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65 Cadernos de Direito, Piracicaba, v. 11(21): 65-92, jul.-dez. 2011 • ISSN Impresso: 1676-529-X • ISSN Eletrônico: 2238-1228 Breves considerações sobre a situação do Japão no ano de 1945 e no período inicial do pós II Guerra Mundial, e a decisão dos aliados em criar o Tribunal Militar Internacional para o extremo oriente – TMIEO (Tribunal de Tóquio) Brief considerations on Japan’s situation in 1945 and in the Early Post-Second World War, and the Allies’ decision to create the International Military Tribunal for the Far East – IMTFE (Tokio Trials) ERIKA SEGUCHI Engenheira agrônoma pela USP. Bacharel e Mestre em Direito pela UNIMEP. Professora do curso de Direito do Instituto Superior de Ciência Aplicadas. [email protected] RESUMO O presente artigo tem o objetivo de mencionar a importância da Declaração de Postdam, (de 26 de julho de 1945) para a rendição do Estado japonês, bem como a situ- ação do arquipélago no ano de 1945 e no período inicial do pós Segunda Guerra Mundial expondo os principais motivos que levaram os vencedores da Segunda Grande Guerra – os Aliados - a criar um tribunal para julgar os criminosos de guerra do alto escalão militar japonês, denominado Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente - TMIEO - (ou mais conhecido como Tribunal de Tóquio) tal como ocorreu em Nurem- berg com alguns membros capturados do alto comando nazista. Buscou-se nesse artigo fazer um resgate histórico de momentos relevantes da Segunda Guerra Mundial, trans- crevendo-se trechos dos pronunciamentos de Truman, emanados da Casa Branca e que autorizaram o lançamento das bombas atômicas sobre o Japão, assim como as palavras de rendição do Estado japonês, pronunciadas pelo então imperador Hiroito. Ademais, pretendeu o artigo mostrar a importância histórica deste tribunal ad hoc que, juntamen- te com o Tribunal de Nuremberg, marcaram o fim de uma era e a inauguração de um período de alterações no cenário das relações internacionais e do desenvolvimento do

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Breves considerações sobre a situação do Japão no ano de 1945 e no período inicial do pós II Guerra Mundial, e a decisão dos aliados em criar o Tribunal Militar Internacional para o extremo oriente – TMIEO (Tribunal de Tóquio)

Brief considerations on Japan’s situation in 1945 and in the Early Post-Second World War, and the Allies’ decision to create the International Military Tribunal for the Far East – IMTFE (Tokio Trials)

Erika SEguchiEngenheira agrônoma pela USP. Bacharel e Mestre

em Direito pela UNIMEP. Professora do curso de Direito do Instituto Superior de Ciência Aplicadas.

[email protected]

rESumo O presente artigo tem o objetivo de mencionar a importância da Declaração de Postdam, (de 26 de julho de 1945) para a rendição do Estado japonês, bem como a situ-ação do arquipélago no ano de 1945 e no período inicial do pós Segunda Guerra Mundial expondo os principais motivos que levaram os vencedores da Segunda Grande Guerra – os Aliados - a criar um tribunal para julgar os criminosos de guerra do alto escalão militar japonês, denominado Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente - TMIEO - (ou mais conhecido como Tribunal de Tóquio) tal como ocorreu em Nurem-berg com alguns membros capturados do alto comando nazista. Buscou-se nesse artigo fazer um resgate histórico de momentos relevantes da Segunda Guerra Mundial, trans-crevendo-se trechos dos pronunciamentos de Truman, emanados da Casa Branca e que autorizaram o lançamento das bombas atômicas sobre o Japão, assim como as palavras de rendição do Estado japonês, pronunciadas pelo então imperador Hiroito. Ademais, pretendeu o artigo mostrar a importância histórica deste tribunal ad hoc que, juntamen-te com o Tribunal de Nuremberg, marcaram o fim de uma era e a inauguração de um período de alterações no cenário das relações internacionais e do desenvolvimento do

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Direito Internacional Humanitário e do Direito Internacional dos Direitos Humanos. Palavras-chave Tribunal miliTar inTErnacional para o ExTrEmo oriEnTE. Tribunal dE Tóquio. Tribunal ad hoc. Tribunal dE ExcEção. dEclaração dE poSTdam dE 1945.

abSTracT This article aims to mention the importance of the Declaration of Potsdam, (from July 26, 1945) concerning the surrender of the Japanese State and the situation of the archipelago in 1945 and at the beginning of the post World War II, exposing the main reasons that made them the winners of the Second World War - Allies - to create a tribunal to judge war criminals senior Japanese military, called the Interna-tional Military Tribunal for the Far East - TMIEO - (or better known as the Tokyo Tribunal) similar to what occurred at Nuremberg with some captured members of the Nazi high command. We tried to make this article a historical review of some moments of World War II (relevant to work) transcribing excerpts from Truman’s words, emanating from the White House, authorizing the release of atomic bombs on Japan as the words of surrender of the State Japanese spoken by the then Emperor Hirohito. Furthermore, the article sought to show the historical importance of this ad hoc tribunal which, together with the one of Nuremberg, marking the end of an era and inaugurating a period of change in the scenario of international relations and development of international humanitarian law and international law Human Rights.Key-words inTErnaTional miliTary Tribunal for far EaST. Tokyo Trial. ad hoc Tribunal. ad hoc courT. poSTdam dEclaraTion, 1945.

Introdução

Embora a criação de um mecanismo de responsabilização internacional pela prá-tica do crime internacional, sobretudo o de guerra, por meio de uma instauração de um Tribunal Penal Internacional tenha ganhado ênfase no final do século XX e no alvo-recer do século XXI, a idéia de sua constituição não é recente como se pode verificar em algumas oportunidades históricas mencionadas ao longo deste tópico da pesquisa.

Quintano Ripollés, citado por Carlos Canêdo, lembra que a idéia de submeter pessoas responsáveis por condutas bélicas criminosas a um julgamento internacional surgiu com o Direito Natural medieval e renascentista em razão da existência do Pontificado como autoridade máxima estatal reconhecida, ainda que tal autoridade aplicasse sanções mais de ordem moral e espiritual.1

Flávia Piovesan & Daniela Ikawa comentam que o primeiro tribunal interna-cional foi estabelecido em 1474, em Breisach – Alemanha, a fim de julgar Peter Von

1 CANÊDO, Carlos. O genocídio como crime internacional. Belo Horizonte: Delrey, 1999. p. 52.

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Hagenbach pela permissão concedida a sua tropa para estuprar, matar os civis e sa-quear as suas propriedades.2

Da mesma forma, manifesta-se Christopher Hall:

Al parecer, el primer tribunal penal internacional ad hoc fue el de jueces de ciudades de Alsacia, Austria, Alemania y Suiza, que se constituyó, en 1474, para juzgar a Peter de Hagenbach por homicidio, violación, prejurio y otros delitos contrarios a las ‘leyes de Dios y de los hombres’ durante l a ocupación de la ciudad de Breisach.3

Séculos mais tarde e diante do insucesso prático da Convenção de Genebra de 1864, lembra Hall que, em 1870, Gustave Moynier4 tornou-se partidário da instituição de um tribunal penal internacional permanente, uma instituição judiciária internacional destinada a prevenir e reprimir as infrações às regras da Convenção de Genebra.5:

... Parece que la única garantia racional consistiria en la institución de un tribunal internacional con poderes suficientes para imponer sus deci-siones, puesto que el Convenio de Ginebra adolece, en este aspecto, de la imperfección inherente a todos los tratados internacionales.6

Em 1919, com a intenção de alcançar uma paz justa e duradoura, Wilson Tho-mas Woodrow anunciou no congresso norte-americano os seus princípios e objetivos em 14 itens referentes à política internacional, bem como expôs também o seu ponto de vista à Conferência de Versalhes no sentido de criar uma entidade internacional capaz de assegurar a paz.7

2 BASSIOUNI, Cherif. The time has come for an international criminal court. Indiana international and comparative law review, n. 1 (1991), p. 1-2. Apud. PIOVESAN, Flávia. Temas de direitos humanos. 2.ed., São Paulo: Max limonad, 2003. p. 148.

3 HALL, Christopher Keith. La primera propuesta de creación de un tribunal penal internacional pemanente. Disponível em: <http://www.cicr.org/Web/spa/sitespaO.nsf/iwpList74/8583D6A5C380AF62C1256DE10056A040. Acesso em 26/10/2000.

4 Gustave Moynier foi um dos fundadores da Cruz Vermelha Internacional juntamente com Henry Dunant; Théodore Maunoir; Louis Appia e Guillarme H. Dufour.

5 MOYNIER, Gustave. Note sur la création dúne institution judiciaire internationale propre à pre-venir et `a réprimer les infractions à la Convention de Genève, Bulletin international des Sociétés de secours aux militaires blessés, Comité International, no. 11, abril de 1872, p. 22. Apud, HALL, Christopher Keith. Op. cit.

6 MOYNIER, Gustave. Apud, HALL, Christopher Keith. Op. cit.7 Para maiores pormenores sobre o discurso de Wilson ver SEGUCHI, Erika; OLIVEIRA, José Iná-

cio. Os 14 pontos de Wilson. In: Revista jurídica das Faculdades Integradas Claretianas. Rio Claro: Ave Maria, 2003.

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No final da I Guerra Mundial, embora o Tratado de Versalhes haver previsto a criação de um tribunal com o intuito de julgar os crimes de guerra perpetrados a mando do Kaizer Guilherme II e demais dirigentes militares e civis do governo ale-mão, tal previsão não obteve êxito pelo fato de o Kaizer ter se refugiado na Holanda, ocasião em que a sua extradição fora negada por se acreditar que ele estava sendo perseguido por motivos políticos e devido também à falta de vontade das potências vencedoras da guerra em incentivar a extradição do referido Kaizer. 8

Cabe observar que, apesar de o tal julgamento não ter ocorrido no pós I Guerra Mundial, idéias como a de criação de um tribunal acima serviram de inspiração para incentivar o nascimento de organismos internacionais independentes, dotados de po-der suficiente para se impor perante os Estados, com o objetivo precípuo de se exigir o cumprimento das leis internacionais. A criação da Liga das Nações e a construção da Corte Internacional de Justiça são exemplos dessa iniciativa pós I Guerra.

Procedendo a um corte histórico neste tópico da pesquisa entre os anos de 1939 a 1945 (período da II Guerra Mundial), pode-se analisar que, com o epílogo da II Guerra Mundial, o Direito Internacional Público viu-se diante de um novo sistema jurídico que nascia e que mudaria as relações internacionais entre os povos. A nova ordem internacional passou a enxergar a guerra como exceção; e, a paz como regra, no âmbito das relações de direito entre gentes, conforme a Carta da ONU de 1945. A sociedade internacional testemunhou o desenvolvimento do Direito Humanitário, do Direito Penal Internacional e do Direito Internacional Penal.

Os tribunais ad hoc de Nuremberg e de Tóquio marcaram o fim de uma era e a inauguração de um período de alterações no cenário das relações internacionais, bem como promoveram o desenvolvimento do Direito Internacional Humanitário e do Direito Internacional dos Direitos Humanos.

Por fim, cabe esclarecer que o objetivo desta pesquisa não é o da análise das argumentações doutrinárias sobre a legitimidade ou não da criação do tribunal em questão, mas tão somente os motivos que levaram à criação de um Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente.

ConsIderações geraIs sobre a sItuação do Japão no ano de 1945 e no período InICIal do pós II guerra MundIal

Durante a Conferência de Postdam, realizada entre 17 de julho e 2 de agosto de 1945, os representantes dos EUA, Reino Unido e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas estabeleceram as diretrizes político-econômicas para a Alema-nha pós-guerra. Ademais, como consequência da conferência em questão, Truman,

8 SOUZA, Artur de Brito Gueiros. O tribunal penal internacional e a proteção dos direitos humanos: uma análise do estatuto de Roma à luz dos princípios do direito internacional da pessoa humana. In: Boletim científico da escola superior do Ministério Público da União. Brasília: ESMPU, n°12, jul.set.2004. p. 11.

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Churchill e Chiang Kai-Shek editaram a Declaração de Postdam9 (também conheci-da como a Proclamação definindo os termos da rendição japonesa), em 26 de julho de 1945, ocasião em que estabeleceram o envio do ultimato ao Japão exigindo a sua rendição incondicional, sob a ameaça de uma destruição completa do arquipélago, conforme expõe o art. 3°:"The full application of our military power, backed by our resolve, will mean the inevitable and complete destruction of the Japanese armed forces and just as inevitably the utter devastation of the Japanese homeland”.

Confirmando as ameaças contidas na Declaração de Postdam, o recém empos-sado10 presidente dos EUA, Harry S. Truman mencionou a Joseph Stalin, então re-presentante da URSS, que possuía uma arma de grande potencial destrutivo que certamente proporcionaria o final da guerra.

Tal arma a qual se referia Truman era a bomba atômica lançada sobre Hiroshi-ma e Nagasaki em 6 e 9 de agosto respectivamente.11

The White House Document escrito por Harry S. Truman se referia à bomba atômica da seguinte forma:

That bomb had more Power than 20.000 tons of T.N.T. It had more than two thousand times the blast power of the British “Grand Slam” which is the largest bomb ever yet used in the history of warfare… It is an atomic bomb. It is a harnessing of the basic power of the universe…12

Como Japão não havia se rendido mesmo com o ultimato dos aliados contido na De-claração de Postdam, Truman acabou por autorizar o lançamento da bomba sobre o Japão:

It was to spare the Japanese people from utter destruction that the ul-timatum of July 26 was issued at Potsdam. Their leaders promptly re-jected that ultimatum. If they do not now accept our terms they may expect a rain of ruin from the air, the like of which has never been seen on this earth.13

9 FERREL, Robert H. (ed.) Para saber mais sobre o conteúdo da Declaração de Postdam consultar: Truman and the Bomb, a Documentary History -Chapter 7: The Potsdam Declaration, July 26. In: Harry S. Truman Library & Museum. Disponível em:<http://www.trumanlibrary.org/whistles-top/study_collections/bomb/ferrell_book/ferrell_book_chap7.htm>. Acesso em: 20 nov. 2007.

10 Franklin Delano Roosevelt havia falecido em abril de 1945. Ele foi sucedido por Truman posteriormente.11 Deutsche wele. Calendário histórico: 1945 Conferência de Postdam. In: DW world.de. Disponível

em: <http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,593737,00.html >. Acesso em: 20 nov. 2007.12 TRUMAN, Harry P. The White House: decision to drop the atomic bomb document. In: Harry

S. Truman Library & Museum. Disponível em:<http://www.trumanlibrary.org/whistlestop/stu-dy_collections/bomb/large/documents/index.php?documentdate=1945-08-06&documentid=59&studycollectionid=abomb&pagenumber=1>. Acesso em: 21 nov.2007.

13 TRUMAN, Harry P. Discurso proferido em 6 de agosto de 1945. In: Zenpundt. Disponível em:< http://zenpundit.blogspot.com/2007/08/august-6-1945-it-was-to-spare-japanese.html>. Acesso em: 22 nov.2007.

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Diferentes posicionamentos a respeito do lançamento da bomba atômica sobre o arquipélago japonês foram pronunciados. Como exemplo dos que defendiam o uso da bomba atômica, podemos citar Henry L. Stimson (secretário de guerra dos Estados Unidos); George C. Marshall (chefe do Estado maior do exército); Leslie R. Groves (comandante geral do Projeto Manhattan); Dr. Vannevar Bush (diretor da investigação científica e desenvolvimento dos Estados Unidos) e Edward Teller (físico do Projeto Manhattan). Basicamente eles entendiam que a diplomacia havia produzido alguns resultados, mas que não era o suficiente para finalizar a II Guerra, logo a bomba atômica seria necessária para forçar a rendição incondicional, aprovei-tando que os japoneses estariam tomados pelo súbito choque psicológico. No mais, os diretores do projeto Manhattan desejavam ver a arma desenvolvida utilizada em campo, bem como testemunhar o uso da arma mais cara da história militar (à época) contribuindo para a guerra em questão.14

Por outro lado, como se observa a seguir, a segunda consideração defende o não lançamento da bomba sob o argumento de que os Estados Unidos inaugurariam a era da devastação sem precedentes caso utilizassem a bomba, assim como chocariam a comunidade internacional ao fazer uso dessa arma:

...During his recitation of the relevant facts, I had been concious of a fe-eling of depression and so I voiced to him my grave misgiving, first on the basis of my belief that Japan was already defeated and that dropping the bomb was completely unnecessary, and second because I thought that our country should avoid shocking world opinion by the use of a weapon whose employment was, I thought, no longer mandatory as a measure to save american lives...15

...The development of atomic power will provide the nations with new means of destruction the atomic bomb at our disposal represent only the first step in direction, and there is almost no limit to the destructive power which will become available in the course of their future deve-lopment. Thus a nation which sets the precedent of using these newly liberated forces of nature for purpose of destruction may have to bear the responsability of opening the door to an era of devastation on a unimaginable scale. If after this war a situation is allowed to develop in the world which permits rival powers to be in uncontrolled possession of these new means of destruction, the cities of the United States as well as the cities of other nations will be in continuous danger of sudden

14 TRUMAN LIBRARY. Presidencial decision making: the atomic bomb. Disponível em:<http://www.trumanlibrary.org/educ/presidentialyears/13-Atomic%20bomb.doc>. Acesso em: 24 maio 2012.

15 NUCLEARFILES.Dwight Eisenhower view on using the atomic bomb. Disponível em: <http://www.nuclearfiles.org/menu/key-issues/nuclear-weapons/history/pre-cold-war/hiroshima-nagasaki/opinion-eisenhower-bomb.htm>. Acesso em 24 maio 2012.

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annihilation. All the resources of the United States, moral and material, may have to be mobilized to prevent the advent of such a world situa-tion. Its prevention is at present the solemn responsibility of the United States -- singled out by virtue of her lead in the field of atomic power...16

Leo Szilard (físico, idealizador da bomba), Dwight D. Eisenhower (general do exército dos Estados Unidos), William D. Leahy (chefe de gabinete do presidente e almirante da frota dos Estados Unidos) eram contrários ao lançamento da bomba atômica no Japão.

Em que pese as considerações contrárias sobre o lançamento das bombas, a his-tória revela que estas foram lançadas sobre o arquipélago e seus efeitos retardatários ainda eram desconhecidos à época dos fatos. Sabia-se apenas que era uma bomba de alto potencial destrutivo tanto é que a recomendação dada pela White House era para que os militares americanos não permanecessem no local na hora do lançamento e, aos que suas presenças seriam inevitáveis, que saíssem tão logo possíveis do local:

I also hope that you will issue orders forbidding the officers in com-mand o four air forces from warning Jap cities that they will be atta-cked. These generals do not fly over Japan and this showmanship can only result in the unnecessary loss of many fine boys in our air force…17

O telegrama emitido pelo senador norte-americano em 7 de agosto de 1945 – período entre bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki - deixa claro que foi o Japão quem primeiramente atacou o povo norte-americano de modo sorrateiro e que por esse motivo o governo dos EUA não deveria ter clemência do povo japonês, devendo tratar o Japão com a mesma severidade imposta aos alemães e que os norte--americanos não deveriam acreditar na condição de divindade declarada por Hirohito:

16 SZILARD, Leo. A petition to the president of the United States. Disponível em:<www.dannen.com/decision/45-07-17.html>. Acesso em: 24 maio 2012. Esta petição foi escrita por Szilard e mais 70 cientistas ligados a pesquisa atômica (em 17 de julho de 1945) e encaminhada ao Presidente Tru-mann. Szilard foi favorável ao desenvolvimento da bomba atômica a fim de conter a força alemã, responsável pelo Holocausto, entretanto, com a Alemanha derrotada em 8 de maio de 1945 defendeu a não necessidade mais do uso da bomba atômica contra os japoneses. Nesse sentido ver: UNITED STATES DEPARTMENT OF ENERGY. The Manhattan project: making the atomic bomb. S.l: De-partment of energy of U.S., jan. 1999. p. 10.

17 TRUMAN, Harry P. Telegram, Richard Russell to Harry S. Truman, August 7, 1945. In: Harry S. Truman Library & Museum. Disponível em:<http://www.trumanlibrary.org/whistlestop/stu-dy_collections/bomb/large/documents/index.php?documentdate=1945-08-07&documentid=8&studycollectionid=abomb&pagenumber=1>. Acesso em 20 nov. 2007.

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...I earnestly insist Japan should be dealt as harshly as Germany and that she should not be the beneficiary of a soft peace. The vast major-ity of the American people, including many sound thinkers who have intimate knowledge of the orient, do not agree whit Mr. Grew in his at-titude that there is any thing sacrosanct about Hirohito. He should go. We have no obligation to shintolism. The comptemt-uous answer of the Japs to the Postdam ultimatum justifies a revision of that document and sterner peace terms...They believe that we should continue to strike the japanese until they are brought groveling to their knees.18

Verificou-se que a estratégia adotada pelos EUA surtiu efeito e, passados seis dias do último lançamento da bomba atômica, o Japão se rendeu aos aliados...

Vale lembrar que o assombroso impacto causado pelos lançamentos das bom-bas atômicas não só chocou o Japão, mas também estarreceu toda a sociedade in-ternacional que testemunhou a inauguração fática da era atômica, um período de criação de armas potencialmente destrutivas com o uso da tecnologia nuclear sem precedentes na história da humanidade.

Cerca de 75 milhões de japoneses foram surpreendidos às 11 horas da manhã do dia 15 de agosto de 1945 por uma voz lenta e rouca que vinha do rádio a comunicar a ren-dição incondicional do Japão aos países aliados na II Grande Guerra – essa voz, jamais ouvida até então, pertencia ao imperador Hirohito19 que tomara a decisão da rendição após ouvir o Conselho do Estado em um ato de aceitação da Declaração de Postdam. Tal rendição foi assinada a bordo do encouraçado americano Missouri na baía de Tóquio. 20

Segundo Carlos Leonardo Bahiense da Silva, os japoneses tiveram dificuldade em compreender o teor do discurso proferido pelo imperador, em razão dele se utili-zar de uma língua antiga, com uso de algumas expressões em chinês, desconhecidas pela grande parte da população, mas que após a explicação objetiva do comentarista oficial do governo a população caiu em si, e, apesar de tristes com a rendição aos aliados, os japoneses respiraram aliviados pela notícia do final da guerra, especial-mente após terem sofrido com o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki.21

18 Idem. Telegram, Richard Russell to Harry S. Truman, August 7, 1945. In: Harry S. Truman Li-brary & Museum. Disponível em:<http://www.trumanlibrary.org/whistlestop/study_collections/bomb/large/documents/index.php?documentdate=1945-08-07&documentid=8&studycollectionid=abomb&pagenumber=1>. Acesso em 20 nov. 2007.

19 Behr, Op. cit., p. 382-383. Apud DA SILVA, Carlos Leonardo Bahiense. Em nome do imperador: reflexões sobre a Shindo Renmei e sua campanha pela preservação da etnicidade japonesa no Bra-sil(1937-1950). Rio de Janeiro, UFRRJ, 2004 (Dissertação, Mestrado em Desenvolvimento, Agri-cultura e Sociedade). f. 47.

20 YAMASHIRO, José. Japão: passado e presente. São Paulo: Aliança cultural Brasil-Japão. 1997, p. 284-285.

21 DA SILVA, Carlos Leonardo Bahiense. Em nome do imperador: reflexões sobre aShindo Renmei e sua campanha pela preservação da etnicidade japonesa no Brasil (1937-1950). Rio de Janeiro, UFRRJ, 2004 (Dissertação, Mestrado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade). f. 47.

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A mensagem através da radio dizia:

El primer paso para la reconstrucción de la patria consiste em establecer uma sana vida publica y, especialmente, em proveer de alimentos sufi-cientes al pueblo. Los campesinos trabajan para aumentar la cantidad de sus productos, superando el embargo técnico y tolerando momentos penosos. No obstante, la situación alimentaria atraviesa por problemas sin precedente, lo que me entristece profundamente. Por supuesto, el gobierno debe administrar de amnera adecuada,pero, al mismo tiempo, el pueblo debe superar esta crisis ayudándose y compartiendo lo poço que tengan, com la conciencia de que son compatriotas. Lamento tener que exigirlo de vosotros, que estais sufriendo el dolor de haber sido vencidos, pero si no lo superamos resultará em vano nuestro esfuerzo de reconstruir el país, y de contribuir al desarollo de otros pueblos. Les suplico que vivais como miembros de la família-Estado, hermoso y tra-dicional, y logreis la reconstrucción del país.22

José Yamashiro revela que as perdas japonesas em vida, abrangendo a Ásia continental e o Pacífico, chegaram a 1,5 milhão, além de 665 mil mortos e feridos frutos dos bombardeios aéreos na zona metropolitana do arquipélago japonês. Ade-mais, cerca de 20% das casas ou 2,3 milhões de construções foram destruídas por in-cêndios e bombardeios e que o total estimado dos prejuízos girava em torno de 65,3 bilhões de yenes, o que equivale dizer aproximadamente 34% dos bens materiais da nação em valor monetário da época. No mais, há relato da destruição dos parques industriais e redução considerável da frota mercante japonesa. Além disso, o Japão perdeu os territórios da Coréia, da Formosa, do Sul de Sacalina, das Ilhas do Pací-fico.23 A Manchúria, por sua vez, retorna a China e mais de 7 milhões de japoneses foram repatriados acentuando ainda mais a falta de alimento no arquipélago.24

dos anteCedentes da CrIação de uM trIbunal MIlItar InternaCIonal

A idéia de realizar julgamentos resultou de uma série de preocupações políticas e jurídicas que se seguiram à medida que os aliados foram tomando conhecimento 22 KAIBARA, Yukio. Historia del Japón. México: Fondo de cultura econômica, 2000. p. 302.23 A Conferência do Cairo, de 1° de dezembro de 1943, realizada pelos Aliados (Presidente Franklin

Delano Roosevelt- EUA; Generalíssimo Chiang Kai-Shek-China e Primeiro Ministro Winston Churchill-Reino Unido) afirmou exercer um esforço contínuo no sentido de obrigar o Japão a res-tituir à China os seguintes territórios: Manchúria, Formosa e Pescadores, bem como a expulsão do Japão dos territórios de que cobiçosamente se apoderou por meio de violência. MELLO, Rubens Ferreira de. Textos de direito internacional e de história diplomática de 1815 a 1949. Rio de Janeiro: A. Coelho Branco Filho, 1950. p.606.

24 YAMASHIRO, José. Op.cit.. p. 285.

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das inúmeras atrocidades cometidas pelos nazistas. Assim, depois de muita discus-são e reflexão sobre o destino dos criminosos de guerra, em 1° de novembro de 1943, os aliados divulgaram a Declaração de Moscou, cujo conteúdo versava sobre o enca-minhamento a ser dispensado aos diversos criminosos de guerra25, mas não continha explicações se eles seriam julgados ou sumariamente executados.26

Goldensohn explica ainda que Roosevelt, Stalin e Churchill divergiam sobre o tema que envolvia as execuções sumárias - pauta essa da Conferência de Teerã, -ocorrida em 28 de novembro a 1° de dezembro de 1943 - envolvendo tais líderes. Stalin havia comentado que o poderio militar alemão estaria liquidado para sempre se os 50 mil líderes das forças armadas fossem capturados e executados. Roosevelt e Churchill, num primeiro momento, defendiam a posição da execução sumária militar sem julgamento, mas depois de muito ponderar sobre essas questões, com base nas sugestões dos secretários de guerra, do tesouro e demais especialistas, chegaram a conclusão de que deveriam evitar a impressão de que buscavam vingança. Assim, a idéia inicial de uma execução sumária foi substituída pela idéia da criação de tribu-nais. Ademais, Stalin, percebendo que Churchill jamais concordaria com a elimina-ção de milhares de membros da elite alemã, concordou com a proposta de promover um julgamento, fato esse que serviria de propaganda para melhorar a sua imagem negativa no Ocidente.27

Dessa forma, em 8 de agosto de 1945 acabaram por redigir um estatuto para os julgamentos com a fixação dos pormenores sobre a constituição do tribunal, os direitos dos réus, bem como os tipos penais.28

No que tange ao Japão, segundo Hebert P. Bix o Imperador Hirohito sabia, desde 1942, que os aliados almejavam criar um tribunal militar internacional para julgar os criminosos de guerra, o que se confirmou em novembro de 1943 por meio da Declaração de Moscou e, mais tarde, também, pela Declaração de Postdam e pelo Acordo de Londres, ambos de 1945.29

Em 11 de setembro de 1945, as forças aliadas ocuparam o território japonês sob o comando do general Douglas MacArthur com o fito de estabelecer a ordem, eliminando as influências maléficas do militarismo e pregando os fundamentos da li-berdade na reconstrução do arquipélago.30 Nessa ocupação, o general estadunidense

25 Os criminosos que praticaram crimes de guerra em regiões localizadas e os que praticaram crimes de guerra de grande alcance geográfica teriam tratamentos diferenciados.

26 GOLDENSOHN, Leon. As entrevistas de Nuremberg. Tradução de Ivo Korytowski. São Paulo: cia das letras, 2005. p. 8-9.

27 Ibidem, p. 11.28 Ibidem,. p.10-14. passim.29 BIX, Hebert P. Hirohito and the making of modern Japan. New York: Harper Collins, 2000. p. 581.30 YAMASHIRO, José. Op. cit., p. 285.

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ordenou a captura de todos os suspeitos pela prática dos crimes de guerra, inclusive o premier japonês Ideki Tojo, o braço direito do imperador, como se pode verificar:

That concern deepened on September 11, 1945, when MacArthur or-dered the arrest and imprisonment of the first batch of suspected war criminals, including the emperor´s favorite prime minister – so hated by the Japanese people not only for brutal repression by the military police under his control but for the unfair way in which food rationing was carried out – General Tôjô.31

Apesar de muito se insistir em levar o imperador Hirohito ao banco dos réus no tribunal militar internacional que seria criado no pós-guerra, o general MacArthur tomou a decisão de não encaminhar o imperador ao julgamento, entendendo que Hirohito seria indispensável para a administração da nação, pois ele era a figura que mais compreendia o instituto chamado democracia dentre todos os japoneses. Nesse sentido, Kaibara Yukio relata:

Mucho se insistió em que también debía julgarse al tennô, pero fue per-donado por decisión de Mac Arthur, quien sabía bien cuál había sido su función em lo que respecta a La decisión de lanzarse a la guerra. Ade-más, considero que le sería indispensable para administrar a La nación com êxito. Manifestó que em muchas ocasiones se habían entrevistado y que consideraba que era quien mejor comprendía La democracia entre todos los japoneses.32

Devido a essa decisão tomada por MacArthur, o imperador Hirohito esquivou--se de ser encaminhado para o julgamento sob acusação de cometimento de crimes de guerra, diferentemente do que, entretanto, veio a ocorrer com o seu primeiro mi-nistro e demais funcionários do alto escalão japonês.

da CrIação do TMIEO ao JulgaMento

A criação de um TMIEO ou Tribunal de Tóquio, como também é conhecido, foi um marco na história das relações internacionais, para o direito penal interna-cional e para o direito processual penal internacional, a exemplo do que ocorreu em Nuremberg.

De modo geral, analisa-se que a criação de um tribunal militar foi uma decisão muito mais política do que jurídica por parte dos vencedores da guerra, ocasião em 31 BIX, Hebert P. Op. cit., p. 581.32 KAIBARA, Yukio. p. 304.

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que a China, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha decidiram que havia chegado o momento de encerrar a guerra e punir a agressão praticada pelos japoneses. Dessa forma, com base no artigo 10 da Declaração de Postdam, de julho de 1945, mais uma vez a China, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha exigiram, de forma unida, que a justiça fosse realizada com o intuito de punir os criminosos de guerra. Ademais, no conteúdo da Declaração de Postdam foi incluído o termo de rendição incondicional japonesa, datada de 2 de setembro de 1945, no qual o comandante supremo das forças aliadas recebeu a incumbência de aplicar com rigidez as condições impostas na declaração. A Declaração cuidou ainda da libertação imediata dos prisioneiros de guerra aliados, bem como os civis capturados pela força japonesa. Nesse esteio, a Comissão das Nações Unidas para Crimes de Guerra, criada no verão londrino de 1943, igualmente recomendou a criação do tribunal militar internacional para julgar os crimes e as atrocidades cometidos pelos japoneses. Desse modo, em reação a tais acontecimentos que se sucederam o Departamento de Estado dos Estados Unidos aprovou a “política de prisão e punição dos criminosos de guerra no Extremo Orien-te” que, por sua vez, notificou o Comando Supremo das Potências Aliadas e mais oito nações33 para organizarem o tribunal.34

Da Conferência de Moscou, designou-se Tóquio como sede do Tribunal e a Carta que instituiu o referido Tribunal, aprovada por McArthur, continha 17 artigos35 e foi aprovada em 19 de janeiro de 1946, dando origem ao Tribunal Militar Interna-cional para o Extremo Oriente.

Segundo Ramella, o julgamento teve o trâmite similar ao julgamento de Nu-remberg, apresentando Joseph Kelnan36, o então promotor internacional, uma acu-sação circunstanciada, em 28 de abril de 1946, contra o premier japonês Tojo e os demais dirigentes japoneses, incriminando-os pela prática de 58 crimes de guerra.

Cabe observar que, nesse período, o Japão estava sob a ocupação norte-ameri-cana e foram os Estados Unidos que forneceram fundos e pessoal necessários para a realização do tribunal, inclusive exerceu também a função de procurador geral no presente caso, fato esse que, no mínimo, levanta questionamentos sobre a imparcia-lidade deste julgamento.37

Segundo Oliveira, tal julgamento teve duração de 2 anos e meio tendo se inicia-do em maio de 1946 e findado em novembro de 1948. Considera ainda que, dos 80

33 Austrália, Grã-Bretanha, Canadá, China, França, Holanda, Nova Zelândia, União Soviética e os Estados Unidos.

34 TRIAL. The international military tribunal for the Far East. Disponível em://www.trial-ch.org/in-dex.php?id=384&L=5&print=1&no_cache=1. Acesso em: 20 mar.2009.

35 Ver anexo a Carta em inteiro teor.36 Segundo Oliveira o nome dele seria Joseph Keenan.37 TRIAL. Op. cit.

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suspeitos de terem praticado crimes de guerra, apenas 28 deles (9 civis e 19 militares de carreira) foram levados a julgamento38conforme se pode observar mais adiante.

da CoMposIção do tMIeoO tribunal foi composto por 11 membros, a saber: William Flood Webb (Aus-

trália) na condição de presidente e os demais integrantes E. Stuart McDougall (Cana-dá), Ju Ao Mei (China), Henry Reimburger (França), Lorde Patrick (Grã-Bretanha), R.B.Pal39 (Índia), Bernard Victor A. Roeling (Holanda), Harvey Northocroft (Nova Zelândia), Delfin Jaramilla (Filipinas), I. M. Zaryawov (União Soviética) e Myron C. Cramer (Estados Unidos).40

Segundo a Carta do Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente (em anexo), tal tribunal possuía poderes para julgar e punir os criminosos de guerra do Extremo Oriente pela prática dos crimes contra a Paz que, nas palavras de Ramella, corresponde ao:

planejamento, preparação, a iniciação ou empreendimento de uma guerra de agressão declarada ou não declarada, ou uma guerra em vio-lação do direito internacional, tratados, acordos ou manifestação, ou participação em um plano comum ou conspiração para cumprir qual-quer dos atos enunciados precedentemente.41.

No mais, pela prática contrária às convenções de guerra (violação das leis e dos costumes de guerra) e pelos crimes contra a humanidade (segundo a letra da lei: assassinato, extermínio, escravização, deportação e qualquer outro ato desumano co-metido contra qualquer população civil, antes ou durante a guerra, ou perseguições por motivos políticos ou raciais, na execução ou na relação com qualquer crime que recaia na jurisdição do Tribunal, esteja ou não violando a legislação interna de país onde foi perpetrado o crime. Os chefes, organizadores, provocadores e cúmplices que tomaram parte na elaboração ou na execução de um plano comum ou em um complô para cometer qualquer um dos crimes enunciados são responsáveis por todos os atos realizados por qualquer pessoa na execução desse plano).

38 OLIVEIRA, Cristiano José Martins de. A criação de um tribunal penal internacional: dos tribunais militares aos tribunais “ad hoc”. Jus Navigandi. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=14525>. Acesso em 29 mar. 2010.

39 Segundo OLIVEIRA, Cristiano José Martins de. Op. cit., o nome dos juízes são: Tadhabinod M. Pal (Índia); Erima Harvey Northeroft (Nova Zelândia); I. M. Zaryanov (União Soviética); Delfin Jaranilla (Filipinas); John P. Higgins (EUA); Henry Bernard (França).

40 RAMELLA, Pablo A. Crimes contra a humanidade. Trad. Fernando Pinto. Rio de Janeiro: Foren-se, 1987. p. 9.

41 Ibidem, p. 10.

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dos aCusados e dos CondenadosConsta que em 1948, os nomes dos 28 japoneses acusados da prática de crimes

de Guerra foram encaminhados para serem julgados no TMIEO, todavia ocorre que, destes 28, apenas 25 foram efetivamente julgados pelo tribunal, pois Shumei Okawa escapou do julgamento por apresentar problemas mentais e Yosuke Matsuoka e Osa-mi Nagano por terem morrido de causas naturais antes da inauguração do tribunal.42

Ao final, somente 25 acusados foram julgados e condenados pela prática de crimes de guerra e são eles: Kenji Doihara, Hirota Koki, Seishiro Itagaki, Heitaro Kimura, Iwane Matsui, Akira Muto, Hideki Tojo, Sadao Araki, Kingoro Hashimoto, Shunroku Hata, Kiichiro Hiranuma, Naoki Hoshino, Okinori Kaya, Koichi Kido, Kuniaki Koiso, Jiro Minami, Takasumi Oka, Hiroshi Oshima, Kenryo Sato, Shigeta-ro Shimada, Toshio Shiratori, Teiichi Suzuki, Yoshijiro Umezu, Mamoru Shigemitsu e Hideki Togo.

Da lista com os 25 nomes acima mencionados, 12 foram consagrados no Tem-plo de Yasukuni Jinja43 e são eles: Hideki Tojo, Heitaro Kimura, Seishiro Itagaki, Kenji Doihara, Iwane Matsui, Akira Mutou e Koki Hirota que foram condenados à morte por enforcamento; Yoshijiro Umezu, Kuniaki Koiso, Kiichiro Hiranuma e Toshio Shiratori os quatro condenados à pena perpétua e que morreram de causas naturais durante o cumprimento da pena e Shigenori Tougo que foi condenado a 20 anos de prisão. Mais dois integrantes que faleceram antes do início do julgamento também foram consagrados em Yasukuni Jinja, e são eles: Yosuke Matsuoka e Osa-mi Nagano.44

42 CHINA trough a lens. The 14 class-A war criminals enshrined at Yasukuni. Disponível em:<http://china.org.cn/english/features/135371.htm> Acesso em: 21 nov. 2007.

43 Yasukuni Jinja foi erigido em 1869 durante o governo Meiji a fim de restaurar o espírito das belas tradições da nação. O mausoléu homenageia a todos os mártires de guerra japoneses. O referido lugar surgiu como um marco simbólico da nacionalidade, no momento em que o Japão moderno, imperial e militarista nascia. Por trás do símbolo, encontrava-se o Estado Xinto, uma fusão ori-ginal entre o absolutismo moderno e a antiga religião xintoísta, que servia como alicerce para a Restauração Meiji. A opinião pública criticou o simbolismo de Yasukuni em 1978, ocasião em que secretamente as autoridades responsáveis pelo local transferiram para lá os restos mortais do general Hideki Tojo e dos demais chefes militares condenados por crimes contra a humanidade cometidos na Segunda Guerra Mundial. Tem-se a informação de que, mesmo sob uma tormenta de protestos, o gabinete japonês recusou-se a ordenar a remoção dos restos mortais dos criminosos. Nesse sentido ver MAGNOLI, Demétrio. Koizumi em Yasukuni. In: Revista Pangea quinzenário de política, economia e cultura. Disponível em:<http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=62&ed=1>. Acesso em: 21 nov. 2007.

44 CHINA trough a lens. The 14 class-A war criminals enshrined at Yasukuni. Disponível em:<http://china.org.cn/english/features/135371.htm> Acesso em: 21 nov. 2007.

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A seguir as breves descrições dos principais condenados e suas respectivas ocupações à época dos fatos45:

a) Hideki Tojo (1884-1948)Hideki Tojo, nascido em Tóquio em 30 de dezembro de 1884, era filho de um

general japonês, graduou-se pela Escola Militar japonesa em 1905 e, mais tarde, no Japanese War College, em 1915.

Tojo foi nomeado vice-ministro da guerra em maio de 1938 e diretor da aviação militar no mesmo ano.

Em 1940, Tojo tornou-se ministro da guerra. Como ministro da guerra, ele dei-xou claro que o Japão deveria invadir China e, ao mesmo tempo, convenceu-se de que uma guerra com os Estados Unidos e a Grã - Bretanha não poderia ser evitada. Em outubro de 1941, ele foi nomeado premier japonês e assumiu os pelouros da guerra, da educação, do comércio e da indústria. Em dezembro desse mesmo ano, ele autorizou o ataque a Pearl Harbor, inaugurando assim a Guerra do Pacífico. Mais tarde, quando o Japão se rendeu às forças Aliadas em 2 de setembro de 1945, Tojo foi capturado como um criminoso de guerra e tenta o suicídio enquanto aguardava o julgamento. Condena-do pelo TMIEO, foi enforcado em Tóquio, em 23 de dezembro de 1948.

b) HeiTaro kimura (1888-1948)Desde 1936 no exército japonês, Kimura ganhou a patente de tenente geral da

32ª Divisão em 1939 e ajudou a planejar a guerra contra a China, bem como a Guerra do Pacífico e atuou como vice-ministro da guerra em 1943. Ele se tornou coman-dante-chefe do Exército na Birmânia em 1944. Foi responsável pelas brutalidades causadas aos prisioneiros de guerra aliados por tê-los utilizados na construção da ferrovia Burma-Siam. Em 1948, ele foi condenado à morte pelo tribunal e enforcado como criminoso de guerra.

c) SeiSHiro iTagaki (1885-1948)Itagaki foi um ex-combatente na Guerra Russo-Japonesa entre 1904-1905. Foi

comandante do 33° Regimento na China tendo trabalhado ativamente em Kunming, Wuhan e Shenyang. Ele foi nomeado Ministro de guerra em 1938 e um ano mais tarde tornou-se chefe do Exército Expedicionário Chinês. Anos mais tarde, tornou-se comandante na Coréia e em Singapura. Em 1948, foi julgado pelo TMIEO e conde-nado à morte por enforcamento como um criminoso de guerra.45 Nesse sentido ver; CHINA trough a lens. The 14 class-A war criminals enshrined at Yasukuni. Dis-

ponível em:<http://china.org.cn/english/features/135371.htm> Acesso em: 21 nov. 2007. (tradução livre de alguns trechos do texto).

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d) kenji doiHara (1883-1948)Kenji Doihara graduou-se pela Academia Militar Japonesa e pela Japanese War

College. A partir de 1913 serviu como um espião no nordeste da China. Em 1931, Doihara foi eleito chefe de serviços especiais do exército Kwantung. Atuou mais tarde como chefe de serviço especial na China e tornou-se também comandante da brigada e general da 14ª divisão na China. A partir de maio de 1939, ele trabalhou como comandante-geral do 5 º Exército, também na China e foi um membro do Su-premo Conselho de Guerra. Foi diretor da Academia Militar, oportunidade na qual atuou como inspetor geral da aviação do exército.

Após a guerra, Doihara foi julgado pelo TMIEO e condenado à morte. Ficou preso na Prisão de Sugamo antes da sua execução.

Dando cumprimento à condenação, em 23 de dezembro de 1948, com a idade de 65 anos, Doihara foi enforcado.

e) iwane maTSui (1878-1948)Nascido na província de Aichi no Japão, ocupou diversos cargos do alto escalão

do comando militar. Foi comandante do 29° Regimento e chefe do Harbin Special Services Agency de Manchuria. Em 1935, saiu da reforma para se tornar o coman-dante das Forças Expedicionárias Japonesa em Shanghai. Matsui foi quem planejou, em novembro de 1937, os ataques a Shanghai e Nanjing. Ele foi o comandante da força expedicionária japonesa responsável pelo Massacre de Nanjing em 1937.

Em 1948, o TMIEO julgou-o e o condenou à sentença por enforcamento pelo cometimento de crime de guerra. Sua execução ocorreu em dezembro do mesmo ano.

f) akira muTou (1892-1948)Graduado pela Japanese War College em 1920, atuou na China na Kwantung

Army em 1936. Foi considerado responsável pelo massacre de Nanjing e diversas atro-cidades cometidas na Indonésia. Por volta de 1939, tornou-se chefe do Gabinete dos Assuntos Militares e do ministério da guerra. Ele atingiu a patente de tenente geral em 1941. Em 1942, foi consagrado comandante-geral da 2ª Divisão da Guarda Imperial (Singapura-Sumatra) e, posteriormente, chefe de pessoal da 14ª Zona do Exército nas Filipinas em 1944. Após a II Guerra Mundial, Mutou foi preso e acusado de crimes de guerra. Ele foi executado, por enforcamento, em 23 de dezembro de 1948.

g) koki HiroTa (1878–1948)Graduado em Direito pela Universidade de Tóquio em 1906, Koki Hirota foi um

estadista japonês, um diplomata de carreira e atuou como embaixador japonês na Ho-landa (1927-1930) e na Rússia (1930-32). Exerceu ainda o cargo de ministro dos ne-gócios estrangeiros entre os anos de 1933 e 1936. Consagrou-se 1° Ministro em 1936. No seu mandato, observou-se um aumento da despesa militar, da interferência gover-namental na economia e da intensificação da agressão na China. Terminada a guerra,

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ele foi preso como um criminoso de guerra e, em 1948, foi condenado e enforcado.

H) YoSHijiro umezu (1882-1949)Yoshijiro Umezu nasceu em Oita e graduou-se na Academia Militar em 1902 e,

posteriormente, no Japanese War College em 1910. Tornou-se chefe do Exército do departamento de assuntos militares estrangeiros em 1928. Em 9 de junho de 1935, Umezu assinou um acordo conhecido como o He - Umezu, o qual reconheceu a ocupação japonesa em Hebei e Chahar (hoje parte da Mongólia). Ocupou cargos de vice-ministro da guerra e chefe do exército em 1944. Foi um participante relutante para a assinatura do instrumento de rendição japonesa a bordo do encouraçado ame-ricano “Missouri”, na Baía de Tóquio. Ele foi condenado à prisão perpétua em 1948 e faleceu no ano seguinte, enquanto cumpria a sua pena.

i) kuniaki koiSo (1880-1950)Nasceu em Tochigi em 1880 e se formou na Japanese War College em 1910.

Ocupou cargos como o de vice-ministro da guerra, chefe de pessoal do exército Kwan-tung, comandante chefe na Coréia e ministro de assuntos ultramarinos. Ele substituiu Tojo como primeiro ministro em julho de 1944, mas renunciou pouco depois, em Abril de 1945. Ele foi condenado à prisão perpétua e morreu enquanto cumpria a sua pena.

j) kiicHiro Hiranuma (1867-1952)Graduou-se em Direito em 1888 pela Faculdade de Direito da Universidade de

Tóquio. Tornou-se Ministro da Justiça em 1923. Em 1926, Hiranuma ocupou a vice--presidência do Privy Council. Ele foi nomeado primeiro ministro em 1939 e figurou como um dos governantes que se opôs à rendição incondicional do Japão na II Guerra. Preso como um criminoso de guerra em 1946, ele foi condenado à prisão perpétua.46

l) ToSHio SHiraTori (1887-1949)Graduou-se em Economia pela Universidade de Tóquio. Atuou como cônsul

suplente em Shenyang em 1914 e, mais tarde, foi nomeado terceiro secretário da embaixada japonesa nos EUA e assessor do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão. Em 1930, ele figurou como diretor do Information Bureau. No ano de 1933, ele foi nomeado embaixador na Suécia e enviado para a Itália em 1938. Em 1940, tornou-se consultor para o Ministro dos Negócios Estrangeiros e atuou no estabele-cimento de uma aliança entre a Alemanha, a Itália e o Japão. Terminada a II Guerra Mundial, ele foi condenado à prisão perpétua como um criminoso de guerra.

m) SHigenori Tougo (1882-1950)Sua graduação foi em Literatura pela Universidade de Tóquio em 1908. Pos-

46 NATIONAL diet library. Portraits of modern Japanese historical figures: Hiranuma, Kiichiro. Dis-ponível em:<http://www.ndl.go.jp/portrait/e/datas/179.html>. Acesso em: 10 dez. 2007.

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teriormente trabalhou junto ao serviço diplomático japonês. Foi funcionário da em-baixada japonesa na China, na Alemanha e também nos EUA. Em 1937, o Tougo foi nomeado embaixador para a Alemanha, período em que a Alemanha era controlada pelo Terceiro Reich. No ano seguinte, ele foi transferido para a antiga União Sovi-ética. Em 1941, enquanto Hideki Tojo figurava como premier japonês, Tougo, foi nomeado Ministro dos Negócios Estrangeiros por um membro do gabinete japonês. Após a II Guerra Mundial, ele foi condenado a 20 anos de prisão. Consta que ele faleceu em 1950, enquanto cumpria a sua pena na prisão.

n) YoSuke maTSuoka (1880-1946)Estudou Direito na Universidade de Oregon nos Estados Unidos e graduou-se no

ano de 1900. Concluída a graduação, retornou ao Japão e trabalhou no Departamento de Serviços Estrangeiros por 18 anos. Em 1921, ele se tornou diretor da South Man-churian Railroad Company. Foi o porta-voz da política expansionista japonesa e foi responsável por conduzir a delegação japonesa para fora da Liga das Nações em 1933. Em 1935, ele foi nomeado presidente da South Manchurian Railroad Company. Cinco anos mais tarde, no mês de julho, ele foi nomeado Ministro dos Negócios Estrangeiros. No início de 1941, Matsuoka foi um elemento fundamental na condução da assinatura do pacto de paz com a ex-URSS por um período de cinco anos. Findada a II Guerra Mundial, ele foi indiciado como criminoso de guerra, porém faleceu antes de ter o seu julgamento concluído, assim como ocorreu com Osami Nagano.

o) oSami nagano (1880-1947)Graduado pela Japan’s Naval Academy em 1900, sagrou-se vice-almirante na-

val em 1930. Como representante deste órgão, ele participou da Conferência Naval de Genebra de 1931. Ele alcançou a patente de almirante em 1934. Dois anos depois, foi nomeado Ministro da Marinha e, um ano mais tarde, assumiu o comando da frota. Em 1941, Nagano se tornou Chefe do Naval General Staff. Nessa função, ele apoiou a decisão de declarar guerra contra os EUA, a Grã-Bretanha e os Países Baixos. Ele foi colaborador na elaboração do plano de ataque ao US Pacific Fleet em Pearl Har-bor. Ele alcançou o posto de almirante da Marinha Japonesa em 1943 e tornou-se conselheiro militar do Imperador Hirohito em 1944.

Capturado pelos Aliados em 1945 e julgado por crimes de guerra, ele morreu em 1947, enquanto aguardava o julgamento.

do reCurso

Conforme o dispositivo de recurso contra a sentença da Corte previsto na Carta do Tribunal de Tóquio, os sete advogados de defesa dos acusados apelaram para a Corte Suprema dos EUA.47

47 BIX, Hebert P. Op. cit., p. 609.

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Quadro comparativo: TMIEO (Tóquio) vs TMIN (Nuremberg)

TMIEO (Tóquio) TMIN (Nuremberg)

Carta do Tribunal de Tóquio 17 artigos

Estatuto do Tribunal de Nuremberg

30 artigos

Data da constituição

Aprovada em 19 de janeiro de 1946 pelo Comandante Supremo das Forças Aliadas no Extremo Oriente

Data da constituição

Acordo de Londres de 8 de agosto de 1945 assinado pelo governo provisório da República Francesa, governo dos EUA, do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte e da URSS.

Sede Tóquio Sede Nuremberg

Crimes julgados

- Crimes contra a paz

-Crimes contra as convenções de guerra

-Crimes contra a humanidade

-O planejamento, a preparação, o início e a implementação de uma guerra declarada ou não

Crimes de conspiração ou conivência dos líderes japoneses com os demais governos (leia-se: da Alemanha e da Itália)

(Ver Carta em anexo)

Crimes julgados

-Crimes contra a paz

-Crimes de guerra

-Crimes contra a humanidade

(Ver o art. 6° da Carta do Tribunal Internacional Militar, que é um anexo do Acordo de Londres).

Julgamento Apenas pessoas físicas Julgamento Pessoas físicas e jurídicas

Acusados25 pessoas

Acusados

22 pessoas físicas e 7 organizações1:

Gabinete do Reich; Corpo de dirigentes do partido nazista; a Schutztaffel (SS); a Sturmabteilung (AS); a Sicherheitsdienst (SD); a Geheimes Staatpolizeiamt (GESTAPO); todo o Estado-Maior Alemão e o Alto Comando do Wehrmacht (OKW)

Condenados 25 pessoas Condenados 19 pessoasComposição 6 a 11 membros Composição 4 juízes (+ 4 suplentes)

Possibilidade de recurso contra a decisão da Corte

Existente e poderia ser dirigido à Suprema Corte Americana

Possibilidade de recurso contra a decisão da Corte

inexistente

fonte48

48 Quadro comparativo elaborado pela autora após pesquisar as seguintes obras: SOARES, Denise de Souza; DOLINGER, Jacob. Direito internacional penal: tratados e convenções. São Paulo: Reno-var, 2006. p.1221-1226; SOUZA, Artur de Brito Gueiros. O tribunal penal internacional e a proteção dos direitos humanos: uma análise do estatuto de Roma à luz dos princípios do direito internacional

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ConsIderações fInaIs

Os termos contidos na Declaração de Postdam não foram, de pronto, suficientes para sensibilizarem as forças armadas japonesa a se renderem aos aliados na ocasião da II Guerra, o que obrigou os Estados Unidos a cumprirem as ameaças estabe-lecidas na mencionada Declaração, fazendo uso das bombas atômicas que foram lançadas no arquipélago japonês. Consequentemente, a formalização da rendição japonesa só veio a ocorrer em 2 de setembro de 1945, após o último bombardeio atômico sobre o arquipélago, num ato de aceitação da Declaração de Postdam pelo então imperador Hiroito.49

Tal declaração não só mencionou os novos limites do arquipélago japonês - configuração esta mantida até os dias de hoje (Ilha de Honshu, Hokkaido, Kyushu e Shikoku, acrescida de algumas pequenas ilhas determinadas pelos aliados) como balizou os procedimentos a serem aplicados aos suspeitos de terem praticado os crimes de guerra.

No mais, tal como o Tribunal de Nuremberg, o Tribunal de Tóquio foi criado para julgar os fatos pretéritos (ex post facto) num ato (muito mais político do que jurídico) de imposição da vontade das nações vencedoras sobre a vencida.

O embasamento legal para o julgamento de Tóquio foi estabelecido pela Carta do Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente proclamada em janeiro de 1946 pelo então general estadunidense Douglas MacArthur.

O julgamento de Tóquio (bem como o de Nuremberg) foi considerado um pre-cedente de importância fundamental na aplicação da justiça internacional e no de-senvolvimento das jurisprudências internacionais, mas cabe lembrar que, em pese os esforços empreendidos nessas últimas décadas, a sociedade internacional ainda testemunha vários casos de impunidade pelo mundo, tais como a dos militares que violaram os direitos humanos no Chile, o abuso de civis na Chechênia, homicídios na Guatemala, os casos de abuso policial na Indonésia...

da pessoa humana. In: Boletim científico da escola superior do Ministério Público da União. Brasília: ESMPU, n°12, jul.set.2004. p. 10-14, passim.; Joanisval Brito. Tribunal de Nuremberg: 1945-1946. 2. ed., São Paulo: Renovar, 2004. p.87. BIX, HERBERT P. Hirohito and the making of modern Japan. New York: Harper Collins, 2000.

49 In verbis: “ We, acting by command of and in behalf of the Emperor of Japan, the Japanese Go-vernment and the Japanese Imperial General Headquarters, hereby accept the provisions set forth in the declaration issued by the heads of the Governments of the United States, China and Great Britain on 26 July 1945 at Potsdam, and subsequently adhered to by the Union of Soviet Socialist Republics, which four powers are hereafter referred to as the Allied Powers”. Para ver o inteiro teor da rendição, ver: USC US - Chine Institute. Instrument of surrender by japan, 1945. http://china.usc.edu/(A(gMvxEwWGygEkAAAAYjEzZmNkYmYtMTVhMC00MDI4LTgxYzEtYmE4YjBmMGJmZmEw2Dz_-WgVC1zMjh_Gh-34bazWI4g1)S(xndlbxyiqo1fterxta2a1w45))/ShowArticle.aspx?articleID=426. Acesso em: 29 mar 2010.

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aneXo

Carta do trIbunal MIlItar InternaCIonal para o eXtreMo orIente (tóQuIo, 1946)50

I – Constituição do Tribunal

Artigo 1°Estabelecimento do Tribunal

O Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente fica estabelecido pelo presente artigo, para a justiça e pronta punição dos grandes criminosos de guerra do Extremo Oriente. A sede permanente do Tribunal fica em Tóquio.

Artigo 2°Membros

O Tribunal compreenderá seis membros no mínimo e onze membros no máximo esco-lhidos pelo comandante-chefe para as potências Aliadas, a partir de uma lista de nomes forne-cida pelos Países Signatários do Instrumento de Capitulação, a Índia e a União das Filipinas.

Artigo 3°Funcionários e Secretariado

a) Presidente.O comandante-chefe supremo para as Potências Aliadas nomeará um membro como

Presidente do Tribunal.b) Secretariado.1. O Secretariado do Tribunal será composto por um secretário-geral, que será nomeado

pelo comandante-chefe supremo para as Potências Aliadas, e tantos secretários, empregados de escritório, intérpretes e outros membros quanto forem necessários.

2. O Secretário-Geral organizará e dirigirá o trabalho do Secretariado.3. O Secretariado receberá todos os documentos dirigidos ao Tribunal, conservará as

minutas do Tribunal, fornecerá os serviços de escritório necessários ao Tribunal e aos seus membros, e cumprirá todas as outras tarefas que venham a ser destinadas a ele pelo Tribunal.

Artigo 4°Reunião e quórum, voto e ausência

a) A reunião e quórum.Quando pelo menos seis membros do Tribunal estiverem presentes, eles poderão reunir

o Tribunal em sessão oficial. A obtenção de uma maioria do conjunto dos membros será ne-cessária para constituir um quórum.

b) Voto50 SOARES, Denise de Souza; DOLINGER, Jacob. Direito internacional penal: tratados e conven-

ções. São Paulo: Renovar, 2006. p.1221-1226.

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Todas as decisões e julgamentos desse Tribunal, inclusive as notificações e sentenças, serão tomadas por voto majoritário dos membros do Tribunal presentes. No caso de empate, o voto do presidente será decisivo.

c) Ausência.Se um membro estiver ausente em um dado momento, e puder em seguida estar presen-

te, ele deverá participar de todos os debates posteriores, a não ser que declare publicamente ao Tribunal que não está qualificado para isso, não estando suficientemente informado dos debates que ocorreram em sua ausência.

II – Jurisdição e Disposições Gerais

Artigo 5°Jurisdição sobre as pessoas e sobre os crimes

O Tribunal terá o poder para julgar e punir os criminosos de guerra do Extremo Oriente que, individualmente ou como membro de organizações, são acusados de crimes compreen-dendo crimes contra a paz.

Os atos a seguir, ou qualquer um deles, são os crimes submetidos à jurisdição do Tribu-nal para os quais haverá responsabilidade individual:

Crimes contra a Paz.Crimes contra as Convenções de Guerra. Isto é, as violações das leis e costumes de

guerra.Crimes contra a Humanidade.Isto é, assassinato, extermínio, escravização, deportação e qualquer outro ato desumano

cometido contra qualquer população civil, antes ou durante a guerra, ou perseguições por motivos políticos ou raciais, na execução ou na relação com qualquer crime que recaia na ju-risdição do Tribunal, esteja ou não violando a legislação interna de país onde foi perpetrado o crime. Os chefes, organizadores, provocadores e cúmplices que tomaram parte na elaboração ou na execução de um plano comum ou em um complô para cometer qualquer um dos crimes enunciados são responsáveis por todos os atos realizados por qualquer pessoa na execução desse plano.

Artigo 6°Responsabilidade do acusado

Nem a posição oficial de um acusado, em nenhum momento, nem o fato de que um acusado agiu de acordo com as ordens de seu Governo ou de um superior bastará, por si só, para afastar a responsabilidade desse acusado em qualquer crime pelo qual é responsabili-zado, mas essas circunstâncias podem ser consideradas como atenuantes no veredicto, se o Tribunal assim considerar de acordo com a justiça.

Artigo 7°Regras de processo

O Tribunal pode estabelecer e emendar as regras de processo, compatíveis com as dis-posições fundamentais da presente Carta.

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Artigo 8°Conselho

Chefe do conselho.O Chefe do Conselho, designado pelo Comandante-Chefe Supremo para as Potências

Aliadas, é responsável pela instrução e pelo processo das acusações contra os criminosos de guerra que recaiam sob a jurisdição do Tribunal prestará a assistência legal necessária ao Comandante-Chefe Supremo.

Membros do Conselho.Cada uma das Nações Unidas contra a qual o Japão estava em guerra pode nomear um

membro do Conselho encarregado de auxiliar o Chefe do Conselho.

III – Julgamento Eqüitativo dos Acusados

Artigo 9°Procedimento de um julgamento imparcial

Visando a garantir que os acusados sejam julgados com eqüidade, será adotado o se-guinte procedimento:

Ato de acusação.O ato de acusação consistirá em uma exposição clara, concisa e adequada de cada crime

imputado. Será fornecida a cada acusado, em tempo útil para a sua defesa, uma cópia do ato de acusação, incluindo todas as emendas, e uma cópia da presente Carta, em uma língua que o acusado compreenda.

Língua.O processo e as formalidades relacionadas a ele ocorrerão em inglês ou na língua do

acusado. Traduções de documentos e outros papéis serão fornecidas de acordo com a neces-sidade e as solicitações.

Advogado do acusado.Cada acusado terá direito de ser representado por um advogado de sua própria escolha,

ressalvando que o Tribunal pode, a qualquer momento, desaprovar esse advogado. O acusado fornecerá ao secretário-geral do Tribunal o nome do seu advogado. Se um acusado não esti-ver representado por um advogado e solicitar em plena sessão a nomeação de um, o Tribunal designará um advogado para ele. Na ausência de uma solicitação desse tipo, o Tribunal pode nomear um advogado para o acusado se, em sua opinião, essa nomeação for necessária para um julgamento eqüitativo.

Depoimento de defesa.Um acusado terá o direito de apresentar ele próprio a sua defesa ou por intermédio de

seu advogado (mas não das duas maneiras ao mesmo tempo) e esse direito implicará o de examinar qualquer testemunho, ressalvando as restrições razoáveis que possam ser fixadas pelo Tribunal.

Apresentação de testemunha de defesa.Um acusado pode solicitar por escrito ao Tribunal para apresentar testemunhas ou do-

cumentos. O requerimento indicará em que local a testemunha ou o documento poderiam ser encontrados. Ele fará também a exposição dos fatos que se pretende provar graças à teste-munha ou ao documento e a relação desses fatos com a defesa. Se o Tribunal achar cabível a

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solicitação, ele concederá toda a ajuda exigida pelas circunstâncias para obter a apresentação da prova.

Artigo 10Solicitações e moções apresentadas ao Tribunal

Todas as moções, solicitações e outros requerimentos dirigidos ao Tribunal antes do início do processo visarão a servir à ação do Tribunal.

IV – Poderes do Tribunal e Condução do Processo

Artigo 11Poderes

O Tribunal terá poder para:Convocar testemunhas para o processo, requerer sua presença e seu testemunho, e in-

terrogá-las;Interrogar cada acusado e permitir que eles expliquem o motivo de se negarem a res-

ponder a uma questão qualquer;Exigir a apresentação de documentos e de outros meios de prova;Exigir de cada testemunha um juramento, afirmação ou uma declaração desse tipo con-

forme os hábitos do país da testemunha, e fazer com que se preste juramento;Nomear os funcionários encarregados de cumprir qualquer tarefa que for designada por

esse Tribunal, inclusive a de buscar provas, por procuração.

Artigo 12Condução do processo

O Tribunal deverá:Limitar estritamente o processo a um exame rápido das questões levantadas pela acu-

sação;Tomar as medidas estritas para evitar qualquer ação que leve a um atraso não justifi-

cado, e afastar todas as questões e declarações estranhas as processo de qualquer natureza;Velar pela manutenção da ordem no processo e tratar sumariamente qualquer contumá-

cia, impondo uma justa sanção, inclusive e exclusão de um acusado ou de seu advogado de uma ou de todas as sessões posteriores, mas sem prejuízo da determinação das acusações.

Determinar para todo acusado sua capacidade mental e física e se está apto a compa-recer ao processo.

Artigo 13Admissibilidade

O Tribunal não está vinculado a regras técnicas de depoimento. Ele adotará na medida do possível um procedimento rápido e não técnico, e admitirá qualquer depoimento que lhe parecer ter um valor de prova. Todas as confissões ou declarações significativas do acusado serão admitidas.

PertinênciaO Tribunal pode exigir que seja informado da natureza e de qualquer depoimento antes

que seja apresentado, visando a decidir dobre sua pertinência.

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Admissibilidade de depoimentos especiais.Em particular, e sem que essa disposição limite no que quer que seja o alcance das

regras gerais enunciadas acima, pode-se admitir as seguintes provas:1. Um documento, sem considerar seu grau de autenticidade e sem prova de sua ori-

gem ou de sua assinatura, que pareça ao Tribunal ter sido assinado ou emitido por qualquer funcionário, departamento, organismo ou membro das forças armadas de qualquer Governo.

2. Um relatório que pareça ao Tribunal ter sido assinado ou estabelecido pela Cruz Vermelha Internacional ou um de seus membros, ou por um médico ou qualquer membro do serviço sanitário, ou por um investigador ou membro de um serviço de Informação, ou por qualquer outra pessoa que pareça ao Tribunal ter um conhecimento pessoal das questões tratadas no relatório.

3. Um affidavit, um depoimento ou qualquer outra declaração assinada.4. Uma agenda, carta ou outro documento, compreendendo declarações, feitas ou não sob

juramento, que pareçam ao Tribunal conter informações relativas à acusação.5. Uma cópia de um documento ou uma prova secundária de seu conteúdo, se o original

não puder ser fornecido imediatamente.Informações judiciária.O Tribunal não irá requerer provas para os fatos de notoriedade pública, nem para

estabelecer a autenticidade de documentos oficiais provenientes dos Governos e relatórios provenientes de qualquer nação, nem dos autos e conclusões de organismos militares e outros de uma das Nações Unidas.

Autos, elementos de provas e documentos.A transição do processo e dos elementos de prova e documentos submetidos ao Tribu-

nal será conservada pelo Secretário -Geral do Tribunal, e constituirá uma parte dos autos.

Artigo 14Local do processo

O primeiro processo ocorrerá em Tóquio e todos os processos posteriores ocorrerão nos locais escolhidos pelo Tribunal.

Artigo 15Ordem das diversas partes do processo

As diversas partes do processo ocorrerão na seguinte ordem:O ato de acusação será lido diante da Corte, a não ser que todos os acusados renunciem-

-se a essa leitura.O Tribunal perguntará a cada acusado se ele se declara “culpado” ou “não-culpado”.A Acusação e a Defesa podem trazer testemunhos cuja admissibilidade será determi-

nada pelo Tribunal.A Acusação e cada acusado (por intermédio apenas de seu advogado, se ele tiver um)

podem examinar qualquer testemunho e qualquer acusado que preste testemunho.O acusado (por intermédio apenas de seu advogado, se ele tiver um) pode dirigir-se ao

Tribunal.A Acusação pode dirigir-se ao Tribunal.O Tribunal fará seu julgamento e pronunciará a sentença.

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V – Julgamento e Sentença

Artigo 16Penalidades

O Tribunal terá o poder de condenar um acusado reconhecido culpado, à morte ou a qualquer outra pena que considerar justa.

Artigo 17Julgamento e revisão

O julgamento será anunciado publicamente indicando as razões que o motivaram. Os autos dos processos serão transmitidos diretamente ao comandante-chefe supremo para as Potências aliadas.

Uma sentença será executada, de acordo com a ordem do comandante-chefe supremo para as Potências Aliadas, que pode a qualquer momento atenuar a sentença ou modificá-la de qualquer forma, exceto agravá-la.

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Notas

1 Para maiores pormenores sobre o funcionamento e competência de cada organi-zação ver GONÇALVES, Joanisval Brito. Tribunal de Nuremberg: 1945-1946. 2. ed., São Paulo: Renovar, 2004. p. 351-352.

Submetido em: 2-2-2012

Aprovado em: 9-4-2012