bruce lee-vida, paixão e morte do pequeno dragão

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BRUCE LEE - Vida, Paixão e Morte do Pequeno Dragão - Ao fã dedicado. Nos idos de 1983, a então Editora Bangor Ltda., lançava um material inédito com seis volumes intitulado: “BRUCE LEE, Vida, Paixão e Morte do Pequeno Dragão – recordações, confissões, anedotas, conselhos técnicos e segredos do mito da arte marcial”. Tal material continha um esforço grande da equipe (abaixo respeitada) em trazer novos informes, entrevistas e imagens inéditas do incrível Lee Jun Fan (Bruce Lee). Este divulgador realiza um trabalho de restaração do dito material.

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BRUCE LEE

Vida, Paixo e Morte do Pequeno Drago

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Ao f dedicado. Nos idos de 1983, a ento Editora Bangor Ltda., lanava um material indito com seis volumes intitulado: BRUCE LEE, Vida, Paixo e Morte do Pequeno Drago Recordaes, confisses, anedotas, conselhos tcnicos e segredos do mito da arte marcial.

Tal material continha um esforo grande da equipe (abaixo respeitada) em trazer novos informes, entrevistas e imagens inditas do incrvel Lee Jun Fan (Bruce Lee). Este divulgador teve acesso ao respectivo material, em meados de 2003/4, e, aps manuse-lo, percebeu estar diante de uma verdadeira joia. Infelizmente as revistas-livretos estavam em pssimas condies de conservao, o que fazia com que este divulgador, cada vez que comentava sobre o respectivo material, precisasse mostrar a seus amigos com grande zelo e cuidado, para que o mesmo no se desintegrasse. Outro ponto importante de se destacar que, ao que se percebe, poca de sua publicao, a mencionada Editora possua tambm parcos recursos e seus profissionais chegavam a realizar correes mo nos originais antes da impresso final. Alguns textos possuem dificuldade em sua traduo do original, outros3

esto repetidos, e ainda possvel encontrar montagem fora de sequncia, inclusive das imagens. De fato, mesmo sendo dono dos originais, era complicado entender a ordem e coerncia de alguns dos textos que se invertiam, repetiam ou estavam em pginas trocadas. Objetivando a conservao dos ditos livretos, o divulgador optou por digitaliz-los e ento reconstruir seu contedo, sempre respeitando ao mximo sua originalidade e expurgando os defeitos de grfica e impresso acima referidos, trazendo uma coerncia satisfatria aos textos e pesquisas to carinhosamente construdos por seus Editores. As imagens aqui oferecidas tambm so as mesmas que estavam ilustrando o material original, a nica coisa que o divulgador realizou foi nova pesquisa das mesmas, buscando imagens coloridas, permanecendo em preto e branco e com a qualidade dos originais apenas aquelas inditas em toda a internete e que passam a ser histricas. Outro ponto a respeito das mesmas que se procurou introduzi-las dentro do contexto e evitar o excesso onde no havia necessidade, a exemplo da repetio de fotos no curso dos livretos que eram usadas at mesmo de forma espelhada ou ainda de ponta cabea. Infelizmente o divulgador, at o lanamento do presente trabalho, no conseguiu localizar em nenhuma livraria, sebo ou colecionadores, inclusive com o Sr. Leo Akio Imamura (que at a publicao deste ainda vivo) o sexto volume que completaria com chave de ouro a digna publicao da extinta Editora Bangor. Por tal motivo, conclamo aos fs, que, porventura tiverem4

acesso mesma, que entrem em contato com este divulgador, para que se possa completar o trabalho, o qual ser devidamente creditado nos digitais realizados. Abraos e boa informao. Divulgador. [email protected]

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Edio: EDITORA BANGOR LTDA. Av. Ipiranga, 818 5. and., cj. 51 Diretor: Samuel Gorban Tel.: 223-6745 S. Paulo Editor responsvel: Nivaldo Cares Souza Colaboradores: ASSISTNCIA TCNICA EM ARTES MARCIAIS: Leo Akio Imamura MATERIAL INFORMATIVO: Maria Antonietta Fernandes ARTE: Srgio Olivella PRODUO: Armando Soifer BIBLIOGRAFIA: BRUCE LEE: The Man Only Y Knew, por Linda Lee. BRUCE LEE: The Untold Story, por Grace Lee. BRUCE LEE: Fightingethod, por Bruce Lee e Mito Uyeara. JEET-KUNE-DO: The Art and Philophy of Bruce Lee, por Dan Inosanto. TAO OF JEET-KUNE-DO, por Bruce Lee. BRUCE LEE: Le Roi du Kung Fu, por Renee Chateau Informaes de: BLACK BELT MAGAZINE e FIGHTING STARS. ILUSTRATED KARAT: Depoimentos e entrevistas etc.: Bruce Lee The Inconparable Fighter, por Mito Uyeara. Promoo e Divulgao Clarion - Produes Artsticas e Comrcio Ltda. Av. 23 de Maio, 3118 Diretor: Adiles J. Ribeiro. Tels.: 572-3734 571-5331 7

Ao Primeiro Volume

Seu excepcional domnio nas Artes Marciais impregnou as mais antigas tradies com o cunho pessoal de sua graa e carisma, na medida em que repartia com o mundo o que outrora havia sido propriedade exclusiva de uns poucos privilegiados. Sua energia, ambio e genialidade preencheram sua carreira artstica de glria e controvrsias, desde suas primeiras apresentaes em estranha clssicos a em e no Os filmes que permanecerem termos de pblico fez como at sua chocante morte. tornaram-se supremas gnero, destinados arte do Kung Fu, beleza plstica e

apresentaes da como mensagem de sua filosofia de vida.

Sua figura, acima de tudo de grande lutador e no apenas de combates fsicos, mas principalmente da luta da prpria vida que enfrentou de peito aberto e mos limpas, com a dignidade que somente os grandes lutadores possuem permanece e continua como exemplo de perseverana e de coragem para as geraes futuras que vieram ou venham conhec-lo atravs do legado8

deixado por seus filmes, seus livros e suas memrias... "O homem, criatura viva e criador individual, sempre mais

importante do que qualquer estabelecido estilo ou sistema." "Mudar no por causa da mudana, mas mudar para melhorar." Sua meta: a melhora do ser humano, em cada aspectoda vida! Nunca houve algum como ele antes, como expresso mxima de renovao e despojamento do misticismo que vinha cobrindo o mundo das Artes Marciais. possvel que jamais haja quem possa substitu-lo... Na morte, como fora em vida, Bruce Lee continua sendo uma lenda viva e imorredoura. Aqui est para os leitores que desconhecem a veracidade dos fatos, pela primeira vez apresentados com detalhes exclusivos, a verdadeira e fascinante histria do homem mais excitante de nosso tempo: Bruce Lee a figura maior na Arte Marcial deste sculo.

Os Editores

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Ao Segundo Volume

A figura de Bruce Lee agiganta-se perante a juventude como dolo e exemplo a seguir. Exemplo de indmita fora de vontade, exmio artista marcial, filsofo emrito com obras editadas postumamente, Bruce Lee justifica bem o culto que lhe prestamos. Simples, amigo, no tinha vaidade e a presuno dos falsos mestres, todos o podiam tratar por irmo... Mostrava sempre o olhar aberto, franco e leal do Verdadeiro Mestre! Mestre!

Ruy de Mendona

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Ao Terceiro Volume

Dizem que sua morte foi injusta e prematura, mas eu sei que sua morte teve um significado. BRUCE LEE sempre foi um instrutor, um mestre, um guia. Mesmo aps sua morte, continua nos ensinando sobre a vida. S temos que lhe agradecer por ter repartido seus pensamentos e lies conosco e ajudando a enriquecer nossas vidas, por ter trazido dignidade sua raa e por ter mostrado ao mundo O caminho.

Richard Torres

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INTRODUO Parece impossvel que 11 anos aps a morte de Bruce Lee seus filmes continuem sendo exibidos em cinemas de todo o mundo, sua imagem continue captada em tantos posters, seu rosto continue capa de tantas revistas! Temos a impresso de que o falecido heri est mais vivo que muitos astros que o sucederam! O que torna Bruce Lee nico a variedade de talentos que possua e o que realizou nos seus curtos 32 anos de vida. Foi o mais perfeito lutador que o cinema conheceu: ningum conseguia (nem consegue) mais rapidez e graa diante das cmeras. Todavia, a habilidade de Bruce Lee no era apenas vista no cinema. Srios e respeitados artistas marciais admiravam a dedicao atravs da qual Lee se tornara um dos mais formidveis lutadores de todos os tempos! Bruce era inteligente o bastante para perceber o que havia de errado com as artes marciais existentes e remodelar os sistemas de combate de tal forma que nunca mais seriam os mesmos de antes... Sua filosofia de adaptao, Jeet Kune Do, transcendeu as limitaes12

das artes marciais para inspirar seus seguidores em muitas reas da vida. A isto tudo se acrescente sua ilimitada energia, soberbo fsico, simpatia e encanto pessoal que o tornaram um dos mais fotognicos astros da histria do cinema. Sua habilidade cinematogrfica, embora dependesse mais da ao do que da representao em si, foi nica e deixa at hoje uma poderosa impresso. Ainda que suas habilidades no tenham tido realmente uma boa chance de se desenvolverem plenamente no cinema, o material que nos foi deixado mostra que Lee possua um aguado sentido para o espetculo, o que o levaria a fazer filmes que teriam muito mais seno apenas espetacular coreografia de cenas de combate. Bruce Lee continua vivo no corao de seus inmeros admiradores em todo o mundo... e esta coleo intenta proporcionar a seus fs do Brasil momentos de recordao e esclarecimento.

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SUMRIO Entrevista Leo Akio Imamura............................................ BRUCE LEE A realidade de sua vida................................. JEET KUNE DO Uma arte criada por BRUCE LEE............ BRUCE LEE Os primeiros contatos com o NUNCHAKU... O legado de BRUCE LEE................................................... Uma aula de BRUCE LEE.................................................. O treinamento de BRUCE LEE........................................... Entrevista exclusiva com ED PARKER............................... BRUCE LEE Sua filosofia de vida e de luta........................ Recordando BRUCE LEE................................................... Nota da 5. Edio..............................................................

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ENTREVISTA COM: Leo Akio Imamura Procurando esclarecer ao pblico sobre as diversas dvidas existentes a respeito de Bruce Lee e o Jeet-Kune-Do, Maria Antonietta Fernandes reconhecidamente a maior autoridade em Bruce Lee na Amrica do Sul entrevista o consultor tcnico desta publicao, professor Leo Akio Imamura. Sendo o nico no pas a realizar um trabalho de pesquisa e divulgao sobre o Jeet-Kune-Do, a pessoa mais credenciada a esclarecer as inmeras dvidas a respeito do assunto. M.A.F. - P Em Junho de 1984 foi publicada uma traduo sua do famoso texto escrito pelo prprio Bruce Lee para a revista "Black Belt", tentando esclarecer, de uma vez por todas, o que o Jeet-Kune-Do. Infelizmente, naquela poca, o alcance desta conceituada revista se restringia apenas ao territrio norte-americano. Voc acredita que essa publicao, agora em portugus, possa esclarecer o pblico brasileiro a respeito desse tema? Leo - R Sem dvida alguma. Apesar de esse texto ter sido publicado em Setembro de 1971 e republicado por diversas revistas sobre o assunto, acredito que poucos brasileiros tenham conhecimento dele. Afinal, um texto escrito pelo prprio fundador do Jeet-Kune-Do tencionando esclarec-lo para o pblico deve sempre ser o ponto de partida para qualquer tipo de especulao, ou seja, ningum pode dizer que conhece o mnimo de Jeet-Kune-Do sem ter o conhecimento desse artigo.15

P Mas afinal, o que o Jeet-Kune-Do? R Como o prprio Lee disse em seu texto, mais fcil dizer o que NO Jeet-Kune-Do do que tentar defini-lo. Contudo, gostaria de dizer apenas que Jeet-Kune-Do um processo de autoconhecimento e nunca um sistema ou estilo. Bruce Lee sempre alertava seus alunos sobre o perigo de tomar o meio pelo fim, enunciando sempre o ensinamento Zen sobre o dedo apontando para a Lua. P Atualmente o que se faz em temos de pesquisa e divulgao do Jeet-Kune-Do no mundo? R Atravs de informaes de nossos correspondentes no exterior, atualmente est muito em moda nos Estados Unidos os chamados "Seminrios" onde pessoas passam uma semana em determinada localidade "aprendendo" as tcnicas das mais variadas artes marciais. Dentre os maiores "experts" que ministram esses seminrios, podemos citar Remy Persas (Arnis), Bill Wallace (Karat Full Contact), William Cheung (Wing Chun) e trs discpulos diretos de Bruce Lee: Dan Inosanto, Larry Hartsell e Tm Tackett que procuram esclarecer, da melhor maneira possvel, o que o JeetKune-Do. Paralelamente a esse trabalho, a Filipino Kaly Academy e a Asian Martial Arts Academy (lideradas por Dan Inosanto) mantm uma turma fechada (privativa) de treinamento objetivando a pesquisa e o desenvolvimento do Jeet-Kune-Do. P. - E no Brasil? R No Brasil a nica entidade a pesquisar e divulgar o JeetKune-Do a Organizao Self-Defense de Artes Marciais, situada Av. Indianpolis, 1.151 em So Paulo. P O que distingue seu trabalho dos demais trabalhos16

realizados por outros instrutores de artes marciais? R A base de meu trabalho essencialmente fazer com que cada aluno busque um nvel razovel de auto-conhecimento, aprendendo a explorar seu prprio potencial, P O que voc ensina em sua academia? R Em primeiro lugar, eu ensino "para", para depois ensinar "em", pois eu ensino indivduos em qualquer lugar, seja dentro de uma academia ou no. Para esses indivduos, busco fugir o mnimo possvel da essncia das artes marciais, sem fazer rodeios e mostrando tcnicas simples, mas eficientes. Digo mostrando, porque cabe ao aluno escolher o que quer ou no aprender. P sabido que a sua academia a nica a possuir um trabalho terico com base em livros e fitas de videocassete. Por que voc d tanta nfase a esse tipo de trabalho? R Para que o aluno possa ter um poder de discernimento, deve estar ciente de todos os pontos fortes e fracos de todas as artes marciais, alm de um slido conhecimento sobre as mais diversas filosofias, e pensamentos do mundo todo. Assim, eu desmistifico a ideia de que o artista marcial um mero lutador. Em minha opinio, todo artista marcial deve ser um lutador mas nem todo lutador tem capacidade de ser um artista marcial. A grande diferena entre os dois que o artista marcial sabe quando lutar, pois possui o que chamamos de "poder de discernimento". P De que forma voc se identifica com Bruce Lee? R Tanto fsica quanto mentalmente somos bem diferentes.17

No entanto, existem certas caractersticas comuns entre ns, como por exemplo a crena de que o indivduo mais importante do que qualquer sistema estabelecido, seja no campo das artes marciais ou no. P Voc (como Bruce Lee foi) perito na arte do manejo do Nunchaku. Qual a sua opinio a respeito desta arma? R Em primeiro lugar, gostaria de dizer que 90% do que Bruce apresentou no cinema eram tcnicas de puro efeito dramtico. O que atesta sua pericidade com o Nunchaku so pequenos detalhes que escapam vista do observador leigo, alm de anotaes tcnicas e testemunhos de pessoas ligadas a ele. Hoje, muita gente cr no poder milagroso no Nunchaku quando, na verdade, esta arma como qualquer outra, com suas virtudes e defeitos. P O que voc acha mais eficiente num combate? R Todas as tcnicas so eficientes num combate, desde que elas sejam bem executadas. Soco, chute, golpes de projeo, chaves, imobilizaes, todas essas tcnicas so de fundamental importncia desde que o praticante saiba quando e onde aplic-las. Nos filmes, Bruce Lee realizava um uso excessivo de tcnicas de pernas. No entanto, a razo disto que estas possuem um efeito dramtico maior que as tcnicas de brao, alis as suas preferidas. P O que voc acha dos torneios de artes marciais? R No h como avaliar o grau de eficincia de um indivduo num torneio, pois assim como qualquer ato natural, o ato de combater total e irrestrito, no podendo se limitar a regras ou coisas do gnero. Seria a mesma coisa que instituir um campeonato de respirao onde o campeo seria aquele que pudesse absorver maior18

quantidade de oxignio. Entretanto, se encararmos as artes marciais no como defesa pessoal, mas sim como um desporto, a sim, os torneios, campeonatos e competies teriam razo de ser. P O que essencial para a prtica da arte marcial? R Sem dvida alguma, a fora de vontade. Sem ela, nada se conseguir. P Quais so os preceitos bsicos para que se tenha uma boa tcnica? R Fora, velocidade, preciso, equilbrio e noo de tempo e espao. Sem um desses elementos bsicos, uma tcnica no poder ser considerada boa. Observe voc que isso contraria o preceito clssico onde a forma vem em primeiro lugar. Em Jeet-Kune-Do, em primeiro lugar vem a eficincia, e no a plstica como em muitos estilos clssicos. P Para concluir, qual a chave do grande sucesso do artista marcial? R Existem trs segredos bsicos para o sucesso do artista marcial, que so: treinar, treinar e treinar. No entanto, nenhum desses trs segredos inclui um treinamento robtico onde a pessoa no se exprime, mas sim imita. No primeiro "treinar", voc deve treinar para voc. No segundo "treinar", voc deve treinar com os outros. E no terceiro, treinar por voc e pelos outros. S assim voc conseguir algo nas artes marciais.

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BRUCE LEE: A REALIDADE DE SUA VIDA NASCE UM DOLO A 27 de Novembro de 1940, uma jovem me dava nascimento a seu quinto filho no San Francisco's Chinese Hospital (Hospital Chins de San Francisco). Deitada em seu leito, uma mulher nascida em Shangai de descendncia europia sentia-se perdida e solitria. Uma estrangeira em terra estranha. Seu marido, Lee Hoi Chuen, estava a trs mil milhas de distncia, em New York's Chinatown (Comunidade Chinesa de Nova Iorque), trabalhando para prover o sustento da famlia.

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Grace Lee, me do beb, batizou-o com o nome Lee Jun Fan, que significa "Retorno a San Francisco". Pressentindo que seu filho voltaria terra natal, ela preferiu a verso inglesa do nome Li, pois seu nome poderia ser pronunciado de forma errada na Amrica. Mais tarde, o nome Lee Jun Fan foi trocado para Lee Yuen Kan, quando se percebeu que os caracteres chineses do nome eram similares aos de seu av. Dez anos depois, devido ao seu nascimento ter ocorrido no ano e na hora do drago, ficou conhecido por um punhado de fs de filmes chineses como Siu Loong, que significa "Pequeno Drago". E trinta e trs anos depois ficaria conhecido no globo todo como Bruce Lee. Bruce foi o nome que o beb Lee recebeu da enfermeira Mary Glover que atendeu o parto na ocasio de seu nascimento. O destino do pequeno Lee, contudo, parecia estar j traado desde as primeiras horas de sua vinda ao mundo. Seus pais, Lee Hoi Chuen e Grace Lee, no eram apenas mais um par entre os milhares de chineses que imigraram para o Novo Mundo na esperana de partilhar do sonho americano. Eram artistas profissionais em turn pela famosa Cantonese Opera Company (Companhia de Opera Chinesa). Mesmo antes de desmamar, com trs meses de idade, Bruce Lee enfrentou uma cmera de cinema pela primeira vez. 4Segundo sua me, este filme foi realizado em 1941 e foi21

intitulado "Golden Gate Girls". Por volta de seus cinco meses de idade, tendo a turn de seus pais terminado nos Estados Unidos, Bruce realizou sua primeira viagem de uma longa srie entre sua terra natal e sua terra de criao, Hong Kong. UM GAROTO PRECOCE Quando criana, Bruce Lee gostava de inventar as mais fantasiosas estrias com as quais entretinha seus irmos, companheiros e at adultos. A imaginao frtil dava asas s mais fascinantes narrativas dando vazo a seu esprito brincalho e alegre, s vezes em proporo que o tornavam quase diablico nas peas e logros que engendrava. Entretanto, sua natureza era boa. Em seu livro "The Untold Story", Grace Lee, me de Bruce, conta que certo dia, ao adentrar na sala de estar, viu Bruce olhando a rua atentamente debruado janela. Subitamente o jovem Lee saiu correndo em direo porta. Grace ainda perguntou-lhe aonde ia com tal afobao, mas ele no respondeu, apenas disparou a correr. Ela, ento, foi ver o que seu filho estaria observando e viu seu garoto ajudando um homem cego a atravessar a rua de intenso trfego. Mais tarde, Bruce disse me que todos apenas passavam pelo cego e o pobre homem pareceu-lhe to triste e frustrado que ele achou que tinha que fazer algo.22

Outro fato que Grace Lee lembra com clareza deu-se quando Phoebe, irm de Bruce, entrou s pressas na cozinha e disse-lhe que seu irmo estava morrendo. Bruce estava pulando como um louco apertando sua garganta e chamando em altos brados sua "mama". Ele havia engolido o bico de borracha da mamadeira de seu irmo Robert. A me ainda tentou acalm-lo dizendo que um mdico viria logo e que ele no sufocaria, pois ainda podia falar. Quando o mdico chegou, o jovem sapeca j tinha deglutido toda a borracha e a nica coisa a fazer foi dar-lhe o que o mdico havia receitado como sendo o melhor remdio no caso... um laxante! O PEQUENO DRAGO

Sua outra irm, Agnes, a quem Bruce chamava de "Pequena Rainha", lembra que, quando criana, Bruce costumava andar dormindo alm de ter pesadelos. Dormiam23

em camas tipo beliche e muitas vezes ela o via descer de seu beliche no meio da noite e, em profundo sono, perambular pela casa. Agnes lembra ainda das vezes em que seu irmo a protegia sempre que algum menino viesse importun-la. Naquela poca ela sentia-se muito lisonjeada e orgulhosa dele. Conforme o tempo passava, contudo, a energia excessiva de Bruce comeou a ser canalizada negativamente, devido ao ambiente em que viviam. Os moleques e rapazotes das ruas formavam grupos que s sabiam brigar uns com os outros. Bruce comeou a envolver-se em lutas sem nenhuma razo aparente. E se no sasse vencedor ficava furioso. Perder, ainda que ocasionalmente, era para ele insuportvel e no final ele acaba sempre vencedor. Na maior parte de sua adolescncia, Bruce Lee usou culos. Desde a poca de seus sete ou oito anos fora mope porque costumava passar horas e horas lendo livros e revistas de letras midas na cama antes de dormir, s escondidas de sua me. Um dia, com doze anos de idade viajava num nibus, sem culos, comendo tmaras sentado ao lado de um senhor de aspecto grave e sisudo.24

Ao terminar de comer jogou as cascas fora pelo que pensou que fosse uma janela aberta. No necessrio dizer que a janela estava fechada e as cascas, batendo contra o vidro, caram sobre o bem vestido passageiro. Este se virou furioso para Bruce gritando e perguntando se era cego. Bruce embaraadamente respondeu que sem seus culos acreditava que sim. Mais tarde, Bruce passaria a usar lentes de contato e tais problemas terminariam. A imaginao de Bruce Lee criava "brincadeiras" nem sempre engraadas para as "vtimas". s vezes polvilhava "p de mico" nas pessoas e quase arrebentava tentando conter o riso. Sua me conta um episdio no qual Bruce trocou toda a moblia do quarto da empregada. Quando esta entrou, imediatamente comeou a tropear em todas as coisas. A luz mais prxima ficava no centro do quarto e assim ela foi batendo e tropeando em cada mvel at alcanar o interruptor para acender a luz. S assim ela pde ver a disposio das coisas. A empregada ficou furiosa, dizendo que aquilo s poderia ter sido obra de Bruce! Agnes, uma das irms de Bruce, confirma que ele era realmente muito travesso quando criana e uma das peas que gostava de pregar nos criados era mand-los ao armazm buscar coisas que ele sabia que o armazm no vendia. Phoebe, sua outra irm, lembra que certa vez ele colocou um livro em suas mos e disse-lhe que deveria l-lo por ser25

um livro muito especial. No havia ttulo na capa, aumentando assim a curiosidade de sua irm. Ao abrir o livro a jovem recebeu um tremendo choque eltrico. Bruce desatou a rir e saiu correndo pela casa. Bruce era muito tagarela, falava sempre e nunca parava quieto. Com suas extravagantes estrias e um maravilhoso senso de oratria e de humor, era sempre capaz de fazer todos a sua volta pararem para ouvi-lo e rirem mesmo se estivessem infelizes. Hong Kong uma cidade difcil de se viver. A palavra "sobrevivncia" tem, nesse lugar, um sentido muito mais profundo do que em qualquer outra parte do mundo. Sobreviver trabalhar duro durante longas e rduas horas de cada dia, ano aps ano. Entretanto h outro meio de se obter dinheiro para sua sobrevivncia em Hong Kong... o crime. Em Hong Kong h centenas de gangues formadas por adolescentes. Em qualquer comunidade com mais de quatro milhes de pessoas num espao relativamente pequeno, a maior preocupao do governo manter a ordem pblica.

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Na poca em que alcanava sua puberdade, Bruce Lee era componente de um grupo de adolescentes. Seu grupo chamava-se "The Junction Street Eight Tigers" (Os Oito Tigres da Rua Junction). O lema do grupo era: "Lutar por justia, ajudar o fraco, vencer os desordeiros: Um por todos e todos por Um!" Conforme Bruce crescia, sua reputao de valente crescia com ele. Inevitavelmente passou de brigas de escolas para brigas de ruas contra as demais gangues. Mas no era dinheiro ou desordem que ele buscava como os demais. Ele buscava apenas uma coisa: lutar! O prprio Lee nunca escondeu isso. Numa entrevista para a "Black Belt Magazine" ele afirmou que era um "punk" e vivia procurando brigas. Disse tambm que usava correntes e canetas que traziam lminas ocultas. Nesse nterim, sua carreira cinematogrfica continuava. Embora tendo aberto as portas do mundo do cinema para o filho, o pai de Bruce no estava nada feliz em ter outro ator na famlia. Planejara instigar as ambies do filho para uma carreira mais estvel. Ele o advertia sempre que haveria muitas complicaes pela frente de quem quisesse seguir a carreira cinematogrfica. Apesar de desaprovar essa vocao de Bruce Lee, Hoi Chuen no podia proibir seu filho da aceitar novos papis.27

Talvez pressentisse secretamente os talentos ocultos em seu notvel menino. Aos treze anos Bruce Lee comeou a interessar-se pelo Kung Fu. Ento seu pai passou a ministrar-lhe lies de Tai Chi Chuan.

Seu pai, como milhares de outros chineses idosos ou entusiastas pela sade, era praticante de Tai Chi Chuan. Esta arte uma antiga disciplina chinesa mental e BRUCE LEE em contraste com sua rebeldia fsica, datando de 1.500 anos atrs, na poca dos monges taoistas. O ponto chave do Tai Chi Chuan a suavidade, e os movimentos lentos dos exerccios so combinados para alcanar-se um equilbrio entre a mente, o corpo e o esprito. Os exerccios do Tai Chi Chuan so to benficos que28

trabalham cada parte do corpo, desde as menores juntas at os maiores msculos, em harmoniosas e graciosas formas. O resultado a melhoria geral da sade, maior flexibilidade das juntas, estmulo na circulao sangunea, maior atividade do sistema nervoso e do sistema respiratrio. , ainda, um caminho para a felicidade espiritual. Com a harmonia do corpo e da mente, o "chi" (energia interna) comea a fluir. Quando o fluxo do "chi" est livre, a energia espiritual comea a se desenvolver, o que conduz a um estado de realizao interior. Atravs da prtica do Tai Chi Chuan, o indivduo desenvolve um estado de profunda percepo e coloca-se em contato direto com o Universo. Na poca em que Bruce foi instrudo por seu pai nessa arte, certamente no buscava objetivos to elevados. Com treze anos, tudo que Bruce queria era aprender um meio de vencer mais facilmente suas brigas. Numa entrevista de 1967 para a "Black Belt Magazine", Bruce Lee disse que pensou no que aconteceria a ele, caso no tivesse seu grupo atrs de si na hora de enfrentar um grupo rival. Dessa forma decidiu aprender a proteger a si prprio, praticando Kung Fu. De certa forma isso faz sentido se considerarmos a hostilidade quase selvagem do ambiente em que Bruce cresceu. Todavia, como muitas artes de valor, Kung Fu exige meses de rigoroso treinamento antes que o principiante comece a perceber suas verdadeiras possibilidades. Os que se matriculam numa escola de Kung Fu por motivos no condizentes com os princpios dessa arte, ao curso de uma ou duas lies caem fora. Os que procuram apenas um meio de acrescentar recursos ao seu arsenal de belicosidade logo desistem, desiludidos com a dureza do treinamento bsico. Somente os que vem no Kung Fu algo mais que narizes29

quebrados persistem. Assim deu-se com Bruce Lee. Atrado de incio pelo nico objetivo de aprender defesa pessoal, Bruce foi gradualmente dominado pela fascinao do Kung Fu. linha branca. Bruce, ainda furioso, soltou um par de chutes, atingindo o oponente no olho e na boca, o que lhe custou dois dentes. Aps o incidente, os pais da "vtima" queixaram-se polcia e a Sra. Lee teve de ajeitar a questo, advertindo depois o jovem filho de que se tal fato se.repetisse ela contaria a seu pai e providncias seriam tomadas.

Quando Bruce atingiu seus 14 anos, descobriu outra maneira de expandir suas energias, a dana. Com natural30

graa e agilidade aprendeu rapidamente todas as danas populares da poca, sendo sua favorita o Ch-ch-ch. Cada dia, depois da escola, ia casa de seu amigo Pearl Cho e praticavam at que se tornou campeo de Hong Kong. Mas as lutas de rua continuavam e cada vez que Bruce se envolvia numa encrenca, sua me tinha que comparecer escola e conversar com o diretor. Nessa poca, Bruce frequentava a Saint Francis Xavier College e um dos frades, o irmo Edward tambm notou que Bruce estava se tornando muito selvagem. Para ensinar-lhe uma lio de humildade, convidou-o a ir sala de boxe de colgio e se ps a boxear com ele. Bruce nunca boxeara antes, mas usando as tcnicas de Wing Chun foi capaz de sair-se muito bem. Vendo que Bruce tinha talento, Frei Edward convidou-o a ingressar na equipe de boxe do colgio e a participar do prximo torneio interescolar. Quando Bruce Lee cursava seu ltimo ano de Colgio, ele ainda voltou a atuar como protagonista de outro filme de sucesso, "The Orphan" Com dezessete31

anos Bruce era muito forte, rpido, duro e insolente. Isso ressentia seus contemporneos, colocando-o em srios perigos com gangues de Kowloon. Todavia, nem sempre era Bruce quem procurava por encrencas, na maioria das vezes eram as encrencas que o procuravam. Desde muito jovem, Bruce Lee gostava de se vestir bem e cuidar de sua aparncia pessoal. Como seus pais estavam razoavelmente bem de vida, o jovem Lee podia dispor de boas roupas. Certa .noite, tal esmero no vestir trouxe-lhe mais uma encrenca. Bruce estava fazendo uma travessia de balsa, quando dois "punks" comearam a provocar, perguntando-lhe se era um rapaz ou uma moa. Continuaram zombando, mas Lee conseguiu manter a calma at a balsa atracar. Ao descerem, Bruce no aguentou mais, pondo-se a xing-los para espanto de seus provocadores! O maior deles avanou sobre Lee, que golpeou com um rpido e violento chute na canela. O "punk" no pode fazer outra coisa32

a no ser pular e gritar de dor. Imediatamente Bruce avanou sobre o segundo que fugiu feito um coelho assustado. Bruce causava a seus pais muitas noites de insnia e uma terrvel dor de cabea, Eles sabiam que o jovem Lee estava rondando as ruas a procura de encrencas. A situao chegou a tal ponto que Bruce foi parar numa delegacia aps uma briga. Para sua me foi a gota d'gua. Ela proibiu-o de aceitar uma oferta do milionrio produtor Sir Run Run Shaw, aps o grande sucesso de "The Orphan". Era tempo de mudar. Por tudo isso, sua famlia decidiu envi-lo para outro ambiente, uma outra vida que o afastasse das brigas, pois em Hong Kong ou se apanha ou se bate. O jovem Lee foi enviado para os Estados Unidos da Amrica, onde deveria completar seu curso superior. Como me, Grace sentia em seu corao que partir seria a nica soluo e a nica chance de Bruce para endireitar, fazendo algo de sua vida. Na Amrica, o jovem Bruce Lee ia defrontar-se com um novo mundo. Com dezoito .anos de idade e apenas cem dlares no bolso alm de uma passagem de terceira classe num navio cargueiro, partiu Bruce. O jovem Lee estava a caminho da Amrica! Embora tivesse regressado aos Estados Unidos da Amrica sua terra natal com o propsito de aprimorar sua educao, o "Sonho Americano" significava, para Bruce Lee em seus 18 anos, muito mais que apenas a chance de33

frequentar uma Universidade. Ambicioso, sonhador, motivado pelo xito de seus ltimos filmes rodados em Hong Kong, o jovem Lee almejava, na Amrica, as luzes de Hollywood! Ainda hoje, Hollywood continua sendo, mesmo para a capital do vasto imprio industrial cinematogrfico mandarim Hong Kong, uma meta inatingvel, um Reino Mgico muito alm do alcance dos mais consagrados atores do Oriente. Logo, portanto. Bruce descobriu que embora tivesse viajado cinco mil milhas em sua busca por realizao e fortuna, o dourado portal da fama continuava inacessvel sua conquista imediata. Alguns anos mais tarde, quando as negociaes para que Lee estrelasse sua prpria srie de Kung Fu na TV americana deram em nada, Bruce declararia aos reprteres: "O que est dificultando as coisas que uma srie de pessoas em Hollywood esto agora reunidas tentando decidir se a audincia americana est pronta ou no para aceitar um heri oriental!"

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Em 1958, praticamente os nicos personagens chineses "tolerados" pelo pblico americano eram o cozinheiro Fu Manchu (por sinal um ator branco sob quilos de maquiagem) e as indispensveis hordas de amarelos que se lanavam com sanguinria sanha sobre os soldados americanos nos famosos filmes de guerra. Se Bruce Lee aceitasse colocar um rabicho atrs da cabea poderia conseguir talvez, na melhor das hipteses, um lugar de extra frente cmera de algum seriado de TV... Mas depois de ter liderado, na vida real, tantos grupos rebeldes nas perigosas ruas de Hong Kong por quase uma dcada, Bruce Lee no estava a fim de se deixar pregar um rabicho por ningum. Os primeiros meses da nova vida de Lee nos Estados Unidos foram passados com um amigo de seu pai, em San Francisco. Mas Bruce no suportaria essa dependncia por muito tempo: faria sua mala e rumaria para o norte de Seattle, no Estado de Washington, sobrevivendo do trabalho que todo imigrante chins gostaria de poder evitar... ajudante de cozinha e lavador de pratos! Assim, durante o dia Bruce estudava na Edison Vocational High School, noite trabalhava no Ruby Chow Restaurante, em cada momento livre de seu tempo, praticava diligentemente seu35

Kung Fu! Foi uma mudana radical entre o rapazote lder das gangues de rua de Hong Kong e o ento compenetrado estudante do Curso de Filosofia da Seattle's Washington University. Nessa poca Bruce Lee j comeava a ensinar sua concepo prpria do estilo Wing Chun Kung Fu, primeiro para amigos mais ntimos e depois para alguns poucos alunos selecionados que pagavam um preo moderado pelas aulas dadas em parques de estacionamento ou pores de velhos edifcios, pois Lee no podia, ainda, dar-se ao luxo de manter uma escola.

Foi durante esse perodo que Bruce teve por colega de Universidade a bela estudante de medicina, descendente de suecos, Linda Emery que viria tornar-se sua aluna e logo36

depois sua esposa. Conta-nos Linda: "Eu tinha uma amiga chinesa que tomava lies de Kung Fu. Um dia ela me levou para assistir uma aula de Bruce que ensinava tambm filosofia oriental. Achvamos tudo muito excitante, divertido e eu acabei participando do grupo que sempre o seguia. No sei se estava mais interessada no Kung Fu ou no professor! O fato que em 1964 estvamos casados." Os primeiros anos desse casamento que durou at o dia da morte de Lee foram descritas por Linda como "embora financeiramente difceis, extremamente felizes! Para muitos amigos e parentes de Bruce, a escolha de uma esposa ocidental poderia parecer estranha, mas para os mais ntimos no havia nada de espantoso nesse relacionamento: "Linda no muito diferente das moas chinesas. afirmou Peter Lee, irmo mais velho de Bruce Apesar de norte-americana possui muito do temperamento oriental, ainda que continue comendo comida chinesa com garfo..." Poder-se-ia dizer que Linda representava o Yin e Bruce o Yang.

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Ela a parte suave e ele a parte enrgica de um todo que se integrava muito bem. Descrevendo seu relacionamento com o marido, logo aps a morte de Lee, assim expressou-se Linda: "Nosso casa mento no foi a matemtica equao onde um mais um igualam dois, mas, .antes, duas metades que se ajustaram perfeitamente para formar um todo harmnico." Linda Lee, na verdade, foi, segundo testemunhos .de parentes e amigos ntimos do casal, durante toda a vida de Bruce a esposa meiga e compreensiva que conseguiu equilibrar o temperamento violento do companheiro, apoiando-o irrestritamente durante os anos de penria ou.de fortuna, nas horas de decepes ou de alegrias. Foi desta maneira que acabou se tornando tambm parte do mundo privativo das Artes Marciais... "Nunca estive fora de forma relembra Linda e podia dar conta do que os alunos de Bruce faziam. Depois de casados, Bruce treinava comigo, moderadamente, claro! mas eu lhe servia como uma espcie de parceiro de treino no qual ele tentava ou experimentava suas novas concepes de combate." Deixando o Curso de Filosofia da Universidade de Washington um ano antes de graduar-se, Bruce Lee abriu sua primeira escola de Kung Fu na tentativa de manter-se com a famlia que iniciava. Essa escola era apenas um modesto salo localizado num pequeno poro, em Seattle. No obstante, Bruce sentia38

se muito orgulhoso de seu "The Jun Fan Gung Fu Institute". Por um ms de instruo cobrava 22 dlares, fazendo um desconto para os alunos menores de idade.

Pouco tempo depois, Bruce e sua jovem esposa mudaram-se para Ookland, Califrnia, nas proximidades da baa de San Francisco, deixando a escola de Seattle nas mos de um aluno e ntimo amigo, Taky Kimura. O casal Lee passou, ento, a viver com outro amigo de Bruce, James Lee (no havia parentesco, o mesmo sobrenome era puro acaso). Com Jantes, Bruce abriu um segundo Jun Fan Institute e foi durante esse perodo que iniciou a preparao de um livro sobre sua arte. No chegou a complet-lo, porm suas anotaes foram compiladas e publicadas, aps sua morte, sob o ttulo "Tao of Jeet Kune Do". Bruce declarou na poca que no tencionava publicar o livro porque "muitas pessoas iriam us-lo com fins lucrativos ou com o intento de abrirem escolas usando meu nome por instrutor... e eu jamais prostituirei minha arte por39

dinheiro!" Por volta de 1964 o Karat havia se estabelecido plenamente como a arte de combate mais letal nos Estados Unidos, seguido pelo Jud e Jiu Jitsu. Para Lee, a exclusiva popularidade das formas japonesas de combate representava um duplo desafio: a luta contra o preconceito, a rejeio e mesmo repulsa com que os americanos tratavam os chineses e a barreira que teria de superar para estabelecer tambm entre os de sua prpria raa seu sistema revolucionrio de ensino que rompia com 'todas as tradies. Ansioso para promover o ento quase desconhecido modo de combate chins, Kung Fu, dando a conhecer ao pblico americano algo mais sobre a cultura chinesa alm do que sabiam sobre sua comida, Bruce empreendeu vrias turns pela regio, fazendo demonstraes e participando de torneios. Foi numa dessas ocasies que, pela primeira vez, Bruce Lee teve voltada para si a ateno de Hollywood! Um dos mais famosos eventos no campo das Artes Marciais, na poca, era o Long Beach International Karat Tournament, promovido pelo cognominado pai do Karat americano, Ed Parker. Convidado por Parker, Bruce compareceu a fim de demonstrar parte dos recursos de sua Arte e o resultado foi surpreendente! Alm do delrio popular e do impacto que seu40

sistema revolucionrio de luta causaria no mundo das Artes Marciais, esse evento abriu-lhe as portas para o sucesso tambm no mundo cinematogrfico. Entre a seleta platia estava o estilista Jay Sebring, famoso nos meios artsticos de Hollywood, cabeleireiro de Paul Newman e William Dozier o gnio responsve l pelo sucesso da srie Batman. Dozier mencionou casualmente estar procurando um oriental para fazer o papel de filho n. 1 de Charlie Chan e o primeiro nome que veio cabea de Sebring, ainda impressionado pela demonstrao que assistira no torneio foi, claro, Bruce Lee! Assim, logo depois Lee j estava fazendo um teste cinematogrfico para a 20th Century Fox. Conseguir o papel para representar o filho de Charlie Chan j seria uma vitria, pois o prprio Charlie Chan era sempre representado por um41

senhor branco, tal a barreira que um oriental especialmente chins encontrava nos crculos do cinema americano. Mas as coisas comeavam a melhorar para Lee e um dinheiro extra era mais que bem vindo, principalmente ento que, em fevereiro de 1965, o jovem casal ganhava seu

primeiro filho, Brandon Lee... "O primeiro chins de olhos azuis e cabelos loiros" diria Lee orgulhoso! Bruce, Linda e Brandon mudaram-se para Los Angeles onde Lee recebeu um ms de treinamento na "20th Century Fox Acting School". Logo a seguir, Bruce levou a esposa e o filho para Hong Kong a fim de rever sua famlia chinesa e apresentar-lhe os novos membros. Ao regressar aos Estados Unidos, soube que a srie Charlie Chan havia sido cancelada. William Dozier, contudo, decidira investir no sucesso de Batman e lanou um seriado baseado na antiga novela radiofnica "The Green Hornet".42

Bruce recebeu, ento, a oferta para representar o guardacostas e motorista oriental do heri Britt Reid, "Kato". "Sabem como obtive esse papel? diria Lee mais tarde ao jornalista Jack Moore, entre lacnico e sarcstico O nome do heri da srie era Britt Reid e eu era o nico chins em toda a Califrnia que podia pronunciar o nome Britt Reid, eis porqu!" Nessa poca, Bruce Lee abria um terceiro Jun Fan Institute, em Los Angeles, deixando o de Oakland sob a orientao de James Lee. "The Green Hornet", no qual fora permitido a Bruce Lee demonstrar apenas uma pequena quota de Kung Fu, correu por todo o territrio dos Estados Unidos como uma srie "medocre"; porm o personagem "Kato" tornou-se um heri entre as crianas e estourou mais tarde em popularidade no Oriente.

Referindo-se a seu desempenho muito formal nesse seriado americano, comentou Lee Rdio de Hong43

Kong: "Quando fiz "The Green Hornet" conforme olhava a meu redor via uma poro de seres humanos, mas ao olhar para mim mesmo percebia que eu era o nico rob entre todos... porque no estava sendo natural!" Embora insatisfeito com sua participao nessa srie de TV, a performance de Bruce como "Kato" granjeou-lhe muito prestgio no mundo das Artes Marciais... "Eu poderia ter feito uma fortuna durante a apresentao do seriado, pois fui abordado insistentemente por vrios homens de negcio que me propunham abrir uma cadeia de escolas "Kato - Defesa Pessoal", todavia recusei. No achei que seria a coisa certa a fazer visto meu ensino ser de cunho estritamente pessoal." afirmou Lee mais tarde.

Realmente, mais importante para Bruce do que impressionar aos homens de negcio do mundo das Artes Marciais, foi o enorme sucesso popular que "The Green Hornet" alcanou em todo o Oriente. Dublado em Mandarim, a srie bateu todos os recordes de audincia em Singapura e nas Filipinas. "Kato" tornou-se um heri para o pblico oriental e os primeiros pares de Nunchaku os bastes de luta que Bruce usou pela primeira vez no seriado j se tornavam a marca44

registrada de seus filmes, comeando a aparecer em forma de brinquedo nas mos dos moleques de rua de Hong Kong. Servindo-se de tal xito, a 20th Century Fox, com o intento de negociar seu seriado no Oriente, promoveu uma turn publicitria e Bruce viu-se solicitado por reprteres,

entrevistas e demonstraes que o lanaram em pleno xito praticamente da noite para o dia. No show de TV "Enjoy Yourself Tonight" Bruce encerrou uma demonstrao de Kung Fu partindo 5 tbuas, de uma polegada cada, pendentes em sua frente e 8 tbuas, de duas polegadas cada, unidas por uma fita adesiva, feitos que quase nenhum artista marcial se arriscaria a executar em pblico. Entre a platia estava o produtor Raymond Chow buscando por um talento para sua recmformada companhia cinematogrfica Golden Harvest. Antes que tivesse a oportunidade de entrar em contato com Lee, no intento de discutir um contrato para, pelo menos, um45

filme, Bruce regressava a Los Angeles atrado, ainda, pelo apelo de Hollywood! Infelizmente para Bruce, porm, depois de "The Green Hornet", tudo que conseguiu foram "pontas" em filmes de pouco sucesso como "Ironside", "Blondie", "Here Come the Brides" e algum trabalho como diretor tcnico de cenas de luta de outras pelculas... "Afinal quem precisa de um ator chins em Hollywood quando no for para Charlie Chan?" desabafaria Lee. Desgostoso com tal situao, Bruce voltou a ensinar sua viso pessoal do Kung Fu, e, para surpresa sua, nomes famosos como Steve McQueen, James Coburn, James Garner, o roteirista Stirling Silliphant, Joe Hyams, Elke; Sommer e outros passaram a buscar insistentemente o privilgio de serem admitidos como seus alunos. Logo, Silliphant, Coburn e McQueen tornaram-se no apenas discpulos, mas ntimos amigos: "James Coburn definitivamente no um lutador... comentaria Bruce posteriormente em uma entrevista aficionado, sim! um homem muito pacfico. Estuda Arte Marcial porque encontra nela um espelho por onde ver a si mesmo. Eu, particularmente, acredito em todo tipo de conhecimento... em ltima instncia, conhecimento significa auto-conhecimento. E isso que Coburn busca! Steve (McQueen) j muito nervoso. Poder vir a ser um artista marcial muito bom se se tornar mais pacfico, como Coburn. No momento atingiu apenas o nvel de sentir a Arte Marcial como um excitamento... como o produzido pela sua nova moto ou seu carro esporte, ou alguma forma de liberar suas emoes." Foi atravs da influncia dos grandes nomes do cinema que se tornaram seus amigos que Bruce Lee conseguiu uma ponta no filme "Marlowe" da MGM, com James Garner e46

um papel para quatro captulos da srie de TV "Long-street", com James Franciscus. "Longstreet" foi sua primeira real oportunidade para atuar num filme... e Bruce gostou!

(...) Oua... voc no pode ver, mas voc pode ouvir! Oua o vento... Oua os pssaros... Pode ouvi-los? Voc tem que se tornar o vento. Esvazie sua mente. Penetre nas coisas como a gua preenche a xcara. Voc tem que. pensar no nada... tornar-se fluido... tornar-se o nada!" Lee ao seu discpulo cego: Longstreet O primeiro episdio da srie "Longstreet" teve por ttulo "The Way of the Intercepting Fists" - ou seja, o significado literal da arte de Bruce Lee. Jeet Kune Do. Nele, James Franciscus (Longstreet) - um detetive de seguros que ficara cego em um acidente - testemunha de um crime, mas no conseguindo convencer a polcia de que poderia provar a identidade do assassino, resolve desafi-lo e, para isso, treinado por Lee em Jeet Kune Do, Esse episdio foi to bem sucedido que at os exigentes crticos norte-americanos o elogiaram. O "New York Times" chegou mesmo a sugerir que Bruce tivesse seu prprio seriado!47

Nessa poca, a Warner Bros estava trabalhando num projeto chamado "The Warrior" que retratava um Mestre de Kung Fu Shaolin exilado no Oeste selvagem americano por ter matado um membro da Casa Imperial Chinesa.

Bruce esperava representar esse personagem, porm, mais tarde "The Warrior" seria lanado com muito xito como a srie de TV "Kung Fu" estrelada pelo ento quase desconhecido David Carradine que alm de no ter nenhum treinamento em Arte Marcial, declarava-se francamente adverso ao tema! Mais uma vez o preconceito racial americano golpeara Lee. profundamente... Todavia, Bruce tinha outro projeto em mente: ele, Siliphant e Coburn haviam escrito um roteiro centralizado no tema de um homem em busca de sua prpria identidade - The Silent Flute - (A Flauta Silenciosa). Nesse projeto, tambm enviado a Warner, Bruce representaria cinco papis diferentes. Entretanto houve problemas quanto aos locais de filmagens - que deveriam ser48

na ndia - e a Warner arquivou o projeto com receio de arriscar dinheiro numa produo duvidosa. Ainda assim, Bruce confiava num futuro promissor, mesmo que naquele particular momento tudo parecesse frustrador em sua vida. Enquanto aguardava respostas e ofertas, incerto das decises a tomar, uma chamada telefnica de Hong Kong em linha aberta com transmisso radiofnica direta iria mudar toda sua vida! Desde sua visita promocional como "Kato", a imprensa local se mantinha em constante contato com o "Astro de Hollywood": - "Costumavam telefonar de manh cedo e levar a conversa telefnica ao ar" - relembra Bruce - "Numa dessas ocasies o locutor perguntou-me se eu gostaria de fazer um filme no Oriente. Quando respondi que faria se valesse a pena, comecei a receber chamadas telefnicas e ofertas de produtores de Hong Kong e da Tailndia", Uma dessas ofertas vinha do cabea da Golden Harvest. Raymond Chow, que j havia tentado antes se aproximar de Bruce, sem sucesso. - "Eu no descobri Bruce Lee" -declararia Chow mais tarde para a revista Fighting Stars - "assim como ele no me descobriu, como muitas pessoas esto dizendo. Ele j havia feito "The Green Hornet" e "Longstreet" e muitos filmes em Hong Kong quando criana e adolescente. O que eu realmente fiz foi lembrar-me do carisma que ele tinha na tela e oferecer-lhe um papel principal. Eu no poderia v-lo fazendo nada menor..." Raymond Chow arranjou um roteiro e telefonou para Los Angeles quase ao mesmo tempo em que a Shaw Brothers Studio oferecia a Lee uma proposta de contrato. Bruce foi muito franco e direto em sua conversa com49

Chow e este enviou um representante para os Estados Unidos com o roteiro de um filme e um contrato pronto. Esse representante fora a esposa do diretor principal da Golden

Harvest, Lo Wei. Aps alguns dias, ela regressaria a Hong Kong com o acordo assinado e pouco tempo depois Bruce Lee partia para sua primeira chance no filme que o lanaria ao estrelato mundial: "The Big Boss" - (O Drago Chins). A meta de Bruce Lee no cinema, segundo sua esposa Linda, era tornar-se um ator de nvel internacional reconhecido mundialmente por sua qualidade em levar s telas o melhor em termos de Arte Marcial e coreografia cinematogrfica. Um ano antes de assinar com Raymond Chow, Bruce j declarava abertamente sua convico em tornar-se um dia um astro internacional... "Seguirei os passos de Clint Eastwood e Charles Bronson" - disse certa vez a um produtor cinematogrfico norte-americano - "Eles se tornaram mundialmente famosos filmando na Europa, eu o serei filmando em Hong Kong". O produtor simplesmente riu na sua cara e advertiu: "Esquea essa ideia! Voc chins, o pblico50

ocidental nunca o aceitar!" - " o que veremos!" respondeu Lee secamente. Todavia essa discriminao racista serviu to somente para reavivar as chamas de sua ardente ambio. No mais profundo de seu ntimo, Lee sabia que poderia conseguir o que queria! Por esse mesmo motivo no quis prender-se a nenhuma companhia cinematogrfica do Oriente atravs de um contrato muito longo que o impedisse de aceitar ofertas de outras companhias norte-americanas ou europias. Ao chegar a Hong Kong a fim de empreender os preparativos para sua primeira grande pelcula, Lee sem dvida percebeu que embora os estdios chineses estivessem disputando ferozmente sua presena, estavam muito aqum do estilo refinado de Hollywood ao qual se acostumara desde que fizera "The Green Hornet" e "Longstreet". Financeiramente, a Golden Harvest no era preo para a Paramount e o oramento de 500 mil dlares de Hong Kong para a introduo de Lee no mercado Mandarim, ainda que uma soma respeitvel para os estdios chineses era uma insignificncia pelos padres de Hollywood.

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A Show Brothers poderia absorver facilmente tal perda se o filme falhasse, mas um desastre financeiro desse porte significaria sria encrenca para a Golden Harvest e para o futuro cinematogrfico de Bruce Lee no mercado Mandarim. O roteiro oferecido a Lee - profeticamente intitulado "The Big Boss" estava demasiadamente abaixo do nvel literrio de Siliphant, embora considerado um enredo acima da mdia pelos padres chineses. Lee no pde aceit-lo sem fazer muitas modificaes, comentando mais tarde: -"Tudo exagerado nos filmes chineses. Para se fazer bons filmes preciso usar de sutileza e poucas pessoas no negcio cinematogrfico Mandarim arriscariam algum dinheiro nisso! incrvel a quantidade de matria que tive que reescrever para "The Big Boss"! Felizmente Raymond Chow percebeu a necessidade de tais modificaes e as aceitou".

Alm da preocupao quanto ao roteiro e ao oramento do filme, o local escolhido - uma pequena aldeia no exterior de Bangkok, Tailndia foi desastroso para Lee. A umidade52

excessiva, o clima sufocante, a praga dos mosquitos, baratas e lagartos, a falta quase total de comida - s havia arroz e vegetais para a alimentao da equipe , a ausncia de comunicao com o resto do mundo contrastavam de maneira deprimente com os recursos de Hollywood que Bruce conhecera. Nesse nterim, o primeiro episdio de "Longstreet" alcanava xito sem precedentes nos Estados Unidos e a Paramount buscava ansiosamente por Lee para mais dois ou trs episdios da srie: - "No poderiam achar-me," diria Lee mais tarde - "eu estava realmente no fim do mundo! Sem alimento e sem meios de comunicao. Cheguei a perder 4 quilos!"

Raymond Chow decepcionou-se ao assistir as primeiras provas do filme. Eram terrveis! O diretor no havia dado conta do trabalho e Chow foi obrigado a mudar de diretor em pleno desenrolar das filmagens. O homem chamado para salvar a53

pelcula foi Lo Wei, um conceituado veterano da Shaw-Bros. Mas, infelizmente, Lo Wei e Lee desentenderam-se, dando margem a uma intolerncia que mais tarde agravou-se a ponto de um rompimento definitivo entre diretor e ator. Apesar dos reveses, da m sorte e das dificuldades que rodearam a equipe, Lee declararia depois: - "The Big Boss foi um filme importante para mim porque tive um papel principal pela primeira vez. Senti que podia fazer melhor do quem em "The Green Hornet" e contava com a experincia de j ter feito "Longstreet". Aos olhos sofisticados do Ocidente, "The Big Boss", apresenta um enredo medocre tendo por cenrio uma fabrica de gelo na Tailndia. Chen (Bruce Lee) chega para trabalhar na fbrica juntamente com seus primos e, pouco tempo depois, dois de seus amigos desaparecem da linha de produo.

Desconfiados com o contnuo desaparecimento de seus colegas de trabalho, os operrios apelam para uma greve a fim de exigir uma resposta satisfatria do chefe. Como resposta, entretanto, o dono da fbrica envia um caminho54

carregado de capangas para persuadirem os homens a voltarem ao trabalho, At ento, Chen havia mantido uma promessa feita a sua me, de no se envolverem lutas, embora tivesse sido tentado a quebr-la em muitas ocasies anteriores. Agora, porm, tendo descoberto pacotes de herona e cadveres de seus amigos ocultos dentro dos blocos de gelo, Chen no pde mais se conter e numa sucesso sangrenta de combates elimina virtualmente cada membro da quadrilha, culminando numa luta final com o prprio chefe que morto tambm.

Quando as filmagens se completaram, tanto Lee quanto Chow acreditavam ter em mos um filme razoavelmente bem sucedido. Embora nada brilhante, certamente no seria um fracasso como primeiro esforo de ambos: - "Eu no esperava que The Big Boss quebrasse qualquer espcie de bilheteria," - confessaria Lee mais tarde - "mas sabia que seria um filme a dar lucro." O impacto que "The Big Boss" causou no Box-Office de Hong Kong surpreendeu a todos! Em seus primeiros 19 dias nas telas de Hong Kong, o filme rendeu $ H.K. 3,2 milhes, quebrando a maior prvia local de bilheteria "The Sound of Music" (A Novia Rebelde) por $ H.K. 800 mil.55

Em Singapura, na Malsia e nas Filipinas e por todo o resto do circuito Mandarim o filme ultrapassou todos os recordes anteriores. Mais de um milho e meio de pessoas o assistiram no primeiro lanamento. - "Acredita-se nos meios do film-business que por "The Big Boss" ter se saldo to bem. improvvel que seu sucesso seja igualado no futuro" publicou The China Mail, fcil entender porque a audincia consagrou "The Big Boss" como "a grande renovao do cinema Mandarim". Para comear, havia um enredo razovel conectando as cenas de luta. Lee havia dado a cada personagem uma identidade prpria com retoques humanos o legado de sua experincia na Amrica como roteirista. Para o Ocidente esses retoques ainda pareceriam desajeitados, mas para a audincia de Hong Kong eram os mais apropriados para retratar na tela, personagens que se parecessem com seres humanos e no com meros sacos de pancadas... "As pessoas gostam de filmes que oferecem algo mais do que apenas uma longa e infindvel batalha." - comentou Lee na ocasio - "O que espero que este filme represente um novo rumo para o cinema chins. Alm disso, os fs haviam descoberto um heri que valia a pena idolatrar. Muito diferente dos atores produzidos em estoque pela Shaw Studios, Lee era um astro natural. Ele possua o carisma e a arrogncia que tornam as lies teatrais irrelevantes: essa qualidade que faz os grande mitos ao cinema! Comparados com Lee, os mais populares atores chineses pareciam bonecos esculpidos em madeira! Os fs de Hong Kong nunca haviam visto nada igual antes e apegaramse quela imagem de rapaz de boa aparncia e tranquilo charme, todavia lutador feroz quando necessrio! A partir de ento houve sempre pelo menos uma revista em Hong Kong com o rosto de Lee na capa... Era o incio de um sucesso sem56

precedentes! Mas o real motivo para o sucesso de "The Big Boss" assim como para os outros filmes de Bruce Lee - reside nas sequncias de luta. Houve quem dissesse que ainda que Lee fosse o corcunda de Notre Dame, suas incrveis cenas de luta teriam sido mais que suficientes para fazer a platia chinesa delirar. Segundo as palavras de um dos maiores crticos norteamericanos, nos filmes de Bruce Lee "No se trata da vulgaridade de um pistoleiro tipo James Arness enchendo de balas ladres de diligncia bbados; tampouco dos recursos fabricados para James Bond: aparelhos engenhosos que surgem na hora certa em socorro do heri! No se trata do punho-martelo tipo John Wayne esmurrando para fora do salo os beberres cados sobre as mesas viradas e as imitaes de vidro das janelas quebradas... Lee usa, antes, a prpria cincia do corpo levada sua mais apurada e fantstica forma de expresso e eficincia: Observar Lee lutar como observar uma pantera dando caa a coelhos!" Ao comentar sobre seu personagem Chen, em The Big Boss, Bruce Lee explicou retratar um rapaz ingnuo que, acreditando em tudo que lhe diziam, tornou-se um animal feroz ao perceber que fora enganado. O termo que usou57

descreve exatamente Lee em pleno combate: um animal lutando com furor frentico! Socos e chutes so desferidos

com perfeito controle e preciso, mas desfere encontra-se em xtase furiosa lbios contrados, garganta ressoando cortante como o de uma ave em pleno impressionante... e os fs gostaram!

o homem que os - olhos brilhantes, num kiai agudo e ataque! Espetculo

Para provar audincia que as lutas de seus filmes no eram escoradas em truques cinematogrficos, Lee e Chow desenvolveram um sistema de tomadas extralongas - algumas durando por mais de 20 segundos: tempo enorme na filmagem profissional. Em cenas de lutas tpicas de Hollywood, o cameraman faz a tomada do atacante desferindo o golpe, corta e depois se posiciona atrs do ator que atacou para filmar a vtima recebendo o golpe. Naturalmente ningum atingido, a no ser por acidente, "O que Lee fazia - diz o diretor de Golden Harvest, Michael Kaye era coreografar a luta e deixar a cmera correr, sem truques!"58

preciso lembrar que Lee estava lidando primariamente com uma audincia local que conhecia Kung Fu e que saberia perceber onde houvesse truques. Quando se observa um filme chins comum, v-se que as lutas so do tipo "rodamoinho", sem pausas, nas quais todo mundo bate em todo mundo... mas com Lee no era assim! Seus combates levados tela eram os mais reais possveis dentro do contexto cinematogrfico. Terminadas as filmagens de "The Big Boss", Lee voltou aos escritrios da Golden Harvest para encontrar um monte de telegramas e cartas da Paramount. Produtores procuravam-no para mais alguns episdios da srie "Longstreet. Em Hollywood, uma srie de telegramas e chamadas telefnicas internacionais fato rotineiro no mundo cinematogrfico. Em Hong Kong, porm, Lee foi instantaneamente considerado "propriedade quente" de Hollywood: - " engraado" - brincaria Lee mais tarde -"mas quando a Paramount enviou-me alguns telegramas, os produtores de Hong Kong consideraram-me um astro importante e meu prestgio aumentou pelo menos trs vezes!". Com as premissas de xito na Amrica e um filme bem sucedido no Oriente, Lee voltou a Hollywood para aparecer em mais trs episdios de "Longstreet".

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Todavia, baseado numa situao improvvel - a de um detetive cego lidando com o mundo do crime - a srie saiu logo do ar, depois que Siliphant parou de escrever os roteiros. Nos subsequentes captulos que lhe deram, Lee no teve chance de mostrar sua arte nem sua filosofia. A despeito de tal revs, Lee continuava teimosamente convencido de que Hollywood estava em sua mo e permaneceu em Los Angeles para considerar outras possibilidades. A Warner Bros ainda pensava em fazer "The Warrior" e a MGM tambm estava interessada no projeto, mas visto as coisas no se definirem, Lee regressou a Hong Kong para empreender seu segundo grande filme pela Golden Harvest. Originalmetne chamado "The School for Chilvary", a pelcula teve seu ttulo trocado para "Fists of Fury" durante as filmagens. Posteriormente foi lanada nos Estados Unidos com o nome de "The Chinese Connection" e no Brasil chamou-se "A Fria do Drago". Rodada em parte nos prprios estdios da Golden Harvest, foi dirigida ainda por Lo Wei e co-estrelada pela bela Nora Miao que apareceria tambm no prximo filme de Lee. "Fists of Fury" retrata os dias da Rebelio Boxer, em 1908. Lee um discpulo de Kung Fu chamado Chen Chen que luta pela libertao chinesa contra a opresso japonesa. Chen regressa sua velha escola Chin Wu, em Shangai, a tempo de testemunhar o funeral de seu falecido mestre Ho Yan Chia que, de acordo com os outros alunos, morrera de pneumonia. Porm as suspeitas de Chen de que assim no fora so confirmadas aps o funeral, pela invaso da escola chinesa por homens da escola japonesa rival que trazem um cartaz onde se lia: - "Os Chineses so os Doentes da sia" - Por ordem do ento responsvel pela Chin Wu School, os alunos chineses60

no respondem ao insulto.

Inconformado, porm, mais tarde Chen visita a Academia japonesa e derrota todos os seus membros, exclamando antes de sair: - "Agora vocs sabem que os chineses no so mais os doentes da sia!". O responsvel pela Academia derrotada exige a priso de Chen pela polcia chinesa, entretanto Chen descobre dois espies japoneses entre os membros de sua escola responsveis por terem envenenado o mestre Ho Yan Chia. Exigindo o nome do mandante e no obtendo resposta, Chen mata os espies e os deixa pendurados num dos postes da rua, depois do que invade a escola rival e literalmente acaba com todos os seus componentes, incluindo um expert russo e um espadachim Samurai! Ao regressar escola Chin Wu, descobre que quase todos os seus membros haviam sido mortos tambm que a polcia j havia chegado.61

Sob presso do Consulado Japons, o inspetor chins (representado pelo prprio diretor Lo Wei, num estilo "Hitchcock") declara a priso de Chen, garantindo, todavia, que a escola chinesa seria deixada em paz. Chen resolve entregar-se sob essa condio e ao sair enfrenta as armas das autoridades internacionais, morrendo metralhado em pleno ar, numa dramtica arremetida final contra os opressores. Enquanto "Fists of Fury estava sendo rodado e apesar do estrondoso sucesso, no circuito mandarim, de "The Big Boss", Lee continuava de espreita nas ofertas americanas, esperando que a Warner Bros o solicitasse para a srie "The Warrior". Todavia "The Warrior" fora arquivado e a Warner decidiu que no queria nenhum oriental para estrelar a srie. Fora uma decepo amarga para Lee que sabia ter sido novamente rejeitado na Amrica exclusivamente pela cor de sua pele e o rasgo de seus olhos! "Fists of Fury" estava profundamente enraizado num sentimento anti-estrangeiro e talvez muito da interpretao de Lee houvesse sido sincera na expresso de sua revolta contra62

o preconceito e a recusa de Hollywood em reconhecer suas capacidades como ator. No Oriente, entretanto, o prestgio de Lee crescia espetacularmente! rendeu em Hong Kong a macia quantia de H.K. $4,3 milhes, forando o "China Mail" a comer suas palavras de que nenhum outro filme superaria o recorde de "The Big Boss". Nas Filipinas, "Fists of Fury" ficou em cartaz por mais de seis meses, com as casas de espetculos lotadas, o que levou o governo a finalmente decidir limitar a importao de filmes para proteger a indstria local. Na estria em Singapura "Fists of Fury" causou o maior congestionamento de trnsito jamais visto na regio, o que forou o adiamento da avant-premire por uma semana. Cambistas vendiam entradas de uma libra por quinze libras! Na Tailndia, o filme recebeu o "Oscar Asitico" como "Melhor Ao em Cinema". Na tela e fora dela Lee tornara-se um super-heri aos olhos populares: - "Bruce sabia instintivamente o que a audincia gostaria de ver e o que no gostaria" - diz Andr Morgan - "No foi por acaso que seus filmes fizeram tanto sucesso!" Segundo Michael Kane certas cenas de "Fists of Fury" foram intencionalmente filmadas para elevar o moral do povo chins. A clebre frase "Os Chineses no so mais os doentes da sia" e o cartaz que Lee despedaou com um chute realmente em certa poca afixado na entrada do Parque Xangai "Proibida a Entrada de Ces e Chineses", significavam muito mais que simples cenas de efeito cinematogrfico. Para os chineses era como dizer-lhes "Vocs so chineses e, portanto, so to bons ou melhores do que qualquer outra raa". Quando amigos de Bruce Lee voaram de Hollywood at Hong Kong para visit-lo e atores norte-americanos com Bob Baker e, mais tarde Bob Wall e Chuck Norris participaram de63

seus filmes to somente para serem derrotados na tela por um chins, o prestgio de Bruce em Hong Kong chegou a propores descomunais. Eram dias em que o territrio chins tentava despojar-se do obscuro manto da Revoluo cultural e emergia como nova potncia nos negcios polticos do mundo. Breve a China convidaria o presidente dos Estados Unidos e este aceitaria o convite. Quando James Coburn voou especialmente para ver Lee, o efeito causado foi o mesmo de Nixon atravessando 5.000 milhas para sentar-se com Mao! Para os produtores de Hong Kong, Bruce Lee estava colocando sua colnia, pela primeira vez, no mapa mundial!

- "Se algum precisava de um heri eram os chineses de Hong Kong" escreveu o jornalista Peter Bennett. "Nunca tiveram um at que Lee aparecesse!" Todavia, o sucesso no trouxe apenas alegrias para Bruce Lee... trouxe-lhe tambm - e sobretudo! - problemas. Aps o xito estrondoso de "Fists of Fury", se no fosse Lee na tela, no seria ningum! As jovens o adoravam, os rapazes64

o imitavam e at os velhos praticantes de Tai Chi queriam conhecer seu Jeet Kune Do. Wang Yu, o primeiro ator do cinema Mandarim a receber HK.$ 100.000 por filme, parecia um extra perto de Lee. A batalha pela caa de um contrato com Bruce Lee estava desencadeada.

-"Era desconcertante." - confessaria Lee mais tarde "Eu no sabia em quem confiar e chegava at a duvidar de meus velhos companheiros. Foi um perodo no qual eu no sabia quem estava tentando tirar vantagens de mim! Estranhos chegavam a esper-lo no porto de sua casa, com cheques de H.K.$ 200.000 que lhe eram entregues "como presente, simplesmente", desaparecendo depois. Lee destrua tais cheques sem chegar a descobrir de onde vinham e com que fim lhe haviam sido dados. Seu telefone tocava constantemente; fs, desafios e produtores oferecendo fortunas de que nem poderiam dispor! Propostas chegavam aos montes, diariamente, em forma de cartas, telegramas ou por representantes pessoais. Um produtor chegou a colocar sua oferta num dos jornais de Hong Kong! A assinatura "Bruce Lee" num simples pedao de papel65

j representava dinheiro garantido. Ironicamente, o resultado de toda essa procura e presso sobre Lee foi aproxim-lo ainda mais do produtor Raymond Chow "Aps os dois primeiros filmes, houve tantas ofertas que eu confessei a Bruce ser-me difcil, seno impossvel, competir com as enormes somas que lhe propunham." - disse Chow. "Seria desonesto para com ele e para comigo." A soluo encontrada foi formar uma nova companhia, a "Concord Films" cujos lucros seriam divididos meio a meio entre Chow e Lee. E foi assim que leve incio o terceiro grande filme de Bruce Lee, j pela Concord Films, "The Way of the Dragon". Alm da perspectiva de maior margem de lucro, a Concord deu a Lee a oportunidade de fazer as coisas inteiramente a seu modo. Foi uma oportunidade que agarrou com unhas e dentes, livrando-se.de Lo Wei e assumindo completo controle da produo como escritor do roteiro, diretor e astro. O produto final, na opinio de muitos, foi o melhor filme que Lee fez! O enredo era simples, baseando-se nas aventuras de um rapaz ate certo ponto ingnuo, mas que com sua honestidade, esforo e sinceridade consegue vencer a todos que se interpem em seu caminho! Em resumo, a filosofia de vida de Lee. O cenrio de "The Way of the Dragon" foi a famosa Roma, onde Tang Lung (Bruce Lee) chega do interior de Hong Kong para ajudar sua prima (Nora Miao) cujo restaurante chins estava sendo ameaado por uma quadrilha local. Aps alguns reveses, Tang Lung desmantela toda a quadrilha culminando o filme com a monumental batalha no Coliseu Romano entre Bruce Lee e o sete vezes campeo66

mundial de Karat, Chuck Morris, contratado para acabar com Lee. Sem dvida, a melhor luta jamais levada s telas. Uma obra prima que, na opinio de muitos, nunca ser sequer igualada.

Quando as filmagens terminaram, Lee sabia o potencial que tinha em mos! Esse filme, declarou ele, rendia mais de 5 milhes de dlares. Os crticos julgaram-no louco. Como poderia seu filme dobrar a renda de "Sound of Music"? - "Esse filme diferente." - respondeu Lee... - e, como sempre, ele estava certo! Apenas nas primeiras trs semanas de seu lanamento em Hong Kong, "The Way of the Dragon" rendeu H.K.$ 5,4 milhes l A razo fundamental para o sucesso do filme est na progresso natural de "The Big Boss" para "Fists of Fury" at "Way of the Dragon". Fundamentalmente, a frmula era a mesma: o heri de alma limpa contra os patifes sujos, mas a67

estrutura em "Way" apresentou-se muito mais refinada e as cenas de luta realmente mais soberbas e mais reais do que nos filmes anteriores. Enquanto suas duas primeiras pelculas, sob a direo de Lo Wei, tornaram-se grandes xitos simplesmente pelo carisma de Lee, "The Way of the Dragon foi um produto final mais refinado da arte cinematogrfica sob qualquer ponto de vista. No que Lo Wei h muitos anos no ramo fosse um mau diretor. Pelos padres chineses, Lo Wei sabia o que a audincia queria. Mas continuava sendo um diretor chins, de mente chinesa, limitado pela sua prpria vivncia nos filmes exclusivamente chineses! Lee, por outro lado, era um homem de duas Ptrias! Sabia ampliar os horizontes de sua terra e alcanar o outro lado do mundo: Europa e Amrica. Em "Way of The Dragon"

conseguiu um equilbrio entre a vigorosa inocncia da indstria Mandarim e a habilidade e refinamento dos produtores norteamericanos. A deciso de filmar em Roma foi uma mostra do desejo de Lee pelo progresso. Assim como o foi sua luta com Norris. Ao derrotar Norris no cho pedregoso do Coliseu, Lee68

estava dizendo outra vez audincia que um chins de l,65m. era to bom ou melhor artista marcial que qualquer outro do mundo exatamente o que eles queriam ver. Mas, agora, j com maior controle sobre produo, quis certificar-se de no estar instigando sentimentos perigosos assim, levou sua .mensagem um tanto mais longe, terminando-a com um fundo moral... Quando Norris, brao e perna quebrados, acha-se encurralado contra a parede da arena, h uma tomada, de uns 10 segundos ou mais, em que Lee olha para seu oponente j vencido e num sentimento de compaixo e humanidade seno tambm de respeito pela vida alheia acena-lhe com a cabea para que desista. . . Mas Norris, um profissional que vivia pela sua arte, recusa-se e arremete contra Lee num ataque final suicida. Lee vence, mas em vez de afastar-se, simplesmente, do campo de batalha, detm-se ante o adversrio morto e cobre-lhe o corpo inerte com a vestimenta branca de lutador, cruzando-lhe sobre o peito seu cinturo preto em sinal de respeito e pesar. Nas palavras de Michael Kaye: - "Normalmente, em filmes chineses no se honra o inimigo. Voc o mata do modo mais horrvel possvel e goza o fato. Mas Lee quis mostrar outra coisa... algo como "orgulhe-se de ser chins, mas honre tambm seu inimigo. Ele to humano quanto voc!" Com o extraordinrio triunfo de The Way of the Dragon", Lee provara, mais uma vez, do que era capaz. Era tempo de alcanar novos horizontes, mas no voltando a San Francisco com 100 dlares no bolso. . . Desta vez seria diferente, desta vez o mundo iria at ele! Hollywood vai a Hong Kong Se Bruce Lee tivesse vivido o suficiente para fazer as coisas a seu modo, nem The Big Boss", "Fists of Fury" ou "The Way of the Dragon teriam sido apresentados no Ocidente... "Os trs primeiros filmes que fiz no foram69

dirigidos audincia americana". - disse Lee a um reprter "Foram filmes estritamente feitos para o Oriente... esto muito fora da realidade americana!" Em Hong Kong, Lee fazia filmes para seu prprio povo, dando-lhes o que eles queriam ver. "The Way of the Dragon" foi parcialmente uma primeira tentativa de cobrir a brecha entre Oriente e Ocidente e Lee estava ansioso por outras oportunidades de refinar sua tcnica antes de arriscar penetrar territrios mais sofisticados como Europa e Amrica. Todavia, to bem sucedidos foram seus trs primeiros filmes que na ocasio em que "The Way of the Dragon" era lanado em Hong Kong, j havia pouco a cobrir dessa brecha! Run Run Shaw iniciara a moda Kung Fu no Ocidente com seu "King Boxer" estrelando Lo Lieh, cuja renda chegou a trs milhes de dlares nos Estados Unidos. Em 1972, Run Run Shaw lanou "The Killer", "New One Armed Swordsman" e "Cold Sweat". A invaso Kung Fu havia comeado... O diretor Michael Kave. da Golden Harvest, considerou a exploso Kung Fu na Amrica meramente um perodo de obsesso pelo exotismo oriental. Com a invaso de tais filmes, revistas americanas comearam a publicar artigos sobre Bruce Lee e o colunista Robert Elegant, do Los Angeles Times, citou Bruce Lee como o expoente mximo da Arte Marcial no cinema. Raymond Chaw convenceu-se de que, sofisticado ou no, seu produto estava pronto para fazer sucesso no outro lado do mundo. Primeiro foi "Fists of Fury"... Na Europa, Estados Unidos e Canad o filme bateu todos os recordes de bilheteria de filmes orientais anteriores, com as casas lotadas em todas as sesses. "Fenomenal! exclamou o publicitrio londrino Mike Jones. "The Big Boss" foi o prximo lanamento na Amrica e70

repetiu o xito anterior. Para espanto seu, Lee saltara direto da adorao dos fs de Hong Kong para o corao dos americanos sem mesmo ter tentado isso!

Reconhecendo que Bruce Lee era outra coisa, muito acima dos atores e filmes comuns de Kung Fu, os fs ocidentais transformaram-no num astro internacional virtualmente do dia para a noite. A indstria de Hong Kong imediatamente comeou a manipular a imagem de Lee em milhares de camisetas, chaveiros, emblemas, distintivos, etc., vendidos tambm na Amrica com larga margem de lucro. O rosto de Bruce Lee era presena obrigatria em cada revista de cinema ou de arte marcial e at bonecos com socos mecnicos j eram feitos com a imagem de Lee. Para o mundo ocidental e para os espertos homens de negcio, Bruce Lee e Kung Fu significavam a mesma coisa. Em Hong Kong, Lee e Chaw j comeavam a trabalhar uma segunda produo da Concord Films, a ser chamada "The Game of Death". Embora no houvesse ainda um roteiro definido, Lee filmou vrias sequncias de luta com um velho amigo e astro71

do basquete americano "Big Lew" - Kareem Abdul Jabbar. Jabbar, jogador do "Milwaukee Bucks", voara at Hong Kong para uma visita social e acabara concordando em aparecer em "The Game of Death".

As filmagens levaram uma semana e satisfizeram a todos, exceto ao empresrio de Jabbar, nos Estados Unidos. Jabbar um dos jogadores de maior seguro no negcio do basquete, no lhe sendo permitido nem visitas promocionais, por receio que se machuque. Quando seu empresrio soube que passara as frias em Hong Kong trocando socos com o rei do Kung Fu, teve um ataque! Nesse nterim as ofertas continuavam inundando os escritrios da Golden Harvest e produtores de todo o mundo continuavam disputando um contrato com Bruce Lee. Em frente enorme fila, convencidos agora de que tambm queriam uma fatia do astro de um milho de dlares, estavam os produtores de Hollywood! Os mesmos que, h alguns anos,72

haviam-lhe batido a porta na cara, escarnecendo: "Um chins nunca ser um astro na Amrica!"

Todas as portas antes solidamente trancadas para Lee abriam-se-lhe amplamente... Uma sensao altamente satisfatria. E a alegria de Lee deve ter aumentado consideravelmente quando se tornou claro que sua velha inimiga, a Warner Bros estava entre as muitas companhias que o buscavam! Ted Ashley, presidente da Warner Bros, telefonou Concord e exps seu plano para uma co-produo do "primeiro autntico filme de arte marcial feito por uma companhia americana", como a equipe publicitria da Warner descreveria mais tarde o projeto. O produtor executivo da Warner, Fred Weintraub, voou a Hong Kong para apresentar a ideia e ento Lee e Chaw voaram aos Estados Unidos para assinarem o contrato.

Weintraub e Paul Heller, com a equipe da Warner, juntarse-iam s foras da Concord, escorados pelo capital da Golden Harvest, para produzirem um filme chamado "Enter the73

Dragon". As filmagens de "The Game of Death" foram adiadas e Lee atirou-se de corpo e alma na nova produo. Seria o maior filme que j fizera e estava entusiasticamente certo de que "Enter the Dragon" seria seu lanamento definitivo como astro de primeira grandeza no cenrio internacional... feliz predio l Desde o incio "Enter the Dragon" tinha todas as caractersticas de vir a ser mais uma cara produo de Hollywood, ou pelo menos assim seria visto nos crculos de Hong Kong. Realmente, pelos padres americanos, o oramento de U$ 600.000 dlares era relativamente modesto, considerandose que os filmes de James Bond, por exemplo, chegam a cerca de um milho de dlares cada. Mas para os produtores chineses e fs de Hong Kong U$ 600.000 dlares era uma enorme soma! Os homens da Golden Harvest, responsveis pela construo do cenrio, viram-se subitamente com acesso a mais dinheiro que o oramento total de qualquer prvia produo na que tinham trabalhado!

O veterano ator de Hollywood, John Saxon, estudioso74

das artes marciais, foi escolhido para estrelar com Lee e o resto do elenco era tambm significativo: Jim Kelly, campeo internacional de Karat em 1971, Bob Wall, campeo profissional de Karat norte-americano em 1970. Peter Archer, campeo de Karat amador, Yang Sze, campeo de Shotokan do Sudeste Asitico. A irm de Lee no filme seria a Faixa Preta de Hapkido, Campe de Okinawa, ngela Mao: a primeira dama dos filmes de Kung Fu. Mais de 200 extras para as cenas de combate e Lee na coreografia das sequncias de luta. O nico lugar no qual "Enter the Dragon" no faria sucesso seria numa escola de cegos. O enredo de "Enter the Dragon" assemelha-se ao dos filmes de James Bond. Bruce, cujo nome da pelcula tambm Lee, representa o aluno favorito de um templo Shaolim recrutado para as fileiras de uma organizao internacional de combate ao crime. Sua tarefa era infiltrar-se numa sinistra ilha-fortaleza localizada em guas internacionais, em algum ponto prximo costa de Hong Kong. O dono da ilha - algo semelhante ao satnico Dr. No possua, em lugar de uma das mos, uma garra postia com pontas de ao e perverso amor por gatos... Antes de partir em sua misso, Lee vem a saber que sua irm, encurralada por capangas da ilha de Hans que intencionavam violent-la, havia cometido suicdio com uma lasca de vidro quebrado. Logicamente essa revelao transforma a misso de espionagem de Lee numa vingana pessoal contra o75

homem que liderara a caa jovem, provocando-lhe a morte. Durante a viagem para a ilha, Lee encontra seus companheiros de torneio: Roper (Saxon) - que fugia de seus credores, William (Kelly) - que fugia da polcia e Parsons (Archer) que acabou ludibriado por Lee ao tentar provoc-lo para uma briga, terminando a viagem rebocado num pequeno bote salva-vidas, sob o escrnio da tripulao chinesa que oprimira e espancara pouco antes!

Os visitantes so hospitaleiramente recebidos por Hans com um banquete e noite com o oferecimento de belas mulheres. Lee, porm, solicita apenas a presena de Mei Ling - que tambm trabalhava na ilha como agente do Servio Secreto Americano e aps tomar informaes com ela, ronda noite pelos arredores, descobrindo subterrneos ocultos nos quais Hans mantinha sua produo de pio e comrcio de escravas brancas. No prximo dia do torneio, Roper e William vencem facilmente seus oponentes, mas Hans descobre que algum andara saindo noite pela ilha, contrariamente s ordens dadas e ordena a Bolo, seu melhor lutador (Yang Sze) que76

execute os negligentes guardas, como advertncia a futuras desobedincias. , ento, a vez de Lee enfrentar seu competidor, o guarda-costas pessoal de Hans, O'Hara (Bob Wall) justamente o homem responsvel pela morte da irm de Lee!

Aps ter sido vergonhosamente espancado, OHara arremete contra Lee com duas garrafas quebradas que marcavam o campo de luta, mas, chutando-o, Lee o executa saltando sobre ele e quebrando-lhe o pescoo. Tomando William pelo indivduo que fizera as rondas noturnas, Hans ordena sua presena e exige que confesse o que sabe. Ante sua recusa, lutam e William morto pelas pancadas da mo de ferro de Hans. Ento, o satnico Hans tenta recrutar Roper para sua organizao criminosa exibindolhe o cadver do amigo pendurado num gancho de aougue sobre um tanque de cido. Diante disso, Roper finge concordar apenas para juntarse a Lee numa batalha, final contra os homens de Hans. Lee persegue Hans pessoalmente e num labirinto de espelhos dentro do Museu de Guerra da ilha Hans encontra a morte espetado na prpria lana que cravara na porta minutos antes, em combate com Lee.77

Terminadas as filmagens, Bruce sentia-se um homem feliz: Este definitivamente o maior filme que j fiz! Estou orgulhoso dele porque far sucesso tanto na Amrica e Europa como no Oriente. Estou ansioso para ver o que acontecer. . . aposto que o filme ultrapassar a renda de U$20 milhes de dlares!" Fred Weintraub tambm previa grandes resultados para "Enter lhe Dragon", declarando na ocasio: Bruce um ator real e do potencial de Eastwood e Wayne. Essas pessoas valem seu peso em ouro!"

Infelizmente Lee no viveu para ver o espantoso sucesso de "Enter the Dragon" em todo o mundo! Nas primeiras semanas o filme alcanou trs milhes de dlares nos Estados Unidos, em Londres monopolizou os melhores cinemas durante cinco semanas seguidas. Na Europa, especialmente na Itlia, Espanha e Alemanha foi um box-office! Acredita-se que "Enter the Dragon" seja um filme a ser exibido periodicamente em todo o mundo, tendo j superado a renda de U$ 100 milhes de dlares, entre lanamentos e reprises. No Oriente, todavia, no chegou alcanar o sucesso de "Fists of Fury" devido aos toques "ocidentais" dados ao filme e interferncia de Saxon e William no papel principal de Lee78

como heri. Alm disso, o roteiro parecia um tanto estranho comparado aos tpicos filmes chineses. Ainda assim, chegou a U$ 4 milhes de dlares em Hong Kong, embora nas Filipinas tivesse sido ridiculamente proibido por excessiva violncia"(?) e por propagar a cultura branca! J antes e durante as filmagens do pico de Hollywood, a presso sobre Lee estava chegando a nveis intolerveis. O "stress" do estrelato uma sndrome bem conhecida no mundo do espetculo. Acrescente-se a isso o sucessivos desafios a que Lee se via exposto, o que lhe ameaava a primazia de lutador invicto. A adulao pblica, a identidade de super-heri que era levado a viver em Hong Kong, os provocadores, os fotgrafos e toda a imprensa que procurava sempre novidades com as quais rechear as pginas das revistas e jornais, buscando, quando no brigas, a presena de Lee ao lado de belezas e cobiadas estrelas de Hong Kong a fim de tecer algum comentrio que desse margem a histrias picantes, eram fatores que o desgastavam emocionalmente... Por. outro lado, alguns bigrafos de Lee dizem que a adulao pblica era um ingrediente vital necessrio para ancorar seu dinmico ego. Nomes como James Coburn, Steve McQueen e outros atores famosos de Hollywood estavam sempre associados ao de Lee e s ento Bruce comeava a compreender porque muitos deles buscavam a recluso e o anonimato... " irnico, todos ns nos esforamos para sermos ricos e famosos" - disse Lee certa vez a um reprter mas uma vez alcanada a fama, nem tudo rseo! Dificilmente h algum lugar em Hong Kong onde eu possa ir sem ser cercado por pessoas e pedirem autgrafos. Sempre que vou a lugares pblicos, como restaurantes, tento penetrar de esguelha, sem ser notado, sentar-me depressa numa mesa de canto com o79

rosto contra a parede e comer de cabea baixa antes que me reconheam! No sou desses indivduos que conseguem se livrar das pessoas... Sinto que se posso perder um minuto para fazer algum feliz, por que no faz-lo? Agora, porm, compreendo porque astros como Steve e Big Low evitam lugares pblicos. De incio no percebia toda a publicidade que eu estava obtendo, mas logo tornou-se uma dor de cabea responder s mesmas perguntas outra e outra vez, posar para fotos e forar um sorriso! Lee nunca fora de frequentar festas e evitava encontros sociais que eram parte integrante da indstria cinematogrfica de Hong Kong tanto quanto possvel: No sou dessa espcie de gente". declarou certa vez a um jornal "No bebo e no fumo e esses eventos parecem-me sem sentido. No gosto de usar roupas abafadas e de ir a lugares onde todo mundo tenta impressionar a todo mundo. No estou dizendo que sou modesto... mas que prefiro apenas a companhia de poucos amigos com os quais possa conversar informalmente sobre Boxe e Artes Marciais".

Conforme a popularidade de Bruce Lee crescia, ele se recolhia cada vez mais para dentro de si mesmo, as vezes80

passando dias seguidos trancado em seu estdio equipado de refrigerador, televiso e prateleiras de livros e mais livros sobre Artes Marciais, Filosofia e Cinema. Embora sempre mantivesse um pequeno grupo de amigos ntimos, os menos ntimos afastavam-se, um a um, magoados ou ofendidos pela barreira emocional e fsica que Lee construir ao redor de si. Raymond Chow tornou-se sua nica visita constante de negcios. Por falta de outro assunto a explorar, uma revista de cinema publicou um artigo depreciativo sobre a dependncia profissional de Lee a Golden Harvest e ao qual Bruce respondeu furiosamente: "O artigo quer fazer crer que sou um desmiolado que s confio em Raymond Chow. Mas no sou! Sou meu prprio dono e tenho tanto crebro quanto os outros!" Esse incidente no chegou a romper a ligao Lee/Chow nos negcios do cinema e Lee declararia mais tarde: "Continuamos to amigos quanto antes!" De fato, no havia motivo para dissenses entre ambos, j que a Golden Harvest subiu do ltimo lugar para o de segundo maior estdio do Oriente aps os dois primeiros filmes de Lee, "The Big Boss" e "Fists of Fury". Todavia o caso serve para ilustrar o temor de Lee em ser explorado por outros. Ainda assim, aceitou gratuitamente um convite do Superior de sua velha escola Saint Francis Xavier College, para apresentar-se publicamente como mestre de cerimnias na entrega dos prmios Sport Day Prizes aos alunos que se destacaram naquele, ano: "Bruce foi um verdadeiro heri para todos ns aquela tarde" declarou o Frei Eduard, responsvel pelo colgio "e muito gentil em ter vindo. No precisei pedir duas vezes!" Realmente, o sucesso e o dinheiro no haviam mudado os sentimentos mais ntimos de Lee. Em outra ocasio, ao saber que um de seus amigos estava passando por srias81

dificuldades, Lee telefonou-lhe, de Hong Kong para os Estados Unidos, imediatamente perguntando-lhe porque no lhe dissera! Ante a rplica de que seu amigo se sentira acanhado... pois agora, afinal de contas, Bruce Lee era um nome famoso, um grande astro, Bruce exclamou enfaticamente: - "Olhe! Fique sabendo que sou a mesma droga que sempre fui! Se precisar de alguma coisa, basta me dizer!" Nessa poca, todavia, a vida de Bruce Lee j no lhe pertencia. Era propriedade comum de seus milhes de admiradores e quanto mais buscava a recluso, mais era visado. Em dias passados, Lee era a procura constante da imprensa para fotos inocentes e cndidas entrevistas. Agora, porm, a fim de manter o apetite insacivel do grande pblico consumidor, a imprensa o caava e espreitava como um gavio, esperando seu mais leve deslize para, com uma estria criada ao redor do fato, procurar quebrar sua zelosamente bem guardada imagem de super-heri. Segundo Andr Morgan: "Era a velha histria da imprensa italiana fazendo dinheiro com escndalos construdos ao redor de Jackie Kennedy ou Elizabeth Taylor!" Os fotgrafos viviam seguindo Lee, tirando fotos e as vendendo para revistas. Cada pequeno incidente se tornava sempre algo muito grande. Certa vez, por exemplo, Bruce teve uma contenda com um funcionrio do estdio da TV e isso deu margem aos cabealhos dos jornais pelos prximos trs dias! Abdul Kareem Jabbar alugou sua casa aos Black Muslims, em Washington e houve a um conflito racial com a presena da polcia, O cabealho da primeira pgina dos jornais de Hong Kong foi "Bruce Lee envolvido em assassinato em massa". Lia-se o artigo e via-se que o astro negro do basquete americano, Jabbar, que estivera em Hong Kong82

filmando com Lee, alugara sua casa na Amrica para um grupo racista que degenerou num conflito grave com a polcia local. Isso era tudo! E era esse o modo como a imprensa tratava Lee. Se Bruce se negasse a uma entrevista ou a posar para mais uma foto, no dia seguinte podia esperar a publicao de que "o agora famoso Bruce Lee destrata a imprensa e o pblico!" Essa situao agravou-se quando o dirio de Hong Kong, "The Star", comeou a publicar um artigo atribudo autoria do filho de Yip Man, narrando fatos distorcidos da poca em que Bruce era aluno do famoso mestre de Wing Chun e quando teria sido derrubado por um oponente durante uma aula de treinamento. Lee processou o jornal por difamao. O proprietrio do jornal, o editor Granam Jenkins, um australiano rgido