caderno do bloco das pretas / marcha mundial das mulheres

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Bloco das Pretas! Mulheres negras, Indígenas, Nordestinas e migrantes na luta contra o machismo, racismo e exploração do trabalho! Embora as reivindicações pelos direitos da mulher expressos pelos movimentos de mulheres terem conquistados muitos avanços, percebemos que a luta pelo reconhecimento e luta das mulheres negras permanece constantemente invisibilizadas. Apesar das transformações conquistadas pelos movimentos feministas, as mulheres negras continuam marcadas pelos inúmeros tipos de violência e vivem em uma situação de muita opressão, marcada não só pelo machismo como também pelo racismo. As negras sempre resistiram a essa violência, mesmo negadas a diversos direitos, elas foram pioneiras na luta pela emancipação, ocupando espaços fora de casa muito antes das brancas questionarem a falta de acesso e as desigualdades impostas pelo sistema de dominação patriarcal. Mesmo manifestando sua resistência antes das brancas, as negras ainda não conseguem ter suas demandas contempladas pelos movimentos feministas, resultando na manutenção dessas mulheres em condições de desigualdades e falta de acesso. Se a mulher negra desempenhava no período escravista o trabalho de exploração de sua força física, vimos que após a abolição a situação permanece a mesma. Sabemos que quando se fala do estereótipo do “sexo frágil”, não se fala das negras, pois a essas sempre foram exigidos os serviços braçais e ainda hoje, elas continuam desempenhando funções análogas as do trabalho escravo da sociedade colonial. Além da exploração pelo trabalho, as mulheres negras sempre sofreram com a exploração sexual por meio do assédio de seus senhores, tendo o corpo reduzido a um simples objeto. Se antes eram obrigadas a servir aos senhores, até hoje são exploradas pelo estereótipo da “negra boa de cama” ou a “negra cor do pecado”, essa visão da negra como objeto sexual é sustentada pela mídia, estimulando o turismo e a exploração sexual dentro e fora do país. A negra tem se manifestado pela liberdade sexual e os direitos reprodutivos desde sempre, violências em que a negra continua sendo a mais oprimida. Se no período colonial a negra era obrigada a sufocar seu filho na hora do nascimento para que ele não nascesse escravo, hoje ela continua a ser a maior vítima do descaso com a saúde, fazendo aborto em clínicas clandestinas ou com procedimentos caseiros arriscados. Muitas delas morrem ou guardam grandes sequelas resultantes do descaso de uma discussão aprofundada sobre as maneiras de contracepção e o aborto. As brancas, por sua vez, têm sua saúde e segurança garantidas, já que podem pagar pelos serviços médicos. E de que vale termos uma presidenta? Dilma tem cada vez mais ignorado a discussão sobre o aborto e as políticas públicas voltadas a saúde da mulher negra, representando o retrocesso na luta de mulheres. As mulheres negras também são vítimas de padrões de beleza eurocêntricos e brancos que buscam de todas as maneiras rejeitar nossos traços, cabelos e formas de vestir. As mulheres brancas são sempre associadas a figuras do bem, as figuras angelicais e isso tem desestimulado as negras que cada vez mais alisam seus cabelos e perdem a sua identidade. Enquanto as negras são associadas a figuras maliciosas ou a falta de asseio, a sujeira, a pobreza. Assim como no período escravista a mulher continua desempenhando a responsabilidade de cuidar de sua família e da família de suas patroas, estas que ironicamente lutaram se reivindicando feministas para alcançar o mercado de trabalho, mas que mantém as condições de desigualdade impostas à mulher negra. Enquanto as brancas reivindicavam a inserção no mercado de trabalho (enquanto feminista), a negra tornase a principal provedora da casa após a abolição, uma vez que após a assinatura da lei áurea não foram garantidos direitos necessários a nossa população, resultando na marginalização a que nosso povo continua submetido. As mulheres negras sempre manifestaram diversos maneiras de resistência ao sistema colonial, trabalhando como quituteiras, por exemplo, tiveram também um grande papel na formação dos quilombos, auxiliando na troca de informações que garantiam as fugas dos escravizados em direção aos quilombos. Tendo em Palmares, uma líder chamada Acotirene. Muitas negras protagonizaram as revoltas negras, como Luiza Mahin, negra guerreira que protagonizou uma das principais revoltas negras, a revolta dos malês que aconteceu na Bahia. As negras sempre manifestaram sua resistência de diversas formas, seja por meio de luta armada, pela cultura, pela religião ou pela dança. Ainda assim continuam em situação de submissão à mulher branca e as suas demandas.

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Contra todo tipo de machismo, racismo e exploração de mulheres!

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Page 1: Caderno do Bloco das Pretas / Marcha Mundial das Mulheres

Bloco  das  Pretas!    

Mulheres  negras,  Indígenas,  Nordestinas  e  migrantes  na  luta  contra  o  machismo,  racismo  e  exploração  do  trabalho!  

 Embora  as  reivindicações  pelos  direitos  da  mulher  expressos  pelos  movimentos  de  mulheres  terem  

conquistados  muitos   avanços,   percebemos   que   a   luta   pelo   reconhecimento   e   luta   das  mulheres   negras  permanece   constantemente   invisibilizadas.   Apesar   das   transformações   conquistadas   pelos  movimentos  feministas,  as  mulheres  negras  continuam  marcadas  pelos   inúmeros   tipos  de  violência  e  vivem  em  uma  situação  de  muita  opressão,  marcada  não  só  pelo  machismo  como  também  pelo  racismo.  As  negras  sempre  resistiram   a   essa   violência,   mesmo   negadas   a   diversos   direitos,   elas   foram   pioneiras   na   luta   pela  emancipação,  ocupando  espaços  fora  de  casa  muito  antes  das  brancas  questionarem  a  falta  de  acesso  e  as  desigualdades  impostas  pelo  sistema  de  dominação  patriarcal.  Mesmo  manifestando  sua  resistência  antes  das   brancas,   as   negras   ainda   não   conseguem   ter   suas   demandas   contempladas   pelos   movimentos  feministas,  resultando  na  manutenção  dessas  mulheres  em  condições  de  desigualdades  e  falta  de  acesso.  Se  a  mulher  negra  desempenhava  no  período  escravista  o  trabalho  de  exploração  de  sua  força  física,  vimos  que  após  a  abolição  a  situação  permanece  a  mesma.  Sabemos  que  quando  se  fala  do  estereótipo  do  “sexo  frágil”,  não  se   fala  das  negras,  pois  a  essas   sempre   foram  exigidos  os   serviços  braçais  e  ainda  hoje,   elas  continuam   desempenhando   funções   análogas   as   do   trabalho   escravo   da   sociedade   colonial.   Além   da  exploração   pelo   trabalho,   as   mulheres   negras   sempre   sofreram   com   a   exploração   sexual   por   meio   do  assédio  de  seus  senhores,  tendo  o  corpo  reduzido  a  um  simples  objeto.  Se  antes  eram  obrigadas  a  servir  aos  senhores,  até  hoje  são  exploradas  pelo  estereótipo  da  “negra  boa  de  cama”  ou  a  “negra  cor  do  pecado”,  essa   visão  da   negra   como  objeto   sexual   é   sustentada  pela  mídia,   estimulando  o   turismo   e   a   exploração  sexual  dentro  e  fora  do  país.  A  negra  tem  se  manifestado  pela  liberdade  sexual  e  os  direitos  reprodutivos  desde  sempre,  violências  em  que  a  negra  continua  sendo  a  mais  oprimida.  Se  no  período  colonial  a  negra  era   obrigada   a   sufocar   seu   filho   na   hora   do   nascimento   para   que   ele   não   nascesse   escravo,   hoje   ela  continua  a   ser  a  maior  vítima  do  descaso  com  a   saúde,   fazendo  aborto  em  clínicas   clandestinas  ou  com  procedimentos   caseiros   arriscados.   Muitas   delas  morrem   ou   guardam   grandes   sequelas   resultantes   do  descaso  de  uma  discussão  aprofundada  sobre  as  maneiras  de  contracepção  e  o  aborto.  As  brancas,  por  sua  vez,   têm   sua   saúde   e   segurança   garantidas,   já   que   podem   pagar   pelos   serviços  médicos.   E   de   que   vale  termos   uma   presidenta?   Dilma   tem   cada   vez   mais   ignorado   a   discussão   sobre   o   aborto   e   as   políticas  públicas  voltadas  a  saúde  da  mulher  negra,  representando  o  retrocesso  na  luta  de  mulheres.        

As  mulheres  negras  também  são  vítimas  de  padrões  de  beleza  eurocêntricos  e  brancos  que  buscam  de  todas  as  maneiras  rejeitar  nossos  traços,  cabelos  e  formas  de  vestir.  As  mulheres  brancas  são  sempre  associadas  a   figuras  do  bem,  as   figuras  angelicais  e   isso  tem  desestimulado  as  negras  que  cada  vez  mais  alisam  seus  cabelos  e  perdem  a  sua  identidade.  Enquanto  as  negras  são  associadas  a  figuras  maliciosas  ou  a  falta  de  asseio,  a  sujeira,  a  pobreza.  

 Assim  como  no  período  escravista  a  mulher  continua  desempenhando  a  responsabilidade  de  cuidar  

de   sua   família  e  da   família  de   suas  patroas,   estas  que   ironicamente   lutaram  se   reivindicando   feministas  para  alcançar  o  mercado  de  trabalho,  mas  que  mantém  as  condições  de  desigualdade  impostas  à  mulher  negra.     Enquanto   as   brancas   reivindicavam   a   inserção   no  mercado   de   trabalho   (enquanto   feminista),   a  negra  torna-­‐se  a  principal  provedora  da  casa  após  a  abolição,  uma  vez  que  após  a  assinatura  da  lei  áurea  não   foram  garantidos  direitos  necessários  a  nossa  população,  resultando  na  marginalização  a  que  nosso  povo  continua  submetido.  As  mulheres  negras  sempre  manifestaram  diversos  maneiras  de  resistência  ao  sistema   colonial,   trabalhando   como   quituteiras,   por   exemplo,   tiveram   também   um   grande   papel   na  formação  dos  quilombos,  auxiliando  na  troca  de  informações  que  garantiam  as  fugas  dos  escravizados  em  direção  aos  quilombos.  Tendo  em  Palmares,  uma  líder  chamada  Acotirene.  Muitas  negras  protagonizaram  as   revoltas   negras,   como   Luiza   Mahin,   negra   guerreira   que   protagonizou   uma   das   principais   revoltas  negras,  a  revolta  dos  malês  que  aconteceu  na  Bahia.    As  negras  sempre  manifestaram  sua  resistência  de  diversas   formas,   seja   por   meio   de   luta   armada,   pela   cultura,   pela   religião   ou   pela   dança.   Ainda   assim  continuam  em  situação  de  submissão  à  mulher  branca  e  as  suas  demandas.    

 

Page 2: Caderno do Bloco das Pretas / Marcha Mundial das Mulheres

Após   diversas   lutas,   sobretudo   após   a   década   de   90,   muitas   mulheres   passaram   a   ocupar   altos  cargos  e  vagas  nas  universidades,  porém  ainda   temos  muita  dificuldade  em  ver  mulheres  negras  nestes  espaços.    Por  outro  lado  elas  são  facilmente  identificadas  em  espaços  destinados  aos  serviços  de  limpeza,  serviços  domésticos  e  de  menor  prestígio.  Entendemos  que  o  acesso  que  é  proporcionado  às  mulheres  brancas  não  é  o  mesmo  proporcionado  às  negras.  Além  disso,  sabemos  das  dificuldade  das  mulheres  negras  em  acessar  os  direitos  trabalhistas,  sobretudo  as  que  exercem  trabalhos  como  os  de  empregada  doméstica,  função  que  mais  tem  explorado  e  violado  os  direitos  constitucionais  e  humanos.  

 Mesmo  tendo  uma  sociedade  estruturalmente  fundada  no  racismo,  a  discussão  sobre  o  “feminismo  

negro”   ainda   não   desperta   a   atenção   dos   movimentos   feministas   ou   por   muitas   vezes   é   tratada  equivocadamente  como  sectarismo.  A  nossa  intenção,  porém  é  de  promover  a  luta  da  mulher  negra  e  suas  especificidades  somadas  à  luta  dos  movimentos  feministas,  a  invisibilidade  de  uma  análise  que  contemple  a   questão   racial   e   a   questão   da   mulher   só   contribuem   para   que   as   mulheres   negras   não   acessem   os  serviços  públicos  e  para  que  continuem  excluídas  do  processo  democrático.  

 O   bloco   das   pretas   é   um   bloco   fundado   pelo   CEN-­‐   Coletivo   de   estudantes   negros   e   surge   com   o  

intuito  de  compor  uma  luta  completa  pela  descolonização  por  meio  do  empoderamento  das  mulheres,  pois  acreditamos   que   a   valorização   de   nossas   matrizes   afro-­‐brasileiras   são   ferramentas   necessárias   para  refletirmos  acerca  das  dominações  em  que  nós,  negras,  estamos  submetidas.  Estamos  no  país  mais  negro  fora   do   continente   africano,   o   Estado   de   Minas   Gerais   é   o   terceiro   estado   mais   negro   do   país,   mas  percebemos  que  a  mulher  negra  continua   inferiorizada  e  excluída.  Com  altos   índices  de  violência  contra  mulher,  nós   sabemos  que  as  negras   são  as  que  menos  utilizam  a   lei  Maria  da  Penha,  muitas  vezes  nem  conhecem  os   instrumentos  de  denúncia;   além  de  serem  afetadas  pela   falta  de  auto-­‐estima,  dependência  financeira   ou   emocional   e   pelo  medo  de   retaliação.  Acreditamos  que   somente   as  medidas  punitivas   em  nada   solucionam   os   problemas   de   um   sistema   patriarcal,   essas   devem   ser   associadas   a   programas   de  educação,  prevenção  e  conscientização  da  população,  hoje  o  que  o  sistema  prisional  representa  as  senzalas  do   período   colonial,   que   privam  majoritariamente   a   população   negra.   A  maior   parte   das  mulheres   em  privação  de   liberdade,   tanto  em  sócio-­‐  educativos  quanto  em  penitenciárias  hoje  no  estado   também  são  negras.          

Entendemos   que   a   visão   colonialista   e   o   racista   são   fundamentais   para   a   manutenção   do  capitalismo   e   a   imposição   dos   valores   eurocêntricos   em   que   o  machismo   se   expressa.   Combatemos   as  visões  etnocêntricas  e   racistas  que  buscam   inferiorizar  nossa  cultura,   construindo  dentro  da  marcha  de  mulheres   um   bloco   que   possa   visibilizar   nossa   luta.   Para   nós   é   de   suma   importância   que   a   luta   de  mulheres   deve   contemplar   as   dinâmicas   de   opressão   impostas   pela   sociedade,   avançando   a   luta   das  mulheres   negras   em   todo   Brasil.   Convidamos   a   todxs   companheirxs   para   compor   esse   movimento,  acreditamos  que  a  violação  aos  direitos  humanos  em  que  a  mulher  negra  está  exposta  deve  ser  exposta  e  combatida   e   para   tanto   devemos   avançar   nossas   discussões   com   os  movimentos   convencionais   na   luta  pela  garantia  de  direitos  que  contemplem  todos,  sem  isso  os  movimentos  não  alcançarão  a  revolução  e  a  igualdade.        

FRENTE  DE  MULHERES  BLOCO  DAS  PRETAS  -­‐  COLETIVO  DE  ESTUDANTES  NEGRXS.  

       

“Contaremos  com  a  vivência  histórica  de  resistência  da  mulher  negra  e  indígena  para  mudarmos,  em  caráter  de  urgência,  esse  cenário  de  desigualdades.  Mas  há  que  pular  todas  essas  barreiras,  externas  e  introjetadas,  fazer  do  feminismo  a  soma  de  todas  as  

variações  do  feminino.”  [Alzira  Rufino]    

   

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CEN  -­‐  Coletivo  de  Estudantes  Negrxs.    

O   CEN   -­‐   Coletivo   de   estudantes   NegrXs   surge   de   uma   necessidade   de   unir   afro-­‐descendentes   e  oriundos   camadas   populares   na   luta   contra   o   racismo   e   a   opressão,   assim   como   garantir   os   direitos  fundamentais   do   ser   humano   bem   como   o   acesso   a   uma   educação   que   respeite   e   reconheça   a   cultura  negra.  

 Nosso   objetivo   é   cobrar   uma   real   democratização   do   acesso   e   permanência   dos   estudantes   à  

educação  gratuita  e  de  qualidade,  exigir  das  instituições  respeito  e  reconhecimento  as  demandas  do  negro,  na   recuperação  de  nossa  cultura  e   identidade,  valorização  de  nossos   intelectuais  e   sobretudo,  efetivar  a  luta  diária  contra  o  racismo  pela  perspectiva  do  “lado  de  cá”.  

 O   CEN   (Coletivo   de   estudantes   Negrxs)   trata   da   necessidade   de   abordar   questões   acerca   da  

inserção  do  negro  em  um  espaço  que  é  tradicionalmente  da  elite,  em  sua  maioria  branca.  A  luta  contra  o  racismo   e   a   opressão   é   diária,   assim   como   nosso   direito   de   exigir   uma   escola,   uma   universidade   de  qualidade   e   que   tenha   a   nossa   cara,   que   respeite   e   reconheça   nossa   cultura.   Estamos   organizadxs   para  mostrar   uma   outra   face   da   sociedade   que   ninguém   fala,   poucos   querem   e   muitos   fingem   não   ver.  Queremos  reparação  e  valorização  no  espaço  do  conhecimento  cientifico,   fortalecendo  os   laços  para  que  essa  luta  seja  de  todxs  nós.    

Trecho  do  Projeto  CEN  -­‐  Uma  Consciência  Negra!    "Ao   contrario   das   obras   com   fins   lucrativos   e   algumas   outras   manipuladoras   da   opinião   do   cidadão  brasileiro  que  brotam  a  cada  dia,  nosso  trabalho  nasce  com  a  intenção  e  ação  de  socializar  informações  e  saberes  invisibilizados  sobre  as  origens  mais  profundas  da  consciência  negra.  Portanto,  firmar  uma  arvore  de  profundas  raízes  é  apresentar  uma  nova  opção  para  além  dos  projetos  voláteis  que  após  concluídos  se  dissipam   no   ar,   ou   seja,   fazer   historia   e   permanecer   nela.   Na   historia   da   humanidade   não   é   tão   difícil  observar   que   só   um   lado   da   realidade   é   transmitido   amplamente   e   os   outros   lados   que   remontam   a  historia  dxs  negrxs  não  são  mostradas  e  quando  o   são  é  na  condição  enviesada  do  sujeito   caricaturado,  oprimido,  omitido,  quando  não  morto.  Assim  foi  a  capoeira,  o  samba  e  as  religiões  de  matriz  africana,  logo  desnudar  para  nossas  consciências  as  opiniões  deturpadas  por  uma  literatura  e  um  discurso  produzido  a  partir   do  modismo,   da   torre   de  marfim   da   academia   e   da   imprensa   trocadilho,   vista   como   símbolo   da  competência  e  da  única  verdade.  Vem  se  contrapor  aos  discursos  daqueles  que  desqualificam  a  demanda  do  movimento  social  negro  e  que  como  bons  paternalistas,  querem  ditar,  como  faziam  os  colonialistas,  o  que  é  bom  e  ruim  para  “seus  negros”,  objetos  de  pesquisa  e  não  sujeitos."    

Além  de  um  certo  assedio  "perturbador"  que  estamos  vivenciando  com  nossa  proposta  "Bloco  das  Pretas",  outro  fator  que  inspirou  essa  posição  é  a  referencia  no  link  abaixo  na  fala  do  vovô,  presidente  do  Ilê  Aiyê  que  critica  a  estratégia  oportunista,  rasa  e  comercial  de  alguns  blocos  de  lá  e  que  acreditamos  ser  uma  situação  análoga  ao  contexto  de  BH...  E  porque  não  seria?  Eis  a  fala:    “Não  vou  colocar  guitarras  nem  teclados  no  Ilê  só  para  tocar  mais  nas  rádios.  O  Ilê  não  é  uma  banda,  nós  somos  uma  ENTIDADE   negra  que   tem  uma  banda,   o  que   é  muito  diferente.   Sempre   fomos  assim  e  não  vamos  mudar  só  para  ganhar  disco  de  ouro."  A  matéria  completa  está  no   link  abaixo,  ela   irá  dar  alguma  base  para  compreensão  do  norte  que  orienta  nossas  ações,  principalmente  no  que  tange  a  defesa  da  constante  tentativa  de  APROPRIAÇÃO  DA  NOSSA  CULTURA.  

 http://raizafricana.wordpress.com/tag/timbalada/      

Nós   todos   do   CEN   estamos   acumulando   muito   trabalho   com   amor   e   alegria.   Assim,   desde   já  agradecemos  o  interesse  de  todos  reforçando  o  convite  a  participação.  Aproveitamos  o  ensejo  para  saldar-­‐los  com  estima  e  consideração.      Axé!  

   

Page 4: Caderno do Bloco das Pretas / Marcha Mundial das Mulheres

 Letras  das  Musicas  do  repertorio  “Bloco  das  Pretas”:  

 Musica  01  

 Alienação  àIlê  Aiyê  

 (refrão)  Se  você  esta  de  ofender  É  só  chamá-­‐lo  de  moreno  pode  crê  É  desrespeito  a  raça  é  alienação  Aqui  no  Ilê  Aiyê  a  preferência  é  ser  chamado  de  negão    Se  você  esta  de  ofender  É  só  chamá-­‐la  de  morena  pode  crê  Você  pode  até  achar  que  impressiona  Aqui  no  Ilê  Aiyê  a  preferência  é  ser  chamada  de  negona    A  consciência  é  o  motivo  principal  Eu  quero  muito  mais    Alem  de  esporte  e  carnaval,  natural.  Chega  de  eleger  aqueles  que  tem  Se  o  poder  é  muito  bom    Eu  quero  poder  também  (refrão)  O  sistema  tenta  desconstruir    lhe  afastar  de  suas  origens  Pra  que  você  não  possa  interagir,  construir.  Já  passou  da  hora  de  acordar  Assumir  sua  negritude  é  vital  para  prosperar    Ser  negro  não  questão  de  pigmentação  É  resistência  para  ultrapassar  a  opressão,  sem  pressão.  Lutar  sempre  igualdade  e  humildade  Vou  subir  de  Ilê  Aiyê  E  mudar  toda  cidade  (Refrão)            

Page 5: Caderno do Bloco das Pretas / Marcha Mundial das Mulheres

   

Musica  02    

Que  Bloco  É  Esse  à  Ilê  Aiyê    Somo  crioulo  doido  e  somo  bem  legal.  Temos  cabelo  duro  é  só  no  black  power.  Somo  crioulo  doido  e  somo  bem  legal.  Temos  cabelo  duro  é  só  no  black  power.    Que  bloco  é  esse?  Eu  quero  saber.  É  o  mundo  negro  que  viemos  mostrar  pra  você  (pra  você).  Que  bloco  é  esse?  Eu  quero  saber.  É  o  mundo  negro  que  viemos  mostrar  pra  você  (pra  você).    Branco,  se  você  soubesse  o  valor  que  o  preto  tem.  Tu  tomavas  banho  de  piche,  branco  e,  ficava  negrão  também.  E  não  te  ensino  a  minha  malandragem.  Nem  tão  pouco  minha  filosofia,não  ?  Quem  dá  luz  a  cego  é  bengala  branca  em  Santa  Luzia.    Que  bloco  é  esse?  Eu  quero  saber.  É  o  mundo  negro  que  viemos  mostrar  pra  você  (pra  você).  Que  bloco  é  esse?  Eu  quero  saber.  É  o  mundo  negro  que  viemos  mostrar  pra  você  (pra  você).    Somo  crioulo  doido  e  somo  bem  legal.  Temos  cabelo  duro  é  só  no  black  power.  Somo  crioulo  doido  e  somo  bem  legal.  Temos  cabelo  duro  é  só  no  black  power.    Que  bloco  é  esse?  Eu  quero  saber  É  o  mundo  negro  que  viemos  mostrar  pra  você  (pra  você).  Que  bloco  é  esse?  Eu  quero  saber?  É  o  mundo  negro  que  viemos  mostrar  pra  você  (pra  você).                      

Page 6: Caderno do Bloco das Pretas / Marcha Mundial das Mulheres

   

Musica  03    

Quilombo Axé (Dia de Negro) à Afoxé Oyá Alaxé Eu vou pegar minha viola (eu vou) Eu sou um negro cantador A negra canta deita e rola É na senzala do senhor Vou toca fogo no engenho meu pai (eu vou) Aonde o negro apanhou Mais canta aí negro Nagô Mais dança aí negro Nagô Negro nagô (BIS) Irmãos e irmãs assumam sua raça assumam sua cor Essa beleza negra Olorum quem criou Vem pro quilombo axé dançar o Nagô Todos unidos num só pensamento levando a origem desse carnaval desse toque colossal Pra denunciar o Racismo Contra o Apartheid Brasileiro 13 de Maio não é dia de negro (BIS) 13 de Maio não é dia de negro quilombo axé colofe colofe colofe Olorum Irmãos e irmãs assumam sua raça assumam sua cor Essa beleza negra Olorum quem criou Vem pro quilombo axé dançar o Nagô Todos unidos num só pensamento levando a origem desse carnaval desse toque colossal Pra denunciar o Racismo Contra o Apartheid Brasileiro 13 de Maio não é dia de negro 13 de Maio não é dia de negro (BIS) Quilombo axé colofe colofe colofe Olorum  

 Musica  04  

 Oya  ó  Mulher  Forte  à  Afoxé  Oya  Alaxé  

       

Page 7: Caderno do Bloco das Pretas / Marcha Mundial das Mulheres

     

1˚  Ato:  “As  cordas  da  mercantilização”  Resumo:    

1. Esse  ato  visa  denunciar  e  marcar  um  dos  pontos  de  maior  concentração  de  casas  de  prostituição  de  mulheres  da  região  metropolitana  de  minas  gerais  (3˚  maior  capital  do  país).    

2. A  cena  remonta  o  tipo  de  condução  violenta  em  que  os  captães  do  mato  amarravam  e  conduziam  os  negrXs  que  fugiam,  bem  como  a  cotidiana  “guia”  em  que  os  negrXs  eram  algemados  em  situações  de  deslocamento.    

3. As  adaptações  que  adequam  tal  ato  a  proposta  do  Bloco  das  Pretas  e  por  consequente  a  Marcha  mundial  das  mulheres  no  8  de  março,  se  concretiza  na  analogia  das  cordas  ao  dinheiro  que  “força”  a  utilização  do  corpo  da  mulher  como  uma  mercadoria.  Fato  que  nunca  deixou  de  existir,  apenas  mudou  de  roupa,  principalmente  quando  se  trata  da  mulher  negra.    

4. Primeiramente  iremos  desenvolver  o  1˚  ato  na  esquina  das  ruas  guaicurus  com  são  Paulo  e  repidir  nos  demais  pontos  escolhidos  em  comum  acordo  com  as  entidades  participantes.  

 

 (A  foto  foi  tirada  pelo  fotógrafo  Luiz  Morier  nos  anos  80,  ironicamente  na  mesma  década  que  marcaria  os  cem  anos  da  falsa  e  ilusória  Lei  áurea.)      

                           

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Formação  do  Bloco  das  Pretas:      

Nossa  formação  foi  inspirada  no  modelo  de  Guerra  de  supremacia  Zulu,  retomando  uma  orientação  que  tenha  como  base  o  PANAFRICANISMO  e  suas  diversas  matrizes.  As  duas  alas  que  formam  o  “chifre”  será  preenchida  pelas  Iabás  representadas  no  estandarte.  O  bloco  central  é  o  do  canto  e  no  fundo  a  percussão.    As  vestimentas  são  combinadas  para  fortalecer  a  união  do  bloco;  Roupas  brancas  em  geral  compõe  o  traje  básico,  além  de  ser  um  kit  mais  fácil  de  achar  no  guarda  roupa  é  uma  cor  leve  e  mais  adequada  para  o  horário  e  proposta.  De  preferencia  quem  tiver  roupa  parecida  com  as  baianas  (saias  longas  e  rodadas)  melhor.  Para  o  calçado  sugerimos  sandália  de  couro,  chinelo  de  borracha  e/ou  descalço.    Gravura  tirada  do  livro:  “Para  entender  o  negro  no  Brasil  de  hoje:  História,  Realidades,  Problemas  e  Caminho.”  [Kabenge  Munanga,  Nilma  Lino  Gomes]      

   

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MAPA  DO  TRAJETO  à  BLOCO  DAS  PRETAS    

   Segue  abaixo  o  Link  do  trajeto  do  Bloco  das  pretas  saída  da  Av.  Assis  chateaubriand  (abaixo  do  viaduto)  e  retorno  para  o  mesmo  local  no  horário  do  duelo  de  MC’s  20  hs  aproximadamente:    http://maps.google.com.br/maps?saddr=Serraria+Souza+Pinto+-­‐+Avenida+Assis+Chateaubriand,+Belo+Horizonte+-­‐+Minas+Gerais&daddr=Rua+dos+Guaicurus,+Belo+Horizonte+-­‐+Minas+Gerais+to:R.+S%C3%A3o+Paulo+to:Av.+Afonso+Pena+to:Pra%C3%A7a+Sete+de+Setembro,+Belo+Horizonte+-­‐+Minas+Gerais+to:R.+da+Bahia+to:Serraria+Souza+Pinto+-­‐+Avenida+Assis+Chateaubriand,+Belo+Horizonte+-­‐+Minas+Gerais&hl=pt-­‐BR&ie=UTF8&sll=-­‐19.919978,-­‐43.934155&sspn=0.020981,0.032701&geocode=Ff8K0P4da55h_SFI8DikeliwtykpsVdj8JmmADFI8Dikeliwtw%3BFZYd0P4dA5Zh_SlFKA96-­‐ZmmADHyd2kI5prT-­‐g%3BFfge0P4dnIth_Q%3BFXYU0P4dr4lh_Q%3BFa4O0P4dioxh_SEGNWW7NTV2qil5-­‐QFc-­‐5mmADEGNWW7NTV2qg%3BFSoF0P4dq5Rh_Q%3BFf8K0P4da55h_SFI8DikeliwtykpsVdj8JmmADFI8Dikeliwtw&oq=serraria+sou&dirflg=w&mra=pr&t=m&z=15      Grupos  integrantes  do  Bloco  das  Pretas:  CEN  –  Coletivo  de  Estudantes  NegrXs,  Negras  Ativas,  Hip  Hop  das  Minas,  Mulheres  do  duelo  de  MC’s,  Mulheres  do  Aglomerado  da  Serra  –  BH,  Indigenas,  Nordestinas  &  Mulheres  Oprimidas,  D.A  Fafich  -­‐  UFMG.  Informações  e  contatos  do  Coletivo  de  Estudantes  Negrxs:  Melina  Rocha:  (31)  9497  -­‐3235  /  Álvaro  Zulú:  (31)  8940  -­‐  2957  E-­‐mail:   [email protected]  Website:   http://negrosufmg.blogspot.com.br/        

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