cancões da inocência & da experiência - william blake

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Page 1: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake
Page 2: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

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Page 3: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

WilliamBlake

Canções daInocência e daExperiência

(2ª edição revista eatualizada)

Tradução deRenato Suttana

2011

Page 4: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

1ª edição: 20052ª edição: 2011

Page 5: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

ÍndiceCANÇÕES DA INOCÊNCIA

INTRODUÇÃO

O PASTOR

O ECOANTE VERDOR

O CORDEIRO

O MENININHO NEGRO

O AMOR-PERFEITO

O LIMPADOR DE CHAMINÉS

O MENININHO PERDIDO

O MENININHO ENCONTRADO

CANÇÃO SORRIDENTE

UMA CANÇÃO PARA BERÇO

A IMAGEM DIVINA

QUINTA-FEIRA SANTA

NOITE

PRIMAVERA

CANÇÃO DA AMA

INFANTE ALEGRIA

UM SONHO

SOBRE A MÁGOA ALHEIA

CANÇÕES DA EXPERIÊNCIA

INTRODUÇÃO

A RESPOSTA DA TERRA

O TORRÃO E O SEIXO

QUINTA-FEIRA SANTA

A MENININHA PERDIDA

A MENININHA ENCONTRADA

O LIMPADOR DE CHAMINÉS

Page 6: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

CANÇÃO DA AMA

A ROSA DOENTE

O MOSQUITO

O ANJO

O TIGRE

MINHA BELA ROSEIRA

AH, GIRASSOL

O LÍRIO

O JARDIM DO AMOR

O PEQUENO VAGABUNDO

LONDRES

A ESSÊNCIA HUMANA

MÁGOA INFANTIL

UMA ÁRVORE DE VENENO

UM MENININHO PERDIDO

UMA MENININHA PERDIDA

A IMAGEM DIVINA

UMA CANÇÃO PARA BERÇO

O ESCOLAR

PARA TIRZAH

A VOZ DO BARDO ANTIGO

Page 7: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

CANÇÕESDAINOCÊNCIA

Page 8: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

INTRODUÇÃO A tocar minha flautinhaPelo vale viridenteVi nas nuvens umacriança. Disse-me ela,sorridente:

Toque a canção doCordeiro! E eu toquei comalegria. Flautista, toqueoutra vez –E chorou, enquanto ouvia.

Deixe a flauta, a alegreflauta, Cante canções dealegria. Toquei o mesmooutra vezE o vi chorar quando ouvia.

Flautista, sente-se e escrevaNum livro, que o mundo leia– E então desapareceuE um caniço eu apanhei

E fiz dele a minha pena,E turvei as águas mansas,E escrevi cançõesfelizes, Para alegrar ascrianças.

Page 9: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O PASTOR Que doce a doce lida do Pastor,Da madrugada à noite elevagueia: Seus carneiros nocampo pastoreia, E a sua voz écheia de louvor.

Porque ele ouve o balido do cordeiroE o replicar da ovelha, e atentamenteVigia enquanto pastam calmamente,Pois sabem que está perto oPegureiro.

Page 10: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O ECOANTE VERDOR O Sol que no céu desponteDá alegria aohorizonte; O sinocanta a canção Daflorescente estação;Canta o tordo e acotovia, E a ave damata bravia, Aoretumbante clamorDos sinos, por sobre oscampos; Enquanto, jovens,brincamos Pelo EcoanteVerdor.

O velho João, já grisalho,Esquece faina e trabalho;Senta-se entre a velhagente À sombra, no diaquente.Ao verem nosso folgarSe põem a comentar:“O mesmo alegre fervor,E equivalente alegriaEm nossa infância se viaPelo Ecoante Verdor.”

Até que, exaustos os novos,Não podendo mais com osjogos, No ocidente o soldeclina,E nosso folgar termina.Em torno ao colo das mães,Diversos irmãos eirmãs, Como as avesao calorDos ninhos, vão repousar;E não se vê mais folgar

Page 11: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

No anoitecido Verdor.

Page 12: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O CORDEIRO Cordeirinho, quem tefez? Tu conheces quemte fez? Deu-te vida ealimentou-te.Sobre o prado e junto à fonte;Cobriu-te com veste puraDe lã branca que fulgura;Deu-te a voz meiga e tãofina Para alegrar acampina: Cordeirinho,quem te fez?Tu conheces quem te fez?

Cordeirinho, eu tedirei, Cordeirinho, eute direi;Por teu nome ele é chamado,Pois assim se temnomeado: Ele é meigo epequenino,E um dia se fez menino:Cordeiro tu e menino eu,Nos une um nome que éSeu. Cordeirinho, Deus teguarde,Cordeirinho, Deus te guarde.

Page 13: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O MENININHO NEGRO Minha mãe me gerou lá numa austral devesa,E sou negro, mas – oh! – sei que minha alma éclara. Clarinha como um anjo é uma criançainglesa:Mas negro sou, como se a luz não me tocara.

À sombra de um baobá minha mãe me educouE sentada comigo ante o calor do dia.Tomou-me certa vez ao colo e me beijou,E indicando o nascente eis o que me dizia.

Olha o nascer do sol: lá Deus tem sua casaDe lá nos manda a luz e envia Seu calor,Que a árvore e a flor e a fera e o homem tudo abrasaConfortando a manhã alegrando o sol-pôr.

Nosso tempo na terra é só uma curtaestada. Para aprender a suportar o amorradioso.E este corpo tão negro e esta face queimadaÉ uma nuvem somente, e um bosque penumbroso.

Quando tiver nossa alma esse ensinoaprendido A nuvem se esvairá e uma voz háde soar. Dizendo: o bosque abandonai gadoquerido.E vinde em torno à Minha tenda festejar.

Minha mãe disse assim e me beijou aface. E ao menininho inglês assimtambém falei.Que quando a nuvem negra e a nuvem brancapasse, E em torno à tenda se ajuntar a Sua grei,

Vou guardá-lo do sol que ele há de suportarQuando feliz ao pé de nosso pai se ajoelhe.Quero ao seu lado as alvas mechas lhe

Page 14: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

afagar, E ele então me amará e eu sereicomo ele.

Page 15: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O AMOR-PERFEITO Feliz Pardalzinho,Entre as folhasverdes Um Amor-perfeitoTe vê rapidinhoEncontrar teu ninhoJunto ao meu peito.

Gentil Corruíra,Entre as folhas verdesUm Amor-perfeitoOuve o teu suspiro,Gentil Corruíra,Junto ao meupeito.

Page 16: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O LIMPADOR DE CHAMINÉS Eu era bem novo e minha mãe morria,E meu pai vendeu-me quando eu malsabia Balbuciar, chorando limpa-dor dordor dor, Assim sujo e escuro sou olimpador.

Aquele é Tom Dracre, que chorou na vezEm que lhe rasparam a cabeça: Vês –Consolei-o – Tom que é bom não tercabelo, Pois assim fuligem não te suja opêlo.

Assim se acalmou. E numa noiteescura Tom dormindo teve esta visãofutura, Que mil limpadores JosésChicos Joões Foram confinados emnegros caixões.

E então veio um Anjo com uma chave brancaE os tirou do escuro destravando a tranca.E então entre risos ao campo saíramE entraram num rio e ao Sol reluziram.

Sem sacos às costas, despida a camisaVoaram nas nuvens, brincaram na brisa;Disse o Anjo a Tom que, se fossebonzinho, Deus feliz tomava-o como seufilhinho.

E Tom despertando foi naescuridão Apanhar seu saco maisseu esfregão, E saiu alegre namanhã gelada.Quem seu dever cumpre não receia nada.

Page 17: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O MENININHO PERDIDO Papai, papai, onde estás indoNão posso assim correr.Fala, papai, ao teufilhinho, Ou hei de meperder,

Não havia pai na noite escuraE a criança se ensopavaDe orvalho, lama e pranto, e ao longeUma névoa exalava.

Page 18: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O MENININHO ENCONTRADO Perdido o menininho noatoleiro, Guiado por brilhoobscuro,Pôs-se a chorar, mas Deus, sempre presente,Surgiu como seu pai de branco e puro.

Beijou a criança e pela mão levou-aÀ mãe, que suspirava,Que pálida de mágoa em todo o valeChorando a procurava.

Page 19: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

CANÇÃO SORRIDENTE Quando se ouve da mata o gargalhar felizE a doce correnteza é uma risada fluida,E o ar se ri também com o nosso bomhumor, E o verde outeiro ri ecoando talrumor.

Quando a campina ri verdejante e contenteE o gafanhoto ri ao ver a alegre cena.E ri Maria e ri Susana e Emília ri,Com boca bem redonda a cantar ah, ah, ih.

Quando riem na sombra as avescoloridas E a nossa mesa estárecoberta de frutos Vinde alegrar-vos eviver, sentai aqui, Cantai comigo odoce coro do ah, ah, ih.

Page 20: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

UMA CANÇÃO PARA BERÇO Vinde, vinde, docessonhos, O meu pequenoembalar; Doces sonhosde risonhos, Silentesraios de luar.

Com a fronte vem lhetecer Uma coroa, Anjomeigo, Doce, doceadormecer,Para o seu sono e sossego.

Guardai-o, sorrisos ternos,Que ele é meu gozo sempar; Doces sorrisosmaternos,A noite inteira a velar.

Doces queixas depombinhos Não o venhaisperturbar; Doces queixas,sorrisinhos, Fazei asqueixas cessar.

Dorme, dorme, meupequeno, Toda a criaçãodormiu; Dorme, dorme,bem sereno, Tua mãe velapor ti.

Em teu rosto, pequenino,Sagrada imagem se vê;Quem te criou foi menino,Chorou por mim, meubebê,

Por todos, por mim, por

Page 21: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

ti, Quando se fez numinfante; E hoje do céu tesorri,Em tudo vê Seu semblante.

Por todos, por mim, porti É que ele dá o risoSeu: Como criança sorri,A velar por terra e céu.

Page 22: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

A IMAGEM DIVINA Por Clemência, Piedade, Paz e AmorTodos rezamos na aflição;E para tais virtudes deliciosasSe volta a nossa gratidão.

Pois Clemência, Piedade, Paz e AmorÉ Deus, nosso pai adorado;E Clemência, Piedade, Paz e AmorO Homem, Seu filho e Seu cuidado.

Pois a Clemência tem um peitohumano, E o Amor forma humanaceleste,E um rosto humano tem aPiedade, E a Paz exibe humanaveste.

Assim todo homem, pelo mundoafora, Que reza em sua humana dor,Pede só à divina forma humanaClemência, Paz, Piedade, Amor.

E amar a forma humana devemtodos, Sejam pagãos, turcos, judeus;Onde habitam Clemência, Amor,Piedade, Ali também habita Deus.

Page 23: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

QUINTA-FEIRA SANTA Foi numa Quinta-feira Santa, iam com as faces bemlavadas, Duas a duas, as crianças, em roupas de coresvariadas;Mãos brancas e brancos cabelos, à frente os bedéis caminhavam;E, entrando a abóbada de Paulo, como a água do Tâmisa escoavam.

Que grande multidão somava de Londres essa floração!Em companhias assentadas, com brilho próprio e irradiação.Rumor de multidão lá havia, porém multidão deovelhinhas, Mil meninos e mil meninas a erguerinocentes mãozinhas.

Agora, como um vento forte, sobem ao Céu suas canções,Como entre os bancos celestiais o som de harmônicostrovões. Sábios guardiões dos pobres, foram entre eles osvelhos sentar. Sê pois piedoso e não expulses um anjo deteu limiar.

Page 24: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

NOITE O sol já se deitou para o poente,E a estrela vespertina seacendeu; Cada ave no seu ninhoestá silente, Porém aindaprocuro pelo meu.A lua – flordescerrada Do céu naalta latada – Comsilencioso prazerSenta-se, rindo para o anoitecer.

Verde campina, alegre bosque,adeus, Onde pastaram com deleiteos gados; E onde agora os anjinhosmovem seus Silenciosos pésiluminados.Invisíveis, eles vêmPara abençoar tambémOs brotos e as floraçõesE mais os adormidos corações.

Em cada quieto ninho vão olharAs aves que, aquecidas, lá dormitam,E depois nas cavernas vão cuidarTambém das rudes feras que ashabitam. Se descobrem algum pranto,Trazem depressaacalanto, E dão sono aquem chorar,À cabeceira pondo-se a velar.

E quando o tigre e o lobo estãocaçando, Eles choram de pena e detristeza,Das brancas ovelhinhas afastandoOs que delas fizerem suapresa. Se estes atacam sem

Page 25: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

rogo, Prestes, os anjos vêmlogoAs ternas almas levar,Para novos mundos herdar.

E então os rubros olhos do leão,Puras lágrimas de ouro hão de verter;E, tendo por quem choracompaixão, Enquanto as furnascorre, irá dizer: “O ódio, por Suaclemência;Por Sua saúde, a doençaDestes dias imortaisForam banidos para nunca mais.

Page 26: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

“E agora posso, cordeiro, ao teu ladoMe deitar e contigo adormecer;Pensando em Quem por teu nome échamado, E, chorando, ao teu lado entãopascer.Minha flava juba, abluídaNo eterno rio da vida,Sempre há de luzir mais pura,Enquanto monto guarda à furna escura.”

Page 27: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

PRIMAVERA

Toque aFlauta, Que fazfalta; CotoviaNoite e Dia;RouxinolNoarrebol;Ave avoar, E acantar,

Para saudar alegre, alegremente o Ano.

MenininhoAlegrinho;MenininhaTão meiguinha;Canta oGalo, Imitá-lo; Linda vozTendes vós

Para saudar alegre, alegremente o Ano.

Vem,Cordeiro,Bem ligeiro;Lambe entãoMinha mão;Branco Pelo,Quero vê-lo;Dou um beijoNo teuqueixo:

Para saudar alegre, alegremente o Ano.

Page 28: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

CANÇÃO DA AMA Quando se ouvem nas campinas os risos dos pequeninosE suas vozes também,Meu coração satisfeito se aquieta dentro dopeito, E tudo o mais está bem.

“Então a casa tornai, crianças, que o sol descai,E o orvalho da noite desce;Deixai os jogos por ora, e vamos todosembora, Até que a manhã regresse.”

“Não, não, deixa-nos brincar, pois ainda há sol abrilhar, E não podemos dormir;E os céus azuis se povoam dos passarinhos quevoam, E ouve-se a ovelha balir.”

“Bem, ide ao campo e brincai, enquanto a luz não se vai,E após correi para a cama.”E os pequeninos saltaram, e sorriram, egritaram, Fazendo ecoar a montanha.

Page 29: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

INFANTE ALEGRIA “Não tenho nome:Só de dois diassou.” Como techamarei? “Sou sófeliz,Alegria é meu nome.”Que sejas bem feliz!

Meiga Alegria!Doce, e só de dois dias.Doce Alegria chamo-te. Enquanto ris,Entoo um canto;Que sejas bem feliz!

Page 30: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

UM SONHO Um dia um sonho se teceuEm torno ao leito em que eudormia: Que uma formiga seperdeuNum vasto campo onde eu me via.

Confusa, incerta,abandonada, E sem saberpor onde andar Naquelaselva desgrenhada, Commuita pena, ouço-a falar:

“Ó meus filhinhos! choramtanto? Não ouvem suspirar seupai? Buscam em volta, comespanto: Voltai, pois, e pormim chorai.”

Chorei também, de penapura; Mas veio um vaga-lume então E disse: “Queerma criatura Convoca danoite o guardião?

“Minha missão é lançar brilho,Enquanto faz ronda o besouro:Segue portanto o seu sussurro;Retorna ao lar, tristeandarilho.”

Page 31: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

SOBRE A MÁGOA ALHEIA Posso ver chorar alguémE triste não estartambém? Posso ver ooutro sofrerE um consolo não trazer?

Posso ver correr o prantoE não chorar o meu tanto?Pode um pai ver seu rebentoChorar, sem sofrer tormento?

Pode a mãe sentar-se e ouvirDe medo um filho vagir?Não, não pode serassim, Nunca, nuncaser assim!

Pode Quem a tudo riraOuvir gemer acorruíra, Ouvir gemera avezinha Ou oinfante que definha,

Sem recobrir a ninhadaDe uma piedade inflamada;Sem junto ao berço sentar-seE todo em pranto inflamar-se;

Sem se sentar noite edia, Secando nossaagonia? Oh, não podeser assim! Nunca, nuncaser assim!

Ele, que a alegria traz,Que infante também sefaz; Que se torna homem

Page 32: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

de dor,Que sente nosso amargor.

Não há suspiro que dêsSem que o veja Quem tefez; Não há prantoderramadoSem que Ele esteja ao teu lado.

Oh! Que Ele dá sua alegriaE destrói nossa agonia.;Até que a dor vá embora,Fica ao nosso lado echora.

Page 33: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

CANÇÕESDAEXPERIÊNCIA

Page 34: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

INTRODUÇÃO Escutai a voz do Bardo!Que vê Presente ePassado, E o Futuro, eque escutou O antigoVerbo SagradoQuando entre as velhas árvores andou,

Chamando em pranto a extraviadaAlma, na noite rociada;Que tinha controle sobreO ástreo céu que nos cobreE renovara a luz já degradada!

“ Ó Te r r a , Terra,retorna! Levanta darelva e torna, Que anoite fria definhaE a clara alvorada, morna,Por sobre as negras massas se adivinha.

“Não fujas, não fujasmais; Se foges, paraonde vais?O firmamento que se abreE os úmidos litoraisHão de ser teus até que a noite acabe.”

Page 35: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

A RESPOSTA DA TERRA A Terra ergueu a cabeçaDa escuridão funda eespessa. Em pétreo pavor,profundo, Sua luz eradispersa.Branqueou-lhe a fronte um desespero fundo.

“Por litorais resguardadaE pelos céus vigiada,Que me encanecem, consomem,Ouço, já velha e cansada,Chorando, a voz do Pai do antigo Homem!

“Ó Pai dos homens,ciumento! Ó temor cruel erude!Pode o deleite gerarAs virgens da juventudeE da aurora, se a noite o acorrentar?

“Não ri a flóreaestação Ao ver a flore o botão? Acaso osemeador Semeia naescuridãoE ara na noite negra o lavrador?

“Quebra a correntefatal Que me regela,ancestral. Egoísta evã, peçonhenta! Qualmaldição eternalQue à servidão o Amor Livre acorrenta.”

Page 36: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O TORRÃO E O SEIXO “O Amor não se devota ao gozo do EuNem pela própria causa é denodado,Mas por outrem desdobra o seu cuidadoE aos despeitos do Inferno traz um Céu.”

Assim cantava um pequeno TorrãoPisado pelo gado com desleixo;Mas, em meio à corrente, ouviu-se um SeixoModular estes metros de canção:

“O amor só quer o gozo do Eu eternoE em agrilhoar os outros secompraz; De outrem vem destruirrepouso e paz, E a despeito do Céutraz um Inferno.”

Page 37: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

QUINTA-FEIRA SANTA É coisa santa de verEm rico e fértil torrãoBebês de fome morrer,Tratados com duramão?

É uma canção tallamento? Pode ser degentileza?Tanta criança aorelento? É uma terrade pobreza!

E o seu sol é bemfraquinho, E o seu camponada dá,E há espinhos nos seuscaminhos: E é eterno invernopor lá.

Pois onde quer que o solbrilhe, Onde quer que achuva jorre,Há sempre alguém quepartilhe, Nem de pobreza semorre.

Page 38: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

A MENININHA PERDIDA Qual numa profeciaMinha voz anuncia:Que a terra, hoje suspensa(Gravai esta sentença)

No sono, há de acordarE seu Criador buscar;E a árdua charneca máVerde jardim será.

Lá pelo sul ardenteOnde o verão équente E nuncaarrefeceu, MeigaLyca nasceu.

Sete verões apenasContava tal pequena.Longe vagueara eouvira Dos pássaros alira.

“Sob esta árvore imensaVenha o sono e mevença. Meu pai, mamãe,pranteia? Onde é quedormirei?

“No deserto quecansa Se perdeu acriança. Pode Lycadormir vendo suamãe carpir?

“Se o coração lheaperte, Que Lyca entãodesperte; Se minha

Page 39: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

mãe dormir, Não ireimais carpir.

“Ó noite taciturna,Sobre a clarezadiurna, Faze a luasurgir,E eu possa então dormir.’

E Lyca adormecera,Enquanto as rudes ferasDas cavernas de emtorno Espreitaram seusono.

Page 40: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

Altivo, o leão surgiuE a doce virgem viu,E cabriolava,entanto, Naquelesolo santo.

Tigres, leopardos vãoBrincando; enquanto oleão, Ao redor da quedorme, Baixou a jubaenorme

E lambeu o seu peito Eo pescoço perfeito,Com os olhosrutilantes De lágrimasflamantes;

E eis que a leoa veioE lhe despiu o seio;E, nua, a conduziramÀs furnas de onde vieram.

Page 41: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

A MENININHA ENCONTRADA Por toda a noite erraramOs pais de Lyca e andaramDos vales cada cantoE os desertos em pranto.

Cansados eexauridos Por gritose gemidos, Correramsete diasAs mais remotas vias.

Sete dias dormiramEntre as sombras e a viram,Num sonho, definharNum deserto lugar.

Pálida, entre asquebradas Vaga aimagem sonhada,Faminta, triste, exaustaDe mágoa e espera infausta.

Indormida, a mulherNão se podia erguerSobre os pés, e se viaQue não maisandaria.

Nos braços a tomavaO homem, que a dor armava:Até que à sua frenteSurge um leão de repente.

Voltar seria embalde:Logo, com a jubajalde, Ao chão ele oslançou

Page 42: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

E ao lado se postou, A farejar a presa;Seu pranto se represaVendo eles que o leãoLambia suas mãos.

No assombro que os sustémViram seus olhos bem Eque o pelame louroGuardava uma alma deouro.

Page 43: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

Sobre a fronte sevia Uma coroa, edescia A juba pelosombros;Arrefeceu-se o assombro.

“Segui-me”, disse orei; “Por ela nãochoreis;Em meu palácio enormeVossa filhinha dorme”.

E acompanhando vãoOs passos da visãoAté que a descobriramEntre as feras dormindo.

Desde então têm vividoNum lugar esquecido;Sem medo ao lobobravo E ao leão de urrocavo.

Page 44: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O LIMPADOR DE CHAMINÉS Uma coisa negra sobre a neve claraGrita: “Limpa-dor!”, com acentos de dor!“Onde estão teus pais?”, alguém lheperguntara. Foram para a Igreja cantar seulouvor.

“Porque eu era alegre, porque eu era forteE sorria sobre neves de alva cor,Me vestiram estes vestidos demorte, Me ensinaram cantos enotas de dor.

“E porque me alegro, porque danço e canto,Supõem que disso não me vem injúria.Vão louvar a Deus, mais ao Vigário, e aoRei, Que fazem um céu com a nossapenúria.”

Page 45: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

CANÇÃO DA AMA Quando se ouvem nas campinas as vozes dospequeninos, E na distância o vale chora,Os dias de juventude em minha mente ressurgem,E meu rosto se descolora.

“Então a casa tornai, crianças, que o sol descai,E o orvalho desce já do céu;Vosso dia e primavera passais entrebrincadeiras, E a noite e o inverno sob umvéu.”

Page 46: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

A ROSA DOENTE Rosa, estásdoente! O vermeinvisívelQue voa, inclemente,Na noite terrível

Encontrou teuleito De róseoprazer: Seu amorsecreto Destróiteu viver.

Page 47: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O MOSQUITO Mosquitinho,Tua alegriaMeu dedo incautoVarreu do dia.

Não sou euTão leve assim?Ou não és homemIgual a mim?

Pois que danço,E bebo, eentoo, Até queum dedo Varrameu voo.

Se o pensamentoPõe vivo e forteA quem sem eleSó tem a morte;

Então felizMosquito sou:Se estou vivo,Se mortoestou.

Page 48: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O ANJO Tive um sonho! Não sei que querdizer. Que nele eu era a virginalRainha,E um Anjo meigo vinha me entreter,Sem me entreter da oculta dor que eu tinha.

E meu pranto manava noite e dia,E ele vinha secar meu choro quente;E dia e noite meu prantocorria, E dele eu ocultava meudeleite.

Então, alçando as asas, foi-seembora, E o amanhecer chegou,rosado e ledo; Sequei o pranto, e fizuma armadura, Dando escudos elanças ao meu medo.

Logo ele retornou, mas foi em vão;Eu já me armara, quandoressurgiu; Da juventude fora-se aestação,E de cãs minha fronte se cobriu.

Page 49: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O TIGRE Tigre! Tigre! clarão ferozNas florestas da noite atroz,Que mão, que olho imortal teriaForjado a tua simetria?

Em que funduras, em que céusO fogo ardeu dos olhos teus?Com que asa ousou eleaspirar? Que mão ousou o fogoatear?

Que ombro, que arte deu tal torçãoÀs fibras do teu coração?E, o teu coração já batendo,Que horrenda mão? que pé horrendo?

E qual martelo? E qualcorrente? Em que forja estevetua mente? Qual bigorna? Queousado ater Seus terroresousou conter?

Quando os astros se desarmaramE o céu de lágrimasrociaram, Riu-se ao ver suaobra talvez? Fez o Cordeiroquem te fez?

Tigre! Tigre! clarão ferozNas florestas da noite atroz,Que mão, que olho imortal teriaForjado a tua simetria?

Page 50: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

MINHA BELA ROSEIRA Uma flor me foi ofertadaQue maio jamais viu tãobela; Eu disse: “Já tenhoRoseira” – E assimdesdenhei recebê-la.

De minha Roseira tão belaCuidei, dia e noite, zeloso;Porém minha Rosa deixou-me: Seus espinhos forammeu gozo.

Page 51: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

AH, GIRASSOL Ah, Girassol, que o tempoexaure! Que medes do sol apassada;E buscas aquele áureo climaQue é o rumo de nossa jornada:

Lá onde a ardente JuventudeE a Virgem que em neve se vesteDo túmulo se erguem e aspiramAo rumo que só tu soubeste.

Page 52: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O LÍRIO A Rosa frágil tem o espinho por defesa,A humilde Ovelha exibe o chifreameaçador; Porém ao branco Lírio ésuficiente o Amor –Não há espinho ou ameaça a turvar-lhe a beleza.

Page 53: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O JARDIM DO AMOR Um dia entrei no Jardim doAmor E vi lá dentro o quenunca vi: Uma Capela foraerigidaEm meio ao verde que conheci.

Dessa Capela os portões fechados,Com “Tu não deves” gravado à entrada,Voltei-me para o Jardim doAmor, Buscando alguma flor láplantada;

E pude ver em lugar de floresLousas e túmulos numerosos;E Padres de negro faziam a ronda,Atando entre cardos meu querer egozo.

Page 54: Cancões Da Inocência & Da Experiência - William Blake

O PEQUENO VAGABUNDO Ó Mamãe, Mamãe, eis que a Igreja é tãofria, E é bem mais quentinho naCervejaria;Tu sabes que a isso já me acostumei,Embora tal uso não seja de lei.

Mas se fogo e assento nos dessem na IgrejaE a beber um gole da boa Cerveja,Era canto e reza todo santo dia,Ee ninguém da Igreja se escafederia.

E o Pastor pregava, bebendo ecantando, E todos alegres, quais avesem bando;E dona Abandono, que a igreja não deixaNão teria filhos, nem jejum, nem queixa.

E Deus, como um pai, bem contentevendo Seus filhos como Ele no prazervivendo, Não teria brigas com o Diabo ea Barrica,Mas lhe dava um beijo, um trago e roupa rica.

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LONDRES Nas ruas por que passo, escrituradas,Onde o Tâmisa corre, escriturado,Vou reparando as faces maceradas,Que a aflição e a moléstia têm marcado.

Em cada grito de Homem ou nogrito Do Infante que de medo selamente, Em cada voz ou em cadainterdito, Ouço os grilhõesforjados pela mente.

Se grita o Limpador de chaminés,Se assusta cada Igreja em seusescuros; Quando suspira o Soldado,infeliz,O sangue tinge do Palácio os muros.

Mas o que à meia-noite escutomais É a meretriz lançar pragafunesta, Que do Recém-Nascidoestanca os ais E os funerais doCasamento empesta.

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A ESSÊNCIA HUMANA Não era necessário haverPiedade, Se a Pobreza não fossecultivada; E se houvesse geralfelicidade,A Clemência seria aposentada.

A paz somente advém do mútuomedo, Enquanto o amor egoísta édominado; E então a Crueldadetrama o enredoE lança suas iscas com cuidado.

Entre temores santos, senta echora, De lágrimas regando a terrainteira; E a raiz da Humildade seelaboraDebaixo de seus pés, em meio à poeira.

Em torno à sua fronte uma penumbraDe Mistério começa a se espalhar;E a Lagarta e o Mosquito sedeslumbram, E do Mistério vêm sealimentar.

E então produz do Engodo a grandefruta, Bem doce ao paladar e bemrosada;E o Corvo ali constrói sua casa, ocultaEm meio à sombra mais fechada.

Quando os Deuses de terra e mar buscaramTtal árvore por toda a Natureza,Foi em vão que por elaprocuraram: Na Mente do Homemuma se enraíza.

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MÁGOA INFANTIL Minha mãe lamentou, chorou meupai Quando saltei no mundo cheiode ais; Berrando, inerme, pálido edespido,Como um elfo entre as nuvens escondido.

Lutando contra as mãos que meamparavam, Forcejando entre os cueirosque me atavam, Enleado e exausto,considerei bemE no seio afundei de minha mãe.

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UMA ÁRVORE DE VENENO Tive ódio ao meu amigo:Disse-lhe, e o ódiofindou. Tive ódio ao meuinimigo:Não lhe disse, e o ódio aumentou.

Dia e noite lhe dei a água,Do medo e de minhamágoa; Dei-lhe o sol doriso claro,Que é só do engodo o anteparo.

E a árvore cresceu noite edia, E produziu grande pera;Meu inimigo, que avia, Soube de quemela era;

E entrou pelo meu pomarNa hora em que o dia se vela;E na aurora o fui acharBem estirado sob ela.

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UM MENININHO PERDIDO “Não amamos ninguém mais que a nós mesmos,Nem temos por ninguém maisdevoção, Nem parece possível aoPensarDe um pensar superior ter a intuição.

“Como, meu Pai, te posso amar, oucomo Ter pelos meus irmãos a almainflamada? Amo-te apenas como umaavezinhaQue vem bicar farelos na calçada.”

Sentou-se o Padre ao lado, ouvindo acriança, E, trêmulo, afagou o seu cabelo.Conduziu-a, suspensa pelamanga; E muito se admirou tãosacro Zelo.

De pé junto ao altar, disse ele assim:“Meu Deus! com que demônio aqui deparo;Alguém que em pensamento quer julgarNosso Mistério mais sagrado e raro.”

Não se ouviu a criança quechorava, Seus pais a prantearammas em vão; Despiram-na de suacamisinhaE a prenderam com os ferros de um grilhão;

E a queimaram naquele local santoOnde tantos outrora pereceram:Seus pais a prantearam mas em vão.Tais coisas em Albion é queocorreram?

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UMA MENININHA PERDIDA

Ó crianças do futuro!Lendo o que vos voucontar, Sabei que um dia oAmor puro Por crime seousou tomar!

Numa Idade de Ouro, quando Oinverno era morno e brando,Qualquer jovem e donzela,Banhavam-se nus naquelaSagrada luz do sol que nadavela.

Um dia um jovem casal,Cheio de amor fraternal,Num claro jardim seachou De que a luz santaafastouAs cortinas que a noite entrecerrou.

Ali, no dia chegado,Brincaram sobre ogramado; Nenhum pai porperto estava, Estranhoalgum lá chegava,E a donzela seus medos olvidava.

Cansados de doces beijosManifestam seus desejosDe encontrar-se quando o fundoSono paire sobre o mundoE, exausto e só, pranteie o vagabundo.

Ao encanecido paiA clara donzela vai;Mas dele o olhar de ternuraComo a sagrada escritura

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Fez tremer de terror sua ossatura. “Ona! pálida e tremente!Fala ao teu pai: Oh, que ingenteMmedo de ti se apropria!Oh, que inquietude sombriaDe minhas cãs as raízes arrepia!”

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A IMAGEM DIVINA A Crueldade tem um peito humano,E o Terror forma humana tem celeste,E um rosto humano exibe aDesconfiança, E recobre o Segredohumana veste.

A veste humana se forjou no ferro,A forma humana numa ardente forja,Selou o rosto humano umafornalha, E o peito humano suafaminta gorja.

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UMA CANÇÃO PARA BERÇO Dorme, meu belofulgor, Sonhandogozos e amor;Dorme na noite, e em teus sonhosChorem pesares tristonhos.

Pequenino, em teu rostinhoDoces ânsias adivinho,E alegrias, peraltagens,Mil pequenas traquinagens.

Enquanto afago os teusbraços, Da manhã descubrotraçosEm teu sorriso, e em teu peitoTeu coração insuspeito.

Ó traquinagens que estãoCrescendo em teu coração!Quando ele enfimdespertar, Virá a luz comseu pesar.

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O ESCOLAR É bom sair demanhãzinha, Ouvindo asaves a cantarE ao longe a trombeta de caçaE ver a cotovia no arQue cedo vem me acompanhar.

Mas ir à escola de manhã,Como destrói minhaalegria; Sob um olharcruel, aceso, Passam osnovos todo o dia Emdesgosto e melancolia.

Passar às vezes longo tempoSentado, ouvindo,aborrecido, Indiferente àsala de aulaE indiferente ao livro lidoE ao quadro-negro tão comprido.

Como há de uma ave que nasceuPara a alegria achar prazerNuma gaiola, ou umacriança, Baixando as asas,esquecer Que é tempo só deflorescer?

Ó pai, ó mãe, se forcortada Logo em botão ajovem flor E a plantanova desbastada De seusbrotos e seu vigor Pelodesgosto e pela dor,

Como há de o tépido verãoTer no prazer o seu

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momento? Como na dorcolher o frutoQue nos trouxe o florescimento,Quando chegar o inverno e ovento?

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PARA TIRZAH Tudo o que Provém deGeração Há de a escuraTerra consumir, Para vir denovo e ressurgir: Que devofazer contigo então?

Os Sexos, do Orgulhooriginados E do Erro,perduram só um dia; Mas daMorte a Graça os alivia; Dorese fadigas são seus fardos.

E tu, Mãe de minha Mortal sina,Que de maldade me fizeste oPeito E só com lágrimas dedespeitoMe trancaste Ouvido, Olho, Narina;

Me selaste a Língua em barrovão, Para à Mortal Vida meentregar; Mas Jesus morto vemme livrar; Que devo fazercontigo então?

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A VOZ DO BARDO ANTIGO Vinde, juvenil prazer,E vede a manhã nascerComo um reflexoluzente Da verdadetransparente. Fogemdúvida e cisão,Disputa e os véus darazão. É labirinto aloucuraQue entre brenhas seprocura. Quantos tombarampor lá!A noite toda a pisarPilhas de ossos, vão buscarO que na noite não está;E acham seus próprioscuidados. Querem os outrosguiar,Quando deviam ser guiados.