bolhetim educação social janeiro 2014

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Verónica Clow Se não respeitares as diferenças, jamais descobrirás as semelhanças A Educação Social em Portugal Boletim Informativo da Associação Promotora da Educação Social Nº 7 Janeiro 2014 Foto: José M.M. Inácio

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Neste Bolhetim nº 7 Jan. 2014 privilegia-se a Educação Social na diferença. Na pag. 29 podemos encontrar uma crónica redigida pela Diretora do Centro CEAC: Drª Daniela Azevedo

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Page 1: Bolhetim educação social   janeiro 2014

Veroacutenica Clow

Se natildeo respeitares as diferenccedilas jamais

descobriraacutes as semelhanccedilas

A Educaccedilatildeo Social em Portugal Boletim Informativo da Associaccedilatildeo Promotora da Educaccedilatildeo Social

Nordm 7 Janeiro 2014

Foto

Joseacute

MM

In

aacuteci

o

2

Editorial Bem vindos agrave primeira ediccedilatildeo

de 2014 do nosso Boletim Digi-

tal

O ano que inicia apresenta-se

como um grande desafio para

todos noacutes Chegou a hora de

colocar um ponto final no dis-

curso da crise e de enfrentar o

recomeccedilo

A equipa da APES recomeccedila

com uma nova equipa eleita

no passado dia 14 de Dezem-

bro e que tomou posse no dia

12 deste mecircs O foco continua

o mesmo de sempre a promo-

ccedilatildeo da Educaccedilatildeo Social e a gar-

ra e determinaccedilatildeo que nos

caracterizaram satildeo alimenta-

dos a cada dia que passa com a

crenccedila de que vale a pena

Olhando para traacutes todos os

pequenos passos que jaacute demos

na nossa curta existecircncia fize-

ram a diferenccedila e eacute um orgulho

ver a nossa famiacutelia aumentar

com a entrada de novos soacutecios

Obrigada por se juntarem a

noacutes

Esta ediccedilatildeo eacute mais uma prova

de que a Educaccedilatildeo Social eacute uma

profissatildeo de excelecircncia Com o

tema ldquoEducaccedilatildeo para a diferen-

ccedilardquo reunimos mais testemu-

nhos do magniacutefico trabalho que

eacute realizado pelos nossos profis-

sionais

A nossa entrevistada e duas

colegas mostram-nos como o

trabalho na aacuterea da deficiecircncia

eacute ao contraacuterio do que agrave primei-

ra vista pode parecer muito

enriquecedor A soma de

pequenas vitoacuterias resulta numa

quantia valiosa tanto para as

pessoas com quem se trabalha

como para os proacuteprios profis-

sionais E para se laacute chegar eacute

apenas necessaacuterio ultrapassar a

barreira do preconceito

O preconceito tambeacutem reina

quando se fala em ciganos e

minorias eacutetnicas Que o confir-

mem as nossas quatro colegas

que abordam o trabalho com

estas populaccedilotildees Natildeo seraacute a

diferenccedila de culturas uma van-

tagem uma forma de nos com-

pletarmos uns aos outros E

seraacute que somos assim tatildeo dife-

rentes enquanto seres huma-

nos

Um especial agradecimento a

todas as nossas colegas que nos

ajudam a responder a estas e a

outras questotildees Este eacute mais

um boletim que nos orgulha e a

responsabilidade eacute toda vossa

Agradecemos tambeacutem agrave Cerci-

poacutevoa por todo o apoio que

tem dado agrave APES Nesta ediccedilatildeo

fomos visitaacute-la e conversaacutemos

com as pessoas que laacute vivem e

que laacute trabalham Obrigada por

nos terem acolhido na vossa

casa e por nos terem contado

os projetos que desenvolvem

A proacutexima ediccedilatildeo vai ter como

tema ldquoO Educador e a Pobre-

zardquo Mais um tema sugestivo e

que nos coloca muitas duacutevidas

Se trabalham nesta aacuterea con-

tem-nos como eacute Enviem-nos

os vossos testemunhos e refle-

xotildees para

boletimrea-

peseducadoresociaiscom

ou

httpswwwfacebookcom

groups463570190343005

Saudaccedilotildees Sociais

Clara Inaacutecio

Coordenadora do Boletim

Caacutetia Vaz - APES

Marlene Borges - APES

Sandra Afonso - APES

Colaboradores desta ediccedilatildeo

3

Iacutendice Paacuteg

APES

Nova Equipa APES helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 5

V Encontro Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 6

Repoacuterter APES

Entrevista a Ana Mendes helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 8

Educaccedilatildeo para a Diferenccedila

Educar para a diferenccedila educar com a diferenccedila - Siacutelvia Franco helliphelliphelliphelliphelliphellip 11

Educaccedilatildeo Social com Ciganos A diferenccedila Sou eu - Sofia Aurora Santos helliphellip 14

Educar para a diferenccedila - Susana Rebocho helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 19

Um ato de amor - Ana Sofia Bexiga helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip23

Testemunho de um estaacutegio com portadores de deficiecircncia - Catarina Aleixo helliphellip 26

A Buacutessula individual da aceitaccedilatildeo do diferente - Daniela Azevedo helliphelliphelliphelliphelliphellip 29

Instituiccedilatildeo

Cercipoacutevoa helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 31

Biblioteca APEShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 34

4

Inscriccedilotildees e mais informaccedilotildees em httpwwwjoaodedeusptcursoindexaspid_cnt=73

5

Nova Equipa APES No passado dia 14 de Dezembro de 2013 foram eleitos os novos oacutergatildeos sociais da APES As lis-tas vencedoras tomaram posse no dia 12 de Janeiro de 2014 Desejamos a todos um bom tra-balho

Mesa da Assembleia Geral

Presidente - Clara Inaacutecio Vice Presidente - Maacutercio

Rodrigues Secretaacuteria - Sofia Santos Suplente - Andreacute Santos

Direccedilatildeo

Presidente - Sandra Afonso Vice Presidente - Ruben

Amorim Tesoureira - Joana Oliveira

Secretaacuteria - Caacutetia Vaz Vogal - Ivacircnia Alexandre Suplentes - Siacutelvia Lopes

Vera Soares Marlene Borges

Ana Mendes

Conselho Fiscal

Presidente - Daacuterio Gomes Secretaacuteria - Joana Botas

Relatora - Ana Raquel Vau Suplentes - Maria do Ceacuteu

Ferreira Ana Maggiolly

Marta Carvalho

6

V Encontro dos Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social

Chegou o ansiado dia 16 de

Novembro de 2013 marcado pelo

V Encontro dos Teacutecnicos Superio-

res de Educaccedilatildeo Social Depois de

Lisboa Algarve Leiria e Lisboa

novamente eacute chegada a vez da

cidade Invicta ndash o Porto

Este Encontro fica inevitavelmen-

te marcado pelo iniacutecio da venda e

entrega das agendas da APES -

Associaccedilatildeo Promotora da Educa-

ccedilatildeo Social mais uma atividade

que tem sido um marco no per-

curso e na divulgaccedilatildeo desta pro-

fissatildeo

Natildeo podiacuteamos estar mais felizes

pelo grande caminho percorrido

ateacute aos dias de hoje E este dia eacute

mais o culminar de muito traba-

lho Agradecemos desde jaacute a

todos os que connosco tecircm cola-

borado e nos tecircm ajudado nas

accedilotildees realizadas Desta vez ende-

reccedilamos um especial agradeci-

mento agrave Universidade Catoacutelica

que nos acolheu neste evento

O dia iniciou-se com as boas-

vindas a todos os presentes na

voz da presidente da APES a cole-

ga Sandra Afonso feliz pela pla-

teia recheada e agrave qual se seguiu o

Professor Ruacuteben Cabral

Passaacutemos entatildeo ao primeiro pai-

nel do Encontro moderado pela

colega Raquel Vau e dando a

palavra ao Professor Adalberto

Dias de Carvalho que captou des-

de o iniacutecio a atenccedilatildeo da plateia

Posteriormente chegou a vez da

Professora Soacutenia Galinha que per-

correu tantos quiloacutemetros para

estar connosco neste dia Seguiu-

se Moacutenica Mesquita que muito

bem se fez acompanhar pelo Dur-

val Carvalho e pelo Sr Liacutedio Gali-

nho que trouxeram testemunhos

na primeira pessoa de uma dura

realidade de duas comunidades

Comunidade Bairro e Comunidade

Piscatoacuteria da Costa da Caparica

explicitando a dificuldade no aces-

so agrave Aacutegua

Ainda na parte da manhatilde mas jaacute

depois do coffee break deu-se

iniacutecio ao segundo painel de orado-

res iniciado pelo colega Honoreacute

Gregorius membro da Associaccedilatildeo

Internacional de Educadores

Sociais (AIEJI) bem como de

outras associaccedilotildees que nos trans-

mitiu a sua praacutetica no Luxembur-

go Esta presenccedila estreitou os

laccedilos da APES com outras Associa-

ccedilotildees Internacionais ajudando a

unir esforccedilos e perceber a Educa-

ccedilatildeo Social no Mundo O modera-

dor deste painel o Professor Jor-

ge Lemos passou a palavra a

Cindy Vaz que nos falou de Peda-

gogia Social e Intervenccedilatildeo Socio-

comunitaacuteria referenciado a sua

experiecircncia profissional na Trofa

Terminada a nossa manhatilde realiza-

mos uma pausa para almoccedilo de

modo a repor as energias gastas e

tempo de partilha entre colegas

A parte da tarde iniciou com o

terceiro painel composto pelos

Professores Jaime Santos Jorge

Lemos Jorge Serrano e Anabela

Correia apresentando a Poacutes-

graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Social e

Desenvolvimento Comunitaacuterio

que como foi explicado visa criar

um espaccedilo privilegiado de apoio

teoacuterico metodoloacutegico e praacutetico ao

desenvolvimento de saberes e de

competecircncias de profissionais

envolvidos em processos de

desenvolvimento comunitaacuterio

7

bem como dar uma contribuiccedilatildeo

relevante para um maior desen-

volvimento da atitude investigati-

va e reflexiva dos atores nestes

processos Os oradores explicita-

ram ainda algumas temaacuteticas

que seratildeo abordadas

Apoacutes o coffee break da tarde o

quarto e uacuteltimo painel foi iniciado

Depois das apresentaccedilotildees efetua-

das pelo moderador Maacutercio Rodri-

gues o painel seguiu com a apre-

sentaccedilatildeo conjunta de Evaniza

Vieira e Siacutelvia Lopes que aborda-

ram a temaacutetica da ldquoEducaccedilatildeo

Social na Rede de Cuidados Conti-

nuadosrdquo cuja missatildeo eacute a Promo-

ccedilatildeo da autonomia e melhoria da

funcionalidade da pessoa em

situaccedilatildeo de dependecircncia atraveacutes

da reabilitaccedilatildeo readaptaccedilatildeo e

reinserccedilatildeo familiar e social As

oradoras explicitaram e insistiram

no papel importante que enquan-

to profissionais podemos desem-

penhar nesta aacuterea Tivemos de

seguida a apresentaccedilatildeo de Jorge

Rosado ou como prefere ser tra-

tado o Dr Risotto que nos apre-

sentou o projeto Palhaccedilos drsquoOpi-

tal que tem como principal obje-

tivo implementar um programa de

intervenccedilatildeo dentro dos hospitais

da regiatildeo centro atraveacutes da visita

de palhaccedilos profissionais e com

formaccedilatildeo especiacutefica nesta aacuterea

com foco essencial no Idoso Com

a sua apresentaccedilatildeo este palhaccedilo

(como o afirma com orgulho)

levou-nos a encarar o termo

palhaccedilo e o proacuteprio exerciacutecio des-

ta funccedilatildeo de uma outra forma

Posteriormente a Professora Isa-

bel Batista falou-nos da luta jaacute

percorrida pela Educaccedilatildeo Social

ao longo destes anos uma aacuterea

em que a proacutepria indica como

sendo sua Ressalvou tambeacutem a

importacircncia do contacto com

outras Associaccedilotildees Internacionais

Terminou-se este V Encontro com

duas intervenccedilotildees muito interes-

santes O Projeto Transformers eacute

um programa de voluntariado que

mobiliza mentores de todos os

desportos artes e atividades para

orientar jovens a encontrar no seu

superpoder uma forma de expri-

mir e intervir positivamente na

comunidade A apresentaccedilatildeo final

foi realizada pelo grupo de danccedila

da Academia Reacutegia Porque a dan-

ccedila aleacutem de ser uma arte permite

a criaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais sen-

do utilizada muitas vezes como

meio da Educaccedilatildeo Social

E foi assim que encerraacutemos

levando para casa novas aprendi-

zagens novas perspetivas novas

partilhas e novas amizades

8

Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social

Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-

da por teres aceite ser a entrevis-

tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana

Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos

Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo

com base na compreensatildeo e con-

fianccedila gosto de me envolver nas

suas atividades e procuro dar-lhes

o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes

natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos

um casal de geacutemeos e na fase da

adolescecircncia ehehhellip a mais velha

jaacute se encontra encaminhada traba-

lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-

ra em animaccedilatildeo sociocultural mas

continua sempre a procurar o meu

apoio

Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-

prios mas vou tentar Sou uma

pessoa alegre comunicativa e bas-

tante dedicada em tudo o que me

proponho a fazer Entendo que a

empatia que criamos com os

outros eacute muito importante para

desenvolver com sucesso todas as

nossas atividades principalmente

as que envolvem pessoas

Eacute com este lema que me proponho

a cumprir aquilo a que chamo mis-

satildeo

Repoacuterter APES - Quando e porque

eacute que decidiste ser uma

educadora social

Ana - Sempre fui boa alu-

na e muito assiacutedua mas

na minha adolescecircncia

decidi comeccedilar a traba-

lhar Mais tarde senti necessidade

de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e

assim decidi voltar aos estudos por

considerar que o estudo e a

empregabilidade caminham juntos

Desde 1992 que trabalho na aacuterea

da deficiecircncia achei que podia

fazer muito mais por esta popula-

ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute

cerca de 10 anos a voltar a estudar

agrave noite e de seguida fui tirar a

minha licenciatura como forma de

ir ao encontro da minha opccedilatildeo

profissional Tirei Educaccedilatildeo Social

na Escola Superior de Educaccedilatildeo de

Santareacutem com meacutedia de 12 valo-

res que me orgulho muito pois

sendo matildee de trecircs filhos trabalhar

e estudar soacute conseguindo ir agrave

faculdade uma manhatilde por semana

por motivos profissionais foi para

mim uma grande vitoacuteria e um

motivo de orgulho Continuo a

fazer sempre que posso forma-

ccedilotildees a participar em eventos con-

gressos seminaacuterios e cursos liga-

dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de

manter atualizados os meus

conhecimentos aproveito para

estreitar relacionamento com pro-

fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-

da facilita a administraccedilatildeo do dia-a

-dia na troca de experiecircncias

Repoacuterter APES - Podes falar-nos

um pouco do teu trabalho

Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991

Comecei como auxiliar passando

depois a monitora onde era res-

ponsaacutevel por um grupo de utentes

com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo

e orientaccedilatildeo do grupo

Desde 2008 que integrei o CRI- -

Centro de Recursos para Inclusatildeo

da Cercipoacutevoa que presta apoio

teacutecnico em vaacuterios agrupamentos

de escolas

As minhas funccedilotildees satildeo variadas

dependendo de cada agrupamen-

9

mentohellip Vou tentar dar uma ideia

das mesmas

Trabalho integrada no departa-

mento de educaccedilatildeo especial com

os alunos com necessidades edu-

cativas especiais Como sabem

estes alunos tem necessidades

diferentes dos outros alunos e

assim temos de ajudar na sua

integraccedilatildeo na sociedade por isso

eacute importante comeccedilar a fazer a

sua preparaccedilatildeo para a vida ativa

Consoante as caracteriacutesticas de

cada um oriento o seu encami-

nhamento para formaccedilatildeo profis-

sional para o Cao- Centro de Ati-

vidades Ocupacionais para pro-

gramas de voluntariado etc

Trabalho tambeacutem ao niacutevel do

desenvolvimento de competecircn-

cias pessoais e sociais a parte da

comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-

ccedilatildeo de problemas assertividade

emoccedilotildees etc aacuterea onde por

vezes tecircm muitas dificulda-

des Como pretendemos que

sejam o mais autoacutenomos possiacute-

veis faccedilo apoio direto na aacuterea

casacomunidade onde faccedilo trei-

nos de autonomia na comunida-

de como por exemplo ir agraves com-

pras saber para que servem e

como utilizar os serviccedilos puacuteblicos

da comunidade (correios banco

junta de freguesia etc) em casa

ao niacutevel da sua independecircncia

pessoal vestirdespir sozinhos

tarefas em casa etc tudo isto

aplicado em contexto real ao

niacutevel dos transportes puacuteblicos

treino trajetos consoante as suas

necessidades de deslocaccedilatildeo para

que num futuro o possam fazer

com autonomia por exemplo

para o seu local de trabalho

Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo

dos PEI ndash Programa Educativo

Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-

co Individual PIT- Plano Indivi-

dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-

mentos onde eacute registado o traba-

lho a desenvolver com estes alu-

nos

Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano

Individual de Transiccedilatildeo pretende-

se preparar os alunos para a vida

poacutes-escolar Fazem estaacutegios de

sensibilizaccedilatildeo profissional nas

empresas da comunidade (em

alguns casos dentro da escola

primeiramente e soacute depois na

comunidade) e cabe-me a mim

fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-

mento dos estaacutegios junto das

empresas acolhedoras e tambeacutem

sensibilizar as empresas para

receberem estes alunos o que

por vezes natildeo eacute faacutecil

Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-

no com os pais pois satildeo eles tam-

beacutem intervenientes importantes

neste processo Promovo visitas

reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-

sas

Integro tambeacutem as reuniotildees de

Conselhos de turmas e Departa-

mento de Educaccedilatildeo Especial

No final de cada periacuteodo tenho

tambeacutem de elaborar relatoacuterios do

trabalho desenvolvido com cada

aluno

Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo

em elaboraccedilatildeo de projetos

Eacute importante salientar que tudo eacute

desenvolvido em parceria com os

docentes de educaccedilatildeo especial

que acompanham cada aluno

O trabalho eacute muito diversificado e

por vezes surgem outras tare-

fas eacute difiacutecil estar a descrever

todas mas de uma maneira geral

eacute assim o meu dia-a-dia

Repoacuterter APES - Qual eacute o maior

desafio quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia

Ana - Quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia todos os

dias satildeo um desafio pois satildeo um

10

um puacuteblico muito diversificado

com caracteriacutesticas muito proacute-

prias Eu costumo dizer que para

se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso

gostar o resto vem por acumula-

ccedilatildeo Eacute importante todos os dias

manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute

-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los

sentir que satildeo capazes pois assim

conseguem mais facilmente ultra-

passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-

ta aacuterea por vezes podem ser mui-

to pequenas mas tem o sabor de

grandes conquistas

Eacute preciso um incremento contiacutenuo

de estrateacutegias e procedimentos

que lhes proporcionem mais e

melhores condiccedilotildees de aprendiza-

gemoportunidades de forma

solidaacuteria e cooperativa de manei-

ra a desenvolverem o mais possiacute-

vel as suas competecircncias pessoais

e sociais e a sua autonomia para

que exista uma verdadeira inclu-

satildeo

Por isso o lema eacute paciecircncia e per-

sistecircncia e muito importante

nunca desistir

Repoacuterter APES - Achas que ainda

existem muitos preconceitos por

parte dos profissionais e da socie-

dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-

ciecircncia

Ana - Sim acho apesar de ser

uma situaccedilatildeo que tem vindo a

melhorar nos uacuteltimos anos Cada

vez mais se ouve falar em inclusatildeo

e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da

parte da maioria dos profissionais

e da sociedade em geral no com-

bate ao preconceito e com o direi-

to de igualdade de oportunidades

para as pessoas com deficiecircncia

Mas neste campo existe ainda

muito trabalho a desenvolver

Porque todos noacutes temos precon-

ceitos em maior ou menor grau

O que acontece eacute que alguns dei-

xam extravasar para as suas atitu-

des e magoam as pessoas sem

pensar nas consequecircncias dos

seus atos Outros fazem-no de

uma forma mais dissimulada Mas

felizmente existem pessoas que

conseguem lidar com esse senti-

mento aceitam e respeitam as

diferenccedilas dos outros Temos

cada um de noacutes de combater esse

proacuteprio preconceito em cada con-

tato em cada nova amizade em

cada conversa em cada decisatildeo

dando oportunidades e acreditan-

do no potencial de cada um

Repoacuterter APES - Que conselho

darias aos nossos colegas que

natildeo estatildeo a trabalhar

Ana - O conselho que daria aos

colegas que natildeo estatildeo a trabalhar

na aacuterea eacute que natildeo desistam de

lutar por aquilo em que acredi-

tam Cada vez mais o nosso traba-

lho faz sentido Satildeo mais a cada

dia que passa as pessoas que pre-

cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil

mas com persistecircncia e envolven-

do-nos todos na divulgaccedilatildeo da

nossa profissatildeo havemos de con-

seguir ir cada vez mais longe

Repoacuterter APES - Obrigada Ana

foi um prazer entrevistar-te

Ana - Foi com muito gosto que

participei nesta entrevista onde

tentei mostrar um pouco do meu

trabalho que ADORO Espero ter

conseguido transmitir um pouco

do meu dia-a-dia aos colegas que

nunca trabalharam na aacuterea Dese-

jo a todos a continuaccedilatildeo de um

bom trabalho para os que natildeo

estatildeo na aacuterea que a oportunidade

chegue depressa para que pos-

sam mostrar os bons profissionais

que satildeo e continuarem a dignificar

a nossa profissatildeo

Todos juntos faremos a diferenccedila

11

Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila

Siacutelvia Franco

Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-

cesso em que abraccedilamos a oportu-

nidade de ensinar bem como a de

aprender Ensinar e aprender com

aqueles que nos rodeiam e com os

que se cruzam no nosso caminho

com os que satildeo chamados de pro-

fessores mas tambeacutem com os alu-

nos os agricultores os mecacircnicos

os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-

gos os historiadoreshellip com todos

independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo

que a sociedade lhes coloca

Da minha passagem por diferentes

contextos educativos aprendi a

valorizar o que chamo de diversi-

dade dialogante (Franco 2013)

bem como a abertura para a mes-

ma Na minha passagem por uma

licenciatura intercultural indiacutegena

no Brasil pude presenciar um pro-

cesso dialoacutegico construiacutedo por

todos os envolvidos e interessados

Neste processo as opiniotildees e

desejos dos alunos e da comunida-

de eram valorizados e parte funda-

mental no desenvolvimento do

curriacuteculo bem como no decurso de

todas as etapas do curso para as

quais era solicitada a presenccedila de

membros das comunidades indiacutege-

nas locais enquanto especialistas

em determinadas mateacuterias ou

seja na sua proacutepria cultura Bus-

cava-se diariamente uma escola

reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual

todos se sentissem responsaacuteveis

pelo sucesso pessoal e coletivo

pois a concretizaccedilatildeo deste curso

era jaacute uma vitoacuteria

Enquanto investigadora do Projeto

Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se

desenvolve na Costa de Caparica

tenho podido vivenciar reflexos

dessa mesma diversidade dialo-

gante O Projeto Fronteiras Urba-

nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-

cando a voz de trecircs comunidades

Comunidade Bairro Comunidade

Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-

ca Estas comunidades uniram-se

pela histoacuteria partilhada com o

intuito de buscar a visibilidade

para comunidades invisiacuteveis aos

olhos de entidades poliacuteticas e

sociais

Cada comunidade tinha agrave partida

um objetivo primordial e um obje-

tivo coletivo O objetivo coletivo

que une estas trecircs comunidades

centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute

cada comunidade isto eacute na diver-

sidade dialogante que une trecircs

comunidades nas lutas de cada

uma

A Comunidade Bairro luta haacute mais

de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais

perto das suas casas uma vez que

tecircm de fazer um percurso de dois

quiloacutemetros (ida e volta) por cami-

nhos acidentados para recolher

numa bica aacutegua para as suas roti-

nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-

ria debate-se com as crescentes

proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas

sem que as vozes dos pescadores

que compotildeem a comunidade

sejam ouvidas e a Comunidade

Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo

Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o

diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o

aprendiz e o aprendiz eacute o profes-

sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)

Numa primeira etapa foram dese-

nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo

Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-

rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-

ria segundo os desejos dos mem-

bros das comunidades No desen-

volvimento destas tarefas procu-

12

raacutemos ter em mente as palavras de

Paulo Freire

natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os

que querem a pronuacutencia do mundo

e os que natildeo a querem entre os

que negam aos demais o direito de

dizer a palavra e os que se acham

negados deste direito Eacute preciso

primeiro que os que assim se

encontram negados no direito pri-

mordial de dizer a palavra recon-

quistem esse direito proibindo que

este assalto desumanizante conti-

nue (Freire 2008 91)

Em consciecircncia de que o envolvi-

mento dos indiviacuteduos na luta pela

sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por

ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-

cionalidade na medida em que

desafiados por ela agem sobre

elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos

deparando com momentos enri-

quecedores de partilha de conheci-

mentos e accedilatildeo sobre o seu meio

implementando diaacutelogos com insti-

tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-

vas reforccedilando os seus desejos e

direitos

Estes movimentos possibilitaram o

regresso de vaacuterios jovens a contex-

tos escolares a eleiccedilatildeo de uma

comissatildeo de moradores a partici-

paccedilatildeo de membros das trecircs comu-

nidades em eventos de dissemina-

ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual

movimento Escola do Bairro Nesta

escola criam-se espaccedilos e tempos

para a diversidade dialogante

numa dinacircmica de partilha onde

um membro da Comunidade Bair-

ro de naturalidade cabo-verdiana

ensina kriolu a outros moradores e

a amigos interessados das outras

duas comunidades ou que se apro-

ximaram deste movimento Da

mesma forma satildeo recebidas pes-

soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e

outras disciplinas para partilharem

os seus conhecimentos fazendo-se

um intercacircmbio de conhecimentos

e praacuteticas

Eacute no sentido desta Escola do Bairro

que falo em ldquoeducar com a dife-

renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute

importante educar para a diferen-

ccedila para nos conscientizarmos de

que satildeo as diferenccedilas que nos tor-

nam todos iguais Contudo consi-

dero que a essecircncia da educaccedilatildeo

estaraacute essencialmente em educar

com aprender com fazer comhellip

Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)

13

Referecircncias

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Artmed Editora

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Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)

14

Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu

Sofia Aurora Santos

Mestre em Educaccedilatildeo Social

ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-

ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os

ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor

mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo

ldquoSatildeo uma cambada de bandidos

tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o

Rendimento aos ciganosrdquo etc

etc etc Estas satildeo algumas das

expressotildees que oiccedilo constante-

mente sobre os ciganos e certa-

mente satildeo familiares a muitas pes-

soas O desconhecimento das tra-

diccedilotildees e costumes dos ciganos

reforccedila a ignoracircncia da maioria

que se acha superior A compreen-

satildeo e o conhecimento satildeo impor-

tantes no processo de integraccedilatildeo

do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas

fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser

motivo de exclusatildeo social

Estas expressotildees natildeo satildeo funda-

mentadas nem dignas de respeito

por quem as diz Foram pensamen-

tos expressotildees e comportamentos

deste tipo que um senhor chama-

do Adolfo Hitler fez o que fez

durante a 2ordf Guerra Mundial pen-

so que natildeo seja necessaacuterio descre-

ver mas vale a pena parar para

refletir e ver que infelizmente o

neonazismo estaacute a aparecer na

Europa Prova disso eacute o que se pas-

sa atualmente na Hungria que foi

o primeiro Estado-membro da

Uniatildeo Europeia a ser acusado de

violar os valores europeus e como

consequecircncia a Comissatildeo Europeia

suspendeu todas as negociaccedilotildees

com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-

nha o Estado de Direito

Atos impensaacuteveis incontrolados

desumanos satildeo todos os dias pra-

ticados contra os ciganos e outros

grupos eacutetnicos em todo o mundo

mas o grupo dos ciganos eacute o mais

sacrificado Mas porquecirc os ciga-

nos Eacute esta a questatildeo para a qual

tento obter uma resposta haacute mui-

tos anos e certamente estaacute longe

de ser respondida

Foi principalmente devido a um

comentaacuterio racista vindo de um

membro da autarquia farense em

2007 (em contexto de estaacutegio da

licenciatura) que comeccedilou a minha

luta mais vincada pelos direitos

humanos dos ciganos

Desde muito jovem que tenho um

espiacuterito humanitaacuterio e lutador a

favor dos direitos humanos A

minha adolescecircncia no Corpo

Nacional de Escutas (CNE) fez-me

despertar para ajudar o proacuteximo

os que mais precisam e a respeitar

a Natureza e a Pacha Mama

(Terra)

A escolha do curso de Educaccedilatildeo

Social foi faacutecil faze-lo foi simples

praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os

obstaacuteculos encontrados na socie-

dade para se poder trabalhar a

diferenccedila entre grupos e pessoas

O Educador Social tem de ter uma

grande capacidade de adaptaccedilatildeo

aos contextos e aos seus protago-

nistas Deve saber muito bem o

que quer e para onde quer ir ou

seja traccedilar e definir objetivos Tra-

balhar no que se gosta ajuda a con-

tribuir para a felicidade natildeo soacute a

proacutepria mas tambeacutem a dos outros

Assim prossigo o meu caminho

pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os

objetivos e enquanto natildeo os reali-

zo natildeo descanso

Nesta minha aventura pelo

ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer

15

que um dos momentos mais mar-

cante da minha vida foi a visita ao

Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-

witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir

cheirar tocar e imaginar tudo o

que laacute se passou foi muito intenso

Momento inexplicaacutevel Acho que

qualquer pessoa que visite este

local certamente vai mudar a sua

opiniatildeo e comportamento acerca

da luta pelos direitos humanos

A experiecircncia em intercacircmbios e

formaccedilotildees internacionais foram

dos momentos mais interessantes

e importantes para adquirir conhe-

cimento e partilhar experiecircncias

com outros ativistas ciganos e natildeo

ciganos sobre os direitos humanos

Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de

risco (viacutetimas de violecircncia domesti-

ca sem-abrigo crianccedilas com

necessidade educativas especiais

etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-

nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute

faacutecil falar sobre os ciganos mas

ainda eacute mais difiacutecil falar com as

pessoas natildeo ciganas O sentimento

de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-

te quando se fala com os ciganos

todos tecircm uma experiecircncia discri-

minatoacuteria para contar

A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-

rencia nem reconhece politicamen-

te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes

ou seja do ponto de vista juriacutedico

e poliacutetico natildeo existem ciganos

Atualmente trabalhar com ciganos

estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-

do ou porque ldquovem ai dinheirordquo

para fazer projetos para os ciga-

nos De repente desperta-se a

ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-

ccedilotildees para os pro-

blemas do grupo

eacutetnico Um dos

meacutetodos que tecircm

vindo a ser experi-

mentados no senti-

do da promoccedilatildeo da

integraccedilatildeo deste

grupo tem sido a

execuccedilatildeo de proje-

tos nacionais eou

internacionais com

intervenccedilotildees no

terreno que permi-

tam produzir

conhecimento

acerca dos seus

modos de vida Na

sua maioria os pro-

jetos natildeo satildeo do

conhecimento dos

ciganos e muitas vezes natildeo corres-

pondem agraves necessidades das popu-

laccedilotildees Os principais problemas

que afetam grande parte dos por-

tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees

ao niacutevel educativo e habitacional o

desemprego a inserccedilatildeo no merca-

do de trabalho a pobreza a exclu-

satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-

naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo

Em Faro no bairro da Av Cidade

Hayward no bairro da Horta da

Areia e noutros perifeacutericos estaacute

concentrada uma parte da pobreza

e da exclusatildeo social da cidade o

que tem suscitado a intervenccedilatildeo

de projetos de luta contra a pobre-

za maioritariamente financiados

por fundos europeus Todos estes

contextos se caracterizam por uma

forte desqualificaccedilatildeo territorial e

social reconhecida poliacutetica e

socialmente Contudo normal-

mente estes projetos satildeo de cara-

ter experimental e satildeo limitados

no tempo e no espaccedilo pelo que

natildeo originam mudanccedilas estruturais

nem permitem obter muitos resul-

tados positivos na integraccedilatildeo dos

ciganos

A integraccedilatildeo social dos ciganos

tem vindo a constituir-se como um

verdadeiro imperativo na socieda-

de contemporacircnea O resultado

desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-

ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da

Comissatildeo Europeia (em 2012) o

Quadro europeu para as estrateacute-

gias nacionais para a integraccedilatildeo

dos ciganos que se prevecirc melhorar

a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos

ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 2: Bolhetim educação social   janeiro 2014

2

Editorial Bem vindos agrave primeira ediccedilatildeo

de 2014 do nosso Boletim Digi-

tal

O ano que inicia apresenta-se

como um grande desafio para

todos noacutes Chegou a hora de

colocar um ponto final no dis-

curso da crise e de enfrentar o

recomeccedilo

A equipa da APES recomeccedila

com uma nova equipa eleita

no passado dia 14 de Dezem-

bro e que tomou posse no dia

12 deste mecircs O foco continua

o mesmo de sempre a promo-

ccedilatildeo da Educaccedilatildeo Social e a gar-

ra e determinaccedilatildeo que nos

caracterizaram satildeo alimenta-

dos a cada dia que passa com a

crenccedila de que vale a pena

Olhando para traacutes todos os

pequenos passos que jaacute demos

na nossa curta existecircncia fize-

ram a diferenccedila e eacute um orgulho

ver a nossa famiacutelia aumentar

com a entrada de novos soacutecios

Obrigada por se juntarem a

noacutes

Esta ediccedilatildeo eacute mais uma prova

de que a Educaccedilatildeo Social eacute uma

profissatildeo de excelecircncia Com o

tema ldquoEducaccedilatildeo para a diferen-

ccedilardquo reunimos mais testemu-

nhos do magniacutefico trabalho que

eacute realizado pelos nossos profis-

sionais

A nossa entrevistada e duas

colegas mostram-nos como o

trabalho na aacuterea da deficiecircncia

eacute ao contraacuterio do que agrave primei-

ra vista pode parecer muito

enriquecedor A soma de

pequenas vitoacuterias resulta numa

quantia valiosa tanto para as

pessoas com quem se trabalha

como para os proacuteprios profis-

sionais E para se laacute chegar eacute

apenas necessaacuterio ultrapassar a

barreira do preconceito

O preconceito tambeacutem reina

quando se fala em ciganos e

minorias eacutetnicas Que o confir-

mem as nossas quatro colegas

que abordam o trabalho com

estas populaccedilotildees Natildeo seraacute a

diferenccedila de culturas uma van-

tagem uma forma de nos com-

pletarmos uns aos outros E

seraacute que somos assim tatildeo dife-

rentes enquanto seres huma-

nos

Um especial agradecimento a

todas as nossas colegas que nos

ajudam a responder a estas e a

outras questotildees Este eacute mais

um boletim que nos orgulha e a

responsabilidade eacute toda vossa

Agradecemos tambeacutem agrave Cerci-

poacutevoa por todo o apoio que

tem dado agrave APES Nesta ediccedilatildeo

fomos visitaacute-la e conversaacutemos

com as pessoas que laacute vivem e

que laacute trabalham Obrigada por

nos terem acolhido na vossa

casa e por nos terem contado

os projetos que desenvolvem

A proacutexima ediccedilatildeo vai ter como

tema ldquoO Educador e a Pobre-

zardquo Mais um tema sugestivo e

que nos coloca muitas duacutevidas

Se trabalham nesta aacuterea con-

tem-nos como eacute Enviem-nos

os vossos testemunhos e refle-

xotildees para

boletimrea-

peseducadoresociaiscom

ou

httpswwwfacebookcom

groups463570190343005

Saudaccedilotildees Sociais

Clara Inaacutecio

Coordenadora do Boletim

Caacutetia Vaz - APES

Marlene Borges - APES

Sandra Afonso - APES

Colaboradores desta ediccedilatildeo

3

Iacutendice Paacuteg

APES

Nova Equipa APES helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 5

V Encontro Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 6

Repoacuterter APES

Entrevista a Ana Mendes helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 8

Educaccedilatildeo para a Diferenccedila

Educar para a diferenccedila educar com a diferenccedila - Siacutelvia Franco helliphelliphelliphelliphelliphellip 11

Educaccedilatildeo Social com Ciganos A diferenccedila Sou eu - Sofia Aurora Santos helliphellip 14

Educar para a diferenccedila - Susana Rebocho helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 19

Um ato de amor - Ana Sofia Bexiga helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip23

Testemunho de um estaacutegio com portadores de deficiecircncia - Catarina Aleixo helliphellip 26

A Buacutessula individual da aceitaccedilatildeo do diferente - Daniela Azevedo helliphelliphelliphelliphelliphellip 29

Instituiccedilatildeo

Cercipoacutevoa helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 31

Biblioteca APEShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 34

4

Inscriccedilotildees e mais informaccedilotildees em httpwwwjoaodedeusptcursoindexaspid_cnt=73

5

Nova Equipa APES No passado dia 14 de Dezembro de 2013 foram eleitos os novos oacutergatildeos sociais da APES As lis-tas vencedoras tomaram posse no dia 12 de Janeiro de 2014 Desejamos a todos um bom tra-balho

Mesa da Assembleia Geral

Presidente - Clara Inaacutecio Vice Presidente - Maacutercio

Rodrigues Secretaacuteria - Sofia Santos Suplente - Andreacute Santos

Direccedilatildeo

Presidente - Sandra Afonso Vice Presidente - Ruben

Amorim Tesoureira - Joana Oliveira

Secretaacuteria - Caacutetia Vaz Vogal - Ivacircnia Alexandre Suplentes - Siacutelvia Lopes

Vera Soares Marlene Borges

Ana Mendes

Conselho Fiscal

Presidente - Daacuterio Gomes Secretaacuteria - Joana Botas

Relatora - Ana Raquel Vau Suplentes - Maria do Ceacuteu

Ferreira Ana Maggiolly

Marta Carvalho

6

V Encontro dos Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social

Chegou o ansiado dia 16 de

Novembro de 2013 marcado pelo

V Encontro dos Teacutecnicos Superio-

res de Educaccedilatildeo Social Depois de

Lisboa Algarve Leiria e Lisboa

novamente eacute chegada a vez da

cidade Invicta ndash o Porto

Este Encontro fica inevitavelmen-

te marcado pelo iniacutecio da venda e

entrega das agendas da APES -

Associaccedilatildeo Promotora da Educa-

ccedilatildeo Social mais uma atividade

que tem sido um marco no per-

curso e na divulgaccedilatildeo desta pro-

fissatildeo

Natildeo podiacuteamos estar mais felizes

pelo grande caminho percorrido

ateacute aos dias de hoje E este dia eacute

mais o culminar de muito traba-

lho Agradecemos desde jaacute a

todos os que connosco tecircm cola-

borado e nos tecircm ajudado nas

accedilotildees realizadas Desta vez ende-

reccedilamos um especial agradeci-

mento agrave Universidade Catoacutelica

que nos acolheu neste evento

O dia iniciou-se com as boas-

vindas a todos os presentes na

voz da presidente da APES a cole-

ga Sandra Afonso feliz pela pla-

teia recheada e agrave qual se seguiu o

Professor Ruacuteben Cabral

Passaacutemos entatildeo ao primeiro pai-

nel do Encontro moderado pela

colega Raquel Vau e dando a

palavra ao Professor Adalberto

Dias de Carvalho que captou des-

de o iniacutecio a atenccedilatildeo da plateia

Posteriormente chegou a vez da

Professora Soacutenia Galinha que per-

correu tantos quiloacutemetros para

estar connosco neste dia Seguiu-

se Moacutenica Mesquita que muito

bem se fez acompanhar pelo Dur-

val Carvalho e pelo Sr Liacutedio Gali-

nho que trouxeram testemunhos

na primeira pessoa de uma dura

realidade de duas comunidades

Comunidade Bairro e Comunidade

Piscatoacuteria da Costa da Caparica

explicitando a dificuldade no aces-

so agrave Aacutegua

Ainda na parte da manhatilde mas jaacute

depois do coffee break deu-se

iniacutecio ao segundo painel de orado-

res iniciado pelo colega Honoreacute

Gregorius membro da Associaccedilatildeo

Internacional de Educadores

Sociais (AIEJI) bem como de

outras associaccedilotildees que nos trans-

mitiu a sua praacutetica no Luxembur-

go Esta presenccedila estreitou os

laccedilos da APES com outras Associa-

ccedilotildees Internacionais ajudando a

unir esforccedilos e perceber a Educa-

ccedilatildeo Social no Mundo O modera-

dor deste painel o Professor Jor-

ge Lemos passou a palavra a

Cindy Vaz que nos falou de Peda-

gogia Social e Intervenccedilatildeo Socio-

comunitaacuteria referenciado a sua

experiecircncia profissional na Trofa

Terminada a nossa manhatilde realiza-

mos uma pausa para almoccedilo de

modo a repor as energias gastas e

tempo de partilha entre colegas

A parte da tarde iniciou com o

terceiro painel composto pelos

Professores Jaime Santos Jorge

Lemos Jorge Serrano e Anabela

Correia apresentando a Poacutes-

graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Social e

Desenvolvimento Comunitaacuterio

que como foi explicado visa criar

um espaccedilo privilegiado de apoio

teoacuterico metodoloacutegico e praacutetico ao

desenvolvimento de saberes e de

competecircncias de profissionais

envolvidos em processos de

desenvolvimento comunitaacuterio

7

bem como dar uma contribuiccedilatildeo

relevante para um maior desen-

volvimento da atitude investigati-

va e reflexiva dos atores nestes

processos Os oradores explicita-

ram ainda algumas temaacuteticas

que seratildeo abordadas

Apoacutes o coffee break da tarde o

quarto e uacuteltimo painel foi iniciado

Depois das apresentaccedilotildees efetua-

das pelo moderador Maacutercio Rodri-

gues o painel seguiu com a apre-

sentaccedilatildeo conjunta de Evaniza

Vieira e Siacutelvia Lopes que aborda-

ram a temaacutetica da ldquoEducaccedilatildeo

Social na Rede de Cuidados Conti-

nuadosrdquo cuja missatildeo eacute a Promo-

ccedilatildeo da autonomia e melhoria da

funcionalidade da pessoa em

situaccedilatildeo de dependecircncia atraveacutes

da reabilitaccedilatildeo readaptaccedilatildeo e

reinserccedilatildeo familiar e social As

oradoras explicitaram e insistiram

no papel importante que enquan-

to profissionais podemos desem-

penhar nesta aacuterea Tivemos de

seguida a apresentaccedilatildeo de Jorge

Rosado ou como prefere ser tra-

tado o Dr Risotto que nos apre-

sentou o projeto Palhaccedilos drsquoOpi-

tal que tem como principal obje-

tivo implementar um programa de

intervenccedilatildeo dentro dos hospitais

da regiatildeo centro atraveacutes da visita

de palhaccedilos profissionais e com

formaccedilatildeo especiacutefica nesta aacuterea

com foco essencial no Idoso Com

a sua apresentaccedilatildeo este palhaccedilo

(como o afirma com orgulho)

levou-nos a encarar o termo

palhaccedilo e o proacuteprio exerciacutecio des-

ta funccedilatildeo de uma outra forma

Posteriormente a Professora Isa-

bel Batista falou-nos da luta jaacute

percorrida pela Educaccedilatildeo Social

ao longo destes anos uma aacuterea

em que a proacutepria indica como

sendo sua Ressalvou tambeacutem a

importacircncia do contacto com

outras Associaccedilotildees Internacionais

Terminou-se este V Encontro com

duas intervenccedilotildees muito interes-

santes O Projeto Transformers eacute

um programa de voluntariado que

mobiliza mentores de todos os

desportos artes e atividades para

orientar jovens a encontrar no seu

superpoder uma forma de expri-

mir e intervir positivamente na

comunidade A apresentaccedilatildeo final

foi realizada pelo grupo de danccedila

da Academia Reacutegia Porque a dan-

ccedila aleacutem de ser uma arte permite

a criaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais sen-

do utilizada muitas vezes como

meio da Educaccedilatildeo Social

E foi assim que encerraacutemos

levando para casa novas aprendi-

zagens novas perspetivas novas

partilhas e novas amizades

8

Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social

Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-

da por teres aceite ser a entrevis-

tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana

Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos

Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo

com base na compreensatildeo e con-

fianccedila gosto de me envolver nas

suas atividades e procuro dar-lhes

o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes

natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos

um casal de geacutemeos e na fase da

adolescecircncia ehehhellip a mais velha

jaacute se encontra encaminhada traba-

lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-

ra em animaccedilatildeo sociocultural mas

continua sempre a procurar o meu

apoio

Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-

prios mas vou tentar Sou uma

pessoa alegre comunicativa e bas-

tante dedicada em tudo o que me

proponho a fazer Entendo que a

empatia que criamos com os

outros eacute muito importante para

desenvolver com sucesso todas as

nossas atividades principalmente

as que envolvem pessoas

Eacute com este lema que me proponho

a cumprir aquilo a que chamo mis-

satildeo

Repoacuterter APES - Quando e porque

eacute que decidiste ser uma

educadora social

Ana - Sempre fui boa alu-

na e muito assiacutedua mas

na minha adolescecircncia

decidi comeccedilar a traba-

lhar Mais tarde senti necessidade

de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e

assim decidi voltar aos estudos por

considerar que o estudo e a

empregabilidade caminham juntos

Desde 1992 que trabalho na aacuterea

da deficiecircncia achei que podia

fazer muito mais por esta popula-

ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute

cerca de 10 anos a voltar a estudar

agrave noite e de seguida fui tirar a

minha licenciatura como forma de

ir ao encontro da minha opccedilatildeo

profissional Tirei Educaccedilatildeo Social

na Escola Superior de Educaccedilatildeo de

Santareacutem com meacutedia de 12 valo-

res que me orgulho muito pois

sendo matildee de trecircs filhos trabalhar

e estudar soacute conseguindo ir agrave

faculdade uma manhatilde por semana

por motivos profissionais foi para

mim uma grande vitoacuteria e um

motivo de orgulho Continuo a

fazer sempre que posso forma-

ccedilotildees a participar em eventos con-

gressos seminaacuterios e cursos liga-

dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de

manter atualizados os meus

conhecimentos aproveito para

estreitar relacionamento com pro-

fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-

da facilita a administraccedilatildeo do dia-a

-dia na troca de experiecircncias

Repoacuterter APES - Podes falar-nos

um pouco do teu trabalho

Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991

Comecei como auxiliar passando

depois a monitora onde era res-

ponsaacutevel por um grupo de utentes

com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo

e orientaccedilatildeo do grupo

Desde 2008 que integrei o CRI- -

Centro de Recursos para Inclusatildeo

da Cercipoacutevoa que presta apoio

teacutecnico em vaacuterios agrupamentos

de escolas

As minhas funccedilotildees satildeo variadas

dependendo de cada agrupamen-

9

mentohellip Vou tentar dar uma ideia

das mesmas

Trabalho integrada no departa-

mento de educaccedilatildeo especial com

os alunos com necessidades edu-

cativas especiais Como sabem

estes alunos tem necessidades

diferentes dos outros alunos e

assim temos de ajudar na sua

integraccedilatildeo na sociedade por isso

eacute importante comeccedilar a fazer a

sua preparaccedilatildeo para a vida ativa

Consoante as caracteriacutesticas de

cada um oriento o seu encami-

nhamento para formaccedilatildeo profis-

sional para o Cao- Centro de Ati-

vidades Ocupacionais para pro-

gramas de voluntariado etc

Trabalho tambeacutem ao niacutevel do

desenvolvimento de competecircn-

cias pessoais e sociais a parte da

comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-

ccedilatildeo de problemas assertividade

emoccedilotildees etc aacuterea onde por

vezes tecircm muitas dificulda-

des Como pretendemos que

sejam o mais autoacutenomos possiacute-

veis faccedilo apoio direto na aacuterea

casacomunidade onde faccedilo trei-

nos de autonomia na comunida-

de como por exemplo ir agraves com-

pras saber para que servem e

como utilizar os serviccedilos puacuteblicos

da comunidade (correios banco

junta de freguesia etc) em casa

ao niacutevel da sua independecircncia

pessoal vestirdespir sozinhos

tarefas em casa etc tudo isto

aplicado em contexto real ao

niacutevel dos transportes puacuteblicos

treino trajetos consoante as suas

necessidades de deslocaccedilatildeo para

que num futuro o possam fazer

com autonomia por exemplo

para o seu local de trabalho

Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo

dos PEI ndash Programa Educativo

Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-

co Individual PIT- Plano Indivi-

dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-

mentos onde eacute registado o traba-

lho a desenvolver com estes alu-

nos

Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano

Individual de Transiccedilatildeo pretende-

se preparar os alunos para a vida

poacutes-escolar Fazem estaacutegios de

sensibilizaccedilatildeo profissional nas

empresas da comunidade (em

alguns casos dentro da escola

primeiramente e soacute depois na

comunidade) e cabe-me a mim

fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-

mento dos estaacutegios junto das

empresas acolhedoras e tambeacutem

sensibilizar as empresas para

receberem estes alunos o que

por vezes natildeo eacute faacutecil

Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-

no com os pais pois satildeo eles tam-

beacutem intervenientes importantes

neste processo Promovo visitas

reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-

sas

Integro tambeacutem as reuniotildees de

Conselhos de turmas e Departa-

mento de Educaccedilatildeo Especial

No final de cada periacuteodo tenho

tambeacutem de elaborar relatoacuterios do

trabalho desenvolvido com cada

aluno

Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo

em elaboraccedilatildeo de projetos

Eacute importante salientar que tudo eacute

desenvolvido em parceria com os

docentes de educaccedilatildeo especial

que acompanham cada aluno

O trabalho eacute muito diversificado e

por vezes surgem outras tare-

fas eacute difiacutecil estar a descrever

todas mas de uma maneira geral

eacute assim o meu dia-a-dia

Repoacuterter APES - Qual eacute o maior

desafio quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia

Ana - Quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia todos os

dias satildeo um desafio pois satildeo um

10

um puacuteblico muito diversificado

com caracteriacutesticas muito proacute-

prias Eu costumo dizer que para

se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso

gostar o resto vem por acumula-

ccedilatildeo Eacute importante todos os dias

manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute

-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los

sentir que satildeo capazes pois assim

conseguem mais facilmente ultra-

passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-

ta aacuterea por vezes podem ser mui-

to pequenas mas tem o sabor de

grandes conquistas

Eacute preciso um incremento contiacutenuo

de estrateacutegias e procedimentos

que lhes proporcionem mais e

melhores condiccedilotildees de aprendiza-

gemoportunidades de forma

solidaacuteria e cooperativa de manei-

ra a desenvolverem o mais possiacute-

vel as suas competecircncias pessoais

e sociais e a sua autonomia para

que exista uma verdadeira inclu-

satildeo

Por isso o lema eacute paciecircncia e per-

sistecircncia e muito importante

nunca desistir

Repoacuterter APES - Achas que ainda

existem muitos preconceitos por

parte dos profissionais e da socie-

dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-

ciecircncia

Ana - Sim acho apesar de ser

uma situaccedilatildeo que tem vindo a

melhorar nos uacuteltimos anos Cada

vez mais se ouve falar em inclusatildeo

e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da

parte da maioria dos profissionais

e da sociedade em geral no com-

bate ao preconceito e com o direi-

to de igualdade de oportunidades

para as pessoas com deficiecircncia

Mas neste campo existe ainda

muito trabalho a desenvolver

Porque todos noacutes temos precon-

ceitos em maior ou menor grau

O que acontece eacute que alguns dei-

xam extravasar para as suas atitu-

des e magoam as pessoas sem

pensar nas consequecircncias dos

seus atos Outros fazem-no de

uma forma mais dissimulada Mas

felizmente existem pessoas que

conseguem lidar com esse senti-

mento aceitam e respeitam as

diferenccedilas dos outros Temos

cada um de noacutes de combater esse

proacuteprio preconceito em cada con-

tato em cada nova amizade em

cada conversa em cada decisatildeo

dando oportunidades e acreditan-

do no potencial de cada um

Repoacuterter APES - Que conselho

darias aos nossos colegas que

natildeo estatildeo a trabalhar

Ana - O conselho que daria aos

colegas que natildeo estatildeo a trabalhar

na aacuterea eacute que natildeo desistam de

lutar por aquilo em que acredi-

tam Cada vez mais o nosso traba-

lho faz sentido Satildeo mais a cada

dia que passa as pessoas que pre-

cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil

mas com persistecircncia e envolven-

do-nos todos na divulgaccedilatildeo da

nossa profissatildeo havemos de con-

seguir ir cada vez mais longe

Repoacuterter APES - Obrigada Ana

foi um prazer entrevistar-te

Ana - Foi com muito gosto que

participei nesta entrevista onde

tentei mostrar um pouco do meu

trabalho que ADORO Espero ter

conseguido transmitir um pouco

do meu dia-a-dia aos colegas que

nunca trabalharam na aacuterea Dese-

jo a todos a continuaccedilatildeo de um

bom trabalho para os que natildeo

estatildeo na aacuterea que a oportunidade

chegue depressa para que pos-

sam mostrar os bons profissionais

que satildeo e continuarem a dignificar

a nossa profissatildeo

Todos juntos faremos a diferenccedila

11

Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila

Siacutelvia Franco

Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-

cesso em que abraccedilamos a oportu-

nidade de ensinar bem como a de

aprender Ensinar e aprender com

aqueles que nos rodeiam e com os

que se cruzam no nosso caminho

com os que satildeo chamados de pro-

fessores mas tambeacutem com os alu-

nos os agricultores os mecacircnicos

os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-

gos os historiadoreshellip com todos

independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo

que a sociedade lhes coloca

Da minha passagem por diferentes

contextos educativos aprendi a

valorizar o que chamo de diversi-

dade dialogante (Franco 2013)

bem como a abertura para a mes-

ma Na minha passagem por uma

licenciatura intercultural indiacutegena

no Brasil pude presenciar um pro-

cesso dialoacutegico construiacutedo por

todos os envolvidos e interessados

Neste processo as opiniotildees e

desejos dos alunos e da comunida-

de eram valorizados e parte funda-

mental no desenvolvimento do

curriacuteculo bem como no decurso de

todas as etapas do curso para as

quais era solicitada a presenccedila de

membros das comunidades indiacutege-

nas locais enquanto especialistas

em determinadas mateacuterias ou

seja na sua proacutepria cultura Bus-

cava-se diariamente uma escola

reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual

todos se sentissem responsaacuteveis

pelo sucesso pessoal e coletivo

pois a concretizaccedilatildeo deste curso

era jaacute uma vitoacuteria

Enquanto investigadora do Projeto

Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se

desenvolve na Costa de Caparica

tenho podido vivenciar reflexos

dessa mesma diversidade dialo-

gante O Projeto Fronteiras Urba-

nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-

cando a voz de trecircs comunidades

Comunidade Bairro Comunidade

Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-

ca Estas comunidades uniram-se

pela histoacuteria partilhada com o

intuito de buscar a visibilidade

para comunidades invisiacuteveis aos

olhos de entidades poliacuteticas e

sociais

Cada comunidade tinha agrave partida

um objetivo primordial e um obje-

tivo coletivo O objetivo coletivo

que une estas trecircs comunidades

centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute

cada comunidade isto eacute na diver-

sidade dialogante que une trecircs

comunidades nas lutas de cada

uma

A Comunidade Bairro luta haacute mais

de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais

perto das suas casas uma vez que

tecircm de fazer um percurso de dois

quiloacutemetros (ida e volta) por cami-

nhos acidentados para recolher

numa bica aacutegua para as suas roti-

nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-

ria debate-se com as crescentes

proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas

sem que as vozes dos pescadores

que compotildeem a comunidade

sejam ouvidas e a Comunidade

Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo

Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o

diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o

aprendiz e o aprendiz eacute o profes-

sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)

Numa primeira etapa foram dese-

nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo

Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-

rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-

ria segundo os desejos dos mem-

bros das comunidades No desen-

volvimento destas tarefas procu-

12

raacutemos ter em mente as palavras de

Paulo Freire

natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os

que querem a pronuacutencia do mundo

e os que natildeo a querem entre os

que negam aos demais o direito de

dizer a palavra e os que se acham

negados deste direito Eacute preciso

primeiro que os que assim se

encontram negados no direito pri-

mordial de dizer a palavra recon-

quistem esse direito proibindo que

este assalto desumanizante conti-

nue (Freire 2008 91)

Em consciecircncia de que o envolvi-

mento dos indiviacuteduos na luta pela

sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por

ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-

cionalidade na medida em que

desafiados por ela agem sobre

elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos

deparando com momentos enri-

quecedores de partilha de conheci-

mentos e accedilatildeo sobre o seu meio

implementando diaacutelogos com insti-

tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-

vas reforccedilando os seus desejos e

direitos

Estes movimentos possibilitaram o

regresso de vaacuterios jovens a contex-

tos escolares a eleiccedilatildeo de uma

comissatildeo de moradores a partici-

paccedilatildeo de membros das trecircs comu-

nidades em eventos de dissemina-

ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual

movimento Escola do Bairro Nesta

escola criam-se espaccedilos e tempos

para a diversidade dialogante

numa dinacircmica de partilha onde

um membro da Comunidade Bair-

ro de naturalidade cabo-verdiana

ensina kriolu a outros moradores e

a amigos interessados das outras

duas comunidades ou que se apro-

ximaram deste movimento Da

mesma forma satildeo recebidas pes-

soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e

outras disciplinas para partilharem

os seus conhecimentos fazendo-se

um intercacircmbio de conhecimentos

e praacuteticas

Eacute no sentido desta Escola do Bairro

que falo em ldquoeducar com a dife-

renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute

importante educar para a diferen-

ccedila para nos conscientizarmos de

que satildeo as diferenccedilas que nos tor-

nam todos iguais Contudo consi-

dero que a essecircncia da educaccedilatildeo

estaraacute essencialmente em educar

com aprender com fazer comhellip

Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)

13

Referecircncias

Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre

Artmed Editora

Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de

Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-

cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http

hdlhandlenet104518118

Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra

TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from

httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY

Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)

14

Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu

Sofia Aurora Santos

Mestre em Educaccedilatildeo Social

ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-

ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os

ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor

mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo

ldquoSatildeo uma cambada de bandidos

tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o

Rendimento aos ciganosrdquo etc

etc etc Estas satildeo algumas das

expressotildees que oiccedilo constante-

mente sobre os ciganos e certa-

mente satildeo familiares a muitas pes-

soas O desconhecimento das tra-

diccedilotildees e costumes dos ciganos

reforccedila a ignoracircncia da maioria

que se acha superior A compreen-

satildeo e o conhecimento satildeo impor-

tantes no processo de integraccedilatildeo

do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas

fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser

motivo de exclusatildeo social

Estas expressotildees natildeo satildeo funda-

mentadas nem dignas de respeito

por quem as diz Foram pensamen-

tos expressotildees e comportamentos

deste tipo que um senhor chama-

do Adolfo Hitler fez o que fez

durante a 2ordf Guerra Mundial pen-

so que natildeo seja necessaacuterio descre-

ver mas vale a pena parar para

refletir e ver que infelizmente o

neonazismo estaacute a aparecer na

Europa Prova disso eacute o que se pas-

sa atualmente na Hungria que foi

o primeiro Estado-membro da

Uniatildeo Europeia a ser acusado de

violar os valores europeus e como

consequecircncia a Comissatildeo Europeia

suspendeu todas as negociaccedilotildees

com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-

nha o Estado de Direito

Atos impensaacuteveis incontrolados

desumanos satildeo todos os dias pra-

ticados contra os ciganos e outros

grupos eacutetnicos em todo o mundo

mas o grupo dos ciganos eacute o mais

sacrificado Mas porquecirc os ciga-

nos Eacute esta a questatildeo para a qual

tento obter uma resposta haacute mui-

tos anos e certamente estaacute longe

de ser respondida

Foi principalmente devido a um

comentaacuterio racista vindo de um

membro da autarquia farense em

2007 (em contexto de estaacutegio da

licenciatura) que comeccedilou a minha

luta mais vincada pelos direitos

humanos dos ciganos

Desde muito jovem que tenho um

espiacuterito humanitaacuterio e lutador a

favor dos direitos humanos A

minha adolescecircncia no Corpo

Nacional de Escutas (CNE) fez-me

despertar para ajudar o proacuteximo

os que mais precisam e a respeitar

a Natureza e a Pacha Mama

(Terra)

A escolha do curso de Educaccedilatildeo

Social foi faacutecil faze-lo foi simples

praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os

obstaacuteculos encontrados na socie-

dade para se poder trabalhar a

diferenccedila entre grupos e pessoas

O Educador Social tem de ter uma

grande capacidade de adaptaccedilatildeo

aos contextos e aos seus protago-

nistas Deve saber muito bem o

que quer e para onde quer ir ou

seja traccedilar e definir objetivos Tra-

balhar no que se gosta ajuda a con-

tribuir para a felicidade natildeo soacute a

proacutepria mas tambeacutem a dos outros

Assim prossigo o meu caminho

pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os

objetivos e enquanto natildeo os reali-

zo natildeo descanso

Nesta minha aventura pelo

ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer

15

que um dos momentos mais mar-

cante da minha vida foi a visita ao

Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-

witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir

cheirar tocar e imaginar tudo o

que laacute se passou foi muito intenso

Momento inexplicaacutevel Acho que

qualquer pessoa que visite este

local certamente vai mudar a sua

opiniatildeo e comportamento acerca

da luta pelos direitos humanos

A experiecircncia em intercacircmbios e

formaccedilotildees internacionais foram

dos momentos mais interessantes

e importantes para adquirir conhe-

cimento e partilhar experiecircncias

com outros ativistas ciganos e natildeo

ciganos sobre os direitos humanos

Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de

risco (viacutetimas de violecircncia domesti-

ca sem-abrigo crianccedilas com

necessidade educativas especiais

etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-

nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute

faacutecil falar sobre os ciganos mas

ainda eacute mais difiacutecil falar com as

pessoas natildeo ciganas O sentimento

de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-

te quando se fala com os ciganos

todos tecircm uma experiecircncia discri-

minatoacuteria para contar

A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-

rencia nem reconhece politicamen-

te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes

ou seja do ponto de vista juriacutedico

e poliacutetico natildeo existem ciganos

Atualmente trabalhar com ciganos

estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-

do ou porque ldquovem ai dinheirordquo

para fazer projetos para os ciga-

nos De repente desperta-se a

ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-

ccedilotildees para os pro-

blemas do grupo

eacutetnico Um dos

meacutetodos que tecircm

vindo a ser experi-

mentados no senti-

do da promoccedilatildeo da

integraccedilatildeo deste

grupo tem sido a

execuccedilatildeo de proje-

tos nacionais eou

internacionais com

intervenccedilotildees no

terreno que permi-

tam produzir

conhecimento

acerca dos seus

modos de vida Na

sua maioria os pro-

jetos natildeo satildeo do

conhecimento dos

ciganos e muitas vezes natildeo corres-

pondem agraves necessidades das popu-

laccedilotildees Os principais problemas

que afetam grande parte dos por-

tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees

ao niacutevel educativo e habitacional o

desemprego a inserccedilatildeo no merca-

do de trabalho a pobreza a exclu-

satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-

naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo

Em Faro no bairro da Av Cidade

Hayward no bairro da Horta da

Areia e noutros perifeacutericos estaacute

concentrada uma parte da pobreza

e da exclusatildeo social da cidade o

que tem suscitado a intervenccedilatildeo

de projetos de luta contra a pobre-

za maioritariamente financiados

por fundos europeus Todos estes

contextos se caracterizam por uma

forte desqualificaccedilatildeo territorial e

social reconhecida poliacutetica e

socialmente Contudo normal-

mente estes projetos satildeo de cara-

ter experimental e satildeo limitados

no tempo e no espaccedilo pelo que

natildeo originam mudanccedilas estruturais

nem permitem obter muitos resul-

tados positivos na integraccedilatildeo dos

ciganos

A integraccedilatildeo social dos ciganos

tem vindo a constituir-se como um

verdadeiro imperativo na socieda-

de contemporacircnea O resultado

desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-

ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da

Comissatildeo Europeia (em 2012) o

Quadro europeu para as estrateacute-

gias nacionais para a integraccedilatildeo

dos ciganos que se prevecirc melhorar

a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos

ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 3: Bolhetim educação social   janeiro 2014

3

Iacutendice Paacuteg

APES

Nova Equipa APES helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 5

V Encontro Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 6

Repoacuterter APES

Entrevista a Ana Mendes helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 8

Educaccedilatildeo para a Diferenccedila

Educar para a diferenccedila educar com a diferenccedila - Siacutelvia Franco helliphelliphelliphelliphelliphellip 11

Educaccedilatildeo Social com Ciganos A diferenccedila Sou eu - Sofia Aurora Santos helliphellip 14

Educar para a diferenccedila - Susana Rebocho helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 19

Um ato de amor - Ana Sofia Bexiga helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip23

Testemunho de um estaacutegio com portadores de deficiecircncia - Catarina Aleixo helliphellip 26

A Buacutessula individual da aceitaccedilatildeo do diferente - Daniela Azevedo helliphelliphelliphelliphelliphellip 29

Instituiccedilatildeo

Cercipoacutevoa helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 31

Biblioteca APEShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 34

4

Inscriccedilotildees e mais informaccedilotildees em httpwwwjoaodedeusptcursoindexaspid_cnt=73

5

Nova Equipa APES No passado dia 14 de Dezembro de 2013 foram eleitos os novos oacutergatildeos sociais da APES As lis-tas vencedoras tomaram posse no dia 12 de Janeiro de 2014 Desejamos a todos um bom tra-balho

Mesa da Assembleia Geral

Presidente - Clara Inaacutecio Vice Presidente - Maacutercio

Rodrigues Secretaacuteria - Sofia Santos Suplente - Andreacute Santos

Direccedilatildeo

Presidente - Sandra Afonso Vice Presidente - Ruben

Amorim Tesoureira - Joana Oliveira

Secretaacuteria - Caacutetia Vaz Vogal - Ivacircnia Alexandre Suplentes - Siacutelvia Lopes

Vera Soares Marlene Borges

Ana Mendes

Conselho Fiscal

Presidente - Daacuterio Gomes Secretaacuteria - Joana Botas

Relatora - Ana Raquel Vau Suplentes - Maria do Ceacuteu

Ferreira Ana Maggiolly

Marta Carvalho

6

V Encontro dos Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social

Chegou o ansiado dia 16 de

Novembro de 2013 marcado pelo

V Encontro dos Teacutecnicos Superio-

res de Educaccedilatildeo Social Depois de

Lisboa Algarve Leiria e Lisboa

novamente eacute chegada a vez da

cidade Invicta ndash o Porto

Este Encontro fica inevitavelmen-

te marcado pelo iniacutecio da venda e

entrega das agendas da APES -

Associaccedilatildeo Promotora da Educa-

ccedilatildeo Social mais uma atividade

que tem sido um marco no per-

curso e na divulgaccedilatildeo desta pro-

fissatildeo

Natildeo podiacuteamos estar mais felizes

pelo grande caminho percorrido

ateacute aos dias de hoje E este dia eacute

mais o culminar de muito traba-

lho Agradecemos desde jaacute a

todos os que connosco tecircm cola-

borado e nos tecircm ajudado nas

accedilotildees realizadas Desta vez ende-

reccedilamos um especial agradeci-

mento agrave Universidade Catoacutelica

que nos acolheu neste evento

O dia iniciou-se com as boas-

vindas a todos os presentes na

voz da presidente da APES a cole-

ga Sandra Afonso feliz pela pla-

teia recheada e agrave qual se seguiu o

Professor Ruacuteben Cabral

Passaacutemos entatildeo ao primeiro pai-

nel do Encontro moderado pela

colega Raquel Vau e dando a

palavra ao Professor Adalberto

Dias de Carvalho que captou des-

de o iniacutecio a atenccedilatildeo da plateia

Posteriormente chegou a vez da

Professora Soacutenia Galinha que per-

correu tantos quiloacutemetros para

estar connosco neste dia Seguiu-

se Moacutenica Mesquita que muito

bem se fez acompanhar pelo Dur-

val Carvalho e pelo Sr Liacutedio Gali-

nho que trouxeram testemunhos

na primeira pessoa de uma dura

realidade de duas comunidades

Comunidade Bairro e Comunidade

Piscatoacuteria da Costa da Caparica

explicitando a dificuldade no aces-

so agrave Aacutegua

Ainda na parte da manhatilde mas jaacute

depois do coffee break deu-se

iniacutecio ao segundo painel de orado-

res iniciado pelo colega Honoreacute

Gregorius membro da Associaccedilatildeo

Internacional de Educadores

Sociais (AIEJI) bem como de

outras associaccedilotildees que nos trans-

mitiu a sua praacutetica no Luxembur-

go Esta presenccedila estreitou os

laccedilos da APES com outras Associa-

ccedilotildees Internacionais ajudando a

unir esforccedilos e perceber a Educa-

ccedilatildeo Social no Mundo O modera-

dor deste painel o Professor Jor-

ge Lemos passou a palavra a

Cindy Vaz que nos falou de Peda-

gogia Social e Intervenccedilatildeo Socio-

comunitaacuteria referenciado a sua

experiecircncia profissional na Trofa

Terminada a nossa manhatilde realiza-

mos uma pausa para almoccedilo de

modo a repor as energias gastas e

tempo de partilha entre colegas

A parte da tarde iniciou com o

terceiro painel composto pelos

Professores Jaime Santos Jorge

Lemos Jorge Serrano e Anabela

Correia apresentando a Poacutes-

graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Social e

Desenvolvimento Comunitaacuterio

que como foi explicado visa criar

um espaccedilo privilegiado de apoio

teoacuterico metodoloacutegico e praacutetico ao

desenvolvimento de saberes e de

competecircncias de profissionais

envolvidos em processos de

desenvolvimento comunitaacuterio

7

bem como dar uma contribuiccedilatildeo

relevante para um maior desen-

volvimento da atitude investigati-

va e reflexiva dos atores nestes

processos Os oradores explicita-

ram ainda algumas temaacuteticas

que seratildeo abordadas

Apoacutes o coffee break da tarde o

quarto e uacuteltimo painel foi iniciado

Depois das apresentaccedilotildees efetua-

das pelo moderador Maacutercio Rodri-

gues o painel seguiu com a apre-

sentaccedilatildeo conjunta de Evaniza

Vieira e Siacutelvia Lopes que aborda-

ram a temaacutetica da ldquoEducaccedilatildeo

Social na Rede de Cuidados Conti-

nuadosrdquo cuja missatildeo eacute a Promo-

ccedilatildeo da autonomia e melhoria da

funcionalidade da pessoa em

situaccedilatildeo de dependecircncia atraveacutes

da reabilitaccedilatildeo readaptaccedilatildeo e

reinserccedilatildeo familiar e social As

oradoras explicitaram e insistiram

no papel importante que enquan-

to profissionais podemos desem-

penhar nesta aacuterea Tivemos de

seguida a apresentaccedilatildeo de Jorge

Rosado ou como prefere ser tra-

tado o Dr Risotto que nos apre-

sentou o projeto Palhaccedilos drsquoOpi-

tal que tem como principal obje-

tivo implementar um programa de

intervenccedilatildeo dentro dos hospitais

da regiatildeo centro atraveacutes da visita

de palhaccedilos profissionais e com

formaccedilatildeo especiacutefica nesta aacuterea

com foco essencial no Idoso Com

a sua apresentaccedilatildeo este palhaccedilo

(como o afirma com orgulho)

levou-nos a encarar o termo

palhaccedilo e o proacuteprio exerciacutecio des-

ta funccedilatildeo de uma outra forma

Posteriormente a Professora Isa-

bel Batista falou-nos da luta jaacute

percorrida pela Educaccedilatildeo Social

ao longo destes anos uma aacuterea

em que a proacutepria indica como

sendo sua Ressalvou tambeacutem a

importacircncia do contacto com

outras Associaccedilotildees Internacionais

Terminou-se este V Encontro com

duas intervenccedilotildees muito interes-

santes O Projeto Transformers eacute

um programa de voluntariado que

mobiliza mentores de todos os

desportos artes e atividades para

orientar jovens a encontrar no seu

superpoder uma forma de expri-

mir e intervir positivamente na

comunidade A apresentaccedilatildeo final

foi realizada pelo grupo de danccedila

da Academia Reacutegia Porque a dan-

ccedila aleacutem de ser uma arte permite

a criaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais sen-

do utilizada muitas vezes como

meio da Educaccedilatildeo Social

E foi assim que encerraacutemos

levando para casa novas aprendi-

zagens novas perspetivas novas

partilhas e novas amizades

8

Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social

Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-

da por teres aceite ser a entrevis-

tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana

Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos

Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo

com base na compreensatildeo e con-

fianccedila gosto de me envolver nas

suas atividades e procuro dar-lhes

o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes

natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos

um casal de geacutemeos e na fase da

adolescecircncia ehehhellip a mais velha

jaacute se encontra encaminhada traba-

lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-

ra em animaccedilatildeo sociocultural mas

continua sempre a procurar o meu

apoio

Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-

prios mas vou tentar Sou uma

pessoa alegre comunicativa e bas-

tante dedicada em tudo o que me

proponho a fazer Entendo que a

empatia que criamos com os

outros eacute muito importante para

desenvolver com sucesso todas as

nossas atividades principalmente

as que envolvem pessoas

Eacute com este lema que me proponho

a cumprir aquilo a que chamo mis-

satildeo

Repoacuterter APES - Quando e porque

eacute que decidiste ser uma

educadora social

Ana - Sempre fui boa alu-

na e muito assiacutedua mas

na minha adolescecircncia

decidi comeccedilar a traba-

lhar Mais tarde senti necessidade

de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e

assim decidi voltar aos estudos por

considerar que o estudo e a

empregabilidade caminham juntos

Desde 1992 que trabalho na aacuterea

da deficiecircncia achei que podia

fazer muito mais por esta popula-

ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute

cerca de 10 anos a voltar a estudar

agrave noite e de seguida fui tirar a

minha licenciatura como forma de

ir ao encontro da minha opccedilatildeo

profissional Tirei Educaccedilatildeo Social

na Escola Superior de Educaccedilatildeo de

Santareacutem com meacutedia de 12 valo-

res que me orgulho muito pois

sendo matildee de trecircs filhos trabalhar

e estudar soacute conseguindo ir agrave

faculdade uma manhatilde por semana

por motivos profissionais foi para

mim uma grande vitoacuteria e um

motivo de orgulho Continuo a

fazer sempre que posso forma-

ccedilotildees a participar em eventos con-

gressos seminaacuterios e cursos liga-

dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de

manter atualizados os meus

conhecimentos aproveito para

estreitar relacionamento com pro-

fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-

da facilita a administraccedilatildeo do dia-a

-dia na troca de experiecircncias

Repoacuterter APES - Podes falar-nos

um pouco do teu trabalho

Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991

Comecei como auxiliar passando

depois a monitora onde era res-

ponsaacutevel por um grupo de utentes

com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo

e orientaccedilatildeo do grupo

Desde 2008 que integrei o CRI- -

Centro de Recursos para Inclusatildeo

da Cercipoacutevoa que presta apoio

teacutecnico em vaacuterios agrupamentos

de escolas

As minhas funccedilotildees satildeo variadas

dependendo de cada agrupamen-

9

mentohellip Vou tentar dar uma ideia

das mesmas

Trabalho integrada no departa-

mento de educaccedilatildeo especial com

os alunos com necessidades edu-

cativas especiais Como sabem

estes alunos tem necessidades

diferentes dos outros alunos e

assim temos de ajudar na sua

integraccedilatildeo na sociedade por isso

eacute importante comeccedilar a fazer a

sua preparaccedilatildeo para a vida ativa

Consoante as caracteriacutesticas de

cada um oriento o seu encami-

nhamento para formaccedilatildeo profis-

sional para o Cao- Centro de Ati-

vidades Ocupacionais para pro-

gramas de voluntariado etc

Trabalho tambeacutem ao niacutevel do

desenvolvimento de competecircn-

cias pessoais e sociais a parte da

comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-

ccedilatildeo de problemas assertividade

emoccedilotildees etc aacuterea onde por

vezes tecircm muitas dificulda-

des Como pretendemos que

sejam o mais autoacutenomos possiacute-

veis faccedilo apoio direto na aacuterea

casacomunidade onde faccedilo trei-

nos de autonomia na comunida-

de como por exemplo ir agraves com-

pras saber para que servem e

como utilizar os serviccedilos puacuteblicos

da comunidade (correios banco

junta de freguesia etc) em casa

ao niacutevel da sua independecircncia

pessoal vestirdespir sozinhos

tarefas em casa etc tudo isto

aplicado em contexto real ao

niacutevel dos transportes puacuteblicos

treino trajetos consoante as suas

necessidades de deslocaccedilatildeo para

que num futuro o possam fazer

com autonomia por exemplo

para o seu local de trabalho

Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo

dos PEI ndash Programa Educativo

Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-

co Individual PIT- Plano Indivi-

dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-

mentos onde eacute registado o traba-

lho a desenvolver com estes alu-

nos

Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano

Individual de Transiccedilatildeo pretende-

se preparar os alunos para a vida

poacutes-escolar Fazem estaacutegios de

sensibilizaccedilatildeo profissional nas

empresas da comunidade (em

alguns casos dentro da escola

primeiramente e soacute depois na

comunidade) e cabe-me a mim

fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-

mento dos estaacutegios junto das

empresas acolhedoras e tambeacutem

sensibilizar as empresas para

receberem estes alunos o que

por vezes natildeo eacute faacutecil

Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-

no com os pais pois satildeo eles tam-

beacutem intervenientes importantes

neste processo Promovo visitas

reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-

sas

Integro tambeacutem as reuniotildees de

Conselhos de turmas e Departa-

mento de Educaccedilatildeo Especial

No final de cada periacuteodo tenho

tambeacutem de elaborar relatoacuterios do

trabalho desenvolvido com cada

aluno

Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo

em elaboraccedilatildeo de projetos

Eacute importante salientar que tudo eacute

desenvolvido em parceria com os

docentes de educaccedilatildeo especial

que acompanham cada aluno

O trabalho eacute muito diversificado e

por vezes surgem outras tare-

fas eacute difiacutecil estar a descrever

todas mas de uma maneira geral

eacute assim o meu dia-a-dia

Repoacuterter APES - Qual eacute o maior

desafio quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia

Ana - Quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia todos os

dias satildeo um desafio pois satildeo um

10

um puacuteblico muito diversificado

com caracteriacutesticas muito proacute-

prias Eu costumo dizer que para

se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso

gostar o resto vem por acumula-

ccedilatildeo Eacute importante todos os dias

manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute

-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los

sentir que satildeo capazes pois assim

conseguem mais facilmente ultra-

passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-

ta aacuterea por vezes podem ser mui-

to pequenas mas tem o sabor de

grandes conquistas

Eacute preciso um incremento contiacutenuo

de estrateacutegias e procedimentos

que lhes proporcionem mais e

melhores condiccedilotildees de aprendiza-

gemoportunidades de forma

solidaacuteria e cooperativa de manei-

ra a desenvolverem o mais possiacute-

vel as suas competecircncias pessoais

e sociais e a sua autonomia para

que exista uma verdadeira inclu-

satildeo

Por isso o lema eacute paciecircncia e per-

sistecircncia e muito importante

nunca desistir

Repoacuterter APES - Achas que ainda

existem muitos preconceitos por

parte dos profissionais e da socie-

dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-

ciecircncia

Ana - Sim acho apesar de ser

uma situaccedilatildeo que tem vindo a

melhorar nos uacuteltimos anos Cada

vez mais se ouve falar em inclusatildeo

e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da

parte da maioria dos profissionais

e da sociedade em geral no com-

bate ao preconceito e com o direi-

to de igualdade de oportunidades

para as pessoas com deficiecircncia

Mas neste campo existe ainda

muito trabalho a desenvolver

Porque todos noacutes temos precon-

ceitos em maior ou menor grau

O que acontece eacute que alguns dei-

xam extravasar para as suas atitu-

des e magoam as pessoas sem

pensar nas consequecircncias dos

seus atos Outros fazem-no de

uma forma mais dissimulada Mas

felizmente existem pessoas que

conseguem lidar com esse senti-

mento aceitam e respeitam as

diferenccedilas dos outros Temos

cada um de noacutes de combater esse

proacuteprio preconceito em cada con-

tato em cada nova amizade em

cada conversa em cada decisatildeo

dando oportunidades e acreditan-

do no potencial de cada um

Repoacuterter APES - Que conselho

darias aos nossos colegas que

natildeo estatildeo a trabalhar

Ana - O conselho que daria aos

colegas que natildeo estatildeo a trabalhar

na aacuterea eacute que natildeo desistam de

lutar por aquilo em que acredi-

tam Cada vez mais o nosso traba-

lho faz sentido Satildeo mais a cada

dia que passa as pessoas que pre-

cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil

mas com persistecircncia e envolven-

do-nos todos na divulgaccedilatildeo da

nossa profissatildeo havemos de con-

seguir ir cada vez mais longe

Repoacuterter APES - Obrigada Ana

foi um prazer entrevistar-te

Ana - Foi com muito gosto que

participei nesta entrevista onde

tentei mostrar um pouco do meu

trabalho que ADORO Espero ter

conseguido transmitir um pouco

do meu dia-a-dia aos colegas que

nunca trabalharam na aacuterea Dese-

jo a todos a continuaccedilatildeo de um

bom trabalho para os que natildeo

estatildeo na aacuterea que a oportunidade

chegue depressa para que pos-

sam mostrar os bons profissionais

que satildeo e continuarem a dignificar

a nossa profissatildeo

Todos juntos faremos a diferenccedila

11

Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila

Siacutelvia Franco

Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-

cesso em que abraccedilamos a oportu-

nidade de ensinar bem como a de

aprender Ensinar e aprender com

aqueles que nos rodeiam e com os

que se cruzam no nosso caminho

com os que satildeo chamados de pro-

fessores mas tambeacutem com os alu-

nos os agricultores os mecacircnicos

os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-

gos os historiadoreshellip com todos

independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo

que a sociedade lhes coloca

Da minha passagem por diferentes

contextos educativos aprendi a

valorizar o que chamo de diversi-

dade dialogante (Franco 2013)

bem como a abertura para a mes-

ma Na minha passagem por uma

licenciatura intercultural indiacutegena

no Brasil pude presenciar um pro-

cesso dialoacutegico construiacutedo por

todos os envolvidos e interessados

Neste processo as opiniotildees e

desejos dos alunos e da comunida-

de eram valorizados e parte funda-

mental no desenvolvimento do

curriacuteculo bem como no decurso de

todas as etapas do curso para as

quais era solicitada a presenccedila de

membros das comunidades indiacutege-

nas locais enquanto especialistas

em determinadas mateacuterias ou

seja na sua proacutepria cultura Bus-

cava-se diariamente uma escola

reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual

todos se sentissem responsaacuteveis

pelo sucesso pessoal e coletivo

pois a concretizaccedilatildeo deste curso

era jaacute uma vitoacuteria

Enquanto investigadora do Projeto

Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se

desenvolve na Costa de Caparica

tenho podido vivenciar reflexos

dessa mesma diversidade dialo-

gante O Projeto Fronteiras Urba-

nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-

cando a voz de trecircs comunidades

Comunidade Bairro Comunidade

Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-

ca Estas comunidades uniram-se

pela histoacuteria partilhada com o

intuito de buscar a visibilidade

para comunidades invisiacuteveis aos

olhos de entidades poliacuteticas e

sociais

Cada comunidade tinha agrave partida

um objetivo primordial e um obje-

tivo coletivo O objetivo coletivo

que une estas trecircs comunidades

centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute

cada comunidade isto eacute na diver-

sidade dialogante que une trecircs

comunidades nas lutas de cada

uma

A Comunidade Bairro luta haacute mais

de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais

perto das suas casas uma vez que

tecircm de fazer um percurso de dois

quiloacutemetros (ida e volta) por cami-

nhos acidentados para recolher

numa bica aacutegua para as suas roti-

nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-

ria debate-se com as crescentes

proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas

sem que as vozes dos pescadores

que compotildeem a comunidade

sejam ouvidas e a Comunidade

Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo

Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o

diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o

aprendiz e o aprendiz eacute o profes-

sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)

Numa primeira etapa foram dese-

nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo

Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-

rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-

ria segundo os desejos dos mem-

bros das comunidades No desen-

volvimento destas tarefas procu-

12

raacutemos ter em mente as palavras de

Paulo Freire

natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os

que querem a pronuacutencia do mundo

e os que natildeo a querem entre os

que negam aos demais o direito de

dizer a palavra e os que se acham

negados deste direito Eacute preciso

primeiro que os que assim se

encontram negados no direito pri-

mordial de dizer a palavra recon-

quistem esse direito proibindo que

este assalto desumanizante conti-

nue (Freire 2008 91)

Em consciecircncia de que o envolvi-

mento dos indiviacuteduos na luta pela

sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por

ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-

cionalidade na medida em que

desafiados por ela agem sobre

elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos

deparando com momentos enri-

quecedores de partilha de conheci-

mentos e accedilatildeo sobre o seu meio

implementando diaacutelogos com insti-

tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-

vas reforccedilando os seus desejos e

direitos

Estes movimentos possibilitaram o

regresso de vaacuterios jovens a contex-

tos escolares a eleiccedilatildeo de uma

comissatildeo de moradores a partici-

paccedilatildeo de membros das trecircs comu-

nidades em eventos de dissemina-

ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual

movimento Escola do Bairro Nesta

escola criam-se espaccedilos e tempos

para a diversidade dialogante

numa dinacircmica de partilha onde

um membro da Comunidade Bair-

ro de naturalidade cabo-verdiana

ensina kriolu a outros moradores e

a amigos interessados das outras

duas comunidades ou que se apro-

ximaram deste movimento Da

mesma forma satildeo recebidas pes-

soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e

outras disciplinas para partilharem

os seus conhecimentos fazendo-se

um intercacircmbio de conhecimentos

e praacuteticas

Eacute no sentido desta Escola do Bairro

que falo em ldquoeducar com a dife-

renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute

importante educar para a diferen-

ccedila para nos conscientizarmos de

que satildeo as diferenccedilas que nos tor-

nam todos iguais Contudo consi-

dero que a essecircncia da educaccedilatildeo

estaraacute essencialmente em educar

com aprender com fazer comhellip

Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)

13

Referecircncias

Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre

Artmed Editora

Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de

Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-

cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http

hdlhandlenet104518118

Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra

TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from

httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY

Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)

14

Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu

Sofia Aurora Santos

Mestre em Educaccedilatildeo Social

ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-

ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os

ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor

mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo

ldquoSatildeo uma cambada de bandidos

tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o

Rendimento aos ciganosrdquo etc

etc etc Estas satildeo algumas das

expressotildees que oiccedilo constante-

mente sobre os ciganos e certa-

mente satildeo familiares a muitas pes-

soas O desconhecimento das tra-

diccedilotildees e costumes dos ciganos

reforccedila a ignoracircncia da maioria

que se acha superior A compreen-

satildeo e o conhecimento satildeo impor-

tantes no processo de integraccedilatildeo

do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas

fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser

motivo de exclusatildeo social

Estas expressotildees natildeo satildeo funda-

mentadas nem dignas de respeito

por quem as diz Foram pensamen-

tos expressotildees e comportamentos

deste tipo que um senhor chama-

do Adolfo Hitler fez o que fez

durante a 2ordf Guerra Mundial pen-

so que natildeo seja necessaacuterio descre-

ver mas vale a pena parar para

refletir e ver que infelizmente o

neonazismo estaacute a aparecer na

Europa Prova disso eacute o que se pas-

sa atualmente na Hungria que foi

o primeiro Estado-membro da

Uniatildeo Europeia a ser acusado de

violar os valores europeus e como

consequecircncia a Comissatildeo Europeia

suspendeu todas as negociaccedilotildees

com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-

nha o Estado de Direito

Atos impensaacuteveis incontrolados

desumanos satildeo todos os dias pra-

ticados contra os ciganos e outros

grupos eacutetnicos em todo o mundo

mas o grupo dos ciganos eacute o mais

sacrificado Mas porquecirc os ciga-

nos Eacute esta a questatildeo para a qual

tento obter uma resposta haacute mui-

tos anos e certamente estaacute longe

de ser respondida

Foi principalmente devido a um

comentaacuterio racista vindo de um

membro da autarquia farense em

2007 (em contexto de estaacutegio da

licenciatura) que comeccedilou a minha

luta mais vincada pelos direitos

humanos dos ciganos

Desde muito jovem que tenho um

espiacuterito humanitaacuterio e lutador a

favor dos direitos humanos A

minha adolescecircncia no Corpo

Nacional de Escutas (CNE) fez-me

despertar para ajudar o proacuteximo

os que mais precisam e a respeitar

a Natureza e a Pacha Mama

(Terra)

A escolha do curso de Educaccedilatildeo

Social foi faacutecil faze-lo foi simples

praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os

obstaacuteculos encontrados na socie-

dade para se poder trabalhar a

diferenccedila entre grupos e pessoas

O Educador Social tem de ter uma

grande capacidade de adaptaccedilatildeo

aos contextos e aos seus protago-

nistas Deve saber muito bem o

que quer e para onde quer ir ou

seja traccedilar e definir objetivos Tra-

balhar no que se gosta ajuda a con-

tribuir para a felicidade natildeo soacute a

proacutepria mas tambeacutem a dos outros

Assim prossigo o meu caminho

pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os

objetivos e enquanto natildeo os reali-

zo natildeo descanso

Nesta minha aventura pelo

ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer

15

que um dos momentos mais mar-

cante da minha vida foi a visita ao

Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-

witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir

cheirar tocar e imaginar tudo o

que laacute se passou foi muito intenso

Momento inexplicaacutevel Acho que

qualquer pessoa que visite este

local certamente vai mudar a sua

opiniatildeo e comportamento acerca

da luta pelos direitos humanos

A experiecircncia em intercacircmbios e

formaccedilotildees internacionais foram

dos momentos mais interessantes

e importantes para adquirir conhe-

cimento e partilhar experiecircncias

com outros ativistas ciganos e natildeo

ciganos sobre os direitos humanos

Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de

risco (viacutetimas de violecircncia domesti-

ca sem-abrigo crianccedilas com

necessidade educativas especiais

etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-

nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute

faacutecil falar sobre os ciganos mas

ainda eacute mais difiacutecil falar com as

pessoas natildeo ciganas O sentimento

de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-

te quando se fala com os ciganos

todos tecircm uma experiecircncia discri-

minatoacuteria para contar

A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-

rencia nem reconhece politicamen-

te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes

ou seja do ponto de vista juriacutedico

e poliacutetico natildeo existem ciganos

Atualmente trabalhar com ciganos

estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-

do ou porque ldquovem ai dinheirordquo

para fazer projetos para os ciga-

nos De repente desperta-se a

ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-

ccedilotildees para os pro-

blemas do grupo

eacutetnico Um dos

meacutetodos que tecircm

vindo a ser experi-

mentados no senti-

do da promoccedilatildeo da

integraccedilatildeo deste

grupo tem sido a

execuccedilatildeo de proje-

tos nacionais eou

internacionais com

intervenccedilotildees no

terreno que permi-

tam produzir

conhecimento

acerca dos seus

modos de vida Na

sua maioria os pro-

jetos natildeo satildeo do

conhecimento dos

ciganos e muitas vezes natildeo corres-

pondem agraves necessidades das popu-

laccedilotildees Os principais problemas

que afetam grande parte dos por-

tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees

ao niacutevel educativo e habitacional o

desemprego a inserccedilatildeo no merca-

do de trabalho a pobreza a exclu-

satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-

naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo

Em Faro no bairro da Av Cidade

Hayward no bairro da Horta da

Areia e noutros perifeacutericos estaacute

concentrada uma parte da pobreza

e da exclusatildeo social da cidade o

que tem suscitado a intervenccedilatildeo

de projetos de luta contra a pobre-

za maioritariamente financiados

por fundos europeus Todos estes

contextos se caracterizam por uma

forte desqualificaccedilatildeo territorial e

social reconhecida poliacutetica e

socialmente Contudo normal-

mente estes projetos satildeo de cara-

ter experimental e satildeo limitados

no tempo e no espaccedilo pelo que

natildeo originam mudanccedilas estruturais

nem permitem obter muitos resul-

tados positivos na integraccedilatildeo dos

ciganos

A integraccedilatildeo social dos ciganos

tem vindo a constituir-se como um

verdadeiro imperativo na socieda-

de contemporacircnea O resultado

desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-

ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da

Comissatildeo Europeia (em 2012) o

Quadro europeu para as estrateacute-

gias nacionais para a integraccedilatildeo

dos ciganos que se prevecirc melhorar

a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos

ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 4: Bolhetim educação social   janeiro 2014

4

Inscriccedilotildees e mais informaccedilotildees em httpwwwjoaodedeusptcursoindexaspid_cnt=73

5

Nova Equipa APES No passado dia 14 de Dezembro de 2013 foram eleitos os novos oacutergatildeos sociais da APES As lis-tas vencedoras tomaram posse no dia 12 de Janeiro de 2014 Desejamos a todos um bom tra-balho

Mesa da Assembleia Geral

Presidente - Clara Inaacutecio Vice Presidente - Maacutercio

Rodrigues Secretaacuteria - Sofia Santos Suplente - Andreacute Santos

Direccedilatildeo

Presidente - Sandra Afonso Vice Presidente - Ruben

Amorim Tesoureira - Joana Oliveira

Secretaacuteria - Caacutetia Vaz Vogal - Ivacircnia Alexandre Suplentes - Siacutelvia Lopes

Vera Soares Marlene Borges

Ana Mendes

Conselho Fiscal

Presidente - Daacuterio Gomes Secretaacuteria - Joana Botas

Relatora - Ana Raquel Vau Suplentes - Maria do Ceacuteu

Ferreira Ana Maggiolly

Marta Carvalho

6

V Encontro dos Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social

Chegou o ansiado dia 16 de

Novembro de 2013 marcado pelo

V Encontro dos Teacutecnicos Superio-

res de Educaccedilatildeo Social Depois de

Lisboa Algarve Leiria e Lisboa

novamente eacute chegada a vez da

cidade Invicta ndash o Porto

Este Encontro fica inevitavelmen-

te marcado pelo iniacutecio da venda e

entrega das agendas da APES -

Associaccedilatildeo Promotora da Educa-

ccedilatildeo Social mais uma atividade

que tem sido um marco no per-

curso e na divulgaccedilatildeo desta pro-

fissatildeo

Natildeo podiacuteamos estar mais felizes

pelo grande caminho percorrido

ateacute aos dias de hoje E este dia eacute

mais o culminar de muito traba-

lho Agradecemos desde jaacute a

todos os que connosco tecircm cola-

borado e nos tecircm ajudado nas

accedilotildees realizadas Desta vez ende-

reccedilamos um especial agradeci-

mento agrave Universidade Catoacutelica

que nos acolheu neste evento

O dia iniciou-se com as boas-

vindas a todos os presentes na

voz da presidente da APES a cole-

ga Sandra Afonso feliz pela pla-

teia recheada e agrave qual se seguiu o

Professor Ruacuteben Cabral

Passaacutemos entatildeo ao primeiro pai-

nel do Encontro moderado pela

colega Raquel Vau e dando a

palavra ao Professor Adalberto

Dias de Carvalho que captou des-

de o iniacutecio a atenccedilatildeo da plateia

Posteriormente chegou a vez da

Professora Soacutenia Galinha que per-

correu tantos quiloacutemetros para

estar connosco neste dia Seguiu-

se Moacutenica Mesquita que muito

bem se fez acompanhar pelo Dur-

val Carvalho e pelo Sr Liacutedio Gali-

nho que trouxeram testemunhos

na primeira pessoa de uma dura

realidade de duas comunidades

Comunidade Bairro e Comunidade

Piscatoacuteria da Costa da Caparica

explicitando a dificuldade no aces-

so agrave Aacutegua

Ainda na parte da manhatilde mas jaacute

depois do coffee break deu-se

iniacutecio ao segundo painel de orado-

res iniciado pelo colega Honoreacute

Gregorius membro da Associaccedilatildeo

Internacional de Educadores

Sociais (AIEJI) bem como de

outras associaccedilotildees que nos trans-

mitiu a sua praacutetica no Luxembur-

go Esta presenccedila estreitou os

laccedilos da APES com outras Associa-

ccedilotildees Internacionais ajudando a

unir esforccedilos e perceber a Educa-

ccedilatildeo Social no Mundo O modera-

dor deste painel o Professor Jor-

ge Lemos passou a palavra a

Cindy Vaz que nos falou de Peda-

gogia Social e Intervenccedilatildeo Socio-

comunitaacuteria referenciado a sua

experiecircncia profissional na Trofa

Terminada a nossa manhatilde realiza-

mos uma pausa para almoccedilo de

modo a repor as energias gastas e

tempo de partilha entre colegas

A parte da tarde iniciou com o

terceiro painel composto pelos

Professores Jaime Santos Jorge

Lemos Jorge Serrano e Anabela

Correia apresentando a Poacutes-

graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Social e

Desenvolvimento Comunitaacuterio

que como foi explicado visa criar

um espaccedilo privilegiado de apoio

teoacuterico metodoloacutegico e praacutetico ao

desenvolvimento de saberes e de

competecircncias de profissionais

envolvidos em processos de

desenvolvimento comunitaacuterio

7

bem como dar uma contribuiccedilatildeo

relevante para um maior desen-

volvimento da atitude investigati-

va e reflexiva dos atores nestes

processos Os oradores explicita-

ram ainda algumas temaacuteticas

que seratildeo abordadas

Apoacutes o coffee break da tarde o

quarto e uacuteltimo painel foi iniciado

Depois das apresentaccedilotildees efetua-

das pelo moderador Maacutercio Rodri-

gues o painel seguiu com a apre-

sentaccedilatildeo conjunta de Evaniza

Vieira e Siacutelvia Lopes que aborda-

ram a temaacutetica da ldquoEducaccedilatildeo

Social na Rede de Cuidados Conti-

nuadosrdquo cuja missatildeo eacute a Promo-

ccedilatildeo da autonomia e melhoria da

funcionalidade da pessoa em

situaccedilatildeo de dependecircncia atraveacutes

da reabilitaccedilatildeo readaptaccedilatildeo e

reinserccedilatildeo familiar e social As

oradoras explicitaram e insistiram

no papel importante que enquan-

to profissionais podemos desem-

penhar nesta aacuterea Tivemos de

seguida a apresentaccedilatildeo de Jorge

Rosado ou como prefere ser tra-

tado o Dr Risotto que nos apre-

sentou o projeto Palhaccedilos drsquoOpi-

tal que tem como principal obje-

tivo implementar um programa de

intervenccedilatildeo dentro dos hospitais

da regiatildeo centro atraveacutes da visita

de palhaccedilos profissionais e com

formaccedilatildeo especiacutefica nesta aacuterea

com foco essencial no Idoso Com

a sua apresentaccedilatildeo este palhaccedilo

(como o afirma com orgulho)

levou-nos a encarar o termo

palhaccedilo e o proacuteprio exerciacutecio des-

ta funccedilatildeo de uma outra forma

Posteriormente a Professora Isa-

bel Batista falou-nos da luta jaacute

percorrida pela Educaccedilatildeo Social

ao longo destes anos uma aacuterea

em que a proacutepria indica como

sendo sua Ressalvou tambeacutem a

importacircncia do contacto com

outras Associaccedilotildees Internacionais

Terminou-se este V Encontro com

duas intervenccedilotildees muito interes-

santes O Projeto Transformers eacute

um programa de voluntariado que

mobiliza mentores de todos os

desportos artes e atividades para

orientar jovens a encontrar no seu

superpoder uma forma de expri-

mir e intervir positivamente na

comunidade A apresentaccedilatildeo final

foi realizada pelo grupo de danccedila

da Academia Reacutegia Porque a dan-

ccedila aleacutem de ser uma arte permite

a criaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais sen-

do utilizada muitas vezes como

meio da Educaccedilatildeo Social

E foi assim que encerraacutemos

levando para casa novas aprendi-

zagens novas perspetivas novas

partilhas e novas amizades

8

Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social

Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-

da por teres aceite ser a entrevis-

tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana

Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos

Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo

com base na compreensatildeo e con-

fianccedila gosto de me envolver nas

suas atividades e procuro dar-lhes

o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes

natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos

um casal de geacutemeos e na fase da

adolescecircncia ehehhellip a mais velha

jaacute se encontra encaminhada traba-

lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-

ra em animaccedilatildeo sociocultural mas

continua sempre a procurar o meu

apoio

Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-

prios mas vou tentar Sou uma

pessoa alegre comunicativa e bas-

tante dedicada em tudo o que me

proponho a fazer Entendo que a

empatia que criamos com os

outros eacute muito importante para

desenvolver com sucesso todas as

nossas atividades principalmente

as que envolvem pessoas

Eacute com este lema que me proponho

a cumprir aquilo a que chamo mis-

satildeo

Repoacuterter APES - Quando e porque

eacute que decidiste ser uma

educadora social

Ana - Sempre fui boa alu-

na e muito assiacutedua mas

na minha adolescecircncia

decidi comeccedilar a traba-

lhar Mais tarde senti necessidade

de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e

assim decidi voltar aos estudos por

considerar que o estudo e a

empregabilidade caminham juntos

Desde 1992 que trabalho na aacuterea

da deficiecircncia achei que podia

fazer muito mais por esta popula-

ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute

cerca de 10 anos a voltar a estudar

agrave noite e de seguida fui tirar a

minha licenciatura como forma de

ir ao encontro da minha opccedilatildeo

profissional Tirei Educaccedilatildeo Social

na Escola Superior de Educaccedilatildeo de

Santareacutem com meacutedia de 12 valo-

res que me orgulho muito pois

sendo matildee de trecircs filhos trabalhar

e estudar soacute conseguindo ir agrave

faculdade uma manhatilde por semana

por motivos profissionais foi para

mim uma grande vitoacuteria e um

motivo de orgulho Continuo a

fazer sempre que posso forma-

ccedilotildees a participar em eventos con-

gressos seminaacuterios e cursos liga-

dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de

manter atualizados os meus

conhecimentos aproveito para

estreitar relacionamento com pro-

fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-

da facilita a administraccedilatildeo do dia-a

-dia na troca de experiecircncias

Repoacuterter APES - Podes falar-nos

um pouco do teu trabalho

Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991

Comecei como auxiliar passando

depois a monitora onde era res-

ponsaacutevel por um grupo de utentes

com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo

e orientaccedilatildeo do grupo

Desde 2008 que integrei o CRI- -

Centro de Recursos para Inclusatildeo

da Cercipoacutevoa que presta apoio

teacutecnico em vaacuterios agrupamentos

de escolas

As minhas funccedilotildees satildeo variadas

dependendo de cada agrupamen-

9

mentohellip Vou tentar dar uma ideia

das mesmas

Trabalho integrada no departa-

mento de educaccedilatildeo especial com

os alunos com necessidades edu-

cativas especiais Como sabem

estes alunos tem necessidades

diferentes dos outros alunos e

assim temos de ajudar na sua

integraccedilatildeo na sociedade por isso

eacute importante comeccedilar a fazer a

sua preparaccedilatildeo para a vida ativa

Consoante as caracteriacutesticas de

cada um oriento o seu encami-

nhamento para formaccedilatildeo profis-

sional para o Cao- Centro de Ati-

vidades Ocupacionais para pro-

gramas de voluntariado etc

Trabalho tambeacutem ao niacutevel do

desenvolvimento de competecircn-

cias pessoais e sociais a parte da

comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-

ccedilatildeo de problemas assertividade

emoccedilotildees etc aacuterea onde por

vezes tecircm muitas dificulda-

des Como pretendemos que

sejam o mais autoacutenomos possiacute-

veis faccedilo apoio direto na aacuterea

casacomunidade onde faccedilo trei-

nos de autonomia na comunida-

de como por exemplo ir agraves com-

pras saber para que servem e

como utilizar os serviccedilos puacuteblicos

da comunidade (correios banco

junta de freguesia etc) em casa

ao niacutevel da sua independecircncia

pessoal vestirdespir sozinhos

tarefas em casa etc tudo isto

aplicado em contexto real ao

niacutevel dos transportes puacuteblicos

treino trajetos consoante as suas

necessidades de deslocaccedilatildeo para

que num futuro o possam fazer

com autonomia por exemplo

para o seu local de trabalho

Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo

dos PEI ndash Programa Educativo

Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-

co Individual PIT- Plano Indivi-

dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-

mentos onde eacute registado o traba-

lho a desenvolver com estes alu-

nos

Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano

Individual de Transiccedilatildeo pretende-

se preparar os alunos para a vida

poacutes-escolar Fazem estaacutegios de

sensibilizaccedilatildeo profissional nas

empresas da comunidade (em

alguns casos dentro da escola

primeiramente e soacute depois na

comunidade) e cabe-me a mim

fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-

mento dos estaacutegios junto das

empresas acolhedoras e tambeacutem

sensibilizar as empresas para

receberem estes alunos o que

por vezes natildeo eacute faacutecil

Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-

no com os pais pois satildeo eles tam-

beacutem intervenientes importantes

neste processo Promovo visitas

reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-

sas

Integro tambeacutem as reuniotildees de

Conselhos de turmas e Departa-

mento de Educaccedilatildeo Especial

No final de cada periacuteodo tenho

tambeacutem de elaborar relatoacuterios do

trabalho desenvolvido com cada

aluno

Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo

em elaboraccedilatildeo de projetos

Eacute importante salientar que tudo eacute

desenvolvido em parceria com os

docentes de educaccedilatildeo especial

que acompanham cada aluno

O trabalho eacute muito diversificado e

por vezes surgem outras tare-

fas eacute difiacutecil estar a descrever

todas mas de uma maneira geral

eacute assim o meu dia-a-dia

Repoacuterter APES - Qual eacute o maior

desafio quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia

Ana - Quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia todos os

dias satildeo um desafio pois satildeo um

10

um puacuteblico muito diversificado

com caracteriacutesticas muito proacute-

prias Eu costumo dizer que para

se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso

gostar o resto vem por acumula-

ccedilatildeo Eacute importante todos os dias

manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute

-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los

sentir que satildeo capazes pois assim

conseguem mais facilmente ultra-

passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-

ta aacuterea por vezes podem ser mui-

to pequenas mas tem o sabor de

grandes conquistas

Eacute preciso um incremento contiacutenuo

de estrateacutegias e procedimentos

que lhes proporcionem mais e

melhores condiccedilotildees de aprendiza-

gemoportunidades de forma

solidaacuteria e cooperativa de manei-

ra a desenvolverem o mais possiacute-

vel as suas competecircncias pessoais

e sociais e a sua autonomia para

que exista uma verdadeira inclu-

satildeo

Por isso o lema eacute paciecircncia e per-

sistecircncia e muito importante

nunca desistir

Repoacuterter APES - Achas que ainda

existem muitos preconceitos por

parte dos profissionais e da socie-

dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-

ciecircncia

Ana - Sim acho apesar de ser

uma situaccedilatildeo que tem vindo a

melhorar nos uacuteltimos anos Cada

vez mais se ouve falar em inclusatildeo

e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da

parte da maioria dos profissionais

e da sociedade em geral no com-

bate ao preconceito e com o direi-

to de igualdade de oportunidades

para as pessoas com deficiecircncia

Mas neste campo existe ainda

muito trabalho a desenvolver

Porque todos noacutes temos precon-

ceitos em maior ou menor grau

O que acontece eacute que alguns dei-

xam extravasar para as suas atitu-

des e magoam as pessoas sem

pensar nas consequecircncias dos

seus atos Outros fazem-no de

uma forma mais dissimulada Mas

felizmente existem pessoas que

conseguem lidar com esse senti-

mento aceitam e respeitam as

diferenccedilas dos outros Temos

cada um de noacutes de combater esse

proacuteprio preconceito em cada con-

tato em cada nova amizade em

cada conversa em cada decisatildeo

dando oportunidades e acreditan-

do no potencial de cada um

Repoacuterter APES - Que conselho

darias aos nossos colegas que

natildeo estatildeo a trabalhar

Ana - O conselho que daria aos

colegas que natildeo estatildeo a trabalhar

na aacuterea eacute que natildeo desistam de

lutar por aquilo em que acredi-

tam Cada vez mais o nosso traba-

lho faz sentido Satildeo mais a cada

dia que passa as pessoas que pre-

cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil

mas com persistecircncia e envolven-

do-nos todos na divulgaccedilatildeo da

nossa profissatildeo havemos de con-

seguir ir cada vez mais longe

Repoacuterter APES - Obrigada Ana

foi um prazer entrevistar-te

Ana - Foi com muito gosto que

participei nesta entrevista onde

tentei mostrar um pouco do meu

trabalho que ADORO Espero ter

conseguido transmitir um pouco

do meu dia-a-dia aos colegas que

nunca trabalharam na aacuterea Dese-

jo a todos a continuaccedilatildeo de um

bom trabalho para os que natildeo

estatildeo na aacuterea que a oportunidade

chegue depressa para que pos-

sam mostrar os bons profissionais

que satildeo e continuarem a dignificar

a nossa profissatildeo

Todos juntos faremos a diferenccedila

11

Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila

Siacutelvia Franco

Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-

cesso em que abraccedilamos a oportu-

nidade de ensinar bem como a de

aprender Ensinar e aprender com

aqueles que nos rodeiam e com os

que se cruzam no nosso caminho

com os que satildeo chamados de pro-

fessores mas tambeacutem com os alu-

nos os agricultores os mecacircnicos

os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-

gos os historiadoreshellip com todos

independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo

que a sociedade lhes coloca

Da minha passagem por diferentes

contextos educativos aprendi a

valorizar o que chamo de diversi-

dade dialogante (Franco 2013)

bem como a abertura para a mes-

ma Na minha passagem por uma

licenciatura intercultural indiacutegena

no Brasil pude presenciar um pro-

cesso dialoacutegico construiacutedo por

todos os envolvidos e interessados

Neste processo as opiniotildees e

desejos dos alunos e da comunida-

de eram valorizados e parte funda-

mental no desenvolvimento do

curriacuteculo bem como no decurso de

todas as etapas do curso para as

quais era solicitada a presenccedila de

membros das comunidades indiacutege-

nas locais enquanto especialistas

em determinadas mateacuterias ou

seja na sua proacutepria cultura Bus-

cava-se diariamente uma escola

reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual

todos se sentissem responsaacuteveis

pelo sucesso pessoal e coletivo

pois a concretizaccedilatildeo deste curso

era jaacute uma vitoacuteria

Enquanto investigadora do Projeto

Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se

desenvolve na Costa de Caparica

tenho podido vivenciar reflexos

dessa mesma diversidade dialo-

gante O Projeto Fronteiras Urba-

nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-

cando a voz de trecircs comunidades

Comunidade Bairro Comunidade

Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-

ca Estas comunidades uniram-se

pela histoacuteria partilhada com o

intuito de buscar a visibilidade

para comunidades invisiacuteveis aos

olhos de entidades poliacuteticas e

sociais

Cada comunidade tinha agrave partida

um objetivo primordial e um obje-

tivo coletivo O objetivo coletivo

que une estas trecircs comunidades

centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute

cada comunidade isto eacute na diver-

sidade dialogante que une trecircs

comunidades nas lutas de cada

uma

A Comunidade Bairro luta haacute mais

de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais

perto das suas casas uma vez que

tecircm de fazer um percurso de dois

quiloacutemetros (ida e volta) por cami-

nhos acidentados para recolher

numa bica aacutegua para as suas roti-

nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-

ria debate-se com as crescentes

proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas

sem que as vozes dos pescadores

que compotildeem a comunidade

sejam ouvidas e a Comunidade

Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo

Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o

diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o

aprendiz e o aprendiz eacute o profes-

sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)

Numa primeira etapa foram dese-

nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo

Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-

rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-

ria segundo os desejos dos mem-

bros das comunidades No desen-

volvimento destas tarefas procu-

12

raacutemos ter em mente as palavras de

Paulo Freire

natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os

que querem a pronuacutencia do mundo

e os que natildeo a querem entre os

que negam aos demais o direito de

dizer a palavra e os que se acham

negados deste direito Eacute preciso

primeiro que os que assim se

encontram negados no direito pri-

mordial de dizer a palavra recon-

quistem esse direito proibindo que

este assalto desumanizante conti-

nue (Freire 2008 91)

Em consciecircncia de que o envolvi-

mento dos indiviacuteduos na luta pela

sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por

ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-

cionalidade na medida em que

desafiados por ela agem sobre

elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos

deparando com momentos enri-

quecedores de partilha de conheci-

mentos e accedilatildeo sobre o seu meio

implementando diaacutelogos com insti-

tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-

vas reforccedilando os seus desejos e

direitos

Estes movimentos possibilitaram o

regresso de vaacuterios jovens a contex-

tos escolares a eleiccedilatildeo de uma

comissatildeo de moradores a partici-

paccedilatildeo de membros das trecircs comu-

nidades em eventos de dissemina-

ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual

movimento Escola do Bairro Nesta

escola criam-se espaccedilos e tempos

para a diversidade dialogante

numa dinacircmica de partilha onde

um membro da Comunidade Bair-

ro de naturalidade cabo-verdiana

ensina kriolu a outros moradores e

a amigos interessados das outras

duas comunidades ou que se apro-

ximaram deste movimento Da

mesma forma satildeo recebidas pes-

soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e

outras disciplinas para partilharem

os seus conhecimentos fazendo-se

um intercacircmbio de conhecimentos

e praacuteticas

Eacute no sentido desta Escola do Bairro

que falo em ldquoeducar com a dife-

renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute

importante educar para a diferen-

ccedila para nos conscientizarmos de

que satildeo as diferenccedilas que nos tor-

nam todos iguais Contudo consi-

dero que a essecircncia da educaccedilatildeo

estaraacute essencialmente em educar

com aprender com fazer comhellip

Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)

13

Referecircncias

Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre

Artmed Editora

Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de

Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-

cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http

hdlhandlenet104518118

Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra

TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from

httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY

Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)

14

Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu

Sofia Aurora Santos

Mestre em Educaccedilatildeo Social

ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-

ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os

ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor

mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo

ldquoSatildeo uma cambada de bandidos

tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o

Rendimento aos ciganosrdquo etc

etc etc Estas satildeo algumas das

expressotildees que oiccedilo constante-

mente sobre os ciganos e certa-

mente satildeo familiares a muitas pes-

soas O desconhecimento das tra-

diccedilotildees e costumes dos ciganos

reforccedila a ignoracircncia da maioria

que se acha superior A compreen-

satildeo e o conhecimento satildeo impor-

tantes no processo de integraccedilatildeo

do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas

fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser

motivo de exclusatildeo social

Estas expressotildees natildeo satildeo funda-

mentadas nem dignas de respeito

por quem as diz Foram pensamen-

tos expressotildees e comportamentos

deste tipo que um senhor chama-

do Adolfo Hitler fez o que fez

durante a 2ordf Guerra Mundial pen-

so que natildeo seja necessaacuterio descre-

ver mas vale a pena parar para

refletir e ver que infelizmente o

neonazismo estaacute a aparecer na

Europa Prova disso eacute o que se pas-

sa atualmente na Hungria que foi

o primeiro Estado-membro da

Uniatildeo Europeia a ser acusado de

violar os valores europeus e como

consequecircncia a Comissatildeo Europeia

suspendeu todas as negociaccedilotildees

com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-

nha o Estado de Direito

Atos impensaacuteveis incontrolados

desumanos satildeo todos os dias pra-

ticados contra os ciganos e outros

grupos eacutetnicos em todo o mundo

mas o grupo dos ciganos eacute o mais

sacrificado Mas porquecirc os ciga-

nos Eacute esta a questatildeo para a qual

tento obter uma resposta haacute mui-

tos anos e certamente estaacute longe

de ser respondida

Foi principalmente devido a um

comentaacuterio racista vindo de um

membro da autarquia farense em

2007 (em contexto de estaacutegio da

licenciatura) que comeccedilou a minha

luta mais vincada pelos direitos

humanos dos ciganos

Desde muito jovem que tenho um

espiacuterito humanitaacuterio e lutador a

favor dos direitos humanos A

minha adolescecircncia no Corpo

Nacional de Escutas (CNE) fez-me

despertar para ajudar o proacuteximo

os que mais precisam e a respeitar

a Natureza e a Pacha Mama

(Terra)

A escolha do curso de Educaccedilatildeo

Social foi faacutecil faze-lo foi simples

praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os

obstaacuteculos encontrados na socie-

dade para se poder trabalhar a

diferenccedila entre grupos e pessoas

O Educador Social tem de ter uma

grande capacidade de adaptaccedilatildeo

aos contextos e aos seus protago-

nistas Deve saber muito bem o

que quer e para onde quer ir ou

seja traccedilar e definir objetivos Tra-

balhar no que se gosta ajuda a con-

tribuir para a felicidade natildeo soacute a

proacutepria mas tambeacutem a dos outros

Assim prossigo o meu caminho

pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os

objetivos e enquanto natildeo os reali-

zo natildeo descanso

Nesta minha aventura pelo

ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer

15

que um dos momentos mais mar-

cante da minha vida foi a visita ao

Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-

witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir

cheirar tocar e imaginar tudo o

que laacute se passou foi muito intenso

Momento inexplicaacutevel Acho que

qualquer pessoa que visite este

local certamente vai mudar a sua

opiniatildeo e comportamento acerca

da luta pelos direitos humanos

A experiecircncia em intercacircmbios e

formaccedilotildees internacionais foram

dos momentos mais interessantes

e importantes para adquirir conhe-

cimento e partilhar experiecircncias

com outros ativistas ciganos e natildeo

ciganos sobre os direitos humanos

Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de

risco (viacutetimas de violecircncia domesti-

ca sem-abrigo crianccedilas com

necessidade educativas especiais

etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-

nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute

faacutecil falar sobre os ciganos mas

ainda eacute mais difiacutecil falar com as

pessoas natildeo ciganas O sentimento

de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-

te quando se fala com os ciganos

todos tecircm uma experiecircncia discri-

minatoacuteria para contar

A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-

rencia nem reconhece politicamen-

te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes

ou seja do ponto de vista juriacutedico

e poliacutetico natildeo existem ciganos

Atualmente trabalhar com ciganos

estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-

do ou porque ldquovem ai dinheirordquo

para fazer projetos para os ciga-

nos De repente desperta-se a

ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-

ccedilotildees para os pro-

blemas do grupo

eacutetnico Um dos

meacutetodos que tecircm

vindo a ser experi-

mentados no senti-

do da promoccedilatildeo da

integraccedilatildeo deste

grupo tem sido a

execuccedilatildeo de proje-

tos nacionais eou

internacionais com

intervenccedilotildees no

terreno que permi-

tam produzir

conhecimento

acerca dos seus

modos de vida Na

sua maioria os pro-

jetos natildeo satildeo do

conhecimento dos

ciganos e muitas vezes natildeo corres-

pondem agraves necessidades das popu-

laccedilotildees Os principais problemas

que afetam grande parte dos por-

tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees

ao niacutevel educativo e habitacional o

desemprego a inserccedilatildeo no merca-

do de trabalho a pobreza a exclu-

satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-

naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo

Em Faro no bairro da Av Cidade

Hayward no bairro da Horta da

Areia e noutros perifeacutericos estaacute

concentrada uma parte da pobreza

e da exclusatildeo social da cidade o

que tem suscitado a intervenccedilatildeo

de projetos de luta contra a pobre-

za maioritariamente financiados

por fundos europeus Todos estes

contextos se caracterizam por uma

forte desqualificaccedilatildeo territorial e

social reconhecida poliacutetica e

socialmente Contudo normal-

mente estes projetos satildeo de cara-

ter experimental e satildeo limitados

no tempo e no espaccedilo pelo que

natildeo originam mudanccedilas estruturais

nem permitem obter muitos resul-

tados positivos na integraccedilatildeo dos

ciganos

A integraccedilatildeo social dos ciganos

tem vindo a constituir-se como um

verdadeiro imperativo na socieda-

de contemporacircnea O resultado

desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-

ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da

Comissatildeo Europeia (em 2012) o

Quadro europeu para as estrateacute-

gias nacionais para a integraccedilatildeo

dos ciganos que se prevecirc melhorar

a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos

ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 5: Bolhetim educação social   janeiro 2014

5

Nova Equipa APES No passado dia 14 de Dezembro de 2013 foram eleitos os novos oacutergatildeos sociais da APES As lis-tas vencedoras tomaram posse no dia 12 de Janeiro de 2014 Desejamos a todos um bom tra-balho

Mesa da Assembleia Geral

Presidente - Clara Inaacutecio Vice Presidente - Maacutercio

Rodrigues Secretaacuteria - Sofia Santos Suplente - Andreacute Santos

Direccedilatildeo

Presidente - Sandra Afonso Vice Presidente - Ruben

Amorim Tesoureira - Joana Oliveira

Secretaacuteria - Caacutetia Vaz Vogal - Ivacircnia Alexandre Suplentes - Siacutelvia Lopes

Vera Soares Marlene Borges

Ana Mendes

Conselho Fiscal

Presidente - Daacuterio Gomes Secretaacuteria - Joana Botas

Relatora - Ana Raquel Vau Suplentes - Maria do Ceacuteu

Ferreira Ana Maggiolly

Marta Carvalho

6

V Encontro dos Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social

Chegou o ansiado dia 16 de

Novembro de 2013 marcado pelo

V Encontro dos Teacutecnicos Superio-

res de Educaccedilatildeo Social Depois de

Lisboa Algarve Leiria e Lisboa

novamente eacute chegada a vez da

cidade Invicta ndash o Porto

Este Encontro fica inevitavelmen-

te marcado pelo iniacutecio da venda e

entrega das agendas da APES -

Associaccedilatildeo Promotora da Educa-

ccedilatildeo Social mais uma atividade

que tem sido um marco no per-

curso e na divulgaccedilatildeo desta pro-

fissatildeo

Natildeo podiacuteamos estar mais felizes

pelo grande caminho percorrido

ateacute aos dias de hoje E este dia eacute

mais o culminar de muito traba-

lho Agradecemos desde jaacute a

todos os que connosco tecircm cola-

borado e nos tecircm ajudado nas

accedilotildees realizadas Desta vez ende-

reccedilamos um especial agradeci-

mento agrave Universidade Catoacutelica

que nos acolheu neste evento

O dia iniciou-se com as boas-

vindas a todos os presentes na

voz da presidente da APES a cole-

ga Sandra Afonso feliz pela pla-

teia recheada e agrave qual se seguiu o

Professor Ruacuteben Cabral

Passaacutemos entatildeo ao primeiro pai-

nel do Encontro moderado pela

colega Raquel Vau e dando a

palavra ao Professor Adalberto

Dias de Carvalho que captou des-

de o iniacutecio a atenccedilatildeo da plateia

Posteriormente chegou a vez da

Professora Soacutenia Galinha que per-

correu tantos quiloacutemetros para

estar connosco neste dia Seguiu-

se Moacutenica Mesquita que muito

bem se fez acompanhar pelo Dur-

val Carvalho e pelo Sr Liacutedio Gali-

nho que trouxeram testemunhos

na primeira pessoa de uma dura

realidade de duas comunidades

Comunidade Bairro e Comunidade

Piscatoacuteria da Costa da Caparica

explicitando a dificuldade no aces-

so agrave Aacutegua

Ainda na parte da manhatilde mas jaacute

depois do coffee break deu-se

iniacutecio ao segundo painel de orado-

res iniciado pelo colega Honoreacute

Gregorius membro da Associaccedilatildeo

Internacional de Educadores

Sociais (AIEJI) bem como de

outras associaccedilotildees que nos trans-

mitiu a sua praacutetica no Luxembur-

go Esta presenccedila estreitou os

laccedilos da APES com outras Associa-

ccedilotildees Internacionais ajudando a

unir esforccedilos e perceber a Educa-

ccedilatildeo Social no Mundo O modera-

dor deste painel o Professor Jor-

ge Lemos passou a palavra a

Cindy Vaz que nos falou de Peda-

gogia Social e Intervenccedilatildeo Socio-

comunitaacuteria referenciado a sua

experiecircncia profissional na Trofa

Terminada a nossa manhatilde realiza-

mos uma pausa para almoccedilo de

modo a repor as energias gastas e

tempo de partilha entre colegas

A parte da tarde iniciou com o

terceiro painel composto pelos

Professores Jaime Santos Jorge

Lemos Jorge Serrano e Anabela

Correia apresentando a Poacutes-

graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Social e

Desenvolvimento Comunitaacuterio

que como foi explicado visa criar

um espaccedilo privilegiado de apoio

teoacuterico metodoloacutegico e praacutetico ao

desenvolvimento de saberes e de

competecircncias de profissionais

envolvidos em processos de

desenvolvimento comunitaacuterio

7

bem como dar uma contribuiccedilatildeo

relevante para um maior desen-

volvimento da atitude investigati-

va e reflexiva dos atores nestes

processos Os oradores explicita-

ram ainda algumas temaacuteticas

que seratildeo abordadas

Apoacutes o coffee break da tarde o

quarto e uacuteltimo painel foi iniciado

Depois das apresentaccedilotildees efetua-

das pelo moderador Maacutercio Rodri-

gues o painel seguiu com a apre-

sentaccedilatildeo conjunta de Evaniza

Vieira e Siacutelvia Lopes que aborda-

ram a temaacutetica da ldquoEducaccedilatildeo

Social na Rede de Cuidados Conti-

nuadosrdquo cuja missatildeo eacute a Promo-

ccedilatildeo da autonomia e melhoria da

funcionalidade da pessoa em

situaccedilatildeo de dependecircncia atraveacutes

da reabilitaccedilatildeo readaptaccedilatildeo e

reinserccedilatildeo familiar e social As

oradoras explicitaram e insistiram

no papel importante que enquan-

to profissionais podemos desem-

penhar nesta aacuterea Tivemos de

seguida a apresentaccedilatildeo de Jorge

Rosado ou como prefere ser tra-

tado o Dr Risotto que nos apre-

sentou o projeto Palhaccedilos drsquoOpi-

tal que tem como principal obje-

tivo implementar um programa de

intervenccedilatildeo dentro dos hospitais

da regiatildeo centro atraveacutes da visita

de palhaccedilos profissionais e com

formaccedilatildeo especiacutefica nesta aacuterea

com foco essencial no Idoso Com

a sua apresentaccedilatildeo este palhaccedilo

(como o afirma com orgulho)

levou-nos a encarar o termo

palhaccedilo e o proacuteprio exerciacutecio des-

ta funccedilatildeo de uma outra forma

Posteriormente a Professora Isa-

bel Batista falou-nos da luta jaacute

percorrida pela Educaccedilatildeo Social

ao longo destes anos uma aacuterea

em que a proacutepria indica como

sendo sua Ressalvou tambeacutem a

importacircncia do contacto com

outras Associaccedilotildees Internacionais

Terminou-se este V Encontro com

duas intervenccedilotildees muito interes-

santes O Projeto Transformers eacute

um programa de voluntariado que

mobiliza mentores de todos os

desportos artes e atividades para

orientar jovens a encontrar no seu

superpoder uma forma de expri-

mir e intervir positivamente na

comunidade A apresentaccedilatildeo final

foi realizada pelo grupo de danccedila

da Academia Reacutegia Porque a dan-

ccedila aleacutem de ser uma arte permite

a criaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais sen-

do utilizada muitas vezes como

meio da Educaccedilatildeo Social

E foi assim que encerraacutemos

levando para casa novas aprendi-

zagens novas perspetivas novas

partilhas e novas amizades

8

Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social

Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-

da por teres aceite ser a entrevis-

tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana

Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos

Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo

com base na compreensatildeo e con-

fianccedila gosto de me envolver nas

suas atividades e procuro dar-lhes

o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes

natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos

um casal de geacutemeos e na fase da

adolescecircncia ehehhellip a mais velha

jaacute se encontra encaminhada traba-

lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-

ra em animaccedilatildeo sociocultural mas

continua sempre a procurar o meu

apoio

Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-

prios mas vou tentar Sou uma

pessoa alegre comunicativa e bas-

tante dedicada em tudo o que me

proponho a fazer Entendo que a

empatia que criamos com os

outros eacute muito importante para

desenvolver com sucesso todas as

nossas atividades principalmente

as que envolvem pessoas

Eacute com este lema que me proponho

a cumprir aquilo a que chamo mis-

satildeo

Repoacuterter APES - Quando e porque

eacute que decidiste ser uma

educadora social

Ana - Sempre fui boa alu-

na e muito assiacutedua mas

na minha adolescecircncia

decidi comeccedilar a traba-

lhar Mais tarde senti necessidade

de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e

assim decidi voltar aos estudos por

considerar que o estudo e a

empregabilidade caminham juntos

Desde 1992 que trabalho na aacuterea

da deficiecircncia achei que podia

fazer muito mais por esta popula-

ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute

cerca de 10 anos a voltar a estudar

agrave noite e de seguida fui tirar a

minha licenciatura como forma de

ir ao encontro da minha opccedilatildeo

profissional Tirei Educaccedilatildeo Social

na Escola Superior de Educaccedilatildeo de

Santareacutem com meacutedia de 12 valo-

res que me orgulho muito pois

sendo matildee de trecircs filhos trabalhar

e estudar soacute conseguindo ir agrave

faculdade uma manhatilde por semana

por motivos profissionais foi para

mim uma grande vitoacuteria e um

motivo de orgulho Continuo a

fazer sempre que posso forma-

ccedilotildees a participar em eventos con-

gressos seminaacuterios e cursos liga-

dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de

manter atualizados os meus

conhecimentos aproveito para

estreitar relacionamento com pro-

fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-

da facilita a administraccedilatildeo do dia-a

-dia na troca de experiecircncias

Repoacuterter APES - Podes falar-nos

um pouco do teu trabalho

Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991

Comecei como auxiliar passando

depois a monitora onde era res-

ponsaacutevel por um grupo de utentes

com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo

e orientaccedilatildeo do grupo

Desde 2008 que integrei o CRI- -

Centro de Recursos para Inclusatildeo

da Cercipoacutevoa que presta apoio

teacutecnico em vaacuterios agrupamentos

de escolas

As minhas funccedilotildees satildeo variadas

dependendo de cada agrupamen-

9

mentohellip Vou tentar dar uma ideia

das mesmas

Trabalho integrada no departa-

mento de educaccedilatildeo especial com

os alunos com necessidades edu-

cativas especiais Como sabem

estes alunos tem necessidades

diferentes dos outros alunos e

assim temos de ajudar na sua

integraccedilatildeo na sociedade por isso

eacute importante comeccedilar a fazer a

sua preparaccedilatildeo para a vida ativa

Consoante as caracteriacutesticas de

cada um oriento o seu encami-

nhamento para formaccedilatildeo profis-

sional para o Cao- Centro de Ati-

vidades Ocupacionais para pro-

gramas de voluntariado etc

Trabalho tambeacutem ao niacutevel do

desenvolvimento de competecircn-

cias pessoais e sociais a parte da

comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-

ccedilatildeo de problemas assertividade

emoccedilotildees etc aacuterea onde por

vezes tecircm muitas dificulda-

des Como pretendemos que

sejam o mais autoacutenomos possiacute-

veis faccedilo apoio direto na aacuterea

casacomunidade onde faccedilo trei-

nos de autonomia na comunida-

de como por exemplo ir agraves com-

pras saber para que servem e

como utilizar os serviccedilos puacuteblicos

da comunidade (correios banco

junta de freguesia etc) em casa

ao niacutevel da sua independecircncia

pessoal vestirdespir sozinhos

tarefas em casa etc tudo isto

aplicado em contexto real ao

niacutevel dos transportes puacuteblicos

treino trajetos consoante as suas

necessidades de deslocaccedilatildeo para

que num futuro o possam fazer

com autonomia por exemplo

para o seu local de trabalho

Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo

dos PEI ndash Programa Educativo

Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-

co Individual PIT- Plano Indivi-

dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-

mentos onde eacute registado o traba-

lho a desenvolver com estes alu-

nos

Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano

Individual de Transiccedilatildeo pretende-

se preparar os alunos para a vida

poacutes-escolar Fazem estaacutegios de

sensibilizaccedilatildeo profissional nas

empresas da comunidade (em

alguns casos dentro da escola

primeiramente e soacute depois na

comunidade) e cabe-me a mim

fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-

mento dos estaacutegios junto das

empresas acolhedoras e tambeacutem

sensibilizar as empresas para

receberem estes alunos o que

por vezes natildeo eacute faacutecil

Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-

no com os pais pois satildeo eles tam-

beacutem intervenientes importantes

neste processo Promovo visitas

reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-

sas

Integro tambeacutem as reuniotildees de

Conselhos de turmas e Departa-

mento de Educaccedilatildeo Especial

No final de cada periacuteodo tenho

tambeacutem de elaborar relatoacuterios do

trabalho desenvolvido com cada

aluno

Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo

em elaboraccedilatildeo de projetos

Eacute importante salientar que tudo eacute

desenvolvido em parceria com os

docentes de educaccedilatildeo especial

que acompanham cada aluno

O trabalho eacute muito diversificado e

por vezes surgem outras tare-

fas eacute difiacutecil estar a descrever

todas mas de uma maneira geral

eacute assim o meu dia-a-dia

Repoacuterter APES - Qual eacute o maior

desafio quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia

Ana - Quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia todos os

dias satildeo um desafio pois satildeo um

10

um puacuteblico muito diversificado

com caracteriacutesticas muito proacute-

prias Eu costumo dizer que para

se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso

gostar o resto vem por acumula-

ccedilatildeo Eacute importante todos os dias

manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute

-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los

sentir que satildeo capazes pois assim

conseguem mais facilmente ultra-

passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-

ta aacuterea por vezes podem ser mui-

to pequenas mas tem o sabor de

grandes conquistas

Eacute preciso um incremento contiacutenuo

de estrateacutegias e procedimentos

que lhes proporcionem mais e

melhores condiccedilotildees de aprendiza-

gemoportunidades de forma

solidaacuteria e cooperativa de manei-

ra a desenvolverem o mais possiacute-

vel as suas competecircncias pessoais

e sociais e a sua autonomia para

que exista uma verdadeira inclu-

satildeo

Por isso o lema eacute paciecircncia e per-

sistecircncia e muito importante

nunca desistir

Repoacuterter APES - Achas que ainda

existem muitos preconceitos por

parte dos profissionais e da socie-

dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-

ciecircncia

Ana - Sim acho apesar de ser

uma situaccedilatildeo que tem vindo a

melhorar nos uacuteltimos anos Cada

vez mais se ouve falar em inclusatildeo

e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da

parte da maioria dos profissionais

e da sociedade em geral no com-

bate ao preconceito e com o direi-

to de igualdade de oportunidades

para as pessoas com deficiecircncia

Mas neste campo existe ainda

muito trabalho a desenvolver

Porque todos noacutes temos precon-

ceitos em maior ou menor grau

O que acontece eacute que alguns dei-

xam extravasar para as suas atitu-

des e magoam as pessoas sem

pensar nas consequecircncias dos

seus atos Outros fazem-no de

uma forma mais dissimulada Mas

felizmente existem pessoas que

conseguem lidar com esse senti-

mento aceitam e respeitam as

diferenccedilas dos outros Temos

cada um de noacutes de combater esse

proacuteprio preconceito em cada con-

tato em cada nova amizade em

cada conversa em cada decisatildeo

dando oportunidades e acreditan-

do no potencial de cada um

Repoacuterter APES - Que conselho

darias aos nossos colegas que

natildeo estatildeo a trabalhar

Ana - O conselho que daria aos

colegas que natildeo estatildeo a trabalhar

na aacuterea eacute que natildeo desistam de

lutar por aquilo em que acredi-

tam Cada vez mais o nosso traba-

lho faz sentido Satildeo mais a cada

dia que passa as pessoas que pre-

cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil

mas com persistecircncia e envolven-

do-nos todos na divulgaccedilatildeo da

nossa profissatildeo havemos de con-

seguir ir cada vez mais longe

Repoacuterter APES - Obrigada Ana

foi um prazer entrevistar-te

Ana - Foi com muito gosto que

participei nesta entrevista onde

tentei mostrar um pouco do meu

trabalho que ADORO Espero ter

conseguido transmitir um pouco

do meu dia-a-dia aos colegas que

nunca trabalharam na aacuterea Dese-

jo a todos a continuaccedilatildeo de um

bom trabalho para os que natildeo

estatildeo na aacuterea que a oportunidade

chegue depressa para que pos-

sam mostrar os bons profissionais

que satildeo e continuarem a dignificar

a nossa profissatildeo

Todos juntos faremos a diferenccedila

11

Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila

Siacutelvia Franco

Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-

cesso em que abraccedilamos a oportu-

nidade de ensinar bem como a de

aprender Ensinar e aprender com

aqueles que nos rodeiam e com os

que se cruzam no nosso caminho

com os que satildeo chamados de pro-

fessores mas tambeacutem com os alu-

nos os agricultores os mecacircnicos

os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-

gos os historiadoreshellip com todos

independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo

que a sociedade lhes coloca

Da minha passagem por diferentes

contextos educativos aprendi a

valorizar o que chamo de diversi-

dade dialogante (Franco 2013)

bem como a abertura para a mes-

ma Na minha passagem por uma

licenciatura intercultural indiacutegena

no Brasil pude presenciar um pro-

cesso dialoacutegico construiacutedo por

todos os envolvidos e interessados

Neste processo as opiniotildees e

desejos dos alunos e da comunida-

de eram valorizados e parte funda-

mental no desenvolvimento do

curriacuteculo bem como no decurso de

todas as etapas do curso para as

quais era solicitada a presenccedila de

membros das comunidades indiacutege-

nas locais enquanto especialistas

em determinadas mateacuterias ou

seja na sua proacutepria cultura Bus-

cava-se diariamente uma escola

reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual

todos se sentissem responsaacuteveis

pelo sucesso pessoal e coletivo

pois a concretizaccedilatildeo deste curso

era jaacute uma vitoacuteria

Enquanto investigadora do Projeto

Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se

desenvolve na Costa de Caparica

tenho podido vivenciar reflexos

dessa mesma diversidade dialo-

gante O Projeto Fronteiras Urba-

nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-

cando a voz de trecircs comunidades

Comunidade Bairro Comunidade

Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-

ca Estas comunidades uniram-se

pela histoacuteria partilhada com o

intuito de buscar a visibilidade

para comunidades invisiacuteveis aos

olhos de entidades poliacuteticas e

sociais

Cada comunidade tinha agrave partida

um objetivo primordial e um obje-

tivo coletivo O objetivo coletivo

que une estas trecircs comunidades

centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute

cada comunidade isto eacute na diver-

sidade dialogante que une trecircs

comunidades nas lutas de cada

uma

A Comunidade Bairro luta haacute mais

de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais

perto das suas casas uma vez que

tecircm de fazer um percurso de dois

quiloacutemetros (ida e volta) por cami-

nhos acidentados para recolher

numa bica aacutegua para as suas roti-

nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-

ria debate-se com as crescentes

proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas

sem que as vozes dos pescadores

que compotildeem a comunidade

sejam ouvidas e a Comunidade

Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo

Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o

diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o

aprendiz e o aprendiz eacute o profes-

sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)

Numa primeira etapa foram dese-

nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo

Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-

rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-

ria segundo os desejos dos mem-

bros das comunidades No desen-

volvimento destas tarefas procu-

12

raacutemos ter em mente as palavras de

Paulo Freire

natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os

que querem a pronuacutencia do mundo

e os que natildeo a querem entre os

que negam aos demais o direito de

dizer a palavra e os que se acham

negados deste direito Eacute preciso

primeiro que os que assim se

encontram negados no direito pri-

mordial de dizer a palavra recon-

quistem esse direito proibindo que

este assalto desumanizante conti-

nue (Freire 2008 91)

Em consciecircncia de que o envolvi-

mento dos indiviacuteduos na luta pela

sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por

ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-

cionalidade na medida em que

desafiados por ela agem sobre

elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos

deparando com momentos enri-

quecedores de partilha de conheci-

mentos e accedilatildeo sobre o seu meio

implementando diaacutelogos com insti-

tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-

vas reforccedilando os seus desejos e

direitos

Estes movimentos possibilitaram o

regresso de vaacuterios jovens a contex-

tos escolares a eleiccedilatildeo de uma

comissatildeo de moradores a partici-

paccedilatildeo de membros das trecircs comu-

nidades em eventos de dissemina-

ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual

movimento Escola do Bairro Nesta

escola criam-se espaccedilos e tempos

para a diversidade dialogante

numa dinacircmica de partilha onde

um membro da Comunidade Bair-

ro de naturalidade cabo-verdiana

ensina kriolu a outros moradores e

a amigos interessados das outras

duas comunidades ou que se apro-

ximaram deste movimento Da

mesma forma satildeo recebidas pes-

soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e

outras disciplinas para partilharem

os seus conhecimentos fazendo-se

um intercacircmbio de conhecimentos

e praacuteticas

Eacute no sentido desta Escola do Bairro

que falo em ldquoeducar com a dife-

renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute

importante educar para a diferen-

ccedila para nos conscientizarmos de

que satildeo as diferenccedilas que nos tor-

nam todos iguais Contudo consi-

dero que a essecircncia da educaccedilatildeo

estaraacute essencialmente em educar

com aprender com fazer comhellip

Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)

13

Referecircncias

Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre

Artmed Editora

Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de

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hdlhandlenet104518118

Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra

TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from

httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY

Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)

14

Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu

Sofia Aurora Santos

Mestre em Educaccedilatildeo Social

ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-

ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os

ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor

mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo

ldquoSatildeo uma cambada de bandidos

tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o

Rendimento aos ciganosrdquo etc

etc etc Estas satildeo algumas das

expressotildees que oiccedilo constante-

mente sobre os ciganos e certa-

mente satildeo familiares a muitas pes-

soas O desconhecimento das tra-

diccedilotildees e costumes dos ciganos

reforccedila a ignoracircncia da maioria

que se acha superior A compreen-

satildeo e o conhecimento satildeo impor-

tantes no processo de integraccedilatildeo

do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas

fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser

motivo de exclusatildeo social

Estas expressotildees natildeo satildeo funda-

mentadas nem dignas de respeito

por quem as diz Foram pensamen-

tos expressotildees e comportamentos

deste tipo que um senhor chama-

do Adolfo Hitler fez o que fez

durante a 2ordf Guerra Mundial pen-

so que natildeo seja necessaacuterio descre-

ver mas vale a pena parar para

refletir e ver que infelizmente o

neonazismo estaacute a aparecer na

Europa Prova disso eacute o que se pas-

sa atualmente na Hungria que foi

o primeiro Estado-membro da

Uniatildeo Europeia a ser acusado de

violar os valores europeus e como

consequecircncia a Comissatildeo Europeia

suspendeu todas as negociaccedilotildees

com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-

nha o Estado de Direito

Atos impensaacuteveis incontrolados

desumanos satildeo todos os dias pra-

ticados contra os ciganos e outros

grupos eacutetnicos em todo o mundo

mas o grupo dos ciganos eacute o mais

sacrificado Mas porquecirc os ciga-

nos Eacute esta a questatildeo para a qual

tento obter uma resposta haacute mui-

tos anos e certamente estaacute longe

de ser respondida

Foi principalmente devido a um

comentaacuterio racista vindo de um

membro da autarquia farense em

2007 (em contexto de estaacutegio da

licenciatura) que comeccedilou a minha

luta mais vincada pelos direitos

humanos dos ciganos

Desde muito jovem que tenho um

espiacuterito humanitaacuterio e lutador a

favor dos direitos humanos A

minha adolescecircncia no Corpo

Nacional de Escutas (CNE) fez-me

despertar para ajudar o proacuteximo

os que mais precisam e a respeitar

a Natureza e a Pacha Mama

(Terra)

A escolha do curso de Educaccedilatildeo

Social foi faacutecil faze-lo foi simples

praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os

obstaacuteculos encontrados na socie-

dade para se poder trabalhar a

diferenccedila entre grupos e pessoas

O Educador Social tem de ter uma

grande capacidade de adaptaccedilatildeo

aos contextos e aos seus protago-

nistas Deve saber muito bem o

que quer e para onde quer ir ou

seja traccedilar e definir objetivos Tra-

balhar no que se gosta ajuda a con-

tribuir para a felicidade natildeo soacute a

proacutepria mas tambeacutem a dos outros

Assim prossigo o meu caminho

pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os

objetivos e enquanto natildeo os reali-

zo natildeo descanso

Nesta minha aventura pelo

ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer

15

que um dos momentos mais mar-

cante da minha vida foi a visita ao

Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-

witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir

cheirar tocar e imaginar tudo o

que laacute se passou foi muito intenso

Momento inexplicaacutevel Acho que

qualquer pessoa que visite este

local certamente vai mudar a sua

opiniatildeo e comportamento acerca

da luta pelos direitos humanos

A experiecircncia em intercacircmbios e

formaccedilotildees internacionais foram

dos momentos mais interessantes

e importantes para adquirir conhe-

cimento e partilhar experiecircncias

com outros ativistas ciganos e natildeo

ciganos sobre os direitos humanos

Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de

risco (viacutetimas de violecircncia domesti-

ca sem-abrigo crianccedilas com

necessidade educativas especiais

etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-

nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute

faacutecil falar sobre os ciganos mas

ainda eacute mais difiacutecil falar com as

pessoas natildeo ciganas O sentimento

de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-

te quando se fala com os ciganos

todos tecircm uma experiecircncia discri-

minatoacuteria para contar

A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-

rencia nem reconhece politicamen-

te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes

ou seja do ponto de vista juriacutedico

e poliacutetico natildeo existem ciganos

Atualmente trabalhar com ciganos

estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-

do ou porque ldquovem ai dinheirordquo

para fazer projetos para os ciga-

nos De repente desperta-se a

ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-

ccedilotildees para os pro-

blemas do grupo

eacutetnico Um dos

meacutetodos que tecircm

vindo a ser experi-

mentados no senti-

do da promoccedilatildeo da

integraccedilatildeo deste

grupo tem sido a

execuccedilatildeo de proje-

tos nacionais eou

internacionais com

intervenccedilotildees no

terreno que permi-

tam produzir

conhecimento

acerca dos seus

modos de vida Na

sua maioria os pro-

jetos natildeo satildeo do

conhecimento dos

ciganos e muitas vezes natildeo corres-

pondem agraves necessidades das popu-

laccedilotildees Os principais problemas

que afetam grande parte dos por-

tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees

ao niacutevel educativo e habitacional o

desemprego a inserccedilatildeo no merca-

do de trabalho a pobreza a exclu-

satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-

naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo

Em Faro no bairro da Av Cidade

Hayward no bairro da Horta da

Areia e noutros perifeacutericos estaacute

concentrada uma parte da pobreza

e da exclusatildeo social da cidade o

que tem suscitado a intervenccedilatildeo

de projetos de luta contra a pobre-

za maioritariamente financiados

por fundos europeus Todos estes

contextos se caracterizam por uma

forte desqualificaccedilatildeo territorial e

social reconhecida poliacutetica e

socialmente Contudo normal-

mente estes projetos satildeo de cara-

ter experimental e satildeo limitados

no tempo e no espaccedilo pelo que

natildeo originam mudanccedilas estruturais

nem permitem obter muitos resul-

tados positivos na integraccedilatildeo dos

ciganos

A integraccedilatildeo social dos ciganos

tem vindo a constituir-se como um

verdadeiro imperativo na socieda-

de contemporacircnea O resultado

desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-

ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da

Comissatildeo Europeia (em 2012) o

Quadro europeu para as estrateacute-

gias nacionais para a integraccedilatildeo

dos ciganos que se prevecirc melhorar

a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos

ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 6: Bolhetim educação social   janeiro 2014

6

V Encontro dos Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social

Chegou o ansiado dia 16 de

Novembro de 2013 marcado pelo

V Encontro dos Teacutecnicos Superio-

res de Educaccedilatildeo Social Depois de

Lisboa Algarve Leiria e Lisboa

novamente eacute chegada a vez da

cidade Invicta ndash o Porto

Este Encontro fica inevitavelmen-

te marcado pelo iniacutecio da venda e

entrega das agendas da APES -

Associaccedilatildeo Promotora da Educa-

ccedilatildeo Social mais uma atividade

que tem sido um marco no per-

curso e na divulgaccedilatildeo desta pro-

fissatildeo

Natildeo podiacuteamos estar mais felizes

pelo grande caminho percorrido

ateacute aos dias de hoje E este dia eacute

mais o culminar de muito traba-

lho Agradecemos desde jaacute a

todos os que connosco tecircm cola-

borado e nos tecircm ajudado nas

accedilotildees realizadas Desta vez ende-

reccedilamos um especial agradeci-

mento agrave Universidade Catoacutelica

que nos acolheu neste evento

O dia iniciou-se com as boas-

vindas a todos os presentes na

voz da presidente da APES a cole-

ga Sandra Afonso feliz pela pla-

teia recheada e agrave qual se seguiu o

Professor Ruacuteben Cabral

Passaacutemos entatildeo ao primeiro pai-

nel do Encontro moderado pela

colega Raquel Vau e dando a

palavra ao Professor Adalberto

Dias de Carvalho que captou des-

de o iniacutecio a atenccedilatildeo da plateia

Posteriormente chegou a vez da

Professora Soacutenia Galinha que per-

correu tantos quiloacutemetros para

estar connosco neste dia Seguiu-

se Moacutenica Mesquita que muito

bem se fez acompanhar pelo Dur-

val Carvalho e pelo Sr Liacutedio Gali-

nho que trouxeram testemunhos

na primeira pessoa de uma dura

realidade de duas comunidades

Comunidade Bairro e Comunidade

Piscatoacuteria da Costa da Caparica

explicitando a dificuldade no aces-

so agrave Aacutegua

Ainda na parte da manhatilde mas jaacute

depois do coffee break deu-se

iniacutecio ao segundo painel de orado-

res iniciado pelo colega Honoreacute

Gregorius membro da Associaccedilatildeo

Internacional de Educadores

Sociais (AIEJI) bem como de

outras associaccedilotildees que nos trans-

mitiu a sua praacutetica no Luxembur-

go Esta presenccedila estreitou os

laccedilos da APES com outras Associa-

ccedilotildees Internacionais ajudando a

unir esforccedilos e perceber a Educa-

ccedilatildeo Social no Mundo O modera-

dor deste painel o Professor Jor-

ge Lemos passou a palavra a

Cindy Vaz que nos falou de Peda-

gogia Social e Intervenccedilatildeo Socio-

comunitaacuteria referenciado a sua

experiecircncia profissional na Trofa

Terminada a nossa manhatilde realiza-

mos uma pausa para almoccedilo de

modo a repor as energias gastas e

tempo de partilha entre colegas

A parte da tarde iniciou com o

terceiro painel composto pelos

Professores Jaime Santos Jorge

Lemos Jorge Serrano e Anabela

Correia apresentando a Poacutes-

graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Social e

Desenvolvimento Comunitaacuterio

que como foi explicado visa criar

um espaccedilo privilegiado de apoio

teoacuterico metodoloacutegico e praacutetico ao

desenvolvimento de saberes e de

competecircncias de profissionais

envolvidos em processos de

desenvolvimento comunitaacuterio

7

bem como dar uma contribuiccedilatildeo

relevante para um maior desen-

volvimento da atitude investigati-

va e reflexiva dos atores nestes

processos Os oradores explicita-

ram ainda algumas temaacuteticas

que seratildeo abordadas

Apoacutes o coffee break da tarde o

quarto e uacuteltimo painel foi iniciado

Depois das apresentaccedilotildees efetua-

das pelo moderador Maacutercio Rodri-

gues o painel seguiu com a apre-

sentaccedilatildeo conjunta de Evaniza

Vieira e Siacutelvia Lopes que aborda-

ram a temaacutetica da ldquoEducaccedilatildeo

Social na Rede de Cuidados Conti-

nuadosrdquo cuja missatildeo eacute a Promo-

ccedilatildeo da autonomia e melhoria da

funcionalidade da pessoa em

situaccedilatildeo de dependecircncia atraveacutes

da reabilitaccedilatildeo readaptaccedilatildeo e

reinserccedilatildeo familiar e social As

oradoras explicitaram e insistiram

no papel importante que enquan-

to profissionais podemos desem-

penhar nesta aacuterea Tivemos de

seguida a apresentaccedilatildeo de Jorge

Rosado ou como prefere ser tra-

tado o Dr Risotto que nos apre-

sentou o projeto Palhaccedilos drsquoOpi-

tal que tem como principal obje-

tivo implementar um programa de

intervenccedilatildeo dentro dos hospitais

da regiatildeo centro atraveacutes da visita

de palhaccedilos profissionais e com

formaccedilatildeo especiacutefica nesta aacuterea

com foco essencial no Idoso Com

a sua apresentaccedilatildeo este palhaccedilo

(como o afirma com orgulho)

levou-nos a encarar o termo

palhaccedilo e o proacuteprio exerciacutecio des-

ta funccedilatildeo de uma outra forma

Posteriormente a Professora Isa-

bel Batista falou-nos da luta jaacute

percorrida pela Educaccedilatildeo Social

ao longo destes anos uma aacuterea

em que a proacutepria indica como

sendo sua Ressalvou tambeacutem a

importacircncia do contacto com

outras Associaccedilotildees Internacionais

Terminou-se este V Encontro com

duas intervenccedilotildees muito interes-

santes O Projeto Transformers eacute

um programa de voluntariado que

mobiliza mentores de todos os

desportos artes e atividades para

orientar jovens a encontrar no seu

superpoder uma forma de expri-

mir e intervir positivamente na

comunidade A apresentaccedilatildeo final

foi realizada pelo grupo de danccedila

da Academia Reacutegia Porque a dan-

ccedila aleacutem de ser uma arte permite

a criaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais sen-

do utilizada muitas vezes como

meio da Educaccedilatildeo Social

E foi assim que encerraacutemos

levando para casa novas aprendi-

zagens novas perspetivas novas

partilhas e novas amizades

8

Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social

Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-

da por teres aceite ser a entrevis-

tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana

Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos

Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo

com base na compreensatildeo e con-

fianccedila gosto de me envolver nas

suas atividades e procuro dar-lhes

o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes

natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos

um casal de geacutemeos e na fase da

adolescecircncia ehehhellip a mais velha

jaacute se encontra encaminhada traba-

lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-

ra em animaccedilatildeo sociocultural mas

continua sempre a procurar o meu

apoio

Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-

prios mas vou tentar Sou uma

pessoa alegre comunicativa e bas-

tante dedicada em tudo o que me

proponho a fazer Entendo que a

empatia que criamos com os

outros eacute muito importante para

desenvolver com sucesso todas as

nossas atividades principalmente

as que envolvem pessoas

Eacute com este lema que me proponho

a cumprir aquilo a que chamo mis-

satildeo

Repoacuterter APES - Quando e porque

eacute que decidiste ser uma

educadora social

Ana - Sempre fui boa alu-

na e muito assiacutedua mas

na minha adolescecircncia

decidi comeccedilar a traba-

lhar Mais tarde senti necessidade

de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e

assim decidi voltar aos estudos por

considerar que o estudo e a

empregabilidade caminham juntos

Desde 1992 que trabalho na aacuterea

da deficiecircncia achei que podia

fazer muito mais por esta popula-

ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute

cerca de 10 anos a voltar a estudar

agrave noite e de seguida fui tirar a

minha licenciatura como forma de

ir ao encontro da minha opccedilatildeo

profissional Tirei Educaccedilatildeo Social

na Escola Superior de Educaccedilatildeo de

Santareacutem com meacutedia de 12 valo-

res que me orgulho muito pois

sendo matildee de trecircs filhos trabalhar

e estudar soacute conseguindo ir agrave

faculdade uma manhatilde por semana

por motivos profissionais foi para

mim uma grande vitoacuteria e um

motivo de orgulho Continuo a

fazer sempre que posso forma-

ccedilotildees a participar em eventos con-

gressos seminaacuterios e cursos liga-

dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de

manter atualizados os meus

conhecimentos aproveito para

estreitar relacionamento com pro-

fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-

da facilita a administraccedilatildeo do dia-a

-dia na troca de experiecircncias

Repoacuterter APES - Podes falar-nos

um pouco do teu trabalho

Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991

Comecei como auxiliar passando

depois a monitora onde era res-

ponsaacutevel por um grupo de utentes

com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo

e orientaccedilatildeo do grupo

Desde 2008 que integrei o CRI- -

Centro de Recursos para Inclusatildeo

da Cercipoacutevoa que presta apoio

teacutecnico em vaacuterios agrupamentos

de escolas

As minhas funccedilotildees satildeo variadas

dependendo de cada agrupamen-

9

mentohellip Vou tentar dar uma ideia

das mesmas

Trabalho integrada no departa-

mento de educaccedilatildeo especial com

os alunos com necessidades edu-

cativas especiais Como sabem

estes alunos tem necessidades

diferentes dos outros alunos e

assim temos de ajudar na sua

integraccedilatildeo na sociedade por isso

eacute importante comeccedilar a fazer a

sua preparaccedilatildeo para a vida ativa

Consoante as caracteriacutesticas de

cada um oriento o seu encami-

nhamento para formaccedilatildeo profis-

sional para o Cao- Centro de Ati-

vidades Ocupacionais para pro-

gramas de voluntariado etc

Trabalho tambeacutem ao niacutevel do

desenvolvimento de competecircn-

cias pessoais e sociais a parte da

comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-

ccedilatildeo de problemas assertividade

emoccedilotildees etc aacuterea onde por

vezes tecircm muitas dificulda-

des Como pretendemos que

sejam o mais autoacutenomos possiacute-

veis faccedilo apoio direto na aacuterea

casacomunidade onde faccedilo trei-

nos de autonomia na comunida-

de como por exemplo ir agraves com-

pras saber para que servem e

como utilizar os serviccedilos puacuteblicos

da comunidade (correios banco

junta de freguesia etc) em casa

ao niacutevel da sua independecircncia

pessoal vestirdespir sozinhos

tarefas em casa etc tudo isto

aplicado em contexto real ao

niacutevel dos transportes puacuteblicos

treino trajetos consoante as suas

necessidades de deslocaccedilatildeo para

que num futuro o possam fazer

com autonomia por exemplo

para o seu local de trabalho

Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo

dos PEI ndash Programa Educativo

Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-

co Individual PIT- Plano Indivi-

dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-

mentos onde eacute registado o traba-

lho a desenvolver com estes alu-

nos

Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano

Individual de Transiccedilatildeo pretende-

se preparar os alunos para a vida

poacutes-escolar Fazem estaacutegios de

sensibilizaccedilatildeo profissional nas

empresas da comunidade (em

alguns casos dentro da escola

primeiramente e soacute depois na

comunidade) e cabe-me a mim

fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-

mento dos estaacutegios junto das

empresas acolhedoras e tambeacutem

sensibilizar as empresas para

receberem estes alunos o que

por vezes natildeo eacute faacutecil

Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-

no com os pais pois satildeo eles tam-

beacutem intervenientes importantes

neste processo Promovo visitas

reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-

sas

Integro tambeacutem as reuniotildees de

Conselhos de turmas e Departa-

mento de Educaccedilatildeo Especial

No final de cada periacuteodo tenho

tambeacutem de elaborar relatoacuterios do

trabalho desenvolvido com cada

aluno

Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo

em elaboraccedilatildeo de projetos

Eacute importante salientar que tudo eacute

desenvolvido em parceria com os

docentes de educaccedilatildeo especial

que acompanham cada aluno

O trabalho eacute muito diversificado e

por vezes surgem outras tare-

fas eacute difiacutecil estar a descrever

todas mas de uma maneira geral

eacute assim o meu dia-a-dia

Repoacuterter APES - Qual eacute o maior

desafio quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia

Ana - Quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia todos os

dias satildeo um desafio pois satildeo um

10

um puacuteblico muito diversificado

com caracteriacutesticas muito proacute-

prias Eu costumo dizer que para

se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso

gostar o resto vem por acumula-

ccedilatildeo Eacute importante todos os dias

manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute

-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los

sentir que satildeo capazes pois assim

conseguem mais facilmente ultra-

passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-

ta aacuterea por vezes podem ser mui-

to pequenas mas tem o sabor de

grandes conquistas

Eacute preciso um incremento contiacutenuo

de estrateacutegias e procedimentos

que lhes proporcionem mais e

melhores condiccedilotildees de aprendiza-

gemoportunidades de forma

solidaacuteria e cooperativa de manei-

ra a desenvolverem o mais possiacute-

vel as suas competecircncias pessoais

e sociais e a sua autonomia para

que exista uma verdadeira inclu-

satildeo

Por isso o lema eacute paciecircncia e per-

sistecircncia e muito importante

nunca desistir

Repoacuterter APES - Achas que ainda

existem muitos preconceitos por

parte dos profissionais e da socie-

dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-

ciecircncia

Ana - Sim acho apesar de ser

uma situaccedilatildeo que tem vindo a

melhorar nos uacuteltimos anos Cada

vez mais se ouve falar em inclusatildeo

e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da

parte da maioria dos profissionais

e da sociedade em geral no com-

bate ao preconceito e com o direi-

to de igualdade de oportunidades

para as pessoas com deficiecircncia

Mas neste campo existe ainda

muito trabalho a desenvolver

Porque todos noacutes temos precon-

ceitos em maior ou menor grau

O que acontece eacute que alguns dei-

xam extravasar para as suas atitu-

des e magoam as pessoas sem

pensar nas consequecircncias dos

seus atos Outros fazem-no de

uma forma mais dissimulada Mas

felizmente existem pessoas que

conseguem lidar com esse senti-

mento aceitam e respeitam as

diferenccedilas dos outros Temos

cada um de noacutes de combater esse

proacuteprio preconceito em cada con-

tato em cada nova amizade em

cada conversa em cada decisatildeo

dando oportunidades e acreditan-

do no potencial de cada um

Repoacuterter APES - Que conselho

darias aos nossos colegas que

natildeo estatildeo a trabalhar

Ana - O conselho que daria aos

colegas que natildeo estatildeo a trabalhar

na aacuterea eacute que natildeo desistam de

lutar por aquilo em que acredi-

tam Cada vez mais o nosso traba-

lho faz sentido Satildeo mais a cada

dia que passa as pessoas que pre-

cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil

mas com persistecircncia e envolven-

do-nos todos na divulgaccedilatildeo da

nossa profissatildeo havemos de con-

seguir ir cada vez mais longe

Repoacuterter APES - Obrigada Ana

foi um prazer entrevistar-te

Ana - Foi com muito gosto que

participei nesta entrevista onde

tentei mostrar um pouco do meu

trabalho que ADORO Espero ter

conseguido transmitir um pouco

do meu dia-a-dia aos colegas que

nunca trabalharam na aacuterea Dese-

jo a todos a continuaccedilatildeo de um

bom trabalho para os que natildeo

estatildeo na aacuterea que a oportunidade

chegue depressa para que pos-

sam mostrar os bons profissionais

que satildeo e continuarem a dignificar

a nossa profissatildeo

Todos juntos faremos a diferenccedila

11

Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila

Siacutelvia Franco

Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-

cesso em que abraccedilamos a oportu-

nidade de ensinar bem como a de

aprender Ensinar e aprender com

aqueles que nos rodeiam e com os

que se cruzam no nosso caminho

com os que satildeo chamados de pro-

fessores mas tambeacutem com os alu-

nos os agricultores os mecacircnicos

os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-

gos os historiadoreshellip com todos

independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo

que a sociedade lhes coloca

Da minha passagem por diferentes

contextos educativos aprendi a

valorizar o que chamo de diversi-

dade dialogante (Franco 2013)

bem como a abertura para a mes-

ma Na minha passagem por uma

licenciatura intercultural indiacutegena

no Brasil pude presenciar um pro-

cesso dialoacutegico construiacutedo por

todos os envolvidos e interessados

Neste processo as opiniotildees e

desejos dos alunos e da comunida-

de eram valorizados e parte funda-

mental no desenvolvimento do

curriacuteculo bem como no decurso de

todas as etapas do curso para as

quais era solicitada a presenccedila de

membros das comunidades indiacutege-

nas locais enquanto especialistas

em determinadas mateacuterias ou

seja na sua proacutepria cultura Bus-

cava-se diariamente uma escola

reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual

todos se sentissem responsaacuteveis

pelo sucesso pessoal e coletivo

pois a concretizaccedilatildeo deste curso

era jaacute uma vitoacuteria

Enquanto investigadora do Projeto

Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se

desenvolve na Costa de Caparica

tenho podido vivenciar reflexos

dessa mesma diversidade dialo-

gante O Projeto Fronteiras Urba-

nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-

cando a voz de trecircs comunidades

Comunidade Bairro Comunidade

Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-

ca Estas comunidades uniram-se

pela histoacuteria partilhada com o

intuito de buscar a visibilidade

para comunidades invisiacuteveis aos

olhos de entidades poliacuteticas e

sociais

Cada comunidade tinha agrave partida

um objetivo primordial e um obje-

tivo coletivo O objetivo coletivo

que une estas trecircs comunidades

centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute

cada comunidade isto eacute na diver-

sidade dialogante que une trecircs

comunidades nas lutas de cada

uma

A Comunidade Bairro luta haacute mais

de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais

perto das suas casas uma vez que

tecircm de fazer um percurso de dois

quiloacutemetros (ida e volta) por cami-

nhos acidentados para recolher

numa bica aacutegua para as suas roti-

nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-

ria debate-se com as crescentes

proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas

sem que as vozes dos pescadores

que compotildeem a comunidade

sejam ouvidas e a Comunidade

Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo

Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o

diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o

aprendiz e o aprendiz eacute o profes-

sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)

Numa primeira etapa foram dese-

nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo

Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-

rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-

ria segundo os desejos dos mem-

bros das comunidades No desen-

volvimento destas tarefas procu-

12

raacutemos ter em mente as palavras de

Paulo Freire

natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os

que querem a pronuacutencia do mundo

e os que natildeo a querem entre os

que negam aos demais o direito de

dizer a palavra e os que se acham

negados deste direito Eacute preciso

primeiro que os que assim se

encontram negados no direito pri-

mordial de dizer a palavra recon-

quistem esse direito proibindo que

este assalto desumanizante conti-

nue (Freire 2008 91)

Em consciecircncia de que o envolvi-

mento dos indiviacuteduos na luta pela

sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por

ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-

cionalidade na medida em que

desafiados por ela agem sobre

elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos

deparando com momentos enri-

quecedores de partilha de conheci-

mentos e accedilatildeo sobre o seu meio

implementando diaacutelogos com insti-

tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-

vas reforccedilando os seus desejos e

direitos

Estes movimentos possibilitaram o

regresso de vaacuterios jovens a contex-

tos escolares a eleiccedilatildeo de uma

comissatildeo de moradores a partici-

paccedilatildeo de membros das trecircs comu-

nidades em eventos de dissemina-

ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual

movimento Escola do Bairro Nesta

escola criam-se espaccedilos e tempos

para a diversidade dialogante

numa dinacircmica de partilha onde

um membro da Comunidade Bair-

ro de naturalidade cabo-verdiana

ensina kriolu a outros moradores e

a amigos interessados das outras

duas comunidades ou que se apro-

ximaram deste movimento Da

mesma forma satildeo recebidas pes-

soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e

outras disciplinas para partilharem

os seus conhecimentos fazendo-se

um intercacircmbio de conhecimentos

e praacuteticas

Eacute no sentido desta Escola do Bairro

que falo em ldquoeducar com a dife-

renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute

importante educar para a diferen-

ccedila para nos conscientizarmos de

que satildeo as diferenccedilas que nos tor-

nam todos iguais Contudo consi-

dero que a essecircncia da educaccedilatildeo

estaraacute essencialmente em educar

com aprender com fazer comhellip

Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)

13

Referecircncias

Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre

Artmed Editora

Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de

Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-

cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http

hdlhandlenet104518118

Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra

TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from

httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY

Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)

14

Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu

Sofia Aurora Santos

Mestre em Educaccedilatildeo Social

ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-

ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os

ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor

mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo

ldquoSatildeo uma cambada de bandidos

tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o

Rendimento aos ciganosrdquo etc

etc etc Estas satildeo algumas das

expressotildees que oiccedilo constante-

mente sobre os ciganos e certa-

mente satildeo familiares a muitas pes-

soas O desconhecimento das tra-

diccedilotildees e costumes dos ciganos

reforccedila a ignoracircncia da maioria

que se acha superior A compreen-

satildeo e o conhecimento satildeo impor-

tantes no processo de integraccedilatildeo

do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas

fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser

motivo de exclusatildeo social

Estas expressotildees natildeo satildeo funda-

mentadas nem dignas de respeito

por quem as diz Foram pensamen-

tos expressotildees e comportamentos

deste tipo que um senhor chama-

do Adolfo Hitler fez o que fez

durante a 2ordf Guerra Mundial pen-

so que natildeo seja necessaacuterio descre-

ver mas vale a pena parar para

refletir e ver que infelizmente o

neonazismo estaacute a aparecer na

Europa Prova disso eacute o que se pas-

sa atualmente na Hungria que foi

o primeiro Estado-membro da

Uniatildeo Europeia a ser acusado de

violar os valores europeus e como

consequecircncia a Comissatildeo Europeia

suspendeu todas as negociaccedilotildees

com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-

nha o Estado de Direito

Atos impensaacuteveis incontrolados

desumanos satildeo todos os dias pra-

ticados contra os ciganos e outros

grupos eacutetnicos em todo o mundo

mas o grupo dos ciganos eacute o mais

sacrificado Mas porquecirc os ciga-

nos Eacute esta a questatildeo para a qual

tento obter uma resposta haacute mui-

tos anos e certamente estaacute longe

de ser respondida

Foi principalmente devido a um

comentaacuterio racista vindo de um

membro da autarquia farense em

2007 (em contexto de estaacutegio da

licenciatura) que comeccedilou a minha

luta mais vincada pelos direitos

humanos dos ciganos

Desde muito jovem que tenho um

espiacuterito humanitaacuterio e lutador a

favor dos direitos humanos A

minha adolescecircncia no Corpo

Nacional de Escutas (CNE) fez-me

despertar para ajudar o proacuteximo

os que mais precisam e a respeitar

a Natureza e a Pacha Mama

(Terra)

A escolha do curso de Educaccedilatildeo

Social foi faacutecil faze-lo foi simples

praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os

obstaacuteculos encontrados na socie-

dade para se poder trabalhar a

diferenccedila entre grupos e pessoas

O Educador Social tem de ter uma

grande capacidade de adaptaccedilatildeo

aos contextos e aos seus protago-

nistas Deve saber muito bem o

que quer e para onde quer ir ou

seja traccedilar e definir objetivos Tra-

balhar no que se gosta ajuda a con-

tribuir para a felicidade natildeo soacute a

proacutepria mas tambeacutem a dos outros

Assim prossigo o meu caminho

pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os

objetivos e enquanto natildeo os reali-

zo natildeo descanso

Nesta minha aventura pelo

ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer

15

que um dos momentos mais mar-

cante da minha vida foi a visita ao

Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-

witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir

cheirar tocar e imaginar tudo o

que laacute se passou foi muito intenso

Momento inexplicaacutevel Acho que

qualquer pessoa que visite este

local certamente vai mudar a sua

opiniatildeo e comportamento acerca

da luta pelos direitos humanos

A experiecircncia em intercacircmbios e

formaccedilotildees internacionais foram

dos momentos mais interessantes

e importantes para adquirir conhe-

cimento e partilhar experiecircncias

com outros ativistas ciganos e natildeo

ciganos sobre os direitos humanos

Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de

risco (viacutetimas de violecircncia domesti-

ca sem-abrigo crianccedilas com

necessidade educativas especiais

etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-

nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute

faacutecil falar sobre os ciganos mas

ainda eacute mais difiacutecil falar com as

pessoas natildeo ciganas O sentimento

de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-

te quando se fala com os ciganos

todos tecircm uma experiecircncia discri-

minatoacuteria para contar

A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-

rencia nem reconhece politicamen-

te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes

ou seja do ponto de vista juriacutedico

e poliacutetico natildeo existem ciganos

Atualmente trabalhar com ciganos

estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-

do ou porque ldquovem ai dinheirordquo

para fazer projetos para os ciga-

nos De repente desperta-se a

ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-

ccedilotildees para os pro-

blemas do grupo

eacutetnico Um dos

meacutetodos que tecircm

vindo a ser experi-

mentados no senti-

do da promoccedilatildeo da

integraccedilatildeo deste

grupo tem sido a

execuccedilatildeo de proje-

tos nacionais eou

internacionais com

intervenccedilotildees no

terreno que permi-

tam produzir

conhecimento

acerca dos seus

modos de vida Na

sua maioria os pro-

jetos natildeo satildeo do

conhecimento dos

ciganos e muitas vezes natildeo corres-

pondem agraves necessidades das popu-

laccedilotildees Os principais problemas

que afetam grande parte dos por-

tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees

ao niacutevel educativo e habitacional o

desemprego a inserccedilatildeo no merca-

do de trabalho a pobreza a exclu-

satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-

naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo

Em Faro no bairro da Av Cidade

Hayward no bairro da Horta da

Areia e noutros perifeacutericos estaacute

concentrada uma parte da pobreza

e da exclusatildeo social da cidade o

que tem suscitado a intervenccedilatildeo

de projetos de luta contra a pobre-

za maioritariamente financiados

por fundos europeus Todos estes

contextos se caracterizam por uma

forte desqualificaccedilatildeo territorial e

social reconhecida poliacutetica e

socialmente Contudo normal-

mente estes projetos satildeo de cara-

ter experimental e satildeo limitados

no tempo e no espaccedilo pelo que

natildeo originam mudanccedilas estruturais

nem permitem obter muitos resul-

tados positivos na integraccedilatildeo dos

ciganos

A integraccedilatildeo social dos ciganos

tem vindo a constituir-se como um

verdadeiro imperativo na socieda-

de contemporacircnea O resultado

desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-

ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da

Comissatildeo Europeia (em 2012) o

Quadro europeu para as estrateacute-

gias nacionais para a integraccedilatildeo

dos ciganos que se prevecirc melhorar

a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos

ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 7: Bolhetim educação social   janeiro 2014

7

bem como dar uma contribuiccedilatildeo

relevante para um maior desen-

volvimento da atitude investigati-

va e reflexiva dos atores nestes

processos Os oradores explicita-

ram ainda algumas temaacuteticas

que seratildeo abordadas

Apoacutes o coffee break da tarde o

quarto e uacuteltimo painel foi iniciado

Depois das apresentaccedilotildees efetua-

das pelo moderador Maacutercio Rodri-

gues o painel seguiu com a apre-

sentaccedilatildeo conjunta de Evaniza

Vieira e Siacutelvia Lopes que aborda-

ram a temaacutetica da ldquoEducaccedilatildeo

Social na Rede de Cuidados Conti-

nuadosrdquo cuja missatildeo eacute a Promo-

ccedilatildeo da autonomia e melhoria da

funcionalidade da pessoa em

situaccedilatildeo de dependecircncia atraveacutes

da reabilitaccedilatildeo readaptaccedilatildeo e

reinserccedilatildeo familiar e social As

oradoras explicitaram e insistiram

no papel importante que enquan-

to profissionais podemos desem-

penhar nesta aacuterea Tivemos de

seguida a apresentaccedilatildeo de Jorge

Rosado ou como prefere ser tra-

tado o Dr Risotto que nos apre-

sentou o projeto Palhaccedilos drsquoOpi-

tal que tem como principal obje-

tivo implementar um programa de

intervenccedilatildeo dentro dos hospitais

da regiatildeo centro atraveacutes da visita

de palhaccedilos profissionais e com

formaccedilatildeo especiacutefica nesta aacuterea

com foco essencial no Idoso Com

a sua apresentaccedilatildeo este palhaccedilo

(como o afirma com orgulho)

levou-nos a encarar o termo

palhaccedilo e o proacuteprio exerciacutecio des-

ta funccedilatildeo de uma outra forma

Posteriormente a Professora Isa-

bel Batista falou-nos da luta jaacute

percorrida pela Educaccedilatildeo Social

ao longo destes anos uma aacuterea

em que a proacutepria indica como

sendo sua Ressalvou tambeacutem a

importacircncia do contacto com

outras Associaccedilotildees Internacionais

Terminou-se este V Encontro com

duas intervenccedilotildees muito interes-

santes O Projeto Transformers eacute

um programa de voluntariado que

mobiliza mentores de todos os

desportos artes e atividades para

orientar jovens a encontrar no seu

superpoder uma forma de expri-

mir e intervir positivamente na

comunidade A apresentaccedilatildeo final

foi realizada pelo grupo de danccedila

da Academia Reacutegia Porque a dan-

ccedila aleacutem de ser uma arte permite

a criaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais sen-

do utilizada muitas vezes como

meio da Educaccedilatildeo Social

E foi assim que encerraacutemos

levando para casa novas aprendi-

zagens novas perspetivas novas

partilhas e novas amizades

8

Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social

Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-

da por teres aceite ser a entrevis-

tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana

Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos

Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo

com base na compreensatildeo e con-

fianccedila gosto de me envolver nas

suas atividades e procuro dar-lhes

o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes

natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos

um casal de geacutemeos e na fase da

adolescecircncia ehehhellip a mais velha

jaacute se encontra encaminhada traba-

lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-

ra em animaccedilatildeo sociocultural mas

continua sempre a procurar o meu

apoio

Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-

prios mas vou tentar Sou uma

pessoa alegre comunicativa e bas-

tante dedicada em tudo o que me

proponho a fazer Entendo que a

empatia que criamos com os

outros eacute muito importante para

desenvolver com sucesso todas as

nossas atividades principalmente

as que envolvem pessoas

Eacute com este lema que me proponho

a cumprir aquilo a que chamo mis-

satildeo

Repoacuterter APES - Quando e porque

eacute que decidiste ser uma

educadora social

Ana - Sempre fui boa alu-

na e muito assiacutedua mas

na minha adolescecircncia

decidi comeccedilar a traba-

lhar Mais tarde senti necessidade

de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e

assim decidi voltar aos estudos por

considerar que o estudo e a

empregabilidade caminham juntos

Desde 1992 que trabalho na aacuterea

da deficiecircncia achei que podia

fazer muito mais por esta popula-

ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute

cerca de 10 anos a voltar a estudar

agrave noite e de seguida fui tirar a

minha licenciatura como forma de

ir ao encontro da minha opccedilatildeo

profissional Tirei Educaccedilatildeo Social

na Escola Superior de Educaccedilatildeo de

Santareacutem com meacutedia de 12 valo-

res que me orgulho muito pois

sendo matildee de trecircs filhos trabalhar

e estudar soacute conseguindo ir agrave

faculdade uma manhatilde por semana

por motivos profissionais foi para

mim uma grande vitoacuteria e um

motivo de orgulho Continuo a

fazer sempre que posso forma-

ccedilotildees a participar em eventos con-

gressos seminaacuterios e cursos liga-

dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de

manter atualizados os meus

conhecimentos aproveito para

estreitar relacionamento com pro-

fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-

da facilita a administraccedilatildeo do dia-a

-dia na troca de experiecircncias

Repoacuterter APES - Podes falar-nos

um pouco do teu trabalho

Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991

Comecei como auxiliar passando

depois a monitora onde era res-

ponsaacutevel por um grupo de utentes

com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo

e orientaccedilatildeo do grupo

Desde 2008 que integrei o CRI- -

Centro de Recursos para Inclusatildeo

da Cercipoacutevoa que presta apoio

teacutecnico em vaacuterios agrupamentos

de escolas

As minhas funccedilotildees satildeo variadas

dependendo de cada agrupamen-

9

mentohellip Vou tentar dar uma ideia

das mesmas

Trabalho integrada no departa-

mento de educaccedilatildeo especial com

os alunos com necessidades edu-

cativas especiais Como sabem

estes alunos tem necessidades

diferentes dos outros alunos e

assim temos de ajudar na sua

integraccedilatildeo na sociedade por isso

eacute importante comeccedilar a fazer a

sua preparaccedilatildeo para a vida ativa

Consoante as caracteriacutesticas de

cada um oriento o seu encami-

nhamento para formaccedilatildeo profis-

sional para o Cao- Centro de Ati-

vidades Ocupacionais para pro-

gramas de voluntariado etc

Trabalho tambeacutem ao niacutevel do

desenvolvimento de competecircn-

cias pessoais e sociais a parte da

comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-

ccedilatildeo de problemas assertividade

emoccedilotildees etc aacuterea onde por

vezes tecircm muitas dificulda-

des Como pretendemos que

sejam o mais autoacutenomos possiacute-

veis faccedilo apoio direto na aacuterea

casacomunidade onde faccedilo trei-

nos de autonomia na comunida-

de como por exemplo ir agraves com-

pras saber para que servem e

como utilizar os serviccedilos puacuteblicos

da comunidade (correios banco

junta de freguesia etc) em casa

ao niacutevel da sua independecircncia

pessoal vestirdespir sozinhos

tarefas em casa etc tudo isto

aplicado em contexto real ao

niacutevel dos transportes puacuteblicos

treino trajetos consoante as suas

necessidades de deslocaccedilatildeo para

que num futuro o possam fazer

com autonomia por exemplo

para o seu local de trabalho

Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo

dos PEI ndash Programa Educativo

Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-

co Individual PIT- Plano Indivi-

dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-

mentos onde eacute registado o traba-

lho a desenvolver com estes alu-

nos

Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano

Individual de Transiccedilatildeo pretende-

se preparar os alunos para a vida

poacutes-escolar Fazem estaacutegios de

sensibilizaccedilatildeo profissional nas

empresas da comunidade (em

alguns casos dentro da escola

primeiramente e soacute depois na

comunidade) e cabe-me a mim

fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-

mento dos estaacutegios junto das

empresas acolhedoras e tambeacutem

sensibilizar as empresas para

receberem estes alunos o que

por vezes natildeo eacute faacutecil

Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-

no com os pais pois satildeo eles tam-

beacutem intervenientes importantes

neste processo Promovo visitas

reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-

sas

Integro tambeacutem as reuniotildees de

Conselhos de turmas e Departa-

mento de Educaccedilatildeo Especial

No final de cada periacuteodo tenho

tambeacutem de elaborar relatoacuterios do

trabalho desenvolvido com cada

aluno

Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo

em elaboraccedilatildeo de projetos

Eacute importante salientar que tudo eacute

desenvolvido em parceria com os

docentes de educaccedilatildeo especial

que acompanham cada aluno

O trabalho eacute muito diversificado e

por vezes surgem outras tare-

fas eacute difiacutecil estar a descrever

todas mas de uma maneira geral

eacute assim o meu dia-a-dia

Repoacuterter APES - Qual eacute o maior

desafio quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia

Ana - Quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia todos os

dias satildeo um desafio pois satildeo um

10

um puacuteblico muito diversificado

com caracteriacutesticas muito proacute-

prias Eu costumo dizer que para

se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso

gostar o resto vem por acumula-

ccedilatildeo Eacute importante todos os dias

manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute

-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los

sentir que satildeo capazes pois assim

conseguem mais facilmente ultra-

passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-

ta aacuterea por vezes podem ser mui-

to pequenas mas tem o sabor de

grandes conquistas

Eacute preciso um incremento contiacutenuo

de estrateacutegias e procedimentos

que lhes proporcionem mais e

melhores condiccedilotildees de aprendiza-

gemoportunidades de forma

solidaacuteria e cooperativa de manei-

ra a desenvolverem o mais possiacute-

vel as suas competecircncias pessoais

e sociais e a sua autonomia para

que exista uma verdadeira inclu-

satildeo

Por isso o lema eacute paciecircncia e per-

sistecircncia e muito importante

nunca desistir

Repoacuterter APES - Achas que ainda

existem muitos preconceitos por

parte dos profissionais e da socie-

dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-

ciecircncia

Ana - Sim acho apesar de ser

uma situaccedilatildeo que tem vindo a

melhorar nos uacuteltimos anos Cada

vez mais se ouve falar em inclusatildeo

e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da

parte da maioria dos profissionais

e da sociedade em geral no com-

bate ao preconceito e com o direi-

to de igualdade de oportunidades

para as pessoas com deficiecircncia

Mas neste campo existe ainda

muito trabalho a desenvolver

Porque todos noacutes temos precon-

ceitos em maior ou menor grau

O que acontece eacute que alguns dei-

xam extravasar para as suas atitu-

des e magoam as pessoas sem

pensar nas consequecircncias dos

seus atos Outros fazem-no de

uma forma mais dissimulada Mas

felizmente existem pessoas que

conseguem lidar com esse senti-

mento aceitam e respeitam as

diferenccedilas dos outros Temos

cada um de noacutes de combater esse

proacuteprio preconceito em cada con-

tato em cada nova amizade em

cada conversa em cada decisatildeo

dando oportunidades e acreditan-

do no potencial de cada um

Repoacuterter APES - Que conselho

darias aos nossos colegas que

natildeo estatildeo a trabalhar

Ana - O conselho que daria aos

colegas que natildeo estatildeo a trabalhar

na aacuterea eacute que natildeo desistam de

lutar por aquilo em que acredi-

tam Cada vez mais o nosso traba-

lho faz sentido Satildeo mais a cada

dia que passa as pessoas que pre-

cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil

mas com persistecircncia e envolven-

do-nos todos na divulgaccedilatildeo da

nossa profissatildeo havemos de con-

seguir ir cada vez mais longe

Repoacuterter APES - Obrigada Ana

foi um prazer entrevistar-te

Ana - Foi com muito gosto que

participei nesta entrevista onde

tentei mostrar um pouco do meu

trabalho que ADORO Espero ter

conseguido transmitir um pouco

do meu dia-a-dia aos colegas que

nunca trabalharam na aacuterea Dese-

jo a todos a continuaccedilatildeo de um

bom trabalho para os que natildeo

estatildeo na aacuterea que a oportunidade

chegue depressa para que pos-

sam mostrar os bons profissionais

que satildeo e continuarem a dignificar

a nossa profissatildeo

Todos juntos faremos a diferenccedila

11

Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila

Siacutelvia Franco

Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-

cesso em que abraccedilamos a oportu-

nidade de ensinar bem como a de

aprender Ensinar e aprender com

aqueles que nos rodeiam e com os

que se cruzam no nosso caminho

com os que satildeo chamados de pro-

fessores mas tambeacutem com os alu-

nos os agricultores os mecacircnicos

os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-

gos os historiadoreshellip com todos

independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo

que a sociedade lhes coloca

Da minha passagem por diferentes

contextos educativos aprendi a

valorizar o que chamo de diversi-

dade dialogante (Franco 2013)

bem como a abertura para a mes-

ma Na minha passagem por uma

licenciatura intercultural indiacutegena

no Brasil pude presenciar um pro-

cesso dialoacutegico construiacutedo por

todos os envolvidos e interessados

Neste processo as opiniotildees e

desejos dos alunos e da comunida-

de eram valorizados e parte funda-

mental no desenvolvimento do

curriacuteculo bem como no decurso de

todas as etapas do curso para as

quais era solicitada a presenccedila de

membros das comunidades indiacutege-

nas locais enquanto especialistas

em determinadas mateacuterias ou

seja na sua proacutepria cultura Bus-

cava-se diariamente uma escola

reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual

todos se sentissem responsaacuteveis

pelo sucesso pessoal e coletivo

pois a concretizaccedilatildeo deste curso

era jaacute uma vitoacuteria

Enquanto investigadora do Projeto

Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se

desenvolve na Costa de Caparica

tenho podido vivenciar reflexos

dessa mesma diversidade dialo-

gante O Projeto Fronteiras Urba-

nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-

cando a voz de trecircs comunidades

Comunidade Bairro Comunidade

Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-

ca Estas comunidades uniram-se

pela histoacuteria partilhada com o

intuito de buscar a visibilidade

para comunidades invisiacuteveis aos

olhos de entidades poliacuteticas e

sociais

Cada comunidade tinha agrave partida

um objetivo primordial e um obje-

tivo coletivo O objetivo coletivo

que une estas trecircs comunidades

centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute

cada comunidade isto eacute na diver-

sidade dialogante que une trecircs

comunidades nas lutas de cada

uma

A Comunidade Bairro luta haacute mais

de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais

perto das suas casas uma vez que

tecircm de fazer um percurso de dois

quiloacutemetros (ida e volta) por cami-

nhos acidentados para recolher

numa bica aacutegua para as suas roti-

nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-

ria debate-se com as crescentes

proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas

sem que as vozes dos pescadores

que compotildeem a comunidade

sejam ouvidas e a Comunidade

Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo

Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o

diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o

aprendiz e o aprendiz eacute o profes-

sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)

Numa primeira etapa foram dese-

nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo

Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-

rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-

ria segundo os desejos dos mem-

bros das comunidades No desen-

volvimento destas tarefas procu-

12

raacutemos ter em mente as palavras de

Paulo Freire

natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os

que querem a pronuacutencia do mundo

e os que natildeo a querem entre os

que negam aos demais o direito de

dizer a palavra e os que se acham

negados deste direito Eacute preciso

primeiro que os que assim se

encontram negados no direito pri-

mordial de dizer a palavra recon-

quistem esse direito proibindo que

este assalto desumanizante conti-

nue (Freire 2008 91)

Em consciecircncia de que o envolvi-

mento dos indiviacuteduos na luta pela

sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por

ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-

cionalidade na medida em que

desafiados por ela agem sobre

elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos

deparando com momentos enri-

quecedores de partilha de conheci-

mentos e accedilatildeo sobre o seu meio

implementando diaacutelogos com insti-

tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-

vas reforccedilando os seus desejos e

direitos

Estes movimentos possibilitaram o

regresso de vaacuterios jovens a contex-

tos escolares a eleiccedilatildeo de uma

comissatildeo de moradores a partici-

paccedilatildeo de membros das trecircs comu-

nidades em eventos de dissemina-

ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual

movimento Escola do Bairro Nesta

escola criam-se espaccedilos e tempos

para a diversidade dialogante

numa dinacircmica de partilha onde

um membro da Comunidade Bair-

ro de naturalidade cabo-verdiana

ensina kriolu a outros moradores e

a amigos interessados das outras

duas comunidades ou que se apro-

ximaram deste movimento Da

mesma forma satildeo recebidas pes-

soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e

outras disciplinas para partilharem

os seus conhecimentos fazendo-se

um intercacircmbio de conhecimentos

e praacuteticas

Eacute no sentido desta Escola do Bairro

que falo em ldquoeducar com a dife-

renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute

importante educar para a diferen-

ccedila para nos conscientizarmos de

que satildeo as diferenccedilas que nos tor-

nam todos iguais Contudo consi-

dero que a essecircncia da educaccedilatildeo

estaraacute essencialmente em educar

com aprender com fazer comhellip

Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)

13

Referecircncias

Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre

Artmed Editora

Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de

Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-

cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http

hdlhandlenet104518118

Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra

TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from

httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY

Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)

14

Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu

Sofia Aurora Santos

Mestre em Educaccedilatildeo Social

ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-

ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os

ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor

mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo

ldquoSatildeo uma cambada de bandidos

tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o

Rendimento aos ciganosrdquo etc

etc etc Estas satildeo algumas das

expressotildees que oiccedilo constante-

mente sobre os ciganos e certa-

mente satildeo familiares a muitas pes-

soas O desconhecimento das tra-

diccedilotildees e costumes dos ciganos

reforccedila a ignoracircncia da maioria

que se acha superior A compreen-

satildeo e o conhecimento satildeo impor-

tantes no processo de integraccedilatildeo

do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas

fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser

motivo de exclusatildeo social

Estas expressotildees natildeo satildeo funda-

mentadas nem dignas de respeito

por quem as diz Foram pensamen-

tos expressotildees e comportamentos

deste tipo que um senhor chama-

do Adolfo Hitler fez o que fez

durante a 2ordf Guerra Mundial pen-

so que natildeo seja necessaacuterio descre-

ver mas vale a pena parar para

refletir e ver que infelizmente o

neonazismo estaacute a aparecer na

Europa Prova disso eacute o que se pas-

sa atualmente na Hungria que foi

o primeiro Estado-membro da

Uniatildeo Europeia a ser acusado de

violar os valores europeus e como

consequecircncia a Comissatildeo Europeia

suspendeu todas as negociaccedilotildees

com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-

nha o Estado de Direito

Atos impensaacuteveis incontrolados

desumanos satildeo todos os dias pra-

ticados contra os ciganos e outros

grupos eacutetnicos em todo o mundo

mas o grupo dos ciganos eacute o mais

sacrificado Mas porquecirc os ciga-

nos Eacute esta a questatildeo para a qual

tento obter uma resposta haacute mui-

tos anos e certamente estaacute longe

de ser respondida

Foi principalmente devido a um

comentaacuterio racista vindo de um

membro da autarquia farense em

2007 (em contexto de estaacutegio da

licenciatura) que comeccedilou a minha

luta mais vincada pelos direitos

humanos dos ciganos

Desde muito jovem que tenho um

espiacuterito humanitaacuterio e lutador a

favor dos direitos humanos A

minha adolescecircncia no Corpo

Nacional de Escutas (CNE) fez-me

despertar para ajudar o proacuteximo

os que mais precisam e a respeitar

a Natureza e a Pacha Mama

(Terra)

A escolha do curso de Educaccedilatildeo

Social foi faacutecil faze-lo foi simples

praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os

obstaacuteculos encontrados na socie-

dade para se poder trabalhar a

diferenccedila entre grupos e pessoas

O Educador Social tem de ter uma

grande capacidade de adaptaccedilatildeo

aos contextos e aos seus protago-

nistas Deve saber muito bem o

que quer e para onde quer ir ou

seja traccedilar e definir objetivos Tra-

balhar no que se gosta ajuda a con-

tribuir para a felicidade natildeo soacute a

proacutepria mas tambeacutem a dos outros

Assim prossigo o meu caminho

pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os

objetivos e enquanto natildeo os reali-

zo natildeo descanso

Nesta minha aventura pelo

ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer

15

que um dos momentos mais mar-

cante da minha vida foi a visita ao

Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-

witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir

cheirar tocar e imaginar tudo o

que laacute se passou foi muito intenso

Momento inexplicaacutevel Acho que

qualquer pessoa que visite este

local certamente vai mudar a sua

opiniatildeo e comportamento acerca

da luta pelos direitos humanos

A experiecircncia em intercacircmbios e

formaccedilotildees internacionais foram

dos momentos mais interessantes

e importantes para adquirir conhe-

cimento e partilhar experiecircncias

com outros ativistas ciganos e natildeo

ciganos sobre os direitos humanos

Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de

risco (viacutetimas de violecircncia domesti-

ca sem-abrigo crianccedilas com

necessidade educativas especiais

etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-

nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute

faacutecil falar sobre os ciganos mas

ainda eacute mais difiacutecil falar com as

pessoas natildeo ciganas O sentimento

de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-

te quando se fala com os ciganos

todos tecircm uma experiecircncia discri-

minatoacuteria para contar

A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-

rencia nem reconhece politicamen-

te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes

ou seja do ponto de vista juriacutedico

e poliacutetico natildeo existem ciganos

Atualmente trabalhar com ciganos

estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-

do ou porque ldquovem ai dinheirordquo

para fazer projetos para os ciga-

nos De repente desperta-se a

ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-

ccedilotildees para os pro-

blemas do grupo

eacutetnico Um dos

meacutetodos que tecircm

vindo a ser experi-

mentados no senti-

do da promoccedilatildeo da

integraccedilatildeo deste

grupo tem sido a

execuccedilatildeo de proje-

tos nacionais eou

internacionais com

intervenccedilotildees no

terreno que permi-

tam produzir

conhecimento

acerca dos seus

modos de vida Na

sua maioria os pro-

jetos natildeo satildeo do

conhecimento dos

ciganos e muitas vezes natildeo corres-

pondem agraves necessidades das popu-

laccedilotildees Os principais problemas

que afetam grande parte dos por-

tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees

ao niacutevel educativo e habitacional o

desemprego a inserccedilatildeo no merca-

do de trabalho a pobreza a exclu-

satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-

naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo

Em Faro no bairro da Av Cidade

Hayward no bairro da Horta da

Areia e noutros perifeacutericos estaacute

concentrada uma parte da pobreza

e da exclusatildeo social da cidade o

que tem suscitado a intervenccedilatildeo

de projetos de luta contra a pobre-

za maioritariamente financiados

por fundos europeus Todos estes

contextos se caracterizam por uma

forte desqualificaccedilatildeo territorial e

social reconhecida poliacutetica e

socialmente Contudo normal-

mente estes projetos satildeo de cara-

ter experimental e satildeo limitados

no tempo e no espaccedilo pelo que

natildeo originam mudanccedilas estruturais

nem permitem obter muitos resul-

tados positivos na integraccedilatildeo dos

ciganos

A integraccedilatildeo social dos ciganos

tem vindo a constituir-se como um

verdadeiro imperativo na socieda-

de contemporacircnea O resultado

desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-

ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da

Comissatildeo Europeia (em 2012) o

Quadro europeu para as estrateacute-

gias nacionais para a integraccedilatildeo

dos ciganos que se prevecirc melhorar

a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos

ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 8: Bolhetim educação social   janeiro 2014

8

Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social

Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-

da por teres aceite ser a entrevis-

tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana

Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos

Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo

com base na compreensatildeo e con-

fianccedila gosto de me envolver nas

suas atividades e procuro dar-lhes

o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes

natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos

um casal de geacutemeos e na fase da

adolescecircncia ehehhellip a mais velha

jaacute se encontra encaminhada traba-

lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-

ra em animaccedilatildeo sociocultural mas

continua sempre a procurar o meu

apoio

Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-

prios mas vou tentar Sou uma

pessoa alegre comunicativa e bas-

tante dedicada em tudo o que me

proponho a fazer Entendo que a

empatia que criamos com os

outros eacute muito importante para

desenvolver com sucesso todas as

nossas atividades principalmente

as que envolvem pessoas

Eacute com este lema que me proponho

a cumprir aquilo a que chamo mis-

satildeo

Repoacuterter APES - Quando e porque

eacute que decidiste ser uma

educadora social

Ana - Sempre fui boa alu-

na e muito assiacutedua mas

na minha adolescecircncia

decidi comeccedilar a traba-

lhar Mais tarde senti necessidade

de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e

assim decidi voltar aos estudos por

considerar que o estudo e a

empregabilidade caminham juntos

Desde 1992 que trabalho na aacuterea

da deficiecircncia achei que podia

fazer muito mais por esta popula-

ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute

cerca de 10 anos a voltar a estudar

agrave noite e de seguida fui tirar a

minha licenciatura como forma de

ir ao encontro da minha opccedilatildeo

profissional Tirei Educaccedilatildeo Social

na Escola Superior de Educaccedilatildeo de

Santareacutem com meacutedia de 12 valo-

res que me orgulho muito pois

sendo matildee de trecircs filhos trabalhar

e estudar soacute conseguindo ir agrave

faculdade uma manhatilde por semana

por motivos profissionais foi para

mim uma grande vitoacuteria e um

motivo de orgulho Continuo a

fazer sempre que posso forma-

ccedilotildees a participar em eventos con-

gressos seminaacuterios e cursos liga-

dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de

manter atualizados os meus

conhecimentos aproveito para

estreitar relacionamento com pro-

fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-

da facilita a administraccedilatildeo do dia-a

-dia na troca de experiecircncias

Repoacuterter APES - Podes falar-nos

um pouco do teu trabalho

Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991

Comecei como auxiliar passando

depois a monitora onde era res-

ponsaacutevel por um grupo de utentes

com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo

e orientaccedilatildeo do grupo

Desde 2008 que integrei o CRI- -

Centro de Recursos para Inclusatildeo

da Cercipoacutevoa que presta apoio

teacutecnico em vaacuterios agrupamentos

de escolas

As minhas funccedilotildees satildeo variadas

dependendo de cada agrupamen-

9

mentohellip Vou tentar dar uma ideia

das mesmas

Trabalho integrada no departa-

mento de educaccedilatildeo especial com

os alunos com necessidades edu-

cativas especiais Como sabem

estes alunos tem necessidades

diferentes dos outros alunos e

assim temos de ajudar na sua

integraccedilatildeo na sociedade por isso

eacute importante comeccedilar a fazer a

sua preparaccedilatildeo para a vida ativa

Consoante as caracteriacutesticas de

cada um oriento o seu encami-

nhamento para formaccedilatildeo profis-

sional para o Cao- Centro de Ati-

vidades Ocupacionais para pro-

gramas de voluntariado etc

Trabalho tambeacutem ao niacutevel do

desenvolvimento de competecircn-

cias pessoais e sociais a parte da

comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-

ccedilatildeo de problemas assertividade

emoccedilotildees etc aacuterea onde por

vezes tecircm muitas dificulda-

des Como pretendemos que

sejam o mais autoacutenomos possiacute-

veis faccedilo apoio direto na aacuterea

casacomunidade onde faccedilo trei-

nos de autonomia na comunida-

de como por exemplo ir agraves com-

pras saber para que servem e

como utilizar os serviccedilos puacuteblicos

da comunidade (correios banco

junta de freguesia etc) em casa

ao niacutevel da sua independecircncia

pessoal vestirdespir sozinhos

tarefas em casa etc tudo isto

aplicado em contexto real ao

niacutevel dos transportes puacuteblicos

treino trajetos consoante as suas

necessidades de deslocaccedilatildeo para

que num futuro o possam fazer

com autonomia por exemplo

para o seu local de trabalho

Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo

dos PEI ndash Programa Educativo

Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-

co Individual PIT- Plano Indivi-

dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-

mentos onde eacute registado o traba-

lho a desenvolver com estes alu-

nos

Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano

Individual de Transiccedilatildeo pretende-

se preparar os alunos para a vida

poacutes-escolar Fazem estaacutegios de

sensibilizaccedilatildeo profissional nas

empresas da comunidade (em

alguns casos dentro da escola

primeiramente e soacute depois na

comunidade) e cabe-me a mim

fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-

mento dos estaacutegios junto das

empresas acolhedoras e tambeacutem

sensibilizar as empresas para

receberem estes alunos o que

por vezes natildeo eacute faacutecil

Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-

no com os pais pois satildeo eles tam-

beacutem intervenientes importantes

neste processo Promovo visitas

reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-

sas

Integro tambeacutem as reuniotildees de

Conselhos de turmas e Departa-

mento de Educaccedilatildeo Especial

No final de cada periacuteodo tenho

tambeacutem de elaborar relatoacuterios do

trabalho desenvolvido com cada

aluno

Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo

em elaboraccedilatildeo de projetos

Eacute importante salientar que tudo eacute

desenvolvido em parceria com os

docentes de educaccedilatildeo especial

que acompanham cada aluno

O trabalho eacute muito diversificado e

por vezes surgem outras tare-

fas eacute difiacutecil estar a descrever

todas mas de uma maneira geral

eacute assim o meu dia-a-dia

Repoacuterter APES - Qual eacute o maior

desafio quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia

Ana - Quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia todos os

dias satildeo um desafio pois satildeo um

10

um puacuteblico muito diversificado

com caracteriacutesticas muito proacute-

prias Eu costumo dizer que para

se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso

gostar o resto vem por acumula-

ccedilatildeo Eacute importante todos os dias

manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute

-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los

sentir que satildeo capazes pois assim

conseguem mais facilmente ultra-

passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-

ta aacuterea por vezes podem ser mui-

to pequenas mas tem o sabor de

grandes conquistas

Eacute preciso um incremento contiacutenuo

de estrateacutegias e procedimentos

que lhes proporcionem mais e

melhores condiccedilotildees de aprendiza-

gemoportunidades de forma

solidaacuteria e cooperativa de manei-

ra a desenvolverem o mais possiacute-

vel as suas competecircncias pessoais

e sociais e a sua autonomia para

que exista uma verdadeira inclu-

satildeo

Por isso o lema eacute paciecircncia e per-

sistecircncia e muito importante

nunca desistir

Repoacuterter APES - Achas que ainda

existem muitos preconceitos por

parte dos profissionais e da socie-

dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-

ciecircncia

Ana - Sim acho apesar de ser

uma situaccedilatildeo que tem vindo a

melhorar nos uacuteltimos anos Cada

vez mais se ouve falar em inclusatildeo

e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da

parte da maioria dos profissionais

e da sociedade em geral no com-

bate ao preconceito e com o direi-

to de igualdade de oportunidades

para as pessoas com deficiecircncia

Mas neste campo existe ainda

muito trabalho a desenvolver

Porque todos noacutes temos precon-

ceitos em maior ou menor grau

O que acontece eacute que alguns dei-

xam extravasar para as suas atitu-

des e magoam as pessoas sem

pensar nas consequecircncias dos

seus atos Outros fazem-no de

uma forma mais dissimulada Mas

felizmente existem pessoas que

conseguem lidar com esse senti-

mento aceitam e respeitam as

diferenccedilas dos outros Temos

cada um de noacutes de combater esse

proacuteprio preconceito em cada con-

tato em cada nova amizade em

cada conversa em cada decisatildeo

dando oportunidades e acreditan-

do no potencial de cada um

Repoacuterter APES - Que conselho

darias aos nossos colegas que

natildeo estatildeo a trabalhar

Ana - O conselho que daria aos

colegas que natildeo estatildeo a trabalhar

na aacuterea eacute que natildeo desistam de

lutar por aquilo em que acredi-

tam Cada vez mais o nosso traba-

lho faz sentido Satildeo mais a cada

dia que passa as pessoas que pre-

cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil

mas com persistecircncia e envolven-

do-nos todos na divulgaccedilatildeo da

nossa profissatildeo havemos de con-

seguir ir cada vez mais longe

Repoacuterter APES - Obrigada Ana

foi um prazer entrevistar-te

Ana - Foi com muito gosto que

participei nesta entrevista onde

tentei mostrar um pouco do meu

trabalho que ADORO Espero ter

conseguido transmitir um pouco

do meu dia-a-dia aos colegas que

nunca trabalharam na aacuterea Dese-

jo a todos a continuaccedilatildeo de um

bom trabalho para os que natildeo

estatildeo na aacuterea que a oportunidade

chegue depressa para que pos-

sam mostrar os bons profissionais

que satildeo e continuarem a dignificar

a nossa profissatildeo

Todos juntos faremos a diferenccedila

11

Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila

Siacutelvia Franco

Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-

cesso em que abraccedilamos a oportu-

nidade de ensinar bem como a de

aprender Ensinar e aprender com

aqueles que nos rodeiam e com os

que se cruzam no nosso caminho

com os que satildeo chamados de pro-

fessores mas tambeacutem com os alu-

nos os agricultores os mecacircnicos

os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-

gos os historiadoreshellip com todos

independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo

que a sociedade lhes coloca

Da minha passagem por diferentes

contextos educativos aprendi a

valorizar o que chamo de diversi-

dade dialogante (Franco 2013)

bem como a abertura para a mes-

ma Na minha passagem por uma

licenciatura intercultural indiacutegena

no Brasil pude presenciar um pro-

cesso dialoacutegico construiacutedo por

todos os envolvidos e interessados

Neste processo as opiniotildees e

desejos dos alunos e da comunida-

de eram valorizados e parte funda-

mental no desenvolvimento do

curriacuteculo bem como no decurso de

todas as etapas do curso para as

quais era solicitada a presenccedila de

membros das comunidades indiacutege-

nas locais enquanto especialistas

em determinadas mateacuterias ou

seja na sua proacutepria cultura Bus-

cava-se diariamente uma escola

reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual

todos se sentissem responsaacuteveis

pelo sucesso pessoal e coletivo

pois a concretizaccedilatildeo deste curso

era jaacute uma vitoacuteria

Enquanto investigadora do Projeto

Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se

desenvolve na Costa de Caparica

tenho podido vivenciar reflexos

dessa mesma diversidade dialo-

gante O Projeto Fronteiras Urba-

nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-

cando a voz de trecircs comunidades

Comunidade Bairro Comunidade

Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-

ca Estas comunidades uniram-se

pela histoacuteria partilhada com o

intuito de buscar a visibilidade

para comunidades invisiacuteveis aos

olhos de entidades poliacuteticas e

sociais

Cada comunidade tinha agrave partida

um objetivo primordial e um obje-

tivo coletivo O objetivo coletivo

que une estas trecircs comunidades

centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute

cada comunidade isto eacute na diver-

sidade dialogante que une trecircs

comunidades nas lutas de cada

uma

A Comunidade Bairro luta haacute mais

de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais

perto das suas casas uma vez que

tecircm de fazer um percurso de dois

quiloacutemetros (ida e volta) por cami-

nhos acidentados para recolher

numa bica aacutegua para as suas roti-

nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-

ria debate-se com as crescentes

proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas

sem que as vozes dos pescadores

que compotildeem a comunidade

sejam ouvidas e a Comunidade

Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo

Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o

diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o

aprendiz e o aprendiz eacute o profes-

sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)

Numa primeira etapa foram dese-

nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo

Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-

rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-

ria segundo os desejos dos mem-

bros das comunidades No desen-

volvimento destas tarefas procu-

12

raacutemos ter em mente as palavras de

Paulo Freire

natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os

que querem a pronuacutencia do mundo

e os que natildeo a querem entre os

que negam aos demais o direito de

dizer a palavra e os que se acham

negados deste direito Eacute preciso

primeiro que os que assim se

encontram negados no direito pri-

mordial de dizer a palavra recon-

quistem esse direito proibindo que

este assalto desumanizante conti-

nue (Freire 2008 91)

Em consciecircncia de que o envolvi-

mento dos indiviacuteduos na luta pela

sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por

ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-

cionalidade na medida em que

desafiados por ela agem sobre

elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos

deparando com momentos enri-

quecedores de partilha de conheci-

mentos e accedilatildeo sobre o seu meio

implementando diaacutelogos com insti-

tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-

vas reforccedilando os seus desejos e

direitos

Estes movimentos possibilitaram o

regresso de vaacuterios jovens a contex-

tos escolares a eleiccedilatildeo de uma

comissatildeo de moradores a partici-

paccedilatildeo de membros das trecircs comu-

nidades em eventos de dissemina-

ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual

movimento Escola do Bairro Nesta

escola criam-se espaccedilos e tempos

para a diversidade dialogante

numa dinacircmica de partilha onde

um membro da Comunidade Bair-

ro de naturalidade cabo-verdiana

ensina kriolu a outros moradores e

a amigos interessados das outras

duas comunidades ou que se apro-

ximaram deste movimento Da

mesma forma satildeo recebidas pes-

soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e

outras disciplinas para partilharem

os seus conhecimentos fazendo-se

um intercacircmbio de conhecimentos

e praacuteticas

Eacute no sentido desta Escola do Bairro

que falo em ldquoeducar com a dife-

renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute

importante educar para a diferen-

ccedila para nos conscientizarmos de

que satildeo as diferenccedilas que nos tor-

nam todos iguais Contudo consi-

dero que a essecircncia da educaccedilatildeo

estaraacute essencialmente em educar

com aprender com fazer comhellip

Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)

13

Referecircncias

Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre

Artmed Editora

Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de

Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-

cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http

hdlhandlenet104518118

Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra

TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from

httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY

Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)

14

Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu

Sofia Aurora Santos

Mestre em Educaccedilatildeo Social

ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-

ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os

ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor

mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo

ldquoSatildeo uma cambada de bandidos

tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o

Rendimento aos ciganosrdquo etc

etc etc Estas satildeo algumas das

expressotildees que oiccedilo constante-

mente sobre os ciganos e certa-

mente satildeo familiares a muitas pes-

soas O desconhecimento das tra-

diccedilotildees e costumes dos ciganos

reforccedila a ignoracircncia da maioria

que se acha superior A compreen-

satildeo e o conhecimento satildeo impor-

tantes no processo de integraccedilatildeo

do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas

fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser

motivo de exclusatildeo social

Estas expressotildees natildeo satildeo funda-

mentadas nem dignas de respeito

por quem as diz Foram pensamen-

tos expressotildees e comportamentos

deste tipo que um senhor chama-

do Adolfo Hitler fez o que fez

durante a 2ordf Guerra Mundial pen-

so que natildeo seja necessaacuterio descre-

ver mas vale a pena parar para

refletir e ver que infelizmente o

neonazismo estaacute a aparecer na

Europa Prova disso eacute o que se pas-

sa atualmente na Hungria que foi

o primeiro Estado-membro da

Uniatildeo Europeia a ser acusado de

violar os valores europeus e como

consequecircncia a Comissatildeo Europeia

suspendeu todas as negociaccedilotildees

com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-

nha o Estado de Direito

Atos impensaacuteveis incontrolados

desumanos satildeo todos os dias pra-

ticados contra os ciganos e outros

grupos eacutetnicos em todo o mundo

mas o grupo dos ciganos eacute o mais

sacrificado Mas porquecirc os ciga-

nos Eacute esta a questatildeo para a qual

tento obter uma resposta haacute mui-

tos anos e certamente estaacute longe

de ser respondida

Foi principalmente devido a um

comentaacuterio racista vindo de um

membro da autarquia farense em

2007 (em contexto de estaacutegio da

licenciatura) que comeccedilou a minha

luta mais vincada pelos direitos

humanos dos ciganos

Desde muito jovem que tenho um

espiacuterito humanitaacuterio e lutador a

favor dos direitos humanos A

minha adolescecircncia no Corpo

Nacional de Escutas (CNE) fez-me

despertar para ajudar o proacuteximo

os que mais precisam e a respeitar

a Natureza e a Pacha Mama

(Terra)

A escolha do curso de Educaccedilatildeo

Social foi faacutecil faze-lo foi simples

praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os

obstaacuteculos encontrados na socie-

dade para se poder trabalhar a

diferenccedila entre grupos e pessoas

O Educador Social tem de ter uma

grande capacidade de adaptaccedilatildeo

aos contextos e aos seus protago-

nistas Deve saber muito bem o

que quer e para onde quer ir ou

seja traccedilar e definir objetivos Tra-

balhar no que se gosta ajuda a con-

tribuir para a felicidade natildeo soacute a

proacutepria mas tambeacutem a dos outros

Assim prossigo o meu caminho

pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os

objetivos e enquanto natildeo os reali-

zo natildeo descanso

Nesta minha aventura pelo

ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer

15

que um dos momentos mais mar-

cante da minha vida foi a visita ao

Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-

witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir

cheirar tocar e imaginar tudo o

que laacute se passou foi muito intenso

Momento inexplicaacutevel Acho que

qualquer pessoa que visite este

local certamente vai mudar a sua

opiniatildeo e comportamento acerca

da luta pelos direitos humanos

A experiecircncia em intercacircmbios e

formaccedilotildees internacionais foram

dos momentos mais interessantes

e importantes para adquirir conhe-

cimento e partilhar experiecircncias

com outros ativistas ciganos e natildeo

ciganos sobre os direitos humanos

Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de

risco (viacutetimas de violecircncia domesti-

ca sem-abrigo crianccedilas com

necessidade educativas especiais

etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-

nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute

faacutecil falar sobre os ciganos mas

ainda eacute mais difiacutecil falar com as

pessoas natildeo ciganas O sentimento

de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-

te quando se fala com os ciganos

todos tecircm uma experiecircncia discri-

minatoacuteria para contar

A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-

rencia nem reconhece politicamen-

te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes

ou seja do ponto de vista juriacutedico

e poliacutetico natildeo existem ciganos

Atualmente trabalhar com ciganos

estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-

do ou porque ldquovem ai dinheirordquo

para fazer projetos para os ciga-

nos De repente desperta-se a

ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-

ccedilotildees para os pro-

blemas do grupo

eacutetnico Um dos

meacutetodos que tecircm

vindo a ser experi-

mentados no senti-

do da promoccedilatildeo da

integraccedilatildeo deste

grupo tem sido a

execuccedilatildeo de proje-

tos nacionais eou

internacionais com

intervenccedilotildees no

terreno que permi-

tam produzir

conhecimento

acerca dos seus

modos de vida Na

sua maioria os pro-

jetos natildeo satildeo do

conhecimento dos

ciganos e muitas vezes natildeo corres-

pondem agraves necessidades das popu-

laccedilotildees Os principais problemas

que afetam grande parte dos por-

tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees

ao niacutevel educativo e habitacional o

desemprego a inserccedilatildeo no merca-

do de trabalho a pobreza a exclu-

satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-

naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo

Em Faro no bairro da Av Cidade

Hayward no bairro da Horta da

Areia e noutros perifeacutericos estaacute

concentrada uma parte da pobreza

e da exclusatildeo social da cidade o

que tem suscitado a intervenccedilatildeo

de projetos de luta contra a pobre-

za maioritariamente financiados

por fundos europeus Todos estes

contextos se caracterizam por uma

forte desqualificaccedilatildeo territorial e

social reconhecida poliacutetica e

socialmente Contudo normal-

mente estes projetos satildeo de cara-

ter experimental e satildeo limitados

no tempo e no espaccedilo pelo que

natildeo originam mudanccedilas estruturais

nem permitem obter muitos resul-

tados positivos na integraccedilatildeo dos

ciganos

A integraccedilatildeo social dos ciganos

tem vindo a constituir-se como um

verdadeiro imperativo na socieda-

de contemporacircnea O resultado

desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-

ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da

Comissatildeo Europeia (em 2012) o

Quadro europeu para as estrateacute-

gias nacionais para a integraccedilatildeo

dos ciganos que se prevecirc melhorar

a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos

ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 9: Bolhetim educação social   janeiro 2014

9

mentohellip Vou tentar dar uma ideia

das mesmas

Trabalho integrada no departa-

mento de educaccedilatildeo especial com

os alunos com necessidades edu-

cativas especiais Como sabem

estes alunos tem necessidades

diferentes dos outros alunos e

assim temos de ajudar na sua

integraccedilatildeo na sociedade por isso

eacute importante comeccedilar a fazer a

sua preparaccedilatildeo para a vida ativa

Consoante as caracteriacutesticas de

cada um oriento o seu encami-

nhamento para formaccedilatildeo profis-

sional para o Cao- Centro de Ati-

vidades Ocupacionais para pro-

gramas de voluntariado etc

Trabalho tambeacutem ao niacutevel do

desenvolvimento de competecircn-

cias pessoais e sociais a parte da

comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-

ccedilatildeo de problemas assertividade

emoccedilotildees etc aacuterea onde por

vezes tecircm muitas dificulda-

des Como pretendemos que

sejam o mais autoacutenomos possiacute-

veis faccedilo apoio direto na aacuterea

casacomunidade onde faccedilo trei-

nos de autonomia na comunida-

de como por exemplo ir agraves com-

pras saber para que servem e

como utilizar os serviccedilos puacuteblicos

da comunidade (correios banco

junta de freguesia etc) em casa

ao niacutevel da sua independecircncia

pessoal vestirdespir sozinhos

tarefas em casa etc tudo isto

aplicado em contexto real ao

niacutevel dos transportes puacuteblicos

treino trajetos consoante as suas

necessidades de deslocaccedilatildeo para

que num futuro o possam fazer

com autonomia por exemplo

para o seu local de trabalho

Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo

dos PEI ndash Programa Educativo

Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-

co Individual PIT- Plano Indivi-

dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-

mentos onde eacute registado o traba-

lho a desenvolver com estes alu-

nos

Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano

Individual de Transiccedilatildeo pretende-

se preparar os alunos para a vida

poacutes-escolar Fazem estaacutegios de

sensibilizaccedilatildeo profissional nas

empresas da comunidade (em

alguns casos dentro da escola

primeiramente e soacute depois na

comunidade) e cabe-me a mim

fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-

mento dos estaacutegios junto das

empresas acolhedoras e tambeacutem

sensibilizar as empresas para

receberem estes alunos o que

por vezes natildeo eacute faacutecil

Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-

no com os pais pois satildeo eles tam-

beacutem intervenientes importantes

neste processo Promovo visitas

reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-

sas

Integro tambeacutem as reuniotildees de

Conselhos de turmas e Departa-

mento de Educaccedilatildeo Especial

No final de cada periacuteodo tenho

tambeacutem de elaborar relatoacuterios do

trabalho desenvolvido com cada

aluno

Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo

em elaboraccedilatildeo de projetos

Eacute importante salientar que tudo eacute

desenvolvido em parceria com os

docentes de educaccedilatildeo especial

que acompanham cada aluno

O trabalho eacute muito diversificado e

por vezes surgem outras tare-

fas eacute difiacutecil estar a descrever

todas mas de uma maneira geral

eacute assim o meu dia-a-dia

Repoacuterter APES - Qual eacute o maior

desafio quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia

Ana - Quando se trabalha com

pessoas com deficiecircncia todos os

dias satildeo um desafio pois satildeo um

10

um puacuteblico muito diversificado

com caracteriacutesticas muito proacute-

prias Eu costumo dizer que para

se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso

gostar o resto vem por acumula-

ccedilatildeo Eacute importante todos os dias

manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute

-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los

sentir que satildeo capazes pois assim

conseguem mais facilmente ultra-

passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-

ta aacuterea por vezes podem ser mui-

to pequenas mas tem o sabor de

grandes conquistas

Eacute preciso um incremento contiacutenuo

de estrateacutegias e procedimentos

que lhes proporcionem mais e

melhores condiccedilotildees de aprendiza-

gemoportunidades de forma

solidaacuteria e cooperativa de manei-

ra a desenvolverem o mais possiacute-

vel as suas competecircncias pessoais

e sociais e a sua autonomia para

que exista uma verdadeira inclu-

satildeo

Por isso o lema eacute paciecircncia e per-

sistecircncia e muito importante

nunca desistir

Repoacuterter APES - Achas que ainda

existem muitos preconceitos por

parte dos profissionais e da socie-

dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-

ciecircncia

Ana - Sim acho apesar de ser

uma situaccedilatildeo que tem vindo a

melhorar nos uacuteltimos anos Cada

vez mais se ouve falar em inclusatildeo

e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da

parte da maioria dos profissionais

e da sociedade em geral no com-

bate ao preconceito e com o direi-

to de igualdade de oportunidades

para as pessoas com deficiecircncia

Mas neste campo existe ainda

muito trabalho a desenvolver

Porque todos noacutes temos precon-

ceitos em maior ou menor grau

O que acontece eacute que alguns dei-

xam extravasar para as suas atitu-

des e magoam as pessoas sem

pensar nas consequecircncias dos

seus atos Outros fazem-no de

uma forma mais dissimulada Mas

felizmente existem pessoas que

conseguem lidar com esse senti-

mento aceitam e respeitam as

diferenccedilas dos outros Temos

cada um de noacutes de combater esse

proacuteprio preconceito em cada con-

tato em cada nova amizade em

cada conversa em cada decisatildeo

dando oportunidades e acreditan-

do no potencial de cada um

Repoacuterter APES - Que conselho

darias aos nossos colegas que

natildeo estatildeo a trabalhar

Ana - O conselho que daria aos

colegas que natildeo estatildeo a trabalhar

na aacuterea eacute que natildeo desistam de

lutar por aquilo em que acredi-

tam Cada vez mais o nosso traba-

lho faz sentido Satildeo mais a cada

dia que passa as pessoas que pre-

cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil

mas com persistecircncia e envolven-

do-nos todos na divulgaccedilatildeo da

nossa profissatildeo havemos de con-

seguir ir cada vez mais longe

Repoacuterter APES - Obrigada Ana

foi um prazer entrevistar-te

Ana - Foi com muito gosto que

participei nesta entrevista onde

tentei mostrar um pouco do meu

trabalho que ADORO Espero ter

conseguido transmitir um pouco

do meu dia-a-dia aos colegas que

nunca trabalharam na aacuterea Dese-

jo a todos a continuaccedilatildeo de um

bom trabalho para os que natildeo

estatildeo na aacuterea que a oportunidade

chegue depressa para que pos-

sam mostrar os bons profissionais

que satildeo e continuarem a dignificar

a nossa profissatildeo

Todos juntos faremos a diferenccedila

11

Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila

Siacutelvia Franco

Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-

cesso em que abraccedilamos a oportu-

nidade de ensinar bem como a de

aprender Ensinar e aprender com

aqueles que nos rodeiam e com os

que se cruzam no nosso caminho

com os que satildeo chamados de pro-

fessores mas tambeacutem com os alu-

nos os agricultores os mecacircnicos

os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-

gos os historiadoreshellip com todos

independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo

que a sociedade lhes coloca

Da minha passagem por diferentes

contextos educativos aprendi a

valorizar o que chamo de diversi-

dade dialogante (Franco 2013)

bem como a abertura para a mes-

ma Na minha passagem por uma

licenciatura intercultural indiacutegena

no Brasil pude presenciar um pro-

cesso dialoacutegico construiacutedo por

todos os envolvidos e interessados

Neste processo as opiniotildees e

desejos dos alunos e da comunida-

de eram valorizados e parte funda-

mental no desenvolvimento do

curriacuteculo bem como no decurso de

todas as etapas do curso para as

quais era solicitada a presenccedila de

membros das comunidades indiacutege-

nas locais enquanto especialistas

em determinadas mateacuterias ou

seja na sua proacutepria cultura Bus-

cava-se diariamente uma escola

reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual

todos se sentissem responsaacuteveis

pelo sucesso pessoal e coletivo

pois a concretizaccedilatildeo deste curso

era jaacute uma vitoacuteria

Enquanto investigadora do Projeto

Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se

desenvolve na Costa de Caparica

tenho podido vivenciar reflexos

dessa mesma diversidade dialo-

gante O Projeto Fronteiras Urba-

nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-

cando a voz de trecircs comunidades

Comunidade Bairro Comunidade

Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-

ca Estas comunidades uniram-se

pela histoacuteria partilhada com o

intuito de buscar a visibilidade

para comunidades invisiacuteveis aos

olhos de entidades poliacuteticas e

sociais

Cada comunidade tinha agrave partida

um objetivo primordial e um obje-

tivo coletivo O objetivo coletivo

que une estas trecircs comunidades

centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute

cada comunidade isto eacute na diver-

sidade dialogante que une trecircs

comunidades nas lutas de cada

uma

A Comunidade Bairro luta haacute mais

de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais

perto das suas casas uma vez que

tecircm de fazer um percurso de dois

quiloacutemetros (ida e volta) por cami-

nhos acidentados para recolher

numa bica aacutegua para as suas roti-

nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-

ria debate-se com as crescentes

proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas

sem que as vozes dos pescadores

que compotildeem a comunidade

sejam ouvidas e a Comunidade

Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo

Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o

diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o

aprendiz e o aprendiz eacute o profes-

sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)

Numa primeira etapa foram dese-

nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo

Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-

rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-

ria segundo os desejos dos mem-

bros das comunidades No desen-

volvimento destas tarefas procu-

12

raacutemos ter em mente as palavras de

Paulo Freire

natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os

que querem a pronuacutencia do mundo

e os que natildeo a querem entre os

que negam aos demais o direito de

dizer a palavra e os que se acham

negados deste direito Eacute preciso

primeiro que os que assim se

encontram negados no direito pri-

mordial de dizer a palavra recon-

quistem esse direito proibindo que

este assalto desumanizante conti-

nue (Freire 2008 91)

Em consciecircncia de que o envolvi-

mento dos indiviacuteduos na luta pela

sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por

ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-

cionalidade na medida em que

desafiados por ela agem sobre

elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos

deparando com momentos enri-

quecedores de partilha de conheci-

mentos e accedilatildeo sobre o seu meio

implementando diaacutelogos com insti-

tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-

vas reforccedilando os seus desejos e

direitos

Estes movimentos possibilitaram o

regresso de vaacuterios jovens a contex-

tos escolares a eleiccedilatildeo de uma

comissatildeo de moradores a partici-

paccedilatildeo de membros das trecircs comu-

nidades em eventos de dissemina-

ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual

movimento Escola do Bairro Nesta

escola criam-se espaccedilos e tempos

para a diversidade dialogante

numa dinacircmica de partilha onde

um membro da Comunidade Bair-

ro de naturalidade cabo-verdiana

ensina kriolu a outros moradores e

a amigos interessados das outras

duas comunidades ou que se apro-

ximaram deste movimento Da

mesma forma satildeo recebidas pes-

soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e

outras disciplinas para partilharem

os seus conhecimentos fazendo-se

um intercacircmbio de conhecimentos

e praacuteticas

Eacute no sentido desta Escola do Bairro

que falo em ldquoeducar com a dife-

renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute

importante educar para a diferen-

ccedila para nos conscientizarmos de

que satildeo as diferenccedilas que nos tor-

nam todos iguais Contudo consi-

dero que a essecircncia da educaccedilatildeo

estaraacute essencialmente em educar

com aprender com fazer comhellip

Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)

13

Referecircncias

Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre

Artmed Editora

Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de

Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-

cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http

hdlhandlenet104518118

Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra

TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from

httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY

Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)

14

Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu

Sofia Aurora Santos

Mestre em Educaccedilatildeo Social

ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-

ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os

ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor

mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo

ldquoSatildeo uma cambada de bandidos

tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o

Rendimento aos ciganosrdquo etc

etc etc Estas satildeo algumas das

expressotildees que oiccedilo constante-

mente sobre os ciganos e certa-

mente satildeo familiares a muitas pes-

soas O desconhecimento das tra-

diccedilotildees e costumes dos ciganos

reforccedila a ignoracircncia da maioria

que se acha superior A compreen-

satildeo e o conhecimento satildeo impor-

tantes no processo de integraccedilatildeo

do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas

fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser

motivo de exclusatildeo social

Estas expressotildees natildeo satildeo funda-

mentadas nem dignas de respeito

por quem as diz Foram pensamen-

tos expressotildees e comportamentos

deste tipo que um senhor chama-

do Adolfo Hitler fez o que fez

durante a 2ordf Guerra Mundial pen-

so que natildeo seja necessaacuterio descre-

ver mas vale a pena parar para

refletir e ver que infelizmente o

neonazismo estaacute a aparecer na

Europa Prova disso eacute o que se pas-

sa atualmente na Hungria que foi

o primeiro Estado-membro da

Uniatildeo Europeia a ser acusado de

violar os valores europeus e como

consequecircncia a Comissatildeo Europeia

suspendeu todas as negociaccedilotildees

com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-

nha o Estado de Direito

Atos impensaacuteveis incontrolados

desumanos satildeo todos os dias pra-

ticados contra os ciganos e outros

grupos eacutetnicos em todo o mundo

mas o grupo dos ciganos eacute o mais

sacrificado Mas porquecirc os ciga-

nos Eacute esta a questatildeo para a qual

tento obter uma resposta haacute mui-

tos anos e certamente estaacute longe

de ser respondida

Foi principalmente devido a um

comentaacuterio racista vindo de um

membro da autarquia farense em

2007 (em contexto de estaacutegio da

licenciatura) que comeccedilou a minha

luta mais vincada pelos direitos

humanos dos ciganos

Desde muito jovem que tenho um

espiacuterito humanitaacuterio e lutador a

favor dos direitos humanos A

minha adolescecircncia no Corpo

Nacional de Escutas (CNE) fez-me

despertar para ajudar o proacuteximo

os que mais precisam e a respeitar

a Natureza e a Pacha Mama

(Terra)

A escolha do curso de Educaccedilatildeo

Social foi faacutecil faze-lo foi simples

praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os

obstaacuteculos encontrados na socie-

dade para se poder trabalhar a

diferenccedila entre grupos e pessoas

O Educador Social tem de ter uma

grande capacidade de adaptaccedilatildeo

aos contextos e aos seus protago-

nistas Deve saber muito bem o

que quer e para onde quer ir ou

seja traccedilar e definir objetivos Tra-

balhar no que se gosta ajuda a con-

tribuir para a felicidade natildeo soacute a

proacutepria mas tambeacutem a dos outros

Assim prossigo o meu caminho

pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os

objetivos e enquanto natildeo os reali-

zo natildeo descanso

Nesta minha aventura pelo

ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer

15

que um dos momentos mais mar-

cante da minha vida foi a visita ao

Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-

witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir

cheirar tocar e imaginar tudo o

que laacute se passou foi muito intenso

Momento inexplicaacutevel Acho que

qualquer pessoa que visite este

local certamente vai mudar a sua

opiniatildeo e comportamento acerca

da luta pelos direitos humanos

A experiecircncia em intercacircmbios e

formaccedilotildees internacionais foram

dos momentos mais interessantes

e importantes para adquirir conhe-

cimento e partilhar experiecircncias

com outros ativistas ciganos e natildeo

ciganos sobre os direitos humanos

Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de

risco (viacutetimas de violecircncia domesti-

ca sem-abrigo crianccedilas com

necessidade educativas especiais

etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-

nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute

faacutecil falar sobre os ciganos mas

ainda eacute mais difiacutecil falar com as

pessoas natildeo ciganas O sentimento

de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-

te quando se fala com os ciganos

todos tecircm uma experiecircncia discri-

minatoacuteria para contar

A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-

rencia nem reconhece politicamen-

te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes

ou seja do ponto de vista juriacutedico

e poliacutetico natildeo existem ciganos

Atualmente trabalhar com ciganos

estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-

do ou porque ldquovem ai dinheirordquo

para fazer projetos para os ciga-

nos De repente desperta-se a

ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-

ccedilotildees para os pro-

blemas do grupo

eacutetnico Um dos

meacutetodos que tecircm

vindo a ser experi-

mentados no senti-

do da promoccedilatildeo da

integraccedilatildeo deste

grupo tem sido a

execuccedilatildeo de proje-

tos nacionais eou

internacionais com

intervenccedilotildees no

terreno que permi-

tam produzir

conhecimento

acerca dos seus

modos de vida Na

sua maioria os pro-

jetos natildeo satildeo do

conhecimento dos

ciganos e muitas vezes natildeo corres-

pondem agraves necessidades das popu-

laccedilotildees Os principais problemas

que afetam grande parte dos por-

tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees

ao niacutevel educativo e habitacional o

desemprego a inserccedilatildeo no merca-

do de trabalho a pobreza a exclu-

satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-

naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo

Em Faro no bairro da Av Cidade

Hayward no bairro da Horta da

Areia e noutros perifeacutericos estaacute

concentrada uma parte da pobreza

e da exclusatildeo social da cidade o

que tem suscitado a intervenccedilatildeo

de projetos de luta contra a pobre-

za maioritariamente financiados

por fundos europeus Todos estes

contextos se caracterizam por uma

forte desqualificaccedilatildeo territorial e

social reconhecida poliacutetica e

socialmente Contudo normal-

mente estes projetos satildeo de cara-

ter experimental e satildeo limitados

no tempo e no espaccedilo pelo que

natildeo originam mudanccedilas estruturais

nem permitem obter muitos resul-

tados positivos na integraccedilatildeo dos

ciganos

A integraccedilatildeo social dos ciganos

tem vindo a constituir-se como um

verdadeiro imperativo na socieda-

de contemporacircnea O resultado

desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-

ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da

Comissatildeo Europeia (em 2012) o

Quadro europeu para as estrateacute-

gias nacionais para a integraccedilatildeo

dos ciganos que se prevecirc melhorar

a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos

ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 10: Bolhetim educação social   janeiro 2014

10

um puacuteblico muito diversificado

com caracteriacutesticas muito proacute-

prias Eu costumo dizer que para

se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso

gostar o resto vem por acumula-

ccedilatildeo Eacute importante todos os dias

manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute

-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los

sentir que satildeo capazes pois assim

conseguem mais facilmente ultra-

passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-

ta aacuterea por vezes podem ser mui-

to pequenas mas tem o sabor de

grandes conquistas

Eacute preciso um incremento contiacutenuo

de estrateacutegias e procedimentos

que lhes proporcionem mais e

melhores condiccedilotildees de aprendiza-

gemoportunidades de forma

solidaacuteria e cooperativa de manei-

ra a desenvolverem o mais possiacute-

vel as suas competecircncias pessoais

e sociais e a sua autonomia para

que exista uma verdadeira inclu-

satildeo

Por isso o lema eacute paciecircncia e per-

sistecircncia e muito importante

nunca desistir

Repoacuterter APES - Achas que ainda

existem muitos preconceitos por

parte dos profissionais e da socie-

dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-

ciecircncia

Ana - Sim acho apesar de ser

uma situaccedilatildeo que tem vindo a

melhorar nos uacuteltimos anos Cada

vez mais se ouve falar em inclusatildeo

e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da

parte da maioria dos profissionais

e da sociedade em geral no com-

bate ao preconceito e com o direi-

to de igualdade de oportunidades

para as pessoas com deficiecircncia

Mas neste campo existe ainda

muito trabalho a desenvolver

Porque todos noacutes temos precon-

ceitos em maior ou menor grau

O que acontece eacute que alguns dei-

xam extravasar para as suas atitu-

des e magoam as pessoas sem

pensar nas consequecircncias dos

seus atos Outros fazem-no de

uma forma mais dissimulada Mas

felizmente existem pessoas que

conseguem lidar com esse senti-

mento aceitam e respeitam as

diferenccedilas dos outros Temos

cada um de noacutes de combater esse

proacuteprio preconceito em cada con-

tato em cada nova amizade em

cada conversa em cada decisatildeo

dando oportunidades e acreditan-

do no potencial de cada um

Repoacuterter APES - Que conselho

darias aos nossos colegas que

natildeo estatildeo a trabalhar

Ana - O conselho que daria aos

colegas que natildeo estatildeo a trabalhar

na aacuterea eacute que natildeo desistam de

lutar por aquilo em que acredi-

tam Cada vez mais o nosso traba-

lho faz sentido Satildeo mais a cada

dia que passa as pessoas que pre-

cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil

mas com persistecircncia e envolven-

do-nos todos na divulgaccedilatildeo da

nossa profissatildeo havemos de con-

seguir ir cada vez mais longe

Repoacuterter APES - Obrigada Ana

foi um prazer entrevistar-te

Ana - Foi com muito gosto que

participei nesta entrevista onde

tentei mostrar um pouco do meu

trabalho que ADORO Espero ter

conseguido transmitir um pouco

do meu dia-a-dia aos colegas que

nunca trabalharam na aacuterea Dese-

jo a todos a continuaccedilatildeo de um

bom trabalho para os que natildeo

estatildeo na aacuterea que a oportunidade

chegue depressa para que pos-

sam mostrar os bons profissionais

que satildeo e continuarem a dignificar

a nossa profissatildeo

Todos juntos faremos a diferenccedila

11

Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila

Siacutelvia Franco

Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-

cesso em que abraccedilamos a oportu-

nidade de ensinar bem como a de

aprender Ensinar e aprender com

aqueles que nos rodeiam e com os

que se cruzam no nosso caminho

com os que satildeo chamados de pro-

fessores mas tambeacutem com os alu-

nos os agricultores os mecacircnicos

os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-

gos os historiadoreshellip com todos

independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo

que a sociedade lhes coloca

Da minha passagem por diferentes

contextos educativos aprendi a

valorizar o que chamo de diversi-

dade dialogante (Franco 2013)

bem como a abertura para a mes-

ma Na minha passagem por uma

licenciatura intercultural indiacutegena

no Brasil pude presenciar um pro-

cesso dialoacutegico construiacutedo por

todos os envolvidos e interessados

Neste processo as opiniotildees e

desejos dos alunos e da comunida-

de eram valorizados e parte funda-

mental no desenvolvimento do

curriacuteculo bem como no decurso de

todas as etapas do curso para as

quais era solicitada a presenccedila de

membros das comunidades indiacutege-

nas locais enquanto especialistas

em determinadas mateacuterias ou

seja na sua proacutepria cultura Bus-

cava-se diariamente uma escola

reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual

todos se sentissem responsaacuteveis

pelo sucesso pessoal e coletivo

pois a concretizaccedilatildeo deste curso

era jaacute uma vitoacuteria

Enquanto investigadora do Projeto

Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se

desenvolve na Costa de Caparica

tenho podido vivenciar reflexos

dessa mesma diversidade dialo-

gante O Projeto Fronteiras Urba-

nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-

cando a voz de trecircs comunidades

Comunidade Bairro Comunidade

Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-

ca Estas comunidades uniram-se

pela histoacuteria partilhada com o

intuito de buscar a visibilidade

para comunidades invisiacuteveis aos

olhos de entidades poliacuteticas e

sociais

Cada comunidade tinha agrave partida

um objetivo primordial e um obje-

tivo coletivo O objetivo coletivo

que une estas trecircs comunidades

centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute

cada comunidade isto eacute na diver-

sidade dialogante que une trecircs

comunidades nas lutas de cada

uma

A Comunidade Bairro luta haacute mais

de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais

perto das suas casas uma vez que

tecircm de fazer um percurso de dois

quiloacutemetros (ida e volta) por cami-

nhos acidentados para recolher

numa bica aacutegua para as suas roti-

nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-

ria debate-se com as crescentes

proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas

sem que as vozes dos pescadores

que compotildeem a comunidade

sejam ouvidas e a Comunidade

Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo

Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o

diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o

aprendiz e o aprendiz eacute o profes-

sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)

Numa primeira etapa foram dese-

nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo

Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-

rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-

ria segundo os desejos dos mem-

bros das comunidades No desen-

volvimento destas tarefas procu-

12

raacutemos ter em mente as palavras de

Paulo Freire

natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os

que querem a pronuacutencia do mundo

e os que natildeo a querem entre os

que negam aos demais o direito de

dizer a palavra e os que se acham

negados deste direito Eacute preciso

primeiro que os que assim se

encontram negados no direito pri-

mordial de dizer a palavra recon-

quistem esse direito proibindo que

este assalto desumanizante conti-

nue (Freire 2008 91)

Em consciecircncia de que o envolvi-

mento dos indiviacuteduos na luta pela

sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por

ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-

cionalidade na medida em que

desafiados por ela agem sobre

elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos

deparando com momentos enri-

quecedores de partilha de conheci-

mentos e accedilatildeo sobre o seu meio

implementando diaacutelogos com insti-

tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-

vas reforccedilando os seus desejos e

direitos

Estes movimentos possibilitaram o

regresso de vaacuterios jovens a contex-

tos escolares a eleiccedilatildeo de uma

comissatildeo de moradores a partici-

paccedilatildeo de membros das trecircs comu-

nidades em eventos de dissemina-

ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual

movimento Escola do Bairro Nesta

escola criam-se espaccedilos e tempos

para a diversidade dialogante

numa dinacircmica de partilha onde

um membro da Comunidade Bair-

ro de naturalidade cabo-verdiana

ensina kriolu a outros moradores e

a amigos interessados das outras

duas comunidades ou que se apro-

ximaram deste movimento Da

mesma forma satildeo recebidas pes-

soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e

outras disciplinas para partilharem

os seus conhecimentos fazendo-se

um intercacircmbio de conhecimentos

e praacuteticas

Eacute no sentido desta Escola do Bairro

que falo em ldquoeducar com a dife-

renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute

importante educar para a diferen-

ccedila para nos conscientizarmos de

que satildeo as diferenccedilas que nos tor-

nam todos iguais Contudo consi-

dero que a essecircncia da educaccedilatildeo

estaraacute essencialmente em educar

com aprender com fazer comhellip

Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)

13

Referecircncias

Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre

Artmed Editora

Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de

Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-

cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http

hdlhandlenet104518118

Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra

TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from

httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY

Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)

14

Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu

Sofia Aurora Santos

Mestre em Educaccedilatildeo Social

ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-

ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os

ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor

mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo

ldquoSatildeo uma cambada de bandidos

tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o

Rendimento aos ciganosrdquo etc

etc etc Estas satildeo algumas das

expressotildees que oiccedilo constante-

mente sobre os ciganos e certa-

mente satildeo familiares a muitas pes-

soas O desconhecimento das tra-

diccedilotildees e costumes dos ciganos

reforccedila a ignoracircncia da maioria

que se acha superior A compreen-

satildeo e o conhecimento satildeo impor-

tantes no processo de integraccedilatildeo

do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas

fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser

motivo de exclusatildeo social

Estas expressotildees natildeo satildeo funda-

mentadas nem dignas de respeito

por quem as diz Foram pensamen-

tos expressotildees e comportamentos

deste tipo que um senhor chama-

do Adolfo Hitler fez o que fez

durante a 2ordf Guerra Mundial pen-

so que natildeo seja necessaacuterio descre-

ver mas vale a pena parar para

refletir e ver que infelizmente o

neonazismo estaacute a aparecer na

Europa Prova disso eacute o que se pas-

sa atualmente na Hungria que foi

o primeiro Estado-membro da

Uniatildeo Europeia a ser acusado de

violar os valores europeus e como

consequecircncia a Comissatildeo Europeia

suspendeu todas as negociaccedilotildees

com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-

nha o Estado de Direito

Atos impensaacuteveis incontrolados

desumanos satildeo todos os dias pra-

ticados contra os ciganos e outros

grupos eacutetnicos em todo o mundo

mas o grupo dos ciganos eacute o mais

sacrificado Mas porquecirc os ciga-

nos Eacute esta a questatildeo para a qual

tento obter uma resposta haacute mui-

tos anos e certamente estaacute longe

de ser respondida

Foi principalmente devido a um

comentaacuterio racista vindo de um

membro da autarquia farense em

2007 (em contexto de estaacutegio da

licenciatura) que comeccedilou a minha

luta mais vincada pelos direitos

humanos dos ciganos

Desde muito jovem que tenho um

espiacuterito humanitaacuterio e lutador a

favor dos direitos humanos A

minha adolescecircncia no Corpo

Nacional de Escutas (CNE) fez-me

despertar para ajudar o proacuteximo

os que mais precisam e a respeitar

a Natureza e a Pacha Mama

(Terra)

A escolha do curso de Educaccedilatildeo

Social foi faacutecil faze-lo foi simples

praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os

obstaacuteculos encontrados na socie-

dade para se poder trabalhar a

diferenccedila entre grupos e pessoas

O Educador Social tem de ter uma

grande capacidade de adaptaccedilatildeo

aos contextos e aos seus protago-

nistas Deve saber muito bem o

que quer e para onde quer ir ou

seja traccedilar e definir objetivos Tra-

balhar no que se gosta ajuda a con-

tribuir para a felicidade natildeo soacute a

proacutepria mas tambeacutem a dos outros

Assim prossigo o meu caminho

pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os

objetivos e enquanto natildeo os reali-

zo natildeo descanso

Nesta minha aventura pelo

ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer

15

que um dos momentos mais mar-

cante da minha vida foi a visita ao

Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-

witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir

cheirar tocar e imaginar tudo o

que laacute se passou foi muito intenso

Momento inexplicaacutevel Acho que

qualquer pessoa que visite este

local certamente vai mudar a sua

opiniatildeo e comportamento acerca

da luta pelos direitos humanos

A experiecircncia em intercacircmbios e

formaccedilotildees internacionais foram

dos momentos mais interessantes

e importantes para adquirir conhe-

cimento e partilhar experiecircncias

com outros ativistas ciganos e natildeo

ciganos sobre os direitos humanos

Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de

risco (viacutetimas de violecircncia domesti-

ca sem-abrigo crianccedilas com

necessidade educativas especiais

etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-

nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute

faacutecil falar sobre os ciganos mas

ainda eacute mais difiacutecil falar com as

pessoas natildeo ciganas O sentimento

de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-

te quando se fala com os ciganos

todos tecircm uma experiecircncia discri-

minatoacuteria para contar

A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-

rencia nem reconhece politicamen-

te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes

ou seja do ponto de vista juriacutedico

e poliacutetico natildeo existem ciganos

Atualmente trabalhar com ciganos

estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-

do ou porque ldquovem ai dinheirordquo

para fazer projetos para os ciga-

nos De repente desperta-se a

ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-

ccedilotildees para os pro-

blemas do grupo

eacutetnico Um dos

meacutetodos que tecircm

vindo a ser experi-

mentados no senti-

do da promoccedilatildeo da

integraccedilatildeo deste

grupo tem sido a

execuccedilatildeo de proje-

tos nacionais eou

internacionais com

intervenccedilotildees no

terreno que permi-

tam produzir

conhecimento

acerca dos seus

modos de vida Na

sua maioria os pro-

jetos natildeo satildeo do

conhecimento dos

ciganos e muitas vezes natildeo corres-

pondem agraves necessidades das popu-

laccedilotildees Os principais problemas

que afetam grande parte dos por-

tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees

ao niacutevel educativo e habitacional o

desemprego a inserccedilatildeo no merca-

do de trabalho a pobreza a exclu-

satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-

naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo

Em Faro no bairro da Av Cidade

Hayward no bairro da Horta da

Areia e noutros perifeacutericos estaacute

concentrada uma parte da pobreza

e da exclusatildeo social da cidade o

que tem suscitado a intervenccedilatildeo

de projetos de luta contra a pobre-

za maioritariamente financiados

por fundos europeus Todos estes

contextos se caracterizam por uma

forte desqualificaccedilatildeo territorial e

social reconhecida poliacutetica e

socialmente Contudo normal-

mente estes projetos satildeo de cara-

ter experimental e satildeo limitados

no tempo e no espaccedilo pelo que

natildeo originam mudanccedilas estruturais

nem permitem obter muitos resul-

tados positivos na integraccedilatildeo dos

ciganos

A integraccedilatildeo social dos ciganos

tem vindo a constituir-se como um

verdadeiro imperativo na socieda-

de contemporacircnea O resultado

desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-

ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da

Comissatildeo Europeia (em 2012) o

Quadro europeu para as estrateacute-

gias nacionais para a integraccedilatildeo

dos ciganos que se prevecirc melhorar

a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos

ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 11: Bolhetim educação social   janeiro 2014

11

Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila

Siacutelvia Franco

Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-

cesso em que abraccedilamos a oportu-

nidade de ensinar bem como a de

aprender Ensinar e aprender com

aqueles que nos rodeiam e com os

que se cruzam no nosso caminho

com os que satildeo chamados de pro-

fessores mas tambeacutem com os alu-

nos os agricultores os mecacircnicos

os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-

gos os historiadoreshellip com todos

independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo

que a sociedade lhes coloca

Da minha passagem por diferentes

contextos educativos aprendi a

valorizar o que chamo de diversi-

dade dialogante (Franco 2013)

bem como a abertura para a mes-

ma Na minha passagem por uma

licenciatura intercultural indiacutegena

no Brasil pude presenciar um pro-

cesso dialoacutegico construiacutedo por

todos os envolvidos e interessados

Neste processo as opiniotildees e

desejos dos alunos e da comunida-

de eram valorizados e parte funda-

mental no desenvolvimento do

curriacuteculo bem como no decurso de

todas as etapas do curso para as

quais era solicitada a presenccedila de

membros das comunidades indiacutege-

nas locais enquanto especialistas

em determinadas mateacuterias ou

seja na sua proacutepria cultura Bus-

cava-se diariamente uma escola

reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual

todos se sentissem responsaacuteveis

pelo sucesso pessoal e coletivo

pois a concretizaccedilatildeo deste curso

era jaacute uma vitoacuteria

Enquanto investigadora do Projeto

Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se

desenvolve na Costa de Caparica

tenho podido vivenciar reflexos

dessa mesma diversidade dialo-

gante O Projeto Fronteiras Urba-

nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-

cando a voz de trecircs comunidades

Comunidade Bairro Comunidade

Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-

ca Estas comunidades uniram-se

pela histoacuteria partilhada com o

intuito de buscar a visibilidade

para comunidades invisiacuteveis aos

olhos de entidades poliacuteticas e

sociais

Cada comunidade tinha agrave partida

um objetivo primordial e um obje-

tivo coletivo O objetivo coletivo

que une estas trecircs comunidades

centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute

cada comunidade isto eacute na diver-

sidade dialogante que une trecircs

comunidades nas lutas de cada

uma

A Comunidade Bairro luta haacute mais

de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais

perto das suas casas uma vez que

tecircm de fazer um percurso de dois

quiloacutemetros (ida e volta) por cami-

nhos acidentados para recolher

numa bica aacutegua para as suas roti-

nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-

ria debate-se com as crescentes

proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas

sem que as vozes dos pescadores

que compotildeem a comunidade

sejam ouvidas e a Comunidade

Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo

Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o

diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o

aprendiz e o aprendiz eacute o profes-

sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)

Numa primeira etapa foram dese-

nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo

Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-

rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-

ria segundo os desejos dos mem-

bros das comunidades No desen-

volvimento destas tarefas procu-

12

raacutemos ter em mente as palavras de

Paulo Freire

natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os

que querem a pronuacutencia do mundo

e os que natildeo a querem entre os

que negam aos demais o direito de

dizer a palavra e os que se acham

negados deste direito Eacute preciso

primeiro que os que assim se

encontram negados no direito pri-

mordial de dizer a palavra recon-

quistem esse direito proibindo que

este assalto desumanizante conti-

nue (Freire 2008 91)

Em consciecircncia de que o envolvi-

mento dos indiviacuteduos na luta pela

sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por

ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-

cionalidade na medida em que

desafiados por ela agem sobre

elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos

deparando com momentos enri-

quecedores de partilha de conheci-

mentos e accedilatildeo sobre o seu meio

implementando diaacutelogos com insti-

tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-

vas reforccedilando os seus desejos e

direitos

Estes movimentos possibilitaram o

regresso de vaacuterios jovens a contex-

tos escolares a eleiccedilatildeo de uma

comissatildeo de moradores a partici-

paccedilatildeo de membros das trecircs comu-

nidades em eventos de dissemina-

ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual

movimento Escola do Bairro Nesta

escola criam-se espaccedilos e tempos

para a diversidade dialogante

numa dinacircmica de partilha onde

um membro da Comunidade Bair-

ro de naturalidade cabo-verdiana

ensina kriolu a outros moradores e

a amigos interessados das outras

duas comunidades ou que se apro-

ximaram deste movimento Da

mesma forma satildeo recebidas pes-

soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e

outras disciplinas para partilharem

os seus conhecimentos fazendo-se

um intercacircmbio de conhecimentos

e praacuteticas

Eacute no sentido desta Escola do Bairro

que falo em ldquoeducar com a dife-

renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute

importante educar para a diferen-

ccedila para nos conscientizarmos de

que satildeo as diferenccedilas que nos tor-

nam todos iguais Contudo consi-

dero que a essecircncia da educaccedilatildeo

estaraacute essencialmente em educar

com aprender com fazer comhellip

Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)

13

Referecircncias

Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre

Artmed Editora

Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de

Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-

cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http

hdlhandlenet104518118

Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra

TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from

httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY

Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)

14

Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu

Sofia Aurora Santos

Mestre em Educaccedilatildeo Social

ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-

ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os

ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor

mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo

ldquoSatildeo uma cambada de bandidos

tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o

Rendimento aos ciganosrdquo etc

etc etc Estas satildeo algumas das

expressotildees que oiccedilo constante-

mente sobre os ciganos e certa-

mente satildeo familiares a muitas pes-

soas O desconhecimento das tra-

diccedilotildees e costumes dos ciganos

reforccedila a ignoracircncia da maioria

que se acha superior A compreen-

satildeo e o conhecimento satildeo impor-

tantes no processo de integraccedilatildeo

do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas

fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser

motivo de exclusatildeo social

Estas expressotildees natildeo satildeo funda-

mentadas nem dignas de respeito

por quem as diz Foram pensamen-

tos expressotildees e comportamentos

deste tipo que um senhor chama-

do Adolfo Hitler fez o que fez

durante a 2ordf Guerra Mundial pen-

so que natildeo seja necessaacuterio descre-

ver mas vale a pena parar para

refletir e ver que infelizmente o

neonazismo estaacute a aparecer na

Europa Prova disso eacute o que se pas-

sa atualmente na Hungria que foi

o primeiro Estado-membro da

Uniatildeo Europeia a ser acusado de

violar os valores europeus e como

consequecircncia a Comissatildeo Europeia

suspendeu todas as negociaccedilotildees

com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-

nha o Estado de Direito

Atos impensaacuteveis incontrolados

desumanos satildeo todos os dias pra-

ticados contra os ciganos e outros

grupos eacutetnicos em todo o mundo

mas o grupo dos ciganos eacute o mais

sacrificado Mas porquecirc os ciga-

nos Eacute esta a questatildeo para a qual

tento obter uma resposta haacute mui-

tos anos e certamente estaacute longe

de ser respondida

Foi principalmente devido a um

comentaacuterio racista vindo de um

membro da autarquia farense em

2007 (em contexto de estaacutegio da

licenciatura) que comeccedilou a minha

luta mais vincada pelos direitos

humanos dos ciganos

Desde muito jovem que tenho um

espiacuterito humanitaacuterio e lutador a

favor dos direitos humanos A

minha adolescecircncia no Corpo

Nacional de Escutas (CNE) fez-me

despertar para ajudar o proacuteximo

os que mais precisam e a respeitar

a Natureza e a Pacha Mama

(Terra)

A escolha do curso de Educaccedilatildeo

Social foi faacutecil faze-lo foi simples

praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os

obstaacuteculos encontrados na socie-

dade para se poder trabalhar a

diferenccedila entre grupos e pessoas

O Educador Social tem de ter uma

grande capacidade de adaptaccedilatildeo

aos contextos e aos seus protago-

nistas Deve saber muito bem o

que quer e para onde quer ir ou

seja traccedilar e definir objetivos Tra-

balhar no que se gosta ajuda a con-

tribuir para a felicidade natildeo soacute a

proacutepria mas tambeacutem a dos outros

Assim prossigo o meu caminho

pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os

objetivos e enquanto natildeo os reali-

zo natildeo descanso

Nesta minha aventura pelo

ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer

15

que um dos momentos mais mar-

cante da minha vida foi a visita ao

Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-

witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir

cheirar tocar e imaginar tudo o

que laacute se passou foi muito intenso

Momento inexplicaacutevel Acho que

qualquer pessoa que visite este

local certamente vai mudar a sua

opiniatildeo e comportamento acerca

da luta pelos direitos humanos

A experiecircncia em intercacircmbios e

formaccedilotildees internacionais foram

dos momentos mais interessantes

e importantes para adquirir conhe-

cimento e partilhar experiecircncias

com outros ativistas ciganos e natildeo

ciganos sobre os direitos humanos

Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de

risco (viacutetimas de violecircncia domesti-

ca sem-abrigo crianccedilas com

necessidade educativas especiais

etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-

nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute

faacutecil falar sobre os ciganos mas

ainda eacute mais difiacutecil falar com as

pessoas natildeo ciganas O sentimento

de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-

te quando se fala com os ciganos

todos tecircm uma experiecircncia discri-

minatoacuteria para contar

A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-

rencia nem reconhece politicamen-

te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes

ou seja do ponto de vista juriacutedico

e poliacutetico natildeo existem ciganos

Atualmente trabalhar com ciganos

estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-

do ou porque ldquovem ai dinheirordquo

para fazer projetos para os ciga-

nos De repente desperta-se a

ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-

ccedilotildees para os pro-

blemas do grupo

eacutetnico Um dos

meacutetodos que tecircm

vindo a ser experi-

mentados no senti-

do da promoccedilatildeo da

integraccedilatildeo deste

grupo tem sido a

execuccedilatildeo de proje-

tos nacionais eou

internacionais com

intervenccedilotildees no

terreno que permi-

tam produzir

conhecimento

acerca dos seus

modos de vida Na

sua maioria os pro-

jetos natildeo satildeo do

conhecimento dos

ciganos e muitas vezes natildeo corres-

pondem agraves necessidades das popu-

laccedilotildees Os principais problemas

que afetam grande parte dos por-

tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees

ao niacutevel educativo e habitacional o

desemprego a inserccedilatildeo no merca-

do de trabalho a pobreza a exclu-

satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-

naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo

Em Faro no bairro da Av Cidade

Hayward no bairro da Horta da

Areia e noutros perifeacutericos estaacute

concentrada uma parte da pobreza

e da exclusatildeo social da cidade o

que tem suscitado a intervenccedilatildeo

de projetos de luta contra a pobre-

za maioritariamente financiados

por fundos europeus Todos estes

contextos se caracterizam por uma

forte desqualificaccedilatildeo territorial e

social reconhecida poliacutetica e

socialmente Contudo normal-

mente estes projetos satildeo de cara-

ter experimental e satildeo limitados

no tempo e no espaccedilo pelo que

natildeo originam mudanccedilas estruturais

nem permitem obter muitos resul-

tados positivos na integraccedilatildeo dos

ciganos

A integraccedilatildeo social dos ciganos

tem vindo a constituir-se como um

verdadeiro imperativo na socieda-

de contemporacircnea O resultado

desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-

ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da

Comissatildeo Europeia (em 2012) o

Quadro europeu para as estrateacute-

gias nacionais para a integraccedilatildeo

dos ciganos que se prevecirc melhorar

a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos

ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 12: Bolhetim educação social   janeiro 2014

12

raacutemos ter em mente as palavras de

Paulo Freire

natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os

que querem a pronuacutencia do mundo

e os que natildeo a querem entre os

que negam aos demais o direito de

dizer a palavra e os que se acham

negados deste direito Eacute preciso

primeiro que os que assim se

encontram negados no direito pri-

mordial de dizer a palavra recon-

quistem esse direito proibindo que

este assalto desumanizante conti-

nue (Freire 2008 91)

Em consciecircncia de que o envolvi-

mento dos indiviacuteduos na luta pela

sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por

ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-

cionalidade na medida em que

desafiados por ela agem sobre

elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos

deparando com momentos enri-

quecedores de partilha de conheci-

mentos e accedilatildeo sobre o seu meio

implementando diaacutelogos com insti-

tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-

vas reforccedilando os seus desejos e

direitos

Estes movimentos possibilitaram o

regresso de vaacuterios jovens a contex-

tos escolares a eleiccedilatildeo de uma

comissatildeo de moradores a partici-

paccedilatildeo de membros das trecircs comu-

nidades em eventos de dissemina-

ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual

movimento Escola do Bairro Nesta

escola criam-se espaccedilos e tempos

para a diversidade dialogante

numa dinacircmica de partilha onde

um membro da Comunidade Bair-

ro de naturalidade cabo-verdiana

ensina kriolu a outros moradores e

a amigos interessados das outras

duas comunidades ou que se apro-

ximaram deste movimento Da

mesma forma satildeo recebidas pes-

soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e

outras disciplinas para partilharem

os seus conhecimentos fazendo-se

um intercacircmbio de conhecimentos

e praacuteticas

Eacute no sentido desta Escola do Bairro

que falo em ldquoeducar com a dife-

renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute

importante educar para a diferen-

ccedila para nos conscientizarmos de

que satildeo as diferenccedilas que nos tor-

nam todos iguais Contudo consi-

dero que a essecircncia da educaccedilatildeo

estaraacute essencialmente em educar

com aprender com fazer comhellip

Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)

13

Referecircncias

Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre

Artmed Editora

Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de

Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-

cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http

hdlhandlenet104518118

Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra

TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from

httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY

Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)

14

Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu

Sofia Aurora Santos

Mestre em Educaccedilatildeo Social

ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-

ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os

ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor

mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo

ldquoSatildeo uma cambada de bandidos

tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o

Rendimento aos ciganosrdquo etc

etc etc Estas satildeo algumas das

expressotildees que oiccedilo constante-

mente sobre os ciganos e certa-

mente satildeo familiares a muitas pes-

soas O desconhecimento das tra-

diccedilotildees e costumes dos ciganos

reforccedila a ignoracircncia da maioria

que se acha superior A compreen-

satildeo e o conhecimento satildeo impor-

tantes no processo de integraccedilatildeo

do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas

fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser

motivo de exclusatildeo social

Estas expressotildees natildeo satildeo funda-

mentadas nem dignas de respeito

por quem as diz Foram pensamen-

tos expressotildees e comportamentos

deste tipo que um senhor chama-

do Adolfo Hitler fez o que fez

durante a 2ordf Guerra Mundial pen-

so que natildeo seja necessaacuterio descre-

ver mas vale a pena parar para

refletir e ver que infelizmente o

neonazismo estaacute a aparecer na

Europa Prova disso eacute o que se pas-

sa atualmente na Hungria que foi

o primeiro Estado-membro da

Uniatildeo Europeia a ser acusado de

violar os valores europeus e como

consequecircncia a Comissatildeo Europeia

suspendeu todas as negociaccedilotildees

com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-

nha o Estado de Direito

Atos impensaacuteveis incontrolados

desumanos satildeo todos os dias pra-

ticados contra os ciganos e outros

grupos eacutetnicos em todo o mundo

mas o grupo dos ciganos eacute o mais

sacrificado Mas porquecirc os ciga-

nos Eacute esta a questatildeo para a qual

tento obter uma resposta haacute mui-

tos anos e certamente estaacute longe

de ser respondida

Foi principalmente devido a um

comentaacuterio racista vindo de um

membro da autarquia farense em

2007 (em contexto de estaacutegio da

licenciatura) que comeccedilou a minha

luta mais vincada pelos direitos

humanos dos ciganos

Desde muito jovem que tenho um

espiacuterito humanitaacuterio e lutador a

favor dos direitos humanos A

minha adolescecircncia no Corpo

Nacional de Escutas (CNE) fez-me

despertar para ajudar o proacuteximo

os que mais precisam e a respeitar

a Natureza e a Pacha Mama

(Terra)

A escolha do curso de Educaccedilatildeo

Social foi faacutecil faze-lo foi simples

praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os

obstaacuteculos encontrados na socie-

dade para se poder trabalhar a

diferenccedila entre grupos e pessoas

O Educador Social tem de ter uma

grande capacidade de adaptaccedilatildeo

aos contextos e aos seus protago-

nistas Deve saber muito bem o

que quer e para onde quer ir ou

seja traccedilar e definir objetivos Tra-

balhar no que se gosta ajuda a con-

tribuir para a felicidade natildeo soacute a

proacutepria mas tambeacutem a dos outros

Assim prossigo o meu caminho

pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os

objetivos e enquanto natildeo os reali-

zo natildeo descanso

Nesta minha aventura pelo

ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer

15

que um dos momentos mais mar-

cante da minha vida foi a visita ao

Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-

witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir

cheirar tocar e imaginar tudo o

que laacute se passou foi muito intenso

Momento inexplicaacutevel Acho que

qualquer pessoa que visite este

local certamente vai mudar a sua

opiniatildeo e comportamento acerca

da luta pelos direitos humanos

A experiecircncia em intercacircmbios e

formaccedilotildees internacionais foram

dos momentos mais interessantes

e importantes para adquirir conhe-

cimento e partilhar experiecircncias

com outros ativistas ciganos e natildeo

ciganos sobre os direitos humanos

Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de

risco (viacutetimas de violecircncia domesti-

ca sem-abrigo crianccedilas com

necessidade educativas especiais

etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-

nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute

faacutecil falar sobre os ciganos mas

ainda eacute mais difiacutecil falar com as

pessoas natildeo ciganas O sentimento

de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-

te quando se fala com os ciganos

todos tecircm uma experiecircncia discri-

minatoacuteria para contar

A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-

rencia nem reconhece politicamen-

te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes

ou seja do ponto de vista juriacutedico

e poliacutetico natildeo existem ciganos

Atualmente trabalhar com ciganos

estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-

do ou porque ldquovem ai dinheirordquo

para fazer projetos para os ciga-

nos De repente desperta-se a

ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-

ccedilotildees para os pro-

blemas do grupo

eacutetnico Um dos

meacutetodos que tecircm

vindo a ser experi-

mentados no senti-

do da promoccedilatildeo da

integraccedilatildeo deste

grupo tem sido a

execuccedilatildeo de proje-

tos nacionais eou

internacionais com

intervenccedilotildees no

terreno que permi-

tam produzir

conhecimento

acerca dos seus

modos de vida Na

sua maioria os pro-

jetos natildeo satildeo do

conhecimento dos

ciganos e muitas vezes natildeo corres-

pondem agraves necessidades das popu-

laccedilotildees Os principais problemas

que afetam grande parte dos por-

tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees

ao niacutevel educativo e habitacional o

desemprego a inserccedilatildeo no merca-

do de trabalho a pobreza a exclu-

satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-

naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo

Em Faro no bairro da Av Cidade

Hayward no bairro da Horta da

Areia e noutros perifeacutericos estaacute

concentrada uma parte da pobreza

e da exclusatildeo social da cidade o

que tem suscitado a intervenccedilatildeo

de projetos de luta contra a pobre-

za maioritariamente financiados

por fundos europeus Todos estes

contextos se caracterizam por uma

forte desqualificaccedilatildeo territorial e

social reconhecida poliacutetica e

socialmente Contudo normal-

mente estes projetos satildeo de cara-

ter experimental e satildeo limitados

no tempo e no espaccedilo pelo que

natildeo originam mudanccedilas estruturais

nem permitem obter muitos resul-

tados positivos na integraccedilatildeo dos

ciganos

A integraccedilatildeo social dos ciganos

tem vindo a constituir-se como um

verdadeiro imperativo na socieda-

de contemporacircnea O resultado

desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-

ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da

Comissatildeo Europeia (em 2012) o

Quadro europeu para as estrateacute-

gias nacionais para a integraccedilatildeo

dos ciganos que se prevecirc melhorar

a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos

ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 13: Bolhetim educação social   janeiro 2014

13

Referecircncias

Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre

Artmed Editora

Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de

Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-

cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http

hdlhandlenet104518118

Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra

TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from

httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY

Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)

Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)

14

Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu

Sofia Aurora Santos

Mestre em Educaccedilatildeo Social

ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-

ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os

ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor

mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo

ldquoSatildeo uma cambada de bandidos

tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o

Rendimento aos ciganosrdquo etc

etc etc Estas satildeo algumas das

expressotildees que oiccedilo constante-

mente sobre os ciganos e certa-

mente satildeo familiares a muitas pes-

soas O desconhecimento das tra-

diccedilotildees e costumes dos ciganos

reforccedila a ignoracircncia da maioria

que se acha superior A compreen-

satildeo e o conhecimento satildeo impor-

tantes no processo de integraccedilatildeo

do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas

fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser

motivo de exclusatildeo social

Estas expressotildees natildeo satildeo funda-

mentadas nem dignas de respeito

por quem as diz Foram pensamen-

tos expressotildees e comportamentos

deste tipo que um senhor chama-

do Adolfo Hitler fez o que fez

durante a 2ordf Guerra Mundial pen-

so que natildeo seja necessaacuterio descre-

ver mas vale a pena parar para

refletir e ver que infelizmente o

neonazismo estaacute a aparecer na

Europa Prova disso eacute o que se pas-

sa atualmente na Hungria que foi

o primeiro Estado-membro da

Uniatildeo Europeia a ser acusado de

violar os valores europeus e como

consequecircncia a Comissatildeo Europeia

suspendeu todas as negociaccedilotildees

com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-

nha o Estado de Direito

Atos impensaacuteveis incontrolados

desumanos satildeo todos os dias pra-

ticados contra os ciganos e outros

grupos eacutetnicos em todo o mundo

mas o grupo dos ciganos eacute o mais

sacrificado Mas porquecirc os ciga-

nos Eacute esta a questatildeo para a qual

tento obter uma resposta haacute mui-

tos anos e certamente estaacute longe

de ser respondida

Foi principalmente devido a um

comentaacuterio racista vindo de um

membro da autarquia farense em

2007 (em contexto de estaacutegio da

licenciatura) que comeccedilou a minha

luta mais vincada pelos direitos

humanos dos ciganos

Desde muito jovem que tenho um

espiacuterito humanitaacuterio e lutador a

favor dos direitos humanos A

minha adolescecircncia no Corpo

Nacional de Escutas (CNE) fez-me

despertar para ajudar o proacuteximo

os que mais precisam e a respeitar

a Natureza e a Pacha Mama

(Terra)

A escolha do curso de Educaccedilatildeo

Social foi faacutecil faze-lo foi simples

praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os

obstaacuteculos encontrados na socie-

dade para se poder trabalhar a

diferenccedila entre grupos e pessoas

O Educador Social tem de ter uma

grande capacidade de adaptaccedilatildeo

aos contextos e aos seus protago-

nistas Deve saber muito bem o

que quer e para onde quer ir ou

seja traccedilar e definir objetivos Tra-

balhar no que se gosta ajuda a con-

tribuir para a felicidade natildeo soacute a

proacutepria mas tambeacutem a dos outros

Assim prossigo o meu caminho

pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os

objetivos e enquanto natildeo os reali-

zo natildeo descanso

Nesta minha aventura pelo

ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer

15

que um dos momentos mais mar-

cante da minha vida foi a visita ao

Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-

witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir

cheirar tocar e imaginar tudo o

que laacute se passou foi muito intenso

Momento inexplicaacutevel Acho que

qualquer pessoa que visite este

local certamente vai mudar a sua

opiniatildeo e comportamento acerca

da luta pelos direitos humanos

A experiecircncia em intercacircmbios e

formaccedilotildees internacionais foram

dos momentos mais interessantes

e importantes para adquirir conhe-

cimento e partilhar experiecircncias

com outros ativistas ciganos e natildeo

ciganos sobre os direitos humanos

Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de

risco (viacutetimas de violecircncia domesti-

ca sem-abrigo crianccedilas com

necessidade educativas especiais

etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-

nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute

faacutecil falar sobre os ciganos mas

ainda eacute mais difiacutecil falar com as

pessoas natildeo ciganas O sentimento

de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-

te quando se fala com os ciganos

todos tecircm uma experiecircncia discri-

minatoacuteria para contar

A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-

rencia nem reconhece politicamen-

te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes

ou seja do ponto de vista juriacutedico

e poliacutetico natildeo existem ciganos

Atualmente trabalhar com ciganos

estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-

do ou porque ldquovem ai dinheirordquo

para fazer projetos para os ciga-

nos De repente desperta-se a

ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-

ccedilotildees para os pro-

blemas do grupo

eacutetnico Um dos

meacutetodos que tecircm

vindo a ser experi-

mentados no senti-

do da promoccedilatildeo da

integraccedilatildeo deste

grupo tem sido a

execuccedilatildeo de proje-

tos nacionais eou

internacionais com

intervenccedilotildees no

terreno que permi-

tam produzir

conhecimento

acerca dos seus

modos de vida Na

sua maioria os pro-

jetos natildeo satildeo do

conhecimento dos

ciganos e muitas vezes natildeo corres-

pondem agraves necessidades das popu-

laccedilotildees Os principais problemas

que afetam grande parte dos por-

tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees

ao niacutevel educativo e habitacional o

desemprego a inserccedilatildeo no merca-

do de trabalho a pobreza a exclu-

satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-

naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo

Em Faro no bairro da Av Cidade

Hayward no bairro da Horta da

Areia e noutros perifeacutericos estaacute

concentrada uma parte da pobreza

e da exclusatildeo social da cidade o

que tem suscitado a intervenccedilatildeo

de projetos de luta contra a pobre-

za maioritariamente financiados

por fundos europeus Todos estes

contextos se caracterizam por uma

forte desqualificaccedilatildeo territorial e

social reconhecida poliacutetica e

socialmente Contudo normal-

mente estes projetos satildeo de cara-

ter experimental e satildeo limitados

no tempo e no espaccedilo pelo que

natildeo originam mudanccedilas estruturais

nem permitem obter muitos resul-

tados positivos na integraccedilatildeo dos

ciganos

A integraccedilatildeo social dos ciganos

tem vindo a constituir-se como um

verdadeiro imperativo na socieda-

de contemporacircnea O resultado

desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-

ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da

Comissatildeo Europeia (em 2012) o

Quadro europeu para as estrateacute-

gias nacionais para a integraccedilatildeo

dos ciganos que se prevecirc melhorar

a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos

ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 14: Bolhetim educação social   janeiro 2014

14

Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu

Sofia Aurora Santos

Mestre em Educaccedilatildeo Social

ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-

ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os

ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor

mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo

ldquoSatildeo uma cambada de bandidos

tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o

Rendimento aos ciganosrdquo etc

etc etc Estas satildeo algumas das

expressotildees que oiccedilo constante-

mente sobre os ciganos e certa-

mente satildeo familiares a muitas pes-

soas O desconhecimento das tra-

diccedilotildees e costumes dos ciganos

reforccedila a ignoracircncia da maioria

que se acha superior A compreen-

satildeo e o conhecimento satildeo impor-

tantes no processo de integraccedilatildeo

do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas

fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser

motivo de exclusatildeo social

Estas expressotildees natildeo satildeo funda-

mentadas nem dignas de respeito

por quem as diz Foram pensamen-

tos expressotildees e comportamentos

deste tipo que um senhor chama-

do Adolfo Hitler fez o que fez

durante a 2ordf Guerra Mundial pen-

so que natildeo seja necessaacuterio descre-

ver mas vale a pena parar para

refletir e ver que infelizmente o

neonazismo estaacute a aparecer na

Europa Prova disso eacute o que se pas-

sa atualmente na Hungria que foi

o primeiro Estado-membro da

Uniatildeo Europeia a ser acusado de

violar os valores europeus e como

consequecircncia a Comissatildeo Europeia

suspendeu todas as negociaccedilotildees

com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-

nha o Estado de Direito

Atos impensaacuteveis incontrolados

desumanos satildeo todos os dias pra-

ticados contra os ciganos e outros

grupos eacutetnicos em todo o mundo

mas o grupo dos ciganos eacute o mais

sacrificado Mas porquecirc os ciga-

nos Eacute esta a questatildeo para a qual

tento obter uma resposta haacute mui-

tos anos e certamente estaacute longe

de ser respondida

Foi principalmente devido a um

comentaacuterio racista vindo de um

membro da autarquia farense em

2007 (em contexto de estaacutegio da

licenciatura) que comeccedilou a minha

luta mais vincada pelos direitos

humanos dos ciganos

Desde muito jovem que tenho um

espiacuterito humanitaacuterio e lutador a

favor dos direitos humanos A

minha adolescecircncia no Corpo

Nacional de Escutas (CNE) fez-me

despertar para ajudar o proacuteximo

os que mais precisam e a respeitar

a Natureza e a Pacha Mama

(Terra)

A escolha do curso de Educaccedilatildeo

Social foi faacutecil faze-lo foi simples

praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os

obstaacuteculos encontrados na socie-

dade para se poder trabalhar a

diferenccedila entre grupos e pessoas

O Educador Social tem de ter uma

grande capacidade de adaptaccedilatildeo

aos contextos e aos seus protago-

nistas Deve saber muito bem o

que quer e para onde quer ir ou

seja traccedilar e definir objetivos Tra-

balhar no que se gosta ajuda a con-

tribuir para a felicidade natildeo soacute a

proacutepria mas tambeacutem a dos outros

Assim prossigo o meu caminho

pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os

objetivos e enquanto natildeo os reali-

zo natildeo descanso

Nesta minha aventura pelo

ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer

15

que um dos momentos mais mar-

cante da minha vida foi a visita ao

Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-

witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir

cheirar tocar e imaginar tudo o

que laacute se passou foi muito intenso

Momento inexplicaacutevel Acho que

qualquer pessoa que visite este

local certamente vai mudar a sua

opiniatildeo e comportamento acerca

da luta pelos direitos humanos

A experiecircncia em intercacircmbios e

formaccedilotildees internacionais foram

dos momentos mais interessantes

e importantes para adquirir conhe-

cimento e partilhar experiecircncias

com outros ativistas ciganos e natildeo

ciganos sobre os direitos humanos

Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de

risco (viacutetimas de violecircncia domesti-

ca sem-abrigo crianccedilas com

necessidade educativas especiais

etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-

nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute

faacutecil falar sobre os ciganos mas

ainda eacute mais difiacutecil falar com as

pessoas natildeo ciganas O sentimento

de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-

te quando se fala com os ciganos

todos tecircm uma experiecircncia discri-

minatoacuteria para contar

A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-

rencia nem reconhece politicamen-

te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes

ou seja do ponto de vista juriacutedico

e poliacutetico natildeo existem ciganos

Atualmente trabalhar com ciganos

estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-

do ou porque ldquovem ai dinheirordquo

para fazer projetos para os ciga-

nos De repente desperta-se a

ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-

ccedilotildees para os pro-

blemas do grupo

eacutetnico Um dos

meacutetodos que tecircm

vindo a ser experi-

mentados no senti-

do da promoccedilatildeo da

integraccedilatildeo deste

grupo tem sido a

execuccedilatildeo de proje-

tos nacionais eou

internacionais com

intervenccedilotildees no

terreno que permi-

tam produzir

conhecimento

acerca dos seus

modos de vida Na

sua maioria os pro-

jetos natildeo satildeo do

conhecimento dos

ciganos e muitas vezes natildeo corres-

pondem agraves necessidades das popu-

laccedilotildees Os principais problemas

que afetam grande parte dos por-

tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees

ao niacutevel educativo e habitacional o

desemprego a inserccedilatildeo no merca-

do de trabalho a pobreza a exclu-

satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-

naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo

Em Faro no bairro da Av Cidade

Hayward no bairro da Horta da

Areia e noutros perifeacutericos estaacute

concentrada uma parte da pobreza

e da exclusatildeo social da cidade o

que tem suscitado a intervenccedilatildeo

de projetos de luta contra a pobre-

za maioritariamente financiados

por fundos europeus Todos estes

contextos se caracterizam por uma

forte desqualificaccedilatildeo territorial e

social reconhecida poliacutetica e

socialmente Contudo normal-

mente estes projetos satildeo de cara-

ter experimental e satildeo limitados

no tempo e no espaccedilo pelo que

natildeo originam mudanccedilas estruturais

nem permitem obter muitos resul-

tados positivos na integraccedilatildeo dos

ciganos

A integraccedilatildeo social dos ciganos

tem vindo a constituir-se como um

verdadeiro imperativo na socieda-

de contemporacircnea O resultado

desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-

ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da

Comissatildeo Europeia (em 2012) o

Quadro europeu para as estrateacute-

gias nacionais para a integraccedilatildeo

dos ciganos que se prevecirc melhorar

a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos

ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 15: Bolhetim educação social   janeiro 2014

15

que um dos momentos mais mar-

cante da minha vida foi a visita ao

Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-

witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir

cheirar tocar e imaginar tudo o

que laacute se passou foi muito intenso

Momento inexplicaacutevel Acho que

qualquer pessoa que visite este

local certamente vai mudar a sua

opiniatildeo e comportamento acerca

da luta pelos direitos humanos

A experiecircncia em intercacircmbios e

formaccedilotildees internacionais foram

dos momentos mais interessantes

e importantes para adquirir conhe-

cimento e partilhar experiecircncias

com outros ativistas ciganos e natildeo

ciganos sobre os direitos humanos

Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de

risco (viacutetimas de violecircncia domesti-

ca sem-abrigo crianccedilas com

necessidade educativas especiais

etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-

nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute

faacutecil falar sobre os ciganos mas

ainda eacute mais difiacutecil falar com as

pessoas natildeo ciganas O sentimento

de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-

te quando se fala com os ciganos

todos tecircm uma experiecircncia discri-

minatoacuteria para contar

A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-

rencia nem reconhece politicamen-

te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes

ou seja do ponto de vista juriacutedico

e poliacutetico natildeo existem ciganos

Atualmente trabalhar com ciganos

estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-

do ou porque ldquovem ai dinheirordquo

para fazer projetos para os ciga-

nos De repente desperta-se a

ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-

ccedilotildees para os pro-

blemas do grupo

eacutetnico Um dos

meacutetodos que tecircm

vindo a ser experi-

mentados no senti-

do da promoccedilatildeo da

integraccedilatildeo deste

grupo tem sido a

execuccedilatildeo de proje-

tos nacionais eou

internacionais com

intervenccedilotildees no

terreno que permi-

tam produzir

conhecimento

acerca dos seus

modos de vida Na

sua maioria os pro-

jetos natildeo satildeo do

conhecimento dos

ciganos e muitas vezes natildeo corres-

pondem agraves necessidades das popu-

laccedilotildees Os principais problemas

que afetam grande parte dos por-

tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees

ao niacutevel educativo e habitacional o

desemprego a inserccedilatildeo no merca-

do de trabalho a pobreza a exclu-

satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-

naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo

Em Faro no bairro da Av Cidade

Hayward no bairro da Horta da

Areia e noutros perifeacutericos estaacute

concentrada uma parte da pobreza

e da exclusatildeo social da cidade o

que tem suscitado a intervenccedilatildeo

de projetos de luta contra a pobre-

za maioritariamente financiados

por fundos europeus Todos estes

contextos se caracterizam por uma

forte desqualificaccedilatildeo territorial e

social reconhecida poliacutetica e

socialmente Contudo normal-

mente estes projetos satildeo de cara-

ter experimental e satildeo limitados

no tempo e no espaccedilo pelo que

natildeo originam mudanccedilas estruturais

nem permitem obter muitos resul-

tados positivos na integraccedilatildeo dos

ciganos

A integraccedilatildeo social dos ciganos

tem vindo a constituir-se como um

verdadeiro imperativo na socieda-

de contemporacircnea O resultado

desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-

ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da

Comissatildeo Europeia (em 2012) o

Quadro europeu para as estrateacute-

gias nacionais para a integraccedilatildeo

dos ciganos que se prevecirc melhorar

a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos

ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 16: Bolhetim educação social   janeiro 2014

16

teraacute a sua estrateacutegia

Em Portugal as desigualdades

sociais e as diferenccedilas culturais

entre os grupos eacutetnicos existentes

na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-

lidade suficiente para desenvolver

processos de politizaccedilatildeo da etnici-

dade como tem acontecido em

vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-

gueses ciganos ainda natildeo estatildeo

organizados o suficiente para se

afirmarem e lutarem pelos seus

direitos enquanto cidadatildeos portu-

gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-

prias A falta de comunicaccedilatildeo e

compreensatildeo entre os ciganos e a

maioria dificulta a integraccedilatildeo do

grupo

A ausecircncia de recursos materiais e

econoacutemicos traduz-se nas situa-

ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social

dos ciganos assim como as dificul-

dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-

de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos

serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo

social deste grupo eacutetnico devem-se

principalmente aos baixos niacuteveis

de escolaridade ao desemprego e

ao estigma criado agrave sua volta As

poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-

mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-

nos porque a sociedade tenta mui-

tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de

processos de assimilaccedilatildeo cultural

que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-

tos A resistecircncia dos ciganos agrave

integraccedilatildeo social vai ao encontro

das discrepacircncias entre os direitos

e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo

aos valores da sociedade dominan-

te ou seja aos aspetos de acultu-

raccedilatildeo acontece frequentemente e

por consequecircncia os ciganos

desenvolvem estrateacutegias de adap-

taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo

tempo que tentam preservar a tra-

diccedilatildeo cultural Como exemplo

temos o benefiacutecio do Rendimento

Social de Inserccedilatildeo que obriga todas

as crianccedilas a frequentar a escola

inclusive as raparigas o que para

os ciganos eacute um dilema entre a

sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-

tural Contudo eacute um processo que

estaacute a mudar alguns comporta-

mentos e ao mesmo tempo que se

reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de

identidades A conciliaccedilatildeo do

modo de vida cigano com o Progra-

ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos

mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo

Rendimento Social de Inserccedilatildeo

com os ciganos Para os ciganos eacute

uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por

um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-

do para receber uns tostotildees e por

outro lado o desejo de preservaccedilatildeo

dos traccedilos culturais

Para desenvolver o meu conheci-

mento sobre os ciganos desde

2007 que trabalho e estudo este

grupo De modo a procurar conhe-

cimento e partilhar o meu traba-

lho jaacute participei em vaacuterios con-

gressos nacionais e internacionais

pois satildeo os melhores locais para se

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 17: Bolhetim educação social   janeiro 2014

17

estar atualizado e fazer contatos

Em Junho de 2013 defendi a

minha dissertaccedilatildeo de mestrado

sobre o Rendimento Social de

Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos

no Concelho de Faro onde dei

uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-

ccedilas contra os ciganos A importacircn-

cia do trabalho de terreno permitiu

tomar consciecircncia dos inuacutemeros

sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios

ciganos fazem para sobreviver

numa cidade desenvolvida A reali-

dade natildeo eacute como muitas pessoas

pensam Alguns dados sobre o RSI

como por exemplo um estudo do

Instituto da Seguranccedila Social de

Dezembro 2008 estimou que exis-

tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-

ciaacuterias do RSI correspondente a

21100 beneficiaacuterios perfazendo

um peso de 39 total de famiacutelias

beneficiaacuterias do RSI no Concelho

de Faro em Novembro 2012 das

550 famiacutelias referentes ao protoco-

lo de RSI 145 satildeo agregados fami-

liares ciganos que correspondem a

599 beneficiaacuterios Como se pode

constatar os ciganos natildeo satildeo a

maioria dos beneficiaacuterios do RSI

Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo

contra eles De forma sucinta pos-

so partilhar as conclusotildees do meu

estudo

A importacircncia atribuiacuteda ao RSI

pelos beneficiaacuterios ciganos eacute

imensa dada a precariedade em

que vivem e tentam conciliar o

modo de vida cigano com o Pro-

grama de Inserccedilatildeo

A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute

sentida pelos beneficiaacuterios ciga-

nos nos vaacuterios domiacutenios da vida

social procura de emprego no

acesso aos serviccedilos e por rece-

berem o RSI

Relativamente agrave perceccedilatildeo do

princiacutepio de solidariedade para

os beneficiaacuterios ciganos o apoio

do RSI como um direito e natildeo

como uma medida de solidarie-

dade social de uns cidadatildeos para

os outros

Os teacutecnicos queixam-se da falta

de criatividade na elaboraccedilatildeo

dos Programas de Inserccedilatildeo

Os teacutecnicos sentem que a socie-

dade natildeo tem respostas para a

inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios

de RSI o que se traduz nas difi-

culdades no combate agrave pobreza

Concluiacutedo o trabalho e depois de

apresentadas as conclusotildees impor-

ta agora apresentar algumas refle-

xotildees no sentido de uma melhoria

da eficaacutecia das futuras poliacuteticas

sociais de combate agrave pobreza

entre os ciganos

Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 18: Bolhetim educação social   janeiro 2014

18

cos que trabalhem com ciganos

Desenvolver Programas de

Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-

dades das famiacutelias ciganas de

modo a facilitar a sua integraccedilatildeo

social e reduzir as situaccedilotildees de

acomodaccedilatildeo

Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio

emprego

Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo

positiva para combater a discri-

minaccedilatildeo negativa apostar na

contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios

ciganos nas empresas puacuteblicas

Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista

constituiacuteda por ciganos e natildeo

ciganos no Concelho de Faro

com o objetivo de defender os

interesses do grupo e minimizar

os estereoacutetipos existentes na

sociedade

Alguns ciganos adotam atitudes de

autoexclusatildeo e conformistas sobre

as expectativas que a maioria faz

de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao

assumirem comportamentos resi-

lientes Importa realccedilar que os

ciganos satildeo cidadatildeos portugueses

e como tal cidadatildeos de direitos e

deveres como estaacute estabelecido na

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-

guesa Poreacutem a maioria natildeo se

reconhece como tal isto porque

natildeo veem reconhecidas as suas

tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo

contraacuterio satildeo cercados pela discri-

minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

Atualmente o termo ciganofobia

ou romafobia estaacute presente em

muitos discursos de ativistas para

os direitos humanos que tentam

denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees

racistas e discriminatoacuterias contra

os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar

de muitas vezes passarem desper-

cebidos

Ningueacutem disse que trabalhar com

ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute

impossiacutevel Basta acreditar e res-

peitar E assim sinto-me uma Edu-

cadora Social diferente e continuo

a minha luta pela defesa dos direi-

tos humanos dos ciganos

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 19: Bolhetim educação social   janeiro 2014

19

Educar para a diferenccedila

Susana Rebocho

Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-

cado de diferenccedila de indiferenccedila

de diferente ou desigual Qual eacute o

sentido da diferenccedila nas praacuteticas

educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da

diferenccedila na interculturalidade

Afinal o que eacute ser diferente e o que

isso tem a ver com educaccedilatildeo

Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da

liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que

distingue um ser de outro ser uma

coisa de outra coisa Simples de

entender

Mas a forma como este caraacutecter

que distingue um ser de outro eacute

considerado nas praacuteticas educati-

vas e na intervenccedilatildeo social origina

muita discussatildeo

Se por um lado a educaccedilatildeo espe-

cial as adaptaccedilotildees curriculares ou

a criaccedilatildeo de turmas alternativas

tentam responder agrave diversidade de

alunos por outro os alunos que

natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-

vas fazem parte de turmas com o

dobro dos alunos que seria funda-

mental agrave aprendizagem dos con-

teuacutedos curriculares exigidos bem

como ao desenvolvimento bio-

psico-emocional saudaacutevel O que

acontece na realidade eacute uma valo-

rizaccedilatildeo exces-

siva da instru-

ccedilatildeo em detri-

mento de uma

conceccedilatildeo mais

ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-

satildeo pessoal e social satildeo claramente

subalternizadas

Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo

apontar criticas ao trabalho dos

professores muito pelo contraacuterio

Haacute 7 anos que trabalho em escolas

e durante este tempo tive o privileacute-

gio de conhecer profissionais

extremamente conscientes do seu

papel de educador A questatildeo aqui

eacute essencialmente politica e muito

acima do que qualquer educador

possa sequer tentar mudar

O que me tranquiliza neste cenaacuterio

eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor

dos professores reconhecerem a

importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do

ensino e recorrerem a apoios

externos Aqui entra o trabalho do

educador social do assistente

social do psicoacutelogo do terapeuta

Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo

social tem o seu lugar na escola na

diferenccedila na diversidade na inter-

culturalidade na dimensatildeo eacutetica

do processo educativo

Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo

para a diferenccedila sou sim apologis-

ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-

de ndash educar para a diferenccedila pode

levar-nos em uacuteltima instacircncia a

acentuar a distacircncia entre as pes-

soas a destacar as suas desigual-

dades a salientar alguma diferen-

ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-

dade as praacuteticas educativas desen-

volvem-se em torno do respeito

da responsabilizaccedilatildeo individual da

liberdade pessoal

A minha experiecircncia de interven-

ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-

mente com os alunos de etnia ciga-

na por ser a uacutenica minoria com

uma grande representatividade

nos agrupamentos onde trabalho

E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-

cia riquiacutessima

O combate ao absentismo e aban-

dono escolar satildeo os objetivos

gerais da intervenccedilatildeo suportados

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 20: Bolhetim educação social   janeiro 2014

20

pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da

diversidade conhecer-se a si mes-

mo conhecer o outro ser capaz de

interagir numa contiacutenua constru-

ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo

dos valores Para aleacutem da interven-

ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias

de etnia cigana a intervenccedilatildeo com

os professores e comunidade esco-

lar assume tambeacutem uma grande

importacircncia neste trabalho inclusi-

vo Os professores questionam

muitas vezes como lidar com crian-

ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-

tumes diferentes das demais crian-

ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-

mas condutas e valores vigentes

Como ensinar-lhes os conteuacutedos

que se encontram nos livros didaacuteti-

cos Como integrar a sua experiecircn-

cia de vida de modo coerente com

a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-

sidero que os trabalhadores sociais

nas escolas dotados de um saber e

de ferramentas indispensaacuteveis agrave

inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-

to da comunidade educativa glo-

bal alunos professores auxiliares

de educaccedilatildeo e encarregados de

educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada

natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-

venccedilatildeo com todas as partes envol-

vidas criaraacute pontes aproximaraacute

pessoas potenciaraacute o sucesso

escolar o desenvolvimento pes-

soal e social e consequente inclu-

satildeo social

Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-

da surge na educaccedilatildeo inclusiva

como Ensino Cooperativo ndash ensino

baseado na colaboraccedilatildeo entre o

professor titular de turma e um

auxiliar um outro colega ou um

outro profissional Considero que

na intervenccedilatildeo com os alunos de

etnia cigana em contexto escolar

este ensino cooperativo assume

uma grande importacircncia eacute aqui

atraveacutes de um apoio especiacutefico

que por inuacutemeras razotildees natildeo

pode ser dado pelo professor

durante a rotina diaacuteria na sala de

aula que se avanccedila no combate ao

insucesso escolar eacute aqui que se

cria um espaccedilo de aprendizagem

individual e coletivo simultanea-

mente eacute aqui que os alunos come-

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 21: Bolhetim educação social   janeiro 2014

21

ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-

escolares que os demais alunos jaacute

adquiriram eacute aqui que se tenta

ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-

ver capacidades

Outra caracteriacutestica do ensino coo-

perativo eacute o combater o isolamen-

to do professor Os professores

aprendem com as estrateacutegias dos

outros e obteacutem um feedback ade-

quado Consequentemente a coo-

peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o

desenvolvimento cognitivo e emo-

cional mas permite responder agraves

necessidades dos professores

Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva

e da educaccedilatildeo intercultural deve-

ratildeo estar presentes algumas condi-

ccedilotildees desenvolver atitudes positi-

vas ndash eacute essencial ao sucesso de

qualquer intervenccedilatildeo educativa

criar um sentimento de pertenccedila ndash

essencial ao bem estar interesse e

motivaccedilatildeo O insucesso escolar

traduz-se na maior parte dos casos

por um desinteresse continuado

um descreacutedito crescente em rela-

ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto

instituiccedilatildeo educativa e socializado-

ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a

adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-

ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-

nicaccedilatildeo que nascem muitos dos

entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-

renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-

mina o sucesso das praacuteticas de

intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-

nuando na intervenccedilatildeo com os

alunos de etnia cigana sou seacuteria

defensora da contrataccedilatildeo de

mediadores soacutecio-culturais a

mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-

tribui em larga escala para que a

realidade intercultural se torne

possiacutevel eacute um processo comunica-

cional de transformaccedilatildeo social que

requalifica as relaccedilotildees sociais e

concebe novos percursos onde eacute

possiacutevel entender o outro como

diferente eacute uma ponte uma apro-

ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo

onde a mensagem eacute entendida

claramente Sem esta ponte sem

este ldquoentendimentordquo a diferenccedila

soacute se torna mais excluiacutevel a diver-

sidade soacute se torna mais intoleraacutevel

e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo

real de compreensatildeo e transmis-

satildeo concreta de propoacutesitos e nor-

mas culturais continuamos a

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 22: Bolhetim educação social   janeiro 2014

22

fomentar o ldquoassimilacionismordquo

criando contextos desfavoraacutevel agrave

igualdade de oportunidades

A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou

valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute

seguir no sentido de combater a

desigualdade tentando impedir

que a escola silencie as vozes que

lhe pareccedilam dissonantes do discur-

so culturalmente padronizado Em

uacuteltima instacircncia a escola deveraacute

trabalhar para uma diversidade de

seres que estatildeo inseridos num

mundo diverso os trabalhadores

sociais deveratildeo promover o direito

de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade

de oportunidades educar dentro

de uma perspectiva de cidadania

plena

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 23: Bolhetim educação social   janeiro 2014

23

Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social

Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-

beacutem eu fazia parte do grupo dos

das muitosas Educadoresas

Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e

mental assustava (enquanto aacuterea

de trabalho) e bastantehellip

Mas o destino (ouchamem-lhe

o que quiserem) colocou no meu

caminho a possibilidade de vir a

trabalhar nesta aacuterea Cheguei a

desejar que depois da entrevista

natildeo me telefonassem mas ao

mesmo tempo a convicccedilatildeo de que

nada eacute por acaso falou mais alto

Se o IEFP me tinha convocado e se

na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-

ta me tinham selecionado era

porque o desafio tinha que ser

aceite

Os primeiros tempos foram um

(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre

o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo

especial e ser aceite por eles e

noutro prisma corresponder agraveque-

la que era a minha funccedilatildeo - traba-

lhar a expressatildeo corporal

Foi partir pedra durante vaacuterios

dias mas no seguimento das mui-

tas conversas que fui tendo (que

agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas

horas de pesquisa na Internet e na

Biblioteca e do

apoio incondicio-

nal das minhas

colegas as ideias

comeccedilaram a

surgir

Apesar de a

minha experiecircn-

cia ser ainda muito curta atual-

mente sinto-me mais segura e a

gostar muito do que faccedilo

A Instituiccedilatildeo na qual estou a

desenvolver um CEI (Contrato

Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar

Residencial para Deficientes e

como complemento um CAO

(Centro de Atividades Ocupacio-

nais) No total temos quase qua-

renta utentesclientes sendo que

apenas oito vatildeo e vecircm todos os

dias de segunda a sexta-feira das

9h agraves 17h Os restantes clientes

utentes vivem no Lar da Institui-

ccedilatildeo

Sobre as suas deficiecircncias temos

um pouco de tudo desde deficien-

tes mentais (profundos modera-

dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos

portadores de trissomia 21 parali-

sia cerebral ateacute portadores de siacuten-

dromes diversas

No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo

eacute Monitora de Expressatildeo Corporal

O dia de trabalho estaacute dividido em

cinco tempos (trecircs de manhatilde e

dois agrave tarde) sendo que em cada

tempo contamos com um grupo

diferente dentro da sala

Quanto agraves atividades dinamizadas

de uma forma geral centram-se

em dinacircmicas e jogos de controlo e

perceccedilatildeo do corpo (onde se

incluem dramatizaccedilotildees simples e a

questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo

os jogos de miacutemica o recurso a

fantoches as sombras chinesas

percussatildeo como forma de explo-

rar os sons produzidos atraveacutes do

proacuteprio corpo e ainda em algumas

dinacircmicas que provoquem o riso

Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um

elemento sempre presente quer

como base de trabalho na medida

em que possa ser parte integrante

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 24: Bolhetim educação social   janeiro 2014

24

da dinacircmica a desenvolver quer

como catalisador de um ambiente

mais estimulante e motivador

A participaccedilatildeo e contributo dos

utentes satildeo promovidos ao maacutexi-

mo em cada uma das dinacircmicas

que podem ser (e satildeo muitas

vezes) adaptadas e reajustadas

de modo a ir ao encontro das

necessidades gostos e motivaccedilotildees

de cada um

A Instituiccedilatildeo conta ainda com

transporte proacuteprio pelo que sem-

pre que surge a oportunidade

(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees

atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos

saiacutedas ao exterior com os utentes

clientes que satildeo sempre muito

apreciadas

Pelas especificidades das pessoas

com as quais trabalho os objetivos

das atividades que proponho natildeo

podem ser demasiado ambiciosos

Tem que se considerar sempre

que qualquer um deles levaraacute mais

tempo a atingir o que se pretende

do que levaraacute uma pessoa sem

deficiecircncia e que para alguns

pelo teor das limitaccedilotildees que pos-

suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-

vel avanccedilar mais que um determi-

nado niacutevel dentro de um exerciacutecio

No iniacutecio do meu trabalho com

esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo

do quatildeo importante eacute termos sem-

pre presentes estas ideias mas

hoje reconheccedilo que satildeo funda-

mentais quer para natildeo nos frus-

trarmos a noacutes proacuteprios quer para

natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-

soas com e para as quais trabalha-

mos

A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-

mamente importante e transversal

a todo o meu trabalho Apesar de a

minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea

da Expressatildeo Corporal o meu prin-

cipal e primaacuterio interesse e foco

deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-

de e bem-estar dos utentes

clientes Relembro que trabalho

num CAO cujo objetivo eacute promo-

ver atividades que ocupem estas

pessoas (como o proacuteprio nome

ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma

componente de reabilitaccedilatildeo

Quando se conseguem reunir estas

trecircs condiccedilotildees todo o trabalho

seguinte acaba por fluir natural-

mente No entanto quando por

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 25: Bolhetim educação social   janeiro 2014

25

algum motivo algum deles ou o

grupo natildeo estaacute bem todo o traba-

lho corre o risco de ficar compro-

metido sendo que a intervenccedilatildeo

deveraacute ser redirecionada passan-

do essencialmente por tentar esta-

bilizar o elemento ou grupo para

que possa (m) voltar a encontrar a

tal estabilidade e bem-estar

Para concluir por tudo o que jaacute vivi

e experienciei durante estes uacutelti-

mos meses acredito plenamente

que as pessoas com e para as quais

trabalho satildeo pessoas com uma

missatildeo extremamente especial

verdadeiras luzinhas Com carac-

teriacutesticas patologias e feitios todos

diferentes entre eles mas com

uma pureza muito superior agrave nos-

sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas

(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o

nosso processo de socializaccedilatildeo e

natildeo as viciamosapesar do melhor

que tentamos fazer e fazemos)

Natildeo fala nem ouve mas com-

preende gestos Natildeo pode usar as

pernas para andar mas serve-se

das rodas da cadeira Tem capaci-

dade mental ao niacutevel de uma crian-

ccedila de dois cinco ou dez anos

entatildeo agimos como se fosse essa

crianccedila de dois cinco ou dez anos

Baba-se muito entatildeo recorremos

ao babete e natildeo deixamos descu-

rar a higiene Natildeo consegue sorrir

com a boca mas o coraccedilatildeo passa a

mensagem aos olhos e eles sor-

riem pela boca que natildeo o consegue

fazer

Foi pelo desafio que aceitei este

trabalho e hoje eacute com muito

amor que o faccedilo dando o melhor

de mim e tentando evoluir sempre

Ateacute quando Ateacute que o destino

assim o queira Bem-haja

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

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Biblioteca APES

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Page 26: Bolhetim educação social   janeiro 2014

26

Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia

Catarina Aleixo Educadora Social

Em Julho de 2012 terminei a licen-

ciatura em Educaccedilatildeo Social pela

Escola Superior de Educaccedilatildeo do

Instituto Politeacutecnico de Braganccedila

No meu segundo ano do curso

(20102011) realizei o estaacutegio

numa instituiccedilatildeo de pessoas com

deficiecircncia mais precisamente no

CAO (Centro de Atividades Ocupa-

cionais) dessa instituiccedilatildeo

Existia uma vasta lista de locais

para estagiar mas apenas uma

instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-

alvo pessoas com deficiecircncia

Antes de conhecer essa lista de

locais jaacute tinha na ideia de que se

tivesse possibilidades gostaria de

estagiar com este tipo de popula-

ccedilatildeo

E o porque de querer estagiar com

essa populaccedilatildeo Em primeiro

lugar porque este tipo de popula-

ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-

sificada pois existem diferentes

tipos de deficiecircncia Em segundo

porque existiam pessoas de dife-

rentes idades o que me permitia

lidar com jovens adultos e idosos

E em terceiro porque com idosos

crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo

lidamos com mais frequecircncia

no nosso dia-a-dia

Esta instituiccedilatildeo onde estagiei

acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-

tes com diversas tipologias de defi-

ciecircncia (auditivos esquizofrenia

mentais motores multideficiecircncia

fiacutesica portadoras de paralisia cere-

bral visuais e tetrapleacutegica)

Contactei pela primeira vez com a

instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de

2010 Embora o estaacutegio fosse de

observaccedilatildeo do funcionamento da

instituiccedilatildeo foi logo estabelecido

que era importante interagir com

todos os profissionais e clientes

No iniacutecio havia um pouco de receio

devido ao facto de natildeo saber como

haveria de lidar com os clientes

mas com o passar do tempo estes

medos foram-se dissipando

Muitos educadores sociais se lhes

perguntar se gostariam de traba-

lhar com este tipo de populaccedilatildeo

talvez digam que natildeo gostariam

muito E porque natildeo Talvez por-

que tecircm o mesmo receio que eu

tinha Porque tecircm medo em natildeo

conseguir fazer o mesmo trabalho

como eles como o fariam com

outra populaccedilatildeo sem tantas restri-

ccedilotildees Mas se experimentassem

talvez essas ideias e esses medos

se fossem dissipando como acon-

teceu no meu caso pois muitos

deles conseguem fazer o mesmo

que noacutes e que os outros E outra

coisa talvez se admirassem e ficas-

sem surpreendidos pois muitos

deles tecircm vontade de aprender

coisas novas e ficam felizes por

conseguir fazer determinadas coi-

sas

A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea

diversas salas onde os clientes rea-

lizavam atividades ao longo do dia

A sala das TIC permitia que os

clientes adquirissem as competecircn-

cias baacutesicas em Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-

ravam artigos para o Jornal de

Parede e realizavam jogos interati-

vos Na sala de atelier efetuavam

trabalhos manuais na aacuterea da tape-

ccedilaria pintura em tela trabalhos

em pedra rendas bordados e

malhas fada do lar Na sala de

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 27: Bolhetim educação social   janeiro 2014

27

recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se

diversos jogos

Realizavam-se tambeacutem atividades

recreativas e de lazer (visitas a

museus e monumentos bibliote-

cas jogar dominoacute e cartas televi-

satildeo cinema e teatro) atividades

pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-

cos que contribuem para o desen-

volvimento e para uma aprendiza-

gem mais significativa) e atividades

desportivas (expressatildeo corporal

musicoterapia para que os utentes

realizem movimentos com o seu

corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo

nataccedilatildeo caminhadas)

Ao logo do meu estaacutegio de obser-

vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-

dades tentando corresponder agraves

dificuldades de cada cliente Auxi-

liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-

tos agrave matildeo e no computador ajudei

em diversas fichas de exerciacutecios de

matemaacutetica e de portuguecircs

(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-

ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-

cas preenchimento de frases com

os respetivos verbos entre outras)

participei na realizaccedilatildeo de diversos

jogos didaacuteticos para que os utentes

pudessem desenvolver certas

capacidades que estavam menos

desenvolvidas

Na sala de ateliecirc de arte e artesa-

nato foi-me possiacutevel observar a

elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras

feitos de trapilhos realizados por

um senhor e por uma senhora invi-

suais

Ao interagirmos com pessoas com

deficiecircncia devemos ter perma-

nentemente presente as limitaccedilotildees

que cada um possui e tentarmos

ajudar a ultrapassar essas dificul-

dades

Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo

Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 28: Bolhetim educação social   janeiro 2014

28

A pessoa com deficiecircncia depara-

se com diversos problemas na nos-

sa sociedade particularmente no

que diz respeito a questotildees de

exclusatildeo social

Enfrentam diversas barreiras em

relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades

para terem acesso a diversos locais

(escolas preacutedios instituiccedilotildees

entre outras) e na utilizaccedilatildeo de

transportes puacuteblicos

Eacute de grande importacircncia sensibili-

zar e informar a comunidade para

esta problemaacutetica da deficiecircncia

revelando as capacidades destas

pessoas facilitando o seu processo

de integraccedilatildeo soacutecio profissional

Atraveacutes de campanhas de sensibili-

zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-

sibilizar a comunidade para esta

problemaacutetica e atraveacutes da exposi-

ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos

elaborados (trabalhos manuais)

por pessoas com deficiecircncia pode-

mos demonstrar muitas das capa-

cidades que estas pessoas tecircm Era

importante que estas pessoas con-

seguissem uma interaccedilatildeo profissio-

nal para elevar a sua autoestima

para contribuir para a sua integra-

ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para

que as pessoas desconstruiacutessem o

mito de que os deficientes satildeo pes-

soas invaacutelidas pois eles podem

contribuir para o trabalho e suces-

so de qualquer empresa como

outra pessoa qualquer

Considero que o meu estaacutegio veio

completar a minha apren-

dizagem pois colocou-me

em contacto com uma

realidade que ateacute ao

momento me era um pou-

co desconhecida e permi-

tiu-me tomar contacto

com pessoas com diferen-

tes dificuldades Alguns

clientes tinham dificulda-

des de leitura outros na

matemaacutetica outros em

determinados dias natildeo

lhes apetecia fazer nadahellip

as dificuldades eram diver-

sificadas e eu tinha que

me adaptar

agraves dificuldades deles

Apesar das dificuldades que muitos

dos deficientes se deparam (de

locomoccedilatildeo de aprendizagem de

exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo

ultrapassadas com ajudas de fami-

liares amigos teacutecnicos e principal-

mente por eles proacuteprios

Cumprimentos Sociais

Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs

Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

35

36

Page 29: Bolhetim educação social   janeiro 2014

29

A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC

Vou tentar conduzir-vos a algum

patamar cognitivo desconhecido

ou pouco visitado por cada um de

vocecircs E porquecirc Porque para

mim sempre que optamos apenas

pelo convencionalismo pelo cami-

nho que sempre foi seguido pelos

padrotildees que definimos como nor-

mais natildeo estamos a crescer e

como consequecircncia se natildeo cresce-

mos individualmente a sociedade

natildeo evoluiraacute

Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso

crescimento individual e as mudan-

ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas

sociais se natildeo existirem mudanccedilas

no subconsciente individual um a

um ateacute alastrar e atingir o subcons-

ciente coletivo Isso acontece sem-

pre que a maioria das pessoas se

encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila

e de ousadia

O leitor tal como a maioria das

pessoas nesta altura acenaraacute com

a cabeccedila evidenciando um concor-

dacircncia a afirmativa agrave minha

expressatildeo acima identificada mas

essa sua aparente concordacircncia

com o meu artigo trata-se de mera

retoacuterica teoria decorati-

va ilusatildeo mental de

quem lecirc um mero texto

na web e se encontra

enclausurado em seu

escritoacuterio

O que eu quero dizer eacute que basta-

va confrontar o leitor com uma

cultura ou uma histoacuteria muito afas-

tada da sua realidade para rapida-

mente toda essa aparente concor-

dacircncia se desvanecer e ser facil-

mente abalada

A minha missatildeo neste texto eacute para

aleacutem de vos dar a compreender o

que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica

Civismo e vida em sociedade eacute

mostrar vos o que eacute diferente

muito diferentehellip e conduzi-los

habilmente a um enamoramento

do diferente atraveacutes do conheci-

mento do belo que mora no con-

teuacutedo do diferente e do estranho

para noacutes Eacute na empatia que mora a

felicidade da sociedade de ama-

nhatilde eacute disso que estou a falar e isso

natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-

guir apaixonar-me pelo que eacute dife-

rente

Como perceberatildeo em breve neste

texto este natildeo vai ser um caminho

faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se

atreva a fazecirc-lo Conto convosco

para fazermos juntos esta viagem

cognitiva reflexiva e emocional

Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a

assunccedilatildeo de regras e todas essas

regras ciacutevicas parecem emergir de

um medo intriacutenseco da essecircncia do

ser humano Seraacute que com o

desenvolvimento do autoconheci-

mento do equiliacutebrio espiritual da

empatia e maior literacia emocio-

nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de

regrasrdquo a que por vezes estamos

sujeitos numa sociedade que

denominamos de civilizada

Tal como pergunta o tiacutetulo como

aceitar e a amar o diferente sem

viver aprisionado de regras ciacutevicas

Ao ler o texto vaacute atribuindo uma

pontuaccedilatildeo entre zero e dez que

30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

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Biblioteca APES

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30

quantifique o seu grau de aceita-

ccedilatildeo e entendimento do diferente

A cultura que escolhi para vos

desafiar trata-se da cultura cigana

O motivo que me levou a tal esco-

lha deve-se ao facto de considerar

proacuteximo da excentricidade a exis-

tecircncia de uma comunidade dotada

de tatildeo particulares especificidades

culturais que milagrosamente

resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais

assegurando a manutenccedilatildeo das

suas caracteriacutesticas culturais que o

definem como povo ainda que as

consequecircncias discriminatoacuterias se

edifiquem e alastrem fortemente

principalmente devido agrave ignoracircncia

e incompreensatildeo da histoacuteria e dos

valores da comunidade cigana

Possuem um sistema cultural

estruturado num tipo de cultura

aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-

zam a aprendizagem praacutetica ape-

nas a suficiente para desempenha-

rem os seus trabalhos quotidianos

e consideram os ensinamentos

para aleacutem desta linha desnecessaacute-

rios

A escola eacute encarada um territoacuterio

desconhecido e ameaccedilador pois a

sociedade eacute uma estrutura hege-

moacutenica e como tal frequente-

mente discrimina a especificidade

e como consequecircncia a crianccedila

cigana sente-se inferior agrave maioria

Essa circunstacircncia que contribui

para o tatildeo frequente absentismo e

os baixos niacuteveis de sucesso escolar

Os ciganos satildeo instintivos e espon-

tacircneos logo de cultura pouco dis-

ciplinada

De espirito noacutemada valorizam a

liberdade e devido a isso dificil-

mente de acomodam se adaptam

e se inserem numa estrutura roti-

nizada como a escola Seratildeo ape-

nas os ciganos que natildeo se encon-

tram integrados

Os pais na sua grande maioria satildeo

feirantes e comerciantes indivi-

duais provavelmente devido ao

preconceito que gera dificuldade

de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social

em outra atividade

Fortemente etnocecircntricos pos-

suem leis internas valorizam a

uniatildeo do seu grupo e a manuten-

ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees

Possuem um sotaque especiacutefico e

se recuarmos na histoacuteria constata-

remos que dispotildeem de uma liacutengua

de origem o Romani

A Musica a danccedila as festas gran-

diosas os casamentos precoces a

importacircncia da virgindade e o res-

peito pelos mais velhos satildeo outros

fatores que importa realccedilar quan-

do tentamos caracterizar este

povo cigano motivos pelos quais

satildeo fortemente estigmatizados

Como se encontra agora a sua

buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente

agora

Acredito que quando maior eacute o

conhecimento que obtemos sobre

determina-

do ele-

mento

diferente

mais esta-

remos proacute-

ximos de

os aceitar

e amar

Isso natildeo

quer dizer

que ceguemos a nossa visatildeo racio-

nal a atos humanos pouco dignos

que encontremos nesta ou em

outra cultura

O importante eacute conhecermos o

belo de cada cultura e encaramos

esse atos humanos pouco dignos

como algo que faz parte da huma-

nidade e jamais cairmos no erro

essencial de caracterizarmos esses

erros como fazendo parte de uma

cultura

Mesmo que racionalmente agrave pri-

meira vista seja isso que vecirc natildeo

alimente esse pensamento ldquoerva-

daninhardquo Grandes atrocidades que

foram cometidas no mundo come-

ccedilaram com esse pensamento erva-

daninha de que determinadas ati-

tudes negativas pertencem a

determinada classe

Como pode observar o pensamen-

to racional nem sempre nos con-

duz ao melhor caminho este eacute um

desses casos

Gerir empatia com loacutegica requer

uma mente que processe pensa-

mentos de forma flexiacutevel e multidi-

mensional Como conseguimos

isso Como sabemos se temos uma

mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute

para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip

31

Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

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Biblioteca APES

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Page 31: Bolhetim educação social   janeiro 2014

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Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES

e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para

conhecer o trabalho que desen-

volvem a equipa crianccedilas jovens

e adultos que a frequentam

A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa

de solidariedade social fundada na

Poacutevoa de Santa Iria em Maio de

1977 por um grupo de pais e ami-

gos de crianccedilas e jovens portado-

res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo

presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas

jovens e adultos com deficiecircncia

ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias

famiacutelias desfavorecidas

Algumas das respostas sociais

serviccedilos satildeo

Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash

Aqui eacute criado um projeto de vida

para cada crianccedila e jovem deficien-

te de acordo com as suas necessi-

dades e potencialidades de uma

forma o menos restritiva possiacutevel

Tem como objetivos o desenvolvi-

mento da autonomia e indepen-

decircncia pessoal a aprendizagem de

uma comunicaccedilatildeo alternativa o

aperfeiccediloamento da motricidade

global e fina e a promoccedilatildeo do rela-

cionamento interpessoal sempre

com a finalidade de fornecer bases

para a transiccedilatildeo para a vida adulta

As atividades satildeo feitas tanto em

sala de aula como no exterior

Centro de Atendimento Residen-

cial ndash Presta atendimento em Lar

Residencial a 30 pessoas portado-

ras de deficiecircncia mental maiores

de 16 anos que se encontram

impedidas de residir no seu meio

familiar

Centro de atividades ocupacionais

ndash Eacute destinado a pessoas com defi-

ciecircncia mental grave profunda ou

com multideficiecircncia com os obje-

tivos de facilitar o desenvolvimen-

to possiacutevel das capacidades rema-

nescentes das pessoas com defi-

ciecircncia grave criar condiccedilotildees para

uma maior autonomia e proporcio-

nar a oportunidade de realizaccedilatildeo

pessoal As atividades satildeo variadas

desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves

laborais e laborais em contexto de

trabalho

Centro de Recursos para a Inclu-

satildeo ndash Estrutura que disponibiliza

teacutecnicos especializados para traba-

lhar nas escolas atraveacutes de uma

32

parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

34

Biblioteca APES

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parceria com o Ministeacuterio de Edu-

caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos

complementares para apoio agrave

inclusatildeo

Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-

ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-

venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6

anos com deficiecircncia ou atraso

grave no desenvolvimento assim

que detetado Para aleacutem de se

assegurar condiccedilotildees facilitadoras

do desenvolvimento da crianccedila

apoia tambeacutem os pais

ATL Centro de atividades luacutedicas e

expressivas ndash Frequentado por

crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de

Jardins de Infacircncia da aacuterea nos

tempos livres

Cantina Social ndash Que apoia 100

pessoas no acircmbito do Programa

de Emergecircncia Alimentar

Programa Comunitaacuterio de ajuda

alimentar a carenciados ndash Que

apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-

cimento de geacuteneros alimentares

O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os

profissionais que trabalham nesta

Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute

notoacuterio como podemos verificar

nos testemunhos que deram para

o nosso Boletim

Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que

gosto Aleacutem de uma grande res-

ponsabilidade eacute um orgulho muito

grande poder contribuir para a

qualidade dos serviccedilos que presta-

mos agrave Comunidade em geral e agrave

pessoa com deficiecircncia em particu-

lar O meu trabalho eacute um trabalho

vasto e abrangente Acima de tudo

eacute um trabalho e apoio e de garantir

que todas as aacutereas e serviccedilos

desenvolvam o seu traba-

lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-

tantes vezes carrego moacuteveis

biombos cadeiras alimentos faccedilo

de motorista desentupo canos

faccedilo de jardineiro enfim o que

seja necessaacuterio Todos os dias satildeo

um desafiomas em nossa casa

fazemos o que eacute necessaacuterio

Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral

da Cercipoacutevoa

Enfim monotonia natildeo eacute algo que

eu sinta no meu dia-a-dia e espe-

cialmente porque me sinto muito

realizada no trabalho que desen-

33

volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

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volvo Gosto muito de trabalhar na

Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-

soas com quem trabalho que me

fazem sentir que vale a pena dar-

mos tudo que sabemos e temos

nesta causa que partilhamos em

conjunto

Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-

ra Teacutecnica do Centro de Orienta-

ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-

nica do Centro de Recursos para a

inclusatildeo

Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa

eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma

grande responsabilidade saber

que diariamente os nossos jovens

contam com a nossa presenccedila para

os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas

necessidades garantindo desta

forma a sua qualidade de vida e o

seu bem-estar Eacute uma felicidade

saber que diariamente podemos

fazer a diferenccedila na vida de

algueacutem tatildeo especial como os nos-

sos utentes

Cristina Silva ndash Professora

Trabalhar na Cerci para mim eacute a

minha vida e natildeo me vejo a traba-

lhar noutra coisa porque viver

para estes utentes e fazer algo por

eles todos os dias eacute sentir-me reali-

zada todos os dias Os meus dias

de trabalho na Cerci satildeo dias de

muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo

dias tambeacutem de terapia emocional

quando me sinto mais em baixo de

forma Claro que existem dias

melhores e dias piores mas com

boa vontade e bom senso tudo se

vai resolvendo

Paula Louccedilatildeo ndash Monitora

Conversaacutemos tambeacutem com a Ana

Paula Serrano uma Utente da Cer-

cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias

atividades que preenchem o seu

dia-a-dia

Acordo por volta das 0630h (eu

normalmente acordo a esta hora)

Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo

a minha higiene pessoal indo

depois pelas 8 horas tomar o

pequeno almoccedilo tudo isto no CAR

Desccedilo para o CAO mais ou menos

agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves

0900h vamos para as respetivas

salas onde realizo algumas ativi-

dades A atividade diaacuteria eacute o emba-

lamento de talheres onde fico com

os meus colegas ateacute mais ou

menos agraves 11h Haacute dias em que

tenho atividades desportivas como

o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou

almoccedilar ao refeitoacuterio regressando

depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato

uma sornardquo (descanso um pouco)

O resto da tarde realizo atividades

luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo

de danccedila pelo que em determina-

dos dias tenho ensaios Tenho ain-

da aulas de Competecircncias Pessoais

e Sociais e sessotildees de terapia da

fala Lancho pelas 1530 Regresso

ao CAR pelas 17h No CAR fico a

aguardar pelas 19 horas que eacute a

hora do jantar vou andando de um

lado para outro conversando com

as funcionaacuterias e alguns colegas

com quem me identifico Aproveito

tambeacutem para ler e ver algumas

revistas Janto pelas 19 horas e

depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h

que eacute a hora em que me vou deitar

ateacute ao outro dia

Frequentar a Cerci eacute bom porque

tenho atividades e saiacutedas Se esti-

vesse em casa natildeo tinha esse tipo

de coisas Eacute uma forma de passar o

tempo os dias tornam-se mais

faacuteceis e raacutepidos de passar

A equipa da APES congratula a Cer-

cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-

tante que realiza e aproveita tam-

beacutem para agradecer a ajuda que

sempre tem dado agrave APES Obrigada

pela visita

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