caderno abea 26 - habitação e mobilidade e seu ensino

48
XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA 1 ISSN 2177-3734

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

XXI ENSEA Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo. XXVII COSUConselho Superior da ABEA. HABITAÇÃO E MOBILIDADE E SEU ENSINO ABEA - CADERNO 26 Belas Artes, São Paulo/SP - 2004

TRANSCRIPT

Page 1: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

1

ISSN 2177-3734

Page 2: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

32

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

Realização:

Apoio:

Associação Brasileira de Ensino deArquitetura e Urbanismo

DOS P ROFI S S I ON A I S DO CR EACAIXA DE ASSISTÊNCIAMÚTUA

Conselho Regional de Engenharia, Arquiteturae Agronomia de São Paulo

UNICENTRO BELAS ARTES DE SÃO PAULO

São Paulo/SP2004

XXI ENSEAEncontro Nacional sobre Ensino de

Arquitetura e Urbanismo

XXVII COSUConselho Superior da ABEA

HABITAÇÃO E MOBILIDADE ESEU ENSINO

ABEA - CADERNO 26

Page 3: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

54

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

COMISSÃO ORGANIZADORA ABEAJose Roberto Geraldine Junior - Presidente ABEAGogliardo Vieira Maragno - Vice-Presidente ABEA

Débora Frazzato Verde dos Santos - Diretora ABEAFernando José de Medeiros Costa - Diretor ABEA

Claudia Maria de Carvalho - Secretária ABEA

COMISSÃO ORGANIZADORA UCSSergio Augusto Malacrida

Turgnev R. de Oliveira

26 a 28 de agosto de 2004Centro Universitário Belas Artes de São Paulo

São Paulo - SP

XXI ENSEAEncontro Nacional sobre Ensino de

Arquitetura e Urbanismo

XXVII COSUConselho Superior da ABEA

DIRETORIA ABEA BIÊNIO 2000/2001

DIRETORIA EXECUTIVAPresidente José Roberto Geraldine Júnior - Unifran/SPVice-Presidente Gogliardo Vieira Maragno – UFMS/MSSecretário Fernando J. De Medeiros Costa - UFRN/RNSub-Secretário Wilson Ribeiro Dos Santos Junior

Puc-Campinas/SPSecretário de Finanças Cláudio Listher Marques Bahia – Puc-Minas/MGSub-Secretário de Finanças Angela Canabrava Buchman - UEL/PR

DIRETORIAAna Elisea CostaCarlos Eduardo Nunes FerreiraEuler Sobreira MunizGilson Jacob BercocJosé Akel Fares Filho – Unama/PAJosé Antônio Lanchoti - Moura Lacerda/SPLino Fernando Bragança Peres - UFSC/SCMaria De Lourdes Costa – USU/RJNireu De Oliveira CavalcantiUbirajara Perci Borne

CONSELHO FISCALTitularesEster J.B. Gutierrez - UFPEL/RSIsabel Cristina Eiras de Oliveira - UFF/RJItamar Costa Kalil - UFBA/BA

SuplentesDébora Pinheiro Frazatto Verde dos Santos – PUC-CAMPINAS/SPPaulo Romano Reischilian - UNITAU/SPJúlio de Lamonica Freire - UNIC/MT

Organização editorial: Capa:Aloisio Joaquim Rodrigues Jr Aloisio Joaquim Rodrigues Jr

Impressão e Acabamento:ABEA - Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e UrbanismoRua Fernando Ferrari, 75 - Botafogo - RJ -CEP 22231-040 Tel.:0xx21 25535446e-mail:[email protected] www.abea-arq.org.br

ISSN: 2177-3734

Habitação e Mobilidade e seu Ensino

Page 4: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

76

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

APRESENTAÇÃO

Com a criação do Ministério das Cidades e suas quatros SecretariasNacionais, quais sejam, Habitação, Saneamento, Programas Urbanos eTrãnsito e Mobilidade Urbana, a demanda de profissionais arquitetos eurbanistas começou a se deparar com a ausência de determinadosconhecimentos específicos deste profissional cuja lacuna na formaçãocomeçou a ser trabalhado dentro da ABEA.

Dois destes temas - Habitação e Mobilidade - nortearam as discussõesdo XXI Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo -ENSEA - que aconteceu no Centro Universitário Belas Artes de São Pauloentre os dias 26 e 28 de agosto de 2004.

O XXI ENSEA, com o título HABITAÇÃO E MOBILIDADE E SEU ENSINO abriua discussão sobre formas de abordagem das temáticas Habitação eMobilidade nos cursos de arquitetura e urbanismo. O ensino destesconhecimentos específicos faz parte da grande gama de informaçõesque os alunos recebem durante os cinco anos de sua formação , jáprevistos de forma direta (ou indireta) na Portaria Ministerial MEC n°.1.770/94.

A abertura deste evento contou com a presença do Arquiteto e UrbanistaAUGUSTO VALIENGO VALERI, Gerente do Programa de Mobilidade Urbanoda Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbana do Ministériodas Cidades, apresentando o Programa Brasil Acessível do Ministériodas Cidades, o qual a ABEA participou efetivamente com o diretor JoséAntonio Lanchoti em sua configuração.

O presente Caderno ABEA n°. 26 apresenta alguns trabalhos com atemática do evento, possibilitando uma reflexão sobre as questõesdefendidas o qual, não necessariamente refletem o pensamento da ABEA.Vale destacar que os eventos organizados pela ABEA sempre possibilitama apresentação e defesa de temas e posturas individuais dos docentesque dele participam, de forma democrática, sem nenhuma forma decensura ou restrição, cabendo ao(s) autor(es) toda a responsabilidadepelo tex1o enviado e publicado.

A DIRETORIA

SUMÁRIO

PROGRAMAÇÃO___________________________________8

ATA CONJUNTA 10

O CONFORTO DO AMBIENTE CONSTRUÍDO E SUAACESSIBILIBILIDADEPatrícia Alonso, Sheila Freire e Amélia Panet 17

O ENSINO DE PROJETO ARQUITETÔNICO: HABITAÇÃOVERTICALAndréa Câmara, Paulo Andrade, IsabellaTrindade eMárcio Erlich 28

POTENCIAL DO DESENHO URBANO NAREQUALIFICAÇÃO DO ESPAÇO TERCIÁRIO NAS VIASARTERIAIS DEGRADADAS EM SANTO ANDRÉ

Ismael Andrade Pescarini 38

MORADIAS ASSISTIDAS: O FUTURO DA CRESCENTEPOPULAÇÃOMaria Bestetti 51

CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL: O PARADIGMA DO AMBI-ENTEMarta ROMEROe Daniela Diniz

George Da Guia. 75

Page 5: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

98

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

PROGRAMAÇÃO

DIA 26 (QUINTA-FEIRA)14:00 HS REUNIÃO DIRETORIA ABEA20:00 HS ABERTURA21:30 HS COQUETEL

DIA 27 (SEXTA FEIRA)08:30 HS CREDENCIAMENTO09:00 HS ABERTURA09:30 HS PALESTRA – MINISTÉRIO DAS

CIDADES – Secretaria Nacional de Habitação /Secretaria Nacional de Transporte e MobilidadeUrbana

10:30 HS PALESTRA - PAPEL DAS ENTIDADESACADÊMICAS E DE PESQUISA NA POLITICA URBANA:

ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO11:30 HS DEBATES12:30 HS ALMOCO14:00 HS O CONSELHO NACIONAL DASCIDADES – DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS

Expositores: ABEA, ABES, ANTP, IAB,ANPPUR, ANTAC, ANPET e AGB17:00 HS DEBATES18:00 HS ENCERRAMENTO DOS TRABALHOSDO DIA

DIA 28 (SÁBADO)08:30 HS PAINÉIS – ENTIDADES ACADÊMICASE DE PESQUISA – HABITAÇÃO E MOBILIDADE

PAINÉIS – ESCOLAS, FACULDADES ECURSOS DE ARQUITETURA E URBANISMO

EXPERIÊNCIAS DESENVOLVIDAS NOÂMBITO DAS IES REFERENTE A HABITAÇÃOE MOBILIDADE – EXPERIÊNCIAS DEEXTENSÃO E PROGRAMA DAS DISCIPLINASENCAMINHAMENTOS

ENCERRAMENTO DO XXI ENSEA12:30 HS ALMOCO14:00 HS XXVII REUNIÃO DO CONSELHO SUPERIORDA ABEA

PALESTRA: Prof. Adalberto Grassi Carvalho –Comissão Nacional de Avaliação – MEC :“Panorama atual da Avaliação no EnsinoSuperior”PAUTA:

· REFORMA UNIVERSITÁRIA· SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO

DA EDUCAÇÃO SUPERIOR (SINAES)· EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO

DOS ESTUDANTES – ENADE· AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE

ENSINO· ATUALIZAÇÃO DAS

CONFIGURAÇÕES ESSENCIAIS DOSLABORATÓRIOS

· CONSELHO FEDERAL DEARQUITETURA E URBANISMO

· CURSOS DE PAISAGISMO /URBANISMO

· RESOLUÇÃO 218/73 (CONFEA)

DIA 29 (DOMINGO)

(10 HS) REUNIÃO DIRETORIA ABEA

Page 6: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

1110

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

Ata conjunta do XXVII Conselho Superior da ABEA (COSU)e XXI Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura eUrbanismo (ENSEA)

Às 21:00 horas do dia 26 de agosto de 2004, no auditório do CentroUniversitário Belas Artes de São Paulo, foi iniciada a seção solene deabertura do XXVII Conselho Superior da ABEA (COSU) e XXI EncontroNacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ENSEA) conduzidapelo presidente da ABEA Prof. José Roberto Geraldine Jr, com a presençadas seguintes autoridades: Dr. Paulo Antonio Gomes Cardim, Reitor doUNICENTRO Belas Artes; Engenheiro Sérgio Augusto Malacrida, Pró-Reitor Acadêmico do UNICENTRO Belas Artes; Arquiteto e UrbanistaTurgnev Roberto de Oliveira, Coordenador do Curso de Arquitetura eUrbanismo do UNICENTRO Belas Artes; Arquiteto e Urbanista ValterCaldana, representando o Presidente do CREA/SP; Arquiteto e UrbanistaDemetri Anastassakis, Presidente do IAB/DN; Arquiteto e Urbanista JoséEduardo Tibiriçá, Representando o Presidente da ASBEA; Arquiteto eUrbanista Eduardo Bimbi, Presidente da FNA; Arquiteto e Urbanista NabilBonduki, Vereador do Município de São Paulo; Arquiteto e Urbanista AugustoValeri, da Secretaria Nacional de Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana,representando o Ministério das Cidades e do Acadêmico Maurílio Chiaretti,Presidente da FENEA. Após a palavra de todos os membros da mesa, oMagnífico Reitor Prof Paulo Antônio Gomes Cardim deu as boas vindasaos participantes, declarou abertos os eventos, após o que foi servidoum coquetel aos presentes.

Presentes os representantes das seguintes Instituições:1 Centro Universitário 9 de Julho, Campus Vila Maria, São Paulo, SP;UNINOVE2 Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, SP; BARÃO DE MAUA3 Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, São Paulo/SP UNICENTRO4 Centro Universitário FEEVALE, Novo Hamburgo/RS FEEVALE5 Centro Universitário Filadélfia, Londrina/PR UNIFIL6 Centro Universitário FUMEC, Belo Horizonte/MG FUMEC7 Centro Universitário Luterano de Manaus, Manaus/AM CULM8 Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto/SP MOURA LACERDA9 Centro Universitário Positivo, Curitiba/PR UNICENP10 Centro Universitário UNIFIAM-FAAM São Paulo/SP UNI FIAM-FAAM11 Centro Universitário UNIVATES, Lajeado/RS UNIVATES12 Conselho Federal de Engenharia Arquitetura e Agronomia CONFEA13 Conselho Regional de Engenharia Arquitetura e Agronomia - RS CREA/RS14 Faculdade de Arq. e Urb. da Universidade de São Paulo/SP FAU/USP15 Faculdade de Arquitetura Ritter dos Reis, Porto Alegra/RS RITTER DOS REIS16 Faculdade de Ciências Humanas de Aracruz, Aracruz/ES FACHA17 Faculdades Dom Pedro II, São José do Rio Preto/SP DOM PEDRO II18 Federção Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo FENEA19 Instituto de C. J. e Soc. Prof. Camillo Filho / ICF - Teresina/PI ICF20 Ministério da Educação MEC21 Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas/SP PUC-Campinas

22 Pontifícia Universidade Católica de MG, Belo Horizonte/MG PUC-Minas23 Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, PR; PUC-PR24 Pontifícia Universidade Católica do RJ, Rio de Janeiro/RJ PUC-RJ25 Secretaria Nacional de Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana SEMOB26 Universidade Bandeirantes, São Paulo/SP UNIBAN27 Universidade Católica de Pernambuco, Recife/PE UNICAP28 Universidade de Brasília, Brasília/DF UnB29 Universidade de Campinas, Campinas/SP UNICAMP30 Universidade de Caxias do Sul/RS UCS31 Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro/RJ UESA32 Universidade Estadual de Goiás, Goiânia/GO UEG33 Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR; UEL34 Universidade Federal da Bahia, Salvador/BA UFBA35 Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte/MG UFMG36 Universidade Federal de Pelotas, Pelotas/RS UFPEL37 Universidade Federal de Pernambuco, Recife/PE UFPE38 Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia/MG UFU39 Universidade Federal de Viçosa, Viçosa/MG UFV40 Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS; UFMS41 Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá/MT UFMT42 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro/RJ UFRJ43 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN; UFRN44 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS UFRGS45 Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ UFF46 Universidade Federal Rural do Rio Janeiro, Seropédica/RJ UFRRJ47 Universidade Des. do E. e da Reg. do Pant., Campo Grande/MS UNIDERP48 Universidade Regional de Blumenau, Blumenau/SC FURB49 Universidade Santa Cecília, Santos/SP UNISANTA50 Universidade São Francisco, Itatiba/SP USF51 Universidade Vale do Rio dos Sinos, Canoas/RS UNISINOS52 Universidade Vale do Rio dos Sinos, Canoas/RS UNISINOS53 Escola da Cidade Escola da Cidade

XX ENSEA

O XXI ENSEA foi realizado em seções de mesas redondas, palestra eapresentações de trabalhos. O evento contou com a mesa redonda quetratou do tema Habitação e Mobilidade e o seu Ensino e foi compostapelo Arquiteto e Urbanista Augusto Valeri, da Secretaria Nacional deTrânsito, Transporte e Mobilidade Urbana, pelo Arquiteto e UrbanistaDemetri Anastassakis, da Direção Nacional do IAB, e pelo Arquiteto eUrbanista Nabil Bonduki, Vereador do Município de São Paulo. Uma daspalestras foi proferida pelo Arquiteto e Urbanista Nazareno Afonso,membro titular da Conferência das Cidades representando as entidadesde transportes, que falou sobre o tema da mobilidade urbana e seusefeitos. A outra palestra foi proferida pelo senhor Adalberto Carvalho doMEC, membro da Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superiorque falou sobre o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior -SINAES. Dos trabalhos encaminhados para o evento, foram apresentadosnas seções do dia 27 à tarde e na manhã do dia 28 de agosto os seguintestrabalhos: 1) Moradias Assistidas: o futuro da crescente população idosa

Page 7: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

1312

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

brasileira – Professora Maria Luíza Trindade (UNIDERP/MS); 2) O Ensinode Projeto Arquitetônico – Habitação Verticalizada – Professora AndréaCâmara (UNICAPE); 3) Habitação: Ensino a partir de referências teóricas– Professora Isabella Trindade (UNICAPE); 4) Corredores ou Boulevares?Potencial do desenho urbano na requalificação do espaço terciário nasvias arteriais degradadas em Santo André – Professor Ismael AndradePescarini (ININOVE). A partir das exposições e calcado no exíguo prazoocorrido entre divulgação do evento e envio dos trabalhos, a mesa e osparticipantes destacaram: a importância das temáticas; que as mesmasnão tiveram suas discussões esgotadas; que é importante reforçar asinterfaces do tema com as práticas de ensino, pesquisa e extensão emarquitetura e urbanismo como forma de reforço do projeto políticopedagógico dos cursos; que conceitos como acessibilidade e mobilidadeurbana devido a seu caráter multidisciplinar não se esgotam no interiorde disciplinas devendo haver a busca de integrações horizontais; anecessidade de valorização do projeto pedagógico e do papel docoordenador do curso; a reafirmação da necessidade de avaliaçõescontínuas, coletivas e públicas, como forma de retro-alimentar as práticasdidáticas e o projeto pedagógico.

XXVII COSU

Na tarde do dia 28, o presidente da ABEA deu início aos trabalhos do XXVIICOSU com os informes a respeito da mudança da sede da ABEA paraBrasília, a respeito do registro do novo estatuto da ABEA aprovado no XIICONABEA em Caxias do Sul, e a respeito do convênio INTERLEGIS deEducação à distância envolvendo a ABEA, FNA, FISENG, CONFEA E SenadoFederal.

Pauta proposta e aprovada:

1. Unicidade da Profissão;

2. Diretrizes Curriculares;

3. Alteração da resolução 218 do CONFEA;

4. Criação do Conselho Federal de Arquitetura e Urbanismo;

5. Próximo encontro da ABEA.

1 – Unicidade da Profissão

O presidente introduziu o assunto comentando os documentosdistribuídos entre os participantes do evento a respeito do Curso deUrbanismo da Universidade Estadual de Salvador, Curso de paisagismoe a criação da profissão de Design. Aberta as discussões o professorCesar Gualtieri, coordenador do curso de arquitetura e urbanismo da

UFMG, informou que os professores do seu curso que participam docurso de paisagismo, não o fazem representando a UFMG e sim comoprofissionais autônomos. O professor Francisco Segnini Junior relataum trabalho desenvolvido junto ao Ministério do Trabalho para aelaboração do Catálogo Brasileiro de Ocupações – CBO, para a descriçãodas atividades profissionais, onde a arquitetura e urbanismo aparececomo profissão generalista e som a descrição detalhada das atividadesrelativas à nossa formação, informando ainda que durante odesenvolvimento desse trabalho, o Ministério recebeu ações no sentidoda inclusão do urbanismo separado da arquitetura. Após as discussõesficou aprovado: 1) Reafirmação da unicidade da Profissão de Arquiteturae Urbanismo juntamente com as Entidades Nacionais já reunidas nofórum de criação do conselho próprio; 2) Ações junto ao ministério doTrabalho reafirmando a descrição da profissão de arquitetura eurbanismo constante do CBO – Catálogo Brasileiro de Ocupações, e seposicionando contrariamente a separação de qualquer atividade jádefinida para a profissão no CBO; 3) Ofício a o CRA/BA assinado pelasEntidades Nacionais, solicitando informações sobre a emissão deCarteiras de Urbanista por aquele Conselho Regional; 4) Localizar emMinas Gerais, a fonte da iniciativa de criação do Conselho de Paisagismo;5) Ações junto ao MEC sobre a extrapolação de cursos de tecnólogosno que se refere à atribuição de “intervenção em ambientes internos eexternos”; 6) Informar o CREA/MG a elaboração de Planos Diretoressob a responsabilidade de Geógrafos da UFMG; 7) Manter contato como curso de Arquitetura Urbana e Rural no sentido de esclarecer sobre ainadequação do nome e do título a ser conferido ao formando.

2 – Diretrizes Curriculares

O presidente abiu a palavra ao professor Itamar Kalil que fez um breverelato sobre o histórico do assunto desde a publicação da Portaria MEC-1770/94 até a última reunião com o relator da nossa proposta de diretrizescurriculares no CNE, o professor Roberto Cláudio, que ocorreu na semanaanterior a este COSU. Pelo relato, apesar dos avanços alcançados emrelação ao posicionamento inicial do relator, quanto ao Trabalho Final deGraduação o mesmo continua contrário à realização do mesmo após aintegralização das demais disciplinas do curso e também contrário àparticipação externa na banca de avaliação. Após as discussões ficouaprovado o seguinte: Encaminhar documento ao relator do processo dediretrizes curriculares Professor Roberto Cláudio contendo: 1) umhistórico da construção coletiva da área tanto na a atual Portaria MEC-1770 quanto na proposta de diretrizes encaminhada ao CNE 2)reafirmação dos pontos da proposta considerados essenciais como a

Page 8: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

1514

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

participação externa na banca examinadora, e a realização do TFGapós a integralização das demais atividades baseado no princípio daatividade como síntese da formação.

3 – Alteração da Resolução 218 do CONFEA

O ponto de pauta foi introduzido com o esclarecimento do presidente arespeito dos documentos distribuídos entre os participantes e com ainformação de que até o presente momento a ABEA não emitiu nenhumamanifestação oficial a respeito do projeto de alteração da resolução 218do CONFEA ora em tramitação naquele conselho e que para tanto reuniudiversos documentos e os remete à discussão na plenária do COSUpara posicionamento oficial da entidade. É feita a leitura da relação dedocumentos vigentes sobre as atribuições profissionais, e uma série dedocumentos decorrentes da tramitação da minuta de reformulaçãoemitidos por áreas e segmentos profissionais envolvidos. O professorItamar Kalil, representante da área de ensino da arquitetura e urbanismono CONFEA, pede apalavra e passa a relatar e apresentar aos presentesos principais pontos de reformulação da proposta. O presidente informaà plenária que está programado para data próxima a confirmar um fórumde discussão na área da arquitetura e urbanismo com a participação derepresentantes das entidades Nacionais no CONFEA em Brasília, paradeliberar sobre o ponto de pauta. Aberto o debate, foram aprovadas asseguintes deliberações: 1) Não aprovação da proposta neste momento;2) Posicionamento de suspensão da tramitação do processo dealteração da resolução 218; 3) Montagem de um calendário para a áreadiscutir o assunto através de um fórum discussão nacional; 4)Construção de uma unidade de posição com as demais entidades daárea; 5) Pautar como marco de discussão a defesa da sociedade e nãoa defesa de mercado.

4 – Criação do Conselho Federal de Arquitetura e Urbanismo

O Presidente inicia o ponto de pauta relatando o processo de construçãodo projeto de lei ora em tramitação no Senado Federal e das ultimasações nos fóruns de discussões nos quais a ABEA tem participado.Informa ainda que está programada uma reunião entre das entidadesnacionais em data próxima para deliberação sobre o assunto. Abertas asdiscussões, ficou aprovado: 1) Reafirmamos que somos favoráveis àcriação de um Conselho Próprio; 2) Continuamos defendendo aquelesprincípios definidos desde o início das negociações e acordados comas demais entidades Nacionais, ou seja, Formação única em Arquiteturae Urbanismo, o diploma como exigência única para a concessão de

atribuições, o novo conselho deverá ter como objetivo fundamental adefesa da sociedade, e a realização de uma consulta ampla e irrestritaaos profissionais a respeito da criação do novo Conselho; 3)Ação juntoà Comissão de Assuntos Sociais do Senado onde o projeto de Leiencontra-se em tramitação levando a posição da ABEA.

5 – Próximo encontro da ABEA

O presidente informa aos presentes que está aberto o processo eleitoralpara renovação da representação da área de ensino da arquitetura eurbanismo no CONFEA e que a referida eleição deverá ser realizada nopróximo encontro. Informa ainda haver a candidatura, já registrada emeventos anteriores, formulada pela Universidade de Salvador – UNIFACS,para sediar um evento da ABEA. O período deverá coincidir com a data daeleição já marcada pelo CONFEA. O tema sugerido foi............ A propostafoi aprovada pelo plenário.

Na continuidade e tendo cumprido a pauta estabelecida, o presidenteprofessor José Roberto Geraldine Jr agradeceu em seu nome e em nomede toda a diretoria da ABEA a presença de todos assim como agradeceuo apoio indispensável e fundamental do Centro Universitário Belas Artesna pessoa de seu Coordenador Professor Turgnev Roberto e do Pró-Reitor Acadêmico Professor Sérgio Malacrida. Nada mais tendo a tratar, opresidente deu por encerrado o XXVII COSU, do qual lavro a presente ata.

São Paulo, 28 de agosto de 2004

Fernando José de Medeiros CostaSecretário da ABEA

Page 9: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

1716

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

O CONFORTO DO AMBIENTE CONSTRUÍDO E SUA ACES-SIBILIDADE - UMA EXPERIÊNCIA NO CURSO DE ARQUI-TETURA E URBANISMO DO UNIPÊ

Patrícia AlonsoProfa. Mestre Coordenadora adjunta do Curso de Arquitetura e Urbanismo do CentroUniversitário de João Pessoa (UNIPÊ) – e-mail: [email protected]

Sheila FreireProfa. Especialista do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário deJoão Pessoa (UNIPÊ) – e-mail: [email protected]

Amélia PanetProfa. Mestre Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Univer-sitário de João Pessoa (UNIPÊ) – e-mail: [email protected]

Curso de Arquitetura e Urbanismo - Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ – BR230 Km 22 – Água Fria – Cep 58053-000-Cx Postal 318 – João Pessoa – PB.

Fax (+55) 0 (XX) 83 2311130 Tel. (+55) 0 (XX) 83 2106 9278

Resumo

A experiência de ensino que relatamos nesse artigo faz par-te do desafio necessário de conscientizar e capacitar toda umanova geração de profissionais, educando-os e contribuindo nodesenvolvimento das ferramentas e valores para a transfor-mação, e para a solução de problemas, que tanto afligem anossa população, no que cabe a profissão de arquiteto e urba-nista. Procura conscientizar os alunos com relação à respon-sabilidade social que o arquiteto possui no desenvolvimento dacidade, e tem o objetivo de mostrar-lhes a importância de seprojetarem espaços que atendam às condições de acessibili-dade. Através da experiência vivenciada pelos alunos, a aces-sibilidade passa de variável abstrata do projeto arquitetônicopara a condição de realidade a ser tratada no processo projetual.

Palavras ChavesAcessibilidade, Mobilidade, Experiência Pedagógica, Univer-

sal Design

Page 10: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

1918

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

estão presentes as questões sócio-culturais imprescindíveisao exercício responsável da profissão.

A experiência de ensino que relatamos nesse artigo fazparte desse desafio e procura conscientizar os alunos comrelação à responsabilidade social que o arquiteto possui nodesenvolvimento da cidade, e tem o objetivo de mostrar-lhes aimportância de se projetarem espaços que atendam às condi-ções de acessibilidade. Entenda-se, aqui, por acessibilidade a“possibilidade e condição de alcance para utilização com se-gurança e autonomia de edificações, espaços, mobiliários eequipamentos urbanos” (NBR 9050). Entretanto, existe umaparcela considerável da população que, por algum tipo de res-trição, possui sua mobilidade reduzida e, por conseguinte, suaacessibilidade limitada. Encontram-se nesse grupo os idosos,obesos, mulheres grávidas e os portadores de deficiência tran-sitória ou permanente.

O fato estimulador dessa experiência se deu com os resul-tados do último censo do IBGE, em 2000, onde foram incluídaspela primeira vez informações sobre esse último grupo. A por-centagem da população com essas características, no país,foi de 14,45%, ou seja, 24,52 milhões de habitantes são porta-dores de algum tipo de deficiência (física, auditiva, visual oumental). Se incluíssemos, nessa estatística, os idosos, os obe-sos, as gestantes, esse número se elevaria para mais de 39,28milhões de pessoas, ou seja, mais de 23,13% da população.

O fato que mais nos inquietou foi saber que o Estadocom o maior índice de ocorrência, de acordo com esse censo,é a Paraíba, com 18,74%, sendo que na capital, João Pessoa,dos 600 mil habitantes, 14,85% são portadores de deficiência,o que corresponde a 88.789 mil habitantes. Esses númeroscausaram uma certa surpresa pela sua grandeza e diversida-de, mas principalmente, por nos questionar sob o fato de: ondeestão essas pessoas, porque elas não são vistas? Isso abreum parêntese para algumas considerações sobre a cidade deJoão Pessoa e seus moradores, necessário para a compreen-são do contexto em que se insere a proposta pedagógica.

Considerações Teóricas

O ensino da arquitetura hoje passa por uma série de refle-xões sobre as atribuições e os desafios do profissional arquite-to e urbanista, frente às transformações da nossa sociedadedesigualmente moderna, na tentativa de contribuir para a for-mação de um profissional pleno de valores e posturas, alémdos tão necessários conhecimentos e habilidades. Essa cons-ciência social e ética deve estar presente como princípionorteador de qualquer projeto pedagógico na formação de pro-fissionais que possuam um compromisso com questões perti-nentes à produção projetual das nossas cidades, com a justi-ça social, e sensíveis às diferenças e dificuldades humanas.

Para nós, já se passou o tempo em que arquitetos acredita-vam na capacidade de melhorar o mundo com suas belas for-mas, produções de obras de arte. A arquitetura não deve sersuperior às necessidades humanas.

É um desafio necessário conscientizar e capacitar toda umanova geração de profissionais arquitetos e urbanistas, educan-do-os e contribuindo no desenvolvimento das ferramentas evalores para a transformação, e para a solução de problemas,que tanto afligem a nossa população, como a falta de moradi-as, de escolas, de postos de saúde, de destinos adequadospara os dejetos, de presidiárias, de espaços públicos de lazere cultura, enfim, de cidades que proporcionem uma maior qua-lidade de vida à população residente, tornando possível suasustentabilidade e o futuro das gerações vindouras, como nosé de direito pelo ́ Estatuto da Cidade‘ e, sobretudo, respeitandoo direito de ir e vir de todo cidadão com relação à acessibilida-de externa e interna a todas as edificações e diante de todasas diferenças e situações humanas.

Esse desafio torna-se ainda maior com relação ao ensinoda arquitetura devido à característica multidisciplinar da profis-são de arquiteto, que incorpora atributos e conhecimentos deoutros campos cognitivos, na intenção de conseguir sua ex-pressão máxima. Dentre esses atributos e conhecimentos,

Page 11: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

2120

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

nos, entre eles a tarefa de tornar a cidade acessível. É impor-tante, pois, conscientizar o futuro arquiteto da sua responsabi-lidade frente ao desenvolvimento de sua cidade, para que elenão olhe apenas para o seu pequeno universo, fazendoprojetinhos e fachadinhas para deixar a sua marca, ignorandoo fato de que está fazendo um pedaço da cidade, e que, qual-quer intervenção por menor que seja, interfere na paisagem eno comportamento dos seus habitantes. O fato de não encon-trarmos, na cidade de João Pessoa, essa quantidade significa-tiva de pessoas portadoras de alguma necessidade especial,desperta para as razões dessa realidade e de como nós, ar-quitetos, podemos contribuir para transformá-la. Essa trans-formação é lenta, pois não envolve apenas questões técnicasde design e de infra-estrutura na adequação do espaço públicoe privado em atender suas necessidades específicas. Não setrata apenas de calçadas inexistentes ou com revestimentosinadequados, de existência de obstáculos nos passeios públi-cos ou de falta de rampas de acesso e de faixas de travessias,mas, pressupõe toda uma conscientização, educação e co-nhecimento sobre as diferenças humanas, seus direitos, de-veres e o exercício da cidadania para que não perdure essasituação de exclusão social.

Onde está o problema?

No que diz respeito à legislação que garante o direito de ir evir de todo cidadão sem distinção, esta já é suficiente e existenos diferentes níveis, em forma de leis, decretos e/ou portariasa exemplo da Lei Federal nº 10.098/2000 que estabelece nor-mas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibili-dade das pessoas portadoras de deficiências ou com mobili-dade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstá-culos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, naconstrução e reforma de edifícios e nos meios de transporte ede comunicação e, também, o Projeto de Lei do Senado nº 6,de 2003 que institui o estatuto do portador de deficiência.

Sobre a cidade de João Pessoa

João Pessoa é uma cidade que, apesar do seu franco cres-cimento, ainda guarda, em alguns dos seus recantos, aspec-tos das pequenas cidades. Estes, nós vemos como uma qua-lidade diante do caos urbano em que estão mergulhadas algu-mas das cidades brasileiras. No entanto, sabemos que apesarde suas virtudes, João Pessoa sofre com o descaso acumula-do de várias gestões, que fecham os olhos para os problemasmais simples, aqueles mais evidentes como: saneamento bá-sico, transporte público, habitação digna para todos e espaçospúblicos adequados para o convívio. A cidade enfrenta um pro-cesso visível de privatização de seus espaços públicos, sejacom a colocação de bancas de jornal e barracas das maisdiversas atividades em passeios públicos, seja com a invasãode praças e das nossas tão esburacadas calçadas pelos auto-móveis e placas luminosas cada vez maiores. Esse descasoé, também, fruto da tolerância dos seus moradores, que nãopossuem uma consciência arquitetônica que, necessariamen-te, não precisa ser adquirida numa escola de arquitetura, masapenas implica no discernimento para exigir os seus direitos,escolher e selecionar o que serve e o que não serve para a suavida e para a sua cidade e, sem dúvida, na responsabilidadecom os deveres do cidadão.

Há práticas em outros países que visam educar para a “vidaurbana” e é esse, mais um dos princípios que norteiam o cursode arquitetura dessa experiência. Essas práticas são decor-rentes de uma visão da arquitetura e do urbanismo como co-nhecimentos de utilidade pública. Essa visão traduz agrandiosidade do campo de atuação do profissional arquiteto ea nossa responsabilidade enquanto educadores e formadoresde opinião. Entretanto, enquanto profissionais dessa área, sa-bemos que o desenvolvimento de uma cidade não é tarefa ape-nas de uma categoria de profissionais, mas de um conjunto dedecisões democráticas, onde o arquiteto e urbanista deve con-tribuir diretamente, não se omitindo frente aos problemas urba-

Page 12: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

2322

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

Relato da Experiência e de sua Metodologia

Tais considerações nos levaram a desenvolver, desde 2002,na disciplina Conforto Ambiental I, localizada no 4° período docurso de Arquitetura e Urbanismo do UNIPÊ, uma experiênciapedagógica cujo objetivo é conscientizar os alunos com rela-ção ao papel do arquiteto e urbanista nesse verdadeiro pro-cesso de democratização espacial, como um profissional quedeve considerar o usuário como agente participativo no seuprocesso projetual. O aluno é incentivado a analisar, critica-mente, a qualidade dos espaços construídos; avaliar seus ní-veis de acessibilidade e de mobilidade; compreender a impor-tância desses aspectos para a qualidade de vida da popula-ção; conhecer a legislação existente sobre o assunto; e pro-por soluções viáveis às questões de acessibilidade no ato deprojetar.

A metodologia utilizada consiste em fazer os alunosvivenciarem, concretamente, situações do dia a dia, em diver-sas áreas da cidade, simulando mobilidade reduzida ou defi-ciência, aliando a essa experiência uma posterior e ampla dis-cussão sobre o que é acessibilidade; qual a sua abrangência;sua normativa; como a sociedade a compreende; como taisquestões se colocam atualmente para a cidade de João Pes-soa; e sobre qual a responsabilidade do arquiteto e urbanistafrente a essa problemática.

O método utilizado consiste na seguinte seqüência de pas-sos:

1. Escolha de um espaço ou edificação de uso públicoexistente na cidade, considerando-se a possibilidade dedesenvolvimento, no local, de atividades variadas e cor-riqueiras, tais como: deslocamento; uso de telefone pú-blico; travessia de ruas; utilização de sanitários e de be-bedouros; trânsito entre desníveis;

2. Visita ao local escolhido. Os alunos, acompanhadospela professora, visitam o local para nele se desloca-

No entanto, o obstáculo maior parece ser a inexistência deuma consciência desse problema, por todos os cidadãos, e decomo superar essa barreira sócio-cultural. Reforçando esseaspecto, segundo PRADO (2001), a maioria dos ambientesconstruídos apresenta barreiras visíveis e invisíveis. As barrei-ras visíveis são todos os impedimentos concretos, entendidoscomo a falta de acessibilidade dos espaços e, as invisíveisencontram-se na forma de como as pessoas, na maior partedas vezes, representadas pelas suas deficiências e não pelassuas potencialidades, enfrentam o problema e são vistas pelasociedade.

É possível que a ausência de uma preocupação constantecom as questões de mobilidade e acessibilidade nos projetosde arquitetura e urbanismo decorram da herança dos ideaismodernistas, que pregam o racionalismo gerando uma arqui-tetura insensível às necessidades humanas. As cidades mo-dernistas foram projetadas de “aviões”, em escalas monumen-tais, com os arquitetos posicionados à distância, possivelmen-te, abstraídos de detalhes necessários ao convívio humano eao uso democrático de seus espaços.

Assim sendo, os profissionais de arquitetura precisam re-ver sua maneira de conceber os espaços, atualizarem-setecnologicamente e renovarem seus conhecimentos, devendolevar em consideração a diversidade dos usuários nos espa-ços construídos, buscando atender às suas necessidades.

Nesse sentido, entendemos que o Universal Design é umcaminho que atende, ou busca atender, a esses anseios, namedida em que tem por princípio planejar, projetar e construir oentorno físico considerando o envolvimento das necessidadesde qualquer pessoa. (UBERNA, 1997).

É importante lembrar, segundo Cohen e Duarte, que os es-paços construídos não devem ser adequados apenas às pes-soas com deficiências, pois isso poderá aumentar a exclusãoespacial e a segregação desses grupos, mas, sobretudo, utili-zar-se de medidas técnico-sociais destinadas a acolher todosos usuários em potencial. (COHEN e DUARTE, 2003).

Page 13: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

2524

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

Fotos 01 e 02 - Alunos vivenciando a experiência da travessia de ruas com mobilidadereduzida

Foto 03 – Dificuldades encontradas no acesso aos equipamentos urbanosFoto 04 – Aluna relatando sua experiência em programa de tv para conscientizaçãoda população

Fotos 05 e 06 – Sensação de insegurança e impotência vivenciadas pelos alunos

rem e realizarem atividades, fazendo uso de cadeirasde rodas, muletas e de vendas nos olhos, ou simulan-do situações de mobilidade reduzida tais como carre-gar pacotes, ou empurrar carrinhos de bebê;

3. Elaboração de relatório. Os alunos elaboram um re-latório, analisando a experiência, descrevendo as sen-sações vividas e identificando os elementos construídosque possam dificultar ou auxiliar a realização de ativi-dades.

Os problemas mais freqüentemente encontrados são:rampas com inclinações inadequadas; portas com lar-gura inferior a 80cm; sanitários mal adaptados aos por-tadores de deficiência ou de mobilidade reduzida; tele-fones públicos com altura inadequada para cadeirantes;ausência de pisos tácteis para deficientes visuais.

Quanto às sensações experimentadas durante a ativi-dade, as mais relatadas são: desorientação; inseguran-ça; impotência; falta de autonomia; incômodo com oolhar constante das pessoas; indignação com os arqui-tetos e com os profissionais envolvidos na execuçãodo projeto;

4. Discussão em sala de aula. Expostas as impressõese constatações resultantes da experiência, a turma, jun-to à professora, constrói o conceito de acessibilidade,discute sua importância, estuda a legislação vigente eé apresentada ao conceito de Universal Design;

5. Com o conhecimento apreendido na atividade, reali-za-se a adaptação de uma área edificada (banheiros,balcões, estações de trabalho, etc.) às condições deacessibilidade requeridas pela normativa e essenciaispara o uso integral, democrático e confortável do es-paço construído.

Page 14: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

2726

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

nem autonomia e mobilidade a um número cada vez maior depessoas, mesmo aqueles com mobilidade reduzida ou porta-dores de necessidades especiais. Dessa forma, poderemoster projetos que atendam aos princípios do desenho universal,onde o usuário final interaja de forma confortável e segura como espaço construído, e formar cidadãos conscientes das dife-renças humanas, do necessário e positivo que é conviver comelas e da sua responsabilidade face a incorporação de tal di-versidade à vida urbana.

Bibliografia

DUARTE, Christiane Rose, COHEN, Regina. (2003) “Methodologiesd´Enseigment de l´Architecture Inclusive: Creant des Outils pourla Qualite de Vie pour Tous”. News Sheet 65. EuropeanAssociation for Architectural Education. Association Europeennepour l´Enseignement de l´Architecture. Leuven, 2003.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, Censo2000.

NBR 9050. “Acessibilidade de Pessoas Portadoras de Deficiências aEdificações, Espaço, Mobiliário e Equipamentos Urbanos” – Riode Janeiro ABNT, 1997.

PINTO, Angélica Leite Peixoto et al. (2002) “Ergonomia e Arquitetura:Contribuição da Ergonomia na Formação Acadêmica/Profissionaldo Arquiteto. ABERGO 2002. In: Anais ABERGO 2002.Recife,2002.

PRADO, Adriana Romeiro de Almeida (2001). Ambientes Acessíveis,In Município acessível ao cidadão, São Paulo: CEPAM, 2001.

UBIERNA, José Antonio Juncá (1997), Diseño Universal: Factores Clavespara la Accessibilidad Integral, Castilla-La Mancha: Ed.COCEMF, 1997.

Fotos 08 e 09 – A aluna percebe que os equipamentos adaptados não funcionam

Conclusão

É importante dizer que a experiência relatada não é isolada,a ela somam-se outras, como a de Cristiane Duarte e ReginaCohen, realizada no curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ,e a pesquisa de Angélica Pinto et al. no Departamento de Designda UFPE.

Com ela, o aluno transforma a sua percepção da relação dousuário com o projeto arquitetônico. Na medida em que se co-loca na sua posição, com as suas possíveis limitações e situ-ações previsíveis, o aluno passa a perceber mais atentamenteque o usuário é o motivo maior do ato de projetar, pois é paraele, e para o desenvolvimento de suas mais diversas ativida-des, que os espaços são projetados e construídos. O que an-tes poderia ser visto como uma variável abstrata do projetoarquitetônico passa à condição de realidade a ser tratada noprocesso projetual.

Com efeito, é com satisfação que observamos que, apóscursar a disciplina de Conforto Ambiental I, os alunos têm de-monstrado sensibilidade e preocupação bem mais apuradas,no que diz respeito à acessibilidade como variável imprescin-dível de seus projetos arquitetônicos e urbanísticos.

Despertamos o aluno para uma preocupação ausente noprocesso de formação de muitos arquitetos, que é a concep-ção de edifícios e espaços urbanos acessíveis, que proporcio-

Page 15: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

2928

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

produzida no Recife, de modo que possam constituir estrutu-ras conceituais úteis na prática e no ensino do projetoarquitetônico.

Foram estudadas duas tipologias habitacionais: o edifícioquadra e o edifício torre. Os conceitos do edifício quadra e edi-fício torre foram explorados na pesquisa de iniciação científicadesenvolvida pelo aluno Márcio Erlich sob a orientação da pro-fessora Andréa Câmara, no ano de 2003.

Palavra-chave: arquitetura verticalizada; tipologiaarquitetônica; ensino de projeto

INTRODUÇÃO

No Recife, é na década dos 40 que se inicia o processode verticalização urbana com o surgimento dos primeiros “ar-ranha-céus”.1 Na origem desse processo de verticalização,estava a crescente escassez de terrenos vazios (sobretudonos bairros centrais), as pressões do mercado imobiliáriopelo máximo aproveitamento econômico dos terrenos dispo-níveis, a difusão de inovações tecnológicas tais como o con-creto armado e o próprio elevador, bem como um desejo co-letivo de “modernização” da cidade.

Ao longo das décadas seguintes a multiplicação dessesedifícios verticais, de uso comercial, habitacional, ou misto,foi modificando profundamente a paisagem da cidade e omodo de vida de seus cidadãos. Hoje, o edifício vertical dehabitação multifamiliar —isto é, a torre de apartamentos—constitui elemento definidor da paisagem da cidade e temarecorrente na prática profissional do arquiteto.

É a arquitetura do edifício vertical de habitaçãomultifamiliar que constitui o objeto de estudo da presentepesquisa. Considerando o universo da arquitetura residencialverticalizada produzida no Recife nas cinco décadas analisa-das, é evidente à primeira vista a enorme diversidade de for-mas, arranjos e soluções arquitetônicas realizadas.

O ENSINO DE PROJETO ARQUITETÔNICO: HABITAÇÃOVERTICALIZADA

Andréa CâmaraProfa, M.Sc, Departamento de Engenharia e Arquitetura, Curso de Arquitetura eUrbanismo da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP)- e-Mail:[email protected]

Paulo AndradeProf, M.Sc, Departamento de Arquitetura, Curso de Arquitetura e Urbanismo daUniversidade Federal de Pernambuco (UFPE)- e-Mail: [email protected]

IsabellaTrindadeProfa, M.Sc, Departamento de Engenharia e Arquitetura, Curso de Arquitetura eUrbanismo da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) - e-Mail:[email protected]

Márcio ErlichEstudante de Arquitetura e-Mail: [email protected]

Rua Alfredo Fernandes, 285. Casa Forte. Recife. PE. CEP 52060-320

Tel/Fax: (+55) 0 (XX) 81 3268 4858

RESUMO

No Recife, é na década dos 40 que se inicia o processo deverticalização urbana com o surgimento dos primeiros “arra-nha-céus”. Na origem desse processo de verticalização, esta-va a crescente escassez de terrenos vazios (sobretudo nosbairros centrais), as pressões do mercado imobiliário pelomáximo aproveitamento econômico dos terrenos disponíveis,a difusão de inovações tecnológicas tais como o concreto ar-mado e o próprio elevador, bem como um desejo coletivo de“modernização” da cidade. Ao longo das décadas seguintes amultiplicação desses edifícios verticais, de uso comercial,habitacional, ou misto, foi modificando profundamente a paisa-gem da cidade e o modo de vida de seus cidadãos. Hoje, oedifício vertical de habitação multifamiliar —isto é, a torre deapartamentos— constitui elemento definidor da paisagem dacidade e tema recorrente na prática profissional do arquiteto etambém no ensino da arquitetura.

O presente trabalho tem como objetivo definir e formular‘padrões tipológicos’ da arquitetura habitacional verticalizada

Page 16: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

3130

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

edades— construir classificações e categorias, de modo quepossam constituir estruturas conceituais úteis na prática e noensino do projeto arquitetônico.

ARQUITETURA RESIDENCIAL VERTICALIZADA: O EDIFÍ-CIO TORRE E O EDIFÍCIO QUADRA

A pesquisa desenvolvida teve como foco a arquiteturaresidencial verticalizada classificadas em dois grupos deacordo com sua tipologia de implantação no lote.

O que chamamos de edifício-quadra constituia edifício queocupava o perímetro do lote, não possuia recuos em relaçãoa este e está relacionado à arquitetura tradicional da cidade eao que se chama ‘rua corredor’. No bairro da Boa Vista ebairros próximos está a maior concentração de edifícios-qua-dra da cidade do Recife, justamente por serem bairros ondesurgiram os primeiros edifícios verticais da cidade. Essesedifícios são marcados pela predominância do uso mistocom térreo e sobrelojas destinados a comércio e os pavi-mentos superiores a apartamentos de uso residencial. Coma presença do comércio no pavimento térreo e seus diversosacessos às lojas, caracteriza um edifício permeável, sendoum acesso exclusivo para os apartamentos. Não existia esta-cionamento nos edifícios-quadra, surgindo posteriormentenos edifícios-torre.

Os primeiros edifícios-quadra apresentam volumetriatripartida bem definida. O pavimento térreo é recuado, crian-do um passeio coberto pela calçada. No edifício Duarte Coe-lho, projetado em 1943 [FIGURA 1], deixa-se à mostra algunsde seus pilares, enquanto no edifício Ouro (1950) [FIGURA 2]projetam-se marquises em balanço. O coroamento dessesedifícios é destacado por estar recuado em relação ao corpodos demais pavimentos, criando um terraço, e a esta alturasão projetados balcões em balanço.

Todavia, uma hipótese que fundamenta a pesquisa é a deque, por trás da aparente diversidade e variedade de obrasespecíficas, estão alguns poucos ‘tipos arquitetônicos’ invari-áveis, os quais constituiriam ‘padrões tipológicos’ determina-dos e definidos, dos quais as inúmeras obras concretasconstituem reflexos ou variações.

Os ‘padrões tipológicos’ referidos são representaçõessimplificadas e inteligíveis de determinado conjunto de obrasarquitetônicas concretas. Tais padrões permitem categorizar,classificar, organizar, em um todo sistemático, o que era atéentão visto como um conjunto de casos aparentemente di-versos, singulares e mais ou menos desconexos.

Em arquitetura, um ‘padrão tipológico’ pode ser definidopor um determinado arranjo planimétrico, altimétrico,volumétrico, espacial, geométrico, topológico, funcional, cro-mático… O crucial é que tal arranjo defina e determine quali-dades essenciais do objeto arquitetônico analisado. Para au-tores como Aldo ROSSI, um ‘padrão tipológico’, enquanto prin-cípio geral que unifica fatos particulares, constituiria uma es-pécie de “arquétipo arquitetônico”. Esses padrões se confor-mam através de longos, lentos e complexos processos de“sedimentação histórica”; no fim do quais determinadas solu-ções arquitetônicas “cristalizam-se”; não como modelosdogmáticos, mas sim como fontes e pontos de partida para acriação e a inovação arquitetônica

É óbvio que, na pesquisa arquitetônica, a formulação detais ‘padrões tipológicos’ não é um processo aleatório ou arbi-trário. Tais padrões são formulados para servir a determina-dos propósitos definidos, eles são como lentes empregadaspara enxergar melhor um conjunto de objetos arquitetônicos.O que interessa na investigação tipológica são os traços in-variáveis de um determinado conjunto de objetosarquitetônicos. O que se procura são as propriedades essen-ciais desses objetos para —abstraindo a partir destas propri-

Page 17: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

3332

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

Nos edifícios-quadra pode ser encontrada uma grande di-versidade de apartamentos-tipo, sendo em sua maioria apar-tamentos compactos, com programas mínimos. O programados apartamentos-tipo pode variar num mesmo pavimento,podendo ir de 1 cômodo apenas a apartamentos de 15 cô-modos, bem como variar de pavimento para pavimento. Oprograma básico é de sala, quartos, varanda, cozinha e ba-nheiros sempre um de uso social e um de serviço. Os edifíci-os-quadra têm geralmente uma circulação vertical2 comumaos apartamentos. Em alguns casos eles possuem uma se-gunda circulação vertical que dá acesso a um número menorde apartamentos. Em muitos edifícios-quadra não há distin-ção entre hall social e hall de serviço; é comum encontrar umúnico corredor para acesso a todos os apartamentos, ao ele-vador e à escada.

A partir dos anos 60, a elaboração de uma nova legislaçãode uso e ocupação do solo, muda definitivamente o modo deconstruir na cidade. Esta nova legislação baseada na posturamodernista definida por Gropius, que em 1930, argumentavaque “quanto mais alta a edificação, maiores as distânciaspara o limite do lote”, determinou o modo de ocupação dasnovas edificações nos bairros afastados do centro, cuja ocu-pação era essencialmente de casas. Essas novasedificações constitui o outro grupo de edifícios estudados, oedifício-torre.

Essa nova fase da arquitetura, provocada pela mudançada legislação, estabeleceu uma nova relação entre o edifícioe a rua. Observa-se um distanciamento entre os edifícios e arua e o surgimento dos muros como elementos que definemuma nova paisagem para a cidade. O muro, como uma bar-reira urbana, rompe a ligação direta entre o edifício e a rua,característica do edifício-quadra, restringindo o acesso dospedestres ao edifício.

Os edifícios-torre são predominantemente de usoresidencial, mas, como conseqüência da ampliação do uso

FIGURA 01: Edifício Duarte Coelho. 1943. Planta Baixa – 10º pavimento. Fonte:NASLAVSKY, Ghilah.

FIGURA 02: Edifício Ouro. 1950. Planta Baixa – Térreo e 6 Pavimemnto. Fonte: Prefeiturada Cidade do Recife.

Page 18: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

3534

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

FIGURA 04: Edifício Artemis. 1999. Planta Baixa do pavimento Tipo. Fonte: Prefeiturada Cidade do Recife.

O programa dos edifícios-torre se ampliam e aparece a cha-mada área de lazer, que constitui espaços de uso comum epodem estar localizados entre acima dos paviemntos-garagemou no último pavimento. O programa para os apartamentos-tipo passa a ser único e o número de apartamentos-tipo porpavimento se reduz para um ou dois. O número de banheiroscresce no edifício-torre. Já se encontra suítes, e em algunsedifícios, mais de 1 quarto suíte. O tamanho dos quartos dimi-nuem e os banheiros são menos equivalentes do que nos apar-tamentos do edifício-quadra, com 1/3 da área dos quartos. Oespaço do apartamento-tipo é mais fluido, apresentando espa-ços mais amplos, menos compartimentados, e sem cômodosintermediários entre os ambientes, e por esta razão, mais inte-

do automóvel, surge a necessidade de inserir nesses novosedifícios, local apropriado para a sua guarda. Então surgemos pavimentos-garagem, uma nova edificação que ultradassaos limites de projeção da torre e que define a base davolumetria da edificação. Um acesso independente para o ve-ículo tornou-se essencial para os novos edifícios.

A volumetria dos edifícios-torre, em quase sua totalidade,é tripartida. Na base estão os pavimentos-garagem, os pavi-mentos-tipo formam o corpo e o coroamento é feito por umadeformação do pavimento-tipo (apartamento duplex) ou pelacriação do pavimento-cobertura, geralmente destinado a usocomum dos moradores. A circulação vertical passa a com-preender um volume independente do bloco do edifício, acen-tuando a marcação de verticalidade. [FIGURA 03 e 04]

FIGURA 03: Edifício Bonneville. 2003. Planta Baixa do pavimento Tipo. Fonte: Prefeiturada Cidade do Recife.

Page 19: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

3736

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

portante que se possa obter do entendimento do conceito detipo é que nos possibilita fazer uso de toda história da arquite-tura como fonte de pesquisa e inspiração, já que, ao estudaressa história desde um ponto de vista tipológico, o que o arqui-teto extrai dela são princípios , não formas literais.”

BIBLIOGRAFIALARA, Fernando. Marques, Sônia. Desafios e conquistas da pesquisa

e do ensino de projeto. Rio de Janeiro: Editora VirtualCientéifica, 2003.

MAHFUZ, Edson. O clássico o poético e o erótico e outros ensaios.Porto Alegre: Editora Ritter dos Reis, 2002.

MONTANER, Josep Maria. A modernidade superada. Barcelona:GG, 2001.

NASLAVSKY, Ghilah. Modernidade Arquitetônica no Recife. Tesede Mestrado, MDU – UFPE.

PASSOS, Luiz Mauro do Carmo. Edifícios de apartamentos.BeloHorizonte: AP Cultural, 1998.

REIS FILHO, Nestor Gourlart. Quadro da arquitetura no Brasil. SãoPaulo: Editora Perspectiva, 1990.

ROSSI, Aldo. A Arquitetura da cidade. São Paulo: Martins Fontes,1992.

NOTAS1 (Na verdade, desde 1928 estavam licenciados pela Prefeitu-ra os primeiros projetos de arranha-céus no Recife. Todavia sóem 1948 foi terminado o edifício ‘Duarte Coelho’, que, com seus14 pavimentos, abrigando apartamentos residenciais, salascomerciais e o cinema ‘São Luiz’, foi anunciado como o pri-meiro arranha-céu da cidade.)

2 A circulação vertical compreende o elevador e/ou escada.

grados. O hall comum dos apartamentos é dividido em hall sociale hall de serviço, que são conectados entre si. O hall de servi-ço se comunica com a escada

UM METODO DE ENSINO DE PROJETOO fato de estarmos sempre partindo de um conhecimento

existente para gerar novos conhecimentos, ao contrário do quese pode pensar, nos dá a liberdade de criação. SegundoQuatremére de Quincy [1832] “a arte de edificar nasce de umgerme preexistente; nada vem do nada…o tipo é uma espéciede cerne em torno do qual, e de acordo com ele, são ordena-das todas as variações de que um objeto é suscetível”. Essacitação já indica que a partir do conceito de tipos é possível seter uma metodologia de projeto que seja baseada no estudoaprofundado de certos padrões tipológicos. O conceito de tipopode ser empregado tanto para analisar os fenômenos históri-cos da arquiettura como também para projetar arquitetura.

Os ‘padrões tipológicos’ buscados na pesquisa servirão dereferências, não modelos, para a prática projetual em sala deaula. A partir da definição de dois tipos de edifícios residenciaisverticais, o edifício-quadra e o edifício-torre, será possível ela-borar estruturas que auxiliem os estudantes a encontrar o par-tido arquitetônico e a desenvolverem o projeto da edificacão.Abstraindo-se da composição da edificação e detendo-se aospadrões das relações existentes de suas partes, será possívelelaborar um conjunto de possibilidades arquitetônicas cabíveis.Portanto espera-se que as soluções arquitetônicas possuamuma consistência teórica e fundamentos mais sólidos, resul-tando numa composição menos formalista.

Segundo Mahfuz [2002] “Uma consequência importante doemprego do método tipológico é a implicação de que as for-mas não são eternamente ligadas às funções para as quaisforam projetadas. Pelo contrário, formas arquitetônicas tem opotencial de conter, e de fato contém, uma multiplicidade defunções através do tempo. Mas, talvez, o benefício mais im-

Page 20: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

3938

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

atração e também elas mesmas o palco do movimento, ondeo voyerismo, o flanar e o desfile são atos inseridos no contex-to de uma nova modernidade capitalista. As grandes aveni-das, na forma de Bulevares, esplanadas ou corredores, sãoassim espaços de passagem mas ao mesmo tempo símbo-los de modernidade, são abrigos do setor terciário e podemser também destinadas ao uso residencial de camadasespecífias da população adeptas do agito da metrópole e quedispensem um maior isolamento interior do bairro.

Hoje porém, muitas metrópoles brasileiras encontram-secorroídas pela importância exacerbada que o trânsito superfi-cial e, principalmente, o transporte superficial de massas, as-sumiu no controle da mobilidade urbana. Os urbanistas e le-gisladores espremidos pela necessidade de solucionar esseproblema não tem apresentado soluções adequadas, emborase saiba que somente amplas redes de metro e umaredistribuição de atividades incomodas poderiam ser a res-posta. O desenho de avenidas com corredores centrais deônibus é um paliativo menos custoso e, ao nosso ver, maisadequado que deixar o ráfego de ônibus acumular-se juntoaos passeios públicos. Esse acúmulo como causa do refrea-mento do sentido urbano das avenidas também ocasiona aperda de um potencial urbano e imobiliário imenso, peladescaracterização do território lindeiro, pelo impactoambiental negativo exagerado causado pelo tráfego de ônibuse caminhões junto aos passeios e pela perda deinfraestrutura já instalada em áreas nobres da cidade.

SENTIDO URBANO DAS AVENIDAS

Um dos tipos de espaços urbanos mais importantes emnossas cidades contemporâneas é o das grandes avenidas,ou vias arteriais. Isso se deve ao sentido urbano das aveni-das, qual seja de permitir a mobilidade nas modernas cida-des e a articulação de “nódulos” urbanos, em geral espaçoscom sentido de centralidade ou grande presença simbólica.Essa configuração, conforme assinalado no resumo deste

POTENCIAL DO DESENHO URBANO NAREQUALIFICAÇÃO DO ESPAÇO TERCIÁRIO NAS VIASARTERIAIS DEGRADADAS EM SANTO ANDRÉIsmael Andrade [email protected] ou [email protected]

O movimento, nas grandes cidades, não é simplesmen-te produto da organização espacial, mas causa de suaexistência

Hillier (1996).

RESUMOO Objetivo deste artigo é discutir relações favoráveis e

desfavoráveis de desenho urbano para o “programa” espacialque a sociedade determina para alguns de seus espaçosmais significativos, no caso as grandes avenidas arteriais.

Através da legislação urbanística e das relações econômi-cas e ecológicas na cidade, a sociedade imputa papéis urba-nísticos ou espaciais para as diversas partes de seu territó-rio. Assim imaginamos, projetamos e legislamos para queáreas residenciais tenham mais isolamento e sossego, paraque as áreas comerciais possam desfrutar de acessibilidadee densidade de poder de compra, também do mesmo modoprocuramos dotar de significância alguns espaços urbanosdos quais nos orgulhamos, tais como largos, praças, par-ques e grandes avenidas.

Esse espaços, tal como lhes atribuia Lynch ( 1985) no tra-balho sobre a boa forma das cidades, possuem, ou pelo me-nos tentamos com que possuam, um sentido urbano, maisou menos, algo relacionado com o que deles esperamos ecom atributos de desempenho favoráveis.

O desenho das grandes avenidas contemporâneas temsua origem no princípio do desenho urbano barroco que oconcebeu como grande eixo articulador de espaços dotadosde grande significância, ao mesmo tempo as grandes aveni-das ou Bulevares seriam indutoras de fluxos entre polos de

Page 21: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

4140

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

atividades incômodas nos bairros residenciais, no resgate daconstrução de edifícios de uso misto nas avenidas arteriais,como já foi antigamente proposto por Prestes Maia, na déca-da de 40 e, também, no melhor rendimento do solo pelaverticalização adequada desses espaços.

Ao se estudar esse processo, vemos primeiramente queexiste um vínculo histórico entre o fenômeno da degradaçãodas avenidas e a intensificação das barreiras do trânsito.Esse fenômeno já havia sido magistralmente enfocado pelourbanista norte americano David Appleyard (APPLEYARD,1981), contemporâneo de Kevin Lynch, em estudos sobra aperda de convívio em diversas ruas de São Francisco a partirde maiores volumes de tráfego.

Em São Paulo, o urbanista Cerqueira César também te-ceu inúmeras considerações sobre a incompatibilidade daexistência de corredores de transporte de massas com ossetores comerciais, bem como a impropriedade da implanta-ção de sistemas de transporte de massas na superfície.

“O metrô foi projetado para trabalhar em conjunto como transporte de superfície e não para eliminar esse(onibus e automóveis convergiriam para o metrô), es-pecialmente para as estações de ponta que estãodimensionadas como estações de transfer. O metrôopera na área mais adensada e os onibus e tróleibusoperariam na periferia, onde haveria condições depermanencia do transporte de superfície. O metrô écaro e tem capacidade alta para trabalhar apenas nafaixa marginal próxima, operando nessas condiçõesseria anti econômico e oneroso”

(Jornal ESP, 10/05/70 e Jornal ESP, 31/05/70).

A exposição de motivos de Cerqueira Cesar leva à com-preensão que onde existe a maior conectividade do tecido,onde o tecido é mais denso, onde a cidade possui maiorinteração entre o arruamento construído, é onde efetivamente

artigo, foi proposto durante o período Barroco e transformadoem paradigma quando das reformas de Paris e Viena no sé-culo XIX.

Quando esses espaços se degradam, dada a visibilidadee força simbólica que apresentam no contexto urbano, ocor-rem duas principais conseqüências: Uma é a migração deatividades comerciais para ruas laterais ou paralelas,desconfigurando e compromentedo o conforto e o equilíbrioecológico do setor residencial adjacente, como tem aconteci-do em vários bairros de São Paulo principalmente naquelesem torno do corredor das avenidas Nove de Julho e SantoAmaro. Outra conseqüência desastrosa é a perda de infraestrutura instalada em uma porção de território urbano comsingular capacidade de integração entre diversos setores, àsemelhança do que ocorre nas regiões centrais. Essa degra-dação manifesta-se no estado de conservação precário dosedifícios, no abandono de imóveis e mesmo na substituiçãode usos, principalmente naqueles que construiram uma certaidentidade com a localização por usos genéricos ouespeculativos, como no caso da Santo Amaro que perdeu osespaços de cinemas e restaurantes (MARCONDES, 2000 eImprensa Oficial) ou da Celso Garcia, anteriormente local deimportantes magazines (Imprensa Oficial).

Todos compreendemos o drama que se instala perante aclasse dos proprietários de imóveis urbanos, frente ao senti-mento de perda de domínio sobre o território que estas pes-soas imaginam-se possuidoras, o qual é, na verdade, umsentimento que confronta uma relação humana e ancestral,muito mais ampla do que se possa discutir em um simplesartigo, mas essencial na ecologia e sobrevivência da econo-mia urbana. Muitos teóricos do urbanismo chamam esse pro-cesso de desterritorialização.

A importância de recuperar esses espaços repousa, por-tanto, na possibilidade de melhoria ecológica e na reposiçãodo sentido de território, exemplificados pela redistribuição de

Page 22: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

4342

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

esta degradação é acentuada pela disposição do transportepúblico junto aos passeios, o qual funciona como setorconector entre o público detentor de potencial de compra eas atividades econômicas localizadas no território lindeiro àvia.

No gráfico abaixo (Simões, 1997) vemos os eixos de ruasde Santo André com o gradiente de integração analisado sin-taticamente. Os tons quentes (vermelho e amarelo) repre-sentam os mais integradores, os mais frios (verde e azul)possuem menor integração.

As avenidas analisadas são a av Dom Pedro II, nº1; queintegra Santo André a São Caetano do Sul, a Av. Perimetral,nº2, ligação com Mauá e com a parte sudeste do municipio,onde há muitos bairros populares e a de nº 3, Av. RamiroColleoni, que é uma das mais importantes ligações entreSanto André e o Centro de São Bernardo do Campo.

Diagrama sintático de Santo André, fonte Simões, 1997.

A Avenida Dom Pedro II possui um desenho tradicionalcom um simples canteiro central, não há divisões enrtre osespaços destinados aos veículos de carga nem ao transportepúblico, em várias porções a acessibilidade é extremamenteprejudicada pelo excesso de veículos. A avenida D pedro, no

se concentra a maioria dos postos de trabalho e onde é maisnecessário proteger a diversidade de modos de acessibilida-de com a restrição do uso intenso do sistema viário pelo trá-fego superficial, principalmente o de ônibus e automóveisparticulares. A acessibilidade ao comércio é favorecida poressa restrição, na medida em que o ato da compra dependeda possibilidade de escolha, que nos espaços públicos estáassociada ao flanar. Os argumentos utilizados por CerqueiraCesar, deixam clara a importância da coerência entre capaci-dade de carga das modalidades de transporte público e suaposição dentro da estrutura urbana, por isso a obviedade danecessidade de uma articulação dos diversos modos: metrô,ônibus, micro ônibus, ônibus expressos, etc.

Essas afirmações de urbanistas conceituados poderiamlevar à conclusão de haver uma uniformidade de condiçõesde degradação nas avenidas tomadas pelo trânsito intenso.No entanto vemos, na prática, que lugares mais articuladoresou integradores de fluxos podem estar mais degradados queoutros dependendo do desenho urbano que possuam, paradistribuir o tráfego pesado e o transporte público,minimizando ou acentuando, em alguns casos, os prejuízosà acessibilidade ao território lindeiro e, também que, menortende a ser o abandono naquelas onde há maior integração earticulação, mesmo frente à possibilidade de migração do co-mércio para porções de ruas próximas, as quais, por suavez, poderiam enfrentar fenômeno semelhante de saturaçãode tráfego.

Usou-se a metodologia de analisar sintaticamente, isto é,através da análise do potencial integrador dos eixos urbanoscomo proposto por Hillier e outros, para identificar uma esca-la de integração na malha urbana de Santo André; depois apartir de uma investigação de campo com fotos e entrevistas,estimou-se o grau de degradação no território lindeiro dos ei-xos analisados e confrontou-se com a hipótese levantada, deque há mais degradação em áreas menos integradas e que

Page 23: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

4544

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

A avenida perimetral assume a condição de maior eixodegradado, no centro do município. Sobram imóveis paralocação comercial fechados, há muita pichação, algumvandalismo e presença de comércio destinado ao automó-vel, acessórios e carros usados, o qual tradicionalmenteem São Paulo tem ocupado espaços de menor valor agre-gado e destinados à especulação imobiliária.

A condição de via rebaixada para o trânsito de passa-gem o qual é, principalmente, constiuído de automóveisparticulares e a existência de um tráfego pesado de trans-porte coletivo, na parte superior, deixam o território lindeiroafastado do espaço por onde circulam as pessoas commaior poder de compra. Mesmo essa via estando na bordada região central da cidade ela não consegue conectar flu-xos destinados ao comércio tendo em vista seu afasta-mento pela calha rebaixada.O mesmo não ocorre com aAvenida Ramiro Colleoni, que apesar de possuir uma cica-triz urbana, representada pelo corredor de ônibus, possuivisibilidade para quem trafega pelas laterais e possibilida-de de atração desses fluxos, por isso ela viu surgir e de-senvolver importantes blocos comerciais e de serviçosnas duas últimas décadas e, mesmo com a falência doMappim, o shopping ABC, sobreviveu e expandiu-se.

A avenida D Pedro II encontra-se em situação interme-diária. Apesar de conhecer um comércio e serviços cons-tantes, ela não apresenta os mesmos parâmetros de cres-cimento imobiliário, mesmo com o dobro de tempo de con-solidação desse setor em seu território. Esse eixo sofrecom a mistura de tráfego, porém tendo emvista que ela é,dos três exemplos analisados, a mais constiuída sintatica-mente, isto é, mais articuladora de fluxos laterais, suaterritorialidade sobrevive e permite que não haja degrada-ção.

entanto, é totalmente articulada com o sistema viário lateral,e pertence a uma região economicamente favorecida pelopotencial de compra dos habitantes, os bairros Jardim eCampestre. A atividade comercial nessa avenida é bastanteintensa e já conta com mais de 40 anos de desenvolvimento.Apresenta, em geral, boas condições de ocupação e apropri-ação territorial, apesar do tráfego intenso, observando-se aexistência de comércio estabelecido em pequenas proprieda-des mesmo nas que não possuem estacionamentos, ver foto1.

A Avenida Perimetral possui um trecho significativoconstruído com via rebaixada, por onde circulam predomi-nantemente os automóveis e demais veículos de carga,quando de passagem. Os coletivos circulam na parte superi-or e são eles que teoricamente constituem os fluxos ao terri-tório lindeiro. Observa-se nessa via a quebra daconectividade com a malha lateral, pela interposição da calharebaixada, e uma paisagem de degradação e desuso maio-res que nas outras vias analisadas, ver foto 2. A existência decomércio e serviços com maior visibilidade ocorre justamen-te no trecho onde a via deixa de ser rebaixada e onde, porconsequência, o transporte individual aproxima-se das late-rais e a conectividade com as demais vias transversais érestabelecida, ver foto 3.

Na Av de nº3, Av Ramiro Colleoni, há um terceiro padrãode desenho urbano representado por um corredor de ônibuscentral. Apesar dessa proposição também representar umaespécie de fratura urbana na avenida, observa-se ao longodas últimas duas décadas a renovação comercial de usoscom a criação de um importante Shopping Center, ABCShopping, antigo Mappim, a criação mais recente de umgrnade centro automotivo e a expansão de um centro univer-sitário, além da manutenção de investimentos no setorresidencial, em pontos isolados. Ver fotos 4 e 5.

Page 24: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

4746

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

Foto 3, Av Perimetral, trecho plano

Foto 4 , Av Ramiro Colleoni, vista em direção ao Centro

Foto1, Av.Dom pedro II

Foto 2, Av Perimetral, trecho em calha rebaixada

Page 25: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

4948

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

compra, a densidade de consumidores potenciais. Estes des-locam-se mais pelo trnasporte individual do que com o coleti-vo, conforme atestam os indicadores de mobilidade urbanapresentes nas pesquisas de deslocamento.

Nesse sentido a requalificação de qualquer espaço urbanoé indissociável das estratégias de mobilidade, que criem iden-tidades entre o eixo principal e as formas de apropriação doterritório. Os eixos demonstram sua vocação mediante o tipode articulação com os espaços de significancia não com osbairros, portanto a sintaxe dos eixos é consequência dos pro-cessos de apropriação do território, em consonância com otipo de acessibilidade predominante, se a pé, ônibus, metrô oucarro, na qual estas estratégias de mobilidade são pilares desua sustentação. A sintaxe espacial dos eixos é uma caracte-rística morfológica que assegura um maior número de encon-tros casuais e deve estar aberta à conexão e acessibilidadedas camadas da população que possuem maior poder de com-pra e se deslocam pelo território

No entanto, sem poder posicionar-se claramente em rela-ção à necessidade de garantir funcionalidade e conforto paratodas as classes sociais que habitam nossa metrópole, a es-trutura de mobilidade adotada pela aglomeração urbana nãologrou resolver a questão da separação dos fluxos de passa-gem dos fluxos locais, sejam estes de cargas ou passageiros,adotando, infelizmente e por força das adversidades da con-juntura macro econômica brasileira, sempre carente de recur-sos para resolver os graves problemas urbanos, um modeloexclusivamente baseado na malha viária superficial e no trân-sito sobre pneus.

As soluções de desenho urbano, soluções espaciais, por-tanto, que mantém mais abertas as possibilidades de conexãoentre os eixos por onde circulam as atividades múltiplas, nãoapenas as de passagem, representadass em grande parte pelotransporte coletivo, mostram-se mais eficazes.

O espaço em nossas metrópoles contemporâneas seflexibilizou com a facilidade de locomoção (WEBBER M., 1963)

Fotos 5, Av Ramiro Colleoni, vista em direção à São Bernardo

CONCLUSÃOA requalificação dos territórios lindeiros, que englobam o

espaço ocupado pelos edifícios frontais às principais vias arte-riais das grandes cidades e também os espaços de transição,como calçadas, canteiros e recuos de estacionamentos, pas-sa por duas instâncias de resolução: a instância global, onde arelação de acessibilidade ao território lindeiro é definida pelasestratégias de mobilidade urbana e a instância local onde arequalificação é definida pelas características locais e particu-lares, que possam subsidiar estratégias identitárias para a cri-ação de localizações (VARGAS, 2001; PESCARINI 2003).

Essa escala local é favorecida pela capacidade da via decomunicar-se com a malha viária lateral, ganhando assim, oque chamamos de maior sintaxe espacial.

Vias com maior sintaxe favorecem mais os encontros e avisibilidade, tão importante ao setor comercial. Essa visibilida-de, no entanto, é dirigida, não aleatória. Ela segue as regras demercado e harmoniza-se com a concentração de poder de

Page 26: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

5150

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

MORADIAS ASSISTIDAS: O FUTURO DA CRESCENTEPOPULAÇÃO IDOSA BRASILEIRA

Maria BestettiUNIDERP

1 - O turismo permanente ou a moradia nômade: a mudan-ça de paradigmas para o século XXI.

Se hoje sabemos que o turista é aquele que sai do seu lugarde origem, visita outros lugares por um período determinado eretorna, e considerando que a flexibilidade dos pacotes turísti-cos tem permitido inúmeras combinações de trechos e desti-nos, pensar em indivíduos que vivam períodos de média dura-ção em lugares remotos à sua origem não soa completamen-te impossível. A concepção dos apart-hotéis, inclusive, vem deencontro a essa expectativa, pois a transitoriedade das rela-ções pessoais e profissionais está em progressiva flexibilida-de, também.

Porém, já se vislumbra uma mudança significativa no turis-ta do século XXI, de acordo com Yasoshima & Oliveira1 :

“- Os novos turistas serão pobres em tempo e ricos emdinheiro, o que significa que eles terão à sua disposição tem-po relativo pequeno para suas férias, por outro lado terãorecursos suficientes para gastarem nessa atividade;

- Como conseqüência da falta de tempo, os novos turistasdarão preferência a viagens regionais, para locais próxi-mos à sua origem;

- As viagens serão curtas e divididas em várias saídasdurante todo um ano de trabalho, com diferenciação de ato-res: no verão viagem com os filhos, na meia-estação via-gens do casal, no inverno viagem dos filhos sozinhos, etc;

- Alguns destinos que sofreram a conseqüência da deterio-ração de suas imagens poderão ter um processo derevitalização, com o aproveitamento da infra-estrutura exis-

e, ao mesmo tempo, em que contribuiu para “estandartizar” apaisagem, trazendo como vantagem a adequação dos diver-sos sub territórios aos diversos usos, como desvantagem trouxea monotonia. Conforme propõe Lynch deve haver prazer nasviagens (LYNCH, 1984, pg.142) e existe uma forte relação en-tre o acesso fácil, a vitalidade e a boa adequação.

BIBLIOGRAFIAAPLLEYARD D. Livable Streets, Chicago, MIT Press, 1981

CÉSAR Roberto C. São Paulo, Jornal OESP , Seçaõ Urbanismo,1970

HILLIER, Bill. A Lógica Social do Espaço Hoje, Excertos, Universidadede Brasília-Fac. De Arq. E Urb, trad. Prof Frederico Holanda,Brasília , 1986

HILLIER, Bill. Space is the Machine, NY, Cambridge-University Press,1996.

LYNCH Kevin. La Buena Forma de la Ciudad: Barcelona, Ed.Gustavo Gilli, 1985

PESCARINI Ismael. Requalificação de Avenidas em São Paulo.São Paulo, Artigo www.vitruvius.com.br, 2003.

SIMÕES Luciana L P. Localizações Urbanas, uma Nova PropostaMetodológica, Dissertação de mestrado, Brasília, Universidadede Brasília-Dep. De Urbanismo, 1997

VARGAS Heliana C. Espaço Terciário, São Paulo, Ed. SENAC, 2001

Page 27: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

5352

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

destinos de férias;

- O crescimento da insatisfação com os sistemas e pro-cessos governamentais podem levar a um novo paradigmapara o turismo, formado por entidades civis, organizaçõesnão governamentais e empresas privadas;

- Exigência cada vez maior com a questão da qualidadedos produtos e serviços turísticos, cuja aquisição serávista cada vez mais como investimento na qualidade de vida,do que como gasto supérfluo ou consumo conspícuo; defi-nido por Veblen no começo do século;

- Crescimento da China e dos Estados Unidos como prin-cipais destinos turísticos mundiais, como se pode verificarnas previsões do movimento do turismo mundial em 1999,que mostra a China em 5o lugar entre os dez maiores desti-nos do turismo mundial com 27.047 milhões de chegadasinternacionais e um crescimento de 7,9% em relação aoano de 1998.

- Adoção de uma identidade eletrônica multiuso, basea-da em dados biométricos (íris, por exemplo), proporcionan-do maior segurança nos controles de fronteira e maiorconfiabilidade dos dados relativos à movimentação de tu-ristas no mundo inteiro.”

Acrescentando-se a isso a aposentadoria ou mesmo a mu-dança de atividade profissional a partir da terceira idade, ospossíveis reencontros com amigos ou familiares ou, até mes-mo, a realização de simples desejos pela visita a lugares no-vos e exóticos, pensar em moradias temporárias demonstraser uma possibilidade muito viável. Embora soe como umamelancólica volta ao nomadismo, evidente característica cul-tural de determinados povos, podemos considerar esses via-jantes como pessoas que estariam já desvencilhados de com-promissos em seus lugares de origem para a permanênciacomo uma única perspectiva de uso do tempo livre. O seg-mento da terceira idade configura-se como um importante gru-

tente, remodelada e modernizada;

- Os novos turistas darão muita importância aos compo-nentes culturais em suas viagens. As diferenças culturaisserão atrativos altamente valorizados num mundo em queglobalização é responsável pela padronização de grandeparte de serviços e produtos, tornando as cidades cada vezmais parecidas;

- Os novos turistas procurarão aliar o entretenimento dasviagens com a educação, fazendo com que cada viagemseja uma forma de aprendizagem e instrução;

- Elevação da consciência ambiental e social, fazendo quea escolha dos destinos seja precedida por uma análise dasituação em relação à proteção ambiental e o respeito aoentorno social;

- Os padrões do turismo serão transformados pela cres-cente diversidade de estilos de vida dos viajantes;

- Para os próximos 20 anos, residentes de nações desen-volvidas na faixa de 45-65 anos irão crescer substancial-mente. Esses indivíduos terão cada vez mais tempo, rendae desejo para viajar;

- A competição de mercado se tornará em uma poderosaarma para a manutenção dos custos das viagens sob con-trole, e permitir que o turismo permaneça acessível paraum grande parte da população;

- Os viajantes do futuro serão receptivos para novastecnologias e serviços que facilitem a viagem, reduzamos custos;

- Tendo em vista o baixo nível de penetração tecnológicano turismo, há um grande potencial para ganhossignificantes no desempenho e produtividade em termos demelhor planejamento e fornecimento dos serviços turísticos;

- Problemas relacionados com a saúde e a segurança ten-derão a ser os maiores fatores inibidores na escolha dos

Page 28: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

5554

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

tões de saúde. Diz Roizen: “A cada cinco anos, o número depessoas maduras com problemas de saúde cai 1%. Parecepouco, mas é muito quando se lembra que a maioria das pes-soas ainda se alimenta mal, fuma e não faz exercícios.”

A globalização da economia permite a facilitação das tro-cas, pois as moedas referenciais também permitem maiormobilidade e melhor compreensão das especificidades mer-cantis de cada local, mesmo quando não se tem o domínio deidioma estrangeiro. Assim sendo, por que não?

1.1 – A disponibilidade dos combustíveis e o futuro do tu-rismo como atividade econômica.

Refletindo sobre a questão que envolve o combustível à basede petróleo e de quanto estamos dependentes desse meio, ede como alternativas energéticas continuam mostrando poucaeficiência no sentido de redirecionar a situação desastrosa quese configura, é preciso que se questione, também, o futuro doturismo dentro dos padrões de transporte que são praticadoshoje. Ao vislumbrar a derrocada da aviação comercial em fun-ção da carência e do conseqüente aumento de preços doscombustíveis, assim como sabemos que o sistema ferroviárioque decaiu no país há muitos anos e poderia ser, como emoutros países já foi providenciado como solução lógica para otransporte de massa a grandes distâncias, qual o destino daatividade turística sem a viabilização através de um sistema detransportes acessível?

Prevê-se que a aviação comercial sofra transformações acurto e médio prazo. De acordo com Yasoshima e Oliveira4 ,algumas tendências são irreversíveis:

“- Prevê-se a desregulamentação total das empresasaéreas em todo o mundo a exemplo do que ocorreu nosEstados Unidos em 1978 com o Airline Deregulation Act.

- Aumento das fusões de empresas aéreas com uma con-centração do poder nas grandes companhias aéreas;

po consumidor de produtos turísticos, em especial pela cres-cente participação ativa no mercado. De acordo com Moreira2 :

“Além de reduzir a taxa de crescimento populacional, entreas mais significativas conseqüências da redução do nível dafecundidade encontra-se a profunda mudança na distribuiçãoetária da população nacional. Em conseqüência da queda dafecundidade, a participação relativa do grupo etário jovem (me-nores de 15 anos) declinou de 41,8%, em 1950, para 28,6%,em 2000 e, em contraposição à fração da população adulta(entre 15 e 64 anos) ampliou de 55,7 para 66,0% e a populaçãoidosa (acima de 65 anos) mais do que duplicou a sua impor-tância relativa, passando de 2,4%, em 1950, para 5,4%, em2000. (...) As projeções da população brasileira por grupos deidade até 2050 mostram que, entre 2000 e 2050, a participaçãoda população jovem continuará cadente, passando de 28,6%para 17,2%, enquanto ocorrerá um modesto declínio no pesoda população adulta (de 66,0 para 64,4%) e todo o aumentoconcentrará na população idosa que ampliará a sua importân-cia relativa de 5,4%, em 2000, para 18,4%, em 2000, intensifi-cando sobremaneira o envelhecimento demográfico brasileiro(Moreira, 1997).”

A medicina já desenvolveu soluções que permitemmonitoramento à distância, reduzindo também os temores emrelação a possíveis abalos de saúde. Além disso, hoje ela já étratada de modo preventivo e não curativo, aumentando muitoas condições de segurança contra doenças naturais graves,que podem ser retardadas ou mesmo amenizadas. SegundoLeopoldo e Menai3 :

“Vive-se mais e melhor. Um brasileiro nascido em 1900 ti-nha expectativa de vida de cerca de 34 anos. Um bebê quenasceu em 2000 pode esperar viver 70 anos ou mais. É o do-bro. Para o americano Roizen, esse salto, dado em um sécu-lo, é indicador de que a expectativa de vida deve chegar a 98anos em algumas décadas devido aos avanços da ciênciamédica e da instrução cada vez maior das pessoas sobre ques-

Page 29: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

5756

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

ções mais acessíveis apresentam-se, também, ameaçadas.Segundo Moreira5 :

“O processo de envelhecimento da população brasi-leira acontece sob uma conjuntura sócio-demográficaque, além das conseqüências imediatas e indiretas dasvariações nos níveis e padrões das variáveisdemográficas e aqueles outros elementos consideradosaté o momento, aponta por um enfraquecimento da basefamiliar como suporte na velhice; a erosão da basecontributiva para os programas de previdência social,em razão da ampla fração populacional alijada do merca-do de trabalho, seja pelo desemprego ou sub-emprego ea fragilidade de mecanismos institucionais de transfe-rência de renda em favor dos mais pobres. Neste senti-do, as mudanças nos arranjos familiares, envolvendodesde uma redução no número de parentes até a consti-tuição dos domicílios dos idosos, ao lado das tensõesentre o suporte familiar e as fragilizadas formasinstitucionais de suporte à velhice, por uma políticaneoliberal que coloca em segundo plano as políticas so-ciais, juntamente com os fenômenos apontados, têm queser considerados no diagnóstico e na formulação de po-líticas, projetos e ações que visam o bem estar da popu-lação idosa brasileira e a sua futura qualidade de vida.”

O padrão financeiro dessas pessoas, assim como as con-dições físicas dos empreendimentos turísticos, esses sim emfase de reestruturação para um modelo dentro do DesenhoUniversal, determinam um tipo de turismo que tende a extin-guir-se. Portanto, é preciso pensar em como essas limitaçõesde deslocamento afetarão o próprio comportamento do mer-cado e da sociedade em geral.

1.2 – O advento dos home offices e apart-hotéis para raci-onalização dos custos e do tempo.

Há mudanças perceptíveis no mercado hoteleiro: novas

- Aumento do contrato de code-sharing a exemplo do queocorre hoje na Star-Alliance que conta com um total de 2.000aeronaves, servindo 800 destinos em mais de 112 países etransportando mais do que 250 milhões de passageiros anu-almente;

- Aumento do conforto da classe econômica. Depois deanos concentrando-se no arranjo da primeira e da classeexecutivo, as empresas devem se voltar para a classe eco-nômica na tentativa de torná-la um pouco mais confortável.A American Airlines já iniciou o processo de reconfiguraçãode todas a sua frota, aumentando o espaço e conforto daclasse econômica;

- Aperfeiçoamento do yield e revenue management(gerenciamento do lucro) para aumentar a rentabilidade dosvôos;

- Criação de amenidades a bordo (computador, games,fitness, etc) para proporcionar um leque de opções de en-tretenimento maior para o passageiro;

- Superjumbos para transporte de até 1000 passageirosque deverão servir as rotas mais movimentadas (New York– Tokio, New York – Londres, etc);

- Utilização do Gerenciamento de Fluxo ou o ATFM - AirTraffic Flow Management para minimizar os gargalos deoperação nos aeroportos de maior movimento.”

Considerando-se já em 2003 a privatização das rodovias ea implantação dos pedágios, boa solução quanto à manuten-ção e apoio a esses trechos de estradas, porém com acrésci-mo no custo das viagens, também o transporte rodoviário co-meça a determinar limitações que incidem diretamente namovimentação turística. Ao considerarmos que a maioria dapopulação idosa brasileira (e até mesmo a mundial, informa-ção a ser confirmada) não tem condição financeira suficientepara viabilizar viagens de longa distância e duração, as solu-

Page 30: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

5958

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

praticidade e facilidade de manuseio.

Porém, essa é uma solução de alto custo, não ficando com-patível com a realidade da maioria dos brasileiros, em especialdos aposentados. Mas outra solução, mais operacional do quefísica, veio compensar esse desgaste de poder aquisitivomaximizado nos últimos anos: a recente mudança de posturaprofissional, a partir do advento da Internet, possibilitou quehouvesse a produção profissional à distância, flexibilizandoespaços, resolvendo problemas familiares, principalmente demulheres com filhos pequenos, e reduzindo o custo de deslo-camento diário à empresa, tanto em transporte quanto em im-pactos ambientais, o que afeta positivamente toda a comuni-dade. Produz-se mais e melhor, e o tempo livre que pode serdedicado ao lazer e ao aperfeiçoamento profissional tambémcontribui para a melhoria na qualidade de vida dessas pesso-as. Portanto, há aqui duas alternativas importantes e que afe-tam diretamente o espaço residencial e suas possibilidades.

Podemos remeter as vantagens do home office também aosindivíduos aposentados, que podem continuar ou, até mesmo,criar novas atividades intelectuais. Além disso, agilizam suasvidas através de diversas comodidades, que vão de serviçosbancários a pedidos de refeições, sem esquecer do importan-te contato com parentes e amigos como coadjuvante contra asolidão.

1.3 - A tecnologia como meio de garantir conforto e segu-rança aos espaços destinados ao idoso.

Essas pessoas que usufruirão dessa nova visão da ativida-de turística, como já acontece com o pequeno, porém cres-cente, grupo que já a pratica, determinam um nível de exigên-cia que se baseia na constante evolução da tecnologia, sejaela relacionada ao mobiliário, aos tecidos ou aos sistemas eletro-eletrônicos de áudio, vídeo e iluminação. Assim sendo, desdeo momento em que se busca uma opção de destino turístico,passando pela operacionalização desse processo até o em-

abordagens estão sendo discutidas a respeito dos meios dehospedagem. Estudos comprovam que:6

“- No Brasil é esperado o crescimento de hotéis de três e qua-tro estrelas para suprir as necessidades desse tipo de esta-belecimentos;Fim do luxo exacerbado e dos megaempreendimentos hote-leiros;O luxo, sinônimo de alto custo será substituído pela elegân-cia, sinônimo de criatividade;Quartos dos hotéis equipados com vídeo, cd player, tomadapara laptop, carregador de bateria de celular, escritório virtualpara o atendimento das necessidades do turista de negócios;Hotéis, mesmo os mais simples, equipados com fitnesscenter, personal trainers, menus balanceados e dietéticos emenus sob medida a pedidoAmbientes concebidos com simplicidade e bom gosto dentrodo conceito “sua casa longe de casa”;Comprometimento cada vez maior do hotel com o entorno,onde estiver inserido, servindo como espaço cultural e de or-ganização de eventos para a comunidade local;Competição mais acirrada dos meios de hospedagem parase posicionar num mercado com crescente oferta de vagas.”

Já faz alguns anos que as habitações complementadas porserviços hoteleiros conquistaram o mercado, abrigando profis-sionais em períodos de estadia temporária, pessoas solteirasou descasadas e, mais recentemente, casais ou indivíduos daterceira idade. Aliás, Le Corbusier já preconizava em seus arti-gos publicados em “Por uma Arquitetura” que, em 1922, “osdomésticos estão ficando raros”, sugerindo que condomínioscom serviços de manutenção cotizados seriam inevitáveis. Trazuma economia no tempo dedicado à manutenção da unidadehabitacional e provoca uma flexibilização do espaço através douso de equipamentos móveis mais leves e fáceis de transpor-tar. Além disso, a evolução tecnológica permitiu a compactaçãode máquinas, especialmente na cozinha, gerando mais

Page 31: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

6160

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

única forma de ajuste possível e conseqüente atualizaçãodesse conforto.1.4 - A transitoriedade do habitar ou a habitação portátil:quando até a tecnologia é descartável.

Freqüentemente comento com os meus alunos de ProjetoArquitetônico sobre a necessidade de refletirmos quanto aosnovos sistemas construtivos que as inovações tecnológicasoferecem. A busca por materiais e técnicas mais leves e per-feitos, com o intuito de acelerar o processo construtivo, com-prova que o nosso habitar tornou-se mais consumível, poispassa a ter uma vida útil menor e mais sujeita aos desgastesprovocados pela natureza e pelo uso. E interfere diretamentena forma como as pessoas se acomodam nesse espaço, eli-minando divisórias, resumindo eletrodomésticos e readeqüandoas dimensões dos móveis básicos.

A própria inserção de novos equipamentos eletrônicos,facilitadores à nossas ações, passam a ser necessidades queadquirimos por força de valores repensados, tais como o usodo tempo livre, a racionalização das atividades domésticas emudança nas relações sociais. Passamos a nos proteger dospossíveis invasores e nossas possibilidades de relacionamen-to com os vizinhos diminuem: muros altos, cercas eletrifica-das, sistemas de segurança.

Tecnologia a favor da praticidade: equipamentos eletrodo-mésticos compactos e eficientes, conforto ambiental atravésdos artifícios de criação do clima mais conveniente e racionali-zação do uso da cozinha por sistemas de congelamento, coc-ção por microondas e fácil eliminação de resíduos indesejá-veis. Aparelhos de TV maiores, com tecnologia de transmis-são a cabo, na tentativa de substituir as salas de cinema ecomputadores com programas que permitem o acesso ins-tantâneo às informações e às pessoas em qualquer parte domundo: ócio criativo (Domenico de Masi) que provoca a ne-cessidade de mini-academias dentro de casa.

Não é de hoje que países que se caracterizam pelo consu-

barque, quando efetivamente começa a experiência, muitosdispositivos devem garantir aos indivíduos idosos que mante-nham um nível de qualidade de vida que lhes permita essesdeslocamentos.

Não só o financeiro e o físico devem ser fatores determinantesde uma vida saudável, mas, também, e principalmente, o emo-cional, que pode ser equilibrado através de boas condições dehabitabilidade e prazer nos espaços de moradia. Tal situação ésempre alcançada pelas novas descobertas e aperfeiçoamen-tos tecnológicos, que surgem conforme são demandadas asnecessidades do mercado.

“Através da história, a arquitetura tem tanto acomodadoquanto restrito os comportamentos das pessoas. Daí que nãoé surpreendente que tenha havido considerável discussão dapesquisa comportamental aplicada ao projeto arquitetônico.”7

Hoje já contamos com dispositivos eletrônicos que possu-em sensores inteligentes para captar sinais de fumaça, exces-so de sol, economizar energia e até identificar os usuários daresidência pela voz. Os aparelhos eletrônicos ficam cada vezmais leves e menores, e o aumento do seu consumo determi-na também uma redução do custo para compra. Diversos dis-positivos acessórios facilitam o manuseio de móveis, além derevestimentos mais fáceis de manter e que também reduzemo trabalho doméstico. Os meios de comunicação tornam-se acada dia mais versáteis e acessíveis, possibilitando até as ope-rações bancárias, entregas rápidas a domicílio e outras facili-dades, inclusive a educação à distância.

O aproveitamento da energia solar, do gás natural e oreaproveitamento de águas servidas tornaram-se indispensá-veis para a redução de consumo dos recursos naturais, poisé irreversível a necessidade de basearem-se as fontes deenergia em outros princípios que não sejam somente os quedependem de petróleo ou de recursos hídricos. Pensar emconforto e segurança, hoje, significa considerar os avançostecnológicos constantes e a descartabilidade que eles im-põem. Portanto, flexibilidade nos espaços residenciais é a

Page 32: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

6362

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

dos, cuidados e apreciados como verdadeiras obras de cria-ção: não há apego, apenas deleite fugaz. Se não há valoresque justifiquem a permanência, se a convivência social não seamplia, se os equipamentos são descartáveis, não é difícil ima-ginar que o habitar pode tornar-se transitório e o pouco a quenos apegarmos poderá nos acompanhar com facilidade, poiso portaremos.

Assim, um novo turista se configura, aquele que busca des-tinos a visitar e permanece lá até desejar novo, pois não há oque justifique não mudar. Se mesmo trabalhando pode mudar-se, pois pode manter o contato virtual de qualquer lugar ondehaja eletricidade, e considerando o advento da medicina pre-ventiva que estimula a exames rotineiros de verificação dascondições de saúde, a liberdade de escolha torna-se acessívele possível, e o custo dessas escolhas pouco se modifica, poisnão deixam despesas permanentes pendentes. Essa transito-riedade determina uma associação da atividade turística como próprio habitar permanente, criando alternativas que estarãorelacionadas com o lazer e as necessidades de preenchimen-to do tempo livre. Pode ser uma tendência: possível, viável,provável....

2 - As sensações espaciais e a exposição à violência: acidade como um grande shopping center.

A psicologia e a arquitetura têm buscado, em estudosrecentes, quais as relações sensoriais dos indivíduos inseri-dos em espaços, quer sejam particulares, quer sejam públi-cos. Criou-se uma matéria já denominada Psicologia Ambientale que desenvolve pesquisas sobre a percepção sensorial, ana-lisando-se o bem-estar do usuário nesses espaços. Sabe-seque os estímulos provocados por cores, texturas, sons, odo-res e sabores podem trazer a quem os experimenta as maisdiversas sensações, que são codificadas de acordo com suasexperiências anteriores, além da cultura adquirida no meio fa-miliar e social. Existe, então, a determinação de preferências

mo resolvem economicamente a moradia de classe média atra-vés de kits de montagem escolhidos por catálogos. Mesmo naárea de hospitalidade temos um exemplo marcante, apresen-tado pela rede Accor através dos seus hotéis Formule 1, queusam racionalização e a flexibilidade de espaço produzidos porsistemas de montagem com painéis leves. Porém, a agilidadeque tal solução confere à construção representa também a fra-gilidade desse objeto, pois usam materiais leves, facilmentesubstituíveis e com algum problema de acústica, o que aumentaa hipótese de rumarmos para soluções de morar sempre emsituações transitórias e sem qualquer apego com os objetosque compõem esses espaços. O equipamento que compõeesses apartamentos, também, demonstram a tendência à ra-cionalização, conforme relato de experiência do jornalistaFernando Souza8 :

“A cama de casal fica na transversal de quem entra, deixan-do um espaço de circulação que dista meio metro da parede.Tem uma escrivaninha, uma cadeira, uma TV de 14 polegadas(com cinco canais por assinatura), janela e um cabideiro semportas. Uma escadinha azul com degraus tubulares leva aoalto do beliche. O espaço é bem aproveitado. (...) Há uma piae, em portas separadas, sanitário e chuveiro... (...) Telefone noquarto não tem. Existe um aparelho público no corredor de cadapavimento. Nos andares ímpares, puseram-se máquinas deauto-atendimento, com café, refrigerantes, salgadinhos e cho-colates. No hall do térreo, pode-se acessar a internet...”

Outro aspecto importante para a diminuição dos custos re-fere-se ao serviço oferecido: não há carregadores, o café damanhã é pago à parte, usando utensílios descartáveis e numasala confortável mas despojada. A vaga na garagem também épaga, a diária compreende o uso do apartamento para até trêspessoas e tudo é pago antecipadamente.

Até mesmo jardins, montados a partir de mudas desenvol-vidas em estufas podem ser refeitos a qualquer tempo, e nãohá aquele acompanhamento que existia quando eram semea-

Page 33: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

6564

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

fazê-lo com quem estava dentro, criando limites aos cincosentidos.

Além disso, essa opressão causou a necessidade de artifí-cios que amenizassem essa sensação de desamparo edesproteção, e o comércio passou a concentrar-se em ruasfechadas, cobertas e guardadas, imitando praças e criandoclimas ideais. Assim passou também a acontecer com os ser-viços e, pouco a pouco, com o lazer. E as cidades originais,expostas mas sinceras, que não determinam padrões de apre-sentação e nem selecionam seus usuários, passam a pedirsocorro, pois temem não sobreviver. O comércio passa a abu-sar das placas, gritando para ser ouvido, e cria ruídos na com-preensão das mensagens. Segundo Almeida Prado10 :

“A conquista da autonomia e da independência é uma dascaracterísticas da cidadania e parte desse processo tem rela-ção direta com o bem-estar do indivíduo no meio em que elevive.”

Esse desafio aos governantes municipais provocou a revi-são dos conceitos e, associados a entidades que se reunirampara discutir a cidade, passaram a pensá-la estimulante, masnão despersonalizada, revitalizando praças e ruas através deequipamentos e sistemas de sinalização mais condizentes comas expectativas dos cidadãos contemporâneos e de acordocom as características regionais, num resgate de cultura paramanutenção das especificidades. O conceito de shoppingcenter transfere-se para a cidade, mas a segurança ainda re-presenta um elemento inibidor aos passeios descontraídos, poiscalçadas estreitas, em ruas de alto fluxo, iluminação inadequa-da e falta de policiamento acabam por reduzir o prazer da ex-periência do passear.

Caminhar é um dos exercícios mais recomendados paratodas as faixas etárias, e se essa ação de caminhar for asso-ciada a exercícios mentais de leitura em vitrines, conversascom amigos, alimentação saudável e outros motivos, as pes-soas com tempo livre o ocuparão de modo sadio e proveitoso,ampliando seu prazer na convivência social. Os indivíduos da

que estabelecerão os aspectos de conforto ambiental,equacionados de acordo com as características de cada indi-víduo, considerando-se faixa etária, padrão sócio-econômico,origem étnica e cultural, dados antropométricos e de saúde,enfim, códigos que tornam cada pessoa um ser único e capazde perceber de modo único.

“Muito da moderna arquitetura tem assumido que comodi-dade + firmeza = prazer. No entanto, se aceitarmos o modelovitruviano, o prazer parece ser composto tanto da estética “for-mal” quanto da estética “simbólica” e também “comodidade”associada a comportamento espacial, em todas as suas ma-nifestações.”9

Mas há motivos que transformam essa equação fundamen-tal: situações traumáticas, alterações emocionais, submissãona convivência social. E esse pode ser o ponto que resuma,atualmente, o surgimento de diversas novas doenças associa-das ao medo gerado pela violência urbana, oprimindo a liber-dade de expressão, acelerando a passagem por percursosagressivos e impedindo experiências satisfatórias de percep-ção do espaço das cidades. E isso foi levado para o âmbitoprivado, pois os muros altos, as grades nas portas e janelas,as muitas formas de trancar quem estava fora acabaram por

Page 34: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

6766

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

sei a buscar informações sobre os clusters e seu processo deformação, com o intuito de perceber se haveria (ou não) a pos-sibilidade de evolução para possíveis agrupamentos de ativi-dades relacionadas ao lazer, à saúde e ao crescimento cultu-ral que poderiam ser oferecidos em aglomerados habitacionaisque favorecessem uma vida confortável e segura às pessoascom mais de 60 anos de idade ou que estivessem na condiçãode portador de necessidades especiais. Seriam como centrosprodutivos de assistência basicamente a pessoas idosas, masque estariam vivendo nessa comunidade com o atendimentode todas as suas necessidades mais prementes, inclusive ade estações de embarque para o transporte a outras localida-des ou áreas da cidade. Tal situação aplicar-se-ia, logicamente,às mega-cidades como São Paulo, Nova Iorque, Tóquio ououtras nesse porte. Mesmo nos raros exemplos que encontra-mos no Brasil, há a preocupação com a inserção no meio ur-bano, sem a alienação a essa dinâmica, conforme é anuncia-do no site do Residencial Santa Catarina, em São Paulo:

“A privacidade de um apartamento, o conforto de um hotel,os cuidados de um spa, o lazer de um clube, a comodidade deestar pertinho da avenida Paulista.”12

Percebi que, mesmo considerando estruturas habitacionaiscom apoio de hotelaria, em unidades de pequenas, mas con-fortáveis dimensões, e com todo o potencial tecnológico que omercado oferece diariamente, essa é uma visão reducionistae preconceituosa, já que, ao invés de oferecer conforto e segu-rança, estaria criando uma segregação mascarada pela hipo-crisia de tratar essas pessoas de maneira igual e massificada,como num grande resort, só que permanente. Não oferece aconvivência múltipla nem as experiências ricas que a cidadecompleta permite vivenciar, portanto não tem sentido comosolução aceitável.

2.2 - O turista idoso com raízes frágeis e buscando moti-vos para manter-se vivo e participativo.

terceira idade são consumidores potenciais de produtos ofere-cidos nas ruas em lojas ou mercados, pois a procura pode setornar uma atividade prazerosa, porém a ameaça perpetradapela falta de segurança os afasta dessa experiência. De acor-do com Moreira11 :

“O mais elevado crescimento da população urbana vis-à-vis o incremento da população rural resulta em um processode urbanização do envelhecimento populacional. O processode concentração dos idosos nas áreas urbanas é mais visívelem termos absolutos, pois acompanha o movimento geral deurbanização da população. Em termos relativos, a urbaniza-ção do envelhecimento é amortecida pelo fato de que as popu-lações rurais apresentam níveis de fecundidade mais eleva-dos do que as populações urbanas e, conseqüentemente, es-truturas etárias mais jovens, que são exportadas para as áre-as urbanas através da migração, retendo os contingentes maisidosos, apresentando, assim, populações relativamenteenvelhecidas.”

Como analisar essa situação da virada do século XXI ecompreendê-la nessa proposta de hospedagem de idosos? Acidade não deveria ser ameaçadora, mas é. Os indivíduos nãodeveriam ser reféns de suas próprias moradias, mas são. Pen-sar o habitar nas cidades sem esse impacto é o desafio a serenfrentado.

2.1 - Clusters como hipótese inicial e razões p/ não per-sistir: estímulo à segregação etária?

Na primeira reflexão sobre a consistência do tema que es-colhi para desenvolver como tese de doutorado, percebi quehavia um aspecto fundamental do turismo que poderia com-prometer qualquer sistematização de dados antropométricose comportamentais dos idosos que viajam, e por um motivomuito simples: a dinâmica da sociedade da informação, quemuda rapidamente e, cada vez mais, tornam descartáveis atémesmo os relacionamentos....

Analisando possíveis rumos a partir desta perspectiva, pas-

Page 35: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

6968

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

res quer seja pela convivência com outras pessoas com ca-racterísticas semelhantes. As cobranças familiares de convi-vência e controle já existem em graus bem menos significati-vos e, portanto, já não exigem mais encontros constantes.

Além disso, conforme foi exposto no item 1.1.4, o apego aobjetos e lugares está muito menor e o mercado oferece, cadavez mais, produtos consumíveis e descartáveis, fragilizandoas relações do homem com seus objetos, ficando as lembran-ças restritas a registros fotográficos, hoje também digitalizados.Podemos transportar nossas lembranças onde quer que nosinstalemos, e nossa personalidade pode ser representada demodo quase cenográfico, como uma montagem de caráter tran-sitório e limitado.

Além disso, o consumo do produto turístico assim pensadogera um outro prazer que hoje existe em empreendimentosque praticam o sistema de tempo compartilhado ou timesharing: períodos de média duração, com propriedade da uni-dade no imóvel naquela temporada e podendo comercializá-la,geralmente em hotéis localizados em estâncias hidromineraisou praias. Há mais tempo para decidir como e onde utilizaresse tempo, criando condições mais prazerosas ao adaptar-se o tempo utilizado ao ritmo de cada indivíduo. Mais ainda, aliberdade de mudar a qualquer momento sem estar atrelado aum programa pré-determinado e nem subjugado às decisõesde um grupo guiado. Os meios de informação ágeis ora dispo-níveis dão conta de estimular novos programas e meios devisitação, com independência e adequação ao orçamento des-ses indivíduos.

Portanto, ao invés de pensar a estadia em temporadas nes-ses empreendimentos, podemos imaginar possíveis passagenspor eles no caminho para novos destinos, ou seja: temporadasem lugares diferentes, sem considerar o retorno para “casa”,já que ela é, agora, o lugar onde se está, e não há a necessida-de do retorno, mas a ampla e variada possibilidade de novoslugares. Pressupõe-se a oferta do serviço, e não mais a propri-

O filme COCOON (1985 - Produção de Steven Spielberg edireção de Ron Howard) narra a estória de alienígenas queteriam vivido na Terra há milhares de anos, na LendáriaAtlântida. Obrigados a abandonar o planeta às pressas, dei-xam alguns de seus companheiros em “Cocoons” no fundodo Oceano em animação suspensa e são transferidos a umapiscina antes de serem levados para a nova morada. Porém,moradores de um asilo vizinho à casa onde estavam os“Cocoons” depois de resgatados, descobriram que a água dapiscina que os mantinham conservados possuía poderesrejuvenescedores, gerando o dilema entre a vida dosalienígenas e a saúde daquelas pessoas. Os personagensidosos que participam da trama demonstram estarem bus-cando objetivos que resgatem seu prazer com a vida e, aoreceberem a energia extra, passam a exercer atividadesprazerosas, mas já abandonadas em função das suas fragili-dades físicas. Apenas um mantém-se distante e, justamente,é o que não mergulha na piscina especial, pois não desejacontinuar vivendo por muito tempo. Estranha a mudança re-pentina na atitude dos amigos e é nesse contexto que o temacentral, o desânimo com a degeneração natural do organis-mo, determina aspectos importantes para reflexão.

As perdas naturais ao longo da vida: companheiros quemorrem, a falta de atividade produtiva e reconhecida atravésdo sucesso e da remuneração e, até mesmo, a diminuiçãoda capacidade física de mover-se, ver e ouvir pode trazerfrustrações que muitas vezes levam a processosdepressivos e à falta de vontade de viver. Também as rela-ções familiares e sociais apresentam condições nem sem-pre favoráveis à mudanças: na década de 50 as mulheresprocuravam um espaço além do âmbito dos seus próprios la-res e já passavam a determinar mudanças de comportamen-to (ANEXO I). A atividade turística tem demonstrado ser muitoatraente àqueles que redescobrem interesses e motivações,quer seja pela experiência de visitar e conhecer novos luga-

Page 36: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

7170

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

qüente disputa por honorários mais gratificantes...), como tam-bém as dificuldades de deslocamento, que os custos das via-gens têm gerado, faz-nos pensar sobre o advento dessa for-ma de conhecer lugares, e não apenas por imagens e sonslimitados em pequenos aparelhos eletrônicos. Para quem de-sejar lugares longínquos e não possuir rendimento compatívelcom os custos que seriam gerados, tal recurso poderia satis-fazer essa necessidade e por um prazer semelhante, mesmoartificial. Todos os sentidos deveriam ser satisfeitos, e a me-mória da experiência armazenada, mesmo que por um brevetempo. Construir registros pictográficos já não se constitui ummistério, a partir dos softwares de fotografia e construção deimagens, já amplamente utilizados.

No que tange às necessidades dos idosos, somam-se aosargumentos anteriormente citados motivos para preenchimen-to do tempo livre e a criação de objetivos para manterem-seauto-estima e equilíbrio emocional, já que a longevidade emfranco crescimento fará com que surjam aqueles indivíduossaudáveis fisicamente, mas fragilizados pela espera do fim, senão direcionarem suas intenções para atividades produtivas,quer sejam relacionadas a praticar a fé, quer sejam saciar so-nhos. Não se podem descartar hipóteses como essas...

2.4 - As acomodações turísticas e as perspectivas de pro-jeto dentro do conceito de Desenho Universal.

Nessa fase de conjecturas, sinto-me impelida a buscar pre-cedentes notáveis quanto a instalações hoteleiras e habitaçõesdestinadas a acomodar comunidades da terceira idade. Háexemplos importantes espalhados pelo mundo, assim comohá novas iniciativas na busca de soluções mais arrojadas eadequadas ao público idoso contemporâneo.

Considerando o aumento da longevidade, causado pelamelhoria da saúde através dos avanços da medicina, a capa-cidade física das pessoas também melhorou, o que estimulaainda mais a busca por atividades que preencham o tempolivre e determinem um complemento de experiências que dêem

edade, tal como funcionam nos serviços de um apart-hotel.Como ficar deprimido numa perspectiva de vida assim?

2.3 - O “turismo” virtual como produto para uma socieda-de das experiências descartáveis.

Baseado num conto de Philip K. Dike, chamado “We CanRemember It For You Wholesale”, foi realizado um filmeprotagonizado por Arnold Schwarznegger, Total Recall (1990 –Dirigido por Paul Verhoeven e escrito por Ronald Shusett), ondeo personagem comprava um pacote de viagem virtual e adqui-ria, também, um chip a ser implantado no seu cérebro, que omanteria com a memória de todas as sensações advindasdessa experiência. Já Woody Allen protagonizou em Sleeper(1973 – Dirigido por Woody Allen e escrito por Woody Allen eMarshalll Brickman) um personagem, Miles Monroe, que vivia200 anos no futuro e que utilizava equipamentos que supriam ocontato físico para a satisfação de suas necessidades eróti-cas, preconizando os prazeres virtuais quando os computado-res pessoais ainda eram um sonho ou um argumento de fic-ção científica. Esses autores, visionários ou, simplesmente,criativos, anteviram meios de usar máquinas como dispositi-vos para satisfação de desejos, de modo racional, prático esem riscos.

Em ambos algo inesperado derruba essa certeza, e um novosentido deve ser tomado em prol da naturalidade das experiên-cias reais. Porém, tal como preconizado nesses filmes, discu-tem-se temas como escassez de recursos, mudanças de com-portamento e aceleração da sociedade, premida pela urgênciade informações que os meios rápidos de comunicação gera-ram. Tal aceleração, mais do que exigir velocidade física, qua-se obriga aos consumidores que se mantenham sempreatualizados quanto a tendências, rumos da economia global etransitoriedade dos relacionamentos sociais, fragilizando asraízes desses indivíduos e o contato com seus lugares de atu-ação.

Assim, não só a competitividade profissional (e a conse-

Page 37: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

7372

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

ações faz parte de um processo visto como um caminho semvolta.”14

O Desenho Universal atenderá as exigências que garantama inclusão física de quaisquer indivíduos nesses espaçosprojetados, mas certamente não garantirá a interação, já quedepende de outras questões de matriz cultural, que dependerásempre do público alvo a quem se destina o empreendimento.

Bibliografia:ALMEIDA PRADO, Adriana Romeiro de (coord.). Município Acessível

ao Cidadão. São Paulo: Fundação Prefeito Faria Lima – CEPAM,2001, 276 p.

BARROS, Cybele F. M. de. Casa Segura – uma arquitetura para amaturidade. Rio de Janeiro: ed. Papel Virtual, 2000, 115 p.

LANG, Jon, BURNETTE, Charles, MOLESKI, Walter, VACHON, David.Questões Emergentes em Arquitetura. Acesso em abr./2004.

In: http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/cadernos_eletronicos/questoes_emergentes/questoes.pdf

LEOPOLDO, Ana Maria & MENAI, Tânia. Jovem dos 30 aos 60 anos.São Paulo: ed. Abril, revista Veja, ed. 1806, 11/06/2003.

MOREIRA, Morvan de Mello. Envelhecimento da PopulaçãoBrasileira: aspectos gerais. In: http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/PDF/1998/a252.pdf

SOUZA, Fernando. O hotel de R$ 39,00. São Paulo: ed. Abril, revistaVeja SP, 22/08/2001, p. 29 e 30.

YASOSHIMA, José Roberto & OLIVEIRA, Nadja da Silva. Turismo naSociedade Pós-Industrial: tendências e perspectivas.

In: http://www.abbtur.com.br/CONTEUDO/trabalhos/trab05.htm

NOTAS:1 YASOSHIMA & OLIVEIRA – Turismo na Atividade Pós-Indus-

trial: Tendências e Perspectivas.

2 MOREIRA, Morvan de Mello – Envelhecimento da Popula-ção Brasileira: Aspectos Gerais.

3 LEOPOLDO & MENAI – Jovem dos 30 aos 60.

sentido à vida das pessoas. Assim como se explica que o tu-rista que se afasta do seu contexto social e assume atitudescompletamente opostas, tais como usar roupas muito diferen-tes (até ridículas), participa de programas que não aceitarianormalmente e, aparentemente, muda sua personalidade, aspessoas que deixam uma rotina profissional de muitos anos, emesmo as que convivem diretamente com elas, necessitamrelaxar quanto às cobranças impostas para que seja mantidoum nome, uma atitude, um currículo. Espaços concebidos apartir da variedade de necessidades que esses indivíduos tra-zem consigo podem atender a esse anseio por bem-estar. Aarquiteta Cybele Barros desenvolveu um trabalho sobre a ar-quitetura para a maturidade13 :

“É interesse do setor técnico que os projetos das moradiase das áreas de comércio, indústria e de serviços atendam àsnecessidades dos usuários, fornecendo condições dehabitabilidade e de trabalho que permitam o melhor aproveita-mento com o máximo conforto, praticando custos compatíveiscom estas necessidades. Neste aspecto toma força e se im-põe firmemente a adoção de parâmetros construtivos que aten-dam ao conceito de Desenho Universal, onde diretrizes e indi-cadores balizam as condições adequadas para o pleno atendi-mento às necessidades da população atual como um todo.”

Assim, analisar hotéis que recebem públicos de faixas etáriasvariadas e, com a mesma sistematização, analisar condomí-nios concebidos e ocupados para a terceira idade, certamentetrará informações importantes quanto às condições recomen-dáveis para cada atividade, ou mesmo, à fusão delas. Quantoà acessibilidade, atender a esses requisitos de modo a garan-tir segurança e conforto é uma prioridade que já faz parte in-contestável de qualquer análise espacial quanto a recomenda-ções de projeto arquitetônico.

“A importância de adequar os espaços a todas as pessoasvem sendo gradativamente absorvida pelos responsáveis pelacriação de espaços, objetos e produtos. Esse conjunto de

Page 38: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

7574

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL: O PARADIGMA DO AMBI-ENTE CONSTRUÍDO SUSTENTÁVEL

Marta ROMERO, Arquiteta, Doutora;

Daniela Diniz, Arquiteta, Mestre;

George Da Guia.

Programa de Pós Graduação – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Universidade de Brasília – UnB – ICC Norte 70910-900 – Tel 307 2454

[email protected]

RESUMO

Este trabalho apresenta projeto estabelecido em quatro ci-dades, duas capitais brasileiras e duas cidadesestadunidenses. O objetivo principal consiste, no desenvolvi-mento e na aplicação de teorias instrumentais para o ensino epara a formação de arquitetos e urbanistas que contribuam parao conhecimento e para a identificação das necessidades reaisda comunidade, seus interesses e formas de participação, ena incorporação desses conhecimentos aos programas degraduação de arquitetura. Com particular enfoque nos desen-volvimentos local e global, o modelo de interação multidisciplinare transdisciplinar, com inscrição de rede acadêmica internaci-onal, tem oferecido uma plataforma única para a elaboraçãode indicadores de sustentabilidade. Ao enfocar cidades de dife-rentes regiões, em distintos estágios de desenvolvimento e comparticulares antecedentes sócio-econômicos, o trabalho tempropiciado uma melhor compreensão das similaridades e dasdiferenças relacionadas às diretrizes, aos desafios e àspotencialidades para uma definição de projeto e para um ambi-ente construído sustentável. Embora cada local estudado en-frente desafios particulares e apresente forças atuantes comdiferentes capacidades, já identificamos um importante elemen-to comum, indutor da exclusão, do desperdício e do extermíniode recursos: a inadequada formação técnico-profissional. Apartir de relações de troca comunitária, habilita os alunos dearquitetura e urbanismo a distinguir e a resolver as necessida-

4 Yasoshima e Oliveira in Turismo na Atividade Pós-Industrial:Tendências e Perspectivas.

5 MOREIRA, Morvan de Mello – Envelhecimento da Popula-ção Brasileira: Aspectos Gerais.

6 YASOSHIMA & OLIVEIRA – Turismo na Atividade Pós-Indus-trial: Tendências e Perspectivas.

7 LANG, Jon, BURNETTE, Charles, MOLESKI, Walter,VACHON, David. Questões Emergentes em Arquitetura, p. 12.

8 SOUZA, Fernando – O hotel de R$ 39,00 (Revista VEJA SP)

9 LANG, Jon, BURNETTE, Charles, MOLESKI, Walter,VACHON, David. Questões Emergentes em Arquitetura, p. 14.

10 ALMEIDA PRADO, Adriana R. de – Ambientes Acessíveis inMunicípio Acessível ao Cidadão.

11 MOREIRA, Morvan de Mello – Envelhecimento da Popula-ção Brasileira: Aspectos Gerais.

12 Site do Residencial Santa Catarina na internet - http//:www.residencialsantacatarina.com.br

13 BARROS, Cybele – Casa Segura: uma arquitetura para amaturidade.

14 ALMEIDA PRADO, Adriana R. – Ambientes Acessíveis inMunicípio Acessível ao Cidadão.

Page 39: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

7776

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

Em estudos anteriores (Romero, 1996, 1999, 1999 a), de-tectamos, que no processo de periferização, o ato de degradaro urbano decorre, muitas vezes, de lacunas na caracterizaçãoda demanda (necessidades e intenções) e de imperícias técni-cas no desenvolvimento da intervenção (ações e propostas);por exigirem reflexão, constituem um singular material paraestudos críticos e, principalmente, para a elaboração de situa-ções propícias à criação, à formulação e à renovação da situa-ção a ser diagnosticada e resolvida pelo projeto arquitetônico.Citamos, à guisa de exemplo: partidos urbanísticos que emnada lembram os assentamentos de origem; alteração dasrelações entre as escalas pública e privada, e conseqüentesupressão da escala semi-pública; implementação de siste-mas viários excludentes, determinando a utilização majoritáriado automóvel para deslocamentos cotidianos; vulgarização daprevisão de equipamentos comunitários etc.

É na lógica do “consumo urbano” que alguns conceitos di-retamente afetos ao exercício do arquiteto são elaborados: apobreza é associada ao baixo desempenho educacional; a fal-ta de escolaridade é convertida em causa da degradaçãoambiental; os baixos padrões de vida são devidos à limitadacapacidade de iniciativas de amplos setores da população; sercidadão passa a ser sinônimo de pessoa provida de educaçãoformal. Esta ideologia resgata a educação como fonte de novoiluminismo. Neste contexto, proliferam teorias que colocam oconhecimento, a comunicação ou a informação no centro davida social.

A educação à distância tem sido evocada como solução paragrande parte das carências do homem contemporâneo. Novosimplementos técnicos – chats, cursos on line, vídeo aulas etc -potencializam o ensino formal à distância, reforçando esteconceito. Sugerem a intensificação do esforço educacional e aampliação do seu alcance social. As tecnologias educacionaisdão a crer que possam atenuar disparidades em várias partesdo mundo. O ensino da arquitetura e do urbanismo, particular-

des de habitat da “população periferizada”, contando com oconhecimento e os recursos dessa mesma população. Aconcretização de canais que sistematizem trocas de informa-ções, associados a mecanismos participativos de interlocuçãoe inclusão técnica, tem facilitado na identificação e no atendi-mento das necessidades das comunidades, bem como noapoio ao desenvolvimento de suas potencialidades, além de,paradoxalmente, resgatarem as qualidades do lugar, atenua-rem, em médio prazo, os impactos da ocupação urbanadesordenada e reduzirem, em curto prazo, os desperdíciosgerados pelos deslocamentos intra-urbanos. Complementa aformação acadêmica do estudante ao configurar e ao tentarresponder às demandas das parcelas de moradores excluí-dos. Palavras chave: Capacitação profissional –Sustentabilidade – Urbanismo – Educação – Habitat.

1. APRESENTAÇÃOA intensificação dos níveis de danos e de comprometimento

ambiental no País é visível. O território do Distrito Federal, apósdécadas de urbanização de terras públicas, não escapa destequadro crítico, particularmente nas áreas afetadas por umaurbanização de natureza periférica, caracterizada pela reduçãoda qualidade de vida, fruto de planos e de desenhos urbanosinsatisfatórios. A população pobre e ignorante (de seus direitose de como lidar com a imposição de um desenho urbanodesestruturador da sua comunidade, mas com muito conheci-mento prático de sustentabilidade na região do cerrado)distribuída ao longo de periferias das capitais brasileiras, nãoconsegue ver suas necessidades de habitat espelhadas noambiente construído em que mora; mesmo destituída de ca-nais de expressão competentes, ainda que despojada de vo-cabulário, de recursos físicos-financeiros e de competênciatécnica, atua intensamente sobre o ambiente urbano. Ao nãoencontrar respostas arquitetônicas às suas demandas, acen-tua o processo contínuo de degradação e de desfiguração dosambientes locais iniciado pelo Estado.

Page 40: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

7978

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

relações complexas que se manifestam nas condutas profis-sionais de arquitetos e urbanistas: incerteza, imprevisibilidade,multiplicidade. Diferenciam-se, portanto, de um mero saberoperacional, implicam o abandono do sonho de uma “fórmulaúnica” e demandam a convivência com os sujeitos em seushabitats. Ao “mal-estar na cultura”, onde a técnica tem levado àuma alienação, procura-se interpor um “tempo lento”, quandoo contínuo refazer leva à manutenção do ambiente por força de“rituais de cooperação”.

Para oferecer à comunidade – acadêmica e social – o exer-cício da cidadania, faz-se necessário sinalizar os caminhos eos mecanismos metodológicos. Relacionar Ensino e Direitotalvez seja a principal característica de um processo atípico esingular, que denominamos de “projeto comunitário sustentá-vel”.

1.1 Projeto comunitário sustentávelÉ importante e indispensável salientar que um projeto co-

munitário sustentável não visa desenvolver padrões ou siste-mas de construção que dialogam, hermeticamente, com o de-senho. O projeto comunitário sustentável é algo além do objetoconcreto. Ele busca estudar os caminhos da conscientizaçãoambiental. Assim, seguindo uma metodologia desenvolvida pelaconvivência com os sujeitos em seus habitats, e com a identi-ficação de suas necessidades mais imediatas, é iniciado umprocesso de aproximação da equipe – professores e alunos –com os moradores e, em seguida, da interação de ambos nodesenvolvimento da proposta e na execução da obra.

O projeto comunitário é observado como atividade comple-mentar ao projeto pedagógico que se configura na inserção doaluno, em qualquer período do curso de arquitetura e urbanis-mo, para a realização de programas, ações, projetos e obrasque façam uma dimensão social explícita, a ser desenvolvidapor práticas profissionais que impactem, concretamente, apopulação carente das periferias urbanas.

mente o de projeto, tem se voltado, desde muito, para práticase didáticas que reforçam essa lógica de ênfase em sujeitos eem objetos, desvinculados do cidadão brasileiro. Novastecnologias vêm incrementar, ainda mais, uma tendência quejá é antiga.

Diferentemente de uma “clássica” proposta de ensino à dis-tância, nossos propósitos têm um duplo enfoque:

- Por um lado, a partir de relações de troca comunitária,habilita os alunos de arquitetura e urbanismo a distinguir e aresolver as necessidades de habitat da “populaçãoperiferizada”, contando com o conhecimento e os recursosdessa mesma população. Em um primeiro momento, o exer-cício acadêmico, respaldado na realidade factível, explicitaas várias competências profissionais do arquiteto atualmentedelegadas ao arbítrio; posteriormente, complementa a for-mação acadêmica do estudante ao configurar e ao tentarresponder às demandas dessa parcela de moradores doDF e de seu entorno;- Por outro lado, por intermédio de pequenas interven-ções, oferece subsídios técnicos para as comunidades quehabitam o espaço urbano através de propostas práticas dosestudantes de arquitetura, procurando contribuir para arevitalização das complexas situações de áreas urbanasdegradadas, bem como considerar as práticas fundadas edetidas por essas comunidades, advindas de um uso sus-tentável do ambiente.O objetivo principal consiste, então, no desenvolvimento e

na aplicação de teorias instrumentais para o ensino e para aformação de arquitetos e urbanistas que contribuam para oconhecimento e para a identificação das necessidades reaisda comunidade, seus interesses e formas de participação, ena incorporação desses conhecimentos aos programas degraduação de arquitetura.

Com isso, distinguimos claramente, para professores, pes-quisadores e alunos participantes, os ingredientes básicos das

Page 41: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

8180

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

1.2 Paradigma do ambiente construído sustentávelA concretização de canais, ou relações de aliança, que

sistematizem trocas de informações, associados a mecanis-mos participativos de interlocução e inclusão técnica, tem fa-cilitado na identificação e no atendimento das necessidadesdas comunidades, bem como no apoio ao desenvolvimentode suas potencialidades, além de, inexoravelmente, resgata-rem as qualidades do lugar, atenuarem, em médio prazo, osimpactos da ocupação urbana desordenada e reduzirem, emcurto prazo, os desperdícios gerados pelos deslocamentosintra-urbanos.

A expansão do pensamento ambientalista nos últimosanos, aliada ao poder reivindicatório da sociedade civil organi-zada, fez com que a maioria dos ordenamentos urbanos in-serisse em seus textos normativos - planos diretores, códi-gos de posturas etc - a tutela do equilíbrio sócio-ambiental.Esse fato indica que novos valores estão se consolidandoconfigurados em direitos individuais e sociais, o que leva acrer numa possível reconciliação entre as unidades ambien-te-homem-desenvolvimento.

Depois da Conferência do Rio em 1992 e do Habitat II em1996, houve uma mudança na abordagem do problema dasustentabilidade. As principais razões para este fato advêmda conclusão de que as cidades constituem uma realidadeque pode ser transformada para melhor, em vez de constituí-rem apenas um problema a ser evitado.

No novo modelo, ainda não plenamente consolidado, a co-letividade, por meio de suas instituições representativas, par-ticipa da formulação, implementação e gestão da totalidadede ações desenvolvidas pelo ente público. Neste cenário,desde que se efetive o modelo cooperativo, é possível conso-lidar o Estado Democrático, por co-responsabilizar a coletivi-dade e por estimular a edificação da cidadania. Aqui, fica im-plícito que o cidadão atua e constrói direitos e deveres sócio-ambientais a partir do exercício da cidadania, seja em movi-mentos sociais, seja em Conselhos, seja em pranchetas uni-

A construção de equipamentos urbanos em comunidadescarentes somente se realiza de maneira satisfatória se for oresultado de uma ação que possa corresponder às demandasdas mesmas (Freire, 1996). Porém, aqui se colocam banais,mas importantes questões: Como identificar e qualificar de-mandas reprimidas? Como fazê-las expressar seus direitos,muitas vezes chamados de necessidades? Como qualificar,junto a essas demandas, o papel do arquiteto? Como enfocar,para cyberestudantes de arquitetura, o estudo dessas comu-nidades periféricas? O projeto urbano, por sua vez, é visto comoum dos instrumentos de transformação social, ao lado de ou-tras propostas e ações, e o lugar é onde estão enraizadas asexperiências, táticas e práticas simples que formam uma bibli-oteca invisível de soluções para a construção de uma ambien-te sustentável e para a formação profissional do arquiteto (Spink,2001).

O desenvolvimento de comunidades sustentáveis implicano delineamento de um ou mais modelos de qualidade de vidacomunitária, envolvendo:

· Objetivos ambientais claros e fisicamente tangíveis;· Objetivos sócio-econômicos justos e individualmentepassíveis de avaliação;· Objetivos políticos dignos que possam ser avaliados pe-las instâncias de participação e representação comunitária,bem como pela diversidade dessa representação.As ações se justificam em torno da interação e da relação

estabelecida entre os sujeitos e seus espaços de vida, consi-derando a influência do ambiente no indivíduo. Conforma-se ahipótese de que a ação no ambiente, levando à vitalidade, àdignidade e ao equilíbrio, insere o sujeito em uma situação, aum lugar de fala, a um espaço de direito.

Espera-se, ao longo do desenvolvimento do Projeto, rela-tar modificações no discurso relativo ao Espaço Ambiente eem mudanças nas condições de acesso à fala e à formula-ção de encomendas sociais, conseguidas a partir demetodologia especifica.

Page 42: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

8382

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

– mediante uma aproximação colaborativa, multidisciplinar eparticipativa, combinando pesquisa, projeto urbano, projetode produto e capacitação recíproca – o modelo de interaçãomultidisciplinar e transdisciplinar, com inscrição de rede aca-dêmica e comunitária internacional, tem oferecido uma plata-forma única para a elaboração de indicadores desustentabilidade. Embora cada lugar estudado enfrente desa-fios particulares e apresente forças atuantes com diferentescapacidades, já identificamos um importante elemento co-mum, indutor de exclusão, do desperdício e do extermínio derecursos: a inadequada formação técnico-profissional. Esteprograma visa desenvolver e compartilhar um currículointerdisciplinar, aplicável tanto para os alunos brasileiroscomo para os americanos através do Programa de Consór-cio em Educação Superior CAPES/FIPSE. Busca prepararprofissionais para trabalhar as estratégias relativas ao ProjetoUrbano Sustentável e à Ação Comunitária baseada na Ges-tão de Recursos, como passos necessários à diminuição dapobreza urbana e ao incremento da saúde e do bem estar dacomunidade.

O projeto inclui universidades, ambientes urbanos e orga-nizações não governamentais nos Estados Unidos e no Bra-sil (figura 1), com as seguintes compensações bilaterais noensino da arquitetura: Brasil, teoria e projeto urbanos em con-textos de exclusão e miséria; Estados Unidos, ação e serviçocomunitários pela gestão de recursos (humanos eambiental). As instituições integrantes são as seguintes:

· Universidade de Brasília – UnB, líder Brasil;

· Universidade de Rio Grande do Sul – UFRGS,parceira Brasil;

· The Pennsylvania State University – PSU, líder USA;

· The State University of New York at Syracuse – SUNY,parceira USA.

versitárias, figurando como sujeito ativo.No entanto, esse modelo ainda não conseguiu inserir-se

na prática como instrumento democrático para discussão eformulação de políticas e projetos urbanos. Muitas ONG’stêm procurado construir um modelo participativo, discutindo,formulando e, em alguns casos, denunciando os mecanis-mos empregados pelo Estado ou iniciativa privada na elabo-ração de instrumentos normativos urbanos, no desenvolvi-mento de projetos de assentamentos populares, na formula-ção de planos diretores e na ocupação do solo urbano. A Uni-versidade, na maioria das vezes, tem ficado de fora desteProcesso.

Logo, a eficácia daquele modelo de cooperação Estado-Coletividade exige consciência de participação, autonomiaem relação às tentativas de imposições do Estado e plenoexercício da cidadania, assegurando a construção de novospadrões de formação profissional e de desenvolvimento sus-tentável, onde reste consolidado o equilíbrio sócio-ambiental.

A formação de Consórcio Acadêmico de Cooperação re-presenta uma tentativa de aliança para a criação de oportuni-dades e para a superação de carências regionais. Inicialmen-te se constituem como fóruns voluntários para mobilizaçãode recursos e preocupação, “parecem que levam tempo ebastante disposição política para serem criados, mas são di-fíceis de parar uma vez iniciados” (Spink, 2001). Trata-se denovo arranjo pedagógico, a que chamamos de uma “novaacademia social”, que se refere não ao desenho de prédios ecasas, mas ao desenho e construção de organizações e for-mas de coordenação entre diferentes organizações e locais(Spink, 2001).

O Programa de Consórcio em Educação Superior CA-PES/FIPSE apresenta um projeto estabelecido em quatro ci-dades, duas capitais brasileiras (Brasília e Porto Alegre) eduas cidades estadunidenses (State College e Syracuse).Com particular enfoque nos desenvolvimentos local e global

Page 43: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

8584

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

· Produtos urbanos ambientais: mapeamento e análisede sistemas, planejamento ambiental e de baciashidrográficas;· Pobreza urbana: repensando a pobreza e construção ecom os recursos orgânicos da comunidade;· Aplicações da informática e transferência de técnicas:aplicação do SIG e tecnologias comunitárias.

1.3 Estrutura das disciplinas acadêmicasO consórcio CBPS foi criado com a intenção de incrementar

a formação profissional do arquiteto e urbanista, criando den-tro do programa de graduação disciplinas que trabalhem compremissas de sustentabilidade, projeto participativo, arquitetu-ra da paisagem e eficiência energética. Teorias instrumentaiscontribuem para o conhecimento e identificação das necessi-dades reais da comunidade, seus interesses e formas de par-ticipação.

No primeiro ano do consórcio, no primeiro semestre de 2003,a disciplina de Projeto da Arquitetura – Problemas Especiais –PAPE, foi reformulada passando a ter um enfoque maior nateoria do projeto participativo sustentável. A Vila Varjão foi esco-lhida como local de trabalho, e as categorias estruturadoras doambiente urbano – ambiental, identidade, vulnerabilidade emobilidade – foram trabalhadas para a preparação de um di-agnóstico que retratasse a realidade local. Embasamento teó-rico e metodologia de pesquisa foram fundamentais para a ela-boração do produto final.

No segundo semestre de 2003, a disciplina tomou outra for-ma e se tornou Ateliê de Projeto de Arquitetura e UrbanismoSustentável. Os objetivos foram mudados e o enfoque traba-lhado o foi também. A disciplina se tornou mais prática, a parteteórica foi composta pela bibliografia dada pelos professores,mas também pelo material produzido em PAPE. Houveaprofundamento na parte de pesquisa da comunidade, ondenovos procedimentos para recolher dados foram empregados,além de ser elaborada uma proposta de intervenção.

Figura 1 – Organograma Consórcio.

A programação inclui ações de aquisição da língua e ensinointerdisciplinar presencial para a compreensão do contexto ur-bano. Analisando o ambiente e a infra-estrutura na escala debacia hidrográfica e da vizinhança, o programa prepara os alu-nos para obter uma compreensão ambiental nas escalas macroe micro. Por exemplo do estudo, da análise e do diagnóstico daforma de uso e ocupação do solo urbano, podemos identificaros níveis de degradação do meio natural e sua influencia naqualidade de vida da população. Desta forma, os resultados doprograma poderão contribuir para que as comunidades pobrese excluídas sejam capazes de tomar decisões e influir no in-cremento do seu habitat.

O ponto central do interesse de cada instituição é prepararos futuros arquitetos para trabalhar em beneficio da cidadesustentável e na criação de ambientes saudáveis (ambiente esistemas naturais, economias locais, equidade social e habili-tação de comunidades), considerando:

· Envolvimento da comunidade: planejamento e projetoparticipativo;· Conhecimento das questões de âmbito público: pes-quisa aplicada direcionada ao incremento da vida cívica;

Page 44: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

8786

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

figuram campos outros, com teoria e método que lhes são es-pecíficos, embora ambos se relacionem com a escala“intermédia”, ou seja, com a escala do espaço arquitetônicopropriamente dito. É esta relação, a qual deve ser entendidacomo mutuamente alimentadora entre as várias escalas, queexige a realização de um trabalho multidisciplinar, não apenasentre aqueles que tratam dos aspectos distintos de uma mes-ma escala, mas também entre aqueles que lidam com esca-las distintas do meio ambiente em sua globalidade.

A necessidade de pontes entre as várias escalas referidasexige que as escolas de arquitetura incluam, em sua atuação,atividades que esclareçam, fundamentalmente, as relaçõesentre o desenho do objeto e o espaço da edificação, assimcomo entre o planejamento regional e o espaço da cidade.

Por outro lado, a abordagem analítica e, principalmente, di-dática, da ordenação do espaço arquitetônico, exige sua ca-racterização em função de determinados aspectos que a cons-tituem. Em outras palavras, o espaço ordenado, para fins hu-manos, constitui pelos menos:

· um artefato, pelo qual também se ordena a prática hu-mana, através de sistemas de barreiras e permeabilidadesde vários tipos, que criam diferenciações ou hierarquias es-paciais congruentes com determinados modos de interaçãosocial;· um filtro, que, interagindo com o meio ambiente do sítiofísico, pode ou não modificar essas condições no sentidode melhor adequá-las às nossas exigências biológicas, faceàs atividades desenvolvidas;· um símbolo, pelo qual a identidade cultural se reconhe-ce, se reproduz e/ou se transforma;· uma apropriação e/ou transformação de materiais danatureza, resultando na realização de elementos - chãos,paredes, tetos -pelos quais se define o espaço da Arquitetu-ra, seja ao nível do simples edifício, seja ao nível do assen-tamento humano maior.

1.4 Métodos para coleta de dados e investigações de cam-po

A Vila Varjão foi escolhida a partir da movimentação existen-te na comunidade em favor de melhoria de qualidade do ambi-ente. Isso tem favorecido a análise das etapas do trabalho e afutura comparação de discursos e motivações com habitantede outra área a ser definida. O maior desafio desta etapa rela-ciona-se a um momento posterior do trabalho: como medir re-sultados e quais resultados medir para confirmar as ações quede fato são sustentáveis para o ambiente urbano. Etapas paracoleta de dados:

- levantamento bibliográfico;- identificação, por intermédio de indicadores

socioeconômicos, das características da população;- pesquisa de campo: questionários estruturados;- pesquisa de campo: cadastro físico-territorial;- aproximação equipe e habitantes: dinâmicas de grupo;- pré-diagnóstico, identificando e confirmando deman-

das reprimidas: dinâmicas de grupo;- Identificação, através da participação comunitária, de

facilidades, potencialidades e obstáculos nos processos de:estruturação das demandas comunitárias; formulação dedemandas e sua transformação em encomendas de servi-ço; encaminhamento a instituições; implantação de soluções/propostas;

- pesquisa sobre perfis institucionais: rede comunitária,rádio comunitária e levantamento de formas institucionaisde acolhimento de encomendas sociais.

2. A ORDENAÇÃO DO ESPAÇO ARQUITETÔNICODentro da amplitude de ação da prática arquitetônica é re-

conhecido um corpo central de conhecimento que se situa nocampo mais específico do espaço edificado, intra e inter-edificações. Na direção da escala menor, são estabelecidasrelações de parentesco com o desenho do objeto; na direçãoda escala maior, com o planejamento regional. Mas, estes con-

Page 45: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

8988

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

peração de tal abstração. A busca de conhecimento deve im-pregnar, passo a passo, todos os ramos do projeto urbano sus-tentável. Deve, ao mesmo tempo, incorporar integralmente osaspectos ambientais no processo formal de materialização,como elementos práticos e instrumentais que permitam recri-ar, no desenho, sua adequação a cada meio, cultura e realida-de. Realizado de uma maneira ativa, o acesso ao conhecimentocientífico põe em jogo os recursos intelectuais: sensibilização,observação, correlação, classificação, análise, imaginação,experimentação, comprovação, síntese.

É preciso que o aluno, a comunidade, professores e profis-sionais se sintam interessados pelo conteúdo e se comportemcomo agentes e atores da sua própria atuação, Batista, 2002.Dentro dessa ótica, há uma renúncia em apresentar o sabercomo um edifício impressionante, acabado e definitivamentecompartimentado.

A preparação de um profissional comprometido com a re-alidade nacional e regional requer sensibilizá-lo para que hajareconhecimento das potencialidades locais e a demanda:

· Analisar a pobreza urbana e o comprometimentoambiental através de métodos teórico e prático;· Desenvolver projeto sustentável e ação comunitária ba-seada na gestão de recursos;· Envolver comunidades locais através de métodosparticipativos e aplicação de instrumentos advindos daestruturação dos projetos desenvolvidos dentro das disci-plinas acadêmicas.A coerência entre o ensino e a realidade será feita mediante

uma estrutura de disciplinas, assim caracterizadas:· Que apresentem o sentido de mutabilidade, ou evolução,da própria realidade, (objetivos voltados para as necessida-des reais da sociedade e métodos que permitam oequacionamento dos problemas apresentados pelaconcretização de tais objetivos);· Que sejam aplicáveis à realidade em questão (evitandoa transposição pura e simples de modelos, aplicáveis a ou-

As categorias sugeridas acima abrigam, aproximadamen-te, os grandes eixos em torno dos quais tem se dado à organi-zação didática e a investigação em sustentabilidade, naquiloque diz respeito aos aspectos constituintes do nosso objeto detrabalho ou, dito de outra forma, o papel que a arquitetura exer-ce enquanto “modificador” de circunstâncias anteriormentedadas.

São muitas as disciplinas que se ocupam do ambiente físi-co em que se move o homem, da física à geografia, daclimatologia à topografia; isso nos obriga a especificar o pontode vista do objeto e finalidade de nossa disciplina. A Arquiteturaé uma resposta significativa, ou seja, poética, ao problema dohabitar; projeta e constrói todo o ambiente físico de acordo comeste objetivo.

Não existe cidade homogênea, pelo contrário, há uma diver-sidade interna que merece ser respeitada e assumida comoum recurso. A cidade surge, portanto, resultante de umadualidade entre a estrutura acumulada de memória e amaterialidade física, onde o tempo se apresenta como elementounificador desses acontecimentos, estabelecendo uma rela-ção de continuidade entre o presente e o passado através dopapel determinante da memória coletiva dos habitantes.

O projeto sustentável exige propostas para a estruturaçãodo ambiente, estas propostas dizem respeito à definição espa-cial dos serviços do habitar humano, em toda a escaladimensional. No contínuo aprendizado do projeto reencontram-se os traços principais de uma formação pré - científica: o fa-zer prevalece sobre o saber, o implícito sobre o explícito, a in-tuição sobre o raciocínio, e a correção dos erros sobre a suaprevenção. O desenho, linguagem abstrata utilizada do proje-to, tem sido empregado como um fim, e não como um meio.Sua abstração se manifesta através de formas desligadas douso do espaço arquitetônico, dos materiais, da técnica de cons-trução, do processo de produção. A pesquisa da realidade,executada através do desenho desta realidade, permitirá a su-

Page 46: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

9190

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

importantes no estudo do projeto comunitário sustentável, re-sumindo em quatro categorias a estruturação do ambiente ur-bano:

- ambiental,- identidade e patrimônio cultural,- vulnerabilidade,- mobilidade.Tais categorias são as mais representativas do que seja a

problemática de uma comunidade; sua descrição elaboradaem PAPE, 2003, se apresenta abaixo:

Ambiental Þ tema abordado pela importância bioclimática,de conforto (térmico, acústico, luminoso, ambiental), apropria-ção do solo, equipamentos urbanos e infra-estrutura. É impor-tante verificar a relação do homem com o meio no qual ele estáinserido, não só o quanto o meio interfere no conforto humano,mas também como o homem preserva ou degrada esse ambi-ente.

Identidade Þ É necessário considerar a preservação dopatrimônio natural e cultural como um ato político. Preservarpara construir. Preservar não no sentido imobilizador, mas simcomo instrumento ativo transformador da realidade, com o ob-jetivo de resguardar a produção da natureza e do homem comoum testemunho do modo de vida, possibilitando avaliação ecompreensão do presente para projetar o futuro. (PAPE, 2003).

Vulnerabilidade Þ A título de análise, o que se espera é acaracterização da parcela da população mais vulnerável, parase estabelecer um diagnóstico (problemas e necessidades)da comunidade nos casos mais sensíveis. Portanto, os porta-dores de deficiência, crianças, mulheres e idosos seriam osgrupos populacionais mais representativos.

Mobilidade Þ Mobilidade urbana sustentável está ligada amedidas que visem:

- A redução do volume de veículos de transporte individualmotorizado em circulação nas malhas viárias principais dascidades;

tras realidades, supostamente similares à nossa).· Que reflitam uma visão global do fenômenoarquitetônico (a correlação dele com as variáveis dosfenômenos humanos e físicos, existentes em nossarealidade);

2.1 Categorias estruturadoras do ambiente urbano

A maioria da população das periferias das grandes cidadesé a parcela populacional carente de assistência em quase to-dos os serviços sociais prestados por empresas privadas eestatais. Um deles é o planejamento urbano, onde os habitan-tes da periferia não conseguem ver suas necessidades dehabitat espelhadas no ambiente construído em que mora. Ourbanismo sustentável refere-se à manutenção e preservaçãoda diversidade de culturas, valores e práticas existentes, queintegram ao longo do tempo, as identidades dos povos, querdizer, apóia-se na sustentabilidade cultural, aquela que segun-do Sachs (1993) busca de raízes endógenas dos modelos demodernização e dos sistemas rurais integrados de produção,privilegiando processos de mudança mo seio da continuidadecultural e traduzindo o conceito normativo deecodesenvolvimento em uma pluralidade de soluções particu-lares, que respeitem especificidades de cada ecossistema, decada cultura e de cada local. Assim como na sustentabilidadesocial quando objetiva a melhoria da qualidade de vida e redu-ção dos níveis de exclusão. Quer dizer, entendida como a con-solidação de um processo de desenvolvimento baseado emoutro tipo de crescimento e orientado por outra visão do que éa boa sociedade. O objetivo é construir uma civilização do “ser”,em que exista maior equidade na distribuição do “ter” e de ren-da, de modo a melhorar substancialmente os direitos e as con-dições de amplas massas de população e a reduzir a distânciaentre os padrões de vida abastados e não abastados.

Tendo visto a abordagem ambiental, acrescentou-se aindaa mobilidade e a vulnerabilidade da comunidade como temas

Page 47: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

9392

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

formações, associados a mecanismos participativos deinterlocução e inclusão técnica, tem facilitado na identificaçãoe no atendimento das necessidades das comunidades, bemcomo no apoio ao desenvolvimento de suas potencialidades,além de, paradoxalmente, resgatarem as qualidades do lugar,atenuarem, em médio prazo, os impactos da ocupação urba-na desordenada e reduzirem, em curto prazo, os desperdíciosgerados pelos deslocamentos intra-urbanos. Este caminho ain-da permitirá que as Parcerias criadas, os Projetosimplementados e os Trabalhos desenvolvidos constituam umaforte aliança com os lugares de vida (em contraposição da no-ção de mercadoria que tem adquirido o solo urbano).

4.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBATISTA, Wagner (2002) Educação à distância e o refinamento

da exclusão social. Rio de Janeiro. Programa de PósGraduação em Educação da UFRJ. Mimeo. Universidade Federaldo Rio de Janeiro.

COULQHON, Alan (1991) “Conceptos de espacio urbano en el sigloXX”in Modernidad y Tradición Clásica, Ediciones Júcar, Madri.

FREIRE, Paulo (1996) Pedagogia da Autonomia. Paz e Terra, SãoPaulo.

PAPE – (2003) Projeto de Arquitetura – Problemas Especiais, apostilaorganizada por M. Romero, FAU/UnB Brasília.

ROMERO, Marta (2003) “A sustentabilidade do Ambiente urbano dacapital”, in Brasília: Controvérsias Ambientais, org por A .Paviani, Editora UnB, Brasília.

ROMERO, Marta A . ustos, et alii (coord.) (1996): Urbanização do DistritoFederal: Equipamentos Sociais Urbanos e a ViabilidadeAmbiental, Relatório Final do Projeto de Pesquisa Integrado FAU/UnB/ CNPq.

_____________, (1999): “Desempenho das Constantes Morfológicas.Índices de Adequação Ambiental da Periferia do DF”, capitulo dolivro organizado por Aldo Paviani, Brasília – gestão urbana:conflitos e cidadania, Coleção Brasília, Editora UnB, Brasília.Pág. 85 – 109.

- A redução dos congestionamentos e dos desgastes dasvias, com conseqüente queda na necessidade de investi-mentos no sistema viário;- A diminuição dos custos com a perda de tempo duranteo deslocamento, com a emissão de poluentes em níveisindesejáveis, com o desperdício de combustível e com asmortes e a invalidez causada por acidentes de transito nasáreas urbanas;- Uma perspectiva positiva de sustentabilidade energética;- A melhoria de qualidade de vida nos aglomerados urba-nos;- A redução do volume necessário para investimentos eminfra-estrutura urbana;- Os benefícios de medidas de proteção ambiental e depreservação da acessibilidade urbana sobre as geraçõesfuturas;- A redução da pobreza e da marginalidade social;- A ocupação e o uso mais eqüitativo do espaço públicourbano.

3. Algumas ConclusõesO objetivo principal das ações empreendidas neste fazer

didático conduziu para o desenvolvimento e na aplicação deteorias instrumentais para o ensino e para a formação de ar-quitetos e urbanistas que contribuam para o conhecimento epara a identificação das necessidades reais da comunidade,seus interesses e formas de participação, e na incorporaçãodesses conhecimentos aos programas de graduação de ar-quitetura.

Criada a escala dimensional tem-se a área de atuação doprofissional para a estruturação do ambiente e a definição es-pacial dos serviços. Dessa maneira, o planejamento urbanose faz a partir de uma visão sustentável, tornando-se, portanto,projeto sustentável.

A concretização de canais que sistematizem trocas de in-

Page 48: Caderno ABEA 26 - Habitação e Mobilidade e seu Ensino

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

9594

XXI ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo XXVII COSU - Conselho Superior da ABEA

______________, (1999a): “Viabilidade Ambiental da Urbanização doDistrito Federal. Análise das Constantes Morfológicas”, RelatórioFinal do Projeto de Pesquisa Individual 1997/99, FAU-UnB/CNPq,Brasília.

SPINK, Peter K. (2001) Parcerias e alianças não-estatais. São Paulo.Programa Gestão Pública e Cidadania. EAESP/ FGV.

SACHS, Ignacy (1993): Estratégias de transição para o século XXI.Desenvolvimento e meio ambiente. Studio Nobel, São Paulo.