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BOLETIM TÉCNICO N° 56SETEMBRO /97

ISSN 0100-3054

EFEITOS DE DIFERENTESESPAÇAMENTOS DE GREVÍLEA

EM CONSÓRCIO COM CAFEEIROS

A. J. Baggio1

P. H. Caramori2

A. Androcioli Filho3

L Montoya4

1 Engº Florestal, Ph.D, Pesquisador da EMBRAPA/CNPF, Área de Sistemas Agroflorestais.Cx. Postal 319. 83411 -000 Colombo-PR.

2 Engº Agrônomo, Ph.D, Pesquisador do IAPAR, Área de Ecofisiologia.Cx. Postal 481. 86001-970 Londrina-PR.

3 Engº Agrônomo, MSc, Pesquisador do IAPAR, Área de Fitotecnia.Cx. Postal 481. 86001 -970 Londrina-PR.

4 Eng- Agrônomo, MSc, Pesquisador da EMBRAPA/CNPF, Área de Sistemas Agroflorestais.Cx. Postal 319. 83411-000 Colombo-PR.

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PRODUÇÃO

Editoração: Edmilson G. LiberalArte-final e capa: Sílvio Cézar BoralliCoordenação Gráfica: Antonio Fernando TiniImpresso na Área de Reproduções GráficasTiragem: 700 exemplaresTodos os direitos reservados ao Instituto Agronômico do Paraná.É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte.É proibida a reprodução total desta obra.

DIRETORIA EXECUTIVADiretor-Presidente: Florindo Dalberto

INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁVINCULADO À SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO

Rodovia Celso Garcia Cid, km 375 - Fone: (043)376-2000 - Fax: (043)376-2101

Cx. Postal 481 - 86001-970 - LONDRINA-PARANÁ-BRASIL

I 59e Instituto Agronômico do Paraná, Londrina, PR.Efeitos de diferentes espaçamentos de grevílea em

consórcio com cafeeiros / A. J. Baggio et ai. Londrina,1997.

24p. Ilust. (IAPAR. Boletim Técnico, 56)

1. Café-Sombreamento. 2. Grevillea robusta. 3.Geada-Proteção. 4. Café-Efeitos da Geada-Controle. 5.Sistemas de cultivo. I. Baggio, A. J. II. Caramori, PauloHenrique. III. Androcioli Filho, Armando . IV. Montoya, L.V. Título. VI. Série.

CDD 633.734AGRIS K10 F08

2120 42303295 G519

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SUMÁRIO

Pág.

RESUMO......................................................................................................5

ABSTRACT 6

INTRODUÇÃO 7

MATERIAL E MÉTODOS 8

TRATAMENTOS 8

AVALIAÇÃO DAS ÁRVORES ..........8

AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CAFÉ 9

AVALIAÇÃO DOS DANOS DE GEADA 9

RESULTADOS E DISCUSSÃO 10

CRESCIMENTO DAS ÁRVORES 10

PRODUÇÃO DOS CAFEEIROS 10

PROTEÇÃO CONTRA GEADAS 14

PRODUTIVIDADE DO SISTEMA 16

PRODUTIVIDADE VOLUMÉTRICA E FÍSICA DA GREVÍLEA 16

PRODUTIVIDADE ECONÔMICA DO SISTEMA CAFÉ COM

GREVÍLEA 18

CONSIDERAÇÕES FINAIS 19

CONCLUSÕES 21

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 22

AGRADECIMENTOS.... 24

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RESUMO

Foram avaliadas cinco densidades populacionais (26, 34, 48, 71e 119 árvores.ha-1) de Grevillea robusta plantadas em consórcio comcafeeiros, no período de 1985 a 1994, com os objetivos de analisar osefeitos de proteção contra geadas e a produtividade dos sistemasarborizados e a pleno sol. O experimento foi implantado no municípiode Terra Boa, PR, em um solo latossol roxo distrófico (LRd). Emboradurante o período experimental não tenha ocorrido nenhuma geadaque provocasse danos aos cafeeiros na área, constatou-se que acompetição das grevíleas não provocou decréscimo de produtividade decafé nos tratamentos com até 71 árvores.ha-1. Por outro lado, asprodutividades econômicas foram superiores nas parcelas contendoentre 34 e 71 árvores, quando comparadas com cafeeiros a pleno sol.Após a geada severa ocorrida em junho de 1994, observaram-se danosfoliares significativamente menores nos tratamentos com 71 e 119árvores.ha-1.

Termos para indexação: Grevillea robusta, arborização, café, geada,produtividade.

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INFLUENCE OF DIFFERENT SPACINGS OF GrevMea robusta

INTERCROPPED WITH COFFEE

ABSTRACT

A field experiment has been carried out from 1985 to 1994 inthe North of Parana State (23° 45' S, 52° 30' W) , to evaluate fiveplanting densities of Grevillea robusta (26, 34, 48, 71, and 119trees.ha-1) intercropped with coffee. Coffee production was not affectedby shade trees competition for densities lower than 71 trees.ha-1.Economic productivity was higher for the treatments comprising from34 to 71 trees.ha-1, comparatively to open grown coffee. After a severefrost occurred in June 1994, effective protection was observed for thetreatments with 71 and 119 trees.ha-1.

Index terms: Grevillea robusta, shading, coffee, frost protection,proctucturty.

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INTRODUÇÃO

O Paraná localiza-se em área de risco de ocorrência de geadas(GRODSKI et al., 1996), mas apresenta condições excepcionais dedisponibilidade hídrica e solos para o cultivo do café, que possibilitama obtenção de altas produtividades com menores custos, tornando oEstado altamente competitivo no nível nacional. Com base nos riscosde geadas, a partir da década de 70 foram adotadas medidas queresultaram em contínuas erradicações de lavouras, intensificando-se asubstituição da atividade cafeeira por lavouras anuais e pastagens(CARAMORI & MANETTI, 1993). Assim, tornou-se evidente anecessidade crescente de gerar novas alternativas para a proteção doscafeeiros contra geadas, para que a cafeicultura pudesse se mantercomo uma atividade estável no Paraná.

A utilização de árvores associadas com cafeeiros é uma práticade manejo antiga e comum em países tropicais, com a utilização dediversas espécies, principalmente leguminosas. BAGGIO (1983)apresentou um resumo desses sistemas, discutindo vantagens edesvantagens da inclusão de árvores para sombreamento.

A grevílea (Grevillea robusta) é utilizada há várias décadas nosombreamento de café e chá na índia e Sri Lanka (RAO, 1961), assimcomo em terras altas da África tropical (HARWOOD, 1989) e daAmérica Central (CATIE, 1986). A espécie é considerada de usosmúltiplos, sendo cultivada também em renques e florestas homogêneaspara produção de madeira (marcenaria, laminação, pisos, lenhas epolpa), mel e pólen, goma ou como ornamental (HARWOOD, 1989). NoKenya é utilizada também em sistemas agroflorestais com milho,feijão, banana, batata e algodão (CHAWANGI & ZIMMERMAN, 1987).

No Brasil, partindo de recomendações do extinto InstitutoBrasileiro do Café, os cafeicultores começaram a introduzir grevíleanas plantações cafeeiras a partir de 1975 (Instituto Brasileiro do Café,1981). O objetivo era proteger os cafeeiros contra ventospredominantes e ventos frios de inverno, sob a forma de quebra ventos,fato comprovado por DURIGAN & SIMÕES (1987). No entanto, osistema adotado não protegia efetivamente as plantas contra geadas deirradiação, fator que levou muitos agricultores a distribuir as árvoressob outros arranjos espaciais (BAGGIO, 1983).

Neste trabalho, são apresentados resultados de um experimentode espaçamentos de grevílea em cafeeiros, com a respectiva discussãosobre o efeito de cada tratamento na produção de café e sobre aprodutividade do sistema.

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MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi implantado no município de Terra Boa-PR(23°45'S e 52o30'W), sobre um latossolo roxo distrófico texturaargilosa - LRd.

Para evitar que um tratamento não fosse afetado pelostratamentos adjacentes, optou-se pelo estabelecimento de parcelasgrandes (65 x 215m), sem repetições, totalizando o experimento umaárea de 83.850m2.

TRATAMENTOS

Os tratamentos de distribuição espacial das árvores estãoespecificados na Tabela 1.

Para os cafeeiros, foram utilizados espaçamentos fixos de 3,0m entre ruas por 1,5 m entre covas, com 2 plantas por cova. Os tratosculturais dos cafeeiros seguiram os padrões normais de recomendaçãopara lavouras comerciais de café (IBC, 1981). Anualmente, as plantasde grevílea sofreram podas dos ramos laterais inferiores, parapossibilitar o desenvolvimento de um fuste adequado para exploraçãocomercial.

AVALIAÇÃO DAS ÁRVORES

O experimento foi conduzido por um período de 10 anos (1984 -1994). Para caracterização do seu padrão de crescimento, as árvoresforam medidas anualmente quanto à altura e diâmetro (DAP). Narotação final foram medidas as produções de madeira para serraria8

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As colheitas foram efetuadas anualmente quando pelo menos80% dos frutos estavam maduros. Colheram-se em separado os frutosdos cafeeiros e os caídos no chão, os quais foram secos em terreiro ebeneficiados. A produção obtida em cada subparcela foi convertidapara kg.ha-1 para comparação entre tratamentos.

AVALIAÇÃO DOS DANOS DE GEADA

Dois dias após a geada severa ocorrida em 26 de junho de1994, os danos foliares nas plantas de cafeeiros das subparcelas foramavaliados visualmente (CARAMORI et ai., 1996). As avaliações Toramrealizadas por três pessoas independentemente, obtendo-se um .valor

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(consideradas toras com mais de 20 cm de diâmetro) e lenha (madeiraacima de 3,0 cm de diâmetro). A amostragem incluiu 36 árvores,escolhidas aleatoriamente. Para os cálculos volumétricos da madeiraestimou-se um fator de forma médio até a altura comercial paraserraria (altura em que o diâmetro mínimo da tora é de 20 cm). A lenhafoi medida em metros estéreos (empilhada) e metros cúbicos (soma detodos os volumes individuais de cada torrete), possibilitando assim aestimativa do fator de empilhamento.

AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CAFÉ

Para quantificar as produções de café, foram estabelecidas 4subparcelas por tratamento, com dimensões variáveis de forma arepresentar a área mínima necessária para avaliar a combinação café xgrevílea em cada espaçamento (Tabela 2).

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médio da porcentagem de área foliar que não sofreu danos em cadatratamento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

CRESCIMENTO DAS ÁRVORES

As curvas de crescimento médio anual, por tratamento, paradiâmetro e altura são apresentadas nas Figuras 1 e 2.

O crescimento médio geral (34,56 cm para diâmetro e 13,41 mpara altura) na rotação final, resultou em incrementos médios anuaisde 3,46 cm e 1,34 m para diâmetros e alturas, respectivamente, aos 10anos de idade. Este resultado é bastante promissor para esta espécie,considerando que se trata de material não melhorado e de origemdesconhecida, quando comparado com dados da literatura.

OKORIO & PEDEN (1992), em Uganda, reportaram incrementosmédios anuais de 2,0 m e 2,0 cm para altura e DAP, respectivamente,até 10 anos de idade, utilizando espaçamentos convencionais dereflorestamentos ( 2 x 2 m a 3 x 3 m ) . Resultados semelhantes obteveCARVALHO5, em experimentos implantados em Campo Mourão-PR, emsolo com a mesma classificação da área de estudo.

Os maiores diâmetros e as menores alturas das grevíleasencontrados no presente trabalho, refletem a ausência de competiçãoentre as árvores, para todos os tratamentos, em função das baixasdensidades populacionais avaliadas.

PRODUÇÃO DOS CAFEEIROS

As produções anuais de café beneficiado em kg.ha-1, de 8colheitas obtidas durante o período 87-94, são apresentadas naFigura 3. Observa-se uma considerável oscilação anual de produçãode café, mesmo nos tratamentos arborizados. A produção totalacumulada de café beneficiado por tratamento é apresentada na Tabela3. Somente o Tratamento 1, com a maior densidade de arborização,apresentou redução na produção média de café devido à competiçãocom as grevíleas. Assim, o plantio de até 70 árvores de grevílea porhectare pode ser recomendado, sem nenhum prejuízo à produção doscafeeiros.

5 Informações pessoais de pesquisas em andamento. Embrapa/CNPFIorestas, 1994.10

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Embora não tenham sido registradas ocorrências de geadasdurante o período experimental, verifica-se uma tendência de efeitobenéfico da arborização sobre a produção dos cafeeiros, com pico deprodução observado no tratamento III (48 árvores de grevílea porhectare). Dois fatores podem ter influenciado este comportamento: a)redução da velocidade dos ventos (CARAMORI et al. 1986); b) reduçãode excesso de temperatura. No período de verão, em dias ensolarados atemperatura das folhas dos cafeeiros expostos a pleno sol pode atingirvários graus acima da temperatura do ar, provocando inclusivesintomas visíveis de queimadura foliar. Com a arborização, é possíveldiminuir a amplitude térmica no interior do cafezal, reduzindo tantosos riscos de geadas durante o inverno como as temperaturas muitoelevadas de verão que afetam a fotossíntese.

Além dos fatores mencionados, deve-se destacar o baixo nívelde competição por água exercido pelas grevíleas na faixa de exploraçãoradicular dos cafeeiros e a baixa competição por luz. RIPLEY (1967)observou que o nível máximo de sombreamento embaixo de uma árvorede grevílea com 6 a 7m de altura foi de 50%, sendo insignificante alémde 3,5m de distância do tronco. Isto ocorre em função do formato dacopa desta espécie, que permite a passagem da luz solar direta até onível dos cafeeiros durante grande parte do dia.

PROTEÇÃO CONTRA GEADAS

Os danos causados pela geada de 26 de junho de 1994 foramdistintos entre os tratamentos (Figura 4). Proteção efetiva foiobservada para os espaçamentos de 10 x 14m e 8 x 10,5m (71 e 119árvores.ha-1). Considerando-se que esse tipo de geadas normalmente14

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causa grandes prejuízos às lavouras cafeeiras, os resultados obtidossão altamente promissores, indicando que, se tivessem ocorrido outrasgeadas durante o período experimental, poderia haver maioresvantagens para os tratamentos com densidades de árvores maiselevadas. CARAMORI et ai. (1996) também observaram proteção efetivacontra geadas em uma área arborizada com a espécie Mimosa scabrella(bracatinga) em uma área sujeita a geadas freqüentes.

PRODUTIVIDADE DO SISTEMA

A alternativa utilizada no presente estudo diz respeito a umsistema de produção que tem entre suas características, o aumento daprodutividade do solo, a diversificação da propriedade, a minimizaçãode insumos externos à propriedade, o melhor aproveitamento da mão-de-obra, e pressupõe a melhoria substancial dos fluxos energéticos,econômicos e da produção física, quando comparado com o sistemaconvencional de produção de café.

Alguns indicadores destes fluxos podem ser caracterizados peladiferença da produção física e valor econômico obtidos pelo sistemacafé x grevílea, quando comparado ao plantio de café solteiro, ou seja aadição da produção de madeira serrada e lenha.

PRODUTIVIDADE VOLUMÉTRICA E FÍSICA DA GREVÍLEA

A estimativa da produção volumétrica (m3.ha-1), feita a partirdas médias dendrométricas e densidade populacional correspondente,é apresentada na Figura 5. O fator de forma (até na altura em que odiâmetro mínimo é de 20 cm), estimado pela amostragem, foi de 0,711,valor este utilizado para o cálculo do volume de madeira das toras. Aestimativa de produção de lenha foi baseada na amostragem decampo.

Para efeito de transformação para metros estéreos (medidanormalmente utilizada comercialmente), a lenha apresentou um fatormédio de empilhamento bastante elevado (2,19), explicado pela formacurvada das ramificações menores, as quais ocasionaram grandesespaços vazios dentro das pilhas.

Os volumes individuais de madeira para serraria situaram-seentre 0,45 e 0,52 m3 árvore-1, como média geral. CARVALHO (1994)mediu produções médias de 0,1 m árvore-1, em Campo Mourão, parapopulações de mesma idade porém na densidade de 2.500 árvores.ha-1.

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Os maiores incrementos observados neste trabalho são devidos à baixadensidade populacional

PRODUTIVIDADE ECONÔMICA DO SISTEMA CAFÉ COM GREVÍLEA

Um indicador de produtividade econômica do sistema é o seuvalor econômico, representado pela receita do povoamento da grevílea eda produção do café, subtraindo-se os custos de implantação econdução. Contudo, devido à grande variabilidade da produção anual,mesmo nos tratamentos arborizados e da ausência de umacompanhamento de sua contabilidade no decorrer dos anos, umindicador de produtividade econômica pode ser também caracterizadopela diferença no valor bruto da produção obtida nos diferentestratamentos (Tabela 4). Assumiu-se que o rendimento econômico dopovoamento da grevílea é determinado pelo uso a que se destina amadeira. Informações sobre usos da madeira nos municípios deTapejara, Cianorte, Terra Boa, Tuneiras, Cruzeiro, Maringá eApucarana indicam sua utilização como tábuas para construção civil(concretagem), caixotaria para hortigranjeiros, madeira estrutural paraconstrução (caibros, vigas), móveis (partes estruturais) e lenha(cerâmicas e fábricas de farinhas de mandioca). Esta forma deutilização é dada para madeiras de terceira, na escala dos serradores.

No estudo, a fração lenha representou, em média, 28% dovolume total, enquanto a madeira potencial para serraria alcançou72%, concentrando-se nesta fração, portanto, o valor econômicoprincipal das árvores.

Os valores obtidos evidenciam que o sistema alternativomostra-se mais promissor economicamente, quando comparado com osistema tradicional.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na arborização de cafeeiros o componente florestal deve serescolhido tanto pela otimização da função a que se destina(sombreamento, proteção etc), quanto pela maximização, daeconomicidade do sistema. A generalização do uso de Greuillea robustanão significa ser esta a espécie mais adequada para arborização decafezais. Sua recomendação baseou-se principalmente em informaçõesde outros países (IBC, 1981) e falta de alternativas. As leguminosasgeralmente são muito utilizadas em outros países para esse propósito(como ocorre com Inga spp., Erythrina spp., Acacia spp., Gliricidiasepium, Mimosa scabrella etc), devido principalmente aos benefíciospara os solos. No entanto, o retorno econômico propiciado pela madeirada grevílea, num mercado escasso de ofertas, é um fator que podecontribuir para viabilização do sistema, principalmente em períodos derenovação da lavoura cafeeira, em que a madeira fornece rendaadicional ao cafeicultor.

Os métodos de manejo (espaçamento, podas, desbastes) sãotambém determinantes para a rentabilidade do sistema. Algumasespécies leguminosas que rebrotam, são podadas periodicamente parafornecimento de adubo verde e aumento da luminosidade em épocas denecessidade. A bracatinga (Mimosa scabrella), usada parasombreamento de café nas zonas altas da Costa Rica, é cortada ereplantada a cada 3-4 anos, para produção de lenha (CATIE, 199-1).Espécies madeireiras como a grevílea, alcançam melhores valores no

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mercado quando se eliminam os ramos baixos desde o principio,produzindo madeira limpa nas primeiras toras, ao final da rotação.

As interações entre os componentes podem ser separadas emdois níveis: acima do solo (luz, chuva, vento, temperatura) e abaixo dosolo, envolvendo a disponibilidade de água e nutrientes (ONG et al.,1991). Quando a precipitação e fertilidade do solo são adequadas osespaçamentos podem ser menores, aumentando a competição por luz,fator seguinte que limita o crescimento das culturas. Por outro lado, seas condições do solo não são adequadas, as árvores devem serplantadas mais espaçadas, liberando as culturas de tal competição,porém reduzindo a proteção contra fatores ambientais extremos(TORQUEBIAU & AKYEAMPONG, 1994).

No presente caso inclui-se a geada, contra a qual a coberturapropiciada pelas copas deve ser eficiente, ao mesmo tempo que permitasuficiente passagem de luz aos cafeeiros e exerça baixa competiçãoradicular. Cabe ressaltar que a distribuição homogênea das árvoresdentro do cafezal apresenta-se vantajosa com relação ao uso derenques. O vento frio é amortizado por ambos sistemas, porém aproteção contra as geadas de irradiação é mais efetiva quando asárvores são distribuídas. Segundo TORQUEBIAU (1988), árvores emespaçamentos regulares interceptam menos luz do que linhas densas,para uma mesma população.

Constata-se que os indicadores de produtividade física eeconômica sugerem viabilidade técnica e econômica em carátercomercial. Contudo a exploração da grevílea ainda está aquém do seupotencial, num mercado carente de madeiras para usos diversos. Astoras, em geral, são comercializadas para fins mais rústicos(caixotaria, moldes de concreto, estruturas internas de móveis econstruções), independentemente de sua qualidade, alcançando preçosde compra muito inferiores aos de madeiras mais nobres. O mesmoocorre no mercado de lenha, onde a espécie é menos apreciada queoutras disponíveis no mercado, tais como os eucaliptos.

Finalmente, vale destacar a crescente utilização da grevílea emoutras atividades agroflorestais, como quebra-ventos, arborização depastagens e culturas anuais. A oferta regular de madeira desta espécie,com melhoria de qualidade através do manejo e do melhoramentogenético, poderá propiciar um maior retorno econômico no futuro.

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CONCLUSÕES

1 - A produção dos cafeeiros não foi afetada pela introdução dasárvores, até uma densidade de 71 árvores.ha-1 (espaçamento de 10 x14 m).

2 - A produtividade econômica do sistema café x grevílea foisuperior para densidades populacionais entre 34 e 71 árvores.ha-1,quando comparada com cafeeiros a pleno sol.

3 - A densidade de 71 árvores.ha-1 demonstrou ser efetiva naproteção dos cafeeiros contra geadas, considerando-se a maisadequada para arborização do cafezal em áreas sujeitas à ocorrênciadeste fenômeno.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAGGIO, A. J. Sistema agroflorestal grevilea x café: início de nova era naagricultura paranaense. Curitiba : Embrapa/CNPF. 1983. 15p. (Embrapa.CNPF. Circular Técnica, 09).

CARAMORI, P. H.; MANETTI FILHO, J. Proteção dos cafeeiros contrageadas. Londrina : IAPAR, 1993. 27p. (IAPAR. Circular Técnica, 79).

CARAMORI, P. H.; OMETTO, J. C; VILLA NOVA, N. A.; COSTA, J. D. Efeitosdo vento sobre mudas de cafeeiro mundo novo e catuaí vermelho.Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, 21 (11): 1113-1118, 1986 .

CARAMORI, P. H.; ANDROCIOLI FILHO, A.; LEAL, A. C. Coffee shade withMimosa scabrella Benth. for frost protection in southern Brazil.Agroforestry Systems, 33:205-214, 1996.

CATIE. Bracatinga (Mimosa scabrella Benth): Espécie de árbol de usomultiple en America Central. Turrialba : CATIE, 1991 70p. (CATIE.Informe Técnico, 169).

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