breve história do estudo da linguagem[1]

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BREVE HISTÓRIA DO ESTUDO DA LINGUAGEM - A ciência linguística de hoje é ao mesmo tempo produto do seu passado e matriz do seu futuro (ROBINS, 1979). - Toda ciência se alimenta do próprio passado, e o estágio que atinge numa data época serve de ponto de partida para as investigações posteriores. - O interesse pela linguagem é muito antigo, expresso por mitos, lendas, cantos , rituais ou trabalhos eruditos que buscam conhecer essa capacidade humana. - Os primeiros estudos remontam ao século IV a.C, razões religiosas levaram os hindus a estudar a sua língua, para que os textos sagrados reunidos no Vedas não fossem alterados no momento de ser proferidos. - O gramáticos hindus (ex. Panini IV a.C.) dedicaram-se a descrever minuciosamente sua língua, produzindo modelos de análise descobertos no séc. XVIII. Propósito: assegurar a conservação literal dos textos sagrados e pronúncia correta das preces; valorizar e difundir a língua

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Page 1: Breve história do estudo da linguagem[1]

BREVE HISTÓRIA DO ESTUDO DA LINGUAGEM

-- A ciência linguística de hoje é ao mesmo tempo produto do seu passado e matriz do seu futuro (ROBINS, 1979).

-- Toda ciência se alimenta do próprio passado, e o estágio que atinge numa data época serve de ponto de partida para as investigações posteriores.

-- O interesse pela linguagem é muito antigo, expresso por mitos, lendas, cantos , rituais ou trabalhos eruditos que buscam conhecer essa capacidade humana.

-- Os primeiros estudos remontam ao século IV a.C, razões religiosas levaram os hindus a estudar a sua língua, para que os textos sagrados reunidos no Vedas não fossem alterados no momento de ser proferidos.

-- O gramáticos hindus (ex. Panini IV a.C.) dedicaram-se a descrever minuciosamente sua língua, produzindo modelos de análise descobertos no séc. XVIII.-Propósito: assegurar a conservação literal dos textos sagrados e pronúncia correta das preces; valorizar e difundir a língua sânscrita culta.-

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Os vedas consistem de vários tipos de textos, todos datando aos tempos antigos. O núcleo é formado pelos Mantras que representam hinos, orações, encantações, mágicas e fórmulas rituais, encantos etc. Os hinos e orações são endereçados a uma grande quantidade de deuses (e algumas deusas), dos quais importantes membros são Rudra, Varuna, Indra, Agni etc. Os mantras são suplementados por textos relativos aos rituais sacrificiais nos quais esses mantras são utilizados e também textos explorando os aspectos filosóficos da tradição ritual, narrativas etc. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Veda)

Ex. Rig Veda ou Rigveda, Livro dos Hinos, é o Primeiro Veda e é, com certeza, o mais importante veda, pois todos os outros derivaram dele, composto de hinos, rituais e oferendas às divindades.

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GRÉCIA- Os pensadores gregos foram os iniciadores na Europa dos estudos da ciência

linguística.

Bloomfield: “Os gregos antigos possuíram o dom de admirar as coisas que outros povos aceitavam sem discussão.”

- Os gregos do período clássico já conheciam a existência de povos com línguas diferentes e de divisões dialetais dentro da comunidade de fala grega. (Contatos linguísticos no comércio, na diplomacia, na vida diária).

- - O historiador Heródoto ressalta que a resistência aos bárbaros estava no fato de “toda comunidade grega ter o mesmo sangue e a mesma língua”.

- Preocupação com a definição das relações entre o conceito e a palavra. A questão era: haverá uma relação necessária entre a palavra e o seu significado ou é resultado de mera convenção? Platão discute essa controvérsia entre natureza e convenção no Crátilo.

- Aristóteles adotou o ponto de vista convencionalista edesenvolveu estudos noutra direção:

- a) análise precisa da estrutura linguística;- b) elaboração de uma teoria da frase;- c) distinção das partes do discurso;- d) enumeração das categorias gramaticais.

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- A escola filosófica estóica levou a linguística a um lugar definitivo dentro do contexto geral da filosofia; formalizou a oposição que existe entre forma e sentido; desenvolveu a linguística no contexto de indagações filosóficas; motivou-se a estudar o estilo literário; e manteve a preocupação com a gramática e pronúncia “corretas” do grego clássico.

- Os três principais ramos de estudo linguístico que receberam atenção especial dos gregos foram: a etimologia, a fonética (pronúncia) e a gramática.

Ex. Gramática de Dionísio da Trácia = explicação sumária sobre a estrtura do grego.

- A civilização da Idade do Bronze, conhecida como micênica, existiu de 1500 a.C. a 1100 a.C. e durante esse período a língua foi registrada com a escrita atualmente chamada de Linear B.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:NAMA_Tablette_7671.jpg

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ROMA

No decorrer dos século III e II a. C. a Grécia caiu sob o controle de Roma, que dominava toda a península itálica.

- Desde os primeiros contatos, os romanos reconheceram de bom grado a superioridade das realizações intelectuais e artísticas dos gregos.

A partir do séc. III, a literatura grega foi traduzida para o latim.

Varrão, na esteira dos gregos, dedicou-se à gramática, definindo-a como ciência e como arte. É o primeiro gramático latino importante de que se tem notícia.

- Para Varrão a linguagem desenvolveu-se a partir de um conjunto limitado de palavras básicas que se fizeram aceitas para representar os objetos e que serviram para produzir novas palavras através das mudanças de letras ou da forma fonética (ambas significavam o mesmo para ele). Ex. duellum – bellum , “guerra”. Fez observações morfológicas, diferenciando formação derivacional e flexional. Ex. sus “porco” – suile “pocilga”.

- O que mais se conhece da erudição linguística romana é a formalização descritiva da gramática latina que ser tornou a base de toda a educação nos fins da Antiguiade e Idade Média e do ensino tradicional do mundo moderno. Ex. A gramática de Prisciano (cerca de 500 d.C.)

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Fábula de Fedro

Vulpis Ad Personam TragicamPersonam tragicam forte uulpes uiderat: “O quanta species”, inquit “cerebrum non habet!” Hoc illis dictum est quibus honorem et gloriam Fortuna tribuit, sensum communem abstulit.

Tradução: A raposa e a máscara de tragédia “A raposa vira, por acaso, uma máscara de tragédia “Ó quanta beleza”, disse, “não tem cérebro!” Isto foi dito para aqueles aos quais a sorte (a fortuna)

atribuiu honra e glória, (entretanto) tirou o senso (a razão) comum.”

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IDADE MÉDIA

- Prolongaram-se os estudos vinculados à filosofia e à literatura gregas, embora

não tenham quase nenhum a originalidade;

- O latim das províncias ocidentais sobreviveu ao invasor germânico, cuja fala legou às línguas neolatinas uns poucos itens lexicais. Ex. bando, espeto, espora (visigotismos – vocábulos referentes a atividades militares e objetos caseiros)

- O latim permaneceu como língua da erudição, usada como língua da literatura, dos serviços e administração da igreja católica.

- A gramática foi a base da erudição medieval, como disciplina indispensável para ler e escrever corretamente o latim.

- Para os gramáticos especulativos, uma frase aceitável apoia-se em princípios, comparáveis ás quatro causas aristotélicas;

- - Material: as palavras como membros das classes gramaticais;- - formal: a união das palavras em diferentes construções;- - eficiente: as relações gramaticais entre as diferentes partes do discurso

expressas pela flexão das formas;- - final: a expressão de um pensamento completo.

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RENASCIMENTO

- Nessa época surge o conceito de “Idade Média”, cujos estudos linguísticos foram seriamente subestimados pelos renascentistas.

- A partir dos fins da Idade Média, ampliam-se os horizontes linguísticos:- a) as obras de gramáticos não europeus começam a causar impactos na tradição

europeia;- b) as línguas vivas da Europa passam a ser sistematicamente estudadas; as

primeiras gramáticas do italiano e espanhol foram publicadas no séc. XV;- c) surgem novas linhas de pensamento sobre a linguagem, hoje aceitas como parte

integrande da linguística geral;- d) a religiosidade ativada pela Reforma provoca a tradução dos livros sagrados em

numerosas línguas, o árabe e o hebraico foram oficialmente admitidas na Universidade de Paris;

- e) a Bíblia alemã de Lutero foi impressa em 1534 e nessa época as Sagradas Esccrituras já haviam sido traduzidas para um bom número de línguas do lado Ocidental da Europa;

- Entre os gramáticos renascentistas, destaca-se Pierre Ramée (Petrus Ramus, nascido por volta de 1515) considerado o precursor do estruturalismo moderno. As descrições e classificações gramaticais são de natureza formal, já que não assentam nem na semântica nem nas categorias lógicas, mas nas relações entre as formas reais das palavras.

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Em 1492 Colombo descobriu o Novo Mundo. Firth chamou ao aspecto linguístico do expansionismo europeu “o descobrimento de Babel”.

Com relação a Novo Mundo, foram publicadas gramáticas do hahualtl (México), do quíchua (Peru) e do guarani (Brasil) nos anos 1547, 1560 e 1639, respectivamente.

- Houve o trabalho linguístico empreendido pelos missionários nas missões jesuíticas durante os séculos XVI, XVII e XVIII.

- A queda do latim como língua internacional do saber e da autoridade e o reconhecimento das línguas vernáculas configuram a ideia de que o homem era capaz de aperfeiçoar as línguas para satisfazer as necessidades do seu tempo.

- Nos séculos XVII e XVIII, a Gramática de Port Royal, de Lancelot e Arnoud, da continuidade às preocupações dos antigos:

- a) a linguagem se funda na razão, é a imagem do pensamento, portanto remontam ás preocupações universalistas dos gramáticos especulativos gregos;

- b) não havia preocupação em inventar novos sistemas de comunicação, limitando-se a expor teoria geral por meio de línguas como o latim e o francês.

- c) Sobre as bases dessa gramática geral, repousam nove classes tradicionais de palavras: nome, artigo, pronome, particípio, preposição, advérbio, verbo, conjunção e interjeição.

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SÉCULO XIX

- O conhecimento de um número maior de línguas provoca o interesse pelas línguas vivas, pelo estudo comparativo dos falares, em detrimento de um racicínio mais abstrato sobre a linguagem, observado no século anterior.

- É nesse período que se desenvolve o método histórico, instrumento importante para o florescimento das gramáticas comparadas e da Linguística Histórica.

- O pensamento linguístico contemporâneo, mesmo com novas bases, formou-se a partir dos princípios metodológicos dessa época, com a análise dos fatos observados.

- O estudo comparado das línguas vai evidenciar o fato de que as línguas se transformam com o tempo.

- O marco da Linguística Histórica é o estudo de Fraz Bopp, publicado em 1816, sobre o sistema de conjugação do sânscrito, comparado ao grego, ao latim, ao persa e ao germânico.

- Os estudiosos compreenderam melhor que seus predecessores que as mudanças nos textos escritos, por exemplo do latim para o português, espanhol, italiano, francês, teriam acontecido na língua falada correspondente.

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SÉCULO XX

- É no início do séc. XX, com a divulgação dos trabalhos de Ferdinand de Saussure, professor da Universidade de Genebra, que a investigação sobre a linguagem passa a ser reconhecida como estudo científico.

- Em 1916 dois alunos de Saussure, a partir de anotações de aulas, publicam o “Curso de Linguística Geral”, obra fundadora da nova ciência.

- Antigamente, a Linguística não era autônoma, submetia-se às exigências de outros estudos, como a lógica, a filosofia, a retórica, a história, ou a crítica literária.

- No séc. XX, os estudos linguísticos centraram-se na observação dos fatos de linguagem, examinados sistematicamente mediante experimentação e uma teoria adequada.

Fontes:

PETTER, Margarida. Linguagem, língua, linguística. In: FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Linguística. 5 ed. São Paulo: Contexto, 2007.

ROBINS, R. H. Pequena História da Linguística. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico S/A, 1979.