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    CONFERNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

    CATEQUESE RENOVADA ORIENTAES E CONTEDO

    Documento aprovado pelos Bispos do Brasil na 21 Assemblia Geral15 de abril de 1983

    APRESENTAO

    Catequese Renovada Orientaes e Contedo um documento aprovado pelo episcopadobrasileiro, na 21 Assemblia Geral da CNBB, em Itaici (1983) e dedicado, de modoespecial, a todos os agentes de catequese da Igreja no Brasil.

    Estas orientaes catequticas, inspiradas nos documentos da Igreja (Vaticano II,Medelln, Puebla, Evangelii Nuntiandi e Catechesi Tradendae), querem ser uma respostaaos apelos do papa Joo Paulo II, na sua visita ao Brasil (1980), quando ento nos dizia:

    A Catequese uma urgncia. S posso admirar os pastores zelosos que em suas Igrejasprocuram responder concretamente a essa urgncia, fazendo da catequese umaprioridade (Encontro com os Bispos em Fortaleza 10/07/80).

    Percebendo as necessidades pastorais, obedecendo voz do Papa e depois de ter pedidoa colaborao e as sugestes dos agentes de Catequese de todos os nveis,apresentamos agora este documento, enriquecido por trs Assemblias Gerais da CNBB(1981, 82 e 83). Esperamos que ele venha ajudar a criar uma unidade de princpios,critrios e temas fundamentais para a Pastoral Catequtica no Brasil. Colocamos estasdiretrizes catequticas nas mos dos catequistas, a quem agradecemos toda acolaborao na educao da f das nossas comunidades e a quem pedimos que,

    juntamente com seus pastores, continuem fazendo da Catequese uma prioridade dasnossas Igrejas Particulares.

    I. PARTE: A CATEQUESE E A COMUNIDADE NA HISTRIA DA IGREJA

    1. Na procura de orientaes para uma catequese renovada, conveniente recordarbrevemente como se realizou a catequese no passado e quais as grandes mudanas aserem destacadas em nossa poca.

    2. Nosso objetivo neste captulo no fazer uma histria exaustiva da Catequese, masdestacar apenas algumas de suas linhas fundamentais.3. Ao descrever estas linhas fundamentais, veremos como, em cada fase, determinadoaspecto sobressai aos demais. Por isso, a Histria nos ajuda a revalorizar estes diversosaspectos que, aos poucos, foram compondo o complexo processo da Catequese, que hojeprocura lev-los em conta.

    1.1. Catequese como iniciao f e vida da comunidade

    4. Esta primeira fase se estende, aproximadamente, do sculo I ao sculo V.

    No tempo dos Apstolos, a vivncia fraterna na comunidade, celebrada principalmente na

    Eucaristia, representava a maneira mais alta de traduzir na vida a mensagem de CristoRessuscitado (1Cor 11,17-29) 1.

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    5. Era na comunidade que se vivia a doutrina dos Apstolos, seu ensinamento recebidodo prprio Cristo que, pouco a pouco, foi sendo formulado nos Smbolos da F (frmulascondensadas, como o Credo), nas doxologias (aclamaes litrgicas como as queencontramos, por exemplo, em Ef 1,3-14; Rm 1,8; Rm 16,27; 1Cor 1,2-3) 2, e nasoraes.

    6. Aos poucos foi-se formando uma Catequese prolongada e organizada, que tinhacomo objetivo levar os convertidos iniciao na vida crist. Criou-se assim ocatecumenato com seus vrios graus, que preparava os candidatos vivncia nacomunidade crist, atravs da escuta da Palavra, das celebraes e do testemunho.Muitas das obras notveis em Catequese dos Padres da Igreja surgiram no contexto docatecumenato (cf. CT 12) 3.

    7. A Catequese introduzia progressivamente na participao da vida crist dentro dacomunidade. Animada pela f, sustentada pela esperana, exercida atravs da caridadefraterna, a prpria vida da comunidade fazia parte do contedo da Catequese. Esta, porsua vez, era o instrumento a servio de uma entrada consciente na comunidade de f eda perseverana nela. Catequese e comunidade caminhavam juntas.

    1.2. Catequese como processo de imerso na cristandade8. No perodo que vai mais ou menos do sculo V ao sculo XVI, pode-se dizer que aCatequese j no consistia tanto numa iniciao comunidade de f, como verificamosna fase anterior. que a sociedade inteira, em todos os seus aspectos, se consideravaanimada pela religio crist, a ponto de se estabelecer uma aliana entre o poder civil e opoder eclesistico. Foi o que se chamou de cristandade.

    9. A Catequese se fazia, ento, por um processo de imerso nessa cristandade.Sem esquecer a influncia da famlia, das escolas episcopais e monacais e da pregao,convm ressaltar que a educao da f se realizava pela participao numa vida social,profissional e artstica marcada pelo religioso, num ambiente cristo presente nasociedade inteira.

    1.3. Catequese como instruo

    10. A partir do sculo XVI, a catequese passou, conforme as exigncias do tempo, arealizar-se prevalentemente por um processo que valorizava mais a aprendizagemindividual, na qual j no era to marcante a ligao com a comunidade.

    11. Vrios fatores concorreram para que a Catequese se concentrasse no aspecto dainstruo. Salientamos entre outros:

    a) a preocupao com a clareza e a exatido das formulaes doutrinais, em face dasdivises no meio dos cristos, no tempo da reforma protestante;

    12. b) a descoberta da imprensa e a difuso das escolas, que concentram a Catequesenos textos para o ensino, isto , nos catecismos. Aps as primeiras tentativas catlicas,inclusive latino-americanas, Lutero publicou seu catecismo em 1529. Entre 1550 e 1600apareceram os grandes catecismos inspirados no Conclio de Trento, como o de SoPedro Cansio, em 1555, e o de So Carlos Borromeu, em 1566, e o de So RobertoBellarmino, em 1597. O valor sempre inspirador dos catecismos, numa poca deconfuso doutrinal, foi o de apresentar de maneira clara e pedaggica o conjunto dosprincipais mistrios da f crist (cf. CT 13) 4;

    13. c) a influncia do iluminismo: segundo este movimento cultural, a intelignciahumana, devidamente instruda, capaz de encontrar sozinha a soluo de todos osproblemas da humanidade.

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    1.4. Catequese como educao permanente para a comunho e participao nacomunidade de f

    14. 1.4.1. No sculo XXfoi-se redescobrindo na Catequese a importncia fundamental dainiciao crist e do lugar primordial que nela cabe comunidade de f.Tal tendncia foi gradativamente reforada por vrios elementos:

    15. a) os resultados dos movimentos bblico, patrstico, litrgico e querigmtico que, naevangelizao, contriburam respectivamente para a revalorizao da Bblia, da Liturgia edo anncio de Jesus Cristo;

    16. b) as descobertas da psicologia, da pedagogia e de outras cincias humanas,descobertas essas aplicadas aos processos catequticos;

    17. c) mais recentemente, a renovao inspirada no Conclio Vaticano II (1962-65),explicitada no Diretrio Catequtico Geral (1971) e animada pelos Snodos sobre aEvangelizao (1974) e sobre a Catequese (1977). Fruto desses dois Snodos so asexortaes apostlicas Evangelii Nuntiandi (EN) de Paulo VI, sobre a Evangelizao nomundo de hoje (1975) e Catechesi Tradendae (CT) de Joo Paulo II, sobre a Catequese

    hoje (1979);18. d) as transformaes no prprio mundo pelo progresso tecnolgico-cientfico,exploso demogrfica, urbanizao, e pela secularizao, fruto do positivismo e dotecnicismo.

    Esta sociedade, marcada pela massificao, anonimato, impacto dos meios decomunicao de massa, consumismo, libertinagem moral, violncia coletiva edesigualdades sociais chocantes, exige, de modo novo e radical, a segurana da pessoano abrigo de uma comunidade menor, onde possam ser vividos os valores dorelacionamento interpessoal.

    19. Esta sociedade, marcada tambm pelos atesmos prticos e terico-militantes, pordiversos tipos de neopaganismo, pelas formas fanticas e sectrias de religiosidade deorigem recente e pelo indiferentismo religioso, precisar tambm de um tipo deCatequese que, alm de uma slida fundamentao da f, seja capaz de ajudar o cristoa converter-se e a comprometer-se no seio de uma comunidade crist para atransformao do mundo.

    20. 1.4.2. Na Amrica Latina, a 2 Conferncia Episcopal realizada em Medelln (1968),percebeu esta nova necessidade e, aplicando os ensinamentos do Conclio Vaticano II nossa realidade continental, redirecionou a catequese para o compromisso libertador nassituaes concretas. luz do documento final de Medelln, confirmado mais tarde pelaEvangelii Nuntiandi e pela Conferncia de Puebla (cf. Puebla 978-986) 5, a Catequese naAmrica Latina vem procurando realizar-se em estreita ligao com a realidade da vida,para a construo de comunidades de f.

    Neste sentido vem levando os catequistas a caminharem com os mais pobres e oprimidose a partilharem as suas angstias, lutas e esperanas.

    21. 1.4.3. No sculo XX, tambm no Brasil, o movimento catequtico foi impulsionadopela ao do Papa So Pio X e sua encclica sobre a catequese, intitulada Acerbo Nimis(1905). Tambm nesta poca surgiu o Catecismo dos Bispos das Provncias Meridionaisdo Brasil, que teve inmeras edies. Varias geraes de cristos foram instrudas eeducadas na f por este catecismo.

    Num notvel esforo de renovao nestas ltimas dcadas, a Catequese no Brasil passoupor diversas fases onde, sucessivamente, os acentos e as preocupaes recaam sobre ocontedo, mtodo, sujeito e, mais recentemente, sobre o objetivo da catequese.

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    J desde os anos 40, diversos pioneiros se dedicaram ao trabalho de sistematizao eadaptao da Catequese s novas exigncias.

    22. o caso, entre outros, de Mons. lvaro Negromonte, que criou e difundiu no Brasil ochamado Mtodo integral de Catequese, o qual se propunha como objetivo formar ocristo ntegro, firme na f, forte no amor e pleno de esperana.

    23. o caso tambm dos que trabalharam, nas dcadas de 50 e 60, nos secretariadosnacionais e regionais de catequese e nos Institutos de Pastoral Catequtica, que dasurgiram depois do Conclio Vaticano II nos diversos nveis. Os Institutos prestaramrelevante servio no que tange formao dos quadros dirigentes da catequese.

    24. Houve, em todo este ltimo perodo, um grande esforo de integrar a catequese noconjunto da renovao pastoral, a fim de pr em prtica os princpios e normas doConclio, repetidamente inculcados pelos Papas e pelos Snodos, adaptados situaolatino-americana em Medelln e Puebla e nossa situao brasileira pelas orientaes ediretrizes gerais da CNBB.

    25. 1.4.4. Cabe ressaltar, como caractersticas positivas que vem tomando a nossa

    catequese: uma insero maior no conjunto de toda a pastoral esta vem procurando torna-se cadavez mais uma pastoral orgnica; a apresentao de uma nova imagem da pessoa de Jesus Cristo e sua prtica, daIgreja, e do homem a considerao da pessoa humana como um todo, com seus direitos e deveres, suasdimenses individual, comunitria e social; a luta pela libertao integral do homem, reconhecido como sujeito de sua prpriahistria; o relevo dado s comunidades eclesiais de base e opo preferencial pelos pobres; a preocupao por um ensino sistemtico dos contedos da f, atravs de um roteironacional.

    26. Ao lado dessas aquisies, porm, cabe no perder de vista as deficincias que acatequese no Brasil continua mostrando:

    ainda no atinge permanentemente a todos os cristos, especialmente os jovens eadultos, os universitrios, o operariado nos grandes centros e as elites intelectuais s vezes, fica em dualismos e falsas oposies, como entre a catequese sacramental ecatequese vivencial, entre catequese doutrinal e catequese situacional; publicaes catequticas fracas e s vezes questionveis do ponto de vista doutrinal emetodolgico; em certos lugares, a catequese ainda continua a merecer maior ateno de nossaparte, de sacerdotes, de seminaristas, de religiosos, e tambm no encontra apoiosuficiente nas famlias; um ensino religioso muitas vezes fragmentrio e pouco eficaz em diversos Estados.

    27. compreensvel que cada um, num processo complexo como o da catequese,acabe por favorecer um ou mais elementos integrantes do processo, em detrimento deoutro. Da o surgimento de diversos tipos de catequese e uma rica variedade de textos emanuais que sublinham, s vezes, a instruo nas verdades; outras, a experincia vitalindividual ou comunitria, os mtodos de uma s pedagogia e a devida ateno pessoado educando.

    Em alguns sobressai o aspecto da insero na comunidade de f; noutros, a adeso caminhada do povo na busca de sua libertao e o impacto to transformador nasestruturas sociais.

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    28. Cada uma das mltiplas tendncias existentes em nossas Igrejas locais tem seusaspectos positivos e suas limitaes. O processo que procura integrar os diversoselementos vlidos das diferentes tendncias parece-nos como o mais correspondente aosobjetivos finais da Catequese e como o mais fiel s diretrizes da Igreja desde o VaticanoII.

    29. Tal processo procurar unir: f e vida (cf. CDC Cn. 773) 6; dimenso pessoal ecomunitria; instruo doutrinria e educao integral; converso a Deus e atuaotransformadora da realidade; celebrao dos mistrios e caminhada com o povo.

    Procuramos, nestas Orientaes, perceber os fundamentos e as conseqncias prticasde uma Catequese que procura renovar-se diante das novas situaes.

    II. PARTE: PRINCPIOS PARA UMA CATEQUESE RENOVADA

    30. A renovao atual da Catequese nasceu para responder aos desafios de uma novasituao histrica. Esta exige a formao de uma comunidade crist missionria queanuncie, na sua autenticidade, o Evangelho e o torne fermento de comunho eparticipao na sociedade e de libertao integral do homem.

    Para realizar esse objetivo, a Catequese precisa de slido fundamento. Ele s pode serprocurado na prpria Palavra, pela qual Deus revela sua vontade de comunho plenacom os homens.

    31. No Novo Testamento, o termo Catequese significa dar uma instruo a respeito da f.Em sua origem, o termo se liga a um verbo que significa fazer ecoar (Kat-ekho). ACatequese, de fato, tem por objetivo ltimo fazer escutar e repercutir a Palavra de Deus.

    32. O que Palavra de Deus? O que significa Revelao? Que relao tem isso com aCatequese? So questes fundamentais, que sero aprofundadas no captulo I. O captuloII tratar das exigncias da catequese.

    2.1. Revelao e Catequese

    2.1.1. A linguagem da comunicao de Deus

    33. Deus, em sua bondade e sabedoria, quis revelar-se a si mesmo Deus fala aoshomens como a amigos e com eles conversa. ...Assim o Conclio Vaticano II (DV 2) 7 expressa a convico sobre a qual a Igreja e todo cristo edificam a sua f. Mas, comoDeus fala?

    34. A principal forma de comunicao humana a palavra. Mas, h outras linguagenscom que os homens podem comunicar-se. Muitas vezes, um gesto diz mais que muitaspalavras. Tambm gestos e fatos podem constituir uma linguagem.

    35. Deus, para se comunicar com os homens, adotou essas duas linguagens que secompletam mutuamente: a das palavras e a dos gestos ou acontecimentos (cf. DV 2) 8.

    2.1.2. Deus quer comunicar-se a si mesmo e formar o seu povo

    36. Alm da linguagem, necessrio entender outros aspectos dessa comunicao entreDeus e o homem: 1) o que Deus quer comunicar; 2) a quem se dirige; 3) que obstculosencontra.

    37. 1 Deus no quis e no quer comunicar aos homens apenas alguma verdade oualguma lei. Ele quer comunicar a si mesmo, sua presena, seu amor (cf. DV 2 e 6) 9.

    38. 2 Deus no quer fazer isso separando as pessoas, mas unindo-as. Deus quissantificar e salvar os homens no isoladamente, sem nenhuma conexo uns com os

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    outros, mas constitu-los num povo, que o conhecesse e o servisse santamente (cf. LG9)10 . Mesmo quando Deus se revela atravs de um profeta, sempre ao povo que sedirige; e sempre numa ligao vital com a comunidade que a pessoa chamada echega f em Deus.

    39. 3 Entre o homem e Deus h uma distncia incomensurvel, no s pelo desnvelnatural entre a grandeza infinita de Deus e a fragilidade da condio humana, mastambm pelo pecado, que uma recusa da comunicao com Deus, uma recusa doAmor. Uma vez que o homem no pode chegar sozinho ao pleno conhecimento de Deus, necessrio que o prprio Deus tome a iniciativa de se revelar, de remover as barreirasentre ele e ns, deixando de ser um Deus escondido para nos mostrar o seu rosto, quemele .

    2.1.3. A pedagogia de Deus

    40. Compreende-se agora que a Revelao de Deus mais um processo, umacaminhada, do que um ato realizado imediatamente e de uma vez.

    41. Isto acontece, no porque Deus no quer comunicar-se logo e por inteiro. Deus

    comunicao, Deus amor. Deus est sempre perto de ns. Mas somos ns que nosafastamos dele. Somos ns que precisamos desse processo lento e permanente daRevelao, porque seres histricos, em construo.

    42. Em outras palavras, a humanidade no est preparada para acolher a Deusplenamente. Muitos obstculos a separam dele. Muitos pecados a desviaram.

    43. Deus, ento, ele mesmo procura guiar a humanidade de volta. Procura orient-la,aproxim-la de si. Torna-se para seu povo como um pai ou uma me que ensina criana os caminhos da vida. Torna-se um mestre ou educador, que ensina aos alunoscaminhos mais adiantados em busca da verdade e da felicidade. Como um pai educa seufilho, assim Deus educa seu povo (Dt 8,5) 11 .

    44. Por isso, pode-se falar em pedagogia de Deus (cf. DV 15) 12 , para indicar a forma comque Deus se revelou na Histria da humanidade, gradativamente, por etapas.

    2.1.4. A histria da Revelao

    45. A Revelao de Deus foi conservada, de incio, por uma tradio oral contada de paipara filho (cf. Dt 4,10; 11,19) 13 , de boca em boca. Depois foi posta por escrito na Bblia.

    46. A Bblia usa raramente a palavra Revelao. Tampouco faz teorias sobre ela. Conta,sobretudo, fatos. Alguns desses fatos podem ajudar-nos a compreender como se d aRevelao. So principalmente fatos que apresentam o encontro de Deus com o seu povoou com um profeta.

    47. Tomemos um exemplo: a Revelao de Deus a Moiss (Ex 3,1-15) 14 . Deus atraiMoiss com um sinal: a sara ardente. E a Moiss comunica duas coisas: o seu Nome e avontade de libertar os filhos de Israel. Reparemos bem: De um lado, Deus se apresentacomo Deus dos pais, dos antepassados de Moiss, o Deus que Moiss j conhece eadora. At a, nada de novo. De outro lado, Deus revela algo novo que Moiss e seu povono conheciam: o nome Jav (que significa Aquele que sou ou Aquele que estouconvosco) e a vontade de libert-los.

    48. Nos encontros de Deus com o seu povo e seus profetas, possvel reconhecer essaestrutura da Revelao: Deus fala partindo de algo que os homens j conhecem, quepertence experincia deles, e procura lev-los a descobrir e compreender algo novo doseu ser, do seu amor, da sua vontade. Ou ainda: Deus ilumina o seu povo e seusprofetas para que compreendam o sentido da Histria que esto vivendo, dosacontecimentos que Deus quis ou permitiu.

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    49. Muitas vezes, o acontecimento to importante que ilumina com luz nova todo opassado e leva a uma nova e mais profunda compreenso do plano de Deus. o queaconteceu com a experincia da aliana. luz dela, foi interpretada toda a histria dasalvao: a criao (cf. Is 40,25-28; 44,24; etc.) 15 , No (Gn 6,19; 9,9) 16 , Abrao (Gn17,2) 17 , Moiss (Ex 19,5; 24,7) 18 , Davi (2Sm 23,5) 19 . A f de Israel se expressa atravsda evocao da Histria (Dt 6,20-23; 26,5-9) 20 .

    A luz definitiva sobre a histria da Revelao vem de Jesus, que revela enfim toda aamplitude do amor de Deus.

    2.1.5. A plenitude da Revelao: Jesus Cristo

    50. A expresso mais alta, absolutamente nica e definitiva da comunicao de Deus humanidade, Jesus, o Cristo (cf. DV 4) 21 . Nele, Deus no se limita a manifestar algo deseu Amor. Deus se d a si mesmo. Jesus a encarnao, na natureza humana, do Verbo. a prpria Palavra de Deus feita carne (Jo 1,14) 22 .

    51. Jesus Cristo se torna assim, para os homens de todos os tempos, caminho, verdade

    e vida (Jo 14,6)23

    . S por ele se vai ao Pai. Ele a plenitude da Revelao. Por isso,depois de Jesus, j no esperamos novas revelaes. importante, porm, observarcomo Jesus revela o Pai. De novo encontramos a presena de acontecimentos e palavrasestritamente uni dos. Sua encarnao, sua vida terrena, especialmente sua morte eressurreio so fatos em que a f reconhece Deus que se revela e se comunica.

    O sentido desses fatos se torna acessvel a ns pelas prprias palavras de Jesus, quecompreendemos com a ajuda do Esprito Santo e da Igreja.

    52. Para a Catequese, ainda importante reparar que Jesus, na sua pedagogia, paralevar seus ouvintes plenitude da f, no despreza a histria anterior da Revelao, oAntigo Testamento, e tambm recorre s situaes de vida e experincia das pessoas,educando-as para que reconheam nelas os apelos de Deus.

    2.1.6. Cristo se comunica pelo Esprito Santo

    53. Jesus a plenitude da Revelao de Deus. Neste sentido, Deus no tem mais nada arevelar de si mesmo (cf. DV 4) 24 . Tudo o que do Pai foi comunicado a Jesus, e Jesus ocomunicou a seus discpulos e aps tolos (Jo 15,15; cf. DV 7) 25 . Revelou os mistriosquer dizer, a intimidade de Deus, o que at ento estava escondido no aos sbios eentendidos, mas aos simples (Mt 11,25) 26 .

    54. Mas Jesus, exatamente porque nele habita a plenitude de Deus e s nele se encontraa salvao, deve tornar-se de alguma forma contemporneo e companheiro de todos oshomens. esta a tarefa que se realiza atravs do Esprito de Jesus, o Esprito Santo queatua na Igreja. Neste sentido, pode-se dizer, com o Conclio Vaticano II, que Deuscontinua mantendo permanente dilogo com a comunidade crist (cf. DV 8c) 27 e que oEsprito Santo faz ressoar na Igreja e no mundo a voz viva do Evangelho, conduzindo osfiis para a plenitude da verdade (Jo 16,13) 28 .

    55. Como o Novo Testamento afirma repetidas vezes, a experincia do Esprito nacomunidade crist inseparvel da memria de Jesus (cf. Jo 14,26; 15,26; 16,13-14; At2,17-36; 1Cor 2,1-16; 12,3 etc.) 29 . Mas a ao do Esprito no est somente voltadapara o passado. Ela quer conduzir a vida e fazer crescer a f do Povo de Deus (DV 8a) 30 .Ela se volta tambm para o futuro, para a plenitude da verdade, fazendo progredir acompreenso tanto das realidades como das palavras confiadas Igreja.

    56. O Esprito no age s, livre e misteriosamente, como o vento da noite, que no sesabe de onde vem e para onde vai (Jo 3,8) 31 . Ele, para manter inalterado e vivo o

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    Evangelho, suscitou e conserva na Igreja a Tradio, a Escritura e o Magistrio (cf. DV 7-10)32 .

    2.1.7. Tradio, Escritura e Magistrio

    57. O que Jesus deixou foi, antes de tudo, uma comunidade viva, a Igreja. Aquelacomunidade que Paulo, escrevendo aos Corntios, define como uma carta de Cristo,entregue aos cuidados do nosso ministrio, escrita no com tinta, mas com o Esprito doDeus vivo, no em tbuas de pedra, mas em tbuas de carne, nos coraes! (2Cor3,3) 33 .

    58. Nesta comunidade se conservam as palavras de Jesus, os sacramentos, a orao queele ensinou, a liturgia que se vai enriquecendo aos poucos com as expresses das vriasculturas, as diversas manifestaes da f e da caridade crist, que originam diferentesmodelos de santidade, espiritualidade, transformao crist da civilizao e da cultura(cf. DV 8)34 .

    59. Pode-se falar em tradio na medida em que a comunidade crist une dois aspectos:1) de um lado, ela se mantm fiel sua origem, ao que recebeu de Cristo e dos

    Apstolos; e, 2) simultaneamente progride na compreenso da doutrina, na vivncia dacaridade e na edificao da sociedade, mantendo vivo e eficaz o Evangelho.

    60. A Tradio Apostlica abrange todas aquelas coisas que contribuem para santamenteconduzir a vida e fazer crescer a f do Povo de Deus. E chamada tradio, porquetransmite e perpetua a todas as geraes tudo o que a Igreja , tudo o que cr (DV8a) 35 .

    61. Um lugar nico ocupa, dentro da Tradio, a Sagrada Escritura. Nas comunidadescrists primitivas, fundadas pelos Apstolos, o Esprito Santo inspirou aqueles escritosque ns conhecemos como o Novo Testamento. Neles a Igreja reconheceu, junto com oslivros do povo de Israel, o Antigo Testamento, o testemunho autntico da Revelaodivina. Reconhecendo que a Sagrada Escritura a Palavra de Deus redigida sob a moodo Esprito Santo (DV 9) 36 , a Igreja a venera e a escolhe, junto com a Tradio comosuprema regra de sua f (DV 21) 37 . Tradio e Escritura devem ser consideradas comoum todo, pois ambas procedem de Deus e tm como finalidade a comunho dos homenscom ele.

    62. Conservar a Tradio e a Escritura, atravs da vivncia e do testemunho da f, tarefa dos pastores e fiis. A interpretao autntica da Tradio ou da Escritura, porm,est confiada ao Magistrio da Igreja. O Magistrio est, assim, a servio da Palavra deDeus: da Tradio e da Escritura tira o que prope para ser crido como divinamenterevelado (cf. DV 10) 38 .

    2.1.8. F e Comunidade missionria

    63. Na comunidade da Igreja, a Palavra de Deus est viva hoje. Deus, fiel s suaspromessas, continua convidando os homens comunho com ele.

    64. Acolher a Palavra, aceitar Deus na prpria vida, dom da f. Ele exige, porm,certas condies por parte do homem. Elas podem ser resumidas com duas palavrasevanglicas: converso e seguimento. A f como uma caminhada. Mais exatamente: seguir o caminho de Jesus. O que os discpulos fizeram pelos caminhos da Galilia e daJudia at a Cruz, acompanhando fisicamente Jesus e comungando sempre mais de suavida e de seu ideal, deve ser refeito hoje, em nosso meio. o programa que nospropem os Evangelhos. Eles foram escritos, no apenas para recordar o itinerrioterreno de Jesus, mas para fazer dele o roteiro ideal da caminhada de todo discpulo.

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    evidente, nisso, que a f no s uma adeso intelectual, um conheci mento dadoutrina de Jesus. Ela uma opo de vida, uma adeso de toda a pessoa humana aCristo, a Deus e a seu projeto para o mundo.

    65. A aceitao e o seguimento de Jesus so uma opo profundamente pessoal. Aomesmo tempo, porque a pessoa se realiza no relacionamento e no amor, o seguimentorealiza-se na comunidade fraterna. Seguir a Jesus juntar-se, fraternalmente, aos outrosdiscpulos. Assim a f, nascida na comunidade da Igreja, renova permanentemente aprpria comunidade a partir da sua raiz profunda, a comunho com Deus, e gera novascomunidades eclesiais.

    66. As comunidades dos discpulos de Jesus no esto a servio de si prprias, mas dosoutros. A f crist , intrinsecamente, missionria (cf. Mt 28,19ss) 39 . Quem cr no podedeixar de testemunhar sua f. Quem foi escolhido, recebe um encargo, uma misso. Amisso fundamental pregar o prprio Evangelho, anunciar Jesus, revelar o amor do Paipela humanidade. Mas o prprio amor de Deus exige o amor fraterno, a comunho eparticipao nesta terra, o empenho na libertao do homem (cf. Puebla 327) 40 .

    67. A comunidade crist, animada pela f, sente necessidade de celebrar todos os

    aspectos da existncia crist atravs da liturgia, especialmente na celebrao eucarstica,onde adquirem uma outra dimenso, ou manifestam mais claramente uma dimensoprofunda da f: a adorao, a entrega ao Pai, em comunho com o seu Filho e nossoSalvador Jesus Cristo, pelo Esprito Santo.

    2.1.9. Experincia humana e Revelao

    68. Uma ltima questo, muito importante, merece nossa ateno. H um modo depensar a Revelao divina que a representa como se fosse totalmente externa aohomem.

    69. Basta refletir um pouco para perceber as falhas desse ponto de vista.

    Antes de tudo, no devemos esquecer que o Deus que se revela o prprio Deus criador.Em segundo lugar, ele que suscita em nosso corao aquela inquietao que nos leva aprocur-lo. E ainda, como vimos, uma linguagem acessvel que ele nos fala. Estedilogo estimula a nossa reflexo e a nossa participao; em suma, a nossa liberdade.Por isso se pode e se deve acentuar a unidade profunda entre as aspiraes do homem eo plano de Deus, como explicam os Bispos latino-americanos no documento de Medellnsobre Catequese:

    70. Ao apresentar sua mensagem renovada, a Catequese deve manifestar a unidade doplano de Deus. Sem cair em confuses ou em identificaes simplistas, deve-semanifestar sempre a unidade profunda que existe entre o projeto salvfico de Deusrealizado em Cristo e as aspiraes do homem; entre a histria da salvao e a Histriahumana; entre a Igreja, Povo de Deus, e as comunidades temporais; entre a aoreveladora de Deus e a experincia do homem; entre os dons e carismas sobrenaturais eos valores humanos.

    Excluindo, assim, toda dicotomia ou dualismo no cristo, a Catequese prepara arealizao progressiva do Povo de Deus (Medelln Cat. 4; DCG 8) 41 .

    2.1.10. Ministrio da Palavra e Catequese

    71. Onde se situa a catequese em face da Revelao? Convm agora retomar estapergunta e concluir.

    Vimos que a Palavra de Deus est viva e atuante hoje na comunidade eclesial. Em outraspalavras: Deus continua a falar aos homens em Cristo, pelo Esprito. ele que fala, quese comunica. Mas atravs de mediaes.

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    72. Deus se serve de palavras e de acontecimentos, mas tambm da atuao viva daspessoas. Essa atuao s pode ser subordinada ao prprio Deus; s pode ser servio ouministrio. A Catequese faz parte do ministrio da Palavra. Ela , por isso, um aspecto oumomento da evangelizao. Podemos defini-la, com o Snodo dos Bispos de 1977 ePuebla (cf. n.977) 42 , como a educao ordenada e progressiva da f. A CatechesiTradendae fala de uma educao da f das crianas, dos jovens e dos adultos, a qualcompreende especial mente um ensino da doutrina crist, dado em geral de maneiraorgnica e sistemtica, com o fim de os iniciar na plenitude da vida crist (n.18) 43 .

    E sublinha a relao da Catequese com outros aspectos da pastoral da Igreja: primeiraevangelizao, apologtica, vida crist, celebrao dos Sacramentos, integrao nacomunidade, testemunho apostlico

    73. As diversas maneiras de conceber e praticar a Catequese esto ligadas no s scircunstncias histricas (como mostramos na I parte deste documento), mas tambm eespecialmente a diversos modos de pensar na relao com a Revelao. A Conferncia deMedelln preconizava uma fidelidade dinmica Revelao e afirmava: De acordo comesta teologia da Revelao, a Catequese atual deve assumir totalmente as angstias e

    esperanas do homem de hoje, para oferecer-lhe as possibilidades de uma libertaoplena, as riquezas de uma salvao integral em Cristo, o Senhor.

    Por isso deve ser fiel transmisso, no somente da mensagem bblica em seu contedointelectual, mas tambm da sua realidade vital encarnada nos fatos da vida do homemde hoje.

    74. As situaes histricas e as aspiraes autenticamente humanas so parteindispensvel do contedo da Catequese. E devem ser interpretadas seriamente, dentrode seu contexto atual, luz das experincias vivenciais do povo de Israel, de Cristo e dacomunidade eclesial, na qual o Esprito de Cristo ressuscitado vive e operacontinuamente (Medelln, Cat. 6) 44 .

    75. As conseqncias ou exigncias, que para a Catequese decorrem da Revelaodivina, sero agora objeto de exame e exposio no prximo captulo.

    2.2. Exigncias da Catequese

    76. Como se deve realizar a Catequese para alcanar seus objetivos? Como a Catequesepode levar os cristos crianas, jovens e adultos a acolher a Palavra de Deus e a fazerdela a luz que orienta a sua vida?

    77. A questo pode ser abordada em diversos nveis e sob diversos enfoques. Nestecaptulo, vamos apresent-la no nvel dos princpios ou critrios bsicos. O nvel daprtica ser tratado na IV parte deste documento. Quanto aos enfoques, achamosoportuno considerar vrios (fontes, critrios, dimenses etc.), mas sem dar a todos amesma ateno e o mesmo desenvolvimento.

    2.2.1. Fidelidade a Deus e ao homem

    78. A exigncia primeira e fundamental da Catequese a fidelidade ao plano de Deus.

    Essa fidelidade , antes de tudo, fidelidade ao Deus que se revela (CT 52)45 . E, por issomesmo, fidelidade ao movimento, pelo qual Deus entra na Histria dos homens e nelase encarna, pelo seu Filho. Da decorre que a Catequese chamada a levar a fora doEvangelho ao corao da cultura e das culturas (CT 53) 46 , isto , no somente aencarn-la na histria pessoal de cada homem, mas tambm na prpria Histria dahumanidade.

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    79. Fidelidade a Deus e ao homem, portanto. No como sendo duas preocupaesdiferentes, mas como uma nica atitude espiritual. A lei da fidelidade a Deus e dafidelidade ao homem: uma nica atitude de amor (CT 55) 47 .

    O papel da mediao entre Deus, que se revela em Cristo, e o homem, cabe Igreja. Porisso Puebla explicita a lei da fidelidade em: fidelidade a Jesus Cristo, Igreja, aoHomem. (Essa temtica ser desenvolvida na III parte deste documento).

    80. Insistimos sobre a necessidade de considerar os trs temas, no como separados ouestanques, mas como mutuamente implicados um no outro. Cristo ilumina o mistrio doHomem; a Igreja s se entende como caminho da realizao do Homem em Cristo. Noh fidelidade a um, sem fidelidade aos outros.

    81. Isto ser mais explicitado nos enfoques seguintes, que dizem respeito principalmenteao contedo da Catequese. Em sintonia com o interesse dos ltimos Papas e das grandesAssemblias Episcopais (Conclio, Snodos de 1974 e 1977, Medelln, Puebla), a nossapreocupao se dirige principalmente integridade e autenticidade evanglica docontedo formulado como resposta aos anseios dos homens de hoje.

    2.2.2. Fidelidade s fontes82. Fidelidade Revelao significa, para a Catequese, encontrar nela a sua fonte. sguas da Revelao divina que a Catequese conduz os homens, para aplacarem sua sedede verdade e de vida.

    83. A Revelao divina chega at ns atravs da Sagrada Escritura, dentro da Tradioviva da Igreja, recebida dos Apstolos. A Tradio Apostlica compreende, como afirma oConclio, todas aquelas coisas que contribuem para santamente conduzir a vida e fazercrescer a f do Povo de Deus. Assim, em sua doutrina, vida e culto, a Igreja perpetua etransmite a todas as geraes tudo o que ela e tudo o que cr (DV 8) 48 .

    84. A Catequese, portanto, deve haurir seu contedo na nica fonte da Revelao divina,utilizando sabiamente a Sagrada Escritura e todos os outros testemunhos da Tradioviva da Igreja, que fazem chegar at ns as guas vivificantes da Revelao. Aquifixamos alguns princpios que orientam no uso desses testemunhos (ou fontes daCatequese) (cf. CT n. 26-34. DCG n.45) 49 .

    85. 1 Um lugar proeminente e uma ateno especial devem ser dados SagradaEscritura, conforme recomenda repetidas vezes o Conclio Vaticano II (cf. DV 21, 24, 25;SC 24; PO 4) 50 . Na palavra da Escritura encontra alimento so e vigor santo aCatequese (DV 24) 51 .

    86. 2 No se trata simplesmente de tirar da Sagrada Escritura e da Tradio elementosfragmentrios, a serem inseridos numa Catequese de orientao diferente, mas derespeitar a natureza e o esprito da Revelao bblica. Falar da Tradio e da Escrituracomo fonte da Catequese j acentuar que esta tem de ser impregnada e penetradapelo pensamento, pelo esprito e pelas atitudes bblicas e evanglicas, mediante umcontato assduo com os prprios textos sagrados; e tambm recordar que a Catequeseser tanto mais rica e eficaz quanto mais ela ler os textos com a inteligncia e o coraoda Igreja, e quanto mais ela se inspirar na reflexo e na vida duas vezes milenria damesma Igreja (CT 27; cf. DV 12) 52 .

    87. 3 A Catequese tem, entre suas tarefas fundamentais, a entrega do Evangelho(traditio Evangelii). Ela deve abrir ao catequizando o livro da Sagrada Escritura, que tempor centro o Evangelho. Assim, a Catequese a verdadeira introduo leitura daEscritura, de que falaram os Bispos no Snodo de 1977 em sua Mensagem ao Povo deDeus (n. 9).

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    88. Para isso, todo roteiro catequtico dever incluir estmulos e orientaes com vista auma leitura da Bblia, segundo um plano adequado idade e s condies culturais doleitor. O plano deve favorecer uma leitura interessante, viva, com acesso direto aostextos, ajudando a compreenso da mensagem, assim como o Magistrio da Igreja ainterpreta (cf. DV 10b) 53 .

    89. 4 A iniciao leitura da Bblia, na Catequese, deve levar no s ao contato com aPalavra de Deus na leitura pessoal ou grupal da Escritura, mas principalmente compreenso da Palavra proclamada e meditada na Liturgia. No s pela riqueza de seucontedo bblico, mas pela sua natureza de sntese e cume de toda a vida crist, aLiturgia fonte inesgotvel de Catequese. Nela se encontram a ao santificadora deDeus e a expresso orante da f da comunidade.

    As celebraes litrgicas, com a riqueza de suas palavras e aes, mensagens e sinais,podem ser consideradas como uma Catequese em ato. Mas, por sua vez, para serembem compreendidas e participadas, as celebraes litrgicas ou sacramentais exigemuma Catequese de preparao ou iniciao (cf. DCG 25; CT 23)54 .

    90. Enfim, a Liturgia, com sua peculiar organizao do tempo (domingos, perodos

    litrgicos como Advento, Natal, Quaresma, Pscoa etc.) pode e deve ser ocasio privilegiada de Catequese, abrindo novas perspectivas para o crescimento da f, atravsde oraes, reflexo, imitao dos santos, e descoberta no s intelectual, mas tambmsensvel e esttica dos valores e das expresses da vida crist.

    91. 5 Uma expresso privilegiada da f da Igreja, professada desde os Apstolos, oCredo ou Smbolo Apostlico (cf. CT 28)55 . Na histria da Catequese, a entrega do Credo(traditio Symboli), seguida pela transmisso da Orao do Senhor (o Pai-Nosso), foiimportante. O Credo resume o contedo da f que a Igreja quer transmitir. Por isso,constitui um ponto de referncia seguro para o contedo da Catequese (CT 28) 56 .

    92. Alm disso, junto com o Pai-Nosso, a Ave Maria, os Dez Mandamentos e outrostextos bblicos e litrgicos mais usados, o Credo constitui uma frmula indispensvel paraque o cristo possa expressar sua f e seu louvor a Deus junto com a comunidade. Eledeve ser memorizado e aprofundado (CT 55) 57 .

    93. 6. Deus, porm, continua falando sua Igreja e, luz da Escritura e da Tradio, aIgreja se volta atenta para os sinais dos tempos e as indicaes atuais da vontade deDeus. Nessa mesma linha, a Catequese presta uma ateno pedaggica s condiesconcretas das pessoas e grupos a quem se dirige, e mais do que isso, tambm alimentaseu contedo na histria da Igreja, na vida dos santos, no sensus fidei do povo cristo(cf. LG 12)58 , na religiosidade e devoes populares, mesmo quando precisamos depurificao (CT 54)59 . De um modo especial, a Catequese, em nosso contexto, procuraesclarecer como convm realidades como a ao do homem para sua libertaointegral, o empenho na busca de uma sociedade mais solidria e fraternal e a luta pela

    justia e pela construo da Paz (CT 29; cf. EN 30-38; Medelln, Cat. 6) 60 .

    Podemos resumir tudo isso com as palavras da Mensagem ao Povo de Deus, do Snodosobre a Catequese (1977): Para qualquer forma de Catequese se realizar na suaintegridade, necessrio estarem indissoluvelmente unidos:

    o conhecimento da Palavra de Deus, a celebrao da f nos sacramentos, e a confisso da f na vida cotidiana (n. 11).

    2.2.3. Critrios de unidade, organicidade, integridade e adaptao

    94. No basta que o contedo da Catequese seja autntico, isto , que tenha sua origemna Palavra de Deus, que se comunica atravs da Bblia, da Liturgia, das diversas

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    expresses da Tradio viva da Igreja, dos sinais dos tempos e das situaes histricasque vivemos.

    preciso, tambm, para a solidez da educao da f e para edificar personalidades ecomunidades crists maduras, coerentes, que o contedo da Catequese seja unitrio,orgnico e integral.

    95. 1 A unidade do contedo da Catequese se faz ao redor da pessoa de Jesus Cristo. o CRISTOCENTRISMO da Catequese, procurado com insistncia pelo Snodo dos Bisposde 1977 e to ricamente ilustrado pelo Papa Joo Paulo II no captulo I da CatechesiTradendae (n.5-9) 61 .

    96. Cristocentrismo significa no s que Cristo deve aparecer na Catequese como achave, o centro e o fim do homem, bem como de toda a Histria humana (GS 10) 62 , masque a adeso sua pessoa e sua misso, e no s a um ncleo de verdades, areferncia central de toda a Catequese (cf. EN 22) 63 .

    97. O Cristocentrismo tambm exige que, na apresentao de temas ou na vivncia deexperincias particulares, a Catequese evidencie sua relao com o centro de tudo,

    Cristo.98. 2 Uma segunda exigncia a INTEGRIDADE do contedo. A Catequese deve levaro cristo a penetrar plenamente no mistrio de Cristo. Por isso procurar apresentarintegralmente sua mensagem. No poder acontecer de uma vez, mas sim segundo asaptides das pessoas e as condies do contexto em que vivem. A Catequese parte daapresentao mais simples, porm orgnica e integral da mensagem crist Mas no sedetm a. O contedo h de ser desenvolvido de forma sempre mais ampla e explcita(cf. DCG 38)64 .

    99. O Papa defende com vigor a integridade da mensagem como um direito dos fiis:Aqueles que se tornam discpulos de Cristo tm o direito de receber a Palavra da f nomutilada, falsificada ou diminuda, mas sim plena e integral, com todo o seu rigor e comtodo o seu vigor. Atraioar em qualquer ponto a integridade da mensagem esvaziarperigosamente a prpria Catequese e comprometer os frutos que Cristo e a comunidadeeclesial tm o direito de esperar dela (CT 30) 65 .

    100. 3 Outra exigncia, que explicita e complementa as duas primeiras, a daHIERARQUIA DAS VERDADES. Na formulao de sua mensagem, a Igreja semprereconheceu a prioridade de algumas: Isto no significa que algumas verdades pertenam f menos que outras, mas que algumas verdades se fundam sobre outras maisimportantes, e so por elas iluminadas (DCG 43) 66 . Tambm a Catequese deve levar emconta esta hierarquia: A integridade no dispensa do equilbrio, nem do carter orgnicoe hierarquizado, graas aos quais se poder dar s verdades a ensinar, s normas atransmitir e aos caminhos da vida crist a indicar, a importncia que respectivamentelhes compete (CT 31) 67 .

    101. 4 Pode-se tambm falar de ADAPTAO do contedo. Embora o critrio daADAPTAO deva ser aplicado, antes de tudo, linguagem e ao mtodo da Catequese,tambm o CONTEDO pode necessitar de ADAPTAO, inclusive por sua estreitaconexo com o mtodo. ADAPTAO significa levar em conta as condies histricas eculturais dos catequizandos. A integridade do contedo pode e deve ser comunicadanuma linguagem adequada aos homens de hoje: Pois, uma coisa o depsito ou asverdades da f, outra a maneira com que so enunciadas, embora o significado e osentido profundo permaneam os mesmos (GS 62) 68 . Mais do que isso: a Catequesedeve levar em conta a experincia e os problemas, a situao histrica dos homens a quese dirige: As situaes histricas e as aspiraes autenticamente humanas so parteindispensvel do contedo da Catequese (Medelln, Cat. 6; cf. tambm CT 29) 69 . estauma exigncia intrnseca da Revelao do Deus conosco, presente em nossa Histria.

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    102. A ADAPTAO pode exigir uma escolha ou acentuao de determinados elementos.Essa escolha ser vlida lembra o Papa na medida em que, longe de ser ditada porteorias ou preconceitos mais ou menos subjetivos e marcados por uma determinadaideologia, for inspirada pela humilde preocupao de coligir um contedo que devepermanecer intacto (CT 31) 70 .

    2.2.4. Dimenses da Catequese

    103. A Catequese pode ser vista, tambm, sob outro enfoque: o das dimenses.Assim podemos nos interrogar se a Catequese reflete as dimenses da histria dasalvao, que so a cristolgica (referncia a Cristo), a eclesiolgica (referncia Igreja)e a escatolgica (referncia ao dinamismo da Histria em direo ao Reino futuro edefinitivo).

    104. Nosso documento acentua, em diversas partes, a dimenso cristolgica eeclesiolgica. evidente. Mas tambm no est ausente a dimenso escatolgica, quenos lembra nossa condio de peregrinos que participam da construo da Histria e daluta pela libertao integral do homem, na esperana da plena realizao do encontrocom Deus face a face.

    105. A dimenso cristolgica no pode ser separada da dimenso trinitria. O mistrio deCristo se compreende em relao com o mistrio do Pai e do Esprito Santo.

    106. Nossa comunicao com Deus Pai, pelo Filho, no Esprito, se reveste de doisaspectos principais: bblico e litrgico. o que enfatizamos tratando das fontes daCatequese.

    107. Analisando a dimenso eclesiolgica, podemos destacar, dentro dela, diversosaspectos: comunitrio, vocacional, missionrio, ecumnico

    108. Finalmente, se considerarmos especialmente a pessoa do cristo, do homem, e suaatuao solidria na Histria, poderemos ressaltar as dimenses antropolgica,existencial, histrica, poltica, libertadora da Catequese. Considerado o dinamismocontnuo de todo o homem, que est sempre em busca do crescimento e sempre expostoa dificuldades e fracassos, pode-se falar tambm em dimenso permanente daCatequese, enquanto ela quer abranger todas as fases e ambientes educativos da vida dapessoa e as etapas da educao da f.

    109. A lista de dimenses que acabamos de mencionar fornece, em sntese, duasorientaes:

    1 indica que nem todas as dimenses tm o mesmo valor e a mesma importncia:umas so fundamento, e outras so conseqncias;

    2 sugere que, na prtica catequtica, cada comunidade ou catequista deve fazer suareviso e verificar se d a devida acentuao a cada uma das dimenses essenciais.

    2.2.5. Em mtodos diversos o mesmo princpio da interao

    110. Tambm a respeito da metodologia catequtica, fixamos alguns pontosfundamentais.

    Antes de tudo, incentivamos catequistas e formadores de catequistas a consagraremparte de seu tempo ao estudo dos mtodos mais adequados, evitando a tentao doempirismo, da improvisao, talvez do desleixo.

    111. Em segundo lugar, reconhecemos a existncia de uma pluralidade de mtodos,entre os quais uma diocese, uma comunidade ou um catequista, de acordo com as

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    respectivas autoridades, podem e devem escolher os que julgarem mais adequados. Avariedade dos mtodos um sinal de vida e uma riqueza (CT 51; cf. DCG 72) 71 .

    112. Lembramos, porm, que todos eles devero obedecer, com ampla possibilidade dediferentes aplicaes concretas, ao chamado princpio da interao (ou de interpelao).

    113. Pois, por tudo o que vimos anteriormente, na Catequese realiza-se uma inter-ao(= um relacionamento mtuo e eficaz) entre a experincia de vida e a formulao da f;entre a vivncia atual e o dado da Tradio. De um lado, a experincia da vida levantaperguntas; de outro, a formulao da f busca de explicitao das respostas a essasperguntas. De um lado, a f prope a mensagem de Deus e convida a uma comunhocom ele, que ultrapassa a busca e as expectativas humanas; de outro, a experinciahumana questionada e estimulada a abrir-se para esse horizonte mais amplo.

    114. O Papa Paulo VI faz aluso ao tema da interao entre Evangelho e Vida, quandoescreve: A Evangelizao no seria completa se no tomasse em considerao ainterpelao recproca que se fazem constantemente o Evangelho e a vida concreta,pessoal e social dos homens. E o Papa mostra o resultado positivo dessa interpelaorecproca: por isso que a Evangelizao comporta uma mensagem explcita adaptada

    s diversas situaes e continuamente atualizada, sobre os direitos e deveres de todapessoa humana e sobre a vida familiar, sem a qual o desabrochamento pessoal quaseno possvel; sobre a vida em comum na sociedade; sobre a vida internacional, a paz,a justia e o desenvolvimento; uma mensagem sobremaneira vigorosa em nossos dias,ainda sobre a libertao (EN 29; cf. Medelln, Cat. 6) 72 .

    115. Tambm o mtodo seguido em Puebla, o Ver-Julgar-Agir, quer levar a essainterao entre a experincia de vida, ou a viso da situao histrica, de um lado, e areflexo baseada sobre a doutrina da f, do outro, a fim de gerar uma praxe crist. Umcorreto entendimento do mtodo, ou seu aprofundamento, mostra que a f j estpresente no momento do VER e que categorias humanas entram no momento da reflexoe da avaliao luz da f (o JULGAR) (cf. MM 239; AA 29)73 .

    116. De fato, no seria correto recair em novos dualismos, que opusessem radicalmentevida e Evangelho, experincia e doutrina, humano e divino. Ao contrrio, deve serressaltada a unidade profunda do plano de Deus (cf. Medelln, Cat. 4; DCG 8) 74 . EmPuebla, os Bispos assinalam como aspecto positivo da Catequese atual; Um esforosincero para integrar a vida com a f, a Histria humana com a histria da salvao, asituao humana com a doutrina revelada, a fim de que o homem consiga sua verdadeiralibertao (Puebla 979) 75 . E apresentam um aspecto negativo ainda existente: No raro,cai-se em dualismos e falsas oposies, como entre Catequese sacramental e Catequesevivencial, Catequese de situao e Catequese doutrinal. Por no situar-se numa posiode justo equilbrio, alguns tm cado no formalismo e outros no vivencial, semapresentao de doutrina (Puebla 988) 76 .

    117. O Papa Joo Paulo II tambm rejeita a oposio entre ortoprxis e ortodoxia,convices firmes e ao corajosa, experincia vital e estudo srio e sistemtico damensagem de Cristo (CT 22) 77 . E conclui: A Catequese autntica sempre iniciaoordenada e sistemtica Revelao que Deus faz de si mesmo ao homem em JesusCristo; Revelao esta conservada na memria profunda da Igreja e nas SagradasEscrituras, e constantemente comunicada por uma tradio viva e ativa, de uma geraopara a outra. E tal Revelao no est isolada da vida, nem justaposta a ela de maneiraartificial. Mas diz respeito ao sentido ltimo da existncia, que ela esclarece totalmentepara a inspirar e para dela ajuizar criticamente, luz do Evangelho (CT 22) 78 .

    2.2.6. Lugares da Catequese

    118. O lugar ou ambiente normal da Catequese a comunidade crist. A Catequese no tarefa meramente individual, mas realiza-se sempre na comunidade crist. As formasda comunidade evoluem hoje rapidamente. Alm das comunidades como a famlia,

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    primeira comunidade educadora do homem, ou a parquia, lugar normal em que opera acomunidade crist, ou a escola, comunidade destinada educao, surgem, hoje emdia, muitas outras comunidades, entre as quais as pequenas comunidades eclesiais, asassociaes, os grupos juvenis etc. Essas novas comunidades oferecem umaoportunidade para a Igreja: podem ser fermento na massa, no mundo emtransformao; contribuem para manifestar mais claramente tanto a diversidade como aunidade da Igreja; devem mostrar entre si a caridade e a comunho. A Catequese pode,nelas, encontrar novos lugares onde inserir-se, uma vez que os membros da comunidadeso uns para com os outros proclamadores do mistrio de Cristo (Snodo dos Bispos de1977, Mensagem ao Povo de Deus, 13) 79 .

    119. importante ressaltar a novidade dessa orientao comunitria, em face daconvico infelizmente ainda muito difundida de que a Catequese se ria exclusivamenteassunto para crianas. Mesmo algumas das escassas iniciativas especficas da Catequesede adultos esto concebidas mais como prolongamento ou substitutivo da Catequeseelementar, infantil, do que como resposta s exigncias prprias de seu campo e de seusdestinatrios. Assim, o que acontece muitas vezes que o homem cresce, mas no ocristo.

    120. A Catequese comunitria de adultos , longe de ser apndice ou complemento, deveser o modelo ideal e a referncia, a que se devem subordinar todas as outras formas deatividade catequtica. Ela deve receber uma ateno prioritria em toda parquia ecomunidade eclesial de base (cf. CT IV parte) 80 .

    121. A famlia no somente destinatria ou objeto de Catequese. A famlia crist, pelagraa sacramental do Matrimnio tornada como que igreja domstica, tambm lugarpor excelncia de Catequese, especialmente na primeira infncia: Os pais devem serpara seus filhos os primeiros mestres da f (GE 2) 81 .

    122. De fato, a famlia, nos primeiros anos de vida, comunica aos filhos uma formaoreligiosa que se entranha profundamente em sua personalidade. Essa formao, quereflete geralmente as convices e prticas religiosas dos pais, pode e deve seraperfeioada com a ajuda da comunidade, de modo a se inspirar mais plenamente noesprito evanglico e eclesial.

    123. Os pais devem ser orientados no s para dar uma formao consciente eexplicitamente crist aos filhos, mas para eles mesmos crescerem em seu compromissocristo e na capacidade de iluminar pela f a realidade familiar e social, que sochamados a construir (cf. CT 68) 82 .

    124. O ensino religioso na escola um direito e dever dos alunos e dos pais. umadimenso fundamental e necessria de toda a educao, bem como uma exigncia daliberdade religiosa de cada pessoa, que tem direito a condies que lhe permitamprogredir em sua formao espiritual (cf. CT 69; Discurso de Joo Paulo II aosSacerdotes de Roma, 5.3.1981, 3; Documento SCEC, o leigo catlico testemunha da fna escola, 56) 83 .

    125. O ensino religioso nas escolas normalmente distinto da Catequese nascomunidades. Para o cristo, particularmente importante para conseguir a sntesecriteriosa entre a cultura e a f. No tratamos aqui dos problemas especficos do ensinoreligioso, que deve caracterizar-se pela referncia aos objetivos e critrios prprios daestrutura escolar (Joo Paulo II, Discurso de 5.3.1981, 3) 84 .

    Mas o ensino religioso levar em conta, nas devidas propores, o que aqui dito arespeito da Catequese em comunidade, com a qual mantm ntima conexo nosdestinatrios e no contedo. Devido ao pluralismo religioso da sociedade em quevivemos, no ensino religioso nas escolas dever prevalecer a evangelizao, cabendo aCatequese comunidade paroquial.

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    126. Como recomenda o Snodo dos Bispos de 1977, uma muito ateno especial deveser dada a grupos, movimentos e outras formas de vida associada , que hoje semultiplicam entre jovens e adultos. H uma florescncia de movimentos de leigoscatlicos com grande potencialidade catequtica, mas que precisam de maior estmulo eorientao para desenvolverem sria e sistematicamente uma Catequese renovada. Docontrrio, o risco de permanecerem num estgio de adeso entusiasta e emocional aocristianismo, sem amadurecimento adequado da f, que possa enfrentar duradoura evitoriosamente impactos e agresses das ideologias e contra-valores.127. Entre os recursos que devemos dispor e desenvolver a servio da Catequese, estoos modernos meios de comunicao grupais: audiovisuais, dinmicas de grupo, tcnicaspara reproduo e multiplicao de documentos, recursos da cultura popular: canto,msica, desenho, teatro, cordel etc. (cf. Puebla 1090) 85 .

    128. Tambm desejvel maior presena nos meios de comunicao social de massa (mass media), com vista informao religiosa e mesmo, quando oportuno, visando aformas de Catequese em sentido lato. Essa presena, que supe rigorosa preparaotcnica, no interessa s pelo nmero de pessoas que permite atingir, inclusive entreaquelas que no costumam freqentar as comunidades eclesiais, mas tambm pela

    possibilidade de incidir tempestivamente sobre a opinio pblica, provocando umareflexo sobre a atualidade.

    Essa presena responsabilidade especialmente das instituies eclesisticas de maioresrecursos e mais prximas dos centros de produo que alimentam os mass media. Todasas comunidades, porm, tm o dever de contribuir para a formao de uma conscinciacrtica em face dos meios de comunicao social (cf. Puebla 1088) 86 .

    2.2.7. Catequese segundo idades e situaes

    2.2.7.1. Educao permanente da f

    129. Sempre mais se impe uma educao permanente da f que acompanhe o homempor toda a vida e se integre em seu crescimento global. A comunidade catequizadoravelar zelosamente para que isso acontea de fato, estabelecendo uma organizaoadaptada e eficaz que empenhe na atividade catequtica as pessoas, os meios, osinstrumentos e os recursos financeiros necessrios (CT 63; cf. DGAE 1974-78, p.59; P998; Snodo de 1977, proposio 15) 87 .

    2.2.7.2. Catequese de adultos

    130. na direo dos adultos que a Evangelizao e a Catequese devem orientar seusmelhores agentes. So os adultos os que assumem mais direta mente, na sociedade e naIgreja, as instncias decisrias e mais favorecem ou dificultam a vida comunitria, a

    justia e a fraternidade. Urge que os adultos faam uma opo mais decisiva e coerentepelo Senhor e sua causa, ultrapassando a f individualista, intimista e desencarnada.

    Os adultos, num processo de aprofundamento e vivncia da f em comunidade, criaro,sem dvida, fundamentais condies para a educao da f das crianas e jovens, nafamlia, na escola, nos Meios de Comunicao Social e na prpria comunidade eclesial.

    Destacamos o peculiar valor do ano litrgico para uma Catequese contnua e integrada.Igualmente, so momentos privilegiados para a Catequese de adultos os grandesacontecimentos da vida: nascimento, matrimnio, enfermidade, morte etc.

    2.2.7.3. Crianas, adolescentes e jovens

    131. Durante muito tempo, a Catequese se limitou infncia. E mesmo assim, nohorizonte da preparao imediata da Primeira Eucaristia, numa linha quaseexclusivamente doutrinria. O papel dos pais e da comunidade, apesar de certo esforo

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    para uma viso mais ampla da Catequese infantil, ainda muito restrito. No sepercebeu suficientemente que uma das tarefas essenciais dos pais e da comunidadeeclesial criar ambiente e apoio para que a criana, o adolescente e o jovem caminhempara a maturidade na f.

    132. J em 1974, no seu documento Pastoral da Eucaristia, cap. VI, a CNBB insistia emque a preparao para a Primeira Eucaristia tivesse mais preocupao com a iniciao navida da comunidade, com a fraternidade crist e com a participao do cristo na missoda Igreja.

    133. evidente que o papel mais importante na educao da primeira infncia compete famlia. Em seguida caber comunidade paroquial e escolar colaborar com os pais nainiciao da criana e do adolescente na vida comunitria mais ampla, fazendo-osconhecer e experimentar Jesus Cristo que, com sua vida e Boa-Nova, inspira acaminhada do Povo de Deus, e lev-los a participar, como crianas e adolescentes, nessacaminhada.

    134. Na Bblia, a Catequese das crianas tem seu lugar tanto na comunidade quanto nafamlia: Quando amanh o filho te perguntar: Que significam estes mandamentos, estas

    leis e estes decretos que o Senhor nosso Deus nos prescreveu? ento responders aofilho: ns ramos escravos do Fara e o Senhor nos tirou do Egito com mo poderosa OSenhor mandou que cumprssemos todas estas leis e temssemos o Senhor nosso Deus,para que fssemos sempre felizes e nos conservasse vivos, como nos faz hoje. Seremos

    justos, se guardarmos os seus mandamentos e os observarmos diante do Senhor nossoDeus, como Ele mandou (Dt 6,20-25; cf. Dt 29,21-27) 88 .

    Era o direito e dever do pai de famlia em Israel dar aos filhos as razes dos prpriosgestos, de sua f, da caminhada do povo liberto por Deus.

    135. indispensvel a existncia de grupos de crianas, de adolescentes e tambm de jovens, que os preparem, atravs da orao, estudo, fraternidade, atividadestransformadoras, para integrar pouco a pouco a comunidade maior.

    Para isso, esses grupos infanto-juvenis devem sempre manter estreita ligao com acomunidade, realizando diversos servios na celebrao litrgica, nos crculos bblicos, enas demais atividades comunitrias.

    136. A formao litrgica constituir parte importante da iniciao das crianas,adolescentes e jovens na vida da comunidade crist. As preparaes para os diversossacramentos devem passar a ser momentos fortes dessa iniciao e perder seu carterepisdico e espordico.

    137. A criao de um ambiente educativo da f uma exigncia no s metodolgica,mas de contedo, especialmente em se tratando de crianas e jovens. Eles necessitamde apoio, acolhida, alegria, presena fraterna de educadores adultos, alm de um mnimode estruturao de suas atividades.

    O catequizando, criana e jovem, no participar do catecismo, da aula de ensinoreligioso, dos grupos infanto-juvenis somente para aprender religio, aprender asprincipais verdades da f, preparar-se para receber tal sacramento, mas sobretudo paraaprender a viver e atuar como cristos, agentes de transformao na sociedade brasileirade hoje. Por isso, importante que, j como adolescentes e jovens, realizem aestransformadoras no seu ambiente especfico.

    A Catequese dever realar tambm a dimenso vocacional das crianas e jovens.Dever ajud-los, desde cedo, a encontrarem a vocao a que Deus os chamou. Por isso,dever orient-los orao e reflexo diante de Deus, para que saibam escutar eentender os sinais da vocao que os levam a descobrirem qual o seu lugar na Igreja,seguindo o plano e a vontade de Deus (cf. Puebla 865) 89 .

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    138. No processo de educao permanente da f, tanto na famlia como nas outrasformas de estruturao da Catequese da comunidade crist, as crianas e jovens:

    em face de uma sociedade baseada no neo-positivismo e no ativismo, aprendero osenso do mistrio e o gosto pela orao e pelo silncio; em face da sociedade que tudo relativiza e apresenta como valor o que no o ,aprendero a ter senso crtico; em face da sociedade competitiva e de consumo, onde tudo se vende e se compra,aprendero a viver o senso da simplicidade, da gratuidade, a disposio de compartilhare a solidariedade libertadora entre os pequenos; em face da sociedade repressiva, aprendero a criatividade, a coragemempreendedora, a compreenso e o perdo; em face da sociedade massificante e escravizante, aprendero a liberdade, aresponsabilidade, que permitiro superar o egosmo, a rotina, o vazio, a manipulao, aexplorao; em face da sociedade pluralista, invadida por todo tipo de movimentos religiosos eideolgicos, aprendero a dar razes de sua identidade crist-catlica e de suaesperana.

    Aprendero, enfim, na experincia com o Senhor Jesus e na vivncia da comunidade, osvalores propostos nas Bem-aventuranas.

    139. Confrontando constantemente a prpria vida com a mensagem evanglica e com asformulaes da f, oferecidas pela Tradio viva da Igreja, a criana, o adolescente e o

    jovem aprendero tambm a exprimir sua f com palavras prprias. Assim, as frmulasantigas da Bblia, da Liturgia e do Credo adquiriro aos poucos vida e se tornaroexpresses privilegiadas da f (cf. CT 59) 90 .

    140. Ao invs de sobrecarregar a criana com todas as frmulas doutrinais de quepoder precisar na vida, melhor e mais pedaggico ensinar-lhe progressivamente essasfrmulas, principalmente textos bblicos e litrgicos, medida em que vai vivendo suaexperincia eclesial no grupo, e lev-la a continuar participando do processo catequtico,conforme as exigncias de uma Catequese permanente.

    141. A memorizao vir como necessidade de guardar carinhosamente o essencial daexperincia de Deus iniciada ou acontecida no processo catequtico. Trata-se, ento, deuma memorizao em nvel de f. Assim, os textos bblicos ou outros, as frmulas,sempre que vierem mente, viro carregadas de realidade contempladas, estudadas,vividas numa experincia de f.

    2.2.7.4. Excepcionais

    142. A presena de deficientes fsicos ou mentais numa famlia e comunidade eclesial asinterpela evangelicamente e exige delas uma real identificao com o Cristo sofredornesses seus irmos mais fracos.

    A famlia e a comunidade devero colocar disposio deles todos os recursosnecessrios para acolh-los como membros plenos de sua comunho, e para o possvelconhecimento de Jesus Cristo.

    Os prprios deficientes, como os pobres, as crianas e os jovens, tornam-se por sua vezevangelizadores da prpria comunidade que os acolhe.

    2.2.7.5. Outras situaes

    143. A comunidade deve prestar particular ateno e procurar meios adequados para irao encontro das necessidades catequticas daquelas categorias de pessoas que, por suacondio de vida, mais dificilmente podem participar da vida normal da comunidade

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    crist. Lembramos sobretudo migrantes, menores abandonados, ancios, motoristas,operrios com turno especial de trabalho, encarcerados, prostitutas, bias-frias etc.

    2.2.8. Misso e formao do catequista

    144. A tarefa da Catequese confiada, em primeiro lugar, a toda a comunidade eclesial,que, com toda a sua vida, contribui para a educao de seus membros na f. O Bispo, ecom ele os presbteros e diconos, sacramentalmente constitudos ministros do Cristo-Mestre, so os primeiros responsveis pela Catequese (cf. CDC Cn 773-777) 91 .A comunidade no dispensa a figura do catequistanidade, conhece bem sua histria esuas aspiraes e sabe animar e coordenar a participao de todos.

    145. Como bom comunicador, o catequista no fala sozinho. Ele desperta e provoca apalavra dos membros da comunidade. O catequista dedica-se de modo especfico aoservio da Palavra, tornando-se porta-voz da experincia crist de toda a comunidade. Ocatequista , de certo modo, o intrprete da Igreja junto aos catequizandos. Ele l eensina a ler os sinais da f, entre os quais o principal a prpria Igreja (DCG 35) 92 .Desenvolve um verdadeiro ministrio, um servio comunidade crist, sustentado porum especial carisma do Esprito de Deus.

    146. Quando catequiza, ele o faz em nome de Deus e da comunidade proftica, emcomunho com os pastores da Igreja. Anuncia a Palavra, denuncia o que impede ohomem de ser ele mesmo e de viver sua vocao de filho de Deus. Ajuda a comunidadea interpretar criticamente os acontecimentos, proporcionando-lhes a reflexo eexplicitao da f. Convida a comunidade a libertar-se do egosmo e do pecado e acelebrar a sua f na Ressurreio. De profunda espiritualidade, falar mais ainda peloexemplo do que pelas palavras que profere.

    147. tarefa do catequista apresentar os meios para ser cristo e mostrar a alegria deviver o Evangelho. Catequizar comunicar. O catequista comunica mediante otestemunho, a palavra e o culto. A comunicao autenticamente evanglica supe umaexperincia de vida na f e de f capaz de chegar ao corao daquele a quem secatequiza. Contudo, sabendo que a adeso dos catequizandos a Jesus Cristo fruto dagraa e da liberdade, estar atento a respeitar as decises e dificuldades de cada um.Assim tambm, o catequista participar do dilogo com as manifestaes religiosas quecaracterizam o nosso hodierno mundo pluralista dentro do mximo respeito pessoa e identidade do interlocutor (Puebla 1114) 93 .

    148. Em vista dessa formao permanente, a comunidade envidar todos os esforospara possibilitar aos seus catequistas, ao longo de seu compromisso, os seguintes dadosbsicos, que devero ser continuamente retomados e aprofundados: sua insero nacaminhada da comunidade eclesial; conscincia crtica da realidade scio-econmico-poltica, cultural e ideolgica, para aprender a ler nela os sinais de Deus; conhecimentoatualizado e experiencial da Bblia; fidelidade Tradio e ao Magistrio; viso dahistria da Igreja; vida de orao; cincias humanas que favoream de perto sua misso,como, por exemplo, psicologia, pedagogia, didtica, comunicao etc.

    149. Em funo disso, so importantes as Escolas Catequticas to insistentementesolicitadas pelos catequistas e recomendadas pelo Magistrio.

    150. A formao deve ter o cuidado de no somente desenvolver a capacitao didtica etcnica do catequista, mas tambm e principalmente sua vivncia pessoal e comunitriada f e seu compromisso com a transformao do mundo, a fim de que a atuao docatequista nunca esteja separada do seu testemunho de vida.

    151. O catequista deve viver sua experincia crist e sua misso dentro de um grupo decatequistas, que dar continuidade formao e oferecer oportunidades para a oraoem comum, a reflexo, a avaliao das tarefas realizadas, o planejamento e a

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    preparao dos trabalhos futuros. Assim, o grupo de catequistas expressa maisvisivelmente o carter comunitrio da tarefa catequtica.

    2.2.9. Textos e manuais de Catequese

    152. De acordo com essa viso da Catequese renovada, os manuais devero serorganizados, levando em conta os princpios acima expostos, as dimenses mencionadas,e tirando das fontes indicadas a iluminao da caminhada da comunidade.153. A comunidade crist primitiva teve como fonte de Catequese a memria de Jesusfatos e palavras, interpretada no contexto das Escrituras Sagradas do AntigoTestamento. Surgiram assim os escritos do Novo Testamento que, junto com o Antigo,lido agora luz de Cristo, forma as Escrituras Crists.

    154. Em primeiro lugar, recordamos que o uso dos manuais no deve substituir a leiturada Bblia, livro de Catequese por excelncia, mas orientar para ela. A prpria Bblia, coma extrema riqueza e variedade de gneros literrios, sugere que tambm em nossaCatequese haja recurso a expresses estticas e literrias diversificadas, que ofereamdiferentes caminhos de aprendizagem e mltiplas possibilidades de apresentao da

    mensagem.155. Os manuais catequticos, alm de apresentar textos bblicos selecionados, devemconter instrues sobre o uso deles, bem como elementos de introduo leitura daBblia e de formao de coordenadores de crculos bblicos.

    156. Espera-se de um bom texto de Catequese que, alm da clareza doutrinria,encaminhe satisfatoriamente as atividades educativas da f. Para essa finalidade, osplanos de atividades educativas e transformadoras provavelmente serviro mais do que oclssico catecismo e os chamados planos de aula.

    157. primeira vista, os planos de atividades transformadoras e educativas podemassemelhar-se aos planos de aula. Na realidade, porm, seus objetivos e mtodos, e suaprpria estrutura so totalmente diversos. So planos de atividades. Visam educaopara um novo modo de agir e viver, em que a reflexo e informao constituemelementos de um todo muito mais amplo. No esto presos a uma ordem fixa. Nofornecem nem supem respostas pr-fabricadas. Estimulam a criatividade, a buscacomunitria da experincia de Deus e a descoberta e vivncia de sua mensagem.

    158. Os planos de atividades sero repertrios, ora mais ora menos organizados, quecontm:

    estmulos para atividades transformadoras e pedaggicas; propostas de temas a serem refletidos e debatidos; formulaes bsicas da f; textos-fontes, extrados da Bblia, da Liturgia, dos Santos Padres e do Magistrioeclesistico.

    159. Ao lado da temtica catequtica bsica, os planos de atividades podero tambmconter diversos elementos teis complementares, como, por exemplo, elementos deintroduo aos sinais litrgicos, seleo de cantos e oraes que sirvam para exprimir avida da comunidade, elementos de histria da Igreja, poesia etc.

    160. Em todos os manuais, merecem especial ateno as ilustraes, que se destinamno apenas a enfeitar e agradar, mas a integrar e aprofundar a mensagem e a prpriaeducao religiosa do catequizando. Como os sacramentos e como todo sinal, a imagemrevela e esconde ao mesmo tempo. Aprender a ler essa imagem aprender a ler aHistria, a vida, a natureza, que so lugares da manifestao de Deus.

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    161. As consideraes que aqui fizemos e as conhecidas diferenas regionais e culturaisde nosso Pas nos induzem a pensar que um nico manual de catequese para todo oBrasil seria invivel, ou ao menos inadequado. Para conseguir, dentro da legtimadiversidade, uma unidade fundamental de contedo, oferecemos a seguir um temriobsico.

    III. PARTE: TEMAS FUNDAMENTAIS PARA UMA CATEQUESE RENOVADA

    162. Esta terceira parte uma proposta de temas fundamentais para a Catequese dehoje. Est baseada principalmente no documento de Puebla, cujos textos so muitasvezes transcritos literalmente ou resumidos, enriquecida por outros documentoseclesiais, principalmente os do Conclio, Medelln, Diretrio Catequtico Geral, EvangeliiNuntiandi, Catechesi Tradendae e outras encclicas do Papa Joo Paulo II, e documentosda CNBB.

    No se trata de um catecismo, mas um esforo de apresentar os grandes temas deuma Catequese renovada em nosso contexto. Este temrio no exaustivo nem nico,mas inspirador. Relembramos que o temrio fundamental a Bblia. No entanto, aHistria atual nos coloca alguns parmetros para a leitura e vivncia da Palavra de Deus

    que devem ser levados em conta.163. Entre as opes de base est a de fazer ligao entre f e vida, formulaes da f ecaminhada da comunidade. Esta interao nem sempre poder aparecer no documento,porque ela a grande tarefa e arte do agente de Catequese diante das situaesconcretas. Por isso, este temrio endereado sobretudo aos coordenadores deCatequese, autores de textos catequticos e agentes de Catequese que, evidentemente,devero adapt-los aos destinatrios quanto seleo dos temas, linguagem,metodologia, e principalmente encarn-lo na caminhada da comunidade.

    164. Eixo central que permeia toda a apresentao da mensagem o de COMUNHO-PARTICIPAO num processo comunitrio. Por isso, a parte eclesiolgica apresenta-sebastante desenvolvida; mas as outras dimenses centrais do documento de Puebla(fidelidade a Cristo e ao Homem) acham-se tambm muito presentes. A fidelidade aotexto de Puebla condiciona a linguagem que, em certas ocasies, no diretamentecatequtica. No entanto, procura-se falar a partir da comunidade e numa linguagemdescritiva.

    3.1. A situao do homem

    3.1.1. Vrias vises do mundo

    165. Todos ns temos uma viso do mundo. Para alguns, o homem deve aceitar tudopassivamente, pois tudo j est fatalmente determinado. Outros vem o homemreduzido a seus instintos, que lhe tiram toda a responsabilidade. Um terceiro grupoconsidera o homem como o resultado de suas relaes de produo ou das foraseconmicas. H os que colocam o Estado acima das pessoas, limitando assim a liberdadeindividual. Outros vem nas cincias a nica salvao do homem.

    166. Grande parte de nosso povo possui uma viso do mundo e do homembaseada numa crena em Deus manifestada em diversas expresses da religiosidadepopular. Muitas vezes, porm, uma f desvinculada da vida, ou uma f que se dizcrist, mas cheia de elementos estranhos ao cristianismo (cf. Puebla 308-315; 444-456;914; 342; 453) 94 .

    3.1.2. Como Jesus via o mundo

    167. Ns, cristos, temos uma viso prpria da realidade humana, que nos vem de JesusCristo porque nele se revela a dimenso mais profunda do Homem e do seu mundo.Jesus e os Apstolos colocavam Deus e o mundo em estreita relao.

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    168. Jesus mostra conhecer bem a realidade da vida. Nada que est a seu redor escapade seu olhar; diante das contradies e injustias, ele toma posio. Fala de Deus e deseu Reino a partir da situao de vida de seu Povo. Os acontecimentos, at trgicos, asrealidades da vida quotidiana, as coisas do mundo, servem de material com o qual eleconcretiza a mensagem do Reino e o mostra presente na Histria. Para Jesus, as coisastodas podem servir de sinal da presena ou ausncia do Reino. Por isso tem os olhosbem abertos para a realidade.169. Da mesma forma, os Apstolos e a Igreja tomam posio diante da realidadeconcreta, unindo profunda e criticamente f e vida.

    3.1.3. Como vemos ns a realidade?

    170. Assim como Jesus, nunca podemos separar a mensagem evanglica da Catequese,de nossa Histria; nem falar de Deus sem falar do homem. Nossos Bispos latino-americanos, sobretudo em Medelln e Puebla, o episcopado brasileiro, em inmerosdocumentos, nos ajudam a ver a realidade na perspectiva de Jesus e dos Apstolos.Assim, assumem os desafios vindos de nossa realidade contraditria e a confrontam com

    o Evangelho. Resultam da caminhos, colegialmente aprovados, para a encarnao doEvangelho na realidade de nossos povos.

    171. Toda a primeira parte do Documento de Puebla nos mostra que vivemos numprocesso de desenvolvimento, cujos benefcios so, entretanto, desigualmentedistribudos. Esta injustia se constata no s em campo econmico, mas tambm social,poltico e cultural. Tal situao faz surgir, em todos os nveis, o esprito de solidariedade,de comunho e participao em favor dos marginalizados, e um grande anseio delibertao, diante do subdesenvolvimento em que vive a maior parte de nosso povo.

    172. A viso da realidade apresentada de modo bastante completo no Documento dePuebla e nos documentos e pronunciamentos da CNBB, o que demonstra estar a Igrejaagindo a partir da realidade. Esta viso no meramente social e cientfica, masteolgica e pastoral. Do mesmo modo, cada catequista deve aprender a fazer a anliseda prpria realidade local.

    173. Diante dessa realidade, qual a mensagem de salvao que devemos anunciar comnossa Catequese? Para todos os homens, a Igreja tem uma s resposta: Cristo, oRedentor do homem. Ele no se substitui ao homem, mas se oferece como caminho daplena realizao humana e da vida eterna (Jo 8,32) 95 . Assim, essa libertao se tornaplenamente ao do homem e, ao mesmo tempo, plenamente dom de Deus, e o clamorsurdo dos que no tm voz aceito por Deus: Eu ouvi os clamores do meu povo porcausa de seus opressores, e desci para o libertar (Ex 3,7-8) 96 (cf. Puebla 1-2; 160-161;RH 1)97 .

    3.2. Os desgnios de Salvao de Deus: A verdade sobre Cristo, a Igreja e oHomem

    3.2.1. A verdade sobre Jesus Cristo

    3.2.1.1. Deus voltado para o mundo

    174. Deus, como nossa f professa, um Deus que est no meio de ns, que sempre semanifesta dentro de nossa Histria e de nossas vidas, procurando nos libertar paraformas mais humanas de vida. A plenitude desta vida a total comunho com ele.

    175. Sabemos da ao divina no curso da Histria, pelo testemunho das EscriturasSagradas: elas contm o Relato dos acontecimentos salvficos e Palavras profticas pelosquais Deus se revela e d sentido a toda a nossa Histria. Elas testificam que Deussempre fez e manteve Aliana com os homens. O Antigo Testamento a histria de

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    Israel, Povo escolhido para ser sinal e instrumento, para todos os povos, desta presenadivina dentro da Humanidade. O Novo Testamento narra o acontecimento mximo denossa histria da salvao, isto , a manifestao do prprio Deus na pessoa de Jesus deNazar, e seu prolongamento at o fim dos sculos atravs de sua Igreja vivificada peloEsprito Santo.

    176. Toda a Bblia a narrao, sob a inspirao do Esprito Santo, das experinciasconcretas de um Povo procura de Deus e da ao desse Deus se revelando a este Povo.Por isso, a Bblia, como principal fonte da f, deve ser lida no contexto da vida, porm luz da Tradio e do Magistrio, que so a garantia para ns de uma corretainterpretao (cf. DV 2-6; Puebla 372; 1001) 98 .

    3.2.1.2. A criao, incio do plano de salvao

    177. Tendo descoberto as maravilhas do Amor de Deus por ns em Jesus Cristo, acomunidade crist primitiva, tambm luz da experincia do Povo Eleito, professa que aprpria criao do mundo um grande ato do amor de Deus. A criao das coisasvisveis e invisveis, do mundo e dos anjos, o princpio da Histria da salvao.

    Deus criou o mundo e o homem para poder se doar, fazendo-o gratuitamente participarde sua vida e felicidade. Por isso, o plano de nossa salvao tem incio na criao: todosos homens so criados em vista do apelo que Deus lhes faz em Cristo para entrar em seuReino (cf. 1Cor 8,6; Cl 1,15-17; Jo 1,1-3; Hb 1,1-4; LG 2,3,7,48; GS 22; DCG 51; DV3)99 .

    178. Deus est sempre presente e atuante no mundo atravs de sua Providncia,respeitando, no entanto, a liberdade que ele mesmo nos deu; assim, aquilo que para ns to difcil, ou seja: cuidar e educar respeitando a liberdade pessoal, para Deus onormal, porque o amor, que em ns embrionrio, nele a essncia mesma do ser:Deus amor (1Jo 4,8) 100 , e prprio do amor doar-se livremente, expandir-se, gerarnovas vidas.

    179. Dos seres do mundo, s o Homem, criado imagem e semelhana de Deus, podeentrar em dilogo com ele e responder a seu apelo de Amor. Criando o mundo, Deus oconfia ao Homem, para que ele o aperfeioe com seu trabalho e o torne uma terrahabitvel, onde todos os homens possam viver em comunho fraterna. Sendo fiel aoplano de Deus e sua graa, o homem, com sua caminhada histrica, vai se dirigindopara os novos cus e a nova terra (Ap 21,1; 2Pd 3,13) 101 , que sero o cumprimento finalda criao (Rm 8,18-27) 102 .

    180. O poder e o amor de Deus, que se manifestou na criao, manifesta-se plenamentequando surge a nova criatura, o novo Ado, ou seja, na Ressurreio de Cristo (Ef1,19) 103 . As iniciativas de Deus para nos salvar, presentes em toda a nossa Histria eque culminam na Ressurreio de Cristo, ho de ter sua consumao no fim do mundo,quando haver novos cus e nova terra (cf. 2Pd 3,13) 104 .

    3.2.1.3. O homem criado maravilhosamente e decado

    181. Ao criar o mundo, Deus nos criou para que participssemos da comunidade divinade amor: o Pai com seu Filho Unignito no Esprito Santo. Fomos criados, pois, para acomunho e participao. O homem, eternamente idealizado e eternamente eleito emJesus Cristo, devia realizar-se como imagem criada de Deus, refletindo, em si mesmo ena convivncia com os irmos, o mistrio divino da comunho, atravs de uma atuaoque chegasse a transformar o mundo.

    A Bblia exprime esse pensamento atravs da imagem do paraso terrestre: o homem, namedida em que permanece fiel ao plano da criao, vive numa perfeita harmonia com oprprio Deus, com ele mesmo, com os outros e com a natureza. Ele o parceiro de

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    Deus, com quem conversa e passeia (Gn 3,8-13) 105 . Essencialmente iguais (Gn 2,23) 106 ,homem e mulher no so idnticos: so diferentes em vista da complementaridade.

    182. Deus bom, e o homem, criado para a comunho, bom tambm (Gn 1,31) 107 .Donde, ento, tanta violncia, dio, explorao e escravido, que vemos ao nosso redor?O homem, instigado pelo maligno, desde o incio rejeita o amor de Deus, no teminteresse pela comunho com ele, quer construir, prescindindo de Deus, um mundofundamentado nas relaes de dominao. Em vez de adorar ao Deus verdadeiro, adoraos dolos, obras de suas mos e realidade deste mundo; adora a si prprio. Por isso ohomem dilacera-se interiormente, rompe a unidade consigo mesmo, com Deus e anatureza. Penetram no mundo o mal, a morte, a violncia, o dio e o medo; amultiplicidade dos pecados torna-se a triste experincia dos homens e causa demultiforme sofrimento e desgraa.

    183. O pecado das origens continua atingindo toda a humanidade. Dentro desse contextose manifestam a natureza e os efeitos do pecado pessoal, pelo qual, agindo ciente edeliberadamente, violamos de fato a lei moral, ofendendo gravemente a Deus. atitudede pecado, ruptura com Deus que degrada o homem, corresponde sempre, no planodas relaes intersubjetivas, a atitude de egosmo, orgulho, ambio e inveja, que geram

    injustias, dominao e violncia em todos os nveis.Corresponde tambm luta entre indivduos, grupos, classes sociais e povos, bem comoa corrupo, hedonismo, exacerbao sexual e superficialidade nas relaes mtuas.Conseqentemente se estabelecem situaes de pecado que, em nvel mundial,escravizam a tantos homens e condicionam adversamente a liberdade de todos. Opecado destri nossa dignidade humana. A realidade latino-americana faz-nosexperimentar amargamente, at aos extremos limites, esta fora do pecado, que contradio flagrante com o plano de Deus.

    184. Ao narrar o pecado, a Bblia nos apresenta logo a promessa do Salvador, e este oaspecto principal de toda a narrao. Assim, a certeza fundamental, sobre a qual sealicera a doutrina do pecado original, no a informao histrica sobre fatosacontecidos na origem do mundo, mas a Revelao de que Cristo o Redentornecessrio de todos os membros da humanidade, sem o qual ningum encontra salvao(cf. Puebla 182-186; 328; DCG 62; GS 13) 108 .

    3.2.1.4. Jesus Cristo, centro do plano de salvao

    185. Deus realiza nossa salvao atravs de uma longa Histria. De fato, depois, dopecado, ele no nos abandona, mas atravs de um povo concreto, Israel, reinicia odilogo de salvao, realizando sucessivas Alianas, para que possamos construir omundo partindo da f e da comunho com ele. Fatos concretos da Histria deste povo,particularmente o xodo, mostram a mo poderosa de Deus Pai que anuncia, promete ecomea a realizar a libertao do pecado e de suas conseqncias.

    186. O centro dessa Histria de nossa libertao a figura de Jesus de Nazar, o Filho deDeus. A salvao que ele nos prope ultrapassa de muito a redeno do pecado; por elase cumpre o plano de Deus, que quer comunicar-se conosco em Jesus, com tal plenitudeque vai muito alm da expectativa humana, ou seja: em Jesus Cristo todos somoschamados a participar da prpria vida divina pelo Esprito Santo, e daquela cristificaodo cosmos e da Histria, que Deus pensou desde o incio do mundo (cf. Cl 1,15-20) 109 .De fato, a obra redentora de Cristo visa tambm a restaurao de toda a ordemtemporal, pois, embora a ordem espiritual e a ordem temporal sejam distintas,encontram-se, no entanto, intimamente ligadas no nico propsito de Deus, ou seja,fazer do mundo, em Cristo, uma nova criao que se inicia aqui na terra e tem suaplenitude no ltimo dia.

    Este plano de amor conserva sempre sua fora e se estende a todos os tempos. Aindaque pecador, o homem sempre permanece na nica ordem desejada por Deus, isto ,

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    atitudes e aes de Jesus demonstram ento que o Reino j chegou. Em Jesus, Deusestava presente vencendo o demnio e criando o homem novo num mundo novo.

    192. Infiltrando-se nas estruturas scio-religiosas, as foras do mal levaram muitoshomens rejeio de Jesus. Passando pela perseguio e pela dor, ele manifesta-secomo o Servo de Jav, de que fala o profeta Isaas (Is 53) 115 . Por sua radical fidelidadeao amor do Pai, chega abnegao total, rejeitando a tentao do poder poltico e daviolncia. E este o caminho que ele traa para seus seguidores: a doaodesinteressada e sacrificada do amor; amor que abraa a todos, privilegiando ospequenos, fracos, pobres, e congregando a todos numa fraternidade capaz de abrir novocaminho na Histria (cf. Puebla 191-192) 116 .

    3.2.1.5.4. O seguimento de Jesus e a converso

    193. O projeto de Deus, anunciado no Reino pregado por ele, implica uma transformaoradical no nosso modo de pensar e de agir como pessoas e como sociedade.

    medida que vamos seguindo o Cristo Ressuscitado, seu Esprito que habita a Igreja nosinspira a ficarmos mais parecidos com Cristo, compreendendo e atualizando em nossa

    vida os mandamentos da Lei divina, especialmente o Amor a Deus e ao prximo e afidelidade s orientaes de vida dadas pelo Mestre no Sermo da Montanha. Por isso, aconverso ao Reino um processo nunca encerrado, tanto em nvel pessoal quantosocial, porque, se o Reino de Deus passa por realizaes histricas, no se esgota nemse identifica com elas (cf. Puebla 193, 1221, 1159) 117 .

    3.2.1.6. O mistrio pascal

    3.2.1.6.1. A morte redentora de Jesus

    194. Num mundo que no se converte ao Reino, mas que se organiza contra ele, esteReino s pode se realizar pela via do martrio. Foi o caminho seguido por Jesus. Porfidelidade e obedincia ao Pai que o enviou e mensagem que pregou e viveu, Jesus seentregou morte livremente. Sumo Sacerdote, Vtima Pascal, ele encarna a justiasalvadora do Pai e o clamor de libertao e redeno dos homens. Torna-se assim overdadeiro Cordeiro que tira o pecado do mundo: morrendo destruiu a nossa morte,redimindo-nos do pecado (cf. Puebla 194) 118 .

    3.2.1.6.2. Sua ressurreio-exaltao

    195. Por isso o Pai o ressuscita, confirma-o Senhor e Filho de Deus e o coloca suadireita com a plenitude vivificante do Esprito. Ele constitudo Cabea do Corpo que aIgreja, Senhor da Histria e do mundo, sinal e penhor de nossa ressurreio e datransformao final do universo. Por ele e nele o Pai recria todas as coisas. Exaltado naglria, no se aparta de ns: continua a viver em nossas comunidades, principalmentena Eucaristia e na proclamao da Palavra. Est no meio dos que se renem em seunome e na pessoa dos pastores que envia e, num gesto de ternura, quis identificar-secom os mais fracos e mais pobres (cf. Puebla 195-196) 119 .

    3.2.1.6.3. Jesus Ressuscitado, Senhor da Histria

    196. No centro da Histria humana se implantou, assim, o Reino de Deus em Jesusressuscitado. A justia de Deus triunfou da injustia dos homens. Da Histria velha dohomem decado p