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COMISSÃO MARANHENSE DE FOLCLORE - CMF CORRESPONDÊNCIA COMISSÃO MARANHENSE DE FOLCLORE Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho Rua do Giz (28 de Julho), 205/221 – Praia Grande CEP 65.075–680 – São Luís – Maranhão Fone: : (0xx98) 3218-9924 As opiniões publicadas em artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, não comprometendo a CMF. BOLETIM DA CMF Nº 39 DIRETORIA Presidente: Maria Michol P. de Carvalho Vice-presidente: Roza Maria dos Santos Secretária: Nizeth Aranha Medeiros Tesoureira: Lenir Pereira dos S. Oliveira CONSELHO EDITORIAL: Carlos Orlando de Lima Lenir Pereira dos S. Oliveira Maria Michol Pinho de Carvalho Mundicarmo Maria Rocha Ferretti Roza Maria dos Santos Sérgio Figueiredo Ferretti Zelinda de Castro de Lima SUMÁRIO EDIÇÃO: Maria Michol P. de Carvalho Mundicarmo M. R. Ferretti Roza Maria dos Santos REVISÃO DE TEXTO: Antonio Regino de Carvalho Neto VERSÃO PARA A INTERNET: www. cmfolclore.u fma.br ISSN: 1516-1781 DEZEMBRO 2007 CNPJ 00.140.658/0001-07 Editorial ............................................................................................................................................................................. 2 O Maranhão em festa para o Rei Menino ........................................................................................................ 2 Maria Michol P. de Carvalho E venceram os Pastores ................................................................................................................................... 3 Maria da Glória Guimarães Correia A Festa de Santa Cruz – Revivendo sua história .............................................................................................. 4 Maria do Socorro Polary O poder feminino e representação da mulher no tambor de mina ..................................................................... 6 Mundicarmo Ferretti O Fuzileiros da Fuzarca no Carnaval de São Luís ............................................................................................ 9 Nívia Saraiva dos Santos e Roza Santos Raízes de um teatro litúrgico popular ........................................................................................................... 11 Walquíria Solange Almeida Janela do Tempo: É Carnaval! ....................................................................................................................... 15 Nonnato Masson Notícias ....................................................................................................................................................... 16 Roza dos Santos Resumos e resenhas ...................................................................................................................................... 18 Sergio Ferretti (organizador) Perfil Popular: Diomar Sousa Leite ............................................................................................................... 20 Márcia Teresa Mendes

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COMISSÃO MARANHENSE DE FOLCLORE - CMF

CORRESPONDÊNCIACOMISSÃO MARANHENSE DE FOLCLORE

Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho

Rua do Giz (28 de Julho), 205/221 – Praia Grande CEP 65.075–680 – São Luís – Maranhão

Fone: : (0xx98) 3218-9924

As opiniões publicadas em artigosassinados são de inteira

responsabilidade de seus autores,não comprometendo a CMF.

BOLETIM DA CMF Nº 39

DIRETORIA

Presidente: Maria Michol P. de Carvalho

Vice-presidente: Roza Maria dos Santos

Secretária: Nizeth Aranha Medeiros

Tesoureira: Lenir Pereira dos S. Oliveira

CONSELHO EDITORIAL:Carlos Orlando de LimaLenir Pereira dos S. OliveiraMaria Michol Pinho de CarvalhoMundicarmo Maria Rocha FerrettiRoza Maria dos SantosSérgio Figueiredo FerrettiZelinda de Castro de Lima

SU

RIO

EDIÇÃO:Maria Michol P. de CarvalhoMundicarmo M. R. FerrettiRoza Maria dos Santos

REVISÃO DE TEXTO:Antonio Regino de Carvalho Neto

VERSÃO PARA A INTERNET:www.cmfolclore.ufma.br

ISSN: 1516-1781DEZEMBRO 2007

CNPJ 00.140.658/0001-07

Editorial ............................................................................................................................................................................. 2

O Maranhão em festa para o Rei Menino ........................................................................................................ 2Maria Michol P. de Carvalho

E venceram os Pastores ................................................................................................................................... 3Maria da Glória Guimarães Correia

A Festa de Santa Cruz – Revivendo sua história .............................................................................................. 4Maria do Socorro Polary

O poder feminino e representação da mulher no tambor de mina ..................................................................... 6Mundicarmo Ferretti

O Fuzileiros da Fuzarca no Carnaval de São Luís ............................................................................................ 9Nívia Saraiva dos Santos e Roza Santos

Raízes de um teatro litúrgico popular ........................................................................................................... 11Walquíria Solange Almeida

Janela do Tempo: É Carnaval! ....................................................................................................................... 15Nonnato Masson

Notícias ....................................................................................................................................................... 16Roza dos Santos

Resumos e resenhas ...................................................................................................................................... 18Sergio Ferretti (organizador)

Perfil Popular: Diomar Sousa Leite ............................................................................................................... 20Márcia Teresa Mendes

Boletim 39 / dezembro 200722

Como ocorreu com outros núme-ros do Boletim da Comissão Ma-

ranhense de Folclore lançados no início doano, o de nº 39 apresenta grande diversida-de de temas. Volta-se para as manifestaçõesfolclóricas e eventos culturais ocorridosentre a Semana do Folclore, no mês de agos-to, e o dia de Santos Reis, em 6 de janeiro.Em 2008, como o Carnaval vai ser maiscedo do que de costume, não pode tam-bém deixar de dar atenção a essa manifes-tação tão importante da cultura popularbrasileira.

Nas vinte páginas do Boletim, temasreligiosos e profanos se alternam ou se mis-turam acompanhando o “clima” desse lon-go período. Michol Carvalho apresenta aprogramação de fim de ano da Superinten-dência de Cultura Popular do Maranhãocentrada no ciclo natalino, que em 2007contou com a participação de vários gru-pos evangélicos; Maria da Glória Guima-rães Correia dá destaque ao pastor e ao rei-sado que tem lugar naquele período; NíveaSaraiva dos Santos e Roza Maria dos San-tos cadenciam os 71 anos da batucada d´OFuzileiros no Carnaval de São Luís; Wal-quíria Almeida faz uma abordagem geralsobre o teatro litúrgico e Maria do Socor-ro Polary descreve a Festa de Santa Cruzrealizada fora da capital maranhense. Nes-se número Mundicarmo Ferretti, a partirde observações realizadas em terreiros demaranhenses, enfoca o poder feminino e arepresentação da mulher no tambor demina.

Em Resumos e resenhas Sergio Ferret-ti, com a colaboração de estudantes daUFMA ligados ao seu grupo de pesquisa –GP-Mina, fornece aos leitores do Boletimda CMF resumos de monografias sobrefolclore e cultura popular maranhense. EmNotícias Roza Santos relembra alguns even-tos de cultura popular mais significativosocorridos no período. Em Janela do TempoNonnato Masson reaparece com uma crô-nica interessante sobre o carnaval de 1940.E em Perfil Popular Márcia Teresa Mendesrevela os feitos do saudoso Diomar de Sou-sa Leite, um dos mestres do bumba-meu-boi, falecido recentemente.

Desejando que o ano de 2008 seja paratodos cheio de realizações, esperamos con-tinuar merecendo o apoio dos nossos cola-boradores e leitores, e prometemos estarde volta no mês de agosto, com novas con-tribuições sobre folclore e cultura popularmaranhense.

Editorial O MARANHÃO EM FESTAPARA O REI MENINO

Michol Carvalho1

“Felizes, felizes,Todos nós estamos!Chegou o Natal,Sim, vamos celebrar!”

Assim cantaram quatrocentas e oitentavozes de quatorze corais infanto-juvenis docentro e periferia da cidade de São Luís, fru-tos de projetos comunitários e incen-tivos sociais privados, no V Concertopara o Menino, fazendo a aberturaoficial da programação natalina do Pro-jeto Natal 2007, que acontece de 05 dedezembro de 2007 a 11 de janeiro de2008.

Esse projeto é promovido há maisde uma década pelo Governo do Esta-do, através da Secretaria de Estado daCultura, e sob a coordenação da Supe-rintendência de Cultura Popular, queconta hoje com a participação da Co-missão Maranhense de Folclore, o pa-trocínio da OI, Caixa Econômica Fe-deral, SESC, e Associação Comercialdo Maranhão, além do apoio da Fun-dação Municipal de Patrimônio e daCâmara de Dirigentes Lojistas.

A programação natalina é integra-da por um diversificado conjunto de ativi-dades: oficina, exposições, concurso, canta-tas, concertos musicais, cortejos, apresenta-ções de tradicionais grupos natalinos, presé-pios, árvores de natal, espetáculos teatrais,shows, cantores, bandas e grupos de cantogospel, apresentações em igrejas, entidadessociais, hospitais, penitenciaria e comuni-dades de São Luís, queimação de palhinhas...

Ressalta-se a IX Cantata Natalina, rea-lizada no sábado, dia 22 de dezembro, com oenvolvimento de treze corais: dez de adultose três infanto-juvenis que fizeram Concer-tos a partir das 16:30 horas, em nove igrejasdo centro histórico, rua grande e na PraiaGrande, intercalados por um cortejo, compersonagens da Cena Natalina, Banda doBom Menino e Coralistas. O encerramentodeu-se às 19:35 horas, na escadaria ao ladodo Teatro João do Vale, com um concertoconjunto de quinhentas vozes.

Há também de se destacar o I Canto deNatal Gospel, ocorrido no dia 14 de dezem-bro a partir das 18:00 horas, na escadaria daBiblioteca Pública Benedito Leite, em fren-te a Praça Deodoro – Centro, com apresen-tações de três bandas e três cantores evangé-licos. Além do Canto de Natal, no dia 19 dedezembro, onde marcaram presença cinco

corais e um coro: quatro evangélicos e doisda comunidade, que se apresentaram na Pe-nitenciária de Pedrinhas, Escola de Cegos,Feira da Praia Grande, Rodoviária de SãoLuís, Supermercados Mateus e nos cincoTerminais de Integração da cidade.

Outro ponto marcante da programaçãofoi a participação de vinte e dois tradicio-

nais grupos natalinos de Pastor, Pastoral, Reise Reisado, da capital e do interior do Estado,que chamaram atenção do público em corte-jos pelas ruas do centro histórico e apresen-tações em praças da Praia Grande, numa ex-pressiva mostra do seu saber, em homenagemao Nascimento do Menino Jesus.

E, chegando o mês de janeiro, seguindoa tradição, a partir do Dia de Reis – 06 dejaneiro – tem lugar a Queimação de Palhi-nhas, solenidade de cunho religioso e fes-tivo que completa o ciclo de rituais natali-nos, ocorrendo nas Igrejas, casas particula-res, terreiros e instituições que praticam adevoção de montar o Presépio. São, então,queimadas as murtas que o enfeitam, comladainha, rezas e cantos, bem como comese bebes característicos dessa época. Em 09de janeiro acontece o ritual no Museu His-tórico e Artístico do Maranhão e nos dias10 e 11 no Centro de Cultura Popular Do-mingos Vieira Filho, prenunciando no tér-mino de um ciclo já a vinda do próximoNatal:

“Adeus meu Menino.Adeus meu amorAté para o anoSe nós vivo for”...

1 Superintendente de Cultura Popular; Presidente da Comissão Maranhense de Folclore.

3Boletim 39 / dezembro 2007 3

Assim como verificado em outras capi-tais do país, em fins do século XIX, São

Luís se vê envolvida num “turbilhão de idéi-as novas”, no dizer de Sílvio Romero. No-ções de ‘civilização’ e ‘progresso’ pontuamos discursos doravante disseminados porsuas elites, que, tendo por base tais noções,esforçam-se para inculcar em sua gente aidéia de que os costumes que até então ti-nham sido passados de geração para geraçãoe desenvolvido entre ela um sentimento depertença eram “coisas de antanho”. Tal es-forço assume ares de cruzada contra os “ve-lhos usos”, sendo estes tema de numerososartigos em que aproveitavam para denunci-ar o “comportamento reprovado” da maio-ria de seus habitantes, suas visões de mun-do e atitudes diante da vida, uma vez quenão se enquadravam em suas idealizaçõesou devaneios. E por estranho que pareça,em relação ao usual, ao costumeiro, umaintolerância, tanto laica quanto religiosa,marcará aquele final de século.

Todo discurso é um discurso situado. As-sim, se determinados costumes que envolvi-am as coisas da religião passavam a ser servistos pela Igreja Católica como puras exte-rioridades, do ponto de vista laico passavama ser ridicularizados, principalmente quan-do eram cultivados pela gente comum, peloanônimo. Nesses casos, crítica ferina, carre-gada de preconceitos de gênero, classe e deetnia, era o que pumham em prática, comofarto número de matérias veiculadas pelosjornais bem o mostram. Dentre outros, ob-jetos dessa intolerância e mordacidade fo-ram as brincadieras de “Pastores”e de “Reis”,que percorriam becos e ladeiras, estradas ecaminhos para se apresentar em largos, pra-ças e casas de famílias que tinham presépioarmado, durante o ciclo das festas natalinas.

No que diz respeito aos Pastores, comoexemplo da referida intolerância, pode-secitar um artigo publicado no Jardim das Ma-ranhenses, no qual se lê:

“O dia do ano bom passou para mimalegre; ri-me a fartar ao ver uma por-ção de moleques trajados à sans-fa-çon, levando seu arrojo a ponto de seintitularem pastores e desentoaremà vista d’um Menino Deus cançõesaté indecentes, cheias de parvoíces.Contudo esse uso reprovado vai de-saparecendo entre nós.”3

E VENCERAM OS PASTORESMaria da Glória Guimarães Correia2

2 Dra. em História; membro da Comissão Maranhense de Folclore.3 Jardim das Maranhenses, São Luís, 02/01/1861.4 A Flecha, São Luís, 1879.5 Ibid.6 ABRANCHES, Dunshee. O cativeiro. Rio de Janeiro: [s.n.], 1941, p. 114.7 A Flecha, São Luís, 1879.8 Ibid.

Entretanto, registrando o fogo cruzadoem meio do qual os Pastores se encontra-vam, mas igualmente da resistência com queestes o enfretavam, tem-se um artigo publi-cado n’A Flecha nos ido de 1879. Em outrostermos, mesmo com toda a batalha enceta-da contra eles, não tinham deixado de ser aalegria de muita gente, de modo que, come-çando por caracterizá-los como “velhosusos,”diz seu autor que

“dois ou três meses antes do Natalcomeçam os ensaios nos ‘bairros ex-tremos’ da cidade, obrigando a vizi-nhança de onde eles se repetem to-dos os dias a calafetar os ouvidos, de-vido a péssima afinação com que elessão feitos”.4

Contudo, informação completamentediversa foi deixada por um seu contemporâ-neo, ao anotar que a preparação de uma “dan-ça de pastores” se dava com grande anima-ção, com a qual quase todos os moradoresdesses “bairros extremos” se envolviam, comoficou registrado na memória de muitas ope-rárias das fábricas do Anil e da Madre Deus.

Em seguida, tecendo considerações sobreo estado atual dos Pastores em São Luís, dizcom saudades de um tempo que não viveraque as origens dos “Pastores” encontravam-se nos salões da fidalguia da terra, informan-do que “a primeira casa em que se realizoupastores de meninos ou, antes, de meninas,foi o Colégio de N. Senhora de Nazareth”,ou seja, o instituto de educação feminina,que disputava com o Colégio Nossa Senhorada Glória, primeiro e único durante muitotempo, a preferência dos pais de família maisabastados quanto à formação de suas filhas.

Orientado uma percepção do presentefundada na glorificação de uma idade deouro perdida, mas que devia ser reatualiza-da, diz o autor da matéria que

“era uma coisa graciosa e interessantede ver, as gentis meninas, lindamentevestidas, cantando ao som da músicamagistralmente executada, versos com-postos expressamente por um dos nos-sos melhores poetas”.5

Porém, a seu juízo, os Pastores de agora nãopassavam de imitação grosseira daqueles, emque tinha tomado parte ninguém menos doque Gonçalves Dias, que andara fazendo ver-

sos para serem cantados por “senhorinhas”da melhor escola social da São Luís de mea-dos do século XIX. 6

Entretanto, ainda de acordo com o deso-lado cronista, gosto e costume tão refinadoshaviam se vulgarizado; haviam descido dosaltos dos sobrados e adentrado as casas dorés-do-chão, num processo de amesquinha-mento tal que, nos tempos atuais, era possí-vel encontrá-los “por toda a cidade, até naestação de bondes”. Dispensam comentári-os os preconceitos embutidos no dado, fun-dados, todavia, numa lógica bipolar que en-quadra e hierarquiza as práticas a partir deuma noção de cultura legítima, de popular ede erudito. Assim, norteado por essa pers-pectiva, ao elencar os diferentes tipos dePastores que então existiam, diz que os “pas-tores de moleques” eram aqueles que melhorrepresentavam esse desvirtuamento, infor-mando que eram constituídos por

“meia dúzia de garotos que andam duran-te o dia laçando cães ou jogando borroca,que reúnem-se à noite, vestem uns cal-ções de veludo desbotado e uns jalecosimpossíveis, cobrem a ‘carapinha’ com umchapéu cheio de fitas e tomam o título depeixe-frito, por causa da lanterna que vaina frente espetada num varapau”.7

É, portanto, sem olhar à sua volta e levarem conta as condições do meio em que seencontrava, ou seja, sem considerar o fossoque separava o real em que vivia daquele emque pensava/desejava estar, que ridiculari-za a criatividade da solução encontrada poresses pastores para superar as dificuldadespostas pela falta de iluminação pública, car-regando faróis para clarear seus caminhosno périplo noturno que faziam pelas casasem que havia presépio exposto. Com issoridicularizava também o costume de se anun-ciar a venda de peixe-frito por meio de umalanterna de luz vermelha pendurada à portada casa de quem fazia o referido comércio,muito provavelmente porque essa era umaatividade desenvolvida por pessoas comuns,em sua maioria mulheres.

Tocado pela intolerância, diz ainda que,nas casas em se apresentavam, podia-se vê-los

“gritando a plenos pulmões, com aconvicção íntima de que estão can-tando irrepreensivelmente, uns ver-sos originalíssimos porque afastam-se do metro e do assunto”.8

Boletim 39 / dezembro 200744

CONTINUAÇÃO

9 Ibid.10 Ibid.11 Profa. Universitária aposentada (UFMA – Dep. Psicologia).

Para conferir credibilidade aseu dito, descreve as cenas finaisde uma apresentação, quando ogalego, um dos personagens dessabrincadeira natalina, com umsaco na mão, recolhia a espórtulado dono da casa, enquanto os de-mais pastores, “berrando” seu can-to de despedida, diziam: “Adeus,adeus /Adeus, que me vou/Passepara cá a garrafa de licô.”9 Comefeito, numa terra em que polê-micas eram travadas por causa depontos e de vírgulas, para alguns,semelhantes versos não deixariamde paracer uma heresia, emborarepresentassem, mais que tudo,um eloqüente testemunho sobreo nível de instrução formal em quese encontrava a maioria de sua

gente e sobre a incúria de suaselites.

Por fim, censurando a bri-cadeira de Pastores porque re-presentaria a permanência dotempo do atraso no tempo doprogresso, chama atenção paraos entreveros que costumavamter lugar quando dois ranchosde “pastores de moleques” cru-zavam-se numa rua, pois, segun-do ele, os garotos postavam-se“uns diante aos outros, [...] agi-tando os pandeiros e batendoas castanholas, durante horas,”até que para “sem cederem opasso”, tomam a resolução de se-guirem “ambos no mesmorumo”,10 numa atitude típicada barbárie.

É, contudo, prazeroso regis-trar que, em detrimento do ar-senal com que contavam osarautos da construção de umaordem que pretendia ser novapreservando as demarcações edesigualdades sociais que carac-terizavam aquela que devia serexpurgada, saiu vencedor o anô-nimo, o “Zé povinho”, “o povi-léu” como eram tratados os ho-mens e as mulheres que defini-am o corpo e a alma da cidade.E os “Pastores” seguiram impá-vidos a alegrar as noites da am-pla maioria de sua gente, desdeque começavam os ensaios,abrindo um ciclo festivo que,se não fazia uma pausa na or-dem do mundo, renovava for-

ças, reforçava laços de solidarie-dade e sentimento de pertença,indispensáveis para o enfrenta-mento da vida, cumprindo, emextensão e profundidade, a suafunção de festa.

Porque souberam resistir àviolência que pretendia tirardas ruas a gente comum comsua brincadeira, é que foi noti-ciado a 07 de janeiro do ano dagraça de Deus de 1908 que “on-tem e anteontem” haviam sidomuito aplaudidas “as pastori-nhas da casa do sr. Cyrilo Rabe-llo”, destacando-se “as principaisfiguras: Guia, Pastora-mestra,gallego e pastor-mestre, de bellavoz, que muito alegraram osouvidos”.

Maria do Socorro Nogueira Polary11

O povo católico Itapecuruense vivencia mais uma

vez, neste mês de outubro, asemoções e razões da fé cristã aocelebrar, louvar e bendizer acruz da nossa redenção na tradi-cional “Festa da Santa Cruz”,uma festa religiosa, festa cristãque resiste ao tempo históriconão apenas pelo empenho deseus organizadores, mas tambémou sobretudo pelo enraizamen-to popular da sua religiosidade.Na verdade, é a fé que a despeitodo materialismo exacerbado domundo contemporâneo, não seperde no tempo. É a fé que, emeventos religiosos como esse,dentre tantos outros que tãobem conhecemos, como o deSão José de Ribamar, o Círio deNazaré em Belém do Pará e ago-ra também em São Luís conse-gue reunir pessoas, reunir devo-tos, pagadores de promessas, ho-mens e mulheres, hoje, mais doque nunca carentes de congra-çamento humano e da palavradivina.

É preciso reafirmar, no en-tanto, que na perspectiva de seusorganizadores os atuais como os

que já partiram, a Festa da Cruzse revela como se fora um man-dato onde compromisso e res-ponsabilidade são assumidoscomo uma missão evangelizado-ra, missão que parece ter sidodelegada no curso da história desuas vidas, sentido no qual, seconfunde com a história religi-osa da cidade que os viu nascer.Assim conseguimos justificar ofato de se manter vivo, um even-to religioso que continua lindoe emocionante para todos nósque pontificamos na nossa ve-lha casa, em todos os meses deoutubro para promovê-lo em co-munhão e em sintonia com aIgreja matriz da nossa cidade.

Agradecemos ao Cristo JesusCrucificado, pois o contágio dasemoções vivenciadas nesses diasda festa confirma o fortaleci-mento do sentimento de religi-osidade de pessoas, hoje, não tãomais conhecidas da família comono passado, mas que se reúnemaos pés da cruz onde uma pro-cissão de sentimentos faz andarlado a lado, devoção, ações degraças, orações e esperança num

mundo melhor, um sempre al-mejado mundo de paz, saúde,justiça e tranqüilidade.

Por outro lado, é precioso re-velar que, ao lado do sentimen-to de alegria que nos envolve, ale-gria da conquista, por mais umano de realização da Festa daCruz ou por mais um ano emnossas vidas, uma profunda sau-dade se manifesta. Vem a tonatodo um cenário e com ele, a his-tória da Festa da Cruz se faz pre-sente em nossas lembranças,confundindo-se com a própriahistória de personagens que aconstruíram no curso dos anos.

Na visão de Conchita, nossairmã mais velha, vêm a tona aslembranças da Festa da Cruz dasua infância nos anos de 1930.Num cenário ainda iluminadopor faróis ou bicos de lampari-nas, o largo da festa era já capri-chosamente decorado com ban-deirinhas e correntes de papel deseda e o cruzeiro com jarro deflores artificiais feitos pela dedi-cada Tia Eunice (Eunice Bezer-ra Pereira) responsável maiorpelo evento naquela época. Car-tas de juizes e pedidos de jóias

eram distribuídos com a antece-dência necessária e nos dias dafesta, um novenário naquelaépoca, a casa da nossa avó Rai-munda Sitaro Bezerra, a donaMariquinha Bezerra se enchiade frangos, galinhas, pintos, por-cos, perus, cofos de segredos, pés-de-cana, pães-de-ló, patos e bolosde tapioca para o leilão. “Eramdias venturosos”, diz Conchita.E acrescenta: cada “classe” tinhaa sua noite (a noite das moças, anoite dos rapazes, a noite dasprofessoras, a noite dos telegra-fistas...) e todos se esforçavampara que uma fosse melhor doque a outra.

A minha saudade é mais re-cente, mas já não é tão recente.

Ela me faz retornar à décadade 50, tempo da minha infânciaquando a Festa da Cruz já erapromovida por meu pai, o meusaudoso pai Francisco GarciaNogueira. Aí o cenário da nossacasa se confunde, para mim, como próprio cenário da Festa. To-dos ajudavam, mas era em tornodele, do respeitado pai da famí-lia, o Chico Nogueira, que todoo evento girava. Com a devida

5Boletim 39 / dezembro 2007 5

CONTINUAÇÃO

antecedência ele cuidava: da organização dolargo no espaço ao redor do altar-mor o queimplicava na construção das barracas feitasde palha para a venda de bebidas, comidas etira-gostos, na construção do coreto ondepontificava a Banda musical contratada paraanimação da festa e acompanhamento dosofícios religiosos, ladainhas, procissão e mis-sa, a construção do cercado para o leilão quetambém contribuía na arrecadação das re-ceitas, e ainda a localização do carrossel edas canoinhas. Era próprio dele, o empenhocada vez maior na bela ornamentação desseespaço, com pés de ariris, ligados por bandei-rolas coloridas, cuja confecção envolvia todaa família, crianças, amigos, vizinhos numaverdadeira festa de antecipação. Torna-seponto alvo das preocupações a ornamenta-ção da cruz de madeira que na noite de sába-do, véspera da festa era superposta aquelaexistente. Dolores, uma florista talentosa ealegre aqui estava todos os anos vindo deSão Luís e Zé Domingos, pai de Kelé era oeletricista responsável pela iluminação.

Tudo era feito com o máximo empenhovisando sempre uma maior beleza a cada ano,convindo lembrar a interessante e amigávelcompetição que existia entre os dois compa-dres o Chico Nogueira e o também saudosoAbdala Buzar promotores que eram das duasprincipais festas religiosas do Itapecuru: ada Santa Cruz, (em outubro), e a de São Be-nedito, (em dezembro). Esforçavam-se osdois para que a sua festa fosse melhor doque a outra. Beneficiava-se aí, naqueles tem-pos, o saudoso Padre José Albino Campos,pároco da cidade, muito presente no dia-a-dia desses eventos, orientador espiritual eamigo dos dois e de todos e a quem se apre-sentava a prestação de contas da festa, cujosaldo era sempre ofertado a paróquia.

Tudo contribuía para que a Festa daCruz, a nossa festa, se transformasse senãoa melhor, mas a mais simpática festa religio-sa da cidade. Eu e Zezé, participávamos detudo, especialmente na confecção do cor-dão de bandeirinhas, pegando jóias nas resi-dências em dia especial para tal, ato acompa-nhado por banda musical, todos com direi-to ao lanche pós-chegada com chocolate,pães-de-ló, bolos de tapioca, os gostosos bo-los de nossa querida mãe, a incansável HildaNogueira. Nossa casa aí, lembrava a da nos-sa avó, antes descrita: frangos, pintos, gali-nhas, patos, plantas, cachos de bananas,manga rosa, cofrinhos de segredo, porqui-nhos amontoavam-se nas dependências dacasa aguardando o leilão.

A passagem do velho Chico Nogueirapara o “andar de cima”, em 1972, fez comque a Festa da Cruz entrasse em declínio.

Por alguns anos nãoconseguimos reali-zá-la, mais tarde, foia dona Hilda que sefoi (1981). Vive-se apartir de então, umnovo momento dasua história, cuja re-tomada e manuten-ção passa por difi-culdades sobretudono que concerne àquestão da nossa re-sidência fora do Ita-pecuru. Por outrolado, o contexto dacidade é outro. Ocenário já não é omesmo e nem o dafesta consegue ficarcomo o de outrora.Mas, a missão con-tinua. Maria Hildaassume o posto dopai durante algunsanos com a ajuda deRibinha, o Noguei-ra, funcionário daReceita Estadualque aqui passou aresidir. Hoje, já éZezé que chega pri-meiro para abrir acasa e, com a ajudade amigos, comoEvaldo, anunciar afesta, distribuir con-vites, conversar com o pároco e tomar as pri-meiras providencias. Toda a decoração, cruze altar, é já trazida de São Luís. Maria Bo-geia, amiga da família, com o marido cuidado andor da cruz da procissão com esmero edevoção. Na retaguarda, todos da família,que no balanço entre perdas e ganhos, ficoumaior, contribuem de alguma forma, apesardos afazeres diferenciados e da conseqüen-te dispersão. Maria Hilda, a filha Tereza, ogenro Fernando, Conchita, Zezé, Socorro eos filhos Melanie, Polary Filho e Claudinho,Zé Nogueira, Ribinha e também Hildinhase quotizam para fazer face às despesas ne-cessárias.

E, de repente, com a chegada de todosno sábado, tudo parece voltar ao que eraantes. O clima nos faz lembrar o Natal. Tudoé festa. Tudo é alegria por mais uma Festa daCruz que se realiza. A programação reflete atradição: terço e ladainha cantada nos trêsprimeiros dias, missa e batizados na IgrejaMatriz no domingo, às 8 horas, e procissão,a tarde, com Missa Campal Solene na Praça

da Cruz. O colorido dos fogos de artifício, otradicional toque de sinos, o mais belo quejá ouvi, executado ao longo dos tempos porAranha e o Hino da Santa Cruz se sucedemna chegada da procissão, momento mais emo-cionante da festa. Com o ato solene da Sa-grada Eucaristia, ponto culminante do fes-tejo, encerra-se a festa. O estribilho do hinoque marcou a memória de todos nós é can-tado em uníssono por todos os presentes:“Triunfai Senhor Jesus. Que veio reinarpelas nossas almas. Triunfai Senhor Jesus,que veio reinar pela vossa cruz”.

Uma feliz Festa da Cruz desejo a meusconterrâneos. Espero que ainda por muitase muitas vezes nos encontremos, para jun-tos louvar e bendizer a Santa Cruz do Cris-to Redentor. Aproveito ainda para solicitarao jovem e simpático prefeito da nossa cida-de, o Sr. Junior Marreca, a inclusão da festano calendário de eventos turísticos da cida-de, para que juntos à Igreja e às associaçõesreligiosas consigamos fazer uma festa maiore mais bonita, com a participação de todosda nossa terra.

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INTRODUÇÃO

No Brasil, nas casas de culto de ma-triz africana mais antigas ou considera-das mais tradicionais, ao contrário do queocorre em muitos outros contextos soci-ais, a mulher tem posição bastante ele-vada e, há muito, se apregoa a existên-cia de um matriarcado em candomblésda Bahia e em terreiros de mina doMaranhão. Mas, como era de se espe-rar, o poder das mulheres nos terreirosnão poderia ser exercido numa socieda-de machista como a brasileira, sem al-guns conflitos e contradições. Ruth Lan-des, comentando esse problema declaraque Mãe Menininha do Gantois (BA)não teria se casado oficialmente porque,como mãe-de-santo, mandava e sendocasada teria de obedecer ao marido(LANDES, 2002, p. 200). E no tamborde mina as entidades espirituais femini-nas, além de numericamente inferiores,manifestam-se menos vezes do que asmasculinas e são representadas geral-mente como frágeis e infantis, como ve-remos mais adiante.

A existência de um matriarcado nosterreiros afro-brasileiros tem sido muitodiscutida. Na década de 1940 a polêmi-ca foi estimulada por trabalhos da pes-quisadora americana Ruth Landes sobrecandomblés da Bahia, baseados em tra-balho de campo por ela realizado entre1938 e 1939. Naqueles trabalhos a autorachama a atenção para o poder das mães-de-santo em terreiros nagô e para a inci-dência de pais-de-santo e de homossexu-ais masculinos em casas de caboclos que,no final da década de 1930, já atingiraem Salvador (BA) uma dezena.

Partidários da idéia do matriarcadonas casas de culto afro-brasileiras pro-curam explicar a sua existência remon-tando a tradições africanas: a mulherteria mais poder no Daomé; seria maisforte entre os nagô do que entre os ban-tu etc. (JOAQUIM, 2001, p. 126). Ou-tros procuram a explicação para aquelepoder das mulheres nos terreiros no pró-prio contexto brasileiro: circunstânciashistóricas e culturais ligadas à escravi-

PODER FEMININO E REPRESENTAÇÃODA MULHER NO TAMBOR DE MINA12

Mundicarmo Ferretti13

dão; existência de matriarcado nas fa-mílias negras e pobres da Bahia etc.(LANDES, 2002, p. 24; 350).

Apesar de se continuar afirmando ahegemonia das mulheres e a existênciade matriarcado nas casas de culto dematriz africana mais antigas e conside-radas mais tradicionais das capitais daBahia e do Maranhão, sabe-se que ali,há muito tempo, homens não só rece-bem orixás e outras entidades espiritu-ais, mas também chefiam terreiros demina e de candomblé. Em São Luís doMaranhão, fala-se da existência no sé-culo XIX de pelo menos dois terreiroscomandados por pais-de-santo: o deManoel Teus Santos, onde teriam sidoiniciadas a fundadora do Terreiro daTurquia (Mãe Anastácia) e a introduto-ra da mina em Belém do Pará (MãeDoca), e o terreiro de Pai César, quefuncionava próximo a Casa das Minas.Segundo Ruth Landes (LANDES, 2002,p. 326), na época de sua pesquisa, oshomens já eram maioria nas casas decaboclo de Salvador (BA), embora con-tinuassem sendo minoria nos terreirosnagô. E, em São Paulo, conforme depo-imento de Mãe Cidália à pesquisadoraMaria Salete Joaquim, há muito existemmais pais-de-santo do que mães-de-san-to (JOAQUIM, 2001, p. 107).

O aumento do número de homenscomo pais e filhos-de-santo, embora pos-sa abalar o poder das mulheres na reli-gião afro-brasileira, parece não abalar ahegemonia feminina nos terreiros, pois,como afirmou Cléo Martins em entre-vista também concedida a Salete Joa-quim, “a figura do pai-de-santo machãonão é difundida no candomblé, mas simo lado feminino do homem” (JOAQUIM,2001, p. 107). E, se considerarmos queos sacerdotes do culto vodum no Benim(África), independentes do seu sexo, sãodenominados vodunsi, vocábulo que nalíngua fon significa “esposa de vodum”,podemos pelo menos admitir a possibili-dade de uma matriz africana para a pre-dominância do feminino na religião afro-brasileira, mesmo em terreiros de che-fia masculina.

Na capital maranhense, embora des-de meados do século XX tenha crescidoo número de pais-de-santo do sexo mas-culino, o poder das mulheres continuousendo exercido, mesmo em terreirosabertos por homens, uma vez que fre-qüentemente nesses terreiros os pais-de-santo buscaram o apoio de mulheresmais velhas, de grande competência namina, oriundas de casas mais antigas,como ocorreu no Terreiro de Iemanjá, doconhecido Pai Jorge Itaci. E, como na-queles terreiros mais novos de chefiamasculina as mulheres ocuparam geral-mente as posições hierárquicas imedia-tamente abaixo dos pais-de-santo (deguia e de contra-guia), deveriam assumiro comando dos terreiros por morte deseus fundadores, como de fato ocorreuno terreiro de Iemanjá, após o falecimen-to de Pai Jorge, em junho de 2003.

Mas esse retorno do poder maior àsmulheres em terreiros de mina abertospor homens, não tende a ocorrer em to-dos os terreiros. Antes do falecimento dePai Jorge, em alguns terreiros fundadospor seus filhos-de-santo, como o de PaiFrancelino de Xapanã, em Diadema (SP)e o de Pai Airton, em São Luís (MA), onúmero de homens recebendo voduns eencantados nos toques de mina já erasignificativo e iniciados do sexo mascu-lino já estavam assumindo posições hie-rárquicas elevadas. Apesar disso, a exis-tência de pai-pequeno no Ilê Ashé OgumSogbô, de Pai Airton, tem causado ad-miração em São Luís, embora essa fun-ção tenha surgido ali da subdivisão dafunção de guia em pai-pequeno e mãe-pequena (LINDOSO, 2007).

Mas a situação vantajosa das mulhe-res nos terreiros afro-brasileiros do Ma-ranhão contrasta com o lugar destinadoàs entidades espirituais femininas notambor de mina e com a representaçãoda mulher em rituais realizados em ter-reiros da capital maranhenses.

Nas casas de culto de matriz africa-na de São Luís o “status” das entidadesespirituais femininas parece reproduzira ideologia machista dominante na so-ciedade brasileira, em especial no Nor-

12 Apresentado originalmente em mesa redonda na XIV Jornadas sobre alternativas religiosas em América Latina (Buenos Aires, 25-28/09/2007). Retoma discussãorealizada no IX Simpósio Anual da ABHR (Viçosa-MG, 1-4/05/2007).

13 Dra. em Antropologia; profa. Colaboradora do PPGCS-UFMA; membro da CMF.

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deste. Além das entidades femininasserem numericamente inferiores, comexceção do terreiro jeje (Casa das Mi-nas), incorporam menos freqüentemen-te do que as masculinas e permanecem“em Terra” por um tempo menor do queelas. Na mina muitas entidades femini-nas são crianças, como as tobossi, queeram recebidas na Casa das Minas pe-las vodunsis-gonjai (com iniciação com-pleta) como “sinhazinhas”14 (FERRET-TI, S., 1996; PARÉS, 2001), exibem ca-racterísticas infantis (fala tepe-tepe etc.)ou demonstram fraqueza e dependên-cia (FERRETTI, M., 1996).

Mas, ao apontarmos contradiçõesexistentes entre as representações das en-tidades espirituais femininas e a posiçãodas mulheres nos terreiros de mina deSão Luís, não estamos querendo negar aexistência de gradação nas suas carac-terísticas. Na mina maranhense nemtodas as mães-de-santo foram (ou sãoapresentadas como) tão fortes quantoAndreza (da Casa das Minas), Anastá-cia (do Terreiro da Turquia), Dudu (daCasa de Nagô), citadas por vários auto-res (SANTOS, M.R., 2001; SANTOS eSANTOS NETO, 1989; FERRETTI, S.,2002 e outros). E nem todas as entida-des espirituais femininas são represen-tadas como frágeis ou infantis. Existeuma gradação, tanto em relação ao po-der das mães-de-santo e das mulheres emterreiros de mina quanto aos traços apon-tados para as entidades espirituais femi-ninas. A entidade Maria Barba Soeira,conhecida como padroeira da mina e doterecô - tradição religiosa de matriz afri-cana hegemônica em Codó e no interi-or do Maranhão (FERRETTI, M., 2001)-, associada a Santa Bárbara, e a Cabo-cla Mariana, filha do Rei da Turquia,também conhecida como “patrona damarinha”, por ter, conforme a mitologia,organizado uma esquadra para lutar aolado de seu pai numa batalha contra oscristãos, dificilmente poderiam ser en-quadradas como dependentes, submis-sas, frágeis e infantis.

Mas, abstraindo aquelas diferençasde grau, podemos afirmar que existe umagrande contradição entre a posição dasmulheres e a representação das entida-des espirituais femininas nos terreiros demina da capital maranhense. Assim,

apesar do nome oficial dos terreiros nemsempre refletir suas crenças e valoresatuais, parece significativo que, numlevantamento de cerca de 120 casas deculto de São Luís (MA) realizado porMaria do Rosário e Manuel Santos (SAN-TOS e SANTOS NETO, 1989), enquan-to 60% dos terreiros de mina da capitaleram dirigidos por mães-de-santo, me-nos de 20% dos que têm nome de santoou de entidade espiritual tinham nomesfemininos (Iemanjá, Rainha Rosa, Chi-ca Baiana, Maria Bogi, Cabocla Ita,Nossa Senhora da Guia, Santa Bárba-ra). É possível que para aumentar ougarantir a participação das entidades fe-mininas os terreiros de mina abertos porafro-descendentes (brasileiros) tenhampassado a realizar anualmente para elasa Bancada, um toque especial (Tambordas Tobossas) e o Baião (ritual realizadopara entidades femininas não africanas,geralmente nobres ou de categoria soci-al elevada, em terreiros comandados porpais-de-santo que são também curado-res ou pajés)15. Como só temos notíciada realização do Baião em duas casas(Casa Fanti-Ashanti e terreiro de Pai Au-rílio, em Tajipuru) e esse ritual pertenceà linha de cura, freqüentemente consi-derada como de origem ameríndia, nãoestá sendo objeto de analise nesse tra-balho.

A Bancada das Tobossas (senhoras) éum ritual onde as entidades espirituaisfemininas ricamente vestidas, sentadasem banquinhos cobertos de renda oucom almofadas de seda e dispostas emtorno de uma mesa preparada no chãodistribuem, com a ajuda de auxiliares,doces, frutas e refrigerantes a crianças ea quem delas se aproxima. Envolve mui-ta fartura e muito luxo, no que pareceexpressar o apreço dos “mineiros” poraquelas entidades. É possível que a Ban-cada das Tobossas tenha se inspirado emrituais realizados no passado na Casa dasMinas na abertura do Carnaval (no En-trudo), com a participação das tobossi(“sinhazinhas”), ou em ritual realizadona 4ª Feira de Cinzas na Casa de Nagô,também denominado Bancada, em queas vodunsis em transe com suas entida-des espirituais masculinas ou femininasdistribuem alimentos torrados (milho,feijão, coco), frutas, doces e bebidas, es-

pecialmente para as pessoas mais ami-gas. Apesar dos voduns da Casa das Mi-nas também realizarem na 4ª Feira deCinzas, no ritual denominado Arrambãou Bancada, uma grande distribuição defrutas e de alimentos torrados, a distri-buição de doces, de bebidas licores érealizada apenas no dia seguinte, paraas pessoas mais ligadas ao culto, quandoas vodunsis distribuem também fumopara uso em defumações. Fala-se que nopassado as tobossi (“sinhazinhas”) costu-mavam também servir às suas visitasdoces caseiros e outros alimentos (aca-rajé).

O Tambor das Tobossas (senhoras) éum toque realizado em diversos terrei-ros da capital maranhense para entida-des espirituais femininas (como o da Fes-ta das Moças, do Terreiro fé em Deus,de Mãe Elzita) onde as homenageadas,depois de algum tempo “em Terra”, cos-tumam “dar passagem” a outras entida-des espirituais, geralmente caboclas.Esse ritual parece inspirado nas dançasrealizadas no passado pelas tobossi (“si-nhazinhas”), na Casa das Minas (anual-mente no Carnaval e nas festas grandes,quando ocorriam), antes da chegada dosvoduns, embora que ali ocorriam fora dostoques de mina, pois ali as tobossi delesnão participavam. Tal como ocorre naBancada, nesses rituais as entidades fe-mininas se apresentam ricamente vesti-das e se comportam de modo reservado.

A análise da Bancada e do Tambor deTobossa (de senhoras) chama atençãopara outros aspectos da representação damulher no tambor de mina. Naquelesrituais as “senhoras” aparecem, freqüen-temente, com bonecas, como as tobossi(sinhazinhas - meninas), apesar de nun-ca brincarem com elas, e não raramen-te exibem um comportamento infantil:fala “tepe-tepe” (como a observada pornós em Rainha Madalena, no terreiro dedona Santana), expressão fisionômicadengosa ou infantil (observada em Ie-manjá, no terreiro de Pai Jorge), dançadando pulinhos (observada no terreiro dedona Elzita, na Festa das Moças, e emDona Douro, rainha ou princesa turca,em toque realizado no terreiro da Tur-quia) etc. Sem querer negar a existên-cia desses traços em estereótipos de mu-lher da sociedade brasileira, interpreta-

14 O termo sinhazinha é usado para “gente fina”. Como lembra Câmara Cascudo, foi usado no passado por escravos no tratamento às filhas de seus senhores.15 Igual estratégia foi também adotada na mina em relação às entidades espirituais indígenas, raramente encontradas na guma nos toques, a não ser quando se manifestam

como caboclos (já aculturadas). Em São Luís muitas casas organizam também anualmente para elas uma festa ou ritual denominado Tambor de Índio, Borá ou Canjerê,onde se manifestam geralmente com modos considerados selvagens ou pouco civilizados, que os impossibilita de participar dos toques onde entidades caboclas sãotambém recebidas (ver FERRETTI, M., 1997).

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mos a sua presença nos referidos rituaiscomo decorrente da associação realiza-da em terreiros de mina da capital ma-ranhense entre as entidades femininasrecebidas naqueles terreiros como “se-nhoras” (donas da cabeça), denominadasgenericamente tobossas, e as tobossi daCasa das Minas - meninas recebidasnaquele terreiro jeje como “sinhazinhas”,por vodunsis gonjai (com iniciação com-pleta), fora dos toques de mina - antesda chegada ou depois da “subida” dosvoduns. Não é por acaso que em muitosterreiros as entidades femininas, além deserem genericamente denominadas to-bossas (termo que parece derivado detobossi), usam uma manta de miçangas,similar as que eram usadas pelas tobossi(“sinhazinhas”) na Casa das Minas.

A associação havida entre tobossas(senhoras) às tobossi (“sinhazinhas”) daCasa das Minas pode ser interpretadacomo decorrente da forte impressão dei-xada no meio religioso afro-brasileiromaranhense pelas tobossi (“sinhazinhas”)que há muito deixaram de ser recebidasna Casa das Minas (jeje)16. Mas a repro-dução pelas tobossas (senhoras) de ca-racterísticas infantis das tobossi (“sinha-zinhas”) deve ter sido facilitada por va-lores da sociedade patriarcal, pela ideo-logia machista que permeia vários aspec-tos da cultura brasileira e também porcontradições existentes no comporta-mento das mães e filhas-de-santo provo-cadas pela sua inserção nos dois mun-dos, o do terreiro, matriarcal, e o de fora,patriarcal. Assim, as representações dasentidades espirituais femininas tendema se ajustar ao modelo de comportamen-to feminino que as vodunsis (filhas-de-santo) deveriam adotar ou que adotamfora do terreiro e é possível que a repre-sentação ritual desse modelo atenue astensões provocadas pela prática de for-mas contraditórias de ser mulher.

Já a boneca, que aparece na Banca-da das Tobossas e às vezes também noTambor de Tobossa (de senhoras), embo-ra ela seja um brinquedo de criança(menina) e fosse usada pelas tobossi (“si-nhazinhas”) na Casa das Minas, pode serinterpretado como símbolo de feminili-dade (ou da maternidade), o que expli-caria porque as tobossas (senhoras) não

costumam brincam com ela, como as me-ninas e as tobossi (“sinhazinhas”)17. Nosterreiros de mina de São Luís a bonecaaparece também como símbolo de no-breza, tanto na mina, como na cura (pa-jelança, encontrada em vários terreirosde mina), como nos foi explicado no ter-reiro de dona Santana: “princesa dançacom boneca”. Mas essa associação suge-re mais uma vez a influência das tobossi(“sinhazinhas” – gente fina) da mina-jejeno perfil das tobossas dos terreiros aber-tos por brasileiros afro-descendentes,onde embora sejam cultuados voduns eorixás, são recebidas em transe princi-palmente entidades não africanas18.

É possível que o exercício de outromodo de ser mulher (o das tobossas/ se-nhoras) em terreiros de religião afro-bra-sileira, onde o poder das mães-de-santosempre se fez sentir, possa levar ao des-vio gradual desse padrão e contribuirpara que as mulheres dos terreiros acei-tem mais o modelo predominante nasociedade mais ampla – machista -, quetem sido tão responsabilizado pela infe-rioridade e exclusão da mulher em mui-tos contextos sociais brasileiros.

ConclusãoNa religião afro-brasileira, apesar da

progressiva participação de homens nasfunções sacerdotais e da multiplicação deterreiros chefiados por pessoas do sexomasculino, a mulher parece ser aindamaioria e o poder das mais velhas (geron-tocracia feminina) continua atuante,mesmo nas casas fundadas por homens.Em nossos dias o matriarcado dos terrei-ros mais antigos, exercido geralmente porpessoas idosas, com muito tempo de ini-ciação na religião, convive com outrasformas de poder em que mulheres, em-bora subordinadas a pais-de-santo exer-cem grande influência nos terreiros e ten-dem a assumir o seu comando por mortedeles. Como em São Luís a participaçãomasculina como médium de incorpora-ção continua bastante controlada e rara-mente ultrapassa a 10%, a presença de50% de homens no barracão, em transecom voduns e entidades espirituais nãoafricanas, causaria não só de admiração,mas também reprovação. E, como ocorrefreqüentemente em outras denominações

religiosas afro-brasileiras, a maioria dospais e filhos-de-santo da mina tem umlado feminino bem desenvolvido ou con-segue se integrar satisfatoriamente à es-trutura feminina da religião, o aumentodeles nos terreiros parece não abalarmuito a hegemonia do feminino.

O número e a posição das entidadesespirituais femininas no panteão do tam-bor de mina contrasta com a situaçãodas mulheres nos terreiros. Além daque-las entidades serem ali minoritárias,quando a mulher é maioria, são repre-sentadas geralmente como meninas, fi-lhas dos senhores (como as tobossi daCasa das Minas) ou, quando não são cri-anças, como portadoras de característi-cas infantis (fragilidade, dependênciaetc.). Essa incoerência pode ser interpre-tada como decorrente da contradiçãoexistente entre a posição da mulher nosterreiros e fora deles ou da forte impres-são deixada pelas tobossi da Casa dasMinas19. A representação da mulher nosrituais do tambor de mina é, portanto,influenciada pela ideologia dominantena sociedade brasileira (machismo), masmuitos traços apresentados pelas entida-des espirituais femininas no tambor demina só podem ser bem interpretadoslevando-se em conta sua origem africa-na (cultura daomeana) e peculiaridadesdo campo religioso afro-maranhense (in-fluência da Casa das Minas etc.). Assim,reproduz, em parte, a ideologia domi-nante na sociedade brasileira, mas apre-senta aspectos que só podem ser beminterpretados conhecendo-se o contex-to específico em que foi produzida. Aomesmo tempo em que o culto às tobossi(sinhazinhas - meninas) na Casa dasMinas e às tobossas (senhoras) em ou-tros terreiros tem a ver com o matriarca-do da mina, revela o machismo domi-nante na sociedade brasileira. Na minaas entidades espirituais femininas sãoobjeto de um culto especial, dispendio-so, mas são recebidas por um númeromenor de médiuns ou poucas vezes porano e, fora da mina-jeje, permanecem“em Terra” por pouco tempo. Isto signi-fica que, em última análise, deixam ocampo livre para a atuação das entida-des masculinas.

16 Como as tobossi só eram recebidas por vodunsis-gonjai e a Casa das Minas deixou de fazer iniciação completa, elas desapareceram da Casa em meados da décadade 1970 (segundo cálculos de Sérgio Ferretti).

17 Nos pejis cubanos a boneca é sempre encontrada com saias longas e rodadas, cobrindo as jarras de orixás femininos (negras, nas de Iemanjá, louras ou mulatas, nasde Oxum).

18 Como explica Câmara Cascudo, no Brasil, os escravos africanos chamavam sinhá as esposas de seus senhores e sinhazinha as suas filhas. Por extensão o termo sinhápassou também a designar “gente de boa família, bem educada, gente fina” (CASCUDO, 1988, p. 713).

19 Segundo dona Lúcia, atual chefe da Casa de Nagô, com mais de 100 anos de idade, só existia tobossi na Casa das Minas, a de Nagô tinha menina e não tobossi, que,ao que tudo indica, é uma categoria de criança, marcada por grande distinção.

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Embora não se possa dizer que naCasa das Minas (jeje) as tobossi (sinha-zinhas/meninas) estão acima dos vodunsnem que nos outros terreiros as tobossas(senhoras) são superiores às entidadesespirituais masculinas, existe maior exi-gência para recebê-las. As tobossi (sinha-zinhas/meninas) só eram recebidas naCasa das Minas por vodunsi com inicia-ção completa (gonjai) e nas festas e nasobrigações maiores ou mais “finas”. E nosterreiros mais novos não se costuma re-ceber as tobossas (senhoras) sem a reali-zação de despesas especiais com roupas,adornos e comidas.

A importância da mulher no tam-bor de mina como mãe de terreiro efilha-de-santo associada à grande im-pressão causada pelas tobôssis da Casadas Minas (jeje) podem ser apontadasentre os fatores responsáveis pelo or-gulho dos “mineiros” pelas suas “senho-ras”, pela existência nos terreiros deSão Luís de rituais especiais para elase pelo esmero com que esses rituais sãorealizados. Mas a representação damulher no tambor de mina, emboraapresente muitos traços em comum,varia de casa para casa. É de se espe-rar que apresente diferenças significa-tivas quando se compara: casas dirigi-das por mulheres com casas dirigidaspor homens; terreiros de mina abertospor africanas para voduns e orixás ouapegados aos modelos das Casas dasMinas e da Casa de Nagô com terrei-

O FUZILEIROS DA FUZARCANO CARNAVAL DE SÃO LUÍS

Nívia Saraiva dos Santos20

Roza Santos21

ros de mina abertos por afro-descenden-tes e comandados espiritualmente porentidades caboclas (“brasileiras”); terrei-ros de mina mais apegados aos modelos

das duas casas abertas por africanas comcasas que se definem como mina masque introduziram elementos do terecô,da umbanda ou do candomblé.

“Ai, ai , ai...Eu vou descer pra cidadeEu vou mostrar pra essa genteO que é sambar de verdade...”

(Caboclinho)

Em 1936, o Carnaval de São Luís eraessencialmente de rua. O entrudo era umabrincadeira de água colorida, que manchavaa roupa, de talco e Maizena, jogados semprenos olhos. As brincadeiras de rua eram o cor-so, cordões de urso, cruz diabo, fofão, che-gança, baralho, casinha da roça, blocos de

20 Graduada em História, Especialista em História do Maranhão, Professor do Ensino Público21 Especialista em Museologia e Vice-Presidente da Comissão Maranhense de Folclore.

ritmos e de samba e o tambor de crioula. Omaranhense tinha sua maneira própria debrincar o Carnaval.

Até à década de 1970, a grande concen-tração popular do Carnaval era na PraçaDeodoro e nas avenidas Silva Maia e Go-mes de Castro. O centro urbano de SãoLuís era todo decorado com figuras de reis-momos, palhaços, odaliscas, pierrôs, colom-binas, arlequins e zé-pereiras. O desfile co-meçava às quatro da tarde e terminava àsoito da noite.

Depois do desfile, a animação era nosbailes de clube: o Casino Maranhense, Líte-ro Recreativo Português e Jaguarema emque as mulheres da elite usavam máscaras efantasias de luxo; o SESI, clube social paramoça de família pobre; e no antigo CineÉden, hoje loja Marisa, na rua Grande, rea-lizavam-se bailes vesperais, nos dias de Car-naval, para a juventude pobre em geral.

Nos bailes populares de máscaras, uma dasmais expressivas manifestações do Carnavalde São Luís, as mulheres entravam sós ou

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em grupo. Eram freqüentados por operáriasde fábrica, empregadas domésticas, trabalha-doras em geral de uma camada mais pobre.

E... como eram as Turmas de Samba

“Silêncio vou ler um avisoÉ hora de começar a batucadaSilêncio, silêncio é precisoPra nossa escola descer bem controlada...”

(Cristóvão , Alô Brasil)

O canto de Cristóvão é uma espécie dechamada. As Turmas não tinham alas, era abatucada, na frente a baliza e logo atrás a rai-nha; depois foi incluído a porta bandeira e omestre sala. Geralmente as balizas eram meni-nas de sete, oito anos. As moças eram semprerainha. A baiana já é coisa da década de 1960.

Os instrumentos da batucada era o tam-bor de marcação, tambor de mão, pandeiro,ritinta - tambor pequeno batido com duasbaquetas, utilizado ainda hoje pelo Fuzilei-ros da Fuzarca - e as cabaças, pequenas e gran-des. E o pistom... o clarim... tocando paraanunciar quando saía à rua , algumas tur-mas utilizavam. A cuíca como instrumentode samba maranhense surge em 1946, quan-do Lousa, da Turma do Quinto, foi ao Rio deJaneiro e trouxe a novidade: no Rio se brin-cava Carnaval com tambor-onça pequenochamado cuíca. O tambor-onça, espécie decuíca grande, já era instrumento de bumba-meu-boi. É o que nos diz Luís de Françacompositor e um dos fundadores da Turmado Quinto (MEMÓRIA DE VELHOS, V.2,1997, p.35-36).

O Fuzileiros da Fuzarca

“Pra que chorarse o importante na vida é sorrirenxugue as lágrimase procure refletir...”

(Henrique Sapo)

Fundado em 11 de feverei-ro de 1936, nocentro de São Luís, o bloco Fuzileiros da Fu-zarca é sem dúvida um dos blocos de sambamais antigos do Carnaval de São Luís. Sur-giu em decorrência da criação do estilo musi-cal samba, criado em 1917, o grande transfor-mador do Carnaval carioca. Seguindo o esti-lo das primeiras Escolas de Samba do Rio deJaneiro, o bloco está entre os primeiros - de-pois foram chamados de Turmas de Sambas -de São Luís como: Mangueira, a primeira, em1929, no bairro João Paulo, Flor do Samba,no Desterro, e Quinto, na Madre Deus.

Segundo entrevistas realizadas em 2001e 2002 com Sandoval Silva, Nicanor dos San-tos, Vladimir Silva, componentes nos mea-dos de 1940, que se consideram a segundageração do bloco, O Fuzileiros foi idealizadopor um grupo de amigos: Bena, Dico, Hen-rique Santos, Evandro Sampaio, entre ou-

tros, e recebeu o nome Fuzilei-ros da Fuzarca, quando algunsdo grupo assistiram, em 1935,uma comédia norte americanano Cine Éden - atual loja Mari-sa, na Rua Grande - que inspi-rou o nome do bloco. O pelotãofoliônico possuía cerca de 30componentes, só a partir da dé-cada de 1980 com a participa-ção das mulheres é que esse nú-mero triplicou. A cor branca,imitando os marinheiros na-vais, com a morte da madrinhado bloco - acreditem o bloco ti-nha madrinha e era batizadoantes de sair para brincar - quetambém deixou de herança a fa-mosa Estrela Solitária, espécie deestandarte, foi juntado uma fita preta sim-bolizando o luto, o que causou contraste vi-sualmente magnífico à fantasia e as cores pre-to e branco permaneceram. A primeira moçaa ser rainha foi Benedita Valadão, porém oentrevistado Nicanor Santos não confirmaque ela tenha sido a madrinha do bloco.

O ritmo inconfundível dos Fuzileiros daFuzarca, a cadência sincopada, reproduzin-do o batuque do samba tradicional transmi-te a melodia hipnótica e sedutora dos carna-vais de outrora. A batucada é a essência dobloco, sua voz marcante ao som dos tambo-rins, cuícas, pandeiros e ritintas – instru-mento típico do samba tradicional, tamborpequeno, amarrado à cintura, tocado comduas baquetas – cadenciam o eco em unís-sono dos mestres da batucada.

Grandes compositores, baluartes madre-divinos: Henrique Sapo, Cristóvão Alô Bra-sil, Caboclinho, Pedro Pantaleão, RosenoAmaral, Bibi Silva – faziam música para oFuzileiros da Fuzarca, cantavam glorifican-do o bloco, registravam o cotidiano bairris-ta, sua riqueza rítmica, inspirações transmu-tadas hoje por Juarez Assunção e Zé Pivó,que sendo compositor mangueirense sem-pre esteve junto com os fuzarqueiros.

A batucada do Fuzileiros da Fuzarca, nes-ses 71 anos, sempre nos remete ao Carnavalde um tempo em que as turmas e os blocosdivulgavam as suas músicas nos cantos (es-quinas) à noite, em serenata. Em que umcompositor tocava na porta do outro e anotícia corria “fulano fez um samba assim...”e os homens se reuniam para mostrar um

samba novo com uma garrafa de grogue.Entre um canto e um gole de pinga iam pas-sando a música uns aos outros.

No Rio, as Escolas de Samba evoluírampara o grande espetáculo de passarela que éaté hoje. Aqui, em São Luís, é a partir dadécada de 1970 que as Turmas passam a sergrandes Escolas nos moldes carioca. A tele-visão chegando ao Maranhão - criação daTV-Difusora, em 1963 – e a transmissão viaEmbratel do Carnaval carioca trouxe paradentro da casa dos maranhenses imagensantes vistas apenas em fotos coloridas dasfantasias na revista “O Cruzeiro”, tão espe-rada após o término do período momesco.

Os vários sambas cantados no descer pracidade, no circuito do desfile, foram substi-tuídos pelo samba de enredo; a fantasia, úni-ca para todo o grupo, passou a ser desenhadapara contar a história do samba enredo; ondehavia baliza e rainha, surgiram passistas, mes-tre-sala, porta-bandeira, comissão de frente; aEscola é dividida em alas e o tema é transfor-mado em imagens utilizando fantasias, ale-gorias e adereços. As Turmas se moderniza-vam enquanto o Fuzileiros da Fuzarca já op-tara por brincar um Carnaval mais compro-missado com o samba tradicional.

O Fuzileiros da Fuzarca ainda provocasensações inebriantes em muitos foliões,compositores, ritmistas, passistas, da chama-da velha guarda, que rejeitando as mutaçõesem nosso Carnaval refugiam-se no Bloco,uma agremiação identificada pela alegria deviver e brincar o Carnaval.

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INTRODUÇÃO

Este artigo tem a intenção de discutir a evolução do teatro litúrgico

através dos tempos e sua relação com acultura, o teatro, o mito e a religiosida-de, tentando entender porque o ritualda Crucificação de Cristo mantém-seatualizado, apesar das reconfiguraçõesque tem sofrido na contemporaneidade.Inicialmente pagão, o ritual da Crucifi-cação adquiriu, por força do tempo, umarepresentatividade religiosa que o trans-formou de peça teatral popular em prin-cipal manifestação da fé e devoção ca-tólica no Ocidente. Um forte sentimen-to de religiosidade inicialmente ambi-entou o ritual junto aos primeiros come-diantes que teatralizavam a Crucifica-ção nas estradas e nos vilarejos e, depois,como expressão da própria Igreja Cató-lica que se apropriou do ritual comoparte do seu processo de legitimidadereligiosa.

É importante destacar que o ritualda Crucificação faz parte dos processossimbólicos de que o homem se utilizapara se relacionar consigo mesmo, comos outros homens e com o mundo, a par-tir de sua identificação com a naturezae com a cultura. Através do ritual, ohomem tenta reproduzir novas formassimbólicas de manutenção da religiosi-dade, como um processo de representa-ção de valores, comportamentos e regrasmanifestados nas várias áreas de expres-são artística como a dança, os gestos, amúsica e o teatro.

O DRAMA CÔMICO,LITÚRGICO E SAGRADO DO

TEATRO MEDIEVAL

As representações mais antigas dosúltimos dias da vida de Jesus Cristo eque deram origem às paixões estão liga-das ao registro dos mimos cristológicos23,uma espécie de teatro mimético zom-beteiro, careteiro, cujos atores,usandoroupas comuns e possuidores da arte defazer rir, executavam suas comédias etragédias na beira ou mesmo nos palcos

RAÍZES DE UM TEATRO LITÚRGICO POPULARWalquíria Solange Almeida22

improvisados das estradas, ridicularizan-do, com gracejos e pilhérias, os temastrágicos do cotidiano. Nessa época, fi-guras com máscaras de asnos eram pen-duradas à cruz, numa forma de ridicu-larização grotesca de pessoas comuns,uma exposição daquilo que era conside-rado como irrelevante para o poder ro-mano. Assim, em geral, escravos e prisi-oneiros cristãos eram os escolhidos do te-atro para se transformarem em símboloscômicos de escárnio e sátira, mantendodessa forma, a existência do teatro.

Em Constantinopla, as enormes edeslumbrantes cerimônias da corte im-perial, elaborada pela Hagia Sophia,com suas procissões e vestimentas esplên-didas, suas aclamações e cânticos antí-fonas, atendiam o gosto popular pelaação teatral e, durante mil anos, da An-tiguidade à Idade Média, a cidade foi oprincipal centro de trocas culturais en-tre o Oriente e o Ocidente em questõesde fé e teatro, entre o coração dionisía-co do drama Ático e o Te Deum da re-presentação da igreja.

O TEATRO LITÚRGICO E OCATOLICISMO POPULAR

Quando Constantino se converteu aoCristianismo em 384 d.C, a fé cristã foiestimulada na medida em que o catoli-cismo se consolidava como religião ofi-cial do império, ao mesmo tempo emque os demais cultos passaram a ser per-seguidos, sobrevivendo posteriormentenas zonas periféricas dos centros urba-nos como religiões paganistas. A fé ex-pressava-se no homem pela busca de umconhecimento verdadeiro, já que o es-pelho de suas verdades e crenças estavapresente nas representações do seu coti-diano, que nessa época misturava-se afestas pagãs e crenças comungadas e es-truturadas pela Igreja Medieval. Assim,a consolidação do novo Estado cristãoaconteceu em meio a conflitos e pestes,mas também influenciada pela drama-turgia cômica e canônica, temente aDeus e ao Diabo.

Desse modo, o teatro tradicional, ba-seado no modelo cristão medieval, é her-dado diretamente da música e do teatrogrego, talhando a partir daí a sua pró-pria liturgia. É com esse cristianismojudaico de caráter rural que as primei-ras representações de um Cristo crucifi-cado vão tomando forma no meandrodessas comunidades e de seus sentimen-tos martirizados. Daí por diante, a dis-tinção entre a religião oficial cristã, sus-tentada pela hierarquia do poder políti-co, e a cristandade popular, definiu asformas próprias de expressão do teatromedieval, que foram sendo sedimenta-das na cultura universal de acordo comas especificidades históricas de cada lo-cal. É o teatro alemão ao ar livre deOberammergan que sugere, pela primei-ra vez, a construção, na região, de umareprodução da cidade onde Jesus passouos últimos dias de sua vida.

De acordo com a interpretação figu-ral cristã proposta por Oberammergan24

na Idade Média, surge um novo concei-to de dramaturgia medieval. O teatrodistingue-se por uma dramaturgia cômi-ca, litúrgica e profana, cuja primeirapeça, escrita por volta de 1634, revelauma paixão de Cristo, já com as carac-terísticas seculares conhecidas atualmen-te. A peça revela “o maior ato de amorque a humanidade já conheceu e a par-tir de tamanho sofrimento a morte a res-surreição e a paixão, narrados passo apasso a partir dos principais momentosde sua vida.”(Oberammergan 1998,p.103) . Esse acontecimento encontra-se situado no período compreendidoentre os séculos XV e XVIII, na mesmaépoca em que aparecem as modalida-des litúrgicas originárias da igreja como,por exemplo, a missa, os ordinários, ossalmos e os oratórios25, entre outros.

Essas modalidades passaram a seradaptadas ao longo dos séculos, trans-formando o teatro litúrgico em um tea-tro mais popular e fazendo surgir novasmodalidades de dramaturgia como osmilagres, as comédias italianas e as co-médias francesas clássicas, fortalecendoum conceito de teatro medieval litúrgi-

22 Curso de especialização em Jornalismo Cultural.23 Representavam os condenados à morte numa teatralização em que a parodização era o ponto alto na representação e ridicularização de povos cristão, estes até então

escravos, vivendo sob o jugo da propagação do Império Romano.24 Oberammergan, autor alemão de obras clássicas da literatura cristã, entre elas destaca-se uma peça teatral sobre a Paixão de Cristo, no ano de 163425 Missas, oratórios ordinários e salmos, são linhas gerais dadas a liturgia divididas em orações e cânticos.

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co e profano, sob as bases de um teo-centrismo maniqueísta e sempre pauta-do pela lutas do bem contra o mal, res-saltadas por suas figuras alegóricas. Asprimeiras representações da crucificaçãodão-se desde os primeiros dias do cristi-anismo, quando há a necessidade dapropagação de um redentor ou messias,que sofrera sem reclamar a condenaçãoda morte mais ignominiosa, a mais hu-milde entre todas as mortes, destinada,em geral, a criminosos.

A memória e consciência de um Cris-to sofrido faz parte de uma pedagogiatradicional da salvação pelo sofrimento,em que o aprendizado religioso segue àrisca regras e dogmas da Igreja represen-tadas em uma cristandade que já explo-rava o tema do sofrimento e do pecado,utilizando-se de expressões com carátersimbólico na intenção de recriar elemen-tos e diálogos, estabelecendo uma con-formidade existencial da religiosidade,uma expressão de devoção muito indivi-dual.

A diversidade dos formatos dramatúr-gicos conhecidos como autos, mistériose paixões mantém o caráter sagrado doteatro, dado que é na missa que se origi-nam, esses modelos, explicando de for-ma didática e ilustrativa as passagens daBíblia e, em especial, a do Novo Testa-mento e dando início às primeiras dra-matizações e parodizações litúrgicas26.É esse modelo, ao mesmo tempo litúrgi-co e profano, que chega ao Brasil no sé-culo XV, adotando, no país, traços de umcatolicismo popular próprio e mais pró-ximo à cultura popular.

O TEATRO RELIGIOSONO BRASIL

Pode-se dizer que o teatro brasileironasceu sob a forma de uma propagandapolítico-religiosa: a catequização indíge-na, que manteve com fidelidade os mi-tos e imagens simbólicas trazidas do con-tinente Europeu misturados às formassimbólicas dos nativos, resultando narecriação desse simbolismo miscigenado.As representações iniciais de um teatro-religioso vindas de Portugal possuíam

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grandes efeitos cênicos, mágicos e im-previstos que as primeiras missões Jesuí-ticas souberam aproveitar no seu processode evangelização. Assim, rapidamenteos Jesuítas aproveitaram os dotes natu-rais da população local, educando-a, porexemplo, para a música sacra, já tradu-zida para a língua local, aliando tam-bém o ritmo e a dança, que já se mani-festavam ali, juntamente com os misté-rios da religião, misturados aos diversoselementos tirados da mitologia como os“ahanguás ou diabos”. No cultivo dos ro-teiros foram se fixando os diálogos dra-máticos e as formas pastoris, que já apre-sentavam recursos evangelizadores sim-bolizando santos e demônios.

Em meio à expressividade de ele-mentos hibridamente míticos, criou-seum estado emocional íntimo comum atodos, nascido de uma sociedade evan-gelizada, despertada pelo nascimento deuma criança semidivina e de um homemsemideus que morre na cruz para salvaro mundo dos pecados. É essa relaçãofeita de simbolismos que permite a ree-laboração de formas pagãs e religiosaspara modelos teatrais profanos, numaintensidade atemporal não linear, cujarepresentação evoca numa sugestão in-dividual ou coletiva: a esperança do nas-cimento e da morte sempre presente nodesejo humano.

No Maranhão é possível que esse te-atro religioso também tenha vindo comos primeiros Jesuítas que aqui aportarampor volta de 1622, também com a mis-são de catequizar, o que possivelmentenos leva a crer que as primeiras repre-sentações da Paixão de Cristo surgemnos interiores e nos arredores das primei-ras igrejas maranhenses. Esse tipo demanifestação mantém-se ao longo dostempos, sofrendo aqui e acolá pequenasalterações, principalmente em relaçãoao calendário religioso. É sabido que apartir das décadas de 50, 60 e 70 do sé-culo XX, essas representações se popu-larizaram em toda a capital, espalhan-do-se pelos bairros e aproximando maisainda o indivíduo de sua fé católica,num processo de reatualização constan-te entre o sagrado e o profano.

A ATUALIDADE DAS PAI-XÕES: ENTRE O PASSADO

E O PRESENTE

O teatro da Paixão de Cristo atraves-sou os séculos e chegou aos tempos atu-ais reconfigurado em inúmeras formasdramatúrgicas, mas mantendo o mesmoimpacto emocional sobre os fiéis, sobre-tudo durante a Semana Santa, com oconsentimento integral da Igreja e aparticipação da população. A relaçãomútua entre fé, devoção e fidelidade àreligião é o efeito mais direto da experi-ência litúrgica que somente o sofrimen-to de Cristo é capaz de despertar. Issopode ser observado em diversos exem-plos, como no cinema, em que o senti-mento da devoção do público mistura-se ao folclore da dor e da humilhaçãodo registro fílmico, isto é, um entorpeci-mento que deixa o espectador envoltoem sensações contraditórias entre a ex-ternação da fé, a capacidade de reme-moração de uma experiência histórica ea interação que necessariamente ocorreentre o passado, o presente e o futuro,no que normalmente é chamado de sim-bólico ou religare.

Como é dito por Monteiro (2003, p.2),há sempre a tentativa de definir e rede-finir o real da ficção e vice-versa, pormeio das distinções que surgem das ima-gens e metáforas retiradas de si próprio,dos outros e do mundo, que podem sertemporais ou atemporais. Isso explicaporque, uma demonstração da Paixão deCristo causa um impressionante efeitoem milhões de espectadores, cujos gos-tos, origens e comportamentos são com-pletamente diferentes entre si, mas que,durante o espetáculo, em Nova Jerusa-lém27, em Pernambuco, por exemplo, sãounidos pela mesma fé e devoção.

Nesse ambiente mítico, o sagrado eo profano fundem-se no movimento dosatores, no uso de palcos separados, natrilha sonora perfeita, no uso de efeitosespeciais (fumaça e pirotecnia) e na ilu-minação intimista, favorecendo a proxi-midade do público com os atores e tor-nando a interpretação mais emocionan-te. Recursos aqui estabelecidos pela in-dústria da diversão que absorve todas astendências possíveis para atingir ao pú-

26 Essa memória e consciência de um Cristo sofrido, faz parte de uma pedagogia tradicional, em que o aprendizado religioso segue à risca regras e dogmas da igrejarepresentadas na histórias de uma cristandade que já explorava o tema sofrimento e pecado utilizando-se de expressões com caráter simbólico na intenção de recriarelementos e diálogos, estabelecendo- se uma conformidade num sentido existencial da religiosidade, uma expressão de devoção muito individual.

27 O espetáculo de Nova Jerusalém já acontece a 36 anos, na cidade teatro localizada no interior de Pernambuco, local que fica aberto durante todo o ano, para visitaçãopública.

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blico e suas factuais simbologias. Emgeral, nessas representações é numerosaa quantidade de atores assim como detécnicos, operadores e figurantes que semisturam a companhias de dança, artis-tas de circo e de associações comunitá-rias e se agregam em torno do espetácu-lo.

A pessoa de Cristo acaba por inspi-rar “atores populares” e profissionais nareconstrução de uma linguagem trans-cendente e milenar como a da Paixão,cada um buscando a sua própria inter-pretação numa intimidade diferenciada,mas, ao mesmo tempo, comum a todos,em função da necessidade de aproxima-ção com o mestre. A mesma dor envolvea todos no mesmo espetáculo, apesar dasdiferentes formas para chegar até ele,pois o culto ao Cristo Crucificado, se-gundo Walter Benjamin, integra um con-texto tradicional e de máxima importân-cia no aspecto mágico e religioso, defi-nindo um espetáculo envolto numa auraque nunca se desligará de sua funçãoritualística.

Isso ocorre porque a mente inconsci-ente do homem moderno conserva a fa-culdade de produzir símbolos arcaicos,antes expressos nas crenças e ritos cole-tivos, pela necessidade de enraizamen-to e pertencimento a uma cultura. “De-pendemos muito mais do que imagina-mos da mensagem trazida por esses sím-bolos, e tanto os nossos comportamen-tos, como os nossos pensamentos são in-fluenciados por elas”. (JUNG, 1977, p.178) Nesse processo, a conclusão é umarrebatamento permanente e tão atualquanto no passado, efeito de experiên-cias tradicionais irredutíveis e de encon-tros transformadores da vida local. Essahumanização simbólica significa a apro-ximação do Cristo com o espectador fiel,tão próximo de suas angústias e de suassalvações. Portanto, não devemos esque-cer que esse discurso religioso tem umapelo universal e, ao mesmo tempo, in-dividual.

Talvez, por isso, o moderno coexistacom as experiências inacabadas paraalém do que podemos considerar verda-de ou mentira, bom ou mal, justo ou in-justo, bonito ou feio, já que esse tipo demensagem articula na tradição a recria-ção de um passado atualizado e projeta-do para o futuro e daí vão se tornandoprojetos inacabáveis ao longo dos sécu-

los. É isso que explica, de alguma for-ma, a adesão de tantos seguidores, ávi-dos e emocionados nas apresentaçõespúblicas da Paixão de Cristo, pensadoentão como um testemunho público dedevoção e motivador de uma espirituali-dade transcendental.

De certa forma, o teatro e o cinemacontemporâneos revelam o confrontoreal da história cristã que opta pelospobres do mundo. A Paixão de Cristoentão se transforma numa experiênciaque revela uma solidariedade explícita,um caminho tênue de fé, em que o ros-to de Cristo aparece como o salvador dosverdadeiros anseios de todos, numa es-tética cristianizada pela mídia. Um es-petáculo como a Paixão de Cristo faz-nos acreditar na existência simbólica deCristo, num ato de comunhão e de paz,restabelecendo um modelo já existenteda “salvação de espírito “.

O TEATRO DE CECÍLIO SÁ

[...] tem aquele micróbio danado quepega o sujeito. Ele pode tá morto, táquase morrendo, mas se ele faz tea-tro algum dia, quando sacode esseteatro aí ele fica vivinho da silva. Vaibuscar a vida muito longe, ele se sen-te reviver. (Cecílio Sá In: Memória deVelhos...,1997, p. 36)

Enquanto o mundo se emociona comos sucessos do Cristo sofrido de Mel Gi-bson da era digitalizada, Seu Cecílio Sájá surgia no cenário das artes cênicas nointerior do Maranhão, em pleno séculoXX, como o maior produtor teatral reli-gioso de seu tempo, cujos shows de pro-dução sobre a vida de Jesus levaram mi-lhares de espectadores a assisti-los, a sa-írem de casa para ver uma historia quetodos conheciam. O que levava as pes-soas a rever tantas vezes e de tantos ân-gulos a mesma história contada por Ce-cílio Sá? A resposta pode ser dada pelainterpretação simbólica da própria Pai-xão, ou por critérios mais simples taiscomo a forma como era contada, os efei-tos especiais, as adaptações e surpresasque a direção proporcionava ao seu pú-blico sequioso por novidades.

A simbiose que ocorria entre o teatrode Cecílio Sá e o público começou mui-to cedo, quando ele ainda era muito jo-vem, mas com uma personalidade, sufi-cientemente forte e competente para

28 Rei dos Judeus encenada em 1961, Mártir do Calvário encenação feita entre 1969 e 1972.

conseguir a interação necessária para osucesso de seus espetáculos. Sustentadopor um conjunto de crenças firmes, há-bitos religiosos e um profundo sentimen-to de humanidade, fundamentados noseu cotidiano, Cecílio Sá marcou histó-ria e conseguiu vencer o preconceito quedesconsiderava o seu teatro por ser po-pular. Desde suas primeiras montagens,ocorridas por volta de 1932, seu Cecíliocontribuiu para legitimar a tradição demontar as Paixões de Cristo, respeitan-do a calendário da Semana Santa. Nor-teava suas experiências pelo hábito epela disciplina na busca do sagrado,numa conjunção perfeita com o profa-no da teatralidade.

O fato é que as montagens universa-lizaram as experiências pessoais do elen-co que reunia desde atores veteranos ajovens inexperientes, globalizando o seuteatro litúrgico – popular em uma épo-ca em que mídia era simbólica e poéti-ca. E era nas igrejas, teatros e cinemasque o teatro de Cecílio alimentava amemória e a capacidade individual de,através da espiritualidade, cada um bus-car a sua salvação.

As primeiras apresentações do tea-tro litúrgico de Cecílio ocorreram em finsda década de 40, com a peça MeninoRei, uma mistura de pastoral e pastorque, posteriormente, foi denominadaPaixão de Cristo. A peça foi encenadano palco da Igreja de São Pantaleão,onde havia apenas um grande quintale, depois, foi levada para os bairros Lira,Monte Castelo e São Francisco, numtrabalho que o encenador chamava deformação de platéia. A versatilidade deCecílio Sá e seu grupo de amigos sem-pre funcionou como ponto de partidapara a encenação de novas peças comoO Rei dos Judeus e Mártir do Calvário28,todos encenadas para a comunidade daIgreja de São Pantaleão.

De todas as peças, no entanto, OMártir do Calvário sempre foi a maisapaixonante por ser toda escrita em ver-sos rimados, sendo encenada inicialmen-te em 1964 no bairro da Cohab durantea inauguração da nova Igreja possivel-mente a N. Senhora do Perpetuo Socor-ro. Foi então que ele percebeu que aspessoas gostavam mesmo era de ver umCristo sofrido, um Cristo martirizado eaí ele decidiu escrever, O Rabi de Naza-ré, adaptado dos textos anteriores. A

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peça foi muito bem recebida pelopúblico, por se tratar de uma obraque remetia a situações singulares daBíblia, levando o espectador a parti-lhar a experiência, através da per-cepção e da sensibilidade, tornando-se parte de uma memória que mar-caria história no teatro maranhense.

Apesar desses espetáculos seremrealizados dentro das igrejas, os pa-dres não participavam ativamentedos espetáculos, certamente porqueo clero não queria ser visto como res-ponsável por essas manifestações,principalmente quando dessas ocor-ria algum tipo de exaltação promo-vida pelo elenco ou por um públicomais eufórico. Nessa perspectiva, eramais confortável para a igreja man-ter-se mais distanciada, quando en-tendia que tais manifestações fervo-rosas não poderiam ser consideradasdivinas, mas profanas. O próprio Cecí-lio Sá ressaltava que o seu teatro era um“teatro popular, um teatro de diverti-mento”, mas que a desmistificação dava-se nos bastidores, nas relações engraça-das, e, por algumas vezes, nas dificulda-des entre os colegas de trabalho.

Na realização de um teatro popularmesmo de caráter religioso, as experiên-cias estão sempre em movimento, numadinâmica coesa, em que o conjunto davivência, isto é, das crenças pessoais ehábitos, passa a balizar o próprio espetá-culo. Por exemplo, as relações desses ato-res com a bebida e como cigarro estimu-lavam-nos e encorajavam-nos na entradada cena, mas na hora da encenação esseselementos desapareciam para dar lugarao choro, ao sofrimento, à angústia, de-sejoso de um Cristo sofrido e martiriza-do. É esse público católico ou não quevive junto o sofrimento da Paixão, queajuda a construir a memória do passadono presente e a confirmar o futuro. Des-sa forma, podemos identificar as nossasexperiências através da experiências en-cenadas no Cristo ou no Mártir.

Na busca do religare com sua experi-ência a respeito dos episódios escritossobre a vida do Cristo, essa procura nãose dá apenas do ponto de vista do entre-tenimento, que é um fator presente, masnão é determinante, quando essa reali-dade é parte de uma percepção e deuma experiência que inocula um novosentido para algo que já é conhecido,como algo que é novidade e onde umanova mensagem, com uma nova indu-mentária, renova a esperança da vida.

Independente dos formatos simbólicosestabelecidos pela indústria do cinemaou das produções teatrais, a Paixão deCristo da atualidade acaba por evocar osmesmos desenhos simbólicos e experiên-

cias correspondentes aos saberes indivi-duais e coletivos, que tenta estabelecersuas diversas relações com o divino e queé recriada de acordo com as necessida-des contextuais dos indivíduos sociais.

CONCLUSÃO

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JANELA DO TEMPOJANELA DO TEMPOJANELA DO TEMPOJANELA DO TEMPOJANELA DO TEMPO

O baralho sai, de manhã cedo, dapraia do Caju, da praia do Des-

terro, da praia da Madre Deus. É car-naval!

O baralho é um bloco cheio de gen-te dançando e cantando com as criou-las. Um bloco a correr pelas ruas aosom dos tambores.

Os bondes não circulam hoje por-que é carnaval!

Na Avenida Beira-Mar há batalhade confete e serpentina. A cidade já éum mundo de fantasia.

Por toda a cidade estão jogandoentrudo, das janelas dos sobrados e nomeio da rua. O entrudo agora é umabrincadeira de água colorida, man-chando a roupa, e de talco, atiradosempre nos olhos. Cada pessoa temum vidro de rodó na mão. Rodó écomo chamam o lança-perfume emSão Luiz. Em pequenas caixas demadeira é vendido, de vidro ou metal,nas casas comerciais.

Muito namoro começou com umsimples jato de rodó. O rapaz se esfor-ça para colocar rodó nos olhos da moçae esta faz o mesmo iniciando o alegreduelo. Os rapazes mais afoitos colo-cam o rodó no seio das moças.

Os blocos de fantasia fina, dos ra-pazes e moças da sociedade, já estãona rua, atraindo a atenção do povo.Sai, também os cordões levando mui-ta gente. Um bloco de sujo passa cor-rendo. As turmas, cantando samba, sepreparam nos bairros para sair.

Corre o ano de 1940.Lá vem o Zé Pereira. Bum! Bum!

Bum! Ele esmurra o grande tamborcada vez com mais força.

Pelas esquinas, em pequenas bar-racas são vendidos apitos, sacos deconfetes, rolos de serpentinas, lança-perfume, máscara, meia-máscara,máscara de meia, ventarola, óculos depapel celofane, gelado e cerveja.

Garotos apregiam reco-reco pelasruas.

Nonnato Masson30

29 Crônica publicada na coluna “Hoje é dia de...” (Jornal O Estado do Maranhão, Caderno Alternativo, Dia 10 de fevereiro de 1991-domingo)30 Raimundo Nonato da Silva Santos – Nonnato Masson – escritor e jornalista maranhense, membro da Academia Maranhense de Letras. Nasceu em Araioses, no dia 28 de

fevereiro de 1924, e faleceu em 08 de março de 1998.

Por toda parte há fofão e homensvestidos de mulher.

O centro urbano de São Luiz estátodo decorado com motivos coloridos.Suspensas em postes estão as figurasde Rei Momo, Baco, odaliscas, pier-rots, colombinas, arlequins.

Pernas-de-pau passeiam nas ruas.Vai, vai, vamos, à Praça Deodoro. Lá éo centro dos desfiles dos blocos, dasturmas, dos cordões e do corso.

Vamos ficar aqui na calçada doquartel. A moça passa e atira lança-perfume. O rapaz corre atrás dela como seu lança-perfume na mão e ela seperde no meio da multidão.

Lá vem o bloco Vira-Latas fazendouma barulheira enorme, arrastandolatas de querosene vazias. Logo a se-guir, surge o primeiro caminhão docorso com um imenso elefante de pa-pelão e depois mais outro com umagirafa também de papelão.

No meio do corso passam os mas-carados, os fofões, os cruz-diabos, oslanceiros, os beduínos, os sultões, ashavaianas, as gregas, as tirolesas.

Há muita gente trepada nas gran-des árvores e nos bancos de mármo-

res da Praça Deodoro para ver o desfi-le. Há gente a se movimentar, a dan-çar, a pular, ao som das músicas doscarros do corso e dos cordões.

As turmas fazem o seu carnavalpelos subúrbios e só no começo danoite aparecem na Praça Deodoro.

O desfile do corso termina às oitohoras da noite.

Os blocos, turmas, cordões, e tam-bores de crioulas se recolhem, descan-sam um pouco, e os seus brincantesse preparam para os bailes de luxo eos bailes populares.

Nos clubes de sociedades os foliõesvestem fantasias de seda, as mulheresusam meia-máscara e os homens más-caras de cera.

Vestidas de dominó e com máscarasde meia, as mulheres dançam nos bai-les populares, mas os homens não usammáscara. Ao entrar, o dominó é levadopara um quartinho, onde suspende amáscara para o dono do baile saber dequem se trata. Se for menor, casada ouamasiada não pode ficar na festa.

O sereno, do lado de fora dos bai-les, cheio de gente bêbada e fantasia-da, dança até ao amanhecer.

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O Hospital Nina Rodrigues colocou o acervo de arte permanentedo Espaço Antonio Martins para visitação pública de segunda

a sexta pela manhã. O Espaço abriga o acervo do Museu do Inconscientedo Maranhão que reúne arte de usuários da psiquiatria do Hospital dadécada de 1960, doado pelo Centro de Cultura Popular Domingos VieiraFilho e produções artísticas da década de 1990 e deste século. O NinaRodrigues fica na Avenida Getúlio Vargas, 2508-Bairro Monte Castelo.Site: www.hnr.ma.gov.br

NotíciasNotíciasNotíciasNotíciasNotíciasA COMISSÃO MARANHENSE DE

FOLCLORE NA 1ª FEIRA DO LIVRO

A participação da Comis-são Maranhense de Fol-

clore na Feira do Livro aconteceudia 24 com lançamentos e relan-çamentos das obras da CMF ede pesquisadores com temáticaligada à cultura popular como:Série Memória de Velhos: Depoi-mentos - uma contribuição à me-mória oral da cultura popular Ma-ranhense/volumes I, II, III, IV, V,VI-CMF; Olhar, Memória e Re-flexos sobre a gente do Maranhão:Coletânea, CMF, Organizadora:Izaurina Maria de Azevedo Nu-nes; Tambor de Crioula Ritual eEspetáculo, 3ª edição, CMF, Or-ganizadores: Sérgio FigueiredoFerretti, José Valdelino Cécio, Joi-la Moraes e Joaquim Santos;Anais do 10º Congresso Brasileirode Folclore, CMF/Comissão Na-cional de Folclore; Boletins CMF37 e 38; Pajelança do Maranhãono Século XX: O Processo deAmélia Rosa, de MundicarmoFerretti, CMF/FAPEMA; Mara-nhão Encantado: Encantaria Ma-ranhense e Outras Histórias, deMundicarmo Ferretti, UEMA;Desceu na Guma: O Caboclo doTambor de Mina em um Terreirode São Luís, 2ª edição revista eatualizada,de Mundicarmo Fer-retti. EDUFMA; Reeducando oOlhar: Estudos sobre as feiras emercados, Sérgio Figueiredo Fer-retti, UFMA-PROIN-CS; Jorna-lismo Cultural: Da Memória aoConhecimento – Coletânea, Ins-tituto de Comunicação e CulturaChamamaré e Núcleo de Estu-dos da Comunicação/UFMA; AFesta Junina em Campina Gran-de-PB: Uma Estratégia de Folkma-

rketing, Severino Alves de Luce-na, Editora Universitária – EDU/Universidade Federal da Paraíba(UFPB); FOLCOM – Do Ex-votoà Indústria dos Milagres: A Co-municação dos Pagadores de Pro-messa. Coletânea. Organizadores:José Marques de Melo, MariaCristina Gobbi e Jaqueline LimaDourado, Centro de Ensino Uni-ficado de Teresina – CEUT/UNESCO/Grupo Claudino;Todo Ano Tem – As Festas na Es-trutura Social Camponesa, Regi-na Prado, EDUFMA – ColeçãoAntropologia e Campesinato noMaranhão. Vol 1 e O Pão da Ter-ra: Propriedade Comunal e Cam-pesinato Livre na Baixada Ociden-tal Maranhense, Lais Mourão,EDUFMA, Coleção Antropolo-gia e Campesinato do Maranhão,Vol 2, ambos organizados pelasprofessores Maristela de PaulaAndrade e Benedito Souza Filho.

Por ocasião dos lançamentosaconteceram Rodas de Conversacom: Márcia Teresa Pinto Men-des, historiadora, professora emembro da CMF, sobre a Cole-ção Memória de Velhos; Severi-no Alves de Lucena, professorUFPB e membro da ComissãoParaibana de Folclore, sobre Fo-lkmarketing; Sérgio Ferretti, Es-ther Marques, Maria Michol deCarvalho, Socorro Araújo, Jaque-line Lima Dourado, outros auto-res e pesquisadores da culturapopular maranhense e membrosda CMF; apresentação do espe-táculo teatral adaptado do livroLendas do Maranhão, de Carlosde Lima, pelo Grupo de TerceiraIdade do SESC-MA.

Seminário de Gestão Compartilhadadas Bacias Hidrográficas do Estado

Buscando compartilhar os saberes do Parque, da Barragem, doRio, da Bacia, da Baia, do Porto e do Território Bacanga & Itaqui

a Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão realizou, nos dias 25 e26 de outubro de 2007, no Centro de Convenções Pedro Neiva de Santa-na, São Luís/Ma, o 1º Seminário Regional de Gestão Compartilhada dasBacias Hidrográficas do Estado do Maranhão. Na abertura foi apresen-tado o “Programa Águas Perenes – rumo ao futuro sustentável” em que agestão compartilhada é o ponto zero dessa ampla discussão que a As-sembléia coordena. A ação de uma gestão compartilhada “busca estabe-lecer um conjunto de políticas públicas de responsabilidade socioambi-ental e definir um novo ordenamento industrial rural e urbano, contem-plando um novo zoneamento ecológico-econômico para as áreas Bacan-ga e Itaqui”.

MUSEU DO INCONSCIENTE DO NINA

PRIMEIRA FEIRA DO LIVRO DE SÃO LUÍS

Fundação Municipal deCultura e o Serviço Social

do Comércio-SESC-MA realizaram,com sucesso e aprovação do públi-co, a 1ª Feira do Livro de São Luísque teve como patrono o escritorJosué Montello, no período de 18 a27 de outubro, das 8:30h às 22h, naPraça Maria Aragão. Nesse perío-do os maranhenses tiveram conta-to direto com escritores nacionais,como: Thiago de Melo, AffonsoRomano de Sant´Ana, Ana Miran-da, Moacir Sclyar, Nélida Piñon,Adriano Duarte Rodrigues, Bartho-lomeu de Campos Queirós, IgnácioLoyola Brandão e Ariano Suassunaque encerrou o mega evento. Pales-tras, Oficinas das Obras do Vesti-bular 2008, Ciclo de Palestras comEscritores Maranhenses; Encontro:Mediadores de Leitura; Encontro:

Rede de Bibliotecas Públicas daGrande São Luís; Rodas de Con-versas com mestres da cultura po-pular e de cultos religiosos; Lança-mentos e Relançamentos de Livrosde Autores Maranhenses; Minicur-so: Elaboração de Projetos e Opor-tunidades de Financiamento paraa área do Livro e da Leitura; Lança-mentos dos Livros Premiados no 30ºConcurso Literário e Artístico deSão Luís, entre eles o livro “Cami-nhos de São Luís” do pesquisadorCarlos de Lima, membro da Comis-são Maranhense de Folclore. Paraa criançada programação especialcom mais de duzentas atividadesentre oficinas de conto, poesia, ilus-tração, origami, tangran, brinque-dos alternativos, mímica; espetácu-los teatrais; contações de histórias;brincadeiras e jogos educativos.

NORDESTE CRIATIVO

A Casa do Maranhão abrigou de 11 a 16 de setembro a 1ª Mostra deArtesanato Regional, realização do Projeto Nordeste Criativo,

que oportunizou a exposição e comercialização de produtos artesa-nais dos estados da região nordeste. A Mostra promoveu ainda a trocade experiências e atualização do tema através de simpósios com espe-cialistas em artesanato do Brasil e oficinas de criatividade conduzidaspor mestres maranhenses.

Durante o ano de 2007 asfestas realizadas na Ten-

da Santa Teresinha, de umbanda,tiveram um clima especial: come-morava-se os 25 anos de criação daTenda. Na casa, toca-se tamborpara os caboclos: Rei Leão, em 6de janeiro; João da Mata ou Rei daBandeira, em 08 de fevereiro; Pre-to Velho, em 13 de maio; Tomba-Sé, em 03 de outubro e em 08 dedezembro para Yemanjá. A festade Cigana-Menina, dia 27 de se-tembro e o boi do caboclo Tomba-Sé, em julho, não tem toque de tam-bor. A mãe Mariínha sempre reali-

25 ANOS DA TENDA SANTA TERESINHAza suas festas mandando celebrarmissa pela manhã; às 12 horas ocor-re a abertura da festa com toquede tambor, seguido de almoço paraos assistentes; à noite, a proporçãoque as pessoas vão chegando, éservido o mingau de milho; 19:30hLadainha e, em seguida, o tambor,com as dançantes paramentadaspara a festa - blusa branca e saiana cor da marcação do caboclo fes-tejado; às 22 horas canta-se o para-béns, o bolo é cortado e servido comrefrigerante aos presentes. A Ten-da Santa Teresinha fica na Rua 06,Quadra 17, Casa 12, Angelim.

17Boletim 39 / dezembro 2007 17

XI EDIÇÃO DO PROJETOMÃOS A OBRA

Com o olhar voltado para as pesso-as portadoras de algum tipo de de-

ficiência física, sensorial ou mental o SESC-MA realiza há 11 anos o Projeto Mãos aObra - Programa de Arte Educação Inclusi-va - destinado a uma apreciação sem barrei-ras. Implementado a cada nova edição comações exploratórias direcionadas para o en-riquecimento da percepção de mundo, naversão 2007 o projeto coloca em foco os de-ficientes visuais e apresenta a Mostra “Oenigma do olhar” - peças tridimensionais daartista plástica Marlene Barros e releiturasde deficientes visuais, alunos do Centro deApoio Pedagógico-CAP, na Mostra “Mãosque Transformam”. A exposição ficou emcartaz de 17 de outubro a 14 de novembrona Galeria de Arte do SESC.

CONTINUAÇÃO NOTÍCIAS

Mais uma vez a Praça Maria Aragãoé palco da Orquestra Sinfônica

Brasileira da Cidade do Rio de Janeiro queencheu os ouvidos de mais de 20 mil pesso-as com boa música. Adultos, muitos jovense muitas crianças que se juntaram na praçapara ouvir Glinka, Brahms, Dvorak, Vival-di, J. Strauss II e Suppé. É a Turnê Brasil2007, promovida pela Vale, em que a Orques-tra Sinfônica percorreu 8 cidades brasilei-ras entre elas São Luís, dia 28 de outubro, eque, sob a regência do maestro MarcosArakaki, proporcionou quase duas horas decontato com a música clássica universal.Maravilha!!!

HISTÓRIA DOS MUNICÍPIOSDO MARANHÃO

A Superintendência de PatrimônioCultural e a FAPEMA realizaram

dias 8, 9 e 10 de novembro o Encontro deHistória dos Municípios do Maranhão: for-mação e motivos, que reuniu pesquisadores,historiadores, geógrafos e profissionais deáreas afins interessados em conhecer a his-tória dos municípios maranhenses. O En-contro contou com o apoio da AssociaçãoNacional de História/MA, UFMA. UEMAIBGE e FEMEM.

SEMANA ESTADUALDE JUVENTUDES

O Governo do Maranhão realizou aSemana Estadual de Juventudes do

Maranhão como proposta de um espaço dediscussão e trabalhos voltados para o desen-volvimento do segmento juvenil. A Semanafoi realizada no período de 23 a 27 de outu-bro, em São Luís, e contou com a participa-ção de representantes da sociedade civil, ges-tores municipais e estaduais de juventude,legisladores e especialistas da área e da ju-ventude de vários municípios, inclusive qui-lombolas e indígenas.

LANÇAMENTO DE LIVROCOMEMORA DEZ ANOS DA SETUR

A Secretaria Municipal de Turismo de São Luís comemora os dez anos de criaçãolançando o livro “São Luis, Turismo e Memória: uma década de experiências da gestãopública municipal”. O livro organizado pela secretária e professora de turismo Maria do

Socorro Araújo traz um resumo dos principais programas e projetos criados, como:Passeio Serenata, em que moradores se misturam com os turistas para caminhar peloCentro Histórico; Turismo Educativo, alunos da rede municipal são incentivados a

valorizar a cultura; Informantes Jovens, uma proposta de inclusão social pelo turismo;Maracanã: lazer e turismo ambientalmente sustentável; citando alguns dos projetos.

1ª SEMANA DE MÚSICADO MARANHÃO

Em homenagem ao Dia Internacio-nal da Música, 22 de novembro, de-

dicado à padroeira da música Santa Cecília,a comissão artística do segmento música doTeatro Arthur Azevedo homenageou oscompositores e músicos maranhenses coma 1ª Semana de Música no Maranhão. Opalco do teatro recebeu no dia 22 composi-tores eruditos como João Nunes, AntonioRayol e Francisco Libânio Colás interpreta-dos por jovens instrumentistas e cantoresda Escola de Música do Maranhão e CoralAntonio Rayol, no Concerto de Música Eru-dita. No dia 23 o Show de Música Popularapresentou compositores como Catulo daPaixão Cearense, Dilu Melo, Agostinho Reis,Antonio Vieira, Cristóvão Alô Brasil, LuisReis, Lopes Bogéa, João do Vale, Chico Ma-ranhão, Ubiratan Sousa, Sérgio Habibe, Jo-sias Sobrinho, César Teixeira... chegando atéaos anos 1990 com César Nascimento, Eras-mo Dibel e Zeca Baleiro que ganharam novainterpretação nas vozes de cantores da noi-te e cantores já consagrados como CláudioPinheiro e Fernando de Carvalho.

Com Toque de Caixa, mas tambémcom grande descontração, Sergio

Ferretti, membro da CMF, comemorou nodia 10 de novembro, no Chico’s Restauran-te, o seu 70º aniversário, reunindo cerca de200 parentes e amigos. A comemoração foiiniciada pelas caixeiras da Casa das Minas,sob o comando de dona Celeste, louvando eagradecendo ao Espírito Santo pelas graçasalcançadas. O jantar dançante foi animadopelo grupo de música liderado por ArlindoCarvalho e Mochel, relembrando antigos su-cessos da MPB dos anos 60 e 70. Ao final dafesta, reafirmando o envolvimento do ani-versariante com a Festa do Divino, MariaMichol, presidente da CMF, distribuiu atodos os presentes, como lembrança, pasti-lhas de queijo embaladas com papel celofanee fitilho vermelhos, trazendo uma pequenapomba, símbolo do Espírito Santo.

GRACIAS A LA VIDA

ORQUESTRA SINFÔNICANA PRAÇA MARIA ARAGÃO

No período de 1-15 de dezembroos pesquisadores Sérgio e Mun-

dicarmo Ferretti, membros da ComissãoMaranhense de Folclore, e o artesão mara-nhense Abel Teixeira, solicitando apoio doMINC, participaram da 3ª Bienal da Más-cara, promovida pela Câmara Municipalde Bragança (Portugal), com o objetivo depreservar esse elemento da identidadecultural transmontana – a máscara. Para oevento, foi organizada pela CMF uma ex-posição de máscaras usadas no reisado, nabrincadeira de careta de Caxias e no bum-ba-meu-boi de São Luís, coletadas por Jan-dir Gonçalves – técnico e diretor da Casade Nhozinho. Os representantes do Mara-nhão realizaram palestras no colóquio so-bre máscara brasileira e Abel Teixeira, alémde “puxar” o desfile de mascarados e reali-zar uma performance exibindo a indumen-tária e a dança dos cazumbas, mostrou suatécnica de elaboração de miniaturas demáscaras de cazumba, despertando vivointeresse na imprensa local. A 3ª Bienal daMáscara contou também com a participa-ção do pesquisador cearense Oswald Bar-roso, que levou uma exposição e uma con-ferência sobre máscaras do seu estado.Teve também a participação de Paula Si-mon, presidente da Comissão Nacional deFolclore e responsável pela participação doBrasil no evento, que realizou palestra so-bre o folclore do Rio Grande do Sul. Con-tou ainda com a participação especial deRicardo Lima, Secretário Substituto da Se-cretaria da Identidade e da Diversidade Cul-tural do Ministério da Cultura, que enri-queceu o colóquio com uma explanaçãosobre as linhas de ação daquele órgão. Aofinal do evento foi criada a Academia daMáscara com a participação dos represen-tantes de Portugal, Espanha e Brasil.

CMF na 3ª Bienal daMascara de Bragança

Boletim 39 / dezembro 20071818

RESUMOS E RESENHASRESUMOS E RESENHASRESUMOS E RESENHASRESUMOS E RESENHASRESUMOS E RESENHAS

2007

AMORIM, Sandra Regina Ra-mos. O maravilhoso nos contospopulares, nas lendas e nos mi-tos no município de Pinheiro.São Luís, Letras - UFMA,:2007. Orientador: Profª Ms.Maria de Fátima Sopas Rocha.

RESUMO: Os contos, aslendas e os mitos contem in-formações culturalmente im-portantes sobre temas comorelações de gêneros, classifi-cações, tipologias, ensina-mentos, sendo aceitos e me-morizados pelas pessoas des-de crianças e repassados degeração a geração. O presen-te estudo envolve entrevistasfuncio-culturais que caracte-rizam o cotidiano da popula-ção brasileira cultural. A se-leção das lendas, dos contose dos mitos a partir de fontesdocumentais, analisados deacordo com as classificaçõesexercidas por cada um. Osresultados revelam um univer-so cultural construído a par-tir da perspectiva do cotidia-no que justificam a memori-zação a preservação e a divul-gação da cultura local.

BARROS JÚNIOR, Nélio daPaz Muniz . Cultura popular naBaixada maranhense: manifesta-ções culturais do Rosário dosLagos-MA. São Luís, História –UFMA, 2007. Orientador: Prof.Sergio Castro Pereira.

RESUMO: Essa mono-grafia buscou fazer um estu-do de como o conceito decultura popular e seus signi-ficados podem variar de acor-do com as regiões em que elaé trabalhada. Além disso, par-ticularizou-se a região da Bai-xada maranhense, fazendo-seum estudo de caso das prin-cipais manifestações folclóri-cas da referida região e suapeculiaridades, sempre man-tendo uma relação com o con-ceito de cultura popular di-fundido por autores consagra-

Monografias sobre a cultura popular do Maranhãodos mundial e nacionalmen-te. A partir daí, a discussãose aprofunda em como essasmanifestações culturais ser-vem de refúgio ao pesado co-tidiano dos habitantes da bai-xada e como sua preservaçãopode contribuir para o en-grandecimento cultural da-quela região.

DIAS, Carolina Cécio Soares.São José de Ribamar cidade deFésta. São Luís, Ciências Soci-ais - UFMA, 2007. Orientador:Prof. Dr. Alexandre FernandesCorrêa.

RESUMO: Pesquisa rea-lizada a partir da observaçãoe leitura sobre festas religio-sas afro-brasileiras iniciadasno grupo de pesquisas Reli-gião e Cultura Popular e pelotrabalho exercido como guiade museu e eventos da Casada Fésta, especificamente noCentro de Cultura PopularDomingos Vieira Filho. Ques-tiona se o grande número defestas e comemorações reali-zadas na cidade é positivo ounegativo e se haveria distorçãoda cultura popular local emdetrimento de eventos quepudessem atrair o público emmassa. Procura também ana-lisar a importância desses pe-ríodos festivos na vida dos quemoram e/ou trabalham na ci-dade nesse momento da rup-tura com o cotidiano.

MOREIRA, Telmita. A evolu-ção do Tambor de Crioula nosúltimos 50 anos no município dePinheiro-MA. São Luís, História– UFMA, 2007. Orientador: Prof° Paulo Sergio Castro Pereira.

RESUMO: Neste traba-lho monográfico será enfati-zado a evolução do Tambor deCrioula nos últimos 50 anosno município de Pinheiro-MA.Salienta-se que o Tamborde Crioula como cultura negraé uma manifestação popularque tem como principais ele-

mentos os tambores, os cantose a dança, sendo típica doMaranhão. Na verdade, o Tam-bor de Crioula é uma festa quevisa à diversão dos participan-tes por meio da dança, da per-cussão e do canto,sendo umacriação efetivada pelos descen-dentes dos negros escravos.Portanto, é uma festa ritualpopular, tocada e dançada aprincípio só por negros, canta-da em língua portuguesa, temcomo característica a punga(umbigada), e que, pela suaforma descontraída e animadade ser, já perdura por muitotempo, resistindo aos precon-ceitos e às conseqüências domundo capitalista moderno.

ORDACOWSKI, Mariana. Corei-ras e coreiros curitibanos: a rein-venção da tradição do Tambor deCrioula do Maranhão como for-ma de lazer entre jovens na cida-de de Curitiba. Curitiba, CiênciasSociais - UFPR, 2007. 81p. Orien-tadora: Profª. Drª. Sandra J. Stoll.

RESUMO: O Tambor deCrioula é uma expressão lúdi-co-artística que envolve a dan-ça, o canto e instrumento espe-cíficos, e figura como marcocultural do estado do Mara-nhão. A exemplo de outras ex-pressões artísticas como Capo-eira e o Forró, a prática do Tam-bor atualmente não se restrin-ge apenas ao território mara-nhense, fazendo-se presenteem outras cidades como SãoPaulo, Brasília, Porto Alegre eFlorianópolis. Este trabalho éum estudo de caso do Tamborde Crioula em Curitiba, ondeeste foi apropriado e está sendore-significado por jovens de clas-se-média como festa urbana.

REIS, Luciano de Carvalho. Opai da malhada: Trinta anos defundação da Associação Folcló-rica Ribamarense de Bumba-Boi de matraca. São Luís, His-tória – UFMA, 2007. Orienta-dor: Professora Ms. Maria daGlória Guimarães Correia.

RESUMO: Este trabalhotem como objetivo apresentaro processo de nascimento doBoi de Ribamar que levou àfundação da Associação Fol-clórica Ribamarense de Bum-ba-Boi de matraca de SãoJosé de Ribamar em 1976 e adinâmica atual do grupo apóscompletar 30 anos deexistência.Inclui-se no pre-sente texto, análises acercada cultura popular, memória,identidade, representação eritual. Aborda ainda, a traje-tória de vida de João CostaReis (João Chiador)-o amo/cantador dessa “brincadeira”-e algumas de suas toadas.Para isto utiliza-se de discus-sões bibliográficas a partir deautores ligados à temática e,principalmente de testemu-nhos orais de pessoas ligadasdireta ou indiretamente aoprocesso acima descrito.Foiutilizado também como arca-bouço metodológico a obser-vação participante do autor.

SILVA, Mônica Cassiano Mora-es. As lendas, mitos e supersti-ções como incentivo à leitura naseries iniciais do ensino funda-mental. São Luís, Letras -UFMA, 2007. Orientador: Prof.Ms. Marcos Vinicius Maga-lhães Catunda.

RESUMO: Esta monogra-fia situa-se na área da educa-ção e tem por objetivo estu-dar o incentivo à leitura nasprimeiras séries do ensino fun-damental através das lendas,mitos e superstições. Para tan-to, é necessário o conheci-mento do folclore e da cultu-ra local como representaçãoda realidade do aluno. Coma pesquisa bibliográfica dematérias já publicados sobreo assunto, estabelece relaçõesentre as concepções dos estu-diosos e as historias do imagi-nário da população. Busca

19Boletim 39 / dezembro 2007 19

CONTINUAÇÃO

incentivar o professor a umaprática prazerosa de ensino,levando o aluno a conhecersuas próprias origens.

2006

ESPÓSITO, Samuel da Silva.Lendas: A história dos pescado-res. São Luís, Ciências Sociais -UFMA, 2006, 60p. Orientador:Prof. Dr. Álvaro Roberto Pires.

RESUMO: Este trabalhotrata das estórias de cunhofantástico conhecidas comolendas. Faz um resgate histó-rico-cultural sobre o processode formação do município deRaposa, analisa de que formaessas lendas influenciaram nomesmo e o que se pode dizerdesse processo sócio-culturalna atualidade.

FERREIRA, Carla Georgea Sil-va. Bumba meu quilombo: oFestival de Bumba-Meu-Boi deZabumba. São Luís: CiênciasSociais - UFMA, 2006. Orienta-dor: Prof. Dr. Carlos BeneditoRodrigues da Silva.

RESUMO: A propostadeste trabalho, é analisaruma das formas do bumba-meu-boi do Maranhão, espe-cialmente no sotaque de za-bumba, grupo característicodas comunidades negras ru-rais do estado. Pretendemosenfatizar suas articulaçõesinternas, suas relações com osórgãos oficiais de controle emanutenção das políticas cul-turais do estado do Mara-nhão, centrando nossas refle-xões sobre o Festival de Bum-ba-Meu-Boi de Zabumba,evento que ocorre anualmen-te na capital São Luís, comoforma de dar maior visibilida-de a estes grupos. Enfocamostambém o Festival, como umaestratégia utilizada pelos seusorganizadores, para resistir àcultura do espetáculo, criadapela mídia, privilegiando ou-tros sotaques, como orquestrae matraca, que também com-põem o cenário da culturapopular.

SILVA JUNIOR, Joanton Alvesda. Awkhê ressignificado: os Mo-vimentos Messiânicos - Cane-la. São Luís, Ciências Sociais -UFMA, 2006. Orientador:Profª. Drª. Elizabeth Maria Be-serra Coelho.

RESUMO: Análise dosMovimentos Messiânicos Ca-nela ocorridos nas décadas de60, 80 e 90. Toma como refe-rência a articulação entremitologia e messianismo, des-tacando as reatualizações domito de Awkhê nos movimen-tos messiânicos e nas “tenta-tivas de movimentos” ocorri-dos no mesmo período.

2005

CORREIA, Claudia ReginaOliveira. Cultura popular, turis-mo e museus no Maranhão: umestudo sobre o Centro de Cultu-ra Popular Domingos Vieira Fi-lho. São Luís, Ciências Sociais -UFMA, 2005. Orientador: Prof.Dr. Sergio Figueiredo Ferretti.

RESUMO: Reflexão so-bre Museu, Cultura Populare Turismo: um estudo sobre oCentro de Cultura popularDomingos Vieira Filho. Aprincipio discorre-se sobre osatuais questionamentos susci-tados nessa relação conside-rando o papel das políticaspúblicas nessa perspectiva.Enfoca-se o papel dos museusna temática moderna bus-cando explicar a relação exis-tente entre as manifestaçõesfolclóricas nos espaços muse-ográficos assim concretizan-do a prática do turismo cul-tural bem como a interferên-cia causada pela produção deseus efeitos benéficos e nefas-tos nessa relação. Desenvol-ve-se uma discussão sobre oCentro de Cultura PopularDomingos Vieira Filho, des-de sua fundação até sua atuadinâmica de funcionamento,nesse sentido viabilizando anecessidade de políticas deincentivo para a preservaçãodas chamadas culturas popu-lares no âmbito da institucio-nalização. Conclui-se tecen-do algumas considerações so-

bre a postura do Estado e suaintervenção na preservaçãodessa cultura.

RIBEIRO, Débora AntoniaCastro. O Bumba-meu-boi comovitrine para turistas? Análise so-bre os impactos do turismo nasmanifestações populares. SãoLuís, Ciências Sociais - UFMA,2005. Orientador: Prof. Dr. Ál-varo Roberto Pires.

RESUMO: Reflexão so-bre as alterações que vemocorrendo no Bumba-meu-boi do Maranhão, levando-seem consideração a influênciada indústria do turismo, docapitalismo, e do poder pú-blico. Justiça-se assim a ne-cessidade de discussão a res-peito da preservação e susten-tabilidade do folclore comoforma de prevenir mudançasque possam levar a descarac-terizações, ou mesmo à totalextinção de importantes carac-terísticas dessa manifestaçãopopular. Pretende-se discutira melhor forma de lidar comas mudanças sem que a cul-tura popular seja apresentadacomo um simples espetáculopara turista ver. Neste sentidoapresentemos sugestões paraque o Bumba-meu-boi sejaconhecido e valorizado na suaessência de manifestação po-pular maranhense.

2004

CARMO, Rosângela MariaCosta Pinto do. Na roda da ca-poeira: um estudo semântico-le-xical da mandinga angoleira.São Luís, Letras - UFMA, 2004.Orientador: Profª. Drª. Concei-ção Maria de Araújo Ramos.

RESUMO: O léxico daCapoeira Angola. Trata-se deuma pesquisa no campo deestudo da Terminologia, cujoobjetivo é investigar o univer-so lingüístico- cultural da Ca-poeira Angola em São Luís doMaranhão. A partir desta pes-quisa, elabora-se um glossárioque contempla as lexias utili-zadas pelo grupo que pratica.

SOARES, Carlos Eduardo Fer-reira. A IADESL e a músicaevangélica: mudanças e confli-tos geracionais. São Luís, Ciên-cias Sociais - UFMA, 2004. Ori-entador: Prof. Dr. Horácio An-tunes de Sant’Ana Júnior.

RESUMO: A música evan-gélica na Assembléia de Deus.Uma série de mudanças vemocorrendo na música evangé-lica. Novos ritmos e estilos têmsido incorporados a essa músi-ca. Tantas mudanças têm cau-sado conflitos geracionais naIgreja Assembléia de Deus emSão Luís. Gerações distintastêm se chocado por causa desuas preferências musicais.Uma cultura antes considera-da mundana pela Igreja estásendo incorporada a ela. Ospastores estão localizados nocentro desse embate, defron-tando-se com o conflito.

2002

COSTA, Vânia Maria Pinheiro.Casa das Minas : uma aproxima-ção ao universo lexical dos rituais.São Luís, Letras - UFMA, 2002.Orientador: Profª. Drª. Conceiçãode Maria de Araújo Ramos.

RESUMO: Considerandoa importância do léxico e deseu processo evolutivo parauma comunidade lingüística nainterpretação da sua realidadeimediata e sabendo- se que nacidade de São Luís (Maranhão)nos séculos XVIII e XIX a co-munidade lingüística africanaera numericamente superior àcomunidade de falantes de lín-gua portuguesa, analisa-se ouniverso lexical da Casa dasMinas( língua fon) buscando-se detectar sua presença, hoje,no acervo lexical dos falantesda língua portuguesa na cida-de de São Luís. A partir dessaanálise, que enfoca as varia-ções lexicais em uma perspec-tiva pancrônica e semântica,elabora-se um glossário quecontempla não só essas varia-ções, mas também registra aspalavras de origem portugue-sa que foram apontadas pelacomunidade lingüística daCasa das Minas.

Boletim 39 / dezembro 20072020

Perfil Popular

Márcia Mendes31

Diomar de Sousa LeiteDiomar de Sousa Leite nasceu no

dia 17 de maio de 1924, na cidade dePonta de Areia, município de Penalva.Seu pai, negro de São Bento; sua mãe,de São Cristóvão, região quilombolade Viana, descendente de negros al-forriados. Por ter grande parte de suafamília residindo em São Cristóvão,fez a sua família posteriormente mu-dar-se para São Cristóvão.

Como menino pobre, desde cedoestudou e trabalhou ao mesmo tem-po. Quando criança, trabalhava naroça com seus pais revelando-se comoautoridade no plantio, pois as pessoasna sua região diziam que tinha mãosboas para plantar. Depois, um poucomais crescido trabalhava fazendo com-pras, enchendo as casas com água evendendo arroz na beira da praia. Aostreze anos, estudava e aprendia o ofi-cio de alfaiate com seu mestre JoãoBatista de Araújo, em Viana. Logoaprendeu e começou a trabalhar comoprofissional lá mesmo.

Sua paixão por danças e folguedospopulares veio desde muito cedo, poisnos recorda que a sua mãe, que eradoceira, fazia-os e saía para vender nasfestas de bumba-boi e em muitas des-sas festas os filhos a acompanhava eele especialmente, desde muito cedo,nutriu esta paixão ardente pela festa de bum-ba-boi.

O seu pai, Arlindo, e seu tio, Tomás, eramorganizadores de bumba-meu-boi sotaque daBaixada, ambos também tinham funções nogrupo: o primeiro, como caboclo de pena, eo segundo, destacava-se como grande canta-dor da região de São Cristóvão.

Na sua juventude sentia muito prazerem dançar não somente boi, mas tambémbambaê e outros ritmos como fox, swing,rumba etc... E, em Viana especialmente, ele

31 Márcia Teresa Pinto Mendes – historiadora; professora; membro da CMF.

nos revela que aconteciam grandes festasdançantes em clubes, tanto em períodosnormais como nos carnavais.

Após mudar-se para São Luís, comple-tou seus estudos no Centro Operário e con-tinuou no exercício de sua profissão de al-faiate, inicialmente trabalhando em alfaia-tarias como empregado e depois montandoa sua própria. Aqui em São Luís casou-secom Iete e teve dois filhos, mas duas coisasnão esquecia: sua gente de São Cristóvão eo bumba-boi, pois sempre durante a tempo-rada junina estava por lá.

Sua religiosidade é bastante for-te. Conta-nos que todos os dias rezaem agradecimento a tudo que conse-guiu em sua vida. Sua família toda écatólica e devota de santos e ele, espe-cialmente, era um fervoroso devotode São João e, em razão disso, por tertido um problema de saúde no ano de1950, fez uma promessa a seu santopreferido ofertando-lhe uma brinca-deira de bumba-meu-boi. E, em se tra-tando disso, ele nos diz que isto é umacoisa muito séria e com sua sabedoriapopular e católica diz que existe dife-rença entre boi de promessa e de apre-sentação. No primeiro se faz o ritualda morte, caso contrário, quando apessoa morre passa a vir perseguir seusfamiliares, para ser feito este ritual, eno de apresentação, necessariamen-te não se tem esta obrigação.

Sua devoção à igreja católica le-vou-o a ter um outro grande prazerque é o canto gregoriano, pois parti-cipou do coro da Igreja do Carmo, oque aumentou ainda mais sua pai-xão pelas missas.

A trajetória de vida de Diomar con-ta ainda com uma grande característi-ca, a de benfeitor social, dedicado à suagente. Durante a sua vida e sabendoda origem do seu povo negro, em sua

grande maioria analfabeto, fez uma promessaa si mesmo que iria morar na cidade, estudar,crescer e voltar à sua terra, para ajudar aquelagente analfabeta e desta promessa houve a con-cretização do seu grande sonho, que foi cons-truir uma escola e levar projetos sociais a suaterra, para que pudesse ao menos abrandar osofrimento daquela gente.

Desta forma, prestamos uma homena-gem a este baluarte na cultura popular doMaranhão, que faleceu aos 83 anos de ida-de, no dia 19 de setembro de 2007.

CULTURAwww.culturapopular.ma.gov.br