calligaris, rodolfo - as leis morais

93
1 AS LEIS MORAIS RODOLFO CALLIGARIS

Upload: jascarpi

Post on 25-Nov-2015

185 views

Category:

Documents


23 download

TRANSCRIPT

  • 1

    AS LEIS MORAIS RODOLFO CALLIGARIS

  • 2

    NDICE

    Kardec 4 NOTA DO AUTOR

    CAPTULO 1 = As Leis Divinas CAPTULO 2 = O Conhecimento da Lei Natural CAPTULO 3 = A Progressividade da Revelao Divina 1 CAPTULO 4 = A Progressividade da Revelao Divina 21 CAPTULO 5 = A Progressividade da Revelao Divina 3 CAPTULO 6 = A Progressividade da Revelao Divina 4 CAPTULO 7 = O Problema do Mal CAPTULO 8 = A Responsabilidade do Mal CAPTULO 9 = Os Espritos Podem Retrogradar? CAPTULO 10 = Como Adorar a Deus? CAPTULO 11 = A Prece CAPTULO 12 = Sacrifcios CAPTULO 13 = A Lei de Trabalho CAPTULO 14 = Limite do Trabalho CAPTULO 15 = O Repouso CAPTULO 16 = A Lei de Reproduo CAPTULO 17 = O Aborto CAPTULO 18 = Celibato, Poligamia e Casamento Monogmico CAPTULO 19 = A Lei de Conservao CAPTULO 20 = A Procura do Bem-Estar CAPTULO 21 = A Lei de Destruio CAPTULO 22 = O Assassnio CAPTULO 23 = Heliotropismo Espiritual CAPTULO 24 = A Pena de Talio CAPTULO 25 = Sociabilidade CAPTULO 26 = A Misso dos Pais CAPTULO 27 = A Famlia CAPTULO 28 = A Lei de Progresso CAPTULO 29 = Terra Instituto Educacional CAPTULO 30 = A Evoluo da Humanidade CAPTULO 31 = Influncia do Espiritismo no Progresso da Humanidade CAPTULO 32 = A Lei de Igualdade CAPTULO 33 = A Igualdade de Direitos do Homem e da Mulher CAPTULO 34 = A Lei de Liberdade CAPTULO 35 = O Livre Arbtrio CAPTULO 36 = Fatalidade e Destino CAPTULO 37 = Como Conquistar a Prosperidade CAPTULO 38 = Conhecimento do Futuro CAPTULO 39 = Direito e Justia CAPTULO 40 = O Direito de Propriedade CAPTULO 41 = Esmola e Caridade 1 CAPTULO 42 = Esmola e Caridade 2 CAPTULO 43 = As Paixes CAPTULO 44 = O Egosmo CAPTULO 45 = Conhece-te a ti Mesmo

  • 3

    Kardec

    Lembrando o Codificador da Doutrina Esprita, imperioso estejamos alerta em nossos deveres fundamentais.

    Convenamo -nos de que necessrio: sentir Kardec; estudar Kardec; anotar Kardec; meditar Kardec; analisar Kardec; comentar Kardec; interpretar Kardec; cultivar Kardec; ensinar Kardec e divulgar Kardec... Que preciso cristianizar a Humanidade afirmao que no padece

    dvida; entretanto, cristianizar, na Doutrina Esprita, raciocinar com a verdade e construir com o bem de todos, para que, em nome de Jesus, no venhamos a fazer sobre a Terra mais um sistema de fanatismo e de negao.

    EMMANUEL

    (Psicografia de Francisco Cndido Xavier, publicada em Reformador de 3/61.)

  • 4

    NOTA DO AUTOR

    Os assuntos desenvolvidos nesta obra apian-se em O LIVRO DOS ESPRITOS, parte 3, ou foram por ele inspirados.

  • 5

    1 As Leis Divinas

    Desde tempos imemoriais, a Cincia. vem-se dedicando exclusivamente ao estudo dos fenmenos do mundo fsico, suscetveis de serem examinados pela observao e experimentao, deixando a cargo da. Religio o trato das questes metafsicas ou espirituais.

    Com o avano cientfico nos ltimos sculos, principalmente no 19, o divrcio entre a Cincia e a Religio transformou-se em beligerncia.

    Apoiada na Razo, e superestimando os descobrimentos no campo da matria, a Cincia passou a zombar da Religio, enquanto esta, desarvorada e ferida em seus alicerces os dogmas sem prova , revidava como podia, lanando antemas s conquistas daquela, apontando-as como contrrias F.

    Devido posio extremada que tomaram e ao ponto de vista exclusivo que defendiam, Cincia e Religio deram Humanidade a falsa impresso de serem irreconciliveis e que os triunfos de uma haveriam de custar, necessriamente, o enfraquecimento da outra.

    No assim, felizmente. O Espiritismo, embora ainda repelido e duramente atacado, tanto pela

    Cincia como pela Religio ditas oficiais, veio trazer, no momento oportuno, preciosa cota de conhecimentos novos, do interesse de ambas, oferecendo-lhes, com isso, o elo de ligao que lhes faltava, para que se ponham de acordo e se prestem mtua cooperao, porque, se exato que a Religio no pode ignorar os fatos naturais comprovados pela Cincia, sem desacreditar-se, esta, igualmente, jamais chegaria a completar-se se continuasse a fazer tbua rasa do elemento espiritual.

    Graas ao Espiritismo, comea-se a reconhecer que o homem, criatura complexa que , formada de corpo e alma, no sofre apenas as influncias do meio fsico em que vive, quais o clima, o solo, a alimentao, etc, mas tanto ou mais as influncias da psicosf era terrena, ou seja, das entidades espirituais boas ou mas que coabitam este planeta (os chamados anjos ou demnios), as quais interferem em seu comportamento em muito maior escala do que ele queira admitir. Da a recomendao do Cristo: orai e vigiai para no cairdes em tentao.

    Graas ainda ao Espiritismo, sabe-se, hoje, que o esprito (ou alma) no mera funo do sistema sensrio-nervoso-cerebral, como apregoava a pseudo-cincia materialista, nem to-pouco unta centelha informe, incapaz de subsistir por si mesma, como o imaginavam as religies primevas ou primrias, mas sim um ser individualizado, revestido de uma substncia quintessenciada, que, apesar de imperceptvel aos nossos sentidos grosseiros, passvel de, enquanto encarnado, ser afetado pelas enfermidades ou pelos traumatismos orgnicos, mas que, por outro lado, tambm afeta o indumento (soma) de que se serve durante a existncia humana, ocasionando-lhe, com suas emoes, distrbios funcionais e at mesmo leses graves, como o atesta a psiquiatria moderna ao fazer medicina psicossomtica.

    Quanto mais o homem desenvolve suas faculdades intelectuais e aprimora suas percepes espirituais, tanto mais vai-se inteirando de que o mundo material, esfera de ao da Cincia, e a ordem moral, objeto especulativo da Religio, guardam ntimas e profundas relaes entre si, concorrendo, um e

  • 6

    outra, para a harmonia universal, merc das leis sbias, eternas e imutveis que os regem, como sbio, eterno e imutvel o Seu legislador.

    No pode nem deve haver, portanto, nenhum conflito entre a verdadeira Cincia e a verdadeira Religio. Sendo, como so, expresses da mesma Verdade Divina, o que precisaxn fazer dar-se as mos, apoiando-se rec-procamente, de modo que o progresso de uma sirva para fortalecer a. outra e, juntas, ajudem o homem a realizar os altos e gloriosos destinos para que foi criado.

    (Captulo 1, questo 614 e seguintes.)

  • 7

    2 O Conhecimento da Lei Natural

    Depois de muitos sculos de desunio, ou, pior ainda, de estpida e feroz hostilidade recproca, eis que as Igrejas Crists comeam a compreender a convenincia de colocarem em segunda plana as questinculas que as di-videm, para darem mais nfase ao objetivo essencial que lhes comum: a edificao das almas para o Bem, dispondo-se a envidar srios esforos no sentido de extinguirem, em suas respectivas hostes, o malfadado sectarismo, responsvel por tantos males, substituindo-o por um esprito de tolerncia e de colaborao mtuas.

    Esse nobre movimento constitui, sem dvida, uma excelente contribuio causa da fraternidade universal. No deve, entretanto, parar a, mas sim evoluir at o reconhecimento de que as demais religies, embora no crists, tambm so dignas de todo o respeito, pois na doutrina moral de cada uma delas existe algo de sublime, capaz de levar os seus profitentes ao conhecimento e observncia da Lei Natural estabelecida por Deus para a felicidade de todas as criaturas.

    Ningum contesta ser absolutamente indispensvel habituar-nos, pouco a pouco, com a intensidade da luz para que ela no nos deslumbre ou enceguea. A Verdade, do mesmo modo, para que seja til, precisa ser revelada de conformidade com o grau de entendimento de cada um d ns. Da no ter sido posta, sempre, ao alcance de todos, igualmente dosada.

    Para os que j alcanaram aprecivel desenvolvimento espiritual, muitas crenas e cerimnias religiosas vigentes aqui, ali e acol, parecero absurdas, ou mesmo risveis. Todas tm, todavia, o seu valor, porqanto satisfazem necessidade de grande nmero de almas simples que a elas ainda se apegam e nelas encontram o seu caminho para. Deus.

    Essas almas simples no esto margem da Lei do Progresso e, aps uma srie de novas existncias, tempo vir em que tambm se libertaro de crendices e supersties para se nortearem por princpios filosficos mais avanados.

    Por compreender isso foi que Paulo, em sua primeira Epstola aos Corntios (13:11), se expressou desta forma:

    Quando eu era menino, falava como menino, julgava como menino, discorria como menino; mas, depois que cheguei a ser homem feito, dei de mo s coisas que eram de menino.

    Kardec, instrudo pelas vozes do Alto, diz-nos que em todas as pocas e em todos os quadrantes

    da Terra, sempre houve homens de bem (profetas) inspirados por Deus para auxiliarem a marcha evolutiva da Humanidade. Destarte, para o estudioso, no h nenhum sistema antigo de filosofia, nenhuma tradio, nenhuma religio, que seja despicienda, pois em tudo h germes de grandes verdades que, se bem paream contraditrias entre si, dispersas que se acham em meio de acessrios sem fundamento, facilmente coordenveis se vos apresentam, graas explicao que o Espiritismo d de uma imensidade de coisas que at agora se nos afiguravam sem razo alguma, e cuja realidade est irrecusvelmente demonstrada.

    (Captulo 1, questo 619 e seguintes.)

  • 8

    3 A Progressividade da Revelao Divina 1

    H uma opinio generalizada de que, sendo a Bblia, um livro de inspirao divina, tudo o que nela se contm, de capa. a capa, forma um bloco indiviso, uma unidade indecomponvel, um repositrio de verdades eternas, e que, rejeitar-lhe uma palavra que seja, seria negar aquele seu carter transcendente.

    preciso, entretanto, dar-nos conta de que entre a poca em que foi escrito o pentateuco de Moiss e aquela em que Joo escreveu o Apocalipse, decorreram sculos e sculos, durante os quais a Humanidade progrediu, civilizou-se e sensibilizou-se, devendo ter ocorrido, paralelamente com esse desenvolvimento, um acrscimo correspondente nos valores morais da Revelao Divina, como de fato ocorreu.

    Por outro lado, sendo o progresso constante e infinito, essa revelao, necessriamente, tambm deve ser ininterrupta e eterna, no podendo haver cessado, por conseguinte (como alguns o supem), com o ltimo livro do Novo Testamento.

    Certo, sendo Deus a perfeio absoluta, desde a eternidade, sempre revelou o que perfeito como lembra um renomado pensador contemporneo , mas os recipientes humanos da antigidade receberam imperfeitamente a perfeita revelao de Deus, devido imperfeio desses humanos recipientes, porqanto, o quer que recebido, recebido segundo o modo do recipiente. Se algum mergulhar no oceano um dedal, vai tirar, no a plenitude do oceano, mas a diminuta frao correspondente ao pequenino recipiente do dedal. Se mergulhar no mesmo oceano um recipiente de litro, vai tirar da mesma imensidade medida maior de gua. O recipiente no recebe segundo a medida do objeto, mas sim segundo a medida do sujeito. Na razo direta que o sujeito recipente ampliar o seu espao, a sua receptividade, receber maior quantidade do objeto.

    Aos homens das primeiras idades, extremamente ignorantes e incapazes de sentir a menor considerao para com os semelhantes, entre os quais o nico tipo de justia vigente era o direito do mais forte, no poderia haver outro meio de sofrear-lhes os mpetos brutais seno fazendo-os crer em deuses terrveis e vingativos, cujo desagrado se fazia sentir atravs de tempestades, erupes vulcnicas, terremotos, epidemias, etc, que tanto pavor lhes causavam.

    O sentimentto religioso dos homens teve, pois, como ponto de partida, o temor a um poder extraterreno, infinitamente superior ao seu.

    E foi apoiado nisso que Moiss pde estabelecer a concepo de Jeov, uma espcie de amigo todo-poderoso, que, postando-se frente dos exrcitos do povo judeu, ajudava-o em suas batalhas, dirigia-lhe os destinos, assistia-o diuturnamente, mas exigia dele a mais completa fidelidade e obedincia, bem assim o sacrifcio de gado, aves ou cereais, conforme as posses de cada um.

    Era como levar os homens aceitao do monotesmo e encaminh-los a um princpio de desapego dos bens materiais, que tinham em grande apreo.

    O Velho-Testamento oferece-nos um relato minucioso dessa etapa da evoluo humana. V-se, por ali, que o Deus de Abrao e de Isaac e uma

  • 9

    divindade zelosa dos israelitas, que faz com eles um pacto (x., 34:10), pelo qual se compromete a obrar prodgios em seu favor, mas que, ciumento, manda passar espada, pendurar em forcas ou lapidar os que se atreva.m a adorar outros deuses (xodo, captulo 32 versculo 27; Nmeros captulo 25 versculo 24; Deuteronmio, captulo 13) e, com requinte de um znestre-cuca, estabelece

    como preparar e executar os holocaustos em Sua memria OU pelos Pecados do seu povo (Lev., Captulos 1 a 7).

    Por essa poca, conquanto

    fossem, talvez, os homens mais adiantados espiritualmente os judeus no haviam atingido ainda um nvel de mentalidade que lhes permitisse compreender que, malgrado

    a diversidade dos caracteres fsicos e culturais

    dos terrcolas, todos pertencemos

    a uma s famlia: a Humanidade.

    E Porque no Pudessem assimilar lies de teor mais elevado a par das ordenaes de Moiss especificamente nacionais que tinham por objetivo lev-los a uma estreita solidariedade racial e regras outras, oportunas porm transitrias que servissem para disciplin-los durante o xodo, receberam tambm a primeira grande

    revelao de leis divinas o Declogo - que lhes prescrevia o que no deviam fazer em dano do prximo.

    Chegou o momento, todavia, em que a Humanidade devia ser preparada para um novo avano e...

  • 10

    4 A Progressividade da Revelao Divina 2

    ... Surgiu o Cristo, proclamando: Sede perfeitos, porque perfeito o vosso Pai celestial.

    No fora nada fcil fazer que os homens, contrastando seu orgulho odiento, limitassem seu direito de vingana e, vencendo seu forte egosmo, se dispusessem a levar seus melhores bens ao templo, para oferec-los em sacrifcio.

    Neste novo passo, entretanto, a dificuldade bem maior: O Criato pede-lhes que renunciem a qualquer espcie de desforra; que, s ofensas recebidas, retribuam com o perdo e a prece pelos ofensores; e que se sacrifiquem a si mesmos em benefcio dos outros, at mesmo dos inimigos!

    Para conduzi-lOS realizao de tal magnanimidade, d-lhes ento uma doutrina excelsa, em que Deus j no aquele ser facciOSO, que faz dos israelitas a poro escolhida dentre todos os povos (Ex, 19:5), mas sim o Pai nosso, isto , de todas as naes e de todas as raas, porque para Ele no h acepo de pessoas (Atos, 10:34; Rom., 2:11).

    Ante essa estupenda revelao, desmoronam, diluem-se todas as diferenas do antigo concerto. J no h Judeus e gentios sacerdotes e plebeu senhores e escravos Todos so iguais, porque filhos

    do mesmo Pai justo e. bondoso, que nos criou por Amor e quer que todos sejamos partcipes de Sua glria.

    So freqentes, no Evangelho, as refernciaas do Cristo a essa irmandade universal to em contraposio ao sectarismo estreito da legislao moisaica. Sirva-nos de exemplo apenas a seguinte:

    Certa ocasio, quando pregava foi interrompido por algum que lhe disse: Eis que esto, ali fora, tua me e teus irmos, os quais desejam falar-te Ao que ele respondeu: Quem minha me? e quem so meus irmos! E, estendendo a mo para os seus discpulos, disse: Eis aqui. minha, me e meus irmos; Porque todo aquele que fizer a Vontade de meu Pai que est nos Cus, este meu irmo, minha irm, e me. (Mat, 12: 46-50) Contrariamente ainda expectativa dos judeus, que sonhavam com as delicias de um reino terrestre, de que teriam a hegemonia pois a isso se cingiam suas esperanas, o Crsto anuncia-lhes algo diferente o reino dos cus, ou seja, uma vida de felicidade mais intensa e mais duradoura, nos planos espirituais, de cuja existncia nem sequer suspeitavam!

    Esse reino, porm, no pode ser tomado de assalto, fora. Para merec-lo, cada qual ter que, em contrapartida, edificar-se moralmente, o que vale dizer, pr-se em condies de ser um de seus sditos.

    Ento nos instrui, solcito, no maravilhoso Sermo da Montanha: Bem-aventurados os pobres de esprito os humildes, os que tm a

    candura e a adorvel simplicidade das crianas , porque deles o reino dos cus

    Bem-aventurados os brandos e pacficos os que tratam a todos com afabilidade, doura e piedade, sem jamais usar de violncia , pois sero chamados filhos de Deus...

    Bem-aventurados os limpos de corao os que, havendo vencido seus impulsos inf eriores, no se permitem qualquer ato, nem mesmo uma palavra,

  • 11

    ou o menor pensamento impuro, que possa ofender o prximo em sua honorabilidade , pois eles vero a Deus.

    Bem-aventuradoS OS misericordiosos os que perdoam e desculpam as ofensas recebidas e, sem guardar quaisquer ressentimentos, se mostram sempre dispostos a ajudar e a servir aqueles mesmos que os magoaram ou feriram , pois, a seu turno, obtero misericrdia.

    No, resistais

    ao que Vos fizer mal; antes, se algum te ferir na face direita, oferece-lhe tambm a outra. Ao que quer demandar Contigo em juzo para tirar-te a tnica, larga-lhe tambm a capa. E se qualquer te obrigar a ir Carregado mil passos, vai com ele ainda mais outros dois mil. D a quem te pede, e no voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes.

    Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos tm dio, e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para serdes filhos de vosso Pai, que est nos cus, o qual faz nascer o seu sol Sobre bons e maus, e vir chuva sobre justos e injustos

    Porque, se no amais seno os que vos amam, que recompensa haveis de ter? No fazem os Publicanos tambm o mesmo? E se saudardes somente os Vossos

    irmos que fazeis nisto de especial? No fazem tambm assim os gentios

    ? (Mat., captulo 5) Ressaltando a superioridade do anunciado reino celestial sobre as

    Posses e os gozos materiais, acrescenta ainda: No queirais

    acumular tesouros na terra, onde a ferrugem e a traa os consomem, e onde os ladres os desenterram e roubam; mas formai Para Vs tesouros

    no cu, onde no os consome a ferrugem nem a traa, e onde os ladres no os desenterram nem roubam. (Mat., 6: 19-20)

    *

    ConquantO estas normas de tica datem de h quase dois milnios, poucOS so os que as compreendem e ainda menos os que as praticam, dizem-nos os Espritos do Senhor. (Captulo 1, questo 627)

    E foi certamente prevendo isso que...

  • 12

    5 A Progressividade da Revelao Divina 3

    Ao soar a hora de sua sada deste mundo, Jesus, em colquio amoroso com seus discpulos, procura confort-los, dizendo-lhes:

    No se turbe o vosso corao. Credes em Deus, crde tambm em mim. Na casa de meu Pai h muitas moradas e, pois, vou a aparelhar-vos o lugar. Depois virei outra vez e tomar-vos-ei para mim mesmo, a fim de que, onde eu estiver, estejais tambm. Se me amais, guardai os meus mandamentos e eu rogarei ao Pai que vos envie outro Consolador, para que fique eternamente convosco. O Esprito de Verdade, a quem o mundo no pode rece ber, porque o no v, nem o conhece, vs o conhecereis, porque ele ficar convosco e es-tar em vs. O Consolador, que o Esprito Santo a quem o Pai enviar em meu nome, vos ensinar todas as coisas e vos far lembrar tudo o que vos tenho dito.

    E aps dar-lhes outras instrues, exortando-os prtica do amor universal, conforme o preceito que lhes dera, repete-lhes:

    Convm-vos que eu v, pois, se eu no for, o Consolador no vir a vs, mas, se eu for, vo-lo enviarei. Ainda tenho muito que vos dizer, mas vs no o podeis suportar agora. Quando vier, porm, aquele Esprito de Verdade, ele vos ensinar todas as verdades, porque no falar por si mesmo, mas dir tudo que tiver ouvido e vos anunciar as coisas que esto para vir. (Joo, Captulos 14, 15, 16)

    Diante disso, como podem as religies que se fundamentam exclusivamente na Bblia afirmar que tm a posse da verdade total, se o Cristo no dissera tudo que tinha a dizer, antes deixou MUITO para ser revelado posteriormente, o que s se daria quando viesse o Consolador?

    Ensina a Teologia tradicional que esse Consolador j teria vindo no dia de Pentecostes. Estar certa?

    Nesse dia, de fato, foram os apstolos influenciados pelas potestades do Alto, que lhes abriram as inteligncias e provocaram a ecloso de suas faculdades medianmicas, necessrias tarefa que iriam desempenhar. No se tratava, porm, da realizao da promessa quanto vinda do Consolador, o Esprito de Verdade.

    Vejamos porque: Segundo os textos evanglicos que vimos de transcrever, a misso do

    Consolador seria ensinar aquelas coisas que Jesus no pudera dizer, porque os homens no estavam em estado de compreend-las, bem como fazer lembrar tudo o que fora ensinado por ele.

    Ora, se o Cristo no dissera tudo quanto tinha a dizer, porque nem mesmo seus discpulos podiam, ainda, entender certas verdades, ser que, algumas semanas depois, j haviam esses mesmos homens alcanado as luzes necessarias compreenso do que ele deixara de dizer?

    S mesmo quem desconhecesse por completo a natureza humana poderia admitir tal hiptese.

    Talvez se diga que precisamente para dar-lhes esse entendimento que descera o Esprito Santo sobre os apstolos. Mas, basta ler Atos, captulo 2, onde o episdio de Pentecostes vem narrado, para verificar que nada de novo lhes foi dito, nenhum ensino especial lhes foi ministrado, nessa ocasio. A admitir-se ainda que eles tivessem recebido alguma revelao particular, de

  • 13

    que as Escrituras no nos do noticia, ento deveriam ter ficado aptos a elucidar todos os pontos dbios, obscuros ou omissos do Evangelho. Muito ao contrrio disso, entretanto, o que se sabe que a interpretao contraditria dos ensinos do Mestre, desde os primeiros sculos, dividiu o Cristianismo em numerosas seitas, cada uma delas se supondo proprietria exclusiva da. verdade, as quais, empenhando-se em lutas impiedosas e cruentas, im-puseram Humanidade o sacrifcio de milhes e milhes de vidas.

    Os cinquenta dias que decorreram da ressurreio ao Pentecostes, assim como no seriam suficientes para dar aos homens os conhecimentos que s podem ser adquiridos a longo prazo, seriam poucos, igualmente, para que houvessem esquecido as palavras do Mestre e se fizesse preciso record-las, tanto mais que, durante quarenta dias, permaneceu ele c na Terra, manifestando-se aos discpulos, antes de ascender aos cus.

    No sendo exato que o Consolador tenha sido enviado no dia de Pentecostes, conforme ficou demonstrado, de perguntar-se:

    Teria ele aparecido em outra ocasio? Quando?

  • 14

    6 A Progressividade da Revelao Divina 4

    Se atentarmos bem para estas palavras de Jesus, ao anunciar o Consolador: para que ele fique eternamente convosco, e estar em vs, no h como deixar de reconhecer di-lo Kardec que isto no pode aplicar-se seno a uma doutrina que, quando assimilada, pode permanecer para sempre conosco, ou em ns.

    O Consolador, assim, personifica uma doutrina eminentemente consoladora, que, na poca oportuna, viria trazer aos homens as consolaes de que iriam precisar, pois no as encontrariam nas religies materializadas erigidas sombra da cruz.

    Com efeito, tais religies, desvirtuando completamente os ensinamentos do Cristo, transformaram-nos num amontoado de dogmas esdrxulos, incompreensveis e falsos que, por no falarem inteligncia nem tocarem o corao dos homens, acabaram levando-os descrena, ao materialismo e, consequentemente, ao desvario.

    Essa nova Doutrina s pode ser o Espiritismo, porque s ele, em seu trplice aspecto de cincia, filosofia e religio, possui condies para realizar todas as promessas do Consolador.

    Ao mesmo tempo que explica e desenvolve tudo quanto Jesus ensinara por parbolas ou em linguagem velada, d ao homem o conhecimento exato de si mesmo, de onde vem, para onde vai e porque est na Terra, coisas que no puderam ser reveladas antes, porque os tempos no eram chegados.

    Sim, jamais permitiu Deus que o homem recebesse comunicaes to completas e instrutivas como as que hoje lhe so dadas. (Ibidem, questo 628)

    s idias vagas e imprecisas da vida futura, contidas no Evangelho, acrescenta agora o Espiritismo a demonstrao palpvel e inequvoca da existncia do mundo espiritual; desvenda-nos as leis que o regem, suas rela-es com o mundo invisvel, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem depois da morte, destino esse feliz ou desgraado, no por se haver crido desta ou daquela forma, mas segundo o grau de pureza e perfeio adquirida. Com isso, aviva a crena, d-lhes um seguro Ponto de apoio desfazendo a dvida pungente que pairava em torno da sobrevivncia.

    Por ele ficamos sabendo ainda, que todos os que se amam Podem reencontrar-se no Alm, porqanto no existem abismos

    intransponveis a separar-nos definitivamente uns dos outros. Nem mesmo aqueles que se comprometeram seriamente com a Justia Divina ficam esquecidos. Assim como aqui na Terra h criaturas abnegadas e generosas que se dedicam tarefa de amparar os que se aviltaram nos chavascais do vicio e do crime, sal-vando-os da degradao,

    tambm no mundo esPiritual h seres bondosos e devotados

    Cuja misso Socorrer as almas infelizes guiando-as no conhecimento de Deus.

    O Espiritismo veio revelar-nos, tambm, que no h culpas irremissveis nem penas eternas; que o sofrimento Pode ser vencido pelo arrependimento SIncero e a devida reparao dos males cometidos por via da lei das vidas sucessivas, lei sublime esta, que esclarece, com uma lgica irretorquvel, todas as aparentes anomalias da vida terrena, quais as diferenas de aptides

  • 15

    intelectuais

    e morais, as desigualdades de sorte e de posio social, as enfermidades e os aleijes congnitos, as mortes Prematuras, e quantos

    problemas possam ser levantados no tocante ao ser, ao seu destino vrio e s muitas dores que o excruciam.

    Que amplitude d o Espiritismo ao pensamento do homem! Que vastos e esplndidos horizontes lhe descortina com a. revelao de que a vida nos planos espirituais e a vida corprea so dois modos de existncia, que se alternam para a realizao do progresso. Longe de ser um punhado de argila que se agita, hoje, para voltar, amanh, ao seio da me natura, o homem um ser imortal, evolvendo incessantemente atravs das geraes de um determinado mundo, e, em seguida, de mundo em mundo, at perfeio, sem soluo de continuidade!

    Ensejando to alta viso das coisas, a Doutrina Esprita faz que o homem empreste menos importncia s vicissitudes terrenas, assim como, pela perspectiva de felicidade que lhe mostra, ajuda-o a ganhar pacincia e resignao nos mais duros reveses, infundindo-lhe a necessria coragem para prosseguir, sem desfalecimento, at ao termo de sua longa, mas gloriosa jornada. Destarte, pelos novos cabedais que d ao homem; pela f inabalvel que lhe comunica; pelas consolaes que lhe oferece em quaisquer circunstncias da vida; e pela radiosa esperana com que o faz encarar o futuro, o Espiritismo

    , de fato, o verdadeiro Consolador.

    *

    Talvez nos indaguem: Se a manifestao das Leis Divinas ininterrupta e eterna, como foi

    afirmado no primeiro captulo desta srie, o Espiritismo, a seu turno, no est fadado a ceder lugar a uma. outra grande revelao, superior que ele nos trouxe?

    Responde a isso o prprio Kardec: Ligado a todos os ramos da economia social, aos quais empresta o

    apoio de suas prprias descobertas, (o Espiritismo) assilnilar sempre todas as doutrinas progressivas de qualquer ordem que elas sejam, elevadas ao estado de verdades prticas, etc.

    MARCHANDO COM O PROGRESSO, O ESPIRITISMO JAMAIS SER ULTRAPASSADO, PORQUE, SE NOVAS DESCOBERTAS DEMONSTRASSEM ESTAR EM ERRO SOBRE UM CERTO PONTO, ELE SE MODIFICARIA SOBRE ESSE PONTO; SE UMA NOVA VERDADE SE REVELAR, ELE A ACEITAR. (Gn,., captulo 1, n 55)

  • 16

    7 O Problema do Mal

    Desde as mais priscas eras o homem tem observado que, a par das boas coisas que tornam a vida deleitvel, outras existem ou acontecem que so o reverso da medalha, isto , s causam aflies, dores e prejuzos.

    Foi, por isso, induzido a crer seja o governo do mundo partilhado por duas potestades rivais: Deus, fonte do Bem, e Satans, agente do Mal.

    Essa crena nos dois princpios antagnicos em luta pela hegemonia foi e continua sendo a base das doutrinas religiosas de todos os povos, inclusive catlicos e reformistas.

    Entre estes, a idia de que uns se salvam e outros se perdem para todo o sempre geral, havendo at quem afirme que o nmero dos perdidos muito maior do que a cifra dos bem-aventurados.

    Quer isso dizer que o Mal seria mais forte que o Bem, e que Satans estaria conseguindo derrotar a Deus, frustrando-Lhe os desgnios de salvao universal.

    Em que pese ancianidade de tais conceitos, so falsos e Insustentveis, diramos mesmo herticos.

    Com efeito, admitir o triunfo

    do Maligno, a. dano da Humanidade, o mesmo que negar ao Pai Celestial os atributos da oniscincia e da onipotncia sem os quais no poderia ser verdadeiramente, Deus.

    O Espiritismo, que o Paracleto anunciado pelo Cristo, contrariando os ensinos da Teologia tradicional, esclarece-nos que o Bem a nica realidade eterna e absoluta em todo o universo, sendo O Mal apenas um estado transitrio, tanto no Plano fsico, no campo Social, como na esfera espiritual.

    Para, que se compreenda isto, preciso, entretanto, considerar no as conseqncias imediatas de tudo quanto observamos, mas sim os seus efeitos mediatos futuros, porque s estes, ao longo dos anos, dos sculos ou dos milnios que faro ressaltar nitidamente, a infalibilidade da Providncia Divina frente aos destinos da, Criao.

    Certos fenmenos geolgicos

    por exemplo, Podem ter sido considerados Catastrficos poca em que ocorreram; foram eles, porm, que compuseram os continentes e formaram os oceanos emprestando-lhes os aspectos maravilhosos que hoje nos extasiam, provocando-nos arroubos de admirao.

    Muitas guerras

    internacionais e outras tantas revolues intestinas, embora se constituam, como de fato se constituem, dolorosos flagelos para as geraes que nelas so envolvidas, do ensejo, por seu turno, queda de tiranos e opresssores, extino de preconceitos e privilgios inquos, mudana de costumes arcaicos, ao progresso tecnolgico e quejandos, resultando da, em favor dos psteros (que seremos ns mesmos, em novas reencarnaes), a melhoria das instituies, maior liberdade de pensamento e de expresso, uma justia mais perfeita, maior conforto nos sistemas de transportes, de comunicaes, nos lares, etc.

    Quando no, por meio delas que os maus se castigam reciprocamente, consoante o ensinamento: quem com ferro fere, com ferro ser ferido. Um dia, ainda que longnquo, cansadas de sofrer o choque de retorno de suas crueldades, ditadas pelo egosmo, pelo orgulho e outros sentimentos tais, as naes aprendero a valorizar a paz, buscando-a, ento, sincera e

  • 17

    veementemente, atravs da fraternidade e do solidarismo cristo. Assim tambm acontece com as nossas almas. Criadas simples e ignorantes, mas dotadas de aptides para o

    desenvolvimento de todas as virtudes e a aquisio de toda a sabedoria, ho mister de, vida, ps vida, neste orbe e em outros, passar por um processo de burilamento que muito as faro sofrer.

    a luta pela subsistncia. So as enfermidades. As insatisfaes Os conflitos emocionais Os desenganos As imperfeies prprias e daqueles

    com os quais convivemos Enfim, as mil e uma Vicissitudes da existncia. nesse autntico entrevero usando e abusando do livre arbtrio, cada qual

    vai Colhendo Vitrias ou amargando

    derrotas, segundo

    o grau de experincia conquistada. Uns riem hoje, Para chorarem amanh, e outros, que agora se exaltam sero humilhados

    depois. Tudo, Porm, concorre para enriquecer nossa Sensibilidade aprimorar

    nosso

    carter, fazer que se nos desabrochem novas faculdades, o que vale dizer, se dilatem nossos

    gozos e aumente nossa felicidade. Bendito seja, pois, o Espiritismo pela revelao dessa verdade & luz da

    qual se nos patenteia, esplendorosamente, a Bondade infinita de Deus! (Captulo 1, questo 634)

  • 18

    8 A Responsabilidade do Mal

    Ao justificar o dogma das penas eternas a que seriam condenados os pecadores impenitentes, a Teologia argumenta que, no obstante o homem seja finito, isto , limitado em sabedoria, virtudes e poderio, sua culpa se torna infinita pela natureza infinita do ofendido Deus, e, conseqentemente, infinito deve ser, tambm, o respectivo castigo.

    Sustenta, portanto, a tese de que o elemento moral do delito esteja intimamente ligado qualidade do ofendido e no resoluo e malcia do ofensor, tese essa capciosa e inqua.

    Capciosa, porque transfere do agente para o paciente a gravidade do ato culposo. Inqua, porque no leva em conta os atributos da Divindade, supondo-a menos perfeita que a Humanidade. Sim, porque um homem sensato certamente nem sequer tomaria em considerao as ofensas que lhe fssem dirigidas por uma criana ou por um idiota. Como, ento, admitir-se possa Deus consentir sejamos castigados eternamente pelo haver ofendido (infantes espirituais que somos) com fosSa imensa ignorncia ou inconscincia?

    A Doutrina Esprita ao contrrio, defende o Princpio de que a. culpa por toda e qualquer ofensa sempre proporcional ao grau de conhecimento e determinao Volitiva de quem a pratica, e nunca importncia de quem a recebe.

    Isso ensinou o prprio Jesus, o Rei dos reis, quando suplicou em favor dos que o crucificaram. Perdoa-Ihes Pai, pois no sabem o que fazem.

    Em verdade quanto melhor saibamos discernir e mais livremente possamos decidir entre o Bem e o Mal, tanto maior ser a nossa responsabilidade.

    Assim diz Kardec mais culpado , aos olhos de Deus, o homem instrudo que pratica uma simples injustia, do que o selvagem ignorante que se entrega aos seus instintos. (Captulo 7, questo 637)

    Colhamos ainda, em L. dos E. (questo 639, 640 e 641.), mais alguns esclarecimentos em torno dessa magna questo.

    Pode o mal, no raro, ter sido cometido por algum em circunstancias que o envolveram, independentemente de sua Vontade ou por injunes a que teve de submeter-se Nessas condies, a culpa maior dos que hajam determinado tais circunstncias ou injunes, porque perante a Justia Divina cada um se faz responsvel no s pelo mal que haja feito, direta e pessoalmente, como tambm pelo mal que tenha ocasionado em decorrncia de sua. autoridade ou de sua influncia sobre outrem.

    Ningum, todavia, jamais poder ser violentado em seu foro ntimo. Isto posto, quando compelidos por uma ordem formal, seremos ou no culpveis, dependendo dos sentimentos que experimentemos e da. forma como ajamos ao cumpri-la. Exemplificando: poderemos ser enviados guerra contra a nossa vontade, no nos cabendo, neste caso, nenhuma. responsabilidade pelas mortes e calamidades que dela. se originem; se, porm, no cumprimento desse dever cvico, sentirmos prazer em eliminar nossos adversrios ou se agirmos com crueldade, seremos tanto ou mais culpados do que os assassinos passionais.

    Tirarmos vantagem de uma ao m, praticada por outras pessoas, constitui igualmente, para. ns, falta grave, qual se fssemos os prprios

  • 19

    delinqentes, pois isso equivale a aprovar o mal, solidarizando-Se com ele. Nas vezes em que desejamos fazer o mal, mas recuamos a tempo,

    embora oportunidade houvesse de lev-lo a cabo, demonstramos que o Bem j se est desenvolvendo em nossas almas. Se entretanto, deixamos de satisfazer quele desejo, apenas porque nos faltasse ocasio propcia Para tal, ento somos to repreensveis como se o houvramos

    praticado.

  • 20

    9 Os Espritos Podem Retrogradar?

    A Doutrina Esprita nos ensina que, em sua origem, os Espritos se assemelham a inocentes crianas, isto , so simples, ignorantes e completamente inexperientes, carecendo adquirir, pouco a pouco, os conhecimentos que havero de conduzi-los plenitude da sabedoria e da bondade. (questo 634)

    Diz-nos, ainda, que todos possuem, latentes, as mesmas faculdades, cujo desenvolvimento mais ou menos rpido depende de seu livre arbtrio, o qual, por sua vez, vai-se ampliando e fortalecendo medida que cada um toma. conscincia de si mesmo nos embates da Vida.

    Nessa escalada, os Espritos esto sujeitos a errar e permanecer estacionrios por algum tempo; jamais, porm, podero degenerar, tornando-se piores do que eram, nem. cristalizar-se definitivamente em determinado estgio evolutivo, contrapondo-se ordem divina que os inipele para a frente e para o alto.

    Deus, se o quisesse, poderia t-los criado j perfeitos e isentos de qualquer trabalho para gozarem os benefcios da perfeio. Em seus sbios desgnios,

    todavia, f-los apenas perfectveis, para que lhes pertencessem os mritos dessa glria e tambm porque s assim a saberiam apreciar devidamente.

    Perguntam alguns: 1) Se os Espritos foram criados nem bons e nem maus, com iguais

    aptides Para. tudo, porque uns seguiram o caminho do bem e outros trilharam a senda do mal?

    2) Estes, os que se desencaminharam, no estaro contrastando a afirmao kardequiana de que os Espritos no retrogradam?

    Respondendo primeira questo, diremos que, em Conformidade com o enunciado linhas acima, Deus deseja que todos tenham o merecimento do progresso moral e da bem-aventurana a que se destinam e, por isso, a par dos meios que lhes pe ao alcance para esclarec-los e atra-los a si, concede-lhes relativa liberdade para que realizem, pelo prprio esforo, esse sublime desiderato.

    Insipientes podem eles, ento, tal qual o filho prdigo da parbola evanglica, enveredar por nvios carreiros (os vcios e os crimes), distanciando-se da retido (o cumprimento das leis de Deus). Cada vez, porm, que isso acontece, sofrem tropeos quedas e acleos que os fazem retornar ao bom caminho.

    Destarte, esses transviamentos temporrios, Com as agruras que lhes so consequentes, constituem experincias que eles vo adquirindo para se conduzirem com acerto no futuro e no mais fugirem ao roteiro que lhes cumpre palmilhar.

    Conforme foi dito pginas atrs, o Bem a nica Realidade Absoluta, o destino final da Criao, sendo o Mal apenas a ignorncia dessa realidade, ignorncia que vai desaparecendo, paulatinamente, atravs do aprendizado em vidas sucessivas.

    Errando tambm se aprende, diz um refro popular. E muito, acrescentamos ns. De sorte que passar do estado de inocncia, ou seja, de total inconscincia para o de culpabilidade, em virtude de engano na escolha

  • 21

    de certo modo de agir, no significa retrogradar, mas sim ganhar tirocnio, desenvolver a capacidade de discernimento, sem o que nenhum avano seria possvel.

    Em qualquer ramo de Cincia, depois de uma dezena de experimentaes diferentes mal sucedidas, o pesquisador estar evidentemente mais prximo da soluo que persegue do que antes de inici-las, porque os resultados obtidos, embora negativos, lhe tero fornecido preciosos subsdios a respeito, indicando-lhe o melhor rumo a tomar.

    Como se sabe, milhares e milhares de coisas que tanto conforto e bem-estar oferecem, hoje, Humanidade, so frutos de uma srie enorme de fracassos, seno mesmo de desastres e de sacrifcios cruciantes que afinal se transformaram em grandes e esplndidos triunfos.

    Pois bem! O mesmo sucede na conquista da perfeio. Advertidos pela Dor a cada falta que cometemos, vamos aprendendo a evit-las e dia vir em que, percebendo que ser, feliz a consequncia natural de ser bom, todos haveremos de cumprir a Lei de Amor, estabelecida por Deus para a felicidade de todos.

    Os que perfilham doutrinas anti-reencarnacionstas no aceitam que todas as almas sejam criadas com iguais aptides para evoluir e nem aceitam que as diferenas atuais dessas almas, em saber e moralidade, sejam o resultado de progressos

    realizados em existncias pregressas como ensina o Espiritismo Essas diferenas, no entanto, so reais, incontestveis e ressaltam vista

    de qualquer um, mas, como no encontram uma causa anterior para justific-las, dizem: porque. Deus as tem criado assim, desiguais e sem as mesmas aptides!

    A que se reduziria neste caso, a Justia Divina?

  • 22

    10 Como Adorar a Deus?

    Em todas as pocas, todos os povos praticaram, a seu modo, atos de adorao a um Ente Supremo, o que demonstra ser a idia de Deus inata e universal.

    Com efeito, jamais houve quem no reconhecesse intimamente sua fraqueza, e a consequente necessidade de recorrer a Algum, todo-poderoso, buscando-lhe o arrimo, o conforto e a proteo, nos transes mais difceis desta to atribulada existncia terrena.

    Tempos houve em que cada famlia, cada tribo, cada cidade e cada raa tinha os seus deuses particulares, em cujo louvor o fogo divino ardia constantemente na lareira ou nos altares dos templos que lhes eram dedicados.

    Retribuindo essas homenagens (assim se acreditava), os deuses tudo faziam pelos seus adoradores, chegando at a se postar frente dos exrcitos das comunas ou das naes a que pertenciam, ajudando-as em guerras de-fensivas ou de conquista.

    Em sua imensa ignorncia, os homens sempre imaginaram que, tal qual os chefes tribais ou os reis e imperadores que os dominavam aqui na Terra, tambm os deuses fossem sensveis s manifestaes do culto exterior, e da a pomposidade das cerimnias e dos ritos com que os Sagravam.

    Imaginavam-nos, por outro lado, ciosos de Sua autenticidade ou de sua hegemonia e, vez por outra, adeptos de uma divindade entravam em conflito com os de outra, submetendo-a a provas, sendo ento considerado vencedora aquela que Conseguisse Operar feito mais surpreendente.

    Sirva-nos

    de exemplo o episdio constante do 3 Livro dos Reis, captulo 18, v. 22 a 40. Ali se descreve o desafio proposto por Elias aos adoradores de Baal, para saber-se qual o deus verdadeiro. Colocadas as carnes de um boi sobre o altar dos holocaustos, disse Elias a seus antagonistas: Invocai vs, primeiro, os nomes dos VOSSOS deuses, e eu invocarei depois, o nome do meu Senhor; e o deus que ouvir, mandando fogo, esse seja o Deus.

    Diz o relato bblico que por mais que os baamitas invocassem o seu deus, em altos brados e retalhando-se com canivetes e lancetas, segundo o seu costume, nada conseguiram.

    Chegada a vez do deus de Israel, este fz cair do cu um fogo terrvel, que devorou no apenas a vtima e a lenha, mas at as prprias pedras do altar.

    Diante disso, auxiliado pelo povo, Elias agarrou os seguidores de Baal e, arrastando-os para a beira de um rio, ali os decapitou.

    O monotesmo, depois de muito tempo, imps-se, afinal, ao politesmo, e seria de crer-se que, com esse progresso, compreendendo que o Deus adorado por todas as religies um s, os homens passassem, pelo menos, a respeitar-se mutuamente, visto as diferenas, agora, serem apenas quanto forma de cultuar esse mesmo Deus.

    No foi tal, porm, o que sucedeu. E os prprios cristos, sculos ps sculos, contrastando frontalmente com os piedosos ensinamentos do Cristo, empolgados pelo fanatismo da pior espcie, no hesitaram em trucidar, a ferro e fogo, milhares e milhares de hereges e infiis, para maior honra e glria de Deus! como se Aquele que o Senhor da. Vida pudesse sentir-se honrado

  • 23

    e glorificado com to nefandos assassnios... Atualmente, bastante enfraquecido, o sectarismo religioso comea a

    derruir, o que constitui prenncio seguro de melhores dias, daqui para o futuro. Acreditamos, mesmo, que, graas rpida aceitao que a Doutrina

    Esprita vem alcanando por toda a parte, muito breve haveremos de compreender que todos, sem exceo, somos de origem divina e integrantes de uma s e grande famlia. E posto que Deus Amor, no h como ador-lo seno amando-nos Uns aos outros, pois, como sabiamente nos ensina Joo, o apstolo (1 ep., 4:20), se o homem no ama a seu irmo, que lhe est prximo como pode amar a Deus, a quem no v? (Captulo 2, questo 649 e seguintes)

  • 24

    11 A Prece

    A prece define Kardec uma invocao, mediante a qual o homem entra em comunicao com o ser a quem se dirige.

    Deve ser feita diretamente a Deus, que o Senhor da Vida, mas pode, tambm, ser-Lhe endereada, por intermdio dos bons Espritos (Santos), que so os Seus mensageiros e os executores de Sua vontade.

    Trs podem ser os objetivos da prece: louvar, pedir e agradecer. A louvao consiste em exaltar os atributos da Divindade, no,

    evidentemente, com o propsito de ser-Lhe agradvel, visto que Deus inacessvel lisonja. H-de traduzir-se por um sentimento espontneo e puro de admirao por Aquele que, em todas as Suas manifestaes, se revela detentor da perfeio absoluta.

    As peties visam a algo que se deseje obter, em benefcio prprio ou de outrem. Que o que se pode pedir? Tudo, desde que no contrarie a Lei de Amor que rege e sustenta a Harmonia Universal. Exemplos: per do de faltas Cometidas foras para resistir s tentaes e aos maus pendores proteo contra os inimigos, sade para os enfermos, iluminao para os Espritos conturbados e paz para os sofredores (encarnados ou desencarnados) amparo diante de um perigo iminente, Coragem para vencer as contingncias terrenas, pacincia e resignao nos transes aflitivos e dolorosos, inspirao sobre como resolver uma situao difcil, seja ela de ordem material ou moral, etc.

    Os agradecimentos obviamente por todas as bnos com que Deus nos

    felicita a existncia, pelos favores recebidos, pelas graas alcanadas, pelas vitrias conseguidas e outras Coisas Semelhantes.

    O veculo que conduz a prece at ao seu destinatrio o pensamento o qual se irradia pelo Infinito, atravs de ondulaes mentais, feio das transmisses radiofnicas ou de televiso, que, por meio das ondas eletromagnticas, cortam o espao a uma velocidade de 300.000 quilmetros por segundo.

    A eficcia da prece no depende da postura que se adote, das palavras mais ou menos bonitas com que seja. formulada, do lugar onde se esteja, nem de horas convencionais. Decorre, isto sim, da humildade e da f daquele que a emite, a par da Sinceridade e veemncia que lhe imprima.

    No se creia, entretanto, que basta orar, mesmo bem, para que os efeitos desejados se faam sentir de imediato e em qualquer circunstncia.

    Tal crena seria enganosa. A prece no pode, por exemplo, anular a Lei de Causa e Efeito, segundo a

    qual cada um deve colher os resultados do que faz ou deixa de fazer. To-pouco dispensa quem quer que seja do uso das faculdades que

    possui, nem do trabalho que Lhe compete, na busca ou na realizao do objetivo pretendido.

    Por outro lado, nem sempre aquilo que o homem implora corresponde ao que realmente lhe convm, com vistas sua felicidade futura. Deus, ento, em Sua oniscincia e suprema bondade, deixa de atender ao que lhe seria prejudicial, como procede um pai criterioso que recusa ao filho o que seja contrrio aos seus interesses

    Apesar dessas restries, longe de ser intil, a prece recurso de grande

  • 25

    valia, desde que feita com discernimento, revista-se das qualidades a que nos referimos linhas acima e seja complementada por ns com os movimentos de alma ou com os esforos exigidos pela vicissitude que no-la tenha inspirado.

    Destarte, quando oramos a Deus, rogando-lhe que nos perdoe uma ao m, preciso que estejamos efetivamente arrependidos de hav-la praticado e alimentemos o firme propsito de no repet-la; quando Lhe exoramos que nos livre da sanha de nossos adversrios, indispensvel que tomemos a iniciativa de uma reconciliao com eles, ou que, pelo menos, a fcilitemos; quando Lhe suplicamos ajuda para sair de uma dificuldade, necessrio que, em recebendo do Alto uma idia salvadora, nos empenhemos em sua execuo da melhor forma possvel; quando Lhe pedimos nimo para vencer determinadas fraquezas, imperioso que faamos a nossa parte, alijando de nossa mente as cogitaes e as lembranas que com elas se relacionem dando, tambm, os devidos passos no sentido de desenvolver as Virtudes que lhes sejam opostas, e assim por diante.

    Agindo de conformidade com a mxima: Ajuda-te, que o cu te ajudar, estejamos certos, haveremos de contar, sempre, com a assistncia e o socorro dos prepostos de Deus, de modo a que, mesmo sem derrogar-lhe as leis, nem frustrar-Lhe os desgnios, sejamos providos daquilo que mais carecemos, quer se trate de remover obstculos, superar necessidades ou minorar tribulaes.

    (Captulo 2, questo 658 e seguintes)

  • 26

    12 Sacrifcios

    Compulsando-se a histria das religies, verifica-se que o oferecimento de sacrifcios Divindade remonta a um passado remotssimo, a. perder-se na noite das idades.

    As oferendas, que a princpio consistiam em frutos da terra, passaram, depois, a constituir- -se de animais, cujas carnes eram queimadas nos altares, transformando-se, mais tarde, em sacrifcios humanos.

    O Velho Testamento faz inmeras referncias ao holocausto de vtimas humanas aos deuses Baal, Moloque e outros, dando-o como prtica generalizada entre os povos asiticos, sendo que o Gnesis, captulo 22, nos conta que at mesmo Abrao, um dos patriarcas do Judasmo, intentara. matar seu filho nico Isaac, como prova de amor a Jeov, smente no o fazendo porque, no ltimo instante, um anjo interveio, ordenando fsse suspensa a. imolao.

    Segundo relata um escritor do passado, 300 cidados e 200 crianas das melhores famlias de Cartago (frica) foram, certa vez, oferecidos em sacrifcio a Saturno, visando a aplacar-lhe a ira, por acreditarem que a situa o penosa em que se encontravam (o stio da cidade por poderosas hostes conquistadoras) fsse motivado pelo fato de, at ento, s haverem oferecido a essa divindade filhos de escravos estrangeiros.

    Na Europa, os sacrifcios humanos, se bem que em menor nmero, tambm foram praticados sculos ps sculos. Dizem-nos os historiadores que na Grcia, para homenagear ou saciar Apolo, Dionsio, Zus e outros deuses, jovens e crianas eram queimadas em piras fnebres lanados do alto dos penhascos ou chibatados at a morte. Na Itlia, adotava-se o afogamento

    atirando-se trinta pessoas, anualmente, s guas do rio Tibre. O deus cultuado na Zelndia, verdadeiro monstro, exigia, em igual perodo, o sacrifcio de nada menos que noventa e nove pessoas. Na Bretanha, conforme o relato de Csar, fazia-se uma colossal esttua de vime, enchiam-na de vtimas e deitavam-lhe fogo. J na Glia, colocavam-nas num altar e abriam-lhe o peito espada.

    Entre os povos Primitivos

    da Amrica, esse costume brbaro deve ter vigorado tambm, por muito tempo. Haja vista que, quando da conquista do Mxico, no sculo 16, foram encontradas em um templo cerca de 136.000 caveiras de vtimas sacrificadas aos deuses ali adorados pelos astecas.

    Esclarecem-nos, entretanto, os mentores espirituais, atravs de Kardec, que no era por maldade que os homens da Antigidade procediam dessa forma, mas sim por mera ignorncia.

    E explicam: em nossos dias, quando nos dispomos a oferecer um presente a algum, no o escolhemos de tanto maior valor quanto mais estima queiramos testemunhar a esse algum, ou quanto mais interesse tenhamos em conquistar-lhe as boas graas a fim de solicitar-lhe certos favores?

    No eram outros os motivos que levavam nossos antepassados a sacrificar s divindades. Como, porm, no podiam conceb-las com os atributos da perfeio, antes as rebaixavam ao nvel deles mesmos, julgavam, erroneamente, que o holocausto a ser-lhes oferecido seria tanto mais valioso quanto mais importante fosse a vtima.

  • 27

    Dai porque nos ofcios sacrificatrios os produtos agrcolas foram, com o tempo, preteridos pelos animais, que, por sua vez, foram substitudos por seres humanos: estrangeiros ou inimigos, e, posteriormente, em lugar destes, os pais passaram a. sacrificar os prprios filhos!

    que supunham , com estas oblatas, os deuses haveriam de sentir-se muito mais honrados.

    As pessoas esclarecidas compreendem agora, que, conquanto praticados com piedosa inteno, tais sacrifcios nunca foram agradveis a Deus, como no podem agradar-lhe to-pouco, as maceraes e as penitncias que certos religiosos Continuam a impor-se sem que aproveitem a ningum

    A Doutrina Esprita fazendo luz sobre este assunto, ensina-nos que o nico Sacrifcio abenoado

    por Deus aquele que se faa por amor e em benefcio do prximo, e que o melhor meio de honr-lo, Consiste em minorar os sofrimentos dos pobres e dos aflitos.

    (Captulo 2, questo 669 e seguintes)

  • 28

    13 A Lei de Trabalho

    O trabalho uma lei da natureza a que ningum se pode esquivar, sem prejudicar-se, pois por meio dele que homem desenvolve sua inteligncia e aperfeioa suas faculdades.

    O trabalho honesto fortalece-lhe o sentimento de dignidade pessoal, f-lo respeitado pela comunidade em que vive, e, quando bem realizado, contribui para dar-lhe a sensao de segurana, trs coisas fundamentais que todos buscamos.

    Para que o homem tenha xito no trabalho, e como tal deve entender-se no necessriamente o ganho de muito dinheiro, mas uma constante satisfao ntima, faz-se mister que cada qual se dedique a um tipo de atividade de acordo com suas aptides e preferncias, sem se deixar influenciar pela vitria de outrem nesta ou naquela carreira, porqanto cada arte, ofcio ou profisso exige determinadas qualidades que nem todos possuem.

    Quem no consiga uma ocupao condizente com o que desejaria, deve, para no ser infeliz, adaptar-se ao trabalho que lhe tenha sido dado, esforando-se,

    por faz-lo cada vez melhor, mesmo que seja extremamente fcil. Isso ajudar a gostar dele. Quando se trate de algo automatizado que no permita qualquer mudana, Como acontece em muitas fbricas modernas, o remdio compenetrar-se de que sua funo na empresa tambm importante, assumindo a atitude daquele modesto operrio Cujo servio era quebrar pedras e que, interrogado sobre o que fazia, respondeu com entusiasmo: :Estou ajudando a construir uma catedral.

    Importa, igualmente se adquira a convico de que embora apenas alguns Poucos possam ser Professores, mdicos, engenheiros, advogados ou administradores todos, indistintamente, desde que desenvolvam um trabalho Prestadio, esto dando o melhor de si, Concorrendo, assim, para o progresso e o bem-estar social, como lhes compete.

    De outro lado, pelo fato de ser Uma lei natural, o trabalho

    deve ser assegurado

    a todos os homens vlidos que o solicitem para que, em Contrapartida lhes seja exigido que provejam s necessidades prprias e da fanlia, sem precisarem Pedir nem aceitar esmolas.

    O desemprego, e conseqentemente a fome, a nudez, o desabrigo,

    a enfermidade, a prostituio, o crime, etc, constituem provas de que a sociedade se acha mal organizada, carecendo de reformas radicais que melhor atendam Justia Social.

    Como acertadamente disse Constncio C. Vigil, constitui dolorosa anomalia deixar-se o ser humano em situao de no poder defender-se da misria, at delinqir ou morrer. O desempregado tem direito vida. Por con-seguinte, o Estado s pode castig-lo pelo roubo se lhe proporciona meios para assegurar a subsistncia atravs do trabalho.

    Sujeitar, portanto, irmos nossos condio de prias, enquanto incontveis hectares de terra permanecem inexplorados, nas mos do Estado ou de uns poucos ambiciosos que os foram acumulando, como se fssem ttulos negociveis, um crime de lesa-humanidade.

    Os governos devem fazer que as terras devolutas ou mal aproveitadas

  • 29

    sejam devida-mente cultivadas. Uma distribuio pura e simples de pequenos lotes a homens desprovidos

    de conhecimentos e de recursos pecunirios para o seu trato no ser, entretanto, suficiente para a colimao desse objetivo. indispensvel prestar-se-lhes, tambm, assistncia tcnica e ajuda financeira, de modo que, conjugando-se, capital e trabalho bem orientados, tornem vivel a fecundao do solo e a erradicao da indigncia que assola to vastas reas do mundo.

    *

    Os que supem seja O trabalho apenas um ganho po, sem outra finalidade que no a de facultar os meios necessrios existncia, laboram em erro. Se o fosse, ento todos aqueles que possussem tais meios, em abun-dncia, Poderiam julgar-se desobrigados

    de trabalhar. Em verdade, porm, a lei de trabalho no isenta ningum da obrigao de

    ser til. Ao contrrio Quando Deus nos favorece, de maneira que Possamos alimentar-nos sem verter o suor do prprio rosto, evidentemente no para que nos entreguemos ao hedonsmo, mas para que movimentemos na prtica do Bem, os talentos que nos haja Confiado.

    Isso Constitui uma forma de trabalho que engrandece e enobrece nossa alma, tornando-a rica daqueles tesouros que a ferrugem e a traa no corroem, nem os ladres podem roubar.

    (Captulo 3, questo 674 e seguintes)

  • 30

    14 Limite do Trabalho

    pergunta (n 683) do Codificador: qual o limite do trabalho?, responderam os mentores espirituais incumbidos de lhe ditarem os fundamentos da nova Revelao: o das foras.

    Isso deixa claro que, sendo, como , fonte de equilbrio fsico e moral, o trabalho deve ser exercido por tanto tempo quanto nos mantenhamos vlidos.

    Naes existem, inclusive o Brasil, onde se considera uma conquista social a promulgao de leis previdencirias que permitem ao homem cruzar os braos com menos de cinqenta anos de idade.

    Cremos se trate de erro clamoroso, pois no h sistema econmico que resista a essa aberrao de milhes e milhes de homens, cheios de vitalidade, ganharem sem produzir. Mais cedo ou mais tarde, todos haveremos de pagar por isso, se que j no o estamos. Seria mais justo, quer-nos parecer, que os beneficirios dessa legislao se mantivessem um pouco mais na ativa, para que boa parte do numerrio atualmente despendidO no pagamento de aposentadorias pudesse ser apli-cado em favor da coletividade, atravs da socializao dos servios mdicos, odontolgicos e correlatos, como acontece, por exemplo, na Inglaterra, pois c entre ns est-se tornando cada vez mais difcil, mesmo s classes mdias, su-portarem os gastos pertinentes a tais servios.

    Que dizer-se, ento, das camadas inferiores, que constituem a maioria de nossa populao?

    No s por esse lado, entretanto, que o afastamento do trabalho de homens prestativos se patenteia danoso.

    A natureza exige o emprego de nossas energias e aqueles que se aposentam, sentindo-se ainda em pleno gozo de suas foras fsicas e mentais, depressa caem no fastio, tornando-se desassossegados, irritadios ou hipo-condracos.

    Alguns tentam eliminar o vazio de suas horas em viagens; outros, em diverses; quase todos, porm, se cansam de uma coisa e outra, entregando-se, por fim, ao alcoolismo, jogatina e a outros vcios que lhes arrunam, de vez, tanto a sade como a paz ntima.

    Abalizados psiquiatras e psicanalistas afirmam, com exato conhecimento de causa, que todos os seres humanoS precisam encontrar alguma coisa que possam fazer, pois ningum consegue ser feliz sem que se sinta til ou necessrio a algum.

    Frank C. Cprio (Ajuda-te pela Psiquiatria) chega a. dizer: Tal como o amor, o trabalho medicinal. Alivia os males da alma.

    Isto posto, se formos homens de negcios, ao invs de os interrompermos bruscamente, convm que, ao atingirmos certa idade, diminuamos o ritmo de nossas ocupaes ou o peso de nossas responsabilidades, repartindo-as gradativamente com nossos auxiliares ou com aqueles que devam suceder-nos, adquirindo, ao mesmo tempo, algum outro interesse que mantenha ocupado o nosso intelecto.

    Se assalariados, que encontremos, ao aposentar-nos, uma ocupao leve, porm proveitosa, com que preencher saudvelmente nossa vida.

    Jamais, em hiptese alguma, condenar-nos completa ociosidade, a pior coisa que pode acontecer a algum.

  • 31

    Benjamim Franklin tinha 81 anos quando foi chamado a colaborar na elaborao da Carta Magna dos Estados Unidos.

    Goethe acabou de escrever Fausto, a mais famosa de suas produes literrias, nessa mesma idade.

    Edison, tendo comeado a trabalhar quando era ainda uma criana, manteve-se operoso durante cerca de 75 anos, sem nunca ter es tado doente. Morreu aos 84, deixando patenteadas mais de um milhar de invenes.

    Miguel ngelo, o fabuloso artista italiano, aos 89 anos ainda continuava produzindo obras de arte.

    O marechal Rondon, notabilssimo sertanista brasileiro e um dos grandes benfeitores da Humanidade falecido em 1958, aos 92 anos de idade, trabalhou intensamente at decrepitude, malgrado a rudeza do meio em que passou a quase totalidade de sua fecunda existncia.

    Rockefeller ao completar 90 anos, declarou: Sou o homem mais feliz do mundo. Parece-me comear a viver agora. Sou feliz porque posso trabalhar. Os dias no so suficientemente longos para que eu Possa fazer tudo que desejo. Indubitvelmente o trabalho o segredo da felicidade.

    E mesmo.

  • 32

    15 O Repouso

    Nas respostas que deram s questes de ns. 682 e 684, formuladas por Kardec, nossos amigos espirituais nos esclarecem que o repouso uma lei da natureza, sendo uma necessidade para todo aquele que trabalha, e mais: que oprimir algum com trabalho excessivo uma das piores aes, constituindo-se, mesmo, grave transgresso do Cdigo Divino.

    Com efeito, o 4 mandamento preceitua: Lembra-te do dia de sbado, para o santificares. Seis dias trabalhars e

    fars todas as tuas obras, mas o stimo dia o sbado, isto , o dia de descanso do Senhor teu Deus. Nesse dia no fars obra alguma, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu animal, nem o peregrino que vive de tuas portas para dentro.

    Julgamos interessante elucidar, nesta oportunidade, que a substituio do repouso no sbado, como era observado entre os judeus, pelo domingo, como atualmente de uso entre ns, carece de importncia. Isso comeou com os primeiros cristos. Eles continuavam a frequentar as sinagogas aos sbados, mas, a par disso, tomaram o hbito de reunir-se tambm no primeiro dia da semana judaica (domingo), a fim de celebrarem a ressurreio de Jesus. Com o decorrer do tempo, foram deixando de comparecer s sinagogas e, con-sequentemente, apenas o domingo passou a ser observado por eles.

    Os que advogam a observncia do sbado, talvez se apiem nas razes anexas do referido mandamento, conforme o xodo: Porque o Senhor fz em seis dias o cu, a terra, o mar, e tudo o que neles h, e descansou no stimo dia: por isso o Senhor abenoou o dia stimo, e o santificou.

    Sabe-se, agora, entretanto, que os seis dias da criao no foram dias de 24 horas, como alguns ainda. supem, mas sim longos perodos milenares.

    Alm disso, em Deuteronmio, as reflexes aduzidas para recomendar esse mandamento so outras, bem diferentes: Para que descanse o teu escravo, e a tua escrava, como tu tambm descansas. Lembra-te de que tam-bm serviste no Egito, e que de l te tirou o Senhor teu Deus.

    Como se v, aqui no se alude ao sbado como sendo o dia em que o Criador teria descansado de Sua obra; apela-se, simplesmente, para os sentimentos de caridade dos judeus, para que, nesse dia, concedam o merecido descanso igualmente ao elemento servil, inclusive aos animais, porqanto todos precism de repouso para o refazimento de suas energias.

    O Declogo, ningum o ignora, baseia-se na lei natural, e a folga semanal no mais que uma questo de higiene.

    Assim sendo, quer guardemos o sbado (sbado significa descanso), ou o domingo, o que importa que o faamos segundo o esprito da Lei, e esta o que recomenda que aps seis dias de trabalho, dedicados ao provimento do indispensvel ao nosso bem-estar corporal, reservemos pelo menos um dia para o repouso, consagrando-o ao cultivo dos valores espirituais.

    Isto, alis, era o mximo que, naquela poca, podia obter-se de homens embrutecidos e materializados cujos ideais se concentravam unicamente na conquista de bens terrenos e que, para consegui-los, no hesitavam em so-brecarregar familiares, servos e animais, obrigando-os a penosas jornadas de trabalho, de sol a sol, nos 365 dias do ano.

  • 33

    Por incrvel que parea, muitos homens, em pleno sculo 20, dominados pela ambio, continuam a impor-se tal regime (estendendo-o a outrem, sempre que lhes permitam dar largas ao seu poder de mando), e ainda se jactam disso, como se fssem heris dignos dos maiores aplausos, quando, ao revs, s merecem lstima.

    Sim, porque hoje que a vida urbana se caracteriza por uma agitao contnua, exigindo-nos

    um gasto excessivo de energias fsicas e mentais, a necessidade que todos temos de repousar periodicamente tornou-se. maior, e, da, o estar-se generalizando

    a chamada semana inglesa, com cinco dias de trabalho e dois de descanso alm das frias anuais, que lia alguns decnios j se Constitui um direito universal.

    Trabalhemos, pois, at o limite de nossas foras, j que o trabalho uma bno; cuidemos porm, de evitar a exausto e a estafa, antes que esses males nos conduzam neurastenia ou ao esgotamento nervoso.

  • 34

    16 A Lei de Reproduo

    A ordenao bblica crescei e multiplicai-vos no tem sido, at hoje, bem compreendida por todos.

    Os que se atm letra das Escrituras, sem penetrar-lhe o esprito, vem nessas palavras uma lei divina, estabelecendo que a. reproduo das espcies, inclusive a humana, deva ser livre e ilimitada, e que obst-la seria grave pecado.

    Sem dvida, a reproduo dos seres vivos lei da natureza e preenche uma necessidade no mecanismo da Evoluo; isso no quer dizer, entretanto, seja proibido ao homem adotar certas medidas para a regular. Tudo depende da finalidade que se tenha em vista.

    Dado, p. ex., que o desenvolvimento excessivo de determinadas plantas ou animais se revele nocivo e perigoso, pode-se perfeitamente impedir-lhes a reproduo, pois a ao inteligente do homem um contrapeso que Deus disps para restabelecer o equilbrio entre as foras da natureza, tal o ensino que nos chega atravs de Kardec.

    No que tange ao controle da natalidade humana, objeto, hoje, de complexas pesquisas nos campos da Biologia, da Gentica, da Farmacologia, da Sociologia, etc, e de acalorados debates entre telogos e moralistas de vrias tendncias, a Doutrina Esprita nos autoriza a afirmar que, em havendo razes, realmente justas para isso, pode o homem limitar sua prole, evitando a concepo.

    A questo n 694 do livro que estamos estudando diriame todas as dvidas sobre o assunto, pois condena tachativamente apenas os usos, cujo efeito consiste em obstar a. reproduo, para satisfao da sensualidade, deixando claro que pode haver, como de fato h, inmeros casos em que se faz necessrio no s restringir, mas at mesmo evitar qualquer quantidade de filhos.

    E preciso se reconhea que o lar no um estabelecimento destinado a reproduzir seres humanos em srie, mas sim um santurio-escola, onde os pais devem pontificar como plasmadores de nobres caracteres, incutindo nos filhos, a par do amor a Deus, uma vivncia sadia, pautada nos princpios da Moral e da Justia, de modo que se tornem elementos teis a si mesmos, famlia e sociedade.

    O homem se distingue dos animais disseram ainda os mentores da Codificao por obrar com conhecimento de causa. Portanto, o que dele se espera no apenas que procrie por fora do instinto sexual, qual mero reprodutor, mas que, convm repet-lo, dignifique o nome de pai ou de me com que Deus lhe honra a existncia.

    H quem no admita nenhum motivo para a limitao dos filhos, ou seja, o planejamento da famlia, na suposio de que tal medida se constitua um entrave lei de progresso, por reduzir as oportunidades de que os desencarnados necessitam para expiar delitos do passado.

    Acontece, porm, que, via de regra, esses tais no agem de conformidade com o ponto de vista que defendem, j que eles prprios, contrariando a lei da natureza, ao terem um, dois ou trs filhinhos, do-se por satisfeitos e... ficam por a.

    Se raciocinassem um pouquinho, haveriam de compreender outrossim

  • 35

    que, se existem tantos seres precisando retornar Terra, para provaes reparadoras, visto se acharem endvidados perante a Justia Divina, preci-samente porque faltou a muitos, nas encarnaes anteriores, a orientao espiritual que s um lar bem constitudo pode oferecer, e que lanar ao mundo proles enfermias e deficientes, ou fsicamente bem dotadas, mas votadas ao abandono, absolutamente no ajuda o adiantamento da. Terra, antes o retarda, pois contribui para aumentar o nmero dos desajustados, dos marginais e dos criminosos de toda sorte, infelizes que, por sua vez, exigiriam outras tantas oportunidades de reajuste e assim sucessivamente, numa progresso geo-mtrica que no acabaria mais.

    Mais vale prevenir que remediar, reza um refro da sabedoria popular, e da porque a medicina terrena tende a ser, cada vez mais, preventiva ao invs de curativa.

    Porque no haveria de ser assim, tambm, no universo moral? O preceito com que abrimos este estudo no determina o fator da

    multiplicao dos casais, fator esse que pode e deve variar de acordo com a robustez dos genitores (principalmente da me, que a mais sacrificada), seus- recursos econmicos, etc.

    Assim, aos olhos de Deus, que julga segundo as intenes de cada um, prefervel ter poucos filhos e fazer deles homens de bem, a t-los numerosos, mas abandon-los prpria sorte, como acontece amide.

    Quanto aos casais que evitam ou limitam os filhos, atendendo to s ao comodismo e quejandos, bviamente se tornam tanto mais repreensveis quanto maiores sejam as suas possibilidades de conceb-los, cri-los e educ-los.

    (Captulo 4, questo 686 e seguintes)

  • 36

    17 O Aborto

    Conforme deixmos enunciado no captulo anterior, razes existem que justificam ou tornam aconselhvel, seno imperiosa, a limitao dos filhos.

    Releva frisar, entretanto, que, mesmo nos casos em que o controle da natalidade se imponha como absolutamente necessrio, s so escusveis os usos que objetivem impedir a concepo, qual a abstinncia do intercurso se-xual nos perodos fecundos da mulher, ou um outro processo anticoncepcional que venha a ser descoberto pela Cincia, desde que reconhecidamente inofensivo sade; nunca interrupo da gravidez, pois, salvo uma nica hiptese, isto constitui crime, e dos mais nefandos, por no dar vtima qualquer possibilidade de defesa.

    Lamentvelmente, desde as mais priscas eras, este tem sido o recurso escolhido pela maioria da Humanidade para frustrar os nascimentos no desejados. Apurou-se recentemente em diversas regies brasileiras, e acreditamos tal acontea no mundo inteiro, que em cada trs casos de gravidez, dois so interrompidos pelo aborto provocado, e o que de estarrecer, no raro, depois do quarto ms, isto , quando a nascituro j e um ser vivo a palpitar no ventre materno!

    Essa prtica, conquanto se inclua entre as contravenes penais de todas as naes civilizadas, comumente fica impune pela justia terrena, o que equivale a um tcito consentimento.

    O Espiritismo, que tanta luz tem feito em torno deste magno assunto, esclarece-nos que a provocao do aborto s no considerada culposa esta a ressalva a que aludimos linhas acima quando o ser em formao ponha em perigo a vida de sua me. Nesta circunstncia, prefervel sacrificar o primeiro e no a segunda, optando, entre dois males, pelo menor.

    Fora disso, porm, os atentados vida fetal acarretam, sempre, terrveis consequncias, tanto neste mundo como no outro.

    Segundo o Dr. Yves Lezan, especialista em ginecologia, sendo o aborto provocado uma prtica clandestina e, na grande maioria das vezes, executado em locais desprovidos de completa higiene e assepsia, pode trazer gravssimas conseqncias oriundas de infeces, tais como peritonites, quer por pequenas perfura es no tero, que passem despercebidas, ou por passagem do custico atravs das trompas e queda dentro da cavidade abdominal. No seria demais falar no possvel aparecimento do ttano, que sobrevm aps um perodo de incubao de 4 a 8 dias, com evoluo geralmente aguda e ainda vrios estados septicmicos de alta gravidade. As hemorragias externas tanto podem aparecer logo aps a prtica do aborto como passado algum tempo e perdurar ainda por longo perodo. Em consequncia dessas perdas sanguneas, surgem, secundriamente, sinais de anemia, que ser propor-cional ao volume total do sangue perdido, exigindo por vezes transfuses de sangue. Esclarece, mais, o referido especialista, que, se repetido com frequncia, o abortamento pode provocar: a) inflamao dos ovrios, que se manifesta por meio de dores ao nvel do baixo ventre e corrimento, o que exigir tratamentos especializados, nem sempre coroados de xito; b) irregularidades nas regras, com clicas durante e aps o perodo menstrual; c) a frigidez sexual e a esterilidade definitiva da mulher; d) esgotamento; e)

  • 37

    perturbaes nervosas; f) envelhecimento precoce, etc. Ouamos, agora, o que a respeito nos diz um mdico do Mundo Maior: A

    mulher que o promove ou que venha a coonestar semelhante delito constrangida, por leis irrevog veis, a sofrer alteraes deprimentes no centro gensico de sua alma, predispondo-se geralmente a dolorosas enfermidades, quais sejam a metrite, o vaginismo, a metralgia, o enfarte uterino, a tumorao cancerosa, flagelos esses com os quais, muita vez, desencarna, demandando o Alm para responder, perante a Justia Divina, pelo crime praticado. (Andr Luiz: Ao e Reao)

    No terminam a, todavia, os funestos resultados do aborto provocado. Espiritualmente, os reflexos da criminosa irresponsabilidade dos pais (em

    especial das mes), rechaando aqueles que deveriam retornar carne, com os quais, no raro, haviam assumido sagrados compromissos, so ainda mais de temer.

    Sentindo-se roubados, ou traidos, essas entidades passam a votar profundo dio aos que se recusaram a receb-los em novo bero e, quando no lhes infernizam a existncia terrena, em longos processos obsessivos, aguardam, sequiosos de vingana, que faam o trespasse, para ento tirarem a forra, castigando-os sem d nem piedade.

    Talvez haja quem indague: E a Providncia Divina permite fiquem os que fugiram ao cumprimento de suas obrigaes, merc da sanha desses Espritos vingativos? Sim, permite, porque cada um precisa car pir seus prprios erros, sem o que jamais aprenderia a respeitar, como deve, as leis de Deus.

    Diante disso, no convm refletir maduramente se vale a pena pagar to alto preo por leviandades dessa ordem?

  • 38

    18 Celibato, Poligamia e Casamento Monogmico

    Qual desses trs estados o mais conforme lei de Deus? luz do Espiritismo, se adotado para escapar s canseiras e responsabilidades da famlia, o celibato a contraria frontalmente, pois revela forte egosmo. Quanto ao celibato de religiosos (praticado, alis, desde a mais remota antiguidade, entre persas e babilnicos, monges budistas e iniciados essnios, etc.), conservado em nossos dias como uma disciplina no seio da Igreja Catlica Romana, tanto em suas ordens masculinas como femininas, no h como deixar de reconhecer que foi, e ser, sempre, altamente meritrio, desde que, renunciando s satisfaes e ao aconchego domstico, o (a) ce-libatrio (a) alimente o sincero propsito de melhor servir coletividade. Com efeito, os sacrifcios daqueles sacerdotes e freiras que, observando a castidade, se mostram capazes de total devotamento ao prximo, seja. na assistncia espiritual, nas tarefas educacionais, nos servios hospitares, em asilos, creches, orfanatos e em misteres outros, em que do o mximo de si sem pensar em si, constituem exemplos grandiloqentes de amor sublimado, que os eleva muito acima da craveira comum dos terrcolas.

    Contudo, nem assim pode o celibato ser considerado o estado ideal, dadas as condies e as finalidades da vida neste mundo.

    A poligamia, por sua vez, um costume que, introduzido em certa poca, por motivos econmicos (o aumento de braos para o trabalho grtis nos cls), j no se justifica.

    verdade que ainda se mantm nas populaes muulmanas do Norte da frica e em grande parte da sia, pela predominncia do apetite carnal sobre o senso moral de homens ricos, que se do ao luxo de sustentar vrias esposas e numerosa prole, mas tende a desaparecer, pouco a pouco, com o aperfei-oamento das instituies.

    Tanto no corresponde aos desgnios da Providncia que jamais foi possvel generalizar-se, face relativa igualdade numrica dos sexos.

    A ordem natural e inerente espcie humana , incontestvelmente, a monogamia, visto que, tendo por base a unio constante dos cnjuges, permite se estabelea entre ambos uma estreita solidariedade, no s nas horas de regozijo como nos momentos difceis e dolorosos.

    ainda por esse modo que os pais podem dar aos filhos tudo o de que eles necessitam para um desenvolvimento normal, sem problemas de personalidade.

    As demais formas de associao dos seres, conquanto possam ter sido autorizadas ou consentidas durante algum tempo, em determinadas circunstncias da evoluo social, de b muito que se tornaram condenveis pelos cdigos de Direito dos povos de cultura mais avanada, notadamente no mundo ocidental.

    Foroso concluir, ento, ser o casamento monogmico o instituto que melhor satisfaz aos planos de Deus, no sentido de preparar a famlia para uma convivncia de paz, alegria e fraternidade, estado esse que h-de estender-se, no futuro, Humanidade inteira.

    (Captulo 4, questo 695 e seguintes)

  • 39

    19 A Lei de Conservao

    O instinto de conservao, por ser uma das manifestaes da lei natural, inerente a todos os seres vivos.

    Maquinal entre os espcimes situados nos primeiros degraus da escala evolutiva, vai-se desenvolvendo medida que os seres animam organismos mais complexos e melhor dotados, tornando-se, no reino hominaL, inteligente e raciocinado.

    Sendo a vida orgnica absolutamente necessria ao aperfeioamento dos seres, Deus sempre lhes facultou os meios de conserv-la, fazendo que a terra produzisse quanto fsse suficiente mantena de todos os que a habitam.

    Sabendo, entretanto, que, se as criaturas tivessem que usar os frutos da terra apenas em funo de sua utilidade, a. lei de conservao no seria cumprida, houve Deus por bem imprimir a esse ato o atrativo do prazer, dando a cada coisa um sabor especial que lhes estimulasse o apetite. A par disso, pela prpria constituio somtica com que modelou os seres, restringiu-lhes o gozo da alimentao ao limite do necessrio, limite esse que, se observado, lhes asseguraria uma sade perfeitamente equilibrada.

    O homem, porm, no exerccio de seu livre arbtrio, frequentemente se desmanda, cometendo toda sorte de excessos e extravagncias, resultando da muitas das doenas que o excruciam e o conduzem morte, prematura-mente.

    Mas como nada se perde na economia da. evoluo, os sofrimentos decorrentes dos desregramentos que comete do-lhe experincia, fortalecem-lhe a razo, habilitando-o, finalmente, a distinguir o uso do abuso.

    Poder-se- dizer que, em certas regies do globo, o solo, menos frtil, no produz o bastante para a nutrio de seus habitantes e que o grande nmero de pessoas que nelas sucumbem vitimadas pela fome parece desmentir haja uma Providncia Divina a prov-los dos recursos com que cumprirem a lei de conservao da vida.

    Tais calamidades ocorrem, de fato, mas no por culpa de Deus, a quem no se pode imputar as falhas de nossa sociedade, na qual uns se regalam com o suprfluo, enquanto outros carecem do mnimo necessrio.

    Fssem os homens menos egostas, no tivessem apenas a mscara de religiosos, e, nessas contingncias, prestar-se-iam mtuo apoio, j que a terra e eles mesmos pertencem a uma s familia: a Humanidade.

    Alm disso, cumpre aos homens aplicarem-se no estudo dos problemas que os afligem a fim de dar-lhes a devida soluo, seja aperfeioando cada vez mais as tcnicas de cultivo da gleba, de modo a conseguirem aumento de produo, seja entregando-se a pesquisas, no sentido de descobrirem outras fontes de alimentos, esforos esses que lhes engrandecero a inteligncia, assinalando novas etapas no progresso da civilizao.

    Aceita a. premissa de que a conservaao da vida um dever imposto ao homem pela lei natural, poder-se-ia. concluir que, em circunstncia extremamente crtica, lhe seja lcito, para matar a fome, sacrificar um seme-lhante?

    No! Isso fra homicdio e crime de lesa-natureza. Em tal caso, antes morrer que matar, pois grande ser o nosso merecimento se formos capazes de to sublime renncia por amor ao prximo.

  • 40

    E as privaes voluntrias, observadas por alguns seguidores de vrias religies, seriam meritrias aos olhos de Deus? Contribuiriam, efetivamente, para a elevao da alma? Segundo a Doutrina Esprita, todos os usos que prejudiquem a sade, longe de apressarem o desenvolvimento espiritual, retardam-no, pois solapam as foras vitais de seus praticantes, diminuindo-lhes a disposio para o trabalho, que sempre foi e continuar, sendo o nico caminho do progresso.

    Objetivando elucidar, o melhor possvel, este assunto, perguntou Kardec a seus mentores: Uma vez que no devemos criar sofrimentos voluntrios, que nenhuma utilidade tenham para outrem, deveremos cuidar de preservar-nos dos que prevejamos ou nos ameacem ?

    A resposta que obteve, clara e precisa, aqui vai, como fecho de ouro a estas linhas:

    Contra os perigos e os sofrimentos que o instinto de conservao foi dado a todos os seres. Fustigai o vosso esprito e no o vosso corpo, mortificai o vosso orgulho, sufocai o vosso egosmo, que se assemelha a uma serpente a vos roer o corao, e fareis muito mais pelo vosso adiantamento do que infligindo-vos rigores que j no so deste sculo.

    (Captulo 5, questo 702 e seguintes).

  • 41

    20 A Procura do Bem-Estar

    Pergunta n 719 de O Livro dos Espritos, de Kardec: Merece censura o homem por procurar o bem-estar? Resposta das vozes do Alto: natural o desejo do bem-estar. Deus s

    proibe o abuso, por ser contrrio conservao. Ele no considera crime a procura do bem-estar, desde que no seja conseguido custa de outrem e no venha diminuir-vos nem as foras fsicas, nem as foras morais.

    A est um ensinamento que contesta fundamentalmente a concepo absurda e at certo ponto blasfema, corrente em certos meios religiosos, de que o homem nasce neste mundo para sofrer, a. fim de fazer-se merecedor de suaves recompensas no cu.

    Sem dvida, sendo a Humanidade terrena uma das mais imperfeitas no concerto universal, compreende-se porque mais sofre do que goza. o preo de sua. primariedade. Cada um de ns, porm, pode e deve trabalhar para promover-se socialmente, conquis tando, para si mesmo e para os seus, tudo quanto seja agradvel, til e concorra para aumentar a alegria de viver.

    No verdade, pois, que o homem deva aceitar, passivamente, tudo que o excrucia; conformar-se, submisso, com a m organizao da sociedade, responsvel pela misria de tantos; ou mesmo impor-se penitncias volun-trias, por serem estas coisas conformes aos planos divinos a nosso respeito.

    Se assim fora, Deus seria um sdico. O que Ele quer, tal o ensino da Doutrina Esprita, a felicidade de todos,

    no apenas post-mortem, num suposto paraso de delcias, onde ningum tenha o que fazer, mas desde agora e aqui mesmo, contanto que Lhe compreendamos os amorosos e sbios desgnios e saibamos pautar nossos atos por uma fiel observncia de Suas leis.

    No, no crime a busca do bem-estar. Criminosa, isto sim, a ignorncia em que os homens vm sendo

    mantidos acerca de seus direitos naturais, direitos esses inerentes sua condio de filhos de Deus, sem acepo de raa, cor ou nacionalidade.

    Criminosas so as manobras do egosmo empregadas por uma minoria dominante, no sentido de impedir o advento da justia social e a consequente melhoria do padro de vida dos povos.

    Criminosos so os gastos enormes que se fazem por toda a parte em programas armamentistas, em detrimento da produo dos bens de consumo que escasseiam ou faltam por completo em milhes de lares.

    Criminoso o desvio de vultosas parcelas da Humanidade (exatamente os elementos mais vlidos) dos trabalhos fecundos que ativam a civilizao, para a improdutividade das casernas, ou, o que pior, para as operaes blicas que destroem, em minutos, o que levou sculos para edificar.

    Ao influxo da lei de evoluo, pela qual tudo se engrandece e prospera, diz-nos ainda a. Doutrina Esprita, os mundos tambm progridem, pois se destinam a oferecer aos seus habitantes condies de morada cada vez mais aprazveis.

    No possvel, ento, que a. Terra permanea, eternamente, como mundo de expiaes e de provas.

    O aperfeioamento da estrutura scio-econmica das naes terrenas ,

  • 42

    assim, um imperativo categrico, e bom seria que, ao invs de resistir s medidas que o favoream, as classes privilegiadas, em cujas mos se en-contram as rdeas do poder, renunciassem espontneamente a algo do que lhes sobeja, em favor do bem-estar coletivo.

    Isso evitaria os processos violentos e do lorosos que ho assinalado, at o presente, a marcha do progresso neste minsculo planeta, inaugurando uma nova era, de compreenso e boa vontade, que os reacionrios batizaro com outros nomes, mas que representar o triunfo do Cristianismo em sua expresso mais autntica, mais nobre e mais bela.

  • 43

    21 A Lei de Destruio

    Embora nos custe compreend-lo, a destruio tambm se constitui lei da natureza, cumprindo um sbio desgnio providencial.

    J foi dito que a vida orgnica indispensvel evoluo dos seres, e da haver Deus estabelecido as leis de reproduo e de conservao com o fim de, por meio delas, assegurar o desenvolvimento do princpio inteligente que neles se elabora.

    Pois bem, a lei de destruio , por assim dizer, o complemento do processo evolutivo, visto ser preciso morrer para renascer e passar por milhares de metamorfoses, animando formas corporais gradativamente mais aperfeioadas, e desse modo que, paralelamente, os seres vo passando por estados de conscincia cada vez mais lcidos, at atingir, na espcie humana, o reinado da Razo.

    Destarte, em ltima anlise, a destruio no mais que uma transformao que tem por finalidade a renovao e a melhoria dos seres vivos.

    A parte essencial dos seres lembram os luminares da espiritualidade no o envoltrio fsico, mas o elemento anmico que o impulsiona, elemento esse que, sendo tambm imortal nos animais, retorna ao palco da vida terrena para a continuao de sua jornada progressiva, como ocorre com todas as criaturas de Deus.

    Sob outro prisma, ao se destrurem uns aos outros, pela necessidade de se alimentarem, os seres infra-humanos mantm o equilbrio na reproduo, impedindo-a de tornar-se excessiva, contribuindo, ainda, com seus despojos, para uma infinidade de aplicaes teis Humanidade.

    Restringindo o exame desta questo apenas ao procedimento do homem, que o que mais nos interessa, aprendemos com a. Doutrina Esprita que a matana de animais, brbara sem dvida, foi, e ser por mais algum tempo necessria aqui na Terra, devido s suas grosseiras condies de existncia. medida, porm, que os terrcolas se depurem, sobrepondo o esprito matria, o uso de alimentao carnvora ser cada vez menor, at desaparecer definitivamente, qual se verifica nos mundos mais adiantados que o nosso.

    Aprendemos, mais, que em seu estado atual o homem s escusado dessa destruio na medida em que tenha de prover ao seu sustento e garantir a sua segurana. Fora disso, quando, p. ex., se empenha em caadas pelo simples prazer de destruir, ou em esportes mortferos, como as touradas, o tiro aos pombos, etc. ter que prestar contas a Deus por esse abuso, que revela, alis, predominncia dos maus instintos.

    No que tange aos flagelos naturais, como as inundaes, as intempries fatais produo agrcola, os terremotos, os vendavais, etc. que soem causar tantas vtimas, instruem-nos, ainda, os mentores espirituais, so acidentes passageiros no destino da Terra (mundo expiatrio), que havero de cessar no futuro, quando a Humanidade que a habite haja aprendido a viver segundo os mandamentos de Deus, pautados no Amor, dispensando, ento, os corretivos da Dor.

    Uma vez que a destruio se nos apresenta como uma lei natural, a pena de morte aplicada alhures, com o objetivo de eliminar os elementos tidos como perigosos, ser tambm uma necessidade?

  • 44

    No! O homem julga necessria uma coisa, sempre que no descobre outra mais conveniente. proporo que se instrui, vai compreendendo melhormente o que justo e o que injusto e repudia os excessos cometidos nos tempos de ignorncia, em nome da justia, dizem-nos as vozes do Mundo Maior.

    Com efeito, h muitos outros meios com provadamente mais eficazes de preservar a sociedade, do que o assassnio daqueles que a prejudicam, mesmo porque todo delinqente um enfermo da alma, e aos enfermos deve-se acudir com a medicina e no com a morte.

    A propsito, cumpre se diga que, graas ao progresso social, diminuiu considervelmente o nmero de povos e