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editorial B O L E T I M *26 dezembro 2013 . boletim trimestral . ano 5 I niciamos mais um ano, com esperança renovada, animado pela graça do Menino que nasceu em Belém. A virtude da Esperança corresponde ao desejo de felicida- de que Deus colocou no coração de todo o homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens; purifica-as e ordena-as para o Reino dos Céus; protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o coração na expectativa da bem- aventurança eterna. O ânimo que a esperança dá preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade (CCE 1818). A esperança proporciona-nos alegria, mesmo no meio da pro- vação: «alegres na esperança, pacientes na tribulação» (Rm 12,12). Exprime-se e nutre-se na oração, particularmente na oração do Pai Nosso, resumo de tudo o que a esperança nos faz desejar. Com Santo Agostinho, podemos dizer que esperar significa crer na aventura do amor, ter confiança nas pessoas, dar o salto no incerto e abandonar-se a Deus totalmente.

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BOLETIM 1

editorial

B O L E T I M *26dezembro 2013 . boletim trimestral . ano 5

Iniciamos mais um ano, com esperança renovada, animado pela graça do Menino que nasceu em Belém.

A virtude da Esperança corresponde ao desejo de felicida-de que Deus colocou no coração de todo o homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens; purifica-as e ordena-as para o Reino dos Céus; protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O ânimo que a esperança dá preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade (CCE 1818).

A esperança proporciona-nos alegria, mesmo no meio da pro-vação: «alegres na esperança, pacientes na tribulação» (Rm 12,12). Exprime-se e nutre-se na oração, particularmente na oração do Pai Nosso, resumo de tudo o que a esperança nos faz desejar. Com Santo Agostinho, podemos dizer que esperar significa crer na aventura do amor, ter confiança nas pessoas, dar o salto no incerto e abandonar-se a Deus totalmente.

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Secção OpInIãO

A força do símboloP.e Luís MigueL Figueiredo rodrigues

A liturgia, como ação eminentemente simbólica que é, educa sobretudo pela força do símbo-lo. Este, ao conectar com o mais profundo de

cada pessoa, é um instrumento pedagógico fantásti-co para promover a conversão a Jesus Cristo, desde que nos deixemos transformar por aquelas realida-des que são símbolos da ação salvífica de Deus reali-zada por Jesus Cristo, sob a ação do Espírito Santo.

Os símbolos, como realidades polissémicas que são, precisam de ser “guiados” na sua compreensão, para que não nos fiquemos na dispersão de significa-dos. Por isso, «cada celebração sacramental é um en-contro dos filhos de Deus com o seu Pai, em Cristo e no Espírito Santo. Tal encontro exprime-se como um diálogo, através de ações e de palavras. Sem dúvida, as ações simbólicas são já, só por si, uma linguagem. Mas é preciso que a Palavra de Deus e a resposta da fé acompanhem e deem vida a estas ações, para que a semente do Reino produza os seus frutos em terra boa. As ações litúrgicas significam o que a Palavra de Deus exprime: ao mesmo tempo, a iniciativa gratuita de Deus e a resposta de fé do seu povo» (CCE 1153).

Uma celebração sacramental é, então, tecida de sinais e de símbolos. Segundo a pedagogia divina da salvação, a sua significação radica na obra da criação e na cultura humana, determina-se nos aconteci-mentos da Antiga Aliança e revela-se plenamente na pessoa e na obra de Cristo.

Sinais do mundo dos homens. Os símbolos ocu-pam um lugar importante na vida humana. Sendo a pessoa humana um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espiritu-ais através de sinais e símbolos materiais. Como ser social, a pessoa tem necessidade de símbolos para comunicar com o seu semelhante através da lingua-gem, dos gestos e de ações. O mesmo acontece nas suas relações com Deus.

Deus fala-nos através da criação visível. O cosmos material apresenta-se à inteligência do homem para que leia nele os traços do seu Criador. A luz e a noite, o vento e o fogo, a água e a terra, a árvore e os frutos, tudo fala de Deus e simboliza, ao mesmo tempo, a sua grandeza e a sua proximidade.

Enquanto criaturas, estas realidades sensíveis po-dem tornar-se o lugar de expressão da ação de Deus que santifica os homens e da ação dos homens que prestam a Deus o seu culto. O mesmo acontece com os sinais e símbolos da vida social: lavar e ungir, par-

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A força do símbolotir o pão e beber do mesmo copo podem exprimir a presença san-tificante de Deus e a gratidão da criatura para com o seu Criador.

As grandes religiões da huma-nidade dão testemunho, muitas vezes de modo impressionante, deste sentido cósmico e simbó-lico dos ritos religiosos. A liturgia da Igreja pressupõe, integra e san-tifica elementos da criação e da cultura humana, conferindo-lhes a dignidade de sinais da graça, da nova criação em Cristo Jesus.

Sinais da Aliança. O povo eleito recebe de Deus sinais e símbolos distintivos, que marcam a sua vida litúrgica: já não são unicamente celebrações de ciclos cósmicos e práticas sociais, mas sinais da Aliança, símbolos das proezas opera-das por Deus em favor do seu povo. Entre estes sinais litúrgicos da Antiga Aliança, podem citar-se a circun-cisão, a unção e a sagração dos reis e dos sacerdotes, a imposição das mãos, os sacrifícios e sobretudo a Páscoa. A Igreja vê nestes sinais uma prefiguração dos sacramentos da Nova Aliança.

Sinais assumidos por Cristo. Na sua pregação, o Senhor Jesus serve-Se muitas vezes dos sinais da criação para dar a conhecer os mistérios do Reino de Deus. Realiza as suas curas ou sublinha a sua prega-ção com sinais materiais ou gestos simbólicos. Dá um sentido novo aos factos e sinais da Antiga Aliança, sobretudo ao Êxodo e à Páscoa, porque Ele próprio é o sentido de todos esses sinais.

Sinais sacramentais. Depois do Pentecostes, é através dos sinais sacramentais da sua Igreja que o Espírito Santo opera a santificação. Os sacramentos

da Igreja não vêm abolir, mas purificar e assumir, toda a riqueza dos sinais e símbolos do cosmos e da vida social. Além disso, realizam os tipos e figuras da Antiga Aliança, significam e realizam a salvação ope-rada por Cristo, e prefiguram e antecipam a glória do céu.

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Secção OpInIãO

“Recebereis uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas tes-temunhas em Jerusalém, em toda a Judeia

e Samaria, e até aos confins da terra” (Actos 1, 8)Tal como naquele tempo, também hoje estamos

a viver o cumprimento da promessa! Jesus cumpre o que promete, o Espírito Santo fará tudo novo: «Eu sou a luz do mundo. Quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida» (Jo 8, 12). A «luz» que esperamos neste Natal transformará o nosso coração de pedra em coração humano (Ez 11, 19). O Espírito Santo é o Amor que nos enche com os Seus dons, que nos dá a vida, a vida nova que queremos celebrar.

Maria estava com os discípulos no cenáculo: Ma-ria e Espírito Santo são moventes do Primeiro Natal e da Primeira Igreja. É neste contexto de testemunhas de Jesus Cristo vivo e ressuscitado que somos cha-mados a viver a nossa vocação laical em Igreja.

O Papa Francisco, no início do Advento, recordou que iniciamos um novo caminho, um caminho de Igreja rumo ao Natal. Trata-se de ir ao encontro do Senhor, pois o Natal não é só uma recordação tem-poral de algo belo. “O Natal é mais: nós vamos por este caminho para encontrar o Senhor. O Natal é um encontro! E caminhamos para encontrá-Lo, com o coração, com a vida, encontrá-Lo vivo, como Ele é, encontrá-Lo com fé”.

A partir do exemplo do oficial romano, descrito no Evangelho, o Papa destacou a fé que maravilhou Jesus. A partir da fé, não só o oficial romano encon-trou Deus, mas foi encontrado por Deus. “Quando nós somente encontramos o Senhor, somos nós – entre aspas, digamos – os patrões deste encontro, mas quando nós nos deixamos encontrar por Ele, é Ele que entra em nós, é Ele que nos refaz tudo, por-que esta é a vinda, aquilo que significa quando vem o Cristo: refazer tudo, refazer o coração, a alma, a vida,

Formação (Filosofia) Cristã de Adultos – III

CelebrarAntónio JoAquiM gALvão

a esperança, o caminho”.Nesta quadra natalícia, todos somos convidados

a partilhar e a sermos solidários uns com os outros. É bom! Contudo não esqueçamos que o mais impor-tante ato de amor para com o próximo é ajudá-lo a fazer o encontro com Jesus Cristo. “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5). A fecundidade da pastoral lai-cal depende da união vital com Cristo. É Ele “a fonte e origem de todo o apostolado da Igreja” (DAA: Decre-to Apostolicam Actuositatem – Sobre o Apostolado dos Leigos, 4). É nesta união com Cristo que devemos ir para a prática, para vivermos e fazermos as nossas tarefas com alegria e entusiasmo no dia a dia segun-do a Sua vontade. Se o mais importante é celebrar a fé, para que o façamos de forma digna e bela, como nos pediu o nosso Pastor D. Jorge, necessitamos de formação cristã porque sem nos educarmos, sem progredirmos no conhecimento e na vivência com o mesmo Senhor Jesus Cristo a comunidade não vive-rá nem testemunhará a Cristo.

A promessa não se fará de qualquer maneira, é necessário estar e permanecer no Senhor, ter vida em e com Deus. É preciso procurar não o que já sa-bemos mas o que precisamos para dar maior sentido à nossa vida. Todos sabemos que às escuras é difícil procurar algo! É preciso sair de si, da maneira como vivemos para fazermos o Encontro com a Pessoa de Jesus (Catequese), e deixarmos que a «luz», o Espíri-to de Jesus ilumine o caminho da nossa vida para a verdade (Jo 16, 13). Deus foi, é e será O permanen-temente testemunhado até ser em cada um de nós a plenitude e todos juntos sermos UM n’Ele (Jo 17, 20-21). Ele veio e continua a habitar connosco (Jo 1, 7), na Palavra que devemos pôr em prática para vi-vermos a intimidade do Pai, na convivência do Filho com a Luz do Espírito Santo.

Jesus pediu aos discípulos que não se afastassem de Jerusalém até receberem o Espírito Santo. Só em

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Igreja e vivendo em Igreja (comunhão com Cristo) podemos realizar as obras que o Senhor nos pede, aquelas que nos realizam e nos santificam (Rm 5,5). A vida de fé exige santidade e apostolado. Jesus vai connosco e, se nos dermos conta de como Jesus se apoia em nós e do valor que temos para Ele, o que fazemos em Seu nome ganhará maior beleza e dig-nidade. Quando nos reunimos em comunidade para recebermos a força, a luz … para nos formarmos, o Espírito Santo virá como veio em Jerusalém. A comu-nidade é responsável pela formação cristã de todos.

O Advento é tempo de meditação e de tomada de decisão. Tempo de silêncio cristão para ouvir a Palavra que se torna geradora de comunicação: “ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15). Ser Igreja é ser Comunidade de vida e Missão, para o mais íntimo de cada um de nós e para o exterior no serviço aos outros. É o Senhor que nos reúne em comunidade para fortalecermos a nossa fé e, como encontro de irmãos, para celebrar-mos em beleza e dignidade o louvor de sermos Seus filhos muito amados.

A participação e colaboração dos leigos na mis-são da Igreja não é para preencher os lugares dos sa-cerdotes, nem criar uma espécie de «tapa buracos» perante a diversidade de funções que dizem respei-to ao Povo de Deus, «na casa de meu Pai há muitas moradas» (Jo14, 2) mas, uma oportunidade de apro-

fundar a sua vocação e o seu empenho na vida da Igreja-Comunhão. “Sinal desta multíplice e urgente necessidade é a evidente atuação do Espírito Santo que hoje torna os leigos cada vez mais conscientes da própria responsabilidade” (DAA, 1) e os ilumina para que todas as suas atividades sejam oblações espirituais e por toda a terra deem testemunho de Cristo (DAA, 3). É na celebração dos sacramentos, sobretudo na sagrada Eucaristia, que os leigos se alimentam do Amor de Deus para enfrentarem as condições de vida atuais que exigem dos leigos um apostolado cada vez mais intenso e mais universal, em grande parte só acessíveis a eles (DAA, 1).

Procurando redescobrir a identidade cristã, é-nos proposto, pela programação pastoral arquidiocesa-na, vivermos o ano da Fé Celebrada - «Onde estive-rem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (Mt 18, 20) - ao ritmo do Ano Litúr-gico. Celebrar o Natal para o leigo empenhado tem que ser mais que comemorar, festejar…etc. Celebrar a fé, viver a fé, testemunhá-la ou anunciá-la, faz parte da mesma realidade da fé pessoal e comunitária que brota da relação de Deus com o ser humano. O Com-pêndio da Igreja Católica diz-nos que «sustentado pela graça divina, o homem responde a Deus com a obediência da fé, que consiste em confiar-se com-pletamente a Deus e acolher a Sua verdade, enquan-to garantida por Ele que é a própria verdade» (25).

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Secção OpInIãO

CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA III

Culto Espiritual

Bento XVI, bispo da Igreja (Roma) que “preside à caridade”, evoca a Eucaristia como “sacramento da caridade” Sacramentum Caritatis. Sendo a

Igreja comunhão de Igrejas, por analogia, o ‘respon-sável’ de cada comunidade eucarística, “quando vos reunis...”, é aquele que “preside à caridade” na igreja onde se encontra. O Santo Padre, recomenda ”que o povo cristão aprofunde a relação entre o mistério eucarístico, a acção litúrgica e o novo culto espiritual que deriva da Eucaristia” (SC 5) e convida todos os pastores “a prestarem a máxima atenção à promoção duma espiritualidade cristã autenticamente eucarís-tica” (SC 94). A espiritualidade eucarística, na interac-ção de mistério eucarístico com a vida, tem no ‘novo culto espiritual’ a novidade, tradicional, a promover.

O adágio lex orandi, lex credendi situa-nos no coração da proposta: reza-se como se crê, (como se vive, trabalha ou estuda). E porque é condição da fé pedir “aumenta minha fé”, a liturgia deve ser, também, aprofundar a fé, a relação entre mistério “celebrado e acreditado” e o “novo culto espiritual”, como factor de renovação. E a “eficácia pedagógica” da liturgia ‘espanta’ na experiência do grande teólo-go Y. M. Congar; na sua autoridade discreta e argu-mentativa, afirma: “Devo à liturgia, à celebração dos mistérios cristãos, metade do que compreendi em teologia”; M.-D. Chenu, colega de Congar, descreve a liturgia da casa onde estudaram, como “bela litur-gia”. Por isso, «a melhor catequese sobre a Eucaristia é a própria Eucaristia bem celebrada» (SC 64) deve aceitar-se como um axioma, mesmo como um impe-rativo categórico.

A Eucaristia é, por excelência, o «mistério da fé», celebrado, a “corresponder pessoalmente” (SC 64), mistério que é Jesus Cristo, a Verdade feita Pessoa, proposto “ao coração anelante do homem, peregrino e sedento, ... que suspira pela fonte da vida, ... mendi-

M. M. CostA sAntos (dM. igreJA vivA)

go da Verdade” (SC 2), que “envolve-Se plenamente com a nossa condição humana (e) nos alcança” (SC 8). A fé eclesial, que se alimenta (cresce) “à mesa da Eucaristia” traduz-se em “Igreja (que) renasce sempre de novo”, que se cultiva como “mais profunda partici-pação” (SC 6) em (e para) Cristo “edificando-nos con-tinuamente como seu corpo (Igreja)” (SC 2, 14), por quem Cristo “Se manifesta como nosso contempo-râneo” (SC 97). A Igreja, corpo de testemunhas, torna presente, ‘nosso contemporâneo’, Cristo, “através das acções, palavras e modo de ser, (pelas quais) é Outro que aparece e Se comunica” (SC 85). Por seu lado, o testemunho traduz a correlação entre a consciência de si (coração anelante) e o absoluto (Jesus Cristo), como promoção mútua da razão e da fé e expressão do sentido da existência humana (P. Ricoeur). A Eu-caristia, que faz a Igreja, faz o homem com sentido (testemunha), na coerência; surge a Igreja, corpo de testemunhas, que oferecem o que são, na transpa-rência.

A Eucaristia, “todas as vezes”, “quando vos reu-nis...”, é, cada vez, convite para “entrar na «hora», «no acto oblativo” de Jesus» (SC 11); ela é fonte e cume da existência eclesial, a “origem e também a realiza-ção do culto novo e definitivo, o culto espiritual” Ro 12, 1) (SC70) do povo sacerdotal.

A Igreja, Povo sacerdotal, é referida pela primeira vez num documento conciliar, na constituição Lumen gentium do II Concílio Vaticano: “os baptizados... são consagrados para serem ... sacerdócio santo para que ... ofereçam-se a si mesmos como hóstias vivas, santas e agradáveis a Deus (culto racional) (Ro 12, 1), dêem testemunho de Cristo e àqueles que lhe pedi-rem dêem razão da esperança na vida eterna” (1 Ped 3, 15) (LG 10). O sacerdócio assume um tom cultual (aspecto somático) e um aspecto racional (noético): oferecer-se como sacrifício e dar razão, promoção mútua da razão e da fé. Esta dualidade, cultual e ra-cional, é constitutiva (reza-se como se crê, como se

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pensa); os dois aspectos interagem. O aspecto noé-tico poderá ‘insinuar-se’ com a entrada do filho mais novo na celebração da ceia pascal; em resposta à sua questão o filho ouve o pai narrar-lhe a acção de Deus, o êxodo, arquétipo da história da humanidade: “E se amanhã o teu filho te perguntar, dizendo: ‘O que é isto?’, dir-lhe-ás: ‘Foi com mão forte que o Senhor nos fez sair do Egipto...É por isso que eu ofereço em sa-crifício ao Senhor...” (Ex 13, 14).

Povo sacerdotal como novidade instauradora, como nas mudanças de paradigmas, poderá ser mui-to bem ilustrado por Y. Congar, que refere o sacrifício espiritual deste modo: “Dei-me conta de duas ideias chave de toda a minha existência. A primeira, infini-tamente rica, que apresenta o texto de Romanos 12, 1: ‘Oferecei as vossas pessoas como hóstia viva, santa e agradável a Deus, nisso consiste o culto espiritu-al que Deus pede, o culto razoável que Deus pede”. Este pensamento extremamente simples jogou um papel considerável na minha existência; envolveu tudo, tudo animou: a vida como oferta, como sacrifí-cio - não no sentido de mutilar, de fazer morrer; pelo contrário, é na medida em que se é vivo e activo que se faz a oferta da sua vida; neste sentido, cada um é sacerdote da sua existência: é o culto espiritual, o sacerdócio espiritual de cada cristão baptizado.... É o sentido que dou ao ‘ sacrifício espiritual’, que não consiste em oferecer apenas a minha oração, o sinal da cruz .... em resumo, a assim chamada matéria reli-giosa da minha vida, mas a vida mesma. Eu passo a minha vida a redigir fichas, a escrever artigos, a fazer conferências, outras repararão meias, outros farão cálculos, investigação científica; é isto o ‘culto espi-ritual’ das nossas existências, é isso que é referido a Deus”. Por seu lado, o neurocirurgião João Lobo An-tunes refere: “A minha atitude é simplesmente expli-cável por um entendimento sacerdotal da profissão... Nunca estranhei por isso que a rotina cirúrgica as-sumisse o valor litúrgico louvado que torna as mãos inocentes”. A vida como oferta, como sacrifício na medida em que se é vivo e activo no entendimento (competência) ‘sacerdotal’ da profissão, faz de cada um sacerdote da sua existência.

O sacrifício é a oferta da pessoa (pessoa por cor-po, corpo que age) “alcançada por Cristo” (Fil 3, 12), a vida cristã, santa, culto espiritual (Isidro Alves) nos “trabalhos de cada dia” (LG 34), «quando … fazeis

qualquer coisa...» (1 Cor 10, 31). O sacrifício vivo é o agir, a vida profissional, o culto espiritual “do homem santo”, “separado do seu eu’, como diaconia ao outro, ou, com um termo litúrgico como ‘liturgia’ (C. Sante, E. Levinas). O “oferecimento do próprio corpo” é a au-têntica liturgia para S. Paulo; é verdadeiro culto “ra-cional”, imaterial, conforme ao Logos, participação na vida de Cristo. O Corpo de Cristo (Igreja) nasce pelo sacrifício de Cristo na vida, dos que vivem por Cristo na sua vida profissional, deontológica, que é servir os outros, como diaconia e liturgia.

Os sacrifícios espirituais consistem no homem, filho de Deus pelo Espírito. “Como os sacrifícios con-sistem na ordem filial da pessoa viva, o templo é a comunidade daqueles que, ‘por Cristo’ realizam esta ordem filial, (e os sacrifícios) são ‘espirituais’ enquan-to, imitando a conduta de Deus a seu respeito, cor-respondem à natureza de Deus”(Y. Congar). O povo de Deus mostra uma nova forma de sociedade, or-dem filial, a partir da soberania do Reino (R. Pesch) pelos sacrifícios espirituais, extensivos à vida dos fi-éis no mundo

O culto espiritual (SC 93) é lugar de trânsito do sujeito (de si para si, por isso, imaterial) para Deus no símbolo que é o agir no corpo, ‘espiritual’, ‘lógi-co’ conforme Cristo, em progressiva conversão (Rm 8, 29s). O agir profissional, competente, além do sacrifício vivo, é testemunho discreto e argumen-tativo, sendo lugar de trânsito de si para os outros: “... a glória de Deus é o homem vivo (1 Cor 10, 31); e a vida do homem é a visão de Deus (S. Ireneu). O culto espiritual mostra o sujeito como alguém ‘à vista de todos’ em coerência e transparência, filho de Deus entre irmãos, e não perdido no anonimato ou na dissimulação. E. Sabato refere: “... quando já não há um Pai através do qual possamos sentir-nos irmãos, o sacrifício perde o fogo de que se alimen-ta”; e “as pessoas (que) conheciam-se e não precisa-vam de se exibir, ... a vida de cada um estava à vista de todos”, próximos uns dos outros, com um nome, diante das pessoas da sua aldeia, dos seus vizinhos, do seu Deus, agora, o homem anónimo vive “angus-tiantemente perdido entre multidões cujos valores não conhece ou cuja história mal partilha”.

O verdadeiro culto é “a liturgia no quotidiano do mundo” na expressão de E. Käsemann, ou assumir “o

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Secção OpInIãO

quotidiano concreto como uma eternidade diária” (M. Torga). O quotidiano é um existencial; e, se o ho-mem religioso do futuro, “o cristão será místico, ou não será” (K. Rahner), sê-lo-á por uma vida espiritual como facto no mundo, que inclui o sentido, os sacrifí-cios silenciosos, o trabalho gratuito, a monotonia do dever (K. Rahner), no moinho da banalidade diária. O quotidiano torna-se ‘litúrgico’, apto a ‘ressuscitar’; ao entrar na acção de Deus, para ‘inter-agir’ com Ele, o cristão inicia-se na liturgia que deve fazer-se ver no quotidiano.

E o sacrifício espiritual na vida quotidiana situa-se face ao drama do divórcio entre fé e vida, conside-rado “entre os erros mais graves do nosso tempo”; ele permite “ultrapassar em si mesmos a ruptura entre o Evangelho e a vida, refazendo na sua quotidiana actividade em família, no trabalho e na sociedade, a unidade de uma vida que no Evangelho encontra inspiração e força para se realizar em plenitude” (CL, 34). Por isso, uma vida espiritual como aprendizagem (ensaio) a pensar a vida com coerência interior, co-erência eucarística nas relações sociais, o refazer no quotidiano a unidade de vida inspirada do Evange-lho deve funcionar como factor de renovação das comunidades paroquiais e factor dissuasor de ati-tudes incorrectas. O culto agradável a Deus nunca é um acto meramente privado, quer eclesial quer socialmente (SC 83). A vida como sacrifício espiritual e a vida quotidiana condicionam-se: sobrevivem ou perdem-se: “a vida perde a sua profundidade espiri-tual e o espiritual torna-se ideologia” (K. Rahner).

O sacrifício respeita ao Povo de Deus, como mostram dois testemunhos antigos, situados no tempo mas abertos a todo o tempo: “0 sacrifício mais agradável a Deus é a nossa paz e a concórdia fraterna e um povo cuja união seja um reflexo da unidade que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo” (S. Cipriano, citado na LG 4); “Eis aqui o sa-crifício dos cristãos: todos juntos um só corpo em Cristo. É o mistério que a Igreja celebra continua-mente no sacrifício do altar onde lhe é demonstra-

do que, no que ela oferece, é ela que é oferecida. (Santo Agostinho). O sacrifício oferecido merece toda a atenção pelos efeitos poiéticos, construto-res de comunhão e dissuasores de mal-entendi-dos: o pastor, como aquele que ‘preside à caridade’ na paróquia, é ideia que é urgente e salutar pro-mover; uma celebração ‘vigiada’ é a negação do ‘novo culto espiritual’, um cisma local, corte com a comunhão da Igreja, pois ‘oferece o que é’, que não é ‘sacrifício santo e agradável a Deus’. A “oferta da vida, a comunhão com toda a comunidade dos crentes e a solidariedade com todo o homem são aspectos imprescindíveis do culto espiritual, santo e agradável a Deus” (Rm 12, 1) (SC 94).

A concórdia fraterna, fruto da entrega no serviço, nos carismas e ministérios, é reflexo da unidade de Deus; constitutiva do ser da Igreja, que oferece, é a mesma concórdia na comunidade que se oferece na Eucaristia. E se o sacrifício espiritual é a competência profissional, o sacrifício da Igreja como concórdia é da mesma espécie, isto é, celebração ‘competente’ na concórdia fraterna, culto agradável a Deus, na ‘cari-dade’. O tempo da Eucaristia não é apenas o tempo da missa dominical, mas é o espaço de uma vida transformada, “expressão e a verificação da prática eucarística”. Afinal, no sacrifício cada um, pessoa e Igreja, oferece o que é.

A promoção duma espiritualidade cristã auten-ticamente eucarística (SC 94), aprofundar “a relação entre o mistério eucarístico, a acção litúrgica e o novo culto espiritual que deriva da Eucaristia” (SC 5) é compreender o sacrifício espiritual como viver e dar razão, como purificador do culto e integrador da pessoa, que oferece o que é e faz, em coerência de vida que é transparência (testemunho). O ‘novo culto espiritual’ permite compreender a Igreja como corpo de testemunhas por quem Cristo é “nosso contem-porâneo”. O culto espiritual, sóbrio e denso, e racio-nal, promove a Igreja, comunhão de pessoas, que se faz ver, e a “economia de palavras”, ‘eco’ do que se faz ver que evita a mera inflação verbal.

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BOLETIM 9

A Igreja, na Eucaristia dominical, possivelmen-te, é a instituição, que reúne mais pessoas (A. Tofller); e, talvez, aí, aconteça o caso de

“textos sagrados que se lêem mas nem sempre se ouvem” (M. Yourcenar). Sendo uma questão este caso, já na celebração da Páscoa judaica o filho mais novo pergunta ao pai: “O que é isto?” (Ex 13, 14; 12, 26). Assim, a resposta a questões faz parte da história da celebração. Como resposta, e em atitu-de cúmplice, às questões “todos somos responsá-veis por tudo e por todos e eu mais que os outros” (Dostoiewski); e a resposta cúmplice aceita a ‘regra de ouro’: “o que quiserdes que os outros vos façam, fazei-lho vós também” (Lc 6, 30).

Iniciemos, tal como na celebração eucarística e qual ‘democracia’ participativa de comunidade discente, reconhecendo, em primeiro lugar, por um lado, que “a actual educação litúrgica, tanto dos sacerdotes como dos leigos, encontra-se num estado deficitário preocupante (em que) há mui-to por fazer”, e, que “somos uma Igreja demasiado instituída e não demasiado uma Igreja instituin-te (em que) a única responsabilidade (é) a tarefa de continuar o que se fazia até aí, (enquanto) a nossa vida pessoal e social são a criar cada dia porque a condição humana é viver instituindo o novo” (A. Rouet); depois, disponíveis como os discípulos ouçamos: “a verdadeira educação li-túrgica não pode consistir em aprender a ensaiar actividades exteriores, mas sim em conduzir para a verdadeira actio, que faz da Liturgia o que ela é; conduzir para o poder transformador de Deus, o qual, através do acontecimento litúrgico, quer transformar os Homens e o Mundo” (J. Ratzinger). A educação litúrgica, que se esboça, permite des-cobrirmo-nos como uma comunidade discente; esta comunidade aprendiz, uma vez iniciada, não mais poderá encerrar-se, pois é treino para ‘res-suscitar’, que se enxerta na condição humana de “viver instituindo”.

CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA IV

O PresidenteM. M. CostA sAntos

Ao falar dos carismas na comunidade, S. Paulo recomenda a quem preside “que o faça com dedi-cação” (Ro 12, 8). Com a devida analogia, como a Igreja de Roma, de que é Bispo o Papa, “preside à caridade” (Inácio de Antioquia), sinónimo de Igre-ja, numa paróquia o pároco também “preside à ca-ridade”; cada um exerce o presidir neste horizonte de comunhão. O presidente, no ‘jogo’ da liturgia, deve gerir os silêncios para deixar a Palavra como semente ‘fazer o seu trabalho’, e, sem inflação verbal, fazer lugar à Palavra: “Sou eu que estou a falar contigo” (Jo 4, 26). Além de saber retirar-se (desaparecer) para aparecer a Palavra, presidir é, ainda, saber reconhecer espaço aos ministérios em acção. O presidente responde da parte do Ou-tro, que representa, e frente à assembleia; ele e os outros ministérios servem a assembleia, sendo a face eminente e emergente face a outros, parti-cularmente aos não-crentes. A responsabilidade específica do presidente, ao reconhecer lugar aos ministérios, torna visível a sua responsabilidade na edificação do Corpo de Cristo, onde cada um é membro, que deve aprender a ser o que é. Como um e outros se reconhecem como comunidade discente, a aprendizagem é recíproca e perma-nente. Presidir, bem como exercer um ministério, é um acto no culto que deve ser um acto de cultura, a ‘treinar’, cultivar-se.

Quem preside tem em comum, com a assem-bleia, o ser membro do Corpo de Cristo, e em particular o ministério de presidir. Esta situação bi-polar, ambivalente, mesmo ‘equívoca’ traduz a palavra de S. Agostinho: “para-vós, sou bispo; com-vós, sou cristão”. Esta condição bi-polar indica que quem preside, tem uma responsabilidade a mais que os membros do corpo; o que em situação de crise deve evocar-se. A palavra de Jesus afirma, e confirma, esta bipolaridade: “quem quiser ser o primeiro seja o último!” (Mc 10, 44; Jo 13, 15), como

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Jesus que “não veio para ser servido, mas para ser-vir e doar a vida” (Mt 20, 28).

A dupla condição significa que presidir, sendo ministério, é também uma questão de cultura, que se cultiva pelo ‘treino’; presidir, que é estar-frente-a, é um estar-frente-com a assembleia. O ‘treino’, de quem preside, permite marcar o ritmo, descobrin-do o pulsar da assembleia. Por isso, o presidente é um, que caminha-com a assembleia, ‘treina’, para descobrir como ser-para ela. Por um ‘saber de ex-periência feito’, presidir é partir de um caminhar com a assembleia, ser-com, sin-ódico, para um ca-minhar à frente, ser-para, sim-bólico, e, finalmen-te, para um representar para-bólico, que aponta para o Mestre. Jesus, ao propor “a imagem mais terna do Evangelho, a imagem do bom pastor”(J. Lobo Antunes) no horizonte amplo da parábola, refere, em primeiro lugar: “conheço as minhas e elas conhecem-me” (Jo 10, 14), por um ‘saber de experiência feito’; em segundo lugar, como quem aprofunda, conclui: “escutam a sua voz... chama-as ... vai à frente delas e elas seguem-no, porque reconhecem a sua voz” (Jo 10, 3-4). Em resumo, “es-cutam a minha voz (porque) Eu conheço-as e elas seguem-me” (10, 28), e, como razão última: ”dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10, 11).

A autoridade, atribuída à Palavra de Jesus, diz o Seu modo de estar, feito de conhecimento e ape-lo de uma palavra autorizada porque convivente com o Pai e os discípulos; a autoridade mostra-se num presidir como modo de ser (estar) parabólico e não agressivo, replicativo e não ‘intimidante’, te-rapêutico e não de exclusão, sim-bolico e não dia-bólico. Paul Ricoeur, referindo a vida e liturgia de Taizé, testemunha: “Em Taizé vivi a ausência com-pleta das relações de dominação (em que) que toda a gente obedece sem que ninguém comande (com) a sensação de um serviço alegre, como di-zer, da obediência do amor, (que) é o contrário de uma submissão e o contrário de uma errância. (...) A comunidade não impõe um modelo intimidante, mas uma espécie de exortação amigável. (...) numa tranquilidade partilhada”. Apoiados na palavra de Jesus, e de Paul Ricoeur, resta-nos a todos “escutar”, “seguir” e esperar...

O presidente, com o Bom Pastor, aprende a ser-para, a partir de ser-com, se, como Jesus, “conhece as suas ovelhas”, “dá a vida por elas”, e, depois, “elas seguem-no”; faz e ensina pelo modo de presidir. E,

um médico, também escritor, ao falar da morte de um dos seus doentes como o ‘perder um doente’, descreve a essência da sua acção pastoral “com a imagem mais terna do Evangelho, a imagem do bom pastor”(J. Lobo Antunes). Este ‘extravio’ é tra-duzir o amor de Deus no amor do próximo, ou a en-trada do quotidiano na liturgia, que a credibiliza; é, também, criar uma cultura litúrgica, por analogia, como “capital social” (Robert Putnam) que permite a cooperação pela confiança, capaz de coordenar a ordem geral com a criatividade particular para uma liturgia futura melhor, partilhada,

Ao presidente, na celebração, compete des-pertar a participação, procurar a unidade da ce-lebração e a unidade de cada um dos participan-tes pela atenção, parente da humildade (Simone Weil). E para melhor se ouvir a Palavra de Deus, o presidente, como quem abre um mapa, pode, pela leitura introdutória de alguns passos das leituras, fazer iniciar-se um estado de atenção comum, um ‘nós’ diante de Deus que vai falar, no lugar san-to, a Assembleia; aí, os membros da Assembleia devem estar “não como estranhos ou espectado-res mudos”, mas participando na acção sagrada, “consciente, activa e piedosamente”, aprendendo a oferecer-se a si mesmos juntamente com o sa-cerdote por Cristo mediador (João Paulo II). Para a unidade da celebração, pode usar-se a regra da arte de falar pela teoria do parágrafo (J. Guitton); esta ajuda a manter e a reavivar a atenção, ou-vir ‘ecoar’ a Palavra: a introdução com passos das leituras, a homilia e a despedida. Assim, à intro-dução e proclamação da Palavra segue-se, num segundo momento, a homilia, destinada a ilustrar a Palavra de Deus, e, ao despedir a Assembleia, faz-se uma referência à Palavra proclamada. A mesma Palavra serve-se em três momentos, que a atenção, pelo seu carácter oscilatório, pede.

A homilia serve a ilustrar a Palavra de Deus, a actualizá-la na vida cristã: catequese “mistagógi-ca”, exposição dos mistérios da fé a implicar com a existência, para que a Palavra de Deus toque a vida e a ilumine com uma espiritualidade eu-carística, com Maria “mulher eucarística” como modelo (João Paulo II).

O presidente dá aos ouvintes algo do que lhe descobriu a qualidade da atenção que teve para eles; ele, “confiado a Deus e à Palavra da sua graça”

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atitude de vigília, pronto a aprender; ela dá ser às vivências, que privilegia e relaciona com outras e, permitindo uma certa continuidade e ordem, converte o fluir num certo modo do ser (M. Zam-brano): a unidade da pessoa. A atenção a uma narrativa religiosa tende a produzir experiências espirituais e os processos biológicos (emoção) revelam a ligação com o mistério, não o mistério (A. Damásio). Mas, a atenção, pelo seu carácter

(Act 20, 32), como discípulo ouve com “uma verda-deira atenção do coração” a Palavra de que “não é dono, mas servo...(e) dela devedor relativamente ao Povo de Deus” (J. Ratzinger), Ao escutar as ques-tões, torna-se alguém que responde a alguém que pergunta. A homilia deve ser uma palavra constru-tiva, e não de exclusão; “mas, veja cada um como edifica (1 Cor 3, 10).

A atenção deixa o pensamento disponível, em

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oscilatório, como um farol, que brilha, extingue-se e volta a brilhar, talvez, se relacione, com o movi-mento da respiração, que vai e vem, movimento que, também, pode articular-se com a alegria de aprender tão indispensável como a respiração aos corredores (S. Weil). E, a experiência da fé que se apoia numa palavra (encontro) que vem de outro lado, abre-nos ao nosso espaço como o ar sem o qual não podemos respirar (M. Certeau). Esta expe-riência espiritual está “associada a uma experiên-cia intensa de harmonia”, associada com o desejo de agir em relação aos outros com generosidade e amabilidade, que supõe “estados da riqueza do nosso pensamento quanto à condição do si e do si dos outros” (A. Damásio), sendo “os outros... as nossas viagens”.

A atenção, que tem o amor de Deus como substância, recebe um novo olhar. A capacidade de prestar atenção a alguém semelhante a nós, atingido pela infelicidade, coisa muito rara e difícil, é um olhar atento, que esvazia a alma de si própria (S. Weil), para ver o ser que se olha: “foi como se tivesse ficado vazia, olhando o homem” (Sophia M. B. Andresen). Este olhar supõe uma “aprendi-zagem do desaprender (para) saber ver sem estar a pensar”(F. Pessoa); e quem vê a “carne do sofri-mento, o rosto da humilhação, o olhar da paciên-cia, não pode conhecer e reconhecer estas coisas sem Te ver. Como poderei suportar o que vi se não te vir?”. A atenção ao quotidiano anónimo é o lugar onde se descobre Cristo na relação com os outros como amor do próximo (K. Rahner): o quotidiano anónimo é o espaço onde se passa do acto cultual para o mesmo quotidiano, e vice-versa.

A atenção à Palavra e aos outros é um ‘treino’ na comunidade; e esta existe onde se luta pela comuni-dade (M. Torga); cada celebração, sendo uma ‘dádiva’ (J. Ratzinger), é, também, uma tarefa pela comunida-de, treino para ‘ressuscitar’, “luta pela comunidade”. O envolvimento de todos (participação activa) deve mover a estratégia pastoral de uma comunidade nar-rada para uma comunidade narrante” (J. Tolentino), em que “a palavra falada se torne falante”. Então, pela ‘democracia’ participativa de comunidade discente a comunidade descobre-se Povo de Deus peregrino, que “deve ser como o rosto de Deus, transformado em Boa Nova para o povo” (C. Mesters).

O presidente, perante ouvintes de proveniên-cias diferentes, desde visitantes ocasionais, ‘que não pertencem a este redil’, membros de outras comunidades e ‘os seus’, num ambiente de ano-nimato difuso, expansivo e iliteracia galopante, como ‘homem de muitas antenas’ (B. Häring) qual Moisés no Êxodo precisa de fazer alianças com quem ‘procura’, recordando que somos baptizados com um nome, não anónimos, uma comunidade de sujeitos. Deve recordar-se que está a dar uma imagem da Igreja, que está na sua paróquia, aos de fora, e, para os de dentro, a edificar a sua comuni-dade. S. Paulo diz: “somos cooperadores de Deus” e os ouvintes são “o edifício de Deus” (1 Cor 3, 9).

O presidente, durante a viagem-imóvel da ce-lebração da Eucaristia, na ‘presença’ do Senhor, tendo iniciado a assembleia com as palavras “O Senhor esteja convosco” despede-se com estas “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe”, ‘ecoando’ nos participantes aquelas “Eu estarei convosco” no vosso quotidiano.

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O Santo Padre no Sacramentum Caritatis reco-menda ”que o povo cristão aprofunde a re-lação entre ... a acção litúrgica e o novo culto

espiritual” (SC 5), ou, dito de outro modo, “a necessi-dade de superar ... qualquer separação entre a arte da celebração (ars celebrandi, isto é, a arte de celebrar rectamente, (correcta arte da celebração), e a partici-pação plena, activa e frutuosa de todos os fiéis” (SC 38). A “correcta arte da celebração... compete aos bis-pos, sacerdotes e diáconos (que) devem considerar a celebração como o seu dever principal” como função imprescindível (SC 39), sendo o bispo diocesano o liturgo por excelência. A liturgia tem “uma eficácia pedagógica própria” (SC 64), “uma variedade de ní-veis de comunicação” para “cativar” (SC 40) com as suas formas de linguagem: “palavra e canto, gestos e silêncios, movimento do corpo, cores litúrgicas dos paramentos” (SC 40). A coerência litúrgica, a fomen-tar, pela participação frutuosa na Eucaristia, deve ser o dever principal de quem preside. E, por que não, além disso e também, como ‘sacrifício espiritual’, tal como os fiéis?

Sendo a coerência eucarística, a alcançar, a meta, “todo o povo de Deus, a comunidade, deve ser lugar de introdução pedagógica” (SC 64). Esta introdução, que faz ver “através das acções, palavras e modo de ser, (que) é Outro que aparece e Se comunica” (SC 85), Cristo, morto e ressuscitado, e “Se manifesta como nosso contemporâneo no mistério da Igreja, seu corpo” (SC 97), acontece pela “testemunha” (SC 64), “comunidade narrante” (J. Tolentino) por uma pa-lavra “falante”(C. Mesters), “sempre pronta a dar razão da sua esperança”. Então, como nos Actos, a Palavra “crescia, multiplicava-se” (Act 12, 24; 19, 20) e “o Se-nhor aumentava (…) o número dos que tinham en-trado no caminho da salvação” (Act 2, 47; 2, 41; Act 6, 7). A Eucaristia é o lugar de nascimento permanente da “Igreja corpo de Cristo”; “quando vos reunis em assembleia…” (1 Cor 11, 18), a Igreja “renasce sempre de novo» como “mais profunda participação”(SC 6),

CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA IV (a)

A Arte de celebrarM. M. CostA sAntos

‘concórdia fraterna’ (S. Cipriano), pois “a condição hu-mana é viver instituindo o novo” (A. Rouet).

A coerência eucarística pela correcta arte de ce-lebrar resulta na comunidade que testemunha, nar-rante, tendo aquele que preside como dever prin-cipal a “correcta arte da celebração”; a celebração, pedagógica, é apologia da coerência eucarística, que se faz ver, testemunha.

O testemunho cultiva-se, e é “particularmente urgente numa época acentuadamente tecnológica”, que privilegia o recurso instrumental aos meios; a cultura do testemunho como um itinerário, “estrada duma catequese de carácter mistagógico”, predispõe “o coração anelante do homem, peregrino e sedento, mendigo da Verdade” (SC 2) a “corresponder pessoal-mente ao mistério que é celebrado” (SC 64) para “en-trar na «hora», «no acto oblativo” de Jesus» (SC 11), beleza que espanta (‘espantados diante dele’ (Is 52, 14)). O itinerário conduz, pouco a pouco, ao ”sentido dos sinais” (SC 64), e acentua o valor antropológico da Eucaristia (SC 83), o aspecto pessoal, em que “o caminho se faz caminhando” (A. Machado).

A liturgia, que “não é simplesmente uma acção, (é) um pensamento... uma teologia escondida, discreta... (que) se resume nesta ideia: “A lei da oração é a lei da fé”(P. Ricoeur), lex orandi, lex credendi. Y. M. Congar, na sua autoridade discreta e argumentativa, refere: “Devo à liturgia, à celebração dos mistérios cristãos, a metade do que compreendi em teologia”, liturgia dita por M.-D. Chenu “bela liturgia”; ‘descobre-se’ a liturgia a dar origem a uma comunidade discente (B. Häring), capaz de aprender que «a melhor cate-quese sobre a Eucaristia é a própria Eucaristia bem celebrada» (SC 64). Então, a comunidade, na autori-dade discreta e pedagógica de R. Guardini, aprende que “viver liturgicamente (é) tornar-se uma obra de arte viva diante de Deus, sem outro fim que estar e viver na presença de Deus (e) executar, sob os olhos de Deus, em beleza, liberdade e santa alegria, o ‘jogo’

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da liturgia”, que deve “conduzir para o poder transfor-mador de Deus, (que) quer transformar os Ho mens e o Mundo” (J. Ratzinger). Uma teologia (e uma antro-pologia) discreta emerge da vida litúrgica: o homem, que anda na presença de Deus, é a forma como no AT se insinua o ser pessoa.

Entre a coerência eucarística pela participa-ção activa, a alcançar, e os responsáveis da cor-recta arte de celebrar, a hipótese de hibridação (interacção) entre coerência eucarística e arte de celebrar talvez se mostre capaz de insinuar um caminho, mesmo por um certo extravio, próprio de quem procura. A arte correcta de celebrar como “dever principal”, mesmo na sua especifi-cidade, não poderia ser considerada também sob o aspecto de ‘sacrifício espiritual’, como refere Y. Congar? A hipótese é considerar a arte correcta

de celebrar para a assembleia, como dever prin-cipal, e o acto de celebrar com (e como) os fi-éis que oferecem o sacrifício espiritual das suas vidas, como condição. Reconduzir a arte ao acto, o formal (objectivo) ao pessoal (subjectivo) pela prática gera a intuição (E. Fromm), que permite ver o que (e como) resulta ou não, pois “o cami-nho faz-se caminhando”.

“...mas devo confessar que, por mais que haja de reconhecer que quem exercer funções episco-pais tem de se aceitar, ao menos, em certa medida, como homem interposto entre Deus e os homens, sempre fui muito sensível às dificuldades inerentes a interpor um eu humano entre Deus e os homens ... Na Igreja temos de ser representantes e no culto, palavra e acção, temos de ser actores: oxalá que tão bons representantes e actores que só o Representa-

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do aparecesse à assembleia e só o Autor fosse visto e ouvido. (D. António FERREIRA GOMES, Escrever “Me-mórias” ou exigir “Memória e Responsabilidade”?, Cartas ao Papa sobre alguns Problemas do nosso Tempo Eclesial pelo Bispo Resignatário do Porto, Fi-gueirinhas, Porto 1986, 24.

Uma celebração, que deve cultivar a qualidade, a excelência, em que “o que é digno de ser feito é dig-no de ser bem feito”, convida os participantes para a atitude de discípulo, capaz de deixar-se ‘envolver’. Dado que o reunir-se (a comunhão) não é apenas um ‘somar’ indivíduos, mas um interagir recíproco, a “trabalhar como uma peça de ourivesaria”, cada um (pessoa) face aos outros, em estado interactivo, pode aceder ao ‘nunca visto’: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles” (Mt 18, 20) (A. Jacquard).

A celebração eucarística, sujeita às leis do agir hu-mano, celebra o ‘excesso’, a beleza do amor de Deus, tal como o Verbo se fez Homem para dar a ‘conhecer’ Deus. Se de Jesus, “no auge do assombro diziam: ‘faz tudo bem feito’” (Lc 7, 37), a Eucaristia merece (pede) a cultura de qualidade total, a excelência e, como re-fere João Paulo II, uma celebração viva e sentida, de profunda interioridade, com respeito extremo (MND, 18, 29) para uma existência cristã transformada pelo amor. Entretanto, a Igreja é “dádiva de Deus” (J. Ratzin-ger), que converte os muitos a uma nova existência em comunidade; mas, a beleza da dádiva, como acção de Cristo, responsabiliza, cultiva-se: o reunir-se, “a co-munidade (convívio) que se trabalha como uma peça de ourivesaria, ... é uma lembrança descida do céu”. Olhando Cristo, como meio (ambiente) da comunida-de e o centro da comunidade, melhor como comuni-dade (Corpo de Cristo), “a inteligência da comunidade (convívio) é muita inteligência, “céus da inteligência ampla” (M. G. Llansol): a inteligência da fé.

Uma celebração, conseguida, com arte, beleza pressupõe o trabalho escondido, o laboratório (en-saio), a formação dos agentes, os andaimes da obra construída; a Eucaristia é dom, mas o dom precede e aguarda a tarefa. E. Fromm refere no processo de aprender uma arte duas partes, sendo uma o domí-nio da teoria, e a outra o domínio da prática, sendo “mestre desta arte depois de muita prática, até que os resultados do ... conhecimento teórico e os resul-tados da ... prática se transformem em uma só coisa - em intuição”. A necessidade de treinar, num tempo

em que “treina-se muita coisa com mui to zelo, muita persistência e renúncias, porque não se há-de treinar para Deus e o seu Reino?” (J. Ratzinger), A intuição traduz o sentido da fé no Povo de Deus(LG 12), que pertence à dimensão profética da Igreja; ela permite discernir o que pertence à fé do que destoa, pois a oração da Igreja é norma de fé.

Jesus é único, como cada pessoa é única. Ser úni-co e estar-com-os-outros (celebrar) como convém deve treinar-se. Ortega y Gasset afirma que a circuns-tância “é (con)viver com tudo aquilo que ele (sujeito) não é; é habitar num tempo feito de momentos, de momentos que pertencem, também, a outros”. A cir-cunstância, e “Eu sou eu e a minha circunstância. E se não a salvo a ela, não me salvo eu”, situa-nos em condição propícia para a Eucaristia, para o itinerário mistagógico da catequese. Como a Igreja é comuni-dade de pessoas, a circunstância (as circunstâncias) também, aí, é pertinente.

A condição do eu, que vive, é a circunstância. E o homem só se entende em circunstância, no mundo. A realidade consiste na actuação da circunstância sobre mim e de mim sobre a circunstância, e ‘em choque com a circunstância’, acaba por ser o que pode ser. Por isso, “eu” não sou a circunstância mas precisamente o outro dela; então, « deixando-se le-var pelo que acontecia, .... eram os choques casuais com a banalidade que de repente se revelavam por-tadores de um sentido, como iluminações momentâ-neas» (Teolinda Gersão). Assim, “o coração anelante do homem, peregrino e sedento, mendigo da Ver-dade” (SC 2) dispõe-se a “entrar na «hora», «no acto oblativo” de Jesus» (SC 11), beleza que espanta (‘es-pantados diante dele’ (Is 52, 14)), e a “corresponder pessoalmente ao mistério que é celebrado” (SC 64) como coerência litúrgica que é “caminho (que) se faz caminhando” (A. Machado).

Cristo, morto e ressuscitado, Se manifesta como contemporâneo no mistério da Igreja, corpo, de que somos testemunhas” (SC 97) no mundo; nós somos contemporâneos de outros pelos problemas e desa-fios e pela ferramenta para lhes responder. Muham-mad Yunus, prémio Nobel da Paz, afirma: acreditar nisso (que é possível um mundo em que nenhuma pessoa seja pobre) é percorrer metade do caminho. Quando acreditamos, fazemos”; e o filósofo P. Sloter-dijk diz: “sem «natureza tutelar» ... o conhecimento de si próprio passa a ser um grande tema da arte de viver com a divisa existencial: «Sê tu próprio!». ...

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«Ajuda-te a ti próprio!» e «Faz com que te ajudem!». ... «Sê tu próprio!» quer também dizer: «Inventai-vos!». Diz René Char que, perante a morte, só temos um re-curso, que é criar arte, antes que ela chegue”. Miguel Torga fala em viver “o quotidiano concreto como eternidade diária”. O Senhor assegura: « Quem comer deste pão viverá eternamente » (Jo 6, 51) Aquele que Me come viverá por Mim » (Jo 6, 57). O mistério «acreditado» e «celebrado» possui um dinamismo, que faz dele princípio de vida nova em nós e forma da existência cristã (SC 70).

E por que não considerar a celebração como uma obra de arte o celebrar, que introduz, atrai, como cor-

po de testemunhas, que faz ver e se faz ver na arte de viver com os outros no quotidiano no mundo?

A liturgia deve promover a fé, aprofundar a rela-ção entre mistério “celebrado e acreditado” e o “novo culto espiritual”; como factor de renovação, este deve agir como factor dissuasor de atitudes incor-rectas (dissonantes, que destoam) nas comunidades paroquiais: “sacrifício agradável a Deus é a nossa paz e concórdia”.

“Convido, pois, todos os pastores a prestarem a máxima atenção à promoção duma espiritualidade cristã autenticamente eucarística” (Bento XVI).

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O Natal de Jesus Cristo, de acordo com o relato dos evangelistas São Mateus e São Lucas, é rico em fatos extraordinários. Ao longo dos

séculos, esses fatos foram motivo de inspiração artís-tica em vitrais, pintura, escultura, música, poesia, tea-tro, cinema... Somos herdeiros de um rico património literário, artístico e cultural, doado à humanidade pela criatividade e pela fé dos nossos antepassa-dos. As diferentes etapas da história do Nascimento de Jesus aparecem-nos testemunhadas em todas essas criações artísticas: a anunciação a Maria, a vi-sita de Maria a sua prima Isabel, o nascimento de Jesus numa gruta em Belém, a presença da estrela, a adoração dos pastores e dos sábios do oriente, a apresentação de Jesus no Templo, a perseguição de Herodes e a fuga para o Egito...Tudo isto fez da época natalícia um tempo de encanto, sonho e a alegria de tantas gerações!..

A história passada teve e deve ter, nesta época do ano, um encanto especial pelo “natal de Jesus”!..

O Natal… o aniversário do nascimento de Je-sus…Hoje?!..

Os homens celebram o Natal!… Motivos e perspetivas diferentes os movem!... Muitos celebram o Natal porque veem, no Me-

nino, o Filho de Deus feito Homem… sentem que Cristo alterou o rumo da história da Humanidade e a orientação da vida dos Homens.

Muitos há que poderiam celebrar o Natal. Não o querem...ou distorcem o real sentido deste acontecimento. São aqueles que fecham o coração ao Amor de Jesus!.. Vivem celebrando o consumis-mo propagandista que o materialismo da vida não se cansa de incutir na mente de cada homem! É o natal das luzes!... O natal da azáfama comercial… O natal das trocas de prendas…do barulho… da agitação!..

Muitos há que gostariam de celebrar o Natal de

“Veio para o que era seu e os seus não o receberam…” (Jo 1,11)

José oLiveirA

Jesus e não podem!… A guerra… a fome… a vio-lência… o ódio…são impedimentos para que Jesus nasça entre eles!...

O Natal!… de ontem… de hoje!..Fonte de inspiração para poetas, músicos, escul-

tores, pintores!… O Natal aparece-nos, hoje, tão di-versificado e… tão desvirtuado!...

Natal de Jesus…hoje?..Na realidade, numa sociedade em que o subje-

tivismo, o relativismo parecem ser a lei comum que rege as relações humanas, poder-se-á perguntar: ha-verá lugar para celebrar o Natal de Jesus?

Numa sociedade consumista, egoísta, movida por emoções fortes do prazer e do imediato, carac-terizada pela crise da família, da religião, das institui-ções governamentais e sociais, dominada pela pro-paganda gratuita dos “media”, haverá condições para Jesus nascer?

Numa sociedade regida por tensas relações de conflito armado e de desconfiança internacional, numa sociedade comandada pela lei do mais forte e pelos enormes desequilíbrios sociais haverá condi-ções para se ouvir a mensagem de amor, paz, alegria, festa, vida…que ecoa daquela gruta de Belém?

Terá lugar…o Natal de Jesus?A celebração do Natal diz-nos, mais uma vez, que,

apesar de tudo, Deus continua a nascer com a soli-dez do seu infinito amor (!) por cada um de nós.

Deus nasce e diz-nos que precisamos urgente-mente de nos libertarmos do peso daquela mentira trágica que proclama que o ser humano se basta a si mesmo, sem necessidade de procurar a razão última da sua existência fora de si, mentira essa que con-funde o homem contemporâneo e o lança no mais profundo desespero e frustração!...

O Natal é a festa dos que acreditam que é possí-vel destruir as teias do egoísmo… é apelo de conver-são àqueles que só se veem a si mesmos e que, por

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BOLETIM 18

Secção OpInIãO

isso, se colocam sempre numa atitude de quem se convenceu de que o mundo gira à sua volta…

A verdadeira celebração do Natal exige que crie-mos as condições para acolher Jesus Cristo na nossa vida… nas nossas famílias… e… em todos os luga-res e ambientes.

É evidente que celebrar o Natal é bem mais do que simplesmente comemorar o nascimento de Jesus. É necessário abrir as portas à sua vida e à sua luz!...

Que não se repita connosco o drama do primei-ro Natal: “Ele veio para o que era seu e os seus não O receberam” (Jo 1,11).

O carácter trágico daquela mentira, que referi-mos atrás, reflete-se, por isso, nesta constatação: a humanidade continua a celebrar o Natal, mas a não querer acolher o Salvador!...

O brilho das luzes deste mundo ofuscou-nos e recusámos a luz divina. Quando o Salvador bate à nossa porta, dizemos, como os donos das hospeda-rias, em Belém: “Aqui não há lugar para ti! (Cf. Lc 2,7.)

As coisas deste mundo tomaram conta do meu tempo, das minhas energias e do meu esforço! A minha agenda está totalmente preenchida. Não há lugar para ti, ó Deus. Tu já não cabes na minha vida! Tenho mais que fazer do que esperar e acreditar num Salvador”.

“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos ho-mens…” (Lc 2, 14)

O cântico da noite de Natal, entoado no Glória, que faz parte da liturgia da Santa Missa, foi o cânti-co, que há 2000 anos, anunciou ao mundo a grande “revolução” que viria mudar a face da terra. Com este cântico, Deus convoca todos os homens de boa von-tade e todas as gerações para a Paz e a Concórdia!..

“Et Verbum caro factum est. E o Verbo fez-se ho-mem e veio habitar connosco” (Jo 1, 14). Se olharmos à nossa volta, quão distante está este mundo do dese-jo formulado pelos Anjos no anúncio do nascimento de Jesus: as guerras!.., os assassinatos!..., a violência!..., o desrespeito dos homens pelo seu semelhante!.., os suicídios!.., a ganância!.., ódio!..

Aquela criança, nascida, não num palácio, mas numas palhas, veio pregar a paz, o amor, a justiça. Veio instaurar uma sociedade onde não haja mais diferença entre senhor e escravo, cidadão ou gentio. (Cf. Rom 10,12; Gal 3,28-29)

Celebrar o verdadeiro Natal? …Depende de cada um de nós… Não queiramos

ser cristãos do “faz de conta”…O Menino de Belém continua, ano após ano, a

nascer, a querer nascer no meio dos homens… a que-rer nascer nos corações e nas estruturas libertadoras e justas.

Aquela Criança “envolta em panos e recostada numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (cf. Lc 2,7), continua, hoje, a querer en-trar no coração dos homens de boa vontade…

O coro dos Anjos continua, hoje, a entoar sobre o mundo o cântico de louvor e glória a Deus. O cântico de carinho, de paz e amor sobre homens que Deus ama (Cf. Lc 2,14)…

Naquele presépio, naquela gruta, está o Filho de Deus que, hoje, vem “iluminar os que se encontram nas trevas e nas sombras da morte e guiar os nossos passos pelo caminho da paz”(Lc 1, 79)!..

Os pastores, avisados pelos Anjos, querem convi-dar-nos, hoje, a acompanhá-los e, numa visita de sim-plicidade cordial, ensinar-nos a prostramo-nos por terra e a adorar o Deus Menino!..

Os Reis Magos, guiados pela estrela, querem con-vocar-nos, hoje, a entrar na gruta de Belém, a abrir-mos o coração e a oferecer-Lhe o nosso amor.

Nenhum de nós poderá ficar indiferente perante o nascimento de Jesus.

Jesus nasceu para marcar a diferença!...Jesus veio para agitar!.. Jesus pregou para interrogar!...Morreu para inquietar!..

Inquietou os homens do seu tempo quando ex-pulsou os vendedores que faziam negócio no Tem-plo!.. Inquietou quando acusou os fariseus de hipo-crisia e malvadez!..Quando se opôs à lapidação da mulher adúltera!..Quando comeu em casa dos “pe-cadores”!.. Quando se opôs às injustiças…

Jesus veio para chamar os mais pobres, para pro-teger os mais fracos e humildes, para salvar os pe-cadores. Assustou os poderosos, os prepotentes, os que comentem injustiças, os que oprimem os seus semelhantes, os que forjam erros e mentiras.

O Presépio Jesus é paz e harmonia…é interroga-ção e confronto… é convite e desafio...

“…Jesus ainda está à procura de pousada no teu coração.” (São Josemaria Escrivá ,Forja,274)

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Hoje e no futuro, aceitar que a felicidade supõe uma aprendizagem, um conhecimento ou uma competência é um passo que resistimos

a dar. Esta resistência tem muito de cultural.

Preferimos atirar a felicidade para o plano do acaso ou das superstições, como se ela dissesse respeito à matemático caprichosa do destino

Não é argumento que nos ocupe demasiado, a felicidade. Precisamos desesperadamente dela. O escritor Milan Kundera escreveu que só há realmente uma pergunta importante a colocar, porque é que não somos felizes? Sabemos isso, mas fazemos tudo para colocar-nos a milhas de conversa assim. Preferimos atirar a felicidade para o plano do acaso ou das superstições, como se ela dissesse respeito à matemática caprichosa do destino, mais do que às contas que nos cabem. Conformamo-nos com o facto de ser um bem tão desejado quanto escasso. Olhamo-Ia, muitas vezes, como os mendigos olham para a lua, sem saber bem o que pensar dela e de nós, aceitando que a felicidade talvez não seja deste mundo, mas sem deixar de ficar confusos por vermos o seu brilho tão perto. Contudo, daí a aceitar que a felicidade supõe uma aprendizagem, um conhecimento ou uma competência é um passo que resistimos a dar. Esta resistência, certamente, tem muito de cultural. As nossas sociedades, que são de uma crendice beata em relação à técnica e a tudo o que dela provenha, praticam um agnosticismo militante em relação às possibilidades de cada ser humano construir-se e consumar-se de um modo feliz. Sobre a felicidade parece que não temos nada para dizer uns aos outros. Sobre o bem-estar, sim. Sobre a prosperidade, mesmo que mitificada, também. Mas nem nos apercebemos como na dança entre gerações persiste um vazio que atordoa: nós não sabemos se os nossos pais foram felizes, nunca conversamos sobre isso, nem os nossos pais

A Ciência da FelicidadeJosé toLentino MendonÇAexPresso. revistA, 14. 12. 2013,14.

venceram o pudor social, ou lá o que isso seja, para saber o que vivemos ou não, como nos sentimos, como fomos humanos afinal.

É claro que este é um chão propício a múltiplos equívocos. Veja-se, por exemplo, a grotesca criação do caudilho venezuelano: um vice-ministério para a Suprema Felicidade do Povo. E, na mesma linha, o estrondoso negócio que tenta tirar partido do vazio que perpetuamos em torno do tema: pululam mezinhas e minúcias, criam-se seitas dedicadas a resgatar os infelizes, triunfa uma literatura delico-doce e delirante. Ironicamente, nesta era da modernidade avançada em que estamos, à falta de outros mestres, são os publicitários que se dedicam a pensar a inapagável fome de felicidade inscrita no coração do homem. De facto, a publicidade não pretende responder às necessidades imediatas: essas são óbvias e o real pressiona-nos o suficiente em relação a elas. Não precisamos da publicidade para comprar um bilhete de metro, pão da manhã ou coisas assim. A publicidade dialoga com as necessidades últimas. Um bom publicitário elabora um frio, mas exato diagnóstico da alma do seu tempo. Sabe que os seres humanos mantêm soterrado a muitas braças de profundidade um sonho de felicidade com o qual desejam comunicar. Sabe que num tempo que virou costas à natureza, o ser humano não deixou de precisar do convívio com os grandes espaços, a céu aberto. Sabe que numa vida precária e a prazo nós continuamos a querer ardentemente olhar para caminhos a perder de vista e para paisagens definitivas. Sabe que os quotidianos férreos e apinhados, que nos trazem volumaria ou involuntariamente sequestrados, não cancelaram do nosso coração a necessidade de palavras puras, de gestos essenciais, de experiências de gratuidade.

Talvez um dia acordemos para aliviar os ombros dos publicitários desta responsabilidade tão grande. E individualmente e em comunidades encetemos nós próprios a preciosa tarefa de fundar uma humilde, imperfeita e inacabada ciência da felicidade.

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Secção pOnTES DOS ARCIpRESTADOS

AmaresQUE FOSTE VER?ENCONTRO DE ORAÇÃO

Centrados no Evangelho do III Domingo do Ad-vento, realizou-se no dia 12 de Dezembro, no arciprestado de Amares, mais um momento

de oração, destinado principalmente, mas não só, aos catequistas de Amares. O encontro foi animado pe-los vários coordenadores paroquiais, pelo Arcipreste de Amares e por vários outros párocos presentes. Desafiados a reconhecer que em cada um de nós existem muitas coisas onde Jesus ainda não chegou, os catequistas presentes, escreveram num “post-it” a sua resposta à pergunta: “E tu, estás disponível para ver? O quê?”. Todas as respostas foram afixadas num mural construído para o efeito. Depois de aquecer o coração com a Palavra de Deus, o momento de ora-ção terminou, como habitualmente, com uma parti-lha/convívio.

Vila Nova

de FamalicãoCOORDENADORES PAROQUIAIS DE CATEQUESE DE V. N. FAMALICÃO PREPARAM NOVO ANO PASTORAL

Tal como tem vindo a acontecer nos últimos anos, a Equipa Arciprestal de Catequese de V. N. Famalicão promoveu um encontro destinado

aos Catequistas Coordenadores Paroquiais de Cate-quese de todas as paróquias do Arciprestado, com vista à preparação deste novo Ano Pastoral 2013-2014.

Desta feita, este encontro teve lugar no dia 21 de Outubro, pelas 21h30, no Centro Pastoral de V. N. de Famalicão. O encontro contou com a presença de todos os elementos da Equipa Arciprestal de Cate-quese, nomeadamente o seu Assistente, o P.e Antó-nio Loureiro, assim como um grupo de cerca de 40 catequistas coordenadores provenientes de muitas das paróquias do Arciprestado.

Num primeiro momento, depois de uma peque-na dinâmica de acolhimento e de um momento de

oração, o P.e António Loureiro tomou a palavra para saudar e dar as boas-vindas a todos os catequistas presentes, aproveitando para apresentar todos os elementos da Equipa Arciprestal, que foi agora re-forçada com mais dois catequistas, contando neste momento com um catequista responsável por cada uma das cinco Zonas Pastorais em que se divide o Arciprestado de V. N. Famalicão.

Seguiu-se o momento de apresentar e/ou recordar todos os objectivos propostos pelo Departamento Ar-quidiocesano da Catequese (DAC) para o Ano Pastoral 2013-2014. Assim, neste ano subordinado na Arquidio-cese de Braga ao tema da “Fé Celebrada”, o plano do DAC tem como título a frase retirada do Evangelho de S. Mateus que serve também de mote a esta temática - “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles” (Mt 18, 20). O objectivo geral

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Secção pOnTES DOS ARCIpRESTADOS

passa agora por “Purificar a Fé”, concretizável depois via objectivos específicos, tais como: tomar consciência da dimensão comunitária da celebração da Fé; reconhe-cer a Eucaristia como centro da vida.

Foram também apresentadas algumas datas importantes para este ano pastoral, destacando-se, desde já, o Encontro Arciprestal de Catequistas, a realizar a 1 de Fevereiro de 2014, assim como dois encontros de recolecção por ocasião do Advento e da Quaresma, a 29 de Novembro e a 14 de Março. Além disso, foram ainda tratadas algumas questões de âmbito mais prático, com o objectivo de facilitar e promover a comunicação entre a Equipa Arciprestal e a Catequese das diferentes paróquias, seguindo-

se um tempo aberto ao diálogo onde todos tiveram oportunidades de colocar questões, esclarecer dúvi-das e/ou apresentar sugestões. O encontro terminou com um novo e breve momento de oração.

CATEQUISTAS DE FAMALICÃO PREPARARAM ADVENTO EM ENCONTRO DE RECOLECÇÃO

No passado dia 29 de Novembro, a Equipa Ar-ciprestal de Catequese de V. N. de Famalicão promoveu um encontro de Recolecção des-

tinado a todos os catequistas do Arciprestado, pro-curando proporcionar aos participantes um serão diferente com o objectivo de melhor os preparar e introduzir no tempo do Advento, o tempo litúrgico de preparação para o Natal, iniciado, precisamente, nesse fim-de-semana.

Esta iniciativa, realizada no Seminário dos Missio-nários Combonianos, em Antas, a partir das 21h00, reuniu mais de uma centena de catequistas, prove-nientes de inúmeras paróquias do Arciprestado, que, apesar de estar uma noite particularmente fria, sa-íram de suas casas para viver um momento privile-

giado de celebração, manifestação e fortalecimento da sua Fé.

Assim, depois de uma reflexão inicial, que pro-curou interpelar cada um às atitudes próprias do Advento, como a vigilância interior e a vivência de uma espera activa e confiada, caminhando à luz do Senhor, tal como enfatiza a caminhada proposta pelo Arciprestado para este tempo litúrgico, seguiu-se um tempo de adoração ao Santíssimo Sacramen-to, presidido pelo P.e António Loureiro, Assistente da Equipa Arciprestal de Catequese. Durante mais de uma hora os catequistas ficaram diante de Jesus Sacramentado, em atitude orante e contemplativa, vivendo-se um momento de particular intensidade e beleza, enriquecido pelas orações, palavras e cânti-cos que cada um, livre e espontaneamente, foi parti-lhando, intercalando-os com momentos de silêncio. Ao mesmo tempo, os catequistas que desejaram ti-veram também a possibilidade de receber o Sacra-mento da Reconciliação, uma forma privilegiada de melhor se viver o Advento e preparar interiormente a grandiosa festa do Natal.

No final, depois de aquecido o espírito, os ca-tequistas puderam também confortar e aquecer o corpo, tomando parte de um pequeno convívio, que constituiu um novo momento de partilha e feliz con-fraternização entre todos.

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“Na ecomimia da salvação, a tradição foi, em primeiro lugar, o dom de acontecimentos salvadores; na liturgia ela realiza e torna

presente o acontecimento que leva em si toda a his-tória, a Páscoa de Jesus, mas com a Igreja, e eis a si-nergia central da epiclese. Na economia da salvação, a tradição foi, a seguir, a revelação do sentido dos acontecimentos salvíficos, pelos profetas e escritores sagrados; na liturgia ela manifesta Cristo à Igreja e pela Igreja, e eis a sinergia do memorial. Na econo-mia da salvação, a tradição foi, por fim, a participação do povo de Deus nos acontecimentos salvíficos; na liturgia é a sinergia da Comunhão onde a celebração e a vida são agora inseparáveis. Os canais da tradição divina são os da «graça de Deus, tão variada nas suas formas» (1Pd 4,11), mas a àgua viva é sempre a do rio, «resplandecente como cristal, que brota do trono de Deus e do Cordeiro» (Ap 22,1).

A liturgia é o grande rio onde confluem todas as energias e manifestações do mistério, desde que o mesmo Corpo de Cristo que está vivo junto do Pai não cessa de ser «entregue» aos homens na Igreja para lhes dar a vida. A liturgia não é uma realidade estática, lembrança, modelo, princípio de ação, ex-pressão pessoal ou evasão angélica. Ela ultrapassa os sinais onde se exprime e a eficácia que deixa per-ceber. É irredutível às suas celebrações, se bem que nelas esteja totalmente. Passa pela palavra humana de Deus, escrita na Bíblia e cantada pela Igreja, sem nunca aí se esgotar. Está em sua casa em todas as culturas e não se reduz a nenhuma. Faz a unidade duma multidão de Igreja locais sem nunca esgotar a sua originalidade. Alimenta todos os filhos de Deus e é neles que não para de crescer. Embora celebra-

Secção FORMAÇãO

PROPOSTA DE REFLEXÃO DA COnStituiçãO SACrOSAnCtum COnCiLium SOBRE A SAGRADA LITURGIA (PARTE II)siMão Pedro

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BOLETIM 23

da sem cessar, nunca é repetida: a liturgia é sempre nova.” 1

Mistério eucarístico

“Os apóstolos, nas memórias que nos deixaram e a que chamamos evangelhos, transmitiram-nos que Jesus deu as seguintes ordens: tendo tomado o pão, deu graças e disse: «Fazei isto em memória de Mim. Isto é o meu corpo.» Do mesmo modo, tendo pegado no cálice, deu graças e disse: «Isto é o meu sangue» e deu-o apenas a eles. Desde então nós fazemos sem-pre memória deste facto nas nossas assembleias.”2

PalavraLc 24, 13-35

Constituição: Sacrosanctum ConciliumCapitulo II, nn. 47 a 58

AprofundarCorbon, Jean, A celebração, epifania da liturgia.

in. A fonte da liturgia. Paulinas, Lisboa, 1999. cap. IX. p. 88-98

CCE 1133-1405

sacramentos e sacramentais

“Reunimo-nos todos no dia do Sol, quer porque este é o primeiro dia em que Deus, eliminado as trevas e os caos, criou o mundo, quer porque Jesus Cristo Nosso Salvador ressuscitou dos mortos nesse mesmo dia. Crucificaram-no, de facto, no dia que pre-cede o de Saturno e, na manhã do dia seguinte, ou seja, no dia do Sol, tendo aparecido aos seus apósto-los e aos discípulos, ensinou aquilo que vos transmi-timos para que o leveis em séria consideração.”3

Palavra1 Ef 1, 3-14

Constituição: Sacrosanctum ConciliumCapitulo II, nn. 59 a 82

1 Corbon, Jean, A fonte da liturgia. Paulinas, Lisboa, 1999. cap. IX. p. 199-200

2 Justino, Apologia I3 Justino, Apologia I, 66-67

AprofundarCCE 774, 1084, 1131CCE 1667-1676

o ofício divino

“Aquilo que Jesus fez, isso mesmo ordenou fizés-semos nós. «Orai» — diz repetidas vezes — «rogai», «pedi», «em meu nome». E até nos deixou, na oração dominical, um modelo de oração. Inculca a necessi-dade da oração, oração humilde, vigilante, perseve-rante e cheia de confiança na bondade do Pai, feita com pureza de intenção, consentânea com a nature-za de Deus. Os Apóstolos, por sua vez, apresentam-nos com frequência, em suas Epístolas, fórmulas de oração, mormente de louvor e ação de graças, e exor-tam-nos a orar no Espírito Santo, pela mediação de Cristo, ao Pai, com perseverança e assiduidade; subli-nham a eficácia da oração para alcançar a santidade; exortam à oração de louvor, de ação de graças, de súplica, de intercessão por todos os homens.”4

PalavraSl 90

Constituição: Sacrosanctum ConciliumCapitulo II, nn. 83 a 101

AprofundarCCE 1174-1178Rezar a Liturgia das horas

4 Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas, 5

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centro cultural e pastoral da arquidioceserua de S. Domingos, 94 B • 4710-435 Braga • tel. 253 203 180 • fax 253 203 190 [email protected] • www.diocese-braga.pt/catequese

impressão: empresa do diário do minho, lda.

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oração

Vem de noite, Sabes bem que em nosso coração sempre é de noite; Vem, portanto, sempre e não deixes nunca de vir, Senhor!Vem no silêncio, Pois já não sabemos sequer o que dizer; Vem, portanto, sempre e não deixes nunca de vir, Senhor!Vem na solidão, Pois cada vez estamos mais sós; Vem, portanto, sempre e não deixes nunca de vir, Senhor!Vem, Filho da paz; Pois não sabemos o que é a paz; Vem, portanto, sempre e não deixes nunca de vir, Senhor!Vem consolar-nos, Pois cada vez estamos mais tristes; Vem, portanto, sempre e não deixes nunca de vir, Senhor!Estamos longe, desencaminhados, Não sabemos o que somos nem o que queremos; Vem, portanto, sempre e não deixes nunca de vir, Senhor!

David Maria Turoldo (recolhido em http://www.abcdacatequese.com)