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CADERNO DE RESUMOS V COLÓQUIO DE ESTUDOS EM NARRATIVA NO TERRITÓRIO DE MIRABILIA: TEORIA E PRÁTICAS DO MARAVILHOSO

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Page 1: CADERNO DE RESUMOS - ileel.ufu.br · 1 OS “OBJETOS” DE RECORDAÇÃO E OS RELATOS DOS NARRADORES DE JAVÉ Léa Evangelista Persicano (UFG/RC/FAPEG) Orientador: Prof. Dr. Antônio

CADERNO DE RESUMOS

V COLÓQUIO DE ESTUDOS EM NARRATIVA

NO TERRITÓRIO DE MIRABILIA: TEORIA E PRÁTICAS DO MARAVILHOSO

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EIXO CENTRAL

No Território da Mirabilia: Teorias e práticas do maravilhoso

EIXOS AGREGADOS

A narrativa literária do maravilhoso tradicional (mitos, fábulas, contos de fadas e outras

modalidades literárias)

O maravilhoso na literatura

O real maravilhoso, o realismo mágico e o realismo animista

A narrativa fílmica do maravilhoso

O maravilhoso nos quadrinhos, romances gráficos, mangás e outros impressos

O maravilhoso e a cibercultura

A narrativa do maravilhoso e as práticas de letramento literário

Temas diversos vinculados à área de Letras – Estudos Literários e Estudos Linguísticos

Realização:

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Os textos publicados nestes Anais são de

inteira responsabilidade de seus autores

Organizadora: Lilliân Alves Borges

ISSN:2357-7517

Universidade Federal de Uberlândia - 2017

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APRESENTAÇÃO

O Colóquio de Estudos em Narrativa (CENA) é organizado pelo Grupo de Pesquisas em

Espacialidades Artísticas (GPEA/UFU-CNPq). O tema do evento, nesta quinta edição, centra-se

no maravilhoso, uma ficção muito em voga na arte contemporânea. Todorov, em Introdução à

literatura fantástica, caracterizou a literatura do maravilhoso como aquela ficção que implica,

durante a sua leitura, a admissão de novas leis da natureza, uma vez que, nela, como defende

Filipe Furtado, em A construção do fantástico na narrativa, não se verifica a tentativa de fazer

passar por reais os acontecimentos sobrenaturais. Portanto, podemos afirmar que, hoje, a literatura

do maravilhoso compreende um vasto contínuo que parte dos mitos antigos e alcança até a ficção

científica mais contemporânea, sendo isso amostra suficiente de como ela segue, neste século, na

ordem do dia. Devemos atentar também para a produtividade acadêmico-científica dos debates

em torno da questão do maravilhoso, proporcional à amplitude de seu domínio: tem se tornado

muito evidente para nós a profícua articulação de várias áreas do conhecimento científico nesses

estudos, como a Psicanálise, a História e os estudos culturais, a Antropologia, a estética e as

teorias da recepção, isso para citar apenas alguns exemplos. Consideramos, assim, como Regina

Michelli, em “Nas trilhas do maravilhoso: a fada”, que apesar de nossa civilização buscar pautar-

se por uma mentalidade baseada no racionalismo, rejeitando de certo modo o maravilhoso, ele

perdura: em vários espaços, em múltiplos suportes, e, ao que tudo indica, sem sinalizar, sequer

num horizonte distante, sua possível extinção na cultura humana. Por tudo isso, para a pesquisa

científica, no que diz respeito à literatura do maravilhoso, navegar ainda é preciso.

COORDENAÇÃO GERAL

Profa. Dra. Marisa Martins Gama-Khalil (UFU/CNPq),

Doutoranda Lilliân Alves Borges.

COMISSÃO DE ORGANIZAÇÃO

Docentes UFU:

Profa. Dra. Camila Alavarce

Prof. Dr. João Carlos Biella

Prof. Dr. Leonardo Francisco Soares

Prof. Dr. Ivan Marcos Ribeiro.

Docentes externos:

Profa. Ma. Marineia Lima Cenedezi (ESTÁCIO)

Profa. Ma. Sandra Mara Carvalho (Colégio São Paschoal)

Profa. Ma. Ana Alice Pereira (UFSM).

Pós-graduandos ILEEL/UFU:

Andréia Oliveira Alencar Iguma

Jamille da Silva Santos

Bruno Silva de Oliveira

Lilian Lima Maciel

Ana Paula Silva, Bethânia Martins Mariano

Italiene Santos de Castro Pereira

Luma Maria Braga de Urzedo

Josaine Aparecida Corsso

Graduandos ILEEL/UFU:

Ana Clara Albuquerque Bertucci

Amanda Letícia Falcão Tonetto

Tamira Fernandes Pimenta

Vitor Rodrigues Soares

Marcus Vinícius Lessa de Lima

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OS “OBJETOS” DE RECORDAÇÃO E OS RELATOS

DOS NARRADORES DE JAVÉ

Léa Evangelista Persicano (UFG/RC/FAPEG)

Orientador: Prof. Dr. Antônio Fernandes Júnior

No filme Narradores de Javé (2003), analisamos como os “objetos” de recordação

exercem papel fundamental na (re)construção dos sentidos por meio de representações

que lhe são dadas pelos narradores. Nos relatos orais, imagens do presente e do passado

alternam-se, num jogo imagético-dicursivo considerável, e os usos que são destinados aos

“objetos” conjugam-se aos sentimentos que a eles são atribuídos pelos sujeitos e aos

poderes / perigos que os “objetos” impõem sobre esses sujeitos. A movência dos

“objetos” ocorre tanto espacial quanto temporalmente e, por isso, os que são utilizados

pelos narradores não estão presentes de modo figurativo no ritual de cada um, mas

funcionam como referência para as narrativas e cumprem uma função expressiva nas

relações estabelecidas entre passado e presente. Os narradores pretendem inclusive uma

projeção para o futuro: o nome e o relato obterem lugares de destaque no livro-dossiê em

produção, como estratégia para salvar a comunidade javelina e o vilarejo de Javé da

construção da barragem de uma hidrelétrica. Cada narrativa é iniciada a partir de um

“objeto” ou termo específico: escritura, arma, marca de nascença, foto, parte antiga e nova

de Javé, dentre outros. Os enunciados e discursos que devem compor o livro-dossiê

referem-se às histórias de origem do Vale, cujo foco é Indalécio (e Mariadina), e

normalmente se pronuncia essas palavras associadas a detalhes dos “objetos”, para ver

que relações de memória serão possíveis nos relatos. O referencial teórico dessa discussão

resume-se a Gama-Khalil (2015a/b), Agamben (2009), Bakhtin/Volochínov (2014) e a

metodologia é descritivo-interpretativa.

PERSPECTIVAS DA ADAPTAÇÃO EM ORLANDO, ROMANCE DE VIRGINIA

WOOLF E FILME DE SALLY POTTER

Luana Pereira do Vale (UFU)

Este trabalho consiste em analisar como se dá o processo de adaptação de uma obra

literária específica para a sétima arte através das teorias de Robert Stam e Linda

Hutcheon. Para tal, temos como objetos de estudo o romance de Virginia Woolf, Orlando

(1928) e a adaptação da mesma obra para o cinema por Sally Potter, Orlando – A Mulher

Imortal (1993). Ademais, pretende-se enfatizar a relação intrínseca entre literatura e

cinema, focando na transposição de elementos da narrativa literária no texto fílmico, bem

como analisar a construção da personagem híbrida Orlando. Virginia Woolf é uma das

mais importantes escritoras do século XX que seguirá um projeto estético bastante pessoal

na elaboração de suas obras, utilizando técnicas capazes de expressar o fluxo da

consciência e a subjetividade no processo de criação de suas personagens. Sally Potter,

diretora, cineasta, produtora, atriz e roteirista é a responsável pela adaptação

cinematográfica da obra de Virginia Woolf, produzida em 1993. Orlando é a história de

um jovem inglês com origens monárquicas que atravessa os séculos numa jornada em que

transita de um sexo para o outro em busca de sua liberdade individual e do

reconhecimento de sua poesia. A obra não há uma noção precisa de um dos elementos

fundamentais da narrativa, o tempo, que é quase infinito, durando cerca de 400 anos.

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O GRAU ZERO NA ESCRITA DE MARGUERITE DURAS

L Lara Rodrigues da Silva (UFU)

Na década de 60/70, François Truffaut subverte a noção de cinema como arte coletiva ao

propor a politique des auteurs – que insere a figura do diretor como expressão máxima

da autoria de um filme. Na literatura, porém, a autoria começa a ser questionada por

alguns pensadores, como Roland Barthes, reconhecendo o leitor como agente ativo no

processo de construção de sentidos de uma obra. Barthes (2000) vai refletir, também,

sobre um grau zero da escrita de maneira semelhante a Maurice Blanchot (2005),

considerando que a escrita demanda uma desocupação da obra em que escrever é

ausência. Dessa forma, do desejo de se estudar o cinema de Marguerite Duras, a primeira

intuição teórica foi a de fundamentar sua obra à politique des auteurs. Contudo, algumas

reflexões acerca da filmografia da autora, mostraram ser mais pertinente tomar sua obra

como problematizadora da questão da autoria. Assim, decidiu-se, então, analisar a

questão de autoria em Duras, tendo como corpus o filme L’homme atlantique (1981). A

obra é um compilado das imagens de Agatha et les Lectures Illimitées (1981), mesclada

às vozes de Marguerite Duras e Yann Andréa e momentos de escuridão na tela em que a

linguagem prepondera à imagem. A partir daí, o negro que se apresenta no écran vem

como o gozo de um cinema que alcança um “grau zero” ao recusar uma representação. O

texto, portanto, se sobrepõe a imagem a fim de manter livre o imaginário do espectador-

leitor e fazê-lo sujeito desse desobramento.

MAYA DEREN E A QUESTÃO DA AUTORIA NO CINEMA

Gustavo Silva (UFU)

Maya Deren foi uma das principais figuras do cinema experimental estadunidense, tendo

filmado curtas-metragens e pensado sobre as relações entre o cinema e as demais artes

em uma série de ensaios teóricos. Já nos primeiros anos da década de 1940, a artista

concebe uma experiência cinematográfica na contramão do que se elaborava,

majoritariamente, em Hollywood. Seus curtas exploram uma “verticalidade poética”,

como explicita Ismail Xavier, numa espécie de imersão no momento poético por meio da

“manipulação dos ‘dados reais’ no nível da montagem” (2005, p. 117). Tal prática é

designada, pela autora, em seu trabalho teórico, como um aspecto indispensável do

cinema como expressão artística, em que o realizador deve dispor dos dispositivos de

câmera e de montagem para a elaboração de novas realidades, conduzidas por novas

relações espaciais e temporais. Deren discute, ainda, a posição ocupada por esse tipo de

manifestação fílmica em meio à indústria cinematográfica, antecipando grande parte do

debate corroborado, na década de 1950, pela denominada política de autores francesa.

Nesse sentido, pretende-se desenvolver, neste trabalho, algumas considerações a respeito

da perspectiva de Maya Deren quanto à função do realizador na produção

cinematográfica. Com base no diálogo da autora com as questões fundamentais da

politique des auteurs e da teoria do cinema em geral, busca-se articular alguns de seus

ensaios – Cinema as an art form (1946) e An anagram of ideas on art, form and film

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(1946) – com os pontos de vista sobre autoria incorporados pelos cineastas-autores da

Nouvelle Vague.

ASSASSINATO NO EXPRESSO DO ORIENTE: DIÁLOGO ENTRE A OBRA

LITERÁRIA E A VERSÃO FÍLMICA JAPONESA

Lorena Alves Gorito (UFU)

Agatha Christie foi uma escritora britânica que produziu romances, contos, peças teatrais

e poemas, e uma de suas obras mais conhecidas é o romance policial “Assassinato no

Expresso do Oriente”, escrita em 1934. A obra de Christie já fora adaptada diversas vezes

para o cinema e para a televisão, sendo que adaptação mais atual foi produzida no Japão

em 2015 diretamente para a televisão, e se encontra disponível para download na internet,

com legendas apenas em inglês. A adaptação japonesa, dividida em dois filmes, e

desconhecida por muitos no Brasil, surge como uma surpresa, e a qualidade da produção

merece ser destacada. Nossa análise de “Assassinato no Expresso do Oriente” se justifica

pela falta de pesquisas em literatura comparada que consideram a atual versão fílmica

japonesa da obra. Através de uma linguagem própria, a literatura e o cinema firmaram-se

como formas de expressão de pensamentos e de comunicação reconhecidas

mundialmente, com valores artísticos expressivos. As teorias sobre a adaptação literária

nos mostram que, ao adaptar um texto para a mídia fílmica não basta apenas ocorrer uma

simples transposição do texto original, chamado de texto base, para um novo formato de

divulgação. É necessário que haja uma atenção aos atributos intrínsecos de cada meio,

pois o autor literário, ao escrever e publicar suas obras, não possui o objetivo

cinematográfico a priori – seu objetivo, obviamente, é literário - possibilitando assim a

intertextualidade.

DA EXPERIÊNCIA AO REAL-MARAVILHOSO EM DEUSES AMERICANOS:

O MITO CONTEMPORÂNEO

Luiza Maria Fonte Boa Melo (UFU)

Orientadora: Dra. Marisa Martins Gama-Khalil

Deuses Americanos, de Neil Gaiman, desafia a razão ao ressignificar os mitos na era da

tecnologia, onde não há espaço para deuses. Publicada em 2001, a obra de Gaiman (2016)

consolida-se na premissa de que todas as crenças humanas materializam-se e

ressignificam-se de acordo com suas necessidades. Desde deuses mitológicos como Toth,

deus egípcio da escrita e da sabedoria, até Mídia, deusa tecnológica da informação, a fé

humana cria e recria suas divindades, partindo de seus anseios e expectativas. Dentro

deste cenário, nos propomos a analisar a criação e recriação dos mitos em Deuses

Americanos (2016), baseando-nos dos conceitos de Forma Simples, Forma Atual e Forma

Relativa, propostos por André Jolles (s.d.) em Formas Simples. Aprofundando esses

conceitos, ainda abordaremos o mito pelo viés da experiência – cuja definição, Segundo

Larrosa (2015), não abre espaço para a informação e para a objetividade e sim para o

desconhecido, indeterminado, passível ao toque e ao sentir, para aquilo que foge ao

pragmático e ao certeiro. Abordaremos, por fim, a relação entre o mito e o espaço

narrativo onde a história opera: a América do Norte. Na América, tal como na era mítica,

o sobrenatural toca o cotidiano e transforma-se, fazendo-se constante e verdadeiro. Diante

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da onipresença do impossível, compreendemos o espaço americano, segundo Carpentier

(1987), como o lugar do extraordinário, uma vez que “[...] tudo o que escapa às normas

estabelecidas é maravilhoso.” (CARPENTIER, 1987, p. 122).

ENTRETEXTOS, ENTRECANTOS: O ARQUÉTIPO DO TROVADOR NO

POEMA KALEVALA E NO FILME ASHIK KERIB, DE SERGEI PARAJANOV

Carolina Silva de Almeida (UFU)

Orientador: Prof. Dr. Leonardo Francisco Soares

Este trabalho, parte da pesquisa em andamento, compara e analisa a manifestação do

arquétipo do herói trovador no poema épico finlandês, Kalevala, que conta a jornada de

Väinämöinen para proteger sua terra e o povo com a magia de sua música, e no filme de

Serguei Parajanov, Ashik Kerib, que narra a história de um jovem trovador que deseja

casar-se com a filha de um homem rico que o rejeita e pede um dote adequado para

aprovar a união. Ambas as obras possuem sua origem na tradição oral dos povos das

regiões da Carélia e do Cáucaso, respectivamente, entretanto o foco da pesquisa não é a

questão da adaptação da tradição oral, mas a aproximação temática e a comparação de

modos narrativos distintos através de um eixo temático. Para tanto com base nas formas

da manifestação da figura do herói trovador, analisaremos as duas formas narrativas: o

poema épico e o filme. Para os estudos de literatura e cinema, utilizamos o conceito de

Heterotopia de Foucault e os conceitos de Deleuze sobre a construção narrativa da

linguagem cinematográfica. Para a conceituação da jornada e dos arquétipos do herói, nos

voltamos para Campbell e, especificamente ao discutir sobre o herói trovador, para Flávio

Kothe e Antônio Cândido.

“O MÍTICO E O MARAVILHOSO NA CARACTERIZAÇÃO DO ULISSES

HOMÉRICO: A RELEITURA HOMÉRICA DE LUCIANO DE CRESCENZO

EM ULISSE ERA UN FICO”

Rodrigo Arlindo Pereira Brandani (UNESP-IBILCE)

Drª. Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP-IBILCE)

Neste trabalho buscou-se analisar alguns aspectos da obra Ulisse era un fico (2010), de

autoria do escritor, filósofo, cineasta e apresentador de televisão italiano Luciano De

Crescenzo (Nápoles, 1928). Na primeira etapa do trabalho investigou-se a intenção da

obra, cuja fundamentação é dada pelo próprio autor logo na introdução do livro, que

consiste em motivar crianças e jovens a terem contato com as narrativas mitológicas,

maravilhosas pela própria natureza sobrenatural do mito. Tais narrativas foram escritas

pela primeira vez durante a Antiguidade greco-romana. Essa necessidade de contato dos

jovens com os mitos é justificada pela interpretação arquetípica que muitos estudiosos

atribuem às narrativas mitológicas, como Eliade (2002) e Jung (1998), o primeiro define

o mito como um modelo de tudo que é importante na experiência humana, enquanto o

segundo determina que tudo aquilo que é comum à atividade humana reside no

inconsciente, de forma praticamente atemporal. Em uma segunda etapa do trabalho

investigou-se o processo de releitura e reescrita das narrativas mitológicas empreendido

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por Luciano De Crescenzo em Ulisse era un fico (2010), no tocante ao modo como o

autor retomou o Ulisses de Homero em sua obra e o caracterizou para a nova

representação literária, para tanto, analisou-se aspectos intertextuais e literários, e

chegou-se à conclusão de que houve um processo de transformação, pelo viés paródico,

que operou na reconstrução literária baseada na transposição das narrativas homéricas

para um contexto cultural contemporâneo.

LEITURAS SINGULARES DO MITO “POSSÊIDON”

Sandra Helena Borges (UFU)

Trazemos, neste estudo, análises e compreensões de três autobiografias de leitores dos

anos iniciais de escolarização que exemplificam deslocamentos, subversões e encontros

estimulantes com o mito “Possêidon”, da obra Os deuses do Olimpo, de Menelaos

Stephanides. Nesse sentido, o gênero autobiográfico permitiu que essas ações dos leitores,

que são assentadas nas suas subjetividades, pudessem ser representadas. Logo, as

narrativas das autobiografias permitiram que percebêssemos os fundamentos das

experiências estéticas dos leitores e, ainda, suas relações “[...] com a língua, com a escrita

e com a singularidade do modo de ler” ( Rouxel, 2013, p.70). Ademais, segundo as

teorizações de Foucault (2003), as autobiografias (como notas sobre si mesmo) são

escrituras de si, que compõem, juntamente com a escuta atenta, as técnicas de si. Tais

técnicas, para o filósofo, permitem os indivíduos efetuarem algumas operações sobre seus

corpos e suas almas, seus pensamentos, suas condutas, seus modos de ser; de

transformarem-se a fim de atender algum estado de felicidade, de pureza, de sabedoria,

de perfeição ou de imortalidade – os cuidados de si. A primeira autobiografia traz, como

procedimento de apropriação, a citação de uma expressão, ouvida pelo leitor, como

referência à vingança de Possêidon. A segunda autobiografia mostra um fenômeno de

interleitura, pois trata da aproximação do personagem Possêidon com o personagem

Tritão, do filme “A pequena sereia”, da Walt Disney. Na terceira autobiografia a cultura

literária e a construção identitária do leitor são ilustradas, pois nela há uma afirmação de

gosto pelo deus do mar.

O PENSAR LITERÁRIO NA COMUNIDADE SURDA

Jamille da Silva Santos (UFU/GPEA)

O presente trabalho objetiva estudar a literatura surda, para isso, precisamos entender que

a literatura se funde com uma cultura, e na comunidade surda não seria diferente, assim,

temos uma construção literária própria de uma comunidade. No que tange os estudos que

circunscrevem essa área, encontramos uma vasta e diversificada literatura na comunidade

surda e observamos que as obras tidas como clássicas, obras da literatura infantil, juvenil

e best sellers são e estão sendo transpostas para a Língua de sinais. Ademais, a base da

literatura surda é a valorização do contar histórias, destarte elas são passadas de geração

para geração por pessoas mais idosas. Nesse prisma, Karnopp no livro Literatura surda:

ver histórias em línguas de sinais, afirma que as narrativas preferidas dos surdos são:

piadas, histórias de vida e aquelas que incluem elementos da cultura surda. Com o advento

da tecnologia uma parte dessas histórias vem sendo passadas para vídeos, assim,

encontramos na internet uma gama de narrativas transpostas para as Libras e outras

narrativas criadas por surdos e para surdos. Desse modo, há uma propagação rápida de

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uma literatura surda, que traz sua base a cultura brasileira ouvinte, mas mais que isso,

coloca em circulação uma cultura própria do surdo por meio dos sinais.

O ESVAZIAMENTO DA CORREÇÃO TEXTUAL EM PRODUÇÕES

ESCOLARES

Kelly Dayane Silva Araujo (UFU)

Vivemos em uma sociedade grafocêntrica, o que torna o domínio da habilidade da escrita

um imperativo à vida social. Com isso, torna-se relevante o ensino de escrita, em Língua

Portuguesa, na educação básica, para que as pessoas tenham um domínio dos mecanismos

da língua escrita e da leitura tanto na recepção quanto na produção de textos. De acordo

com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a escola tem o dever de encaminhar o

aluno para que ele desenvolva capacidades linguísticas, pois isso se faz necessário para o

exercício pleno da cidadania. Isso mostra o quanto a função do professor é importante

para a constituição da sociedade, visto que é ela que inscreve o aluno no processo de

aquisição da escrita. Assim, o professor será aquele que facilitará o caminho do aluno

nesse aprendizado. No entanto, podemos observar que, nem sempre, o professor se dá

conta da importância que ele tem nesse processo. Sendo assim, a correção textual é um

dos aspectos considerados importantes no desenvolvimento da habilidade de escrita,

desde que essa correção esteja em função de um trabalho elaboral sobre o texto produzido.

Por isso, a correção deve ser realizada um mecanismo de auxílio ao aluno no

melhoramento do texto. Neste trabalho, analisamos correções em que há “esvaziamento”

da concepção de “correção”. Resultante disso, o aluno, sujeito à mediação do professor,

termina a sua formação sem saber manejar a escrita adequadamente, devido a uma falha

de instrução em sua formação escritora.

ESTUDO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA POR MEIO DE TEXTOS COM

VISTAS A COMBATER O ESTÍGMA DO ERRO

Maria Cecília Belisário de Lima (PROFLETRAS - UFU)

Esta pesquisa tem como tema a variação linguística de aspecto semântico-lexical e o

ensino de língua portuguesa. Partimos da hipótese de que o trabalho com a variação

linguística, partindo da realidade do aluno, é uma ferramenta efetiva para a ampliação do

léxico do estudante. Além disso, a implementação de um material norteador para o estudo

deste componente curricular será de grande auxílio para os profissionais da área que ainda

encontram dificuldade em combinar a realidade sociolinguística do educando com o

ensino da língua. Será uma pesquisa desenvolvida em duas etapas: a pesquisa

bibliográfica e a pesquisa de campo. Por meio da pesquisa-ação, no qual faremos reflexão

da prática a partir de nossas ações como professores de Língua Portuguesa tratando dos

temas abordados nessa pesquisa. A pesquisa bibliográfica será feita acerca das teorias

contundentes referentes a variação linguística e a sociolinguística, e também com a

análise dos documentos oficiais que norteiam o ensino destes temas nas aulas Língua

Portuguesa. A posteriori, passaremos à elaboração e aplicação das atividades que serão

desenvolvidas em sala de aula através de oficinas. A sistematização de um Compêndio

de Atividades Digital é o produto final que desejamos disponibilizar aos professores

Língua Portuguesa ao fim desta pesquisa.

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AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: O USO DOS MEMES COMO

OBJETO DE ENSINO

Alessandra Oliveira Arguejos (UFU)

Este trabalho consiste em uma proposta didática que contempla os multiletramentos e os

letramentos digitais, desenvolvida no ambiente virtual de aprendizagem (Edmodo) e que

privilegia o meme como objeto de ensino. O meme é considerado um fenômeno recente

da internet, e é um gênero muito consumido por jovens e adolescentes do mundo inteiro.

Definido pela Wikipédia como: “conceito de imagem, vídeo e/ou relacionados ao humor,

que se espalha via Internet”; a palavra meme é uma referência ao conceito de memes

concebido pelo famoso geneticista Richard Dawkins, em sua obra The Selfish Gene de

1976. O autor utiliza a expressão meme para se referir a uma teoria ampla de informações

culturais. O meme é para a memória o equivalente ao gene na genética, ou seja, a sua

unidade mínima. Os memes representam o reconhecimento das identidades culturais

(online) de crianças e adolescentes na atualidade e pode ser utilizado como objeto de

ensino, com o objetivo de desenvolver a criatividade e as habilidades comunicativas dos

estudantes. A sequência didática, assim como os resultados da aplicação são

apresentados, comprovando o quanto o uso das ferramentas digitais despertam o interesse

dos jovens para as atividades propostas, os diversos benefícios propiciados por esse tipo

de trabalho e sua contribuição para o aprimoramento das habilidades de leitura, escrita e

oralidade dos alunos.

OS ESPAÇOS E LUGARES FANTASTICOS E MARAVILHOSOS

DA TERRA-MÉDIA

Francisco de Assis Ferreira Melo (UFG-Campus Catalão)

Orientador: Prof. Dr. Alexander Meireles da Silva

Neste trabalho apresentamos uma parte de nossa pesquisa em curso sobre os lugares e

espaços fantásticos pelos quais, Frodo tem que passar sob a condição de suposto salvador

da Terra-Média, na longa narrativa de O Senhor dos Anéis. Desde a sua saída do condado

até a montanha da perdição, local da destruição do Um Anel, Frodo passa por um processo

de desestruturação física e psicológica cada vez mais sentindo o apagamento de todas nas

imagens desses lugares, tendo todos os espaços substituídos pela escuridão. A questão do

espaço, em toda história da Terra-Média, é algo fundamental, pois todo ele seja

psicológico, físico, institucional e material é uma das partes predominantes do romance.

As muitas páginas desenhadas reproduzindo toda topografia da Terra-Média constituem-

se em uma prova dessa importância determinando os deslocamentos dos personagens e

ajudando na construção psicológica deles como; o desejo de Frodo de voltar para casa; o

fracasso de Boromir diante do anel e o medo de Gandalf de sucumbir ao anel ao longo da

jornada. Por esta razão muitos pesquisadores tentam discutir a relação de poder existente

ou não com os lugares e espaços ao longo da narrativa da Terra-Média, bem como entre

os próprios personagens. Para desenvolver esse estudo buscamos suporte nas teorias de

Todorov (2008), Roas (2014), Yi-Fu Tuan (2013,2005), Vax (1972), pois pretendemos

desenvolver uma analise do espaço e dos lugares a partir da condição do fantástico

procuraremos demonstrar, a partir de exemplos retirados do romance, como esses

envolvimentos acontecem no Senhor dos Anéis.

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A QUEDA DA CASA DE USHER SOB A ÓTICA DO FANTÁSTICO E DO

ESTRANHO

Rosana Gondim Rezende (UFU)

Considerado como um dos gênios da Literatura Estrangeira, Edgar Allan Poe, com sua

“Filosofia da composição”, foi decisivo na formação do conto contemporâneo. Em seus

estudos sobre a teoria do conto, elege como alvo a unidade de efeito: princípio poético

que opera com uma relação entre a extensão da obra pretendida e a reação provocada no

leitor. Para tanto, uma obra poética deve ser planejada e articulada sistematicamente, isto

é, cada elemento deve ser escolhido objetivando o efeito pretendido. O artista, como um

estrategista poético, deve construir o texto de modo a despertar no leitor o efeito almejado

― um estado de excitação. Nossa proposta é analisar o conto “A queda da casa de Usher”,

do referido contista, em cuja trama se observa a atmosfera insólita, da qual emerge o

fantástico. Leo Spitzer, na análise dos contos de Poe, esclarece que a atmosfera é o

resultado da relação entre o ambiente e as pessoas que nele vivem. Corroborando essa

ideia, afirma Osman Lins que a atmosfera “consiste em algo que envolve ou penetra de

maneira sutil as personagens” (1976, p.76), trazendo à tona a abstração do espaço,

entendido como tal. Tudo isso evidencia a importância do foco sobre esse elemento, já

que o próprio título do conto elucida o espaço em que ele se manifesta. Nosso trabalho

será estruturado pela aplicação da teoria presente na obra “Filosofia da Composição” na

análise do conto em questão, ambos do mesmo autor. Paralelamente à teoria poeana,

conduziremos parte de nossa análise pelos estudos de Sigmund Freud sobre o tema do

“Estranho”. Consideraremos, também, na apreciação do fantástico, as teorias de Louis

Vax, Filipe Furtado, Remo Ceserani e José Paulo Paes. Assim, se por um lado, o

fantástico abre portas para a experiência do sobrenatural, sendo “[...] a hesitação

experimentada por um ser que só conhece as leis naturais, face a um acontecimento

aparentemente sobrenatural.” (TODOROV, 2004, p.30-1), colocando em dúvida nossos

conceitos racionalistas, por outro, o estranho recusa a presença desse mesmo sobrenatural

em defesa da natureza dos acontecimentos, explicada por meio de argumentos científicos

REPRESENTAÇÕES ESPACIAIS E A EMERGÊNCIA DO FANTÁSTICO EM

A DESUMANIZAÇÃO DE VALTE HUGO MÃE

Alisson Cardoso da Silva

Fruto de quase dez anos de trabalho, “A desumanização”, do escritor contemporâneo

radicado português, Valter Hugo Mãe, é exemplo ímpar de uma escrita que harmoniza a

sentimental delicadeza do lirismo e a desprezível, cruel e ordinária linguagem

abjeccionista. Narrado em primeira pessoa, o romance traz a história de Halla que,

abalada com a prematura morte da sua irmã gêmea, Sigridur, descobre o mundo e as

coisas da vida em sua real natureza; crua, indelicada, livre de mascaras. Charnecas,

vulcões, montanhas, fiordes; a vastidão inóspita da Islândia, desconhecida ao leitor

ocidental, é onde a história se ambienta. E é, pois, este espaço que se configura na

narrativa como um espaço insólito; um espaço de limite, de fronteira entre a solidez do

mundo real, empírico e a instabilidade, a anormalidade metafísicas. Para tratar dos

espaços, este estudo pauta-se nas noções de Utopia e Heterotopia formuladas por Michael

Foucault. Para este teórico, as utopias são espaços irreais que apresentam a sociedade de

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uma forma aperfeiçoada, confortável; já as Heterotopias são os espaços reais, pluriformes,

justapostos que, por ocuparem vários posicionamentos, em si, incompatíveis,

incomodam. Para tratar do fantástico, este estudo se pauta nos conceitos apresentados por

Tzvetan Todorov em “Introdução à literatura fantástica” e por David Roas em “A ameaça

do fantástico”.

“PEAU D'ÂNE” E “LA PEAU DE CHAGRIN”: O PODER DOS OBJETOS

MÁGICOS NO CONTO DE FADAS DE PERRAULT E NO ROMANCE DE

BALZAC.

Marli Cardoso dos Santos (UFU)

Na narrativa La peau de chagrin, de Honoré de Balzac, o enredo é construído em torno

de um talismã mágico, uma pele de onagro, que representa a materialização do pacto de

poder com as forças ocultas. Quando se indica o uso da pele de asnos, em textos literários,

nos lembramos de “Peau d’âne”, conto de fadas de Charles Perrault (séc. XVII). No conto

de Perrault, essa pele mágica tem a capacidade de metamorfosear e esconder a princesa

que foge de seu próprio pai, ou seja, a pele torna-se um refúgio para a pobre moça. Em

La peau de chagrin, Raphaël de Valentin é surpreendido pelos poderes misteriosos de

uma pele que se retrai à medida em que seus desejos são realizados. Assim, percebemos

durante a narrativa de Balzac, que apenas a personagem Pauline assemelha-se a inocente

princesa de “Peau d’âne”, que usaria a pele por amor. Contudo, é Raphaël que deve

carregar consigo o chagrin, o sofrimento e as dores por ter assinado o pacto de poder.

Logo, por essas intertextualidades, vamos entendendo o porquê da retomada dessa

tradição da pele e de seus poderes, sobretudo uma estreita relação com o oriente,

característica importante das narrativas românticas. Compreendemos, assim, que a

aquisição de poder ocorre pela presença dos objetos mágicos que constituem nos textos a

mediação entre o plano real e o plano sobrenatural. Analisaremos essas duas narrativas

francesas de épocas tão distantes por meio das teorias do fantástico e do maravilhoso na

literatura.

HISTÓRIA E MEMÓRIA NA CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO DISCURSIVO

Fernanda Gomes da S. Nakamura (UFG/RC)

Prof. Dr. Antônio Fernandes Júnior

O objetivo deste trabalho é analisar a constituição do sujeito discursivo Orlando Sabino,

personagem do livro O diabo está lá fora de Júlio Quinam e Miguel Patrício. Para atingir

nosso propósito realizaremos uma revisão teórica acerca das noções de História e

Memória para ressaltar a maneira como a Análise do Discurso (AD), linha teórica

francesa preconizada por Michel Pêcheux, estabelece a noção de História e Memória e a

articula à constituição do Sujeito Discursivo. Observaremos como Foucault trata a

História como um sistema de dispersão de enunciados e ignora a noção de documentos,

colocando em seu lugar a noção de monumentos, inserindo espaço para o trabalho da

memória. Para este estudo fundamentaremos nosso trabalho no livro Arqueologia do

Saber (1995) e também outros autores como Peter Burke (2011) para repensar a História

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Nova, a qual também é apontada por Foucault. Pensar a História dentro da AD é referir-

se ao trabalho de condições de produção e de poder e resistência sobre as práticas dos

sujeitos, com isso, evidenciar que a História, para Foucault, não é vista do ponto de vista

cronológico e sim como um processo da descontinuidade, pois ela tem a sua estrutura e

não se apresenta de forma linear, uma vez que não existe uma verdade única.

RELEITURAS DO MARAVILHOSO EM THE GLASS BOTTLE TRICK

Fernanda Aquino Sylvestre (UFU)

O objetivo deste trabalho é verificar como a autora contemporânea Nalo Hopkinson relê,

em seu conto The Glass Bottle Trick, os contos de fadas tradicionais Fitcher´s Bird, dos

irmãos Grimm e Bluebeard, de Perrault, retomando elementos do maravilhoso e dando

novos sentidos à narrativa, ao trabalhar, por exemplo, a questão do racismo. Por meio da

intertextualidade, Hopkinson mostra como as pessoas não percebem o mundo à primeira

vista, porque enxergam apenas aquilo que lhes foi determinado pelos modelos e

construções a que foram expostas. Elas enxergam o mundo pelas lentes da linguagem,

pelos modelos que são recebidos por meio da educação e da cultura (por exemplo, o

modelo de relacionamento entre pais e filhos, entre casais), pelos modelos de família,

calcados em códigos de representação baseados em mitos e contos de fadas, duas formas

de discurso que tiveram importante papel na formação do sistema social e político das

sociedades em geral. A narrativa da escritora jamaicana evidencia como o contexto pós-

moderno vem recuperando e perpetuando a tradição, mostrando a importância de textos

consagrados como os contos de fadas. A história tem sido cada vez mais resgatada por

meio da literatura, história que está dissipada nas entrelinhas de cada um dos contos que

Hopkinson retoma e que a partir dos quais podemos recuperar o contexto de uma época

da cultura europeia.

Palavras-chave: Maravilhoso; Fantástico; Nalo Hopkinson; The Glass Bottle Trick

A CARACTERIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA DAS PRINCESAS DE CONTOS

DE FADAS CLÁSSICOS EM SHREK 3

Bruna Ferreira Ramos (UFU)

O propósito central deste trabalho é apresentar os contornos principais de um estudo que

tem como objeto de investigação Shrek 3, que parodia clássicos da Disney, constituindo-

se em uma importante instância revisionista contemporânea do universo

fantástico/maravilhoso dos contos de fadas. O foco dessa pesquisa é investigar o caráter

revisionista da caracterização das princesas de clássicos da literatura infantil, como Bela

Adormecida, Cinderela, Branca de Neve e Rapunzel, que reaparecem na história de Shrek

3 (2007) de uma forma bem diferente de como são conhecidas nas histórias tradicionais.

Esta representação nos conta o futuro dessas princesas depois do “... e foram felizes para

sempre”. A nova visão nos apresenta as princesas de uma maneira mais atual, irônica e

crítica constituindo-se realmente como uma forma de paródia dos clássicos. Tomando

como base o conceito de "re-visão", de Adrienne Rich, as táticas revisionista delineadas

por Rachel Blau DuPlessis, o conceito de carnavalização de M. Bakhtin, e os níveis de

revisionismo definidos por Maria Cristina Martins, apontar as diferenças detectadas nas

novas personagens, quando comparadas com as protagonistas dos clássicos, e identificar

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o grau de ruptura atingido pela caracterização dessas novas princesas são as metas centrais

desta pesquisa.

“CINDERELA”: METAMORFOSES NOS/DOS CONTOS DE FADAS NAS

VERSÕES DE ANGELA CARTER

Ana Cláudia Nascimento Theodoro (UFU)

A autora inglesa, Angela Carter, foi uma importante pesquisadora e escritora de contos

de fadas que abordam a tradição oral de contar histórias, tendo eternizado contos de fadas

contados por várias culturas e vários países ao redor do mundo. Nestas coletâneas, uma

história que se faz recorrente é a de uma menina explorada no trabalho, suja de cinzas,

que um dia encontra ajuda mágica, conseguindo se livrar das garras da madrasta/ patroa/

inimiga, tornando-se livre para realizar seus sonhos. Estas diferentes versões contadas em

diferentes épocas e países do mundo são similares ao conto de Cinderela eternizado por

Charles Perrault e por Walt Disney. Este trabalho pretende analisar as versões de

Cinderela reunidas por Angela Carter que abordam as transformações da personagem

feminina, além das mudanças ocorridas na própria estrutura do conto. Para tanto,

recorremos às teorias de Tzvetan Todorov no que concerne ao gênero maravilhoso, bem

como aos estudos de Umberto Eco e de Wolfgang Iser quanto ao conceito de ficção. É

relevante relacionar tais contos e seus respectivos países de origem com a teoria de

Adrienne Rich sobre o revisionismo, aplicado aqui à análise dos contos de fadas. A teoria

do revisionismo está ligada a uma atitude de repensar um determinado texto dentro de um

contexto cultural, histórico e social. O ato de (re)ver, no sentido de ver com novos olhos

textos consagrados pela crítica e pelo público que adquirem significados que, muitas

vezes, são tidos como verdades universais.

INQUIETAÇÕES SOBRE A MODERNIDADE LÍQUIDA NOS CONTOS-

CRÔNICAS DE HENRIQUE RODRIGUES

Juliana Silveira Paiva (UNIMONTES)

Procedimento que vem se tornando recorrente na produção literária contemporânea, os

recontos dos contos de fadas e contos maravilhosos, em versões nem sempre voltadas

para crianças, suscitam reflexões sobre a condição do humano e seu estar no mundo na

atualidade. Nesse sentido, o escritor carioca Henrique Rodrigues deu sua contribuição ao

publicar, em 2016, no espaço semanal de que dispõe no site Vida Breve, uma série de seis

textos destinados ao público adulto. Essas narrativas, híbridos de conto e crônica, são

hipertextos dos clássicos infantis Cinderela, Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, Os

três porquinhos, Peter Pan e Pinóquio. O objetivo deste trabalho é levantar as principais

reflexões suscitadas pelos textos de Henrique Rodrigues acerca da condição do homem

contemporâneo, como mergulho no universo virtual e relações mediadas pela tecnologia;

crise de identidade e questão autoidentitária; e individualização de tarefas e

responsabilidades. A tecnologia, mais precisamente as possibilidades ofertadas pelo

universo virtual, também é analisada por seu papel de medidor e opositor mágico nos

contos-crônica de Rodrigues. A metodologia, de cunho bibliográfico, está ancorada em

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estudos sobre a modernidade líquida, de Zygmunt Bauman (2001); a hipertextualidade,

conforme Gerard Genette (2006); os contos de fadas e o universo do maravilhoso,

segundo Nely Novaes Coelho (2012), entre outros.

CONTOS DE FADAS REVISITADOS: ROMPENDO O DOMÍNIO DE UMA

TRADIÇÃO

Lívia Maria de Oliveira (UFU)

Muitos estudos comparativos vêm apontando os mecanismos ideológicos por meio dos

quais os contos de fadas vêm sendo modificados ao longo de sua trajetória, considerando

a necessidade de rever as visões conservadoras enraizadas nesses textos. O processo

revisionista retorna às narrativas consideradas clássicas a partir de um novo

direcionamento crítico, repensando os comportamentos da sociedade contemporânea, de

modo que os questionamentos sirvam à função de minar determinados discursos outrora

considerados como únicos e universais. Nesse sentido, o presente trabalho tem por

objetivo discutir características que possibilitam ao revisionismo dos contos de fadas ser

considerado uma estratégia narrativa da pós-modernidade. Por meio do diálogo

intertextual entre tradição e contemporaneidade, será destacada a estratégia revisionista

da paródia (HUTCHEON, 1989), que compreende a reprise do passado sob forma crítica,

sendo a repetição com diferença e um modelo de inversão, que serve para contestar e

desconstruir práticas sociais legitimadas pelo discurso dominante. Além disso, no que diz

respeito aos contos de fadas, evidenciam-se a divisão entre sexo masculino e sexo

feminino, a normativa heterossexual dominante e os comportamentos sexuais binários de

gênero determinados para os personagens femininos e os personagens masculinos. Com

isso, para validar o interesse feminista que permeia o trabalho de muitas escritoras do

revisionismo contemporâneo dos contos de fadas, discutiremos algumas questões sobre

gênero (BUTLER, 2010).

SANGUE, CASTRAÇÃO E SUBLIMAÇÃO: A REPRESENTAÇÃO DA

CRIANÇA-VAMPIRO EM ANNE RICE E JOHN AJVIDE LINDQVIST

Júlio Cezar Pereira De Assis (UFU)

A presente comunicação tem como objetivo analisar e comparar a representação da figura

da criança-vampiro em duas obras literárias contemporâneas: Entrevista com o vampiro

(1992), da americana Anne Rice, e Deixa ela entrar (2004), do sueco John Ajvide

Lindqvist. Ainda que a criança – vampiro seja um personagem marcante na literatura

infanto-juvenil, é quase inexistente na literatura adulta vampiresca. Daí a necessidade de

um estudo mais aprofundado sobre o tema. Rice, em seu livro, cria uma das personagens

mais fascinantes da extensa galeria de vampiros da literatura universal: Claudia, garota

de cinco anos que é mordida por Lestat e criada por Louis como filha. A menina, ao longo

da trama, vive um dilema complexo: de um lado, deve lidar com a gradual perda da

humanidade, devido à sua nova condição vampiresca, que lhe traz uma insaciável sede de

sangue, levando-a a cometer assassinatos em uma espécie de predatismo pela

sobrevivência (que muitas vezes esconde um forte sadismo). De outro lado, Claudia está

condenada a viver uma espécie de “eterna infância”, em que deve sublimar suas vontades

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e desejos sexuais, aprisionada em sua forma corporal pueril. Já Eli, personagem da obra

de Lindqvist, além de ter de lidar com a nova condição vampiresca e o eterno corpo

infantil, deve adequar-se à sua nova sexualidade (tema sempre problemático nas

narrativas de vampiro) já que foi castrada/o em um tempo passado. A comunicação estará

centrada na análise da composição das personagens e de seus conflitos com o próprio

corpo e com a sociedade ao seu redor, especialmente em seu confronto com o mundo dos

adultos.

ALEGORIAS DA INQUISIÇÃO EM CRIME DE ALDEIA VELHA, DE

BERNARDO SANTARENO

Kamilla da Silva Soares (UFU)

A peça intitulada O Crime da Aldeia Velha escrita em 1959 é uma das primeiras obras de

um dos mais importantes dramaturgos de Portugal do século XX. Ela contempla várias

representações simbólicas de heresia, do catolicismo e da bruxaria. Além dos rituais feitos

pela inquisição. Explora todo o imaginário entre o sagrado e o profano e a influência da

religiosidade interfere diretamente na vida das pessoas. Baseada em um caso verídico

ocorrido na Freguesia de Soalhães em Marco de Canaveses região do Porto nos anos de

1930. Essa peça em três atos, no primeiro, dois jovens disputam e cortejam Joana, que os

despreza até que em uma luta ambos morrem. No segundo ato parte das senhoras do

vilarejo começam a culpar a jovem pela morte dos rapazes, e após a morte de uma criança

a culpa também recai sobre Joana, o padre é chamado e afirma que a culpa não é da moça.

No entanto, no último ato, ao final da peça um grupo de idosas católicas com a intenção

de salvar a alma de Joana lhe preparam uma “fogueira santa”. Bernardo Santareno é o

pseudônimo de Antônio Martinho do Rosário nascido em Santarém em 19 de novembro

de 1920, médico psiquiatra e escritor é considerado um dos mais relevantes dramaturgos

do século XX em Portugal.

PELA SEDUÇÃO DA PALAVRA: O CANTO DAS SEREIAS, SERES

MARAVILHOSOS DE HOMERO A KAFKA

Lidiany Caixeta de Lima (GPEA/UFU)

A palavra seduz. E não por acaso cantam as sereias. Diz-se que cantam para enfeitiçar os

marinheiros somente para matá-los, fazendo com que eles, ébrios de suas melodias, se

atirarem ao mar, fatalmente, encontrando a morte como desígnio. Esses seres

maravilhosos, de vida anfíbia, metade mulher e outra metade peixe, representam o

entremeio, posto serem, a um só tempo, peixe e mulher, seres míticos que, com sua

volúpia e torpeza, seduzem os homens do mar, com seus fascinantes atributos, causando

o naufrágio das embarcações e levando-os à morte por afogamento. Não se propõe uma

historiografia literária, antes propomo-nos a apresentar uma abordagem do ser mitológico

sereia, por meio dos conceitos bakhtinianos de polifonia e de dialogia, identificando o

atravessamento de vozes (cantos) e os silêncios, de Homero a Kafka, pois que as sereias

“têm uma arma ainda mais terrível que o canto: o seu silêncio (KAFKA, 2017, p. 1). E,

depois de Kafka, perscrutando uma análise jurídico-literária, apresentamos as sereias e

por que(m) elas cantam no célebre artigo do jusfilósofo Warat Por quien cantan las

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sirenas: infrome sobre eco-ciudadanía y derecho - algunos aspectos de la mordenidad y

transformacíon.

BRUXAS E FEITICEIRAS REPRESENTADAS EM SAGA DAS ENCANTADAS

DE SARAH PINBOROUGH

Histávina Duarte Pereira (UFU)

A imagem da mulher bruxa, atualmente, é reflexo da opressão imposta pela sociedade

patriarcal. Aquela mulher que possuía liberdade sexual e desejo insaciável de luxúria era

considerada fora dos padrões sexuais desse tipo de sociedade, centrada na figura

masculina. As feiticeiras e bruxas são, muitas vezes, consideradas sujas por cometerem

pecados e se submeterem aos desejos da carne. O discurso instaurado na obra de Sarah

Pinborough na trilogia Saga das Encantadas mostra o potencial transformador das

bruxarias e a ligação da bruxa com a sexualidade, tema que pretendo desenvolver nesse

trabalho.

AS REPRESENTAÇÕES DO SILÊNCIO NO UNIVERSO INSÓLITO DE FRIDA

KAHLO

Tamira Fernandes Pimenta (UFU)

O presente trabalho busca através de um estudo minucioso, mostra nas pinturas de Frida

Kahlo, como que fragilidade, instabilidade e esvanecimentos se encontram presentes a

cada pincelada, nesse processo de produção de sentidos há um modo de estar em silêncio

em que o sentido não para ele muda de caminho fundando uma obra cuja dor e o intenso

amor pela arte se cruzam fazendo com que se perceba o quanto esse processo foi

fundamental para a constituição identitária da pintora. Em suas telas Frida reflete suas

perturbações e paixões internas, suas pinturas não contam histórias, mas abrem feridas

que são apresentadas através do corpo, que sobrevive; através das imagens por uma

tentativa de eterno presente desdobrando–o em outra materialidade. Além disso, podemos

ver, traços de androgenia em Frida, devido à renúncia de sua identidade e a busca

constante por uma nova. Seu corpo é um elo entre suas paixões, sofrimentos e é através

do espelho que á toda a fragmentação que o compõe encontra sua nova subjetividade.

Serão analisadas algumas telas de Frida tendo como fundamentação teórica especialmente

os estudos de Michel Foucault sobre o corpo e os do filósofo Jean – Luc Nancy sobre a

representatividade do corpo fragmentado em sua constituição identitária, além dos

estudos de Eni Puccinelli Orlandi sobre as formas do silêncio, pois nessas pinturas é

recorrente a busca do corpo como fonte de imagens, em que a obra de arte se articula em

torno de um ponto de falta – o vazio- o nada, e no procedimento recorrente de rostos,

seios, pés, veias e olhos que veiculam suas fontes próprias de fantástico.A bibliografia

consultada entra em diálogo com as pinturas, constituindo uma relação de completude ao

conseguir abarcar os conceitos fundamentais dos princípios que norteiam o corpo e os

vínculos emocionais criados a partir da utilização de cores e espaços que simbolizam a

beleza ambígua encontrada nas obras Khalianas.

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O HUMOR NA ADAPTAÇÃO DE ROMEU E JULIETA PELA MSP – A CENA

DO CASAMENTO

Tiago Marques Luiz (UFU)

A adaptação para crianças e adolescentes é uma problemática, em vista de uma adaptação

voltada para o público adulto. A literatura infantil tem suas próprias características

especiais: livros infantis são muitas vezes ilustrados e muitas vezes feitos para serem lidos

em voz alta, assim como o teatro pode ser encenado de duas formas: ou por adultos ou

pelas próprias crianças e adolescentes. Este trabalho pretende, em primeira instância,

contribuir para o estudo da obra shakespeariana com um foco novo; um estudo destinado

à Literatura Infanto-Juvenil, pois, embora Shakespeare seja um nome do teatro, da

literatura mundial e também do cinema, um estudo aprofundado especificamente ao

público infanto-juvenil com a Turma da Mônica não foi aprofundado. A obra em questão

para o processo comparativo é Romeu e Julieta adaptado para o texto cinematográfico

Mônica e Cebolinha no Mundo de Romeu e Julieta.

SHONEN-AI: O HOMOEROTISMO FANTÁSTICO NOS QUADRINHOS

JAPONESES

Renata Soares Veloso (UNIMONTES)

Esta apresentação é um recorte de nosso trabalho de conclusão do curso de Letras na

Universidade Estadual de Montes Claros, no qual discutimos o uso do homoerotismo e

do fantástico nos Quadrinhos japoneses, popularmente conhecidos como mangás. Neste

recorte, mostraremos brevemente um pouco da história do homoerotismo e do fantástico

na literatura japonesa, com foco nos mangás. Faremos ainda uma breve análise desses

elementos em três mangás: Loveless (2002), de Yun Kogua, Asterisk (2006), de Shuu

Morimoto, e Konya mo nemurenai (2011), de Kotetsuko Yamamoto. Por meio de autores

que trabalham os aspectos aqui envolvidos, como o homoerotismo e homossexualidade

(BARCELLOS, 2002; BORNOFF, 1991 e MCLELLAND, 2000), o fantástico

(RODRIGUES, 1988 e TODOROV, 1975), entre outros, procurou-se compreender as

razões que levam as mulheres a escreverem e consumirem mangás nos quais o amor entre

dois personagens do sexo masculino, conhecidos como Shonen-ai (amor entre garotos),

onde tais relações são retratadas de maneira sensível e sem preconceitos. Percebemos que,

dentre as estratégias de composição artística mais abordada no gênero Shonen-ai, o

fantástico é frequentemente empregado. A representação de personagens andróginos,

tanto fisicamente quanto em sua psique, coloca os mangás Shonen-ai no mundo da

fantasia. Não obstante, a presença de situações e de elementos fantásticos são recursos

comumente usados pelos mangakás como pano de fundo no qual se desenrola o romance

entre os personagens.

ENTRE A PALAVRA E A IMAGEM: O MARAVILHOSO NA OBRA DE

SHAUN TAN

Samita Vieira Barbosa Martins (UFU)

Ítalo Calvino destaca, acerca da compilação de narrativas fantásticas do século XIX, o

quanto o fantástico tem a capacidade de dizer sobre nós, “a nossa sensibilidade de hoje,

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o elemento sobrenatural que ocupa o centro desses enredos aparece sempre carregado de

sentido, como a irrupção do inconsciente, do reprimido, do esquecido, do que se

distanciou de nossa atenção racional.” (CALVINO, 1983, p. 4) É em diálogo com tal

perspectiva e também com a de outros autores, como Tzvetan Todorov e Neli Novaes

Coelho, que buscamos perceber o que há de representativo na forma de narrar do artista,

autor e cineasta australiano Shaun Tan. Suas obras, e aqui daremos enfoque às obras

literárias e às adaptações destas ao cinema, mais voltadas ao público infanto-juvenil,

trazem características como a hesitação, o por vir que surpreende, e o enaltecimento do

ínfimo como sendo o essencial na sua temática. E para além de analisar suas obras num

viés mais temático, pensando no que o autor realmente aborda, buscamos também

perceber as nuances que se destacam na sua forma de narrar, mesclando suas ilustrações

com a sequência das narrativas, sendo que a escrita e os desenhos vão não somente se

intercalando ou meramente se complementando, mas se tornam simbióticos, pode-se

dizer. De fato, as narrativas de Shaun Tan se dão muito mais por meio das imagens, sendo

que, desde a própria capa dos livros, todas as imagens, de detalhamento e sutileza

impecáveis, são passíveis de leitura e, em caso de livros como A Chegada, por exemplo,

estão compondo a narrativa realmente.

DAS HISTÓRIAS INFANTIS ÀS TELAS DO CINEMA: A ADAPTAÇÃO DO

CONTO A GATA BORRALHEIRA DE CHARLES PERRAULT PARA O

CINEMA EM LUA DE CRISTAL

Fernando Franqueiro Gomes (UFU)

Escrita no século XVII, a história de A Gata Borralheira, popularmente conhecida como

Cinderela, permanece sendo um dos contos de fadas mais populares entre as crianças, e

muito deste sucesso se deve, atualmente, às frequentes adaptações da história para

diferentes mídias, sendo uma delas o cinema. Este trabalho fará uma análise dos

elementos da narrativa original e a leitura que recebem em uma versão cinematográfica.

Primeiramente será feita uma contextualização acerca dos contos de fadas e suas

características a partir de autores como Sheldon Cashdan, Nelly Novaes Coelho, Vladmir

Propp e Charles Squire. Em seguida, o conto A Gata Borralheira, escrito pelo autor

Charles Perrault em 1697, será analisado junto à sua adaptação cinematográfica no filme

Lua de Cristal, dirigido por Tizuka Yamazaki e protagonizado por Xuxa Meneghel e

Sérgio Mallandro. O filme transporta a história de A Gata Borralheira para o Rio de

Janeiro da década de 1990, e propõe uma releitura moderna, conservando elementos

essenciais do conto original que seguirão uma nova roupagem. Este trabalho busca

mostrar que a história de Cinderela apresenta uma narrativa bastante rica e é responsável

por inspirar diversos produtos cinematográficos através da sua atemporalidade temática

que permite que diversas abordagens e formatos de adaptação continuem sendo

realizados.

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INTERFACES ARTÍSTICAS, POÉTICAS E SIMBÓLICAS DO BATUQUE DE

UMBIGADA DE CAPIVARI EM PERSPECTIVA INTERSEMIÓTICA

Lorena Faria de Souza (IFSP)

Abordar as interfaces entre a literatura e outros fazeres artísticos, tais como a pintura, a

música e o cinema, por exemplo, costuma levar-nos à discussão – e até mesmo à

dificuldade, colocada sobretudo no meio acadêmico – em busca de estabelecer uma

conceituação mais adequada à própria literatura: afinal, como se configuram ou se

definem as características do texto literário? Do que trata, propriamente, a literatura? Essa

dificuldade se acentua quando tratamos de manifestações artísticas tidas historicamente

como folclóricas, que envolvem, para além das letras, outros sistemas sígnicos

promotores de relações intersemióticas, como no caso do objeto de estudo desse trabalho,

o Batuque de Umbigada. Pretende-se discutir teoricamente os movimentos de inclusão de

diferentes sistemas sígnicos no que se considera “literatura” e como tais movimentos

podem ser estudados sob a ótica dos Estudos Interartes. A relação dessa perspectiva de

estudos parece-nos adequada para a análise da manifestação cultural afro-brasileira

Batuque de Umbigada, um misto simbólico de canção e dança ritualística que tem na

performance um conjunto intersemiótico de significados. Além disso, serão apresentados

exemplos da melopoética nas modas de Anecide Toledo, mestra popular do interior

paulista que denuncia com sua voz poética os sofrimentos da população negra, bem como

revela o cotidiano e a memória desse povo. O presente trabalho é tema de pesquisa de

doutorado em andamento pela Universidade Federal de Uberlândia.

O USO CONTEMPORÂNEO DO BAJUBÁ

Giovanna Ribeiro Zuque (UFMT)

O uso contemporâneo do Bajubá Por meio dessa pesquisa, apresenta-se o dialeto Bajubá-

ou Pajubá- que tem suas origens nas línguas africanas nagô e ioruba, na teoria Queer e

nas línguas indígenas. Inicialmente, esse dialeto era usado em terreiros de candomblé,

uma religião africana, e passou a ser usado pela comunidade LGBTT durante o período

de ditadura militar, por conta de repressão que eles sofriam do governo e de toda

sociedade. Atualmente, essa linguagem faz parte de sua cultura, que tem várias

subdivisões em sua comunidade, a partir da teoria Queer, criada nos Estados Unidos e

seus costumes, ajuntados a marginalização do povo LGBTT, que não se encaixam na

normatividade, somada a cultura brasileira, que é uma mistura das culturas indígenas e

africanas se tem a essência dessa comunidade, que nada mais é que a quebra de padrões

estéticos e comportamentais dentro de uma sociedade totalmente conservadora e

preconceituosa como a sociedade Brasileira. Os objetivos principais ao realizar esse

trabalho foram: contextualizar de maneira breve a história do Bajubá; apresentar o dialeto

cultural da comunidade LGBTT com a intenção de explanar os conhecimentos

linguísticos dos acadêmicos; apresentar as palavras mais usuais na construção dessa

linguagem e seus respectivos significados.

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A DISCURSIVIDADE DO NORDESTINO: O FUNCIONAMENTO

ANTAGÔNICO NA PUBLICIDADE

Giselly Tiago Ribeiro Amado (UFU)

Isabella Zaiden Zara Fagundes (UFU)

Este trabalho tem, primeiramente, o intuito de apurar as condições de produção discursiva

dentro da publicidade, em seguida analisar e discutir as construções identitárias do modo

como o povo nordestino é visto e definido nos dois anúncios publicitários da Renault,

intitulados “Viajar quebra preconceitos”, veiculados nacionalmente em canais de

televisão e também no Youtube. Tais propagandas tiveram uma repercussão negativa e

receberam inúmeras críticas nas redes sociais de pessoas que se manifestaram contrárias

à veiculação das peças publicitárias analisadas. Embasamos nossa discussão no aporte

teórico da Análise de Discurso de linha francesa foucaultiana dialogando e perpassando

pela visão pecheutiana, num ir e vir constante entre a teoria e a prática analítica. As duas

propagandas da Campanha Renografia, que compõem o corpus de análise, abordam uma

questão de viés discriminatório e racista que reforça no imaginário do povo brasileiro o

perfil preconceituoso a respeito dos nordestinos, associando-os a um povo preguiçoso,

lento e avesso ao trabalho. O objetivo da publicidade era a “quebra do preconceito”,

porém, produziu um efeito antagônico devido ao funcionamento discursivo na/pela

língua. Na ilusão de controlar a língua, o sujeito comete equívocos e lhe escapa o sentido,

que nesse caso, como analisamos, deslizou e acentuou o estereótipo cristalizado sobre o

nordestino.

ANÁLISE DISCURSIVA DO SURREALISMO

Érica Rogéria Da Silva

Com este trabalho, objetivamos apresentar uma análise acerca do funcionamento do

discurso de Mário de Andrade relacionado à discussão em torno da defesa de uma

identidade linguística brasileira. Para atingir o objetivo proposto, analisamos, na obra

Macunaíma: o herói sem nenhum caráter, o modo como é tratada a questão da colocação

pronominal. A fundamentação téorico-metodológica foi realizada a partir dos

pressupostos elaborados por Dominique Maingueneau, substancialmente presentes na

obra Gênese dos discursos (2008), inscrita na Análise do Discurso de linha francesa.

SANGUE NOSSO DE CADA MÊS: ANÁLISE DE DUAS PEÇAS

PUBLICITÁRIAS DE ABSORVENTE ÍNTIMO

Ana Alice da Silva Pereira (UFSM)

O objetivo do trabalho é comparar duas peças publicitárias referentes ao mesmo produto:

absorvente íntimo. A comparação intenta discutir os sentidos construídos em cada

anúncio e de que forma eles auxiliam na elaboração de um ideal de corpo e mulher. As

campanhas estão no formato vídeo, disponíveis no YouTube e veiculadas em 2016. A

primeira, da marca Sempre Livre, é a campanha Nah Real; a segunda é a campanha Blood

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(Sangue), da agência Libresse. O referencial teórico utilizado é a análise de discurso,

compreendendo-se o discurso não somente pelo que é dito, mas a partir de todos os

elementos que compõem a peça publicitária, tais como os objetos e situações, espaços

ocupados, utilização de cores e trilha sonora, entre outros. A análise demonstra que o

primeiro anúncio produz uma manutenção dos sentidos acerca da menstruação, presentes

na escolha do azul claro para retratar o fluxo menstrual, evitando a visão do sangue, e

promovendo assim uma higienização do corpo e associação da mulher à fragilidade. No

segundo, o conceito que orienta a campanha é exatamente a ideia do sangue, presente em

ferimentos oriundos de extrema dedicação a alguma modalidade esportiva. Nesse caso,

trabalha-se no sentido de associar a resistência à perda de sangue como símbolo da força

feminina. A análise prossegue buscando pensar a subjetivação da mulher mediante o

contato com as representações mostradas pela publicidade.

UM EROTISMO SINGULAR SOB O EFEITO URANO, DE FERNANDA

YOUNG

Marta Maria Bastos (UFU)

Na contemporaneidade as relações afetivas assumem diversas nuances. O presente

trabalho objetiva promover uma reflexão referente ao estudo do corpo, da identidade e da

relação homoafetiva feminina entre as personagens Cristiana e Helena, do romance O

efeito Urano (2001), da escritora contemporânea Fernanda Young. Cristiana é uma

jornalista de classe média, casada com um psicanalista, de nome Guido. Na intimidade, a

relação entre os dois era suficientemente fria, o que permitiu a Cristiana buscar aventuras

eróticas com outras mulheres, até que surge Helena, uma nova mulher, por quem se

apaixona perdidamente. Dividida entre o marido e a nova “amiga”, Cristiana se questiona

se vale a pena trocar um casamento seguro por uma paixão incomum. Em meio ao

tumultuado relacionamento com o marido e a nova paixão encontrada, Cristiana parece

ser vítima o tempo todo, mas, ao mesmo tempo se revela uma mulher “canalha”. A

narrativa é apresentada sem linearidade e revela mais de um narrador, ora a protagonista

assume o ato de narrar, ora um narrador externo o faz. As vozes se misturam. Para compor

essa discussão acionamos Beatriz Preciado em Manifesto contrassexual (2014); Michel

Foucault (2015) em História da sexualidade, Ruth Silviano Brandão (1993) em Mulher

ao pé da letra, entre outros.

A VIOLETA E O CARACOL: O DESABROCHAR VISCO RUBRO DO

SENTIMENTO PEDOFÍLICO – UMA LEITURA DO CONTO VIOLETAS E

CARACÓIS DE AUTRAN DOURADO

Daniela Rodrigues Soares (UNIMONTES)

O presente ensaio visa analisar o sentimento pedofílico no conto “Violetas e caracóis”,

do livro Violetas e caracóis, enfocando o comportamento da personagem masculina e

aspectos que denotam esse sentimento. As sugestões pedofílicas nos contos de Autran,

aparecem as vezes de maneira intensa, as vezes de forma subjetiva. Em “Violetas e

caracóis”, esse sentimento é representado pelos médicos Alcebíades e Viriato, mediante

os problemas de psicológico da paciente Luizinha Porto que aos poucos vamos

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descobrindo as deixas que revelam o sentimento pedofílico dos médicos. Pretendemos no

conto mencionado, analisar como o sentimento pedofílico é construído no inconsciente

das personagens e como elas reagem diante disso, manifestando o desabrochar desse

sentimento.

O EROTISMO COMO ESTEIO IDENTITÁRIO NA OBRA DESENGANO, DE

CARLOS NASCIMENTO SILVA

Fabrício Samuel Cardoso Ruas

Observando a desmesurada e densa copa das expressões literárias, percebemos que alguns

dos seus galhos se mantém quase que intocáveis, não sabemos se pela tortuosidade de

suas ramas ou pela elevada altura em que estes se propuseram naturalmente a brotar. O

certo é que aprazíveis frutos congregam nesses espaços a espera de serem colhidos. A

literatura erótica sem duvida se concentra numa dessas ramas e o objetivo primordial

deste trabalho não é outro, senão colher, contemplar, dissecar, assimilar e compartilhar

os ricos frutos deste galho. Poucas áreas de expressão da vida humana acolheram tão bem

as manifestações do sexo quanto as artes, pois é justamente nas artes que esse momento

finito de prazer, de gozo entre indivíduos, tem a capacidade de reverberar entre os

próprios indivíduos e transpor os limites do tempo e do espaço. E poucos campos nas

artes manifestam-se tão frutíferos quanto à literatura no sentido de simular a vida e

imortalizar os fatos. Nesse sentido, a proposta deste trabalho é refletir sobre o erotismo,

sua teoria e suas manifestações tomando como objeto de estudo o romance Desengano,

concebido pelo mineiro Carlos Nascimento Silva e publicado em 2005. Valendo-nos da

teoria do erotismo desenvolvida por Georges Bataille, revisões bibliográficas e análises

crítico-interpretativas, esse trabalho se dispõe a cotejar a obra citada a fim de verificar o

papel primordial do erotismo que, ultrapassa a mera função de movimento acessório ao

desenvolvimento narrativo, afirmando-se como sustentáculo, como esteio, durante o

processo de construção identitária das personagens.

A CRISE DO MASCULINO E A REPRESENTAÇÃO DAS MASCULINIDADES

NO ROMANCE EM NOME DO DESEJO DE JOÃO SILVÉRIO TREVISAN

Mably Lopes de Castro (UNIMONTES)

Esta pesquisa tem como objetivo analisar a representação das masculinidades no romance

Em nome do desejo de (1983) de João Silvério Trevisan. O homem, assim como a mulher

são reflexos de uma construção, dessa forma percebemos que o papel masculino sempre

foi socialmente direcionado e tanto o homem como a mulher foram alocados numa lógica

binária, numa noção de sexo-gênero. As relações masculino/feminino são muito presentes

e fixas no imaginário social, dessa forma, mesmo as práticas sexuais que fogem a uma

lógica heteronormativa acabam sendo cooptadas, as relações homoeróticas são inseridas

numa matriz heterossexual na qual os sujeitos se encontram sob a mesma ótica dicotômica

– Ativo/masculino (ser que penetra) e passivo/feminino (ser violado). Todavia, a nossa

discussão não se fundamenta nas práticas sexuais escolhidas pelos sujeitos enquanto

consumação dos desejos e sim nas relações de poder que estão imbricadas nas identidades

fixas, visto que essa concepção heternormativa não corresponde à sexualidade dos

indivíduos, ou seja, o ser considerado “afeminado” não é necessariamente o receptor do

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sexo. O que problematizamos é a (re)produção de um ideal machista que implica na

desvalorização e marginalização do indivíduo pelo seu corpo, subjetividade e

pertencimento.

REPRESENTAÇÃO DA MASCULINIDADE EM INVENÇÃO A DUAS VOZES

DE MARIA JOSÉ DE QUEIROZ.

Nadiny Prates Fiúza (UNIMONTES)

Este trabalho tem como objetivo analisar a representação masculina no romance

Invenção a Duas Vozes (1978), da escritora mineira Maria José de Queiroz. Na obra é

possível perceber a construção de um modelo masculino envolto em certos paradoxos,

prescrito de acordo com o modelo burguês e patriarcal, mas internamente apresenta

conflitos e inseguranças, sobretudo, pela presença feminina, vive uma constante cobrança

para provar sua virilidade. Há no discurso da autora, uma crítica ao modelo de

representação idealizado para os homens. É de suma importância discorrer sobre como a

literatura vem abordando o masculino, principalmente nos textos escritos por mulheres.

Além disso, esperamos contribuir para o estudo, aprofundamento e resgate da obra de

uma escritora mineira, que infelizmente encontra-se esquecida pela crítica e foi alvo de

poucos estudos.

BIOPOLÍTICA, IMUNIZAÇÃO E O CONTROLE DO IMAGINÁRIO NA

LITERATURA ESPANHOLA

Edson Sousa Soares (UFU)

O presente projeto tem por objetivo estudar os mecanismos de controle social da

biopolítica, bem como o erotismo e o riso enquanto aspectos de resistência ao processo

de imunização na literatura espanhola a partir do século XIX, especificamente nos

seguintes textos literários: Teitán el Soberbio, de Nilo Maria Fabra (1897), Mecánica y

psicanálises, de David Roas (2010), e Mecanópolis, de Miguel de Unamuno (1911).

Assim sendo, almejamos estudar a literatura espanhola com ênfase nas ações políticas a

partir da noção de biopolítica e imunização, sobretudo, na constituição da sociedade

moderna em diálogo com as novas tecnologias e a influência das políticas totalizantes na

vida pública e privada. Desse modo, em contraponto ao processo de controle social

imposto por estratégias de poder retratado na literatura espanhola, esse estudo almeja

analisar nos textos literários, por exemplo, a vida em comunidade, o cômico, o riso, o

erotismo e o saber popular, visto que, de acordo com teóricos como Roberto Esposito

(2003), Henri Bergson (1943), Georges Bataille (1987), entre outros, esses aspectos

caracterizam as estratégias de resistência a mecanismos de poder que visam a

normalização de condutas.

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TERRITÓRIOS VORAZES: UMA ANÁLISE DO ESPAÇO NARRATIVO NA

DISTOPIA JOGOS VORAZES

Anna Carolyna Barbosa (UFSJ)

Os sentimentos otimistas de Platão (340 AEC) e More (1516 EC) incentivam o

aparecimento de um tipo de escrita de grande repercussão no pensamento de vários

escritores e filósofos, que tende a imaginar um mundo melhor onde as leis são cumpridas

de forma eficaz e bens materiais não são importantes. Esse tipo de texto recebe o nome

de Utopia. Reagindo a esse estilo de escrita e ao momento vivido pela Europa no início

do século XX, surge uma expressão artística caracterizada por ser o oposto direto do

pensamento utópico – a literatura distópica. As distopias do século XX são,

predominantemente, extrapolações daquilo que os escritores sentem que são efeitos

destrutivos e desumanizantes da tecnologia e das mudanças tecnológicas. Baseado no

caráter crítico, predominante nas obras de distopia, este trabalho objetiva analisar o

espaço narrativo como agente funcional de repressão na obra de distopia da escritora

estadunidense Suzanne Collins, Jogos Vorazes (2008). tilizando-se das teorizações

presentes em Dystopian impulse in modern literature: fiction as social criticism (1994),

de Keith M. Booker; Technology and dystopia (1975), de Fogg; Condição Pós-Moderna

(2014) e Espaços de Esperança (2015), de David Harvey; Espaço e Romance (1985) de

Antônio Dimas; Vigiar e Punir (1987) e Outros Espaços (2001), de Michael Foucault,

entre outros, este trabalho busca se aprofundar e discutir a importância do espaço

narrativo no primeiro livro de Jogos Vorazes, além de conferir a notoriedade da utilização

do espaço como agente de distopia e repressão dentro da obra.

A PRECARIEDADE DAS RELAÇÕES AFETIVAS EM ADMIRÁVEL MUNDO

NOVO E 1984.

Janaina da Silva Alves

Alexander Meireles da Silva

Vivemos em tempos líquidos, onde reina a insegurança quanto a estabilidade da ordem

social e a estabilidade de cada sujeito dentro da sociedade, um tempo de relações sociais

frágeis, individualizadas, em que todos estão jogados à responsabilidade de terem que

construir suas vidas sozinhos. Essa dinâmica estrutural de sociedade pós-moderna há

muito foi intuitiva e despretensiosamente formulada nas literaturas ficcionais. Pensando

nisso, este estudo busca analisar a precariedade das reações afetivas nas obras de ficção

científica Admirável Mundo Novo (1932), de Aldous Huxley e 1984 (1949), de Bernard

Orwell, a partir da modernidade líquida de Zygmunt Bauman. O interesse pela pesquisa

se justifica pelo fato de que estes livros suscitam sempre uma percepção distorcida das

relações afetivas que os indivíduos dessas sociedades distópicas vivenciam, e para

entender melhor o porquê dessa precariedade, presente também no nosso próprio modelo

de sociedade, que a cada dia evolui para uma perda consistente da comunicação entre seus

membros. O presente estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica fundamentada por

aportes tanto da área da literatura quanto das ciências sociais. Dentre as principais obras

que fundamentam este trabalho estão os livros que compõem a teoria da modernidade

líquida de Zygmunt Bauman, para compreendermos melhor como acontecem as relações

afetivas no âmago da sociedade moderna, dentre outros autores. Com efeito, entendemos

que tanto Orwell quanto Huxley pretendiam mostrar que os valores morais mudam

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conforme o modelo de sociedade vigente, inclusive as relações entre seus membros, tão

fundamentais na formação de sujeitos capazes de estabelecer comunicação com outros.

A ÉTICA DA ELFOLÂNDIA EM O HOMEM QUE ERA QUINTA-FEIRA

Camila de Lima Severino (UFU)

O escritor inglês G. K. Chesterton (1874-1936) descreve no quarto capítulo de sua

Ortodoxia (1908/2008, trad. brasileira de Almiro Pisetta), intitulado “A Ética da

Elfolândia”, a instância ética por trás dos contos de fada. As disposições filosóficas e

estéticas desse ensaio engendram as principais ideias chestertonianas sobre a Literatura e

apontam para uma teorização acerca do sobrenatural. Pouco antes em 1908, mesmo ano

de publicação da referida obra, o autor escreve O homem que era quinta-feira (1908/1989,

trad. portuguesa de Domingos Arouca), novela em cujo projeto literário parece emergir

traços notórios posteriormente teorizados em Ortodoxia. Diante disso, este trabalho se

propõe a analisar a filosofia literária de Chesterton, presente no ensaio e na novela citados,

especialmente no que tange a concepção de sobrenatural e os recursos que a orbitam e

sustentam enquanto teoria, fazer e recepção literários. Tendo sido um grande inspirador

de escritores como C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien, as ideias de Chesterton extrapolam suas

próprias obras e matizam certa tendência tradicional do fantástico, isto é, contribuem para

uma espécie de reatualização de uma tradição. A importância desse feito situa o escritor

inglês numa posição emblemática a cujas causas interessam a esta pesquisa. Eis um

convite para adentrar a terra dos elfos.

NARRATIVAS E EXPERIÊNCIA NA LITERATURA HISPANO-AMERICANA

CONTEMPORÂNEA

Luana Marques Fidencio (UFU)

Tatiele Cunha Freitas (UFU)

A partir das considerações de Walter Benjamin sobre o narrar, “Experiência e pobreza”

(2012) e “O narrador” (1994), a intenção é analisar os narradores-protagonistas dos

romances Festa no covil (2012), do mexicano Juan Pablo Villalobos, e Como me tornei

freira (2013), do argentino César Aira. Ambas as narrativas são empreendidas por vozes

infantis que narram as próprias experiências e memórias constituídas em meio/ou a partir

de experiências violentas. A potência de tais narrativas advém em grande parte da

primeira pessoa e do impacto provocado pelo teor das vivências narradas. A dicção

infantil que cada autor, à sua maneira, imprime nos romances se torna nesses casos

altamente eficientes. É necessário lembrar que o conceito de experiência possui, para

Benjamin, uma carga polissêmica e que o teórico chegou a empreender uma diferenciação

entre a experiência do adulto e a da criança, sendo a criança muito mais bem-sucedida em

promover o intercâmbio de suas experiências. Se é fato que experiências violentas

emudecem os sujeitos modernos, fato também o é que ambos os narradores infantis

citados estão prolixamente narrando o que afirmam ser suas próprias vidas. Compreender

o sentido expresso pela constituição desses tipos de narradores-personagens infantis é

importante para a reflexão sobre as estratégias que operam no interior dos romances na

contemporaneidade. Bem como sobre a capacidade do romance de ainda transmitir

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experiências, nos entrecruzamentos entre a autoridade de que se reveste um narrador com

os recursos ficcionais que esses narradores adotam ao contar suas ditas memórias.

CARTAS DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ: A EPISTOLOGRAFIA DE

ANTÔNIO VIEIRA ENTRE A SUGESTÃO ANACRÔNICA E A AVALIAÇÃO

A PARTIR DE SEU MODELO HISTÓRICO

Moisés Laert Pinto Terceiro (UFU)

Orientadora: Profa. Dra. Joana Luiza Muylaert De Araújo-UFU

A partir da leitura e análise das cartas escritas por Antônio Vieira (1608-1697), entre os

anos de 1653 e 1657, especificamente as missivas LXI, remetida ao Padre Francisco de

Morais (06 de maio de 1653); LXII, remetida ao rei D.João IV (20 de maio de 1653);

LXIV, remetida ao Provincial do Brasil (22 de maio de 1653); LXIX, remetida ao rei

D.João IV (6 de abril de 1654) e, por fim, a carta LXXVII, remetida ao rei D.Afonso VI

(20 de abril de 1657), tentou-se compreender essas cartas no interior do modelo histórico

dentro do qual elas foram produzidas, buscando, inclusive, levantar alguns dados para a

compreensão desse modelo, como, por exemplo, alguns elementos da chamada Ars

Dictaminis ou a arte de se escrever cartas, muito utilizados pelos religiosos jesuítas. Para

a compreensão desse contexto cultural e simbólico, tentou-se, na medida do possível,

evitar anacronismos, por meio da tentativa de reposição de um quadro mínimo que fosse

da produção epistolográfica de Antônio Vieira, a demonstrar que as cartas do religioso

eram importantes instrumentos da missão jesuítica no antigo Estado do Maranhão e Grão-

Pará, o que, por sua vez, ajudava a empresa colonial portuguesa. Como a tentativa de

reposição das condições de produção das cartas jesuíticas de Vieira encontra resistências

teóricas que precisam ser consideradas, um espaço para o debate entre perspectivas de

leitura de textos antigos foi reservado para se discutir a questão do anacronismo,

considerada fundamental quando se trabalha com textos cuja produção e circulação estão

tão distantes dos nossos atuais dias. Desse modo, a noção de anacronismo, além de um

elemento presente no quadro teórico-metodológico da pesquisa, cuja comunicação

ilustrará, é o conceito principal da discussão do presente trabalho. Tal discussão se realiza

levando em consideração, inclusive, posições contrárias à utilização do anacronismo

como medida de avaliação de um dado qualquer do passado.

DE BOCCACCIO A BASILE: AS MOLDURAS DO DECAMERONE E DO

PENTAMERONE

Mirian Salvestrin BONETTO (UNESP – São José do Rio Preto)

Adriana Aparecida de Jesus REIS (UNESP – São José do Rio Preto)

Giovanni Boccaccio, ao escrever sua obra-prima Decamerone, no Trecento italiano

(século XIV), empregou a narrativa-moldura para unir, em um encadeamento sucessivo,

suas cem novelle. Precedente da retórica medieval e das narrativas orientais, a narrativa-

moldura recebeu de Boccaccio uma nova função: passou a integrar efetivamente a obra,

tornando-se indispensável para a compreensão do todo. Essa organização estrutural

influenciou diversos autores, contudo, segundo Guerini & Caon (2008), em um momento

da história da Literatura Italiana que ninguém a utilizava, o escritor napolitano

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Giambattista Basile, escritor do Seicento (século XVII), período do movimento artístico

italiano chamado Barroco, retoma essa estrutura narrativa em sua coletânea de cinquenta

contos maravilhosos intitulada Lo cunto de li cunti ovvero lo trattenemiento de peccerille,

também conhecida como Pentamerone, título atribuído à obra pelo estudioso e crítico

italiano Benedetto Croce em 1925, ao traduzi-la para o italiano standard, em alusão à

organização inaugurada por Boccaccio na Literatura Italiana. Desse modo, nosso trabalho

tem o objetivo de investigar em que medida Giambattista Basile retoma o seu ilustre

antecessor, isto é, que tipo de diálogo intertextual a moldura do Pentamerone estabelece

com a moldura do Decamerone, do escritor florentino, tendo em vista que ambos

resgatam a tradição popular a seu modo. Para nossas análises e considerações sobre os

dois autores e suas respectivas obras-primas, trazemos à baila os estudos de Pazzaglia

(1993), Squarotti (1989), Ramos (2007), Auerbach (2013) Jolles (1976), Samoyault

(2008), Guerini & Caon (2008) e Lombardi (2015).

IDENTIDADE E CULTURA DO POVO CIGANO NAS NARRATIVAS DE

EUCLIDES NETO

Juliana Cristina Ferreira

Carlos Augusto Melo

O presente trabalho tem como objetivo, estudar a identidade do povo cigano, a qual fez

parte da formação cultural do Sul da Bahia no período do derrocamento do cacau,

representada na obra O tempo é chegado (2001), de Euclides Neto. Nesse sentido,

buscaremos compreender a maneira como os ciganos passaram a ter relações econômicas

com os coronéis e fazendeiros da região, por meio de barganhas e empréstimos de

dinheiro. Partindo deste contexto, a problemática visa mostrar os recursos utilizados pelo

povo cigano, para conseguir alguma renda através do trabalho de agiotagem e do escambo

para com os produtores de cacau que estivessem vivenciando a crise da produtividade.

Na tentativa de compreensão da formação cultural e identitária da região sul-baiana,

dialogaremos com autores que falam da identidade cigana como um construto cultural da

região, conforme Oliveira e Rocha (2010). E César (2006), para esclarecer acerca das

lutas de classe nas fazendas cacaueiras e a busca pela sobrevivência. Desse modo, a

metodologia está baseada na pesquisa bibliográfica com a leitura e a compreensão das

narrativas que mostram a presença dos ciganos, na obra O tempo é chegado. E o resultado

esperado é compreender a participação do povo cigano na construção da identidade e da

cultura da localidade cacaueira da Bahia.

A CONTEMPORANEIDADE NOS MINICONTOS DE MARINA COLASANTI

Marília da Silva Freitas (UFU)

Um dos papéis da literatura na sociedade é o de representar de forma reflexiva fatos do

cotidiano, quebrando paradigmas, reavaliando valores, subvertendo estereótipos, etc.

Para tanto, esta arte tem a necessidade de constante inovação, pois é preciso se adequar

ao tempo e espaço inseridos, utilizando a sua ferramenta principal: o texto, seja ele no

estilo tradicional ou em novos modelos de construção. O miniconto, por exemplo, é uma

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forma literária que tenta acompanhar o ritmo acelerado da atualidade, e vem sendo cada

vez mais utilizado por autores contemporâneos. Marina Colasanti é a autora brasileira que

tem como característica literária a escrita de minicontos, fato evidenciado nas diversas

coletâneas publicadas ao longo de sua trajetória, sendo o livro “Hora de alimentar

serpentes” o seu mais recente trabalho, reunindo textos neste formato. Desta forma, esta

pesquisa pretende analisar a importância dos minicontos como um estilo contemporâneo

de literatura e a sua relevância ao tratar de temas cotidianos poeticamente e concisamente,

utilizando a obra “Hora de alimentar serpentes” de Marina Colasanti como referência para

as análises, além dos conceitos sobre contemporaneidade e modernidade elaborados por

Agamben, Berman, Coelho, entre outros, que corroboram para a análise mais consistente

do objeto de estudo.

O IMAGINÁRIO DA ANIMALIDADE NA POESIA DE HILDA HILST:

“CAVALO, HALO DE MEMÓRIA, GUARDO-TE NO PEITO”

Prof.ª Ma. Karyne Pimenta de Moura COSTA (POEIMA/PPLET/ILEEL/UFU)

A poética de Hilda Hilst (1930-2004) é permeada pelo imaginário de animalidade perante

o qual circundam os referenciais mais arquetípicos e profundos do inconsciente criativo.

Reveladora de uma inspiração que remonta a um tempo ancestral, a animalidade é cantada

como uma via do eu para o alcance de uma estrutura pautada nas forças brutas do

inconsciente. A poeta tinha na animalidade uma pujança que regia não apenas sua

inspiração mas, sobretudo, o universo criativo de sua morada desde 1966, a Casa do Sol.

Vários cães habitavam o lar de Hilda e simbolizavam sua crença na imortalidade da alma:

“Os cachorros eu adoro. Se pudesse, teria cavalos e vacas também. Nunca para matar.

Tenho uma afinidade com bichos desde criança”, pondera a autora em uma entrevista

publicada em 2001 no Suplemento Literário do Minas Gerais. Além dos cães, os cavalos

constituem, na poesia de Hilst, imagens poéticas de variadas configurações simbólicas.

Nesse sentido, a imagem do cavalo traz um erotismo que se circunscreve em uma busca

psicológica pela continuidade, ao mesmo tempo que rege uma inquietude avassaladora e

intrigante da condição humana perante o ofício da escrita. O objetivo deste trabalho é

analisar, pelo procedimento mitocrítico, os poemas 10 e 11 de “Passeio”, publicados pela

escritora na obra Trajetória poética do ser (I) (1963-1966). O aporte teórico de Alfredo

Bosi (2000), Georges Bataille (1968), Gilbert Durand (2002) e Gaston Bachelard (1988)

corroboram na seguinte indagação: de que maneira a animalidade se perfaz na poética

hilstana como uma energia erótica e criativa?

A MORA DES-FABULADA: A SUBVERSÃO DO MARAVILHOSO NA POESIA

BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Sergio Guilherme Cabral Bento

Sabe-se que a fábula, geralmente por meio da humanização dos animais, converte-se em

um monumento cristalizado, paralisado no tempo-espaço, denunciando determinada

ideologia imperativa que se quer transmitir de geração a geração. Tal qual o provérbio, a

narração fabular carrega tanto o “sotaque” de sua origem (Ítalo Calvino, Fábulas

Italianas) como “ruínas históricas” (Walter Benjamin, em “O narrador”) de uma

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experiência moralizante que o status quo deseja eternizar aos leitores jovens. O

maravilhoso, assim, torna-se instrumento de analogia entre um mundo animal

domesticado e a humanidade ali espelhada, com a prevalência de um maniqueísmo

dicotômico: a formiga e a tartaruga, entes de comportamento adequado às instâncias de

poder; a cigarra e a lebre, transgressores punidos. Assim, o universo fabular concentra

um ideário de orientação pedagógica e de aclimatação ideológica que instaura a voz da

História e abafa o ser-da-experiência (Giogio Agambem, “Infância e História”), o in-

fante. É natural, portanto, que tais formas engessadas de sintagma (provérbios) e de

narrativa maravilhosa (fábulas) sejam amplamente exploradas enquanto substrato de uma

literatura que quer desmontar a voz impositiva e fundar uma linguagem que extrapola e

supera os sistemas internos e externos de castração. Nessa comunicação, serão

trabalhados poemas recentes da Literatura Brasileira, de autores como José Paulo Paes,

Bruno Brum e Hilda Hilst, que se valem da forma e/ou do conteúdo fabular para subverter

a própria função moralizante deste gênero, invertendo sua lógica e anulando seus

mecanismos de eternização do discurso dominante.

PELA VIA DA IRONIA: A ESCRITA CRONÍSTICA DE HILDA HILST

Aline Pires de Morais (UNEMAT)

Orientadora: Profª Dra Elza Assumpção Miné

Hilda Hilst é considerada uma das mais importantes vozes da literatura brasileira

contemporânea. Ao longo de sua empreitada literária erigiu um vasto retrato da sociedade

brasileira contemporânea e sua subjetividade destacando-se pela adoção de uma postura

polêmica que nos revela a voz de uma escritora preocupada com as questões de seu tempo

e que não pretende fazer literatura como forma de fugir da realidade, mas como maneira

de pensá-la criticamente. Em textos polêmicos, Hilst destilou seu “veneno” e arrancou as

máscaras de uma sociedade hipócrita, a autora falou sem medo e sem pudores de

problemas sociais historicamente consolidados e desmascarou a elite não apenas

campinense, esta em especial, mas toda a burguesia brasileira. Por isso, neste trabalho,

nosso olhar se volta para as crônicas da autora, publicadas na coletânea Cascos e Carícias

perscrutando de que modo o discurso irônico aparece nas crônicas hilstianas como recurso

estético que visa desvelar as mazelas de uma sociedade que ignora os problemas sociais

enfrentados diariamente pelos cidadãos. Portanto, objetiva-se mostrar de que modo a

ironia hilstiana torna-se o veículo para a produção de uma crítica que procura olhar para

aqueles que foram esquecidos, para as vítimas de todo um processo social excludente e

massacrador.

MODUS OPERANDI: PONDERAÇÕES SOBRE O VÍNCULO ENTRE

ESCRITA E DESENHO NO POEMA “RIO: O IR” DE ARNALDO ANTUNES

Marina Valesquino Affonso dos Santos (ILEEL-UFU)

A composição dos letreiros disponíveis em territórios urbanos, com sua comunicação

instalada em/por todos os seus poros, traz ao olhar atento do artista uma dinâmica que

traduz objeto de compreensão do espaço em poetização. Esse entendimento que pondera

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sobre visualidade-instante define-se como ponto de contato na poesia de Arnaldo

Antunes, que se apropria das tonalidades dessas vozes para configurar outras

possibilidades de concretização para a palavra. Muitos de seus poemas formam-se com

palavras que demarcam uma apresentação de vigilância sobre a aparência como modo de

transcender a constituição unidimensional da escrita, organizando-se em considerações

multidimensionais no plano, potencializando, dessa forma, a autonomia das significações.

Essa característica de materialidade da linguagem, cuja ordem de distribuição dos

elementos do poema na página incorpora forma ao conteúdo, pode ser vista no livro 2 ou

+ corpos no mesmo espaço de Arnaldo Antunes, no qual condensa qualidade plástica à

escritura. O poema “rio: o ir” impulsiona uma via de mão dupla: uma que orienta um

olhar que se sensibiliza com a forma e outra, que contempla seu conteúdo. Pensando neste

comportamento duplo do poema, a proposta é realizar um exame sobre a relação entre o

modus operandi em sua conexão com o espaço do desenho em conformidade com a

nucleação do tema. O objetivo é deter-se nos seguintes questionamentos: quando a escrita

se evidencia? quando é o desenho que se sobressai? é possível olhar para ambos, forma e

conteúdo, sem se deter em apenas uma direção?

MONSTROS E OUTROS PORTENTOS DO SERTÃO: LEITURAS DO CONTO

“BOCATORTA”, DE MONTEIRO LOBATO

Fabianna Simão Bellizzi Carneiro (UERJ)

Durante o período das Grandes Navegações europeias, a imensidão dos oceanos, o

contato com terras desconhecidas e a descoberta do novo, aumentaram a crença em raças

monstruosas e em homens-animais que habitavam os confins da Terra. Época em que os

monstros passam a ocupar lugar em bestiários, que reuniam a erudição enciclopédica e a

ideologia religiosa. Muito desse imaginário trazido pelos europeus alimentou, no Brasil,

a crença em monstros. Fato observado no conto “Bocatorta”, do escritor paulista Monteiro

Lobato, publicado originalmente em 1918. Evidencia-se, nesta narrativa, o embate entre

coronéis - que ainda dominavam o campo brasileiro; e os trabalhadores rurais, miseráveis

e esquecidos pelo sistema capitalista que começava a se impor no campo. Seguindo o

modelo colonial europeu, que depositava nos colonizados a descendência monstruosa,

nosso interior era visto, aos olhos do homem citadino, como espaço de criaturas bárbaras

e violentas, em total oposição ao padrão normativo das cidades e dos grandes centros.

Trata-se de um trabalho não conclusivo, cuja metodologia se pauta em pesquisa

bibliográfica que será devidamente referenciada ao longo do texto. Este trabalho está

vinculado à Tese de Doutorado “Um ser tão assombrado: as manifestações do gótico no

Regionalismo brasileiro do Romantismo ao Modernismo”, que vem sendo desenvolvida

no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras da Universidade do Estado do

Rio de Janeiro (UERJ), na área de Estudos de Literatura.

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O MODO FANTÁSTICO EM NARRATIVAS DE HUGO DE CARVALHO

RAMOS

Luciana Coelho Gomes (IFTM)

Conhecido pelo conjunto de contos publicados sob o título de Tropas e Boiadas, Hugo de

Carvalho Ramos é considerado um autor regionalista programático, ou seja, produziu

dentro daquele regionalismo preocupado com a realidade nacional e aprofundando a linha

realista na sua narrativa. Contudo, ainda que seja considerado como regionalista, a leitura

cuidada dos contos de Carvalho Ramos permite sua análise a partir de diversos pontos de

vista para além do Regionalismo, inclusive analisar alguns dos seus contos como

narrativas que acionam o modo fantástico. A análise de alguns contos de Carvalho Ramos

sob esse prisma é possível, pois, como afirma Ceserani: “Não existem procedimentos

formais e nem mesmo temas que possam ser isolados e considerados exclusivos e

caracterizadores de uma modalidade literária específica”. Proponho-me, portanto, a

pensar como Hugo de Carvalho Ramos aciona alguns aspectos do modo fantástico em

suas narrativas. Pensando essa possibilidade, escolhi dois contos do livro Tropas e

Boiadas: A Bruxa dos Marinhos e Pelo Caiapó Velho e pretendo ver como o autor utilizou

procedimentos formais e sistemas temáticos típicos do modo fantástico. É possível a

análise desses procedimentos em aspectos como a construção de personagens repulsivos

que tendem à monstruosidade, na ambientação soturna, na atmosfera de sonho e outros

procedimentos fantásticos observáveis nesses contos e comprovados por uma análise

mais detalhada.

ENTUSIASMO POÉTICO E ALEGORIA NO CONTO “O RECADO DO

MORRO”, DE GUIMARÃES ROSA

Bárbara Souza Matos (UFU)

Guimarães Rosa apresenta-nos uma narrativa em que Pedro Orósio, personagem

principal do conto, conduz três patrões ― Seu Olquiste, que é estrangeiro; Frei Sinfrão;

e seu Jujuca, filho de fazendeiro ― bem como seu amigo Ivo, numa viagem para chegar

mais ao norte da região, contornando assim o Morro da Garça. No decorrer da viagem

eles se deparam na estrada com Gorgulho, que estava, aparentemente, um pouco

atordoado, alegando ter ouvido o morro falar, e não gostou nada da mensagem.O conto

tem como tema principal então o recado que é transmitido do morro a uma série de

personagens, passando de um para outro como numa corrente, até chegar aos ouvidos de

Laudelim, o cantador do lugar, que o transformará em versos de música. O recado narra

a história de um rei que fora traído pelos seus soldados e é morto por eles, mas leva

consigo, à morte, todos os seus traidores. O recado na forma de música fica mais claro

aos ouvidos de Pê Boi, que o decifra e consegue alterar o seu destino. O presente trabalho

analisará os aspectos a respeito do entusiasmo, ou furor poético, e da alegoria que

circundam e apontam o destino do personagem principal, no conto “O Recado do Morro”,

de Guimarães Rosa. Para a devida análise acerca da alegoria e entusiasmo poético, são

considerados os diálogos de Íon e Fedro, de Platão, e tratados platônicos renascentistas.

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O FEMININO DO GÓTICO

Guilherme Copati (UFU)

Desde que o conceito de “gótico feminino” foi primeiramente enunciado por Ellen Moers,

em ensaio homônimo publicado em 1985, ele tem sido empregado principalmente para

examinar os conflitos ligados à opressão da mulher pelo patriarcado, em especial quando

aplicado a textos da tradição vitoriana do gótico. Quando Moers afirmou que o gótico

feminino poderia ser definido como “o trabalho que escritoras desenvolveram no modo

literário que, desde o século dezoito, nós temos conhecido como gótico” (1985, p. 90),

ela imediatamente conectou esse genre narrativo ao gender (ou seria ao sexo?) de sua

autora – em um momento em que a ideia de gênero ainda não havia assumido a

complexidade que faria dela uma das mais problemáticas formas classificatórias dos anos

1990 em diante – de modo a criar uma intrínseca identidade entre escritora e heroína.

Desde então, o conceito aparece envolto em problemáticas, à medida que a definição de

feminilidade se relativiza em tempos pós-modernos. Pretendo, neste trabalho, tecer

alguns comentários a respeito do embaçamento de fronteiras entre masculino e feminino

no gótico pós-moderno Alias Grace, de Margaret Atwood, a partir da evocação de

acontecimentos cruciais para o enredo de Northanger Abbey, de Jane Austen. Minhas

observações se baseiam em ideias de Judith Butler, Eve Kosofsky Sedgwick e Ann

Williams. Como conclusão, sugiro que o gótico pós-moderno de Atwood encena

identidades “queerizadas” de gênero, indicando novos caminhos para se pensar o gótico

feminino.

O MARAVILHOSO UNIVERSO DA PALAVRA DE BRUNO SCHULZ E DE

DAVID GROSSMAN

Élida Mara Alves Dantas Martins (UFU)

Vários artistas que se inspiraram no universo do artista polonês Bruno Schulz e que o

transformaram em um personagem de suas obras o fizeram utilizando o maravilhoso

como artifício. É o caso do escritor israelense David Grossman, em seu romance

intitulado Ver: Amor, que faz com que Schulz, que foi assassinado durante a Segunda

Guerra Mundial, fuja do gueto e pule no mar, transformando-se em um salmão. Essa

forma de redenção por meio da literatura, e da metamorfose, reflete não somente uma

temática das obras do escritor polonês, mas também sua concepção de arte: mitificar a

realidade. Conhecido por seus amigos por viver às margens da realidade, Schulz

encontrou na arte um território seguro e mergulhou o mais profundo que pôde no âmago

do universo que lhe possibilitou compreender a verdadeira natureza de todas as coisas: o

da palavra. É a palavra que, segundo ele, atribui sentido à realidade, e não o contrário. E

essa é também a concepção de Grossman. Assim, é por meio de um diálogo entre Schulz

e Grossman, que acreditam na palavra como o único meio de o homem se salvar, que

investigo a relação entre o maravilhoso e a arte como uma forma de resistência a uma

realidade que oprime o artista.

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A MEMÓRIA DA MORTE EM “ESPINHOS E ALFINETES” DE JOÃO

ANZANELLO CARRASCOZA: POR UM ENSINO DE LITERATURA

TRANSGRESSIVO

Thyago Madeira França

Orientadora: Maria de Fátima Fonseca Guilherme

Esse trabalho surge no batimento de uma formação linguístico-discursiva e de um fascínio

pela literatura, além de uma preocupação com a forma com que essa manifestação

artística tem sido trabalhada na formação do aluno-leitor na escola básica. Logo, a partir

de um diálogo teórico entre a Linguística Aplicada contemporânea e transgressiva

organizada Moita Lopes (2006; 2013), os estudos do Círculo de Bakhtin Bakhtin (2000;

2002; 2006; 2012; 2013) e a Análise do Discurso de Michel Pêcheux (1997, 2006, 2010),

pretendemos construir um conjunto de análises dos contos de João Anzanello Carrascoza

(2010), bem como estabelecer leituras da regularidade estético-sentidural entre os textos,

no tange à alteridade das memórias e das mortes. Quando instaurada durante as narrativas,

os diversos processos de memória fazem emergir sentidos convergentes, intrinsecamente

relacionados a um processo de morte físico ou psicológico. A partir dessas análises,

acreditamos que o conceito de memória pode ser potencializador de caminhos para o

ensino da literatura numa perspectiva discursiva. Nesse sentido, estabeleceremos as

análises dos contos de Carrascoza, por meio de uma agenda discursiva das narrativas e da

discursividade estética, tomadas como elementos determinantes de como abordar as obras

literárias no viés discursivo. Posteriormente, tais análises serão problematizadas numa

perspectiva de uma episteme para um ensino de literatura subversivo, transgressivo,

humanista e, acima de tudo, libertador.

PARA LER AS LETRAS E AS TELAS:

LITERATURA/CINEMA E A FORMAÇÃO DO LEITOR

Walter Guarnier de Lima Júnior (UFU)

Desde 1960, segundo Fedorov (2015), o cinema vem sendo utilizado em algumas escolas

como importante recurso didático. Por outro lado, tal uso, muitas vezes, deixa a desejar,

pela falta de planejamento dos professores ou pela ausência de objetivos claros a atingir.

Buscamos, com a pesquisa, em fase inicial, (re)pensar a interface literatura/cinema como

estratégia para a formação do leitor do texto literário no Ensino Médio. No intuito de

atingir tal objetivo, serão indispensáveis, como procedimentos: a) O levantamento de um

sólido arcabouço teórico dedicado às discussões em torno das relações entre literatura,

cinema e também de referencial relacionado à reflexão sobre o ensino de literatura e a

formação do leitor; b) A identificação e análise, em livros de português recomendados

pelo Guia de Livros Didáticos – Ensino Médio 2015, de referências ao trabalho com a

interface literatura-cinema; c) O confronto de informações presentes nos documentos

oficiais do Ministério da Educação dedicados às orientações do trabalho com literatura

no Ensino Médio e as propostas de atividades relacionadas ao diálogo literatura-cinema

encontradas nos livros de português recomendados pelo Guia de Livros Didáticos –

Ensino Médio 2015; e, por fim, d) A partir das etapas anteriores, propor a elaboração e

consequente apresentação de possibilidades de trabalho de leitura e análise textual

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envolvendo obras da literatura brasileira e o filme Caramuru – a invenção do Brasil, de

Guel Arraes e Jorge Furtado. Espera-se, ao final da pesquisa, compreender mais a fundo

a interface literatura-cinema, assim como sua contribuição durante a formação do leitor

literário no Ensino Médio. Espera-se, ainda, após o período de investigação, produzir e

propor possibilidades pedagógicas para um trabalho que relacione literatura brasileira e

cinema em sala de aula de um modo mais produtivo, atrelando a teoria da literatura e a

teoria do cinema.

A OFICINA LITERÁRIA E O PROCESSO DE APRENDIZADO: UMA

INVESTIGAÇÃO SOBRE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA ESCRITA

CRIATIVA

Rafaela Cristina de Souza Silva (UFU)

Orientador: Professor Dr. Pedro Malard Monteiro

O termo ‘escrita criativa’ se refere à prática ofício literário, sendo um processo de

expressão artística, mais especificamente criação literária. É um ramo ainda pouco

estudado, assim como suas práticas de ensino. A oficina literária é um dos métodos mais

conhecidos no ensino da escrita criativa. O modelo da oficina literária surge e ganha

forma nos Estados Unidos, tendo hoje se disseminado por diversos países. No Brasil,

entretanto, essa prática ainda é limitada. A coletânea de textos editada por Dianne

Donnelly, intitulada “Does the Writing Workshop Still Work”, inclui uma série de

avaliações críticos sobre oficina literária que foram utilizados na análise das oficinas

literárias em contexto brasileiro. Os argumentos contra e a favor da oficina literária são

inúmeros e estão cercados de argumentos que dependem do contexto em que as oficinas

se inserem. Apresentar alguns desses contextos, tanto no Brasil quanto no exterior, nos

ajudou a entender o funcionamento destas oficinas. Os processos pedagógicos aplicados

em oficinas literárias diferem muito entre si, mas eles tendem a serem mais práticos do

que teóricas, sendo que o objetivo principal é o desenvolvimento, no estudante, da

capacidade de transmitir ideias para um texto – o qual pode ser um conto, um poema, uma

crônica, entre outros. Este trabalho teve como objetivo investigar a oficina literária como

ferramenta pedagógica da área de escrita criativa e em seguida avaliar suas qualidades e

potenciais para a educação de jovens e adultos.

DONA COBRA VEIO À AULA

Tânia Maria Costa de Souza (IFTM)

A inspiração no poeta Manoel de Barros que diz que “as coisas esperam ser olhadas com

olhos extraordinários”; transforma adereços, bichos e objetos comuns em personagens

fantásticos, que para atrair e despertar a curiosidade do público valoriza a participação de

até mesmo de animais, de modo coletivo, ou singular e criando um ambiente no qual o

público pode opinar a respeito das escolhas e do destino das personagens, tornando-as,

ora coautoras, ora integrantes de narrativas a serem saboreadas. Sim! A dona cobra, ela

mesma, da espécie caninana aterrorizando a todos! Elazinha veio de fininha e na sua toda

faceirice acabou causando. Chegou de mansinho e meio que repentinamente estava ela na

porta da sala. Mas como assim? Uma cobra na minha aula?_- Isso mesmo profe!

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Responde o engraçadinho lá da frente. __Entre dona Cobra, nunca é tarde para aprender,

insistiu e se dirigiu a dona cobra, dando a mesma o empoderamento que ali lhe cabia. No

meio da sala o burburinho e o alvoroço, gritos, empurrões e muita correria. Mas de fato,

como que uma cobra atravessa um pasto todo com o intuito de assistir a uma aula? O fato

assustou as autoridades do local, a escola toda ficou em pandemônios! Mas dona cobra

com sua imponência fez reverência a todos e com muita sapiência saiu de mansinho. E

assim fecha-se o episódio na sala de aula. Mas é aí que começa a nossa criação, dona

cobra foi à televisão, deu satisfação, foi ao facebook, ao whatsapp, ao snapchat até mesmo

ao instagram, e houve muita falação. Partindo desse episódio e observando a risada

mediante um fato que poderia ser até mesmo perigoso, devido ao tamanho alvoroço,

percebe-se na fala do jornalista com o seu português padrão, a fala preocupante de um

cidadão, do aluno assustado, percebe-se a fala de um fanfarrão, mas na garota, assustada

vê-se o terror da cobra como inimiga feminina da população. Mas é na voz do aluno poeta

que as cores chegam por ora direta ora indireta, fazendo da criatura horrenda, a estrela

terrena que reina e dela seu habitat é por natureza. Dona cobra não veio à toa para o quê

outrora foi seu campo de pousada, ela veio mesmo foi lembrar a todos da sua antiga

morada. Saiu de mansinho, mas ficou a busca e a lição pela verdade. Fiquem alunos. Diz

dona cobra: Fica escola, fica prédio, tira mato, tira pasto, e tira o meu espaço. Mas a lição

que deu hoje foi Eu.

ESTRANHO, FANTÁSTICO, MARAVILHOSO: LIMITES E POSSIBILIDADES

PARA AS PRÁTICAS DE LETRAMENTO LITERÁRIO

Wilian Cândido (FCA)

A edição deste estudo visa dar a conhecer, suspeitar e conjecturar sobre as verdades que

governam as práticas escolares de letramento literário em uma de suas vertentes: a

literatura oral. O esforço utilitário da pesquisa se estabelece em analisar e compreender o

que se fabrica e circula nos enunciados discursivos planificados tecnicamente pelos

professores em função do contar histórias com foco no letramento literário infantil. A

ideia é estabelecer um deslocamento temático e metodológico capaz de potencializar uma

análise que projeta entre os conceitos de “saber-poder” Foucaultianos que envolvem a

produção de subjetivação, governo de si e dos outros. Assim, o crivo da investigação será

de cunho teórico e prático, tendo como campo de pesquisa uma instituição pública de

ensino, onde o esforço utilitário da investigação se estabelece por meio de observações e

depoimentos. Posto isso, o fomento dessa combinação, ajudará ampliar e estender o

debate quanto as seguintes questões: seriam as instituições de ensino, juntamente com os

professores os reprodutores de práticas subjetivas por intermédio de certas forças

governamentais? A programação estratégica das práticas de letramento literário é

representada pelos mecanismos disciplinares ou é potencializado ao que está por vir em

relação a constituição do governo de si? Como a criança, imersa, no campo de poder e

governabilidade poderá letrar-se à guisa das narrativas do maravilhoso?

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ENTRE OS BOSQUES DA FANTASIA E DA REALIDADE

Marineia Lima Cenedezi (ESTÁCIO – GPEA/CNPq)

O presente estudo emergiu da inquietação provocada pela homogeneização dos discursos

produzidos por um grupo de alunos do Ensino Médio sobre a falta de motivação e de

melhor preparo para sustentar seus pontos de vista acerca de temas polêmicos expondo,

para tanto, argumentos convincentes e coerentes. Para atender a tal necessidade, elaborou-

se um projeto de ensino intitulado “Da Literatura à Produção Textual”. Nesta

comunicação, objetiva-se apresentar os resultados de uma das oficinas desse projeto, da

qual participaram 87 alunos. A oficina foi consagrada à leitura de contos de fadas

contemporâneos que, escapando ao império do tradicional, apresentam personagens com

perfis inusitados e subversivos. Será exposto o caminho teórico-metodológico percorrido

pelos sujeitos alunos para discursivizar representações das personagens femininas que

figuram nessas narrativas, bem como, os resultados da análise da discursivização sobre

os espaços ocupados pelas personagens das narrativas estudadas. Os discursos foram

analisados à luz de noções-conceitos da Análise do Discurso francesa e da Didática da

Literatura, a saber, sujeito e autoria (FOUCAULT, 2004) argumentação (PACÍFICO,

2012), compreendidas como relevantes ferramentas para perceber o funcionamento do

discurso na produção argumentativa dos sujeitos alunos; figurações do leitor e

concepções de leitura literária discutidas por Jover-Faleiros (2013), Rouxel (2012a;

2012b; 2013), que colocam em jogo práticas de leitura heterogêneas e proporcionam

bordas para a discussão de implicações mais ou menos favoráveis à subjetividade do

leitor. Os resultados da análise revelaram que as práticas empreendidas motivaram grande

parte dos sujeitos aprendizes a construírem múltiplos sentidos sobre os espaços ocupados

pelos sujeitos ficcionais dos contos de fadas, utilizando, para isso, argumentos

fundamentados em experiências vivenciadas por sujeitos reais e em conhecimentos

interdisciplinares.

O DIÁLOGO DA LITERATURA MODERNISTA COM O MUNDO

CONTEMPORÂNEO

Flordelice Souza Nunes (E.E.Segismundo Pereira)

Neste trabalho, exponho uma sequência didática (SD) que contempla uma nova

metodologia para o trabalho com obras literárias “obrigatórias” no terceiro ano do ensino

médio. Para sua elaboração, parto dos estudos teórico-reflexivo de Graça Paulino, Magda

Soares e Rildo Cosson, no campo do letramento literário; de Marisa Lajolo e Regina

Zilberman, no âmbito da leitura literária; no campo das teorias recepcionistas, Wolfgang

Iser, Jauss, Vincent Jouve, Annie Rouxel e Letramentos digitais (DUDENEY; HOCKLY;

PEGRUM, 2016). A leitura literária é uma prática essencial para a formação de leitores,

que a partir daí, atingem um nível maior de conhecimento crítico do mundo, além de

tornarem-se leitores intelectualmente autônomos e humanizados. A literatura no ensino

médio é estruturada habitualmente como um conteúdo independente dentro das práticas

pedagógicas da disciplina de língua portuguesa. Além disso, as propostas de atividades

do livro didático faz com que professor fique preso em metodologias de divisão histórica

e estilística de obras e de autores das literaturas brasileira e portuguesa. Em seu texto

Direitos humanos e Literatura, Antônio Candido defende “que a literatura é, ou ao menos

deveria ser, um direito básico do ser humano, pois a ficção/fabulação atua no caráter e na

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formação dos sujeitos”. Assim sendo, é imprescindível que se proponha uma metodologia

que leve o leitor a interagir com o texto, considerando seu contexto sociocultural.

Ademais, atividades que apenas restauram dados num texto desvalorizam o prazer que

envolve a leitura e a oportunidade de experimentar a pluralidade de sentidos presentes na

ficção. A sequência didática bem como os resultados são apresentados, corroborando a

importância de proporcionar ao estudante práticas de atividades que envolvam a

tecnologia e o prazer pela leitura. Palavras-chave: Letramento digital; Pesquisa; Leitura.

Crítica social.

CONTO DE FADAS CONTEMPORÂNEO: PRÁTICAS DE LEITURA E

ESCRITA EM UM CLUBE DE LEITURA

Mara Rubia Aparecida da Silva (UFU)

O presente artigo tem como objetivo discutir a prática educativa realizada na Escola

Estadual Josias Pinto pela professora de português no qual foi criado um clube de leitura,

onde todos os alunos envolvidos participavam de atividades direcionadas ao mundo

literário, compreendendo cada um dos gêneros literários, gostos e apreciações. Dentre

diversas atividades realizadas no grupo, aqui será discutido o reconto de fadas, o conto

de fadas no mundo contemporâneo, processo no qual foi trabalhado com os contos

clássicos desde sua criação, história e até os contos contemporâneos nos quais

visualizamos diferentes personagens que vieram de uma pequena história contada pelos

irmãos Grimm e que repercutiu milhares de anos, levando histórias de geração em geração

bem como os mitos, adaptando-se a cada realidade. Nessa reestruturação dos contos de

fadas os alunos externalizam sentimentos através da escrita, por isso, fundamentamos

nosso trabalho com as ideias de BETTELHEIM, 1980 e a psicanálise dos contos de fadas.

O clube de leitura torna-se um espaço de interação e discussão sobre livros, literatura e

afins, a prática escrita foi bastante desenvolvida durante o projeto, além de atividade

práticas, como viagens para conhecer autores e conversas sobre o mundo literário para

levar o aluno cada vez mais pro mundo da literatura. Ao recriar os contos de fadas

clássicos, os alunos adaptaram a história e levaram para a sua realidade, mostrando que

as histórias vão passando de geração em geração e modificando sua característica a partir

do olhar de cada sujeito.

O UNIVERSO FANTÁSTICO – UMA EXPERIMENTAÇÃO PARA O

LETRAMENTO LITERÁRIO

Cristiane Moreira Da Costa (UFU)

O ensino da Literatura na escola nos leva a uma grande reflexão acerca da formação de

leitores com domínio da escrita. Diante da necessidade de se recuperar a importância dela

no contexto escolar, buscamos um método de ensino que possa ampliar o olhar literário

do aluno-leitor do 8º ano do ensino fundamental de uma escola pública sobre uma

perspectiva do universo fantástico. Desse modo, por meio de uma abordagem teórico-

metodológica baseada na sequência básica do letramento literário de Rildo Cosson

(2014), propomos oficinas que direcionem a leitura e a escrita para o tema apresentado

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na obra Histórias para não dormir: dez contos de terror, que reúne consagrados autores

clássicos e contemporâneos, da literatura brasileira e mundial. A finalidade é que os

alunos-leitores a partir da leitura desses contos fantásticos, ao dialogarem com a literatura,

possam refletir sobre a sua identidade e criar sua própria história fantástica ou interpretar,

por meio de uma animação, a história lida. A proposta de pesquisa consiste em realizar

um estudo bibliográfico sobre o letramento literário, a escolarização da literatura e o

fantástico no universo literário. A partir das contribuições dos aparatos teóricos,

propomos a comparação da visão que o aluno tem dos elementos fantásticos que nos

rodeiam e por meio de anotações sobre a participação dos aprendizes, pretendemos

comparar e registrar a evolução do saber literário de cada um em portfólio, como previsto

na sequência básica de Cosson (2014).

DE VERSO EM VERSO, CONTO EM CONTO, MEMÓRIA EM MEMÓRIA, A

LITERATURA TRANSFORMA UMA HISTÓRIA

Aniele Cristina Rodrigues (PROFLETRAS – UFU)

Nesta comunicação, apresento um recorte do projeto de intervenção realizado por um

grupo de professoras de Língua Portuguesa, do qual fiz parte, em duas escolas da rede

pública do município de Uberlândia – MG. O objetivo geral deste projeto foi desenvolver

uma proposta de intervenção direcionada à ampliação do gosto pela leitura e produção de

textos literários nas aulas de língua portuguesa, com vistas à publicação de livros que

reuniram os textos produzidos pelos alunos. Para atingir o objetivo proposto, foram

considerados os pressupostos de produção de texto (MARCUSCHI, 2008) e letramento

literário (COSSON, 2006). A proposta foi realizada com os alunos da segunda fase do

Ensino Fundamental, desde o sexto até o nono ano, sendo que cada ano foi direcionado à

leitura e produção de um texto literário diferente. Durante a aplicação da proposta,

realizou-se a observação do perfil de leitura dos alunos e de seus conhecimentos

linguísticos. Em seguida, iniciou-se a aplicação de oficinas de leitura e produção textual

das quais os alunos participaram, posteriormente cada professora realizou a revisão dos

textos para que cada aluno realizasse a reescrita, por meio da digitação de seu próprio

texto. Os textos produzidos durante a realização da proposta foram publicados em quatro

livros ao todo entre os anos de 2012 e 2016. Dessa forma, foi possível contribuir para o

despertar literário e para a aprendizagem discente, além de beneficiar o trabalho docente.

LYGIA BOJUNGA E O ESPAÇO SEM MUNDO:

UM ENCONTRO COM O IMAGINÁRIO

Paulo Fonseca Andrade (UFU)

Para assumir o que ela chama de sua “vocação literária” e estabelecer uma relação cada

vez mais íntima com o livro – “viver com livro, viver pra livro e viver de livro” –, Lygia

Bojunga empreendeu a sua busca de escritora como uma busca pelo Livro (aquele, de

dimensões mallarmaicas). Desdobrando-o em espaços movediços e rompendo a tênue

linha que o separa do mundo, Lygia Bojunga acaba por nos dar a ler um livro “que se

reflete a si próprio [e] que se desenvolve como uma dolorosa interrogação sobre a sua

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própria possibilidade” (DERRIDA, 1995, p.55). Partindo dessa questão, interessa-nos

aqui investigar o modo como a escritora delineia o que chamaremos de sua “cena da

escritura”, em um fragmento do livro Feito à mão (1996), intitulado “Falando com os

botões”. Nessa cena, construída entorno da memória, a narradora nos conta sobre sua

infância e os momentos em que passava em companhia de sua mãe, enquanto ela

costurava. Tecida entorno da mãe, do fazer à mão, e da costura, a cena nos conta sobre

um “equívoco linguístico” da menina, ao se deparar com a expressão “falando com os

botões”. Dita pela mãe, para designar seu recolhimento enquanto cose, a expressão é

tomada ao pé da letra pela filha, que passa, assim, a literalmente falar com os botões,

criando com eles outro mundo. Reconhecendo sua força inaugural, propomos, por fim, a

leitura dessa cena a partir da noção de imaginário de Maurice Blanchot (1984).

QUESTÕES DE GÊNERO EM SEIS VEZES LUCAS, DE LYGIA BOJUNGA

Rosânia Alves Magalhães (UFU)

Este trabalho reflete sobre Seis vezes Lucas, de Lygia Bojunga tomando por base os

estudos sobre gênero. A narrativa apresenta questões relacionadas à traição, o medo e as

relações familiares das personagens. Para tanto, recorremos a teorias que definem gênero.

Segundo Pierre Bourdieu (2011), a sociedade funciona como uma máquina simbólica que

confirma a dominação masculina torna-a dispensável de justificativas diante de posturas

machistas. O autor expõe que, a divisão social do trabalho é a responsável pela

delimitação entre atividades e espaços que cabe a cada um dos dois sexos. Para a filósofa

Judith Butler (2003), o gênero é uma produção social, por isso, não deve ser visto como

a inscrição cultural de significados num sexo previamente dado, mas como um aparato

de produção, no qual os próprios sexos são estabelecidos. Neste contexto, Lygia Bojunga

apresenta formas de representação das masculinidades, como o pai do garoto Lucas que

o proíbe de chorar ou sentir medo; ou a mãe do garoto, mulher omissa e submissa às

atitudes arbitrarias do pai. Neste trabalho procurou-se compreender a ideia da construção

das masculinidades, investigando a relação dos personagens em suas ações, que relevam

o papel assumido por ambos os sexos no contexto sociocultural.

O NARRADOR QUE POUCO FAZ: UMA ANÁLISE DA VOZ NARRATIVA DE

FAZENDO ANA PAZ, DE LYGIA BOJUNGA

Edson Maria da Silva (UFU)

Este trabalho é parte de uma dissertação de mestrado que lida com a escrita da memória

no livro Fazendo Ana Paz (2007), de Lygia Bojunga. Neste recorte, damos ênfase à

questão do narrar que se apresenta como ponto delicado, de difícil resolução, pois a

personagem Ana Paz e seu pai se apresentam à narradora-autora de forma hesitante e

intermitente, de difícil apreensão pela escrita. Como se trata de um livro com linguagem

metanarrativa, a narradora-autora diz estar acostumada com o “aparecimento” sutil de

suas personagens, o que não acontece com Ana Paz e seu pai, pois os dois aparecem de

repente e somem do mesmo modo, fazendo a narradora se debater consigo mesma na

tentativa de encontrar uma razão para a insistente fuga dos dois. Com isso, nosso trabalho

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procura enxergar a relação da voz narrativa com o espaço de criação literário, haja vista

que este espaço no texto é, dentre outras coisas, um lugar em que narradora e personagens

parecem estar, todos, em processo de feitura, uma vez que nele vigoram a incerteza e uma

busca infindável de sentido, que ora se concretiza, dando algum contorno às personagens

e à narração, ora foge completamente. Ou seja, o espaço de criação, no livro, é um espaço

sem fronteiras, onde o fazedor (o narrador), assim como suas personagens, também é feito

juntamente com a tecer da narrativa. Essa característica tende, pois, a fugir da costumeira

ideia de que narrador é sempre um fazedor de histórias incontestável. Para esta análise,

recorreremos principalmente a Maurice Blanchot (2011), Jeanne Marie Gagnebin (2014),

Walter Benjamin (1994), Roland Barthes (2004) e Michel Foucault (2009) entre outros

teóricos que serão mencionados na apresentação do trabalho.

A HISTÓRIA DO LIVRO EM FEITO À MÃO, DE LYGIA BOJUNGA

Ludymilla Fogassi de Oliveira Rocha (UFU/CAPES)

O livro Feito à mão (1996), de Lygia Bojunga, é uma obra ímpar, que compõe, junto com

a célebre trilogia do livro – Livro, um encontro (1988), Fazendo Ana Paz (1991) e

Paisagem (1992) –, um pensamento sobre o fazer literário da autora (da escrita ao objeto).

Isso porque ele foi idealizado e realizado (em sua primeira edição) como um projeto de

livro artesanal. Para a confecção de seu livro artesanal, Bojunga, a princípio, desejou fazê-

lo utilizando técnicas de reprodução hoje consideradas “remotas”, como a caligrafia

(inclusive, na versão industrial, publicada pela Casa Lygia Bojunga (2008), há a

preservação de alguns desses elementos presentes na primeira edição artesanal), mas com

o tempo Lygia foi se deparando com diversos obstáculos para conseguir realizar seu

projeto. Se, por um lado, estudar a história do Livro nos permite perceber que foi uma

longa trajetória até chegarmos à ideia de livro na contemporaneidade, por outro, o Feito

à mão parece evocar fragmentos de uma memória dessa travessia. Assim, neste trabalho,

pretende-se refletir sobre alguns aspectos utilizados na produção do Feito à mão,

considerando-se a história do livro como ponto de partida para a leitura.

AS MARCAS DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO USO DO CONECTIVO MAS:

UMA PROPOSTA DE ENSINO

Josaine Aparecida Corsso

O presente artigo busca refletir sobre gramática, variação e ensino de língua portuguesa

e, a partir dessa reflexão, apresentar uma proposta didática que se vincule às concepções

da análise linguística e aos moldes dos PCN (1988). A justificativa para tal proposta

teórico-metodológica surge da necessidade de se promover um ensino reflexivo acerca

do funcionamento da língua por meio da análise gramatical dentro de um contexto,

opondo-se, dessa forma, ao ensino de gramática normativa, baseado na prescrição e

proscrição, utilizando-se de frases isoladas e descontextualizadas. Para tal intuito,

apresentamos, inicialmente, os tipos de ensino de língua e os tipos de gramática e fizemos

um recorte gramatical, no qual discutimos, de um modo geral, sobre o uso dos conectores

e a sua função articuladora no texto. Assim, para a proposta didática, aprofundamos

nossos estudos sobre a conjunção MAS e elaboramos atividades para exemplificar seus

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usos. Para tanto, utilizamos como embasamentos teóricos estudos linguísticos de

Travaglia (1996), Rojo (2004), Faraco (2008), Neves (2011), Bechara (2010), Perini

(2005), Bortoni-Ricardo (2004), dentre outros. Do ponto de vista dos resultados, o

trabalho pode contribuir para promover discussões sobre o ensino de língua

contemporâneo e propiciar planos de aula voltados ao ensino integrado entre gramática,

compreensão e produção de textos.

INTERTEXTUALIDADE, RECEPÇÃO E O MITO DA DEMOCRACIA

RACIAL: A VIRGEM DOS LÁBIOS DE MEL À LUZ DO CARNAVAL

Renato Rodrigues de Oliveira (UFU)

O trabalho ora apresentado intenciona compreender, com base nos conceitos de

intertextualidade, a relação dialógica entre Iracema, de José de Alencar, e o samba enredo

da Beija-Flor de Nilópolis, em 2017, para, a partir desse olhar analítico, desvelar o

processo de recepção dessa obra indianista e sua influência sobre o sentimento de

identidade pretendido pela canção carnavalesca. Posteriormente, catalisaremos um

processo de desconstrução da ideia de democracia racial, alicerçada nos festejos

carnavalescos e na utilização do mestiço como símbolo da unidade nacional. O referido

estudo propõe uma prospecção acerca de como os textos são recepcionados

diacronicamente e como estes são utilizados para sustentar um ideário de construção

identitária de uma nação. Para tanto, são abordados autores como Kristeva (2005) acerca

do conceito de intertextualidade ; Jauss (1994) no que tange à teoria da recepção dos

textos; Silveira (2009) para que se compreenda a relação temática entre a obra alencariana

e o samba-enredo tomado como objeto de estudo; Freyre ( 1993), sobre o que compõe a

base teórica da democracia racial e, por fim, Fernandes ( 1960), associados à dados de

organismos governamentais no afã de demonstrarmos as falácias em torno de uma suposta

paz social que impera em terras brasis. Centrado numa perspectiva comparativista dos

estudos literários, busca-se propor uma maneira alternativa de se trabalhar os conteúdos

da teoria literária e lançarmos sobre eles a possibilidade de compreensão da sociedade,

prática salutar no desenvolvimento das práticas de ensino.

GÊNERO ORAL E OS VERSOS DE RODEIO: UMA FERRAMENTA PELA

PARTICIPAÇÃO ATIVA E VALORIZAÇÃO DAS CULTURAS LOCAIS

Tereza Cristina da Silva Souza (UFU)

O presente trabalho intenta socializar uma ação pedagógica com o gênero Versos de

rodeio, como um evento sociocomunicativo motivador, que promove a produção

enunciativa, uma vez que tem significância no contexto sociocultural dos sujeitos

discentes. Tem o propósito de desenvolver uma prática relevante de ensino-aprendizagem

de Língua Portuguesa com uma ação pedagógica que potencializa a leitura e escrita.

Nesse sentido, o projeto foca o letramento por meio dos gêneros textuais orais e escritos.

A proposta está circunscrita na perspectiva discursivo-enunciativa de Bakhtin (2011) e

constitui-se como eixos previstos pelos PCNs, além do Currículo Referência da Rede

Estadual de Educação de Goiás (2012). A ação pedagógica foi desenvolvida em três

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etapas, destacando como efeitos positivos o empenho e desempenho dos alunos em vários

aspectos linguísticos, textuais e poéticos. A motivação e criatividade foram pontos de

destaque, confirmando que a interação e eventos sociocomunicativos são condições

eficazes e eficientes na produção escrita e oral.

“MACUNAÍMA – O HERÓI SEM NENHUM CARÁTER” COMO REDUTO

DAS NORMAS CULTA E POPULAR BRASILEIRAS

Érica Rogéria Da Silva (UFU)

Com este trabalho, objetivamos apresentar uma análise acerca do funcionamento do

discurso de Mário de Andrade relacionado à discussão em torno da defesa de uma

identidade linguística brasileira. Para atingir o objetivo proposto, analisamos, na obra

Macunaíma: o herói sem nenhum caráter, o modo como é tratada a questão da colocação

pronominal. A fundamentação téorico-metodológica foi realizada a partir dos

pressupostos elaborados por Dominique Maingueneau, substancialmente presentes na

obra Gênese dos discursos (2008), inscrita na Análise do Discurso de linha francesa.

VARIAÇÃO FONÉTICO-FONOLÓGICA EM REGIÕES DE MINAS GERAIS

Amanda Brilhante de Carvalho

Orientadora: Marlúcia Maria Alves

Este trabalho faz parte de um projeto de Iniciação Científica em andamento, e tem como

objetivo analisar de modo comparativo a variação linguística em nível fonético e

fonológico de duas cidades mineiras: Juiz de Fora e Uberlândia. Considerando que a

variação é um fenômeno inerente à língua e motivado por fatores linguísticos e

extralinguísticos, acredita-se ser pertinente realizar este estudo para compreender melhor

o funcionamento da fala nas cidades supracitadas, em razão da grande variedade de

dialetos encontrados no Estado de Minas Gerais. Partindo das pesquisas bibliográficas e

de uma pesquisa de campo em ambos os municípios, propõe-se descrever e sistematizar

as variantes a serem encontradas, e inclui identificar processos fonológicos, tais como a

harmonia vocálica, a assimilação, a retroflexão, dentre outros. O recorte feito para esta

análise é de jovens com graduação concluída ou em andamento, a fim de investigar quais

são as particularidades na fala desses jovens, principalmente no que concerne à ocorrência

de processos fonológicos. O embasamento teórico desta pesquisa se encontra nos estudos

de Fonética e Fonologia do Português (SEARA et al., 2015; SILVA, 2005), Variação

Linguística (TARALLO, 2004; ZÁGARI, 1998) e Processos Fonológicos (CAGLIARI,

2002; ALVES, 2008) . A coleta de dados para o projeto ocorrerá com a gravação de

entrevistas informais com os sujeitos de pesquisa, tratando de assuntos como lazer,

estudos e trabalho.

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À PROVA DE MORTE: OS MORTOS-VIVOS NAS OBRAS DE LOVECRAFT E

O REALISMO MÁGICO

Raul Dias Pimenta (UFG/CAPES)

Alexander Meireles da Silva (UFG)

A figura inquietante do morto-vivo chama a atenção desde sua reintrodução no cinema

sob nova roupagem com o filme “A noite dos mortos-vivos” (1968) do diretor norte-

americano George Romero. Onde a criatura com sede de sangue humano ataca com

ferocidade suas presas. Desde então, sua presença tem sido comum em obras literárias

sob esta mesma roupagem canibal e ás vezes apocalíptica. Porém a retomada em histórias

de mortos-vivos trouxe em questão a necessidade de investigar sua origem mesmo antes

de sua reaparição. Pouco se sabe sobre a criatura agora rebatizada de zumbi, mas tudo o

que sabe é que o zumbi é responsável pelo fim da humanidade e do resto dela que

permanece nos sobreviventes após o ataque. Em algumas histórias o morto-vivo aparece

de maneira misteriosa ou por algum fator científico recém descoberto. Este presente

trabalho propõe investigar a origem do morto-vivo através de uma análise em dois contos

do autor Howard P. Lovecraft que utiliza do morto-vivo como personagem principal em

“O Forasteiro” (1926) e “Fechado na Catacumba” (1925). A presença destes seres ocorre

de maneira misteriosa e sem muita explicação, da mesma forma curiosa que aparecem

eles também desaparecem. Estas ocorrências sobrenaturais ou mágicas serão discutidas e

bem como os elementos que compõem as obras e contribuem para a incidência no campo

do Realismo Mágico.

O REALISMO MÁGICO EM ASSOMBRAÇÕES DE AGOSTO

Milena de Barros Claudino (UFMS)

O artigo apresenta uma proposta de leitura e análise do conto “Assombrações de Agosto”,

que faz parte da obra Doze Conto Peregrinos (1980) do escritor colombiano Gabriel

Garcia Marquez (1927-2014). Procura mostrar em que aspectos o conto possui as

características do realismo mágico, a partir de aspectos linguísticos, culturais e simbólicos

presentes na obra, visto que o mágico faz parte do imaginário humano e sendo assim, está

presente em todas as culturas e persiste na sociedade atual em forma de sermões

familiares ou causos contados de geração a geração. Utilizamos como elementos

norteadores os princípios de Todorov (2003) e Lopes (2011) para delimitar as

características do gênero realismo mágico, enaltecendo as diferenças entre o realismo

mágico do estranho puro, fantástico estranho e maravilhoso, pois o realismo mágico é

tido como uma impressão acerca da irrealidade que une o comum e o senso de mistério e

que fez com que seu percurso na história da literatura hispano-americana fosse conhecido

no mundo todo. Ao fim, mostramos duas hipóteses acerca do final do conto que procuram

tanto trazer a explicação científica quanto mágica, visto que não é possível de fato dizer

qual hipótese está correta, se é que alguma delas passou pela mente do escritor

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O REALISMO ANIMISTA EM DEFESA DO FEMININO

Michelle Aranda Facchin (UNESP)

O principal objetivo desta comunicação é suscitar uma reflexão sobre o realismo animista,

tendo por base a literatura de Mia Couto, em especial, algumas personagens femininas

dos romances: Venenos de Deus, Remédios do Diabo (2008), Varanda do

Frangipani (2007), O último voo do flamingo (2005) e do conto “Carlota Gentina não

chegou de voar?”, textos nos quais a mulher é detentora de poderes sobrenaturais que a

tornam próxima das imagens fetichistas da Idade Média e atuam na construção das

relações do feminino em sociedade. Apresentamos um recorte da vasta produção do

escritor moçambicano para refletirmos sobre o animismo expresso no texto literário,

como forma de resistência ideológica ao machismo e às práticas imperialistas, que

marginalizam e rebaixam a mulher. A visão animista é constituinte da África,

conforme Nsang Kabwasa (1982) afirma, considerando a força vital existente em todos

os seres da natureza, a anima, isto é, a alma que todo ser possui, seja

ele humano, animal, ou mesmo um objeto considerado inanimado pela visão racionalista.

Harry Garuba (2012) também lança algumas considerações sobre esse termo. Para ele, o

animismo vai além de uma crença religiosa em poderes mágicos, deuses e espíritos, mas

atua como prática cultural do povo africano, o que demonstramos neste trabalho.

UMA LEITURA DO REALISMO MÁGICO EM LUKA E O FOGO DA VIDA

Vitor Martins Vilela (UFU)

Prof.ª Drª Fernanda Aquino Sylvestre (UFU)

A existência de dois mundos, um real e outro mágico, é uma das características da

literatura fantástica, mas também é um dos elementos que definem o realismo mágico na

literatura. O realismo mágico pode ser considerado como uma tipologia textual associada

à literatura fantástica e a despeito da confusão teórica criada entre eles, causando por

vezes a dissociação de suas características literárias, está claro que um não exclui o outro

e que eles podem coexistir em uma narrativa. Como cita Todorov (2014), o fantástico

ocorre nos momentos de hesitação em que tanto um personagem ou o leitor, que somente

conhecem as leis naturais que regem os acontecimentos do mundo, experimentam um

acontecimento aparentemente sobrenatural. Dessa maneira, o estranhamento e o

maravilhoso se fazem presente e os momentos de dúvidas entre o que é real e o que não

é surgem. Splinder (1993) cita três tipos de realismo mágico, o metafisico, o

antropológico e o ontológico, base teórica para o trabalho aqui proposto, em que pretendo

mostrar como os momentos de hesitação entre o mundo mágico e o real estão presentes

na obra do autor indiano Salman Rushdie, “Luka e o Fogo da Vida”.

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NAS ENTRELINHAS DO REALISMO MÁGICO DE J. J. VEIGA

Ionice Barbosa de CAMPOS (UFU)

A hora dos Ruminantes (1966) é uma das obras de J. J. Veiga, escritor goiano, considerado

pela crítica literária como um dos produtores de literatura fantástica e, mais

especificamente, com ramificação para o realismo mágico. Mas, para o próprio autor, sua

literatura é apenas realista e universal. O que pretendemos aqui, portanto, é apontar os

caminhos que nos levam a descobrir que, por trás dessa ficção de caráter insólito, temos

uma discussão crítica voltada para a temática do engajamento político, uma vez que o

enredo da narrativa nos direciona para uma história na qual aparecem fatos políticos e de

cunho social bastante explícitos. Nesse sentido, no decorrer da obra, deparamo-nos com

a presença tanto do fator “sobrenatural”, relacionado ao insólito, quanto realista e

universal, tal como o autor denomina sua escrita. Averiguaremos, portanto, com base no

suporte teórico proposto por Todorov (1981), Chiampi (1980) e Antonio Candido (2000),

o que temos de concreto em termos de uma produção literária considerada fantástica e,

ao mesmo tempo, realista e social. Isto é, em que momento na narrativa percebemos algo

que se encontra opaco e colocado como uma realidade translúcida, tangenciando o

insólito; e em que momento nos damos conta de uma ficção em forma de denúncia social,

que evidencia o sofrimento do homem do campo em sua relação de subalternidade ao

governo e/ou ao homem da cidade.

NO TERRITÓRIO DE MIRABILIA DE GRACILIANO RAMOS: EM BUSCA DE

SUA CONCEPÇÃO DE LITERATURA INFANTIL

Lilliân Alves Borges (UFU)

Em um dos seus artigos publicados em 1921, sob pseudônimo de J. Calisto, Graciliano

Ramos realiza as seguintes afirmações: “Amo as crianças”, “Sofro com o sofrimento

delas”, “Odeio o livro infantil”. A partir dessas declarações nos colocamos a refletir sobre

o motivo de Graciliano Ramos “odiar” o livro infantil, ainda mais quando o autor deixou

para o seu público, posteriormente, obras como A terra dos meninos pelados, Pequena

história da República, Histórias de Alexandre, e contos como “Minsk” e “Luciana”.

Acreditamos que, no momento da publicação do artigo citado, Ramos já estava formando

a sua concepção de literatura infantil, na qual deveria ser evitada uma linguagem pueril,

infantilizada, não trazer somente valores da cultura europeia, além de o texto não ser

centrado apenas em uma função utilitária e moralista. Em vista disso, nosso objetivo é

descortinar as características que Graciliano Ramos empregou na construção de sua

literatura infantil e como essa é potencialmente pautada pelo uso da imaginação, pela

imersão em um mundo fantástico e maravilhoso, reinventando os acontecimentos

prosaicos da nossa realidade. Para cumprir nosso objetivo, recorreremos às contribuições

de Leonardo Arroyo, Jesualdo Sosa, Cecília Meireles, Maria Antonieta Antunes Cunha,

abordando os pontos de diálogo das teorias propostas por esses estudiosos e realizando

um paralelo com a obra graciliânica voltada para o público infantil.

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OS OLHARES DE MARIA: O ELO ENTRE O FANTÁSTICO E O

MARAVILHOSO

Ana Paula Caixeta Matos (UFU)

Este trabalho empreende uma pesquisa entre o universo fantástico e o maravilhoso que

perpassam a obra literária Corda Bamba (1979), da escritora Lygia Bojunga. O estudo

volta-se para as várias manifestações da ambiguidade, do medo e do insólito presente no

dia-a-dia da protagonista Maria, uma garotinha que acabou de perder os pais durante uma

trágica apresentação circense. A proposta é entender como o espaço e os objetos que

rodeiam essa personagem tornam-se tão fundamentais na recuperação de sua história com

os seus pais. Somam-se a isso reflexões acerca de como o fantástico e o maravilhoso se

unem para oferecer ao leitor uma trama repleta de peripécias textuais e uma travessia

nebulosa entre o “real” e o imaginário. Queremos pensar o fantástico e o maravilhoso

sobretudo como “modos” capazes de criar determinados efeitos de sentido no texto

literário, por exemplo, a indeterminação das fronteiras entre o “real” e o imaginário,

colaborando com a construção de um projeto literário fundamentado na ambiguidade. A

busca por uma nova Maria, por seu eu perdido, ocorrerá através da travessia empreendida

por ela – travessia caracterizada pela presença de espaços poéticos entre o “real” e o

sonho, entre a dor e o amor.

O MARAVILHOSO EM O TRISTE FIM DO PEQUENO MENINO OSTRA E

OUTRAS HISTÓRIAS, DE TIM BURTON

Bianca Rodrigues Cabral (UFU)

A obra O triste fim do pequeno menino ostra e outras histórias, do escritor e ilustrador

Tim Burton, é um belo trabalho com o gênero maravilhoso infantojuvenil. O autor, que

também assina as ilustrações do livro, aposta no universo de personagens com

características físicas bizarras, e até disformes, inumanas, para refletir sobre temas sérios

e atuais. No universo mágico e surreal que Burton cria nesta obra com os poemas e

imagens, temos a presença do gênero maravilhoso, que não nega ou questiona as

manifestações metaempíricas, portanto, não há hesitação do leitor, pelo menos não a

ponto de colocar em xeque a credulidade em relação à história. O leitor, portanto, entra

também no universo de Burton, o aceita, entra no jogo junto ao autor, e acolhe seus

personagens malucos com vidas peculiares. O triste fim do pequeno menino ostra e outras

histórias é um livro muito sensível, pois trabalha com situações-problema da vida infantil,

colocando em evidência detalhes simples e medos recorrentes, problematizando a posição

da criança no mundo e seus “pequenos” sofrimentos cotidianos. Todas essas questões são

elevadas pelo maravilhoso exposto n os 23 poemas da obra, e pelas ilustrações, que no

projeto gráfico, são essenciais, e realçam, escancaram, o maravilhoso de uma forma única

e diferente do que estamos acostumados a ver do Tim Burton nos cinemas.

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O MEDO E A SOLIDÃO INFANTIL NA OBRA “6 VEZES LUCAS” DE LYGIA

BOJUNGA

Aline Nishikawa de Araújo (UFU)

O presente trabalho reflete sobre a obra de Lygia Bojunga, Seis vezes Lucas (1995),

tomando por base a análise de Melanie Klein em sua obra A Psicanálise de Crianças

(1932) e algumas das teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, entre outros, para tentar

compreender o menino Lucas e suas vivências. No princípio da teoria freudiana, a

infância foi denominada como o período em que a ocorrência de experiências marcantes,

de caráter traumático, seria fator determinante no desenvolvimento da neurose nos

adultos. Este trabalho irá tratar da infância, medo e solidão vivenciados pelo menino

Lucas, personagem principal da obra de Bojunga. Além disso, também será analisado a

maneira em que a autora diversas vezes imerge com sua personagem no mundo das

fantasias. A narrativa é dividida em seis capítulos, estas que refletem as seis faces desse

menino que passa por diversas transformações, medos e angústias durante a narrativa. No

contexto geral da obra, essa personagem tem que lidar com uma realidade um pouco árdua

para a sua condição como criança e como filho, principalmente as decepções provocadas

pelas mentiras do pai, traições, machismo, e outros episódios. O objetivo desse trabalho

é analisar a questão do medo e solidão infantil na obra da referida autora, e de que maneira

a solidão provocou esses medos, fazendo com que a criança buscasse sua fuga no

imaginário.

MORAL DA HISTÓRIA: O MARAVILHOSO NAS OBRAS DE PERRAULT

Bárbara Portilho Teixeira (UNOPAR)

Os contos de fadas revelam em suas linhas mitos, costumes, crenças e também

ocorrências de eventos que podem ser considerados insólitos. Alguns seres mágicos em

especial as fadas, dotadas de poderes interferem de algum modo nos assuntos humanos

evidenciando sua capacidade tanto boa quanto ruim. Além disso, os objetos mágicos

também compõem a categoria dos contos de fadas. Estes itens que na verdade, estão

inseridos nas obras com o poder de provocar a cobiça e despertar o interesse pessoal por

parte das personagens que por sua vez alteram seus destinos ou o futuro alheio. Tratando-

se de contos de fadas este presente trabalho busca analisar os contos do escritor Francês

Charles Perrault que mais tarde reuniu diversas histórias em um livro intitulado “Contos

da Mãe Gansa” (1697) o qual sugere histórias com alguma moral, assim justificando as

razões pelas quais certos eventos aconteceram. Para este trabalho, dois contos em especial

foram selecionados: “A Bela Adormecida” (1697) e “Barba Azul” (1697) por utilizarem

de seres e objetos mágicos que desempenham o papel de alterarem drasticamente as

histórias, deixando para trás o rastro do insólito a ser seguido. De tal modo, analisaremos

os elementos presentes que caracterizam e se vinculam no campo do Maravilhoso.

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OS JOGOS FICCIONAIS NA CRIAÇÃO DO ESPAÇO EM LA ESCUELA DEL

DOLOR HUMANO DE SECHUÁN

Matheus Taylor Souza Borges (UFU/PGLET/CAPES)

O imaginário configura-se como um terreno muito frutífero para a literatura devido à sua

vasta gama de elementos que conduzem à fruição e reflexão, porém, como aponta Luiz

Costa Lima (2007), por essa mesma razão levantam-se poderes que visam o controle do

imaginário e consequentemente do indivíduo. Sob essa perspectiva, o presente trabalho

pretende analisar o espaço ficcional criado na obra La escuela del dolor humano de

Sechuán, do autor mexicano Mario Bellatin, a qual parte de acontecimentos que são

legitimados como realidade pelo discurso histórico, mas agora dando-lhes nuances de

ficção por meio de personagens que fazem da dor seu cotidiano devido às consequências

da dominação de uma sistema totalitário. Dessa forma, o presente trabalho pretende lançar

um olhar mais atento sobre essas micro-histórias de dor e dominação, com o objetivo de

analisar o modo como o autor utiliza os recursos ficcionais do jogo, conforme

apresentados sob as perspectivas de Wolfgang Iser (2002), Johan Huizinga (2000) e ainda

do próprio Bellatin (2013), para jogar com elementos do real. Para propiciar a reflexão a

respeito das microesferas de poder propõe-se ainda um diálogo com as teorias de Roberto

Espósito (2009) e Michel Foucault (1979), bem como com as reflexões de Hannah Arendt

(2017) a respeito do comportamento de indivíduos submetidos a regimes totalitários.