caderno de resumos do vii seminário temático

32
Ésio Francisco Salvei Paulo César Carbonari Iltomar Siviero Organizadores Caderno de Resumos do VII Seminário Temático Filosofia Ética e Política em Giorgio Agamben Ana Lucia Kapczynski Bruno Silveira Rigon Danielly Borguezan Fernanda Vecchi Pegorini Gustavo Jugend Janilce Silva Praseres Jerônimo Milone José André da Costa Maria Benedita de Paula Silva Polomanei Mariane Gehlen Perin Ricardo Machado Rudimar Barea Terezinha de F. J. Scziminski Walter Marquezan Augusto

Upload: rodrigo-roman

Post on 01-Aug-2016

224 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

O VII Seminário Temático – Filosofia Ética e Política em Giorgio Agamben é uma realização do Instituto Superior de Filosofia Berthier (IFIBE). Ocorreu nos dias 21 a 23 de agosto de 2013. O Seminário teve como objetivo refletir temáticas filosóficas atuais com base no pensamento do filósofo italiano Giorgio Agamben.

TRANSCRIPT

Page 1: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

Ésio Francisco Salve�iPaulo César Carbonari

Iltomar SivieroOrganizadores

Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

Filoso�a Ética e Política em Giorgio Agamben

Ana Lucia KapczynskiBruno Silveira RigonDanielly Borguezan

Fernanda Vecchi PegoriniGustavo Jugend

Janilce Silva PraseresJerônimo Milone

José André da CostaMaria Benedita de Paula

Silva PolomaneiMariane Gehlen Perin

Ricardo MachadoRudimar Barea

Terezinha de F. J. ScziminskiWalter Marquezan Augusto

Page 2: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

2

Ésio Francisco SalvettiIltomar Siviero

Paulo Cesar CarbonariOrganizadores

Caderno de resumos do VII Seminário TemáticoFilosofia Ética e Política em Giorgio Agamben

IFIBEPasso Fundo

2015

Page 3: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

3

© 2015 Autores

Edição: Editora IFIBECapa: Diego Ecker

Projeto gráfico: Diego EckerDiagramação e normatização: Wanduir R. Sausen

Editora IFIBERua Senador Pinheiro, 350

99070-220 – Passo Fundo – RS Fone: (54) 3045-3277

E-mail: [email protected]: www.ifibe.edu.br/editora

Comitê CientíficoMe. Diego Ecker

Dr. José André da CostaDndo. Valdevir Both

2015Proibida reprodução total ou parcial nos termos da lei.Instituto Superior de Filosofia Berthier – Editora IFIBE

CIP – Catalogação na Publicação C122 Caderno de resumos do VII Seminário Temático Filosofia Ética e

Política em Giorgio Agamben / organização de Ésio Francisco Salvetti, Iltomar Siviero e Paulo César Carbonari. – Passo Fundo : IFIBE, 2015. 32 p. ; 14x 21 cm. ISBN: 978-85-8259-034-8 (e-book) 1. Agamben, Giorgio, 1942-. 2. Filosofia política. 3. Ética. I.

Salvetti, Ésio Francisco, org. II. Siviero, Iltomar, org. III. Carbonari, Paulo César, org. IV. Título.

CDU: 1:32(048.3)

Catalogação: Bibliotecária Marina Miranda Fagundes - CRB 10/2173

Page 4: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

4

SUMÁRIO

Apresentação ................................................................................... 6

Programa – Conferências e Painéis .......................................... 8

O culto à aparência: diálogos sobre ética, política e estética com a filosofia de Agamben ...................................... 9

Ana Lucia Kapczynski

Os presídios brasileiros podem ser considerados campos? um diálogo com Giorgio Agamben ........................................... 11

Bruno Silveira Rigon

A administratibilidade jurídica da vida: desdobramentos biopolíticos da modernidade ...................................................... 13

Danielly Borguezan

Nota sobre a polêmica entre Schmitt e Benjamin: violência e ação humana .............................................................. 15

Fernanda Vecchi Pegorini

A condenação da linguagem ....................................................... 16Gustavo Jugend

A fenomenologia da vida: apontamentos sobre afetividade e não-intencionalidade: para a fundamentação de uma ética no pensamento de Michel Henry ........................... 18

Janilce Silva Praseres

Poesia e ética em Giorgio Agamben .......................................... 19Jerônimo Milone

Ócio forçado e a “vida nua”: nas veredas de Giorgio Agamben .......................................................................... 21

José André da Costa

Page 5: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

5

Do rabisco a autonomia do cidadão .......................................... 22Maria Benedita de Paula, Silva Polomanei

De Michel Foucault a Giorgio Agamben: os desdobramentos dos conceitos de biopoder e biopolítica ................................................................... 24

Mariane Gehlen Perin

Tempo e experiência no pensamento de Giorgio Agamben .......................................................................... 26

Ricardo Machado

Diálogos com Giorgio Agamben: por uma responsabilidade social com o Outro ....................................... 28

Rudimar Barea

O paradoxo da lei e a efetividade da justiça ............................ 30Terezinha de Fátima Juraczky Scziminski

Resistência pelo direito: uma leitura a partir de Giorgio Agamben ..................................................................... 31

Walter Marquezan Augusto

Page 6: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

6

APRESENTAÇÃO

O VII Seminário Temático – Filosofia Ética e Política em Giorgio Agamben é uma realização do Instituto Superior de Filosofia Berthier (IFIBE). Ocorreu nos dias 21 a 23 de agosto de 2013. O Seminário teve como objetivo refletir temáticas fi-losóficas atuais com base no pensamento do filósofo italiano Giorgio Agamben.

Agamben nasceu em 1942 na Itália e formou-se em Direito no ano de 1965 na Universitá di Roma. Frequentou os seminários de Martin Heidegger de 1966 e 1968. Foi res-ponsável pela edição, em italiano, das obras de Walter Ben-jamin. Foi professor visitante da New York University, antes de decidir a não mais entrar nos Estados Unidos em protesto contra a política de segurança do governo Bush. A produ-ção de Agamben concentra-se na relação entre a filosofia, a literatura, a poesia e, fundamentalmente, a política. Através da continuação das pesquisas iniciadas por Walter Benjamin, Michel Foucault e Hannah Arendt, retoma as categorias da biopolítica e dos campos de concentração, resultando em contribuição significativa na compreensão e problematização do desenvolvimento da filosofia política atual. O aprofunda-mento de suas teses sobre os Campos de concentração, homo sacer e a vida nua se tornou indispensável no momento em que testemunhamos acontecimentos como os da prisão de Guantánamo, na qual supostos terroristas árabes são marti-rizados, e do elevado extermínio da população palestina na Faixa de Gaza. Neste contexto, o homo sacer é apresentado como um ser no limiar da animalidade, uma criatura des-provida de significado e suscetível ao descarte.

A publicação do primeiro volume do projeto Homo sacer, tornou o filósofo italiano conhecido mundialmente. O livro foi

Page 7: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

7

traduzido para vários idiomas e discutido em todo o mundo. Contribuiu para transformar e redefinir os parâmetros da fi-losofia política contemporânea, o que se evidencia através dos novos conceitos introduzidos por Agamben e que hoje são im-prescindíveis nas discussões da filosofia política. Isso se deve especialmente à forma inovadora pela qual vincula os traba-lhos de Arendt e Foucault à teoria de soberania de Schmitt.

O presente Caderno de Resumos reúne comunicações apresentadas por acadêmicos, professores e pesquisadores no VII Seminário Temático – Filosofia, Ética e Política em Giorgio Agamben. A Comissão Organizadora agradece a to-dos que se dispuseram a promover o debate sobre o pensa-mento de Giorgio Agamben e sua contribuição para a filoso-fia atual, com ênfase nas dimensões ética e política.

Dndo. Ésio Francisco SalvettiP/ Comissão Organizadora

Page 8: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

8

Programa – Conferências e Painéis

21/08 – Quarta-feira 19:00h Abertura19:30h Conferência – Altíssima Pobreza e as Noções de

Direito e LeiDr. Sandro Chignola (Università di Padova - Itália)

22/08 – Quinta-feira13:30h Comunicações15:00h Painel: Direito, Política e Filosofia Sandro Luiz Bazzanella e Evandro Pontel (PUC-RS)

Márcia Junges (Unisinos) e Eduardo Tergolina Teixeira (Unisinos)

19:30h Conferência: Ética, Política e Economia em Giorgio AgambenDr Selvino Assmann (UFSC)

23/08 – Sexta-feira13:30 Comunicações15:00h Painel: Diálogo entre Foucault, Arendt e Agamben

Dr. Selvino Assmann (UFSC); Ddo. Iltomar Siviero (IFIBE) e Ddo. Valdevir Both (IFIBE)

19:30h Conferência: Direitos Humanos e Estado de ExceçãoDdo. Gustavo Oliveira de Lima Pereira (PUC-RS)

Page 9: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

9

O culto à aparência: diálogos sobre ética, política e estética com a filosofia de Agamben

Ana Lucia Kapczynski*

O presente artigo discute os princípios éticos, políticos e es-téticos que estruturam o sistema capitalista e são profana-dos por meio do culto à aparência, encobrindo a essência das coisas e do próprio ser humano. O capitalismo se coloca como algo sagrado ou como religião e se recria por meio do fetichismo e suas ideologias. Na concepção de Agamben a luta pela ética é a luta pela liberdade, para poder experi-mentar a própria existência como possibilidade ou potência de ser e de não ser, implicando numa luta política capaz de desmascarar o ilusório instituído ao conceito de democracia que encobre práticas totalitárias. Profanar significa libertar--se do sagrado, da asfixia consumista, do cartesiano eu so-berano impessoal, obscuro e pré-individual, que separa o eu de seu corpo. O sistema vigente utiliza a imagem para des-pertar desejos consumistas, mobilizando sentimentos como o amor para vender produtos. Tudo gira em torno da ima-gem, de padrões de beleza pré-estabelecidos, ferindo direi-tos humanos fundamentais. É preciso profanar as próprias religiões contaminadas pelos ideais capitalistas. O caráter religioso conservado pelas potências econômicas e políticas torna-se a porta de uma nova concepção de felicidade, cujo jogo de profanação está em decadência. Diante do sentimento de fracasso busca-se recuperar a originalidade perdida por

* Graduada em Licenciatura Plena em Filosofia pela Universidade de Passo Fundo (2013) e bacharelado em Filosofia - Instituto Superior de Filosofia Berthier (2010). Especialista em Educação em Direitos Humanos e Educação para as Relações Étnico-raciais pelo Instituto Superior de Filosofia Berthier (2012). Mestranda em Educação pela Universidade de Passo Fundo.

Page 10: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

10

meio do retorno ao sagrado e dos ritos da nova religião que transmuta a monarquia celeste pela monarquia terrena.

Palavras-chave: Profanação. Aparência. Capitalismo. Ser humano.

Page 11: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

11

Os presídios brasileiros podem ser considerados campos? um diálogo com Giorgio Agamben

Bruno Silveira Rigon*

A presente pesquisa se propõe a pensar a situação dos pre-sídios no Brasil em diálogo com a obra do filósofo italiano Giorgio Agamben, especificamente em relação ao concei-to de campo. A partir da ideia de campo como o espaço de exceção - que se abre quando a exceção começa a se tornar a regra - em que a vida nua é capturada pelo poder sobera-no, sendo excluída através da sua própria inclusão e incluída por meio da sua exclusão, havendo a absoluta indistinção entre fato e direito, legalidade e ilegalidade, vida nua e nor-ma; buscar-se-á problematizar se determinadas prisões bra-sileiras podem ser consideradas como zonas de exceção, ou seja, como campos. Este trabalho não visa realizar qualquer espécie de comparação entre a condição inumana dos lager nazistas e dos gulags soviéticos com as prisões brasileiras - até porque se mostra impossível realizar qualquer tipo pon-deração entre as injustiças sofridas -, mas sim analisar se a estrutura jurídico-política dos campos é compatível com a situação prisional no Brasil e se a condição jurídico-política dos prisioneiros dos campos de concentração possui alguma similitude com a dos detentos brasileiros. Tais questionamen-tos se mostram necessários diante da concepção de Giorgio Agamben, que nitidamente excluí a possibilidade das peniten-ciárias configurarem como espaços de exceção, tendo em vis-ta que estas nascem do direito ordinário - direito carcerário -

* Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais, Especialista em Ciências Pe-nais e Mestre em Ciências Criminais na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Page 12: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

12

e os campos nascem do estado de exceção. O autor possui grande influência do pensamento de Michel Foucault, que concebe a prisão como mecanismo disciplinar. Contudo, a realidade analisada por Foucault no surgimento da socieda-de disciplinar era diversa da nossa. A proposta da presente pesquisa é se distanciar da perspectiva europeia e focar a atenção na realidade prisional Latino Americana, sobretu-do brasileira, com base numa análise a partir do realismo marginal proposto por Eugênio Raúl Zaffaroni.

Palavras-chave: Presídio. Brasil. Campo. Exceção. Agamben.

Page 13: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

13

A administratibilidade jurídica da vida: desdobramentos biopolíticos da modernidade

Danielly Borguezan*

A vida em sua dimensão biológica se tornou o fato político por excelência na modernidade. Neste sentido, a biopolíti-ca, é o exercício, ou mesmo a captura do poder sobre a vida. Este é o posicionamento de pensadores do porte da politólo-ga alemã Hannah Arendt (1906 - 1975), do filósofo francês Michel Foucault (1924 - 1984) e, do filósofo italiano Giorgio Agamben (1942 ...), entre outros pensadores, salvaguardadas as diferenças teóricas e conceituais de suas reflexões e escri-tos. O Estado, grande razão político-adminsitrativa e jurí-dica, que se estabelece na modernidade passa administrar a vida e a morte dos indivíduos cidadãos. Incide sobre a vida biológica dos indivíduos uma racionalidade estatística e cal-culadora que tem por finalidade implementar em toda sua extensão uma gestão potencializadora da vida, tanto quanto de estratégias tanatopolíticas de deixar morrer, ou de calcu-lar os custos e benefícios da extinção da carga biológica dos corpos da população. Sob tal perspectiva, a biopolítica em suas manifestações na forma de um biopoder invade, con-trola, potencializa, normaliza e normatiza todas as esferas de manifestação da vida em sua biologicidade. Uma destas ma-nifestações deste biopoder se apresenta na estrutura jurídica normatizadora da vida em sua totalidade, que se instaura na

* Danielly Borguezan. Advogada, professora de Direito; Mestre do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contes-tado. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas – Cnpq; Membro do Grupo de Estudo em Giorgio Agamben – GEA e bolsista do Programa do Fundo de Apoio à Manutenção e ao Desenvolvimento da Educação Superior – FUMDES.

Page 14: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

14

modernidade. Classificar a vida em fases, determinar para cada uma delas padrões de comportamento, de amadure-cimento e responsabilidades jurídicas dos seres humanos torna-se determinante para a efetividade da gestão admi-nistrativa, política e jurídica da vida na modernidade. Desta forma, muito embora sejamos sujeitos de direito (e auferimos essa condição antes mesmo de nosso nascimento, enquanto nascituros), para a lei muito mais do que individualizados, somos “classificados” em critérios objetivos conforme nosso tempo cronológico nos permite, e é através da lei, de seu ins-trumento normativo, que assim nos molda, categorizando--nos como crianças, adolescentes, jovens, maiores capazes e idosos. A vida biológica sob essa ótica torna-se o fato politi-camente decisivo na modernidade e na contemporaneidade, uma vez que não vivemos unilateralmente, ou seja, despi-mo-nos como indivíduos e assumimos uma classificação ad-vinda do Estado, razão pela qual vivemos a margem do que ele nos permite ou nos autoriza impondo critérios objetivos ou marcos legais tal qual a idade.

Palavras-chave: Biopolíca. Biopoder. Idade. Critério legal.

Page 15: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

15

Nota sobre a polêmica entre Schmitt e Benjamin: violência e ação humana

Fernanda Vecchi Pegorini*

A relação entre violência e ação humana é fundamental na polêmica entre Schmitt e Benjamin sobre o estado de exce-ção em Agamben. Isso porque a disputa entre eles está na ação política pensada dentro do direito ou fora dele e na me-dida em que o estado de exceção se relaciona ou não com a ordem jurídica, em síntese, se há espaço de decisão soberana ou a sua impossibilidade neste contexto. Então a leitura de Agamben desta polêmica é o ponto de partida para com-preender na história da filosofia (e precisamente no perío-do renascentista), como se dá a relação sociedade/Estado quando o questionamento dos governos e das leis chegou ao ponto de sua suspensão. Tem-se um espaço aberto ao pen-samento e experimentação de novas relações em sociedade e com isso novas relações do homem com a autoridade, com o uso do direito e com o outro, num movimento histórico e contemporâneo a nós.

Palavras-chave: Benjamin. Schmitt. Agamben. Violência. Ação humana.

* Advogada. Mestre em sociologia pela UFRGS. Acadêmica do curso de ba-charelado em filosofia do Instituto Superior de Filosofia Berthier.

Page 16: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

16

A condenação da linguagem

Gustavo Jugend*

É notória a influência que Giorgio Agamben recebe da li-teratura de Franz Kafka. Dentre as diversas referências que o filósofo faz ao escritor, chama-nos atenção aquela presen-te na obra Idéia da Prosa. No ensaio Idéia da linguagem II, ao tematizar a máquina judicial kafkiana presente em Na Colônia Penal, Agamben afirma: “[...] o aparelho de tortura inventado pelo ex-comandante da colônia é, de facto, a lin-guagem. [...]. Na lenda, a máquina é, de facto, antes do mais, instrumento de julgar e punir. Isto quer dizer que também a linguagem, nesta Terra e para os homens é um instrumento do mesmo tipo” (AGAMBEN, 1999, p. 113). Revisitando o conto de Kafka observamos que a execução da máquina se dá sob a forma de tortura resultando que o sentenciado co-nheça sua condenação não sob a forma da linguagem, mas “na própria carne” (KAFKA, 1986, p. 40). A experiência ine-narrável atinge sua impossibilidade linguística justamente na conclusão de sua justiça: “Mais nada acontece, o homem simplesmente começa a decifrar a escrita, faz bico com a boca como se estivesse escutando. [...]. Mas aí o rastelo o atravessa de lado a lado e o atira no fosso, onde cai de estalo sobre o sangue misturado à água e o algodão. A sentença então está cumprida [...]” (KAFKA, 1986, pp. 48, 49). O problema pos-to é evidente: se a experiência da máquina-linguagem não pode ser narrada, o que estaria Agamben propondo ao fazer tal formulação? Para tentarmos indicar uma resposta para o problema traremos ao debate a figura de Genius, um duplo

* Graduado em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (2012). Mes-trando da Universidade Federal do Paraná.

Page 17: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

17

de nós mesmos que nos impele em direção à linguagem, mas que, assim como o instrumento de tortura kafkiano, quando nos encontra grava em nossa pele sua sentença limitando, assim, nossa vida: “Assim, no momento da morte, a alma vê seu anjo, que lhe vem ao encontro transfigurado, depen-dendo da conduta da sua vida, ou numa criatura ainda mais bela, ou num demônio horrível, que sussurra: “Eu sou tua Daena, aquela que os teus pensamentos, as tuas palavras e os teus atos formaram. Com uma inversão vertiginosa, nossa vida plasma e desenha o arquétipo em cuja imagem fomos criados” (AGAMBEN, 2007, p. 21). A comunicação propos-ta tem por objetivo tentar esclarecer as seguintes questões: Como Agamben fundamenta a linguagem na morte? Por que a experiência que funda a linguagem não pode ser narrada? Seria esse o ponto a parte “mais desagradável” (AGAMBEN, 2008, p. 71) que o discurso sobre a ética não teria até então contemplado?

Palavras-chave: Linguagem. Ética. Sujeito. Kafka.

Page 18: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

18

A fenomenologia da vida: apontamentos sobre afetividade e não-intencionalidade: para a fundamentação de uma ética no pensamento de Michel Henry

Janilce Silva Praseres*

Como toda pesquisa, a fenomenologia sugere pressuposições. Mas, as conjeturas próprias à fenomenologia apresentam um traço distintivo, pois é visível que na fenomenologia há um ímpeto de renovação da filosofia. O conhecimento sobre o conteúdo de uma “nova” fenomenologia, no caso a material ou da vida, compõe uma relação ímpar no horizonte de uma fenomenologia contemporânea que expressa à dinâmica que é gerada em relação a isso. Abrem-se caminhos para estudar a difusão do pensamento de Michel Henry, convidando assim a um repensar, novamente, a fenomenologia a partir da existên-cia. Este trabalho investigará dois pontos fundamentais deste pensamento: a afetividade e a não-intencionalidade, pretende--se assim, ao final do trabalho, ter produzido uma visão geral sobre o processo que dá fundamentação e estruturação para uma ética presente no pensamento de Michel Henry.

Palavras-chave: Fenomenologia. Vida. Afetividade. Não-in-tencionalidade. Ética.

* Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria/RS.

Page 19: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

19

Poesia e ética em Giorgio Agamben

Jerônimo Milone*

A relação em que Agamben situa a poesia no seu pensamen-to faz transparecer o caráter eminentemente ético e políti-co do fazer poético. Tal advento da eticidade se estabelece através da assunção da poesia como singular possibilidade de desvelamento da inoperância. Esta inoperância constitui no pensamento de Agamben o objetivo fundamental da crítica na medida em que a crítica esquiva a inoperância da captu-ra, isto é, da operacionalização. Esta possibilidade de desve-lamento do inoperável dentro da língua, Agamben conceitua como experimentum linguae, colocando-o sobre responsabi-lidade da poesia, mediante a apresentação, que se realiza no fazer poético, daquela fratura em que se situa a palavra na tradição ocidental. Nesta revalorização da experiência, em oposição ao saber técnico, Agamben proporá a quete, cuja finalidade reside na experiência desta fratura, constituindo assim, uma experiência da aporia. Veremos então, através das contribuições de Jacques Derrida em Força de Lei, em que sentido esta experiência da aporia torna-se condição de possibilidade para o agir ético. Tais considerações de Der-rida assomam-se às de Agamben, que entrevê nesta expe-riência da fratura da língua o desvelamento de toda cinope-rância sendo esta inoperância, justamente, o motor de toda operacionalização e tecnicismo bio-político. Analogamente, também, à concepção do dispositivo foucaultiano como a relação entre o dito e o não-dito. Agamben, através da reco-locação do problema significante-significado, sob a perspec-

* Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, nesta circunstância bolsista da Capes. Bacharel em Filosofia (PUCRS).

Page 20: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

20

tiva, não de questionar um ou outro, mas a própria barrei-ra entre eles, enunciará uma nova possível compreensão do mito edipiano a partir de uma leitura esfíngica. Tal leitura perfaz-se no sentido de demonstrar como Édipo ao significar o enigma, desvendando a Esfinge, ocasionaria a redução do significante ao significado, provocando aquilo que Agamben chama de “canhestra remoção” da relação problemática en-tre filosofia e poesia. Agamben, então, faz ressurgir o caráter do enigma como inoperância imanente da linguagem, capaz de ser formulada e exposta pela poesia, possibilitando uma abertura e um atravessamento do significado e das lógicas de poder estabelecidas pela operacionalização do enigma e da poesia, numa constante redução da língua ao discurso. A comunicação proposta versará sobre os conceitos acima citados, com o objetivo de apresentar a função ética e políti-ca que Agamben delega à poesia enquanto possibilidade de não-operacionalização da língua.

Palavras-chave: Experimentum linguae. Poesia. Ética. Inope-rosidade.

Page 21: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

21

Ócio forçado e a “vida nua”: nas veredas de Giorgio Agamben

José André da Costa*

Esta comunicação tem como objetivo fazer uma análise da atual economia e mostrar a lógica perversa do “Estado de Exceção” apresentado pelo pensador G. Agamben como o agente que em nome da “soberania” suspende o direito para estabelecer a ordem. Pretendemos colocar o dedo na ferida do atual sistema de produção/exceção. As perguntas de fun-do são: Por que, depois que inventaram as máquinas, as pes-soas têm que trabalhar mais do que trabalhavam antes e fi-cam cada vez mais ameaçados seus direitos humanos? E por que muitas pessoas são “dispensadas da cidadania” e ficam desprotegidas pelo Estado de direto? Com estas perguntas queremos trazer à tona questões latentes no ser humano, às quais nem o socialismo real nem o capitalismo conseguiram responder. Isso para mostrar que a concorrência frenética gera uma grave deterioração do ser humano e que a revolu-ção da microeletrônica representa um perigo para a socieda-de por estar aliada a um sistema de produção/exclusão que tende a criar cada vez mais “vidas desperdiçadas”.

Palavras-chave: Ócio. Estado. Trabalho. Capitalismo. Vida nua. Direito. Ética.

* Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil(2011). Diretor Geral do Instituto Superior de Filosofia Berthier.

Page 22: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

22

Do rabisco a autonomia do cidadão

Maria Benedita de PaulaSilva Polomanei*

O tema central desse trabalho é a autonomia do cidadão. Ob-jetiva discutir a formação dessa autonomia numa visão ética e política. Pretende desenvolver uma reflexão em torno das possibilidades de aquisição dessa autonomia. Apropria-se do conceito kantiano de autonomia, que apresenta autonomia como a discussão pública ou privada usando a razão. Com o apoio de teóricos como Agamben (2010), Hannah Arendt (2003), Benjamin (2012), Aristóteles (367 a.C.), Soares (2010) e Cox (2007) se realizou um estudo buscando compreender a formação (não linear) do caminho para se chegar ao co-nhecimento. Acredita-se que instrumentos como o desenho e o lúdico servirão de suporte para subsidiar a defesa de que a criança desenhando, brincando e construindo as primei-ras letras está apresentando a potência imanente por meio de atos. Nesse sentido ato e potência serão pontos centrais na análise para se perceber a formação do sujeito autônomo. Dessa forma o processo de ensino deve por meio de ques-tionamentos, compreender que o desenvolvimento precede a aprendizagem. O processo pedagógico necessário não é o castrador, o condicionante, pois exemplos de uma educação que se apresenta soberana têm demonstrado a formação de sujeitos omissos que caminham para uma vida nua. Socie-dade, escola e família são instituições igualmente responsá-veis pela educação de qualidade. E, quando se fala em edu-cação de qualidade, que não se compreenda uma educação

* Graduada em Pedagogia pela Fundação Faculdade Municipal de Filosofia Ciências e Letras de União da Vitória (1985) e Mestre Em Educação pela Universidade do Sul de Santa Catarina (2001).

Page 23: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

23

mercadológica que subsidia a cultura do descartável. Mas uma educação que reflita a mediação entre ato e potência, exija uma concepção de infância que respeite o seu desen-volvimento pleno e capaz de uma cidadania calcada na ética e na política.

Palavras-chave: Cidadão. Autonomia. Formação. Educação.

Page 24: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

24

De Michel Foucault a Giorgio Agamben: os desdobramentos dos conceitos de biopoder e biopolítica

Mariane Gehlen Perin*

O presente trabalho trata sobre os conceitos de biopoder e de biopolítica, tanto na obra de Michel Foucault (1926-1984), como na de Giorgio Agamben (1942-). Tais conceitos tem origem nos estudos de Foucault sobre o conceito de poder, isto é, na analítica do poder de Foucault, a qual é uma gran-de empreitada de pesquisas e estudos realizados pelo filósofo francês, a qual tem em vistas fazer uma análise do conceito de poder, ao invés de, por exemplo, elaborar uma teoria geral e sistemática do poder. Nesta analítica do poder de Foucault, o conceito de poder passa por várias transformações, vai to-mando enfoques distintos, principalmente no decorrer dos anos 70. Na filosofia de Foucault a questão do poder disci-plinar se apresentará como absolutamente central de 1973 a 1975, já a discussão sobre a governabilidade será destacada a partir de 1978 e, quanto ao biopoder, sua problematização recairá no período de 1976-1977. Enfim, no decorrer deste trabalho, veremos mais detalhadamente, de que modo, os estudos de Foucault sobre o conceito de poder, fazem com que tal conceito vá se desdobrando até chegar à formulação dos conceitos de biopoder e biopolítica. Além do que, vere-mos que, os conceitos de biopoder e biopolítica não possuem um sentido unívoco na obra foucaultiana, isto é, o sentido exato desses conceitos varia de acordo com períodos especí-ficos dos estudos de Foucault. Contudo, de um modo geral,

* Graduanda no curso de Bacharelado em Filosofia pela Universidade Fe-deral de Santa Maria - (UFSM).

Page 25: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

25

poderemos dizer que na obra foucaultiana, os conceitos de biopoder e de biopolítica referem-se ao poder que se exerce sobre a vida, o qual pode visar o corpo molar de uma popu-lação ou, além disso, também os micro-corpos individuais. Posteriormente, veremos que, na contemporaneidade alguns autores retomam os conceitos em questão, contudo, é o fi-lósofo italiano, Giorgio Agamben, que faz isto de maneira mais expressiva. Ora, Agamben retoma os conceitos de bi-poder e de biopolítica a partir de Foucault, contudo, desen-volve tais conceitos de maneira peculiar, de modo que, os conceitos em questão adquirem em sua obra, nuances pró-prias. Agamben inspira-se em Foucault, mas também nas re-flexões de Hannah Arendt, Carl Schmitt e Walter Benjamin, para pensar a biopolítica/biopoder, assim, trata destes temas no entrecruzamento de quatro conceitos que ele diz serem diretivos da política ocidental, a saber, poder soberano, vida nua (homo sacer), estado de exceção e campo de concentra-ção. Como já foi dito anteriormente, na obra de Agamben, os conceitos de biopolítica e biopoder adquirem características próprias, porém, tais conceitos preservam o sentido geral de poder sobre a vida. Finalmente, veremos que, tanto Foucault como Agamben, cada um a seu modo, apontam uma possí-vel resistência ao poder sobre a vida, que podemos chamar de poder da vida.

Palavras-chave: Michel Foucault. Giorgio Agamben. Biopo-der. Biopolítica.

Page 26: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

26

Tempo e experiência no pensamento de Giorgio Agamben

Ricardo Machado*

Se em Foucault o biopolítico era um problema eminente-mente moderno, Agamben encontrará já na Grécia antiga as distinções entre bios e zoé. Foucault interessou-se em to-mar a biopolítica como componente organizador da gestão das populações na modernidade. É a partir dela que a vida teria sido apropriada como problema político, produzindo o direito de fazer viver e deixar morrer em oposição ao direito de deixar viver e fazer morrer - fruto de uma concepção de governo marcada pela soberania. É sob esta nova biopolítica que a modernidade produziria a morte em nome da vida e o racismo de estado. Foucault esteve interessado em circunscre-ver este limiar entre a soberania e uma genealogia do poder disciplinar e biopolítica em fins do século XVIII e ao longo do século XIX. No entanto, nas últimas páginas de seu curso “Em Defesa da Sociedade”, já anunciava: “o nazismo como o desenvolvimento até o paradoxismo dos mecanismos biopo-líticos criados no século XVIII. Foi através desta breve refe-rência de Foucault ao nazismo e ao totalitarismo do século XX que Agamben encontrou a possibilidade pensar o limite da experiência biopolítica nos campos de concentração. Mas foi com Benjamin, em suas Teses sobre história que encontra a referência necessária para um trabalho que enfrentasse o estado de exceção e suas implicações entre história e a políti-ca. É em Benjamin que encontra a noção de que o estado de

* Graduado em História pela Universidade Regional de Blumenau (2003), Mestre em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina (2006) e Doutorando em História Cultural da Universidade Federal de Santa Catarina. Professor na Universidade Federal da Fronteira Sul.

Page 27: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

27

exceção é a regra que desembocaria em todas as definições de vida nua e vida indigna de ser vivida do Homo Sacer e com isso, as implicações da biopolítica que ultrapassam os limites temporais apresentados por Foucault. Mas há nesta tese de Benjamin algo que vai além do tema do estado de ex-ceção – mas que constitui-se no problema de construir uma outra concepção de História. Em nosso entendimento, tra-ta-se de um tema fundamental em sua obra que merece ser melhor compreendido e problematizado. Trata-se da neces-sidade de refletir sobre o próprio tempo e suas articulações com a História, seu impacto na memória e nas possibilida-des de testemunho. Mesmo não se considerando historiador, estes temas acompanharam toda a obra de Agamben e são a sustentação teórica para seus ousados conceitos políticos. É por isso, que precisamos tomar estas reflexões e relacioná-las com a própria escrita da história e os usos do passado na atualidade. Sua crítica a noção de tempo, instaura outra pos-sibilidade de historicidade na medida que leva em conta a noção de experiência e o conceito de anacronismo para pen-sar “o que é o contemporâneo” e a “comunidade que vem”. A partir destas encruzilhadas que o autor apresenta ao oficio do historiador que esta comunicação pretende abordar e en-frentar conceitualmente.

Palavras-chave: Tempo. Experiência. Agamben.

Page 28: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

28

Diálogos com Giorgio Agamben: por uma responsabilidade social com o Outro

Rudimar Barea*

Viver a vida como fruição de viver. Dar um sentido a nossa existência através do nosso corpo relacionado ao rosto do Outro. Essa é uma das preocupações que pretendemos expor juntamente com um diálogo entre os filósofos contemporâ-neos Emmanuel Levinas e Giorgio Agamben. O trabalho que comunicaremos tomara como metodologia inicial uma apresentação do conceito de corporeidade por Emmanuel Levinas com base na obra Totalidade e Infinito, na sequência traremos alguns apontamentos do filósofo Giorgio Agamben especialmente no que se refere à vida nua do Homo Sacer, ao final deixaremos algumas questões que nos inquietam para continuar a pesquisa e a reflexão. Neste trabalho o lei-tor será convidado a refletir sob a luz da filosofia o tema da corporeidade e as suas possíveis relações; o que fazemos para agradar o nosso corpo e o corpo do outro? Quais os dilemas que encontramos em nossa morada? Como nos libertar do nosso egoísmo? O trabalho que o meu corpo possibilita fazer garante-me a posse? O que possuo, o que faço com o que possuo e o que ainda desejo possuir? Essas questões estão implícitas no trabalho, como pano de fundo, são questões que cercam a nossa existência fenomenologicamente. A lei-tura provocará para que reflitamos algumas implicações do nosso corpo perante o Outro. Pensar a corporeidade como responsabilidade social com o Outro. Sentir a existência do

* Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Bacharel em Filosofia pelo Instituto Superior de Filosofia Berthier (IFIBE) em 2012.

Page 29: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

29

rosto do outro a me tocar e a me movimentar a partir dele e por ele. Será possível identificar um grito, um chamado de responsabilidade social, ética e política frente aos problemas que se colocam no dia a dia frente ao nosso corpo e que nos desafiam a sair da nossa morada para acolher o Outro. Este trabalho será oportuno também para problematizar alguns posicionamentos filosóficos contemporâneo, mas especial-mente os posicionamentos de Emmanuel Levinas e Giorgio Agamben.

Palavras-chave: Corporeidade. Vida nua. Corporeidade. Viver de...

Page 30: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

30

O paradoxo da lei e a efetividade da justiça

Terezinha de Fátima Juraczky Scziminski*

Este estudo de caso reside na decisão do Tribunal Regional Eleitoral, que cassou o diploma do prefeito do município de Major Vieira/SC, por prática de captação ilícita de sufrágio. Parte significativa da população questiona a decisão judicial, afirmando desconhecer a lei que anulou os 2.542 votos, so-bretudo, o fato de rejeitarem uma decisão judicial, baseada na interpretação legalista da lei que toma como fato deter-minante da decisão judicial a denúncia de dois eleitores que abriram mão de seu direito inalienável ao voto vendendo-o. Com o aporte teórico de Giorgio Agamben, pretende-se estu-dar o paradoxo que reside no fundamento da lei e a violência da positivação do ordenamento jurídico e a pretensão e cren-ça na efetividade da justiça, advindo do estado de exceção.

Palavras-chave: Lei. Justiça. Violência.

* Mestranda em Desenvolvimento Regional- UnC - 2014 Canoinhas -. Mestranda em Educação – Uniplac. Graduada em: Direito, (2008). Peda-gogia (2002) e Ciências da Religião (2014).

Page 31: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

31

Resistência pelo direito: uma leitura a partir de Giorgio Agamben

Walter Marquezan Augusto*

O presente resumo apresenta uma intenção de pesquisa na área de Filosofia do Direito e visa discutir uma possível leitu-ra do pensamento de Giorgio Agamben, tomando por objeto o que o autor chama por “Resistência”. Justifico a escolha do tema na inquietação que me causa a separação feita pelos juristas contemporâneos entre Direito, Política e exercício de poder. Admitindo a tese de Agamben sobre o Poder Sobera-no e o Estado de Exceção como premissa desta pesquisa – na qual ele revela o aprisionamento do Estado de Direito no Estado de Exceção –, então, o paradigma dos discursos de Resistência deve mudar. A partir daquela tese, todo discurso de Resistência só será tido como tal se visar romper com o Estado de Direito, leia-se “desativar o Direito” ou a cons-trução de um “estado de exceção efetivo”, sob pena de ser subsumido; em suma, deve buscar a correspondência com a (figura kafkiana enigmática da) criação de um Direito “não mais praticado, mas apenas estudado” (AGAMBEN, 2004, p. 97). A partir disso pergunta-se: como podemos identifi-car o que se manifesta como Resistência? É possível fazer tal identificação? E, se é possível, como pode a Resistência (tentar) “desativar” o Direito? Segundo Agamben, o critério de distinção entre as forças que se digladiam no Estado de Exceção consiste na solução que essas forças têm com o Di-reito (2004, p. 96); elas podem tanto instituir quanto conser-var, a qualquer custo, o vínculo que une violência e Direito;

* Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Mestre em Teoria, História e Filosofia do Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (PPGD-UFSC).

Page 32: Caderno de Resumos do VII Seminário Temático

32

ou podem depor esse vínculo. O decisivo é que essa distin-ção somente é possível fazer a posteriori, quando se possa identificar o deslinde das ações em relação ao Direito. Essa identificação, portanto, é necessariamente histórica. Agam-ben frisa que “verdadeiramente política é apenas aquela ação que corta o nexo entre violência e direito” (2004, p. 133). A abertura de espaço, que deriva desse corte, se dá em prol de um “Direito puro”, um novo uso do Direito “após a desa-tivação do dispositivo que, no estado de exceção, o ligava à vida” (AGAMBEN, 2004, p. 133). Para a nossa hipótese, é essa ação que deve ser considerada Resistência. Conside-rando os resultados de Agamben, talvez possamos afirmar que também haja um duplo movimento de Resistência: 1º) um “movimento” de desvelamento e manutenção da hete-rogeneidade de auctoritas e potestas, que permita o Direi-to funcionar em sua ficção, sem que haja maior afetação da vida no jurídico; e/ou 2º) uma ação política de desativação do Direito, que aja contra esta estrutura. Nesse sentido, se invertermos a ordem dos conceitos, podemos afirmar que a ação política, que objetiva a deposição do vínculo que une violência e Direito, poderá ser considerada como ato de “re-sistência” pelo Direito quando visar a possibilidade de um novo uso, em contraposição à manutenção da possibilidade do exercício da violência (pura, força-de-lei) em nome de um Direito que vige apenas formalmente.

Palavras-chave: Resistência. Direito. Estado de Exceção. Ação política.