bpi análise de mercados financeiros (resumo) - out. 2015

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Estudos Económicos e Financeiros Análise Mensal 12 de Outubro de 2015 Mercados Financeiros Paula Gonçalves Carvalho Agostinho Leal Alves Luisa Teixeira Felino Teresa Gil Pinheiro Vânia Patrícia Duarte Riscos intensificam-se O FMI reviu em baixa o crescimento global em 0.2 pontos percentuais para 3.1% em 2015; em 2016 espera uma recuperação moderada, antecipando um crescimento de 3.6.%. Do lado das economias desenvolvidas, realça-se a boa performance da economia norte-americana e mantêm-se as expectativas de recuperação na zona euro, mas para as economias emergentes as expectativas são de abrandamento da actividade económica (em 0.2 pontos percentuais para 4.0% em 2015). O processo de transição de modelo de crescimento na China, a normalização da política monetária nos EUA e queda dos preços das commodities, justificam em grande parte o comportamento das economias emergentes. Em particular, destaca-se a perspectiva de agravamento da recessão na Rússia (-3.8%) e no Brasil (-3%), para além de uma desaceleração do crescimento da China para 6.8%. Ainda que adiadas, mantêm-se as expectativas de lenta recuperação da economia global em 2016. Por um lado, as economias emergentes aparentam estar mais robustas que nos anos 90, sem sinais dos problemas sistémicos que então as afectaram; por comparação, beneficiam de moedas com câmbios flexíveis, permitindo acomodar e amortecer o choque induzido pela queda dos preços das commodities; possuem reservas mais elevadas, menor dívida externa e, regra geral, menores desequilíbrios da balança corrente. Todavia, é um facto que as tendências de arrefecimento com origem na China constituem um factor de risco e incerteza elevado, que importa monitorar nos tempos mais próximos. No mercado cambial, assiste-se ao andamento lateral das cotações âncora do mercado. A moeda norte- americana ressente-se do adiamento de expectativas relativamente à subida dos juros, facto que é de alguma forma compensado pelo regresso da especulação relativamente à possibilidade de que o Banco do Japão e o BCE reforcem os respectivos programas de quantitative easing. Face ao actual equilíbrio de forças e perante a possibilidade crescente de que a Reserva Federal adie para 2016 o primeiro aumento da sua taxa de intervenção, o EUR/USD deverá continuar a transaccionar num intervalo entre 1.10 e 1.15. Todavia, num cenário de reforço da possibilidade de subida dos juros nos próximos meses, a cotação aproximar-se-ia dos níveis mínimos registados este ano (primeiro 1.08 e depois 1.05). Entretanto, as desvalorizações competitivas pelas principais economias emergentes, sobretudo para os exportadores de matérias-primas, continuarão como factores dominantes de mercado. Os receios de arrefecimento da economia global, a queda dos preços do petróleo, o seu efeito no comportamento da inflação e a evolução recente das expectativas inflacionistas aumentam a incerteza quanto ao momento de inversão dos ciclos de política monetária nos países anglo-saxónicos e aumentam a probabilidade de reforço de políticas ultra-expansionistas na zona euro e também no Japão. Mas, se no caso dos EUA ainda consideramos como válida a hipótese de que o ciclo se inverta na reunião de Dezembro (embora com probabilidade decrescente), na região da UEM, o Banco Central Europeu deverá continuar a lembrar que ainda está a meio do seu programa, os sinais económicos são satisfatórios e não existem riscos de deflação. Não se excluem, contudo, alguns ajustamentos ao actual programa. O cenário de maior incerteza quanto ao crescimento mundial e o retorno a um ambiente de desaceleração do ritmo de crescimento dos preços voltou a beneficiar o mercado de taxa fixa, interrompendo o movimento de subida das yields. No curto-prazo é provável que as yields dos títulos de referência se mantenham em torno dos actuais níveis; 2.0% no caso dos UST a 10 anos e 0.5% no caso do Bund com o mesmo prazo. A médio prazo, só o afastamento do cenário de arrefecimento mais brusco na China – que permanece na sombra – permitirá o regresso das taxas benchmark a patamares mais elevados. Entretanto, este é um cenário potencialmente perturbador para as economias periféricas, dada a possibilidade de aumento do grau de aversão ao risco num contexto em que existe ainda uma elevada incerteza derivada de factores de natureza política (designadamente em Portugal e Espanha). Os activos de maior risco estão mais vulneráveis face ao regresso de alguma incerteza ao cenário económico e financeiro global. Nos próximos meses serão determinantes os sinais relativos ao risco de crédito, sobretudo provenientes das economias emergentes mais endividadas. No mercado accionista, para além dos factores já mencionados, será determinante a época de divulgação dos resultados do terceiro trimestre, sobretudo nos EUA onde se acredita que performances mais fracas possam ser bastante penalizadas. Esta publicação inclui uma análise relativamente ao andamento das contas públicas em Portugal, antecipando-se cenários prováveis, bem como um artigo onde se discute a actual situação económica da China, procurando escrutinar riscos e pistas para o futuro. Destaque ainda para uma análise ao mercado de commodities, onde se salienta o risco proveniente da China, o maior consumidor; um olhar sob os fluxos de capitais internacionais e desvalorizações competitivas e uma breve nota relativamente à evolução da capacidade de financiamento em Portugal.

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Análise financeira

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Page 1: BPI Análise de Mercados Financeiros (Resumo) - Out. 2015

Estudos Económicos e Financeiros

Análise Mensal12 de Outubro de 2015

Mercados FinanceirosPaula Gonçalves Carvalho

Agostinho Leal AlvesLuisa Teixeira Felino

Teresa Gil PinheiroVânia Patrícia Duarte

Riscos intensificam-se

O FMI reviu em baixa o crescimento global em 0.2 pontos percentuais para 3.1% em 2015; em 2016 espera uma recuperação moderada, antecipando um crescimento de 3.6.%. Do lado das economias desenvolvidas, realça-se a boa performance da economia norte-americana e mantêm-se as expectativas de recuperação na zona euro, mas para as economias emergentes as expectativas são de abrandamento da actividade económica (em 0.2 pontos percentuais para 4.0% em 2015). O processo de transição de modelo de crescimento na China, a normalização da política monetária nos EUA e queda dos preços das commodities, justificam em grande parte o comportamento das economias emergentes. Em particular, destaca-se a perspectiva de agravamento da recessão na Rússia (-3.8%) e no Brasil (-3%), para além de uma desaceleração do crescimento da China para 6.8%. Ainda que adiadas, mantêm-se as expectativas de lenta recuperação da economia global em 2016. Por um lado, as economias emergentes aparentam estar mais robustas que nos anos 90, sem sinais dos problemas sistémicos que então as afectaram; por comparação, beneficiam de moedas com câmbios flexíveis, permitindo acomodar e amortecer o choque induzido pela queda dos preços das commodities; possuem reservas mais elevadas, menor dívida externa e, regra geral, menores desequilíbrios da balança corrente. Todavia, é um facto que as tendências de arrefecimento com origem na China constituem um factor de risco e incerteza elevado, que importa monitorar nos tempos mais próximos.

No mercado cambial, assiste-se ao andamento lateral das cotações âncora do mercado. A moeda norte-americana ressente-se do adiamento de expectativas relativamente à subida dos juros, facto que é de alguma forma compensado pelo regresso da especulação relativamente à possibilidade de que o Banco do Japão e o BCE reforcem os respectivos programas de quantitative easing. Face ao actual equilíbrio de forças e perante a possibilidade crescente de que a Reserva Federal adie para 2016 o primeiro aumento da sua taxa de intervenção, o EUR/USD deverá continuar a transaccionar num intervalo entre 1.10 e 1.15. Todavia, num cenário de reforço da possibilidade de subida dos juros nos próximos meses, a cotação aproximar-se-ia dos níveis mínimos registados este ano (primeiro 1.08 e depois 1.05). Entretanto, as desvalorizações competitivas pelas principais economias emergentes, sobretudo para os exportadores de matérias-primas, continuarão como factores dominantes de mercado.

Os receios de arrefecimento da economia global, a queda dos preços do petróleo, o seu efeito no comportamento da inflação e a evolução recente das expectativas inflacionistas aumentam a incerteza quanto ao momento de inversão dos ciclos de política monetária nos países anglo-saxónicos e aumentam a probabilidade de reforço de políticas ultra-expansionistas na zona euro e também no Japão. Mas, se no caso dos EUA ainda consideramos como válida a hipótese de que o ciclo se inverta na reunião de Dezembro (embora com probabilidade decrescente), na região da UEM, o Banco Central Europeu deverá continuar a lembrar que ainda está a meio do seu programa, os sinais económicos são satisfatórios e não existem riscos de deflação. Não se excluem, contudo, alguns ajustamentos ao actual programa.

O cenário de maior incerteza quanto ao crescimento mundial e o retorno a um ambiente de desaceleração do ritmo de crescimento dos preços voltou a beneficiar o mercado de taxa fixa, interrompendo o movimento de subida das yields. No curto-prazo é provável que as yields dos títulos de referência se mantenham em torno dos actuais níveis; 2.0% no caso dos UST a 10 anos e 0.5% no caso do Bund com o mesmo prazo. A médio prazo, só o afastamento do cenário de arrefecimento mais brusco na China – que permanece na sombra – permitirá o regresso das taxas benchmark a patamares mais elevados. Entretanto, este é um cenário potencialmente perturbador para as economias periféricas, dada a possibilidade de aumento do grau de aversão ao risco num contexto em que existe ainda uma elevada incerteza derivada de factores de natureza política (designadamente em Portugal e Espanha).

Os activos de maior risco estão mais vulneráveis face ao regresso de alguma incerteza ao cenário económico e financeiro global. Nos próximos meses serão determinantes os sinais relativos ao risco de crédito, sobretudo provenientes das economias emergentes mais endividadas. No mercado accionista, para além dos factores já mencionados, será determinante a época de divulgação dos resultados do terceiro trimestre, sobretudo nos EUA onde se acredita que performances mais fracas possam ser bastante penalizadas.

Esta publicação inclui uma análise relativamente ao andamento das contas públicas em Portugal, antecipando-se cenários prováveis, bem como um artigo onde se discute a actual situação económica da China, procurando escrutinar riscos e pistas para o futuro. Destaque ainda para uma análise ao mercado de commodities, onde se salienta o risco proveniente da China, o maior consumidor; um olhar sob os fluxos de capitais internacionais e desvalorizações competitivas e uma breve nota relativamente à evolução da capacidade de financiamento em Portugal.

Page 2: BPI Análise de Mercados Financeiros (Resumo) - Out. 2015

Riscos intensificam-se

O Fundo Monetário Internacional acabou de rever mais uma vez em baixa o cenário de crescimento global. Contrariando as expectativas no início do ano, o ritmo de expansão económica em 2015 será o mais baixo desde o ano da Grande Recessão (com excepção de 2010, ano de recuperação "técnica"). A paulatina desaceleração das economias emergentes, com destaque para a China, e a significativa queda dos preços das principais commodities, nomeadamente do petróleo, estão na base da fraca performance económica global. E os riscos são, sem dúvida, mais intensos no sentido desfavorável, dados os desequilíbrios existentes - com destaque para o endividamento em algumas economias emergentes e a possibilidade de que os níveis de incumprimento aumentem – e a percepção de que existe pouca margem de manobra no campo da política económica no mundo desenvolvido. O adiamento da decisão de subida de taxas pela Reserva Federal exemplifica o actual contexto global mais complexo. O andamento das principais variáveis financeiras espelha também este claro desconforto. Efectivamente, as taxas de juro de curto prazo na Europa inverteram a tendência de lenta subida, e os juros de longo prazo (10 anos) recuaram para mínimos desde Maio, em torno de 0.5% para o Bund de 10 anos. As medidas de volatilidade também têm vindo a aumentar. No curto prazo o enfoque dos mercados manter-se-á certamente na Ásia e na capacidade de resposta das autoridades da China aos riscos percepcionados. Os sinais de orientação pela Reserva Federal, e os indicadores de actividade, inflação e risco de crédito (mais uma vez, nos emergentes) deverão também ser monitorados de perto.

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS ECONÓMICOS E FINANCEIROS Paula Gonçalves Carvalho Economista ChefeTeresa Gil PinheiroLuísa Teixeira FelinoVânia Patrícia Duarte

Análise TécnicaAgostinho Leal Alves

Tel.: 351 21 310 11 86 Fax: 351 21 353 56 94 Email: [email protected] www.bancobpi.pt www.bpiinvestimentos.pt/Research

Page 3: BPI Análise de Mercados Financeiros (Resumo) - Out. 2015

E.E.F. Mercados Financeiros Outubro 2015

3

índice Pág.

Perspectivas Globais e Principais Factores de Risco 05

Principais Recomendações e Factores de Risco 06

Temas em Destaque

Portugal - Capacidade de Financiamento da Economia 07Ciclo de baixa das Commodities: Choque permanente ou temporário? 09Os movimentos dos câmbios e os vários tipos de fluxos 13

Economias

Global - Mercados Emergentes pontuam pela negativa 15Zona Euro - OCDE revê em alta perspectivas de crescimento para 2015 17Brasil - Situação económica continua a agravar-se 18Angola - BNA volta a desvalorizar a taxa de câmbio 19Moçambique - Governo prevê um agravamento do défice no OE 2016 20África do Sul - Banco Central reviu em baixa as perspectivas de crescimento 21

Mercados

Mercado CambialO interesse dos investidores está fora das principais moedas 23

Mercado MonetárioAcção incerta dos Bancos Centrais 24

Mercado de Dívida PúblicaIncerteza domina Movimentos 25

Mercado de Dívida DiversaMovimento de Correção do mercado de dívida corporativa 26

Mercados AccionistasDesempenho desfavorável e volatilidade nos mercados accionistas mudiais no 3T 27

Previsões

Economias DesenvolvidasMercados Emergentes Previsões Económicas do BPI 29Taxas de Câmbio Taxas de Juro 30Taxas Oficiais dos Principais Bancos Centrais 31

Taxas de Câmbio dos Mercados Emergentes Taxas de Juro e Spreads dos Mercados Emergentes 32

Opinião

Tendências recentes nas Contas do Estado 33

Novo papel da China na Economia Global 37

Bases de Dados 45