cadê o muriqui que estava aqui? - crbio04.gov.br · grupo no whatsapp e esteve na sede do conselho...

12
71 Setembro de 2017 CADÊ O MURIQUI QUE ESTAVA AQUI? Foto: Fernanda Tabacow

Upload: buinhan

Post on 21-Jan-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CRBio-04 | Setembro de 2017 | Jornal do Biólogo 1

71Setembro de 2017

Cadê o muriqui que estava aqui?

Foto

: Fer

nand

a Ta

baco

w

2 Jornal do Biólogo | Setembro de 2017 | CRBio-042 Jornal do Biólogo | Setembro de 2017 | CRBio-04

editorial

CRBio-04Av. Amazonas, 298 - 15º andar Belo Horizonte - MG - 30180-001 | Telefone: (31) 3207-5000 www.crbio04.gov.br | [email protected]

Conselheiros efetivos: Arlete Vieira da Silva, Bruce Amir Da-cier Lobato de Almeida, Carlos Frederico Loiola, Edeltrudes Maria Valadares Calaça Câmara, Evandro Freitas Bouzada, Gladstone Corrêa de Araújo, Helena Lúcia Menezes Ferreira, Mariana Pires de Campos Telles, Renata Maria Strozi Alves Meira e Tales Heliodoro Viana

Conselheiros suplentes: Afonso Pelli, Aneliza de Almeida Miranda Melo, Elias Manna Teixeira, Emilson Miranda, João Gabriel Viana de Grázia, Juliana Ordones Rego, Laiane da Silva Santos, Meriele Cristina Costa Rodrigues Oliveira, Thiago Metzker, Wenderson Francisco de Almeida

diretoria executivaPresidente: Tales Heliodoro VianaVice-Presidente: Arlete Vieira da SilvaTesoureiro: Gladstone Corrêa de AraújoSecretário: Evandro Freitas Bouzada

Jornal do BiólogoAno XXI - Nº 71 | Setembro de 2017Produção Editorial: Berlim Comunicação | www.berlimcomunicacao.com.brJornalista Responsável: Vitor Moreira | Registro: 14055/MGReportagens páginas 4-5; 7; 10-11: Maria Dulce Miranda | Registro: 20236/MGProjeto Gráfico: Rafael ChimicattiImpressão: 1.500 exemplares

quer sugerir, criticar ou elogiar? Fale com o Jornal do Biólogo: [email protected]

o que fazemos?

O CRBio-04 sempre conviveu com críticas, por parte de alguns profissionais, de ser um órgão mera-mente arrecadador e que nada faz. Nós, conselhei-ros, que diariamente lidamos com as responsabilida-des e desafios que a gestão do Conselho nos impõe, tínhamos consciência de que essas afirmações não tinham procedência, mas buscamos identificar onde, então, estava o ruído na comunicação. Se o trabalho estava – e continua – sendo feito, por que a percepção de certas pessoas é tão distinta?

Pensando nessa e em outras questões a atual gestão do CRBio-04 vem buscando implementar e aperfeiçoar boas ações herdadas das gestões anteriores voltadas à transparência e à aproxi-mação dos biólogos com o Conselho. Queremos não apenas mostrar o que o CRBio-04 faz, mas trazer cada vez mais profissionais para que nos ajudem a fazer, afinal, o interesse em defender a profissão é de todos.

Todas as reuniões plenárias do CRBio-04, por exemplo, são abertas a qualquer biólogo que queira acompanhar as discussões. Todos os conselheiros, além, obviamente, dos funcionários, estão sempre à disposição para dialogar e prestar esclarecimen-tos. Foi assim, recentemente, com um conjunto de profissionais que se organizou por meio de um grupo no WhatsApp e esteve na sede do Conselho para me apresentar uma série de questionamentos. Sentamos, batemos um papo e, desde então, al-guns desses biólogos têm se envolvido em reuniões da associação e do sindicato.

Nossos canais de comunicação, digitais e im-pressos, são outro importante instrumento deste processo. Não apenas para dar ciência do nosso trabalho, mas especialmente para abrir espaço para que os biólogos divulguem suas pesquisas, para que instituições de ensino e entidades di-vulguem seus cursos etc. Nesta edição do jornal, das seis reportagens, quatro são de biólogos que se “voluntariaram”, que entraram em contato com o Conselho – a partir de uma chamada que fizemos – e disseram: “gostaria de divulgar mi-nha pesquisa”. Aí estão, ocupando um espaço de direito.

Por meio do Programa de Apoio a Publicações e Eventos, em 2017 concedemos R$65 mil a 40 projetos. São cursos, seminários, cartilhas que não seriam viabilizados sem o apoio financeiro do Conselho ou que teriam que cobrar inscrições mais caras, restringir o número de participantes, imprimir menos exemplares.

Enfim, estes são alguns poucos exemplos do que temos buscado fazer. Outras ações estão caminhando e estão por vir. Tudo apresentado de forma clara em nosso Planejamento Estra-tégico, disponível no Portal da Transparência do CRBio-04. Esperamos, assim, não apenas mudar a visão de parte do biólogos sobre o papel do Conselho, mas engajá-los em nossas lutas!

Tales Heliodoro VianaConselheiro Presidente

CRBio-04 | Setembro de 2017 | Jornal do Biólogo 3 CRBio-04 | Setembro de 2017 | Jornal do Biólogo 3

o que o CrBio-04 faz

Papo com Biólogo: conhecimento e interatividadeEvento do CRBio-04 propõe o debate de temas pertinentes a profissionais e estudantes de Ciências Biológicas

O Papo com Biólogo é um evento criado na atual gestão do CRBio-04 com o propósito de de-bater temas pertinentes a profissionais e estudan-tes de Ciências Biológicas, sempre com a presença de, ao menos, um especialista. Os objetivos são proporcionar um espaço de aprendizado e troca de ideias sobre assuntos que dizem respeito à vivência profissional dos biólogos e, também, aproximá-los do Conselho, reforçando uma pre-missa do presidente do órgão, Tales Heliodoro Viana. “O CRBio-04 é a casa dos biólogos”.

A primeira edição foi promovida em março de 2016, apresentando o tema “Desastre Ambiental de Mariana: o papel dos biólogos na recuperação do Rio Doce”. A palestra foi ministrada pelo bió-logo Ricardo Pinto Coelho, mestre em Ecologia, doutor em Limnologia e pós-doc pela Universi-dade de Montreal.

Em um período recente pós-desastre, em que predominava a guerra de informações sobre os reais impactos do rompimento da Barragem de Fundão, Ricardo apresentou dados e informações oficiais dos principais órgãos ambientais do país e comprovou que a situação era muito pior do que a Samarco tentava transparecer.

De lá pra cá foram promovidos outros quatro encontros: “Repensando a gestão ambiental no Brasil e o importante papel do biólogo”, “Criató-rios e Manejo de Fauna: desafios e oportunida-des”, “Biólogos na Gestão e Controle da Qualida-de de Alimentos e Bebidas” e, mais recentemente, “Atuação dos biólogos na área de licenciamento ambiental”.

Esta última edição foi conduzida pelos conse-lheiros Bruce Amir e Thiago Metzker. Os pales-trantes iniciaram a apresentação ressaltando a importância dos egressos do curso de Ciências Biológicas possuírem o registro profissional para a atuação e emissão das Anotações de Responsa-bilidade Técnica (ARTs), particularmente na área de licenciamento ambiental, em que é grande o sombreamento com outras profissões e os respaldos da legislação e do Conselho se fazem essenciais.

A palestra seguiu com a apresentação das principais legislações - leis, resoluções e porta-rias - que regem a atuação do biólogo em meio ambiente e dos principais estudos ambientais de licenciamento e como os biólogos podem atuar em cada um.

transmissão pela internet

Desde sua primeira edição todas as palestras do Papo com Biólogo são gra-vadas e disponibilizadas na íntegra no canal do CRBio-04 no YouTube: youtube.com/CRBio04bio. Na última edição, entretanto, o evento trouxe uma novidade: atendendo a uma demanda dos próprios profissionais, especialmente daqueles que residem distantes de BH, o Papo teve transmissão simultânea pelo Facebook. Quem acompanhou pela internet pôde não apenas assistir à palestra, mas, também, interagir por meio de perguntas e comentários. A proposta é que todas as edições do Papo com Biólogo, de agora em diante, contem com a transmissão ao vivo.

E se você tem alguma sugestão de tema que gostaria que fosse debatido no Papo com Biólogo, mande-nos um e-mail: [email protected].

4 Jornal do Biólogo | Setembro de 2017 | CRBio-04

Velho Chico: uma bactéria para chamar de suaPesquisa busca identificar bioindicador para as águas do São Francisco

Com quase 640 km² de área de escoamento e 2.700 km de extensão, o Rio São Francisco atra-vessa sete estados e 507 municípios brasileiros, sendo fonte de recursos para mais de 11 milhões de habitantes, seja no abastecimento, na indústria ou na agropecuária. Por seu caráter primordial, o Velho Chico virou tema de pesquisa de Mestrado do biólogo Thiago Augusto da Costa Silva, realizada no Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) – campus Bambuí, com orientação do professor doutor Gus-tavo Augusto Lacorte e participação do pesquisador Marcos de Paula Júnior. A proposta da pesquisa é identificar uma bactéria com propriedades bioin-dicadoras no leito do rio, que seja capaz de indicar se a água é própria para consumo humano ou não.

Thiago explica que serão feitas coletas ao longo do curso do rio para se estabelecer uma comparação entre os micro-organismos presentes nos diferentes locais de análise, marcados por ações antrópicas distintas. “O rio São Francisco foi escolhido porque ele é o maior, corta vários estados e, ao longo de seu curso, possui áreas exclusivamente turísticas, agrícolas e industriais”, justifica. A primeira coleta será realizada na nascente do rio, no Parque Esta-dual da Serra da Canastra, em Minas Gerais.

O grande desafio da pesquisa é exatamente encontrar o biondicador do São Francisco. Para isso,

Thiago explica que atuará com uma metodologia metagenômica, já utilizada com sucesso em estudos internacionais realizados em condições semelhan-tes. Após a coleta das amostras e filtragem em biomembrana, a água é congelada e levada à centrí-fuga para a extração do DNA de todas as bactérias presentes. O leitor metagenômico fornece a leitura do material genético de cada micro-organismo e, então, é feita a comparação dessas sequências com o conteúdo disponível em bancos de dados de genes disponíveis. “A partir desse trabalho conseguimos classificar as bactérias até chegar à espécie certa.”

A análise metagenômica tem um vasto po-tencial nos estudos de bactérias. Isso porque a análise do DNA pode ser feita sem necessidade de culturas individuais e também porque supera a análise por características morfológicas. “A uti-lização da técnica metagenômica pode derrubar barreiras e auxiliar na revisão de diversos estudos que foram feitos anteriormente”, explica Thiago.

Encontrando a bactéria certa para indicar a qualidade da água, os processos químicos que são utilizados hoje pelas agências de abasteci-mento podem ser substituídos por uma análise biológica mais precisa. “Uma água própria para consumo e outra que recebe resíduos industriais podem indicar, ambas, um pH 7, mas isso por si só

miCroBiologia

João

Zin

clar

CRBio-04 | Setembro de 2017 | Jornal do Biólogo 5

miCroBiologia

não significa que as duas são de qualidade. Com o bioindicador, basta avaliar se a bactéria está presente. Representa uma economia de tempo e dinheiro para as análises de água”.

Apesar de a pesquisa ter como foco o rio São Francisco, a descoberta do bioindicador pode servir de base para análises em outras bacias hidrográficas e até mesmo como possibilidade de reavaliação de áreas com águas consideradas impróprias para consumo. Com as coletas em fase inicial, a expectativa do biólogo é que os grupos bacterianos estejam definidos dentro do prazo de um ano.

os bioindicadores

Bioindicadores são espécies, grupos de espécies ou comunidades biológicas cuja presença, abundância ou condição são in-dicativos de uma determinada situação ambiental (Callisto & Gonçalves, 2002). Os bioindicadores refletem as consequências da ação humana ou de ou fator natural com potencial impactante. É uma ferramenta importante para avaliar a saúde de uma área, comparando uma área impactada e áreas de referência.

qualidade das águas do rio São francisco

O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) realiza, desde 1997, o monitoramento da quali-dade das águas superficiais do estado por meio do Programa Águas de Minas. O trabalho é realizado com coletas trimestrais e a avaliação de 19 parâmetros, tais como alcalinidade total, cobre dissolvido, coliformes totais, cor verdadeira. Além deles, o programa também analisa cinco indicadores: Índice de Qualidade da Água, Contaminação por Tóxicos, Índice de Estado Trófico, Densidade de Cianobactérias e Ensaios de Ecotoxicidade, sendo que os dois últimos são realizados apenas em alguns pontos especí-ficos com potencial de floração e propícios à toxicidade. Os gráficos abaixo apresentam os resultados de dois desses indicadores (IQA e CT) para a Bacia do São Francisco em 2015 e 2016. Os resultados completos podem ser encontrados no site: http://portalinfohidro.igam.mg.gov.br.

Gráficos adaptados do Resumo Executivo “Qualidade das Águas Superficiais de Minas Gerais em 2016”

Frequência de ocorrência dos resultados trimestrais de Contaminação por tóxicos

2015

76%

8%

16%

97%

2% 2%2016

Alta Média Baixa

Frequência de ocorrência dos resultados trimestrais do iqa

2015

0,4%3%

31%

38%

27%

3,1%

48%

46%

3%2016

Muito Ruim Ruim Médio Bom Excelente

6 Jornal do Biólogo | Setembro de 2017 | CRBio-04

artigo

Situação atual da biodiversidade brasileira

O Brasil abriga a maior biodiversidade do mun-do, mas qual seria uma definição mais abrangente desse conceito? Biodiversidade não é apenas o número de espécies presentes em uma deter-minada área, parque, reserva, bioma ou país. Leva-se em consideração, também, a diversi-dade genética, de ambientes e ecossistemas, de relações ecológicas e, até mesmo, a diversidade de culturas humanas de um determinado local.

Dos 12 biomas terrestres espalhados pelo mundo, quase a metade, cinco, possuem repre-sentantes no Brasil, sem contar os ecossistemas marinhos, de água doce e estuários. Além disso, a riqueza de seres vivos no país é uma das maiores do mundo, representando cerca de 10% das espé-cies do planeta. E aqui ainda existem milhares de espécies novas a serem encontradas, estudadas e descritas.

Considere-se, ainda, o tamanho continental do país, a maior parte do território estar localizado na região tropical, outra parte considerável em uma região de clima temperado, o litoral extenso e a infinidade de rios. Tudo isso também contribui para essa biodiversidade.

Por fim, os três grupos humanos do planeta confluíram para o Brasil. Os índios são descen-dentes de grupos de origem asiática, que prova-velmente se dispersaram através do estreito de Bering, colonizando a América. Quatro milhões de negros aqui aportaram tristemente até o sé-culo XIX e imigrantes brancos de diversos países da Europa chegaram, fugindo de várias crises do velho continente, e muitos aqui se fixaram. E esse fluxo continua atual, com a chegada de imigrantes da China, Haiti e Síria, entre outros países. Essa inédita e inconcebível mistura que, porém, foi concebida nessas terras do pau bra-sil, trouxe influências culturais variadas, o que formou e forma essa belíssima e única cultura popular brasileira.

Entretanto, apesar da moderna legislação ambiental e dos esforços de órgãos ambientais e da sociedade, a biodiversidade brasileira está sendo impactada e destruída desde 1500.

Várias são as ameaças, como caça, pesca e co-letas ilegais, poluição, fragmentação de habitats, queimadas, mineração, introdução de espécies exóticas e novidades como os reservatórios de hidrelétricas e enxurradas de lama provenientes do rompimento de barragens. Porém, a principal ameaça continua sendo a primeira e mais antiga: o desmatamento.

A Mata Atlântica já está com 90% da sua área desmatada ou alterada, o Cerrado com quase 50% e a Caatinga e Campos Sulinos sofrendo intensas pressões. A Amazônia e Pantanal são, felizmente, os ecossistemas brasileiros ainda bem preservados.

Assim, o mais importante no momento é cui-dar e manter o máximo do que restou, com o au-mento da fiscalização, criação de novas unidades de conservação, fomento à pesquisa e ações que promovam o uso sustentável da biodiversidade e crescimento econômico compatível com sua con-servação. Desse modo ainda é possível preservar parte desta inestimável e ainda desconhecida biodiversidade brasileira.

andré roberto melo silvaBiólogo, professor do Centro Universitário UNA e Faculdade FASEH

CRBio-04 | Setembro de 2017 | Jornal do Biólogo 7

inoVação

Colhendo os frutosPrimeira patente da Unimontes permite coleta de folhas e frutos da macaúba

Durante seu Mestrado na Universidade Esta-dual de Montes Claros, a bióloga Francine Souza Alves da Fonseca investigava os padrões de ata-que de insetos em frutos da macaúba, planta tra-dicional do Cerrado, quando se viu diante de um problema. Por ser uma planta de grande porte, que atinge até 20 metros de altura, e com acúleos no tronco, a coleta dos frutos por escalada era inviável. A alternativa era trabalhar com os frutos que caiam, o que não satisfazia as necessidades da pesquisadora. “Na queda o epicarpo pode se romper e causar a oxidação da fruta, além do risco de invasão de micro-organismos”, explica.

A solução, então, foi criar uma nova ferramenta. O projeto desenvolvido por Francine consiste em uma lâmina em forma de foice, com corte específico na lateral. “A foice permite que fo-lhas e frutos sejam coletados sem causar danos à planta”, ressalta. O coletor ainda conta com uma haste montável de bambu com conexões de canos PVC, que é ajustável e presa por parafusos sextavados e aperto borboleta. “A ferramenta é feita de material resistente e possibilita traba-lhar com árvores de até 12 metros. Os ajustes são seguros para quem vai manusear e também permite o transporte em carro de passeio, com montagem em campo”.

O pedido de patente ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) foi feito há nove

anos, quando o Núcleo de Propriedade Intelectual da Unimontes – Ágora – estava sendo implanta-do. No começo de 2017, a pesquisadora recebeu uma negativa do Instituto, com a justificativa de que já existia uma ferramenta semelhante. "O professor Dario Alves de Oliveira e a gestora em Ciência, Tecnologia e Inovação Dra. Roseli Aparecida Cardoso Vieira e Medeiros, do Ágora da Unimontes, me ajudaram na elaboração do recurso contra o indeferimento, solicitando ao INPI a revisão da decisão." Uma nova resposta, dessa vez positiva, veio recentemente, fazendo do coletor desenvolvido por Francine a primeira patente da Unimontes. Ainda não há prazo para que a ferramenta chegue ao mercado, mas a estimativa é que o preço inicial seja de R$ 50,00.

Arq

uivo

pes

soal

Arq

uivo

pes

soal

8 Jornal do Biólogo | Setembro de 2017 | CRBio-04

maStofauna

tecnologia a serviço da biodiversidadeDronequi é o novo aliado na preservação do muriqui-do-norte

Há até bem pouco tempo o termo era com-pletamente estranho à maioria da população. Hoje é difícil encontrar alguém que nunca tenha visto ou não conheça um drone. E a depender dos avanços tecnológicos e das variadas aplicações que estão surgindo para os pequenos veículos aéreos, a tendência é que o equipamento pas-se a fazer, cada vez mais, parte do nosso dia a dia: já existem empresas utilizando drones em monitoramentos de segurança, levantamentos topográficos e até na entrega de pizzas.

Foi exatamente observando a popularização dos drones que o biólogo Fabiano Rodrigues de Melo percebeu que a ferramenta também poderia ser útil em suas pesquisas de campo. Desde 1999, Fabiano desenvolve um trabalho de preservação

dos muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), também popularmente conhecidos como mono--carvoeiros, espécie endêmica da Mata Atlântica classificada como “criticamente em perigo” na Lista Vermelha da IUCN – último estágio antes de ser considerada extinta na natureza.

A estimativa mais atual dá conta de 900 indi-víduos em 12 populações, mas o biólogo afirma que há um grande risco desses números estarem superestimados. “Em função da febre amarela pode ter havido perdas que ainda desconhece-mos. Em populações de bugios, por exemplo, há registros de diminuição de 80% no número de indivíduos. Considerando uma espécie tão ameaçada quanto o muriqui, perder dois indiví-duos já causa grande impacto”, relata Fabiano.

Theo

And

erso

n

CRBio-04 | Setembro de 2017 | Jornal do Biólogo 9

maStofauna

Um dos desafios para a manutenção de nú-meros mais confiáveis é a dificuldade de contato por terra: a espécie habita as áreas de copa das árvores em regiões, muitas vezes, de mata muito densa e sem acesso. Fabiano conta que, em suas pesquisas, foram realizadas diversas experiências exitosas com sobrevôos de helicóptero. Na Serra do Brigadeiro, na Zona da Mata mineira, foram identificados quatro novos grupos de muriquis. O custo, porém, inviabiliza o uso recorrente do recurso.

Foi diante de todo esse contexto, então, que surgiu o dronequi. Em parceria com a Fundação Biodiversitas e apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza a ONG Muriqui Instituto de Biodiversidade (MIB), da qual Fabiano é um dos fundadores, adquiriu um drone com duas câmeras de alta resolução de imagem e sensibilidade ao calor para realizar o monitoramente da espécie. O equipamento foi desenvolvido pela Storm Se-curity, que também está responsável pela imple-mentação de um software que auxiliará na busca e identificação dos indivíduos. Um primeiro teste, bem-sucedido, já foi realizado no Parque Estadual do Ibitipoca, onde atualmente são conhecidos apenas dois machos e uma fêmea, recentemente translocada para a região (leia mais no box).

“Com a nova tecnologia conseguiremos dar um importante passo na melhoria de nossas perspectivas de busca de novos indivíduos. Se conseguirmos identificar cinco novos muriquis que ainda não eram conhecidos já será um grande avanço. Mas temos uma meta ousada de encon-trar ao menos cinco novas populações, com 30 indivíduos”, detalha Fabiano.

Translocações e manejo

Em janeiro deste ano a equipe do MIB realizou o resgate e translocação da Esmeralda, uma fêmea de muriqui-do-norte que se encontrava isolada em um pequeno fragmento de Mata Atlântica no município de Ferros, próximo de Itabira. Esmeralda foi levada para a Mata do Luna, uma área de floresta que per-tence à Reserva do Ibitipoca e onde habitam dois machos da espécie. O resgate foi coordenado pela bióloga Fernanda P. Tabacow, diretora financeira do MIB. Além do apoio da Boticário, a ação teve um aporte financeiro significativo da Reserva do Ibiti-poca, por meio de sua gestora de projetos, Brittany Berger. Várias instituições também apoiaram a iniciativa, como o IBAMA-MG, UFV, UFG e o IEF.

Fabiano explica que, entre os muriquis, são as fêmeas que migram entre grupos. “A Esmeralda, por enquanto, está na periferia dos machos, mas eles já se encontraram. A expectativa, agora, é pela reprodução”, pontua.

A ação de manejo faz parte das metas previstas no Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Muriquis, publicado em 2011. Se bem-sucedida – o biólogo diz aguardar a confirmação da gravidez para comemorar –, essa será a segunda translocação de sucesso de muriquis-do-norte. Em 2007 uma equipe multidisciplinar liderada pelo Centro de Estudos Eco-lógicos e Educação Ambiental e pelo IBAMA, com coordenação de Fabiano, conseguiu realizar a captura de uma fêmea isolada e translocá-la para a RPPN Mata do Sossego. De lá pra cá ela já teve quatro filhotes. O mais velho, um macho, provavelmente já é pai.

Fabiano explica que são diversos os fatores que dificultam a manutenção e reprodução dos animais em cativeiro. “Os muriquis são de grande porte, levam de cinco a sete anos para chegar à idade fértil, têm gestação de sete meses e meio e um único filhote a cada três anos”. Ainda assim, o biólogo explica que a manejo de indivíduos em áreas de semicativeiro pode ser uma excelente oportunidade. “Existem quatro cativeiros com muriqui-do-sul hoje, no Brasil, com indivíduos que se reproduzem frequentemente. Te-mos todo o know-how para fazer com que isso ocorra também com o muriqui-do-norte.”

MIB

/Div

ulga

ção

10 Jornal do Biólogo | Setembro de 2017 | CRBio-04

meio amBiente

economia ambiental e ecologia: o que há em comum?Tese de bióloga aponta dificuldades nas relações entre as duas áreas

Uma bióloga fazendo pesquisa no departamen-to de Economia? Essa foi a grande questão enfren-tada pela doutora em Economia pela UnB Carolina Tavares da Silva Bernardo. Com graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Ecologia, ela decidiu se dedicar a uma pesquisa interdisciplinar que unia sua área de origem à Economia. A tese “Economia Ambiental e Ecologia: A proximidade se limita ao prefixo?” investiga as semelhanças e as diferenças entre os dois campos de conhecimento.

A maior semelhança entre a Economia Am-biental e a Ecologia é o fato de ambas serem sistemas complexos que buscam a preservação dos ecossistemas. Mas a conclusão de Carolina Bernardo é que existem mais diferenças do que similaridades entre as duas áreas. Isso porque as bases conceituais são distintas: “enquanto a Ecologia tem uma visão biocêntrica, a Economia é antropocêntrica”, explica.

Ou seja, existe, sim, um diálogo entre a Eco-nomia e a Ecologia, mas repleto de ruídos que dificultam a comunicação. Um dos problemas é a

falta de entendimento dos conceitos dos ecólogos pelos economistas e vice-versa.

Estudos de valoração, por exemplo, tem me-todologia fundamentada em rigorosas teorias de raiz econômica. Segundo Carolina, porém, o método por vezes não é considerado quando os ecólogos realizam esse tipo de pesquisa. “O resultado é a publicação de artigos, que podem vir a servir de alicerce para políticas ambientais, baseados em fundamentos teóricos e empíricos equivocados, que podem desencadear mais de-gradação do que conservação.”

Pelo outro lado, os economistas também fazem mau uso de conceitos ecológicos como estabilidade do ecossistema, resistência e resi-liência. Em uma análise dos impactos da poluição de um ambiente na oferta de peixes, por exem-plo, a má utilização dos conceitos pode levar à conclusão de que, em determinado intervalo de tempo, a diminuição de peixes é menor do que deveria ser. “É um prejuízo tanto ambiental quanto econômico.”

meio amBiente

À procura do meio-termo

O melhor caminho para se alcançar a exce-lência em gestão ambiental é um meio-termo entre os interesses da Economia Ambiental e os da Ecologia, o que poderia auxiliar, inclu-sive, na implantação de uma legislação am-biental mais eficaz. Na tese, Carolina lança um olhar para políticas como o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, o Código Flo-restal e o Projeto de Lei da Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais. A conclusão da bióloga é de que as leis ainda são fracas e repletas de incoerências entre si.

Por outro lado, Carolina avalia que as mu-danças previstas no Novo Código Florestal, sancionado em 2012, caminham para a junção de interesses econômicos e ecológicos. O pri-meiro Código, de 1965, era considerado muito rígido. A antiga lei previa, por exemplo, que na Amazônia os proprietários de terra deveriam destinar 80% da área como reserva legal e nenhum tipo de atividade econômica podia ser realizada nesse local. O mesmo acontecia com as áreas de preservação permanente li-gadas à preservação de cursos d’água. O novo Código traz algumas modificações, como a permissão para exercer atividade econômica sustentável tanto nas áreas de preservação permanente quanto nas reservas legais. “A lei anterior era tão rígida que 90% dela não era cumprida. A atual legislação trouxe instru-mentos para fazer com que os proprietários de terra cumpram a lei. Traz benefícios tanto privados quanto sociais”, conclui.

Separadas pelo tempoEscala temporal é maior diferença conceitual entre as áreas

EConomia 30 anos

ECologia Século

CRBio-04 | Setembro de 2017 | Jornal do Biólogo 11

Arq

uivo

pes

soal

12 Jornal do Biólogo | Setembro de 2017 | CRBio-04

Remetente:Conselho Regional de Biologia - �ª RegiãoAv. Amazonas, ��� - ��º andarBelo Horizonte - MGCEP: ­����-���

DEVOLUÇÃOGARANTIDA

CORREIOS

ImpressoEspecial

Conselho Regionalde Biologia

����������/���� - DR/MG

CORREIOS

Fechamento Autorizado. Pode ser aberto pela ECT.

#CrBio04

Suas fotos no CrBio-04Diariamente o CRBio-04 publica, em seu Instagram, fotos enviadas por biólogos e amantes da natureza. Envie a sua também, utilizando a hashtag #CRBio04. Ela pode ser a próxima a aparecer no Instagram, no site do Conselho e aqui neste espaço!

Ricardo Souza Dias

Murilo Vasconcelos

Fechamento autorizado. Pode ser aberto pela ECT.