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CYAN MAGENTA AMARELO PRETO TAB 32 JORNAL DO BRASIL Domingo, 10 de fevereiro de 2008 Convênio firmado entre o Jornal do Brasil eo Instituto Ciência Hoje apresenta todo domingo textos baseados em artigos publicados na revista JB 69 BIOLOGIA UTI para as espécies migratórias Animais perdidos recebem cuidados antes de retornar à natureza riram lixo; lobos-marinhos feridos nos olhos e nas nadadeiras devido à atividade pesqueira, entre outros. – Cada espécie afetada indica uma forma diferente de desequi- líbrio –, diz o biólogo Ricardo Krul, coordenador do projeto. O caso das aves marinhas é pe- culiar: em geral elas sofrem com a desnutrição, pois têm cada vez mais dificuldade em achar alimento de- vido à atuação predatória da in- dústria da pesca. Dados apontam que algumas espécies chegam a ter 90% de sua alimentação baseada em restos pesqueiros, muitas vezes de- teriorados e impróprios para con- sumo. Assim, acabam intoxicadas, desnutridas ou morrem. Atualmente, o Proamar atende três lobos-marinhos, três pingüins, dois atobás e uma tartaruga. O projeto, cuja estrutura física é via- bilizada pelo CEM, não tem apoio financeiro de outras entidades. Há um convênio com o Ibama, mas a parceria se limita a formalidades burocráticas. Estudantes de ocea- nografia do CEM e pescadores lo- cais também contribuem. Ricardo Krul (CEM/UFPR) PINGÜIM – Um dos atendidos EDUCAÇÂO Brasil em 50º lugar na copa do mundo Cientista comenta repercussão do resultado brasileiro na Avaliação de Estudantes Alberto Passos Guimarães CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISAS FÍSICAS INSTITUTO CIÊNCIA HOJE/SBPC Qual seria o impacto de uma manchete como esta no país? É difícil imaginar a escala da cons- ternação e da revolta que uma no- ticia dessas produziria nos brasi- leiros. Quantos debates, artigos, manifestações, interpretações, co- missões de inquérito seriam pro- vocadas por um desastre nesta es- cala? O que seria da nossa au- to-estima? Lembremos apenas que em 1950 o Brasil perdeu a final da Copa do Mundo em casa, clas- sificando-se num invejável segun- do lugar, mas o terremoto pro- duzido foi tamanho que o jornalista Elio Gaspari o descreveu como “o nosso Pearl Harbor”. Felizmente, o título deste artigo é apenas uma provocação, a seleção brasileira deverá conseguir na pró- xima Copa resultado muitíssimo melhor do que o anunciado aqui. O modestíssimo 50º lugar não foi conseguido pelo Brasil na Copa do Mundo, mas sim no teste PISA, que avaliou os conhecimentos em ciência de 400.000 alunos de 57 países, e cujo resultado foi divul- gado em 4 de dezembro último. O PISA, sigla em inglês do Programa de Avaliação Internacional de Es- tudantes, vem sendo realizado pe- riodicamente pela Organização pa- ra a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento (OECD) entre jovens de 15 anos de dezenas de países. O desempenho dos nossos es- tudantes em Matemática e a com- petência para leitura também foram lamentáveis, situando-os igual- mente entre os últimos do conjunto de 57 paises. Estamos entre os qua- tro piores em Matemática e entre os oito piores em Leitura. Os resultados desses estudos de- veriam provocar uma revolta muito maior do que qualquer tropeço da seleção de futebol, evidentemente. O futuro do país, o padrão de vida da população, o vigor da economia, tudo depende muito mais dessa Copa da educação, na qual temos sempre saído de campo de cabeça baixa. Os problemas da educação básica, em linhas gerais, são co- nhecidos: falta de investimen- to, salários inadequados, má gestão, falta de professores qua- lificados, etc. Devemos reco- nhecer que o país conseguiu muitos avanços na educação, como o aumento na matricula escolar, o crescimento da pós-graduação, entre outras realizações. Mas dentro do qua- dro geral de baixa qualidade do ensino básico - reconhecida por todos - destacam-se particular- mente as carências em ciências e matemática. Nessas áreas, es- tratégicas para qualquer projeto de desenvolvimento e criação de uma cultura de inovação, a situação é critica, com falta de milhares de professores. Algumas manifestações de preocupação sobre os resulta- dos do PISA surgiram na im- prensa, do Governo, dos edu- cadores. Mas ainda foi muito pouco. Quando a sociedade vai mostrar uma reação à altura da gravidade do problema? Quan- do vai tornar a educação uma real prioridade? Henrique Kugler CIÊNCIA HOJE/PR Em uma década, mais de mil animais que se perderam durante a migração sazonal foram reabilitados e devolvidos ao ambiente natural por pesquisadores do Centro de Estudos do Mar (CEM) da Uni- versidade Federal do Paraná (UF- PR). Entre as espécies recuperadas estão lobos-marinhos, pingüins e albatrozes que, dispersos do grupo, terminam sua jornada distantes do destino original, doentes, feridos ou encalhados nas areias. Nos últimos anos, tem-se ve- rificado considerável aumento no número de animais enfraquecidos que aportam em praias brasileiras, muitos não-nativos. Fisicamente impossibilitados de prosseguir, são recolhidos e encaminhados à equi- pe de biólogos, oceanógrafos, ve- terinários e voluntários do Projeto de Estudos e Reabilitação de Aves, Mamíferos e Répteis (Proamar), criado há 10 anos pelo CEM. São pingüins contaminados por petró- leo; tartarugas-marinhas que inge- BOLA FORA Brasil ocupa 52ª posição no exame sobre conhecimentos científicos aplicado em 57 países >> PISA – CIÊNCIA

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CYAN MAGENTA AMARELO PRETO TAB 32

JORNAL DO BRASIL Domingo, 10 de fevereiro de 2008

Convênio firmado entre oJornal do Brasil e o InstitutoCiência Hoje apresenta tododomingo textos baseados emartigos publicados na revista

JB 6

9

BIOLOGIA

UTI para as espécies migratóriasAnimais perdidos recebem cuidados antes de retornar à natureza

riram lixo; lobos-marinhos feridosnos olhos e nas nadadeiras devido àatividade pesqueira, entre outros.

– Cada espécie afetada indicauma forma diferente de desequi-líbrio –, diz o biólogo RicardoKrul, coordenador do projeto.

O caso das aves marinhas é pe-culiar: em geral elas sofrem com adesnutrição, pois têm cada vez maisdificuldade em achar alimento de-vido à atuação predatória da in-dústria da pesca. Dados apontamque algumas espécies chegam a ter90% de sua alimentação baseada em

restos pesqueiros, muitas vezes de-teriorados e impróprios para con-sumo. Assim, acabam intoxicadas,desnutridas ou morrem.

Atualmente, o Proamar atendetrês lobos-marinhos, três pingüins,dois atobás e uma tartaruga. Oprojeto, cuja estrutura física é via-bilizada pelo CEM, não tem apoiofinanceiro de outras entidades. Háum convênio com o Ibama, mas aparceria se limita a formalidadesburocráticas. Estudantes de ocea-nografia do CEM e pescadores lo-cais também contribuem.

Ricardo Krul (CEM/UFPR)

PINGÜIM – Um dos atendidos

EDUCAÇÂO

Brasil em 50º lugar na copa do mundoCientista comenta repercussão do resultado brasileiro na Avaliação de Estudantes

Alberto Passos GuimarãesCENTRO BRASILEIRO DE PESQUISAS FÍSICASINSTITUTO CIÊNCIA HOJE/SBPC

Qual seria o impacto de umamanchete como esta no país? Édifícil imaginar a escala da cons-ternação e da revolta que uma no-ticia dessas produziria nos brasi-leiros. Quantos debates, artigos,manifestações, interpretações, co-missões de inquérito seriam pro-vocadas por um desastre nesta es-cala? O que seria da nossa au-to-estima? Lembremos apenas queem 1950 o Brasil perdeu a final daCopa do Mundo em casa, clas-sificando-se num invejável segun-do lugar, mas o terremoto pro-duzido foi tamanho que o jornalistaElio Gaspari o descreveu como “onosso Pearl Harbor”.

Felizmente, o título deste artigoé apenas uma provocação, a seleçãobrasileira deverá conseguir na pró-xima Copa resultado muitíssimomelhor do que o anunciado aqui.

O modestíssimo 50º lugar nãofoi conseguido pelo Brasil na Copado Mundo, mas sim no teste PISA,que avaliou os conhecimentos emciência de 400.000 alunos de 57países, e cujo resultado foi divul-gado em 4 de dezembro último. OPISA, sigla em inglês do Programade Avaliação Internacional de Es-tudantes, vem sendo realizado pe-riodicamente pela Organização pa-ra a Cooperação Econômica e oDesenvolvimento (OECD) entrejovens de 15 anos de dezenas depaíses.

O desempenho dos nossos es-tudantes em Matemática e a com-petência para leitura também foramlamentáveis, situando-os igual-

mente entre os últimos do conjuntode 57 paises. Estamos entre os qua-tro piores em Matemática e entre osoito piores em Leitura.

Os resultados desses estudos de-veriam provocar uma revolta muitomaior do que qualquer tropeço daseleção de futebol, evidentemente.O futuro do país, o padrão de vidada população, o vigor da economia,tudo depende muito mais dessaCopa da educação, na qual temossempre saído de campo de cabeçabaixa.

Os problemas da educaçãobásica, em linhas gerais, são co-nhecidos: falta de investimen-to, salários inadequados, mágestão, falta de professores qua-lificados, etc. Devemos reco-nhecer que o país conseguiumuitos avanços na educação,como o aumento na matriculaescolar, o crescimento dapós-graduação, entre outrasrealizações. Mas dentro do qua-dro geral de baixa qualidade doensino básico - reconhecida portodos - destacam-se particular-mente as carências em ciênciase matemática. Nessas áreas, es-tratégicas para qualquer projetode desenvolvimento e criaçãode uma cultura de inovação, asituação é critica, com falta demilhares de professores.

Algumas manifestações depreocupação sobre os resulta-dos do PISA surgiram na im-prensa, do Governo, dos edu-cadores. Mas ainda foi muitopouco. Quando a sociedade vaimostrar uma reação à altura dagravidade do problema? Quan-do vai tornar a educação umareal prioridade?

Henrique KuglerCIÊNCIA HOJE/PR

Em uma década, mais de milanimais que se perderam durante amigração sazonal foram reabilitadose devolvidos ao ambiente naturalpor pesquisadores do Centro deEstudos do Mar (CEM) da Uni-versidade Federal do Paraná (UF-PR). Entre as espécies recuperadasestão lobos-marinhos, pingüins ealbatrozes que, dispersos do grupo,terminam sua jornada distantes dodestino original, doentes, feridos ou

encalhados nas areias.Nos últimos anos, tem-se ve-

rificado considerável aumento nonúmero de animais enfraquecidosque aportam em praias brasileiras,muitos não-nativos. Fisicamenteimpossibilitados de prosseguir, sãorecolhidos e encaminhados à equi-pe de biólogos, oceanógrafos, ve-terinários e voluntários do Projetode Estudos e Reabilitação de Aves,Mamíferos e Répteis (Proamar),criado há 10 anos pelo CEM. Sãopingüins contaminados por petró-leo; tartarugas-marinhas que inge-

BOLA FORA –Brasil ocupa 52ªposição noexame sobreconhecimentoscientíficosaplicado em57 países

>> PISA – CIÊNCIA