boletim novas alianças #3: medidas socioeducativas

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L n vas BOLETIM INFORMATIVO DO PROJETO NOVAS ALIANÇAS AGOSTO DE 2009 03 oucos, abandonados, doentes, pessoas com deficiência, infratores. Sejam crianças, adolescentes ou adultos, essas pessoas foram tratadas historicamente como “problemas” a serem excluídos da sociedade. Muito embora a legislação tenha evoluído no que diz respeito à inclusão social, convivemos ainda hoje com discursos que defendem a exclusão. É o que vemos em relação aos adolescentes que cometem ato infracional. Desde 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece a prioridade das medidas socioeducativas em meio aberto, em detrimento das medidas em meio fechado, mas somente agora elas começam a sair do papel e, mesmo assim, de forma tímida. As justificativas são várias: faltam recursos, capaci- tação, entendimento sobre a política. Enquanto isso, em nome de uma suposta impunidade, se debate a redução da maioridade penal: não foi oferecido a esses adolescentes o que lhes era de direito e então se resolve o problema reduzindo a maioridade. Mas especialistas apontam que, dificilmente, o primeiro ato infracional cometido por um adolescente é de graves consequências. Até chegar a esse ponto, na maior parte dos casos, foram falhas as medidas de responsabilização. Também é preciso frisar que os crimes cometidos contra a vida representam uma pequena parcela dos atos infracionais da população de 12 a 18 anos. Discursar pelo confinamento dos adolescentes é, no mínimo, uma solução comodista de uma sociedade e de um Estado que não assumem suas responsabilidades diante das desigualdades sociais. De acordo com mapea- mento realizado em 2002 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), dos 9.555 adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação e internação provisória, 63% não eram brancos, 51% não freqüentavam a escola, 90% não concluíram o Ensino Fundamental, 66% viviam em famílias com renda mensal de até dois salários mínimos e 85,6% eram usuários de drogas. Ou seja, grande parte deles possuíam uma trajetória que conjuga diversas violações de direitos. A ausência das medidas de meio aberto agrega mais uma violação a esse cenário: o direito do adolescente de ser responsabilizado na proporção de seu ato e de reori- entar sua conduta. E, assim, se perpetua a série de violações. Já passou da hora de assumirmos efetiva- mente a guinada nessa cultura excludente. Uma impor- tante oportunidade está colocada este ano. É preciso garantir nos Planos Plurianuais de Ação Governamental (PPAG) dos municípios a oferta das medidas de meio aberto, com a qualidade necessária à execução eficaz da política. É preciso também não perder de vista o papel dos Conselhos dos Direitos no monitoramento desse serviço e da situação dos adolescentes que cumprem medidas em centros de internação e daqueles que estão – irregularmente – em cadeias. ALIANÇAS editorial OLHOS FECHADOS PARA O ADOLESCENTE INFRATOR Dos 853 municípios mineiros, apenas 47 teriam concluído em 2007 a municipalização das medidas socioeducativas de meio aberto. (Fonte: Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente – Ilanud).

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De 2009 a 2013, a Oficina de Imagens produziu boletins informativos do Programa Novas Alianças, iniciativa voltada para a formação sobre orçamento público e direitos da criança e do adolescente.

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n vasBOLETIM INFORMATIVO DO PROJETO NOVAS ALIANÇAS AGOSTO DE 2009

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oucos, abandonados, doentes, pessoas com deficiência,infratores. Sejam crianças, adolescentes ou adultos,essas pessoas foram tratadas historicamente como“problemas” a serem excluídos da sociedade. Muitoembora a legislação tenha evoluído no que diz respeitoà inclusão social, convivemos ainda hoje com discursosque defendem a exclusão. É o que vemos em relação aosadolescentes que cometem ato infracional. Desde 1990,o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece aprioridade das medidas socioeducativas em meio aberto,em detrimento das medidas em meio fechado, massomente agora elas começam a sair do papel e, mesmoassim, de forma tímida.

As justificativas são várias: faltam recursos, capaci-tação, entendimento sobre a política. Enquanto isso,em nome de uma suposta impunidade, se debate aredução da maioridade penal: não foi oferecido a essesadolescentes o que lhes era de direito e então se resolveo problema reduzindo a maioridade. Mas especialistasapontam que, dificilmente, o primeiro ato infracionalcometido por um adolescente é de graves consequências.Até chegar a esse ponto, na maior parte dos casos,foram falhas as medidas de responsabilização. Tambémé preciso frisar que os crimes cometidos contra a vidarepresentam uma pequena parcela dos atos infracionaisda população de 12 a 18 anos.

Discursar pelo confinamento dos adolescentes é, nomínimo, uma solução comodista de uma sociedade e deum Estado que não assumem suas responsabilidadesdiante das desigualdades sociais. De acordo com mapea-mento realizado em 2002 pelo Instituto de PesquisaEconômica Aplicada (IPEA), dos 9.555 adolescentes emcumprimento de medida socioeducativa de internação einternação provisória, 63% não eram brancos, 51% nãofreqüentavam a escola, 90% não concluíram o EnsinoFundamental, 66% viviam em famílias com renda mensalde até dois salários mínimos e 85,6% eram usuários dedrogas. Ou seja, grande parte deles possuíam umatrajetória que conjuga diversas violações de direitos.

A ausência das medidas de meio aberto agrega maisuma violação a esse cenário: o direito do adolescente deser responsabilizado na proporção de seu ato e de reori-entar sua conduta. E, assim, se perpetua a série deviolações. Já passou da hora de assumirmos efetiva-

mente a guinada nessa cultura excludente. Uma impor-tante oportunidade está colocada este ano. É precisogarantir nos Planos Plurianuais de Ação Governamental(PPAG) dos municípios a oferta das medidas de meioaberto, com a qualidade necessária à execução eficaz dapolítica. É preciso também não perder de vista o papeldos Conselhos dos Direitos no monitoramento desseserviço e da situação dos adolescentes que cumpremmedidas em centros de internação e daqueles que estão– irregularmente – em cadeias.

ALIANÇASeditorialOLHOS FECHADOS PARA O ADOLESCENTE INFRATOR

Dos 853 municípiosmineiros, apenas 47 teriam

concluído em 2007 amunicipalização das

medidas socioeducativas demeio aberto.

(Fonte: Instituto Latino-Americano dasNações Unidas para Prevenção do Delito e

Tratamento do Delinqüente – Ilanud).

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MEIO ABERTO: FALTAM RECURSOS OU VONTADE POLÍTICA?

Os adolescentes que cometem ato infracional podem receber atéseis medidas socioeducativas, como previsto pelo Estatuto daCriança e do Adolescente: Advertência, Obrigação de Reparar oDano, Prestação de Serviços à Comunidade (PSC), Liberdade Assis-tida (LA), Semiliberdade e Internação. Mas a reduzida oferta dasmedidas de meio aberto (PSC e LA) tem representado uma sériaviolação aos direitos desses adolescentes. Por um lado, municípiosalegam não terem recursos. Por outro, as fontes de co-financiamentodos governos federal e estadual não têm capacidade de alcançar atodos. Mas há também municípios que, mesmo atendendo aoscritérios para o co-financiamento, não se candidatam aos recursos.

De acordo com o Sistema Nacional de Atendimento Socioeduca-tivo (Sinase), compete ao executivo municipal a gestão dosprogramas de medidas em meio aberto, com o apoio da União edos estados. O Sinase também destaca que essas medidas devemser trabalhadas com prioridade em relação às que privam de liber-dade. Mas não é o que se vê. Um mapeamento realizado peloInstituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção doDelito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud) no ano de 2007apontou que apenas 10,57% de um total de 4.295 municípiosbrasileiros, de 22 estados, mais o Distrito Federal, concluíram amunicipalização do serviço de medidas em meio aberto.

A pesquisa também mostra que apenas 5,5% dos municípiosmineiros haviam concluído a municipalização em 2007. A coorde-nadora do Centro de Apoio Operacional às Promotorias daInfância e Juventude de Minas Gerais (CAOIJ-MG), AndréaCarelli, aponta que a situação em Minas não poderia ser maisperversa: “medida de internação é fixada quando o meio abertoseria suficiente ou o adolescente deixa de ser responsabilizado porfalta da medida adequada”. O coordenador do projeto JustiçaJuvenil, da Associação Brasileira de Magistrados, Promotores deJustiça e Defensores Públicos da Infância e Juventude (ABMP),Wanderlino Nogueira Neto, também alerta que a falta das medidasde meio aberto tem levado a um crescimento exagerado de medidasde internação como forma de dar satisfação à sociedade.

LABIRINTOA coordenadora de projetos do Ilanud, Aline Yamamoto,

destaca que a falta de recursos foi um dos grandes argumentospara a não organização do serviço identificado pela pesquisa. Asmedidas de meio aberto fazem parte dos serviços de ProteçãoSocial Especial de Média Complexidade, do Sistema Único deAssistência Social (SUAS) e, desde o ano passado, contam comco-financiamento específico. Antes, o financiamento se dava pormeio de projetos. Para a diretora do Departamento de ProteçãoSocial Especial do Ministério do Desenvolvimento Social eCombate à Fome (MDS), Valéria Gonelli, essa mudança repre-senta um importante avanço. “O recurso para as medidas agoraé algo certo e vinculado à proteção social”.

Entretanto, para ter acesso ao co-financiamento do governofederal, o último edital exigia que os municípios estivessem habili-tados junto ao SUAS (em gestão básica ou plena) e possuíssem emfuncionamento pelo menos um Centro de Referência de AssistênciaSocial (CRAS) e um Centro de Referência Especializado daAssistência Social (CREAS). É no CREAS que deve ser organizadaa oferta do serviço relacionado às medidas, de acordo com o SUAS.A construção desses Centros é responsabilidade dos municípios, quenormalmente só o fazem quando passam a contar com o co-finan-ciamento do governo federal para algum dos serviços que devem serprestados nesses espaços. Mas para isso há critérios e fila.

Em Minas Gerais, dos 853 municípios, 110 possuem CREASinstalado, de acordo com a Secretaria de Estado de Desenvolvi-mento Social (Sedese). Não há previsão de abertura de edital dogoverno federal para nova expansão. O governo estadual tambémco-financia o serviço de oferta das medidas socioeducativas emmeio aberto, mas ainda de forma restrita. Em 2008, cincoconvênios foram fechados e a previsão é de que mais 10 municí-pios sejam contemplados este ano.

INICIATIVAO financiamento do governo pode ser limitado, mas os dados

mostram que também falta interesse por parte dos municípios. Noúltimo edital do Governo Federal, aberto aos municípios com maisde 50 mil habitantes, dos 150 que estavam dentro dos critériospara o co-financiamento, 125 aderiram, de acordo com ValériaGonnelli. A coordenadora de projetos do Ilanud, Aline Yamamoto,aponta que falta o entendimento de que o município precisa seresponsabilizar por esse adolescente e existe a dificuldade demontar um programa minimamente qualificado, com requisitosmínimos de funcionamento para receber recursos.

Para além do co-financiamento, os municípios tambémpodem organizar o serviço com recursos próprios. Cerca de 600municípios declararam ao MDS, no último ano, ofertar medidassocioeducativas no CREAS, ao passo que o co-financiamentoalcança apenas em torno de 380, de acordo com ValériaGonelli. As iniciativas existentes mostram que há caminhospossíveis, mas elas ainda correspondem a uma pequena parcelados municípios brasileiros.

A maioria dos adolescentes que se envolvem com o ato infra-cional já tiveram uma série de direitos violados, destaca a promo-tora do CAO, Andréa Carelli. Ou seja, “os governos já negaram asmedidas de proteção e também negam as medidas de meio aberto,que é uma forma de reflexão sobre o ato que cometeu”, denuncia.Para a conselheira do Conselho Nacional dos Direitos da Criançae do Adolescente (Conanda), Miriam Maria José dos Santos,“enquanto os gestores não responderem administrativa ou judi-cialmente pelo descumprimento do Estatuto da Criança e Adoles-cente, a situação vai continuar como está”.

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AGOSTO | 2009 n vasALIANÇAS 3

Prestação de Serviços à Comunidade

Liberdade Assistida

Um técnico para cada vinteadolescentes.

Nos locais de prestação deserviço:

- Um referência socioeducativo(profissional de nível superior oucom função de gerência ou coor-denação nos locais de prestaçãode serviços comunitárias) paracada 10 adolescentes;

- Um orientador para até doisadolescentes;

- Guia socioeducativo: profis-sional do local de prestação dePSC diretamente ligado ao exer-cício da atividade realizada pelosadolescentes.

Liberdade Assistida Comunitária:cada técnico terá sob seu acom-panhamento o máximo de 20orientadores comunitários e cadaorientador comunitário acom-panhará até dois adolescentessimultaneamente.

Liberdade Assistida Institucional(quando os técnicoscontratados pela instituiçãoexecutora é que fazem direta-mente o acompanhamento dosadolescentes): cada técnico acom-panhará, simultaneamente, nomáximo 20 adolescentes.

POR ONDE COMEÇAR A ESTRUTURAR O SERVIÇO

A coordenadora do Pró-Sinase, da Secretaria Espe-cial dos Direitos Humanos (SEDH) da Presidência daRepública, Lúcia Elena Junqueira, destaca que o co-financiamento não significa desresponsabilização domunicípio de aportar recursos próprios. Logo, um impor-tante passo para assegurar a existência dessa política éa previsão de recursos no orçamento municipal. MiriamSantos, do Conanda, lembra que o município deve estarcom recursos garantidos no Plano Plurianual de Ação(PPA) para solicitar recurso junto ao Fundo Nacionalda Assistência. Aline Yamamoto, do Ilanud, esclareceque é preciso pensar em uma equipe interdisciplinar, naestrutura para fazer o atendimento e em atividadespara os adolescentes. O Sinase estabelece as diretrizesmínimas para o funcionamento dos programas.

O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e doAdolescente (CMDCA) deve ter papel relevante nesseprocesso de mobilização. Miriam Santos, que repre-senta a Inspetoria São João Bosco no Conanda, apontaa importância da realização de um diagnóstico, compesquisas junto a delegacias especializadas, ao judi-ciário e ao Ministério Público, além de procurarconhecer a experiência de outros municípios queestejam conseguindo executar o serviço com qualidade.A coordenadora do CAOIJ-MG sugere que os promo-tores instiguem o CMDCA a refletir sobre a política erelata que tem orientado os municípios que alegam nãoterem recurso a contratar a equipe técnica emconsórcio com outros municípios.

INTERSETORIALIDADEUm importante passo para a estruturação da

política também é a elaboração do Plano Municipal deAtendimento às Medidas Socioeducativas, comoprevisto no Sinase. O Plano deve ser aprovado pelosConselhos da Assistência Social e dos Direitos daCriança e do Adolescente e precisa ser registrado nesseúltimo. A coordenadora do Pró-Sinase, Lúcia Elena,destaca que o ideal é que esse processo parta de umadiscussão intersetorial, de forma a favorecer o compro-misso das várias áreas.

Mas a intersetorialidade ainda é um desafio, comopode ser visto na dificuldade de inclusão do adoles-cente na rede de atendimento. Wanderlino Netoaponta três áreas que são gargalos: a educação, aprofissionalização e o enfrentamento à drogadição.“Há uma dificuldade cultural de enxergar esse adoles-cente como igual aos outros, como um adolescente quetêm direitos e que precisa participar de programas deeducação, de saúde, como todos os demais”, ressaltaAline Yamamoto, do Ilanud.

“Os governos jánegaram as medidas deproteção e tambémnegam as medidas demeio aberto, que é umaforma de reflexão sobreo ato que cometeu”Andréa Carelli, CAOIJ-MG

ENTENDA AS MEDIDAS

� A Prestação de Serviços à Comunidade consiste em atividades gratuitase de interesse geral que o adolescente deve exercer na comunidade. Aação pedagógica deve privilegiar a descoberta de novas potencialidades.A medida pode durar, no máximo, seis meses.

� Na medida de Liberdade Assistida, o objetivo é estabelecer um processode acompanhamento, auxílio e orientação ao adolescente. O programadeve ser catalisador da integração e inclusão social desse jovem. A LAtem duração mínima de seis meses.

Composição da equipe do programa, segundo o Sinase:

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EXPEDIENTE | Programa Novas Alianças | Coordenação executiva Oficina de Imagens - Comunicação e Educação | Coordenadora do programa Karla NunesAliados estratégicos ANDI - Agência de Notícias dos Direitos da Infância, Instituto Ágora em Defesa do Eleitor e da Democracia, Instituto Caliandra,Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Minas Gerais, Fundação Avina, Fundação Vale e Instituto C&A | Parceiros Assembleia Legisla-tiva de Minas Gerais - Comissão de Participação Popular e Frente Parlamentar dos Direitos da Criança e do Adolescente, Ministério Público de Minas GeraisBOLETIM Redação e edição Oficina de Imagens - Comunicação e Educação | Jornalistas Responsáveis Carolina Silveira (0011162/MG) e Eliziane Lara(12.322/MG) | Estagiária Gabriela Garcia | Revisão Ana Virgínia Lima da Silva | Projeto Gráfico Henrique Milen | Apoio Gráfica e Editora O Lutador- Projeto de Editoria Social | Tiragem 2000 exemplares | Informações (31) 3465-6806 | [email protected]

Remetente: Oficina de Imagens | Rua Salinas 1101, Santa Tereza - Belo Horizonte - MG - CEP 31015-190

Belo Horizonte é uma das cinco capitaisbrasileiras que oferecem o serviço de atendimentoàs medidas socioeducativas em meio aberto há maisde dez anos, antes mesmo de haver co-financia-mento do governo federal por meio do FundoNacional da Assistência Social. O adolescente quecomete um ato infracional pode receber até seismedidas socioeducativas e compete aos municípios aoferta das de meio aberto, que são: Prestação deServiços à Comunidade e Liberdade Assistida. Acapital mineira foi reconhecida duas vezes peloPrêmio Sócio-Educando, do Instituto Latino-Ameri-cano das Nações Unidas para Prevenção do Delito eTratamento do Delinqüente (Ilanud), que premiaexperiências na execução das medidas.

Na capital, o adolescente abordado pela polícia éencaminhado ao Centro Integrado de Atendimento aoAdolescente Autor de Ato Infracional (CIA), onde amedida é determinada. Quando se trata de um casoque requer uma medida de meio aberto, essa infor-mação é repassada à regional onde vive o adolescente,que é posteriormente convocado por um técnico doserviço. Existem hoje 690 vagas para cumprimento deprestação de serviços à comunidade e 888 para liber-dade assistida.

No caso da LA, técnicos, psicólogos e assistentessociais trabalham para inserir o adolescente empolíticas públicas que garantam sua proteção integral.O técnico realiza encontros semanais com o adoles-cente, que também é acompanhado por um orientadorsocial voluntário. Na PSC, o técnico responsável poressa medida localiza uma instituição pública ou orga-nização da sociedade civil de acordo com o perfil doadolescente. É construído um plano de atividades emconjunto com o adolescente e a instituição, que devemanter um educador que vai ser a referência paraesse jovem.

A gerente de medidas socioeducativas daPrefeitura de Belo Horizonte, Mônica Brandão,aponta que o maior desafio é fazer o jovem se encantarpela escola e não apenas retornar à instituição.Mônica também destaca a importância de se investirna profissionalização desses adolescentes, na qualifi-cação técnica dos responsáveis pelo serviço e namobilização de diferentes políticas. A coordenadorade projetos do Ilanud, Aline Yamamoto, destaca odiferencial da capital mineira. “Em Belo Horizonte,montaram uma rede muito interessante para PSC,em que se busca realmente respeitar a opinião doadolescente e a sua aptidão para determinadosserviços”, afirma.

PROJETO DE LEI

Já foi aprovado na Câmara e tramita no SenadoFederal o projeto de lei do Atendimento Socioeduca-tivo, PL 1.627/2007, para regulamentar a execuçãodas medidas socioeducativas no país. Uma resoluçãonesse sentido foi aprovada em 2006 pelo ConselhoNacional dos Direitos da Criança e do Adolescente(Conanda): o Sistema Nacional de AtendimentoSocioeducativo (Sinase). Para a conselheira doConanda, Miriam Maria dos Santos, é estratégicoaprovar o Sinase como lei, embora enquantoresolução já tenha tal peso.A coordenadora do Pró-Sinase, da SEDH, LúciaElena Junqueira, considera que a mudança podesignificar mais compromisso com as medidas. “Temosa expectativa de que só assim alguns aspectos daexecução do Sinase terão que ser seguidos enquantolei e não de forma facultativa”, afirma. O parecerfinal sobre o PL 1.627/2007 está disponível no site daCâmara (www.camara.gov.br), na seção de comissõestemporárias especiais.

SAIBA MAIS

1 Sinase: www.promenino.org.br/Portals/0/Legislacao/Sinase.pdf

2 Política de Assistência Social: www.mds.gov.br/suas/

3 Pesquisa “Mapeamento nacional de medidas socioe-ducativas em Meio Aberto”: clique em Relatórios dePesquisa em www.ilanud.org.br.

4 Pesquisa “Caminhos para a municipalização doatendimento socioeducativo em meio aberto: liber-dade assistida e prestação de serviços à comu-nidade”: clique em Publicações no sitewww.ibam.org.br.

BELO HORIZONTE É REFERÊNCIA EM MEDIDAS DE MEIO ABERTO

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