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IntroduçãoA Amazônia talvez seja uma das regiões do planeta mais cobiçada, menosconhecida, sujeita a muita especulação e seriamente ameaçada. No entanto, épraticamente consensual que os diversos ciclos de uso e exploração de seus recursosnaturais e ambientais pouco contribuíram para a construção de uma sociedade justa,economicamente dinâmica e ambientalmente sustentável. Tradicionalmente, as atividadesrelacionadas ao aproveitamento da biodiversidade estão ligadas à exploração dosrecursos naturais, apenas como matéria-prima e com pouca contribuição para amanutenção da floresta e para o dinamismo econômico da região. Durante anos, natentativa de elevar a produtividade regional, as instituições de fomento estimularamatividades ambientalmente predatórias – como a pecuária e a indústria madeireira - queembora tenham, de certa forma, elevado a renda regional, todavia, não promoveram aeqüidade social desejada. Da mesma forma, outras atividades de grande vulto – como amineração e os empreendimentos hidrelétricos – tem contribuído muito mais com osindicadores econômicos nacionais e internacionais do que para a solução dos sériosproblemas da pobreza e exclusão da sociedade local.Assim a rica biodiversidade amazônica vem sendo espoliada e subaproveitada, aolongo dos tempos. Especialistas concordam que o momento atual é especialmentefavorável para o seu aproveitamento comercial em bases eqüitativas, ambientalmentesustentáveis e economicamente dinâmicas.Uma das possibilidades de uso sustentável da biodiversidade regional é porintermédio do uso de óleos e de insumos para a indústria de cosméticos, indústria defitoterápicos e de alimentos, que só agora começa a tratar esta questão como umaatividade econômica promissora para a região. A bioindústria nacional e internacional,especialmente esta última, vem buscando nas plantas da Amazônia ou domesticadas naregião, essências, insumos produtos e formulações para produção de medicamentos,outras formas de terapias, vacinas e cosméticos, objetivando a industrialização ecomercialização em larga escala.Segundo o IBGE apud FGV (2003), “já foram identificadas na Amazônia Legal emtorno de 650 espécies vegetais farmacológicas e de valor econômico. No Estado do Pará

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MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE ORGANIZAO DO TRATADO DE COOPERAO AMAZNICA OTCA COOPERAO TCNICA ALEM GTZ

ESTUDO DE CADEIAS PRODUTIVAS DA SOCIOBIODIVERSIDADE BRASILEIRA COM POTENCIALIDADE PARA ACESSAR O MERCADO MUNDIAL DESAFIOS E OPORTUNIDADES

Gonzalo Enrique Vsquez Enrquez CRE 11 DF N 5628 Dezembro, 2008

TabelasTabela 1 Tabela Produtos Florestais No-Madeireiros da Amaznia 2006 (toneladas) . 23 Tabela 2 Produo Mundial de leos Vegetais (2007) ..................................................... 24 Tabela 3 Importao Brasileira de leo de Dend (bruto)............................................... 25 Tabela 4 Importao Brasileira de leo de Dend (refinado) .......................................... 25 Tabela 5 Tipo de produto extrativo - Babau (amndoa) (Tonelada) 2006 ................... 28 Tabela 6 Aa (fruto) Quantidade produzida na extrao vegetal (Tonelada).............. 29 Tabela 7 Aglomeraes de Bioproduo no Complexo Verde Estados do Par e Amap ................................................................................................................................. 37 Tabela 8 Castanha-do-par, fresca ou seca, com casca (NCM = 08012100) exportaes em US$ FOB e peso (quilo) ................................................................................................. 46 Tabela 9 Importao de castanha-do-par 1994-1998 (toneladas mtricas).................. 49 Tabela 10 Preo de venda da castanha, de acordo com informao dos produtores........ 52 Tabela 11 Cenrios para a produo de trs produtos no-madeireiros na FLONA Tapajs (em mil US$)........................................................................................................................ 64 Tabela 12 Preos do leo de castanha e copaba vendidos pela Cooperativa COMARU para as empresas Beraca e Natura ..................................................................................... 65 Tabela 13 Oleorresinas de extrao (33019040)-exportaes US$ FOB e peso (quilo) .. 75 Tabela 14 Preos da andiroba (outras oleaginosas) (R$/kg), segundo os estados produtores e o Brasil 1994-2006 Correo monetria pelo INPC................................... 80

GrficosGrfico 1 castanha-do-par produo extrativa vegetal (ton), por estado do Norte........ 43 Grfico 2: castanha-do-par, fresca ou seca, com casca (NCM = 08012100) exportaes em US$ FOB e peso (quilo) ................................................................................................. 47 Grfico 3: castanha-do-par, fresca ou seca, com casca (NCM = 08012100) exportaes em US$ FOB e peso (quilo), em nmeros-ndice 1996=100 ................................................ 47 Grfico 4: Preos unitrios (quilo FOB) da Castanha-do-Par, fresca ou seca, com casca . 48 Grfico 5 castanha-do-par: balano de oferta e demanda no Brasil................................ 49 Grfico 6 Valor da produo de castanha-do-par (R$) Regio Norte ........................... 51 Grfico 7 Castanha-do-par, evoluo dos preos ........................................................... 54 Grfico 8 leo de copaba Produo extrativa vegetal em R$ mil Norte (2005) ........... 57 Grfico 9 Valor da produo de leo de copaba (R$) Brasil.......................................... 62 Grfico 10 Valor da produo de leo de copaba (R$) Regio Norte............................ 63 Grfico 11 Preos do leo de copaba (R$/kg), estados produtores e Brasil 1994/1999 65 Grfico 12 Quantidade produzida na extrao vegetal por tipo de produto oleaginoso outros (toneladas)................................................................................................................ 70 Grfico 13 Exportaes brasileiras de oleorresinas de extrao ....................................... 73 Grfico 14: leorresinas de extrao (NCM 33019040) - exportaes em US$ FOB e peso (quilo) .................................................................................................................................. 74 Grfico 15: Oleorresinas de extrao (NCM 33019040) - exportaes em US$ FOB e peso (quilo), em nmero-ndice (1997=100) ................................................................................. 74

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QuadrosQuadro 1 Produtos com Certificao Orgnica 2008.................................................... 27 Quadro 2 Exemplos de Produo Comunitria na Amaznia Dermocosmticos (2007).. 31 Quadro 3 Exemplos de Produo Comunitria na Amaznia Fitoterpicos (2007).......... 33 Quadro 4 Autorizaes Emitidas pelo CGEN para o Acesso ao CTA e/ou ao Patrimnio Gentico Brasileiro (2003-2008) .......................................................................................... 38 Quadro 5 Usos da castanha-do-par ................................................................................. 42 Quadro 6 Preos recebidos pelas empresas produtoras.................................................... 53 Quadro 7 Usos do leo de copaba................................................................................... 56 Quadro 8 Origem e destino do leo de copaba produzido pela Brasmazon (toneladas) ... 60 Quadro 9 Relao de empresas brasileiras de cosmticos com presena internacional que utilizam insumos da biodiversidade...................................................................................... 62 Quadro 10 Explorao potencial para trs produtos no-madeireiros na FLONA Tapajs. 64 Quadro 11 A andiroba e suas aplicaes no segmento da indstria ................................. 67 Quadro 12 Rendimento de leo de andiroba obtido a partir das sementes ....................... 69 Quadro 13 Empresas com presena no exterior ................................................................ 78 Quadro 14 Patentes relacionadas a andiroba .................................................................... 79 Quadro 15 Estimativa de produo e valor da produo (sementes e leos).................... 81 Quadro 16 Empresas internacionais consumidoras de recursos florestais no-madeireiros da biodiversidade amaznica ................................................................................................... 83 Quadro 17: Empresas da biodiversidade atuantes no mercado nacional .......................... 91 Quadro 18: Relao de empresas brasileiras e internacionais de cosmticos que utilizam insumos da biodiversidade com presena internacional ...................................................... 92 Quadro 19 patentes ou pedidos de patentes relacionadas copaba.............................. 93 Quadro 20: Algumas das empresas brasileiras que atuam no mercado internacional.......... 94 Quadro 21 Principais empresas que utilizam leo de andiroba no Brasil, seus produtos e informaes de contato........................................................................................................ 96 Quadro 22 Principais empresas que utilizam leo de castanha-do-par em seus produtos de cosmticos...................................................................................................................... 98 Quadro 23 Principais empresas que utilizam o leo de copaba em seus produtos de cosmticos e fitoterpicos.................................................................................................. 100 Quadro 24 Quadro conclusivo sobre os pontos fortes e fracos das cadeias produtivas da biodiversidade a partir de produtos estudados................................................................... 112 Quadro 25: Acordos de cooperao em C&T realizados pelas empresas.......................... 115 Quadro 26: Patentes sobre a Andiroba. ............................................................................. 116 Quadro 27 Recursos Humanos do CBA ........................................................................ 118 Quadro 28Avaliao de comportamento dos diferentes atores da cadeia produtiva de produtos da sociobiodiversidade........................................................................................ 141 Quadro 29 Principais instituies da biodiversidade seus projetos, objetivo e parceiros.... 143

FigurasFigura 1: Cadeia produtiva de produtos madeireiros no florestais...................................... 14 Figura 2 Cadeia Produtiva da Biodiversidade ................................................................... 15 Figura 3 Estrutura de uma cadeia produtiva da biodiversidade ......................................... 17

MapasMapa 1 Dend (Produo em 2006 Regio Norte)....................................................... 25

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Mapa 2 Guaran (Produo em 2006 Regio Norte) ........................................................ 27 Mapa 3 Centros para Bioprospeco do Complexo Verde 2008 .................................. 36 Mapa 4 Mapa de localizao dos principais estados que contam com abundantes recursos de produtos da biodiversidade (excludo Acre) .................................................................... 40 Mapa 5 Amaznia Brasileira: produo extrativa de castanha por estados (toneladas) ..... 42

FotografiasFotografia 1: leos de carit para pele e cabelo............................................................... 61 Fotografia 2: Produtos naturais para cosmticos ............................................................... 61 Fotografia 3 Produtos naturais de diversos pases com apelo para biodiversidade ........... 61

ndiceCADEIAS PRODUTIVAS DA SOCIOBIODIVERSIDADE E O MERCADO MUNDIAL DESAFIOS E OPORTUNIDADES .......................................................................................................................................... 7 INTRODUO ..................................................................................................................................................... 7 1 PRINCIPAIS CADEIAS PRODUTIVAS BASEADAS EM PRODUTOS DA SOCIOBIODIVERSIDADE NA REGIO AMAZNICA............................................................................. 10 1.1 CADEIAS PRODUTIVAS DA BIODIVERSIDADE DIVERSOS ENFOQUES O DIFERENCIAL COMPETITIVO PARA ALCANAR MERCADOS....................................................................................... 12 1.2 AS CADEIAS PRODUTIVAS DA BIODIVERSIDADE E AS CADEIAS TRADICIONAIS ARTICULADAS PELO JOGO DO MERCADO.............................................................................................. 18 1.3 METODOLOGIA PARA IDENTIFICAO DE CADEIAS PRODUTIVAS DA BIODIVERSIDADE NO COMPLEXO VERDE DA AMAZNIA COM POTENCIAL COMERCIAL PRODUO, LOCALIZAO E LOGISTICA INSTITUCIONAL ...................................................................................... 20 1.4 EXPERIENCIAS DE EMPREENDIMENTOS DE PRODUTOS NO COMPLEXO VERDE DA BIODIVERSIDADE......................................................................................................................................... 30 1.5 LOGSTICA E INFRESTRUTURA DO COMPLEXO VERDE ................................................................ 35 1.6 SELEO DE CADEIAS PRODUTIVAS DA BIODIVERSIDADE DA AMAZNIA COM MAIOR POTENCIAL COMERCIAL ............................................................................................................................ 38 1.6.1 CADEIAS PRODUTIVAS SELECIONADAS DA AMAZNIA: CASTANHA-DO-PAR, COPABA, ANDIROBA ........ 39 1.6.1.1 Castanha-do-par, oferta e demanda produo, mercado, preos, exportaes/consumo.......... 41 o Produo de castanha.......................................................................................................................... 42 o Demanda e mercado da castanha-do-par.......................................................................................... 44 o Exportaes de castanha ..................................................................................................................... 45 o Relao exportaes consumo ........................................................................................................ 49 o Valor da produo e preo da castanha-do-par................................................................................ 51 1.6.1.2 Cadeia produtiva do leo de copaba oferta e demanda produo, mercado, preos, exportaes/consumo.................................................................................................................................... 55 o Produo do leo de copaba .............................................................................................................. 56 o A demanda e mercado do leo de copaba .......................................................................................... 58 Valor da produo e preo do leo de copaba............................................................................................ 62 o O preo do leo de copaba ................................................................................................................. 64 1.6.1.3 Cadeia produtiva da andiroba oferta e demanda produo, mercado, preos, exportaes/consumo.................................................................................................................................... 66 o Produo de leo de andiroba............................................................................................................. 68 o Demanda e mercado de leo de andiroba ........................................................................................... 72 o Quantidades e valores de Oleorresinas exportados ............................................................................ 73 o Empresas que utilizam leo de andiroba no segmento cosmticos e fitoterpicos no Brasil .............. 75 o Valor da produo e preo do leo de andiroba ................................................................................. 80 2 PANORAMA DO MERCADO NACIONAL E INTERNACIONAL DE PRODUTOS DA SOCIOBIODIVERSIDADE ............................................................................................................................... 83 2.1 PRINCIPAIS EMPRESAS ATUANTES NO MERCADO DE PRODUTOS DA SOCIOBIODIVERSIDADE E ESTIMATIVAS DE DEMANDA .......................................................................................................................................................... 83 2.1.1 Mercado Internacional ........................................................................................................................ 83 o The Body Shop ..................................................................................................................................... 84 o Yves Rocher.......................................................................................................................................... 85 2.1.2 Mercado Nacional ............................................................................................................................... 86 o Mercado na Regio Norte.................................................................................................................... 87 o Empresas atuantes e estimativa de demanda....................................................................................... 89 o Aspectos da oferta................................................................................................................................ 92 o Empresas brasileira e internacionais que utilizam insumos da biodiversidade e matem presena internacional................................................................................................................................................. 92 2.1.3 Empresas que utilizam produtos da biodiversidade brasileira............................................................ 94 3 ANLISE SOBRE OS PONTOS FORTES E FRACOS DA COMERCIALIZAO DE PRODUTOS DAS CADEIAS PRODUTIVAS DA BIODIVERSIDADE E OS ATORES DO PROCESSO ................... 101

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3.1 PONTOS FORTES E PONTOS VULNERVEIS .................................................................................................. 101 3.1.1 Pontos fortes ...................................................................................................................................... 102 3.1.2 Pontos vulnerveis............................................................................................................................. 104 o Problemas de regulamentao do uso dos leos ............................................................................... 108 o Dificuldades tecnolgicas para beneficiamento e comercializao dos leos .................................. 109 4 PRINCIPAIS TRAJETRIAS DOS ARRANJOS INSTITUCIONAIS ................................................... 113 4.1 INSTITUIES DA AMAZNICA ENVOLVIDAS COM AS CADEIAS PRODUTIVAS E COMERCIO DE PRODUTOS DA BIODIVERSIDADE ............................................................................................................................................. 113 4.2 ACORDOS DE COOPERAO EMPRESAS E INSTITUIES DE C&T PARA MELHORAR CONDIES DE MERCADO DOS PRODUTOS DA BIODIVERSIDADE................................................ 114 o Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) .................................................................................................. 115 4.3 INSTITUIES COM AS QUAIS PODEM SER DESENVOLVIDOS PROJETOS DE COOPERAO PARA O DESENVOLVIMENTO DO BIOCOMRCIO ............................................................................... 117 4.3.1 Centro de Biotecnologia da Amaznia - CBA ................................................................................... 117 4.3.2 Embrapa Amaznia Oriental entro de Biotecnologia da Amaznia CBA ...................................... 119 4.3.3 Instituto de Pesquisas Cientficas e Tecnolgicas do Estado do Amap IEPA .............................. 121 4.3.4 Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia - INPA....................................................................... 123 4.3.5 Museu Paraense Emilio Goeldi MPEG .......................................................................................... 126 4.3.6 Universidade Federal do Amap UNIFAP..................................................................................... 129 4.3.7 Universidade Federal do Amazonas UFAM ................................................................................. 131 4.3.8 Universidade Federal do Par UFPA........................................................................................... 132 4.3.9 Universidade Federal Rural da Amaznia UFRA .......................................................................... 133 4.4. OS NOVOS DESAFIOS INSTITUCIONAIS DO BIOCOMRCIO PARA OS PASES DA AMAZNIA, A PARTIR DAS EXPERINCIAS DAS CADEIAS PRODUTIVAS ............................................................ 136 o Aspectos Legais.................................................................................................................................. 137 o Comercializao e mercados ............................................................................................................. 138 Pesquisa e desenvolvimento tecnolgico .................................................................................................... 139 CONCLUSES ................................................................................................................................................. 140 ANEXO PRINCIPAIS INSTITUIES DA BIODIVERSIDADE SEUS PROJETOS, OBJETIVO E PARCEIROS ..................................................................................................................................................... 142

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CADEIAS PRODUTIVAS DA SOCIOBIODIVERSIDADE E O MERCADO MUNDIAL DESAFIOS E OPORTUNIDADES

IntroduoA Amaznia talvez seja uma das regies do planeta mais cobiada, menos conhecida, sujeita a muita especulao e seriamente ameaada. No entanto, praticamente consensual que os diversos ciclos de uso e explorao de seus recursos naturais e ambientais pouco contriburam para a construo de uma sociedade justa, economicamente dinmica e ambientalmente sustentvel. Tradicionalmente, as atividades relacionadas ao aproveitamento da biodiversidade esto ligadas explorao dos recursos naturais, apenas como matria-prima e com pouca contribuio para a manuteno da floresta e para o dinamismo econmico da regio. Durante anos, na tentativa de elevar a produtividade regional, as instituies de fomento estimularam atividades ambientalmente predatrias como a pecuria e a indstria madeireira - que embora tenham, de certa forma, elevado a renda regional, todavia, no promoveram a eqidade social desejada. Da mesma forma, outras atividades de grande vulto como a minerao e os empreendimentos hidreltricos tem contribudo muito mais com os indicadores econmicos nacionais e internacionais do que para a soluo dos srios problemas da pobreza e excluso da sociedade local. Assim a rica biodiversidade amaznica vem sendo espoliada e subaproveitada, ao longo dos tempos. Especialistas concordam que o momento atual especialmente favorvel para o seu aproveitamento comercial em bases eqitativas, ambientalmente sustentveis e economicamente dinmicas. Uma das possibilidades de uso sustentvel da biodiversidade regional por intermdio do uso de leos e de insumos para a indstria de cosmticos, indstria de fitoterpicos e de alimentos, que s agora comea a tratar esta questo como uma atividade econmica promissora para a regio. A bioindstria nacional e internacional, especialmente esta ltima, vem buscando nas plantas da Amaznia ou domesticadas na regio, essncias, insumos produtos e formulaes para produo de medicamentos, outras formas de terapias, vacinas e cosmticos, objetivando a industrializao e comercializao em larga escala. Segundo o IBGE apud FGV (2003), j foram identificadas na Amaznia Legal em torno de 650 espcies vegetais farmacolgicas e de valor econmico. No Estado do Par

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foram identificadas 540 espcies, no Amazonas, 488, em Mato Grosso, 397, no Amap, 380, em Rondnia, 370, no Acre, 368, em Roraima, 367 e no Maranho, 261 espcies. De acordo com relatrio sobre a viabilidade econmica das plantas amaznicas (FGV, 2003), a bioindstria, focada no ramo de cosmticos, alm de trazer divisas, oferece oportunidade para gerao de emprego no s na zona urbana, mas, sobretudo, na zona rural contribuindo para a desconcentrao de renda e, conseqentemente, para a interiorizao do desenvolvimento. De fato, os empreendimentos que utilizam matriasprimas naturais tm como fornecedores, via de regra, a populao rural que necessariamente precisa se conscientizar de que a extrao ou cultivo desses produtos tem que estar associado aos cuidados de conservao desses recursos. S dessa forma, tero garantia de continuidade por muitos anos de mais uma opo de renda para o sustento de suas famlias. No entanto, as informaes disponveis ainda so insuficientes para atrair investidores, dando-lhes garantia de que esses empreendimentos so rentveis economicamente, ao mesmo tempo, ambientalmente sustentveis e socialmente mais justos. A partir da constatao da enorme potencialidade do chamado Complexo Verde, da Amaznia com seus produtos que podem ser altamente valorizados nos mercados nacional e internacional, constata-se tambm que a nfase da maioria dos estudos das cadeias produtivas est centrado no estudo da produo e das condies das comunidades que habitam no complexo verde da Amaznia e so responsveis pela coleta e muitas vezes do processamento dos produtos da biodiversidade. Este estudo pretende seguir um caminho diferente, estudar as cadeias e suas caractersticas na produo, entretanto, tambm procura encontrar explicaes e propor caminhos para a realizao das mercadorias da floresta. Na economia globalizada, no pode ser deixado de lado esse fator fundamental que o mercado, j que dele depende a dinmica da economia da biodiversidade e, principalmente quando se trata de produtos que podem alcanar valor agregado e serem exportados como produtos acabados. Cadeia produtiva um conceito que aborda a agregao de valor que ocorre no processo de transformao de matrias-primas e produtos locais em produtos semi beneficiados ou industrializados, com nfase no encadeamento dos elos dos produtos e servios envolvidos.

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A partir da seleo das cadeias mais importantes da regio amaznica o estudo prev a descrio de sua estrutura, de seus elos de ligao, desde a produo de matrias primas, processamento, industrializao at os centros de consumo ou portos de exportao dos produtos finais. A metodologia procura colocar nfase nos elos de ligao relacionados principalmente com o mercado nacional e internacional, dependendo das informaes encontradas sobre os produtos da biodiversidade. Entre os objetivos que tm maior mrito o estudo pretende avaliar a competitividade das cadeias produtivas relevantes para o comercio de produtos da biodiversidade. Isso significa que o que se torna mais relevante identificar o potencial de agregao de valor e integrao produtiva dos diversos eixos das cadeias. Outro aspecto a considerar conhecer o valor da das cadeias produtos relevantes ou potencialmente relevantes. Apesar de que no um indicador decisivo ser importante Identificar os produtos com maior representatividade no PIB da regio amaznica e, estudar como a infraestrutura gera valor agregado, encontrando o elo de ligao entre a infra-estrutura fsica (transporte, telecomunicaes e energia) e a gerao de valor agregado.

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1 PRINCIPAIS CADEIAS PRODUTIVAS BASEADAS EM PRODUTOS DA SOCIOBIODIVERSIDADE NA REGIO AMAZNICA Neste item, analisam-se as cadeias produtivas que predominam em regies abundante de recursos naturais e de escasso desenvolvimento econmico, como o caso da regio amaznica, em que grande parte das comunidades da floresta ainda convive com modelos extrativistas de explorao da biodiversidade e uma parte das populaes vive em sistemas localizados em unidades de conservao (RDS, FLONA, RESEX, etc.). Entretanto, a partir de mecanismos gerados pela modernizao e mais recentemente, pela inovao tecnolgica Na reviso da literatura de cadeias produtivas constatou-se, ser inadequada a viso estritamente setorial para tratar o problema da cadeia produtiva no Brasil. No caso da Amaznia, os diversos modelos conhecidos no possibilitam uma viso adequada para as especificidades da Regio. Assim, necessrio um melhor entendimento de como ocorrem os processos de coordenao das atividades ao longo da cadeia produtiva, de que maneira se pode induzir sua transformao, alm de saber como pode acontecer uma transio de aglomerados geogrficos distantes e esparsos, para arranjos e sistemas de produo e comercializao mais dinmicos, incluindo todos os aspectos da logstica do mercado. Nesse sentido, deve-se ter cuidado de evitar transferir, de forma mecnica, as experincias de modelos de cadeias caractersticas da realidade industrial brasileira ou outras experincias idealizadas nos pases desenvolvidos. Na Amaznia, por suas caractersticas geogrficas e formao social

extremamente dispersa e absoluta falta de instituies de pesquisa consolidadas que agreguem valor aos produtos das cadeias produtivas, muito difcil pensar na adequao dos conceitos tradicionais de cadeias produtivas ou de arranjos existentes nos pases desenvolvidos. Inclusive, a idia de Arranjos Produtivos Locais (APLs), que supem uma estrutura territorial prxima e infra-estrutura de apoios consolidadas, para o mercado e comercializao, no um modelo que sirva de referncia para a comercializao dos produtos da biodiversidade. O modelo de cadeia de biodiversidade com todas suas estruturas e elos proposto, enfatiza a articulao institucional, junto s pequenas indstrias de produtos da biodiversidade e fornecedores localizados na floresta que se encontram dispersos, aqueles que so parte das reservas extrativistas ou os que se encontram distantes das

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cidades da Amaznia em um raio de menos de 300 km. Da que os pontos para constituir plos de Biocomrcio devem ser considerar esses fatores que propiciam a acessibilidade aos centros de consumo e de demanda. Uma caracterstica que diferencia as cadeias produtivas da biodiversidade em geral, com relao a cadeias de outros segmentos da economia, que elas devem ter como base a biodiversidade e serem produzidas em modelos extrativos, principalmente. Para esses recursos ainda no h oferta cultivada e seu uso comercial, em bases sustentveis, pode contribuir para a manuteno da floresta em p e melhoria da qualidade de vida das comunidades da Amaznia. Essas devem ser as condicionantes para fortalecer os plos de comercializao dos produtos da biodiversidade. Alm disso, a escolha dos produtos deve ser feito a partir de sua difuso j consolidada ou em processo de consolidao, com cadeias produtivas relativamente bem estruturadas, com oferta estabelecida e demanda em expanso, nos mercado nacional e internacional. Pela diversidade de produtos que geram, esses recursos abrem a possibilidade para o desenvolvimento de uma indstria que comercialize produtos derivados da biodiversidade, com atividades comerciais focadas nos mercados mais dinmicos para tal sentido fundamental a realizao de pesquisa e desenvolvimento, alm de todo um arranjo organizacional que valorize as instituies voltadas para o comercio justo e aproveitamento da biodiversidade e da floresta. Tambm, na estrutura geral da cadeia dos produtos selecionados constatou-se que existe uma relao com as dimenses do desenvolvimento sustentvel selecionadas para a pesquisa e uma relao com a vida das comunidades pesquisadas (dimenses: socioeconmica, ambiental ecolgica espacial, e, social cultural). Na anlise macro das cadeias produtivas, a maioria dos produtos extrativistas, incluindo a castanha-do-par, copaba e andiroba, apresenta um perfil de oferta e demanda semelhante, no tocante s dimenses do desenvolvimento sustentvel, acima referidas.

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1.1 CADEIAS PRODUTIVAS DA BIODIVERSIDADE DIVERSOS ENFOQUES O DIFERENCIAL COMPETITIVO PARA ALCANAR MERCADOS

Uma das caractersticas essenciais das cadeias da biodiversidade que elas se diferencias tanto das cadeias tradicionais dos segmentos maduros da economia, bem como das cadeias de produtos florestais no-madeireiros. Nesse sentido, enfrenta uma srie de desafios para realizar o caminho do insumo at o consumidor final. Desde a coleta, produo, processamento, armazenagem, transporte, marketing at a comercializao h uma longa trajetria. Esse caminho comea na comunidade e se estende at o mercado. A importncia relativa de cada um desses elos (da cadeia) difere produto a produto, eles podem no acontecer consecutivamente e alguns podem ser repetidos ou at mesmo podem ser omitidos para produtos particulares. Algumas cadeias, particularmente para produtos localmente comercializados, so menores e mais simples, uma vez que em geral os consumidores esto muito prximos das prprias comunidades. (BELCHER & SCHRECKENBERG, 2007) Quando as cadeias se estendem alm do nvel local tendem a ser mais complexas. Para alguns produtos naturais, como precisamente a castanha-do-par, exportada durante sculos, a recente tendncia da globalizao reestruturou o mecanismo de mercado, fazendo com que a gesto do processo de produo e comercializao ficasse tambm mais complexa e a cadeia mais difcil de administrar, tanto no aspecto empresarial como do ponto de vista da produo. Com o processo de globalizao e as possibilidades de os produtos naturais ganharem mercado internacional, mudaram tambm a maioria dos elos das cadeias dos diversos produtos. Essas mudanas podem potencializar o produto natural, agregando valor e ressaltando sua importncia, bem como criar conflitos com as demandas de mercado, gerando dificuldades para resolver problemas tecnolgicos e expectativas de subprodutos, que podem esgotar a base de insumos naturais ou afetar os ecossistemas das florestas (BELCHER & SCHRECKENBERG, 2007). De forma diferente dos produtos agrcolas tradicionais que no apresentam esses problemas, por serem produtos de cultivo.

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Belcher & Schreckenberg (2007), enfocando pases do trpico mido1, percebem diferenas fundamentais entre os produtos florestais no-madeireiros e os produtos agrcolas (quer dizer as cadeias de agronegcio e as cadeias da biodiversidade). A coleta dos produtos naturais feita diretamente na floresta, em territrios distantes da casa do coletor onde no tm nenhuma posse segura da terra. Nesse sentido, o armazenamento, o processamento e o transporte, no tm uma ordem lgica e podem ser bastante complexos, dependendo da infra-estrutura, da natureza do produto, dos locais onde so processados e das exigncias do consumidor. Em geral, nos pases da frica e de Amrica Central (Mxico, Costa Rica, Colmbia etc.) os produtos naturais incluem muitas frutas frescas que requerem um rigoroso controle da vigilncia sanitria dos pases compradores. Estes exigem um armazenamento cuidadoso e controle do transporte rpido para o mercado ou algum nvel de processo primrio perto do local de origem, antes de continuar para os mercados. Como esses produtos so exportados in natura, eles requerem um processo tecnolgico mnimo ou um processamento parcial (Figura 9). Essa uma funo bsica e fundamental da cadeia produtiva quando atua com produtos da biodiversidade - procurar aumentar a intensidade da inovao tecnolgica, como condio para agregao de valor aos produtos. Ora, esta uma cadeia de produtos florestais no madeireiros, a nossa proposta de cadeia da biodiversidade mais complexa e apresenta elos mais elaborados, passando pela bioindstria, um beneficiamento mais completo e procurando agregar valor, local aos produtos da biodiversidade. Portanto, a cadeia da biodiversidade no uma cadeia de agroindstria ou de agricultura familiar.

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A anlise abrange pases como Indonsia, da frica, Mxico e Brasil. (BELCHER e SCHRECKENBERG, 2007)

14 Identificao do produto e mercado

ProduoEstoque Processamento Transporte CultivoColeta

Consumidor

Nacional

Internacional

Figura 1: Cadeia produtiva de produtos madeireiros no florestais

Fonte: Elaborado com base em BELCHER e SCHRECKENBERG, (2007)

Como aponta a figura 2, ela tem suas particularidades, todas elas exploradas neste item. Se o produto natural comercializado internacionalmente, para exportao e importao existem diversas exigncias tais como, normas de qualidade, regulamentos fito-sanitrios, licenas e impostos, entre outras. Os mesmos requisitos devem ser atendidos pelo pas importador (armazenamento, processamento e transporte adequado, dependendo do tipo de produto). Alguns produtos naturais (frutas e outros produtos perecveis) se caracterizam pela necessidade de estabelecer uma rede de distribuidores quando. Em alguns casos, podem ser reexportados. Dessa forma, em cada fase do comrcio, devem ser atendidas certas consideraes especficas, garantindo qualidade do produto, entrega segura (e com seguros) de acordo com um previsvel programa de custo razovel que termina sendo extremamente importante para desenvolver um mercado sustentvel no longo prazo, mantendo uma relao entre os vendedores e compradores. A cadeia produtiva da biodiversidade apresenta diferenas fundamentais que no podem enganar a quem estrutura polticas pblicas para fortalecer elos da cadeia. No apenas essa relao simples entre produo e consumidor ou o mercado. O processo bem mais complexo e as diferentes relaes entre os elos da cadeia, so tambm de maior complexidade. Talvez, essa seja necessrio o desenho de uma cadeia especfica para outros produtos que sejam selecionados, alm dos estudados neste trabalho especfico sobre a identificao de gargalos no mercados das cadeias da sociobiodiversidade.

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Dessa forma, se torna necessrio esclarecer que uma estratgia adequada para estudar as cadeias produtivas, suas dificuldades de comercio e mercado, em geral, pode ser a de agrupar produtos da sociobiodiversidade que renam potencialidade e/ou dificuldades semelhantes para estudar mais em profundidade seus problemas e assim poder definir polticas de incentivos, apoios por parte das entidades e rgos de governo para superar os gargalos ou pontos fracos dos elos que conduzem os produtos ao mercado. A Figura 2 exemplifica as cadeias produtivas da biodiversidade voltadas para a Amaznia. O diferencial a necessidade de interagir com a bioindstria e a inovao tecnolgica. A figura mostra uma cadeia produtiva da biodiversidade, mostra a estrutura da cadeia e cada um dos seus elos e interaes, detalhando seus componente e processos produtivos que compem sua estrutura. Aqui cabe ressaltar que para cada produto selecionado, ser construda, em funo das informaes coletadas em campo, uma cadeia especfica, onde destaca o elo da cadeia referente comunidade, sempre presente na cadeia da biodiversidade.

Cadeia ProdutivaAmbiente Institucional: Cultura, Tradies, Educao, Regras, Aparato Legal

T1Armazm

T2

T3

T4

T5

Insumos

Produo

Bioindstria

distribuio

Varejo

Consumidor

Ambiente Organizacional: Associaes, Cooperativas, institutos de pesquisa e extenso, Bancos e Universidades

Figura 2 Cadeia Produtiva da Biodiversidade Fonte:

As cadeias da biodiversidade, em geral, seguem a trajetria tambm descrita na Figura 3 e possuem suas etapas iniciais (transao entre extrativistas e empresas bioindstrias)

16 interligadas por intermdio de transao principalmente via mercado, ou seja, elas no tm um corpo coeso e organizado, como ocorre nas cadeias j consolidadas, em que as transaes se do via contrato. Essa caracterstica abre espao e permite as atividades de atravessadores que, aparentemente, so imprescindveis, dadas as especificidades das transaes nestas cadeias. A partir da etapa da bioindstria, as transaes passam a se dar via contratos, de forma muito bem elaborada, dentro de padres de cadeias produtivas altamente competitivas. Conforme a Figura 3 a etapa da produo envolve trs atividades: A) Coleta: ocorre em sua totalidade na floresta de forma extrativista; B) Transporte: o grande gargalo da produo, dados a distncia, a dificuldade e custos de locomoo no interior das florestas; C) 1 Processamento: ocorre muitas vezes de forma precria quando feito pelo extrativista. Seus produtos alcanam prioritariamente o mercado local, mas em alguns casos (copaba, por exemplo), esses produtos so adquiridos pela bioindstria. Ainda conforme a Figura 3 a bioindstria nas fases de 2 e 3 processamentos - atua em trs atividades bsicas: A) Alimentcia: atua no mercado nacional e internacional e especfica para alguns produtos como a castanha da Amaznia (comercialmente conhecida como castanha-do-Par); B) Cosmticos: atividade em alta expanso e competitividade elevada, alcana os trs mercados e explorada por um grande nmero de bioindstrias; C) Frmacos: est restrita a um menor nmero de bioindstrias devido s exigncias da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) para a colocao dos produtos no mercado. Estes produtos alcanam trs mercados. A) Mercado local: geralmente so produtos artesanais que obtiveram, no mximo, o primeiro processamento. Sem rotulagem especfica, mas apenas nome e algumas caractersticas do produto. So vendidos em feiras municipais e praas pblicas; B) Mercado domstico: so compostos por produtos simples sem nenhuma carga tecnolgica, mas apenas uma embalagem e rotulagem mais refinada e tambm por produtos com alta carga tecnolgica e valor agregado, no mesmo nvel daqueles que so direcionados ao mercado internacional;

17 D) Mercado internacional: composto por muitos produtos primrios que so vendidos s bioindstrias estrangeiras, mas tambm h exportao de produtos nacionais com alto valor agregado. A partir dessa caracterizao geral, o prximo item trata mais especificamente das cadeias dos trs produtos da Amaznia castanha-do-par, leo de copaba e sementes e leos de andiroba que foram selecionados, buscando chamar ateno para a importncia destas cadeias no comercio nacional e internacional, por serem cadeias j consolidadas ao longo da sua trajetria, desde os insumos at a comercializao.

Coleta Transporte Armazenagem 1. processoPRODUO

TransporteDISTRIBUIO 1

MERCADO LOCAL

Produto 0 Armazenagem Produto 1

MERCADO DOMSTICO

Produto 1 Produto 2 Produto 3

1. processo 2. processo1. BIOINDSTRIA

2. processoMERCADO INTERNACIONAL

Produto 1 3. processo Produto 3

2. BIOINDSTRIA

DISTRIBUIO 2

TRANSFORMAO

Figura 3 Estrutura de uma cadeia produtiva da biodiversidade Fonte: Elaborao prpria

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1.2

AS

CADEIAS

PRODUTIVAS

DA

BIODIVERSIDADE

E

AS

CADEIAS

TRADICIONAIS ARTICULADAS PELO JOGO DO MERCADO.

Um dos equvocos freqentes ao se analisar as cadeias produtivas da biodiversidade (CB) adotar os mesmos procedimentos e ferramentas utilizados nas cadeias produtivas tradicionais (CT) ou neoclssicas que consideram apenas as variveis de oferta e demanda. Na construo de um modelo de cadeia de biodiversidade, constatam-se algumas diferenas fundamentais que existem entre as cadeias de biodiversidade e as cadeias tradicionais, conforme a seguir. Escala a CT segue os sinais de mercado, isto , o preo um importante indicador econmico. Assim, a escala de produo se expande ou se contrai de acordo com as oscilaes de preo. Isso no acontece na CB, uma vez que a oferta depende do ciclo da natureza e da capacidade de acesso s zonas produtivas, entre outras. Dessa forma, a CT se beneficia das economias de escala e de escopo, o que no ocorre nas CB. Na CB no h essa organizao, os fornecedores esto dispersos, no h economias de escopo e tampouco uma rede consolidada de prestadores de servios e de assistncia tcnica e cientfica que gere sinergias. Portanto, na CB o potencial de agregao de valor muito varivel. Matria-prima na CT ela padronizvel, j na CB h dificuldades na padronizao da produo, tanto em qualidade como em quantidade, uma vez que h alta influncia de fatores climticos. Na CT h produo racional da matria-prima. Organizao da produo na CT, produtores, consumidores e toda uma rede de prestadores de servios so geridos atravs de contratos. Na CB a transao entre extrativista e bioindstria instvel com forte presena do atravessador; sendo que este quase nada agrega aos produtos, ele substitui a organizao via contrato, por causa da inexistncia deste. Ou seja, o atravessador onera os custos de transao, mas exerce um papel fundamental na inexistncia de contratos. Na CB h alta assimetria de informao, o que acaba por beneficiar as empresas. Logstica na CT h toda uma rede de vias de acesso e meios de transporte especialmente criados para dar suporte a todos os elos da cadeia, o que possibilita grande eficincia. Na CB a logstica catica: os produtores tm grandes dificuldades de

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acessar as reas produtivas, de deslocar o produto aos centros de armazenagem e de comercializar a sua produo. A CT altamente integrada, em funo de organizao da produo e sistematizao da logstica. Consumidor - a CT garante oferta constante com certa estabilidade de preos ao consumidor, pois h regras claras de compra e venda. Na CB h grande dificuldade de se estabelecer uma freqncia na transao, pois a lgica catica, nem o fornecedor garante a existncia da produo nem o consumidor garante que haver demanda, isso, entre outras causas, gera grande oscilao dos preos. Na CB h baixa demanda da matria-prima em face da alta oferta. Marcas na CT a marca importante e construda a partir da consolidao do grupo no mercado. Na CB h uso de valores, smbolos que so imateriais e intangveis que possuem um valor intrnseco. Assim, na CB h potencial de agregao de valor pela marca (Biomas: Floresta Amaznica; Cerrados; Caatinga etc.) Produto na CT a organizao do mercado, a logstica de compra, venda e distribuies garantem que o produto chegar ao mercado com suas propriedades asseguradas. A CB lida com produtos muito vulnerveis, facilmente contaminveis e perecveis, o que enfraquece os extrativistas, enquanto ente econmico. Meio ambiente a manuteno da CB extrapola a lgica puramente econmica, pois ela contribui para a preservao dos ecossistemas, da floresta em p e dos servios ambientais que a floresta oferece. Isso no ocorre com a CT. Nesse sentido, os subsdios ambientais para os extrativistas podem ser um alternativa interessante para a manuteno da floresta em p. Espao de produo a CT precisa de grandes reas desmatadas; a CB convive perfeitamente com o sistema de reas preservadas. A CB lida com ativos passveis de sintetizao de molculas, da sua relativa independncia do espao onde ocorre, o que no acontece com a CT. Regulamentao o mercado dita as regras do jogo da CT e isso garante eficincia econmica, com melhor distribuio da renda entre os elos da cadeia. Se a CB for deixada ao livre jogo das regras de mercado a eficincia econmica no estar garantida e tampouco a justia na distribuio da renda entre os elos da cadeia, uma vez que h uma grande assimetria entre os diferentes componentes dessa cadeia. Da ser imperativa uma regulao, por parte do poder pblico, considerando-se a vulnerabilidade do produtor e o frgil sistema de proteo das reas produtivas. C&T - a CB abre possibilidade para criao de bioindstrias; de mecanismos de capacitao tecnolgica e de gesto; de parques tecnolgicos e de cooperativas

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populares. H possibilidade de controle do contedo dos produtos, diferente na cadeia de conhecimento. Preo a CT segue o mercado; na CB h possibilidade de criao de mecanismos de Biocomrcio e comrcio justo. Conforme foi analisado, os dois modelos de cadeias produtivas so essencialmente diferentes. As relaes encontradas se referem s ligaes entre etapas produtivas e seus atores, entretanto, os ambientes institucionais e organizacionais dessas cadeias so muito distintos. Dessa forma, foram descritas diferenas entre as cadeias produtivas tradicionais e as da biodiversidade, visando chamar ateno para a necessidade de entender melhor o que ocorre com o mercado de certos produtos extrados da floresta Amaznica para potencializar ao mximo os produtos da biodiversidade melhorando a competitividade do mercado desses produtos.

1.3

METODOLOGIA

PARA

IDENTIFICAO

DE

CADEIAS

PRODUTIVAS

DA

BIODIVERSIDADE NO COMPLEXO VERDE DA AMAZNIA COM POTENCIAL COMERCIAL PRODUO, LOCALIZAO E LOGISTICA INSTITUCIONAL A principal preocupao do estudo foi centrada na metodologia que permitisse identificar as principais cadeias produtivas que reunissem as melhores caractersticas para que o estudo tivesse uma melhor replicabilidade no mbito da maioria dos estados da Amaznia. Nesse sentido as cadeias selecionadas, diferentemente dos estudos tradicionais foi realizado procurando encontrar pontos que fossem comuns em todas as regies e produtos presentes na maioria das comunidades da floresta. Diferentemente de estudos tradicionais que procuram solues para o

desenvolvimento sustentvel na floresta derrubada, o nosso trabalho presta ateno em uma alternativa de sustentabilidade e de biocomrcio, a partir do chamado complexo verde. Isto significa que procuramos produtos que desenvolvessem seu processo produtivo no meio da floresta e no na regio da Amaznia j desmatada.

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Essa metodologia surgiu j que a maioria das polticas pblicas difundidas pelos diversos governos so baseadas na procura de alternativas para as comunidades que se encontram no nas reas desmatadas (incentivos para cultivar o gado de forma sustentvel, reflorestamento sustentvel, agricultura familiar, etc. etc.) e poucas so as polticas pblicas que incentivam o valor da floresta em p, a partir da valorizao do complexo verde, quer dizer focar a poltica pblica para quem est dentro da floresta e ir avanando para fora, no de fora para dentro, como observamos tradicionalmente. Nesse sentido optou-se, primeiro por mostrar os diversos produtos da biodiversidade que podem formar parte de projetos pilotos para mostrar as cadeias produtivas e as potencialidades dos produtos para acessar o mercado mundial. Depois, selecionar s aquelas cadeias que contassem com melhor capacidade de replicabilidade, com presena nas regies e, adicionalmente, as comunidades que trabalhassem as cadeias o fizessem em todas elas simultaneamente (caso da castanha, andiroba e copaba). Dessa forma este item faz um mapeamento por uma seleo de produtos da biodiversidade brasileira, produtos extrativos e/ou cultivados que tem uma presena no mercado e contam com cadeias produtivas embora pouco estruturadas, tem potencialidade para crescer e formar parte, no futuro, de um mercado do biocomrcio. Posteriormente foram selecionadas apenas aquelas cadeias que cumpriram os critrios estabelecidos na metodologia adotada (Item 1.6). Os Estados da Amaznia Brasileira (ou da Amaznia Legal) so os que contam com as cadeias produtivas mais importantes onde se destacam o Par e o Amazonas como os mais importantes e dinmicos na produo dessas cadeias. Estudos j realizados comprovam o dinamismo de sistemas que combinam a explorao extrativa e cultivada de produtos da biodiversidade esses processos se expandem e consolidam na regio. Ao mesmo tempo, demonstram outras faces positivas (fatores, estmulos ou vetores) capazes de promover mudanas nos circuitos de produo e na qualidade de vida das populaes, tal como a revitalizao de reas rurais tradicionais da regio caracterizadas pela predominncia da pequena produo familiar (Nordeste do Par), e de inmeros ncleos ribeirinhos como os do Baixo e do Mdio Amazonas/Solimes.

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No caso das culturas cultivadas representam uma alternativa razovel para o aproveitamento de reas desmatadas, degradadas ou abandonadas, com destaque para aquelas associadas explorao predatria de recursos madeireiros ou ao fracasso de grandes empreendimentos agropecurios, como so os inmeros casos daqueles instalados a partir dos anos setenta sob o impulso de incentivos fiscais regionais. Apesar da grande quantidade de produtos oriundos da biodiversidade da Amaznia, na realidade so ainda poucos os podem ser considerados verdadeiramente significativos na economia regional. Historicamente na Amaznia, a extrao de recursos naturais tem sido o ponto de apoio na atividade de comrcio exterior desde os primrdios de sua ocupao. Assim aconteceu com o cacau (Theobroma cacao L.) que, na economia colonial, respondeu por at 97 % do valor das exportaes (1736). Foi assim tambm com a seringueira, terceiro produto da pauta das exportaes nacionais por 30 anos (18871917), e que atingiu o pico de participao em 1910, quando foi responsvel por 39 %, e, novamente, em 1945, por ocasio da II Guerra Mundial, ano em que representou 70 % das exportaes da Regio Norte. A produo de pau-rosa alcanou participao mxima nas exportaes da Regio Norte, em 1955, com 16 %, e a castanha-do-par, em 1956, com 71 % (HOMMA, 2003a). Esses produtos seguiram as fases de expanso, estagnao e declnio, decorrentes do esgotamento, domesticao, perda do poder de monoplio e aparecimento de substitutos. No contexto histrico, verifica-se uma mudana das exportaes de produtos extrativos vegetais para minerais. O extrativismo mineral, em 2005, respondeu por mais de 52 % do valor das exportaes da Regio Norte e 80 % do Estado do Par. Esses dados refletem a tendncia verificada em 2005, quando as exportaes dos produtos da biodiversidade representaram menos de 18 %, destacando-se a madeira e derivados, com 12 % (HOMMA, 2008). Entretanto recentemente, com os avanos tecnolgicos j em curso os recursos da biodiversidade em retomam a importncia, sem constituir-se ainda em fonte de sustentabilidade para as comunidades da floresta. Eles so apenas uma potencialidade e nmero representam uma limitada quantidade que pem ser explorados economicamente.

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O grande desafio para a Amaznia precisamente conseguir que os produtos da sua biodiversidade representem parte importante da sua economia. Isso para que no se feche o circulo perverso da explorao econmica da floresta destruindo o mais importante que ela reserva para o modelo de desenvolvimento sustentvel: seus produtos naturais. No item 1.5 so analisados as trs cadeias produtivas (castanha, copaba e andiroba) que alm de potencialidade j so produtos que contam com uma demanda do mercado internacional e nacional razovel. O quadro abaixo representa os volumes de produo das diversas culturas estudadas e que tem uma maior expresso nas fontes de informao, ainda insipientes sobre os produtos econmicos da biodiversidade.

Tabela 1 Tabela Produtos Florestais No-Madeireiros da Amaznia 2006 (toneladas)

Fonte: IBGE, 2008

leo de Dend. Como se constata, ainda que importante a produo de leo de dend no Estado do Par ela pouco expressiva se comparada com a produo mundial de dend que supera as 36 mil toneladas, a maior parte proveniente dos pases da sia. A caracterstica desses leos que eles no so considerados para a uma poltica de biocomrcio. As grandes empresas so as principais beneficirias da produo e

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explorao desses produtos, por serem elas cultivadas e produzidas em grande escala os efeitos sobre a floresta so tambm negativos. Se fosse respeitada a proposta de utilizar essas culturas em reas degradadas, exclusivamente, sim seria uma alternativa para difundir sua produo entre comunidades produtoras.Tabela 2 Produo Mundial de leos Vegetais (2007)

Fonte: Oil Word (2007) In.: Malaysian Palm Oil Council. Malaysian Palm Oil Fact Sheets.Seleangor, Malsia, 2007.

O foco principal do estudo so as culturas extrativas e que promovam o desenvolvimento sustentvel das comunidades locais, por meio do biocomrcio. O caso de culturas como o aa, dend cupuau, babau e outras, ainda podem ser considerados na anlise de forma a ressaltar seu papel no aproveitamento da biodiversidade. Como se constata as perspectivas de expanso dos cultivos desses produtos na sia-Pacfico so significativas alcanando atualmente a novos pases produtores, como o caso de Papua Nova Guin. Um dos fatores que contribuem para essa expanso o investimento de PD&I, visando elevar a produtividade e consolidar os diversos processos de certificao de toda a cadeia produtiva, alm de programas governamentais destinados a consolidar os sistemas integrados que articulam as cooperativas de pequenos produtores familiares e as grandes empresas desse segmento No caso brasileiro, apesar da demonstrada vocao da Amaznia para a produo de dend em larga escala, essa atividade ainda incipiente na regio e est voltada, principalmente para as grandes empresas. Dessa forma, nos ltimos anos tem crescido a dependncia externa dos leos, principalmente o leo refinado, mais utilizado pelas indstrias (Tabela 3 e 4).

25Tabela 3 Importao Brasileira de leo de Dend (bruto)

(*) Perodo de Jan/2008 a Mai/2008. Fonte: MDIC, 2008.

Tabela 4 Importao Brasileira de leo de Dend (refinado)

(*) Perodo de Jan/2008 a Mai/2008. Fonte: MDIC, 2008

Os maiores cultivos do pas esto atualmente localizados no Par (Mapa 1) e a empresa mais importante desse segmento o Grupo Agropalma, que responsvel por cerca de 70% da produo nacional, desenvolvendo essa.atividade em uma rea de 107 mil ha, abrangendo principalmente os municpios.de Tailndia, Acar e Moj e envolvendo cooperativas de pequenos produtores. Nos ltimos anos, esses cultivos estenderam-se para.novos municpios, como Benevides, Santa Izabel do Par, Santo Antonio do.Tau, Castanhal, Igarap-A, no nordeste paraense e, com isso, a produo.total desse estado em 2007 foi de aproximadamente 750 mil toneladas de leo bruto (CGEE, 2008).

Mapa 1 Dend (Produo em 2006 Regio Norte) Fonte: IBGE Malha Municipal digital (200) Pesquisa Agrcola Municipal (2006) in: Costa (2007), apud CGEE, 2008.

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Neste ano entrou em funcionamento o mercado nacional de biodiesel tendo como base a adio de 2% de leo vegetal ao diesel e, apesar do predomnio do leo de soja, ampliaram-se as perspectivas favorveis para a expanso do palm oil na regio. Tomando como base essas novas tendncias do mercado brasileiro, levantamentos e estudos realizados pela Embrapa estimam que o estado do Par dispe de cerca de 5 milhes de ha aptos para o cultivo do dend. Alm disso, a Embrapa implantou recentemente um plo experimental de cultivo e extrao desse leo no municpio de Rio Preto da Eva, no amazonas e h vrios novos investimentos de empresas privadas em curso nesses dois estados e em Rondnia e Roraima (CGEE, 2008).

A produo de Extrato de Guaran. O cultivo do Guaran constitui um tpico sistema agro-florestal e se destina, sobretudo, para a produo de extrato vegetal e concentrados, que so empregados na formulao de refrigerantes. Atualmente, o maior produtor nacional a Bahia (hoje em fase de declnio), secundada pelo Amazonas (hoje em fase de rpida expanso) e o Mato Grosso (Mapa 2). No Amazonas, a sua produo est concentrada nos municpios de Maus (a maior parte) e de Presidente Figueiredo e se desenvolve principalmente em sistemas integrados comandados pelas empresas-lderes desse setor, como a AmBev e a Coca-Cola e essa atividade envolve a participao direta de pelo menos duas grandes cooperativas e 12 plos agrcolas de pequenos produtores em um grupo de municpios desse estado, tendo Maus frente (Barreirinha, Urucar, Boa Vista do Ramos e Parintins) (CGEE, 2008). Esse sistema funciona em torno de um plo bioindustrial produtor de extratos e xaropes localizado em Manaus e cuja produo se destina em sua quase totalidade para o mercado externo e se constitui hoje num dos principais itens da pauta de exportaes do Plo Industrial de Manaus PIM2. Com a crise dos cultivos na Bahia, aliada aos ganhos de produtividade na Amaznia, enorme a potencialidade de expanso desses sistemas integrados na regio e especialmente no Amazonas, onde se tm incorporado novas reas de produo, a exemplo de Presidente Figueiredo que possui, em relao a Maus, vantagens como o uso de novas tecnologias de produo e a maior facilidade de acesso a Manaus. Finalmente, tem se fortalecido nos ltimos anos a tendncia de

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introduzir o processo de certificao dessa atividade em toda a cadeia produtiva, incluindo o crescimento da demanda principalmente do mercado internacional - pelo chamado guaran orgnico (Quadro 2).

Quadro 1 Produtos com Certificao Orgnica 2008 Fonte: CGEE, 2008

A localizao dos principais centros de produo e beneficiamento de guaran esta concentrada nos estados do Amazonas, Rondnia e Par, os centros de distribuio concentram-se tambm nos estados.

Mapa 2 Guaran (Produo em 2006 Regio Norte) Fonte: IBGE Malha Municipal digital (200) Pesquisa Agrcola Municipal (2006) in: Costa (2007), apud CGEE, 2008.

2 Em 2007 foram exportados cerca de US$ 131,0 milhes de extratos e concentrados desse produto, equivalentes a 12% do total das exportaes do PIM

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A produo de Babau. A produo de Babau est concentrada, principalmente, no Nordeste, no Estado do Maranho. A produo do Brasil alcanou em 2006 a 117.150,00 toneladas de amndoas. Em 1990, a produo era de 188.718,00 o que reflete uma diminuio significativa da produo das amndoas (Tabela 5).Tabela 5 Tipo de produto extrativo - Babau (amndoa) (Tonelada) 2006Brasil e Regio Geogrfica Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Produo 117.150,00 881 116.269,00 -

Fonte: IBGE, SIDRA, 2008

O Breu Branco (protium pallidum). uma rvore da floresta amaznica, que ao sofrer alguma agresso como uma picada de inseto libera uma seiva branca e brilhante como forma de defesa que tambm chamada de breu-branco. Com o tempo ela escurece, fica dura e se asemelha a uma pedra que quebra e pega fogo facilmente, liberando um cheiro agradvel. O cheiro do breu-branco chamou a ateno da indstria de cosmticos Natura que buscava uma essncia da biodiversidade brasileira para um novo perfume destinado ao mercado nacional e internacional. Dentre as Regies onde existe incidncia de breu-branco se destaca a Reserva de Desenvolvimento Sustentvel So Francisco do Iratapuru, no Sul do Amap, divisa com o Par, onde o breu coletado sem causar danos rvore. A empresa Natura iniciou faz alguns anos a experincia de explorar o breu-branco em um novo produto. Para isso necessitava da autorizao do CGEN - Conselho de Gesto do Patrimnio Gentico, do Ministrio do Meio Ambiente. o que determina a legislao brasileira que regula o acesso aos recursos da biodiversidade, ainda regida por medida provisria. A legislao estabelece que as atividades no pas, devem ser reguladas pelo governo federal portanto todas as iniciativas devem ter autorizao do CGEN. O governo do Amap, que tambm possui uma legislao prpria de acesso biodiversidade, participou do processo de autorizao da explorao do produto, por meio da Secretaria de Meio Ambiente.

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O uso do breu branco ele envolve dois componentes. De um lado um uso do patrimnio gentico, um conjunto de uma substncia presente nessa planta que a base para o desenvolvimento do produto e por outro lado, o uso do conhecimento tradicional associado. S que o conhecimento tradicional associado um conhecimento tradicional difuso, ele est disperso em vrias comunidades. Inclusive, o conhecimento dessa propriedade no foi obtido direto naquela comunidade, mas de outra maneira. O fato que o conselho no disciplinou ainda como que as empresas tem que fazer para negociar com conhecimentos tradicionais que so difusos . Como a legislao ainda no definiu como as comunidades locais e os povos indgenas podem receber pelo conhecimento tradicional, a populao de Iratapuru ser remunerada apenas, pela coleta do breu-branco e pelo auxlio dado no desenvolvimento do perfume.

A produo de Aa. O Aa um dos frutos da Amaznia mais difundidos no mercado nacional e internacional depois dos tradicionais produtos extrativos o Aa, hoje, quase a totalidade cultivada, se difundiu pelas qualidades que apresenta no combate aos radicais livres e como um produto altamente energtico. Ele produzido principalmente na regio norte e no Par encontra-se sua maior produo. Apesar de que no ano de 2006 experimentou uma diminuio ainda est em torno das 100 mil toneladas (Tabela 6). Uma das grandes dificuldades do aa o transporte e as dificuldades para sua conservao j que, da mesma forma que outros produtos naturais, altamente perecvel e rapidamente se deteriora. O grande desafio do aa o investimento em P&D para agregar valor ao produto e colocar no mercado o aa com maior valor agregado.Tabela 6 Aa (fruto) Quantidade produzida na extrao vegetal (Tonelada)Brasil e Regio Geogrfica 2004 Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Fonte: IBGE - Produo Extrativa Vegetal 101.041 93.804 7.226 10 Ano 2005 104.874 95.494 9.380 2006 101.341 91.899 9.441 -

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O crescimento do mercado de polpa de aa estimulou o manejo de 45 mil ha de aaizeiros nativos na foz do Rio Amazonas. As tcnicas iniciais foram desenvolvidas pelos ribeirinhos e aperfeioadas pelos pesquisadores do Museu Paraense Emlio Goeldi e da Embrapa Amaznia Oriental (Homma, 2008). A transformao de ecossistemas frgeis das vrzeas em bosques homogneos de aaizeiros, sujeitos a inundaes dirias, com a construo de canais de escoamento, movimentao de embarcaes, contnua retirada de frutos sem reposio de nutrientes, escondem riscos ambientais para a flora e a fauna, no caso de essa expanso assumir grandes propores (Homma,2008). Para isso, necessrio que os plantios de aaizeiros sejam dirigidos, tambm, para reas de terra firme desmatadas e preciso recuperar reas que no deveriam ter sido desmatadas. O plantio em reas de terra firme seria passvel de adubao e a colheita seria mecanizada. Essa circunstncia passa a constituir outra grande limitao com o crescimento do mercado, em face da legislao trabalhista e da exigncia de exmios coletores. A utilizao da irrigao em reas de terra firme e do zoneamento climtico permite ampliar as possibilidades da obteno de fruto de aa em diferentes pocas do ano, aumentando as possibilidades de mercado e reduzindo os preos para os consumidores locais.

1.4 EXPERIENCIAS DE EMPREENDIMENTOS DE PRODUTOS NO COMPLEXO VERDE DA BIODIVERSIDADE Da forma em que foi referido no incio do trabalho, a maioria dos projetos e propostas para explorar de forma sustentvel a biodiversidade tem colocado nfase nas cadeias produtivas e particularmente no beneficiamento da produo. Por meio de propostas de inovao tecnolgica, criao de plos de produo para o processamento de produtos da biodiversidade a maioria dos projetos tem descuidado um aspecto fundamental do processo de valorizao do complexo verde. O biocomrcio a pea que faz com que as bioindstrias contem com os mecanismos necessrios para colocar os produtos nos mercados nacionais e internacionais. De outra forma no possvel pensar na sustentabilidade da Amaznia.

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Nesse sentido, se faz necessria a relao em cadeia dos centros ou plos de Bioproduo e os centros de Biocomercio. o mercado que dinamiza a economia em todos processos dessa forma que atua. No poderia ser diferente quando se trata da explorao econmica da biodiversidade. Uma das alternativas bsicas que podem ser de interesse para a produo e para difuso dos produtos consiste na relao em redes entre comunidades, plos de beneficiamento e cidades prximas dos centros de distribuio tradicionais. A implantao de plos de beneficiamento dos produtos tem a grande vantagem de agregao de valor na comunidade e uma melhor distribuio dos benefcios. Existem algumas experincias nesse sentido que esto contribuindo fortemente para o dinamismo do Complexo Verde da Amaznia consiste nas parcerias das associaes, cooperativas, empresas e municpios que exploram produtos da biodiversidade para a produo de cosmticos e fitoterpicos (Quadro 3 e 4).

Quadro 2 Exemplos de Produo Comunitria na Amaznia Dermocosmticos (2007)Fonte: Balco de Servios para Negcios Sustentveis Negcios da Amaznia, Amigos da Terra, 2007 (apud Becker, 2008).

32 No processo de produo de frmacos, fitoterpicos e de cosmticos, os produtos naturais desempenham um papel de expressiva relevncia. Nos ltimos tempos os produtos naturais so responsveis, direta ou indiretamente, por cerca de 40% de todos os frmacos disponveis na teraputica moderna. Se considerarmos aqueles usados como antibiticos e antitumorais, essa percentagem sobre para aproximadamente 70%. Nesse panorama, torna-se evidente a importncia futura que produtos naturais tero. Qualquer estudo, portanto, deve partir dessa base, ou seja, do papel que os produtos naturais desempenham e podem desempenhar em regies de grande biodiversidade. H no planeta entre 350.000 e 550.000 espcies de plantas, mas grande parte delas ainda no tem estudos qumicos, analticos e farmacolgicos que permitam a elaborar monografias completas e modernas. Muitas espcies so usadas empiricamente, sem respaldo cientifico quanto sua eficcia e segurana. Em todo o mundo, apenas 17% das plantas foram estudadas de alguma maneira, quanto ao seu emprego medicinal e, na maioria dos casos, sem grande aprofundamento nos aspectos fitoqumicos e farmacolgicos. Esses dados demonstram o crescente potencial das plantas para a descoberta de novos fitoterpicos e Fitomedicamentos (FOGLIO, 2006). De todo o potencial de espcies existentes no mundo, o Brasil conta com 120 mil espcies vegetais, um lugar privilegiado no mercado de produtos naturais. Dessa forma, cientistas e empresas internacionais esto com os olhos voltados para a biodiversidade da floresta amaznica e comeam a investir em pesquisa, desenvolvimento e inovao (PD&I) de novos compostos para utilizao na indstria de cosmticos e de medicamentos. Isso tambm tem se refletido nas exportaes brasileiras de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosmticos 3 , a maioria com insumos da biodiversidade brasileira. Isso acontece, entre outras razes, porque bem mais fcil produzir um remdio a partir de um produto natural do que de um sinttico. O valor desses produtos, especialmente das plantas medicinais, para a sociedade e para a economia dos pases ainda incalculvel. Cerca de 60% a 80% da populao mundial, principalmente em pases em desenvolvimento, confiam no poder teraputico de plantas medicinais para o tratamento de suas doenas (LAPA, 2001 apud SANTANA, 2002). Dessa forma, existe uma enorme sensibilidade para o desenvolvimento da organizao e produo de fitoterpicos a partir de insumos da biodiversidade. Atualmente, a maioria dos estados da Amaznia Brasileira j conta com organizaes, empresas e cooperativas para a explorao e aproveitamento comercial desses produtos (Quadro 4).

3 Conforme dados da ABHPEC, 2007, as exportaes de produtos Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmticos aumentaram em 153%, quando passaram, em 2002, de US$ 202,7 mil para US$ 484,4 milhes em 2006.

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Quadro 3 Exemplos de Produo Comunitria na Amaznia Fitoterpicos (2007) Fonte: Balco de Servios para Negcios Sustentveis Negcios da Amaznia, Amigos da Terra, 2007.

No Complexo Verde existe a possibilidade de atuao em redes de cadeias produtivas para fornecer os produtos aos centros de Bioproduo estabelecidos. As cadeias produtivas da biodiversidade correspondem elevao do patamar de produo de espcies extrativas inerentes cultura regional. No se trata de todos os produtos extrativos, mas somente daqueles com maior potencial de gerao de riqueza e de agregao de valor, os provenientes da biodiversidade do Complexo Verde da Amaznia. A utilizao de produtos florestais no madeireiros a que se configura teoricamente como de grande possibilidade de gerar riqueza e incluso social sem destruir a natureza, e abrangendo em sua cadeia a mltiplos agentes, desde as comunidades que vivem no mago das extenses florestais, aos centros de biotecnologia avanados e a bioindstria. (Becker, 2004)

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Trata-se da extrao de leos vegetais de dois tipos: os leos fixos, que no evaporam facilmente e so mais utilizados na industria farmacutica e de cosmticos; os leos essenciais, de fcil evaporao e geralmente com essncia, amplamente utilizados na industria de cosmticos. Mercados para essa produo incluem o conjunto do espectro das industrias da biodiversidade e crescem aceleradamente na Europa, Estados Unidos e Japo. No que se refere a produtos de sade, estudos em outros pases amaznicos reportam-se impossibilidade de produzir frmacos em face da concorrncia dos grandes laboratrios; mas, este problema deve ser enfrentado no Brasil tendo em vista a sade pblica e a carncia de milhes de brasileiros que necessitam dessa produo, para ela garantindo um imenso mercado domstico. Reconhecem-se, 5 tipos de produo com mercados variados para o setor (BECKER, 2008). Farmacopia regional componente da cultura regional baseada no conhecimento tradicional, o uso de produtos diversos da biodiversidade intenso at hoje, existindo varias redes informais que abastecem os grandes mercados urbanos (BECKER, 2008). (1) Fitomedicamentos. a) Medicamentos alopticos distribudos nas farmcias, que exigem registro e submisso aos cdigos de sade pblica, e enfrentam a competio global; b) Especialidades de conforto, plantas medicinais vendidas livremente som a condio de no mencionar o uso medicinal; (2) Nutracutica (alimentos de bem estar fsico, complementares). Plantas aromticas e especiarias de fraco ou nulo valor nutricional, mas que podem contribuir para um melhor estado de sade, tendo efeito fisiolgico e no farmacolgico. Tem apresentado consumo espetacular nos ltimos anos na Europa, E.U.A. e Japo, correspondendo mudanas nos hbitos de consumo. (3) Dermocosmtica. Setor em pleno crescimento com grande procura de produtos vegetais e abandono progressivo de produtos de origem animal. Os ecoprodutos cosmticos so o setor mais

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promissor valorizao econmica da floresta e contam, inclusive, com legislao menos pesada. Nutracutica e Dermocosmtica tm estrutura de mercado semelhante: forte demanda de matria-prima vegetal ativos, mas em pequenas quantidades, e ciclo de vida curta. So os setores mais propcios a empresas locais e devem ter apelao geogrfica. (5) Frmacos. Os tipos de produtos acima apontados, tem a vantagem de ser mais independentes do controle da ANVISA, mas, no h como deixar de investir em tecnologia de ponta para produo de medicamentos visando a sade pblica. A instalao da Fiocruz em Manaus e, recentemente, do Butant em Santarm, so passos importantes nessa direo (BECKER, 2008).

1.5 LOGSTICA E INFRESTRUTURA DO COMPLEXO VERDE Conforme aponta Becker (2008) as inovaes tecnolgicas necessrias no chamado modelo Ps-fordista no so apenas as referentes ao processo de produo e sim Inclui necessariamente a mudana institucional e a territorial. Nesse sentido destacam-se os servios cruciais para sustentar a populao e a produo na Amaznia contempornea atribuindo s cidades, seu "lcus" privilegiado, o papel de comando no novo modelo de desenvolvimento que se pretende. Vale registrar que a logstica, essencial articulao proposta, entendida como um servio complexo, de alto valor agregado (BECKER, 2008). Da a importncia de se pensar na infra-estrutura e na logstica para a implantao de plos de desenvolvimento de produtos para a e, fundamentalmente, de mercado para o aproveitamento comercial da biodiversidade. As comunidades amaznicas necessitam de uma logstica mais eficiente para alcanar os mercados. Neste sentido, um dos elementos chaves a multimodalidade, que pode significar reduo de custos, maior eficincia, maior velocidade e melhor adequao as especificidades ambientais da regio. Trs redes so bsicas para a regio: fluvial,

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area e de informao. Os rios da Amaznia podem se tornar uma grande vantagem competitiva, pois o transporte hidrovirio a melhor opo em termos de custos e eficincia energtica (BECKER, 2008). O futuro da Amaznia necessariamente est fortemente ligado ao desenvolvimento das comunicaes, seja dos rios ou das estradas e ferrovias. Por enquanto isso ainda pouco desenvolvido e com enormes dificuldades tecnolgicas, pelos poucos investimentos em tecnologia, ainda praticamente inexistentes, esses centros de comercializao sero os espaos adequados para a colocao dos produtos. Os lugares em que ocorrem as principais interconexes do sistema de transporte tendem a se tornar importantes na logstica da comercializao. Isso cultural e histrico na Amaznia tanto brasileira como de outros pases. Estas cidades geralmente concentram um grande nmero de servios

especializados que viabilizam a logstica. No por acaso, os importantes centros logsticos coincidem com as principais cidades. A criao de centros de Bioproduo e comercializao so de importncia crucial para o beneficiamento dos produtos da biodiversidade. O mapa 3 mostra os pontos mais importantes onde podem ser organizados, desde centros de estoque at a bioproduo e comercializao dos produtos de biodiversidade.

Mapa 3 Centros para Bioprospeco do Complexo Verde 2008 Fonte: CGEE 2008

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As aglomeraes de bioproduo (tabela 7) mostra como existe uma coincidncia natural entre cidades, produtos e pontos de comercializao nos estados analisados.Tabela 7 Aglomeraes de Bioproduo no Complexo Verde Estados do Par e Amap

Um aspecto fundamental que guarda estreita relao com as possibilidades da explorao da biodiversidade por meio do beneficiamento e inovao tecnolgica dos produtos da biodiversidade consiste na participao dos rgos de governo (MMA, ANVISA) no processo de autorizao para a realizao de atividades de bioprospeco. Esta atividade fundamental se existe o tem como objetivo de agregao de valor aos produtos incorporando a biotecnologia nos processos produtivos. Segue um histrico das autorizaes que realizou o CGEN para que instituies de pesquisa realizassem bioprospeco ou atividades de pesquisa a partir de produtos da biodiversidade (Quadro 5).

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Quadro 4 Autorizaes Emitidas pelo CGEN para o Acesso ao CTA e/ou ao Patrimnio Gentico Brasileiro (2003-2008) Fonte: CGEN (maio/2008). *Empresas: Natura, Extracta e Quest International do Brasil (apud CGEE, 2008)

1.6 SELEO DE CADEIAS PRODUTIVAS DA BIODIVERSIDADE DA AMAZNIA COM MAIOR POTENCIAL COMERCIALA partir da metodologia seguida para identificao das cadeias produtivas mais consolidadas, desde o ponto de vista da demanda e oferta, foram selecionadas aquelas cadeias que conseguiram ser o melhor exemplo para realizar um estudo que tivesse maior abrangncia e melhores possibilidades de replicabilidade nas diferentes regies dos estados amaznicos. Diferentemente dos produtos acima referidos, alguns dos quais so produtos cultivados e outros sendo de origem extrativo, representam apenas uma potencialidade nos mercados, neste item foram selecionados trs cadeias produtivas que representam um bom exemplo de cadeias que se encontram razoavelmente mais consolidada. A seleo foi feita em funo de informaes bsica referentes a presena no mercado de produtos naturais, a informao sobre a produo das mais importantes cadeias. Inicialmente foram selecionadas as cadeias de castanha-do-par, copaba e andiroba, suas sementes e leos. Essas trs cadeias contam com uma seqncia desde, o insumo at mercado nacional e internacional, por meio de empresas, fundamentalmente de cosmticos e fitoterpicos, que so a principal demanda no mercado. Dessa forma, se prope estudar essas trs cadeias produtivas de forma mais detalhada e utilizar elas como uma referncia piloto que oriente o estudo de outras cadeias que renam as caractersticas das cadeias da biodiversidade. Acrescenta-se a idia que, na medida em que se conta com pouca informao do conjunto de cadeias selecionadas na mostra do Quadro 1, o resultado de um estudo de todas as cadeias no oferece, neste estgio, um panorama de grande alcance para o desenho de polticas pblicas

39 de apoio comercializao dos produtos da biodiversidade. Em contraste a analise mais detalhado das cadeias mais consolidada permite a construo de uma poltica pblica mais expressiva e pode ser um modelo a aplicar para outras cadeias de produtos ainda incipientes.

1.6.1 Cadeias produtivas selecionadas da Amaznia: castanha-do-par, copaba, andirobaO eixo fundamental do estudo aponta identificao, descrio e estudo das principais cadeias produtivas da biodiversidade brasileira, as mais importantes e que representam uma boa expresso do conjunto das cadeias da biodiversidade. Como existem ainda incipientes exemplos consolidados de cadeias produtivas, optou-se por selecionar aquelas que apresentam sim risco de dvida uma maior potencialidade e que podem constituir um exemplo piloto para ser levado ao conjunto dos estados da Amaznia, para construir novos modelos. Uma caracterstica importante apontada para selecionar as primeiras cadeias para o estudo que representaram o resultado de uma viso completa e que contassem com maiores relaes entre os diferentes atores da cadeia produtiva (comunidades produtoras de matrias primas, atravessadores, empresas responsveis pelo beneficiamento, organizaes sociais e de pesquisa e, instituies de governo orientadas ao desenvolvimento sustentvel) o que permite ter uma viso mais completa das potencialidades e dificuldades que enfrentam os produtos da sociobiodiversidade nos mercados nacional e internacional, bem como possibilidades para transformar suas potencialidades em verdadeiras alternativas de mercado. Nesse sentido, inicialmente esto sendo estudadas as cadeias produtivas da castanha-dopar, copaba, andiroba A localizao onde se encontra a maior produo dos produtos da biodiversidade se concentra nos estados de Amap, Amazonas, Acre, Par e, em menor proporo nos estados de Rondnia, Roraima e Mato Grosso. Conforme mapa 4 so indicados os estados da Regio Norte com maior ndice de produo.

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Mapa 4 Mapa de localizao dos principais estados que contam com abundantes recursos de produtos da biodiversidade (excludo Acre)

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1.6.1.1 Castanha-do-par, oferta e demanda produo, mercado, preos, exportaes/consumo A castanha-do-par originria exclusivamente da floresta amaznica e se caracteriza pelo extrativismo de coleta. A extrao uma das atividades mais adaptadas s exigncias de preservao da natureza, tendo em vista que, para produzir, a castanheira precisa estar inserida na floresta nativa, alm do que a qualidade da castanha decorrente, entre outras, das caractersticas da castanheira.4 Nesse sentido, apesar da existncia de outras culturas que podem ser exploradas em comunidades extrativistas algumas das quais podem futuramente ser cultivadas ou domesticadas , no caso da castanheira, suas caractersticas dificultam a domesticao. A castanha-do-par (denominao adotada pelo IBGE e que ser usada neste estudo) a Bertholletia excelsa pertencente famlia Lecythidaceae. Sua rvore de grande porte e sua florao geralmente ocorre nos meses de agosto-setembro-outubro e a coleta nos meses de novembro a maro. Seu fruto um ourio duro com at 15 cm de dimetro que contm em seu interior de 12 a 20 nozes. A castanha-do-par consumida in natura, cozida e cristalizada, em leo, farinha ou farelo. empregada em confeitarias e na indstria farmacutica e de cosmticos. Importante ressaltar que a castanha-do-par um dos principais produtos da biodiversidade, tradicionalmente exportado pelos estados do Par, Amazonas, Acre e Amap desde 1911, sem qualquer subsdio governamental, at mesmo durante pocas bastante desfavorveis. A coleta da castanha ocorre no inverno amaznico (perodo de chuvas). Como dependem do ritmo da floresta, os trabalhadores extrativistas ficam durante vrios meses dentro da mata para aproveitar os perodos produtivos. Assim, a castanha um dos raros produtos genuinamente naturais. O fruto da castanheira integralmente aproveitado, entretanto, por uma questo de cultura e de oportunidades de empreendimentos, apenas a parte comestvel que a maioria das empresas utiliza (Quadro 6). De todas as formas de uso a que est gerando maior valor agregado de insumo da indstria de cosmticos.

4 Segundo Pennacchio (2006), com o declnio da produo da borracha, o extrativismo da castanha ocupou papel fundamental na gerao de renda para muitas famlias extrativistas na regio amaznica, fixando-as na floresta nativa.

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Nesse sentido para estudar as dificuldades e potencialidades dos mercados da castanha e de outros produtos da biodiversidade, sempre ser essencial os diferentes usos que podem ser obtidos do produto, bem como sua produo.Amndoa leo Ourio Casca Madeira Descascada e comida fresca, bombom, sorvete, doce, farinha e leite para temperar comida. Sabonete, creme, xampu, leo trifsico. Artesanato, brinquedos (ps de ourio), remdio, carvo, pilozinho, tigela para coletar seringa. Remdio (ch) para diarria.

Historicamente muito utilizada para estacas e construo, mas hoje ilegal derrubar castanheiras silvestres. Quadro 5 Usos da castanha-do-par Fonte: SHANLEY, 2005, p. 63

o Produo de castanha O Mapa 5 ilustra a densidade da produo de castanha nos estados amaznicos, segundo informaes sobre a produo extrativa vegetal do IBGE. Observa-se que o Amazonas fica em primeiro lugar e Roraima, em ltimo.

Mapa 5 Amaznia Brasileira: produo extrativa de castanha por estados (toneladas)Fonte: IBGE Produo Extrativa Vegetal 2005

Nos ltimos dez anos, a participao relativa da Regio Norte no total da produo brasileira de castanha-do-par tem se mantido por volta dos 99%. No entanto, h uma

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grande assimetria entre os estados da Regio Norte. O Grfico 1 ilustra a produo entre 1994 e 2005, para os estados da Regio Norte.Quantidade produzida na extrao vegetal18000

16000

14000 12000 10000

8000

6000 4000 2000

0 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Quantidade (toneladas) Rondnia Acre Amazonas Roraima Par Amap

Grfico 1 castanha-do-par produo extrativa vegetal (ton), por estado do Norte Fonte: IBGE

Dos trs mais expressivos estados produtores de castanha, o Acre atualmente o maior produtor, com um total de 11.142 toneladas, ou seja, 36,5% da produo do pas. Os principais municpios produtores do estado foram Rio Branco (2.823 toneladas), Brasilia (2.155 toneladas), Xapuri (2.007 toneladas) e Sena Madureira (1.615 toneladas) que, em conjunto, responderam por 77,2% do total estadual e por 28,1% da produo nacional. Uma das razes da produo ter crescido no Acre no parece ser o aumento da produo no estado e sim um deslocamento para essa regio, j que a castanha-do-par estaria sendo exportada pela Bolvia, em razo da existncia de menores controles de exportao e fitossanitrias com relao ao Brasil. 5 O estado do Amazonas o segundo maior produtor, respondendo por 29,4% da produo, seguido pelo Par, com 22,3%. Rondnia teve apenas 8,9%, mas o municpio de Porto Velho foi o segundo maior produtor do pas com 2.354 toneladas, 7,7% do total nacional. Em geral, a produo de castanha apresenta um movimento cclico que no mostra definitivamente uma tendncia crescente. Na realidade, entre os anos 1994 a 2005, houve uma queda de 22%, com a quantidade produzida passando de 38,6 para 30,1 mil5

Existem informaes fornecidas pela empresa MUTRAN e pela Associao de Exportadores de Castanha que atestam essa realidade.

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toneladas. As razes, e devem reduo das reas de castanhais nativos e ao fato de que no houve uma poltica de reposio de novos castanhais. Das 30 mil toneladas de castanha produzidas pelo Brasil em 2005, 13 mil foram direcionadas ao mercado interno e 17 mil exportao. Somente a partir de 2004, a exportao ultrapassou o consumo interno. At 1990, o Brasil ocupava a posio de liderana no mercado mundial, com 80% do comrcio e uma produo de 51 mil toneladas. Com a atual reduo da produo brasileira, a Bolvia passou a ser o maior exportador mundial, com volume da ordem de 50 mil toneladas anuais (PENNACCHIO, 2006). Pennacchio (2006) aponta os quatro principais fatores que explicam a queda da produo de castanha-do-par: 1) reduo dos castanhais produtivos; 2) deficincias na cadeia produtiva, em especial nas logsticas de transporte e de armazenamento; 3) ausncia de polticas e de programas de incentivo produo, de apoio direto comercializao e de sustentao de renda ao extrativista; 4) dificuldades de atendimento s exigncias fitossanitrias para exportao, especialmente quanto aos limites de tolerncia para presena de aflatoxinas at 30 ppb no Brasil, e at 4 ppb nos EUA e Europa. importante ressaltar que com os anos tem mudado muito o processo de produo da castanha. J existem barras de cereal e diversos produtos com castanha em larga escala. O mercado muito melhor do que era, mas isso devido ao avano tecnolgico, de poder secar a castanha, embalar em nitrognio ou alguma coisa hermeticamente selada para evitar a aflatoxina, que foi a grande contra-indicao para a exportao de castanha. Anteriormente, quando eram enviados carregamentos de castanha para Europa eles todos vinham de volta, porque chegavam contaminados. As sementes tinham sido estocadas com a casca e a desenvolviam essa toxina na viagem. Agora, eles descascam, secam, embalam hermeticamente, existem vrias tecnologias.

o Demanda e mercado da castanha-do-par O mercado da castanha-do-par est razoavelmente sedimentado. Sua exportao ocorre h mais de dois sculos para o mercado americano e europeu. Em contrapartida, o

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mercado interno quase irrisrio. Como so poucos os compradores, o mercado relativamente oligopolizado. Nesse sentido, h um razovel sistema de informaes sobre as exportaes, tanto da castanha com casca quanto sem. As exportaes da castanha com casca representam mais de trs vezes as exportaes sem casca e com maior processamento; isso revela a falta de uma maior agregao de valor ao processo de produo.

o Exportaes de castanha Os indicadores de exportao da castanha-do-par (Grficos 2,3 e 4) revelam grande volatilidade no mercado internacional desse produto. Observa-se que, no perodo 1996-2007, as quantidades exportadas acompanharam os movimentos dos preos, porm apresentando certa defasagem temporal, ou seja, a produo no respondeu imediatamente queda ou elevao dos preos. Observa-se, especialmente a partir do incio dos anos 2000, uma tendncia a deteriorao dos termos de troca, isto , os ndices de preo cresceram proporcionalmente bem menos que os ndices de quantidade. A ltima coluna da Tabela 9 revela que os preos unitrios tm oscilado ao redor de US$ 1,00, mas a tendncia geral de queda. Nos ltimos cinco anos, as exportaes de castanha-do-par apresentaram retrao significativa, com queda de 62% para as amndoas com casca. As barreiras sanitrias impostas pela Comunidade Europia (Deciso 2003/493/CE)6 contriburam para o agravamento da crise (Associao dos Exportadores de Castanha, 2006, p. 20). A partir das informaes agregadas de quantidade e valor exportado, observa-se, especialmente a partir do incio dos anos 2000, uma tendncia a deteriorao dos termos de troca, isto , os ndices dos preos cresceram proporcionalmente bem menos que os ndices de quantidade. A ltima coluna da Tabela 8 revela que os preos unitrios tm oscilado ao redor de US$1,00, mas a tendncia geral de queda (Grfico 2).

6 A Deciso 2003/493/CE da Comisso, de 4 de julho de 2003, que impe condies especiais importao de castanha-do-brasil com casca, originrias ou provenientes do Brasil, contm, no seu anexo II, uma lista dos pontos de entrada atravs dos quais podem ser importadas para a Comunidade Europia castanhas-do-brasil com casca, originrias ou provenientes do Brasil.

46Tabela 8 Castanha-do-par, fresca ou seca, com casca (NCM = 08012100) exportaes em US$ FOB e peso (quilo) US$ (FOB) Peso (kg) Preo Ano US$ (FOB) Peso (kg) ndice, ndice, unitrio 1996=100 1996=100 estimado 1996 11.195.139 8.510.443 100 100 1,3 1997 16.113.736 11.821.131 144 139 1,4 1998 12.342.790 12.053.335 110 142 1,0 1999 7.674.925 4.987.256 69 59 1,5 2000 13.376.839 13.566.005 119 159 1,0 2001 6.263.460 7.902.773 56 93 0,8 2002 7.350.073 6.949.131 66 82 1,1 2003 7.178.863 5.617.681 64 66 1,3 2004 6.842.601 10.296.366 61 121