blake meets winchester

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    Blake meets Winchester

    O cemitrio estava vazio e silencioso, como era decostume.

    Uma das coisas boas deste emprego de reanimar cadveres

    era quando eu terminava meus compromissos do dia esentava beira de uma das lpides, recobrando asenergias. Havia paz ali, em meio aos mortos. E cada vezmais eu me tornava ciente deles.

    Ser uma necromante me trouxera muitasresponsabilidades. E minha vida estava mudandointensamente desde que eu decidira me juntar a Jean-Claude. Eu agora compartilhava seus vampiros comomeus, era lder da matilha de Richard, o lobisomem,conseguira sem querer o posto de lder dos leopardos eainda havia muito o que fazer, ajudando a policia adesvendar crimes sobrenaturais que estavam aumentando

    ultimamente.

    http://3.bp.blogspot.com/-0o2y-MzyZaM/Tfwui7X6B1I/AAAAAAAAAm8/z-o2bFDUIH8/s1600/Anita+Blake+-+Guilty+Pleasures+01+-+06.jpg
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    Mas era madrugada e j tinha compromissos assim que odia amanhecesse. Jean-Claude devia estar me esperandoem casa.

    Reuni meu kit-zumbi, as ferramentas que eu utilizavasempre que fazia uma reanimao, e levantei-me da lpideem que eu estivera. Era de um rico executivo que morrerasem terminar seu testamento. Eu havia sido chamada paraperguntar-lhe quem estava includo nele, j que os filhosestavam atnitos para tomarem sua parte na herana do

    pai. Sim, as pessoas eram fteis, mas me pagavam paraisso. Eu no tinha que dar minha opinio.

    Foi quando me levantei que ouvi sons porta docemitrio. Havia sombras se movendo prximas a umcarro preto, de algum modelo antigo. Postei-me atrs deum carvalho enorme prximo ao porto de ferro. Quem

    estaria ali quela hora da noite?- St. Charles, certo?uma voz grave se pronunciou.

    - , o que disseram... Estamos aqui...a segunda vozparecia hesitante.

    Uma das sombras se moveu e parou em frente ao porto.

    Pus uma mo sobre minha Browning no coldre da cintura.- Cara, que cemitrio mais zoado...a primeira vozenunciouParece mesmo o lugar para um caadorprocurar distraoele riu.

    Caador?

    - Tem que ser aqui.outra sombra se aproximou do

    porto.

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    Ouvi um estalido que s podia ser o som do destrave deuma arma. Minha mo se apertou em volta do barril daBrowning.

    - Fique aqui, Sam. Vou dar uma olhada em volta.eleempurrou o pesado porto de ferro.E vigie o carro.

    A sombra estava bem perto agora, mas eu ainda no podiadistingui-la. Minha viso noturna era muito boa, mas anevoa da madrugada somada pesada sombra do carvalhono ajudavam a divisar detalhes.

    Ouvi passos. Em segundos, ele estaria perto o suficientepara ficar em minha linha de tiro. Puxei a arma devagar,sem qualquer rudo. Tentei ficar mais perto do tronco docarvalho, mas foi um erro. Pisei num galho seco no chode cascalho do cemitrio. Qualquer barulho em umcemitrio na madrugada soa como um sino de igreja

    badalando.Foi o que bastou. Ouvi um movimento rpido. Eleassociava bem movimentos e sons. Muitas pessoas apenascongelam quando ouvem barulhos em um cemitrio. Ouele estava apenas acostumado com isso.

    Fiquei alerta. Eles pareciam estar procurando um caador.

    Havia vrios deles: vampiros, demnios, ghouls,mercenrios... Eles no podiam desconfiar que eu estavaali. Eu tinha muitos inimigos e quase todos na cidadesabiam meu nome ou conheciam meu rosto. Culpa deBert, claro, e sua publicidade exagerada. Mas se no fosseassim, eu no manteria meu emprego na Animators, Inc.

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    Agora com a proximidade, era possvel ver que era umhomem jovem, alto. Ele estava com sua arma em punho,vasculhando a escurido. Mas seu rosto no era visvel.

    - Ok!ele exclamava para o vazioHoje uma timanoite para praticar tiro ao alvo! Mostra sua cara feia, seudemnio maldito!

    Ele s podia ser um caador. E quando um caadorprocura outro caador, provvel que ou eles estejamcaando a mesma coisa ou... estejam caando-se um ao

    outro. Sa lentamente detrs da rvore, a arma apontadapara a frente.

    O jovem parou e virou-se na minha direo. Eu lutavapara ver seu rosto, mas ainda era difcil. Ele no se moveumuito.

    - Voc no um demnio...parecia dizer mais para sique para mim.E definitivamente no um caador...Estariam seus olhos me percorrendo?Com esse fsico...Num cemitrio a essa hora... gtica?ele deu um passo frente...

    Aquela voz parecia familiar. Terrivelmente familiar.

    - Eu tenho uma arma. E estou em minha jurisdio. Nome.exigi.

    - Jurisdio? O que voc , tira?havia certo sarcasmoem sua voz. Ele engatilhou a arma.

    - Posso ser.

    Havia um pouco mais de luz e a escurido tornou-se umapenumbra. Apertei os olhos e aproximei-me. O homem fez

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    o mesmo. Encontramo-nos a um ponto no meio docaminho, parados um de frente para o outro. Finalmentehavia luz suficiente que vinha do poste. Congelei ao

    reconhecer o rosto. E vi minha surpresa espelhada nohomem minha frente.

    - Dean? Dean Winchester?minha voz saiu alta, pelasurpresa.

    - A...nita? Anita... Blake?a dele era incrdula. Como eume lembrava.

    Por um segundo, houve um impulso de baixar as armas,mas nos conhecamos melhor que isso. Logo estavam empunho outra vez.

    - O que est fazendo aqui?eu perguntei.

    - O que voc est fazendo aqui?Dean perguntou.

    - Eu trabalho aqui!

    - Fazendo o que, pichando lpides?ele riu.

    Eu estava cansada e tinha sangue sob minhas unhas. Euno ia tolerar isso.

    - O que est fazendo em St. Louis?olhei em volta e vi ooutro homem, agora aproximando-se do porto.O quevocs dois esto fazendo aqui?

    O outro homem exclamou:

    - Dean, algum problema a?

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    - Sam, voc est fazendo pegadinhas de novo? Olha,tivemos um dia inteiro disso uma vez e no foi legal...falou para o tal Sam.

    - Que pegadinha, do que est falando?perguntou.

    - Se no pegadinha... ... Acho que aconteceu de novo,Sammy!disse ele, simplesmente.

    - Ah, cara!exclamou o outro, soando entediado.

    E incrivelmente, Dean baixou a arma. Eu, no. Ele ficoume olhando, com uma sobrancelha levantada.

    - Sabe, Anita, uma mulher no fica bem posando dedurona assim... Voc tem licena para usar isso?ele seaproximou e tocou o cano da arma.Browning?elearregalou os olhos para mim e riu sarcasticamente.Opa,opa, algum tem uma historinha interessante para contar...

    Sam! Chega a, essa vai ser das boas!

    Eu franzi o cenho para ele. E baixei a arma, recolocandono coldre com um suspiro frustrado.

    - Ora, Anita... Cinco anos longe de mim fizeram bem avoc. Eu disse que fariam...Dean cruzou os braos e meobservou guardar a arma.

    Dean Winchester e eu nos conhecramos antes de eu ser aExecutora. At onde eu sabia, Dean e o irmo, Sam, napoca, adolescente, viviam viajando por a naquele carro.Sim, havamos tido um relacionamento breve e at mesmointeressante, mas acredito que fora como dizem: ramosapenas parecidos demais. Ele nunca me dissera o que

    fazia e isso ocasionou algumas discusses entre ns,

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    findando por nos separar. Alm disso, nossaspersonalidades fortes e nossos gnios se confrontavamconstantemente. Era como conviver com seus prprios

    defeitos evidentes em outra pessoa. Ningum se senteconfortvel com isso. Mesmo que em todos os outrosaspectos nos dssemos bem - muito bem, na verdade - nofoi o suficiente e cada um seguiu seu caminho.

    Caminho que se cruzara novamente.

    Ali estvamos ns, parados no meio do cemitrio de St.

    Charles, encarando-nos. Sam, pobre Sam, ele sempreacabava no meio das tramias do irmo. Eu me perguntavao que seria desta vez.

    - Sim, as coisas mudaram um pouco desde a ltima vezque nos vimos... eu disse, casualmente. Voltei a olharpara ele.No foi um fim amigvel, concorda?

    - Se voc chama de amigvel um aperto de mos seguidode um No com voc, comigo... No. No foiamigvel.ele balanou a cabea.

    - Sam, voc cresceu...observei, sorrindo levemente.

    Ele apertou os olhos, talvez querendo se lembrar de mim.

    No surtiu efeito.- Ahm... Desculpe, acho... que no lembro de...elearticulou, confuso.

    Dean interveio:

    - Ela a Anita que fazia...ele ficou muito srio de

    repente.A Anita que... reanimava cadveres...e olhoupara o irmo, as ris cheias de significado.

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    Sam arregalou os olhos.

    - Ela? Mas... No era ele?

    Olhei de um para o outro, esperando.

    - Cara, seria menos interessante se fosse...Dean pareciaanimado.Anita, conte ao Sam o que voc fazia... fazpara viver, querida.Ele deu uma nfase desnecessria naltima palavra.

    Ignorei-o e virei-me para Sam.

    - Eu reanimo cadveres numa firma de Reanimao desdeos dezoito, porque isso agora?perguntei, confusa.

    Dean aproximou-se de mim. Eu conhecia aquela atitude.Ele estava prestes a dizer algo surpreendente. Dramtico,

    quem, ele?- Disseram que havia aqui em St. Louis um caador devampiros que tinha habilidades com os mortos. Que eranecromante. Viemos conferir.

    Inclinei-me para ele:

    - Por qu?- Por que, Anita, isso , no mnimo, um paradoxo.

    Afastei-me dele.

    - o que eu fao.disse, por fim.

    - Mas Dean, deve ser ela, mesmo. Eu li que o Missouritinha muitos... como vocs chamam aqui... ah...

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    executores, mas haviam apenas trs grandes executorescom habilidades sobrenaturais.ele foi dizendo enquantotentava se lembrar.Inclusive, existia um... uma...e

    calou-se.- Sim, Sam, conhecida como a Executora.euacrescentei. Abri os braos, dando de ombros.Sou eu.

    Dean continuou me olhando, um riso brincando em seuslbios. Eu odiava quando ele fazia isso: era zombariavindo. Sam apenas me olhou, ainda confuso.

    - Quer dizer que voc, Anita, Anita Blake, a Anita quecolecionava pingins de pelcia, que faz coleo decanecas e luta por direitos trabalhistas dos mortos-vivos A Executora? ele fez as aspas no ar, claramente noacreditando.

    Ergui uma sobrancelha, fechando a cara.

    - Hum, isso costumava me deixar... animado.observouele, olhando para Sam. Voltou para mim.Voc a maiorcaadora de vampiros do Missouri?

    - Qui dos Estados Unidos.acrescentei, sorrindocinicamente.

    Ele riu alto.

    - Isso, belezinha, voc, no .

    - Mas e voc, Dean? Muito me intriga voc estarenvolvido nisso. No vai me dizer que tambm caavampiros?perguntei.

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    - Vampiros, bruxas, demnios, mulheres duronas...elepiscouO que quer que atrapalhe a paz dos homens, eucao.

    Ficamos nos olhando por segundos, avaliando asrevelaes um do outro.

    - Hum, ento era por isso que no podia ficar preso amim e bl bl bl?

    - Eu disse isso?perguntou, cnico.

    Acenei com a cabea.- Mulheres tem uma memria invejvel.observouAnita, eu no desconfiava que voc tinha tanto potencial,ou teria levado voc conosco...

    - Potencial, claro...repeti, sarcstica.

    - Claro, porque isso voc sempre teve. Muito... talentosa.e riu, maliciosamente.

    No contive o riso.

    - Carro...lembrei.

    - Restaurante...complementou Dean.

    - Cinema...

    - Cemitrio...

    - Hospital...

    - EI!!!exclamou Sam e mal me lembrava que ele

    estivera ali.Vo ficar a lembrando do passado ou volidar com isso como profissionais? Deus do cu...

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    Eu e Dean no pudemos deixar de rir.

    - Claro, Sammy, tem razo...Dean disse.

    - Sim, assuntos esritamente profissionais - voltei arvore epeguei meu kit de volta.

    - Ento...ele comeouTemos algumas coisas paraperguntar, se no se importa. De caadores para...Executora.

    Voltei para onde eles estavam, com meu kit em mos.

    - Comeando por... O que tem feito?acrescentou Dean.

    Lancei aos dois um olhar que avaliava se eu devia ou noresponder suas perguntas.

    - Vocs no fazem idia.

    ***

    Eu e os irmos Winchester paramos num bar beira daestrada de volta ao centro da cidade. Eu j havia perdido anoite, mesmo. Jean-Claude entenderia. Ele provavelmentej sabia o motivo de minha ausncia. Eu sentia.

    Dean pedira uma cerveja, no que foi acompanhado peloirmo. Eu no quis nada dali. Abstmia, o bar fora s olugar mais prximo que conseguimos encontrar. Agorasob a luz forte do bar espaoso e cheirando a madeiravelha, eu podia v-los melhor. Sam estava mesmo maisdiferente. Quando eu o conhecera, ele era pouco mais que

    um adolescente com espinhas. Agora ele parecia bem mais

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    alto e com um semblante mais srio. Eu apostava que elehavia visto o suficiente que desse aos seus olhos aquele arantigo. No se parecia muito com Dean, desde os cabelos

    negros at os traos mais longilneos. Mas ele franzia atesta da mesma forma e parecia ansioso para saber maissobre mim.

    Dean, bem, Dean era apenas ele mesmo, o velho DeanWinchester que no ligava muito para nada que nodissesse respeito diretamente a ele. Os cabelos curtos,aloirados, pouco mudaram desde a ltima vez que o vi. Osolhos verdes continuavam com aquela expresso alerta eao mesmo tempo cnica. A testa levemente franzida sreforava a impresso que eu tinha de que ele sempre tinhauma piada na ponta da lngua. Tivemos alguns duelosverbais bem interessantes no tempo que passamos juntos.Sempre terminava em empate.

    - Ento, Winchester, diga o motivo da sua visita a St.Louis.pedi, recostando-me na cadeira de madeira dura.

    Dean bebeu um gole da bebida gelada e disse:

    - Sam, a parte burocrtica com voc...

    Sam revirou os olhos para o teto.

    - Anita... Posso chamar voc de Anita, no posso?perguntou, cauteloso.

    Eu ri.

    - Claro, estamos entre amigos.

    Ele continuou:

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    - Bem, Anita, como eu disse antes, ns soubemos quehavia um caador de vampiros que era necromantetambm. Isso nos interessou muito.

    - Por qu?

    - Por que, como caadores, interessante trocarexperincias e informaes com outros caadores.

    Ergui uma sobrancelha para ele.

    -... E tambm porque precisamos da sua ajuda.- completouele, dando de ombros.Existe uma criatura solta em suacidade. Foi por isso que viemos at aqui. Pensamos ser umdemnio, no incio, mas agora... suspeitamos ser algumaespcie de morto-vivo. Suas vtimas so mortas como seum vampiro tivesse feito isso. Sem falar que tambm sealimenta de carne. Pode ser qualquer coisa, desde que noesteja vivo.

    Eu soubera de algo parecido, mas pensei ser um rumor,apenas. Provavelmente Dolph e o Esquadro ainda noestavam sabendo. J havia tanto em suas mos. A onda decrimes ocasionados por vampiros tinha crescido bastante.Processei aquilo por um momento. Uma criatura quedefinitivamente era um morto-vivo, mas matava como um

    vampiro e se alimentava como um zumbi. O que diabosera isso?

    - Vocs tiveram contato com as vtimas?perguntei.

    - Vimos uma delas.- Sam continuou.

    - Caractersticas?

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    - Mordida no pescoo, mas nenhum sinal de que o sanguetenha sido drenado. Msculos das pernas e dos braosarrancados. Algum sinal de ritual satnico perto do local...

    -O que o fez desconfiar que fosse um demnio...acrescentei.Que tipo de diagrama?

    - Um diagrama antigo... No se parecia com nenhum quej tenhamos visto.

    - E vimos um bocado.completou Dean, descansando a

    garrafa vazia na mesa.

    Era mais fcil falar s com Sam.

    - Eu tambm j lidei com casos de magia envolvendozumbis e vodu dos grandes... Magia negra. Mas umacriatura com caractersticas de trs outros tipos meioindito...eu disse.

    - Sim, Anita. Ficamos sabendo disso. Por isso viemossaber mais sobre voc. Voc sabe um pouco mais sobre...mortos.Sam concluiu.

    Eu assenti com a cabea.

    - Vamos ver isso com mais calma. Eu posso fazer uma

    pequena investigao a respeito...hesitei por ummomento.Acho que posso ajudar.

    - Quer dizer que voc tem feito coisas de gente grande,ento?perguntou Dean.Matar vampiros por a amando da justia... No to divertido quanto sair por aenfiando estacas, mas...

    - No fazemos isso por aqui, Dean. No mais.expliquei.

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    - Sim, sim. Ouvi dizer que os vampiros esto sendolegalizados nos Estados Unidos.ele riuQue idiotice.

    - Concordo com voc, mas a vontade de poucos sobrepujada pela da maioria. St. Louis a cidade commaior quantidade de vampiros legalizados e a que maisavanou em direitos para os vampiros. Nada que me faater muito orgulho.

    - Muito orgulho?Dean salientouEnto alguma coisa

    nisso boa para voc?

    Ignorei a pergunta dele.

    - Sam, porque vocs se encarregam de demnios?Recompensa? Vocs no me parecem interessados emdinheiro...desconfiei.

    Dean e Sam trocaram um olhar.

    - Por que voc mata vampiros, Anita? Com certeza no por que quer cooperar com a justia.Dean questionou,inclinando-se sobre a mesa.

    - Eu perguntei primeiro.

    - Eu disse que ns tinhamos perguntas a fazer. Vocconcordou em respond-las.

    Suspirei.

    - Eu mato vampiros, Dean, porque detesto o que elesfazem com os humanos. Os vampiros que infringem a lei,que matam humanos, no merecem uma segunda chance.

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    - E transform-los em criaturas sanguinrias mais justocom a sociedade?

    Fiquei olhando para ele. Por fim, respondi:

    - Isso uma escolha por aqui. A partir do momento quealgum escolhe ser vampiro, eu j no tenho mais nada aver com isso. No se diz a algum o que fazer nem seimplanta valores na cabea de quem no quer receb-los.Livre arbtrio, j ouviu falar?inclinei-me sobre a mesatambm.

    Dean assentiu com a cabea.

    - Cidade estranha essa sua.disseOuvindo voc falar,at parece que tem um amiguinho vampiro...

    - Claro que tenho, Dean. Tenho amigos aqui que fizeramessa escolha. E ainda os trato da mesma maneira.

    - S amigos, Blake?os olhos verdes de Dean faiscaramem minha direo.

    Sustentei o olhar. Ele no ia arrancar minhas verdadesassim.

    - da sua conta?perguntei, a voz firme.

    Dean bateu na mesa e deu uma gargalhada.

    - Bingo! Anita, Anita, eu sabia que tinha alguma coisanessa historinha de vampiro bom e vampiro mau... Vocdizia que os odiava s por existirem e passvamos horasdiscutindo isso quando voc estava naquele seu mestradoem... como mesmo?

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    - Biologia Sobrenatural, especialista em vampiros.completei, entre dentes.

    - Isso a, mestra.ele continuava rindoNo me diga queA Executora anda de caso com um dentucinho, demaispara mim...

    Eu no ia ficar agentando isso. s vezes eu tinha vontadede atirar em Dean, e esta era uma delas. Levantei-me damesa.

    - Tudo bem, Dean, no vou dizer. Por hoje chega.ecomecei a andar para a porta, enquanto falavaSam,encontro vocs s dez da manh no meu escritrio,Animators, Inc., tem na lista telefnica.

    - Ahm, tudo bem, Anita, e obrigado!exclamou o maisnovo dos Winchester.

    - Ei, Anita, qual , voc no se ofendia to fcil!ouvi avoz de Dean enquanto saa do bar.

    Parei na porta e disse, sem olhar para trs:

    - Voc sabe muito pouco a meu respeito para dizer o quequer que seja, Winchester.e sa do bar no sem antesouvir Dean dizer At amanh, Blake!.

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    ***- Dolph?

    - Sim, Anita.

    - No tem visto nada anormal acontecendo, quero dizer,mais nada alm dos casos que j tm em mos?

    - No. Por que?

    - Acho que posso ter um novo caso.

    Dolph era uma das nicas pessoas que podia ajudar agora.

    Eu tinha aquele contato com a polcia e, se havia algoperigoso a solta em St. Louis, eles deviam ficar sabendo.O Esquadro Assombrao era responsvel por crimes queocorriam devido a seres no-humanos.

    - Do que est falando?

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    Fiz um breve resumo do que estava acontecendo, semmencionar os Winchesters. Dolph ficou alguns segundosem silncio.

    - Onde apareceu essa vitima, Anita?

    - Eu ainda vou averiguar, Dolph. Mas quero que fique desobreaviso.

    - Isso informao de alguma das suas fontesmonstruosas?

    Suspirei.

    - confivel.pensei eu acho Hoje tarde eu entroem contato de novo.

    - Tudo bem.a linha caiu do outro lado.

    Nem me importei em reclamar. Desliguei o telefone evoltei a olhar o relgio. Faltavam dez minutos para as dez.Eu j estava em meu escritrio. Dormi pouco, para variar.Eu estava intrigada com esse caso. Que tipo de criatura eraessa?

    Naquela madrugada, encontrara Jean-Claude parado minha porta, esperando que eu o convidasse para entrar.

    De outra forma, ele no o faria. Eu queria muito ter tidomais tempo com ele, mas no foi possvel. Cheguei amencionar a histria e ele me prometeu verificar os fatos ever o que descobria entre os vampiros. Passamos o restoda madrugada juntos, e logo antes do sol brilhar seusprimeiros raios, ele se foi.

    Dean tinha suspeitado do meu relacionamento com umvampiro. Ora, que se dane. Eu no devia satisfaes a

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    ningum, muito menos a ele, que no tinha mais nada aver comigo. Ele era mais um dos que me bombardearamde crticas quando a histria veio tona. Era um contexto

    muito complicado para tentar explicar. Dean representavaum lado de mim que estava se esvaindo medida que eu iaficando mais metida com os monstros que eu tinha quelidar todos os dias. Minhas crenas j no eram asmesmas. Minha definio no era mais a mesma.

    O telefone em minha mesa tocou.

    - Oi, Maryeu disse, desviando meus pensamentos.

    - Anita, os dois rapazes esto aqui.

    - Pode deix-los entrar.

    Mary desligou e em alguns segundos, Dean e SamWinchester adentraram meu escritrio. Nada de roupas

    muito formais. Apenas um toque mais social em suascamisas e jeans. Eu tambm no estava muito arrumada.Nada de blazer e saia longa. S meus velhos jeans pretos euma camiseta plo azul marinho. Estvamos todos vontade, aparentemente.

    - Bom dia, Anita.saudou Sam, primeiro, com um leve

    sorriso cordial. Dean apenas ergueu as sobrancelhas emminha direo guiza de bom dia.

    - Bom dia.respondi, indicando as cadeiras frente daminha mesa. Dean ficou alguns segundos observandominha caneca, provavelmente lendo a frase que havia nela: um trabalho sujo, mas algum tem que fazer.

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    - Dormiu bem, Blake?perguntou ele, contendo um risosarcstico.

    - Na medida do possvel. St. Louis os recebeu bem?perguntei, mantendo o tom profissional.

    - Sim, sim. Cidade hospitaleira.ele continuou meolhando.

    Ignorei-o outra vez e me virei para Sam.

    - Sam, liguei para um contato meu na polcia. Eles aindano haviam tomado conhecimento desse assassinato.Quando aconteceu?

    - Na verdade, foi na noite de ontem. No muito longedaqui.

    - Nas florestas, voc quer dizer?

    - Sim, perto da estrada. No sei como no viram.

    - Vocs podem me levar at l?

    Sam olhou para o irmo, que parecia meio ausente,olhando em volta.

    - Claro.respondeu, por fim.- timo.eu disse.No seu carro ou no meu?perguntei, tentando fazer Dean participar da conversa poreducao.

    - Que tal cada um no seu?ele retrucou e levantou-se.

    Levantei-me tambm.

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    - Aquela lata velha no deve se dar bem em terrenosacidentados.

    Dean ficou muito srio.

    - Voc no sabe o que diz, baixinha.ele virou-se parasair da sala.Vamos, Sammy, vamos indo na frente.

    Olhei para Sam, tentando entender. O rapaz se inclinoupara mim, educadamente:

    - Ah... acho melhor voc no falar assim do carro.elebalanou a cabeaEle tem grande... valor sentimental,para ns, sabe?

    Dei de ombros.

    - Tudo bem. Desculpe por isso.eu disse, procurando achave do Jeep.Diga a ele para no se referir a mim

    como baixinha tambm e ficamos quites.

    Sam assentiu com a cabea.

    - Pode ir descendo, s vou fechar a sala.acrescentei.

    - Ok. Nos vemos no estacionamento.ele disse, e saiu.

    Encontrei a chave no bolso. Eu pusera um par de luvasdescartveis em meu bolso. A Browning j estavaconfortvel em minha cintura. Trouxera a Firestar porprecauo. No sabia se encontraramos grandesproblemas. Mas era sempre bom estar prevenida. Naverdade, podia salvar vidas, inclusive a minha.

    Dei uma ltima olhada ao redor e segui para a porta,

    trancando logo que sa.

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    Passando pela recepo, pedi a Mary:

    - Qualquer compromisso para mim que aparecer hoje,

    anote e eu organizo um horrio. Hoje vou estar um poucoocupada. Pode fazer isso?

    - Claro, Anita.disse a sorridente Mary.

    - Obrigada. Mais tarde volto aqui para ver isso com voc.

    - Mas... e Bert?ela perguntou, receosa.

    - Deixe que com ele eu me acerto depois.

    Agradeci e nos despedimos.

    Mal pus os ps fora do prdio, avistei cabelos loirosconhecidos no ptio do estacionamento. E bem perto deonde estava o carro dos Winchesters. Suspirei. Ele estavafazendo de propsito. Provavelmente Jean-Claude j deviater comentado com Jason a respeito da minha investigaoe o mandara para dar algum recado. Ou para me espionar.

    Mas eu no podia deixar de sorrir ao v-lo.

    - Jason!chamei, j que ele estava ligeiramente distrado,

    olhando o Impala preto que reluzia luz alta do soldaquela hora.

    Ao me ver, ele tambm sorriu. O visual era o de sempre:provocativo e denunciador de sua atividadecomo stripperda Prazeres Malditos. As botas de cowboymarrons, a cala apertada e a camiseta transparente,tambm marrom, e os cabelos brilhando luz do sol,

    esparramados pelos ombros.

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    - Anita. Eu j havia sentido seu cheiro.ele disse, aindasorrindo.

    - Claro que sim.eu chegara mais perto agora.Algumrecado de Jean-Claude?

    Ele fingiu se ofender.

    - Eu no posso ter vindo simplesmente v-la? Convid-lapara um caf?

    Ergui uma sobrancelha.

    Ele deu de ombros.

    - Ok, Anita, vamos l...ele empertigou-seJean-Claudepediu que lhe dissesse que est ansiose porrr v-la estanoite... ele carregou num sotaque francs zombeteiro.

    Eu ri.

    - Ele no fala assim, Jason. Jean-Claude sabe que vocanda o imitando?

    Ele ficou srio.

    - Disse tambm que pode ter uma pista a respeito da suainvestigao. No h, que ele saiba, nenhum vampiro solta. Mas ele suspeita que algum outro Vampiro-Mestrepode ter enviado essa criatura para matar em seu territriopara desafi-lo.

    Ponderei por um momento.

    - Parece plausvel.

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    - Disse que quer jantar com voc hoje noite para explicarmelhor as suspeitas dele.finalizou Jason.

    - Certo, confirme o jantar, Jason.pedi.Obrigada.

    - De nada.ele sorriu jogando os cabelos dourados paratrs.Est de sada?

    - Ah, sim, estou.balancei as chaves.Diga a ele queestou indo ver a cena do crime de perto. No h nada parase preocupar.

    - Claro...ele deixou no ar.Carro legal.ele apontoucom o dedo para trs de si, onde estava o carro de Dean eSam.

    - Bem, cada um com sua opinio.finalizei.Escuta,Jason, tenho que ir agora, at a prxima.dei um tapinhade leve no brao forte dele, indo at o carro preto.

    Debrucei-me na janela e disse: - Vamos indo, rapazes.

    Ouvi o motor ser ligado e fui para o meu carro.

    - Eu aceitaria uma carona at Riverfront... Mas voc estem misso. Haha.ele disse, e acenou, enquanto eu tiravao carro da vaga.

    - Tchau, Jason...disse, antes de deixar o estacionamentoseguindo o Impala dos Winchesters.

    ***

    Chegamos rea mais afastada da cidade. J haviamocorrido outros casos ali antes. No me surpreendia. Eraum lugar inspito, apenas com rvores e muita grama paraserem cmplices de um crime.

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    Estacionamos logo abaixo de uma das frondosas rvoresdali. A estrada era de cascalho, instvel. Ainda bem que euestava de tnis. Assim que desci do meu Jeep, vi Dean eSam descerem do seu Impala. Sam disse:

    - aquie adentrou a rea florestal.

    Dean o seguiu, em silncio. Ele estava muito calado. Achoque ainda estava sentido por suas suspeitas de minhaligao com vampiros. Isso parecia deixar as pessoas to

    arredias...

    Caminhamos por alguns minutos at chegar a uma clareirano muito prxima da estrada. Mas eu ainda podia ver oscarros daqui. Menos mal.Senti que estvamos perto, poispodia sentir um cheiro que no era caracterstico dasrvores.

    Sam apontou o local. Ali, sob uma poro de folhasmortas, havia algo na mesma condio. Tentei no respirarmuito fundo e me concentrar no corpo.

    Coloquei minhas luvas cirrgicas, e abaixei-me ao nveldo cadver. Mas algo estava errado ali. Literalmenteprendi o flego.

    No cho de grama e cascalho, estava o cadver, osmembros j inchados pelo tempo que se passara desde amorte, plido, quase roxo, com msculos arrancados dascoxas e dos braos. A grama parecia empapada de sangue,mas sangue seco agora.

    Dean estava olhando fixamente para o corpo entre asfolhas. No parecia ser nada novo para ele. Como eu, ele

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    provavelmente j vira muito disso. Ainda precisvamossaber que criatura havia feito aquilo, contudo. Olhei aoredor, procurando mais pistas.

    - Mas e as marcas no cara? E o diagrama, j viu algoparecido?Dean observou.

    - Est parecendo um ritual de ressuscitao. vodu.Teramos que saber quem era esse homem... Se ele tinhaalguma ligao com magia negra ou algo assim. Talveztenha sido apenas mais uma vtima. falei.

    - O seu contato na polcia pode verificar isso,no?Samlembrou.

    Pensei em Jean-Claude. Jason disse que ele tinha umapista.

    - Sim, j contatei o sargento Dolph Storr, ele averiguar asinformaes. Na verdade, eu devia ser a ltima a ver acena do crime, mas uma vez que eles mal sabiam disso...Bem, vou dizer a Dolph que venha imediatamente com aequipe. Enquanto isso, vou verificar minhas fontes.

    - Voc disse ressuscitao... No o que voc faz? -perguntou Dean, encostado em uma das rvores, aindaolhando o corpo inerte.

    - Ressuscitar cadveres envolve alma. Eu no mexo com aalma. Apenas com o corpo. - expliquei - Eu apenasreanimo, no quer dizer que eu traga de volta, apenasmomentneo. Deixar um zumbi por a ilegal e perigoso.

    - Ento quer dizer que quem fez isso barra pesada?

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    Assenti com a cabea. Dean assoviou. Sam chegou maisperto do corpo para observar.

    - Mas se a criatura foi trazida de volta vida... Como estdizendo... Ela no pode agir como um zumbi. Certo?Quero dizer, no sairia comendo pessoas dessa forma... Oque sugere que o tiro deve ter sado pela culatra... -ressaltou.

    - Est dizendo que a pessoa que fez o ritual errou? - Deanperguntou.

    - Para a criatura agir assim...

    Considerei por um momento.

    - Tem razo, Sam. - voltei a olhar o diagrama. Os padrespareciam corretos... Continuei acompanhando osdesenhos. Senti Sam se abaixar ao meu lado. Ele apontouuma representao no desenho.

    - Voc disse que um diagrama vodu, usado para trazerpessoas de volta vida. - ele recapitulou. - Mas parece queesta parte do diagrama no segue o padro. Veja. - ele

    seguiu o trao com o dedo. - Parece ter sido proposital. Sea pessoa podia performar um ritual desse porte, sabiacomo manipul-lo para produzir um monstro.

    Sam estava certo. Ele saber tudo aquilo realmente ajudava.No gostava de ficar explicando vodu. Eu mesma sabiamuito pouco comparado ao que realmente acontece nesses

    rituais. Era simplesmente assustador.

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    - Bem, temos alguma coisa para trabalhar aqui. - Deanpostou-se no meio da clareira. - Acho bom voc contatar

    Dolph e trazer essa equipe aqui o mais rpido possvel.Essa suposio a respeito do diagrama parece apontar asoluo... A pergunta que nunca cala ... Quem e porqu.

    - E o... cara ali?Sam indicou o corpo com o polegar.

    Olhei uma ltima vez para o rosto que devia ter sidobonito, agora inchado e arroxeado pela morte. Os cabeloslevemente compridos, escuros, espalhados na grama.

    - No podemos fazer nada enquanto a polcia no vier. Porisso vamos at o Sargento Dolph, para aproveitar queainda est recente. - eu conclu, tirando as luvas e ficandode p. Agradeci pelo sangue estar seco.

    Dean e Sam voltaram para o carro, comentando algumascoisas. Sam parecia estar pensando no assunto. Bom umacabea a mais para raciocinar.

    Quanto a mim, iria jantar com Jean-Claude. Pelo menosuma esperana de saber algo mais. Aquelas marcas devampiro, os membros lacerados... Que diabos era isso,afinal?

    Eu, Dean e Sam Winchester iramos descobrir.

    ***

    Cheguei ao restaurante s nove.

    Dolph me avisara ainda tarde que a equipe j estava na

    cena do crime e havia comeado a procurar as outras

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    vtimas. At agora, duas pessoas haviam morrido daquelaforma. Eles realizariam todo o trabalho de percia e assimque tivessem algo, eu seria avisada. Apresentei Dean e

    Sam para Dolph, que trocou algumas informaes comeles, sob o olhar atento de Zerbrowski que parecia estarcaptando algo no ar. Dean mal olhava para mim, enquantoSam sempre me inclua na conversa. Zerbrowski eraterrvel.

    Desci do Jeep, entrando no restaurante ainda tentandoencaixar as peas, at ver Jean-Claude em uma das mesas,uma expresso serena no rosto lindo, os olhos profundoscaavam os meus. Logo os encontraram e ele abriu osorriso que me derretia at os ossos. Hoje seus trajesestavam to simples quanto a expresso em seu rosto, acamisa branca com renda, a cala preta de sempre, asbotas lustrosas. Mas eu sabia o que havia embaixo de tudoaquilo e, acredite, s o pensamento disso me deixava

    tonta.

    Detestava admitir que um vampiro me causava tudo isso,mas de uns tempos para c, eu quase no pensava mais emJean-Claude como um vampiro. A no ser quando eletentava arduamente arrancar algumas gotas do meu sanguenas caricias mais quentes. Eu sempre recuava. Ele urrava.

    Mas minha mente hoje estava distante. O crime havia meintrigado. Havia pouco sobre mim que Jean-Claude nolesse em meu rosto. Em minha respirao. Em meusbatimentos cardiacos. Em minha voz. Por isso, eu desistirade esconder. Pelo menos com ele. Assim que me viu, elelevantou-se para puxar a cadeira para mim. Eu insistia queele no fizesse isso, mas suas maneiras ainda eram muito

    sculo XVII em alguns pontos. Apenas alguns.

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    Antes de sentar, ele me abraou pela cintura para um beijoleve, um dos meus preferidos, e sentei logo em seguida.Cruzei os ps sob a mesa nos meus saltos pretos, ajeitandoo vestido sob mim, apenas um vestido prpura curto, que,adivinhem, fora presente. Meus cabelos eram asemelhana dos de Jean-Claude: cachos por todos oslados. Mas os dele eram muito mais charmosos. Ele mefitou por alguns segundos enquanto eu me acomodava e,em seguida, disse:

    - Posso ver a nvoa nos olhos de ma petite... - estendeuuma mo de dedos longos para acariciar meu rosto. Fecheios olhos por um momento.

    - Pensativa. Apenas pensativa - eu disse, com um pequenosorriso. - Ajudaria a melhorar minha noite sediscutissemos logo suas suspeitas com relao ao caso.

    - Direto ao ponto, ma fleur? - ele franziu a testalevemente. - Sem preliminares?

    No pude deixar de rir.

    - Sem preliminares. Eu poderia me concentrar muitomelhor no resto da noite se isso fosse discutido logo. -

    sorri.Jean-Claude acenou com a cabea.

    - Entendo,petite... - ele inclinou-se sobre a mesa. - Prefirot-la de corpo e mente comigo logo mais.

    - Certo, ento corte os galanteios e diga: o que voc sabe

    sobre a criatura que est vitimando pessoas em St. Louis?

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    - fui direta ou ele ficaria naquele joguinho de segundasintenes a noite toda. Eu gostava, mas no agora.

    Ele estudou meu rosto por um momento. Jean-Claudeandava aprendendo algumas coisas comigo.Principalmente como lidar comigo.

    - Eu acredito que conheo o culpado.

    Fiquei esttica na cadeira.

    - Srio? Voc... Sabe quem ?

    - De fato. - ele juntou as mos sobre a mesa. - Frederic.

    - Frederic?

    - Ele um dos vampiros mais recentes, ma belle. E no aprimeira vez que ele foge ao controle. Ele era voluntrio

    algumas vezes em doar sangue a meus vampiros, masinteressou-se pelo lado oculto. Ele sempre esteveenvolvido com magia negra, mesmo antes de se tornarvampiro. Frederic se afiliou Igreja da Vida Eterna, j quecom vodu no alcanou tal feito e tornou-se vampiro.

    - E ento...?

    Ele apoiou o queixo em uma das mos, um gesto gracioso,e continuou.

    - Frederic apenas um jovem que se interessa porocultismo, ma petite. Aliados s pessoas certas eacumulando a quantidade certa de conhecimento, aquelesque desejam realmente alcanar algo, conseguem. Aotornar-se um de ns, seu crculo de amizades suspeitas

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    alargou-se sensivelmente. Decidiu por em prtica o quevinha planejando.

    - Frederic est testando vodu em humanos como umcientista testa cosmticos em ratinhos.

    - uma boa analogia.

    - E se tornou vampiro para potencializar suashabilidades...

    Pensei por um momento. Ento provavelmente as vitimastinham sido escolhidas aleatoriamente apenas para asprticas escusas de Frederic. No podia matar sem acabarsendo eliminado, j que uma vez vampiro no podia fazervtimas que no se voluntariassem para o feito. Ento...

    - Frederic matava, mas no drenava para no levantarsuspeitas. Deve ter utilizado a primeira vitima, ento, para

    o ritual de ressuscitao que no deu certo. E a criaturaest... solta? - conclu.

    - Triste, mas verdade. - confirmou Jean-Claude, brincandovagamente com as flores sobre a mesa.

    - Ento estamos procurando algum quase humano, masque no raciocina e devora carne viva.

    - Sua perspiccia um afrodisaco, ma petite. - as presasse insinuaram.

    Mas meus pensamentos continuavam longe. Eu precisavadizer a Dean e Sam que havia uma criatura monstruosasolta. Eles adorariam dar uma mozinha nessa. E Dolph,

    eu precisava avisar Dolph. J tnhamos o quem, o porqu eo qu. Precisvamos encontrar todos eles agora.

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    - S mais uma coisa, Jean-Claude: onde podemosencontrar Frederic?

    Jean-Claude me fitou por alguns segundos. A mente deleparecia oscilar entre mim na frente dele, sria e fazendouma pergunta e uma eu em situaes inimaginveis emque ele acabava por sugar meu sangue. Essa expresso dificil de imaginar, mas ele a fazia constantemente.

    - O Dave Morto. Lembre-se que Frederic, por mais

    habilidoso que parea, ainda um amador, posso dizermesmo descuidado, pobre jovem.

    - Claro, frquentando o ponto de encontro do Distrito. -tornei a pensar. - Jean-Claude, voc me d s um minuto?

    - A eternidade, se aceitar um dia, ma petite.

    Eu sabia que era verdade, mas ignorei. Precisava encontrarum telefone. Estvamos perto. E tnhamos que agirrpido. Fui at o telefone do restaurante e liguei paraDolph, relatando tudo (ou quase) que Jean-Claude dissera.Assim que desliguei, lembrei que no tinha o contato dosWinchester. Droga. Eram quase dez da noite. Bem, Dolphj estava sabendo. No dia seguinte, eu tentaria localizar

    Frederic. Usar alguma ajuda nesses casos era sempre bom.Voltei, uma pequena esperana de resolver aquele caso seinstalando em mim. Ao ver meu atual namorado melhor,agora, de pernas cruzadas, olhando profundamente paramim naquele vestido curto, um outro sentimento tambmse instalava em mim. Em outras regies, no exatamenteem minha mente. Era ele que estava fazendo isso.

    Controlando minhas sensaes. Podia ser muito bom em

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    alguns contextos. As vezes era apenas irritante. Agora, eraprovocador.

    Sentei-me novamente mesa, grata pela informao, edisse isso a ele.

    - Ento mereo uma recompensa por isso, no acha, mabelle?

    - Contanto que voc me recompense se conseguirmospegar Frederic, me parece razovel.

    - Uma troca de recompensas, ento? - sugeriu, uma mopor baixo da mesa subindo levemente por minha coxa,acariciando.

    Mordi o lbio.

    - Se ganharmos essa, pode ter certeza que a recompensa

    ser apenas um pretexto.

    Ele levantou a mo que estivera em minha coxa at aquelesegundo e chamou o garom. O jantar hoje seria paraviagem.

    ***

    Encontrei Dean e Sam Winchester em meu escritrionovamente na tarde do dia seguinte. Eles pareciam

    http://1.bp.blogspot.com/-72zbXh3nZKg/TvpUhUogPpI/AAAAAAAABKw/gSaTZvnOeBA/s1600/Anita+Blake+%287%29.jpg
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    determinados em encontrar a criatura de Frederic, ovampiro. Ainda me assustava o fato de Freddie ter tido ainiciativa de praticar um ritual desse porte. Mas para ter se

    candidatado ao vampirismo por um motivo to vago, eurealmente no esperaria muitos atos responsveis. Logoele, um jovem to descuidado, tinha que ter tentadoressuscitar algum s para ver se funcionava mesmo?Tinha arrepios s de imaginar o que passava na mentedele.

    - Voc tinha uma fonte quente para dar esse tipo deinformao assim to completa, no, Blake? - perguntouDean, a voz de sarcasmo que eu detestava.

    Mais quente do que ele imaginava.

    - O que quer dizer com isso, Winchester?

    - Confesse que voc anda frequentando o bailinho deHalloween de St. Louis, Anita. - ele zombou. - Eu e Samvimos muita coisa nesse pouco tempo que estamos aqui.Deu para entender qual a do pessoal. No me admirariavoc ter dado um tempinho nos seus... Excrpulos, possodizer, e decidido ter seu prprio vampirinho de estimao.

    Eu respirei fundo e reuni minhas foras para no ser

    violenta com Dean. Ele ainda tinha mais:

    - E vi a foto no jornal hoje cedo. Est escondendo de quemmais o seu envolvimento com o Vampiro-Mestre, Blake?

    Sam estava apreensivo.

    - verdade, Anita?

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    timo, eu estava sendo interrogada por dois caras recm-chegados. Optei pela verso curta:

    - Sim, Sam, verdade. Dean, eu no devo satisfaes doque eu fao ou do que deixo de fazer, e meus excrpuloscontinuam no mesmo lugar, apenas inverti as prioridades.Meu carter o mesmo, no defendo os vampiros, nemmuito menos os protejo. Apenas fao o que acho que devo,porque o que devo fazer o certo. - olhei bem para eles. -O ponto central aqui so duas pessoas que morreram poratos irresponsveis de, adivinhem s, um vampiro. E issoque interessa.

    Dean ficou balanando a cabea.

    - Defendendo seus principios at o final... - observou. -Ok, Blake. - ele espalmou as mos em sinal de rendio. -Tem razo, no mesmo do meu interesse...

    - Ah, e o que mais vai dizer? "Estou muito desapontadocom voc"? Entra na fila. - cortei o assunto e voltei aoponto: - Temos que encontrar Frederic e faz-lo dizer ondeest a criatura. E eliminar. Talvez os dois. Mas algum vaiter que morrer, e que seja esse monstro bizarro.

    - Iremos a esse tal bar, o Dave Morto? - perguntou Sam.

    - Sim. Mas s poderemos ir ao cair da noite. Antes disso,s bbados e pessoas estpidas estaro por l. - levantei-me - E quero que cheguem l devidamente armados. Podeser preciso um pouco mais de ao. No costumo trabalharem grupo, mas vocs tem o mrito de estar nessa, afinal,sem vocs, teramos levado mais tempo.

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    Sam assentiu com a cabea. Dean apenas me olhou.Suspirei.

    - Se vai ficar nesse climinha, Dean, acho bom serecuperar, porque eu no tenho tempo para suaimplicncia.

    - Digamos que seja uma pequena crise de confiana. - eledisse, sarcstico. - Ainda estou processando o paradoxo...A Executora e o Vampiro-Mestre. Porque isso no fazsentido na minha cabea?

    Eu ri.

    - H muitos beneficios em uma relao como essa, Dean.Mais do que voc imagina.

    - Prefiro no imaginar. - ele fez uma careta de nojo.

    - No sou eu que tenho que lidar com isso. - virei-me parao irmo dele - Sam, voc no tem nenhum problema a meurespeito, tem?

    Ele hesitou.

    - Bem, no... Temos interesses em comum. E estoucurioso para ver esse zumbi que deu errado.

    - timo. - eu disse - Vamos resolver isso de uma vez.

    ***

    O Dave Morto era um bar muito badalado. Chegamos ltima luz do pr-do-sol, e o lugar j estava apinhado. Era

    meio como um refeitrio de escola: em algumas mesas,

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    apenas os humanos alegrinhos, em sua happy-hour; emoutras, vampiros barra-pesada, do tipo que aceitamqualquer olhar torto como ofensa; mais para o fundo,

    ficavam aqueles que no se encaixavam em um grupoparticular, e que apenas pareciam estar procurando algo.Embora nem eles soubessem o que era.

    Dave era um contato meu no Distrito dos vampiros,tambm. Antes, ele trabalhava para a policia e gostava deajudar no que podia. Hoje ele faria muito se me desse umadica de onde Frederic poderia estar.

    Entrei no bar acompanhada de Sam e Dean, muito maisaltos que eu, como minha escolta. Eu no gostava deandar por ali naquele horrio, mas hoje era preciso. Dave,que acabara de acordar, estava vindo da porta dos fundos.Um vampiro normal, de aspecto taciturno. Dave sempreparecia saber quando eu precisava dele.

    - Anita - ele disse, com sua voz cavernosa. Sam e Deanpermaneciam olhando para os lados, vigilantes de algo.Concentrei em pedir a informao.

    - Ol, Dave. Onde est o Lu? - perguntei casualmente pelogerente, uma figura.

    - Pedi que ele fosse buscar algumas bebidas no estoque.

    Assenti com a cabea. Dave olhou para os Winchestercom certo interesse. Eu nunca sabia dizer quando Daveestava interessado em algo.

    - E esses a, so...? - ele perguntou, desconfiado.

    - Bem, no precisa se preocupar com eles. Apenas amigos.

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    - Hum... Uma garota como voc no pode mesmo andarsozinha por aqui... - ele observou.

    - Dave - baixei a voz, inclinando-me no balco. - Vocconhece algum Frederic, um vampiro recm-criado?Soube que ele frequenta seu bar.

    Dave examinou meu rosto.

    - O que voc quer com aquele maluco? Garota, no semeta com essa gente.

    - No... Eu no pretendo. - esclareci. - Investigao.Polcia. Pisquei para ele.

    Dave continuou me olhando.

    - Ele est ali. - Dave olhou furtivamente para trs. - oruivo alto demais. Sempre senta ali no canto como se

    estivesse se escondendo de algum. - ele baixou a voztambm. - Ele estranho. Eu teria cuidado se fosse voc.O Fred ali tem um parafuso solto.

    - Obrigada, Dave. Pode ter certeza que a policia agradece.- tentei sorrir para ele. Dave apenas acenou e deu ascostas.

    Eu, Dean e Sam nos sentamos discretamente no balcomesmo, como es tivessemos pedido algo e estavamosapenas esperando. Dave sabia o que eu bebia eprovavelmente viria com um copo de suco de laranja.Disse aos irmos quem era o tal Fred. No era dificil v-lo. De fato, ele era alto, desengonado. Sentava-securvado. De longe, pude ver que parecia bastante arredio.

    Pensei numa maneira de chegar a ele.

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    - Eu sugiro que apenas um de ns v at l. - disse Sam. -Pro caso de ele tentar fugir.

    - Eu vou. - eu disse, escolhendo uma abordagem.

    - Voc tem mesmo mais afinidade com os monstros. -disse Dean, me alfinetando. Ignorei.

    Lu veio em direo ao balco com uma caixa de cervejas.Colocou em um compartimento que eu no pude ver eassim que me viu, eu disse:

    - Duas doses de whisky com gelo.

    O gerente me olhou, deu um risinho e assentiu. Ele sabiaque tinha alguma jogada. Lu era esperto, graas a Deus.

    - Saindo. - disse e, em poucos minutos, ele colocara oscopos de whisky no balco. Empertiguei-me e levantei

    com os copos nas mos, indo em direo mesa de Fred.Agir naturalmente.

    Poucas pessoas prestavam ateno s outras, naquelehorrio o Dave Morto era barulhento. E eu passeisorrateiramente entre as mesas e cheguei de Fred, jsentando e colocando os copos na mesa.

    - Ol, Freddie... - saudei, como se o conhecesse a vidainteira. Olhei para ele. O vampiro tinha a pele macilenta eos olhos cados. O cabelo ruivo espetado parecia fogosobre a cabea dele. Mas a expresso de Fred ao me ver (eme reconhecer) foi de um medo esttico.

    - Voc... - ele disse, apenas.

    - Sim. Eu.

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    - Ele mandou voc. - a voz dele era baixa, distante.

    Mantive minha voz neutra.

    - Sim, ele me mandou. - olhei bem fundo nos olhos verdesmuito claros do vampiro. Ele parecia muito assustado. Evendo-o de perto, ele no parecia mau, nem que tentariafugir. Ele estava apenas com medo. - Eu sei o que vocfez. Sei por que voc fez. Agora, me diga onde est o quefez e prometo ser gentil com voc. - balancei o gelo no

    copo, fazendo um barulhinho molhado. - No garanto queele ser. - inclinei-me na direo de Fred. - Mas veja pelolado bom: voc prestar contas direto com ele.

    Fred olhava para os lados, apreensivo. Balbuciavaalgumas coisas que no compreendi. Parecia outro idioma.Senti uma gota de suor percorrer minha espinha.

    - Voc pode at saber o que eu fiz, mas no sabe porqu. -ele disse to baixo que quase me curvei sobre a mesa.

    - Ento me conte, Freddie. Para o seu prprio bem. Umamorte menos dolorida, talvez.

    - Morte, morte. Nem assim eu me livrei da morte! - eleexclamou, quase desesperado. - Eu s queria... eu squis...

    - O qu, Fred? - eu perguntei, o copo de whisky intocadosobre a mesa.

    Fred olhou para mim e parecia desistir. Entregar ospontos. E falou mais baixo ainda, se que era possvel.

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    - Anne. O nome dela Anne. - ele disse. - Eu... Ela eralinda... Eu amava Anne. Mas eu no era bom o suficientepara ela... - seu olhar se perdeu no vazio. - Eu consegui, eu

    consegui a vida eterna... Mas ela no me quis mesmoassim. E eu... eu... - ele escondeu o rosto nas mos.

    - Voc matou Anne, Freddie?

    - Ela me fez dar a ela minha vida! Precisava da dela emtroca! - ele exclamou, a voz alteando um pouco. Mas logovoltou a falar baixo - Ela era to fragil... to humana. Eu

    no quis... Foi s...

    - Voc sentiu raiva.

    Ele assentiu com a cabea.

    - E a finalmente o que eu vinha estudando ganhousentido. - ele disse, de uma vez. - Eu sabia que podia

    trazer Anne de volta... Ou pelo menos achava que sabia.

    - Agora Anne um monstro? - perguntei lentamente.

    - No chame ela assim! - Fred exclamou e levantou-se.Tudo aconteceu rapidamente.

    Fred saiu correndo por entre as mesas e derrubou os copos

    que eu trouxera. Sa no encalo dele, tentando alcanar avelocidade do vampiro recm-criado. Dean e Sam quase oagarraram, mas o vampiro era muito forte e desvencilhou-se. As pessoas gritaram, houve uma agitao no DaveMorto. Assim, ns saimos em disparada correndo atrs deFrederic, e eu tinha certeza que ele nos levaria at Anne, omonstro.

    ***

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    Fred entrara num galpo, quase saindo de Riverfront. Euestava sem flego quando chegamos porta do galpo.Dean chegara junto comigo, arma em punho. Sam vinhalogo atrs, parando ao nos ver. Fred entrara no lugarescuro e ali sumira.

    - Ele criou o monstro a partir de uma garota, Anne. - eudisse, arfando. - Desiluso amorosa. Ele entrou em pnico,est com medo da punio.

    - S pode estar aqui, a belezinha. - Dean disse,engatilhando a arma, recobrando o flego. Aps algunssegundos, disse: - Eu entro para vasculhar, Blake, vocprocura o cara estranho e Sam, procure do outro lado. Essegalpo bem grande.

    Entrei no lugar que cheirava a mofo e coisas mortas. Ouvium barulho de um metal caindo. Algum se movera alidentro. A iluminao no ajudava, uma vez que o galpoestava abandonado e j era noite. Ainda bem que minhaviso noturna era muito boa.

    Ouvi um tiro. Dean. O que ser que ele encontrara?

    No tive tempo de averiguar porque assim que pensei ter

    visto Fred correndo entre caixas velhas, senti um golpe nascostas. Perdi o equilbrio e o flego, caindo no cho, dejoelhos. O impacto foi lacerante, mas virei-me a tempo dever o que tinha me atingido. Fred estava acima de mim,com uma tbua larga nas mos. Um sorriso manacorasgava seu rosto.

    - Anne no um monstro!

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    Foi a ltima coisa que ouvi. Ao longe, um grito que nosoube se era meu. Mas logo a escurido me engolfou de

    vez e ento, o silncio.***

    Abri os olhos de uma vez. A luz perturbou minha viso,mas logo vi que onde eu estava era branco. Eextremamente silencioso. Olhei para os lados. Estavadeitada em uma cama fofa. Era uma maca. Eu devia ter

    desmaiado. Senti algo estranho na cabea, apertando. Pusa mo, senti uma bandagem. Fred me nocauteara. Queriasaber o que tinha acontecido porque ele usara aquela tbuacom sua fora sobre-humana contra minha cabea. Eupodia ter sofrido uma concusso.

    Suspirei e um pequeno "ai" me escapou dos lados. Onde

    estavam os Winchester? Haviam escapado de AnneMonstro? E Fred? E o crime? Eu precisava sair dali.Levantei de vez e logo uma tontura me atingiu em cheio.

    Uma mulher entrou pela porta, dizendo:

    - J esta acordada e j quer fugir? - ela veio at mim. -Voc tem que ficar quietinha se quiser se recuperar logo.

    - O que aconteceu comigo? - perguntei, encostando-me notravesseiro, enquanto ela via na prancheta.

    - Voc sofreu uma pancada forte na cabea. Tratamos demanter tudo no lugar. No se preocupe, se for boazinhahoje mesmo estar dormindo em casa. - era a enfermeira.Ela anotou algumas coisas e continuou - Anita Blake. Seu

    nome conhecido nos arquivos do hospital.

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    Sorri levemente, ainda tonta.

    - Voc tem visitas - ela prosseguiu, ajeitando o travesseiro

    atrs de mim. - Posso pedir que entrem? Parecempreocupados...

    - Quem so?

    - Dois rapazes. Dizem que estavam com voc quando tudoaconteceu.

    Sam e Dean.

    - Ah, pode deixar entrar. - pedi.

    A mulher se retirou rapidamente. Poucos segundos depois,Vi os irmos Winchester entrarem na sala. Sam trouxerapequenas flores. Dean apenas sorriu. Tentei sorrir de volta.

    Era bom ver que estavam bem.- Voc apagou por um tempo... - Dean observou,apoiando-se na beira da maca.

    - Ficou preocupado?

    - Nem um pouco.

    Rimos.

    - Ento, o que afinal de contas aconteceu naquele galpo?Detesto desmaiar e perder a ao.

    Sam riu, deixando as flores sobre a mesa de cabeceira, aolado dos analgesicos.

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    - Fred criou uma coisa assassina. Sabe, a tal garota parecianormal, mas andava cambaleando, os olhos eram vazios.Se esbarrasse com ela na rua, diria que era doente mental...

    - ele disse, pensativo.- E vocs a pegaram?

    - O cara estranho tentou nos impedir. Ele avanou paramim e me prendeu na parede. - Sam continuou.

    - Mas eu dei um tiro nele antes que ele ficasse mais

    nervosinho. - Dean riu. - A prata corroeu o dentuo decima a baixo. Foi agradvel de assistir.

    Eliminar criaturas sobrenaturais era divertido de vez emquando. Especialmente vampiros.

    - E quanto ao projeto de zumbi? - perguntei.

    - Aquela coisa era muito forte. Foi quase impossveldesviar das investidas. Por um momento pensei que elaarrancaria fcil um brao meu.

    - E poderia. Um zumbi pode ser muito forte, agoraimagine uma tentativa de ressuscitao. A magiaenvolvida vem do lado negro da fora, se que meentendem. - eu disse lentamente, recostada.

    - Sabemos disso - Sam interveio. - Mas ela se distraiuquando me viu atrs de Dean e no segundo seguinte, Deanconseguiu atingi-la.

    - E a garotinha perdeu a cabea, literalmente. - o maisvelho completou. - Um pouco de sujeira, muito sangue

    espirrando, resumo: misso cumprida.

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    Eu hesitei por um momento.

    - A policia vai ter um pouco mais de trabalho para dar porencerrada a investigao.

    - Interessante vocs terem uma policia para esses casos. -Sam disse.

    - Eles tentam fazer o que podem. Mas a cidade no tem doque reclamar.

    - E eles tem voc. - Dean disse e olhei bem para ele,procurando sinais de sarcasmo. No havia. Pelasobrancelha franzida, dizer aquilo estava lhe custandomuito, mas ele tentou no deixar transparecer.

    - , eles tem a mim. - concordei.

    ***Mais tarde naquele dia, pude ir para casa. Conversei comDolph ainda no hospital, e ele entendeu o que devia fazer.Ele, assim como Dean, ainda tinha o p atrs comigo eminhas ligaes com os monstros. Mas Dolph e eu

    http://3.bp.blogspot.com/-nMXf7IfblzI/TvpUw7Hg1ZI/AAAAAAAABK8/QsVRZl2a9N4/s1600/Anita+Blake+%2829%29.jpg
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    tinhamos uma relao mais solida que isso. Ele jencobrira coisas muito maiores por mim.

    Com o mrito da eliminao do monstro, Sam e Deanprecisavam partir. O encontro ao acaso parecia ter sidoprodutivo de algumas formas. Formas interessantes.

    No saguo do hospital, Sam nos deixou a ss e eu decidifalar antes que o silncio constrangedor se estabelecesse.

    - Olha, Dean, agradeo por livrar a cidade daquele

    maniaco. E da namoradinha dele.Dean riu levemente. Lembrei que eu costumava gostardaquilo. Mas j fazia muito tempo.

    - Voc ajudou no que precisvamos. Acabamos com maisuma aberrao. Procedimentos padro da vida de caador.- ele disse. - Mas voc est me devendo uma. Salvei sua

    pele.

    - Pode cobrar.

    Ficamos em silncio.

    - Ento... Hoje mesmo voltamos para a estrada. Nopretendemos ficar muito mais tempo.

    Assenti com a cabea.

    - Claro.

    - Escuta, Anita... - ele disse, chegando mais perto. - Eudevo ter subestimado voc antes... Sabe, h uns anos atrs.Mas estou vendo que alcanou um nivel... respeitvel na

    profisso. Uma caadora de respeito, talvez.

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    - Voc no precisa me dizer tudo isso, Dean. - eu disse,rindo. - Mas fico feliz que disse.

    - Ok, ento. - ele estendeu uma mo. - Vejo voc por a.

    Apertei a mo de Dean Winchester firmemente.

    - Talvez sim. Seus caminhos so incertos...

    - Os seus tambm, Blake.

    Nos olhamos por alguns segundos e Sam estava de volta.Ele me cumprimentou, dizendo:

    - Foi bom conhecer voc, Anita.

    - , rever voc assim crescido foi bom, tambm.

    Ele riu.

    Dean e Sam dirigiram-s para a porta, me deixando paradano meio do saguo. Dolph me daria uma carona at emcasa. Acenei uma ltima vez e os dois desceram asescadas, voltando para o Impala preto. Eu queria poder terdito mais alguma coisa, mas no era preciso. Entre mim eDean as coisas sempre acabavam subentendidas.

    Eu no sabia quando veria os Winchester novamente, masacredito que fora uma daquelas experincias em que voctira os esqueletos empoeirados do armrio e eles passam aenfeitar a sala de estar. Mas os Winchester no eramdomesticveis a esse ponto. Digamos que eram esqueletosbonitos, que sabiam manusear armas e estavam sempremetidos com o sobrenatural, meio como eu, mas que

    estavam alm deste ou daquele lugar. Apenas honravam o

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    nome da familia ao caar o que quer que "atrapalhasse apaz dos homens", onde quer que estivesse.

    Eu podia fazer o mesmo. Mas no de mim que estamosfalando. Meus princpios se complicaram demais nocaminho para pensar no que eu podia fazer pelos outrosagora. Havia mais em meu prato do que eu podia digerir.Na verdade, eu sempre tinha coisas demais para fazer. E ofardo era s meu, sem um irmo ou alguem assim paradividi-lo comigo.

    Entretanto, minha cabea di agora e no quero pensar emmais nada por hoje. Vou apenas dormir algumas horas ecomear tudo de novo.

    FIM