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ISSN: 2237-8502 Laboratório Arquivos do Sujeito CADERNO DE RESUMOS: II SEMINÁRIO INTERNO DE PESQUISAS DO LABORATÓRIO ARQUIVOS DO SUJEITO 12 de março de 2013 Sala 218, Bloco C, Instituto de Letras UFF – Campus do Gragoatá Niterói-RJ

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ISSN: 2237-8502

Laboratório Arquivos do Sujeito

CADERNO DE RESUMOS:

II SEMINÁRIO INTERNO DE PESQUISAS

DO LABORATÓRIO ARQUIVOS DO

SUJEITO

12 de março de 2013 Sala 218, Bloco C, Instituto de Letras

UFF – Campus do Gragoatá Niterói-RJ

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA LINGUAGEM LABORATÓRIO ARQUIVOS DO SUJEITO (LAS)

Organização do Caderno de Resumos: Vanise Medeiros

Silmara Dela Silva Karen Silva Santos Conceição

Revisão:

Silmara Dela Silva Vanise Medeiros

Capa:

Phellipe Marcel da Silva Esteves

II Seminário Interno de Pesquisas do Laboratório Arquivos do Sujeito

Caderno de Resumos: II Seminário Interno de Pesquisas do Laboratório Arquivos do Sujeito / Organizadores: Vanise Medeiros et al. / Niterói-RJ: Laboratório Arquivos do Sujeito, 2012. 1. Linguística – Análise de Discurso.

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Comissão Organizadora do Evento: Profª. Bethania Mariani

Profª. Silmara Dela Silva Profª. Vanise Medeiros

Profª. Carla Barbosa Moreira Prof. Maurício Beck

Comissão de Apoio ao Evento:

Guilherme Nogueira Milner Karen Silva Santos Conceição

Karoline da Cunha Teixeira Viviane Sales dos Anjos

Realização:

Apoio:

Laboratório Arquivos do Sujeito (LAS) Instituto de Letras - Universidade Federal Fluminense (UFF)

Campus do Gragoatá, Bloco C, sala 538 São Domingos - Niterói-RJ

Site: www.uff.br/las

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II SEMINÁRIO INTERNO DE PESQUISAS DO LABORATÓRIO ARQUIVOS DO SUJEITO

PROGRAMAÇÃO

8h30 Abertura

9h às

10h30

Mesa I – Discurso e Mídia Coordenação: Juciele Pereira Dias

Juciele Pereira Dias Youtube: um espaço de novas relações sociais na/pela linguagem

Viviane Sales dos Anjos Diferentes tipos de liderança: a discursividade jovem na mídia

Karoline da Cunha Texeira Subjetividades na mídia: a posição sujeito espanhol em propaganda da Coca-cola

Viviam Oliveira da Silva Revista Nova Cosmopolitan ontem e hoje: uma análise do discurso sobre a mulher na mídia

Mariana da Silva Vita Nova sexualidade feminina - década de 1970

Alessandra Vieira Affonso As unidades de polícia pacificadora na mídia impressa

10h30

Intervalo

11h às

12h30

Mesa II – Discurso e Sociedade Coordenação: Maurício Beck

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Phellipe Marcel da Silva Esteves O discurso sobre comida e alimentação na Encyclopedia do riso e da galhofa, repertorio de anecdotas joviaes (1863)

Diego Barbosa da Silva Multiculturalismo: uma análise do(s) discurso(s) multicultural(is) no Canadá e na Austrália

Tássia Gimenes Alves Vai dar samba: a formação imaginária da mulher no samba e na teoria feminista

Raphael de Morais Trajano Sentidos e(m) movimento: os sujeitos do discurso hip hop

Maurício Beck O discurso do cinema-documentário carioca: a prática fotográfica e os modos de significar o espaço urbano

Sandra Nascimento da Hora “O exército de sempre, uma nova força”: uma análise do funcionamento discursivo do enunciado de base da transformação do Exército Brasileiro

12h30

Intervalo – almoço

14h às 16h

Mesa III – História das Ideias Linguísticas Coordenação: Carla Barbosa Moreira

Joyce Palha Colaça Para uma nação uma língua? A nação e o imaginário da unidade linguística

Felipe Barbosa Dezerto Francês língua estrangeira e produção de saberes: a construção de um campo disciplinar escolar

Giulia Alexandre Silva de Almeida Gentílicos do Brasil: uma investigação discursiva

Guilherme Milner Gentílicos brasileiros: memória na e da língua

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Thiago Mattos O linguajar carioca, de Antenor Nascentes: discurso naturalista e língua nacional

Vanessa Lacerda da Silva Rangel Gramatização do português brasileiro no século XXI: uma língua trans(nacional)

Thaís de Araujo da Costa A língua portuguesa em colunas de jornal no século XXI: uma língua (trans)nacional

Carla Moreira Análise do discurso de alunos em uma sala de leitura: produção de imaginários e saberes sobre a língua

16h

Intervalo

16h30 Às

17h45

Mesa IV – Discurso e Psicanálise Coordenação: Ana Maria Carnevale

Ana Maria Carnevale Sujeito e Silêncio

Maria de Fátima do Amaral Silva Os discursos que fundam o campo da constituição subjetiva

Marcia Maria da Silva Cirigliano Análise de discurso e a clínica do autismo

Ester Dias de Barros dos Santos As posições sujeito-ouvinte e sujeito-falante da língua estrangeira: aspectos da (inter)subjetividade

Fernanda Luiza Lunkes Os usos do dizer: as citações na revista Veja e a mobilização de (outros) sentidos

17h45

Encerramento

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SUMÁRIO

Apresentação 11

As unidades de polícia pacificadora na mídia impressa Alessandra Vieira Affonso

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Sujeito e Silêncio Ana Maria Carnevale

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Análise do discurso de alunos em uma sala de leitura: produção de imaginários e saberes sobre a língua Carla Moreira

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Multiculturalismo: uma análise do(s) discurso(s) multicultural(is) no Canadá e na Austrália Diego Barbosa da Silva

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As posições sujeito-ouvinte e sujeito-falante da língua estrangeira: aspectos da (inter)subjetividade Ester Dias de Barros dos Santos

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Francês língua estrangeira e produção de saberes: a construção de um campo disciplinar escolar Felipe Barbosa Dezerto

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Os usos do dizer: as citações na revista Veja e a mobilização de (outros) sentidos Fernanda Luiza Lunkes

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Gentílicos do Brasil: uma investigação discursiva Giulia Alexandre Silva de Almeida

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Gentílicos brasileiros: memória na e da língua Guilherme Milner

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Para uma nação uma língua? A nação e o imaginário da unidade linguística Joyce Palha Colaça

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Youtube: um espaço de novas relações sociais na/pela linguagem Juciele Pereira Dias

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Subjetividades na mídia: a posição sujeito espanhol em propaganda da Coca-cola Karoline da Cunha Texeira

30

Análise de discurso e a clínica do autismo Marcia Maria da Silva Cirigliano

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Os discursos que fundam o campo da constituição subjetiva Maria de Fátima do Amaral Silva

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Nova sexualidade feminina - década de 1970 Mariana da Silva Vita

34

O discurso do cinema-documentário carioca: a prática fotográfica e os modos de significar o espaço urbano Maurício Beck

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O discurso sobre comida e alimentação na Encyclopedia do riso e da galhofa, repertorio de anecdotas joviaes (1863) Phellipe Marcel da Silva Esteves

38

Sentidos e(m) movimento: os sujeitos do discurso hip hop Raphael de Morais Trajano

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“O exército de sempre, uma nova força”: uma análise do funcionamento discursivo do enunciado de base da transformação do Exército Brasileiro Sandra Nascimento da Hora

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Vai dar samba: a formação imaginária da mulher no samba e na teoria feminista Tássia Gimenes Alves

43

A língua portuguesa em colunas de jornal no século XXI: uma língua (trans)nacional Thaís de Araujo da Costa

44

O linguajar carioca, de Antenor Nascentes: discurso naturalista e língua nacional Thiago Mattos

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Gramatização do português brasileiro no século XXI: uma língua trans(nacional) Vanessa Lacerda da Silva Rangel

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Revista Nova Cosmopolitan ontem e hoje: uma análise do discurso sobre a mulher na mídia Viviam Oliveira da Silva

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Diferentes tipos de liderança: a discursividade jovem na mídia Viviane Sales dos Anjos

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II Seminário Interno de Pesquisas do LAS

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APRESENTAÇÃO

O II Seminário Interno de Pesquisas do Laboratório Arquivos do Sujeito é uma jornada científica de um dia em que todos os estudantes que desenvolvem pesquisas sob orientação dos professores do LAS têm a oportunidade de apresentar os seus trabalhos recém-concluídos ou em andamento no ano letivo de 2012.

O Seminário tem como principais objetivos:

- oferecer aos participantes um panorama geral das pesquisas realizadas no Laboratório;

- possibilitar aos estudantes a prática no que concerne à divulgação de suas pesquisas em eventos científicos, desde a elaboração de resumos até a apresentação, de acordo com as normas comumente estabelecidas em eventos desta natureza;

- proporcionar aos orientandos um espaço de discussão dos seus trabalhos de pesquisa e a troca de experiências entre os membros do grupo.

Em sua segunda edição, o evento conta com a apresentação de 25 pesquisas, de trabalhos de conclusão de curso de graduação, iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado, organizadas em quatro mesas que contemplam as seguintes temáticas: Discurso e Mídia; Discurso e Sociedade; História das Ideias Linguísticas; Discurso e Psicanálise.

Nesta segunda edição do Caderno de Resumos: II Seminário Interno de Pesquisas do Laboratório Arquivos do Sujeito estão reunidos os resumos dos trabalhos que, em seu conjunto, apresentam um panorama das pesquisas desenvolvidas pelos orientandos vinculados ao LAS, durante o ano de 2012.

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II Seminário Interno de Pesquisas do LAS

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II Seminário Interno de Pesquisas do LAS

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AS UNIDADES DE POLÍCIA PACIFICADORA NA MÍDIA IMPRESSA

Alessandra Vieira Affonso

Mestrado – UFF Orientadora: Vanise Medeiros

No presente trabalho serão expostas algumas questões presentes na dissertação de mestrado intitulada “As Unidades de Polícia Pacificadora do discurso midiático impresso”. O objetivo com esta pesquisa é refletir sobre a Polícia Pacificadora na mídia impressa, sob o enfoque teórico-metodológico da Análise do Discurso de linha francesa (Pêcheux e Orlandi). A partir de dezembro de 2008, surge este novo modelo de policiamento no Rio de Janeiro: as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). Nesta forma de denominação policial, temos a adjetivação pacificadora que recai sobre o vocábulo polícia, é a Polícia da Paz. Algumas são as questões que norteiam as reflexões empreendidas: que sentidos estão postos na mídia impressa ao se noticiar sobre Polícia Pacificadora? Como as UPPs vão sendo discursivizadas nas reportagens? Quais são as filiações que sustentam esta forma de policiamento? Quais são dizeres que sustentam uma discursividade acerca desta forma de policiamento? Tomamos como corpus reportagens das revistas Veja e Caros Amigos sobre a Polícia Pacificadora, e delimitamos dois momentos da política da pacificação na mídia impressa selecionada: a sua implementação, no final de 2008, e, logo, a sua iminência na mídia, e, posteriormente, no final de 2010, após o acontecimento de novembro de 2010 (confronto armado da polícia com os traficantes nas comunidades de Vila Cruzeiro e Complexo do Alemão). A Veja é discursivizada como a principal revista da grande mídia e ocupa o primeiro lugar em tiragem no Brasil, resultando em sua ampla divulgação; a revista Caros Amigos é apresentada como a representante da imprensa alternativa brasileira. A escolha por essas duas revistas parte do seguinte pressuposto: até que ponto nelas inscrevem-se diferentes posições discursivas? E até que ponto elas filiam-se em distintas formações discursivas? Após a análise do corpus, chegamos a duas formações discursivas: a formação

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II Seminário Interno de Pesquisas do LAS

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discursiva bélica (FD1) e a formação discursiva da denúncia (FD2), em que se inscrevem Veja e Caros Amigos, respectivamente. A FD1 cola-se ao discurso oficial e mobiliza uma memória em que a violência cometida pelos policiais torna-se legitimada e é discursivizada positivamente. Já na FD2, a violência advinda do Estado é problematizada. Nela há a denúncia de dizeres interditados e de vozes silenciadas no discurso oficial. Por fim, constatamos que as posições discursivas presentes em Caros Amigos são dissonantes daquelas que comparecem na revista Veja. Há, em Caros Amigos, uma contra-identificação com os sentidos postos e dominantes em Veja, manifestando um efeito de resistência aos sentidos legitimados e que circulam, na contemporaneidade, como naturais. Palavras-chave: polícia pacificadora; mídia impressa; violência; Análise do Discurso.

SUJEITO E SILÊNCIO

Ana Maria Carnevale Doutorado – UFF

Orientadora: Bethania Mariani

A tese de doutorado por mim defendida em agosto de 2012 percorreu caminhos de dois grandes eixos teóricos: a Análise de Discurso de linha francesa segundo Michel Pêcheux e a Psicanálise de acordo com Jacques Lacan. O tema central de nossa pesquisa foi o silêncio na constituição do sujeito. O silêncio pensado não como falta, mas como possibilidade de transmissão de um outro dizer, como nos diz Orlandi, “[...] há silêncio nas palavras[...]” (ORLANDI, 1995, p. 11). Em havendo silêncio nelas, há sentido no silêncio, ele não é o que sobra da linguagem, sendo condição para que possa haver significação. O silêncio não é, pois, tomado como resto de linguagem, ele é da ordem do sentido, dá sentido e é possibilidade de outro dizer. Ainda de acordo com Orlandi, o silêncio atravessa as palavras e, portanto, é um silêncio “fundante” (ORLANDI, 1995, p.14). Logo, quando dizemos que há silêncio nas palavras, dizemos que “elas produzem silêncio; o silêncio fala por elas; elas silenciam”

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(ORLANDI, 1995, p. 14), posto não haver possibilidade de um dizer pleno. Pensar na constituição do sujeito supõe pensarmos primeiro no Outro e sua relação com o outro. Assim, o Outro, ‘lugar de tesouro dos significantes’, oferece os significantes necessários à constituição do sujeito a advir. Mas atentemos para o fato de que o Outro também se constitui via significantes de um Outro anterior e que o próprio Outro, ainda que ofereça os significantes ao sujeito a advir, também é marcado por uma falta. É, pois, um sujeito incompleto e faltoso. Assim, temos que “[...] O Outro é a própria referência ao simbólico [...]” (KAUFMANN, 1996, p. 386, grifos nossos) e, em sendo referência ao simbólico, nele se localiza a possibilidade de transmissão de significantes para que o sujeito do inconsciente advenha. O corpus de nossa pesquisa foi composto por recortes de entrevistas realizadas com gestantes em diferentes períodos de gestação e de diversas faixas etárias. A escolha por entrevistas com gestantes deve-se ao fato de serem sujeitos que ocupam o lugar daquele que fala de um sujeito a advir. Ofertam significantes a um outro que existe apenas em seu imaginário, posto ainda não terem nascido. Assim, terminada a tese, posso dizer que não existe um silêncio único, mas sim modos de silêncio que podem constituir todo sujeito, já que cada um, atravessado que é pelo inconsciente, não tem como dizer de si mesmo também de uma única maneira. Palavras-chave: sujeito; silêncio; Análise do Discurso; transmissão.

ANÁLISE DO DISCURSO DE ALUNOS EM UMA SALA DE LEITURA: PRODUÇÃO DE IMAGINÁRIOS E SABERES

SOBRE A LÍNGUA

Carla Moreira Pós-doutorado – UFF/CAPES Supervisora: Bethania Mariani

Um dos projetos vinculados ao Laboratório de Arquivos do Sujeito (LAS) intitula-se “O brasileiro hoje: língua, cultura e novas relações sociais”, com supervisão da Profa. Dra. Bethania Mariani. Seu

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II Seminário Interno de Pesquisas do LAS

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objetivo principal é analisar o modo como os jovens brasileiros se representam socialmente, como se posicionam frente aos acontecimentos de nosso cotidiano, importando também buscar compreender a imagem que os brasileiros fazem da língua nacional. Para cumprir parte desses objetivos, vem sendo feito um trabalho de observação e interação das atividades desenvolvidas na Sala de Leitura do Colégio Universitário Geraldo Reis, que tem como proposta principal desenvolver atividades que despertem, nos alunos, prazer e interesse pela leitura e escrita, além de lhes dar oportunidade de conhecer e discutir diversas obras da literatura e diferentes gêneros discursivos. Para esta comunicação, pretende-se analisar o discurso de alunos com idade entre 11 e 16 anos, que frequentam semanalmente a Sala de Leitura, durante 1h30min. Busca-se compreender os diferentes imaginários produzidos, atentando-se principalmente para o modo como eles mesmos – enquanto sujeitos – e a língua estão sendo representandos. Assume-se a importância de tentar dar visibilidade a essas representações, tendo em vista, principalmente, a escassez de pesquisas no campo do discurso que tenha como foco a criança, o adolescente e o jovem brasileiro, as diferentes formas de manifestação das relações de forças e os confrontos ideológicos que produzem os modos de controle do que deve ou não ser dito por eles e sobre eles, bem como os modos de resistência. Percorrendo também as questões postas no já citado projeto, o que seria possível dizer, a partir dessas análises, da posição desses sujeitos na “discursividade contemporânea”? Trata-se de uma discursividade onde se inscrevem posições de sujeitos alienados em relação ao seu próprio dizer? E\ou por posições marcadas sócio-historicamente por sujeitos não compromissados ou não engajados? Seriam de fato essas discursividades contemporâneas marcadas pela emergência de um sujeito que não se responsabiliza ou as imagens produzidas nesses discursos justamente apontariam para uma tomada de responsabilidade; em que condições essas discursividades são produzidas? O estatuto teórico-metodológico em que essa análise se baseia é o da Análise do Discurso pecheutiana, para a qual a interdiscursividade se constitui no processo sócio-histórico e ideológico em que os sentidos são produzidos (Pêcheux, 1975). Além disso, os estudos de Orlandi (2007) sobre o silêncio e outros

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que corroboram uma análise linguístico-discursiva (2003; 2004) constituem a base teórica dessa pesquisa em andamento. Palavras-chave: Discurso; Leitura; imaginário; jovens.

MULTICULTURALISMO: UMA ANÁLISE DO(S) DISCURSO(S) MULTICULTURAL(IS) NO CANADÁ

E NA AUSTRÁLIA

Diego Barbosa da Silva Doutorado – UFF/CAPES

Orientadora: Vanise Medeiros

Nestas últimas décadas, observamos o crescimento da migração e a intensificação da globalização que, favorecendo o contato entre culturas, trouxe e traz uma série de questões e desafios de convivência e de reformulação de conceitos como nacionalismo, cidadania, direitos humanos e sujeito universal. Nossa pesquisa de doutorado visa justamente pensar essas questões por meio da análise discursiva (PÊCHEUX, 2009 [1975]; ORLANDI, 2007 [1989]) do multiculturalismo, sobretudo o discurso multicultural da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). O que está em jogo e o que não está quando se diz multiculturalismo? O que esses sentidos silenciam? Há paráfrases e deslizamentos em torno desses sentidos? Entretanto, para observarmos as condições de produção do discurso, para nós torna-se fundamental observarmos anteriormente as condições sociais e históricas sob o olhar do cientista social, inerentes a nossa formação de pesquisador: por que o multiculturalismo surgiu? Qual o contexto histórico? Afinal, como afirma Orlandi (1994), se a Análise de Discurso se faz no entremeio entre Linguística e Ciências Sociais, ela “coloca questões para a Linguística no campo de sua constituição, interpelando-a pela historicidade que ela apaga, do mesmo modo que coloca questões para as Ciências Sociais em seus fundamentos, interrogando a transparência da linguagem, a do sujeito e a do sentido, transparência sobre a qual essas ciências se assentam”. Para esta apresentação analisamos, a partir da noção de acontecimento

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discursivo de Pêcheux (1997; 1999), o surgimento do termo multiculturalismo no Canadá e na Austrália, os primeiros países onde foi utilizado nos anos 1960 e 1970. Sob o olhar do cientista social, percebemos que ambas as histórias desses países estão marcadas pela migração e povoamento de vasto território, primeiramente feitos com europeus e só mais recentemente de maneira significativa com povos de outros continentes. Já sob o olhar do analista do discurso, notamos um deslizamento de sentidos no processo de significação do multiculturalismo. Primeiramente, surge como o adjetivo multicultural, qualificando sociedade e nação nos primeiros textos, nos anos 1960. Depois, passa a ser usado como substantivo ligado ao termo política, política de/do multiculturalismo nos anos 1970. E finalmente, na década seguinte, significa patrimônio a ser preservado. Além disso, durante todo esse processo de significação, percebemos a construção de uma disputa de sentidos, de uma contradição entre língua e cultura que permite que seja possível dizer que o Canadá é uma “nação multicultural, mas bilíngue” e por que não multilíngue? Ou então significar cultura como o exótico dos gabinetes de curiosidade do século XVII ou como a indústria cultural do século XX e apagar o sentido de direito linguístico. Caminhamos, por fim, para a constatação de uma formação discursiva liberal-capitalista, na constituição desses deslizamentos e redes parafrásticas do multiculturalismo em que prevalece o processo de individua(liza)ção do sujeito. Palavras-chave: Multiculturalismo; Acontecimento discursivo; Canadá; Austrália.

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AS POSIÇÕES SUJEITO-OUVINTE E SUJEITO-FALANTE DA LÍNGUA ESTRANGEIRA: ASPECTOS DA

(INTER)SUBJETIVIDADE

Ester Dias de Barros dos Santos Mestrado – UFF/CAPES-REUNI

Orientadora: Silmara Dela Silva

Não é de hoje que discussões sobre o ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras (LE) ocupam o escopo central de interesse dos linguistas e linguistas aplicados, ramificando-se pela corrente da psicolinguística, do sócio-interacionismo, etc. Pesquisadores adstritos ao estudo dessa temática se filiam a determinada(s) teoria(s) que serve(m) de ancoragem para refletir sobre possíveis tessituras que envolvem o processo de ensino-aprendizagem da LE. Diferentemente da ideia de delinear as implicações pertencentes a todos os fatores que fazem parte do processo de ensino-aprendizagem, propomos pensar sobre as posições sujeito-ouvinte e sujeito-falante da língua estrangeira, a partir de alguns questionamentos, a saber: o que significa colocar-se como sujeito falante e ouvinte da língua estrangeira? Por que a resistência para falar a língua estrangeira? Por que a resistência para ouvir a LE? Que relações podem ser estabelecidas entre aprendizagem, resistência e sujeito? Será que aprender uma língua estrangeira sempre é desconfortante para sujeito? O que está subjacente a essa tomada de posição do sujeito? Para pensar tais questões, filiamo-nos principalmente aos estudos de Melmam (1992), Celada (2004), Tavares (2005), Revuz (2006), Coracini (2007), Orrú (2010), os quais apresentam interessantes reflexões sobre a aprendizagem de uma LE, considerando-a sob uma perspectiva discursiva da linguagem. Nesse sentido, partimos ainda da ideia de que a língua não é mero instrumento para fim comunicativo, mas ela é fundadora do sujeito, uma vez que através dela nos inscrevemos no mundo. No que tange ao campo teórico, serão mobilizas as teorias da Análise de Discurso de orientação pecheutiana e da Psicanálise, na tentativa de compreender e problematizar as posições sujeito-ouvinte e sujeito-falante da LE. Cabe assinalar, ainda, que, embora os autores

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II Seminário Interno de Pesquisas do LAS

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supracitados trabalhem, de modo geral, a partir da noção teórica da Análise de Discurso de orientação pecheutiana, alguns partem da Linguística Aplicada, tendo contribuições da desconstrução derrideana, dos estudos da psicanálise freudo-lacaniana e das teorias sociais, que propõem problematizar as subjetividades contemporâneas. No que se refere ao corpus de análise utilizaremos entrevistas semiestruturadas gravadas em áudio durante as aulas de língua estrangeira em um curso de idioma na cidade do Rio de Janeiro/RJ. A opção por realizar as entrevistas na sala de aula tem por objetivo registrar os discursos dos alunos na posição sujeito-ouvinte e sujeito-falante da língua estrangeira. As perguntas foram feitas em língua espanhola, sendo solicitado aos sujeitos entrevistados que respondam na língua estrangeira; a transcrição está sendo realizada. Deste modo, há a tentativa de buscar respostas para as questões mencionadas anteriormente, a partir do que tomamos como objeto de análise: o discurso do sujeito-falante e sujeito-ouvinte da LE. Nessa direção, outros questionamentos surgem, como por exemplo: Que contribuições o estudo dessa temática oferece para professor de línguas, uma vez que não há a descrição de um método específico de estudo? Por que é relevante pensar o ensino-aprendizagem de LE sobre uma perspectiva discursiva? Palavras-chave: sujeito; discurso; ensino-aprendizagem; língua estrangeira.

FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA E PRODUÇÃO DE

SABERES: A CONSTRUÇÃO DE UM CAMPO DISCIPLINAR ESCOLAR

Felipe Barbosa Dezerto

Doutorado – UFF/Colégio Pedro II Orientadora: Bethania Mariani

Quando se trata do ensino escolar de uma língua estrangeira, faz-se necessário primeiramente desnaturalizar a evidência que produz imaginariamente a ilusão de que uma língua nacional pode ser apreendida em sua totalidade e ensinada sob a forma de uma

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disciplina. O que estamos afirmando é que uma disciplina de língua estrangeira e uma língua nacional não são coisas que se equivalem de forma natural. Há um processo de construção imaginária dessa equivalência. Isso posto, o trabalho que aqui propomos, parte de meu percurso de doutoramento, visa refletir sobre esse processo de construção de um campo disciplinar escolar para o francês língua estrangeira. Buscamos tecer considerações sobre a disciplinarização do francês, via Colégio Pedro II - “colégio notável” (ORLANDI, 2002) situado no Rio de Janeiro, pelo Império Brasileiro em 1837 – tomando como material de análise o programa de ensino de francês de 1892, programa que marca a passagem para a República, ocorrido após a reforma de Benjamin Constant. O trabalho com esse programa nos levou a afirmar que o francês, enquanto disciplina, dá à língua francesa um funcionamento sistematizável em categorias gramaticais (adjetivos, verbos, pronomes, artigos, substantivos, advérbios, conjunções e preposições) que se organizam em unidades e se relacionam sob a égide de regras sem variedades, produzindo uma previsibilidade desse funcionamento. Os efeitos da classificação em classes das categorias gramaticais e de uma sintaxe regular para essa língua acabam por lhe conferir um aparato instrumental capaz de descrevê-la, o que a torna algo ensinável. Isso pode ser percebido não só na segmentação da língua em estruturas de classes gramaticais e sintáticas, mas também pela presença de uma gramática como referência de livro no programa, no caso a Grammatica franceza, de Halbout. Esse efeito de língua como sistema gramatical também promove para a língua francesa, já que a disciplina é tomada como a própria língua, o efeito da unidade, da não variabilidade e da previsibilidade, uma vez que o que se considera como particularidades da língua aparece na gramática de Halbout como exceções. Temos aqui, materializado neste programa, uma língua imaginária (ORLANDI, 2002). O nome que esteve à frente da reforma que deu origem ao programa de 1892, Benjamim Constant, é um nome afetado pelas ideias positivistas. Se há uma aproximação do francês nesse programa com o positivismo e com a questão da ordem e do progresso é porque essa disciplina aparece como saberes segmentáveis em anos, funcionando sob uma imagem de língua homogênea de aprendizagem em grau de dificuldade crescente,

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podendo se chegar ao grau mais elevado de conhecimento. Apresentado dessa forma, o programa de 1892 apaga as instabilidades das línguas num duplo movimento que produz o do sistema da língua e cria o efeito de traduzibilidade, o que possibilita a passagem de um sistema para outro. Temos uma língua sem contradições e apreensível na estabilidade das categorias gramaticais a partir das quais ela se dá, podendo estabelecer uma correspondência não-contraditória com ela própria e com as outras. Palavras-chave: francês; disciplinarização; História das Ideias Linguísticas; programas de ensino. OS USOS DO DIZER: AS CITAÇÕES NA REVISTA VEJA E A

MOBILIZAÇÃO DE (OUTROS) SENTIDOS

Fernanda Luzia Lunkes Doutorado – UFF∕CNPq

Orientadora: Bethania Mariani

A nossa pesquisa de doutorado tem como objetivo, com base na Análise de Discurso francesa, situar os sentidos construídos pela revista Veja sobre tranquilizantes e antidepressivos e sobre o sujeito e o corpo com depressão no período de 1968 a 2010, buscando também compreender o imaginário que vem sendo posto em circulação sobre medicamento, sujeito e corpo. Nosso estudo não desenvolve uma análise comparativa com outra revista, no qual poder-se-ia apontar as relações de força entre uma e outra, mas analisa diversas marcas linguísticas no discurso da Veja que deem conta de situar seu funcionamento que, segundo nossa hipótese inicial e cujas análises vêm confirmando, se faz hegemônico no incentivo ao uso de medicamentos. Os tranquilizantes e os antidepressivos, no imaginário construído pela revista, apresentam-se como destaques nas matérias e como salvadores do mal-estar através de uma formação discursiva capitalista, que supera o discurso de medicamentos de uso controlado e dá o status de produtos a serem consumidos. O corpus foi construído a partir de matérias, matérias especiais, entrevistas e breves notas publicadas na revista Veja no

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período recortado. Em relação ao levantamento do material, este se deu de diversas maneiras: em revistas impressas de particulares ou de bibliotecas públicas; porém, diante da dificuldade em se conseguir todas as edições, considerando o tempo histórico que foi abarcado, a pesquisa se deu sobretudo com base em edições online que a revista Veja dispõe, cujo arquivo virtual contempla todas as edições do período pesquisado. Os termos utilizados para a busca foram: depressão, medicamento, remédio, Prozac, antidepressivo, tranquilizante, uso controlado, tratamento de depressivos, depressivo, deprimido, ansiolítico, Lexotan, psiquiatria, psicanálise. No levantamento do corpus empírico, a maior dificuldade se deu com os inumeráveis retornos do termo “depressão” referindo-se à quebra da bolsa de Nova York, em 1929, e também em relação ao problema mental, mas de modo meramente citacional, o que nos fez entender que não seria possível integrar estes últimos ao corpus, pois não seria possível construir um dispositivo que desse conta do “gesto de interpretação”, conforme Orlandi (1998). Com nosso arquivo construído, estamos atualmente elaborando as análises das imagens veiculadas nas matérias e das seguintes marcas linguísticas: títulos das matérias e subtítulos; processos de sinonímia entre depressão, melancolia, tristeza, ansiedade e angústia; processos de adjetivação do sujeito com depressão; orações relativas e as aposições; a construção simbólica sobre a psicanálise e sua relação com a psicofarmacologia. Para o presente trabalho, vamos nos deter no funcionamento das citações que a revista faz a partir dos depoimentos dos sujeitos que se tratam com medicamentos e da opinião dos especialistas sobre uso de medicamentos, depressão, psicanálise, tratamentos, normalidade. A partir de três matérias e três entrevistas, situaremos os sentidos que a revista mobiliza no uso das citações, compreendendo se é possível com elas mobilizar sentidos outros daqueles construídos pela posição-sujeito paciente/ especialista. Palavras-chave: Discurso; Mídia; Depressão; Citação.

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GENTÍLICOS DO BRASIL: UMA INVESTIGAÇÃO DISCURSIVA

Giulia Alexandre Silva de Almeida

Iniciação Científica – UFF/PIBIC Orientadora: Vanise Medeiros

O presente trabalho faz parte do projeto de bolsa de Iniciação Científica (PIBIC-2012) Gentílico do Brasil: uma investigação discursiva, que integra parte da pesquisa Dizer (d)o brasileiro: língua e sujeito (E-26/102-252/2009-2012), da Prof.ª Dr.ª Vanise Medeiros (LAS-UFF). O objetivo do projeto PIBIC era investigar os gentílicos do Brasil em dois períodos, a saber, antes da independência e após a independência, a fim de refletir sobre a relação entre língua (no caso sobre a metalinguagem – gentílico), e sujeito nacional. Investigamos gentílicos para Brasil, os seus sentidos, a fim de compreender as tensões que dizem da relação sujeito e nação. As denominações, com relação aos gentílicos, permitem delinear e acompanhar as disputas e alianças históricas na produção de sentidos, seu passado e seu futuro, seu movimento, ou seja, as redes de filiações de sentido que organizam a rede discursiva. Durante a pesquisa formulamos uma hipótese a partir de leituras de Soares e Medeiros (2012): Na história de um gentílico, a tensa inscrição do ofício. Os autores promoveram uma “reflexão discursiva sobre a categoria gentílico, isto é, pensando tal categoria não como metalinguagem da ordem da evidência – um país, por exemplo, tem a ele vinculado um gentílico –, mas em suas implicaturas e efeitos enquanto metalinguagem na relação com sujeito”. Debruçaram-se, então, sobre os discursos gramatical, historiográfico, lexicográfico e jornalístico, analisando o gentílico brasileiro, e chegaram à conclusão de que tal gentílico não denomina o indígena do Brasil. Dado que são inúmeros os gentílicos ao longo da história do Brasil (brasis, brasileiro, brasilense, brasiliense, brasílico e brasiliano), nos questionamos até que ponto brasiliano denomina o indígena brasileiro. A pesquisa,então, tomou outro rumo – ainda dentro do tema dos gentílicos –, qual seja da análise de gentílico brasiliano. Assim, para esta apresentação temos como

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objetivo investigar o gentílico brasiliano em dois períodos, a saber, antes da independência (como território colônia de Portugal – antes do século XIX) e após a independência (como nação – pós século XIX). Com tais dados pretendemos compreender: (a) até que ponto brasiliano é paráfrase de brasileiro; (b) a quem brasiliano serve como gentílico. Por fim, importa registrar que nos interessa percorrer a história dos gentílicos do Brasil em dois distintos materiais: (a) discurso lexicográfico – dicionários e dicionários etimológicos; (b) discurso gramatical (Cunha, 2008; Bechara, 2004; Cegalla, 1985; Azeredo, 2010). Como suporte teórico, tem-se a Análise de Discurso de linha francesa, cujo principal autor é Michel Pêcheux (1975), e seus desdobramentos no Brasil, a partir de Eni Orlandi (1995; 1998; 2001; 2004), e em seu encontro com a História das Ideias Linguísticas, seguindo as ideias de Auroux (1992). Palavras-chave: História das Ideias Linguísticas; Análise de Discurso; gentílicos brasileiros.

GENTÍLICOS BRASILEIROS: MEMÓRIA NA E DA LÍNGUA

Guilherme Milner

Iniciação Científica – UFF/FAPERJ Orientadora: Vanise Medeiros

Este trabalho é fruto da pesquisa de iniciação científica “Gentílicos brasileiros: memória na e da língua” (Faperj n°E-26/103.646/2012) e integra a pesquisa intitulada “Dizer (d)o brasileiro: língua e sujeito” (E-26/102-252/2009), da Profª. Drª. Vanise Medeiros (UFF/ FAPERJ/CNPq). Pesquisa esta que passei a integrar em janeiro de 2013 substituindo a bolsista anterior, Eulália Feó, e que, está, portanto, em seu início. O objetivo aqui estudado é investigar sobre gentílicos para Brasil a fim de compreender as tensões que dizem da relação do sujeito nação. Neste trabalho nos detemos na análise do verbete “candango”. Tal recorte decorre do artigo de Soares e Medeiros – “Na história de um gentílico, a tensa inscrição do ofício” (Revista da Anpoll/2012)”. Neste artigo os autores, depois de

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analisarem o gentílico para Brasil, observam que, se brasiliense não vinga como gentílico pátrio, torna-se gentílico da capital do Brasil; no entanto, um outro gentílico que também, tal como brasileiro, traz a marca do trabalhador (a saber, candango) entra em disputa novamente com o gentílico escolhido pela posição erudita (brasiliense). Pesquisas iniciais indicaram que nem sempre este foi o sentido dado para candango, disto resultam algumas perguntas: quais os sentidos para candango? Como candango passa a significar trabalhador braçal? Nosso trabalho compreende, então, a análise do verbete “candango” em dicionários, dicionários etimológicos, dicionários enciclopédicos e também dicionários de internet, a saber: Wiktionary, Priberam, Houaiss Eletrônico, Dicionário Informal, Michaelis - UOL, entre outros que se encontram por toda a rede. No momento, estamos mapeando os verbetes nestes materiais. Apontado como provindo de “dialetos africanos”, algumas das regularidades que temos encontrado parecem indicar uma disputa entre duas posições discursivas: do português nomeado pelo africano que aqui se encontra e do brasileiro nomeado pelo português. Nestas nomeações sentidos pejorativos deslizam da posição africana - que está nomeando portugueses como “candango” – para a posição portuguesa que passa a nomear. Em outras palavras, a nomeação desliza da posição do colonizado para a posição do colonizador. Estamos em busca, nesse trabalho, desses deslocamentos bem como daquele que faz “candango” significar o trabalhador. Para a Análise do Discurso não se trata, então, de analisar a referência, o referente ou o significado, até porque neste domínio teórico elas são compreendidas como "relações instáveis produzidas pelo cruzamento de diferentes posições do sujeito"(Guimarães, 1995), mas sim de analisar o processo de construção discursiva do gentílico, ou seja, o modo como os discursos em relação podem produzir a ilusão de objetividade e evidência para uma realidade, como se o sentido já estivesse lá.

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Palavras-chave: História das Ideias Linguísticas; Análise de Discurso; gentílicos; nomeação.

PARA UMA NAÇÃO UMA LÍNGUA? A NAÇÃO E O

IMAGINÁRIO DA UNIDADE LINGUÍSTICA

Joyce Palha Colaça Doutorado – UFF

Orientadora: Bethania Mariani

Pretendemos, neste trabalho, fazer um caminho que leve a considerar questões de políticas linguísticas, Estado, unidade linguística e sujeito nacional. Para começar, retomaremos as questões teóricas sobre políticas de línguas, baseadas na História das Ideias Linguísticas (AUROUX, 2009 [1992]). Após esse primeiro passo, nosso objetivo é tratar da relação Língua – Estado / Língua – Sujeito / Sujeito – Estado. Isso porque, de acordo com o que já apontavam Pêcheux e Gadet, “a questão da língua é, portanto, uma questão de Estado, com uma política de invasão, de absorção e de anulação das diferenças” (GADET e PÊCHEUX, 1981, p. 37). Propomos tratar destas questões pensando no lugar do castelhano e das línguas indígenas do Paraguai e Peru – o guarani, o quéchua e o aimará – nosso objeto de pesquisa. Para nós, o Estado atua como regulador do político na linguagem e o faz de maneira a garantir uma unidade (imaginária) da língua e neste movimento institui-se a imagem de um cidadão para essa língua. Esse princípio de unidade leva à concepção de uma língua, a língua nacional, a língua do cidadão (o brasileiro, o português, o argentino, o paraguaio...). Todo e qualquer cidadão fala uma língua, determinada pelo Estado. É a língua das instituições de poder, a língua em que se identifica um sujeito (identidade, cpf, título de eleitor), sua individualização pelo Estado (Orlandi) que o torna parte do sistema em que se supõe que toda prática civilizatória é feita através de sua língua. Tal processo de unificação linguística é histórico e acontece desde a formação dos Estados nacionais. Projeta-se um estado e, para este, uma língua, para que então se crie uma nação. Conforme Mariani, “a unidade linguística é um dos elementos que vai constituir a identidade nacional no lento processo

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de constituição histórica dos estados nacionais: uma única língua oficial a ser usada pelos cidadãos com a função de regular juridicamente as relações de vassalagem”. (MARIANI, 2004, p. 50-51) Podemos ainda afirmar que nos países ora analisados não circula uma única língua, há outras línguas neste jogo. No jogo da unidade, silenciam-se as línguas não instituídas pelo Estado. Como afirma Baldini, “no caso específico da língua, as diferenças, embora sejam reconhecidas, anulam-se no processo de constituição da identidade nacional e do sujeito que ela pressupõe”. (BALDINI, 2010, p. 21) Dessa forma, ao instituir-se uma língua, supõe-se o sujeito que a fala. Este processo não é tão claro e objetivo e não se diz de que maneira funciona esse processo. Contudo, na construção de uma ‘nação’, a língua é uma questão fundamental. Ou admite-se a pluralidade, ou apagam-se as diferenças. Quando se admite a diversidade, é preciso que se invista em políticas linguísticas que a garantam. Partiremos das questões acima propostas para pensar nos países estudados e no seu modo de compreender as línguas que neles coexistem, pois se considera que todo trabalho acerca da linguagem (e pela linguagem) constitui-se em um trabalho do simbólico, tomando a historicidade dos processos de formação e formulação das políticas de línguas.

Palavras-chave: Política linguística; Estado; Unidade imaginária; Sujeito.

YOUTUBE: UM ESPAÇO DE NOVAS RELAÇÕES SOCIAIS

NA/PELA LINGUAGEM

Juciele Pereira Dias Pós-doutorado – UFF/CAPES Supervisora: Bethania Mariani

Nossa proposta de pesquisa faz parte do projeto O brasileiro hoje: língua, cultura e novas relações sociais, coordenado por Bethania Mariani, pelo qual temos como objetivo constituir um mapeamento de vídeos no Youtube sobre o modo como os jovens do Brasil se representam e são representados em situação de confronto com a lei simbólica. Nesse sentido, a partir do discurso desses jovens,

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trabalharemos as diferentes posições sujeitos frente a acontecimentos de nosso cotidiano sociocultural e em relação a políticas públicas que visam “integrá-los” socialmente. Na análise, tomaremos essa discursividade contemporânea no/do Youtube, seja pela materialidade do discurso audiovisual, seja pelo discurso escrito, por exemplo, do comentário. Este último, o comentário é um acontecimento discursivo das novas tecnologias em funcionamento no ciberespaço, em que temos um espaço de constituição do sujeito em redes sociais da contemporaneidade, tais como Facebook, Youtube, etc. A noção de comentário enquanto acontecimento discursivo é proposta por Oliveira (2005), a partir de um estudo sobre a passagem da discursividade do diário íntimo (espaço privado) para a discursividade do blog (espaço público), em que o comentário se presentifica como o diferente instaurando uma ruptura na regularidade do íntimo-privado do diário que passa a ser “público” na internet. No caso do Youtube, há o funcionamento de um “vídeo” que ao ser “postado” é intitulado e tem como propriedade constitutiva o recurso tecnológico de ferramentas de linguagens, que possibilitam o “compartilhamento” desse vídeo em redes sociais. Um vídeo do Youtube, por exemplo, ao ser postado no Facebook pode vir a ser também comentado, todavia os registros desses comentários permanecem apenas na última rede social. O diferencial do “compatilhamento” é o que podemos chamar de audiência, ou seja, o número de “visualizações” do vídeo é registrado pelo Youtube colocando os vídeos mais vistos em evidência no sistema de buscas por “palavras-chaves” ou mesmo no site. Esse funcionamento do Youtube, em si como site de arquivamento e nas suas articulações com redes sociais, estamos compreendendo como um espaço polêmico de gestos de leituras sobre fatos e acontecimentos em que estamos inseridos na atualidade e que demandam por interpretação (Henry, 1984). A noção de gesto é aqui compreendida, conforme Pêcheux (1969), como um ato no nível simbólico em meio a uma exemplificação sobre sistemas de signos – tais como os aplausos, o riso, o tumulto, os assobios – que intervêm em um discurso parlamentar institucional. Para o autor, tais intervenções (tradicionalmente classificadas como diretas ou indiretas, verbais ou não verbais) constituem-se enquanto gestos.

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Dessa maneira, para nós, gestos ainda seriam como uma intervenção simbólica, que promove um deslocamento em uma estrutura administrada pelo processo de produção de um discurso (im)posto em relações de poder e de sentidos (política). Palavras-chave: Análise de Discurso; Gestos de leitura; Youtube; arquivo.

SUBJETIVIDADES NA MÍDIA:

A POSIÇÃO SUJEITO ESPANHOL EM PROPAGANDA DA COCA-COLA

Karoline da Cunha Teixeira

Iniciação Científica – UFF/PIBIC Orientadora: Silmara Dela Silva

Esta pesquisa tem como objetivo principal apresentar uma análise da posição sujeito espanhol na segunda versão do vídeo publicitário da campanha da Coca-Cola “Hay razones para creer en un mundo mejor”, de ampla divulgação no ano de 2011. Esta análise é um fragmento da pesquisa de iniciação científica “Subjetividades na mídia: as posições sujeito brasileiro e espanhol em propagandas multinacionais”, que está vinculado ao projeto de pesquisa docente “Mídia, sujeito e sentidos: o discurso midiático na constituição do sujeito urbano brasileiro”, bem como ao Laboratório Arquivos do Sujeito (LAS/GCL/UFF). No projeto, analisamos propagandas, com alcance multinacional, com o intuito de compreender como são construídos os efeitos de sentido para os sujeitos nelas representados. O corpus principal tem como base comerciais da campanha “Razões para acreditar. Os bons são a maioria – 125 anos abrindo a felicidade”. Especificamente, um vídeo do Brasil e outro da Espanha compõem o corpus principal da pesquisa. Como corpus secundário, utilizaremos um dos comerciais da Argentina e duas das versões do livro de campanha. À priori descreveremos o vídeo publicitário da Espanha, a fim de achar as regularidades do discurso, pois “é na linguagem que o sujeito se constitui, e é também nela que ele deixa as marcas desse processo ideológico” (Lagazzi, 1988), e assim

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analisar como a constituição do sujeito nacional é feita através das diferentes versões e como os efeitos de sentido são construídos para que o sujeito consumidor nacional se identifique com o produto anunciado. Pela noção de posição sujeito no discurso, torna-se possível pensar o sujeito não como uma forma de subjetividade, mas como um “lugar” ocupado para ser sujeito do que diz. O sujeito consiste em uma posição marcada sócio-historicamente e que, segundo Orlandi (2001), corresponde a uma “posição entre outras”. Isto porque as posições sujeito são constituídas a partir da forma-sujeito do discurso, da interpelação do sujeito pela ideologia. Na propaganda da Espanha, percebemos discursos recorrentes, como o científico e o jornalístico, ambos usados para dar credibilidade às informações. No corpus de análise, observamos que comparecem formações imaginárias de imigrantes como sendo pobres e negros e, através da memória discursiva, são resgatados sentidos já postos, como o momento de crise financeira em que se encontrava o país, os movimentos e as ações de solidariedade, a fim de estabelecer com o consumidor uma relação de identificação discursiva e direcionar os sentidos para uma visão positivista. São esses alguns dos pontos em que nos centramos nesse trabalho que, de um modo geral, se norteia pelas seguintes questões: Qual a posição sujeito constituída para o sujeito brasileiro nas propagandas que circularam no Brasil? Qual a posição sujeito que se constitui para o sujeito espanhol nas propagandas que circularam na Espanha? Tendo em vista que tais propagandas são dirigidas a diferentes sujeitos nacionais e adaptadas em línguas distintas, em que elas se diferem e quais sentidos reafirmam para esses sujeitos nacionais? Palavras-chave: Análise de discurso; sujeito; propagandas; discurso midiático.

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ANÁLISE DE DISCURSO E A CLÍNICA DO AUTISMO

Marcia Maria da Silva Cirigliano Doutorado – UFF/CAPES

Orientadora: Bethania Mariani Este trabalho busca analisar os diversos discursos acerca do autismo e da criança autista, para fins de tese de Doutorado, envolvendo as áreas da Musicoterapia, Psicanálise e Análise de Discurso de linha francesa. Mobilizam-se os conceitos de voz em Jaques Lacan (2003 [1962]) e de discurso, em Michel Pêcheux (2008 [1983]). A pesquisa tem por objetivo examinar as falas presentes na clínica do autismo, a partir de entrevistas com mães de autistas e profissionais que com eles trabalham no Instituto Benjamin Constant, escola para cegos fundada no Rio de Janeiro, em 1817. Atualmente, o Instituto também recebe crianças com distúrbios associados à cegueira, entre os quais o diagnóstico de autismo. O encaminhamento à Musicoterapia se faz quando comportamentos inusitados dos autistas atrapalham a rotina escolar. Tais comportamentos assim se definem: gritos contínuos, sem razão aparente, em ocasiões nas quais até os alunos mais travessos sabem que são punidos se gritarem, como em apresentações musicais ou na própria sala de aula; agressão, na medida em que se mutilam, por exemplo, apertando um copo de vidro com as próprias mãos e quebrando-o, sem esboçar qualquer manifestação de dor, ou mordendo as próprias mãos até tirar pedaço. Um atendimento musicoterápico se inscreve a partir da própria definição de Musicoterapia: utilização da música como elemento terapêutico (Bruscia, 2000). Aí não se prioriza tanto a estética ou o virtuosismo musical na performance: os elementos musicais são utilizados para possibilitar que o paciente se expresse e é, a partir disso, que se vai construindo o fazer musical. Percebe-se que a música ajuda a melhorar tais comportamentos e que as crianças começam a falar palavras soltas, a partir dos atendimentos musicoterápicos, tendo por consequência a reação positiva por parte das mães e profissionais, que passam a incluir a criança de modo diferenciado em seus relatos. Recolhem-se informações em contatos informais no setor, reuniões de pais e nos conselhos de classe da

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escola. Na medida em que não fala de maneira compreensível aos demais, o autista ‘é falado’ a partir de alguns lugares - os manuais de psiquiatria, os dicionários de Psicanálise (Chemama, 1995) e as diversas falas do cotidiano escolar - talvez na tentativa de o sujeito falante lhe atribuir sentido. Numa instituição, como o Instituto Benjamin Constant, o autista é visto como um ser enigmático que, sem razão aparente, muda de um estado de isolamento para um rompante de agressividade. Tal comportamento parece estar a serviço de uma ideologia que comparece no discurso médico com as denominações dos transtornos do desenvolvimento, bem como das descobertas da neurociência. Em vista deste contexto, cabe perguntar: há voz no autista? Se não está no discurso, de acordo com os saberes mencionados, o que verbaliza? Investigando estas questões busca-se verificar o quanto que, escutando o que a criança autista vocaliza, haveria possibilidade de colocar esta vocalização em uma estrutura musical que permita que outros sons e palavras possam emergir. Palavras-chave: Análise de Discurso; Psicanálise; Musicoterapia; Autismo.

OS DISCURSOS QUE FUNDAM O CAMPO DA CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA

Maria de Fátima do Amaral Silva

Mestrado – UFF Orientadora: Bethania Mariani

Nesse trabalho, apresentamos o andamento de nossa pesquisa de mestrado, intitulada Os discursos que fundam o campo da aquisição da linguagem: análise das formações discursivas e seus efeitos na constituição do sujeito. O problema a que nos propomos teorizar, nesse momento, considera que o discurso médico, com seu efeito de poder (CLAVREUL, (1978) e FOUCAULT (2011)), ao tomar a criança como objeto, pode afetar sua constituição subjetiva, aja vista que irrompe a relação mãe-bebê, com seu saber sobre a doença, produzindo efeitos sobre a criança e sobre a evolução de seu quadro de produção verbal,

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fato em torno do qual delineamos nosso objeto de estudo. Essa pesquisa tem como ponto de partida uma inquietação frente ao discurso clínico-terapêutico com bebês portadores de Encefalopatia Crônica da Infância. Esse discurso submete o bebê a uma prática discursiva que atravessa o tempo primordial de sua constituição subjetiva, tempo em que se constitui, junto a seu outro primordial, na maioria das vezes a mãe ou aquele que se ocupe de fazer operar a função materna, uma imagem que o constitui e o unifica. O discurso que funda a prática de intervenção com bebês encefalopatas é marcado por uma clínica do corpo, ou seja, uma clínica marcada pela observação e avaliação do corpo enquanto biomecânico, que demanda adaptações e evoluções. Nessa prática, encontram-se dialogando um discurso técnico e um discurso médico cuja articulação promove uma ação terapêutica multidisciplinar, envolvendo profissionais de fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia e neurologia, evocando, portanto, um diálogo entre diferentes dizeres, possibilitando diferentes interpretações sobre um mesmo objeto. O que constitui os discursos que circundam essa prática é o saber médico, saber que se impõe e provoca submissão. Para analisar os efeitos dessa prática discursiva e seus efeitos na constituição do sujeito, recorremos a entrevistas com mães e com profissionais de uma equipe multidisciplinar, a fim de depreender a presença do efeito de memória de sentidos hegemônicos sobre a ordem do discurso vigente nessa práxis. Pretendemos trazer recortes dessas entrevistas em que foram depreendidos enunciados que sugerem o efeito do significante na constituição do sujeito, interferindo assim na sua relação com a patologia que o acomete. Trazemos também o recorte de dois casos clínicos para fomentar e enriquecer o diálogo que essa pesquisa pretende sustentar: um diálogo entre a Psicanálise e a Análise do Discurso. Esses recortes são uma tentativa de compreender os efeitos de sentido que perpassam as intervenções médicas e terapêuticas, além dos efeitos que sofrem os bebês que são imersos em um campo de discursos em que há uma tentativa de consistir o saber, impossibilitando assim o deslizar constituinte da linguagem e, portanto, do campo do sujeito. Nessa pesquisa, buscamos depreender, na materialidade discursiva, as marcas discursivas que desvelam os efeitos de sentido que promovem uma prática discursiva que incide na chamada clínica do corpo, compreendendo, por meio da análise, os efeitos de envelopamento do

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sujeito que essa práxis promove. Palavras-chave: constituição subjetiva; discurso médico; Psicanálise; Análise do Discurso.

NOVA SEXUALIDADE FEMININA - DÉCADA DE 1970

Mariana da Silva Vita

Trabalho de Conclusão de Curso – UFF Orientadora: Silmara Dela Silva

As mulheres sempre representaram em torno da metade da população mundial (tendo em vista que existem basicamente duas opções biológicas: nascer mulher ou homem). Ainda assim, foram e continuam sendo oprimidas de diversas formas na sociedade. Levando-se em consideração que a mídia exerce um papel importante na formação do imaginário popular, acreditamos na relevância em manter na pauta dos estudos acadêmicos sua observação e crítica. As publicações a que chamamos “revistas femininas”, tendo as mulheres como público-alvo, linguagem íntima - dando a impressão de serem escritas por amigas das leitoras – têm papel importante na emancipação das mulheres. No Brasil, essas publicações passaram a falar também sobre sexo principalmente a partir da década de 1970. A Nova/Cosmopolitan aparece neste cenário. Nova surgiu no Brasil em outubro de 1973 e, não podendo ignorar o contexto histórico, a temática de sexo, ligada à emancipação da mulher, aparece em muitas edições. Através de análise superficial de algumas edições, percebe-se que a revista tenta mostrar uma imagem de mulher independente, relacionando emancipação financeira e sexual. Ao mesmo tempo essa mulher cozinha, cuida dos filhos, recebe dicas de moda e de dieta. Grande parte de suas pautas têm o homem como tema central. A revista não se declara defensora de morais conservadoras, pelo contrário. No entanto, há marcas de machismo em seu texto, que mostra a mulher sempre tentando achar/segurar/se livrar de um homem. Essa aparente contradição de discursos é o que chama atenção em Nova/ Cosmopolitan e é o motivo pelo qual foi escolhida para compor o

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corpus de análise. O tema deste trabalho é a sexualidade nas revistas femininas na década de 1970, o discurso sobre sexo posto na revista Nova/Cosmopolitan. O recorte para as análises compreende os artigos e reportagens sobre sexo – incluindo fotos, imagens, texto escrito etc. - da primeira edição da revista, outubro de 1973, e, por ocasião do Dia Internacional da Mulher (8 de março), março de 1974, 1975, 1976, 1977, 1978, 1979 e 1980, e possivelmente edições de outros meses, desses anos, em que haja algum acontecimento histórico ligado ao tema e publicado na revista. Baseado no exposto, aponto as seguintes hipóteses: Nos artigos e reportagens sobre sexo: 1) é feita uma ligação sexo-consumo, 2) o homem se mantém como protagonista da relação, 3) há silêncio sobre homossexualidade. A análise do objeto será realizada com teoria e método da Análise de Discurso francesa. Ainda utilizaremos as principais teorias feministas – encontradas em livros lançados até 1980, respeitando o momento histórico da publicação – e bibliografia ligada à sexualidade e história das mulheres, como fundamentação teórica. Palavras-chave: mulher; sexualidade; discurso midiático; feminismo.

O DISCURSO DO CINEMA-DOCUMENTÁRIO CARIOCA: A PRÁTICA FOTOGRÁFICA E OS MODOS DE SIGNIFICAR

O ESPAÇO URBANO

Maurício Beck Pós-doutorado – UFF/FAPERJ Supervisora: Bethania Mariani

Embasado na Análise de Discurso, formulada pelo círculo de intelectuais em torno do filósofo francês Michel Pêcheux, nos anos 60-70 do século passado e, posteriormente, retomada por Eni Orlandi no Brasil, esta comunicação visa a apresentar uma análise do discurso cinematográfico carioca. A questão teórica maior será a de buscar compreender o modo como a cidade do Rio de Janeiro, seu espaço urbano, seus acontecimentos e seus habitantes são repartidos de modo desigual (perante a lei do Estado e sob a mão invisível do

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Mercado) são capturados, registrados e significados pelo olhar das câmeras. O filme que escolhi para analisar é “Abaixando a Máquina - Ética e Dor no Fotojornalismo Carioca” (2008), de Guillermo Planel e Renato de Paula. Trata-se de uma narrativa sobre a prática da fotografia profissional de acontecimentos violentos na cidade do Rio de Janeiro. O filme é constituído de uma série de entrevistas com fotógrafos e repórteres que dão o testemunho de seu trabalho, do significado deste e de seus limites éticos. Uma problemática maior que perpassa todo o discurso fílmico é a da suposta objetividade e fidelidade da fotografia diante daquilo que é retratado, de modo que a própria narrativa cinematográfica parece questionar o poder das imagens em retratar/significar acontecimentos. No que concerne aos procedimentos de análise do discurso cinematográfico, cabe ressaltar que, para Orlandi (2009), a noção de discurso formulada por Pêcheux (1997) abrange o discurso imagético. Ou seja, não estamos diante de novas materialidades discursivas, mas de um processo discursivo com modos de expressão próprios. Sua materialidade específica não extrapola a definição pecheuxtiana de discurso. Para a compreensão do funcionamento próprio ao discurso imagético, creio ser pertinente, no transcurso da análise, fazer a descrição daquilo que não é visto, mas ainda assim significado na tela. Em outras palavras, aquilo que embora não capturado pelo olhar inconsciente da câmera se faz presente pela sua ausência mesma, fora do enquadramento da cena imagética. Desse modo o analista pode compreender como o que não é visto é ainda assim significado no discurso imagético. Além disso, pode descrever como o imagético funciona conferindo hipervisibilidades e produzindo efeitos de sentido ao que é enquadrado na tela e nas suas adjacências e, dialeticamente, como deixa imperceptível uma parcela de suas próprias condições de produção. Em relação ao documentário, objeto de análise de minha comunicação, há uma particularidade que contribui para avançar nas questões propostas mais acima: o filme faz uma inflexão ao focar sua narrativa não somente no objeto das práticas fotográficas, mas no gesto de disparar a câmera, na prática da fotográfica e suas implicações éticas, suas justificativas discursivo-ideológicas, as sensibilidades dos sujeitos que estão por trás dessas práticas, suas posições subjetivas e seus gestos de interpretação, e formas de

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significar a cidade que habitam e trabalham. Remontando à afirmação althusseriana de que não há práticas sem sujeitos, a inflexão que o documentário produz permite uma percepção do que antes permanecia nos bastidores: a prática do sujeito por trás do olho invisível da câmera. Palavras-chave: discurso imagético; cinema carioca; fotografia; sujeito.

O DISCURSO SOBRE COMIDA E ALIMENTAÇÃO NA

ENCYCLOPEDIA DO RISO E DA GALHOFA, REPERTORIO DE ANECDOTAS JOVIAES (1863)

Phellipe Marcel da Silva Esteves

Doutorado – UFF/CAPES-REUNI Orientadora: Vanise Medeiros

Com o aporte teórico da Análise do Discurso francesa (PÊCHEUX e ORLANDI), propomos pensar a comida e a alimentação, em sua relação com o sujeito nacional. Em nosso projeto de doutorado, denominado Comida e sujeito nas enciclopédias dos séculos XIX e XX: uma leitura discursiva, elencamos como corpus as enciclopédias impressas em circulação no Brasil até o final do século XX. Para este trabalho, vamos investigar o discurso sobre comida e alimentação produzido na primeira enciclopédia escrita em solo brasileiro, a saber, a Encyclopedia do riso e da galhofa em prosa e verso, repertorio de anecdotas joviaes (1863). O sujeito, ao pedir, saborear, elogiar e criticar os pratos que lhe são servidos, não está simplesmente descrevendo sensações, mas já está se identificando com aquilo que pode e deve ser comido, com aquilo que pode e deve ser apreciado. Desse modo, aquilo que diz — e que lhe é dito — comer e aquilo que diz — e que lhe é dito — de que se alimenta o constitui como sujeito, visto que é discurso, materialidade ideológica, produção de evidência. Além de o discurso sobre comida e alimentação constituir o sujeito, ele provoca o efeito de nacional, de sujeito nacional. Na Análise de Discurso, pensamos a questão nacional conforme os modos de inscrição e identificação do sujeito

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em formações discursivas que o determinam a se dizer de tal nação — ainda que não seja plenamente identificado com a forma-sujeito dominante na formação discursiva que o interpela. Para se identificar como sujeito nacional o sujeito precisa apre(e)nder alguns saberes, entre eles, os linguísticos, os de comportamento e, no caso que estamos examinando, os sobre comida e alimentação — em outras palavras, o sujeito se constitui nacional à medida que, entre outros saberes, é interpelado pelos sentidos do discurso sobre comida nacional. Tendo isso em mente, nos propomos, em nossa pesquisa, depreender as COISAS A SABER (PÊCHEUX, 2006 [1983]), os conhecimentos que os sujeitos devem possuir para que sua interpelação pelas formações ideológicas se processe (embora não se conclua) — saberes cuja falta compromete a felicidade do sujeito pragmático —, analisando verbetes, seções, contos etc. das enciclopédias. Poderemos identificar, portanto, no discurso sobre comida e alimentação, como aquilo que se diz de comida e de alimentação diz também do sujeito brasileiro — ou, no caso em destaque, da Encyclopedia do riso e da galhofa, se silencia a questão nacional. Ademais, ao pesquisarmos as condições de produção do nosso objeto de estudo, verificamos um dado muito relevante: o discurso sobre comida e alimentação nas enciclopédias brasileiras é inaugurado num instrumento linguístico integralmente debruçado a “Bons ditos, casos chistosos, apophthegmas” (1863, p. IX), que seriam “o mais delicado parto das intelligencias finas” (ibidem) e voltado a um público de doutos, cortesãos, lavradores e sapateiros (idem, p. XI). Em nossa investigação, nos perguntaremos também: quais os efeitos provocados por o discurso sobre comida e alimentação no Brasil, nas enciclopédias, ser fundado pela marca do riso, da galhofa, enfim, do discurso jocoso? Palavras-chave: análise de discurso; comida; alimentação; enciclopédias do século XIX.

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SENTIDOS E(M) MOVIMENTO: OS SUJEITOS DO DISCURSO HIP HOP

Raphael de Morais Trajano Doutorado – UFF/CAPES

Orientadora: Bethania Mariani As contradições sociais estabelecem para a maioria um modo de

sobrevivência deplorável, submergindo vozes, impondo condições brutais que suscitam indigência e exclusão. Em posição de combate à naturalização da indiferença, insurgem movimentos socioculturais, erguendo mostras de caráter artístico-político, com o propósito de resistir, impulsionando mente, corpo, voz e(m) movimento. Este trabalho volta-se para os discursos produzidos por sujeitos que, explorando a linguagem mista do movimento hip hop, expõem um sem-fim de indignações, além de promoverem o orgulho e o resgate da autoestima. Com base em tudo que está em jogo quando do nascimento de uma expressão tão abrangente, pretende-se discutir, ainda, questões relativas à organização das cidades e ao processo ensino-aprendizagem em escolas das periferias, a fim de que se coloque em cena uma série de fatores inerente ao sujeito “marginalizado” que canta, dança, pinta e age politicamente, descrevendo-se como “produto do gueto”. Como docente de Língua Portuguesa e habitante de área desprestigiada, esbarro em obstáculos que conduzem a inumeráveis tropeços. Todavia, não basta cair e levantar, sem que isto possibilite uma forma calejada que seja de lidar com os percalços, buscando alternativas para a reversão de processos historicamente construídos, ao invés de aceitá-los como elementos familiares, indissociáveis do cotidiano. O discurso que define a educação como meio para um “salto” na vida impõe-se com autoridade, legitimando-a como caminho mais digno para transpor obstáculos e promover um ideal de felicidade que aparece quase sempre colado à ascensão econômica. Em que medida, entretanto, não acaba (não coincidentemente) sendo a educação formal um grande obstáculo? Abundante em burocracias que investem na maquiagem de dados documentais dos quais dependem cifras econômicas, é provável que pouco contribua para a formação de um sujeito apto a compreender as engrenagens que o modelam e o tornam “domável”. Optamos por

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selecionar discursos que se querem instrumentos de propagação da revolta e de reivindicação da dignidade, através de ultimatos como: “respeita nós, que aqui tem voz” (BILL, 2006). Veremos como certos dizeres e práticas funcionam em clipes postados no sítio Youtube.com (que geram embates e concordâncias), tendo como alicerce teórico-metodológico a análise do discurso francesa (PÊCHEUX, 1975), uma disciplina que considera o discurso na articulação com o socio-histórico-ideológico e cujo aparato teórico permite que se observem as tensões entre posições assimétricas assumidas por sujeitos que falam a partir lugares sociais antagônicos. Encarar os efeitos do abandono e colher os frutos apodrecidos de aberrações sociais fez aflorar o desejo intimador de investigar tais problemáticas. Nesta apresentação, ambicionamos dar visibilidade ao estado atual da pesquisa, abrindo margem para sugestões e/ou comentários que provoquem mais inquietações, em prol do fornecimento de compreensões possíveis acerca de sujeitos que se promovem discursivamente e das condições que os excitam a proferir réplicas. Desse modo, perseguimos avanços, seja por meio de conversas, entrando em fluxos de outros trabalhos, seja por via de rupturas que possibilitem a abertura de novas entradas. Palavras-chave: cidade; hip hop; discurso; sujeito.

“O EXÉRCITO DE SEMPRE, UMA NOVA FORÇA”: UMA

ANÁLISE DO FUNCIONAMENTO DISCURSIVO DO ENUNCIADO DE BASE DA TRANSFORMAÇÃO DO

EXÉRCITO BRASILEIRO

Sandra Nascimento da Hora Mestrado – UFF

Orientadora: Silmara Dela Silva As Forças Armadas brasileiras, constituídas pelas instituições Marinha do Brasil, Exército Brasileiro e Força Aérea Brasileira, estão vivendo um momento de reorganização estratégica de sua estrutura, de sua indústria de material de defesa e de sua política de composição de efetivos, fruto da implementação da Estratégia Nacional de Defesa, em vigor desde dezembro de 2008. Esta

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pesquisa tem como finalidade analisar as condições de produção e o modo como se constituem os efeitos de sentido no discurso relacionado ao processo de transformação do Exército, a partir do enunciado de base “O Exército de sempre, uma nova Força”, presente no documento Projeto de Força do Exército Brasileiro. Com filiação nos pressupostos teóricos e metodológicos da Análise do Discurso francesa (PÊCHEUX, 1975), o presente estudo resgata o papel da memória sócio-histórica e da memória discursiva como elementos da exterioridade que devem ser considerados na materialidade do texto e no processo de produção de sentidos do discurso. Um discurso é sempre pronunciado a partir de condições de produções dadas, deriva de posições ideológicas ocupadas pelos sujeitos, correspondendo, pois, a um certo lugar no interior de uma formação social dada. Neste contexto, a abordagem das formações ideológicas também ganha importância neste trabalho, considerando que estas nascem das formações sociais reguladas pelos Aparelhos Ideológicos do Estado. As condições de formulação, constituição e circulação do discurso são pontos abordados nesta análise, tendo em vista que o discurso é um processo contínuo que não se esgota em uma situação específica. É preciso, por isso, considerar a circunstância da enunciação, o contexto sócio-histórico, a memória discursiva e o modo de circulação no qual se inscreve o dizer. O corpus principal, sobre o qual a pesquisa está debruçada, é constituído de documentos prescritivos emitidos pelo Comando da Força, como Portarias e Diretrizes, o que não suprime a incorporação de um corpus secundário constituído de outras materialidades discursivas, como os vídeos institucionais. O foco principal da análise direciona-se para os documentos que orientam o ensino militar, no que tange, especificamente, ao aspecto relacionado à formação e à profissionalização de seus militares de carreira, em que se inscreve o discurso do ensino por competências. O recorte temporal aqui considerado estende-se do fim do século XIX aos dias atuais, período de evolução dos cursos de formação para os militares do Exército Brasileiro. O interesse pela pesquisa justifica-se pelo anseio de contribuir para o entendimento de como os sentidos são construídos no discurso da transformação em uma instituição de natureza conservadora e positivista.

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Palavras-chave: Análise do Discurso; Funcionamento discursivo; Exército Brasileiro; Formação militar.

VAI DAR SAMBA: A FORMAÇÃO IMAGINÁRIA DA MULHER NO SAMBA E NA TEORIA FEMINISTA

Tássia Gimenes Alves

Mestrado – UFF/CAPES Orientadora: Silmara Dela Silva

Partindo da premissa de que o samba é uma manifestação cultural de bastante expressão no Brasil, em especial no Rio de Janeiro e em São Paulo, analisar seu discurso enquanto uma forma de circulação de sentidos, materialidade na qual podemos observar o funcionamento da ideologia (cujo papel é interpelar os sujeitos) na linguagem, torna-se relevante. Nesse contexto, é possível observar no âmbito discursivo o processo de construção de sentidos que dependem das posições ideológicas em jogo na constituição dos dizeres. De modo a atender a essas demandas, a pesquisa em questão tem por objetivo pensar a formação imaginária da mulher em letras de samba e pagode (aqui considerado vertente do samba), assim como em livros que trazem a temática da mulher pelo viés da teoria feminista. Mais especificamente, analisamos via Pêcheux (1969) as formações imaginárias da mulher enquanto parte de um relacionamento afetivo com um homem, considerando a imagem que o homem inserido nessa relação afetiva amorosa faz do outro, que é no caso, uma mulher. Por assim dizer, analisamos como a formação imaginária é construída, e assim, que imagem é atribuída à mulher. O mesmo caminho é percorrido a fim de compreender como a teoria feminista projeta a imagem da mulher contemporânea e mais, ela como parte de uma relação amorosa. A formação imaginária da mulher do ponto de vista da teoria feminista é traçada pela ótica de duas mulheres (TOSCANO & GOLDENBERG,1992; 2011), que apontam que o movimento feminista nada mais é que uma “ação organizada de caráter coletivo que visa mudar a situação da mulher na sociedade, eliminando as discriminações a que ela está sujeita” (1992, p. 17). O

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corpus de análise é constituído por letras de música, como Feijoada completa, de Chico Buarque, e Se eu te pego te envergo, do grupo Sorriso Maroto, e por textos que abordam a teoria feminista. Trata-se de um recorte da dissertação de mestrado, portanto aqui focamos na formação imaginária da mulher nesses discursos, enquanto na dissertação pensamos o processo de formação de sentidos sobre a mulher. Uma ponte deve conectar os dois corpora com intuito de compará-los; as formações imaginárias de um discurso midiático musical, cujo objetivo é entreter e que, de certa forma, retratam as relações sociais entre homens e mulheres enquanto casal. Por outro lado, temos uma teoria do campo da ciência social que preza pelo bem-estar da mulher enquanto sujeito e visa uma mudança na estrutura social de classes. Com vistas a traçar tal percurso, lançamos mão da comparação entre a formação imaginária da mulher em cada letra de música e no discurso feminista enquanto prática teórica de mudança social. Pretendemos, portanto, verificar quem são as mulheres no discurso do samba e no discurso da teoria feminista, e como sua formação imaginária é construída socialmente nesses discursos. Palavras-chave: Análise de Discurso; formação imaginária; discurso musical (samba); feminismo. A LÍNGUA PORTUGUESA EM COLUNAS DE JORNAL NO

SÉCULO XXI: UMA LÍNGUA (TRANS)NACIONAL

Thaís de Araujo da Costa Doutorado – UFF

Orientadora: Vanise Medeiros No final do século XX, vimos iniciativas de cunho político-econômico serem tomadas pelo Estado brasileiro que acarretaram a redefinição da relação entre língua e nação. Tal redefinição, segundo Zoppi-Fontana (2009), teve como consequência a dupla determinação discursiva da língua portuguesa do Brasil, a qual passou a ser significada, concomitantemente, a partir da sua dimensão nacional e da sua dimensão transnacional – esta entendida

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como o espaço de enunciação no qual se observa o “transbordamento das fronteiras territoriais dos Estados-Nações pelas línguas nacionais” (idem, p. 21). Em sua pesquisa, a autora deteve-se, principalmente, a investigar a relação dessa dimensão transnacional da língua com as medidas tomadas pelo Estado brasileiro e com a produção de conhecimentos metalinguísticos que visassem à promoção da língua deste país no cenário internacional. Em nosso trabalho, interessamo-nos por investigar as relações singulares estabelecidas entre os acontecimentos que se deram nessa conjuntura e o desenvolvimento dos estudos da linguagem no Brasil, mais especificamente no que diz respeito aos saberes produzidos no Brasil por brasileiros para brasileiros. Para tanto, com vistas a compreender os efeitos de sentido provocados na dimensão nacional da língua portuguesa a partir da sua significação como língua transnacional, tomaremos como materialidade, à luz da História das Ideias Linguísticas, de Auroux (2009a/ 2009b) e Orlandi (2001), na sua relação com a Análise de Discurso, de Pêcheux (2009) e Orlandi (2007), as colunas sobre língua portuguesa de Evanildo Bechara publicadas no jornal O Dia, desde fevereiro de 2010. Em conformidade com o que propõe Medeiros (2010), em nossa análise consideraremos tais colunas como instrumentos linguísticos (Auroux, 2009a/1998), isto é, como objetos técnicos e empíricos investidos de conhecimentos teóricos explícitos que, ao lado das gramáticas e dos dicionários, nos ajudam a falar e a ler uma língua e dos quais, enquanto produtos de gestos de interpretação, podemos traçar uma história. As colunas, portanto, assim como as concebemos, têm historicidade; o fazer gramatical materializado nelas é significado e também produz sentido na história da constituição dos saberes linguísticos do/no Brasil. Sob essa perspectiva, entendemos que o fazer gramatical está diretamente relacionado ao sentido de língua com o qual se trabalha e que este, assim como aquele, é fruto do gesto de interpretação procedido, neste caso, pelo sujeito-gramático-colunista a partir da sua inscrição numa determinada formação discursiva (Pêcheux, 2009). O deslocamento do lugar de produção de saberes sobre a língua da gramática para o jornal, materializado a partir do relacionamento estabelecido entre a posição-sujeito gramático e a posição-sujeito colunista, também

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produz efeitos nesse dizer; por isso, nos deteremos aqui a investigar o modo como a língua portuguesa é significada nas colunas de Evanildo Bechara, bem como os efeitos de sentido decorrentes dessa significação.

Palavras-chave: fazer gramatical; colunas de jornal; língua portuguesa; língua transnacional.

O LINGUAJAR CARIOCA, DE ANTENOR NASCENTES:

DISCURSO NATURALISTA E LÍNGUA NACIONAL

Thiago Mattos Iniciação Científica – UFF/FAPERJ

Orientadora: Vanise Medeiros Este trabalho integra a pesquisa Dizeres de língua nacional nos anos 20: entre o literato e o filólogo, iniciada em setembro de 2011 com apoio da FAPERJ e sob orientação da Prof.ª Dr.ª Vanise Medeiros (UFF/FAPERJ/LAS). Partindo de duas obras fundamentais para os estudos dialetológicos no Brasil (O dialeto caipira, de Amadeu Amaral, e O linguajar carioca, de Antenor Nascentes), buscamos identificar posições-sujeito, formações discursivas e memórias discursivas que comparecem no discurso do filólogo da década de 1920 no que diz respeito à língua do/no Brasil. Num primeiro momento, detivemo-nos sobre O dialeto caipira, de Amadeu Amaral, ali identificando uma posição-sujeito em grande medida alinhada com a posição-sujeito lusitana (Mattos e Medeiros, 2012), significando a língua do/no Brasil como da ordem do erro, do desvio, da deturpação – em relação a uma língua posta como materna, matriz de natureza puramente portuguesa, lugar de estruturas legítimas e estáveis, da alta literatura e da escrita. Debruçamo-nos agora sobre O linguajar carioca, de Nascentes – publicado em 1922, constitui um dos pilares da dialetologia no Brasil –, perguntando-nos i) em que medida não comparece um modo de significar língua do/no Brasil que, afinal, filia-se àquilo que comparecia em Amaral, significando a língua do/no Brasil como derivação (imperfeita) da matriz lusitana; ii) em que medida a memória positivista/naturalista presente em

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Amaral não comparece também em Nascentes; iii) e em que medida, enfim, o modo de Nascentes significar língua do/no Brasil contribui para a formação de uma determinada língua imagináriaem que está presente uma posição-sujeito lusitana e uma memória naturalista que colocam a língua do/no Brasil no lugar do erro, do desvio, da deturpação (discurso lusitano) e no lugar da patologia, da moléstia, organismo lacunar e degenerado, espécie de variação doente da língua matriz portuguesa (discurso naturalista, em articulação com o discurso lusitano). Filiamo-nos, para tanto, à História das Ideias Linguísticas (Auroux) articulada à Análise de Discurso (Pêcheux), pensando “o conhecimento como um discurso” (Pêcheux, 1988) e, em consequência, compreendendo um instrumento de produção de conhecimento metalinguístico como discurso, objeto simbólico e histórico, e não apenas imparcial objeto descritivo da língua. Entendemos a língua como lugar de disputa de sentido: lugar em que trabalha a ideologia. É olhando para o texto que identificamos os movimentos ideológicos, as posições-sujeito, a memória discursiva. Dessa articulação Análise de Discurso/História das Ideias Linguísticas advém um modo de abordagem do objeto que “leva em conta a historicidade dos sentidos e dos saberes linguísticos” (Nunes, 2006, p. 17). Palavras-chave: História das ideias linguísticas; Análise do discurso; Língua; Nascentes.

GRAMATIZAÇÃO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO NO SÉCULO XXI: UMA LÍNGUA TRANS(NACIONAL)

Vanessa Lacerda da Silva Rangel

Doutorado – UFF Orientadora: Vanise Medeiros

O cenário geopolítico mundial contemporâneo, em que se observam, ao longo do século XX, o estabelecimento de alianças entre os países e a criação de blocos econômicos, formou espaços geopolíticos transnacionais. Para inserção do Brasil nessa conjuntura, tratados de integração política, econômica, cultural e educativa foram assinados

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pelo Estado. Nesse contexto globalizado, dentre as muitas preocupações que se colocam, dá-se uma atenção especial à valorização e promoção da língua, numa tentativa de se garantirem melhorias econômicas e sociais por meio do prestígio e do poder da língua nacional (MACHADO, 2010). Isso indicaria, portanto, que, além do Estado, o Mercado tem se colocado como uma forma de poder da sociedade contemporânea, interpelando-nos ideologicamente (PAYER, 2005): aos que obedecem às leis do Mercado, é garantido o sucesso, diretamente relacionado à visibilidade (DINIZ, 2010), o que justificaria as ações do governo para difundir o português para além das fronteiras. Dentro dessa perspectiva, muitas foram as ações do Estado brasileiro visando à internacionalização da língua: a criação do Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (CELPE-Bras), do primeiro curso de Licenciatura em Português do Brasil como Segunda Língua, na Universidade de Brasília (UnB), da Sociedade Internacional Português Língua Estrangeira (SIPLE) e do Ministério das Relações Exteriores (MRE) (DINIZ, 2010), para citarmos alguns exemplos. Tomando como base essas mudanças nas condições de produção (COURTINE, 2009), Zoppi-Fontana destaca que vivemos um novo momento na história da constituição do saber metalinguístico no Brasil (ZOPPI-FONTANA, 2009). Assim, torna-se relevante questionar a relação entre tais acontecimentos e a produção do saber metalinguístico brasileiro no século XXI. Tendo como suporte teórico a História das Ideias Linguísticas (HIL), de Auroux (2009) e Orlandi (2001), na sua relação com a Análise de Discurso, de Pêcheux (2009b) e Orlandi (1999), neste trabalho, tomaremos como materialidade os textos introdutórios de dois instrumentos linguísticos produzidos pelo linguista Mario Perini no século XXI: a Modern Portuguese: a reference grammar (2002) e a Gramática do Português Brasileiro (2010). Na tentativa de se observar a representação que o locutor faz da imagem que seu interlocutor faz dele (PÊCHEUX, 1997a), a escolha do linguista se deve ao fato de ele ter produzido duas gramáticas: uma voltada para o não-brasileiro e outra para o brasileiro. Com o intuito de compreender os deslocamentos ocorridos na produção de gramáticas para o brasileiro e para o não-brasileiro, deseja-se responder às

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seguintes questões: que língua é essa de que tratam as gramáticas produzidas no século XXI, como a língua é significada nessas gramáticas e a quem elas se dirigem.

Palavras-chave: gramáticas do século XXI; mercado globalizado; língua nacional; português como língua estrangeira.

REVISTA NOVA COSMOPOLITAN ONTEM E HOJE: UMA ANÁLISE DO DISCURSO SOBRE A MULHER NA MÍDIA

Viviam Oliveira da Silva

Mestrado – UFF Orientadora: Silmara Dela Silva

O discurso da mulher contemporânea é fruto das transformações ocorridas na sociedade e dos discursos construídos sobre ela. As mudanças no universo feminino afetaram não apenas o estilo de vida de milhares de mulheres no mundo todo, mas também, sua postura perante a sociedade e seus posicionamentos em relação a vários assuntos, entre eles, maternidade, trabalho, sexo, fidelidade entre outros. Isso fez com que as mesmas saíssem das sombras de uma sociedade patriarcal e buscassem atingir seus objetivos. A partir desse momento começam a surgir publicações especializadas nesse público. Como exemplo desse segmento, pode-se citar a revista Nova Cosmopolitan, que surge nos anos 70 em meio a uma série de transformações histórico-sociais. Nesta pesquisa, pretende-se com ênfase na Análise do Discurso, utilizando por referencial teórico Michel Pêcheux, compreender os processos de produção dos discursos sobre a mulher por meio de reportagens da revista em questão em diferentes períodos: o início (outubro de 1973) e em alguns exemplares do ano de 2010. Ao escolher uma revista como objeto de análise, volta-se para uma visão de discurso na qual a palavra não seria apenas um elemento estático, mas atuaria em constante movimento, uma prática social. Espera-se estabelecer a relação necessária entre o dizer, e as condições de produção desse dizer. Trabalhando com a língua no mundo, investigando a diversas

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formas dos sujeitos atribuírem significados, interpretarem, identificarem-se e inserirem-se em determinada formação discursiva. Assim, pode-se dizer que pesquisar uma revista de circulação nacional seria uma forma de visualizar os efeitos de sentido produzidos pelos textos publicados. Identificando as formações discursivas e reconhecendo que o sentido das palavras não se encontra nelas próprias, mas, é construído de acordo com as reações dos sujeitos diante do mundo: seus valores, crenças e condições de existência. Busca-se também, analisar as formações imaginárias presentes nas práticas discursivas e materializadas na linguagem sobre o sujeito “mulher”. Inicialmente será traçado um histórico das revistas femininas no Brasil e os fatores que influenciaram na forma como as mesmas foram constituídas, em seguida, conceitos essenciais da Análise do Discurso serão abordados. Finalmente, com o intuito de observar a linguagem e seus efeitos de sentido serão feitas comparações entre reportagens antigas e atuais. Espera-se com tais informações, analisar as diferentes representações sobre a linguagem e as questões sociais, refletir sobre as relações de diferença e poder que são travadas pelos discursos proferidos pela mídia. Neste artigo, objetiva-se a partir das pesquisas iniciadas, destacar as formações discursivas e imaginárias presentes em uma reportagem do exemplar número um da revista supracitada, no qual, tentarei demonstrar a aplicabilidade dos conceitos de Pêcheux. Essa tem como título “Homens de segunda mão: um guia completo para adquiri um”, nela, o autor Roger Price, orienta as leitoras sobre como relacionar-se com homens desquitados. Palavras-chave: Michel Pêcheux; Análise do Discurso; Revista Nova; mulher.

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DIFERENTES TIPOS DE LIDERANÇA: A DISCURSIVIDADE JOVEM NA MÍDIA

Viviane Sales dos Anjos

Iniciação Científica – UFF/FAPERJ Orientadora: Bethania Mariani

A pesquisa "Diferentes tipos de liderança: a discursividade jovem na mídia impressa", que teve como foco inicial a análise de revistas nacionais que tematizam ou já tematizaram a questão da liderança no âmbito dos jovens, tomou como objeto empírico de análise a revista Veja. Com base no arcabouço teórico-metodológico da Análise do Discurso (Pêcheux, 1969 e ORLANDI, 1988), pretendemos, com esta pesquisa, depreender e analisar a representação da liderança jovem na revista Veja, fazendo um estudo comparativo sobre o modo como esta revista caracteriza (ou não) a liderança de jovens traficantes que vivem nas favelas e a liderança exercida por jovens "bem sucedidos", responsáveis por inovações científicas e tecnológicas. A revista Veja foi selecionada por sua amplitude nacional e por ter realizado uma premiação intitulada "Jovens Inspiradores", através da Veja.com, no ano de 2012, que premiou "estudantes universitários ou recém-formados com espírito de liderança, que tenham como meta construir um país mais competitivo e justo", segundo a própria publicação (Veja, 01/08/2012). Com informações referentes a este prêmio, juntamente com as reportagens, é possível buscar informações sobre o que é liderança para este editorial. De forma jornalística e publicitária, a revista Veja publicou notícias sobre o andamento da premiação e uma propaganda sobre o projeto (Veja, 01/08/2012), com o título "A escolha de um NOVO LÍDER". Com as ferramentas da AD, pretendemos analisar não só a liderança, mas também como esta posição líder jovem é significada pela Veja através da premiação "Jovens Inspiradores". Iniciamos a construção de nosso dispositivo com uma busca pelos sentidos de 'Liderança'. Só depois desse mapeamento é que fomos analisar os sentidos de liderança para a revista Veja. Construímos nosso dispositivo de análise, portanto, partindo, inicialmente, das definições dadas à palavra liderança no

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Dicionário Político de Norberto Bobbio e nos manuais de redação dos jornais O Globo e Folha de São Paulo. Por meio de gestos de interpretação e de compreensão do objeto de estudo, construímos o nosso corpus de análise. Dito isto, o corpus empírico do nosso trabalho consiste nas reportagens e propagandas produzidas pela Veja sobre a competição "Jovens Inspiradores" e sobre os efeitos de sentido de liderança de jovens do tráfico e jovens empresários do ramo da tecnologia entre os anos de 1988 e 2012. Enquanto as reportagens sobre os jovens considerados líderes do tráfico são veiculadas no decorrer deste período de tempo (1988 a 2012), as que falam sobre empresários jovens "bem sucedidos", responsáveis por inovações científicas e tecnológicas, começaram a ser veiculadas no ano de 2002, após a criação do Google. Tendo este corpus empírico como base, foram selecionadas - considerando as condições de produção, "que constituem a instância verbal de produção do discurso: o contexto histórico-social, os interlocutores, o lugar de onde falam, a imagem que falam de si e do outro e do referente" (BRANDÂO, 1998, p.89) - as sequências discursivas, que fazem parte do corpus discursivo, sendo este o objeto especifico da análise. Palavras-chave: Análise do discurso; Liderança; Jovem; Jornalismo.