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CADERNO DE RESUMOS Belo Horizonte/2016 1ª Edição

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CADERNO DE RESUMOS

Belo Horizonte/2016

1ª Edição

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Comissão Científica:

Dr. Cezar Bueno de Lima (PUC-PR)

Dr. Fabiano Incerti (PUC-PR)

Dr. Flávio Munhoz Sofiati (UFG)

Dr. Juarez Dayrell (UFMG)

Dra. Liciana Aparecida Cabral Caneschi (UFRJ)

Dr. Márcio Amaral (PUC-RS)

Dra. Maria Aurora (UEG)

Dr. Maurício Perondi (PUC-RS)

Dr. Nilson Weisheimer (UFRB)

Dr. Rezende Bruno Avelar (UEG)

Dr. Saulo Pfeffer Geber (PUC-PR)

Msc. Vanessa Aparecida Araújo Correia (PGLS Juventude da FAJE)

Comissão Organizadora*:

Ana Paula Araújo Pereira

Daniel Luiz Arrebola

Daniela do Nascimento Rodrigues

Ednaldo de Oliveira Santos

Elói Beltrami Doltrário

Francisco Antônio Crisóstomo de Oliveira

Jassiara dos Santos Figueiredo

João Elton de Jesus

Liliane Conceição Rosa da Silva

Liliane Rodrigues Carvalho

Luiz Fernando de Sousa Martilis

Maicon André Malacarne

Márcia Rocha Ferreira

Maria Evenice Barbosa Neta

Simone Braga Negrão

Uatos Pires Pereira

Secretaria do Simpósio:

Márcia Florentino

Coordenação do Núcleo de Cultura e Extensão

Rodrigo Ladeira

Coordenação Geral do Simpósio:

Vanessa Aparecida Araújo Correia

*Pós-graduandos em Juventude da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, FAJE.

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SUMÁRIO

GT 1 Jovens, trajetórias escolares e mundo do trabalho................................. 3

GT 2 Jovens, família e parentalidade.............................................................. 34

GT 3 Políticas públicas de juventude.............................................................. 41

GT 4 Trajetórias juvenis, sociabilidades e projeto de vida............................. 56

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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GT 1

JOVENS, TRAJETÓRIAS ESCOLARES E MUNDO DO TRABALHO

Coordenação

Profs. Fabiano Incerti, César Bueno de Lima, Saulo Geber , Jean Michel Silva

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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CURRÍCULO, PRÁTICAS E ESTRATÉGIAS PARA O ACESSO DA JUVENTUDE DA

MARÉ AO ENSINO SUPERIOR.

ADRIELLY RIBAS MORAIS – UFMS

A pesquisa possui como objetivo analisar o currículo institucional e o elaborado pelos professores

de humanas e alunos do curso do Centro de estudos e ações solidárias da Maré - CEASM, assim

como identificar o currículo exposto diversas práticas pedagógicas elaborada pela equipe e alunos,

realizadas dentro do espaço de educação não formal do pré- vestibular popular em confronto com

emendas do Exame Nacional e vestibular. Nas favelas é possível observar a violência que a

juventude, o principal sujeito do cenário educacional sofre, principalmente a violência simbólica e

subjetiva como “a falta de” e “o não acesso a”. O espaço periférico da cidade apresenta um cenário

de repressões, remoções e ausência da garantia de serviços básicos e neste contexto são

desenvolvidas diversas alternativas, articuladas e pensadas como mecanismos de resistência. Deste

modo, podemos pensar no surgimento dos movimentos sociais em defesa dos cursos pré-

vestibulares populares, vistos como uma das alternativas no campo educacional e de

estabelecimento de estratégias de superação da ausência de serviços básicos e de garantias de

direitos. Os cursinhos pré-vestibulares alternativos ou populares foram emergindo como iniciativas

que visavam ao benefício da parcela da população sem condições de custear sua preparação ao

ingresso na vida universitária. Por isso, avaliamos ser de extrema relevância o estudo sobre estas

práticas e propostas iniciais frente a diferentes restrições de acesso ao ensino superior, bem como

uma análise sobre o currículo e diversas práticas desenvolvidas pela instituição, corpo docente e

alunos levando em consideração a ementa do ENEM e do vestibular. Sendo assim, foram feitas seis

entrevistas, com educadores da área de humanas e também seis entrevistas com alunos. Elas foram

numeradas de um a doze pela ordem de entrevistas efetuadas. A fundamentação teórica é baseada

nas obras de Pimenta (2012), Gohn (2011), Brandão (1998) e Freire (1989) sobre Educação popular

e Silva (2013), Moreira (2012), Giroux (1998), Apple (1997) e Sacristán (2000) sobre Teoria

Crítica do Currículo. Também foram feitas observações das aulas, acompanhamento das saídas de

campo e registros dos aulões interdisciplinares organizados pela instituição. Para isso, foi feito

observação participante (MINAYO, 2013), ou seja, foi constituída uma relação direta com os

interlocutores no espaço social da pesquisa, participando do cenário cultural, a fim de compreender

o contexto da pesquisa, além de coletar dados e confrontar com as entrevistas, a carta de principio e

a ata de fundação do CEASM. Através de pesquisas preliminares de campo, dentre outros achados

podemos observar um discurso recorrente: a formação identitária dos jovens moradores da Maré

como forma de resistência, fundamentada na relação do sujeito no tempo e no espaço, ou seja,

através da relação com Memória e Território, pois para a instituição é necessário apropriar-se do

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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espaço urbano e romper a dicotomia favela e cidade. Finalmente verificamos a existência de

práticas pedagógicas que buscam reforçar a identidade do jovem morador da favela e que buscam

aproximar o conteúdo programático do Enem com a realidade cotidiana do aluno. Essas práticas

expõem uma pedagogia afetiva e potencialmente dialógica.

TRAJETÓRIA FAMILIAR E ESCOLAR DE JOVENS MULHERES NEGRAS DA ALINE PEREIRA DA COSTA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

A implantação do sistema de cotas gerou uma mudança de paradigma no que se refere às questões

sócio-políticas e raciais dentro e fora da universidade, pois suscitou um amplo (mas insuficiente)

debate sobre preconceito e racismo no Brasil. Diante da necessidade de dar respostas àqueles que se

contrapunham às políticas afirmativas, vários estudos no âmbito acadêmico e social voltaram seus

olhares para a condição social e econômica dos jovens que optaram e optam por ingressar na

universidade pelo sistema de cotas ou que têm e veem essa alternativa como esperança de cursar o

ensino superior em uma universidade pública. Infelizmente, esse quadro pouco tem mudado apesar

de um número cada vez maior de denúncias e estatísticas mostrar para onde estão nos levando as

atuais práticas de racismo e exclusão da população negra no Brasil. Diante do exposto, o presente

trabalho visa levantar e analisar a trajetória de vida de jovens negras, na tentativa de reconhecer

quais foram os seus processos de autoafirmação, enquanto mulher negra, e quais foram as

estratégias usadas, ao longo de toda a sua vida escolar, para enfrentar as barreiras do preconceito e

do machismo rumo ao ensino superior. Através da reconstrução da trajetória escolar e familiar

dessas jovens que ingressaram pelo sistema de cotas na Universidade de Brasília (especificamente),

observamos as relações envolvidas com a escolha do curso, verificando as relações entre família,

escola e o meio sociocultural. Dentro desta perspectiva, a pesquisa se propôs a tentar reconhecer

dentro da trajetória específica, de cada uma das entrevistadas, aspectos comuns que pudessem nos

auxiliar ou servir de parâmetros no enfrentamento e combate ao racismo entre crianças e jovens

principalmente no contexto escolar.

JUVENTUDE NEGRA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: TRAJETÓRIAS DE

PERSISTÊNCIA E SUCESSO

ANIELE FERNANDES DE SOUSA LEÃO

CEFET MG

A forma como a história do Brasil tem sido construída e difundida, inferiorizando sujeitos e

naturalizando preconceitos, tem impedido a formação de uma sociedade igualitária e fomentado

uma variedade de discriminações que se revelam cotidianamente e atingem, principalmente, a

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parcela negra e pobre da nossa sociedade. Partilhando dessa concepção, esse estudo teve como

proposta compreender as trajetórias escolares de jovens negros estudantes da Educação Profissional

Técnica de nível Médio sobre os caminhos percorridos até ingressarem no Centro Federal de

Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET/MG. As bases teóricas que norteiam esse estudo

visaram compreender o que levou esses jovens a optarem por essa modalidade de ensino, as

estratégias utilizadas para ingressarem na educação profissional, suas percepções sobre relações

étnico-raciais, juventude, escolarização e trabalho. O estudo em questão apoia-se em Munanga e

Gomes para compreender a presença do racismo na escola; em Saviani e Fonseca no estudo da

educação profissional e, para recorrer às memórias desses jovens, busca subsídios nas obras de

Thompson e Le Goff, utilizando a História oral fundamentada por Alberti e Ferreira como suporte

metodológico. Os apontamentos de Alberti (1989) revelam a potencialidade da história oral

enquanto metodologia de pesquisa. Essa pesquisa fundamenta-se na perspectiva de que as

impressões dos próprios jovens sobre suas trajetórias podem trazer reflexões que dificilmente

poderiam ser alcançadas por outras metodologias de pesquisas. Para a seleção dos jovens

entrevistados foi aplicado um questionário para os alunos do 1º ano de todos os cursos de nível

médio integrado do CEFET MG. A partir desses questionários, foram escolhidos 10 alunos para que

pudessem ser entrevistados. A escolha dos jovens levou em consideração a auto declaração racial, a

origem escolar, se veio de escola pública ou privada e ainda levou em consideração a questão de

gênero, a renda e a região em que vivem esses jovens. Estudos como os de Munanga (2005) e

Gomes (2005) revelam que a escola é uma reprodutora do racismo visto que ela não se difere da

sociedade em que está inserida. No Brasil, existe um abismo entre negros e brancos que pode ser

constatado observando as oportunidades no mercado de trabalho, o acesso a direitos como moradia,

saúde e educação, entre outros. Essa desigualdade tem suas raízes no passado, mas são as ações do

presente que impedem a ascensão da população negra e a promoção de oportunidades iguais para

todos.

O TRABALHO DOS JOVENS NO COMERCIO ILEGAL DE DROGAS

ANÍSIO DA APARECIDA TELES

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

O presente trabalho pretende abordar questões concernentes à inserção dos jovens no tráfico de

drogas. O objetivo é discutir o contexto no qual os jovens de vilas e favelas atuam no tráfico de

drogas e encaram como trabalho. A metodologia baseia-se em estudos bibliográficos embasados

nos autores: Marisa Fefferman e Celso Athayde. A pesquisa buscou elencar os aspectos econômicos

e sociais - questões que podem aclarar sobre as motivações dos jovens na inserção do trabalho

ilícito. O resultado da pesquisa expõe os desafios e as fragilidades das políticas sociais, assim como

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a precarização do trabalho que são fatores que contribuem com a inserção do jovem no mercado de

trabalho precário e marginalizado.

ORGANIZAÇÕES JUVENIS: JOVENS ADOLESCENTES PROTAGONIZANDO A SUA

DOAÇÃO DE TEMPO E TALENTO

ANTÔNIO CARLOS COELHO

As transformações pelas quais o mundo passa no transcurso dos séculos XX e XXI trazem na sua

marcha fortes impactos que estabelecem alterações na forma do pensar e de se relacionar na

sociedade como um todo, e este fenômeno social estrutura-se independentemente da vontade dos

indivíduos. Num mundo de intensas modificações científicas e tecnológicas, é preciso que a

“escola” contribua para uma nova postura ético valorativa de recolocar valores humanos

fundamentais como a justiça, a solidariedade, o reconhecimento da diversidade e da diferença, do

respeito à vida e aos direitos humanos básicos, como suportes de convicções democráticas

(Libâneo, 2004, p. 03). Os sistemas educativos têm buscado se adequar, no momento atual, na

formação do ser humano ideal por intermédio da transmissão de tradições, hábitos, crenças e

valores de uma determinada sociedade. Para Durkheim, o ato de educar refere-se ao processo de

transmissão, para gerações mais novas, das experiências acumuladas pelas gerações mais velhas. Na

atualidade, as sociabilidades juvenis vêm se apresentando de maneiras diversificadas e são

reconhecidamente importantes de serem desenvolvidas em outros espaços para além dos

institucionais como clubes, escolas, igrejas entre outros. Buscando conciliar modernidade com

tradição - por meio de uma abordagem pautada em experiências que solicitem dos integrantes um

vivenciar do trabalho coletivo que traga as marcas de sua escolarização e formação familiar - a

organização juvenil intitulada Ordem Internacional das Filhas de Jó procura propor situações de

mudanças por meio de um projeto educacional. Este trabalho tem como proposta analisar o projeto

educacional desenvolvido nesta organização restrita à afluência feminina, numa faixa etária de 10 a

20 anos. Serão apresentadas as motivações e perspectivas que desencadeiam a adesão destas jovens

à proposta da ordem. Objetiva-se também compreender, através da estrutura organizacional dessa

ordem, quais os valores, práticas e comportamentos sociais, concepções e preceitos que vão ao

encontro do interesse dessas participantes. Os referenciais teóricos serão balizados por discussões

realizadas por Vygotsky e as teorias da aprendizagem, os estudos de Marialice Foracchi, na busca

da compreensão da educação brasileira e Durkheim com foco para sua abordagem da educação

como objeto de estudo da sociologia. A pesquisa terá um cunho qualitativo, de caráter exploratório,

mediante entrevistas semiestruturadas. Os sujeitos de pesquisa são as participantes ativas desta

organização juvenil, localizada dentro da região metropolitana de Belo Horizonte/MG. Com o

resultado dos dados consolidados, buscaremos observar além da dimensão simbólica de

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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pertencimento a esse grupo, a atuação social dessas adolescentes, percebendo possíveis alterações

em suas trajetórias pessoais, na convivência familiar e nos espaços pelos quais essas jovens

circulam.

A INFLUÊNCIA DO TRABALHO E DO TERRITÓRIO NA TRAJETÓRIA ESCOLAR

DOS JOVENS DA EJA

APARECIDA DOS SANTOS MERCES

UNIRIO

O presente trabalho constitui-se como um pequeno recorte de uma proposta de dissertação de

Mestrado que está em fase de construção. Para o trabalho aqui proposto, elegemos analisar de que

maneira o contato com o mundo do trabalho se relaciona com a escolarização e com as perspectivas

dos jovens estudantes da EJA - Ensino Médio da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Também

pretendemos avaliar como o elemento território interfere na escolarização desses jovens e de que

maneira estes elementos (trabalho e território) influíram em suas decisões de sair e/ou regressar à

escola. Com objetivo de responder as questões levantadas, pretendemos: realizar uma pesquisa

qualitativa a partir dos dados levantados pelo survey, e investigar o perfil da população de alunos

desta região, bem como avaliar de que modo as experiências com o mundo do trabalho se relaciona

com sua trajetória escolar e com o território. Para embasar a discussão, consideramos importante a

leitura de: BOURDIEU (1983) tal qual, argumenta que juventude também está relacionada à

questão social, pois a forma de vivenciar esta etapa da vida está relacionada com a classe social a

qual o jovem pertence; CARRANO (2007) que faz uma discussão sobre os desafios da EJA como

uma escola de oportunidade ou de segunda chance, e também como uma modalidade de ensino que

visa assegurar a educação básica à maior quantidade de pessoas. PEREGRINO (2015), que faz uma

discussão sobre como os jovens têm acessado o mundo do trabalho e o modo como a precarização

do trabalho afeta a escolarização dos Jovens da EJA Ensino Médio. Também propomos a leitura de:

CASTELS (2012) sobre as mudanças ocorridas no mundo do trabalho e a pesquisa do DIEESE

realizada em 2011, sobre qualificação profissional e mercado de trabalho. A partir destas leituras

somadas às ideias obtidas por meio da análise qualitativa dos dados, trabalharemos para que a

pesquisa seja desenvolvida de modo a oferecer mais relevância às informações que os objetos nos

trazem. Aspiramos para que o resultado da pesquisa, além de apontar as respostas que buscamos,

traga outros questionamentos e contribua para uma visão mais crítica e reflexiva sobre os processos

educacionais, bem como a compreensão da EJA como uma importante modalidade de ensino e seu

valor na escolarização dos grupos de jovens pobres.

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PERCURSO ACADÊMICO DE JOVENS POBRES: RELAÇÕES SOCIAIS E

PERMANÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO

BRÉSCIA FRANÇA NONATO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

O artigo é resultado de uma pesquisa de mestrado que teve como objetivo compreender os sentidos

das experiências universitárias para jovens de camadas populares que se inseriram em uma

universidade privada por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni). A pesquisa de

cunho qualitativo focou-se na trajetória e experiência universitária de dez jovens dos cursos de

engenharias e psicologia que estavam nos últimos períodos da graduação. Esses jovens foram

ouvidos durante um semestre pela pesquisadora que teve como principal instrumento metodológico

as entrevistas semiestruturadas. Essa escuta propiciou uma série de elementos que possibilitam

problematizar os percursos acadêmicos e a permanência universitária de jovens pobres. Mais do que

uma estrutura física, um local pensado para que os estudantes se apropriem de conhecimentos

voltados para o aprendizado de uma profissão, o ambiente acadêmico possibilita inúmeras formas

de interação social. Essas interações, seja por meio de relações institucionais ou com os pares,

constituem um aspecto importante da vida dos universitários que têm nesse ambiente um espaço

essencial de socialização e sociabilidade. É a partir dessa leitura, busco discutir nesse artigo como o

percurso no espaço acadêmico influência os jovens universitários nos sentidos atribuídos ao curso

de graduação, na relação que eles estabelecem com o trabalho e também nos seus planos de futuro.

As vivências de cada um dos participantes do estudo se constituíram de forma singular. Contudo, os

pontos que se cruzaram permitiram compreender como tem se estabelecido a experiência

universitária dos jovens desta pesquisa e que podem dialogar também com a experiência social de

outros estudantes de camadas populares. Os diferentes modos como vivem a experiência

universitária estão relacionados com a história de cada um dos dez jovens que compuseram esta

investigação. Por meio dos relatos, pode-se notar que seus posicionamentos diante das novas

vivências estavam muito atrelados, por exemplo, ao suporte familiar para se manterem na educação

superior e ao valor atribuído pela família à educação. Mesmo a universidade não sendo um projeto

familiar, na maioria dos casos, a família constitui-se como ponto de apoio a esses sujeitos. Isso,

possibilitou-lhes um investimento em maior ou menor grau no que tange ao envolvimento com os

cursos e atividades acadêmicas, o que repercute diretamente em suas experiências. A permanência

desses sujeitos na educação superior estava atrelada, para além da ajuda familiar, à renda advinda

do trabalho. Daí a necessidade de concluir o curso em um mínimo de tempo para ingressar no

mercado de trabalho. Percebe-se que, mesmo tendo prazos maiores que cinco anos no caso de

ambos os cursos, poucos alunos buscavam postergar essa trajetória. A finalização da graduação

significava o fim de uma fase e esse período de transição levava os jovens a muitos

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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questionamentos. Ao dialogar sobre suas perspectivas futuras, três eixos chamaram atenção. O

primeiro deles se referia à vontade de prosseguir os estudos na pós-graduação; o segundo estava

relacionado à insegurança quanto à inserção no mercado de trabalho; e o terceiro dizia respeito à

retribuição ao apoio da família. As entrevistas propiciaram visualizar breves cenas da vida desses

jovens, em especial suas idas e vindas, em relação ao percurso acadêmico. Além das experiências

observadas em sua singularidade, a pesquisa permitiu, junto a dados de outras pesquisas da área da

sociologia da educação, apreender melhor tendências e situações inerentes ao percurso acadêmico

de jovens pobres que se inserem no ensino superior. Foram múltiplas as disposições observadas e o

destaque ou invisibilidade das mesmas irá depender do momento, do contexto, do sujeito, sempre

de forma dinâmica.

REVOLUÇÕES JUVENIS, TECNOLOGIAS E NOVOS CURRÍCULOS: OCUPAÇÕES EM

ESCOLAS NO ESTADO DE SÃO PAULO

CAIO CÉSAR SOUSA MARÇAL

CENTRO EVANGÉLICO DE MISSÕES

O protagonismo de jovens que ocuparam as escolas no estado de São Paulo traz uma série de

questões atuais: a importância de uma real democratização das decisões sobre políticas

educacionais, o uso de tecnologias para a ação política como ferramenta de mobilização social e um

inovador currículo que dialoga com as demandas da contemporaneidade. Sob o pano de fundo das

discussões sobre juventudes, Educação e Ciberativismo, nossa pesquisa analisa o movimento dos

estudantes do Ensino Médio em São Paulo e seus desdobramentos em torno da participação juvenil.

O trabalho, de conteúdo qualitativo, é baseado em levantamento e análise de dados sobre a

produção de discursos através de documentos, imagens, textos e entrevistas das partes envolvidas

no embate entre estudantes e o governo do Estado de São Paulo.

O JOVEM E O FETICHE DO TRABALHO

CLÁUDIA LEÃO DE CARVALHO COSTA

CEFET MINAS

CO-AUTORA: SARA LOPES FONSECA

Faz-se necessário a compreensão do significado do trabalho para o jovem contemporâneo, e sobre a

porta que se abre para que ele se insira no “mundo do Trabalho” que é o contrato de trabalho sob a

égide da Lei 10.097/2000, conhecida popularmente como Lei do Jovem Aprendiz. No texto faremos

reflexões e considerações sobre o entendimento da experiência de alguns jovens sobre a sua

primeira oportunidade laboral no Contrato de Aprendizagem Comercial e sobre o sentido do

trabalho para esse jovem. Haveria um fetiche do jovem com relação à experiência de possuir um

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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trabalho e uma remuneração que possa satisfazer seus desejos de consumo, e como é a compreensão

do jovem em relação à instituição que o acolhe. E abordaremos a representação do jovem

construída na sua experiência primeira de trabalho.

ESCOLA SESI/RS DE ENSINO MÉDIO E SUA RELAÇÃO COM AS CULTURAS

JUVENIS E COM O MUNDO DO TRABALHO

DANIELLE SCHIO ROMEIRO ROCKENBACH

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

CO-AUTORA: LUIZA SEFFRIN ZORZO

O presente artigo tem o objetivo apresentar o trabalho realizado na Escola de Ensino Médio do

SESI/RS, que considera as culturas juvenis como uma das dimensões do seu currículo, a fim de

propiciar que os aspectos próprios da vida dos jovens potencializem suas aprendizagens. Isso ocorre

de forma significativa e articulada com questões que perpassam o mundo do trabalho. Entendê-lo

envolve os aspectos sociais, econômicos e culturais, o que requer pessoas capazes de resolver

problemas, que atuem com postura ética e com proposições que contemplem o local e o global. O

conceito de mundo do trabalho vai muito além da ligação com a atividade laboral, e não deve ser

confundido com mercado de trabalho. Há, ainda, uma dimensão simbólica, ou seja, o que o trabalho

significa para os diferentes sujeitos. Assim, trabalho não tem a mesma definição que emprego.

Além disso, entendemos que a noção de trabalho também comporta as culturas juvenis, pois essas

agregam a dimensão simbólica do trabalho. Dessa forma, uma manifestação cultural pode se

transformar em trabalho, como é o caso do grafite, por exemplo. A linguagem, a arte, a música, os

estilos, a sociabilidade e o estabelecimento dos vínculos são respeitados e considerados nos

diversos espaços e tempos da Escola. Os professores planejam os projetos disciplinares e

interdisciplinares considerando as experiências, os interesses, as potencialidades dos jovens e suas

aspirações profissionais. Novas aprendizagens são conquistadas por eles, por exemplo, ao investigar

a importância do papel de uma pista de skate e sua possível revitalização para a comunidade

próxima à escola. Práticas juvenis como uso do celular, de games e do skate, assim como o uso de

acessórios, tais como bonés, piercing, tatuagens, o uso coletivo dos espaços de convivência são

tensionados e aproximados do mundo do trabalho. Com isso, possibilitamos que a escola se

constitua em um espaço não somente de reprodução, mas sim de produção de saberes, de cultura e

de conhecimento privilegiados para o jovem e advindos dele. As experiências do jovem no espaço

escolar permitem projetar-se no futuro, construindo projetos de vida e referenciais singulares e

coletivos. Isso quer dizer que compreendemos os alunos enquanto sujeitos que se constituem pelas

marcas sociais, históricas e culturais do seu tempo. A Escola, ao colocar em movimento essa forma

de trabalho, possibilita lançar um novo olhar sobre a relação estabelecida entre o espaço

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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educacional e os jovens, pois oferece ao aluno vivências e experiências de sua sociabilidade que

não fragmentam e setorizam suas vidas, incluindo a importância do trabalho para o jovem nessa

tessitura. A partir do trabalho desenvolvido e da concepção de jovem que atravessa os diversos

fazeres na Escola, inferimos alguns efeitos, tais como: alunos e professores dialógicos, que

respeitam a diversidade dos sujeitos e as diversas formas de ser e de pertencimento, sem situações

de agressão e violência, jovens participativos, colaborativos e que vislumbram a construção de uma

carreira profissional. Assim, estabelecemos um olhar muito particular para os jovens e para suas

produções, potencializando os efeitos da escola e ampliando suas aprendizagens, seus

conhecimentos, suas possibilidades profissionais e seus projetos de vida.

JUVENTUDE(S) SUSTENTÁVEI(S): COMPARTILHANDO BOAS PRÁTICAS

DULCINEIA APARECIDA AUSTIN MARTINS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CO-AUTORA: SUZANA SILVEIRA DE ALMEIDA

Quando se é jovem não é criança, mas também não é adulto, como diz Sposito e Carrano (2003),

todavia é momento de fazer escolhas, dentre estas a escolha profissional, o que para muitos deve ser

imediata com sua inserção no mercado de trabalho. Objetivando compartilhar e analisar boas

práticas de como inserir e criar condições para que as juventudes possam ser sustentáveis em ações

e valores na formação cidadã, desenvolvendo competências comportamentais. Pretendendo se

distanciar do estigma da "falta de experiência" no mercado de trabalho surge o Programa "Portal do

Futuro" sob a responsabilidade da área de Educação Corporativa e Sustentabilidade da instituição

SENAC RJ (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - Rio de Janeiro). O programa trata-se

da inclusão de jovens de baixa renda, de 16 a 21 anos, no mercado de trabalho após um curso que é

dividido em três eixos "Ser Pessoa", "Ser Cidadão" e "Ser Profissional", visando capacitar o

público-alvo para ser inserido e se manter no mercado de trabalho. Esta pesquisa é de cunho

qualitativo, tendo como metodologia a observação participante e pesquisa bibliográfica com estudos

de Pochmam (2012; 2014), Soffiat (2012), Dayrell (2003; 2007) e das pesquisas realizadas pelo

Observatório Juventudes (PUCRS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2014),

perpassando por conceitos como: juventudes, competências, mercado de trabalho e sustentabilidade

em sua dimensão social. Conclui-se que pensar em sustentabilidade é justamente pensar em novas

formas de nos reeducarmos e compartilharmos boas práticas com as juventude(s) numa época em

que se enfatiza a ideia do "apagão de talentos". Potencializamos a dimensão social, destacando os

aspectos humanos para a qualidade de vida promovendo o conceito de trabalho decente, baseado

nos direitos fundamentais, o emprego como fator de desenvolvimento para todos, proteção social e

o diálogo social como expresso pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Por isso, torna-

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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se relevante a prática colaborativa destes estudos no intuito de incentivar a(s) juventude(s) a

tornarem-se cidadãos críticos e que possa contribuir com as instituições e profissionais no

aprofundamento do tema que implica em reaprendermos outras formas de ser e estar no mundo de

maneira sustentável.

“SE TIVESSE ENSINO MÉDIO NO DISTRITO, EU NUNCA TERIA VINDO ESTUDAR

AQUI”: COMO JOVENS QUE SE DESLOCAM DE SUAS COMUNIDADES PARA

CURSAR O ENSINO MÉDIO LIDAM COM AS SURPRESAS, DORES E DESAFIOS

PROVOCADOS PELA TRANSIÇÃO

ELODIA HONSE LEBOURG

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

Contribuindo com o debate sobre as juventudes em comunidades do interior do país, esta proposta

de comunicação é resultado de uma pesquisa de mestrado em Educação que analisou a situação de

jovens que mudaram de ambiente escolar e social para ingressarem no Ensino Médio. Como objeto

de estudo enfocou-se um grupo de estudantes de um distrito que, após a conclusão do Ensino

Fundamental na escola local, passou a estudar na sede do município. Para cursar o Ensino Médio e

dar continuidade à escolarização básica, por volta dos 15 anos de idade, tais sujeitos deslocam-se

para a sede do município, distante cerca de vinte quilômetros do distrito. A maioria desses jovens,

que estudaram juntos desde a infância, se divide, pela primeira vez, em três instituições públicas

denominadas no estudo de: Escola Estadual 1, Escola Estadual 2 ou Escola Federal 1. Trata-se de

um momento delicado de transição no qual esses sujeitos modificam suas rotinas, sua dinâmica de

estudos, seu desempenho escolar, seus laços de sociabilidade e se apropriam de novas culturas e

espaços. A pesquisa privilegiou metodologicamente a realização de entrevistas reflexivas com oito

jovens desse distrito que, para a pesquisa, receberam os seguintes nomes fictícios: Paulo, Laís,

Poliana, Lara, Maria, Alice, Igor e Joaquim. Esses jovens têm entre 15 e 20 anos, a maioria pertence

a famílias de baixa renda e todos, à época do Ensino Fundamental possuíam bom desempenho

escolar. O material produzido a partir dessa interlocução foi analisado por meio da elaboração de

perfis de configuração e através das categorias de análise: desempenho escolar, sociabilidade entre

pares, sociabilidade com professores e construção da personalidade. Através da opção pela análise

dos dados gerados a partir dos perfis de configuração, procurou-se assegurar de um aparato

metodológico que auxiliasse na compreensão de casos particulares, não necessariamente por serem

excepcionais, porém sem o abandono de uma reflexão macrossociológica que produzisse um

conhecimento sociológico. Esse procedimento de pesquisa possuiu um caráter experimental, uma

vez que se propôs a pensar os casos específicos sociologicamente, ainda que através da seleção de

um número reduzido deles. Esta pesquisa trouxe importantes contribuições para os estudos sobre

juventude, entre elas a constatação de que a transição para o Ensino Médio, especialmente para

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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jovens do interior brasileiro, é um momento complexo no qual se amplia a rede de sociabilidade e

surgem novos desafios e problemas. Deste jovem é exigido que saiba se situar em um novo espaço,

lidar com estímulos e realidades até então desconhecidos, fazer novas amizades e se relacionar de

forma diferente com seus pares e seus professores. É um momento delicado de transição que

merece, portanto, maior atenção por parte das famílias, das escolas e dos gestores públicos.

O TRABALHO COMO ELEMENTO CENTRAL DA VIDA DO JOVEM

CONTEMPORÂNEO

GARDENE LEÃO DE CASTRO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

Neste artigo, discute-se a centralidade do trabalho para o jovem no mundo contemporâneo, partindo

das obras de Marx (1988), Harvey (2003) e Bernardo (2000). Após uma reflexão sobre as

características do trabalho na atualidade, percebe-se que o sistema capitalista se inovou ao longo

dos séculos, utilizando as tecnologias e as novas formas gerenciais como aliadas ao aumento da

produtividade. Também é apresentada a discussão feita por Marglin (1989), Lima (1995) e Heloani

(2003) sobre as novas políticas de recursos humanos, que se utilizam tanto de elementos objetivos

quanto subjetivos para conquistar a adesão do jovem trabalhador. Essas pressões causam uma série

de consequências ao indivíduo, como o adoecimento físico e psíquico, apontadas por Dejours

(2003). Ao final, a partir das considerações de Wolff (2009), discutem-se como as tecnologias da

comunicação e informação podem atuar como poderosas ferramentas de controle gerencial, que

acabam por expropriar os saberes do jovem trabalhador.

A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ

DE FORA: AVANÇOS E DESAFIOS FUTUROS

JACQUELINE CAVALCANTI CHAVES

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CO-AUTORA: FRANCIENE APARECIDA DA SILVEIRA

Ao longo dos últimos anos, as políticas educacionais implementadas pelo governo federal têm

priorizado a expansão do Ensino Superior e a reestruturação das universidades públicas. No

conjunto de medidas tomadas, encontra-se o Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES)

que foi lançado em 2007 e tem como meta prioritária garantir o acesso e a permanência dos/as

alunos/as em situação de vulnerabilidade socioeconômica na universidade pública federal, até o

término do curso escolhido por eles/as. O objetivo da presente comunicação é apresentar a pesquisa

que buscou analisar o desenvolvimento da política de assistência estudantil, especialmente na

Universidade Federal de Juiz de Fora, mostrando suas mudanças, seus avanços e desafios. O

trabalho visou ainda assinalar algumas potencialidades que a política de assistência estudantil tem

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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quando compreendida como uma política social fundada na perspectiva dos direitos, voltada ao

desenvolvimento humano e, assim, orientada para promover a equidade e a igualdade de

oportunidades entre todo o conjunto de pessoas que forma uma sociedade. Trata-se de uma pesquisa

teórica que para alcançar seu objetivo analisou documentos (leis, decretos e relatórios técnicos),

artigos e livros que versam sobre a educação brasileira, as políticas educacionais e a assistência

estudantil. Ao término do trabalho concluiu-se que a política em tela tem sistematizado e oferecido

diversos auxílios (alimentação, moradia, transporte e creche), além da bolsa permanência, que

contribuem para a democratização do Ensino Superior público. Isso tem ocorrido através da

inclusão de jovens em situação de vulnerabilidade social nesse sistema e, também, do

estabelecimento de ações que favorecem a permanência e o término do curso por parte daqueles/as

que muitas vezes o abandonam devido a dificuldades econômicas e acadêmicas. No âmbito dessas

ações, levando em consideração os recursos disponíveis, a UFJF tem ampliado o número de

alunos/as atendidos/as pelo programa de assistência estudantil passando de 1.225 jovens em 2009

para 3.150 em 2015. Mais recentemente, a UFJF criou a Pró-Reitoria de Apoio Estudantil e

Educação Inclusiva, a qual inaugurou o Serviço de Psicologia aberto aos/às estudantes do programa,

além de dar continuidade aos projetos já existentes do Apoio Pedagógico e do Plantão Social. Estes

serviços têm auxiliado os/as jovens estudantes em suas demandas sociais, pedagógicas e

psicológicas, tais como, quando necessário, encaminhar para os órgãos competentes para, por

exemplo, solicitar um benefício como a Bolsa Família; auxiliar na elaboração de planos de estudo; e

refletir sobre a vida acadêmica. A partir da pesquisa realizada também se verificou que a política de

assistência estudantil tem desafios a serem enfrentados, por exemplo, o da universalização da

assistência (Leite, 2012). Isso significa que, sendo uma política educacional pública, ela pode ser

compreendida como uma política focal e fragmentada, a qual deveria se voltar para a elaboração de

princípios de atendimento universal e não se limitar àquele realizado junto à população de baixa

renda, ainda que este seja prioritário. Além disso, sendo uma política social pública, ela deveria

estar firmemente comprometida com o rompimento da lógica do mercado, a qual tem se mostrado

excludente econômica e socialmente. Concluiu-se que enfrentar este desafio implica na criação de

estratégias que façam frente à pedagogia das competências (Saviani, 2007), à pedagogia da

concorrência, da eficiência e dos resultados (Libâneo et al., 2003), às regras do produtivismo

desmesurado que acaba por criar uma competitividade fratricida (Leite, 2012). Pensada deste modo,

as ações elaboradas e executadas a partir desta política poderiam buscar favorecer relações de troca,

de compartilhamento de experiências, e desenvolver habilidades sociais cooperativas, empáticas e

solidárias. Poderiam, ainda, contribuir para a construção de um/a profissional-cidadão/cidadã

ético/a, comprometido/a socialmente, consciente e crítico das desigualdades e injustiças de diversas

origens e padrões.

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AS PRODUÇÕES DISCENTES NA EDUCAÇÃO SOBRE A LEI DE APRENDIZAGEM:

OS SENTIDOS POSITIVOS ATRIBUÍDOS PELOS/AS JOVENS APRENDIZES PARA O

TRABALHO E A DURA REALIDADE DA DUPLA JORNADA ENTRE O TRABALHO E A

ESCOLA

JESSICA SAPORE DE AGUIAR

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

CO-AUTORA: SHIRLEI REZENDE SALES

O objetivo deste trabalho é analisar como as expectativas em relação ao futuro profissional e

inserção dos/as jovens no mundo do trabalho e a conciliação com os estudos são problematizadas

nas teses e dissertações na pós-graduação em Educação sobre “Jovem Aprendiz” produzidas no

período de 2002 a 2013. Como metodologia foi utilizada a pesquisa bibliográfica, uma vez que essa

abordagem possibilita mapear a situação em que as pesquisas sobre determinada temática se

encontram. Assim, foi realizado um levantamento bibliográfico das produções sobre Jovem

Aprendiz na área da Educação nos sites da Coordenadoria de Capacitação de Pessoal de Ensino

Superior (CAPES) e Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT).

Inicialmente foram selecionadas dez pesquisas para serem analisadas, porém só foi possível analisar

efetivamente nove delas, pois mesmo depois de reiteradas tentativas não obtivemos o texto

completo de uma dissertação. A partir dos trabalhos encontrados, sendo uma tese, sete dissertações

e um trabalho final de mestrado profissional, foi feita a leitura na íntegra das produções com o

objetivo de identificar que tipos de vivências e saberes o trabalho e o programa Jovem Aprendiz

proporcionam aos/as jovens e como esses conciliam o trabalho com a escola. Como referencial

teórico para as análises foram utilizados os estudos de Dayrell (2009), Sposito (2002), Corrochano

(2014) e Leão e Carmo (2012). As pesquisas analisadas descrevem os saberes e as vivências que o

trabalho proporciona como positivos, pois as/os Jovens Aprendizes ganham uma oportunidade de

experiência na vida laboral, de sustento para a família e maturidade. As produções descrevem que a

lei da aprendizagem proporciona aos/às jovens uma melhor inserção no mundo do trabalho.

Entretanto, é descrita uma difícil conciliação entre trabalho e escola, já que muitas vezes o/as jovens

estão cansados/as com a dupla jornada que vivenciam diariamente, não comendo e nem dormindo

direito. Podemos então afirmar que os trabalhos analisados concluem que o programa de

aprendizagem auxilia os/as jovens à medida que, por meio dele, aprendem aspectos profissionais

importantes para quem ainda não tem experiência, são capacitados/as profissionalmente por meio

dos cursos teóricos e ainda conseguem ajudar a família. É importante destacar que apesar dos

estudos apresentarem um certo consenso sobre os significados do trabalho e a relação com a escola,

todos as pesquisas analisadas apontam singularidades de significados para os/as jovens, uma vez

que de acordo com Sposito (2002) os/as jovens são considerados/as sujeitos da diversidade, em que

diferem a origem social, espaço geográfico, raça e gênero. Os sujeitos vivenciam modos próprios de

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ser jovem e na atual sociedade se apresentam cada vez mais diversificados. Todos esses fatores aqui

citados como capacitação profissional, primeira experiência e conciliação com a escola são

importantes para analisar as políticas públicas que incentivam os/as jovens a entrar no mundo do

trabalho e para refletir sobre a qualidade das políticas já criadas.

A TENSÃO PERTURBADORA ENTRE O FUNK E A ESCOLA

JOSÉ AUGUSTO DA SILVA

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS

Este artigo parte do princípio de que o universo funk em Juiz de Fora, numa perspectiva

sociocultural, tem muita contribuição a oferecer para o campo de estudo da educação. Sua densa

produção simbólica e os valores que o constitui enquanto universo cultural predominantemente de

jovens da periferia, aliada a uma forma de organização sociopolítica prevalentemente orientada por

Galeras em constante processo de sociabilidade violenta, o insere, seguramente, nas temáticas

travadas no mundo da educação. Presente, aqui, a preocupação em problematizar e apontar

caminhos para o entendimento e enfrentamento da tensa relação entre as Galeras de funk e a Escola.

O MALABARISMO NAS RUAS COMO ALTERNATIVA ECONÔMICA AOS JOVENS

EXCLUÍDOS DO MERCADO FORMAL DE TRABALHO

JULIANO BATISTA DOS SANTOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CO-AUTORA: JULIANA ABONIZIO

Apesar do dissenso acerca do termo juventude, podemos definir a cultura juvenil como o

compartilhamento de crenças, valores, símbolos, normas e práticas cotidianas inerentes à fase da

vida correspondente a um período de irresponsabilidade provisória que antecede o ingresso na vida

adulta que tem como marcos a inserção no mundo do trabalho, e a passagem da família de criação

para a de procriação. Contudo, há jovens adultos que se tornam responsáveis por sua existência

material e tem independência da família, mas não se enquadram nas regras do trabalho formalizado,

seja por oposição ideológica, por adoção de um estilo de vida alternativo ou por falta de

oportunidade. Dentre esses jovens adultos, destacamos os malabaristas de rua que desenvolvem

uma estética da resistência e criam um modo de sobrevivência material tangencial ao modelo

capitalista, recusando, a seu modo, a inserção plena na vida adulta. A fim de compreender as

maneiras singulares com as quais os malabaristas se articulam ao tecido urbano de Cuiabá, capital

de Mato Grosso, foi realizada uma etnografia de suas performances nos sinais vermelhos que, de

não-lugares, são transformados em lugares de trabalho informal. Para a manutenção de seu estilo de

vida, seja este opcional, circunstancial ou conjuntural, os artistas desenvolvem táticas de

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sobrevivência, baseadas em convencer estranhos a pagar por algo que não desejam, no caso, a

exibição artística. No dia a dia as práticas das artes de fazer como astúcias eficazes à superação das

dificuldades econômicas revelam que, a cada novo dia, em meio às múltiplas maneiras de

pressionar dinheiro, há, às margens da sociedade, a exemplo dos malabaristas de rua, diferentes

grupos neotribais de indivíduos (músicos, dançarinos, performers, hippies e outros jovens

trabalhadores informais) que, apesar de sufocados pelo ciclo do trabalho-dinheiro-consumo, buscam

superar o estigma goffmaniano de exclusão social, sem, contudo, infringirem regras morais e/ou

legais, mas obrigatoriamente ressignificando os espaços topológicos e tópicos da cidade a partir de

representações que, quando adaptadas às fachadas sociais disponíveis, são muitas vezes julgadas

como inadequadas às normas vigentes, fato que opera como contestação do conceito de dualidade

própria das sociedades binárias, possível somente de serem realizadas no cotidiano, ou seja, naquilo

que é aparentemente inútil ou insignificante aos arquétipos da razão instrumental.

JUVENTUDES E PRÁTICAS EDUCATIVAS: REFLEXÕES SOBRE A PARTICIPAÇÃO

DE EDUCANDOS/AS EGRESSOS/AS NOS NÚCLEOS DE BASE NA ESCOLA DO

CAMPO

KAMILA COSTA DE SOUSA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

Este artigo apresenta reflexões sobre as práticas educativas vivenciadas pelas juventudes na escola

do campo. A partir da luta dos movimentos sociais do campo, em destaque o Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por educação para as áreas de assentamentos rurais de

reforma agrária, surge no Brasil uma nova compreensão de educação para esses povos. Desde os

anos de 1990, ganha-se força uma perspectiva de educação que parta da realidade do campo e que

recupere nesta a vida cotidiana dos/as camponeses/as. A educação do campo, enquanto fenômeno

da realidade rural brasileira (CALDART, 2012) entende o campo como ponto de partida e de

encontro entre conhecimentos científicos e saberes populares. Tem como um dos seus desafios a

formação da juventude camponesa, sujeitos do campo, comumente caracterizada pelas migrações

(BRUMER, 2007). No Ceará com a conquista de 4 escolas de ensino médio em assentamentos

rurais organizados pelo MST no Estado, surge a necessidade de construir uma escola diferente, que

dialogue com o campo e que traga para os espaços escolares as problemáticas vivenciadas pelos/as

assentados/as. As escolas do campo no Ceará, além de um currículo com uma base diversificada,

apresentam práticas educativas que favorecem a experiência de organização das juventudes dentro

da própria escola. Os Núcleos de Base são compreendidos pela escola como espaço de convivência

e auto-organização dos/as educandos/as (PPP, 2012). Para refletir sobre a participação dos/as

educandos/as nos núcleos de base (NB’s) na escola do campo, realizou-se uma pesquisa qualitativa

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(CHIZZOTTI, 2104), com jovens egressos/as da escola João Sem Terra, para revelar as

experiências desses/as nos NB’s. Para os/as jovens que participaram da pesquisa, a experiência

escolar nos NB’s foi marcada pelo desafio da autonomia de se organizar, definir e encaminhar as

problemáticas vividas no cotidiano escolar. Os NB’s foram também, segundo os sujeitos da

pesquisa, um espaço de desenvolvimento da fala e de articulação da juventude na escola. Conclui-se

que os NB’s, na escola do campo em estudo, contribuíram para a formação das juventudes, mas

entende-se que a escola do campo experimenta o desafio de promover a organização, a cooperação

e o engajamento dos/as jovens para além dos espaços escolares.

DESIGUALDADE SOCIOECONÔMICA E EDUCAÇÃO: PERSPECTIVAS E

EXPECTATIVAS DE JOVENS BELORIZONTINOS MORADORES DE FAVELAS

LEANDRO PAULINO SILVA

PUC MINAS

A pesquisa analisou a relação entre a desigualdade socioeconômica e as perspectivas e expectativas

educacionais de jovens belorizontinos moradores de favela. Para o alcance do objetivo foram

desenvolvidos estudos sob o enfoque psicossocial crítico cujo referencial teórico contemplou a

construção da identidade, juventude, educação, política e cidadania, direitos humanos e o

surgimento de favelas belorizontinas. No contexto do trabalho de campo, foram realizadas dez

entrevistas semiestruturadas e houve a aplicação de um questionário socioeconômico adaptado.

Além desses dois instrumentos utilizados foi possível fazer observações dos jovens no universo da

pesquisa: a Vila Biquinhas, situada na região norte de Belo Horizonte. Ao se fazer a análise de

conteúdo sobre os dados coletados, verificou-se que em um contexto estrutural de desigualdade

socioeconômica ocorre a violação de direitos sociais básicos como o direito à habitação, à

segurança pública, entre outros. São poucas as expectativas educacionais porque são também

reduzidas as perspectivas visualizadas pelos jovens de avanço nos estudos e acesso ao ensino

superior.

AGATHE VERHELLE E A JUVENTUDE EUROPEIA DO SÉCULO XIX: PRIMEIROS

DESTINATÁRIOS DO INSTITUTO DAS RELIGIOSAS DA INSTRUÇÃO CRISTÃ

LUCILIA DIAS FURTADO

Este trabalho, de cunho bibliográfico, tem como objetivo identificar as características da juventude

europeia do início do século XIX a partir do contexto histórico da época e suas influências, a fim de

possibilitar uma maior compreensão do carisma das Religiosas da Instrução Cristã e da realidade

juvenil presente em suas obras nesse período histórico, buscando responder as seguintes

indagações: Quem eram essas jovens? Por que esse perfil juvenil e não outro? Esse estudo

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fundamentou-se em teóricos especialistas na área, desenvolvendo assim, uma pesquisa dialética,

com os seguintes métodos de procedimentos: o histórico, o comparativo e o monográfico. Para o

desenvolvimento dessa pesquisa, buscou-se identificar o conceito atual de juventude como

parâmetro para a análise da realidade europeia, possibilitando, com isso, uma compreensão do

termo na época e uma visualização do passado, não determinado com o olhar atual. Analisou, ainda,

o contexto histórico, político e econômico da Europa no início do século XIX, para a percepção de

sua influência no contexto juvenil e congregacional. Assim, percebeu-se, de alguma forma, a

realidade juvenil da época, permitindo uma caracterização da juventude. A análise dos documentos

congregacionais que retratam as intenções da Me. Agathe Verhelle com relação à juventude, ajudou

no processo de compreensão juvenil e na visualização do carisma. Após a revisão literária e a

análise, identificou-se os possíveis motivos que levaram à fundação das Religiosas da Instrução

Cristã, com um carisma totalmente voltado à juventude: a necessidade da educação escolar diante

das consequências da revolução francesa e de escolas católicas, perante o surgimento das escolas

públicas e laicas, assim como a exposição juvenil frente as realidades de “impiedade e irreligião”.

Com isso, constatou-se algumas prováveis características das jovens da época de Me. Agathe

Verhelle. Com fortes probabilidades, a maioria delas que frequentava os Colégios das Religiosas da

Instrução Cristã pertencia à burguesia ou à alta burguesia; era educada na fé e não na instrução

clássica; preparada para manter as boas virtudes e, com isso, salvar-se a si mesma e aos outros. Isso

porque, as novas exigências da época fizeram com que os jovens deixassem de ser aprendizes

(aprender uma profissão) para se tornarem alunos – especialistas do conhecimento clássico, ou seja,

vivessem para estudar. Esse processo ocorria para uma minoria, que passava para o ensino

secundário; menor ainda era a quantidade de jovens que chegavam até a universidade. Essa

juventude privilegiada (da elite) era quem se sobressaia frente uma maioria esmagadora analfabeta

da população. Revela-se, aqui também, um detalhe peculiar, muito importante que, por sua vez,

pode passar despercebido diante da naturalização para a sociedade atual e, por isso, não

questionado: a educação das jovens. Eram as moças ricas (da alta burguesia) que estavam nos

colégios católicos e que tinham o claro objetivo de fazê-las “boas cristãs” (educá-las e não instruí-

las). O conteúdo ministrado era adaptado às chamadas “virtudes femininas” (pudor, sensibilidade,

simplicidade, etc.), nada de realmente aprofundado (latim ou grego), pouco de ciências e pouco ou

nada de educação física. Mas, de preferência, o estudo de autores “fáceis”, da história, da geografia,

da cosmografia, por vezes; e do desenho, da escrita, do canto e da música, às vezes da dança, e os

inevitáveis trabalhos de agulha. Com isso, a contextualização da época na qual a juventude europeia

do século XIX estava inserida faz-se importante para não perceber uma juventude como um

momento da vida humana naturalizante e aistórica, mas como um processo de construção da

sociedade moderna. Assim igualmente, esses fatos revelam um perfil das jovens que se

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encontravam nas missões das Religiosas da Instrução Cristã desse período, o que, por sua vez,

possibilita uma avaliação do carisma na sua atualidade.

REPRESENTAÇÕES COTIDIANAS SOBRE ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE: UMA

ANÁLISE EM CONSTRUÇÃO

MARAIZA OLIVEIRA COSTA

IFG/UFG

CO-AUTOR: FERNANDO LACERDA JÚNIOR

A discussão sobre o conceito de juventude pode expressar aspectos socialmente controversos:

representar algo que é reverenciado e, ao mesmo tempo, indesejado. Ser jovem é reverenciado em

uma sociedade em que o velho é atrelado ao antigo, ao ruim, ao ultrapassado. Juventude é

indesejada por aqueles que a associam a uma noção de conflito e instabilidade emocional. Esse

paradoxo demonstra que as concepções acerca da juventude são diversas e, às vezes, contraditórias.

Essa contradição é fortemente evidenciada quando se analisam concepções sobre adolescência

presentes em algumas teorias psicológicas sobre o desenvolvimento humano e no senso comum.

Dessa forma, o presente trabalho apresenta uma pesquisa que analisou algumas representações

cotidianas sobre adolescência e juventude. Para tanto, foram realizadas entrevistas com dez

participantes em que se perguntou “O que é juventude?” e, logo em seguida, “O que é

adolescência?”. Tais participantes tinham idade entre 26 e 39 anos e todos com escolaridade de

nível superior nos seguintes cursos: Educação Física, Medicina, Farmácia, Engenharia Civil,

Musicoterapia, Direito, Turismo e Jornalismo. A investigação evidenciou que a noção de juventude,

para os entrevistados, relaciona-se com comportamento, modo de viver e capacidade de adaptação

às mudanças. Já adolescência está associada, em geral, a uma fase de transição permeada por

conflitos, imaturidade e impulsividade. A análise dos dados possibilitou uma reflexão sobre

algumas representações cotidianas a respeito da adolescência e da juventude. Por meio das

respostas dos indivíduos é possível afirmar que a palavra adolescência expressa uma noção

delimitada e estereotipada e juventude expressa uma concepção que é mais ampla, que explora

diferentes aspectos e dimensões. Entretanto, nota-se, por meio do estudo de algumas teorias tanto na

área da Psicologia quanto na área da Sociologia, que ambos os termos (adolescência e juventude)

podem ser utilizados com um viés desenvolvimentista. Nas considerações finais, apresentam-se

apontamentos para a defesa de uma análise da adolescência e da juventude a partir dos aspectos

históricos, culturais e sociais que ambas as categorias podem expressar.

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SABER, TRANSMISSÃO E TECNOLOGIAS: DA ESCRITA À IMAGEM

MÁRCIO RIMET NOBRE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

A transmissão de conhecimento esteve, desde seus primórdios, ligada à oralidade e à escrita. Com

as mudanças no lugar da tradição e da referência simbólica às figuras de autoridade no seio da

Modernidade e o incremento das tecnologias da informação e da comunicação sobretudo na última

década do século XX, novos elementos se interpõem no caminho do adolescente e do jovem, de

modo geral, a saber, o excessivo apelo midiático da imagem. Tal incremento produz significativo

reflexo no laço social e, assim, na relação professor-aluno. Propõe refletir sobre este impacto no

sentido de vislumbrar saídas para os impasses na relação ensino-aprendizagem, tendo em vista o

fascínio imagético provocado no sujeito contemporâneo.

ENSINO DE SOCIOLOGIA E VIDA PRATICA DOS JOVENS ALUNOS

MARCOS ANTONIO SILVA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Trabalho o tem o objetivo de analisar o Ensino de Sociologia no Nível Médio e a sua relação com a

vida prática dos Jovens alunos a partir de três enfoques; análise do histórico e construção do

currículo da disciplina de sociologia no ensino médio, perspectiva do jovem aluno sobre o ensino de

sociologia e perspectiva do professor sobre o ensino de sociologia. As análises partiram do estudo

de caso de duas turmas de ensino médio de distintas escolas da cidade de Ribeirão das Neves,

Região Metropolitana de Belo Horizonte /MG. A metodologia de pesquisa contou com os seguintes

procedimentos; acompanhamento das respectivas turmas por um bimestre letivo, questionário

quantitativo o qual contou como a participação de todos jovens alunos de ambas as turmas e

entrevista em profundidade de quatro jovens alunos de cada turma e os dois professores que

ministrava aulas de sociologia para estas respectivas turmas.

A CRIANÇA, O JOVEM E O AMBIENTE ESCOLAR: EXPERIÊNCIAS E

SIGNIFICAÇÕES

NAYARA CRISTINA CARNEIRO DE ARAUJO

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

O presente estudo discute o significado da escola para crianças e jovens. Significamos esse universo

e os seus espaços a partir das nossas relações sociais, e das experiências pessoais e sociais que

temos em relação ao todo. Assim, faremos uma reflexão sobre o modo como a infância e a

juventude vem sendo tratada no pensamento Ocidental a partir das colaborações de Walter Kohan e

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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Walter Benjamin, principalmente quanto às reflexões de tempo e experiência. Esses autores

criticam a ausência da criança e do jovem na proposição sobre eles mesmos, apontando uma

supervalorização da vida adulta a partir da modernidade. Recorremos aos estudos de Kohan (2004,

2008, 2009) e de Benjamin (1989, 1993, 2007, 2011) para discutir a questão da infância e da

juventude no pensamento Ocidental e para compreender crianças e jovens numa perspectiva de

tempo e experiência. Em relação à escola, consideramos a colaboração de Bakhtin (1993) com o

conceito de cronotopo, onde as transformações acontecem num movimento de construção e

desconstrução permanentes, observando a indissolubilidade da relação tempo e espaço. Apesar de

se tratar de um conceito utilizado para a compreensão de Bakhtin em relação à literatura, mais

especificamente ao gênero romance, essa relação histórico-social nos fala muito sobre a escola.

Essa tentativa de perceber tanto a vida impulsiva quanto a formação ideológica que existe na

literatura e no ambiente escolar, o processo de crise de ser e devir-a-ser. A criança que é criança,

mas deve abandonar sua infância para se tornar adulto; ou o jovem que é jovem, mas precisa

abandonar a juventude para se emancipar. O levantamento de dados para a discussão deu-se a partir

das produções acadêmicas disponíveis no Banco de Dados da CAPES e que se referem à infância,

juventude e escola. Os estudos sobre infâncias e juventudes carregam em si uma autoridade na fala

de quem escreve, o adulto, que se sente autorizado a expressar sua opinião por já ter sido criança e

jovem, desconsiderando toda a construção histórico-social dos critérios científicos que uma

pesquisa acadêmica requer. Por essa razão, destacaremos algumas pesquisas que levaram em

consideração a criança e o jovem como sujeito de fala. Essas pesquisas nos forneceu as informações

e os dados necessários para discutirmos como se dá o processo de significação da escola para esses

sujeitos. Ao discutirmos o significado da escola para esses sujeitos, desencadeamos reflexões sobre

a necessidade de desconstrução da vida adulta como objetivo final de nossa evolução enquanto

sujeitos sociais.

JUVENTUDE(S) NEGRA(S) NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UM ESTUDO

SOBRE O REJUVENESCIMENTO DA EJA NA PERSPECTIVA DA RESILIÊNCIA

NEUSA PEREIRA DE ASSIS

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS

Quem tece perguntas acerca da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil, interroga um campo

da educação escolar marcado pela contradição, inerente à sua própria existência: o fato de ser um

direito que só existe pela fragilidade de outro direito, o direito à educação escolar no tempo regular.

Este campo é também marcado pela fragilidade de políticas públicas, pelo entrelaçamento com as

lutas de diferentes coletivos e movimento sociais e pela diversidade de sujeitos que abriga. Todavia,

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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conforme afirma Paulo César Carrano (2007), nos últimos tempos um fato vem chamando a atenção

daqueles que lidam com a EJA, seja enquanto profissional ou enquanto pesquisador: o aumento

expressivo de matrículas de estudantes cada vez mais jovens nesta modalidade de ensino.

Observado mais de perto, este fenômeno denominado de rejuvenescimento ou juvenização da EJA,

mostra-se ainda mais complexo pelo fato de estes jovens serem majoritariamente negros, ou seja,

pretos e pardos, desafiando-nos a buscar compreendê-lo para além da questão geracional, levando

em conta as questões sócio-raciais presentes em nossa sociedade. Neste sentido, a presente pesquisa

analisa a presença da(s) juventude(s) negra(s) na Educação de Jovens e Adultos (EJA) com foco na

resiliência no intuito de alcançar um maior entendimento acerca do fenômeno do rejuvenescimento

da EJA, provocado pelo aumento significativo de jovens nesta modalidade de ensino, levando em

conta sua interface com as questões sócio-raciais. A partir de uma abordagem predominantemente

qualitativa, o estudo teve como objetivo principal compreender os comportamentos resilientes

elaborados por jovens negros estudantes da EJA; já como objetivos específicos elegemos o

mapeamento das trajetórias de escolarização dos sujeitos pesquisados, a identificação nestas

trajetórias dos elementos que favorecem e dificultam a promoção e elaboração da resiliência e, por

fim, a análise dos comportamentos resilientes elaboradas por eles. Para alcançar tais objetivos, os

instrumentos utilizados foram pesquisa bibliográfica e documental, questionários e entrevistas em

dois formatos diferentes: semiestruturada e grupo focal, tendo em vista a subjetividade do que

desejávamos alcançar. A pesquisa foi realizada em uma escola da Rede Municipal de Ribeirão das

Neves, impactada com a grande presença jovem em suas salas de aula. A complexidade da proposta

nos levou a novas indagações acerca da presença negra na educação escolar, da construção da

identidade juvenil assim como da identidade negra e o contexto histórico-cultural marcado por

tensões, em que estes processos se dão. Os jovens de modo geral e, em especial, os jovens negros,

não tem recebido um olhar positivo que os enxerguem enquanto sujeitos históricos, ou seja, como

seres de possibilidade e ação. Frente a este fato, nossos argumentos buscam se contrapor a este

ponto de vista, ao trazer à luz a capacidade de resiliência presente em muitos destes jovens tendo

em vista diferentes elementos estressores presentes em seu cotidiano. A pesquisa evidenciou que os

comportamentos resilientes elaborados por estes sujeitos são múltiplos e variados, construídos a

partir de fatores internos e/ou externos ao sujeito; alguns no campo da matéria e da racionalidade, já

outros no campo da fé e da religiosidade. Ao dimensionarmos o lugar da resiliência na presença da

juventude negra na da EJA, esperamos contribuir com o debate acerca das questões identitárias,

sobretudo aquelas que se ocupam de pensar a “identidade negra” e “identidade juvenil”,

problematizando algumas concepções que se baseiam na ideia de um tipo ideal, único,

desconsiderando a complexidade e os atravessamentos inerentes a qualquer identidade; refletir

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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acerca dos espaços negados à juventude negra. Esperamos ainda, somar esforços junto àqueles que

se dedicam a pesquisar a EJA e seus sujeitos, reconhecendo-os enquanto seres de possibilidades

TRABALHO X ESCOLA - O DUELO QUE RONDA AS JUVENTUDES DAS CLASSES

POPULARES

NOELIA RODRIGUES PEREIRA REGO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

É na passagem da sociedade tradicional para a moderna que a dualidade do conceito de juventude

tem seu início. No entanto, ela não estava destinada para todos. Para os filhos dos “homens de

posse” era destinada à juventude tendo como base a preparação, dada pela escolarização, de sua

entrada no mundo econômico e político. Contudo, para os “jovens” menos abastados

economicamente a fase de uma pequena infância para a vida adulta se fazia sem escalas, que tinha

no trabalho seu expoente principal. O Estado burguês, com sua democracia, criou e até hoje

mantém uma ossatura que fundamenta e conforma determinados sujeitos em suas desiguais

trajetórias. Interditando, portanto, boa parte deste segmento, inviabiliza o acesso e a universalização

a determinados bens e espaços sociais. Parte das exclusões a que são submetidos não é antes uma

anulação meramente econômica, senão educacional e política que os leva a patamares consideráveis

de invisibilidade na sociedade. É nessa conjuntura que estudar coletivos juvenis pertencentes às

camadas populares, principalmente em contexto de favela, é atestar que as trajetórias não são

contínuas, sobremodo improvisadas na busca pela sobrevivência no mundo do capital. Em uma

sociedade sobremodo excludente em que diferenças e desigualdades são fatores determinantes e,

muita das vezes, limitadores de trajetórias, não há a possibilidade de se desconsiderar o conflito de

classe, pois entendemos ser ele capaz de forjar uma análise crítica sobre as condições de

estruturação do status quo perversamente assimétrico e desarmônico em que vivemos, que se revela

nas precárias condições de trabalho que as juventudes pobres são postas à prova na

contemporaneidade. Assim, a questão que norteou nossas investigações etnográficas em nossa

pesquisa de mestrado foi compreender como jovens estudantes de EJA - matriculados numa

instituição no subúrbio da capital do Rio de Janeiro - Brasil, que compreende, em sua maioria,

alunos de duas tradicionais favelas da região - relacionam, em suas distintas trajetórias, educação e

trabalho, categorias centrais em suas vidas, procurando perceber as estruturas simbólicas que estão

por trás desses elementos na perspectiva do direito e da cidadania. É a partir desse processo

histórico-cultural desses jovens trabalhadores (Thompson, 1987) que nos debruçamos para entender

essas transformações e seus muitos significados. Ao encontro disso, numa sociedade marcada pela

cultura do consumir em que o ter se faz o visto de entrada e saída para uma suposta ascensão, tão

almejada na sociedade e no grupo em que se vive, o trabalho soaria como uma tentação à educação.

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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Para além do espaço de liberdade e emancipação que teria para esses jovens, além das evidentes

necessidades econômicas, o trabalho estaria atrelado aos bens de consumo imediatos. Assim, o que

geralmente ocorre é primeiramente a necessidade de “existir”, através de um estereótipo,

apropriando-se de símbolos e signos sociais, ou seja, estar “dentro da onda”; para depois sim, se for

o caso, pensar em retomar os estudos. Fenômeno que geralmente ocorre numa fase mais madura de

ser jovem. Diante do exposto, tomar para si os desafios da contemporaneidade na relação da

educação com outras instâncias de socialização (cultura e trabalho), requer um mínimo de lucidez

para não cairmos nos frequentes romantismos que se colocam sobre a relação do jovem com o

mundo. É buscar ainda nos equívocos dogmáticos do passado - e na prática perversa de uma cultura

hegemônica no plano teórico e epistemológico (SANTOS, 2007), pela propagação de um

imaginário social pautado na igualdade - as respostas para o presente e as possíveis saídas para o

futuro, por meio de uma perspectiva contra-hegemônica e descolonizante.

EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS DE JOVENS DAS CAMADAS POPULARES NO

TRÂNSITO PARA A VIDA ADULTA

RAQUEL SOUZA DOS SANTOS

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP

Esta comunicação visa apresentar os resultados preliminares de pesquisa em andamento no

Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP),

sob orientação da professora Marilia Pontes Sposito. O trabalho tem como objetivo identificar,

descrever e analisar desafios comuns a que estão confrontados moças e rapazes das camadas

populares e que concluíram o Ensino Médio em estabelecimentos públicos de ensino de São Paulo.

A partir de entrevistas individuais, realizadas com 40 moças e rapazes, que concluíram a educação

básica em quatro escolas, entre os anos de 2010 e 2013, busca-se apreender um conjunto de

vivências - em diferentes domínios - reveladores da condição juvenil e, ao mesmo tempo,

identificar nuanças nos modos como essas experiências são enfrentadas pelos próprios indivíduos.

A pesquisa, amparada pelo quadro teórico da Sociologia da Juventude e das denominadas

Sociologias do Indivíduo, pretende contribuir para a construção de conhecimentos sobre a

juventude brasileira dos setores populares, em um contexto marcado por mudanças substantivas do

ponto de vista educacional e social, fenômenos que supomos afetar os modos de vida desse grupo

social. A análise das entrevistas indica ser um dos desafios comuns de moças e rapazes a construção

de caminhos que lhes permitam dar prosseguimento aos estudos, notadamente no ensino superior.

Nossa hipótese é a de que esse desafio se relaciona à generalização de certas aspirações de melhoria

de vida e de mobilidade social ascendente, para as quais a obtenção do diploma se apresenta como

credencial importante para galgar postos de trabalho de maior prestígio e remuneração, sobretudo

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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após um conjunto de mudanças no acesso ao ensino superior no Brasil. Por outro lado, apesar da

expansão de vagas para esse nível de ensino no Brasil e dos avanços recentes nas políticas de

inclusão - dirigidas para grupos sociais historicamente em situação de desvantagem

socioeconômica. Tais mudanças não eliminaram as barreiras que dificultam o prosseguimento dos

estudos daqueles que já concluíram a educação básica. Não por acaso, a noção de “esforço” esteve

presente na maioria dos depoimentos coletados. Todavia, ela foi utilizada para dar conta de

estratégias distintas. Assim, verificamos a existência de um grupo para quem a noção esteve

relacionada à necessidade de trabalhar para estudar. Em outras palavras, é por meio do trabalho e,

sobretudo, da remuneração obtida por meio dessa atividade, que o ingresso no ensino superior é

vislumbrado e/ou alcançado. Aqui, a noção de “esforço” relaciona-se às dificuldades de conquistar

uma atividade remunerada que possibilite financiar os projetos individuais de estudo e organizar o

tempo, inclusive, abdicando de certos domínios da vida avaliados importantes: família, amigos,

namoro, lazer, consumo etc. Por seu turno, entre outros interlocutores foi possível constatar a

associação da ideia de “esforço” à construção de caminhos que lhes garantissem: a) acesso a cursos

oferecidos por estabelecimentos públicos de ensino superior; b) obtenção de bolsas de estudo para

frequência a estabelecimentos privados, como o Programa Universidade Para Todos; c) manutenção

de certas perspectivas de formação profissional. Nesse caso, a noção diz respeito à mobilização de

diferentes investimentos com vistas à preparação para processos seletivos, dentre os quais

destacam-se a postergação do ingresso no mundo do trabalho e a realização de cursos. Avalia-se

que as diferentes estratégias empregadas pelos jovens se relacionam à conformação heterogênea do

ensino superior brasileiro, mas também às condições desiguais experimentadas por moças e rapazes

para darem prosseguimento aos seus estudos. Sobre esse último aspecto, considera-se pertinente

atentar para que as experiências na educação básica, as redes de apoio com as quais os jovens

podem contar e as condições de vida de suas famílias de origem cumprem um papel importante na

orientação dos “esforços” empreendidos pelos jovens.

JUVENTUDE E ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL: DESAFIOS COTIDIANOS

RENATA JOSÉ DE MELO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

Sabemos que a escola é um espaço polissêmico. Nesse sentido, algumas pesquisas têm evidenciado

que os jovens forjam sentidos diversos para construir sua relação com a escola (LEÃO, 2011). É

exatamente na busca desses sentidos que esta pesquisa, que está em andamento, centrar-se-á, com

objetivo de identificar e analisar a situação atual do ensino médio no estado de Goiás, em termos de

oferta, perfil docente e discente, matrículas e instituições de ensino, buscando analisar as

contribuições desse nível de ensino para a construção dos projetos de vida dos jovens. Um

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pressuposto básico é que o ensino médio é uma etapa da educação com importantes impactos nos

projetos de vida dos jovens. Importa salientar, como argumentam Alves e Dayrell (2013), que os

projetos de vida não se limitam à dimensão profissional. Este é apenas um aspecto, mas não o

único. Entendemos por projetos de vida as ações, mais ou menos intencionais, que orientam as

condutas humanas, permitindo fugir aos determinismos e improvisos. (ALVES, 2013). Nesse

sentido, o projeto é uma característica humana. Esta comunicação procura discutir alguns aspectos

da condição juvenil de jovens estudantes de uma escola de tempo integral localizada na cidade de

Catalão, no sudeste de Goiás. A pesquisa, de cunho quali-quantitativo, encontra-se em andamento.

Nesta primeira etapa foi aplicado um questionário no Colégio Estadual Polivalente "Dr. Tharsis

Campos", única escola pública de tempo de integral da cidade. Responderam ao questionário 60

alunos de um grupo de 81 matriculados no ano de 2015 nesta escola. O questionário misto foi

aplicado na primeira semana de dezembro e teve como objetivo traçar o perfil dos jovens estudantes

desta escola, com vistas a construir subsídios empíricos para o entendimento da condição juvenil

nesse contexto escolar. O questionário foi composto por cinquenta questões contendo os seguintes

temas: Vida escolar; uso de drogas; trabalho; uso de tecnologias de comunicação; projetos de vida;

participação em grupos sociais e orientação sexual. O Programa Novo Futuro foi implantado no

estado de Goiás no ano de 2013 e criou os Centros de Ensino em Período Integral – CEPI. De

acordo com o site da SEDUCE atualmente são 22 CEPIs, com uma carga horária de 45 aulas

semanais e um currículo constituído pelo Núcleo Básico Comum e Núcleo Diversificado. A escola

pesquisada, única que atende ao programa na Subsecretaria Regional de Educação de Catalão, tinha

no ano letivo de 2015 oitenta e um alunos. O prédio é bastante amplo e espaçoso, mas a estrutura

está muito deteriorada; muitas janelas estão quebradas; algumas salas faltando telhado; a cantina e o

refeitório são improvisados dentro de salas de aula; a biblioteca e o laboratório de ciências

funcionam juntos em uma mesma sala. Embora algumas obras de reformas tenham se iniciado, não

há previsão para a conclusão. Os dados coletados no questionário nos mostram o seguinte perfil dos

estudantes dessa escola, alguns dos quais chamam atenção, como o grande número de meninas

(67%) em relação ao de meninos (33%) e afiliação religiosa, com maior representação dos

evangélicos (53%), seguidos dos católicos (27%) e um número significativo de jovens que afirmam

acreditar em Deus sem professar uma religião específica (15%). Embora os dados ainda estejam em

fase de tabulação, o cerne desta comunicação centrar-se-á na problematização das questões

cotidianas que desafiam a vivência e as sociabilidades juvenis dentro de uma escola onde os jovens

passam cerca de 40 horas por semana.

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JUVENTUDE E UNIVERSIDADE: DESAFIOS E ENTRAVES NA POLÍTICA

INSTITUCIONAL DE FORMAÇÃO ESTUDANTIL

ROSANE CASTILHO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

A Universidade Estadual de Goiás é uma das mais novas universidades na organização

administrativa nacional, considerando seu ano de criação (1999) e, como Instituição Pública, tem

como dever defender e seguir as leis, as normativas institucionais e, sobretudo, a missão que a

define como tal. Neste sentido, um dos instrumentos de diagnóstico da efetividade de suas

estratégias de atuação é o Processo de Autoavaliação Institucional, em consonância com os

princípios e objetivos contidos em seu Estatuto (Decreto Estadual 7441/2001) e as orientações do

SINAES (Sistema Nacional de Avaliação Superior. Lei Federal 10.861/2004). Considerando o

quadro discente da UEG como eminentemente jovem (84,4% segundo dados do instrumento de

Avaliação Institucional ano-base 2103), distribuído em 42 Campus, inserido em 17 micorregiões do

Estado de Goiás, tomou-se por referência as respostas obtidas a partir deste segmento no que tange

ao “item ABERTO” do instrumento de Autoavaliação Institucional ano-base 2013 (aplicado em

2014). Após detalhada análise dos dados relativos à dimensão 09 (tópico relativo à Política

Institucional de Atendimento aos Discentes) do referido instrumento, conclui-se que os discentes

ressentem-se da baixa eficiência da Política de Assistência Estudantil da UEG no que tange ao

acompanhamento psicopedagógico dos discentes efetivamente matriculados, bem como do

acompanhamento da trajetória profissional dos egressos, das políticas de permanência dos mesmos

(bolsas estudantis, restaurante universitário, espaços de convivência, casa do estudante, entre

outras), do baixo índice de intercâmbios acadêmicos efetivamente realizados e de seus critérios,

assim como das reais possibilidades de organização Política (apoio efetivo aos C’As e D’As). Neste

sentido, busca-se viabilizar momentos de discussão entre os segmentos, visando o alcance de ações

cujo valor científico-social (relativo às atividades-fim de uma instituição Pública de Ensino

Superior) seja prioritário. Objetiva-se também, a partir destas discussões, trazer à luz os efeitos do

reiterado processo de priorização das atividades-meio (administrativas) no interior da instituição

(UEG) e suas consequências no processo de formação discente. Ao fim e ao cabo, a presente

proposta de problematização dos aspectos que impactam a formação universitária, tendo por

centralidade os discursos dos jovens estudantes - ainda embrionário - visa identificar os sentidos e

significados da mesma a partir da experiência dos jovens, na condição de estudantes, na instituição.

Palavras-chave: Juventude; Universidade; Formação; Desafios.

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O PERFIL DOS ESTUDANTES BOLSISTAS DA PUCPR

SAULO PFEFFER GEBER

UFPR

A pesquisa “O perfil dos estudantes bolsistas da PUCPR” buscou conhecer quem são esses alunos,

sua inserção no ensino superior e as dificuldades por eles enfrentadas no cotidiano de suas vivências

universitárias. A partir de uma metodologia de pesquisa quantitativa foram entrevistados 3211

bolsistas de todos os cursos de graduação dos cinco campi da universidade, sendo estes Curitiba,

São José dos Pinhais, Maringá, Londrina e Toledo. O questionário, contendo questões fechadas e

abertas, foi enviado por e-mail através da plataforma Qualtrics e os dados coletados foram

posteriormente analisados utilizando o software SPSS. Responderam ao questionário 58% da

população de bolsistas da PUCPR sendo 94,75% bolsistas do Programa Universidade para Todos

(PROUNI) e 15,25% estudantes contemplados com bolsas sociais da PUCPR. A partir da análise

dos dados foi possível constatar que 60,20% dos respondentes são do sexo feminino, 73,72% têm

idade entre 17 e 23 anos e 21,71% são considerados negros (somatória entre pretos e pardos). Além

da faixa etária, outros aspectos do perfil dos entrevistados expressam a vivência de uma condição

juvenil, como o fato de que 85,39% são solteiros, 88,03% não têm filhos e 60,48% moram com os

pais. Em relação à renda familiar, 74,77% dos entrevistados disseram que a renda total da família é

de 1 a 3 salários mínimos. Foi possível identificar uma trajetória desses sujeitos com o mundo do

trabalho uma vez que 64,84% dos respondentes já trabalhavam antes de ingressarem na

universidade, e continuam trabalhando, uma vez que 64,37% dividem seu tempo entre estudos e

trabalho. Ainda sobre o perfil desses sujeitos é interessante constatar que 67,04% são responsáveis

por arcar com suas próprias despesas e que 50% deles são os primeiros da família a ingressar no

ensino superior. Os entrevistados também identificaram inúmeras dificuldades em relação à

continuidade de seus estudos – dentre os aspectos descritos pelos sujeitos de pesquisa as maiores

dificuldades foram tempo para estudar, seguido de transporte, alimentação e aquisição de materiais

para o curso. Como considerações finais da pesquisa foi possível constatar que os programas de

bolsa PROUNI e PUCPR permitem um acesso ao ensino superior de parcelas da população jovem

que até então estava excluída desse segmento do ensino. Um dado marcante consiste no

reconhecimento de que 84,55% dos estudantes disseram acreditar que não estariam frequentando o

ensino superior se não tivessem tido acesso à bolsa. Ao mesmo tempo, reconhecemos as

dificuldades enfrentadas por esses sujeitos relacionadas à falta de tempo em conciliar trabalho e

estudos e também dificuldades financeiras com os custos de alimentação, transporte e materiais.

Reconhecemos que as análises ainda precisam ser aprofundadas e para uma segunda fase da

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pesquisa está prevista a realização de grupos focais com os bolsistas no intuito de dar voz aos

sujeitos sobre as experiências por eles vivenciadas.

VIOLÊNCIAS ESCOLARES E A EDUCAÇÃO PARA PAZ: DA CONSTRUÇÃO DO

OBJETO ÀS PRÁTICAS EDUCATIVAS

THERESA RAQUEL BORGES DE MIRANDA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

A escola desempenha papel fundamental no processo de socialização de crianças e adolescentes

como espaço de interação social ampla, contínua, complexa e multicultural no qual a criança realiza

trocas materiais e simbólicas. Vemos surgir, porém, diversos casos em que esse processo relacional

é canalizado para ações e atitudes violentas que deixam de ser pontuais e passam a configurar um

rol de ocorrências intituladas “violências escolares”. Evitando reduzi-las a violência entre pares ou

à violência juvenil, esta proposta parte da perspectiva dialógica e tem por objetivo discutir a

construção e compreensão do objeto “violência escolar”. Durante a discussão, percebe-se que a

violência escolar se constitui como fenômeno complexo, controverso e com diversas possibilidades

de sentido. Deste modo, não se constitui como conceito totalizante, mas que tem relação estrita com

as características históricas, temporais, sociais, psicológicas e culturais do objeto estudado, ou seja,

do contexto específico de análise. Esse viés sugere que a violência não pode ser considerada apenas

nos termos do código penal, mas também por pequenas violências cotidianas que não podem ser

tratadas no âmbito do poder público ou virar “questão de polícia”. São, porém, conflitos entre

civilidades que defendem seus valores, suas crenças, e em que há troca, e que devem ser

direcionados para uma resolução saudável que possibilite novas construções e formas de se

relacionar. As bibliografias utilizadas, apontam para a importância que grande quantidade de

pesquisas produzidas sobre a violência escolar consideram os sujeitos, a diversidade, e a

dinamicidade dos processos sociais. Entretanto, a educação para a paz, necessita ir além e

problematizar aspectos microgenéticos (resolução de conflitos, valores pessoais, constituição de

subjetividades, etc.) e aspectos macrogenéticos (valores sociais repassados no processo de ensino,

relação da escola com seu contexto, etc) das relações estabelecidas no ambiente escolar. Ou seja,

dar foco ao processo de constituição simbólica intra e intersubjetiva, mais precisamente, crenças,

valores e práticas que estão na origem e na dinâmica das interações e, assim, compreender os signos

mediadores de um universo simbólico contextual, que não são passiveis de normatização legal, mas

moral. Autores que discutem a educação para a paz, partem do pressuposto de que o conflito

sempre existirá, mas as formas como esses conflitos são geridos podem ter diferentes respostas

dentro das quais a paz é uma possibilidade. A convivência pacífica requer o reconhecimento do

outro e, assim, ressalta-se a necessidade da prática democrática e do diálogo no ambiente escolar,

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além da educação emocional e social como formas de facilitar a relação entre os sujeitos e o

aprendizado do conteúdo formal.

DESEJOS QUE MOBILIZAM ADOLESCENTES E JOVENS NA SUA RELAÇÃO COM O

TRABALHO E COM A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS VANILDA APARECIDA PEREIRA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

O artigo apresenta resultados obtidos através da pesquisa realizada em uma escola pública

municipal da cidade de Belo Horizonte com estudantes da Educação de Jovens e Adultos da faixa

etária entre 15 e 17 anos, em fase de conclusão do ensino fundamental e que resultou na dissertação

de mestrado intitulada "Desejos que mobilizam adolescentes-jovens na sua relação com o Trabalho

e com a Educação de Jovens e Adultos". Os objetivos da investigação foi identificar e analisar, a

partir das falas dos adolescentes-jovens inseridos na EJA, as suas expectativas no que diz respeito a

sua escolarização e às suas possibilidades de inserção no trabalho. Buscou-se identificar o perfil

desses jovens do ponto de vista sociocultural e econômico, as formas de sua inserção na EJA, a

importância atribuída à EJA para o seu percurso escolar e para sua inserção no mundo do trabalho,

e, problematizar os tipos de ocupação laboral que experimentam. Foi realizada através da

abordagem qualitativa, utilizando na etapa exploratória entrevista coletiva e questionário com vinte

e cinco estudantes. Na etapa seguinte fez-se o uso de entrevista semiestruturada, dialogando com

seis jovens, sendo três estudantes sem experiência laboral e três com experiência de trabalho,

selecionados de acordo com análises da pesquisa exploratória. Os adolescentes-jovens

demonstraram acreditar que através dos estudos poderiam conseguir romper com a reprodução da

miséria que os vitimou e em grande parte, aos seus familiares também, mas eles já chegam na

Educação de Jovens e Adultos carregando a marca do insucesso definida pelo atraso na conclusão

do ensino fundamental. Muitos trabalhavam em atividades inadequadas para a sua idade e

desenvolvimento. Na faixa etária estudada, o predomínio do sexo masculino contraria os dados de

perfil de estudantes da EJA, que aponta ser esta modalidade genuinamente feminina. Os dados

indicam uma presença significativa de estudantes que não estão inseridos no mundo do trabalho e

entre aqueles que estão, os vínculos de trabalho são precários. Percebe-se nas falas dos estudantes a

dificuldade ou impossibilidade de escolha das ocupações laborais disponíveis. Os jovens

acreditavam que estudar é importante para se conseguir trabalho. No entanto demonstraram

insegurança em relação às possibilidades de aprendizagem na EJA e ao reconhecimento desta

modalidade de ensino no mercado de trabalho.

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O TRABALHO COMO ELEMENTO CENTRAL DA VIDA DO JOVEM

CONTEMPORÂNEO

VICTOR HUGO NEDEL OLIVEIRA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

O jovem contemporâneo vem surpreendendo a sociedade nos mais diferentes setores, incluindo a

escola. Neste sentido, surge a proposta de pesquisa, de investigar as relações de pertencimentos de

jovens escolares de ensino médio em relação a sua escola. Objetivou-se, na pesquisa, identificar os

sentidos que jovens do ensino médio atribuem a sua escola e, igualmente, de como compreendem

seu processo educacional e o funcionamento de sua escola, apontando pontos positivos e negativos.

O referencial teórico da pesquisa abordou os dois grandes eixos que a mesma buscou discutir: as

culturas juvenis e a escola contemporânea. Assim sendo, autores como: Miachalski, Corti, Silva,

Pais, Feixa, Caccia-Bava, entre muitos outros colaboraram nas leituras prévias da presente

investigação. Para atingir os objetivos propostos, montou-se questionário de pesquisa que foi

aplicado em turmas concluintes no ensino médio do espaço de pesquisa (escola pública estadual de

grande porte na cidade de Porto Alegre – RS) e, posteriormente, analisado, com o texto final de

pesquisa. Os resultados da pesquisa indicam que o jovem contemporâneo percebe sua escola e, ao

mesmo tempo, aponta possíveis falhas na mesma. Quando questionados sobre a escolha em estudar

no espaço de pesquisa, os participantes, em maioria, afirmam serem encaminhados pela Secretaria

Estadual de Educação, e, logo após em segundo ponto, por decisão própria. Verificou-se que o

jovem aprecia muito os diferentes espaços da escola, como pátios e corredores, mas não houve

inferência na sala de aula como um espaço aprazível. Ainda questionou-se sobre as impressões do

primeiro dia de estudos no espaço de pesquisa, sendo as palavras mais destacadas pelos alunos

participantes: ‘timidez’, ‘nervosismo’ e ‘vergonha’, o que demonstrou o sentimento dos mesmos ao

ingressar em uma nova escola. A grande maior parte dos alunos afirmou que o espaço de pesquisa é

um bom colégio e que, ao mesmo tempo, não é um colégio de drogados. Igualmente, afirmam que o

colégio possui bons professores e que o mesmo não possui merenda escolar adequada. Neste

sentido, aponta-se para o aumento dos processos de escuta atenta aos jovens, sob a perspectiva de

que os mesmos podem, efetivamente, colaborar no processo de construção das escolas nos quais

estudam, visto que há importantes observações que, por vezes, escapam aos olhos de seus

professores..

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GT 2

JOVENS, FAMÍLIA E PARENTALIDADE

Coordenação:

Dra. Liciana Cabral Caneschi

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A VACINAÇÃO CONTRA O VÍRUS HPV EM ADOLESCENTES E JOVENS MENINAS E

A REAÇÃO DAS MÃES

ANA LUÍSA LANA PINTO

PUC MINAS

O presente trabalho está sendo desenvolvido no programa de pós-graduação em Psicologia da

PUC/MINAS BH. Em 2014 iniciou-se no Brasil a campanha de vacinação contra o HPV, do

Ministério da Saúde, direcionada meninas entre 9 e 13 anos. Pretendemos investigar o fato de que,

mesmo divulgada em escolas e centros de saúde, houve uma queda da procura pela vacina na

segunda etapa da campanha. Queremos investigar as reações das mães frente à vacinação em

comunidades virtuais criadas para criticar a vacina. Nossa hipótese inicial é a de que as mães acham

que a vacina vai antecipar a vida sexual de suas filhas. Queremos pesquisar esta historia de

envolvimento mãe e filha num momento em que a sexualidade está em jogo. Será apresentado o

início da pesquisa para discussão.

FAMÍLIA, IGREJA, ESCOLA: HOMOFOBIA NAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS

JOÃO ELTON DE JESUS

FACULDADE JESUÍTA DE FILOSOFIA E TEOLOGIA

Este trabalho tem o objetivo de abordar a relação entre a juventude homossexual e as instituições

sociais consideradas tradicionais como a escola, a família e a Igreja onde verifica-se uma forte

presença da homofobia. Diante da situação de preconceito e opressão, observa-se uma maior

organização dos movimentos e indivíduos LGBTs na busca de respeito, reconhecimento e acesso a

direitos. Essas ações se dão nas mais diversas formas, seja na apropriação de espaços públicos, da

maior visibilidade nos meios de comunicação ou por meio de políticas públicas que garantam os

direitos das pessoas não heterossexuais.

OS ADOLESCENTES, SUAS RELAÇÕES AMOROSAS E A INTERNET

MÁRCIA STENGEL PUC MINAS

CO-AUTORES: JACQUELINE DE OLIVEIRA MOREIRA |NÁDIA LAGUÁRDIA DE LIMA |

IRENE MARIA DE FREITAS MORAIS| LUCAS MATOS MAIA| RAFAEL JÚNIO DE

OLIVEIRA

Esta pesquisa tem como objetivo analisar como se estabelecem as relações amorosas dos

adolescentes com o advento da internet. Também pretende investigar se a internet introduz novas

formas de relacionamento afetivo entre adolescentes; compreender os motivos que os levam a

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36

buscarem parceiros amorosos na internet; e, analisar se a internet introduz uma nova forma de amar

ou reproduz as já existentes. A adolescência pode ser definida como um tempo (psíquico e

sociocultural da puberdade) e um trabalho (essencialmente psíquico de integração dos novos dados

da puberdade na história do sujeito), em que o indivíduo vive suas primeiras experiências afetivo-

sexuais, que participam na organização de sua vida e construção subjetiva. Atualmente, a liquefação

dos laços sociais determina fluidez e superficialidade que afeta os relacionamentos humanos,

desvalorizando os sentimentos e incentivando a experimentação sexual livre e descompromissada.

Os adolescentes estão nesta lógica e usam a internet como base de experimentação de suas

identidades, vivenciando novas formas de sociabilidade, incluindo a busca por relacionamentos

afetivos. A presença da virtualidade introduz uma nova forma de presença, que tem efeitos sobre a

subjetividade. A complexidade das relações entre o virtual e o presencial nos leva a interrogar a

natureza dos relacionamentos que se constituem na realidade virtual, suas motivações,

especificidades e efeitos sobre os sujeitos. Essa pesquisa se pauta na metodologia qualitativa, com o

uso de entrevistas semiestruturadas presenciais com adolescentes de 18 anos, universitários, de

ambos os sexos, residentes em Belo Horizonte. Trabalhamos com estes sujeitos por acreditarmos

que são mais permeáveis à busca de alternativas de relações amorosas. As fronteiras entre público e

privado na internet quanto aos relacionamentos amorosos apareceram como uma questão, refletindo

sobre as questões subjetivas que envolvem a “publicização da vida amorosa. Apesar das críticas dos

jovens relativas à publicação da vida privada, alguns reconhecem que essa é uma exigência da

cultura atual, fazendo com que utilizem as redes sociais para manifestar seus relacionamentos. O

que se marca nas relações amorosas editadas pela internet é que elas evidenciam como mesmo o

conhecimento ofertado pelo virtual não é suficiente para contornar a questão da vida amorosa. Esta

é idealizada, tendo como referência o amor romântico e a consideração de que hoje as pessoas não

dão tanta importância às relações amorosas como outrora. A internet é compreendida como mais

uma oferta para a busca de parceiro amoroso e, muitas vezes, como facilitadora do relacionamento

estabelecido, pois possibilita maior comunicação entre o par. Entretanto, também traz questões para

o relacionamento, como aquilo que pode ou não ser publicado nas redes sociais ou o que seria

traição através da virtualidade. Desafios inerentes aos relacionamentos amorosos, sejam presenciais

ou virtuais, aparecem nos discursos dos entrevistados, apontando-nos para a repetição e a inovação

simultaneamente na vivência amorosa contemporânea.

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37

JUVENTUDES, TEMPORALIDADE E PROJETO DE FUTURO

MARCIAL MAÇANEIRO

PUC-PR

CO-AUTORA: CIRLENE CRISTINA DE SOUSA

O tema “Juventudes, temporalidade e projeto de futuro” se concentra na percepção das diversas

temporalidades vivenciadas pelos jovens contemporâneos, especialmente, no contexto urbano em

que se cruzam a construção da subjetividade e as experiências de sociabilidade com suas diferentes

agendas e negociações: escola, trabalho, família e lazer. Este contexto se revela fortemente

midiatizado, com jovens estudantes usuários habituais das tecnologias de comunicação, não só

destacadas por eles como aparatos, mas ambiências de conexões múltiplas. Entre os objetivos,

destacam-se: pesquisar a experiência juvenil do tempo cotidiano, colher as expressões de

temporalidade dos jovens estudantes, conhecer sua percepção de presente e futuro na

contemporaneidade midiatizada. Este trabalho serviu-se de dados colhidos em pesquisa de campo,

em escolas do ensino médio da região metropolitana de Belo Horizonte, com jovens estudantes, à

época, entre 15 e 18 anos. Para tanto, utilizou-se de recursos como grupo de discussões, entrevistas,

etnografia online e observação em campo. A análise concentrou-se nas falas juvenis sobre

cotidiano, tempo e percepções de futuro, no contexto da cultura midiatizada recente, como

mencionado. A metodologia teve enfoque qualitativo, buscando os traços da condição juvenil

contemporânea nos jovens pesquisados e recortando – do quadro maior dos dados – a sua

experiência da temporalidade: as provas do percurso cotidiano, a percepção subjetiva e social do

tempo e os campos de possibilidade em face do futuro. A leitura qualitativa dos dados serviu-se de

autores como Koselleck, Martuccelli, Melucci, Pasquier, Leccardi e Dayrell: com olhares

diversificados e complementares em certos aspectos, esses pesquisadores se destacam no debate

atual sobre a juventude e suas experiências de sociabilidade, tempo, espaço e sentido. Do trabalho,

conclui-se: as múltiplas conexões midiáticas proporcionam aos sujeitos jovens o ver e ser vistos,

com extensão de contatos e diversidade de interações cada vez mais imediatas, a ponto de afetar

incisivamente na sua percepção de espaço e tempo; na experiência juvenil, o tempo de memória

(passado) e o tempo de projeções (futuro) se imbricam num presente estendido, povoado de

experiências de mais ou menos sentido; os jovens experimentam simultaneamente diversas

temporalidades, enquanto jovens e estudantes, com encaixes e desencaixes entre as agendas

institucionais (escola, Igreja, família) e as preferências e atividades de gosto (lazer, amizades,

práticas de sociabilidade). Na perspectiva dos sujeitos jovens pesquisados, o real e o virtual se

imbricam na intensidade das interações, acelerando a percepção do tempo e redimensionando as

fronteiras espaciais. Entra em jogo não só o tempo cronológico, mas o tempo da experiência, com

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possibilidades presentes e futuras cada vez mais próximas entre si, no cotidiano estreito do tempo-

que-foge.

A CASA DENTRO DA CASA: O SENTIDO DO QUARTO PARA O ADOLESCENTE NA

CONTEMPORANEIDADE

MARILZA DE LIMA FRICHE

PUC MINAS

Essa pesquisa tem como tema os modos de vida contemporânea dos adolescentes das camadas

médias, sendo o objeto de estudo seus quartos de dormir. Teve como objetivo geral compreender o

sentido do quarto dos adolescentes em suas casas, o que possibilitou uma melhor compreensão dos

modos de vida do adolescente contemporâneo. Pretendeu, também, discutir como esse ambiente

doméstico interfere nas relações familiares, propicia que o adolescente se diferencie de seus pais e

qual a sua importância na formação de sua identidade. Os adolescentes contemporâneos têm

desenvolvido modos de vida peculiares, construindo, em seu ambiente familiar, espaços reservados

e privados dentro de sua própria casa: o quarto de dormir. Essa pesquisa tem caráter qualitativo,

sendo que foram realizadas cinco entrevistas em profundidade semiestruturadas, com adolescentes

de camadas médias, com idade entre 14 e 18 anos, sendo quatro mulheres e dois homens. Foi

solicitado que os adolescentes tirassem três fotografias de seus quartos, para análise dos ambientes.

A análise dos dados foi realizada sob a perspectiva da análise de conteúdo, sendo que se estabeleceu

três categorias: 1- Relações familiares; 2- Uso do quarto; 3- Sentido do quarto. Quanto às imagens,

essas ainda estão sendo analisadas. No diz respeito às relações com os pais, para os adolescentes

explicitaram que o motivo recorrente de conflitos em relação ao quarto é relativo à organização. Os

pais, segundo eles, demonstram grande incômodo quanto as bagunças e as coisas fora do lugar.

Alguns dos pais interferem ativamente, arrumando o quarto dos filhos e outros pais, só reclamam,

mas para todos a arrumação do quarto trás discussões e, muitas vezes serve moeda de troca. Os

adolescentes ressaltam que o quarto lhes possibilita um afastamento dos pais e dos conflitos

familiares. Eles se recolhem ao seu quarto como maneira de distanciamento e imposição de uma

barreira física na relação. Essa barreira é concretizada pela porta. Nem todos eles têm o hábito de

fechar a porta, sendo que os que o fazem relatam uma relação com seus pais mais conflituosa. A

categoria uso do quarto pode ser dividida em duas subcategorias: tempo que ficam no quarto e o

que fazem no quarto. Com exceção de um adolescente que diz não ficar no seu quarto, nem mesmo

para dormir (dorme no quarto de hóspedes), todos os outros reconhecem que passam, praticamente,

todo o tempo que estão em casa no quarto. Mesmo algumas atividades que eventualmente realizam

em família, é habitual realizá-las individualmente. No quarto eles fazem de tudo, estudam,

conversam com os amigos, utilizam a internet e as redes sociais, assistem televisão ou os programas

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

39

no computador, comem e dormem. Somente um adolescente diz não fazer nada em seu quarto,

preferindo outros ambientes da casa. Todos os adolescentes entrevistados evidenciaram a

importância do quarto como lugar de privacidade, individualidade e pertencimento. É também o

lugar do conforto, de segurança e onde se sentem aconchegados, protegidos e diferenciados de seus

pais. No quarto guarda-se os segredos. O quarto os identificam e representam sua personalidade.

Um dado interessante foi que o adolescente que diz não utilizar seu quarto para praticamente nada e

que ele não tem muita importância em sua vida, assim como os outros revela que seu quarto é a

“sua personalidade”. Dessa maneira, concluo que o quarto favorece ao adolescente o afastamento e

a diferenciação destes de seus pais, demarcando as diferenças geracionais e possibilita o exercício

da autonomia, exercendo, portanto, forte influência na formação da identidade e na produção da

subjetividade do adolescente contemporâneo.

PATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA: INTERVENÇÃO PSICOSSOCIAL E

EDUCATIVA

RUBENS FERREIRA DO NASCIMENTO

PUC MINAS

Este texto contempla parte, de uma pesquisa-ação sobre a paternidade e a masculinidade na

adolescência. Nele contemplamos o tema paternidade e focalizamos a paternidade na adolescência

sob perspectivas psicossociais e educativas. Os objetivos foram organizar material teórico e iniciar

um exercício de análise de dados coletados e organizados a partir de trabalhos de intervenção e

pesquisa com três coletivos de adolescentes com distintas configurações grupais. Iniciamos o artigo

contextualizando a pesquisa. Na sequência, tecemos leitura crítica sobre o fenômeno da

paternidade. Depois apresentamos um breve levantamento de estudos também críticos sobre a

paternidade na adolescência. Finalmente desenvolvemos uma primeira análise das informações

coletadas que expressam as representações e vivências de adolescentes masculinos e femininos

sobre a paternidade. O trabalho em questão é uma pesquisa-ação denominada “Paternidade

Adolescente: a construção da identidade masculina em adolescentes de camadas populares urbanas”

financiada pela Fundação The John and Catherine T. Mac Arthur, de Chicago – Illinois (EUA) e o

Fundo de Incentivo à Pesquisa (FIP) da PUC Minas. A pesquisa teve também o apoio do Instituto

Marista de Solidariedade (IMS), da Ordem de Santo Agostinho (OSA) e de comunidades e

instituições que atuam com adolescentes. Os campos de trabalho foram os Bairros Vale do Jatobá

(BH), Jardim Teresópolis (Betim), Nova Contagem (Contagem) e UFMG (BH). O método de

oficinas em dinâmica de grupo foi utilizado para coleta das informações e para a intervenção. Os

sujeitos integraram três grupos de adolescentes e alguns jovens masculinos entre 15 e 22 anos,

sendo que apenas o último era composto também com garotas dentro desta faixa etária. Os

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problemas de pesquisa orientam para a construção de conhecimentos sobre o processamento da

identidade masculina e paterna de adolescentes homens e também a intervenção nessas identidades

em construção. A base institucional da investigação foi a ONG Centro de Estudos da Infância e

Adolescência (CEIA). A investigação fundamentou o Programa de Inclusão do Pai Adolescente

(PIPA). Como produtos, O PIPA tem realizado algumas ações de intervenção em adolescência,

paternidade, masculinidade, relações de gênero e sexualidade.

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GT 3

POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE

Coordenação:

Dr. Nilson Weisheimer

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DIÁLOGOS ENTRE O FENÔMENO DA PRISIONIZAÇÃO, DIFERENTES

CONCEPÇÕES DE CULTURA E CONSTRUTOS DA PSICOLOGIA CULTURAL

AEDRA SARAH DE ANDRADE

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

Esta proposta de comunicação busca promover um diálogo sobre o conceito de “prisionização” ou

“cultura da cadeia” (CLEMMER, 1958) como é mais comumente conhecido, diferentes concepções

e usos do termo “cultura” (GEERTZ, 2013; BHABHA, 2003; MATUSOV & COLS, 2007; PINO,

2005) e construtos teóricos da Psicologia Cultural, proposta por Valsinier (2012). Admitindo a vasta

complexidade presente em unidades de internação para adolescentes em conflito com a lei – que diz

respeito a diversas relações humanas, ambiente arquitetônico, cultura institucional, rotinas, leis e

regras formais e informais, códigos de conduta, práticas laborais, para citar alguns aspectos –

acreditamos que reflexões acerca desse fenômeno podem contribuir em processos de compreensão e

de significação sobre o tema e assim, por consequente, reverberar em rupturas e construções de

dinâmicas diferentes das comumente encontradas nesses espaços. A discussão a que se propõe esta

comunicação é de natureza teórica e articula-se com a práxis laboral da pesquisadora, junto a esses

espaços e atores. O conceito de “prisionização” ou “cultura da cadeia” foi construído inicialmente

por Clemmer (1958) e fazia referência às afetações percebidas entre os acautelados a partir da

submissão à privação de liberdade e ao modo de funcionamento comum às prisões. Segundo

Clemmer (1958), as prisões são “um mundo de indivíduos cujas relações, diariamente, são

impessoalizadas.” Os presos são definidos pelo autor como pessoas frustradas, infelizes, ansiosas,

resignadas, amargas, odiosas e vingativas. A prisão é apresentada como um mundo frio, em que há

sujeira, fumaça, sombras; há monotonia e estupor. As afetações sugeridas se referiam a mudanças

comportamentais, como: formas mais rudes de interação, diminuição de demonstração de emoções

e de sentimentos, desenvolvimento de linguagem característica, rituais, códigos de conduta

específicos – como a lei do silêncio, a intolerância a delação e a hipervalorização da masculinidade,

como fomentadora de uma forte cultura machista – entre outros. Segundo estudos como os de

(WACQUANT, 2004, 2007; SÁ, 2007; COSTA, 2013) e das contribuições de Goffman (2003)

inclusive com o conceito de instituição total ampliou-se o olhar sobre este fenômeno e passou-se a

perceber que ele atingia não apenas os acautelados, mas também a outros atores imersos nesses

espaços, como os funcionários destas instituições. Estudos feitos por Souza (2007) e a prática

laboral desta pesquisadora observam que de forma análoga ao que é vivenciado nas unidades

prisionais o fenômeno da “cultura da cadeia” também é percebido em unidades de atendimento para

adolescentes ditos em conflito com a lei, mais especificamente, aos vinculados ao “meio fechado”,

ou seja, as medidas de semiliberdade e de internação. Após a descrição e a discussão sobre o

ambiente normalmente encontrado em unidades de internação para adolescentes em conflito com a

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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lei – para melhor visualização do leitor, fizemos uso de exemplos e de situações vivenciadas pela

pesquisadora ou que chegaram ao seu conhecimento – a comunicação segue com o resgate histórico

sobre o termo “cultura”, assim como de diferentes concepções e usos do conceito. Filiados a uma

compreensão de cultura como fenômeno essencialmente semiótico (GEERTZ, 2013) forjada por

construções simbólicas, por significados contidos num conjunto de símbolos compartilhados,

articulamos o exposto às considerações da psicologia cultural. Segundo a qual a cultura, como

elaboração semiótica é percebida como constituinte da psique humana (VALSINER, 2012). A

comunicação se encerra problematizando sobre possibilidades de rupturas e de significações outras

da chamada “cultura da cadeia”, tendo em vista que este fenômeno, por tudo o que foi abordado, é

compreendido como semiótico, dinâmico, negociado e por tanto, passível de transformação.

JUVENTUDE E POLÍTICA PÚBLICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: OS SERVIÇOS DE

CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS CONTRIBUEM PARA A

TRANSFORMAÇÃO SOCIAL OU PERPETUAM A LÓGICA DA OCUPAÇÃO DO

TEMPO?

ANA FLÁVIA DE SALES COSTA

PUC MINAS GERAIS

Imensos são os avanços alcançados nas políticas públicas destinadas à juventude, no Brasil das

últimas décadas. Na Política Pública de Assistência Social houve o esforço para superar práticas

assistencialistas, de tutela e marginalização dos jovens, especialmente aqueles pertencentes às

famílias pobres. Contribuiu para isto a noção de que a assistência social é um direito do cidadão e

de que crianças, adolescentes e jovens são sujeitos de direitos e devem ser tratados como prioridade

absoluta pelo Estado brasileiro. Ainda que legalmente os ganhos sejam inquestionáveis, muito ainda

há por fazer. Tais progressos acontecem numa velocidade maior no que diz respeito às legislações e

normativas do que às respostas e às demandas da realidade, vivenciada pelos jovens em suas

localidades. O presente trabalho tem como objetivo contribuir para uma reflexão crítica sobre a

política pública de assistência social, mais especificamente os serviços de convivência e

fortalecimento de vínculos ofertados aos jovens brasileiros, principalmente, àqueles em situação de

vulnerabilidade social e pobreza. A intenção foi identificar as suas demandas e a existência de

conexões entre a inserção no serviço e a potencialidade de mudanças em suas vidas e no contexto

social em que vivem. A pesquisa empírica compôs-se de um estudo de caso do serviço de

convivência e fortalecimento de vínculos do município de Prudente de Morais (MG), realizado em

duas fases: a pesquisa documental e as entrevistas. A primeira foi concretizada em documentos

oficiais do serviço e em registros primários sobre os participantes. Na segunda, foram realizadas

oito entrevistas semi – estruturadas com jovens que frequentavam as atividades. Os dados

encontrados foram tratados através da análise de conteúdo. Evidenciou-se, no entrecruzamento da

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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política de assistência social com a área da juventude, uma ação do Estado fragmentada em vários

serviços e programas desconectados entre si. Foi possível perceber um hiato entre o planejamento,

elaborado pelo governo central, e a execução no município, o que impacta diretamente na qualidade

dos serviços oferecidos. Esta desconexão ocorre, também, em relação às demais políticas (por

exemplo, saúde e educação) e entre as esferas de governo, tornando a ação estatal incapaz de

oferecer ao público jovem condições para a transformação significativa de suas vidas,

especialmente em relação às vulnerabilidades existentes e ao fortalecimento de suas

potencialidades, para a construção de um projeto coletivo para as juventudes. É comum no discurso

hegemônico a ideia de que os jovens são desinteressados, quando na realidade pode-se constatar

que eles não têm seus anseios contemplados por uma política pública que, apesar de ter por base

uma formulação emancipatória, não os inclui como sujeitos capazes de assumir posições

conscientes e de participar da construção de propostas a eles direcionadas. A participação, enquanto

capacidade dos mesmos de influenciar nas ações e de exercer a cidadania é pouco explorada. O

serviço, na prática, se configura na lógica da ocupação do tempo e não de uma transformação social

da realidade de vida dos jovens.

A JUVENTUDE É DESVIANTE

ANA MARIA AUGUSTA DOS SANTOS

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

A violência e a criminalidade têm se tornado o foco da preocupação e medo no cotidiano da

sociedade brasileira, que gera na sociedade civil a cobrança direcionada as autoridades para o

combate à criminalidade e prisão das pessoas que potencializam esse cenário. Quando se decide

investigar o homicídio de jovens pela Policia Militar no Brasil, minha motivação foi o aumento

dessa ocorrência, amplamente divulgada nas mídias escritas e televisionadas. O presente artigo tem

como objetivo discutir as especificidades dos homicídios de jovens realizados por policiais militares

no ano de 2015. No referencial teórico discuto se a juventude é outsiders, para a análise da

juventude utilizo Dayrell (2003) que discorre sobre a importância de compreender a diversidade

existente na juventude e Pais (2003) os jovens sempre existiram na sociedade, porém somente

começam a ser reconhecidos e estabelecidos como pertencentes a uma fase da vida, quando

começam a incomodar a sociedade. Para Zaluar (2002) a criminalidade sempre existiu no Brasil e

não incomodava, pois ficava restrita a determinados territórios excluídos da sociedade, porém

quando começa a se expandir por toda a cidade entra na pauta de discussão. Finalizo discutindo

sobre outsiders com Becker (2008) a sociedade impõe diversas regras para os indivíduos. Os

outsiders são indivíduos que desviam das regras impostas pela sociedade ou pelo grupo. O estudo

baseia-se em reflexões acerca de matérias jornalísticas publicadas na internet. Na metodologia

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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apresento a linha de embasamento da pesquisa, sendo de natureza qualitativa, tendo como estratégia

a coleta de dados e a pesquisa documental. Neste tipo de coleta de dados, os documentos

consultados não receberam nenhum tratamento científico, o que requer uma análise mais detalhada

e cuidadosa do pesquisador, em decorrência desse modelo de documentos o trabalho do pesquisador

exige uma análise mais cuidadosa. Na pesquisa será utilizado três matérias jornalísticas encontradas

na internet, ao pesquisar o seguinte tema “homicídios de jovens pela Policia Militar no ano de

2015”. Na pesquisa virtual não foi utilizado nenhum recorte de faixa etária, raça, classe social, entre

outros. A escolha foi condicionada as primeiras matérias encontradas. A análise proposta considera

os macros e micros elementos envolvidos nos relatos referentes aos homicídios de jovens pela

Polícia Militar no ano de 2015. Dentro do elemento macro, será analisado a raça e o contexto social

apresentado na reportagem e no contexto micro, serão estudadas as histórias de cada homicídio. De

formas diversas, jovens são mortos pela Polícia no Brasil, porém alguns fatores assemelham-se

quando analisamos o perfil dos jovens, são todos negros, do sexo masculino, pobres e foram mortos

em periferia. O objetivo do presente artigo é discutir os homicídios de jovens por policiais militares,

para além dos exemplos analisados, em que questões de raça, idade, gênero e espaço social

serviram como rotulação para diversos jovens serem considerados desviantes e terem suas vidas

encerradas. Portanto, reconheço que não posso apontar nenhuma generalização em relação à

atuação policial, pois foi uma pesquisa realizada em intervalo de tempo reduzido e com quantitativo

reduzido de material documental para analisar, porém alguns fatores chamaram a atenção pela sua

repetição, eram todos jovens negros, moradores de periferia e não houve nenhum diálogo.

MOVIMENTO DE ARTICULAÇÃO COM JOVENS PARA O DESENVOLVIMENTO DE

POLÍTICAS PÚBLICAS NO VALE DO PARAÍBA

FILIPINI RODRIGUES LAUERMANN

OBSERVATÓRIO JUVENTUDES, LORENA – SP

CO-AUTORES: MICHELLE RIBEIRO PINTO COSTA; CLEBER ALVARENGA DA SILVA

FILHO

Esta comunicação faz parte do trabalho desenvolvido pelo Observatório Juventudes, uma parceria

entre a FATEA, PUC/RS, a Prefeitura de Lorena e o Instituto Dialogare. O Observatório Juventudes

de Lorena pretende reunir, organizar e produzir dados a respeito de Juventudes, primeiramente da

cidade de Lorena e, em maior escala, a respeito de Juventudes do Vale do Paraíba, e contribuir em

escala nacional para a efetivação de políticas públicas para esta camada expressiva da população.

As atividades do Observatório Juventudes estão divididas em três grandes áreas de atuação: Ensino,

no propósito de oferecer cursos de formação, grupos de estudos e acesso teórico àqueles que

estejam em contato com as Juventudes; Pesquisa, como suporte para a intervenção teórica e prática

em Juventudes; e a Articulação, para a aproximação das Juventudes da região, a fim de integrar os

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atores dos segmentos sociais onde os jovens estão inseridos. O presente trabalho relata o

desenvolvimento da prática de Articulação do Observatório junto às lideranças juvenis que

desenvolvem trabalhos com as Juventudes em Lorena e cidades vizinhas, a fim de identificar o

perfil desses jovens “líderes”, sintetizar ações comuns e coletar dados a respeito das ações em

Juventudes de seus municípios sob o ponto de vista destes, em seus segmentos. Para tanto, foi

utilizado um questionário de preenchimento de próprio punho, instruídos por um representante do

Observatório Juventudes. Participaram desta pesquisa seis sujeitos que lideram grupos, coletivos,

movimentos e instituições que desenvolvem trabalhos com Juventudes, sendo que um sujeito

representa dois municípios. Desta forma, totalizamos sete questionários com seis sujeitos. Dentre os

39 municípios que representam a região administrativa de São José dos Campos, participaram sete

municípios: Guaratinguetá, Lorena, Silveiras, Cruzeiro, Potim, Aparecida e Que luz. A faixa etária

deste grupo apresentou-se da seguinte forma: cinco jovens e um adulto, sendo todos os jovens

pertencentes à mesma faixa de amadurecimento juvenil, entre 22 e 28 anos. Dentre os sujeitos

apenas um representante não possuía ensino superior. Quatro representantes já haviam cursado o

ensino superior e o único adulto apresentou-se com título de pós graduação. O dado da faixa etária

não surpreende, ou seja, jovens cuidando de jovens, o que o Observatório não entende como um

fato necessário de correlação. Para falar em nome das Juventudes é necessário fazer parte das

realidades, conhecer seu potencial e dificuldades que permeiam cada segmento. Contudo, o jovem

deve ser reconhecido e incentivado na figura de protagonista das ações, para liderar e participar

ativamente em seus municípios e região. Um dos objetivos qualitativos do questionário era

identificar a presença ou ausência de políticas públicas de Juventudes no município, segundo a ótica

do jovem representante. A resposta obtida comporta a discussão que se segue, pois cinco sujeitos

afirmam que não há política pública de Juventudes para seu município, enquanto apenas dois

sujeitos afirmam que há política pública de Juventudes em seus municípios. Desta forma, a

discussão teórica e conceitual de Políticas Públicas se confunde com o desejo latente em ações de

Juventudes, o que explicaria porque a maioria determinou a ausência destas ações. Os jovens são

espíritos em transformação, ansiosos por mudanças e incompreendidos em seu tempo, ou seja, a

visão da insuficiência da atenção em Juventudes leva-os a afirmarem a não existência total de

ações. O Observatório Juventudes trabalha para contribuir na construção das Políticas Públicas de

Juventudes, através de movimentos de articulação entre os atores sociais e seus respectivos

municípios na tentativa de reconhecer as demandas e propor ações. As pesquisas embasam, validam

e dão credibilidade para as Juventudes, e diante disso, podem requerer os seus direitos assegurados

de cidadão frente aos órgãos de poder.

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GESTÃO DE BENS, RECURSOS COMUNS, CAPITAL SOCIAL E REDES SOCIAIS NO

CAMPO: POLÍTICAS PÚBLICAS EM BUSCA DA INSERÇÃO JOVEM NO MEIO

RURAL

ARTHUR SALDANHA DOS SANTOS

UFMG

Este trabalho aborda a relação das formas de gestão dos bens e recursos comuns presentes no

campo, com a interligação e o potencial do capital social e das redes sociais em estabelecer

conexões firmes e duradouras na manutenção e preservação da natureza e seu potencial. Sobretudo,

na promoção de ambiente propício para agregar a demanda jovem como força de trabalho. É análise

também desse trabalho, a percepção das políticas públicas existentes nas comunidades de

agricultura familiar e, como são pensadas quando o foco central é o jovem. Para essa abordagem, a

metodologia se centralizou em referências bibliográficas interdisciplinares sobre os assuntos e

visitas aos territórios rurais em Minas Gerais. Por conclusão, foi evidenciado que tanto o capital

social qualificado, quanto as redes sociais presentes no campo, podem influenciar positivamente no

desenvolvimento “de baixo para cima” nas comunidades locais e contribuir para a especialização de

produção nesse espaço promovendo assim, uma comunidade forte, unida e independente de

repasses financeiros do Estado. É possível compreender que há relação intrínseca entre

desenvolvimento e cultura no meio rural, bem como, desenvolvimento econômico e social das

comunidades a partir da inserção do jovem nesse espaço através de políticas públicas, e, se são

eficazes ou não para esse processo. Assim, melhor desenvolvimento territorial e social passa pela

especialização, que por sua vez, depende do acúmulo do capital social, que ainda, está associado ao

auxílio do Estado em abrir caminhos no mercado, como também, estabelecer o ordenamento e

possibilidades das redes sociais. Ações que sempre devem levar em consideração os atores locais e

seus conhecimentos diversos. Podemos perceber que o desenvolvimento de baixo para cima

(endógeno), realmente se mostra o mais promissor e adequado para os territórios. Nesse sentido, ao

analisar as abordagens econômicas de desenvolvimento do território é de suma importância que se

leve em consideração os diversos aspectos que compõem a esfera social. Devemos considerar por

fim, que as estruturas sociais são dotadas de costumes e tradições que são passadas de geração para

geração, e muitas das vezes, são muito positivas para construções futuras de uso do espaço e trocas

de experiências, estabelecendo um ambiente propício para o jovem da contemporaneidade.

Portanto, as relações sociais podem também influenciar muito nas construções e percepções do

espaço rural e sua relação com as políticas públicas.

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OS DIREITOS INFANTO-JUVENIS E A MANUTENÇÃO DA CLIENTELA DA JUSTIÇA

JUVENIL

BETÂNIA DE OLIVEIRA ALMEIDA DE ANDRADE

UFF / IBMEC - RJ

O presente trabalho se insere em um conjunto de pesquisas que visam indagar a relação entre

justiça, juventude, criminalidade e violência. Aborda, a partir de revisão de literatura e pesquisa

empírica, a problemática do tratamento concedido aos menores de idade no decorrer de nossa

história. Terá como foco o período de transição, quando houve alteração de uma legislação

menorista, que previa a repressão, por outra que teria por objetivo a proteção integral às crianças e

aos adolescentes. Analisa a construção social da figura do jovem, da criança, do adolescente e do

“menor”. Apresenta como os jovens não são apenas produtores da violência, mas também suas

maiores vítimas. O uso da interdisciplinaridade entre o Direito e outras áreas do conhecimento foi

de extrema importância para o desenvolvimento desta pesquisa, e permitiu vivenciar a

materialização do direito, minorando o referencial dos códigos e das leis, para explicitar e

compreender a realidade social brasileira. O estudo de campo nas Varas da Infância da Juventude

tornou viável a compreensão de como os direitos infanto-juvenis são efetivados, assim como quais

as representações sociais são destinadas aos cidadãos em desenvolvimento. Tanto Jorge da Silva

(2014), quanto Patrice Schuch (2003) chamam atenção para a visão idealizadora e ideológica da lei.

Ambos falam do caráter repressivo das políticas públicas relacionadas aos ‘problemas sociais’ e a

ideia de que as leis são responsáveis pela instauração da disciplina e de que elas por si só

resolveriam o ‘problema social’. Isto se torna claro a partir do processo de promulgação do Estatuto

da Criança e do Adolescente. Nos discursos oficiais, o ECA buscava tornar todas as crianças

sujeitos de direitos, de modo universalista. Entretanto, a promulgação desta lei, sem uma análise

racional se os meios a serem empregados são capazes de atingir os fins almejados, cria uma nova

realidade e uma nova problemática social. A nova legislação, que propunha ampliar a noção de

cidadania para todas as crianças e adolescentes, tornando-os sujeitos de direito, teria como foco

apenas uma parte da sociedade. Por mais que o ECA proponha proteção, é possível afirmar que a

mesma aplica-se de forma relativa. A seletividade punitiva se faz presente, o “menor”, a criança

carente/delinquente, presente nos Códigos de Menores são ainda hoje objetos de intervenção da

justiça infanto-juvenil. Irene Bulcão (2002) chama atenção para o fato de que cada vez mais

podemos associar o termo menor à pobreza. O termo menor estaria relacionado à criança

abandonada, pobre e desassistida, que por vezes resvala para a delinquência. Há uma clara relação

entre vadiagem/ociosidade/indolência e pobreza, bem como entre pobreza e

periculosidade/violência/criminalidade. Por mais que os jovens pobres não representem a totalidade

de jovens que praticam atos infracionais, são estes que ocupam quase a totalidade das vagas do

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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sistema socioeducativo. Vera Malaguti Batista (2003) classifica esses jovens selecionados como

“clientes reais”, do direito penal. Dentre todos os jovens que praticam atos infracionais, distribuídos

por todas as camadas da população, existe uma parcela que sofre controle específico por

corresponder à parte da juventude considerada “perigosa”. A partir do trabalho desenvolvido, foi

possível chegar à conclusão de que para as crianças pobres parece haver um caminho já delineado.

Por mais que crime seja um fenômeno social geral, a criminalidade é fenômeno da minoria.

Segundo Juarez Cirino dos Santos, a criminalidade registrada indica apenas a atividade de controle,

como função de denúncia e perseguição penal. Mas, não indica a extensão real da criminalidade,

integrada, também, pela criminalidade oculta, a chamada cifra negra da criminalidade.

DA MEDIDA PROTETIVA À SOCIOEDUCATIVA: SOBRE OS DIREITOS DOS

ADOLESCENTES QUE CUMPREM MEDIDA SOCIOEDUCATIVA

BIANCA FERREIRA ROCHA

SEDS

O presente trabalho tem o objetivo de promover uma reflexão sobre os direitos dos adolescentes que

cumprem medida socioeducativa e a situação de vulnerabilidade que muitos vivem. As construções

e reflexões sobre este tema surgiram a partir da vivência de trabalho, da autora, no

acompanhamento das medidas socioeducativas de internação e semiliberdade. Os adolescentes que

cumprem medida socioeducativa trazem muitas vezes graves situações de violação de direitos, bem

como dificuldades para superação do contexto que os levaram à prática do ato infracional. As

medidas protetivas e as medidas socioeducativas descritas no Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA), Lei Federal Nº8069/1990 visam resguardar os direitos dos adolescentes e ao mesmo tempo

responsabilizá-los pelos seus atos, uma vez que os considera como sujeitos de direitos e deveres. As

medidas protetivas visam resguardar os direitos fundamentais das crianças e adolescentes e é

aplicada quando os direitos deste público, reconhecidos no ECA, forem ameaçados ou violados, por

ação ou omissão da sociedade ou do Estado; por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis e

em razão da própria conduta. As medidas socioeducativas por sua vez, são imputadas a

adolescentes que cometeram um ato infracional, ou seja, uma conduta descrita como crime ou

contravenção penal. Estas medidas são estabelecidas para os adolescentes por serem estes

considerados inimputáveis, exigindo uma reposta ao ato cometido através da responsabilização.

Estas duas medidas aparecem muito imbricadas no contexto das medias socioeducativas, uma vez

que os adolescentes em conflito com a lei apresentam situações graves de vulnerabilidade social, já

tendo vivenciado situações de violência, uso de drogas, abandono da escola e vivendo em situações

de muita precariedade. Desse modo, não raro percebemos que as políticas públicas de garantia de

direitos não atuaram no sentido de garantir a proteção destes adolescentes, ou seja, as medidas

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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protetivas falharam em sua aplicação e execução. Tais fatores são responsáveis em grande medida

para o envolvimento do adolescente com a atuação infracional. O fortalecimento de políticas

públicas para adolescentes com o intuito de garantir os direitos fundamentais destes, conforme

propõe o ECA, se apresenta como um fator protetivo para o envolvimento dos adolescentes com a

criminalidade. Assim sendo, é necessário mais ações que possam fortalecer e integrar políticas

públicas de assistência social, educação e segurança para que o Estatuto da Criança e do

Adolescente possa cumprir o seu objetivo de proteção aos adolescentes.

TRABALHO, EDUCAÇÃO E CAPITALISMO: INTER-RELAÇÕES COM O

ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

CAIO CESAR SILVA NASCIMENTO

CEFET – MG

CO-AUTORA: MARIA APARECIDA DA SILVA

A pesquisa propõe discutir sobre as seis medidas socioeducativas para adolescentes (advertência;

obrigação de reparar o dano; prestação de serviços à comunidade; liberdade assistida; inserção em

regime de semiliberdade e, internação em estabelecimento educacional) e as inter-relações com o

sistema capitalista, a educação e o emprego. Atualmente, o trabalho e a educação são discursos

frequentes na socioeducação, e as práticas pedagógicas são pautadas pela inserção no emprego e na

descoberta profissional dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa. O emprego

visto no imaginário social como salvação dos problemas sociais da adolescência em conflito com a

lei pode contribuir para as justiças sociais, como também pode proporcionar projetos de vida

alienados e conformados ao capitalismo vigente. O que se indaga é: qual concepção de trabalho

encontra-se nas políticas públicas para socioeducação brasileira? A presente pesquisa abarca a

historicidade do “menor infrator” e os percursos de dignificação do trabalho no desenvolvimento

societário nacional, para dialogar com os programas de educação profissional básica na medida

socioeducativa. Para alcançarmos os objetivos da pesquisa, estão sendo realizadas buscas por

documentos legais como o Código de Menores (1927), o Estatuto da Criança e do Adolescente

(1990), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996), o Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativa (2012) e também documentos recentes ligados à educação profissional e tecnológica

no que tangue o sistema socioeducativo, à educação e o emprego. Para a discussão sobre o sistema

capitalista, é importante nesta pesquisa ir aos clássicos Karl Marx e F. Engels, e a autores

contemporâneos que utilizam o materialismo histórico dialético para compreender os movimentos

históricos e sociais da temática educação e emprego. Essa pesquisa contribui para a associação

necessária do adolescente em cumprimento de medida socioeducativa e a sociedade capitalista na

qual vivemos. O ato infracional e a operacionalização da medida socioeducativa tem estreitas

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ligações ao capitalismo. O cárcere, a reclusão, a privatização da socioeducação e a atuação

profissional que se propõem nesses espaços, ressaltam uma sociedade marcada e impulsionada pela

meritocracia, pelo neoliberalismo e pela falta de noção e responsabilização, do que é público e do

que é privado na socioeducação. Pretende-se discutir sobre os interesses e as contribuições do

capitalismo para a socioeducação. Nesse sentido, relaciona à adolescência marginalizada ao

emprego e ao trabalho na contemporaneidade. Por meio das buscas preliminares, nos documentos

legais e no banco de teses e dissertações da CAPES, nota-se a escassez de pesquisas que relacionam

o adolescente em conflito com a lei com o capitalismo vigente, como fenômenos isolados e

excludentes na sociedade. A presente pesquisa busca algumas dessas relações e a amplitude da

temática.

QUE SIGNIFICA A CIDADANIA PARA A JUVENTUDE?

DAVI MENDES CAIXETA

PUC-SP

O que é cidadania? Uma primeira resposta a essa pergunta afirma que a cidadania é um importante

direito, um dos direitos fundamentais, assegurado constitucionalmente pelos diversos ordenamentos

jurídicos da atualidade. A cidadania possui um significado tão fundamental que tem sido arrolada

nas diversas declarações sobre os direitos humanos. Ela também é frequentemente afirmada como

um direito basilar das sociedades modernas e, como um direito fundamental, tem as características

de ser universal, irrenunciável e inalienável. Por causa dos diversos problemas quanto à afirmação

dos direitos humanos na atualidade, a cidadania tem sido elencada numa posição de mais

importância ainda. Recentemente, alguns pensadores têm entendido que ela deve ser considerada

não somente como mais um dos direitos humanos, mas deve ser compreendida como um princípio

imprescindível para a afirmação de todos os demais direitos humanos: a cidadania é o direito a ter

direitos. Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo primeiro, reconhece a

cidadania como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. Para a efetivação desse

princípio, a própria Constituição, no Capítulo IV que versa sobre os direitos políticos, estabelece os

critérios para o exercício das cidadanias ativa e passiva, assim como os casos em que o exercício da

cidadania pode ser restringido. No entanto, essa compreensão de cidadania como um direito político

encontra um sério questionamento quando se depara com a situação dos jovens brasileiros,

sobretudo daqueles que ainda não podem exercer seu direito de votar e ser votado. Retoma-se,

então, a pergunta principal dessa reflexão com foco para o caso dos jovens: o que é cidadania para a

juventude? Para os jovens brasileiros, a cidadania, como um princípio fundamental e também como

um exercício dos direitos políticos, requer uma reflexão mais cuidadosa. Muitos jovens, mesmo que

ainda não possam exercer seu direito ao voto, precisam ter assegurados alguns direitos básicos,

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como a saúde e a educação. Mesmo que os jovens ainda não possam exercer sua cidadania ativa ou

passiva, eles continuam sendo cidadãos brasileiros, sujeitos dos mais diversos tipos de direitos,

sobretudo dos direitos humanos. Assim, a cidadania, como um princípio para a efetivação dos

demais direitos fundamentais, precisa ser considerada independente de um jovem poder ou não

exercer seu direito ao voto. Dessa forma, o presente trabalho se propõe a fazer uma reflexão sobre a

relação entre cidadania e juventude, indagando sobre o significado de cidadania, seja como um

princípio e seja como um direito político, considerando-a especificamente para o caso da juventude.

A metodologia a ser utilizada é uma análise dos preceitos constitucionais brasileiros que tangem

essa temática, sua formulação e também as diversas compreensões sobre cidadania.

ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS/PSICOSSOCIAIS COMO AÇÃO EDUCATIVA:

EXPERIÊNCIAS JUNTO AOS ADOLESCENTES E JOVENS ATENDIDOS NO

PROGRAMA DE CONTROLE DE HOMICÍDIOS FICA VIVO!

LILIANE DA CONCEIÇÃO ROSA DA SILVA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

O objetivo desta comunicação é refletir sobre o caráter educativo inerente aos atendimentos

individuais realizados junto a adolescentes e jovens de 12 a 14 anos no âmbito do Programa de

Controle de Homicídios Fica Vivo, o qual é desenvolvido no bojo da política de prevenção à

criminalidade executada desde 2003 no estado de Minas Gerais. As análises baseiam-se na

experiência de trabalho e nas observações da autora enquanto técnica social do Fica Vivo no bairro

Palmital, território localizado em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, MG.

Tem-se como referencial teórico os apontamentos de Bernad Charlot (2015), autor para o qual a

Educação configura-se como cerne da constituição do humano, enquanto ser social e histórico. Por

atendimentos individuais, outrora psicossociais, o Programa Fica Vivo nomeia as intervenções que

as equipes técnicas multidisciplinares realizam junto às adolescentes e aos jovens que compõe o

publico alvo do programa, principalmente quando estes se encontram em situação de risco iminente

em função dos contextos de violência e/ou criminalidade que os envolvem. Baseado em uma escuta

atenta e na articulação entre elementos de ordem social e subjetiva, o caminho percorrido nestes

atendimentos, parte das especificidades sustentadas pelo adolescente ou pelo jovem e visa conduzi-

lo a processos reflexivos sobre sua trajetória e sobre os comportamentos de risco que podem levá-lo

à restrições de direito ou à morte. Observando os condicionadores atrelados aos contextos sociais,

econômicos, institucionais e territoriais, os atendimentos individuais do Fica Vivo orientam-se,

metodologicamente, por uma perspectiva de estímulo ao grau de autonomia que os sujeitos

atendidos possuem. É neste escopo que podem ser lidos como processos educativos, pois tratam-se

de experiências dialógicas em que conteúdos, valores e crenças sociais, atrelados ou não à condição

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juvenil, são evocados, significados e/ou ressignificados a partir da fala do adolescente ou do jovem

e da escuta e intervenção empreendidas pelas equipes técnicas. Com vistas ao desencadeamento de

processos reflexivos que sejam plenos de sentido para o sujeito atendido, cabe ao técnico social

trabalhar para que o discurso proferido pelo adolescente ou pelo jovem configure-se como um

substrato acessível e familiar que, estrategicamente problematizado, auxilie este adolescente ou

jovem na produção ativa e internalizada de novas leituras e cursos de ação que lhe permitirão

proteger-se dos riscos aos quais se encontra exposto. Dialógica, esta experiência constitui-se como

formativa quando possibilita ao sujeito atendido acrescentar elementos ao arcabouço de sentidos

com o qual define suas escolhas. Em termos metodológicos, prima-se para que não haja, por parte

da equipe técnica, uma transmissão direta e intencional de suas visões de mundo ou de conteúdos

morais como, por exemplo, a valorização da dignidade inerente à vida ou a condenação de práticas

como o homicídio. Contudo, por serem construções sociais amplamente difundidas, alguns destes

conteúdos são paulatina e, por vezes, conflituosamente desvelados no processo de elaboração

desenvolvido pelo jovem ou pelo adolescente em atendimento, pois o inédito que este constrói para

si mostra-se, geralmente, semelhante à resposta de outros que vivenciaram o mesmo tipo de

situação. Vê-se desenvolver, então, uma apropriação individual de conteúdos sociais comuns, tal

como descrito por Bernard Charlot quando este afirma ser a Educação o processo tripartite de

humanização, socialização e individualização pelo qual o humano é construído em cada sujeito que

acessa e internaliza os signos e significados de um mundo preexistente. Para o Fica Vivo, trata-se

de auxiliar adolescentes e jovens em situação de risco a encontrarem suas próprias respostas em

relação aos contextos em que se encontram inseridos. Neste sentido, pode-se compreender que a

relação estabelecida entre técnicos e atendidos é, primordialmente, uma relação educativa, na qual o

pano de fundo é a construção do humano junto a adolescentes e jovens.

O MOVIMENTO #OCUPAESCOLA E A MÍDIA: VISÕES DICOTÔMICAS

RAIMUNDO JUSTINO DA SILVA

ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

O presente trabalho tem como objetivo central apresentar a forma como os diferentes canais de

notícias irão tratar a mobilização dos jovens estudantes da rede estadual de ensino de São Paulo,

intitulada #OcupaEscola. Para isso, utilizaremos dois exemplos comparativos, o jornal Folha de São

Paulo, e a agência de notícias Jornalistas Livres. A partir da descrição e análise dos fatos históricos

ocorridos, ao longo da segunda metade de 2015, na rede estadual de ensino de São Paulo, isto é, a

“proposta” de reorganização escolar, mostraremos como foram as reações dos estudantes e a

cobertura da mídia tradicional e da mídia alternativa. Em setembro desse ano, o governo do estado

de São Paulo anunciou uma ação como parte de sua política pública educacional: a denominada

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reorganização das escolas do estado. O até então secretário da educação Herman Voorwald, foi a

um telejornal matutino anunciar as bases da reorganização. Segundo o secretário, a proposta de

reorganização visava à separação dos alunos em ciclos, criando escola de Ensino Fundamental e

Ensino Médio, separadas. As justificativas basearam-se em premissas de que, a separação de alunos

mais novos dos mais velhos facilitaria o trabalho pedagógico. A exposição não foi acompanhada de

nenhum estudo ou dado estatístico, que comprovasse tal afirmação. Além disso, outro critério

utilizado pelo secretario foi a ociosidade de algumas escolas onde, ao longo dos anos, a rede

estadual teve a quantidade de alunos matriculados reduzida. Dias após essa declaração, anunciada

por meio de um telejornal de grande audiência, a Secretaria Estadual da Educação (SEE) iniciou o

anúncio do fechamento de 90 escolas, além do remanejamento de alunos. Quanto aos professores e

demais funcionários das unidades escolares envolvidas, o futuro era incerto, uma vez que nenhum

plano prévio fora apresentado aos envolvidos, o que demonstrou que tratava-se de uma proposta

verticalizada, que desconsiderou toda a importância do diálogo, do planejamento e da participação

democrática de alunos, pais e professores. Diante de tal quadro, os estudantes da rede estadual

iniciaram um processo de mobilização, para tentar dar visibilidade à questão e reverter à ação da

SEE. Em poucos dias, uma série de ocupações foram realizadas em diversas escolas, chegando à

casa dos três dígitos, sendo 200 ao final do mês de novembro. A pouca repercussão dos meios

tradicionais de comunicação e a imagem depreciativa passada pelos principais jornais, despertou na

opinião pública a reprovação à atitude dos alunos. Poucos meios se dedicaram a transmitir os fatos

de forma a dar visibilidade aos jovens mobilizados. Entre eles, o grupo intitulado Jornalistas Livres.

O trabalho irá analisar a forma como cada meio irá noticiar os fatos, buscando entender por meio

dos textos, o discurso por trás de cada notícia. Como metodologia para desenvolvimento da

pesquisa, estabelecemos três etapas para este estudo: a) descrição dos pronunciamentos públicos do

secretário e de seus assessores, e análise dos documentos que embasariam o plano da S.E.E.; b) a

mobilização opositora dos estudantes e a amplitude do movimento; e, c) o tratamento dado pelos

meios de comunicação, estabelecendo uma leitura crítica de dois canais de comunicação, o jornal

Folha de São Paulo e o canal de notícias Jornalistas Livres. Como aparato teórico, a análise da

pesquisa se apoiará nos autores e trabalhos voltados aos Estudos Culturais e a análise dos meios de

comunicação de massa. Nesse sentido, o trabalho terá como base a leitura de obras de Stuart Hall,

Raymond Williams e E. P. Thompson, além de outros autores necessários à análise da pesquisa.

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EFEITOS E DESCONTINUIDADES NOS PROGRAMAS QUE AMPLIAM O ACESSO

DOS JOVENS AO SISTEMA SUPERIOR DE ENSINO

YASMIN DE MORAES BORGES

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CO-AUTOR: EDUARDO SILVA DOS SANTOS

O presente trabalho busca sinalizar um avanço no campo das políticas públicas de juventude no

contexto pós década de 2000, buscando refletir sobre os conceitos de juventude e seus

entendimentos sociais, o que claramente acaba por marcar o caráter das políticas públicas

desenvolvidas dentro de cada contexto. Com um olhar voltado para os diversos enfoques que essas

políticas expressam e sendo este período, especialmente, marcado por um momento de transição

entre um governo neoliberal para um governo de centro-esquerda social. Buscamos analisar esse

processo com o intuito de enriquecer o debate sobre as políticas públicas de juventude no Brasil.

Abordaremos de forma ampla a implementação destas políticas e seus impactos na sociedade

contemporânea, particularmente no âmbito educacional. Desta forma, apresentaremos alguns

conceitos do estudo das juventudes buscando trazer suas questões fundamentais que os constituem

como sujeitos singulares de demandas específicas, daí a necessidade de políticas públicas

direcionadas a resolução desses problemas que os afetam enquanto grupo, ao mesmo tempo que não

escondem suas singularidades de sujeitos. A maneira como estas políticas públicas se articulam

com as demandas sociais auxiliaram na expansão de diversos segmentos educacionais, em especial

o ensino superior que é o objeto desta análise. Com a expansão do Ensino Médio e o grande número

de egressos da Educação Básica, principalmente na faixa etária de 18 a 24 anos, percebeu-se a

necessidade da expansão do ensino superior, o que posicionou o governo a pensar políticas públicas

para atender a esse público, nesse contexto foram criados dois programas para que essa expansão

fosse possível – o PROUNI e o REUNI. Ao mesmo tempo, os dois programas comungam e

divergem entre si na sua dinâmica de aplicação, trazendo diversos debates sobre os limites entre a

esfera pública e privada, porém ambos trazem no horizonte a ampliação do acesso. Por fim,

trataremos de uma breve análise dessas duas políticas, seus aspectos e contribuições para a

juventude, no que tange o acesso ao Ensino Superior a uma parcela, que anteriormente, tinha esse

direito negado, pensando também até que ponto essas políticas estão cumprido este objetivo e estão

sendo fiscalizadas e avaliadas, para que assim, além do acesso seja garantida a permanência para

esses sujeitos jovens no Ensino Superior brasileiro.

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56

GT 4

TRAJETÓRIAS JUVENIS, SOCIABILIDADES E PROJETO DE VIDA

Coordenação:

Dr. Márcio Amaral; Dr. Maurício Perondi

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CULTURA COMO PROCESSO SÓCIO-HISTÓRICO E CULTURAS JUVENIS:

ELEMENTOS PARA REFLEXÃO ALCIMAR ENÉAS ROCHA TRANCOSO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CO-AUTORA: ROSEMEIRE REIS

Análises sociais tendo a questão cultural como ponto de partida no esforço compreensivo de si e do

outro se fortalecem em várias frentes. A cultura aparece aí como objeto de estudo propriamente dito

e chave explicativa para compreensão dos processos psicológicos humanos. Pode ser pensada como

elemento identitário amplo de determinado grupo social, e também como partes relativamente

autônomas de um todo ou mesmo como fragmentos multifacetados possuindo pedaços de diversos

universos sociais. A cultura é uma produção humana de dupla fonte, sendo ao mesmo tempo

produto da vida e da atividade social do homem que, mesmo parte da natureza, supera seu

determinismo próprio pelo artifício da cultura que ele mesmo inventa, pela concretização da ideia

que dirige a ação. Ação esta, criadora que confere uma forma simbólica à matéria e uma forma

material ao simbólico, posto que as produções que reúnem as características que conferem o

"sentido humano ao homem" são produções culturais, cujos componentes advém da natureza e do

homem, um material e outro simbólico, implicando funções psicológicas e culturais. A expressão

‘cultura’ como identificadora final de determinado grupo deve sempre ser considerada como

portadora de uma realidade inscrita no movimento mutatis mutandi. Não é possível observar um

padrão equilibrado e rítmico na definição e estabelecimento daquilo que é observável e estabelecido

como a cultura de determinado povo/grupo, pois, se em dados momentos as pessoas dão a entender

que se orientam para um fim específico, em outros tangenciam seu percurso impossibilitando

previsão do que virá a seguir. Não há como diferenciar e hierarquizar as manifestações culturais,

esta ou aquela forma de estar no mundo. As relações, as formas de vivenciar a individualidade, os

recursos e os significados atribuídos a esse conjunto de coisas em si mesmas e às relações

estabelecidas com e entre elas e por elas proporcionadas, são o que são não por maior ou menor

criatividade dos grupos sociais e dos atores no exercício destas relações, mas de estilos de

criatividade, manifestações possíveis da relação dialética entre a invenção e a convenção. Pensar em

culturas juvenis como parte da complexa sociedade contemporânea que se estrutura cada vez mais

nas grandes cidades em todo o planeta, configura-se em uma forma importante de analisar a

sociedade contemporânea, posto que pode funcionar como uma espécie de lente de aumento e

síntese da sociedade, seu retrovisor e periscópio. São alvo de investida paradoxal: a padronização

de gostos e a busca por convencer as pessoas de que é a sua individualidade que trará a

exclusividade em possuir, ou consumir algo, que outras tantas milhões de pessoas também o fazem.

Contudo, uma das características da contemporaneidade é o múltiplo atravessamento vivenciado

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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pelas pessoas. Ainda que se busque homogeneidade, há pontos de desconexão que as culturas

juvenis se estabelecem menos como reprodutoras e mais como processadoras daquilo que advém da

cultura ortodoxa. O estudo das culturas juvenis como locus de pesquisa se converte em um potente

espaço para a medição de indicadores de desenvolvimento social e da dinâmica cultural, podendo

ser consideradas não como processos de socialização direta por uma cultura dominante, mas como

performances quotidianas, ou seja, a produção de cultura no dia a dia, individual e grupal. É nesse

ambiente de pluralidade cultural que se concretiza as possibilidades da potência humana trazida.

São atravessados pelas tentativas de homogeneização a partir da concepção das pessoas como sendo

mais consumidoras do que produtoras de cultura, produzem tácita ou conscientemente uma

resistência fortalecida pelas múltiplas conexões possibilitadas nos movimentos migratórios, pela

ampliação da rede local e não local de relações, e protagonizam o fortalecimento cada vez maior do

virtual como espaço do real.

JUVENTUDE E CONTEMPORANEIDADE: TRANSIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO

PARA A ADULTICE

CLÁUDIO MÁRCIO DE ARAÚJO

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

A presente proposta é parte de uma investigação teórico-empírica, em desenvolvimento, que tem

como ponto de partida e princípio compreensivo da realidade psicológica a relação dialógica entre

experiência pessoal e coletiva na constituição da subjetividade – o self. O estudo objetiva ampliar a

compreensão ideográfica da juventude, partindo dos fundamentos da epistemologia dialógica e da

Psicologia Cultural do Desenvolvimento. A perspectiva dialógica em psicologia destaca o caráter

contextual, situado, complexo e dinâmico da construção do sujeito, resultado de sua relação

dialogada e ativa com ele mesmo, com os outros e com a realidade, por meio de práticas sociais e

contextos institucionais específicos. Por sua vez, a Psicologia Cultural do Desenvolvimento nos

orienta na reflexão sobre o funcionamento cultural da pessoa destacando o papel constitutivo da

cultura nos processos psicológicos humanos. É por meio de processos de construção e uso dos

signos que novos fenômenos psicológicos emergem, mediante uma constante fabricação de

significados na compreensão e relação da pessoa com o contexto cultural. Mente e cultura se fazem

processos constituintes numa separação inclusiva, vistos como gênese e produto um do outro.

Abordando um contexto de desenvolvimento singular: a experiência vocacional religiosa, a

investigação ainda busca compreender transições de desenvolvimento na linha do tempo de vida

dos participantes. Juventudes, como fenômenos humanos, são marcadas por mudanças psicossociais

que afetam a pessoa na formação dos sentidos de si. O jovem participa de negociações, onde uma

ampla pauta de reconstruções identitárias é sugerida, por transformações biológicas e por

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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transformações nas relações sociais. Pesquisar processos desenvolvimentais na transição da

juventude para a vida adulta justifica-se pela importância de compreender a participação destes

sujeitos, como parceiros sociais, na construção sociocultural, bem como na constituição e

negociação de suas posições identitárias. O estudo segue a epistemologia qualitativa e parte da ótica

dos próprios participantes para discutir suas concepções de si e investigar negociações identitárias;

processos de regulação semiótica; e trajetórias de desenvolvimento. Os participantes são jovens de

ambos os sexos, brasileiros, com idade entre 18 e 24 anos, vocacionados à vida religiosa/sacerdotal.

A pesquisa tem contribuído com a investigação e o aprofundamento de reflexões acerca de uma

entre as inúmeras transições psicossociais que marcam a linha de desenvolvimento ontogenético, a

que se refere à passagem da adolescência para a juventude e desta para a adultice na

contemporaneidade. Estas transições psicossociais são discutidas como fenômenos dialógicos,

socialmente datados e historicamente configurados, acontecendo na interdependência dos contextos

socioculturais.

JUVENTUDES E IDENTIDADE RELIGIOSA: DESAFIOS PEDAGÓGICO-PASTORAIS

CLEBER DE OLIVEIRA RODRIGUES

GRUPO MARISTA

O presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados parciais de uma investigação sobre o

perfil religioso de adolescentes e jovens de uma Unidade Social Marista, em vista do

desenvolvimento de uma ação pastoral mais efetiva. Com base numa pesquisa qualitativa realizada

in loco, foi possível esboçar o perfil religioso dos adolescentes e jovens bem como sua

compreensão e vivência da religião em âmbito familiar e comunitário. A análise de dados e a

sistematização das informações são abordadas a partir de considerações sobre juventude, identidade

e religião tendo como apoio a proposta explícita na Missão Educativa Marista. Estes conceitos

complexos expressos na relação cotidiana da unidade educativa necessitam ser aprofundados e

postos em prática de maneira sistemática, para que haja uma sinergia nas ações, o que possibilita

avanço e efetividade na metodologia de aproximação e na linguagem, pontos chave no diálogo

pastoral com adolescentes e jovens. A partir de informações dadas pelos estudantes, foi possível

compreender os reais desafios pedagógico-pastorais no sentido de colocar em prática as

prerrogativas da missão institucional. Como ação educativa dentro de um processo de formação

integral, essa investigação se propõe a abrir uma discussão na perspectiva do diálogo ecumênico e

inter-religioso, sobre a identidade religiosa juvenil e seus desafios pedagógico-pastorais. No que se

refere à adolescência e juventude, buscamos apoio teórico em Freitas (2005) e Castro e Abramovay

(2005); na abordagem de religião, diálogo inter-religioso e ecumenismo nos embasamos em Küng

(1986, 1999 e 2004); por fim, tomamos a Missão Educativa Marista como referência institucional.

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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Do conjunto dos dados foi possível destacar uma forte tendência em reconhecer a importância em

ter uma religião; boa parte dos adolescentes e jovens frequenta as igrejas acompanhados de seus

responsáveis, sobressaindo a figura feminina nesse acompanhamento; e relatam que já se sentiram

discriminados por sua religião. A maioria dos entrevistados acredita que os valores institucionais

apresentados os fazem pessoas melhores e ativas com eles mesmos, com os outros e com a

realidade, por meio de práticas sociais e contextos institucionais específicos.

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS, PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO E A

CONSTRUÇÃO DE PROJETOS DE VIDA COM ADOLESCENTES

DAYANE SILVA RODRIGUES

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

O objetivo desta comunicação é discutir a utilização do Plano Individual de Atendimento (PIA)

como possível ferramenta de mediação na construção de projetos de vida para adolescentes em

cumprimento de medidas socioeducativas. O PIA constitui-se em uma exigência procedimental

disposta na Lei do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) (Lei nº 12.594,

2012). Tal como se afirma no artigo 52 da referida legislação, o plano é um instrumento de

previsão, registro e gestão das atividades a serem desenvolvidas com o adolescente em situação de

cumprimento de medidas socioeducativas (Art.112, incisos I a VI, Lei n. 8.069, 1990). Trata-se,

portanto, de um procedimento que se operacionaliza por meio do atendimento socioeducativo ao

adolescente e seus familiares, realizado pelos técnicos de referência, cujo produto é um documento

composto por objetivos, metas, ações, prazos e responsáveis. Atualmente, no Distrito Federal, no

processo de elaboração do PIA, é adotado um modelo de questionário fornecido pela Secretaria

Nacional de Direitos Humanos, por meio de um sistema informatizado de cadastramento de dados.

Neste trabalho, analisamos o formulário citado e alguns modos de utilização que têm sido

empregados por profissionais que executam as medidas socioeducativas de liberdade assistida e

prestação de serviço à comunidade em uma das unidades de atendimento do Distrito Federal. Como

principais resultados, destacam-se: as dificuldades de preenchimento do formulário fornecido pelo

sistema eletrônico, a ausência de envio ou não cumprimento de prazos no encaminhamento dos

documentos de PIA para a Vara da Infância e Juventude e a reflexão dos profissionais sobre a

finalidade do procedimento de construção do PIA. Por fim, o trabalho faz uma discussão sobre uma

necessidade de apartação entre dois elementos essenciais que estão envolvidos na produção de

planos de atendimento. São estes: 1) o procedimento de elaboração do PIA como mecanismo de

mediação da construção de projetos de vida por parte dos adolescentes; 2) o formulário que é

adotado nessa elaboração, em conjunto com o documento que é enviado à Vara da Infância. Sem

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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pretender ser conclusiva, como considerações a comunicação aponta algumas sugestões para a

implementação dos PIAS no cotidiano de atendimento socioeducativo.

CONSCIÊNCIA DE SI E SOLIDÃO NA ERA DA IMAGEM

EDNALDO DE OLIVEIRA SANTOS

FACULDADE JESUÍTA DE FILOSOFIA E TEOLOGIA

Esta Comunicação pretende apresentar um aporte acerca do narcisismo na juventude

contemporânea na perspectiva filosófica espiritual de Louis Lavelle. Trabalhará o problema da

consciência de si pondo em evidência as armadilhas do amor próprio, fazendo uma analogia com o

mito de Narciso e a consequência de se pensar um ser humano livre, capaz de escolher. Espera-se

com essa Comunicação, partindo da pesquisa metodológica e da pesquisa de campo acerca do tema,

contribuir com reflexões conscientes sobre a dimensão narcísica da personalidade juvenil como

tendência a olhar para si mesma, a preocupar-se antes de tudo com sua própria imagem. É preciso

que a consciência tome consciência dela mesma como do cimo de sua alma, e assim estabeleça um

diálogo entre o eu e a alma.

ADOLESCÊNCIA E CONDUTAS DE RISCO: A MORTE COMO POSSIBILIDADE DE

VIDA

EDUARDO LOPES SALATIEL

UEMG

O Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) foi criado, no

ano de 2003, como mecanismo de enfrentamento ao crescente número de homicídios juvenis,

verificado desde meados dos anos 1980. Só no período de 2002 a 2012, segundo o Mapa da

Violência 2014, mais de 300 mil jovens brasileiros foram assassinados, superando o número de

mortes relacionadas a diversos conflitos armados ao redor do mundo. O trabalho do PPCAAM

consiste em retirar crianças e adolescentes (acompanhados do núcleo familiar) do local onde se deu

a ameaça de morte, encaminhá-los a local seguro e providenciar acesso à rede de atendimentos em

saúde, educação, assistência social, trabalho, cultura e lazer. Esse é o contexto em que buscamos

discutir a relação entre adolescência e as chamadas condutas de risco a partir do caso de um

adolescente ameaçado de morte protegido pelo PPCAAM/MG. As condutas de risco, no

entendimento do sociólogo e antropólogo francês David Le Breton, vão muito além da suposta

irresponsabilidade constitutiva das juventudes, mas se constituem como verdadeiras estratégias de

reposicionamento do sujeito diante do mundo e da vida, a partir de um jogo, real ou simbólico, com

a morte. A partir dessa perspectiva, procuramos discutir em que medida a experiência de morte

pode ensejar novos projetos de vida e, a partir do caso supracitado, avaliar a importância das

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políticas públicas endereçadas aos jovens, tendo em vista o papel cumprido pelo PPCAAM/MG na

trajetória de vida do adolescente protegido. Para tanto, lançamos mão da observação participante e

de entrevista semiestruturada para constituição de um estudo qualitativo. As conclusões permitem

visualizar, na trajetória de vida do adolescente em questão, que a experiência de morte – vivenciada

por ele durante um acidente automobilístico, quando conduzia uma motocicleta sob o efeito de

drogas – cumpriu uma espécie de ritual de passagem, garantindo a ele condições de se colocar em

outra perspectiva diante do mundo, ressignificando seu projeto de vida. Isso só foi possível,

entretanto, na medida em que foi amparado por uma política pública que, como sugere seus relatos,

foi muito além do puro assistencialismo. Ela possibilitou a ele condições de moradia (cuja

representação de “proteção” é bastante significativa), a vivência de novas experiências e mesmo a

relativização de determinados valores, garantindo a necessária segurança para alçar novos vôos

existenciais. Em outras palavras, foi de extrema importância, nessa janela que se abriu na sua

trajetória, a existência de um programa que compreende a condição especial de desenvolvimento,

característica da adolescência, e que foi capaz de mobilizar diferentes recursos durante o

acompanhamento.

TRANSIÇÕES PARA VIDA ADULTA: DESAFIOS VIVIDOS POR JOVENS DA CIDADE

DE SÃO PAULO

FERNANDA ARANTES E SILVA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Nesta comunicação pretendo apresentar resultados parciais da pesquisa de doutorado em curso

intitulada "Transições para a vida adulta: desafios vividos por jovens da cidade de São Paulo". Esta

pesquisa interessa-se por investigar os processos das transições para a vida adulta realizada por

jovens moradores da cidade de São Paulo. Visa contribuir para o entendimento sociológico dessa

passagem estudando jovens com idade entre 25 e 29 anos, que participam ou tenham participado de

grupos e/ou coletivos juvenis. Pretende compreender como a participação nessas formas de

associação afeta os processos de transição para a vida adulta e, ao mesmo tempo, como se processa

os modos de ação coletiva dos jovens uma vez instaladas experiências mais expressivas da vida

adulta, como nascimento dos filhos, casamento, saída da casa dos pais. Além disso, pretende

identificar, na sociedade atual, os desafios comuns vivenciados pelos sujeitos jovens para realizar a

transição e os modos como essas provas comuns são enfrentadas de modos diversos por eles,

analisando as diferenças de classe, raça e gênero.

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NA ESCOLA E NAS REDES SOCIAIS: UM JEITO JOVEM DE PRODUZIR RÁDIO

FRANCISCA JOELINA XAVIER

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Nos últimos anos o avanço tecnológico tem proporcionado transformações nos meios de

comunicação possibilitando mudanças no âmbito cultural, social, econômico e político, dentre os

sujeitos afetados estão os jovens. Para Canclini (2009) os jovens atuais são a primeira geração que

cresceu com a televisão em cores e o vídeo, o controle remoto, o zapping e – uma minoria- com o

computador pessoal e a internet. (p. 216). Ao abordar sobre campos culturais ou mercado no livro

“Leitores, espectadores e internautas”, Canclini (2008) revela que “a escola vê reduzir-se sua

influência: primeiro a mídia de massas e, recentemente, a comunicação digital e eletrônica

multiplicaram os espaços e circuitos de acesso aos saberes e à formação cultural. Dayrell (2007), no

artigo “A escola faz as juventudes: reflexões em torno da socialização juvenil” afirma que “os

jovens chegam as escolas públicas, na sua diversidade, apresenta características próprias, práticas

sociais e um universo simbólico próprio que o diferenciam e muito das outras gerações”. Nesta

perspectiva, o artigo está ancorado à linha de pesquisa denominada Diversidade Desigualdades

Sociais e Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal

Fluminense e teve como objetivo principal compreender o significado para os jovens de produzir

rádio em uma escola pública. Significa compreender como eles elaboram as suas vivências em

torno de um jeito de fazer rádio na escola e os significados que lhe atribuem a pesquisa qualitativa

com caráter etnográfico foi realizada no período de fevereiro de 2014 a dezembro de 2015, na

Rádio CEAL com sede no Colégio Estadual Aurelino Leal, no município de Niterói-RJ. Os

instrumentos de coleta de dados utilizados foram a observação participante aberta, diário de campo

e entrevista. As observações e registros no diário de campo foram realizados nos momentos de

reuniões de planejamento de pautas e programações; encontros de jovens na sede da rádio;

momentos de horários de intervalos nos turnos manhã e tarde no pátio, na quadra e no auditório. E

as entrevista individuais foram realizadas com seis jovens participantes do grupo da rádio, sendo

cinco homens e uma mulher. Foi possível evidenciar nos discursos dos jovens que o horário de

intervalo da escola é o momento em que se percebem enquanto sujeitos protagonizadores de ações

culturais no ambiente escolar; ao identificarem a rádio como espaço significativo para desenvolver

suas habilidades apreendidas no cotidiano comunitário, familiar e escolar, os jovens configuram o

pátio da escola como o “pedaço juvenil”. Ao fazerem rádio na escola, além de possibilitar para os

jovens produzirem formas de expressão e comunicação com seus pares, contribui para a formação

de sujeitos ativos e críticos.

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AS JOVENS DANÇARINAS DE FUNK: PRODUÇÃO DO CORPO, GÊNERO E

SEXUALIDADE

FRANCISCA LIDIANE ARAÚJO DE SOUZA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

As mudanças culturais, associadas às inovações tecnológicas, têm possibilitado modificações e

reconstrução do corpo, transgressão de fronteiras sexuais e de gênero. O corpo juvenil anuncia

novidades, formata estilos, produz desejos e necessidades, cria resistências. Por outro lado, a mídia,

a família, a escola impõem linguagens corporais, limitam, uniformizam, incentivam padrões

estéticos, geram formas de identificação que disciplinam e controlam o corpo das jovens mulheres.

Esse paradoxo incentiva a compreender a relevância que o corpo e a sexualidade exercem na

linguagem corporal expressa na dança das jovens mulheres de um grupo de funk e entender como

essas jovens percebem as questões de gênero e sexualidade no funk. A pesquisa qualitativa é

desenvolvida com mulheres jovens de um grupo de funk e utiliza entrevistas, observação e grupos

de discussão. Percebe-se a demarcação de gênero na linguagem corporal do funk, uma vez que a

dança das jovens tem sido símbolo de erotização e desvalorização do corpo das mulheres, o que não

ocorre com os rapazes. Como essas jovens vivenciam e produzem o corpo nas suas relações com a

dança? Como ocorrem os processos de diferenciação e hierarquização da dança no que se refere a

gênero e sexualidade? E como essas jovens percebem esses processos?

BECOS, BRECHAS, FAVELAS: OS CORRES DE JOVENS PRODUTORES CULTURAIS

DE TERRITÓRIOS POPULARES

GILBERTO VIEIRA

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Esta dissertação relata e busca interpretar táticas de produção cultural realizadas por dois jovens

moradores de periferias do Rio de Janeiro, tendo como campo de investigação seus territórios de

moradia e circulação na cidade. Foram feitas escutas sobre percursos biográficos e observações com

olhar atento sobre trabalhos de produção cultural. Movimentos culturais juvenis contemporâneos

estabelecem redes e ações políticas e culturais de novo tipo no espaço público. Percebe-se que as

redes de relacionamentos, as conexões culturais e políticas produzem configurações sociais nos

territórios populares e incidem sobre os processos de individuação e transição para a vida adulta. Os

jovens atores sociais moradores de favela que foram acompanhados durante a pesquisa estabelecem

táticas específicas de produção cultural e depositam no campo simbólico o espaço-tempo do

reconhecimento de suas ações políticas de transformação da cidade a partir dos territórios

populares. Partindo de uma perspectiva transversal, três conceitos, acompanhados de bibliografias

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específicas, foram determinantes para o olhar sobre os processos de individuação dos jovens: a

cultura, como elemento fundamental no desenvolvimento de formas de vida (Stuart Hall e Nestor

Canclini); a favela, enquanto territorialidade, espaço usado onde disputas simbólicas se interpõem

aos estereótipos construídos sobre o espaço (Lícia Valladares, Ana Clara Ribeiro e Milton Santos);

e a juventude, enquanto categoria cambiante que passa por um importante processo de

reconfiguração na sociedade da informação (Rossana Reguillo e Alberto Melucci). A pesquisa

concluiu, entre outras coisas, que transformações tecnológicas e afetivas têm dado conta de novas

formas de trabalho e visões de mundo operadas por agentes sociais cada vez menos marginalizados.

As ações realizadas por esses jovens vão ressignificando a produção cultural e servindo como

instâncias socializadoras fundamentais na identidade e nos modos de individuação desses sujeitos.

JOVENS ASSASSINADOS NUMA PERIFERIA DE SALVADOR

HILDETE EMANUELE NOGUEIRA DE SOUZA

PROVÍNCIA MARISTA BRASIL CENTRO-NORTE

Esta pesquisa tem como objetivos: tratar o número de homicídios de jovens negros do sexo

masculino na região do Curuzu e outros dados que ajudem a fazer a leitura dessa realidade de

extermínio; questionar os atores e as atrizes desse cenário de violência e extermínio de jovens;

comparar as histórias de vida desses jovens que foram exterminados; identificar convergências e

divergências entre as histórias de vida desses jovens e caracterizar os principais perfis desses jovens

que morrem naquela região. Este trabalho pretende contar histórias de vida de cinco jovens de uma

comunidade “fora do mapa” na região do Curuzu, conhecida como Pedreiras, um lugar que fica

entre três bairros: Cidade Nova, Pau Miúdo e Barros Reis, mas que não pertence de fato a nenhuma

das três localidades, o bairro mais famoso próximo a essa comunidade chama-se Curuzu, o bairro

mais negro do mundo, fora da África. A voz que se levanta através desta produção textual vem de

uma militante religiosa, professora e eterna apaixonada pela causa juvenil. As cinco histórias

contadas são de jovens que foram seus alunos e que a mesma teve a oportunidade de acompanhá-los

em seus projetos pessoais de vida. “Pode uma subalterna falar?” o título da tese de Spivak (2005)

resume bem o espírito da autora dessa monografia, uma mulher negra militante, indignada com a

guerra cruel que mata jovens negros todos os dias nesse país, que faz da sua pesquisa um

instrumento de denúncia e de provocação para um debate mais aprofundado sobre a violência e o

extermínio de jovens em Salvador. Segundo o Mapa da Violência (WAISELFISZ, 2010), 60 jovens

morrem por dia em nosso país, vítimas de homicídio, a maioria dos jovens que morrem são negros,

pobres e moradores de periferia. São muitos os estudos no campo da violência, mas a maior parte

dos estudos se reduz a dados estatísticos, normalmente nem se fala sobre A HISTÓRIA DE VIDA

do jovem morto pela violência. O trabalho tem a seguinte estrutura: no primeiro capítulo serão

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contadas as histórias de vida dos jovens, os capítulos segundo e terceiro irão aprofundar as

temáticas (extermínio, racismo, pobreza, identidade negra) e o quarto capítulo irá apontar algumas

possibilidades de enfrentamento à violência, de maneira especial focando nas ações familiares,

comunitárias, educacionais e culturais.

O CINEMA PENSA A TRAJETÓRIA JUVENIL JACKSON NUNES BENTES

INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE

CO-AUTOR: MARCELO ADRIANO PIANTKOSKI

Este trabalho evoca a reflexão filosófica para olhar a infância-juvenil abandonada através das lentes

do cinema. Embora sutil, dizer o cinema como pensamento causa espanto à filosofia, pois, esta não

considera a possibilidade, como afirma Cabrera (2006), de falar do cinema como uma forma de

pensamento, assim como assustou o leitor de Heidegger ao inteirar-se de que a poesia pensa.

Seguindo essa trilha, objetiva-se mostrar o cinema como uma experiência necessária para entender

a infância sob uma outra compreensão, assim como fizeram Victor Erice, Miguel Gutiérrez Aragón,

Carlos Saura e Francisco Rogueiro. Outra compreensão da infância, segundo Espelt (2006), é

mostrada nas obras dos referidos autores, tais como “Demonios en nel jardín (1982)”, “A prima

Angélica (1974)” e “Madregilda (1994)”. A metodologia segue a análise de conteúdo, partindo da

investigação de obras que apresentam personagens juvenis detentoras de um ambiente familiar, que

é fonte de desconcerto e também, enigma (ESPELT, 2006). O mesmo destaque mereceriam a

infância e as gerações perdidas apresentadas pelo cinema que, inevitavelmente, deixaram marcas

através do filme “Crianças Invisíveis (2005)”, de Ridley Scott, John Woo e Jordan Scott. Destarte,

indica-se como ponto central o cenário destes personagens infanto-juvenis revelado nas histórias

curtas e, obviamente, todas com grande profundidade. A sensibilização que o cinema provoca nas

instituições que trabalham pela infância-juvenil, também merece destaque. Entre essas instituições

destaca-se a Organização das Nações Unidas que, com seus parceiros humanitários, lançou a

campanha Sem Geração Perdida. O apelo de um bilhão de dólares é para garantir educação segura,

apoio psicológico e o fim da exploração, abuso e violência, além de oferecer oportunidades de

coesão social e estabilidade para mais de quatro milhões de crianças sírias. Esta referência é

demonstração que a reflexão do cinema vai às ruas e além fronteiras. E, quando se olha a infância-

juvenil no cinema, ou quando o cinema olha a infância-juvenil, é inevitável se lutar pelo resgate da

infância colocada à sombra do biopoder.

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JOVENS E TECNOLOGIAS DIGITAIS: FIOS QUE SE CONECTAM COM SUAS E

EXPERIÊNCIAS DE VIDA

JAIANE ARAUJO DE OLIVEIRA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

A ênfase desse artigo recai sobre a maneira como as novas tecnologias digitais, sobretudo as redes

sociais, a partir da mediação da internet, estão se relacionando com as experiências de vida da

juventude. A discussão procura focalizar de que maneira os jovens contemporâneos lidam com os

novos dispositivos digitais, em seu contato cotidiano cada vez mais intenso, e como isso influencia

sua relação com suas experiências de vida e com o contato que realizam com o outro e com o

mundo. As reflexões trazidas aqui são frutos do meu trabalho de dissertação de mestrado, intitulada

“Redes de significação interação: a internet como cenário de narratividade das experiências de vida

dos jovens do Cuca da Barra do Ceará/Fortaleza. O percurso investigativo teve como base os

preceitos da pesquisa qualitativa e a etnografia virtual como o método de aproximação da realidade

pesquisada. Para esses/as jovens a internet é uma forma de pertencimento muito importante, não

sendo possível perceber, em muitos momentos, fronteiras claras entre a vida on-line e a off-line; na

verdade, essas duas esferas se misturam e se interpenetram, sobretudo, nesta época em que imperam

as mídias móveis (celular, principalmente, e seus aplicativos). Com a proliferação das redes sociais,

os sujeitos apresentam novas formas de narratividade, que implicam em certos artifícios e

performatividade das imagens de si que são projetadas, especialmente nos perfis criados por eles na

página do facebook. A internet representa um espaço de múltiplas possibilidades, em que os jovens

podem realizar atividades ligadas ao lazer, ao trabalho e a própria sociabilidade, na medida em que

estabelecem relação com os outros, se constituindo ainda em um lugar de vida e de relações

subjetivas. Podem ainda marcar seus encontros, compartilhar informações e com isso estender e

fortalecer seus laços de amizade. Ao transitarem simultaneamente, tanto no espaço off-line como no

on-line, os jovens sentem suas vidas tomarem significação e serem ampliadas por uma rede de

amigos, conferindo aos momentos mais banais uma dimensão de vida espetacular, vida de

significação e esperança.

“VEM JUVENTUDE, TRABALHAR, LUTAR, SONHAR!”: A PASTORAL DA

JUVENTUDE COMO ESPAÇO DE TRANSMISSÃO DA FÉ

JOILSON DE SOUZA TOLEDO

PUC GO

Na pós-modernidade o campo religioso, e mais especificamente a Igreja Católica, tem vivido

mudanças profundas e aceleradas especialmente no modo de crer e de aderir a uma comunidade de

fé. Compreender como as juventudes vivem estes processos tem se mostrado como um desafio para

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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agentes religiosos e pesquisadores. Danièle Hervieu-Léger em O Peregrino e o Convertido (2008)

nos apresenta um referencial teórico que nos ajuda a abordar este fenômeno. Esta comunicação

propõe-se a partir dos conceitos de memória e transmissão da fé apresentados pela referida autora a

investigar o caso da Pastoral da Juventude (PJ) focando em seu processo de educação na fé e opções

metodológicas. Reconhecendo a PJ como expressão do cristianismo político visamos destacar a

singularidade desta pastoral no meio do cenário cada vez mais plural que são as propostas de

evangelização das juventudes apresentadas pela Igreja Católica.

JOVENS EM SITUAÇÃO DE RESTRIÇÃO DE LIBERDADE NO MUNICÍPIO DE

GOVERNADOR VALADARES - MG: OS SIGNIFICADOS DA EXPERIÊNCIA DA

MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE SEMILIBERDADE E SEUS PROJETOS DE FUTURO

JORDDANA ROCHA DE ALMEIDA

UFMG

A investigação se insere no campo de estudos sobre juventudes e tem como foco a condição juvenil

e os projetos de futuro de jovens em situação de restrição de liberdade, inseridos na medida

socioeducativa de semiliberdade em um determinado município no interior do estado de Minas

Gerais. O referencial teórico e metodológico ancora-se na sociologia da juventude. Essa abordagem

sociológica rompe com a noção de juventude restrita a uma fase de transição para a vida adulta ou

demarcada somente pela faixa etária e compreende a juventude como momento presente do clico da

vida, como condição social e um tipo de representação, no qual os jovens são percebidos como

sujeitos de direitos, singulares, sociais e múltiplos. Essa pesquisa aborda contexto evidenciado por

uma sociedade complexa, marcada pela multiplicidade de processos, incertezas e crises, impondo

mudanças e novas configurações sociais, que singularizam um cenário potencializador de

vulnerabilidade social, bem como reconfiguram as relações com a dimensão do projeto de futuro,

principalmente para o sujeito jovem. O objetivo geral é analisar a condição juvenil de jovens em

situação de restrição de liberdade, buscando compreender especificamente os significados que eles

atribuem à experiência da medida socioeducativa de semiliberdade em Governador Valadares – MG

e seus projetos de futuro. Propomos a realização de um estudo qualitativo, através de diferentes

instrumentos metodológicos. No primeiro momento buscaremos realizar observações exploratórias

para aprofundar as informações prévias sobre a medida socioeducativa de semiliberdade

desenvolvida na Casa Semiliberdade do município de Governador Valadares – MG e para preparar

a entrada definitiva no campo, com um breve levantamento de documentos relacionados à de Casa

Semiliberdade e aos jovens em cumprimento da medida. Dentre os documentos a serem analisados

incluiremos os prontuários e plano individual de atendimento, a fim de conhecer e traçar o perfil

desses jovens. Em seguida pretendemos realizar observações participantes, como segunda fase da

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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pesquisa. E, constituindo a terceira fase da pesquisa de campo propomos a realização de entrevistas

semi-estruturadas com os jovens inseridos na medida socioeducativa de semiliberdade. A pesquisa

encontra-se em período inicial de coletas de dados, portanto não obtivemos os resultados esperados

para publicação. No entanto, o levantamento bibliográfico e os primeiros contatos com os jovens e

o cotidiano que eles vivenciam na medida socioeducativa na Casa Semiliberdade, do município de

Governador Valadares – MG apontam tanto para a relevância e emergência da produção científica

sobre o tema juventude, medidas socioeducativas e projetos de futuro, como revelam elementos

conceituais e contextuais da condição juvenil vivida pelos jovens que cometeram algum tipo de ato

infracional e se encontram em restrição de liberdade. Pretende-se desse modo contribuir para a

produção teórica no campo de estudos sobre juventude no Brasil.

TRANSIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO NA JUVENTUDE E RUPTURAS COM

TRAJETÓRIAS INFRACIONAIS

KELITA REJANNE MACHADO GONÇALVES CUNHA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

A presente proposta de comunicação é parte de uma investigação teórica-empírica em andamento

que tem como cenário a socioeducação. Tem como principais objetivos: (1) analisar trajetórias de

desenvolvimento de jovens que cumpriram medida socioeducativa em privação de liberdade na

transição entre o dentro e o fora do sistema de justiça juvenil; (2) explorar, no plano da experiência

da socioeducação, como a medida interfere nos processos de desenvolvimento e nas rupturas com

as trajetórias infracionais; (3) analisar, no plano sócio-institucional, os sistemas de valores que

operam nos múltiplos contextos nos quais o adolescente interage durante o cumprimento da medida

e; considerando a alteridade, (4) investigar o papel dos outros sociais como agentes catalisadores

nas transições de desenvolvimento, a partir das redes de socialização disponíveis ao sujeito. Os

fundamentos teóricos-epistemológicos que orientam esta reflexão e o entendimento sobre processos

de desenvolvimento humano na juventude se sustentam em duas áreas do conhecimento: a

Psicologia Cultural e a Sociologia da Juventude. A Psicologia Cultural foca ações situadas e

significadas dentro de um cenário cultural, onde as intenções dos participantes merecem destaque.

Nesse sentido, o papel da cultura é fundamental na compreensão das interações sociais que se criam

e negociam significados e valores socioculturais transformados pela pessoa em desenvolvimento.

Os processos de socialização são analisados a partir de uma leitura crítica da relação do jovem com

a sociedade, seja pela via da exclusão e invisibilidade, seja pelos diferentes modos de inclusão,

como escolarização e trabalho. Por tratar-se de uma investigação etnográfica, o desenho

metodológico parte do estudo qualitativo de casos únicos, com jovens entre 18 e 21 anos de idade

que, nesta primeira etapa da construção de dados estão cumprindo a medida em regime de privação

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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de liberdade e, numa etapa posterior, o acompanhamento desses mesmos jovens egressos em seu

retorno à comunidade. Com os resultados desta pesquisa, esperamos: (i) contribuir para minimizar a

carência de estudos sobre trajetórias de desenvolvimento que tenham como foco os processos que

se relacionam com a saída desses sujeitos do sistema socioeducativo; (ii) aportar ao entendimento

dos mecanismos de promoção de processos de mudança que produzem rupturas com trajetórias

infracionais; (iii) fornecer indicadores aos técnicos e educadores no seu papel de impulsionar

processos de desenvolvimento humano específicos; (iv) suscitar debates mais críticos no campo das

políticas públicas a respeito da infração juvenil.

TEATRO E JUVENTUDES: EM BUSCA DE UM INÉDITO POSSÍVEL

LUCIANA CEZÁRIO MILAGRES DE MELO

UFMG

A partir da década de 1980 a sociedade brasileira assistiu ao aumento da violência envolvendo

jovens, sendo que o número de homicídios dessa parcela da população teve um crescimento

expressivo. Paralelamente, intensificou-se o trabalho de entidades do terceiro setor e ações

governamentais cujo público alvo são jovens em situação de vulnerabilidade social. Muitos desses

projetos trabalham a partir da arte. Esse trabalho propõe uma reflexão sobre a temática, tendo como

ponto de partida a pesquisa intitulada “A arte como metáfora da liberdade? Um estudo de caso com

jovens autores de ato infracional”, orientada pelo prof. Dr. Juarez Dayrell. As descobertas advindas

desta investigação serão entretecidas pelas minhas experiências como professora de teatro de

jovens, especialmente o trabalho desenvolvido junto ao Centro de Atendimento e Proteção a jovens

usuários de tóxicos (CAPUT). Na pesquisa supracitada pesquisei os sentidos que jovens em

cumprimento de internação em um centro socioeducativo atribuíam à participação em uma oficina

de teatro. Investiguei também quem eram os jovens e como vivenciavam sua condição juvenil

estando privados de liberdade, que experiências e contribuições a participação na oficina lhes

proporcionava. A investigação consistiu em um estudo de caso. Os principais instrumentos

metodológicos foram observação de campo e realização de entrevistas semiestruturadas com jovens

e alguns profissionais. Já como professora de teatro no Caput, desenvolvi um processo investigativo

que nomeei “O corpo tem alguém como recheio”. Nesse contexto, trabalhei a partir das relações dos

participantes com seu corpo, principalmente a partir de sensações, fazendo proposições que

provocavam e estimulavam outras formas de sentir. Nas oficinas de teatro que observei durante a

realização da pesquisa circulavam discursos, concepções e práticas muito distintas daquelas que

pude vivenciar no Caput, quando atuei como professora. Esse é um ponto central das reflexões

deste texto. Diante da existência de uma diversidade de propostas e de atores, pergunto: que

práticas, que concepções, que arte queremos? Para que jovens? Em outras palavras: que práticas e

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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concepções de educação, de arte, de ser humano queremos, buscamos, construímos? A partir dos

estudos da Sociologia da juventude e da Pedagogia do teatro, proponho uma arte que não se perca

da sua vocação para a transgressão e para provocar interrupções no cotidiano (ver a obra de

Carminda André e Marina Machado) que seja potencializadora de encontros e propicie reinvenção

de si, do outro, do mundo. Mais do que isso: diante dos estudos de Angelina Peralva (2000) que

afirma que se colocar em risco é uma forma de jovens pobres afirmarem sua existência e dos

estudos de Luiz Eduardo Soares (2005) sobre a invisibilidade, proponho que a arte pode ser uma

das mais potentes formas de afirmação da existência de jovens pobres brasileiros. Jovens que vivem

em uma sociedade que não acredita neles como seres com vocação para ser mais (Paulo Freire), que

às vezes nem os veem como humanos – suas vidas são descartáveis, suas mortes não são choradas,

sua juventude encarcerada. Advento que a partir e através da arte esses jovens podem, de forma

poética, política e estética afirmar sua existência e sua humanidade: uma arte que, diante, do

encarceramento, do genocídio e das condições de vida destes jovens, possibilite o devir de um

inédito possível.

ENTRE JOVENS DA PASTORAL DA JUVENTUDE CATÓLICA: EXPERIÊNCIAS

RELIGIOSAS E TRAJETÓRIAS POLÍTICAS

LUIZ FERNANDO DE SOUSA MARTILIS

FACULDADE JESUÍTA DE FILOSOFIA E TEOLOGIA

O presente ensaio é parte de um estudo maior, realizado como Trabalho de Conclusão de Curso, no

qual, a partir de observação participante e entrevistas semiestruturadas com formato de depoimento

oral, buscou-se discutir as possíveis contribuições da Religião Católica na construção e mobilização

de identidades juvenis e militância política dos jovens da Pastoral da Juventude. O estudo teve a

seguinte hipótese inicial: a formação e a mobilização experimentadas na Pastoral da Juventude - em

seus encontros de grupos de jovens, eventos e demais atividades - contribuem para que jovens

católicos iniciem e efetivem sua participação política em diferentes espaços de inserção social, entre

os quais estão os Partidos Políticos.

EXPERIÊNCIAS DE SER JOVEM NEGRO NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO

HORIZONTE/MG

MOISÉS FERREIRA GERALDO

ESCOLA ESTADUAL WILSON DINIZ FILHO

Estudo sobre trajetórias identitárias de jovens negros participantes de dois coletivos culturais do

Conjunto Habitacional Palmital, localizado na periferia da cidade de Santa Luzia na Região

metropolitana de Belo Horizonte no estado de Minas Gerais. O estudo nos permitiu descrever e

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compreender os desafios e as estratégias elaboradas pelos participantes da pesquisa para enfrentar

no seu cotidiano as situações de violência, pobreza e a desigualdade, que se transformam em

barreiras nas suas trajetórias de vida. A construção da identidade étnico-racial no Palmital se dava

nos múltiplos espaços onde esses jovens estavam inseridos, tais como: a família, a escola, o

trabalho, o bairro e os coletivos. Tais espaços aproximam as histórias de vida de uma juventude que

têm em comum o lugar onde moram e o pertencimento racial. Em síntese, a pesquisa nos permitiu

analisar as diferentes inserções que os jovens fazem em uma mesma localidade e os significados

atribuídos às suas experiências como jovens nos coletivos dos quais participavam. A pesquisa

permitiu compreender em que medida as diferentes dimensões da família, da escolarização, do

trabalho, da vivência no bairro e das experiências nos coletivos culturais ganhavam contornos

próprios para cada jovem e as conexões estabelecidas com uma identidade comum a partir do lugar

como espaço vivido.

VOLUNTARIADO MISSIONÁRIO: O SENTIDO DO PROTAGONISMO NA VIDA DOS

ADOLESCENTES E JOVENS PATRÍCIA MACHADO VIEIRA

UFRGS

O presente trabalho busca compreender qual sentido o exercício do protagonismo, por meio de uma

experiência de voluntariado, tem na vida de adolescentes e jovens. O projeto de voluntariado onde a

pesquisa foi desenvolvida – denominado Animação Missionária Juvenil (AMJ) – foi organizado e

realizado pelas obras – colégios, paróquias, instituições assistenciais – salesianas do Sul do Brasil, e

possibilita uma experiência de trabalho missionário em uma comunidade carente. Para a realização

da coleta de dados, além de observação participante, foi elaborado um questionário a ser preenchido

ao final da experiência, por todos os participantes, 98 adolescentes e jovens entre 15 e 18 anos de

idade. As análises dialogam com o campo dos estudos teóricos sobre juventude, sociologia da

educação e estudos culturais. Também são citados documentos brasileiros da Igreja Católica e

documentos da Congregação Salesiana que tematizam juventude, voluntariado e missionariedade.

Através de revisão bibliográfica e análise de dados empíricos constatou-se que as experiências de

voluntariado proporcionam aos (às) adolescentes e jovens a vivência do protagonismo de forma

ativa em contextos e realidades empobrecidas. Essa experiência toma grande sentido de encontro

com essa realidade, descoberta de seu potencial, vivência em sociedade. Além de fazê-los refletir

sobre seu papel social, seu projeto de vida e a importância do próprio protagonismo em todas as

dimensões da vida - social, política, eclesial, afetiva, profissional etc.

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TECNOLOGIA SOB O OLHAR DA JUVENTUDE: COMO A TECNOLOGIA MUDA O

MEU MUNDO? PAULA MELGAÇO DA ROCHA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

É inegável que a tecnologia tem alterado diversas instâncias da vida do ser humano, passando pela

forma como se relacionam e se inserem socialmente até a construção de sua personalidade. Os

jovens nascidos a partir da década de 90, os chamados nativos digitais, são os principais usuários de

tais recursos, em especial de atividades que envolvem a comunicação e o lazer, como as redes

sociais, os jogos, as conversas por mensagens instantâneas e o download de vídeos, séries e filmes

(Fundação Telefônica, 2014). Além disso, é preciso considerar que a adolescência é um momento

crucial para que o sujeito construa um novo lugar no seio social que vá além da convivência

familiar, sendo, portanto, uma fase de rompimento com os pais. É, em adição, uma fase em que o

sujeito é confrontado com diversas questões concernentes à sua identidade e sexualidade. Cabe

ressaltar que todas as vivências citadas são atravessadas pelo mundo virtual, local onde os (as)

adolescentes buscam informações, se expressam e conquistam novos espaços. Desse modo, devido

à relevância da tecnologia para tais indivíduos, o presente trabalho tem como objetivo propor uma

discussão sobre as mudanças promovidas pela tecnologia digital na vida dos (as) adolescentes, a

partir de trabalhos artísticos produzidos por seis estudantes de uma escola de desenho de Belo

Horizonte para o concurso cultural que teve como temática a seguinte questão: “Como a tecnologia

muda o meu mundo?”. Os (as) adolescentes foram convidados a responder a essa pergunta se

expressando livremente, através de seus desenhos, digitais ou feitos à mão livre que ilustram os

modos como se relacionam com os aparatos e recursos tecnológicos com os quais têm contato.

Partiremos, portanto, de tais produções para fazer uma reflexão sobre a temática que será embasada

pela teoria psicanalítica. As modificações na forma como veem, interpretam e se relacionam com o

ambiente ao seu redor, as possibilidades de fazer laço com o outro, a dependência e a centralidade

da internet em suas vidas, o fascínio pelo ciberespaço e a influência na construção da personalidade

são algumas das transformações apontadas pelos adolescentes, o que indica que a tecnologia pode

favorecer a construção de laços sociais, a investigação, o autoconhecimento e a exploração, por

outro lado, dependendo de como é utilizada, também envolve os (as) jovens em alguns embaraços

tanto sociais como subjetivos, podendo deixá-los confusos e imersos no mundo das imagens, tendo

sua capacidade reflexiva rebaixada e repertórios por vezes repetitivos, fragmentados e

empobrecidos (Lima, 2006).

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IDENTIDADE JUVENIL E A MÚSICA COMO UMA TRAJETÓRIA PARA A

SOCIABILIDADE RENATA MATIAS

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

É fato que o mundo mudou e o efeito dessas transformações sobre o cotidiano social é imensurável.

A sociedade heterogênica em que vivemos é movida pelas novas tecnologias que surgem

diariamente e que afetam o indivíduo na capacidade de consumo, no convívio com outros sujeitos e

em sua identidade. Cada vez mais olhamos por nossas janelas e vemos um mundo cheio de

oportunidades tecnológicas que, ao mesmo tempo que parecem facilitar o relacionamento

interpessoal, tendem a distanciar indivíduos, tornando seu contato apenas virtual, descaracterizando

princípios que já foram primordiais no convívio em sociedade, como o almoço em família ou o

encontro de amigos. Tudo agora é resolvido em um clique: novas amizades, rompimentos. O

diálogo ganha uma nova linguagem, a virtual. Para entender está questão, no decorrer desta

dissertação serão adotadas as respectivas expressões, sendo elas: pós-modernidade líquida e

liquefeito, que o estudioso Bauman (2005) utiliza para dissertar sua teoria. Os (as) jovens têm então

a difícil tarefa de se encontrar nesse novo mundo, sentir-se pertencentes às comunidades criadas no

meio dessa bagunça digital (BAUMAN, 2005) e reconhecidos nelas para conseguirem seu espaço.

Como forma de contracultura (CANEVACCI, 2005), unem-se por gostos políticos, musicais,

ideológicos, construindo assim, as tribos urbanas. O crescimento dessas tribos vem aumentando

como um reflexo da sociedade individualista em que vivemos atualmente, a líquida moderna, em

que a velocidade dos acontecimentos e a necessidade ou a ambição por acompanhá-los faz com que

o indivíduo não tenha tempo para estreitar laços afetivos e construir relacionamentos duradouros.

Este cenário desperta nos jovens a insatisfação com o isolamento, tornando-o um grande motivo

para encontrar em outros indivíduos descontentes a afinidade necessária para poderem se

desenvolver socialmente em um grupo. Sendo uma manifestação reflexa (e reflexora) de diversos

atritos sociais, as tribos urbanas geram uma sensação de pertença e são subversivas frente a

ideologias hegemônicas da sociedade. Seus marcos convivais são garantias de afirmação da

identidade de indivíduos que compactuam com determinado grupo de que decidem participar. Tal

manifestação ganha maior relevância quando os indivíduos emblematicamente se posicionam com

bandas musicais em campo de atrito social. As bandas transcrevem o relato daquilo em que a tribo

acredita e auxiliam a entender a vivência dos indivíduos, traduzindo suas expressões culturais. Ou

seja, as bandas de tribos urbanas resgatam um processo de produção artística por meio de músicas

compostas por integrantes do grupo que disseminam suas ideologias e crenças, transparecendo o

que realmente são e aquilo em que acreditam. A partir desse conceito sobre a tradução do que é uma

tribo urbana por meio de suas bandas, este trabalho tem como tema central a identidade juvenil em

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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sua relação com tribos urbanas e as produções artísticas do grupo Carecas do Brasil, para acentuar

melhor esta discussão. Por meio de entrevistas e análise de documentos, estudaremos a relevância e

o papel das bandas compostas por integrantes do movimento Carecas do Brasil, entendendo a

articulação dessas bandas com as ideologias da tribo e seu papel emblemático em campo de atrito

social. Além disso, a pesquisa procura compreender o posicionamento do jovem na sociedade e

como ambos se articulam, entendendo suas necessidades, atritos e como as políticas sociais são de

suma importância para atender as demandas juvenis de nosso país e a cultura desses grupos.

JOVENS E SEUS TRÂNSITOS NO ESPAÇO SOCIAL: MOVIMENTOS PARA A VIDA

ADULTA SEBASTIÃO EVERTON DE OLIVEIRA

UEMG

CO-AUTOR: CÉRISE ALVARENGA

Este trabalho traz o diálogo entre duas pesquisas desenvolvidas com jovens na região metropolitana

de Belo Horizonte. A primeira pesquisa buscou compreender as significações que os (as) jovens

atribuem à sua participação social e política. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados a

entrevista narrativa com jovens, protagonistas sociais, inseridos em diferentes modos de atuação

como circo, educomunicação, poesia, religião e hip-hop. A análise de dados se deu a partir do

levantamento de categorias, relacionadas ao mapa de vínculos dos sujeitos e a sua influência nos

percursos de participação social e política, na perspectiva desses jovens. Por meio dessas categorias,

foi possível examinar as significações que esses jovens vêm atribuindo à suas participações e à sua

relação com as principais instâncias socializadoras que influenciaram suas trajetórias. As narrativas

juvenis revelaram vínculos, sentimentos e saberes que acompanham os seus percursos e

experiências de participação, apontando a centralidade dos processos e referências educativas,

assim como os atravessamentos sociais que disparam a motivação para mobilização e

fortalecimento de redes afetivas e políticas pelos direitos juvenis na cidade. As reflexões trazidas

pelos (as) jovens pesquisados (as) nos revelam também as principais características da participação

social e política de jovens na sociedade brasileira contemporânea e os dilemas que se apresentam

para eles (as) nos processos de representação em espaços políticos tradicionais/convencionais. A

análise das narrativas juvenis apontou que as experiências de participação produziram sujeitos que

pretendem transformar o mundo e outros jovens e que atribuem à educação lugar privilegiado de

suas ações e reflexões. A segunda pesquisa buscou compreender as relações estabelecidas por

professores (as) e estudantes nas experiências de visitação aos chamados “espaços culturais”. A

investigação foi realizada por meio de pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Por meio da

pesquisa documental, buscando-se situar e problematizar a construção social e histórica da categoria

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juventude, seus direitos e as políticas públicas na área da cultura. Na pesquisa de campo foram

realizados grupos e entrevistas com jovens estudantes do ensino médio e entrevistas com

professores (as), tais registros foram gravados em áudio mediante autorização dada por meio de

TCLE. A orientação metodológica ocorreu por meio de fundamentos da micro história e da

fenomenologia. Os conceitos de habitus, espaço físico e social de Pierre Bourdieu e as formulações

sobre o campo estético de Arnold Berleant auxiliam a pensar os sentidos que emergiram. O trânsito

entre a escola e os “espaços culturais” e a relação com as manifestações artísticas constituem um

contexto potencial para formularem indagações sobre suas vidas, sobre o papel do professor (a) e da

escola e o quanto acessam de forma restrita os espaços da cidade. Para os professores (as) visitar

tais espaços é proporcionar a “saída do reduto”, rascunhando um modelo de educação no qual o

aprender ocorre em contextos diversos. A visita constitui um gesto destes docentes que é

impulsionado pela revisitação de suas próprias relações com a arte, com a escola e com “espaços

culturais”. Visitar tais espaços pode conter o sentido apontado por Bourdieu que reproduz valores e

hábitos, perpetuando estratificações sociais que fixam posições de classe, mas também provocam os

(as) estudantes a pensar nestas posições. O diálogo entre as duas pesquisas aponta que os percursos

narrados pelos (as) jovens indicam haver em seu trânsito por diferentes experiências e espaços

sociais a formulação de questionamentos e reflexões sobre a ampliação de espaços e processos

educativos. O conjunto das experiências contidas em suas narrativas revelam maneiras

diferenciadas de movimentarem-se para vida adulta e esboçam posicionamentos e enfrentamentos

diante de seus contextos de vida permeados por situações de segregação e de desigualdades sociais.

NOTÍCIAS DE UMA PESQUISA EM ANDAMENTO: PROJETOS DE VIDAS DE JOVENS

DE UMA DAS MAIORES FAVELAS DO RIO DE JANEIRO

SHYRLEI ROSENDO DOS SANTOS

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA UERJ

No Brasil, ainda hoje, há um paradigma que aponta a juventude pobre em especial, residente em

favelas, periferias e Espaços Populares como problema. Segundo esse paradigma seriam os (as)

moradores (as) destes locais os (as) causadores (as) dos males sociais que atravessam o país, como

por exemplo, a violência. No Rio de Janeiro, as favelas acabaram sendo reconhecidas como o lugar

da ausência e carência, seja de civilidade ou do Estado, implicando essa percepção num modelo de

políticas públicas para elas. Entretanto, a historiografia e os estudos vêm apontando que o Estado

não é ausente e que falar em favela é aludir histórias de luta e resistência, onde os moradores (as)

tiveram que lutar pela moradia e por direitos básicos como saneamento, esgoto, saúde, educação.

Todavia, este cenário ainda persiste e coloca em pauta os direitos da juventude das favelas e de ser

jovem. Partindo de uma perspectiva teórica que não identificam nos sujeitos os causadores dos

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problemas sociais, mas entende que estes seriam as “vítimas” de uma forma de organização do

Estado, onde este privilegia os grupos dominantes. E compreendendo a Juventude como uma

categoria social, que pensa, age, articula-se e comunica-se, interagindo com a dinâmica social do

seu tempo e que se faz a partir da relação com o gênero, raça, classe, território, sexualidade,

mostrando-nos que existem JUVENTUDES. A presente pesquisa, em andamento, trata do tema

projeto de vida de jovens do território de favela. Partindo do pressuposto que todos os (as) jovens,

independente da sua condição social tem sonhos em relação ao seu futuro, e que países com Brasil

com desigualdades profundas, produzem formas diferenciadas de experimentar a Juventude.

Perante a isso, nosso objetivo na pesquisa tem sido de levantar quais são e como se materializam os

projetos de vida de jovens de uma das maiores favelas da América Latina, localizada no Rio de

Janeiro, a favela Maré. Onde o grupo juvenil estudado são os jovens que se encontram na última

etapa do ensino médio de uma escola públicas e jovens que se encontram no curso comunitário de

preparação para entrada na universidade. Onde por meio do questionário e de um mapeamento

cartográfico tentamos levantar: a) quais são os agentes (instituições) que ajudam a construir desses

projetos e quem ajuda a realizar?; b) De que forma a escola, na sua função de partilhar

conhecimentos (apontada como uma dos principais instituições na construção desses) contribui para

construção dos projetos de vida?; c) As percepções que os (as) jovens de favela constroem sobre seu

local de moradia influenciam nos projetos de vida e futuro?; d) A forma como a favela é tratada

tanto pela sociedade como pelo poder público influi na construção e realização desses projetos?; E

por fim, existem diferenças entre os projetos de vidas e os suportes dos jovens que se preparam para

Universidade e os jovens que se encontram na última série do Ensino Médio de vida na favela da

Maré? Como se trata de uma pesquisa em andamento, apresentaremos o perfil social dos (as) jovens

da favela. Supomos que, diante da crise da escola e das desigualdades vividas, os (as) jovens da

favela da Maré vão se ancorando em outras instituições e suportes para a construção e realização

dos seus Projetos de Vida.

NOVOS MODOS DE CONSTITUIÇÃO DE SUBJETIVIDADES DE ADOLESCENTES NAS

REDES SOCIAIS VANINA COSTA DIAS

PUC MINAS/ FUNDAÇÃO PEDRO LEOPOLDO

Esta comunicação tem como objetivo apresentar um estudo sobre a constituição da subjetividade de

adolescentes a partir de suas relações nas redes sociais virtuais, tendo como plataforma de

investigação o Facebook. Construiu-se um diálogo com pesquisas nacionais e internacionais, com

estudiosos da Psicologia e das Ciências Sociais que se interessam pelas questões relacionadas à

adolescência e à juventude e também pela temática das redes sociais virtuais. Com isso, objetivou-

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Resumos – I Simpósio de Aproximações com o Mundo Juvenil – Transições para a vida adulta

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se investigar como a internet vem mediando as relações interpessoais virtuais estabelecidas pelo

adolescente e como essas relações interferem em sua subjetividade. Tomou-se como premissa que

as redes sociais virtuais têm feito parte do dia a dia dos adolescentes como uma nova forma de

socialização e comunicação, assumindo um papel importante na constituição de sua subjetividade.

Compreendendo as redes sociais virtuais a partir de uma leitura desses conceitos que se coadunam

em Manuel Castells, Pierre Levy, Deleuze e Guattari, concebeu-se a rede social como um espaço de

interação organizado em torno de uma afinidade compartilhada, o que favorece a

desterritorialização e a expansão da comunicação, que se estende, a partir da internet, para um

ambiente virtual que se materializa e se atualiza de forma potente nas telas de computadores, tablets

e aparelhos celulares cada vez mais utilizados pelos adolescentes. Adotando como metodologia a

netnografia, criou-se um grupo secreto no Facebook onde foram realizadas discussões com 25

adolescentes de 13 a 18 anos de uma escola pública e outra particular da cidade de Pedro Leopoldo,

cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG), especificamente convidados para essa

pesquisa. Dentre os temas debatidos estão as formas de acesso às redes sociais, o significado do uso

das redes sociais no dia a dia dos adolescentes, os conteúdos postados, a segurança e a mediação.

Nesta apresentação será enfocada principalmente aspectos relacionados à mediação por parte de

pais e educadores em relação ao uso das redes sociais pelos adolescentes, buscando apreender como

esses sujeitos constituem, a partir desse novo modo de relacionamento, as diversas formas de ver,

sentir e estar no mundo virtual, possibilitando a produção novas subjetividades.

TRAJETÓRIAS E PROJETOS DE VIDA DE JOVENS GAYS CRISTÃOS QUE

FREQUENTAM IGREJAS INCLUSIVAS VILMAR PEREIRA DE OLIVEIRA

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Partindo de uma perspectiva psicossocial, o presente estudo discorre acerca de um modo de

ser/modo de vida juvenil que reitera a importância de se compreender a juventude em sua

diversidade: trata-se de uma pesquisa narrativa, com cunho etnográfico, que versa sobre as

experiências de jovens homossexuais do sexo masculino, adeptos de crenças cristãs e que

frequentam igrejas inclusivas – instituições religiosas que se caracterizam pela acolhida de fiéis

LGBT’s sem discriminá-los em relação à orientação sexual. Ao se registrar as histórias dos (as)

jovens participantes sobre suas experiências acerca do ser gay e do ser cristão, teve-se como

objetivo identificar as relações que estes sujeitos estabelecem perante a própria sexualidade e a

religião/religiosidade, resgatando de suas trajetórias aspectos que dizem respeito à inserção no

universo cristão, participação e sociabilidades, iniciação sexual-amorosa, família, vivências de

estigmas, opressões e violências, metamorfoses, rearranjos e resistências, e projetos de vida. A

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partir da observação participante realizada sistematicamente em uma igreja inclusiva de Belo

Horizonte (MG), fez-se uma apreensão da paisagem que circunscreve as narrativas que foram

colhidas, escolhendo-se, mediante esse contato com o campo empírico, cinco rapazes com idades

entre 18 e 24 anos para concederem entrevistas contando as suas histórias. Através da análise das

narrativas, avaliou-se a importância da vivência religiosa para esses sujeitos, bem como as

contribuições de um ambiente/espaço acolhedor para a afirmação de uma identidade homossexual.

Os (as) jovens explicitaram as suas trajetórias desde a infância, passando pela puberdade até chegar

à juventude, relatando o processo de constituir-se cristão, a formação evangélica e o envolvimento

com a igreja, a “descoberta” da sexualidade e as suas implicações. Para esses jovens, a participação

sociorreligiosa é de grande valia, visto que ela tem estreita relação com os seus processos de

identificação e de formação enquanto cidadãos e seres humanos. Em contrapartida, estar privado

dessa possibilidade é limitador não só do ponto de vista das potencialidades e das experiências que

são negadas a estes jovens, como também ao passo de que esta exclusão pode tornar patológica a

percepção de referidos sujeitos sobre si mesmos. Permanecer em uma instituição religiosa

tradicional não-inclusiva, conforme destacado pelos entrevistados, é muito conflitante, e o

gerenciamento do segredo acerca da homossexualidade, que nesse contexto não pode ser admitida,

é profundamente desgastante, o que traz consequências emocionais tais como instabilidade

psicológica, sensação de culpa, vergonha, frustração, desamparo (inclusive em relação a Deus) e

depressão. Já no espaço inclusivo, esse jovem encontra pessoas em situação semelhante à sua, tendo

à disposição todo um aparato e uma rede de apoio para lhe auxiliar nas questões que concernem às

dificuldades oriundas do preconceito e da homofobia. Assim, ao final do estudo, constatou-se que a

adesão a uma igreja inclusiva auxilia esses sujeitos a afirmarem para si as potencialidades e a

diversidade dos modos de ser jovem, homossexual e cristão, fazendo com que a instituição se

coloque como uma forma de organização e resistência coletiva frente à opressão sofrida. Abrem-se,

para esses jovens, novas possibilidades de vivenciar as suas crenças/religiosidades e de, a partir

delas, ressignificar a vida, estipulando novos sentidos, novos caminhos, sonhos e projetos de futuro.

Então, estar em uma igreja inclusiva não denota apenas a reivindicação do direito à livre prática da

fé, mas, também, do direito à própria sexualidade, à própria juventude e à vida.

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JOVENS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: A (RE)CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE

VIDA MEDIADO PELA EDUCAÇÃO SANDRA DIAS PEREIRA DA COSTA

UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE – UNIVALE

CO-AUTORA: EUNICE MARIA NAZARETHE NONATO

Este artigo é fruto de reflexões que emergiram da participação voluntária num projeto de pesquisa e

extensão "Juventude, Educação e Direito" desenvolvido numa unidade socioeducativa em

Governador Valadares, na qual tivemos a oportunidade de contribuir na implementação das oficinas

pedagógicas com os jovens privados de liberdade e com os servidores que lá atuam. Os sujeitos da

pesquisa são vinte jovens que se encontram no final do cumprimento da medida de privação de

liberdade e que participaram das oficinas. Objetivo: discutir sobre a reconstrução dos projetos de

vida dos jovens acautelados a partir da perspectiva da educação emancipadora. Metodologia: A

metodologia de caráter qualitativo e o referencial teórico fundamentam-se nas discussões sobre

território, educação e juventude. A abordagem de território apresentada neste trabalho é integradora

e se funda a partir da concepção dos autores Haesbaert (2009, 2011) e Saquet (2007, 2009). As

discussões sobre educação baseiam-se no ideário de Freire (1981, 1996), cujo cerne é a

emancipação dos sujeitos por meio da apreensão de saberes transformadores da realidade. Para as

reflexões sobre juventude reportamos à Peralva (1997) e a Dayrell (2007), ao corroborar com

entendimento dessa categoria como condição social a partir das representações que lhe são

atribuídas socialmente. A juventude apresenta significados diversificados, dadas as singularidades,

as condições e contextos nos quais os sujeitos estão inseridos. Apesar da universalidade das

transformações físicas e psicológicas, ela será determinada histórica e socialmente. A citada

condição social mantém estreita relação com o mundo contemporâneo marcado pela tecnologia,

inovação e modos de consumo ditados pela suposta modernidade, o que desafia o jovem a buscar

seu lugar no mundo, ou melhor, de se inserir socialmente. Porém, esta inserção não ocorre de igual

modo para todos os indivíduos. Os jovens das classes populares, por exemplo, convivem com a

falta de oportunidades, como: o acesso à educação/formação de qualidade, ao lazer, à inserção no

mercado de trabalho, entre outros direitos previstos na legislação brasileira. Por esses e outros

fatores muitos jovens recorrem à criminalidade como forma de acesso aos bens de consumo e de

visibilidade social. Neste contexto, os jovens em conflito com a lei são submetidos às sanções

previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990) como a aplicação das medidas

socioeducativas, cujo caráter deve ser pedagógico e, que, conforme preconiza a lei, deve se

direcionar para um processo de sociabilidade desses sujeitos. A medida de privação de liberdade,

campo deste estudo, se apresenta como um novo território, onde a cultura, os modos de vida e as

experiências vividas no seio familiar são trazidos consigo, mas que provavelmente serão (re)

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significadas durante o acautelamento. Neste sentido, a educação deve ser pensada a partir do

território vivido, com o fim de sua resignificação, ao contribuir para uma transformação no modo de

pensar e de agir dos jovens acautelados. Acrescente-se que a educação, aliada a dispositivos sociais,

como políticas públicas, programas, projetos e, delineada a partir de objetivos que valorizem as

experiências e a cultura dos sujeitos, pode contribuir para construção de aprendizagens

significativas e intervir na (re)construção de identidades. Conclusões: As atividades de formação

realizadas até o momento reforçam a ideia de que a (re)construção dos projetos de vida dos jovens

acautelados pode ser viabilizada pela condução direcionada a processos educativos emancipadores

praticados no centro socioeducativo. Por meio dos relatos dos jovens e dos registros feitos em diário

de campo, pode-se perceber que o projeto “Juventude, Educação e Direito” tem contribuído para o

fomento de atividades mais contextualizadas às peculiaridades do território da privação de liberdade

e propiciadoras de reflexões que possibilitam mudanças de perspectiva de futuro por parte dos

jovens.