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ISSN: 2237-8502 Laboratório Arquivos do Sujeito CADERNO DE RESUMOS: III SEMINÁRIO INTERNO DE PESQUISAS DO LABORATÓRIO ARQUIVOS DO SUJEITO 05 de dezembro de 2014 Sala 218, Bloco C, Instituto de Letras UFF – Campus do Gragoatá Niterói-RJ

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ISSN: 2237-8502

Laboratório Arquivos do Sujeito

CADERNO DE RESUMOS:

III SEMINÁRIO INTERNO DE PESQUISAS

DO LABORATÓRIO ARQUIVOS DO

SUJEITO

05 de dezembro de 2014 Sala 218, Bloco C, Instituto de Letras

UFF – Campus do Gragoatá Niterói-RJ

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA LINGUAGEM LABORATÓRIO ARQUIVOS DO SUJEITO (LAS)

Organização do Caderno de Resumos: Fernanda Luzia Lunkes

Juciele Pereira Dias Kelly de Oliveira Ferreira

Silmara Dela Silva

III Seminário Interno de Pesquisas do Laboratório Arquivos do Sujeito

Caderno de Resumos: III Seminário Interno de Pesquisas do Laboratório Arquivos do Sujeito / Organizadores: Fernanda Luzia Lunkes et al. / Niterói-RJ: Laboratório Arquivos do Sujeito, 2014. 1. Linguística – Análise de Discurso.

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Comissão Organizadora do Evento: Bethania Mariani

Silmara Dela Silva Vanise Medeiros

Fernanda Luzia Lunkes Juciele Pereira Dias

Comissão de Apoio ao Evento: Elaine Pereira Daróz

Fernanda Cerqueira de Mello Kelly de Oliveira Ferreira

Milene Maciel Carlos Leite

Realização:

Apoio:

Laboratório Arquivos do Sujeito (LAS) Instituto de Letras - Universidade Federal Fluminense (UFF)

Campus do Gragoatá, Bloco B, sala 410 São Domingos - Niterói-RJ

Site: www.uff.br/las

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III SEMINÁRIO INTERNO DE PESQUISAS DO LABORATÓRIO ARQUIVOS DO SUJEITO

PROGRAMAÇÃO

8h30 Abertura

9h Às

10h30

Mesa I – Discurso, Sujeito e Psicanálise Coordenação: Carolina P. Fedatto

Alexandre da Silva Zanella

Entre tensões: considerações iniciais sobre os espaços gay-

friendly na imprensa online Amanda Andrade Lima

As depressões na atualidade: uma questão discursiva? Ana Claudia Moraes Merelles Bezz

Os efeitos da linguagem na constituição subjetiva Carolina Padilha Fedatto

Um rio sem margens? O negativo e o nada na linguagem Frederico Sidney Guimarães

A tensão entre o ser e a suposição do ser: a contradição dos dizeres no debate por direitos dos homossexuais

Márcia Maria da Silva Cirigliano

Entre chien et loup: os discursos sobre o autismo e o ponto de vista da Psicanálise Marcos de Sá Costa

Sujeito e “espaço”: modos de estar no mundo, efeitos de identificação Sarah Casimiro

Violência e testemunho: a discursividade do feminino em blogs

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10h30

Intervalo

10h:50 às

12h20

Mesa II – Discurso e Mídia Coordenação: Fernanda Luzia Lunkes

Felipe de Carvalho Caneca

Os grandes eventos e a segregação socioespacial no jornal O globo

Fernanda Cerqueira de Mello

Sujeitos e sentidos: uma análise sobre o jovem nos discursos midiáticos acerca da maioridade penal

Fernanda Luzia Lunkes

O gesto político do enquadramento no discurso jornalístico

Flávia Ferreira Alves

Mídia impressa e as manifestações de junho de 2013/2014: uma análise discursiva

Flavio da Rocha Benayon

A Caros Amigos e os protestos de junho de 2013 no Brasil Milene Maciel Carlos Leite

Jovem ou vagabundo? - Infância e violência em uma abordagem discursiva Paula Gomes de Farias Soares

Música e Brasilidade no discurso publicitário da Copa do Mundo 2014

12h20

Intervalo – almoço

14h às

15h30

Mesa III – Discurso e Sociedade Coordenação: Eliana de Almeida

Diego Barbosa da Silva

O discurso sobre e da diversidade no Plano Nacional e Cultura (Lei nº 12.343/2010)

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Drielle Cristina E.S da Silva

A reticência no discurso sobre as dançarinas brasileiras de funk tradicional

Marcio Valença

O Funk proibidão: Não dizer para poder dizer Phellipe Marcel da Silva Esteves

Poder, dever, comer. Sujeito e alimentação nas enciclopédias brasileiras

Raphael de Morais Trajano

Cidade, sujeito e sentido no clipe "Causa e efeito": uma análise discursiva do hip hop

Roberta Kerr dos Santos

A democratização do ensino superior no Brasil: análise do discurso governamental na rede eletrônica

Ulisses da Silva Gomes

(…) Remediado está: implicações do sentido de greve na relação entre os poderes a partir da Constituição Federal de 1988

15h30

Intervalo

16h Às 18h

Mesa IV – Discurso, Língua e História das Ideias Linguísticas Coordenação: Juciele Pereira Dias

Aline Burguignon de Jesus

Falando sobre a língua portuguesa na rede eletrônica: práticas discursivas

Christiano Titoneli Santana

Pensando a autoria e posição-autor em produções textuais em LE

Elaine Pereira Daróz

Entre a língua do desejo e o desejo da língua: uma análise da língua inglesa e seu ensino na contemporaneidade

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Fátima Almeida da Silva

Uma dialética que se marca no dizer Janaína Soares Almeida Cruz

Língua, discurso e rede eletrônica: uma análise de comentários no Facebook

Joyce Palha Colaça

As políticas linguísticas do Paraguai e a promoção de um bilinguismo imaginário

Juciele Pereira Dias

Discurso, leitura e tecnologias (de linguagem) Lívia Letícia Belmiro Buscácio

As tensões na memória da língua brasileira pelo arquivo Mário de Andrade

Ronaldo Adriano de Freitas

Variação Linguística e Ensino de Língua Materna segundo as Crônicas e Colunas da Mídia Online: uma Proposta de Análise Discursiva

Thaís de Araujo da Costa

Evanildo Bechara: dizer sobre a língua nas gramáticas e no jornal

18h

Encerramento

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SUMÁRIO

Apresentação 11

Entre tensões: considerações iniciais sobre os espaços gay-friendly na imprensa online Alexandre da Silva Zanella

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Falando sobre a língua portuguesa na rede eletrônica: práticas discursivas Aline Burguignon de Jesus

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As depressões na atualidade: uma questão discursiva? Amanda Andrade Lima

16

Os efeitos da linguagem na constituição subjetiva Ana Claudia Moraes Merelles Bezz

17

Um rio sem margens? O negativo e o nada na linguagem Carolina P. Fedatto

18

Pensando a autoria e posição-autor em produções textuais em LE Christiano Titoneli Santana

19

O discurso sobre e da diversidade no Plano Nacional e Cultura (Lei nº 12.343/2010) Diego Barbosa da Silva

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A reticência no discurso sobre as dançarinas brasileiras de funk tradicional Drielle Cristina E.S da Silva

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Entre a língua do desejo e o desejo da língua:Uma análise da língua inglesa e seu ensino na contemporaneidade Elaine Pereira Daróz

24

Uma dialética que se marca no dizer Fátima Almeida da Silva

25

Mídia impressa e as manifestações de junho de2013/ 2014: uma análise discursiva Flávia Ferreira Alves

27

A Caros Amigos e os protestos de junho de 2013 no Brasil Flavio da Rocha Benayon

28

Os grandes eventos e a segregação socioespacial no jornal O globo Felipe de Carvalho Caneca

30

Sujeitos e sentidos: uma análise sobre o jovem nos discursos midiáticos acerca da maioridade penal Fernanda Cerqueira de Mello

31

O gesto político do enquadramento no discurso jornalístico Fernanda Luzia Lunkes

33

A tensão entre o ser e a suposição do ser: a contradição dos dizeres no debate por direitos dos homossexuais

Frederico Sidney Guimarães

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Língua, discurso e rede eletrônica: uma análise de comentários no Facebook Janaína Soares Almeida Cruz

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As políticas linguísticas do Paraguai e a promoção de um bilinguismo imaginário Joyce Palha Colaça

37

Discurso, leitura e tecnologias (de linguagem) Juciele Pereira Dias

39

As tensões na memória da língua brasileira pelo arquivo Mário de Andrade Lívia Letícia Belmiro Buscácio

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Entre chien et loup: os discursos sobre o autismo e o ponto de vista da Psicanálise Márcia Maria da Silva Cirigliano

42

O Funk proibidão: Não dizer para poder dizer Marcio Valença

44

Sujeito e “espaço”: modos de estar no mundo, efeitos de identificação Marcos de Sá Costa

45

Jovem ou vagabundo? - Infância e violência em uma abordagem discursiva Milene Maciel Carlos Leite

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Música e Brasilidade no discurso publicitário da Copa do Mundo 2014 Paula Gomes de Farias Soares

49

Poder, dever, comer. Sujeito e alimentação nas enciclopédias brasileiras Phellipe Marcel da Silva Esteves

50

Cidade, sujeito e sentido no clipe "Causa e efeito": uma análise discursiva do hip hop Raphael de Morais Trajano

52

A democratização do ensino superior no Brasil: análise do discurso governamental na rede eletrônica Roberta Kerr dos Santos

54

Variação Linguística e Ensino de Língua Materna segundo as Crônicas e Colunas da Mídia Online: uma Proposta de Análise Discursiva Ronaldo Adriano de Freitas

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Violência e testemunho: a discursividade do feminino em blogs Sarah Casimiro

57

Evanildo Bechara: dizer sobre a língua nas gramáticas e no jornal Thaís de Araujo da Costa

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(…) Remediado está: implicações do sentido de greve na relação entre os poderes a partir da Constituição Federal de 1988 Ulisses da Silva Gomes

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III Seminário Interno de Pesquisas do LAS

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APRESENTAÇÃO

O Seminário Interno de Pesquisas do Laboratório Arquivos do Sujeito é uma jornada científica de um dia em que todos os estudantes que desenvolvem pesquisas sob orientação dos professores do LAS têm a oportunidade de apresentar os seus trabalhos recém-concluídos ou em andamento nos anos letivos de 2013/2014.

O Seminário tem como principais objetivos:

- oferecer aos participantes um panorama geral das pesquisas realizadas no Laboratório;

- possibilitar aos estudantes a prática no que concerne à divulgação de suas pesquisas em eventos científicos, desde a elaboração de resumos até a apresentação, de acordo com as normas comumente estabelecidas em eventos desta natureza;

- proporcionar aos orientandos um espaço de discussão dos seus trabalhos de pesquisa e a troca de experiências entre os membros do grupo.

Em sua terceira edição, o evento conta com a apresentação de 31 pesquisas de trabalhos de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado, organizadas em quatro mesas, contemplando as seguintes temáticas: Discurso, Sujeito e Psicanálise; Discurso e Mídia; Discurso e Sociedade; Discurso, Língua e História das Ideias Linguísticas.

Nesta terceira edição do Caderno de Resumos: III Seminário Interno de Pesquisas do Laboratório Arquivos do Sujeito estão reunidos os resumos dos trabalhos que, em seu conjunto, apresentam um panorama das pesquisas desenvolvidas pelos orientandos vinculados ao LAS, no biênio 2013/2014.

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III Seminário Interno de Pesquisas do LAS

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III Seminário Interno de Pesquisas do LAS

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Entre tensões: considerações iniciais sobre os espaços gay-friendly na imprensa online

Alexandre da Silva Zanella

Orientadora: Profa. Dra. Vanise Medeiros Doutorado/UFF- CAPES

Os espaços gay-friendly têm ocupado, desde meados da década de 2000, lugar nas cidades de todo o mundo. A expressão refere-se, de modo naturalizado, a lugares amistosos aos homossexuais e comparece em restaurantes, bares, lojas, agências de turismo, para citar apenas alguns espaços. O uso da denominação gay-friendly tem comparecido também nas páginas dos jornais e na internet. Em uma consulta ao site de buscas do Google, aproximadamente dois milhões e meio de resultados surgem quando a expressão é utilizada entre aspas, um comando que efetua a busca apenas pela sua ocorrência exata. Em sua maioria, os resultados repousam sobre sugestões de hotéis, guias com locais que se autodenominam gay-friendly, rankings de países e de cidades, rankings de empresas, sugestões de festas, e derivações desses resultados primeiros. Nossa investigação se marca inicialmente nos modos de significar dessa expressão, questionando, portanto, quais os modos do significante gay-friendly se marcar quando comparece em diferentes lugares de dizer no meio digital. As tensões que desde um momento inicial se colocam latentes em relação ao uso da denominação gay-friendly foram se mostrando em alguns momentos no discurso jornalístico online, dos quais destacamos: a) a não explicação do que a denominação significa literalmente, pelo fato de se valer de um termo de língua inglesa – friendly –, considerando que gay já está dicionarizado e em ampla utilização no Brasil; b) o desconhecimento se a expressão inglesa estava já incorporada ao léxico brasileiro; c) os modos de gay-friendly significar nos portais que fomos selecionando para análise. A partir dessas contestações iniciais, colocamos de imediato que algo nesse processo falta, porque há uma opacidade quanto ao uso da expressão; a língua não dizendo tudo. Além disso, após a constatação destas ocorrências, questionamo-nos: o que é, contemporaneamente, um lugar gay-friendly? Em que eles se

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III Seminário Interno de Pesquisas do LAS

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diferenciam de lugares apenas denominados gays? Que lugares são esses? De início, queremos colocar estas interrogações acompanhadas de alguns desdobramentos. Para nos debruçarmos nos sentidos sobre os lugares gay-friendly – ruas, cidades, bares, restaurantes, etc. –, escolhemos analisar como esses espaços comparecem na imprensa no meio digital, isto é, em portais de notícias, e, a partir dos efeitos de sentido que a denominação produz, quais discursos sobre o sujeito homossexual são produzidos quando ele fala e/ou é falado pela/na imprensa. Estamos considerando que falar sobre o homossexual é falar sobre um saber sobre ele, instituído, marcado pelos discursos que o atravessa e pelos lugares que ocupa, pelas demarcações na cidade. Além disso, falar sobre o homossexual ocupando espaços na cidade é falar também sobre a própria cidade, sobre os lugares que vão sendo destinados a esse sujeito homossexual. Nossa pesquisa é fundamentada na análise de discurso de linha francesa, com base, sobretudo, nas discussões de Pêcheux, Orlandi e Mariani. Palavras-chave: Análise de discurso francesa; Sujeito homossexual; Discurso jornalístico (online); gay-friendly. Falando sobre a língua portuguesa na rede eletrônica: práticas

discursivas

Aline Burguignon de Jesus Orientadora: Profa. Dra. Silmara Dela Silva

Graduação/UFF-PROAES Neste trabalho trazemos algumas das reflexões que temos desenvolvido no âmbito do projeto “Por um arquivo sobre o sujeito na atualidade: práticas discursivas” (PROAES/UFF), desenvolvido no Laboratório Arquivos do Sujeito (LAS). Tal projeto contempla atividades práticas, ligadas à constituição de arquivo sobre o sujeito na atualidade e atividades teóricas, com o estudo do quadro teórico-metodológico da Análise de Discurso de linha francesa, tal como

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proposta em Michel Pêcheux e Eni Orlandi, com vistas à iniciação em pesquisa. Por constituir-se de atividades de pesquisa e inovação, o projeto em tela busca contribuir para a formação da graduanda, ao possibilitar que os estudos de linguagem, restritos à sala de aula, sejam efetivamente mobilizados em práticas de análises linguísticas de materialidades diversas, com circulação em diferentes instâncias sociais. O envolvimento neste projeto compreende, assim, duas atividades, a saber: i) a participação na constituição de um arquivo sobre o sujeito na atualidade, disponibilizado no site do LAS (www.uff.br/las), composto por discursividades dispersas (do texto mais formalizado a grafites, da imagem parada ou da imagem em movimento na TV a filmetes do Youtube, da entrevista gravada a fragmentos entreouvidos, da música e da poesia e da literatura às charges e piadas, etc); ii) o envolvimento nas atividades de construção da enciclopédia virtual em vídeo, também a ser disponibilizada no site do Laboratório, contemplando noções teóricas do quadro da Análise de Discurso e de áreas afins, como a Psicanálise, por exemplo. As duas atividades têm sido desenvolvidas concomitantemente. Para esta apresentação, no entanto, temos como proposta apresentar um panorama geral do que tem sido feito ao longo da pesquisa, sobretudo retomando algumas das atividades desenvolvidas ao longo do primeiro ano de vigência do projeto (2013). Em consonância aos objetivos do LAS de constituição de um arquivo sobre o sujeito na atualidade, trazemos para apresentação e discussão o trabalho de constituição de um corpus com recortes de postagens e comentários na rede social Facebook que discorrem a respeito da língua e de sua relação com os sujeitos. Mobilizando o quadro teórico-metodológico da Análise de Discurso, apresentamos um primeiro gesto de análise desse corpus, composto por postagens e comentários de internautas na rede social, centrando-nos nas suas condições de produção, bem como nas formações imaginárias de língua que nele se constituem. Com o projeto, buscamos promover o envolvimento no trabalho de divulgação do conhecimento científico, visando a inserção em pesquisa, e o incentivo ao desenvolvimento de uma postura teórico-reflexiva a respeito das questões de linguagem. Palavras-chave: Análise de discurso; Sujeito; Arquivo; Linguagem.

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As depressões na atualidade: uma questão discursiva?

Amanda Andrade Lima Orientadora: Profa. Dra. Bethania Mariani

Mestrado/UFF O objetivo desta pesquisa é analisar os discursos que cercam a prática clínica, mais especificamente, a clínica das depressões. O que significa dizer que o sujeito está em depressão ou é deprimido? A clínica traz uma especificidade em que o que está em questão são classificações. Já o clínico traz a escuta como base de sustentação, inclui aquele que fala e aquele que escuta. Entre aquilo de que pretendemos falar e como de fato é dito, existem mal-entendidos. É a partir destes que pretendemos fazer articulações entre a Psicanálise e a Análise do Discurso. Segundo Lacan, o sujeito é efeito de linguagem e o inconsciente é discurso. Através da Análise de Discurso, que tem a ideia da não-transparência da linguagem como um dos pilares da sua teoria, pretendemos responder sucintamente aos questionamentos suscitados acima. Como afirma Pêcheux: “apenas uma articulação teórica entre linguística, o materialismo histórico e a psicanálise permite compreender, analisar e extrair consequências do fato de que, quando falamos, estamos simultaneamente afetados pelo funcionamento da ideologia e do inconsciente, ambos inscritos no funcionamento da linguagem, aqui compreendida como um sistema sujeito a falhas. Esse funcionamento não é transparente para o sujeito, ou seja, não percebemos como somos afetados pela ideologia, e pelo inconsciente: simplesmente falamos como se estivéssemos na origem do dizer e como se dominássemos completamente os sentidos do que pretendemos dizer.” (PÊCHEUX, 2009, p. 243). Trago essa citação para sustentar que, para fazer essa articulação entre a Análise do Discurso e Psicanálise, é fundamental trazer para a discussão o modo como o sujeito é pensado. O sujeito deve ser destacado como o sujeito dividido, ou seja, o que comparece enquanto falha, causa; o que deve ser considerado, pois, são as manifestações do inconsciente, que Pêcheux ressalta da leitura Lacaniana. Buscarei, inicialmente, pensar o funcionamento da linguagem a partir dos estudos discursivos que

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compreendem a língua com o um acontecimento (PECHEUX, 1990), em que sujeitos e sentidos são engendrados pela língua e pela história. Conduzirei meu estudo a partir do ponto de vista da Análise de Discurso, procurando verificar as mudanças na produção de novos manuais e suas condições de produção. Para tal, utilizarei a quarta edição do Manual de Diagnóstico e Estatísticas de Transtornos Mentais ou DSM-IV. Analisarei seus antecedentes históricos e seus critérios para alteração, buscando compreender que efeitos de sentido são produzidos por tais mudanças. Palavras-chave: Análise do discurso; Psicanálise; Sujeito; Depressão.

Os efeitos da linguagem na constituição subjetiva

Ana Claudia Moraes Merelles Bezz

Orientadora: Profa. Dra. Bethania Mariani Doutorado/UFF-CNPq

Esta pesquisa tem como tema principal investigar os efeitos da linguagem na constituição subjetiva, a partir da articulção entres dois campos: Análise do Discurso e Psicanálise. Partindo da idéia de que há uma irremediável dependência do humano com relação à linguagem e que isso marca uma radical descontinuidade entre o mundo animal e o mundo humano, encontramos aí os pontos de junção entre a Psicanálise e a Análise do Discurso, uma vez que ambas se referem ao "homem das letras". Consideramos que o infans necessita, para sua constituição como sujeito desejante, da presença efetiva de um Outro que possa convocá-lo, inseri-lo no universo simbólico, antes mesmo que o bebê humano tenha tomado a palavra enquanto tal. Levando em conta que neste momento fecundo algo se transmite e se marca, surgem algumas perguntas: de que ordem é essa transmissão? Como se dá a entrada do infans no campo da linguagem? Qual o papel do Outro nessa montagem psíquica? Caso esse Outro falte neste momento constitutivo haveria possibilidade do infans aceder ao campo da fala e da linguagem? A partir destas

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perguntas centrais pretendemos desenvolver nossa pesquisa visando trazer maior alcance acerca das questões suscitadas sobre a constituição do sujeito. Dentre os objetivos do trabalho a ser desenvolvido, destacamos, no que concerne ao plano teórico, promover uma interlocução entre Análise do Discurso e a Psicanálise, cernindo o que ambas trazem como contribuição no que diz respeito ao funcionamento da linguagem e o surgimento do sujeito, bem como aprofundar, a partir dos campos citados, a teorização sobre conceitos fundamentais como língua, linguagem, fala e discurso com o intuito de abordar, com ferramentas teóricas específicas, a noção de língua materna. No que tange aos objetivos analíticos, pretendemos a construção de um corpus com o intuito de observar as interações de bebês com seus pais e educadores em instituições nas quais esses bebês são acolhidos a fim de analisar as respostas ofertadas pelos bebês às convocações que lhes são dirigidas ainda que não entendam o significado das palavras. Para tal abordagem, adotaremos como ferramenta de estudos a psicanálise lacaniana, no que esta traz de retorno a Freud e a Análise de Discurso francesa promovida por Michel Pêcheux. Pretendemos retomar reflexões levantadas pelos autores citados acima que indicam que o nascimento do sujeito se dá na e pela linguagem. Palavras-chave: Discurso; Língua; Linguagem; Sujeito.

Um rio sem margens? O negativo e o nada na linguagem

Carolina P. Fedatto Supervisão: Profa. Dra. Bethania Mariani

Pós-doutorado UFF/UFMG/Capes Como parte de uma pesquisa mais ampla sobre a negação nas Ciências da Linguagem, na Filosofia e na Psicanálise, proponho uma reflexão sobre a questão do negativo na linguagem, que toca a instância do significante e os contornos do signo, e sobre o horizonte do nada em relação ao sentido, que resvala no materialismo e no real do acaso. Para isso, alguns recortes do conto "A terceira margem do

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rio", de João Guimarães Rosa, serão trabalhados como metáfora para pensarmos as bordas e o abismo do sentido. Buscaremos explorar os limites conceituais entre vácuo, vazio e nada visando à discussão do nada em relação ao real, ao não-sentido e ao silêncio, tal como propostos por Eni Orlandi. O objetivo dessas reflexões teóricas é colocar em questão os sentidos do não na linguagem, no sujeito e na história, sua possibilidade de resistência, sua potência divisora e sua carga de diferença. Palavras-chave: Análise do Discurso e Psicanálise; Negação; Negativo; Nada.

Pensando a autoria e posição-autor em produções textuais em LE

Christiano Titoneli Santana

Orientadora: Profa. Dra. Silmara Dela Silva Mestrado/UFF

Este trabalho, fundamentado na perspectiva teórico-metodológica da Análise de Discurso de linha francesa, é fruto de estudo e reflexões em andamento a respeito de autoria e produção textual em língua estrangeira (LE) com vistas à pesquisa para Dissertação em Estudos de Linguagem. A priori, propomos um gesto interpretativo do conto Old Man at the Bridge, de autoria de Hemingway, apoiados na noção teórica de condições de produção, como explicitado por Pêcheux (1969). Em seguida, com a análise das produções textuais LE, sob a forma de reconto feita por alunos graduandos em Letras (Português-Inglês) de uma universidade pública do estado do Rio de Janeiro, dialogamos as condições de produção da obra com as produções textuais realizadas em língua inglesa. Baseados nas condições de produção, pretendemos, assim, analisar se há posições de sujeito-autor durante os textos, como o funcionamento da linguagem da LE propicia essas marcas, ou não, e, principalmente, investigar se há marcas e gestos da “passagem da função de sujeito-

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enunciador para a de sujeito-autor” (ORLANDI, 2012 [1987], p. 106). Para isso, recorremos, além dos conceitos de autoria em Orlandi (2012), aos de heterogeneidades enunciativa (AUTHIER-REVUZ, 1990) e discursiva (GALLO, 2001) com foco na constituição da posição sujeito-autor. O material coletado é fruto de um dos trabalhos da disciplina em produção textual em língua inglesa de uma universidade pública do estado do Rio de Janeiro. Foi escolhido o conto Old Man at the Bridge, de autoria de Hemingway (1963). A tarefa foi ler o conto em sala, produzir um texto individualmente contando a história e, em último, discutir junto com o professor a história em uma abordagem sócio-histórica, de modo que a discussão não influenciasse ou barrasse o gesto interpretativo dos alunos. O propósito dessa tarefa era avaliar o processo de recontar em língua inglesa. Posteriormente, esse material tornou-se um caminho inicial para o presente projeto voltado à autoria, posição sujeito-autor, gestos ou marcas de autoria. Ainda em análise, vale destacar que essas produções textuais têm refletido, com influências do institucional, uma busca pelo apagamento de seu gesto interpretativo – uma tendência enraizada desde o ensino básico. Além disso, tais produções têm desvelado dependência dos alunos ao eixo do previsível e da repetição formal, permanecendo na paráfrase em diferentes trechos. Palavras-chave: Sujeito-autor; Produção Textual; Língua Inglesa; Autoria.

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O discurso sobre e da diversidade no Plano Nacional e Cultura (Lei nº 12.343/2010)

Diego Barbosa da Silva

Orientadora: Profa. Dra.Vanise Medeiros Doutorado/ UFF-CAPES/Arquivo Nacional

Nestas últimas décadas acompanhamos uma série de conflitos envolvendo diversidade e identidade, sobretudo após a intensificação da globalização e a diversificação dos fluxos migratórios no mundo como um todo. Entre eles destacamos os plebiscitos na Suíça em 2009 contra a construção de minaretes e em 2010 a favor da expulsão de imigrantes que cometeram crimes graves; a expulsão de ciganos da França, em 2010; a proibição do uso do véu islâmico em locais públicos na França em 2010; os ataques a homossexuais no Brasil; a decisão, em 2011, do Tribunal Europeu de Direitos Humanos de manter crucifixos nas escolas da Itália, modificando a decisão anterior do mesmo tribunal e os debates no Congresso Nacional brasileiro em torno da exclusão da diversidade cultural do Plano Nacional de Educação (Lei nº 13.005/2014). Tais fatos nos chamaram atenção para refletir por meio da análise materialista do discurso de Michel Pêcheux e Eni Orlandi, o discurso sobre e da diversidade cultural. Se por um lado, o discurso sobre a diversidade está relacionado à percepção do outro enquanto diferente sob distintas formações imaginárias tais como o outro enquanto bárbaro, enquanto bom selvagem e enquanto exótico, analisadas por nós a partir de recortes de sequências discursivas em relatos, cartas, diários de viajantes e de missionários, além de tratados de naturalistas do século XIII ao XX. Por outro, o discurso da diversidade apresenta uma posição a favor da convivência pacífica das pessoas de diferentes culturas. Ou seja, uma posição de que embora haja diferença, a igualdade deve prevalecer. Nosso corpus de pesquisa de Doutorado em Estudos de Linguagem para analisar o funcionamento dessa contradição entre o igual e o diferente, entre o discurso sobre a da diversidade é o Plano Nacional de Cultura. Primeiro, porque ele tem por “finalidade o planejamento e implementação de políticas públicas de longo prazo (até 2020) voltadas à proteção e promoção

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da diversidade cultural brasileira”. Segundo, porque a sua elaboração, enquanto processo legislativo, foi feita a partir da participação de diversos segmentos da sociedade civil, até ser transformado na Lei nº 12.343/2010, sendo possível, assim, recuperar quais vozes foram convidadas a participar e a opinar, quais foram apagadas e quais foram silenciadas. Buscamos com isso refletir os efeitos de sentido sobre e da diversidade cultural contidos neste documento, e pretendemos, por fim, pensar o discurso da diversidade enquanto um acontecimento discursivo, ou seja, refletir se há e quais são as rupturas, as reproduções e/ou os deslocamentos na sua constituição. Palavras-chave: Diversidade cultural; Acontecimento discursivo; Multiculturalismo; Plano Nacional de Cultura. A reticência no discurso sobre as dançarinas brasileiras de funk

tradicional

Drielle Cristina E.S. da Silva Orientadora: Profa. Dra. Juciele Pereira Dias

IC/UFF-Edital Pós-Doc Este trabalho, filiado à perspectiva teórica da Análise do Discurso (Orlandi, 2009, 2012), faz parte do projeto de iniciação científica intitulado “O sujeito na contemporaneidade: língua, dança e tecnologias de linguagem” que tem como objetivo analisar as imagens sobre a dançarina brasileira no espaço digital. Essa questão está inscrita, de modo mais amplo, no projeto PNPD-CAPES sobre as formações imaginárias acerca do sujeito brasileiro, principalmente, sobre os jovens brasileiros em situação de risco. Nosso estudo tem como objetivo compreender os efeitos de sentido do sinal de pontuação reticência sobre a relação jovem brasileiro e dança “funk tradicional” em comentários de vídeos na rede Youtube. O trabalho está sendo desenvolvido no Laboratório Arquivos do Sujeito (LAS) e conta com uma bolsa de iniciação científica do

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“Programa Institucional da UFF de apoio a pós-doutorandos, chamada do PDI 2014". Considerando a repetição da reticência nos comentários dos vídeos de jovens brasileiras dançando o “funk tradicional”, buscamos compreender os efeitos de sentido da reticência na constituição da posição sujeito dançarina brasileira de “funk tradicional” no Youtube. Temos como objetivo para o campo de pesquisa observar as construções feitas sobre a dançarina brasileira de funk tradicional a partir dos comentários dos vídeos da rede Youtube em que se repete o sinal de pontuação reticência. Estudar as noções de sujeito e discurso em relação às tecnologias de linguagem na contemporaneidade. Analisar o discurso sobre as jovens dançarinas brasileiras na rede social Youtube para a divulgação científica em relação às novas tecnologias, estimular e contribuir com as pesquisas já existentes sobre discurso audiovisual na Análise do Discurso no Brasil. A pesquisa está sendo desenvolvida em quatro etapas: Leituras de textos basilares da Análise de Discurso e mapeamento dos conceitos de sujeito e de discurso; Levantamento dos vídeos do Youtube sobre fatos relacionados a dança de jovens no Brasil; Mapeamento de repetições nos comentários dos vídeos; Análise das repetições do sinal de pontuação reticência nos comentários dos vídeos. Atualmente, estamos construindo um arquivo dos comentários dos vídeos em que a reticência se repete. Esta análise está fundamentada nos conceitos basilares da Análise do Discurso, com o objetivo de compreender a constituição da posição sujeito dançarina brasileira de funk tradicional e os efeitos de sentidos da relação mulher/corpo/dança sob o olhar dos brasileiros que acessam vídeos de funk na rede Youtube. Palavras-chave: Discurso; Dança; Sujeito; Funk.

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Entre a língua do desejo e o desejo da língua: Uma análise da língua inglesa e seu ensino na

contemporaneidade

Elaine Pereira Daróz Orientadora: Profa. Dra. Silmara Dela Silva

Doutorado/UFF-CAPES A partir do trabalho iniciado em meio à pesquisa de doutoramento em Estudos de Linguagem na Universidade Federal Fluminense, centrado na compreensão dos modos de subjetivação do aluno à língua inglesa, procuramos neste trabalho, apresentar uma reflexão teórica acerca do movimento simbólico na passagem da língua materna para a língua estrangeira, bem como suas implicações para o ensino de língua inglesa no país, para uma melhor compreensão de como os efeitos de sentido acerca dos dizeres sobre a língua afetam os processos de subjetivação do aprendiz à língua em aprendizagem. Para tanto, os pressupostos teórico-metodológicos da Análise de Discurso francesa, fundada por Michel Pêcheux, e reterritorializada no Brasil a partir dos trabalhos de Eni Orlandi, constituirão o aporte desta pesquisa, tomando em consideração a concepção de um sujeito sócio-histórico, afetado pelo real da língua e o real da história, que produz seu discurso por meio de processos de interpelação/identificação a filiações ideológicas concernentes ao seu tempo. Diversos são os discursos que circulam acerca da língua inglesa na contemporaneidade que, em geral, é significada sob a perspectiva de uma língua comercial, um objeto do conhecimento o qual temos de adquiri-lo, a fim de alcançarmos uma ascensão profissional, e pessoal, e, assim, inserirmo-nos em uma “aldeia global”. Na consideração da língua como elemento constitutivo do sujeito, buscamos uma investigação acerca do ensino da língua inglesa/LE nas escolas de ensino regular, tendo em vista os processos de identificação do aluno à língua em aprendizagem, em especial no tocante à relação do sujeito com a língua, tendo em vista a imbricação cultura/ideologia/inconsciente – compreendidos como elementos constitutivos do sujeito que, responsáveis por produzir o

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efeito de evidência dos sentidos, a nosso pensar, interferem nas imagens (PÊCHEUX, 1997) que o aluno faz tanto de si mesmo, quanto do seu interlocutor, bem como da língua em estudo. Para tal, discorreremos sobre a discursividade acerca da língua inglesa na contemporaneidade, compreendida como espaço de representatividade no mundo “globalizado”. A seguir, apresentaremos a noção de língua como elemento constitutivo do sujeito, e a cultura enquanto espaço de identificação do sujeito com a língua que o constitui. Na sequência, traremos uma breve reflexão acerca do papel do ensino da língua inglesa em escolas regulares, assim como apresentar algumas conclusões, ainda que provisórias, acerca do objeto em estudo. Palavras-chave: Análise de Discurso; Língua inglesa; Ensino; Contemporaneidade.

Uma dialética que se marca no dizer

Fátima Almeida da Silva Orientadora: Profa. Dra. Vanise Medeiros

Doutorado /UFF Com este trabalho, damos a conhecer nossa pesquisa de doutorado. Com base na Análise de Discurso Francesa (Pêcheux/Orlandi) e na teoria da heterogeneidade de Authier-Revuz, buscamos analisar o funcionamento discursivo da pontuação na novela Um sopro de vida de Clarice Lispector. Em nossa dissertação de mestrado, debruçamo-nos sobre a pontuação na novela A hora da estrela – uma novela cuja escrita se desdobrava sobre si mesma. Decidimos dar continuidade, no doutorado, ao estudo da pontuação em Clarice, sendo que, agora, focaremos outra novela. Nosso objetivo é ver como funcionam os sinais de pontuação em Um sopro de vida, é ver que sentidos esses sinais apontam para nós leitores de Clarice. Entre o funcionamento da pontuação em A hora da estrela e em Um sopro de vida, observamos aproximações e distanciamentos. As duas novelas tratam

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do dilema do escritor e sua criação, do conflito que se dá entre escritor e dizer, dizer de si, dizer do outro, dizer, não-dizer. A diferença é que a personagem sobre a qual o narrador-escritor de A hora da estrela fala, não tem voz – é Macabéa, a nordestina alagoana. Já em Um sopro de vida, Ângela – a personagem criada pelo escritor-autor –, tem voz, mas não dialoga com o autor- criador. Em ambas as narrativas Macabéa e Ângela seriam um alter-ego do narrador/autor? Como esse conflito de identidades (eu/outro) se marca na língua? Um sopro de vida narra a história de um escritor que cria uma personagem que, de acordo com o próprio escritor, é um outro dele. Durante o livro, Ângela Pralini (a personagem criada) se distancia do escritor. Esse distanciamento se dá na medida em que o escritor é racional, trabalha com a lógica e Ângela é o lado oposto do escritor – totalmente emotiva, deixa-se levar pelas sensações e sentimentos. Ângela é passional e o autor é racional. Esse conflito é marcado na escrita através dos sinais de pontuação. Durante o desenvolvimento do livro, há um simulacro de diálogo entre o autor e Ângela. Por que simulacro? Durante todo o livro, entramos em contato com as falas soltas de Ângela e a fala do narrador sobre o dizer de Ângela, mas estas duas falas não se encontram, no desenvolvimento da narrativa. Daí falarmos em simulacro. Ângela conta suas emoções, ao passo que o autor tece comentários sobre o dizer dela. O dizer do autor funciona como uma narrativa que se desdobra sobre o dizer de Ângela. O autor procura sempre analisar a fala de Ângela, criticando-a, dizendo que é uma fala sem sentido, é uma fala sem palavras. O autor – criador da personagem Ângela – ao mesmo tempo em que coloca as sensações na boca de Ângela, deixando-a falar, dando-lhe um sopro de vida, tenta cercear o dizer de Ângela. Há momentos em que o autor admite que não deixou a personagem falar o que ela queria. É esta dialética entre Ângela (criação) e o autor(criador), que se marca na língua, que pretendemos estudar através do funcionamento dos sinais de pontuação. Palavras-chave: Dialética; Ângela; Autor; Pontuação.

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Mídia impressa e as manifestações de junho de 2013/2014: uma análise discursiva

Flávia Ferreira Alves

Orientadora: Profa. Dra. Silmara Dela Silva Mestrado/UFF

O presente trabalho tem por objetivo analisar, fundamentado nos pressupostos teórico-metodológicos de Análise do Discurso, proposta apresentado por Michel Pêcheux, como as revistas Veja e Isto É noticiam, produzindo efeitos de sentidos, as manifestações que ocorreram em junho de 2013 e como essas publicações relataram esses eventos um ano após o acontecimento. Considerando que a análise discursiva pressupõe levar em conta as condições de produção do discurso, objetiva-se discutir a respeito do papel da mídia, relacionando-a na produção de sentido para as manifestações como acontecimento discursivo/enunciativo. Pretende-se também, de acordo com as análises das publicações, verificar a filiação dos dizeres que circularam nas revistas Veja e Isto É e de que maneira os enunciados expostos nas reportagens apontam a filiação das revistas em diferentes posições ideológicas. A escolha pelas revistas Veja e IstoÉ se deve pelo fato de constituírem duas publicações que imaginariamente assumem posicionamentos ideológicos distintos. Veja se apresenta como meio de comunicação que propõe aos seus leitores um posicionamento, uma reflexão acerca de determinado assunto. Isto É considera-se “independente”, utiliza-se deste denominador para apresentar aos seus leitores que suas reportagens são produzidas de maneira imparcial e objetiva, sem favorecer qualquer partido político ou segmentos sociais. O corpus do trabalho será formado a partir das três edições das revistas Isto É e de Veja que apresentaram como destaque em suas capas as manifestações de junho de 2013. As reportagens sobre as manifestações de 2013 foram destaques nas capas em três edições consecutivas na revista Isto É e em cinco edições em Veja. Em 2014, Veja e Isto É publicaram em suas capas reportagens sobre a copa do mundo, sem nenhuma referência às manifestações do ano anterior. As manifestações são citadas de forma indireta em reportagens variadas, sem qualquer

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menção ao evento histórico que ocorreu no país, mobilizando além da opinião pública toda classe política. Apesar de não aparecerem nas capas e raramente nas reportagens, houve manifestações populares, principalmente nas cidades que sediaram os jogos da seleção brasileira. Em São Paulo, no dia 19 de junho de 2014, centenas de manifestantes lembraram o aniversário do cancelamento do reajuste da tarifa de ônibus. Mesmo com o número menor de participante e com frequência reduzida, as manifestações compareceram às ruas, mas se ausentarem de Veja e Isto É. Há algumas causas para esse silêncio, pensado aqui de acordo com os pressupostos apresentados por Eni Orlandi, por parte das publicações. As razões mais evidentes são a realização da copa do mundo e as eleições presidenciais. A princípio, as duas publicações parecem expressar discursos distintos, mas em relação ao silêncio no aniversário de uma das maiores manifestações da história do país, as duas revistas dialogam com o mesmo discurso: o silêncio. Palavras-chave: Análise de Discurso; Mídia impressa; Manifestações; Silêncio.

A Caros Amigos e os protestos de junho de 2013 no Brasil

Flavio da Rocha Benayon Orientadora: Profa. Dra. Vanise Medeiros

IC/UFF-PIBIC

A pesquisa integrou o projeto “Formas de dizer, formas de mostrar: a inscrição da violência na sociedade contemporânea e das formas de resistir” (CNPq/CAPES nº. 07/2011) da professora Vanise Gomes de Medeiros (UFF), cujo escopo diz respeito à discursividade na mídia acerca da violência e da(s) resposta(s) a ela. Tendo como suporte teórico a Análise de Discurso (Pêcheux e Orlandi), o trabalho realizado, que se centra nas formas de resistência, objetivou a análise do funcionamento discursivo nas manifestações ocorridas no Brasil a partir de junho de 2013, no jornal Le Monde Diplomatique Brasil e

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na revista Caros Amigos. Para esta exposição, focalizou-se a revista Caros Amigos nº 198 (setembro de 2013). O aparato teórico incluiu o estudo das denominações, colocando-se os seguintes questionamentos: que memórias se inscrevem nos diferentes dizeres? De que lugares se enuncia? Até que ponto os enunciados são interpelados por formações discursivas diferentes? No percurso de análise, compareceram cinco vozes, todas especificamente qualificadas, sendo elas: Kenso Soares, Márcia Leite, Daniel Iliescu, Alessandro Molon e Ernesto Brito. Verificou-se que houve um silenciamento da direita, de forma que todas as vozes que compareceram foram relacionadas a siglas e movimentos de esquerda. Também houve um silenciamento das vozes policiais, que compareceram pelo não-dito através da denominação violência policial. Ainda, o único a ser associado a um tipo específico de movimento foi Ernesto Brito, ativista dos Black Bloc, qualificado como “ativista defensor dos protestos violentos como forma de pressão popular”. As denominações movimentos de juventude, nova geração política, velha esquerda e membro da juventude do PSOL compareceram inscritas na mesma rede parafrástica, significando a partir da mesma formação discursiva. Os efeitos de sentido provocados pelas quatro denominações dizem de um novo movimento marcado pela juventude e em relação com um passado em comum das lutas sociais. Uma quinta forma de denominar os movimentos compareceu, sendo ela protestos violentos. Se as primeiras denominações apresentadas dizem de uma forma de movimento válido, a última se encontra fora daquela rede parafrástica, produzindo efeitos de sentido da ordem do que não é legítimo. Ainda, protestos violentos, ao caracterizar um tipo específico de protesto relacionado ao ativista Ernesto Brito, desliza sentidos para significar os movimentos Black Bloc, deslegitimando-os e causando um apagamento de sua historicidade. As denominações nenhuma organização e movimentos de juventude organizados compareceram em uma relação de forças, em disputa, buscando estabilizar sentidos para um mesmo campo semântico. Essa disputa de sentidos perpassa todo o artigo da Caros Amigos, na medida em que há um confronto entre duas formações discursivas: uma em que os movimentos são organizados à esquerda; outra em

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que há a ausência de organização. Destarte, nenhuma organização mobiliza como interdiscurso os movimentos anarquistas no Brasil, que foram postos como desorganizados, produzindo efeitos de sentido de deslegitimação. Palavras-chave: Caros amigos; Protestos de junho de 2013; Manifestações; Movimentos sociais.

Os grandes eventos e a segregação socioespacial no

jornal O globo

Felipe de Carvalho Caneca Orientadora: Profa. Dra. Bethania Mariani

IC/UFF O Rio de Janeiro viu surgir, nos últimos anos, a questão da Aldeia Maracanã: o governo anunciou a demolição do prédio do antigo Museu do Índio, local em que residia, desde 2006, um grupo de famílias indígenas. Os movimentos sociais se manifestaram, e a discussão ganhou proporções nacionais. Em meio a essa polêmica, lançamos mão do aparato teórico-metodológico da Análise do Discurso de linha francesa (Pêcheux e Orlandi), para investigar o que dizia o jornal O Globo. Nosso corpus é um conjunto de manchetes e trechos de matérias publicadas entre 2013 e 2014, a partir do qual nos perguntamos: como O Globo significou a situação? Que sentidos atribuiu aos índios e ao movimento da Aldeia Maracanã em meio à narração dos fatos? E de que forma esse jornal, ao contar tais fatos, reflete discursivamente o imaginário e os interesses de uma camada mais favorecida da sociedade? Segundo Mariani (1998) as propriedades principais do discurso jornalístico são o caráter submisso em relação ao jogo de poder vigente, e a adequação em relação ao que a sociedade ocidental considera como liberdade e bons costumes. Valores que são muito diferentes daqueles evocados como memória pelos indígenas que manifestaram resistência na Aldeia Maracanã. Embora haja muito intercâmbio cultural na atualidade, a relação com o índio em meio a uma cultura industrial-

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urbana será sempre permeada de contradições. Pois há, historicamente, uma hegemonia da produção de sentidos da civilização branca e cristã, assim como um silenciamento do indígena, processos que remontam aos tempos da catequização. E a presente pesquisa pretende dessuperficializar o discurso jornalístico em sua clareza e objetividade, para assim investigar todo esse "real da história" (Orlandi, 2009), quer dizer, essas tensões e contradições da convivência social, que se inscrevem na linguagem, e são constitutivas da forma como se fala sobre a Aldeia Maracanã hoje. Palavras-chave: Aldeia Maracanã; Análise de Discurso; Jornal O Globo.

Sujeitos e sentidos: uma análise sobre o jovem nos discursos midiáticos acerca da maioridade penal

Fernanda Cerqueira de Mello

Orientadora: Profa. Dra. Silmara Dela Silva IC/UFF- FAPERJ

Neste trabalho, realizado em nível de iniciação científica, apresentamos parte das reflexões e análises que temos desenvolvido no âmbito do projeto de iniciação científica “Dos discursos, dos sujeitos: efeitos de sentido para o sujeito jovem em dizeres sobre a maioria penal na mídia”, que tem como proposta a análise discursiva de dizeres acerca da maioridade penal no Brasil em circulação na mídia na atualidade. Temos como foco a análise dos efeitos de sentidos que se constituem para o sujeito jovem, em discursos com circulação na mídia televisiva que colocam em pauta a discussão acerca da maioridade penal e/ou que sugerem a sua redução. O corpus principal de análise é composto por dois vídeos, a saber: uma matéria do telejornal Brasil Urgente, exibido pela rede de televisão Bandeirantes, na qual o âncora do programa, José Luiz Datena, entrevista o promotor da Vara da Infância e Juventude de São Paulo; e uma edição do programa Encontro com Fátima, exibido

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pela Rede Globo de Televisão, na qual a jornalista Fátima Bernardes atua como mediadora em discussão sobre a maioridade penal no país. Para esta apresentação, centramos as nossas análises em sequências discursivas do corpus do telejornal Brasil Urgente, constituídas a partir do funcionamento da designação “jovem” e suas variações, indagando-nos acerca dos efeitos de sentido que são por ela produzidos nos dizeres que circulam no programa televisivo, advindos de diferentes posições ideológicas. Como aporte para o desenvolvimento da pesquisa, adotamos o referencial teórico-metodológico da Análise de Discurso de linha francesa, conforme proposta por Michel Pêcheux (e desenvolvida no Brasil a partir dos trabalhos de Eni Orlandi). Desse modo, entendemos o discurso como efeitos de sentidos que se constituem para e por sujeitos, em relação a determinadas condições sócio-históricas. Para a constituição do dispositivo de análise, mobilizamos noções como condições de produção do discurso, posição sujeito e ideologia, entendida, desta perspectiva teórica, como um mecanismo de produção de evidências do sentido e do sujeito, que se constitui, por sua vez, como um efeito do discurso. Também mobilizamos nas análises a noção de designação, entendida, conforme Eduardo Guimarães (Semântica do acontecimento. Um estudo da designação. Campinas: Pontes, 2005, p. 9), como a “significação de um nome”, mas a “significação enquanto algo próprio das relações de linguagem, (...) enquanto uma relação linguística (simbólica) remetida ao real, exposta ao real, ou seja, enquanto uma relação tomada na história”. Com nossas análises, buscamos contribuir para a compreensão dos processos de constituição de sentidos para o sujeito jovem na atualidade, ao darmos continuidade às reflexões discursivas acerca do funcionamento do discurso da/na mídia na atualidade, com foco nas relações entre discurso e sujeito. Palavras-chave: Análise de Discurso; Sujeito jovem; Mídia; Maioridade penal.

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O gesto político do enquadramento no discurso jornalístico

Fernanda Luzia Lunkes

Supervisão: Profa. Dra. Bethania Mariani Pós-doutorado/UFF/Capes-PNPD

Este trabalho tem como propósito apresentar algumas das questões teóricas abordadas na tese de doutorado (LUNKES, 2014) e que estão, no presente momento, articuladas ao projeto em desenvolvimento no pós-doutorado, sob supervisão de Bethania Mariani. Esta atual pesquisa, filiada à Análise de Discurso francesa (PÊCHEUX, [1969] 1997, [1975] 2009, [1983] 1990, [1983] 2010), objetiva desenvolver alguns conceitos e noções desenvolvidos no doutorado em relação à análise discursiva da imagem (PÊCHEUX, [1983] 2010; LAGAZZI, 2009). Um dos objetivos mais amplos da pesquisa é o de analisar o funcionamento das relações sociais no espaço urbano a partir da imagem do discurso jornalístico, pois se compreende que esta materialidade significante produz efeitos do que é possível e necessário de se mostrar em uma dada formação social. Também interessa analisar discursivamente alguns dos modos pelos quais o corpo discursivo (FERREIRA, 2011) comparece na materialidade imagética, buscando desenvolver a noção construída anteriormente de traços do imaginário do corpo discursivo. A análise da imagem, a partir dos dispositivos teórico-metodológicos da Análise do Discurso, permite afirmar que esta materialidade comporta o que é da ordem do político, daí propor e desenvolver na pesquisa a noção do “político da imagem”. Esta expressão tem como base o trabalho desenvolvido por Orlandi (2001), cujo postulado é de que toda produção de sentidos é dividida e está relacionada a uma tomada de poder. Nesta direção de sentidos, o discurso é um palco de tensões, considerando que os sentidos não estão à deriva, mas são calcados em práticas discursivas em uma determinada formação social, produzindo vestígios discursivos das relações de poder em jogo em uma dada época. Desta maneira, o gesto do enquadramento da imagem que se materializa no discurso jornalístico é mais um modo de funcionamento das práticas discursivas de uma dada

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sociedade, e as regularidades, os deslocamentos, os equívocos, os silenciamentos que são produzidos na imagem acenam para o que é da ordem do político neste gesto, cujo efeito de sentido mais hegemonicamente marcado é o de ser registro e ilustração imparcial do espaço urbano e dos sujeitos que nele circulam. Vale frisar os efeitos de sentidos para os quais o termo ‘enquadramento’ mobiliza nesta pesquisa: a) característica da fotografia – plana e enquadrada (AUMONT, 2006); b) noção que permite compreender o espaço urbano enquanto “espaço significativo” (ORLANDI, 2009, p. 16); c) modo de designar nosso gesto de leitura do que é possível e necessário de se mostrar no discurso jornalístico. Desta maneira, a apresentação busca abordar os aspectos teórico-analíticos aqui destacados, bem como de outros que estão sendo considerados no projeto de pesquisa. Palavras-chave: Análise de Discurso; Discurso jornalístico; Imagem; Político da imagem.

A tensão entre o ser e a suposição do ser: a contradição dos

dizeres no debate por direitos dos homossexuais

Frederico Sidney Guimarães Orientadora: Profa. Dra. Bethania Mariani

Doutorado/UFF O efeito de sentido numa fala não se restringe à suposta filiação ideológica. O pressuposto desse trabalho é trabalhar a noção da contradição do dizer entre enunciados favoráveis e contrários aos direitos dos homossexuais. Com base nesse pressuposto e no aporte teórico da Análise do Discurso iniciada com Pêcheux e Orlandi, as observações indicam que um simples enunciado vai além daquilo que o individuo quer dizer. Através de uma discussão entre a inserção do sujeito num esquema determinado pela conjuntura histórica e influenciado inconscientemente pelo discurso do outro, este trabalho propõe analisar como enunciados de indivíduos (em sua

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singularidade) remetem a um assujeitamento num sistema misto de revolta e submissão. O desenvolvimento da análise conta com a utilização do conceito de “performatividade” elaborado incialmente por Judith Butler. Diferente da noção de performance, a performatividade não é vista como um ato singular, e sim como uma reprodução daquilo que se nomeia (levando a uma reflexão sobre o inconsciente). Esse conceito, se inicialmente correspondia ao desenvolvimento teórico sobre as concepções de gênero, torna-se ele mesmo um significante capaz de incrementar as demandas políticas sobre a homossexualidade. Isso coloca a própria teoria como um corpus discursivo a ser analisado. Nossa temática é focalizada na assunção de identidades homossexuais e no histórico do movimento político entendido como uma das prerrogativas que possibilitaram uma maior discursivização das questões de sexo e de gênero nos meios sociais e acadêmicos. O trabalho se configura numa proposta interdisciplinar de análise que utiliza conhecimentos históricos, sociológicos e linguísticos. Os conceitos como ideologia, cultura e língua são “reterritorializados” para uma melhor utilização nas análises discursivas, sem desprivilegiar qualquer área de conhecimento. Através de exemplos enunciativos selecionados em sites de redes sociais e em observações empíricas em sala de aula, a Análise do Discurso é utilizada como aporte teórico para aglutinar questões sobre cultura, poder e controle. Os princípios epistemológicos utilizados pressupõem: o sujeito como determinado pelo sistema ao qual pertence; e a realidade como socialmente construída. Desta forma é possível fazer uma investigação dos processos de significação sobre a homossexualidade a partir das disputas por direitos civis e pela afirmação de práticas sociais. O campo de abordagem dessas disputas permite a reflexão sobre o papel do imaginário tanto nas (trans)posições dos sentidos como nas formas (do) sujeito no discurso. O trabalho, então, desenvolve tanto uma discussão teórica acerca da sexualidade, gênero e discurso, como uma reflexão sobre estigmas e revolta em comportamentos individuais aparentemente descompromissados. Palavras-chave: Análise do Discurso; Sexualidade; Sujeito; Contradição.

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Língua, discurso e rede eletrônica: uma análise de comentários no Facebook

Janaína Soares Almeida Cruz

Orientadora: Profa. Dra. Silmara Dela Silva IC/UFF-PIBIC

O projeto de iniciação científica, intitulado O discurso sobre a língua na rede eletrônica: uma análise de comentários no Facebook, alinha-se a um dos eixos de discussões do projeto de pesquisa docente “Mídia, sujeito e sentidos: o discurso midiático na constituição de sentidos para o sujeito urbano brasileiro” , intitulado “Cartas, comentários, efeitos: uma análise discursiva dos espaços para o sujeito na mídia”, em andamento junto ao Departamento de Ciências da Linguagem da UFF. O objetivo deste projeto de pesquisa, a ser desenvolvido na perspectiva teórico metodológica da análise de discurso de tradição francesa pela aluna do curso de Licenciatura em Letras – Português/Espanhol Janaína Soares Almeida Cruz, é analisar os dizeres sobre a língua em comentários em páginas da rede social Facebook e, de modo mais específico, na página do grupo “Clube do Livro”, escolhida para a constituição do corpus de análise. Interessa-nos analisar os modos como se constituem os sentidos para a língua nesses comentários, com foco na memória discursiva e na relação com os sujeitos em suas posições ideológicas no discurso. De modo mais específico, buscamos analisar o modo como se constituem os sentidos para a língua em comentários que discorrem acerca da língua e das relações que com ela mantém os sujeitos que a empregam. Com o desenvolvimento crescente da rede eletrônica (ROMÃO; GALLI, 2011) e a migração de mídias tradicionais, como os impressos, para o espaço virtual (GRIGOLETTO, 2011), assistimos nos últimos anos a uma ampliação expressiva nos espaços para os dizeres dos sujeitos na mídia. É justamente por causa desses novos espaços de comentários (DELA-SILVA, 2013; no prelo) que observamos como o dizer sobre a língua, que propomos analisar neste projeto de Iniciação Científica, é uma prática frequente nos comentários postados nas diferentes instâncias da rede eletrônica. Como fundamentação teórico-

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metodológica empregaremos a análise de discurso de linha francesa, tal como proposta na França pelo filósofo Michel Pêcheux (1997a [1969], 1990 [1982]) e considerando o seu desenvolvimento no Brasil a partir dos trabalhos de Eni Orlandi (2006, 2001). Considerando o discurso como efeitos de sentidos para e por sujeitos, em condições de produção dadas, tencionamos analisar os dizeres sobre a língua em relação à memória discursiva sobre a gramática normativa e às relações entre sujeito e língua que, desta perspectiva, constituem-se simultaneamente. Buscamos, assim, observar os já-ditos que constituem os dizeres sobre a língua na rede eletrônica, bem como as posições ideológicas (PÊCHEUX 1997 [1975]) que sustentam tais efeitos de sentidos e, por consequência, silenciam outros sentidos possíveis (ORLANDI, 2002). A presente pesquisa foi proposta em agosto desse ano, iniciando-se, assim, com as leituras de fundamentação teórica, sugeridas pela orientadora à aluna. Visto isso, ainda não possuímos resultados (sejam eles parciais ou finais) para serem apresentados neste resumo. Palavras-chave: Língua; Discurso; Rede social – Facebook; Comentários.

As políticas linguísticas do Paraguai e a promoção de um

bilinguismo imaginário

Joyce Palha Colaça Orientadora: Profa. Dra. Bethania Mariani

Doutorado/ UFF-CAPES No trabalho que vimos desenvolvendo, em nossa pesquisa de doutorado, temos como objetivo central compreender os dizeres que se formularam e se repetiram na história do Paraguai sobre as suas línguas oficiais. A memória do dizer ressoa nos sentidos que insistem em comparecer nos documentos que instituem as políticas linguísticas no Paraguai na atualidade. Por considerar que todo dizer é político (GUIMARÃES, 2005), nos estudos da História das Ideias

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Linguísticas (AUROUX, 2009 [1992]), em seu encontro com a Análise de Discurso de linha francesa, reterritorializada no Brasil (PÊCHEUX, 1988 [1975]); ORLANDI, 1983), pode-se afirmar que nas políticas linguísticas instituídas pelo estado paraguaio se inscreve a historicidade dos processos de formação das línguas nacionais, também oficiais, que funcionam para a manutenção do lugar das línguas desde a colônia. Os dizeres são reformulados e ressignificados, em uma relação de paráfrase, que parece fazer mudar o que se diz sobre o guarani e o castelhano, sem que faça mudar, realmente, o sentido das línguas história. Na Constituição Nacional da República do Paraguai, promulgada em 1992, o guarani foi instituído como língua oficial ao lado do castelhano que já vinha figurando no imaginário paraguaio neste lugar, mesmo sem ter sido nomeado anteriormente. O castelhano se mostrava, na obviedade construída em um não-dizer, como a língua de registro do país, a língua das instituições e do ensino formal. Os documentos escritos na língua do colonizador, incluindo as constituições nacionais, dividiam os sentidos entre esta e a língua indígena. Após a oficialização da língua guarani e o reconhecimento do Paraguai como um país bilíngue, mesmo com este movimento simbólico, que parece inscrever novos sentidos, socialmente, a relação histórica parece manter-se. Apenas em 2010, com a Lei de Línguas nº 4251, são criados alguns órgãos para a promoção das línguas do país. A Comissão Nacional do Bilinguismo e a Secretaria de Políticas Linguísticas têm por objetivo promover as línguas e difundir o bilinguismo no cenário nacional e internacional. Neste trabalho, optamos por apresentar uma análise dos projetos da Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai, no que tange a promoção da língua indígena socialmente, por entender que tais projetos poderiam representar um deslocamento no sentido sobre as línguas no seu dizer e que, por sua análise, pode-se compreender o lugar das línguas no estado atual, por saber que, no dizer sobre determinadas línguas, também figura o que não foi dito, no mesmo gesto. Pela formulação das políticas de línguas aparece o processo da formação das línguas nacionais, fazendo repetir na atualidade para o guarani os sentidos de língua oral, do convívio familiar, da informalidade, enquanto o castelhano segue relacionado às instituições formais, à escola e ao

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trabalho urbano, por exemplo, promovendo uma imagem de país bilíngue, o que podemos nomear como sendo uma política de bilinguismo imaginário. Palavras-chave: Paraguai; Lei de Línguas; Língua guarani; Bilinguismo imaginário.

Discurso, leitura e tecnologias (de linguagem)

Juciele Pereira Dias Supervisão: Profa. Dra. Bethania Mariani

Pós-doutorado/UFF/Capes-PNPD

Na esteira da leitura de Auroux (1998), especificamente no campo das ciências da linguagem, temos três revoluções técnico-linguísticas: 1) a invenção da escrita, 2) a gramatização e 3) a informatização. Esta última, a informatização, constitui-se por um processo de mecanização da linguagem (Auroux, 1998) ou acrescentamos ainda de matematização nas ciências da linguagem (Auroux, 2012), ou seja, as tecnologias oriundas dessa terceira revolução colocam a linguagem das máquinas lógicas em um atravessamento da relação homem-linguagem-mundo e das formas de administração da memória e do saber linguístico na contemporaneidade. Há, no campo da Linguística, diferentes pesquisas em que essa linguagem das máquinas lógicas é imprescindível ao trabalho analítico. Considerando essas produções do conhecimento, mas sobretudo as formas como o sujeito contemporâneo se constitui, pela língua, nessas tecnologias de linguagem e da informa(tiza)ção, tendo em vista o encontro de diferentes línguas e culturas, nesse espaço ciber (Dias, 2012), o da internet, buscamos compreender como se dão as novas relações sociais conectadas em redes intercontinentais. E questionamos a partir de Lacan (2010), como a linguagem lógica, binária, do zero e um, da ausência e da presença do sinal determina a produção do

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saber sobre a língua? E ainda quais os lugares das ciências das humanidades acerca dessas produções meta(l)inguísticas? E quais os efeitos de sentido de uma produção áudio-visual publicada em redes sociais com possibilidades de compartilhamentos, tais como o Youtube, o Facebook, o Whatzap, etc.? É no entremeio dos campos do saber da Análise de Discurso, da História das Ideias Linguísticas e da Psicanálise, que temos como objetivo discutir a questão da tecnologia não como produto inventado pelas ciências exatas, mas como um objeto de linguagem, construído na tensão entre as línguas e a linguagem lógica. Dessa tensão, no ciberespaço, se constitui uma língua digital que possibilita as relações do homem com o mundo e ao mesmo tempo uma administração dessas relações através de monitoramentos, estatísticas, sugestões nas redes sociais da Internet, sugestões de significantes pelos corretores ortográficos, etc. Consideramos, assim, que, de um lado, as tecnologias contemporâneas têm como condição de existência essa língua digital, que, por sua vez, advém dos movimentos de gramatização, de informatização e da emergência do espaço digital (Orlandi, 2013), da internet e de outro lado, compreendemos que há uma transformação das práticas discursivas na sociedade em rede que não pode ser ignorada pelos cientistas das humanidades, devendo a responsabilidade ética e política de interpretar estar atrelada a esses, nós. É na formulação e na circulação dessa língua digital, com tempo (velocidade) e espaço próprios (Dias, 2012), que imagens da fala, da escrita e do corpo se reformalizam constituindo uma corporeidade digital atualizada por carinhas, figurinhas formadas com letras, abreviações, pontuações nos comentários que fazem circular imagens e vídeos nas redes sociais. Palavras-chave: Discurso; Língua; Sujeito; Tecnologia; Youtube.

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As tensões na memória da língua brasileira pelo arquivo Mário de Andrade

Lívia Letícia Belmiro Buscácio

Orientadora: Profa. Dra. Vanise Medeiros Coorientador: Prof. Dr. José Luis Jobim

Doutorado/UFF

Em nossa tese de doutorado, intitulada “Mário de Andrade, um arquivo de saberes sobre a língua do/no Brasil (UFF-2014), analisamos as discursividades sobre a língua do/no Brasil inscritas em Mário de Andrade, nome de autor que reúne um arquivo discursivo. O suporte teórico-metodológico reside no encontro da História das Ideias Linguísticas (AUROUX, ORLANDI) com a Análise de discurso (PÊCHEUX, ORLANDI). Para estabelecer o recorte do arquivo (ORLANDI, 1984) acometido por um gigantismo discursivo, buscamos dois critérios: 1) cartas assinadas por Mário de Andrade e outros nomes de autor no lugar de quem pode e deve dizer sobre a língua, o lugar do gramático, Sousa da Silveira, o lugar do filólogo, Pio Lourenço Corrêa, o lugar do literato, Manuel Bandeira; 2) um discurso sobre (ORLANDI, 1990) a língua emergente de um dizer sobre a escrita literária. Através do trajeto temático (GUILHAUMOU, MAZIÈRE, 1990 [2010]), mergulhamos no arquivo pela surgência de saberes metalinguísticos (AUROUX, 1992) nas correspondências, os quais materializam o funcionamento do discurso transverso (PÊCHEUX, 2009), por exemplo, marcando nomes de autor como Cândido Figueiredo, João Ribeiro, Leite de Vasconcelos, dentre outros. Pela prática discursiva da escrita de si na língua da correspondência, posições discursivas em tensão residem no nome de autor, promovendo uma ruptura do efeito de unidade que pode ser lida pela circulação de imaginários e efeitos de sentido sobre a língua do/no Brasil em saberes como concordância, colocação pronominal, ortografia, arcaísmos, brasileirismos. Tais saberes metalinguísticos emergiam no dizer sobre a escrita literária na correspondência, pelos quais identificamos: uma posição-gramático, uma posição-filólogo, uma posição-linguista, uma posição linguista da estilística, uma posição-naturalista, uma posição

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do cientista sobre a literatura, uma posição da poética. Através do funcionamento do discurso sobre a língua do/no Brasil vinculado à função-autor na correspondência, constatamos uma tensão na memória da língua (PAYER, 2006) brasileira, através do trânsito das posições discursivas entre uma formação discursiva lusitana e uma formação discursiva brasileira, atravessadas pela formação discursiva positivista, em disputa pela língua do/no Brasil. A formação discursiva lusitana é marcada por um procedimento da gramática latina, que significa a língua no erro e no acerto, sendo a língua do/no Brasil considerada uma deturpação de uma língua lusitana. Por outro lado, a formação discursiva brasileira produz uma ruptura com a formação discursiva lusitana, por uma ideia de independência linguística, mas ainda é assinalada pelo imaginário de erro e acerto. Flechando estas formações, identificamos uma formação discursiva positivista a qual, segundo Orlandi (2002), se configura como dominante por incidir na constituição do nacional brasileiro, sujeito e língua. Para esta apresentação, traremos algumas sequências discursivas de cartas nas quais estão materializadas posições discursivas que transitam entre tais formações discursivas, constituindo em retesamento uma memória da língua brasileira, assinalada por um imaginário do torto e do resto, mas que integra o corpo da língua do/no Brasil. Palavras-chave: Mário de Andrade; discurso sobre; língua brasileira; correspondência.

Entre chien et loup: os discursos sobre o autismo e o ponto de

vista da Psicanálise

Márcia Maria da Silva Cirigliano Orientadora: Profa. Dra. Bethania Mariani

Doutorado/UFF-CAPES

A expressão francesa que significa “área de formas indefinidas, onde haveria certa obscuridade” (GILLIE, 2014) foi escolhida para

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intitular o Quinto Colóquio parisiense LaVoix1. Este trabalho é parte de um capítulo para tese de Doutorado que aborda os diversos discursos que se entrelaçam na clínica do autismo. São mobilizados os conceitos de discurso, em Michel Pêcheux (2008 [1983]) e voz em Jaques Lacan (2003 [1962]). Tal recorte se faz a partir de pesquisa, onde se examinam falas de mães e profissionais que se relacionam com autistas do Instituto Benjamin Constant, escola para cegos no Rio de Janeiro. Os autistas são encaminhados a atendimento em Musicoterapia quando alguns comportamentos inusitados atrapalham a rotina escolar. Um atendimento musicoterápico se inscreve a partir da própria definição de Musicoterapia: utilização da música como elemento terapêutico (Bruscia, 2000). Aí não se prioriza tanto a estética ou o virtuosismo musical na performance; os elementos musicais são utilizados para possibilitar a que o paciente se expresse e é a partir disso que se vai construindo o fazer musical. A música ajuda a minimizar, por exemplo, situações de agressividade inadequada e as mencionadas falas vão se modificando, de acordo com os resultados. Segundo Bidaud (2014)2, o autismo nos dias atuais é, clínica e teoricamente, uma patologia, sendo importante que se mantenha essa obscuridade em torno do termo. Tal obscuridade abriga divergências até quanto a ser o autismo uma patologia (Boni, 2014)3. A expressão ‘entre chien et loup’ faz-se interessante porque impede que tenhamos certezas absolutas ante um quadro complexo de um comportamento repleto de nuances. Manter uma área obscura favorece novas reflexões e não ‘engessa’ o autista nesse ou naquele procedimento ou tratamento. É na teoria psicanalítica que encontramos, na tese em andamento, referencial teórico para apoiar a discussão sobre o autismo, discussão essa que remonta desde a conceituação de Kanner (1943) até os nossos dias. O que nos interessa neste trabalho é pensar, com o intuito de contribuir à Análise de Discurso, nesse espaço de vazio, esse ‘gap’ que as definições e a própria complexidade diagnóstica do autismo 1 La Voix, entre Chien et Loup, Universidade Paris Diderot, 4 de junho de 2014. 2 Coorientação de 19 de junho de 2014 para bolsa-sanduíche, na Universidade Paris 13, fornecida pela CAPES, de maio a setembro 2014. 3 Entrevista concedida para tese de doutorado, Paris, julho 2014.

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fornecem. Entre o que lemos nos manuais de psiquiatria e o que se publica atualmente, algo falha, algo não está dado, pois basta uma resposta inovadora de um autista em atendimento para impedir-nos ao estabelecimento de uma regra geral. Ainda assim, nesse terreno enigmático, arriscamos contribuir, trazendo a possibilidade de pensar o autismo a partir das respostas de crianças e adolescentes autistas à música. Verificamos que tais respostas modificam o lugar dado a essa criança/ adolescente nas falas de suas mães e profissionais que com eles trabalham. Palavras-chave: Discurso; Autismo; Psicanálise; Música.

O Funk proibidão: Não dizer para poder dizer

Marcio Valença Orientadora: Profa. Dra. Vanise Medeiros

Mestrado/UFF

Neste trabalho, sob a luz da Análise de discurso francesa (Pêcheux, Orandi) investigaremos as letras do grupo Gaiola das Popozudas cantadas pela Mc e cantora Valesca Popozuda. As letras escolhidas para nossas análises apresentam duas versões: uma proibida e outra legitimada juridicamente. Em um primeiro momento, surgem nos bailes funks as versões proibidas. Nessas letras, notamos que há o comparecimento dos palavrões e, também a exaltação do erotismo. Após terem alcançado sucesso nos bailes, que, em geral, ocorrem dentro de favelas existentes nos subúrbios cariocas, é feita uma outra versão, isto é, cria-se, musicalmente, um novo produto com base naquilo que comparece, inicialmente, no baile funk. Desse modo, nessa nova formulação musical, ocorre a substituição dos palavrões e trechos obscenos. Com isso, surge, a versão para ser veiculada pela grande mídia, isto é, a letra comercial legitimada juridicamente. Iremos promover uma reflexão sobre a relação existente entre essas duas versões. Uma das nossas questões é: em que medida dizer algo por meio da substituição, no caso, através de uma versão legitimada, não é uma forma possível de significar, dentro dessa interdição,

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aquilo que não pode ser dito, ou seja, os sentidos censurados na versão proibida? Outro objetivo desta pesquisa é refletir sobre a posição feminina nesta cultura funk, e pensar isso nos direciona para a noção de formação discursiva, proposta por Pêcheux (2009), correspondendo a um determinado domínio do saber, constituído de enunciados discursivos, que mostram de algum modo que a ideologia regula “o que pode e deve ser dito”. Será que a existência de uma M.C. como Valesca Popozuda que assume, por meio da música que canta, a representação de uma puta, uma cachorra ou piranha, está de algum modo inserida em uma formação discursiva machista? Em que medida incorporar esse machismo não é uma forma de subvertê-lo, pois podemos pensar: sou dona do próprio corpo e, também,livre para exercer minha sexualidade. Assume-se o discurso machista para rompê-lo? Em síntese, temos como foco de nosso trabalho as letras do funk proibidão e a versão produzida pela mídia legitimada. Os objetivos são: a) analisar as formas de substituição nas letras sugeridas; b) investigar a posição feminina nas letras do proibidão; c) observar até que ponto essa posição sujeito inscreve-se em uma formação discursiva machista. Palavras-chave: Análise de discurso; Funk-proibidão; Censura; Feminino.

Sujeito e “espaço”: modos de estar no mundo, efeitos de

identificação

Marcos de Sá Costa Orientadora: Profa. Dra. Bethania Mariani

Doutorado/ UFF-CAPES A contemporaneidade, entendida por hora, em um dos vieses de nossa pesquisa de doutorado, como o tempo presente da experiência do sujeito na relação com mundo, sempre foi alvo de questionamentos por parte de sujeitos inquietos como a realidade que os cerca, com o(s) modo(s) de estar no mundo que se

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apresenta(m) em uma dada conjuntura. Talvez essa pesquisa, em andamento no Programa de pós-graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal Fluminense (UFF) e, especificamente, no Laboratório Arquivos do Sujeito (LAS), abrigo de intensa reflexão sobre o que vem a ser esse sujeito na/da contemporaneidade, seja resultado de mais um sujeito (ou grupo de sujeitos-pesquisadores) inquieto(s) com os sons sociais que ecoam nas ruas, nos muros, nos caminhos, nas praças, nos grandes centros urbanos, em qualquer lugar que se possa considerar de convívio coletivo. Contudo, haveria lugar no coletivo para o singular? Para nós, sim. A coletividade não significa uma massa homogênea, na qual os sujeitos seriam meros “fantoches” de uma existência pensada e experimentada como necessidade. Dessa perspectiva, esses sons sociais, essas vozes, essas imagens, não ecoam só no âmbito do coletivo, mas também no nível do singular, no universo de cada sujeito. No um a um do tempo presente da experiência subjetiva seria possível, desse modo, observar o que de coletivo há. Portanto, o que comparece de um modo de estar no mundo neste tempo que se chama hoje. No mesmo movimento, então, pelo qual se localizam certos modos de estar no mundo, entre os mesmos passos nesse espaço coletivo, enquanto circulação, organização citadinha, regulação estatal, deixa-se flagrar também aquilo que é de uma outra ordem, de uma ordem singular, enquanto experiência de cada sujeito imerso nesse espaço. Poder-se-ia, dessa maneira, “estar” em dois espaços ao mesmo tempo? É um dos pontos que move nossa pesquisa e, neste trabalho, será mais detidamente observado no intuito de compreender um dado funcionamento social contemporâneo, a saber: o uso do celular, que permitiria ao sujeito uma não coincidência de estar, ou de outro modo, ocupar “lugares” diversos ao mesmo “tempo”. Na Análise do Discurso, fundada a partir de Michel Pêcheux, está ancorada esta pesquisa. Dentre os pressupostos teóricos que dão suporte a nosso questionamento, está a noção de sujeito, enquanto efeito do discurso, uma vez que o sentido, também um efeito do discurso, lhe é constitutivo. Sujeito e sentido, desse modo, têm um papel fundamental no modo como a Analise do Discurso pensa o mundo, o espaço, o homem, suas práticas. Visando depreender os processos de produção de sentidos do/no

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sujeito contemporâneo, nos voltamos para o(s) modo(s) de estar no mundo com o celular. Um objeto que, a nosso ver, concebe uma ilusão do acesso democrático a tecnologia, produzindo efeitos para/no sujeito contemporâneo. Que efeitos são esses? É o que tentaremos apreender. Palavras-chave: Sujeito; Contemporaneidade; Celular; Sentido.

Jovem ou vagabundo? - Infância e violência em uma abordagem discursiva

Milene Maciel Carlos Leite

Orientadora: Profa. Dra. Bethania Mariani Mestrado/UFF-CAPES

O presente trabalho objetiva apresentar parte de nossa pesquisa realizada em nível de mestrado, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Bethania Mariani e com o apoio da CAPES. O tema é a infância na contemporaneidade, sendo nosso principal objeto de interesse os sentidos sobre a infância, em circulação nas diversas mídias (televisiva, radiofônica, impressa e online). Utilizamos como aporte teórico-metodológico a Análise de Discurso de linha francesa, com base em Michel Pêcheux ((1997 [1975], 1997a [1969]) e Eni Orlandi (2006, 2001, 2001a), teoria crítica de linguagem, porém, sobretudo, teoria semântica, que se dedica aos processos de produção de sentidos. Pêcheux (1997) embasa a disciplina que estava ali se configurando sobre três eixos: ideologia, inconsciente e linguagem. A partir deles e à luz da teoria, se pode pensar sujeitos e sentidos. Nossa pesquisa segue o embasamento proposto pelo filósofo francês, para pensar os modos de significar o sujeito jovem (criança e adolescente) e os sentidos atribuídos à violência, enquanto marcas no corpo que, quando discursivisadas, dizem de nossa sociedade atual. Ao pensar o corpo do sujeito que sofre qualquer tipo de violência, buscamos desconstruir certas evidências e pensar a relação do corpo

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com a ideologia (ORLANDI, 2012). Para a constituição do corpus empírico, selecionamos, além de materialidades não-verbais (fotografias) e reportagens televisivas e radiofônicas (o que nos exigiu um trabalho de descrição e transcrição), reportagens de diversos jornais (online e impressos), envolvendo crianças e adolescentes em situações de conflito. Selecionamos também comentários que seguem essas reportagens, no caso dos jornais online, além de transcritos de falas de dois Deputados, em sessão plenária do Senado Federal. O objetivo da presente exposição é analisar, a partir dos recortes necessariamente empreendidos, o funcionamento discursivo que institui sentidos às crianças e adolescentes, em um trabalho de descrição e interpretação próprio da escuta discursiva. Nesta análise, consideramos o conceito de formação discursiva, segundo Pêcheux (1997), em sua relação com os conceitos de memória e história, pensando, especificamente, o dizer na atualidade em sua relação com os sentidos sempre em curso. Os processos discursivos, para Pêcheux (1997), se desenvolvem sobre a base linguística, mas também estão aí imbricadas relações ideológicas de classe, cujas raízes estão na contradição. Interessa-nos pensar discursivamente os níveis da constituição (intradiscurso), da formulação (interdiscurso) e da circulação dos sentidos, entendendo discurso, conforme Pêcheux (1975a), “efeitos de sentido entre os pontos ‘A e B’” (p.82). Chama-nos atenção, especialmente, o terceiro nível, que envolve a participação das diversas mídias nos modos de circulação dos (efeitos de) sentidos na contemporaneidade. Este será, portanto, o dispositivo teórico mobilizado na análise. Palavras-chave: Análise de Discurso; Formação discursiva; Infância; Mídias.

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Música e Brasilidade no discurso publicitário da Copa do Mundo 2014

Paula Gomes de Farias Soares

Orientadora: Profa. Dra. Silmara Dela Silva Mestrado/UFF

O presente trabalho tem como objetivo analisar a representação da brasilidade em propagandas que circularam na televisão durante o período de uma Copa do Mundo no Brasil, localizada historicamente entre as manifestações contra a corrupção (e contra a própria Copa) e as eleições presidenciais de 2014. Para a constituição do corpus de análise, selecionamos comerciais que utilizaram músicas como recurso publicitário. As propagandas foram separadas em três eixos: governo federal, emissoras de tv aberta e patrocinadores da Seleção Brasileira. Nosso corpus então é constituído por cinco comerciais: "O que é ser brasileiro" do governo federal, "Somos um só" da Globo, "O maior espetáculo da Terra" da Band, "Todos Juntos Vamos" da Mastercard e "Mostra tua força, Brasil" do Banco Itaú. A escolha da música como recorte foi feita devido a capacidade que ela possui de causar emoções e até mesmo ações, algo essencial para a propaganda. Além disso, há uma conexão recorrente entre brasilidade e música. Acreditamos que é na junção da música com outras linguagens que se deve encontrar uma direção para seu estudo, pois a música não deve ser vista de maneira isolada, mas na sua combinação com outros elementos (CARDOSO; GOMES; FREITAS, 2010). E ao considerar que "a análise de discurso interessa-se por práticas discursivas de diferentes naturezas: imagem, som, letra etc" (ORLANDI, 2001, p. 28), pretendemos analisar as propagandas na convergência de suas materialidades significantes: a imagem (as cenas dos comerciais), letra e som (a música). Assim, trabalharemos com o verbal e não verbal (SOUZA, 2001) utilizando a teoria e metodologia da Análise de Discurso desenvolvida por Michel Pêcheux. Apesar da pesquisa ainda estar em fase inicial, algumas regularidades já chamaram nossa atenção como, por exemplo, os ritmos musicais dos comerciais. Em quatro propagandas analisadas, as músicas são marcadas pelo pop rock e samba, embora

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o Brasil possua uma variedade de ritmos, que são silenciados (ORLANDI, 2001). Um ponto em comum em todos os comerciais é a criação/reprodução da imagem do brasileiro sempre sorridente, “de bem com a vida, apesar das dificuldades.” Essa imagem aceita pelo senso comum e que a publicidade “retrata”, não está só na nossa memória discursiva, mas também na memória nacional constituindo um Discurso Fundador (ORLANDI, 1993). O “retratar” publicitário é ideológico, pois (re)organiza sentidos e de acordo com Orlandi (1993, p.7), “o que há é a aparência de controle e de certeza de sentidos porque as práticas sócio-históricas são regidas pelo imaginário, que é político.” Palavras-chave: Análise de discurso; Discurso publicitário; Brasilidade; Copa do Mundo 2014.

Poder, dever, comer. Sujeito e alimentação nas enciclopédias brasileiras

Phellipe Marcel da Silva Esteves Orientadora: Profa. Dra. Vanise Medeiros

Doutorado/UFF-Capes/CNPq

Neste trabalho, pretendemos, inscritos no aparato teórico da Análise do Discurso (Pêcheux e Orlandi), dar a saber o processo de pesquisa de nossa tese de doutorado, intitulada O que se pode e se deve comer: uma leitura discursiva sobre sujeito e alimentação nas enciclopédias brasileiras (1863-1973), beneficiada com uma bolsa CAPES na Universidade Federal Fluminense e com uma bolsa CNPq no estágio sanduíche na Université Paris 13. Nela, pudemos observar como aquilo que vai se significando nas enciclopédias brasileiras como comida e alimentação brasileiras articula-se também com aquilo que é dito sobre sujeito brasileiro. Procuramos compreender como vão se formando imagens de Brasil e de sujeito

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brasileiro à medida que se diz daquilo que no país se come, que no país se deve comer, que no país se pode comer. Com isso, fomos também compreendendo como se dá uma divisão entre aquilo que se diz alimentação voltada a um sujeito universal e aquilo que se diz alimentação voltada a sujeitos em geral associados a continentes, a nações e a regiões. Em nossas análises, recorremos a uma história das enciclopédias no Brasil (e com isso encontramos a Encyclopedia do riso e da galhofa em prosa e verso, de 1863; e a Encyclopedia popular, de 1879, as duas enciclopédias mais antigas brasileiras a cujos exemplares tivemos acesso) e também a uma teorização sobre o lugar e o funcionamento desses instrumentos em contraste principalmente a dicionários. Esses procedimentos foram importantes para que pudéssemos analisar o discurso enciclopédico sobre comida e alimentação em sua especificidade. Entre outras conclusões às quais chegamos, uma delas é que, nas enciclopédias brasileiras, nenhum outro alimento é tão dito quando o leite: seja como alimento completo, saudável, que preencheria todas as necessidades humanas, seja como ingrediente para receitas de pratos ditos brasileiros ou comidos no Brasil. Essa amiúde menção ao leite é também um modo de apagamento discursivo da posição social que o sujeito indígena ocupa na formação social brasileira, uma vez que os eles adoeceram com a introdução do leite no Brasil. Não contavam com a enzima lactase em seus organismos, que tem como função a quebra do açúcar lactose. Também pudemos verificar que é numa enciclopédia do começo do século XX – a Encyclopedia e diccionario internacional, publicação binacional, norte-americana e brasileira, de 1920 – que se começa a falar da dupla feijão com (farinha de) mandioca como típica da cultura alimentar brasileira. Encontramos, na seção “Agricultura” da referida enciclopédia, algumas passagens que dizem daquilo que se come no Brasil. Ou seja: essa dupla significa-se de modo dominante como base da alimentação brasileira recentemente: até então, no primeiro livro

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com receitas brasileiras publicado em território nacional, o Cozinheiro nacional, publicado entre 1870 e 1888, fala-se do feijão e da farinha de mandioca, mas não como bases da alimentação brasileira/do brasileiro. É nesse jogo de memória, resistência, disputa por sentidos que nosso trabalho se inscreve, observando essa perene constituição daquilo que se diz comer no Brasil.

Palavras-chave: Análise do discurso; História das Ideias Linguísticas; Comida e alimentação; enciclopédias.

Cidade, sujeito e sentido no clipe "Causa e efeito": uma análise discursiva do hip hop

Raphael de Morais Trajano

Orientadora: Profa. Dra. Bethania Mariani Doutorado/UFF-CAPES

Com esta apresentação, expomos ao debate questões inerentes ao estágio atual de nossa tese de doutoramento em Estudos de Linguagem, em que analisamos o funcionamento de discursos materializados nas modalidades expressivas do hip hop. Tomando como objeto de pesquisa o clipe “Causa e efeito” (BILL, 2011), publicado no Youtube.com, temos observado as tensões entre as posições discursivas dos que falam e dos que são falados na letra do rap, nos comentários de internautas e nas materialidades sonora e imagética do vídeo em questão. Nossa filiação ao suporte teórico-metodológico da Análise do Discurso (PÊCHEUX, 1975) exige considerar a língua/linguagem como base de sustentação de processos discursivos ideológicos. Isto traz como consequência considerar a questão dos sentidos como algo que não se fecha (ORLANDI, 1996), já que a ilusão de transparência da linguagem e do sujeito intencional é tratada como um efeito ideológico elementar (ALTHUSSER, 1980). O principal objetivo deste estudo é discutir aspectos da desigualdade social e de sua reprodução histórica, cujos

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alicerces estão fincados nas bases do capitalismo. Torna-se primordial, nesta visada crítico-analítico que procura iluminar elementos da constituição de contradições sociais, atravessar os imaginários, a fim de compreender os processos ideológicos que determinam os discursos. Por esta entrada, tem sido possível observar o funcionamento do extremo descaso engendrado por uma lógica que constitui toda formação social dependente do modo de produção capitalista, em sua luta pela administração de uma dominação história. Nosso interesse em tecer um estudo de base discursiva sobre a constituição de des-harmonias sociais está ligado a experiências (co)moventes como professor da rede pública, em áreas onde a presença do Estado se afirma, sobretudo, através da repressão. A opção pelo hip hop, um movimento sociopolítico oriundo dos guetos, se justifica por sua autodesignação como instrumento de denúncia social e de exibição dos ritos e indignações dos menos abastados. Ao visualizarmos o clipe na Internet, acenderam-se inúmeras inquietudes, associadas à pretensão de sopesar elementos como sonoridade, corpo e plasticidade artística. O vídeo é uma espécie de narração em quadros, seguindo o formato do grafite, em que os efeitos de sentido produzidos por verbal, imagético e sonoro se constroem por meio de uma imbricação material significante (LAGAZZI, 2013). Tendo em vista o atravessamento do funcionamento do hip hop pelo do eletrônico, analisamos ainda os efeitos desta relação, no bojo das problemáticas relativas à abordagem de distintas materialidades significantes em composição (LAGAZZI, 2010). No fluxo de tais reflexões, investimos em uma proposta de trabalho com a musicalidade, enquanto discurso que materializa processos ideológicos em complexidades melódicas e rítmicas que se relacionam com outras materialidades. Por fim, pelas questões políticas que surgem quando da propagação de um movimento que (se) inscreve as (nas) equivocidades do urbano, colocamos em discussão aspectos dinâmicos mais abrangentes da relação entre sujeitos na/da cidade, que edificam espaços de fala a despeito das tentativas de silenciamento. Palavras-chave: Discurso hip hop; Sujeitos; Cidade; Materialidades significantes.

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A democratização do ensino superior no Brasil: análise do discurso governamental na rede eletrônica

Roberta Kerr dos Santos

Orientadora: Profa. Dra. Silmara Dela Silva Mestrado/UFF

A ampliação do ensino superior está prevista no Plano Nacional de Educação. O PNE, aprovado em 25 de junho de 2014, prevê vinte metas definidas e publicadas na Lei Nº 13.005. Uma delas envolve o aumento de alunos universitários, ou seja, a meta prevê que, nos próximos dez anos, a taxa de matrícula na graduação seja de 50% da população entre 18 a 24 anos: “A democratização do acesso à educação superior (...) é um dos compromissos do Estado brasileiro” (MEC, 2014, p. 41). A projeção de aumento no número de matrículas é significada através da expressão “democratização”. A partir dos sentidos que comparecem nesse uso, propomos refletir de que modo eles se constroem nos diversos textos virtuais governamentais. Afinal, a ampliação busca expandir socioeconomicamente o atendimento desse grupo de alunos, oportunizando o acesso à classe menos favorecida? Ou teria o objetivo de interiorizar a oferta, buscando alcançar graduandos em outros locais/espaços? Ou, ainda, realizar um crescimento desordenado para atingimento de metas sem controle de qualidade e/ou resultados qualitativos que formem futuros profissionais/pesquisadores no mercado de trabalho ou em áreas de pesquisa? Buscamos perceber possíveis contradições e/ou apagamentos que podem estar significados em documentos que institucionalizam dizeres. A partir dos pressupostos teóricos e metodológicos da Análise de Discurso de linha francesa, tomaremos o discurso enquanto “efeito de sentidos” entre interlocutores (PÊCHEUX, 1982), e como objeto sócio-histórico atravessado pelo “já-dito”, pelos dizeres em circulação que compõem o interdiscurso, para desenvolvimento da pesquisa. O corpus se constituirá da rede eletrônica, por uma seleção de textos publicados por órgãos governamentais, pois buscamos observar o discurso a partir da

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posição ocupada pelo governo, fundamentada nas relações de força e poder. Segundo Lagazzi: “A concepção de Estado está diretamente vinculada à fundamentação do poder jurídico” (1988, p. 16. Grifo da autora). As análises abarcarão tais discursos para depreendermos questões outras que forneçam pistas aos processos discursivos que constituem sentidos a partir de determinações históricas do contexto atual e também daquele que se vincula à memória de dizeres “legitimados”, já que “nossa cultura, desde as suas origens, pensa o poder em termos de relações hierarquizadas e autoritárias de comando-obediência” (CLASTRES, 1978 Apud. LAGAZZI, 1988, p. 13). Precisamos refletir sobre o que é “democratizar” para o discurso governamental. Que realidades brasileiras os sentidos dessa expressão abarca? Ou que realidades não são consideradas, produzindo gestos de silenciamento no contexto socioeducacional no Brasil? Os modos como se constituem os sentidos a partir da posição discursiva ocupada pelo governo federal, assim como a formação imaginária que se forma a respeito dos alunos graduandos, ou daqueles que estão na faixa etária de 18 a 24 anos e que ainda não estão inseridos no ensino superior instigam a nossa pesquisa. Por fim, destacamos a importância dos estudos pecheuxtianos como subsídio teórico-metodológico por propiciar reflexões críticas, observando a língua em sua opacidade e colocando “o estudo do discurso num outro terreno em que intervêm questões teóricas relativas à ideologia e aos sujeitos” (MUSSALIM, p. 105, 2001). Palavras-chave: Discurso; Arquivo; Rede Eletrônica; Ensino Superior.

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Variação Linguística e Ensino de Língua Materna segundo as Crônicas e Colunas da Mídia Online: uma Proposta de Análise

Discursiva

Ronaldo Adriano de Freitas Orientadora: Profa. Dra. Vanise Medeiros

Mestrado/UFF Nossa proposta consiste em analisar a menção à questão do ensino de língua portuguesa em crônicas e colunas da mídia jornalista online a fim de compreender o modo de funcionamento discursivo dos termos “LÍNGUA” e “ENSINO” em sua ambiguidade constitutiva, na relação com a questão da “variação linguística” como fenômeno que interfere no imaginário da unidade linguística. Elaboramos nossa proposta tendo por pressuposto que falar sobre o Ensino de Língua Portuguesa é (re) produzir um conceito imaginário que procura fixar um significado a objetos que são na verdade indefiníveis em função dos sentidos antagônicos que podem assumir em diferentes formações discursivas, e que mediante as demandas da sociedade por um modelo educacional capaz de ações mais eficientes, as políticas de ensino de língua têm sido tema comum dos meios de comunicação, tendo participação significativa nas crônicas e colunas de jornal, o que faz com que se (re) produza um imaginário de língua que reflexivamente interfere nas práticas educacionais. A análise desses textos no âmbito das propostas dos estudos em História das Ideias Linguísticas sob o aparato teórico da análise do discurso representa a investigação dos modos de funcionamento historicamente determinados dos imaginários de língua e ensino. Para isso, propõe-se a construção de um arquivo que reúna um conjunto representativo de textos publicados em 1998 e em 2012, nas principais mídias jornalísticas online deverá passar pela seleção das mídias a serem analisadas pelo critério de potencial de circulação (audiência); pela seleção de cronistas e colunistas apresentados no site de construção coletiva “Wikipédia” na categoria “escritor brasileiro” – em oposição a “professor” ou “especialista”, o que anularia o caráter literário da produção; pela listagem dos cronistas e colunistas em atividade nas mídias selecionadas; e pelo levantamento

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dos textos desses autores que contenham os termos chave relacionados a ensino e língua; chegando finalmente à organização desses textos em um arquivo único, de forma a se realizar a análise proposta. Esperamos identificar as formas pelas quais a menção às atividades de ensino de língua portuguesa no Brasil nas crônicas e colunas disponibilizadas na mídia interferem na construção do imaginário de ensino e de língua, bem como demonstrar que a articulação desses temas pode resultar em inúmeros posicionamentos, em especial no que diz respeito à variação linguística como fenômeno que se opõe à unidade (imaginária) da língua. Esperamos ainda, pela investigação de dois períodos distintos, observar se de alguma forma o discurso das crônicas e colunas veiculado pela grande mídia vem sofrendo alguma mudança a partir de 1998 em relação a esse imaginário de língua e em caso positivo até que ponto essa mudança é fruto do deslocamento de sentidos de ensino oriundos do contato com a produção discursiva acadêmica e a produção discursiva normatizadora do estado; seja em adesão, seja em resistência a essas discursividades. Palavras-chave: Variação Linguística; Ensino de Língua Materna; Mídia Online; Discurso.

Violência e testemunho: a discursividade do feminino em blogs

Sarah Casimiro

Orientadora: Profa. Dra. Bethania Mariani IC/UFF-FAPERJ

O projeto de Iniciação Científica Violência e testemunho: a discursividade do feminino em blogs inscreve-se em um projeto mais amplo: Discurso em farrapos e outros discursos: sobre o ordinário de sentido na mídia, que recebe apoio do CNPq na forma de uma bolsa de produtividade 1C (2011/2014). O projeto de IC é financiado pela FAPERJ, orientado pela professora Doutora Bethania Mariani e encontra-se vinculado ao Laboratório Arquivos do Sujeito (LAS),

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coordenado pela mesma. A pesquisa tem por base o quadro teórico-metodológico da análise do discurso (Pêcheux, Orlandi). Pêcheux é o fundador da Análise do Discurso de escola francesa, que em sua obra Semântica e Discurso (1997) propõe articular uma "tríplice aliança" formada pela Linguística, pela Psicanálise e pelo Marxismo. Dessa forma, ele buscou explicar que a produção/ atribuição de sentido (semântica) está diretamente ligada à relação entre linguagem e ideologia. Nessa materialidade da língua se constitui o que a AD chama de discurso. No Brasil, temos como grande representante dessa teoria Eni Orlandi. Quanto à nossa pesquisa, que parte desse quadro teórico-metodológico, divide-se em duas etapas: a primeira enfoca a análise do relato testemunhal da violência sofrida por mulheres, ressaltando que nem todo relato de uma experiência é um testemunho, pois este depende de um contexto traumático e de uma experiência de quase morte. Nessa parte inicial, depreendemos e analisamos a representação do dizer de si, ou seja, da enunciação feminina em blogs bem como em matérias jornalísticas que também trazem relatos, fazendo um estudo comparativo com matérias jornalísticas em que a mulher passa de vítima a uma posição de defesa da sua integridade física e moral. Assim, o objetivo da pesquisa foi identificar, descrever e analisar uma textualidade específica de discurso da/sobre a violência contra a mulher: os relatos nos processos de identificação, contraidentificação e desidentificação com posições do feminino imaginariamente constituídos em nossa sociedade. A segunda etapa, que ainda não foi finalizada, dá continuidade ao enfoque em relatos de mulheres que sofreram violência, porém, o corpus é outro: a fim de ampliar o conjunto de relatos aqui tomados como testemunhos, também levaremos em consideração relatos de mulheres que foram torturadas na época da Ditadura Militar. Tendo em vista as atuais relações de produção que fomentam os excessos na sociedade de consumo capitalista, um gozar a qualquer preço (Lebrun, 1999), essas narrativas que passam do privado para o público, que publicam uma experiência traumática são sintomas de quê? À que ideologia responde essa posição-sujeito que relata a violência sofrida? Para abordar essa questão, necessitamos discutir o conceito de sujeito, em sua relação com os conceitos de sociedade e cultura, por um lado, e

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dar continuidade à construção de um arquivo de pesquisa amplo e diversificado, proposta que consta dos diferentes projetos que vem sendo desenvolvidos no LAS. Palavras-chaves: Mulher; testemunho; violência; discurso.

Evanildo Bechara: dizer sobre a língua nas gramáticas e no

jornal

Thaís de Araujo da Costa Orientadora: Profa. Dra. Vanise Medeiros

Doutorado/UFF

Em nossa pesquisa de Doutorado, que se encontra em andamento na Universidade Federal Fluminense (UFF), sob a orientação da Profa. Dra. Vanise Medeiros, à luz da Análise de Discurso, de Michel Pêcheux ([1975]2009) e Eni P. Orlandi (2007c), no seu encontro com a História das Ideias Linguísticas, conforme pensada por Sylvain Auroux (2009), Colombat, Fournier e Puech (2010), Eni P. Orlandi (2001) e Eduardo Guimarães (2004), investigamos o funcionamento dos dizeres de Evanildo Bechara sobre a língua (nomeada) portuguesa em diferentes materialidades produzidas em distintas condições de produção, quais sejam: Moderna Gramática Portuguesa (1ª. ed. 1961), Moderna Gramática Portuguesa (37ª. ed. 1997), Gramática Escolar da Língua Portuguesa (1ª. ed. 2001) e aproximadamente 100 colunas sobre língua publicadas no Jornal O Dia, entre 2010 e 2012. Para pensar esses objetos, partimos do pressuposto de que, de acordo com as condições de produção (Pêcheux, 2010), mudam as necessidades e as possibilidades de dizer. Desse modo, em nossa leitura buscamos compreender como as diferentes condições em que foram produzidos esses instrumentos linguísticos (Auroux, 2009a) neles se fazem significar. Tomando a noção de condições de produção assim como formula Pêcheux (op. cit.), impôs-se à nossa leitura tecermos uma reflexão acerca da projeção dos distintos lugares sociais (Grigoletto, 2008) ocupados

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pelo gramático no discurso na sua relação com o gesto de autoria depreendido pelo sujeito gramático. Atualmente, detemo-nos a analisar a primeira edição da Moderna Gramática Portuguesa (MGP). As nossas análises têm demonstrado que nessa edição, publicada num momento em que se separavam os lugares do linguista e do gramático (Orlandi, 2002), apesar da imposição do interdiscurso, que coloca como evidência a filiação à tradição gramatical instaurada com a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB – 1959), há um duplo efeito de ruptura e manutenção. Ao mesmo tempo em que se rompe, em função da determinação pelo discurso da NGB, com aquilo que se tinha até então por tradição gramatical, rompe-se também, com a filiação do gramático ao que é posto como linguística moderna, com a tradição gramatical que se funda a partir da implementação da NGB. Entendemos, tal como postula Orlandi (2002), que a função-autor está relacionada à forma de gramática e ao sentido de língua. Foi, então, visando depreender o funcionamento da autoria instaurada na primeira edição da MGP, que passamos a investigar os lugares de comparecimento dos sentidos filiados à NGB e dos sentidos filiados à chamada linguística moderna, o que nos levou a refletir sobre o imaginário de língua que comparece nessa gramática e também sobre o que nela se coloca como linguística moderna. Palavras-chave: Dizer sobre; Evanildo Bechara; Gramática; Jornal.

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(…) Remediado está: implicações do sentido de greve na relação entre os poderes a partir da Constituição Federal de 1988

Ulisses da Silva Gomes

Orientadora: Profa. Dra. Bethania Mariani Mestrado/UFF

Ao eleger como tema a contribuição dos estudos do discurso ao contexto discursivo jurídico, procuraremos, por meio da Análise de Discurso – tal como apresentada por Pêcheux (2010[1969]) e desenvolvida no Brasil principalmente por Orlandi (1987) – , identificar como se dá a construção do imaginário do Poder Judiciário brasileiro e a inscrição das relações de poder a partir da análise de textos jurídicos. Partindo da teoria de Pêcheux et al (2010 [1982], p. 255), consideramos que foram as nossas “hipóteses político-históricas” que levaram à escolha do corpus. Julgamos ser possível analisar, a partir de uma leitura sintomática dos textos jurídicos (duas decisões judiciais do STF em mandados de injunção que têm como objeto o direito de greve do servidor público; e suas respectivas petições iniciais), o processo de construção do imaginário do Poder Judiciário brasileiro e de seu posicionamento político a partir da Constituição de 1988. A “Constituição Cidadã” estabelece os caminhos a serem seguidos pelos cidadãos e pelo Judiciário para a construção de um Estado democrático e social. A partir da análise de dois movimentos – indicação do mandado de injunção como meio de reivindicação de direitos não regulamentados, e ressignificação da greve como “direito de greve” – verificamos que a Constituição inscreve o modo de proceder da sociedade civil e do Estado em um jogo (contraditório) em que a liberdade (democrática) oculta a constrição. A previsão do mandado de injunção como “remédio” a ser utilizado na “falta” de norma regulamentadora do (agora) direito de greve; o movimento de transformação da greve em DIREITO DE

GREVE DO SERVIDOR PÚBLICO com sua incorporação pela legislação, ressignificando-a ou, em outras palavras, a apropriação, pelo aparelho de estado, de um instrumento de luta do servidor, justificam a análise. A greve passa a ser direito concedido e garantido (categoria), benesse do Estado e com mecanismo, forma e

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legitimidade determinados. Objetivamos, assim, buscar na materialidade discursiva elementos que indiquem a relação de poderes no discurso jurídico e as marcas de uma relação mais ou menos harmônica entre os poderes inscrita nas discussões sobre o direito de greve dos servidores públicos. Além disso, buscar, no discurso do servidor público, as marcas de um imaginário do próprio servidor público, do Judiciário, do Legislativo e da greve, além das antecipações que são feitas sobre as imagens que o Judiciário têm dos servidores públicos e da greve e, no discurso do Judiciário, as marcas de um imaginário daquela instituição, do servidor público, do Legislativo e da greve. Palavras-chave: Análise do Discurso; Greve no Brasil; Separação de poderes; Denominação.