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V I G I L Â N C I A S O C I O A S S I S T E N C I A L Boletim I n f o r ma t i v o n º 00 3 / 20 19
1. Introdução
Quando analisarmos o conceito “rua”, em seu sentido literal, podemos defini-la como espaço
público, ladeado por construções e jardins, local onde circulam carros e pessoas, relativa a organização do
espaço urbano, etc. Por outro lado, quando analisamos o conceito de “pessoa”, podemos defini-la como
ser humano, indivíduo, sujeito, criatura notável, cidadão ou cidadã. No entanto, quando falamos em
“pessoas em situação de rua”, nos deparamos com outros significados. O sentido literal dá lugar ao sentido
figurado das palavras – o indivíduo vive em situação subumana, a criatura deixa de ser visibilizada enquanto
sujeito, a rua deixa de ser um espaço de liberdade, passando a ser um espaço de privação dos direitos
sociais.
Sociologicamente falando, é a partir desse cenário que surge a necessidade urgente de pensar
políticas públicas intersetoriais que atendam a população em situação de rua e que vive à margem da
sociedade. Para efeito desse material, considera-se essa população como:
TEMA: População em Situação de Rua
Esta é a edição nº 003/2019 do Boletim Informativo da Vigilância Socioassistencial de Pernambuco.
Esta edição do Boletim revela o cenário das demandas da população em situação de rua no estado
a partir dos dados extraídos de sistemas nacionais do Ministério da Cidadania, tais como: Registro
Mensal de Atendimento (RMA), Sistema de Cadastro do Sistema Único de Assistência Social
(CadSUAS), Censo SUAS e Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), trazendo ainda uma
reflexão sobre a importância de implementação da Assistência Social como política de proteção
social cuja amplitude deve alcançar também a População em Situação de Rua.
Secretaria Executiva de
Assistência Social
C o o r d e n a ç ã o G er a l d e P l a n e j a m e n t o
e V i g i l â n c i a S o c i o a s s i s t e n c i a l
Boletim
I n format i vo nº 003/ 2019 Vigi lância Socioassistencial – 30 de setembro de 2019
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Grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória. (Decreto nº 7053/2009, art. 1º, Parágrafo Único).
Esse Boletim Informativo expõe o cenário das demandas da população em situação de rua em
Pernambuco, trazendo uma reflexão sobre a importância de implementação da Assistência Social como
política de proteção social cuja amplitude deve abarcar, entre outras demandas, aquelas que se referem
ao público que é objeto dessa análise.
2. Serviços Socioassistenciais
Pessoas que vivem em situação de rua vivenciam em seu cotidiano inúmeras situações de
vulnerabilidades, nessa perspectiva destacamos os serviços que atendem as demandas dessa população
em âmbito da Política de Assistência Social, quais sejam:
2.1. Serviço de Referência Especializado para População em Situação de Rua
O atendimento do Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua e realizado no Centro de
Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), o qual está previsto no Decreto
nº 7.053/2009 e na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais como unidade de referência da
Proteção Social Especial de Média Complexidade.
Em Pernambuco existem 08 Centros especializados para população em situação de rua, distribuídos
em sete municípios:
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Quadro 1 - Distribuição dos Centros Pop em Pernambuco
Municípios Região de Desenvolvimento (RD) Nº de equipamentos
Abreu e Lima RD 12 – Região Metropolitana 01 Centro Pop
Caruaru RD 08 – Agreste Central 01 Centro Pop
Jaboatão dos Guararapes RD 12 – Região Metropolitana 01 Centro Pop
Paulista RD 12 – Região Metropolitana 01 Centro Pop
Petrolina RD 02 – Sertão do São Francisco 01 Centro Pop
Recife RD 12 – Região Metropolitana 02 Centro Pop
Vitória de Santo Antão RD 10 – Zona da Mata Sul 01 Centro Pop
Fonte: CadSUAS – Setembro/2019 – Elaboração: Vigilância Socioassistencial/SEASS/SDSCJ/PE
De acordo com a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, o Serviço Especializado para
Pessoas em Situação de Rua é voltado para jovens, adultos, idosos e famílias que utilizam as ruas como
espaço de moradia e/ou sobrevivência. No que se refere ao atendimento de crianças e adolescentes, estes
só podem ser atendidos quando estiverem em situação de rua acompanhados de familiar ou pessoa
responsável1.
2.2. Serviço Especializado em Abordagem Social
O Serviço Especializado em Abordagem Social, de acordo com a Tipificação Nacional de Serviços
Socioassistenciais (2009), tem a finalidade de assegurar trabalho social de abordagem e busca ativa que
identifique, nos territórios, a incidência de situações de risco pessoal e social, por violação de direitos,
como: trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, situação de rua, uso abusivo de crack
1 Para maiores orientações sobre o fluxo e diretrizes consultar a nota técnica 001/2016 – CNAS: mulheres e adolescentes em situação de rua
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e outras drogas, dentre outras. O serviço é voltado para crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos e
famílias que utilizam espaços públicos como forma de moradia e/ou sobrevivência.
Este serviço constitui-se em processo de trabalho planejado de aproximação, escuta qualificada e
construção de vínculo de confiança com pessoas e famílias em situação de risco pessoal e social nos espaços
públicos. Portanto, além da busca ativa, compreende o atendimento, acompanhamento e
encaminhamento das pessoas em situação de rua para rede socioassistencial.
A execução desse serviço é realizada pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social
(CREAS) ou unidade referenciada e pelo Centro Pop desde que não afete o andamento da oferta do Serviço
Especializado para Pessoas em Situação de Rua.
De acordo com as informações do Censo SUAS 2018, Pernambuco contava com 182 CREAS e 08
Centro Pop implantados no período analisado, totalizando 190 unidades aptas para ofertar e/ou referenciar
o Serviço Especializado em Abordagem Social; entre tais unidades, os dados do referido Censo apontam
que 66% da oferta do serviço é realizada no CREAS (125 CREAS), 4% no Centro Pop (08 Centros) e 2% em
unidades referenciadas ao CREAS (03 CREAS). Os dados mostram ainda que 28% das unidades (54 CREAS)
não ofertam, nem referenciam o Serviço, conforme mostra o gráfico abaixo:
Gráfico 1 – Serviço Especializado em Abordagem Social
Fonte: Censo SUAS/2018 – Elaboração: Vigilância Socioassistencial/SEASS/SDSCJ/PE
66%
4% 2%
28%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
CREAS Centro Pop Unidadereferenciada
Não oferta, nemreferencia
Oferta do Serviço Especializado em Abordagem Social
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2.3. Serviço de Acolhimento Institucional
Em relação aos Serviços de Acolhimento Institucional para adultos e família, este é previsto para
pessoas em situação de rua e desabrigo por abandono, migração e ausência de residência ou pessoas em
trânsito e sem condições de autossustento. O serviço apresenta-se nas modalidades de Abrigo Institucional
e Casa de Passagem e, de acordo com o CadSUAS2 as informações quantitativas no estado se apresentam
da seguinte forma:
Quadro 2 – Distribuição do Serviço de Acolhimento Institucional em Pernambuco
Municípios Região de Desenvolvimento (RD) Quantidade
Petrolina3 RD 02 - Sertão São Francisco 04
Salgueiro RD 04 - Sertão Central 01
Serra Talhada RD 05 - Sertão do Pajeú 01
Arcoverde4 RD 06 - Sertão Moxotó 01
Garanhuns5 RD 07 - Agreste Meridional 03
Caruaru RD 08 - Agreste Central 01
Vitória de Santo Antão RD 10 - Mata Sul 01
Goiana (01), Igarassu (2)6, Olinda (1), Recife (4) RD 12 - Região Metropolitana 08
Fonte: CadSUAS – Setembro/2019 – Elaboração: Vigilância Socioassistencial/SEASS/SDSCJ/PE
2 Embora estejam cadastradas como Unidades de Acolhimento para adultos e famílias, algumas unidades desenvolvem atividades diferentes do informado no CadSUAS e por isso foram orientadas a retificarem a informação no sistema. 3 Uma das unidades atua como Casa de Apoio para pessoas em tratamento de Saúde, sem atuação na Política de Assistência Social. 4 Trata-se de um Centro de Convivência para contra fluxo escolar. 5 Uma delas foi cadastrada em duplicidade, e trata-se de comunidade terapêutica para dependentes químicos. 6 Cadastrada em duplicidade.
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2.4. Serviço de Acolhimento em República
Quanto ao Serviço de Acolhimento em República para adultos em processo de saída de rua, este
destina-se a pessoas adultas com vivência de rua em fase de reinserção social, que estejam em processo
de restabelecimento dos vínculos sociais e construção de autonomia. De acordo com o CadSUAS, o estado
de Pernambuco conta com uma unidade ofertando este serviço, conforme destaca o quadro abaixo:
Quadro 3 – Serviço de Acolhimento em República
Municípios Região de Desenvolvimento (RD) Quantidade de equipamento
Garanhuns RD 07 - Agreste Meridional 1 República para adultos em processo de saída das ruas
Fonte: CadSUAS – Setembro/2019 – Elaboração: Vigilância Socioassistencial/SEASS/SDSCJ/PE
3. Perfil da População em Situação de Rua identificadas no
Registro Mensal de Atendimento
O Registro Mensal de Atendimentos (RMA) é uma ferramenta informatizada cujo objetivo é, através
das informações registradas, contribuir para o planejamento e tomada de decisões no campo das políticas
públicas de assistência social, reunindo dados sobre os indivíduos atendidos e grupos alvo das ações dessas
políticas.
3.1. Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua
De acordo com os dados do RMA 2018, em relação ao Serviço Especializado para Pessoas em
Situação de Rua, as 08 unidades de Centro Pop realizaram um total de 23.387 atendimentos às 9.842
pessoas. Quanto ao perfil das mesmas, os números mostram que prevalecem pessoas do sexo masculino
em todas as faixas de idade. Em números percentuais, foram registradas 87% do sexo masculino; dentre
estas 5.397 estão na faixa etária de 18 a 19 anos e 2.729 comparecem na faixa de 40 a 59 anos.
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Tabela 1 – Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua
Pessoas em situação de rua atendida no serviço / Quantidade e perfil das pessoas atendidas
Total 9.842
Sexo 0 a 12 anos 13 a 17 anos 18 a 19 anos 40 a 59 anos 60 anos ou mais
Masculino 23 22 5.397 2.729 365
Feminino 24 08 978 292 04
Algumas características específicas identificadas em pessoas atendidas no Serviço
Pessoas usuárias de crack ou outras drogas ilícitas 5.917
Migrantes 3.397
Pessoas com doenças ou transtorno mental 408
Fonte: RMA/MDS/2018 – Elaboração: Vigilância Socioassistencial/SEASS/SDSCJ/PE
Os dados mostram ainda que em relação as características mais específicas identificadas entre as
pessoas atendidas no referido Serviço, prevalecem as pessoas usuárias de crack ou outras drogas (5.917
pessoas), seguida de migrantes (3.397 pessoas) e em menor número comparecem pessoas com doenças
ou transtorno mental (402 pessoas).
Vale destacar que no ano anterior o número de migrantes registrados no RMA foi de 1.536 pessoas;
isso significa aumento de 82,53% no período de um ano. O dado sinaliza o crescente número de migrantes
que chegaram ao estado sem passar pelo fluxo da Operação Acolhida, instrumento de ação do Estado
Brasileiro, destinado a apoiar, com pessoal, material e instalações, a organização das atividades necessárias
ao acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade, decorrente do fluxo migratório no país. A esse
respeito, vale lembrar o que rege a Lei de migração no Brasil:
“A política migratória brasileira prevê, entre vários princípios e diretrizes, a inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas, bem como o acesso igualitário e
livre do migrante a serviços, programas e benefícios sociais, bens públicos, educação, assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia, serviço bancário e seguridade social”7.
7 Lei de Migração nº 13.445, de 24 de maio de 2017.
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No que se refere aos dados de abordagem à criança e adolescentes, os dados mostram um total de
77 pessoas, em sua maioria do sexo masculino. Em relação a faixa de 0 a 12 anos entre meninos e meninas,
os números mostram que há um equilíbrio; no entanto, quando analisada a faixa de 13 a 17 anos, observa-
se que predominam pessoas do sexo masculino, atingindo um percentual de 73% na referida faixa etária.
Ainda sobre o atendimento de crianças e adolescentes no Serviço Especializado para Pessoas em
Situação de Rua, destaca-se:
De acordo com a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, não há previsão do Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua realizar atendimento de crianças e
adolescentes. Entretanto, crianças e adolescentes podem ser atendidas pelo serviço, desde que estejam acompanhadas por seus responsáveis8.
A esse respeito, é importante também considerar o que preconiza a Resolução Conjunta do
CNAS/CONANDA nº 01, de 07/06/2017, a qual estabelece as diretrizes políticas e metodológicas no âmbito
da Política de Assistência Social em relação ao atendimento de criança e adolescentes em situação de rua;
neste documento uma das diretrizes confere desenvolver a abordagem social de forma planejada e
continuada, visando a busca ativa, a escuta qualificada e a construção de vínculos de confiança entre
crianças e adolescentes em situação de rua e profissionais do Sistema Único de Assistência Social - SUAS,
respeitando suas singularidades, especificidades e histórias de vida.
3.2. Pessoas em Situação de Rua no Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a
Famílias e Indivíduos (PAEFI)
Além do Centro Pop, o CREAS é o equipamento de referência para atendimento de pessoas em
situação de rua; de acordo com o RMA 2018, as unidades de CREAS o ingresso de 776 pessoas com este
perfil no Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI). Desse total, 79%
(611 pessoas) são do sexo masculino. Ou seja, assim como no Centro Pop, prevalecem pessoas do sexo
masculino vivendo em situação de rua, principalmente aquelas nas faixas de 18 a 59 anos, conforme mostra
a tabela abaixo.
8 Manual de instruções para preenchimento do RMA do Centro Pop.
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Tabela 2 – Perfil da População em Situação de Rua que Ingressaram no PAEFI
Pessoas em situação de rua que ingressaram no PAEFI
Sexo 0 a 12 anos 13 a 17 anos 18 a 59 anos 60 anos ou
mais
776
Masculino 26 22 507 56
Feminino 15 8 130 12
Fonte: RMA/MDS/2018 – Elaboração: Vigilância Socioassistencial/SEASS/SDSCJ/PE
3.3. Serviço Especializado em Abordagem Social no RMA do Centro Pop
No que se refere aos dados do Serviço Especializado em Abordagem Social, e considerando que as
orientações técnicas preveem o atendimento, acompanhamento e encaminhamento à rede de proteção
social da população em situação de rua através do serviço, os dados do RMA revelam o quantitativo de
pessoas abordadas, bem como as situações identificadas, particularmente no que se refere ao trabalho
infantil, a exploração sexual de crianças e adolescentes e ao uso de crack e outras drogas.
Tabela 3 – Serviço Especializado em Abordagem Social no Centro Pop
Quantidade e perfil das pessoas abordadas pela equipe do Serviço de Abordagem
Total Sexo 0 a 12 anos 13 a 17 anos 18 a 39 anos 60 anos ou mais
5.951
Masculino 391 286 2.883 227
Feminino 321 145 1.630 68
Situações identificadas pelo Serviço em Abordagem Social
Crianças ou adolescentes em situação de trabalho infantil (até 15 anos) 393
Crianças ou adolescentes em situação de exploração sexual 2
Crianças ou adolescentes usuárias de crack ou outras drogas 180
Pessoas adultas usuárias de crack ou outras drogas 2.989
Migrantes 945
Fonte: RMA/MDS/2018 – Elaboração: Vigilância Socioassistencial/SEASS/SDSCJ/PE
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Em relação ao número de pessoas abordadas no Serviço Especializado em Abordagem Social, os
dados do RMA do Centro Pop revelam que do total de 5.951 pessoas abordadas. Observa-se ainda que as
pessoas do sexo masculino prevalecem em todas as faixas de idade, incluindo pessoas idosas, crianças e
adolescentes; estes somam 3.787 pessoas, atingindo um percentual de 64%, sendo na maioria na faixa de
18 a 39 anos (2.883 homens). As pessoas do sexo feminino atingem um percentual de 36%, ou seja, 2.164
mulheres, sendo a maioria na faixa entre 18 a 19 anos (1.630 mulheres)
Os serviços ofertados para pessoas em situação de rua, tanto nos Centros Pop como nos CREAS
mostram que predominam pessoas do sexo masculino. No entanto, embora em número menor, faz
necessário um olhar atento para as questões de gênero, uma vez que são as mulheres que lidam
cotidianamente com situações que envolvem sua sexualidade. E para aquelas que vivem em situação de
rua, a vulnerabilidade em relação à violência sexual é ainda maior.
Para além dessas questões, faz-se necessário o conhecimento das orientações técnicas que regem
atenção integral às mulheres e as adolescentes em situação de rua e/ou usuárias de álcool e/ou
crack/outras drogas e seus filhos recém-nascidos, tal documento discorre que:
“É fundamental orientar gestores e profissionais de saúde e de assistência social a respeito dessa temática, frente a algumas recomendações dos órgãos do Sistema de Justiça para a
comunicação imediata ao Poder Judiciário, por profissionais da saúde e da assistência social, acerca de duas situações: o nascimento de crianças filhas de mulheres em situação de rua e/ou usuárias de crack/outras drogas; a situação de vida de gestantes nas mesmas condições e que
se recusam a realizar o pré-natal”.9
No que se refere às situações identificadas pelo Serviço de Abordagem Social nos Centros Pop, os
dados do RMA revelam elevado número de pessoas adultas usuárias de crack ou outras drogas. Essa
situação foi identificada em aproximadamente 62% das pessoas adultas abordadas (2.989 pessoas).
A segunda situação mais identificada pelo serviço de abordagem social nos Centros Pop foi de
pessoas em situação de migração; essa situação representa 16% das pessoas abordadas (945 pessoas). E
assim como no CREAS, essa situação apresentou número bastante elevado em relação ao ano anterior (569
pessoas).
9 Nota Técnica Conjunta MDS/MS n° 001/2016 - Diretrizes, Fluxo e Fluxograma para a atenção integral às mulheres e adolescentes em
situação de rua e/ou usuárias de álcool e/ou crack/outras drogas e seus filhos recém-nascidos.
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Em relação às situações que envolvem crianças e adolescentes, em números decrescentes os
dados mostram a seguinte situação:
1º - crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil – até 15 anos (393 pessoas)
2º - crianças e adolescentes fazendo uso de crack ou outras drogas (180 pessoas);
3º - crianças e adolescentes em situação de exploração sexual (02 pessoas).
A abordagem social de crianças e adolescentes pressupõe a adoção de estratégias para a constituição de vínculos de confiança com a equipe, vislumbrando possibilidades de
encaminhamento e vinculação a serviços no território. Essas estratégias começam com o esclarecimento sobre o papel de proteção e apoio do serviço e podem contemplar a realização
de atividades nos espaços onde elas convivem/transitam, o que, possivelmente, exigirá trabalho persistente e criativo10.
3.4. Serviço Especializado em Abordagem Social no RMA do CREAS
No que diz respeito aos dados de pessoas abordadas no Serviço Especializado em Abordagem Social,
ofertado do CREAS, os dados do RMA revelam que do total de 12.974 pessoas abordadas, 53% são do sexo
masculino (6.817 pessoas) e 47% são do sexo feminino (6.157 pessoas). Chama atenção o fato da faixa de
idade entre 18 a 59 anos predominarem pessoas do sexo feminino; são 2.824 mulheres, o que representa
aproximadamente 53% de pessoas nessa faixa etária. O mesmo acontece na faixa de 60 anos ou mais, na
qual as mulheres comparecem com 51% (765 mulheres). Nas demais faixa de idade o quantitativo de
pessoas do sexo masculino se sobrepõe ao sexo feminino, conforme observa-se no quadro abaixo:
10 Perguntas e Respostas: Serviço especializado em Abordagem Social. SUAS e População em Situação de Rua. Volume 4, Brasília, 2013.
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Tabela 4 – Quantidade e Perfil de Pessoas Abordadas pela Equipe do Serviço de Abordagem
Quantidade e perfil Sexo 0 a 12 anos 13 a 17 anos 18 a 59 anos 60 ou mais
12.974 pessoas Masculino 1254 2.351 2.485 727
Feminino 1020 1.548 2.824 765
Situações identificadas pelo Serviço Especializado em Abordagem Social Total
Crianças ou adolescentes em situação de trabalho infantil (até 15 anos) 1.649
Crianças ou adolescentes em situação de exploração sexual 67
Crianças ou adolescentes usuárias de crack ou outras drogas 575
Pessoas adultas usuárias de crack ou outras drogas ilícitas 947
Migrantes 404
Fonte: RMA/MDS/2018 – Elaboração: Vigilância Socioassistencial/SEASS/SDSCJ/PE
Ainda em relação aos números registados no RMA do CREAS em relação ao Serviço de Abordagem
Social, observa-se entre as situações mais identificadas, grande número de pessoas em situação de trabalho
infantil (1.649 pessoas) e em seguida comparece o número de pessoas adultas usuárias de crack ou outras
drogas ilícitas (947 pessoas).
As outras situações que envolvem crianças e adolescentes mostram o quantitativo de 575pessoas
usuárias de crack ou outras drogas e 67 exploradas sexualmente. Quanto ao número de migrantes
atendidas no serviço, os dados do RMA mostram o quantitativo de 404 pessoas; houve uma sutil diminuição
em relação ao ano anterior, o qual registrou 521 pessoas.
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4. População de rua e CadÚnico
A população em situação de rua é um público que vivencia em seu cotidiano inúmeras situações de
vulnerabilidades. Atentar para esta realidade a fim de respondê-la de maneira efetiva torna-se pauta da
agenda pública, sendo a identificação dessa população em nosso território o ponto de partida para o
processo de planejamento de políticas e serviços capazes de alterar esse quadro. Desta forma, faz-se
fundamental a inclusão dessa população no CadÚnico, uma vez que esse cadastro é a porta de entrada
para vários programas e serviços socioassistenciais.
De acordo com o CadÚnico, Pernambuco registra 1.945 pessoas em situação de rua inseridas neste
cadastro. Elas compõem o total de 1.808 famílias distribuídas em 106 municípios. A maior concentração
está na Região Metropolitana do Recife (1.137 pessoas); superando, inclusive, a soma de todas as regiões,
as quais somam 808 pessoas. O gráfico abaixo especifica melhor essa informação em âmbito regional.
Gráfico 2 – Quantidade de Pessoas Inseridas no Cadastro Único por Região de Desenvolvimento (RD)
Fonte: Cadastro Único – junho/2019 – Elaboração: Vigilância Socioassistencial/SEASS/SDSCJ/PE
1.137
280
179
141
59
29
29
29
23
17
12
10
RD 12 - Região Metropolitana
RD 02 - Sertão do São Francisco
RD 08 - Agreste Central
RD 10 - Mata Sul
RD 07 - Agreste Meridional
RD 05 - Sertão do Pajeú
RD 09 - Agreste Setentrional
RD 11 - Mata Norte
RD 04 - Sertão Central
RD 06 - Sertão do Moxotó
RD 03 - Sertão do Araripe
RD 01 - Sertão de Itaparica
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4.1. Perfil das Pessoas em Situação de Rua Inseridas no Cadastro Único
Consultando as informações do Cadastro Único referente a base de junho de 2019, em relação às
1.945 pessoas em situação de rua inseridas nesse Cadastro, os dados revelam que 75% são beneficiárias do
Programa Bolsa Família, 83% são do sexo masculino (1.624 pessoas) e 78% (1.514 pessoas) sabem ler e
escrever.
Quando sondados se frequentam a escola, 3% (64 pessoas) afirmaram que sim, na rede pública e
com menos de 1% (02 pessoas) comparecem aquelas que responderam sim, na rede privada; 81% (1.562
pessoas) não frequentam a escola, mas já frequentaram e 16% (317 pessoas) nunca frequentaram.
Gráfico 3 – Frequenta Escola?
Fonte: Cadastro Único – junho/2019 – Elaboração: Vigilância Socioassistencial/SEASS/SDSCJ/PE
Quanto ao perfil em relação à raça/cor, os dados mostram que prevalecem o número de pessoas
que se denominam pardas, essas somam 71,7% do total de 1.945 pessoas em situação de rua inseridas no
CadÚnico. Com 14,6% comparecem pessoas que se denominam brancas, seguidas de pessoas pretas, as
quais somam 12,9%. As demais categorias juntas somam aproximadamente 1%. É importante ressaltar que
de acordo com o Estatuto da Igualdade Racial, o termo população negra trata-se de um conceito político,
sendo utilizado para caracterizar o grupo de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas. Nessa
perspectiva, podemos afirmar que 85% (1.645 pessoas) das pessoas em situação de rua identificadas no
Cadastro Único são negras.
16%
81%
3% 0%
Nunca Frequentou
Não, Já Frequentou
Sim, Rede Pública
Sim, Rede Particular
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Gráfico 4 – Perfil das Pessoas em Situação de Rua Inseridas no CadÚnico – Quanto à Raça/Cor
Fonte: Cadastro Único – junho/2019 – Elaboração: Vigilância Socioassistencial/SEASS/SDSCJ/PE
Os dados revelam ainda percentual de 12% de pessoas com deficiência vivendo em situação de rua,
caracterizando demanda necessária para Benefício de Prestação Continuada (BPC). De forma ampla,
observa-se através do perfil das pessoas em situação de rua demandas que necessitam de acolhimento
específico, com atuação em âmbito interdisciplinar e articulação com outras políticas públicas, como saúde
e educação. As diversas situações pelas quais vive a população em situação de rua, requer tanto
conhecimento profissional como habilidades técnicas necessárias para um atendimento qualificado e
humanizado.
Por que incluir no Cadastro Único as pessoas em situação de rua?11
Para favorecer o acesso dessas pessoas aos programas sociais que utilizam dados do Cadastro Único; ampliar o acesso das pessoas em situação de rua à rede de serviços socioassistenciais; produzir informações que contribuam para o aprimoramento da atenção a esse segmento nas
diversas políticas públicas.
11 Inclusão das Pessoas em Situação de Rua no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal. SUAS e população em Situação
de Rua. Volume I, Brasília, 2011. Gráfica e Editora Brasil LTDA.
71,7%
14,6% 12,9%
0,2% 0,5% 0,2%
Parda Branca Preta Indígena Amarela Sem resposta
Raça - Cor
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5. Levantamento ou pesquisa sobre População em Situação de Rua nos
municípios
Anualmente o Ministério da Cidadania, através do questionário de Gestão do Censo SUAS, coleta
informação dos municípios a respeito da realização de levantamento ou pesquisa que aponte o número de
pessoas em situação de rua em seus territórios.
A esse respeito, o Censo SUAS 201812 mostra que essa ação foi realizada por 23% dos municípios
(43 municípios). Considerando esse levantamento, os dados apontam o quantitativo de 657 pessoas em
situação de rua, as quais estão distribuídas em 43 municípios; 11 municípios não identificaram pessoas em
situação de rua em seus territórios.
Em linhas gerais, considera-se esses dados bastantes incipientes se comparados à situação real;
diante disso ainda não é possível trabalhar os dados com precisão, uma vez que essa população ainda não
é contemplada no Censo Demográfico brasileiro; este por sua vez contempla a população em seus
domicílios.
6. Considerações Finais
Inúmeros são os desafios para amparar a população em situação de rua, seja por falta de dados
estatísticos que impulsionem as políticas públicas, seja na ampliação e articulação das redes de apoio, e
mesmo no campo profissional, o qual requer atuação multiprofissional.
As bases de dados do MDS que dispõem de informações sobre a população em situação de rua
como RMA, Censo SUAS e Cadastro Único não são suficientes para dimensionar o tamanho e perfil dessa
população. Portanto, faz-se necessário inserir no Censo Demográfico a coleta de informação sobre essas
pessoas, tornando-as estatisticamente visíveis.
12 O diagnóstico elaborado no ano anterior registrou 4.519 pessoas em situação de rua de acordo com o levantamento realizado pelos municípios e informado no Censo SUAS 2017. A redução desse quantitativo no Censo SUAS 2018 pode estar relacionado a ausência desse levantamento realizado por alguns municípios nos últimos 12 meses. Entre eles, identificamos 19 municípios que anteriormente somavam 2.389 pessoas em situação de rua.
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Os dados sobre a população em situação de rua em Pernambuco revelam algumas demandas que
necessitam de intervenção específica, com atuação em âmbito interdisciplinar e articulação com outras
políticas públicas, como saúde e educação.
Em linhas gerais, as diversas situações vivenciadas pela população em situação de rua requerem
tanto conhecimento profissional, como habilidades técnicas necessárias para um atendimento qualificado
e humanizado.
NOTA da Coordenação do Programa Vida Nova PE Acolhendo a População em Situação de Rua e Risco
O Programa Vida Nova – Pernambuco Acolhendo a População em Situação de Risco e Rua, instituído através
do Decreto Estadual nº 30.874 de 10/10/2007, reformulado pelo Decreto Estadual nº 39.851 de 09/09/2013 e que atua na perspectiva da efetivação dos direitos humanos das pessoas em extrema vulnerabilidade social e em situação de rua.
Ao longo de sua trajetória, o Programa Vida Nova tem cumprindo um papel relevante no contexto societário excludente e estigmatizador de indivíduos com direitos violados, pautando sua ação no pertencimento social e na dignidade humana. Com o aceite do governo do Estado à Política Nacional de População em Situação de Rua, publicado em D.O da União em 15 de abril de 2019, a equipe da Coordenação do Programa Vida Nova – PE Acolhendo a População em Situação de Rua e Risco, vem atuando junto as organizações não governamentais, movimentos sociais e articuladores locais do Movimento Nacional da População em Situação de Rua PE, com a instituição do Coletivo Maria Lúcia, através das seguintes ações:
Reuniões semanais para planejamento de atividades e ações de organização sociopolítica das pessoas com vivência e em vivência de rua do município do Recife para realização de tendas formativas em espaços públicos (praças);
Direcionar as demandas sociais deste público;
Construção de estratégias de inclusão produtiva através da elaboração de um projeto de hortas urbanas em conjunto com as superintendências de segurança alimentar municipal e estadual;
Diálogos junto aos segmentos de luta e defesa de direitos da população em situação de rua governamentais (estadual e municipal), representantes da sociedade civil e demais secretarias e órgãos públicos para elaboração da Política e do Plano Estadual de Inclusão Social da População em Situação de Rua através do Comitê Intersetorial de Políticas Públicas para a População em Situação de Rua, Decreto Estadual nº 46.749, de 22 de Novembro de 2018.
Gerência de Proteção Social Especial de Média Complexidade (GEPMC) Coordenação do Programa Vida Nova - PE Acolhendo a População em Situação de Rua e Risco Telefones: (81) 3183 0709 / 3183-0700 / 3183-0738
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Expediente: Boletim elaborado pela Coordenação Geral de Planejamento e Vigilância Socioassistencial (COGPV) / Secretaria Executiva de Assistência Social (SEASS) em parceria com o Centro de Desenvolvimento e Cidadania – CDC.
Shirley de Lima Samico
Coordenadora Geral de Planejamento e Vigilância Socioassistencial
Equipe Técnica de Vigilância Socioassistencial Fátima Maria Ferreira Barbosa Francisco Godoy Sidney Marques Cavalcanti
Luciana Lisboa Cristóvão dos Santos
Rua Gervásio Pires, 399 - 2° Andar - Bairro Boa Vista - Recife - PE - CEP: 50050-070 Telefone: (81) 3183 - 0716 / E-mail: [email protected]