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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
SESSÃO: 153.1.55.O
DATA: 15/06/15
TURNO: Vespertino
TIPO DA SESSÃO: Não Deliberativa de
Debates - CD
LOCAL: Plenário Principal - CD
INÍCIO: 14h10min
TÉRMINO: 18h22min
DISCURSOS RETIRADOS PELO ORADOR PARA REVISÃO
Hora Fase Orador
16:24 GE PAES LANDIM
17:42 CP PAES LANDIM
Obs.: Inexistência de quórum.
Ata da 153ª Sessão da Câmara dos Deputados, Não Deliberativa de
Debates, da 1ª Sessão Legislativa Ordinária, da 55ª Legislatura, em 15 de
junho de 2015.
Presidência dos Srs.:
Gonzaga Patriota, Luiz Couto, Izalci, JHC,
Mauro Pereira, nos termos do § 2º do artigo 18
do Regimento Interno.
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O SR. PRESIDENTE (Gonzaga Patriota) - Não havendo quórum regimental
para abertura da sessão, nos termos do § 3° do art. 79 do Regimento Interno,
aguardaremos até meia hora para que ele se complete.
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I - ABERTURA DA SESSÃO
(Às 14 horas e 10 minutos)
O SR. PRESIDENTE (Gonzaga Patriota) - Declaro aberta a sessão.
Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro iniciamos nossos
trabalhos.
O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da sessão anterior.
II - LEITURA DA ATA
O SR. LUIZ COUTO, servindo como 2° Secretário, procede à leitura da ata da
sessão antecedente, a qual é, sem observações, aprovada.
III - EXPEDIENTE
(Não há expediente a ser lido)
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O SR. PRESIDENTE (Gonzaga Patriota) - Passa-se ao
IV - PEQUENO EXPEDIENTE
A Presidência dá início aos trabalhos para que os Srs. Deputados possam dar
como lidos os seus pronunciamentos.
Concedo a palavra ao Sr. Deputado Luiz Couto.
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O SR. LUIZ COUTO (PT-PB. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras.
e Srs. Deputados, gostaria de dar como lido meu pronunciamento e registrar nos
Anais da Casa matérias publicadas na revista CartaCapital desta semana. A
primeira, de Marcos Coimbra, sob o título O tamanho do ódio:
“Pesquisa recente do Vox Populi aponta: o
eleitorado que diz detestar o PT representa 12% do total.
Não é pouco, mas menos do que muitos imaginam.”
Ele fala dos resultados que não são publicados pela mídia, mas com posição
diferente.
A outra é o editorial de CartaCapital assinado por Mino Carta, intitulado O
suicídio dos filisteus, do qual leio pequeno trecho:
“A tentativa de incriminar Lula prova somente a sua
condição de único líder popular brasileiro reconhecido
mundo afora, como se deu na Itália dias atrás.”
Ele faz o reconhecimento do trabalho de Lula. E refere-se ao fato de o
Instituto Lula ter recebido recursos, dos quais prestou as devidas contas, bastante
inferiores aos que recebeu o Instituto Fernando Henrique Cardoso, mas no caso
deste a mídia não fez estardalhaço.
A terceira vem sob o título O povo não é bobo, de Maurício Dias. Trata-se de
uma pesquisa IBOPE escondida pela mídia que revela que muitos brasileiros veem
o jornalismo empenhado em aderir ao “quanto pior, melhor”. A imprensa brasileira
mostra o País em uma situação econômica mais negativa do que percebe no dia a
dia a população.
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Sr. Presidente, gostaria de dar como lido pronunciamento que faço
homenageando o Sargento Pereira, que me encaminhou um discurso sobre o tema,
ao qual dá o título: Querem entregar o Brasil ao capital estrangeiro, do qual
transcrevo alguns trechos. Peço que o meu pronunciamento seja divulgado nos
meios de comunicação da Casa e no programa A Voz do Brasil.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Gonzaga Patriota) - Eminente Deputado Luiz Couto,
V.Exa. será atendido nos termos regimentais.
PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, já dizia, em seu texto, o policial e
amigo Astronadc Pereira: “Querem entregar o Brasil ao capital estrangeiro”. Isso é
fato! Diversas vezes tentaram o golpe contra a nossa Presidenta.
Pereira relata que “nos últimos meses podemos verificar os ataques
incessantes contra o partido dos trabalhadores e contra a presidenta Dilma, contudo,
a lista de acusados apresentada pelo Ministério Público Federal tinha 28 políticos, 8
do PT; 32 do PP; 10 do PMDB e 1 do PSB, mas a oposição só fala dos deputados
petistas e da presidenta. A presidenta Dilma não foi denunciada e não consta na
lista do MPF. Então por que a oposição fala tanto em impeachment?”
Pereira ainda afirma que “a corrupção não é um episódio recente ela está
presente desde a formação histórica do Brasil. Curioso é que quando querem dar
um golpe apostam no mote da Corrupção política, basta lembrar-se de Getúlio
Vargas e Jânio Quadros. Em 1989 o jornalista Boechat da TV Bandeirante venceu o
premio ESSO com denúncias de corrupção na Petrobrás.”
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Pereira relata que “a oposição tenta esquecer que o Partido dos
Trabalhadores chegou à presidência da República por um processo legítimo e
incontestável. Não foi através de um golpe. A oposição governou o Brasil por muito
tempo e não combateu a corrupção e nem tampouco fortaleceu as estruturas do
estado para tal fim”.
Em seu discurso ele afirma que “há diferenças imensuráveis entre o governo
petista e o governo do PSDB. No governo da presidenta Dilma os mecanismos de
controle investigam livremente e os mecanismos de repressão policial prendem os
acusados sem interferências do Planalto. Muito diferentemente do governo do PSDB
que escondia para baixo do tapete as denuncias, a polícia Federal era sucateada e
havia interferência”.
Na opinião de Pereira, “inegavelmente a corrupção agora é revelada, tendo
em vista os mecanismos e órgãos de repressão e investigação não sofrerem
interferências para realizar seus trabalhos, o que não ocorria em governos
anteriores. No governo do PSDB, políticos corruptos não foram responsabilizados,
sem falar na ditadura militar onde os assuntos de governo eram secretos”.
Segundo Pereira, “evidentemente os interesses escusos da oposição, estão
alinhados com a banca mundial do capitalismo liderada pelos Estados Unidos. É a
tentativa do desmantelamento do projeto popular no poder do Brasil e na América do
Sul”.
Em seu texto afirma que “a banca mundial capitalista, juntamente com a
oposição liderada pelo PSDB sabe da importância da Petrobrás para o Brasil e para
o mundo. Os EUA, que lideram a banca mundial do capitalismo, sempre estiveram
de olhos arregalados para a Petrobrás, para o território continental que é o Brasil, e
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para nossas riquezas e recursos naturais que temos. Tal fato ajuda a explicar tanto
interesse de partidos e políticos em defender o financiamento privado de
campanhas. Nesta lógica as eleições são financiadas pelo capital e o poder fica nas
mãos do capital nacional e estrangeiro, através de políticos descompromissados
com as questões sociais, mas comprometidos com seus próprios interesses”.
Sua posição contempla a seguinte historia: “Não é a toa que os políticos do
‘alto clero’ no Congresso Nacional não aceitam o financiamento público de
campanha, pois se assim ocorresse, as campanhas seriam realizadas de igual modo
para todos. Neste caso o cenário político mudaria sua lógica e o povo passaria a
ocupar os espaços de poder através de suas representatividades, mas também de
sua participação”.
Na sua opinião “os EUA em sua violenta política expansionista conseguiram
destruir suas riquezas naturais e seu petróleo. É de conhecimento público a situação
perigosa dos EUA na questão do petróleo. Ainda segundo os pesquisadores os EUA
só teriam petróleo por no máximo 50 anos e agora querem o nosso a todo custo.
Mas querem muito mais, querem também as riquezas e recursos naturais do
Amazonas e do Nordeste brasileiro. Às vezes esquecemos que o Brasil têm reservas
estratégicas de água no subsolo nordestino além de tantas outras riquezas
imensuráveis. Estas riquezas são dos brasileiros”.
Historicamente, pereira relata que “foi esta política internacional liderada pelos
EUA que em 1964 apoiou e viabilizou o golpe Militar contra o Brasil. Na época eles
já estavam de olho no nosso petróleo e não queriam a construção da Petrobrás. Não
podemos esquecer que recentemente a presidenta Dilma estava sendo espionada
por agentes do serviço secreto americano, fato público e notório na imprensa
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nacional e estrangeira, o que causou a indignação do planalto e uma forte reação da
presidenta”.
Em seu artigo pereira se expressa: “Portanto, não podemos permitir que
espionem, desqualifiquem, encurralem e tentem sangrar um governo eleito
democraticamente. A intenção da oposição é entregar o Brasil à banca mundial do
capitalismo, e isto seria uma ameaça à democracia e à soberania nacional. Não
podemos deixar que promovam o desmantelamento do projeto popular democrático
e as políticas sociais conquistadas pelo povo brasileiro nos governos Lula e Dilma”.
Sua opinião é de que “devemos lutar bravamente pela nossa democracia. A
democracia não pode ser tida como um conjunto de regras, ela é, acima de tudo,
uma relação de convivência política e um ato civilizatório. É preciso entender que a
democracia de inspiração deve servir de forma atuante e prática para as relações
humanas. Portanto, a democracia é igualitária e oportuniza novas possibilidades”.
Segundo Pereira “a democracia, bandeira histórica do PT, tem irritado setores
reacionários da política e produzido parte desse ódio ao Partido dos trabalhadores –
A luta desses setores antidemocráticos é exatamente contra o que o partido dos
trabalhadores fez pelo Brasil, mas não é mostrada à sociedade pela grande mídia!
Uma mídia golpista e oportunista que está a serviço do capital. No entanto não
precisamos acabar com a mídia, mas precisamos reinventar uma mídia verdadeira,
séria e comprometida com a verdade”.
Segundo o Sargento Pereira “o PT tem uma tarefa muito discutida, a
reaproximação com as bases sociais. E para isso deve, acima de tudo, continuar a
defender os trabalhadores do Brasil. Para isso o PT precisa reafirmar uma grande
aliança com a sociedade e com os trabalhadores”.
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Em sua apreciação diante da sistemática histórica de governo, diz: “É verdade
que a Banca Mundial do Capitalismo delibera um ódio contra este governo, contra o
partido dos trabalhadores e contra a esquerda na América latina. No Brasil tentam a
todo custo impedir as reformas que o Brasil tanto precisa para se tornar um país
moderno. Isso tudo demonstra bem a nossa importância no processo e na evolução
transformadora na região latina e global. É por isso que a Petrobras foi o alvo inicial,
eles, os capitalistas, não suportam que o pré-sal possa impulsionar o
desenvolvimento da sociedade, e o Brasil vir a ser um país independente
economicamente. Para os capitalistas o que não pode ser vendido não pode dar
lucro. Assistimos todos os dias à demonização da política, o ódio ao PT e à
Democracia, e ainda mais, temos um Congresso Nacional (poder legislativo), mais
conservador que o próprio Poder Executivo.”
Em seu questionamento, Pereira pergunta: “Eles potencializam a crise
econômica que o país vive atualmente e eu insisto em perguntar: alguém quer voltar
a viver no Brasil das últimas 3 décadas, com toda a exclusão social, fome e misera
que havia no Brasil, inflação alta e instabilidade? A partir dessa pergunta a minha
fala cai no território psíquico de cada leitor, que de forma diferente, com significados
e significantes diferentes, captam fragmentos na construção da verdade que não é
minha e nem sua, mas é histórica. A meu ver, a crise atual é o impasse entre dois
projetos distintos, de um lado o pacto redistributivo, um projeto socialista
democrático e popular, a luta contra a pobreza, de outro lado as políticas de
crescimento econômico seletivo e excludente”.
Segundo o Sargento Pereira, “evidentemente há o recrudescimento da direita
sobre o projeto petista. Uma direita reacionária e com a grande mídia a sua
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disposição e aos seus interesses. É através dos meios de comunicação, de partidos
e instituições mais conservadoras da sociedade controladas pelo capital que querem
desconstruir a vitória e a soberania popular nas urnas. É o recrudescimento do
projeto neoliberal, mais vivo e forte do que nunca, um perigoso alinhamento da
direita e de setores reacionários”.
Sr. Presidente, como disse Pereira em diversos momentos “temos a
percepção da tentativa desses setores reacionários de reintegrar de forma
subalterna o Brasil e suas riquezas, a começar pela Petrobrás, ao domínio do
imperialismo liderado pelo capital financeiro, e pela banca mundial do capitalismo
excludente.”
Contemplo o que disse Pereira: “O Partido dos Trabalhadores precisa mudar,
o governo e a esquerda brasileira precisam sair da defensiva e mudar esta lógica.”
Os brasileiros precisam relembrar como era este País nas últimas três
décadas e fazer uma profunda reflexão sobre como é o Brasil de hoje e como
poderá ser o Brasil de amanhã.
É necessária e urgente a formação de uma ampla frente de esquerda
brasileira com os mais diversos campos ideológicos: socialistas, democratas e
progressistas; partidos, instituições, segmentos sociais e movimentos sociais que
protejam a democracia e as nossas riquezas; e que defendam verdadeiramente as
reformas necessárias para o Brasil se tornar um país desenvolvido e igualitário. A
primeira e a mais importante reforma é a reforma política.
Ponto principal de mudança hoje, a meu ver, é uma reforma política profunda
e consistente. Devemos mudar democraticamente e idealizar agora a defesa dos
interesses dos brasileiros. Precisamos enfrentar, sim, as investidas das forças
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conservadoras e reacionárias, não só para evitar retrocessos no Brasil, mas também
para levar a luta a outro patamar de organização, mobilização e conquista de direitos
e oportunidades para os brasileiros.
Portanto, concordo plenamente com o posicionamento do policial e militante
político Sargento Pereira quando afirma, ao finalizar seu discurso: “Só através da
mobilização e pressão da sociedade poderá haver uma convocação de uma
Assembleia Constituinte exclusiva e soberana para fazer a reforma política. E dentro
dessa oportuna reforma é preciso taxar as grandes fortunas, ou seja, quem tem mais
paga mais e quem tem menos paga menos, bem como instituir o financiamento
público exclusivo de campanhas políticas.”
O Brasil de hoje não pode ser taxado como o Brasil de 12 anos atrás.
Vivemos uma revolução cultural jamais vista. Estamos vivendo uma luta de classe. A
crise atual é o impasse entre dois projetos distintos: de um lado, o pacto
redistributivo; de outro, as políticas de crescimento econômico seletivo e excludente.
Devemos impedir o retrocesso nesta Casa e em setores conservadores.
Ouvimos várias manifestações até do Judiciário em desfavor de leis que “andam”
para trás. Os Poderes têm que ser independentes e harmônicos entre si. Sem essa
ideologia, nada será feito em prol da sociedade.
Vamos, Brasil, vamos caminhar em tom de igualdade e em busca da
fraternidade!
Era o que tinha dizer.
ARTIGOS A QUE SE REFERE O ORADOR
O tamanho do ódio
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por Marcos Coimbra
Pesquisa recente do Vox Populi aponta: o eleitorado que diz detestar o PT
representa 12% do total. Não é pouco, mas menos do que muitos imaginam
Nestes tempos em que a intolerância, o preconceito e o ódio se tornaram
parte de nosso cotidiano político, é fácil se assustar. É mesmo tão grande quanto
parece a onda autoritária em formação?
Quem se expõe aos meios de comunicação corre o risco de nada entender,
pois só toma contato com o que pensa um lado. Será majoritária a parcela da
opinião pública que se regozija ao ouvir os líderes conservadores e assistir aos
comentaristas da televisão despejar seu ódio?
Recente pesquisa do Instituto Vox Populi permite responder a algumas
dessas perguntas. E seus resultados ensejam otimismo: o ódio na política atinge um
segmento menor do que se poderia imaginar. O Diabo talvez não seja tão feio como
se pinta.
Em vez de perguntar a respeito de simpatias ou antipatias partidárias, na
pesquisa foi pedido aos entrevistados que dissessem se “detestavam o PT”, “não
gostavam do PT, mas sem detestá-lo”, “eram indiferentes ao partido”, “gostavam do
PT, sem se sentir petistas” ou “sentiam-se petistas”.
Os resultados indicam: permanecem fundamentalmente inalteradas as
proporções de “petistas” (em graus diversos), “antipetistas” (mais ou menos hostis
ao partido) e “indiferentes” (os que não são uma coisa ou outra), cada qual com
cerca de um terço do eleitorado. Vinte e cinco anos depois de o PT firmar-se
nacionalmente e apesar de tudo o que aconteceu de lá para cá, pouca coisa mudou
nesse aspecto.
Nessa análise, interessam-nos aqueles que “detestam o PT”. São 12% do
total dos entrevistados. Esse contingente tem, claro, tamanho significativo. A
existência de cerca de 10% do eleitorado que diz “detestar” um partido político não é
pouco, mas é um número bem menor do que seria esperado se levarmos em conta
a intensidade e a duração da campanha contra a legenda.
A contraparte dos 12% a detestar o PT são os quase 90% que não o
detestam. Passada quase uma década de “denúncias” (o “mensalão” como pontapé
inicial) e após três anos de bombardeio antipetista ininterrupto (do “julgamento do
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mensalão” a este momento), a vasta maioria da população não parece haver sido
contagiada pelo ódio ao partido.
A pesquisa não perguntou há quanto tempo quem detesta o PT se sente
assim. Mas é razoável supor que muitos são antipetistas de carteirinha. A proporção
de entrevistados com aversão ao partido é maior entre indivíduos mais velhos, outro
sinal de que é modesto o impacto na sociedade da militância antipetista da mídia.
Como seria de esperar, o ódio ao PT não se distribui de maneira homogênea.
Em termos regionais, atinge o ápice no Sul (onde alcança 17%) e o mínimo no
Nordeste (onde é de 8%). É maior nas capitais (no patamar de 17%) que no interior
(4% em áreas rurais). É ligeiramente mais comum entre homens (14%) que
mulheres (10%). Detestam a legenda 20% dos entrevistados com renda familiar
maior que cinco salários mínimos, quase três vezes mais que entre quem ganha até
dois salários. É a diferença mais dilatada apontada pela pesquisa, o que sugere que
esse ódio tem um real componente de classe.
Na pesquisa, o recorte mais antipetista é formado pelo eleitorado de renda
elevada das capitais do Sudeste. E o que menos odeia o PT é o dos eleitores de
renda baixa de municípios menores do Nordeste. No primeiro, 21% dos
entrevistados, em média, detestam o PT. No segundo, a proporção cai para 6%.
Não vamos de 0 a 100% em nenhuma parte. A sociologia, portanto, não
explica tudo: não há lugares onde todos detestam o PT ou lugares onde todos são
petistas, por mais determinantes que possam ser as condições socioeconômicas. Há
um significativo componente propriamente político na explicação desses fenômenos.
O principal: mesmo no ambiente mais propício, o ódio ao PT é minoritário e
contamina apenas um quinto da população. Daí se extraem duas consequências.
Erra a oposição ao fincar sua bandeira na minoria visceralmente antipetista. Querer
representá-la pode até ser legítimo, mas é burro, se o projeto for vencer eleições
majoritárias.
Erra o petismo ao se amedrontar e supor ter de enfrentar a imaginária maioria
do antipetismo radical. Só um desinformado ignora os problemas atuais da legenda.
Mas superestimá-los é um equívoco igualmente grave.
O suicídio dos filisteus
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por Mino Carta
A tentativa de incriminar Lula prova somente a sua condição de único líder
popular brasileiro reconhecido mundo afora, como se deu na Itália dias atrás
Quando Fernando Henrique Cardoso deixou a Presidência da República, o
Banco Itaú forneceu-lhe de graça a sede do Instituto que acabava de criar e lhe
doou 2 milhões de reais. Outras importantes empresas cuidaram de atapetar
suavemente o futuro do ex-presidente, entre elas, Camargo Corrêa (doação de 7
milhões) Odebrecht, Klabin e Gerdau. Sem contar a Sabesp, empresa pública em
mãos tucanas (500 mil).
As primeiras páginas dos jornalões negaram-se então a noticiar algo que, de
verdade, só ofendia a lei por causa da Sabesp. Ao contrário do que aconteceu na
manhã de quarta-feira passada para insinuar a suspeita em relação à doação feita
há tempo pela Camargo Corrêa ao Instituto Lula, bem como o pagamento de
conferências do mesmo Lula, o qual na atividade de palestrante segue o exemplo do
seu antecessor.
Recorde-se que durante a ditadura, no seu respeitável Cebrap, FHC contou
com o apoio financeiro da Fundação Ford, quem sabe a provar a teoria da
dependência. Não é complicado, contudo, entender as razões da diferença de
tratamento reservado ao ex-presidente sociólogo e ao ex-presidente metalúrgico.
Entram na receita a classe social de um e outro, está claro, bem como seus
desempenhos na Presidência. FHC implantou um governo de extremo agrado da
casa-grande. Lula, sem deixar de fazer concessões aos graúdos, voltou seus olhos
também para a senzala. Por isso, aliás, goza do reconhecimento do mundo, como
se deu na sua recente visita à Itália, encerrada dia 8 desta semana.
O Brasil vive em profundo tormento: recessão, desemprego em aumento,
criminalidade de proporções bélicas, empresariado frustrado, inquietação política,
empreiteiras a risco, mercado prepotente, e assim por diante. Fermentam os
temores da minoria privilegiada enquanto a maioria sofre por ora sem a nítida noção
de quanto acontece. Às vezes parece surgir em cena uma espécie de sanha suicida,
forma aguda de fanatismo do Apocalipse, como se os filisteus tivessem decidido não
esperar por Sansão.
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Algo mais, de todo modo, precipita pesos e medidas diversos na atenção
midiática dedicada a Lula na comparação com outras figuras nacionais, algumas
francamente negativas. Discrepância escancarada, provocada, em primeiro lugar,
por uma razão do conhecimento até do mundo mineral. O que mais apavora os
privilegiados é o retorno de Lula em 2018.
Preocupação dominante, avassaladora. Antes de mirar em Dilma e no PT,
visa-se o vencedor de 2002 e 2006, sem atentar para o fato de que o destino de Lula
está nas mãos do governo da presidenta e do partido que ele fundou faz 35 anos. E
da própria, célebre mosca azul, se as coisas tiverem funcionado a contento antes da
hora da decisão.
Apesar de alvejado incansavelmente, Lula é o único, autêntico líder popular
brasileiro. Na Itália, onde visitou a Exposição de Milão, conversou com o premier
Renzi e com o ex-presidente da República Napolitano, palestrou na prefeitura de
Roma aos pés da estátua de Júlio César, e na reunião da FAO, a contar com a
presença de 30 chefes de Estado, surgiu como personagem principal, saudado
campeão da luta contra a miséria e a fome. Não houve retórica nas manifestações
das autoridades e muito menos nos aplausos recebidos pelas ruas.
Nestes dias realiza-se em Salvador o Congresso do PT, o partido que,
chegado ao poder, distanciou-se dos propósitos iniciais e se portou igual aos demais
em todos os tempos da história republicana. E ali, Lula aparece como o líder
habilitado a redesenhar-lhe as feições. Cabe perguntar aos nossos botões, em todo
caso, se a chamada democracia partidária ainda se coaduna com as circunstâncias,
nem digo da política nacional, mundial é a palavra adequada.
Em Roma, Lula centrou sua fala na prefeitura na democracia participativa, no
“diálogo com o povo”, enquanto na FAO acentuou as dificuldade de um governo
obrigado a concessões variadas na falta de maioria parlamentar absoluta, forçado,
portanto, a alianças nem sempre desejáveis. As ideias expostas pelo ex-presidente
são de fato bastante atuais nos debates acadêmicos europeus. O chamado Velho
Mundo ainda é o lugar onde vingam ideias novas e percepções mais precisas da
realidade, ou menos anacrônicas. Discute-se em torno de uma fórmula batizada
“democracia do líder”, encarada como solução possível do problema da
governabilidade, a pressionar em todas as latitudes.
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Proposta em gestação, CartaCapital ainda falará dela em profundidade,
como, entre outras interpretações possíveis, sistema de governo de unidade e
salvação nacionais, reunido em torno de uma liderança incontestável. Certo é que
Lula continua a desempenhar um papel determinante, como se não bastasse a
prova irrefutável de sua importância, representada pela obsessiva tentativa dos
porta-vozes da casa-grande de incriminá-lo de alguma forma, de envolvê-lo em
tramoias, conchavos e corrupção.
Vibra nos ataques a Lula, a aposta na ignorância, na parvoíce, na ausência
de espírito crítico de quem lê e ouve, a fomentar a paroxística situação de extremo
maniqueísmo em que nos mergulha o atentado diuturno à razão dos iluministas.
Resulta disso tudo a intolerância irremediável, a impossibilidade de diálogo, de
qualquer tentativa de entendimento, ao sabor de uma navegação oposta àquela
desejável para o bem do País.
O povo não é bobo
por Mauricio Dias
Uma pesquisa Ibope, escondida pela mídia, revela que muitos brasileiros
veem o jornalismo empenhado em aderir ao “quanto pior melhor”
Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, fora das quatro linhas onde
conquistou, por méritos, o título de rei do futebol, pisa na bola com frequência. Ainda
agora se meteu no escândalo da Fifa e manifestou apoio a Joseph Blatter,
presidente renunciatário daquela entidade internacional corroída pela corrupção.
Nem de longe, no entanto, essa foi a pior interferência do jogador nas
questões políticas. Durante a ditadura no Brasil, o Rei Pelé lançou um édito: “O povo
brasileiro não está preparado para votar”.
Pelé fez um golaço. Daquela vez, já fora de campo, um golaço contra.
O eleitor brasileiro, ao contrário do que pensa Pelé, tem muito mais acertos
do que erros, levando em consideração, por exemplo, as 11 eleições presidenciais
diretas ocorridas ao longo dos últimos 70 anos da República. Sobre isso ele nada
sabe e, para opinar, deveria saber. A afirmação de Pelé reflete a posição daqueles
observadores movidos, em geral, pela ignorância ou pelo preconceito.
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O povo não é bobo. A mais recente comprovação da correta percepção
popular está nos números de uma pesquisa Ibope, feita em maio, sobre temas
políticos e administrativos. A mídia silenciou sobre o assunto quando bateu de frente
com a resposta dada à seguinte questão proposta ao entrevistado:
“A imprensa brasileira mostra o País numa situação econômica mais negativa
do que a que percebo no meu dia a dia”.
O Ibope admite a influência da mídia “no sentimento de pessimismo dos
brasileiros”. O instituto apoia-se no expressivo número de 41% dos entrevistados
que acreditam nisso. Ou seja, “a imprensa mostra uma situação econômica mais
negativa” do que parece ser.
Existe uma crise econômica inegável e o jornalismo não é por natureza
mensageiro da bem-aventurança. É de Rubem Braga, o grande cronista, uma
afirmação radical sobre isso: felicidade não dá manchete.
Apesar do bombardeio diário contra o governo, muitas vezes sem
comprometimento com os fatos, desponta na resposta da maioria da população a
restrição ao papel da mídia. Ela parece torcer contra e jogar na posição do quanto
pior melhor.
Os entrevistados reconhecem isso. Por outro lado, andam, porém,
mergulhados na descrença sobre o futuro do País porque vê e sente o desemprego
em crescimento e a inflação em alta.
Entretanto, o problema neste caso não está contaminado pelo viés político-
ideológico.
A mídia tem o direito de ser conservadora, reacionária ou o que mais quiser.
Só não pode ser desonesta e esconder do leitor um fato, como o agora relatado, no
fundo da gaveta.
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O SR. PRESIDENTE (Gonzaga Patriota) - Convidamos o Deputado Luis
Carlos Heinze para fazer o uso da palavra pelo tempo regimental.
O SR. LUIS CARLOS HEINZE (Bloco/PP-RS. Sem revisão do orador.) - Sr.
Presidente, colegas Parlamentares, juntamente com a FARSUL — Federação de
Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, com a Federação das Associações de
Arrozeiros, cujo Presidente é Henrique Dornelles, com o Presidente Sperotto, da
FARSUL, com o Presidente Carlos Joel, da Federação dos Trabalhadores na
Agricultura no Rio Grande do Sul e também com a Presidência do Instituto Rio
Grandense do Arroz — IRGA, nós estamos buscando a equiparação e a correção do
preço mínimo por meio de uma discussão.
Há uma divergência entre as entidades de classe, os órgãos que fazem o
custo de produção e a Companhia Nacional de Abastecimento — CONAB, Deputado
Mauro, do Rio Grande do Sul, em relação ao custo que está sendo apresentado. A
CONAB participou, em várias regiões da metade sul do Estado, e agora chegou a
um custo de R$29,70. Esse é o valor a que a CONAB chegou, mas o custo das
entidades e do IRGA, que é um órgão oficial ligado ao Governo do Estado do Rio
Grande do Sul, chegou em quase 34 reais.
Estamos conversando sobre essa divergência com a Ministra Kátia Abreu,
com o próprio Secretário André Nassar e vamos encaminhar ao Dr. Rabelo, no
Ministério da Fazenda. Antes da divulgação do custo, nós temos que ajustar isso. O
preço último era 27 reais, muito aquém do custo. O custo final hoje está em 38, 39
reais, e os produtores estão reclamando dessa ação. Isso vale também para Santa
Catarina, porque hoje Santa Catarina também possui uma boa parcela de arroz
irrigado.
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Então, Rio Grande do Sul e Santa Catarina têm hoje em torno de 75% do
arroz irrigado produzido no Brasil. Quase todo o arroz do Brasil é produzido nesses
dois Estados. Portanto, é extremamente importante e esse é o alerta que nós
fazemos ao Ministério da Fazenda, Dr. Rabelo vai receber essas informações, assim
como o André Nassar, o Zé Maria, a turma da Secretaria da Política Agrícola da
Ministra Kátia Abreu, que vai nos receber por volta das 16 horas. Então, nós já
estamos discutindo essa questão com o amparo das nossas entidades de classe lá
do Rio Grande do Sul: a Federação de Agricultura, a Federação dos Arrozeiros, a
Federação dos Trabalhadores da Agricultura e também o Instituto Rio Grandense do
Arroz.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Gonzaga Patriota) - O pronunciamento de V.Exa. será
encaminhado nos termos regimentais para divulgação.
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O SR. PRESIDENTE (Gonzaga Patriota) - Convidamos o Deputado Mauro
Pereira para encaminhar seu pronunciamento.
Convido o Deputado Luiz Couto para presidir a sessão.
O SR. MAURO PEREIRA (Bloco/PMDB-RS. Sem revisão do orador.) -
Deputado Gonzaga Patriota, eu gostaria de comentar sobre esse final de semana,
no sábado. Iniciou-se no Município de Caxias do Sul um comitê contra a redução da
maioridade penal. Esse comitê é composto por diversas entidades, inclusive estava
presente no sábado, durante toda a tarde, o Ministro Pepe Vargas, o nosso Dr.
Leoberto Brancher, que é o juiz que está instaurando a justiça restaurativa no País.
É importante o debate, mas eu gostaria de dizer, deixar bem claro — e eu já
deixei bem claro — que eu sou a favor da redução da maioridade penal. Quem leu a
revista Veja deste final de semana viu o retrato do que significa hoje os jovens que
não foram bem educados e o que está acontecendo com a bandidagem.
Então, eu sou a favor da redução da maioridade penal, o povo clama por leis,
precisa ter leis mais severas para que, desde crianças, os pais e as mães, os tios, os
primos, os parentes procurem educar melhor os jovens, porque eles vão ficar
sabendo que, caso eles aprontem depois dos 16 anos, poderão ser presos. É isso o
que precisa. O Brasil precisa ser um País que tenha leis rígidas, leis que possam ser
cumpridas, porque o que não pode é o que está acontecendo no dia de hoje: as
pessoas de bem, as pessoas que trabalham, as pessoas que lutam no seu dia a dia
não têm mais sossego, não têm mais paz.
Nós políticos, Deputados Federais e Estaduais e Senadores temos obrigação
de dar uma resposta à nossa sociedade. Essa resposta é a existência de leis mais
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severas e que realmente incriminem aqueles que são bandidos. É por isso que
votarei a favor da redução da maioridade penal.
Sou a favor da redução da maioridade penal porque lugar de bandido é na
cadeia. Não importa a idade da pessoa, se ela agiu errado, cometeu um crime, tem
de pagar por ele. Não tenho dúvida nenhuma de que esta Casa vai atender ao
clamor da população brasileira, que pede e que clama por justiça, fazendo com que
as pessoas de bem vivam em paz e que as pessoas que praticam o mal e crimes
sejam responsabilizadas.
Muito obrigado.
O Sr. Gonzaga Patriota, nos termos do § 2º do art.
18 do Regimento Interno, deixa a cadeira da Presidência,
que é ocupada pelo Sr. Luiz Couto, nos termos do § 2º do
art. 18 do Regimento Interno.
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O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Concedo a palavra ao Deputado Gonzaga
Patriota, que disporá do tempo regimental.
O SR. GONZAGA PATRIOTA (PSB-PE. Sem revisão do orador.) - Sr.
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, vou falar logo mais no Grande Expediente e
aproveitei o final de semana — comecei na sexta-feira e continuei no sábado — para
escrever aproximadamente 150 páginas para o discurso do Grande Expediente.
Como sei que o tempo não será suficiente, farei de improviso.
Obviamente, preciso de V.Exa. e de outros Deputados, mas não apenas do
Nordeste. Vejo aqui dois gaúchos que poderão nos ajudar.
Não é possível que após 500 e tantos anos do descobrimento do nosso País
a nossa Região continue abandonada. Conseguimos, depois de muita luta, de
muitas políticas, de muitos órgãos que lá estão instalados, ações... A CODEVASF —
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, por
exemplo, poderia fazer um trabalho de desenvolvimento, se tivesse condições de
fazê-lo. A EMBRAPA — Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, através dos
seus cientistas, levanta tim-tim por tim-tim do que a Região Nordeste precisa para
conviver com essas estiagens, com essas secas, mas lamentavelmente nada se faz.
O Nordeste precisa de tudo.
Eu vou falar sobre a mobilidade de que o Nordeste precisa. Não apenas da
mobilidade intermunicipal, da interestadual, mas da mobilidade urbana. Na cidade
onde moro, Petrolina, uma cidade pequena, de aproximadamente 300 mil habitantes
— nasci em Sertânia —, não temos mais para onde andar. Quando se chega perto
ao horário do final das aulas ou do começo das aulas, não há mais como caminhar.
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De Petrolina para Lagoa Grande, para Santa Maria da Boa Vista ou para onde
for não tem como ir por essas rodovias apertadas, pequenas. Um país que, em 20
anos, aumentou em 10 vezes o número dos seus veículos também não tem para
onde ir!
Portanto, Sr. Presidente, eu gostaria de — logo mais, quando terminar aqui o
Pequeno Expediente — fazer esse pronunciamento. Não venho aqui falar como um
Deputado de oposição. Eu venho aqui, humildemente, pedir ao Governo da
Presidente Dilma que dê uma olhada para o Nordeste.
Não é possível que essas obras estejam paradas, obras importantíssimas
como essa da integração de bacias. Mas o meu discurso principal vai ser um pedido
à Presidente. É por isso que eu venho aqui bem mansinho hoje, para que ela possa
fazer essa interligação. O projeto está pronto, foi feito pelo então Vice-Presidente
José Alencar. Que ela possa colocar no seu Governo o que é necessário! Não
podemos esperar, se não vier água do Tocantins para o Rio São Francisco.
Neste instante, o meu caseiro lá de Petrolina me ligou e disse: “Gonzaga, as
plantas vão morrer todas de sede aqui, porque a gente não tem como tirar água do
rio”. O rio está seco! Um rio de 2.700 metros cúbicos de água por segundo está com
700 metros cúbicos. Quer dizer, o Lago de Sobradinho tem menos de 20%. Cerca
de 100 mil — e olhe que há muitos gaúchos lá — trabalhadores vão ficar
desempregados só em Petrolina quando não tivermos mais como tirar água ainda
neste ano.
Eu volto daqui a pouco, Sr. Presidente.
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O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Dando continuidade ao Pequeno
Expediente, concedo a palavra ao Deputado Luis Carlos Heinze, do Bloco
Parlamentar PMDB/PP/PTB/PSC/PHS/PEN. S.Exa. disporá de até 5 minutos.
O SR. LUIS CARLOS HEINZE (Bloco/PP-RS. Pela ordem. Sem revisão do
orador.) - Sr. Presidente, Deputado Luiz Couto, colegas Parlamentares e
telespectadores que estão nos assistindo pela TV Câmara, na semana passada,
recebemos aqui o Sr. Alexandre Guerra, Presidente do Sindicato da Indústria de
Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande do Sul. O Deputado
Mauro o conhece de Nova Petrópolis, da cooperativa Piá, uma das grandes
cooperativas do Brasil, orgulho do nosso Estado, Rio Grande do Sul. Recebemos
também o Sr. Arno Kopereck, Presidente da cooperativa Cosulati, de Pelotas, e, da
mesma forma, Gilberto Pìccinini, Presidente da cooperativa Cosuel, de Encantado.
Acho que estão simbolizadas nessas três cooperativas não só as
cooperativas de leite, mas as próprias indústrias de leite. Isso não vale apenas para
o Rio Grande do Sul. É um alerta.
Nós já estivemos com a Ministra Kátia Abreu. Estamos fazendo um
documento, encaminhado pela Comissão de Agricultura da Câmara, para ter mais
peso, em nome dos colegas Parlamentares de todas as bancadas. Oposição e
situação — não interessa — estão juntas para que a Ministra Kátia Abreu, o Ministro
Armando Monteiro, da Indústria e Comércio, e também o próprio Itamaraty
participem dessa discussão.
Vejam que isso repercute no leite em todo o Brasil, não apenas no Rio
Grande do Sul. O que o Rio Grande do Sul está trazendo é que, no ano passado,
em 2014, nos primeiros 4 meses, nós exportamos 141 milhões de litros de leite. Nos
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primeiros 4 meses deste ano, foram 102 milhões de litros, isto é, 40 milhões a
menos. E não é apenas isso, Deputado Mauro: o pior são as importações. Nós
importamos 277 milhões de litros nos primeiros 4 meses do ano passado e
importamos agora 438 milhões, muito disso do MERCOSUL.
Isso prejudica a produção nacional de leite. O Rio Grande do Sul está
crescendo. Hoje já é o segundo maior produtor do Brasil. E esse é um problema que
afeta o Brasil inteiro. Hoje existem mais de 1 milhão de produtores de leite em todo o
Brasil. É a atividade que mais emprega produtores — e a grande maioria são
pequenos produtores.
Então, nós estamos chamando a atenção para isso. O Presidente do
Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande
do Sul, Sr. Alexandre Guerra, da cooperativa Piá, está trazendo esse alerta ao
Governo. Nós temos que nos antenar.
Eu queria ver se fosse o inverso, se a Argentina fosse, ao contrário, a
demandadora do que nós estamos apresentando aqui. Logicamente, eles já teriam
trancado essa importação. Agora, no Brasil...
Quem é que paga por isso? É o produtor. Isso está acontecendo com o leite;
acontece também com o arroz. O Rio Grande do Sul é o maior produtor do Brasil.
Está sendo duramente afetado pela importação que vem da Argentina, do Uruguai e
um pouco também do Paraguai. Isso prejudica a produção brasileira — vale para
Santa Catarina, que também é produtora de arroz, e vale para o Rio Grande do Sul.
Então, esse alerta que o leite nos traz é do que nós estamos falando para que
possa ser feito.
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No mais, Sr. Presidente, colegas Parlamentares, Deputado Luiz Couto, aqui
não há uma questão político-partidária. Eu quero chamar a atenção para o que vi no
jornal Folha de S.Paulo no último sábado. O ex-Ministro de Segurança Pública
chinês Zhou Yongkang foi condenado à prisão perpétua. E à prisão perpétua
sucedeu a pena de morte. Antes era pena de morte, Deputado Mauro Pereira, e hoje
é prisão perpétua.
Ele foi acusado de receber uma propina de 65 milhões de reais.
Transformando a moeda chinesa para a moeda brasileira, são 65 milhões de reais.
O atual Presidente da China, num programa de combate à corrupção, está exigindo
a punição de seus Ministros ou de quem quer que seja. Esse exemplo tem que vir
para o Brasil.
Vimos aqui, Deputado Luiz Couto, o exemplo do Pedro Barusco. Quem era
Pedro Barusco? Não era Ministro, não era grande autoridade. Era do quinto ou sexto
escalão da PETROBRAS e devolveu 100 milhões de dólares. Veja: são 300 milhões
de reais e não os 65 milhões pelos quais uma grande autoridade chinesa agora está
sendo condenada à prisão perpétua.
Da mesma forma, chamo atenção para o fato de, há pouco tempo, 4 ou 5
anos atrás, a esposa do grande líder chinês Mao Tsé-Tung, o qual revolucionou a
China, a sua última esposa, também ter sido condenada à prisão perpétua e acabou
se suicidando, porque aconteceu isso. O pessoal tem vergonha na cara. Aqui parece
que não tem.
Isso que acontece não é questão político-partidária. Não interessa. O que nós
temos que fazer, nós Parlamentares, as pessoas de bem, de qualquer partido que
seja, é combater. Tenho certeza de que a Presidenta Dilma também pactua com
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isso e que muitas vezes está amordaçada por esses arranjos políticos, inclusive do
meu partido e do seu partido, Deputado. Mas não interessa o partido, interessa que
as pessoas de bem não podem ficar sangrando, como é o meu caso, sendo
acusadas levianamente por um corrupto, um ladrão, como esse Alberto Youssef,
que joga com o nosso nome como se fôssemos quaisquer pessoas. Não somos,
vamos demonstrar na Justiça. Inclusive, há algum tempo nós já o estamos
chamando. Eu quero fazer uma acareação com ele. Não devo nada, Deputado Pe.
Luiz Couto. V.Exa. já nos conhece há quantos anos? Nunca nos envolvemos com
esse tipo de falcatrua para ter agora o nosso nome jogado na lama.
Por isso faço menção ao que está acontecendo na China. Deve servir de
exemplo para o Brasil o que acontece lá com o Presidente chinês, que está
aplicando à risca um programa de combate à corrupção. Está aí uma das maiores
autoridades do Partido Comunista Chinês, nesse instante, sendo condenada à
prisão perpétua. Esse exemplo tem que vingar, Deputado Luiz Couto, para o Brasil.
Vimos agora o Deputado Vaccari envolvido nesses processos, sendo
ovacionado num congresso lá na Bahia. Não interessa o partido. Pode ser do meu
partido, não me interessa. Quem quer que seja tem que pagar pelo crime que
cometeu.
Portanto, aqui está o exemplo que lá da China nos vem.
Para complementar, estamos aguardando, agora, no final, ainda, desta tarde,
a conversa com a Ministra Kátia Abreu sobre a questão do preço mínimo do arroz,
que estamos discutindo, e alguns mecanismos também para a comercialização do
arroz. O Banco do Brasil deve soltar nota prorrogando as parcelas de EGF —
Empréstimo do Governo Federal que vencem em julho, agosto, setembro e outubro,
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jogando-as para outubro, novembro, lá para o final do ano. Da mesma forma, uma
cobrança para os bancos particulares — Bradesco, Itaú, Santander, HSBC, Banco
SICREDI e a própria Caixa Federal: que também façam o mesmo procedimento do
Banco do Brasil, para ajudar os arrozeiros do Rio Grande do Sul e também de Santa
Catarina.
Muito obrigado.
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O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Com a palavra o Deputado Mauro
Pereira, do Bloco PMDB.
V.Exa. disporá de até 5 minutos.
O SR. MAURO PEREIRA (Bloco/PMDB-RS. Pela ordem. Sem revisão do
orador.) - Sr. Presidente, Deputado Luiz Couto, quero, primeiramente, parabenizar
meu amigo Luis Carlos Heinze, Deputado do PP do Rio Grande do Sul. Uma coisa é
certa: todo o povo rio-grandense sabe muito bem do seu trabalho, da sua postura e
do seu interesse em defesa do setor primário, dos nossos agricultores, da nossa
indústria. Então, com um passado, com um trabalho como o que V.Exa. tem
realizado no nosso Estado, com certeza, não são palavras que vão atrapalhar seu
mandato. V.Exa. está trabalhando, e trabalhando firme, inclusive na segunda-feira.
Sr. Presidente, Deputado Izalci, eu gostaria de dizer que nós Deputados e
Deputadas estamos tendo mais uma oportunidade — quando digo nós, eu me refiro
à equipe econômica da Presidente Dilma Rousseff — de dar uma resposta ao País
nesta semana. Já votamos diversas propostas do ajuste fiscal, já demonstramos
para nosso Ministro Joaquim Levy que esta Casa está pronta para colaborar, como
vem colaborando, aprovando diversas propostas do ajuste.
Nosso povo, a sociedade clama por iniciativas. Nossos empreendedores e
trabalhadores vêm fazendo a parte deles, trabalhando, dedicando-se. Os
empresários estão tentando manter os empregos. Só que já estamos em junho,
chegando a julho, e as coisas precisam acontecer.
Nós já solicitamos ao Ministro Joaquim Levy — estivemos reunidos com o
Vice-Presidente Michel Temer, uma pessoa fantástica — que o BNDES, o nosso
banco nacional do desenvolvimento, faça imediatamente um plano para que aquilo
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que é produzido pelas indústrias — caminhões, tratores, ônibus, implementos
agrícolas — tenha financiamento de no mínimo 90% do bem, para que ela possa
caminhar, fazer com que os empregos que ainda restam sejam mantidos.
A cada semana nós chegamos a nossa base, visitamos empresas, andamos
nas ruas, conversamos com pessoas desempregadas, que nos perguntam:
“Deputado Mauro, vai acontecer alguma coisa?” Eu digo: “Olha, se Deus quiser, esta
semana as coisas tendem a melhorar.” Essa tendência a melhorar depende da
Presidente Dilma Rousseff, do Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, do Ministro do
Planejamento, Nelson Barbosa, dos Presidentes do BNDES, do Banco do Brasil, da
Caixa Econômica Federal.
Nós não podemos e não devemos deixar que o povo perca a esperança. O
Brasil é um país bom, enorme, consumidor. O povo quer ajudar o País. E nós
Deputados, Deputadas, Senadores temos que ajudá-lo a fazer isso, Deputado Izalci.
Os desmandos, assaltos e roubos na PETROBRAS e em outros órgãos, na minha
opinião, acabaram. Acabou a roubalheira. Agora é preciso de fato fazer com que as
coisas aconteçam no País. E nós estamos aqui prontos para ajudar. É preciso fazer
algo. É preciso dar uma palavra de esperança para os nossos empreendedores.
Já foi divulgado o Plano Safra 2015/2016, que vai disponibilizar 188 bilhões;
já foi divulgada na semana passada a concessão de rodovias, aeroportos e portos. A
Presidente Dilma sinalizou que vai ter sim parceria público-privada. Isso já ajudou, já
foi um sinal positivo. Só que é preciso que as instituições financeiras estatais,
estaduais, que cuidam do nosso patrimônio não virem as costas para aqueles que
querem trabalhar. As pequenas e microempresas estão tocando o dia a dia mais
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com orgulho e raça do que com razão. Ministros, por favor, vamos dar uma notícia
positiva para nosso povo.
Por outro lado, quero parabenizar o Presidente Eduardo Cunha pelo trabalho.
Foi matéria na revista Veja desta semana que já fizemos em 5 meses o que não foi
feito nos últimos 4 anos, em termos de votações de projetos importantes para o
País. Isso valoriza esta Casa, valoriza os Deputados, as Deputadas e seus
servidores públicos. A pior coisa que um ser humano pode ter é fama de vadio e
ladrão. Isso é horrível! Hoje nós podemos andar de cabeça erguida, porque nesta
Casa as coisas estão acontecendo e projetos engavetados há 11, 12 anos estão
entrando na pauta de votação. Eu quero parabenizar o Presidente Eduardo Cunha.
Em minha opinião, no Encontro Nacional do Partido dos Trabalhadores, o
Presidente Lula foi elogiado e também o Presidente Eduardo Cunha. No momento
em que vemos pessoas aplaudindo João Vaccari, aplaudindo quem roubou dinheiro
do País e vaiando o Presidente Eduardo Cunha, é sinal de que ele está no caminho
certo, porque é preciso analisar quem fez a crítica. Se quem fez são pessoas do
bem, então tem que ficar preocupado. Mas a mesma pessoa que elogiou Vaccari,
que elogiou outro que roubou dinheiro público, que saqueou os cofres públicos, vaia
o Presidente Eduardo Cunha. Em minha opinião, o Presidente Eduardo Cunha está
no caminho certo.
Nós temos que trabalhar, que procurar fazer com que o que é bom seja
separado do que é ruim. É para isso que nós temos a obrigação de fazer nosso
trabalho com muita seriedade e respeito à população.
Durante o discurso do Sr. Mauro Pereira, o Sr. Luiz
Couto, nos termos do § 2º do art. 18 do Regimento
Interno, deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada
pelo Sr. Izalci, nos termos do § 2º do art. 18 do Regimento
Interno.
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O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Concedo a palavra ao próximo orador do
Pequeno Expediente, o Deputado Luiz Couto.
O SR. LUIZ COUTO (PT-PB. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr.
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero compartilhar a opinião do professor,
teólogo e militante, pastor da Igreja Batista do Caminho, eleito Vereador de Niterói
pelo PSOL, na primeira candidatura, para cumprir um mandato como instrumento
das lutas populares, Pastor Henrique Vieira.
Diz o texto do Pastor e Vereador do Rio de Janeiro pelo PSOL: “Uma mulher
trans crucificada na Parada do Orgulho LGBT de São Paulo.” Aí ele faz
interrogações: “Escândalo? Ofensa? Ataque mesquinho?”.
E ele chama a atenção para o problema do diálogo. Ele diz que “em primeiro
lugar, é lamentável que não exista a possibilidade do diálogo com os
fundamentalistas religiosos. Diálogo pressupõe falar e ouvir, se colocar e se abrir,
estabelecer o encontro, a troca de olhar e de palavras. Diálogo pressupõe
reconhecimento da dignidade do outro, curiosidade e abertura. Diálogo não significa
supressão de identidade, mas a possibilidade de colocar a identidade em encontro
com outras vozes. Diálogo indica respeito, tolerância e solidariedade. O
fundamentalismo religioso não dialoga”.
Gostaria que todo o pronunciamento, em que transcrevo todo o texto do
Pastor Henrique Vieira, fosse dado como lido e publicado nos meios de
comunicação desta Casa e no programa A Voz do Brasil.
Mas, Sr. Presidente, quero felicitar os fundadores e os trabalhadores
voluntários ou não da Comissão Pastoral da Terra, que em 1971, no dia de sua
ordenação episcopal como bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, no Mato
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Grosso, Dom Pedro Casaldáliga lançou a Carta Pastoral Uma Igreja da Amazônia
em Conflito com o Latifúndio e a Marginalização Social.
Essa carta denunciava a realidade dos indígenas, posseiros e peões numa
porção da Amazônia, novo palco da expansão colonial do Brasil.
Neste ano de 2015 a CPT completa 40 anos de luta por direitos humanos no
campo. Um homem de coragem e cheio da graça de Deus, Dom Pedro fez historia
quando uniu forças com o povo do campo e exauriu toda energia em meio à ditadura
militar. Na época ouviram-se três gritos doloridos que clamavam por justiça — Ouvi
os Clamores do meu Povo; Marginalização de um Povo – Grito das Igrejas; e Y-
Juca-Pirama – o Índio, aquele que deve morrer —, que desnudavam a situação em
que viviam os trabalhadores no Nordeste, no Centro-Oeste e a espoliação dos povos
indígenas.
No período da ditadura, o reconhecimento do vínculo com a Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ajudou a CPT a realizar o seu trabalho e a se
manter. Mas já nos primeiros anos a entidade adquiriu um caráter ecumênico, tanto
no sentido dos trabalhadores que eram apoiados, quanto na incorporação de
agentes de outras igrejas cristãs, destacadamente da Igreja Evangélica de
Confissão Luterana no Brasil — IECLB.
Os posseiros da Amazônia foram os primeiros a receber atenção da
Comissão Pastoral da Terra. Rapidamente, porém, a entidade estendeu sua ação
para todo o Brasil, pois os lavradores, onde quer que estivessem, enfrentavam
sérios problemas. Assim, a Comissão Pastoral da Terra se envolveu com os
atingidos pelos grandes projetos de barragens e, mais tarde, com os sem-terra.
Terra garantida ou conquistada, o desafio era o de nela sobreviver. Por isso, a
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agricultura familiar mereceu um destaque especial no trabalho da entidade, tanto na
organização da produção, quanto da comercialização. A Comissão Pastoral da
Terra, junto com seus parceiros, foi descobrindo que essa produção precisava ser
saudável, que o meio ambiente tinha que ser respeitado, que a água é um bem
finito. As atenções, então, se voltaram para a ecologia.
A Comissão Pastoral da Terra tem um papel extremamente fundamental junto
aos trabalhadores assalariados e boias-frias, que conseguiram, por algum tempo,
ganhar a cena, mas que enfrentam dificuldade de organização e articulação. Além
desses, há ainda os peões, que são submetidos, muitas vezes, a condições
análogas às da escravidão.
Quero então elogiar os trabalhos da Comissão Pastoral da Terra, que, ao
longo do tempo, adquiriu uma tonalidade diferente, de acordo com os desafios que a
realidade apresentava, sem, contudo, perder de vista o objetivo maior de sua
existência: ser um serviço à causa dos trabalhadores rurais, sendo um suporte para
a sua organização.
O homem do campo é que define os rumos que quer seguir, seus objetivos e
metas. A Comissão Pastoral da Terra o acompanha, não cegamente, mas com
espírito crítico. É por isso que a Comissão Pastoral da Terra conseguiu, desde seu
início, manter a clareza de que os protagonistas desta história são os trabalhadores
e trabalhadoras rurais.
Assim, os direitos humanos, defendidos pela Comissão Pastoral da Terra,
permeiam todo o seu trabalho. Em sua ação, explícita ou implicitamente, o que
sempre esteve em jogo foi o direito do trabalhador, em suas diferentes realidades.
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Creio que existem vários segmentos que defendem, com unhas e dentes, os
direitos dos trabalhadores através do direito humano, mas gostaria de afirmar que
essa Comissão foi e é, até o momento, o diferencial da ideologia da dignidade do
trabalhador.
Por isso, quero parabenizá-la pela fidelidade à luta pela vida do trabalhador e
da trabalhadora no campo por todos esses anos, pois em toda sua história vejo a
espiritualidade que Jesus já nos dizia: “Bem-aventurados os pobres de espírito,
porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que choram, porque eles
serão consolados; bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; bem-
aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; bem-
aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; bem-
aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; bem-aventurados os
pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; bem-aventurados os que
sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; bem-
aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem
todo o mal contra vós por minha causa”.
Sr. Presidente, eu gostaria que este pronunciamento fosse divulgado nos
meios de comunicação da Casa e no programa A Voz do Brasil.
PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero compartilhar a opinião do
professor, teólogo e militante, pastor da Igreja Batista do Caminho, eleito Vereador
de Niterói pelo PSOL, na primeira candidatura, para cumprir um mandato como
instrumento das lutas populares, Pastor Henrique Vieira.
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Diz o texto do Pastor e Vereador no Rio de Janeiro pelo PSOL:
“Uma mulher trans crucificada na Parada do
Orgulho LGBT de São Paulo. Escândalo? Ofensa?
Ataque mesquinho?
Em primeiro lugar, é lamentável que não exista a
possibilidade do diálogo com os fundamentalistas
religiosos. Diálogo pressupõe falar e ouvir, se colocar e se
abrir, estabelecer o encontro, a troca de olhar e de
palavras. Diálogo pressupõe reconhecimento da
dignidade do outro, curiosidade e abertura. Diálogo não
significa supressão de identidade, mas a possibilidade de
colocar a identidade em encontro com outras vozes.
Diálogo indica respeito, tolerância e solidariedade. O
fundamentalismo religioso não dialoga.
Isto significa que não existem imagens
pedagógicas que possam abrir uma conversa com o
mesmo. O fundamentalismo ama mais a doutrina que o
próprio Deus porque acredita que sua doutrina é
exatamente igual a Deus. Assim, nega qualquer
possibilidade de ouvir e discernir Deus em outras
expressões culturais e religiosas; não aceita dúvidas e
questionamentos, pois tais posturas revelam falta de
maturidade espiritual; nega qualquer diferença
enquadrando o pensamento diferente como heresia a ser
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extirpada. O fundamentalismo religioso considerou Jesus
um escândalo e o matou, assim fazendo em nome de
Deus. Afirmar que a imagem da mulher trans crucificada
impossibilita o diálogo, tomando como referência o
fundamentalismo religioso cristão, não procede. Razão
simples: não há imagem que possa provocar esta
abertura. Só Deus mesmo.
Em segundo lugar, quero registrar que existe uma
multiplicidade de cristãos que não são fundamentalistas e
desejam entender melhor as pautas libertárias e das
minorias. Inclusive, milhares de cristãos que se sentem
envergonhados com a brutal e perversa mercantilização,
privatização e banalização televisiva, midiática,
empresarial e fundamentalista da fé cristã. São cristãos
que choram diante do ódio destilado por pastores
sensacionalistas; sofrem por ver uma mensagem
libertadora sendo usada para enriquecer poucos
explorando a muitos, brincando com o sofrimento do
povo. São cristãos que desejam converter continuamente
sua fé ao amor. São cristãos que querem aprender e
ouvir, querem amar e acolher. Com este universo religioso
existe a possibilidade de diálogo e de demonstração
concreta do quanto os preconceitos estigmatizam,
impõem sofrimento e matam. É possível, em um confronto
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pedagógico com a realidade, evidenciar que o preconceito
contra gays, lésbicas, transexuais, bissexuais e travestis é
algo brutal, perverso, que realmente mata e que os
símbolos cristãos estão lamentavelmente mais
associados ao preconceito do que ao amor; à imposição
do medo do que ao acolhimento fraterno. Nesse aspecto,
poderia até considerar um equívoco metodológico e tático
o uso da imagem de uma mulher trans crucificada como
forma de transformação da realidade. Isto por causa da
dificuldade ainda apresentada pelos cristãos, de forma
geral, em entender a contundência da denúncia ali
revelada.
Contudo, cabe entender a dinâmica do espaço,
pois era uma Parada LGBT em que diversas denúncias
estavam sendo colocadas, na busca por dar visibilidade a
esta importante luta. Em outras palavras, cabe aos
cristãos que se sentem incomodados com o
fundamentalismo e que desejam romper com a barreira
do preconceito, buscar as imagens mais pedagógicas
para dialogar com a sociedade e com seu campo
religioso. Considero que precisamos articular princípios e
métodos para que pedagogicamente possamos vencer os
preconceitos e abrir canais de diálogo. A luta é sempre
pedagógica.
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Portanto, em terceiro e mais importante lugar,
quero afirmar que não julgo, não condeno e não me
ofendo com a imagem da mulher trans crucificada. Almejo
uma espiritualidade que contempla e comporta símbolos,
mas que essencialmente vê a natureza essencial dos
símbolos e do Deus que vai para além deles. Em outras
palavras. Como seria lindo (em meu modo de ver e sentir)
se os cristãos percebessem tal imagem não como uma
ofensa ou um ataque, mas como uma denúncia visceral,
radical e profundamente espiritual. Como seria lindo se os
cristãos não se preocupassem em defender a pureza do
símbolo, mas conseguissem ir ao encontro da dor ali
manifesta, do grito ali colocado para fora. Como seria
lindo se os cristãos vissem aquela imagem como um
pedido de socorro e um grito de afirmação de dignidade,
de humanidade e de igualdade.
O incômodo não deveria ser com a imagem, mas
com a realidade que ela denuncia. Meu Deus, o Brasil é
um país com taxas absurdas de assassinatos motivados
pelo ódio a LGBTs. As pessoas perdem casa, família,
empregos, círculos afetivos por conta de sua orientação
sexual não heteronormativa e de sua identidade de
gênero. As pessoas sofrem violências psicológicas, físicas
e fatais por conta desse preconceito. Meu Deus, as
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pessoas são assassinadas por conta deste ambiente de
ódio. Olho para Jesus de Nazaré e vejo nele gestos de
acolhimento, de rompimento de barreiras étnicas,
culturais, religiosas. Vejo que Jesus de Nazaré forçou a
readequação da Tradição para que ela se convertesse à
vida, ao amor e à dignidade humana. Olho para Jesus de
Nazaré e percebo que ele foi perseguido, ameaçado, visto
como escandaloso e herege e que ofereceram a ele uma
vida peregrina, fugitiva e no final uma cruz. Olho para
Jesus de Nazaré na Cruz e com Ele todas as vítimas da
terra. Olho para Jesus de Nazaré e vejo o amor de Deus
derramado pela humanidade, oferecendo perdão, Graça e
um caminho onde a espiritualidade é definida pela
verdade absoluta e justa do amor. Jesus sempre
conseguiu ver manifestações de Deus nos lugares mais
diferentes e tidos como avessos à sua própria Tradição.
Curiosamente Jesus teve dificuldade de ver Deus tantas
vezes no próprio Templo.
Quero terminar este texto fazendo uma intencional
correção. Durante toda argumentação eu usei a
expressão uma mulher trans crucificada na parada gay
em São Paulo. Percebem nisso uma certa distância e
impessoalidade? Eu percebo. Por isso quero dar nome,
quero chegar perto, quero olhar nos olhos, quero dar um
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abraço muito forte, um abraço de iguais. Viviany Beleboni,
quero dizer que respeito sua identidade, sua forma de ser,
sua dor e sua luta. Viviany Beleboni, quero pedir perdão
se os símbolos da minha fé provocam em você medo e
rejeição. Viviany Beloboni, quero dizer que fazemos parte
da mesma bela e dramática humanidade e que somos
alvos de um Amor incondicional. Viviany Beleboni, quero
agradecer por sua mensagem que me ensina, me
convence, me converte. Viviany Beleboni, se um dia tiver
chance eu olharei em seus olhos, abrirei meus braços
para dar um grande abraço. Viviany Beleboni, sou cristão,
tenho Jesus como Salvador e Amigo, sou pastor e
estamos juntos. Que venham as pedras, pois já estamos
armados com flores nas mãos. Viviany Beleboni, que seu
grito ecoe e ajude a corrigir o mundo!”
Sr. Presidente, esse texto mostra a diferença do caminhar cristão. Aí deve-se
perguntar: por quê? Porque o que está ligado ao comportamento de Cristo é saber
diferenciar os falsos mestres e as ovelhas do Senhor. O que o Vereador e cristão
aponta é a necessidade de diálogo, expressão que muitos fundamentalistas excluem
de seus dicionários.
Com toda certeza, não só aplaudo as palavras do Pastor, como afirmo que
nosso Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior; o Senhor, o
coração.
Parabéns ao Pastor e Vereador do PSOL Henrique Vieira.
Era o que tinha a dizer.
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O SR. LUIS CARLOS HEINZE - Peço a palavra para fazer um registro, Sr.
Presidente Izalci.
O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Pois não.
O SR. LUIS CARLOS HEINZE (Bloco/PP-RS. Pela ordem. Sem revisão do
orador.) - Está presente aqui conosco o Prefeito do Município de Estação, do PSDB
— uma aliança que há lá com o Partido Progressista. Vieram ele, a esposa, filhos e
os pais, que estão de férias. Estavam eles num casamento em Goiânia e, agora,
estão passando aqui por Brasília para mostrar a cidade aos familiares.
Então, quero só registrar a presença de Geverson Zimmermann, Prefeito do
Município de Estação, no Rio Grande do Sul.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Seja bem-vindo a esta Casa.
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O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Concedo a palavra, no Pequeno Expediente, ao
Deputado Paes Landim.
O SR. PAES LANDIM (Bloco/PTB-PI. Com revisão do orador.) - Sr.
Presidente, há uma semana, no dia 7 do corrente mês, a agência do Banco do Brasil
na cidade de Itaueira, no Piauí, foi destruída na madrugada — totalmente destruída.
Invadiram o banco e, depois de invadirem-no, destruíram-no. Antes passaram pela
polícia, balearam e tornaram sem efeito o carro da polícia local.
É o enésimo assalto, Sr. Presidente, de bandidos, criminosos às agências
bancárias do meu Estado. Itaueira é a cidade em que está instalada a empresa
Civilport Engenharia, que atua na Transnordestina e tem 2.500 empregados. É o
único setor do Estado em que a Transnordestina realmente está funcionando. Agora
há dificuldades de pagamento dos próprios empregados. Ainda bem que lá há uma
agência pequena do banco Bradesco. O Bradesco já foi vítima também de vários
assaltos em todo o Estado.
Já reclamei desta tribuna várias vezes, Sr. Presidente, há mais de 2 anos. Já
fiz inclusive uma carta ao Ministro da Justiça, fazendo um apelo para que a
Secretaria Nacional de Segurança Pública proteja os bancos de todo o País, os
públicos e os privados, até porque a Nação paga um custo pesado por esses
assaltos bancários, posto que, através de seguro, essas agências são devidamente
indenizadas.
Portanto, reitero aqui o apelo ao Ministro José Eduardo Cardozo: mande a
Secretaria Nacional de Segurança Pública estudar seriamente o problema dos
assaltos aos bancos no País, sobretudo no Nordeste — no meu Estado, em
particular, onde a polícia tem pequeno suporte físico e técnico para combater tais
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crimes. Entregue ao honrado, competente e apaixonado pela sua profissão que é o
Capitão Fábio Abreu, nosso colega, Secretário de Segurança do Governo Wellington
Dias, que se encontra de mãos atadas, com falta de recursos.
Ainda ontem eu conversava, durante o voo que me trazia de Teresina a
Brasília, com esse homem nobre por excelência que é Hugo Napoleão, ex-
Governador do meu Estado, ex-Senador, ex-Ministro de Estado, e ele me dizia,
conversando sobre a insegurança que reina no meu Estado do Piauí — meu caro
Padre Couto, exemplo de Parlamentar desta Casa —, que, quando foi Governador,
em 1983, o número de policiais no Piauí era o mesmo de hoje: 8 mil soldados.
Apenas foram substituídos os que se aposentaram e os que morreram.
Segurança pública, meu caro Padre Couto, tem que ser uma prioridade de
todos os Governadores do Nordeste, prioridade nº 1. É até mais importante do que a
educação porque, neste momento, é fundamental a tranquilidade da sociedade, a
tranquilidade dos cidadãos, das instituições públicas e privadas, das escolas, dos
bancos, das empresas.
Os assaltos ocorrem em todos os quadrantes do Estado, todos os dias. Eu já
noticiei vários assaltos daqui, desta Casa. E o de Itaueira foi fantástico. Ficou em
cinzas o prédio do Banco do Brasil. Graças a sua diligência, o Prefeito, o meu
querido e dileto amigo Quirino Avelino, pôs à disposição uma parte da Prefeitura
para que pelo menos o banco atue burocraticamente, até que seja encontrada uma
solução: ou construção ou aquisição de nova agência.
O certo, Sr. Presidente, é que esse assalto em Itaueira, a destruição total do
Banco do Brasil de Itaueira, é demonstração cabal da impotência do aparelhamento
de segurança do Estado. Não basta um homem da seriedade, da competência do
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Capitão Fábio Abreu dirigir a Secretaria de Segurança, se o Estado não tem
recursos e se a União, sobretudo, não dá aporte material e logístico pela Secretaria
Nacional de Segurança Pública, para que instituições bancárias sejam devidamente
protegidas pela polícia, até porque estabelecimentos bancários deste País, públicos
e privados, todos pertencem ao Sistema Financeiro Nacional, todos são
subordinados a diretrizes do Banco Central, da autoridade monetária governamental,
e, portanto, merecem a proteção governamental dos seus prédios, dos seus
institutos, das suas pessoas, das suas instalações.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
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O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Vamos conceder a palavra à oradora que já foi
chamada e que naquele momento não estava presente, mas que agora já está
presente, a Deputada Josi Nunes, do Bloco Parlamentar
PMDB/PP/PTB/PSC/PHS/PEN. S.Exa. terá até 5 minutos.
Depois nós iremos conceder a palavra ao Deputado Zé Geraldo, para uma
Comunicação de Liderança, pelo PT, e, depois, ao Deputado Alberto Fraga.
O Sr. Izalci, nos termos do § 2º do art. 18 do
Regimento Interno, deixa a cadeira da Presidência, que é
ocupada pelo Sr. Luiz Couto, nos termos do § 2º do art.
18 do Regimento Interno.
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O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Concedo a palavra à Deputada Josi
Nunes. V.Exa. dispõe de até 5 minutos.
A SRA. JOSI NUNES (Bloco/PMDB-TO. Sem revisão da oradora.) - Sr.
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, imprensa e servidores deste Poder, antes de
falar sobre o tema que nos traz a esta tribuna, eu quero aqui também deixar o nosso
abraço a toda a comunidade do Município de Taguatinga, no Estado do Tocantins,
que completou, no último dia 10 de junho, 143 anos. E faço isso em nome dos
Vereadores JP e Paulo Baré, daquele Município.
Uso esta tribuna para falar sobre algo que nos preocupa muito: os dados
divulgados pelo Tribunal de Contas da União sobre a divisão do Fundo de
Participação dos Estados para o ano de 2016.
Um dos mecanismos de sustentação dos Estados brasileiros, talvez para
muitos o mais importante, são as transferências constitucionais feitas por meio do
Fundo de Participação dos Estados — FPE.
De acordo com os índices divulgados, 13 Estados serão prejudicados em
suas receitas provenientes do FPE. E isso me preocupa muito, Sr. Presidente.
Somente no Tocantins, se esse índice for mesmo aplicado, teremos, no ano de
2016, uma perda na ordem de 18,6% em comparação com as transferências que
estão sendo realizadas neste ano de 2015.
Esse índice compromete ainda mais a situação enfrentada pelos
Governadores, em especial o nosso Estado, o Estado do Tocantins. O Governador
Marcelo Miranda vem envidando esforços em todos os sentidos para cumprir com as
obrigações com os servidores, com os investimentos públicos, buscando promover o
equilíbrio fiscal, diminuindo despesas e aumentando receitas.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185
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As transferências do Fundo de Participação dos Estados são regulamentadas
pela Lei Complementar nº 143, de 2013. Essa lei estabelece que, a partir de junho
de 2016, os coeficientes serão calculados com base na população e na renda
domiciliar per capita de cada Unidade da Federação, sendo esses dados obtidos
junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — IBGE.
Em termos gerais, Sr. Presidente, neste ano de 2015, o Tocantins obteve o
coeficiente de 4,34% do FPE, e, para o ano de 2016, a previsão diminui ao invés de
aumentar, caindo para 3,53%, de acordo com os cálculos feitos pelo Tribunal de
Contas da União.
Fazendo cálculos com a Lei Orçamentária de 2015, o Tocantins recebe neste
ano em torno de 2,82 bilhões de reais. Com a redução, esse valor ficaria em torno
de 2,3 bilhões de reais, ou seja, uma diferença de aproximadamente 500 milhões de
reais.
Não podemos deixar isso acontecer, Sr. Presidente! É inadmissível uma
redução como essa nas atuais circunstâncias que enfrentamos no Estado do
Tocantins.
Precisamos do apoio dos Deputados para que possamos rever a Lei
Complementar nº 143 e não permitir que essa injustiça seja levada adiante,
prejudicando o equilíbrio socioeconômico do Estado do Tocantins e de mais 12
Estados da Federação.
Vou propor uma reunião da bancada do Tocantins com a bancada que
representa os outros 12 Estados nos quais está prevista essa diminuição; vamos ao
Tribunal de Contas da União, vamos mobilizar as forças políticas e buscar uma
alternativa para essa drástica redução dos repasses constitucionais.
Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Muito obrigado, Deputada Josi Nunes.
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O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Concedo a palavra ao nobre
Deputado Zé Geraldo, para uma Comunicação de Liderança, pelo Partido dos
Trabalhadores. S.Exa. disporá de até 10 minutos.
O SR. ZÉ GERALDO (PT-PA. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr.
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, todos aqueles que me acompanham pelos
veículos de comunicação desta Casa, vou aproveitar o tempo da Liderança para
fazer alguns comentários sobre o Congresso Nacional do Partido dos
Trabalhadores, realizado com muito sucesso, em Salvador, neste final de semana.
Foi um sucesso pela participação de todas as autoridades do nosso partido:
Ministros, Deputados Federais e Estaduais, Governadores, Prefeitos e Vereadores.
E as autoridades maiores neste congresso, os delegados, deliberaram sobre um
documento apresentado pelo nosso partido que foi aprovado na íntegra, apesar de
um longo debate, inclusive, abordando o fato de se manter ou não a eleição direta
para os diretórios municipal, estadual e nacional.
No final de um grande debate, com cinco defesas a favor e cinco defesas
contra, a maioria dos delegados optou por manter o nosso chamado PED —
Processo de Eleição de Delegados, sugerindo ao partido um seminário nacional
para que possamos aperfeiçoar o mecanismo de eleições diretas no Partido dos
Trabalhadores. Vale registrar que é o único partido no Brasil em que os filiados
elegem os seus diretórios municipal, estadual e nacional.
Sr. Presidente, quero continuar, até encerrar os meus 10 minutos,
parabenizando todos os delegados e delegadas, que fizeram um esforço muito
grande de deixar regiões longínquas deste País para se juntarem, em Salvador, na
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185
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Bahia, em nesse grande congresso para o debate sobre a conjuntura, sobre os
rumos do nosso partido.
Naturalmente, três dias são pouco para um grande número de delegados
poderem aprofundar cada tema. Deveremos aprofundar o debate em outro
momento, para, cada vez mais, organizar o nosso partido e fazer com que o PT, que
já é o partido mais democrático deste País, também continue sendo um dos maiores
do Brasil e do mundo.
Tive a felicidade de participar desse Congresso. Quero dizer que não me
amedronto com as análises pessimistas feitas em um momento de ajuste
econômico. É natural que um governo, depois de 12 anos, depois de ter lançado
vários programas muito importantes — como o Minha Casa, Minha Vida, o Programa
Nacional de Habitação Rural, o Luz para Todos e outros programas sociais, enfim,
as grandes obras deste País —, precise fazer alguns ajustes, porque pretendemos
governar por muito mais tempo.
O Brasil precisa de partidos que se aliem a um projeto de desenvolvimento
social que visa a infraestrutura, a geração de empregos e a consolidação da
agricultura familiar — que ainda está no campo neste País, porque temos uma
tendência mundial de urbanização, e no Brasil não é diferente; daqui a pouco, nós
teremos apenas 10% da população deste País morando no campo e o restante
estará morando na cidade.
Então, são grandes os desafios que tem o Governo da Presidenta Dilma e
são grandes os desafios que tem o Partido dos Trabalhadores.
Era isso o que eu queria deixar registrado neste horário de Liderança. Mais
uma vez, parabenizo o meu partido, o Partido dos Trabalhadores deste País!
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Sr. Presidente, eu quero dar como lido meu pronunciamento. Peço que ele
fique registrado nos Anais desta Casa e seja divulgado pelos meios de
comunicação, inclusive no programa A Voz do Brasil.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Obrigado, Deputado Zé Geraldo.
PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o PT está vivo, de cabeça erguida, e
continuará vivo, apesar do desejo da direita de aniquilá-lo. Essa afirmação, feita pelo
nosso ex-Presidente Lula em seu pronunciamento de abertura do 5º Congresso do
PT, em Salvador, na Bahia, nessa quinta-feira, dia 11 de junho, pode ser
comprovada pelo sucesso que foi a participação da militância no evento e pela
constatação de recente pesquisa do Vox Populi, que demonstra que quase 90% da
população brasileira não nutre ódio à legenda, apesar do bombardeio midiático
diário sofrido pelo partido, que há mais de uma década anima nossos opositores e
desenterra defuntos do passado.
Nessa pesquisa inédita feita para medir o tamanho do ódio ao Partido dos
Trabalhadores, apenas 12% da população diz odiar o PT. Isso não é nenhuma
novidade, afinal, desde a sua criação, o partido sempre foi hostilizado por essa
parcela da população. Primeiro, pelo medo de o partido chegar ao poder e, depois,
pelo ódio por ele ter conseguido esse feito — estamos indo para um quarto mandato
executivo em uma democracia. Tal feito é acompanhado de intervenções na
sociedade, que está sendo capaz de mudar a deletéria lógica da casa grande e
senzala que sempre guiou as tomadas de decisões de outros governos.
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Portanto, os gritos de “Fora PT” ecoam fortemente em uma parcela da
população, que, convenhamos, nunca simpatizou com a nossa estrela, ou seja, são
antipetista de carteirinha — pessoas, que na maioria recebem razoável renda
mensal. Com isso podemos concluir que o ódio ao PT também é um ódio de classe.
A tal conclusão também chegou o sociólogo Marcos Coimbra, Presidente do Vox
Populi.
Concordo, dessa forma, com Coimbra, que vê um erro grave da Oposição ao
fincar sua bandeira na minoria visceralmente antipetista, avisando que querer
representá-la pode até ser legítimo, mas é burro, se o projeto for vencer eleições
majoritárias.
Nessa mesma, linha deixo aqui minha crítica àquela parte da base aliada que,
no acotovelamento inicial da corrida presidencial atropela uma aliança que até aqui
deu certo. Aliar-se à Oposição para derrotar o PT não me parece uma estratégia
inteligente para quem quer chegar à chefia do Executivo Federal em 2018.
Concordo também com o sociólogo, que vê um erro do petismo ao se
amedrontar e supor ter de enfrentar a imaginária maioria do antipetismo radical.
Creio, felizmente, que depois dessa pesquisa e do sucesso da participação da
nossa militância no 5º Congresso do PT, apesar dos problemas enfrentados pela
legenda, saberemos enfrentar esses fantasmas projetados em nossas cavernas,
pois que no mundo real essas alegorias criadas pela Mídia não logram efeito
desejado.
O PT está vivo e é dos trabalhadores!
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O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Concedo a palavra ao Deputado Alberto
Fraga, para uma Comunicação de Liderança, pelo Democratas. S.Exa. disporá de 5
minutos.
O SR. ALBERTO FRAGA (DEM-DF. Como Líder. Sem revisão do orador.) -
Sr. Presidente, venho à tribuna para externar o meu repúdio, a minha insatisfação
com relação à última entrevista que o jornalista Jô Soares fez com a Presidente
Dilma Rousseff. Primeiro, causa-me estranheza alguém tão dono de si, alguém
sempre dono da verdade, sempre com posicionamentos independentes, deslocar-se
de São Paulo até o Palácio do Planalto e se prestar àquele papel. Ele se prestou a
um papel de fazer perguntas ensaiadas, perguntas encomendadas pelos assessores
da Presidência da República, evidentemente, deixando todos os telespectadores
decepcionados por sua postura submissa.
Eh, Jô Soares! Quem te viu e quem te vê! Eu espero que depois dessa
entrevista, com a qual está mais do que claro que o marqueteiro do Palácio do
Planalto tenta humanizar a figura da Presidente Dilma Rousseff... Ela agora deu
para andar de bicicleta. Deve ser para simbolizar as pedaladas que ela deu para
cobrir os inúmeros rombos nas estatais do nosso País. Esse marketing pode até
parecer que vai funcionar, porque o povo brasileiro demorou a descobrir que estava
sendo enganado.
Eu espero que, depois dessa famigerada entrevista do Jô Soares com a
Presidente Dilma Rousseff, não apareça uma verba milionária daquelas de 1 milhão,
de 2 milhões, porque aí eu quero ver como é que ele vai se explicar. Essas verbas
funcionariam até mesmo para peças de teatro e outras coisas mais. Como diz a
Globo: “Estamos de olho! Estamos de olho!”
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Agora, Sr. Presidente, nessa mesma toada da humanização da Presidente
Dilma Rousseff, há uma prova de fogo. Ela está na iminência, prezado amigo
Deputado Mauro, de vetar ou não a alteração do fator previdenciário. Eu quero ver o
que a Presidente Dilma Rousseff vai fazer, porque, se ela vetar a alteração do fator
previdenciário, Sr. Presidente, haja Jô Soares para tentar limpar a sua barra.
Acho que o povo brasileiro, principalmente os aposentados, não vai suportar
isso. E, pelo que eu conheço, muitos Parlamentares do PT, que sempre defenderam
os aposentados, não vão aceitar esse veto.
Portanto, Presidente Dilma, talvez V.Exa. devesse ter aguardado esta
semana, que será o dia D para todos nós que estamos aguardando essa posição da
senhora.
O que mais chamou a atenção também, amigo Deputado Gonzaga Patriota,
foi ver a Presidente Dilma Rousseff defender a PETROBRAS! Defendeu com
palavras. Por que não teve atitudes? Ela é Presidente do Brasil! Por que não
colocou na cadeia quem dilapidou o patrimônio do povo brasileiro? Agora,
patrocinada pelo Jô Soares, sem audiência pública, vem com uma conversa fiada
daquela.
Falou também em ajuste fiscal. Ora, ela promoveu o ajuste fiscal, mas
promoveu o ajuste fiscal necessário com o sacrifício do trabalhador, massacrando o
trabalhador brasileiro, que já trabalha 5 meses para pagar os seus impostos.
Sr. Presidente, eu mais uma vez espero que nas redes sociais, que são a
nossa única esperança, o povo do WhatsApp, o povo do Twitter, que não se cala,
que não sofre censura, que não pode ser calado, continue falando sobre essas
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estratégias que o grande marqueteiro do Palácio do Planalto vem implementando,
para humanizar a Presidente Dilma Rousseff.
Lá na minha terra, no Nordeste, em Sergipe, dizem que para o pau que nasce
torto não há jeito: morre torto. Presidente Dilma, a senhora recebeu um Governo
falido do Presidente Lula, não teve competência para fazer uma gestão digna do
povo brasileiro e, agora, no seu segundo mandato, a coisa está pior.
Portanto, aqui fica o meu repúdio ao trabalho de subserviência do Jô Soares,
porque o povo brasileiro não engoliu aquela mentira.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
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O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Com a palavra o último orador inscrito no
Pequeno Expediente, o Deputado Izalci, do PSDB do Distrito Federal. S.Exa. disporá
do tempo regimental de 5 minutos.
O SR. IZALCI (PSDB-DF. Sem revisão do orado.) - Sr. Presidente, Sras. e
Srs. Parlamentares, Deputado Mauro Pereira, eu achei muito estranho o ex-
Presidente Lula chamando a atenção agora do Presidente do partido de V.Exa.,
Michel Temer, pelo fato de termos convocado na CPI o Sr. Okamotto, Presidente do
Instituto Lula, o grande mentor, popularmente chamado de testa de ferro, que é
quem responde por tudo, não só do Instituto Lula mas também da nova empresa
Luiz Inácio Lula da Silva Palestras Eventos e Publicidade, que recebeu da Camargo
Corrêa 1 milhão e meio e mais 3 milhões para o Instituto Lula.
Mas o fato de ter recebido esse dinheiro não chama tanto a atenção porque
isso virou rotina. Empresas de consultoria, empresas fantasmas, empresas que não
prestam serviço, mas emitem faturas, tudo isso é normal. O que chamou atenção, no
caso dos documentos apreendidos na empresa Camargo Corrêa, foi a discriminação
na contabilidade da empresa. Foram três parcelas de 1 milhão para o Instituto Lula
feitas pela Camargo Corrêa. No histórico do lançamento contábil constavam
doações, mas uma lá havia falando de contribuição eleitoral — bônus eleitoral.
Por que o Instituto Lula recebe bônus eleitoral? Isso nos chamou a atenção.
Mas para quem é membro da CPI, como nós, que estamos acompanhando e vendo
no dia a dia, isso é natural, porque o PT passou a receber as propinas com recibo
eleitoral e elas viraram doações oficiais, mas na conta corrente da propina eles
abatem os valores.
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Como funciona? Existe a conta corrente da propina das empreiteiras,
Camargo Corrêa e outras. Aí há a conta corrente da propina. Emitem a nota fiscal lá,
por exemplo, da JD, a empresa do José Dirceu, eles então abatem da propina, da
conta corrente. Fazem uma doação para o Partido dos Trabalhadores, vão lá e
abatem da propina. Pagam com a emissão de notas fiscais fantasmas — são
centenas —, abatem da propina. Mas o Instituto Lula recebeu também bônus
eleitoral e na hora da contabilidade se esqueceram. Abatem da propina também.
Então, nós aprovamos 140 requerimentos, dos quais alguns são de
acareação, de fundamental importância. Nós queremos ouvir novamente o Paulo
Roberto Costa, mas agora não isoladamente. Nós queremos fazer a acareação com
Vaccari, Renato Duque, Alberto Youssef, para ver quem está mentindo nessa
história.
A última de que participei foi a de Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró.
Paulo Roberto Costa foi firme e manteve as acusações que fez na delação
premiada. Nestor Cerveró negou tudo, disse que nunca fez nada, que não sabe de
nada, que não tem dinheiro no exterior, que não tem conta em lugar nenhum. E
agora nós descobrimos as contas milionárias do Nestor Cerveró!
Portanto, as acareações que faremos vão contribuir muito. Queremos receber
aqui para as explicações necessárias o Sr. Paulo Okamotto, Presidente do Instituto
Lula. Ele que também é o mentor da empresa LILS Palestras Eventos e Publicidade.
Eu estou acompanhando, Deputado Mauro Pereira, essa questão da CPI.
Quando eu estive em Curitiba, uma das pessoas que está presa lá, a doleira Nelma
Kodama, estava revoltada porque foi condenada a 18 anos de prisão e ela só fez
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entre 90 a 100 operações de importação e exportação, enquanto só o Laboratório
Labogen fez mais de 4 mil operações de importação e exportação fictícias.
Eu não sei se vocês acompanharam na semana passada o esquema
descoberto pela Polícia Federal que movimentou 3 bilhões de reais, envolvendo o
ex-Vice-Presidente do Banco do Brasil. E agora, para nossa surpresa, quem é
recebido aqui com todas as honras? O grande amigo de Lula, Diosdado Cabello,
traficante de drogas das FARC. Ele foi recebido pelo Sr. Luiz Inácio Lula da Silva.
Coincidentemente, esse senhor está envolvido nessas operações de importações e
exportações fictícias.
Isso precisa mudar. Esta Casa precisa urgentemente verificar toda a
legislação que trata da importação e da exportação, para coibir desvios de bilhões
de reais, já constatados na CPI da PETROBRAS e, agora, nessa operação do
Banco do Brasil.
Peço a V.Exa. que divulgue este pronunciamento nos meios de comunicação
da Casa e no programa A Voz do Brasil, em especial.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - V.Exa. será atendido nos termos
regimentais.
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O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Passa-se ao
V - GRANDE EXPEDIENTE
O primeiro orador inscrito é o Deputado Gonzaga Patriota. S.Exa. disporá de
até 25 minutos.
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O SR. GONZAGA PATRIOTA (PSB-PE e como Líder. Sem revisão do
orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, como eu mostrei aqui no Pequeno
Expediente, eu escrevi mais de 150 páginas neste discurso. Obviamente não vai dar
para ler tudo isto aqui. Eu gostaria de ler apenas a introdução e fazer uma fala de
improviso sobre este discurso, cujo teor solicito a V.Exa. autorize a transcrição nos
Anais na íntegra.
Este discurso, como eu disse aqui na sexta-feira, trata dos problemas
causados pela seca no Nordeste, além de outras coisas que faltam na nossa
Região, a minha Região e a Região de V.Exa., Sr. Presidente.
Há poucos instantes, eu vi aqui a Deputada Josi, do Tocantins. Eu já
conversei com ela, que me deu uma aula sobre o Rio Tocantins. E é exatamente
sobre isto que eu quero falar: o que vamos fazer, urgentemente, para levar água do
Tocantins para o Nordeste, através do Rio São Francisco? Então, passo a ler a
introdução do que escrevi:
“Senhor Presidente, Senhoras e Senhores
Deputados, o Nordeste só com águas do Rio Tocantins
abastecendo o São Francisco.
Quem como eu que se engajou na luta por
mudanças no Brasil desde a adolescência e,
principalmente, a partir do dia em que me filiei ao velho
MDB — Movimento Democrático Brasileiro, no final dos
anos sessenta, isso significa, em termos bem claros, que
não falo como adversário do Governo da Presidente
Dilma Rousseff, pelo contrário, venho contribuindo, ao
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longo desses mais de trinta anos consecutivos, para dar
sustentação à administração federal nesta Casa do
Congresso Nacional.
Mas o meu compromisso maior é com a população
brasileira e, de modo particular, com o meu querido
Estado de Pernambuco e de um Nordeste que continua
sendo tratado como ‘o patinho feio’ do Brasil.
Lá, tudo que tem que ser feito hoje pelo governo
fica para depois, ou nunca acontece. Antes de refletir
sobre tudo isso, fiz várias visitas ao sertão
pernambucano, onde acompanhei de perto o sofrimento
dos meus conterrâneos que estão enfrentando a pior seca
das últimas cinco décadas. (...).”
Sr. Presidente, este pronunciamento está sendo transmitido por muitas
emissoras de rádio, entre elas a Petrolina FM, a Lagoa Grande FM, a Santa Maria
FM, a Cultura FM de Santa Cruz, a Salgueiro FM, a Sertânia FM, a rádio de
Monteiro, na Paraíba de V.Exa., e uma rádio de Campina Grande que fazem
conexão com a nossa. Além disso, muitos amigos estão também assistindo ao
discurso, copiando, anotando e gravando o que eu estou falando aqui, para tentar
ajudar.
Eu disse aqui que, antes de refletir sobre tudo isso, eu fiz várias visitas ao
Sertão. Na semana passada, estive em várias cidades de Pernambuco. Acompanhei
de perto a vida dos pernambucanos que estão enfrentando, Deputado Zé Geraldo —
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e V.Exa. é de lá do Norte, da Amazônia —, uma das piores, uma das mais terríveis
secas no Nordeste brasileiro. Há 5 anos não chove!
Eu falei aqui outro dia, e alguém achou que não era verdade, que uma
sobrinha minha, com 5 anos, veio aqui para minha casa, lá no prédio em que V.Exa.
mora, onde eu faço caminhada, e V.Exa. arrodeia o bloco. A menininha saiu comigo
de manhã. Na hora em que saímos, caiu uma chuva. Eu não apercebi. Ela saiu
chorando e gritando. Eu disse: “O que é isso?” E a menina: “O céu furou! O céu
furou!” Foi aí que eu percebi que a menina nunca tinha visto chuva.
Nada justifica que o Nordeste esteja sofrendo tanto. O Nordeste, Deputado Zé
Geraldo, tem o Rio São Francisco. Infelizmente, nunca se viram políticas, ou pelo
menos uma política para salvar o Rio São Francisco — nunca! E o Rio São
Francisco tem limites. Eu me lembro de quando o Presidente Lula lançou o projeto
de transposição de águas do Rio São Francisco. O meu querido Bispo D. Cappio, do
futuro Estado do Rio São Francisco, em Barreiras, foi lá, fez uma greve de fome e
tal. E eu, já pensando no meu projeto, que interligará o Rio Tocantins ao Rio São
Francisco, disse: “Não, deixa para lá. Essa transposição não vai acontecer logo.
Vamos ter, antes dela, água do Rio Tocantins aqui no São Francisco”.
Antes de passar a palavra a V.Exa., Deputado Zé Geraldo — e eu gostaria
também de depois conceder o aparte solicitado pelo Deputado e padre Luiz Couto,
porque onde há um padre e um pastor, como S.Exa. diz, as coisas são facilitadas —,
quero esclarecer esse ponto.
O que acontece? É que o levantamento que se tinha, Deputado Zé Geraldo,
para fazer a transposição de águas do Rio Tocantins era uma coisa muito grande,
de 15 bilhões a 20 bilhões de reais, um projeto de 1.500 quilômetros, para sair de
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Tocantins, passar pelo Maranhão — o Maranhão não precisa de água; lá chove
muito —, pelo Piauí, que precisa um pouco, e chegar depois a Pernambuco, Ceará e
Rio Grande do Norte.
O Presidente Lula e o então Vice-Presidente da República, Dr. José Alencar,
encontraram outro projeto, sobre o qual logo mais falarei.
Tem V.Exa. a palavra para um aparte.
O Sr. Zé Geraldo - Deputado Gonzaga Patriota, V.Exa. é um Deputado
sempre muito sintonizado com os problemas do seu Estado, da sua Região.
Realmente, essa questão da seca e das chuvas é interessante, porque é um
contraste. Enquanto na sua Região passam-se até 5 anos sem chover, na
Amazônia, nesses 5 anos, choveu por quase 4 anos. Tanto é que lá, em algumas
obras rodoviárias, só se trabalha durante 6 meses, porque os outros 6 meses são de
chuva. Eu penso que essas grandes obras são só uma questão de tempo. A partir
do Presidente Lula, nós estamos fazendo obras que estavam anunciadas há
centenas de anos e outras iniciadas há meio século, como é o caso do asfaltamento
da Cuiabá-Santarém e da Transamazônica, no Pará. Mas também há a construção
da Usina de Belo Monte e a obra para transmissão da energia de Tucuruí para
Manaus, um linhão que passa por cima da Floresta Amazônica e foi para Manaus e
Macapá. A transposição de águas do Rio São Francisco, mesmo com as obras
estando com atraso, obras que deverão terminar nesses próximos 4 anos... Mas
acredito que outras grandes obras virão para ajudar este País, como a
Transoceânica, ferrovia que a Presidenta Dilma acaba de lançar. E nós temos
regiões deste País em que realmente temos muita água. O Pará, para que V.Exa.
tenha uma ideia, tem grandes rios. Só na região oeste do Pará, hoje, que representa
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a metade do Estado do Pará, territorialmente, nós temos três grandes rios, e são dos
maiores: o Rio Amazonas, o Rio Tapajós e o Rio Xingu, grandes rios que banham
essa região. E lá nós temos também problemas de falta de água nos assentamentos
— falta perfurar poços —, porque mesmo tendo esses rios, em um assentamento
próximo desses rios é preciso furar poço artesiano com 150 metros, 160 metros de
profundidade, para poder fazer o abastecimento de uma vila. Então, V.Exa. tem
razão de pautar essas obras integradoras, porque nós teremos condições, sim,
nesses próximos anos, de terminar as que já foram iniciadas e iniciar outras que são
muito benéficas ao Brasil e às regiões. Muito obrigado por ter me concedido o
aparte.
O SR. GONZAGA PATRIOTA - Deputado Zé Geraldo, eu agradeço a V.Exa.,
que é do partido da Presidente Dilma Rousseff e que com certeza vai nos ajudar.
V.Exa. é de uma região em que chove demais, que tem chuvas em excesso. Nós
precisamos exatamente desse apoio.
Antes de conceder um aparte a V.Exa., eminente Deputado Luiz Couto, é
importante dizer — V.Exa., que tem uns aninhos a mais do que eu, sabe muito bem
disso — que o Nordeste teve desenvolvimentos, através do trabalho, quando se
construiu o DNOCS, há mais de 100 anos.
Foi o DNOCS que fez com que tivéssemos pelo menos vida na Região
Nordeste, com a construção de poços, com a construção de muitos açudes. Depois,
veio a SUDENE, que foi muito importante para o Nordeste, principalmente para o
desenvolvimento industrial e comercial.
Na Constituinte — e eu tive a honra de ajudar nesse processo —, criamos o
Fundo Constitucional do Nordeste. Esse Fundo leva 1,5% da arrecadação da União
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para a nossa região. E o Banco do Nordeste tem feito um trabalho extraordinário
com esses recursos na agricultura, na pecuária, no comércio, na indústria. E faltam
duas coisas, como eu falei aqui na última reunião: uma, que possamos aprovar, se
Deus quiser, ainda neste ano, a zona franca do Semiárido brasileiro. Estamos
tentando, de maneira democrática, fazer essa zona franca, para não ficar como a de
Manaus, uma zona franca em uma cidade. Queremos que a zona franca na região
do Semiárido possa se espalhar por todos os Estados.
E a outra, não tem para onde correr. Eu quero aproveitar, Deputado Luiz
Couto, e pedir apoio a V.Exa. Vou ver se formamos aqui uma comissão — os
Deputados Estaduais de Pernambuco já o fizeram — para olharmos como está o Rio
São Francisco. A Barragem de Sobradinho tem menos de 20% da sua capacidade,
Deputado Luiz Couto. A adutora que tira água do centro da Barragem de
Sobradinho, o maior lago artificial do mundo, não está mais tirando água. Neste ano,
se não houver uma mudança, como se pediu aqui ao Sr. Ministro da Integração
Nacional, que tem dado toda a atenção à região, mas infelizmente ainda não teve os
recursos para fazer isso, não vamos ter safra de fruticultura em Petrolina, nem,
talvez, em Juazeiro. Não dá para ficar assim.
Hoje o meu caseiro me ligou e disse: “Olha, Gonzaga, pelo amor de Deus,
manda um trator aqui para a gente fazer um canal para trazer água, senão as
plantinhas morrem”. E eu só tenho 1 hectare e meio de plantações. E quem tem 100
hectares como fica?
Chegou aqui agora o Deputado Mauro Pereira, gaúcho. Os gaúchos de
Petrolina estão dizendo a mim: “Pede, pelo amor de Deus, para a Presidente Dilma
mandar realocar essa adutora para o fundo da Barragem de Sobradinho, para
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colhermos as frutas que estão plantadas”. Não é apenas porque se vai desempregar
100 mil pessoas. Vamos ter plantinhas morrendo, porque a uva, a manga não
aguentam 1 ano de seca.
Quero ouvir, com muita atenção e respeito, o meu querido Deputado Luiz
Couto.
O Sr. Luiz Couto - Deputado Gonzaga Patriota, parabenizo V.Exa. pelo seu
pronunciamento. A situação de Pernambuco não é diferente da situação da Paraíba,
do Ceará, da maior parte dos Estados do Nordeste brasileiro. Mas há uma diferença
muito grande. Sabemos que a estiagem é uma questão climática. Ou seja, já
sabemos os anos em que houve chuva e aqueles em que não houve chuva. Na
Paraíba, este ano, até hoje só tivemos 1.730 milímetros de chuva, a pior situação
nesses 5 anos. No ano passado, foram 2.880 milímetros. A situação está
desesperadora. São 27 Municípios em situação de emergência decretada e mais 64
cidades na Paraíba com racionamentos. A seca é uma questão política.
Infelizmente, não conseguimos ainda enfrentar essa questão política da seca no
Semiárido nordestino. Como V.Exa. disse, além de políticas de convivência com o
Semiárido, e V.Exa. já sugeriu algumas dessas políticas públicas, temos que fazer
aquela outra proposta de V.Exa. — o Rio São Francisco já não é mais o Velho
Chico, é um Chiquinho, já está seco e perdendo muito da sua capacidade —, fazer a
transposição de águas do Tocantins para o leito do Rio São Francisco, a fim de que
o Nordeste possa ter água para o consumo humano, para a criação dos animais e
para a agricultura, porque é fundamental a questão da irrigação. V.Exa. tem toda a
minha solidariedade. O Ministério da Integração Nacional precisa responder a essas
demandas. A Secretaria de Defesa Civil precisa de agilidade, porque não é possível
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deixar a população sem ter água para consumir e sem ter água para criar os seus
animais. Nesse sentido, parabéns a V.Exa., na certeza de que o pronunciamento
que V.Exa. faz hoje deverá ser ouvido pelo Governo, pelos Ministérios, que darão
respostas urgentes e profundas para o enfrentamento dessa questão. Parabéns pelo
pronunciamento e pela defesa que V.Exa. faz da Região Nordeste, do Semiárido,
daquele povo sofrido que, se não tiver água, com certeza, não vai resistir.
O SR. GONZAGA PATRIOTA - Deputado Luiz Couto, antes de ouvir o
eminente Deputado Mauro Pereira, eu gostaria de fazer um pedido a V.Exa. em
nome do seu partido, o Partido dos Trabalhadores, o Partido da Presidente Dilma:
por favor, leve este pronunciamento que faço aqui com todos os dados, com os
números, para a Presidente e o seu Governo, através do Ministro da Integração
Nacional, tomem conhecimento do que eu estou falando aqui.
O Sr. Luiz Couto - V.Exa., com certeza, pode encaminhar que nós faremos
chegar à Presidente da República.
O SR. GONZAGA PATRIOTA - Vou mandar deixar no seu gabinete.
Eu pergunto: como é que se fazem, Deputado Luiz Couto, dois eixos? Ouviu,
Deputado Mauro Pereira? Preste atenção 1 minuto, antes de V.Exa. falar. Dois eixos
estão sendo construídos, nos quais possivelmente se gastem de 8 bilhões a 10
bilhões de reais, para fazer — não querem chamar de transposição, e eu não estou
aqui para dizer que é uma transposição, mas vão tirar água daqui e levar para lá —
uma interligação do Rio São Francisco com Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio
Grande do Norte, além de uma adutora que vai atender a mais de 60 Municípios que
estão sem água no Agreste pernambucano e no paraibano também — ali há 1 dia
com água e 30 dias sem água.
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Eu tenho um filho, o Gonzaguinha, que eu acho que gostaria de morar lá,
porque, para tomar banho, ele vai meio amarrado. Ele gostaria de morar nesse
Agreste pernambucano. Então, eu pergunto: por que continuam as obras desses
dois canais, o Eixo Norte e o Eixo Leste? Ambos passam nas minhas cidades. O
Eixo Leste passa por Sertânia, o lugar em que eu nasci, e o Eixo Norte sai de
Cabrobó. Há poucos instantes eu falei com um amigo, que me disse que a água não
saiu ainda porque não tem como tirar. Não vai ter como tirar água do rio, porque o
rio está com menos de 20% de sua capacidade, está lá com um pouquinho de água.
Então tem que pegar um pouquinho desse dinheiro — 1 bilhão de reais, 1
bilhão e pouco de reais — e fazer urgentemente esse pequeno canal do projeto que
foi estudado pelo Vice-Presidente da República José Alencar, a pedido do
Presidente Lula.
Eu vou ouvir V.Exa., Deputado Mauro Pereira, até porque, lá em Petrolina, há
muitos gaúchos que nos têm ajudado com tecnologia. Eles só não têm vinho melhor
do que o de Petrolina. O Papa, quando veio ao Brasil, escolheu um vinho lá de
Lagoa Grande, na Grande Petrolina, o Rio Sol. Mas os gaúchos — isso é brincadeira
— têm nos ajudado muito, e vou ouvir com atenção o meu querido Deputado Mauro
Pereira.
O Sr. Mauro Pereira - Primeiramente, Deputado Gonzaga Patriota, eu
gostaria de dizer que, antes do teu pronunciamento, eu estava analisando os
documentos que V.Exa. tem em mãos e a tua preocupação, quando estava dizendo:
“Mauro, eu vou fazer um pronunciamento que eu não gostaria de ter de fazer, para
falar sobre o que está acontecendo no meu Estado, na Região Nordeste”.
Realmente, a seca é uma coisa muito triste e não acontece... Nós também,
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ultimamente, estamos tendo seca na Região Sul. No Rio Grande do Sul, nós já
tivemos seca em 2004, 2005 e 2013. É desesperadora a seca. As pessoas veem as
criações morrendo, as lavouras morrendo. Agora, no Nordeste, quando o nordestino
fala que a seca aumentou é porque a coisa está brava mesmo, é porque a coisa
está feia. Eu, Deputado Gonzaga Patriota, não tenho dúvida nenhuma de que os
Deputados da Região Sul, os Deputados da Região Sudeste, os Deputados da
Região Norte, todos vão apoiar essa demanda de V.Exa. Se nós formos analisar o
Estado de São Paulo, os Estados mais desenvolvidos do nosso País, nós veremos
que temos lá o povo nordestino, os irmãos do Nordeste que ajudaram a desenvolver
também esses Estados, com mão de obra pesada, com mão de obra culta, enfim, o
povo nordestino é composto de pessoas que são nossos verdadeiros irmãos. Eu não
tenho dúvida nenhuma de que o Governo Federal, a Presidente Dilma, não só deve
atender a essas solicitações como tem obrigação de atender a elas, porque se há
um povo que sempre foi fiel ao Presidente Lula e à Presidente Dilma é o povo do
Nordeste. É um povo que sempre respeitou, que sempre, politicamente, foi alinhado
com eles, em sua maioria. Agora chegou o momento de salvar vidas, de salvar
plantas, de salvar lavouras, como estava dizendo, dos nossos amigos, dos nossos
irmãos do Rio Grande do Sul que estão na região de Petrolina, uma das regiões que
produz uma das melhores uvas, as melhores frutas. Um avião cargueiro sai uma vez
por semana para a Europa levando os produtos que são produzidos ali. Então, eu
espero que a tua demanda, apesar de hoje ser uma segunda-feira e de termos
poucos Parlamentares nesta Casa, Deputado Gonzaga Patriota, tenha eco e seja
atendida, porque V.Exa. não está pedindo nada para si próprio, está pedindo para o
povo do Nordeste, que é um povo bom, um povo trabalhador. Todos merecem o
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respeito e a consideração desta Casa. Era o que tinha a dizer. Parabéns pelo seu
trabalho!
O SR. GONZAGA PATRIOTA - Eu agradeço o aparte a V.Exa., Deputado
Mauro Pereira. Peço até ao Presidente Izalci que insira neste nosso pronunciamento
todos os apartes, o aparte do Deputado Zé Geraldo, o do Deputado Luiz Couto e o
do Deputado Mauro Pereira. Vejo ali o Deputado Paes Landim, que é nordestino, do
Piauí. Lá existe uma região onde chove um pouco, por isso o Deputado Marcelo
Castro foge mais para o lado sul do Piauí.
Presidente, não está difícil fazer isso. Esse nosso projeto de lei de 1995,
reapresentado em 2013, está pronto. Bastou faltar água no Cantareira para jornal O
Globo publicar uma matéria grande. O jornal O Globo ligou para mim e perguntou:
“Como é que existe esse seu projeto e não se faz essa interligação do Rio Tocantins
com o São Francisco?” Agora faltou água no Cantareira. Eles estão precisando
desse seu projeto, que é exatamente para fazer uma parceria entre Rio de Janeiro,
Minas Gerais e São Paulo, para fazer aquela interligação de Bacias do Sudeste.
Então, eu quero saber se não vão fazer. Eu quero saber se não vão dar uma
olhadinha. Eu quero saber se o Ministro da Integração Nacional, que está sabendo
que eu vou fazer este pronunciamento, e o meu querido Presidente da Companhia
de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba — CODEVASF, o
Felipe Mendes, que é lá do Piauí e conhece de perto esse problema do Rio São
Francisco, não vão mandar lá, amanhã ou depois, alguém dar uma olhada, ver este
projeto que está aqui. Eu vou pedir ao Presidente Eduardo Cunha para colocá-lo
logo em votação aqui, para transformarmos isso em lei.
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Hoje, ao conversar com a Deputada Mariana, ela me disse: “Isso aqui é muito
importante, porque vamos ter a interligação hidroviária”. Os navios vão voltar a
circular no Rio São Francisco e, através de um canal de 200 quilômetros, vão entrar
no Rio Tocantins, levando o gesso do Araripe para a Amazônia, trazendo a madeira
da Amazônia para o Porto de Suape, para o Porto do Pecém.
Presidente Izalci, eu gostaria de pedir a V.Exa. o tempo da Liderança do meu
partido, acho que mais uns 10 minutos, para tirar a paciência de quem já está me
ouvindo há 25 minutos.
Não há como parar esse trabalho que estamos fazendo aqui, porque, da
maneira como está, se não se investir 20 e poucos milhões de reais lá em Petrolina,
no Lago de Sobradinho, a produção vai deixar de acontecer. Não há como essa
produção continuar. Além de outras coisas que precisamos na Região Nordeste, há
que se ver que, se aprovado esse nosso projeto...
Como disse, eu estava conversando hoje com a Deputada Mariana. Ela iria
apartear o meu discurso, mas teve que dar uma saidinha. O primeiro projeto, de
1.500 quilômetros, indo lá pelo Maranhão, é de 15 bilhões, 20 bilhões de reais. Este
aqui é um projeto de 1 bilhão, 1 bilhão e pouco de reais. Por que não fazer isso?
Então, eu quero, Sr. Presidente, fazer aqui um apelo, em nome de todos os
nordestinos. E não é em nome de Pernambuco, que está cortado pelo rio, ou no da
Bahia, de Sergipe ou de Alagoas, mas em nome da Paraíba, porque, Deputado Luiz
Couto, a transposição do Eixo Leste já está prontinha para sair de Floresta e já
chega a Sertânia; de Sertânia, vai a Monteiro e, de lá, não é mais necessário canal.
Ela vai por gravidade até Campina Grande abastecer todos aqueles mananciais. De
Monteiro, sai um canal para Arcoverde — há pouco a Prefeita Madalena ligou para
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mim —; de Arcoverde, a água chega até a Adutora do Agreste, para atender a 60 e
tantos Municípios. De Monteiro também sai um canal para Itapetim, para perenizar o
Rio Pajeú — uma perenização econômica, em que a água segue descendo,
diferente da do Rio São Francisco, que tem de subir. Ele nasce aqui no Sudeste, em
Minas Gerais, e vai lá para o Nordeste. Deus fez a parte dele. Falta o homem, que
Deus criou, fazer a sua parte, que não é apenas trazer a água do Rio Tocantins, é
fazer a interligação e cuidar do rio, cuidar da hidrovia, cuidar das margens do rio.
Temos um grande programa, feito inclusive pela CODEVASF, pelo qual todos
os Municípios da área da CODEVASF estão sendo saneados. São obras
importantes para Municípios como Salgueiro e Santa Cruz. Estive esta semana em
Inajá, em Tacaratu, com o Vereador Sarto, que está nos vendo também agora.
Precisamos trazer a vida de volta para o Rio Moxotó. O Lago de Ibimirim está seco.
Se for colocada água ali, vamos ver a riqueza daqueles projetos.
Sr. Presidente, eu quero, nesses minutos que me restam, referir-me aqui à
última página do discurso. Li a primeira; quero me referir à última. Eu acredito que
dê para se fazer a transcrição dele todo.
Digo no final do discurso que, desse ponto a jusante, lá na hidrovia, queremos
fazer a transposição anual de 16 mil metros cúbicos de água do Rio Tocantins para
o Rio São Francisco. Além de minimizar os impactos das variações climáticas que
prejudicam a vazão desse último, isso permitirá — eu escrevi aqui “permitiria”, mas
não é “permitiria”, é “permitirá”, porque isso vai acontecer — a ampliação e a
geração de energia elétrica, principalmente em Sobradinho e Xingó, onde já temos
as barragens prontas, e aumentará a área agrícola irrigada.
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Uma proposta complementar a essa seria a redução de 1 metro cúbico da
atual cota de operação do Lago de Sobradinho, o que reduziria em 120 metros
cúbicos por segundo a perda de água por evaporação. Assim, a perda atual de 450
metros cúbicos por segundo diminuiria para 330 metros cúbicos por segundo —
igual a minha moto, que era de 450 quilos, e agora eu troquei por uma de mesmo
tamanho com 330 quilos.
A redução da cota de operação não comprometeria as atividades
econômicas. Apenas a transposição de vazão, porém, não resolveria ou resolverá
esse problema.
Portanto, eminentes Deputados Luiz Couto, Zé Geraldo e outros
Parlamentares do Partido dos Trabalhadores que estão aqui, precisamos,
urgentemente, não de uma Frente Parlamentar, porque já existem demais, mas de
uma reunião da bancada do Nordeste — vamos conversar com o nosso querido
coordenador da bancada, o Deputado Júlio Cesar, sobre isso —, para tratarmos
somente desse problema. Precisamos trazer, Deputado Luiz Couto, a essa reunião,
o Governo, como, na semana passada, trouxemos aqui o Ministro da Integração
Nacional e Presidentes de determinados órgãos, para tratarmos desses assuntos.
Eu até levantei essa questão da transposição. O Ministro ficou interessado em ver
isso aí.
Por isso, eu quero fazer, aqui, esse apelo. Peço ao Presidente Izalci que, por
favor, dê total divulgação a este pronunciamento.
Vou escrever, aqui, um livro. Eu escrevi, há quase 30 anos, aqui, em 1987,
um livro: O rio São Francisco está morrendo.
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Em 1994, Fernando Henrique e o então Ministro da Integração — tinha outro
nome —, Gustavo Krause, foram à nascente do rio e deram uma olhada. O Rio São
Francisco está morrendo há 30 anos. Ele é muito bom de vida, e agora não dá mais
para segurar. Eu nunca o vi tão seco como está agora.
Eu não quero mais abusar do tempo que V.Exa. me deu.
Quero agradecer, primeiro, a Deus e, depois, aos homens e às mulheres
desta terra. Que a gente possa resolver esse problema!
Não dá para ficar aqui, falando, pedindo, às vezes até xingando. Isso é uma
coisa pequena, minha querida Presidente Dilma. É uma coisa pequena fazer um
canal de 200 quilômetros de Tocantins para a Bahia. Lá, ele vai sair em Santa Maria
da Vitória, vai sair no São Francisco, e aí vamos ter, se Deus quiser, o Rio São
Francisco regularizado, com 2.200, 2.500 metros cúbicos de vazão por segundo, o
Lago de Sobradinho cheio, e a riqueza correndo no meu querido Nordeste.
Muito obrigado, Presidente.
Fiquem todos com Deus!
PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quem como eu que se engajou na luta
por mudanças no Brasil desde a adolescência e, principalmente, a partir do dia em
que me filiei ao velho MDB — Movimento Democrático Brasileiro, no final dos anos
sessenta, isso significa, em termos bem claros, que não falo como adversário do
Governo da Presidente Dilma Rousseff, pelo contrário, venho contribuindo, ao logo
de mais de trinta anos consecutivos, para dar sustentação à administração federal
nesta Casa do Congresso Nacional.
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Mas o meu compromisso maior é com a população brasileira e de modo
particular, com meu querido Estado de Pernambuco e de um Nordeste que continua
sendo tratado como “o patinho feio” do Brasil.
Lá, tudo que tem que ser feito hoje pelo governo, fica para depois, ou nunca
acontece. Antes de refletir sobre tudo isso, fiz várias visitas ao sertão
pernambucano, onde acompanhei de perto o sofrimento dos meus conterrâneos que
estão enfrentando a pior seca das últimas cinco décadas.
Nada justifica o que o Nordeste está sofrendo. É como se a seca fosse um
fenômeno desconhecido, ou algo que chegou sem que ninguém tivesse
conhecimento desse fenômeno natural que mata os animais e atormenta milhões de
homens, mulheres, idosos e crianças.
O tratamento que o Governo Federal vem dando à seca nos últimas cinquenta
anos depõe contra os princípios morais e os direitos humanos, tamanha as
atrocidades enfrentadas por milhões de nordestinos. Faz algumas décadas que
saímos do anacronismo dos governos militares e o País passou a ser administrado
por nordestinos como José Sarney, Fernando Collor de Melo, Lula e o mineiro
Itamar Franco.
Também se esperava que a nossa região avançasse a partir do governo de
Fernando Henrique Cardoso que pregou, como sociólogo, ter sensibilidade e uma
visão ampla sobre os problemas regionais do nosso País, notadamente do Nordeste
que o mundo conhece muito mais, devido ao estado de miséria que enfrenta desde
o tempo do Império.
Os governos a que me refiro, não tiveram a mínima vontade de implementar
programas que permitissem ao povo nordestino conviver com a seca com o mínimo
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de dignidade. Sarney, que tem origem no Maranhão, um Estado nordestino, mas
costuma chover razoavelmente, prometeu implantar um projeto para irrigar um
milhão de hectares. O projeto não passou de um projeto.
Esses governos perderam a noção de que “o mal se corta pela raiz” e, mesmo
depois da chamada reeleição, eles nada fizeram durante oito anos para criar uma
estrutura hídrica para permitir que o nordestino tivesse ter uma plena convivência
com a seca.
Todos eles foram probos em fazer promessas mirabolantes e o Nordeste
nunca deixou enfrentar crises e mais crises e ter como saída emergencial o
famigerado carro pipa para o abastecimento humano.
Eu dizia que as coisas do Nordeste sempre ficam para depois, como se não
existisse a necessidade de execução de ações urgentes, consistente e perenes. O
presidente Lula surgiu como o melhor Presidente para o Brasil e melhor ainda para o
Nordeste, até porque é pernambucano de nascimento.
Fez boas ações nas áreas sociais e da educação, mas na hora de implantar
projetos estruturadores para o Nordeste, as coisas desandaram.
Nosso querido ex-presidente que de forma apressada e nada inteligente
defendeu a reeleição da presidente Dilma, depois de um desastroso primeiro
mandato, mas foi ele que, como presidente, lançou grandes projetos estruturadores
em Pernambuco, como a Transposição e a Ferrovia Transnordestina, mas ficaram
inacabados e, mais de quatro anos depois de Dilma, ainda andam a passos de
tartaruga.
Lula prometeu que inauguraria a Transnordestina em 2012 e a Presidente
Dilma entregaria a Transposição no ano seguinte, ou seja, agora em 2013.
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Lamentavelmente, o projeto da Transnordestina - que é bancado pelo BNDES, está
sofrendo uma considerável desaceleração: dos 8 mil trabalhadores contratados, não
resta mais ninguém. E olhe que ainda existe um embaraço contratual que deve
demandar um bom tempo para que o projeto retome o seu ritmo normal. Por tudo
isso, fica difícil (e até impossível) prevermos quando a Transnordestina vai entrar
nos trilhos.
A Transposição, vendida por Lula como sendo a redenção dos Estados de
Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte — historicamente os mais
atingidos pela seca, virou um verdadeiro “samba do crioulo doido”, só que muito caro
e quem está dançando é o povo da região Nordeste.
O projeto inicial da transposição do Rio São Francisco custaria R$ 4 bilhões,
teve seu custo dobrado para mais de R$ 8 bilhões e entramos nos estágio fantástico
do “ninguém sabe ninguém viu” — quando se trata de informações sobre sua a
conclusão.
De acordo com informações oficiais e extraoficiais, as obras não atingiram
ainda 60 por cento. O Ministro da Integração Nacional, Gilberto Magalhães Occhi, na
última quinta feira dia 11, na Comissão de Secas, previu, esta semana, que o projeto
será concluído em 2016, ou seja, mais dois anos pela frente.
Enquanto isso, o grau de precariedade, consequência do descaso
governamental, chegou a tal ponto que há lugares onde nem o carro pipa é capaz de
levar água das às famílias flageladas, simplesmente porque não existem mais
mananciais em condições de atender, porque a água desapareceu, ficando o chão
está esturricado.
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Em vez de colaborar para que os nordestinos tivessem melhores meios para
sobreviver ao eterno flagelo da seca, esses governos contribuíram para o aumento
das mazelas, da imoralidade administrativa, da indústria da seca e engordaram a
chamada literatura da miséria que é praticada às vezes de foram irresponsável por
parte da imprensa.
Imagine o que é um pequeno agropecuarista de 70 anos de idade perder suas
dez vaquinhas que serviam para dar leite aos seus netos. Ele não tem mais sono e
teve que aumentar a dose de remédio controlado que é obrigado a tomar para se
manter vivo.
Os cercados e os velhos currais se transformaram em peças de museu da
desolação, do descaso e da miséria. Até o mandacaru, que “quando flora na seca é
sinal que a chuva chega ao sertão”, está em extinção porque foi quase todo
queimado, anos seguidos, para servir como alimento para as poucas reses que
ainda restam e estão ameaçadas de morrer de sede e fome.
Levantamento feito sobre os prejuízos causados pela seca em Pernambuco
até o mês de março último mostra números assustadores, como se o Agreste e o
Sertão do Estado tivessem sido devastados por uma tragédia anunciada há muito
tempo e que só agora começa a ser avaliada.
A violência com que a seca se estende sobre o território nordestino é
impressionante em relação aos registros de anos anteriores. Em Pernambuco, por
exemplo, 126 dos 184 municípios estão em situação de emergência, muitos em
calamidade pública. A escassez de água já chegou a muitas cidades do Agreste e
região da mata, delas que nunca sofreram nenhum problema de abastecimento
d'água.
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No que pese os economistas e os números que pouca gente
considera importantes no seu dia-a-dia, segundo os quais o PIB do Nordeste não
caiu e esta é a região que mais tem crescido nos últimos anos, além da arrecadação
do ICM não ter sofrido com a seca, o resultado do abalo na economia de
Pernambuco representa uma verdadeira catástrofe para os pequenos e médios
criadores do Sertão à região do Agreste pernambucano:
* No Agreste e Sertão do Estado morreram 150 mil bovinos.
* A queda da produção de leite foi de 72% em todo o Estado.
* 17% dos criadores de gado abandonaram a atividade.
* O abate aumentou em 230 mil bovinos, isto é, os criadores levam os animais
para o abate antes do tempo, para o animal não morrer de fome (abate precoce).
* 330 mil bovinos saíram de Pernambuco para outros Estados. Só o
Maranhão recebeu 100 mil bovinos, sobretudo fêmeas.
* O rebanho de Pernambuco diminuiu em 710 mil animais.
Pois bem, Sras. e Srs. Deputados, os municípios estão amargando uma
terrível queda nas na arrecadação do Fundo de Participação dos Municípios - FPM
que representa para a maioria deles os recursos mais importante para pagamento
de pessoal.
Os Prefeitos se queixam que a queda do FPM tem a ver com a redução do IPI
à indústria automobilística, significando que o Governo Federal dá com uma mão
aos nordestinos e com duas aos empresários, ou em palavras, cobre um santo e
descobre dois ampliando as desigualdades no país dos coitadinhos.
Por este motivo, a Associação Municipalista de Pernambuco — AMUPE, cujo
Presidente, o Prefeito de Afogados da Ingazeira, meu primo, José Patriota, ficou
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desapontada com o presente que a presidente Dilma deu aos adquirentes de
automóveis, até o final do ano passado, prejudicando os repasses aos municípios.
A AMUPE também ficou apreensiva com o anúncio feito pelo chamado pacote
de bondades apresentado pela presidente Dilma durante a reunião da SUDENE com
os governadores do Nordeste, realizada em Fortaleza. Sobre isso, o jornalista
Magno Martins, com origem no sertão, disse no seu blog, com bastante propriedade:
“O valor de R$ 9 bilhões, mas quando dissecado vira quase um castelo de areia”.
Vou ler na integra o que escreveu Magno Martins: “Em termos de
investimentos, pode se subtrair de imediato R$ 3,147 bilhões referentes a dívidas
renegociadas e não perdoadas, como queriam os governadores. Mais R$ 2,1 bilhões
são de equipamentos agrícolas, máquinas destinadas aos municípios. São
importantes, são! Mas, na realidade, essas máquinas são produzidas no Rio Grande
do Sul, deixando assim a riqueza gerada dos impostos por lá. Quando entregues
aos municípios, os equipamentos — retroescavadeiras, motoniveladoras,
caminhões-caçambas, caminhões pipa e pás-carregadeiras — geram mais
despesas e muitos municípios não podem manter, porque falta dinheiro até para o
combustível.
Nenhum governador, portanto, terá dinheiro na conta de imediato para
aumentar parcerias com os municípios, gerar mais empregos e, consequentemente,
minimizar os efeitos da estiagem, a maior dos últimos 50 anos. Mas pela forma
midiática das medidas a impressão que ficou é que Dilma está de fato preocupada e
envolvida com a temática da seca no Nordeste.
Não é verdade. Governo chega atrasado. Há municípios em que não há mais
água sequer para o consumo humano e o rebanho bovino está sendo dizimado.
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Pernambuco, por exemplo, já perdeu metade das suas 2,1 milhões de cabeças de
gado. Se a União realmente tivesse priorizado a seca, essa tragédia, certamente,
poderia ter sido evitada.
Para os municípios, a reunião de Fortaleza foi uma tremenda frustração. Na
prática, os prefeitos só ganharam mais um carro-pipa e uma pá-escavadeira.
Presidente da AMUPE, José patriota, Prefeito de Afogados da Ingazeira, não teve
sequer o direito a falar nessa reunião, mas levou o inconformismo da Federação
Nacional dos Municípios, entidade que representou a própria presidente Dilma, tão
logo acabou o encontro.
Isso não é novidade, todos esses governos foram probos em fazer promessas
mirabolantes e o Nordeste nunca deixou de enfrentar crises e mais crises e ter como
saída emergencial o famigerado carro- pipa para o abastecimento humano. Eu dizia
que as coisas do Nordeste sempre ficam para depois como se não existisse a
necessidade de execução de ações urgentes, consistente e perenes. Lula surgiu
como o melhor presidente para o Brasil e melhor ainda para o Nordeste, até porque
é pernambucano de nascimento. Isso é inegável, não tenhamos dúvida, tão ruins
foram seus antecessores, com raríssimas exceções.
O ex-líder sindical fez boas ações nas áreas sociais e na educação, mas na
hora de implantar projetos estruturadores para o Nordeste, as coisas desandaram,
foram medidas tímidas e ineficientes, não passando de uma gota d’água no oceano.
Enquanto isso, o grau de precariedade, consequência do descaso
governamental, chegou a tal ponto que há lugares onde nem o carro-pipa é capaz
de levar água às famílias flageladas, simplesmente porque não existem mais
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mananciais em condições de atender, porque a água desapareceu, ficando o chão
esturricado.
Em vez de colaborar para que os nordestinos tivessem melhores meios para
sobreviver ao eterno flagelo da seca, contribuíram para o aumento das mazelas, da
imoralidade administrativa, da indústria da seca e engordaram a chamada literatura
da miséria, que é praticada às vezes de forma irresponsável por parte da imprensa.
Os cercados e os velhos currais se transformaram em peças de museu da
desolação, do descaso e da miséria. Até o mandacaru, que “quando flora na seca é
sinal que a chuva chega no sertão”, como dizia o poeta, está em extinção porque foi
quase todo queimado, anos seguidos, para servir como alimento para as poucas
reses que estão ameaçadas de morrer de sede e fome e sede nos próximos dias.
A escassez de água já chegou a muitas cidades do Agreste e região da Mata,
delas que nunca sofreram antes nenhum problema de abastecimento d'água. No
que pese os economistas e os números que pouca gente considera importantes no
sua dia-a-dia, segundo os quais o PIB do Nordeste não caiu e esta é a região que
mais tem crescido nos últimos anos, além da arrecadação do ICM não ter sofrido
com a seca, o resultado do abalo na economia de Pernambuco representa uma
verdadeira catástrofe para os pequenos e médios criadores do Sertão e Agreste
pernambucanos.
No Agreste e Sertão do Estado morreram 150 mil bovinos. A queda da
produção de leite foi de 72% em todo o Estado. 17% dos criadores de gado
abandonaram a atividade. O abate aumentou em 230 mil bovinos, isto é, os
criadores levam os animais para o abate antes do tempo, para o animal não morrer
de fome (abate precoce), 330 mil bovinos saíram de Pernambuco para outros
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Estados. Só o Maranhão recebeu 100 mil bovinos, sobretudo fêmeas. O rebanho de
Pernambuco diminuiu em 710 mil animais.
Aliás, antes de FHC a situação era ainda pior. As chamadas Frentes de
Emergência no Governo de João dos Cavalos, João Batista Figueiredo eram nada
mais do que a escravidão de homens e mulheres, negros e brancos, trabalhando
nas pequenas obras hídricas nas caatingas, durante o mês inteiro, para receberem
meio salário mínimo que, há época, correspondia a 40 dólares, isto é: o
correspondente a R$ 40 por mês.
O Programa Bolsa Renda começou pagando 85 reais, em seguida, esse valor
foi diminuído para 60 reais e nesse momento, encontra-se em um ridículo valor que
não resolve os problemas das famílias que o recebe. Em outro caso concreto,
especificamente no município de Dormentes, em Pernambuco, o número de
alistados nesse Programa é de quase três mil e quinhentas pessoas. No entanto, o
programa Bolsa Renda contempla apenas mil e duzentas pessoas. Isso quer dizer
que mais de duas mil famílias dessa cidade, ficam sem ajuda governamental e na
total miséria.
O Governo Federal já gastou muitos bilhões de reais em ações emergenciais
durante as últimas secas ocorridas entre 82/84; 1993/1994; 1998/ 2000 e a atual que
perdura desde 2011. Esses recursos foram empregados em ações como a
Distribuição de Cestas Básicas e outras ações assistenciais; Água em Carros-Pipa;
subsídio em rações animais e pequenos créditos bancários. Só agora, começaram
as ações do Programa Água Para Todos, com a instalação de cisternas e
construção de pequenas adutoras, poços e açudes.
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Um Projeto tão importante como a Integração da Bacia do Rio São Francisco
com outras bacias da região nordeste, vem se arrastando há cinco anos e, ainda
não tirou uma gota d’água desse Gigante Rio, para atenuar a sede dos nordestinos.
A chamada Transposição das Águas do Rio São Francisco vai beneficiar quase
todos os Estados nordestinos e terá um caráter de permanência muito mais
importante para a população nordestina do que essas “emergências” em anos sem
chuva.
Na última visita que fiz recentemente a região sertaneja do meu Estado, pude
constatar os danosos efeitos da seca sobre aquele sofrido povo. Estive no Pajeú, no
Sertão Central, no Araripe e na região de Petrolina, nenhum agricultor colheu um
grão de milho, feijão ou outra cultura para se alimentar. Aliás, em todo o Estado de
Pernambuco, houve uma perda total nas lavouras, incluindo o algodão, devido à
irregularidade das chuvas.
A ineficiência do Governo Federal para combater os efeitos da estiagem é
estarrecedora. Se gasta muito dinheiro, com ações ineficazes e temporárias.
Todos os municípios do sertão e do agreste pernambucano se encontram em
estado de emergência em consequência dessa seca. Seus Prefeitos decretaram a
emergência, o Estado absorveu e reconheceu. Igualmente o Governo Federal, mas,
as ações são anunciadas, mas, na prática, não chegam aos necessitados.
A seca, uma das mais rigorosas dos últimos 60 anos, tem trazido grandes
transtornos para a população sertaneja. O problema que se arrasta ao longo dos
anos e expõe a ineficiência do Poder Público já atinge mais de três milhões de
pessoas em Pernambuco, segundo estatísticas do Governo.
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Em pleno século 21, uma legião magra de miseráveis ainda depende das
esmolas institucionais. Carros-pipa e cartões-alimentação diminuem o sofrimento e
aumentam a humilhação de um povo que só precisa de água para ser feliz.
Há muito tempo o povo nordestino se angustia com as secas, que flagelam
terrivelmente as populações mais pobres, o agricultor, o homem da roça, forçando
inclusive a abandonarem suas terras e procurarem as cidades para não ver suas
famílias sofrendo e passando fome. O que lamentamos é que isso vem acontecendo
há séculos, desde as primeiras secas que se tem conhecimento de 1827/1830 e,
particularmente a de 1875/1877, que até hoje está na cabeça dos nordestinos, como
a maior seca da nossa história, elas que marcaram o início da açudagem no
semiárido brasileiro e desde então são discutidas providências para atender as
secas e socorrer os sertanejos, mas nada se resolve.
Venho denunciando e defendendo o povo nordestino, cobrando ações para o
combate aos efeitos da seca, desde que entrei na vida pública há mais de 40 anos,
dos quais, 33 como deputado. Lembrei que em 1982, há mais trinta anos, quando
nos elegemos Deputado pela primeira vez, o governador do Estado de Pernambuco
era Roberto Magalhães e o Ministro do Interior, Mario Andreazza. Naquele tempo a
seca era terrível, castigava de forma cruel o povo nordestino. Morreu muita gente de
fome e de sede, e aqueles que sobreviveram, foi graças à criação das frentes de
emergência do governo federal.
Adutora de Salgueiro
Mesmo com dificuldades financeiras, atendendo a um Projeto de minha
autoria, o então governador de Pernambuco, Roberto Magalhães, construiu no início
dos anos oitenta, a chamada adutora de Salgueiro, permitindo o abastecimento
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d’água do Rio São Francisco para as cidades de Salgueiro, Terra Nova, Parnamirim,
Serrita e Verdejantes, que matou a sede do povo dessas cidades.
Quero falar de um dos discursos que fiz naquela época, na Assembleia
Legislativa do Estado de Pernambuco, sobre “Soluções Emergenciais para Seca”,
sobre um documento elaborado durante a 19ª Assembleia do Conselho Pastoral da
Regional da CNBB. O Seminário foi realizado em Olinda, coordenado por Dom
Helder Câmara e contou com a participação de bispos de todo o Brasil, que
discutiram sobre as medidas que deveriam ser adaptadas para minimizar os
seculares problemas do semiárido, a seca.
Já naquela época, os bispos ofereceram no documento o caminho que
deveria ser seguido para se ter à redução desses problemas da seca, por meio de
formas simples, desembaraçadas, lógicas e, sobretudo humanas.
As propostas contidas no “decálogo” elaborado com a participação de leigos e
religiosos vindos dos pontos mais distantes do nordeste constituíam o anseio da
maioria do povo. Aquele documento não exigia o impossível nem o irracional.
Sugeria pelo contrário, uma tomada de consciência por parte dos poderes públicos,
a partir de uma reforma agrária. Dentre os signatários desse importante documento
estavam figuras como Dom Helder Câmara, Dom Francisco Austregésilo Mesquita,
Dom Gerardo de Andrade Pontes, então Bispo da Diocese de Petrolina, e o Bispo
Diocesano de Juazeiro/BA, Dom José Rodrigues, todos hoje de saudosa memória.
É porque os bispos na sua ação pastoral que acompanhavam mais de perto a
vida dos nordestinos eram eles os verdadeiros pastores daquele imenso rebanho
humano que não queria sobreviver à custa de projetos sofisticados, que não
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custavam caro e não eram executados para beneficiar os mais necessitados, mas
resultavam em medidas paliativas.
Quando os bispos nordestinos naquela época disseram que “somente
mudanças estruturais poderiam resolver o problema da seca”, eles estavam
firmando posições plenamente defendidas pela sociedade regional, pela sociedade
civil, por políticos, intelectuais e trabalhadores comprometidos com as condições de
vida do povo nordestino.
No início dos anos oitenta, ainda como Deputado Estadual, fiz esse relato e,
como se pode observar, o povo nordestino, principalmente o homem do campo,
continua sofrendo com a seca, porque as políticas públicas implementadas para
combater a seca ainda não solucionaram o problema.
Para quem vive no interior desse imenso nordeste, a frase “o que Deus
quiser” soa sempre como uma dor profunda que sai do coração do sertanejo.
Quantas lutas perdidas, quantos sofrimentos, quantas decepções com as promessas
de alguns políticos. A frase muitas vezes tem a conotação de um íntimo desespero,
mas, ao mesmo tempo, de confiança naquele Deus em que o sertanejo sempre
repõe sua última esperança, guardada no fundo, no cantinho mais escondido.
Resignação, mas não desistência.
E desta vez, a mesma história se repete. Recebi de algumas lideranças
comunitárias de Pernambuco, apelo dolorido de quem ainda confia em Deus, mas
perdeu toda a confiança nos homens, especialmente em alguns políticos do lugar
onde moram e, não é para menos. Quantos sofrimentos, quantas caminhadas para
ter uma lata de água barrenta que dão cólicas e disenterias, que não mata a sede,
quando na mesma caatinga esturricada pelo sol, a mansão do rico tem piscina até
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de água mineral, plantas vicejantes regadas pela antiga SUDENE, porque a
SUDENE de hoje não está regando mais nada, rezes bem alimentadas (como a
mesma TV mostrou em muitas outras secas).
Fora dali, crianças sedentas, famintas e com verminose, mulheres
ressequidas, sertanejos enrugados pela inclemência do sol e desesperados, em
busca de uma gota de água para aliviar a sede, sua, da família e dos animais que
ainda restam e que deveriam providenciar sua subsistência.
Estamos em junho, todos os açudes estão secos, o sertanejo está vivendo o
enésimo drama da seca nordestina que dura há séculos. Tenta sobreviver de
qualquer maneira, esperando o socorro dos carros-pipa: quando chegam (se é que
chegam) é como festa de Natal que, aliás, no ano passado não tiveram.
Tenho que reconhecer que algumas prefeituras estão tentando algo como
carros-pipa, algumas adutoras, mas tudo insuficiente para atender a demanda dos
flagelados, alguns açudes, ainda inacabados, cujo resto de água podre nem serve
para matar a sede dos animais, quanto mais das pessoas.
Na longa história dessas secas, algumas coisas foram feitas, mas poucas,
pelo muito dinheiro que se perdeu nos caudais dos administradores públicos e da
burocracia sem limites, mas o povo continua sofrendo muito. A seca dos anos 70
durou 5 anos, depois veio a de 1981, que durou mais 5 anos, as de 1992/1993 e
1998/2000, que foram as maiores, pelo sofrimento e pelo descaso das autoridades.
O povo diz que, apesar do pouco que tinha os flagelados, tudo dividiam entre si,
ajudando em particular as mulheres e as crianças, enquanto muitas vezes os
homens fugiam do campo para a cidade, em busca de nova vida, mas,
frequentemente, esqueciam os que tinham deixado para trás.
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Adutora do Oeste
Em 1990, apresentei Projeto de Lei para a construção da Adutora do Oeste,
do Rio São Francisco ao Araripe, no Estado de Pernambuco. A construção dessa
Adutora destinou-se ao abastecimento d’água dos municípios de Araripina,
Trindade, Ipubi, Ouricuri, Bodocó, Granito, Santa Cruz da Venerada, Santa Filomena
e Sítio dos Moreiras, no Estado de Pernambuco. A Adutora do Oeste beneficia hoje
mais de 300 mil pessoas em 43 localidades da região. A obra contempla 37
comunidades pernambucanas.
Para ser efetivada a construção dessa tão importante obra, tivemos até que
bloquear rodovias na região do Araripe, como ocorrera no dia 18 de maio de 2000,
quando cerca de dois mil moradores do município de Araripina, no sertão do Araripe
pernambucano, bloquearam o quilômetro 22 da BR-316, que liga Pernambuco aos
Estados do Piauí, Maranhão e Pará, protestando pela paralisação das obras da
Adutora do Oeste. Esse protesto do dia 18 de maio de 2000, durou mais de cinco
horas de bloqueio da BR-316, o que deu uma clara ideia da insatisfação daquele
povo com o então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.
A seca, além de ser um grande problema climático, é uma situação que gera
dificuldades sociais para as pessoas que habitam a região. Com a falta de água,
torna-se difícil o desenvolvimento da agricultura e a criação de animais. Desta forma,
a seca provoca a falta de recursos econômicos, gerando fome e miséria no sertão
nordestino. Muitas vezes, as pessoas precisam andar durante horas sob o sol e
calor forte, para pegar uma lata de água, muitas vezes suja e contaminada. Com
uma alimentação precária e consumo de água de péssima qualidade, os habitantes
do sertão nordestino acabam vítimas de muitas doenças.
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O desemprego nessas regiões também é muito elevado, provocando o êxodo
rural (saída das pessoas do campo em direção as cidades). Muitos habitantes fogem
da seca em busca de melhores condições de vida nas cidades. É este o medo do
líder político e Vereador, Luciano Nunes, de Santa Cruz da Venerada, no sertão
pernambucano, que se lamenta dizendo que a população da zona rural daquele
município está sofrendo com a seca. “Ela ainda estava sobrevivendo com a água
que era abastecida com carros pipa, mas nem isso esses agricultores têm mais, a
maioria dos carros-pipa foi cortada. As plantações estão todas perdidas, não existe
mais nenhuma alternativa, o jeito é ir embora, procurar outro lugar para alimentar as
nossas famílias”.
Em razão do apelo de tantas lideranças políticas e comunitárias do interior do
município de Petrolina, recentemente marquei uma audiência com o Secretário de
Agricultura e Recursos Hídricos do Estado de Pernambuco, Nilton Mota, a quem
levei além de alguns Presidentes de Associações Rurais, pleitos de obras em suas
comunidades, como adutoras, poços artesianos, barragens e, principalmente, que
aumente o numero de carros pipa para distribuição água para a população, no
sentido de ajudar o homem do campo que já não suporta mais o sofrimento, pela
falta de água. O Secretário de Agricultura Nilton Mota, como sempre, além de
sensível aos pleitos, autorizou a perfuração de poços artesianos e ainda outros
pedidos dessas lideranças.
Sei que os problemas causados pelas constantes secas na região nordeste
não vão acabar nunca, se não forem tomadas providências definitivas para
convivência com esse fenômeno, sei também que a presidente Dilma está sensível
ao que está acontecendo na região, e que apesar dos programas do Governo
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Federal, em parceria com os Governos Estaduais e Municipais, para minimizar os
efeitos da seca, como a construção de cisternas; Programa Água Para Todos; a
transposição do Rio São Francisco para levar água do rio São Francisco para as
regiões do semiárido do nordeste, desta forma, diminuindo, o impacto da seca sobre
a sofrida população, são ações estruturadoras e muito importantes, mas ainda é
pouco. O nordestino está morrendo de sede, sofrendo com a seca e é agora que
eles precisam ser atendidos.
Sei que o problema da seca no nordeste não vai acabar nunca, sei também
que a Presidente Dilma Rousseff e o Governador Paulo Câmara, estão sensíveis ao
que está acontecendo, e que apesar dos programas do governo Federal para
minimizar os efeitos da seca, como a construção de cisternas; programa água para
todos; a transposição do Rio São Francisco para levar água do rio São Francisco
para as regiões do semiárido do nordeste, desta forma, diminuindo, o impacto da
seca sobre a sofrida população, são ações estruturadoras e muito importante, mas
ainda é pouco.
O nordestino está morrendo de sede, sofrendo com a seca e é agora que eles
precisam ser atendidos. Portanto, faço uma apelo em nome dessa população sofrida
que não tem a quem recorrer que o Governo Federal libere mais recursos para que
o programa dos carros-pipa possa voltar a funcionar, e distribuir água para aqueles
que têm sede.
A questão da estiagem, mais uma vez, deixa o povo nordestino em
desespero. A situação é muito mais grave do que imagina o governo federal.
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Até o momento, as ações do governo têm sido insuficientes para diminuir o
sofrimento da população. A distribuição de cestas básicas e água tem atingido um
número aquém do necessário para o povo.
Outro grave problema é que milhares de famílias de agricultores, assentados
nas regiões do agreste e do sertão já perderam toda a sua produção. O caso é muito
grave, também, nos 16 assentamentos localizados entre os municípios de Cabrobó
e Petrolina. Com o fechamento das comportas ao longo do Rio São Francisco, os
assentamentos estão ficando sem água para irrigação e 70% da produção já está
perdida. Nas propriedades rurais de Sequeiro, localizadas no sertão do Pajeú,
Moxotó, Central e Araripe e incluindo a área seca do Sertão do São Francisco, a
produção foi totalmente perdida.
Não posso conceber que o governo, através das instruções normativas dos
Bancos do Brasil e do Nordeste, continue pressionando pobres agricultores da
região nordestina, para quitarem parcelas de empréstimos rurais vencidos, quando a
região encontra-se em estado de emergência e até, em parte, decretada de
calamidade pública.
Seria no mínimo um contrassenso do governo, reconhecendo a calamidade
pública e, ao mesmo tempo, permitindo que os seus Bancos continuem cobrando as
dívidas, quando os grandes agricultores foram beneficiados com essas
prorrogações, através da Medida Provisória nº 2.196-02/2001, e ainda tiveram suas
dívidas transferidas para o Tesouro Nacional, o que pedimos sejam incluídos,
também, os pequenos e médios produtores rurais que tiveram alguns benefícios,
mas, a última lei dessas ações, se acaba em 31 de dezembro deste ano de 2015,
ainda sem uma regulamentação satisfatória.
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Dessas andanças que fiz na região sertaneja de Pernambuco, semana
passada, me reuni com agricultores e seus representantes dos Sindicatos dos
Trabalhadores Rurais, entidades religiosas, clubes de serviços, instituições não
governamentais, enfim, com a classe mais excluída desse processo neoliberal, em
vários municípios sertanejos, dentre eles: Dormentes, Afrânio, Petrolina, Lagoa
Grande, Santa Cruz, Ouricuri, Bodocó, Exú, Moreilândia, Serrita, Salgueiro, Santa
Maria da Boa Vista, Orocó, Cabrobó, Belém do São Francisco, Carnaubeira da
Penha, Floresta, Petrolândia, Serra Talhada, Triunfo, Carnaíba, Iguaraci, Custódia e
minha cidade natal, Sertânia.
Em todas elas, o pleito dos agricultores é no sentido de se mobilizar as
bancadas de todos os Partidos Políticos da região Nordeste, para conseguir que o
governo da Presidente Dilma edite uma Medida Provisória para anistiar as dívidas
dos pequenos agricultores, inclusive, as que foram transferidas ao Tesouro
Nacional, porque essa lei que aí está não resolve os problemas junto aos bancos.
Feitas estas considerações, gostaria de sugerir ao governo federal que na
edição dessa Medida Provisória inclua a anistia de todos os débitos contraídos para
agricultura e pecuária, por pequenos e médios agropecuaristas, em todos os
Estados do Nordeste, através dos Bancos oficiais, isto é: Caixa Econômica Federal,
Banco do Brasil e Banco do Nordeste, até a presente data.
Pleiteio, ainda, do Governo Federal, a abertura de créditos com recursos a
fundo perdidos, do Programa Emergencial de Combate aos Efeitos da Seca, em
valores compatíveis com os investimentos projetados, para melhoramento e
emprego de mão de obra nas áreas rurais dessa região, desconsiderando qualquer
tipo de inadimplência dos proponentes, pequenos e médios produtores rurais.
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Desejo conclamar a todos os senhores Deputados e Deputadas da região
Nordeste, independentemente de ideologia ou cor partidária, para me apoiarem
neste apelo veemente e dramático, objetivando socorrer os nossos irmãozinhos que
tanto sofrem, no dia a dia, enfrentando o causticante sol nordestino, em busca de
sobrevivência e, que, lamentavelmente já perdem suas forças e a esperança de
viver.
A questão da seca no Nordeste brasileiro, não tem tido por parte dos
governantes nacionais, a devida preocupação.
A quantidade de chuvas caídas nessas localidades foi mínima, e nada o
homem do campo lucrou, para a mínima sobrevivência de sua família. Os
mananciais existentes não recuperaram suas capacidades, carecendo outra vez, do
envio de carros-pipa para essas localidades.
A situação mais uma vez, é muito grave. A seca já deixou em situação de
colapso pelo menos seis açudes no interior do Estado, até o momento. O quadro
mais assustador é no sertão, mas a oferta de água no agreste também já está
comprometida. O monitoramento de açudes, realizado pela Secretaria Estadual de
Recursos Hídricos, mostra que as cidades de Parnamirim, Ouricuri, Sertânia,
Custódia (no sertão), além de Pesqueira e Santa Cruz do Capibaribe (no agreste),
estão com seus respectivos açudes completamente secos, dificultando o
abastecimento de água para consumo humano e a produção de alimentos.
Com o agravamento da seca, pelo menos mais cinco outros reservatórios
devem engrossar a lista de açudes em colapso, especialmente no sertão. O Açude
de Rosário, que abastece o município de Iguaraci, no sertão do Pajeú, encontra-se
com apenas 2% de sua capacidade de 34 milhões de metros cúbicos. Na mesma
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situação, encontram-se os açudes que abastecem as cidades de Pedra, Ouricuri e
Floresta.
No sertão do Moxotó, a cidade de Ibimirim é uma das áreas mais atingidas
pela estiagem prolongada. O Açude de Poço da Cruz, com capacidade para 514
milhões de metros cúbicos, encontra-se hoje em situação crítica, com apenas 3% do
seu volume total. O pior de tudo, é que o Açude de Poço da Cruz é a mola-mestra
da economia local. Cerca de 800 famílias dependem de sua água para produzir
banana, tomate, milho, acerola e outros produtos.
Segundo os relatórios oficiais disponíveis, colhidos por satélite, a situação
tende a se agravar, para infelicidade do sertanejo. No agreste, na Bacia do
Capibaribe, o Açude de Pão de Açúcar, com 54,6 milhões de metros cúbicos, na
cidade de Pesqueira, perdeu completamente sua capacidade de acumulação. Já o
Açude de Poço Fundo, com 28 milhões de metros cúbicos, em Santa Cruz do
Capibaribe, já não faz jus ao nome, estando em situação de colapso desde a
primeira quinzena de maio.
Apesar desse quadro caótico, a meteorologia descarta chuvas este ano no
sertão pernambucano, até o final do ano.
Pois bem, como anunciei anteriormente, só em Pernambuco, 126 municípios
já estão em estado de emergência, decretados pelo Governador Eduardo Campos e
reconhecidos pelo Ministério da Integração Nacional. Desses municípios, 27
anunciaram que vivem hoje em situação ainda pior, chegando à calamidade pública.
Na última semana, o Presidente da AMUPE — Associação Municipalista de
Pernambuco — Prefeito de Afogados da Ingazeira, José Patriota, esteve no Palácio
do Campo das Princesas e entregou ao Governador Paulo Câmara, um documento
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destacando a real condição de emergência de dezenas de municípios
pernambucanos, do sertão e do agreste, que carecem urgentemente de ações
governamentais.
Segundo José Patriota, Presidente da AMUPE, o Estado de o Estado de
Emergência foi decretado em razão da situação que é muitíssima dramática e,
pedindo que as autoridades governamentais do Estado de Pernambuco e federais,
acelerem as providências para socorrerem esses municípios envolvidos.
A seca é uma coisa terrível. Muita gente morre, outros têm sua vida encurtada
pela fome. Nunca se fez um estudo para medir o custo humano real de uma seca.
Geralmente, isso é ignorado, ocultado. A realidade é que nessa seca, tudo,
aparentemente, foi decidido com muito desleixo. Como já disse, há a indústria da
seca, gente que ganha com a seca, porque ela significa muito dinheiro do governo
chegando para o comércio, para financiar as frentes de trabalho, os carros pipa, etc.
A seca é um negócio.
Se os governos já que não implementaram uma política de Reforma Agrária,
tivessem, pelo menos, apoiado os movimentos sociais com essas finalidades, a
exemplo das Ligas Camponesas, Movimento Eclesiais de Bases Rurais, Grito da
Terra, MST e outros, com certeza não tínhamos mais tanta gente passando fome no
Brasil.
O MST é um movimento legítimo, que é respeitado e já demonstrou que tem
grande responsabilidade, não improvisa nada. O MST partiu de uma situação de
desleixo do governo. É um movimento da sociedade civil, organizado
espontaneamente, preocupado com a educação, e alcançando todo o Brasil. É muito
positivo.
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O Brasil é um país felizardo por ter um movimento dessa ordem, que suscita
no povo, nos mais pobres, o desejo de ficar na agricultura. Em nenhuma parte do
mundo existe um movimento igual. É sempre o inverso: todos querem deixar a
agricultura, emigrar do campo. E o MST educa o pessoal para mostrar que, num
país onde não há criação de emprego urbano, onde se passa fome nas cidades,
existe a chance de ficar no campo, trabalhando.
Como é que se pode industrializar uma região sem fomentar a produção de
alimentos? O grande problema do nordeste é a fome. Em segundo lugar, é a
escassez de alimentos, porque todas as áreas do nordeste são dependentes de
importação de alimentos. Portanto, o grande problema é baratear a produção própria
de alimentos. Para isso precisaria de ajuda e ação pública.
São muitos os problemas do nordeste. Uma das possibilidades de ação é a
irrigação. A irrigação tem de ser feita dentro de um contexto maior, porque sabemos
que, se você faz irrigação para concentrar renda, o problema social fica de pé. A
irrigação teria de vir com o controle de uso do solo que permitisse uma divisão de
renda. Esse é o sistema do mundo inteiro. Você chega a Israel e vê pequenas áreas
de terra que são irrigadas. Pode-se ter uma boa renda com um hectare irrigado. Por
outro lado, precisa-se ter uma visão de conjunto da região, uma política global.
Resta saber se a irrigação está ajudando a resolver o problema da produção
de alimentos. Ela parece orientada para a fruticultura de exportação, a produção de
vinhos. O grande problema do nordeste é social, não é econômico; é a falta de
emprego para o povo. Emprego não é somente uma questão de renda; é também
uma condição de sobrevivência da população. O nordeste cresceu economicamente,
mas o seu drama social continua igual ou até pior.
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Esse é o modelo de irrigação de Petrolina, onde poucos produzem o que
comer, pois, as taxas de água, luz e administração da CODEVASF, levam tudo que
os coitados colonos produzem, não sobrando nada para sobreviverem. Os
empresários ricos, nada sofrem, pois, além dos fortes financiamentos com juros
subsidiados, não produzem alimentos, produzem frutas para o consumo europeu,
cuja exportação é feita em dólar.
Tudo termina na falta de uma Política Agrária com a desapropriação de terras
por interesse social e sua distribuição com os trabalhadores organizados pelos seus
Sindicatos, Federações, Confederações, Igrejas e pelo próprio MST, também
preparado para isto.
Se houvesse uma Reforma Agrária, já seria uma maneira de desconcentrar a
propriedade e a renda. Outro caminho seria facilitar a criação de indústrias
pequenas, que empregam muita gente. Se você conseguir empregar muito mais
gente, vai elevar os salários. E essa elevação corrige a tendência à concentração
excessiva de renda.
Num país como o Brasil, é possível atacar o problema da concentração de
renda pelo lado fiscal. É uma vergonha o que se desperdiça neste país em consumo
supérfluo, sem pagar imposto, praticamente. A evasão de imposto aqui é
absurdamente alta. No mundo inteiro começou-se por uma reforma fiscal para
modificar a distribuição de renda. No Brasil só quem paga imposto de renda é o
assalariado, 27,5%. Coitado, sete anos sem aumento e uma perda salarial superior
a 75%.
Entendo que só uma política consistente para o nordeste pode-se, de uma
vez por todas, resolver os seus graves problemas.
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Uma política global e não apenas esses paliativos de Frentes de Emergência
em cada seca registrada. Cito em primeiro lugar a reforma agrária começando pela
região nordeste, utilizando-se da irrigação com a integração do Rio Tocantins para o
São Francisco e desse, as transposições para os rios secos da Bahia, Pernambuco,
Sergipe e Alagoas, depois, após aprovados os projetos técnicos, econômicos e de
impactos sociais, para o Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí.
Conclusão dos Portos de Suape, em Pernambuco e Pecém, no Ceará. Da
Ferrovia Transnordestina; da Transposição do Rio São Francisco; do Canal do
Sertão e da Construção do Gasoduto e Termelétrica da região do Araripe
pernambucano.
O Estado de Pernambuco contando com a perenização dos rios Pontal,
Garças, São Pedro, Brígida, Boa Vista, Terra Nova, Navio, Pajeú, Moxotó e Ipojuca,
se transformará no maior polo de assentamento rural do mundo, pois, todas as
margens desses rios são prósperas, a agricultura irrigada far-se-á grande parte por
gravidade, começando pela Serra das Marrecas, próximo a Sobradinho, maior lago
artificial do mundo.
Canal do Sertão
Desejo incluir neste projeto, a agilização da concorrência para início das
obras de uma das mais importantes ações que Pernambuco poderá receber do
Governo federal e, que nunca saiu do papel, que é o Canal do Sertão que deveria
ter partido da Barragem de Sobradinho, maior lago artificial do mundo, em Casa
Nova, Bahia, mas, até o momento, só promessas.
Esse Canal vai cortar o município de Casa Nova, Bahia, até a Serra das
Marrecas, 20 quilômetros de distância da tomada d’água, de onde levará esse
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precioso líquido, a água, por gravidade para irrigar as terras secas dos municípios
de Petrolina; Afrânio; Dormentes; Santa Filomena; Lagoa Grande; Santa Maria da
Boa Vista; Santa Cruz; Trindade; Araripina; Ipubi; Ouricuri; Parnamirim; Terra Nova;
Serrita e Salgueiro, pelo talude das serras Dois Irmãos; Santo Inácio e Chapada do
Araripe, integrando as bacias do Pontal, Garças, São Pedro, Brígida e do Rio Terra
Nova.
Vale salientar que existe uma grande Bacia Hidráulica no Araripe, formada
pelas Barragens do Avelino, Lagoa do Barro, Algodões Entremontes, Tamboril,
Lopes Dois, Chapéu e Cachimbo, que juntas têm a capacidade de maior
armazenamento d´água das microrregiões do Estado de Pernambuco. Essas
Barragens serão todas abastecidas por gravidade, pelo Canal do Sertão, o que
representará menor gasto com energia e manutenção, pois o único trecho que não
utiliza a força da gravidade é apenas da barragem de Sobradinho para a Serra das
Marrecas (única estação de bombeamento, com apenas 20 quilômetros de distância
do Lago de Sobradinho).
O Canal do Sertão não necessitará que seja perene, haja vista que estando
às barragens alimentadas é o suficiente para perenização de todas as bacias
citadas.
Segundo José Walder Farias, o Dadinho de Ouricuri, profundo estudioso do
Canal do Sertão, esse percurso teria sido o ideal para a tomada d’água dessa
badalada Transposição de Águas do Rio São Francisco, porque beneficiava o
Estado de Pernambuco como um todo e não como está sendo feito, do município de
Cabrobó, haja vista que a transposição nos moldes atuais, tem como único critério
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técnico adotado, a menor distancia entre o Rio S. Francisco e o Estado do Ceará,
sem que se olhe para o Estado doador, Pernambuco.
Nota Técnica da CODEVASF sobre o projeto
Esta nota tem por objetivo justificar a necessidade de atualização dos estudos
e projetos referentes ao Canal Sertão de Pernambuco.
Em 2002, a CODEVASF contratou os Estudos de Viabilidade do Projeto
Sertão Pernambucano, analisando diversas alternativas de engenharia para seu
sistema adutor, visando ao atendimento das diversas manchas de terras irrigáveis
identificadas. O sistema adutor foi, então, projetado com um comprimento da ordem
de 578 quilômetros, estendendo-se desde a captação no reservatório da barragem
de Sobradinho, no município de Casa Nova, Estado da Bahia, até o município de
Serrita, no Estado de Pernambuco, cruzando outros onze municípios
pernambucanos em seu percurso. A vazão projetada foi de 139,5m3/s.
Os Estudos previam o atendimento de 139.728 ha de terras irrigáveis
agrupadas em 10 perímetros, incluindo o Projeto Cruz das Almas, com 27.740 ha,
situado no Estado da Bahia. Em função da topografia da região, o sistema adutor
principal foi projetado com quatro estações de bombeamento para o recalque da
água, determinando quatro patamares de área. Em face da extensão e dimensão
das estruturas hidráulicas envolvidas, o sistema adutor foi então subdividido em três
trechos: inicial, intermediário e final.
Em 2004 a CODEVASF contratou a complementação dos estudos ambientais
e o Projeto Básico do Trecho Inicial que se estende desde a captação, no
reservatório da barragem de Sobradinho, até o reservatório da barragem Rajada,
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situado no Estado de Pernambuco, próximo à divisa do Estado da Bahia, o qual
determinou, também, a nova vazão de projeto de 71,4m3/s.
Em 2005, o Governo Federal iniciou a implantação do Projeto de
Transposição do rio São Francisco, o qual contempla o atendimento de área
irrigáveis na região Oeste do Estado de Pernambuco, através do denominado Ramal
de Entremontes, sendo algumas dessas áreas as mesmas previstas anteriormente
para serem abastecidas pelo Projeto Terra Nova e outras através do Canal do
Sertão Pernambucano.
Em função dessa ocorrência de áreas que podem ser atendidas por mais de
um sistema adutor, foi necessária a reavaliação dos atendimentos a essas áreas e a
redefinição dos limites de cada empreendimento. Dessa forma, em 2005 a
CODEVASF elaborou o Estudo de Alternativas para Integração dos Projetos de
Infraestrutura Hídrica para o Oeste Pernambucano, para conciliação dos três
sistemas adutores citados, através de aditivo ao contrato de pré-viabilidade do
projeto Terra Nova, maximizando o efeito sinérgico e a integração entre estes, de
modo a aproveitar de forma eficiente às terras irrigáveis disponíveis.
Os estudos desenvolvidos possibilitaram analisar de forma integrada e
abrangente todas as variáveis e propostas existentes para o Oeste Pernambucano
em termos de obras de infraestrutura hídrica. A alternativa selecionada representava
o melhor arranjo para racionalizar e otimizar os diversos atendimentos vislumbrados
dentro de uma proposta consistente de desenvolvimento sustentável à região. Essa
alternativa foi validada e consensuada, na época, pelas entidades diretamente
envolvidas no processo de planejamento: Ministério da Integração Nacional,
CODEVASF e Governo do Estado de Pernambuco.
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Em 2006, o Governo do Estado da Bahia decretou a criação da Área de
Proteção Ambiental (APA) do Lago de Sobradinho. A APA inclui uma grande parte
das terras previstas para o Projeto Cruz das Almas, sobretudo daquelas situadas a
leste do perímetro projetado, geograficamente mais próximas ao Canal do Sertão
Pernambucano. Com a impossibilidade de exploração intensiva irrigada dessas
terras, descartou-se o atendimento do Cruz das Almas a partir do Canal do Sertão
Pernambucano.
Em 2010, a CODEVASF contratou os estudos pedológicos no município de
Casa Nova - BA, tendo sido identificados cerca de 8.000 ha irrigáveis a serem
incluídos e atendidos também pelo Canal do Sertão Pernambucano.
A seca que atinge o semiárido nordestino está dizimando a produção local de
milho e feijão, prejudicar seriamente a colheita de outras culturas e inviabilizar as
cadeias produtivas do mel e do leite. Um levantamento feito pelo Valor com os
governos de sete Estados do Nordeste aponta perdas superiores a 70% nas safras e
preocupação com a economia de uma série de microrregiões com o agravamento da
estiagem, que promete ser a pior dos últimos 30 anos.
De acordo com o secretário de Agricultura de Pernambuco, entre 2014 e este
ano, já foi contabilizado um prejuízo de quase R$ 550 milhões na produção agrícola
de 53 municípios. Cerca de 370 mil toneladas de milho, feijão e mandioca deixaram
de ser colhidos.
“Uma tragédia total”. É assim que o ex-secretário de Agricultura do Piauí,
Rubens Martins, classificou a situação de 150 municípios do Estado, onde está
prevista uma perda média de 80% na produção de milho, feijão e arroz, naquele
Estado, o ano passado. Ele lembrou que a seca só não atingiu as lavouras do
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Cerrado. Situação semelhante é vista na Bahia, que tem na fronteira agrícola do
oeste um regime de chuvas diferenciado e que torna o momento menos dramático.
O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, participou de audiências nos
ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, e na véspera estiveram em
Brasília os governadores do Sergipe e do Rio Grande do Norte. “Há a perspectiva de
que no prazo de um ano possa ser destruído tudo o que se levantou em dez anos”,
afirmou Sobral, de Sergipe.
De acordo com ele, muitos Estados já enfrentam problemas em suas bacias
leiteiras, por conta da falta de água e de ração para os animais. Ele também apontou
dificuldades na produção de mel, com a ausência de flores para as abelhas.
Reforma agrária séria.
Estou aqui clamando por uma política séria de reforma agrária, infelizmente, é
uma só voz que se junta a menos de um terço dos membros do Congresso
Nacional, cuja maioria é comprometida com os latifundiários e concentradores de
terras para especulação.
Diante da dramática situação da estiagem que atinge Pernambuco, as
lideranças políticas do Estado estão se movimentando em busca de alternativas
para minimizar o drama das famílias. Até porque a cobrança tem sido grande.
Participamos no final do ano passado de uma reunião coordenada pelo Consórcio
dos Municípios do Pajeú (CIMPAJEÚ), cujo Presidente é o Prefeito de Serra
Talhada, companheiro Luciano Duque, com a presença de vários prefeitos da
região, lá discutimos os graves efeitos da seca no interior pernambucano.
O governo federal anunciou recentemente uma série de medidas para reduzir
as consequências da seca que atinge os Estados do Nordeste e o norte de Minas
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Gerais. A previsão é que a estiagem se agrave nos próximos meses, o que levou o
governo a antecipar ações para ampliar o fornecimento de água e o apoio ao
agricultor. No total, as medidas somam alguns bilhões de reais e devem beneficiar
os mais de mil (1.000) municípios que sofrem as consequências da estiagem.
Para atender aos agricultores familiares que tiveram prejuízos com a
estiagem, o Programa Garantia Safra vai disponibilizar R$ 500 milhões. O benefício
é de R$ 680,00, em cinco parcelas. Outros R$ 200 milhões serão disponibilizados
por meio do Bolsa Estiagem, que disponibiliza R$ 400,00, dividido em cinco vezes.
O governo federal se propôs a investir R$ 17,1 bilhões em ações
estruturantes até 2015, em obras que iriam garantir a segurança hídrica para
brasileiros que vivem no semiárido, como Projeto de Integração do Rio São
Francisco, Eixão das Águas (CE), Vertente Litorânea (PB), Ramal e Adutora do
Agreste (PE) e Canal do Sertão Alagoano (AL). A infraestrutura no abastecimento de
água também está sendo ampliada e melhorada com a conclusão de cerca de 30
barragens, adutoras e sistemas, como o Tucano (BA), Seridó (RN) e Norte (MG), só
que desses 17 bi, menos de quatro, foram liberados.
A maior parte do dinheiro (R$ 400 milhões) ficaria com o Ministério da
Integração Nacional, responsável pela ajuda às vítimas das chuvas e inundações
nas regiões Sul e Sudeste e da seca no Nordeste. Estava prevista a distribuição de
cestas básicas, agasalhos e água (em carros-pipa) nas áreas de estiagem. Também
haverá abrigos para as vítimas. Além disso, o ministério vai recuperar estruturas
físicas, desobstruir vias urbanas e remover escombros, nada disso aconteceu até o
momento.
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Para o Ministério dos Transportes, R$ 230 milhões destinam-se a obras de
emergência em rodovias federais afetadas pelas chuvas. Os recursos do Ministério
da Agricultura (R$ 50 milhões) devem ser usados para apoiar municípios na
reconstrução de estradas vicinais danificadas pelas chuvas e pela inundação — que
impediram o acesso a áreas rurais.
No Ministério da Educação, o crédito de R$ 12 milhões servirá para
reestruturar escolas de educação básica e substituir seus equipamentos danificados
pela chuva. Já o Ministério da Saúde contará com R$ 50 milhões para adequar a
estrutura física e logística de unidades em regiões atingidas pelo excesso de
chuvas. Os recursos também deverão ser usados para monitorar e avaliar as ações
relativas a essas emergências.
A oposição votou contra a MP por considerar que ela é o resultado da “falta
de planejamento” do governo. A MP é importante pelo fato de enfrentar calamidades
em diversas partes do País. De acordo com ele, por mais planejamento que exista
não há como prever a ocorrência de catástrofes naturais.
A expectativa dos governadores da região é de que seja desenvolvida uma
política nacional para ajudar a economia do semiárido a enfrentar a forte seca. “É
preciso evitar um retrocesso econômico das microrregiões nordestinas e dar
condições ao agricultor de continuar produzindo em situações como esta. Caso
contrário, ele será excluído do processo produtivo toda vez que a seca for cruel”,
completou o secretário.
Os agricultores familiares enquadrados no Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e afetados pela seca ou estiagem na
área de atuação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)
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contam, a partir de hoje (8), com uma linha de crédito especial. Resolução do Banco
Central publicada no Diário Oficial da União abrange os municípios que tiveram
decretada situação de emergência ou estado de calamidade pública, pelo Ministério
da Integração Nacional, desde dezembro de 2011.
O crédito vale para os agricultores familiares adimplentes que desejam
realizar operações de investimento. O limite de crédito por agricultor é R$ 12 mil,
com prazo de pagamento até dez anos, com três anos de carência, e taxa de juros
de 1% ao ano. O agricultor conta ainda com um bônus de desconto de 40% sobre as
parcelas de financiamento pagas em dia.
Para os agricultores enquadrados no grupo B do Pronaf, cuja renda familiar
anual é até R$ 6 mil, o limite de crédito é R$ 2,5 mil, com as mesmas condições. O
Pronaf B é uma linha de microcrédito rural voltada para a produção e geração de
renda das famílias agricultoras de baixa renda do meio rural. São atendidos famílias
agricultores, pescadores, extrativistas, ribeirinhos, quilombolas e indígenas que
desenvolvam atividades produtivas no meio rural.
Os agricultores que quiserem acessar o crédito têm até o dia 30 de dezembro
de 2012 para solicitá-lo. Ele deve procurar uma empresa de assistência técnica e
extensão rural no seu município para obter orientações sobre como acessar a linha
de crédito e a melhor forma de empregar os recursos.
Os financiamentos priorizam projetos de convivência com a estiagem ou seca,
focados na sustentabilidade dos agro ecossistemas, priorizando ações de
infraestrutura hídrica e implantação, ampliação, recuperação ou modernização das
demais infraestruturas, inclusive as relacionadas a projetos de produção e serviços
agropecuários e não agropecuários, de acordo com a realidade da unidade familiar.
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Ações para convivência com as secas
O Nordeste ocupa uma região equivalente a 18% do território nacional, com
cerca de 1.500.000 quilômetros quadrados. Aqui vivem mais de 40 milhões de
pessoas, ou 28% da população do país. Somos, também, a região mais afetada pela
seca no Brasil. Nos últimos anos, o Nordeste tem sido marcado por mudanças
drásticas no clima.
Tivemos enchentes, secas e até registro de tremores de terra no Rio Grande
do Norte. Porém, um dos principais problemas da região está relacionado à
desertificação que tem, cada vez mais, avançado sobre as áreas urbanas.
Os dados impressionam: de acordo com o Programa de Ação Nacional de
Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, PAN, ligado Ministério
do Meio Ambiente, 1.482 municípios estão em área suscetível à desertificação em
nove Estados, sendo oito deles nordestinos - Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Uma área que corresponde a
15,7% do território nacional e onde vivem cerca de 31,6 milhões de pessoas.
Alguns especialistas indicam que o aumento do período de estiagem se deve
ao fenômeno “La Niña” e a mudanças climáticas no oceano. Além destes, fala-se
também em erros envolvendo a transposição do São Francisco. Em contrapartida e
aliado a essas mudanças climáticas, a justificativa para o aumento da desertificação
está no extrativismo, no desmatamento desordenado, nas queimadas e uso
intensivo do solo na agricultura.
O fato é que, independente das causas, a população é que vem sofrendo as
consequências. Diante de um quadro como este, cabe, mais uma vez,
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perguntarmos: por mais quanto tempo a população irá sofrer com a falta de medidas
preventivas para fenômenos previsíveis?
O Brasil precisa ter a consciência e criar o hábito de que prevenir é muito
melhor do que criar pacotes e ações emergenciais para as consequências dos
fenômenos naturais e previsíveis aos quais o território brasileiro está sujeito.
Mais de 1.100 municípios decretaram estado de emergência por conta da
seca prolongada no Nordeste. O nível dos açudes está baixo, sendo que alguns já
secaram. Plantações se perderam.
Quem tem cisterna ou reservatório na propriedade está conseguindo garantir
qualidade de vida para a família e as criações. Dilma Rousseff se reuniu com
governadores do Nordeste para tratar da seca e de medidas que serão tomadas
pelo governo federal para ajudar a mitigar seus efeitos.
Por mais que haja evaporação e açudes sequem, a região possui uma grande
quantidade de água, suficiente para abastecer sua gente. O problema continua não
sendo de falta de recursos naturais, mas de sua distribuição.
O Nordeste brasileiro é detentor do maior volume de água represado em
regiões semiáridas do mundo. São 37 bilhões de metros cúbicos, estocados em
cerca de 70 mil represas. A água existe, todavia o que falta aos nordestinos é uma
política coerente de distribuição desses volumes, para ao atendimento de suas
necessidades básicas.
O projeto do governo, remanescente de uma ideia que surgiu na época do
Império, visa ao abastecimento de cerca de 12 milhões de pessoas no Nordeste
Setentrional, com as águas do Rio São Francisco. Ele foi idealizado para retirar as
águas do rio através de dois eixos (Norte e Leste), abastecer as principais represas
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nordestinas e, a partir delas, as populações. Hoje, as obras estão praticamente
paralisadas, com alguns trechos dos canais se estragando com o tempo,
apresentando rachaduras.
A solução do abastecimento urbano foi anunciada pelo próprio governo
federal, através da Agência Nacional de Águas (ANA), ao editar, em dezembro de
2006, o Atlas Nordeste de Abastecimento Urbano de água. Nesse trabalho é
possível, com menos da metade dos recursos previstos na transposição, o beneficio
de um número bem maior de pessoas. Ou seja, os projetos apontados pelo Atlas,
com custo de cerca de R$ 3,6 bilhões, têm a real possibilidade de beneficiar 34
milhões de pessoas, em municípios com mais de cinco mil habitantes.
O meio rural principalmente para o abastecimento das populações difusas —
aquelas mais carentes em termos de acesso a água, poderá se valer das
tecnologias que estão sendo difundidas pela ASA (Articulação do Semiárido), com o
uso de cisternas rurais, barragens subterrâneas, barreiros, trincheiras, programa
duas águas e uma terra, mandalas, etc.
Enquanto isso, o orçamento do projeto de Transposição não para de crescer.
No governo Sarney, ele foi dimensionado com um único eixo e tinha um orçamento
estimado em cerca de R$ 2,5 bilhões. Na gestão Fernando Henrique, ganhou mais
um eixo e o orçamento pulou para R$ 4,5 bilhões. No governo Lula, saltou para R$
6,6 bilhões. E, agora, no governo Dilma, chegou à casa dos R$ 8,3 bilhões. Como se
trata de um projeto de médio a longo prazo, essa conta chegará facilmente à cifra
dos R$ 20 bilhões nos próximos 25 a 30 anos.
O governo Dilma mudou a política de apoio à construção de cisternas que
vinha sendo tocada pela ASA com o projeto “Um Milhão de Cisternas para o
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Semiárido”. Para acelerar a produção de cisternas (gigantes caixas d’água que
guardam a água da chuva), as placas de cimento foram trocadas por pré-moldados
de polietileno — que podem deformar com o calor, custa mais que o dobro que os
feitos com a matéria-prima anterior, não utilizam mão de obra local na sua confecção
(não gerando renda) e têm manutenção mais complexa do que se fossem feitos de
alvenaria. As organizações sociais criticaram a tomada de decisão centralizada, sem
questionar quem vem executando e se beneficiando da política pública na base.
Para o representante nacional da sociedade civil na Convenção de Combate
à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca da ONU, Paulo Pedro de Carvalho,
a estiagem é um prato cheio para grupos políticos e econômicos. “Sem medidas
permanentes de enfrentamento à falta de chuva, as ações emergenciais fazem
funcionar a indústria da seca. Os grupos políticos ganham votos e os grupos
econômicos ganham dinheiro. Em ano de eleição, a seca é explorada por candidatos
que não têm compromisso com o desenvolvimento sustentável”, lamenta.
Só na semana passada, o governador Paulo Câmara, de Pernambuco,
anunciou a liberação de mais de cem (100) milhões de reais para ações
emergenciais. Quase um terço desse valor vai direto para contratação de carros-
pipa, uma antiga e recorrente fonte de denúncias de uso político da máquina pública.
Pensada pela primeira vez no Brasil de Dom Pedro II, em 1847, a
transposição se arrasta, sem fim, assim como os relatos do flagelo sertanejo. Na
década de 50, custaria cerca de US$ 300 milhões. Décadas se passaram, o projeto
foi refeito, ampliado, e hoje, a conta já chega a R$ 8,2 bilhões. O sociólogo Antônio
Barbosa, coordenador de um dos programas da entidade Articulação para o
Semiárido (ASA), que reúne ONGs que atuam na região, diz que a primeira notícia
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de estiagem remonta aos tempos do descobrimento do Brasil, em 1559, no território
que atualmente é ocupado pelo Estado da Bahia. De lá para cá, ele afirma que já
foram registradas nada menos do que 72 secas. Algumas entraram para a história
como as de 1877, 1915, 1952 e, mais recentemente, a de 1982 e 1998.
A seca deste ano foi a maior deste século, a primeira grande estiagem do
período pós-ditadura. Não há desculpa para o governo não ter se preparado com
ações estruturadoras, que se antecipassem ao período da estiagem, Como as ações
novamente não vieram, o cortejo da calamidade reproduz os velhos retratos de
sempre. Na estrada do Sítio Boa Rama, zona rural de Bodocó, no Sertão do Araripe,
a carroça carrega os baldes de água tirada do açude barrento e distante. Quem guia
o cavalo é Leandro, um garoto, meio tímido meio desconfiado, de apenas 12 anos.
Ele não gosta de foto. O pai, Edmilson Rodrigues de Freitas, 40, vai sentado atrás,
pendurado na carroça. Pai e filho engolidos pelo monstro da seca, um flagelo que
atravessou os séculos sem nunca ter sido domado.
Seca histórica gera guerra por água no sertão do Nordeste. Estiagem já
atinge população de mais de 1.100 municípios da região, que já teve furtos e até
morte. Considerada a pior dos últimos 50 anos em alguns Estados do Nordeste, a
seca está provocando um confronto que só se imaginaria no futuro: a guerra pela
água. Em Pernambuco, essa luta já começou com tiros, morte e exploração da
miséria. Protestos desesperados são registrados não só lá, mas em várias regiões
do semiárido, onde a estiagem já se alastra por 1.100 municípios. A população pede
providências imediatas dos governos para amenizar os efeitos devastadores. A
situação só não é pior já que as famílias contam com os programas sociais, como o
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Bolsa Família. Como observam agricultores, a preocupação no momento é maior
com os animais, que estão morrendo de sede e fome, do que com as pessoas.
Na beira das estradas que conduzem ao sertão, o verde não mais existe. Ao
longo das BRs 232 e 110, em Pernambuco, carroças puxadas a jumentos magros
tomam conta das margens em busca de água. Nos 100 quilômetros de extensão da
PE 360, que liga os municípios sertanejos de Ibimirim e Floresta, há 28 pontilhões
sob os quais os córregos corriam fortes. Hoje, estão todos secos. Até mesmo o leito
do Riacho do Navio — que ganhou fama na voz do cantor Luiz Gonzaga —
esturricou. Na última quinta-feira, bois magros tentavam em vão matar a sede e tudo
que encontravam era uma poça de lama escura naquele conhecido afluente do rio
Pajeú.
Em Pernambuco, 126 municípios do sertão e do agreste estão em estado de
emergência reconhecido. O quadro tende a se agravar já que a temporada de chuva
está encerrada e os conflitos aumentam.
Projeto de Integração do Rio São Francisco
Em razão disso, o Governo Federal em parceria com os Governos de
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, diante desta realidade e, tendo
por base a disponibilidade hídrica de 1.500m3/hab/ano, estabelecida pela ONU como
sendo a mínima necessária para garantir a uma sociedade o suprimento de água
para os seus diversos usos, implantaram o Projeto de Integração do Rio São
Francisco, a chamada Transposição do Rio São Francisco, com outras bacias
hidrográficas, que estabelece a interligação da bacia hidrográfica do rio São
Francisco, que apresenta relativa abundância de água (1850 m³ por segundo de
vazão garantida pelo reservatório de Sobradinho), com bacias inseridas no Nordeste
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Setentrional e quantidade de água disponível que estabelece limitações ao
desenvolvimento socioeconômico da região.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do
Nordeste Setentrional é a mais importante ação estruturante, no âmbito da política
nacional de recursos hídricos, tendo por objetivo a garantia de água para o
desenvolvimento socioeconômico dos Estados mais vulneráveis às secas (Ceará,
Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco).
Neste sentido, ao mesmo tempo em que garante o abastecimento por longo
prazo de grandes centros urbanos da região (Fortaleza, Juazeiro do Norte, Crato,
Mossoró, Campina Grande, Caruaru, João Pessoa) e de centenas de pequenas e
médias cidades inseridas no Semiárido, o projeto beneficiará áreas do interior do
Nordeste com razoável potencial econômico, estratégicas no âmbito de uma política
de desconcentração do desenvolvimento, polarizado até hoje, quase
exclusivamente, pelas capitais dos Estados.
As bacias que receberão a água do rio São Francisco são: Brígida, Terra
Nova, Pajeú, Moxotó e Bacias do Agreste em Pernambuco; Jaguaribe e
Metropolitanas no Ceará; Apodi e Piranhas-Açu no Rio Grande do Norte; Paraíba e
Piranhas na Paraíba.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do
Nordeste Setentrional prevê a construção de dois canais: o Eixo Norte que levará
água para os sertões de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte e o
Eixo Leste que beneficiará parte do sertão e as regiões agrestes de Pernambuco e
da Paraíba.
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O Eixo Norte, a partir da captação no rio São Francisco próximo à cidade de
Cabrobó, em Pernambuco, percorrerá cerca de 400 quilômetros, conduzindo água
aos rios Salgado e Jaguaribe, no Ceará; Apodi, no Rio Grande do Norte; e Piranhas-
Açu, na Paraíba e Rio Grande do Norte. Ao cruzar o Estado de Pernambuco este
eixo disponibilizará água para atender as demandas de municípios inseridos em três
sub-bacias do rio São Francisco: Brígida, Terra Nova e Pajeú. Para atender a região
do Brígida, no oeste de Pernambuco, foi concebido um ramal de 110 quilômetros de
comprimento que derivará parte da vazão do Eixo Norte para os açudes Entre
Montes e Chapéu.
Projetado para uma capacidade máxima de 99 m³/s, o Eixo Norte operará
com uma vazão contínua de 16,4 m³/s, destinados ao consumo humano. Em
períodos recorrentes de escassez de água nas bacias receptoras e de abundância
na bacia do São Francisco (Sobradinho vertendo), as vazões transferidas poderão
atingir a capacidade máxima estabelecida. Os volumes excedentes transferidos
serão armazenados em reservatórios estratégicos existentes nas bacias receptoras:
Atalho e Castanhão, no Ceará; Armando Ribeiro Gonçalves, Santa Cruz e Pau dos
Ferros, no Rio Grande do Norte; Engenheiro Ávidos e São Gonçalo, na Paraíba; e
Chapéu e Entre Montes, em Pernambuco.
O Eixo Leste que terá sua captação no lago da barragem de Itaparica, no
município de Floresta-PE, se desenvolverá por um caminhamento de 220
quilômetros até o rio Paraíba-PB, após deixar parte da vazão transferida nas bacias
do Pajeú, do Moxotó e da região agreste de Pernambuco. Para o atendimento das
demandas da região agreste de Pernambuco, o projeto prevê a construção de um
ramal de 70 quilômetros que interligará o Eixo Leste à bacia do rio Ipojuca.
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Previsto para uma capacidade máxima de 28 m³/s, o Eixo Leste funcionará
com uma vazão contínua de 10 m³/s, disponibilizados para consumo humano.
Periodicamente, em caso de sobras de água em Sobradinho e de necessidade nas
regiões beneficiadas, o canal poderá funcionar com a vazão máxima, transferindo
este excedente hídrico para reservatórios existentes nas bacias receptoras: Poço da
Cruz, em Pernambuco, e Epitácio Pessoa (Boqueirão), na Paraíba.
Os eixos de integração foram concebidos na forma de canais de terra, com
seção trapezoidal, revestidos internamente por membrana plástica impermeável,
com recobrimento de concreto. Nos trechos de travessia de rios e riachos serão
construídos aquedutos, sendo previstos túneis para a ultrapassagem de áreas com
altitude mais elevada.
Para vencer o desnível do terreno entre os pontos mais altos do relevo, ao
longo dos percursos dos canais, e os locais de captação no rio São Francisco, serão
implantadas nove estações de bombeamento: três no Eixo Norte, com elevação total
de 180 metros, e seis no Eixo Leste, elevando a uma altura total de 300 metros. Ao
longo dos eixos principais e de seus ramais, serão construídas 30 barragens para
desempenharem a função de reservatórios de compensação, permitindo o fluxo de
água nos canais mesmo durante as horas do dia em que as estações de
bombeamento estejam desligadas (as bombas ficarão de 3 a 4 horas por dia,
desligadas para reduzir os custos com energia).
Com o Projeto de Integração do Rio São Francisco, os grandes açudes
(Castanhão-CE, Armando Ribeiro Gonçalves-RN, Epitácio Pessoa-PB, Poço da
Cruz-PE e outros) do Nordeste Setentrional passarão a oferecer uma maior garantia
para o fornecimento de água aos diversos usos das populações. Nos Estados
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beneficiados com o projeto, vários sistemas de distribuição estão operando,
encontram-se em obras ou estão em fase de estudos, com o objetivo de levar água
destes reservatórios estratégicos para suprir cidades e perímetros de irrigação.
No Estado do Ceará, o sistema de reservatórios que abastece a Região
Metropolitana de Fortaleza — RMF (açudes Pacajus, Pacoti, Riachão e Gavião) já
está interligado ao rio Jaguaribe através do Canal do Trabalhador (capacidade de 5
m³/s). Em função da necessidade de se levar mais água da bacia do Jaguaribe para
a RMF, o Governo do Estado está construindo o Canal da Integração (capacidade
de 22 m³/s), interligando o açude Castanhão às bacias do Banabuiú (maior afluente
do rio Jaguaribe) e Metropolitanas.
No Estado do Rio Grande do Norte, o açude Armando Ribeiro Gonçalves é
responsável pelo abastecimento de uma grande quantidade de municípios das
bacias do Piranhas-Açu, Apodi e Ceará-Mirim através de 4 grandes sistemas
adutores que estão em operação: Adutora de Mossoró, Adutora Sertão
Central/Cabugi, Adutora Serra de Santana, Adutora do Médio Oeste. Encontra-se
em fase de projeto, a Adutora do Alto Oeste que atenderá a maior parte dos
municípios da bacia do Apodi, captando água no açude Santa Cruz, outro
reservatório de recepção das transferências hídricas do Projeto São Francisco.
No Estado da Paraíba, o Eixo Leste do Projeto São Francisco permitirá o
aumento da garantia da oferta de água para os vários municípios da bacia do
Paraíba, atendidos pelas adutoras do Congo, do Cariri, Boqueirão e Acauã. O Eixo
Norte possibilitará o abastecimento seguro de diversos municípios da bacia do
Piranhas, atendidos por sistemas adutores tais como Adutora Coremas/Sabugi e
Canal Coremas/Souza.
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No Estado de Pernambuco, os Eixos Norte e Leste, ao atravessarem o seu
território, servirão de fonte hídrica para sistemas adutores existentes ou em projeto,
responsáveis pelo abastecimento de populações do Sertão e do Agreste: Adutora do
Oeste, Adutora do Pajeú, Adutora Frei Damião e Adutora de Salgueiro.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do
Nordeste Setentrional é a mais importante ação estruturante, no âmbito da política
nacional de recursos hídricos, tendo por objetivo a garantia de água para o
desenvolvimento socioeconômico dos Estados mais vulneráveis às secas (Ceará,
Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco). Neste sentido, ao mesmo tempo em
que garante o abastecimento por longo prazo de grandes centros urbanos da região
(Fortaleza, Juazeiro do Norte, Crato, Mossoró, Campina Grande, Caruaru, João
Pessoa) e de centenas de pequenas e médias cidades inseridas no Semiárido, o
projeto beneficia áreas do interior do Nordeste com razoável potencial econômico,
estratégicas no âmbito de uma política de desconcentração do desenvolvimento,
polarizado até hoje, quase exclusivamente, pelas capitais dos Estados.
Adutora do Pajeú
Além desse grande e importante Projeto de Integração da Bacia do Rio São
Francisco com outras bacias, existe, também a Adutora do Pajeú que levará água
para todos os municípios do Pajeú pernambucano e, na sua segunda etapa, a
municípios da Paraíba, projeto autorizado pelo Ministério da Integração Nacional no
último mês de maio do ano passado, inclusive com a abertura de licitação para
contratação de empresa que ficará responsável pela execução do Sistema Adutor do
Pajeú II, está igual á chamada Transposição de águas do Rio São Francisco,
iniciada com tanta pompa no segundo governo do ex-presidente Lula e ainda sem
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levar uma gota de água aos sertanejos de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio
Grande do Norte, Estados arrasados por mais esta seca.
A canalização chama a atenção pela extensão e pelo complexo das obras.
Com mais de quatrocentos quilômetros de tubulação a Adutora do Pajeú terá ainda
12 estações elevatórias. A água está sendo captada do lago de Itaparica nesta
primeira fase, tendo chegado a Serra Talhada no final de março, com pomposa
inauguração pela Presidente Dilma e pelo Governador Eduardo Campos. Sua 1ª
etapa está sendo captada do Eixo Leste do Projeto de Integração do Rio São
Francisco.
Nessa segunda etapa no Estado de Pernambuco, serão beneficiados os
municípios de Carnaubeira da Penha, Betânia, Brejinho, Iguaraci, Ingazeira,
Itapetim, Quixaba, Santa Cruz da Baixa Verde, Triunfo, Santa Teresinha, São José
do Egito, Solidão, Tabira, Triunfo e Tuparetama, além dos distritos de Riacho do
Meio (em São José do Egito) e Tupanaci (em Mirandiba). Total: 169 mil pessoas.
Na Paraíba serão beneficiados os municípios de Princesa Isabel, Imaculada,
Desterro, Teixeira, Cacimbas, Livramento, São José dos Cordeiros e Taperoá. Total:
61 mil pessoas.
A Adutora do Pajeú vai beneficiar no total, após sua conclusão, 400 mil
pessoas. É uma obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC),
coordenada pelo Ministério da Integração Nacional e executada pelo Departamento
Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS). O investimento na 2ª etapa do
sistema será de R$ 338 milhões, incluindo obras civis, fornecimento de materiais e
desapropriações. O sistema é formado por 402 quilômetros de adutoras, 11
reservatórios, duas unidades de captação e 12 estações elevatórias.
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Feito esse relato e depois de ter liderado a Bancada do Nordeste e promovido
dezenas de reuniões para tratar de um fenômeno tão comum no mundo, que é a
seca e, como conviver com ela, desejo, neste discurso, registrar a preocupação do
querido amigo Padre Luizinho, de São José do Egito, pessoa que conheço e, desde
a sua adolescência, ainda seminarista, já se pronunciava com sugestões às
autoridades brasileiras, objetivando ações que viessem a ajudar os sertanejos do
semiárido brasileiro a conviverem com esse milenar fenômeno.
O Padre Luizinho reuniu Prefeitos do Pajeú para pedir que pressionassem as
autoridades dos governos, a providenciarem a conclusão da Adutora do Pajeú.
Com o intuito de discutir estratégias e ações de convivência com a seca, o
sacerdote da Paróquia de Ingazeira, reuniu-se no final do ano passado com alguns
prefeitos do Sertão do Pajeú, dentre eles, o prefeito anfitrião, Luciano Torres (PSB),
o prefeito eleito de Tuparetama, Dêva Pessoa (PSD), o futuro gestor de São José do
Egito, Dr. Romério Guimarães (PT), e o presidente da Cooperativa de Crédito do
Pajeú, José Evaldo Campos.
Na reunião, os participantes falaram sobre uma viagem dos prefeitos a
Brasília-DF, para cobrarem do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra,
mais agilidade na construção da Adutora do Pajeú, que será a única salvação para a
região que há tempo sofre com colapsos de abastecimento de água.
Além dos municípios do alto Pajeú, como Itapetim, Brejinho, Santa Terezinha,
Tuparetama, Ingazeira, Iguaraci, Afogados, Tabira, Solidão, Carnaíba, Quixaba,
Flores, Triunfo, Calumbi, estão prestes a sofrer também colapso, por falta de água,
excluindo-se apenas Serra Talhada que recebeu esse precioso líquido, em março
passado.
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A forte seca que atinge todo o Sertão e parte do Agreste pernambucano
continua causando sérios prejuízos aos agricultores de Pernambuco. No município
de Floresta onde nasce a Adutora do Pajeú, segundo informações de um dos seus
filhos ilustres, Euclides Ferraz, já secaram todas as barragens que estão localizadas
as margens da PE-390, que liga Floresta a Serra Talhada. Estão praticamente secas
as barragens de Juá, Lagartixa, Nazaré, Poço Negro, Acampamento, Três
Umbuzeiros, Redentor dos Montes, Nestor, Olho de Água, Barra Forquilha,
Damázio, Frazão, Manoel Domingos, Mãe de Água e Manoel Teles.
Independente disso, os agricultores pernambucanos vão cobrar as promessas
feitas pela Presidente Dilma, com toda pompa, na reunião da SUDENE, que
aconteceu em Recife, no final de 2013, como a distribuição de alimentos para
animais - o tal milho que não chega nunca, em razão da burra burocracia da CONAB
e a regularização do abastecimento d’água feito por carros-pipa, principalmente pelo
Exército. O fato é que nem Chapéu de Palha nem reuniões na esfera estadual ou
federal amenizam, em curto prazo, as necessidades imediatas de água para o
consumo humano e animal, que os agricultores estão sentindo hoje.
O prefeito de Serra Talhada, Luciano Duque, mesmo agradecido pela
inauguração da Adutora do Pajeú, em seu município, se preocupa com o
assoreamento das margens e do fundo do açude Cachoeira II, o acúmulo de terras
que diminui sua capacidade, é enorme, informa Luciano Duque. O chefe da Unidade
de Campo do DNOCS de Serra Talhada, Ionaldo Araújo, lembra que em 1999, Serra
Talhada passou por uma situação ainda pior, quando esse açude Cachoeira II
chegou a ficar com menos de um milhão de metros cúbicos de água, suprimindo o
abastecimento da cidade.
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Para salvar essa precária situação dos municípios acima de Serra Talhada,
só concluindo as obras da Adutora do Pajeú, cuja canalização chama a atenção pela
extensão e pelo complexo de obras. Sua primeira etapa com mais de quatrocentos
quilômetros de tubulação têm ainda 12 estações elevatórias. A água estava para ser
captada do lago de Itaparica nesta primeira fase, até Serra Talhada somente foi
inaugurada no mês passado, em razão do excesso de burocracia que acarretou o
atraso dessa importante obra.
Ninguém pode negar, o esforço do saudoso governador Eduardo Campos e
do seu governo e, agora, de Paulo Câmara, em envidar esforços para atender com o
que tem os nossos queridos agricultores e o que ainda resta de seus animais, mas,
o que aqui me refiro são as ações do Governo Federal para minimizar o sofrimento
dos moradores do semiárido nordestino. São grandes, boas, mais não caminham.
Não andam. No orçamento da união tem dinheiro para tudo, menos para concluir o
Projeto de Integração da Bacia do Rio São Francisco com outras bacias da região
Nordeste ou mesmo, a Adutora do Pajeú, obras que salvarão os nordestinos
atingidos, quase que anualmente, pelas constantes secas que arrasar a região.
Abram os olhos, Presidente Dilma Rousseff e seus Ministros da Fazenda; do
Planejamento e da Integração Nacional, os investimentos realizados nestas duas
importantes obras aqui citadas, Transposição do São Francisco e Adutora do Pajeú,
serão menores que os gastos vergonhosos com carros-pipa que não resolvem os
problemas dos atingidos pelas constes secas no nordeste brasileiro.
Fiz uma análise de alguns programas do Ministério da Integração Nacional e
pude constatar que, apesar de existirem recursos no Orçamento Geral da União,
aprovados pelo Congresso Nacional para ações de convivência com a seca, dentre
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eles, do Programa Água para Todos; Integração da Bacia do Rio São Francisco com
outras bacias e para a Adutora do Pajeú, as liberações dos recursos destas rubricas
foram poucas nos últimos dois anos.
Para o Projeto de Integração das Bacias Hidrográficas, apenas 7,51% do
previsto foi aplicado; Infraestrutura Hídrica - 31,12% do previsto; Desenvolvimento
Macrorregional sustentável - 0,49% do previsto; Desenvolvimento da Agricultura
Irrigada - 2,20% do previsto, não dá para ficar calado com uma coisa dessas.
Dona Dilma para uma coisa é boa. Para tirar dinheiro dos fundos de Estados
e municípios — FPE e FPM, isentando IPI e IOF para veículos e eletrodomésticos,
mas para concluir as obras iniciadas por Lula, não é.
O Programa Água Para Todos tem atendido milhões de nordestinos com
obras que farão parte do Processo de Infraestrutura Hídrica do Nordeste Brasileiro.
Esse programa está em plena ação e financiando, com recursos do PAC, a
construção de milhares de cisternas; poços artesianos; açudes; barragens e tantas
outras obras hídricas, a exemplo da Integração da Bacia do Rio São Francisco com
outras bacias dos Estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.
Essas ações vão implantar Sistemas de Abastecimento de água Domiciliar
com a construção de 119 cisternas no valor de R$ 4,3 milhões, para atender 4,8 mil
famílias; perfuração de 255 poços artesianos no valor de R$ 5,1 milhões, para
atender 5,1 mil famílias; construção de 68 barragens de parede no valor de R$ 3,2
milhões, para atender 3,4 mil famílias e, construção de 100 barragens subterrâneas
no valor de R$ 1,6 milhões, para atender 1.000 famílias.
Assim, faço como faziam Dona Elisa e Seu Sebastião, meus pais, batiam,
mas depois alisavam. Que a Presidente Dilma Rousseff e seu governo abram os
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cofres do dinheiro do povo brasileiro, para efetivação de obras que ajudem os
nordestinos a conviver com as constantes secas que ocorrem na região, a exemplo
da Integração da Bacia do Rio São Francisco, com outras bacias; conclusão da
Adutora do Pajeú; implantação de cisternas e adutoras para atender o
abastecimento de todas as casas da zona rural; construção do Canal do Sertão, do
Lago de Sobradinho para atender Casa Nova-BA e mais 17 municípios
pernambucanos, dentre muitas outras.
Aproveito esta oportunidade para transcrever a Carta do Araripe que recebi
do Vereador Luciano Nunes, de Santa Cruz-PE
Carta do Araripe — Terra de Povo Forte
No último dia 18 de março de 2013, os
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, através dos seus
Sindicatos, juntamente com os vereadores/as e
representantes dos conselhos municipais de
desenvolvimento rural, dos 10 municípios do Sertão do
Araripe mais o município de Parnamirim, realizaram um
encontro para discutir a situação que seus respectivos
municípios se encontravam, principalmente as famílias
agricultoras, em relação à seca. As pessoas presentes
falaram também de como estavam acontecendo às ações
emergências dos governos municipais, estadual e federal,
de enfrentamento aos efeitos da seca. O resultado do
encontro é esse documento com as reivindicações do
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povo da região, que está sendo chamado de “Carta do
Araripe”.
É fato conhecido por todas as pessoas, que o povo
do Semiárido Nordestino está vivendo a maior seca dos
últimos 40 anos. Uma realidade de calamidade pública,
principalmente para as Famílias Agricultoras, Campesinos
e Campesinas, que só não é mais grave devido ao Bolsa
Família - programa de transferência de renda e a
aposentadoria dos trabalhadores e trabalhadoras rurais.
Também é de conhecimento de todos também que
além estarmos vivendo um período de grande “seca
climática - escassez de água”, a população sertaneja está
vivendo uma “seca política - escassez de ações
estruturantes ou de convivência com o semiárido”. As
“secas climáticas” são cíclicas e muitas vezes anunciadas
com certa antecedência, mas as ações estruturantes, que
poderiam contribuir para uma convivência com o
semiárido, a exemplo de: construção de cisternas -
consumo familiar e produção; construção de pequenos
ramais de abastecimento de água (adutoras) a partir de
açudes e/ou poços para a população difusa; entre outras
tantas ações, simplesmente não acontecem ou quando
acontecem são: inadequadas; de difícil acesso pelas
famílias mais carentes; tardias - em descompasso entre a
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necessidade imediata e a chegada/concretude da ação a
quem realmente está precisando; quando não ficam
somente no discurso.
Porém como muitas das ações estruturantes que
poderiam possibilitar a convivência com o semiárido, não
aconteceram ou estão se dando de forma muito tímida,
estamos - o Povo do Sertão, vivendo mais uma vez, as
agruras da seca climática e política, e dependentes de
“ações emergenciais” que: saciem nossa sede e fome e
ajudem-nos a manter nossos rebanhos.
Para nosso Sertão, muitas foram às ações
alardeadas com pompa, em discursos, e divulgadas na
imprensa, mas repetindo os equívocos do passado elas
'padeceram como os cultivos na terra quente'.
As ações dos prefeitos até esse momento foram
tímidas. Muitos, assumindo o poder executivo pela
primeira vez, não conseguiram até o momento,
implementar ações que atendessem as necessidades da
população do seu município. Praticamente as ações tem
se resumido a contratação de carros pipa e
perfuração/instalações de poços - diga-se: em
quantidades irrisórias, com relação às necessidades das
famílias. Outros prefeitos se limitaram, somente, a cobrar
ações do Governo do Estado e/ou da União.
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O Governo do Estado por sua vez, vem divulgando
diversas ações emergenciais: carros pipa em quantidade,
alimentos para os animais (forragens) e
perfurações/instalações de poços. Além de programas de
indenização financeira por perda de safra, como o
Chapéu de Palha e o Garantia Safra, sendo este último
um programa do governo federal, com aportes do Estado,
do Município e das Famílias Agricultoras. Porém essas
ações, que competem ao Governo do Estado, estão se
dando tardiamente e/ou de forma demorada e,
principalmente em quantidade que não atende as reais
necessidades do povo do Sertão do Araripe. Um exemplo
claro de ações subdimensionadas é a liberação
(contratação) de 10 carros pipa para o município de
Ouricuri, quando este precisa de no mínimo 90.
Quanto ao Governo Federal, suas ações, como:
leilão de milho pela CONAB; distribuição de água por
carros pipa através do exército; crédito especial para
agricultores afetados pela seca, Bolsa Estiagem e
Garantia Safra, também não conseguem atender ao Povo
Sertanejo nesse momento de seca que requer ações
imediatas. Os motivos para as ações não chegarem a
quem realmente precisa são velhos conhecidos:
burocracia exagerada - que leva a dificuldades de acesso,
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lentidão na operacionalização, além da quantidade
insuficiente.
Diante do exposto, reivindicamos com a máxima
urgência:
Água/Carros Pipa - Prefeituras, Governo do Estado e
Governo Federal.
Disponibilizar em quantidade suficiente (1 carro pipa para
cada 40 famílias).
Mapear e Monitorar no município o abastecimento
de água com os carros pipa, ação quê deverá ser
realizada em parceria com os Conselhos Municipais de
Desenvolvimento-Rural Sustentável.
Analisar periodicamente as águas utilizadas para
abastecimento com os carros pipa.
Liberar água da COMPESA de forma imediata, em
se verificando a escassez ou inadequação das fontes de
água para abastecimento por carros pipa.
Poços - Prefeituras, Governo do Estado e Governo
Federal.
Recuperar e instalar os poços, principalmente os já
listados pelo Governo do Estado (SARA/IPA) e/ou pelo
Governo Federal- Essa lista deverá ser atualizada junto
aos CMDRS.
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Consertar imediatamente as Máquinas
Perfuratrizes danificadas (quebradas).
Instalar imediatamente dessalinizadores, mediante
critérios de vazão e nº de famílias atendidas.
Locar máquinas perfuratrizes — preferencialmente
as capazes de perfurar poços mais profundos.
Chafarizes — Prefeituras e Governo do Estado.
Construir Chafarizes ao longo dos Ramais da
Adutora do Oeste.
Ramais adutoras — Prefeituras, Governo do
Estado e Governo Federal.
Construir pequenos ramais e pequenas adutoras a
partir de poços e pequenos açudes, para atendimento da
população difusa, principalmente pequenas comunidades
rurais.
Alimentos para os Animais/ Milho - Governo Federal.
Disponibilizar em quantidade suficiente e para
todos os animais, para no mínimo 30 dias.
Formar um comitê com representantes do STR,
Câmara de Vereadores, Prefeitura e do Governo do
Estado para monitoramento dessa ação em cada
município — maior transparência.
Atender primeiramente Famílias Agricultoras do
PRONAF enquadradas como “B”, “A” e “V”. Atendidas
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essas famílias naquele período, seriam repassados para
os demais criadores/as.
Volumoso — Prefeituras e Governo do Estado.
Disponibilizar em quantidade suficiente e para
todos os animais, para no mínimo 60 dias.
Formar um comitê com representantes do Sindicato
dos Trabalhadores/as Rurais, Prefeitura e do Governo do
Estado para monitoramento dessa ação em cada
município. maior transparência.
Programas de Transferência de Renda e de Indenização:
Garantia Safra, Bolsa Estiagem e Chapéu de Palha —
Prefeituras, Governo do Estado e Governo Federal.
Retomar imediatamente os referidos programas,
procurando atender a demanda real.
Antecipar e corrigir os valores — devido,
principalmente a inflação dos alimentos.
Crédito
Perdoar as dívidas das Famílias Agricultoras.
Aumentar o teto do valor disponibilizado no Crédito
Especial para as famílias agricultoras afetadas pela seca.
Possibilitar que as Famílias Agricultoras, que já
acessaram esse crédito possam acessar um novo
financiamento para aquisição de ração.
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Além das ações pautadas acima, reivindicamos também
que as reuniões do Comitê Integrado de enfrentamento a
Estiagem se deem onde os problemas estão
acontecendo, nos sertões, rompendo assim com a cultura
da época imperial, em que as decisões e a definição de
ações a serem tomadas, se davam na corte, longe das
pessoas que vivem as consequências dessas ações.
As pessoas do Sertão do Araripe expressam a
esperança de que as reivindicações apresentadas nesse
documento, cobrando ações concretas e emergenciais
ainda nesse primeiro trimestre de 2013 por parte dos
governos municipais, estadual e federal, saiam do
discurso ou do mero “faz de conta”, que podem até
preencher espaços na mídia, mas que não atendem as
reais necessidades da população nessa hora de aflição.
A sede, a fome e a visão de ver seus sonhos se
dissiparem, com a produção minguando, e o sentimento
na pele, de que as ações políticas não chegam como
deveriam, são temperos substanciosos para uma grande
“Tensão Social” na região. Por isso cobramos em caráter
de máxima urgência uma resposta.
Assinam esse documento:
Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais de: Araripina, Bodocó, Exu, lpubi, Moreilândia,
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Ouricuri, Parnamirim, Santa Cruz, Santa Filomena, e
Trindade.
Câmaras de Vereadores de: Araripina, Bodocó,
Exu, Ipubi, Moreilândia, Ouricuri, Parnamirim, Santa Cruz,
Santa Filomena, e Trindade.
Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural
de: Araripina, Bodocó, Exu, Ipubi, Moreilândia, Ouricuri,
Parnamirim, Santa Cruz, Santa Filomena, e Trindade.”
Mais uma vez, desejo chamar a atenção dos brasileiros, de matéria publicada
no jornal O Globo, em sua edição de 27 de setembro de 2014, sob o título “Águas do
Rio Tocantins podem ser usadas para abastecer o São Francisco”, que, para minha
surpresa, relata a intenção do Governo Federal de buscar essa saída para
incrementar o grandioso projeto de transposição do Velho Chico.
Explico minha reação ao texto, convidando-os a voltar quase duas décadas
no tempo, mais precisamente a março de 1995, quando apresentei essa ideia por
meio do Projeto de Lei nº 250, que incluía, no Plano Nacional de Viação, aprovado
pela Lei nº 5.917, de 10 de setembro de 1973, a implantação de bacia hidrográfica
que interligasse o Rio Preto, no Estado da Bahia, ao Rio Tocantins, no então Estado
de Goiás, de maneira a assegurar a navegação desde o Rio São Francisco até o Rio
Amazonas.
Depois de muita insistência, em audiências com o então Presidente Lula.
Naquele tempo deputado falava com o Presidente da República, consegui que o
projeto fosse analisado por uma comissão presidida pelo saudoso vice-presidente da
república, José Alencar que, mostra insensatez dos governos em não terem, há
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tempo, feito a interligação desses dois gigantes hídricos, os rios Tocantins com o Rio
São Francisco.
Segundo os estudos de Zé Alencar, com a construção da barragem de
Palmas, no Rio Tocantins, basta apenas a construção de um pequeno canal de 200
quilômetros para a interligação dessas duas importantes bacias, através do Rio
Coíbe, passando por Santa Maria da Vitória, na Bahia, ao rio São Francisco.
Com a morte de Zé Alencar e a saída de Lula do governo essa minha
proposição ficou esquecida, sem que se lhe desse a devida importância. O Projeto
foi arquivado e, somente em setembro de 2013, o reapresentei com o mesmo texto
anterior, agora denominado Projeto de Lei nº 6.569/13, na esperança de que a ele
seja dado a atenção que o grave assunto merece.
Causa-me espécie, pois, segundo relata O Globo, o fato de o Governo
“coincidentemente” considerar a adoção de saída que propus não uma, mas duas
vezes, uma delas há praticamente vinte anos!
Foi ainda nessa época que publiquei o livro intitulado O Rio São Francisco
está morrendo, obra em que eu conclamei toda a sociedade brasileira a empreender
esforço conjunto no sentido de salvar o Rio da Integração Nacional.
Como se vê, a destruição ambiental já vem deixando suas marcas desde
longa data. Infelizmente, parece que todas as instâncias da sociedade continuam em
estado de anestesia tal que as poucas vozes que insistem em denunciar o óbvio
simplesmente não são consideradas.
A situação do Rio São Francisco, em nossos dias, é catastrófica. À patente
redução das águas em toda a Bacia soma-se a seca verificada na própria nascente,
localizada no Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais. Tão grave
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fato, é verdade, se deve à sucessão de secas nos últimos três anos, mas a
devastação do curso do rio ocorre há tempos...
A ideia de realizar a transposição do São Francisco, é preciso que se diga,
também não é recente. A intenção de fazer do Rio o meio de conexão entre o
Nordeste e outras regiões do País surgiu ainda nos tempos da colonização, mas
nunca havia saído do papel.
Mas como é o Projeto de Transposição do Rio São Francisco?
O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do
Nordeste Setentrional é um empreendimento do Governo Federal, sob a
responsabilidade do Ministério da Integração Nacional, destinado a assegurar a
oferta de água, em 2025, a cerca de 12 milhões de habitantes de pequenas, médias
e grandes cidades da região semiárida dos Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba
e Rio Grande do Norte.
A integração do rio São Francisco às bacias dos rios temporários do
Semiárido será possível com a retirada contínua de 26,4 m³/s de água, o equivalente
a 1,4% da vazão garantida pela barragem de Sobradinho (1850 m³/s) no trecho do
rio onde se dará a captação.
Este montante hídrico será destinado ao consumo da população urbana de
390 municípios do Agreste e do Sertão dos quatro Estados do Nordeste
Setentrional. Nos anos em que o reservatório de Sobradinho estiver vertendo, o
volume captado poderá ser ampliado para até 127 m³/s, contribuindo para o
aumento da garantia da oferta de água para múltiplos usos.
A Região Nordeste que possui apenas 3% da disponibilidade de água e 28%
da população brasileiras apresenta internamente uma grande irregularidade na
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distribuição dos seus recursos hídricos, uma vez que o rio São Francisco representa
70% de toda a oferta regional.
Esta irregularidade na distribuição interna dos recursos hídricos, associada a
uma discrepância nas densidades demográficas (cerca de 10 hab/km2 na maior
parte da bacia do rio São Francisco e aproximadamente 50 hab/km2 no Nordeste
Setentrional) faz com que, do ponto de vista da sua oferta hídrica, o Semiárido
Brasileiro seja dividido em dois: o Semiárido da Bacia do São Francisco, com 2.000
a 10.000m3/hab/ano de água disponível em rio permanente, e o Semiárido do
Nordeste Setentrional, compreendendo parte do Estado de Pernambuco e os
Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, com pouco mais de
400m3/hab/ano disponibilizados através de açudes construídos em rios intermitentes
e em aquíferos com limitações quanto à qualidade e/ou quanto à quantidade de suas
águas.
Diante desta realidade, tendo por base a disponibilidade hídrica de
1.500m3/hab/ano, estabelecida pela ONU como sendo a mínima necessária para
garantir a uma sociedade o suprimento de água para os seus diversos usos, o
Projeto de Integração estabelece a interligação da bacia hidrográfica do rio São
Francisco, que apresenta relativa abundância de água (1850 m³/s de vazão
garantida pelo reservatório de Sobradinho), com bacias inseridas no Nordeste
Setentrional com quantidades de água disponível que estabelecem limitações ao
desenvolvimento socioeconômico da região.
As bacias que receberão a água do rio São Francisco são: Brígida, Terra
Nova, Pajeú, Moxotó e Bacias do Agreste em Pernambuco; Jaguaribe e
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Metropolitanas no Ceará; Apodi e Piranhas-Açu no Rio Grande do Norte; Paraíba e
Piranhas na Paraíba.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do
Nordeste Setentrional prevê a construção de dois canais: o Eixo Norte que levará
água para os sertões de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte e o
Eixo Leste que beneficiará parte do sertão e as regiões agreste de Pernambuco e da
Paraíba.
O Eixo Norte, a partir da captação no rio São Francisco próximo à cidade de
Cabrobó-PE, percorrerá cerca de 400 quilômetros, conduzindo água aos rios
Salgado e Jaguaribe, no Ceará; Apodi, no Rio Grande do Norte; e Piranhas-Açu, na
Paraíba e Rio Grande do Norte.
Ao cruzar o Estado de Pernambuco este eixo disponibilizará água para
atender as demandas de municípios inseridos em 3 sub-bacias do rio São Francisco:
Brígida, Terra Nova e Pajeú. Para atender a região do Brígida, no oeste de
Pernambuco, foi concebido um ramal de 110 quilômetros de comprimento que
derivará parte da vazão do Eixo Norte para os açudes Entre Montes e Chapéu.
Projetado para uma capacidade máxima de 99 m³/s, o Eixo Norte operará
com uma vazão contínua de 16,4 m³/s, destinados ao consumo humano. Em
períodos recorrentes de escassez de água nas bacias receptoras e de abundância
na bacia do São Francisco (Sobradinho vertendo), as vazões transferidas poderão
atingir a capacidade máxima estabelecida.
Os volumes excedentes transferidos serão armazenados em reservatórios
estratégicos existentes nas bacias receptoras: Atalho e Castanhão, no Ceará;
Armando Ribeiro Gonçalves, Santa Cruz e Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte;
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Engenheiro Ávidos e São Gonçalo, na Paraíba; e Chapéu e Entre Montes, em
Pernambuco.
O Eixo Leste que terá sua captação no lago da barragem de Itaparica, no
município de Floresta-PE, se desenvolverá por um caminhamento de 220
quilômetros até o rio Paraíba-PB, após deixar parte da vazão transferida nas bacias
do Pajeú, do Moxotó e da região agreste de Pernambuco. Para o atendimento das
demandas da região agreste de Pernambuco, o projeto prevê a construção de um
ramal de 70 quilômetros que interligará o Eixo Leste à bacia do rio Ipojuca.
Previsto para uma capacidade máxima de 28 m³/s, o Eixo Leste funcionará
com uma vazão contínua de 10 m³/s, disponibilizados para consumo humano.
Periodicamente, em caso de sobras de água em Sobradinho e de necessidade nas
regiões beneficiadas, o canal poderá funcionar com a vazão máxima, transferindo
este excedente hídrico para reservatórios existentes nas bacias receptoras: Poço da
Cruz, em Pernambuco, e Epitácio Pessoa (Boqueirão), na Paraíba.
Os eixos de integração foram concebidos na forma de canais de terra, com
seção trapezoidal, revestidos internamente por membrana plástica impermeável,
com recobrimento de concreto. Nos trechos de travessia de rios e riachos serão
construídos aquedutos, sendo previstos túneis para a ultrapassagem de áreas com
altitude mais elevada. Para vencer o desnível do terreno entre os pontos mais altos
do relevo, ao longo dos percursos dos canais, e os locais de captação no rio São
Francisco, serão implantadas 9 estações de bombeamento: 3 no Eixo Norte, com
elevação total de 180 metros, e 6 no Eixo Leste, elevando a uma altura total de 300
metros.
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Ao longo dos eixos principais e de seus ramais, serão construídas 30
barragens para desempenharem a função de reservatórios de compensação,
permitindo o fluxo de água nos canais mesmo durante as horas do dia em que as
estações de bombeamento estejam desligadas (as bombas ficarão de 3 a 4 horas
por dia desligadas para reduzir os custos com energia).
Com o Projeto de Integração do Rio São Francisco, os grandes açudes
(Castanhão-CE, Armando Ribeiro Gonçalves-RN, Epitácio Pessoa-PB, Poço da
Cruz-PE e outros) do Nordeste Setentrional passarão a oferecer uma maior garantia
para o fornecimento de água aos diversos usos das populações. Nos Estados
beneficiados com o projeto, vários sistemas de distribuição estão operando,
encontram-se em obras ou estão em fase de estudos, com o objetivo de levar água
destes reservatórios estratégicos para suprir cidades e perímetros de irrigação.
No Estado do Ceará, o sistema de reservatórios que abastece a Região
Metropolitana de Fortaleza — RMF (açudes Pacajus, Pacoti, Riachão e Gavião) já
está interligado ao rio Jaguaribe através do Canal do Trabalhador (capacidade de 5
m³/s). Em função da necessidade de se levar mais água da bacia do Jaguaribe para
a RMF, o Governo do Estado está construindo o Canal da Integração (capacidade
de 22 m³/s), interligando o açude Castanhão às bacias do Banabuiú (maior afluente
do rio Jaguaribe) e Metropolitanas.
No Estado do Rio Grande do Norte, o açude Armando Ribeiro Gonçalves é
responsável pelo abastecimento de uma grande quantidade de municípios das
bacias do Piranhas-Açu, Apodi e Ceará-mirim através de 4 grandes sistemas
adutores que estão em operação: Adutora de Mossoró, Adutora Sertão Central /
Cabugi, Adutora Serra de Santana, Adutora do Médio Oeste. Encontra-se em fase
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de projeto, a Adutora do Alto Oeste que atenderá a maior parte dos municípios da
bacia do Apodi, captando água no açude Santa Cruz, outro reservatório de recepção
das transferências hídricas do Projeto São Francisco.
No Estado da Paraíba, o Eixo Leste do Projeto São Francisco permitirá o
aumento da garantia da oferta de água para os vários municípios da bacia do
Paraíba, atendidos pelas adutoras do Congo, do Cariri, Boqueirão e Acauã. O Eixo
Norte possibilitará o abastecimento seguro de diversos municípios da bacia do
Piranhas, atendidos por sistemas adutores tais como Adutora Coremas/Sabugi e
Canal Coremas/Souza.
No Estado de Pernambuco, os Eixos Norte e Leste, ao atravessarem o seu
território, servirão de fonte hídrica para sistemas adutores existentes ou em projeto,
responsáveis pelo abastecimento de populações do Sertão e do Agreste: Adutora do
Oeste, Adutora do Pajeú, Adutora Frei Damião e Adutora de Salgueiro.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do
Nordeste Setentrional é a mais importante ação estruturante, no âmbito da política
nacional de recursos hídricos, tendo por objetivo a garantia de água para o
desenvolvimento socioeconômico dos Estados mais vulneráveis às secas (Ceará,
Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco). Neste sentido, ao mesmo tempo em
que garante o abastecimento por longo prazo de grandes centros urbanos da região
(Fortaleza, Juazeiro do Norte, Crato, Mossoró, Campina Grande, Caruaru, João
Pessoa) e de centenas de pequenas e médias cidades inseridas no Semiárido, o
projeto beneficia áreas do interior do Nordeste com razoável potencial econômico,
estratégicas no âmbito de uma política de desconcentração do desenvolvimento,
polarizado até hoje, quase exclusivamente, pelas capitais dos Estados.
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Ao interligar os açudes estratégicos do Nordeste Setentrional com o rio São
Francisco, o projeto irá permitir:
No Estado do Ceará
O aumento da garantia da oferta hídrica proporcionada pelos maiores
reservatórios estaduais (Castanhão, Orós e Banabuiú) que operados de forma
integrada com os açudes Pacajus, Pacoti, Riachão e Gavião fornecem água para os
diversos usos da maior parte da população das bacias do Jaguaribe e
Metropolitanas (5 milhões de habitantes de 56 municípios, em 2025);
A redução do conflito existente entre a bacia do Jaguaribe e as bacias
Metropolitanas, em função do progressivo aumento das transferências de água para
o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza que possui uma
disponibilidade hídrica per capita de apenas 90m3/hab/ano;
Uma melhor e mais justa distribuição espacial da água ofertada pelos açudes
Orós e Banabuiú, beneficiando populações do Sertão Cearense, uma vez que com o
Projeto de Integração do São Francisco estes reservatórios estariam aliviados do
atendimento de parte das demandas do Médio e Baixo Jaguaribe e da Região
Metropolitana de Fortaleza;
A perenização do rio Salgado, estabelecendo uma fonte hídrica permanente
para o abastecimento da segunda região mais povoada do Estado, o Cariri
Cearense (cerca de 500 mil habitantes).
No Estado do Rio Grande do Norte;
O aumento da garantia da oferta hídrica proporcionada pelos dois maiores
reservatórios estaduais (Santa Cruz e Armando Ribeiro Gonçalves) responsáveis
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pelo suprimento de água para os diversos usos da maior parte da população das
bacias do Apodi, Piranhas-Açu, Ceará-mirim e Faixa Litorânea Norte;
A redução dos conflitos existentes na Bacia do Piranhas-Açu, entre usuários
de água deste Estado e do Estado da Paraíba e entre os usos internos do próprio
Estado;
A perenização dos maiores trechos dos rios Apodi e Piranhas-Açu, situados a
montante dos açudes Santa Cruz e Armando Ribeiro Gonçalves, estabelecendo uma
fonte hídrica permanente para as populações de mais de 60 municípios localizados
nestas duas bacias hidrográficas;
O abastecimento seguro para 95 municípios (1,2 milhões de habitantes em
2025), através do aumento da garantia da oferta de água dos açudes Santa Cruz e
Armando Ribeiro Gonçalves, da perenização permanente de todos os trechos dos
rios Apodi e Piranhas-Açu, em associação com uma rede de adutoras que vem
sendo implantada há alguns anos (mais de 1.000 quilômetros implantados).
No Estado da Paraíba
O aumento da garantia da oferta hídrica proporcionada pelos maiores
reservatórios estaduais (Epitácio Pessoa, Acauã, Engenheiros Ávidos, Coremas e
Mãe D’água) responsáveis pelo suprimento de água para os diversos usos da maior
parte da população das bacias do Paraíba e Piranhas;
A redução dos conflitos existentes na Bacia do Piranhas-Açu, entre usuários
de água deste Estado e do Estado do Rio Grande do Norte e entre os usos internos
do próprio Estado;
A redução dos conflitos existentes na Bacia do Paraíba, fundamentalmente
sobre as águas do Açude Epitácio Pessoa, insuficientes para os seus diversos usos
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e tendo como umas das consequências o estrangulamento do desenvolvimento
socioeconômico de Campina Grande, um dos maiores centros urbanos do interior do
Nordeste (cerca de 400 mil habitantes);
Uma melhor e mais justa distribuição espacial da água ofertada pelos açudes
Coremas e Mãe D’Água, beneficiando populações da região do Piancó, uma vez que
com o Projeto de Integração do São Francisco estes reservatórios estariam aliviados
do atendimento de demandas dos trechos do rio Piranhas, situados a jusante destes
reservatórios;
O abastecimento seguro para 127 municípios (2,5 milhões de pessoas em
2025), através do aumento da garantia da oferta de água dos açudes Epitácio
Pessoa, Acauã, Engenheiros Ávidos, Coremas e Mãe D’água, da perenização
permanente de todos os trechos dos rios Paraíba e Piranhas, em associação com
uma rede de adutoras que vem sendo implantada há alguns anos (mais de 600
quilômetros implantados).
No meu Estado, Pernambuco
Uma melhor distribuição espacial dos seus recursos hídricos, pois além da
disponibilidade de água do rio São Francisco em cerca de metade da sua fronteira
sul, o Estado contará com dois grandes canais (Eixo Norte e Eixo Leste), cortando
transversalmente o seu território, a partir dos quais uma rede de adutoras e/ou
canais irá, de forma sustentável, garantir o abastecimento das regiões do Agreste e
do Sertão, situadas em cotas elevadas e distantes daquele rio;
A divisão, com os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, de parte
dos custos de oferta hídrica para as regiões do Agreste e do Sertão, tornando a
água, distribuída a partir dos canais do Projeto de Integração, mais barata do que
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aquela captada diretamente do rio São Francisco por meio de adutoras isoladas (os
custos de operação e manutenção da infraestrutura dos Eixos Norte e Leste serão
rateados entre os Estados beneficiados, gerando uma economia de escala);
O aumento da garantia da oferta hídrica proporcionada por dois dos maiores
reservatórios do Estado (Entre Montes e Poço da Cruz), estrategicamente situados
para permitir o atendimento de demandas atuais e futuras das bacias dos rios
Brígida e Moxotó;
O abastecimento seguro para 113 municípios (2,9 milhões de pessoas em
2025) do Sertão (bacias do Brígida, Terra Nova, Pajeú e Moxotó) e do Agreste,
através da disponibilidade hídrica proporcionada diretamente pelos Eixos Norte e
Leste, pelos seus ramais (Ramal de Entre Montes e Ramal do Agreste), pelos
Açudes Entre Montes e Poço da Cruz, pelos leitos de rios perenizados, em
associação com uma rede de adutoras que poderá ser conectada aos canais do
Projeto de Integração.
O Projeto de Integração, também, terá um grande alcance no abastecimento
da população rural, quer seja através de centenas de quilômetros de canais e de
leitos de rios perenizados, quer seja por intermédio de adutoras para o atendimento
de um conjunto de localidades.
O Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco
(PRSF) é coordenado pela Secretaria-Executiva do Ministério do Meio Ambiente, em
parceria com o Ministério da Integração Nacional. Com prazo de execução de 20
anos, suas ações estão inseridas no Programa de revitalização de bacias
hidrográficas com vulnerabilidade ambiental do Plano Plurianual (PPA 2004/2007) e
será complementado por outras ações previstas em vários programas federais do
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PPA. As ações de revitalização são executadas de acordo com a Política Nacional
de Meio Ambiente — Lei nº 6.938/81, Política Nacional de Recursos Hídricos — Lei
nº 9.433/97 e a Política Nacional de Saneamento — Lei nº 11.445/07.
Divide-se em cinco linhas de ações, em conformidade como Plano de
Atividades e Metas 2004-2007 — PAM: Gestão e Monitoramento; Agenda
Socioambiental; Proteção e uso sustentável de recursos naturais; Qualidade de
saneamento ambiental e economias sustentáveis.
No período de 2004-2006, o Programa executou ações cujo montante de
recursos atingiu R$194.692.520,00, constando de obras de revitalização e
recuperação do rio São Francisco; monitoramento da qualidade da água;
reflorestamento de nascentes, margens e áreas degradadas; e controle de
processos erosivos para conservação de água e do solo, nos Estados de Sergipe,
Alagoas, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais.
O PRSF terá parte da sua continuidade assegurada com recursos do
Programa de Aceleração do Crescimento — PAC (2007-2010) na ordem de
R$1.274.700.000,00. As ações previstas consistiam em obras de saneamento
básico (resíduos sólidos, esgoto), contenção de barrancos e de controle de
processos erosivos, melhoria da navegabilidade e recuperação de matas ciliares. As
ações de esgotamento sanitário, inicialmente, envolverão os 102 municípios da
calha do rio São Francisco.
Este programa representa um esforço comum de articulação e integração
entre os vários órgãos de governos em todas as esferas e da sociedade civil, todos
imbuídos do propósito único que é promover a revitalização da bacia e o
desenvolvimento em base sustentável e alcançar a governabilidade desejada,
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reconhecida como chave para a gestão mais equitativa, eficiente e sustentável dos
recursos naturais.
Rio da Integração Nacional, o São Francisco, descoberto em 1502, tem esse
título por ser o caminho de ligação do Sudeste e do Centro-Oeste com o Nordeste.
Desde as suas nascentes, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, até sua foz, na
divisa de Sergipe e Alagoas, ele percorre 2.700 quilômetros.
Ao longo desse percurso, que banha cinco Estados, o rio se divide em quatro
trechos: o Alto São Francisco, que vai de suas cabeceiras até Pirapora, em Minas
Gerais; o Médio, de Pirapora, onde começa o trecho navegável, até Remanso, na
Bahia; o Submédio, de Remanso até Paulo Afonso, também na Bahia; e o Baixo, de
Paulo Afonso até a foz.
O Rio São Francisco recebe água de 168 afluentes, dos quais 99 são
perenes, 90 estão na sua margem direita e 78 na esquerda. A produção de água de
sua Bacia concentra-se nos cerrados do Brasil Central e em Minas Gerais e a
grande variação do porte dos seus afluentes é consequência das diferenças
climáticas entre as regiões drenadas. O Velho Chico, como carinhosamente o rio
também é chamado, banha os Estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco,
Sergipe e Alagoas. Sua Bacia hidrográfica também envolve parte do Estado de
Goiás e o Distrito Federal.
Os índices pluviais da Bacia do São Francisco variam entre sua nascente e
sua foz. A pluviometria média vai de 1.900 milímetros na área da Serra da Canastra
a 350 milímetros no semiárido nordestino. Por sua vez, os índices relativos à
evaporação mudam inversamente e crescem de acordo com a distância das
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nascentes: vão de 500 milímetros anuais, na cabeceira, a 2.200 milímetros anuais
em Petrolina (PE).
Embora o maior volume de água do rio seja ofertado pelos cerrados do Brasil
Central e pelo Estado de Minas Gerais, é a represa de Sobradinho que garante a
regularidade de vazão do São Francisco, mesmo durante a estação seca, de maio a
outubro. Essa barragem, que é citada como o pulmão do rio, foi planejada para
garantir o fluxo de água regular e contínuo à geração de energia elétrica da cascata
de usinas operadas pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF) —
Paulo Afonso, Itaparica, Moxotó, Xingó e Sobradinho. É assim que ela opera.
Depois de movimentarem os gigantescos geradores daquelas cinco
hidrelétricas, as águas do São Francisco correm para o mar. Atualmente, 95% do
volume médio liberado pela barragem de Sobradinho — 1.850 metros cúbicos por
segundo — são despejados na foz e apenas 5% são consumidos no Vale. Nos anos
chuvosos, a vazão de Sobradinho chega a ultrapassar 15 mil metros cúbicos por
segundo, e todo esse excedente também vai para o mar.
A irrigação no Vale do São Francisco, especialmente no semiárido é uma
atividade social e econômica dinâmica, geradora de emprego e renda na região e de
divisas para o País — suas frutas são exportadas para os EUA e Europa. A área
irrigada poderá ser expandida para até 800 mil hectares, nos próximos anos, o que
será possível pela participação crescente da iniciativa privada.
O Programa de Revitalização do São Francisco, cujas ações já se iniciaram,
contempla, no curto prazo, a melhoria da navegação no rio, providência que
permitirá a otimização do transporte de grãos (soja, algodão e milho,
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essencialmente) do Oeste da Bahia para o porto de Juazeiro (BA) e daí, por ferrovia,
para os principais portos nordestinos.
Números do Rio:
- Extensão: 2.700 quilômetros — desde a Serra da Canastra, no município
mineiro de São Roque de Minas, onde nasce, até a sua foz, entre os Estados de
Sergipe e Alagoas.
- Área da Bacia: 634 mil km2
- Está dividido em quatro trechos:
a) Alto São Francisco — das nascentes até a cidade de Pirapora (MG), com
100.076 km2, ou 16% da área da Bacia, e 702 quilômetros de extensão. Sua
população é de 6,247 milhões de habitantes
b) Médio São Francisco — de Pirapora (MG) até Remanso (BA) com 402.531
km2, ou 53% da área da Bacia, e 1.230 quilômetros de extensão. Sua população é
de 3,232 milhões de habitantes
c) Submédio São Francisco — de Remanso (BA) até Paulo Afonso (BA), com
110.446 km2, ou 17% da área da Bacia, e 440 quilômetros de extensão. Sua
população é de 1,944 milhões de habitantes
d) Baixo São Francisco — de Paulo Afonso (BA) até a foz, entre Sergipe e
Alagoas, com 25.523 km2, ou 4% da área da Bacia, e 214 quilômetros de extensão.
Sua população é de 1,373 milhões de habitantes
- O Rio S. Francisco banha cinco Estados: Minas Gerais, Bahia, Pernambuco,
Alagoas e Sergipe, mas sua Bacia alcança também Goiás e o Distrito Federal. A
Bacia do rio abrange 504 de municípios, ou 9% do total de municípios do país.
Desse total, 48,2% estão na Bahia, 36,8% em Minas Gerais, 10,9% em
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Pernambuco, 2,2% em Alagoas, 1,2% em Sergipe, 0,5% em Goiás e 0,2% no
Distrito Federal.
- Cerca de 13 milhões de pessoas (Censo de 2000) habitam a área da Bacia
do São Francisco
- Consumo atual de água da Bacia do rio São Francisco: 91 m³/s
- Vazão firme na foz (garantia de 100%): 1.850 m³/s
- Vazão média na foz: 2.700m3/s
- Vazão disponibilizada para consumos variados: 360 m³/s
- Vazão mínima fixada após Sobradinho: 1.300 m³/s
- Vazão firme para a integração das bacias: 26 m³/s (1,4% de 1.850 m³/s).
Perguntas e Respostas sobre a Integração do Rio São Francisco às Bacias
Hidrográficas do Nordeste Setentrional.
É verdade que o Rio São Francisco está morrendo?
Ainda não. Em que pese o Rio São Francisco ainda ser um rio muito saudável
e pujante, em razão do desprezo por parte das autoridades, ele tem sido muito
ameaçado pelos impactos da ação do homem, de que são exemplos a poluição por
esgotos, as barragens construídas ao longo do seu leito para a geração de energia
elétrica, o assoreamento causado pelo desmatamento crescente dos cerrados em
benefício da agropecuária, e a agressão às suas matas ciliares. Apesar disto, o rio
segue resistindo bravamente. Ele é e será uma fonte de sustentação econômica
para os habitantes de sua bacia hidrográfica, porque continua a receber, na média, a
mesma quantidade de chuva de antes, mantendo, sem alteração, há mais de duas
décadas, o suprimento de energia elétrica ao Nordeste, beneficiando por igual todos
os Estados da região. A quantidade de suas águas não está comprometida e o São
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Francisco está em melhor situação qualitativa do que muitos rios do Sudeste.
Portanto, o rio não está morrendo.
Mas o Velho Chico tem problemas?
Sim, o Velho Chico precisa ser mais bem cuidado, principalmente nos
afluentes mais degradados pela ação humana, como tantos outros rios do país. Em
alguns trechos, a derrubada das matas, que cobriam suas margens e encostas,
provocou o assoreamento do leito do rio, que é a formação anormal de bancos de
areia, o que prejudica a navegação e o habitat dos peixes. Em outros lugares, a falta
de tratamento de esgoto das cidades ribeirinhas provocou a poluição das águas. De
fato, é preciso cuidar melhor do Rio São Francisco.
O rio precisa ser revitalizado?
Sim, e isso já está acontecendo. A revitalização hidroambiental da bacia do
São Francisco é um programa coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, com a
participação do Ministério da Integração Nacional e da sociedade sanfranciscana. O
programa de revitalização do São Francisco contempla ações voltadas para o
reflorestamento de áreas críticas, a construção de barragens em rios afluentes, a
melhoria da calha navegável do seu curso médio, o tratamento de esgotos das
cidades e vilas localizadas nas suas margens, o controle da irrigação e a educação
ambiental. Há também ações para a melhoria das condições de vida das
comunidades ribeirinhas. O Governo Federal investiu, em 2004, R$ 26 milhões
nessas ações de revitalização do rio. Em 2005, esses investimentos para a
revitalização do rio serão de R$ 100 milhões, só na área dos Ministérios da
Integração Nacional e do Meio Ambiente. Há outros recursos: desde 1988, a Chesf
repassa, diretamente para os Estados e os municípios da Bacia do São Francisco,
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6% do seu faturamento bruto, o equivalente a R$ 90 milhões por ano. É um dinheiro
que, segundo a Lei, deve ser obrigatoriamente aplicado em ações de revitalização
do rio. De 1988 até agora, a Chesf já repassou R$ 1,350 bilhão para os municípios
sanfranciscanos. O Ministério das Cidades, por sua vez, está aplicando R$ 620
milhões em projetos de saneamento básico e/ou de abastecimento d’água em 86
municípios da Bacia. A degradação do rio, que já dura mais de 100 anos, não é uma
ação de curto prazo e nem é responsabilidade somente do Governo Federal, mas
também dos governos estaduais e municipais, que devem trabalhar juntos para o
enfrentamento do problema.
É verdade que o Rio São Francisco vai ser desviado?
Absolutamente não. Não é nada disso. O Velho Chico vai continuar no
mesmo curso que sempre teve. Só uma pequena parte do seu volume — ou seja,
apenas 1% da água que ele joga no mar — vai ser captada para garantir o consumo
humano e animal na região do semiárido nordestino, onde vivem 12 milhões de
pessoas. Não haverá nenhum problema ambiental para o São Francisco ou para
qualquer atividade econômica que hoje se desenvolve ao longo de seus 2.700
quilômetros de extensão. A quantidade de água a ser retirada é, realmente, muito
pequena.
Ainda assim, a retirada de água para perenizar outros rios não é prejudicial ao
Rio São Francisco?
Não, por várias razões. Em primeiro lugar, há disponibilidade de água no Rio
São Francisco para utilização no desenvolvimento do Polígono das Secas, assim
como se tem feito com a sua energia hidrelétrica. Em segundo lugar, e é importante
que se repita isto, a quantidade de água a ser retirada é muito pequena. A terceira
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razão é que essa captação vai ocorrer apenas em dois pontos e em locais onde a
vazão do rio já está regularizada pelas barragens, não afetando as atividades
econômicas nem a navegação. A quarta razão, é que a água a ser retirada vai ser
usada principalmente para o consumo humano, para matar a sede de milhões de
nordestinos que habitam o Polígono das Secas. Tudo isso será feito sem prejudicar
o Rio São Francisco e em clima de concórdia, pois cabe ao Governo Federal zelar
pela distribuição das oportunidades de desenvolvimento entre os irmãos brasileiros.
Os usuários do São Francisco terão prejuízos?
Não, pelo contrário, a construção desses dois canais vão fazer com que este
meu Projeto de Lei seja aprovado e implantado e, ainda porque o curso do rio não
será alterado e muito menos serão afetadas as condições hídricas e ambientais.
Com esse projeto, vai acontecer o mesmo que já acontece em centenas de outros
pontos do rio: haverá captação de água para abastecimento humano. O que muda é
a quantidade de água, um pouco maior do que é captado em cidades de médio
porte. Mas, ainda assim, a quantidade de água a ser retirada equivale a somente um
por cento do que o rio joga no mar. Além disso, há milhões de pessoas vivendo no
semiárido com muito pouca água. Quando chega a seca, muitos não têm água nem
para beber. Seria desumano ignorar essa situação dramática que aflige o Nordeste
há séculos.
Então, é uma questão de solidariedade humana?
É sim. A pequena quantidade de água que será captada do Rio São
Francisco não causará qualquer prejuízo aos seus usuários, mas terá importância
vital para milhões de nordestinos que, com suas famílias, vivem na parte mais seca
do Nordeste. A vida dessas pessoas, certamente, melhorará. Vale lembrar que a
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seca não só maltrata as pessoas e os animais, como também dilacera as famílias,
por causa da migração forçada. Os mais jovens e mais fortes vão para outras
regiões, procurar emprego para garantir a sua sobrevivência e dos seus parentes.
Ficam no sertão as mulheres, as crianças e os velhos, muitos deles tão doentes e
fracos que não têm como garantir comida e água até que chegue a ajuda dos que
foram embora, empurrados pela seca. Alguns dos que migram não voltam mais, nem
mandam notícias e suas famílias ficam destroçadas para sempre. Outros mandam
buscar os parentes e vão morar em favelas na periferia das grandes cidades, com
problemas diferentes (violência, desemprego, más condições de moradia, fome etc.),
porém até mais graves do que os que enfrentavam no sertão nordestino.
A migração por causa da seca é tão dramática assim?
É um drama pessoal e familiar que atinge centenas de milhares de
nordestinos, principalmente. A migração forçada também causa sérios problemas
para o governo federal, os governos estaduais e as prefeituras das grandes cidades,
como o inchaço das regiões metropolitanas, a proliferação de favelas, o déficit de
moradias, a insuficiência da infraestrutura básica (transporte coletivo, saneamento,
abastecimento de água, rede elétrica, escolas e hospitais), o desemprego e o
aumento da criminalidade. Ou seja, a falta de água no semiárido afeta não só quem
está lá: acaba prejudicando até quem nunca passou pelo sertão nordestino.
Há quanto tempo ocorre à migração por causa da seca?
Há mais de 150 anos. A migração do Nordeste em direção a outras regiões
do país é um movimento populacional constante e antigo, dos mais importantes no
mundo moderno. Também é volumoso, atingindo o auge nas secas prolongadas.
Dezenas de milhões de nordestinos fugiram da seca em direção ao Norte, ao litoral,
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ao Centro Oeste e ao Sudeste. Pelo menos um terço dos habitantes da Grande São
Paulo é composto por nordestinos ou descendentes de retirantes da região. Até o
presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, foi obrigado a sair de sua terra
natal com parte da família, migrando para São Paulo. Em resumo, a falta de água no
semiárido dificulta a criação de empregos e a sustentação de suas populações.
É possível impedir a migração para as grandes cidades?
Num país democrático, as pessoas têm o direito de ir e vir para onde e
quando quiserem. O que tem que ser combatida é a causa da migração forçada, que
é a falta de condições de vida digna no semiárido por escassez de água. Havendo
água, as famílias vão continuar unidas na sua terra natal, porque estará garantido o
que beber e o que comer e haverá atividade econômica, com renda e empregos.
Esse é o objetivo do projeto de integração da bacia do Rio São Francisco com as
bacias dos rios intermitentes do chamado Nordeste Setentrional, que envolve o
agreste e os sertões de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do
Ceará. A água vai permitir o desenvolvimento sustentável naquela região e só quem
quiser vai precisar ganhar a vida em outros lugares.
O que impediu, até agora, o desenvolvimento econômico do semiárido?
Foi principalmente a escassez de água, seja das chuvas, dos rios ou de
outras fontes. E sem abastecimento assegurado de água, nada vai mudar no
semiárido nordestino. O desenvolvimento de grande parte da região Nordeste está
comprometido pela escassez de água nas bacias dos rios intermitentes, o que leva a
uma condição crítica de vida humana. O Ceará, o Rio Grande do Norte e a Paraíba
não dispõem de uma fonte permanente de água, isto é, eles não têm rios perenes,
como é o São Francisco, que beneficia Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas e
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Pernambuco, e como é o Parnaíba, que beneficia o Piauí. Assim, o sertanejo fica à
espera de uma chuva que por vezes vem, permitindo-lhe garantir comida e renda
precária em alguns anos, mas nunca em quantidade suficiente para garantir
reservas para os anos secos. É um jogo de loteria com a natureza, que raramente
permite capitalizar o pequeno produtor, melhorar sua tecnologia e viabilizar a saída
da indigência. A pobreza rural perpetua-se, aumenta a dependência dos políticos e
gera contínua migração. É, ainda, uma das chagas expostas do Brasil.
Mas é legal tirar água de um rio para colocar em outro?
A Lei de Recursos Hídricos (9.433/97) determina que o Estado deve garantir
a necessária disponibilidade de água para a população, onde ela reside. Além disso,
a gestão dos recursos hídricos, embora realizada por bacias hidrográficas isoladas,
não determina os direitos de quem pode ter acesso à água, especialmente nos rios
federais, cuja água pertence a toda sociedade brasileira.
O governo entende que a integração da bacia do São Francisco às do
Nordeste Setentrional é essencial para promover a igualdade de oportunidades para
todos os brasileiros, evitando que uns sejam prejudicados, sem necessariamente
beneficiar os outros, pois existirá água para todos, ainda durante muitas décadas,
sem a necessidade de trazer água de rios de outras regiões para o Nordeste.
Como é a distribuição de água no Brasil?
A distribuição das fontes de água no país é desigual. Enquanto a Amazônia,
com cerca de 10% da população brasileira, detém 70% da disponibilidade da água
doce do País, o Nordeste, com 30% da população nacional, dispõe de apenas 3%
de toda a água doce do Brasil. Essa desigualdade é também flagrante no próprio
Nordeste. Repare: a bacia do São Francisco concentra 63% da disponibilidade de
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água da região nordestina, sendo que 95% de sua vazão vai para o mar; a bacia do
rio Parnaíba (Piauí/Maranhão) detém 15% da água disponível no Nordeste.
Portanto, essas duas bacias dispõem de 78% das disponibilidades de água
da região. Por sua vez, as bacias dos rios intermitentes nordestinos detêm apenas
22% da água disponível, os quais se concentram em alguns açudes estratégicos de
grande porte e em aquíferos profundos próximos à Zona Costeira. Em
compensação, 2/3 da população residente estimada para 2025 vivem justamente
nessas bacias deficitárias.
Qual é a gravidade desse problema?
Essa concentração de população em uma área com pouca água cria sérios
problemas econômicos e sociais. A disponibilidade hídrica per capita é inferior ao
índice crítico de 1.000 m³/hab/ano, indicado pelas Nações Unidas como o mínimo
para garantir a vida humana e a preservação ambiental. Nas bacias do São
Francisco e do Parnaíba, esse índice é da ordem de 2.000 m³/hab/ano para a
população estimada para o ano 2025. Nas bacias dos rios intermitentes, o índice já
é, hoje, inferior a 1.000 m³/hab/ano, e tende para 500 m³/hab/ano ou menos, no ano
2025. Para que haja desenvolvimento sustentável equilibrado e harmônico na
Região do Polígono das Secas, será necessário distribuir melhor a água local entre
a população, integrando as bacias superavitárias às bacias deficitárias, além de
construir os projetos de distribuição interna da água em cada sub-região. A situação
hídrica do Nordeste Setentrional é agravada, ainda, pela maior probabilidade de
ocorrência de secas, levando a crises sociais e econômicas periódicas, que
acarretam pobreza, migrações e falta de competitividade econômica.
O que é o Nordeste Setentrional?
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O Nordeste Setentrional, situado ao norte da bacia do São Francisco, engloba
os Estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, parte de Pernambuco (Agreste
e Sertão) e parte de Alagoas.
Em média, quanta água uma pessoa consome por ano?
Para viver plenamente em todos os aspectos, as Nações Unidas recomendam
um consumo de no mínimo 1.000 m³ por habitante/ano, aí considerando a água não
só para beber, mas para todos os usos sociais e econômicos que podem
proporcionar uma vida digna ao homem. Só para produzir uma tonelada de
alimentos são necessários, em média, 1.000 m³ de água. Atualmente, milhões de
pessoas no semiárido Nordestino sobrevivem com quantidades bem menores de
água, mas isso impede que as atividades econômicas se desenvolvam
normalmente, perpetuando a pobreza. Por essa razão, o semiárido nordestino é uma
das regiões mais pobres do Brasil e do mundo. Estima-se que cerca de 17,5 milhões
de nordestinos vão ter 500 metros cúbicos ao ano — ou menos — à sua disposição,
nos próximos 20 anos. Isso é menos da metade do mínimo recomendado pela ONU.
Mas uma pessoa bebe no máximo uns três litros de água por dia, não é?
É verdade, mas a água não é só para beber. Todo mundo precisa tomar
banho, cozinhar, lavar pratos, lavar roupa, dar descarga no banheiro, e assim por
diante. Quando se faz a conta, o número é bem maior do que o necessário para
beber. Além disso, na conta feita pelas Nações Unidas está incluída a água para o
cultivo dos alimentos que cada pessoa vai consumir e para a produção de todos os
itens que consome (roupas, livros, artigos industriais etc.) individualmente ou,
indiretamente, de forma coletiva.
Não existe outra solução técnica mais econômica, como os açudes?
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A água dos rios intermitentes do semiárido setentrional já é armazenada em
grandes açudes, mas investe-se muito nessas obras para disponibilizar
relativamente pouca água. Para cada m³ de água disponibilizado, perdem-se 3 m³
por evaporação e vertimento (sangramento) nos açudes. Ou seja: é preciso represar
4 m³ para usar apenas um. Além disso, não há mais a possibilidade de guardar água
nas bacias com novos açudes. O que poderá ocorrer, em muitas bacias, é que a
construção de novos açudes necessários para distribuir água no território acabará
causando mais perdas de água por evaporação, reduzindo a água disponível no
conjunto da bacia.
E os poços?
A opção pela captação de água em lençóis subterrâneos por meio de poços é
viável, mas limitada ao volume renovável e só pode ser feita basicamente nos
terrenos sedimentares permeáveis, que ocorrem em apenas cerca de 30% do
Polígono das Secas, e de forma concentrada na zona costeira e no Estado do Piauí.
Setenta por cento do semiárido, portanto, não contam com essa opção, pois o
terreno é pedregoso e não permite a infiltração de água. Há outras limitações, entre
as quais a qualidade da água, muitas vezes com alto teor de sais e outros minerais,
o que a torna imprópria para o consumo humano ou mesmo para irrigação.
E as cisternas?
A coleta de água da chuva em cisternas garante água para beber no meio
rural, para a população dispersa, para a qual, em geral, não se viabilizam longas
adutoras, de alto custo, para atender a poucas pessoas. As cisternas, entretanto,
não produzem modificações estruturais nem a inserção econômica da população
rural nas condições modernas de vida.
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O uso de cisternas é válido numa conjuntura emergencial, mas muito precário
se for a única fonte de água permanente. Para abastecer uma cisterna, é preciso
uma área adequada de telhado, onde se faz a captação da água. Em muitos
lugares, nem sempre existem áreas telhadas suficientes para manter as cisternas
cheias, porque chove pouco. E nas secas prolongadas, a cisterna é um recurso que
pode esgotar-se. Em resumo, apenas construir cisternas não resolve a questão
principal, embora alivie a vida dos pobres dispersos no meio rural do sertão.
Pesquisas feitas no semiárido mostram também outro problema grave: a
contaminação das cisternas por coliformes fecais e outras fontes de poluição.
O nordestino da região semiárida depende mesmo do Velho Chico?
Também. E muito. A solução dos problemas crônicos do semiárido depende
de fato de seu principal manancial hídrico, que é o Rio São Francisco, embora
outras fontes de água possam ajudar. Ainda assim, essas fontes não substituem o
Velho Chico, que deve ser o manancial complementar da região, na medida das
necessidades de cada área, porque é a fonte hídrica mais próxima e de grande
volume.
A solução, então, é fazer mesmo a integração do Rio São Francisco com as
bacias hidrográficas do semiárido nordestino?
Sim, mas, concomitantemente a isto, a integração do Rio Tocantins ao Rio
São Francisco, de acordo com o meu Projeto de Lei já aprovado pela Comissão
Especial presidida pelo vice-presidente José Alencar, coisa que ainda está
demorando muito. Isso ocorrendo, o Rio São Francisco suportará todos os
problemas de falta de água na região nordeste. Outra coisa é que há um grande
desequilíbrio entre a oferta de água e a população residente no Polígono das Secas:
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a bacia do São Francisco tem 70% da água e 21% da população do Polígono; já as
bacias dos rios intermitentes nos diferentes Estados oferecem apenas 20% da água,
mas concentram 70% da população da região.
Para resolver esse desequilíbrio no Polígono das Secas, a melhor alternativa
é fazer a integração do São Francisco com os rios intermitentes existentes nos
limites de sua bacia hidrográfica, situada próxima e equidistante dos principais rios
do semiárido. Se, de um lado, existe um grande rio a ser cuidado para manter-se
saudável, de outro existem rios que nem vivos são só existem como fantasmas,
quando e onde chove de forma imprevisível no semiárido. Eles ressuscitam, por
pouco tempo, nas estações das chuvas, mas logo, com a chegada do período de
estio, seus leitos se tornam secos, de novo.
O que mudou no projeto atual em relação às propostas anteriores?
Mudou muita coisa. Em 1985, o projeto de transposição apresentado pelo
DNOS previa a captação, em um único canal, de 300 m³/s destinados à irrigação.
Esse projeto não previa a revitalização do Rio São Francisco, mas apenas a sua
integração com os açudes Castanhão, no Ceará, e Armando Ribeiro Gonçalves, no
Rio Grande do Norte. Em 1994, outra proposta, do então Ministério da Integração
Regional, previa a captação de 150 m³/s, também para a irrigação e em um único
canal, sem revitalização do Velho Chico, integrando os açudes Castanhão, Armando
Ribeiro Gonçalves e Santa Cruz. No ano de 2000, o Ministério da Integração
Nacional apresentou uma proposta de captação de 48 m³/s em dois canais, para uso
múltiplo, também sem prever a revitalização do Rio São Francisco e integrando os
açudes Castanhão, Armando Ribeiro Gonçalves, Santa Cruz, Epitácio Pessoa,
Engenheiros Ávidos, Poço da Cruz e Entremontes, e beneficiando uma população
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50% maior do que a dos projetos anteriores. Outros 15 m³/s seriam destinados à
irrigação no próprio vale do São Francisco. O atual projeto vai captar apenas 26
m³/s, de forma contínua, e excedentes quando houver vertimento da barragem de
Sobradinho. O projeto beneficiará até 12 milhões de pessoas em seis bacias
hidrográficas, integrando os mesmos açudes constantes da proposta anterior.
Haverá, também, e ao mesmo tempo, a revitalização do Rio São Francisco, cujas
ações já começaram. Como se vê, diminuiu substancialmente a quantidade de água
a ser agora captada, e o governo já está investindo na revitalização do Velho Chico,
o que é muito importante.
A integração de bacias hidrográficas já foi testada em outros países?
Ela tem sido adotada em inúmeros países como África do Sul/Lesoto, Egito,
Equador, Peru, China, Espanha e EUA, interligando bacias superavitárias às bacias
deficitárias. No Brasil, essa mesma tecnologia é usada em grandes sistemas de
abastecimento de água em regiões metropolitanas (exemplos: São Paulo, Rio de
Janeiro, Fortaleza e Brasília).
Como é usada a água nos países que fizeram a integração de bacias?
Nessas regiões e países, o padrão típico de uso da água é de 70% na
agricultura irrigada e 30% em outros usos (urbanos, industriais). Esse padrão típico
é recomendável também para o desenvolvimento sustentável do Nordeste, porque
viabiliza a geração de emprego e renda no interior, dando sustentabilidade
econômica e social à população residente.
A retirada da água do rio pode trazer prejuízos econômicos para os Estados
de Minas Gerais, Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco, como se alega
frequentemente?
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Não haverá prejuízos econômicos ou ambientais para os Estados banhados
pelo Rio São Francisco, ressalvando uma pequena redução da geração de energia
nas usinas da Chesf, o que não causará o menor problema, uma vez que o Nordeste
está interligado ao sistema nacional de distribuição de energia. No caso de Minas
Gerais, por exemplo, a captação de água ocorrerá centenas de quilômetros depois
de o rio ter deixado o território mineiro. A primeira captação será feita após a
barragem de Sobradinho, na divisa entre a Bahia e Pernambuco, num trecho cuja
vazão já está regularizada por essa represa, o que também afasta o risco de afetar a
navegação, os projetos de irrigação ou o abastecimento das cidades ribeirinhas dos
dois Estados.
A segunda captação será feita no lago de Itaparica, também na divisa entre
Bahia e Pernambuco, onde não causará qualquer impacto econômico ou ambiental.
Os Estados de Alagoas e Sergipe não serão afetados, porque a vazão do rio nesses
Estados é plenamente regulada pelas represas da Chesf, que alterou as condições
originais do rio próximo da foz. É importante destacar um aspecto relevante: as duas
captações representarão apenas 26 m³/s.
Quantas pessoas serão diretamente beneficiadas pela integração das bacias?
A população residente na área beneficiada pelos dois eixos da transposição é
de 12 milhões de habitantes, sendo cerca de 5,5 milhões no Eixo Norte e 3,5
milhões no Eixo Leste. O total representa 30% da população do Polígono das Secas,
sendo 50% maior que a população residente na bacia do São Francisco dentro do
Polígono.
Existe um plano de gestão para o Rio São Francisco?
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O Plano Plurianual do Governo Federal 2004/2007 priorizou inúmeras ações
no setor hídrico para a Região Nordeste, com extensão prevista até o ano 2015. O
Plano é composto de quatro grandes ações: (1) a Integração de Bacias do Nordeste;
(2) a Revitalização Ambiental da Bacia do São Francisco; (3) os Projetos de
Irrigação na Região; e (4) o Proágua, que visa o suprimento urbano.
Como será feita a integração das bacias?
Dois canais serão construídos — um na direção Norte, que demandará ao
Ceará e o Rio Grande do Norte, outro na direção Leste, que levará água para
Pernambuco e Paraíba, beneficiando as áreas mais carentes do agreste e dos
sertões desses quatro Estados. Essas áreas têm como característica geológica a
predominância de terrenos cristalinos (70% de área), onde não é possível
armazenar água subterrânea de forma permanente nem desenvolver a açudagem
intensiva, uma vez que poucos novos açudes de porte significativo podem ser ainda
viabilizados. Nessas áreas, a potencialidade hídrica dos rios intermitentes já foi
transformada em disponibilidade garantida, ao longo do último século, o que permitiu
a vida, embora precária, de uma população de 14,6 milhões de habitantes no
Polígono das Secas (censo de 2000). Significa também que o Nordeste Setentrional
detém mais de 50% da população do Polígono. Em contrapartida, a soma das
vazões regularizadas garantidas por todos os açudes significativos do Nordeste
Setentrional representa apenas cerca 5% da vazão garantida no rio São Francisco
pela barragem de Sobradinho.
Onde vão ser feitas as obras de integração?
Os eixos de obras de integração de bacias planejados são: o Eixo Leste, que
integrará o lago da Barragem de Itaparica, no rio São Francisco, com os rios Paraíba
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(PB) e Ipojuca (PE), beneficiando regiões populosas e com baixa disponibilidade
hídrica; e o Eixo Norte, que sairá do rio São Francisco, próximo à cidade de Cabrobó
(PE), e levará água até as bacias dos rios Jaguaribe (CE), Piranhas-Açu (PB/RN) e
Apodi (RN).
Por que vão ser construídos canais e não adutoras?
O volume de água variável a ser transportado é inadequado para o uso de
adutoras. Nesse projeto, a construção de canais é melhor, tanto do ponto de vista
técnico, quanto do econômico.
Mas nos canais não ocorre maior evaporação da água?
A evaporação da água durante seu transporte até o local onde será
armazenada e distribuída é pouco relevante, não justificando a opção pelo uso de
adutoras. A evaporação preocupa, apenas, quando a água fica armazenada em
grandes superfícies, por largos períodos. Aí sim, ocorrem perdas expressivas. Com
a integração, essas perdas que hoje ocorrem nos açudes serão minimizadas em até
50%, porque os açudes vão operar menos cheios, não precisando guardar tanta
água à espera de uma seca prolongada, frequente e imprevisível. Havendo água do
Rio São Francisco para assegurar o suprimento dos usos prioritários, as águas
armazenadas nos açudes poderão ser gastas com maior liberdade no suprimento
das demandas econômicas, como as agrícolas, gerando emprego e renda na
produção.
Então a água do rio vai abastecer açudes do semiárido?
A integração do São Francisco com os açudes estratégicos do Nordeste
Setentrional viabilizará uma nova regra operacional para essas barragens, que
poderão operar de forma mais planejada. Ou seja, em vez de guardar água para um
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futuro distante, esperando uma seca prolongada (que ocorre com frequência na
área), poderá disponibilizar mais água para o uso social e econômico. Isso porque,
em caso de seca, haverá sempre transposição de parte do volume retido em
Sobradinho para os açudes, garantindo os usos mais prioritários da água. O projeto
de integração de bacias significa um novo sistema de gestão da água no semiárido,
com economia futura significativa de águas locais dos rios intermitentes.
Quanta água será retirada do rio São Francisco?
Será retirada uma vazão constante de 26 m³/s, correspondente ao consumo
humano e animal, mais um excedente médio de 63 m³/s sempre que Sobradinho
estiver cheio ou vertendo.
A que altura que a água será bombeada?
No Eixo Norte, o bombeamento da água vencerá uma altura de 160 metros.
Uma vez atingido o divisor topográfico de águas entre bacias, o canal seguirá por
gravidade (sem bombeamento), gerando energia elétrica no percurso até a calha
dos rios intermitentes. Como resultado, o bombeamento equivalente será similar ao
bombeamento dos projetos de irrigação do Vale do São Francisco. O custo da água
no Eixo Norte, em termos operacionais, será inferior ao do Eixo Leste e, com o
ganho de água decorrente da economia de parte das perdas por evaporação nos
açudes receptores, haverá viabilidade do uso múltiplo da água.
E no Eixo Leste?
No Eixo Leste, a altura de bombeamento é mais elevada (300 metros para a
Paraíba e 500 metros para o Agreste Pernambucano). A água terá utilização no
setor urbano, onde a capacidade de pagamento viabiliza a sua transferência.
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E entre a proposta e sua efetivação muitas intercorrências têm contribuído
para que a busca por concretizá-la tenha ganhado corpo de tempos em tempos.
Assoreamento, desmatamento ciliar, represamento das águas em barragens
e hidrelétricas, recepção de toneladas de dejetos de esgotos das cidades ribeirinhas,
desvalorização das técnicas de preservação ambiental são fatores altamente
contraproducentes.
Da nascente à foz, o Rio São Francisco percorre 2.700 quilômetros, cortando
cinco Estados da Federação (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e
Alagoas). Sua Bacia engloba área de 634 mil quilômetros quadrados, abrangendo
também parte do Estado de Goiás e o Distrito Federal.
Quarto maior rio da América do Sul, recebe águas de 168 afluentes, variáveis
em largura e que secam de acordo com a época do ano, e serve às populações de
504 municípios ribeirinhos, grandemente responsáveis pelos problemas ambientais
enfrentados.
Da grandiosa obra de transposição, iniciada em 2007, ainda não há o que
comemorar. A previsão de entrega já foi alterada de 2012 para 2015 sob várias
justificativas: diferenças entre os contratos firmados, adaptações do projeto em
razão da ausência de projetos executivos, sendo que o custo inicial total, de 4,8
bilhões de reais, saltou para 8,2 bilhões.
De acordo com O Globo, apenas dois terços de todo o projeto estão prontos,
e a água, efetivamente, circulou em menos de dez quilômetros dos ramais, não
tendo avançado das estações de bombeamento.
Essas as razões para o Governo Federal considerar outras formas de
“garantir segurança hídrica aos moradores do semiárido, entre elas a de integrar a
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Bacia do Tocantins à Bacia do Rio São Francisco”, na forma do declarado pelo
Ministério da Integração Nacional (MI) e relatado pelo jornal carioca.
Prevê-se a intervenção no município tocantinense de Palmeirante, levando-se
as águas dali, pelo Maranhão, até o reservatório baiano de Sobradinho. A próxima
etapa é o reservatório de Itaparica, onde se inicia propriamente a transposição para
o semiárido.
Ora, a ideia do Governo Federal não é a mesma baseadora do meu projeto,
que propõe interligação capaz de garantir a navegabilidade e a regularização do
nível das águas do São Francisco?
A construção de um canal de duzentos quilômetros de extensão entre o Rio
Tocantins e o Rio Preto, na Bahia, dará suporte ao tráfego hidroviário no São
Francisco, permitindo o escoamento das cargas da Ferrovia Norte-Sul para o Porto
de Suape, no Recife, e Pecém, no Ceará.
É preciso lembrar que tal modalidade de transporte também deverá
contemplar a produção das populações ribeirinhas do Velho Chico, sob pena de, em
caso contrário, relegar-se grande quantidade de brasileiras e brasileiros, ao
abandono e à miséria.
Lamentavelmente, há hoje trechos do Velho Chico que podem ser
atravessados a pé. Faz-se urgente, pois, que as bacias nordestinas sejam
abastecidas com água em abundância, e não há que esperar apenas pelas chuvas,
nada amigáveis nos últimos tempos.
Nesse contexto, a integração entre os rios São Francisco e Tocantins não se
pode mais fazer esperar, em especial se compararmos a vazão média deles que é,
respectivamente, de 2.800 e 11.000m³/segundo! Só que o Rio Tocantins sempre
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mantém essa vazão de 11.000m3/segundo, enquanto o Rio São Francisco, em razão
das constantes secas na sua cabeceira, varia para baixo. Agora está com menos de
1.000m3/segundo.
Como consta da justificativa do projeto de lei por mim apresentado, a
proposta não configura apenas uma tarefa parlamentar, mas contempla questão que
deve ser resolvida, a fim de se oferecer sentido à fecundidade da terra, do trabalho
para a riqueza do homem, para o Nordeste, dádiva primeira do Rio São Francisco.
Em cenário de escassez crescente de recursos energéticos e de necessidade
de aproveitamento racional das vias navegáveis no interior do País, a proposta
certamente fortalecerá o equilíbrio no desenvolvimento socioeconômico local, com
repercussão nas condições de competitividade do mercado.
Voltando à matéria de O Globo, Sras. e Srs. Parlamentares, que resume a
grave situação em que se encontra o Velho Chico, de acordo com o Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio São Francisco, 146 municípios já decretaram situação de
emergência e calamidade pública em razão da seca em Minas Gerais. Mencionou-
se, inclusive, propor a redução da vazão no reservatório de Três Marias, a fim de
evitar o atingimento do volume morto.
A transposição das águas que correm em Pernambuco para os Estados da
Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, de acordo com o cronograma inicial, já
deveria estar levando o precioso líquido pelo menos às cidades do interior cearense,
o que ainda não ocorreu.
A estimativa do Governo Federal de beneficiar doze milhões de pessoas, em
390 municípios dos Estados diretamente envolvidos, mediante o término das obras,
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só acresce a urgência de sua conclusão, uma vez que a crise hídrica no Nordeste é
problema de natureza crônica a castigar a população há muito tempo.
Parte integrante da Política Nacional de Recursos Hídricos com o pomposo
título de Projeto de Integração do Rio São Francisco, a transposição do Opará —
“rio-mar” em linguagem indígena — engloba a construção de quatro túneis, catorze
aquedutos, nove estações de bombeamento e 27 reservatórios.
É mesmo grandioso!
Contudo, neste momento de escassez das águas, meu projeto de interligação
do Rio Tocantins não pode ser desprezado, tampouco executado sem que se
mencione a ação legislativa em sua direção.
Sras. e Srs. Deputados, os Poderes da República não foram constituídos para
a competição, mas para conviver de maneira interdependente.
Como discursei desta Tribuna, logo após o resultado das eleições
presidenciais de 2014 e, integro a bancada de oposição ao governo, contudo, jamais
me posicionarei de forma inconsequente, porque quero o bem do meu País.
Minha oposição será consistente, ativa, permanente, mas em benefício da
discussão absolutamente democrática de ideias e da busca de soluções que
contemplem a inclusão social, a geração de emprego e renda, enfim, a felicidade
dos brasileiros.
A transposição do Rio São Francisco é empreitada gigantesca, é verdade.
Mas não é a primeira a ser realizada no mundo. Não à toa que Índia, China e Antigo
Egito eram chamadas civilizações hidráulicas, dadas as obras que realizaram na
forma de captação das águas, seja pelo represamento, seja pelo traslado entre rios.
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Na verdade, trata-se da maior obra de infraestrutura hídrica do Brasil, uma
entre as cinquenta maiores construções de infraestrutura em execução no mundo,
como consta da página eletrônica do Ministério da Integração Nacional.
Quando está em jogo a sobrevivência do homem, as técnicas de resgate
devem ser aprimoradas e colocadas a seu serviço, com respeito ao princípio da
sustentabilidade, é claro.
A garantia de oferta de água é decisiva para o desenvolvimento dos Estados
brasileiros tradicionalmente mais vulneráveis à seca, e a interconexão entre as
bacias existentes no Nordeste e o São Francisco devem, e merecem, contar com o
aporte desse bem tão precioso, e que o Tocantins pode lhes prover.
Quem sabe assim o Velho Chico, de maneira inequívoca, finalmente cumpra
a missão que lhe valeu a alcunha de Rio da Integração Nacional.
Não sou profeta da catástrofe, muito menos do pessimismo. A transposição
do Rio São Francisco é tarefa das mais árduas e pode ser surpreendente.
Trabalhemos, Poder Executivo e Legislativo, juntos, pelo desenvolvimento desta
Nação.
Defendo esse posicionamento há muito tempo. Quero apenas o melhor, para
o Rio São Francisco, e para o Brasil!
Como citado anteriormente, registrado nos anais desta Casa Legislativa o
Projeto de Lei nº 250/1995, para incluía no Plano Nacional de Viação, aprovado pela
lei nº 5.917, de 10 de setembro de 1973, a implantação de Bacias, interligando o Rio
Preto, na Bahia e o Rio Tocantins, destinada a assegurar a navegação desde o Rio
São Francisco ao Rio Amazonas, faltando água no Rio São Francisco, até para a
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irrigação de projetos em suas margens, nenhuma autoridade de preocupou em
agilizar a sua aprovação e implantação.
Durante todos esses anos esse projeto ficou esquecido e a Mesa Diretora
desta Casa Legislativa não deu a importância que ele merecia e merece.
Não foi minha surpresa quando na edição do dia 27 de setembro, o jornal O
Globo, trouxe uma matéria intitulada: “Águas do Rio Tocantins podem ser usadas
para abastecer o São Francisco”, inclusive comunicando a intenção do governo
federal de estudar e executar esse meu projeto.
A referida matéria explicita:
Águas do rio Tocantins podem ser usadas para
abastecer o São Francisco. Governo estuda projeto;
nascentes estão secas por conta da falta de chuva na
região.
Com a redução de águas em praticamente toda a
Bacia do São Francisco, agravada pela seca severa nas
nascentes em Minas Gerais, o governo já estuda levar
águas do rio Tocantins para ajudar a abastecer o
megaprojeto de transposição para o semiárido. As obras
de transposição do São Francisco, que deveriam ter
terminado em 2012, já custam R$ 8,2 bilhões e ainda falta
cerca de um terço (64,6% estão prontas). A água correu
menos de 10 km em cada canal e não passou das
estações de bombeamento.
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O Ministério da Integração Nacional confirmou ao
GLOBO que analisa, no Programa Nacional de Segurança
Hídrica, “alternativas para garantir ainda mais segurança
hídrica aos moradores do semiárido, entre elas a de
integrar a Bacia do Tocantins à Bacia do Rio São
Francisco”, mas não deu detalhes.
O principal projeto prevê a retirada da água na
altura do município de Palmeirante (TO). A água sairia
pelo Maranhão até o reservatório de Sobradinho (BA),
onde estão as principais barragens do Velho Chico. É
perto dali, no reservatório de Itaparica, que começa a
transposição para o semiárido. O trajeto evita a região do
Jalapão, cujo projeto já foi considerado ambientalmente
inviável, por atingir as nascentes do Tocantins.
Em setembro passado, começou a tramitar na
Câmara dos Deputados como parte do “Plano Nacional de
Viação” um projeto do deputado Gonzaga Patriota (PSB-
PE). Procurado pelo GLOBO, Patriota afirmou que não
tem outra alternativa para concretizar a transposição das
águas do Rio São Francisco senão usando águas do
Tocantins e que foi chamado pelo Ministério da Integração
para discutir o tema. O objetivo do projeto era fazer uma
hidrovia, mas o texto diz que “no caso de escassez de
água no rio São Francisco, teremos condições de reserva
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de parte das águas do rio Tocantins, para o rio São
Francisco”.
— A nascente secou e isso fez cair a ficha de
todos, mas a Bacia do São Francisco está castigada. É
preciso repensar os usos das águas do Rio São Francisco
— afirma o vice-presidente do Comitê, Wagner Soares
Costa.
Segundo Costa, 146 municípios da Bacia do São
Francisco já decretaram situação de emergência e
calamidade pública devido à seca em Minas. O Comitê vai
pedir redução da vazão no reservatório de Três Marias,
para evitar que ele atinja o volume morto em outubro. Os
municípios terão que alterar sistemas de captação de
água e o custo deverá ser arcado pela Defesa Civil.
A seca tornou urgente a discussão sobre o rio São
Francisco. Com os eventos climáticos, a tendência é que
o semiárido fique ainda mais seco. O governo federal já
iniciou estudos para mapear e acompanhar áreas de
desertificação no Nordeste. O rio já perdeu de 30% a 40%
de seu caudal.
Demanda por água ampliada
A Articulação São Francisco Vivo ressalta que “a
crise hídrica se deve também e principalmente aos
múltiplos, crescentes e conflitantes usos de suas águas,
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matas, solos e subsolos, decorrentes do modelo
econômico predatório; agravou-se de tal forma que os
danos e riscos aumentam e assustam”. Na semana que
vem, a entidade pedirá moratória para o rio São Francisco
aos ministérios públicos dos estados cortados por ele. O
objetivo é rever usos antes que seja iniciada outra
megaobra.
— Temos que evitar uma obra em cima da outra.
Todos os programas do governo só ampliam a demanda
de água do rio, mas sem pensar na conservação e na
equação de uso — diz Roberto Malvezzi, da Articulação
São Francisco Vivo.
Fico muito feliz que as autoridades do governo federal enfim atentaram para a
importância desse meu projeto que garantirá a navegabilidade e a regularização do
nível das águas do São Francisco. A execução desse projeto é indispensável. Não
se pode falar em transposição do São Francisco sem garantir a regularização do
nível do rio. A proposta aguarda, atualmente, a designação de relator na Comissão
de Viação e Transportes (CVT).
Estimado em aproximadamente R$ 1 bilhão, o projeto prevê a construção de
um canal, com cerca de 200 quilômetros de extensão, entre o rio Tocantins, no
Centro-Oeste, e o rio Preto, que corta os municípios a Oeste da Bahia. O tráfego
hidroviário do Rio São Francisco será feito pelo canal dos rios Preto, Tocantins e
Amazonas, facilitando, inclusive, o transporte das cargas da Ferrovia Norte-Sul para
o Porto de Suape, no Recife.
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Gostaria de lembrar que essa proposta foi entregue ao relator do Grupo de
Trabalho de Transposição do São Francisco, então deputado Marcondes Gadelha
(PFL/PB). Em 1987, a ideia foi apresentada à Câmara Federal. O plano ficou
engavetado e só no ano de 1995 chegou a receber pareceres favoráveis das
Comissões de Viação e Transporte e de Constituição e Justiça.
Há que se reconhecer à viabilidade deste projeto desde que, no livro clássico
de Geraldo Rocha “O Rio São Francisco, precípuo para o desenvolvimento do
Brasil”, publicado em 1940, numa antevisão genial, já aventava com a possibilidade
da abertura de um canal para o rio São Francisco, vindo do rio Tocantins.
Acredito que sem transporte hidroviário e água suficiente capazes de
estabelecer o fluxo de produção dos ribeirinhos são franciscanos, teremos uma
pletora de homens inertes por culpa única e exclusiva dos poderes públicos que não
zelam pela realidade socioeconômica e cultural do povo nordestino.
Este Projeto de Lei é mais do que uma tarefa parlamentar, é uma questão que
deve ser resolvida para dar sentido à fecundidade da terra, do trabalho para a
riqueza do homem, para o Nordeste, dádiva primeira do rio São Francisco.
Os 61 reservatórios localizados no Semiárido estão com apenas 14,6% da
sua capacidade de armazenamento. O açude de Poço da Cruz (em Ibimirim, no
Sertão) - o maior do Estado - está operando com apenas 10,8% do seu volume total.
Vem sucumbindo ao longo dos últimos anos. Entre 2012 e 2014 o volume
armazenado caiu pela metade. A situação se repete com a Barragem de Jucazinho,
maior reservatório do Agreste. “É necessário um volume de chuvas significativo para
recompor a capacidade dos açudes”, afirma o analista de Recursos Hídricos da
Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC), Rony Melo.
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Ainda que o horizonte para 2016 seja menos perverso, o caminho de
recuperação da agropecuária é longo. A participação do setor no Produto Interno
Bruto (PIB) do Estado despencou por conta da seca. Em 2011 (primeiro ano da
estiagem), ainda manteve taxa de crescimento de 3,7%. No ano seguinte,
entretanto, houve um baque de 15%. Seguido de mais uma retração forte, de 7,2%,
em 2013; 9,3%, em 2014 e, 14,65, neste ano de 2015. Segundo os dados mais
recentes compilados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os
números dão a dimensão do desafio.
A estiagem se prolonga, mas as ações emergenciais arrefeceram e os
projetos de obras estruturantes estão longe de alcançar as metas projetadas. O
governo federal se comprometeu a investir R$ 16,6 bilhões no enfrentamento à
estiagem e garante já ter aplicado R$ 12 bilhões (72%), nos últimos dois anos.
Desse total, Pernambuco teria recebido R$ 2,3 bilhões (19%).
Em abril do ano passado, ano de eleição, a presidente Dilma Rousseff
anunciou, na presença dos governadores nordestinos, a ampliação de medidas no
combate à seca. O reforço previa expansão dos programas Bolsa Estiagem,
Garantia-Safra e Operação Carros-Pipa, além de aumento das linhas emergenciais
de crédito, renegociação de dívidas agrícolas e venda de milho subsidiada.
Algumas ações emperraram e ficaram muito aquém das metas. O aumento de
30% na oferta de carros-pipa não foi alcançado. A previsão era chegar a 10.916
veículos, mas o número não passou de 8.215 (um déficit de 2.701). Hoje, esse
número está distante de ser uma realidade. Os agricultores reclamam que os carros
com a logomarca do Exército e do governo do Estado escassearam. Indagado, o
Ministério da Integração Nacional informou dados gerais de contratação, mas não
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atualizou o montante de veículos em operação, nem respondeu os questionamentos
sobre uma suposta redução da frota.
Outras importantes obras ainda se arrastam, a exemplo da Adutora do
Agreste que têm o objetivo de melhorar a qualidade de vida da população do
semiárido nordestino. Quando concluídas, elas ampliarão o alcance de
abastecimento do Projeto de Integração do Rio São Francisco, no agreste de
Pernambuco. O chamado Ramal do Agreste levará água do reservatório de Barro
Branco até o reservatório Ipojuca para a Adutora do Agreste pernambucano. A
adutora garantirá água potável a mais de dois milhões de habitantes de 68
municípios.
Outra obra hídrica do Nordeste que merece destaque é a construção do
Sistema Pirapama que abastecerá a capital pernambucana. O sistema Pirapama se
torna realidade 23 anos depois da apresentação de seu projeto executivo. Quando
estiver em plena operação, será responsável por um incremento de 48% na oferta
de água tratada da Região Metropolitana do Recife, onde vive 40% da população de
Pernambuco. Será o fim de duas décadas de rodízio no fornecimento de água nos
domicílios, beneficiando 3,5 milhões de moradores.
O Grande Recife conta hoje com uma oferta de água de 11m3/s. Depois de
Pirapama, essa oferta passará a ser de 16,13m³/s. O volume de recursos investidos,
de empregos gerados e de intervenções de engenharia civil executadas, credenciam
Pirapama como uma das maiores intervenções hídricas no País.
Entre dinheiro federal e estadual, foram investidos R$ 570 milhões e criados
aproximadamente 10 mil empregos diretos e indiretos em três anos e meio de
trabalho intenso. Há seis meses, no auge do ritmo da construção, a obra contava
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com dois mil trabalhadores diretos. Hoje, faltando pouco menos de 5% do projeto a
ser executado, conta com 600 trabalhadores.
A construção foi tocada em 13 frentes diferentes. Inclui a edificação de nova
captação na Barragem de Pirapama − que armazena 62 milhões de metros cúbicos;
uma estação elevatória de água bruta; uma adutora de água bruta de 3,5
quilômetros de extensão e uma Estação de Tratamento de Água (ETA) com vazão
de 5,13 m³/s.
Também está em construção uma adutora de água tratada com extensão de
19,3 quilômetros, três subadutoras com 4,8 quilômetros e três reservatórios no
município do Cabo de Santo Agostinho, na comunidade de Ponte dos Carvalho —
distrito do Cabo — e no bairro do Jordão, zona Sul do Recife. Juntos, eles têm
capacidade de armazenar de 120.500m3.
O coração do sistema Pirapama fica no Cabo de Santo Agostinho − município
distante 39 quilômetros do Recife, ainda nos limites da Região Metropolitana − onde
estão o reservatório, a estação elevatória e a ETA. O ponto final do eixo principal é o
reservatório do Jordão, de onde a água é distribuída para o sistema de
abastecimento público.
De 1988, quando se deu a apresentação do projeto, até hoje, a obra foi
executada a conta-gotas. A escassez de recursos para investimento em projetos
hídricos fez com que a primeira etapa do sistema Pirapama, a barragem, ficasse
pronta só em 2001 ao custo de R$ 20 milhões. Mas faltava toda a estrutura de
tratamento, adutoras e reservatórios orçados em R$ 550 milhões.
Esta etapa só começou a sair do papel em 2007, quando o governo de
Pernambuco assinou um convênio com o Ministério da Integração Nacional e o
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Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assegurando R$
284 milhões para investimentos em obras hídricas no Estado. Desse total, R$ 273
milhões foram para Pirapama. Os R$ 277 milhões restantes saíram dos cofres
estaduais e da Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA), empresa
pública estadual responsável pelo abastecimento de água, a quem coube licitar,
acompanhar e fiscalizar a execução da obra.
Tão logo foi concluída a licitação, vencida pelo consórcio Queiroz
Galvão/Norberto Odebrecht/OAS, os trabalhos iniciaram-se pela construção da
estação elevatória. Em seguida vieram à estação de tratamento e a adutora. Uma
das primeiras preocupações dos engenheiros da COMPESA foi atingir o nível zero
de perda d'água na adutora e subadutoras, e conseguir o máximo de durabilidade
das tubulações. “Os níveis de perda no nosso sistema sempre foram acima de 50%.
Não queríamos repeti-lo nesse novo projeto”, afirma o secretário estadual de
Recursos Hídricos, o engenheiro João Bosco de Almeida.
Para enfrentar o problema, ficou estipulado no edital de licitação que a
empresa vencedora deveria verificar as soldagens dos tubos das adutoras com um
aparelho de ultrassom. “O aparelho verificava no final da soldagem se havia alguma
falha. Podia ser uma bolha provocada pela entrada de ar durante a soldagem ou
mesmo algum ponto de resistência à passagem da água que provocaria desgaste
futuro na tubulação. Quando o problema era detectado, todo o trabalho era refeito”,
explica João Bosco. “Hoje temos 95% do sistema Pirapama pronto, uma parte em
funcionamento, e nosso nível de perda é zero”, acrescenta.
Já quanto à resistência das tubulações, a COMPESA optou por exigir do
consórcio construtor que o revestimento interno e externo dos tubos fossem
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executados com o esmalte Coaltar-enamel. “Além disso, em alguns pontos da
tubulação é injetada corrente elétrica para minimizar a ação corrosiva do oxigênio”,
informa o superintendente de obras da COMPESA, o engenheiro Judas Tadeu Alves
de Souza, responsável pelo acompanhamento da execução do projeto.
Feita a opção pela técnica de soldagem e o tipo de revestimento, a
COMPESA se deparou com um impasse com o Tribunal de Contas da União (TCU)
e o Tribunal de Conta do Estado (TCE). A estatal optou por entregar à empresa
vencedora da licitação a responsabilidade pela compra da tubulação e pelo serviço
de soldagem das conexões. Mas os dois órgãos de controle entendiam que deveria
haver duas licitações, uma para compra do material e outra para a prestação do
serviço.
“Se fosse assim, a obra demoraria muito. Porque a cada falha encontrada, a
construtora colocaria a culpa na fornecedora de material e vice-versa. Haveria uma
discussão em torno de responsabilidade que paralisaria o trabalho até se apontar o
responsável”, justifica João Bosco de Almeida. TCU e TCE liberaram a construção
acatando os argumentos do secretário.
Nos 22,8 quilômetros de adutora foram utilizados 1,9 mil tubos de aço com 12
metros de extensão. Segundo o secretário de Recursos Hídricos, João Bosco de
Almeida, eles foram adquiridos no interior de São Paulo e transportados em
caminhões até o canteiro de obras. “Foram quase mil viagens de carreta
percorrendo uma distância de 2 mil quilômetros (São Paulo-Pernambuco), porque
cada uma trazia no máximo dois tubos”, diz.
Com a obra em andamento, todo o trabalho de soldagem foi realizado nas
margens das valas escavadas para abrigar a adutora, próximas do acostamento da
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BR-101. Dois guindastes ficavam de prontidão para colocá-los no local, tão logo a
soldagem fosse concluída e aprovada por uma equipe da COMPESA. Os tubos
eram suspensos e colocados de dois em dois.
Praticamente todo o trajeto da água oriunda da barragem de Pirapama para
reforçar o sistema de abastecimento do Grande Recife é feito por gravidade, graças
à topografia da região. Apenas na primeira fase dessa viagem, da estação elevatória
à ETA, é necessário impulso de motores. Para dar vazão a 5,13m3/s, a estação
elevatória foi dotada de seis conjuntos de motores de 1,6 mil cavalos de potência
cada. A previsão, quando o sistema estiver em pleno funcionamento, é que cinco
deles funcionem e um fique de reserva, como garantia caso haja alguma falha no
sistema.
Os motores são fabricados pela empresa KSB, de origem alemã, e custaram
R$ 400 mil cada um. A COMPESA prevê um gasto de R$ 680 mil por mês com
energia elétrica consumida pelos motores e instalou uma subestação de energia ao
lado da estação elevatória com capacidade de transmitir 10 mil kVA, suficiente para
alimentar uma cidade de 80 mil habitantes.
Depois de passar pela ETA, a água segue por gravidade. O eixo principal da
adutora tem 19,3 quilômetros de extensão com tubulação de 1,88 metro de
diâmetro, que suporta a passagem de 5,13 m³/s. Essa tubulação conduz a água até
o reservatório do Jordão.
No meio do caminho, a água da adutora alimenta três subadutoras. Ao
percorrer os primeiros 6,5 quilômetros, parte dela é desviada por uma tubulação com
500 mm de diâmetro e segue para reforçar o abastecimento no Cabo de Santo
Agostinho; 1.110 quilômetros adiante está a segunda subadutora, com 800 mm de
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diâmetro, cujo objetivo é abastecer a comunidade de Pontes dos Carvalhos. E no
final da linha, há a subadutora para o bairro do Jordão, com 1,8 metro de diâmetro.
Grande parte da adutora segue pelas margens da BR-101 Sul, aproveitando a
faixa de servidão do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT).
Quem deixa o Recife em direção à badalada praia de Porto de Galinhas (litoral Sul)
não precisará de muito esforço para visualizá-la. Praticamente em 80% do seu
percurso a tubulação segue paralelo ao acostamento da rodovia.
Esse procedimento facilitou a construção. “Aproveitar a faixa de servidão nos
poupou de alguns problemas com desapropriações”, explica o superintendente de
obras da COMPESA, Judas Tadeu Alves de Souza. No entanto, esta opção trouxe
um desafio adicional ao consórcio construtor. Em alguns trechos, era preciso que a
tubulação cruzasse a rodovia, o que só seria possível por passagens subterrâneas.
“Não tínhamos como realizar a passagem pelo alto, porque significaria paralisar a
BR-101, a principal estrada que corta a Região Metropolitana − seria um caos,
prejudicando inclusive a economia do Estado”, explica Judas Tadeu.
Ao todo foram construídos quatro túneis com 100 metros de extensão cada
um e profundidade entre 1,5 metro e 4 metros em relação à pista de rolamento.
Noutro trecho foi necessário a construção de uma ponte de 700 metros de extensão
sobre o Rio Jaboatão, para possibilitar que o trajeto da adutora acompanhasse o da
BR-101.
Dois Maracanãs lado a lado. É assim que os engenheiros e funcionários da
COMPESA definem os dois reservatórios construídos no bairro do Jordão, algumas
centenas de metros por trás do Aeroporto Internacional dos Guararapes — Gilberto
Freyre. Com capacidade de armazenar 90.000m3 de água, eles significam o fim da
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linha da adutora de Pirapama. A partir desses dois reservatórios, a água passa a
efetivamente reforçar o sistema de abastecimento da Região Metropolitana
chegando às torneiras dos imóveis. Os dois reservatórios impressionam pelo
tamanho. São 39.000m2 de área construída que consumiram 13.000m3 de concreto.
Os reservatórios do Jordão são os dois maiores do sistema Pirapama. Mas
outros dois bem menores foram construídos para receber a água das subadutoras.
Um deles é no Cabo de Santo Agostinho, com capacidade de armazenar 13.500m3.
O outro é em Ponte dos Carvalhos, com 17.000m3.
A obra do sistema de Pirapama, iniciada em janeiro de 2008, será entregue
com atraso de oito meses. Seu termo inicial era dezembro de 2010, passou para
maio deste ano e agora a promessa é que ela seja completada em julho. Apesar
disso, o governo de Pernambuco entende como “justificável” o tempo excedente.
“Foram feitos ajustes no projeto no decorrer da obra e tivemos problemas com
chuvas”, justifica João Bosco de Almeida.
Hoje, só restam duas pequenas intervenções para a conclusão dos trabalhos:
a instalação de 500 metros de tubulação na subadutora do Cabo de Santo Agostinho
e 360 metros de tubulação para ligar o reservatório do Jordão à rede de distribuição
do Grande Recife. Para o secretário de Recursos Hídricos, a grande responsável
pelo atraso na obra foram às chuvas. “Pernambuco teve no ano passado um inverno
muito rigoroso, com muita chuva. E neste ano, as chuvas previstas para junho e
julho caíram em abril”, explica.
Em Pernambuco, tradicionalmente o período chuvoso vai de maio a agosto,
quando não é possível preparar as valas para tubulações e muito menos realizar
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soldagem. “Nessa época, só dá para fazer o trabalho de concretagem”, afirma Judas
Tadeu, da COMPESA.
Mesmo com o atraso na conclusão da obra, há um ano, os efeitos de
Pirapama no fornecimento d'água já são sentidos. Isso porque a COMPESA optou
por colocar o sistema em funcionamento por etapas. Em junho de 2010, um terço do
sistema de Pirapama entrou em funcionamento. Significou um acréscimo de 1,5m3/s
de água na rede de abastecimento. Quatro meses depois, outro 1m3/s foi
acrescentado, somando 2,5m3/s. E quando o sistema estiver finalizado, em julho
próximo, serão mais 2,63m3, totalizando os 5,13m3/s.
Apesar de todo o esforço dos órgãos governamentais, a seca ainda causa
muitos problemas à população nordestina. O nordeste brasileiro enfrentou nos anos
de 2013 a 2015, as maiores secas dos últimos 50 anos, com mais de 1.400
municípios afetados. A seca deste ano já é pior do que as dos anos anteriores que
também foram recordes. Essa realidade, no entanto, não é isolada. A previsão das
Nações Unidas, por exemplo, é de que até 2030 quase metade da população
mundial estará vivendo em áreas com grande escassez de água. E esse é um
problema que ocorre em todos os lugares, sejam países pobres ou ricos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, 2012 foi considerado o ano mais quente já
registrado, enquanto na região do Sahel, na África, repetidas secas causam a
escassez de alimentos. Para o caso brasileiro, o consenso básico que existe sobre a
maneira de enfrentar esse fenômeno climático inevitável é que a convivência com a
seca só será possível através de obras hídricas estruturadoras: barragens,
interligação de bacias a partir do São Francisco, infraestrutura para a agricultura
irrigada e gestão permanente da água.
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Quando se olha para o retrospecto dos últimos dez anos, vê-se que nenhuma
barragem importante foi construída na região nordeste. As últimas foram a de
Serrinha e a de Jucazinho, ainda no Governo de Fernando Henrique Cardoso. A
transposição do rio São Francisco, que foi prometida como a redenção do semiárido,
anda a passos lentos com interrupção da obra e degradação do que já foi
construído. A retomada dos trabalhos só se deu após denúncias feitas pela
Imprensa com grande repercussão no País.
Quanto ao socorro prometido pela presidente da República, anunciado com
grande alarde, a maior parte dos recursos é para reescalonamento da dívida, não
para a anistia, como também para a compra de máquinas e equipamentos, recursos
que não se vê chegar aos municípios afetados. O ambiente no Nordeste é de
desolação e de indignação.
Os Estados nordestinos divulgaram um levantamento realizado pelas suas
companhias de abastecimento e saneamento que evidenciam a gravidade da
situação, como se pode ver a seguir:
Pernambuco é o Estado com maior número de municípios atingidos. Segundo
a COMPESA (Companhia Pernambucana de Saneamento), dos 184 municípios do
Estado, 151 estão com algum tipo de déficit no abastecimento. Desses, 16 estão em
colapso, sendo abastecidos por carros-pipa. O prolongamento da estiagem fez com
que Recife e Jaboatão dos Guararapes (região metropolitana da capital) entrassem
em sistema de racionamento desde o dia 1º de março, assim como outras cidades
próximas à capital. De acordo com a Associação Municipalista de Pernambuco
(AMUPE), a seca já provoca prejuízos da ordem de R$ 1,5 bilhão na pecuária, com
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72% de queda na produção de leite devido à mortalidade de mais de 168 mil animais
afetando sobremaneira a economia da região.
A Bahia enfrenta uma grande diminuição do nível dos mananciais utilizados
para abastecimento, o que fez a Embasa (Empresa Baiana de Águas e
Saneamento) adotar um racionamento em 53 municípios. A empresa lançou
campanha recomendando que sejam instaladas caixas d'água com capacidade
suficiente para atender as necessidades diárias de consumo.
Alagoas, dos 102 municípios, 30 estão enfrentando rodízio por conta da seca.
Entre eles a capital Maceió, onde cinco bairros da parte alta enfrentam rodízio desde
novembro de 2012. Segundo a Casal (Companhia de Saneamento de Alagoas), a
situação mais crítica é na cidade Paulo Jacinto onde a barragem que abastece a
cidade secou e toda população está sendo abastecida por carro-pipa. A empresa
informou que, além da seca, problemas como furto de água e vandalismo também
cooperam para que o problema seja agravado. A Companhia informou que já
forneceu um bilhão de litros de água para os caminhões da Operação Pipa, com
investimentos superiores a R$ 3 milhões. O Estado tem um histórico de desastres
naturais ligados à estiagem e à seca. As estiagens, se comparadas às secas, são
menos intensas e caracterizam-se pela menor intensidade e por menores períodos
de tempo. Já a seca, é caracterizada por longos períodos sem chuva e
consequências severas para a região Nordeste. A seca que aflige dezenas de
municípios alagoanos, matando animais e ameaçando a sobrevivência de milhares
de famílias, é o problema mais grave que vem afetando a região e, por isso, objeto
deste estudo da CNM.
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Segundo informações do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, entre os
anos de 1991 a 2010, constatou-se uma quantidade de 2.655.501 pessoas afetadas
em Alagoas, 2.371 pessoas enfermas e 38 desalojadas. Estes eventos adversos não
acontecem de maneira bem distribuída, mas concentrada em determinadas áreas. A
estiagem e a seca favorecem a considerável diminuição da carga d’água dos rios e o
aumento de problemas na agricultura, gerando assim, sede e fome; favorece,
também, de modo negativo, na dinâmica ambiental.
O Rio Grande do Norte, segundo a CAERN (Companhia de Águas e Esgoto
do Rio Grande do Norte), 14 cidades enfrentam colapso no Estado, todas ligadas à
adutora Monsenhor Expedito. Segundo a empresa, a área urbana dessas cidades
está sendo atendida por carros-pipa da CAERN, da Defesa Civil e do Exército. Em
Carnaúba dos Dantas, os moradores estão sendo atendidos por chafarizes
instalados. Existem, ainda, 18 cidades que passam por algum tipo de dificuldade e
enfrentam rodízio. Segundo a CAERN, o rodízio foi iniciado em janeiro, com a
chegada do verão, quando a Lagoa do Bonfim diminuiu a capacidade de
armazenamento. A previsão é que o rodízio só termine quando a lagoa voltar à
capacidade normal de vazão.
No Ceará, a CAGECE (Companhia de Água e Esgoto do Ceará) afirma que
seis cidades passam por rodízio ou são abastecidas por carro-pipa nos municípios
de Itatira, Caridade, Quiterianópolis, Beberibe, Crateús e Pacoti. Uma cidade está
em colapso: Beberibe, que fica no litoral cearense. Segundo a companhia, o
abastecimento a partir da Lagoa da Uberaba está suspenso. Em Pacoti, uma área
da cidade também está sem qualquer abastecimento. Até a entrega de faturas
mensais foi suspenso. A CAGECE informou que está perfurando poços para
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minimizar a situação. A companhia disse que está perfurando poços, construindo
adutoras, trazendo a água de mananciais alternativos, disponibilizando carros-pipa.
Segundo informações da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece),
14 municípios do Estado do Ceará já se encontram em situação de colapso no que
refere ao abastecimento nas sedes municipais.
Outros 21 municípios entrarão em colapso até setembro deste ano de 2015,
caso se confirme a ausência de chuvas. Dos 500 quilômetros de adutoras
necessários, o Governo do Estado só garantiu 98 quilômetros (para junho) para
atender 9 municípios. O Exército Brasileiro atende 105 municípios com 756 carros-
pipa. Nenhum dos 226 carros-pipa anunciados pelo Governo Federal em abril
chegou até agora. A Coordenadoria Estadual da Defesa Civil no Ceará (CEDEC) é
responsável pelo atendimento de outros 73 municípios. Atualmente, atende 47
municípios com 105 carros-pipa (oferta insuficiente). A qualidade da água distribuída
pela Operação Carro-pipa está em muitos casos contaminada conforme estudo
realizado pela Secretaria da Saúde do Estado, reforçando a necessidade de adquirir
as estações móveis de tratamento de água já propostas pela Aprece junto ao Comitê
Integrado de Combate à Seca. Em 13 dos 20 municípios monitorados, se confirmou
a contaminação da água.
Na Paraíba a CAGEPA (Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba)
informou que nove cidades estão em racionamento e 22 em colapso total, sendo
abastecidas por carros-pipa. Não há problema com os mananciais que abastecem
João Pessoa e cidades litorâneas.
No Piauí a AGEPISA (Águas e Esgotos do Piauí) disse que passa por
problemas de abastecimento pelo baixo nível dos poços ou açudes, de onde é feito
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o abastecimento. Por conta da seca, quatro cidades estão com dificuldade de
abastecimento. Na cidade de Fartura, o açude que abastecia os moradores secou e
a AGEPISA perfurou dois poços que ainda serão equipados e ligados à rede de
abastecimento. No momento, o abastecimento é feito com dois poços perfurados
pela prefeitura.
Em Sergipe a DESO (Companhia de Saneamento do Sergipe) disse que as
três cidades abastecidas pelo Sistema Integrado Piautinga enfrentam rodízio de 24
horas. As cidades com situação mais crítica são Boquim, Poço Redondo,
Itabaianinha e Santo Amaro das Brotas, onde o nível dos rios está baixíssimo. Como
forma de amenizar a situação, a DESO tem perfurado poços profundos e colocado
carros-pipa a disposição dos moradores. Em uma análise geral, a seca na região
nordeste atinge 38% da população do semiárido, abrangendo em torno de 9 milhões
de habitantes.
As políticas públicas emergenciais do Governo Federal amenizam, mas não
resolvem o problema. Auxílios como o bolsa-estiagem atendem em torno de 1,5
milhão de sertanejos o que, na análise de especialistas, tem evitado um grande
êxodo rural como se viu na grande seca dos anos 80. O ideal seria a aplicação de
políticas de longo prazo para se resolver o problema da seca, com investimentos em
infraestrutura, como construção de barragens e cisternas, sendo que as que estão
em andamento nos dias de hoje são insuficientes. Com isso, buscam-se alternativas
para o abastecimento de água. Há, por exemplo, em torno de 7 mil carros-pipa
mantidos pelas prefeituras que muitas vezes arcam com custos que não seriam de
sua responsabilidade, e sim do Estado ou da União.
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Além desse contingente populacional atingido pela seca, a economia da
região que já é frágil por conta da estiagem e que depende basicamente da
atividade agrícola, vem sendo duramente afetada por essa seca prolongada. Com a
morte do gado e a quebra da safra há perdas na produção e consequente aumento
nos preços, gerando a inflação de preços dos produtos básicos, como milho, feijão,
mandioca e leite. Com isso, a população vê minguar sua renda e seu poder de
compra. Deve-se salientar que além da inflação de preços dos produtos básicos, há
o abuso de preço de serviços essenciais, como o do carro-pipa, cujo valor tem tido
mais de 100% de aumento. Assim, o que se constata, é que mesmo nesse cenário
de desolação e colapso, há aqueles que querem lucrar e acabam por criar a
“indústria da seca”, explorando de forma impiedosa os mais necessitados e afetados
pelo problema.
Quando a análise recai sobre a esfera municipal, tem-se uma situação bem
mais dramática do que se pode imaginar, pois os municípios do Nordeste são em
sua grande maioria mais dependentes das transferências federais, pois têm pouca
base econômica para tributar seus impostos próprios. Assim, suas receitas são
fortemente influenciadas pelas políticas macroeconômicas adotadas pelo Governo
Federal para enfrentar a Crise Mundial; as desonerações de impostos fazem com
que o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) tenha retração e provocam
quedas significativas na arrecadação destes entes.
No ano de 2012 as desonerações de Imposto de Produtos Industrializados
(IPI) para vários setores da economia chegaram à soma de R$ 7,1 bilhões, com um
impacto no FPM de R$ 1,6 bilhão. Nos nove Estados do Nordeste este valor chegou
a R$ 597 milhões. Em 2013, as mesmas políticas foram prorrogadas e outros
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setores foram agregados, com uma estimativa de R$ 4,3 bilhões e um impacto no
FPM de pouco mais de R$ 1 bilhão; nos municípios do nordeste o impacto é de R$
355 milhões. O Governo Federal adotou a política salutar e meritória de aumentos
reais do Salário Mínimo, o que causou uma grande transferência de renda e ajudou
a mitigar um pouco as desigualdades regionais, mas os municípios nordestinos são
em sua grande maioria os grandes empregadores em suas cidades.
Há um contingente de 4.845.017 servidores nos municípios nordestinos
(2011) sendo que, destes, 1.523.800 recebem até 1,5 salário mínimo, uma
proporção de 31,45% do total. A cada aumento real do SM o impacto nas folhas de
pagamento é enorme, influenciando fortemente as finanças municipais. Nos últimos
anos o valor foi de R$ 2,6 bilhões. Outro problema que aflige os gestores municipais
são as obras de convênios com o Governo Federal que estão paradas e/ou
pendentes de pagamento. No Nordeste, em 2012, havia o montante de R$ 8,8
bilhões referentes a 20.553 empenhos inscritos nos ‘restos a pagar do Orçamento
Geral da União (OGU).
Há algumas legislações aprovadas pelo Congresso Nacional que impactaram
muito na administração municipal, sobretudo a Lei do Piso Nacional do Magistério,
que somente em 2012 acarretou um impacto de R$ 2,3 bilhões nas folhas de
pagamento dos municípios nordestinos. Em quatro anos esta lei fez crescer o piso
em 52,29%, comprometendo quase todos os recursos do FUNDEB somente com o
pagamento de salários. Os municípios do Nordeste nos últimos dez anos (2003 a
2013) tiveram homologadas 9.260 portarias pelo Ministério da Integração Nacional
de Estado de Calamidade Pública ou Situação de Emergência, sendo que 7.356 são
relacionadas à seca.
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Das 7.356 portarias relacionadas à seca, três Estados, a saber, Bahia, Ceará
e Paraíba se destacam com números expressivos de portarias. Esses dados
demonstram que desde 2003 os Estados do Nordeste vêm sofrendo cada vez mais
com os danos causados pela seca prolongada e que as soluções não chegam à
mesma proporção dos estragos provocados.
Em resumo, esta série de fatores expostos aqui demonstra a fragilidade
financeira dos municípios nordestinos para enfrentar o problema da seca. Por isso, é
imperioso que os Governos Estaduais e o Governo Federal possam prestar ajuda
mais efetiva a este ente que está na ponta e que tem que atender ao anseio e às
demandas de que a população precisa, sobretudo, no que se refere à água e
condições mínimas para produzir riquezas. Procura-se avaliar como os recursos
federais são utilizados para fazer frente às diversas calamidades que
constantemente assolam o Brasil. No período de janeiro de 2003 a abril de 2013
foram gastos R$ 9,7 bilhões em ações de defesa civil, em valores de março de 2013,
corrigidos pelo IPCA. Sendo que a maior parte foi aplicada nos últimos três anos. Só
em 2010, ano de maior gasto, a União desembolsou cerca R$ 2,8 bilhões.
Considerando os anos de 2005 a 2014 (até abril), os recursos com resposta a
desastres foram mais eficientes nos anos de 2009 a 2011, onde foram observados
os maiores repasses aos municípios. Já o gasto com prevenção vem sofrendo
oscilações ao longo dos anos, mostrando que o governo central concentra mais os
seus gastos em resposta a desastres do que com prevenção.
Em resumo, esta série de fatores expostos demonstra a fragilidade financeira
dos municípios nordestinos para enfrentar o problema da seca. Por isso, é imperioso
que os Governos Estaduais e o Governo Federal possam prestar ajuda mais efetiva
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a este ente que está na ponta e que tem que atender ao anseio e às demandas de
que a população precisa, sobretudo, no que se refere à água e condições mínimas
para produzir riquezas.
A Confederação Nacional de Municípios (CNM) realizou pesquisa junto aos
gestores municipais para obter informações sobre os problemas que as secas
prolongadas estão acarretando aos municípios da região nordeste. A pesquisa foi
realizada no período de 08/04 a 02/05 de 2014, junto aos 1.793 municípios do
Nordeste brasileiro, dos quais se obteve respostas de 1.164 (65%) distribuídos nos
nove Estados nordestinos.
A seguir, serão apresentados os resultados da pesquisa e pode-se perceber
que as respostas obtidas estão sempre acima de 50% em cada um dos Estados,
com exceção do Estado do Maranhão onde houve grandes problemas de contato
com os gestores municipais.
Questões:
A pesquisa inicia mostrando que 86% dos gestores municipais entrevistados
indicaram que seu município enfrenta o problema da seca, com todas as suas
consequências e mazelas. Percebe-se o grande alcance dos prejudicados pela falta
de chuva, gerando uma situação de desolação para a população, com consequentes
reflexos para a economia local.
Seu município enfrenta problemas com a seca?
998 Sim....................................................................... 86%
166 Não....................................................................... 14%
Além da falta de recursos causada pela queda na arrecadação dos impostos
federais, dos municípios que estão com problemas relacionados à seca nada menos
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que 73,3% têm gastos mensais com compra de água, sendo que 43% despendem
até R$ 50 mil, 25% de R$ 50 mil a R$ 100 mil, 10% gastam acima de R$ 100 mil
mensais.
Devido ao problema da seca, qual o gasto mensal da Prefeitura com a
compra de água?
407
Abaixo de R$ 50.000,00............................................... 43%
235
De R$ 50.000,00 até R$ 100.000,00........................... 25%
90
Acima de R$ 100.000,00............................................ 10%
215
Não compra água........................................................ 23%
947 Total
O Exército Brasileiro é parceiro do Governo Federal na distribuição de água
aos municípios afetados pela seca. A questão abaixo mostra essa realidade, sendo
que os entrevistados na pesquisa indicam que 40% de seus municípios são
atendidos pelo Exército na distribuição de água e, por conseguinte, 32% são
atendidos por serviços terceirizados.
A distribuição da água é feita por/pelo:
378
Serviço terceirizado.................................................... 32%
485
Exército....................................................................... 40%
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336
Outro........................................................................... 28%
Nome do outro distribuidor
1.199 Total
Como equipamento na distribuição de água, o caminhão-pipa é fundamental
nessa logística e é o que indica o resultado da questão abaixo, onde 85% dos
entrevistados mostraram que seus municípios são atendidos por eles para se ter o
acesso à água, totalizando 38.814 de unidades no atendimento aos municípios.
Como é feita a distribuição da água?
826
Caminhão-pipa........................................................... 85%
146
Adutora.........................................................................15%
972 Total 38.814
Chama muito a atenção que 55% da água distribuída é exclusivamente para o
consumo humano; em 30% dos pesquisados 75% são para o consumo humano e
25% para o consumo de animais; em 13% a água é distribuída meio a meio e para
3% a água é mais direcionada para o consumo animal.
Qual o percentual distribuído para o consumo?
515 100%
Humano................................................................ 55%
280 75%
Humano, 25% animal............................................ 30%
120 50%
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Humano, 50% animal............................................ 13%
17 25%
Humano, 75% animal............................................ 2%
5 100%
animal................................................................... 1%
937 Total
O Governo Federal tem prometido, ao longo dos anos, a oferta de cisternas
ou condições para a construção das mesmas. O que se percebe na pesquisa, é que
21% dos entrevistados indicam que em seus municípios não há cisternas, o que
para o entendimento da CNM é um percentual alto e que mostra a carência dos
municípios nordestinos. Há, no total dos pesquisados, 762 mil cisternas.
Seu município possui cisternas para enfrentar o problema?
761
Sim.............................................................................. 79%
200
Não............................................................................. 21%
961
Total 762.873
Uma das principais consequências da seca é a fome que a população tem
que enfrentar. Com isso, as prefeituras muitas vezes têm que arcar com o
fornecimento de alimentos para a população. Desta forma, a pesquisa mostra que
33% dos entrevistados indicam que suas prefeituras são responsáveis pela
distribuição de cestas básicas à população e, assim, amenizar a fome e a penúria. A
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maioria dos entrevistados, 67%, indica que as prefeituras distribuem até 500 cestas
básicas por mês, conforme mostrado abaixo:
Há a distribuição de cestas básicas com recursos da Prefeitura para a
população atingida pela seca?
307
Sim............................................................................ 33%
635
Não........................................................................... 67%
942 Total
Quantas cestas básicas, com recursos da prefeitura, são distribuídas por mês
no seu município?
99
0 a 100......................................................................... 34%
108 101 a 500............................................................... 38%
43 501 a 1000.............................................................. 15%
19 1001 a 2000......................................... .................. 7%
18 Acima de 2000...................................... ................ 6%
287 Total
A seca tem devastado as frágeis economias dos municípios do semiárido que
convivem com a estiagem e, um dos setores mais sensíveis, é o agropecuário.
Assim, observou-se que 91,8% dos municípios declararam que perderam cabeças
de gado, ovinos e caprinos, sendo que 24% indicaram que as perdas foram até 50
cabeças, 24% até 100 cabeças e 52% acima de 100 cabeças, demonstrando o
grande prejuízo que a seca traz as comunidades.
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Qual a estimativa de perdas com relação ao rebanho de bois, cabras e outros
animais (em cabeças)?
224
0 a 50.......................................................................... 24%
217
51 a 100.................................................... ............ 24%
476
Acima de 100......................................... ............. 52%
917 Total
Nos pequenos municípios a população tem em suas prefeituras o único ponto
de contato para apresentar suas demandas. Nesse caso de devastação em
decorrência da falta de chuvas, a pesquisa mostra que, em média, 55 mil pessoas
procuram as prefeituras para apresentar alguma necessidade e buscar ali alguma
solução para seus problemas.
Qual a quantidade média de moradores que procuram a Prefeitura
diariamente, por conta da seca? 55.358 Moradores, em média, que procuram a
prefeitura diariamente.
Enquanto no Brasil a taxa média de desemprego estava em 5,6% em
fevereiro de 2013 e 7,8, em abril de 2014, em municípios do Nordeste esses
números ultrapassaram os 20%, como mostram os dados fornecidos pela maioria
dos pesquisados. Esse dado é extremamente relevante, pois reflete os danos
sociais provocados pela seca. Com o rebanho minguando e a produção agrícola
praticamente inexistente, os trabalhadores não têm o que fazer e, muitas vezes, têm
que sair de suas terras em busca de oportunidades.
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200
Qual a taxa de desemprego no município?
53
Abaixo de 5%.................................................................. 6%
177
De 5% a 20%.......................................................... .. 19%
695
Acima de 20%............................................................... 75%
925 Total
Quando há um longo período de seca uma consequência marcante é o êxodo
rural. Por isso, a CNM, através desta pesquisa, quis mensurar essa situação. Assim,
percebe-se que a grande maioria, 80% dos entrevistados, indicou que está havendo
a migração de sua população para outras localidades em virtude da seca, em busca
de melhores condições de vida.
Existe a migração de moradores para outros municípios e/ou Estados por
causa da situação atual?
754 Sim.............................................................................. 80%
192 Não...............................................................................20%
946 Total
Sobre a questão de assistência à saúde, 70% dos municípios pesquisados
indicam que recebem medicamentos por parte de outros entes para distribuir á
população e 30% indicam que não recebem. Mais uma vez, esse indicador mostra a
carência de apoio por que passam esses municípios. Desses, 60% indicam que os
medicamentos não chegam em quantidade suficiente para atender à demanda da
população de suas cidades, como indicam as tabelas abaixo:
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201
A Prefeitura recebe medicamentos para distribuir à população?
647 Sim......................................................................... 70%
274 Não......................................................................... 30%
921 Total
Chegam em quantidade suficiente?
256 Sim.............................................................................. 40%
384 Não.............................................................................. 60%
640 Total
Como é sabido, os municípios têm tido perdas significativas com a seca. Para
91,5% dos municípios pesquisados, há perdas mensais importantes. Destes, 12%
indicam uma perda de até R$ 50 mil; 33% indicam uma perda de R$ 50 mil até R$
100 mil e 55% mostram prejuízos acima de R$ 100 mil mensais.
Qual o prejuízo mensal estimado com a seca no seu município?
112
Abaixo de R$ 50.000,00............................................... 12%
298
De R$ 50.000,00 até R$ 100.000,00............................ 33%
503
Acima de R$ 100.000,00.............................................. 55%
913 Total
Em muitas situações, os municípios não têm o apoio dos governos federal e
estadual, embora seja divulgado que existem projetos e programas de auxílio. Como
visto na tabela abaixo, 57% dos gestores pesquisados indicam que não estão
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202
recebendo auxílio dos seus governos estaduais para enfrentar o problema e 43%
indicam que recebem.
O município recebeu ou está recebendo auxilio do Governo Estadual para
enfrentar o problema?
404
Sim............................................................................... 43%
534
Não............................................................................... 57%
938 Total
Observa-se que 57% dos gestores indicam não receber auxílio do Governo
Federal para enfrentar o problema e 43% indicam que estar recebendo.
O município recebeu ou está recebendo auxílio do Governo Federal para
enfrentar o problema?
393
Sim............................................................................... 43%
525
Não............................................................................... 57%
918 Total
Neste caso, somente 11% relatam que recebem auxílio de outros órgãos para
enfrentar o problema e 89% não recebem nenhum outro auxílio.
O município recebeu ou está recebendo auxílio de outros órgãos para
enfrentar o problema?
99
Sim............................................................................... 11%
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203
825
Não.............................................................................. 89%
924 Total
Em abril deste ano o Governo Federal apresentou projeto de fornecimento de
equipamentos para os municípios do Nordeste para amenizar os problemas com a
seca, porém, conforme mostrado na pesquisa da CNM, 58% ainda não recebeu os
equipamentos prometidos, quais sejam: motoniveladoras, retroescavadeiras,
caminhão-caçamba e caminhão-pipa.
Seu município recebeu recursos do PAC Equipamentos?
387
Sim............................................................................... 42%
536
Não.............................................................................. 58%
923 Total
Sobre os programas de assistência oferecidos pelo Governo Federal, 52%
dos entrevistados indicam que mais de 200 pessoas recebem o Bolsa-estiagem em
seus municípios.
Quantos habitantes são beneficiados pela Bolsa Estiagem?
218
De 0 a 50..................................................................... 26%
82
De 51 a 100................................................................... 10%
114
De 101 a 200................................................................. 13%
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204
440
Acima de 200............................................................... 52%
854 Total
Observa-se, abaixo, que somente em 5% dos municípios havia a indicação de
frentes de trabalho promovidas pelo governo estadual para movimentar a economia
local.
Em seu município existe alguma frente de trabalho promovida pelo Governo
Estadual?
46
Sim................................................................................. 5%
885
Não...............................................................................95%
931 Total
Finalizando a pesquisa e em relação à oferta dos programas do Governo
Federal, somente 4% dos municípios nordestinos pesquisados indicaram que há
frentes de trabalho promovidas para enfrentamento dos problemas relacionados à
seca, evidenciando, mais uma vez, que muitas das promessas dos governos
estadual e federal não chegam na ponta, ou seja, no município que é o ente mais
necessitado de recursos da administração pública e onde vivem os cidadãos.
Em seu município existe alguma frente de trabalho promovida pelo Governo
Federal?
35
Sim................................................................................ 4%
886
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205
Não.............................................................................. 96%
921 Total
Conclusão. O que esta pesquisa realizada pela CNM indica é que a situação
é extremamente grave nos municípios do nordeste brasileiro, assim como já vem
sendo noticiado, e muito pouco está se fazendo por parte dos outros entes da
federação para auxiliar os já combalidos municípios que tem que dar conta sozinhos
das demandas e anseios de sua população, como também de seus agentes
econômicos.
Deve-se buscar, especificamente, o fim da burocracia que envolve o
atendimento de municípios em situações de emergência, como também a
descentralização dos recursos da União. Medidas como a ampliação do período de
renúncia fiscal do IPI, por exemplo, que vai até o final de 2013, prejudicam
sobremaneira os municípios em geral e, principalmente, os afetados pela seca.
Já não se admite mais que haja tanta demora em solucionar um problema
que já deveria ter sido resolvido com prioridade. A seguir, é apresentada a Carta de
Maceió, documento elaborado pelas associações municipalistas do Nordeste que
estão mobilizadas em buscar soluções para essa situação de calamidade.
Carta de Maceió
Os presidentes das Entidades Municipalistas do Nordeste, diante do quadro
duríssimo por que passa a população nordestina, que enfrenta a pior seca dos
últimos 50 anos, reconhecem as ações implementadas até agora, entretanto
lamentam a não inclusão dos municípios como agentes executores e demonstram
sua insatisfação diante da falta de respostas do Governo Federal a reivindicações já
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feitas e que, se implementadas, já poderiam ter mudando a triste e cruel realidade
por que passam quase 10 milhões de pessoas de forma direta.
Atualmente mais de 1.400 municípios de nove Estados já declararam situação
de emergência em 2013, representando 22% das cidades brasileiras. O cenário de
miséria, fome e perdas na agropecuária continua inalterado, impactando
negativamente em todo o país, pressionando o índice inflacionário e provocando o
desabastecimento de produtos da cesta básica, mesmo com as chuvas ocasionais
que têm caído em parte no Nordeste. Além dos prejuízos nas lavouras e criações, a
demanda assistencial tem aumentado sem contrapartida financeira. Pelo contrário, o
Fundo de participação dos Municípios- FPM, já é menor que o mesmo período de
2012, em contraponto ao aumento constante dos compulsórios.
Os presidentes das Entidades reivindicam mais desburocratização, ações
emergenciais e estruturantes, em parceria com os municípios, para que os mesmos
passem de meros expectadores a agentes ativos desse processo e possam devolver
ao Nordeste e sua brava gente, opções de vida, trabalho e a oportunidade de
contribuir com o desenvolvimento da Nação.
Nas ações emergenciais os municípios reivindicam:
Liberação imediata de recursos financeiros, correspondente a, no mínimo,
uma cota média do FPM de 2012, via cartão de pagamento da Defesa Civil;
Liberação de recursos de todos os convênios e contratos de repasse já
celebrados entre o governo federal com os municípios nordestinos e que se
encontram bloqueados e/ou inscritos em restos a pagar desconsiderando a inscrição
no CAUC;
Suspensão imediata das execuções judiciais de produtores;
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Contratação de carro pipa pelo município com a disponibilização de estação
móvel de tratamento de água para cumprimento da portaria interministerial nº
1/2012/mi/md.
Perfuração, instalação e recuperação de poços artesianos;
Compra de ração animal;
Contratação de horas máquina para desassoreamento, construção e
ampliação de açudes;
Representação dos municípios na força nacional de emergência/seca.
Nas ações estruturantes, implantação de uma política pública de convivência
com os efeitos da seca priorizando:
Apreciação dos planos de trabalho a serem apresentados pelos municípios
para ações hídricas e de manutenção do rebanho;
Consignação permanente de recursos do orçamento da união por município,
durante cinco anos, par a ações de convivência com a seca;
Criação de um programa federal para o cultivo de forragens de forma
estratégica para servir como reserva alimentar;
Destinação de parte dos recursos do PAC/seca sejam contratados
diretamente com os municípios.
Apesar da seca ser um fenômeno climático que se repete no Nordeste
brasileiro, nossas autoridades criaram vários órgãos para melhor convivência do
homem com a seca. Cito dois de muita importância: a SUDENE - Superintendência
de Desenvolvimento do Nordeste e o DNOCS - Departamento Nacional de Obras
Contra as Secas.
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208
Mas mesmo esses órgãos foram abandonados pelo poder público. A criação
da SUDENE em 15/12/1959 representou uma das conquistas mais importantes do
povo brasileiro, na história recente de nosso país, porque deu início a uma nova era,
marcada pela incorporação progressiva da Região Nordeste e, logo em seguida, da
Amazônia, ao processo de desenvolvimento nacional conduzido pelo governo
federal, que até àquela data se concentrava nos estreitos limites das Regiões
Sudeste e Sul.
A principal força motriz dessa conquista foi a conscientização e mobilização
da sociedade brasileira, conduzida sob a liderança legítima de suas forças sociais e
políticas mais representativas, quanto à situação de abandono secular em que se
encontrava a Região, em relação às políticas nacionais de promoção do
desenvolvimento, o que vinha resultando no seu atraso crescente, diante dos
avanços realizados nas áreas mais desenvolvidas do País.
Graças ao perfil democrático e a visão estratégica de estadista do Presidente
Juscelino Kubitschek, associados aos profundos conhecimentos científicos de Celso
Furtado, o maior economista brasileiro de todos os tempos, as ideias inovadoras
surgidas nesse autêntico processo de mobilização social puderam ser aproveitadas,
após devidamente avaliadas e aperfeiçoadas, para a instituição da SUDENE pela
Lei n° 3692 de 15/12/1959. Foi decisiva a contribuição ofertada no documento
intitulado “Uma Política de Desenvolvimento Econômico para o Nordeste”,
construída sob o comando de Celso Furtado à frente do Grupo de Trabalho para o
Desenvolvimento do Nordeste — GTDN, que originou os quatro sucessivos Planos
Diretores que balizaram a ação desenvolvimentista da SUDENE iniciada na década
de 1960.
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209
O crescimento excepcional alcançado pela economia brasileira no período de
1960/1980 foi devido, em grande parte, à integração do Nordeste, no processo de
desenvolvimento nacional, em consequência do êxito extraordinário dos trabalhos
realizados pela SUDENE a partir de 1960, no contexto da Região. Entretanto,
cumpre salientar que a obtenção de sucesso tão expressivo só foi possível mediante
a observância, na organização estrutural assim como nos instrumentos e processos
de atuação da SUDENE, dos seguintes requisitos fundamentais: Garantia de
sinergia e complementaridade entre os instrumentos, políticas e programas de ação
relativos ao desenvolvimento da Região Nordeste, com as diretrizes, estratégicas,
instrumentos, políticas e programas globais e setoriais estabelecidos pela União
para vigorar em todo o território nacional;
Participação direta da Região, através de suas legítimas representações
sociais, políticas, econômicas e administrativas, frente às autoridades
representativas da cúpula dirigente do Governo da União, no âmbito do seu
Conselho Deliberativo, nos processos de formulação, adaptação, implementação,
execução e avaliação dos programas e políticas públicas federais de interesse para
o desenvolvimento Regional;
Dotação de recursos organizacionais e materiais assim como de quadro de
pessoal qualificado para o desenvolvimento de suas competências
institucionais e;
Alocação e disponibilização de recursos orçamentários e financeiros
suficientes para o cumprimento de suas atribuições.
Ao viabilizar, através de medidas administrativas, o atendimento a esses
quatro requisitos fundamentais, o governo federal garantiu o extraordinário sucesso
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da contribuição da SUDENE, nos 25 anos iniciais, de sua atuação, ao
desenvolvimento da Região Nordeste, com evidentes repercussões positivas na
aceleração do Desenvolvimento Econômico do Brasil. Em consequência da atuação
da SUDENE a economia nordestina, após um longo período de estagnação,
experimentou no período de 1960/1970, um crescimento médio anual de seu
Produto Interno Bruto (PIB) de 3,5%, enquanto a economia brasileira, nela incluída a
do Nordeste, pode crescer, no mesmo período, à elevada taxa média anual de 6,1%.
Já no período de 1970/1980, época do chamado “milagre brasileiro” o
crescimento médio anual de 8,7% do PIB do Nordeste contribuiu para o incremento
médio anual da economia brasileira estimado em 8,6%, conforme registrado no
documento “Desempenho Econômico da Região Nordeste do Brasil”. Essa relevante
mudança veio desacreditar em definitivo a ideia preconceituosa de que o Nordeste
constituiria um sumidouro de recursos públicos, representando apenas um custo
onerando as populações das demais regiões brasileiras.
O crescimento significativo do PIB Nordestino registrado no período em
análise serve para explicitar sinteticamente os resultados da atuação estratégica da
SUDENE na Região, abrangendo, entre outros, os seguintes setores:
Expansão e modernização da infraestrutura de transportes, energia e
saneamento básico;
Montagem e fortalecimento das estruturas globais e setoriais de planejamento
e execução nos Estados;
Capacitação das Universidades Federais do Nordeste, através de
diversificados programas de formação de mestres e doutores;
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211
Desenvolvimento através do FINOR de uma base industrial moderna e
competitiva;
Implantação, ampliação e modernização de empreendimentos competitivos
com base na concessão de incentivos de isenção total ou parcial do imposto
de renda; e
Implantação de sistema de desenvolvimento das pequenas e médias
empresas para completar as cadeias produtivas regionais.
A extinção da antiga SUDENE e a criação da ADENE resultou de iniciativa do
Governo Federal concretizada na edição da Medida Provisória nº 2.146-1, de 4 de
maio de 2001. Essa decisão foi tomada sob a influência marcante da grande
recessão que afetou o País a partir da década de 1980, tendo como causa remota
os dois choques do petróleo ocorridos na década anterior, culminando com a
cessação dos financiamentos externos e com a decretação da moratória em 1987.
No rastro da recessão veio o ressurgimento do modelo de globalização
liberalizante que havia sido abandonado após a grande depressão de 1929/1930
que deu origem às políticas de redução do tamanho e do poder de intervenção do
Estado na economia, justificando a execução acelerada de amplo programa de
privatização das empresas estatais e também, de modo complementar, a extinção
das Superintendências de Desenvolvimento Macrorregional, que permaneciam como
redutos das políticas desenvolvimentistas.
No entanto, a criação da ADENE, sem a mínima condição de levar adiante a
política de desenvolvimento que havia sido iniciada com sucesso pela SUDENE,
sofreu severa rejeição da sociedade nordestina abrindo espaço para a discussão de
propostas alternativas quanto à política de desenvolvimento regional.
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A instituição da Nova SUDENE por meio da Lei Complementar nº 125/2007,
veio em resposta aos anseios da população nordestina, manifestos no amplo
processo de mobilização das forças sociais, políticas e econômicas da Região,
ocorrido no período 2001/2003, onde se tornou evidente a inadequada configuração
institucional da ADENE e a necessidade de implantação de uma nova instituição de
desenvolvimento regional legalmente aparelhada e administrativamente dotada de
organização e recursos suficientes para por em marcha uma nova sistemática de
articulação interfederativa e planejamento participativo capaz de promover a
necessária aceleração do processo de incorporação da Região na expectativa da
retomada do desenvolvimento nacional interrompido com a recessão de 1980.
Acolhendo os reclamos e sugestões nascidas da mobilização da sociedade, o
governo federal constituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) presidido e
tecnicamente coordenado pelo Ministério da Integração Nacional que, após 6 meses
de intensas atividades, incluindo a realização de consultas públicas e fóruns
qualificados em todos os Estados da Região Nordeste e em Brasília, elaborou
Projeto de Lei para criação da nova autarquia que foi encaminhado à apreciação do
Congresso Nacional.
Após seguir a tramitação rotineira no Legislativo onde foi enriquecida e
aperfeiçoada, a proposta encaminhada pelo Poder Executivo Federal foi aprovada e,
após a devida sanção presidencial foi transformado na Lei Complementar nº 125 de
03 de janeiro de 2007 que instituiu a SUDENE, como órgão de “natureza autárquica
especial, administrativa e financeiramente autônoma, integrante do Sistema de
Planejamento e de Orçamento Federal, com sede na cidade de Recife, Estado de
Pernambuco, e vinculada ao Ministério da Integração Nacional”.
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Apesar das dificuldades enfrentadas em sua trajetória executiva, a antiga
SUDENE conseguiu plantar em sua área de atuação, com decisivo apoio
administrativo do núcleo dirigente do governo federal, as bases institucionais
produtivas e sociopolíticas que viabilizam o novo ciclo de desenvolvimento que se
inicia na atualidade, com mais pujança na referida área que no território brasileiro
em sua totalidade, puxado pelas exitosas políticas compensatórias de distribuição de
renda e pela incipiente retomada dos investimentos em infraestrutura econômica.
No entanto, recentes experiências relativas à implementação de novos
empreendimentos produtivos de grandes ou médios portes no Nordeste, vêm
demonstrando que a consolidação de um novo ciclo de desenvolvimento includente
e sustentável na Região poderá ser retardada pela presença ainda marcante de
fatores restritivos tais como: baixos níveis de educação e capacitação da força de
trabalho; infraestrutura econômica deficiente, incompleta ou tecnicamente defasada;
condições de saúde insatisfatórias; desenvolvimento científico e inovações
tecnológicas insuficientes; baixa produtividade do trabalho e limitada capacidade
empreendedora. Além disso, recente pesquisa realizada pelo IPEA revela que os
resultados das políticas destinadas a melhoria das condições de educação e saúde
da população, são menos efetivos na Região Nordeste que em outras áreas do País,
em consequência da ainda muito reduzida capacidade administrativa da grande
maioria dos municípios da Região.
A nova SUDENE deverá participar decisivamente na superação dos
mencionados problemas bem como na remoção de outros entraves que venham a
ser identificados, dando apoio técnico operativo complementar a realização dos
investimentos necessários, mediante a formação de parcerias com os órgãos
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integrantes das estruturas executivas setoriais da União, Estados e Municípios de
sua área de atuação, corresponsáveis pelas políticas públicas correspondentes,
cumprindo a sua competência estabelecida no inciso VIII, do Art. 4º, da Lei
Complementar nº 125/2007, criando condições favoráveis ao desenvolvimento
sustentável da Região Nordeste e no Brasil.
Contudo a possibilidade da nova SUDENE exercer plenamente as suas
competências institucionais, particularmente daquela estabelecida no dispositivo
legal acima citado, dando novo impulso ao desenvolvimento nacional includente e
sustentável, permanece drasticamente limitada até a conclusão definitiva de seu
processo de implantação, que deverá ocorrer em breve com base nas propostas que
tramitam no âmbito da administração federal. Até lá a Autarquia continuará
funcionando com estrutura organizacional provisória e incompleta, com deficiência
de recursos financeiros e materiais e, principalmente, com um quadro de recursos
humanos absurdamente inadequados, em termos quantitativos e qualitativos, para o
cumprimento de sua missão e competências institucionais.
O outro órgão também muito importante é o DNOCS que nesse mês
completou 106 anos. Vou aproveitar a oportunidade para falar sobre a origem do
DNOCS.
Um dos mais importantes órgãos da administração pública está completando
106 anos. Trata-se do DNOCS — Departamento Nacional de Obras Contra a Seca
que apesar de todos os problemas tem desempenhado bravamente sua função em
nosso sofrido país.
Aproveito a ocasião para fazer um breve histórico do órgão e de sua atuação
durante esses anos:
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“A peculiar condição climática do Nordeste
brasileiro, sobretudo a da zona semiárida, estabeleceu
nesta vasta área de caatingas uma civilização em
constante luta pela sobrevivência, buscando transpor os
obstáculos em busca de uma vida melhor. Quando em
1909 foi criada a Inspetoria de Obras Contra as Secas, o
que se vislumbrava era uma débil economia sob a tutela
do coronelismo oligarca, a extrema pobreza do sertanejo
assolado pelas disparidades climáticas, um regime
desigual das chuvas durante o ano e a escassez da água,
fatores esses que causavam uma grande vulnerabilidade
no seio das populações que habitavam a região.
O flagelo antecedia a fome, que antecedia a morte.
O precário processo de desenvolvimento econômico,
político e social, aliado a falta de atendimento às doenças
adquiridas e a impraticidade dos caminhos, foram fatores
que contribuíram severamente para incrementar essas
situações de penúria.
Nesse cenário, a Inspetoria surgiu, elegendo o
homem como objetivo central de seu trabalho,
inicialmente, numa fase paternalista como o braço maior
da intervenção federal no Nordeste e posteriormente em
bases mais científicas, trazendo para a região
capacitados técnicos e cientistas de diversas áreas que,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185
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através de seu trabalho, modernizaram os instrumentos
de combate ao flagelo, com o estabelecimento de
infraestrutura conveniente à ação do poder público.
Os benefícios científicos advindos da intervenção
do DNOCS na região mudaram a formação da
mentalidade do homem que se inseriu neste contexto de
permanente luta, iniciando-se, a partir daí, um processo
lento, porém progressivo, de resistência aos efeitos das
intempéries. Graças ao trabalho do DNOCS — antes
IOCS e, posteriormente IFOCS — foram-se descortinando
nos sertões do semiárido, as estradas, os açudes, as
linhas de transmissão de energia, os sistemas de
abastecimento de água e, em tempos mais recentes, a
irrigação e a introdução e incremento de espécies
piscícolas, oferecendo a esse homem outras opções
alimentares.
O homem, transformando-se em cidadão, em
decorrência do trabalho da Instituição. O homem não mais
apenas uma figura incluída na paisagem árida do
Nordeste, mas o sujeito das mudanças, da escolha das
alternativas mais viáveis. A Instituição, como fator do
planejamento e da operacionalidade dessas mudanças.
Assim, o homem e o DNOCS, ao longo de 90 anos
atuando em conjunto no semiárido, vão transformando a
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inércia dos tempos mais remotos em opção de vidas
melhores.
Dentre os órgãos regionais, o Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas — DNOCS se
constitui na mais antiga instituição federal com atuação no
Nordeste. Criado sob o nome de Inspetoria de Obras
Contra as Secas — IOCS através do Decreto 7.619 de 21
de outubro de 1909 editado pelo então Presidente Nilo
Peçanha, foi o primeiro órgão a estudar a problemática do
semiárido. O DNOCS recebeu ainda em 1919 (Decreto
13.687), o nome de Inspetoria Federal de Obras Contra
as Secas — IFOCS antes de assumir sua denominação
atual, que lhe foi conferida em 1945 (Decreto-Lei nº 8.846,
de 28/12/1945), vindo a ser transformado em autarquia
federal, através da Lei n° 4229, de 01/06/1963.
Sendo, de 1909 até por volta de 1959,
praticamente, a única agência governamental federal
executora de obras de engenharia na região, fez de tudo.
Construiu açudes, estradas, pontes, portos, ferrovias,
hospitais e campos de pouso, implantou redes de energia
elétrica e telegráficas, usinas hidrelétricas e foi, até a
criação da SUDENE, o responsável único pelo socorro às
populações flageladas pelas cíclicas secas que assolam a
região.
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Chegou a se constituir na maior “empreiteira” da
América Latina na época em que o Governo Federal
construía, no Nordeste, suas obras por administração
direta tendo marcado com a sua presença, praticamente,
todo o solo nordestino. Além de grandes açudes, como
Orós, Banabuiú, Araras, podemos registrar a construção
da rodovia Fortaleza-Brasília e o início da construção da
barragem de Boa Esperança.
Com a criação de órgãos especializados, o acervo
de obras construídas pelo Departamento vinculado a
ações “não hídricas”, como rodovias, linhas de
transmissão, ferrovias, portos, etc., foram àqueles
transferidos. Posteriormente, transferiram-se aos Estados
as redes de abastecimento urbano e à SUVALE, hoje
CODEVASF, os Projetos públicos de Irrigação situados no
vale do Rio São Francisco.
O DNOCS, conforme dispõe a sua legislação
básica, tem por finalidade executar a política do Governo
Federal, no que se refere a:
a) beneficiamento de áreas e obras de proteção
contra as secas e inundações;
b) irrigação;
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c) radicação de população em comunidades de
irrigantes ou em áreas especiais, abrangidas por seus
projetos;
d) subsidiariamente, outros assuntos que lhe sejam
cometidos pelo Governo Federal, nos campos do
saneamento básico, assistência às populações atingidas
por calamidades públicas e cooperação com os
Municípios.
Os primeiros passos da inspetoria:
Tomemos por empréstimo, sobre este tema, o que
escreveu o ilustre Eng. Agr. Paulo de Brito Guerra, em
seu livro “A Civilização da Seca”: “Para ocupar a Direção
da Inspetoria de Obras Contra as Secas foi designado o
Eng. Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa, homem de visão
excepcional, que soube promover os estudos básicos
sobre a área, de modo amplo, estudos ainda hoje
valiosos, realizados na época em que o automóvel, raro
nas capitais, transformava-se na “besta fera” quando, a
muito custo, conseguia penetrar os sertões bravios, sem
estradas.
Arrojado sabia que John Casper Branner, Reitor da
Leland Stanford Junior University, em Palo Alto, Califórnia
(“os ventos da liberdade sopram”, é seu lema), havia feito
estudos no Brasil, terra que o entusiasmara
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185
220
profundamente. Escreveu-lhe pedindo para indicar
geólogos a trabalhar na Inspetoria de Obras Contra as
Secas.
Branner enviou Ralf H. Sopper, de 21 anos de
idade, Gerald A. Warring e Horace L. Small. Também de
Stanford vem Roderic Crandall que em 1910, aos 24 anos
de idade, escreveu notável relatório, reeditado em 1923,
[...].
Outros técnicos estudaram, na época, o Nordeste,
entre os quais Lofgren e Luetzelburg, botânicos, Luciano
Jacques de Moraes, geólogo, apresentando relatórios
importantes.
“Todos esses trabalhos”, dizia o Inspetor,
“permitirão abranger, em conjunto, as condições
diferentes das regiões flageladas, sob os seus vários
aspectos, geográfico, geológico, climatérico, botânico,
social e econômico, e assim poderá a Inspetoria traçar o
programa dos seus serviços apoiada em fatos de pura e
real observação no terreno”.
A IOCS adquiriu caráter permanente como
Repartição, graças ao decreto 9.256, de 28 de dezembro
de 1911. Desde cedo, passou a sofrer alterações através
dos decretos no. 11.474, de 03 de fevereiro de 1915, no.
12.330, de 27 de dezembro de 1916 e no. 13.687, de 09
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de julho de 1919, que ampliou o nome para Inspetoria
Federal de Obras Contra as Secas — IFOCS.
Até 1915 a Repartição deu grande ênfase a
estudos cartográficos, tendo feito mapas de vários
Estados. E procurou ativar a perfuração de poços, a
construção de estradas de rodagem e carroçáveis, a de
açudes públicos e incentivar a de açudes particulares,
concedendo-lhes “prêmios” (subsídios) de até 50% do
orçamento. Alguns reservatórios surgiram aqui e ali.
O Ceará, por exemplo, além do Cedro em Quixadá,
já contava com açudes construídos antes da criação da
IOCS, como Acaraú Mirim, Mocambinho, São Gabriel,
Breguedofe, Lagoa das Pombas, e outros em construção.
O Piauí tinha Aldeia e Bonfim; e o Rio Grande do Norte,
Currais, Corredor, Santa Cruz, Mundo Novo, Santana de
Pau dos Ferros e Santo Antonio.
Dois fatores de alta importância caracterizaram
este período “pré-Epitaciano”: os estudos já citados, a
cargo de cientistas pátrios e estrangeiros, que
desvendavam os mistérios dos solos e clima da região
nordeste, e a criação, durante a seca do 15, das “Obras
Novas”, que dinamizaram os trabalhos da Inspetoria”.
Recordemos que Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa
encetou uma programação de pesquisas sobre a
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realidade concreta do meio e sobre aspectos sociais da
região assolada pelas secas, visando a adquirir dados
confiáveis para nortear um programa de ação ao combate
aos efeitos das secas.
De pronto, ficaram patentes abusivas e
impertinentes intromissões de segmentos políticos da
sociedade, na orientação científica dos trabalhos, o que
obrigou Arrojado a organizar novo Regulamento,
aprovado em 20/12/1911, já no Governo de Marechal
Hermes da Fonseca.
Foi por decorrência deste Decreto que se iniciaram
a instalação e funcionamento de postos de observação
plúvio-fluviométricos e que foram adotadas medidas para
promover a piscicultura nos açudes e nos rios
intermitentes do semiárido, segundo refere o Eng. Tomás
Pompeu Sobrinho, em artigo publicado na Revista do
Instituto do Ceará - Tomo LXXII - 1958.
O alto custo dos serviços de natureza científica,
que não são compreendidos pelos não interessados em
resultados mediatos, e que somente preconizam
aplicações financeiras a obras de interesse da “política”,
determinaram a demissão de Arrojado.
O primeiro Inspetor de Secas, diante da
insuficiência do número de profissionais, qualificados e
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habilitados, nos diversos ramos da ciência, fez contratar
topógrafos, fisiógrafos, geólogos, engenheiros hidráulicos,
botânicos, hidrólogos, sociólogos, etc., que acumularam
enorme acervo de conhecimento sobre o meio.
Com a exoneração de Arrojado, do cargo de
Inspetor, os trabalhos de natureza científica, foram
drasticamente reduzidos, subjacendo num plano inferior.
Retornando ao posto de Inspetor, na Presidência
Epitácio Pessoa, não conseguiu Arrojado, embora tivesse
se esforçado, restaurar os trabalhos de pesquisa. A tônica
era construir obras!
Com a eleição de Artur Bernardes a IFOCS quase
desaparece, possibilidade quase concretizada nos
Governos de José Sarney, Collor de Melo e Itamar
Franco. No atual, busca-se o processo de modernização
que se faz mister implantar.
Logo que deixou de estar presente, na Inspetoria, o
espírito científico de Arrojado, a nortear a conduta da elite
dirigente do órgão, o Departamento passou a adotar
providências lastreadas em empirismo vulgar, por
consequência da visão imediatista da classe política.
Como há pouco se mencionou, as providências
para a coleta sistemática de dados de natureza plúvio-
fluviométrica foi iniciativa de Arrojado Ribeiro Lisboa,
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ativada a partir de 1911, quando já era Presidente o
Marechal Hermes da Fonseca.
Antes, anotações mais confiáveis, só existiam
aquelas colhidas em Quixeramobim e Fortaleza.
A partir de 1911, foram instalados numerosos
postos pluviométricos, disseminados na vasta extensão
territorial nordestina com uma densidade próxima das
recomendadas pelos padrões internacionais então
vigentes.
As anotações sistemáticas foram devidamente
enfeixadas em publicações cuidadosas, inicialmente, sob
a orientação de Horace Williams e Roderic Crandall e,
posteriormente, por engenheiros nacionais, pertencentes
aos quadro da Inspetoria.
As medidas das descargas, em estações
fluviométricas, foram cuidadosamente efetuadas,
orientadas inicialmente por G.A. Warring e depois por
C.M. Delgado, e utilizados pelo notável Eng° Francisco
Gonçalves Aguiar.
De posse do acervo de dados coletados entre 1911
e 1930, o Eng° Gonçalves Aguiar conseguiu realizar
notável síntese hidrológica de cunho determinístico,
consubstaciando na chamada “Curva de Rendimentos” da
região nordestina, calcada nos dados das bacias do
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Quixeramobim e do Jaguaribe, e nos de outras bacias,
que bem se adequa às condições do semi-árido, estudos
hoje, talvez, carentes de retoques, dado o nefasto
desmatamento indiscriminado no “facies” nordestino e de
outras agressões ao meio.
Aguiar deixou publicado um notável trabalho,
intitulado “Estudo Hidrométrico do Nordeste” que, com
sua “Curva”, é adequado às condições nordestinas.
O Eng° Vinícius Berredo, com base naqueles
dados coletados pela IOCS/IFOCS, escreveu outro
notável trabalho sobre o “ Aproveitamento dos grandes
Açudes Nordestinos”, infelizmente, de curso restrito às
salas técnicas do DNOCS.
As formulações da IFOCS, produto da “inteligência”
técnica nordestina foi inquinada de ultrapassada pela elite
dirigente da SUDENE dos primeiros dias, tendo dado,
como resultado, a transferência do controle dos postos e
das anotações sistemáticas, pelo DNOCS, para a
Superintendência, que pouco tempo após, deixaram de
ter a continuidade e abrangência, desejáveis.
Entretanto, na linha de Aguiar, técnicos franceses,
a trabalhar para a SUDENE, como Molle e Cartier,
procuraram modernizar os preceitos do sábio Aguiar,
atualizando-os.
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A inspetoria, no período de Getúlio Vargas:
Profundas modificações experimentou o mundo
após o término da primeira guerra mundial. Em primeiro
lugar, a Inglaterra perdeu o comando economia, cujo
centro se deslocou da “City”, em Londres, para Wall-
Street, em Nova York. A economia brasileira orbitava em
torno da economia inglesa, e passa a se vincular à norte-
americana.
O fortalecimento dos laços econômicos entre o
Brasil e os EUA, refletiu-se na vida brasileira. O “american
way of life” contamina a sociedade brasileira. A política
brasileira se conturba por sucessivos movimentos de
tendência modernizadora, que deságuam na vitoriosa
Revolução de Trinta, assumindo o poder o Presidente
Getúlio Vargas.
Vargas nomeia o paraibano José Américo de
Almeida para o cargo de Ministro de Viação Obras
Públicas, e o cearense Juarez Távora, para a pasta da
Agricultura.
José Américo faz do Engenheiro Artur Fragoso de
Lima Campos o novo Inspetor de Secas, que dá nova
organização à IFOCS, denominação com a qual, a partir
de 1919, ficou sendo conhecida a primitiva IOCS.
Lamentável acidente aviatório ceifa a vida de Lima
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Campos, cabendo ao Eng° Luiz Augusto da Silva Vieira,
substituí-lo no posto de Inspetor.
Persuadido de que, a acumulação d'água era
essencial à sustentabilidade da vida social e econômica
no Nordeste, Vieira deu o maior apoio às tarefas de
açudagem e promoveu, com grande ímpeto, à
implantação rodoviária. Por outro lado, daquela época em
diante, descem a um segundo plano, no seio da
Inspetoria, os estudos hidrológicos, até porque a síntese
hidrológica de Aguiar, logrando notável adequação ao
meio, perduraria válida por muitas décadas posteriores.
Também, a Inspetoria, segundo alguns analistas,
como Thomás Pompeu Sobrinho e Celso Furtado,
demorou-se em demasia, na execução de obras de
acumulação, deixando de lado a modernização da
agricultura e a promoção da irrigação.
Ora, as sucessivas secas demonstraram, até à
última delas, a validade da orientação de se contar com
águas açudadas. E mais, a modernização da agricultura
competia, não à IFOCS, e sim, ao Ministério da
Agricultura, ou, alternativamente, às forças do mercado,
isto é, à iniciativa privada.
José Américo constatando a inapetência do
Ministério da Agricultura para atuar na peculiar zona semi-
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árida do Nordeste (atuou com desenvoltura na faixa
litorânea nordestina) criou diretamente subordinadas a
seu Ministério, as Comissões Técnicas: de
Reflorestamento e de Postos Agrícolas no Nordeste,
sediada em João Pessoa, e de Piscicultura, sediada em
Fortaleza.
A primeira ficou sob a chefia do notável agrônomo
José Augusto Trindade e a segunda, sob o comando do
eminente cientista Rodolpho von Ihering. Foram opimos
os frutos colhidos por tais Comissões, mas, aos olhos dos
burocratas, deveriam ser extintas, quando promulgada a
Constituição de 1934 porque não ficavam bem
posicionadas no organograma do MVOP.
Entretanto, o Inspetor Luiz Vieira criou a Comissão
de Serviços Complementares da IFOCS, dando abrigo
aos profissionais de alto gabarito símiles aos dos
dirigentes citados como: José Guimarães Duque, Paulo
de Brito Guerra, Jairo Padilha e outros, na Piscicultura,
Pedro Menezes, Ruy Simões de Menezes, Osmar
Fontenele, e outros.
A IFOCS criou o Instituto Agronômico de Área
Seca, depois nominado Instituto José Augusto Trindade,
até que, no Governo Castelo Branco, foi extinto.
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Pioneiro na divulgação dos preceitos da ecologia
foi o ilustre agrônomo Carlos Bastos Tigre, que estimulou
o reflorestamento, a defesa da vegetação da caatinga e
das matas ciliares aos cursos intermitentes.
Pena é que a exiguidade de recursos haja
impedido o desenvolvimento destas tarefas e que, hoje,
se denuncie não haver os Inspetores dado maior
importância a essas ações, que corroboram para o
desenvolvimento e a elevação do padrão de vida, e que
complementam o essencial: a acumulação de águas
superficiais, sem a qual retornaria o dilema d'antanho:
água ou morte!
Quanto à promoção da irrigação, que aqueles dois
eminentes vultos citados, Thomas Pompeu e Celso
Furtado, imputaram à Inspetoria, de ter dado mais ênfase
à açudagem do que à irrigação, e esqueceram o fato de
que se não fora a existência de açudes, não haveria, no
semiárido, irrigação. Até porque, escreveu o egípcio por
adoção e russo de nascimento, Serge Leliavski, que até o
século XIX, “Irrigação” era uma forma adiantada de
agricultar, mas que do ponto de vista da engenharia civil,
a palavra Irrigação traduz o conjunto de obras hidráulicas
que permitem a captação d'água dos mananciais naturais
ou dos construídos pela ação humana, como os açudes, e
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de seu transporte, por canais ou tubulações, aos locais
onde será utilizada.
Do ponto de vista agronômico aquele termo
significa as diferentes maneiras de espargir água sobre os
terrenos em cultivo, quando a natureza lh'a nega a certa
altura do ciclo vegetativo das espécies cultivadas.
Além desses dois significados, os norte-
americanos, entre estes, Israelsen e Ivan Houk, usam o
termo para significar a ciência agronômica envolvida na
produção agrícola.
O conceito de irrigação, como um dos ramos da
engenharia civil, é, pois relativamente recente,
remontando ao começo deste século, dos dias em que o
notável engenheiro inglês Bligh publicou sua obra
intitulada “Practical Design of Irrigation Works”, a tratar
com exclusividade dos projetos de captação d'água e de
sua condução, sem nele inserir quaisquer informações
sobre como devam os agricultores aplicar água às
culturas, em benefício da produção agrícola.
A IOCS, depois IFOCS, hoje DNOCS sempre
dominou os conhecimentos do projeto e da implantação
das obras civis (hidráulicas) de irrigação, não
conseguindo obter resultados mais expressivos na
irrigação do ponto de vista agronômico, apesar de ter
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alcançando êxito pioneiro nos aspectos científicos das
ciências agrológicas, no IAJAT.
É que somente na década de trinta, ou seja, uma
vintena de anos após criada a IOCS, a Inspetoria se
aproximou da irrigação do ponto de vista agronômico e
das pesquisas agrológicas, como se mencionará adiante.
A Inspetoria de Obras Contra as Secas — IOCS foi
criada com a precípua finalidade de construir açudes e
barragens para acumular água, nos anos de pluviosidade
normal ou mais acentuada, para ser consumida pelas
populações e pelos rebanhos, nos anos secos.
A versão, hoje dominante, porém falaciosa, de que
a Inspetoria tivera por incumbência a promoção do
fomento da agricultura irrigada, do ponto de vista
agronômico, ou do ponto de vista científico de ciência
agrológica, não encontra respaldo na realidade: primeiro,
porque o senhor da produção, àquela época, era deixado
à iniciativa particular e não atribuição de agências
governamentais e, segundo, porque o moderno arsenal
científico em que hoje se arrima a produção agrícola,
ainda não havia sido criado.
É conveniente destacar os condicionamentos
sociais e econômicos que se antepunham ao
desenvolvimento autossustentado nordestino, entre os
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quais a exiguidade dos recursos hídricos agravada pela
ocorrência cíclica, mas de periodicidade até hoje
desconhecida, das secas.
A Inspetoria foi encarregada de acumular água aos
sertões, e nisso, foi eficiente e eficaz. Mas, não tinha por
obrigação fomentar o desenvolvimento da agricultura (do
ponto de vista agronômico).
As mais fortes raízes do subdesenvolvimento
nordestino não são aquelas condicionadas pelo fenômeno
das secas, e sim, aquelas alimentadas pelo regime feudal,
que esteve presente por 300 anos na metrópole lusa, e
que foi transplantado ao Brasil pelos colonizadores
portugueses.
Em dezembro de 1945, o Presidente José Linhares
e o Ministro Maurício Joppert da Silva, promovem a
reformulação da IFOCS, transformando-a em DNOCS,
inserindo em sua nova estrutura, o Serviço Agroindustrial
e o Serviço de Piscicultura, evolução das antigas
comissões técnicas criadas em 1932.
A exiguidade de recursos deferidos ao DNOCS
aplicados, quase exclusivamente, nos setores hidráulicos
de acumulação, impediram a aceleração das obras de
irrigação e dos serviços de piscicultura.
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As áreas irrigadas, dominadas pelos canais,
permaneceram às mãos de proprietários desprovidos de
mentalidade e de capacitação gerencial, desassistidos de
crédito e a contar com a ajuda de rurícolas não
afeiçoados à irrigação.
É que o caráter paraindustrial de que se reveste a
irrigação do ponto de vista agronômico, não dispensava a
orientação e de ajuda governamentais.
Não houve um esforço paralelo, antes de 1968, no
sentido da reorganização fundiária nas áreas dominadas
pelos canais e no de alfabetizar e instruir o campesinato;
no de financiar a mecanização das lavouras; no sentido
da difusão de insumos — fertilizantes, pesticidas e outros;
de criar estruturas de estocagem; de industrializar os
produtos agrícolas; de monetarizar o mercado interiorano,
que funcionava à base do escambo; de elastecer o crédito
etc., cuidados que escapavam às atribuições da IFOCS,
depois, DNOCS.
Não havia, ainda, o aproveitamento da energia
gerada na calha sanfranciscana, apesar da IFOCS haver
iniciado os estudos básicos para o aproveitamento dos
potenciais energético, com criação no seio da Inspetoria,
da Comissão do Vale do São Francisco, antecessora da
CHESF e da SUVALE (hoje CODEVASF).
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O Governo não forneceu meios suficientes para
que o DNOCS promovesse e ampliasse e modernizasse
seus setores encarregados de estudos hidrológicos em
escala regional, inclusive os de meteorologia, apesar do
Departamento ter logrado notável êxito na formulação de
uma síntese hidrológica, de cunho determinístico, com
base nos dados coletados nas duas primeiras décadas de
sua existência.
Por volta de 1956, o Governo Federal criou o
Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste -
GTDN - que trazia em seu bojo a ideia de desenvolver o
Nordeste com base na industrialização.
Este Grupo de Trabalho produziu um famoso
Relatório, fundamentado nas análises realizadas sobre a
problemática regional, pelo qual era sugerida a adoção
das seguintes medidas:
Intensificação dos investimentos industriais,
visando a criar no Nordeste um centro autônomo de
expansão manufatureira; Transformação da economia
agrícola da faixa úmida com vistas a proporcionar uma
oferta adequada de alimentos aos centros urbanos;
Transformação progressiva das zonas semiáridas no
sentido de elevar sua produtividade e torná-las resistentes
ao impacto das secas; Deslocamento da fronteira agrícola
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do Nordeste com o fito de incorporar à economia da
região as terras úmidas do “hinterland” maranhense. A
reorganização da economia da zona semiárida liberaria os
contingentes de mão de obra, parte dos quais seriam
absorvidos pelas frentes de colonização.
Logo depois é criada a SUDENE, que concorreu
para a veiculação da versão, só em parte verdadeira, de
que a capacidade dos açudes então existentes, já era
suficiente para atender a demanda d'água na zona
semiárida e que era chegada a hora de ser fomentada a
irrigação.
Divulgou a ideia de que construir novos açudes era
exigência dos chamados “industriais das secas”, apodo
perspegado aos que advogavam o aumento da
capacidade de acumulação, por ocasião da organização
da Carta Constitucional de 1946, perversamente,
estendido à elite dirigente do DNOCS.
Os mentores da Superintendência não deram o
devido valor ao que havia sido feito pela Inspetoria,
estabelecendo-se nos primeiros dias da SUDENE, forte
animadversão entre ela e o DNOCS, com prejuízos para
ambos e, para o Nordeste.
A SUDENE divulga uma versão desfavorável ao
DNOCS ao veicular que o órgão descuidara da agricultura
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nordestina que, como se mostrou linhas acima, não era
atribuição do Departamento, se não e parcialmente,
depois de 1934.
Foi obstaculizada a política de açudagem até que
as secas ocorridas nos primeiros anos da década de 80,
demonstraram o erro dessa obstaculização.
A SUDENE inicialmente preconizava o emprego
das águas açudadas na irrigação, pensando até em ser a
agência executora da implantação das obras primárias do
cometimento, entretanto, prevalecendo o bom senso, as
mesmas continuaram a cargo do Departamento.
No presente item deste retrospecto histórico se
procura por em evidência a evolução histórica dos fatores
que concorrem para o subdesenvolvimento da agricultura
nordestina, chamando-se a atenção para o fato de que,
sobre a Inspetoria, não pesou responsabilidades por seu
descuro, que lhe não dizia respeito, procurando-se
mostrar como o DNOCS foi sendo paulatinamente
empurrado em direção à irrigação (com sentido
agronômico), sendo que na seara das obras primárias,
sempre atuou de forma eficaz. Mostrou-se, “ en passant”,
como o DNOCS iniciou as pesquisas agronômicas do
semiárido, tendo sido levado a delas se afastar, com a
extinção do IAJAT no Governo Castelo Branco.
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A irrigação e o “modelo” criado pelo
MINTER/SUDENE para o DNOCS implantar:
Dissemos, há pouco, que a Inspetoria, de 1909 a
1945, e o DNOCS de 1945 até agora, se dedicaram com
o maior empenho, na implantação de açudes e estradas,
sendo que estas escaparam às competências do DNOCS,
ao serem criados o DNER, os Departamentos Estaduais
de Estradas de Rodagem e o Departamento Nacional de
Estradas de Ferro — DNEF, no período Presidencial do
cearense José Linhares.
Os resultados obtidos no tocante à construção de
açudes foram revestidos de êxito, assim como os relativos
à implantação de estradas.
Entretanto, as atividades concernentes à
implantação das obras primárias de irrigação e as de
implantação de adutoras, para condução de águas dos
açudes aos núcleos urbanizados, não alcançaram os
mesmos êxito e vultos que o das obras de açudagem e de
viação, menos por dificuldades de cunho tecnológico, mas
pelas decorrentes da exiguidade de verbas.
Basta lembrar que a IFOCS esteve presente aos
trabalhos de implantação da adutora Acarape do Meio —
Fortaleza e, depois, aos de sua reformulação, na segunda
metade da década de trinta; na implantação da adutora,
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do Açude Público Epitácio Pessoa — Campina Grande,
na Paraíba, no Governo Juscelino.
Com as águas estocadas aos açudes que
construíra, a Inspetoria ou o DNOCS poderiam ter levado
a cabo, com maior celeridade, a implantação de canais
para irrigar, o que se deixou de fazer entre 1945 e 1964,
pela exiguidade de recursos alocados pelo Governo
Federal ao cometimento.
À época, a IFOCS era repartição subordinada ao
MVOP.
Mesmo assim, foram beneficiados 16.055 hectares,
desde 1909 até 1958, assim distribuídos:
Às bacias hidráulicas dos açudes; Na faixa seca
6.602 hectares Nas vazantes 4.337 hectares. Subtotal
10.939 hectares. Às bacias de irrigação: Nos postos
agrícolas 655 hectares. Por particulares, a partir de canais
construídos pela IFOCS 4.461 hectares subtotal 5.116
hectares. Total, 16.055 hectares.
Conforme levantamentos publicados no Boletim do
DNOCS, n° 6, vol. 20, de novembro de 1959, às páginas
248.
Devemos recordar que a Segunda Guerra Mundial
contribuiu para postergar a construção dos grandes
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açudes que restavam por implantar e para impedir a
implantação de canais e drenos, com vistas à irrigação.
Não havia, porém, dúvida quanto a conveniência
de irrigar as terras da zona semiárida, porque o sol nos
possibilita cultivar durante os doze meses do ano, não
fosse a irregularidade ou ausência, às vezes total, das
chuvas.
Todavia, não foi somente a curteza de recursos
financeiros que tolheu o florescimento da agricultura por
via irrigada. A tal óbice devemos agregar outros, como a
pequena rentabilidade do capital aplicado na agricultura, a
incapacidade gerencial dos donos de terras, a inexistência
de energia elétrica no meio rural, a mão de obra
campesina não qualificada e não afeiçoada à faina
agrícola; a inexistência de estruturas para estocar, as
dificuldades de crédito e a inexistência de agroindústrias,
e a fragilidade do mercado etc.
Com a criação da CHESF, alargam-se as
perspectivas da aceleração do desenvolvimento
nordestino, ampliadas com a criação do BNB e da
SUVALE, hoje CODEVASF.
A ascensão de Juscelino Kubitschek à Presidência
da República trouxe com ela um rol de metas a serem
concretizadas, e para serem atingidas em seu período
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presidencial, destacando-se, entre várias, a implantação
de usinas hidroelétricas nos rios da região sudeste, a
implantação da indústria automobilística, o refino de
petróleo, a química fina, a construção de estradas de
rodagem e a “meta-síntese” — a construção de Brasília.
As obras de açudagem, no semiárido nordestino,
foram retomadas, em número e porte expressivos, em
ritmo acelerado.
Entretanto, os investimentos aplicados no Sudeste,
foram muito maiores e muito mais diversificados do que
aqueles deferidos ao Nordeste, assim aumentado o
desnível do desenvolvimento entre tais regiões.
Se bem que a região semiárida nordestina tivesse
sido bem contemplada, em comparação com o que os
Governos anteriores nela aplicaram, os do Nordeste
Oriental se queixavam, afirmando que a área delimitada
pelo Polígono das Secas, estava recebendo melhor
tratamento da parte de Governo Federal.
O Governo Jânio Quadros interrompeu a
concessão de subsídios à implantação de açudes
particulares pelo regime de cooperação, desacelerada
também a construção de açudes públicos.
Com a renúncia de Jânio, instala-se, por pequeno
intervalo de tempo, o regime parlamentarista, sucedido
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pela Presidência João Goulart, durante a qual o DNOCS é
transformado em Autarquia, pela Lei 4.229, de 01.06.63.
Oito meses após, assiste o país a Revolução de 31
de março de 1964, e logo após a instalação do Governo
Castelo Branco, sucedendo-se na Direção Geral do
DNOCS, as figuras de vários militares ilustres, mas,
infelizmente não suficientemente versados sobre a
problemática nordestina.
A antiga modalidade empregada pelo DNOCS de
construir obras por administração direta foi abolida e, de
uma hora para outra, o grosso do efetivo dos servidores
especializados pertencentes aos quadros do órgão,
mergulhou em ociosidade, aproveitada a oportunidade
para ser divulgado que o contingente ficara ocioso não
pela intempestiva mudança do tipo de execução por
administração direta, mas atribuída a conluio de políticos
clientelistas, com dirigentes do Departamento.
A ideia central de promover a irrigação consistia no
DNOCS desapropriar as terras das bacias de irrigação,
onde seriam implantados os “perímetros irrigados”, e
dividi-las em pequenos lotes, onde seriam assentados os
“colonos”, em parte recrutados entre os antigos
“moradores” dos estabelecimentos rurais particulares
desapropriados.
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A implantação de tal modelo, idealizada pelo
MINTER e pela SUDENE, foi atribuída ao DNOCS, o que
gerou forte antipatia para com o Departamento, da parte
dos proprietários expropriados, e de seus representantes,
com assento nas casas legislativas, oriunda mormente
dos preços deprimidos com os quais se compuseram os
custos das desapropriações e, da parte dos “moradores”
excluídos do processo de assentamento, que se viram
expulsos e desassistidos de apoio para recomposição de
suas moradias.
Ao DNOCS restou, também, a atribuição de
orientar as tarefas de instituir estratégias coerentes, com
o objetivo de desenvolver a produção agrícola, no âmbito
dos perímetros irrigados.
Para tanto, coube ao Departamento instalar, em
cada pequeno lote, o colono e sua família, encarados
como uma “empresa familiar”, prover o conjunto das
estruturas habitacionais e de serviços públicos, além de
montar uma estrutura administrativa no local e exercer o
papel de uma espécie de “holding”, as gerências de
perímetros, para gerir o empreendimento, uma vez que as
cooperativas de irrigantes criadas para congregar os
colonos eram extremamente frágeis e apenas cumpriam
as determinações dos prepostos do DNOCS.
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A prática consagrou a concessão de subsídios aos
colonos sob as mais diversas formas, tais como:
pagamento de energia elétrica consumida, fornecimento
d'água sem cobrança de tarifa, e de insumos agrícolas os
mais diversos, despesas de conservação gerais etc., cuja
concessão, em escala crescente e indisciplinada, se
revestiram de caráter paternalista.
O paternalismo e a inadequação da escolha da
clientela a que se destinavam os perímetros públicos de
irrigação, tão criticados no “modelo” adotado a partir dos
anos 70, não tiveram, na verdade, origem no
Departamento, e sim no GEIDA — Grupo Executivo de
Irrigação e Desenvolvimento Agrário, do MINTER.
“Modelo” este transferido à própria SUDENE, e
materializado nas experiências pioneiras de Bebedouro,
projetado e implantado por aquela Superintendência,
posteriormente transferido à CODEVASF, e Morada Nova,
cujo projeto foi transferido pela SUDENE ao DNOCS, a
quem coube a sua implantação.
Não se pode deixar de fazer referência, em
respeito à história, do assessoramento dado àqueles
órgãos por parte das missões técnicas dos governos de
Israel, da Espanha e da França, bem como das
consultorias de empresas desses países e de Portugal
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que aqui aportaram através de consórcios com nascentes
empresas brasileiras. Esse assessoramento,
desenvolvido sob a égide da transferência de tecnologia,
encontrou terreno fértil para a transposição de modelos
por força da, então incipiente, experiência nacional neste
setor.
Por outro lado, a excepcionalidade do regime
vigente, favorecia a verticalidade das ações de
implementação do modelo de assentamento definido para
a região e inibia possíveis iniciativas de contestação do
mesmo. Concebido sob a égide do amortecimento de
tensões sociais no campo, viria este modelo a se
transformar, com a liberalização do regime, em um
verdadeiro libelo, unilateralmente lançado contra o
DNOCS, identificado, inicialmente em teses acadêmicas
e, posteriormente, introduzido no discurso de setores do
próprio governo, como repositório de todos os ranços do
autoritarismo, do paternalismo, e da concepção, hoje por
todos apontada como nefasta, do chamado “Estado-
produtor”.
Neste emaranhado de críticas de todos os matizes
ideológicos, obscureceu-se, sempre, o fato de que,
equivocada ou não, esta era uma política de governo, e
ao DNOCS, como órgão de governo cabia executá-la. As
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críticas, algumas fundadas, outras não, cuidaram,
sempre, de omitir que, ao estruturar o aparelho de
governo de acordo com concepções, tidas à época como
“modernizantes”, separaram-se as funções de
planejamento e de execução, ficando a cargo do DNOCS,
no que lhe competia, esta última.
Registre-se o fato histórico de que o GEIDA —
Grupo Executivo de Irrigação para o Desenvolvimento
Agrícola, já mencionado, criado pelo MINTER em 1968,
contando com representantes dos Ministérios da
Agricultura, Fazenda, Minas e Energia, Planejamento e
Saúde, definiu no documento intitulado Programa
Plurianual de Irrigação — PPI, não só o escopo dos
projetos, como, também relacionou as áreas objeto de
intervenção nominando, inclusive, os perímetros que
seriam implantados. A própria Portaria 001/70, do
MINTER, define as responsabilidades no campo da
irrigação no Nordeste:
*GEIDA: formulação de políticas
*SUDENE: supervisão e coordenação
*SUVALE, DNOCS e DNOS: execução, operação e
manutenção dos projetos.
Embora creiamos que devam ser esses fatos do
conhecimento daqueles que estudam e se dedicam à
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problemática da irrigação no Nordeste semiárido,
entendemos ser este registro histórico necessário,
primeiro, para que não se continue a atribuir ao DNOCS
um contencioso maior do que ele já detém, segundo,
porque a identificação das raízes dos problemas que hoje
enfrentamos é fundamental para que não se incorram nos
mesmos erros do passado, embora com isso não
queiramos subtrair do DNOCS a sua parcela de culpa, ao
analisar os fatos históricos aqui relatados.
É meridianamente claro, que, de tudo isso também
afloram, evidentes acertos, dentre os quais o mais
importante é, sem dúvida, a introdução definitiva da
tecnologia da irrigação nos sertões semiáridos e a sua
irreversibilidade como fator de modernização agrícola,
além da geração de externalidades que se incorporaram
ao processo socioeconômico das regiões em que os
projetos foram implantados.
Considerações finais:
O que pretendemos aqui, deixar registrado, mesmo
resumidamente, foi o papel relevante desempenhado pela
mais antiga agência governamental com atuação no
Nordeste brasileiro - o DNOCS.
Esta instituição, apesar do desgaste de seu
reconhecimento perante a opinião pública, decorre, em
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grande parte de motivos que lhe foram alheios, tem a sua
marca impressa em cada palmo de chão dessa sofrida
região.
A nossa história, e dela muito nos orgulhamos, se
confunde com a história da ocupação do semiárido pelo
homem e se expressa por um acervo material e
tecnológico que nos foi legado pelos que nos
antecederam, tenham sido eles engenheiros de larga
visão, como Arrojado Lisboa, cientistas do porte de Von
Ihering, de Francisco Aguiar, pesquisadores do nível de
Guimarães Duque, ou simples “cassacos” que, com as
mãos, transformaram a rocha e a terra estéreis, nas
barragens que reservam a água, mitigam a sede de
homens, animais e de plantas e que pintaram de verde as
manchas cinzentas da caatinga adusta.
Ultrapassados os momentos difíceis que a
instituição tem vivido, um fenômeno tão cíclico como o
das secas que assolam a nossa região, eis que, mais uma
vez, reagrupamos forças e nos aprestamos para o
cumprimento de novas tarefas, com mais entusiasmo, se
por acaso não se reinstalarem as práticas malsãs de
içarem os cargos de chefia, de pessoal despreparado
para o desempenho de suas missões”.
O momento é de cuidar e proteger o DNOCS e seus funcionários.
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Vida longa ao “DNOCS”.
Como pode se observar, a questão da seca continua muito grave no
Nordeste. O Déficit hídrico se agrava. As companhias estaduais de abastecimento
de água do Nordeste monitoram e divulgam continuamente o nível das reservas
hídricas existentes em sua rede de reservatórios distribuídos pelos Estados de toda
a região. Todas as companhias têm alertado a população sobre as dificuldades que
vão enfrentar nos próximos meses, pois, pelo segundo ano consecutivo, as chuvas
no Semiárido não foram bastante para fazerem a recarga de água em volume
suficiente para atender a demanda normal.
Há, portanto, um déficit hídrico que exige, em centenas de municípios, ações
de intervenção emergencial na rede de infraestrutura hídrica para adequá-la às
disponibilidades existentes, bem como medidas de contenção ou racionamento por
parte da população.
Em visita à cidade de Patos/PB, dia 24 de julho, o diretor de operações da
Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais da Paraíba alertou a
população sobre os riscos de um possível colapso no abastecimento de água, em
consequência do longo período de estiagem que atinge a região Nordeste. Segundo
aquele Diretor, a situação de crise no abastecimento de água abrange toda a região
do Sertão, principalmente as comunidades rurais. “A grita por água atinge todo o
Sertão, toda a área do Semiárido. Estamos com vários projetos de atendimento com
prioridade para as comunidades rurais, em especial naquelas cidades onde o
colapso no abastecimento de água já é realidade”, afirmou.
Em algumas regiões da Bahia, com o longo período de estiagem e a
consequente diminuição dos níveis dos mananciais utilizados para abastecimento, a
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Empresa Baiana de Águas e Saneamento — EMBASA vem adotando, em alguns
municípios, a medida preventiva de distribuir água em regime de racionamento. A
distribuição de água tratada nesse regime é a única forma de garantir a continuidade
do serviço até que os mananciais recuperem o nível normal. Na prática, significa que
com menos água para distribuir os imóveis atendidos terão água nas torneiras em
menos dias da semana. Para ter acesso à água nos períodos de desabastecimento,
a população deve fazer o consumo racional, evitando desperdício e usos menos
importantes, como irrigação de jardins, lavagem de carros, de calçadas, de áreas
externas, entre outros.
Nos municípios onde há racionamento, a empresa está promovendo
campanhas nos meios de comunicação para alertar a população, por meio da
distribuição de calendário com dias em que haverá fornecimento e mobilizando a
comunidade para consumir o mínimo possível de água. No Ceará apenas três
reservatórios estão com mais de 90% da capacidade. O volume de chuvas entre
janeiro e março de 2013 em relação ao mesmo período de 2012 teve queda de 36%.
A esperança para algumas comunidades são obras emergenciais e a distribuição de
água pelos carros-pipa, já que o segundo semestre costuma ser de poucas chuvas.
Atualmente, os reservatórios contêm 41,3% da capacidade total, tendo
apenas 7,7 bilhões de metros cúbicos dos 18,3 bilhões que podem armazenar. O
volume das águas atingia 69,8% da capacidade em março de 2012, ano também de
seca. Já em março de 2013, o volume armazenado havia caído para 44%.
Mais de 80% dos açudes públicos do Ceará estão com volume de água
inferior a 30%. O cálculo leva em conta os 144 açudes construídos pelos governos
Estadual e Federal e monitorados diariamente pela Companhia de Gestão dos
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Recursos Hídricos (COGERH) e pelo Departamento Nacional de Obras Contra as
Secas (DNOCS).
O Nordeste vive a pior seca das últimas décadas. Em parceria com o Governo
federal, os Estados vêm desenvolvendo ações emergenciais nos sistemas de
abastecimento de água de centenas de municípios que estão em situação mais
crítica. As ações totalizam bilhões de reais, sendo uma parcela de recursos próprios
das companhias estaduais e outra parte oriunda dos diversos ministérios que atuam
diretamente com intuito de reverter à situação.
Entre as ações existem: a integração entre sistemas de abastecimento de
água que se encontram ameaçados de colapso com outros que tenham
disponibilidade hídrica; o abastecimento alternativo por meio de carros-pipa; poços
cavados onde for tecnicamente viável e a implantação de cisternas.
Para exemplificar ações estaduais existentes cita-se uma do Governo do
Ceará que concluiu a construção de adutora emergencial de engate rápido no
município de Crateús. Trata-se de infraestrutura hídrica de 13 quilômetros que levará
água do açude Carnaubal até a estação de tratamento de água do município,
beneficiando 70 mil habitantes. Esse é um dos exemplos de operação desenvolvida
pela COGERH para garantir segurança hídrica a vários municípios da região. As
ações daquela Companhia incluem, ainda, a construção de adutoras emergenciais,
a limpeza e desobstrução de leito de rios e a transferência da água de açudes com
boa capacidade hídrica para aqueles com grande deficiência.
Toda a região do polígono das secas não tem medido esforços para contornar
a situação promovida por este longo período de estiagem. Não só a Embasa, mas
também outras companhias responsáveis pelo fornecimento de água vêm adotando
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medidas preventivas e até emergenciais de distribuição de água em regime de
racionamento. Nos lugares onde há racionamento há a promoção de campanhas
nos meios de comunicação a fim de alertar a população sobre o uso racional da
água; distribuem-se calendários dos dias em que haverá fornecimento e promove-se
a mobilização da comunidade para que esta consuma o mínimo possível de água.
O Governo Federal, parceiro dos Estados nas ações de atenuar os efeitos
causados pela seca prolongada, vai repassar recursos para a construção de obras
hídricas aos municípios da região Nordeste e de Minas Gerais, declarados pela
Defesa Civil em estado de emergência. Por meio do programa Água para Todos, a
população do Semiárido brasileiro é beneficiada com a instalação de reservatórios
de água da chuva para o consumo humano e para a produção. Esses reservatórios
captam a água da chuva por meio de um sistema de calhas e canos.
Desde 2011, foram construídas cerca de 270.611 cisternas. A meta é instalar
750 mil em todo o País. A determinação da presidente Dilma é de que todas as
casas da zona rural no Semiárido nordestino tenham uma cisterna. Em 2013, o ritmo
de construção foi intensificado. Até julho foram entregues 130 mil novas cisternas
para consumo; a previsão é que serão 240 mil até dezembro e 750 mil até 2014. O
DNOCS anunciou a descentralização imediata de R$ 66,31 milhões para a
instalação de 533 sistemas simplificados de abastecimento de água e 385 barragens
subterrâneas. Com intuito de agilizar o atendimento às comunidades carentes de
água, as coordenadorias do DNOCS em Alagoas, Ceará, Bahia, Minas Gerais,
Paraíba, Pernambuco, Piauí, Sergipe e Rio Grande do Norte irão contratar as
empresas com dispensa de licitação. O diretor geral do DNOCS recomendou
atender de modo prioritário aos municípios mais carentes.
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Os coordenadores nos Estados vão receber da Administração Central uma
orientação unificada da procuradoria do órgão sobre como devem proceder na
dispensa de licitação com base na portaria e decreto que reconhece a situação de
emergência de cada município. Conforme a lei, as obras terão de ser executadas
dentro de 180 dias. O DNOCS vai fornecer projeto base e termo de referência para
que as coordenadorias estaduais possam implantar as obras de modo mais rápido.
A contratação será fiscalizada por pessoal do DNOCS nos Estados e da
Administração Central.
Se a execução se der da forma mais rápida, há possibilidade de se conseguir
mais recursos. Para isso o DNOCS deverá receber mais recursos do Ministério da
Integração Nacional vislumbrando a recuperação de 800 sistemas simplificados de
água, com a instalação de poços públicos tubulares e de mais 600 sistemas
simplificados de abastecimento de água que incluem a perfuração e instalação de
novos poços tubulares.
Tão logo os recursos cheguem serão descentralizados para as coordenações
nos Estados. Conforme a realidade de cada um. Existe por parte do Governo
Federal um Plano Nacional de Segurança Hídrica que tenciona ouvir Estados e
Municípios sobre suas maiores carências.
O Ministério da Integração Nacional e a Agência Nacional de Águas (ANA)
vão percorrer os Estados, a começar pelo Nordeste, para identificar, em interlocução
com o DNOCS, CODEVASF e as secretarias estaduais, as obras prioritárias a serem
incluídas no Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH). O secretário Nacional de
Infraestrutura Hídrica, Francisco José Coelho Teixeira, do MI, disse em reunião no
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DNOCS que a visita às autoridades estaduais tem por objetivo conhecer a realidade
hídrica do Estado sem perder uma visão de bacia hidrográfica.
“Não adianta fazer planos nacionais aqui em Brasília se não for aos Estados
discutir com os órgãos e técnicos que têm coisas pensadas”, disse Sérgio Soares,
superintendente adjunto da ANA. Existe conhecimento produzido pelos Estados e
órgãos como o DNOCS e CODEVASF, segundo ele, mas está disperso. Francisco
Teixeira observou que foi adotado pelo DNOCS o trabalho com Plano Diretor
introduzido pela SUDENE. Como exemplos, citou o Plano Diretor do Baixo
Jaguaribe, de 50 anos atrás e outro dos anos 80 que inclui as barragens no rio
Macacos, Jucurutu e na bacia do rio Coreaú. “Precisamos resgatar esses projetos
de maneira organizada e aperfeiçoar com as novas tecnologias”, disse.
O secretário estima em meia dúzia o número de grandes barragens a serem
construídas no Ceará, Estado que, segundo ele, “foi o único que assumiu a seca
como um problema”. O diretor-geral do DNOCS, Emerson Fernandes, por sua vez,
acrescentou que são 15 as grandes barragens incluídas em plano diretor para serem
construídas no Ceará. O órgão na atualidade tem a preocupação de trabalhar com a
área de projeto para identificar necessidades e prioridades no que considerou a
mesma trilha do Plano Nacional de Segurança Hídrica.
Provavelmente o primeiro Estado a ser visitado será a Bahia, considerado por
Francisco Teixeira um dos Estados onde o problema de água é sério e mais precisa
de apoio federal, como também o Rio Grande do Sul. O diretor-geral do DNOCS
informou que já esteve com o governador da Bahia, Jaques Wagner, para discutir as
necessidades de obras hídricas no Estado. A lista preliminar de projetos para a
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Bahia já está pronta no DNOCS, informou o coordenador de Obras da Diretoria de
Infraestrutura Hídrica, Glauco Mendes.
Com a ANA e MI, participarão dos encontros nos Estados um dos dois
membros da Diretoria de Infraestrutura Hídrica do DNOCS indicados para o grupo
de trabalho do PNSH, o coordenador do Departamento no Estado visitado e um
membro da CODEVASF. A elaboração do PNSH visa identificar as áreas críticas e
as principais intervenções estruturantes do País, de natureza estratégica e
relevância regional, necessárias para garantir oferta de água para o abastecimento
humano, para o uso em atividades produtivas e para reduzir os riscos associados a
eventos críticos — secas e inundações.
Vão ser incluídas no PNSH obras do tipo eixos de integração de bacias,
barragens e sistemas adutores, que atendam a requisitos como a visão da bacia
hidrográfica e que possuam abrangência interestadual ou estadual. É necessário
que a escolha se configure em solução integrada ou estratégica, uma vez que o
Plano não contempla soluções tipicamente locais.
Outro requisito é que a obra ofereça solução “estruturante” que garanta
resultados duradouros - e não limitado a soluções de caráter emergencial ou
paliativo. Também são requisitos a sustentabilidade hídrica e operacional, nos
moldes do Certificado de Avaliação da Sustentabilidade da Obra Hídrica (CERTOH)
da ANA, foco no atendimento a demandas efetivas, otimização de excedentes
hídricos e ênfase em obras complementares. Como intervenções estruturantes,
tanto para obras como gestão, o PNSH adota um foco em barragens para o controle
de cheias e regularização da oferta de água para usos múltiplos e infraestrutura de
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condução e derivação de água para abastecimento urbano ou usos múltiplos, o que
inclui sistemas adutores, canais e eixos de integração.
Francisco Teixeira disse que o Plano não terá mais de 100 páginas e será um
documento que precisa ter sustentabilidade técnica, econômica e política. Antes da
contratação da empresa que fará os estudos do PNSH, prevista para ocorrer ainda
no primeiro semestre deste ano, Francisco Teixeira disse que o plano é acelerar as
visitas nos próximos quatro meses. O estudo tem previsão para ser concluído em 18
meses.
Outra obra muito importante é a Transposição do Rio São Francisco. O
projeto de integração do Rio São Francisco vai garantir a segurança hídrica do
Nordeste com 220 quilômetros de extensão no eixo leste e 260 quilômetros no eixo
norte. Já em 2014 estarão disponíveis 100 quilômetros de transposição em cada
trecho e todo o empreendimento estará pronto no final de 2015. A obra da
transposição inaugura um novo momento na política de infraestrutura hídrica do
Nordeste. É um primeiro grande passo. E a obra da transposição, sim, vai assegurar
aquilo que a gente sonhou por tantas gerações que é legar ao Nordeste a segurança
hídrica que o Nordeste precisa para conviver melhor com períodos de estiagem.
Sobre a retomada de toda a obra do São Francisco, Fernando Bezerra disse
que está sendo concluído o processo licitatório das últimas frentes de serviço.
“Nós vamos estar com toda a obra da transposição
plenamente remobilizada. (...) Temos hoje mais de 5,8 mil
pessoas trabalhando nas obras de transposição, quase 2
mil equipamentos. E até o final de setembro nós
deveremos alcançar 8 mil pessoas trabalhando na
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transposição. (...) Já temos diversas frentes de serviço
trabalhando em dois turnos, nós temos trabalho noturno.
A orientação da presidenta Dilma é não faltar dinheiro pra
essa obra e a gente poder de fato já ver a obra
funcionando a partir do próximo ano.”
O ministro também falou sobre investimentos do PAC 2, que durante o
governo da presidenta Dilma, investiu na construção de barragens no Nordeste, o
que deve elevar em quase 7 bilhões de m³ a capacidade de reserva de água na
região. Bezerra falou também sobre o Plano Safra do Semiárido, que cria condições
diferenciadas de crédito para apoiar pequenos agricultores e criadores, e sobre o
programa Mais Irrigação. Este último está distribuindo inicialmente 20 mil kits de
irrigação comunitários no interior do Nordeste visando geração de emprego e renda.
O ministro destacou ainda, a criação de cultura de prevenção e investimentos
em estruturação da Defesa Civil nos municípios, em todo o país, que são alvos
recorrentes de desastres naturais. Desde o ano passado foram priorizados mais de
R$ 16 bilhões em recursos para essas comunidades, ampliando investimentos em
macrodrenagem, canais extravasores e diques de contenção de cheias. Por meio da
Secretaria Nacional de Defesa Civil (SEDEC), estão sendo entregues kits de defesa
civil como parte desse esforço para melhorar a cultura da prevenção.
Cada kit contém uma viatura e equipamentos como máquina fotográfica
digital, aparelho de GPS e tablet, para que os municípios possam organizar
estruturas de Defesa Civil. A SEDEC também tem promovido, em parceria com as
defesas civis estaduais e municipais, simulados com o objetivo de ensinar a
população que vive em áreas de risco a agir em situações de desastres.
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“Nessa primeira etapa, estamos entregando o kit para 102 municípios. Esse é
um esforço para melhorar a cultura da prevenção. Ao lado dos kits estamos
realizando diversos simulados, mais de 19 Estados já foram contemplados. Mais de
5 mil pessoas participaram desses simulados,” declarou o ministro.
Em um dos seus piores anos desde que começou a sair do papel, as obras de
transposição das águas do Rio São Francisco receberam de janeiro até julho só
4,2% do orçado para 2015, R$ 1,246 bilhão. O fraco ritmo de pagamentos não
aparece somente no desembolso efetivo do governo federal. Quando se considera o
total de dinheiro empenhado, a “garantia formal” de que as construtoras serão
pagas, o governo atingiu apenas 15,5% do orçamento. O ritmo de 2015 é melhor
apenas do que 2007 e 2008, quando a transposição dava seus primeiros passos.
A transposição do São Francisco foi a grande promessa do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e também serviu de plataforma política para a presidenta Dilma
Rousseff no Nordeste. A obra é composta por dois grandes canais que somam mais
de 700 quilômetros e vão retirar água do São Francisco para beneficiar 12 milhões
de pessoas em Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.
Sempre é bom lembrar que o Projeto de Transposição do Rio São Francisco
não é uma ideia nova. Ampliado no governo Lula, ele existe há décadas. O plano
básico é construir dois imensos canais ligando o rio São Francisco a bacias
hidrográficas menores do Nordeste, bem como aos seus açudes. A seguir, seriam
construídas adutoras, com o objetivo de efetivar a distribuição da água.
De acordo com o governo federal, o projeto seria a solução para o grave
problema da seca no Nordeste, pois distribuiria água a 390 municípios dos Estados
de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte — uma população de 12
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milhões de nordestinos. O prazo para realização do projeto é de 20 anos, a um custo
total estimado, até meados de 2009, em R$ 4,5 bilhões.
A transposição, contudo, tem sido criticada por ambientalistas e
representantes de outros setores da sociedade, incluindo a Igreja Católica. A
resposta do governo é de que o número de empregos criados, direta e
indiretamente, graças ao projeto, bem como a solução do problema da seca derruba
toda e qualquer crítica.
Além da interligação das bacias, o governo também pretende executar um
projeto de recuperação do rio São Francisco e de seus afluentes, pois vários desses
rios sofrem problemas de assoreamento, decorrentes do desmatamento para
agricultura.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do
Nordeste Setentrional é um empreendimento destinado a assegurar a oferta de
água, em 2025, a cerca de 12 milhões de habitantes de pequenas, médias e
grandes cidades da região semiárida dos Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e
Rio Grande do Norte.
A integração do rio São Francisco às bacias dos rios temporários do
Semiárido será possível com a retirada contínua de 26,4 m³/s de água, o equivalente
a 1,4% da vazão garantida pela barragem de Sobradinho (1850 m³/s) no trecho do
rio onde se dará a captação. Este montante hídrico será destinado ao consumo da
população urbana de 390 municípios do Agreste e do Sertão dos quatro Estados do
Nordeste Setentrional. Nos anos em que o reservatório de Sobradinho estiver
vertendo, o volume captado poderá ser ampliado para até 127 m³/s, contribuindo
para o aumento da garantia da oferta de água para múltiplos usos.
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A Região Nordeste que possui apenas 3% da disponibilidade de água e 28%
da população brasileiras apresenta internamente uma grande irregularidade na
distribuição dos seus recursos hídricos, uma vez que o rio São Francisco representa
70% de toda a oferta regional.
Esta irregularidade na distribuição interna dos recursos hídricos, associada a
uma discrepância nas densidades demográficas (cerca de 10 hab/km2 na maior
parte da bacia do rio São Francisco e aproximadamente 50 hab/km2 no Nordeste
Setentrional) faz com que, do ponto de vista da sua oferta hídrica, o Semiárido
Brasileiro seja dividido em dois: o Semiárido da Bacia do São Francisco, com 2.000
a 10.000m3/hab/ano de água disponível em rio permanente, e o Semiárido do
Nordeste Setentrional, compreendendo parte do Estado de Pernambuco e os
Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, com pouco mais de
400m3/hab/ano disponibilizados através de açudes construídos em rios intermitentes
e em aquíferos com limitações quanto à qualidade e/ou quanto à quantidade de suas
águas.
Diante desta realidade, tendo por base a disponibilidade hídrica de
1.500m3/hab/ano, estabelecida pela ONU como sendo a mínima necessária para
garantir a uma sociedade o suprimento de água para os seus diversos usos, o
Projeto de Integração estabelece a interligação da bacia hidrográfica do rio São
Francisco, que apresenta relativa abundância de água (1.850 m³/s de vazão
garantida pelo reservatório de Sobradinho), com bacias inseridas no Nordeste
Setentrional com quantidades de água disponível que estabelecem limitações ao
desenvolvimento socioeconômico da região.
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As bacias que receberão a água do rio São Francisco são: Brígida,
Terra Nova, Pajeú, Moxotó e Bacias do Agreste em Pernambuco; Jaguaribe e
Metropolitanas no Ceará; Apodi e Piranhas-Açu no Rio Grande do Norte; Paraíba e
Piranhas na Paraíba.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do
Nordeste Setentrional prevê a construção de dois canais: o Eixo Norte que levará
água para os sertões de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte e o
Eixo Leste que beneficiará parte do sertão e a região do agreste de Pernambuco e
da Paraíba.
O Eixo Norte, a partir da captação no rio São Francisco próximo à cidade de
Cabrobó-PE percorrerá cerca de 400 quilômetros, conduzindo água aos rios
Salgado e Jaguaribe, no Ceará; Apodi, no Rio Grande do Norte; e Piranhas-Açu, na
Paraíba e Rio Grande do Norte.
Projetado para uma capacidade máxima de 99 m³/s, o Eixo Norte operará
com uma vazão contínua de 16,4 m³/s, destinados ao consumo humano. Em
períodos recorrentes de escassez de água nas bacias receptoras e de abundância
na bacia do São Francisco (Sobradinho vertendo), as vazões transferidas poderão
atingir a capacidade máxima estabelecida. Os volumes excedentes transferidos
serão armazenados em reservatórios estratégicos existentes nas bacias receptoras.
O Eixo Leste que terá sua captação no lago da barragem de Itaparica, no
município de Floresta-PE, se desenvolverá por um caminhamento de 220
quilômetros até o rio Paraíba-PB, após deixar parte da vazão transferida nas bacias
do Pajeú, do Moxotó e da região agreste de Pernambuco. Para o atendimento das
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demandas da região agreste de Pernambuco, o projeto prevê a construção de um
ramal de 70 quilômetros que interligará o Eixo Leste à bacia do rio Ipojuca.
Previsto para uma capacidade máxima de 28 m³/s, o Eixo Leste funcionará
com uma vazão contínua de 10 m³/s, disponibilizados para consumo humano.
Periodicamente, em caso de sobras de água em Sobradinho e de necessidade nas
regiões beneficiadas, o canal poderá funcionar com a vazão máxima, transferindo
este excedente hídrico para reservatórios existentes nas bacias receptoras.
Resultado de Termo de Cooperação firmado entre o Exército Brasileiro e o
Ministério de Integração/Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São
Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), coube ao 2º Batalhão de Engenharia de
Construção (2º BEC — Batalhão Heróis de Jenipapo — Teresina-PI), a
responsabilidade pela implantação das obras do Canal de Aproximação à estação
de Bombeamento EBI-01 e da Barragem de Tucutu, pertencentes ao Eixo Norte e ao
3º Batalhão de Engenharia de Construção (3º BEC — Batalhão Visconde Parnaíba
— Picos-PI), a responsabilidade pela implantação das obras do Canal de
Aproximação à estação de Bombeamento EBV-01 e da Barragem de Areias,
pertencentes ao Eixo Leste.
No Eixo Norte o Canal de Aproximação possuirá uma extensão de 2.080
metros, desde a captação no Rio São Francisco até a montante da EBI-01. Já a
Barragem de Tucutu contará com maciço de comprimento total de 1.790 metros e
altura máxima de 22 metros.
No Eixo Leste o Canal de Aproximação possuirá uma extensão de 5.973
metros desde a captação no Interior do Reservatório de Itaparica até o montante da
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EBV-01, e profundidade de 35 metros, enquanto que o maciço da Barragem de
Areias terá o comprimento total de 1000 metros.
Outra obra a se destacar é o Canal do Sertão. Iniciada em 1992, o Canal do
Sertão teve sua obra paralisada por pelo menos 10 anos por falta de estudos
técnicos que garantissem sua viabilidade. Somente em 2002 após a execução de
um amplo estudo técnico que envolveu ministérios, órgãos federais e estaduais, e a
partir de um convênio com a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São
Francisco e Parnaíba (CODEVASF), Alagoas pode comprovar a viabilidade do
canal.
Para isso, foram apontadas as alternativas socioeconômicas de engenharia e
os impactos ambientais. Tudo levando em conta o aproveitamento da água de parte
da bacia hidrográfica do Rio São Francisco, desde o lago do Moxotó, no município
de Delmiro Gouveia, próximo à Usina Apolônio Sales, até as imediações de
Arapiraca, numa extensão de 250 quilômetros. Em 2004, o custo total da obra era
estimado em R$ 531,4 milhões, hoje o projeto está orçado em mais de R$ 600
milhões.
Inicialmente as obras do canal do sertão estavam previstas para serem
concluídas até 2010, porém, por motivo de paralisação esta expectativa não foi
concretizada. O Canal do Sertão encontra-se ainda em sua primeira fase, que
compreende a infraestrutura de captação, com a construção da estação de
bombeamento, 45 quilômetros do canal adutor e os projetos de irrigação de dois mil
hectares. Quando for concluído, o canal vai beneficiar mais de 40 municípios, que
correspondem quase à metade do território alagoano em mais de 13 mil quilômetros
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quadrados. O projeto já está sendo considerado uma das maiores e mais modernas
obras de engenharia hídrica do mundo.
O Canal do Sertão garantirá a mais de um milhão de pessoas água tratada
para o consumo humano, irrigação, produção de alimentos, pecuária e a piscicultura.
Este empreendimento é considerado o maior de todos os projetos para o
desenvolvimento sustentável do semiárido alagoano e vai beneficiar quase metade
dos municípios alagoanos.
Até a conclusão da obra, mais de dois mil trabalhadores serão inseridos na
execução do empreendimento que já é considerado o maior do Estado. Segundo a
Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Renda — SETER. A obra já
comemora 40 quilômetros de execução. O Canal do Sertão hoje integra o Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC).
Desde o início da década passada ouvimos falar no projeto do Canal do
Sertão, um canal que custaria a 1,2 bilhão de reais; que sairia do lago de
Sobradinho levando água para irrigar 115 mil hectares de 16 municípios de
Pernambuco. Num piscar de olhos, um projeto foi rapidamente articulado pela
agroindústria canavieira pernambucana com a Petrobras e a japonesa Itochu
Corporation para que a área produzisse cana-de-açúcar, com safras estimadas de
10 milhões de toneladas anuais e produção de etanol toda exportada para o Japão.
Agora, com a aparente paralisação do projeto é uma ótima oportunidade para
reavaliá-lo sob, pelo menos, dois aspectos.
Sem considerar as restrições à cana-de-açúcar impostas pelo zoneamento
agro ecológico, o primeiro aspecto a ser reavaliado seria o risco implícito da
monocultura pela sua capacidade de exaustão do solo e da biodiversidade e de
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redução da mão de obra no campo, sem esquecer, ainda, o risco econômico de
concorrência com outras regiões de custos operacionais mais baixos pela não
necessidade de irrigação.
O segundo aspecto seria a aparente injustiça com as populações locais que
sobrevivem nessas áreas há décadas, sempre encarando a pobreza, as dificuldades
com as secas recorrentes, sem ou com um apoio muito precário em educação,
saúde, crédito, assistência técnica, e outros fatores essenciais de produção.
Finalmente, quando o governo resolve investir em obras realmente capazes de
mudar a situação, chegam as grandes empresas, ocupam essas terras e reduzem
essas populações a uma condição de ator secundário do processo de mudança ao
invés de serem vistas como objeto principal do projeto. Evidentemente que este
alijamento das pessoas não é justo e precisa e pode ser repensado, sem,
necessariamente, excluir a grande empresa.
O instrumento que pode contribuir na solução do problema é a reformulação
na concepção dos novos projetos públicos de irrigação, visando integrar as áreas
irrigadas com as áreas de sequeiro (dependentes de chuva).
A categorização do produtor no acesso à água é um procedimento que
permitirá multiplicar expressivamente as áreas beneficiadas pelos projetos públicos
de irrigação, hoje limitadas a verdadeiros “guetos” de uso intensivo de capital e
tecnologia, rodeados de “favelas” de pobreza e de subdesenvolvimento.
A proposta tem por base o estabelecimento de anéis diferenciados de oferta
de água, permitindo incorporar áreas mais extensas e contemplar um maior número
de famílias. O Canal do Sertão oferece o palco perfeito para começar a implantar
essa nova concepção. A integração das atividades agropecuárias exercidas nas
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áreas de sequeiro com as das áreas irrigadas já existe e representa um formidável
potencial de benefícios econômicos e sociais ainda hoje subvalorizado nos projetos
públicos e privados direcionados separadamente para essas duas áreas.
Na prática, a integração se manifesta nos fluxos de insumos e serviços entre
os dois espaços. O esterco caprino e ovino é o principal exemplo. Com demanda
efetiva estimada acima de um milhão de toneladas anuais do produto, consolida-se
uma forte dependência da agricultura irrigada desse insumo largamente disponível
na área de sequeiro. Seria até engraçado vislumbrar o desastre que causaria uma
greve dos bodes deixando os pomares de manga e uva sem acesso à matéria
orgânica.
A ideia a ser analisada é a expansão da área beneficiada pelo Canal do
Sertão incorporando áreas de sequeiro do chamado “território de concessão” em
mais duas faixas (anéis) diferenciadas de acesso à água. Isso poderia resultar em
vantagens como o aumento substancial da área física beneficiada do projeto em
0,75 a 1,5 milhão de hectares, e o incremento de 15 a 30 mil produtores no total de
beneficiários. Isto sem considerar a redução substancial nos custos por hectare
incorporado, já que não envolve despesas com indenizações de terras e
deslocamentos de famílias, considerando que esses produtores são os mesmos que
já vivem na área.
Há de se considerar também o fortalecimento dos empreendimentos irrigados
com base no fato de o sequeiro poder se constituir no seu maior provedor de mão de
obra diversificada e qualificada, de esterco, de serviços agrícolas especializados, de
parcerias em empreendimentos agropecuários e turísticos (terminações de animais,
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condomínios de leite, ecocapriturismo, etc.), bem como, sua maior fonte provedora
de alimentos básicos.
Não podemos incorrer no mesmo equívoco do Vale do São Francisco. O
potencial econômico da agricultura irrigada lá praticada é muito grande e sua
relevância social representada pela geração de milhares de empregos permanentes
é tremenda para ficar quase que totalmente dependente apenas da oferta de um par
de produtos in natura a um mercado predominantemente externo e estacional.
A região de sequeiro não é só agricultura irrigada. A caprino-ovinocultura é
um exemplo disso e apresenta condições excepcionais de integrar de forma
ambientalmente harmônica as duas áreas. Para se ter uma ideia, um recente estudo
da Markestrat/SEBRAE/Banco do Brasil, ainda não publicado, apontou uma
movimentação financeira de quase 300 milhões de reais anuais da caprino-
ovinocultura, apenas em cinco municípios baianos do Vale. Isto pode ser
considerado excepcional, se considerarmos tratar-se de uma atividade que vive
quase toda na informalidade, ou seja, é inexistente do ponto de vista oficial. É
inexistente, mas representa R$ 300 milhões, em cálculo, por baixo. Pode ser muito
mais, principalmente se forem admitidas cifras mais realistas para os quantitativos
de rebanhos.
A busca da dinamização da economia das populações do Semiárido deve
evitar a visão reducionista de desenvolvimento que enxerga duas coisas díspares,
como se fossem estratégias de desenvolvimento excludentes:
1) Uma oposição entre a “maximização da competitividade” do chamado
agronegócio;
2) A “diversificação das economias locais” propiciada pela agricultura familiar.
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O projeto Canal do Sertão pernambucano pode representar um primeiro
passo concreto em direção a uma nova forma de enxergar mais objetivamente as
coisas do Semiárido, se conseguir chegar ao fim, de forma coerente, visando a
autossustentabilidade, sem se perder nos meandros das politiquices que abundam
qualquer projeto com grandiosos cifrões, como é este caso.
Quando ainda menino, morando em Salgueiro, eu ouvia falar em duas coisas
que me enchiam os olhos de alegria e o coração de esperança. Uma era a chamada
Universidade Federal de Petrolina, e a outra, o Canal do Sertão, que traria água do
Rio São Francisco para irrigar as terras de Casa Nova, na Bahia e, de mais de uma
dúzia de municípios do sertão pernambucano, até chegar a Salgueiro, terra que me
adotou e que amo.
O tempo passou, e somente depois da virada do século XX, depois de muita
luta, discussões e negociações com os Estados da Bahia, do Piauí e de
Pernambuco, é que, no Congresso Nacional, conseguimos aprovar essa tão
importante Universidade, apenas mudando o seu nome para Universidade do Vale
do São Francisco — UNIVASF.
O combate à pobreza, a geração de empregos e a distribuição de renda de
uma região, não podem prescindir das ações ligadas à agricultura. A irrigação é uma
das mais efetivas ações desse processo, e, ainda, o aumento da oferta de alimentos
e preços menores daqueles produzidos nas áreas não irrigadas, bem como o
aumento substancial da produtividade dos fatores, terra e trabalho.
Mesmo com essas vantagens, a área irrigada per capta do Brasil ainda é uma
das mais baixas do mundo.
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Detentor do mais alto índice de água do planeta, e, mesmo com
pouquíssimas áreas irrigadas, o Brasil emprega mais de 500 mil trabalhadores e
arrecada meio milhão de reais de impostos todos os anos, nesse setor.
Com a vinda da Presidente Dilma Rousseff ao Submédio São Francisco
(Juazeiro e Petrolina), o então Ministro da Integração Nacional, hoje Senador da
República, Fernando Bezerra Coelho, conhecedor dos problemas da região,
conseguiu incluir no PAC — Programa de Aceleração do crescimento II, os recursos
para a construção de 750 mil cisternas para os pequenos agricultores em áreas de
sequeiro e, ainda, a elaboração do projeto e construção desse velho Canal do
Sertão de Pernambuco que poderá se arrastar ainda por mais de 10 anos.
O Canal do Sertão vai contemplar atividades estruturadoras em 16 municípios
pernambucanos — Petrolina, Afrânio, Dormentes, Santa Filomena, Santa Cruz,
Ouricuri, Trindade, Araripina, Bodocó Ipubi, Granito, Exu, Moreilândia, Serrita, Cedro
e Parnamirim e ainda podendo atender Verdejante e Salgueiro a pedido deste
jornalista e político.
É sempre bom lembrar que o meu Projeto de Lei da interligação do Rio
Tocantins com o Rio São Francisco para a regularização das águas do rio da
Integração Nacional e para a navegação fluvial desse gigante rio nordestino que
corresponde a um dos mais econômicos meios de transportes, desde que
efetivamente exista um sistema hidroviário implantado e uma administração de
tráfego eficiente.
Essencialmente para um país como o Brasil, e num cenário cada vez mais
próximo de escasseamento de recursos energéticos e aproveitamento racional das
vias navegáveis interiores, representa condição inarredável para o desenvolvimento
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econômico e social equilibrado e melhoria de suas condições de competitividade no
intercâmbio internacional.
Retorna mais uma vez o binômio desenvolvimento e comunicações para o
Vale do São Francisco. Queremos expor, aqui, que o setor transporte é uma
problemática constante para mim, desde a concepção e implantação das obras para
a Ferrovia Transporte, culminando agora com a navegação fluvial a partir do médio
São Francisco, precisamente no trecho navegável do Rio Preto, afluente do Rio
Grande, para estabelecer conexão com o Rio Tocantins.
O médio São Francisco conta com várias barcas com plena capacidade para
o transporte hidroviário: o Rio Corrente e o Rio Preto que, banhando as cidades de
Santa Rita de Cássia e Formosa do Rio Preto, grandes centros produtores de soja,
tendo Barreiras como epicentro das micro regiões 131, 132, 133 e 134, de soja,
asseguram para aquela região na margem esquerda do Rio São Francisco.
Este projeto tem o mérito de restabelecer a navegação fluvial para o fluxo de
produção dos ribeirinhos que fizeram dela o seu meio de comunicação com as
cidades do Estado de Goiás, totalizadas na margem direita ao rio Tocantins. As
embarcações, já atualmente projetadas pelo IPT — Instituto de Pesquisas Técnicas
de São Paulo, para a navegação fluvial no Rio São Francisco e afluentes, poderão
sangrar o Rio Preto até o Rio São Marcelo, fronteira com Goiás, que, para atingir o
Rio Tocantins pelo Rio do Sono, necessita apenas algumas dezenas de quilômetros.
Esta é a nossa realidade: não temos combustível, temos poucas fábricas de
caminhões, não temos rodovias e nem temos ferrovias, mas temos enormes
distâncias a serem vencidas. Gostaria de solicitar a cada um dos pares desta Casa,
apoio para este projeto, pois a superação dos nossos problemas no setor de
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transporte só terá saída com o aproveitamento do Rio São Francisco e afluentes
como meio de transporte, porque é mais barato e em termos de tarifas é mais eficaz
para o transporte de cargas e passageiros.
A nossa preocupação, com transporte de carga para aquela região são
franciscana, provém de uma tentativa para restabelecer o papel histórico que o Rio
São Francisco desempenhou no passado como traço de união entre o Norte e o Sul
e também como condensados de gente que, atenta às condições de pastoreio, que
lá implantaram grandes criatórios de gado vacum, a exemplo dos bandeirantes e
pioneiros como Garcia D’Ávila, senhor da Casa da Torre e Antônio Guedes de Brito
da Casa da Ponte.
Chamamos atenção à navegação do Vale do São Francisco, especialmente o
Rio Preto, alerto para a possibilidade de reversão das águas do Tocantins para a
bacia do Rio São Francisco, que já tem projeto em estudos de viabilidade voltado
para este assunto. Preocupa-nos também o uso múltiplo dos nossos recursos
hídricos, atualmente só utilizados para a geração de energia elétrica e irrigação.
Repito que há de se reconhecer a viabilidade deste projeto desde que, no
livro clássico de Geraldo Rocha “o Rio São Francisco, precípuo para o
desenvolvimento do Brasil”, publicado em 1940, numa antevisão genial, aventa com
a possibilidade da abertura de um canal para o Rio São Francisco com o Rio
Tocantins.
Sem transporte hidroviário capaz de estabelecer o fluxo de produção dos
ribeirinhos são franciscanos, teremos uma pletora de homens inertes por culpa única
e exclusiva dos poderes públicos que não zelam pela realidade socioeconômica e
cultural do povo nordestino.
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Este projeto, mais do que uma tarefa parlamentar, é uma questão que deve
ser resolvida para dar sentido à fecundidade da terra, do trabalho para a riqueza do
homem, para o nordeste, dádiva primeira do rio São Francisco.
Insisto em dizer que, aprovado este meu Projeto de Lei, teremos o tráfego
hidroviário do Rio São Francisco, pelo canal do Rio Preto, Rio Tocantins e Rio
Amazonas, facilitando, inclusive, o transporte das cargas da Ferrovia Norte-Sul para
o Porto de Suape, em Recife, por essa hidrovia, em conexão com a Ferrovia
Transnordestina, e também no caso de escassez de água no rio São Francisco,
teremos condições de reserva de parte das águas do Rio Tocantins, para o Rio São
Francisco.
Por estas razões, defendemos a construção de um canal que interligue,
através de seus afluentes, os rios Tocantins e São Francisco, de modo a assegurar
a continuidade de navegação interior entre o Nordeste e a Amazônia.
Assim, apresentamos Projeto de Lei que acrescenta esta às interligações de
bacias previstas no Plano Nacional de Viação. Pelo elevado alcance da medida,
esperamos que a proposição seja aprovada, com o apoio dos nobres pares.
Gostaria ainda de fazer referência a um brilhante artigo escrito pelo
competente Engenheiro Civil Cássio Borges, profundo conhecedor dos problemas
causados pelas estiagens na região nordeste, defensor intransigente do
fortalecimento do DNOCS e especialista em recursos hídricos e barragens, intitulado
“Castanhão e o Parque do Cocó”, que trata sobre obras e meio ambiente:
“Castanhão e o Parque do Cocó.
Não se pode, em sã consciência, estabelecer um paralelo
entre a discussão da questão envolvendo a construção de
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dois viadutos no Parque do Cocó e o Açude Castanhão
como alguns, menos avisados, quiseram fazer. No Parque
do Cocó, o cerne da discussão foi o corte de 19
castanholeiras (plantas que nem nativas são daquela
região) restritas a uma pequena área de 0,7 hectares,
enquanto a do Açude Castanhão, envolvendo seres
humanos, se discutia o destino incerto de 15.000 pessoas
residentes na região jaguaribana. Para os viadutos, o
recurso financeiro necessário para a sua construção é de
R$ 17 milhões. O daquele reservatório girava em torno de
R$ 600 milhões. Uma diferença abismal.
No caso dos viadutos não vou entrar no mérito se havia
ou não outras alternativas, pois fiquei à margem desta
discussão, mas concordei com a tese da inviabilidade da
construção de túneis, visto que aquela área, em cota
quase ao nível do mar, é sujeita à periódicas inundações.
Em relação ao Açude Castanhão havia sim alternativas
que beneficiavam todo o Estado do Ceará, evitando a
condenação e o consequente desaparecimento da cidade
de Jaguaribara, seus distritos e parte de Jaguaretama.
Um erro de engenharia inominável que o tempo está se
encarregando de mostrar.
Se tivesse havido bom senso, e melhor conhecimento da
Ciência Hidrológica nos meios técnicos cearenses, o
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planejamento do DNOCS para o vale do Rio Jaguaribe,
elaborado na década de 50, com 10 a 12 barragens de
porte médio, espacialmente distribuídas em toda a sua
bacia hidrográfica, teria sido, obviamente, considerada
com a inclusão do Açude Castanhão, porém com 1,2
bilhão de metros cúbicos de acumulação d água, em vez
de 6,7 bilhões como foi construído. Era o que eu
chamava, à época dos 14 anos de discussão, de a
“democratização da água”.
Com isto, a população de Jaguaribara teria sido poupada
e, certamente, as demais cidades que se localizam ao
lado ou acima daquela megabarragem não estariam
sofrendo os efeitos danosos da estiagem como estamos
assistindo agora e o mais grave, com a perspectiva ainda
mais sombria se não chover no próximo ano. Entretanto, a
Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará
negou-se a considerar esta alternativa optando pela
construção (pontual) de uma obra faraônica próxima do
litoral e, até mesmo, manipulou dados de cartografia,
topografia, hidrologia e evaporação para descartar esta
lógica e legítima solução. Além do mais, por trás desta
discussão estava o interesse de uma portentosa
empreiteira nacional que ganhou uma licitação duvidosa
lançada apelo DNOCS que contrariava a Resolução
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001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente-
CONAMA.
Ressalte-se que tal planejamento, já incluindo os Açudes
Orós e Banabuiú, obviamente atenderiam à Região
Metropolitana de Fortaleza e as necessidades do
Complexo do Porto do Pecém e tudo mais que viesse a
ser construído do Estado do Ceará nas próximas
décadas.
O clima das discussões tornou-se mais tenso porque na
primeira audiência no Conselho Estadual do Meio
Ambiente, realizada no dia 27/07/92, os promotores e
defensores daquele empreendimento foram derrotados
naquele colegiado por 12 votos contra e 4 a favor. Não
conformados com este resultado, um grupo de oito
conselheiros requereu à SEMACE-Superintendência
Estadual do Meio Ambiente a convocação de nova
audiência que foi realizada vinte dias depois da primeira,
no dia 17/10/92. Para tristeza dos defensores daquele
empreendimento, mais uma vez ele foi derrotado no
COEMA, desta vez por 10 votos contra e 9 a favor. Uma
espécie de casuísmo vergonhoso no intuito de reverter
uma votação altamente desfavorável aos interesses dos
que defendiam aquela obra.
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O COEMA ainda iria se reunir mais uma vez para discutir
a viabilidade ou não da construção da Barragem do
Castanhão. Para isso foram contratados pela SEMACE
dois especialistas brasileiros nesta área de recursos
hídricos e meio ambiente, os professores Theóphilo
Benedicto Ottoni Netto e Aristides de Almeida Rocha,
respectivamente da Universidade Federal do Rio de
Janeiro-UFRJ e Universidade de São Paulo-USP.
Em resumo, o parecer do professor Aristides dizia o
seguinte: “De um ponto de vista conceitual, o melhor
sempre seria procurar alternativas para a construção de
pequenas barragens por serem menos impactantes,
exigindo menores gastos” e criticou o procedimento de
como estava sendo conduzido o processo de
licenciamento (EIA/RIMA) do açude “quanto ao
comportamento dos nossos políticos, os mais pertinazes
defensores da obra”.
O parecer do professor Theóphilo Ottoni foi longo e
detalhado, constando de quase 100 páginas entre textos,
quadros, tabelas e gráficos apresentados. O renomado
professor demonstrou ser um profundo conhecedor das
características geológicas, geomorfológicas e hidrológicas
do Vale do Jaguaribe.
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Transcrevo, a seguir, pequeno trecho do referido parecer
ao se referir que o Açude Castanhão iria cobrir cerca de
70 quilômetros das ricas margens do próprio Rio
Jaguaribe e cerca de 50 quilômetros da perenização já
promovida pelo Açude Riacho do Sangue, em
Jaguaretama: “ …O Baixo Jaguaribe é um verdadeiro
cadinho de progresso e atividades produtivas que vêm
usufruindo minifúndios e conhecidos latifúndios dos
benefícios da água permanente graças às regularizações
promovidas, há mais de 10 anos, pelos açudes públicos
Orós e Arrojado Lisboa(Banabuiú)”. (O grifo é meu). Ou
seja, a exagerada acumulação do Açude Castanhão
lamentavelmente acabou, de fato, anulando ou melhor
dizendo, inutilizando uma significativa área já perenizada
pelos Açudes Orós e Banabuiú. Este parecer é de
dezembro de 1992.
Os referidos professores, em suma, demonstraram, com
clareza e seriedade, a inviabilidade técnica, econômica,
ambiental e social do EIA/RIMA do Açude Castanhão.
Será que os promotores e defensores daquele
empreendimento tomaram conhecimento dos pareceres,
pagos pelos cofres públicos, desses ilustres e
conceituados professores contratados pela SEMACE
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para, de “per si”, emitirem suas conclusões sobre o
empreendimento?
Finalmente, depois de muita controvérsia houve mais uma
audiência no COEMA, realizada no dia 22/12/92. Após
três audiências, em seis meses, finalmente a Barragem
do Castanhão foi aprovada, por 12 votos a 8, graças à
avassaladora propaganda oficial veiculada na mídia e
agressivo lobby nos bastidores da votação.
Já numa edição do Tribunal da Água, realizado em
Florianópolis, Santa Catarina, no período de 25 a 30 de
abril de 1993, com a mesma credibilidade do Tribunal
Internacional da Água, com sede em Copenhague, esta
mesma Barragem do Castanhão foi condenada por 7
votos a zero, embora esta decisão não tenha caráter
judicial ou arbitral, sendo julgado não por artistas
despreparados para debater um assunto da mais alta
complexidade técnica, mas por profissionais dos mais
respeitados e conceituados do País. Assisti
manifestações desta natureza por leigos como no caso do
projeto da Transposição do Rio São Francisco e da Usina
de Belo Monte, no Rio Xingu.”
No entanto, é imperiosa a aprovação do meu projeto de lei. Mas, para que
isso ocorra é necessário conhecermos melhor as características do Rio Tocantins.
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O Rio Tocantins é um rio brasileiro que nasce no Estado de Goiás, passando
logo após pelos Estados do Tocantins, Maranhão e Pará, até a sua foz no Golfo
Amazônico, próximo a Belém, onde se localiza a ilha de Marajó.
Após a união do Rio das Almas, Rio Maranhão e Rio Paranã, entre os
municípios de Paranã e São Salvador do Tocantins (ambos localizados no Estado
do Tocantins), o rio passa a ser chamado definitivamente de Rio Tocantins. Durante
a época das cheias, seu trecho navegável é de aproximadamente 2 000 quilômetros,
entre as cidades de Belém, no Pará, e Lajeado, Tocantins.
O Rio Tocantins é o segundo maior rio totalmente brasileiro (perde apenas
para o Rio São Francisco), e também pode ser chamado de Tocantins-Araguaia,
após juntar-se ao Rio Araguaia na região do “Bico do Papagaio”, que fica localizada
entre o Tocantins, o Maranhão e o Pará. É no vale do médio e baixo Rio Tocantins
que se encontrava a maior concentração de castanheiras da Amazônia.
Tocantins” é um termo com origem na língua tupi: significa “bico de tucano”,
através da junção de tukana (tucano) e tim (bico), e também nomeou o Estado
brasileiro mais recente surgido Tocantins.
A nascente mais longínqua do Rio Tocantins fica localizada na divisa entre os
municípios de Ouro Verde de Goiás-GO e Petrolina de Goiás-GO, bem próximo à
divisa de ambos com o município de Anápolis-GO. A partir deste ponto, o rio surge
com o nome de Rio Padre Souza no município de Pirenópolis - GO . A maior vazão
registrada no rio Tocantins foi em 3 de março de 1980, atingindo aproximadamente
70 000 metros cúbicos por segundo nas proximidades de Tucuruí. A maior cheia no
rio Tocantins foi em março de 1980, período na qual o nível do rio em Tucuruí
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aumentou cerca de 20 metros. Em 8 de março desse ano, Marabá ficou
praticamente submersa.
Ocupando uma área de 803 250 quilômetros quadrados, é a maior bacia
hidrográfica inteiramente brasileira. Além de apresentar-se navegável em muitos
trechos, é a terceira do País em potencial hidrelétrico, encontrando-se nela a Usina
Hidrelétrica de Tucuruí.
O Tocantins, principal rio dessa bacia, nasce no norte de Goiás e deságua no
Oceano Atlântico. Em seu percurso, recebe o rio Araguaia, que se divide em dois
braços, formando a Ilha do Bananal; situada no Estado de Tocantins, é considerada
a maior ilha fluvial interior do mundo.
Nessa região, ocorrem rios de regime austral, ao sul, e equatorial, ao norte.
Usinas Hidrelétricas
O potencial energético instalado no Rio Tocantins é superior a 10 500
megawatts, através de suas três usinas hidrelétricas:
Usina de Tucuruí
Usina Hidrelétrica de Cana Brava no município de Minaçu, Goiás, com
potência instalada de 456 MW.
Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa no alto Tocantins em Goiás, com
potência instalada de 1 275 MW;
Usina Hidrelétrica de São Salvador, localizada entre os municípios de São
Salvador do Tocantins (TO) e Paranã (TO), com potência instalada de 243,2 MW;
Usina Hidrelétrica Luiz Eduardo Magalhães, localizada entre os municípios de
Miracema do Tocantins (TO) e Lajeado (TO), com potência instalada de 902 MW;
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Usina Hidrelétrica de Estreito, localizada na divisa entre o Tocantins e o
Maranhão, com potência instalada de 1 087 MW.
Usina Hidrelétrica de Tucuruí localizada no sul do Pará, é a segunda maior do
Brasil, com doze turbinas e potência instalada de 8 370 MW.
O Prefeito de Aracaju defende transposição do Rio Tocantins para salvar Rio
São Francisco
João Alves Filho (DEM) participa de audiência pública na manhã desta
quarta-feira na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, convidado pela Comissão
de Minas e Energia.
Rio São Francisco, no Norte de Minas Gerais.
Especialista em rios há 50 anos, o prefeito de Aracaju (SE), João Alves Filho
(DEM), defende a transposição de água do Rio Tocantins, no Estado de mesmo
nome, para salvar o Rio São Francisco. Ele participa de audiência pública na manhã
desta quarta-feira na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, convidado pela
Comissão de Minas e Energia.
As obras, segundo o prefeito, durariam 10 meses e dependem do governo
federal. Segundo ele, o grande problema hoje do Velho Chico é receber água. “Só
existe um lugar que tem água abundante para levar água para o Rio São Francisco,
que são os rios Tocantins e Araguaia, no Estado do Tocantins. Já existe um projeto
de transposição feito pelo governador Siqueira Campos para levar água até o São
Francisco. O Tocantins faz divisa com vários Estados e existe um afluente. O
afluente levaria 500 metros cúbicos de água do Tocantins para o Velho Chico”, disse
o prefeito.
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Segundo o prefeito, há 15 anos, quando o governo FHC falou em
transposição do São Francisco, projeto abraçado pelo presidente Lula, o rio já
apresentava sinais de morte. Alves Filho conta que, no passado, o rio avançava 30
quilômetros dentro do mar e era onde as caravelas eram abastecidas de água doce.
Hoje, povoados foram engolidos pelo mar porque o Velho Chico perdeu força e o
oceano avança.
No rio, é possível pescar peixes que somente sobrevivem em água salgada, a
145 quilômetros da foz, devido a salinização. Durante a audiência, o prefeito citou o
robalo, como um dos mais pescados. “A água do oceano está claramente
avançando no rio”, alerta. A preocupação de Alves Filho é que Aracaju e várias
cidades de Alagoas são abastecidas pela água do Velho Chico, assim como toda a
área de seca do sertão. A salinização da água é uma ameaça, também para a
irrigação. Conforme o prefeito, a adutora de Aracaju no São Francisco fica a 200
quilômetros da foz e com a salinização, 60% da população da capital sergipana
ficaria sem água.
Tocantins era o nome de uma tribo indígena que habitou as margens do rio.
Significa em tupi, grafado tu’ ka tim, ‘bico de tucano, nariz de tucano’, em referência
ao nariz aquilino dos indígenas dessa tribo.
Rio brasileiro com 2.416 quilômetros de extensão; corre no sentido de Sul
para Norte, ligando a Amazônia ao Planalto Central, onde nascem os seus dois
formadores: O Rio das Almas, oriundo da serra dos Pirineus (Goiás), e Maranhão,
da Serra Geral do Panará.
O Tocantins atravessa os Estados de Goiás e de Tocantins, separando este
último, no extremo norte, do Maranhão.
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Ao receber pela esquerda o Araguaia, penetra em terras paraenses, onde
desemboca num amplo estuário, a que dão o nome de rio Pará.
A bacia do Tocantins-Araguaia mede uns 700 a 800 mil km², abrangendo
áreas dos Estados referidos, mais as de uma parte a leste de Mato Grosso.
Alguns autores consideram o Tocantins um afluente do Amazonas. “Não é,
nem nunca foi”, afirmou Matias Roxo.
A ligação entre as duas embocaduras se faz por uma rede de furos, dos quais
o principal é o de Tajapuru.
Nascentes
Quando, no passado, águas do Amazonas se ligaram diretamente ao rio
Pará, não existia ainda o arquipélago marajoara, mas, em seu lugar, um vasto golfo.
Os afluentes mais importantes do Tocantins, pela margem direita, são:
Paraná (que corre numa imensa depressão em anfiteatro: o vão do Paraná), Manuel
Soares, Sono, Manuel Alves Grande (na divisa TO-MA) e Farinha. Pela esquerda
sobressaem o Araguaia (nos limites de GO com MS e MT e de TO com MT e PA) e
o Itacaiúnas.
O Araguaia tem as nascentes (na serra Caiapó) mais recuadas que as do
Tocantins e o perfil longitudinal mais rebaixado. Recebe dois grandes afluentes, pela
direita: o Garças e o rio das Mortes. Em seu curso médio, atravessa uma ampla
depressão quaternária, alagada durante as enchentes. Aí está Bananal, a maior ilha
fluvial do mundo.
Regime
O Tocantins-Araguaia é um típico rio de planalto: as corredeiras de Itaboca,
no sudeste do Pará, separavam o trecho navegável do baixo Tocantins, dos dois
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trechos planálticos, ligando Marabá a Porto Nacional e a Registro do Araguaia. A
antiga Estrada de Ferro Tocantins, de Jatobal a Tucuruí, contornava as corredeiras.
Seus trilhos foram arrancados com a construção da Usina de Tucuruí.
O regime fluvial do Tocantins-Araguaia é francamente tropical. No curso
superior, o auge das enchentes ocorre em março, o mínimo das vazantes, em
setembro. Abaixo da confluência Tocantins-Araguaia, o máximo das cheias é
retardado para abril, e as águas
Transposição envolve política e meio ambiente
Desde os tempos do imperador Dom Pedro II, a transposição das águas do
São Francisco para “molhar terras mais ao norte” é um tema que desperta muitas
discussões e poucas conclusões. Com aplausos de um lado e vaias de outro, o
governo Lula deu mostras - nem sempre muito claras, é verdade - de que tomou
uma decisão: a de tocar a obra.
Para seus opositores, o desvio da água pode acabar com o Velho Chico e
criar problemas mais do que resolvê-los. Para a Fundação Nacional de Ciências,
Aplicações e Tecnologia Espacial (FUNCAT, a instituição que desde 1997 estuda
esse assunto para o governo), o São Francisco pode doar quase sem sentir os 65
metros cúbicos de água (65 mil litros) por segundo necessários para o
abastecimento dos canais de transposição.
Licitação
“A vazão média do rio abaixo da represa de Sobradinho, onde o projeto prevê
a captação da água, é de 2.030 metros cúbicos por segundo. A retirada de 65
metros cúbicos teria pouco impacto”, diz o coordenador do projeto na FUNCAT,
brigadeiro José Armando Varão Monteiro.
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O militar diz que os estudos de impacto ambiental já foram enviados ao
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e que
o pedido de liberação da água está nas mãos da Agência Nacional de Águas (ANA).
“Resolvidas essas questões, podemos fazer uma licitação. A primeira fase pode ficar
pronta em dois anos, e a obra toda, que envolve 700 quilômetros de canais,
demoraria cinco anos.”
O brigadeiro não fala em orçamento — “Custaria menos do que o metrô de
São Paulo” —, mas cifras extraoficiais preveem um gasto de cerca de US$ 6 bilhões
(R$ 18 milhões).
Enchentes
Mas, para os críticos do projeto, o Velho Chico já foi muito alterado pelo
intenso uso de suas águas, e isso agora poderia acabar com o rio de vez. Às
margens do rio, o que mais se ouve é que o Velho Chico perdeu sua histórica
capacidade de ter cheias e assim molhar as terras e encher lagoas em suas
várzeas.
“Muitas barragens foram feitas no rio para a construção de usinas
hidrelétricas que acabaram com as cheias do São Francisco. Uma das primeiras
consequências disso é a redução do número de peixes”, conta o biólogo da
Universidade Federal de Minas Gerais Alexandre Godinho. O pesquisador explica
que, em geral, as cheias carregam os filhotes de peixes para um crescimento mais
seguro nas lagoas marginais do rio, para que, mais desenvolvidos, eles possam
voltar depois à calha principal na enchente do ano seguinte. “Com enchentes
artificiais poderíamos tentar recuperar a fauna fluvial”, diz Godinho, levantando mais
um possível uso para as disputadas águas do São Francisco.
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Revitalização
O brigadeiro Monteiro concorda que, mais para o lado da nascente - o
chamado Alto São Francisco -, há problemas de falta de água. “Mas o meu projeto
prevê a captação de água perto das cidades de Cabrobó (PE) e Itaparica (BA), onde
já não há mais desse problema”, garante o militar. “A represa de Sobradinho é um
enorme lago artificial que, faça chuva ou faça sol, despeja em média 2.030 metros
cúbicos de água na calha do rio.”
E o militar diz que o atual plano do governo não trata só da transposição, mas
também da revitalização do rio. “Desde que esse plano é discutido, há mais de cem
anos, sempre se fala do transporte de água do São Francisco para o chamado
coração da seca, no norte do semiárido brasileiro”, explica.
“A diferença agora é que o governo também está preocupado com a
revitalização do rio através da recuperação da mata ciliar, de obras de saneamento
básico nas grandes cidades das margens e da construção de barragens em Minas
Gerais para regularizar o curso do rio”.
Tocantins
O brigadeiro diz que está no fundo da gaveta o projeto de captar águas da
bacia do rio Tocantins para abastecer a bacia do São Francisco. “Por enquanto
temos água suficiente no rio São Francisco para tudo o que precisamos, mas, se for
necessário dar uma reforço hídrico, à medida que os anos avançarem, já temos o
projeto pronto”, explica.
Para outros, no entanto, despejar água do Tocantins no São Francisco é
essencial para que a transposição seja feita e o Velho Chico sobreviva. Há até no
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um cálculo que
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prevê um orçamento de R$ 24 bilhões para obra, que, por sinal, enfrenta a oposição
dos políticos dos Estados da Bacia Amazônica.
Desastre ambiental
Para o biólogo do Projeto Manuelzão - uma ONG focada em questões
socioambientais da bacia dos rios das Velhas e São Francisco -, Carlos Alves, tirar
água do Tocantins ou de alguma outra fonte seria essencial para que se pudesse
captar algo depois. Mas Alves adverte que, se usar o rio Tocantins pode, por um
lado, resolver o problema de falta de água, também pode, por outro, causar um
desastre ambiental”.
Tirar água do Tocantins significa criar grandes canais e túneis por aonde
também viriam muitos peixes. Misturar peixes de duas bacias diferentes pode ter um
efeito desastroso para a fauna”, diz. O biólogo também têm dúvidas a respeito dos
efeitos sociais positivos da transposição no longo prazo. “Se construirmos 700
quilômetros de canais pelo Sertão brasileiro, onde há pouca água, a tendência das
populações vai ser se aglomerar em torno do canal, usar a água de maneira pouco
eficiente e até poluir o canal”, teme.
Evaporação
Já o agrônomo da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)
Luiz Bassoi acredita que o risco é outro: a água ser usada apenas nas pontas do
canal e não em toda a sua extensão. “Se esses canais forem construídos, temos de
ver se as terras em seu caminho são irrigáveis porque, se o uso acontecer só na
ponta, muito vai ser perdido com a evaporação”, disse.
Mas o agrônomo, mesmo sendo especialista em água e irrigação, reclama
que tem dificuldades para definir sua opinião sobre a obra. “Cada estudo técnico
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vem com uma visão diferente, de acordo com os interesses de quem está fazendo o
estudo. A discussão sobre a transposição das águas do São Francisco é um tema
muito mais político do que técnico”, diz o agrônomo, que trocou o interior de São
Paulo pelo desafio de fazer o semiárido produzir na cidade pernambucana de
Petrolina.
“Irrigação e água são instrumentos de justiça social que têm de ser muito bem
usados. Só espero que este governo estude bem a questão em todos os seus
aspectos técnicos, não se deixe levar por interesses políticos menores e faça o que
for melhor para a população tão necessitada do Sertão”.
O Brasil é dotado de uma vasta e densa rede hidrográfica, sendo que muitos
de seus rios destacam-se pela extensão, largura e profundidade. Em decorrência da
natureza do relevo, predominam os rios de planalto que apresentam em seu leito
rupturas de declive, vales encaixados, entre outras características, que lhes
conferem um alto potencial para a geração de energia elétrica.
Quanto à navegabilidade, esses rios, dado o seu perfil não regularizado, ficam
um tanto prejudicados. Dentre os grandes rios nacionais, apenas o Amazonas e o
Paraguai são predominantemente de planície e largamente utilizados para a
navegação. Os rios São Francisco e Paraná são os principais rios de planalto.
De maneira geral, os rios têm origem em regiões não muito elevadas, exceto
o rio Amazonas e alguns de seus afluentes que nascem na cordilheira andina.
Em termos gerais, pode-se dividir a rede hidrográfica brasileira em sete
principais bacias, a saber: a bacia do rio Amazonas; a do Tocantins - Araguaia; a
bacia do Atlântico Sul - trechos norte e nordeste; a do rio São Francisco; a do
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Atlântico Sul - trecho leste; a bacia Platina, composta pelas sub-bacias dos rios
Paraná e Uruguai; e a do Atlântico Sul — trechos sudeste e sul.
A bacia do rio Tocantins-Araguaia com uma área superior a 800.000 km2 se
constitui na maior bacia hidrográfica inteiramente situada em território brasileiro. Seu
principal rio formador é o Tocantins, cuja nascente localiza-se no Estado de Goiás,
ao norte da cidade de Brasília. Dentre os principais afluentes da bacia Tocantins —
Araguaia destacam-se os rios do Sono, Palma e Melo Alves, todos localizados na
margem direita do rio Araguaia.
O rio Tocantins desemboca no delta amazônico e embora possua, ao longo
do seu curso, vários rápidos e cascatas, também permite alguma navegação fluvial
no seu trecho desde a cidade de Belém, capital do Estado do Pará, até a localidade
de Peine, em Goiás, por cerca de 1.900 quilômetros, em épocas de vazões altas.
Todavia, considerando-se os perigosos obstáculos oriundos das corredeiras e
bancos de areia durante as secas, só pode ser considerado utilizável, por todo o
ano, de Miracema do Norte (Tocantins) para jusante.
O rio Araguaia nasce na serra das Araras, no Estado de Mato Grosso, possui
cerca de 2.600 quilômetros, e desemboca no rio Tocantins na localidade de São
João do Araguaia, logo antes de Marabá. No extremo nordeste do Estado de Mato
Grosso, o rio divide-se em dois braços, rio Araguaia, pela margem esquerda, e rio
Javaés, pela margem direita, por aproximadamente 320 quilômetros, formando
assim a ilha de Bananal, a maior ilha fluvial do mundo. O rio Araguaia, é navegável
cerca de 1.160 quilômetros, entre São João do Araguaia e Beleza, porém não possui
neste trecho qualquer centro urbano de grande destaque.
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Agora torna-se vital a aprovação do projeto de minha iniciativa que concretiza
a ajuda das águas do Rio Tocantins para o Rio São Francisco. O governo federal
enfim atentou para a viabilidade do projeto e diante disso, engenheiros de Furnas
Centrais Elétricas elaboraram um estudo para levar ao semiárido nordestino a água
de um dos mais importantes rios do País, por meio de um canal de 1,6 mil
quilômetros de extensão, beneficiando a população de cinco Estados.
Para o engenheiro Walton Pacelli de Andrade, um dos autores do estudo, não
há outra saída para o problema da escassez de água no semiárido que não seja a
transposição. Mais cedo ou mais tarde o governo vai ter que se debruçar sobre o
projeto para analisar sua viabilidade técnica e econômica, afirmou Walton Andrade.
O projeto prevê a transferência para o Nordeste de aproximadamente um
quarto (26%) da vazão do Tocantins. Além da adutora, seriam construídos 18
reservatórios ao longo do desvio, nos Estados do Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará
e Rio Grande do Norte. O primeiro seria no município de Carolina, no Maranhão, e o
último em Governador Dix Sept Rosado, no Rio Grande do Norte. Os reservatórios
teriam uma dupla finalidade: perenizar cursos d água e gerar energia elétrica.
Walton Pacelli admite que a proposta é polêmica. Entretanto, em relação ao
São Francisco, ele afirma que o Tocantins oferece melhores condições para ser
transposto, pelo fato de suas águas estarem mais disponíveis. Segundo ele, o
número de usinas hidrelétricas e projetos de irrigação existentes em sua bacia é
menor do que na do São Francisco, além de sua vazão ser maior.
Quando o projeto de transposição do São Francisco estava sendo discutido,
há dois anos, o do Tocantins chegou a ser proposto como alternativa mais viável e
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de menor risco ambiental. Entretanto, como engavetamento da transposição do São
Francisco, a do Tocantins também deixou de ser discutida.
O engenheiro admite que as dificuldades técnicas e os custos de ordem
financeira e ambiental seriam elevados demais, no caso do São Francisco. Em
relação ao Tocantins, ele também destaca, como fator positivo, o fato de a
distribuição de chuvas sobre a bacia ser homogênea durante todo o ano.
O rio Tocantins tem 2,5 mil quilômetros de extensão. Nasce no Planalto de
Goiás, a partir da junção dos rios Almas e Maranhão. No extremo norte de
Tocantins, recebe seu afluente mais importante: o Araguaia, antes de desaguar no
Amazonas.
Estudos preliminares indicam que o projeto de transposição do Tocantins
custaria entre US$ 15 bilhões e US$ 18 bilhões (algo entre R$ 52 bilhões e R$ 63
bilhões). O estudo prevê que tal investimento seria amortizado em 21 anos. O
retorno do capital investido viria com a venda do excedente de energia produzido
pelos 18 reservatórios a serem construídos ao longo da adutora. A previsão é de
que os 18 reservatórios gerem 2,7 mil megawatts de energia excedente.
Além disso, o estudo aponta, como benefício adicional da transposição, a
possibilidade de os reservatórios serem utilizados para suprir a demanda de rios de
pouca vazão que cortam o sertão nordestino e poderiam ser perenizados.
Para ser aprovado, qualquer projeto de transposição de rio federal, como o
Tocantins, tem que passar pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, que
determinará a realização dos estudos de impacto ambiental necessários. Se tivesse
um comitê de bacia, como é o caso do São Francisco, o projeto teria que passar
pelo comitê.
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Entretanto, segundo a Secretaria Nacional de Recursos Hídricos, ainda é
embrionária a mobilização da comunidade para que seja instalado o comitê do
Tocantins.
A bacia do rio Tocantins possui uma vazão média anual de 10.900m3/s,
volume médio anual de 344km3 e uma área de drenagem de 767.000km2, que
representa 7,5% do território nacional; onde 83% da área da bacia distribuem-se nos
Estados de Tocantins e Goiás (58%), Mato Grosso (24%); Pará (13%) e Maranhão
(4%), além do Distrito Federal (1%).
Limita-se com bacias de alguns do maiores rios do Brasil, ou seja, ao Sul com
a do Paraná, a Oeste, com a do Xingu e a leste, com a do São Francisco. Grande
parte de sua área está na região Centro Oeste, desde as nascentes do rios Araguaia
e Tocantins até sua confluência, na divisa dos Estados de Goiás, Maranhão e Pará.
Desse ponto para jusante a bacia hidrográfica entra na região Norte e se
restringe a apenas um corredor formado pelas áreas marginais do rio Tocantins.
Assim, a transposição anual de 16.000m3 de água do rio Tocantins para o
São Francisco, além de minimizar os impactos das variações climáticas que
prejudicam a vazão deste último, permitiria ampliar a geração de energia elétrica em
Sobradinho e Xingó e aumentar a área agrícola irrigada. Uma proposta
complementar a essa seria a redução — em 1 metro — da atual cota de operação
do lago de Sobradinho, o que reduziria em 120m3/s a perda de água por
evaporação. Assim, a perda atual, de 450m3/s, somados os lagos de Sobradinho e
Itaparica, cairia para 330m3/s.
A redução da cota de operação não comprometeria as atividades
econômicas, já que a disponibilidade hídrica estaria garantida pela adução das
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águas do Tocantins. A maior disponibilidade de água possibilitaria ainda o
estabelecimento de agricultura de alto retorno, como fruticultura irrigada durante
parte do ano, em cerca de 3 milhões de ha do vale do São Francisco, o que poderia
gerar uma renda bruta anual de US$ 60 bilhões e uma oferta de cerca de 10 milhões
de empregos diretos. Nessas circunstâncias, também seria possível pôr em prática
os planos de levar água do rio São Francisco (cerca de 70m3/s) para amenizar a
deficiência hídrica de outros Estados da região, como Ceará, Paraíba, Piauí e Rio
Grande do Norte, sem afetar a geração de energia elétrica ou a agricultura irrigada.
Apenas a transposição de vazão, porém, não resolveria os problemas do rio
São Francisco, pois o seu vale vem sofrendo impactos ambientais severos, em
função das atividades humanas desregradas, ao longo de 500 anos. É necessário
adotar medidas complementares, como recuperação do ambiente e dos
ecossistemas, particularmente das matas ciliares, fundamentais no controle da
erosão e do assoreamento da calha do rio. Se adotada essa proposta de
transposição, é claro que, em qualquer momento futuro, o volume transposto poderá
ser redimensionado segundo as necessidades.
Acredito que dessa vez meu projeto é enfim respeitado e estudado como
merece. Tenho certeza que o Rio Tocantins é a melhor saída para salvar o Rio São
Francisco e a população do semiárido do nosso país.
O Sr. Luiz Couto, nos termos do § 2º do art. 18 do
Regimento Interno, deixa a cadeira da Presidência, que é
ocupada pelo Sr. Izalci, nos termos do § 2º do art. 18 do
Regimento Interno.
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O SR. PRESIDENTE (Izalci) - O próximo orador do Grande Expediente é o
Deputado Luiz Couto. Antes, concedo 1 minuto ao Deputado Wadson Ribeiro, do
PCdoB de Minas Gerais.
O SR. WADSON RIBEIRO (PCdoB-MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.)
- Obrigado, Presidente Izalci.
Sr. Presidente, nobres colegas Deputados, eu venho aqui, nessas breves
comunicações, dizer que a música brasileira, em especial a música mineira, está de
luto pela morte do jornalista, escritor, letrista e poeta Fernando Brant, ocorrida na
última sexta-feira, 12 de junho.
Há quase 5 décadas, as letras de Fernando Brant fazem parte do imaginário
do povo brasileiro, especialmente do povo mineiro. Sua poesia influenciou gerações
de mineiros que reconhecem, em cada palavra escrita por Brant, um pouco de sua
própria cultura e história.
Ao lado dos músicos mineiros Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes,
Toninho Horta, Tavinho Moura, entre outros, Fernando Brant foi um dos criadores do
movimento cultural, musical, conhecido como Clube da Esquina. Em 1967, a pedido
de Milton Nascimento, Fernando Brant escreveu sua primeira letra: Travessia. A
estreia da parceria de Brant e Milton rendeu a ambos o segundo lugar no II Festival
Internacional da Canção, no Rio de Janeiro.
A genialidade e sensibilidade do poeta Fernando Brant também está
imortalizada em clássicos da música mineira, como San Vicente, Saudade dos
Aviões da Panair, Ponta de Areia, Maria, Maria, Para Lennon e McCartney, Canção
da América e Nos Bailes da Vida, entre tantas outras músicas.
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Aproveito a oportunidade, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, para
expressar a minha solidariedade à família de Fernando Brant. Registro aqui também
o meu pesar por essa imensurável perda para a música brasileira.
Eu gostaria, Sr. Presidente, que este breve pronunciamento fosse divulgado
nos veículos de comunicação da Casa.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Acato o pedido de V.Exa. e faço nossas as
palavras de V.Exa.
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O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Com a palavra o Deputado Luiz Couto.
O SR. LUIZ COUTO (PT-PB. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, em
primeiro lugar, eu queria agradecer ao Deputado Glauber Braga, do PSB do Rio de
Janeiro, a concessão do tempo reservado para seu pronunciamento. S.Exa. é um
Deputado combativo, referência nesta Casa e no Estado onde milita pela coerência
entre seu discurso e sua prática.
Eu também queria me associar ao pronunciamento do Deputado Wadson
Ribeiro e manifestar minhas condolências ao povo brasileiro, em particular ao povo
mineiro, que perdeu uma figura importante. Canção da América sempre foi uma
referência, Coração de Estudante foi símbolo na luta pelas Diretas Já. Ele sempre
estava presente. Nossa solidariedade por esta grande perda! Mas agora Fernando
Brant vai se associar a outros autores e cantores e tocadores de sanfona no céu e
com certeza compor muitos hinos de louvor a Deus e à Trindade Santa!
Sr. Presidente, eu tenho posição clara contrária à redução da maioridade
penal e hoje vou falar tomando como referência um conjunto de ações da Psicologia.
Vários psicólogos colocam dez razões para a não redução da maioridade penal.
A redução da maioridade penal está sendo oxigenada por um
fundamentalismo exaurido de inverdades, cortinas de fumaças e exageros radicais
como se fosse um grupo terrorista que destina seu extermínio a uma falsa resolução
de problemas derivados da chamada violência, especialmente do aumento da
criminalidade.
A emenda que deu origem a essa situação é a Emenda nº 171, número do
artigo do Código Penal que tipifica o crime de estelionato. Ou seja, é uma
enganação achar que, reduzindo a maioridade penal, vamos resolver o problema da
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criminalidade, da violência. O problema da violência é o mau exemplo dado pelos
adultos, é o crime organizado, que está aliciando, recrutando crianças e
adolescentes, é a ação das quadrilhas, das organizações criminosas, é a violência
praticada contra esses adolescentes, que na sua infância foram estuprados,
sofreram violência, maus-tratos, tratamentos cruéis e desumanos.
Querem reduzir a maioridade penal porque o ato infracional cometido por
esses adolescentes atinge o patrimônio. Quarenta e seis por cento daqueles que
estão internados em centros de recuperação praticaram roubos. Essa é a razão do
ódio, da ira daqueles que possuem propriedade, porque estão se sentindo
ameaçados.
O que seria dos adolescentes e jovens se todos alcançassem disciplinas
educadoras, se todos tivessem educação — mas não têm —, se todos tivessem
políticas públicas, se todos fossem evangelizados pela educação social, se todos
tivessem suas necessidades básicas supridas em seus lares, se todos tivessem
direito a políticas sociais, se todos fossem tratados sem distinção de raça, cor e
etnias? O que seria dos adolescentes e jovens brasileiros se tudo isso fosse o
mundo real? Mas não é, é um mundo imaginário. É a velha história: quem leva a
culpa pelo que está errado na casa é sempre o menor. Vamos colocar a culpa, a
máscara naqueles que defendem a redução da maioridade penal, que não foram
capazes de estabelecer políticas para enfrentar a violência contra jovens, crianças e
adolescentes.
É exatamente isso, senhores e senhoras, as medidas de redução de direitos,
principalmente no que se refere à redução da maioridade penal e do aumento do
período de internação, atingem principalmente os adolescentes e jovens
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marginalizados, negros, aqueles que moram na periferia, que já tiveram todos os
seus direitos de sobrevivência negados previamente. As violências cometidas não
têm sua origem em nenhum desvio humano dos adolescentes, e sim de uma
realidade brutal e de negação de direitos que levam esses adolescentes a cometer
tais atos. Por isso, devemos maltratá-los, jogando-os em presídios desumanos ou
devemos de fato resolver os problemas sociais, educacionais e psicológicos deles?
Segundo psicólogos brasileiros, há um aumento exorbitante de jovens e
adolescentes procurando consultórios psicológicos no Brasil. Há também pais e
mães que os levam para resolver problemas que eles não conseguiram tratar. Os
principais motivos são diversos: problemas com a família, desilusões amorosas,
dificuldade de se expressar ou de fazer amigos. Os jovens estão pondo em xeque o
famoso “é só uma fase” para firmar seus problemas perante a sociedade e tratá-los
tão seriamente quanto acreditam ser necessário.
Resgatando o pensamento do sociólogo, falecido em 1997, Herbert de Souza,
o Betinho, do IBASE — Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas: “Se
não vejo, na criança, uma criança é porque alguém a violentou antes; e o que vejo é
o que sobrou de tudo o que lhe foi tirado”. Isso demonstra que os adolescentes e os
jovens são violentados quando não possuem os direitos necessários ao seu
crescimento, e ainda querem violentá-los e transformá-los em operadores do crime e
jogá-los nos presídios junto com os adultos. Vão sair de lá, se não morrerem, com
doutorado em crime porque cometeram infrações. Colocar adolescentes nas
masmorras que são as prisões brasileiras é dizer: “Agora vamos eliminá-los”. Não
bastar reduzir a maioridade.
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Sr. Presidente, uma entidade de psicologia do Rio Grande do Sul separou dez
razões psicológicas contra a redução da maioridade penal. Mas antes de falar sobre
elas, concedo aparte ao Deputado Zé Geraldo.
O Sr. Zé Geraldo - Deputado Luiz Couto, parabéns por trazer este debate
para o seu grande pronunciamento. No final de semana próximo passado eu fui a
Havana, Cuba, e conversei com várias autoridades cubanas — os Ministros do
Esporte, que lá não se chama Ministro, mas Presidente, da Saúde, da Educação, do
Partido Comunista —, e com pessoas nas ruas. Lá, Deputado Luiz Couto, pode-se
sair pela cidade — e Havana não é uma capital com pouca gente — às 3, 4, 5 horas
da manhã sem medo de ser assaltado. Em qualquer cidade brasileira, de São Paulo
a menor cidade do Pará ou do Rio Grande do Sul, todos têm medo de sair às ruas. E
nós sabemos que uma das grandes desgraças do nosso País são as drogas, drogas
violentas. Mas lá a juventude estuda, e estuda ideologia. Aqui qual é a ideologia
para nossos jovens? Consumo! Ligam a televisão ou o rádio dia e noite: consumo,
consumo, consumo, consumo. E os jovens muitas vezes não têm recursos para
comprar aquilo que se incentiva comprar. V.Exa. tem razão: a juventude vive um
momento difícil. Lá, Deputado Luiz Couto, tomando um pouquinho mais do seu
pronunciamento, o jovem serve ao Exército durante 3 anos. Aqui, 1 ano. Ou seja, já
fica 2 anos a mais em uma organização de disciplina. Eu penso que nós precisamos
cada vez mais investir na educação, para que nossa juventude possa realmente
aprender outros valores — e que nossa educação possa também ensinar outros
valores, não só Matemática, Português, História, Inglês — e pare de pensar que
para ser feliz precisa de um bom celular, de uma boa moto ou de um bom carro. É
isso que os meios de comunicação, a nossa televisão, passam para a cabeça da
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nossa juventude todos os dias. Diminuir a maioridade penal não vai diminuir os
crimes no País.
O SR. LUIZ COUTO - Muito obrigado, Deputado Zé Geraldo. Gostaria que o
aparte de V.Exa. constasse do meu pronunciamento.
Primeira razão apresentada pelos psicólogos do Rio Grande do Sul: a
adolescência é uma das fases do desenvolvimento dos indivíduos e, por ser um
período de grandes transformações, deve ser pensada pela perspectiva educativa.
O desafio da sociedade é educar seus jovens, adolescentes e crianças, permitindo
um desenvolvimento adequado tanto do ponto de vista emocional e social quanto
físico. Por isso, investir em educação, em esporte, em políticas públicas é
fundamental para fazer com que o jovem possa aprender uma arte e estar associado
à luta pela cultura.
Segunda: é urgente garantir o tempo social de infância e juventude com
escola de qualidade, visando dar condições aos jovens para o exercício e a vivência
da cidadania, que permitirão a construção dos papéis sociais para a constituição da
própria sociedade.
Terceira razão: a adolescência é momento de passagem da infância para a
vida adulta. A inserção do jovem no mundo adulto prevê em nossa sociedade ações
que assegurem seu ingresso, de modo a oferecer-lhe as condições sociais e legais,
bem como as capacidades educacionais e emocionais necessárias. É preciso
garantir essas condições para todos os adolescentes.
Quarta: a adolescência é momento importante na construção de um projeto
de vida adulta. Toda atuação da sociedade voltada para essa fase deve ser guiada
pela perspectiva da orientação. Um projeto de vida não se constrói com segregação,
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e sim pela orientação escolar e profissional ao longo da vida, no sistema de
educação e trabalho.
Quinta razão: o Estatuto da Criança e do Adolescente propõe
responsabilização do adolescente que comete ato infracional com aplicação de
medidas socioeducativas. O ECA não propõe impunidade, como muitos querem
dizer. É adequando, do ponto de vista da Psicologia, uma sociedade buscar corrigir
a conduta dos seus cidadãos a partir de uma perspectiva educacional,
principalmente em se tratando de adolescentes.
Sexta: o critério de fixação da maioridade penal é social, cultural e político,
sendo expressão da forma como uma sociedade lida com os conflitos e questões
que caracterizam a juventude; implica a eleição de uma lógica que pode ser
repressiva ou educativa. Os psicólogos sabem que a repressão não é uma forma
adequada de conduta para a construção de sujeitos sadios. Reduzir a idade penal
reduz a igualdade social, e não a violência. Ameaça não previne e punição não
corrige.
Sétima razão: as decisões da sociedade em todos os âmbitos não devem
jamais desviar a atenção daqueles que nela vivem, das causas reais de seus
problemas. Uma das causas da violência está na imensa desigualdade social e,
consequentemente, nas péssimas condições de vida a que estão submetidos alguns
cidadãos. É por isso que as infrações maiores são de roubos; a segunda, de tráfico
de drogas, o recrutamento feito pelo crime organizado, pelo narcotráfico. A taxa de
homicídios é de 0,01%, segundo os dados do Conselho Nacional de Justiça. O
debate sobre a redução da maioridade penal é um recorte dos problemas sociais
brasileiros que reduz e simplifica a questão.
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Oitava: a violência não é solucionada pela culpabilização e pela punição,
antes, pela ação nas instâncias psíquicas, sociais, políticas e econômicas que a
produzem. Agir punindo e sem se preocupar em revelar os mecanismos produtores
e mantenedores da violência tem como um de seus defeitos principais aumentar a
violência.
Nona razão: reduzir a maioridade penal é tratar o efeito, não a causa; é
encarcerar mais cedo a população pobre jovem, apostando que ela não tem outro
destino ou possibilidade.
Só para V.Exa. ter um dado, Deputado: nos últimos 10 anos, a faixa etária em
que mais cresceu o número de mortes, de homicídios por armas de fogo, foi de 10 a
14 anos. O Mapa da Violência coloca que são os adolescentes e os jovens as
maiores vítimas da violência por arma de fogo. São jovens pobres, negros, que
moram nas periferias, afrodescendentes.
Nesse sentido, sem possibilidade, sem acolhimento, sem condição de viver
plenamente na relação familiar — com a desintegração também da família —, como
exigir que um adolescente, vítima da violência, de estupros, de exploração sexual,
de maus-tratos, de tortura, de espancamentos, de todo tipo de violência, sem ter
educação, espiritualidade, família que o integre, como exigir dele outra coisa senão
cometer infrações? Mas é importante destacar que, mesmo quando comete
infrações, tem o internamento, que muitas vezes é maior do que o de alguns presos
que conseguem redução da pena e logo são soltos. Se tiver uma boa banca de
advogados, logo se solta.
Décima e última razão: reduzir a maioridade penal isenta o Estado do
compromisso com a construção de políticas educativas e de atenção para com a
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juventude. Nossa posição é de reforço a políticas públicas que tenham a
adolescência sadia como meta.
Essas são as dez razões colocadas por pessoas que estudaram o ser
humano, psicólogos, sob o ponto de vista da Psicologia, do porquê de não se dever
reduzir a maioridade penal.
Concedo aparte ao Deputado Gonzaga Patriota.
O Sr. Gonzaga Patriota - Eu serei breve, Deputado Luiz Couto, e V.Exa. há
pouco fez aparte ao meu pronunciamento de apoio à interligação do Rio Tocantins
com o Rio São Francisco. Eu tenho uma proposta de emenda à Constituição sobre a
maioridade geral. Eu penso também como V.Exa.: por que só a maioridade penal?
Por que não a maioridade geral? Os tempos mudaram. Esse negócio de meninos
com 18 anos tem 60 anos. Os meninos eram abestalhados, hoje estão danados.
Minha proposta de emenda à Constituição é para o rapaz com 16 anos ser homem:
fazer concurso, vestibular, sem esse problema que está aí, candidatar-se a
Vereador. Nessa semana a gente aprovou abaixar a maioridade para candidatos a
Prefeito, Governador e Presidente da República. Os tempos mudaram. As crianças
são outras. Não dá mais para ter maioridade só a partir de 18 anos no geral: menino
com 16 anos fazer concurso público; menino com 16 anos tirar habilitação, casar,
virar homem. Ora, se ele fizer alguma coisa errada, vai pagar, como pagam os
outros. Não dá para continuar como está: essa meninada matando a mando de
outro. Nós temos que fazer as duas coisas aqui: a maioridade geral e, ao mesmo
tempo, dar condições para que os adolescentes de 14 ou 15 anos não venham a
fazer o que estão fazendo agora os que têm menos de 18 anos. Portanto, quero me
associar ao pronunciamento de V.Exa., dizendo que minha PEC é mais ampla,
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propõe a maioridade geral e não apenas a maioridade penal, como V.Exa. mostra
nesses dez pontos.
O SR. LUIZ COUTO - Nós temos, Deputado Gonzaga Patriota, que investir na
educação: educação para todos, educação de qualidade, educação para a
cidadania. Aí sim você terá escola de tempo integral, dará oportunidade ao
adolescente de aprender uma profissão, uma arte, um esporte. O esporte qualifica.
A gente sabe de muitos que poderiam estar num espaço onde a violência seria a
máxima, mas foram integrados numa escola da música, das artes, do esporte, enfim,
trabalhando aquilo que é fundamental na vida do ser humano, o seu espírito, o sopro
que Deus coloca sobre cada um de nós para que possamos viver com dignidade.
Está assegurada na Constituição que todas as ações do Estado são para assegurar
a dignidade da pessoa humana. Infelizmente, essa dignidade não está sendo
respeitada, está sendo roubada. Precisamos fazer o nosso papel.
O que acontece? A grande maioria desses adolescentes é recrutada e
aliciada pelo crime organizado. Então, a gente pune o adolescente, mas o cara está
solto, traficando armas, cometendo uma série de ações criminosas. Enquanto isso,
nosso adolescente está sendo vítima de acusações. Na realidade, ele é internado
porque o juiz determina, e pode determinar, como fez agora em São Paulo, que o
adolescente fique mais tempo na cadeia. Por quê? Porque tem um desvio de
personalidade. E o juiz não vai liberar enquanto não for mostrado que ele pode ser
recuperado através de um trabalho interdisciplinar, que é fundamental. O SINASE —
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo coloca isso, mas infelizmente
essa situação não acontece.
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Concluindo, afirmo ser um erro reduzir a maioridade penal no Brasil. Não
temos estrutura psicológica para suportar tal exagero cometido pelos conceitos
distorcidos da violência. A delinquência juvenil é, portanto, um indicador de que o
Estado, a sociedade e a família não têm cumprido adequadamente seu dever de
assegurar com absoluta prioridade os direitos da criança e do adolescente.
Do ponto de vista da Psicologia, enquanto ciência, a tese do ser humano em
desenvolvimento observa a correlação entre as práticas parentais e a manifestação
do comportamento antissocial. Constata-se, entre os adolescentes em conflito com a
lei, a ausência de práticas parentais positivas, aquelas em que o afeto e o
acompanhamento dos pais estão presentes, sobretudo nas famílias em risco social.
Esse fato afasta a informação simplista da existência de sujeitos biologicamente
predispostos a cometer delitos.
Sr. Presidente, solicito que seja dada a devida publicidade a este
pronunciamento nos meios de comunicação desta Casa, inclusive no programa A
Voz do Brasil.
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O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Com a palavra o Deputado Paes Landim,
próximo orador do Grande Expediente.
O SR. PAES LANDIM (Bloco/PTB-PI. Sem revisão do orador.) -
DISCURSO DO SR. DEPUTADO PAES LANDIM QUE, ENTREGUE AO ORADOR
PARA REVISÃO, SERÁ POSTERIORMENTE PUBLICADO.
(Discurso a ser publicado na Sessão nº 206, de 16/07/15.)
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O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Vai-se passar ao horário de
VI - COMUNICAÇÕES PARLAMENTARES
Tem a palavra o primeiro orador inscrito, Deputado Luiz Couto, pelo PT.
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O SR. LUIZ COUTO (PT-PB. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs.
Deputados, Sras. Deputadas, o ex-Governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro,
também ex-Ministro da Justiça, escreveu artigo publicado no portal Carta Maior cujo
título é Os Cidadãos Servos e o Congresso do PT.
Passo a ler o referido artigo:
“Os cidadãos servos e o Congresso do PT — se o
fascismo financeiro não for brecado, fará desaparecer as
liberdades políticas democráticas e todo o sistema de
direitos individuais e coletivos
Depois de um formidável massacre a que foi
submetido nos últimos anos, tanto por motivos justos como
injustos, tanto pela direita conservadora como pelo neo-
udenismo renovado, massacre este que transitou de
maneira sistêmica pela grande mídia, toda ela, como se
sabe, boa pagadora de impostos e isenta de qualquer
mácula moral ou interesses subalternos — depois de ser
tratado, por mais de dez anos, como inventor da corrupção
no Brasil —, o Congresso do Partido dos Trabalhadores em
Salvador, se é verdade que não resolveu nenhuma das
questões de fundo que o PT ainda precisa encarar, também
demonstrou que o partido tem uma capacidade de
resistência extraordinária, uma militância séria e dedicada e
quadros dirigentes, em todas as correntes de opinião,
dispostos a reinventar a utopia e a não se entregar para as
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fatalidades burocráticas e para a espontaneidade do
cansaço.
A minha análise parte de alguns pressupostos que
certamente não são majoritários no PT, e isso ficou refletido
na aprovação das teses da maioria e na rejeição das
principais emendas do bloco minoritário, interno ao Partido,
composto pela Mensagem e outros grupos internos do PT.
Primeiro, entendo que o partido deveria recuperar a
sua posição clara de sujeito político dirigente e proponente,
e não apenas manter-se como ‘partido-suporte’ do Governo,
mero ‘ordenador’ de custos políticos, sem deixar de dar
sustentação para que o Governo governe com estabilidade.
Segundo, entendo que o partido deveria lançar-se
numa política de reconstrução, que não é apenas de
‘retomar’ relações com os ‘movimentos sociais’, mas é
estabelecer relações com a nova inteligência política do
país, restabelecer relações com a academia, com os
centros de produção cultural- científica e artística, com os
novos setores do mundo do trabalho, emergentes das
revoluções tecnológicas em curso, o que só poderia ser feito
com o arejamento do grupo dirigente atual, formando um
novo grupo de direção, que incorporasse novos quadros,
sem deixar de aproveitar a experiência e a qualidade dos
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quadros dirigentes atuais, bem como com um novo sistema
de eleição das suas direções.
Terceiro, o Congresso deveria tratar da ‘nova
questão do Estado’, que ainda não foi abordada de
maneira convincente e profunda pelas gerações atuais da
esquerda mundial e que, aqui no Brasil, estando ainda o
PT no governo, é um tema que poderia avançar de
maneira significativa, com os nossos acertos e erros, ao
longo desta década, que resultaram em extraordinários
avanços na inclusão social e na redução da miséria, que
hoje estão sendo colocados em xeque.
Esta terceira questão é a mais importante de todas.
Ela remete para as duas anteriores e também porque
traduz uma questão concreta, na política imediata, que
tem uma enorme consequência estratégica. Ela parte de
um pressuposto, que, se estiver correto, inverte a lógica
da ação política da esquerda, para fortalecer o Estado e
para responder à crise da democracia e a quase
inocuidade dos processos eleitorais. Seu resumo é o
seguinte: o Estado, em geral, e particularmente os
Estados sufocados pela dívida pública, foram capturados
pelo capital financeiro — ordenado pelas agências
privadas de risco e agências estatais dos países ricos,
dos quais os bancos são intermediários — captura, esta,
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que determina que estes Estados só se tornem
‘determinantes da vida social’, para responder às
necessidades do capital financeiro. Tornam-se os
Estados, assim, cada vez mais ineptos e insensíveis,
politicamente, para responder até mesmo aos chamados
direitos naturais do Século XVIII, sem falar nas respostas
econômicas e sociais decorrentes das lutas por mais
igualdade.
As políticas que estes Estados precisam realizar,
independentemente de quem está no Governo, passam a
ser destinadas fundamentalmente a responder aos
pagamentos da dívida pública, parte dela legítima e
responsavelmente assumida pelos governos precedentes
e grande parte dela decorrente do jogo especulativo do
mercado financeiros mundial, que financia as políticas dos
ricos nos países ricos, os investimentos bélicos de caráter
colonial-imperial, sem falar na vida luxuosa de uma
pequena elite, interna e externa ao país, ligada aos
grandes negócios globais.
Os Estados, submetidos à chantagem permanente
da dívida — vejam a Grécia — não só têm dificuldades de
desenvolver políticas alternativas para o seu projeto
nacional de caráter democrático e social, como também
transformam a sua cidadania em uma cidadania ‘sem
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direitos’, uma cidadania mais próxima da condição de
servos, reforçando o ‘estatismo’ só naquilo que lhe torna
apto para a aplicação de políticas financeiras
determinadas de ‘fora para dentro’. Assim, ao mesmo
tempo em que se enfraquece o papel regulatório e social
do Estado, se fortalece — como sua força principal para
subordinar a política e os governos — seus Bancos
Centrais, que se tornam mais fortes que os parlamentos e
os partidos.
A força normativa do Estado e suas principais
decisões que moldam a vida política vêm das
determinações que ele, Estado, ordena na vida social,
através dos Bancos Centrais. E isso não se faz sem
autoritarismo e sem corrupção, que se espalha como uma
gigantesca metástase no Estado e na sociedade civil: as
reformas neoliberais, que agridem os direitos da cidadania
não se fazem sem alianças fisiológicas e sem uma boa
dose de corrupção na estrutura estatal, porque a
‘dinheirização’ passa a ser o elemento central da política,
em substituição a programas de governo capazes de
atrair e mobilizar os cidadãos.
Independentemente da honestidade da maioria dos
políticos de todos os partidos, dos Presidentes, dos
Ministros de Estado, dos servidores públicos, a política
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que se fortalece, vinga e que tem o apoio dos setores
mais privilegiados no país e da ampla maioria da mídia
tradicional é esta: a política que substitui as decisões
políticas de Estado, para imprimir um projeto econômico e
social, é transformada em decisões de gestão financeira
da dívida, como política de Estado mais ‘universal’ e
fatalmente obrigatória.
Ao recusar a fazer um exame profundo do ‘ajuste’ e
das suas consequências para o conjunto da sociedade, o
Congresso deixou a militância e a nossa base social
desarmada, para enfrentar um debate sobre o futuro.
Sequer se tratava de exigir da Presidenta uma mudança
de rumo agora, porque as escolhas que foram feitas pelo
Governo, supostamente ‘para sair da crise’, neste
momento são irrevogáveis. Não só porque quaisquer
outras exigiriam um grau de mobilização social e uma
unidade política, baseada em determinados princípios
(que parte do nosso Partido e os nossos aliados atuais
não estão em condições de absorver), mas também
porque não teriam maioria parlamentar para serem
aplicadas. Mas do profundo exame crítico do ‘ajuste’ e da
crítica à forma despolitizada e tecnicista com que ele foi
proposto e está sendo aplicado é que o PT recuperaria a
credibilidade para dizer a natureza da política econômica
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do futuro, para um novo ciclo de governos progressistas
no Brasil.
A absorção, pela maioria, da necessidade de uma
Frente orgânica, à esquerda, para o futuro, e o
reconhecimento, ainda que formal, da necessidade de
uma nova política econômica desenvolvimentista e social,
dentro do atual Governo, foram sinalizações positivas do
Congresso. Mas seu elemento político mais importante,
do ponto de vista da minoria que eu integro, foi o
manifesto unitário da maioria dos parlamentares do PT,
senadores e deputados (que gerou ao final a ‘Carta do
Rio Vermelho’ da minoria), que exigia que mudanças mais
profundas fossem pautadas pelo Congresso. Na verdade,
não se trata, como quer a grande mídia, de sermos ‘mais’
ou ‘menos’ radicais. Trata-se de sermos apenas mais
consequentes com a nossa história, não só não aceitando
que não existem outras alternativas, mas propondo-as de
forma clara, mesmo ‘contra a corrente’ formada por uma
opinião pública manipulada pela grande mídia.
Togliatti, em 1935, num texto (‘A propósito do
fascismo’) em que criticava o tipo de aparato estatal
proposto pelo fascismo, ‘no qual o cidadão não tem
direitos (...) diante do Estado, porque a origem de cada
direito está no próprio Estado’, também, de forma
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profética, adiantava uma crítica do Estado
‘bancocentralizado’ dos tempos atuais. É o Estado
necessário ao capital financeiro, para controlar a
sociedade: o Estado dos ‘cidadãos-servos’, que não têm
direito nem de discutir nem de propor ‘ajustes’, para
saírem de uma crise porque, afinal, ‘não têm alternativas’.
Este fascismo financeiro, que toma conta do mundo
e agora se prepara para esmagar a Grécia, se não for
brecado em países mais fortes, como é o nosso, fara
desaparecer não só as liberdades políticas democráticas,
porque tornará irrelevantes os partidos e os governos,
mas também fará desaparecer, como disse Togliatti, ‘todo
o sistema de direitos individuais e coletivos’. A questão
democrática em curso, hoje, integra de maneira
incontornável a crise da democracia com a crise
financeira do Estado. Isso o nosso Congresso não
respondeu, e é nosso dever compartilhar com os demais
setores da esquerda e com o centro progressista e
democrático a busca de saídas fora das alternativas da
ortodoxia.”
Esse é o texto que foi publicado no portal Carta Maior. O texto é de Tarso
Genro, Sr. Presidente, e eu concordo plenamente com o seu teor. Por isso gostaria
que fosse dada a devida publicidade a ele nos meios de comunicação desta Casa e
também no programa A Voz do Brasil.
O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Acato o pedido de V.Exa.
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O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Tem a palavra o Deputado Ademir Camilo, pelo
prazo de 1 minuto.
O SR. ADEMIR CAMILO (PROS-MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.) -
Sr. Presidente Izalci, eu queria comunicar a todos, ao povo brasileiro, que, na
condição de Vice-Presidente Nacional da UGT — União Geral dos Trabalhadores,
representando nosso Presidente Ricardo Patah, acabo de participar de reunião,
coordenada pelo Ministro Miguel Rossetto, a que estiveram presentes os Ministros
Eduardo Gabas, Ricardo Berzoini e Nelson Barbosa e cinco centrais sindicais.
Nós saímos com a impressão de que o Governo vai vetar a fórmula 85/95.
Mostraram-se alguns números, algumas preocupações, principalmente com relação
à demografia. Mas pela própria lâmina que o Governo nos coloca, só em 2027
teríamos impacto negativo na Previdência.
Sr. Presidente, nós que tivemos a responsabilidade de fazer a inclusão dessa
nova regra 85/95, precisamos conversar com o Governo. É importante que cada
Deputado, cada Senador converse com os órgãos do Governo a partir de hoje,
principalmente amanhã e na quarta-feira, quando vence o prazo para a aposição do
veto. É importante conversar para demonstrar o momento de afirmação e de sintonia
com o Congresso e com o povo brasileiro e dar um alento aos trabalhadores que
estão prestes a se aposentar e àqueles que já passaram do tempo de aposentar, e
ainda não se aposentaram.
Esse fator, inclusive da lavra do Deputado, hoje Ministro, Pepe Vargas, vai
fazer com que a gente tenha alguns dias melhores.
Sr. Presidente, para encerrar, eu conclamo todos os Deputados que votaram
pela inclusão dessa nova regra do fator previdenciário, a fórmula 85/95, para nestes
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próximos 2 dias falar ao microfone e demonstrar ao povo brasileiro que esse é o
segundo tema mais importante, mais demandado a esta Casa — se todos virem as
demandas da sociedade. Nós temos a possibilidade de, se a Presidenta vetar,
derrubar o veto, para manter a coerência, a justiça e dar aos aposentados um salário
digno por tudo que fizeram, por tudo que produziram.
Muito obrigado.
O Sr. Izalci, nos termos do § 2º do art. 18 do
Regimento Interno, deixa a cadeira da Presidência, que é
ocupada pelo Sr. Luiz Couto, nos termos do § 2º do art.
18 do Regimento Interno.
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O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Concedo a palavra ao Deputado Izalci,
para uma comunicação parlamentar associada à Comunicação de Liderança pela
Minoria, por 19 minutos.
O SR. IZALCI (PSDB-DF e como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr.
Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, o tema que vou levantar agora é muito
importante e merece, por parte desta Casa, atenção especial. Eu já vinha estudando
isso há algum tempo, mas ontem fui surpreendido com uma matéria do Fantástico
sobre o Sindicato dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro que trata
exatamente dessa matéria que vou comentar agora, na qual já venho trabalhando há
alguns meses no sentido de buscar uma solução.
Na gestão passada, como auditor que sou, fiz aqui uma auditoria do
Programa Segundo Tempo do Ministério dos Esportes — e nunca se roubou tanto
quanto neste programa, e não se roubava 10, 20%, 30%, não; era 100%! Um dos
convênios do Segundo Tempo que eu auditei aqui, e eu espero que um dia haja uma
resposta para essa auditoria que fiz, foi entre o Ministério do Esporte e a Federação
dos Sindicatos dos Trabalhadores do Comércio.
Pois só ali desviaram quase 2 milhões, 100% de desvio! A empresa que
faturou, que emitiu a nota de transporte, uma nota de quase 800 mil reais na
contabilidade da Federação, não existe; na contabilidade da empresa, não existe
nenhum registro de ônibus e nem do pagamento de serviço prestado por ônibus, e
ela emite uma nota de 800 mil reais, para sacar no banco, através do Programa
Segundo Tempo.
Ontem, nós vimos que, no Sindicato dos Empregados no Comercio do Rio de
Janeiro, a diretoria, que é formada por 4 ou 5 diretores que ganham na faixa de 50,
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60 mil reais cada um, e uns 15 funcionários, que faturavam entre 15 mil reais e 20
mil reais por mês, quase todos eram parentes do Presidente, tinham o mesmo
sobrenome. Inclusive, chegamos a ver um clube, conhecido pela comunidade como
um clube privado, da família que domina o Sindicato. Pois aqui em Brasília não é
diferente! A Federação dos Trabalhadores do Comércio precisa ser auditada.
Mas o assunto que eu trago é este: nós não podemos admitir a transferência
de dinheiro público para essas entidades que viraram sindicato pelego, chapa
branca.
Foi aprovado nesta Casa, e vetado pelo Presidente Lula, o artigo de uma lei
que possibilitava fiscalizar as centrais sindicais. Não se pode fiscalizar nenhuma
prestação de contas, porque esse artigo foi vetado!
Temos é que proibir o repasse de dinheiro público para essas entidades
chapa branca e que desviam recurso público. A proposta que apresentei é que não
se possa transferir recurso público para qualquer entidade onde não haja
democracia, onde não haja eleição, ou onde se admitam várias reeleições.
Nós aprovamos aqui uma lei que determinava que, para receber repasse de
recurso público, as ONGs tinham que comprovar, através das suas atas e estatutos,
a possibilidade de apenas uma reeleição — parece que isso foi vetado; eu não sabia
que tinha sido vetado.
Uma das exigências da medida provisória que trata do parcelamento das
dívidas dos clubes de futebol é esta: todo clube tem que permitir no máximo uma
reeleição. Isso é para não acontecer o que acontece hoje neste País: diretores
permanecem 20, 30 anos a frente de federações, confederações, sindicatos e
clubes. Isso tem que acabar.
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O que se vê agora é uma banalização da greve, e só é prejudicado o
paciente, o estudante ou aquele que usa o transporte público. Só há preocupação
com a atividade-meio; a atividade-fim, o consumidor, aquele que paga o imposto,
não é levado em consideração.
Esse negócio de reposição de aula é conversa fiada. Não existe isso. Não
recuperam nunca! Da mesma forma acontece com os hospitais: depois que morreu
um monte de gente, não adianta mais.
A minha proposta é que façamos uma modificação na legislação, proibindo
aqueles que querem receber contribuição sindical, o chamado imposto sindical...
Porque não é contribuição. O nome está dizendo: a contribuição tem que ser
espontânea. Não existe contribuição obrigatória.
No Brasil, é assim: há os impostos — o nome está dizendo: é imposto, não há
opção. Aí, o Governo, para fugir da distribuição para Estados e Municípios, engrossa
as contribuições sociais, as contribuições previdenciárias; chama de “contribuição”
aquilo que é obrigatório, que é compulsório.
Então, nós temos que rever essa questão dos sindicatos, das centrais
sindicais, das federações e confederações, seja de trabalhador, seja de empresário.
Nós temos presidentes de federações, de sindicatos, de confederações há 40, 50
anos no poder. Isso é um absurdo! Nós temos que acabar com isso, a não ser que a
federação, o sindicato, a confederação ou a central sobreviva de contribuições
espontâneas dos seus associados. Mas nós não podemos continuar admitindo essa
prática de pegar dinheiro público e não querer ser fiscalizado; esse peleguismo
chapa-branca, como estão fazendo agora inclusive a UNE e outras entidades. É
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tudo chapa-branca, porque o Governo patrocina, cobra, paga pelo silêncio ou pela
mobilização através de causas de interesse do Governo.
Portanto, nós precisamos rever toda essa legislação. Não podemos, não há
mais a mínima condição de governança com essa forma de se exercer a greve:
primeiro se faz a greve para depois discutir. É o contrário, pelo que me lembro: tem-
se que esgotar todas as negociações e, em último caso, vem a greve. Agora, não:
primeiro entram em greve para depois discutir as demandas. E aí o paciente, o
aluno, o usuário do sistema é que são, de fato, prejudicados. Então, eu quero propor
a esta Casa que se faça uma discussão nesse sentido.
Temos que ver inclusive que a Justiça virou chacota. Ela multa em função do
não cumprimento da lei de greve. Aí, no acordo coletivo, a primeira exigência é o
perdão das multas. Com isso, a Justiça fica totalmente desmoralizada!
Nós temos que rever não só a questão dos trabalhadores, mas dos
empresários também. O sistema S, a confederação, as federações hoje estão
perdendo credibilidade. As empresas sérias não participam mais das direções,
porque de fato se instalou um peleguismo total as confederações, federações e
sindicatos.
Então, a nossa proposta é, primeiro, estabelecer na lei que, para receber
qualquer recurso, seja contribuição sindical, seja taxa de contribuição de acordos
coletivos ou convenções coletivas, é necessário a prestação de contas.
Inclusive os trabalhadores não filiados, não associados também são
obrigados a contribuir. E, se eles são obrigados a contribuir, é preciso haver
prestação de contas.
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O trabalhador tem que ter a opção de descontar ou não, mas isso não
significa dificultar a vida dele. Se ele quiser, ele é que deveria ir lá e contribuir. Hoje,
não é assim. Primeiro, se é obrigado a contribuir, esse valor é descontado em folha,
e, depois, se for o caso, é preciso ir ao sindicato para que eles devolvam aquilo que
foi descontado.
O que eu quero dizer, e vamos propor isso agora, nessa discussão, é
exatamente proibir qualquer repasse para instituições que não estejam enquadradas
no regime democrático do rodízio, aquelas onde há uma perpetuação no poder,
como nós temos visto na maioria dessas centrais sindicais e também nas
confederações e federações de trabalhadores e de empresários. Não podemos
deixar que se transfira recursos do FAT.
A própria contribuição sindical, que corresponde a 1 dia de trabalho por ano,
ou acaba definitivamente, que era o ideal, porque viraram máquinas... Inclusive, o
ex-Ministro do Trabalho e ex-Presidente do Tribunal Superior do Trabalho Almir
Pazzianotto, que advogou para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do
Campo e Diadema na gestão do ex-Presidente Lula, disse que é favorável, sim, a
que se acabe com a contribuição sindical, esse imposto que é cobrado de todos os
trabalhadores.
Da mesma forma, no caso das contribuições das empresas, elas precisam
participar das decisões. Tem que haver fiscalização, tem que haver auditoria, tem
que haver rodízio no poder. Hoje, não existe nenhuma mudança nos quadros das
confederações, até porque quem as dirige quer se perpetuar no poder, o que
dificulta a competição das empresas ou dos próprios funcionários.
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Nós temos que rever, inclusive, essa disponibilização de servidores —
servidores públicos, inclusive — para os sindicatos. Temos que ter bom senso e
disponibilizar apenas, no caso aqui, com essas exigências.
Não dá para admitir mais esses sindicatos pelegos que, normalmente, não
defendem, de fato, a sua categoria e só pensam numa coisa: arrecadar, arrecadar,
arrecadar e desviar recursos públicos.
Essa matéria de ontem comprova que há muitos sindicatos pelegos, que
estão desviando dinheiro público em benefício dos seus diretores, dos seus
familiares.
Nós temos hoje no Brasil um excesso de sindicatos. O próprio ex-Ministro
Pazzianoto disse que só na cidade dele, com 50 mil habitantes, há mais de
sindicatos que em toda a Alemanha — e olhem que, no Brasil, nós trabalhamos com
a unicidade sindical, ao contrário da Alemanha, que trabalha com o pluralismo
sindical e, portanto, deveria ter muito mais sindicatos.
Portanto, essa é uma discussão que precisa se feita imediatamente para o
bem do País, para que haja realmente a continuidade e a melhoria do serviço
público, principalmente nas áreas da educação, da saúde e da segurança pública.
Basicamente são essas as áreas cuja qualidade o Governo precisa urgentemente
restabelecer, mas, para isso, é preciso haver uma melhoria na legislação brasileira,
principalmente na Lei de Greve. Vamos regulamentar, se for o caso, a greve do
servidor público, prevista na Constituição. Nós temos que estabelecer regras claras
para que o usuário não seja prejudicado, para que o aluno não seja prejudicado,
para que o paciente nos hospitais não seja prejudicado.
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Sr. Presidente, peço a V.Exa. que divulgue este pronunciamento nos meios
de comunicação da Casa e, especialmente, no programa A Voz do Brasil.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (JHC) - O pedido de V.Exa. será acatado por esta
Presidência.
Durante o discurso do Sr. Izalci, o Sr. Luiz Couto,
nos termos do § 2º do art. 18 do Regimento Interno, deixa
a cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr. JHC,
nos termos do § 2º do art. 18 do Regimento Interno.
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O SR. PRESIDENTE (JHC) - Como vou me dirigir à tribuna, convido o
Deputado Mauro Pereira a assumir a Presidência dos trabalhos para dar seguimento
a esta sessão de debates.
O Sr. JHC, nos termos do § 2º do art. 18 do
Regimento Interno, deixa a cadeira da Presidência, que é
ocupada pelo Sr. Mauro Pereira, nos termos do § 2º do
art. 18 do Regimento Interno.
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O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Continuando o período das
Comunicações Parlamentares, concedo a palavra ao nobre Deputado JHC, pelo
Solidariedade, que fará também uma Comunicação de Liderança.
O SR. JHC (SD-AL e como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,
ocupo a tribuna para fazer um convite especial a todos os Congressistas: o
lançamento da Frente Parlamentar pelo Fortalecimento dos Fundos de Pensão,
Regime Próprio de Previdência Social e Previdência Aberta, na quarta-feira, às 18
horas.
Por que minha preocupação? Nós estamos vivenciando, nessas últimas
semanas e meses, uma discussão profunda sobre os fundos de pensão no País,
mas eu queria aqui destacar, de forma toda especial, sua importância. É
interessante que nós façamos uma fiscalização rigorosa e que os mecanismos de
fiscalização e controle sejam cada vez mais aperfeiçoados, para que, junto com esta
Casa, dar resposta à sociedade.
Há muito chamam os que são donos daqueles recursos de patrocinadores ou
assistidos. Na verdade, são eles, quase 3 milhões de trabalhadores, especialmente
das estatais, que depositam todos os meses sua poupança, sua garantia para ter,
pelo menos é a natureza do fundo, aposentadoria que possa lhe dar o conforto
necessário após tantos anos de contribuição. E isso está temerário neste exato
momento, porque estamos vivenciando um rombo, um déficit no cálculo atuarial dos
fundos de pensão.
Além dos fundos de pensão, existe o Regime Próprio de Previdência Social —
RPPS nos Municípios e Estados brasileiros, uma forma de alternativa ao Regime
Geral da Previdência. Além do mais, existe também o Regime de Previdência
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Complementar aberto, uma alternativa de rendimento futuro para aqueles que
depositam ali sua poupança todos os meses possam viver com dignidade ao final da
sua carreira ou resgatar esse valor para fazer outro tipo de investimento.
Na edição de hoje da Folha de S.Paulo, há manchete muito interessante:
“Plano de previdência permite bancar curso universitário sem pagar IR”. A matéria
diz que a previdência privada é a opção por benefício fiscal para pais fazerem
poupança e custearem a universidade do filho, ou seja, uma alternativa:
“Um pai assalariado pode fazer uma poupança
usando os benefícios fiscais da previdência privada a fim
de custear a universidade do filho sem pagar imposto de
renda tanto no momento das contribuições quanto nos
resgastes.”
Eu quero novamente deixar aqui bem claro que o fundo de pensão, o RPPS e
o regime complementar aberto são malas propulsoras do desenvolvimento social e
econômico. A partir desse pressuposto, como em outros países, trago alguns dados
bastante interessantes.
O sistema de previdência próprio complementar representa algo em torno de
20% do PIB nacional. Um cidadão e uma cidadã que contribuem durante toda a sua
vida, quando se aposentam, não esperam mais do que o seu merecido conforto.
Para se ter ideia, a população brasileira triplicou nos últimos 50 anos,
passando de 70 milhões, em 1960, para 190 milhões, em 2010. O crescimento do
número de idosos, no entanto, foi ainda maior: em 1960, 3,3 milhões de brasileiros
tinham 60 anos ou mais e representavam 4,7% da população; em 2000, 14,5
milhões, ou seja, 8,5% dos brasileiros estavam nessa faixa etária. Na última década,
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o salto foi grande e, em 2010, a representação passou para 18,8% da população,
20,5 milhões. Este é o momento de debater o futuro.
As maiores economias do mundo possuem como força motriz justamente o
segmento de fundos de pensão. Estudo divulgado pela consultoria Watson Wyatt,
assessoria previdenciária respeitada internacionalmente, mostrou que, ao final de
2006, os 300 maiores fundos de pensão do mundo ultrapassaram o patamar de 10
trilhões de dólares em patrimônio líquido. A maior concentração está nos Estados
Unidos, 43%, seguidos de Japão, 15%, Reino Unido, 7%, Holanda, 6%, e Canadá,
5%. Nos Estados Unidos, os maiores fundos de pensão de empregados somados
aos 35 grandes fundos de pensão setoriais já possuem o controle de praticamente
todas as mil maiores empresas industriais.
O Brasil possui o maior sistema de previdência complementar da América
Latina e um dos dez maiores do mundo em termos absolutos. O setor consolidou-se
no País como grande investidor. As 371 entidades fechadas são responsáveis por
165 bilhões de dólares em investimentos, o que coloca o País no oitavo lugar no
ranking mundial dos que têm maior volume de recursos administrados pelos fundos
de pensão, que investem nos principais setores da economia: energia elétrica,
siderúrgica, telecomunicações, petroquímica, indústria de alimentos, produção de
aviões e mineração. São 131 bilhões de reais investidos diretamente no capital
social das empresas, contribuição inestimável ao desenvolvimento econômico
nacional.
Portanto, eu gostaria de convidar para a solenidade de lançamento da Frente
Parlamentar pelo Fortalecimento dos Fundos de Pensão, Regime Próprio de
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Previdência Social e Previdência Aberta a realizar-se na quarta-feira, dia 17 de
junho, às 18 horas, no Salão Nobre da Casa.
Eu, como jovem, tenho que discutir o fortalecimento de tudo que venha a
produzir efeitos duradouros. Nós tínhamos que ter uma discussão perene e não
pontual. Como é que assunto tão importante, que significa desenvolvimento social e
econômico no País, corre à margem das discussões na Câmara dos Deputados?
Nós não podemos deixar só aos órgãos de fiscalização e controle, só a cargo de
outros órgãos do Executivo todas essas entidades. Precisamos ter avanços.
Nesta Casa de Leis, vamos ter que propor a modernização da legislação,
maior rigor na fiscalização. Fala-se em CPI, nós temos que continuar o combate à
corrupção, mas, paralelo a isso, temos que ter um modelo muito eficaz, para trazer
para cá alternativas e soluções para implementar, em relação ao conceito básico de
poupança e fomento para todas essas áreas.
Então, convido todos os Parlamentares para estarem presentes nesta quarta-
feira, às 18 horas, ao Salão Nobre e participar do lançamento da Frente
Parlamentar. Conto com o apoio de todos os nobres colegas.
Gostaria, Sr. Presidente, que meu pronunciamento fosse registrado nos meios
de comunicação desta Casa e no programa A Voz do Brasil.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Muito obrigado, Deputado JHC, do
Solidariedade de Alagoas, um jovem dinâmico que vem fazendo a diferença.
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PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, todos que nos acompanham pela
Rádio Câmara e TV Câmara, venho hoje a esta tribuna reforçar o convite feito ao
longo dessas últimas semanas para a solenidade de lançamento da Frente
Parlamentar pelo Fortalecimento dos Fundos de Pensão, Regime Próprio de
Previdência Social e Previdência Aberta, ou seja, uma frente que possui o objetivo
de fortalecer o sistema próprio e complementar previdenciário.
No Brasil, temos o Regime Geral, representado pelo INSS, mas temos
também o chamado sistema complementar, representado pelos fundos de pensão e
previdência aberta, e ainda os regimes próprios, que são os entes previdenciários
municipais e estaduais.
Em nosso País, o sistema de previdência própria e complementar representa
algo em torno de 20% do PIB nacional. É um segmento que possui grande robustez
econômica. Porém, uma faceta sua é muitas vezes colocada em segundo plano,
diante da imponência econômica. Estou falando do aspecto social desse sistema.
Não podemos nos esquecer de que na ponta de todos esses segmentos
existe um cidadão e uma cidadã que contribuíram durante toda a sua vida e que,
quando da aposentadoria, não esperam muito além do merecido conforto. Esse
conforto, porém, muitas vezes é substituído por incerteza e frustração, o que cria um
paradoxo: não invisto em minha previdência porque não confio, não confio porque
não invisto. Essa situação deve ser substituída por um círculo virtuoso em que as
pessoas tenham a confiança de que, investindo em sua aposentadoria, terão,
quando necessário, a cobertura pela qual pagaram.
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Para se ter ideia, a população brasileira triplicou nos últimos 50 anos,
passando de 70 milhões, em 1960, para 190 milhões, em 2010. O crescimento do
número de idosos, no entanto, foi ainda maior: em 1960, 3,3 milhões de brasileiros
tinham 60 anos ou mais e representavam 4,7% da população; em 2000, 14,5
milhões, ou 8,5% dos brasileiros, estavam nessa faixa etária. Na última década, o
salto foi grande e, em 2010, a representação passou para 10,8% da população, 20,5
milhões. Ou seja, este é o momento de debater o futuro, e o futuro passa pelo
sistema previdenciário.
As maiores economias do mundo possuem como força motriz justamente o
segmento de fundos de pensão. Estudo divulgado pela Consultoria Watson Wyatt,
assessoria previdenciária respeitada internacionalmente, mostrou que, ao final de
2006, os 300 maiores fundos de pensão do mundo ultrapassaram o patamar de US$
10 trilhões em patrimônio líquido. A maior concentração está nos EUA, 43%,
seguidos de Japão, 15%, Reino Unido, 7%, Holanda, 6% e Canadá, 5%. O Brasil
tem três representantes nessa lista. Nos Estados Unidos, os maiores fundos de
pensão de empregados, somados aos 35 grandes fundos de pensão setoriais, já
possuem o controle de praticamente todas as mil maiores empresas industriais. Isso
demonstra a importância mundial da previdência complementar para a economia
dos países.
O Brasil possui o maior sistema de previdência complementar da América
Latina e um dos dez maiores do mundo em termos absolutos. O setor consolidou-se
no País como grande investidor. As 371 entidades fechadas são responsáveis por
US$ 165,94 bilhões em investimentos, o que coloca o País no oitavo lugar no
ranking mundial dos que têm maior volume de recursos administrados pelos fundos
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de pensão, que investem nos principais setores da economia: energia elétrica,
siderurgia, telecomunicações, petroquímica, indústria de alimentos, produção de
aviões e mineração. São R$ 131 bilhões investidos diretamente no capital social das
empresas, contribuição inestimável ao desenvolvimento econômico nacional. A
importância econômica desse segmento é, portanto, absolutamente inegável. O
Estado brasileiro, no entanto, não tem agido de forma adequada.
Pesquisa realizada em 2012 apontou que o quesito burocracia atingiu 29,40%
como possível causa que dificulta a criação de plano de benefícios. A mesma
pesquisa apontou que a diminuição da burocracia e dos entraves governamentais
atingiu 38,1% como ponto relevante para o crescimento da previdência
complementar, ficando na frente de aspectos importantes como qualidade da gestão
do plano, 14,3%, e flexibilidade dos produtos e planos oferecidos, 33,3%.
Como se vê, mais uma vez, o peso do Estado se faz sentir economicamente.
Nessa seara, o estabelecimento de regras objetivas, claras, constantes e o
distanciamento de debates políticos são medidas absolutamente necessárias e
urgentes para que haja um fortalecimento do setor.
Assim, reforço o convite para que V.Exas., além daqueles que têm interesse
pelo assunto, compareçam na próxima quarta-feira, dia 17 de junho, às 18 horas, no
Salão Nobre da Casa, à solenidade de lançamento da Frente Parlamentar Pelo
Fortalecimento dos Fundos de Pensão, Regime Próprio de Previdência Social e
Previdência Aberta.
Essa é uma luta de todos, inclusive das próximas gerações.
Muito obrigado.
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O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Concedo a palavra ao Deputado
Juscelino Filho, para uma Comunicação de Liderança, pelo PRP.
O SR. JUSCELINO FILHO (Bloco/PRP-MA. Como Líder. Sem revisão do
orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho a esta Casa hoje para falar
de um tema que talvez tenha sido pouco debatido nos últimos meses aqui, mas que
eu considero de suma importância para a saúde pública do nosso País.
A Organização Mundial da Saúde divulgou estudos recentes cujos resultados
são chocantes, mas exibem uma das faces mais cruéis da realidade de uma parcela
expressiva da população de muitos países, principalmente do continente africano e
da América Latina. Só em 2010, foram quase 600 milhões de pessoas afetadas por
mais de 200 tipos de enfermidades contraídas pela ingestão de águas e comidas
contaminadas, as quais matam hoje mais 2 milhões de pessoas ao ano em todo o
mundo.
Essa é uma situação muito grave, e devemos abrir os olhos. Se no continente
africano estão os indicadores mais alarmantes, no Brasil os números são, no
mínimo, desconfortáveis.
Por lado, o Instituto Nacional de Câncer alerta para o uso excessivo de
agrotóxicos no Brasil, uma taxa de mais de 5 quilos de veneno agrícola por
habitante, quantidade que foi duplicada nos últimos 8 anos, segundo dados recentes
do IBGE, o que demonstra uma forte tendência ao crescimento. Com isso crescem
assustadoramente os riscos para a saúde dos consumidores.
De fato, vários diagnósticos cancerígenos podem estar associados à
inadequação dos alimentos, tanto in natura quanto os produtos processados
artesanalmente ou industrializados em larga escala. Esse raciocínio também é
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respaldado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária — ANVISA, que revela
nível insatisfatório de agrotóxico em 36% dos alimentos brasileiros.
Entretanto, o maior drama é a inexistência, a insuficiência ou a má qualidade
das redes de abastecimento de água e de saneamento básico do nosso País porque
atinge, sobretudo, crianças, muitas das quais são impedidas definitivamente de
terem qualquer chance de futuro já nos primeiros anos de vida. Isso não é uma
perversidade do destino; mortes prematuras são resultados principalmente da
prioridade desfocada nas ações do Governo.
Por isso, Sr. Presidente, no Maranhão, meu Estado, apesar de avanços
pontuais, ainda convivemos com um vergonhoso índice de mortalidade infantil, um
dos mais altos do Brasil, infelizmente.
Lá, igual ao País inteiro, dentre as causas de baixa expectativa de vida,
certamente estão a insegurança alimentar e o baixo consumo proteico, o que causa
subnutrição não só em crianças, mas em jovens e, às vezes, até em comunidades
inteiras. As doenças entéricas, diarreicas, de veiculação hídrica estão entre as que
adoecem todos e as que mais matam crianças hoje em dia.
Como médico, eu não me conformo com essa situação, e vou fazer do meu
mandato uma arma na guerra a favor de investimentos em políticas públicas
adequadas contra a injusta distribuição de recursos.
Dias atrás estive em Cuba, na Comissão de Saúde do Parlamento Latino-
Americano, onde sugeri que esse tema fosse por ela adotado e discutido, porque em
todo o nosso hemisfério há uma nítida relação de causa e efeito da mortalidade
infantil e da curta expectativa de vida com a qualidade da água, da comida e do
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saneamento básico. Esse é um grave problema de saúde pública que merece a
nossa atenção.
No mês passado, requeri à Comissão de Seguridade Social e Família, da qual
sou membro, a realização de uma audiência pública para aprofundarmos a
compreensão desse problema e a busca por soluções, através inclusive de
proposições legislativas.
Gostaria de solicitar, Sr. Presidente, que o meu pronunciamento seja
divulgado pelos nos meios de comunicação desta Casa.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Muito obrigado, Deputado Juscelino
Filho, do PRP do Maranhão.
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O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Passo agora a palavra ao Deputado
Sóstenes Cavalcante, do PSD do Rio de Janeiro.
O SR. SÓSTENES CAVALCANTE (PSD-RJ. Pela ordem. Sem revisão do
orador.) - Sr. Presidente, nobres colegas Parlamentares, venho aqui nesta segunda-
feira para deixar o meu registro de preocupação. Ontem todos nós que pudemos
assistir ao programa Fantástico vimos uma denúncia que já era conhecida de muitos
de nós.
Esta Casa, na semana passada, de maneira muito autônoma, tomou uma
decisão importante para o País, que foi o fim da reeleição para cargos executivos.
Isso traz pluralidade à democracia, isso traz oportunidade a novos entes políticos e
personalidades que possam contribuir com o Executivo deste País em todas as suas
esferas, quer seja no Município, no Estado ou na União.
O que nós precisamos entender é que a democracia tem um detergente
capaz de diminuir a corrupção deste País, que é chamada de alternância no Poder.
Isso é salutar. Isso faz bem à democracia.
E o que nós temos visto — e a matéria ontem no Fantástico mostrou uma
grande preocupação, nossa, já de algum tempo — é que a democracia e a
alternância no poder parece que servem para os outros. Quando se trata de
sindicatos, parece que este é um conluio de família, é um ajuntamento de interesses
pessoais, e isso acontece há muitos anos neste País. Nós precisamos colocar o
dedo nessa chaga.
Eu venho a esta tribuna para dizer que nós, de maneira urgente, esta Casa
precisa dar uma resposta a esses grupos que vêm ocupando de maneira até
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nepotista, passando de pai para filho esses sindicatos. E as taxas sindicais deste
País, tanto do trabalhador como do empregador, são pagas de maneira obrigatória.
Eu pedi hoje a minha assessoria parlamentar que faça um levantamento,
porque sou Parlamentar de primeiro mandato, mas tenho certeza de que vários
colegas já têm projetos de lei tramitando para que seja revista a obrigatoriedade
dessas taxas.
É impossível nós convivermos com a obrigatoriedade de pagarmos taxas a
sindicalistas, a verdadeiros donos de sindicatos. Vemos aqui sindicatos até sendo
presididos e dirigidos por personalidades bandidas; recentemente uma eleição foi
decidida a bala no Estado de São Paulo. E eu com vergonha, como Parlamentar do
Estado do Rio de Janeiro, tenho que encarar a realidade de que com os Sindicatos
dos Comerciários, hoje, através da Justiça, coloca-se o dedo na chaga.
Mas eu venho aqui, como Parlamentar do Estado do Rio de Janeiro, para
dizer que não é só no Sindicato dos Comerciários que esta bagunça está
acontecendo. Há pagamentos de altas cifras para esposas, filhos, viagens — é uma
vergonha o que está acontecendo.
Eu venho aqui denunciar e dizer que minha assessoria está fazendo o
levantamento. Eu quero me somar a projetos que talvez já existam nesta Casa e, se
eles não existirem, saibam que este Parlamentar vai apresentar projetos de lei para
tirar a obrigatoriedade de pagamento de taxas a esses sindicatos, que envergonham
— que envergonham — a classe trabalhadora deste País. Envergonham, inclusive,
alguns sindicalistas sérios que eu sei que existem neste País. Nós precisamos punir
os maus sindicalistas, para dar oportunidade a novas gerações de pessoas que
querem contribuir para com os sindicatos.
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Eu venho a esta tribuna para deixar aqui o meu repúdio a esses sindicalistas
e dizer que medidas enérgicas nós precisamos tomar.
População e trabalhadores do Rio de Janeiro: saibam que este Parlamentar
vai lutar para que vocês não sejam mais obrigados a pagar taxa sindical para essa
turma de bandidos que vem envergonhando a classe trabalhadora deste País.
De igual forma, nós não podemos obrigar taxas patronais. Aqui não há briga
contra sindicato porque a maioria é de uma origem ideológica ou partidária. Não. É
uma briga pela democracia, pela liberdade de, como trabalhadores e empregadores,
pagar ou não pagar a taxa sindical. Isso sim é democrático. E é por isso que eu vou
lutar.
Quero agradecer ao Presidente pela oportunidade de estar me expressando e
pedir que o nosso repúdio seja registrado nos Anais da Casa e que o nosso
pronunciamento seja publicado em todos os meios de comunicação, inclusive no
programa A Voz do Brasil.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Muito obrigado, Deputado Sóstenes
Cavalcante, do PSD do Rio de Janeiro.
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O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Concedo a palavra ao nobre Deputado
Paes Landim, para uma Comunicação de Liderança, pelo PTB.
O SR. PAES LANDIM (Bloco/PTB-PI e como Líder. Sem revisão do orador.) -
DISCURSO DO SR. DEPUTADO PAES LANDIM QUE, ENTREGUE À REVISÃO
DO ORADOR, SERÁ POSTERIORMENTE PUBLICADO.
(Discurso a ser publicado na Sessão nº 195, de 10/07/15.)
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O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Eu convido agora para fazer uso da
palavra o meu amigo Deputado Sergio Souza, do Paraná, que falará pelo PMDB.
O SR. SERGIO SOUZA (Bloco/PMDB-PR. Como Líder. Sem revisão do
orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, uma boa tarde a todos. Não é
normal estar em Brasília em uma segunda-feira, mas estou vindo da cidade de
Goiânia, onde, como Vice-Presidente da Comissão Especial do Pacto Federativo,
tivemos um belíssimo seminário na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás.
O Presidente da Comissão, o nosso querido amigo e irmão Deputado Danilo
Forte, por um compromisso no seu Estado, não pôde estar hoje em Goiás e pediu
para que nós fôssemos lá com outros companheiros, como o Deputado Daniel
Vilela, que é do PMDB de Goiás; o Deputado Hildo Rocha, que estará chegando
daqui a pouco, do PMDB do Maranhão; o companheiro Deputado Alexandre Baldy,
que foi quem idealizou toda a reunião; o Deputado Pedro Chaves, o Deputado João
Campos, o Deputado Delegado Waldir. Além dos Deputados Federais, lá estiveram
inúmeros Prefeitos, Vereadores, Deputados Estaduais e membros da sociedade
organizada de Goiás.
Eu pedi ao Líder, o Deputado Leonardo Picciani, para usar o tempo da
Liderança, na condição de Vice-Líder do PMDB, para falar um pouco sobre a
questão do pacto federativo, para começarmos a entender um pouco o que é isso.
A sociedade brasileira está vendo, a todo momento, a discussão no
Parlamento, a reclamação dos Prefeitos, o envolvimento das Assembleias
Legislativas; nas reportagens de revista, de jornal, de televisão se aborda a questão
da reforma do pacto federativo. Mas o que é esse tal pacto federativo? Como ele
começou?
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Nós precisamos entender, Sr. Presidente, meu amigo Deputado Mauro
Pereira, que o Estado, em dado momento, se organizou. O Brasil é um país jovem,
principalmente do ponto de vista da redemocratização. Ele tem uma Constituição
recente (27 anos), que vive sofrendo mudanças — e estamos promovendo várias
delas neste exato momento no que diz respeito à reforma política. E aí vem o pacto
federativo.
Em 1988, o Constituinte deu autonomia financeira e administrativa aos
Municípios. Até então, os Municípios não tinham autonomia administrativa, por mais
que tivessem uma boa base de arrecadação. Foi-se discutir essa questão do pacto
para dizer o seguinte: que o Estado absorveu para si o direito de cobrar impostos e
devolvê-los à sociedade na forma da prestação de serviços.
O cidadão paga hoje, em impostos, em torno de 40% do PIB brasileiro, de
tudo o que se produz. Esses impostos estão distribuídos em impostos federais,
estaduais e municipais. União, Estados e Municípios são os entes federados. O
pacto federativo diz qual é a competência arrecadatória de cada um, de quem é a
obrigação de prestação de serviços à sociedade e quais tipos de serviços devem ser
devolvidos à sociedade com esses recursos.
O Constituinte, em 1988, chamou os Municípios e disse assim: “Vocês,
Municípios, serão os primos ricos da Federação. Vocês vão ser aqueles que mais
vão ter dinheiro”. Criou ali os impostos e disse de quem era cada um desses
impostos: impostos federais, impostos estaduais e impostos municipais; que os
impostos municipais serão 100% dos Municípios brasileiros — 100%!; que, dos
impostos estaduais e também dos impostos federais, alguns serão 50% do
Município e 50% do Estado; outros, 50% dos Municípios e 50% da União.
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O Município disse: “Nossa, vou ser um cara rico!” Mas quais são esses
impostos? O IPVA — Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automores, no caso
do Estado, e ITR — Imposto Territorial Rural, no caso da União. “Ótimo, 50% do
imposto de natureza estadual será meu, e também alguns de natureza federal”. E os
demais impostos? O ICMS, do Estado, 25% é do Município. No caso do IPI e do
Imposto de Renda, que são da União, criou-se o Fundo Constitucional, hoje
conhecido popularmente por FPM — Fundo de Participação dos Municípios— e o
FPE — Fundo de Participação dos Estados —, e em torno de 20% da arrecadação
desses impostos federais serão dos Municípios. Ótimo, os Municípios ficaram então
como os primos ricos da Federação.
Mas aí vem a parte da obrigação. Disseram assim aos Municípios: “Você será
o responsável pela mobilidade urbana e pelo cuidado da sua cidade por completo.
Pavimento, galerias, meio-fio, calçada, iluminação pública; saneamento básico como
um todo — abastecimento de água e esgoto. Tudo isso é de sua obrigação,
Município, e um pouco mais. Toda a saúde básica é de sua obrigação, e se o Estado
e a União não fizerem o restante da saúde, você será também o responsável.” E
disseram mais: “A educação fundamental também é de sua obrigação. No cuido da
área rural, 100% das estradas serão municipais. Teremos também rodovias
municipais interligando municípios.” Para o Estado — no meu caso, o Paraná; ou o
Rio Grande do Sul, do nosso Presidente Mauro Pereira — fica: segurança pública,
ensino médio, fica também uma parte das rodovias. Vejam que já é alguma coisa
considerável. E para a União, o que ficou? As rodovias federais — e quantas são as
rodovias federais em comparação às rodovias municipais e estaduais neste País?;
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os portos — como estão os nossos portos?; e os aeroportos, que tiveram que ser
privatizados?
Com o tempo, aquilo que era 100% se transformou em 40% no que diz
respeito à arrecadação, porque quase a totalidade dos impostos que havia neste
País lá em 1988, virou o quê? Contribuições. Hoje, 60% de tudo o que o Governo
Federal arrecada no Brasil são contribuições. E, dessas contribuições, nada, 1
centavo sequer, é partilhado com os Municípios ou com os Estados. Os Municípios,
que eram para ser o primo rico da sociedade, se tornaram o primo pobre.
Hoje, um Município de pequeno ou médio porte, em qualquer lugar deste
Brasil — pode ser no Sul deste País, nos Estados tidos como mais desenvolvidos;
em São Paulo, um dos Estados mais ricos da Federação, ou em Estados do Norte,
Nordeste, Centro-Oeste —, não faz investimento se não for por transferência
voluntária, que é outro instrumento da Constituição, criado para que um ente
federado possa fazer investimentos da competência de outro ente federado. As
emendas parlamentares, os programas de Governo, seja Federal ou Estadual,
viraram a maior forma de investimento nos Municípios.
Um Município pequeno do meu Estado, o Paraná, não consegue comprar
uma máquina, uma patrola, uma retroescavadeira, uma escavadeira hidráulica, uma
pá carregadeira, um caminhão grande, porque não tem dinheiro para isso!
Juntamente com o Deputado Hildo Rocha, hoje discutimos isso lá em Goiânia,
no seminário sobre o pacto federativo, e fizemos as contas de quanto que é o FPM
de um Município 0.6, que é a maioria dos Municípios brasileiros — o índice do FPM,
0.6 é o menor coeficiente de todos, mas é onde começa. Há uma diferenciação entre
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Estados, mas a média por mês, Sr. Presidente, é de em torno de 600 mil reais, em
torno de 7 milhões por ano.
Sete milhões por ano é a maior parte da arrecadação de um Município, isso
para pagar saúde, educação; manter as vias urbanas e rurais; saneamento,
iluminação pública, transporte escolar, transporte de pacientes, e por aí vai. Não
sobra dinheiro para se investir. Como é que ele vai gastar 500, 600 mil reais numa
patrola, numa motoniveladora? Não tem dinheiro! Isso é quase que 100% da sua
arrecadação mensal!
O que faz o Município, então? Corre para o Deputado Estadual, para ele ser o
interveniente junto ao Governo do Estado; até o Deputado Federal, para que ele
apresente uma emenda — e até outro dia, a emenda não era impositiva.
Mesmo a emenda parlamentar sendo impositiva, Deputado Mauro, olhe que
questão curiosa: eu, pessoalmente, acho que nós não deveríamos tê-la. Nós
deveríamos dar autonomia financeira para os nossos entes federados não
precisarem ficar pedindo, implorando. Quantas vezes um prefeito sai do Rio Grande
do Sul, do Rio Grande do Norte, do Paraná, da Paraíba, de tantos Estados, para vir
a Brasília pedir um recurso que, às vezes, demora 3 a 4 anos para se efetivar?
Nós somos agora Deputados de primeiro mandato, e teremos a prerrogativa,
ao final do ano, de emendar o orçamento da União — somente podemos apresentar
emenda quando houver o projeto de lei aqui no Congresso, e no ano passado não
estávamos aqui.
Nós vamos emendar. No ano de 2016, o Governo tem a prerrogativa,
impositiva agora, de empenhar, de promover o empenho dessa emenda. Ele tem até
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31 de dezembro para empenhar e, normalmente, é no final do ano que se empenha
esse recurso.
Vamos dizer que lá para a sua cidade, Deputado Mauro, Caxias do Sul.
V.Exa. deu um recurso de 500 mil reais. Pois este ano, no orçamento para o ano
que vem, isso vai ser empenhado no final do ano, em dezembro de 2016, pago em
2017, e como tem processo licitatório, é demorado, tem todo o problema da
burocracia, provavelmente V.Exa. terá oportunidade de participar da entrega da obra
em 2018 — chegamos aqui em 2015, e talvez o recurso do primeiro ano seja
executado em 2018. Olhem o tamanho do desgaste para um Prefeito, o custo, e
para nós aqui Parlamentares!
Então, Sr. Presidente, venho à tribuna para dizer o seguinte. Tivemos a
reforma política, que, para mim, deixou muito a desejar. Eu esperava muito mais,
mas não saio surpreendido, porque, enquanto estive Senador da República, lá
também tentamos fazer uma reforma política e saí igualmente decepcionado. Então,
aqui eu já estava um pouco mais preparado, mas alguma coisa ainda conseguimos
votar aqui. Depois da reforma política, neste momento, o pacto federativo é o que há
de mais importante para ser discutido no Congresso Nacional.
O pacto federativo, minha gente, vai dizer o seguinte: se vai ter saúde de
melhor qualidade, educação de melhor qualidade, obras no seu Município; se a sua
rua vai ser de melhor qualidade, se seu transporte escolar vai ser melhor ou pior. Vai
dizer também o seguinte: se seu Município vai ser independente, do ponto de vista
financeiro, ou se o seu Prefeito vai ficar a vida toda dependendo de um Deputado
Estadual ou Federal — sem menosprezar a competência desse Parlamentar, que
acaba tendo que negociar, a todo momento, com o Governo do Estado ou o
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Governo Federal para conseguir fazer aquilo que é de obrigação do Município, mas
este não tem recurso suficiente. Por conta disso, muitas vezes o Parlamentar deixa
de ter sua independência legislativa, que é muito importante para todos nós
brasileiros.
O Parlamentar tem duas prerrogativas inerentes ao mandato, ao cargo, e
ninguém tira dele: direito a voto e direito a palavra. Normalmente, a Situação usa
muito bem o voto, porque há toda uma influência do Poder Executivo sobre o
Legislativo para fazer com que sua base aliada vote e aprove os seus projetos —
que na maioria são bons, mas, talvez, nem todos sejam a salvação. A Oposição
sempre usou muito bem a palavra: sobe à tribuna, articula, diz os desmandos desse
ou daquele governo, não tem medo de falar.
Agora, Sr. Presidente, por que eu estou me referindo, neste momento, à
análise do pacto federativo? Pelo seguinte: o Parlamento vive um momento de
independência. O orçamento impositivo deu ao Parlamento brasileiro essa
independência; o fim do voto secreto deu ao Parlamento brasileiro essa
independência; a análise de vetos, o que há décadas não se fazia nesta Casa, deu
ao Parlamento brasileiro essa independência. E, com a independência que temos
hoje, podemos discutir redistribuição de receitas entre os entes federados e
podemos rediscutir redistribuição de obrigações. É disso que estamos falando.
Deputado Hildo Rocha, seja bem-vindo.
Não é justo haver uma concentração de riquezas, de receitas, de impostos
em um único ente federado. É justa a redistribuição. E nós hoje, Parlamento
brasileiro, estamos independentes e vamos votar essa proposta de emenda à
Constituição.
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Aqui, Sr. Presidente, Deputado Mauro Pereira, Deputado Hildo Rocha, que
acaba de chegar, as propostas de emenda à Constituição nascem, tramitam em
duas votações em cada uma das Casas e, ao final da sua aprovação, são
promulgadas pelas Mesas das Casas do Congresso Nacional. É assim que funciona.
E, como nós estamos independentes, nós vamos votar, vamos aprovar e vamos
fazer valer o novo pacto federativo.
Mais uma vez aqui saúdo e agradeço a todos os membros da Comissão
Especial do Pacto Federativo; ao Deputado Danilo Forte, que esteve junto comigo
na cidade de Londrina, no meu Estado, o Paraná, recentemente. Reitero que hoje
estivemos na cidade de Goiânia, juntamente com os companheiros dessa Comissão.
Muito obrigado, Sr. Presidente, e uma boa tarde a todos.
O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Muito obrigado, Deputado Sergio
Souza, do PMDB do Paraná.
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O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Concedo a palavra ao Deputado Hildo
Rocha, do PMDB do Maranhão, pelo tempo regulamentar.
O SR. HILDO ROCHA (Bloco/PMDB-MA. Pela ordem. Sem revisão do
orador.) - Sr. Presidente, Deputado Mauro Pereira, que preside a sessão desta tarde
de segunda-feira; caros colegas Deputados e Deputadas, os que acompanham a
programação da TV Câmara e da Rádio Câmara; internautas e imprensa aqui
presente, estamos chegando da cidade de Goiânia, onde estivemos acompanhando
o seminário promovido pela Comissão Especial do Pacto Federativo na Assembleia
Legislativa do Estado de Goiás. O seminário foi presidido pelo Deputado Sergio
Souza, que administrou com bastante maestria aquele evento importante para a
municipalidade goiana e também para o Estado de Goiás. Estiveram lá presentes
vários Deputados Estaduais e, Deputados Federais da bancada de Goiás.
Aqui eu quero ressaltar a presença do Deputado Alexandre Baldy, autor do
requerimento que deu origem ao seminário, que, assim como os Deputados Hildo
Rocha e Sergio Souza, integram a Comissão Especial que está construindo este
novo pacto federativo.
A questão do pacto federativo é muito complexa, Sr. Presidente. Trata-se das
competências legislativas, das competências administrativas, das competências
executivas. No momento, a Comissão Especial trata mais das competências
administrativas e da distribuição dos recursos arrecadados pela União, Estados e
Municípios para que se possa dar melhores condições a estes últimos de oferecer
serviços públicos de qualidade. Mas nós também temos que ver a questão do art. 23
da Constituição Federal, que trata das competências comuns da União, Estados es
Municípios. Ali é tratada a questão da saúde, da cultura, da educação, do meio
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ambiente. Enfim, temos que dar a César o que é de César, ou seja, estabelecer a
quem cabe de fato a saúde pública.
Nós sabemos que a saúde pública é muito complexa. Nós temos uma saúde
de atenção básica, que cabe ao Município, e daremos os recursos necessários para
que eles possam arcar com esse serviço. Mas, e a alta complexidade? A quem cabe
a alta complexidade? Até hoje ninguém sabe se é competência do Município, do
Estado ou se é da União, e o povo fica sofrendo na porta dos hospitais quando
quebra uma perna, quando tem um acidente, quando tem um problema de coração.
Fica-se dessa forma, sem se saber quem é o responsável, quando, na verdade,
todos são.
Como o cidadão está mais próximo das autoridades municipais — o cidadão
vive é no Município —, é lá que eles buscam o atendimento à saúde, e nem sempre
o Município dispõe de recurso suficiente para atendê-lo.
Mas, Sr. Presidente, eu estive no Maranhão na quinta-feira, sexta-feira,
sábado e domingo, e pude perceber, indo para o aeroporto no domingo, que o ramo
de negócios que mais cresce no Maranhão, infelizmente — V.Exas. não vão
acreditar — é o das funerárias.
Na passagem da minha residência até o aeroporto de São Luís, o Aeroporto
do Tirirical, cruzei com cinco funerárias; cinco carros funerários se deslocando da
cidade para o interior. E por quê? Porque as pessoas deixaram de ter direito a
hospital público nas cidades onde moram.
O Governador Flávio Dino, não sei se por perversidade ou por perseguição
aos Prefeitos que não votaram nele, deixou de repassar os recursos do Fundo
Estadual para o Fundo Municipal, apenas 100 mil reais por mês para cada
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Município, que a Governadora Roseana Sarney repassava e ele já está no sexto
mês sem repassar. Isso faz com que haja uma demanda muito grande concentrada
na Capital do Estado, na cidade de São Luís.
Isso é muito ruim, é terrível! Estamos voltando ao passado. A Governadora
Roseana lançou esse programa para que todos os Municípios do Maranhão
tivessem pelo menos um atendimento básico para os seus cidadãos, e hoje estamos
vendo os hospitais fechando por inanição. E como é que se fecha por inanição? É
não dar comida, é não dar remédio, é não dar o dinheiro, é não dar o oxigênio, é não
dar o soro, é não dar o remédio, é não deixar o médico trabalhar, assim está
fazendo o Governador Flávio Dino com os hospitais municipais.
Mas, ainda mais grave, e o que também contribui muito para essa
mortalidade: eu vejo aqui no Gazeta da Ilha que, neste final de semana, houve 14
homicídios na Grande São Luís — 14 homicídios!
Na sexta-feira foi embora Geovani Ferreira Costa, de 17 anos, assassinado a
tiros no bairro do Maiobão; Leandro Santos Gaspar, de 30 anos, foi morto no bairro
do Anjo da Guarda; João Mariano da Silva Costa foi assassinado com golpes de
arma branca na Vila Maranhão; Walison Martins Lisboa, de 27 anos, foi morto a tiros
na Vila Isabel Cafeteira. No sábado, Moisés Fonseca, de 28 anos, foi assassinado a
tiros no bairro do Filipinho; Odair Cistrino Pereira Santos, de 36 anos, foi morto a
facadas no centro de São Luís; Tiara Maria Rodrigues, de 24 anos, foi morta a tiros
no Jardim Tropical; Jean Cláudio Miranda de Oliveira, de 21 anos, foi morto na Vila
Vitória, em São José de Ribamar; Magno de Jesus Aires Silva, de 35 anos, foi morto
a tiros no Coroadinho; Airton Luís Viana Cavalcante, de 28 anos, foi morto na Vila
Maranhão. No domingo, houve outros homicídios: Jeferson Alves Silva, de 19 anos,
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foi assassinado a tiros no Bairro do Maracanã; Guilherme Pereira Oliveira Costa, de
19 anos, foi morto a tiros no Bairro da Coreia; Evandro Mendonça Ferreira, de 19
anos, foi morto na região da Vila Vitória; Leandro dos Santos Pinheiro, de 21 anos,
foi assassinado no Bairro João Paulo.
Há ainda o caso Irialdo, que até agora é um caso muito grave de violação dos
direitos humanos que ocorreu no Maranhão. Numa ação policial na cidade de Vitória
do Mearim, estava lá infiltrada uma pessoa que não era da polícia e que assassinou
fria, covardemente, um homem que já estava no chão agonizando, Irialdo. Foi um
crime bárbaro, praticado pelas mãos do Estado, que deveria proteger. Ou seja, as
mãos que deveriam proteger, que eram do Estado, foram as que mataram Irialdo.
Até agora, o Governador Flávio Dino não foi aos meios de comunicação
perder desculpas, à família de Irialdo e nem tampouco à sociedade maranhense,
pelo bárbaro crime cometido pelas mãos do Estado do qual ele é comandante maior.
O Governador, inclusive, é o responsável maior pelas Forças Armadas do Estado do
Maranhão, comandante supremo da Polícia Militar, e a ele cabe ir às redes de
televisão, ao blog e ao Twitter — de que ele gosta tanto de fazer uso — para pedir
desculpas à família do Irialdo Batalha e também à sociedade maranhense pelo erro
cometido pelo seu Governo, por essa grave violação dos direitos humanos no
Maranhão.
Muito obrigado, Sr. Presidente, pela paciência.
O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Muito obrigado, Deputado Hildo
Rocha, do PMDB do Maranhão.
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O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Concedo a palavra ao Sr. Deputado
Zé Geraldo, do PT do Pará, por 3 minutos.
O SR. ZÉ GERALDO (PT-PA. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr.
Presidente, Sras. e Srs. Deputados e todos aqueles que me ouvem neste momento,
estou dedicando esta segunda-feira a contatos com vários Ministérios para que eles
possam, na próxima semana, receber Prefeitos, Vereadores e dirigentes do
movimento social da região oeste do Pará.
A região oeste do Pará envolve 27 Municípios. Nessa região estão os dois
maiores Municípios do mundo. No Município de Altamira, como referência, e no
Município de Itaituba estão duas grandes rodovias abertas nos anos 70: a Cuiabá-
Santarém e a Transamazônica. Ali está sendo construída a maior hidrelétrica do
Brasil, a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, e outra no Tapajós, em
Itaituba. É uma região que tem 82% da floresta em pé; representa a metade do
território paraense e tem três grandes rios: Amazonas, Tapajós e Xingu.
O Governo tem alguns passivos para com essa região como, por exemplo, a
regularização fundiária, os projetos de assentamentos, o Terra Legal. A maioria das
terras ali não tem documento; os projetos de assentamentos foram paralisados.
Então, na próxima semana virá uma delegação — representantes dos
Prefeitos, das Câmaras de Vereadores, do movimento social, da sociedade civil —
pedir ao Governo Federal, ao Governo da Presidente Dilma Rousseff, aos
Ministérios, para que deem uma atenção especial a essa região. Lá as demandas
são grandes, e depende dos recursos e da estrutura do Governo que não haja
descompasso entre as obras integradoras, que são importantes as grandes obras, e
as reivindicações do povo daquela região.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Deputado Zé Geraldo, muito obrigado.
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VII - ENCERRAMENTO
O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Nada mais havendo a tratar, vou
encerrar a sessão.
Lembro que haverá Sessão Não Deliberativa Solene amanhã, terça-feira, dia
16 de junho, às 9 horas, em homenagem aos 300 anos do Município de Pitangui,
Estado de Minas Gerais.
Lembro também que haverá Sessão Não Deliberativa Solene, às 10h30min,
em homenagem ao primeiro ano da promulgação da Lei nº 12.994, de 2014, que
instituiu o piso salarial profissional nacional e as diretrizes para o plano de carreira
dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias.
Lembro ainda que haverá Sessão do Congresso Nacional, às 19 horas, no
Plenário da Câmara dos Deputados, com Ordem do Dia já divulgada.
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O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Encerro a sessão, convocando
Sessão Deliberativa Extraordinária para amanhã, terça-feira, dia 16 de junho, às 13
horas, com a seguinte
ORDEM DO DIA
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(Encerra-se a sessão às 18 horas e 22 minutos.)