cÂmara dos deputados - detaq redaÇÃo final … · não havendo quem queira discuti-la, ......

38
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICO EVENTO: Audiência pública Nº: 0854/00 DATA: 09/08/00 INÍCIO: 15h3min TÉRMINO: 16h55min DURAÇÃO: 1h49min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 1h57min PÁGINAS: 39 QUARTOS: 12 REVISÃO: MARIA TERESA, ZILFA SUPERVISÃO: ZUZU, LETÍCIA CONCATENAÇÃO: AMANDA DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO FERNANDO NERY - Diretor da Associação das Empresas Brasileiras de Software e Serviços de Informática — ASSESPRO. ROGÉRIO VIANNA - Coordenador-Geral de Comércio Eletrônico do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. PEDRO LUIZ CÉSAR BEZERRA - Coordenador de Tecnologia, da Receita Federal. SUMÁRIO: Considerações sobre fatura eletrônica e assinatura digital nas transações de comércio eletrônico. OBSERVAÇÕES Oncitral(?) - pág. 15 Não foi possível conferir a grafia da palavra acima citada. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Nome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICO Número: 0854/00 Data: 09/08/00

Upload: lykhue

Post on 22-Dec-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICOEVENTO: Audiência pública Nº: 0854/00 DATA: 09/08/00INÍCIO: 15h3min TÉRMINO: 16h55min DURAÇÃO: 1h49minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 1h57min PÁGINAS: 39 QUARTOS: 12REVISÃO: MARIA TERESA, ZILFA SUPERVISÃO: ZUZU, LETÍCIACONCATENAÇÃO: AMANDA

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

FERNANDO NERY - Diretor da Associação das Empresas Brasileiras de Software e Serviçosde Informática — ASSESPRO.ROGÉRIO VIANNA - Coordenador-Geral de Comércio Eletrônico do Ministério doDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.PEDRO LUIZ CÉSAR BEZERRA - Coordenador de Tecnologia, da Receita Federal.

SUMÁRIO: Considerações sobre fatura eletrônica e assinatura digital nas transações decomércio eletrônico.

OBSERVAÇÕES

Oncitral(?) - pág. 15Não foi possível conferir a grafia da palavra acima citada.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Declaro aberta a

presente reunião de audiência pública.

Convido o nobre Relator, Deputado Julio Semeghini, a tomar assento à

mesa.

Devido à distribuição antecipada de cópias da ata da 5ª reunião a todos os

membros presentes, indago da necessidade de sua leitura. (Pausa.)

O SR. DEPUTADO JULIO SEMEGHINI - Sr. Presidente, solicito a V.Exa. a

dispensa da leitura da ata.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Está dispensada a

leitura da ata, que coloco em discussão. (Pausa.)

Não havendo quem queira discuti-la, em votação.

Os Deputados que a aprovam permaneçam como estão. (Pausa.)

Aprovada.

Há, sobre a mesa, correspondência da Terceira-Secretaria comunicando a

licença do Deputado Emerson Kapaz para tratar de assuntos de interesse

particular. É o que consta do item 3 da nossa pauta.

Ordem do Dia: Audiência pública com o Dr. Fernando Nery, Diretor da

ASSESPRO; Dr. Rogério Vianna, Coordenador-Geral de Comércio Eletrônico, do

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e Dr. Pedro Luiz

César Bezerra, Coordenador de Tecnologia, da Receita Federal.

Não sei se já estão todos presentes.

Também foi convidado o Dr. Saulo Lemos Pinto, Secretário da Secretaria de

Logística e Tecnologia da Informação, do Ministério do Planejamento, Orçamento e

Gestão. No entanto, S.Sa. comunicou que não poderá estar presente.

Convido os nossos palestrantes a tomarem assento à mesa.

Comunico aos nossos convidados que cada um disporá de 20 minutos para

a exposição, não podendo ser aparteados durante esse período. Os Srs. Deputados

interessados em interpelar os convidados deverão inscrever-se previamente junto

à Secretaria, tendo preferência os membros da Comissão.

Concedo a palavra ao Relator, nobre Deputado Julio Semeghini.

O SR. DEPUTADO JULIO SEMEGHINI - Sr. Presidente, alguns Deputados

perguntam sobre a próxima audiência pública porque sairão mais cedo desta

reunião.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

1

No próximo dia 22 haverá a última audiência pública programada pela

Comissão, para a qual serão convidadas pessoas relacionadas a atividades da

iniciativa privada, dado que hoje estão as do Governo, que já foram apresentadas.

Para o dia 22 serão convidados o Dr. Odécio Grégio, do BRADESCO, que

cuidou desse sistema de implantação e fará uma explanação sobre o sistema

financeiro, que já tem utilizado bastante o comércio eletrônico. O Dr. Odécio

apresentará dados práticos sobre volume, as maiores dificuldades, o que falta em

termos de legislação e pontos críticos do processo.

Estarão também a Maria Inês, do PROCON, representando todos os

PROCONs do Brasil; o representante do UOL, Dr. Caio Túlio Costa, que tem sido

um grande portal, tem uma visão maior da tecnologia e da organização do

processo; a representante do Pão de Açúcar, Dra. Juliana Behring, que também

está na ponta, com uma visão direta do usuário, e também o Sr. Marcelo Balona,

representante do Submarino.

Sabemos que não estão sendo convidados outros grandes portais ou outras

empresas que já utilizam bastante o comércio eletrônico. Mas a nossa idéia não é

atender a todos, mas ter uma amostragem com experiências diferentes. Essas

pessoas não têm uma posição política de interesses; elas têm a visão prática de um

Pão de Açúcar, de quem fala direto com o consumidor e contrata o serviço de um

grande portal.

Se algum Deputado ainda fizer questão de convidar alguém ou achar que

esses convidados não representam totalmente o dia-a-dia da iniciativa privada, nós

estamos à disposição para ouvir outras sugestões. Caso contrário, esses serão os

convidados. Por orientação do Presidente Michel Temer, nós devemos informar à

Comissão e aprovar o nome desses convidados, inclusive sob a sua coordenação.

Então, nós só estamos divulgando os nomes. Essas pessoas já estão sendo

convidadas. Se algum Deputado quiser fazer mais alguma sugestão, deverá

encaminhá-la para a nossa Secretaria.

Além disso, alguns Deputados estão cobrando uma reunião de trabalho para

uniformizar as informações de que já dispomos etc. Conversaremos com os nossos

assessores e também com outra pessoa que nos dará um apoio na parte de

imprensa, faremos um resumo de tudo o que foi apresentado nas audiências

públicas e um anexo com os documentos que foram entregues por todos os

palestrantes.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

2

Logo depois da próxima audiência pública, Sr. Presidente, estaremos prontos

para entregar a todos os Deputados esse material, numa primeira reunião de

trabalho. Tenho certeza de que V.Exa. poderá explicar como se vai dar o processo

daí para a frente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Coloco em discussão

as propostas feitas pelo Relator, sendo a primeira a que diz respeito aos

convidados para a próxima audiência pública. Se algum Parlamentar desejar

acrescer algum nome a essa lista, basta encaminhá-lo à Secretaria. (Pausa.)

Não havendo quem queira discutir, pautaremos a próxima reunião de acordo

com as indicações do Relator.

Vamos iniciar esta audiência pública. Convido o Dr. Fernando Nery, Diretor

da ASSESPRO, para fazer uso da palavra.

O SR. DEPUTADO ALEX CANZIANI - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Concedo a palavra ao

Deputado Canziani.

O SR. DEPUTADO ALEX CANZIANI - Sr. Presidente, tendo em vista que a

última audiência pública será no próximo dia 22 e 23, é importante não concluirmos

hoje a relação de convidados, mas deixarmos um prazo para a inclusão de qualquer

outro nome. Dessa forma, ao longo desta semana ou até o começo da próxima,

poderíamos indicar outros nomes.

Em princípio, acho excelentes as pessoas convidadas, mas gostaria de

deixar a ressalva no sentido de que se, porventura, houvesse outro nome,

pudéssemos acrescentá-lo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Fica a ressalva, então.

Até segunda-feira poderão ser apresentados esses nomes.

Sem mais delongas, com a palavra o nosso primeiro orador, Dr. Fernando

Nery, a quem agradecemos, desde já, a atenção que deu ao nosso convite e a

presença, sempre pronta para participar dos nossos debates, onde ele realmente é

uma figura expressiva, pelo conhecimento que tem e pela posição que ocupa. Muito

obrigado.

Com a palavra o Dr. Fernando Nery.

O SR. FERNANDO NERY - Muito obrigado, Deputado.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

3

Em primeiro lugar, parabenizo a Comissão de Ciência e Tecnologia. A

ASSESPRO tem participado das várias iniciativas desta Comissão, que sempre

gera uma agenda positiva, chamando a sociedade civil para discutir temas de

interesse geral.

Essas discussões também nos são muito positivas, porque as colaborações

sempre são acatadas, ou, no mínimo, pensadas e discutidas. Isso é positivo para a

sociedade civil e nos motiva sempre a atender aos chamados e a estar sempre

colaborando ativamente.

Em nome do nosso Presidente, Leonardo Bucher, agradecemos o convite

feito à ASSESPRO.

Nessa apresentação pretendemos realmente motivar esta Comissão a dar

mais velocidade aos projetos de lei que tratam deste tema. Velocidade, dentro

deste setor, é muito importante.

(Apresentação de transparências.)

Há seis meses, por exemplo, não se falava, no Brasil, em Internet grátis; em

WAP, em Internet via celular, em globo.com, em amelia.com.br, e desse tempo

para cá a mudança foi muito grande.

A ASSESPRO representa as empresas brasileiras de software e serviços de

informática. Atua há 24 anos, tendo 1.500 associados, em 15 Estados. Eu sou um

dos diretores que cuida de investimentos nas empresas brasileiras.

Uma pergunta importante: por que o Brasil dentro dessa história do comércio

eletrônico? Há duas respostas, a primeira, é que existe competência. O Brasil é

líder mundial em eleições eletrônicas, em pagamentos de impostos via Internet, em

Internet banking, e também foi o primeiro País a ter um shopping da Visa, que é

realmente quem domina as pesquisas em investimento no pagamento eletrônico,

via Internet.

Não basta ter competência, a própria Ingel tem muita competência em

desenvolvimento de software, mas é necessário que tenha mercado também para

que as próprias empresas possam exercitar. Toda empresa de Internet que nasce

— vou até mostrar uma empresa que realmente é o meu ídolo de comércio

eletrônico — qualquer tipo de empresa pode ser mundial, mesmo uma empresa que

venda um produto que ela não consiga entregar em outro país, com certeza

qualquer pessoa do mundo vai poder acessá-la. O próprio Pão de Açúcar, cujo

representante deve estar aqui, com certeza vai falar de experiências de brasileiros

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

4

que moram no exterior, entram no site do Pão de Açúcar, fazem compras, mandam

entregar para os seus familiares aqui no Brasil e pagam com cartão de crédito. O

mundo realmente tem mudado de uma forma muito rápida.

Então, a Internet é um porte grande do consumo do mercado brasileiro que

cresce 100% ao ano, e hoje conta com 6 milhões de usuários .

Alguns valores interessantes: em 1998, o Brasil foi o terceiro país volume de

compras pela Internet; em 1999, ficou em quinto ou sexto, principalmente por causa

da defasagem cambial; ele é atualmente o terceiro maior usuário do ICQ, um

software de comunicação instantânea entre as pessoas.

O BRADESCO, segundo suas informações, tem 1 milhão e 100 mil usuários

no Internet banking, ocupando a segunda posição mundial, crescendo a taxa de

1.200 novos cliente ao dia.

O Imposto de Renda, via Internet, foi 468 mil, em 1997; 2,7 milhões, em

1998; 6 milhões, em 1999; e 11 milhões, em 2000. A própria Receita Federal deve

apresentar esses valores com maior precisão. O mais importante é que no Brasil a

tecnologia da Internet é extremamente bem aceita.

Para os senhores terem uma idéia, de onde chega o comércio eletrônico,

vamos dar um exemplo de alguns lugares onde podemos comprar um CD de

música. Nós podemos comprar no site do banco, por exemplo — o BRADESCO

tem um site que vende CD internamente; podemos comprar no e-commerce do

Universo on line, que é da Folha de S.Paulo e da Abril; podemos comprar na

americanas.com, site da Americanas; na globo.com; no site da própria gravadora,

por exemplo, Sony e Som Livre; no site do artista; no site do fã clube. Em sites,

por exemplo, pode-se comprar um CD do Paulinho da Viola no site do Vasco da

Gama, mas não se pode comprá-lo no site do Flamengo. Ou seja, existem

pessoas, artistas e CDs que são relacionados a alguns interesses; em site genérico

de música e, por incrível que pareça, no site de uma loja de CD é possível

comprá-lo.

Além disso, pode-se comprar por MP3 em qualquer país do mundo. Quando

alguém vai comprar um CD do Djavan, em Portugal — onde pode ser vendido um

milhão e meio desse CD —, poderá comprá-lo em qualquer país do mundo. Por

isso, a importância da velocidade. Hoje, quando se compra numa Amazon, por

exemplo, esta pode ter até um centro de estoque no Brasil, feita nos Estados

Unidos, poderá ser entregue por um armazém que está do lado de sua casa.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

5

O Brasil já tem classe mundial em aplicações Internet, e-commerce,

aplicações bancárias, financeiras e ERP, ou seja, o Brasil tem realmente aplicações

em classe mundial e as empresas têm-se destacado bastante. O prêmio IBET, que

é feito no Brasil, é o maior do mundo. Não existe nem nos Estados Unidos, um

Oscar da Internet desse tamanho. E ele já conquistou a Espanha, o México, está

entrando na França e na Argentina. Ou seja, é um produto brasileiro que cresceu

bastante.

Existem vários segmentos com grandes perspectivas, áreas de investimentos

e finanças, e de educação. Acredito que este seja o ano da maturidade do comércio

eletrônico no Brasil. O próximo será o ano da maturidade do ensino à distância.

Pela dimensão territorial do Brasil, há necessidade de treinamento, e será feito à

distância.

Quanto ao setor de saúde, já foram feitas inclusive cirurgias remotas no

Brasil, por intermédio da Internet II. Mas existem aí vários setores: turismo, música,

literatura, agrobusiness. O Banco do Brasil foi o primeiro a lançar um portal de

guias e leilões. O Brasil tem várias ações positivas. Hoje, foi lançado no Ministério

da Ciência e Tecnologia o Programa da Sociedade da Informação que vai usar

partes das verbas do Fundo de Universalização das Telecomunicações para

democratizar o acesso à telefonia e à Internet no Brasil.

O Comitê Gestor da Internet tem feito um trabalho muito positivo, SOFTEX,

incubadoras, empresas júniores. Fiquei impressionado, no domingo, quando vim a

Brasília fazer uma apresentação de encerramento de um evento, o Encontro

Nacional das Empresas Júniores, e vi que são 500 empresas júniores no Brasil, 500

empresas dentro das universidades brasileiras. Esses números não são divulgados,

mas são extremamente significativos. É um Brasil produtivo que está crescendo.

Nós falamos para 700 empreendedores, todos eles dentro das universidades

querendo cada vez desenvolver mais. E o setor que mais tinha empreendedor era o

de comércio eletrônico.

Além disso, as empresas brasileiras são as que estão atraindo muito

investimentos. Se compararmos com a América Latina e a Europa, essas empresas

que foram citadas, Submarino, o IBET, têm realmente atraído uma parcela significa

dos bancos internacionais.

O Joelmir Beting disse que em 2005 não vai ter vida empresarial fora da

rede, nem o borracheiro na beira de estrada. Acredito que ele tenha sido muito

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

6

conservador nesta afirmação, porque o meu ídolo do comércio eletrônico é o David,

um camelô que fica em frente à Academia Brasileira de Letras, na calçada do TRE

do Rio de Janeiro. Trata-se de economia informal, mas ele tem um site, o site do

David, no qual você pede um mirabel, um dropes, um chiclete, uma coca light, e ele

ainda não recebe direto pelo celular, mas vai fazê-lo em breve. Ao ligarmos para o

seu celular, ele mostra que a Internet gera emprego, quando brinca dizendo que

sua entrega é molecular, ele tem um moleque que faz as entregas. (Risos.) É uma

ação interessante e demonstra que qualquer iniciativa empreendedora empresarial

ou individual pode usar a Internet. Quem conhece um camelô médio do Rio de

Janeiro, verifica que sua banca tem mais diversidades. Ele tem mais de uma

centena de produtos e ainda faz sorteios, promoção pela Internet, por e-mail e

assim por diante. Ele é o meu ídolo na Internet. Comércio eletrônico não é o Pão de

Açúcar pegar 150 milhões de dólares e fazer um site, é o David ter o site na

Internet.

Nessa história de que não há vida empresarial fora da rede, vale verificar

várias estatísticas do Brasil em 2005: são 180 milhões de habitantes, o que significa

uma classe média maior do que na grande maioria dos países da Europa — a

classe média brasileira já é maior do que toda a população da Europa; 17 milhões

de assinaturas de TV a cabo; 35 milhões de telefones fixos; 58 milhões de telefones

celulares, sendo que 50 milhões com acesso à Internet; o Rio de Janeiro, hoje, já

tem mais celulares do que telefones fixos — estou usando o exemplo do Rio de

Janeiro, não porque eu seja carioca, mas porque o nosso Presidente é do Rio de

Janeiro; 9 bilhões de negócio business to consumer; a Internet ocupando 11% do

mercado publicitário, ou seja, concorrendo com televisão, revistas e outras mídias e

100 milhões em investimentos em Telecom até 2005. Esses números realmente

são extremamente respeitáveis. Com a recuperação econômica que o Brasil tem

tido, esses números mostram a projeção neste setor, e eu diria até que essa

legislação vai permitir que eles cresçam ou até diminuam a sua velocidade.

Se compararmos com a América Latina, esses números são mais

impressionantes ainda. Esse não é o número de usuários da Internet ou de sites,

esse é o número de transações por comércio eletrônico na América Latina. O Brasil

é 88% da América Latina em termos de transações, segundo pesquisa do Boston

Consulting Group, um grupo bastante considerável. O México fica com 6% e a

Argentina, 2%.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

7

Daí a importância de se desenvolver a prática do uso da Internet. As

empresas de comércio eletrônico brasileiras se reuniram em São Paulo e uma

decisão foi exatamente fazer uma campanha na sociedade brasileira, tipo a

campanha do Got Milk nos Estados Unidos. A indústria de leite americana fez uma

campanha que, sem falar de nenhuma empresa, objetivava motivar as pessoas a

tomarem leite. Também o objetivo dessa campanha seria motivar as pessoas a

fazerem compras pela Internet. Essa foi uma medida recentemente tomada pela

iniciativa privada.

Além disso, existem várias empresas na Internet, e a maior parte dos

conglomerados empresariais brasileiros criaram empresas "ponto com". A Itália

Telecom acaba de investir 800 milhões de dólares na globo.com, por exemplo.

Em termos de assinatura digital, o importante é que ela vai estar na vida de

todo mundo, e é necessário o Brasil estar na frente. Digo isso porque a assinatura

digital é necessária para aumentar a credibilidade das transações em comércio

eletrônico, e aumentar a credibilidade é necessário para aumentar o número de

transações e os valores negociados e, além disso, fazer com que o Brasil se

destaque. Se o Brasil não for rápido na regulamentação da assinatura eletrônica, as

compras vão ocorrer em outros países.

A Argentina já tem legislação sobre a matéria. A lei sancionada pelo

Presidente dos Estados Unidos há duas semanas devia ser considerada por nós.

Hoje, por exemplo, num banco, pode-se ter assinatura eletrônica nas operações em

todos os elementos: na agência, através do smart card; no videotexto, no home

banking, na Internet banking, no telefone, no PALM, no celular, no pager e no

e-mail, ou seja, a assinatura eletrônica não serve apenas para assinar um

documento. No final, ela serve para qualquer transação de validade.

Na feira promovida pela FEBRABAN, a EV System, uma das mais brilhantes

empresas brasileiras, mostrou uma coisa bastante interessante: uma máquina de

coca-cola que falava com telefone celular. Bastava aproximar o celular perto da

máquina e discar para ela. A coca-cola caía e era debitada ou da conta corrente ou

da conta telefônica. Isso é o dia-a-dia, e para fazer isso é necessário ter assinatura

digital tanto na máquina de coca-cola quanto no celular, no banco e na

concessionária telefônica.

A assinatura digital, ou certificado digital, vai estar também na chave de casa.

Em vez de a chave ser uma ranhura no metal, ela será a identidade digital. Essa

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

8

assinatura vai ser multiplicada para todos esses equipamentos, inclusive para

controle de direitos autorais, um assunto muito discutido no Congresso. Ou seja,

essa tecnologia também vai servir para a proteção de direitos autorais, seja de

música, imagem ou livros — hoje já existem vários e-books: João Ubaldo Ribeiro e

Mário Prata lançaram livros que só têm versões na Internet.

Quanto ao papel do Governo, tanto o Governo Federal quanto o de São

Paulo tem realizado ações bastante positivas em termos de compras pela Internet.

O conceito de "e-gov", administrado e empreendido pelo Ministério do

Planejamento, tem sido bastante positivo. Há ainda a questão da tributação. Por

incrível que pareça, os players de comércio eletrônico são simpáticos à tributação

do comércio eletrônico em geral. Como técnico, acho até que é mais fácil tributar no

comércio eletrônico do que tributar na loja. É mais fácil fiscalizar assim, pois, da

mesma maneira que se conseguiu obrigar todas as lojas a terem as impressoras

fiscais, é possível ter um software ou equipamento que faça a tributação no próprio

site de comércio eletrônico.

O Governo começa agora a enxergar novos desafios, como, por exemplo, o

Governo 24 por 7: na Internet, o Governo opera 24 horas por dia, sete dias por

semana. O Governo está na casa do cidadão, que, para falar com ele, precisa de

certificado digital, ou assinatura eletrônica.

Todas essas ações de investimento industrial, de entrada de investimentos e

de desenvolvimento do Governo remetem para a necessidade da rápida

regulamentação das assinaturas eletrônicas.

Existem vários elementos que precisam de regulamentação, ou seja, não só

as assinaturas eletrônicas como vários projetos de lei que tramitam no Congresso.

São exemplos: o registro de sites de e-commerce, crimes por computador, moeda

eletrônica, direito autoral e propriedade industrial — marcas versus nomes de

domínios —, patentes de modelo de negócio, desregulamentação do setor de

Telecom, que vai influenciar muito essa infra-estrutura como um todo, e a

responsabilidade dos provedores de acesso.

Há também a questão de o crime organizado hoje estar recrutando hackers.

Da mesma forma que o tráfico de drogas recruta químicos, médicos, advogados

etc., o crime organizado, talvez o empresário mais focado do mundo, porque só

entra onde há alta margem, está começando a recrutar hackers.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

9

Para terminar, quero dizer que existem ações que, embora não tenham

resultado em leis, são bastante positivas; outras, igualmente positivas, resultaram

em leis importantes de se considerar. A Lei Eleitoral e a da Previdência já prevêem

como crimes por computador a invasão do sistema da Justiça Eleitoral ou da

Previdência. A Receita Federal e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior têm trabalhado ao fazer decretos de assinaturas eletrônicas.

Todas essas experiências foram feitas de forma muito competente e podem ser

aprovadas na hora de se fazer uma legislação.

Gostaria que esta minha apresentação trouxesse a esta Comissão a

consciência da importância de se fazer algo que seja simples e também

rapidamente absorvido. É possível fazermos isso em sintonia com os players de

comércio eletrônico. A velocidade é importante por causa das inovações

tecnológicas. O próprio celular na Internet é um novo elemento que traz a

assinatura também no celular, ou seja, quem compra esses celulares novos com

WAP já tem dentro dele uma assinatura eletrônica.

É igualmente importante aumentar a confiança no comércio eletrônico —

todas as pesquisas têm mostrado que o comércio eletrônico não deslancha tanto

quanto poderia porque o próprio consumidor não confia em sua segurança. Uma

legislação dessa natureza já traria, automaticamente no ato de sua promulgação,

um aumento da confiança.

Outra questão diz respeito às aplicações governamentais que precisam ser

viabilizadas através de assinaturas eletrônicas. Os Governos dos Estados de São

Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal têm estudado questões de

certificados digitais, nenhum deles com uma orientação legal única.

Por fim, a questão das aplicações privadas e o avanço dos outros países. Se

o Brasil fizer essa regulamentação depois dos países da América Latina, haverá

uma grande possibilidade de retrocesso em seu índice de 88%. Ou seja, por possuir

uma maior cultura de assinatura digital, os demais países vão correr mais rápido

que o Brasil.

Essa era a apresentação que eu tinha a fazer. Quem quiser cópia da mesma

pode solicitá-la a mim por meio de meu correio eletrônico.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, Sr. Fernando

Nery.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

10

Vamos passar a palavra ao próximo palestrante e deixar as questões para

serem feitas ao final das exposições.

Com a palavra o Sr. Rogério Vianna, Coordenador-Geral de Comércio

Eletrônico do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

O SR. ROGÉRIO VIANNA - Sr. Presidente, Membros da Mesa, Sras. e Srs.

Deputados, boa tarde a todos.

Em primeiro lugar, em nome do Embaixador Oscar Soto Lorenzo Fernandez,

Secretário de Tecnologia Industrial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior, gostaria de agradecer o convite que lhe foi feito. Infelizmente

S.Exa., a pedido do Sr. Ministro, teve de ir ao Rio de Janeiro e não pôde estar

presente.

Depois da entusiasmada exposição do Sr. Fernando Nery, é difícil manter o

mesmo interesse para um tema realmente importante para o Brasil, particularmente

para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Gostaria de fazer um pequeno histórico da atuação do Ministério nesse tema.

A atuação do Governo brasileiro é ainda incipiente como um todo, sendo que a

nossa em particular começou em maio de 1998, quando o então Ministro Botafogo

criou por portaria um grupo interno de trabalho sobre o comércio eletrônico a pedido

do próprio embaixador Oscar Lorenzo.

Esse grupo se reuniu e produziu um relatório que está publicado no site e é

nosso guia até hoje. Depois disso, uma das primeiras conclusões foi a de que

deveríamos debruçar-nos sobre a questão de assinatura digital — e isso em

meados de 1998. Se não me falha a memória, àquela época ainda não havia

nenhuma proposição legislativa nesta Casa ou no Senado a respeito. Não era algo

que parecia estarmos maduros para propor de imediato. No entanto, já estavam

mais ou menos maduras as formas gerais pelas quais o Governo, como entidade

econômica e como prestador de serviços, disciplinaria o uso da assinatura digital.

Vou debruçar-me daqui a pouco sobre esse assunto, porque alguns podem

estar pensando que não se pode fazer nada na prática sem antes ter a legislação

da assinatura digital, que é bastante utilizada no Brasil em diversas aplicações

dentro das grandes empresas, bancos, enfim, outros órgãos — na maioria dos

casos em regime fechado, acredito. A assinatura digital nesse sentido é uma

tecnologia nada mais que isso.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

11

No final do ano passado — Dr. Pedro Luiz César Bezerra falará sobre isso

—, a Receita Federal baixou uma instrução normativa anunciando ao público que

disporia de serviços com base na assinatura digital. Só menciono isso para

esclarecer que, embora seja possível se implantar serviços com base nessa

tecnologia é de todo necessário haver uma legislação, por motivos já explicados

aqui pelo Sr. Fernando Nery e sobre os quais falarei novamente.

Mais recentemente, no início de abril, o Presidente da República criou por

decreto um grupo de trabalho no âmbito da Casa Civil, do qual participam vários

Ministérios, que se vêm debruçando sobre praticamente tudo o que poderíamos

chamar de governo eletrônico.

Existe uma preocupação grande do Governo em oferecer serviços

eletrônicos à população, àqueles que já têm acesso a Internet, mas principalmente

aos que ainda não têm esse acesso. O Governo quer democratizar o acesso à

Internet. A informação que o Sr. Fernando nos trouxe sobre ser essa uma

prioridade importante do Programa Sociedade e Informação — lançado no livro

verde nos últimos dias —, faz parte de uma proposta mais anterior da ANATEL,

chamada brasil.gov e está sendo incorporada no relatório desse grupo da Casa Civil

e deve estar sendo proposta aos Ministérios e ao Presidente muito brevemente.

A idéia de democratizar o acesso à Internet no Brasil é fundamental não

apenas do ponto de vista de mercado e negócios, mas principalmente do ponto de

vista da cidadania. A Previdência Social vai implantar um serviço de assinatura

digital, por exemplo, e começar a fornecer informação ao cidadão. No entanto, essa

informação só pode ser fornecida se houver a certeza de que é o próprio cidadão

quem a está pedindo. Não pode uma pessoa entrar em um computador — mesmo

que seja o dela —, e pedir à Previdência ou a outro órgão qualquer informação de

terceiros: aposentadoria, benefícios ou plano de saúde, seja o que for. É preciso ter

certeza de que é a pessoa interessada quem está ali. Então, essa questão é

normalmente resolvida com a tecnologia das assinaturas digitais.

Pois bem, quando esse serviço estiver disponível, quem poderá acessá-lo?

Aqueles que estão aqui e que já possuem computador, a classe A no Brasil? Isso

alimentaria o que no mundo inteiro vem-se chamando digital device. Para que os

Governos Federal, Estadual e Municipal possam oferecer seus serviços de forma

eletrônica — o que daria uma contribuição muito grande ao desenvolvimento da

cidadania, trazendo maior conforto para o contribuinte e consumidor —, é preciso

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

12

que haja uma considerável massificação no uso da Internet no Brasil. Esse é um

dos focos principais tanto no Programa Sociedade e Formação, quanto nesse grupo

criado pelo Presidente no âmbito da Casa Civil, que deve produzir um relatório com

as propostas de trabalho, como já disse, nas próximas semanas.

Antes de voltar para a questão de legislação, quinta-feira última — não sei se

já havia dado essa notícia aos presentes —, o Ministro do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio, Sr. Alcides Tápias, assinou uma portaria criando o Comitê

Executivo de Comércio Eletrônico. Estamos criando esse comitê em conjunto com

os Ministérios da Ciência e Tecnologia e do Planejamento, Orçamento e Gestão,

com a participação de outras áreas do Governo, que foram convidadas mas a

responsabilidade é desses três órgãos.

Temos amadurecido esse projeto nos últimos meses. Será um fórum, em

que se poderá discutir todas as questões do comércio eletrônico. Nessa questão, é

bom que se diga, não há muito o que centralizar. Não faz muito sentido um órgão

ou outro querer centralizar isso ou aquilo. O comércio eletrônico interessa a todas

as atividades, como o Sr. Fernando bem disse, tanto na área privada quanto na

área pública. Todos os setores público estarão envolvidos. Para alguns talvez seja

estranho usar a palavra comércio eletrônico, mas é uma expressão que se tem

usado, business electronic, não é apenas operação de compra e venda ou

prestação de serviço por via eletrônica. Tudo isso é comércio eletrônico.

Essa portaria tem um caráter especial, porque está dividida em seis

subgrupos — o grupo Comitê Executivo é mais ou menos paritário com o setor

privado, representante do setor público e do setor privado —, que são coordenados

pelos seis convidados do setor privado assessorados pelo pessoal do setor público.

Não há, nessa iniciativa, nenhuma tendência a centralizar. Simplesmente

como o comércio eletrônico interessa a todos e é multidisciplinar, o lócus — temos

visto na Austrália, Canadá, Irlanda e até nos Estados Unidos tem algo semelhante

—, é um local onde as demandas, as propostas, os problemas aparecem para ser

discutidos e encaminhados a quem de direito, dentro do Governo, quando se tratar

de um assunto público. Já estão sendo colhidas as assinaturas dos Srs. Ministros

Ronaldo Sardenberg e Ministro Martus Tavares. Então, nas próximas semanas,

instalaremos esse comitê, que dará essa visibilidade, esse local de discussão que

todos reclamam.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

13

Gostaria de falar da legislação, sobre o que nos temos debruçado um pouco

mais no Ministério. Temos uma proposta, como havia dito, sobre as normas pelas

quais o Governo vai prestar serviço com base em assinatura digital. A Receita

Federal já tem a sua e deve começar a prestar serviço brevemente, a Previdência e

outros estão no mesmo caminho. E como já disse é possível fazer isso sem a

existência de uma legislação, até certo ponto. Portanto, a legislação é

absolutamente fundamental. Quanto a isso não resta a menor dúvida.

O Sr. Fernando tem razão quando diz que podemos utilizar — e eu disse o

mesmo no Ministério — como uma referência bastante interessante a recente

legislação americana. Como todos sabem, a grande maioria dos Estados

americanos têm legislação sobre comércio eletrônico ou assinatura digital já há

algum tempo. No entanto, regulam basicamente como o Estado se relaciona com a

sociedade quando usa certificados digitais. Não criam figuras de direitos, mas

fazem basicamente o que estamos propondo no Brasil. O que a Receita Federal faz

no seu âmbito, eles fazem no âmbito de todos os organismos em cada Estado.

A legislação federal americana, muito embora o comércio eletrônico exista há

mais de quatro anos, saiu apenas no início de maio, e foi anunciada com grande

estardalhaço pelo Presidente Clinton, no dia 4 de julho. Para se ter idéia da

importância que eles dão a esse assunto, ela foi mote de campanha eleitoral, no

segundo mandato do Presidente Clinton.

A legislação americana, para aqueles que a leram, tem, no meu modo de

ver, apenas uma grande preocupação básica: ela não obriga ninguém a usar

certificado digital, não obriga ninguém a obrigar terceiros a usarem nada disso. O

que ela realmente procura equacionar — e esse é o problema — é o problema dos

direitos do consumidor no mundo virtual. Esse é um problema sério, que vinha

sendo discutido e continua até hoje. Talvez seja o problema da legislação de

comércio eletrônico: como fazer com que os direitos do consumidor no mundo

virtual sejam claramente os mesmos do mundo real. Sem isso, obviamente,

ninguém usará o mundo virtual. Essa é uma questão. Como a Internet e o comércio

eletrônico não têm fronteiras, controles, não se está de frente de ninguém; é um

desafio realmente importante que se coloca. Esse é o grande foco da questão.

No Ministério da Indústria e Comércio achamos que nessa questão do

comércio eletrônico não há muito o que regular, vamos dizer assim. Na verdade é

preciso — e eles têm razão ao dizer isso — criar um clima. Não pertence muito à

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

14

nossa tradição usar esse tipo de expressão, esse tipo de postura, mas é preciso

criar um ambiente adequado para os negócios, para o consumidor, para a

sociedade e o Governo. Esse clima adequado vem de uma postura correta e de

uma legislação seguramente minimalista no que se refere à interferência sobre

mecanismos, sobre transações privadas, voltada exatamente a dar validade aos

contratos eletrônicos e, principalmente, a proteger o direito das partes envolvidas.

Na recente lei americana, não existe a expressão que muitos em alguns

outros momentos quiseram colocar, que é "o contrato eletrônico vale tanto quanto

um contrato manual". Não está assim redigida. O que consta lá é mais ou menos

copiado, digamos assim, do modelo da Oncitral(?): "Não será negada a validade

jurídica ao documento eletrônico pelo fato de ele ser eletrônico". Acredito que os

advogados saibam bem que existe uma não tão pequena sutileza entre essas duas

coisas.

Os senhores devem estar lembrados também que no começo de janeiro ou

fevereiro — se não me engano —, foi rejeitado numa votação da Câmara dos

Deputados, nos Estados Unidos, um projeto de comércio eletrônico que tramitou

durante meses, acho que durante quase um ano. Houve dezenas de audiências

públicas e foi feito um trabalho bastante interessante. No entanto, o Presidente

manifestou seu desagrado em relação àquela legislação, a Liderança transmitiu

isso à Casa e o projeto foi derrotado. Dois meses depois, foi aprovado um projeto

no Senado, que foi sancionado no dia 4 de julho.

Por que foi rejeitado esse projeto na Câmara dos Deputados nos Estados

Unidos? Disseram que havia questões políticas, — e não vou estender-me sobre

isso — mas o Presidente alegou cinco grandes razões: a primeira é que a

legislação entrava mais do que deveria na legislação da família, da segurança

pessoal — e mais alguma coisa de que agora não me lembro; a segunda é que a

redação do projeto não assegurava ao consumidor no mundo virtual os mesmos

direitos que ele tinha, segundo a legislação americana, no mundo real. Isso não

ficava bem claro. Havia mais três argumentos, mas não considero relevante

discuti-los.

O que eu quero dizer é que mundo ainda está tateando sobre essa legislação

federal, sobre a validade jurídica desses contratos eletrônicos. Que eu saiba, existe

uma lei na Alemanha e na Itália, e várias outras — não me lembro de cabeça.

Vimos, por exemplo, que em fevereiro ou março uma diretiva da União Européia

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

15

aprovada pelo Parlamento europeu vai forçar uma mudança na legislação italiana,

que não é compatível.

Minha contribuição aqui seria mais nesse sentido, primeiro porque esta Casa

está fazendo essas audiências por conta de projetos importantes e interessantes,

que tramitam aqui sobre comércio eletrônico, validade de documentos e de

contratos eletrônicos.

O Ministério da Indústria e Comércio — e não vou estender-me mais — teria

mais a dizer quanto à questão do fomento. O Sr. Fernando mostrou um panorama,

um cenário otimista, mas o fato é que o Brasil é um país extraordinariamente

desgastado. Então, a idéia de que o comércio eletrônico possa, ou qualquer outra

coisa, resgatar essas disparidades — acho que não foi isso o que S.Sa. quis dizer

— não me parece apropriada. Devem existir políticas públicas voltadas para isso e,

muito mais interessantes — reconhecendo que essa é uma tecnologia

diferentemente de outras — que podem perfeitamente ser úteis e estar acessíveis

àqueles que chamamos hoje os excluídos ou menos favorecidos, digamos, as

classes C, D e E, ou como sejam definidas. Trata-se de uma tecnologia que pode

ser de extrema utilidade para a massa da população, não apenas para aqueles — e

já não são tão poucos — que têm acesso à Internet, a serviços eletrônicos e a esse

tipo de realidade. Há uma preocupação grande de como fomentar essa área.

Devolvo a palavra ao Deputado Arolde de Oliveira e fico à disposição para as

perguntas.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, Dr. Rogério

Vianna.

O Dr. Rogério terá oportunidade de responder a questões pertinentes após

última palestra, que será do Dr. Pedro Luiz César Bezerra, que está à minha direita

e que é o Coordenador de Tecnologia da Receita Federal. A União está de olho

nessa fatia. Vamos verificar se é assim mesmo.

Com a palavra o Dr. Pedro Luiz César Bezerra.

O SR. PEDRO LUIZ CÉSAR BEZERRA - Boa tarde. Gostaria também de

agradecer o convite feito à Secretaria da Receita Federal para estar aqui

representada e poder expor a sua opinião e a sua experiência no assunto.

Inicialmente, digo que a Secretaria coloca-se à disposição da Comissão para

o que for preciso no sentido de assessorá-la nessa tarefa que consideramos

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

16

extremamente importante. O Dr. Abelardo Maciel pediu-me que transmitisse essas

palavras à Comissão.

Gostaria de apresentar a questão do ponto de vista da Receita Federal.

Como o nosso Presidente falou, o Leão está de olho. Na realidade, a Receita

trabalha com uma dupla visão nessa área de tecnologia e na sua forma de atuação.

Numa primeira visão, a Secretaria quer ser enxergada pelo contribuinte, ou seja, ela

é uma prestadora de serviço e o contribuinte, aquele que quer cumprir o seu dever

tributário, precisa ter conforto para o cumprimento da sua obrigação tributária.

Nessa visão de que a receita quer ser enxergada e facilitar, vamos dizer, a

obrigação do contribuinte, ela usa fortemente a Internet. Começamos, em 1996, e,

como todas as instituições, simplesmente com uma página informativa, mas

rapidamente passamos a utilizar a Internet no conceito de e-commerce, de prestar

serviço.

O primeiro grande serviço é de conhecimento público: trata-se da entrega da

declaração via Internet. Fomos a primeira e até recentemente a única administração

tributária que recebe declarações por intermédio da Internet. Há experiências no

Canadá e na Espanha. Os espanhóis estiveram no Brasil, e lhes prestamos

consultoria no processo para autorização da declaração pela Internet. É um

sucesso, devido em parte, à confiabilidade da Receita Federal perante o público e a

uma característica do brasileiro de gostar de novidade, de inovação tecnológica.

Sempre me surpreendo com o fato de termos cerca de 40 milhões de

consultas à Internet para um site de pagamento de impostos. Pagar imposto é algo

que ninguém gosta de fazer, mas é um site extremamente consultado. Como o

assunto não é agradável, podemos depreender que ele agrega valor.

A Receita passou a utilizar forte e rapidamente a Internet, porém sem a

utilização de identificação do usuário. Existe o sigilo fiscal, não podemos divulgar

informações sobre a vida financeira, o estado de riqueza de um contribuinte, porque

isso constitui crime. Temos uma fronteira na utilização da Internet; sem saber quem

está do outro lado, evitamos a quebra do sigilo fiscal. Mesmo assim, quando a

declaração da pessoa física era entregue em papel, a Receita não reconhecia firma,

não ia olhar se a assinatura era mesmo daquele contribuinte. Quando há casos — e

são poucos — de duplicidade de declaração, intimamos o contribuinte, e ele diz

qual é a dele, repudiando aquela que por acaso não tenha sido feita por ele.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

17

Nos últimos anos, em que a declaração é feita por meio magnético, não há

nenhum caso de repúdio de declaração. O Fisco tem algumas prerrogativas: se o

contribuinte repudia a suposta declaração, perguntamos a ele sobre a sua

declaração. Caso ele fique omisso, estará sujeito à multa de 1% sobre o imposto

devido, o que algumas vezes é um valor elevado. Se o contribuinte renega parte da

declaração, sempre poderemos fiscalizá-lo, porque se trata de uma declaração, não

é o mundo real. Portanto, não temos nenhum caso de repúdio. Houve apenas um

caso em uma CPI, em que o Deputado repudiou a declaração, e ele estava correto.

O erro tinha sido da Receita Federal, que, ao processar a declaração dele por meio

magnético, deslocou uma informação de campo, mas ela imediatamente

reconheceu o erro e a enviou corretamente. Não há repúdio por parte dos juízes, o

que era uma preocupação nossa. Mas também não existe nenhuma legislação que

diga que a declaração por meio magnético é perfeitamente legal para qualquer fins

de direitos. Ela se baseia em uma relação de confiança entre o contribuinte e o

Fisco.

Hoje ela é uma necessidade, é um fato extremamente importante no trabalho

da Receita Federal. Há alguns anos, o recolhimento do Imposto de Renda envolvia

um custo enorme. Sua operação logística exigia alguns milhões de formulários

distribuídos em todo o território nacional. As carretas viravam e faltava formulário

em locais longínquos. Ao mesmo tempo, havia uma operação inversa: receber

declaração em papel, digitá-las rapidamente para disponibilizar a restituição e

cobrar o imposto. Hoje, cerca de quinze dias após encerrar o prazo de entrega da

declaração, praticamente toda a base de 13 milhões de declarações de pessoa

física está pronta, para se cobrar impostos e proceder às restituições.

Neste ano chegamos à situação de receber 11 milhões e 100 mil

declarações pela Internet. Essa entrega não é obrigatória, é opcional, o contribuinte

pode fazê-lo em papel, em disquete, na rede bancária ou utilizar a Internet. Em 13

milhões e meio de declarações, que esperamos receber até o final do ano, 11

milhões e 100 mil foram entregues pela Internet.

Hoje somos dependentes da Internet para realizar o processo básico da

Receita. Por outro lado, não há a menor dúvida, há uma diminuição do custo

operacional da Receita. O nosso custo caiu assustadoramente, porque o

contribuinte faz tudo e a declaração imediatamente entra na base de dados da

Receita.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

18

A Receita Federal não utiliza somente a Internet para isso. Hoje, ela permite

que se faça consulta sobre certidões negativas, mas não emite certidão positiva, é

lógico. Qualquer pessoa de posse de um CNPJ pode entrar na Internet e se

informar se aquela empresa não é devedora. Quando é o contrário, orientamos a

pessoa a procurar a Receita Federal, porque há algum problema. Também

permitimos uma série de serviços: consulta para saber se tem restituição etc.

Recebemos alguns prêmios do IBET.

Ocorreu que o contribuinte ficou acostumado ao uso da Internet e a Receita

Federal chegou ao seu limite, em que ela poderia avançar, no uso da Internet, sem

que do outro lado fosse identificado o contribuinte. Por conta disso, no final de

dezembro, o Secretário da Receita Federal assinou a Instrução Normativa nº 156,

de 1999, que institui os certificados digitais da Receita Federal. Na realidade, ele

institui o e-CPF, ou o e-CNPJ. Ou seja, ela institui um cartão de identificação do

contribuinte emitido por meios eletrônicos, utilizando a tecnologia de certificação

digital.

Claro que isso não ocorreu da noite para o dia. Há dois anos a Receita

Federal vem realizando estudos — a Dra. Clara, que está sentada ali atrás, é a

responsável por essa área na Receita. Pesquisamos legislações do mundo inteiro,

verificamos a situação no Brasil, onde não existe uma legislação a respeito do

assunto, e discutimos se a Receita tinha ou não governabilidade para legislar sobre

o assunto.

Chegamos à conclusão de que tinha, baseados em dois princípios: primeiro,

que a instrução normativa é parte da legislação tributária. Existe jurisprudência,

desde 1970, dizendo que as instruções normativas do Secretário da Receita

Federal são parte da legislação tributária, e criam obrigações tributárias e deveres

por parte da Receita. Um erro na instrução normativa pode beneficiar o contribuinte.

Ao mesmo tempo, vamos olhar o passado: em 1964, através de uma lei, o

Congresso Nacional criou o Cadastro Geral de Contribuinte. Com base neste

cadastro foi baixada uma instrução normativa instituindo o cartão de identificação

do contribuinte. Estamos em um nível de obrigação acessória que o Código

Tributário Nacional atribui ao Secretário da Receita Federal. Em 1968, também

através de lei do Congresso Nacional, foi instituído o Cadastro Nacional de Pessoas

Físicas, e, posteriormente, através de instrução normativa do Secretário da Receita

Federal, foi instituído o Cartão de Identificação do Contribuinte, o CPF. Em 1998,

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

19

através de instrução normativa, o CGC foi extinto e criado, então, o Cadastro

Nacional de Pessoas Jurídicas. Em 1999, seguindo essa mesma linha, com base

na lei que institui o CNPJ, o ex-CGC, e o CPF, o Secretário da Receita baixou a

Instrução Normativa nº 156, que modificou a forma do cartão de identificação do

contribuinte. Em vez do cartão ser em papel — e hoje o CPF não é mais em papel,

é em cartão plástico, com trilha magnética —, ele passa a ser desmaterializado,

passa a ser virtual, utilizando uma tecnologia de assinatura digital.

Na realidade, não estamos aqui discutindo certificação digital, estamos

discutindo identificação do contribuinte, cartão do contribuinte, o que a Receita

sempre fez, a exemplo do que a Polícia Federal faz quando institui o passaporte.

Na realidade, ela não institui o passaporte, o passaporte é criado por lei, como o

cadastro é criado por lei; ela apenas regulamenta esses aspectos.

A Receita Federal, então, chegou à conclusão de que tinha governabilidade

para modificar a identificação do contribuinte e estabelecer regras na relação entre

Fisco e contribuinte. Essa instrução normativa cria os cartões e-CNPJ e e-CPF, que

são cartões de identificação do contribuinte, porém de forma inteiramente virtual,

inteiramente magnética, utilizando a tecnologia de certificação digital. A instrução

normativa fala dos tipos de tecnologia possíveis: tecnologias de mercado e

tecnologias abertas.

A Receita procurou, nessa instrução normativa, criar alguns procedimentos.

Neste caso, duas coisas são fundamentais: a tecnologia e toda a parte de

procedimentos. Não basta, simplesmente, a tecnologia.

A Receita, então, arvorou-se no papel de autoridade credenciadora e

procurou ter o processo mais aberto possível. Ela instituiu, através de instrução

normativa, regras para autoridades certificadoras de empresas ou instituições que

preencham as condições e queiram, através de um processo de concurso público

seletivo, credenciar-se como autoridade certificadora. E, ao final das regras que

estão lá, elas poderão ser excluídas.

A idéia da Receita é credenciar, conforme está na sua norma, tantas quantas

realmente tiverem condições, tanto técnicas, como em termos de procedimento e

mesmo como instituição, regras de capital, de seguro etc. Estabeleceu também que

ela fará auditoria periódica nas atividades desempenhadas pelas autoridades

certificadoras que venham a ser credenciadas nesse processo.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

20

Cabe às autoridades certificadoras credenciadas pela Receita a emissão

desses certificados de CPF e CNPJ, com custo por conta do contribuinte.

Procura-se, no momento em que sofremos fortes restrições orçamentárias,

descobrir outras maneiras de financiar as atividades do Estado.

As autoridades registradoras ainda são agentes intervenientes. A Receita

deixou propositadamente esse item em aberto. Inicialmente imaginamos que sejam

os cartórios, mas também imaginamos que outras instituições possam ser

autoridades registradoras, aquelas que reconhecem que você é você mesmo, que o

Banco do Brasil é o Banco do Brasil, que Pedro Luiz é Pedro Luiz. Normalmente

isso é feito no cartório.

Atualmente, quando a Receita permite que o Banco do Brasil, a Caixa

Econômica Federal e os Correios tirem um CPF, ela já está dando o direito a essas

instituições de serem autoridades registradoras. Porém, como se trata de uma

tecnologia nova, achamos que seria de boa cautela, no primeiro momento, trabalhar

com os cartórios públicos.

Os usuários são as pessoas físicas e pessoas jurídicas, que poderão,

livremente, optar por tirar seu certificado. Em troca, eles terão serviços que tanto

podem ser feitos pessoalmente lá na Receita, entrando na fila, como podem ser

feitos, com todo o conforto, de um terminal do seu escritório ou da sua casa.

A idéia da Receita é, realmente, ter o contribuinte o mais longe possível da

Receita e o mais perto possível do banco, longe da Receita e pagando imposto no

banco.

Os requisitos mínimos de procedimentos para o credenciamento dessas

autoridades certificadoras está descrito na instrução normativa. Estão lá as

atribuições etc. Eu não vou entrar aqui em detalhes com V.Exas., que poderão

examinar a instrução normativa. E a Receita se coloca à disposição para qualquer

dúvida. Existe também descrito todo um processo tecnológico de emissão de um

certificado raiz, pela Receita, que é a assinatura da Receita. Esse certificado digital

da Receita é obrigatório e é colado no certificado da certificadora, quando ela for

credenciada, e os dois colados no certificado do contribuinte. De modo que, quando

o contribuinte utiliza o seu certificado — é uma cadeia — todo mundo sabe que ele

foi certificado por uma certificadora credenciada pela Receita, porque a assinatura

dos dois consta da certificadora. A da Receita tem uma chave de 2.048 bits; o da

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

21

certificadora, 1.024 bits; e do usuário, 512 bits. A Receita colocou uma série de

requisitos técnicos.

Há toda uma estratégia de implantação. A partir de outubro começaremos a

colocar à serviço a entrega de declaração, que poderá ser certificada ou não. O

contribuinte poderá, a qualquer momento, buscar cópia da sua declaração. Uma

CPI poderá buscar cópia da sua declaração, a partir do momento em que ela estiver

certificada. A regra de negócios permite que um Presidente de CPI requisite

declaração. Ela poderá, automaticamente, acessar o banco de dados da Receita e

obter a declaração, bem como um juiz etc.

O contribuinte poderá saber sua situação em caso de dever a Receita e

poderá pagar impostos através de um portal de pagamentos que a Receita está

colocando. Esse foi um trabalho que fizemos com o Serviço Federal de

Processamento de Dados, com a Universidade Federal de Pernambuco e que teve

a colaboração de uma empresa de mercado, a Certsign, sem querer fazer aqui

qualquer merchandising.

Nós poderíamos até fazer leilão de mercadorias apreendidas pela Internet e

outros serviços, como o pedido de parcelamento de débitos. Tudo aquilo que a

Receita hoje faz, de forma física, ela gostaria de fazer de forma virtual, entendendo

virtual como magnético e não como aquilo que não existe.

Essa seria a primeira visão da Receita que quer ser enxergada pelo

contribuinte e que quer facilitar a vida do contribuinte.

A segunda visão da Receita é enxergar o contribuinte que nem sempre quer

ser enxergado. Há contribuintes que não gostam de ser vistos pela Receita. É o que

o nosso Presidente disse: o olho do Leão. Em relação a esse ponto, preocupa-nos

a utilização da tecnologia, em termos de faturas eletrônicas e de algumas cautelas.

A nossa preocupação é no sentido de que devemos examinar e termos atos legais

sobre essa tecnologia, para que ela não facilite a fraude.

Em princípio a fraude existe e independe de tecnologia. Existe fraude em

papel, na Internet, na microfilmagem, no disco ótico. Mas se deve ter o cuidado de

que a tecnologia não seja usada para aumentar a fraude, e sim, se possível, para

diminuir. Essa é uma preocupação que a Receita tem, e eu diria que envolvem dois

aspectos: tecnológico e de procedimento.

É fundamental que a legislação traga uma série de definições. Isso é um

desafio que a administração tributária tem. O próprio comércio eletrônico

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

22

revolucionou vários princípios tributários, como origem e destino, desde coisas

simples. Temos o caso dos Estados. Assisti ao Secretário de Fazenda de Alagoas

dizer que a Internet desestruturou o comércio de Alagoas, com perda de

arrecadação.

A partir do momento em que se tem uma "empresaamericana.com", em que

se pode comprar um som de última geração, às vezes com preço atraente, a

pessoa não vai comprar numa loja de departamento de Alagoas que, às vezes, não

tem, infelizmente, o que é de melhor, com um preço competitivo. E isso gera

problemas de ICMS, desemprego etc., e atualmente já está desestruturando

princípios tributários. Se levarmos essa questão para as relações internacionais, em

que existem bens desmaterializados...

São importados softwares para o Brasil sem que tomemos conhecimento.

Sabemos que atualmente as multinacionais contratam seus softwares diretamente

com as multinacionais nos Estados Unidos — a Microsoft, a Lotus, a Oracle — e

distribuem para todas as filiais. Esse é um procedimento normal. Esses softwaresentram, via Internet, e é difícil tributar.

Eu sou da mesma opinião do Dr. Fernando Nery. Acho que a informática

sempre deixa rastros e é possível se auditar. Mas é preciso estabelecer as regras.

Não se trata de um problema tecnológico; é preciso que se definam novamente o

fato gerador, a origem, o destino e responsabilidades fiscais, porque mudou tudo.

Hoje, a única certeza que eu posso ter é a tributação em termos do fluxo financeiro.

Todos os conceitos tributários foram para o espaço, foram revolucionados com o

comércio eletrônico. Como é que eu vou tributar alguém que compra em um sitenos Estados Unidos e usa dinheiro que está em paraísos fiscais? Vou tributar quem

e onde? Esse é um negócio complicado, porque existe triangulação de sites.

Vi uma expressão muito interessante de um palestrante num seminário na

ESAF e que não tem a ver com tributação, mas que mostra como revoluciona todos

os princípios. Ele adverte para o fato de que no Brasil é proibido o jogo no cassino e

apresenta a seguinte situação: quando o sujeito está na sua casa aqui no Brasil, por

exemplo, aqui em Brasília, e entra no site de um cassino, por exemplo, de Las

Vegas, ele está cometendo algum crime? Sim ou não?

Na realidade, ele está trazendo o site até a casa dele ou ele está entrando

no site em Las Vegas? Não está definido. Posso interpretar que ele está trazendo o

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

23

site para a casa dele, portanto, ele está cometendo um crime; ou posso achar que

ele está entrando num site em Las Vegas.

Alguns princípios foram para o espaço. V.Exas. sabem que sua missão é

criar esses novos princípios, tanto do ponto de vista tributário, como do ponto de

vista legal dessa revolução que está aí.

Sr. Presidente, estamos à disposição, não só aqui. Em nome do Dr. Everardo

Maciel, a Receita está à disposição da Comissão para o que for necessário.

Era o que tinha a dizer.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Muito obrigado, Dr.

Pedro Luiz. A exposição do Dr. Pedro Luiz foi tão clara e tão abrangente quanto as

demais.

Temos um material farto e bastante objetivo, como está dizendo o nosso

Relator, para fazermos as nossas questões.

Há inscritos. O Deputado Julio Semeghini, que é o Relator, teria a

preferência, mas S.Exa. vai apresentar a sua questão após os Parlamentares

inscritos.

Há três inscritos: o Deputado Nelson Proença, que se encontrava aqui mas

saiu, o Deputado Walfrido Mares Guia e o Deputado Jorge Bittar. A seguir, o

Relator Julio Semeghini apresentará suas questões.

Peço aos nossos convidados que relacionem as principais questões. Depois

cada um terá tempo para se pronunciar sobre essas questões.

Com a palavra o nobre Deputado Walfrido Mares Guia.

O SR. DEPUTADO WALFRIDO MARES GUIA - Sr. Presidente, Sr. Relator,

senhores palestrantes, queria cumprimentá-los pela objetividade e pela clareza das

três apresentações.

Tenho alguns comentários e talvez uma ou duas perguntas. Pergunto ao Dr.

Rogério Vianna, representante do Ministério do Desenvolvimento, uma questão que

ficou como curiosidade. Por que o Ministério da Fazenda não entrou na Comissão?

Pelo que entendi, a Comissão é formada pelo Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e pelo

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. E o Ministério da Fazenda fica

fora dessa Comissão. Não estou querendo que o Legislativo dê palpite na área do

Executivo. A questão é que estamos tratando de algo muito novo e espetacular em

termos de solução ou de complicação de problemas. Quanto mais o Governo puder

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

24

entender isso, tanto melhor para todos nós. Não se trata de censura a minha

pergunta, é só uma curiosidade.

O SR. ROGÉRIO VIANNA - Respondo em um segundo. O Ministério da

Fazenda é convidado do Comitê Executivo, estará lá como convidado. Apenas ele

não é — digamos — o fundador que se restringiu àquele Ministério que tem

interesse permanente e não específico na matéria.

O SR. DEPUTADO WALFRIDO MARES GUIA - Sobre a questão da

massificação, que é uma preocupação de todos nós, sobretudo porque nosso País

é tão desigual, vejo que a velocidade dos computadores pode separar ainda mais o

que já está separado de uma maneira dantesca. Pelos dados do Dr. Pedro Luiz,

fiquei surpreendido e até quero cumprimentá-lo: de 13 milhões de contribuintes, 11

milhões fazem suas declarações pela Internet. Não sabia desse dado.

O que vejo é uma questão interessante para refletirmos. Hoje, é raro vermos

um trabalhador, de qualquer tipo de empresa, que não tenha um computador em

cima da mesa.

Lembro-me de que em 1991, quando tornei-me Secretário de Educação, em

Minas Gerais, demorei quatro anos para substituir as máquinas de escrever pelos

computadores. Em 1991, havia um microcomputador. Não era nem um

microcomputador, era um terminal no Gabinete do Secretário, assim mesmo era

para fazer negócio de política. Oito anos depois, quando saímos da Secretaria, nos

dois Governos consecutivos, havia milhares. Todo mundo já tinha um computador,

já havia mais de duas mil escolas com computadores.

Atualmente, todas as empresas já têm computador. Quer dizer, os próprios

funcionários das empresas, na hora em que têm de entregar as suas declarações,

já mandam pelo computador dos seus trabalhos. O que é uma coisa notável, o

índice de quase 80% das declarações serem feitas pela Internet. Aliás, a Receita

merece aplausos por isso.

O que me chamou a atenção aqui — e gostaria de me deter um pouco mais

— é sobre a questão do CPF, do contribuinte da pessoa física ou do CGC da

empresa virar agora uma coisa eletrônica.

Achei interessante quando o Dr. Pedro Luiz disse que quando entregamos a

declaração fisicamente ninguém pede para reconhecer a firma, não é? Da mesma

forma, eletronicamente, o repúdio não se deu. Aliás, parece que não se deu em

nenhum caso, conforme ele disse aqui.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

25

A nossa preocupação como legislador é evitar qualquer tipo de burocracia,

de complicação e de quebra na velocidade, como disse o primeiro palestrante da

ASSESPRO, Dr. Fernando Nery.

Usar a velocidade da Internet, a rapidez da Internet, a facilidade da Internet é

uma obrigação nossa, dos legisladores, ainda mais numa coisa tão nova. Não

devemos é inventar maneiras para dificultar algo que obviamente é para simplificar.

Pela sua exposição, Dr. Pedro, entendi que a Receita está com essa

preocupação. Quer dizer, não criar nenhum tipo de burocracia, de complicação. O

que ele vai fazer é trocar um pedacinho de um papel por uma senha. Da mesma

forma que tiro e ponho dinheiro no banco com a senha eletrônica, posso

relacionar-me com a Receita Federal com a senha eletrônica. Em vez de ela me ser

dada na sede da Receita, ela pode ser concedida em qualquer lugar, desde que

seja credenciada: seja o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, os Correios

ou "n" empresas espalhadas pelo País para me certificar. Uma vez certificado,

carrego a senha comigo e me comunico com a Receita da forma que bem quiser.

Ficarei tão longe da Receita quanto estou do banco, ou tão perto da Receita

quanto estou do banco. Nos dois eu vou eletronicamente, eu e todo mundo, porque

cada vez está mais fácil.

Nossa preocupação aqui é aprendermos as lições e buscarmos uma

conseqüência na legislação que vamos fazer. Preocupamo-nos também com a

proteção. Entendi claramente aquilo que V.Sa. disse, que a Receita quer saber com

quem ela está falando.

O banco sabe com quem ele está falando na hora que ele faz um depósito,

na hora que ele libera um crédito, não é? Pode ser bom também para a Receita

saber com quem ela está falando.

Quero deixar uma última pergunta. E a questão do sigilo? Temos discutido

muito aqui a questão do sigilo; uns estão preocupados com a superproteção e

outros até com a ingenuidade. O sigilo é um bem da cidadania, mas não pode ser

colocado também como uma coisa que protege aqueles que não o cumprem

adequadamente.

Como temos de rastrear a informação de um jeito ou de outro, se na hora

dessa fatura eletrônica houver problema, o que o senhor pensa, Dr. Pedro, sobre a

questão do sigilo para simplificar e não para complicar o processo?

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

26

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Passo a palavra ao

próximo inscrito, Deputado Jorge Bittar.

O SR. DEPUTADO JORGE BITTAR - Sr. Presidente, penso que foram muito

interessantes as exposições de hoje também, que agregaram fatos novos,

conhecimentos novos.

O Dr. Fernando Nery passou uma visão de conjunto sobre muitos aspectos

que envolvem o comércio eletrônico. Quando se fala em Internet, fala-se em

velocidade, ou seja, chegar antes para que possamos surfar bem essa onda e

criarmos novas oportunidades, atividades econômicas, geração de trabalho e renda

em nosso País, de maneira ampla, com esse novo ambiente, o que pode ser

extremamente profícuo. Os dois expositores do Governo nos agregou informações

extremamente interessantes.

Pessoalmente, não conhecia esse novo aspecto da Receita Federal. Tinha

informações sobre o extraordinário êxito do recebimento de declarações de Imposto

de Renda através da Internet, mas não sabia que a Receita já estava avançada

também no que diz respeito à assinatura digital.

Na verdade, montamos um sistema que envolve a autoridade certificadora,

mecanismos de auditoria periódica dessa autoridade registradora, um modelo que

serve de referência para que possamos sobre ele refletir e criar o nosso paradigma,

de tal maneira que a legislação possa generalizar um sistema de certificação, de

registro em nosso País, no sentido de reconhecimento de firma, da autenticação de

documentos eletrônicos e tudo mais.

Há uma preocupação, que foi mencionada pelo Deputado Walfrido Mares

Guia, de que nós, nesse novo ambiente, não venhamos apenas reproduzir o

paradigma que vale para o ambiente antigo, o ambiente do papel.

Gostaria de ouvir, se possível, dos expositores, a partir do que foi dito e do

que se conhece, que sugestões eles nos proporiam para desenharmos um sistema

de certificação, assinatura digital, que seja simplificador, ágil, que não crie novas

burocracias para o cidadão, mas que ao mesmo tempo seja efetivamente seguro,

ou seja, isso já foi expresso aqui, que a tecnologia nos permita avançar,

estabelecendo procedimentos claros e utilizando-a também para reduzir a

possibilidade de fraude, seja nas relações com o Poder Público, seja nas

transações privadas.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

27

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, nobre

Deputado Jorge Bittar.

Antes de passar a palavra ao Relator, gostaria apenas de reafirmar que tive

uma experiência num seminário fora do Brasil que também me surpreendeu. Um

conferencista estrangeiro, especializado nesse mundo digital, na nova economia,

citou a Receita Federal brasileira como uma instituição governamental de

excelência pela eficiência nessa área. Fiquei bastante surpreendido e satisfeito,

porque, na realidade, a gente não acompanha esses dados. Faço esse registro

porque ambos falaram sobre o assunto. Os números apresentados aqui confirmam

isso.

O SR. DEPUTADO WALFRIDO MARES GUIA - Sr. Presidente, isso não

significa que estejamos felizes com a carga tributária. (Risos.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Não sei se isso é muito

bom ou é muito ruim para nós; vamos contribuir. De qualquer maneira, essa é uma

realidade do uso da tecnologia.

Passo a palavra ao Deputado Julio Semeghini, Relator dessa matéria. Logo

em seguida passaremos a palavra aos palestrantes.

O SR. DEPUTADO JULIO SEMEGHINI - Sr. Presidente, agradeço a todos

os presentes: ao Fernando Nery, que representa a ASSESPRO, ao Embaixador

Oscar, por ter enviado o Rogério Vianna, que é uma pessoa que tem acompanhado

leis de vários países, e ao Everardo Maciel.

Gostaria de tentar esclarecer algumas questões que têm sido comum na

nossa Comissão. Vou fazer essa pergunta a três pessoas. Estamos preocupados.

Temos percebido que algumas instituições diferentes, portais diferentes, ou cada

setor, como o financeiro ou o comércio, tem achado uma forma de relacionar-se

eletronicamente sem ter o documento eletrônico e a assinatura digital. Percebemos

que bancos bancam, na verdade, o risco das operações por meio de cartão de

crédito, do seu cadastro. Os bancos montam um mundo fechado, com um grupo

seleto de compradores e de clientes, que passam a oferecer essa garantia e fazem

essa operação, na verdade, de compra e venda de produtos commodities e os

entrega onde o cliente estiver, até sem ser necessário legislação sobre documento

digital entre e a introdução do documento eletrônico e a assinatura digital.

Ao instituirmos no Brasil a assinatura digital de maneira formal, preparada,

mesmo que não seja obrigatória — creio que seja comum nesta Comissão não

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

28

obrigarmos de forma alguma —, quer dizer, a assinatura digital sendo um

documento eletrônico, estando disponível como uma alternativa até do Governo,

não estaríamos fazendo com que o próprio Governo começasse — não no nosso

projeto de lei —, posteriormente, a exigir que outros subsistemas que existem de

maneira até informal, mas dando certo, se enquadrassem nesse processo, uma vez

que teriam uma legislação digital? A preocupação, diga-se de passagem, está na

regulamentação do Ministério, na Receita Federal, está na legislação do Banco

Central, que poderia depois exigir que esses outros órgãos se enquadrassem.

É importante que na nossa Comissão tivéssemos essa visão dos órgãos

governamentais sobre essa questão, o que é uma preocupação que começa desde

já em algumas pessoas.

Temos percebido que a grande oportunidade de realmente termos uma

legislação sobre tudo isso é ampliarmos os serviços. Fico contente, porque percebi,

em todas as apresentações, propostas para que esse documento eletrônico e a

assinatura digital ampliassem os serviços exigidos por outros setores públicos e

privados. Gostaria de exemplos claros dos setores da iniciativa privada, dos setores

dos órgãos públicos, aqui representados, sobre essa questão.

Formulo ao Fernando Nery uma pergunta mais específica. Quando se fala

em mais confiança na rede ou na segurança, há hoje algumas legislações que não

são do comércio eletrônico, não estão na assinatura digital, não estão nesta

Comissão. Há alguma expectativa do setor de que essa legislação sobre o comércio

eletrônico, na verdade o documento eletrônico, a assinatura digital, trate do aspecto

segurança, ou isso na verdade não poderia ser tratado nos outros projetos de lei

sobre segurança ou nas recomendações dos órgãos, como o comitê da Internet?

Poderíamos marcar uma visita ao setor de tecnologia da Receita Federal —

fique tranqüilo quando você colocar o Everardo Maciel —, para que pudéssemos

conhecer essa fase de implantação, o conceito, como vocês estão selecionando

isso, uma vez que vocês mesmos são os credenciadores. Como é que vocês estão

classificando essas certificadoras? Quem são? Como está acontecendo, na prática,

esse processo? Poderíamos enxergar de perto um processo que nessa lei acabará

acontecendo depois da sua regulamentação.

Podemos fazer esse contato com o Everardo Maciel, agendando essa visita,

para que sentíssemos, na prática, com mais detalhe, numa reunião bem específica,

esse processo que está sendo implantado.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

29

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, Deputado

Julio Semeghini.

A Mesa fará essa agenda para a próxima semana, já com atividades aqui.

Não será difícil, porque os técnicos estarão disponíveis. Eles não viajam tanto

assim. Vou providenciar isso junto à secretaria e com o meu gabinete.

Passo a palavra, para as devidas considerações sobre as questões

apresentadas, ao Dr. Fernando Nery. Temos um tempo limitado de cinco minutos

para cada conferencista.

O SR. FERNANDO NERY - Sem dúvida alguma, penso que existe uma

enorme demanda da sociedade e da própria comunidade de comércio eletrônico e

Internet sobre esse tipo de legislação. Vou justificar.

Primeiro responderei à pergunta do Deputado Walfrido Mares Guia sobre

sigilo e privacidade.

Há pouco houve um encontro mundial sobre Internet em que a privacidade

foi um dos assuntos mais discutidos. Sem dúvida alguma, buscar informações de

uma pessoa em um armário, em vários armários ou em vários papéis que estão ou

não classificados é uma coisa, outra é pegar um banco de dados, onde, por meio

de um comando simples, é possível encontrar o nome de uma pessoa ou buscar

informações através de determinada faixa de renda e assim por diante.

Nos Estados Unidos existe uma legislação rígida sobre essa questão, até

restringindo alguns cruzamentos de bancos de dados que possam invadir a

privacidade das pessoas. V.Exa. tem toda a razão. É necessário também, no que

tange à questão de privacidade, capacitar mais as polícias, principalmente a Polícia

Federal. Hoje, a Polícia Federal dispõe de um grupo muito competente para tratar

desse assunto. Existem delegacias em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Minas

Gerais que tratam especificamente de crimes de Internet. Mas é necessário ter

cada vez mais agentes que tratem desse assunto.

Nos Estados Unidos, para V.Exa. ter idéia, o Departamento de Comércio

trata de várias regulamentações sobre a segurança. Cada vez mais, o

Departamento de Justiça tem criado novos tribunais específicos e capacitado

advogados e juízes. O FBI tem capacitado a Polícia Federal e as polícias dos

Estados. A CIA tem o mapeamento de todos hackers e pessoas que usam meios

eletrônicos para cometer fraudes, e assim por diante.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

30

Sem dúvida alguma, há outro aspecto: as grandes quadrilhas internacionais

vão aos países onde o cerco está menos fechado. Assim como o tráfico de drogas

passa pelos países onde o cerco está menos fechado, as fraudes eletrônicas vão

para os países onde a legislação é mais fraca e onde as polícias estão menos

capacitadas. É muito importante analisar essa questão dentro do círculo

mencionado. Não se trata de círculo físico, e sim eletrônico.

Recentemente, estive conversando com um executivo de uma empresa de

cartões de crédito. Ele me disse que em São Paulo, na Praça da Sé, quando se

rouba um cartão de crédito de uma carteira, em quinze minutos ele vira um plástico

na Tailândia. Já existem ações organizadas para cometer crimes eletrônicos. É

muito importante a questão do sigilo e da privacidade, que estão extremamente

ligados. Porém, a assinatura e o certificado digitais não são uma ameaça, mas sim

uma solução nesse processo como um todo. Esta é exatamente uma forma de

fazer com que só determinada pessoa acesse a informação, e assim por diante.

A Constituição de 1988 criou o habeas data. Cada cidadão tem direito a ter

acesso a informações suas que estejam em qualquer banco de dados, mas só

aquele cidadão. Outras pessoas não podem ter essa informação. A partir do

momento em que se disponibilize isso eletronicamente é necessário que a pessoa

certa acesse a informação certa. A legislação mencionada trata disso.

Quanto à questão da existência de várias maneiras de relacionamento, isso

realmente tem sido feito, ou seja, cada banco, cada site de comércio eletrônico,

cada empresa, cada cadeia produtiva ou cada portal está fazendo relações de

segurança diferentes. Tudo isso tem acontecido pela falta de uma linha mestra.

Atualmente, não existe uma norma única a ser seguida por todos. Cada um está

atuando de uma maneira. Não existe legislação que torne isso legal.

Realmente, isso tem-se expandido e traz um problema: a dificuldade da

interoperabilidade. Quer dizer, muitas vezes, quando se vai integrar duas soluções,

elas não conseguem falar entre si. Uma legislação também ajudaria, facilitando a

interoperabilidade.

O Deputado Julio Semeghini mencionou a questão da maior confiança na

rede e que existem diversas outras legislações que poderiam ser tratadas: a de

crimes em computadores, de moeda eletrônica e assim por diante.

Realmente acredito que deve haver isso. Algumas vezes já vi a Comissão de

Ciência e Tecnologia fazer isso, ou seja, agregar diversas competências para

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

31

realizar a discussão como um todo. Com certeza, uma discussão que surgir aqui

poderá transformar-se numa recomendação do Comitê Gestor da Internet ou de um

Ministério ou ainda da própria Receita Federal.

Reputo importantes essas reuniões. Com certeza o Dr. Pedro Luiz e o Dr.

Rogério Vianna também sairão daqui um pouco enriquecidos e voltarão a somar-se

a esta Comissão com suas competências.

Tenho um pedido do Deputado Jorge Bittar. Realmente deve haver um grupo

de trabalho para apoiar esta Comissão. Ela poderia reunir-se, não sei com que

periodicidade. Não sei quais são os costumes nesta Casa. Sem receio de citar

alguns, podemos citar algumas competências existentes: o Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o Ministério do Planejamento,

Orçamento e Gestão, a Receita Federal, o CEPESC, a Universidade de Brasília, a

Universidade Federal de Pernambuco, a UNICAMP, a ASSESPRO, o SERPRO, a

DATAPREV, o BRADESCO. Portanto, existem várias entidades que poderiam

reunir-se num mesmo momento e criticar essa legislação. Esse tipo de discussão

poderá ser feita rapidamente pela Internet. Criar-se-ia um grupo. Todas as pessoas

que tratam do assunto, que usam a Internet, usam o correio eletrônico, e poderiam

receber informação, dar contribuições. Assim, teríamos uma legislação e sua

implementação seria automaticamente facilitada, porque as principais competências

fariam parte daquela comissão.

O Governo americano faz muito isso. É comum o Presidente Bill Clinton

convidar técnicos a irem à Casa Branca, no Salão Oval, para discutirem assuntos

sobre tecnologia. É comum haver reuniões sobre tecnologia no Parlamento

americano. Aliás, o Deputado Julio Semeghini, Relator, conhece bem essas

pessoas e é conhecido por elas. Há credibilidade de um correio eletrônico conseguir

atrair as melhores cabeças do Brasil. Será uma grande contribuição não só para a

Comissão, mas também para o País como um todo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Obrigado, Dr. Fernando

Nery.

Tem a palavra o Dr. Rogério Vianna.

O SR. ROGÉRIO VIANNA - Obrigado. Farei algumas observações um tanto

esparsas.

A primeira delas, que foi citada no grupo de trabalho, na Casa Civil, é que até

o momento o Governo brasileiro utilizou com bastante sucesso tecnologias de

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

32

informação. Esse sucesso serviu ao próprio Governo; aumentou a eficiência,

diminuíram-se os custos, aumentou o nível de controle. Mas está chegando a hora

de a tecnologia de informação ser utilizada pelo Governo em prol do cidadão, ou

seja, para oferecer serviços ao cidadão, à sociedade, não apenas como instrumento

específico, mas também de melhoria da produtividade de seus trabalhos internos.

A partir de agora farei comentários sobre o que foi dito aqui, algo sobre a

legislação. Acho que vamos ter reuniões específicas para discutir em detalhe a

questão da legislação. Aliás, volto a dizer que não é apenas a minha opinião, mas

também do Secretário de Tecnologia, Embaixador Óscar Lourenço, a respeito de

que deveríamos trabalhar em conjunto. Depois de uma reunião do Deputado Julio

Semeghini e de outros Parlamentares com o Ministro de Estado, foi uma

determinação de S.Exa. para que nos portássemos como assessores desta

Comissão e prestássemos todo o apoio que pudéssemos.

Assim, Sr. Deputado Arolde, V.Exa. nos poderá convocar para o que quiser,

na hora em que quiser.

A recente lei americana dá duas ou três obrigações específicas ao Executivo.

Ela diz que dentro de um ano o Departamento de Comércio tem de apresentar um

relatório, com uma análise circunstanciada, mostrando se aqui ou ali está dando

certo ou não, quais foram os problemas; eles procuram criar seu próprio feedbackem assunto como esse, em que o grande problema não é criar direitos, não é votar

orçamento, não é criar deveres, mas, sim, criar um ambiente legal e de fomento ao

desenvolvimento do comércio eletrônico. Então, há que se adotar uma legislação

que procure ter um automecanismo de avaliação. Isso seria algo interessante.

Outro ponto que muito se fala é sobre a assinatura digital, se deve constar ou

não na lei. A legislação americana, como outras, não menciona as palavras

"assinatura digital" ou "certificado digital". No Brasil, talvez seja mais conveniente

chamar de "entidade" e não de "autoridade". A legislação americana e outras não

mencionam esses aspectos.

A legislação não é feita para dizer como deve funcionar uma assinatura ou

um certificado digital. Esse é um assunto tratado entre as partes. A legislação, em

primeiro lugar, tem de ser tecnologicamente neutra. Quando se fala em assinatura

digital, está-se falando de uma determinada tecnologia. Dificilmente haverá

necessidade de uma lei para esta tecnologia. O que se faz é uma lei que sirva para

contratos e transações, documentos eletrônicos de forma geral que sirvam,

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

33

portanto, de ação para aqueles que implementam essas coisas com a tecnologia

"a", "b" ou "c".

A Receita Federal implementou essa tecnologia, então, tem de dizer como

vai trabalhar, assim como todas outras entidades do Governo, que prestam serviço

com base nessa tecnologia, têm de esclarecer as formas de trabalhar. Essa

questão não é a que ocupa o primeiro plano da legislação, que é apenas criar um

ambiente jurídico que proteja os contratos eletrônicos e as partes envolvidas.

Por exemplo, poderíamos pensar que se a Receita Federal me envia um

e-mail dizendo que estou convocado e que a minha declaração está impugnada,

que isso tem valor, mas não tem valor algum. Uma coisa como essa não pode ter

valor algum. Não sou obrigado a ligar computador. A legislação americana, nesse

sentido, é muito útil para nós, porque faz com que essas novas tecnologias não

criem novas obrigações que não tenham sido explicitamente concordadas pelo

consumidor. Elas não criam esse tipo de obrigação. Na verdade, o que as

tecnologias fazem é permitir à Receita e a todos os órgãos do Governo que

ofereçam serviços, que, de outra maneira, não poderiam oferecer, mas não significa

— o Dr. Pedro Luiz deixou isso bem claro — nenhum avanço sobre direitos e

deveres antes existentes.

Esse é o desafio da legislação. Seu desafio não é criar regras para

certificadoras digitais. Existe um ponto particular que tem de ser discutido: qual é a

responsabilidade civil e penal de uma certificadora digital que emitiu um certificado

equivocadamente ou fraudulentamente? Se uma certificadora me dá um certificado

falso, se o Pão de Açúcar acredita, compro alguma coisa, quem emitiu o certificado,

obviamente... Eventualmente, esse tipo de responsabilização nem precisaria ater-se

ao fato de aquela ser uma certificadora digital, ou seja, uma empresa que opera

uma determinada tecnologia. Mas continua sendo também um assunto de natureza

mais geral.

Quanto à questão de cartórios, como o Dr. Pedro Luiz mencionou, existe

esse problema básico. A tecnologia permite — não é nenhuma panacéia, é bom

que se diga — que haja uma identificação razoavelmente precisa de quem está na

outra ponta de uma rede anônima, como a Internet, mas permite ligar um

computador, ou um certificador a Internet, mas não permite saber que aquele

certificado realmente pertence àquela pessoa. Se vou a uma certificadora e peço

um certificado em nome do meu irmão, eles me dão e passo a ser meu irmão. Isso

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

34

não pode acontecer. Alguém tem que ver se essa tecnologia vale, se houver uma

autoridade registradora — esse é o jargão técnico utilizado — que realmente ligue a

pessoa ao certificado. Isso coloca certo aspectos legais, não para fins de uma rede

fechada, de uma empresa qualquer, mas, no plano geral, coloca certas questões

jurídicas que têm sido abordadas na lei que o Deputado Julio Semeghini relata.

Há vários aspectos considerados muito polêmicos em reuniões da

comunidade técnica sobre participação de cartórios. Não vou entrar neste assunto.

Gostaria apenas de dizer que, particularmente, o que vai sair do outro lado,

mencionando a legislação, ou o que quer que seja sobre os cartórios só pode se

aquilo for adequado. Não faz sentido algum dar prerrogativas a cartórios que não

tenham e que no mundo virtual não faz sentido terem.

Por outro lado, não faz sentido haver vários cartórios. Primeiro, porque o

consumidor no Brasil não tem essa cultura. Ele pode achar e a própria empresa, até

certo ponto, pode achar que se sente mais protegida criando um passo de

segurança jurídica se um negócio for reconhecido em um cartório. Se isso é feito no

mundo físico, não há por que interferir ou proibir nada disso no mundo virtual.

Grande parte dos documentos que vão ao cartório não é porque a lei manda, mas

porque as pessoas já têm o hábito de levá-los. E não é a lei que, no mundo virtual,

vai dizer que as pessoas não devem mais ter esse hábito. O cartório pode

efetivamente ter o acesso que quiser. Eles vão oferecer serviços; e no mundo virtual

vai haver ou não demanda para eles.

Nos Estados Unidos e no Brasil também existe o conceito de cyber notary,

ou seja, aqueles cartórios que também são capazes de realizar seu trabalho no

mundo virtual. Eu não preciso levar um disquete com o meu certificado, fisicamente,

para um tabelião ou alguém reconhecer, assinar na presença dele o documento

utilizado para gerar certificado digital. O cartório também pode evoluir para prestar

serviços no próprio mundo virtual. Existem certos aspectos legais nisso e em outros

da sociedade que procura proteção racional e jurídica para essas coisas. De fato, a

comunidade, em várias reuniões que participei, ficou prejudicada, porque grande

parte ou uma boa parte dos artigos da legislação fala de cartório. Só isso já

assustou. Mas é o caso de apenas saber o que efetivamente está posto ali. A

princípio, acredito que não vai poder ser mesmo diferente disso. É mais ou menos o

que mencionei.

Era o que tinha a dizer.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

35

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Agradecemos ao Dr.

Rogério Vianna a participação.

Concedo a palavra ao Dr. Pedro Luiz César Bezerra, para suas

considerações.

O SR. PEDRO LUIZ CÉSAR BEZERRA - Inicialmente gostaria de comentar

a pergunta do Deputado Walfrido Mares Guia sobre sigilo bancário. Hoje a Receita

tem uma enorme preocupação com as fraudes. Por exemplo, no mundo real, uma

fatura entre duas empresas pode ser adulterada. Encontramos casos em que a

fatura é adulterada após sua emissão. Sempre há dois aspectos: de um lado há

alguém que aumenta o valor da fatura para fazer custos, de outro, alguém que

diminui o valor da fatura para diminuir receita. Temos de comprovar a adulteração e

quem fez. Segundo os fiscais de campo da Receita, é possível identificar quem fez.

No mundo de faturas virtuais, é preciso que essa garantia permaneça. Se houver

adulteração de uma fatura virtual, eu tenho de identificar quem fez. A tecnologia

permite isto. A própria assinatura, que garante quem emitiu e o que emitiu e

envelopa isso — esse é o termo em tecnologia —, manda o original para o outro, de

modo que ele pode repudiar se a quem ele vendeu aquilo foi alterado. É preciso

que essas coisas estejam garantidas.

Gosto de encarar a tecnologia no tempo. Há alguns anos, a tecnologia de

cartão magnético, de trilhas, era considerada inviolável. Hoje, qualquer hacker de

beira de calçada vai ao terminal eletrônico e copia a trilha. Não foi à toa que alguns

bancos passaram a utilizar a dupla inserção de cartão, porque se estava copiando

trilha magnética. Não sei se, em algum tempo, um certificado digital também não

poderá ser violado. A Receita tem essas preocupações.

A maior garantia que podemos ter em termos de transação real é a

transação financeira. Esse é um assunto extremamente polêmico. Não sou eu que

vou comentar, nem aprofundar, mas gostaria de dizer que à Receita não interessa

saber como se gasta o dinheiro. Temos todo o interesse em preservar as garantias

e o sigilo individuais. À Receita interessa, pela sua própria prerrogativa estabelecida

por lei, saber quem ganha e quanto ganha.

Realmente, a CPMF é um instrumento que permite hoje à Receita mapear. É

perfeitamente fácil rastrear as transações ocorridas por meio do fluxo financeiro.

Então, somos a favor da medida. Por isso, trabalhamos no Fisco.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

36

Ao Deputado Jorge Bittar tenho a dizer que a Receita está inteiramente à

disposição. O Secretário Everardo Maciel pediu-me que dissesse isso. Faremos

tudo para ajudá-los a preparar a melhor legislação possível. Já nos estamos

preparando para uma visita lá. Vou levar o assunto ao Secretário Everardo Maciel,

que deverá ser contatado pelo Presidente.

Quanto aos comentários do Sr. Relator, concordo com aquilo que foi dito

pelo Rogério Vianna. A legislação não deve tratar de tecnologia. Tratamos de

tecnologia porque estamos em outro nível, onde temos de definir tecnologia. O

aspecto mais importante é dar validade legal. Isso preocupa tremendamente a

Receita, que hoje é muito dependente da Internet.

Fico muito satisfeito de ter ouvido do Relator que a idéia é que não seja

obrigatório. Acho que não se deve criar uma camisa-de-força. Faz parte desse

processo inicial e de um amadurecimento do uso da certificação digital que haja

instituições com maneiras diferentes de ver o assunto. A legislação não deveria

cercear isso. A Receita tem uma maneira de fazer. Amanhã a Previdência e o

BRADESCO, por exemplo, criarão outra.

Num primeiro momento, realmente o problema da interoperabilidade é uma

coisa indesejável, mas não é importante. O importante é a validade legal. Quanto a

isso, concordo muito com os comentários do Sr. Rogério Vianna.

Finalmente, agradeço-lhes as elogiosas referências dispensadas à Receita

Federal. Sem falsa modéstia, reconheço que elas são realmente merecidas.

(Risos.)

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Arolde de Oliveira) - Estamos chegando ao

final da nossa reunião. Já fomos comunicados do início da Ordem do Dia.

Agradeço, mais uma vez, aos nossos ilustres palestrantes, que trouxeram

contribuições extremamente válidas, segundo dados trazidos pelo Deputado Julio

Semeghini e também pelo que pude apreender.

Espero que possamos continuar contando com esse espírito de colaboração.

Ressalto ao Sr. Rogério Vianna que temos tido o melhor relacionamento com o

Ministério que V.Sa. representa e continuamos contando com o seu apoio para a

realização de nossos trabalhos.

Muito obrigado a todos.

Está encerrada a presente reunião.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - PL 1.483/99 - COMÉRCIO ELETRÔNICONúmero: 0854/00 Data: 09/08/00

37