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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO ESPECIAL PEC 151-A/95 - SEGURANÇA PÚBLICA EVENTO: Audiência pública Nr.: 0855/00 DATA: 09/08/2000 INÍCIO: 15h09min TÉRMINO: 18h10min DURAÇÃO: 3h1min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 3h03min PÁGINAS: 53 QUARTOS: 19 REVISÃO: ANNA AUGUSTA, CLÁUDIA LUÍZA, VEIGA, VICTOR SUPERVISÃO: JOEL E GILZA CONCATENAÇÃO: NEUSINHA DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO ALBERTO MENDES CARDOSO - Ministro de Estado do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República SUMÁRIO: Debate acerca da Proposta de Emenda à Constituição nº 151-A, de 1995, sobre segurança pública. OBSERVAÇÕES Há intervenções inaudíveis. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Nome: COMISSÃO ESPECIAL PEC 151-A/95 - SEGURANÇA PÚBLICA Número: 0855/00 Data: 09/08/00

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Page 1: CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Nome: …€¦ · O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Declaro aberta a presente reunião, convocada para ouvir o Ministro-Chefe

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO ESPECIAL PEC 151-A/95 - SEGURANÇA PÚBLICAEVENTO: Audiência pública Nr.: 0855/00 DATA: 09/08/2000INÍCIO: 15h09min TÉRMINO: 18h10min DURAÇÃO: 3h1minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 3h03min PÁGINAS: 53 QUARTOS: 19REVISÃO: ANNA AUGUSTA, CLÁUDIA LUÍZA, VEIGA, VICTORSUPERVISÃO: JOEL E GILZACONCATENAÇÃO: NEUSINHA

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

ALBERTO MENDES CARDOSO - Ministro de Estado do Gabinete de Segurança Institucionalda Presidência da República

SUMÁRIO: Debate acerca da Proposta de Emenda à Constituição nº 151-A, de 1995, sobresegurança pública.

OBSERVAÇÕES

Há intervenções inaudíveis.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Declaro aberta a presente reunião,

convocada para ouvir o Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da

Presidência da República, General Alberto Mendes Cardoso, que debaterá conosco a Proposta

de Emenda à Constituição nº 151-A, de 1995, e as apensadas, objeto dos trabalhos desta

Comissão Especial.

Convido o Sr. Ministro Alberto Mendes Cardoso a tomar assento à mesa, à minha

direita.

Devido à distribuição antecipada de cópias das atas das reuniões dos dias 23 de maio e

28 de junho a todos os membros presentes, indago da necessidade de sua leitura.

A SRA. DEPUTADA ZULAIÊ COBRA - Sr. Presidente, peço a dispensa da leitura

das atas.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Dispensada a leitura das atas, por

solicitação da Deputada Zulaiê Cobra, submeto-as à discussão e votação.

Os Srs. Deputados que as aprovam permaneçam como estão. (Pausa.)

Aprovadas.

Antes de passar a palavra a S.Exa., esclareço que, para o ordenamento dos trabalhos,

adotaremos os seguintes critérios estabelecidos no Regimento Interno da Casa: o Sr. Ministro

disporá de até trinta minutos para a sua exposição, não podendo ser aparteado. Terminada a

exposição, iniciaremos os debates. Os Srs. Deputados interessados em interpelar S.Exa.

deverão inscrever-se previamente junto à Secretaria. Cada interpelante deverá fazer sua

formulação em no máximo cinco minutos, mesmo tempo de que disporá o Sr. Ministro para a

sua resposta. Serão permitidas a réplica e a tréplica, pelo prazo improrrogável de três

minutos.

Para dar início à exposição, concedo a palavra ao Sr. Ministro General Alberto

Mendes Cardoso.

O SR. MINISTRO ALBERTO MENDES CARDOSO - Sr. Presidente, Sr.

Deputado Alberto Fraga, componentes da Mesa, Srs. Deputados, minha cara Deputada Zulaiê

Cobra, que me coloca na cômoda posição de subordinado, porque estamos diante de um

marechal-de-campo, agradeço muitíssimo o convite, não só pela oportunidade de voltar à

Câmara para audiências públicas, mas principalmente pelo tema que está sendo abordado por

esta Comissão, que lida com segurança pública. O tema não é apenas momentoso, é de

profunda importância para o País, porque atingiu, nas discussões com toda a população, o

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ponto central das preocupações da sociedade brasileira. Dessa forma, tem de ser o centro das

discussões dos delegados do povo brasileiro.

Creio que estamos em um momento em que se tem de fazer história neste País no que

diz respeito à inflexão que se impõe na área de segurança pública. Essa inflexão já podemos

entender como tendo sido iniciada no momento em que o Executivo Federal concluiu que era

a oportunidade de envolver-se diretamente em assuntos de segurança pública, no apoio aos

Estados na solução desses problemas que afligem as populações. Essa inflexão diríamos que

pode ter sido iniciada naquele momento e teve continuidade na decisão subseqüente àquela de

se elaborar um plano nacional de segurança pública. Certamente que, como qualquer obra

humana, merece aperfeiçoamentos, que vêm sendo realizados desde logo pelo Ministro da

Justiça.

Como todos sabemos, a evolução e aplicação do Plano Nacional de Segurança Pública

está a cargo do Ministério da Justiça naquilo que diz respeito ao apoio aos Estados, à

cooperação, ao trabalho conjunto do Governo Federal e dos Governos Estaduais. O plano tem

pouco mais de um mês, alguns resultados já começam a aparecer — e nos parece que um que

já se evidencia é a cooperação, não diria ainda a integração, mas a cooperação entre a Polícia

Federal, a Polícia Rodoviária Federal e as Polícias Estaduais em algumas operações que têm

sido conduzidas pelo Ministério da Justiça.

É muito oportuno dizer que não se deve ficar apenas com um plano a tratar da

segurança pública no Brasil. É importante que o nível mais alto da legislação brasileira,

portanto a Constituição, sofra adaptações para responder a essas premências, a essas

necessidades que se apresentam.

Portanto, mais uma vez destaco a alegria de estar aqui, porque estarei tentando

cooperar com uma Comissão Especial que visa a discutir propostas de emenda constitucional

nessa área.

Sei que basicamente são quatro as propostas de emenda à Constituição que estão

sendo discutidas: as de nºs 151 e 156, ambas de 1995. Essas duas propostas lidam com o que

talvez seja o mais importante na execução da segurança pública. Talvez, não, certamente, o

mais importante, que é com o policial e sua carreira. Não tratam de forma abrangente, mas

abordam problemas setoriais de um plano de carreira ou de preparação, de recrutamento de

policiais, o que é muito importante.

Todavia, as PECs nºs 514, de 1997, e 613, de 1998, tratam daquilo que é igualmente

importante, a estruturação de um sistema nacional de segurança pública, e me parece que,

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talvez por isso mesmo, sejam aquelas que têm sido merecedoras de discussões mais

profundas e mais abrangentes.

Portanto, imagino que seria conveniente eu, nesta minha palavra inicial, abordar

algumas idéias sobre esse fundamento básico das duas PECs que, essencialmente, lidam com

uma nova estrutura da segurança pública no Brasil.

Basicamente, a PEC nº 514 tira tudo da Constituição. Diríamos de uma forma bastante

resumida: tira tudo da Constituição e deixa a critério dos Estados se organizarem no que diz

respeito a segurança pública, mantendo na mão do Governo Federal algum poder de

coordenação. E a PEC nº 613, de autoria da nossa ilustre Deputada, esmiúça mais essa idéia e

deixa pouca coisa aos Estados para que se organizem. Pouca coisa no sentido daquilo que é

detalhado pela própria PEC, não que os Estados não venham a ter liberdade para se organizar,

mas ela estabelece padrões, referências muito bem definidas. Diria que a idéia básica que

norteia as duas PECs é a mesma. Primeiro, a idéia inicial: mexer na Constituição para tratar

do tema segurança pública. Isso é básico. Segundo, reconhecer que o que hoje existe,

resultado de um trabalho razoável, que de certa maneira está perdendo a guerra para o crime,

particularmente o crime organizado, precisa ser atualizado, modernizado, até mesmo em

termos de concepção, de estruturação dos sistemas estaduais e nacional.

Há, dessa forma, uma convergência de fundamentos nas duas idéias norteadoras das

duas propostas, ainda que a PEC nº 514, de 1997, do Executivo, não defina aquilo que pensa

quem a elaborou; a PEC nº 613 define bem o que pensa quem a elaborou .

Dado que estamos tratando da Constituição em primeiro lugar — o mais alto nível da

legislação — e, em segundo lugar, do Poder Legislativo Federal, concluí que, nesta minha

fala inicial, não seria pertinente entrar em detalhes e analisar cada uma das PECs, sequer a

mais detalhada, nem me arvorar a apresentar idéias que viessem a aperfeiçoá-las. Isso pode

surgir nos debates.

Então me pareceu mais consentâneo apresentar algumas idéias visando a colaborar

com a Comissão em termos de quais seriam os principais fundamentos a serem seguidos ao se

pensar em modificar a Constituição nesses termos que se quer agora com essas proposições.

Parece-me que esses fundamentos não traçam nenhuma linha divisória. Ao contrário,

fazem até uma integração das motivações básicas daquelas duas PECs como fundamentos que

são. Creio que estarei interpretando as idéias de quem elaborou cada uma das propostas.

Portanto, peço permissão para abordar dessa forma, Sr. Presidente, se lhe aprouver.

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Diria que uma primeira grande idéia é que a Constituição deve apresentar as diretrizes

básicas para o delineamento de um sistema nacional de segurança pública. Deve o texto

constitucional ser modificado apresentando diretrizes básicas que uma lei complementar

viesse depois a detalhar e especificar.

Começarei pelo tema que talvez seja o mais discutido, não diria nem polêmico.

Fala-se muito na fusão das Polícias Militares e Civis. Diria que é arriscado dizer-se

aprioristicamente que tal ou qual solução vai ser a melhor. Mas uma coisa é fundamental:

tem-se que trabalhar na integração operacional das Polícias, o que muitos Estados vêm

fazendo.

A sugestão que apresento é de que se imagine aquelas grandes linhas que devam

constar da modificação constitucional como sendo uma orientação que permita observar-se as

Polícias ao longo do tempo, as medidas de integração operacional das Polícias e de seus

efeitos.

Ao longo do tempo, que se deve situar entre cinco e oito anos, esse observatório nos

permitirá concluir se o modelo atual deve continuar, com aperfeiçoamentos e integradas as

Polícias operacionalmente — vamos conversar um pouco mais adiante sobre essa idéia —, ou

se, em vez de manter as duas Polícias, devemos fundi-las, unificá-las. Mas essa observação

deve ser feita ao longo do tempo e não de uma maneira peremptória. Não podemos

simplesmente dizer que, ao final de tanto tempo, unificaremos as Polícias.

Vamos integrá-las, vamos dar tempo, vamos cobrar a integração. O próprio plano

nacional apresenta uma idéia desse estímulo à integração, que é uma planilha feita no

Ministério da Justiça para a liberação de recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública.

Nessa planilha constam vários itens que dizem respeito à fórmula pela qual o Estado prevê ou

está executando a integração das suas Polícias. Essa é uma idéia que julgo deva constar como

um desses fundamentos a serem colocados na Constituição.

Essa integração, que pode vir a ser um gérmen da unificação, deve começar desde as

escolas de formação. Isso está sendo feito em vários Estados. Tenho visitado e visto com

muita alegria essa preocupação. Há Estados que criaram um instituto para isso. E ali, como

sabem as senhoras e os senhores, há um curso básico, uma fase comum do curso de formação

em que futuros policiais civis e militares têm uma doutrina básica. Isso é muito importante.

Depois, cada um vai para o seu ramo de formação específica. Em vários Estados isso vem

acontecendo e, em alguns, com uma carga horária bastante substancial.

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Isso permite que as duas Polícias venham a ter um entendimento comum da doutrina

de segurança pública, e já começa aquilo que parece ser o mais importante em qualquer

empreendimento, empresa ou organização, pública ou não, que é o relacionamento entre as

pessoas. Esse é o grande lubrificante de qualquer mecanismo e de qualquer organização. Ali

as pessoas já começam a se conhecer. Quando entrarem efetivamente no sistema de segurança

pública, esse conhecimento comum da doutrina e interpessoal vai ajudar bastante e prossegue,

porque há a integração nas operações.

Temos visto, nos Estados, a criação dos centros integrados de operações. É uma idéia

que parece ser o ovo de Colombo. Quando se vê, pergunta-se: por que não existia antes? O

que força a evolução dos Governos é, infelizmente e, ao mesmo tempo, felizmente, a pressão

popular, a necessidade popular, a premência e o volume dos problemas.

Chegou-se à conclusão de que deve haver aqueles centros integrados de operações, o

que se encontra muito pelos Estados agora. E prossegue a aplicação e o treinamento, na

prática, desse relacionamento entre as pessoas, porque ali estão as duas Polícias, o Judiciário

do Estado, em alguns deles o Ministério Público Estadual e até mesmo organizações de

assistência social.

Assim prossegue a idéia, e muitas surgem por aí. A criatividade é infinita, tanto dos

governantes quanto do povo, que tem colaborado muito com opiniões. Assim prosseguiria

essa atividade de integração entre as Polícias. E teríamos, ao longo do tempo — repito —, um

observatório para a conclusão sobre se basta a integração ou se é necessária, efetivamente, a

unificação, como defende a nossa Deputada Zulaiê Cobra, por exemplo.

Outro fundamento, a que já me referi em outras ocasiões, é a necessidade de

trabalharmos em sistema. Estamos com um sistema nacional incipiente, derivado da aplicação

do Plano Nacional de Segurança Pública, mas é fundamental que essa idéia norteie todos os

trabalhos. Tudo deve ser dirigido para termos um sistema. Não se pode imaginar segurança

pública apenas com subsistemas policiais. É preciso existir um sistema muito mais

abrangente do que um simples sistema policial em segurança pública.

Citaria alguns organismos que têm de estar integrados em um sistema de segurança

pública. Uma lista incompleta: os órgãos policiais têm de estar integrados com o Ministério

Público, com o Judiciário, com os órgãos de controle das atividades financeiras e de receita,

com os órgãos de assistência social e de defesa civil, ir às fronteiras, portos e aeroportos, com

as Forças Armadas cumprindo suas missões constitucionais em fronteiras, portos e aeroportos

e as Polícias assumindo, bem como esses órgãos todos, as suas missões precípuas.

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Aproveito a oportunidade para definir claramente qual é o meu pensamento sobre

Forças Armadas em segurança pública. Quem defende a idéia de Forças Armadas no

cotidiano da segurança pública está manifestando uma grande confiança nas Forças Armadas,

o que até nos lisonjeia. Mas convém definir bem que as Forças Armadas não são organizadas,

estruturadas, equipadas, treinadas para o trabalho cotidiano de segurança pública. São

destinadas a outra atividade, que é aquela atividade básica constitucional de defesa da Pátria.

Seria desnecessário explicar aos senhores que uma das razões de estarmos em paz é termos

Forças Armadas que compõem um quadro dissuasório nacional. Há necessidade de ter Forças

Armadas mesmo estando em paz. Creio que não seria necessário falar sobre isso aqui.

As Forças Armadas, constitucionalmente, têm de estar preparadas para colaborar na

garantia da lei e da ordem. Isso esta claro na Constituição. Tem de ter planejamento, estar em

condições de dar, quando necessário, apoio logístico, de comunicações, de inteligência às

Polícias. Isso pode ficar até no cotidiano do apoio, ou, quando necessário, o apoio

empregando o princípio da massa, da tropa organizada como tal.

Outro fundamento que creio deve constar nas idéias gerais de uma Constituição é que,

se vamos imaginar não ter Polícias Militares — creio ser uma hipótese muito forte e muito

respeitável, apesar de não dizer que é isso que resolve —, temos de pensar em ter, sim, forças

policiais, não só com capacidade para atuar em massa nos Estados, também como um

organismo de natureza policial, mas com capacidade para atuar nacionalmente como se fora

uma guarda nacional ou um órgão com o nome qualquer que se dê.

Por que isso? Para evitar o emprego prematuro e desgastante, em termos da necessária

imagem que tem de ter, das Forças Armadas em qualquer ameaça de superação da capacidade

estadual de manter a ordem. Se vamos pensar em não ter esse órgão policial treinado,

equipado e, em grande parte, destinado ao trabalho como força, temos de ter um sucedâneo. É

fundamental que se pense dessa maneira. As duas PECs prevêem isso.

Creio que devemos ter aqui, o que é muito importante, até representantes de

associações policiais, que vão entender bem o que vou dizer. É fundamental que o Estado —

não me refiro ao Estado federado, mas ao ente político — trate seus órgãos policiais como

órgãos de Estado, como órgãos que não precisem reivindicar, que tenham eventuais

necessidades que geram reivindicações atendidas com antecedência, preventivamente, pelo

Estado.

O Estado deve zelar pelos órgãos de Estado — e os órgãos de segurança pública são

órgãos de Estado — como filhos, para que realmente se sintam pertencentes a ele, e não que,

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em alguns momentos, sejam obrigados a se colocar em posições antagônicas ao Estado, com

as associações sentindo a necessidade de se transformar em verdadeiros sindicatos para fazer

as reivindicações que não foram percebidas e atendidas previamente pelo Estado. Isso é

fundamental, mas é preciso que parta do Estado. Não é o órgão de segurança pública que vai

impor isso ao Estado, que tem de ter esta consciência.

Talvez esse seja um dos pilares a serem colocados na Constituição, um dos

fundamentos mais do que básicos para termos sistemas de segurança pública realmente

imbuídos de que são órgãos de Estado e da sua missão, sem se preocupar com reivindicações

salariais, de equipamentos, com problemas de hierarquia e de disciplina. O Estado estará

zelando cuidadosamente por isso, como se estivesse tratando de filhos.

Repito: os temas básicos seriam salários, equipamentos e um recrutamento cada vez

mais aperfeiçoado, na medida em que a auto-estima das organizações de segurança pública

depende dos fatores acima citados.

Diria que outro pilar que deve constar da Constituição e normalmente não é notado

como parte do sistema de segurança pública, mas na realidade dele faz parte, é o sistema

penitenciário. Trata-se de um dos elos entre a repressão e a prevenção. Ao mesmo tempo que

atende à prevenção, fazendo penas serem cumpridas, o sistema penitenciário tem de cumprir

o dever ético do Estado de recuperação do criminoso e não simplesmente apresentar prédios

como depósitos de pessoas que ali vão até fazer sua pós-graduação em crime.

O preso um dia foi um criminoso. O criminoso tem seus direitos. O grande direito

humano do criminoso é o direito de ser preso, e não de ser morto. A partir daí surgem outros

direitos: o direito a não ser torturado, a ser tratado como pessoa humana, o direito ao estudo, à

saúde, a trabalhar durante o cumprimento da pena. Tudo isso faz parte também de um sistema

de prevenção.

Na medida em que se recupera um apenado e se lhe dá condições de reinserção na

sociedade, está-se trabalhando na prevenção. Posto o condenado num depósito de presos,

num depósito subumano, cumprida a pena — quando não se esquece que já foi cumprida —,

volta às ruas uma pessoa, muitas vezes, mais ressentida do que aquela que foi levada ao

crime. Deixa o Estado de executar, durante o cumprimento da pena, o seu grande dever de

recuperar o cidadão.

Já atingindo o limite do meu tempo, diria que, se me fosse dado priorizar um dentre

esses fundamentos todos — haveria muitos outros —, este agora seria o principal: segurança

pública tem de ser interpretada como instrumento dos direitos humanos, quando encaramos

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os direitos da coletividade, os direitos individuais transformados em direito coletivo. É o

direito da maioria que compõe o todo honesto ou o todo da sociedade que não entrou no

crime.

Essas seriam as palavras iniciais, antes de partirmos para o debate, mas gostaria de

destacar, para concluir, o que hoje em dia se convencionou chamar de crime organizado, que

começa a ser tipificado. Quanto ao crime organizado ou ao problema que ele apresenta,

gostaria de destacar a forma de combatê-lo. A ação policial é fundamental, bem como o

trabalho de inteligência, que, aliás, é essencial em qualquer ação policial. Mas quero destacar

a inteligência financeira.

Não podemos, a custo de nos estarmos enganando, imaginar que combateremos o

crime organizado sem priorizar a inteligência financeira — entenda-se combate à lavagem de

dinheiro. O dinheiro lavado é o oxigênio do qual depende o crime organizado para sua

sobrevivência. É absolutamente necessário mobilizar todo o esforço e todo o empenho dos

três Poderes e outros poderes que possam estar surgindo no combate ao crime organizado. É

necessário priorizar o trabalho de inteligência financeira.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Passando aos debates, concedo a

palavra ao nobre Relator, Deputado Alberto Fraga.

O SR. DEPUTADO ALBERTO FRAGA - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

Exmo. Sr. General Alberto Mendes Cardoso, inicialmente, agradeço sua presença. É um

prazer recebê-lo. Lamento profundamente que o Ministro da Justiça não tenha tido o mesmo

discernimento de V.Exa. O Ministro da Justiça foi convocado, e não apareceu. V.Exa. foi

convidado e atendeu ao convite. Acho que esta Comissão tem de dar um basta a esse

desrespeito que a todo instante sofremos.

Fico um pouco aliviado, uma vez que, aparentemente, pela sua explanação, não

discordamos em nada. No entanto, foi com bastante preocupação que li algumas das

manchetes estampadas nos jornais de hoje, como esta: "Governo reapresentará emendas que

abrem caminho para unificar as Polícias". Está nos jornais de hoje. E, para minha surpresa, é

exatamente a PEC nº 514 que eles querem aprovar. V.Exa. falou da diferença existente entre

as PECs nºs 514 e 613. Acho que a Proposta de Emenda à Constituição nº 613 é infinitamente

superior à nº 514. Esta é maldosa, acaba com o sistema policial, aniquila qualquer tipo de

chance para a categoria dos policiais.

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Preocupa-me profundamente ver em outra matéria que o Presidente da República

recebeu o Presidente da ONG Viva Rio — um cidadão que julgo ser de bem —, patrocinada

não sei por quem, mas que demonstra ter muito dinheiro e uma vida muito boa. Mas o

Presidente da República nunca recebeu o Conselho Nacional de Comandantes Gerais, que

representa meio milhão de policiais neste País.

Confesso que não tenho nenhuma dificuldade de conversar com V.Exa. Tentei fazê-lo

há aproximadamente quatro meses, mas sua assessoria não me deixou chegar a V.Exa. Queria

aconselhar-me, pedir-lhe uma linha de raciocínio, uma visão, um direcionamento, porque sou

da base governista, mas sua assessoria, lamentavelmente, nunca me deixou chegar a V.Exa.

Como não vou ficar pedindo pelo amor de Deus, uso a tribuna de vez em quando para mandar

alguns recados. Mas lamento profundamente. A sua assessoria sabe de quem estou falando.

Sr. General, não quero cansar meus colegas. Preparei dezessete perguntas para

fazer-lhe. Se V.Exa. permitir, depois passarei às suas mãos, para que V.Exa. perceba que a

nossa intenção é de apresentar um novo modelo de segurança pública, mas que venha a

funcionar. Não posso deixar de perguntar qual a idéia, qual o pensamento do Governo em

relação à greve nas Polícias. Porque V.Exa. disse algo agora que para mim é tudo: que o

Estado tem que tratar com zelo os órgãos policiais, principalmente os policiais militares.

Essas corporações quase que bicentenárias são massacradas, são relegadas a segundo plano,

principalmente pelos Governos, porque não possuem o direito de greve, não podem

manifestar-se. Quando o fazem, policiais são presos, são expulsos. Não nos respeitam. Essa é

a realidade. A prova está aí: o Presidente da República já recebeu o líder dos caminhoneiros,

o líder dos sem-terra, o líder dos sem-teto, o líder dos sem-loura, de tudo; já o Presidente do

Conselho de Comandantes Gerais, que representa meio milhão de policiais, ele nunca

recebeu.

Percebe-se claramente que o Governo Federal não tem apreço pelos "guardas de

esquina". Já fomos assim chamados pelo Presidente da República. Tenho anunciado que sou

favorável à integração. Acho que a integração é um passo para a unificação, não resta a menor

dúvida. E o meu raciocínio está indo por essa linha.

Mas fomos surpreendidos mais uma vez — e esta é a primeira pergunta que farei a

V.Exa. —, por um projeto de lei enviado pelo Governo Federal em regime de urgência

constitucional, o projeto da Lei Orgânica da Polícia Civil, que vem dando um status de juiz

aos delegados. Segundo esse projeto, somente os delegados da Polícia Civil são autoridades

policiais, os termos circunstanciados só podem ser feitos por eles. Enquanto isso, a Polícia

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Federal não tem uma lei orgânica, tampouco as Polícias Militares. Temos o Decreto-Lei nº

667, que não queremos mais. Aquilo é fruto da ditadura. As Polícias Militares não querem

mais carregar a mácula de ser filhote da ditadura, só por ter em seu nome a palavra "Militar".

O Governo enviou para esta Casa um projeto de lei, com tudo isso que estou dizendo

a V.Exa., em regime de urgência constitucional. E ao mesmo tempo fala em integração.

Como alguém que fala em integração envia ao Congresso um projeto de lei beneficiando

apenas uma das instituições policiais? Não sou contra a Lei Orgânica da Polícia Civil, ao

contrário, precisa existir mesmo. Mas os outros órgãos policiais também têm de ter a sua lei

orgânica.

Gostaria que V.Exa. pedisse aos seus assessores para observarem uma emenda

modificativa que apresentei — estou tentando emendar o projeto de lei do Governo —

criando uma lei orgânica única para todos os órgãos policiais. Esse é o melhor caminho,

quando se fala em integração, e não o de beneficiar uma categoria porque o assessor do

Ministro lá é chegado de um delegado. Os Relatores já estão todos encaixados, já percebi.

Vamos ter que ir para o voto, porque os Relatores desse projeto de lei orgânica enviado à

Casa pelo Governo são todos, vamos dizer assim, policiais civis. E dizem que eu é que sou

corporativista. Essa seria a primeira pergunta a V.Exa.

A outra pergunta, Sr. General, é sobre o Plano Nacional de Segurança Pública. Tenho

sempre cobrado do Governo, e este deu um passo importantíssimo ao apresentar à sociedade

esse plano, que não existia. Mas ainda está muito tímido. Sabemos que não fala nada sobre o

sistema prisional, totalmente falido. Segundo dados a que tive acesso, 70% dos presos voltam

a delinqüir, o que mostra claramente que o sistema prisional está falido. E até hoje o Governo

não fez nada. Agora vem o mais grave: a capacidade carcerária de São Paulo é de 80 mil

detentos. A Polícia de São Paulo prendeu, em 1999, 50 mil pessoas, com auto de prisão em

flagrante. Isso quer dizer que a cada ano São Paulo vai ter de criar um complexo prisional

gigantesco, porque estamos lutando pela eficiência da Polícia. Hoje, de acordo com alguns

setores da mídia, a Polícia é totalmente ineficiente. Conseguiu prender 50 mil. A capacidade

de São Paulo é de 80 mil. Se ela for eficiente, fico imaginando o que acontecerá. Não vai

haver onde colocar mais presos. Vai explodir o País.

Então o plano, com relação ao Fundo Nacional de Segurança Pública, é o que tem de

melhor. Faço questão de dizer, até porque tirei da idéia do relatório da nobre Deputada Zulaiê

Cobra. Eu apresentei a proposta. Foi rejeitada porque o Parlamentar não tem essa

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competência legal, regimental, mas encaminhei ao Ministério da Justiça o indicativo do

projeto. Então, saiu alguma coisa, só que deixa muito a desejar.

Esta Comissão vai tratar do sistema. Esta Comissão precisa ser ouvida, Excelência,

porque tem na Presidência um delegado de polícia, eu sou um coronel da Polícia Militar, há

vários delegados, vários advogados com militância na área criminal, policiais da Polícia

Rodoviária Federal. É uma Comissão de especialistas.

O relatório já está praticamente concluído, e faço questão de apresentá-lo, porque sei

que, quando ele cair aqui, vai ser uma beleza. Veja V.Exa. que a segurança pública deste País

é tão importante que às vezes temos aqui três, quatro Deputados para discutir; mas, quando o

relatório vier, tenho certeza de que vão aparecer. Contudo, no momento da discussão, das

audiências públicas, não apareceu muita gente. A minha reclamação maior é pelo fato de

percebermos que esta Comissão foi ignorada desde o início. Procuramos de todas as formas

ser ouvidos pelo Governo, sem sucesso. Procuramos conversar. Fui ao Ministro Aloysio

Nunes. Esta é uma pergunta que gostaria que V.Exa. anotasse, para aqui responder a mim e

ao público: o que V.Exa. acha da desmilitarização da Polícia Militar? Porque confundem. A

desmilitarização que defendo é relativamente à vinculação, a essa subordinação ao Exército

Brasileiro. Reserva do Exército qualquer cidadão é. A Polícia Militar não pode mais

continuar sendo tutelada, porque o Exército exerce um poder paralelo nos Estados, porque as

Polícias Militares subordinam-se aos Governadores. Porém, por força de lei, para comprar um

armamento precisam da autorização do Exército.

Precisamos cortar esse cordão umbilical. Essa é a desmilitarização que a Esquerda

quer. O que as Polícias Militares pretendem é ser militares de polícia. Militares de força

armada de guerra são as Forças Armadas. Isso não se discute. Dizer que haverá prejuízo ao

desempenho da profissão por ser o agente militar, perdoem-me, é uma tremenda ignorância.

Não tem nada a ver uma coisa com a outra.

Queremos realmente resguardar um sistema previdenciário. Confesso a V.Exa. que

hoje sustento essa guerra para manter o regime jurídico das Polícias Militares apenas pelo

sistema previdenciário, que sei que incomoda até as Forças Armadas. Nós, Sr. General,

precisamos do apoio de V.Exa. Sabemos que é um dos responsáveis pelos ditames da

segurança pública neste País. Gostaria que V.Exa., na hora de tomar algumas decisões, nos

ouvisse. Tenho 25 anos de experiência, aqui tem mais 25, 30. Estamos encarregados de fazer

um relatório para apresentar um novo modelo ao País e vamos fazê-lo, custe o que custar.

Podemos ser derrotados, sem sombra de dúvida, mas que vou apresentar alguma coisa, vou.

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Nem falo nas PECs nºs 151 e 156, porque o fato já está consumado. É direito deles, é algo

justo. Agora, isso, não. A polêmica está exatamente nessa questão.

Gostaria de saber ainda o que pensa V.Exa. sobre a criação do Ministério da

Segurança Pública. Este País sempre foi ingrato com a segurança pública. Até há pouco

tempo tínhamos seis Ministros militares, e não temos nenhum Ministro para a área de

segurança pública. Criaram, é bem verdade, uma Secretaria Nacional de Segurança Pública,

mas que nunca fez nada. Acho que a única coisa que fez essa Secretaria Nacional de

Segurança Pública foi o INFOSEG. Hoje tive a oportunidade, na Comissão de Defesa

Nacional, de elogiar o INFOSEG, mas a Polícia Civil não transmite aquelas informações para

a Polícia Militar. A Secretaria de Segurança Pública segura e o homem de ponta, o homem de

rua, que é o policial militar que está lá levando tiro na rua, não recebe a informação por

vaidade da Polícia Civil. Este é o sistema que estamos experimentando hoje. A Polícia Militar

não tem o que passar, porque ela não recebe informação. O INFOSEG está com a Polícia

Civil. Foi o General Celso, se não me engano, que fez esse trabalho, um trabalho fantástico,

mas que não chega às Polícias Militares. Então, como é que se faz? Cobra-se eficiência de

uma corporação como a Polícia Militar, que é a que está exposta, mas é sempre a última a ser

chamada. Nunca é chamada para a mesa de discussão, nunca participa de proposta nenhuma.

Ultimamente fizeram a proposta dos ouvidores. Chamaram todo mundo. Não havia um

representante das Polícias Militares.

Tenho dito nesta Comissão que estou querendo apresentar um relatório sem

corporativismo. Estou pensando no povo brasileiro, que não suporta mais esse desmando, a

insegurança pública no nosso País.

Aproveito a oportunidade para dizer o seguinte: temos aqui em Brasília uma boa

Polícia Militar, que, para o ano 2000, recebeu de investimento 160 mil reais; a Polícia Civil

recebeu 7 milhões, e o Corpo de Bombeiros, 2 milhões. A Polícia Militar, que tem a missão

constitucional de fazer prevenção, recebe 160 mil reais! Prefere-se comprar um helicóptero a

comprar uma viatura para a Polícia Militar.

Estas são as nuanças da segurança pública. Enquanto se fizer da Segurança Pública

cabide de emprego, o povo vai continuar morrendo, sim. Este País está caminhando para uma

guerra civil. Aí realmente vamos ter atribuições para as Forças Armadas. Está dentro deste

contexto. Nada que se faz para valorizar a profissão é aceito.

Encerrarei meu discurso. V.Exa. me perdoe o desabafo, mas é tão rara a oportunidade

de tê-lo aqui que tenho de aproveitar para falar. Preparei uma série de perguntas para o

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Ministro da Justiça, com quem tivemos a oportunidade de nos encontrar algumas vezes, mas,

como disse, S.Exa. não apareceu. Deve ter tido algum motivo para não estar aqui.

Passarei às suas mãos essas perguntas. Pode ser que sua assessoria nos responda. Com

certeza, as respostas a essas dezessete perguntas fundamentarão nosso relatório. Falei sobre a

desmilitarização. Gostaria que V.Exa. acrescentasse o direito de greve, porque, pelo que

fiquei sabendo, querem desmilitarizar as Polícias Militares, mas não querem conceder o

direito de greve. Espero até não ser reeleito, porque vou para as ruas brigar pelo direito de

greve. Aí não é possível, aí as Polícias Militares serão o resto do cavalo do índio. Se tirarem o

regime jurídico, têm de dar o direito de greve, sim. Perguntei ao Ministro Aloysio Nunes se

estavam preparados para a sindicalização de 500 mil policiais. A CUT agradecerá isso, e

muito.

Agradeço a paciência de V.Exa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Concedo a palavra ao Ministro

General Alberto Cardoso.

O SR. MINISTRO ALBERTO MENDES CARDOSO - Deputado Alberto Fraga,

não agradeça minha paciência, porque ela é inesgotável.

V.Exa. apresentou cinco perguntas, mas antes fez três observações, às quais tenho

também de responder. Primeiro, quanto à reapresentação da PEC nº 514. O Presidente,

ontem, ao receber o Presidente da ONG Viva Rio, fez menção à necessidade de se introduzir

na Constituição Federal idéias novas sobre segurança pública. Dentro desse contexto, S.Exa.

disse que temos de tocar a PEC nº 514. Eu não estava nessa reunião, estava no Rio de Janeiro

assinando convênios com o Comitê Olímpico Brasileiro sobre prevenção às drogas. Se

estivesse em Brasília, teria ido à reunião, tenho muito apreço por essa ONG.

Quando tomei conhecimento de que o Presidente havia mencionado a PEC nº 514,

hoje pela manhã, antes de vir para cá, telefonei para S.Exa. para saber o que pretendia. O

Presidente me disse que a idéia é inserir na Constituição Federal o que se pensa sobre

segurança pública. Perguntei-lhe se admitia aperfeiçoamentos na PEC. Disse-me que sim,

claro.

A Proposta de Emenda à Constituição nº 514, que está sendo discutida por V.Exas.,

merece e pode receber aperfeiçoamentos, ou rejeição. A idéia básica do Presidente é colocar

na Constituição Federal o que se pensa para os novos momentos na segurança pública

brasileira. Essa foi uma primeira observação de V.Exa.

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A segunda observação. V.Exa. fez menção ao fato de o Presidente não receber o

Conselho dos Comandantes de PM. V.Exa. citou várias organizações recebidas pelo

Presidente, inclusive a Viva Rio. O Presidente tem recebido as organizações representativas

— como é o Conselho de Comandantes — quando solicitado e quando os estudos de sua

assessoria julgam conveniente aquele ou outro momento. Não participei de qualquer estudo

que dissesse respeito a essa solicitação. Não sei que tipo de solicitação de audiência com o

Presidente foi feita. O Presidente tem todo o apreço por esse conselho, tivemos muitas

conversas sobre isso. S.Exa. sabe da importância desse conselho no que diz respeito a

estruturar a segurança pública com base nesses pilares que hoje aí estão, um dos quais as

Polícias Militares. Sugiro que V.Exas. reiterem o pedido, logicamente substanciado e

arrazoado.

Outra observação foi de que a minha assessoria não permitiu que eu o recebesse. Já

tive o grande prazer de recebê-lo no meu gabinete. E V.Exa. será recebido tantas vezes

quanto reiterar seu pedido. Tenho uma assessoria da mais alta qualidade. Não houve má-fé

nem deslize da assessoria no fato de eu não o ter recebido. V.Exa. pode ter certeza disso.

Considere seu pedido reiterado desde já. A minha assessoria, repito, é da mais alta qualidade.

Vamos às perguntas, Deputado. Quanto ao projeto da Lei Orgânica das Polícias Civis.

Realmente o Conselho dos Chefes de Polícia Civil entrou no Ministério da Justiça com essa

proposta, que foi estudada e encaminhada à Casa Civil. No conjunto do Plano Nacional de

Segurança Pública, a proposta veio para cá, até mesmo com o pedido de urgência regimental.

Antes de vir para esta audiência, telefonei para o Ministro da Justiça, a fim de saber

sobre essa urgência constitucional. S.Exa. me disse que o projeto de lei estava dessa forma.

Disse-me que recebeu há quinze dias a proposta das PMs, que está em estudo. Os dois serão

coadunados, em seguida virá o da Polícia Federal, e S.Exa. fará uma compatibilização dos

três. O grande problema que se vive é o da urgência, porque o prazo está decorrendo. Isso tem

de ser muito conversado, para que haja uma compatibilização das três leis orgânicas.

Quanto ao Plano Nacional de Segurança Pública, V.Exa. faz menção ao sistema

penitenciário falido, imagino até que reforçando as minhas palavras iniciais. Em relação

ao problema da superpopulação, que se vai agravando à medida que as Polícias vão

cumprindo seus deveres e lotando as cadeias, há maneiras de ser evitado. Não se pode ficar

permanentemente a construir penitenciárias. Uma das maneiras são as tais penas alternativas,

que têm sido discutidas. Sou leigo nesta área, mas sempre que se põe a discutir penas

alternativas, ressalto como grande problema, solucionável — aliás, é o grande problema de

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muitos aspectos da vida de um país —, a fiscalização e a execução dessas penas. Tem-se de

estruturar o sistema de fiscalização e de controle da execução dessas penas alternativas. E elas

não devem ser apenas, desculpem-me o trocadilho, uma forma de solucionar o problema da

superpopulação, mas partir do princípio de se adequar à natureza dos crimes e ao

comportamento dos apenados.

O Plano Nacional de Segurança Pública contempla recursos para a construção de

penitenciárias. Brasília, por exemplo, está recebendo cerca de 3 milhões de reais para a

ampliação da Papuda, e haverá a construção de uma primeira penitenciária federal, para o

cumprimento dos crimes de alçada da jurisdição federal.

Sobre a desmilitarização das PMs a que V.Exa. se referiu, durante sua argumentação,

V.Exa. deixou claro um aspecto pendular desse relacionamento PM e Forças Armadas, no

caso específico do Exército Brasileiro. A desmilitarização das PMs tem sido discutida em

muitos fóruns. A minha idéia já apresentei nas minhas palavras iniciais. Mas não podemos

considerar, de maneira não muito sólida, a idéia de se tratar de filhotes da ditadura, de que as

PMs são organismos que hoje em dia são perseguidos e rejeitados. Absolutamente. As PMs

receberam muitas benesses dessa relação com o Exército Brasileiro e continuam recebendo.

Essa ligação continua, e o Exército a encara com muito boa vontade. Não se trata de "filhos

enjeitados".

Fui testemunha daquele problema da desvinculação — o Deputado Abelardo Lupion

foi muitas vezes ao meu gabinete discutir isso — e acompanhei a idéia de o Exército

Brasileiro não abandonar a PM. A PM estava em todas as discussões. Então, permita-me o

senhor, essa não é a realidade. O Exército não vê nas PMs um filho a ser enjeitado, tanto que

luta muito para tê-la como sua reserva, e ser reserva do Exército não é demérito. Quem pensa

em desmilitarizar a PM tem de pensar também num sucedâneo, porque o Exército precisa ter

uma organização policial com capacidade para atuar em massa, como tropa regular.

Quanto ao Ministério da Segurança Pública, claro que há necessidade de sua criação.

Aí está o Ministério da Justiça sendo formatado para ser o Ministério da Segurança Pública.

A intenção do Presidente da República é ter esse Ministério da Justiça sem aqueles quinze

órgãos a mais que havia — alguns ainda existem — e que não tratavam especificamente de

segurança pública, mantendo os órgãos de segurança pública e de direitos humanos

subordinados à Secretaria Nacional de Segurança Pública, até para atender à idéia de que

segurança pública é instrumento de promoção dos direitos humanos.

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O INFOSEG foi uma grande criação, e está ali o seu autor, General Morosini, que,

para muita honra do Exército Brasileiro, hoje trabalha no Congresso Nacional.

O senhor falou no direito de greve. Creio que já expus o que penso sobre isso, quando

disse que o Estado tem de ser zeloso com seus órgãos, e os organismos de segurança pública

são órgãos de Estado.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Com a palavra o nobre Relator,

a quem pediria fosse breve, em razão da extensa lista de inscritos para o debate.

O SR. DEPUTADO ALBERTO FRAGA - Só estou cumprindo o que é

regimentalmente concedido: o direito à réplica e à tréplica.

Não tenho nada a argumentar, a não ser dizer que não me refiro a demérito

quando digo que as Polícias Militares precisam seguir seu caminho. Se digo que

reserva do Exército qualquer cidadão brasileiro é, quero dizer que não há

necessidade dessa atrelagem.

Antes de tomar posse nesta Casa, fui assessor parlamentar durante três

anos e pouco mais. Sei muito bem das dificuldades que temos, e as Polícias

Militares nunca andaram por estes corredores pedindo aumento salarial. Nenhum

dos senhores aqui presentes pode afirmar que sim. O que as Polícias Militares

pedem é apenas condição de sobrevivência. Sempre que percorríamos estes

corredores era pedindo aos Deputados que não deixassem acabarem conosco, que

não tirassem o pouco que temos.

Quanto às benesses, acredito que V.Exa. se referia à previdência dos

militares, que todos sabemos é fruto de uma luta muito bem feita pelas Polícias

Militares. Engajamo-nos às Forças Armadas e conseguimos aprová-la, mas eu nem

chamo de conquista, ou benesse, a aposentadoria após trinta anos para um

trabalhador que arrisca sua vida diuturnamente por alguém que ele não conhece,

ganhando um salário miserável. Acho que a valorização do policial é um direito que

o Estado não reconhece neste País.

A Polícia é até hoje essa reserva, mas V.Exa. sabe que esta Casa

constantemente ataca as Polícias Militares exatamente por causa desse vínculo. E

digo mais: as Polícias ainda não foram extintas graças ao Exército Brasileiro. Não

tenho dúvida disso, Sr. Ministro, mas a segurança pública precisa avançar, precisa

se livrar desse espírito militar de guerra. Nós não temos mais isso.

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V.Exa. sabe que, desde 1988, com o advento da Constituição Federal, até os

currículos, que eram feitos pelo Exército Brasileiro, passaram a ser feitos pelas

Polícias Militares, mas, mesmo assim, a todo instante o jornal noticia que a Polícia

Militar está treinada para matar o inimigo e que tem de deixar de ser militar. Quem

conhece o currículo sabe que isso não é verdade. É sobre essa vinculação que eu

falo, não se trata de não querer uma relação com o Exército — temos uma boa

relação com o Exército.

O Decreto nº 88.540 assegura a convocação da Polícia Militar pelo Exército.

Defendo, sim, uma Polícia militarizada, mas não com esse nome "Militar" que hoje

carregamos, porque a segurança pública diz respeito ao povo, e, entre o povo e

essas instituições, fico com o povo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Com a palavra o nobre Ministro

General Alberto Cardoso.

O SR. MINISTRO ALBERTO MENDES CARDOSO - Foi exatamente isso o que

entendi, Deputado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Satisfeito o nobre Relator, passo a

palavra ao nobre Deputado Gonzaga Patriota.

O SR. DEPUTADO GONZAGA PATRIOTA - Sr. Presidente, Sr. Relator, caros

colegas, eminente Ministro General Alberto Cardoso, eu gostaria, primeiro, de saudar V.Exa.,

Ministro, por ter levado para a minha região — sou do chamado Polígono da Maconha,

cidade de Salgueiro —, embora tardiamente, perdoe-me, as Forças Armadas, que, em

conjunto com os órgãos de segurança pública, diminuíram o sofrimento daquela população.

Digo tardiamente porque já tínhamos visto muito sangue derramado, muitos furtos, roubos,

muita violência.

Lamentavelmente, o Estado não se preocupava anteriormente. Polícia Federal, Polícia

Rodoviária, as Polícias da segurança pública não tinham recursos. Alguns milhões de reais

foram investidos na Operação Mandacaru, e hoje já transitamos ali quase que pacificamente.

Para fazer justiça, eu gostaria de dizer que V.Exa. se deslocou muitas vezes daqui até

Salgueiro, cidade que me adotou. Hoje já podemos andar quase pacificamente no Polígono da

Maconha.

O Governo, por meio de outros mecanismos, principalmente do Banco do Nordeste,

tem feito um trabalho com a população que se marginalizou em virtude do fechamento de

agências, da falta de crédito, da falta de uma integração social. Agora chega um agente de

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desenvolvimento, que é o Banco do Nordeste, para emprestar dinheiro aos parentes dos que

se marginalizaram, para agricultura e pecuária. Isso me deixa confortado.

General, tenho apenas três perguntas a fazer, mas antes gostaria de dizer que sou autor

de duas PECs, a nº 151 e a nº 156. Fui Constituinte e conheço bem o problema dos chamados

"trens da alegria". Não queremos determinadas ascensões funcionais: o sujeito é bacharel, faz

um concurso para auxiliar administrativo da Câmara dos Deputados e amanhã quer ser

advogado no Departamento Jurídico. Não. Mas na Segurança Pública a situação é diferente:

nas Polícias — Civil, Federal, Rodoviária —, um agente trabalha dez, vinte anos, é bacharel

há muito tempo, mas não pode, constitucionalmente, ser promovido delegado de polícia. A

PEC nº 151 permite essa ascensão.

A outra proposta de emenda à Constituição trata da Polícia Ferroviária. Eu nasci

dentro de uma estação de trem e sei que a Polícia Ferroviária é muito importante hoje,

principalmente no combate ao tráfico. Os trens e metrôs dos subúrbios são usados para fazer

o tráfico de drogas. Quando criamos, na Constituição Federal, a Polícia Ferroviária, nossa

intenção não era apenas guardar o patrimônio, mas também instituir uma polícia social nas

ferrovias, com efetivo poder de polícia. A PEC nº 156 trata justamente da transferência dos

policiais dos metrôs e da rede ferroviária.

Bom, mas temos três perguntas a fazer.

Primeira: em vez desse Plano Nacional de Segurança Pública, por que não prestigiar o

Poder Legislativo, trazendo para exame nesta Comissão Especial as propostas do Governo e

aproveitando as propostas de emenda à Constituição? Nós debatemos aqui a PEC nº 514

diuturnamente. A Deputada Zulaiê Cobra fez das tripas coração e, Deus sabe como,

apresentou um relatório muito importante. Hoje, com essa reestruturação na área de

segurança pública — PECs nºs 514, 613, 151 —, poderíamos prestigiar o Poder Legislativo,

sem deixar de receber, é claro, todas as sugestões dos Ministros do Poder Executivo, e fazer

uma reestruturação que de fato melhore a segurança no País.

Outra pergunta: por que o Governo, por meio de um decreto, extinguiu, na estrutura

do Ministério da Justiça — sei que foi um lapso, todos nós erramos —, o Departamento de

Polícia Ferroviária Federal, criado pela Constituição Federal? Se quisessem afastar um

diretor, uma pessoa... mas extinguiram todo o departamento, previsto no art. 144 da

Constituição Federal. Acho que foi um engano que se pode consertar.

A terceira pergunta é sobre notícia que apenas vi nos jornais. Tive a honra de ser

membro da Comissão de Sistematização. Trabalhamos muito aqui — Ministro Nelson Jobim,

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Governador Mário Covas, o próprio Presidente Fernando Henrique Cardoso — para

constitucionalizar a segurança pública, que, naquele tempo, há doze, treze anos, já era um

caos. Avaliem-na hoje. Mas vemos nos jornais que o Governo já admite a

desconstitucionalização. Acho que o senhor ainda não dialogou com o Presidente sobre o

Viva Rio, se realmente é isso. Não se trata apenas de manter constitucionalizada a segurança

pública, mas também de destinar-lhe recursos constitucionais, como temos para a educação.

Estamos trabalhando para isso, e a Comissão de Orçamento também, com apoio da Deputada

aqui presente.

São essas as três perguntas, General. Reitero meus agradecimentos, em nome do povo

daquela região do sertão de Pernambuco, pela presença de V.Exa., várias vezes, na cidade de

Salgueiro. Quero dizer também que as Polícias Federal, Rodoviária, Civil e Militar estão nas

estradas. Tenho certeza de que o Governo Federal está auxiliando o Governo do Estado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Com a palavra o Sr. Ministro

Alberto Cardoso.

O SR. MINISTRO ALBERTO MENDES CARDOSO - Sr. Deputado Gonzaga

Patriota, agradeço muitíssimo suas palavras em relação à Operação Mandacaru. O que foi

feito é produto da minha assessoria, que trabalhou meses. Eu apenas estive lá algumas vezes,

só isso. Aliás, parabéns pela cidade de Salgueiro. Temos também o Projeto Moxotó-Pajeú,

uma parceria do nosso gabinete com o Banco do Nordeste que visa a dar uma solução

estruturante para aquela área, apresentando alternativas econômicas para uma população que

ficou impedida de trabalhar no plantio e cultivo da maconha.

Fico devendo uma resposta ao senhor sobre a extinção do Departamento de Polícia

Ferroviária Federal. Vou consultar o Ministro da Justiça, pois esse decreto tem origem lá.

Sobre a PEC nº 514, realmente não abordei com a necessária profundidade a idéia do

Presidente da República. Hoje pela manhã consultei-o acerca do que ele entendia sobre a

reativação da PEC nº 514, e o Presidente me disse que pretende colocar na Constituição

Federal a necessidade de se atualizar o sistema nacional de segurança pública, que, digamos,

é incipiente. Ou seja, ele aceita e estimula que essa PEC seja aperfeiçoada, atualizada.

A primeira pergunta feita pelo senhor foi por que em vez de Plano Nacional de

Segurança Pública não se faz uma lei, discutida no Congresso Nacional. Podemos dizer que o

Plano Nacional de Segurança Pública foi elaborado com muito cuidado, mas em forma

emergencial. Os estudos foram profundos, abrangentes, ouviu-se muitíssima gente, idéias que

já sabíamos existir, como as de muitos Deputados com quem havíamos conversado em

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momentos anteriores, antes de se pensar nesse plano. Essas idéias foram aproveitadas, mas

tratava-se de uma providência de emergência, para atender a um verdadeiro clamor do povo

brasileiro. E o plano abre janelas para diversas participações fundamentais do Congresso

Nacional.

Estão sendo remetidos para esta Casa, por iniciativa do Ministério da Justiça, muitos

projetos de lei que dizem respeito ao Código Penal, ao Código de Processo Penal, ao Código

Penitenciário e aí por diante. É fundamental, e o Presidente da República interpreta assim,

que essas idéias sejam discutidas aqui no Congresso. O Plano Nacional de Segurança Pública

não pretende ser a Constituição da Segurança Pública brasileira, ele é o documento que

sistematiza alguma coisa, procura coordenar algumas medidas a serem aplicadas, mais de

130, mas nem todas passíveis de discussão legislativa, porque são medidas mais

administrativas, como a criação do fundo etc. Mas o Presidente da República vê como

imprescindível a discussão nesta Casa e no Senado Federal.

Muito obrigado.

O SR. DEPUTADO GONZAGA PATRIOTA - Sr. Presidente, estou satisfeito.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Satisfeito o nobre Deputado

Gonzaga Patriota, passo a palavra ao nobre Deputado Jorge Pinheiro.

O SR. DEPUTADO JORGE PINHEIRO - Sr. Presidente, Sr. Relator, Sras. e Srs.

Deputados, Sr. Ministro General Alberto Cardoso, antes de fazer as perguntas e comentar o

pronunciamento do Ministro, quero solidarizar-me com o Deputado Alberto Fraga no que diz

respeito a essa discrepância que infelizmente aconteceu no Distrito Federal com a distribuição

dos recursos. Até hoje não consegui entender por que foram destinados 160 mil reais para um

contingente de quase 17 mil homens e 7 milhões de reais para o contingente da Polícia Civil,

que tem em torno de 5 mil policiais. É uma diferença muito grande. De maneira alguma estou

depreciando alguém, preterindo uma Polícia ou outra, mas a diferença é gritante. Com o valor

de um helicóptero compra-se uma quantidade imensa de viaturas, que vão dar uma cobertura

muito maior, uma vez que o Distrito Federal não é tão grande e é fácil e rápido deslocar-se de

um local a outro aqui, porque as vias são largas.

Quero solidarizar-me com o Deputado Alberto Fraga, que tem toda razão em estar

muito chateado com essa discrepância.

Sr. Ministro, concordo com seu comentário sobre as Forças Armadas. Acho que elas

não foram preparadas, não é essa a atribuição delas. A questão não é quantitativa, e sim

qualitativa. Não adianta dispor de um contingente maior, muitos homens armados na rua, se a

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questão é a qualidade e o preparo de cada uma das duas instituições. O Exército tem de

trabalhar na fronteira, impedindo o narcotráfico e o contrabando de armas, que é uma

vergonha. Armas feitas no Brasil vão para o Paraguai e retornam via contrabando. Isto já foi

provado: 70% dos revólveres usados pelos bandidos do Rio de Janeiro são fabricados no

Brasil, mas eles vão para o exterior e voltam como contrabando, com grande facilidade. A

contribuição do Exército para a segurança pública, na minha opinião, será dada nas fronteiras.

Se conseguirmos fechá-las o máximo possível, haverá um baque muito grande na aquisição

de armamento e munição pelo crime organizado. Concordo com o senhor.

Farei apenas duas perguntas. Primeira. O senhor fala sobre a integração, que, sem

sombra de dúvida, deve mesmo vir antes da unificação. Como é que o senhor vê a questão da

polícia técnico-científica, subordinada à Polícia Civil? Estivemos acompanhando, na

Comissão que investiga a morte do ex-Presidente Juscelino Kubitschek, o trabalho da polícia

técnica. Como é bem feito! Mas, daquela época para cá, a situação de falta de recursos não

mudou muito. O perito trabalha sem condições, sem equipamentos, sem viaturas, cobrindo às

vezes uma área muito grande, e o laudo desses técnicos é que fornecerá provas para que os

inquéritos possam prosseguir.

Hoje existe uma luta da polícia técnico-científica por independência, tanto

administrativa quanto econômica, porque, na hora de repartir o bolo, ninguém pensa que a

polícia técnica precisa de um equipamento melhor, de um computador, de um bom

microscópio, equipamentos caros que a maioria dos policiais "conhece" — entre aspas —,

mas não sabe da sua importância. Na hora de dividir o bolo, a polícia técnica fica sempre com

uma fatia muito pequena e acaba trabalhando de forma inadequada, mas o laudo do perito

pode amanhã condenar ou não um indivíduo, às vezes até um policial. Como é que os peritos,

estando tão atrelados à Polícia Civil, sob o seu jugo, sem nenhuma independência, vão emitir

um laudo sem aquela sombra do delegado, ou dos policiais? Se tiverem autonomia, no caso

da investigação de um policial civil ou militar, eles se sentirão mais à vontade para apresentar

um trabalho de qualidade.

Qual é a opinião do senhor sobre esse pleito do Instituto de Criminalística por

independência sem a criação de uma outra polícia, ou seja, inserido na Segurança Pública,

mas com autonomia de decisão e autonomia financeira para comprar equipamentos? Somente

quem é perito nessa área sabe o quanto isso é importante.

A segunda pergunta é com relação ao Plano Nacional de Segurança Pública. O senhor

expôs muito bem a preocupação do Estado com o policial, que não pode se sentir

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desprestigiado. Não adianta termos no Plano Nacional de Segurança Pública um carro-chefe

como a iluminação pública — lógico, onde há iluminação pública, menor o índice de

criminalidade —, se não atentarmos para a questão salarial. O ponto principal do plano

deveria ser a valorização do ser humano, do homem, do policial. O senhor disse que essa

questão está inserida no plano, mas acho que uma melhor remuneração para os policiais

deveria estar inserida não de forma subjetiva, mas clara e como o principal ponto.

Fui funcionário do Banco do Brasil durante oito anos. Cheguei a pegar a última etapa,

a raspa do tacho, aquele último concurso, quando ainda se pagava bem aos funcionários. Até

aquele momento, o Banco do Brasil era referência nacional. Quando se precisava de um

funcionário bem qualificado, que atendesse a muitos pré-requisitos, eles eram tirados de

dentro dos quadros do Banco do Brasil. Por quê? Porque eram bem remunerados, faziam

cursos, eram competentes. Hoje, infelizmente, os funcionários do Banco do Brasil estão

depreciados, com salários reduzidíssimos: caiu a qualidade do trabalho do funcionário.

O mesmo acontece com a Polícia. Se o policial for bem remunerado, ele vai, sem

sombra de dúvida, prestar um trabalho muito melhor. A questão da viatura, do armamento, da

própria estrutura legal é importante, mas nada disso, Sr. Ministro, no meu ponto de vista,

atingirá os objetivos que devem ser atingidos, se o policial continua sendo mal remunerado,

muitos morando em favela, como é o caso do Rio de Janeiro, de São Paulo e de outras

Capitais, sob o jugo do traficante. Quem manda na favela é o traficante. Como é que ele vai

fazer uma boa segurança, se é mal remunerado e obrigado a fazer bicos para sobreviver?

Faço parte da base do Governo e torço para o plano dar certo, mas faço uma crítica

construtiva: deveria ser colocada, em primeiro lugar, a questão salarial do agente de polícia.

Não podemos aumentar o salário? Que se crie algum mecanismo para que o policial receba

um pouco mais no final do mês, como as gratificações. Assim o Plano Nacional de Segurança

Pública funcionaria melhor.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Concedo a palavra ao Sr. Ministro

Alberto Cardoso.

O SR. MINISTRO ALBERTO MENDES CARDOSO - Muito obrigado, Deputado

Jorge Pinheiro, por suas perguntas. O senhor fez um comentário sobre a discrepância entre os

investimentos nas Polícias Civil e Militar, seara Distrito Federal.

(Intervenção inaudível.)

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O SR. MINISTRO ALBERTO MENDES CARDOSO - Mas não é quem distribui

o dinheiro.

Na sua pergunta sobre a necessidade de autonomia financeira da polícia

técnico-científica, já está embutida a resposta. Permita-me dar a resposta partindo das suas

idéias.

Eu realmente não tenho opinião formada a respeito de autonomia financeira para uma

polícia técnica, mesmo porque não domino o assunto, mas concordo absolutamente com o

senhor no que diz respeito à necessidade de aparelharmos a polícia técnica com o que existe

de mais avançado em termos de desenvolvimento científico e tecnológico nas polícias

técnicas de todo o mundo. Sei, não domino mas sei, que é fundamental para uma investigação

bem conduzida um apoio técnico-científico da mais alta qualidade. Em termos de autonomia

financeira, concordo que é preciso recurso.

Os Estados têm apresentado projetos ao Ministério da Justiça, habilitando-se para

receber recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública. Para o restante deste semestre são

330 milhões de reais, e, para cada ano, 500 milhões, valor que se pretende aumentar. Muitos

Estados têm especificado nos seus projetos essa área da polícia técnico-científica. Tenho lido

alguns, do Ceará, do Espírito Santo e outros que passaram por nós, mas eles devem ir direto

para o Ministério da Justiça. Todos têm contemplado essa área na sua planilha de solicitação

de recursos.

Entendo bem a metáfora que o senhor fez quando disse que a iluminação pública era o

carro-chefe — o senhor fez questão de dizer esse exagero. Mas não, ela não é o carro-chefe. É

claro que há alguns carros-chefes, como o Fundo Nacional de Segurança Pública, o estímulo

à integração das Polícias, a atualização de toda a legislação, que já estão sendo encaminhada

ao Congresso Nacional.

O senhor tem toda razão quando diz que há necessidade de os policiais serem bem

remunerados, mas o Plano Nacional de Segurança Pública não poderia contemplar recursos

que dizem respeito aos orçamentos estaduais. Há previsões orçamentárias que os Estados têm

de fazer.

Mas o problema da remuneração é encarado com muita atenção pelo Governo Federal.

Não sei se o senhor se lembra, quando eu citei a relação de tópicos que devem constituir a

preocupação básica do Estado com relação aos órgãos de segurança pública, o primeiro que

listei foi salários, porque deles vem muita coisa. Se a Polícia é bem paga — e não me refiro

apenas ao bem-estar do policial, que é fundamental —, aumenta também o universo de

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recrutamento. Há uma reação em cadeia a partir dos salários, embora eles não sejam tudo. A

auto-estima do policial, como de qualquer cidadão, qualquer profissional, depende, em

grande parte, dos salários, mas depende também, grandemente, dos recursos de que dispõe

para trabalhar, de estar realizando sua vocação profissional e de se sentir assistido. Volto a

dizer ser dever do Estado não permitir que seus órgãos sintam-se na necessidade de criar,

ainda que artificialmente, por meio das associações, sindicatos.

Concordo plenamente com o senhor, e é uma preocupação do Presidente da República

ajudar os Estados a solucionar esse problema dos salários.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Passo a palavra à nobre Deputada

Zulaiê Cobra.

A SRA. DEPUTADA ZULAIÊ COBRA - Sr. Presidente, Sr. Relator, Gen. Alberto

Cardoso, é um prazer estar aqui. Concordo com as críticas e ponderações feitas pelo ilustre

Relator, Deputado Alberto Fraga, porque esta Comissão, criada no ano passado, ficou meio

relegada. Mas temos hoje, com a sua presença, a possibilidade de uma conversa séria. Tenho

certeza de que V.Exa. levará ao conhecimento do Presidente Fernando Henrique Cardoso

tudo o que foi dito aqui, porque todas essas medidas são necessárias para o Brasil.

Chegamos a um patamar, Sr. Ministro, em que não podemos mais continuar com a

segurança pública que temos hoje. Enquanto V.Exa. fala em milhões, penso em bilhões.

V.Exa. precisa pensar que a segurança pública tem de ter bilhões já, imediatamente, e não

depois. Não conte que hoje são só 30 milhões, 300 milhões ou 500 milhões e que depois

serão mais. Não, façamos o inverso. Hoje falamos em bilhões, depois V.Exa. vai diminuindo,

porque aí terei a certeza de que a segurança pública no Brasil será melhor.

Citamos aqui a Proposta de Emenda à Constituição nº 514, que é realmente uma

tragédia. Quando o Ministro Iris Rezende veio até aqui, em 1997, participar de uma reunião

da Comissão Especial de reforma da segurança pública, da qual eu era Relatora, teve muita

dificuldade para explicar o porquê da PEC nº 514. Temos como base as greves que surgiram

em julho daquele ano, que criaram toda uma situação de insegurança nacional. Talvez o

Governo Federal, preocupado com essa insegurança, tenha feito com que surgisse a PEC nº

514, que desconstitucionalizava as Polícias Civil e Militar, deixando na Constituição apenas a

Polícia Federal. Naquele momento acho que o Presidente pensava que os Estados deveriam

cuidar das suas Polícias, retirando-as da Constituição. Houve, lá atrás, uma situação de

emergência. Daí por que torcemos para que o Presidente da República, por intermédio do

Ministro da Justiça, retire essa PEC.

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Com relação ao Ministro da Justiça — e faço uma ponderação às falas severas do

nosso Relator —, realmente S.Exa. me procurou para dizer que não podia vir ontem, porque

estava com uma agenda conturbada, e essa proposta foi da semana passada. Conversei por

telefone com o Presidente desta Comissão, Deputado Aldir Cabral, e ficou acordado entre nós

a possibilidade de o Ministro não comparecer ontem. S.Exa. quer comparecer, e vai

comparecer. Nós estamos esquentando os motores, meu ilustre Relator, para que S.Exa. possa

responder às suas dezessete perguntas. Hoje começamos com o Ministro General.

Com relação à PEC nº 613, o patamar da discussão de hoje — com todo respeito às

duas PECs do Deputado Gonzaga Patriota —, quero dizer que temos a Guarda Nacional, que

o nosso Relator esqueceu. A Guarda Nacional é o instrumento de que precisávamos. Isso é de

autoria do Deputado Abelardo Lupion. A PEC que está aí não é minha. Ela tem o meu nome,

mas é de todos os Deputados que apresentaram, naquela oportunidade, 1997 e 1998,

excelentes idéias para que elaborássemos o relatório que originou essa PEC.

Mas temos também o Fundo Nacional de Segurança Pública, que é muito bom e já foi

copiado. Esse fundo da pobreza é exatamente o nosso Fundo Nacional de Segurança Pública,

que já foi copiado de tão bom que ele é, já que abrange uma porcentagem de impostos

federais, estaduais e municipais. Ninguém quer aumentar imposto para ninguém. Precisamos

de um Fundo Nacional de Segurança Pública que o Governo Federal respeite, mas que não

prejudique o povo.

Outra questão é sobre as Polícias Militar e Civil. V.Exa. acabou de observar nos

debates que a situação não é fácil. Mas precisamos iniciar essa discussão.

Quando discuto com o Relator, o Deputado Alberto Fraga, sobre a possibilidade de

uma transição — e no primeiro momento falamos numa união de trabalho —, temos de

pensar grande, no futuro. Daqui a dez anos, como será? A própria Polícia Militar não agüenta

hoje sua estrutura, que é complicada e eles sabem disso.

É claro que a tropa não anda pelos corredores desta Casa. Quem vem aqui são os

oficiais, que também não estão muito preocupados com essa unificação, até porque ganham

muito bem. Os oficiais ganham muito mais do que a tropa, mas quem sofre na rua é o

soldado, o cabo e o sargento, que ganha pouco e, o que é pior, não tem possibilidade de

ascensão. Aliás, V.Exa. já conhece a frase citada nesta mesma Comissão por um coronel da

reserva da Polícia Militar: "Quem está no policiamento de rua não é visto nos quartéis, e

quem não é visto nos quartéis não sobe na vida, não vira oficial".

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Fiquei muito preocupada e até disse ao ilustre Cel. José Vicente da Silva que então

nós, Deputados, que não freqüentamos o Palácio, não temos nenhuma chance de subir na

vida, porque somos policiamento de rua. Eu sou uma policial de rua. Portanto, posso dizer o

que é tropa, com todo o respeito a V.Exa., que me chamou de marechal. Eu não tenho nada a

ver com essa questão maior de oficiais.

Mas V.Exa. ouviu aqui hoje que precisamos ter na Constituição os direitos

fundamentais das Polícias. Não podemos tirar a Polícia da Constituição. Aliás, não podemos

tirar da Constituição ninguém, é isso o que quero que V.Exa. entenda e transmita ao seus

superiores que discutem a segurança pública. O que está na Constituição não se tira,

melhora-se. A PEC que está nas mãos do ilustre Relator é uma proposta de melhora, para que

todos tenham direitos constitucionais, tanto a Polícia Federal, quanto a Civil e a Militar.

Queremos que todos os policiais tenham sonhos e que esses sonhos se transformem em

realidade.

Hoje as Polícias Militar, Civil e Federal brigam pela lei orgânica. E em que consiste a

lei orgânica? É o que existe hoje na Lei Orgânica da magistratura e do Ministério Público.

Por que a Polícia tem de estar sempre num patamar menor? Por que juízes e promotores são

melhores? Não são. A Polícia é o cartão de visita da Justiça, e V.Exa. sabe disso.

Então, a Polícia deve ter garantidos seus direitos na Constituição. E o direito de greve,

que o Sr. Relator mencionou tanto, ninguém vai ter mais, nem a Polícia Civil, nem a Polícia

Militar — as duas de comum acordo, integradas, como já estão sendo —, nem promotor, nem

juiz. São carreiras especiais e não podem fazer greve.

Agora, tenho para mim que vamos avançar muito, e é bom que V.Exa. compreenda

isso. A parte mais importante da Polícia Militar é a relação da previdência. Concordo com o

Relator e espero que a Comissão também siga esse caminho, ou seja, que a previdência dos

policiais seja muito diferente da previdência de um servidor público comum. O art. 144 diz

que os servidores da segurança pública terão previdência especialíssima, porque a carreira é

especialíssima; ser policial é muito mais difícil do que ser juiz e promotor, do que ser

funcionário público. O policial que corre risco nas ruas, que combate o confronto

ostensivamente armado, uniformizado merece consideração especial, a exemplo do policial

investigativo ou das fronteiras, o policial federal.

Portanto, general, esperamos que a Polícia fique melhor, que o policial seja risonho,

que tenha o ego melhorado, que se respeite para ser respeitado. Hoje a Polícia não é

respeitada porque o policial não se respeita. Temos de acabar definitivamente com a briga

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entre as três Polícias: Federal, Civil e Militar. As três têm de estar muito bem integradas,

unidas. Eu prego a unificação, mas, é claro, precisamos de um tempo maior para isso. Sei que

é difícil; tudo que muda é difícil. Mudamos a Previdência, foi dificílimo; não conseguimos

definir o bendito teto salarial do funcionalismo público. E por quê? Porque tivemos certo

receio de defini-lo antes, senão hoje o Poder Judiciário não estaria brigando por ele, já

teríamos resolvido o problema na reforma administrativa, a exemplo do que fizemos na

reforma da Previdência.

Nada mais tenho a dizer; na verdade, tenho mais a ouvir. A respeito do controle

externo das Polícias, temos de fazê-lo. Não fizemos o controle externo da magistratura e do

Ministério Público? O maior objetivo nosso é controlar a Polícia também, nos mesmos

moldes do Ministério Público e da magistratura, mas não aquele controle externo inserido na

Constituição, ou seja, do Ministério Público sobre a Polícia, que se chama fiscalização, e não

controle externo.

Portanto, o nosso anseio é melhorar as Polícias, dar aos policiais do Brasil o respeito

que merecem.

Muito obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Antes de passar a palavra ao nobre

Ministro, desejo comunicar a esta Comissão que já teve início a Ordem do Dia no plenário da

Câmara dos Deputados.

O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - Sr. Presidente, considerando que já teve

início a Ordem do Dia, a praxe é permitir que os Deputados inscritos se pronunciem primeiro,

deixando a fala do Ministro para o final.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Esta Presidência acata a sugestão do

nobre Deputado José Genoíno. Com a palavra S.Exa.

O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - Sr. Presidente, Sr. Ministro, serei breve,

mas vou mudar o enfoque do discurso. A meu ver, a PEC nº 514 deveria ser modificada. E

vou divergir de alguns colegas: não vejo mal em garantir alguns dispositivos essenciais na

Constituição e desconstitucionalizar outros, dando mais autonomia aos Estados em matéria de

legislação sobre segurança pública.

Temos de caracterizar na Constituição a natureza especial do servidor de segurança

pública, enfim, a própria função do setor. A organização, na minha opinião, deve ficar no

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âmbito do Estado, com maior autonomia. Não sou radicalmente contrário a um nível de

desconstitucionalização em matéria de segurança. Preocupa-me, Sr. Ministro, enfrentar a

segurança pública com várias leis de enfoque corporativo. A lei sobre a Polícia Civil é

corporativa; vamos ter uma Polícia de gabinete, de delegado. Se o mesmo ocorrer com a PM

e a PF, as corporações serão organizadas de acordo com a sua lei, e não vamos ter a lei de

segurança pública, não vamos ter instrumentos de defesa da sociedade.

Deveríamos elaborar uma lei geral sobre segurança pública, nela incluindo as

especificidades das Polícias Militar, Civil, Federal e Rodoviária. Do contrário, o processo

ficará disperso em matéria de segurança pública. Sou favorável a uma lei de segurança

pública que defenda a integração, e não a unificação. Polícia Militar ostensiva, fardada e

armada é uma coisa; Polícia Civil é outra coisa. Agora, temos de integrar em três níveis:

banco de dados — uma confusão —, comandos e operações. Dessa forma, a Polícia será

diferenciada e integrada.

Nesse sentido, quero deixar claro que o meu princípio é o seguinte: no Estado de

Direito Democrático quem tem e porta arma não pode fazer greve, porque é motim. Greve

significa cruzar os braços, instrumento de quem não tem outro com o qual protestar. Quem

tem arma, portanto, não pode fazer greve porque é motim. Vamos ser francos: não pode ter

direito à greve quem porta arma e pode fazer prisões. Agora, temos de garantir direitos à

sociedade. Por isso, Ministro, em vez de uma lei específica para cada Polícia, entendo que

deveria haver uma lei geral sobre segurança pública, com as competências gerais, com um

grau de autonomia aos Estados em matéria de Polícia.

Sobre o famoso art. 144, entendo que o problema é o seguinte: desmilitarização não

significa extinção da Polícia Militar. A atribuição das Forças Armadas é uma, a da Polícia

Militar é outra. As Forças Armadas devem controlar e fiscalizar o material bélico existente no

País, ponto final. Não podemos ter 27 exércitos, um para cada Estado. No entanto, a Polícia

Militar precisa de um instrumento da União, para exercer fiscalização geral em relação a

efetivo, armamento, princípio geral de formação, dando mais autonomia aos Estados. Nesse

ponto devíamos mudar o art. 144.

Sr. Ministro, aqui entra questão que tenho o dever de citar, sobre a qual houve até

divergências públicas. E esse é o motivo do debate com V.Exa. Trata-se do subsistema da

área de informação. Qual é o problema? V.Exa. sabe que fui derrotado na Comissão de

Relações Exteriores e Defesa Nacional e no plenário por defender um modelo de controle da

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atividade de inteligência. Realmente, o modelo de controle atual, na minha avaliação, nada

controla. Discutimos muito isso.

Quanto ao decreto, tenho divergências e gostaria de ouvir a opinião de V.Exa.

Primeiro, mistura-se no subsistema, no Conselho Deliberativo, que em matéria de inteligência

tem poder, a inteligência militar propriamente dita das três Forças Armadas — Exército,

Marinha e Aeronáutica; e é necessário ter inteligência militar com funções próprias — com a

inteligência de natureza civil. E não estou aqui fazendo distinção entre Polícia Militar e Civil,

não tenho preconceito, mas são funções constitucionais diferentes. Acho que o decreto

misturou, no Conselho Deliberativo, essas duas inteligências, assim como no âmbito dos

Estados.

É claro que existe um dispositivo que passa pela autoridade competente no âmbito dos

Estados, mas as minhas divergências em relação ao decreto que criou o subsistema são

basicamente estas: não é responsabilidade de V.Exa., porque lamentavelmente a base do

Governo não aprovou o instrumento de controle externo, que era mais eficaz, e repito que fui

derrotado; é um equívoco — e quero manifestar isso publicamente — misturar no Conselho

Deliberativo a inteligência militar propriamente dita à da ABIN, do Gabinete de Segurança

Institucional, integrando até mesmo a inteligência das Polícias, no caso a P2.

Com isso, quero telegraficamente dar minha opinião. Na discussão sobre segurança

pública temos de construir um corpo de segurança não-corporativo. Preocupa-me muito esse

aspecto. Temos de definir o objetivo — para mim, esse seria o grande avanço da PEC —, ou

seja, a segurança da sociedade. Para tanto, temos de mudar o conceito de segurança pública

no Brasil, que sempre esteve associada a patrimônio e Estado. Quando se fala em segurança

do cidadão, a formação e o treinamento são diferentes. Por exemplo, o episódio do Rio de

Janeiro, que comoveu o País, é exemplo claro de que não foi adequada a atitude ostensiva da

Polícia. Dois ou três policiais civis camuflados fariam o serviço sem grande alarde, de

maneira muito mais competente.

Teria algo mais a falar, mas fico por aqui.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Agilizando os trabalhos, passo a

palavra ao Deputado Marcos Rolim.

O SR. DEPUTADO MARCOS ROLIM - Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr. Ministro,

Sras. e Srs. Deputados, quero rapidamente fazer três observações ao nosso convidado,

sugerindo que seja marcada outra audiência para uma quarta-feira, se possível, pois queria

ouvir a opinião de S.Exa. sobre tema conexo.

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Quando trabalhamos com o tema segurança pública precisamos evitar dois extremos

ou duas abordagens equivocadas. A primeira é analisar o conceito de segurança pública a

partir da ótica de Estado, reduzindo-o à defesa do Estado. Já pagamos um preço muito alto

por isso na história brasileira. A segurança pública é sobretudo um direito do cidadão,

fundamentalmente um direito da cidadania. Portanto, não pode ser enfocada a partir da ordem

de preservação dos interesses do Estado. E não podemos tratar a segurança pública, como

assinalou o Deputado José Genoíno, a partir da ótica do interesse das corporações. Nada

contra o direito das corporações de expressarem seus interesses corporativos. São plenamente

legítimos seus interesses, estão cumprindo seu papel os representantes das associações, mas a

atribuição do Poder Público, desta Casa e do Governo não é agradar as corporações, nem

podemos enfrentar o problema da segurança pública a partir do que pensam as corporações ou

dos seus próprios interesses.

Estamos sempre tangenciando estes dois limites: ora se enfoca a segurança pública a

partir da ótica de Estado, ora se enfoca a segurança a partir das demandas corporativas. Quem

"dança" nessa história é o cidadão, que não tem segurança. Então, é preciso pensar desta

forma: vamos reformar a segurança pública? Vamos. Em nome de quem? Em nome dos

interesses daqueles que nos elegeram e que precisam de segurança, que são os segurados. Se

isso é verdadeiro — parece-me que é —, como se pode conceber o conceito de segurança

pública a partir da formulação constitucional vigente, que diz: "Segurança pública existe para

a preservação da lei e da ordem"?

Imagine V.Exa., Sr. Ministro, no regime nazista, o que seria feito em nome da

determinação constitucional que atribuísse à segurança pública o dever de preservar a lei e a

ordem. Na verdade, o que significa um cidadão seguro? É aquele que tem seus direitos

respeitados. Esse é o cidadão seguro. Portanto, as Polícias são instrumento fundamental para

garantir os direitos dos cidadãos. E a segurança pública deve ser concebida como a

manutenção desses direitos. A idéia da preservação da lei e da ordem deve estar submetida

aos direitos da cidadania. Então, ou bem concebemos a segurança pública como manifestação

desse dever do Estado de garantir direitos, ou vamos cair na concepção estatal de segurança

pública, da qual acredito ainda temos de nos libertar.

A segunda observação diz respeito à concepção penal que deve acompanhar qualquer

idéia de segurança pública. V.Exa. tocou com muita propriedade nesse tema, embora

considere que alguns problemas devem ser mais bem ajustados. Todos estamos de acordo —

é consenso no Brasil e em qualquer lugar do mundo — que o atual modelo prisional está

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falido. Simplificando, há rigorosamente no mundo dois grandes modelos prisionais: um

muito forte, que nos é oferecido pela experiência norte-americana e que ainda encanta os

incautos deste País, e o modelo europeu.

Nos Estados Unidos, esse modelo significa legislação penal muito rigorosa,

impossibilidade de progressão de regime, prisão perpétua em vários Estados a partir de lei

aprovada. Há uma expressão muito usada no beisebol, que diz: three strikes and you're out.

Ela se aplica bem ao caso, ou seja, três condenações e você está fora, o que significa prisão

perpétua na terceira condenação. Hoje nos Estados Unidos 60% dos presos são condenados à

prisão perpétua, sem jamais terem praticado crime violento, o que levou aos cárceres

norte-americanos 2 milhões de presos, além dos 4 milhões sob a supervisão da Justiça

Criminal norte-americana, a um custo anual de 100 bilhões de dólares. A Deputada Zulaiê

Cobra falou em bilhões, e confirmo: a despesa norte-americana é de 100 bilhões de

dólares/ano para sustentar o sistema prisional. Essa experiência agrada àqueles que nada

entendem de segurança pública, de sistema prisional, e é negativa em todas as formas. Não

enfrentaram a violência, não diminuíram a criminalidade e a reincidência.

Em relação ao modelo europeu, Sr. Ministro, cito o exemplo da Inglaterra: de cada

cem condenados por ilícito penal, oitenta recebem penas alternativas e vinte vão para a

cadeia. No Brasil, de cada cem condenados por ilícito penal, 98 recebem pena de prisão e dois

recebem pena alternativa. O resultado é um sistema prisional com mais de 200 mil presos,

cadeias superlotadas, motins, fugas em massa e absoluta inexeqüibilidade de execução penal

digna que possibilite a ressocialização, altos índices de reincidência, tudo o que já sabemos.

Por que estou falando sobre isso? V.Exa. deve concordar comigo nessas observações

de natureza crítica. O Plano Nacional de Segurança Pública instituiu o Fundo Nacional de

Segurança Pública, a meu ver, a medida central do plano. Há muitas coisas sem muita

importância, idéias e metas, mas o carro-chefe do plano é o Fundo Nacional de Segurança

Pública, que estabelece, em seu art. 4º, § 2º, o seguinte:

Art. 4º................................................................................

§ 2º Na avaliação dos projetos, o Conselho Gestor priorizará, dentre outros aspectos, o ente

federado ou o Município que se comprometer com os seguintes resultados:

1. Redução do índice de criminalidade.

É fantástico. Então, o Estado que se comprometer a reduzir o índice de criminalidade

estará habilitado a receber recursos do fundo. Só há um problema: por essa lógica, quanto

mais os Estados diminuírem o índice de criminalidade, mais dinheiro receberão. Na verdade,

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deveria ser o oposto, ou seja, devem receber mais recursos aqueles que têm maior índice de

criminalidade, até porque as condições que geram os crimes não estão na alçada dos

Governadores. A política nacional do Governo Fernando Henrique Cardoso seguramente

responde muito mais pela escalada do crime, a partir dos índices de desemprego e do salário

mínimo, do que por aquilo que os Governadores podem fazer. Então, é um erro crasso.

O segundo item é o seguinte: "Aumento do índice de apuração de crimes sancionados

com penas de reclusão". Aí, sim, entregamos os pontos. O Estado, para receber dinheiro, tem

de prender mais pessoas, quando deveria ser o oposto: deveriam ser beneficiados os Estados

que demonstrassem vontade política e determinação para aplicar mais penas alternativas,

reduzindo a demanda de encarceramento e reservando à prisão os criminosos que cometem

crimes violentos, aqueles que mataram, estupraram, cometeram latrocínio. Se ficarem soltos,

vão fazer novas vítimas. Condenados por furto, estelionato, delitos de menor importância,

sem potencial ofensivo devem ficar na cadeia? O que vai acontecer? Os Governadores vão

estimular suas Polícias a prender mais pessoas. O resultado será mais delinqüentes de menor

potencial ofensivo nas cadeias. É um desastre, Sr. Ministro, concepção absolutamente

equivocada.

Vamos analisar a proposta de Código Penal que o Governo prometeu enviar até o dia

11 de agosto, depois de amanhã, cujo texto já é conhecido, está na Internet. Uma das medidas

mais importantes, talvez a central, a de maior repercussão, é a seguinte: modificação da lei de

execução penal no que tange aos critérios objetivos de progressão de regime. O criminoso, o

delinqüente, ao cumprir um sexto da pena, tem o direito de pleitear o benefício. Vai precisar

de um laudo favorável, decisão do juiz da Vara de Execuções, além de maiores dificuldades,

para conseguir progressão que lhe assegure o direito de sair durante o dia para trabalhar e se

recolher à noite.

Hoje a lei fala em um sexto; o Governo está propondo um terço. Sr. Ministro, conheço

presídios há vinte anos e bastante bem a realidade prisional brasileira. Isso aqui é uma ameaça

à segurança nacional. Essa proposta do Ministério da Justiça de mudar a lei penal, alterando o

requisito objetivo da progressão de regime para um terço da pena, significa reter na cadeia

milhares e milhares de presos que poderiam estar, por mérito, por boa conduta, por baixo

potencial ofensivo, trabalhando e esvaziando as nossas prisões.

Hoje, milhares de presos são soltos e muitos outros são presos. V.Exa. pode imaginar

o que vai acontecer, se essa proposta for aprovada? Ela pode encantar a opinião pública,

devido à desinformação, que considera a lei mais grave, o discurso mais forte contra o crime

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e os bandidos. Então, o marketing é ótimo e pode resultar em muitos votos, mas para

resolver o problema da segurança pública do Brasil é uma tragédia.

Sr. Ministro, se V.Exa. manifesta preocupação com a execução penal e suas

condições, as propostas que o seu Governo vem encaminhando a esta Casa seguem caminho

oposto. E queremos ter V.Exa. como aliado nesta luta, para alterar esse entendimento.

Terceira e última observação, sobre a unificação das Polícias. Eu, a exemplo do

Deputado José Genoíno e mais alguns membros do PT — ainda que essa não seja a posição

oficial da nossa bancada; acredito que é da minoria, temos argumentos para tentar alterar essa

posição —, sou contra a unificação das Polícias. Essa não é a proposta que assegura mudança

efetiva. Ao contrário, da forma como vem sendo proposta a unificação, é temerária e pode

agregar os piores defeitos das Polícias, em vez de suas virtudes.

Penso que um dos problemas é que nenhuma Polícia brasileira possui o ciclo

completo. Não vejo mal em organizar uma Polícia investigativa e uma Polícia ostensiva

predominantemente, cada uma delas com a capacidade de cumprir o ciclo completo de

Polícia.

Aliás, é uma irracionalidade. O Deputado Alberto Fraga sabe melhor do que nós que

mais de 80%, talvez 90%, das ocorrências atendidas pelos policiais militares nas ruas são

bagatelas: é briga de vizinho, é conflito, é ameaça. Essa é a grande maioria da demanda da

Polícia Militar. O adolescente flagrado fumando um baseado, um cigarro de maconha, num

banheiro público é preso, levado para a delegacia de Polícia, onde é lavrado o auto de prisão

em flagrante, ali permanecendo cinco ou seis horas, com dois ou três policiais mobilizados.

Essa é dinâmica da segurança pública, em que há polícias complementares. Essa é a

irracionalidade. Por que não adotar o termo circunstanciado da Polícia Militar? Questões de

menor incidência poderiam ser rapidamente encaminhadas a um juízo especial e resolvidas na

mesma hora, sem processo, sem inquérito. Por que o inquérito policial, essa figura medieval

que talvez só exista no Brasil? É um processo totalmente ultrapassado.

Poderíamos trabalhar muito bem com a idéia de duas ou mais Polícias. Nos Estados

Unidos, centenas de Polícias estão submetidas aos Prefeitos, mas em cada uma delas há o

ciclo completo de Polícia.

Podemos definir diferenças de atribuição por gravidade de crimes, enfim, mas a

unificação parece-me risco muito grande. E nesse patamar da discussão, quando envia à

Câmara dos Deputados projeto de lei orgânica da Polícia Civil, o Governo demonstra não ter

nenhum compromisso com o interesse público, Sr. Ministro. Pergunto a V.Exa.: onde está o

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interesse público na proposta apresentada pelo Governo, segundo a qual os Chefes de Polícia

dos Estados devem ser eleitos pelos delegados? Era só o que faltava! Que maravilha!

Imaginem V.Exas. os critérios de eleição, analisando a Polícia Civil brasileira e seus

problemas. Essa realidade parece-me preocupante, tendo em vista esse enorme desafio de

segurança pública.

Por fim, se V.Exa. não considerar abusiva a pergunta, porque ela não tem relação

direta com o tema — já tentei conversar pessoalmente com V.Exa., não foi possível, não tive

oportunidade —, gostaria de saber o que V.Exa. sabe sobre o Projeto Echelon.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Neste momento, passo a palavra à

nobre Deputada Nair Xavier Lobo.

A SRA. DEPUTADA NAIR XAVIER LOBO - Sr. Presidente, Sr. Relator, Sras. e

Srs. Deputados, Ministro Alberto Mendes Cardoso, vou ser muito mais breve do que

pretendia, até porque a Presidência já informou que teve início a Ordem do Dia no plenário, e

quero crer que todos queremos muito mais ouvir do que falar.

Sr. Ministro, sua presença aqui marca um momento ímpar e muito importante da

nossa tarefa. Com a sua exposição, o debate enriqueceu-se muito nesta Comissão. E V.Exa.

pode ter certeza, como disse o nosso Relator, Deputado Alberto Fraga, de que o quorum

aumentou bastante com a sua presença. Isso significa, num primeiro plano, a expectativa de

legisladores e políticos articulados em busca de um modelo ideal de segurança pública para o

nosso País. Entendemos ser V.Exa. excelente interlocutor entre esta Casa, que é do povo e

sofre com os anseios da população no que diz respeito à segurança pública — neste momento

uma das maiores crises da sociedade brasileira —, e o Governo Federal.

Na verdade, todos queremos esse modelo ideal de segurança pública. É um desafio

imenso, já disseram todos os que me antecederam. Na condição de legisladores, aqui

debatemos leis, reformas, PECs, mas na condição de políticos sabemos que urgem, da parte

do Governo, medidas pragmáticas para que possamos vencê-lo.

Antes que esqueça, amanhã esta Casa fará homenagem especial à Polícia Rodoviária

Federal. Tendo em vista que também luto pela segurança pública, devo dizer que existem

pontos factíveis, pragmáticos, que podem ajudar na elaboração do projeto de qualificação e

elevação da auto-estima do policial tão apregoada.

E vou abordá-la num momento bem oportuno. Há poucos dias, em audiência

com o Ministro Martus Tavares, apresentamos reivindicação da categoria: a Gratificação de

Operação Especial, extremamente importante para esses policiais, que são os guardiões das

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nossas estradas. Eles protegem as nossas divisas e as nossas riquezas, verdadeiros anjos da

guarda das estradas, que cumprem missão relevantíssima no campo da segurança pública,

mas não têm ainda a gratificação já obtida pela Polícia Federal e pela Polícia Civil do Distrito

Federal, custeada pelo Governo Federal. E também carece de lei orgânica, assim como as

outras Polícias que conseguiram um plano carreira, mas que pode ser chamado apenas de

plano salarial. Oportunamente, nos seus 72 anos, poderiam conquistar a GOE.

Cito este exemplo para dizer que são muitas as interferências factíveis que o Governo

Federal pode fazer, a fim de melhorar de maneira pragmática a qualificação e a auto-estima

da Polícia.

Apenas para organizar nosso raciocínio no debate, medito muito sobre segurança

pública. Em relação às questões aqui abordadas, ou seja, pensar em segurança pública do

ponto de vista da população e não das corporações, com as quais concordo inteiramente, não

podemos malbaratar os fatos e o nosso raciocínio. Não podemos nunca perder de vista que

atender a população é colocar a seu serviço uma Polícia qualificada. Então, quando cada

Polícia reivindica digna remuneração e qualificação, não está a serviço do corporativismo,

mas da própria população, que a quer qualificada e precisa dela assim.

Não podemos perder de vista esse aspecto. Fazer segurança pública é dar dignidade e

qualificação às Polícias, seja Militar, Civil, Federal, Rodoviária Federal, para que tenham

auto-estima e exerçam sua missão de maneira centrada. Para isso, precisam ser bem

remuneradas, bem qualificadas e conscientes da sua própria missão.

Sr. Ministro, essas são as três observações, não perdendo a oportunidade de fazer um

apelo para que V.Exa. se credencie como nosso interlocutor especial junto ao Governo

Federal. É muito importante para nós. O Presidente, o nobre Relator e outros Parlamentares

disseram que a Comissão ficou muito desprestigiada, muito relegada, usando a expressão da

nobre Relatora, Deputada Zulaiê Cobra, mas V.Exa. pode resgatar o nosso prestígio, neste

momento, com a sua presença, com o apadrinhamento das idéias, na verdade idéias de todos,

para a convergência desse modelo ideal.

Quero ouvir brevemente, se for possível, a opinião de V.Exa. sobre duas outras

questões. Falar sobre segurança pública é tão complexo que podemos retomar nosso

pensamento sobre ética, moral e religiosidade, porque estamos falando do comportamento

humano. Quero saber a opinião de V.Exa. sobre projeto que nunca conseguiu ganhar o

plenário desta Casa porque esbarra no entendimento da Comissão de Constituição e Justiça e

de Redação de que fere uma cláusula pétrea. Refiro-me à revisão da maioridade penal. V.Exa

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tem posição formada sobre isso? Se tem, qual é sua posição, tendo em vista que a

delinqüência dos menores é crescente, comprovada estatisticamente?

Outra questão, também polêmica, diz respeito ao conceito do sistema prisional do

nosso País, muito criticado, e com razões. O que V.Exa. pensa sobre os presídios agrícolas?

Do ponto de vista dos psicólogos, a recuperação do delinqüente passa muito pela recuperação

da sua auto-estima. O nosso País continental, de vocação muito agrícola, tem esbarrado no

entendimento de alguns doutos pensadores e formuladores de políticas, segundo o qual o

preso precisa ficar no centro urbano, porque ao se recuperar precisa de emprego na cidade.

Então, o preso não pode ser recuperado em presídio agrícola. Enfim, encerra-se polêmica

muito grande, porque uma corrente defende que a própria lide do campo pode recuperá-lo. E

lá mesmo pode aprender ofícios a serem aproveitados em centros urbanos, a exemplo de

marcenaria.

Estamos buscando de todas as formas, tanto no campo na formulação de políticas, da

priorização de recursos, quanto na função legiferante, todos os meios para inaugurar nova

época de segurança pública e de proteção ao cidadão brasileiro.

Saúdo mais uma vez V.Exa., Sr. Ministro, e parabenizo-o pelas palavras, sem

esquecer que o ponto principal é que V.Exa está credenciado para se tornar nosso interlocutor

privilegiado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Com a palavra o nobre Deputado

Abelardo Lupion.

O SR. DEPUTADO ABELARDO LUPION - Sr. Presidente, Sr. Relator, Ministro

Alberto Mendes Cardoso, durante três Legislaturas tenho participado de discussões sobre

segurança pública nesta Casa. Até hoje não conseguimos chegar efetivamente a nenhuma

conclusão concreta a respeito do assunto.

Concordo com a Deputada Nair Xavier Lobo quando diz que falta interlocução.

Também penso que as ações são praticadas na base da emergência. Muda o Ministro, muda o

enfoque. Acontece um fato em tal lugar, o Governo toma providências para dar satisfação à

sociedade, mas infelizmente não temos conseguido elaborar uma lei de segurança pública

para o País.

Ouvi muito na minha casa um velho ditado, qual seja: em casa que não tem pão todos

brigam e ninguém tem razão. Essa é a segurança brasileira. Nunca demos à segurança pública

a devida importância. A segurança pública, que depois de um descaso de décadas é apontada

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em todas as pesquisas como o direito mais importante do cidadão, sempre foi relegada a

segundo plano, impedindo-nos de fazer algo para resolver os problemas dela decorrentes.

Os fatos nos atropelaram, e temos de decidir. Não podemos terminar mais uma

Legislatura sem uma decisão. Em grande parte, é nossa a culpa, ou seja, o Poder Legislativo

nunca teve coragem de legislar, de cumprir sua função. Fazemos discussões menores, ficamos

preocupados com esse ou aquele adendo aos projetos, defendemos o que acreditamos, é bem

verdade, mas nunca globalizamos a discussão. Ou os Três Poderes tomam para si a

responsabilidade de criar uma nova segurança pública, sem emergências, dando aos Estados o

que lhes competem — porque legislamos para uma unidade federativa, o que serve para o

Paraná não serve para o Rio de Janeiro e vice-versa —, ou vamos nos frustrar novamente.

Apresentei vários projetos nesta Casa: sobre o Fundo Nacional de Segurança, que o

Governo está adotando; o Juizado de Instrução, que, no nosso entendimento, realmente seria a

solução para as penas alternativas, desburocratizando os pequenos crimes; e a Guarda

Nacional, para atuar nas situações mais complexas, quando as forças constituídas não

pudessem estar presentes.

Sr. Ministro, acredito que deve haver consenso em torno desse trabalho. Há muito

dissensos menores na Casa, que não afetam o cidadão. Quanto ao ciclo completo de Polícia, à

desmilitarização, ao porte de armas, isso tudo só vai funcionar se houver uma linha mestra,

baseada em desfazer de vez por todas o grande nó górdio da segurança brasileira: falta de

recursos e de importância.

O Estado deve oferecer salários dignos e equipamentos, aumentar o efetivo, reformar

penitenciárias. O resto vamos resolver, porque as discussões são menores. Podemos encontrar

meios e chegar a denominadores comuns. Podemos partir para certas discussões aqui, até hoje

consideradas tabu, mas não podemos continuar sendo cobrados pela mídia.

Sua função, Ministro, como disse a Deputada Nair Xavier Lobo, é de extrema

importância. V.Exa. teve noção do conhecimento de alguns dos membros desta Casa sobre

segurança pública. Uns dedicaram suas vidas à segurança pública. E temos a capacidade de

saber o que se passa nas ruas, pois representamos a população.

O pior atropelo é a demagogia, é pautar nossas ações por crises setoriais e localizadas.

Nesse caso, na hora em que tivermos de fazer discurso para as ruas, não vamos resolver

absolutamente nada. E o Sr. Ministro, pelo muito que o conheço e o respeito, tem isenção e

capacidade necessárias para exercer essa interlocução. Não vou cair na mesmice, porque

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os que me antecederam já encararam de forma extremamente objetiva todos os assuntos

pertinentes a esta reunião.

Desejo a V.Exa. muita sorte e que, junto conosco — a Casa que tem a função de

legislar —, possa criar um grande projeto para o País, porque, num próximo mandato, se para

cá o povo do Paraná me enviar, tiver de sentar para participar de novas discussões sobre

segurança pública, sem chegar a lugar nenhum, vou sentir-me muito frustrado. Nesta

Legislatura temos a obrigação de produzir uma legislação eficiente, sob pena de, amanhã ou

depois, darmos satisfação àqueles que nos elegem.

É óbvio que todos aqui temos princípios, acreditamos nas nossas causas e brigamos

por elas. Mas, antes de tudo, precisamos brigar pela estrutura, por um grande projeto que

possa fazer com que cada um de nós dê sua contribuição. No entanto, dependemos de

recursos e condições para a criação da nova segurança brasileira.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Com a palavra o nobre Deputado

Luiz Antonio Fleury.

O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr.

Ministro, Sras. e Srs. Deputados, antes de mais nada, cumprimento o Sr. Ministro, Gen.

Alberto Cardoso, que nos honra com sua presença nesta Casa.

Toda vez em que se fala em melhorar segurança, fala-se em mudar o Código Penal.

Nosso problema é muito mais processual do que penal. Quando se fala de segurança, não

significa só Polícia. Segurança pressupõe, em primeiro lugar, legislação adequada — e a

nossa é de 1940. Alguns cidades brasileiras não aceitam ainda a folha de antecedentes via

e-mail, porque falta a assinatura do escrivão para autenticá-la — o Código obriga a isso. O

apego que herdamos ao papel, e falo como descendente de portugueses, impede-nos de

estabelecer muitas vezes uma Justiça rápida. Ditados populares dizem que o que não está nos

autos não está no mundo. Devemos buscar, neste século da informação, adaptar-nos a essa

nova realidade.

A Lei de Execução Penal, de 1984, é próxima do ideal para a Suíça, não para o Brasil.

Por que ela não surtiu resultados? Antes de mais nada, deixo claro que sou favorável à

aplicação de penas alternativas para os crimes mais leves, só que a prisão-albergue se

transformou no Brasil em albergue domiciliar. Vejam V.Exas.: recordo-me de que, antes da

modificação de 1984, em várias cidades do interior de São Paulo, entidades da sociedade civil

mantinham casas de albergados. Veio a Lei de Execução Penal obrigando o Poder Público a

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assumi-las. Resultado: elas desapareceram. Com isso, a prisão-albergue passou a ser

prisão-albergue domiciliar.

Prisão-albergue domiciliar é o sistema em que vivemos, todos aqui: saímos de casa

para trabalhar e voltamos para as grades das nossas casas, porque cada vez temos mais medo

de deixá-las. A única diferença é a fiscalização: se algum de nós chegar mais tarde em casa,

pode levar bronca. Na prisão-albergue domiciliar não existe fiscalização, em hipótese alguma.

Então, ela foi desmoralizada.

Há uma pena, que não me recordo ter visto ser aplicada nos meus vinte anos de

Ministério Público, prevista na Lei de Execução Penal: a limitação de final de semana. Ela

tem de ser cumprida na casa do albergado, onde o preso de final de semana ficaria sujeito a

palestras educativas. Talvez algumas sejam realmente uma grande punição, Sr. Ministro, mas

nem isso se consegue.

Na verdade, nosso problema não é tanto modificar o Código Penal — e mais uma vez

se vai cometer um erro —, mas a legislação processual. Daqui a pouco, vamos apreciar a

proibição de venda de fumo. Por que a pessoa fuma, sabendo que faz mal? Porque a punição

não é imediata, e ela acredita na impunidade.

(Intervenção inaudível.)

O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - De forma alguma. Espero que

lhe bata a consciência antes da punição, Deputado José Genoíno, a fim de que V.Exa. deixe

de fumar, fazendo-nos contar sempre com sua presença e, principalmente, sua inteligência.

Em nome dela, eu lhe peço: pare de fumar.

O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - Obrigado.

O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - De qualquer forma, a crença na

impunidade do fumante é a mesma que leva à prática dos pequenos delitos, e ela se alarga.

Hoje, os pequenos delitos nem chegam a ser investigados; há uma seleção daquilo que tem de

ser ou não punido. Por que nos arriscamos, muitas vezes, a praticar infrações de trânsito,

apesar das multas pesadas? Porque só vamos pagar multa no licenciamento do veículo, ou

noventa dias depois.

O que quero dizer com isso, Sr. Ministro? Que enquanto não tivermos a Justiça

funcionando 24 horas, enquanto não tivermos a punição imediata dos pequenos delitos, os

grandes delitos também terão sua apuração dificultada. As delegacias de polícia

transformaram-se hoje em grandes locais de registro de ocorrências, meramente estatístico,

porque lesões corporais leves, lesões corporais culposas, furto de pequeno valor, não se

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investigam, não se punem mais nas grandes cidades; existem crimes mais graves. É a

primeira observação que faço.

Outro dado importante: quantos homens são desviados da sua função policial hoje

para cuidar do turismo de presos que existe no País? Nossa legislação obriga a presença do

preso em todas as audiências; conseqüentemente, escolta e transporte, em plena época de

Internet. É claro que o Código Penal necessita de modificações, mas, se não mudarmos a

legislação processual, vamos continuar patinando.

Ao lado de uma legislação adequada, precisamos de uma Polícia eficiente. Essa

discussão sobre unificação de Polícias parece-me absolutamente inadequada para este

momento. Concordo com o Deputado José Genoíno: que se dê maior liberdade para que

Estados e Municípios se organizem em termos de segurança. Mas devemos ter um comando

único operacional.

Sr. Ministro, temos de ter formação adequada e garantia de atuação para os policiais.

Estamos no século da informação. Hoje um cidadão pode ser considerado honestíssimo num

Estado e quadrilheiro em outro, e não há troca de informações para que se tenha

conhecimento disso. Necessitamos de informações adequadas e meios de ação. Ao lado das

duas premissas de legislação adequada e Polícia eficiente, precisamos de uma Justiça rápida

e, terminando o ciclo, sistema prisional.

Discordo em parte do Deputado Marcos Rolim, quando fala que, de cada cem

processados no Brasil, 98 recebem penas privativas de liberdade. Precisamos ver a gravidade

da infração praticada, porque hoje só é processado quem pratica infração grave. As leves,

como já disse, são deixadas em segundo plano. Há números assustadores.

Não gosto muito de usar números, porque, às vezes, não representam a realidade, nem

sempre são confiáveis. Mas no ano passado um relatório deixou-me extremamente

preocupado: dos crimes de autoria desconhecida no Estado de São Paulo, só 2% — 2% —

foram esclarecidos e levados a julgamento. Quando se expande uma coletividade, temos de

construir mais escolas para dar atendimento escolar cada vez melhor, mais hospitais e,

infelizmente, mais presídios.

Estou vendo a preocupação do Sr. Presidente, vou procurar ser rápido, mas parece-me,

Sr. Ministro, que nesse Plano Nacional de Segurança Pública não há medidas de prevenção

social.

Talvez os Srs. Deputados se recordem da Favela Heliópolis, de onde de duzentos a

trezentos moradores foram despejados por traficantes de entorpecentes. Essa favela formou-se

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num terreno em que, até 1994, havia um circo-escola para atender as crianças carentes da

comunidade. Houve grande protesto quando o magnífico programa do Governador Cristovam

Buarque, o Bolsa-Escola, premiado pela Organização das Nações Unidas, foi desativado.

Dois programas sociais nossos, também considerados modelo, foram desativados em São

Paulo: um de assistência ao menor carente, outro, de prevenção ao uso indevido de drogas.

Não basta campanha, ela passa. Temos de ter um programa nacional permanente de

prevenção ao uso indevido de drogas, envolvendo a sociedade e vários órgãos do Governo.

Falou-se em falta de recursos, concordo plenamente, mas é preciso ver também que

nem sempre são bem utilizados. Queira Deus que o Ministro da Justiça não esteja recebendo

dos Governadores tão-somente pedidos de verbas para a compra de viaturas, que aparecem na

véspera das eleições. No centro de São Paulo, a maior cidade do País, existe um rádio para

cada 27 policiais. Como o policial pode trabalhar a pé, se não tem rádio de comunicação?

Foram compradas quinze novas viaturas — tínhamos 22 operando no Centro da

Capital. Mas não ficaram 37 em funcionamento: tiraram as 22 velhas e puseram só as quinze

novas. Diminuiu o policiamento! Mas compraram carros automáticos, caríssimos, Vectras

CD, para possibilitar que o homem trabalhe sozinho. Só que o efetivo, em 1989, quando eu

era Secretario de Segurança, era de 458 homens; hoje, é de 250, e está diminuindo.

Sr. Ministro, não me quero alongar. São importantes recursos para a segurança, mas

precisam ser bem empregados, e muito bem empregados. Não adianta só comprar viaturas,

colocá-las tocando sirene o tempo inteiro, porque só cria estresse no policial que está dentro

dela e não resolve a situação. Há outras questões relevantes também.

Para encerrar, gostaria de fazer duas observações. A primeira é que a Polícia

Científica é fundamental. Em São Paulo criou-se a Superintendência de Polícia Científica,

desvinculada da Polícia Civil. Só que não se alocou a verba necessária. Dos cinco postos do

Instituto Médico Legal que descentralizamos para atender a toda a cidade, só há um

funcionando nos finais de semana. Com a descentralização do atendimento da Polícia Civil, a

Polícia está encerrando o expediente às 19h por falta de efetivo.

O que quero dizer com isso é que tanto faz desvincular a Polícia Cientifica ou não da

Polícia Civil. O que interessa é que se dêem recursos à segurança e que sejam bem utilizados,

para que tenhamos uma investigação científica. Que se analise o que cada um dos Estados

está querendo. É muito fácil comprar viaturas e colocá-las na rua. Isso produz efeito político,

mas não resolve o problema de segurança.

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Para encerrar, Sr. Ministro, gostaria de dizer que lamento ver nos jornais que mais

uma vez se fala em acelerar a votação do chamado projeto da Lei de Armas, no Senado

Federal. Na minha opinião, ele não poderia nem tramitar, porque é cópia idêntica de outro

enviado pelo Executivo, que se encontra nesta Casa. Ele teve como Relator o Deputado

Alberto Fraga e está na Comissão de Constituição e Justiça, onde meu relatório já está pronto.

E não foi discutido até hoje porque o Sr. Ministro da Justiça solicitou que suspendêssemos

sua discussão para nos reunirmos com os Relatores do Senado e da Câmara, a fim de

chegarmos a um texto de consenso, já que meu substitutivo, na linha do substitutivo do

Deputado Alberto Fraga, difere completamente do que está sendo apreciado, que tem como

Relatores os Senadores Renan Calheiros e Pedro Piva, se não me falha a memória.

Interrompemos a discussão aqui, e fomos surpreendidos com a rapidez com que esse

projeto, irregularmente, está tramitando, porque não podemos ter duas proposições idênticas

tramitando no Congresso Nacional, principalmente quando uma partiu do Governo.

O que está acontecendo hoje, e peço a V.Exa. que transmita essa informação ao Sr.

Presidente da República, é que o projeto que S.Exa. assinou é o que está aqui, não o que está

lá. Se for dar urgência à tramitação, tem de ser ao que está na Casa, porque aquele corre sério

risco de ser impugnado, em razão de sua tramitação irregular. O desta Casa está pronto para

ser discutido há meses, e nós, atendendo a um pedido do Sr. Ministro da Justiça,

interrompemos sua discussão. Não cheguei a ler meu relatório, porque haveria uma reunião

para tratar do assunto. Mas estou cansado de esperar por ela, Sr. Ministro, e vejo hoje que o

Presidente da República vai acelerar a votação do projeto que tramita no Senado Federal e

não a do nosso, que, pelo jeito, se esqueceu que assinou.

Muito obrigado, Sr. Ministro.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Neste momento, concedo a palavra

ao Exmo. Sr. Ministro Alberto Cardoso, para responder às perguntas apresentadas pelos

nobres Deputados.

O SR. MINISTRO ALBERTO MENDES CARDOSO - Agradeço aos Srs.

Deputados as idéias e sugestões apresentadas, que tive oportunidade de anotar, assim como as

perguntas que me foram feitas.

Alguns desses questionamentos não dizem respeito diretamente a minha competência

de atribuições. Mas aquilo de que eu tiver conhecimento para responder, responderei; o que

eu não puder, vou consultar os titulares das atribuições e o farei posteriormente a cada um dos

senhores que formularam as perguntas.

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Já havia respondido a alguns dos Srs. Parlamentares. Mas deixei de fazê-lo a partir da

Deputada Zulaiê Cobra, que apresentou muitas idéias, devidamente anotadas por mim, entre

elas uma fantástica, relativa aos bilhões que todos gostaríamos de ter. S.Exa. não está apenas

falando nos recursos parcos comparados à grandiosidade que o problema requer. Mas destaca

a importância do problema e como ele tem de ser enfrentado. Tenho certeza de que os

esforços que está fazendo o Poder Executivo vão carrear mais meios para o Fundo Nacional

de Segurança Pública nos anos subseqüentes.

A Deputada sugeriu, ainda, a retirada da PEC nº 514. O Presidente da República, no

entanto, hoje de manhã, sugeriu que fosse discutida e aperfeiçoada, se for o caso.

Destacou muito a necessidade de transição entre o estado atual de coisas e a

unificação futura das Polícias, transição que passa necessariamente pela integração. Há idéias,

como vimos, contra a unificação. Nas palavras iniciais, sugeri que não se tenha,

aprioristicamente, opinião formada sobre a necessidade de unificar ou não; que se integre

operacionalmente e se observe o resultado da experiência. Para ter validade essa observação,

é preciso cinco anos, no mínimo, imagino, normalmente o prazo de validação das idéias mais

profundas.

Destacou o aspecto da Previdência Social, que tem de ser especial para os policiais,

com o que há absoluta concordância.

Falou no controle externo das Polícias, do qual somos adeptos para qualquer órgão

governamental, ainda que fique pela metade, segundo desejo do Gen. Genoíno. (Risos.)

V.Exa. viu que foi ato falho, não?

O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - Isso para mim não é desonra, Gen. Alberto

Cardoso! (Risos.)

O SR. MINISTRO ALBERTO MENDES CARDOSO - Na ausência do

Marechal-de-Campo Cobra, há o Gen. Genoíno.

Isso foi até o que propusemos, e foi muito discutido, no que diz respeito

à inteligência. Logicamente não agradou a todas as vontades controle maior ou menor. Mas

há o controle, que se aperfeiçoa ao longo do tempo. Não sou cronologista, mas sei que o

tempo é realmente o melhor aliado de todos os que o saibam utilizar.

Em seguida, vem a pergunta do General... do Deputado José Genoíno. Desculpe-me,

Deputado.

O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - Não é preciso pedir-me desculpas, Gen.

Alberto Cardoso. (Risos.)

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O SR. MINISTRO ALBERTO MENDES CARDOSO - S.Exa. também apresentou

idéias, todas anotadas, com as quais temos muitas concordâncias. Também achamos que na

Constituição Federal devem estar apenas as idéias básicas, grandes linhas. Concordamos com

isso.

Sugeriu que haja uma lei orgânica policial única não corporativista. Não sei se é

possível, mas penso que as leis que vierem a existir devem ser compatibilizadas, sem

beneficiar o corporativismo, no sentido negativo da palavra.

Tratou, ainda, do subsistema de inteligência de segurança pública, dizendo que houve

mistura entre inteligência militar e inteligência de segurança pública, inteligência de Estado.

Na realidade, há, no Conselho, representantes do Ministério da Defesa; não há da inteligência

militar. Por quê? Porque há previsão constitucional de as Forças Armadas, em situações

extremas, serem empregadas na segurança pública. Há necessidade de o acompanhamento à

inteligência ser feita por órgão que eventualmente possa vir a ser empregado. É essa apenas a

idéia. Não se trata de ali aplicar a inteligência militar.

Destacou muito S.Exa. que se deve ter a mentalidade de segurança da sociedade e do

cidadão, e não do Estado. Esse é um enfoque fundamental a ser dado, inclusive do Deputado

Marcos Rolim. A segurança pública deve estar voltada para a defesa do cidadão e a garantia

dos seus direitos, cobrando deveres de quem escapa dos seus limites de direitos. Também são

idéias básicas, com as quais há plena concordância, inclusive, posso afirmar com relação a

esse aspecto, do Presidente da República.

O Sr. Deputado Marcos Rolim também apresentou excepcionais idéias, todas

anotadas. Mais uma vez, falou-se em segurança da sociedade, e não do Estado. Até na

inteligência, por exemplo — permitam-me mais uma vez mencionar —, todo o pessoal

implantou a mentalidade de que se trata não de inteligência para a segurança do Estado

apenas, mas do Estado e da sociedade, sempre frisando que a segurança do Estado tem de

estar coadunada com aquilo que diz respeito à segurança da sociedade, porque é para ela que

vive o Estado e pela sociedade ela foi organizada.

Mais uma vez, tratou-se da idéia de segurança pública sem corporativismo, com a

qual há absoluta concordância, novamente, e da introdução da mentalidade de que segurança

pública não é para a garantia da lei e da ordem. Mais uma vez há concordância, inclusive com

minhas palavras iniciais, em que procurei mostrar, nos fundamentos que sugeri, que o

principal de tudo é que a segurança pública é um instrumento dos direitos humanos.

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Modelos penais e penas alternativas foram temas destacados por S.Exa. São idéias

básicas que também apresentamos nas nossas discussões. Que as penas alternativas sejam

aplicadas não com o intuito de esvaziar os presídios ou impedir superlotação, o que seria uma

decorrência, idealizadas e aplicadas de acordo com a pessoa do criminoso e com a natureza

do crime.

Quanto à planilha para o fundo, o Deputado fez uma crítica, vamos dizer, setorial. Até

por falha nossa, V.Exas. não têm a planilha completa que é utilizada para a análise dos

projetos dos Estados a serem beneficiados com recursos do fundo. Comprometo-me a

providenciá-la. Pedirei ao Ministro da Justiça que a envie para cá.

Sobre o projeto do Código Penal, foi anotada a idéia de redução de um sexto para um

terço da pena, que é temerária. Desculpe-me, Deputado, V.Exa fez menção ao "seu" Governo

apontando para mim, mas é nosso, eleito pelo povo, democraticamente. É lógico que há

oposição, mas é nosso Governo. (Risos.)

O SR. DEPUTADO MARCOS ROLIM - Fazer o quê?

O SR. MINISTRO ALBERTO MENDES CARDOSO - Tem de responder. Temos

de pensar sempre que o Governo, como Estado, tem três funções, uma delas a executiva. Há,

ainda, a legislativa e a judiciária. Nessa composição do Governo, que é um segmento da vida

do Estado, temos todos de, mesmo na oposição, cooperar para que ele dê certo, porque é o

Governo de todos nós.

O SR. DEPUTADO MARCOS ROLIM - De pleno acordo, Sr. Ministro. Apenas me

referi ao ponto de vista administrativo, já que V.Exa. integra o Governo.

O SR. MINISTRO ALBERTO MENDES CARDOSO - Obrigado, Deputado.

O PT é contra a unificação. Repito a sugestão de dar ao tempo a condição de ser o

instrumento de observação da integração, para vermos se depois é necessária a unificação ou

não.

O SR. DEPUTADO MARCOS ROLIM - Sr. Ministro, o PT, na verdade, não tem

posição definida sobre o assunto. Estamos em debate, talvez a posição da maioria seja até a

favor da unificação.

O SR. MINISTRO ALBERTO MENDES CARDOSO - O Governo tem, sim,

compromisso com o interesse público. O Plano Nacional de Segurança Pública é uma

demonstração disso, preparado para enfrentar uma emergência, elaborado com urgência,

ainda que com estudo bastante profundo. Alguns aqui presentes foram ouvidos por nós.

Menciono os Deputados Luiz Antonio Fleury, Alberto Fraga, de quem já conhecia a opinião

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por tê-lo recebido, e Aldir Cabral, que colaborou com idéias. O Deputado José Genoíno, que

já não se encontra mais aqui presente, de quem conheço sobejamente as idéias, não foi ouvido

especificamente pelo grupo, mas suas idéias, sim, e muitas foram aproveitadas.

Sobre o Projeto Echelon, é assunto da área da inteligência, que infelizmente não posso

comentar publicamente com V.Exas. Talvez em algum momento possamos discuti-lo

pessoalmente.

A Sra. Deputada Nair Xavier Lobo fez justa referência à Polícia Rodoviária Federal,

órgão de que sou grande admirador. Quanto mais trabalhamos com ela nas emergências e

crises — temos um gabinete de gerenciamento de crises —, mais admiramos seu trabalho. E

temos visto com muita satisfação o trabalho integrado da Polícia Rodoviária Federal com a

Polícia Federal. É justa homenagem que S.Exa. presta.

Honrou-me a idéia de ser o representante do Executivo no Legislativo, nesta

oportunidade. Na minha humilde disponibilidade, estou pronto a vir todas as vezes que for

chamado, mas quem designa o interlocutor é o Sr. Presidente da República. Sempre que

convocado, terei o máximo prazer em vir a este Poder. Obrigado, Deputada.

V.Exa. pergunta minha idéia sobre revisão da maioridade penal. Realmente, não tenho

opinião formada. Tenho visto muitos criminosos frios com 16, 14, 12 anos. Se formos

descendo a idade, acabaremos chegando à garotada que chefia quadrilha no Rio de Janeiro

com 12 anos de idade. Há que se pensar em termos de penas alternativas para a juventude, e

não simplesmente as aplicadas a adultos, na responsabilidade dos pais ou responsáveis.

Sistema prisional. Tenho opinião formada, favorável, a presídios agrícolas, porque é

uma forma de se trabalhar a preparação do apenado para a reinserção social. Digo mais: sou

favorável a se articular essas penas em presídios agrícolas com política de reforma agrária, de

maneira que o apenado, ao cumprir sua pena, ou mesmo a partir de determinado momento

dela, de acordo com observações sobre ele, possa receber um pedaço de terra para trabalhá-la.

Vamos entrar na última página de questionamentos. O Deputado Abelardo Lupion

praticamente fez uma apresentação de idéias. Há uma frase dita por S.Exa. que anotei: "Nós,

Estado brasileiro, devemos enfrentar o problema". Realmente, referi-me, no início de minhas

palavras, que é o momento de fazermos história, porque há um clamor derivado de um

problema seriíssimo, que todos conhecemos: a violência e as decorrências em relação à

segurança pública. S.Exa. disse que o nó górdio é a falta de verba. Todos concordamos.

Realmente há que se criar recursos para isso, e o Governo Federal vem trabalhando nesse

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sentido. O pior atropelo é o da demagogia, expressão utilizada pelo Sr. Deputado, e em todos

os sentidos ela.

O Sr. Deputado Luiz Antonio Fleury apresentou muitas idéias; algumas havíamos

discutido na ocasião da elaboração do plano. Disse S.Exa. que o Plano Nacional de Segurança

Pública deve prever ações de prevenção social. Há medidas de ação social previstas em

projeto-piloto, em pleno desenvolvimento de integração das ações sociais desenvolvidas no

Entorno de Brasília, com resultado parcial que nos dá esperança muito grande e subsídios

para a aplicação em São Paulo — parte-se para lá. Já houve uma primeira discussão da Dra.

Vanda com o Ministro da Justiça, com um assessor do Gabinete de Segurança Institucional e

com o Governador Mário Covas. Pretende-se, sim, fazer paralelismos entre ações específicas

de segurança pública e na área social.

Cito o exemplo do ex-polígono da maconha, lembrado pelo Deputado Gonzaga

Patriota, quando fizemos operação militar e policial, depois só policial, tudo isso

coadjuvando — é a expressão correta — o Projeto Moxotó-Pajeú, do Banco do Nordeste,

realmente o projeto estruturante na área.

Não há perguntas que S.Exa. tenha feito. S.Exa. lançou idéias. Tenham certeza as

Sras. e Srs. Deputados que lançaram idéias, algumas das quais não estão na minha área, que

todas serão levadas aos destinos competentes.

Não sei se posso, desde já, agradecer-lhe e despedir-me, Sr. Presidente. Renovo o

agradecimento pela convocação. Reitero que toda vez que for chamado, aqui virei. Tenho

muita honra de poder ser um dos muitos canais de comunicação entre o Poderes Executivo e

Legislativo.

A SRA. DEPUTADA NAIR XAVIER LOBO - Sr. Ministro, permita-me falar antes

de V.Exa. concluir, e com a licença do nosso Presidente, para não perder a oportunidade.

V.Exa., ao me responder, não abordou a questão da GOE. Insisto no questionamento porque é

uma oportunidade de V.Exa., exercendo essa interlocução, aproveitando os 72 anos da Polícia

Rodoviária Federal e reconhecendo o importante trabalho por ela desenvolvido, aceitar

advogar a GOE.

Já há um trabalho objetivo de união das nossas forças de Governo, dos Poderes

Legislativo, Executivo e Judiciário. Pergunto objetivamente se o Ministro aceita advogar a

GOE para que essa Polícia possa então levantar sua auto-estima e recebê-la, aos seus 72 anos,

pela menos a justiça de ter, assim como a Polícia Federal. V.Exa. seria um excelente

interlocutor e advogado, neste momento, para esses policiais.

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O SR. MINISTRO ALBERTO MENDES CARDOSO - Sra. Deputada, realmente

saltei a resposta. Sou um dos advogados da GOE já há alguns meses. Tenho a honra de ver

dirigindo a Polícia Rodoviária Federal um amigo de infância que, tão logo assumiu, me

trouxe o problema. A partir daí, não pela amizade, mas pelo valor da instituição, tenho sido

um dos seus advogados.

Para terminar a despedida, ficam o agradecimento reiterado, minha disponibilidade

permanente e, permitam-me, o elogio a esta iniciativa do Poder Legislativo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Sr. Ministro, finalizando esta

reunião, digo a V.Exa. que a cada vinda sua a esta Casa é desmistificado todo e qualquer

preconceito contra V.Exa., em razão do cargo que ocupa. Reiterando as palavras da Deputada

Nair Xavier Lobo, realmente V.Exa. tem todas as condições.

O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - Sr. Presidente, suas palavras representam a

Comissão. A postura do Sr. Ministro, quando vem aqui dialogar pacientemente, reafirma o

apoio que dou a V.Exa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Aldir Cabral) - Obrigado, Deputado José Genoíno.

Concluindo, Sr. Ministro, a cada vinda sua aqui, V.Exa. desmistifica e consegue, pelo

contrário, o apoio da Comissão. Fica o pedido de sua interlocução junto ao Presidente da

República e ao Ministro da Justiça, para que, como pilares da segurança pública neste País,

possam ajudar esta Casa e a Nação.

O tempo passa, mas a história fica, e temos oportunidade de fazer história, neste

momento, para mudar o conceito e o modelo de segurança pública, construindo um Brasil

mais justo e melhor para nossos filhos e netos.

Agradeço a V.Exa., aos Srs. Parlamentares e demais convidados a presença.

Está encerrada a reunião.

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