo concluiu algumas leis que eram imprescindíveis, ou eram base da pirâmide,

para que se pudesse começar a usar em escala? Deveriam ser discutidas, neste

momento, no Brasil também, leis que tratem da qualidade mínima de segurança de

rede, crimes de informática ou até essa própria lei de informações, como eu disse?

Eu gostaria de saber também se, em relação ao certificado eletrônico, uma

vez que essas leis foram estaduais, está havendo bastante uniformidade. Nos

Estados Unidos, hoje, há algum problema de integração entre os Estados, ou todas

as leis só dão a autonomia e tratam do assunto legal da parte de comércio, da parte

de documento eletrônico, de assinatura digital? Há um foco central em todos os

Estados em relação a esse assunto, ou isso tem sido tratado, nessas legislações

estaduais, como coisas diferentes? Uma lei poderia complementar outra?

E, por fim, sobre a moratória de alguns anos, tratada pelos Estados Unidos e

agora prorrogada, na verdade, foi exposta como uma boa idéia. Essa moratória tem

sido concedida exclusivamente ao mercado que trata apenas da informação, em

que cem por cento é mercado eletrônico. Por exemplo, se eu tiver um banco de

informações e ofertar uma música, o usuário vai comprar essa música e escutá-la,

ou essa moratória tem sido concedida de maneira mais ampla, em que há a

contratação eletrônica e o envio da mercadoria posterior?

É importante acabar com essas dúvidas para começarmos a orientar a

nossa Comissão, para saber se vamos adotar ou não nesses detalhes, que são

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básicos e também pré-requisitos para se ter uma lei bastante enxuta e objetiva

sobre o comércio eletrônico.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, Deputado

Julio Semeghini. Pelo teor das suas questões, entendo que elas se destinam ao Dr.

Michael Nelson.

Com a palavra o Dr. Michael Nelson.

O SR. MICHAEL NELSON - (Tradução simultânea.) Muito obrigado. Espero

que V.Exa. me conceda mais do que três minutos, neste caso. Bom, em primeiro

lugar, com relação ao que fazer para se preparar para o comércio eletrônico. A

melhor orientação que já recebemos é este livreto que recebemos da Universidade

de Harvard. Eles não fizeram uma avaliação individual de cada país, infelizmente.

Mas tenho entendido que o Governo brasileiro já recebeu uma cópia dessas

orientações e estará realizando sua própria avaliação, que, aliás, será não apenas

útil para o Brasil como para outros países.

A IBM está trabalhando em conjunto com países do mundo inteiro para

coletar as informações necessárias para tais avaliações. O que eu mostrei na tela

foi o resultado de uma pesquisa que abrange a Europa e o Japão. Mas há um

terceiro relatório, que eu já posso entregar aos senhores, produzido por uma

empresa de investimentos nos Estados Unidos, que desenvolveu vinte e cinco

perguntas-chave a respeito da infra-estrutura, em termos de telecomunicações, em

termos de mercados de serviços pela Internet e a respeito do comércio eletrônico

em cada país. Por exemplo: qual é o preço do acesso à Internet quanto a

concorrência em termos de redes de dados no país em questão? Quais são as

políticas de privacidade ou de assinatura digitai existentes neste País?

Posso passar o relatório, mas devo enfatizar que não tenho o aval,

necessariamente, da IBM. São perguntas, às vezes, arbitrárias e que não

necessariamente chegam a conclusões muito precisas, mas, pelo menos, mostram

o ponto de vista de uma empresa e de um grupo de analistas e o que eles

consideraram com relação ao Brasil em comparação a outros países. A boa notícia

é que esta empresa acha que o Brasil está mais preparado para o comércio

eletrônico do que a França, a Alemanha ou a Itália e outros países da Europa.

Então, é apenas um tipo de orientação, mas eu, realmente, insto os senhores a que

examinem este guia da Universidade de Harvard também, além de outros.

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Com relação às leis de privacidade, há uma série de coisas que já fizemos

nos Estados Unidos e que vale a pena observar. Realmente, considero que a

privacidade na Internet deve ser entendida como parte de uma questão muito mais

ampla, no que diz respeito à privacidade.

Portanto, não vale a pena termos legislação específica, com relação à

Internet. A privacidade, como conceito, é um conceito muito mais amplo. Nos

Estados Unidos, já temos legislação extremamente específica a respeito de

informações financeiras. Informações que são tão sensíveis e tão importantes no

mundo de hoje. Essas leis se aplicam aos bancos e igualmente a páginas na

Internet que trabalham com produtos financeiros. Então, insto os senhores a

fazerem a mesma coisa: garantir que a legislação aplicável no Brasil seja aplicável

em todos os âmbitos.

Também temos uma legislação do ano passado a respeito da privacidade de

dados referentes a crianças. Porque as crianças são um caso a parte, são ingênuas

e não entendem porque devem resguardar sua privacidade. A IBM, então, trabalhou

com o governo para criar exigências mínimas para as páginas da Internet que

atraem crianças, para que os pais das crianças saibam quais são os dados a serem

coletados. Não exatamente quais os dados, mas o importante é envolver os pais

nisso. E esse modelo eu acho que funcionaria muito bem.

Com relação aos contratos on-line, não temos sentido a necessidade de

legislação, porque quase todos os contratos on-line, hoje em dia, são entre

empresas. E as empresas podem se cuidar muito bem, por si sós. As empresas têm

excelentes advogados, sabem muito bem como redigir um contrato de modo a

resguardar os interesses de ambas as partes.

Os senhores também perguntaram a respeito de informações que não têm

nada a ver com uma transação específica. E eu tenho me preocupado muito com

essa questão: o que é uma coisa válida, em termos da transação, e que informação

não é.

Nos Estados Unidos, temos muitos modelos de negócios. Há empresas que

dão computadores e acesso à Internet gratuitamente a qualquer pessoa que esteja

disposta a enviar informações pormenorizadas a respeito de sua vida, seus hábitos

de consumo, etc. E os consumidores, às vezes, optam por enviar essa informação

em troca de um computador. Nas lojas normais isso também é freqüente. Você

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pode preencher um cupom e fazer parte de uma promoção em troca de algumas

informações que você fornece. Eu, pessoalmente, não gosto disso.

Então, entendo que podemos limitar as escolhas ou opções dos

consumidores. Mas, se limitarmos as escolhas dos consumidores, teremos menos

privacidade. Se só uma página oferece um determinado serviço, eu teria de

obedecer à política deles. Mas se eu tenho cinco ou dez empresas que têm uma

página oferecendo um serviço, posso escolher uma empresa que resguarde minha

privacidade da maneira que me convém.

Concordo com V.Exa. Detesto aquelas páginas na Internet que exigem que

eu preencha uma série de coisas antes de completar uma transação. Nos Estados

Unidos, como tenho opções, prefiro outra empresa sempre. De repente, o preço

não é tão bom, o serviço não é tão bom, mas estou resguardando a minha

privacidade. Esse sistema P3-P é ótimo porque o meu navegador resguarda a

minha privacidade e só procura páginas que preservam o nível de privacidade que

eu determinei.

Outra coisa que o senhor falou foi a respeito das leis estaduais. Tem havido

uma série de experiências no âmbito dos estados. Às vezes, experiências boas e,

às vezes, péssimas. Quatro anos atrás, Utah foi o primeiro estado a promulgar uma

lei sobre assinatura digital. Infelizmente, a abordagem escolhida foi péssima.

Escolheram um procedimento, uma determinada tecnologia e os consumidores

foram limitados a essas escolhas. E acho que o representante da OAB concordaria

que a abordagem não foi boa porque foi muito limitante. Hoje em dia, há muitas

novas tecnologias e empresas que não existiam naquela época. Então, insto os

senhores a que aprendam com nossos erros e não sejam tão limitantes.

Finalmente, o senhor perguntou a respeito da moratória referente a impostos.

Era uma moratória com relação a impostos novos, adicionais. Ou seja, nenhum

estado podia criar um imposto adicional sobre serviços a serem prestados pela

Internet. Isso não muda o fato de que, se eu comprar um livro a partir de uma

página localizada no estado da Virgínia, pagarei aquele imposto tradicional no

estado da Virgínia, incidente sobre qualquer compra de livros. Mas não podem ser

criados impostos adicionais.

Aliás, o Congresso atualmente está pensando em eliminar todos os impostos

sobre serviços telefônicos. Uma regra muito importante, em se tratando de

impostos, é: quanto mais impostos você cria sobre um produto, tanto menos desse

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produto haverá. E nós queremos mais telecomunicações, mais uso da Internet.

Então, estamos começando a eliminar os impostos que fazem com que as

telecomunicações e a Internet se tornem tão caros.

Se os senhores quiserem, posso entrar em mais detalhes, se me

contactarem por e-mail. E tenho aqui uma cópia do meu endereço.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, Dr. Michael

Nelson.

Já que o Sr. Relator deseja tecer ainda algumas considerações, concedo a

palavra a S.Exa.

O SR. DEPUTADO JULIO SEMEGHINI - Dr. Michael Nelson, agradeço a

explicação, mas desejo que V.Sa. me responda algo bastante objetivo. V.Sa. confia

na privacidade quando utiliza a Internet e faz e-business nos Estados Unidos em

decorrência de alguma outra lei que trata da proteção das informações, ou pela

seriedade das empresas que lidam com as informações dentro do mundo da

Internet?

O SR. MICHAEL NELSON - (Tradução simultânea.) Eu sou fanático pela

questão de privacidade. Detesto divulgar qualquer informação a respeito da minha

pessoa ou da minha família on-line. Por isso, eu tenho muito cuidado em procurar

apenas as empresas que eu acredito protegerão minha privacidade. E eu confio

nessas empresas. A AOL tem tido um êxito enorme porque tem uma política clara,

que diz que não coletarão informações a respeito de quais sites são procurados

pelos seus clientes; e não venderão essas informações, a não ser que os clientes

estejam plenamente cientes e tenham autorizado essa prática.

Isso funcionou muito bem para a AOL. Eu, quando procuro uma página na

Internet, sempre clico na política sobre privacidade da página. Eu não quero receber

e-mail não-solicitado. Não quero que as pessoas saibam os livros que eu leio e não

quero que as pessoas saibam as páginas que eu procuro na Internet. Então, há

páginas que eu não procuro, porque não confio neles.

Acredito que a nossa solução é melhor, nesse sentido. Porque eu acho que a

sua legislação não poderia me proteger, no ponto que eu gostaria. Eu quero mais

privacidade ainda. E a única maneira de resguardar minha privacidade plenamente

é ter mais concorrência e mais informação a respeito de cada empresa.

Então, se os senhores trabalharem bem, no sentido de não legislar demais,

terão um mercado inovador, competitivo, em que os consumidores procurarão se

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informar. Mas, se os senhores não legislarem bem, os senhores limitarão as nossas

escolhas disponíveis aos consumidores, o que, por sua vez, limitará a inovação. E o

comércio eletrônico no Brasil, também, irá sofrer com isso.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, Dr. Michael

Nelson. O Relator anunciou que está satisfeito com as informações prestadas.

Indago se o Sr. Marcos deseja fazer alguma consideração final.

Tem a palavra S.Sa. por um minuto.

O SR. MARCOS DA COSTA - Desejo apenas agradecer o convite formulado

por esta Casa. Para mim, foi muito honrosa a participação neste debate. Como

sempre, coloco-me à disposição dos Srs. Deputados para quaisquer novos

esclarecimentos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Concedo a palavra ao

Dr. Michael, por um minuto, a fim de que S.Sa. possa tecer suas considerações

finais.

O SR. MICHAEL NELSON - (Tradução simultânea.) Gostaria, apenas, de

expressar uma vez mais meus agradecimentos. As perguntas foram de excelente

qualidade, a discussão, igualmente, muito útil. Terei prazer em poder ajudá-los,

bem como nossos colegas, dando o acompanhamento que nos for possível.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Agradeço aos nobres

Deputados Jorge Bittar e Jorge Costa a participação como membros da comissão

escrutinadora.

Antes de encerrar a reunião, anuncio que havia 21 sobrecartas, assim como

21 Srs. Parlamentares assinaram o livro de votantes. Há vinte votos válidos e um

voto em branco. Como Primeiro Vice-Presidente desta Comissão, foi eleito o

Deputado Marçal Filho, que não está presente em decorrência de problemas de

saúde.

Mais uma vez, agradeço aos conferencistas que aqui estiveram a presença,

e aos Deputados as questões formuladas.

Convoco nova reunião para o dia 14 de junho, às 14h30min, quando

prosseguiremos com as audiências públicas. Informaremos aos gabinetes quais os

convidados para as próximas reuniões.

Está encerrada a presente reunião.

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